Roteiro nº1 Breve História da Família Carmelita

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Roteiro nº1 Breve História da Família Carmelita
Roteiro nº1
Breve História da Família Carmelita
Introdução
Nos reinados dos reis de Israel, Acab (869 – 850 a.C.) e Ocosias (859 –
850 a.C.), surgiu na história de Israel um profeta muito importante: Elias. O seu
nome significa: “Javé é Deus”, que é o mesmo que dizer que é uma profissão
de fé no verdadeiro Deus de Israel.
A vida de Elias está descrita no primeiro livro dos Reis, desde o capítulo
17 até ao primeiro capítulo do segundo livro dos Reis. É uma vida
extremamente ativa, pregando a verdadeira Palavra de Deus, restaurando o
verdadeiro culto, corrigindo os abusos do rei Acab e da sua esposa.
Elias convoca o povo de Israel no Monte Carmelo, onde vivia, e aí lançalhe o desafio de ver claro qual era o verdadeiro Deus: Javé ou Baal com os
seus profetas. Assim aquele que fizesse descer do céu fogo para consumir a
vítima do sacrifício, esse seria o verdadeiro Deus de Israel (cf. L.Reis, 18, 3039). Nesse dia, Elias purificou o culto de Israel, matando os falsos profetas de
Baal. Estes arquitetaram uma forte perseguição contra Elias por causa da sua
condenação da falsa religião. Para escapar a esta perseguição, Elias fugiu para
o deserto e ali experimentou uma forte crise de fé. Nesta crise, Javé consolou-o
respondendo à sua oração, e deu-lhe forças para regressar ao seu povo e
convencê-lo a deixar de uma vez para sempre o falso culto de Baal. O lema de
Elias era: “Consumo-me de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos”.
Os primeiros Carmelitas
Os primeiros Carmelitas, em fins do século XII da nossa era (mais de
dois mil anos depois do profeta Elias), decidiram formar uma comunidade no
Monte Carmelo. O Monte Carmelo é conhecido pela sua beleza e o seu nome
significa “jardim”. Os primeiros monges eram cruzados, que cansados da
violência e da injustiça daquelas guerras para conquistar a Terra Santa das
mãos dos Mouros., ali se refugiaram sedentos duma vida mais autenticamente
evangélica. Atraídos ao Monte Carmelo pela fama e tradição do Profeta Elias,
aí fundaram uma capela e em torno dela construíram as suas celas. Isto foi por
volta de 1155. Estes monges dedicaram-se a uma vida de penitência e de
reparação pelos abusos dos cruzados: exercitavam-se na pratica da oração e
da união com Deus e entregavam-se a trabalhos manuais.
Escolheram ELIAS como Pai Espiritual e exemplo de vida monástica de
oração e testemunho profético no meio de um mundo dominado pelas
injustiças.
Dedicaram a capelinha à Virgem Maria e, sobre a sua proteção,
consagraram-se à imitação das suas virtudes. Chamaram a Maria “Senhora” do
lugar, segundo os costumes feudais, e renderam-lhe serviço e lealdade,
esperando a sua proteção e ajuda. Assim começou a vida de dedicada e
doação dos primeiros carmelitas, homens simples, irmãos sem muita instrução.
Os peregrinos e os cruzados que os visitavam, começaram a chamar-lhes
“IRMÃOS DA BEMAVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO”.
Receberam este nome por causa da capela dedicada a Maria, figura central na
vida daqueles monges, que levavam uma vida contemplativa ao serviço do
Senhor, a exemplo de Elias.
Organização dos monges como ordem
Mais ou menos no ano de 1209, os irmãos decidiram formalizar a sua
vida, pedindo uma Regra de vida ao bispo Alberto, Patriarca de Jerusalém,
homem piedoso e conhecido pela sua sabedoria e prudência. Alberto, levando
em consideração as tradições deste grupo de monges, escreveu-lhes uma
Regra muito simples, que os carmelitas observam até hoje. Tempo depois, já
na Europa, apresentaram ao Papa o pedido de aprovação da nova Ordem. No
ano de 1226 o Papa Honório III concedeu a aprovação oficial da Igreja À
ORDEM DOS IRMÃOS DA BEMAVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE
CARMELO. É este o título oficial da Ordem. Com esta aprovação os irmãos
viveram a sua vida de oração e trabalho, com o ideal de se unir continuamente
ao Senhor: “dia e noite vivendo unidos a Deus e na Sua presença, a exemplo
de Elias – o seu Pai Espiritual – e de Maria – sua Mãe e protetora do Carmelo.
A sua tranquilidade no Monte Carmelo foi interrompida por ocasião da
segunda invasão dos Mouros, por volta do ano de 1235. Os Mouros retomaram
a Terra Santa, movendo feroz perseguição aos cristãos. Então, os Carmelitas
dividiram-se em dois grupos: um que permaneceu no Monte Carmelo e que foi
massacrado, tendo sito incendiado o Mosteiro; o outro, que se refugiou na
Sicília, em Creta, na Itália e, finalmente, em Inglaterra.
Aylesford, – Inglaterra
Na Inglaterra, os monges vindo do Monte Carmelo, fundaram um
mosteiro em Aylesford, onde procuraram imitar a vida que levavam no Monte
Carmelo. Aylesford é um lugar de beleza natural, próprio para a prática da
oração e a vida de reflexão e meditação. É aqui que começa uma nova época
da vida dos carmelitas.
Na Inglaterra, eles foram aceites pelos outros religiosos e membros da
Igreja. Como vinham da Palestina com tradições e costumes diferentes dos de
cá, não foram vistos com bons olhos pelos ocidentais que diziam já haver cá
muitas ordens e que não viam utilidade de mais uma e tão diferente. Tornou-se
assim uma situação quase desesperadora, pois corriam outra vez o risco de
serem extintos como Ordem. O que os Carmelitas queriam não era tirar lugar a
nenhuma Ordem, mas somente continuar a sua vida de oração e trabalho
como levavam no Monte Carmelo. Havia que lutar de novo pela sobrevivência.
Assim, imitando o exemplo dos primeiros carmelitas, o Prior Geral, São Simão
Stock, recorreu à oração. São Simão Stock era considerado por todos os
irmãos um homem de intensa oração, de entrega total e de grande devoção e
amor à Virgem Maria, Mãe do Carmelo. Diz a tradição que na noite de 16 de
Julho de 1251 Simão Stock, mergulhado em oração, pediu à Virgem Maria o
“privilégio feudal”, ou seja, a proteção da “Senhora” para os seus vassalos nos
tempos de perseguição e dificuldade. Pediu-lhe que ajudasse os seus irmãos
porque estes se tinham mantido sempre fiéis ao seu serviço e agora
precisavam da sua ajuda. Neste momento rezou, segundo a tradição, a oração
que até hoje os carmelitas cantam solenemente:
“Flor do Carmelo,
Vide florescente,
Esplendor do Céu,
Virgem Mãe, Singular.
Doce Mãe, mas sempre Virgem,
Aos teus filhos
Dá Teus favores,
Ó Estrela do Mar”:
(T.P. Aleluia)
Enquanto rezava esta oração, apareceu-lhe a Virgem Maria e
entregando-lhe o Escapulário que tinha nas mãos disse-lhe:
“Recebe, meu filho muito amado, este Escapulário da tua Ordem, sinal
do meu amor e privilégio para ti e para todos os Carmelitas; quem com ele
morrer, não se perderá. Eis aqui um sinal da minha aliança, salvação nos
perigos, aliança de paz e de amor eterno”.
Depois disto, Simão Stock chamou todos os frades e explicou-lhes o que
lhe havia acontecido. Acrescentaram o Escapulário ao hábito (pois até então
era uma peça só para proteger a túnica durante os trabalhos) e começaram a
contar esta maravilha da Santíssima Virgem Maria para ajudar os Carmelitas.
Depressa o Escapulário se tornou conhecido como consagração a Nossa
Senhora e os leigos começaram a pedir para o usarem como devoção e
consagração da sua vida a N. Senhora. Foi o meio mais eficaz e rápido da
Ordem se tornar conhecida, e acolhida, quer pelos fiéis, quer pela Igreja, que
entretanto aprovara a nova Ordem. Os Carmelitas tornaram-se conhecidos
pelos IRMÃOS DA BEMAVENTURADA VIRGEM MARIA DO MONTE
CARMELO, nome que se tornaria oficial em toda a Ordem. Por outro lado
atentos à nova realidade ambiental, os Carmelitas começaram a adaptar-se à
cultura europeia. Mantiveram sempre as suas tradições de oração e união com
Deus e a devoção a Maria, e aceitaram pela primeira vez apostolados ativos.
Assumiram trabalhos paroquiais e a pregação do Evangelho por toda a parte.
Perceberam que a Vontade de Deus a seu respeito agora no novo ambiente
seria ser testemunho de oração-contemplação única, pois a Igreja lhes dava a
dimensão de frades mendicantes, equiparando-os assim aos Franciscanos e
Dominicanos. Mudaram a capa listada por uma capa inteiramente branca,
símbolo do Batismo e da alegria da Ressureição.
A fama da Ordem espalhou-se por toda a Europa, cresceu o número de
Vocações e despertou-se o espírito de zelo pela vida religiosa e a grande
devoção a Nossa Senhora do Carmo. O Escapulário como sinal desta devoção
a Nossa Senhora tomou uma forma mais pequena para se tornar mais utilizável
pelos leigos, que também queria levar uma vida mais unida a Deus a exemplo
de Maria Santíssima.
Moura – Portugal
A Ordem Carmelita em Portugal teve o seu berço em Moura. Seus
fundadores foram três carmelitas portugueses, trazidos do Monte Carmelo
pelos Militares de S. João, na primeira metade do Séc.XIII, vindo a fundar na
dita vila o convento por volta de 1252. O segundo convento foi mandado
construir por D. Nuno Álvares Pereira, no ano de 1389. Em 15 de Agosto de
1423 o próprio D. Nuno entrou para a Ordem, querendo ser apenas “Irmão
Donato” (semi-frater), recebendo o nume de Frei Nuno de Santa Maria.
A partir destes dois conventos – de Moura e de Lisboa - a Ordem teve
uma expansão muito notória como se pode ver no quadro que anexamos:
Conventos Carmelitas
Moura
Lisboa
Colares
Vidigueira
Beja
Évora
Coimbra
Lagoa
Torres Novas
Setúbal
S.Romão
Camarate
Horta
Porto de Mós
Lordelo (Porto)
1252
1389
1450
1495
1526
1532
1542
1551
1558
1598
1600
1602
1631
1663
1780
Em 1580 os carmelitas portugueses vão como Missionários para o
Brasil, fundando o primeiro convento em Olinda – Recife. Em 1651 fundam um
hospício na Vila da Horta (Açores) para apoiarem os Missionários que partiam
para o Brasil.
Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, também os Carmelitas
tiveram de abandonar Portugal.
Em 1930 os Carmelitas iniciam a Restauração do Carmelo Português. A
Província Espanhola de Bélica encarregou-se deste trabalho até 1953. A partir
de janeiro de 1954 este trabalho foi assumido pela Província de Sto. Elias
(Brasil). Todo o trabalho de restauração é difícil: só com a bênção de Deus e
com a coragem dos homens movidos pelo Espírito Santo é que as grandes
obras começam e continuam. Foi o que mais uma vez se sentiu e sente neste
trabalho de Restauração. O que se sentiu na primeira Ordem, sente-se também
nas Ordens Terceiras atualmente. Será um trabalho lento, mas seguro, pois é
obra de Deus.
Conclusão
Em sua longa e interessante história, o Carmelo passou por muitas
fases. Uma das mais marcantes é a da “Reforma”. Esta reforma originou no
século XVI com uma santa espanhola muito querida. Sta.Teresa de Ávila. Ela
nasceu em 1515 e morreu em 1582. Ela, como outro santo carmelita, São João
da Cruz, reformou a Ordem do Carmo, colocando mais ênfase na vida de
oração e contemplação. Teresiana, Os Carmelitas Descalços, assim chamados
porque na época usavam sandálias.
Eles, juntamente com o Carmelo da Antiga Observância, formam a
grande família do Carmelo: duas observâncias do mesmo espírito mariano e
eliano de serviço e de testemunho de oração.
Outra santa muito conhecida e querida de todos é Santa Teresinha do
Menino Jesus. Foi monja de clausura do Carmelo de Lisieux, França, durante
os anos de 1888 e 1897. Ela é famosa pela sua simplicidade e pela sua
espiritualidade da Pequena Vida da Infância Espiritual. Ela representa um
exemplo moderno da Espiritualidade carmelitana para os nossos dias.
Atualizando a história do Carmelo, há mais de 700 anos, verificamos que
os frades Carmelitas sempre confiaram na proteção da Mãe do Carmelo. A
Ordem passou por lutas, perseguições, infortúnios, falta de vocações,
problemas internos, etc. E Maria sempre protegeu com o seu amor maternal,
cuidando de seus filhos com provas de misericórdia e carinho. Os Irmãos da
Virgem do Carmo, por sua vez, cuidaram de viver sempre em fidelidade a vida
de oração e serviço, a exemplo do Profeta Elias, e de entrega total a Deus e
obediência, a exemplo de Maria. É uma vida de desafio, uma vida de alegria
que procuram compartilhar com todos os irmãos do Carmo em suas paróquias
e movimentos apostólicos. Este é o fundamento da Ordem de N. Sra. do
Carmo, um fundamento de muita história e tradição, um fundamento de
esperança. Este é o espírito do Carmelo: zelo ardente como o do Santo profeta
Elias, amor e doação a Deus como nossa Mãe Maria.
Que Maria e Elias nos ajudem a viver segundo o seu exemplo.

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