A EXPLOSÃO DAS ESPÉCIES

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A EXPLOSÃO DAS ESPÉCIES
A EXPLOSÃO DAS ESPÉCIES
A vida existe na Terra há mais de 3,5 bilhões de anos. Umas poucas ligações primitivas deram
origem a organismos superiores. A natureza produziu uma complexa rede de relações, uma
multiplicidade de animais, plantas e fungos. A história da evolução é uma epopeia de adaptação,
extinção e reinvenção. Valendo-se de ilustrações caprichadas, a revista GEO reconstruiu os 12
grandes períodos da natureza.
PRÉ-CAMBRIANO
no mínimo 3,5 bilhões a 542 milhões de anos
AS PRIMEIRAS CÉLULAS
Em geral, os paleontólogos dividem a História Natural em 12 grandes eras, definidas com base
em fósseis típicos para cada uma delas. O primeiro desses períodos começa há mais de 3,5
bilhões de anos, quando ligações anorgânicas, mortas, deram origem, através de diversas etapas
intermediárias, à primeira célula: uma minúscula fábrica de vida, dotada de círculos simples de
substâncias, com a capacidade de se dividir e, dessa forma, transmitir informações hereditárias. A
partir do módulo básico formam-se, pouco menos de 2,5 bilhões de anos mais tarde, diminutas
comunidades esféricas pluricelulares. Estas são as mais antigas formas de vida complexas e o
início de toda a biodiversidade que se desenvolverá em milênios futuros.
CAMBRIANO
de 542 a 488 milhões de anos
UM MUNDO CHEIO DE PREDADORES
Durante mais de 3 bilhões de anos, os mares foram habitados exclusivamente por organismos
primitivos, mas então, em pouco tempo, surgem criaturas bizarras, com olhos pedunculares,
cerdas, imensas couraças ou garras espinhosas. No Período Cambriano, a natureza não só
produz quase todos os representantes das modernas linhagens de animais, entre os quais
criaturas dotadas de uma constituição precursora da coluna vertebral; também neste período
ocorre a primeira corrida armamentista da História da Terra. Provavelmente, substâncias aluviais
levadas da terra para o mar, bem como metais e minerais expelidos por fontes submarinas,
possibilitam a construção de complexas estruturas, como os esqueletos externos. De agora em
diante, os predadores caçam suas presas, como o Anomalocaris, de até um metro de
comprimento (em primeiro plano), ou o Opabinia, uma criatura trombuda, dotada de cinco olhos
(no leito marinho). Os caçados, por sua vez, defendem-se com uma blindagem encouraçada ou
espinhos, como a Hallucigenia, que parece andar sobre gâmbias (em baixo , à direita).
ORDOVICIANO
de 488 a 444 milhões de anos
NOVA DIVERSIDADE NO OCEANO
À parte de algumas algas e liquens simples, que já se transferiram para a terra, a vida ainda
floresce exclusivamente no mar. Entre as criaturas aquáticas há predadores gigantescos, como
os exemplares de Cameroceras, de até 11m de comprimento (à direita), os maiores cefalópodes
de todos os tempos. Os mais antigos peixes Sacabambaspis, (em primeiro plano) são
desprovidos de maxilares e dentes. Eles dispõem de nadadeiras simples na cauda, e se
protegem com rudimentares placas de um material parecido com osso sobre a cabeça. Com suas
enormes bocas arredondadas esses arcaicos vertebrados sugam algas moles e colônias de
bactérias desenterradas do lodo, aos pés dos primeiros recifes de corais da História da Terra.
SILURIANO
de 444 a 416 milhões de anos
PIONEIROS EM TERRA
Depois que as primeiras algas e liquens primitivos colonizaram a Terra, surgiram também, 420
milhões de anos atrás, plantas vasculares de estruturas mais complexas. A Cooksonia, de cerca
de 4 cm de altura, faz parte dessas plantas terrestres primordiais capazes de se adaptar à seca,
às diferenças de temperatura e ao nocivo bombardeamento ininterrupto de raios ultravioleta do
Sol. Elas habitam as margens de mares e rios e, para isso, ancoram seus corpos no solo, por
meio de excrescências parecidas com raízes, com as quais absorvem água doce e minerais.
Alguns invertebrados artrópodes, como escorpiões, e moluscos também desafiam as rigorosas
condições ambientes da superfície terrestre. Alguns moluscos, como os bivalves de 4 a 5cm de
largura aqui ilustrados, usam suas conchas para se resguardar do ressecamento.
DEVONIANO
de 416 a 359 milhões de anos
A CHEGADA DOS RETARDATÁRIOS
Nos mares, rios e lagos desabrocha uma descomunal diversidade de peixes, entre os quais os
exemplares do gênero Dipterus (na frente). Uma novidade anatômica possibilita a essa espécie
de água doce o avanço para regiões pobres em oxigênio: ele possui um pulmão primitivo, com o
qual consegue respirar acima da água. Essa mesma inovação até permite ao Tiktaalik (atrás), um
ancestral pré-histórico dos anfíbios, sair da água para a terra firme. Como um dos primeiros
vertebrados, ele avança rumo às margens graças, entre outros fatores, às suas nadadeiras
resistentes e firmes. Ainda assim, os peixes pertencem ao grupo dos retardatários nos
continentes: os artrópodes, moluscos e as plantas já se alastraram pelo ambiente terreno há
muito tempo. Assim como os gigantescos cogumelos Prototaxis, cujos micélios, parecidos com
colunas, se erguem a até 8 m de altura.
CARBONÍFERO
de 359 a 299 milhões de anos
AS PRIMEIRAS FLORESTAS
A vida estabeleceu-se por, praticamente, todas as regiões do planeta. Pela primeira vez, extensas
florestas recobrem as massas terrestres, que começam a se interligar para dar origem ao
supercontinente Pangeia (ou Pangaea). Licopodíneas de até 40 m de altura e equisetáceas
(cavalinhas) de 10m dominam o novo ecossistema florestal. E este também é o período dos
animais articulados: ao pé dos gigantes arbóreos, imensos Arthropleura, de 2 m de comprimento
e fortemente blindados (à esquerda), parecidos de longe com as modernas centopeias, caçam
libélulas com uma envergadura de asas de até 60cm.
PERMIANO
de 299 a 251 milhões de anos
PREDADORES NO SUPERCONTINENTE
Nesse período geológico, as diversas massas terrestres isoladas de Pangeia aproximam-se cada
vez mais. Às suas margens predomina um clima tropical, úmido; enquanto pelo interior se
estende um vastíssimo deserto. Os quadrúpedes reinantes são os pelicossauros (Pelycosauria),
aos quais também pertence o dimetrodonte (Dimetrodon). Esses carnívoros são os primeiros a
apresentarem dentes especialmente desenvolvidos para abater suas presas, que são tão grandes
quanto eles próprios. Esses animais de sangue frio tinham uma curiosa estrutura em forma de
vela nas costas, mediante a qual, provavelmente, captavam os raios solares para se aquecer. O
Permiano termina com a maior mortandade em massa de todos os tempos, possivelmente
desencadeada por uma descomunal erupção vulcânica.
TRIÁSSICO
de 251 a 200 milhões de anos
NA ÁGUA, NA TERRA E NO AR
Os répteis tornam-se os animais dominantes. Alguns conseguem conquistar o espaço aéreo,
como o pterossauro primitivo Eudimorphodon, de aproximadamente um metro. Outros se
adaptam cada vez mais à vida na água. O Tanystropheus, de 6m de comprimento e pescoço
enorme, semelhante ao de uma cobra, caça suas presas em águas litorâneas. Mas também vive
em terra firme. Outros répteis, como os ictiossauros (Ichthyosauria), ou peixes-lagarto, já viviam
exclusivamente no mar. Em terra, surgem os primeiros dinossauros: enormes lagartos de
estrutura física dinâmica, com pernas em forma de colunas. Árvores do gênero Ginkgo e
coníferas se espalham nesse período.
JURÁSSICO
de 200 a 145 milhões de anos
A ERA DOS GIGANTES
Há cerca de 200 milhões de anos, desenvolveram-se os maiores animais terrestres que já
povoaram a Terra: os saurópodes Sauropoda, da altura de prédios, como os braquiossaurídeos
(à esquerda). Uma construção pulmonar especial, estrutura física dinâmica, talvez até sangue
quente, bem como uma alimentação herbívora, favorecem esse gigantismo. A ave primitiva
arqueoptérix Archaeopteryx (à direita) começa a conquistar o espaço aéreo ao lado dos répteis
voadores. Nas florestas proliferam árvores Ginkgo e Williamsonias, espécies de samambaias
gigantes, que lembram palmeiras, como as cicadófitas. Coníferas e fetos também estão
amplamente disseminados.
CRETÁCEO
de 145 a 65 milhões de anos
A TERRA SE TRANSFORMA EM UM MAR DE FLORES
As espermatófitas desenvolvem um novo órgão de propagação: a flor. Algumas espécies
aproveitam o vento para levar as células sexuais masculinas (o pólen) até outras flores; outras,
como essas magnólias, encarregam insetos para realizar essa tarefa ao atraí-los com suas flores
luminosas e perfumadas e, em parte, com seu nutritivo néctar. Nesse período, os dinossauros
experimentam sua maior diversidade. Alguns, como os Gallimimus (acima), são revestidos de
penas para se manterem quentes.
CENOZOICO
de 65 a 2,6 milhões de anos
A MARCHA TRIUNFAL DOS PELUDOS
Mamíferos de sangue quente e recobertos por pelos parem crias vivas e as alimentam com leite
materno. No Cenozoico, eles se tornarão o grupo dominante entre os animais vertebrados. Nesse
meio estão os calicotérios Chalicotheriidae (à direita), criaturas de 2m de comprimento, que
caminham sobre os artelhos de seus membros dianteiros exageradamente longos, bem como o
deinotério Deinotherium, parecido com um elefante (ao fundo). Porcos imensos e os gigantescos
Indricotheriidae, monstros de 30 toneladas, aparentados longinquamente com os rinocerontes,
vivem nessa era. Alguns ungulados, ancestrais das baleias, voltam a se readaptar à água; outros
mamíferos se habituam à vida arbórea, como os macacos. Plantas florescentes e insetos formam
uma nova e imensa diversidade.
QUATERNÁRIO
de 2,6 milhões de anos até hoje
O FIM DOS GIGANTES
Há 2,6 milhões de anos, a Terra passa por oscilações climáticas com períodos extremamente
gelados: as Eras do Gelo. Na América do Sul, ainda vivem, até há 1,8 milhão de anos,
gigantescas aves aterrorizantes, mas que são incapazes de voar, que aqui atacam um tatucanastra pré-histórico, de 4m de comprimento; o alvo tenta se defender com a cauda, cuja
extremidade está equipada com uma clava cheia de espinhos. Nas gélidas estepes desenvolvemse espécies particularmente adaptadas ao clima, como mamutes, cervos gigantes, rinoceronteslanudos, ou ursos-das-cavernas. Na África, 2,5 milhões de anos atrás, um macaco que andava
ereto aumenta seu volume cerebral, e inventa as primeiras ferramentas. E se transforma em ser
humano. Logo ele começa a conquistar o planeta. Provavelmente, os primitivos animais
agigantados se transformam em vítimas desse caçador: o mais perigoso de todos os tempos.
UMA COMPOSIÇÃO DE FATOS
Tim Wehrmann, 35 anos, e Jochen Stuhrmann, 34, trabalharam durante várias semanas em cada
uma de suas ilustrações. Desde o primeiro esboço até a imagem final no computador foi um longo
caminho. Cada detalhe, por mais insignificante que fosse, por exemplo, as garras de uma
centopeia, tinha que, por um lado, caber na composição da imagem, e por outro, corresponder à
mais recente posição representada nas pesquisas. O desafio foi transformar os mais objetivos
desenhos científicos, elaborados com a ajuda da informática, em cenários e palcos
impressionantes das eras e períodos geológicos, e representar os espaços vitais do modo mais
natural possível, embora, hoje, apenas fósseis possam testemunhá-los.
Fonte: http://revistageo.uol.com.br/cultura-expedicoes/19/artigo191614-4.asp
Ilustrações: Jochen Stuhrmann, Tim Wehrmann;
Texto: Henning Engeln e Jörn Auf dem Kampe;
Produção: Susanne Gilges, Rainer Harf, Torsten Laaker