cidadesinvestimento-120316 - Centro de Ciência do Sistema Terrestre
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CMYK Ciência Editora: Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 17 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 12 de março de 2016 Multidões desprotegidas Estudo britânico aponta que cidades com mais de 10 milhões de habitantes não investem o suficiente para se adaptar às mudanças climáticas. Nos países em desenvolvimento, foco está mais na proteção da economia do que nas pessoas Pius Utomi Ekpei/AFP - 6/10/15 » ISABELA DE OLIVEIRA Palavra de especialista mundo é cada vez mais urbano. Hoje, cerca de metade da população global está longe do campo, e há uma preferência crescente por grandes centros. Ao longo do século passado, o total de megacidades — aquelas que reúnem mais de 10 milhões de pessoas — passou de duas para 20. Hoje, essas supermetrópoles reúnem 9% da humanidade. Atraentes pela circulação de capital e oferta de serviços, o porte das fortalezas econômicas é franzino diante do que pode acontecer caso as previsões de mudanças climáticas se concretizem: inundações, surtos de doenças e inconteste colapso financeiro entram na lista. Proteger os habitantes das megacidades é, portanto, uma grande preocupação para os líderes mundiais. No entanto, uma pesquisa publicada recentemente na revista Nature Climate Change sugere que a comunidade global precisa aumentar seus esforços para proteger as populações desses lugares, especialmente as mais vulneráveis. Os autores, da University College London, no Reino Unido, verificaram que as verbas destinadas para adaptação ao clima em 10 das maiores cidades do mundo — Adis Abeba, Cidade do México, Jacarta, Lagos, Londres, Mumbai, Nova York, Paris, Pequim e São Paulo — aumentaram 27% nos últimos sete anos. Em um cenário de recessão global, a notícia é aparentemente boa. No entanto, o gasto representa, no melhor dos casos, 0,33% da riqueza dos centros urbanos, o que mostra que o tema ainda não é uma prioridade. A pesquisa coordenada por Lucien Georgeson também destaca a diferença entre as cifras que países desenvolvidos e em desenvolvimento gastam para a adaptação. Enquanto, entre 2014 e 2015, Nova York investiu 193,38 libras (cerca de R$ 986) por habitante, a nigeriana Lagos destinou 35 vezes menos, ou 5,52 libras (R$ 28), indicando que as cidades com populações mais vulneráveis são as que menos investem O É preciso se adaptar “Acredito que os governos não devem esperar a mudança climática chegar ao extremo. Elas já são realidade. É preciso agir, inclusive oferecendo educação para as pessoas. Elas não podem jogar lixo no chão, pois ele entope os bueiros e provoca inundações. Essas pessoas também precisam pedir aos governantes formas de armazenar água, alternativas de geração de energia e sistemas de esgoto limpos. É bom proteger o capital, pois ele fornece emprego e riqueza, mas, quando falamos de adaptação, falamos de proteção do ser humano. E, talvez, isso esteja ficando de lado.” José Antônio Marengo Orsini, chefe de Pesquisa Aplicada do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais Obra de proteção da costa em Lagos, na Nigéria: investimento per capita para se adaptar às mudanças climáticas 35 vezes mais baixo que o de Nova York Preparação Quanto cada cidade analisada investiu entre 2014 e 2015 em adaptações a mudanças climáticas: Nova York Londres Paris Pequim Cidade do México São Paulo Mumbai Jacarta Lagos Adis Abeba R$ 8,16 bilhões R$ 4 bilhões R$ 3,6 bilhões R$ 3,3 bilhões R$ 2,5 bilhões R$ 2,4 bilhões R$ 1,3 bilhão R$ 581 milhões R$ 224 milhões R$ 76 milhões Fonte: University College London (veja quadro). “As diferenças nos gastos com a adaptação entre as cidades mostram algumas razões para preocupação. Cidade do Tubo de ensaio México, São Paulo, Mumbai, Jacarta, Lagos e Adis Abeba gastam menos da metade do que é investido por Pequim, em termos de produto interno bruto (PIB) per capita”, pontua Georgeson. Água e energia Para Lincoln Alves, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), esse é um ponto relevante do estudo. “Na minha opinião, o mais importante são as diferenças de gasto, principalmente devido às características regionais. Cada cidade tem sua prioridade e estratégia de adaptação”, avalia o especialista, que não participou do estudo. A equipe de cientistas também construiu um banco de dados para investigar como o dinheiro é aplicado em atividades relacionadas à adaptação climática, como a construção de defesas costeiras de drenagem. Assim, outra diferença foi observada: nas cidades de nações em desenvolvimento, os gastos maiores são destinados a setores importantes da economia, sugerindo que o dinheiro está sendo usado para proteger o capital físico e não as pessoas. As metrópoles mais ricas têm uma maior preocupação com infraestrutura de água e energia e serviços profissionais, tais como bancos e seguros. As cidades emergentes, contudo, investem na resiliência da agricultura e da silvicultura, setores importantes da economia. Desastres Em algumas áreas, a preocupação de países ricos e em desenvolvimento é parecida. Proporcionalmente, os recursos destinados à “preparação para desastres” são quase iguais nas cidades avaliadas. Aí, o que faz a diferença é mesmo o poder econômico. Entre 2014 e 2015, Adis Ababa, na Etiópia, destinou 200 mil libras (pouco mais de R$ 1 milhão) para esse fim. Nova York, 21,36 milhões de libras (R$ 108 milhões). As medidas incluem a construção de defesas costeiras, instalação de sistemas de alerta precoce, deslocamento de residentes vulneráveis e modelagem avançada de risco. Nesse setor, o investimento de São Paulo foi de 8,68 milhões de libras (R$ 44,2 milhões), abaixo do da Cidade do México, mas acima do de Pequim. “Gastos com preparação para desastres são muito baixos nessas cidades, que, devido à grande densidade demográfica e localização geográfica, estão vulneráveis a uma série de riscos. Organizações internacionais e governos nacionais devem assegurar que a adaptação continue uma prioridade. Eles devem apoiar setores da economia relacionados à adequação e garantir que financiamento adequado e consistente esteja disponível para cidades em desenvolvimento e economias emergentes”, recomenda Georgeson. Embora os números de São Paulo se assemelhem aos de outras cidades, ficando em uma média, Lincoln Alves, do Inpe, aponta que é preciso mais investimento para preparar a cidade, inclusive do ponto de vista de infraestrutura, evidenciado pela recente crise no abastecimento de água. “Porém, um ponto que considero extremamente importante é que não podemos jogar a responsabilidade totalmente nas mãos dos tomadores de decisão, do poder público. É preciso a população tomar consciência do problema e reconhecer a parte dela”, opina. Fatos científicos da semana Loic Venance/AFP - 16/1/16 M.Lopez-Herrera/Divulgação » SEGUNDA-FEIRA, 7 REMÉDIO QUE MATA » QUARTA-FEIRA, 9 TRANSPLANTE DE ÚTERO MALSUCEDIDO A morte e as lesões cerebrais que ocorreram na França durante o teste clínico de um remédio foram causadas pela própria molécula testada, a BIA 10-2474, produzida pelo grupo farmacêutico português Bial. A conclusão foi anunciada por Dominique Martin, diretor-geral da Agência Nacional de Segurança dos Medicamentos (ANSM) francesa. Seis voluntários que participavam do teste clínico de fase 1 dessa substância analgésica foram hospitalizados em janeiro no laboratório de testes Biotral (foto), em Rennes, e um deles morreu. Quatro dos sobreviventes apresentaram lesões cerebrais. O primeiro transplante de útero realizado nos Estados Unidos deu errado depois que a receptora sofreu complicações, o que fizeram com que os médicos removessem o órgão. Em 25 de fevereiro, a mulher recebeu um útero de uma doadora de 30 anos que havia dado à luz previamente e morreu de forma repentina, informaram especialistas da Clínica de Cleveland, em Ohio. A cirurgia levou nove horas. Na segundafeira, a equipe médica concedeu uma coletiva de imprensa ao lado de Lindsay, 26, que apareceu sorrindo. O hospital afirmou que está avaliando as causas para o fracasso do transplante e disse que seus testes clínicos — cujo objetivo é realizar transplantes de útero em 10 mulheres — vão continuar. A Universidade de Gotemburgo, na Suécia, conseguiu realizar o primeiro transplante de útero do mundo em 2013. “PACIENTE ZERO” ABSOLVIDO » TERÇA-FEIRA, 8 GÊMEOS DE PAIS DIFERENTES Um caso raríssimo de gêmeos nascidos de pais diferentes foi revelado pelas autoridades sanitárias do Vietnã. A descoberta aconteceu depois de um teste de DNA realizado nas crianças por um laboratório de Hanói, a pedido dos pais, cujas identidades não foram reveladas. “Nosso centro de análises realizou os testes e descobriu que os gêmeos tinham pais diferentes”, declarou Le Dinh Luong, presidente da Associação de Genética do Vietnã. Ele destacou a natureza rara do fenômeno, que acontece quando os óvulos da mãe são fecundados por dois homens diferentes, em relações sexuais ocorridas no mesmo período de ovulação. Há apenas alguns casos assim no mundo. Segundo o jornal Tuoi Tre, tudo começou quando o marido da mãe das crianças pediu um teste de DNA, já que um dos gêmeos não parecia ter traços físicos da família. Os testes provaram que ele era o pai apenas de um dos bebês. Os gêmeos têm hoje 2 anos. Um comissário de bordo canadense designado em meados dos anos 1980 como tendo importado e difundido o vírus da Aids para os Estados Unidos, chamado de “paciente zero”, na verdade não teria desempenhado esse papel, disseram pesquisadores da Universidade de Tucson, no Arizona. Os cientistas, liderados pelo professor de biologia Michael Worobey, analisaram o genoma do vírus que infectou o “paciente zero” e comparou com o de oito amostras sanguíneas de pacientes americanos que estão entre os mais antigos já recuperados — coletados em 1978 e 1979. “Não há prova biológica nem histórica de que o ‘paciente zero’ foi o primeiro caso dos Estados Unidos”, segundo o resumo do estudo, apresentado durante uma conferência em Boston. As conclusões detalhadas ainda não foram publicadas. O comissário de bordo canadense Gaétan Dugas foi designado pelo jornalista Randy Shilts em um livro como sendo o homem que importou o HIV para os Estados Unidos, tendo disseminado o vírus com suas múltiplas viagens e vida “desregrada”. » QUINTA-FEIRA, 10 A VIDA HÁ 1,8 MILHÃO DE ANOS Pela primeira vez, cientistas estimaram detalhadamente como foi o hábitat humano há 1,8 milhão de anos, época em que ancestrais com características tanto de símios quanto do homem modernos viviam na África. O ambiente reconstituído foi em Olduvai Gorge, na Tanzânia. Os cientistas disseram que o acesso a comida, água e abrigo era abundante, mas destacaram que a vida era dura, com competições acirradas por alimento. Os fósseis encontrados no sítio arqueológico, descoberto na década de 1950, indicam a coabitação por duas espécies de homens primitivos: o Paranthropus boisei, robusto e com cérebro pequeno; e o Homo habilis, mais semelhante ao homem moderno. Eles provavelmente se alimentavam de girafas, elefantes e antílopes, competindo com feras como leões pela comida. Esse hábitat foi usado pelos hominídeos por centenas de anos, disseram os cientistas. CMYK