Página 10
Transcrição
Página 10
Nova Friburgo 10 A ascensão das redes sociais na internet: porque você deve prestar mais atenção a elas De Nova York a Cairo. De Atenas a Reykjavík. As redes sociais cada vez mais ganham importância como um espaço democrático de debate, informação e comunicação. Em Nova Friburgo é local para o cidadão discutir o futuro da cidade e também é um bom meio de mobilização popular. Bernardo Fonseca [email protected] Nos últimos anos o mundo tem experimentado uma mudança nas relações entre os seres humanos. Se no passado o contato entre duas pessoas ou entre um grupo de pessoas que não estavam no mesmo lugar era via telefone ou carta, na última década passou a ser protagonizando pelo e-mail. Mas em um mundo que passa cada vez mais por transformações que parecem ocorrer ao piscar dos olhos, hoje são as redes sociais os grandes meios de comunicação à distância. Sites como Facebook, Twitter, Orkut ou YouTube tem cada vez mais desempenhado o papel de e-mail, de “telegrama virtual” através dos recados, e recentemente até mesmo de telefone como o Gmail por exemplo. É um verdadeiro turbilhão de informações onde cada segundo significa milhares de postagens, curtições ou compartilhamentos. Modificações Sociais Mas não é só como meio de comunicação instantânea que esses espaços são caracterizados. São verdadeiros fóruns, que vão desde um meio para debater uma proposta de lei polêmica a um meio de organização de eventos, protestos, movimentos etc. No Egito foi o caminho para organizar as mega manifestações que derrubaram mais de três décadas da ditadura de Hosni Mubaraki. Na Islândia depois da quebra do país durante a crise financeira de 2008 e aos subsequentes protestos, uma comissão de 25 cidadãos foi eleita para redigir uma nova constituição. Após meses de trabalho, uma prévia do documento foi apresentada ao povo e aberta a discussão e a construção coletiva através da internet. O Facebook está sendo um dos meios utilizados pelo governo para promover a participação popular em uma ação histórica. A internet após 11 de janeiro Em Nova Friburgo, após a tragédia de 11 de janeiro, foi através das redes sociais que boa parte da população encontrou um meio de acompanhar o processo de reconstrução da cidade. Assim surgiram grupos como o Transparência Nova Friburgo, Ecoreconstrução da região serrana, GNF Informação de Nova Friburgo, Debatendo com Denise Lopes, Reforma Política em Friburgo JÁ, entre outros. Nessas comunidades virtuais centenas de pessoas passaram a postar suas angustias, indignações, informações, questionamentos, ideias e notícias. Com o passar do tempo, os debates virtuais deram lugar a ações presenciais. Surgiram então novos grupos como o Nova Friburgo em Transição cujo objetivo é inserir o município na rede internacional de Cidades em Transição através da promoção de atividades que levem a uma cidade mais sustentável. Também surgiu o Movimento Absurdo após o aumento da passagem decretado no final de maio pelo então prefeito Dermeval Barboza Moreira Neto enquanto a cidade ainda se recuperava do susto de janeiro. Esses grupos conseguiram tirar da frente do computador os cidadãos que antes apenas “comentavam” ou “curtiam”. Através da rede ocorreram mobilizações como a que levou a população a lotar a Câmara Municipal no dia 12 de julho de 2011 que, após intensa pressão, aprovou a instauração da “CPI da Tragédia”. Manifestações inspiradas no movimento “Occupy Wall Street”como as ocupações da Praça Getúlio Vargas em outubro e novembro também foram elaboradas através da internet. E o surgimento do EU LUTO, onde cidadãos revoltados, após um temporal que inundou o centro da cidade no final de outubro, se uniram e foram até a CMNF (Câmara Municipal de Nova Friburgo) cobrar ações urgentes para pedir uma garantia de segurança ao povo com a chegada da temporada de chuvas. Tudo tem seu bônus e seu ônus. Apesar de todo esse otimismo, a novidade também tem seus problemas. De olho no crescimento desses espaços virtuais, os políticos não perdem uma oportunidade. Recentemente um vereador da cidade se envolveu em uma briga virtual com um eleitor utilizando palavrões e xingamentos. Também surgiram os chamados “fakes”: perfis falsos que tentam se passar por uma determinada pessoa ou um personagem e que são usados para denegrir alguém, algum grupo ou também determinados políticos. Foi o que ocorreu no Movimento Absurdo e no Transparência Nova Friburgo, por exemplo. Além disso, esses espaços virtuais tem demonstrado pouca força em conseguir manter a mobilização popular. Isso ocorreu em quase todos os grupos que viram a capacidade de levar a população para o encontro presencial desaparecer. Jovens se uniram para fundar o GAM A aparente desmobilização levou ao surgimento de um novo grupo chamado GAM (Grupo Articulação dos Movimentos), cujo objetivo é reunir os grupos virtuais, presenciais e organizações não governamentais como um meio popular para somar forças na reconstrução da cidade. De um grupo (22) 2523-0001 online surgiu um movimento social. Fazem parte o Nova Friburgo em Transição, Movimento Absurdo, Anonymous Região Serrana, Movimento Democracia Real (MDR) e também as ONGs Diálogo e Eccosocial da Região Serrana. Foi o GAM que em outubro e novembro organizou as acampadas na Praça Getúlio Vargas e hoje, o grupo é parceiro na construção do PESC (Plano de Emergência da Sociedade Civil) encabeçado pelas ONGs Diálogo, Eccosocial da Região Serrana e Care Brasil que promovem reuniões mensais em dezenas de bairros para ouvir as demandas das comunidades. Além disso, o grupo vem apoiando a organização da I Feira da Terra de Nova Friburgo a ser realizada no final de março na Praça Dermeval Barbosa Moreira e se prepara para participar da Cúpula dos Povos na Rio+20, apresentando o caso de Nova Friburgo e como a população vem lidando com o processo de recuperação. Um exemplo de como cidadãos comuns, agindo de forma livre e voluntária se conheceram pela internet e passaram a contribuir com o desenvolvimento da cidade. Com as eleições chegando o GAM tem em mãos um abaixo-assinado com cerca de 3.500 assinaturas coletadas em praça pública que será entregue aos candidatos a prefeito. O documento exige uma mudança de postura do próximo governo para uma administração mais transparente, mais participativa, que promova de fato a melhora da qualidade de vida da população, restaure a economia sob novos víeis e insira definitivamente o município no século XXI, no rumo do desenvolvimento sustentável. Certamente as redes sociais da internet chegaram para ficar e prometem abrir caminho para mais participação popular nas decisões. É preciso atentar para este fato e enxergar o quão significativo é o momento para não ficar para trás. A transformação para um sistema democrático mais verdadeiro, onde o cidadão é quem realmente discute o seu futuro e participa das decisões. Bernardo Fonseca é estudante de Comunicação Social na Universidade Estácio de Sá