Air France 34-35

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Air France 34-35
WEnNY
A FRANÇA
A 10 MIL PÉS
A Air France faz 80 anos e aproveitou a efeméride para se reposicionar no mercado da aviação comercial. O ‘upgrade’ atinge todas as classes, o serviço a bordo e em terra, bem como os
‘lounges’ de aeroporto, num investimento poderoso que se prolonga até 2017. A Fora de Série
esteve no voo inaugural da renovada classe Business, na lendária rota Paris-Nova Iorque.
T E X T O D E R I TA I B É R I C O N O G U E I R A , E N T R E L I S B O A , PA R I S E N O VA I O R Q U E
en
enhoras
e senhores, fala-vos o
comandante.
c
Bem-vindos ao
voo AF0008 com destino a Nov
va Iorque. Esperamos que estev
jjam a desfrutar das novidades
a bordo deste Boeing 777 equipa
pado com as novas cabines Busines
siness e as melhorias nos lugares
Premium Economy e Economy. Desejjamos-lhes
lh uma óptima
ó i
viagem e em breve iniciaremos o serviço de refeição”, soava o altifalante. No
lugar 3F onde me sentava, cheirava a novo. Não me
lembro de alguma vez estrear um lugar num voo.
Enquanto o comandante elencava as novidades, acabava de me instalar, depois de arrumar toda a minha bagagem de mão nos espaços indicados, pôr na
cabeça os auscultadores e explorar o sistema de entretenimento. Estava indecisa entre dois fi lmes premiados com Óscares em Março passado, quando me
aparece um senhor de casaca – na lapela, em letras
bordadas, vinha identificado como Colin Peter Field.
Apresenta-se como chefe de bar do Hemingway, o
célebre bar do hotel Ritz, em Paris, e oferece-se para
me preparar um ‘cocktail’. Opto pelo “Serependity”
(França num copo), feito à base de Calvados, hortelã fresca, sumo de maçã e champanhe, já que foi amplamente recomendado por Field.
De ‘cocktail’ na mão, pernas estendidas, almofada nas costas e telecomando na mão, até me es-
S
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Fora de Série Julho 2014
queci que estava fechada numa cabine de um avião
sobre o Atlântico com seis horas de viagem pela
frente. Em conversa com Bruno Matthieu, director
dos voos de longo curso e da actividade dos passageiros da Air France, descubro que era essa a intenção de todo este ‘upgrade’.
A verdade é que, na última década, com a invasão do mercado por parte das companhias ‘low-cost’, a companhia francesa passou por algumas
provações e perdeu parte do ‘glamour’ que a caracterizava nos gloriosos anos 50 e 60 (mesmo os
70, quando cruzava os céus no famoso avião-pássaro, o Concorde). A companhia quer, agora, com
esta nova estratégia, assumir-se novamente como
uma referência global na aviação comercial e levar
mais longe o novo ‘claim’ da Air France, “Best and
Beyond” (para lá do melhor). “Queremos, até ao Verão de 2016, ser uma das três melhores companhias
aéreas do mundo”, afirmou Matthieu explicando
que foi por isso que investiram na renovação de todos os produtos – da classe económica à primeira,
passando pelo serviço prestado pelas tripulações
de terra e ar –, apostando numa experiência a bordo genuinamente francesa. “Foram, até agora, 700
milhões de euros investidos (500 para a AF e 200
para a KLM). Começamos pelos voos de longo curso, mas até 2017 pretendemos cobrir todas as outras
rotas. Nessa altura, o investimento terá ascendido
já ao bilião de euros”, conclui.
A FR ANÇA ESTÁ NO AR
Para apresentar este novo conceito de viajar à
francesa, a Air France criou um evento espaçado no
tempo com três exposições internacionais: Xangai
(China) em Maio, Nova Iorque (Estados Unidos) em
Junho e Paris (França) em Setembro próximo.
Depois de Xangai, a exposição “Air France, France
is in the air”, que assinala também os 80 anos de
vida da companhia aérea francesa, passou então
por Nova Iorque e a Fora de Série esteve lá, na
inauguração. Entre 26 e 28 de Junho, num edifício
no coração do Chelsea District, foi possível percorrer
o trajecto da companhia e descobrir – num percurso
desenhado como se de uma viagem se tratasse, à
base de experiências reais e virtuais que permitiam
uma interacção entre a exposição e os visitantes de
todas as idades – como se viaja em grande estilo e à
francesa.
Aberta ao público e gratuita, a exposição segue agora
para Paris, onde estará patente, entre 20 e 21 de
Setembro, no Grand Palais. Para mais informações,
consulte www.expo.airfrance.com.
III/IV
voo. Francês dos sete costados, manteve-se, na escolha do menu, fiel à autenticidade da cozinha familiar,
com base em produtos frescos e simples da região onde nasceu. Exemplos? Uma pequena colher de porcelana com o ‘amuse-bouche’, um “camarão tigre sobre
uma cama de vegetais e molho Thai”. É deliciosa e liga na perfeição com o “Serependity” que ainda tenho
nas mãos. Segue-se uma “Terrina de Foie-Gras”, uma
entrada muito francesa, a abrir caminho para o prato
principal, assinado por Marcon: “Galinha cozinhada
no vapor com molho de mel e soja”. Miniaturas
de ‘pe
‘petit-fours’, ‘macarrons’ e sorvetes finalizam a saborosa refeição. Da carta de viliza
A cabin
Executi e de
nhos, compilada pelo ‘sommelier’ Olin
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eespumantes, brancos, tintos ou rosés,
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complementam a oferta à refeição.
co
Saciada, hesito entre o apelo do cinema e o descanso, horizontal, na minha
((ainda
i d que só por umas horas) cama francesa
nova em folha. Ganhou o cinema. Como o voo era
longo aceitei mais um ‘cocktail’ para relaxar, um
“Tom Collins” com London Dry Gin, limão, açúcar
e água Perrier.
CHAMPANHE PARA TODOS
O passageiro passou a ser o foco da atenção.
E as inovações resumem-se em poucas mas confortáveis linhas. Para os passageiros da classe económica foi criado um assento mais leve, mais ergonómico,
com mais espaço para as pernas. Ao lugar foi acrescentado um ecrã táctil com uma consola que inclui
mais de mil horas de entretenimento, entre fi lmes,
séries, música e jogos. “E o champanhe já não fica só
pelas classes primeira e executiva. Há para todos”, revela Bruno Matthieu.
A classe Premium Economy tem tudo isto, com ainda mais espaço para as pernas, um descanso para os
pés e um ecrã ainda maior. Mas as novidades verdadeiramente visíveis desta revolução começam na Business, com o conceito dos 3Fs: Full Access; Full Privacy;
e Full Flat. Traduzindo livremente para português,
será algo do género os 3Ts: Acesso Total; Privacidade
Total; Horizontal Total. Assim, a cabine de Executiva
apresenta toda uma nova configuração dos assentos,
criando, para cada passageiro, a sua bolha privada a 10
mil pés de altitude. “A cama, que fica totalmente horizontal, é uma das maiores do mercado. Tem uma almofada a sério e um édredon para maior conforto. O ecrã
é enorme, com 16 polegadas. Os auscultadores fornecidos reduzem o ruído exterior”, enumera Matthieu.
O serviço a bordo continuou irrepreensível, com
um desfile de pratos saborosos, servidos em loiça verdadeira, copos de vidro e talheres de metal. O ‘chef’
Régis Marcon, detentor de três estrelas Michelin, assinou o menu que surpreendeu os convidados deste
LA PREMIÈRE,
ALTA-COSTUR A A BORDO
Se os “casulos” da classe Business já impressionaram
pelo conforto e funcionalidade, o melhor de toda esta
revolução na frota da Air France ainda está para chegar.
As cabines da primeira classe, suites La Première para
os amigos, estão ainda em processo de renovação e
têm estreia programada para finais de Setembro. O voo
inaugural tem como destino Jacarta, na Indonésia, com
passagem por Singapura.
Quem optar por viajar neste regime não será poupado
a luxos. A poltrona confortável transforma-se, ao toque
de um botão, numa cama de dimensões generosas –
dois metros de comprimento, quase 80 centímetros
de largura. Cada lugar tem um ‘closet’ privado, um
candeeiro de mesa-de-cabeceira com intensidade de luz
regulável, e muito espaço para, durante o voo, fazer o
que bem entender. A mesa é enorme e permite que se
tenha um convidado às refeições. A televisão, com ecrã
de última geração com 24 polegadas (61 centímetros)
garante várias horas de entretenimento a bordo. Tudo
decorado com simplicidade, funcionalidade e bom
gosto, em cores harmoniosas – cinzento e azul claro com
alguns toques de encarnado, acabamentos em metal,
paredes com efeito pele e camurça – para um toque
‘cosy’, de conforto absoluto. É uma verdadeira suite,
com um total de três metros quadrados, que nada fica a
dever às suites de alguns hotéis, em conforto.
A juntar ao espaço incontestável, estão os lençóis, o
édredon e a almofada (confortável, feita em parceria
com os hotéis Sofitel), a oferta de um pijama e um cobertor. As cortinas fecham na totalidade ou parcialmente, criando um verdadeiro ninho de privacidade. Cereja
no topo: o ‘kit’ de ‘amenities’ é Givenchy.
A companhia dedicou especial atenção também às
loiças, ao ‘catering’ – que pode ser escolhido pelo
passageiro antes da viagem e totalmente personalizado,
incluindo champanhe e caviar em menus genuinamente
franceses criados especialmente para a La Première por
‘chefs’ renomados, alguns com três estrelas Michelin
como Joël Robuchon, Régis Marcon, Guy Martin, Michel
Roth ou Anne-Sophie Pic.
“O objectivo destes quatro anos de trabalho intenso
é fazer o passageiro sentir-se em casa, na sua casa
francesa, privada, nas nuvens”, comenta Bruno
Matthieu, director dos voos de longo curso e da
actividade dos passageiros da companhia. E deixa uma
promessa: “Não vamos parar por aqui.”
Julho 2014 Fora de Série
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FOTOGRAFIAS CEDIDAS PELA MARCA
“QUEREMOS, ATÉ
2016, SER UMA DAS
TRÊS MELHORES
COMPANHIAS
AÉREAS DO MUNDO”.
ROTA HISTÓRICA
Mas porquê Nova Iorque para este voo inaugural? A escolha da rota não foi, obviamente, aleatória. Alexandre
de Juniac, o CEO da Air France, conta mais tarde, numa conferência de imprensa, que há muitos anos, mais
de 70, que Paris vive uma história de amor com Nova
Iorque. “Ambas as cidades partilham laços, sejam eles
históricos, culturais e intelectuais. Esta rota assume-se como uma ponte sobre o oceano que liga a cidade-luz à cidade que nunca dorme. Além disso, o trajecto
Paris-Nova Iorque é líder em termos de capacidade de
passageiros da rede Air France. Desde 1946, data em
que nasceu o serviço transatlântico, que Nova Iorque
se tornou no destino em que a companhia aérea testou todas as suas inovações”. Senão, vejamos: ao longo dos 80 anos da companhia, destacam-se anos especiais, que são marcos na história da inovação da marca.
“A criação da rota Paris-Nova Iorque em 1950; o lançamento do Concorde em 1977; a introdução do A380 em
2009;e agora a renovação das cabines em 2014. Tudo
marcos inaugurados em Nova Iorque”, conta Juniac.
Horas depois, menos do que as que eu gostaria,
o Boeing 777 aterra em solo americano, no aeroporto JKF. À saída, a tripulação despede-se ligeiramente emocionada. Não é todos os dias que se inaugura
um voo com cabines novas em todas as classes, ainda a cheirar a novo. Tenho direito a um certificado de
voo a enumerar todas as experiências que vivi a bordo daquela aeronave. Não passarão mais de 24 horas
até que volte a apanhar o voo de regresso à Europa.
Afinal, o que contava nesta viagem não era o destino,
mas o meio para lá chegar. E esse, passou com distinção (não esquecendo, claro, que a minha experiência
sensorial com a Air France começou logo à porta de
casa, em Lisboa, com o serviço de limousine da companhia, que me levou ao aeroporto com todo o conforto, evitando o aborrecimento dos táxis ou do estacionamento do automóvel. No aeroporto a experiência
prossegue, nos ‘lounges’ que a companhia renovou e
preparou para aliviar o peso das viagens de longo curso no passageiro). O regresso a casa fez-se a bordo do
A380 (que, junto com o A330, será o próximo alvo deste ‘upgrade’ da Air France-KLM). Desta feita sem direito a “casulo”. Tive saudades, confesso…