meninas iradas perguntam
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meninas iradas perguntam
Hilary Black por camila ViegasLee Casar por de Nova York meninas iradas perguntam dinheiro? Numa sociedade em que não há segredos nem sobre a vida sexual, falar em dinheiro ainda é tabu, diz a escritora norte-americana Hilary Black A escritora norte-americana Hilary Black: o que acontece quando amor e dinheiro se chocam 44 Elas&Lucros Fotos: Gilberto Tadday Quando Hilary Black terminou um namoro de muitos anos com o milionário Ted, suas amigas disseram desconsoladas que ela estava perdendo uma oportunidade única. “Esse homem poderia tomar conta de você para sempre.” “Você tinha tirado a sorte grande.” Black ficou surpresa que suas amigas – educadas, inteligentes e independentes – mantivessem idéias tão arcaicas. “A sociedade (americana) mudou muito desde os tempos de Jane Austin, quando o futuro de uma mulher dependia da união com um homem de renda confiável”, diz Black. “Mas a noção de encontrar um príncipe encantado e rico ainda existe.” De fato, uma pesquisa recente da Prince & Associates, empresa americana especializada em gerenciamento de fortunas, mostra que dois terços das mulheres entrevistadas responderam que estavam “muito” ou “extremamente” dispostas a casar por dinheiro. Pensando nisso, Black começou a se perguntar se é mesquinharia, ou simplesmente pragmatismo, o que move essas mulheres. Por que algumas são capazes de contar com o amor para passar por dificuldades financeiras e outras não? Como o dinheiro interfere nas decisões que tomamos e até que ponto ele determina os valores que decidimos manter? O que acontece quando dinheiro e amor se chocam? Acostumada a encomendar perfis de celebridades para revistas como More e Tango, Black começou a perguntar se as jornalistas tinham histórias pessoais sobre dinheiro e relacionamentos. O resultado se transformou em um livro, editado por Black, com 27 ensaios, publicado nos Estados Unidos em janeiro pela editora William Morrow. The Secret Currency of Love: the Unabashed Truth about Women, Money, and Relationships (A Moeda Secreta do Amor: a Verdade Descarada sobre Mulheres, Dinheiro e Relacionamentos) é dividido em três partes: dinheiro e romance, dinheiro e família, dinheiro e si próprio. Black falou com Camila Viegas-Lee, correspondente de Elas & Lucros, antes da festa de lançamento do livro, no antiquário do novo namorado, em West Village. Elas&Lucros 45 meninas iradas perguntam Hilary Black Você levou um ano para organizar o livro. O que é tão secreto sobre a moeda do amor? Eu trabalhei muitos anos como editora de revistas e tinha um relacionamento profissional com muitas dessas autoras. Com o passar dos anos, coisas como “minha cor preferida é verde”, “moro em Westchester”, “não gosto de praia” acabavam entrando na conversa e eu achava que conhecia minhas colaboradoras. Mas, quando comecei a ler os textos que elas mandaram sobre dinheiro, fiquei chocada, não fazia a menor idéia de que elas tinham passado por isso. Dinheiro é um assunto muito pessoal. Você pesquisou o assunto para editar o livro? Não encontrei muito material que tratasse desse tema sob um ângulo pessoal. Até sexo é menos secreto que dinheiro nessa cultura, e é por isso que o tema é particularmente intrigante. Encontrei nos jornais muito sobre dinheiro e finanças como auto-ajuda: “como ganhar mais dinheiro’, “como investir bem”, “como economizar”, “como se preparar para a aposentadoria”. E há muitas matérias que dão ênfase ao público feminino: “tome as rédeas de seu dinheiro”, “não deixe que seu marido faça tudo”... Mas não se publica o lado pessoal das finanças, e é isso que eu queria ver. Você tem dito que dinheiro é o último tabu de uma cultura que fala sobre tudo, como a americana. Por quê? Por uma série de razões e, principalmente, porque dinheiro está associado à auto-estima, especialmente para homens. As pessoas relacionam dinheiro com valor próprio e a quanto sucesso elas conseguiram obter em vida. Digamos que você esteja passando por uma fase difícil no trabalho, ou você esteja correndo o risco de perder o emprego, ou você não recebeu o aumento que esperava. Para muita gente, isso não é algo que simplesmente acontece por azar. Isso faz com que a pessoa se sinta mal, e é por isso que ela não quer que os outros saibam – até mesmo seus melhores amigos, porque dá vergonha. Numa cultura em que todo mundo fala sobre tudo, no show da Oprah ou do Dr. Phil, dinheiro é um dos últimos vestígios de um passado em que não se falava de religião, sexo, política ou dinheiro. Até pouco tem- “Até sexo é menos secreto que dinheiro na cultura norte-americana, e é por isso que o tema é particularmente intrigante. Pouco se publica sobre o lado pessoal das finanças” 46 Elas&Lucros Fotos: Gilberto Tadday “Dinheiro é tabu porque está associado à auto-estima. As pessoas o relacionam com seu valor próprio e a quanto sucesso elas conseguiram obter em vida” po atrás, as mulheres não falavam sobre peso, e isso deu a volta completa. Vivemos numa sociedade diferente agora, e o que era considerado mal-educado mudou. Qual foi a reação das jornalistas quando você perguntou se elas tinham histórias pessoais sobre dinheiro e relacionamento? Muitas das autoras viram o processo como uma oportunidade de encarar o passado. Elas trataram do assunto de forma muito apaixonada. Debaixo da superfície reticente há muita emoção associada com esse tipo de revelação. A imprensa tem coberto muito o lado de dinheiro e romance, mas o livro traz histórias de relacionamentos entre pais e filhos, como ensinar os filhos a dar valor ao dinheiro. Uma das histórias é sobre um casal que está fazendo das tripas coração para colocar os filhos numa escola privada. E os coleguinhas convidam os filhos para pegar o jatinho particular e passar o dia na fazenda. Outro texto é sobre como a mãe da autora tenta controlá-la, ameaçando deserdá-la. Esse tipo de coisa não se fala em coquetéis. Uma das autoras me escreveu um texto incrível, mas depois se arrependeu e pediu que eu não o publicasse. Ela estava com medo de perder uma amiga de infância. Essas questões monetárias pegam tão fundo, que um texto tem a capacidade de terminar uma amizade de anos. Quais são seus ensaios favoritos? E o que neles chamou sua atenção? Eu adoro todos eles e não queria publicar nada que não fosse intrigante. Mas, como o assunto é muito subjetivo, alguns textos vão atrair algumas pessoas mais do que outras. Um dos que eu mais gosto foi escrito por Jennifer Wolff Perrine e trata de como ela adotou sua filha. A criança era a terceira de um casal que já tinha dois meninos e não tinha recursos para criar mais um. Jennifer acabou ajudando o casal durante o período de gravidez e contou como foi a experiência. As pessoas me ligam em lágrimas para comentar a história. E gosto do texto de Kathryn Harrison, que descreve a obsessão de sua mãe por sapatos antes de morrer, aos 40 anos. No leito de morte, o câncer já tinha se espalhado pelo corpo todo, menos para os pés. Ela encomendou dúzias de sapatos pela internet. Os sapatos continuaram chegando depois de ela morrer. É Elas&Lucros 47 meninas iradas perguntam Hilary Black interessante como o dinheiro afeta a emoção, e como as compras a ajudavam a lidar com a morte. Quando você estava editando esse livro, pensou no tipo de leitor ele iria atrair? À medida que os textos iam chegando, meu namorado e eu os líamos juntos e tínhamos conversas muito francas sobre nossas próprias experiências e finanças. Acho que, como os textos são muito pessoais e escritos por mulheres, o público feminino pode acabar entendendo melhor, mas espero que o livro estimule conversas entre os dois sexos. Muito do livro é como homens e mulheres lidam diferentemente com dinheiro. E acho que ele pode atingir todo mundo, porque, seja rico, seja pobre, pródigo ou caxias, ninguém escapa de questões financeiras, e elas afetam nossos relacionamentos quer a gente queira, quer não. Você aborda questões de raça e classe social? O texto de Sheri Holman, por exemplo, trata de noções de classe. Ela descreve um relacionamento de três anos, quando ela tinha acabado de concluir a faculdade, com um mendigo viciado em drogas. Ela se apaixonou por ele quando mudou para Nova York, e isso deixou seus pais de classe média enlouquecidos. O texto analisa o que fez com que ela fosse atraída por ele. O ensaio de Veronica Chambers é sobre como ela teve uma infância difícil e sem dinheiro e como conseguiu estudar e hoje quer dar tudo a sua filha. Dinheiro para ela é segurança. Elizabeth Williams escreve sobre a sensação de culpa por não querer ajudar o irmão, que não se deu tão bem na vida quanto ela. Esses ensaios são de autoria de profissionais da escrita. Você não pensou em contatar pessoas que trabalhassem em outros meios? Essa é uma boa pergunta, e pensei nisso quando estava produzindo o livro. Eu cheguei a pedir textos para mulheres que trabalham no mercado financeiro, por exemplo, mas elas não escreviam muito bem (sobre algo tão pessoal). Se o assunto fosse cachorro, seria diferente, mas o tema é tão difícil e pessoal que optei pelas escritoras profissionais, e acabei com textos de quem não tem muito dinheiro. (Risos.) “Um dos textos do meu livro descreve um relacionamento de três anos de uma mulher de classe média, recém-formada, com um mendigo viciado em drogas” 48 Elas&Lucros Foto: Gilberto Tadday