Sensor de Turbidez.
Transcrição
Sensor de Turbidez.
Sensor de Turbidez Turbidity Sensor Cesar Roberto de Souza EXTECAMP UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS - UNICAMP [email protected] Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar a implementação de um sensor de turbidez fazendo uso de IR e Fototransistor. Devido a altos índices de detritos sendo despejados em rios e lagos causado por diversos fatores, como chuvas, que acabam por levar agrotóxicos que são pulverizados em plantações. Este sistema tem por objetivo propor uma forma de monitoramento desses detritos, entre outros, que são levados a rios e lagos. Abstract: This article aims to present the implementation of a turbidity sensor using IR and Phototransistor. Due to high levels of waste being dumped in rivers and lakes because of several factors like rainfall, which finally lead pesticides that are sprayed on crops. This system aims to propose a way of monitoring these debris, among others, brought to the rivers and lakes. 1. Introdução Na atualidade um dos grandes problemas enfrentados pelo homem é a poluição, que afeta o solo, o ar e principalmente os recursos hídricos. As inovações tecnológicas nos permitem analisar as alterações decorrentes da contaminação dos recursos naturais, no momento que a mesma está ocorrendo, ou simplesmente para controlar os níveis de poluição já existentes, evitando o agravamento da mesma. Sabendo da importância da mensuração da turbidez, para identificar alterações decorrentes da poluição do meio ambiente, principalmente nos recursos hídricos, e não havendo na literatura, um mecanismo para monitoração continua da mesma. Essas informações podem ser armazenadas e analisadas no decorrer do tempo para verificar as mudanças e suas possíveis causas. Este artigo teve como objetivo desenvolver através da engenharia e com baixo custo, um sensor para esta finalidade. 2. Turbidez Turbidez é o termo aplicado a matéria de qualquer natureza suspensa na água. Normalmente a turbidez é ausente em águas subterrâneas e se faz presente em águas na superfície e é medida em Unidades Nefelométricas de Turbidez – NTU (Sigla em Inglês).[11] De forma geral a turbidez mede a dificuldade de um feixe de luz a atravessar uma determinada quantidade de água, ou seja, quanto mais turva a água menos luz consegue atravessar. As principais causas da turbidez são: matérias suspensas, matérias orgânicas e inorgânicas, organismos microscópicos, algas. A origem desses materiais podem ser os mais diversos como o solo, mineração, as indústrias, ou o esgoto doméstico lançados nos mananciais. O uso da água no setor agroindustrial tem grande importância, pois é muito utilizada desde a limpeza de equipamentos e do ambiente, até o processamento de alimentos. Portanto é muito importante a manutenção da qualidade de água [5]. Diante deste fato, é de fundamental importância o monitoramento da água, para permitir que esta apresente adequadas especificações quanto à qualidade física, química e bacteriológica. Para tal monitoração um dos parâmetros utilizados é a medição de turbidez, que tem a sua importância por ser um método utilizado na caracterização de águas para fins de balneabilidade, piscicultura e abastecimento [8]. A turbidez é caracterizada pela redução da transparência da água, ocasionada pelo material em suspensão, que reflete a luz, dificultando a sua passagem pela solução. Figura 1. Fatores que influenciam no bloqueio da passagem de luz. Fonte: IOCCG (2000, p. 9). Na Figura 1 pode-se visualizar os fatores que influenciam a luz emergente que deixa o corpo de água. Na seqüência de “a” até “e”, podemos verificar respectivamente o retro-espalhamento pelo material inorgânico em suspensão, o retro-espalhamento pelas moléculas de água, a absorção pela matéria orgânica dissolvida, a reflexão do fundo e o retro-espalhamento pelo fito plâncton. foi utilizada a borracha isolando e selado com veda rosca. Dessa forma, evitando a penetração da água. A Figura 3 demonstra os sensores devidamente montados e isolados. 3. Metodologia Para tal implementação foi utilizado um LED, um Emissor IR e 2 fototransistores que foram submersos em água para analisar a quantidade de luz que chega ao fototransistor. A utilização de 2 emissores um dentro da faixa de freqüência visível e outro fora da faixa de freqüência visível, se deu para analisar a resposta de cada um em diferentes níveis de turbidez da água. Os dois emissores não operam ao mesmo tempo, no qual, um faz a leitura e 13 segundos depois o outro efetua a leitura. Para mesclar as leituras foi implementado um programa no PIC16F877 que envia um pulso a cada 13 segundos que alimenta a base dos transistores que efetuam o chaveamento dos sensores. O PIC também efetua a leitura da tensão do receptor e envia via serial para um banco de dados para posterior análise do nível de turbidez. Figura 3. Cápsulas montadas para isolar os sensores de fontes luminosas exteriores. Para evitar influências luminosas externas foram utilizadas, uma caixa preta para circuito e um tubo de filme, no qual, na caixa preta encontra-se o emissor IR e no tubo de filme o LED. O isolante preto foi escolhido, pois o preto absorve todas as cores, evitando fontes luminosas externas. Os testes foram efetuados em diversas substancias, como Cal, terra preta, terra vermelha. Porém para análise dos resultados foram utilizados os testes efetuados com a terra preta e terra vermelha. Em um Becker de 2000ML com água foram despejadas, em curtos espaçamentos de tempo, a terra preta e em cada um desses momentos a turbidez da água foi medida por meio de um turbidímetro, aparelho utilizado para medição de turbidez, e a tensão de saída no receptor de cada um dos sensores era coletado, para posteriores análise dos resultados. Esse procedimento era repetido de hora em hora, pois, durante esse período a turbidez da água iria diminuindo devido a decantação da terra contida na mesma. Após os testes com a terra preta os mesmo testes foram efetuados com terra vermelha. Figura 2. Circuito desenvolvido no PSpice Student. Na Figura 2 encontra-se circuito implementado, no qual, em A e B o PIC enviará o sinal para chavear a alimentação dos emissores e no ponto C o PIC efetuará a leitura da tensão do receptor, após este receber o sinal do receptor. Quanto maior o sinal que o receptor receber, menor será esta tensão e vice-versa. Um dos principais desafios a serem superados foi o isolamento dos sensores, pois estes deveriam ficar submersos em água. Para isso, Teste 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Figura 4. Monitoração da turbidez. Na figura 4 encontram-se da esquerda para a direita, o laptop utilizado para coletar os dados, o circuito para efetuar a interface entre o dispositivo e o laptop e controlar o sensor, o recipiente com água turva e o aparelho medidor de turbidez utilizado para calibrar o sensor desenvolvido. 4. Resultados Com os resultados coletados durante os testes, foram montadas duas tabelas e testes de correlação e regressão linear foram efetuados. A aplicação desses testes foi motivado pelo fato de os testes terem apresentados respostas aparentemente linear [1][2]. Os resultados coletados durante os testes com terra preta e terra vermelha estão representados nas Tabelas 1 e 2 respectivamente. Teste 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 LED 0.20 0.90 1.57 1.45 1.30 1.05 0.88 0.73 0.56 0.45 IR 0.22 0.56 0.38 0.30 0.29 0.28 0.27 0.27 0.26 0.26 NTU 3.20 757 435 394 334 328 292 274 255 228 Tabela 1. Resultados medidos com terra preta. LED 0.11 0.11 0.11 0.11 0.12 0.11 0.11 0.11 0.11 0.11 0.11 0.11 IR 0.20 0.75 0.63 0.54 0.50 0.46 0.32 0.29 0.28 0.27 0.27 0.24 NTU 1.90 1332 879 620 516 465 460 411 364 313 280 233 Tabela 2. Resultados medidos com terra vermelha. Nas Tabelas 1 e 2 os dados foram distribuídos na ordem dos testes, contendo uma coluna com os resultados obtidos no sensor implementado com LED, uma coluna com as respostas do sensor implementado com IR e uma coluna de turbidez, que é medida em NTU. Primeiramente foi efetuada uma análise, por meio do diagrama de dispersão, um diagrama que apresenta a tendência da relação entre os eixos x e y. Esses gráficos foram gerados pelo software BioStat 2008, que é um software utilizado para efetuar análises estatísticas. Os Gráficos 1 e 2 representam um diagrama das respostas apresentadas pelo LED e IR respectivamente durante o teste com terra preta. Diagrama de dispersão LED x NTU Gráfico 1. Diagrama de dispersão da amostra (LED x NTU). apresentam o diagrama de dispersão apresentadas pelo LED e IR respectivamente durante o teste com terra vermelha. Gráfico 2. Diagrama de dispersão da amostra (IR x NTU). No Gráfico 1 é possível analisar uma resposta favorável na relação LED x NTU, exceto pelo fato da segunda medição ter apresentado uma baixa leitura e um alto valor de turibidez. Este caso pode ter se dado devido ao fato da luz do LED pertencer a uma faixa de freqüência visível e a cor da água ter influenciado no resultado. No gráfico 2 a resposta foi mais favorável, na qual, a tensão de leitura aumenta quando a turbidez aumenta e vice-versa. Gráfico 3: Diagrama de dispersão da amostra (LED x NTU). Para uma análise mais precisa, o teste de correlação r de Pearson foi aplicado ás duas amostras. No primeiro caso o teste de correlação não rejeitou a hipótese de nulidade (ρ>0,05), com r = 0,5502. Portanto, não podemos dizer que há uma relação LED x NTU. Este resultado pode ter se dado devido ao fato da segunda medição ter apresentado um valor consideravelmente diferente dos demais. No segundo caso a hipótese de nulidade (ρ<0,05) pode ser rejeitada, ou seja, a amostra é estatisticamente significante com coeficiente de correlação r = 0,935 que é próximo a 1. Dessa forma, é possível dizer que a tensão de leitura no receptor aumenta com o aumento da turbidez da água. Para expressar o resultado matematicamente foi aplicado o teste de regressão linear na amostra do IR x NTU. Este teste não foi aplicado na relação LED x NTU, pois não podemos dizer que há uma resposta linear durante o teste de correlação linear. Após aplicação do teste de regressão linear na amostra, foi obtida a seguinte expressão; IR = 0,1511 + 0,0005 * NTU Na qual, IR é dado em Volts e NTU é o nível de Turbidez da água. Essa expressão demonstra de uma forma matemática o resultado obtido na amostra, posteriormente essa expressão foi comparada com a obtida no teste com terra vermelha. Os Gráficos 3 e 4 Gráfico 4. Diagrama de dispersão da amostra (IR x NTU). Por meio do Gráfico 3 é possível analisar que a hipótese de nulidade não pode ser descartada, não sendo necessária o teste de Pearson, porém o teste será aplicado para demonstrar como o coeficiente de correlação será próximo a zero. Esse resultado foi obtido, possivelmente, devido ao fato da cor da água não ter influencia para dificultar a passagem da luz. Outro motivo que pode ter influenciado no resultado é que a terra vermelha é mais pesada e mais fina, por isso o processo de decantação é mais rápido. Já no Gráfico 4 pode-se concluir que há uma linearidade de acordo com o aumento da turbidez. Para uma melhor precisão dos resultados novamente é aplicado o teste de correlação linear de Pearson nas amostras. Na amostra LED x NTU obtivemos o coeficiente de correlação r = 0,0244, ou seja, muito próximo a zero. Portanto não é possível descartar a hipótese de nulidade (ρ>0,05) o que confirma a conclusão obtida analisando o Gráfico 3. Já na amostra IR x NTU foi obtida uma resposta satisfatória, cujo, coeficiente de correlação r = 0,9365, número próximo a 1. Portanto, é descartada a hipótese de nulidade (ρ<0,05), ou seja, a amostra é estatisticamente significante e apresenta uma resposta linear com o aumento da turbidez da água. Para finalizar a análise é aplicado o teste de regressão linear na amostra IR x NTU para representar matematicamente resultado obtido. A expressão obtida após a análise segue abaixo; IR = 0,1594 + 0,0005 * NTU Analisando as expressões obtidas durante os testes é possível verificar que são valores bem próximos com uma diferença entre as expressões, apenas a partir da 3ª casa decimal do termo constante. Portanto conclui-se, por meio dos resultados analisados, que houve uma resposta satisfatória da relação da turbidez conforme a penetração de luz na água. 5. Conclusão Com esse projeto conclui-se que através de estudos no ambiente que se desejam obter dados para analisar grandezas físicas e com isso, coletar informações contundentes. Pois, a partir da teoria estudada foi possível adaptar componentes existentes para analisar problemas relacionados à natureza. A partir dos dados coletados e após análises estatísticas dos mesmos, foi verificada a linearidade da relação penetração da luz x Turbidez. Dessa forma foi comprovada a teoria e apresentar uma solução que pode ser empregada em rios e lagos para verificar variações bruscas na turbidez da água. Durante a análise dos resultados, viu-se que o sensor se comporta melhor a altos valores de turbidez, acima de 200 NTU. Isso ocorre devido a alta intensidade de emissão de luz pelo transmissor. Se a corrente no LED/ IR for diminuída é possível obter resultados mais precisos para baixos valores de turbidez. Porém, diminuiria a precisão para níveis de turbidez mais elevados. Por isso, a necessidade de calibração do dispositivo para coletar as variações desejadas. Também foi verificado como a cor da água e substâncias em suspensão podem influenciar em uma fonte com comprimento de onda visível, pois os resultados obtidos a partir do emissor IR foi satisfatório chegando a expressões muito próxima com ambas as amostras. Como essas informações são armazenadas em Banco de Dados, elas podem ser cruzadas para analisar mudanças na turbidez da água em diferentes estações e verificar potenciais causas dessas mudanças. Além disso, pode ser utilizado como meio de fiscalização por órgãos públicos a fim de evitar poluições criminosas. Referências [1]ARANGO, HECTOR GUSTAVO. Bioestatística: Teórica e Computacional. 2ª Edição, 2005. Minas Gerais: Editora Guanabara Koogan. 423p. [2]CALLEGARI-JACQUES, SIDIA M. Bioestatística: Princípios e Aplicações. 2003. Porto Alegre: Editora Artmed. 255p. [3] PEREIRA, FÁBIO. Microcontroladores PIC – Programação em C. 7ª Edição, 2007. São Paulo: Editora Érica. 358p. [4] Água. Disponível em: http://www.brasilescola.com/geografia/agua.htm Acesso em: 10/10/2008. Características da água. Disponível em: http://www.micronal.com.br/artigostecnicos/analise_de_agu a.htm. Acesso em: 10/10/2008. [5] Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CETESB (2005) – Variáveis de qualidade das águas. Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/rios/variaveis.asp. Acesso em: 01/12/2008. [6] INTERNATIONAL OCEAN-COLOUR COORDINATING GROUP. Remote sensing of ocean colour in coastal, and other optically-complex, waters. In: Sathyendranath, S. 153 (ed). Reports of the international ocean-colour coordinating group. Dartmouth, Canada: IOCCG, 2000. [7] Lei das Tensões. Disponível em: http://www.dt.fee.unicamp.br/~www/ea612/node14.html. Acesso em: 15/10/2008. [8]MINISTÉRIO DA SAÚDE (2005) - Portaria nº518, Estabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências. [9] Poluição da água. Disponível em: http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt5.html. Acesso em: 10/10/2008 [10]SQL Server Developer Center. Disponível em:http://msdn.microsoft.com/en-us/library/ms181984.aspx. Acesso em: 20/11/2008. [11]Turbidez em águas. Disponível em: http://www.policontrol.com.br/pdf/artigos_tecnicos/artigo_t ecnico_turbidez.pdf. Acesso em: 10/10/2008.