Premiado com a MEDALHA NEWBERY 2004 para o melhor livro
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Premiado com a MEDALHA NEWBERY 2004 para o melhor livro
(A história de um rato, uma princesa, uma colher de sopa e um carrinho de linhas) Premiado com a MEDALHA NEWBERY 2004 para o melhor livro infanto-juvenil O mundo é escuro e a luz preciosa. Aproxima- te, querido leitor. Deves confiar em mim. Vou contar- te uma história. SINOPSE Despereaux Tilling, um pequeno mas corajoso rato, é diferente dos restantes ratos. Os seus sonhos conduzem-no para fora do mundo dos ratos e para o mundo das pessoas e das ratazanas. Pelo caminho, ele descobre algumas coisas surpreendentes sobre si mesmo e sobre aqueles que o rodeiam. No final, Despereaux descobre que mesmo o ratinho mais pequeno pode ser corajoso e bem sucedido como qualquer cavaleiro andante. PREFÁCIO Despereaux Tilling é um rato que nasceu num castelo, numa manhã de Abril. Seus pais e irmãs olham-no com espanto e desilusão. Desde o momento em que nasce, Despereaux é invulgar. É o único e frágil sobrevivente de uma grande ninhada, os seus olhos abrem-se demasiado cedo, tem orelhas grandes e uma estatura estranhamente pequena para um rato. Despereaux parece estar condenado a ter uma existência bastante curta. Felizmente, este rato especial sobrevive. Escuta sons que mais ninguém ouve e sabe ler. Estes dois talentos especiais, como o leitor vem a descobrir, podem ser perigosos para um rato. Certo dia, Despereaux encontra o rei Phillip e a Princesa Ervilha. O rato é atraído pela música que o rei toca para a sua filha e dá consigo a falar – e a apaixonar-se – pela princesa. O irmão de Despereaux, Furlough, testemunha a cena, cada vez mais assustado. Um rato a falar com um ser humano e a permitir que lhe toquem? Tal coisa nunca poderia ser permitida, ou significaria o fim da comunidade dos ratos. Furlough desata a correr e conta a seu pai e ao conselho dos ratos exactamente aquilo que sucedeu. É nessa altura que o destino do rato é decidido. Entretanto, uma ratazana malvada chamada Roscuro habita as masmorras com as suas companheiras ratazanas e os prisioneiros do rei. O que torna Roscuro diferente de todas as outras ratazanas é a sua crescente obsessão com a luz e a sopa. E Miggery Sow é uma simples camponesa 5 pobre de espírito, que habita o reino com o seu tio. Mig não tem realmente um tio, mas foi vendida a um homem por seu pai, em troca de uma toalha de cozinha vermelha, uma galinha e uma mão-cheia de cigarros. Por que motivo um pai faria tal coisa à sua filha? O leitor pode nunca perceber. Mas se há algo que o leitor sabe certamente é que Mig quer ser uma princesa. O que acontecerá a estas personagens e de que forma estão ligadas? As respostas aguardam-nos na leitura do livro. 6 EXCERTO Livro Primeiro NASCE UM RATO Capítulo Um o último Esta história começa dentro das muralhas, com o nascimento de um rato. Um rato pequenino. O último rato a nascer de seus pais e o único sobrevivente da sua ninhada. – Onde estão os meus filhos? – perguntou a mãe exausta, quando o seu sofrimento terminou. – Mostrem-me os meus filhos. O pai rato ergueu um ratinho pequenino no alto. – Apenas este resistiu – disse. – Os outros morreram. – Mon dieu, só um ratinho bebé? – Só um. Queres dar-lhe um nome? – Tanto trabalho para nada – comentou a mãe. Suspirou. – É tão triste. É tanta a desilusão. Tratava-se de uma ratinha francesa que chegara ao castelo há muito, muito tempo, na bagagem de um diplomata francês que viera de visita. «Desilusão» era uma das suas palavras preferidas e usava-a muitas vezes. – Vais dar-lhe um nome? – repetiu o pai. – Se vou dar-lhe um nome? Se vou dar-lhe um nome? Claro que sim, mas ele morrerá como os outros. Oh, é tão 7 8 triste. Oh, é tamanha a tragédia. A mãe rata levou um lenço ao focinho e abanou-o em frente à cara. Fungou. – Vou dar-lhe um nome. Sim. Chamarei a este rato Despereaux, por toda a tristeza, pelos muitos desesperos deste lugar. Agora, onde está o meu espelho? O seu marido entregou-lhe um pequeno estilhaço de espelho. A mãe rata, que se chamava Antoinette, olhou para o seu reflexo e gritou de espanto. – Toulèse – disse a um dos seus filhos –, vai buscar a minha bolsa de maquilhagem. Os meus olhos estão um susto. Enquanto a Antoinette retocava a pintura dos olhos, o pai rato pousou Despereaux numa cama feita de trapos de cobertor. O sol de Abril, débil mas determinado, brilhava por uma das janelas do castelo e espremia-se por um buraquinho pequeno na parede, lançando um dedo dourado sobre o ratinho. Os outros ratos, mais velhos, juntaram-se todos para observarem Despereaux. – As orelhas dele são muito grandes – disse a sua irmã Merlot. – Nunca vi orelhas tão grandes. – Vejam – disse um irmão chamado Furlough –, os olhos dele estão abertos. Papá, ele tem os olhos abertos. Não deviam estar abertos. É verdade. Os olhos do Despereaux não deviam estar abertos. Mas estavam. Estava a fitar o sol que se reflectia do espelho da sua mãe. A luz brilhava em direcção ao tecto, numa auréola cintilante, e ele sorria ao vê-la. – Passa-se alguma coisa com ele – disse o pai. – Deixem-no em paz. Os irmãos e irmãs do Despereaux afastaram-se do novo ratinho. – Este é o último – declarou a Antoinette, deitada na cama. – Recuso-me a ter mais ratinhos. São uma completa desilusão. Destroem-me a beleza. Estragam-me a aparência. Este foi o último. Nunca mais. – O último – disse o pai. – E morrerá em breve. Não pode sobreviver. Não com os olhos assim abertos. Mas, leitor, ele sobreviveu. E esta é a sua história. Kate DiCamillo Kate DiCamillo atribui ao filho de uma amiga a inspiração para o seu extraordinário livro, A Lenda de Despereaux: a História de um Rato, uma Princesa, uma Colher de Sopa e um Carrinho de Linhas. Como a própria afirma, “há uns anos atrás, o filho da minha melhor amiga perguntou-me se poderia escrever uma história para ele. Bem, Luke Bailey, três anos mais tarde, aqui está a história do 9 10 que se passou com o nosso improvável herói, de orelhas enormes”. A Lenda de Despereaux é o terceiro livro de Kate DiCamillo. O primeiro, Por Causa de Winn-Dixie, recebeu vários prémios, incluindo a medalha de honra dos Prémios Newberry. O seu segundo romance, o finalista do National Book Award, A Libertação do Tigre, é “consideravelmente mais negro” do que Por Causa de Winn-Dixie, observa, “mas está cheio de luz e redenção”. Kate DiCamillo nasceu em Filadélfia, Pennsylvania, mas mudou-se para a Florida aos cinco anos de idade. Actualmente, mora em Minneapolis, Minnesota, onde escreve cumpridoramente duas páginas por dia, cinco dias por semana. “E. B. White disse que ‘Tudo o que espero dizer nos livros e tudo o que alguma vez esperei dizer foi que amo o mundo”, cita “Sinto exactamente o mesmo.” Timothy Basil Ering Nas suas ilustrações de A Lenda de Despereaux: a história de um rato, uma princesa, uma colher de sopa e um carrinho de linhas, Tim Ering conduz o seu extraordinário talento na direcção de um estilo clássico, com um toque contemporâneo. Afirma o ilustrador que “A minha mãe pode ter sido um rato na sua vida passada, pois durante a minha infância vi-a salvar muitos ratos na nossa casa. As ilustrações que fiz de Despereaux Tilling são, de certa forma, o meu tributo a ela”. Tim Ering ilustra livros, revistas, cenários de teatro, murais privados e expõe em galerias de arte. O artista, invariavelmente salpicado de tinta, vive e trabalha em Somerville, Massachusetts. 11 A CRÍTICA “A Autora de Por Causa de Winn-Dixie e de A Libertação do Tigre muda de orientação, demonstrando a sua versatilidade, enquanto torna a provar o seu génio, passeando-se pelos temas universais da infância. Leitor, … tenho a dizer-te que vais adorar.” Publishers Weekly “DiCamillo cria o cenário para uma batalha entre as forças da Escuridão e da Luz em A Lenda de Desperaux, e o livro é uma extraordinária demonstração de coragem.” The New York Times 12 “Um conto cheio de voltas e reviravoltas, com sopa proibida e colheres de sopa, ratos ansiosos por sangue de rato, uma criada que quer ser princesa, um cavaleiro de armadura cintilante – ou pelo menos peluda – e todos os ingredientes de um drama à moda antiga.” Kirkus Review “Com mão de mestre, DiCamillo tece quatro histórias em conjunto, numa narrativa bem-humorada e carregada de suspense, que pede para ser lida em voz alta.” School Library Journal “Tão comovente como delicioso… Um conto de fadas clássico, rico e, que nos satisfaz por inteiro.” Booklist “De parar e aquecer o coração… Uma leitura perfeita para ser feita em voz alta.” San Francisco Chronicle “Inesperadamente complexo, graças às relações entre as diferentes personagens, a fábula de DiCamillo, encantadoramente ilustrada por Timithy Basil Ering, oferece-nos uma cuidadosa orquestração, sem exageros, de elogio ao poder do amor e do perdão.” 13 San Francisco Chronicle “Dou a este livro a classificação mais alta: cinco estrelas em cinco.” Newsday PRÉMIOS E DISTINÇÕES Mais de 1 milhão de exemplares vendidos nos E. U. A. Medalha Newberry 2004 Bestseller do New York Times (Mais de 90 semanas no Top) Melhor livro do ano para crianças – Publishers Weekly ENTREVISTA Por Heidi Henneman 14 Quando Kate DiCamillo tinha 20 anos (não há muito tempo atrás), disse a toda a gente que era uma escritora. Pelo menos, assim pensava. Na verdade, ela sabia que era. Mas havia um problema: ainda não tinha escrito nada. Depois de se licenciar na Universidade da Florida, no curso de Inglês, teve empregos no Circus World e na Disney World. Chegou a gritar “bingo” num acampamento infantil. “Naquela altura, pensava que não ia a lado nenhum”, admite a autora aclamada pela crítica. “Agora consigo ver que havia uma certa lógica.” Quando se mudou do seu lar na Florida para o Minnesota e assumiu um lugar numa livraria para crianças, a lógica – trabalhar com crianças – começou a materializar-se e o seu sonho de se tornar uma autora em breve se tornou realidade. “Finalmente descobri que precisava de escrever alguma coisa para ser uma escritora”, diz DiCamillo, “por isso, comecei a escrever contos”. Sendo uma sulista longe de casa, o primeiro Inverno gelado no Minnesota foi demasiado exigente para a autora. “Tinha saudades de casa, mas não podia regressar”, recorda, “e era a primeira vez que eu não tinha um cão”. Foi a partir desta experiência que desenvolveu a ideia para o seu primeiro livro, Por Causa de Winn-Dixie (2000). Apresentando a história de uma menina solitária chamada Opal, que adopta Winn-Dixie, um rafeiro de coração generoso, o livro – com o cenário da Florida – ganhou a Medalha de Honra do Prémio Newberry e atingiu os primeiros lugares da lista de best sellers do New York Times. A obra que se seguiu, A Libertação do Tigre (2001) baseia-se numa personagem que ela criara num dos seus contos. Rob Horton, um menino de doze anos que chora a morte da sua mãe, faz uma descoberta impressionante: existe um tigre no bosque, atrás do Motel Estrela de Kentucky, onde mora com o seu pai. A mágica criatura abre uma série de novas possibilidades na vida de Rob, incluindo uma amizade com uma menina de olhos negros chamada Sistina, muito animada. Outro sucesso entre a crítica, A Libertação do Tigre foi finalista do National Book Award e integrou a selecção do Book Sense 76. O seu livro mais recente para jovens leitores surgiu de forma muito diferente. A Lenda de Despereaux foi inspirada no filho de uma das amigas mais queridas de Kate DiCamillo. “Ele queria uma história sobre um herói pouco provável”, lembra DiCamillo, “e o herói tinha de ter orelhas muito grandes”. Tentou explicar ao rapaz que as personagens não se materializam por encomenda; têm de existir como ideias na cabeça do escritor, para que possam funcionar. Contudo, nos meses que se seguiram, pensando sobre o projecto, algo fez sentido 15 16 para DiCamillo. Três anos mais tarde, A Lenda de Despereaux estava terminada. O ratinho herói do romance, Despereaux Tilling apaixonou-se por um ser humano, a bonita Princesa Ervilha, cuja família é proprietária do castelo que ele considera como lar. Mas o romance é impedido pelo pai e, logo de seguida, Despereaux é aprisionado numas masmorras húmidas. À história mágica do rato, DiCamillo acrescenta as aventuras dos restantes habitantes do castelo, incluindo uma ratazana chamada Chiaroscuro e Miggery Sow, uma jovem criada que sonha em tornar-se princesa. Com as qualidades de um conto de fadas à moda antiga e os deliciosos desenhos a lápis de Timothy Basil Ering, o livro é sem dúvida um novo impulso na carreira de DiCamillo, que os leitores certamente apreciarão. Quanto ao futuro dos romances para crianças, DiCamillo promete que haverá mais. “Estou à mercê de tudo o que vier à minha cabeça”, explica. “Todos os dias me levanto e escrevo duas páginas. É um objectivo simples que eu sei que posso cumprir, esteja a escrever um livro ou não.” Mais importante, esta antiga funcionária da Disney e apresentadora de bingo assegura que continuará a provar que é uma genuína escritora, embora isso não seja alvo de desconfiança por parte dos leitores. O FILME Sylvain Chomet será o responsável pela passagem do livro de Kate de DiCamillo ao grande ecrã. Indigitado para os Oscares de 2004 pelo filme de animação Belleville Rendez-Vous, o realizador francês dirigirá o projecto da Universal Pictures, com argumento baseado na história de A Lenda de Despereaux. Ao contrário do que se pensava, Gary Ross não terá a seu cargo a adaptação do livro. A dupla Will McRobb e Chris Viscardi, que já trabalha junta há algum tempo, tendo assinado a comédia Quebrando o Gelo e alguns episódios da série Ed, acabou por ser a escolhida. Embora se saiba muito pouco sobre o argumento do filme, pensa-se que andará à volta de uma menina que trabalha como criada, tendo como amigos apenas dois ratinhos: Despereaux, que foi banido por se apaixonar por uma princesa; e Chiaroscuro que em vez de preferir esconderijos escuros gosta de ficar exposto à luz. O lançamento do filme está previsto para este ano. 17 19 SINOPSE 20 India Opal é uma menina de 9 anos que se vê obrigada a mudar de cidade com o pai. Para trás ficam todos os seus amigos... Um dia vai ao supermercado e sai de lá com Winn-Dixie. Um cão meio tolo, de pêlo escasso e sorriso contagiante, que é uma permanente fonte de inspiração. Por causa dele, a amizade, a solidariedade, o valor da alegria e da tristeza, e também o valor de aceitar o que a vida nos traz, entram definitivamente no dia-a-dia de Opal... Por causa de Winn-Dixie é muito mais do que o primeiro livro de Kate DiCamillo publicado em Portugal. É uma oportunidade única para aceder ao discreto encanto e ao lirismo tocante da escrita de uma das mais premiadas e prestigiadas escritoras dos EUA. Um livro que passou a filme com o mesmo sucesso! (disponível em DVD) EXCERTO Capítulo Um O meu nome é India Opal Buloni, e, no Verão passado, o meu papá, o pregador, mandou-me à loja para comprar uma caixa de macarrão com queijo, arroz branco e dois tomates, e eu voltei com um cão. Foi assim que aconteceu: entrei na secção de produtos de mercearia da loja Winn-Dixie para comprar os tomates, e quase fui contra o gerente de loja. Ele estava de pé, muito corado, a gritar e a agitar os braços por todos os lados. – Quem deixou entrar o cão? – continuava a gritar. – Quem deixou entrar um cão sujo destes? A princípio, eu não vi nenhum cão. Só havia montes de vegetais a rebolar pelo chão, tomates e cebolas e pimentos verdes. E havia o que parecia ser um exército enorme de empregados da Winn-Dixie, a correr dum lado para o outro, acenando os braços da mesma forma que o gerente de loja fazia. E então, o cão veio a correr do outro lado. Era um cão grande. E feio. E parecia estar a divertir-se mesmo muito. A sua língua pendia na sua boca e abanava a cauda. 21 22 Derrapou até parar e sorriu só para mim. Nunca na vida tinha visto um cão a sorrir, mas foi isso que ele fez. Repuxou os lábios e mostrou-me os dentes todos. Depois, abanou a cauda com tal força que derrubou algumas laranjas duma caixa e elas começaram a rolar por toda a parte, misturando-se com os tomates e as cebolas e os pimentos verdes. O gerente gritava: – Alguém agarre aquele cão! O cão começou a correr para o gerente, abanando a sua cauda e a sorrir. Pôs-se nas suas patas traseiras. Dava para perceber que o que ele queria fazer era pôr-se cara a cara com o gerente e agradecer-lhe pelo divertimento que estava a ter no corredor das mercearias; mas, de alguma forma, acabou por derrubar o gerente. E o gerente devia estar a ter um mau dia, porque, deitado no chão, mesmo à frente de toda a gente, começou a chorar. O cão inclinou-se para ele, muito preocupado, e lambeu-lhe a cara. – Por favor – disse o gerente –, alguém chame o canil. – Espere um minuto! – gritei. – Esse é o meu cão. Não chamem o canil. Todos os empregados da Winn-Dixie se voltaram e olharam para mim, e eu soube que tinha feito algo errado. E talvez estúpido, também. Mas não consegui evitar. Não podia deixar que aquele cão fosse para o canil. – Aqui, rapaz – disse. O cão parou de lamber a cara do gerente e levantou as orelhas bem no ar e olhou para mim, como se estivesse a tentar lembrar-se de onde me conhecia. – Aqui, rapaz – repeti. E então imaginei que talvez o cão fosse como toda a gente no mundo e que talvez gostasse de ser chamado por um nome, mas eu não sabia que nome era esse, por isso, disse a primeira coisa que me veio à cabeça. Chamei: – Anda cá, Winn-Dixie. E o cão veio a trotar para mim, como se o tivesse feito a vida toda. O gerente sentou-se e fixou o meu olhar, para ver se eu estava a fazer pouco dele. – É o nome dele – disse. – Juro. O gerente disse: – Não sabes que não deves trazer um cão para uma loja? – Sim, senhor – disse-lhe. – Ele entrou por engano. Desculpe. Não volta a acontecer. Vamos lá, Winn-Dixie – disse eu ao cão. Comecei a caminhar e ele seguiu-me enquanto me dirigia para o corredor das mercearias e pelo corredor de cereais, passando por todos os caixas e saindo pela porta. Quando estávamos em segurança lá fora, observei-o com muito cuidado e ele não me pareceu muito bem. Era grande, mas magricelas, pois dava para ver as costelas. E tinha peladas por todo o corpo, havendo lugares onde não tinha um único pêlo. Enfim, ele parecia mais um grande bocado de carpete castanha velha deixado à chuva. – Como tu estás! – disse-lhe. – Aposto que não pertences a ninguém. Ele sorriu-me. Tornou a fazer aquela coisa estranha, 23 em que repuxava os lábios e me mostrava os dentes. Deu-me um sorriso tão grande que espirrou. Era como se dissesse: “Eu sei que estou com mau aspecto. Não é engraçado?” É difícil não nos apaixonarmos imediatamente por um cão com sentido de humor. – Vamos lá – disse-lhe. – Vamos ver o que o pregador tem a dizer sobre ti. E os dois, eu e o Winn-Dixie, começámos a caminhar para casa. 24 PRINCIPAIS PRÉMIOS E DISTINÇÕES Parents’ Choice Awards Gold Award New York Times Book Review Notable Books of the Year Publishers Weekly Best Books of the Year Newbery Award Honor Book Book Sense Book of the Year Award IRA Young Adults’ Choice Mark Twain Award Book Sense Best Books 25 SINOPSE Rob Horton, um menino triste e introvertido de 12 anos, encontra um tigre enjaulado nos bosques por trás do Motel Estrela de Kentucky, onde mora o pai! A situação é inacreditável... E por isso Rob encara esta aparição como uma espécie de truque de magia. Mas, o facto é que a sua vida começa a mudar... Pequena novela, de um simbolismo claro como a água, extremamente intensa na forma como transmite uma emoção profundamente genuína. Kate DiCamillo não pára de nos surpreender! 26 EXCERTO Capítulo Um Naquela manhã, depois de ter descoberto o tigre, Rob avançou, colocou-se debaixo do letreiro do Motel Estrela de Kentucky, à espera do autocarro da escola, como se fosse um dia perfeitamente normal. O letreiro do Estrela de Kentucky era composto por uma estrela amarela em néon, que subia e descia sobre um desenho do Estado de Kentucky, em néon azul. Rob gostava do letreiro, pois acalentava uma frágil mas permanente impressão de que a estrela lhe traria boa sorte. Encontrar o tigre tinha sido para sorte, ele sabia disso. Tinha-se embrenhado nos bosques por detrás do Motel Estrela de Kentucky, muito longe, sem ir à procura do que quer que fosse, apenas vagueando, esperando perder-se ou ser comido por um urso e não ter de ir à escola, nunca mais. Foi aí que ele viu o edifício da velha bomba de gasolina Beauchamp. Perto dali havia uma jaula e, dentro da jaula, estava um tigre – um tigre a sério – caminhando de trás para a frente. Era alaranjado, dourado e tão luzidio, que era quase como estar a olhar de frente para o 27 28 próprio sol, e estava zangado e enclausurado numa jaula. Era de manhã cedo e parecia que ia chover. Tinha chovido todos os dias nas últimas duas semanas. O céu estava cinzento e o ar espesso e quieto. A neblina abraçava o solo. Para Rob, parecia que o tigre tinha sido um truque de magia, surgindo da neblina. Estava tão espantado com a sua descoberta, tão maravilhado, que apenas ficou parado, a olhar. Mas apenas por um minuto. Tinha medo de olhar para o tigre por muito tempo, medo de que o tigre desaparecesse. Olhou, deu meia volta e correu de volta para os bosques, em direcção ao Estrela de Kentucky. E, durante o caminho para casa, enquanto o seu cérebro tentava perceber o que tinha acontecido, o seu coração afirmava-lhe a verdade no seu bater. Tigre. Tigre. Tigre. Era nele que Rob pensava quando estava debaixo do letreiro do Estrela de Kentucky e esperava o autocarro. No tigre. Não pensava no mal nas pernas, nas bolhas comichosas que desafiavam os seus sapatos. O pai dele tinha-lhe dito que, quanto menos pensasse nas bolhas, menos comichão teria. E não pensou na sua mãe. Não tinha pensado nela desde a manhã do funeral, a manhã em que não tinha conseguido parar de chorar, em soluços tão grandes e agitados que tinham magoado tanto o seu estômago. O seu pai, que estava a seu lado, observando-o, tinha começado a chorar também. Ambos vestiam fato naquele dia. O fato do seu pai era muito pequeno. E quando lhe deu uma bofetada para o fazer calar, rasgou-o debaixo da manga. – Não adianta chorar – diria depois o seu pai. – Chorar não a vai trazer de volta. Já se tinham passado seis meses desde esse dia, seis meses desde que ele e o pai se tinham mudado de Jacksonville para Lister, e Rob não chorara mais desde então. Nem uma única vez. A última coisa em que ele não tinha pensado naquela manhã fora entrar no autocarro. Não pensou particularmente no Norton e no Billy Threemonger, à sua espera como cães de guarda acorrentados e esfomeados, ansiosos por atacar. Rob tinha uma forma de não pensar nas coisas. Imaginava-se uma mala a abarrotar de coisas, como a que tinha feito ao deixar Jacksonville, depois do funeral. Tinha feito com que todos os seus sentimentos entrassem na mala. Empurrou-os bem e depois sentou-se em cima da mala, trancando-a com força. Era assim que ele não pensava nas coisas. Às vezes era difícil manter a mala fechada. Mas agora tinha algo para pôr em cima dela. O tigre. Então, enquanto esperava pelo autocarro, debaixo do letreiro do Estrela de Kentucky, e sob a queda das primeiras gotas de chuva do céu escurecido, Rob imaginou o tigre em cima da sua mala, piscando os seus olhos dourados, sentando-se orgulhosa e imperiosamente, indiferente a todos os não-pensamentos encerrados lá dentro, lutando para sair. 29 PRÉMIOS E DISTINÇÕES Finalista do National Book Award, Young People’s Literature Seleccionado pelo Book Sense 76 Vencedor do Parent’s Choice Silver Honor Award Vencedor do Oppenheim Toy Portfolio Gold Award 30 31