O mistério de Clutchy Hopkins
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O mistério de Clutchy Hopkins
Sons da frente de batalha Abra a passagem para o grupo Checkpoint 303, que circula pela Palestina com a sua intifada eletrônica Carlos Albuquerque A cabou o reality show. É hora do reality som. Afinal, se as histórias em quadrinhos de Joe Sacco sobre a Palestina fossem levadas para o cinema, a trilha sonora ficaria muito bem entregue nas mãos do Checkpoint 303. Formado em 2004 pelos produtores Yosh, um palestino que mora em Belém, e MoCha, um tunisiano radicado em Paris, o grupo faz um som — uma nervosa mistura de batidas eletrônicas e temperos orientais — que a própria dupla define, na abertura do seu site <www.checkpoint303.free.fr>, como “a música dos territórios ocupados”. Acompanhe. — O que nos uniu foi o interesse comum por sons alternativos e a vontade de contribuir para que o mundo preste atenção ao sofrimento vivido pelos civis na região da Palestina — conta MoCha, em entrevista ao RF. — Fazer música eletrônica de vanguarda foi a forma que encontramos para unir essas duas pontas. O Checkpoint 303 — nome de um posto de controle militar na região da Cisjordânia — não tem disco ainda. Mas suas músicas já circulam pela internet e podem ser baixadas livremente. — A internet é a plataforma 44 Rio Show 11 de abril de 2008 ideal para difundirmos nossa música e nossa mensagem, que é de união, não de conflito — explica MoCha. — Não consigo imaginar melhor ferramenta para atingirmos pessoas em todo o mundo. Influenciado por um leque musical que vai do minimal do Autechre às guitarras do Sonic Youth, o Checkpoint 303 trabalha, na maior parte do tempo, também separado por uma barreira geográfica. — Não podemos nos encontrar tantas vezes quanto gostaríamos — conta MoCha. — Por isso, trocamos arquivos pela internet. Yosh grava sons nas ruas de Belém e arredores. Ele cria algumas bases e me envia. Eu acrescento outros elementos e vamos trocando idéias até chegarmos a um consenso. O resultado são músicas como “Abraj” e “Gaza calling”, envolvidas pelos sons daquele quase sempre tenso ambiente, como buzinas, sirenes e até tiros. — Queremos reproduzir, através da nossa música, o ambiente onde vivem as pessoas nos territórios ocupados — diz MoCha. — Mas não pretendemos colocar o foco apenas na violência e na opressão. Queremos lembrar que aquelas pessoas também tentam le- var uma vida normal. Enquanto o primeiro disco não sai, o Checkpoint 303 vai fazendo a sua parte em chamar a atenção para o seu som e a sua postura. Há alguns meses, o grupo tocou em Londres, abrindo um show beneficente para o Massive Attack. Mas nem sempre as apresentações são em locais tão famosos. E “seguros”. — Tocamos várias vezes na Palestina: em Ramallah, Jerusalém e Jericó. Tivemos um convite também para um show em Gaza, mas ele foi cancelado por questões de segurança — revela o produtor. Segundo MoCha, não existe, como era de se imaginar, uma florescente cena musical na Palestina: — A maior parte dos DJs toca hip hop e sons árabes. Mas há uma cena eletrônica embrionária, com nomes emergentes como o grupo Ramallah Underground. Chuck D. já definiu o som do Public Enemy como a “CNN negra”. E o Checkpoint 303 classificaria o seu som como uma intifada eletrônica? — É uma comparação interessante. Intifada é a revolta de um povo contra a opressão. Prefiro pensar no nosso som como um levante por igualdade, justiça e liberdade. I MOCHA E YOSH (de pé) são os criadores da banda que define seu som como “música dos territórios ocupados” Na cidade >> Tem Bad Brains amanhã no Circo Voador. Sem os vocais de Peligro, mas com Mike Bordin (ex-FNM e atual Ozzy) nas baquetas. Imperdível! >> Hoje, no mesmo Circo, tem Dead Fish >> A festa Alien Nation comemora dez anos hoje, no Dama de Ferro, com Wilson e Edinho detonando rock na pista 1 e eletrônica na pista 2 >> As festas Vamparty (DJs) e Tomarock (bandas covers) acontecem, juntas, pela primeira vez em Caxias, amanhã. Será no Clube Belém (Centro) >> As bandas Audionova, Kaos S.A. e Harauei tocam hoje no Empório (Ipanema), a partir das 23h >> Já Pedro Vilardi e as bandas Camisa de Força e Collecting Dreams tocam domingo, no bar Severyna (Laranjeiras), às 19h >> Também no domingo, às 19h, acontece o One Night Festival, no bar Saloon (Botafogo), com as bandas Alta Pressão, Superstition, Noisecraft, Mamute e Direitos Autorais >> A festa Paradiso recebe amanhã, na Casa da Matriz, a DJ convidada TPM (na pista 1) e Diogo Reis, da Moo (pista 2). Tito e Edinho no comando >> Hoje, no Pista 3, rola mais uma festa Hacienda >> O DJ Leo Janeiro comemora aniversário hoje, na sua festa Bootleg, no Fosfobox >> Domingo, no quiosque Kantha Galo (Lagoa), rola a festinha Lagune, com Breno Ung e Renato Bastos. Começa às 17h >> Os DJs Gustavo Tatá, Mauricio Lopes e outros tocam hoje na festa Blur, do Cabaret Kalessa >> Rodrigo Quik e Avellar Love se apresentam hoje no Lapa 40 Graus (Riachuelo 97), às 19h >> Tem show de Wanderley Cardoso (sua mãe sabe quem é), domingo, às 17h, na Sala Baden Powell >> BNegão toca quarta, no Estrela da Lapa >> Agora, toda quinta, tem minimal e electro na festa Electronite, com o DJ Halley Seidel e convidados. No Solar de Botafogo (General Polidoro 180) >> Domingo tem outra festa L.E.B. (para as sandalinhas) no Fosfobox >> Amanhã rola o baile Curinga, na Antiqua Sappore (Gomes Freire 217, Centro), com pop, rock e blackitudes >> Breno Ung e Mau Lopes comandam o after do Eletrodama, amanhã. No Dama, claro >> Acontece amanhã, no sebo Baratos da Ribeiro (Copa), show da banda gaúcha Robô Gigante, às 18h. Grátis >> Quinta, no Cine Lapa, tem Spraysom, com Black Alien, às 22h >> E aí, vai ficar em casa? (T.L.) O mistério de Clutchy Hopkins Fotos de divulgação Músico de hip hop e soul lança disco, mas não revela a sua identidade Daniel Tamenpi C lutchy Hopkins acabou de lançar um novo álbum, depois de sua estréia com “The life of Clutchy Hopkins”, em 2006. E colocou de novo no ar a pergunta: quem será Clutchy Hopkins? Seu manuscrito biográfico, achado com suas gravações, conta um pouco da sua história: seu pai foi um engenheiro de som da Motown e lhe ensinou intrigantes técnicas de gravação quando ele ainda era um menino. Clutchy usou esse conhecimento durante suas viagens, trabalhando em estúdios de gravação de Bombaim ao Cairo. Quando tinha apenas 20 anos, viajou para o Oriente e ficou sob a tutela de monges Rinzai Zen, no Japão, investigando os ritmos do silêncio na música. Quando retornou aos EUA, Clutchy usou suas técnicas de gravação para produzir música e criar seus próprios instrumentos. Durante as gravações com outros músicos, recusava-se a contribuir com seu nome, preferindo usar um pseudônimo. O CARÃO DE HOPKINS: ou não? Suas gravações vão do início dos anos 1970 aos dias atuais, abrangendo todo um espectro de estilos musicais. Por isso, “Walking backwards”, seu novo trabalho, não tem uma identidade sonora definida. Praticamente todo instrumental, mescla o hip hop, o jazz e o soul com psicodelias e maluquices sintetizadas. Tudo bem. Chega de doideira. A verdade é que ninguém sabe quem é o responsável pelas músicas de Hopkins. Existem várias suposições. Fala-se em DJ Shadow, Cut Chemist, Money Mark, Beastie Boys, Madlib e vários outros, mas talvez ele seja mesmo o coroa que aparece nas fotos. Uma figura que causa arrepios quando se pensa que toda essa loucura sonora sai de suas mãos. I G DANIEL TAMENPI é jornalista e DJ 11 de abril de 2008 Rio Show 45