Pedagogia da Felicidade - Istituto Figlie di Maria Ausiliatrice

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Pedagogia da Felicidade - Istituto Figlie di Maria Ausiliatrice
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DMA
Revista das
Filhas de Maria Auxiliadora
Pedagogia da Felicidade
05 / 06 – maio / junho - 2007
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DMA Revista das Filhas de Maria Auxiliadora
Via Ateneo Salesiano, 81 - 00139 Roma RM
tel. 06/87.274.1
fax 06/87.13.23.06
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Diretora responsável
Mariagrazia Curti
Redação
Giuseppina Teruggi
Anna Rita Cristaino
Colaboradoras:
Tonny Aldana – Julia Arciniegas – Mara Borsi - Piera Cavaglià – Maria Antonia
Chinello – Emilia Di Massimo – Dora Eylenstein – Laura Gaeta – Bruna Grassini –
Maria Pia Giudici – Palma Lionetti - Anna Mariani – Cristina Merli – Marisa Montalbetti
– Maria Helena Moreira – Concepción Muñoz – Adriana Nepi – Maria Luisa Nicastro –
Louise Passero – Maria Perentaler – Loli Ruiz Perez – Rossella Raspanti – Manuela
Robazza – Lucia M. Roces – Maria Rossi.
Tradutoras:
francês – Anne Marie Baud
japonês - inspetoria japonesa
inglês - Louise Passero
polonês - Janina Stankiewicz
português – Maria Aparecida Nunes Ferreira
espanhol - Amparo Contreras Alvarez
alemão - inspetoria austríaca e alemã
Edição extra-comercial:
Istituto Internazionale Maria Ausiliatrice - 00139 Roma – Via Ateneo Salesiano, 81 –
c.c.p. 47272000 – Reg. Trib. Di Roma n. 13125 del 16-1-1970 – sped. abb. post. –
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Tip. Istituto Salesiano Pio XI – Via Umbertide, 11 – 00181 Roma.
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Sumário
Editorial
As cores da Alegria
página 4
Dossiê
Pedagogia da Felicidade
5
Maria
O “Fiat” de Maria, início da Nova Alilança
11
Para além da frustração
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Coração de Maria, mãos de
17
Um testamento de fim- de- vida
19
Inserção Central
Madagascar
20
Mundo submerso
Corpos à venda
21
Objetivo 2015
Escola e igual oportunidade
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Mundo Jovem
A educação é coisa do coração
25
Um telefone “tudo-faz”
27
A porta do céu
28
A informação monopolizada
30
“Mundo Novo”
33
A emergência da alegria
36
Fio de Ariadne
A Lâmpada
É vida
Explora-recursos
Diálogo
Periferias
Filme
Camilla
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Editorial
AS CORES DA ALEGRIA
Giuseppina Teruggi
Folheando algumas Revistas, aquelas que comumente encontramos em
nossas estantes na sala da comunidade, atraem-me, em particular, hoje, as fotos.
Uma delas toca-me mais que as outras: o sorriso radiante de um menino pobre que
tem, encostado no ouvido, um pedaço de madeira para simular um telefoninho. Uma
criança feliz!
Deixo-me tomar por uma convicção que frequentemente partilhamos e que
nos surpreende pelo seu imediatismo: não são as coisas que nos tornam felizes. Nem
o quanto se possui, nem o brinquedo mais sofisticado, nem mesmo as certezas que
favorecem sonos tranqüilos.
A alegria tem as cores do coração profundo.
“É feliz quem quer aquilo que tem”, dizia Santo Agostinho e é difícil
contradizê-lo! Conhece espaços sempre mais abertos de alegria, quem se aceita
assim como é, quem sabe cantarolar sua canção no profundo do ser, quando as
circunstâncias são alegres, são tristes ou quando não correspondem às expectativas.
Na obra de Paul Claudel O anúncio a Maria, é dito à protagonista Violaine,
contagiada pela lepra por ter abraçado um leproso: “Violaine, quanto tens sofrido
nestes oito anos”. Ela responde: “Mas, não em vão. Muitos sofrimentos se
consumam no fogo do coração que arde”. Por isso eles não destroem a felicidade,
não tolhem a capacidade de esperar, de amar, nem de sorrir. A alegria é fruto de
amar e de ser amados. Mais que de qualquer outra coisa. Alegria e amor são dois
termos que sempre se evocam.
Para nós é, sobretudo, a certeza do amor de Deus que nos faz felizes. Uma
certeza que acompanha os fiéis de todos os tempos. Na Bíblia há uma extraordinária
coleção de cantos – os Salmos – que exprimem de tantos modos a alegria de crer e
de proteger a vida como um dom, também nos momentos mais trágicos.
Pollyanna, protagonista do célebre romance de Eleonora Porter, recordando o
pai, pastor protestante, sublinha: “Não teria continuado nem mesmo um dia como
pastor, se não estivessem na Bíblia os versículos da alegria. Papai, assim os
chamava. São todos aqueles que começam com “Sede sempre alegres”, “Cantai
cantos de alegria”. Um dia papai estava tão triste e se pôs a contá-los. São 800!
Dizia que, se Deus se dera ao trabalho de exortar-nos por 800 vezes a ser alegres,
devia ser importante”.
“Ficai sempre alegres...: é esta, de fato a vontade de Deus, em Cristo Jesus”
(1 Ts 5,18). Para quem crê, a alegria é um modo de ser cotidiano, não uma
vestidura para circunstâncias extraordinárias. Certamente, ser alegre é um dos
testemunhos mais eloqüentes e convincentes para os jovens. Foi o que viveram e
nos ensinaram Dom Bosco e Maria Domingas Mazzarello entregando-nos o
mandamento da alegria. E confiando o nosso Instituto a Maria, a mulher do
Magnificat.
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Dossiê
PEDAGOGIA DA FELICIDADE
Graziella Curti e Emilia Di Massimo
Segundo especialistas, a felicidade está em experimentar o que há
de belo na vida. Não é um puro acaso do destino, mas uma capacidade a
ser descoberta e aprendida. É preciso aprender a ser feliz.
Parece que Dom Bosco escolheu preferencialmente o caminho da
alegria e, portanto, criou o ambiente adequado para percorrê-lo. Em
Valdocco, a felicidade era caseira e se aprendia diariamente a ser feliz, uns
com os outros. Ali gozava-se, para valer, com jogos, teatros, com a banda,
sobretudo num clima de família que favorecia o encontro e a amizade. O
próprio percurso de santidade consistia em estar muito alegres.
Assim também em Mornese, Maria Domingas e as primeiras Irmãs,
não obstante a vida de sacrifício e as dificuldades com o povo, estavam
sempre alegres. Desde o início praticavam aquele mandamento da alegria
que Main havia deixado como herança às suas filhas.
Três metros acima do céu
É este o título de um livro e de um filme de amor, que se tornaram o símbolo
de um mundo jovem rico de sonhos. Obras nas quais são narradas histórias
verossímeis onde é possível reencontrar-se, mas que, muitas vezes, alimentam
apenas belas ilusões, quando, a condição primordial de felicidade é a vivência do
cotidiano, mesmo que custe sacrifício acreditar nesta verdade.
Fazer bem o que se está fazendo confere bem-estar, alegria. A felicidade não
está no futuro, é um estado de alegria que se vive apenas no presente. Geralmente,
porém, os nossos pensamentos ocupam-se com o futuro ou com o passado, quase
nunca com o presente; vagamos por tempos que não nos pertencem. A felicidade,
para muitos, é um trem que chega sempre sobre o trilho de quem vive ao seu lado.
Aprender a ser feliz no hoje, é, ao invés, descobrir que, depois de ter caminhado
muito, a felicidade já nos esperava fazia tempo, à porta de casa.
Mas quem de nós pode dizer quando começa a ser feliz? Habitualmente a
felicidade alcança-nos no silêncio, nos momentos mais impensados da nossa
existência; se não a perturbamos com medos e ansiedades, permanece conosco.
Afirma Hawthorne: “A felicidade é como uma borboleta: se a persegues não chegas
jamais a apanhá-la, mas se te sentas tranqüilo, pode até posar sobre ti”. O milagre
da felicidade acontece dentro de nós quando em nossa vida desperta-se o amor; só
então nos damos conta de que o ser humano tem dentro de si o sol, a lua, as
estrelas e que é preciso apenas reencontrar “aquele” céu... Mas quando e como isto
acontece?
Se existissem as “fábricas de felicidade” elas nos lembrariam que o primeiro
dever é fazer-se feliz a si mesmo: somente quem é feliz é capaz de fazer felizes
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os que estão ao seu lado. Isto ensinaram os nossos fundadores a gerações de jovens
e a todos os adultos que os seguem na vida.
Uma carta, um sonho
10 de maio de 1884. É noite em Roma. Dom Bosco, cansado após uma
jornada intensa, escreve. “Meus caríssimos filhos em Jesus Cristo, de perto ou de
longe, eu penso sempre em vós. Um só é o meu desejo: o de ver-vos felizes no
tempo e na eternidade”. O pai dos jovens teve um sonho. A melodia dos pátios
invadiu mais uma vez o seu repouso. A música do oratório acariciou-lhe o coração.
Como num flash back, viu milhares de jovens. “Era uma cena toda vida – escreve –
toda movimento, toda alegria. Quem corria, quem saltava, quem fazia saltar... Num
canto do pátio estava reunido um grupo de jovens, que pendia dos lábios de um
Padre, que lhes contava uma historinha”. Ali estão todos os componentes daquele
ambiente salesiano que nascerá em toda parte do mundo, em culturas diversas, mas
sempre com a característica da alegria.
Naquele momento, Dom Bosco exprime sua admiração: “Eu estava encantado
com aquele espetáculo”. Mas o sonho tem um destaque. Ao oratório de ontem,
substitui-se o atual. O antigo aluno apresenta-lhe uma realidade frustrante. Os pátios
estão quase desertos. Os jovens sozinhos, apoiados nas colunas, desanimados.
Olhares desconfiados e maliciosos. A esta altura, Dom Bosco pega a caneta. Ele não
está habituado a teorizar critérios pedagógicos. Não gosta das idéias empacotadas,
prefere as encarnadas. Agora, porém, sente o desejo de comunicar a todos, aos
filhos que virão e aos presentes, que a educação é coisa do coração; que é preciso
amar os jovens, de modo que saibam que são amados.
Já velho e cansado, desgastado pelo trabalho, encontra expressões
apaixonadas para convencer educadores e jovens a retomarem a sua parte, a
acreditarem na pedagogia da felicidade que colore a sua obra educativa. E termina a
carta com um desejo que se faz oração: “Voltem os dias do antigo oratório, os dias
do afeto e da confiança, os dias dos corações abertos, os dias da verdadeira alegria
para todos”.
A casa da alegria
Também em Mornese, como em Valdocco, respirava-se a alegria. Através da
Crônica tomamos conhecimento de um clima de liberdade e de um bem-estar, que
se refere também à corporeidade, à vivacidade expressiva à qual não se punham
limites a não ser os morais.
E então, quando uma jovenzinha não consegue ficar parada no banco, Madre
Mazzarello manda-a dar uma volta na vinha; quando uma outra diz estar com fome,
mesmo que a comida seja pouquíssima, oferece-lhe pão com queijo. Quando não se
encontra em casa literalmente nada para comer, Maria Domingas organiza um
passeio aos bosques onde se recolhem as castanhas que servem para abrandar as
reclamações do estômago vazio. O importante é manter o clima de alegria,
constituído de muitos fatores, sobretudo daquele fundamental: estar bem consigo
mesmo.
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Pelo mesmo motivo, também as relações mais profundas, as comunicações
mais difíceis, tal como a de uma obediência pesada, são frequentemente mediadas
pela alegria. Enquanto se está, ali, escondida atrás do poço, é mais fácil dizer sim a
um desapego, receber uma observação sobre o próprio modo de comportar-se.
E constantemente, naquela casa do amor de Deus, ressoa o estribilho de
Maria Domingas, a recomendação para estar alegre. Porque a alegria faz barreira ao
egoísmo na melancolia, na tristeza inútil, no amor próprio. Assim, também, nas
cartas. O tema da alegria percorre os seus escritos ricos de imagens e de vida. Giulia
Paola di Nicola, estudiosa de antropologia, comentando o epistolário de Madre
Mazzarello, anota: “As cartas comunicam um amor a Deus não distinto do amor e do
respeito pela integridade da pessoa, que se expressa na preocupação pelo seu
estado de saúde física, espiritual e psíquica, substanciada precisamente naquela
constante recomendação de permanecer alegre, termo que denota o estado de graça
dos filhos e das filhas de Deus”.
E acrescenta: “Esta santa alegria, na qual o amor fraterno alimenta-se da
consciência tranqüila de estar continuamente na presença de Deus e sob o olhar
dulcíssimo da Virgem, como sublinha Madre Enrichetta Sorbone, havia gravado em
todas as jovens a lembrança de Mornese como um “ambiente de Paraíso”.
O guarda-chuva amarelo
Valdocco, Mornese; às vezes estão presentes em cada uma de nós como
saudade e criam dentro de nós um desejo de “ser”, de viver daquele mesmo modo;
outras vezes parece-nos sonhar com ilhas de felicidade inatingíveis, às quais nunca
vamos chegar. É verdade?... Dom Bosco e Madre Mazzarello viveram momentos de
desânimo e de fracasso, períodos de luta interior, mas em todas as circunstâncias
sempre se ancoraram naquele que era a motivação profunda de sua felicidade. O
Reitor-Mor, metaforicamente, nos diria: “ tinham um guarda-chuva amarelo”... e este
emergia entre os múltiplos “guarda-chuvas negros” que, com freqüência,
ameaçavam o horizonte... O guarda-chuva amarelo nos é dado pelos nossos Santos
e nos empenha a dá-lo a outras pessoas para que carreguem o “belo estável”, onde
estejam. Como realizar uma doação tão empenhativa?...
Os jovens nos questionam sobre a autenticidade de nossa felicidade,
investigam-nos no cotidiano, nos momentos históricos cinzentos de tristeza e nos
pedem para emergir com um “guarda-chuva amarelo” que guarda um segredo, não
o de possuir, mas o de dar... Na medida em que somos capazes de doar a felicidade
aos outros, tornamo-nos felizes.
Afirma Arthur Schopenhauer: “Para descobrir a capacidade que uma pessoa
tem de ser feliz, basta saber qual é a sua capacidade de fazer os outros felizes”.
O dom de si mesmo, porém é, com freqüência, um semear entre lágrimas, é a
morte do “grão de trigo” e, ao mesmo tempo, é doçura e alegria. Isto acontece
quando conservamos o fervor do espírito, aquela luz que aquece interiormente, e
que nos confere um ardor que ninguém jamais poderá extinguir. A grande alegria
das nossas vidas empenhadas é o nosso “guarda-chuva amarelo” que os jovens
podem receber tanto na hora da angústia quanto na hora da esperança. Hoje mais
que nunca, os nossos destinatários (e não só eles) têm necessidade de receber o
anúncio da Boa Nova, não de evangelizadores tristes e desanimados, impacientes e
desiludidos, mas de pessoas que guardam no coração a experiência e a alegria do
encontro com o Ressuscitado.
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Sob um “guarda-chuva negro” o rosto fica triste e amuado. Quantos rostos
jovens encontramos assim? Eles apenas querem ser felizes, mas a felicidade que
buscam é muitas vezes frágil, ameaçada. Está estatisticamente provado que uma das
causas dos suicídios juvenis surge da impossibilidade que têm de ser felizes. Tal
realidade nos faz amadurecer a consciência de que o testemunho mais convincente
do anúncio é a nossa alegria. A nossa felicidade deveria ser desconcertante porque
não se opõe à infelicidade, pois, estaria em contradição com Aquele que abraça
também o sofrimento e que, “em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a
Cruz, desprezando a vergonha...” (Hebreus 12,2). A felicidade que mora em nós não
se fundamenta nem na exclusão da tristeza, nem na sua negação. O nosso guardachuva amarelo abre-se e nos abriga da chuva insistente e constante... Comumente
acreditamos que a alegria é o oposto da tristeza e vice-versa; na realidade o
contrário da felicidade é ter dureza de coração, é um universo interior privado de
sentimento e de emoções. A verdadeira infelicidade consiste em não amar e não ser
amados. Santo Agostinho ensina-nos que “é feliz quem deseja aquilo que tem”, isto
é, quem aceita sua vida tal como é. Deus nos dá o que nos é necessário para
vivermos uma vida feliz na insígnia de um “guarda-chuva amarelo”. Cabe a nós
utilizar este potencial, estes talentos para a nossa felicidade ou infelicidade. A vida
de cada um é a melhor e a mais feliz, se a acolhemos das Mãos de Deus.
Alguns conselhos para quem quer ser feliz e ter um guarda-chuva amarelo
para abrir e presentear:
“Julga o teu jardim pelas flores e não pelas folhas que caem;
julga os teus dias pelas horas felizes e não te apegues aos momentos tristes.
Julga as noites pelas estrelas, não pelas sombras.
Julga a tua vida pelos sorrisos, não pelas lágrimas.
E com alegria para toda vida julga a tua idade pelos amigos, não pelos anos”.
Deus nos quer felizes
Para a liturgia da festa de Dom Bosco, foi escolhido entre outros, um trecho
da carta de Paulo aos Filipenses, todo ele um poema à alegria. Desde o início, o
apóstolo abre a porta da felicidade com um convite exultante: “Irmãos, alegrai-vos
no Senhor, sempre; eu vos repito ainda, alegrai-vos”.
E mais adiante, confirmando sua abertura a grandes horizontes, àquela
antropologia humaníssima, que Dom Bosco adotou plenamente nas suas casas,
alarga para 360º o raio dos pensamentos de quem quer seguir Jesus. “Em
conclusão, - acrescenta – tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável,
honrado, o que é virtude e merece louvor, tudo isto seja objeto dos vossos
pensamentos”. Dom Bosco e Maria Mazzarello tomaram ao pé da letra este apelo.
Em Valdocco e em Mornese nada se exclui do que é bom, belo e verdadeiro. O
cotidiano é a verdadeira casa do sentido, discurso de vida onde se integram festa,
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estudo, oração, relações. Formam-se bons cristãos e honestos cidadãos, através do
Sistema Preventivo, método educativo e espiritualidade.
A lógica misteriosa e sagrada da Encarnação, que envolve Pai, Filho e Espírito
é luz para aquela espiritualidade do dia-a-dia que torna consistente o agir educativo
em favor dos mais pobres. Que faz chamar pelo nome os jovens e as jovens, como
numa verdadeira família onde a palavrinha ao ouvido torna-se expressão de afeto,
reconhecimento de um mundo personalizado e profundo, que anseia por amor e
ternura. Uma pedagogia da felicidade que não exclui, vencendo os preconceitos
sociais, o baile de carnaval ao som do acordeão para quem se declara em favor da
vida e do amor. Em suma, uma educação integral, que vê na alegria o ingrediente
necessário para um saudável caminho de maturação.
A cruz florida
Tanto Dom Bosco como Madre Mazzarello propuseram uma verdadeira e
autêntica pedagogia da felicidade e do amor, testemunhando a alegria de viver uma
existência caracterizada pela fé, otimismo e esperança, não obstante o sofrimento.
Tal convicção foi expressa nas Linhas orientadoras da missão educativa das
FMA, que todas temos em mãos e que buscamos traduzir no tempo e no lugar ao
qual somos chamadas a viver. A realidade da cruz, do sofrimento, está sempre
presente na vida das pessoas. Não se pode ignorar. A existência do cristão é
marcada pelo mistério pascal: o evento salvífico de Jesus morto e ressuscitado. Mas
é propriamente deste evento que brota a esperança de uma cruz florida, isto é, em
que “todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus”. Daqui deriva a
possibilidade de uma “leitura orante da realidade”.
O realismo da pedagogia salesiana, como nos tempos de Dom Bosco, não
ignora os problemas, chama-os pelo nome e se coloca ao lado dos jovens no
caminho cotidiano onde se defronta com as pobrezas, que, hoje como ontem,
constituem a cruz. Cruzes com diferentes nomes, cruzes que vêm dos novos desafios
como a desagregação da família, os atentados terroristas, as epidemias, o
desemprego, o tráfico dos seres humanos, o consumismo e outras chagas
continuamente presentes no mundo.
A crueza deste impacto pode ser mitigada pelo zelo, pelo acompanhamento
das novas gerações por adultos que os amam de fato e os fazem sentir-se amados.
Propiciam-lhe fazer a experiência da felicidade, porque, como disse Simone Weil
“Nada mais que a alegria, quando pura, é adequada para forjar puros e sábios”,
finalidade da educação. E ainda “Uma alma é forte na proporção de sua capacidade
de se alegrar”. Encontramos a confirmação disso numa página do diário de Roger
Schultz, prior de Taizé, verdadeira parábola de comunhão para os jovens de hoje: “A
felicidade: está bem perto, à mão. Jamais buscá-la: fugiria. Encontra-se na vigilância
e na capacidade de maravilhar-se. Às vezes parece que a felicidade some por muito,
muito tempo. E, todavia, está presente no encontro de um olhar. Está presente,
pertíssimo, quando o ser humano ama gratuitamente sem preocupar-se com a
retribuição. E se, por acréscimo, sentir-se amado por muitos, deverá experimentar
uma felicidade indizível...”
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Para aprofundar
A NOSSA VIDA E A FELICIDADE
O Cardeal Martini, no final de uma reflexão sobre as Bem-aventuranças,
propõe-se a si mesmo e a quem o escuta, algumas perguntas, que podem fazer bem
também a nós, no final deste dossiê:
A alegria é a nota dominante da minha vida? Considero-me feliz, estou
contente? Em outras palavras, vivo as Bem-aventuranças, ou o timbre das minhas
jornadas é a tristeza, a amargura, a monotonia, a negligência, o fazer por fazer, o
tram tram... Somos capazes de apostar no futuro?
É claro que as Bem-aventuranças prometem, sem assegurar sempre para o
hoje. Quase todos os verbos estão no futuro: os aflitos serão consolados, os mansos
herdarão a terra, os famintos serão saciados, os misericordiosos encontrarão
misericórdia, os puros de coração verão a Deus.
De fato as Bem-aventuranças agem desde agora, há as que têm o verbo no
presente... Contudo as Bem-aventuranças (a felicidade) pertencem àqueles que
sabem esperar.
O clube do noventa e nove
Era uma vez um rei muito triste que tinha um servo muito feliz que
andava sempre com um largo sorriso no rosto. “Pajem – pergunta-lhe um dia
o rei – qual é o segredo de sua alegria?” “Não há nenhum segredo. Apenas
não tenho motivo para ser triste. Estou bem com minha mulher e meus filhos.
Tenho um trabalho e nada me falta”. O rei, então, chamou o mais sábio dos
seus conselheiros:
“Quero o segredo da felicidade do pajem”.
“Não podes compreender o segredo de sua felicidade. Mas, se queres podes
roubá-la”.
“Como?”
“Fazendo o teu pajem entrar no giro do noventa e nove”.
“O que significa?”
“Faze o que te digo”.
Seguindo as indicações do conselheiro, o rei preparou uma bolsa que
continha 99 moedas de ouro e a deu de presente ao pajem. Ele jamais havia
visto tanto dinheiro e começou a contá-lo: dez, vinte, trinta, quarenta...
noventa e nove! Desiludido, vasculhou com o olhar a mesa, em busca da
moeda que faltava. Procurou em toda parte, mas não encontrou a centésima
moeda. “Noventa e nove moedas são tanto dinheiro, mas me falta uma
moeda” – pensou. O seu rosto não era mais o mesmo. Em vez do sorriso,
tinha um olhar triste e irritado. O pajem acabara de entrar no giro do noventa
e nove.
Não passou muito tempo e foi despedido pelo rei. Não era agradável
ter um pajem sempre de mau humor. (Adaptação de Bruno Ferrero)
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Maria
O “FIAT” DE MARIA DE NAZARÉ,
INÍCIO DA NOVA ALIANÇA
Aristide Serra
O tema da “Aliança” percorre toda a Sagrada Escritura, desde o jardim do
Éden até a Jerusalém celeste. Na origem, ela exprime o ardente desejo de Deus que
quer estar “conosco”, com o mundo inteiro, numa relação de amor livre e gratuito.
Esta comunhão íntima do Senhor conosco “salva” a nossa vida, “educa-a”, torna-a
harmoniosa, bela, feliz.
Na aurora da criação o Senhor Deus sela uma aliança com a humanidade
desde o começo, compendiada em Adão e Eva (Gn 2-3). Ao pecado na pré-história
do mundo, Deus responde com uma promessa dirigida a Noé (Gn 9, 8-17), depois a
Abraão (Gn 15, 1-25; 17, 1-26). Segue, em ordem cronológica, a Aliança do Sinai
com todo o povo de Israel (Ex 19-24). Além disso, há a promessa incondicional do
Eterno ao rei Davi e à sua casa (2 Sam 7, 11-16;23,5; Sl 89, 4-5.21-38). Diante das
persistentes apostasias de Israel, Deus confirma a sua fidelidade com a perspectiva
de uma “Nova Aliança” (Jr 31,31-34), que terá o seu cumprimento perfeito no
“Sangue” de Cristo (Mc 14,24; Mt 26-28; Lc 22,20; 1 Cor 11,25), no seu mistério de
encarnação-morte-ressurreição (cf Jô 14,20; 20, 28). E quando a História Sagrada se
consumar com o advento dos novos céus e da nova terra (Ap 21, 1), a nova
Jerusalém – que é o “paraíso de Deus”, o novo Éden (Ap 2, 7) – resplandecerá como
a “morada de Deus com os homens. Ele habitará com eles e eles serão o seu povo e
Ele será o `Deus-conosco´ ” (Ap 21, 2-3).
Pois bem: na opinião de não poucos biblistas, a Aliança parece ser a categoria
que melhor engloba a cena da Anunciação na sua totalidade (Lc 1, 26-38). A vocação
de Maria refere-se profundamente à Nova Aliança que Deus quer estabelecer com o
seu povo; ela é a mulher chamada a servir a este desígnio, tornando-se mãe do Filho
de Deus. Com a Encarnação, Deus não só está “conosco”, mas faz-se “um de nós”
(cf Fl 2, 6-8). O Filho do Altíssimo (Lc 1, 32) humilha-se até tornar-se o filho de
Maria (Mc 6, 3), o filho do carpinteiro de Nazaré (Mt 13, 55), “o homem que se
chama Jesus” (Jo 9, 11). Aqui a Aliança toca o seu vértice. Aqui está a “novidade”
desconcertante. Quem poderia imaginar semelhante loucura de amor?
Um fato surpreendente. O anúncio do anjo a Maria (Lc 1, 26-38) considerado
como momento nascente da Nova Aliança, tem consonância notável com a
confirmação da Antiga (ou Primeira) Aliança, acontecida nas encostas do Monte Sinai
(Ex 19, 3-8). Vejamos as duas vertentes da tese aqui enunciada.
Israel no Sinai
A Aliança concluída no Sinai teve três atores: Deus, Moisés, o povo. Mais
claramente: Deus, mediante Moisés, seu porta-voz, manifesta a Israel sua vontade
de estreitar uma relação especialíssima com ele (Ex 19, 3-6); e o povo, instruído por
Moisés (Ex 19, 7), dá a sua resposta a Deus, exclamando unanimemente: “O que o
Senhor disse, nós o faremos” (Ex 19, 8a). E Moisés voltou ao Senhor, para transmitir
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as palavras do povo (Ex 19, 8b). Palavras memoráveis ao longo de toda a
espiritualidade de Israel!
À medida que a história da salvação se desenrolava ao longo das várias
etapas do Antigo Testamento, a Aliança como tal - ou alguns dos compromissos
maiores que dela derivavam – era renovada. O ritual destas celebrações repetia o
esquema do acontecimento do Monte Sinai. Se no Sinai estava Moisés que falava em
nome de Deus, agora entra novamente em cena um mediador, que se dirige à
assembléia em nome do Senhor. Este mediador pode ser um rei: Josias (2 Re 23, 13), Asa (2 Cr 15, 9-15); um chefe do povo: Josué (Js 1, 1-18; 24, 1-28), Neemias
(Ne 5 1-13), Simão Macabeu (1 Mac 13, 1-9); ou um sacerdote: Esdras (Esd 10, 1012; Ne 9-10).
À semelhança do que fez Moisés no Sinai, a função do mediador permanece a
de lembrar e explicar a vontade de Deus fundada sobre a Aliança. Ocorria despertar
em cada momento uma consciência mais vívida dos compromissos assumidos como
povo de Deus. Por isso estes formulários se enriquecem vez por vez com os debates
animados entre o mediador e a assembléia, ou vice-versa. É o que vemos no caso de
Josué (Js 24, 1-28), Esdras (Esd 10, 10-17), Neemias (Ne 5, 8-13)...
No Sinai o povo manifestou o seu consenso, dizendo: “O que o Senhor disse,
nós o faremos” (Ex 19, 8; 24, 3.7) Nas cenas de renovação da Aliança, o povo
persiste na sua fidelidade ao Senhor com fórmulas idênticas, na essência: “Nós
serviremos o nosso Deus e obedeceremos à sua voz” (Js 24, 21.24). Ou: “Faremos
como tu dizes [Faremos segundo a tua palavra]” (Esd 10, 12; Ne 5, 12; 1Mac 13, 9).
Nos tempos já próximos ao Novo Testamento, “o dia da assembléia” do Sinai
(Dt 4, 10) havia se tornado o paradigma ideal para a comunidade de Israel; o
Messias esperado, como o novo Moisés, deveria apresentá-la ao Senhor,
profundamente renovada. O “faça-se” primitivo do Sinai – atestam os profetas –
ressoava na mente e no coração de cada israelita verdadeiro, como um retorno
nostálgico aos “dias da tua juventude” (Os 2, 17; Ez 16,8).
Filão de Alexandria, célebre escritor hebreu contemporâneo de Jesus, na sua
obra A confusão das línguas 58-59, dedica uma página memorável, penetrada de
intensa comoção.
Nos ambientes da comunidade monástica de Qumràn (florescente também no
tempo de Jesus) desejava-se que, por ocasião da vinda do Messias, o povo
renovasse a mesma obediência expressa pelo antigo Israel no Sinai, diante de Moisés
(manuscritos da quarta gruta, “Testemunho”). O targum (isto é, a versão aramaica
do AT hebraico) especifica que Israel emite o seu ato de fé “com coração sinceroíntegro-perfeito”, “com um só coração” (ou seja, indiviso, voltado exclusivamente
para o Senhor), “com um coração bom”, “com amor”. E é impressionante o fato de
que a literatura rabínica esteja constelada de referências em todos os tons àquele
abandono de fé, que constituía o mérito irreversível de Israel.
Do Sinai a Nazaré
Em continuidade a tudo quanto acontece no Sinai, também em Nazaré estão
em cena três atores: Deus, o anjo Gabriel e Maria. Deus, mediante o anjo, seu portavoz (novo Moisés), revela a Maria o projeto da Nova Aliança, que consiste
exatamente na Encarnação de seu Filho (Lc 1, 26-37). Assim Ele demonstra
recordar-se de “sua santa aliança” (Lc 1, 72), do juramento feito a Abraão e à sua
descendência, aos pais do povo eleito (Lc 1, 73.55).
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No dinamismo do diálogo entre Maria e o anjo renasce o estilo de fé típico do
povo de Israel, no quadro da Aliança. De fato, vemos que o anjo fala por três vezes:
“Alegra-te, cheia de graça...” (Lc 1, 28)... “Não temas, Maria...” (vv. 30-33)... “O
Espírito Santo descerá sobre ti...” (vv. 35-37). E a cada uma das três intervenções do
anjo corresponde o comportamento de Maria, escandido em três momentos
progressivos. Na primeira, ela “... ficou perturbada e pôs-se a pensar qual seria o
significado da saudação” (v. 29). Depois faz uma objeção: “ Como poderá acontecer
isto? Não conheço homem” (v. 34). Esta pergunta equivale a um pedido de ulterior
iluminação para melhor compreender de que modo poderá colaborar com o desígnio
divino. Enquanto ela, de fato, cultiva uma aspiração à virgindade, o anjo anuncia-lhe
um projeto de maternidade. Enfim, depois da revelação decisiva do anjo a respeito
da intervenção do Espírito Santo, que torna possível o impossível (vv. 35-37), Maria
dá o seu consentimento: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se (“fiat”) em mim
segundo a tua palavra” (v. 38).
O “fiat” da Virgem, pode-se notar, é modelado sobre aquele “fiat” tantas
vezes pronunciado por Israel, seu povo, no âmbito da Aliança (“Serviremos o nosso
Deus... Faremos segundo a tua palavra”). Maria é a “Filha de Sião”, é a
personificação de todo Israel. A fé dinâmica de Israel torna-se a fé experiencial de
Maria, propiciada pelo Espírito Santo.
Na homilia para a oração dominical do “Ângelus”, em 3 de julho de 1983, João
Paulo II delineava as ligações entre o “sim” de Israel no Sinai e o “sim” de Maria, em
Nazaré. E concluía exortando: “Peçamos à Virgem que torne sempre mais iluminado
e generoso o “fiat” do nosso Batismo e o renove nos empenhos cotidianos do nosso
testemunho de fé. Viveremos assim dignamente a nossa Aliança com o Senhor na
sua Igreja, coração do mundo”.
*Docente de exegese bíblica na Pontifícia
faculdade Teológica “Marianum” - Roma
Fio de Ariadne
PARA ALÉM DA FRUSTRAÇÃO
Giuseppina Teruggi
Tempo de promessas e de mal-estar
Desde o último Relatório IARD – entidade que se dedica à análise da condição
juvenil – emerge uma fotografia com traços problemáticos referentes aos jovens de
hoje. Fala-se de uma geração de jovens frustrados, sem um projeto de vida,
desacreditados nas instituições, sobretudo na escola, na polícia, entre os políticos,
nos bancos. Preferem a sociabilidade restrita mais que o compromisso social, são
avessos a fazer escolhas duradouras e olham para o futuro com descrença.
Refere-se sobretudo aos jovens italianos, mas o panorama inclui muitos outros
contextos do mundo globalizado.
Nós acreditamos nos jovens e nas suas grandes potencialidades e nos
sentimos provocadas por este panorama que envolve os adultos e as instituições,
também a Igreja.
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A fase de desânimo não atinge somente os jovens. Muitos adultos sofrem
deste mal. A época em que vivemos, com suas múltiplas oportunidades, foi definido
por alguns, como estranha. “Um tempo no qual se afirmam grandes capacidades e
entusiasmos como aqueles patenteados pela confiança na potencialidade da busca e
das aplicações tecnológicas. Temos capacidade de ver mais e melhor, mas a nossa
sensibilidade, `hipersensível´ em todos os sentidos, vê-se ainda muito vulnerável...
Atrás da fachada de muita força e segurança, quantos dramas de inferioridade,
dependência e solidão, mesquinhez e egoísmo, esterilidade!” (A. Sabatini). Quanta
gente hoje se sente frustrada e tem a sensação de não poder alcançar tudo quanto
sonhava e desejava!
Como pessoas e como comunidades vivemos imersos na realidade e na
história de hoje. Vivemos um tempo favorável, como sublinha a carta de convocação
do CG XXII, mas constatamos também as contradições ligadas aos padrões culturais
ambíguos de nossa sociedade e às injustas condições de vida de tanta gente.
Medimos os desníveis entre os ideais pelos quais gastamos nossas energias e a
escassez dos resultados que tardam a chegar ou, aparentemente, jamais chegam.
Fazemos a experiência disso em todas as idades. As irmãs jovens o advertem com
particular preocupação. Quem está mais adiantada nos anos às vezes experimenta a
sensação de impotência ou de exclusão das atividades. Serpeia também em alguns
dos nossos ambientes um halo de frustrações sutis. Nem sempre expresso. Em
alguns casos, camuflado pelo confronto com outros tempos, outras possibilidades, ou
por apreciações críticas dos dias de hoje.
Uma realidade com múltiplos rostos
Frustração é a falta de gratificação de um desejo, o impedimento da
satisfação de uma necessidade. A pessoa vive um estado psicológico doloroso diante
de tudo o que obsta ou bloqueia a realização das metas à qual tende com fortes
motivações. O conflito existencial que daí se segue toca a pessoa inteira, desde as
primeiras fases da vida. São muitos os fatores que levam à frustração. Desde os
físicos, ligados às necessidades primárias de conservação de um estado de bemestar, nem sempre atingível; aos fatores sociais, ligados à convivência com outras
pessoas e às regras que daí derivam, necessárias ao bom funcionamento do grupo
social, ou ligadas a decisões arbitrárias de pessoas em posto de autoridade ou de
regimes políticos; aos fatores pessoais que se colocam em muitos níveis: biológico,
psicológico, social.
As diferenças individuais tornam mais ou menos grave e sofrido, o sentido de
frustração: constatamos que uma mesma experiência de falta de gratificação de uma
necessidade qualquer pode ser percebida por uma pessoa como desagradável ou
humilhante, enquanto que, para uma outra, pode ser estimulante ou até causar riso.
Em nossas experiências cotidianas observamos que o que faz a diferença é a
reação pessoal à frustração. Podemos opor-nos ativamente ao obstáculo e, quanto
mais forte for a motivação, tanto mais se persiste na busca do objetivo pré-fixado
que se tem como impedido. Ou, submeter-nos passivamente e recorrer a formas
compensatórias provocando danos à auto-estima, ou simplesmente resignando-nos
diante da situação. Em alguns casos podemos reagir com agressividade chegando,
inclusive, a expressões incontroladas, desproporcionadas, em situações nas quais
uma série de frustrações acumuladas desencadeia reações que um único
acontecimento não teria desencadeado. A reação agressiva pode ser dirigida
15
externamente, a pessoas ou coisas; ou a nós mesmos chegando a passar dos limites
com manifestações auto-punitivas, também graves.
Muitas vezes a frustração estimula a inteligência, ativa o comportamento,
orienta para escolhas criativas e realizadoras, intensifica a cooperação com quem
vive a mesma situação.
Há também reações inadequadas que danificam a força do Eu e provocam
formas defensivas que lesam a serenidade interior. Desencadeiam-se, então, os
assim chamados “mecanismos de defesa”, que podem degenerar em patologias
neuróticas. Alguns estudiosos arrolam uma grande quantidade, de 10 a 35 formas,
com várias expressões: racionalização, evasão, compensação, formação reativa,
fuga, projeção, isolamento, regressão, fixação e outros.
A sublimação é uma defesa “madura”, na qual a energia motivacional, na
impossibilidade de atingir o escopo, empenha-se em outros objetivos de valor social,
científico, criativo, espiritual. A sublimação é uma reação complexa que não se aplica
a uma ocasião isolada, mas torna-se uma construção importante na vida de uma
pessoa, a ponto de determinar-lhe as escolhas. Também o humorismo, ao qual se
recorre para exprimir sentimentos e pensamentos sem aborrecimento pessoal ou
efeitos desagradáveis aos outros, pode ser um modo adequado de reagir às
frustrações.
Apegar-se à confiança
Se tu soubesses que morrerias hoje
e visses o rosto de Deus e o Amor,
mudarias de vida?
Se tu soubesses que o amor
pode abrir brecha no teu coração
ainda que tenhas tocado o fundo,
mudarias de vida?
Estes simples versos da cantadora Tracy Chapman podem delinear a situação
de quem experimenta o vazio da frustração e, despencando como num abismo, não
tem mais nem força nem vontade de elevar-se. Em tal circunstância uma coisa pode
ser decisiva: procurar agarrar-se à mão que se estende. Abrir-se à esperança e à fé
confiante. Também se às vezes acontece de não existir a mão pronta a estender-se
para quem está caído por terra. Sucede-nos passar por perto velozmente, sem darnos conta de quem tem necessidade de um gesto, de uma palavra, de um sorriso, de
um pouco do nosso tempo. E muitas vezes também, quem está caído não tem mais
vontade de agarrar-se a uma mão para levantar-se.
Na tradição dos Chassidim há um grifo interessante que se refere ao livro do
Êxodo onde se diz: “Óleo de olivas esmagadas, para produzir luz” (27,20). É preciso
ser abatidas e esmagadas, não para jazer na terra, mas para produzir luz! Uma
norma litúrgica do livro sagrado fixava a qualidade do óleo da lâmpada que ardia
diante da arca da aliança no santuário. Para que o óleo fosse puro, era necessário
que as olivas fossem trituradas e espremidas no lagar. Assim acontece com o crente
submetido a duras provas na vida, muitas vezes isolado e marginalizado, esmagado
sob o peso do sofrimento, preço de sua fidelidade. Poderíamos dizer que por muitos
motivos está frustrado. Mas é propriamente através desta “trituração” interior que
brilha a pureza, a fortaleza, a intensidade do seu testemunho de luz. Quando se está
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esmagado e abatido, pode-se correr o risco de tocar o fundo do desânimo e até do
desespero. Mas o fiel agarra-se à fé e sabe que sua dor – como ensinou o Senhor
Jesus – pode ser fecunda e iluminadora.
Para além da frustração...
Cada pessoa tem suas reservas interiores e suas estratégias para vencer as
frustrações e os obstáculos da vida. Há algumas muito simples e práticas que podem
acender alegria e luz nos momentos de escuridão. Aponto-as, sem uma ordem:
estrelas minúsculas que podem iluminar o firmamento do cotidiano. Ser feliz é uma
postura mental que não depende do êxito dos acontecimentos.
* Enfrente com coragem o “hoje” e não permita que as dificuldades
perturbem sua serenidade profunda: o dia de “amanhã” pode ser melhor que o de
“hoje”.
* Não ambicione coisas grandes demais: as grandes palavras, os grandes
sentimentos, os mitos, os entusiasmos do momento. Esteja próxima das coisas que
lhe fazem companhia no dia-a-dia e que podem abrir-lhe vastos horizontes.
* Lembre-se de que o seu valor vai além do que você faz: Deus a ama pelo
que você é. Ele a vê como uma obra-prima, única. Esta verdade não a faz exultar de
alegria?
* Não dependa dos outros, do seu parecer, das suas avaliações. Ouvidos
abertos a todos, porém, cultive o seu credo: convicções radicais que não são
negociáveis.
* Se você encontra dificuldades, obstáculos, pode dar-lhes um sentido; se não
os encontra, pode achar nisso um sentido: tudo então pode ter um sentido!
* Discipline a sua vida emotiva: aprenda a substituir os pensamentos
negativos por pensamentos positivos: você é o artífice de si mesma, não os outros.
* Você tem muitos motivos para dizer-se a cada momento: cante e caminhe!
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A lâmpada
CORAÇÃO DE MARIA, MÃOS DE MARTA
Graziela Curti
Quando o cardeal Gabriel Maria Garrone, amigo do nosso Instituto,
leu pela primeira vez as cartas de Maria Domingas Mazzarello, escreveu
algumas reflexões, que ficaram como premissa nas várias edições do
epistolário. “Jamais, como neste caso, afirma, a palavra `espiritualidade´
ficará inadequada para expressar aquela vida palpitante que não sabe o
que fazer com as fórmulas, mas que toca o coração com suas palavras”. E
acrescenta: “ Poder-se-ia ser levado a crer que tudo isto não constitui uma
espiritualidade original...” mas, ao invés, “estas cartas nos fazem
claramente entender qual é a têmpera de uma maternidade espiritual,
quando Deus a inspira. Ela não faz discurso, não argumenta, vive e
comunica a vida”.
É precisamente através do cotidiano que se exprime a
espiritualidade salesiana.
O cotidiano com seus espaços de oração e de ação, mas sem
rupturas, colhidos juntos a partir de um olhar místico que não faz distinção
entre o coração de Maria e as mãos de Marta.
Uma Filha de Maria Auxiliadora - escolhemos uma entre tantas - que
soube conjugar as mais elevadas manifestações interiores com um
empenho multíplice e trabalhoso, foi Madre Ersília Crugnola. Colhemos no
seu diário, o percurso de uma contemplativa na ação.
Ver Deus
Ersília Crugnola, missionária em terras de revolução e de sacrifício, não
obstante uma vida de prodigiosa atividade e de grandes responsabilidades conseguiu
viver em contínua comunhão com Deus. Ir. Lina Dalcerri, escrevendo sua biografia,
intitula-a com propriedade: “Uma contemplativa na ação”.
Em resposta ao seu pedido missionário, recebeu como primeira destinação o
México, onde chega em 1922.
Daí a quatro anos apenas, devido à perseguição religiosa, parte para Cuba
onde consegue conjugar tempos de intensa oração, até mesmo mal interpretados,
com o serviço árduo num subúrbio mal afamado da cidade de Camaguey. É nomeada
diretora da comunidade e depois de seis anos, transferida para Havana. Neste
período, rico de consolações, mas também de sofrimentos, escreve: “O cálice está
cheio de amargura. Como é dolorosa a incompreensão humana! – Porém,
acrescenta: “Sinto-me alegre na dor, mas sofro inexplicavelmente diante das faltas
que destroem o espírito religioso”. Em 1941, um outro êxodo: é nomeada inspetora
do México. A tormenta da perseguição naquele País transtornou tudo. Urge um
trabalho de reconstrução das casas mas, sobretudo, dos espíritos. Deve viajar,
confrontar-se com decisões não fáceis: “A difícil cruz que carrego – anota, é
sustentada pelo bom Deus. Às vezes surgem montanhas de dificuldades e, sem que
eu perceba, de repente desaparecem”. Mesmo levando uma vida tão intensa e
sobrecarregada de trabalho não reduz o seu colóquio pacificador com o Senhor:
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“Graças a Deus continuo tranqüila, numa serenidade tão profunda que, me parece,
não é alcançada por nada da terra. A vida espiritual vai-se simplificando de tal
maneira que, com um único olhar, abrange-se tudo: não há nem enganos, nem
recuos. É tão simples ir ao encontro de Deus, viver só para Ele, pôr a nossa
felicidade somente nele!” (México, 22 de outubro de outubro de 1952).
No caminho de Abraão
Em 1959, depois de dezoito anos de trabalho intenso na dileta inspetoria
mexicana, é destinada a Cuba onde a espera um outro período de tormenta. Em
maio de 1961 são fechadas as casas religiosas e Madre Ersília, sob o peso da
responsabilidade, organiza a acolhida das Irmãs de várias regiões, forçadas a
abandonar a Ilha. Uma verdadeira diáspora. Depois de uma série de acontecimentos
dolorosos estabelece a sede inspetorial, em Santo Domingo, nas Antilhas. Após nove
anos atormentados pela guerra civil e por múltiplas preocupações, encaminha-se por
uma nova senda. Um último desapego leva-a de novo ao México, à casa de repouso
de Puebla. Ali continua a viver a experiência do Deus Trino, consciente daquela
inabitação misteriosa que não abandona jamais na solidão: “A alma divinizada –
escreve – jamais se afasta de Deus. Se seus deveres de estado exigem, entrega-se a
uma atividade incrível, mas no profundo do ser, no centro da alma, sente
permanente a divina companhia da SS. Trindade que não a abandona, um instante
sequer. Marta e Maria combinam-se nela de maneira tão inefável que a prodigiosa
atividade de Marta “não compromete absolutamente” a contemplação e a paz de
Maria. De tal modo que a alma permanece dia e noite em silenciosa e adoradora
contemplação, aos pés do divino Mestre” (10 de janeiro de 1967).
Buscaremos, portanto, trabalhar com aquele espírito de caridade
apostólica que leva ao dom total de si e faz da própria ação um autêntico
encontro com o Senhor. (Const. nº 48).
[email protected]
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A FMA é uma religiosa na qual devem caminhar juntas, no
mesmo passo, a vida ativa e a contemplativa (Constituições 1885).
A autêntica contemplação que brota da chama de amor infuso,
leva necessariamente à ação. Ação e contemplação unem-se e se
tornam uma só coisa (Estudioso de espiritualidade).
Quanto mais a alma está avançada nesta oração (a de perfeita
união) e inundada de maiores delícias em Deus, mais se consagra às
necessidades do próximo, especialmente às necessidades das almas”
(Santa Teresa).
Empenhemo-nos para reconhecer a preciosidade de cada dia
(Dalai Lama).
A vida acontece neste momento e é neste momento que cada
um deve saber gozá-la (Tiziano Terzani).
Trata-se precisamente de viver tudo (Rilke).
Não negligenciar as pequenas boas ações. As gotas de água,
caindo uma a uma, enchem com o tempo, um vaso gigantesco (P.
Rinpoche).
É vida
UM TESTAMENTO DE FIM- DE-VIDA
Anna Rita Cristaino
Em muitas nações já está em vigor e em outras, em discussão, se a prática do
Testamento Biológico é defesa do doente e dos seus direitos ou é uma forma de
eutanásia mascarada. O comitê italiano de bioética já o definiu: “Documento através
do qual uma pessoa, dotada de plena capacidade, exprime sua vontade a respeito
dos tratamentos de saúde aos quais desejaria ou não desejaria ser submetida no
caso em que, no decurso de uma doença ou devido a traumas improvisos, não
estivesse mais em condições de expressar o próprio consenso ou dissenso
informado”. Tudo parece muito normal. Quando se tem capacidade física e mental
escreve-se o que se quereria receber, em termos de cuidados médicos, no caso em
que acontecesse alguma coisa no futuro que impedisse a pessoa de se expressar.
Deste modo, dizem os sustentadores, tutelam-se os direitos do doente comportandose segundo a sua vontade. E isto evitaria inúteis agitações terapêuticas.
Para nós, porém, surgem as dúvidas. Em pleno vigor da vida, quando ainda se
sente invulnerável, declara-se que se vier a acontecer algum incidente grave que
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comprometa a própria vida não se desejam cuidados excessivos, mas quer-se apenas
ser acompanhados para uma morte digna, com uma terapia que alivie a dor.
Mas, se desde o momento em que foi escrito até o do presumido incidente
devessem passar muitos anos e se durante este período a relação com a própria
existência tivesse sido mudada, aquela declaração de vontade poderia ainda ser
considerada válida? Perguntemo-nos: pode-se fazer um testamento sobre a vida? A
vida, então, é um bem do qual cada indivíduo pode dispor a seu bel prazer ou, ao
invés, é um dom do qual o único Senhor é Deus? A vida tem valor somente quando é
completamente saudável? E quem nasce já com problemas de saúde deveria, então,
ser ajudado a morrer logo? São perguntas inquietantes que parecem aludir a
escolhas eugenéticas. A qualidade de vida, os padrões de existência sem sofrimento,
sem nenhum sacrifício, sem nenhum defeito, estão se tornando ídolos utópicos. O
maior desafio está em ajudar a compreender o valor da vida.
O que preocupa é o pensamento sutil que vai se infiltrando na consciência de
uma larga faixa da opinião pública de todo o mundo, segundo o qual entre as
liberdades do homem, que devem ser garantidas por lei, está a de decidir sozinho
quando deixará de viver. Fala-se, às vezes, de uma “cultura de morte” que invade o
nosso tempo. A separação do princípio de liberdade, do bem, traz em si uma lógica
que se poderia definir como letal. Em concreto, insinua-se a idéia de que todos os
campos de ação da experiência humana sejam antes de tudo e essencialmente
exercícios de livre escolha e por isso estejam inteiramente “à disposição”.
Portanto, não é só uma questão técnica ou jurídica, mas alguma coisa que
questiona a nossa concepção de humanidade, de liberdade, de criaturalidade.
[email protected]
Inserção central
MADAGASCAR (MDG)
Também chamada a Ilha vermelha por causa de sua terra rica em óxido de
ferro, é a quarta maior ilha do mundo. Tem uma população de 15 milhões de
habitantes pertencentes a 18 etnias diferentes. Cerca de 82% vivem nas áreas
rurais. Cerca de 75% da população é composta de jovens, com menos de 25 anos.
Madagascar foi descoberta pelos Portugueses no século XVI. Em seguida
recebeu a influência de povos emigrantes como os Indonésios, os Africanos, os
Árabes.
Em 1960 foi declarada independente da França.
Mesmo com tantos rostos diferentes, culturas diferentes, dialetos diferentes,
os Malgaxes formam um único povo unido pela mesma língua: a língua malgaxe.
As Filhas de Maria Auxiliadora
A Visitadoria “Maria fonte de vida” de Madagascar foi erigida em 15 de agosto
de 1997. O início desta presença remonta a 13 de maio de 1986 com a fundação da
primeira casa em Mahajanga, que dependia da Inspetoria Veneta “Maria Rainha”. Foi
Monsenhor Armand Gaêtan Razafindratandra, naquele tempo bispo de Mahajanga,
que pediu a presença das FMA para a educação da juventude, na sua diocese. As
21
primeiras 5 FMA, 3 italianas, 1 eslovena e 1 croata, Ir. Caterina Gionco, Ir. Antônia
Casimiri, Ir. Germana Boschetti, Ir. Marica Jelic e Ir. Marjeta Zanjkovic, chegam em
16 de outubro de 1985, iniciando o seu trabalho missionário com a escola elementar,
o oratório, a promoção da mulher, o dispensário.
Mas em 1886, Dom Bosco através de uma carta à rainha Ranavalona III, já
havia precedido suas filhas, em Madagascar.
Hoje, na Ilha vermelha há 38 Irmãs: 16 missionárias provenientes de 10
nações, 22 Malgaxes, 7 Perpétuas e 15 com votos temporâneos, 4 Noviças, 2
Aspirantes.
Em Madagascar há muitos jovens. A instrução e a formação profissional deles
constituem um desafio para as FMA, um modo de pôr em prática hoje, o mote:
formar “bons cristãos e honestos cidadãos”: dar a tantos jovens a possibilidade de
entrar com competência no mercado de trabalho e assim poder contribuir para o
desenvolvimento do próprio país e para o sustento da própria família.
Característica do povo malgaxe é a alegria e o saber viver e conviver juntos.
Isto faz com que o carisma salesiano encontre neste país um terreno fértil.
“O estudo é a melhor herança” (provérbio malgaxe)
Mundo Submerso
CORPOS À VENDA
Mara Borsi
Quando se fala de tráfico de seres humanos a coisa mais difícil de se fazer
entender a quem não conhece o fenômeno é a complexidade e a
multiplicidade dos aspectos que o compõem e das causas que o
determinam.
O tráfico não diz respeito apenas às mulheres traficadas: envolve os países
de origem e os de destinação; diz respeito às persistentes e sempre mais
problemáticas formas de discriminação de gênero que podem instigar as
mulheres a partir, a qualquer preço.
O tráfico de mulheres, do qual a falta de informação não nos permite assumir
justo conhecimento e consciência, não é um fenômeno novo. É bom lembrar que na
história, os corpos das mulheres sempre foram colocados à venda como mercadoria
preciosa.
O tráfico na história
As sing song girl na Califórnia da metade do “Oitocentos”, para atrair clientes,
repetiam, num inglês incompreensível: “Entre aqui e faça tudo o que você quiser
22
com uma menina chinesa muito graciosa”. A descoberta das jazidas de metais
preciosos atraiu àquela região homens de todo o mundo e, onde só há homens,
imediatamente prolifera, também, a oferta sexual.
As sing song girl eram meninas raptadas nas ruas da China ou vendidas pelos
próprios pais. Não eram escolhidas entre as mais bonitas, mas entre as que tinham
uma estrutura física mais forte, as que custavam menos e sobretudo entre as mais
jovens, pela sua docilidade. Eram transportadas nos porões dos navios, escondidas
em grandes caixas, lotadas. As que sobreviviam à viagem passeavam pelo porto de
São Francisco, sem nenhuma dificuldade. Chegando aos Estados Unidos as meninas
eram leiloadas e adestradas pelas mais velhas: deviam aprender a atrair os clientes e
a satisfazê-los, por mais humilhantes e dolorosas fossem suas exigências. Quando
adoeciam, eram abandonadas à morte, sem nenhum cuidado. O tráfico das
mulheres asiáticas na segunda metade do “Oitocentos” atingiu um elevado nível de
organização. Não obstante a ampla difusão na história moderna, é famoso e
documentado apenas o fenômeno do “tráfico das brancas” que deslocava jovens
européias conduzidas aos bordéis das colônias e das grandes metrópoles da época.
O fenômeno alcançou uma expansão notável entre o fim do “Oitocentos” e as
primeiras décadas do “Novecentos”, quando a segunda revolução industrial pôs em
crise a realidade sócio-econômica tradicional, forçando a emigração e a busca da
fortuna. O fenômeno atinge um desenvolvimento de tal modo evidente a ponto de
induzir à especificação de mecanismos de oposição. Em 1904 é siglado o Acordo
internacional para a repressão do tráfico das brancas e em 1910 realiza-se a primeira
Convenção sobre repressões do tráfico dos seres humanos e o abuso sexual, que
focalizava apenas o objetivo da exploração sexual, no tráfico.
O fenômeno hoje
Hoje o fenômeno, com as oportunidades da globalização, assume dimensões
inéditas. A indústria do sexo amplia-se e se diversifica em toda parte e as
modalidades de exploração do mercado sexual são as mais variadas. Desde a
prostituição de rua, a visível, até a prostituição nos apartamentos, nos hotéis, nos
locais noturnos. As áreas mais interessadas são o Sudeste Asiático, o ex-bloco
soviético e a área latino-caribenha. Mas o fenômeno está presente também na África
e na região do Oriente Médio. As barreiras sempre mais rígidas colocadas à entrada
na União européia, têm o efeito de transformar regiões tradicionalmente de trânsito
em áreas de destinação. É o caso da Turquia. O fenômeno finca raízes na relação de
poder entre homem e mulher, em virtude da qual a gigantesca maioria das pessoas
que negociam serviços sexuais no mundo é constituída por homens, na falta do
poderio social e econômico das mulheres, as quais, para perseguir uma oportunidade
de mudança, chegam a usar o único recurso que lhes resta: o próprio corpo.
Redes contra o tráfico
Na mobilização para contestar o fenômeno, não estão apenas os Estados ou
as organizações governamentais internacionais, mas sobretudo a sociedade civil, as
igrejas, nas quais as religiosas têm papel preponderante.
Eis algumas das mais importantes redes internacionais que trabalham para dar
esperança a quem não tem a oportunidade de uma vida digna.
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COANET
(Christian Organisation against Trafficking in Women)
É uma rede internacional de organizações contra o tráfico das mulheres. Martina
Liebsch, alemã responsável pela organização, assim explica a sua finalidade: “Somos
uma rede de organizações católicas, protestantes e ortodoxas, que trabalha para
contestar este problema. Um dos objetivos é encorajar a cooperação entre os países
de origem, trânsito e destinação. Uma outra função é sensibilizar as estruturas
ligadas à Igreja acerca do problema. Queremos trabalhar pela prevenção e assegurar
a proteção às vítimas.
SOLWODI
(Solidarietà com le donne in difficoltà)
Fundada em Mombasa (Kenya) em 1985 por Ir. Legga Ackermann, oferece serviços
que se situam na área do acompanhamento e apoio moral, da tomada de
consciência e educação sobre o problema do tráfico de mulheres pela prostituição,
de projetos de reintegração das vítimas.
COSUDOW
(Comitato d´aiuto alla dignità della donna)
Organismo criado em Benin City, em 2001 pela Conferência das religiosas da Nigéria.
Entre os seus objetivos: fazer circular informações nas paróquias, nas escolas e nos
povoados para dificultar o êxodo da juventude para a “terra prometida”; sustentar as
famílias e protegê-las das possíveis extorsões dos traficantes; acolher e acompanhar
as vítimas quando voltam para suas aldeias.
Objetivo 2015
ESCOLA E DIREITOS IGUAIS
Julia Arcinjegas
A igualdade de gênero e o bem-estar das crianças caminham de mãos dadas,
afirma o Relatório UNICEF 2007, dedicado ao tema “Mulheres e meninas: a dupla
vantagem da igualdade de gênero”.
Quando as mulheres vivem plena e ativamente sua vida, as crianças crescem
bem. Contudo, a experiência demonstra também o contrário: quando numa
sociedade é negada às mulheres a igualdade de oportunidades, as crianças sofrem.
Os dados confirmam esta equação e nos permitem agora, propor a reflexão conjunta
sobre o 2º e o 3º Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (OSM).
Uma diferença a ser superada
Devido à discriminação de gênero, as meninas têm menor probabilidade de
freqüentar a escola; nos países em via de desenvolvimento, quase uma menina para
5 matriculadas na escola não completa seus estudos. Mais de 115 milhões de
meninos não freqüentam a escola primária: para cada 100 meninos sem escola, as
meninas são 115. Dois terços dos habitantes analfabetos do planeta, são mulheres.
24
Os filhos de mães não instruídas têm probabilidade dupla de não ir à escola;
além disso, o nível de instrução feminina, revela o relatório, resulta correlacionado
com as melhores perspectivas de sobrevivência e de desenvolvimento para as
crianças.
83% das meninas que vão à escola vivem na África sub-sahariana, na Ásia
meridional e na Ásia oriental. Na África sub-sahariana o número de meninas que não
freqüentam a escola subiu para mais de 24 milhões.
A negar-lhes este direito estão as conseqüências da pobreza, os preconceitos
e as práticas discriminatórias, como também os matrimônios precoces. Todavia, ficou
demonstrado que uma menina com escolaridade, casar-se-á mais tarde, terá menos
filhos e os criará mais saudáveis e instruídos; saberá proteger-se melhor das relações
sexuais indesejadas e, consequentemente, do contágio da AIDS. Assumirá um papel
mais decisivo na economia, na política e na vida social.
Assegurar a instrução elementar universal é o segundo OSM: objetivo a
ser alcançado de modo que, até 2015, os meninos e as meninas, os jovens e as
jovens, de cada lugar do mundo, tenham a possibilidade de completar um ciclo de
instrução primária.
Para atingir esta meta, como já acenamos, é preciso promover a igualdade
de gênero e o poderio das mulheres. O objetivo deste terceiro OSM, bastante
ambicioso, inclui também a eliminação da desigualdade de gênero na instrução
primária e secundária, em todos os níveis da escolaridade, até 2015.
A chave do desenvolvimento
Estas metas respondem a aspectos fundamentais do desenvolvimento
integral. De fato, a falta de instrução impede a pessoa de desenvolver suas
potencialidades. Além disso, priva a sociedade dos alicerces para o desenvolvimento
sustentável, já que a educação tem um papel determinante na melhoria da saúde,
da alimentação e da produtividade. O objetivo educacional é, portanto, a chave para
se atingir os outros objetivos.
Na realidade, o futuro de tantos/as jovens começa nos bancos da escola, onde
são assentadas as bases para uma cidadania responsável, atenta aos problemas do
mundo.
O relatório Unicef 2007 afirma que a igualdade de gênero na escola primária e
secundária é um dos pontos principais da Agenda do Milênio e as coalizões, em
todos os níveis, são cada vez mais reconhecidas como o canal para se conseguir este
objetivo. As ações-chave devem poder abolir as taxas escolares, convocar pais e
comunidades a investir na educação feminina e criar escolas amigas para meninas,
que ofereçam segurança e sejam destituídas de preconceitos.
Já e não ainda...
Apesar da arraigada desigualdade de gênero, a condição das mulheres
melhorou nos últimos 30 anos. Uma maior consciência das práticas discriminatórias e
de suas conseqüências tem incentivado as mudanças. Promovendo as reformas
jurídicas e sociais, os sustentadores da igualdade de gênero começaram a modificar
25
o panorama político e social. Embora o gênero continue a influenciar as escolhas e os
desafios da gente em muitas partes do mundo, uma menina que nasce em 2007
terá, provavelmente um futuro mais promissor que uma menina nascida há três
décadas. Todavia, a desigualdade de gênero persiste, não só na escola primária e
secundária, mas também na universitária, onde apenas 5 a 10% dos estudantes, nos
países de baixa renda, são mulheres.
Diz-nos respeito?
Uma pergunta deduzida, que nos coloca defronte à atualidade do nosso
carisma educativo. Sentimo-nos chamadas a tornar factível o seu dinamismo
profético, ocupando-nos com a paixão pelas meninas e pelos jovens, para
acompanhá-los no seu processo de crescimento. Hoje, mais que nunca, diante
destes desafios ressoam no nosso coração as palavras dirigidas a Main, em Borgo
Alto: “A ti as confio”.
[email protected]
Mundo Jovem
Uma frase que é vida para os jovens das Ilhas Salomão
A EDUCAÇÃO É COISA DO CORAÇÃO
Cristina Merli
Tantas, tantíssimas respostas dos jovens do Instituto Técnico “Dom Bosco”
das Ilhas Salomão. A escola foi aberta pelos salesianos em 1999 e prevê dois níveis
de estudo: a escola superior, de seis anos e os institutos profissionais, de dois anos
(mecânica, carpintaria e eletrecista para os jovens; economia doméstica para as
jovens). Aos cursos profissionais acorrem apenas os push out, isto é os jovens que
não passaram no exame para o terceiro grau e que, portanto, não têm mais
possibilidade de acesso a nenhum outro tipo de instrução. São cerca de 250 rapazes
e 50 moças. O desejo de estudar é tão grande que, para freqüentar a escola,
levantam-se às 4h30 da manhã e renunciam ao almoço para pagar a mensalidade.
Desde janeiro nós, FMA, também estamos com eles. Ir. Sonia Murari colheu,
numa entrevista, seu grande anseio pela educação.
É importante para você a educação? Por quê?
- A educação é o meu futuro. Para mim é como a terra: sem a terra você não
pode viver porque não tem onde plantar sua horta e construir sua casa. (Mathew, 20
anos)
- É maravilhoso conhecer e aprender coisas novas. A educação faz parte da
vida. A educação é a chave da vida. (Sam, 20 anos)
26
- Sem educação não pode haver desenvolvimento para o nosso País. Através
da educação podemos aprender coisas úteis para a nossa comunidade e para os
nossos conterrâneos. (Joycelyn, 20 anos)
Quais são as coisas mais importantes que você aprendeu, nestes anos, na
escola?
- Aprendi tantas coisas, mas as mais importantes são: a pontualidade, a
honestidade, a paciência, a partilha com os outros e ser bom cristão. (Jornax, 20
anos)
- Aprendi a ser bom cristão e honesto cidadão na minha comunidade, não
fazendo coisas especiais, mas vivendo as coisas ordinárias de modo extraordinário.
Além disso, aprendi a estar seguro de mim mesmo e a confiar nas minhas
potencialidades. (Simon, 22)
- As coisas mais importantes que aprendi no “Dom Bosco” são o amor e a
compaixão. (Margaret, 16 anos)
- No “Dom Bosco” aprende-se como se tornar santos! (Melissa Mary, 20 anos)
- Aprendi tantas coisas, mas, sobretudo, a rezar pela manhã e à tarde, no final
das aulas. Estou realmente feliz por freqüentar esta escola! (Hamilyn, 15 anos)
Você tem possibilidade de enviar uma mensagem a todos os estudantes do
mundo. O que gostaria de dizer a eles?
- Como “bosconiano” eu diria: Caros amigos, a educação é a chave da vida,
coloque Deus em primeiro lugar e faça bom uso da oportunidade que têm de estudar
porque lhes é dada uma só vez e é uma bênção de Deus. (John, 17 anos)
- A educação é como uma lâmpada acesa na noite: indica-lhe o caminho. Não
negligencie a sua formação e valorize a oportunidade que lhe é dada. (Sam, 20
anos)
- Colabore com o povo do seu vilarejo, mostre comportamentos positivos e
evite os vícios. Respeite a dignidade de cada um, valorizando a sua vida e a dos
outros. Empenhe-se por um futuro melhor. (Joycelyn, 20 anos)
- Nós estamos orgulhosos de ser “bosconianos” e queremos ter o espírito de
Dom Bosco no nosso trabalho. Não estamos sozinhos, mas somos parte de uma
grande família na qual cada um tem orgulho de si mesmo e busca dar o melhor de si
para os outros. Nascemos para coisas muito grandes! (Simon, 22 anos)
Não só mensagens para outros jovens, mas também para nós educadores.
O que você espera dos seus professores?
- Espero deles bons exemplos como honestidade, gentileza, amor, cooperação
com os estudantes para melhorar a sua habilidade e o seu conhecimento. (Frank, 23
anos)
- Espero que sejam cordiais, que ajudem e estejam disponíveis a todos os
estudantes, não só aos melhores. Espero também que mostrem atitudes e
comportamentos positivos que os estudantes possam imitar. Professor é aquele que
indica o caminho e guia os outros. (Simon, 22 anos)
27
- Espero que amem o seu trabalho, que o desempenhem com honestidade,
competência, paixão e amor. Espero, também, que sejam bons cristãos e honestos
cidadãos. (Margaret, 16 anos)
Os jovens são também os nossos mestres, dizia Dom Bosco. A sua expectativa
sobre nós pode avaliar o nosso profissionalismo, a nossa humanidade, a nossa
santidade.
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Para além das estatísticas...
“Claro que gostaria de freqüentar a escola – diz Yeni Bazan, 10 anos, El
Alto, Bolívia – quero aprender a ler e a escrever... Mas como faço? Minha mãe
precisa que eu vá buscar a água” (UNDP 2006, Sintesi, p. 23).
“Nunca freqüentei a escola porque meu pai acreditava que as meninas não
precisavam estudar. Minha mãe pensava do mesmo modo porque também ela
jamais freqüentara a escola. Os meus irmãos foram enviados à escola porque um
dia tornar-se-iam “operários”, mas meu pai me disse que eu não tinha necessidade
de instrução porque simplesmente iria casar-me”. É este o testemunho de Rinku,
uma jovem de 15 anos de um país asiático ( Antena Missionária, janeiro de 2005).
Explora-recursos
UM TELEFONE “TUDO - FAZ”
Ana Mariani
Os smartphone são os celulares denominados telefones “inteligentes” pelas
suas aplicações informáticas avançadas. Instrumentos tecnológicos caros e
acessórios potentes, dotados não só de uma foto-câmera ou de uma tela a cores, os
smartphone são capazes de fazer circular aplicações informáticas de vários tipos, que
vão desde programas de correspondência eletrônica aos mapas interativos, do editor
de imagens aos organizadores avançados, dos videogames aos browser internet,
encontrando como único limite (junto à memória) a fantasia dos criadores de
software, obviamente dotados de todas as funções que tanto agradam ao público:
gravação e reprodução de filmes e imagens, leitura de file-audio em diversos
formatos, MMS videogames e sons polifônicos.
Do telefone aos “telefones inteligentes”:
mudanças sócio-psicológicas da comunicação telefônica
O telefone portátil de nova geração é um mundo inteiro... mas também uma
“doença social” definida “telefoninho-dependência”. Instrumento amplamente
difundido e avançado tecnologicamente, alimenta a necessidade comum de estar
perto, vencendo as distâncias do espaço e do tempo, transformando as
possibilidades das relações cotidianas, favorecendo a possibilidade de aumentar as
ocasiões de intimidade e, às vezes também, a violação da liberdade e dos espaços
28
pessoais. Com a multiplicação das funções técnicas de um telefoninho
transformaram-se também suas funções sociais e psicológicas, relativas tanto à
esfera individual como à relacional: o celular hoje é um instrumento que acompanha
cada momento da jornada e que ajuda a organizar e a gerir cada momento da vida,
do trabalho (com as agendas, os despertadores, os lembretes, o relógio) nos
momentos de divertimento (com os jogos, as foto-câmeras, as vídeo-câmeras).
● Regula a distância na comunicação e nas relações: faz aproximar-se ou afastar-se
dos outros, protege dos riscos do impacto emocional reduzindo o medo da rejeição.
Os adolescentes utilizam o telefoninho como instrumento de defesa para enfrentar as
inseguranças na comunicação. Os pais, ao invés, encontram no telefoninho uma
resposta à própria necessidade de estar constantemente presentes na vida dos seus
filhos, valendo-se do celular como uma “trela temática”.
● Ajuda a gerir a solidão e o isolamento: assume o papel de “anti-depressivo”.
Simboliza a “presença do outro”, que é uma entidade que está sempre à mão.
● Confere a ilusão de viver e de dominar a realidade, com suas inúmeras
possibilidades técnicas, a ponto de dar a idéia de poder estar presente e de ser
capaz de “parar o tempo”.
A dependência do telefoninho:
um fenômeno complexo que precisa ser prevenido
Ficar na dependência do celular é um fenômeno social que atinge
principalmente os jovens. Fala-se de “celularmania” quando o tráfego telefônico
cotidiano, constituído pela chamada e sms, seja na entrada ou na saída, acumula
em torno de 300 contatos, ou quando o uso excessivo está ligado ao abuso de
outras funções presentes no celular: a maior parte do próprio tempo é dedicado a
atividades conexas ao uso do telefoninho (ligações, sms, jogos, consultações, uso de
foto-vídeo-câmera, etc.) às vezes de modo exclusivo ou em concomitância com
outras atividades.
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Diálogo
A PORTA DO CÉU
Bruna Grassini
No caminho que vai de Esmirna ao sudeste da Turquia,
um cartaz aponta: EPHES.
É a cidade que viu surgir uma das primeiras Comunidades cristãs,
nascidas da pregação dos apóstolos Paulo e João.
Aqui, há mil e quinhentos anos, celebrou-se o primeiro Concílio
que proclamou solenemente a Divina Maternidade de Maria.
29
Não longe deste lugar, sobre a colina “do rouxinol”,
encontra-se uma pequena Capela de pedra, conhecida como
Meryem Ana Evi.
Segundo a tradição, é a Casa onde viveu e morreu Maria.
Testemunha-o o fato de que, durante as perseguições,
no final do II século, no dia da Assunção, subia uma multidão
de peregrinos para rezar juntos, na “Casa de Maria”.
(Avvenire)
Um único povo
Os Atos dos Apóstolos falam da Igreja de Éfeso, onde os fiéis, pela primeira
vez, foram chamados “cristãos”. Nesta terra santa, vívida de fé e de “memória”,
Bento XVI inicia a sua peregrinação apostólica com um anúncio surpreendente ao
povo da Igreja do Oriente: “Trago a todos o amor e a aproximação de toda a Igreja
e confio todos, ortodoxos e mulçumanos, hebreus e cristãos, à Virgem `Mãe da
unidade´ do gênero humano, Meryem Ana”. Com as palavras do Apóstolo Paulo aos
Efésios, o Papa invoca sobre todos os “irmãos”: “Graças e paz de Deus, Pai nosso e
do Senhor Jesus Cristo”. E proclama solenemente: “Cristo fez, dos dois, um só povo”.
Imploramos “paz e reconciliação entre cristãos e muçulmanos, ortodoxos e hebreus.
Paz para toda a humanidade”. O abraço fraterno entre o Patriarca ortodoxo
Bartolomeu I e o Papa, abre um novo horizonte de esperança que traduz
visivelmente a grande saudade da unidade: “Que todos sejam um na paz”. A
Conferência Episcopal Turca proclamou a Casa de Maria: “Santuário Ecumênico
Mariano”.
A “porta sublime”
Na Turquia usava-se a expressão “porta sublime” para indicar o portão de
entrada às salas do Sultão: ali ele apresentava o “bem-vindo” aos embaixadores
estrangeiros.
Recentemente, quatro Papas, de João XXIII a Paulo VI, João Paulo II e Bento
XVI, passaram por ele para visitar o Patriarca Ecumênico.
Não foi por acaso que Bento XVI escolheu para a primeira visita do seu
pontificado a região entre o Oriente e o Ocidente, a mais muçulmana. Aqui, como
escreve Andréa Riccardi, fundador da Comunidade de S. Egídio, “o cristianismo tem
um rosto pequeno, humilde, semelhante ao de Dom Andréa Santoro, assassinado em
Trebisonda, há um ano”. Esta terra é uma porta aberta entre um passado
esplendente e um futuro ainda incerto. Porta privilegiada de “encontro das
diferenças”, para superar preconceitos e incompreensões, num diálogo animado pelo
respeito, como diz o Cardeal Martini: “Ocorre escutar muito e julgar pouco”.
O diálogo dos gestos
No “Diário da Alma” de João XXIII, na época Núncio apostólico em
Constantinopla, encontramos, uma “lição” de incomparável simplicidade. Com a data
de 1936. Escreve: “Quero dedicar-me com o maior empenho e constância ao estudo
da língua turca. Sinto querer bem a este povo para junto do qual o Senhor me
30
enviou: é o meu dever. Sei que a direção que tomei nas relações com todos está
certa, sobretudo é católica e apostólica”. Além disso, às pequenas comunidades
religiosas, que normalmente rezam em francês, pede para rezar em língua turca. “A
paz, dizia, não caminha muito se fica desligada da realidade da vida. Sem efeitos
sobre a vida das pessoas não chega a despojar-se daquela arrogância de querer ser
melhor que os outros”. Não podemos esquecer o abraço histórico do Papa Paulo VI
ao Patriarca ortodoxo Atenágoras I, depois de 900 anos de incompreensões.
O Capuchinho Padre Tarcy assim explica a grande peregrinação, no dia da
Assunção, ao Santuário di Meryem Ana: “O que os atrai não é simplesmente a
curiosidade, mas a devoção. Talvez seja este o único lugar do mundo no qual o
Islam e a Cristandade se olham nos olhos, rezando juntos”. A estátua de Maria,
sobre o altar, não tem mãos... “talvez seja assim, conclui Pe. Tarcy, porque é como
se Maria dissesse: Sejam vocês as minhas mão no mundo”.
A porta ao lado
Na conclusão de uma longa viagem à Turquia, João Paulo II decide um dos
encontros mais difíceis do seu pontificado. Escolhendo a linha da humildade, pede
perdão pelas culpas dos católicos e renova o apelo à unidade. E no discurso, no
Areópago acrescenta: “A divisão entre cristãos é um obstáculo à difusão do
Evangelho e torna menos confiável a nossa profissão de fé”. O símbolo da “Porta” é
vivo em muitas religiões desde a antiguidade. Símbolo sagrado que traça um limite
entre dois opostos e aponta uma passagem. Papa Bento XVI, no caminho dos seus
predecessores, hoje nos indica a “porta aberta” ao diálogo, à confiança, à coragem,
à acolhida do pobre, do órfão e do imigrante que habita na “porta ao lado” e nos
convida a cantar “o Magnificat pela unidade dos povos de todas as culturas e
religiões que acreditam num Deus único, criador e Senhor do universo”.
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Periferias
A INFORMAÇÃO MONOPOLIZADA
Maria Antonia Chinello e Lucy Roces
Investigar entre as páginas dos noticiários cotidianos para descobrir quem
“escreve” as notícias, poderia revelar-se um exercício interessante.
Mais ainda, se se confrontam diversos cabeçalhos, nacionais e
internacionais.
Então, poder-se-ia perceber que 80% da informação que preenche os
cotidianos, provêm de três ou quatro agências de imprensa internacional.
Como assim? E isto, que prejuízos traz para o conteúdo e as formas das
notícias que escutamos no rádio, vemos na televisão, lemos na imprensa e
na internet?
Onde mora a informação
31
Giulio Albanese, missionário comboniano jornalista, afirma: “A informação do
Sul do mundo é monopolizada por poucas e grandes organizações como Associated
Press (AP), Reuters, e Agence France Presse (AFP). São as grandes agências que,
como primeiras fornecedoras de notícias, ditam as regras do jogo em nível mundial”.
O jornalista ocupa-se sempre mais das redações centrais dos títulos de jornal
e das emissões televisivas e radiofônicas. Mandar jornalistas – como enviados
especiais ou correspondentes ao exterior – para que colham as informações nas
diversas partes do mundo, custa caro, economicamente. Além disso, nos dias de
hoje eles podem correr o risco de ser seqüestrados, sofrer atentados ou incorrer em
ações violentas e terroristas. Por isso os títulos são entregues às agências de
informação, que espalham os newsdesks nas grandes áreas metropolitanas dos
países industrializados onde os perigos para os seus jornalistas são menores e onde
há, sobretudo, a possibilidade de uma tecnologia que suporta o envio das notícias
em giro e o retorno sempre mais rápido, para vencer a concorrência, rebater o furo
jornalístico na primeira página e, em conseqüência, vender o maior número de
cópias. Porque a informação é mercado, em última análise. Sendo assim, o conteúdo
da informação não está apenas condicionado aos interesses políticos e econômicos,
mas existe também uma discriminação na fonte das notícias que faz com que 90%
da informação sobre o Sul do mundo que lemos e escutamos seja produzida pelo
Norte do mundo. Se é verdade que os jornais não devem estar cheios somente de
dramas e de tragédias, quais notícias interessam ao leitor? A informação não serve
talvez para fazer-me compreender o que acontece no meu quarteirão, na minha
cidade, no meu Pais, ou no meu planeta?
A informação que interessa
Jucca Pietilainen, um pesquisador do Departamento de Jornalismo e
Comunicação de Massa da Universidade de Tampere (Finlândia) estudou as relações
entre o fluxo das notícias internacionais e o comércio, em 33 países. `Notícias
estrangeiras e comércio estrangeiro – que espécie de relacionamento?´ – o livro que
coleta os resultados desta pesquisa, prova que as conexões entre os mercados
comerciais e as informações são significativas na maior parte dos países estudados.
A correlação entre notícias e comércio é maior nas pequenas cidades industriais que
dependem dos mercados estrangeiros. Fala-se menos dos países mais pobres, que
têm menor contato com os mercados internacionais.
O fluxo global das notícias reflete a configuração internacional do poder. No
seu projeto, International News Agencies and the War Debate of 2003, Beverly
Horvit afirma que são cinco as grandes agências de imprensa que, como num grande
jogo entre times, ditam as regras da informação mundial: a Associated Press (AP,
Stati Uniti), Agense France Presse (AFP, França), Reuters (Gran Bretanha), Xinhua
(China), ITAT-TASS (Rússia). Ao lado delas, os colossos CNN e BBC, dos quais
provém boa parte das imagens difundidas pelas televisões de todo o mundo
ocidental.
Modificar a informação
O que fazer para que não se tenha um mundo invertido pela informação? As
agências que regulam os fluxos das notícias internacionais, determinam também os
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conteúdos das informações. Dos países pobres fala-se apenas quando estão em
conflitos, com epidemias, carestia e fome. Como é possível? A informação do Sul do
mundo com freqüência é inferida das imagens e das interpretações. Então, vê-se no
TJ, o solitário jornalista branco, tendo ao fundo cenas de distribuição de alimentos a
pobres africanos famintos, que em poucos segundos nos fala da miséria do povo,
provavelmente numa entrevista com um operador humanitário branco, talvez de
nacionalidade do País onde o serviço será colocado no ar. Esquecendo as causas que
geraram aquelas situações. “Assim todos somos reforçados – escreve Renato Kizito
Sesana, missionário comboniano, no livro `As periferias da informação´– em nossa
complacente visão de uma África dilacerada, incapaz de prover a si mesma,
dependente, ainda que só para fazer conhecer os seus problemas, pela voz dos
brancos e dos heróicos operadores humanitários (ou missionários). Uma África
destinada a ficar para sempre às margens do mundo que é importante”.
É necessário, portanto, tomar iniciativa e buscar as notícias na fonte. A
Internet pode ajudar nisto. Seria interessante, mesmo como comunidade, como
escola, pesquisar, com a ajuda dos instrumentos de busca, os sites de informação do
sul do mundo. Para não reforçar os preconceitos e as explicações deduzidas.
[email protected]
[email protected]
Sugerimos visitar estes sites e confrontá-los: Quais são os conteúdos? Que
áreas do mundo privilegiam? Onde estão colocadas as sedes dos
correspondentes para a coleta das notícias?
Agências de imprensa internacionais:
Agence France Presse (França) http://www.afp.com
Associated Press (Estados Unidos) http://www.ap.org
Reuters (Granbretanha) http://www.reuters.com
Xinhua News Agency (China) http://www.xinhuanet.com
ITAR-TASS (Russia) http://www.itar-tass.com
Ansa (Itália) http://www.ansa.it
Efe (Espanha) http://www.efe.com
Pti (Índia) http://www.ptinews.com
Agências do Sul do mundo:
Inter Press Service News Agency: http://www.ipsnews.net
Peacelink: http://www.peacelink.it
Oneword: http://www.oneword.net
Missionary International Service News Agency: http://www.misna.org
Peace Reporter: http://www.rsf.org
33
Filme
“MUNDO NOVO”
NOVO”
De Emanuele Crialese
ITALIA/FRANÇA – 2006
2007 é o Ano europeu das oportunidades iguais para todos e é também o
cinqüentenário da assinatura do Tratado de Roma. A ocasião – já lançada pela
Jornada Mundial contra a discriminação racial, em 21 de março – sugeriu também
uma rica e possível valorização do “Mundo Novo” o belo filme do diretor romano de
origem siciliana Emanuele Crialese. Uma esplêndida saga sobre a imigração italiana
do início do século XX – já Leão de prata, revelação na Mostra de Veneza – e
candidato à estatueta como melhor filme estrangeiro.
Crialese não podia escolher tempo melhor que este para percorrer a história
da migração italiana, “indagando sobre a gênese do preconceito que sempre
acompanhou o fenômeno migratório e as dinâmicas de inserção na sociedade de
acolhida”. Justamente hoje em que a Itália é o “Mundo Novo”, meta ambicionada
pela imigração. Enquanto, de fato, em seu tempo os sicilianos fugiam de sua ilha
para buscar seu espaço na América, hoje há quem veja a Sicília como uma nova
América. É exatamente esta a chave para compreender o valor atualíssimo do filme.
Grande obra que não se deve perder.
“Mundo Novo” então?
“Emigrantes às raízes de um sonho” – “Viagem no sonho americano” –
“Emigantes testados em Nova York” – “Aquele povo partido em dois” – “Realismo
visionário de Crialese” etc. São apenas alguns dos interessantes títulos que os
críticos formularam para indicar os múltiplos ângulos sobre os quais o olhar/leitura
do filme poderia se deter. O horizonte é o da grande emigração que nos primeiros
anos do século XX levou milhões de italianos para a América. Um tema sobre o qual,
graças ao cinema, aos livros e às canções acreditávamos saber tudo, mas o filme nos
fará descobrir que quase nada sabíamos. Extraordinário e corajoso, subverte toda
certeza recriando sob os nossos olhos a “substância profunda daquela experiência”
com uma precisão documentativa e uma riqueza inventiva que, juntas, são obras de
antropologia e de poesia.
Nem um gesto, nem uma palavra de “Mundo Novo” parecem fora de lugar.
Tudo é histórico, autêntico. Desde o dialeto dos protagonistas às ingênuas
montagens de fotos do início do século que, por causa das “hortaliças gigantes”,
descreviam a América como a terra do Bengodi (Terra Prometida). Somente a
minuciosa reconstrução da época desaparece diante do respiro mítico daquilo que,
como justamente diz o seu autor, “não é um filme político, não é um filme histórico,
não é um filme social”. Mesmo se se documentou por anos e relembra páginas pouco
conhecidas – por exemplo, as esposas compradas na Ilha Ellis como gado ou os
testes comportamentais aplicados em massa aos imigrantes “para proteger os
americanos do contágio de inteligências inferiores”, primeiras experiências de
eugenética em larga escala – Crialese não faz polêmica histórica porque jamais perde
de vista a verdadeira finalidade do filme: a pessoa e sua experiência de vida.
A bravura de Crialese está em conseguir gerir tanto a micro-história (a de
Salvador e de sua família) quanto a reconstrução histórica. Divide em três partes a
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sucessão de eventos e começa com a escalada de uma ladeira pedregosa nos
Madônios, a pés descalços, com uma pedra na boca, para propor a Deus, chegando
ao cume, a pergunta fatal: partir ou ficar? Portanto os preparativos, as decisões
enfrentadas, a venda de todas as coisas: tudo ficou esculpido na áspera e solitária
terra siciliana, nos seus riquíssimos aspectos físicos.
Depois, a viagem. Uma longa viagem ocupando o ambiente das máquinas,
bíblica travessia. Amontoados e transtornados, os homens de um lado e as mulheres
do outro; o encontro de Lucy/Luz, uma inglesa que parte novamente e que já
conhece a língua do novo mundo; depois, as tormentas e o furor das ondas batendo
contra o bojo do navio.
Enfim a chegada, na ignorância (“A América, onde está?”), à Ilha Ellis, a ilha
considerada “das lágrimas” – “porta para o novo mundo”, onde tantos dos
americanos de hoje viveram em quarentena a humilhação das visitas, dos “testes” de
exame, com o terror de serem mandados de volta.
“Um filme em homenagem, portanto, à enorme coragem de deixar tudo para
trás, exigida de quem, como eu – conclui Crialese – é um emigrado de retorno e
pode dizer com orgulhosa dignidade: o realizamos. Para fazer um filme na Itália –
este – precisei ir à América e depois passar pela França, pensem que giro, mas o
conseguimos!”
Para fazer pensar
● Sobre a idéia do filme
Partir das pedras da terra nativa - para chegar aos vitrais – através
dos quais “não” se vê Nova York e contar uma história que “lança uma
ponte” entre o velho e o novo mundo. Uma história de ontem, mas que fala
muito do nosso presente.
Não uma lembrança histórica “neo-realista” mas “a caminhada fatal do
homem medieval para a modernidade” – como escreve Kezich. A experiência
migratória italiana, interna (do Sul para o Norte) ou transoceânica, realiza-se em
“Mundo Novo” narrando uma viagem para “além-mar” em busca da terra prometida.
Viagem fechada nos porões de um navio, com pouco espaço e confinada entre duas
seqüências poderosas, a ponto de tirar o vigor: a partida da embarcação do porto
siciliano e o desembarque branco na América. O navio desloca-se da terra arcaica
arrancando a composição do seu enquadramento como também os corações de
quem abandona o velho mundo e suas origens. No meio, a travessia física e interior
de personagens explicados unicamente pelas imagens, até o banho “cândido”, fixado
no manifesto do filme, do qual protagonistas emergem ao novo mundo e de novo
“ao mundo”. Para iluminar, desde o nome, a travessia da vida está uma mulher:
Lucy–Luz, ela a antecipadora e a mediadora, entre valores e racionalidade, tradições
e novidade.
● Sobre o sonho do filme
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“Amar requer tempo, num matrimônio que se respeita” diz Salvador
no filme. Assim também nós – insiste Crialese – poderemos aprender com
o tempo a respeitar e a acolher quem hoje bate à nossa porta como há um
século os americanos. Com benevolência e interesse, em vista de um novomundo solidário.
“Respiro”, o meu filme precedente – explica numa entrevista o autor –
terminava com o abraço entre os membros numerosos de uma comunidade inteira,
aqui, ao invés, o final é um banho no leite. É o retrato de uma família siciliana, mas
que poderia ser também a nossa... Existe um pouco de inconsciente coletivo neste
filme. É uma viagem que narrei através da história de um personagem porque quis
dar identidade ao que chamamos “fenômeno” da emigração Um fenômeno que se
refere às pessoas, aos seus sonhos, suas desilusões, de viagens não completadas,
bloqueadas ou terminadas tragicamente, mas também, decididas e fecundas, abertas
a novas oportunidades. Quis dar um pouco de identidade a este “fenômeno” e
acreditar que `Mundo Novo´ não seja um filme sobre emigração mas um filme que
fala do sonho, o sonho de todos aqueles que partem deixando tudo para apostar na
conquista de um amanhã melhor”.
36
Camilla
☺
EMERGÊNCIA DA ALEGRIA
“Em nosso trabalho apostólico o Sistema Preventivo […] torna-se uma
experiência de comunicação vivida entre nós e as jovens em clima de
espontaneidade, de amizade e de alegria” (Const. 66).
Relendo este artigo, a expressão que me salta aos olhos é TRABALHO
APOSTÓLICO… sabeis por quê? Há anos (considerando os meus… são tantos!)
a minha impressão é de que o nosso trabalho apostólico está se tornando um
pouco demais “trabalho”!
É verdade que somos filhas de dois grandes trabalhadores (Dom Bosco e
Madre Mazzarello), mas é também verdade que não é preciso exagerar.
Seguramente, os números fazem a diferença com os meus anos…
Mas… falando com as irmãs diretamente envolvidas na missão eu me dei
conta de que são muito solicitadas, todos pedem respostas a serem dadas
“dentro e não fora” e estas pobrezinhas ficam estressadas por todos os lados…
Comecei então a me perguntar como se pode, hoje, assumir o estresse de cada
dia com a famosa “pedagogia da felicidade”! Encontro algumas respostas!
Naturalmente, não são respostas científicas e talvez para alguém, poderão até
parecer um tanto caseiras… Penso que, para além do trabalho que se
desenvolve, um bom teste para se conhecer a taxa de felicidade seja olhar para
o rosto das pessoas em geral.
Não sei se tendes observado os nossos rostos; frequentemente nos
assemelhamos a sobreviventes de, talvez, alguma catástrofe… certo, com a
fúria de ver telejornais, tornamo-nos mais anunciadoras de desgraças,
emergências e telenovelas e, um pouco menos, anunciadoras da “boa nova”!
Dom Bosco também dizia que seus tempos eram difíceis, no entanto foi o
santo que viveu com profundidade esta bendita pedagogia da felicidade,
perante os que pensam que não existe uma educação para a felicidade.
Hoje, infelizmente, desperdiçam-se as “emergências”: emergência
hídrica, emergência de cá, emergência de lá… e a emergência da alegria?
Comem-se pão e estresse! Enfim, em nossos ambientes, nos quais se deveria
respirar um outro ar, há um pouco de contaminação (não se trata do buraco de
ozônio!).
Graças à minha idade posso dizer que a felicidade não depende nem do
trabalho que se realiza, nem da exuberância do caráter e muito menos da
juventude, porque se assim fosse, as nossas jornadas seriam, todas elas, foto
em branco e preto, talvez de alto valor artístico, mas privadas da cor e do calor.
E que frio faz perto das pessoas infelizes!
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DIREITOS
DENTRE 121 MILHÕES DE CRIANÇAS, APROXIMADAMENTE, QUE NÃO TÊM
TIDO MAIS A POSSIBILIDADE DE FREQUENTAR A ESCOLA, 65 MILHÕES
(CERCA DE 54%) SÃO MENINAS.
NÃO HÁ MAIS DESCULPAS PARA IGNORAR QUE A EXCLUSÃO DAS MENINAS
E DAS JOVENS DO SISTEMA EDUCATIVO NÃO É SOMENTE A NEGAÇÃO DE UM
DIREITO HUMANO, REPRESENTA UMA GRAVE HIPOTECA SOBRE O FUTURO
DE UMA SOCIEDADE.
A INSTRUÇÃO FEMININA TRAZ, DE FATO, INÚMEROS BENEFÍCIOS PARA O
SUJEITO INTERESSADO E PARA A SOCIEDADE NO SEU TODO.
AS MULHERES QUE TÊM RECEBIDO UMA INSTRUÇÃO TENDEM A EVITAR
GRAVIDEZ PRECOCE E COMPORTAMENTOS DE RISCO DE CONTÁGIO DO HIV.
TAMBÉM PORQUE UMA SALA DE AULA É MUITAS VEZES O ÚNICO LUGAR
SEGURO PARA UMA ADOLESCENTE.
UMA JOVEM ANALFABETA ESTÁ, SEM DÚVIDA, MENOS PROTEGIDA DA
VIOLÊNCIA, DAS DOENÇAS E DA EXPLORAÇÃO, DO QUE UMA COETÂNEA QUE
QUE TEM ALGUM ACERVO CULTURAL.
A INSTRUÇÃO É O MELHOR MEIO PARA PROMOVER A IGUALDADE ENTRE OS
SEXOS.
GARANTIR OPORTUNIDADES IGUAIS DESDE O INÍCIO DA ESCOLARIDADE É
O PRIMEIRO PASSO A SER DADO PARA QUE ESTE AMBICIOSO OBJETIVO
SEJA ATINGIDO.
Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância
Aos cuidados de Mara Borsi
Pensamentos sobre a vida
A vida é beleza, admire-a
A vida é felicidade, saboreie-a
A vida é um sonho, faça-o realidade
(Madre Teresa de Calcutá)
38
PRÓXIMO NÚMERO
DOSSIÊ:
Jardineiro ou navegante?
O que significa ser educador hoje
EM BUSCA:
Objetivo 2015
Mais saúde menos mortalidade
COMUNICAR:
Periferias
Sob a notícia nada
Diálogo
Passos concretos do diálogo
Envie os seus pensamentos sobre a vida para [email protected]

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