adriano medeiros costa barcelona virtual
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ADRIANO MEDEIROS COSTA BARCELONA VIRTUAL: NUNCA FOI TÃO FÁCIL PARA UM PEQUENO MUNICÍPIO SE INFORMAR SOBRE SI MESMO E DE ACORDO COM SUA PRÓPRIA CULTURA NATAL 2003 ADRIANO MEDEIROS COSTA Barcelona virtual: nunca foi tão fácil para um pequeno município se informar sobre si mesmo e de acordo com sua própria cultura Monografia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. NATAL 2003 FOLHA DE APROVAÇÃO Barcelona virtual: nunca foi tão fácil para um pequeno município se informar sobre si mesmo e de acordo com sua própria cultura. Adriano Medeiros Costa Monografia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Data da Aprovação: 21/07/2003 Aprovada por: Profº Dr. Adriano Lopes Gomes Orientador Profº Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade Membro Profº Emanoel Francisco Pinto Barreto Membro NATAL 2003 AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos ao meu pai Adauto Tavares da Costa, a minha mãe Creuza Medeiros de Carvalho Costa (in memoriam), aos meus irmãos Adauto Filho, Fátima, Socorro e a Sidnei, sem o qual a realização deste trabalho não teria sido possível. EPÍGRAFE “O PRIMEIRO dever do homem em sociedade he ser útil aos membros della; e cada hum deve, segundo as suas forças Phisicas, ou Moraes, administrar, em benefício da mesma os conhecimentos, os talentos que natureza, a arte, ou a educaçaõ lhe prestou.” (sic) Hipólito da Costa Londres, 1º de junho de 1808. (trecho da introdução do Correio Braziliense, que produziu sozinho no exílio de Londres numa época em que não havia maquinas de imprimir no Brasil. Esse foi o primeiro jornal brasileiro e circulou na clandestinidade ininterruptamente de junho de 1808 a dezembro de 1822). “Não encontro defeitos. Encontro soluções. Qualquer um sabe queixar-se”. Henry Ford (1863 -1947=) Desenvolveu a indústria automobilística e técnicas de produção que revolucionariam os processos industriais como um todo. RESUMO A revista virtual Barcelona (www.barcelonarn.hpg.com.br) tem um enfoque jornalístico e educacional, procurando analisar as características artísticas, históricas, geográficas, econômicas, lingüísticas e sociológicas do município de Barcelona, Rio Grande do Norte, Brasil. A revista é dirigida à população de Barcelona, mas também é útil a qualquer pessoa interessada em assuntos ligados ao sertão do nordeste brasileiro. Nele destaca-se a aparência tipicamente sertaneja, ela é resultado do compromisso com o Movimento Armorial, movimento estético idealizado por Ariano Suassuna na década de 70 de resgate e revalorização da cultura do sertão brasileiro e representa a primeira tentativa de reunir artes para a construção de uma cultura clássica brasileira. Fazem parte deste movimento personalidades como o músico Antônio José Madureira, o artista plástico Francisco Brennand, o multiartista Antônio Nóbrega, além do próprio Ariano Suassuna. O que difere o site de Barcelona de outros é que ele não é turístico, nem sua preocupação é a de formar professores, mas orientar comunidades inteiras através da notícia e da informação. A preocupação não é a de fornecer notícias didaticamente para uso em sala de aula, embora também tenha essa utilidade, mas possibilitar que pequenas comunidades se conheçam, tenham consciência de sua própria realidade e sua cultura para que tenham visão própria (tendo por base sua cultura) da realidade em que vivem. Para que cientes dos problemas, vantagens e potencialidades, passem a agir pela melhoria de suas condições de vida. Isto é, usar o Jornalismo como instrumento de educação, mudança e de consciência. Palavras-chaves: jornalismo, educação, Movimento Armorial, sertão, civic journalism, Internet, estudos culturais, português arcaico e regionalismo, webdesign, mídia, globalização, cidadania, e-democracy e educomunicação. ABSTRACT Barcelona‘s virtual magazine (www.barcelonarn.hpg.com.br) has a journalistic and educational focus, trying to analyze the characteristics artistic, historical, geographical, economical, linguistics and sociological of the municipal district of Barcelona, Rio Grande do Norte, Brazil. The magazine is driven the Barcelona's population, but it is also useful to anybody interested in linked subjects to Brazilian northeast interior. In the site stands out the appearance typically country, resulted of the commitment with the Armorial Movement, aesthetic movement idealized by Ariano Suassuna in the decade of 70 of ransom and revaluation the Brazilian interior culture and it represents the first attempt of gathering arts for the construction a Brazilian classic culture. They are part of this movement personality as musician Antônio José Madureira, the plastic artist Francisco Brennand, the multi artist Antônio Nóbrega, besides own Ariano Suassuna. The difference between the Barcelona’s site and others is that it isn’t tourist, nor your concern is the forming teachers, but to guide whole communities through the news and of the information. The concern isn’t supplying didactics news for use in class room, although it also has that usefulness, but to make possible that small communities know herself, have conscience of your own reality and your culture so that they have own vision (tends for your base culture) of the reality in that live. So that aware of the problems, advantages and potentialities start to act for the improvement of your life conditions. That is, to use the Journalism as education instrument, change and of conscience. Keywords: journalism, education, Armorial Movement, interior, civic journalism, Internet, cultural studies, archaic Portuguese and regionalism, web design, media, globalization, citizenship, e-democracy and edu-communication. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................10 2 “LA BARCELONA BRASILEÑA” .....................................................................13 2.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA ...................................................................................13 2.2 CLIMA ..................................................................................................................14 2.3 RELEVO E HIDROGRAFIA ........................................................................................14 2.4 POPULAÇÃO .........................................................................................................15 2.5 POLÍTICA ..............................................................................................................15 2.6 HISTÓRIA..............................................................................................................15 2.7 FLORA..................................................................................................................16 2.8 FAUNA .................................................................................................................16 2.9 ASPECTOS ECONÔMICOS .......................................................................................17 2.10 RECURSOS MINERAIS ........................................................................................17 2.11 TRANSPORTES E COMUNICAÇÃO ........................................................................17 2.12 RELIGIÃO..........................................................................................................17 2.13 FESTAS ............................................................................................................18 2.14 LITERATURA .....................................................................................................18 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 3.6 BARCELONA VIRTUAL ....................................................................................20 REVISTA IMPRESSA ................................................................................................20 REVISTA VIRTUAL ...................................................................................................22 INTERDISCIPLINARIDADE ........................................................................................22 ÚNICA PORTA VIRTUAL ...........................................................................................23 PÚBLICO ALVO ......................................................................................................24 EDUCOMUNICAÇÃO ...............................................................................................24 3.6.1 Material Didático on-line ........................................................................................ 26 3.7 JORNALISMO X GOVERNO LOCAL ............................................................................28 3.8 METODOLOGIA ......................................................................................................28 3.9 USABILIDADE ........................................................................................................30 3.10 MEMÓRIA .........................................................................................................30 3.11 CIVIC JOURNALISM ............................................................................................31 3.12 PRINCÍPIOS ÉTICOS ...........................................................................................31 3.13 RECURSOS FINANCEIROS ...................................................................................32 3.14 DIREITOS AUTORAIS ..........................................................................................33 3.15 LINHA EDITORIAL ...............................................................................................33 3.16 DIVULGAÇÃO ....................................................................................................34 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 NUNCA FOI TÃO FÁCIL....................................................................................36 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO .................................................................................36 O FUTURO QUE FICOU PARA TRÁS ...........................................................................39 A CRIAÇÃO DA INTERNET........................................................................................40 A INTERNET NO BRASIL..........................................................................................42 RESOLUÇÃO DE NOMES .........................................................................................43 4.5.1 Domínio.................................................................................................................. 43 4.5.2 4.5.3 4.5.4 Com ....................................................................................................................... 44 Provedor Gratuito................................................................................................... 44 País........................................................................................................................ 45 4.6 POPULARIZAÇÃO DA TECNOLOGIA ...........................................................................45 4.6.1 4.6.2 4.6.3 Blog........................................................................................................................ 47 Webcam................................................................................................................. 49 E-mail..................................................................................................................... 50 4.7 O QUE É WEBDESIGN .............................................................................................51 4.7.1 4.7.2 4.7.3 Planejamento e Estrutura ...................................................................................... 51 Produção das Páginas........................................................................................... 52 Manutenção e Atualização..................................................................................... 53 4.8 A AURORA DO WEBJORNALISMO .............................................................................54 4.8.1 4.8.2 O primeiro jornal virtual do mundo ......................................................................... 55 O Webjornalismo no Brasil .................................................................................... 55 4.9 LEITURA ...............................................................................................................55 4.9.1 4.9.2 4.9.3 Leitor ...................................................................................................................... 55 Ciberleitor............................................................................................................... 56 Cibercidadão.......................................................................................................... 57 4.10 4.11 LIBERDADE DE EXPRESSÃO ................................................................................57 DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO ...............................................................58 5 5.1 5.2 5.3 5.4 5.5 5.6 5.7 ...PARA UM PEQUENO MUNICÍPIO SE INFORMAR SOBRE SI MESMO.......60 EXCLUSÃO............................................................................................................60 CENSURA VIRTUAL .................................................................................................61 CONHECER-SE A SI PRÓPRIO ..................................................................................63 SOLUÇÕES DE COMUNICAÇÃO ................................................................................63 FUTURO DIGITAL ...................................................................................................65 FUTURO DIGITAL PAGO ..........................................................................................67 VOLUNTARIADO, UM OUTRO CAMINHO .....................................................................69 6 ...E DE ACORDO COM SUA PRÓPRIA CULTURA. .........................................71 6.1 INFERIORIDADE CULTURAL .....................................................................................71 6.2 O MOVIMENTO ARMORIAL ......................................................................................72 6.2.2 Estética Armorial .................................................................................................... 74 6.3 MOVIMENTO ARMORIAL E CULTURA IBÉRICA ............................................................77 6.3.1 6.3.2 6.4 6.5 6.6 6.7 Juan Miró ............................................................................................................... 77 Antoni Gaudí .......................................................................................................... 78 FABIÃO DAS QUEIMADAS, UM CASO ARMORIAL .........................................................78 O SENTIMENTO DE RURALIDADE ..............................................................................84 WEBDESIGN ARMORIAL ..........................................................................................86 ALFABETO SERTANEJO ..........................................................................................88 6.7.1 O Ferro dos Costas................................................................................................ 91 6.8 CORES E DESIGN...................................................................................................93 7 NOBRE COMO CAMÕES – PEQUENO DICIONÁRIO DO PORTUGUÊS ANTIGO FALADO EM BARCELONA. RN. BRASIL .........................................94 7.1 LINGÜÍSTICA .........................................................................................................94 7.2 LÍNGUAS EM EXTINÇÃO ..........................................................................................96 7.2.1 Estrangeirismos ............................................................................................................ 97 7.3 LÍNGUA PORTUGUESA, UMA FILHA DO LATIM .............................................................99 7.4 GALEGO-PORTUGUÊS, A AURORA DE NOSSA LÍNGUA...............................................100 7.4.1 Português Arcaico................................................................................................ 101 7.5 PORTUGUÊS DO BRASIL .......................................................................................101 7.6 LÍNGUA, DIALETOS E REGIONALISMOS....................................................................102 7.7 INVESTIMENTO E XENOFOBIA ................................................................................104 7.8 REGIONALISMO PASTICHE ....................................................................................106 7.9 PORTUGUÊS ANTIGO DE BARCELONA ....................................................................106 7.10 POR QUE ALGUMAS PALAVRAS SE TORNAM ARCAICAS?.......................................109 7.11 MAS, PARA ONDE VÃO OS VOCÁBULOS ARCAICOS?.............................................110 7.12 PARA QUE SERVEM OS ARCAÍSMOS? .................................................................111 8 CONCLUSÕES ................................................................................................112 REFERÊNCIAS.......................................................................................................113 ANEXOS .................................................................................................................136 ANEXO 1 – PÁGINA INICIAL DO SITE ...........................................................................136 ANEXO 2 – LINKS QUE CONSTAM NA REVISTA VIRTUAL BARCELONA ..............................137 ANEXO 3 – NOBRE COMO CAMÕES – PEQUENO DICIONÁRIO DO PORTUGUÊS ANTIGO FALADO EM BARCELONA. RN. BRASIL ...................................................................143 ANEXO 4- REVISTA VIRTUAL BARCELONA VISTA PELA IMPRENSA ...................................171 ANEXO 5 – OLHARES ...............................................................................................174 ANEXO 6 - ARIANO SUASSUNA, SUA OBRA INSPIROU A REVISTA VIRTUAL BARCELONA ....175 10 1 INTRODUÇÃO Esta monografia trata de uma revista virtual que se destina a informar a um pequeno município, e pretende não só democratizar a informação a baixo custo bem como informar respeitando as peculiaridades culturais da população para o qual ela se destina. No caso, como objeto de estudo, trata-se da revista virtual Barcelona (vide anexo 1); do município de Barcelona, RN, Brasil. Toda pesquisa está baseada no tripé Comunicação – Educação – Informática: a Comunicação corresponde ao “civic journalism”, um elo entre o cidadão e os problemas da comunidade; a 1 Educação refere-se à instrução à distância e a Informática à Internet e tecnologias correlatas. Inicialmente “Barcelona Virtual - nunca foi tão acessível a um pequeno município ler sobre si mesmo” aborda o município de Barcelona nos seus mais diferentes aspectos: localização, clima, relevo e hidrografia, população, política, história, flora, fauna, economia, recursos minerais, transporte, comunicação, religião, festas e literatura. A seguir, “Barcelona Virtual” aborda a as origens da mídia “revista”, suas origens impressas e suas perspectivas virtuais. Além disso, também se aborda a questão da interdisciplinaridade, o fato de a publicação ser o único meio de acesso virtual ao município, público alvo, as perspectivas para a educomunicação, a possibilidade de ser ter material didático on-line à disposição, metodologia empregada, usabilidade ou elementos que facilitam a navegação, o propósito do banco de dados virtual, a afinidade da pesquisa com o civic journalism, princípios éticos da publicação e o regime quanto a coleta de recursos financeiros, direitos autorais, linha editorial e estratégia de divulgação. No capítulo seguinte são mostradas as novas tecnologias de comunicação, como o computador, Internet, e-mail, webcam, blog. Além disso aborda temas como a sociedade da informação, decifração de endereços virtuais, popularização das 1 Rede remota internacional de ampla área geográfica, que proporciona transferência de arquivos e dados, justamente com funções de correio eletrônico para milhões de usuários ao redor do mundo. 11 novas tecnologias, webdesign: como a revista foi planejada e estruturada e produzida; manutenção e atualização; webjornalismo, como se dá a leitura num meio virtual, princípios fundamentais da liberdade de expressão e sobre a democratização do conhecimento. A seguir é abordada a importância que é para uma cidade, por menor que seja, ter um veículo de comunicação, bem como também a exclusão digital, formas de censura virtual, soluções de comunicação; futuro digital, se incluído aí, o pago e sobre como isso pode ser compensado com o voluntariado. O capítulo a seguir aborda a importância de se respeitar às culturas minoritárias, neste caso a sertaneja, em um veículo de comunicação, no caso específico deste trabalho – a Internet. Além disso, aborda-se a questão do complexo de inferioridade cultural em nossa história; o Movimento Armorial que serve de referência para a revista, bem como a estética desse movimento e sua relação com a cultura ibérica. Uma das ligações mais marcantes do Movimento com o município de Barcelona é através da arte do poeta popular Fabião das Queimadas. Também é abordado o sentimento de ruralidade presente em muitos interioranos que parte para as capitais. O webdesign armorial, um novo canal virtual de expressão artística, os significados das cores e designs da revista; o alfabeto sertanejo ou alfabeto armorial e sobre os ferros de marcar gado da família Costa de Barcelona. No capítulo final aborda-se o dicionário “Nobre como Camões – Pequeno dicionário do português antigo falado em Barcelona – RN - Brasil”, que na revista virtual Barcelona ocupa um link2 específico. Nele, percebe-se que o que são hoje resistências do português arcaico chegaram junto com os colonizadores e foram preservadas pelas populações rurais e incultas do sertão brasileiro. Imune aos modismos e a subserviência cultural das metrópoles, eles conservaram o falar português da Idade Média. Muitas destas expressões, inclusive, foram usadas por Luis de Camões, Padre Antônio Vieira e Gil Vicente em suas obras. Os traços desse português medieval, isto é arcaico, foram preservados no interior do nordeste graças à dificuldade de acesso à região. Isolados em fazendas, os colonos e seus descendentes ficaram imunes às novas levas de portugueses que apareciam no litoral, trazendo uma língua renovada. 2 O mesmo que hyperlink, isto é, vínculo ativo em um hypertexto ou hypermeio. 12 Além disso, há uma breve abordagem sobre a lingüística, as línguas em extinção, os estrangeirismos, a língua portuguesa, o galego-português, o português arcaico, o português do Brasil, línguas, dialetos e regionalismos, o investimento dos países ricos fazem em seus dialetos minoritários, xenofobIa, os pretensos dicionários regionalistas, o português antigo de Barcelona; o destino e a utilidade dos vocábulos arcaicos. 13 2 “LA BARCELONA BRASILEÑA” A revista virtual Barcelona é o único meio de acesso virtual ao município de Barcelona. Localizado no interior do Estado do Rio Grande do Norte, região nordeste do Brasil. Em um primeiro momento pode-se observar o nome do município: Barcelona. Este nome passou a vigorar a partir de 1929, quando o prefeito de São Tomé, município do qual Barcelona fazia parte, mudou o nome do povoado. A escolha não foi inspirada, como se pensa, na cidade espanhola de mesmo nome, mas em um seringal da Amazônia, onde o prefeito havia trabalhado. Barcelona é um município que apresenta várias características peculiares do sertanejo, no âmbito sócio-político-cultural (Vide anexo 5). A seguir encontram-se algumas destas características do município. 2.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA O município de Barcelona, localizado no Estado do Rio Grande do Norte, região nordeste do Brasil, tem seus 170km localizados na meso-região do agreste potiguar e, respectivamente micro-região da Borborema potiguar. Barcelona, cujas coordenadas geográficas são 5°57’(latitude) e 35°56’(longitude) dista 104km (96km em linha reta) de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Constituem o município, juntamente com a sede, os distritos rurais de Formigueiro, Santa Rita, Tijuca, Riacho da Onça, Santa Isabel, Arisco, Ramada, Caiçara, Santa Maria, Riacho Fundo I, Riacho Fundo II, Santa Rosa, Poço do Serrote e Cotovelo. Os limites do município são: a) Norte: Rui Barbosa e Riachuelo; b) Sul: Lagoa de Velhos e Sítio Novo; c) Leste: São Paulo do Potengi; d) Oeste: São Tomé. A sede do município está localizada a 120m acima do nível do mar. 14 Chega-se a Barcelona pelas rodovias RN 203 (via São Paulo do Potengi a São Tomé). De São Paulo do Potengi vai se interligar à BR 304, via de acesso à Natal; RN 093 (via Rui Barbosa e Riachuelo). De lá, através da BR 304, até a capital do Estado. 2.2 CLIMA O clima do município de Barcelona é megatérmico e semi-árido. Sob a influência da baixa latitude, a temperatura anual oscila entre a mínima de 23ºC e a máxima de 33ºC. É salubre, ameno e seco (verão) e frio (inverno). 2.3 RELEVO E HIDROGRAFIA O relevo barcelonense é muito acidentado e as inúmeras serras que circundam a cidade, assentada sobre um vale, formam um cenário belíssimo, principalmente durante o inverno que não tem data específica, acontecendo quando chega a estação das chuvas. Dentre as serras há a da Arara, Vermelha, Mulungu, Sapato, Machado, Formigueiro, Barroquinha e dos Bois, além dos serrotes Boqueirão e Bonito. A hidrografia da cidade é marcada pelo Rio Potengi (represado) que corta o município no sentido oeste–leste e os seguintes riachos: Salgado, Formigueiro, Santa Rosa, Camurim, das Cacimbas, Fundo, Onça, Formiga e do Umari. Merecem destaque as lagoas das Flores, das Pedras e dos Caldeirões. Em todo município há também vários açudes. No dia 11 de agosto de 2000 foi inaugurado o trecho da Adutora Monsenhor Expedito que traz para Barcelona água potável da Lagoa do Bonfim, próxima ao litoral norte-rio-grandense. Oficialmente esta data marca o advento da água encanada para os lares barcelonenses. Antes, as únicas fontes de abastecimento eram os carros-pipas e as cisternas residenciais, além dos açudes. 15 2.4 POPULAÇÃO O município de Barcelona tem 4.727 habitantes e 1.044 residências, distribuídos conforme mostra a tabela 1. TABELA 1: Distribuição da População do Município de Barcelona - RN LOCALIDADE HABITANTES RESIDÊNCIAS Sede do município Poço do Serrote Formigueiro Riacho Fundo I Riacho Fundo II Arisco Santa Maria Cotovelo Santa Rosa Caiçara Riacho da Onça Ramada Santa Isabel Tijuca Santa Rita 2500 272 272 281 268 233 219 197 78 46 36 29 21 17 09 545 73 78 67 68 56 57 50 16 09 09 09 06 07 03 Fonte: Secretaria Municipal de Agricultura, março de 1999. 2.5 POLÍTICA Diversos partidos estão representados em Barcelona, dentre eles há o PSB, PMDB, PPB, PSDB, PPS, PFL. A câmara é composta por nove vereadores e o município é comarca judiciária de São Tomé. 2.6 HISTÓRIA A região onde hoje se situa o município de Barcelona foi colonizada na segunda metade do século XIX por sertanejos vindos do Seridó, bem como de outras regiões do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Segundo o historiador Câmara Cascudo, a primeira casa do “Salgado”, nome pelo qual a região era conhecida, foi construída pelo Sr. José Maria do Nascimento, natural de Bodó em Cerro–Corá/RN, que ao lado de dois irmãos foram os primeiros proprietários de terras. A fazenda Salgado já 16 era conhecida em 1864. Salgado, primeiro nome pelo qual Barcelona ficou conhecida, se deve ao alto teor de salinidade dos terrenos do município. A padroeira da cidade é Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, cujo dia é comemorado em 2 de agosto. A escolha foi feita em 1918 por indicação do Padre Cícero em Juazeiro. Foi dele também a sugestão sobre qual deveria ser o dia da feira semanal, isto é, segunda–feira. O mercado público da cidade foi construído em 1931. No dia 21 de março de 2001 ele foi demolido e em seu lugar foi construído um novo mercado. Já o cemitério da cidade foi edificado em 1927. Em 1929 o prefeito de São Tomé, município do qual Barcelona fazia parte, mudou o nome do povoado de Salgado para Barcelona. A escolha não foi inspirada, como se pensa, na cidade espanhola de mesmo nome, mas em um seringal da Amazônia, onde o prefeito havia trabalhado. Barcelona foi elevada à categoria de vila em 1938, através do decreto n° 603 do interventor federal Rafael Fernandes Gurjão e em 17 de dezembro de 1958 obtém sua emancipação política tornando-se município, por meio da lei nº 2.331 (Diário Oficial do Estado de 28.12.1958) do governador Dinarte de Medeiros Mariz. 2.7 FLORA A flora barcelonense é tipicamente a mesma do sertão nordestino. Porém, o desmatamento representa um problema sério causado pela retirada indiscriminada de lenha para Natal, onde ela é usada como fonte de combustível. Dentre muitas outras, fazem parte da flora as árvores oiticica, catingueira, aroeira, pau-d’árco, quixabeira, caibreira, umbuzeiro, marmeleiro, pereiro, mulungu, juazeiro, angico, imburana, boã, algaroba, castanhol, coqueiro, carnaúba e cajueiro. Há diversos cáctos como a macambira, xiquexique, facheiro, palmatória e cardeiro. 2.8 FAUNA Em Barcelona a fauna é historicamente muito diversificada. Mas a falta de um controle mais rigoroso por parte dos órgãos governamentais de defesa do meio ambiente tem causado ao longo da história seríssimos casos de desequilíbrios 17 ecológicos, com a extinção de diversas espécies de animais no município. A caça indiscriminada em períodos de reprodução e a captura para a comercialização constituem os principais problemas. 2.9 ASPECTOS ECONÔMICOS A economia de Barcelona está baseada na agricultura, pecuária e comércio. Na cidade há uma indústria do setor de confecções. 2.10 RECURSOS MINERAIS Em Barcelona há talco, diversos tipos de granito, quartzo (ametista), berilo (U.S.A.), minerais metálicos, pagmatito e água marinha. 2.11 TRANSPORTES E COMUNICAÇÃO Barcelona é ligada a Natal pela BR 101. Diariamente, diversas linhas de ônibus da Empresa Alves ligam Barcelona à muitas cidades, inclusive à capital do Estado. O primeiro transporte público de Barcelona foi um misto (transportava cargas e passageiros, por isso era chamado de misto) de propriedade do Sr. Juvino Guilherme de Souza. O sinal de várias emissoras de rádio e televisão de Natal chega a Barcelona e grande parte da população do município possui parabólicas. Os jornais da capital, como o Diário de Natal e a Tribuna do Norte estão disponíveis em Barcelona. 2.12 RELIGIÃO Em toda a sua história, o município sempre teve uma predominância muito grande de católicos, são aproximadamente 95% da população. Há também uma pequena minoria protestante, todos pertencentes à igreja “Assembléia de Deus”. Outras religiões não são praticadas, ao que se sabe. 18 2.13 FESTAS Em Barcelona, a Festa das Rosas que se realiza em maio é muito conhecida no Estado. A Festa da Padroeira Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em dois de agosto já foi bem maior, mas hoje é basicamente de cunho religioso com vários dias de missas e procissões. Sem exploração comercial da fé, é uma festa tipicamente sertaneja. Durante o carnaval alguns blocos saem às ruas e bailes carnavalecos irreverentes elegem todos os anos a rainha do carnaval. Na cidade ainda há vaquejadas e festas em datas indeterminadas durante o ano inteiro. Um instrumento musical comum nas festas de Barcelona é a sanfona, que é um instrumento com a cara do nordeste brasileiro. Sua origem está no século XVII na França. O sanfoneiro popular é um animador de forrós do interior. Resiste culturalmente, mesmo fora da mídia de massa e é emblemática a sua formação enquanto grupo musical: sanfona, triângulo, zabumba e pandeiro. Uma festa que durante muito tempo foi realizada e que não costuma ser mais comemorada atualmente é a festa de Boi de reis. Esta festa é um auto popular de origem portuguesa, cuja dramaticidade gira em torno da morte e ressurreição do Boi. Apresenta-se normalmente com 16 participantes, incluindo os tocadores. Os integrantes do boi são classificados em dois grupos: enfeitados e mascarados. Sendo o primeiro grupo composto pelo mestre, os galantes e damas, que representam o lado sério do espetáculo, cantando velhas cantigas do século passado, ou seja, louvações, saudações, benditos e baianos. O segundo grupo são os mascarados, que fazem a parte cômica do espetáculo (Mateus, Birico e Catarina). Trajam roupas surradas. O rosto melado de tisna representa vaqueiros escravos na saga da pecuária nordestina. Aparecem ainda as figuras do Boi, a Burrinha, o Gigante, completando assim a beleza do espetáculo. O acompanhamento é feito por uma rabeca, um pandeiro e um instrumento de corda. 2.14 LITERATURA No campo literário, o município destaca-se por ter sido residência de um grande poeta potiguar: Fabião das Queimadas (1848 – 1928). Nascido escravo no município de Santa Cruz (hoje Lagoa de Velhos), posteriormente veio habitar sucessivamente 19 os municípios de São Tomé, Sítio Novo e finalmente Barcelona. Seu nome verdadeiro era Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha. O folclorista Câmara Cascudo, no seu livro “Vaqueiros e Cantadores”, descreve-lhe o tipo físico do poeta. Ele era um negro baixo, entroncado, robusto, de larga cara “apratada” e risonha, nariz de congolês. Tinha os olhos tristes de escravo, conservava a dentadura intacta e um bom-humor perene. Deixou inúmeros romances sobre bois e cavalos de sua região. O romancista brasileiro, José Mauro de Vasconcelos (RJ 1920), o autor do romance “Meu Pé de Laranja Lima", estudou em Natal e esteve de férias por algum tempo em Barcelona, nas quais ele escreveu "Barro Blanco". Para esse livro, ele se inspirou na paisagem e na população do município. 20 3 BARCELONA VIRTUAL Barcelona é uma revista que tem um enfoque jornalístico e educacional, procurando analisar as características artísticas, históricas, geográficas, econômicas, lingüísticas e sociológicas do município de Barcelona, Rio Grande do Norte, Brasil. A revista virtual Barcelona, face pragmática da pesquisa, tem a qualificação de revista porque tem seu conteúdo publicado de forma analítica e seu sentido genérico tem a proposta de ser um periódico que passa “em revista” questões literárias, científicas, políticas, históricas e artísticas. Na verdade poder-se-ia dizer que a palavra revista também tem o sentido de inspeção, exame minucioso. Além disso, trata-se de uma publicação independente, sem fins lucrativos e sem nenhuma relação com organismos oficiais. 3.1 REVISTA IMPRESSA A primeira revista surgiu na Alemanha, em 1663, e possuía um nome complicado “Erbauliche Monaths-Unterredungen”, algo como “Edificantes Discussões Mensais”, criada pelo teólogo e poeta Johann Rist, natural de Hamburgo. Essa revista foi publicada até 1668. Não é por acaso que a história das revistas tenha começado na Alemanha. Foi lá que, 200 anos antes dessa publicação pioneira, o artesão Johannes Gutenberg desenvolveu a impressão com tipos móveis, técnica usada sem grandes alterações até o século 20 para imprimir jornais, livros e revistas. Com a invenção e Gutenberg, panfletos esporádicos – que podiam, por exemplo, trazer relatos sobre uma importante batalha – passaram a ser publicados em intervalos cada vez mais regulares, tornando-se embriões das primeiras revistas dignas desse nome, ou seja, um meio-termo entre os jornais com notícias relativamente recentes e os livros. Além da Erbauliche alemã, outros títulos apareceram ainda no século XVII, como a francesa Le Mercure (1672) e a inglesa The Athenian Gazette (1690). Nessa época, as revistas abordavam assuntos específicos e pareciam mais coletâneas de textos com caráter puramente didático. 21 A considerada primeira revista moderna é The Gentleman’s Magazine, publicada na Inglaterra por Edward Cave. A maior parte de suas páginas era dedicada ao entretenimento, incluindo ensaios, textos de ficção e poemas. Mas havia ainda comentários políticos e críticas. Essa foi a primeira vez em que a palavra “magazine” foi usada para esse tipo de publicação. Uma das revistas mais antigas ainda em circulação é a National Geographic, uma das revistas científicas mais antigas do mundo, que financia expedições e explorações. No início do século XIX, começaram a ganhar espaço títulos sobre interesses gerais, que tratavam de entretenimento às questões da vida familiar. É nesse período também que surge a primeira revista feita no Brasil: As variedades ou Ensaios de Literatura, criada em 1812, em Salvador, e que, na verdade, tinha muito mais cara de livro, abordando temas eruditos. Poucas décadas depois em 1839, nasceria a “revista do Instituto Histórico e Geographico Brazileiro”. Incentivando discussões culturais e científicas, ela é a revista mais antiga ainda em circulação no nosso país. Uma das revistas mais importantes do Brasil, cuja circulação chegava a todo o território nacional, é “O Cruzeiro” fundada pelo jornalista Assis Chateaubriand (1891-1968). O primeiro número de O Cruzeiro – ainda sem o “O” – teve uma tiragem de 50 mil exemplares, trazendo contos e, principalmente, grandes reportagens, ilustradas com desenhos e fotografias. No século XX, com o aprimoramento das técnicas de impressão, o barateamento do papel e a ampliação do uso da publicidade como forma de bancar os custos de produção, as revistas explodiram no mundo todo, com títulos cada vez mais segmentados, destinados a públicos com interesses muito específicos. Não deixa de ser uma espécie de volta às origens. Aquela que é considerada a primeira revista moderna, nasceu na Inglaterra e chamava-se The Gentleman´s Magazine e foi criada por Edward Cave. A maior arte das páginas era dedicada ao entretenimento, incluído ensaios, textos de ficção e poemas. Mas havia ainda comentários políticos e críticas. Foi a primeira vez que a palavra “magazine” foi usada para esse tipo de publicação. Uma das revistas mais antigas em circulação é a National Geographic, uma das revistas mais antigas do mundo, financiando expedições e explorações. Foi uma das primeiras a publicar fotos coloridas, além de ser pioneira em vários tipos de imagens, como as do fundo do mar, do espaço e de animais selvagens. 22 3.2 REVISTA VIRTUAL Atualmente na Internet há muitas revistas virtuais, de conteúdo geral e específico, mas as maiores têm seu conteúdo adaptado da versão impressa. O conteúdo delas só está totalmente disponível para os assinantes das versões impressas (o que não deixa de ser em parte uma inutilidade) ou para os assinantes de portais como o UOL – Universo On-line ou o Terra. Uma questão que muito se tem discutido é que revistas e jornais são domínios locais e a Internet (rede remota internacional de ampla área geográfica, que proporciona transferência de arquivos e dados, justamente com funções de correio eletrônico para milhões de usuários ao redor do mundo.) é predominantemente global. Muitas dessas publicações estão on-line. Mas a questão é: os seus clientes do mundo digital não são os mesmos do mundo de papel. Porém, cada uma dessas publicações gostaria de ter cada expatriado ou falante da língua em que as informações são veiculadas como seu leitor, buscando ser dominante num conteúdo global dessa língua. O desafio é incorporar os dois mercados de modo a compatibilizar os dois públicos (local e virtual). Isso, para esse momento crucial em que se vive na dicotomia entre o real e o virtual. No futuro, como se espera, todos estarão on-line. Porém, assim mesmo ainda haverá o local x cosmopolita; e mesmo que todos estejam on-line, os veículos de comunicação ainda terão que se preocupar com a compatibilidade de seus conteúdos. Para Olav Junker Kjaer “quando mais específico e personalizado for o público alvo, maior a possibilidade de atingi-lo. Se fizer um site3 para todo mundo, estará concorrendo com Disney, MTV, Louvre, Playboy etc.”. (1997, p. 48). 3.3 INTERDISCIPLINARIDADE Para que a revista virtual fosse viabilizada foi preciso utilizar conhecimentos das mais diferentes áreas como cultura sertaneja, Movimento Armorial, antropologia, sociologia, lingüística, Internet, design, editoração, estética, história, meio-ambiente, 3 Abreviatura de website, que por sua vez é um lugar na rede mundial de computadores (web=rede). Grupo de páginas na Internet. Cada página é um documento HTML que é transferido para a Internet usando HTTP (HyperText Transfer Protocol), usada para transferir arquivos para o servidor. 23 ciência e geografia dentre outros. Não para sua construção, em termos tecnológicos, como também em termos de conteúdo no que diz respeito às reportagens, artigos, entrevistas, crônicas e etc. Por isso, pode-se dizer que o projeto todo é caracterizado por uma forte interdisciplinaridade. Com isso, se busca um ponto de convergência entre o jornalismo e a educação. (vide anexo 2) A proposta da revista é consciente da importância que adquirem os meios de comunicação no espaço pedagógico, na formação do cidadão para a democracia, a ética e a liberdade de expressão. É importante também tirar o máximo de proveito da revolução da tecnologia da informação que alterou os conceitos clássicos de “modo de produção”, “conhecimento” e “capital” . Por último é preciso analisar que efeitos a revolução da informação trará para a economia, cultura e sociedade de pequenos municípios. Pois pela primeira vez na história da humanidade, um pequeno povoado pode ter acesso a um veículo de comunicação de baixo custo e inúmeras possibilidades. É interessante ressaltar que todos; empresas, escolas, bancos, ONG´s municípios dentre outros, são obrigados a ter uma estratégia comunicacional. Os pequenos municípios não a têm por falta de interesse público ou privado. 3.4 ÚNICA PORTA VIRTUAL A revista virtual Barcelona (www.barcelonarn.hpg.com.br) é o único meio de acesso virtual ao município de Barcelona, Rio Grande do Norte, Brasil. Esta revista nasce fundamentada na convicção de que não é preciso muito para se ter um bom veículo informativo, especialmente hoje em que os recursos de mídia são inúmeros, ilimitados e de fácil acesso. A Internet é o meio mais democrático de informação, porém de acesso ainda muito restrito. Mas a tendência é que seja cada vez mais difundida com a diminuição dos preços dos equipamentos de informática. Tal e qual ocorreu com o aparelho de televisão, dentro de algum tempo quase todos os casebres de favelas pelo mundo estarão on-line. 24 3.5 PÚBLICO ALVO A preocupação de difundir o pensamento e o trabalho de intelectuais e leitores barcelonenses, ou de autores ligados ao semi-árido, estará viva desde o primeiro momento. Ao fazê-lo, estreitarão ainda mais as relações da revista com as forças progressistas e parceiros preocupados em estimular o avanço do pensamento crítico. Tendo em vista que não é possível construir um mundo e um país novo sem enfrentar o controle da informação. O site é dirigido à população de Barcelona, mas é útil a qualquer pessoa interessada em assuntos ligados ao sertão do nordeste brasileiro e serve como modelo para outro projetos. Como por exemplo, sites específicos dirigidos a comunidades negras, asiáticas, ciganas, amazônicas, pantaneiras, isto é, qualquer minoria étnica ou cultural. O conteúdo da revista interessa também aos habitantes de municípios próximos à Barcelona, com quem temos estreitas relações históricas, culturais, sociais e econômicas. O importante é fortalecer a cultura local de cada comunidade dentro da democracia digital. É preciso trabalhar para fortalecer essa idéia, fundamental para continuar “existindo” neste século XXI, que é o século onde há uma grande ameaça de ser cibercolonizado por uma Internet muito manejada por representantes de culturas que não são as nossas, nem tem a mesma idéia estética que a nossa. Em Barcelona precisava-se de um meio de comunicação que falasse sobre eles e para eles, um cidadão não pode ter sua fonte de informação limitada a um telejornal, porque por falta de informação, as pessoas tendem a se alienar de sua realidade local. É preciso despertar nas populações mais afastadas a curiosidade pelo mundo, mas sem esquecer que o conhecimento dos problemas locais é essencial. 3.6 EDUCOMUNICAÇÃO O jornalismo não pode abandonar a essência de sua atividade – a busca da informação de interesse público. Não pode compactuar com a falsa-imprensa interessada em distrair o público com fofocas, casos escabrosos e reportagens irrelevantes. Não pode ceder a esta invenção maldita chamada bastidor, criado em 25 substituição ao mundo real, na tentativa de representar os acontecimentos como uma farsa permanente. A educação não está dissociada do jornalismo e vice-versa. E se tudo puder ser transmitido de forma agradável e curioso, então se podem atingir muitos objetivos essenciais. Além disso é preciso transmitir a preocupação com a função social da ciência. Na Internet trabalha-se com bits, mas as pessoas, em princípio, não precisam de bits. É preciso achar utilidades para eles. Por isso, o site de Barcelona não existe por afã de lucro. Ele pretende usar o jornalismo virtual como ferramenta de educação para comunidades carentes. Por exemplo, ensinar um agricultor dicas úteis para sua profissão e ao povo em geral sobre sua cultura. Pode-se entender que mais importante que o acesso à Internet em si, o que por si só já constitui um inigualável avanço, é a o acesso do usuário a informação (sobretudo àquela sobre seu meio) sem passar pelas “travas de cobrança de pedágio” dos sites cujo conteúdo só é liberado mediante pagamento. E isso deve ser conseguido por vias governamentais, sem qualquer censura ou controle por meio deste e com recursos oriundos do pagamento de impostos. Na ausência de um governo sensível as necessidades educacionais do seu povo, deve ser estimulado o engajamento da iniciativa privada mediante incentivos fiscais e leis especiais de incentivo. Nossa sociedade, deve com urgência aprofundar o debate e priorizar as ações públicas relativas à educação e iniciativas cidadãs que evitem que o governo controle a pauta do jornalismo educacional, embora não só do jornalismo educacional. Além disso é preciso mostrar que o jornalista, especialmente o novo profissional “infojornalista”, tem uma função primordialmente de responsabilidade social. O jornalista é um educador, tendo em vista que quando se informa se educa. A questão da educação continua sendo linha de frente para qualquer profissional, no caso do jornalista é fundamental. É preciso ver o jornalista como um intelectual educador. Nesse sentido, têm sido cada vez mais presente na mídia a figura do “educomunicador”. Esse novo profissional é responsável por promover a convergência entre a Educação e a Comunicação, contribuindo para o uso crítico e pedagógico da mídia na escola, o desenvolvimento de meios de comunicação no ambiente escolar, o entendimento do funcionamento dos meios de comunicação, das novas tecnologias de informação e de educação à distância. Para Philippe Quéau (2000: p. 38): 26 O desenvolvimento da Internet e da “sociedade mundial da informação” representa uma oportunidade para se promoverem os ideais da UNESCO: a livre circulação para todos, o avanço e a difusão do conhecimento e o acesso de todos os povos ao que cada um deles publica. É importante desenvolver ferramentas que dêem condições para que o jornalismo auxilie a educação de pequenas comunidades e minorias étnicas ou culturais, aí inclusas as pobres, dentro da visão de sua própria cultura. Ao estabelecer uma parceria entre educadores e jornalistas, esse projeto visa não só o acesso à informação jornalística (notícias), mas também levar educação para a cidadania, difundindo informações para educadores e produzindo material didático sobre seu meio cultural e sócio-político para escolas através da Internet. O que, na verdade, constituí-se na mais nova face do ensino à distância. Através do jornalismo e da educação, é possível combater a pobreza, o analfabetismo, estimular a proteção do meio ambiente e o fortalecimento dos direitos humanos. Para Bernard Cassen, diretor geral do Le Monde Diplomatique “o jornalista é como um professor, só que tem mais alunos” (2000: p. 22). Contudo, nada disso avançará se os que estão diretamente sendo afetados não participarem em sua realização. Por isso, é preciso fomentar a promoção da criação cultural dos habitantes do município, apoiando-se nas forças vivas e progressistas de diversos setores da sociedade. A entrada em contato, por parte dos barcelonenses, ao mundo do conhecimento significará, com certeza, um grande salto em seu desenvolvimento. Só o estudo e o conhecimento podem tirá-los do isolamento crítico e fazê-los superar nossa condição social resultado da seca e da falta de perspectivas. Se o conhecimento é poder (de fazer e decidir) imagine o quanto a Internet pode ajudar. Inclusive, outros municípios em situação idêntica. 3.6.1 Material Didático on-line Se ainda há uma enorme dificuldade em promover o resgate da memória da vida nos diferentes e variados espaços de uma grande metrópole, com relação aos pequenos municípios o problema é ainda mais grave. Nesses locais a memória pode estar se perdendo lentamente nas fotos tomadas por fungos no fundo dos armários, na lembrança dos habitantes mais antigos que estão morrendo ou nos arquivos da cidade, armazenados muitas vezes de forma precária. Dessa forma, toda uma 27 população tão cidadãos quanto quem mora nas metrópoles nada sabe sobre os primeiros habitantes do município, sobre seus heróis, seus acontecimentos marcantes. Desconhecem a sua própria identidade. Nas escolas primárias e secundárias das pequenas cidades do interior nordestino, muitas vezes há por parte dos professores a preocupação de se estudar a história, geografia e a realidade do município onde a escola está situada. Até porque muito do que acontece e do que se decide nas grandes capitais do país e no mundo afeta diretamente a realidade dos pequenos municípios. Mas o trabalho com esse tema enfrenta diversos problemas, desde a falta de material didático até a própria adequação pedagógica desse material didático. Há até em muitos municípios a vontade de se escrever livros sobre esse município, seja por parte de professores, pesquisadores independentes, idosos ou curiosos. Mas um dos maiores problemas enfrentados por quem se propõe a isso são os altos custos cobrados pelas editoras e gráficas, a falta de interesse comercial e a falta patrocínio inviabilizam a produção bibliográfica de obras sobre as pequenas localidades que ficam sem a oportunidade de conhecer a própria realidade, respeitar o seu meio-ambiente e se o benefício que a auto-estima traz para quem conhece a si próprio e a sua própria cultura. Além disso, os benefícios práticos adquiridos com esse auto-conhecimento seriam dos mais diversos, desde a valorização ao aproveitamento racional das potencialidades agrícolas, pecuárias e minerais, bem como o conhecimento sobre suas reais necessidades. A investigação da história local desenvolveria, através de pequenos museus; santuários, prédios, históricos, trilhas e sítios; potenciais atrações turísticas. A cooperação entre um grupo de cidades próximas poderia resultar num roteiro turístico que levaria turistas pelos caminhos de antigas revoluções e por onde andavam bandos de cangaceiros. No caso específico de Barcelona, por exemplo, do bando de Antônio Silvino. Os pequenos museus poderiam ter seu acervo formado a partir da doação ou, em último caso, da compra das coleções de “ajuntadores” idosos locais, muitos dos quais preocupados com o destino do seu acervo, já que boa parte das novas gerações na tem interesse na preservação de “velharias” históricas que são importantes para a memória coletiva de um povo, por menor e mais pobre que este seja. Porém, o ponto de partida para tudo isso é o auto-conhecimento, neste caso bibliografia própria. 28 Se o mercado editorial formal é inviável, tudo poderia ser publicado via Internet em sites ou publicações (jornais, revistas) em formato digital a custo quase zero. Se a Internet ainda não é muito presente nos lares sertanejos, atualmente muitas são as prefeituras, escolas e câmaras municipais informatizadas e com acesso a rede. À partir da premissa de haver uma publicação on-line sobre seu próprio meio e um computador que possa ser emprestado por alguns instantes, qualquer professor de localidades remotas pode “baixar” o conteúdo destes sites e imprimi-los para o uso de seus alunos como bibliografia. 3.7 JORNALISMO X GOVERNO LOCAL Como muitas cidades do interior, em Barcelona há muitos conflitos de interesses já que o serviço público é a maior fonte de renda da população do município. A proposta da revista virtual é se manter distante desses interesses. Ser um ponto de apoio e unanimidade. É preciso clamar pela participação da geração digital nos movimentos socioeconômicos, políticos e culturais como um meio de acelerar a transição para a nova sociedade do conhecimento, uma vez que como se sabe, o capital do século XXI é a criatividade e o saber. Esses “cibercidadãos”, informados, responsáveis e construtivos, estão traçando seu próprio caminho para o futuro. 3.8 METODOLOGIA Para sua viabilização, primeiro foram feitas entrevistas com algumas pessoas do município aproveitando seu conhecimento de história oral, já que a cidade tem deficiência de material bibliográfico sobre si mesma. Redação das informações coletadas nos diferentes ramos da prática jornalística: reportagens, artigos, crônicas, matérias, editorial. Posteriormente o material teve o seu texto adequado a leitura online, foi editado, distribuídos pelos links correspondentes, diagramado e ilustrado com gravuras fotos, cores e formatos gráficos. Por último, o site foi enviado para a Internet. Durante a construção do site procuro-se chegar ao término dos fundamentos do trabalho por caminhos próprios. Por exemplo, nenhum site de outra cidade foi 29 previamente estudado pelo autor. É importante ressaltar que após o “término” dos fundamentos do site, espera-se atualizá-lo com freqüência tanto tendo em vista seu aprimoramento gráfico, como também em termos de conteúdo. Foram inúmeros os entraves: desde a falta de material bibliográfico sobre o município a ser consultada até a quase inexistência de Internet em Barcelona para a população ter acesso a sua revista. A pesquisa exigiu, acima de tudo, desenvolver a arte de saber ouvir, deixando que a espontaneidade do contador venha à tona. Já a dificuldade de acesso a web está sendo superada, graças ao crescente aumento de linhas telefônicas e de computadores pela população do município. As noticias do link Noticiário serão arquivadas (impressas e em formato digital) sempre que elas estiverem desatualizadas e sejam substituídas. A fim de que as informações do site seja bem utilizadas é importante promover palestras para a população do município sobre jornalismo, educação e cidadania e a relação dessas três áreas com os multimeios da Internet. Bem como sobre as novas maneiras de interpretar a realidade. Para se saber se os objetivos da revista foram alcançados serão convidadas pessoas em Barcelona que nunca tenham construído sites para que diante de um computador elas possam testar a revista virtual Barcelona. Elas deverão responder um questionário sobre o seu perfil sócio-econômico (idade, renda, profissão, sexo, estado civil), qual a sua opinião sobre o conteúdo, escolha de temas, expressão (qualidade da língua), o que elas acharam, como está a aparência (estética), como funciona a navegabilidade, em que o site lhe pode ser útil (interesse), qual o seu interesse nas novas mídias, sugestões e etc. Também é interessante saber quais os equipamentos de informática presentes nos lares de cada um (computador, modem e etc.), com que freqüência cada um acessa a Internet, qual a porcentagem dos que possuem e-mail (considerando o número de moradores de cada casa), quais as principais mudanças em sua vida depois do advento da Internet, qual o conteúdo que mais vêem na web, As reações devem ser anotadas e por último deve ser esclarecido se o site funcionou como o planejado. Teoricamente não haverá problema de localização, mesmo àqueles que não sabem o endereço da revista, podem encontrá-la através de buscadores como o Google, por exemplo, <http://www.google.com.br>. Espera-se também que os usuários entrem em contato com a revista virtual através de e-mail ([email protected]), do blog (www.barcelona.blogger.com.br) e do grupo de 30 discussão (www.grupos.com.br/grupos/barcelonarn) e informem sobre o que acham de seu conteúdo, bem como participem das discussões levantadas e façam críticas e sugestões. 3.9 USABILIDADE Para facilitar a navegação no site, ele não foi feito em frames4 e para aumentar a área útil de informação todos os links estão dispostos horizontalmente e no mesmo local. Isto é, na parte superior. Além disso, sabe-se que quando o olhar visualiza uma página, ele a percorre de cima para baixo e da esquerda para a direita. Por isso, o título “Barcelona” no site da revista virtual está no canto esquerdo superior. Para facilitar a navegação, todas as páginas têm o layout parecido. Na parte inferior da página principal há um link para o e-mail da revista e informações básicas sobre o site. É importante ressaltar que por ser virtual, a revista não têm endereço fora do mundo cibernético. 3.10 MEMÓRIA O objetivo desta pesquisa é criar um espaço e um banco de dados virtual para a difusão e intercâmbio de idéias que tenham relação com o pequeno município de “Barcelona”, localizado na microrregião da Borborema Potiguar. Espera-se contribuir para a formação da consciência barcelonense e a reflexão nas pessoas, onde quer que elas estejam. oferecendo aos seus leitores a informação isenta e qualificada. Além de fomentar a cultura e promover os intercâmbios culturais. Pra a revista é importante fomentar a cultura e salvaguarda das peculiaridades regionais e sociais, tanto na sua expressão tradicional quanto nas formas atuais de expressão. Isto é, criar uma personalidade, uma maneira de ver o mundo e de apresentá-lo aos leitores. Tudo a partir da reconstituição, conservação e redescoberta da cultura sertaneja, tradições, história, geografia e vocabulário do 4 O mesmo que frameset ou quadro, isto é, documentos que dividem a janela do browser (ou navegador) em vários documentos isolados. 31 português antigo, espera-se com isso que os habitantes voltem a ter orgulho dos antepassados e de sua própria cultura. 3.11 CIVIC JOURNALISM A revista tem seus princípios fundamentados no civic journalism americano, cuja definição não é muito clara: “Ao pé da letra seria jornalismo cívico, mas o sentido mais apropriado seria o de ‘jornalismo público’, que também não é satisfatório, pois tanto pode dar a idéia de uma espécie de jornalismo chapa branca, como pode ser confrontado com a constatação tautológica de que qualquer jornalismo é público. ‘Jornalismo cidadão’ também seria uma boa maneira de transpor o conceito, mas ainda incompleta, pois a relação entre mídia e cidadania não tem dependido apenas das iniciativas da comunidade, mas sobretudo de empresas e organizações. Ou seja, tradicionalmente, o civic journalism tem sido praticado por meio de grandes projetos da iniciativa privada e não propriamente pela mídia comunitária, embora o jornalismo comunitário muito se assemelhe aos propósitos do civic journalism. Quando grandes jornais resolvem, por exemplo, dedicar sistematicamente parte de seu esforço de cobertura a causas públicas, estão praticando civic journalism. Quando empresas não jornalísticas resolvem financiar ou dar apoio institucional a coberturas dos mesmos assuntos, também ingressam na mesma linha “(SILVA, 2001, p. virtual). 3.12 PRINCÍPIOS ÉTICOS Para garantir a independência editorial e a liberdade de expressão a revista virtual Barcelona não se restringirá a ter colaboradores fixos, devendo portanto, contar com diversas colaborações ocasionais. Tentando assim retratar com o máximo de fidelidade possível, o nosso próprio tempo. A revista tem a intenção de estar em conformidade com os artigos 19, 26 e 27 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (adotada pela ONU em 10 de dezembro de 1948). 32 3.13 RECURSOS FINANCEIROS Para a sua viabilização a revista virtual Barcelona não contou com nenhum patrocínio ou apoio institucional. Nem para sua produção, pesquisa ou hospedagem. Inclusive, a revista virtual se utiliza um site para hospedagem gratuitas de homepages5 (www.hpg.com.br) para comprovar que ele podia ser feito com quase nenhum custo. A questão sobre a gratuidade do conteúdo na Internet tem sido muito debatida. Afinal, além de uma redação jornalística, há muitos custos envolvendo grandes empresas como os fabricantes de produtos eletrônicos que permitem a conexão (microcomputador e modem), o provedor de acesso (que é pago mensalmente), a companhia telefônica (que tarifa cada minuto de conexão) e as agências de propaganda que criam os banners (anúncios virtuais). Porém, atualmente há uma grande dificuldade para as empresas cobrar pelo noticiário que veiculam, porque isso está virando commodity6, existe praticamente em qualquer portal. Embora ainda haja mercado para as análises e informações setorizadas, o que não se encontra com facilidade na Internet apesar de haver uma grande demanda e que não são do interesse da imprensa que cobre o dia-a-dia. Muitas publicações e serviços noticiosos como o Bloomberg, o maior portal de notícias sobre economia e negócios do mundo, estão na Internet por uma questão estratégica. Há alguns anos a Internet não passava de uma rede acadêmica que permitia aos alunos e professores trocarem mensagens e intercambiarem documentos e informações sobre suas pesquisas (e só permitia o uso de texto); numa etapa seguinte, a Internet foi integrada ao ambiente Windows com cores, imagens, som vídeo; agora já está presente nos cabos de TV. Por isso, muitas empresas investem em seus portais noticiosos, mesmo tendo uma margem de lucro reduzida ou prejuízo em alguns casos, como uma maneira de estar em dia com as novas tecnologias digitais e demarcar espaço. 5 Página de entrada em um site da Web, ou de outro sistema de hipertexto ou de hipermídia, que geralmente contém uma apresentação geral e um índice, com elos de hipertexto que remetem às principais seções de conteúdo do site, visando facilitar a navegação pelo sistema; página inicial. 6 Artigo ou objeto de utilidade, mercadoria para a venda. 33 No início dos anos 90, a mídia impressa no Brasil, jornais e revistas, começaram a criar seus espaços na Internet. O lucro não foi a primeira motivação, apesar de naquela época haver essa perspectiva a longo prazo, mas sim por uma questão de dar um sinal de modernidade ao mercado, para seguir uma tendência mundial e para atender ao público que viaja. É importante ressaltar que após o “término” dos fundamentos do site, espera-se atualizá-lo com freqüência tendo em vista tanto seu aprimoramento gráfico, quanto em termos de conteúdo. Para isso, são necessários recursos financeiros e técnicos. Por isso, a revista virtual pretende aceitar o apoio institucional e cultural como forma de patrocínio de pessoas físicas e empresas consideradas éticas que acreditem em nosso projeto, mas se recusa a aceitar anúncios ou apoio cultural de políticos ou da administração de Barcelona. Ela não irá pôr o direito à informação dos habitantes de Barcelona acima dos interesses do anunciante. Isso, porque a revista não deseja perder a independência e a credibilidade frente ao leitor, tendo em vista inclusive a preservação dos valores que os anunciantes desejam comprar. Não haverá qualquer tipo de cobrança para se ter acesso ao conteúdo da revista virtual, já que uma de suas principais propostas é a democratização da informação. O conteúdo do site é de uso liberado para sua livre reprodução ou transmissão por quaisquer meios eletrônicos, mecânicos, de gravação, fotográficos, digitais; desde que citado o nome do autor e a fonte. 3.14 DIREITOS AUTORAIS Os fundamentos teóricos e tecnológicos da pesquisa serão publicados na revista virtual para sua livre reprodução ou transmissão por quaisquer meios eletrônicos, mecânicos, de gravação, fotográficos, digitais. Na revista pede-se apenas que o usuário cite em sua reprodução o nome do autor e a fonte. 3.15 LINHA EDITORIAL Editorialmente, a revista virtual deve ter não só denuncias, mas também boas notícias. Contar histórias de empreendedores, conversar com especialistas que sugerem soluções, mostrar o cidadão comum em seu papel de herói moderno, 34 exaltar o sonho, a coragem, o trabalho. Com isso, o objetivo é influenciar as pessoas a agir, ao serem expostas a esse conteúdo midiático. Incentivar os leitores com a idéia de abrir um negócio, voltar a estudar, atuar como cidadão. É princípio da publicação não submeter o conteúdo editorial à aprovação prévia de qualquer forma de governo, dele representante ou poder constituído e resistir a qualquer tipo de pressão ou intimidação que tenha a intenção de coibir a democratização da informação e a liberdade de expressão. A revista garantirá a objetividade e a capacidade de priorizar e personalizar a sua produção. Os artigos ou crônicas publicadas no link “Crônicas”, com a assinatura do autor, não traduzem a opinião da revista e visam divulgar tendências e debates. Sua publicação obedece ao propósito de estimular a discussão os problemas sertanejos contemporâneos e outras questões universais as quais os habitantes do interior do nordeste brasileiro sofrem influência. O conteúdo do link “Cultura” tem a proposta de divulgar a cultura sertaneja mas também a alta cultura universal, procurando valorizar e enxergar o sertão como uma unidade com identidade própria, mas que também está inserida dentro de um todo e não uma cultura isolada. O que difere o site de Barcelona de outros é que ele não pretende ser turístico, nem sua preocupação é formar professores, mas orientar comunidades inteiras. A preocupação não é fornecer notícias didaticamente para uso em sala de aula, embora também tenha essa utilidade, mas possibilitar que pequenas comunidades se conheçam, tenham consciência de sua própria realidade e sua cultura para que tenham visão própria (tendo por base sua cultura) da realidade em que vivem. Para que cientes dos problemas, vantagens e potencialidades, passem a agir pela melhoria de suas condições de vida. Isto é, usar o Jornalismo como instrumento de mudança e de consciência. 3.16 DIVULGAÇÃO Para que os objetivos da revista virtual sejam de conhecimento público é importante consolidar uma estratégia de meios (produção de materiais, campanhas publicitárias, artigos de opinião) em diversos veículos de comunicação que contribuam para a sensibilização da sociedade sobre a importância da difusão da 35 informação para o desenvolvimento das democracias nos pequenos municípios (vide anexo 4). A fim de que as informações do site seja bem utilizadas é importante promover palestras para a população do município sobre jornalismo, educação e cidadania e a relação dessas três áreas com os multimeios da Internet. Bem como sobre as novas maneiras de interpretar a realidade. Para se saber se os objetivos da revista foram alcançados serão convidadas pessoas em Barcelona que nunca tenham construído sites para que diante de um computador elas possam testar a revista virtual Barcelona. Elas deverão responder a um questionário sobre o seu perfil sócio-econômico (idade, renda, profissão, sexo, estado civil), qual a sua opinião sobre o conteúdo, escolha de temas, expressão (qualidade da língua), o que elas acharam, como está a aparência (estética), como funciona a navegabilidade, em que o site lhe pode ser útil (interesse), qual o seu interesse nas novas mídias, sugestões e etc. Também é interessante saber quais os equipamentos de informática presentes nos lares de cada um (computador, modem e etc.), com que freqüência cada um acessa a Internet, qual a porcentagem dos que possuem e-mail (considerando o número de moradores de cada casa), quais as principais mudanças em sua vida depois do advento da Internet, qual o conteúdo que mais vêem na web, As reações devem ser anotadas e por último deve ser esclarecido se o site funcionou como o planejado. 36 4 NUNCA FOI TÃO FÁCIL... O nascimento das novas mídias aumentou a capacidade de participação, manifestação e expressão dos cidadãos. A Internet, em plena expansão, representa um formidável instrumento de comunicação e informação capaz de ligar os indivíduos do mundo inteiro em torno de temas tão variados como a literatura, a arqueologia, a jardinagem ou o cotidiano de pequenas comunidades. 4.1 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO Havia, até poucos anos, em matéria de comunicação, três sistemas distintos: o texto escrito, o som do rádio e a imagem. Cada um desses elementos foi o introdutor de todo um sistema tecnológico. O texto deu origem à edição, a imprensa, o livro, o jornal, a linotipia, a tipografia, a máquina de escrever, etc. O texto está, pois, na origem de um verdadeiro sistema tecnológico. Assim como o som – que originou o rádio, o gravador, o telefone e o disco. A imagem, por sua vez, produziu a pintura, a gravura, os quadrinhos, o cinema, a televisão, o vídeo etc. A revolução numérica da Internet faz os sistemas de signo convergirem para um sistema único: texto, som e imagem exprimidos em bits. É a multimídia – o CD – Rom, os videogames, o DVD e, sobretudo, a Internet. Isso quer dizer que não há mais diferenças entre sistemas tecnológicos para veicular, indiferentemente, um texto, um som ou uma imagem. O mesmo veículo permite transportar os três sinais – textos, sons e imagens – em tempo real, em alta velocidade, junto ou separadamente. Esse sistema constitui uma transformação radical porque muda a comunicação, na medida em que não há mais diferença entre o sistema textual, o sistema da imagem. Resta apenas um sistema, que se exprime na base de 0 e de 1 que circula no mesmo ritmo. Atualmente, o sistema de comunicação criou uma rede, uma malha que abrange o conjunto do planeta, o que torna possível a troca intensiva de informações. Mas há um desafio que precisa ser enfrentado: diante da revolução das tecnologias da informação e da comunicação é preciso favorecer a inovação e o desenvolvimento econômico e preservar ao mesmo tempo a igualdade de chances. 37 A sociedade industrial, nascida há pouco mais de cem anos, cede lugar a uma sociedade cujos principais recursos e riquezas são a informação. E a Internet está no centro dessa revolução. Desenvolvimento tecnológico, fatores econômicos e hábitos sociais são os três motores, intrinsecamente ligados, dessa nova sociedade. A convergência da informação, das telecomunicações e do audiovisual, assim como a digitalização dos dados favoreceram tecnicamente a passagem de uma sociedade para a outra. A digitalização consiste em codificar dados analógicos sob a forma de 0 ou de 1. Ela permite processar, estocar e transmitir os dados mais fácil e rapidamente, sem qualquer perda de informação. A linguagem binária atinge hoje áreas tão variadas quanto a imagem, som, voz, vídeo, televisão, fotografia e as possibilidades que ela oferece estão ao alcance de todos graças às novas tecnologias. Porém, são os hábitos decorrentes deles que caracterizam a sociedade da informação. A tecnologia digital envolve não somente a digitalização das comunicações, mas também uma ampla gama de novos procedimentos e instrumentos como os satélites e a fibra ótica, por exemplo, que possibilitou o surgimento dos celulares, livros eletrônicos, pager, disk player, computadores pessoais e gravadores digitais. As sociedades tecnicamente avançadas são chamadas de: sociedade do saber, sociedade da informação, das comunicações, sociedade telemática. Em comum a todos está a tese de que um novo impulso tecnológico – a tecnologia digital – substituirá o capitalismo industrial. E as características desse novo capitalismo digital serão a rapidez, a desmaterialização, descentralização e globalização. Mas o advento da sociedade da informação não pode se reduzir a esses desenvolvimentos tecnológicos, nem a suas ampliações econômicas. Os desafios sociais são cruciais e o desenvolvimento da tecnologia da informação e da comunicação não poderá ser feito em detrimento de uma parte da população. O fosso digital entre países, regiões e cidades ricas e pobres está aumentando a cada dia. Em muitos casos, isso se deve mais por indiferenças e falta de interesse dos poderes públicos locais do que por falta de acesso às novas tecnologias. É necessário, portanto, garantir a igualdade de acesso às novas tecnologias. Da informação e da comunicação. Isso é uma questão tanto democrática quanto pedagógica. Por isso, a sociedade da informação é uma chance única na história das pequenas comunidades se educarem e se informarem como nunca antes foi possível. 38 Para o pesquisador francês Thierry Leterre (2000: p. 9) pode-se distinguir três grandes contribuições das novas tecnologias para a pedagogia: a) Reservatório de instrumentos culturais (“Grande Biblioteca”); b) Pedagogia ligada à informática; c) Práticas coletivas (criar, por exemplo, o site de uma escola ou um jornal eletrônico). A sociedade da informação propiciou o retorno da escrita através do correio eletrônico, dos sites e dos fóruns de discussão. Nesse sentido, a informática é um meio cultural bastante tradicional. Ela desmente a idéia ampla e difundida de uma sociedade audiovisual. Para Leterre (ibid.) “as novas tecnologias possibilitam a revanche da ´alta cultura´ oferecendo-lhe meios de expressão inéditos. Numa livraria real, um livro que venda 10 mil exemplares elimina o que vende 5 mil. No cibermundo, os dois fatos podem se produzir sem que um exclua o outro”. Além disso ele também esclarece que: Os fundamentos da governança moderna são colocados em questão pelas novas tecnologias; eles pressupõem o exercício do poder em nome do povo ou da nação, ou de uma coletividade definida. Ora, nas redes nada disso existe; um africano pode apaixonar-se por uma questão política debatida na Suíça, enquanto que um suíço poderá interessar-se por uma outra questão que representa um problema na África. É a idéia de vontade geral que é atingida; mas, ao mesmo tempo, essa vontade geral era excludente: ela não dá a palavra a qualquer um, mas apenas a cidadãos, e mais ainda a seus representantes. Estamos assistindo, graças à Internet, a uma espécie de “desautorização” da palavra; cada um é livre para se expressar fora das fronteiras políticas naturais. (ibid.). As tecnologias da informação e a cultura mantêm estreitas relações. Sendo um meio de difusão, mas também instrumento de criação, a Internet torna-se um novo agente de promoção e desenvolvimento da cultura através do mundo. A Internet fez renascer o sonho utópico de uma comunidade humana harmoniosa, planetária, em que cada um se apóia nos outros para aperfeiçoar seus conhecimentos e afiar sua inteligência. O tripé tecnologia da informação – tecnologia da comunicação – cultura deverá permitir a todos o acesso gratuito e fácil a conteúdos educativos e culturais de qualidade. E essa oferta de cultura e educação é imprescindível para o exercício de qualquer liberdade. A revolução digital provocou profundas transformações em todas as áreas da indústria cultural, da concepção à divulgação das obras. 39 A sociedade da informação coloca em evidência possibilidades ilimitadas de comunicação, graças às quais os “ciber-cidadãos” construirão uma nova forma de inteligência coletiva, apoiando-se na inter-criatividade (todo mundo pode ser ao mesmo tempo receptor e criador de informações e não mais apenas consumidor passivo) e na divisão dos recursos. A Internet é a sinergia entre a escrita, a imagem fixa, o vídeo e a comunicação por telefone que faz da rede web um novo espaço de desenvolvimento e interação, e mesmo um novo paradigma. Está surgindo o que se pode chamar de “ciber-democracia” ou “e-democracy”, cidadãos através da Internet estão exercendo seu poder através de e-mails que fazem chegar aos poderes públicos e de sites na Internet. Pela primeira vez surge a possibilidade de expressão por parte dos pequenos grupos, e não apenas pelo voto democrático maciço. Mesmo assim essa nova participação cidadã insere-se como um complemento, e não em substituição, aos outros meios de expressão, dentre eles o voto. Mesmo assim, os antigos meios de expressão deverão ser influenciados pela ciber-democracia dando início a uma nova relação cidadão-governo. Em condições economicamente favoráveis a Internet atinge todas as camadas da população: estudantes, famílias, professores, profissionais, empresas, poderes públicos, etc. Além disso, os preços dos computadores estão diminuindo, as conexões estão se tornando gratuitas e os programas terão seus preços reduzidos. Com isso a tendência natural é que haja a difusão da Internet. Ela é natural e é apenas uma questão de tempo. Mas deve-se estar zeloso com relação a democratização dos meios digitais. Para o futurólogo doutor em ciências Joel Rosnay (2000: p. 25): De fato, surfar na Internet, certamente pode levar a um borboletear estéril, análogo ao ‘zapping’ na televisão, se essa atividade não for contextualizada ou enquadrada. Daí a importância de incorporar dados às informações, informações ao saber, saber aos conhecimentos e conhecimentos às culturas. 4.2 O FUTURO QUE FICOU PARA TRÁS Para o economista Mário Henrique Simonsen “A seta do tempo transforma continuamente o presente em passado e o futuro em presente” (SIMONSEN apud CORRÊA, 1997, p. 62). No início dos anos 80, os computadores demoravam a 40 começar a funcionar. Havia maquinas como o TK 80 e o CP 300. As quais não serviam para grandes tarefas, mas faziam seus donos se sentirem no futuro. Futuro que ficou para trás. Com o processador de 8 bits e velocidade de 3,25 MHz (mil vezes menor que o processador Pentium 4, da Intel), o pequeno TK 85 da Microdigital era tido como o modelo ideal para os iniciantes. Bastava acoplar a uma televisão P&B e a pequena caixa preta de meio quilo entrava em funcionamento. Algumas das marcas de computadores nacionais mais famosas eram Cobra, Dismac, Microdigital, Microtec, Prológica, Scopus e Unitron. No início da década de 90, com a abertura do mercado, eles foram esquecidos. Hoje, basta ligar o PC, dar um clique no mouse e o Windows abre seus programas favoritos. Antes, era necessário digitar as instruções de cada programa. A linguagem mais usada era o Basic e havia quem copiasse enormes listas de instruções para ver um simples desenho na tela. Hoje, os computadores são cada vez mais compactos, tanto que se torna difícil digitar em seus miniteclados. No primeiro semestre de 2002 os técnicos da IBM retiraram todos os periféricos de um computador de mesa e reuniram o essencial em uma caixinha do tamanho de um baralho de cartas, criando assim o Mobile Computing Core, licenciado pela empresa Antelope Tecnologies, que pode rodar qualquer software na palma da mão ou aumentar a potência e a memória de laptops, palms e câmeras digitais. Já no segundo semestre do mesmo ano, foi lançado o Visual Keyboard, da Canestra, usa um sistema a laser que projeta as teclas em qualquer superfície e um sensor reconhece o movimento dos dedos. Na mesma época foi possível para a indústria de informática satisfazer àqueles que em plena era digital preferem escrever e desenhar à mão. O InkLink Data Clip, da Seiko, por meio de um clip na borda de um papel, capta tudo o que uma caneta especial rabiscar, transferindo os traços diretamente para o computador. O aparelho conta ainda com seu próprio software, dotado de recursos tradicionais de edição como cortar, copiar, colar e ampliar em zoom. 4.3 A CRIAÇÃO DA INTERNET Os primeiros estudos sobre a criação de uma enorme rede de comunicação entre computadores começaram em 1962. Mas a Internet só foi criada em 1969, nos 41 Estados Unidos, quando a ARPA – Advanced Research Projects Agency (Agência de Pesquisas e Projetos Avançados), ligada ao Departamento de Defesa norteamericano (Pentágono), conectou computadores de quatro universidades americanas. Esse sistema era chamado de Arpanet. A década de 60 foi o auge da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética e os cientistas queriam construir uma rede de conexão que continuasse funcionando em caso de bombardeio e outros tipos de ataque. Criaram então uma rede em que todos os pontos se equivaliam, sem haver um comando central. Assim, se B deixa de funcionar, A e C continuariam se comunicando. Com o desenvolvimento da Arpanet foi possível estabelecer conexões internacionais entre os Estados Unidos, universidades da Inglaterra e da Noruega em 1973. Durante quase duas décadas (70 e 80) a Internet ficou restrita ao ambiente acadêmico e científico. Até então ainda não existiam as siglas “http” e “www”. Em 1987, pela primeira vez foi liberado seu uso comercial nos EUA. Mas, só em 1992, é que a rede se popularizou. Começaram a aparecer no país várias empresas provedoras de acesso à rede. Centenas de milhares de pessoas começaram a publicar suas informações para um número cada vez maior de pessoas. Em 1989 no Laboratório CERN (sigla para Laboratório Europeu de Física de Partículas), na Suíça quando o cientista inglês Tim Berners-Lee propôs a criação de um novo sistema de comunicação entre computadores. Ele sugeriu o uso do hipertexto, um formato de organização de informações em que texto e imagem ficavam interligados e onde era possível consultar dados citados em outros documentos relacionados ao mesmo assunto. Isto é, rede surgia com o propósito de ser uma linguagem que serviria para interligar os computadores daquele laboratório a outras instituições de pesquisa, exibindo documentos científicos de forma simples e fáceis de serem acessados. Ao padronizar esse tipo de comunicação entre vários computadores, BernersLee criou o famoso “http”, a abreviação de hypertext transfer protocol, ou seja, protocolo de transferência de hipertexto. Ele indica o padrão adotado para organizar as informações (em hipertexto) que circulam entre os computadores. No início da década de 90, o cientista inglês continuou desenvolvendo seu sistema, mas com o objetivo de divulgá-lo no mundo todo, objetivo que acabou sendo alcançado. Desse modo em 1991, nascia a WWW (World Wide Web), algo 42 como “rede mundial”, por onde circulariam essas informações em formato de hipertexto. A Internet estava pronta para se popularizar, tarefa facilitada pelo surgimento de programas especiais de navegação pela rede, como o Netscape (1994) e o Internet Explorer (1995). O que determinou o crescimento da WWW foi a criação de um programa chamado Mosaic, que permitia o acesso à Web num ambiente gráfico, tipo Windows, ou seja, de maneira simples e objetiva. 4.4 A INTERNET NO BRASIL Em 1989, a Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e o LNCC – Laboratório Nacional de Computação Científica/RJ tiveram a iniciativa de introduzir a Internet no Brasil. No mesmo ano, com o objetivo de implantar uma infra-estrutura de serviços de Internet, com abrangência nacional, o Ministério de Ciência e Tecnologia criou o RNP – Rede Nacional de Pesquisas com o apoio de outros órgãos, entre eles a Fapesp, interligando através de seu backbone7, instituições acadêmicas de, inicialmente, onze estados brasileiros. Em dezembro de 1994, um projeto piloto da Embratel colocava à disposição de usuários privados o acesso à Internet por meio de linhas discadas. Mas, só dois anos mais tarde, a rede começou a ser, efetivamente, utilizada como ferramenta geradora de negócios. No ano 2000, quando a Internet já se consolidava no País, iniciou-se a guerra pelo fornecimento de acesso gratuito. Empresas de vários ramos de atividades começaram a distribuir gratuitamente o conteúdo da Internet para seus clientes. Uma tendência mundial. Hoje, pode-se dizer que a conexão à rede ganhou formas além da linha telefônica. Como por exemplo a conexão via rádio e via cabo, que já são realidade. 7 Parte de uma rede de computadores, ou sua estrutura física, que suporta o maior tráfego de informações. 43 4.5 RESOLUÇÃO DE NOMES Os endereços dos sites parecem ser totalmente caóticos, mas eles foram criados dentro de uma lógica que permitisse a organização de milhões deles, de modo a não haver dois exatamente iguais. Tome-se para efeito de exemplificação o endereço da revista virtual Barcelona: http://www.barcelonarn.hpg.com.br 4.5.1 Domínio Em um endereço de site, depois do www e do ponto vem o domínio, ou seja, o nome ou a marca da instituição que o mantém na rede. Essa é a parte principal de um endereço eletrônico, ajudando a diferenciar uns dos outros. Um domínio deve ser curto o suficiente para que o usuário não fique desestimulado a acessá-lo, mas também não pode ser tão curto que seja indecifrável e precise de uma legenda em anexo. O domínio da revista virtual Barcelona é “barcelonarn” (RN, de Rio Grande do Norte), mas poderia ser “rvb”, “barcelona” “revistavirtualbarcelona”, “revista-virtualbarcelona”, “revista.virtual.barcelona” ou qualquer outra combinação. Todavia é importante tecer as seguintes considerações: se o domínio fosse “rvb” seria mais rápido de digitar, mas em compensação seria difícil para quem não conhece o site saber que ele pertence a uma revista virtual de Barcelona. Além do mais, sempre que alguém anotasse o endereço como um lembrete, teria também que escrever do que se tratava aquele site. Se o domínio fosse “barcelona” ele bem poderia ser de um fã-clube do catalão Barcelona Futebol Clube, já “revistavirtualbarcelona” ficaria muito extenso e além disso, se fossem ligados por pontos ou travessões ( – ) poderiam deixá-lo ainda maior. Num domínio de site não é aconselhável separar as palavras, porque o travessão é confundível com o under line ( _ ) e isso acarretaria perda de tempo para o usuário até que acertasse. Qualquer domínio pode ser registrado por qualquer pessoa mediante o pagamento da anuidade ao provedor. A questão sobre o domínio é tão importante no mundo virtual que inclusive há leilões na Internet para venda de domínios universalmente famosos como “Jesus” ou um nome que esteja em moda como astros do cinema ou terroristas. Como os usuários se orientam pela lógica quando estão à procura de algo, algumas empresas costumam pagar altas somas por certos domínios. Por exemplo, pela lógica comercial é muito útil para uma indústria de leite ter um site assim www.leite.com.br. 44 Por isso, há sempre pessoas atentas ao dia-a-dia da mídia que registram previamente domínios ainda sem dono, mas com potencial de crescimento. Esperando usá-los como um especulador usa suas ações numa bolsa de valores. Um “investimento virtual”, por assim dizer. O que é muito útil é que mesmo os sites com textos exclusivamente em russo, grego ou chinês que usam alfabetos (pictogramas, no caso chinês) diferentes do itálico usados pelas línguas ocidentais; isto é, as daqueles países mais avançados tecnologicamente; podem perfeitamente ser acessados digitando o endereço em itálico na barra de endereços do browser8. 4.5.2 Com O ”com” é uma sigla usada para indicar o tipo de organização que tem o site. No caso, uma organização comercial. Existem outras siglas, como “edu” para entidades educacionais, “ind” para indústrias, “inf” para informação, “jor” para jornalismo (empresas que oferecem esse serviço, por exemplo), “org” para organizações não-lucrativas, “mil” para organizações militares e “gov” para sites governamentais. No entanto, é preciso ficar claro que essas siglas podem também sofrer pequenas variações de acordo com a língua do provedor. Tome-se a última, por exemplo, o “gov” se transforma em “gob” (de gobierno) nos de língua espanhola, “gouv” nos de expressão francesa e “gv” nos de países de língua germânica. Na verdade, a escolha por uma ou outra sigla não tem qualquer imposição, é uma questão apenas de organização, por isso é comum encontrar sites de indústrias, escolas ou veículos de comunicação com o “com” pelo simples motivo de que esse é, dentre todos, o que ficou mais famoso. 4.5.3 Provedor Gratuito O “hpg” do site da revista virtual Barcelona nada mais é do que o nome do provedor que a hospeda gratuitamente. Neste caso significa “Home-Page Gratuita”, mas essa sigla é puramente uma marca fantasia da empresa provedora de acesso. Poderia ser qualquer outra e estar em outra posição, inclusive poderia ser um nome 8 Programa que exibe páginas web permitindo a navegação entre elas. 45 como “vilabol” ou “geocities”. O fato de se utilizar um provedor gratuito para hospedar o site é mais um fator que favorece o baixo custo da manutenção da publicação. 4.5.4 País Por último, num endereço de site, vem a identificação do país ao qual o domínio pertence. Trata-se de uma convenção. O “br” do endereço da revista virtual Barcelona mostra que se trata de um site do Brasil. Da mesma forma, “ar” é Argentina, “at” é Áustria, “au” é Austrália, “fr” é França, “pt” é Portugal e etc. Mas nem todos são tão lógicos: “de” é da Alemanha porque os alemães chamam seu país de “Deutschland”, “uk” é Reino Unido (United Kingdom) “dk” é Dinamarca (Denmark), “uy” é Uruguai cujo nome oficial se escreve “Uruguay”. Só os Estados Unidos não usam essa identificação de país, pois, no início, só havia Internet lá. Curiosamente, muitos países têm ganhado muito dinheiro com isso. Por exemplo, o minúsculo arquipélago de Tonga no Oceano Índico aluga o seu “to” (to, preposição “para” em inglês) para sites de agências de turismo. Isto faz com que o endereço fique não só prático como também fácil de lembrar como por exemplo, www.newyork.to. Pelo mesmo motivo, muitas empresas de televisão têm adotado em seu endereço o “tv” do arquipélago Tuvalu, também no Oceano Índico. 4.6 POPULARIZAÇÃO DA TECNOLOGIA Com o crescimento da Internet, mudou a forma como as pessoas procuram por informações e notícias. O jornal on-line e as novas tecnologias de transmissão de notícias, seja via celulares WAP ou outros aparelhos portáteis, já estão servindo como complemento e agregadores de valores aos tradicionais meios informativos como o rádio, a TV e o jornal impresso. Discute-se ainda se as novas tecnologias virtuais irão ou não substituí-las. Mas, se as novas tecnologias estão revolucionando a informação a ponto de estimular mudanças e surgimento de novos hábitos, imagine então o que está ocorrendo e pode ocorrer em comunidades afastadas que não tinham acesso à informação e repentinamente se integram ao resto do mundo através de computadores com acesso a Internet cujos preços são cada vez mais 46 baratos? Por isso, dentro da concentração do acesso aos recursos tecnológicos, cresce cada vez mais a urgência em difundi-los antes que seja tarde demais. Pois, o acesso à informação é básico para que se tenha realmente um regime democrático. Os grandes meios de difusão são controlados por poderes financeiros, por interesses variados, que não são os interesses sociais. A imprensa quer ganhar dinheiro e legitimar a ordem que permite que eles ganhem dinheiro. Sem a Internet, seria muito dispendioso publicar qualquer veículo abrangente de informação sobre Barcelona. Além disso, é preciso abrir fronteiras. Até porque é muito difícil competir nas grandes cidades com publicações ou sites já estabelecidos e que têm investimentos já assegurados. Já a dificuldade de acesso à web está sendo superada, graças ao crescente aumento de linhas telefônicas e de computadores pela população do município. Mas hoje, a tecnologia proporciona uma infinidade de recursos que proporcionaram o surgimento de publicações independentes. Se antes era preciso muito dinheiro para se publicar um jornal, ter um canal de TV ou uma estação de rádio, hoje com a web, isso tudo mudou: há softwares de fácil uso como o Dreamweaver; uma vez terminado o site, ele pode ser “hospedado” em um provedor gratuito, um site permite a divulgação para qualquer lugar do mundo de músicas, entrevistas em áudio, fotos vídeos e textos. Nem a língua é mais uma barreira já que ou o texto pode vir com a opção de versão para um outro idioma ou o usuário pode usar um dos inúmeros tradutores de textos disponíveis. Até disso, uma publicação virtual também pode se valer de um grupo de discussão, no caso da revista virtual Barcelona, para congregar não só os habitantes de Barcelona, como também barcelonenses em qualquer lugar do mundo. Também pode-se utilizar salas de batepapo e ICQ´s, o que permitem a conversa em tempo real, inclusive com entrevistas previamente agendadas; webcams para que se possa ter acesso a imagens da cidade em tempo real, blogs ou diários virtuais que são de mais fácil utilização do que o próprio site, livro-de-visitas, periodicamente pode ser feita uma enquête interativa sobre um assunto pertinente do município ou região e finalmente um endereço de e-mail pode permitir que os usuários entrem em contato não só com os responsáveis pelo site como também com os colaboradores da publicação. Algumas dessas ferramentas já se encontram em uso pela revista virtual Barcelona. Outros se encontram em fase de implementação. algumas dessas ferramentas. A seguir algumas informações sobre 47 4.6.1 Blog Um weblog (abreviadamente, blog) contém normalmente a publicação freqüente de pensamentos; comentários sobre cultura, sociedade e opiniões pessoais junto com fotografias, links e notícias relacionadas a web, um diário virtual por assim dizer que pode ser individual ou coletivo, mantido por vários usuários. Ele é atualmente o serviço mais pessoal da Internet. Desde o início da WWW, os internautas já faziam coisas parecidas. A novidade do blog foi à criação de scripts que facilitam a publicação das páginas. O formato das páginas é em HTML9, o que o torna compatível com recursos tradicionalmente usados em sites pessoais. Para fazer um blog, basta utilizar um formato pronto disponível na biblioteca de estilos do servidor de blogs ou fornecer o formato básico de sua página ou site. Para atualizá-lo basta inserir e publicar o conteúdo utilizando os botões de comando. Há também ferramentas mais avançadas para os usuários mais avançados. Os blogs são ainda mais atrativos porque as principais empresas provedoras até o momento ainda o oferecem gratuitamente. Acessível a qualquer usuário, a criação de blog é mais simples do que a produção de site pessoal. Eles não são restritos a uma pessoa nem seguem temas específicos – podem ser de empresas, instituições, grupos com o mesmo interesse. O limite não existe e o internauta sente-se como se estivesse mandando uma mensagem (post) instantânea para toda a web. Além disso, é possível incluir fotos, vídeos e músicas. É possível atualizar a página a todo instante, de qualquer lugar com acesso à rede e sem a necessidade de saber linguagem específica de programação. No caso da revista virtual Barcelona o seu blog (www.barcelona.blogger.com.br) pode ser muito útil por ser um instrumento versátil, informal e de atualização instantânea. Onde as notícias não precisam ter a formalidade e a mesma neutralidade que se espera do link Noticiário da revista. Como há também a possibilidade de se acessar o arquivo de um blog, quem quiser pode ler o que se passou num determinado dia na vida de uma pessoa ou na vida 9 HyperText Markup Language ou seja, linguagem / código das páginas web. Um documento HTML contém texto, imagens e links para outros objetos web. 48 de uma cidade como se estivesse em um arquivo de jornal, desde que confie, claro na credibilidade da fonte. Outra característica dos blogs é a possibilidade que eles dão de “desafogar” os grandes sites noticiosos em momentos de grandes acontecimentos mundiais quando pessoas do mundo inteiro acorrem ao mesmo tempo para esses sites para saber o que se passa num determinado momento. O primeiro momento de triunfo dos blogs foi durante as horas e os dias sucessivos ao ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 as torres do World Trade Center em Nova York e ao prédio do Pentágono em Washington. Na ocasião, os sites de notícias ficaram congestionados com o acesso em massa dos internautas famintos por informação. Os blogs tornaram-se a alternativa, reproduzindo as notícias, muitas vezes in loco. Assim, cada “blogueiro” passou a ser uma espécie de repórter, e também usava seu espaço para produzir conteúdo, com uma visão particular do acontecimento, avisando familiares e incluindo fotos das torres. O que importava no momento era a velocidade e a pessoa que estava por trás daquela informação. Durante a Guerra no Iraque, primeiro semestre de 2003, o blog mostrou ser uma ferramenta de grande utilidade por seu baixo custo, facilidade operacional e independência em relação a, como é de se esperar, precariedade de infra-estrutura de um país em guerra. Durante o conflito, muitos jornalistas estrangeiros no Iraque munidos de um computador pessoal, câmera digital e telefone celular informaram sobre o cotidiano dos cenários do conflito para todo o mundo e de forma isenta. O mesmo não acontecia com os a mídia impressa ou as grandes redes de televisão. Alguns jornalistas, além de cobrir o conflito para uma grande rede de TV ou jornal, paralelamente e de forma voluntária também publicavam um blog na Internet com informações exclusivas que muitas vezes não foi possível ser divulgadas pelo veículo de comunicação no qual trabalha. O crescimento dessa ferramenta é vertiginoso. Hoje no Brasil, o blog líder de audiência recebe quase meio milhão de internautas por mês; no ano passado, o líder tinha 73 mil visitantes mensais (in: Blogue-se! – Faça o seu diário virtual na Internet. Folha de São Paulo. Folha Informática. Capa. 26/02/2003). 49 4.6.2 Webcam Webcam é uma câmera de vídeo acoplada a um computador ligado na Internet. O micro usa essa câmera para tirar fotos em um determinado intervalo de tempo e carrega essas imagens para um site para que elas sejam vistas por qualquer internauta. Há as webcams que atualizam as imagens a cada segundo, outras a cada minuto e as em tempo real. Essa freqüência depende da velocidade de conexão. A primeira transmissão de imagens ao vivo pela Internet aconteceu em 1993. Dois anos antes, um grupo de cientistas da Universidade de Cambridge ávidos por café se frustravam toda vez que eles desciam ou subiam até a máquina e encontravam a cafeteira vazia. Criaram então a Trojam Room Coffee Cam, também conhecida por XCoffee. Uma câmera de vídeo que registrava as imagens do nível da bebida, que eram distribuídas em uma rede interna para a tela dos estudiosos. As webcams permitem ver locais públicos e privados, além de fazer videopapo e videoconferência pela rede. É possível, por exemplo, observar do Brasil um ponto de ônibus na Holanda, um zoológico em Londres, o tráfico em determinadas avenidas em Nova York, um shopping center em Tóquio ou para quem tem filhos, o comportamento da criança numa creche. Há casos de interesse jornalístico como, por exemplo, imagens de uma cidade sendo bombardeada por mísseis de um país agressor. Além disso, há pessoas adeptas do exibicionismo que se popularizaram por mostrar o dia-a-dia de sua casa, de seu quarto ou até suas relações sexuais pela Internet. Se isso acontece é porque do outro lado há uma legião de voyeurs que dão uma considerável audiência. Na verdade trata-se de uma invasão de privacidade consentida.Há inclusive empresas em diversas partes do mundo especializadas em oferecer strip-tease pela Internet. Para ter total acesso a isso, basta que o usuário pague. O preço acessível populariza cada vez mais o uso. O número de câmeras conectadas à rede é impreciso. “Alguns sites especializados em estatísticas estimam que hoje 60% dos computadores ligados à rede em todo o mundo tenham webcams” (ZILVETI, 2003, p. 2). Nas maiores cidades do mundo, há webcams em praticamente todos os lugares interessantes. Como ela é de baixo custo. Para os pequenos municípios como 50 Barcelona, é perfeitamente possível a instalação de uma webcam para, por exemplo, a transmissão de imagens de pelo menos o centro da cidade. 4.6.3 E-mail Nunca dantes se teve tanto acesso as pessoas. Porém, essas pessoas têm a liberdade de só entrar em contato com seu interlocutor quando querem. O e-mail é o uso mais popular da Internet. Segundo o International Data Center, 10 bilhões de emails são disparados todo dia (DORIA. 2002. p. 3) Trocava-se mensagens na Internet desde 1971. O método, no entanto, era uma gambiarra no sistema. Só em agosto de 1982 que Jonathan Postel e David Crocker publicaram dois RFCs, os 821 e o 822, estabelecendo um protocolo, um padrão para o correio eletrônico. RFCs são a documentação técnica da Internet, as plantas de como funcionam seus meandros. São de difícil compreensão para os leigos no assunto. Em geral são escritos com o bom humor que já nasce no nome genérico: RFC quer dizer Request for comment, algo com Apresentação aberta para comentários. É importante dizer que o trabalho de Postel e Crocker no processo de criação do e-mail foi gratuito, voluntário e feito em suas horas livres. Eles achavam que só as universidades teriam interesse em usar e-mails para intercâmbio entre pesquisadores e por isso não patentearam seu invento, motivo pelo qual o e-mail rapidamente pode ser difundido livremente e aperfeiçoado. O engano de Postel e Crocker é perfeitamente justificado quando se sabe que em 1982 a rede não era usada pelo cidadão comum. Logo, exemplos assim nos mostram que se hoje, os pequenos municípios como Barcelona e populações rurais isoladas vivem à margem do e-mail e da Internet como um todo, há uma forte perspectiva de que qualquer vaqueiro do sertão, por exemplo, receba as ordens de seu chefe por e-mail. E o mais importante, sem ter que deixar de ser vaqueiro para ter acesso a isso. Mas como toda tecnologia benigna há sempre quem tente desvirtuá-la: no início dos anos 90, tanto a rede quanto o e-mail eram vistos por boa parte da academia como libertadores. Porque em teoria, se teria mais tempo livre porque poder-se-ia trabalhar quando se desejasse. Todavia, o que se constatou posteriormente foi uma aceleração da vida cotidiana e com ela uma sobrecarga de trabalho. Para piorar, empresas se especializaram em enviar para os endereços de e-mails de pessoas do 51 mundo inteiro publicidade não solicitada (spam´s), que vão desde os apelos por doações em dinheiro de supostos africanos com AIDS a convites à visita a sites de pedofilia e de sexo em geral. Sobre isso, têm-se discutido se esse problema é uma questão cultural ou tecnológica. Na Internet ainda não há uma boa definição do que seja espaço público e privado, o que leva a crer que seja cultural. Contudo, atualmente não só é possível o contato rápido e quase gratuito com familiares no exterior, como também não há limitações geográficas para o intercâmbio cultural, inclusive entre pesquisadores nas universidades. 4.7 O QUE É WEBDESIGN Design é um termo genérico, mas que classifica todos os tipos de mídia que façam uso de recursos visuais para atingir seus objetivos. O webdesign é, portanto, design para a web, um arquiteto de informação em outras palavras. Há ainda o design de games e o de multimídia, CD – Rom´s por exemplo. Atualmente há uma forte tendência para a especialização dentro do webdesign como, por exemplo, o webdesign de roteiros, imagens, estudo de interfaces e trilhas sonoras. Na verdade, é preciso uma equipe para poder desenvolver um projeto grande. A parte sonora deve ser desenvolvida por um designer de som, uma profissão específica. O webdesign propriamente dito, sem considerar as especializações, engloba três campos principais: planejamento e estrutura, produção das páginas e manutenção e atualização de websites. 4.7.1 Planejamento e Estrutura O planejamento e estrutura visam organizar um roteiro para orientar os visitantes do site de modo que eles consigam navegar sem problemas de localização e interface. Além disso é importante prender a atenção do usuário e evitar que ele desista e saia do site. Para isso, é preciso estudar muito bem a estrutura do site. Nessa fase é muito útil utilizar uma ferramenta emprestada dos publicitários, o “brain storms”, isto é literalmente “tempestades cerebrais”, que nada mais é do que o diálogo em grupo de forma caótica com o fim de forçar o surgimento de uma boa idéia. No caso da revista virtual Barcelona, ela foi previamente desenhada no papel 52 e teve suas várias possibilidades de navegação estudada, de modo a escolher o que melhor sirva aos seus propósitos. Um ponto importante que não deve ser esquecido é a proporcionalidade entre tamanhos de fotos X tamanho de textos; a resolução, isto é, número de pixels das fotos de modo a evitar que as fotos demorem muito a serem baixadas (visualizadas) e deve haver atenção quanto a utilização de banners, os Up podem irritar o usuário e desestimulá-lo a fazer outras visitas ao site. Alguns banners lincados na própria home-page (página inicial) têm cores que não combinam com o site, outros são grandes demais e isso é esteticamente agressivo. Cores, linguagem e forma dos designers de um bom site devem respeitar não só a estética e o gosto do público ao qual o site se destina, como também a cultura para o qual ele é dirigido, no nosso caso, os princípios culturais que orientam o Movimento Armorial. 4.7.2 Produção das Páginas No segundo estágio, o da produção das páginas, é o momento em que elas são literalmente construídas. isto é, elas passam do planejamento no papel e de simples esboços para o mundo virtual. As páginas são construídas com a utilização de um editor de HTML, que formata e organiza os textos e as imagens. É no editor que também são incluídos os links para as páginas associadas. É nesse campo que a arte de construir sites tem tido os maiores progressos. Os softwares para a construção de sites são cada vez mais práticos, inteligentes e fáceis de manejar. Um dos precursores é o FrontPage. No caso específico do site da revista virtual Barcelona foi usado o Dreamweaver, um dos mais utilizados do mercado, usado tanto por iniciantes que pretendem apenas publicar uma página pessoal quanto pelos profissionais e desenvolvedores, que manipulam home-pages complexas e com recursos avançados. Aos primeiros, ele permite a montagem de páginas com muita facilidade, inserindo e diagramando fotos e textos intuitivamente. Já para quem pretende realizar um trabalho mais sofisticado, como os sites que utilizam recursos avançados de programação, como e-commerce, Java ou formulários interativos, o programa permite acesso também ao código fonte. Com esse programa, em sua versão atual MX, o usuário amador poderá montar sua homepage com alguma sofisticação, mesmo sem ter conhecimento do assunto. 53 É preciso experimentar caminhos novos, questionar as noções virgentes até vislumbrar conceitos totalmente originais. Porém, alguns efeitos como gif´s animados e flashes são de grande impacto estético, mas um problema freqüente quanto a sua utilização é a falta de critérios ao usá-lo. Não são todos os conteúdos que se adequam a eles. No webdesign a temperança também é importante e muitos recursos são utilizados sem levar em consideração a identidade cultural do usuário. “Shows de efeitos” não devem ser usados sem motivo. Dessa forma a própria liberdade de criação que desfruta o webdesign pode ser afetada no instante que a desordem estética se põe como um entrave ao seu exercício pleno. Isso porque o caos e o uso indiscriminado de recursos pode comprometer a própria navegabilidade do site. Outro ponto é o excesso de recursos de ferramentas para interatividade, isso pode deixar o site muito pesado. Se for levado em consideração o imenso número de culturas originais que o mundo abriga, como a sertaneja por exemplo, imagine-se então quão grande será a quantidade de conceitos originais surgidos no âmbito do webdesign. O que não se pode, é continuar no atual estágio de nivelamento e falta de critérios estilísticos que nos encontramos. Por isso, é desprezível o argumento de que por ser uma tecnologia americana, é impossível superá-los e deixar de copiá-los. Afinal, a história nos mostra que se, por exemplo, o avião é uma invenção brasileira em terras francesas, a aviação obteve seus maiores avanços com a contribuição da indústria americana. 4.7.3 Manutenção e Atualização O terceiro estágio é fundamental, pois a manutenção e a atualização de um site deve ser constantes. Sem isso, os visitantes perdem o interesse pela publicação. Quem continuaria a ler um jornal impresso que freqüentemente comete o desleixo de repetir notícias antigas? Por isso tudo, um web site, como qualquer outra publicação de uso mais antigo pela humanidade, nunca é um produto fechado, pronto e acabado. 54 4.8 A AURORA DO WEBJORNALISMO O início da era da informação digital, no final dos anos 80, gerou nos EUA a iniciativa de oferecer conteúdo jornalístico pela Internet. Na época, a transposição da produção jornalística estava resumida aos serviços de notícias específicas para um segmento de público. Porém, antes disso, o 1º grande jornal que ofereceu serviços on-line foi o The New York Times, em meados dos anos 70, com o seu conteúdo oferecido para assinantes que possuíam pequenos computadores, em forma de resumos e textos completos de artigos atuais. O mundo virtual é dentre todos os meios de comunicação, aquele que tem tido o maior número de avanços dentro do menor espaço de tempo possível. Isso, porque a tecnologia digital tem permitido: “As únicas coisas que evoluem rapidamente são as que não são práticas. Em tecnologia, o que não evolui é justamente aquilo ao qual as pessoas se adaptam”.(VAZ. 2002. P. 3). Dessa forma deve-se evoluir, não só em termos de design, mas também de conteúdo e os respectivos modos usados para passar esse conteúdo, ou seja, reportagens, artigos, crônicas, tabelas, entrevistas e etc. Da mesma forma que uma reportagem de jornal do século XIX em quase nada se parece àquelas também de jornal, só que do século XXI; as de webjornalismo por sua vez têm características próprias, adequadas ao meio (computador), custo e tempo do usuário que teve suas opções de fontes de informações duplicadas. Todavia, há certa acomodação em termos de evolução do texto no webjornalismo. São poucos os que em detrimento da inovação copiam formas e repetem conceitos já existentes e não pesquisam sobre novas estruturas de informação textual. Logo, volubilidade propiciada pela web é desperdiçada. Com a Revolução Virtual, o jornalista agora tem a possibilidade de disponibilizar com mais rapidez as informações que possuem, da mesma forma, seu público alvo tem a oportunidade de, pela primeira vez na história, interferir no processo de comunicação de massa para ser o sujeito da ação, na medida que a Internet lhe abre a oportunidade de escolher a informação que mais lhe interessa. Uma questão têm sido cada vez mais discutida: a qualidade da informação: Antes, a mídia vendia informação (ou entretenimento) a cidadãos. Agora, via Internet, vendem consumidores a anunciadores. E quanto mais alto for o número de consumidores, mais alto será o valor dos anúncios publicitários. Com isso, a informação, na Internet, é oferecida como uma isca: há atualmente mais de 3 mil jornais com acesso livre e gratuito na Internet. Sem contar os canais de rádio e televisão. E a informação é dada de graça, por que os patrões da 55 mídia deveriam gastar muito para consegui-la? Eles não querem mais pagar por um produto que depois vão vender barato ou oferecer gratuitamente. Por isso, satisfazem-se cada vez mais com uma informação barata, cuja qualidade não parou de cair, em qualquer lugar, nesses últimos dez anos. (RAMONET. 2002: p. 41). 4.8.1 O primeiro jornal virtual do mundo Em Julho de 1999, entrou no ar o Diário Digital (www.diariodigital.pt), em Portugal, considerado o primeiro jornal virtual que desenvolvia conteúdo específico para a Internet em todo o mundo. 4.8.2 O Webjornalismo no Brasil No Brasil, o primeiro jornal brasileiro a fazer uma cobertura completa no espaço virtual foi o Jornal do Brasil, em 28 de maio de 1995. Mas, na época, o JB apenas transcrevia o conteúdo de sua versão impressa para a Web. Só em 1996, o Universo On-line lançou o 1º jornal em tempo real em língua portuguesa, da América Latina, o Brasil On-line. Porém, o 1º jornal on-line concebido e produzido especificamente para a Internet brasileira, o Último Segundo, só entrou no ar no início de 2000, através do provedor de acesso IG (Internet Grátis). 4.9 LEITURA Em termos cronológicos, espera-se que o leitor de uma publicação periódica on-line passe por três fases: a) Leitor; b) Ciberleitor; c) Cibercidadão. 4.9.1 Leitor O leitor contemplativo de livro e hegemônico, surgiu no final da Idade Média (século XV) e foi predominante até meados do século XIX, caracterizava-se pela 56 ausência de pressa, pois se deparava com objetos e signos duráveis, palpáveis e imóveis: pinturas, gravuras, mapas, partituras, além de livros. Sua relação com esses signos perenes obedece quase sempre a uma seqüência clara, e a visão é o sentido mais requisitado, a serviço de sua imaginação. Já o leitor apressado da sociedade industrial; e em certas culturas, pós- industrial; é um habitante das grandes cidades que se move em meio a uma miríade de signos urbanos móveis que povoam as metrópoles como sons e ruídos da vida urbana, a palavra escrita agigantada em letreiros e outdoors, telas luminosas com imagens em movimento etc. Ele também é um consumidor de publicações impressas, ouvinte de rádio e, mais tarde, da televisão. Nesse ambiente quase tudo é fugaz, para consumo rápido e imediato, como o jornal por exemplo. Para a semioticista Maria Lucia Santaella Braga, depois da revolução industrial esses dois tipos de leitor passaram a coexistir na sociedade (2001: p.71). 4.9.2 Ciberleitor É tão somente um leitor já adaptado à leitura de textos virtuais, isto é, acostumado a leitura de textos noticiosos mais curtos que uma publicação impressa, a leitura não linear propiciada pelos links (em hipertexto), a disponibilidade de leitura em tempo real de matérias correlatas e de arquivo e a disponibilidade de recursos multi-midiáticos como som, vídeo e galeria de imagens que complementam a matéria. Navegar é uma atividade mais complexa do que ler um livro ou ver um programa de TV. “O internauta está num estado permanente de prontidão perceptiva e sua atividade mental deve estar em perfeita sintonia com as partes motora e cognitiva. A linguagem do mundo virtual só existe quando o usuário atua e interfere na mensagem” (BRAGA. 2001: p. 70). Para a semioticista, o usuário da Internet é um leitor imersivo, um ser mergulhado nas arquiteturas do ciberespaço10, onde todas as formas de signos (som, imagem e texto) encontram-se lado a lado, digitalizadas e interligadas por redes de dados sem fim e começo aparentes. Quem estabelece a ordem dessa 10 Termo originado do termo cyberspace que por sua vez surgiu de Cybernetics e encontrado pela primeira vez no livro de ficção científica Neuromancer (1984) de William Gibson, uma rede de computadores de realidade virtual. C e Cyber são indistintamente usados para tudo o que se refere a computadores, Internet, tecnologia da informação e outros assuntos correlatos. 57 informação fragmentada disponível no universo virtual é o usuário. Ainda que tenha de passar muitas vezes, por pontos preestabelecidos pelos autores das páginas eletrônicas – os links, atalhos que ligam os incontáveis fragmentos de informação que flutuam pela rede –, cada internauta tece sua teia particular de conexões, de modo asseqüencial e multilinear, às vezes com uma lógica que é peculiar apenas a ele e a mais ninguém. 4.9.3 Cibercidadão Por sua vez, será o leitor que não está apenas em busca de notícia, mas de compartilhar experiências e se expressar, como é o caso das comunidades virtuais. Com relação às notícias virtuais essa fase já está presente, sempre que está à disposição do leitor um espaço para que ele dê sua opinião sobre o assunto tratado junto à redação ou aos demais leitores. Por isso, a Internet é a única mídia inteiramente interativa e dialógica. No livro, jornal, rádio e TV, a comunicação tem um só sentido –do emissor para o receptor. O telefone e o fax são interativos, mas só conectam um número limitado de pessoas e são monossemióticos – o primeiro só transmite o som e o segundo textos (e imagens) sobre papel (ibid.). 4.10 LIBERDADE DE EXPRESSÃO A Internet dá vida nova aos princípios da liberdade de expressão, fundamental para que a imprensa livre exista. Nenhum outro meio possibilita um fluxo de informações tão livre, que ultrapassa os limites nacionais existentes e alcança uma tal quantidade de pessoas a tão baixo custo. A Internet também favorece a atividade política porque ela fortalece o sistema governamental democrático, uma condição para o crescimento econômico. Nenhum outro meio tem causado tanto incômodo aos governos de Estados totalitários, pela facilidade que seus cidadãos têm de expressar opiniões incômodas ou perigosas para os governantes. Para a ciberantropóloga Paula Uimonen da Universidade de Estocolmo: Independente do sistema econômico imperante, a tarefa dos meios [de comunicação] nos países em desenvolvimento não consiste em difundir informações ou servir como tribuna para o debate público, mas principalmente em manter e facilitar o controle político. Nesses 58 países, a liberdade de imprensa é no máximo um ideal difuso, com que ninguém se compromete verdadeiramente (2000:26, tradução nossa). A Internet representa um importante passo para o surgimento de uma imprensa livre nos pequenos municípios, como Barcelona, por exemplo, porque o veículo, seja apenas um site, portal ou revista virtual, não está sujeito a empastelamentos; embargo de papel, tinta ou anunciantes. Não é preciso que se tenha uma sede fixa dentro dos limites do município para o qual escreve, a mesmo que queira. Pode-se construir um site e hospedá-lo num provedor de uma grande cidade ou até de outro pais, bem longe de qualquer pressão ou influência do poder local. 4.11 DEMOCRATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO A proposta da revista virtual Barcelona é consciente da importância que adquirem os meios de comunicação no espaço pedagógico, na formação do cidadão para a democracia, a ética e a liberdade de expressão. É importante também tirar o máximo de proveito da revolução da tecnologia da informação que alterou os conceitos clássicos de “modo de produção”, “conhecimento” e “capital”. Por último é preciso analisar que efeitos a revolução da informação trará para a economia, cultura e sociedade de pequenos municípios. Pois pela primeira vez na história da humanidade, um pequeno povoado pode ter acesso a um veículo de comunicação de baixo custo e inúmeras possibilidades. É interessante ressaltar que todos; empresas, escolas, bancos, ONG´s municípios dentre outros, são obrigados a ter uma estratégia comunicacional. Os pequenos municípios não a têm por falta de interesse público ou privado. A revista virtual Barcelona é o único meio de acesso virtual ao município de Barcelona, Brasil. Esta revista nasce fundamentada na convicção de que não é preciso muito para se ter um bom veículo informativo, especialmente hoje em que os recursos de mídia são inúmeros, ilimitados e de fácil acesso. A Internet é o meio mais democrático de informação, porém de acesso ainda muito restrito. Mas a tendência é que seja cada vez mais difundida com a diminuição dos preços dos equipamentos de informática. Tal e qual ocorreu com o aparelho de televisão, dentro de algum tempo quase todos os casebres de favelas pelo mundo estarão on-line. 59 A preocupação de difundir o pensamento e o trabalho de intelectuais e leitores barcelonenses, ou de autores ligados ao semi-árido, estará viva desde o primeiro momento. Ao fazê-lo, estreitarão ainda mais as relações da revista com as forças progressistas e parceiros preocupados em estimular o avanço do pensamento crítico. Tendo em vista que não é possível construir um mundo e um país novo sem enfrentar o controle da informação. A revista virtual Barcelona é facilmente localizável porque ela está inscrita em um dos mais acessados buscadores da Internet, o Google, <http://www.google.com.br>. Espera-se que os leitores entrem em contato com a revista virtual através de email ([email protected]), do blog (www.barcelona.blogger.com.br) e do grupo de discussão (www.grupos.com.br/grupos/barcelonarn) e informem sobre o que acham de seu conteúdo, bem como participem das discussões levantadas e façam críticas e sugestões. 60 5 ...PARA UM PEQUENO MUNICÍPIO SE INFORMAR SOBRE SI MESMO... Segundo relatório do PNDU – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (1999) a população mundial contava apenas com 2,4% de usuários de Internet, isto é, 97,6% da população nunca tinham utilizado Internet. Eram apenas 0,8% na América Latina e no Caribe; 0,1% na África sub-saariana; 0,004% no Sudeste Asiático. Além disso, 88% dos internautas vivem em países industrializados que, juntos, representam apenas 17% da população mundial. Está surgindo uma nova forma de segregação social e isolamento. 5.1 EXCLUSÃO A exclusão digital que não é necessariamente uma questão recursos disponíveis, mas também de consciência e de mentalidade política. Por isso é preciso diminuir desde já através de um projeto social o abismo das populações “info-ricas” das “info-pobres”, isto é, lutar contra o fosso “digital”, a fim de criar as condições adequadas para que as populações pobres possam expressar efetivamente suas opiniões e idéias. Renovando a democracia participativa local. Por isso, é importante democratizar a informação através de um veículo de comunicação que é, ao mesmo tempo, um trabalho científico pragmático em seus objetivos. Para Manuel Castells: Em uma sociedade na qual o poder e a riqueza das pessoas, empresas e países dependem da geração de informação, a educação é o elemento fundamental de progresso. Mas também de desigualdade e de exclusão social. Se há algo que precisa mudar, é o sistema educacional. A tecnologia faz com que, através da desigualdade de acesso à informação, se ampliem as diferenças sociais. Então, numa sociedade em que o mercado é fundamental na ampliação de recursos, sem uma ação política deliberada haverá aumento da desigualdade. (1999: p. 8) 61 Já para outros pesquisadores, a democratização da informática, e por tabela da Internet, deve acontecer de modo estudado pelos governos no sentido de promover a real (e não aparente) difusão da informação. Sempre que se anunciam medidas governamentais para a ampliação do acesso à Internet, há alguns aspectos geralmente negligenciados que precisam ser destacados: Não basta que o estado queira garantir a todos os cidadãos o acesso à Internet. O aumento da presença da população na rede apenas transferiria o desnível social para dentro do espaço virtual. Caso a comercialização da informação do cyberspace continue progredindo, o cidadão conectado à rede experimentará uma nova forma de marginalização. Para resolver esse problema, o Estado precisa oferecer, ao lado de sites gratuitos de e-government, as possibilidades de criação de redes livres para os cidadãos. Esse aspecto, descrito Omo “more community” e “more content” no World Development Report de 1999, deveria ter a finalidade de franquear a todos os cidadãos, independentemente de sua situação econômica, o acesso gratuito a todas as informações sobre questões de natureza econômica e cultural de seu entorno (GERMAN. 2001, p. 46). 5.2 CENSURA VIRTUAL O tempo está ruim para os ditadores e isto se deve em grande parte aos avanços na área das comunicações. A Internet, então, é, para muitos, um fenômeno apocalíptico que tem deixado insone àqueles cuja fé ainda está nos dogmas do totalitarismo de direita ou de esquerda. A Internet permite o acesso irrestrito a qualquer tipo de informação e se já era difícil impedir a circulação de jornais reais de oposição, imagine o que fazer então com algo virtual que vem não se sabe de onde e formiga nos fios de linha telefônica, mais recentemente nos satélites. A web incomoda porque ela lembra anarquismo. Sem desejar, a “melhor sociedade capitalista” contraditoriamente deu um tiro no próprio pé ao dar um instrumento poderoso a uns inimigos que sempre quiseram sua destruição e já andavam criando mofo – os anarquistas. Há muitos negócios sendo feitos, mas até agora como prova o caso da livraria virtual “Amazon.com”, impera o paradoxo do capitalismo sem lucro. Porém, enquanto boa parte do mundo civilizado está on-line, países como a Síria e o Iraque que são capazes de torturar quem disser que lá não há respeito aos 62 direitos humanos, dão graças a Alá pela precariedade dos seus serviços de telefonia ter-lhes poupado da “besta-internet”. Mas, outros países não tiveram a mesma sorte como. Por exemplo a Arábia Saudita, os patrícios de Maomé passaram dois anos desenvolvendo um sistema de conexões que convergem para um provedor central do governo onde o acesso a rede é controlado. A China, por sua vez, que assume características de camaleão ao assumir a inacreditável feição de um “comunismo pós-capitalista” é apenas uma ditadura oportunista, tanto que o Exército do Povo está convocando os serviços de hackers, os piratas de computadores, prometendo perdoar suas estripulias caso se tornem “guerreiros cibernéticos”. Ao mesmo tempo, esse país é um dos que mais censura o jornalismo virtual. Em Cuba só existem serviços de e-mails, e jornalistas já foram presos por usar a Internet para enviar notícias ao exterior, o Irã controla informações políticas, a Malásia censura sites noticiosos e o Vietnã alegando razões culturais bloqueia jornais virtuais do exterior, e ainda, imagina-se porque, discussões sobre democracia e direitos humanos. Porém a contradição mais berrante foi o caso da guerrilha islâmica ultra-ortodoxa Taliban, no Afeganistão, ao mesmo tempo em que destruíam computadores e televisores quando governavam aquele país em sua guerra santa, eles mantinham um site na Internet. Na verdade, a censura em tais países tão atrasados atinge todas as páginas virtuais de informação, grande parte delas não necessariamente jornalísticas. Nos paises democráticos há, por sua vez, a preocupação com a pedofilia, violência e a pornografia de livre acesso para menores na rede, mas a diferença está em que estes países discutem tais problemas à luz do código penal. Ainda é preciso esclarecer que a educação da próxima geração deve partir dos pais, essa responsabilidade não devia ser transferida para um governo. Num futuro ainda incerto, quando os cidadãos de alguns países que hoje tem sua imprensa amordaçada saírem de seus casulos isolacionistas tecidos por vontades autoritárias, eles certamente ficarão surpresos com o que haverá nos arquivos dos jornais e telejornais estrangeiros e o que cinematografia mundial produziu sobre seus países ou sobre certos assuntos como sexo, liberdade e direitos humanos. Espera-se que nenhum ocidental seja estraga prazer ao ponto de ir dizer que “o mocinho morre no final!”. Eles terão muito o que conversar. É dificílimo contrariar as próprias bases nas quais a Internet está fundamentada – a liberdade, por exemplo. Censurá-la é um contra-senso. Mas o totalitarismo não é 63 sensato. Outra questão diz respeito ao censor: Quem poderia ser esse ser iluminado que sabe tudo, sobre o que se deve ou não saber e sobre os meios de burlar sua censura? Ninguém tem o direito, conhecimento ou divindade suficientes para selecionar aquilo que uma sociedade deve ou não saber, seja qual for o conteúdo destas informações. 5.3 CONHECER-SE A SI PRÓPRIO Dentro do universo do ciberespaço, o conteúdo e a estética de um site tem que ter a ver com a cultura na qual ele se insere tanto em termos de conteúdo, design, linguagem e graficamente de acordo com a cultura e os valores estéticos no qual a pequena comunidade possa se reconhecer. Por em destaque a identidade do município e contribuir para manter vivo o debate político numa sociedade cada vez mais influenciada pela televisão, pelos grandes jornais e portais virtuais. Por exemplo, se pensarem termos arquitetônicos, é como se fosse comparada uma casa pré-moldada de uma feita sob medida para o clima, a localização, a necessidade espacial da família. A mesma coisa acontece com a construção de um site noticioso e educativo. 5.4 SOLUÇÕES DE COMUNICAÇÃO Em seu livro “A sociedade em rede”, Manuel Castells está convicto que o mundo entrou em uma nova etapa multicultural e interdependente que só poderá ser entendida e transformada a partir de uma perspectiva múltipla que reúna identidade cultural, sistemas de redes globais e políticas multidimensionais. Por isso, o ciberespaço é um meio ideal para a difusão da cultura sertaneja pela Internet, um dos meios mais modernos e democráticos de comunicação que existe. Além disso, a universalização da web é ideal para não só estimular as relações culturais dos barcelonenses com conterrâneos residentes em outros lugares, como também de Barcelona com outros municípios brasileiros e/ou povos estrangeiros. A Internet ainda pode ser um estímulo ao sentimento de cooperação e voluntariado, ao estimular o engajamento de estudantes e pessoas instruídas locais, bem como estudantes universitários barcelonenses em outras cidades, na participação da 64 revista virtual através de textos, fotos, ilustrações, charges, depoimentos e artigos que contribuam para a informação da população. Sensibilizá-los da importância de se ter uma missão a desempenhar junto à sociedade, do mal que representa a indiferença e da necessidade de se ter uma imprensa livre e educativa como baluarte da democracia. Porém não é isso que têm sido priorizado nos últimos anos pela imprensa. Para o jornalista Eugênio Bucci: O princípio de democracia segundo o qual o jornalismo deveria suprir a função de informar o cidadão e, assim, alimentar o debate público está em crise aberta. Está em crise a idéias de que o jornalismo deve atender incondicionalmente o direito à informação, de que todo cidadão é titular. (Jornal do Brasil, 22/08/02, p. 4). Dentro dessa visão “educomunicativa”; a Internet pode, pela primeira vez na história de muitos municípios, atuar na formação da opinião pública da população. Já que para ser ter opinião pública é preciso ter veículos de comunicação, estes ainda distantes da realidade de cidadãos que não podem comprar jornal nem têm poder aquisitivo para se tornar economicamente atrativa para uma estação de rádio ou TV. Uma outra possibilidade seria ter tais órgãos financiados pelo governo. Todavia, sucessivos governos dizem ter outras prioridades, quando não declaram simplesmente a ausência de verbas para tal. Outra solução seria a formação de cooperativas beneficentes entre a população interessada em não ficar à margem dos meios de comunicação e, inclusive, poder ter o registro cotidiano de sua história feito através das páginas de um periódico. Veja o caso do Andøyposten. Editado por Bard Michaelsen, o jornal tem uma tiragem de 2.600 exemplares e é publicado na remota ilha de Andøy, na Noruega. Por ter uma população muito reduzida, a pequena ilha não possuía nenhum veículo de comunicação. Contudo, é preciso lembrar que nas nações democráticas até os cidadãos de regiões inóspitas continuam sendo cidadãos e têm todos os direitos legados aos demais. Os menos de 3.000 habitantes da ilhazinha norueguesa sempre acharam que tinham direito a ter um periódico em sua terra, por mais “insignificante” que fosse. Então, a solução encontrada foi encontrada ao se formar um grupo de 200 acionistas que periodicamente ajudam a pagar os custos do jornal. O que não seria possível fazer com os lucros da tiragem de 2.600 exemplares por edição. O Andøyposten sai às ruas três vezes por semana nas versões impressa e 65 virtual. Para isso necessita de apenas 10 empregados que produzem 1.800 páginas anualmente. Com o advento das novas tecnologias, tudo muda. Se hoje muitos dos recursos são dispendiosos, é preciso lembrar que, apesar disso, na história humana nunca foi tão fácil e barato se comunicar. É evidente, porém que, não antes nem depois, mas durante esse processo, é preciso que a sociedade e o governo trabalhem juntos no sentido de melhorar o nível de instrução básico de nossa população, pois para Pierre Levy “Para a inteligência coletiva, o principal obstáculo à participação não é a falta de computador, mas o analfabetismo e a falta de recursos culturais”. (2002. p. 3). Para o semioticista Umberto Eco a informática é a ferramenta que mais facilmente poderá acabar com o analfabetismo, sobre isso ele diz: Francamente, não acredito que a humanidade toda vá usar a Internet. A rede vai acabar criando novas formas de divisão de classes. As classes não serão mais baseadas em dinheiro, mas sim em quem tem acesso à informação. Teremos aqueles que vão acessar, manipular e interagir, aqueles que usarão a rede apenas passivamente e aqueles que serão excluídos, os proletários. Quando a divisão de classes se fazia de acordo com a riqueza, era difícil dizer para milhões de pessoas pobres “vou doar milhões de dólares e vocês enriquecerão”. Agora seria mais fácil dar às pessoas analfabetas acesso gratuito à Internet.(2000, p. 2) 5.5 FUTURO DIGITAL A Internet é a infraestrutura de nosso futuro digital – e é um meio de poder proporcionar uma maior transparência da atividade política e pode ajudar a fortalecer as estruturas democráticas. Os governos continuarão a desempenhar um papel específico, quando os cidadãos exigirem dos órgãos governamentais competentes uma política cultural adaptada a nossa época que permaneça atenta às tendências niveladoras dos meios de comunicação social e da indústria do entretenimento. Além disso, as novas tecnologias de comunicação ao propiciar o acesso da informação como bem público, podem aumentar a vigilância sobre as ações governamentais e políticas através da Internet e a promoção e defesa da liberdade de expressão, bem como dos direitos humanos. Sendo assim, o diálogo interinstitucional entre o governo, a sociedade civil e organizações não-governamentais nacionais e estrangeiras serão fortalecidas. Inclusive informando o poder público local sobre a 66 necessidade da liberdade de expressão, direito à informação e sobre a problemática e o papel dos meios de comunicação em municípios pobres. Podendo com isso, exigir administrações mais corretas e democráticas. Só um trabalho de mobilização cidadã pode convencer os governos de países pobres a fazer a liberdade de imprensa e a democratização da informação um assunto público de interesse de toda a sociedade. Tais governos, não podem continuar a ser indiferentes às condições sócio-econômicas e culturais de seus cidadãos. A revista virtual Barcelona pretende fazer uso do desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem as ofertas on-line, em franca ascensão em todas as regiões do mundo, tornando a Internet um meio de comunicação quase indispensável para qualquer empreendimento. Ela também pretende provocar alterações profundas, verdadeira mudança de parâmetro, na maneira como as pessoas do município se relacionam e se informam a respeito da realidade. Criar novos “universos” e “enterrar” velhos paradigmas. Para Manuel Castells, surgiu uma nova economia nas últimas duas décadas do século XX. Tal modelo teria duas características básicas: seria informacional e global ao mesmo tempo: a)Informacional porque os macrorganismos da sociedade (empresas, nações) dependem de suas capacidades para gerar, processar e distribuir informações; b) Global porque todas as atividades produtivas que envolvem o consumo e a circulação de mercadorias estão organizadas em fluxos, em conectividade. Segundo Castells, o momento histórico atual aponta para a construção de uma organização humana em torno da informação e das tecnologias que geram a própria informação. O que caracteriza, portanto, as sociedades contemporâneas é a aplicação de conhecimento para gerar mais conhecimento, como um anel que se retro-alimenta, todos os dispositivos sociais estariam engajados na produção de informação para se produzir e obter mais informação. Sobre a Era da Informação, Castells a caracterizada seguinte forma: a) A informação é a matéria-prima; b) Todas as atividades humanas são condicionadas – pela informação; c) A informação é a lógica das redes na produção de saber, na economia, produção de bens e nas relações sociais. 67 Surge uma nova estrutura social manifestada conforme a diversidade de culturas e instituições em todo o planeta na qual haverá: a) Redefinição das relações entre homens, mulheres e crianças (sexualidade e personalidade); b) Consciência ambiental intrínseca das instituições com o apoio estatal; c) Sistemas políticos mergulhados em uma crise de legitimidade; d) Movimentos sociais fragmentados (locais); e) Diferenças de identidades primárias, religiosas, étnicas, territoriais, nacionais; f) Busca pela identidade coletiva ou individual em um mundo de fluxos globais de riquezas, poder e imagens. Para Castells, a tecnologia não determina a sociedade: incorpora-a. Ela também não determina a inovação tecnológica: utiliza-a. Ele afirma que a “sociedade das redes” é na verdade, o sistema capitalista se renovando. Em sua face mais complexa, poder-se-ia falar em uma verdadeira revolução econômica, política, científica, religiosa e cultural operada pela alta produtividade dos bens materiais e tecnológicos aliados a grande produção de idéias reveladas sob os auspícios da globalização. 5.6 FUTURO DIGITAL PAGO Para alguns, hoje a Internet já não representa mais apenas o sonho de um mundo harmonioso, cooperativo e sem fronteiras. A banalização da web deu origem a uma comunicação imperial, cuja educação seria somente um aspecto dessa tecnologia: Muitos consideram, não sem ingenuidade, que quando mais comunicação em nossas sociedades, mais harmonia social haverá nelas. E menos ainda quando ela é controlada por grandes empresas de multimídia ou quando ela contribui para aumentar as diferenças e as desigualdades entre os cidadãos do mesmo planeta. A globalização dos mercados, dos circuitos financeiros e do conjunto das redes imateriais leva a uma desregulamentação radical, com todas as conseqüências – como o declínio do papel do estado e dos serviços públicos. É o triunfo da empresa e de seus valores, do interesse privado e das forças do mercado. (RAMONET. 2002: p. 39). 68 Na visão desses pensadores, desde a fusão em fevereiro de 2000, entre a AOL – America On-line e o conglomerado Times-Warner-CNN. Este último é o primeiro grupo de comunicação planetária, e a AOL, um dos maiores portais de acesso a web. Com essa fusão, a função comercial da mídia de massa está reforçada. Vender torna-se um objetivo central. O temor é que com essa fusão, a Internet até aí relativamente independente, tende a se tornar um elemento integrado no sistema midiático. E sendo assim, vir a tornar-se até uma ameaça para a mídia tradicional, na medida em que constitui uma plataforma capaz de integrar cada vez mais a televisão, o cinema, a imprensa (inclusive as edições escolares), a música, os videogames, a informação, os dados financeiros, o esporte, o banco pessoal, a compra de ingressos de espetáculos ou de passagens, a secretária eletrônica, a meteorologia, a documentação etc. Pois a Internet é hoje a única empresa integrada capaz de fornecer, 24 horas por dia, sete dias por semana, informações, conhecimentos, documentação, distrações, lazer, serviços e compras. A Internet toma assim, cada vez mais a forma de um imenso centro comercial planetário. Transforma a mídia de massa em máquinas de vender todo tipo de produtos e serviços e, dentro desses serviços, a educação. Com o monopólio e a comercialização da Internet é cada vez maior o medo com relação à censura e outras práticas absurdas, como têm ocorrido em países nãodemocráticos, como a China, a Arábia Saudita e o Irã. Sobre isso é importante lembrar: Até hoje, dizia-se que a televisão tinha três funções: informar, educar e divertir. E a maior crítica que se faz da televisão, enquanto mídia de massa, é essa última função: divertir. O entretenimento pode ser transformado em alienação, cretinização, embrutecimento; e levar à descerebralização coletiva, ao condicionamento das massas e à manipulação das mentes, principalmente dos jovens. Hoje o maior receio em relação a Internet é de que as três principais funções dessa nova mídia dominante passem a ser: anunciar, vender e vigiar. (Ibid. p. 40). Anunciar porque a economia da Internet é essencialmente de natureza publicitária. A gratuidade na rede, quando há, só é possível porque anunciantes assumem os custos do funcionamento do sistema, para que este repercuta nas compras feitas pelos internautas. Vender porque este é, para muitos, o objetivo principal da mídia Internet. O que já era na tradicional, mas a diferença é que com a mídia tradicional, não se podia comprar diretamente. Por fim, vigiar se torna uma função primordial não ó para regimes totalitários que querem cercear a liberdade de 69 expressão de seus cidadãos como também para as empresas que fica sabem quais as preferências culturais, ideológicas, lúdicas e de consumo de quem navega pelo ciberespaço. Podendo assim oferecer seus produtos ou vender seus dados para outras empresas. 5.7 VOLUNTARIADO, UM OUTRO CAMINHO Há alguns anos, o mundo e também o Brasil viram o início de uma onda de civismo que defende a participação do voluntariado cidadão na luta por uma sociedade mais justa ou, ao menos suportável para os mais pobres. Prova disso são as ONG´s (Organizações Não-Governamentais). O ano de 2001 foi escolhido pelas nações Unidas como o Ano Internacional do Voluntariado e isso representa o reconhecimento internacional do voluntariado como fenômeno contemporâneo e global. Um dos maiores símbolos do combate a exclusão, foi Herbet de Souza com a sua “Ação da cidadania contra a miséria e pela vida”. Atualmente, o voluntariado ganhou status oficial com o programa do Governo Federal “Fome Zero”. O programa é o carro-chefe de um conjunto de iniciativas e representa um chamamento para uma ação coletiva no combate à forma mais dramática e perversa de desigualdade social: a exclusão dos direitos fundamentais, inclusive os de se alimentar e trabalhar. Todos podem ser voluntários: Trabalho voluntário é uma experiência aberta a todos. Não é só quem é “especialista” em alguma coisa que pode ser voluntário. Muito pelo contrário: todos podem contribuir, a partir da idéia de que o que cada um faz bem, pode fazer bem a alguém. O que conta é a motivação solidária, o desejo de ajudar, o prazer de se sentir útil. Muitos profissionais preferem colaborar em áreas fora de sua competência específica, exatamente para se abrir a novas experiências e vivências. (OLIVEIRA. 2002: p. virtual) A responsabilidade social é um dever de todos: empresários, profissionais liberais, igrejas, governos, donas-de-casa, operários, servidores públicos e estudantes. Basta que cada um contribua, dada a sua área de atuação profissional, para que se tenha uma sociedade melhor. Se um agricultor pode doar alimentos ou um médico dedicar algumas horas da sua semana a clinicar gratuitamente, um estudante universitário, sobretudo os de instituições públicas, pode também tomar iniciativas comunitárias que sirvam de compensação para pessoas desconhecidas, 70 mas que ajudam a pagar sua faculdade e o que é mais importante: precisam de ajuda. Se, por exemplo, estudantes de História fizessem monografias sobre os municípios do interior de onde, inclusive, muitos deles vêm ao invés de mais um estudo sobre a Revolução Francesa ou II Guerra Mundial. Esse material poderia futuramente embasar um livro, ou melhor, tornar-se um livro didático para as crianças destes municípios. Se a monografia também pudesse estar na Internet, o que não implica praticamente em nenhum custo, todo o conteúdo poderia ser acessado e aproveitado em sala de aula. Ao ter responsabilidade social e usar conhecimentos das mais diversas áreas do conhecimento sob os auspícios promissores do tripé: Comunicação – Educação – Informática, a revista virtual Barcelona deseja, tendo na maioria das vezes fazer uso primeiramente da história oral, conhecer lembranças, sentimentos, experiências pessoais e familiares, recolher relatos de acontecimentos marcantes em suas diferentes interpretações e mostrar uma identidade, por mais virtual que seja, ao povo para a qual ela se destina. 71 6 ...E DE ACORDO COM SUA PRÓPRIA CULTURA. Na revista virtual Barcelona destaca-se a aparência tipicamente sertaneja, ela é resultado do compromisso com o Movimento Armorial, movimento estético idealizado por Ariano Suassuna (vide anexo 6) na década de 70 de resgate e revalorização da cultura do sertão brasileiro e representa a primeira tentativa de reunir artes para a construção de uma cultura clássica brasileira. Fazem parte deste movimento personalidades como o músico Antônio José Madureira, o artista plástico José Brennad, o multiartista Antônio Nóbrega, além do próprio Ariano Suassuna. 6.1 INFERIORIDADE CULTURAL O filósofo francês Edgar Morin é um entusiasta da mestiçagem brasileira. Porém ele vê algo de errado com os brasileiros: uma síndrome de inferioridade cultural. Numa entrevista à imprensa brasileira ele declarou: Há um problema sério que é a síndrome do complexo de inferioridade cultural, que tanto vi em seu país. Mais que problemas estruturais e históricos que dificultam a relação entre os países mais e menos desenvolvidos” – explica Morin – “essa síndrome é responsável por uma série de absurdos na assimilação da própria cultura. Escritores como Gabriel Garcia Márquez, Jorge Amado ou Borges precisaram ser conhecidos na Europa para, apenas então, ser reconhecidos em suas nações ou nos vizinhos de língua. (MORIN apud GOUVEIA. 1997: p. 21). Sabe-se que essa constatação psicológica não é inédita, muitos autores “explicadores” do Brasil a têm abordado de forma ampla ou superficial e formulando as mais diferentes teorias: Retrato do Brasil, 1928 (Paulo Prado, 1869 –1943); Casa Grande & Senzala, 1933 (Gilberto Freyre, 1900 –1987); Raízes do Brasil, 1936 (Sérgio Buarque de Holanda, 1902 – 1982); Viva o Povo Brasileiro, 1994 (Darcy Ribeiro, 1922 – 1997) dentre outros. Já se foi discutido se essa síndrome de inferioridade cultural, não seria resquícios coloniais de um povo que não mandava em si e que esperava que todas as decisões importantes fossem tomadas pela metrópole. A questão é: porque não, à exemplo de outros países, não fazer as passes com a metrópole, ou melhor com esse passado colonial? Antes dos 72 portugueses colonizarem o nosso país e trazer os escravos o Brasil não é ainda o Brasil. Em sua última instância, o Movimento Armorial é a concretização dessas passes porque a cultura popular brasileira que serve de base cultural para o movimento é toda ela indígena, negra e portuguesa. Há diversas pistas dentro da própria cultura popular do sertão que provam essa irmandade entre colonizador e colonizado. Há no interior do nordeste brasileiro, também em Barcelona, um ciclo de histórias populares de tradição exclusivamente oral que relatam as peripécias de um “sabido” que sempre evitava que o rei lhe pregasse uma peça, a despeito dos esforços reais. O povo chama o seu anti-herói de “Camonge” que nada mais é do que um personagem do romance picaresco, à maneira de João Grilo, personagem de diversos folhetos de cordel e da peça “O Auto da Compadecida” de Ariano Suassuna. Provavelmente a partir de apenas uma história, surgiram várias outras que são passadas através da tradição oral nordestina. As histórias ora parecem se ambientar no sertão, ora lembram Portugal. Muitas vezes o anti-herói tem ares de contestador e em outras parece conformado em estar inserido numa sociedade de subserviência nobiliárquica. Pois bem, o “sabido” Camonge tão querido pelo povo sertanejo, é na verdade a corruptela do nome do poeta português Luís de Camões, o autor de Os Lusíadas. 6.2 O MOVIMENTO ARMORIAL O Movimento Armorial foi idealizado pelo escritor paraibano Ariano Suassuna e lançado oficialmente no dia 8 de outubro de 1970, através de um concerto da Orquestra Armorial de Câmara, intitulado “Três séculos de música nordestina: do Barroco ao Armorial”, e de uma exposição de gravuras, pinturas e esculturas. O concerto e a exposição aconteceram na igreja barroca de São Pedro dos Clérigos, bairro de São José, Recife. Nos dias seguintes ao seu lançamento, o movimento não teve praticamente nenhuma repercussão na imprensa. Mas em 1971 o Movimento Armorial já começa a repercutir na imprensa brasileira, boa parte do mérito se deve as “aulasespetáculo” que Ariano Suassuna começa a levar para vários Estados do Brasil. Além da Orquestra, Ariano também usa pinturas, gravuras, desenhos e livros de poemas pala ilustrar suas aulas, onde há a explicação sobre o que é o Movimento 73 Armorial, suas origens, seus objetivos e onde Ariano começa a traçar seus planos de defesa da cultura brasileira. O movimento vira tema de muitos debates além fronteiras daquilo que Ariano considera o “coração do Nordeste” – Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. “Armorial” é um substantivo que designa o livro onde vêm registrados os brasões. Ariano Suassuna passou a empregá-la também como adjetivo. Transformando-a, portanto, em um neologismo para identificar a arte que defendia e defende, uma arte erudita que, baseada na cultura popular, é tão nacional quanto a arte popular. Para Ariano, é imprescindível que se combata o processo de vulgarização e descaracterização por elementos estranhos à nossa cultura. Suassuna justifica o emprego do adjetivo “armorial” da seguinte forma: a primeira razão é puramente uma questão estética, a beleza da própria palavra e o outro é que para ele a heráldica, isto é, a arte dos Brasões, no Brasil é eminentemente popular, presente desde os ferros de marcar boi do sertão nordestino, dos estandartes, até nas bandeiras e escudos dos clubes de futebol espalhados pelo país. Afirma Suassuna: Foi aí que, meio sério, meio brincando, comecei a dizer que tal poema ou tal estandarte de Cavalhada era “armorial”, isto é, brilhava em esmaltes puros, festivos, nítidos, metálicos e coloridos, como uma bandeira, um brasão ou um toque de clarim. Lembrei-me, aí, também das pedras armoriais dos portões e frontadas do Barroco brasileiro, e passei a estender o nome à Escultura com a qual sonhava para o Nordeste. Descobri que o nome “armorial” servia, ainda, para qualificar os “cantares” do Romanceiro, os toques de viola e rabeca dos Cantadores – toques ásperos, arcaicos, acerados como gumes de faca-de-ponta, lembrando o clavicórdio e a viola-dearco da nossa Música barroca do Século XVIII. (SUASSUNA apud NEWTON JÙRNIOR, 1999, p. 87). A arte armorial precedeu o movimento, não foi uma iniciativa de um grupo de intelectuais reunidos para escrever um manifesto. Muito antes do lançamento oficial do Movimento Armorial, vários artistas, intuitivamente ou não, já trilhavam o caminho que mais tarde levaria ao Movimento Armorial: uma arte erudita brasileira que se fundamentasse na cultura popular. Nas palavras do próprio Suassuna: É um esforço para encontrar, no Brasil, uma arte que parta de raízes eminentemente populares. Com isso, a pretensão de encontrar uma arte brasileira, latino-americana e universal. O Movimento Armorial não tem uma linha de princípios. É um movimento aberto. Aliás, nós nem gostamos da palavra movimento, porque movimento é quase sempre feito por teóricos, que lançam manifesto e pronto. Nós partimos do trabalho criador. Começamos a criar juntos. Às vezes isoladamente. Descobrimos, depois, características comuns. Então 74 nos unimos e batizamos o movimento com esse nome, que serve apenas de bandeira nessa busca de uma arte brasileira. (SUASSUNA apud NEWTON JÙRNIOR, 1999, p. 89). O Movimento Armorial pode ser dividido em três fases distintas: a primeira fase (1970 a 1975) considerada por Ariano Suassuna como experimental, a fase Romançal iniciada precisamente no dia 18 de dezembro de 1975, com a estréia no Teatro Santa Isabel (Recife) da Orquestra Romançal Brasileira. Essa segunda fase é uma das mais fecundas do movimento. Além da orquestra, é nessa época que é criado o Balé Armorial (origem do atual Balé Popular do Recife) e a estréia de Antônio Carlos Nóbrega de Almeida como teatrólogo, com o espetáculo “A Bandeira do Divino”. Nessa época, pelo país inteiro de criam peças teatrais e balés inspirados no movimento nordestino. Depois do período experimental e romançal, a terceira fase começa em 1981 muito embora se diga que essa data marca o provável fim do Movimento Armorial. Nesse ano é publicado o famoso artigo “Despedida” (Diário de Pernambuco. Recife. 9 de agosto de 1981), no qual como bem disse Carlos Newton Júnior (ibid: p. 94 e 95) Ariano Suassuna se despede não da literatura como se divulgou, mas sim de toda a publicidade em volta da sua produção. A prova disso é que ele continua escrevendo e a todo momento surgem novos artistas que confessam receber influência do Movimento Armorial. O interesse das novas gerações continua grande e Suassuna, onde quer que fale, sempre fala para auditórios lotados cuja presença é marcadamente jovem. 6.2.2 Estética Armorial Durante quase dois anos, Suassuna assinou uma página literária semanal, no extinto Jornal da Semana, do Recife, intitulada “Almanaque Armorial o Nordeste”. Foi nesse jornal que ele propôs, pela primeira vez, uma definição geral da arte armorial: A Arte Armorial Brasileira é aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico dos “folhetos” do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a Música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus “cantares”, e com a Xilogravura que ilustra sus capas, assim como com o espírito e a forma das Artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados. (ibid: p. 97). Há no Movimento Armorial o fundamento de que a arte deve estar ligada a um projeto nacional-popular. A arte deve se inspirar nas tradições populares, sem que 75 isso signifique uma concessão às elites do país, ao reacionarismo de direita ou a sua pior face, o extremismo de direita: (...)Ao defender, por exemplo, certa postura na transcrição da linguagem popular, sem deformações em relação à norma culta, Suassuna está se alinhando a José Américo de Almeida, cuja posição encontra-se registrada já no prefácio de A Bagaceira (1928). Quando à posição do Movimento Armorial em relação ao nacional e ao universal, se coincide com a exposição de Tolstoi para que cada um pinte a própria aldeia, coincide ainda com as idéias de Charles Maurras em Réflexions sur A´llemagne, texto bastante apreciado pelos nacionalistas do modernismo, pelo que se pode perceber em nota de Cassiano Ricardo à 12ª edição do seu Martim Cererê (1928), publicada em 1972. Por outro lado, quando Suassuna apregoa uma arte erudita brasileira fundamentada na cultura popular, a idéia da recriação a partir do romanceiro popular nordestino e de uma heráldica popular brasileira aparece como elemento original e novo, imprescindível para o entendimento da arte armorial. (NEWTON JÚNIOR. ibid: p. 99). As posições políticas e culturais de Ariano Suassuna, têm sido alvo de interpretações equivocadas, muitas das quais têm sido rebatidas pelo próprio Suassuna. Os equívocos vão deste a vinculação do nacional-popular com o Fascismo e o Nazismo, via Estado e elite dominante, a referências ao populismo latino-americano do século XX. Em suas réplicas (vide Arraes: o popular e o nacional. In:ROCHA, Abelardo Baltar da et al. Porque Arraes. Recife: Pirata, 1986 P. 9 a 17) Ariano têm dito que seu nacional-popular está vinculado ao povo e não a elite ou às classes dominantes. “Suassuna só entende o nacional enquanto vinculado ao popular ou o erudito que nele se baseia” (NEWTON JÚNIOR. ibid: p. 101). Por popular Suassuna entende que seja àquilo que é produzido pela maioria do povo: analfabetos, semi-alfabetizados de pobres. Assim como o “quarto estado”, da Revolução Francesa (1789), da qual ele tirou o conceito. Quanto ao erudito, é aquilo produzido pela minoria do povo, cuja formação é diferente daquela pertencente ao quarto estado. Diferença engendrada, em parte, por questões financeiras. Para Suassuna a questão da arte popular é típica de culturas constituídas por povos que dominam outros. A arte popular no Brasil, desde o século XVI, é feita por ibéricos pobres, negros, mestiços e índios, à margem da cultura oficial portanto. Já a arte erudita é realizada pela outra parcela da população, constituída por ibéricos portadores da cultura oficial. Por ser encontrar, durante toda a nossa história, à margem da cultura oficial, a arte popular brasileira ainda, a duras penas, sobrevive autêntica sem receber influências da indústria cultural de massa. Sendo assim, o 76 Movimento Armorial pretende fazer uma arte erudita tão nacional quanto nossa arte popular. Há sempre confusões e preconceitos sobre o que seja “popular” e “erudito”. Ariano imagina uma elite popular e uma erudita, aquela que é nacional feita pelos artistas armoriais e por todos àqueles preocupados com a essência da cultura brasileira. Toda a obra de Ariano Suassuna é profundamente ligada à arte popular do Nordeste brasileiro. Em sua poesia há a influências do repente, do romanceiro popular (inclusive com recriações), como por exemplo, “A Morte do Touro Mão de Pau” de Fabião das Queimadas. Há alusões a bandeiras, ornatos, estandartes, mitologias sertanejas, rabeca dos cantadores, a fauna e a flora do sertão, xilogravuras, folhetos de cordel que pode reunir em um só objeto, os princípios da arte popular brasileira. Sobre este último, Suassuna aponta três caminhos a serem seguidos: (...) um para a Literatura, o Cinema e o Teatro, através da Poesia narrativa de seus versos: outro, para as Artes plásticas como a Gravura, a Pintura, a Escultura, a talha, a Cerâmica ou a Tapeçaria, através dos entalhes feitos em casca-de-cajá para as xilogravuras que ilustram suas capas; e finalmente um terceiro caminho para a Música, através das “solfas” e “ponteados” que acompanham ou constituem seus “cantares”, o canto de seus versos e estrofes. (SUASSUNA apud NEWTON JÚRNIOR, 1999, p. 107 e 108). Um exemplo disso são as iluminogravuras. A partir de 1980, Ariano Suassuna inicia os álbuns de iluminogravuras onde ele aprofunda sua experiência em integrar texto e ilustração. Seus primeiros álbuns são “Sonetos com Mote Alheio” e “Sonetos de Albano Cervonegro”. Os álbuns são, na verdade, livros de poemas não encadernados e artesanais, publicados em tiragens reduzidas, portanto, contendo 10 iluminogravuras acondicionadas em uma caixa de madeira. Iluminogravura é uma prancha de papel cartão, medindo 44 cm x 66cm, contendo um soneto escrito e ilustrado à mão. Sobre isso diz Suassuna: O sonho de unir o texto literário e a imagem num só emblema, para que a Literatura, a Tapeçaria, a Gravura, a Cerâmica e a Escultura falem, todas, através de imagens concretas, firmes e brilhantes, verdadeiras insígnias das coisas. Insígnias de qualquer maneira desenhadas, gravadas e iluminadas – sobre superfícies de pedra, de barro-queimado, de tecido, de couro, de áspero papel, ou, então, modeladas pela forma e pela imagem da palavra” (ibid. p. 123). A iluminogravura foi assim batizada porque resulta da fusão da iluminura medieval com os processos modernos de gravação em papel. A iluminura medieval era feita em manuscritos e incunábulos, e originou-se nos mosteiros. As páginas 77 eram ricamente ornamentadas, com motivos florais, geométricos, monogramas, letras iniciais de textos, cenas religiosas, dentre outras ilustrações, que dividiam ou não o espaço com o texto, estendendo-se pelas margens do papel, em barras ou molduras. Na Península Ibérica, eram comuns as figuras monstruosas, bestas-feras, animais alados, e todo um repertório de imagens fantásticas de inspiração árabe. À sua maneira e de acordo com sua contemporaneidade, é esse o ideal pretendido pela revista virtual Barcelona ao unir várias artes através de um único veículo – o virtual: imagem, webdesign e texto. Um povo falando de si próprio e respeitando a própria cultura, no caso a sertaneja. 6.3 MOVIMENTO ARMORIAL E CULTURA IBÉRICA Aparentemente trata-se de mera coincidência, mas só aparentemente. O Movimento Armorial guarda muitas semelhanças com a cultura da Península Ibérica porque se as origens do movimento estão na cultura popular, esta última por sua vez têm suas origens em um Portugal e Espanha medievais que não existem mais. 6.3.1 Juan Miró Há semelhanças estéticas, por exemplo, entre o traço do alfabeto baseado em ferros de marcar boi do sertão que são usados na revista virtual Barcelona (vide tópico 5) e as obras do artista catalão Juan Miró (1893 – 1983). Quer sua obra fosse puramente abstrata, quer apresentasse elementos figurativos, Miro permaneceu leal ao princípio surrealista de liberar as forças do inconsciente do controle da lógica e da razão. No entanto, distinguiu-se de outros membros do movimento na variedade e genialidade de sua obra, que não apresenta quaisquer dos artifícios superficiais que muitas vezes caracterizaram o surrealismo. As pinturas de Miró possuem traços simples, como se fossem feitas por um homem primitivo ou por uma criança, mas repletas de metáforas visuais, cenas de sonhos e paisagens imaginárias. Reproduziam apenas as sensações que as coisas transmitiam. 78 6.3.2 Antoni Gaudí Por ter sido sempre predominantemente uma região rural e agrícola, muito da cultura da região sertaneja é intimamente ligada à sua natureza. Isso se pode bem comprovar através das lendas folclóricas, das músicas e dos enfeites nas casas ou das mulheres nas festas. Tudo feito a partir da própria cultura local. Da mesma forma, é a arquitetura do também catalão Antoni Gaudí (1852-1926). As formas surreais dos prédios de Gaudí, como o Templo da Sagrada Família ou La Pedrera em Barcelona, foram inspiradas na natureza. Elas revolucionaram a paisagem de Barcelona (Espanha) e a arte do século XX. Por exemplo, Gaudí dizia que se a fumaça se retorce ao subir o arquiteto deve ajudá-la a sair fazendo chaminés tortas, como as que estão no teto de La Pedrera. Em sua obra as cores vivas, as curvas e as pedras irregulares são representações da natureza. Além das formas retorcidas, também as formas fantásticas e voluptuosas, torres orgânicas como formigueiros, colunas sem alinhamento, tetos retorcidos e superfícies cobertas por cacos de cerâmica compõe o estilo do arquiteto. A obra de Gaudí deve algo à arquitetura gótica e moura, ainda que não obedecesse a convenções e fosse provocativo na sua livre manipulação do espaço arquitetônico. 6.4 FABIÃO DAS QUEIMADAS, UM CASO ARMORIAL A arte de um dos maiores poetas potiguares que viveu e está sepultado em Barcelona está intimamente ligada ao Movimento Armorial. O que mostra que o movimento não é apenas um fenômeno pernambucano ou paraibano, mas algo intimamente ligado à cultura popular de todo o sertão nordestino, inclusive àquele do Rio Grande do Norte. O poeta popular Fabião Hermenegildo Ferreira da Rocha (1848 – 1928), conhecido por Fabião das Queimadas, nasceu no município de Santa Cruz, Estado do Rio Grande do Norte (hoje Lagoa de Velhos), mas posteriormente veio a habitar sucessivamente nos municípios de São Tomé, Sítio Novo e finalmente em Barcelona. O folclorista Câmara Cascudo, no seu livro "Vaqueiros e Cantadores", descreve-lhe o tipo físico do poeta. Ele era um negro baixo, entroncado, robusto, de 79 larga cara "apratada" e risonha, nariz de congolês (figura 1). Tinha os olhos tristes de escravo, conservava a dentadura intacta e um bom - humor perene. FIGURA 1: Fabião das Queimadas Fonte: Antologia Ilustrada dos cantadores. (LINHARES, Francisco e BATISTA, Otacílio. 2ª edição. Fortaleza: Edições UFC. 1982. p. 5 e 6.) Nascido escravo, muito jovem o poeta percebeu que para comprar a alforria dele, da mãe e da sobrinha, precisaria usar sua arte, a mesma a que o fez ficar conhecido como “O poeta dos Vaqueiros”: a poesia popular e os lamentos poéticos do aboio. Um poeta popular contemporâneo assim o descreveu: "Fabião das Queimadas Era pequeno, me alembro do cantadô Fabião; Sua rabeca, seu baião gemedô... Poeta improvisadô nego véi inteligente, perigoso no repente da poesia. Onde cantava corria um povão pra escutá o poeta sem iguá na ribeira. 80 E cantava a noite inteira história de apartação, das vaquejadas de então que havia. Sua rabeca gemia no seu "Redondo Sinhá" e a gaiganta retinia num canto sentimentá. Cosme Ferreira Marques Fabião, foi empregado do major José Ferreira, nas Queimadas, localizado nas férteis terras de Lagoa de Velhos. O poeta primeiro foi agricultor e vaqueiro. Com o que lhe pagavam, ele pôde comprar uma pequena propriedade no Riacho Fundo, zona rural do município de Barcelona. Aos dezoito anos de idade, o poeta, com algumas economias que fez no trabalho da agricultura, comprou uma rabeca, pois essa rabeca passava a ser um instrumento não musical, mas com ela saiu cantando e tocando suas toadas e seus repentes pelas vaquejadas, pelas cidades, festas particulares e povoados rurais de sua região. Com isso, o poeta conseguiu ganhar dinheiro o suficiente para comprar a sua própria liberdade por 800$000 (oitocentos mil réis ) e posteriormente a de sua mãe, Antônia, e de uma sobrinha, Joaquina Ferreira da Silva, conhecida como "Sinhaninha" com a qual o poeta casou e tiveram quinze filhos. Sobre sua mãe, que ao ter sua alforria comprada finalmente ficara livre da opressão dos brancos, Fabião das Queimadas escreveu os seguintes versos que demonstram seu amor filial: “Quando forrei minha mãe, A lua saiu mais cedo, Pra alumiar o caminho De quem deixava o degredo! Minha mãe era pretinha, Da cor de jabuticaba! Porém, mesmo sendo preta, Cheirava que só mangaba! O nome de mãe é doce, Que só a fruta madura! Mas, passa o doce da fruta, E o doce do nome atura!” (LINHARES e BATISTA. Antologia Ilustrada dos cantadores. 1982: p. 6) 81 Para se ter uma idéia da facilidade com que o poeta versificava de improviso sabe-se que num dia de chuva em Barcelona o poeta fazia compras no armazém de Oscar Marinho de Carvalho. Como as embalagens eram de papel, ele resolveu esperar a chuva passar. O comerciante então lhe fez um desafio prontamente aceito pelo poeta - Fabião, diga-me uns versos que terminem com "adeus minhas encomendas que você pode levar sua feira de graça”. Segundo o depoimento de Adauto Tavares da Costa (2000), Fabião tirou o seu chapelão e olhando para a chuva que caia lá fora recitou algo que permanecia inédito até a criação da revista virtual Barcelona: "Numa chuva com relâmpago, Não há trovão que não gema Nosso patrão tá dizendo: Adeus minhas encomendas". O folclorista Câmara Cascudo convidou Fabião das Queimadas para viajar até Natal, capital do Rio Grande do Norte. Através de Cascudo, o poeta conheceu muita gente importante da capital e no interior. Pessoas como o governador Ferreira Chaves e o jornalista Eloi de Souza. Este último, grande admirador dos versos do poeta popular. O poeta dos vaqueiros também se tornou conhecido também por pensadores e artistas da cultura popular brasileira, tanto que foi estudado por Ariano Suassuna e Orígenes Lessa, além de ter sido musicado por Antônio Nóbrega. Fabião das Queimadas morreu aos 80 anos de idade, em 1928, vitimado pelo tétano quando se feriu num espinho de macambira quando viajava montado em um burro. Deixou inúmeros romances sobre bois e cavalos de sua região. Um exemplo disso é o poema “A morte do touro mão de pau” que foi estudado por Câmara Cascudo e Ariano Suassuna e musicado pela primeira vez por Antônio Nóbrega (Nação Potiguar. CD. Natal: Scriptorin Candinha Bezerra. 1999). Sobre ele diz Ariano Suassuna em entrevista ao caderno Muito do Diário de Natal (29/04/2000) “(...) Tomei conhecimento, através de Vaqueiros e Cantadores, de Cascudo, de um folheto composto por um grande poeta popular do Rio Grande do Norte, chamado Fabião das Queimadas, do qual recriei alguns versos dentro de um poema meu. Foi através de Cascudo que tomei conhecimento da poesia de Fabião das Queimadas”. A seguir, a versão do poema feita por Ariano Suassuna. 82 A MORTE DO TOURO MÃO DE PAU "À memória de meu pai que tendo sido assassinado também preferiu a morte à desonra, a 9 de outubro de 1930" Corre a serra Joana Gomes Galope desesperado: Um Touro se defendendo, Homens querendo humilhá-lo, Um touro com sua vida, os homens em seus cavalos. Cortava o gume das pedras Um bramido angustiado , Se quebrava nas caatingas Um galope surdo e pardo E os cascos pretos soavam Nas pedras de Fogo alado, Enquanto o clarim da morte, Ao vento seco e queimado, Na poeira avermelhada Envolvia os velhos cardos. Os negros cascos soavam Em chamas de fogo alado! Rasgavam a serra bruta Aboios mal arquejados E, nas trilhas já cobertas Pelo pó quente e dourado, Um gemido de desgraça Um gemido angustiado: - “Adeus, Lagoa dos Velhos, Adeus, vazante do gado! Adeus, serra Joana Gomes E cacimba do Salgado! O touro só tem a vida: Os homens tem seus cavalos”. O galopar recrescia. Brilhavam Ferrões farpados E algemas de baraúna Para o touro preparados. Seu Sabino tinha dito: - "Ele há de vir amarrado”! Miguel e Antônio Rodrigues De guarda-peito e encourados, Na frente do grupo vinham, Montados em seus cavalos De pernas finas, ligeiras, Ambos de prata arreados. E, logo à frente, corria O grande touro marcado Manquejando sangue limpo Nos caminhos mal rasgados, Cortadas as bravas ancas Por ferrões ensangüentados. A serra se despenhava 83 Nas asas de seus penhascos E a respiração fogosa Dos dois fogosos cavalos Já requeimava, de perto, As ancas do manco macho Quando ele, vendo a desonra, Tentando subjugá-lo, Mancando da mão preada Subiu num rochedo pardo: Num grito, todos pararam, Pelo horror paralisados, Pois sempre, ao rebanho, espanta Que um touro do nosso gado Às teias da fama-negra Prefira o gume do fado. E mal seus perseguidores Esbarravam seus cavalos, Viram o manco selvagem Saltar do rochedo pardo: Houve um grande torvelinho De terno olhar assustado E de aspas enfurecidas Reviradas para o alto. E o touro lançou seu último Bramir de morte encrespado: _”Adeus, Lagoa dos Velhos! Adeus, vazante do gado! Adeus, serra Joana Gomes E cacimba do Salgado! Assim vai-se o touro manco, Morto mas não desonrado”! Silêncio. A serra calou-se No poente ensangüentado. Calou-se a voz dos aboios, Cessou o troar dos cascos. E agora, só, no silêncio Deste Sertão assombrado, O touro sem sua vida, Os homens em seus cavalos. Ariano Suassuna Além de sua poesia, Fabião das Queimadas era muito famoso pelo seu talento com a rabeca. Esse instrumento é de uso típico nas músicas armoriais e têm uma longa tradição ibérica. A idéia de tocar um instrumento de cordas friccionando um arco começou há muito tempo com os árabes, que dominaram a Europa por longos anos e lá deixou uma rica herança, inclusive a desse instrumento, que eles chamavam de rabãb. 84 Na Idade Média, os trovadores e menestréis mexeram no dito instrumento: nas cordas, na forma, na afinação, no modo de tocar e passaram longos anos cantando amores e dores acompanhados pelo que ficou batizado de rabeca. Esse é o instrumento que é utilizado em nossas músicas folclóricas ou nas poesias cantadas do sertão, como eram as entoadas por Fabião. O músico em geral, apóia o instrumento no peito ou no ombro esquerdo. Para tocá-las os rabequeiros apóiam uma extremidade do instrumento sobre o ombro esquerdo (ou direito) e outra parte suspendem levemente com o peito. Era assim que procediam aos tocadores de viola da Idade Média. Enquanto isso, nos palácios a música evoluía pedindo mais virtuosismo. As rabecas são instrumentos, cuja sonoridade é estridente, fanhosa e ao mesmo tempo tristonha. Ela tem som grave, com três ou quatro cordas. Os prelúdios e os interlúdios executados nas rabecas são denominados "repinicados". Mas as mudanças continuaram, de acordo com a necessidade dos músicos. Por isso a rabeca é encontrada em vários tamanhos. Os mais conhecidos são a rabeca-violino, a rabeca-viola e o rabecão. No século XVI, na região de Cremona, norte da Itália, nasceu o Violino, que se divorciou da rabeca. O primeiro, considerado modelo de perfeição, encastelou-se no universo erudito e sofreu apenas mais algumas pequenas modificações, principalmente a partir do período clássico, para ampliar a capacidade sonora, consolidando-se na forma imortalizada até hoje. A rabeca, sem o mesmo status do primo rico, sobreviveu nas mãos de artesãos e fiel à oralidade das tradições culturais populares, dando continuidade às mutações como numa brincadeira de telefonesem-fio. Bem exemplifica isso, o fato de um ex-escravo não tocar um violino, mas uma rabeca. 6.5 O SENTIMENTO DE RURALIDADE Na agitada vida urbana, há quem pense em um dia ter tempo para olhar o pôr do sol, prestar atenção nas fases da lua e na celebração da vida que é a natureza. No sertão nordestino, os temas para a arte estão muito voltados para o meio ambiente: seus pássaros, a seca, o artesanato de argila, a criação de gado e de 85 cabras. Num de seus sonetos mais conhecidos, o poeta árcade Cláudio Manoel da Costa (1729 - 1789) escreveu: Quem deixa o trato pastoril amado Pela ingrata, civil correspondência, Ou desconhece o rosto da violência, Ou do retiro a paz não tem provado. Que bem é ver nos campos transladado. No gênio do pastor, o da inocência! E que mal é no trato, e na aparência Ver sempre o cortesão dissimulado! Ali respira amor, sinceridade; Aqui sempre a traição seu rosto encobre; Um só trata a mentira, outro a verdade. Ali não há fortuna, que soçobre; Aqui quanto se observa, é variedade: Oh ventura do rico! Oh bem do pobre! O poeta vislumbra apenas duas possibilidades para quem deixa a convivência no campo pela vida urbana: Para ele certamente o indivíduo desconhece a violência nas cidades (interessante frisar que a poesia é do século XVIII) ou leva, por algum motivo, uma vida intranqüila no campo. Pois bem, qual estudante interiorano perdido na cinética das grandes cidades brasileiras já não pôs a mão no queixo e leu este soneto num livro escolar de português ou literatura, soltando as rédeas de seus pensamentos que galopam em disparada para seu distante lar rural? Onde, geralmente, o tempo passa sem presa, se pode nadar e pescar em águas limpas, o ar é puro, se ouve o canto dos pássaros, se pode comer alimentos sem agrotóxicos e colhidos pelas próprias mãos sem ter que passar num caixa. Fora isso, sabe-se que o processo de urbanização do Brasil, motivo pela industrialização durante a segunda metade do século XX e a falta de políticas agrárias eficientes levaram muitos agricultores a abandonar o campo rumo as grandes cidades que se formavam. De meados dos anos 40 aos anos 80 inverteu-se no Brasil a população rural / urbana. Hoje, 81% dos brasileiros vivem nas cidades (dados IBGE. 2001). Esse aborto violento gerou nos brasileiros de hoje que nasceram nas grandes cidades um desejo inconsciente de voltar para o seu meio ambiente ancestral. Muitos brasileiros sentem falta do contato físico com a terra; ter caminhadas como exercício, em vez de bicicletas ergométricas. Por isso, muitos brasileiros compram chácaras no interior para passar os fins-de-semana, para morar depois de juntar algum dinheiro ou quando se aposentar. É bem provável que muitos 86 brasileiros sofram daquela nostalgia do campo que os estudiosos chamam de "síndrome pastoril". É uma saudade envergonhada, que se extravasa nas festas juninas, na audiência de novelas com temas agrários. Essa antiga tese foi estudada pela jornalista Gislene Silva numa tese de doutoramento em Antropologia, na PUC - Pontifícia Universidade católica de São Paulo com o título de "O imaginário rural do leitor urbano: o sonho mítico da casa no campo". Num artigo publicado na revista Globo Rural (O sonho da casa no campo. São Paulo: Editora Globo. Ano 16. nº 185. março de 2001. p. 63 à 65.), da qual é repórter, ela esclarece que o estudo partiu da pergunta: "Por que muitos moradores urbanos, que não possuem sítio ou fazenda, lêem regularmente a revista Globo Rural?" Nele ela conclui que "A saudade do campo pode ser interpretada ainda como expressão de sentimentos míticos que o homem, até mesmo o mais urbano e moderno, carrega em relação à natureza, com a qual tinha uma ligação mais harmoniosa e intensa no tempo das comunidades primitivas. Esse anseio rural contemporâneo na virada do século XX para o XXI é mais contundente e transgressor do que ideário pastoral conhecido no romper da Revolução Industrial no século XIX. O que se deseja agora é não mitificar a urbanidade como o mais seguro e mais puro dos mundos. A proposta, portanto é combater as vantagens sociais, econômicas e culturais de uma borbulhante cidade com as qualidades ambientais e harmônicas do meio rural.”“. Em Barcelona, por exemplo, que é um município com pouco mais de quatro mil habitantes (2003: dados IBGE), seus moradores costumam ter relações interpessoais mais calorosas e intensas. Todos se conhecem, a sensação de segurança aumenta porque é mais fácil localizar os estranhos. De acordo com a tradição popular oral, costuma-se dizer que no interior todos sabem nome, sobrenome, apelido, profissão e a presença ou a ausência de caráter de cada um. 6.6 WEBDESIGN ARMORIAL Desde a Bauhaus que várias escolas e linhas de estudo da arte moderna – sobretudo, as artes visuais – tentam descrever e decodificar uma sintaxe da comunicação visual, ou seja, um conjunto de regras que possa estabelecer um código comum. Acredita-se que linguagens seguem regras gerais de formulação 87 para uso comum. Deste modo, toda linguagem tem leis: é o que é chamada de sintaxe. Conceitos como plano, formas, tons, etc, são e sempre serão elementos fundamentais para a elaboração de signos visuais. Para o professor Donis A.: A sintaxe visual existe. O modo como encaramos o mundo quase sempre afeta aquilo que vemos. Assim como alguns grupos culturais comem coisas que deixariam outros enojados, temos preferências visuais arraigadas. O ambiente também exerce um profundo controle sobre nossa maneira de ver. A sintaxe visual existe, e sua característica predominante é a complexidade.(DONIS apud SOARES JÚNIOR, 1999, p. 1). Para Donis, ver é uma experiência, e a utilização de dados visuais para transmitir informações representa a máxima aproximação que se pode obter com relação à verdadeira experiência da realidade. A informação visual é o mais antigo registro da história humana. Ver exige mecanismos interpretativos, contudo, o ato da visão sempre evoca universalidade visto transpor as barreiras culturais, geográficas, e, sobretudo, idiomáticas. “Dos desenhos rupestres até o alfabeto escrito – que usamos até hoje –, as formas de codificação seguem um curso apontando uma forma comunicativa mais eficiente” (ibid.). As artes visuais geralmente trabalham com o binômio: utilidade e estética. Na web, as pessoas sentem, antes de tudo, necessidade de design. Embora textos e sinais sonoros continuem sendo importantes. Webdesign significa, portanto, a soma de vários recursos (textos, fotos, cores, vídeos, sons, largura de banda, etc) e mensagens comunicativas que anseiam por um “desenho” amplo, coeso e bem comunicado. O webdesign armorial, um novo canal virtual de expressão artística, e a arte visual digital (também armorial) de uma forma em geral apontam os caminhos dessa nova eficiência comunicativa. Pois a estética armorial, predominantemente fundamentada na cultura sertaneja, é àquela que é mais familiar ao gosto dos naturais do sertão, isto é, fazem parte das preferências visuais arraigadas de nosso inconsciente coletivo. Em toda história da humanidade, a Internet é o primeiro meio de comunicação que conseguiu reunir todos os tipos de signos – textos, som e imagem, o verbal, auditivo e o visual, - numa mesma forma de linguagem, a linguagem digital dos bits, onde a informação, sob qualquer forma, pode ser codificada e decodificada. Portanto, dois fatores são favoráveis ao desenvolvimento de um webdesign armorial, além da afinidade cultural do povo para o qual ele se destina: 88 a) O Movimento Armorial influencia um grande número de artes desde a cerâmica, artesanato, música, literatura, xilogravura, iluminigravura, escultura, teatro, etc. Deste modo, por não ser um movimento limitado a apenas uma forma de arte, não faltarão “conteúdo armorial” para preencher as necessidades multimidiáticas de um site (textos, fotos, cores, vídeos, sons, gráficos, tabelas, etc); b) O webdesign ainda não tem um objetivo teórico bem definido. As regras não são fixas e se alteram à medida que as novas tecnologias evoluem. Fazendo crer que dentro do mundo da grande rede as possibilidades são praticamente infinitas. A conseqüência disso é que ainda há muita margem para contribuições de diferentes culturas, fazendo o webdesign evoluir ainda mais. A identidade visual da revista virtual Barcelona foi desenvolvida utilizando o conceito de modernidade, com fortes apelos de tecnologia. Sem negligenciar, todavia, o seu compromisso com as idéias de Ariano Suassuna. 6.7 ALFABETO SERTANEJO O cabeçalho que dá nome à revista virtual, canto superior esquerdo no monitor de computador e que serve de logo-marca para a publicação, é escrito em letras do “alfabeto armorial” ou “alfabeto sertanejo”. Ele foi desenvolvido à mão por Ariano Suassuna a partir dos ferros de marcar boi. Interessado nas raízes da cultura nordestina, ele estudou a fundo e identificou formas recorrentes em antigas marcas de ferro do sertão do Cariri. (presente no livro Ferros do Cariri: uma heráldica sertaneja. Recife: Guariba, 1974). Marcar a ferro quente no corpo do boi um signo de seu dono é uma prática de mais de 4 mil anos e de quase 500 no Brasil. Precursoras dos modernos logotipos com que as corporações se identificam junto ao público, as marcas queimadas sobre o couro do gado são o mais primitivo sinal de propriedade e há muito mexem com o imaginário dos artistas. Há registros de ferros em gravuras do Egito antigo e em versos dos poetas gregos Anaximandro e romano Virgílio. Marcar a ferro escravos e criminosos não foi prática restrita apenas aos antigos romanos, gregos e egípcios. Mesmo no Brasil ela ocorreu. “Tá ferrado”, expressão 89 da gíria que remete a essa prática, pode se tornar uma realidade também para os homens livres, na fantasia recorrente de alguns artistas, que imaginam uma vingança dos animais. A prática de ferrar gado chegou ao Brasil através da Península Ibérica. Os primeiros gados foram desembarcados em São Vicente em 1534, trazidos por Ana Pimentel, mulher de Martin Afonso de Sousa. As primeiras marcas foram registradas no Rio Grande do Sul ainda no século XVI. Em “Kadiwéu”, o antropólogo Darcy Ribeiro reproduz os desenhos dos ferros com que esses índios do Mato Grosso marcavam seu gado. Ele observou que algumas de suas marcas antigas foram simplificadas (ou substituídas por letras), para ocupar menos espaço, preservando o valor comercial do couro, mas ainda conservam seu estilo geométrico de linhas puras. De início, as marcas eram feitas em grandes festas. Para o folclorista Luís da Câmara Cascudo, essas festas atraiam cantadores, valentões, os melhores vaqueiros para alguns dias de vida intensa e fraternal. Quem presenciou uma cena dessas diz que não se esquece jamais do movimento dos vaqueiros e do cheiro do couro queimado. Indelével não é só a marca, mas também a memória visual e olfativa de quem a assistiu. Foi o que aconteceu com o escritor Ariano Suassuna. Sua ligação com os ferros sertanejos de marcar gado começou a se sedimentar em seu subconsciente desde muito cedo. O dramaturgo diz que não considera a ferra de gado tão dramática e cruel como parece à primeira vista, por atingir apenas a superfície do couro do animal. É uma cena, de resto, incorporada ao cotidiano das fazendas. Em seu livro “Ferros do Cariri — Uma Heráldica Sertaneja”, Ariano conta que sua curiosidade intelectual pelo tema despertou ao ler em 1943 um livro do cearense Gustavo Barroso, em que ele analisava as marcas familiares e as diferenças acrescentadas por cada descendente como elementos de uma verdadeira heráldica. Ao interesse antropológico e sociológico das marcas, aos poucos Ariano passou a vê-las como “assunto artístico”. A partir de um registro de vários ferros familiares feitos por seu antepassado Paulino Villar, fazendeiro do século XIX, Ariano estudou a fundo as formas que encontrou e as relacionou com a simbologia antiga. Segundo ele, o traço vertical, chamado tronco, representa o céu; o horizontal, ou puxete, significa terra. Os dois juntos podem formar o galho, a união imperfeita entre o divino e o ser humano. Ou 90 ainda a cruz, a união perfeita entre ambos. Há signos para o macho, a fêmea e para a fusão sexual. Na figura 2, podem-se observar estas características na tipologia do alfabeto armorial. FIGURA 2: Alfabeto Armorial Fonte: Ferros do Cariri: Uma Heráldica Sertaneja (Ariano Suassuna, Recife: Guariba, 1974). O escritor viu semelhanças entre as formas meio hieroglíficas dos ferros sertanejos mais abstratos com alguns dos signos ligados à astrologia, ao zodíaco e à alquimia, e acha que alguns dos primeiros fazendeiros podem ter escolhido para seus ferros os símbolos astrológicos de seus signos e planetas pessoais. Os desenhos dos ferros familiares vão se alterando no decorrer das gerações. Cada filho que começa a criar gado vai acrescentando sobre a base imutável do ferro familiar, chamada mesa, as suas diferenças, chamadas divisas, que podem ser um 91 risco para um dos lados, uma meia lua, um pé de galinha, etc. Em geral, o filho mais novo fica com a marca igual à do pai quando este morre. O pai de Ariano, último filho, tinha o mesmo ferro de seu avô e de seu bisavô. O escritor guarda como “objetos sagrados” os ferros com os quais seu pai marcava pessoalmente seu gado nas fazendas Acauhan e Malhada da Onça. 6.7.1 O Ferro dos Costas Como em todo o interior do nordeste brasileiro, em Barcelona também há uma tradição hereditária dos ferros de marcar boi. Para efeito de exemplificação, veja a pertencente à família Costa: No início do século XX, Vicente Tavares da Costa (03/08/1882 – 19/12/1962), chegou às terras do que hoje é o município de Barcelona, vindo de Trapiá (município de Sítio Novo/RN) e anteriormente do município de Santana do Matos/RN, onde nasceu. Aquele que viria a ser o patriarca do ramo da família Costa em Barcelona, Rio Grande do Norte, Brasil, era filho de Antônio Francisco da Costa (filho de Quitéria da Costa) e da neta de portugueses Bemvinda Joventina Tavares da Costa (filha de Luzia Tavares). Na época, os Tavares e os Assunção, de quem Bemvinda descendia, eram duas das famílias mais respeitadas da região de Santana do Matos. Os Tavares ainda têm parentesco com as famílias Barros, Silva e Alves de Santana do Matos. Em 1923, Vicente da Costa comprou seu primeiro pedaço de terra por 3 mil e 500 contos de réis em Barcelona o que, depois de sucessivas aquisições, chegou a se constituir na Fazenda Flores. O trato com a terra têm, na família Costa, uma tradição de mais de oito gerações. Vicente Costa casou posteriormente com Maria Arcangela da Costa (26/09/1877 – 08/06/1967), natural de Barcelona e filha de Manuel Francisco de Sousa com Emiliana Maria da Conceição. Eles tiveram os seguintes filhos: Maria Salustina, Luzia, Francisca Áurea, Anita, Geraldina, Terezinha, Antônio, Adauto, Rita, Severina e Ana. Após a morte de Vicente Tavares da Costa em 1962, seu filho Adauto Tavares da Costa (nascido na Fazenda Flores [Barcelona],10/12/1926) conseguiu depois de algum tempo reconstituir a Fazenda Flores desmembrada durante a partilha da herança. Ele se casou em 12 de julho de 1952 com Creuza Medeiros de Carvalho 92 Costa (nascida em Lagoa de Velhos/RN, 15/05/1933 e falecida em Barcelona em 21/07/1991) filha de Savaget Marinho de Carvalho e Alzira Medeiros de Carvalho (06/12/1908 – 18/02/1976), e seguiu a tradição agrária familiar. Durante toda a sua história, cada membro da família Costa possuía um ferro pessoal, tradicionalmente, os menores de idade usam o ferro do pai. Por isso, podese ver a posse de um ferro pessoal como um sinal de autonomia. Na cultura pecuária do sertão, ter ferro com a respectiva “marca”, isto é, o desenho que fica no couro do gado, é ter gado. Além disso, o filho que recebe o ferro do pai tem autonomia para fazer pequenas altercações na marca ou instituir uma outra totalmente nova. Esses dois fatores acontecem de uma geração para a outra na família Costa. Veja as marcas de Antônio Francisco da Costa, de seu filho Vicente Tavares da Costa e de seu neto Adauto Tavares da Costa na figura 3. FIGURA 3: Ferros de marcar bois As marcas de Antônio Francisco da Costa, de seu filho Vicente Tavares da Costa e de seu neto Adauto Tavares da Costa, respectivamente. Se a prática da ferra ainda persiste em lugares onde se cria o gado solto no pasto — no Brasil, especialmente no Nordeste e no Rio Grande do Sul — cada vez há mais gente interessada em partir dessas referências visuais para fazer criações contemporâneas. A marca do artista pernambucano Francisco Brennand é um tipo de brasão de ferro. Prática ancestral e rudimentar, a marca de ferro de certa forma é recriada também nas tatuagens dos jovens das grandes cidades. Muitos deles estampam na pele o nome de seu namorado(a), ou “proprietário(a)”. Se as relações amorosas ou as convicções hoje costumam serem fugazes, pelo menos na pele elas sobrevivem. Há quem reproduza marcas familiares em objetos pessoais. Usam, por exemplo, a 93 marca de ferrar que eram de seus antepassados como um timbre aplicado em suas cartas e textos. 6.8 CORES E DESIGN Por questões de identidade local, as cores usadas na revista virtual Barcelona: verde, vermelho, cinza e marrom, além do branco, e seus degrades são rigorosamente as cores da bandeira municipal de Barcelona. Mas poderiam ser as cores predominantes da paisagem sertaneja. O design por sua vez foi esboçado com a preocupação de não haver formas estranhas ao ambiente do sertão ou de uso excessivamente cosmopolita. 94 7 NOBRE COMO CAMÕES – PEQUENO DICIONÁRIO DO PORTUGUÊS ANTIGO FALADO EM BARCELONA. RN. BRASIL “O passado da língua conduz imediatamente o espírito em direção ao seu futuro”. Emile Littré (autor do Littré, o mais conceituado dicionário da língua francesa) Quem fala em diálogo das culturas precisa de fato falar do principal instrumento que existe para essa finalidade – a língua. 7.1 LINGÜÍSTICA Lingüística é o estudo da linguagem, da gramática das diferentes línguas e da história desses idiomas. Antes de Noam Chomsky (1928 - ) esse ramo da ciência tinha vivido poucos avanços significativos. Para ser mais exato, dois. O primeiro foi a criação da tradição clássica, originada no mundo grego, que perdurou até o final do século 19. O segundo salto foi o estruturalismo, criado pelo lingüista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913). Na visão clássica, estudava-se uma língua só por meio dos textos escritos. Os lingüistas rastreavam registros escritos, desde as línguas antigas (latim, grego, aramaico) até alcançar o presente. Esse tipo de abordagem exigia estudiosos que dominassem várias línguas, fazendo descrições de cada caso. Havia pouca capacidade de generalização, ou seja, de transpor o conhecimento acumulado sobre uma língua. Era uma abordagem enciclopédica, que considerava os registros escritos como o ponto alto de um idioma. No começo do século XX, era essa visão normativa, com separação clara do que era certo e o que era errado, que dominava o estudo da língua. Quer dizer: o que importava não era saber como funcionava a linguagem, e sim estabelecer e perpetuar as formas tidas como corretas, socialmente prestigiadas. Como exemplo 95 os textos de Rui Barbosa, que até a metade do século passado, foram tidos como um exemplo de português culto. Essa visão também influenciava o ensino. Na escola, estudava-se a origem da língua, davam-se aulas de latim e sobre as mudanças que ocorreram na língua mãe, até chegar à língua moderna culta. Saussure inovou, comparando o aprendizado de uma língua a um jogo de xadrez. Numa partida em curso, qualquer pessoa pode tomar o lugar de um dos jogadores, porque as regras do jogo são poucas e bem conhecidas. Por isso, não importa muito saber como o cavalo foi parar ali, ou como a torre foi perdida. O que vale é saber que, dada a situação das peças e conhecidas as regras, a partida pode seguir, agora manejada por alguém que chegou depois do início. Assim é o aprendizado da língua, disse ele: ninguém tem que obrigatoriamente saber a história da língua para falá-la e escrevê-la aqui e agora. O estruturalismo, como ficou conhecida essa modalidade de estrutura da língua, foi tão bem recebido que se expandiu para as outras áreas como, por exemplo, a antropologia. Para os adeptos dessa visão, estudar uma língua é realçar as estruturas que a compõem e descrevêlas, sem ligar para a história que a trouxe do mundo primitivo até o presente. Sendo assim, estava aberto o caminho para uma abordagem científica da linguagem, porque não se tratava mais de caçar o certo e o errado, mas de tomar a língua como um objeto. Com isso, caía por terra a suposta superioridade de uma língua sobre outra. Para Ferdinand Saussure a língua é um sistema arbitrário e convencional de signos usados na comunicação. Para ele o estudo da língua pode ser de tipo diacrônico (tendo como objetivo as mudanças e a evolução da língua) ou sincrônico (observação do funcionamento das línguas em determinado momento, tratando-a como um sistema temporariamente autônomo. Essa mudança tinha motivações concretas. Uma delas era o contato cada vez mais freqüente com línguas não oriundas nem do latim nem do grego. Com sua postura etnocêntrica e escritocêntrica, um lingüista clássico, defrontado com uma língua indígena puramente oral, sem registro escrito, nada podia fazer. Se ele quisesse conhecer o modo de ser daquela cultura, seria preciso outra atitude: gravar as falas dos índios, anotá-las e depois descrevê-las no maior detalhe possível. O estruturalismo permitia essa revolucionária abordagem: não há aquela visão normativa, de certo e errado, nem necessidade de recorrer à história para entender o presente. A ênfase recai sobre a base empírica, sobre os dados de linguagem 96 verificáveis. Pela primeira vez, a língua ganha estatuto científico, com autonomia em relação à moral, á cultura, aos bons costumes. O idioma morreria com o último falante nativo. Anos depois Chomsky disse que com a perda de uma língua se perde uma pista, talvez irrecuperável, para a solução do mistério da linguagem humana. Para Noam Chomsky, a língua consiste numa série de regras ou princípios abstratos presentes na mente dos falantes. Para Chomsky que filosoficamente tem uma posição racionalista e antiempirista, os lingüistas não devem enfatizar a observação do comportamento lingüístico (‘performance’ ou ‘desempenho’) e sim explicar a capacidade humana para falar (‘competência’). Segundo ele, a aquisição da linguagem só é possível graças a uma “faculdade (mental) para a linguagem”, inata e universal na espécie humana, em outras palavras inscrita no DNA. Enquanto para os estruturalistas a língua era algo externo ao homem, para ele o foco era a capacidade inata da linguagem. A divergência quanto ao empirismo se deve ao fato de que para os estruturalistas a tarefa do lingüista consiste em descrever as línguas tal como se apresentam, na fala das pessoas ou nos textos. Para Chomsky, esse caminho positivista é um beco sem saída, ou melhor, um caminho sem fim, pois cada época, cada região e mesmo cada indivíduo sempre modificam um pouco a língua, de maneira que o trabalho seria uma catalogação infinita. 7.2 LÍNGUAS EM EXTINÇÃO “A cada duas semanas uma língua desaparece da Terra”.(NÓBREGA, 2002: p. 3) A idéia de que uma língua possa entrar em extinção parece mais distante do que as crescentes ameaças à biodiversidade do planeta. A fala humana é dinâmica. Vive um estado de permanente mudança, no qual as fronteiras são tênues. Nessas mudanças, há muito de acidental e arbitrário. É por isso que não existem línguas lógicas. Há ainda que se considerar dentre a variações de uma língua, as variações diatópicas (espaço geográfico), diafásicas (modalidades expressivas) e diastráticas (extratos socioculturais), além disso, ainda há as diferenças etárias e geracionais. Existem hoje cerca de 6 mil línguas em todo o mundo. Sem contar os dialetos, caso contrário o número poderia ser arredondado para 10 mil. A estimativa é de que 90% delas estarão extintas em 2100. Ou seja, 5.500 línguas vão morrer neste século 97 (fonte: The Power of Babel – A Natural History of Language, de John McWhorter, Times Book, 2001). Imagine então, o que será das palavras arcaicas usadas no sertão do nordeste brasileiro frente a essas perspectivas? Corre-se o risco de perder boa parte da fascinante riqueza alcançada pela linguagem humana. Na Idade Média, o português era falado com o uso de apenas 15.000 palavras. Umas palavras resistem, outras caem em desuso. Língua também é uma questão de moda. As pessoas tendem a escolher as palavras mais bonitas do momento. Como é o caso de “cristaleira” que foi substituído pela “arca” e do “corpete” que perdeu lugar para o “sutien”. Mas nenhum dicionário, nem o Houaiss que tem 228.500 verbetes (para efeito de comparação o Aurélio tem 160.000), pode se gabar de ter abraçado todas as palavras do idioma. Por isso, permanecerá sempre aberto a inclusões de novos vocábulos. 7.2.1 Estrangeirismos Muito se tem discutido, inclusive no Congresso Nacional, sobre a correta utilização da língua portuguesa. De um lado estão os puristas que abominam o uso recorrente de palavras estrangeiras quando há equivalentes em português, como é o caso do "delete" que apesar de ser uma palavra de origem latina no vocabulário anglo-saxão, tem seu uso privilegiado em detrimento do "apagar". Do outro lado estão os mais liberais que acham que o importante é ser compreendido e aceitam a introdução de termos estrangeiros e lembram que a nossa língua portuguesa já é um caldeirão de culturas há muito tempo. É só lembrar de termos como “abajur” (do francês, abatjour) e “chau” (do italiano, ciao). É preciso dizer que é possível se chegar um consenso, bastando apenas que os dois lados abandonem a intransigência. Vejamos, no Brasil parece que muitos termos estrangeiros não são usados de forma subserviente, mas sim para especificar melhor uma situação. Em Portugal chama-se o mouse do computador de rato (que é a tradução literal do termo inglês). Se alguém está em um computador e outra diz "pegue o rato!", não se saberá se quem deve ser pego é o mouse ou um rato que vai passando naquele instante. No Brasil, ao contrário, cada um saberá perfeitamente sobre o que estão falando. Talvez fosse o caso de seguir o exemplo dado pela Islândia. Os islandeses devem ser o único povo moderno com capacidade para se comunicar fluentemente 98 com seus ancestrais de mil anos atrás: a língua islandesa permanece a mesma desde que se separou do nórdico antigo. Para proteger sua língua da contaminação de palavras estrangeiras, há uma comissão acadêmica que propõe - e os cidadãos adotam a criação de palavras islandesas para os novos conceitos tecnológicos. Assim, "telefone" tornou-se sími em islandês - um termo antigo para designar fio. Televisão é sjónvarp, algo como "lançador de imagens". Rádio é útvarp ou literalmente “radiodifusão”, computador é tölva, isto é, um trocadilho com tala (número) e völva que significa “adivinho”. Software é hugbúnaður ou literalmente “equipamento de raciocinar”. Dentro dessa ótica, veja o que ocorreu com o vocábulo sertanejo ombreira: No passado era assim que se chamavam os atuais cabides. Hoje ninguém mais, à exceção de alguns sertanejos cultores de arcaísmos, usam essa palavra nesse sentido. Para o homem moderno, ombreiras atualmente são as partes complementares feitas de espuma de muitas roupas, como os ternos, por exemplo, usadas para realçar os ombros. Com o passar da moda, a palavra possivelmente cairá no esquecimento, mas poderá ser outra vez reutilizada no futuro se alguém inventar, por exemplo, algum equipamento para secar ou guardar roupas. É importante dizer que o islandês é a língua mais próxima do nórdico antigo, é semelhante à linguagem usada pelos antigos vikings, mais próxima do inglês arcaico (incompreensível para quem fala o inglês do século XX) do que das modernas línguas escandinavas como o sueco, o dinamarquês ou o norueguês. Seu alfabeto mantém duas letras rúnicas que ninguém mais usa. É o único que ainda utiliza duas letras medievais, o edh (D,d) e o thorn (P,p). A lei exige que os islandeses adotem nomes tradicionais. É uma sociedade enraizada no arcaico, sem deixar de ser um país moderno. Para que a diversidade seja tolerada, no mundo moderno, é preciso antes de tudo que ela exista. Infelizmente até o ano 2199, segundo cálculos do Projeto Rosetta (http://www.rosettaproject.org), prevê-se que 50 a 90% de todos as línguas terão desaparecido. Há casos extremos de línguas africanas ou indígenas das Américas que só são conhecidas por três, dois ou apenas um falante. Elas foram arrastadas pelo ralo da história para o esquecimento pela força das línguas dos colonizadores europeus. O uso da língua apresenta implicações políticas importantes. Ele pode ser um elemento de identidade ou caracterização étnica, ou um indicador de vínculo do indivíduo a alguma classe ou grupo social, como se depreende no caso do emprego 99 de dialetos ou jargões específicos. A distinção entre as várias línguas geralmente não está baseada em critérios puramente lingüísticos, e depende de fatores sociais, históricos e até mesmo políticos-administrativos. Por exemplo, mesmo as línguaspadrão de muitos países, por vezes, apresentam apenas pequenas diferenças dialetais: o dinamarquês, o sueco e o norueguês, por exemplo, são facilmente compreensíveis para os falantes de qualquer um desses idiomas. Por isso, é costume dizer que o que levou as línguas escandinavas, a exemplo de outras coirmãs, a serem consideradas “línguas” e não “dialetos” ou poder-se-ia dizer... ”regionalismos” de uma língua comum foi o fato delas terem sido “assessoradas” por um exército. Veja a seguir, na tabela 2, exemplos da grande similaridade em algumas línguas germânicas por meio dos vocábulos dia, neve e peixe necessariamente nessa ordem. TABELA 2: A Similaridade de vocábulos em línguas germânicas ISLANDÊS DINAMARQUÊS INGLÊS ALEMÃO Dagur dag day Tag Snjór sne snow Schnee Fiskur fisk fish Fisch Fonte: Icelandic, what kind of language is that? (autor: Helmut Lugmayr, Nýjar Víddir, Reykjavik, 2000) Por isso tudo, é preciso fomentar o estudo da língua portuguesa e a salvaguarda de suas peculiaridades regionais e sociais, tanto na sua expressão tradicional quanto nas formas atuais de expressão. Isto é, criar uma personalidade, uma maneira de ver o mundo e de apresentá-lo aos leitores. 7.3 LÍNGUA PORTUGUESA, UMA FILHA DO LATIM A língua portuguesa teve sua origem no latim vulgar, ou seja, popular, e se desenvolveu na região da Lusitânia (atual Portugal e região espanhola da Galícia) a partir do final do século III a.C. Nesta época, o Império Romano conquista a região e institui o latim como língua oficial, o que, na interação com a língua local, dá início ao processo de formação do português. A ocupação romana durou do século II a.C. ao século V d.C. Posteriormente, o português sofre influência de outros povos que 100 invadem a Península Ibérica: os bárbaros, no século V, e os árabes, no século VIII. A expulsão dos árabes, no século XII, leva à criação do reino independente de Portugal. Com a expansão marítima portuguesa, entre os séculos XV e XVI, o idioma se espalha por várias regiões da África, Ásia e América e recebe influência dos dialetos locais. 7.4 GALEGO-PORTUGUÊS, A AURORA DE NOSSA LÍNGUA Na região onde foi fundada e reconhecida (1143) a monarquia portuguesa pelo rei D. Afonso Henriques, falava-se o dialeto galeziano, ou galego-português, expressão lingüística comum á Galícia e a Portugal. No entanto, à medida que Portugal estendia seus domínios para o sul, estabelecendo seus limites atuais, e absorvendo os falares ou romances que aí existiam, iam se processando as diferenciações lingüísticas, entre o falar dos galegos, que permaneceu estacionário, e o falar dos portugueses, que evoluiu a ponto de tornar-se independente do galego. Cindiu-se, então, a expressão galego-português em duas línguas diferentes: o galego e o português que continuou sua evolução, tornando-se a língua de uma nacionalidade. Ainda hoje a língua galega e a portuguesa estão bem próximas. Veja estes versos em galego: “Quen, se eu clamase, me escoitaria dende os ordes anxélicos? e ainda mesmo, se un deles me tomase supetamente no seu corazón: eu esmorecería pólo seu mais forte existir. Pois o belo non é mais que o comezo do terrible, que ainda podemos soportar, e admirámolo tanto na medida en que, tranquilo, desdeña destruir-nos. Todo anxo é terrible.” Assim começa a primeira das “Elexías de Duino” (Elegias de Duino), de Rainer Maria Rilke, em tradução de Jaime Santoro para a língua galega (Edicións Espiral Maior, A Coruña, 1995). Depois de décadas de repressão ordenada por Francisco Franco Bahamonde (“Caudillo de España por la Grácia de Diós”) que instituiu em toda a Espanha o uso exclusivo do castelhano a fim de apresentar seu país como mais unitário do que realmente era; o galego, à exemplo do que aconteceu com o catalão, tem se reafirmado como uma língua viva. Pelas livrarias da Galícia há cada vez mais obras literárias em galego. Para o poeta e tradutor Nelson Ascher: 101 Essa é uma das estratégias às quais os idiomas ditos ´menores´ e ameaçados de extinção recorrem para sobreviver: ampliar sua literatura através da atividade tradutória. Graças a isso, os falantes de português estão sendo presenteados com todo um acervo literário que mesmo se não souberem qual é, podem ler e entender perfeitamente. (ASCHER, 2002, p. 2). 7.4.1 Português Arcaico A história do português abrange o período arcaico que vai do século XII até o século XVI, e um período moderno, do século XVI em diante, quando surgem as primeiras gramáticas. É importante ressaltar que durante esse período arcaico o galego e o português ainda não se diferenciam. Por exemplo, a frase “hemos chus drento en no sertão” é em português arcaico e quer dizer “vamos mais fundo pro sertão”. Um lema, da época dos primeiros desbravadores em terras brasileiras. No século XII aparece o primeiro texto inteiramente redigido em português. É a “Cantiga da Ribeirinha”, poesia escrita por Paio Soares de Taveirós dedicada à D. Maria Paes Ribeiro, a Ribeirinha. A eminente filóloga Carolina Michaelis de Vasconcelos datou este primeiro documento da língua portuguesa de 1189. A partir de então aparecem textos em poesia e, mais tarde, em prosa. Pode-se conhecer o Português Arcaico através das poesias trovadorescas que estão reunidas em “Cancioneiros” e, ainda, na prosa de cronistas como Fernão Lopes, Gomes Eanes Zurara e Rui de Pina. Em 1290, D. Dinis, o Rei Trovador, torna obrigatório o uso da língua portuguesa, e funda, a primeira universidade, em Coimbra. 7.5 PORTUGUÊS DO BRASIL O Brasil é o único país de língua portuguesa na América. O português falado no Brasil colonial não sofreu as mudanças de pronúncia ocorridas no português da metrópole portuguesa no século XVIII. Logo, os descobridores falavam uma língua muito mais parecida com o português do Brasil do que com o português atual de Portugal. Mas por engano ou ignorância, sempre que um cineasta ou um diretor de TV brasileiro escala um ator para representar Pedro Álvares Cabral, se aconselha ao 102 ator que ele procure imitar o sotaque português. Um esforço constrangedor e desnecessário, além de historicamente errado, diga-se de passagem. Mesmo conservando o português de 1500, a língua portuguesa no Brasil foi bastante influenciada pelas línguas indígenas, africanas e de imigrantes de outras partes da Europa. Isso explica a presença de pronuncias regionais tão distintas, como a do nordestino, a do mineiro, gaúcho e a do carioca, além das variações superficiais no vocabulário. Apesar dessas diferenças, a língua portuguesa no Brasil conserva a sua uniformidade em todo o território nacional. No entanto, pode-se supor o que teria acontecido caso a corte portuguesa não tivesse vindo ao Brasil. Para Ataliba de Castilho, professor de Filologia e Língua Portuguesa na USP, até mesmo o sotaque dos cariocas não existiria se a corte portuguesa não chegasse ao Brasil no século XIX: “É claro que o desembarque de 15.000 pessoas no Rio de Janeiro mudou o jeito de falar da maioria da população. Como dava mais prestígio falar como os fidalgos portugueses, a população do Rio de Janeiro foi assimilando todos os chiados que hoje distinguem o típico falar dos cariocas” (2002: p. 32). Ele diz que sem a vinda da corte, provavelmente não haveria muitas diferenças entre o falar de um surfista carioca de um cantor de dupla sertaneja do interior de São Paulo. 7.6 LÍNGUA, DIALETOS E REGIONALISMOS Segundo os lingüistas, não há dialetos, isto é variantes idiomáticas, no Brasil e sim regionalismos. São as diferenças que existem entre o português falado nas diferentes regiões brasileiras. Na Alemanha, por exemplo, bem como em muitos paises europeus, as diferenças de região são mais profundas: palavras mudam drasticamente de forma e de gênero, há substantivos que só existem em um dialeto particular. Às vezes dois dialetos de uma mesma língua são tão diferentes que ao conversarem em seus dialetos puros, duas pessoas necessitariam de tradutor. O dialeto não se escreve, só se fala. Ainda assim, existem alguns livros escritos em dialeto, como forma de se preservar a tradição de certas regiões. Outro aspecto interessante consiste no fato de que em muitos países ricos em dialetos, as crianças têm dificuldades ao começar a freqüentar a escola, pois têm de aprender a língua padrão depois de terem passado os primeiros anos de suas vidas ouvindo e falando 103 só em dialeto. Além disso, governos totalitários têm, ao longo da história, reprimido o uso de dialetos como uma das formas de impedir o surgimento de aspirações por autonomia em certas regiões. Assim como os dialetos, os regionalismos lingüísticos representam a riqueza cultural de um povo e devem ser preservados seja através da compilação para evitar que se percam no tempo ou através da difusão. Mais que sinônimos para palavras do português padrão, eles representam a maneira local de ver o mundo. A última resistência contra o nivelamento dos costumes e a uniformidade das culturas. Em alguns países, há muitas pessoas que por vergonha hesitam falar em dialeto, pois onde se discriminam sotaques, imagine então falar dialeto em vez da língua padrão! O mesmo ocorre com os regionalismos no Brasil. Além disso, os termos de uso exclusivamente regionais e orais são vistos como pitoresco, usados por pessoas não escolarizadas ou cômicos. Este último é bem exemplificado pela piada sobre como se pode saber a origem de um assaltante em São Paulo. Se o ladrão disser “ – Mãos pra riba, não se bula!” ele é nordestino. Na verdade, cedendo à tentação dos estereótipos, as mesmas pessoas que acham o regionalismo nordestino constrangedor, muitos deles os próprios nordestinos, são as que acham o “r” acentuado e o “tchê” do gaúcho um charme. Logo, o estereótipo socioeconômico se reflete no idioma. E isso não ocorre só no Brasil, na Itália, por exemplo, o norte desenvolvido discrimina os italianos e os dialetos do sul menos desenvolvido; na Alemanha é difícil para um alemão do leste (dos estados que outrora faziam parte da comunista República Democrática Alemã) arranjar emprego como atendente de telemarketing no oeste porque o sotaque do leste soa “pobre” aos ouvidos alemães. Isso prova que o valor de um idioma, dialeto ou regionalismo nunca está dissociado do apêndice econômico e que em um Brasil sem dialetos, os regionalismos assumem o posto discriminatório que em outros países está reservado aos dialetos. Desse modo, há a redução do número de falantes dos regionalismos. A situação é agravada pela ausência de mecanismos de preservação, como os registros escritos e a perda de prestígio. Neste último caso, chamado de transferência lingüística, os falantes de palavras e expressões de menor representatividade substituem-nas por uma outra dominante econômica e socialmente, com isso os regionalismos de regiões mais pobres correm sério risco de extinção, já que sem eles (regionalismos e dialetos) a cultura de um povo que ocupa um certo espaço sócio-geográfico se 104 descaracteriza. Há uma considerável desvalorização, esquecimento e por fim a perda de identidade. 7.7 INVESTIMENTO E XENOFOBIA Ironicamente, muitos dos países interessados em preservar suas línguas nativas, dialetos e regionalismos, são aqueles acusados de querer impor sua cultura aos países não desenvolvidos e de não respeitar as culturas locais enquanto que nos países menos desenvolvidos, adesistas da cultura da vitimização, pouco fazem para preservar seu patrimônio cultural, no nosso caso lingüístico, alegando que há outras prioridades mais urgentes como se a cultura fosse um valor menor. Já o sociólogo francês Pierre Bourdieu (2002: 47) nos mostrou que isso não é bem assim, para ele o capital cultural (diplomas, conhecimentos, códigos culturais, características lingüísticas, bons modos), o capital social (relacionamentos e redes sociais) e o capital simbólico (reconhecimento) são recursos tão úteis quanto o capital econômico (bens financeiros, patrimônio) na determinação e na reprodução das posições sociais. A distribuição desigual do capital justifica as diferenças de estratégia conduzida por cada ator social: como ele apreende as situações e se acomoda a elas, ou como ele se exclui. O que o governo desses países menos desenvolvidos não enxergam, ou fingem não enxergar, é que a situação de subdesenvolvimento é um ciclo vicioso, não há como desenvolver sem educação, cuja ausência contribui para um estado de letargia socioeconômica: dificuldades em identificar problemas e apontar soluções e um “desânimo” por resolvê-los. Em se tratando do sertão nordestino, para o prof. Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade (ANDRADE apud COSTA. p. 6) “temos, por exemplo, toda uma geração que é suicida, que está destruindo nossas potencialidades e que não conhece o semi-árido”. Os países ricos, em sua maioria, vêem a própria cultura popular não de uma forma envergonhada, mas com orgulho e a usam como base para outras realizações modernas. Um exemplo disso é o rock and roll americano. O que é hoje um fenômeno de massa mundial veio de ritmos da cultura popular dos Estados Unidos, como o jazz e o country. 105 A lista de países desenvolvidos atentos às suas peculiaridades culturais é imensa, Estados Unidos, França, Canadá, Reino Unido e etc. Sobre este último, basta citar o culto britânico e mundial às realizações literárias de J. R. R. Tolkien, autor do clássico “O senhor dos anéis” (The lord of the rings,1954), onde o autor cria um mundo imaginário nos mínimos detalhes chegando inclusive a inventar línguas, porém não só a narrativa como também as línguas foram baseadas no rico folclore e nos idiomas anglo-saxões da antiga Inglaterra. Da mesma forma, é interessante pensar que é possível fazer coisa semelhante tendo por base a cultura africana, norueguesa, esquimó, chinesa e a brasileira, neste caso específico a sertaneja. Outro desses países que demonstram preocupação com a suas peculiaridades culturais é o Canadá. Para muitos há um antigo mistério: o que é cultura canadense? Há quem diga que é “principalmente americana”. Algumas pessoas acham que a “cultura canadense” é um oximoro, mesmo admitindo que não sabem nada sobre a cultura do Canadá. Na verdade, esse país que tem uma das mais altas qualidades de vida do mundo e uma longa tradição de democracia e respeito pelo ser humano, vive a dualidade de conviver entre duas culturas, à francesa e a inglesa. Por assim ser, o governo do Canadá mantém o Languages Commissioner of the N.W.T (Comissariado das Línguas dos Territórios do Noroeste) na cidade de Yellowknife. Trata-se de uma instituição do governo encarregada de preservar, fazer respeitar e difundir as línguas nativas dessa região canadense, muitas das quais com um número reduzidíssimo de falantes. Há a consciência de integrar e respeitar os direitos dos povos originários do próprio país. Muito diferente do Marques de Pombal que no século XVIII fez o que esteve ao seu alcance para que o tupi, guarani e as outras milhares de línguas nativas brasileiras fossem silenciadas pela supremacia do português. Porém, é importante não confundir ações como as do Languages Commissioner com as do governo de outra província canadense, o Québec, de expressão francesa que não satisfeito com a já ampla autonomia, pratica iniciativas claramente xenófobas e separatistas. Onde se chega ao cúmulo de fiscais do governo provincial e das cidades saírem às ruas para multar os letreiros que não estiverem em francês, como uma polícia lingüística. Iniciativas como essas copiadas em boa parte do mundo, inclusive em projetos em tramitação no nosso Congresso Nacional, são demagógicas, nacionalistas e populistas e não devem ser confundidas como o respeito à cultura das minorias, sejam elas étnicas ou culturais. 106 7.8 REGIONALISMO PASTICHE Recentemente virou moda editar dicionários de regionalismos como o dicionário de “gauchês” ou de “baianês”, este último é de grande valia, segundo os micos do showbiz, para os turistas que pretendem desfrutar o carnaval de Salvador. O que leva a alguém reunir palavras em um dicionário, por menor que seja? O afã pelo pitoresco, o apreço pelo viés cômico das palavras ou a vontade de se sentir uma espécie de Aurélio Buarque de Holanda ou Antonio Houaiss em escala tribal? No Rio Grande do Norte, só para citar dois casos há o “Papo–Jerimum: Dicionário rimado de termos populares” (Cleudo Alves Freire. Natal: Editora Sebo Vermelho. Nº 50. 2002. Coleção João Nicodemos de Lima) e o Dicionário de Matutês. Pouquíssimos são os dicionários de regionalismo que merecem alguma consideração, seja por falta de critérios, de apuro científico dos compiladores em precisar as diferentes acepções (significados adicionais além da definição principal de cada verbete) dos vocábulos, a etimologia, origem cronológica dos termos e a citação de fontes bibliográficas; ou seja, pela eternização de antigos preconceitos, estereótipos e pela preferência, como fins sensacionalistas, por incluir na obra grande número de palavras de baixo calão (palavrões) em detrimento de outras palavras realmente relevantes e curiosas. 7.9 PORTUGUÊS ANTIGO DE BARCELONA No site da revista virtual Barcelona o link Idioma dá acesso ao Nobre como Camões – Pequeno dicionário do português antigo falado em Barcelona (vide anexo 3) onde há o registro de vocábulos arcaicos, que se encontram em processo de arcaizamento ou em desuso, por isso é que o subtítulo da compilação virtual faz referência ao português “antigo” e não ao “arcaico”, uma vez que os vocábulos arcaicos não constituem a totalidade da obra, mas sim uma parte importante. Além disso, é importante dizer que além dos vocábulos usados no século XII até o século XVI, e um período moderno, do século XVI em diante, um vocábulo também é chamado de arcaico quando ele pertence à data remota em relação àquela em que se emprega, isto é, são palavras antigas, em desuso ou praticamente sem uso na 107 época presente. Mesmo assim, há palavras que podem ter sido consideradas arcaicas no século XIX e estarem em pleno uso nos dias de hoje. Esse é um grande exemplo do velho chavão que diz que a língua é um organismo vivo. A compilação dos vocábulos é um processo difícil porque é preciso estudar o português arcaico, uma língua que não existe mais. Saber a pronuncia é quase impossível já que não havia gravadores de voz na época. Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados recursos do estudo da lingüística histórica ou diacrônica, esse estudo tem o objetivo de determinar a estrutura de dois ou mais estados de língua cronologicamente distintos, com o intuito de, ao compará-los, determinar os princípios que presidiram ao trânsito de um estado para o outro. Bem como foram observados recursos da lexicografia, que é o estudo metódico das palavras do léxico de uma língua, suas definições, origem, uso etc., aplicação desses conhecimentos na elaboração de dicionários. Depois ainda foi feito, quando possível, a comparação do vocábulo original do século XVI, com o que é falado em Barcelona e regiões vizinhas. Todavia, no percurso em que o vocábulo vai desse século até hoje, há ainda que se considerar acréscimos ou supressão de sílabas e modificações na pronúncia feitas por influências regionalistas. Longe de ser o registro de uma língua moribunda, há no vocabulário regionalista a constatação de realeza do português falado no sertão do nordeste brasileiro. Os que são hoje resistências do português arcaico chegaram junto com os colonizadores e foram preservadas pelas populações rurais e incultas do sertão brasileiro. Imune aos modismos e à subserviência cultural das metrópoles, eles conservaram o falar português da Idade Média. Muitas destas expressões, inclusive, foram usadas por Luis de Camões, Padre Antônio Vieira e Gil Vicente em suas obras. Os traços desse português medieval, isto é, arcaico, foram preservados no interior do nordeste graças à dificuldade de acesso à região. Isolados em fazendas, os colonos e seus descendentes ficaram imunes às novas levas de portugueses que apareciam no litoral, trazendo uma língua renovada. Porém nem todo erro é fruto do uso do português arcaico. Os vocábulos foram recolhidos através do contato informal com os habitantes do município de Barcelona que têm em comum o seguinte perfil: são pobres, têm pouca ou nenhuma instrução formal (para que a escolarização e, em alguns casos, os preconceitos desta com a cultura popular não pudessem influenciar a sua linguagem) e idosos porque estes são os que estão menos influenciados pelos 108 modismos e pela indústria cultural. As acepções, isto é, os diferentes significados no “Nobre como Camões” foram dadas pelos próprios fornecedores dos vocábulos, porém checadas e complementadas pelo autor. Muitos dos costumes e do vocabulário do sertão evocam muito a Europa Ibérica, sobretudo a camponesa e medieval. Nem todos os termos usados no nordeste brasileiro são utilizados em Barcelona. Muitas das palavras usadas, inclusive, têm seu sentido completamente diferente daquelas empregadas em outros Estados e até cidades próximas. No dicionário constam tanto às acepções (significados adicionais que o dicionário fornece além da definição principal de cada verbete), quanto à etimologia (origem das palavras) da maioria delas, curiosidades sobre alguns vocábulos, expressões e referências bibliográficas baseadas em grandes obras de literatura portuguesa, regionalista brasileira e folhetos de cordel. Como por exemplo: Tornar: 1.recorrer, 2.voltar (ex.: ele desmaiou, mas já tornou). O termo vem do português arcaico e está presente na "Lenda do Rei Lear" (século XIII ou XIV) do "Nobiliário" ou "Livro das Linhagens" do conde D. Pedro, Portugal "(...) e ouve a tornar aa merçee d'ell-rrey de França(...)". O termo também é encontrado em "Memorial do Convento" (1982) do escritor português contemporâneo José Saramago "(...) agora que chegou de terras holandesas, vai tornar a Coimbra, um homem que pode ser grande voador, (...)". O termo também é encontrado no cordel O Pavão Misterioso " Viu a filha desmaiada,/Não pôde falar com ela,/Até que a moça tornou," Adeus: o termo vem de "a", preposição + "Deus") antes que a TV e o rádio chegassem ao sertão com a força de hoje. Era assim que as pessoas se despediam no sertão (o termo "chau" [pronuncia-se "txao"; não existe a escrita "tchau"] vem da palavra italiana "ciao". Ela se originou em Milão e chegou a Roma em 1925. Usa-se chau nas despedidas, os italianos usam o termo tanto nas despedidas quanto nas chegadas). Ver chau. Durante a compilação dos verbetes, tentou-se orientar pelos pelos conselhos de Noah Webster (1758 – 1843), lexicógrafo americano, sobre quais devem ser os critérios fundamentais para separar as palavras passivas ou não de serem dicionarizáveis. 109 a) A linguagem muda constantemente; b) A mudança é normal; c) A linguagem falada é a linguagem; d) O que define a correção é o uso; e) Todo uso é relativo. Tendo em vista a democratização da informação, foi decidido que o dicionário seria publicado na Internet porque, do contrário, se fosse impresso, só um pequeno público leitor no Rio Grande do Norte, que pode comprar livros, teria acesso à obra. O pequeno dicionário do português antigo falado em Barcelona pretende ser um banco de dados digital, já disponível na Internet, como obra de referência do vocabulário antigo da língua portuguesa falado no sertão nordestino, dos termos mais difundidos aos ameaçados de extinção. E é útil não só a quem se interessa pela linguagem do sertão, mas também para quem, por exemplo, não entendeu uma palavra falada por um sertanejo numa conversa informal, seja ele um habitante do litoral ou do centro-sul do país – Quem nunca se deparou com isso? Só que quem for consultar o dicionário vê-se que aquele sertanejo não é um “matuto”, que não sabe falar português, mas usuário de termos também usados por reis portugueses como dom Duarte e dom Diniz, tão nobre quanto Camões. 7.10 POR QUE ALGUMAS PALAVRAS SE TORNAM ARCAICAS? A língua padrão é viva e desde que esteja sendo usada por um povo (não é o caso do latim, do eslavo ou do nórdico antigo) ela permanece em constante mutação e evolução pelos seus usuários. As pessoas sentem necessidade de adaptar constantemente seu vocabulário aos novos tempos, novas tecnologias, novas modas, novas profissões, etc. As palavras desprezadas são as arcaicas. Alguns fatores que determinam a arcaização das palavras: a) O desaparecimento das instituições, costumes e objetos a que elas faziam referência; b) O surgimento de sinônimos que passam a ser preferidos; c) A degradação de sentido, isto é, certas palavras assumem uma carga semântica pejorativa, o que faz com que sejam evitadas; 110 d) Os neologismos; e) Os eufemismos. 7.11 MAS, PARA ONDE VÃO OS VOCÁBULOS ARCAICOS? A rigor, para lugar nenhum. Simplesmente eles caem em desuso, mas estão sempre presentes. Seja na memória de idosos, em antigas edições de obras literárias, nas letras de antigas modinhas, em documentos oficiais nos arquivos e até nas cartas de amor que nosso avô enviou a nossa avó. Um arcaísmo pode estar perfeitamente registrado num importante dicionário, como o Aurélio ou o Houaiss. Mas elas não são usadas comumente na língua culta. O povo, porém, as conserva e as utiliza. No dicionário há termos do português arcaico e expressões regionalistas usadas em Barcelona. Inclui erros gramaticais (entenda-se aqui os aceitos pelo uso). Também não foram corrigidas concordâncias nominais e verbais ou omissões de sílabas e letras. O vocabulário sertanejo, de modo geral, é especial. Nele um filólogo é capaz de perceber verdadeiros "artefatos de arqueologia lingüística", que não chegam a ser fósseis porque são mantidos vivos no dia-a-dia. Mas muitas delas já foram extintas ou estão em vias de extinção devido à difusão dos programas de rádio e de televisão vindos de outras regiões do país. Por isso, durante a pesquisa foram constatados dois tipos de arcaísmo: léxico e semântico. Os arcaísmos léxicos são palavras que deixaram de ser usadas porque se tornaram desnecessárias ou por que foram substituídas por sinônimos de formação variada, por exemplo, “ombreira” substituída por outra pretensamente mais elegante “cabide” e “camiseiro” pela mais genérica “guarda-roupas”. Os arcaísmos semânticos são os vocábulos que hoje apresentam uma significação diversa daquela que ostentavam no passado. Por exemplo “moda”, usada hoje quando se quer referir a um uso passageiro que regula a forma de vestir, calçar e pentear, pode ser usada por pessoas em Barcelona e em muitas outras pequenas cidades do nordeste para se referir à cantiga, música e modinha. 111 7.12 PARA QUE SERVEM OS ARCAÍSMOS? Como já foi citado no caso islandês, poderíamos utilizar os arcaísmos como um “banco” no qual poderíamos recorrer para “sacar” palavras sempre que fosse necessário para substituir vocábulos, desnecessariamente, incorporados a nossa língua nativa. Nesse caso, a substituição poderia ser feita de duas formas: a) Substituindo um termo estrangeiro pelo outro, simplesmente traduzindo-o; b) Substituindo um termo estrangeiro por um vocábulo arcaico (em desuso) em vez de traduzi-lo pelo seu correspondente moderno a fim de evitar confusões. Por exemplo, o termo mouse que numa tradução literal do inglês significa “camundongo”, mas neste caso se refere ao dispositivo de informática. Como já foi dito, se traduzimos pela tradução literal como têm feito os portugueses, corre-se o risco de não saber “exatamente” sobre o que nosso interlocutor se refere. Porém, se encontrarmos um vocábulo arcaico da nossa língua para substituir o mouse, além de não pecar por falta de exatidão, estaremos fazendo uso de nossa própria língua num diálogo com o passado. Como é possível que costumes antigos nos abram portas para mundos mentais tão distantes no tempo? Não precisamos abandonar nossas raízes culturais para sermos modernos. E foi justamente isso que nossa revista virtual quis mostrar ao unir elementos da cultura sertaneja local, do Movimento Armorial e a Internet. Os regionalismos do nordeste formarão um dialeto e posteriormente uma nova língua? É impossível dizer isso hoje, pois o português é falado no Brasil há apenas pouco mais de 500 anos. Qualquer afirmação nesse sentido é inconclusiva e precipitada. Porém tendo em vista o que ocorreu com o latim vulgar a ser levado de Roma e difundido pelas legiões romanas através da Europa e por ultimo se separou da língua como galego-português. Quem garante que os séculos não trarão uma nova secessão? 112 8 CONCLUSÕES A pesquisa mostrou que é possível, graças às novas tecnologias, se ter um veículo de comunicação a baixo custo por menor que um município seja, neste caso, Barcelona. No processo de criação da revista foram, na medida do possível, respeitadas as particularidades culturais dos habitantes do município. Para isso, optou-se por ter o Movimento Armorial como aporte teórico. Através da revista virtual Barcelona, é possível tanto informar jornalisticamente o município quanto usar seu banco de dados para preservar a memória local e ter seus arquivos utilizados como material didático em sala de aula por estudantes do município, no qual eles de uma forma prática e na versão on-line, ou na ausência desta, impressa; podem estudar a própria realidade e o meio que as certas. Além disso, o professor terá um material em constante atualização. Para os habitantes do município que moram de outras partes do país a revista através não só de suas informações como de seus recursos interativos pode servir como um ponto virtual de referência. 113 REFERÊNCIAS BROCHURAS POYNTER – Everything you need to be a better journalist. St. Petersburg (Flórida, EUA): The pointer Institute for Media. 2003. TOURTELLOT, Jonathan B. Islândia. Encarte de O Estado de São Paulo. São Paulo: Klick Editora.1995. Fascículo de As Grandes Viagens da National Geographic Society. 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Marcar a ferro quente no corpo do boi um signo de seu dono é uma prática de mais de 4.000 anos e de quase 500 no Brasil. Os ferros constituem uma verdadeira heráldica. Os desenhos dos ferros familiares vão se alterando no decorrer das gerações. Cada filho que começa a criar gado vai acrescentando sobre a base imutável do ferro familiar, chamada mesa, as suas diferenças, chamadas divisas, que podem ser um risco para um dos lados, uma meia lua, um pé de galinha, etc. Em geral, o filho mais novo fica com a marca igual à do pai quando este morre. As cores presentes na página inicial do site obedecem rigorosamente às da bandeira do município de Barcelona, a qual pode-se ver logo no início. EDITORIAL Um breve texto ilustrado que além de saudar os visitantes tem a intenção de informar os propósitos da revista virtual Barcelona. Em Editorial constam os seguintes sub-links: Tudo Bem? – Aqui dois jovens típicos de Barcelona, sem apresentam bem como apresentam o seu município. Muito útil para que os internautas conheças como é a vida de dois típicos jovens, dessa forma pode-se ter uma idéia de como é a vida no município. Dia de Barcelona – Neste link, um texto saúda o 17 de dezembro, dia da emancipação de Barcelona. Um dia para, sobretudo os barcelonenses que estão fora do município, recordar um pouco da sua infância e adolescência na terra natal. 138 Saiu na imprensa – Aqui nada mais é do que jornalisticamente chama-se de “clipagem”, ou seja, uma reunião de textos na íntegra sobre tudo o que saiu na imprensa sobre a revista virtual Barcelona. Para a imprensa – Aqui você encontra imagens de alta resolução e releases para download e divulgação. Clicando com o botão direito e escolhendo a opção "Save as" ou "Salvar destino como" para fazer download. Logotipos e capas © Copyright 2001-2002 revista virtual Barcelona. Esse material serve como referência na preparação de artigos, programas de mídia, discursos, reportagens e etc. A reprodução do conteúdo do site na imprensa ou por qualquer outro meio é livre, desde que sejam mencionados a fonte REVISTA VIRTUAL BARCELONA e o nome do autor. Desafio – Neste link periodicamente têm uma pergunta interessante e divertida para quem quiser ser testado. Links barcelonenses – Uma relação de vários sites sobre as Barcelonas do mundo. Nele há sugestões de sites sobre a Barcelona catalã, no que diz respeito ao idioma, instituições públicas, educação, cultura, meios de comunicação, museus, esportes, universidades, economia e muito mais. Grande parte das páginas da Catalunha, cuja capital é Barcelona, além de estarem em catalão também estão disponíveis em espanhol e às vezes em outras línguas. Há também aqui uma lista de instituições brasileiras que mantêm relação com Barcelona, bem como de sites cujo assunto se relacionam com a fundamentação teórica dessa pesquisa. Todos os sites tiveram seu conteúdo avaliado e sua qualidade comprovada pela revista virtual Barcelona. Sobre esta pesquisa – Os fundamentos teóricos e tecnológicos da pesquisa estão nele publicados na revista virtual para sua livre reprodução ou transmissão por quaisquer meios eletrônicos, mecânicos, de gravação, fotográficos, digitais. Na revista pede-se apenas que o usuário cite em sua reprodução o nome do autor e a fonte. Esse link é dividido em outros três links: a) Artigo científico; b) Projeto de pesquisa; c) Bibliografia. 139 NOTICIÁRIO Este espaço se destina a divulgação de notícias curtas e objetivas sobre as atualidades do município de Barcelona/RN. Útil para o barcelonense que vive longe e quer se informar sobre a cidade. ENTREVISTAS No momento aqui há uma entrevista interessante com a professora (UFRN) e atriz Clotilde Tavares e outra com a jornalista e professora (UFRN) Josimay Costa sobre o tema “Cosmopolitismo X Cultura local”. CULTURA Este link aborda reportagens sobre assuntos relacionados à cultura barcelonense especificamente e a cultura sertaneja de modo geral. Como por exemplo, os poetas populares, os cristãos-novos (judeus convertidos na marra no nordeste) dentre outros e o artigo “Em busca do que é ser barcelonense: A investigação da cultura popular antiga e moderna” no qual há informações sobre como a pesquisa foi feita e sobre a necessidade e as dificuldades de se estudar as pequenas culturas. Nesse link merece destaque uma reportagem sobre o poeta popular Fabião das Queimadas, neto de escravos e criado em Barcelona, sobre ele diz Ariano Suassuna em entrevista ao caderno Muito do Diário de Natal (29/04/2000) “(...) Tomei conhecimento, através de Vaqueiros e Cantadores, de Cascudo, de um folheto composto por um grande poeta popular do Rio Grande do Norte, chamado Fabião das Queimadas, do qual recriei alguns versos dentro de um poema meu. Foi através de Cascudo que tomei conhecimento da poesia de Fabião das Queimadas”. O link Cultura para efeito de organização esta dividido nas diferentes formas de arte e temáticas recorrentes nas artes. E em cada desses sub-links estão os textos correspondentes a cada gênero. Os quais estão listados a seguir: • Literatura; • Fotografia; • Artes plásticas; • História; • Religião; • Cinema; 140 • Música; • Teatro; • Paisagem; • Nossa Época; • Língua. CRÔNICAS Neste link constam, como o próprio nome diz, crônicas, artigos (não reportagens), de autores que tecem reflexões pessoais sobre as relações do sertão com mundo, mas não necessariamente. O link Crônica se justifica na medida que deixa claro que apesar da cultura sertaneja precisar ser valorizada, ela faz parte de um contexto cosmopolita. Afinal o sertão do nordeste brasileiro não está isolado do mundo. De acordo com a temática que abordam, o link está assim dividido: • Jornalismo; • Tecnologia; • Política; • Educação; • Economia; • Cotidiano. NOSSA CIDADE No link Nossa Cidade constam sub-links sobre a localização, clima, relevo e hidrografia, população, política, história, flora, fauna, economia, recursos minerais, transporte, comunicação, religião, festas, literatura, curiosidades, dicas e curiosidades de agricultura (Agrodicas), heráldica (breve histórico, fotos e escudos de algumas famílias de Barcelona [uma alusão às idéias do Movimento Armorial]), alfabeto sertanejo (Estabelecido por Ariano Suassuna, a partir dos ferros de marcar bois, e apresentado no seu livro Ferros do Carriri: Uma Heráldica Sertaneja [Recife: Guariba, 1974]). De todos os sub-links do link Nossa Cidade. os de Política, Comunicação, Agrodicas e Heráldica estão divididos, por sua vê, da seguinte forma: • Política: - Eleições; 141 - Resultados eleitorais; - Antigo título eleitoral; - Publicidade antiga; - Publicidade moderna. • Comunicação: - Evolução da informação; - Pioneirismo: # Jornal Informativo da EPAM; # 1ª Edição; # 2ª Edição; # 3ª Edição. • Agrodicas: - Pecuária; - Criação; - Animais silvestres; - Plantio; - Horta; - Pomar; - Árvores. • Heráldica: - O que é Heráldica?; - Heráldica sertaneja; - Os Costas; - Medeiros; - Marinho; - Carvalho; - Tavares. IDIOMA Este link dá acesso ao “Nobre como Camões – Pequeno dicionário do português antigo falado em Barcelona. RN. Brasil”. O pequeno dicionário do português antigo falado em Barcelona/RN é útil não só a quem se interessa pela linguagem do sertão, mas também para quem, por exemplo, não entendeu uma palavra falada por um sertanejo numa conversa 142 informal, seja ele um habitante do litoral ou do centro-sul do país – Quem nunca se deparou com isso? Só que quem for consultar o dicionário verá que aquele sertanejo não é um “matuto”, que não sabe falar português, mas um falante de uma língua falada por reis portugueses como dom Duarte, dom Diniz, tão nobre quanto Camões. HOMÔNIMAS Neste link estão relacionadas as cidades pelo mundo que adotaram o nome de Barcelona com informações sobre cada uma delas com destaque para a Barcelona espanhola. 143 ANEXO 3 – NOBRE COMO CAMÕES – PEQUENO DICIONÁRIO DO PORTUGUÊS ANTIGO FALADO EM BARCELONA. RN. BRASIL expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) A: primeira letra do alfabeto português (vem de "a, valor de soletração que os antigos romanos davam a esta vogal) A lei do cão: vontade implacável, soberana, do capeta A retalho: "qualquer coisa" a retalho, isto é, algo vendido por unidade, dividido, separado, fracionado Abafado: fruto verdoso, amadurecido "na marra" Abastar: o mesmo que bastar (a expressão encontra-se em textos de dom Duarte [13911438], "O Eloqüênte", rei de Portugal) Abestado: tolo, maluco (Há a pronúncia "abêstádo", mas em Barcelona diz-se "abéstádo") Abrir as turbinas: diz-se isso quando se abre as porteiras e o boi dispara numa vaquejada (o termo abrir vem do latim "aperire", turbinas do francês "turbine"). Ver "se arroche!","vaquejada", "batedor de esteira", "vaqueiro", levar e dá carga", "valeu o boi!", "boi mobral", "levar um cambão" Abrir dos peitos: ser inesperadamente generoso (o termo é encontrado em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) Abusado: 1. nervoso, irritado; 2. entediante, monótono Abuticar os olhos: abrir muito os olhos. Ver butico de olho Acabar no caritó: ficar solteirona Academia: o mesmo que jogo de amarelinha (o termo vem do grego "akadémeia" ou "akadémia", isto é,região ajardinada perto de Atenas, consagrada ao herói grego Ákademos, onde Platão dava suas lições de filosofia) Acatitar: arregalar os olhos fixando-os (a expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) Aceiro: 1. acostamento de uma estrada, 2.faixa de terra devoluta entre a cerca e a estrada, 3.faixa de terra limpa, utilizada para evitar a propagação de fogo nas queimadas (a Achar uma botija: ficar rico (antigamente punha-se dinheiro dentro de potes de barro, lacráva-os e os enterrava. Diz o folclore que as pessoas que morriam tendo botijas ainda enterradas, ficavam com a alma presa na Terra até que alguém do mundo dos vivos fosse dessenterá-las, mesmo que o dinheiro tivesse perdido seu valor. Para que isso fosse feito o fantasma aparecia para um escolhido). Ver botija Acochar: o mesmo que apertar (o termo é encontrado em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) Acoitar: 1.encobrir um erro cometido por outro, proteger (vem de "coitar": dar ajuda a bandido),2.esconder objeto roubado, 3.esconder bandido Acuado: intimidado Açúcar-bruto: açúcar não refinado Adeus: o termo vem de "a", preposição + "Deus") antes que a TV e o rádio chegassem ao sertão com a força de hoje. Era assim que as pessoas se despediam no sertão (o termo "chau" [pronuncia-se "txao"; não existe a escrita "tchau"] vem da palavra italiana "ciao". Ela se originou em Milão e chegou a Roma em 1925. Nós usamos chau nas despedidas, os italianos usam o termo tanto nas despedidas quanto nas chegadas) Afinar o cabelo: 1. prosperar, 2. o animal muda a pelagem quando começa a engordar (a expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) Afoito: corajoso, sem medo, audaz, ousado (o termo vem de "a"+"fauto"[termo latino para favorecido] e está presente no folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "Por não pagar a despesa/Que fez por sua afoiteza,") Afolozar: enlanguescer algo depois de muito Agoniado (u): nervoso Agora deu!: essa não! Agradeço!: não aceitar algo terminantemente (o termo é encontrado em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) 144 Agravar: insultar Aguado: qualquer bebida que esteja com pouco açúcar Alcoviteiro: corretor de prostitutas Algoz (ó): vagabundo, cachaceiro que serve para dar recados e outros pequenos serviços, fazer mandados (o termo vem do árabe "alguzz", isto é, "nome de uma tribo de onde se recrutavam carrascos"). Ver fazer mandados Alisado: carinho em demasia Alma: fantasma, assombração, alma penada (o termo é encontrado no folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "Os ladrões dali fugiram, /Quando viram a alma em pé.") Alpendre: teto sustentado por colunas ou pilastras para ventilar, proteger do sol, da chuva e para fins ornamentais. Muito típico das casas de fazenda Alqueire: 1. medida agrária correspondente a terreno que leva um alqueire de semeadura. O equivalente no NE a 27.225m2, 2. Antiga medida de capacidade para secos e líquidos, equivalente a 13,8 litros. Em Barcelona um alqueire equivale a 16 cuias de feijão, fariha, milho ou outros cereais (cada cuia com capacidade para 10kg). Neste município não se usa alqueire para estipular a medição de terras (o termo vem do árabe "al-kail", isto é, medida) Alvoroçado: doido, amalucado (sair alvoroçado, o mesmo que sair apressado). Em Barcelona pronuncia-se "alvóróçado") Amarela: pessoa muito branca Amarelo de ver: o mesmo que "careca de saber" Amassar: machucar Amocambado: escondido (a expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) Amojada: quando o úbere da vaca ou de outra fêmea de animais enche-se de leite e está intumescido, isto é, inchado, nas vizinhanças do parto Antão: o mesmo que "de então" (a expressão pertence ao português arcaico) Apanhar: além de colher algo ou levar uma surra, também têm os sentidos de comprar ou trocar (o termo vem do espanhol "apañar"). Ver fazer o apanhado Apartar: separar (ex.: "os vaqueiros apartam as vacas de leite", o termo é encontrado nos sonetos de Luís de Camões [1524/5?-1580] "De vós me aparto, ó Vida!" e em Memorial do Convento [1982] do escritor português José Saramago "(...) onde apartada assiste a rainha ao ofício") Aperreio (ê): problema, chateação (o termo é encontrado no folheto de cordel O filho de Evangelista do Pavão Misterioso "E, com história de amor,/Muito lhe aperreava") Apois: pois Apragatar (-se): ficar estendido no chão como se fosse alpercata (o termo "pragata" é alpercata). O mesmo que espragatar-se. A expressão é encontrada em A Bagaceira,1928, de José Américo de Almeida Aprisco: curral, cabana rústica ou lugar de abrigo feito de paredes de alvenaria, com um curral na frente coberto com o piso de ripas para criação de cabras e ovelhas Aprumar: 1.pôr a prumo, dar posição vertical a, 2.no trânsito é dirigir sem sair da estrada, 3. endireitar-se (o termo está presente em Memorial do convento (1982) do escritor português José Saramago "(...) aprumadas se vêem as colunas sob a cornija percorrida de latinas letras(...)") Apurar: juntar dinheiro vendendo algo Aquetar: o mesmo que aquietar, tranqüilizar, acalmar (o termo vem de "a", valor de soletração que os romanos davam a esta vogal) Aranha: pessoa que trabalha devagar, que leva muito tempo para cumprir uma tarefa fácil Arataca: armadilha de ferro similar a uma dentadura que fica escondida sob as folhagens com o intuito de pegar animais silvestres ou ladrões. Ao pisar no centro da armadilha aberta, um dispositivo aciona as duas peças dentadas que encravam numa perna da vítima. Se a perna não for partida, dificilmente o infeliz sentindo dores lancinantes conseguirá arrastar a pesada peça que para abrir necessitaria da ajuda de dois outros homens (o termo vem do tupi "arataca", isto é, o que apanha batendo com estrépito) Área: a primeira sala de uma casa que tenha um portão de ferro em sua entrada principal Areia-de-semitério: diz-se dos homens que saem com muitas mulheres, como se diz popularmente "que come tudo" Ariar: ficar desnorteado, sem rumo (ex.: José estava ariado, ele não sabia onde estava apesar de passar todos os dias por aquela rua) Arisco: terreno sílico-humoso, muito fértil (o termo vêm de "areia") Arisia: o mesmo que heresia, tolice, opinião contrária ao senso comum (o termo arisia apesar de vir de "heresia" não herdou seu 145 significado de heterodoxia religiosa. É uma fixação gráfica de pronúncia defeituosa) Armazém: 1. lugar rústico onde se vende gêneros alimentícios e outras mercadorias a grosso ou a granel 2. grande vão que serve de depósito para colheitas, como o algodão Assentar o cabelo: morrer Assento: compostura (ex.: tome assento de gente!). O termo é encontrado em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida Atacar: 1. amarar o cadarço dos sapatos, 2. abotoar a camisa ou a calça Arreata: tira de couro que serve para atacar as sandálias Atochar: pôr algo em algum lugar como que enroscando Arredar: desviar, afastar, remover para trás (o termo vem do latim hipotético "adretrare", isto é, fazer ir para trás. O termo é encontrado tanto em Contos Fluminenses (1870) de Machado de Assis "Havia cousa oculta que arredava Margarida do casamento" quanto no folheto de cordel "O pavão misterioso" de José Carmelo de Melo Rezende, falecido em 1964, "Evangelista, em silêncio,/ Cinco telhas arredou.") Atravesar: 1.cruzar, 2.passar Arremediado: pessoa que não é rica, mas que também não é muito pobre; que consegue viver decentemente assim como subsistir, sem fazer necessariamente parte da classe média Arrenga: briga Arriar: baixar (o termo é encontrado no folheto de cordel "O pavão misterioso"de José Camelo de Melo Rezende, falecido em 1964, "Que arriava caibro e ripa/E não fazia zoada") Arroba: Uma arroba equivale a 15kg. É uma medida usual no sertão muito usada para medir o peso, por exemplo, de algodão e carne Arrochado (ó): na medida, no ponto Ave!: Nossa Senhora!, Meu Deus! (o termo é uma interjeição, uma abreviatura de Ave Nossa Senhora!, isto é, Viva Nossa Senhora! Os antigos romanos diziam: Ave César!, isto é, Salve César!, numa referência ao seu imperador) Avexado: com pressa Avoar: o mesmo que voar (a expressão vem do português medieval) Azeitona: é o que no centro-sul chama-se jamelão (preta ou vermelha) Azougado: imantado (também se diz azogado [ó]. O termo é encontrado no folheto de cordel "O pavão misterioso" de José Carmelo de Melo Rezende, falecido em 1964, "Edmundo ainda deu-lhe/Mais uma serra azougada") Azougue: imã Azucrinar: incomodar muito, chatear (a expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) Arrocho (ô): aperto ou amasso durante dança ou namoro. Ver se arroche! Arrodear: contornar Arrodeio (u): perder tempo, ficar dando volta, enrolação Arrumar: 1.arranjar, 2.vestir (o termo é encontrado tanto no folheto de cordel "O pavão misterioso" de José Carmelo de Melo Rezende, falecido em 1964, "Se quiser casar comigo/Se arrume, vamos embora" quanto no folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "Escute o que eu vou dizer:/Veja lá como se arruma-") Arte: ato praticado pelas crianças buliçosas e irrequietas sem maldade, traquinagens (o termo é encontrado tanto no folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "E morreu depois da hora,/Pelas artes que fazia." quanto no livro Menino de Engenho (1932) de José Lins do Rêgo "-Este menino fez arte. Chega estar afrontado-repararam, quando apareci na cozinha.") Arteito: irrequieto B: segunda letra do alfabeto português (vem de "be, valor de soletração que lhe davam os antigos romanos Babão: puxa-saco Babugem: erva recém-nascida (a expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida). Ver marva Bacorinho: porco novo (o termo é o diminutivo de bácoro, isto é, porco novo e pequeno, leitão e é o termo é encontrado no folheto Proezas de João Grilo [1948] de João Ferreira de Lima "Fez outra adivinhação:/Escondeu uma bacorinha") Bacurau: adepto do PMDB (do tupi "wakura'wa', pássaro noturno parente das corujas) Bagana: lanchinho, comida sem valor nutritivo 146 Baitola (ô): a expressão é originária do nordeste brasileiro e em Barcelona têm seu sentido original, isto é, homossexual masculino, pederasta passivo Baixar a crista: acalmar-se, baixar a bola Baixo: andadura do cavalo de cela, cômoda e adequada para viagens longas (a expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) Baladeira: o mesmo que estilingue Balançar o maracá: o mesmo que rodar a baiana (maracá é o nome do chocalho que as cascavéis têm na ponta da cauda e que balançam quando ameaçadas, para alertar ao inimigo que ela já o viu) Baleado: embriagado guardar panelas e outros utensílios de casa (o termo vem do francês "batterie") Bebedor: tanque, coche onde o gado bebe água Beber água de chocalho: falar demais, o mesmo que badalo Beiços: lábios Beijo: iguaria feita a base de leite condensado e coco ralado, muito comum nas festas de aniversários de crianças Bejú: espécie de grude feito com farinha de mandioca nas casas-de-farinha Beradeiro (ê): caipira, matuto, gente de cidades do interior ou lugares muito remotos (também conhecido como beiradeiro (ê). Banana leite: o mesmo que banana maçã Beréu: casa de prostituição, baixo meretrício, zona. Ver cabaré, cangerê Banho de cuia: banho tomado com lata (ou cuia) na ausência de um chuveiro Besta-rudia: o mesmo que besta fera Barbatão: touro não ferrado, que foi criado solto, longe dos vaqueiros (o termo é encontrado em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida) Bardiar: diz-se quando a água está misturada com barro Barra: nuvem carregada que aparece no horizonte ao entardecer Barraco: pequeno quiosque onde se vende utilidades e gêneros alimentícios, incluindo bebidas e lanches rápidos Barreiro: fosso cavado em terreno argiloso para reter e conservar as águas das chuvas (o termo é uma referência a "barro" que por sua vez se originou do latim hipotético "barru") Bascuio: coisinha irrisória, sem importância (ex.: comer bascuio, isto é, comer qualquer coisa, se virar). Vem de asculho: lixo Basculhar: o mesmo que vasculhar expressão pertence ao português arcaico) (a Batedor de esteira: vaqueiro que numa vaquejada se ocupa em auxiliar o vaqueiro que vai puxar o rabo do boi, para isso ele imprensa o animal numa cerca enquanto correm em disparada. Ver "vaquejada", "se arroche!", valeu o boi!", "vaqueiro", "levar e dá carga", "abrir as turbinas", "boi mobral","levar um cambão" Bater do rabo: morrer (o termo é utilizado em tom de troça quando do falecimento de uma pessoa pobre, ex.: "seu Pedro bateu do rabo!") Bateria: grelha de alumínio posta na parede, cuja utilidade é servir de suporte para se Bexiguento (i): desgraçado, filho da puta (bexiguento era o estado em que se encontrava quem tinha varíola há décadas atrás) Bica: calha (vem de "bico" que por sua vez vem do latim "beccu", de origem céltica) Bico-doce: diz-se com as pessoas que querem ser muito importantes, orgulhosas Bilha: Pequeno pote (também conhecido como quartinha) Biloca: bola de gude Bimba: pênis Bisaco: mochila, saco grosseiro onde se põe algodão durante a colheita (ver borná) Boas-noites: como se dizia no passado e como ainda hoje se diz em Portugal Bodão: homem mulherengo, muito namorador (o mesmo que pai-de-chiqueiro) Bodega: mercadinho, pequeno supermercado (originalmente o termo significa taberna pouco asseada e vem do latim "apotheca", isto é, depósito) Bofe: nome popular para pulmão (da base buff, onomatopéia do sopro) Boi mobral: diz-se do boi que está correndo numa vaquejada pela primeira vez. Ver "se arroche!","vaquejada", "batedor de esteira", "vaqueiro", "levar e dá carga", "valeu o boi!", "boi mobral", "abrir as turbinas" Bóia: comida, refeição (vem do "bouél", mas é de origem germânica) Boi-de-reis: Bumba-meu-boi pessoa gorda, obesa Bola-de-fogo: cometa francês bolofofo (ô): 147 Bondade: Orgulho, soberba (ex.: Fulano é um homem sem bondade!). Vem do latim: bonitate Bonito: diz-se do tempo, quando vai chover "está bonito" Boqueirão: abertura nas serras, uma espécie de garganta por onde corre ou não um rio Borná: Saco grosseiro onde se põe algodão durante a colheita, ou comida para cavalos, burros...(daí vem a expressão "Fulano é a última pedra do borná", isto é, gente muito ruim. Durante o trabalho de colheita se põe pedrinhas amarradas numa ponta do saco para mantê-lo aberto./Ver bisaco). O termo vem de "embornal" e sofreu sucessivas supressões, tornado-se "bornal" e finalmente "borná") Borrão: rascunho Bosta-de-rolinha: cabelo encarapinhado. Ver cabelo de fuá Botar as mangas de fora: denunciar-se Botar as tripas p'ra fora: vomitar tudo (ver vomitar até as tripas) Botar no mato: botar fora, botar no lixo Botar o pé atrás: o mesmo que resistir Botar questão: entrar na Justiça em busca dos seus direitos Botar: pôr, colocar (o termo é encontrado no folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "Vaqueiro botou o cavalo,/Com uma braça deu nado,") Bote p'ra derramar!: colocar algo franco Botija: tesouro enterrado num pote (vem do espanhol "botija"). Ver achar uma botija Breguesso: qualquer objeto sem futuro Brejeiro: cigarros de palha ou de papel e fumo feitos a mão pouco antes de serem fumados (o termo é uma referência as regiões de brejos) Briba: espécie de lagartixa Brida: rédea, antigo sistema de equitação no qual o cavaleiro montava com os estribos compridos, no bico do pé e com a perna estendida em sela apropriada (o termo vem do francês "bride", tirado do médio alto alemão). Ver estribo Briga de foice: quando algo é muito feio, desastrado, sem jeito (o termo briga vem do provençal "brega", foice do latim "falce") Brote (ó): bolacha pequena, torrada, feita de fariha de trigo (vem do holandês "brood", isto é, pão. A palavra foi introduzida na época do domínio holandês no NE brasileiro [1630-1654]. Segundo Gilberto Freyre, esta foi a única palavra holandesa incorporada ao falar nordestino. Bruaca: 1.bolça de couro, 2.mulher sem valor Bruguelo: filho muito pequeno Buchada: Prato feito à base de víseras e intestino de carneiro, ovelha cabrito ou bode Bucho: barriga (o termo é encontrado no folheto Proezas de João Grilo [1948] de João Ferreira de Lima "E nasceu de sete meses,/Chorou no bucho da mãe,") Bucho-inchado: indisposição estomacal Buchuda: diz-se de mulher grávida Bueiro: tubulação de esgoto Bozó: dado (ex.: jogou os bozós para ver se estava com sorte hoje). Originalmente significava o copo de couro usado no jogo de dados ou o próprio jogo em si Bufete: o mesmo que murro, soco (bofete) Brabo: irritado, com raiva (brabo é sinônimo de bravo, brabeza=brabo ou bravo, bravura=bravo), brabo também é uma trave de madeira à mostra dentro de casa Buliçoso: aquele que bole muito, irrequieto, inquieto Braça: uma braça equivale a seis pés (1,82m), o comprimento de corda que um homem consegue estender com os dois braços abertos (esta medida ainda é muito usada na agricultura em Barcelona, uma braça vale 10 palmos [cada palmo com aproximadamente 22cm] ou 2m e 1 palmo) Bujão: 1.recipiente metálico que armazena gás sob pressão, 2.pessoa muito gorda (vem do francês bouchon, isto é, rolha) Bulir: 1.mexer, remexer, 2.se aproveitar da ingenuidade de uma mulher para manter relações sexuais com ela (ex. "seu Antônio deve está muito brabo, José mexeu com a filha dele e sumiu no mundo") Bunda-canaça: ato de apoiar a cabeça no chão e jogar o corpo para frente, dando uma cambalhota completa (é uma corruptela de bunda-canástica ou bunda-canastra) Brechar: olhar escondido, espiar pelas brechas (vem do antigo alto-alemão brecha: rompimento, através do francês brèche) Burro-mulo: resultado do cruzamento entre um asinino e um eqüino (feminino: mula) Brecheiro (ê): tarado que brecha em casas alheias Butico de olho: momento em que os olhos se encontram mais abertos do que o normal quando se fita algo com grande surpresa (ex: 148 "quando José viu o preço do queijo, todos viram o butico de olho dele"). Ver abuticar os olhos. Cabresto: controle, arreio, freio sobre alguém (É uma peça de corda ou couro curtido com o qual se prendem as cavalgaduras pela cabeça usada para controlar um cavalo. O termo vem do latim "capistru") Cabrita: menina-moça, adolescente Cabrocha: cabra jovem Cabroeira: conjunto de cabras C: terceira letra do alfabeto português Cabaça: hímen, a virgindade de uma mulher (termo chulo, vem do quimbundo "kabasu"). Ver tirar o cabaço, descabaçar Cabueta (ê): traidor, alcagüete Cabuêta: cabra safado, bandido, mal-feitor Caçamba: basculante Cachorra: o mesmo que cadela Cabaré: casa de prostituição (corruptela de cabaret, palavra francesa que designa casas noturnas de espetáculo). Ver beréu Cachorro da moléstia (u): desgraçado, cabra ruim (ver gota-serena) Cabelo de fogo: o mesmo que cabelo ruivo (o termo é pejorativamente empregado para quem tem cabelos dessa cor) Caçote: sapo ou perereca de pequeno porte (vem do quimbundo "risote", com troca do prefixo por "ka", isto é, rãnzinha) Cabelo de fuá: cabelo pixaim quando está assanhado Caçuá: cesto de vime utilizado para o transporte de alimentos ou pequenos animais Cabimento: intimidade. Ver Dar cabimento Cafofo (ô): quartinho, acanhada e velha Cabôco: Rapaz, sujeito (corruptela de caboclo (ô), que vem por sua vez do tupi "'kari'boka', isto é, procedente do mato e designa o mestiço do branco com o índio Caboré: 1.nome vulgar de várias espécies de aves da família dos Bubonídeos, como as corujas, pertencentes ao gênero Glaucidium e especialmente do G. brasilianum, 2.indivíduo feio e de ar triste (o termo vem de "caburé" que por sua vez vem do tupi) Cabra: 1. capanga 2. rapaz, sujeito. O mesmo que cabôco (o termo vem do latim "capra" e é encontrado no cordel O filho de Evangelista do Pavão Misterioso, de Manoel Apolinário Pereira, falecido em 1955, "Abriu a porta e mandou/O cabra descer na frente-") cabra da peste/Cabra-da-peste: 1.homem corajoso, destemido, valoroso 2.afoito, 3.valentão (a origem do termo se deve a como os índios do nordeste brasileiro chamavam os invasores brancos que traziam doenças, isto é, a peste as aldeias indígenas) Cabra-de-peia (ê): 1.corajoso, macho, valentão, 2.Safado (sentido empregado em Barcelona). Originalmente cabra-de-peia era todo aquele que não reagia a castigos corporais, esse é o sentido empregado em 1928 em "A Bagaceira" de José Américo de Almeida Cabrão: 1.bode, 2.homem alto (aumentativo do desusado "cabro", isto é, bode) Cabreiro: desconfiado casinha pequena, Cagado e cuspido: igualzinho, muito parecido, a cara de um é o cu do outro (vem de encarnado e esculpido) Caga-lona: ajudante que viaja em cima de caminhão Cagão: homem que não vale nada, frouxo Caipora: fumante inveterado Cair na fraqueza: 1. desmaiar devido a fome, 2.render-se a uma tentação, ser tratado a fazer alguam coisa mesmo sabendo que isso provavelmente lhe trará conseqüências desagradáveis Caixa-prego: lugar longe demais, fim do mundo calçolas: calcinha, calcinhas Caldo-de-batata: 1.pessoa fraca, coragem, frouxa, covarde, 2.mesquinha sem Calibre: qualidade inerente num ser humano ou animal (ex.: "seu João tem um calibre muito bom!", isto é, "seu João apesar de já estar velho, continua parecendo jovem") Calombo: machucado saliente Camarinha: quarto de dormir (usada em Barcelona no século XIX e início do século XX e presente em textos do rei português D. Diniz [1279-1325] "O trovador" e no "Romance da bela infanta") Cambeta (ê): pernas tortas, arqueadas (vem da raiz céltica "camb" com a idéia de curvar) Cambito: pernas muito finas 149 Camiseiro: o mesmo que guarda-roupas Campinadeira: ferramenta rural feita de uma armação de madeira e lâminas puxada por um boi e direcionada por um homem, cuja serventia é a de cortar a terra para plantar (o termo é uma referencia a "campina", isto é, campo extenso e sem árvores) Candeeiro: o mesmo que farol, recipiente de vidro e zinco contendo líquido combustível e provido de pavil feito com um chumaço de algodão torcido. É utilizado para iluminação onde não existe luz elétrica ou na ausência temporária desta (em Barcelona se diz "candieiro", fixação gráfica de pronúncia defeituosa). Ver lamparina Cangaia: peça de madeira colocada no lombo dos animais para sustentar e transportar diversos tipos de cargas (corruptela de cangalha, há quem abrevie por canga, o termo está presente no folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "Quem canta de graça é galo,/Cangalha só pra cavalo") Cangerê: casa de prostituição, meretrício, zona (ver beréu, cabaré) baixo Canhão: mulher feia, o mesmo que tribufu, trem-virado (o termo designa originalmente a arma de guerra inventada no século XIV durante a Guerra dos Cem Anos e vem do espanhol "caño", isto é, cano grande) Caningado: pessoa que incomoda muito, irritante. O mesmo que frechado Caninguento: rabugento, chato, pentelho Canjica: prato feito de caldo de milho verde cozido com açúcar, leite de coco e sal. No centro-sul chama-se "curau" animal (o termo carcará vem do tupi. É uma ave de rapina da família dos Falconídeos [Milvago chimachima]) Carimbada: bolada, pedrada Caritó: diz-se que uma mulher está no caritó quando ela não casou Carne verde: carne bovina ao natural Carne-de-charque: carne bovina salgada, disposta em mantas (o termo "charque" vem do quíchua: "charqui") Carne-de-sol: carne salgada, cortada em tiras ou mantas, e posta para secar em varais, ao sol. Muito útil quando ainda não existia geladeiras. Pois o sal desidratava a carne e impedia seu apodrecimento Caroço (ô): semente; grão, parte dura e lenhosa do pericarpo, nos frutos carnosos chamados drupas, a qual envolve a amêndoa (o termo "grão" não é usado em Barcelona) Carregar uma barriga: diz-se quando uma mulher está grávida Carreira: o mesmo que fila, fileira. A expressão não é usada quando se faz referência a pessoas. Nesse caso usa-se "fila".(ex.: "o sabugo de milho tem várias carreiras de grãos". O termo vem do latim "carraria", isto é via, estrada para carros Carteira: o mesmo que carta de motorista Casa de Noca: lugar onde ninguém manda Casa-de-chapéu: 1.lugar muito longe, 2.casa de mãe Joana, casa de noca Casa-de-farinha: lugar onde se beneficia a mandioca, dela fazendo farinha, beiju e etc. Cantiga da perua: quando algo vai de mal a pior, diz-se que está igual a cantiga da perua Cascavilhar: procurar detalhadamente Cantoria: desafio de cantadores de viola Castanhola: o mesmo que amendoeira-daÍndia, chapéu-de-sol, castanheira ou amendoeira. É uma árvore da família das Combretáceas (Terminalia catappa) Capa-verde: alcunha pejorativa dada no século XIX e primeira metade do século XX aos protestantes em Barcelona. O termo significa o demônio, o capeta. com atenção, Catimbó: bruxaria, relativa aos ritos africanos Capucho: invólucro da flor; cápsula dentro da qual se forma o algodão (o termo vem do italiano "cappuccio", isto é, capuz) Catingueiro: habitante da caatinga Cara feia: diz-se que uma pessoa está de cara feia quando percebe-se que ela está com fome Catôco: algo de dimensões muito pequenas, pontinha de nada Cara-lisa: pessoa cínica Catombo: machucado saliente Carão: repreensão. Ver dar um carão, levar um carão Catrepilha: o mesmo que escavadeira (o termo se deve a Cater Piller, empresa que fábrica estas máquinas) Carcará: um parente das águias, é um dos maiores predadores do sertão. Quando um carcará ataca um bezerro ou uma ovelhinha, ele arranca primeiro os olhos e a língua do Catita: pessoa, animal ou coisa muito pequena (originalmente é um ratinho novo 10cm a 12cm) Catrevagem: gentinha (o termo pode ter vindo de "catre": cama pobre, miserável/a palavra catre vem do malaiala: kattil ou de 150 "catervagem/catrevage": grande quantidade de alguma coisa) usam o termo tanto nas despedidas quanto nas chegadas) Catruzar: importunar, incomodar (o termo é uma supressão de "alcatruzar") Cheio de artifício: diz-se isso com pessoas que são muito jeitosas no trato com as pessoas ou situações, procurando muitas vezes tirar vantagens Cavalo batisado: pessoa muito estúpida (O "batizado" deve vir de oficializado, reconhecido) Cavalo-do-cão: 1. pessoa metida a valente, 2. uma espécie de marimbondo caçador Chiar: o mesmo que se vangloriar Cercado-de-solta: 1.não se trata de nenhuma espécie de cercado. O termo é usado para designar o lugar em que o gado é posto sem cercas que contenham seus movimentos, onde ele quase que se perde. Por isso o termo adquiriu o sentido de morte, 2.vadiagem Chinelada: pisa, surra dada com uma chinela Ceroulas: peça do vestuário masculino, de pernas compridas, usada por baixo das calças (o termo vem do árabe vulgar "sarãul") Cevar: educar, dar conselhos, orientar (em Barcelona esta expressão é mais usada no sentido de "dar de comer", "criar") Chaboque: pedaço Chaboqueiro (ô): aquele que tem feições grosseiras Chã-de-dentro: parte interior da coxa dos bovinos (coxão mole) Chã-de-fora: parte exterior da coxa dos bovinos (coxão duro) Chafurdo: fofoca, fuxico Chaleira (ê): o mesmo que puxa-saco Chamada: gole de cachaça (o mesmo que "lapada") Chamego (ê): sedução, flerte, namoro (do verbo "chamar") Chaminé: pequeno reservatório de lata de pavil regulável e abastecido com óleo diesel que serve para iluminação (o termo vem do francês "cheminée") Chibata: sinônimo de pênis Chinfrim: sem valor Chita: tecido ordinário de algodão, estampado a cores (o termo vem do marata "chhit", marata é uma língua indo-européia derivada do sânscrito e predominante no sudoeste da Índia) Chumbado: além de soldado ou pregado com chumbo ou ferido por chumbo, o termo também tem o sentido de embriagado, atacado por doenças contagiosas. Chumbrega (é): coisa ordinária, reles, ruim (a origem do termo se deve ao militar aventureiro alemão Friederich Hermann Schönberg, que em 1615 comandou tropas portuguesas contra os espanhóis e ditava a moda na corte. Em Portugal Schönberg tornou-se "chumbergas" e no Brasil colônia o termo virou "chumbrega" com o sentido que tem até hoje). Escreve-se também "xumbrega" Chumbrega: coisa ordinária, reles, ruim (a origem do termo se deve ao militar aventureiro alemão Friederich Hermann Schönberg, que em 1615 comandou tropas portuguesas contra os espanhóis e ditava a moda na corte. Em Portugal Schönberg tornou-se "chumbergas" e no Brasil colônia o termo virou "chumbrega" com o sentido que tem até hoje) Cibito: pessoa magra ou macérrima, quase sempre de pequena estatura (escreve-se também "sibito") Chamurro: diz-se do boi mal castrado ou castrado depois de touro Cipoada (u): dar em alguém com violência e qualquer coisa (uma variação de "icipó", do tupi "isi'pó") Chanha: coceira, comichão na pele Cobrador: trocador Chapa: 1. dentadura postiça, 2. cédula eleitoral de papel, 3. fotografia (como os mais velhos ainda hoje ainda chamam, a explicação está nas antigas chapas-úmidas de fotografias) Cochinchina: lugar muito longe, do outro lado da Terra (Cochinchina é originalmente o nome antigo de uma região ao sul do Vietnã, que por sua vez era conhecido como Indochina quando ainda era uma colônia da França). Apesar de incorreto também se usa "conchinchina" (o mesmo que "meio mundo") Chau: antes que a TV e o rádio chegassem ao sertão com a força de hoje. As pessoas diziam apenas "adeus" ao se despedirem (o termo "chau" [pronuncia-se "txao"; não existe "tchau"] vem da palavra italiana "ciao". Ela se originou em Milão e chegou a Roma em 1925. Nós usamos chau nas despedidas, os italianos Coco: além do fruto do coqueiro em Barcelona também significa "crânio, cabeça" Cocorote: cascudo, pancada na cabeça dada com os nós dos dedos da mão fechada 151 Coito: reunião de bandidos, ladrões, malfeitores Cor de burro quando foge: diz-se isso quando algo é de cor indefinida Coivara: pilha de ramagens a qual se ateia fogo na roça, para limpar o terreno e adubá-lo com as cinzas se a intenção era é plantar uma lavoura (o termo vem do tupi) Corda: corda de fumo, rolo extenso de fumo vendido em feiras-livres Coleção de álcool: lápis hidrocor Coleção: caixa de lápis de cor Colosso: primeira secreção da glândula mamária após o parto. Dura de um a dois dias e não serve para consumo humano, mas é fundamental para o desenvolvimento do bezerro (o termo é uma modificação de "colostro" e vem do latim "colostru") Com a goitana: o mesmo que com a moléstia, danado da vida (o mesmo que "com a gotaserena", "com a moléstia [u] dos cachorros", "com o cão no couro" e "com o cão") Coma: vírgula nas gramáticas antigas (o termo vem do grego "kómma", isto é, pedaço, fatia; pelo latim "comma") Comadre/Compadre (u): forma de tratamento usual entre um(a) padrinho/madrinha de batismo e a mãe/pai de uma criança Comedor de farinha: alguém que não sabe de nada e não serve para nada a não ser para comer (ver: "deixou de comer farinha") Coré: porco Corpête: sutiã Costas-largas: diz-se que tem as costaslargas, aquele que tem muita influência, poder Cova: 1.abertura retangular que se faz no cemitério para o enterro de mortos, 2.pequena cavidade que se faz na terra para o plantio de sementes. O tamanho de uma plantação é medido por covas. 1 mil covas vale 25 braças ao quadrado (o termo vem da forma latina hipotética vulgar "cova", por "cava") Cova: antiga medida cristaleira: armário onde se guardam objetos de mesa Cristão: além de adepto do cristianismo, o termo também é usado no sentido de ser humano, quando se quer referir a alguém de forma muito genérica (é encontrado no folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "João Grilo foi um cristão/Que nasceu antes do dia,") Crueira: o último filho de um casal. O mesmo que "raspa de tacho" (ex.: "aquele é o crueira" Comer com a testa: ver o que se deseja sem o poder possuir Cubar: 1.ver, 2.espionar Comer com farinha: algo fácil de fazer Cu-de-jegue: 1.lugar muito ruim, 2.problema difícil de ser resolvido Comer no centro: quando algo foi grave, radical, uma briga muito feia Comer o couro: bater, surrar alguém Comer o pão que o diabo amassou: sofrer muito, passar por inúmeras provações Confeito: o mesmo que bala (o termo vem do latim "confectu": acabado, através do italiano: confetto) Conhecer pelo pêlo: diz-se que se conhece algo pelo pêlo algo ou alguém quando a conhece muito bem, de longe (o termo é uma referência ao pecuarista que bem conhece o seu rebanho. Ex.: "José veio me pedir dinheiro emprestado mas neguei, aquele eu conheço pelo pêlo") Cuia: 1. fruto da cuieira, vasilha feita com a casca desta fruto, cortada pelo meio ao comprido, 2. vasilha semelhante a cuia, 3. medida de capacidade que equivale a 1/32 do alqueire (o termo cuia provém do tupi). Ver alqueire Cumieira: cume, parte mais alta do telhado de um edifício (é encontrado no cordel O pavão misterioso de José Camelo de Melo Resende, falecido em 1964, "Bem no sobrado do conde,/Na cumieira aterrou". o termo é uma variação de "cumeeira" que vem de cume, que por sua vez veio do latim "culmen") Curioso: pessoa iletrada, porém conhecedora de algo Consolo (ô): chupeta para crianças Cutelo: o mesmo que facão (o termo vem do latim "cutellu", isto é, faca pequena) Copo de coco: copo feito com um coco sem casca e aberto circularmente em cima, é atravessado por uma varinha de um hemisfério a outro. Era usado pelos sertanejos muito pobres nos séculos passados. Seu uso só veio a desaparecer na segunda metade do século XX. Cutilada: golpe de cutelo, pau, faca ou foice (o termo é encontrado no cordel O filho de Evangelista do Pavão misterioso "Genival, com muita calma,/Rebateu a cutilada/E de um golpe tirou-lhe/O distintivo da farda.") 152 Dereito: o mesmo que direito (a expressão pertence ao português arcaico) Derradeiro: último (Grilo: "Talvez o Grilo não minta,/Diga até a derradeira!") Derramar: entornar D: quarta letra do alfabeto português Da bexiga taboca: é usado como um superlativo de superioridade (ex. "essa cachaça é da bexiga taboca!"). taboca vem do tupi Da moléstia (u): é usado como um superlativo de superioridade Dá um caldo!: diz-se de uma mulher que não é muito bonita mais dá para namorar Danado: levado Danar-se no mundo: desaparecer no mundo, ir embora de forma aventureira Descabaçar: desvirginizar, tirar a virgindade de uma mulher (expressão chula). O mesmo que tirar o cabaço. Ver cabaço Descançar: o mesmo que dar à luz Descer a ripa: dar uma pisa Descer do ônibus: saltar do ônibus Desmantelado: 1. desorganizado, arrebentado, 3. bagunceiro 2. Desmentir (i): numa queda, sofrer luxação ou ligeiro deslocamento nos ossos dos dedos das mãos ou dos pés Danou-se! (ô): 1. expressão de surpresa, e agora?, Que coisa!, virgem!(o mesmo que vige!, vote!, tá com a peste!), 2. sair apressado (Grilo "João Grilo disse: - Danou-se!/ Misericórdia, São Bento!/Com isto mamãe se dana!") Despachado: pessoa desinibida, que resolve tudo e com facilidade, sem cerimônia Dar a gota (ô): Ficar irritado, enfurecido (também usa-se "dar a gota-serena") Destá (ê): deixa está, deixa p'ra lá, depois a gente acerta as contas Dar as horas: o mesmo que cumprimentar Dezanove: dezenove (a expressão pertence ao português arcaico) Dar cabimento: dar liberdade, permitir intimidade (Filho Pavão: "Ela procurou falarlhe/Ele não deu cabimento.") Dar gosto ao cão: fazer a vontade do inimigo Dar parte: denunciar, dar queixa a um delegado de polícia (os termos vêm do latim "parte", dar de "dare") Dar um agrado: dar uma gorjeta ou um dinheirinho a alguém, uma pequena recompensa Dar um carão: o mesmo que dar uma repreensão pública (passar um carão, levar um carão. O termo vem de cara fechada, cara de repreensão de quem repreende) Dar um quinau: ver quinau Dar um toque: sondar alguém sobre algo (não é gíria do centro-sul, é encontrada em "A Bagaceira"[1928] de José Américo de Almeida) De hoje a oito: dentro de uma semana, de hoje a oito dias (incluindo o dia de hoje) De lascar o cano: difícil, trabalhoso Deixar de comer farinha: "comedor de farinha") morrer (ver: Dente queiro (ê): dente do siso, o último dos molares Despois: o mesmo que depois (a expressão vem do português arcaico, foi usada por Luís de Camões em "Os Lusíadas") Dia: além de 24 horas, também é o período que corresponde do nascer do sol ao seu poente sem contar com as horas da noite (ex.: "deixe aquela roupa de molho durante um dia e uma noite") Diadema: arco para prender os cabelos (antigamente era um ornato em que os reis cingiam a cabeça,vem do grego diadema, pelo latim diadema) Difrusso: gripe Difusora (ô): serviço de utilidade pública, no qual por meio de aparelhagens eletrônicas, é usado para difundir ondas sonoras por meio das quais se divulgam notícias e músicas (o termo vem de "difusor", que por sua vez vem do latim "diffusore", isto é, o que "transfega") Dindim: soco de fruta congelado dentro de um saquinho plástico (no RJ é conhecido como "sacolé" e em SP "sucolito") Disposto: 1. trabalhador, 2. pessoa que é "pau para toda obra" (Grilo "O Sultão admirou-se/Da sua disposição.") Dizer: falar Dizeres: palavras bonitas ditas ou escritas, engalanadas Dobrar à direita, à esquerda: virar à direita, à esquerda 153 Doença do mundo: doença venérea Doirado: dourado (a troca do "i" pelo "u" é típico do português arcaico, o termo é encontrado em Pavão "Todo o meu sonho doirado/E Vê-la minha senhora".) Dona: Tratamento de consideração dispensado às senhoras (o termo vem do latim "domina", isto é, senhora. Originalmente o termo é um título honorífico feminino correspondente a Dom que por sua vez precedia o nome próprio de monarcas portugueses e brasileiros, assim como de pessoas de elevada posição social na Espanha e em Portugal. Mas esse uso no Brasil perdeu-se no tempo, atualmente é usado como forma de tratamento respeitosa nos países de língua espanhola. Dom hoje é usado pelos membros do alto clero. O termo vem do latim "Dominu", isto é, senhor) Dor-de-veado: dor pontiaguda que ocorre na altura do braço depois de uma corrida muito puxada (o termo vem de "dor desviada") Dorminhar: o mesmo que dormir (a expressão pertence ao português arcaico) Dum: de um (fixação gráfica da pronúncia defeituosa, o termo é encontrado no folheto de cordel "O Pavão Misterioso" de José Camelo de Melo Resende, falecido em 1964, "Onde dormia a donzela,/ Debaixo dum cortinado") Égua Forró: égua que tem incontinência urinária (o termo é do século XIX e início do século XX, mas hoje está em desuso) Em quantidade: expressão que significa muito, em grande quantidade (ex."naquele pomar havia frutas em quantidade". O termo vem do latim "quantitas", "atis"). Essa expressão não tem o sentido relativo de muito ou pouco, é sempre muito. Embeiçar: beijar na boca (ex.: Ele estava embeiçado com aquela moça) Embolar: Atrapalhar, enrolar, confundir Emburacar: entrar abruptamente em algum lugar Emendar os bigodes: lutar, brigar, esmurrar Empalhar: se atrasar (ex.: pode ir! Mas não se empalhe!) Empeleitar: sistema de pagamento em que o trabalhador é pago não pelo tempo que leva para executar um serviço, mas sim pelo serviço, não importando o tempo. Também se diz "impeleitar". Encafifado: 1. desconfiado, 2. encabulado Encalcar: vedar as juntas de (duas peças de ferro). O termo é encontrado no folheto de cordel "O pavão misterioso" de José Camelo de Melo Rezende,falecido em 1964, "Encalcando em seu pavão,/Voou bastante vexado,") Encapar: encadernar Encarcar: apertar, fazer pressão (fixação gráfica da pronúcia defeituosa, "encalcar") E (É): Quinta letra do alfabeto português. Conforme esclarece Marcos de Castro em seu livro "A imprensa e o caos na ortografia" é errada a pronúncia "ê", quando se diz, por exemplo, as vogais: A, B(bê), C(cê), D(dê), E(ê)...muito difundida no centro-sul do país. Isso no que se refere ao nome das letras, não a fonemas (que podem ser abertos como em "hotel" ou fechado como em "pessoa"). Segundo o autor "(...) o nome da letra é sempre aberto, é sempre como se tivesse um acento agudo". Para ilustrar o caso ele cita os exemplos de IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e TVE (TV Educativa). Ninguém diz "IBGÊ" ou "TVÊ". O correto é como se pronuncia no nordeste brasileiro, isto é, "é". É foda!: é de foder!, é danado! E mesmo que queijo: coisa fácil, facílima de fazer E pronto!: fim Encasquetar: meter na cabeça Encruado: emperrado; que não anda, não progride Enfado: cansaço Engabelar: iludir Engalobar: diz isso quando ao colocar alguma coisa num lugar, se aproveita o espaço para pôr mais uma coisa Engangar grilo: ficar à toa, sem fazer nada Engasga-gato: cachaça Engolir corda: adular uma pessoa com propósito de zombaria (ex.: "Engole corda cacimbão", "José engole uma corda!") Engomar: passar, no caso roupas (a origem da expressão se deve ao fato de que antigamente se usava goma de mandioca para passar roupa com um ferro a brasa e ela ficar sem vincos) Engrujado: encolhido, escondido (também se escreve "engurujado") 154 Enguiçar: pular por cima do corpo de alguém, diz-se que isso a impede de crescer Enredar: fazer intriga, mexerico, enredo (o termo vem de "rede" que por sua vez provém do latim "rete", "retis") Enrolar: enganar Entonces: o mesmo que "de então" (a expressão pertence ao português arcaico) Enxerido (i): 1.ousado, 2.atrevido, 3.oferecido, 4.intrometido, 5. metido Enxovia: cadeia, prisão (o termo vem do árabe "al-jubb", isto é, poço, "aljube+ia" e está presente no folheto Grilo "Pra depois de ser julgado/ Ser posto na enxovia." O termo está em desuso em Barcelona) Equitare: medida de terra que vale 3 mil covas. Ver cova Erado: o mesmo que boi velho Escambau: tem o sentido de "e tudo o mais" Escavacar: cavar Escorão: preguiçoso, quem por não querer trabalhar se apóia no trabalho dos outros Estribo: peça de metal ou madeira, em forma de aro, pendente lateralmente da sela, selim...etc, por meio de uma correia, na qual o cavaleiro firma o pé ao montar e cavalgar (o termo vem da forma germânica hipotética "streup", através do catalão "estrep"). Ver brida Estrondo: terremoto Estucioso: enganador, ardiloso, manhoso (o termo é uma variação de astucioso. Astúcia vem do latim: astutia) Estudar o caso: pensar melhor (Grilo: "temos um roubo a fazer,/Desde ontem que estudo,") Estudar: pensar Estuque: o mesmo que forro (originalmente, é a mistura de água, gesso e cola). Vem do italiano "strucco") Eu cegue!: o mesmo que "eu me dane!" (ex.: eu cegue se isso não for verdade!) Eu estava lambendo uma rapadura: o mesmo que "eu estava doido, muito afim". (ex.:"eu estava lambendo uma rapadura para que ela me dissesse quem era o dito cujo") Escorrego (ê): brinquelo de criança nos parques, o mesmo que "escorregador" no resto do país Esmorrecer: desfalecer aos poucos, diminuir de intensidade(luz, som etc.). O termo é incoativo do antigo "esmorir" e é encontrado no folheto "O pavão misterioso" de José Camelo de Melo Rezende, falecido em 1964,"Vai à presença do grande,/Se é homem, não esmoreça!") Espragatar (-se): o mesmo que ficar deitado no chão, como uma alpercata (o termo "pragata" é alpercata). O mesmo que apragatar-se. A expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida F: sexta letra do alfabeto português. Antigamente não se dizia "éfe", mas sim "fê" Famosa: mulher bonita, famosa (o termo tanto pode ser uma ariação do vocábulo "formosa", como ver de famosa que por uma vez vem do latim "famosa que por sua vez vem do latim "famosus", já que famoso também tem o sentido de extraordinário) Fardo de algodão: cerca de 1.100kg Farol: ver candeeiro Espritado: valentão, enfurecido, manifestado, com o diabo no couro (vem da corruptela de espíritado) Fartuna: quando se excede o suficiente (o termo vem do latim "fartura") Esquema: 1.negócio, 2.caso amoroso Fazer arte: ver Arte Esquisito (i): lugar abandonado, deserto Fazer carreira: correr Estalecido: 1.gripe, 2.gripe fraca Fazer dinheiro: diz-se que alguém tem condições de fazer dinheiro quando se tem um patrimônio ou mercadorias que podem ser vendidas e transformadas em dinheiro. Estaqueado: rasgado Estar com a macaca: o mesmo que estar com muita pressa Estar na tira: estar na miséria Estar triste: comer muito (ex.: comeu tanto que ficou triste) Estoporar: 1.esbanjar, 2.desperdiçar Estourar: ficar incontrolavelmente zangado Fastio: falta de apetite Fazer mandado: diz-se isso quando se vai, a mando se alguém, fazer um pequeno serviço como por exemplo dar um recado ou comprar algo, a troco de nada ou de uma pequenina remuneração. 155 Fazer o apanhado: pesquisar, investigar um boato Fazer sabão: a relação sexual entre duas lésbicas Fazer um encomenda serviço: matar alguém por Fechar o tempo: 1. ficar nublado, 2. início de uma briga Feijão branco: feijão-de-macassar (um dos tipos de feijão branco) Feijão-gordo: três tipos conhecidos são gurgutuba (de arranca), cavalo-claro e preto. O feijão branco (macaça) é o único que não é gordo. Feira da sulanca: feira de artigos baratos, vindos de outros lugares Ferrão: pedaço de pau com ferro pontiagudo na ponta Fiado: quando se compra algo para pagar depois. O termo é invariável Ficar no caritó: não casar Ficar no rabo da gata: diz-se quando alguém ficou em último lugar (o termo é uma expressão das vaquejadas) os soldados americanos qualificavam as festas "para todos" quando estes estiveram servindo numa base aérea no RN durante a 2a Guerra Mundial). Ver Égua forró Fraco: miserável (o mesmo que pica-fumo) Franco: generoso, além dos sentidos de sincero, leal, espontâneo, isenção de pagamentos e francos (confederação dos povos germânicos que invadiram a Gália, atual França, no século V). O termo vem do germânico "frank", isto é, livre, não escravizado. É interessante notar que hoje "França"em alemão,língua germânica, é "Frankreich", que numa tradução literal seria "Reino dos Francos", ou antes "Reino dos Livres". Frasqueira: nome usado antigamente para designar as bolsinhas carregadas pelas mulheres, porém as frasqueiras eram em forma de cubos e bem maiores que as bolsinhas de hoje) Frear: brecar Frechado: pesso que incomoda muito, irritante. O mesmo que caningado (o termo vem de frechar que é uma variação de "flexar") Filho de criação: o mesmo que filho adotivo Friso: granpo de metal usado para prender os cabelos Filho de goiamum: o mesmo que filho ilegítimo, o qual não se sabe quem é o pai Fruita (ú): o mesmo que fruta (em português arcaico se dizia "fruita") Fim de era: fim dos tempos, apocalipse (fim vem do latim "fine", era do latim "aera") Fubá: farinha de milho moída e não secado ao sol ou ao fogo (o termo vem da língua angolana quibundo "fuba", isto é, farinha de mandioca) Findar: terminar (o termo está presente no folheto de cordel "O pavão misterioso" de José Camelo de Melo Resende, falecido em 1964, "Se eu não casar com Creuza,/Findo os dias enforcado!") Flozô: homossexual masculino corruptela de "florzinha") (é uma Foi bater lá: diz-se quando alguém foi para alhures, foi parar lá. Foi uma riqueza: diz-se isso quando se quer dizer que algum imprevisto acabou sendo muito bom; foi uma sorte, uma graça divina (ex.: João que batia na esposa sumiu a quatro anos, para ela foi uma riqueza") Fuleira: mulher da vida, prostituta, quenga, rameira Fuleiragem (ê): brincadeira de mal gosto Fulgor: clarão, brilho, resplendor (o termo vem do latim "fulgor", "is"e está presente em Grilo "O castelo estava em flores,/Cheio de tantos fulgores") Fulô: sinônimo de flor Fundura: profundidade Fuxico: fofoca Fuzuê: tumulto Foja (ó): armadilha para capturar préas Folote: roupa larga Formosura: beleza (o termo é encontrado em Grilo "Criou-se sem formosura,/Mas tinha sabedoria") Forró: arrasta-pé, festa dançante (há duas origens para o termo, a mais provável é que seja um modo abreviado de dizer "forrobodó" a outra é que venha de "for all", assim era como G: sétima letra do alfabeto português Gabiru: rato grande e escuro Gabola: quem esnobando é convencido e fica se 156 Gala: sêmen Galalau: diz-se das pessoas de elevada estatura. O mesmo que galamprão. Galamprão: diz-se com as pessoas muito altas. O mesmo que galalau. Galego: assim se diz com quem é loiro ou aloirado (o termo vem do latim "gallaecu" e diz respeito a região da Galícia, na Espanha) Gambiarra: coisa improvisada, para uso temporário; como um teto a mais puxado de uma casa já construída Ganhar o mundo: sumir, desaparecer Garajau: cesto de palha para se transportar rapaduras Garapa: 1. água com açúcar, 2. caldo de cana Garapeiro: diz-se de quem gosta muito de pedir caronas Gás-óleo: querosene Gastura: acidez estomacal, ânsia de vômito Gato: ligação elétrica ilegal Gavar: falar bem de alguém, o mesmo que elogiar Geladeira: refrigerador Gibão: blusão de couro do vaqueiro para protegê-lo dos espinhos da caatinga. Pode ser de couro de gado ou de bode. O mesmo que vesta (o termo é uma alteração do arcaísmo "jubão") Ginásio: em Barcelona é como se chama um estabelecimento de ensino de 5ª a 8ª série (do grego: gymnásion, pelo latim: gymnasium) Gogó: garganta, no sentido figurado (O termo é encontrado no Folheto Proezas de João Grilo (1948) de joão Ferreira de Lima "Pegou uma largatixa,/Amarrou pelo gogó,") Gosto (ô): além de paladar e sabor também tem os sentidos das figurados de simpatia, inclinação, disposição, interesse, satisfação, elegância e vontade (o termo vem do latim "gustu"e está presente no cordel O Filho de Evangelista do Pavão Misterioso, de Manoel Apolinário Perreira, falecido em 1955, "Não faço todos teus gostos,/Farei menos da metade -") Gota-serena: desgraçada, bandida (nome vulgar de amaurose, isto é, um enfraquecimento ou perda total da vista sem alteração dos meios transparentes do olho. Ver cachorro da moléstia Gozado: engraçado Graça: nome (ex.: "qual é a sua graça, mesmo?". O termo está fora de uso e vem do latim "gratia", os crentes viam no nome, ou no ato de nomear através do batismo, um sinal de alguma dádiva divina) Grafite: lápis. O mesmo que "lápis comum". Isto devido ao grafita, um mineral preto ou cinzento-escuro, cristalizado em lamelas hexagonais, que constitui uma variedade do carbono e é usado na fabricação de lápis (o termo vem do grego "graph", raiz de grápho = gravar + ita) Grajau: o mesmo que garajau Graúdo: grande, alto (O termo é encontrado no Folheto Proezas de João Grilo (1948) de joão Ferreira de Lima "Lá partimos o dinheiro,/Pois aqui tudo é graúdo") Grossa (ó): forte, quanto se referir a chuva (O termo é encontrado no Folheto Proezas de João Grilo (1948) de joão Ferreira de Lima "Sai correndo pelo chão,/Será uma chuva grossa/Nos barros de um sertão!") Grude: 1. doce de goma de mandioca seca e coco ralado, 2. sujeira da pele (o termo vem do latim "gluten") Grupo: além do sentido de conjunto, em Barcelona grupo é como se conhece uma antiga escola, Profssor Tertuliano Pinheiro Filho (o termo é uma referência a grupo escolar e vem do italiano "gruppo") Guarda-louça: armário no qual se guarda a louça. O mesmo que cristaleira Guarda-roupa: armário Guela: garganta Guiné: o mesmo que galinha-d'angola (o termo se refere à região da África conhecida como "Guiné") H: oitava letra do alfabeto português História p'ra boi dormir: conversa mole I: nona letra do alfabeto português Igual a batata na areia do rio: algo criado ou mantido desleixadamente (a origem do termo está na facilidade que há em cuidar de uma plantação de batatas) 157 Igual a cantiga da perua: quando algo vai de mal a pior, diz-se que está igual a cantiga da perua Imbu: fruto típico do sertão. O mesmo que Umbu (o vocábulo vem do tupi "imbu") Impeleitar: ver empeleitar Ingrês: o mesmo que inglês (a expressão pertence ao português arcaico) Insossa (ô): pessoa sem charme,sem graça Intelijumento: termo usado para ridicularizar as pessoas inteligentes que cometem um erro absurdo. (o neologismo é uma mistura de inteligente com jumento) Jia: sinônimo de rã (o termo vem de uma onomatopéia tupi "yui") Jiquí: corredor feito de cercas no qual passam bovinos de forma ordenada e controlada. É muito usado quando se quer aplicá-los ou vaciná-los. Duas portas nas extremidades do corredor controlam a entrada e a saída dos animais, enquanto varas colocadas transversalmente por dentre as cercas e por baixo dos bovinos impedem, sempre que necessário, que eles se deitem. Interar: bastar (ex.: já estou interado de jogar futebol, isto é, já estou farto de jogar futebol) Jirau: quatro varas com forquilha fincadas no chão sobre as quais uma série de varas bem juntas eram estendidas. Sobre o jirau eram postas as panelas feitas de barro na época e utensílios de cozinha (o termo vem do tupi "yurab", isto é, soltar) Intiguichado: estado em que se encontra um animal que comeu tingui. Ver tingui João-redondo: teatro de fantoches (o mesmo que "mamulengo") Intuar: 1. idéia fixa, 2.plano, intento, propósito, fim (o termo provavelmente é uma variação de "intuito", esta por sua vez vem do latim "intuitus",isto é, "vista de olhos") Judiar: maltratar, atormentar (o termo é uma antiga referência aos maus tratos dirigidos a um judeu, "judeu+ar") Invernada: Estação das chuvas em época indefinida no período chamado impropriamente de inverno (o termo vem do castelhano platino "invernada") Jururu: tristonho Inverno: período de chuvas no sertão, seja qual for o período do ano. Não tem nada a ver com as estações. Invocado: 1.brigão, valente, 2.fantástico (ex.: "olhe que roupa invocada!") Isonor (ô): o mesmo que isopor, "poliestireno" (a origem do termo está na empresa regional que fabrica o produto: ISOpreno do NORdeste) L: décima primeira letra do alfabeto português. Antigamente no sertão, não se pronunciava "éle", mas sim "lê" ("lê" era o valor de soletração que os romanos davam a esta letra, precedido de um e que aparece nos nomes das fricativas) Labezinha: entidade fantástica com que se pretende meter medo nas crianças. É a versão feminina do bicho-papão. Lambedor: charope medicinal feito de cascas de frutos ou ervas J: décima letra do alfabeto português (o termo vem do grego "iota", pelo latim "iota", nome de letra correspondente ao "i") Lambreia: moto velha, fora de linha Jabá: carne salgada de vaca, disposta em mantas, carne seca, o mesmo que charque (o termo vem do tupi "hebe",isto é, aquilo que tem bom gosto") Lamparina: pequeno reservatório de óleo disel, azeite ou outra substância inflamável, com um pavil no bico e utilizada para iluminar feito geralmente com uma latinha de óleo comestível soldada e com um bico de zinco. Nela há um pavil de pano ou de algodão (o termo vem do espanhol "lamparilla" e é encontrado em Grilo "A qualquer hora da noite,/Andando de lamparina?"). Ver candeeiro Jarro: vaso Jegue: sinônimo para burro e jumento (o termo vem do inglês "jack-ass") Jerico: asinino, burro, jumento Jerimum (i): o mesmo que abóbora Laminha: parte interna do coco verde Lançol: o mesmo que lençol (a expressão pertence ao português arcaico) 158 Lapada: 1. gole de cachaça (o mesmo que "chamada"), 2. pisa, surra Levar um carão: sofrer uma repreensão pública. er carão, dar um carão. Lápis comum: lápis. O mesmo que "grafite" (o termo vem do latim "lapis", isto é, pedra. Através do italiano "lapis") Levar uma taboca: ser prejudicado, lesado num negócio Lápis tinta: caneta Lapiseira: apontador Laranja cravo: o mesmo que mexerica ou mexeriqueira (termos populares), tangerina (o termo vem de laranja tamgerina, isto é, de Tânger, no Marrocos, com elipse do substantivo (a árvore desse fruto é da família das Rutáceas [Citrus nobilis]) Lascado: pobre Latada: cobertura improvisada de palha de coqueiro, folhas-de-flandres ou quaisquer outros materiais Légua: medida ainda em uso em Barcelona. Uma légua equivale a 6.600m (o termo é encontrado no cordel O filho do pavão misterioso "Voaram umas vinte léguas,/Para o lado do Poente;") Lei: além dos sentidos de norma de direito, convenção, regra, também tem o sentido de educação que se dá uma criança, o modo e a disciplina com que ela é criada; tudo o que se refere a antigos costumes em desuso [lei velha], o termo vem do latim "lege" Lelé: ingênuo Lesado: doido, bobo, distraído ao extremo (o mesmo que "leso" [é]) Letra: sinal feito no gado com ferro de marcar incandescente para se saber de onde vem determinado bovino. Geralmente se usam as iniciais da cidade ou da região de origem. Por ex.: o gado da região norte-rio-grandense do Potengi é marcado com "P"; os da cidade de Rui Barbosa têm a marca "PO", "P" porque o município é da região do Potengi e "O" porque o antigo nome da localidade era Olho d'Água; o gado de Santana do Mato por sua vez é marcado com "X". (o termo vem do latim "littera").Ver "marca" Levar e dá carga: diz-se isso quando numa vaquejada se conssegue levar o boi até a faixa e derrubá-lo. Ver "vaquejada", "se arroche!", "batedor de esteira", "vaqueiro", "valeu o boi!", "abrir as turbinas","boi mobral", "levar um cambão" Levar um cambão: 1. diz-se isso numa vaquejada quando o boi corre mais que o cavalo, 2. levar desvantagem num negócio. Ver "vaquejada", "se arroche!", "batedor de esteira", "vaqueiro", "valeu o boi!", "abrir as turbinas", “boi mobral", "levar e dá carga" Lhe: forma oblíqua do pronome pessoal, de 3ª pessoa do singular.O costume de se iniciar frases com pronomes oblíquos é muito comum no sertão nordestino, apesar de ser condenado pela gramática atual. Tal costume era típico do português arcaico (o termo vem do latim "illi" e é encontrado no cordel O pavão misterioso "Lhe propôs um bom negócio,/Oferecendo dinheiro") Liga: borracha para prender dinheiro Língua-de-sogra: além do conhecido apito, em Barcelona é uma tapioca de farinha de trigo frita Liso, leso e louco: sem dinheiro pra nada Liso: sem um centavo Loção: perfume, nome genérico para vários tipos de perfume (o termo vem do latim "lotio", "onis", isto é, "lavagem") Loiça: o mesmo que louça, utensílios de mesa de uma casa (o termo é uma resistência do português arcaico e é usado ainda hoje em Portugal) Lombo: as costas, dôrso (o termo é encontrado em Grilo "(...)O gadinho de meu pai/ Passou com o lombo de fora!") Luita: o mesmo que luta (palavra vinda do português arcaico, é encontrada em documentos de 1400 a 1600) Lumiar: o mesmo que alumiar, iluminar (o termo vem de "luminar" que por sua vez vem do latim "luminaris") M: Duodécima letra do alfabeto português. Antigamente no sertão, inclusive Barcelona (até a 2ª metade do século XX) não se pronunciava "ême" mas sim "mê" (mê era o valor de soletração que os antigos romanos davam a esta letra, precedido de um e - que aparece no nome das letras africanas) Macaca: em Barcelona é um tipo de chicote de cabo curto e usado para açoitar animais de carga Macacoa: o mesmo que virose 159 Macaxeira (ê): o mesmo que mandioca, aipim. Planta da família das Euforbiáceas (Manihot palmata)(o termo vem do tupi "makaxera") Magote: muita gente, um bando (ex.: aquilo era um magote de cabra sem futuro") Mal triste: doença em que o gado pára de se alimentar, de beber e morre. Assim se diz apenas com relação ao gado (o termo é encontrado no folheto de cordel Pedro Cem "Deu murrinha nas ovelhas e mau triste em todo gado.") gado pode comê-la, mas não pode agitar o sangue, nem sentir cheiro de estrume. Maninha: estéreis diz-se das ovelhas ou cabras Manipueira (ê): líquido leitoso e venenoso da mandioca ralada a que se extrai com cuidado por pressão antes de fazer a farinha e contém ácido cianídrico (a expressão é de origem tupi "manipuera",isto é, mandioca que já foi) Maldar: suspeitar Maniva: caule da mandioca destinado à plantação ou a ração para bovinos (o termo vem do tupi "maniwa",isto é, árvore de Mani) Mamulengo: teatro de fantoches (o mesmo que "joão-redondo") Manopa: pulseira de couro curtido ou de corda usada em bovinos ou eqüinos Mandado: 1.ordem, 2.tarefa a que se delega a alguém (no Pavão "Vivo como criminosa,/Sem gozar a mocidade!") Mão-de-vaca: em Barcelona assim se diz com quem é sovina Mané de vazante: imprestável sujeito sem futuro, Maneiro: o mesmo que leve (o termo vem do latim "manuariu", isto é, manejável) Manga: além de fruto da mangueira (do mamaiala "manga"), parte da roupa a qual cobre o braço a partir do ombro, manga também é o nome do recipiente de vidro que junto com a armação de ferro resguarda o fogo do candeeiro ou farol. Também chama-se manga um cercado formado por duas cercas de arame com um travessão ligando uma a outra pelas extremidades. Onde também se encontram pequenas estacas fincadas com parte de comprimento dentro das águas de um açude ou barreiro. O artifício é usado para que o gado não suje a água nem aterre o barreiro quando for beber na margem. Com suas cabeças sobre o travessão e entre as estacas só a cabeça do gado entra em contato com a água. Seus excrementos ficam no solo, dentro do cercado. Mangalheiro: vendedor (pronuncia-se mangaieiro) de mangalho Mangalho: produção caseira da lavoura ou de artesanato que é vendido nas feiras-livres (pronucia-se mangáio) Mangar: ato de criticar, vaiar, zombar com o propósito de brincar, sem maldade Mangunzá: refeição típica feita de milho cozido, açúcar e leite (é uma variação de "mucunzá", vem da língua angolana kimbundo "mu'kunza", isto é, milho cozido) Maniçoba: planta da família das Euforbiáceas (Manihot glaziovii). Nas fomes de 1915 as pessoas comiam a batata desta planta sem gosto. Dizem os agricultores sertanejos que o Marca não!: não insista, não incomode por favor! Marca: sinal feito no gado com ferro de marcar incandescente para distinguir os donos dos animais. Geralmente se usam as iniciais dos donos ou outra marca de sua preferência (o termo vem do germânico "marka", isto é, sinal, fronteira).Ver "letra" Marchante: abatedor e comerciante de carnes (vem do francês "marchand", isto é, comerciante) Maria-vai-com-as-outras: pessoa sem opinião própria (esta expressão idiomática tem origem religiosa e está ligada a Nossa Senhora. Isto por que, normalmente, os rosários eram formados por 150 Ave Marias - todas sempre iguais, em seqüência, separadas apenas por 15 Pais Nossos. Ou seja, a uma Maria, seguiam-se as demais. No passado, quando uma pessoa tinha personalidade fraca, o povo começou a dizer: é uma "Maria vai com as outras...") Marmota: pessoa feia, esmolambada, malvestida (vem do francês "marmotte", a origem do termo está em marmota ser um nome comum a mamíferos da família dos Ciurídeos, pertencentes ao gênero Arctomys) Marrã: ovelha novinha Marretar (é): enganar, trapacear Marreteiro (ê): trapaceiro, vigarista Marva: Grama que aparece depois das chuvas. Capim ralo, vegetação rasteira (talvez venha de "malva": nome genérico de várias plantas da família das Malváceas/do latim: malva). Ver babugem Mas tá!: é evidente, não está vendo? Máscara: além do artefato que simula as configurações de um rosto, máscara também é 160 uma peça de couro cru que cobre a visão do boi para ele não ir longe. É levada na sela do cavalo. Faz parte dos apetrechos do vaqueiro (o termo vem do italiano "maschera") Massada: demora (ex.: e esse ônibus que não chega! Que massada!") Matulão: saco nas costas, bisaco (o termo é o aumentativo de "matula" e está presente em Grilo "Sapato velho furado,/Nas costas um matulão!") Matuto: além de caipira, tem também o sentido de tímido, desconfiado, acanhado, não atualizado com os novos costumes (o termo é uma referência aos habitantes do mato) Me: forma oblíqua da 1ª pessoa do singular usada como objeto direto e objeto indireto. Condenado pela gramática do português atual, o costume de se iniciar frases com pronomes oblíquos é muito comum no sertão nordestino e isso era típico do português arcaico (o termo vem do latim "me", acusativo de "ego"). Grilo "Me pague mil e quientos-/ Essa coité, seu vigário,/É de mamãe mijar-dentro!") Medonho: que causa medo, muito feio (o termo se refere a "medo" que por sua vez vem do latim "medus" e é encontrado em filho pavão "Então, nesse mesmo ano,/Houve uma festa medonha:") Meieiro: aquele que cultiva a terra dos outros e com o dono das terras divide ao meio a produção(também se usa o termo "meiêro") Meio mundo: cochinchina lugar muito longe. Ver Meio rádio-meio televisão: pederasta passivo Meio-fio: guia da calçada Meiota (ê): pequena dose de cachaça com coca-cola Mel de engenho: a calda grossa do açúcar com o qual se faz a rapadura Melado: 1.bêbado, 2 sujo (Grilo "O português levantou-se,/ Tristonho e todo melado.") Mequetrefe: indivíduo desqualificado Merenda: lanche (o termo é encontrado no romance "Menino de engenho [1932] de José Lins do Rego "Levávamos merenda, pedaços de pão e queijo, que as formigas comiam.") Mialheiro: o mesmo que cofrinho Milacria: 1.algo ruim, 2.feio Misto: antigo ônibos outrora em circulação em Barcelona que servia tanto para o transporte de passageiros quanto de cargas) Misturar-o-fato-com-areia: diz-se quando vai acertar as contas com alguém de forma violenta Moco: surdo Mode: de modo a, para, com o objetivo de... Molenga: pessoa que demora muito para fazer as coisas Moléstia das cachorras!: diz-se isto quando se quer dizer "que infelicidade!", "que azar!" Moleza (ê): 1. infelicidade, azar (ex.: "perdi o ônibus! Sé uma moleza!", isto é, "perdi o ônibus! Que azar!"; "sé" é uma forma rápida de se dizer "isto é"), 2."estar com moleza"= boa vida Momo: cacoete Morador: caseiro, aquele que presta serviços durante uma temporada nas terras de alguém, inclusive tendo direito a uma casa enquanto estiver prestando seus serviços Morça: o mesmo que morso, isto é, mordidela, mordedura. O termo pertencia ao jargão dos sinais utilizados para marcar as orelhas das ovelhas afim de se saber quem era o dono do animal. O sinal dito morça corresponde a um furo redondo (a expressão vem do latim "morsus") Morcego: cédula monetária de pequeno valor, dinheiro miúdo. Mosquiteiro: cortina de tule usada nas camas e nos berços para evitar a picada de mosquitos durante o sono Motoca: o mesmo que moto (a origem do termo está em motocicleta (o termo vem do francês "motocyclette", posteriormente modificada para motoca e moto) Mourão: estaca em que se enfiam os paus da cancela Muafo: pano velho, roupa velha Mula: resultado do cruzamento entre um asinino e um eqüino (masculino: burro-mulo) Mestre: além de significar homem que ensina, professor, pessoa de muito saber, em Barcelona o termo também se refere a pedreiro (a expressão vem do latim antigo "maestre"). Ver servente Mulher direita: mulher que tem honesta, não promíscua, fiel, honrada Metido a convencidas Mundiça: gentinha. Ver catrevagem besta: diz-se de pessoas pudor, Mulher-macho: mulher corajosa, valente, de fibra, que enfrenta tudo Munheca: pulso 161 Muriçoca: o mesmo que pernilongo, mosquito Murrinha: qualquer doença que dá nos galináceos, ouvinos, caprinos causando sua morte (o termo é encontrado no cordel Pedro Cem "Deu murrinha nas ovelhas e mau triste em todo gado.") Mutuca: mosca grande que incomoda muito e cuja picada provoca dor. Nome de insetos dípteros braquíceros da família dos Tabanídeos (o termo vem do tupi "mbotuka", gerúndio de mbotu, isto é, furar) O: décima quarta letra do alfabeto português O cão chupando manga: pessoa muito capacitada O cão em figura de gente: ousado, atrevido O que não mata, engorda: é dito quando alguém experimenta uma comida desconhecida Oiças: corruptela de ouças, isto é, audição. (ex.: você fala muito baixo para minhas oiças) Olhar de cabra morta: o mesmo que olhar vazio, sem expressão N: décima letra do alfabeto português. Antigamente no sertão, inclusive Barcelona (até a segunda metade do século XX) não se pronunciava "êne", mas sim "nê". Na água e sal: 1. unicamente, 2. cozido sem nenhum tempero ou ingredientes além do básico (ex.: feijão na água e sal). A expressão é encontrada em "A Bagaceira",1928, de José Américo de Almeida Na tira: o mesmo que falido Não é p'r'o seu bico: o mesmo que "não se iluda, ela é boa demais para você" Não passa no mourão: Não da nem para a saída, muito fraco, muito pouco (ex.: "aquele candidato pensa que tem votos, mas ele não passa nem no mourão") Não se entender de gente: 1. ser ainda criança, 2. não ter ainda nascido nêgo: negro, preto quando se refere a raça. Para qualquer outra coisa escura se diz "preto" (o termo é uma fixação gráfica de pronúncia defeituosa) Não tem nem p'ra um remédio: não tem nada, está em falta completa Não-me-toque: diz-se que uma pessoa está "não-me-toque" quando ela está orgulhosa, convencida, tanto que evita o contato social Nota: cédula monetária, dinheiro (o termo vem do latim "nota") Novena: 1.espaço de tempo de nove dias durante os quais se cumprem certas práticas devotas 2. as práticas devotas de cada um dos nove dias Ombreira: nome antigo para cabide, só que sempre de madeira (o termo vem do latim "umeru" e é uma referência a ombros) Onça: carro velho, caindo aos pedaços, que só dá problema Onde a porca torce o rabo: momento crucial de um trabalho difícil, que exige habilidade (esta expressão idiomática é muito antiga. Logo que começou a criar porcos, o homem percebeu um problema: os guinchos desses animais eram insuportáveis. Até que alguém descobriu que, torcendo o rabo do porco, ele ficava em silêncio! É por isso que, até hoje, quando atingimos o ponto crucial de algum problema, dizemos que chegamos "onde a porca torce o rabo!") Ontonte: antes de ontem Ôpa!: Oi! tudo bem? (usualmente é dito de forma rápida. O termo pode ter surgido de "Ô pá!" que é uma gíria para "rapaz", "cara" ainda em uso em Portugal) Opinião: capricho (O termo é encontrado no Folheto Proezas de João Grilo (1948) de joão Ferreira de Lima "Bartolomeu do Egito/ Foi um rei de opinião") Opinioso: orgulhoso Outros quinhentos: o mesmo que outra história (a expressão idiomática surgiu há mais ou menos 200 anos, em Portugal e na Espanha, os nobres que fossem insultados por qualquer pessoa podiam pedir uma indenização à corte. O autor da ofensa era então condenado a pagar ao insultado 500 soldos, a moeda da época. Uma vez paga a pena, qualquer nova afronta dirigida ao mesmo nobre seria punida com nova cobrança. Ou seja, outra culpa, outra história, outros quinhentos soldos) 162 Oxe! (ô): mas o que é isso?, mas que coisa! (o termo é um diminutivo de oxente, que por sua vez é uma aglutinação de "ô gente!","ó gente!") P: décima quinta letra do alfabeto português por cima da carne seca: diz-se de alguém que está em boa situação ou muito bem de vida Pabular: vangloriar-se, gabar-se, contar grandezas, desdenhar com superioridade Pai-de-chiqueiro: homem mulherengo, muito namorador (originalmente o termo se refere ao bode ou carneiro reprodutor, o mesmo que bodão) Paidégua: aglutinação da expressão "pai de uma égua" (é um termo pejorativo) Palestra: conversa Palma: espécie de cacto, usado para alimentar o gado em épocas de seca Panelada: prato próprio de almoço feito de miúdos, intestinos e mocotós (pés) de boi, bem temperado e servido com o pirão feito com o próprio caldo da fervura e farinha de mandioca Papa: mingau (vem do latim "pappa") Papa-anjo: homem ou mulher que gosta de namorar adolescentes Papa-figo: de acordo com a crendice africana, é um homem que come fígado de criança (também se escreve "papafigo") Papangu: sujeito grande e palerma Papeira (ê): hipertrofia da glândula tireóides, o mesmo que caxumba Papoca (ó): qualquer pequeno caroço cutâneo, pequeno tumor Papoco (ô): estouro Papudinho: tomador de cachaça Para o ano: o mesmo que para o próximo ano, para o ano novo (O termo é encontrado no cordel O filho de Evangelista do Pavão Misterioso, de Manoel Apolinário Pereira, falecido em 1955, "Isabel se dispediu,/Dizendo:-até para o ano!") Parada: ponto de ônibus Parado: quem é desanimado Parideira (ê): mulher que tem filhos quase todo ano Parir: dar cria, dar a luz (O termo é encontrado no Folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "Nasci na ditosa hora/Que minha mãe me pariu!") Passada: o mesmo que passo. É comum se ouvir de um apressado sertanejo: aumente a passada!(os soldados da antiga Roma calculavam suas marchas em passadas, cada uma com o comprimento de um passo duplo, cerca de cinco pés ou um metro e meio. Hoje uma passada é o equivalente a um passo, aproximadamente noventa centímetros) Passamento: 1.desmaio, 2. síncope (o termo vem de "passar", que vem do latim hipotético "passare" é encontrado no folheto de cordel O pavão misterioso, de José Camelo de Melo Rezende, falecido em 1964, "Não vi quando ele encantou-se,/Porque deu-me um passamento."). Ver turica Passar precisão: passa precisão quem não dispõe do mínimo recurso para viver, inclusive quem passa fome (o termo é encontrado no Folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "Chegou e disse:Mamãe,/Morreu nossa precisão-/O ladrão, que rouba outro,/Tem cem anos de perdão!") Passar um pitú: fazer outra pessoa de bobo, passar a perna, passar um quinau, enganar (pitú é uma espécie de camarão, a expressão tem a ver com a forma de defesa do animal) Passar um quinau: ver quinau Pássaro goteiro: quando começa uma chuva e a água bate no teto, diz-se que o pássaro goteiro começa a cantar Pasta: o mesmo que creme-dental (o termo vem do grego "paste", isto é, caldo engrossado com farinha de trigo, pirão, pelo baixo-latim "pasta". É uma alusão ao formato alongado do creme-dental quando sai de seu invólucro com o formato do macarão italiano, chamado de "pasta") Pastorar: vigiar, seguir alguém Patota: coletivo para vagabundos, malfeitores, grupo de pessoas ligadas por interesses escusos (termo pejorativo) Pé de pau: o mesmo que árvore peba: 1. espécie de tatu, 2. algo de baixa qualidade Pebado: em maus lençóis, arrasado Pé-de-lã: o mesmo que amante de mulher casada Pé-de-parede: roda-pé de uma parede Pedir arrego: arranjo, acordo (é corruptela da palavra de origem espanhola "erreglo") Pé-duro: animal mestiço 163 Pegar a: começar a (o termo é encontrado em Pavão "Pegaram a conversar, prestando pouca atenção.") Pica fumo: miserável, que faz questão de pouca coisa (o mesmo que fraco) Pegar o beco: ir embora Pichitinho: pequenino Pegar o feijão: o mesmo que almoçar Picolé: o mesmo que no centro-sul sorvete no palito Peibufe (ê): tiro e queda, de imediato Peido-de-velha: espécie de triangular das festas de São João bombinha Picadeiro: monte de cana ou de lenha cortada Pidão: pedinte Pindaíba: penúria, pobreza Peitar: enfrentar Pinguinho: pouquinho Peito lavado: vingado Pinha: o mesmo que fruta do conde em outras regiões Peitoral: avental de couro usado pelos vaqueiros que serve para protegê-lo de batidas dos galhos da caatinga no peito (o termo vem do latim "pectorale") Pela lei velha: o mesmo que pelos antigos costumes Pelejar: teimar, insistir, batalhar, discutir (o termo vem de "pêlo+ejar") Pinicar: beliscar Pinóia: coisa sem valor Pisada: ritmo, andamento, velocidade quando se referir aos pés. Aumentar a pisada, isto é, aumentar o passo piúba: ponta de cigarro Pena: dó (ex.: "não tenha pena de quem só te vez mal") Pixotinho (ô): pequeno, miúdo (também se escreve pichotinho) Peniqueira (i): termo depreciativo para as empregadas domésticas (o termo é uma referência a penico) Platibanda: moldura chata, mais larga que saliente; grade de ferro ou muro que rodeia a plataforma de um edifício; bordadura de um canteiro (o termo vem do francês "platebande") Pequeno: pequena dose de café, cafezinho Pé-rapado: pessoa humilde, pobre. É uma expressão idiomática encontrada em A Bagaceira, 1928, de José Américo de Almeida (no Brasil imperial, o calçado era um símbolo de status. Os nobres, por exemplo, gostavam de exibir-se em largas botas. Os ricos e burgueses usavam sapatos sempre lustrosos. Já os homens do povo andavam descalços, de pé no chão e, por isso, eram chamados de pésrapados. A simbologia era tão forte que, assim que recebia sua alforria, o escravo ia logo comprar um par de sapatos, para ingressar na classe dos "pés-calçados") Pere aí!: espere aí! (a supressão do "es" facilita a velocidade com que a expressão é dita) Pereba: ferida Perneira: calça de couro curtido usada pelos vaqueiros para protegê-lo dos espinhos da caatinga Pia de banheiro: o mesmo que lavatório Pía!: o mesmo que olha!, está vendo!, é de não acreditar! Piar: 1.dar pios (aves, vocativo onomatopéico), 2.prender, atar, amarrar (os pés dos animais, para se tirar leite das vacas é preciso apiá-las antes) Pode vir pondo!: pode vir irado! (o termo vem do fato de que quando uma galinha está pondo seus ovos ela fica irritadiça) Ponche: refresco de fruta que pode ainda conter vinho ou licor (o termo vem do inglês "punch") Pontas: o termo sempre no plural indica chifres, 1. de bois, 2. quanto se quer insinuar que alguém é corno Ponto e vírgula: o mesmo que muito bom (o termo é usado quando se refere a pessoas, objetos ou animais) português medieval) Potoca: coisa sem valor Pranta: o mesmo que planta (a expressão é um arcaísmo, trocar o "l" pelo "r" é bem típico do Prata: moeda (o termo vem do baixo-latim "plata", isto é, barra de prata, prata) Prato de ágata: prato de ferro coberto por uma fina camada de ágata, uma espécie multicolor da calcedônia, um mineral de variedade fibroso de sílica composta de opala e quartzo, em diversas cores muito usado pelos pobres no século XIX e início do século XX (ágata vem do grego "achátes", pelo latim "achatas") 164 Preá: roedor herbívoro muito comum no NE do Brasil Precisão: Ver passar precisão Prejura: pessoa feia, esmulambada Presepeiro (ê): fanfarrão, escandaloso Primeira!: quando algo ou alguém é muito bom (ex.: "aquele cidadão é primeira!") Priziaca: pessoa feia, desajeitada Pronto: de uma vez, em definitivo Propiedade: além dos sentidos de posse, próprio, virtude particular, quantidade especial, também significa gênese, qualidade que procede da essência do ser (o termo vem do latim "proprietas", "atis" e é encontrado em O termo é encontrado no Folheto Proezas de João Grilo (1948) de João Ferreira de Lima "Outro Grilo como aquele/Perdeu-se a propriedade.") Proseador: conversador (o termo é encontrado em versos de Patativa do Assaré "Sou poeta agricultor/ Do interior do Ceará./ Mesmo assim, sou proseador,/ Canto aqui, canto acolá.") quinau em José, eu disse que ia para Barcelona, mas na verdade irei para Natal". Originalmente o termo tem o sentido de correção. Dar quinau: corrigir com palavras, mostrar que errou; Levar quinau: ser emendado, como é encontrado no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948, "João Grilo, em qualquer escala,/Tinha do povo a atenÇão,/Passava quinau no mestre,/Nunca faltou com a lição./ Era um tipo inteligente-/No futuro e no presente,/João dava interpretação."). (o termo vem da expressão latina "quin autem", isto é, mas ao contrário) Quintura: qualidade de quente, calor, abafado (o termo vem do latim "calentura". Também se escreve "quentura") Quiquiqui: fofoquinha Quixabeira: árvore da família das Sapotáceas (Bumelia sertorum), de flores cheirosas e frutos comestíveis. Quixó: casa velha Puxavante: ato de puxar alguma coisa com a mão e de forma violenta Puxe o carro!: suma! Desapareça daqui! Q: décima sexta letra do alfabeto português Quadro-negro: lousa (verde) Quantidade: ver em quantidade Quartinha: Pequeno pote (também conhecido como bilha) Quartos: bunda (ex.: "cair com os quartos no chão" é o mesmo que "cair de bunda no chão") Que só a peste: o mesmo que muito Que só: 1. expressão usada para aumentar (ex.: bom que só), 2. Comparar (ex.: bom que só doce) Queimar ruim: diz-se quando uma pessoa fica muito brava (ex.1: "Quando Antônio viu o que fizeram ao seu carro, ele queimou ruim; ex.2: "Quando José percebeu que estavam querendo ridicularizá-lo, ele queimou ruim") Quenga: 1.prostituta, 2.parte da cabeça de um coco Quengo: cabeça Quinau: fazer outra pessoa de bobo, passar a perna, passar um pitú (sentidos outrora empregados em Barcelona, ex.: "passei um R: décima letra do alfabeto português. Antigamente no sertão, inclusive Barcelona (até a 2ª metade do século XX) não se pronunciava ére, mas sim rê (rê era o valor de soletração que os romanos davam a esta letra, acrescido com "e" protético e com deslocação do acento) Rabeca: instrumento musical da Idade Média na Europa. Presente até hoje no sertão do nordeste brasileiro, é utilizada em nossas músicas folclóricas. Antecessor do violino com quatro cordas de tripa e retrós, das quais se tiram os sons por meio de um arco. O instrumento se toca apoiando-o na altura do coração ou do ombro esquerdo (ou direito), mas sempre com a voluta para baixo e com a outra parte suspendem levemente com o peito. Era assim que procediam os tocadores de viola da Idade Média. As rabecas são instrumentos, cuja sonoridade é estridente, fanhosa e ao mesmo tempo tristonha. Os prelúdios e os interlúdios executados na rabecas são denominados "repinicados" (o termo vem do árabe "rabad", através do provençal antigo "rebec" ou do francês "rebec"). Também se diz rebeca Rabequeiro: tocador de rabeca Rabiçaca: quando alguém vira o rosto para o outro em sinal de desdém Rabo da gata: ver ficar no rabo da gata 165 Rabo de cuia: diz-se isso quando se acha algo muito sem valor, sem futuro (ex.: "esse seu carro é muito rabo de cuia!") Rabo-de-saia: o mesmo que mulher Raiva: bolinha de goma de mandioca assada Rala-bucho: o mesmo que festa dançante, forró Rama: primeiras folhas que aparecem nas árvores depois das primeiras chuvas, cada um dos ramos de um arvoredo (o termo vem de "ramo", que por sua vez vem do latim "ramus"). Também conhecido como babugem. Rameira: mulher da vida, prostituta (a origem do termo se deve as mulheres de vida livre que costumavam freqüentar as tabernas, pois em Portugal se costumava colocar um ramo pendente na porta das tabernas. É interessante notar a alusão com o termo "rameiro", que são aves que ao sair do ninho, voam de ramo em ramo por não ter força para levantar o vôo. perceber, fitar a vista, fixar a atenção (o termo vem do latim "reparare" e está presente em Menino de Engenho de José Lins do Rêgo "Este menino fez arte. Chega estar afrontado repararam, quando apareci na cozinha.") Retratista: aquele que tira retratos, fotógrafo. Ver chapa retrato; fotografia (o termo é encontrado no folheto de cordel O Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Resende, falecido por volta de 1964, "Depois, João Batista viu/Um retratista vendendo/Alguns retratos de Creusa.) Riba: cima (ex.: "o livro está na prateleira de riba". O termo vem do latim " ripa", isto é, margem [elevada]) Ri-ri: o mesmo que zíper Riscar: fazer desaparecer Risco n´água: pessoa que não tem palavra Raparigueiro (ê): homem muito namorador. Ver "bodão" Roçadeira: instrumento agrícula em forma de lua crescente que serve para roçar, isto é, cortar mato afim de limpá-lo para plantação (a ferramenta está presente na bandeira da antiga URSS e o termo é uma variação de "roçadeiro") Rasgado: aberto, sem censura, com base na confiança Roçado: terra de lavoura, especialmente de mandioca, milho, feijão etc. Raspa de tacho: 1.último filho de um casal, 2.último filho de um casal de prole numerosa. O mesmo que crueira Roçar: cortar, botar abaixo, roçar mato (o termo vem do latim hipotético "ruptiare") Rapariga: prostituta, mulher libertina (não necessariamente paga) Raspa: migalhas de uma rapadura tiradas ao ser raspadas por uma faca, o que se tira ao raspar um objeto (o termo vem de "raspar" que por sua vez vem do germânico hipotético "hraspon", isto é, arrancar) Rodete: cilindro mandioca dentado para moer a Roer: enciumar (o termo vem do latim "rodere") Rói-rói: 1.pequeno pedaço de tábua preso por um cordão que ao ser girado provoca um barulho, 2.barulho insistente Rear: 1 acabar com alguém, desmoralizar, 2 porrada, pancada, batida Roladeira: sela bem larga, usada pelos vaqueiros Rebeca (é): o mesmo que rabeca Roseta: parte, saliência traseira da espora, circular e dentada, para impulsionar os cavalos (o termo vem de "rosa") Rebocar: emboçar Rebolo: cilindro Reclava que só bode embarcado: reclamar muito Rosetar: divertir-se Ruma: monte, bocado Recreio: intervalo, folguedo, deleite, contentamente (o termo vem de "recrear" sua vez vem do latim "recreare", isto é criar de novo) Rei do gado: corno (gíria muito recente surgida de uma novela de mesmo nome da Rede Globo) Relabucho: o mesmo que rala-bucho Renrém: arenga sem fim Reparar: além de refazer, endireitar, aperfeiçoar, também tem o sentido de S: décima oitava letra do alfabeto português Sabido: além de se referir ao conhecimento de alguém, também significa "esperto" (o termo vem de "saber", que por sua vez vem do latim "sapere", isto é, ter gosto, ter juízo, conhecer. O termo é encontrado no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado 166 em 1948, "A fama então de João Grilo/Foi de nação em nação,/Por sua sabedoria/ E por seu bom coração.") sabido: além de se referir ao conhecimento de alguém, também significa "esperto"(vem de saber, que por sua vez vem do latim "sapere", ter gosto, ter juízo, conhecer. O termo é encontrado no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948, "A fama então de João Grilo/ Foi de nação em nação,/ Por sua sabedoria/E por seu bom coração.") Saco de batata: assim se diz com quem é obeso, e se muito obesa a pessoa for ainda se acrescenta "muito mal arrumado" Saideira: 1. o derradeiro copo de bebida, 2. a última dança de um baile Sambudo: com a barriga enorme (geralmente só é usada ao se referir a crianças como por ex. "menino sambudio". O termo é encontrado no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948, "Assim mesmo ele criou-se/ Pequeno, magro e sambudo.") Sangue virando leucemia. água: o mesmo que Sapecar: 1. atirar algo em alguém, 2. fazer uma coisa mal feita Sapo-de-rabo: homem baixo e gordo Se abra, não!: o mesmo que "deixe de gozação!" Se arroche!: o mesmo que se segure em cima da cela, bote o boi à baixo, imprense na cerca, derrube o boi na faixa (o termo é um calão das vaquejadas). Ver "batedor de esteira","vaquejada", "vaqueiro", "levar e dá carga", "abrir as turbinas", "valeu o boi!", "boi mobral", "levar um cambão" Se arrumar: ver arrumar Se demorar: se atrasar, custar a ir ou a vir (o termo é encontrado no cordel O Pavão misterioso de José Camelo de Melo Resende, falecido em 1964, "-Acho bom se demorar!" Se quebrar: consumado desistir de um negócio já Se torar: desistir de um negócio já consumado. O mesmo que se quebrar Seco: vazio Senhorito! (ô): senhor (expressão usada em tom de ameaça) Ser gente: deixar de ser pobre; ter dinheiro, mesmo que não muito. Costuma-se dizer "um dia eu sou (serei) gente!" Sereno: chuviscar Seresta: 1. festa dançante com músicas românticas acompanhadas por um teclado, 2. na primeira metade do século XX, seresta era uma reunião de amigos que se juntavam à noite pelas ruas para cantar e tocar músicas românticas acompanhadas por um violão, afim de seduzir as mulheres as quais estavam enamorados(Bem similares as canções trovadorescas da Idade Média, eram o que se conhece por serenata) Sertão: área que compreende o interior do nordeste brasileiro, no polígono das secas. Por ter sido historicamente um lugar isolado, é a região onde se mais conservou oos costumes, festas, religião hábitos, música, artesanato e o vocabulário dos primeiros colonizadores portugueses que chegaram ao Brasil no século XVI. Herdeira da cultura medieval da Península Ibérica, o sertão devido as suas peculiaridades sociais, raciais e climáticas tem uma cultura riquíssima e singular (A palavra sertão é uma corruptela de um velho vocábulo africano que os portugueses absorveram desde o tempo das navegações, quando costearam a África. Utilizado já em Portugal antes de passar para o Brasil, o termo aqui viria a ter uma história rica e fecunda. Seu significado mais importante é o de "interior" (hinterland) ou "terras interiores".O mundo afastado da costa. O vocábulo pode cobrir uma parcela de um continente, de um país, de uma região Servente: 1. Que serve, 2. servente de pedreiro, ajudante que amassa o barro, conduz a argamassa, tijolos, água...etc, auxiliando o trabalho do pedreiro (o termo vem do latim "serviens", "entis"). Ver mestre Sessar: ficar o gavião parado no ar com as asas abertas Sião: sela feminina para montagem em eqüinos (o termo é uma referência ao Sião, antigo nome da Tailândia) Sibito: pessoa magra ou macérrima, quase sempre de pequena estatura (escreve-se também "cibito") Sinal: além do sentido conhecido de "sinalizar", também é uma marca utilizada pelos criadores para distinguir seus caprinos dos de outros donos (o termo vem do latim "signalis"). Ver morço Siquilo: biscoito de farinha de mandioca Só não disse que era carne assada: só não disse algo de bom dele, porque tudo de mal foi dito Solta (ô): duas cordas com duas manopas (pulseiras) de sola Sombrinha: pequeno quarda-chuva 167 Sopa: o mesmo que ônibus, microônibus ou lotação Sube: soube (fixação gráfica da pronúncia defeituosa) Suceder: acontecer, ocorrer (o termo é encontrado no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948, "Disse: - Eu dormirei hoje aqui,/Suceda o que suceder." Suspirar: respirar Tanque: um dos nomes para açude Tapioca: beiju de farinha de mandioca assado, com coco e/ou manteiga Tapuru: o bicho que dá na goiaba e em outras frutas maduras Tê: peça em forma de T que permite o múltiplo uso de uma mesma tomada na rede elétrica (em outras partes do país é chamado de "benjamim") Tem alma querendo reza: assim se diz quando se percebe que alguém está se insinuando, procurando namorado(a) Ter abuso de: não suportar T: décima nona letra do alfabeto português Tá com a peste!: expressão de surpresa, eu não acredito! virgem!: o mesmo que vige!, danou-se!, vote! Ter lembrança: recordar, rememorar (o termo está presente no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948, "-Senhor rei, tenho lembrança/Do tempo da minha avó,") Tá de ovo virado!: o mesmo que "está irritado!" Ter um escorpião no bolso: diz-se das pessoas que nunca põe a mão no bolso, muito sovinas Tá pensando que boi deitado é vaca?: o mesmo que "nem tudo o que aparenta ser, é" Terelé: muito movimento, muitos transeuntes (ex.: terelé de gente) Tabaca: vagina, órgão sexual feminino Ternontonte: o período há três dias atrás, depois de antes de ontem, isto é, ontonte Taboca (ó): engano, logro (vem do tupi "ta'boka") Taboqueiro (ô): quem dá taboca Tabuleiro (ê): terra batida, arenosa, quase sem árvores, vegetação e arbustos (o termo vem de tábula, isto é, mesa). Uma terra tabuleira é péssima para o cultivo Tacaca: gambá Taioba: bunda Talha: pedaço de alguma coisa (ex. de como normalmente de diz: talha de jerimum. O termo vem de talhar (cortar, esculpir, gravar, entalhar) que por sua vez vem de " taleare", isto é, cortar) Taludinha: crescida, desenvolvida Tamarina: em Barcelona é chamado assim o tamarindo (árvore e fruto) Tambor: além de outros significados, é um recipiente cilíndrico de ferro que serve para transportar ou guardar líquidos e cereais. Muitos sertanejos plantam feijão, por exemplo, e guardam a colheita nos tambores, sendo estes limpos, desumidificados e hermeticamente fechados com cera de abelha, numa tentativa de evitar que o cereal dê gorgulho (o termo vem do persa " tabir", através do árabe "tambur") Tamborete (ê): 1. pequeno banco de madeira, 2. pessoa baixinha Testo (ê): tampa de barro de cobrir panela (o termo vem do latim "testum" e está presente no cordel O filho do pavão misterioso, de Manoel Apolinário Pereira, falecido em 1955, "Testo pra tua panela!") Tila: jogo infantil que consiste em bater as pedrinhas nas outras (a origem do termo é uma onomatopéia) Tilintar: fazer um ruído característico de sineta, campainha, moeda ou similar (vocábulo onomatopéico presente no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948, "Bem no ouvido do duque,/O dinheiro tilintou.") Timbu: nome de ave (o termo está presente no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948, "Saltava pra todo lado, Que parecia um timbu.") Tingui: 1.qualquer ração que faça mal ao gado, 2.arbusto da família das Leguminosas (Lupinus cascavela) que se ingerida pelo gado causa sua morte se ele for incomodado, beber água ou for tangido, pois seu sangue se agita (o termo vem do tupi "tígwi" Tipóia: 1. rede, 2. rede velha Tirar o bode da chuva: Ir embora, retirar-se de uma situação incômoda (no sertão, onde há a criação tradicional de caprinos, sabe-se que o bode é um animal próprio para regiões de 168 Tirar o couro: dar uma pisa alto (o termo é encontrado no cordel O pavão misterioso, de José camelo de Melo Rezende, falecido em 1964, "Então disse Evangelista:/Minha roupa está trepada" e no cordel Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima, publicado em 1948, "O caminho interrompido/E trepou-se num pinheiro.") Tirinete: correria Tribufu: o mesmo que mulher feia, trem virado Tirinête: muito barulho, o mesmo que zuada, zoada Trinco: o mesmo que maçaneta de uma porta pouca chuva. Ele inclusive chega a emagrecer muito durante as estações das chuvas) Tirar o cabaço: descabaçar, desvirginizar, tirar a virgindade de uma mulher (expressão chula).Ver cabaço Toco de amarrar cachorro: pessoa muito baixa Tomar barrigada: quem especula dissimuladamente afim de saber o real preço de algo (ex.: "João perguntou o preço do touro a Luís sem demonstrar sua intenção de comprar o animal") Tomar o fôlego de alguém: dominar alguém Tomar sentido: tomar cuidado Tomar tenência: tomar cuidado, se endireitar na vida Torado: o mesmo que quebrado em um ou mais pedaços Torar: cortar em pedaços, decepar Tornar: 1.recorrer, 2.voltar (ex.: ele desmaiou, mas já tornou). O termo vem do português arcaico e está presente na "Lenda do Rei Lear" (século XIII ou XIV) do "Nobiliário" ou "Livro das Linhagens" do conde D. Pedro, Portugal "(...) e ouve a tornar aa merçee d'ell-rrey de França(...)"O termo também é encontrado em "Memorial do Convento" (1982) do escritor português contemporâneo José Saramago "(...) agora que chegou de terras holandesas, vai tornar a Coimbra, um homem que pode ser grande voador, (...)". O termo também é encontrado no cordel O Pavão Misterioso " Viu a filha desmaiada,/Não pôde falar com ela,/Até que a moça tornou," Toró: chuva forte e demorada Torrado: cozido, assado Totó: jogo de futebol de mesa, bimbolim Traçar: é o ato de misturar o cimento com a areia e outros componentes quando se está preparando massa para uma construção Traíra: tipo de peixe Tramela: pequeno pedaço de tábua com um prego numa das pontas e presa na porta que servia para fecha-las quando fechaduras de ferro eram caras e difíceis Troços: 1.órgão sexual masculino e seus acompanhantes, 2.cacarecos, trastes Troncho: torto, desalinhado (a expressão é do português medieval) Troucha: órgão sexual masculino Turco: mascates árabes que perambulavam pelo sertão, inclusive Barcelona, vendendo seus produtos.A associação de qualquer árabe com os turcos está presente até hoje e se deve a um engano, porque no século XIX e início do XX todos os árabes que chegavam ao Brasil portavam passaportes do Império Otomano, já que os turcos ocuparam seus países, como é o caso do Líbano (o termo vem do turco "turk") Turica: o mesmo que síncope U: vigésima letra do alfabeto português (o termo vem de u, valor de soletração desta letra entre os romanos) Um dia eu serei gente!: a expressão é usada quando alguém anceia por deixar de ser pobre; quer ter dinheiro, mesmo que não muito Umari: nome de duas plantas da família das Leguminosas (Andira inermis e A. racimosa. O termo vem do tupi "umarí") Umbu: fruto típico do sertão. O mesmo que imbu (o vocábulo vem do tupi "imbu") Uniforme: 1. calça e paletó do mesmo tecido e cor, 2. o mesmo que terno de um jogador (neste caso o termo uniforme está em desuso), 3. farda de um estudante Usura: além de lucro em excesso, tem o sentido de mesquinharia ou ambição Trem virado: mulher ou homem feio Trepar: além de significar ato sexual, trepar também é pôr algo em cima de algum lugar, V: vigésima primeira letra do alfabeto português (seu nome se formou do som criado 169 em português para o "u" romano semiconsoante) Vá plantar batatas!: livrar-se de alguém que importuna; mandar embora sem dar explicação (a expressão idiomática surgiu em Portugal no final do século passado. Nessa época as indústrias não tinham vagas para oferecer. A única atividade que ainda rendia frutos era a agricultura. Assim, quando os operários vinham à fábrica reclamar emprego, o proprietário simplesmente respondia: "Ora vá plantar batatas!" No Brasil, a expressão passou a ser usada em diversas situações, sempre com sentido sarcástico e até agressivo. "Vá passear!") Vaca: fêmea do touro (no início do século XX o termo que vem do latim "vacca" não tinha em Barcelona qualquer sentido pejorativo, como hoje para designar as mulheres de vida livre) Vadiar: transar muito Valeu o boi!: diz-se isso quando um vaqueiro consegue derrubar o boi dentro da faixa numa vaquejada. Significa que aquela queda é válida na contagem final dos pontos de uma vaquejada. Ver "se arroche!", "batedor de esteira", "vaqueiro", levar e dá carga", "abrir as turbinas", "vaquejada", "boi mobral","levar um cambão" Vaqueirama (ê): além de reunião de vaqueiros antes da vaquejada, em Barcelona esta palavra tem o sentido de "grande quantidade de vacas" Vaqueiro: 1. relativo a gado vacum, isto é, o que compreende vacas, touros, novilhos e bezerros, 2. pastor ou condutor de gado (o termo vem de "vaca"). Ver "se arroche!","vaquejada", "batedor de esteira", levar e dá carga", "valeu o boi!", "abrir as turbinas", "boi mobral" Vaquejada: 1. reunião de gado de uma fazenda, 2. festa muito popular no NE brasileiro, onde vaqueiros montados em cavalos soltam um boi num corredor cercado e este se põe em disparada até ser pego pelo rabo e jogado dentro de uma faixa de cal pelo vaqueiro com o auxílio de um batedor de esteira. Cada dupla de competidores corre várias vezes com vários bois, no final a que obtiver a maior pontuação vence (o termo vem de "vaquejar", que por sua vez vem de "vaca"). Ver "se arroche!","valeu o boi!", "batedor de esteira", "vaqueiro", "levar e dá carga", "abrir as turbinas","boi mobral","levar um cambão" Vara de bater pecado: diz-se de pessoas magras demais Varado: 1.pessoa muito 2.pessoa com muita raiva afoita, ousada, Vexame: correria, pressa venta: nariz (o termo vem do latim hipotético "ventana" de ventus, isto é, "vento" através do arcaísmo "ventão") Verão: estação das secas em qualquer parte do ano Verdoso: o fruto que não está completamente maduro Verdura: folhagem e legumes Vesta: blusão de couro do vaqueiro para protegê-lo dos espinhos da caatinga. Pode ser de couro de gado ou de bode. O mesmo que gibão Vexado: apressado (também se escreve vechado. O termo se encontra no cordel O pavão misterioso, de José Camelo de Melo Rezende, falecido em 1964, "Encalcando em seu pavão,/Voou bastante vexado") Vexar: se apressar (o termo é encontrado no folheto de cordel O pavão misterioso, de José Camelo de Melo Resende, falecido em 1964, "Os fotógrafos se vexaram,/Tirando o retrato dela.") Viçar: diz-se quando uma fêmea está no cio (o termo vem de "mostrar viço", "vicejar") Víche!: Nossa (Senhora)! (vem de "Virgem 'Santíssima'!") Vida de gado: quem é vaqueiro, leva uma vida de gado Vige!: expressão de surpresa, virgem! (o mesmo que vote!, danou-se!, tá com a peste!) Virar casaca: mudar de opinião, passar para o lado adversário conforme a conveniência (esta expressão idiomática surgiu na Europa, há mais de 200 anos. A França e a Espanha viviam de olhos nas terras de um importante soberano. Preocupado em defender seu patrimônio, o homem mandou colocar em sua cassaca de gala as cores nacionais desses dois países. Assim, se eram os franceses que o ameaçavam, ele se aliava aos espanhóis e exibia em sua cassaca as cores desta nação. Se, ao contrário, o perigo vinha da Espanha, "virava a casaca" do avesso, passando a exibila com as cores da bandeira francesa) Visagem: aparição, visão, ver fantasma Visse?: diminutivo de "ouvisse?" Vista: 1.olhos, 2.aparência (o termo é encontrado no folheto de cordel O pavão misterioso, de José Camelo de Melo Resende, falecido em 1964, "Ficou com bonita vista-") Vitalina: que não casou 170 Viúva: em Barcelona diz-se que é dá viúva tudo o que é proveniente do governo, sobretudo do municipal Vivedor: 1.aquele que vive de luxo e de farra sem se preocupar com o próprio sustento, 2.pessoa que sabe se virar e faz diversas tarefas a fim de garantir a própria sobrevivência Vivência: diz-se experiência de quem tem muita Viver meio mundo: ter experiência sabedoria Viver na onça: viver na miséria Vogar: 1. circular, 2. ter influência (ex.: esse dinheiro não serve para nada, ele não voga!) Volta: como substantivo é sinônimo de colar Vomitar até às tripas: crise aguda de vômito (ver botar as tripas p'ra fora) Vote! (ô): expressão de surpresa, virgem! (o mesmo que vige!, danou-se!, tá com a peste!) X: vigésima português segunda letra do alfabeto Xaboqueiro (ô): grosso, estúpido, ignorante, aquele que tem expressões grosseiras (também se escreve "chaboqueiro") Xenhenhém: órgão sexual feminino Xerém: milho pilado para cuscuz e bolo Xumbrega (é): coisa ordinária, reles, ruim (a origem do termo se deve ao militar aventureiro alemão Friederich Hermann Schönberg, que em 1615 comandou tropas portuguesas contra os espanhóis e ditava a moda na corte. Em Portugal Schönberg tornou-se "chumbergas" e no Brasil colônia o termo virou "chumbrega" com o sentido que tem até hoje). Escreve-se também "chumbrega". Z: vigésima terceira letra do alfabeto português (o termo vem do grego "dzeta", pelo latim "zeta") Zabumba: um tipo de bombo (vocábulo onomatopéico) Zuada: barulho, o mesmo que tirinête (o termo é encontrado no folheto de cordel O pavão misterioso, de José Camelo de Melo Resende, falecido em 1964, "E não fazia zoada," e no folheto Proezas de João Grilo, de João Ferreira de lima, publicado em 1948, "-Balance a mochila, amigo,/Pro duque ouvir a zoada."). Também se escreve "zoada". Zueira: barulho irritante Zunhar: meter as unhas, unhar 171 ANEXO 4- REVISTA VIRTUAL BARCELONA VISTA PELA IMPRENSA CLIPAGEM Abaixo listamos os veículos de comunicação que noticiaram a criação e os serviços da revista virtual Barcelona, bem como o conteúdo na íntegra do que foi publicado. TVU (TVU em Notícias) 29 de julho de 2002 Reportagem de 1mim e 58s sobre o site de Barcelona foi veiculada no telejornal TVU em Notícias da TV Universitária da UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal, com imagens do site, de Barcelona e entrevista com o idealizador da revista concedida a José Antônio da Silva Júnior. UFRN Notícias On-line, nº 29, Ano II 31 de julho de 2002 Aluno de Jornalismo lança site sobre Barcelona O aluno do Curso de Jornalismo, da UFRN, Adriano Medeiros Costa acaba de lançar uma revista virtual sobre o município de Barcelona, no Rio Grande do Norte, onde ele nasceu. No site, www.barcelonarn.hpg.com.br, pode-se ter acesso ao noticiário local no NotiBarcelona, entrevistas instigantes no P&R (Perguntas e Respostas), artigos independentes em Speculum (Espelho) e cultura, além de informações sobre a geografia, as curiosidades e tudo que envolve a vida dos sertanejos do lugar. Adriano Costa diz que a revista foi resultado de um trabalho de três anos de intensa pesquisa. Ele encontrou muitas dificuldades, entre as quais cita a falta de bibliografia sobre o município e a existência de poucos computadores na cidade. Os problemas bibliográficos foram superados quase que totalmente, graças à contribuição de antigos moradores, que contaram grande parte da história de Barcelona. 172 Adriano aposta no sucesso do site, e quando questionado sobre o problema do pouco acesso à Internet em municípios do interior, ele se mostra otimista: “A Internet é o meio mais democrático de informação, porém de acesso ainda muito restrito. Mas a tendência é que seja cada vez mais difundida com a diminuição dos preços dos equipamentos de informática. Tal e qual ocorreu com o aparelho de televisão, dentro de algum tempo quase todos os casebres de favelas pelo mundo estarão online”. Adriano não pretende parar por aí. A página virtual, que já faz parte de um Projeto de Extensão no Curso de Jornalismo, deverá servir como projeto experimental de conclusão do Curso. Além disso, o estudante pretende se aprofundar ainda mais nas pesquisas com a intenção de tornar o site um projeto de pesquisa para um curso de pós-graduação. Diário de Natal, caderno Muito, capa 30 de julho de 2002 Uma Barcelona potiguar na Internet O endereço é simples: www.barcelonarn.hpg.com.br. Através dele, o internauta de todo o planeta pode compreender o que tem de interessante um dos municípios do Rio Grande do Norte. Criado pelo estudante de Comunicação Social da UFRN, Adriano Medeiros Costa, o site inclui tópicos bastante úteis ao pesquisador de cultura popular, bem como curiosidades acerca da história e da geografia do lugar. ‘‘A idéia de mostrar a minha cidade na Internet veio quando eu pensava em um tema para o projeto de extensão do curso’’, explica Adriano. As referências à cultura ibérica e medieval, recorrentes quando se trata de História do RN, foram uma constante no desenvolvimento do site. ‘‘Lembrei também da minha experiência como um dos participantes do Jornal Informativo da EPAM, da Escola Pedro de Azevedo Maia em seus três números mimeografados de abril, maio e junho de 1992. Então decidi falar daquilo que eu mais conhecia e que sobre a qual não existia nada ainda na Internet, isto é, Barcelona’’, comenta o futuro jornalista em panfleto que descreve os objetivos do projeto. A revista virtual de Barcelona, conforme pode se perceber através de rápida consulta na Web, baseia-se no chamado ‘‘civic journalism’’ dos norte-americanos. 173 ‘‘Ao pé da letra, seria jornalismo cívico, mas o sentido mais apropriado seria o de jornalismo público, que também não é satisfatório, pois tanto pode dar a idéia de uma espécie de jornalismo chapa branca, como pode ser confrontado com a constatação tautológica de que qualquer jornalismo é público’’, prossegue explicando. No ar desde junho deste ano, o site tem peculiaridades que remontam à mais profunda pesquisa cultural do Nordeste: o alfabeto do cabeçalho possui características das letras usadas para ferrar gado, o que remete ao trabalho de pesquisa do paraibano Ariano Suassuna. ‘‘Nosso objetivo é divulgar o pequenino microcosmo Barcelona –, perdido nos confins do sertão do Nordeste brasileiro. No site pode-se ter acesso ao noticiário no link NotiBarcelona, entrevistas no P&R (Perguntas & Respostas), artigos independentes em Speculum e cultura’’, esclarece Costa. A idéia de que ao se clicar www.barcelonarn.hpg.com.br chegue-se a uma espécie de portal sobre o município de qualquer parte do mundo, é suficiente para animar o criador do site a permanecer firme no seu ideal. Diário de Natal (Caderno Cidades, pág. 2) 2 de agosto de 2002 Barcelona com site na rede Internet O município de Barcelona agora tem site na internet. A página www.barcelonarn.hpg.com.br hospeda notícias e artigos relacionados ao município situado a 90 km de Natal. O site foi criado pelo estudante universitário Adriano Medeiros Costa, que cursa jornalismo na UFRN. 174 ANEXO 5 – OLHARES 175 ANEXO 6 - ARIANO SUASSUNA, SUA OBRA INSPIROU A REVISTA VIRTUAL BARCELONA Dados biográficos Ariano Suassuna (A. Vilar S.), advogado, professor, teatrólogo e romancista, nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, PB, em 16 de junho de 1927. Eleito em 3 de agosto de 1989 para a Cadeira n. 32, foi recebido em 9 de agosto de 1990, pelo acadêmico Marcos Vinicius Vilaça. É filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna e de Rita de Cássia Dantas Vilar Suassuna. Contava pouco mais de três anos de idade quando seu pai, que governava o Estado no período de 1924 a 1928, foi assassinado no Rio de Janeiro em conseqüência da cruenta luta política que se desencadeou na Paraíba às vésperas da Revolução de 1930. Nesse mesmo ano, D. Rita Vilar Suassuna, que se vira obrigada pela alta de segurança reinante em seu Estado a mudar-se para Pernambuco, transferiu-se com os nove filhos do casal para o sertão paraibano, indo instalar-se na Fazenda Acahuan, de propriedade da família, e depois na vila de Taperoá, onde Ariano Suassuna fez os estudos primários. A infância passada no sertão familiarizou o futuro escritor e dramaturgo com os temas e as formas de expressão artística que viriam mais tarde constituir seu universo ficcional ou, como ele próprio o denomina, seu “mundo mítico”. Não só as estórias e casos narrados e cantados em prosa e verso foram aproveitados como suporte na plasmação de suas peças, poemas e romances. Também as próprias formas da narrativa oral e da poesia sertaneja foram assimiladas e reelaboradas por Suassuna. Suas primeiras produções - publicadas nos suplementos literários dos jornais do Recife, quando o autor fazia os estudos pré-universitários no Colégio Osvaldo Cruz singularizavam-se pelo domínio dos ritmos e metros cristalizados na poética nordestina. Em 1946, ao ingressar na Faculdade de Direito do Recife, Ariano Suassuna ligou-se ao grupo de jovens escritores e artistas que, tendo à frente Hermilo Borba Filho, Joel Pontes, Gastão de Holanda e Aloísio Magalhães, acabavam de fundar o Teatro do Estudante Pernambucano. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma mulher vestida de sol, que obteve o primeiro lugar em concurso de âmbito nacional 176 promovido pelo TEP (Prêmio Nicolau Carlos Magno). No ano seguinte, especialmente para a inauguração da Barraca, o palco itinerante do TEP, escreveu Cantam as harpas de Sião, peça totalmente refundida anos depois com o título de O desertor de Princesa. A esses dois ensaios iniciais seguiu-se a peça Os homens de barro (1949), em que as inquietações espirituais exacerbaram os processos expressionistas empregados na primeira versão de Cantam as harpas de Sião. As mesmas inquietações estiveram presentes em duas outras peças, Auto de João da Cruz, que recebeu o Prêmio Martins Pena em 1950, e Arco desolado (menção honrosa no concurso do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954). Após formar-se na Faculdade de Direito, em 1950, passou a dedicar-se também à advocacia. Mudou-se de novo para Taperoá, onde escreveu e montou a peça Torturas de um coração, em 1951. No ano seguinte, voltou a residir em Recife. São dessa época O castigo da soberba (1953), O rico avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”. Encenado, em 1957, pelo Teatro Adolescente do Recife no Festival de Teatros Amadores do Brasil realizado no Rio, o auto conquistou a medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais. Sucesso permanente de público e de crítica, o Auto da Compadecida está hoje incorporado ao repertório internacional, traduzido e representado em espanhol, francês, inglês, alemão, polonês, tcheco, holandês, finlandês e hebraico. Em 1956, Ariano Suassuna abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte, foi encenada a sua peça O casamento suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O santo e a porca; em 1958, foi encenada a sua peça O homem da vaca e o poder da fortuna; em 1959, A pena e a lei, premiada dez anos depois no Festival LatinoAmericano de Teatro. Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em seguida a Farsa da boa preguiça (1960) e A caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu a bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPe. Foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967) e nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPe (1969). Ligado diretamente à cultura, iniciou em 1970, em Recife, o “Movimento 177 Armorial”, interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura. Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), laureado com o Prêmio Nacional de Ficção conferido em 1972 pelo Instituto Nacional do Livro; e história d’O rei degolado nas caatingas do serão/Ao sol da onça caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”. TEATRO: Uma mulher vestida de sol (1947; publicada em 1964); Cantam as harpas de Sião, ou O desertor de Princesa (1984); Os homens de barro (1949); Auto de João da Cruz (1950); Torturas de um coração, peça para mamulengos (1951); O castigo da soberba, entremês popular (1953): O rico avarento, entremês popular (1954); Auto da Compadecida (1955; publicada em 1957); O casamento suspeitoso (1957; publicado em 1961); O santo e a porca (1957; publicada em 1964); O homem da vaca e o poder da fortuna, entremês popular (1958); A pena e a lei (1959; publicada em 1971); Farsa da boa preguiça (1960; publicada em 1973); A caseira e a Catarina (1962); O santo e a porca. O casamento suspeitoso (1974). FICÇÃO: Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971); História d’O Rei Degolado nas caatingas do sertão (1977). OUTRAS: É de tororó, em colaboração com Capiba e Ascenso Ferrera (1950); Ode (1955); Coletânea da poesia popular nordestina (1964); Iniciação à estética, teoria literária (1975); O Movimento Armorial (1974); Seleta em prosa e verso (contendo quatro peças inéditas). Organização, estudo e notas do prof. Silviano Santiago (1975). Fonte: Academia Brasileira de Letras