Pompeia, uma vila humilde que chegou à classe

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Pompeia, uma vila humilde que chegou à classe
Pompeia, uma vila humilde que chegou à classe média
Seg, 06 de Agosto de 2012 12:41
Bairro faz limites com Perdizes, Vila Anglo – Brasileira, Lapa Água Branca, Vila Romana e
Barra Funda Vila Romana.
O loteamento que originou a Pompeia por volta de 1910 se transformou em bairro classe
média a partir do final da década de 1940. Antes a região era de chácaras até que o
empreendedor Rodolpho Miranda passou a comprar essas terras e dividi-las em terrenos
igualitários. Sua empresa se chamava Companhia Urbana e Predial, mas para homenagear
sua esposa Aretusa Pompeia, deu ao lugar o nome dela e assim surgiu a Vila Pompeia.
Alguns moradores mais recentes achavam que a nomenclatura fazia alusão à Pompeia, cidade
da Roma Antiga, cuja população foi dizimada pelo Vesúvio, um vulcão depois extinto que de
maneira surpreendente não eclodiu em lavas, mas em gases letais que mataram as pessoas,
deixando a cidade intacta. Os turistas que visitam “Pompei” na Itália ainda avistam o Vesúvio.
Como a Vila Romana faz vizinhança à nossa Pompeia tudo estaria explicado, mas uma
pesquisa comandada pelo historiador e museólogo, Julio Abe Wakahara, durante o projeto
Museus de Rua, patrocinado pela prefeitura de São Paulo na década de 1990, concluiu que o
nome da Vila Pompeia é mesmo o da esposa do empreendedor.
Surgida com características de um bairro humilde, voltado aos imigrantes que se
estabeleciam em São Paulo para trabalhar nas fábricas das imediações, não se importando
com os aclives ou declives acentuados das ruas que, sem pavimento, se enchiam de barro e
lama após as chuvas e faziam transbordar os dois riozinhos da região, os córregos da Água
Branca e da Água Preta.
O primeiro seguia em parte por onde hoje passa a Avenida Francisco Matarazzo, enquanto
que o outro cuja nascente é no Alto da Lapa seguia por meandros até a Avenida Pompeia,
altura da Venâncio Aires, se juntando ao primeiro onde hoje se encontram as avenidas
Pompeia e Francisco Matarazzo, antiga Avenida Água Branca, por causa do córrego. De lá as
águas hoje canalizadas, mas que ressurgem naquela área quando chove mais forte, seguem
para o Tietê.
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Não só italianos, mas também portugueses, espanhóis e húngaros construíram suas casas
na Vila Pompéia do passado. Uma parte se instalou para trabalhar na Indústria F. Matarazzo,
cujo terreno preserva as chaminés originais da antiga fábrica em contraste com os arranha –
céus que ocuparam o lugar vizinho de frente ao Parque Antártica, uma antiga área particular de
lazer adquirida pela Sociedade Esportiva Palmeiras.
Do Parque Antártica partiam os rides automobilísticos das primeiras décadas do século XX
relatados por Zélia Gattai em seu livro “Anarquistas Graças a Deus”, onde o pai dela aparece
como um dos ases do volante da época, competindo em rides que seguiam até Itapecerica da
Serra em um circuito de ida e volta. Mas Pompeia cresceu mesmo a partir da entrada na região
dos padres Camilianos, também da Itália. Voltados ao atendimento médico da população,
seguem os ensinamentos de São Camilo de Lellis, antes um militar expulso do exército por se
envolver em jogatinas.
De família tradicional e de posses, livre da disciplina do regime militar envolveu-se ainda mais
no jogo onde acabou perdendo todos os bens se tonando um mendigo. Mas Camilo se
arrependeu dos erros cometidos, se tornou cristão e religioso se dedicando por inteiro à
assistência de doentes pobres em hospitais. Depois fundou a Companhia dos Servidores dos
Enfermos, onde estão os camilianos. Não é por menos que Camilo de Lellis se tornou o santo
patrono dos enfermos e dos hospitais.
Em junho de 1922 os padres camilianos Inocente Radrizzani e Eugênio Dallagiacoma
fundaram uma colônia dos filhos de São Camilo em Mariana, Minas Gerais. A vinda para a
cidade de São Paulo se deu no ano seguinte, mas houve de início dificuldades porque outras
irmandades já desenvolviam atividades parecidas.
Com isso, os camilianos se instalaram primeiro no bairro do Jaçanã e só depois foram para a
Vila Pompéia, onde inauguraram já na década de 1930, o primeiro centro camiliano de
assistência médica aos doentes no Brasil que resultaria no Hospital São Camilo, cuja pedra
fundamental foi lançada pelo padre Inocente, em 1944.
Com a inauguração alguns anos depois, o local passou a ser procurado por inúmeras
pessoas, levando a prefeitura a investir na infraestrutura do bairro para tornar Pompeia, um
lugar de acesso mais fácil. Ruas foram pavimentadas, córregos canalizados e outras melhorias
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chegaram.
A presença das rádios Tupi e Difusora e mais da tarde da PRF – 3 TV Tupi no vizinho
Sumaré fez aumentar o número de moradores, inclusive artistas, jornalistas e demais
segmentos da classe média formando o rosto atual de Pompeia.
Tal condição possibilitou o surgimento no bairro das bandas de rock que se tornariam
famosas no cenário artístico da Pauliceia. Além dos Mutantes, que já citamos em reportagem
anterior, o Tutti – Frutti, que acompanhou Rita Lee no momento em que ela passou a se
apresentar sem os irmãos Sérgio e Arnaldo, teve seu berço na região onde o guitarrista Luis
Sérgio Carlini era o líder dessa banda. Carlini se notabilizou pelo solo de Ovelha Negra,
sucesso nos tempos em que a roqueira se apresentou com o grupo.
Na Pompeia surgiu também o “Made in Brazil” dos irmãos Oswaldo e Celso Vecchione,
moradores da Rua Caraíbas. Em 1973 este grupo de rock lançou um “long – play” considerado
histórico no underground da urbi paulistana, por trazer canções que se tornaram clássicos
como “Anjo da Guarda”, “Menina Pare de Gritar” e uma versão de “Aquarela do Brasil” capaz
de fazer Ary Barroso levantar do túmulo.
Além disso, o Made in Brazil canta o bairro em “Rock da Pompeia” cujo refrão diz: “Vou tocar
até rachar, pro vizinho espernear, vou parar quando cansar, só quando o dia clarear...” Quem
já foi vizinho de baterista ou guitarrista entende bem o significado dessas palavras.
O Made também não se esquece dos defensores do rock, prestando inclusive homenagens
como em uma apresentação que se chamou “ Minha Vida é Rock’ n Roll ”
registrada no youtube.
Mas nem só de rock vive a zona oeste paulistana, a Escola de Samba Águia de Ouro,
também escolheu a Pompeia como moradia e todos os anos faz bons desfiles de carnaval só
não alcançando o topo entre as demais por critérios apenas os mais entendidos saberiam
explicar. Na passarela a Águia de Ouro agrada e contagia.
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No carnaval 2012 a escola cantou a “Tropicália da paz e do amor, o
movimento que não acabou”
levando à
passarela do samba paulista Gilberto Gil, Caetano Veloso e Rita Lee. A Águia de Ouro
injustamente não ganhou, mas conquistou corações e a cada ano vem trazendo mais
componentes, sendo boa parte de origem nissei e sansei.
Nos meses de dezembro e janeiro a escola procura interessados em desfilar nos bares da
Vila Madalena, Pinheiros e Itaim - Bibi, integrando o samba a outros segmentos da sociedade.
Ninguém mais chama hoje a Pompeia de vila, só o guia de ruas da prefeitura.
Seus moradores a consideram um bairro com jeito bem paulistano, agitado durante o dia,
mas ainda tranquilo à noite apesar dos sons de algumas guitarras que ainda ecoam por lá nas
madrugadas. Pompeia teria ainda mais a contar, mas hoje ficamos por aqui.
Geraldo Nunes*
Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História
[email protected]
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