iii[::i¿t_",.::f - Biblioteca Digital de APA

Transcrição

iii[::i¿t_",.::f - Biblioteca Digital de APA
"INVEN<;AO
REESTRUTURA<;ÁO
DE
NA PRODU<;ÁO
iii[::i¿t_",.::f~~..,. ~'
.
DR.
*
UM EGO FEMININO
ACOMPANHADA
POÉTICA
DE UMA PACIENTE
FABIO
LEITE LOBO
(Da Sociedadc Psicanalítica
o
DO EU"
**
do Rio de janeiro)
Desde os trabalhos pioneiros de Sigmund Freud, a pesquisa psicanalítica
revelou a importáncia do papel do Ego no quadro da saúdc e da doenca
mentais, e a Psicanálise a pouco e pouco passou a por seu fulcro na Psicologia do Ego. Numeroso ról de. investigadores entregaram-se
a tarcfa de
descobrir e descrever as particularidades
da origem, da estruturacño,
do
desenvolvimento, do funcionamento normal e patológico do Ego. Dentre todos,
Federn, Anna Freud, Hartmann, Kris, Loewenstein, D. Rapaport, W. Hoffer,
Spitz, Fairbairn, M. Klcin e colaboradores e E. Erikson trouxeram contribuscñes hoje clássicas no corpo de doutrina psicanalítico.
Em minha práctica, tive oportunidade de tratar de um caso que por questoes particularíssimas
permite, documentar alguns des tes aspectos, sobretudo
quanto aos processos de estructuracáo
(mais apropriaelamente, a "rccstruturacño regressiva")
do Ego, através de producño literária dc urna paciente.
Para melhor avaliar o material em que a doente descreve a "invencáo do
eu", denorninacáo por c1a dada ao processo, resumirei a seguir alguns elementos de seu tratamcnto, que se estcndeu por cerca ele 4 anos (aproximadamente 700 horas de análise).
Trata-se de tuna moca de 35 anos, a quern charnarei Ana, com forrnacño
universitária,
mais vc1ha quinzc meses que outra irrná, filhas de um matrimonio cm que o pai, embora tendo ocupado posicóes públicas de destaque,
era urna figura fraca, dominado pela. máe, mulhe forte, impositiva e absorvente, descendente ele tradicional familia brasileira. No mundo infantil de
Ana (que ainda roje vive com os pais, a tia e a irmñ ) tem muita importancia
urna outra figura de rnulher, irrná mais ve1ha ela máe, que com esta sernpre
* Trabalho apresentado ao 3Q Congresso Latino-Americano
tiago do Chile, Janeiro de 9960.
.
** Trabajo publicado en portugués a pedido del autor.
de Psicanálise - San-
FABlO
LEITE
LOBO
72
morou e, teve ligacáo muito estreita. Seu marido, tambem fraco, embora
brilhantc, tinha igualmente, amisade muito grande com o pai de Ana. Podese dizcr que Ana, desde seu nascirnento, movirncntou-se num ambiente de
dois casais "hornossexuais", dominado pelas duas mulhcrcs gigantes da clñ,
sobretude 'pela tia, verdadeiro "patriarca" da família.
Quando Ana estava com cerca de oito 'meses de idade, a tia teve um
filho, o único, que veio a merrer de moléstia infecciosa que "Ana e a irrná
tcriam trazido da cscola", na época cm que a paciente teria cérea de. 6 anos
de idade.
A rnáe de Ana, tcve eclampsia por ocasiáo do seu nascimcnto, acontecímento muito dramatizado pelas gigantes. Depois de urna infancia doentia, Ana
foi cedo internada num colégio de frciras, onde ficou até o término do ginásio, voltando para casa apenas nos fins de semanas e nas férias escolares,
Foi das primeiras alunas da sua c1asse, posicáo que continuou a ocupar em
todo curso universitário,
durantc o qual teve sério brealedoum, relacionado
com aulas curriculares sobre assuntos atinentes a sexualidade e scus desvios,
ministradas por professor "rnuito crú" ern abordar éstes assuntos, no dizer
de Ana. Namorou e amou pela primcira vez¡ aos 24 anos, a um militar que
na época cortcjava uma colega sua. Abandonada por ele pouco tempo depois,
Ana tevc novo brcaledoum, e, entrou num desenvolvimento neurótico, caractcrizado sobrctudo por auto-avallacáo negativa de sua fcminilidade, por delírio de ciúmes e atividades persecutórias envolvendo o militar e a colega
que ele anteriormente cortejava. Pouco tempo depois, interessa-se amorosamente pelo médico que a assistira, tambem médico de grande amiga sua e
para .este, para a esposa e para a máe dele, transfere toda a atividade fiscalizadora, ciumenta e persecutória.
Entretante, percebendo-se cada dia rnais angustiada, Ana busca um psicoterapeuta, para o qual, algum tempo depois, arra sta a amiga, que também
corneca um tratamcnto. Com á morte dóste, a amiga de Ana, entra em análise
comigo e meses depois sou procurado por Ana, presa de muito sentimcnto
de culpa pela mortc do psicotcrapeutia
e de prcocupacóes pela sortc da
amiga. Entrementes, há cerca de 6 anos, Ana fez ligacáo amorosa com outro
parceiro, a quem também conheceu através de·uma outra amiga por qucm
ele na ocasiáo se interessava amorosamente. Conquista-o, tem com ele um
romance a principio exuberante e muito satisfatório para ambos, mas que
aos poucos esfria devido a exigencias monopolizadoras por parte de Ana.
Na primeira entrevista, Ana traj ava um tailleur de cor escura, sem talhe,
que le clava urna aparencia dura e viril, aparencia esta realccada por uma
fisionomía
fechada, carrancud, utoritári,
de quem é superior. Embora evidcnternente angustiada e comovida, fez a entrevista de pé, caminhado de urn
lado para o outro, como quern está tratando de um negócio comercial com
um sócio pouco valioso e que desoja Icsá-la. Um detalhe, todavia, chamou-me
a atencáo : Ana trazia, graciosa e feminilmente disposto no pescoco, um
lenco estampado, de belo e atraente colorido.· N aquela montanha de secura,
ded ureza, de hostilidade, aquele lenco era o último sinal da mulher Ana.
N este quadro, iniciei o tratarnento de Ana cujo descnrolar, muito diná-
73
"tNVEN<;;.í\O
DO EU"
mico e difícil nao será mencionado aqúi, a nao ser no que se referir a intencáo que me levou a aprcsentar este trabalho ao Congrcsso de Santiago.
Em fins do terceiro ano de tratamento Ana auscntou-se, deliberadamente"
durante cerca de 20 días, de suas entrevistas e ao r eciniciálas trouxe-rnc tres
cadernos de poesias que escre.vera, febrilmente, nesse período e que me revelariarn, disse Ana, "como cstive pertubada e preocupada com meus problemas, embora me sinta diferente como da agua para o vinho". Das cento
e poucas poesías déstcs cadernos, selecionei urnas vintc, para documentar
este trabalho, através
das quais se pode acompanhar as etapas básicas ele
sua lenta e penosa prospecáo do Ego, até que ele surge imperativo e busca
fazer-se o timoneiro da personalielade de, Ana, C0l110 se poderá ver na maiória das poesias, esse desbastamento das camadas deformadoras estratificadas
pelo Super-Ego e pelo Id, e ésse afloramento e. expansño do Ego, se rcalizararn numa atmósfera
de permanente rejeicáo
e hostilidade ao analista,
com a utilizacáo
de técnicas paranoidcs, obscssivas, fóbicas e histéricas,
cronologicarncnte eleitas e utilizadas de acórdo com o evolvcr ela situacáo
analítica.
Marginalrnente e antes de passar ao tema deste trabalho, quero chamar
la atencáo para o actinq-out como mecanismo de dcícsa 'e para a ncccssidade
de scrcm revisadas e reformulaelas sua conccituacáoe
sua valor izacño na
teoría e na prática psicanalíticas. Além ele fazer sua análise em quase permanente transferencia negativa, o que a ajudou a manipular com as angústias
mobilizadas pela retomada de contato com seus obj etos internos, máus e
excitantes, Ana usou e abusou do actituj-out, sobretudo para proteger o analista de seus impulsos perigosos (ora vorazcs, ora destrutivos, ora passivos, etc.), E, assim, gracas a utilizacño déstc mecanismo ainda tao temido
e anatematizado por grande número de analistas, poude cla recuperar extensas áreas ele sua personalidade e ter mais presenca na viela. Algumas ele
suas poesias documentam isto:
POESIA
ABSTRA T A
Nao
Vocé nao pode me ajudar
Sou (dentro de mim
Linhas
Pcdacos
Fragmentos
Nao consigo ser um
Há
Dentro de mim retalhos
Que nao se combinam
A com B
O A fugiu o A náo casa com B
Ninguém 'Pode me ajudar
Nao consigo ser um dentro de mim
CRIME
Pois é
Hornem matou
Matou
Dois dentro de mim
luz¡
sombra
noite
dia
bem
mal
homern 111 á u
eh egou
matou
a luz teru sombra
o' dia noite
74
FABIO LEITE LOBO
Os pedacos do um
Quando eu cato alí o acolá
Se repelem
Fogem
E dentro de mim
Pequen o infinito
Eu nao os acho mais
Nao
Eu sou nao
Eu nao eisto nao
a luz p'ra cá
a sombra p'ra lá
Maldito
a luz e cozida na sombra
ande se viu dia sem sombra
o bem sern mal
o fria
existe sem ealór?
hornem máu
vou pela vida
carcassa
vazia
sem día
sem noitc
luz e sombra
bem e mal
Nao consigo
nem
ser nao
vestido se foi
estou
núa,
RECORDA~ÁO
DA CASA
DOS MORTOS
Virgilio
Vi gia lio
Tú sabes vergilio
que tú ao lado de lio
deseendo no inferno
verdade vergilio
jogando dados
tú e lio
lio ganhou
lio sem forma
Ql1S0U
INTERROGA~ÁO
Cristo
jesus
redentor
mor res por
mrrn
porque
dá lá
toma
cá
por que
deves
morrer
para eu
vivero
te incorporar
o carpo de lio
teu carpo vergilio.
é
Com referencia a "inocnciio de Bu", as pocsias de Ana podem ser distribuidas, cm geral até na ordrnen cronológica de sua producáo, segundo os
graneles períodos que caracterizaram
seu tratamento.
A urna prirnerirat etapa ref erern-se poesias nas quais sao aludidas, reveladas, descritas suas voracidades, suas invejas a ciúmes, suas pulsóes agressivas
e destrutivas, desencadeadas na luta para monopolizar seu objeto amado in-
75
"rNVEN<;;ÁO
DO EU"
fantil, e para a íastar :de destruir os r ivais que sucessivamcnte a arneacaram,
ou provocadas pelas decepcñes e raivas contra éste objeto, ora infiel, ora
deficiente, sempre exigente e Irustrador. Eis alguns exemplos :
CAstIGAR
COMPOSI<::ÁO
Voltei
Maria
nome registrado
gruta
é uma ampóla que conté m
por cenímetro cúbico
amor ódio
e outros derivados
há
há também
agua bi distilada
apirogénica
escura
Escura
esta é a
aspero é
de volta
o tcmpo
gru ta
o caminho
a gruta
passou
na n130
o tempo
gruta
escura
meninas
escuta
esta é a gruta
faco parte da gruta
quem sou eu
nesta gruta
ódio
derivados
um nervo
carne
atcncáo
OS 50
amor é solucño aquosa
peso molecular
meninos
suspenda o tratamento
nao provoque o aparecirnento
de formas resistentes
é aconse1háve1 manter o paciente sob
/ obscrvacáo
ou simplesmente
um
tenue
cosro
VARIANDO
Vamos
xinga o mundo
olha para trás com raiva
grita
nemes feios
malcriacño
pensamento
porque
me expulsam da gruta
temo a vida lá fora
nao quera nasccr
sou parte da gruta
fiz mal a gruta
sem explicacño
estou de castigo
eu vivo
lá fora.
filen
gósto
assim
meu gósto
é
desgostar
de coisa nova
que ficou no meu lugar
F ABIO LEITE
76
LOBO
odeio meu pai
tenho raiva de minlia m ác
nao ped i para nasccr
sofrcr
SQU revol ucionrio
número vintc e tres
no partido
missño
pixa parede
meu gusto
foi lutar
sem
cessar
cem vézes
lutar pelo meu lugar
mas o gusto
se rcnova
nova
é urna nova
que das coisas novas
já nao temo
ceder
mcu lugar.
e ao estrangciro
cuspo bem alto
dentro de mim
YOCe
nao pisa nao
nao pedi para nasccr
sofrer
Vamos
sorriso ao mundo
olha para trs com scguranca
bran dura
nomcs bonitos
cortesía
morreu lTICU pai
~
minha m áe tcm oitcnta
anos
nao pcd i para nascer
sofrer,
Noutra sene de pocsias, Ana, após ter renunciado a tais impulsos e solucóes, devido as tremendas angústias que entáo se desenvolveram, Ana, descreve tentativas de solucóes de cornpromisso, sobretudo a de ser mulher /horuern, do agrado das gigantes da clá, dcsprezando e tratando como máu e
per sccutórico seu Ego ferninino, Veja-se as scguintes poesias :
LEDO
LEDA
Ledo é 11m 1ll0,0 a moca é leda
leda é a presa o soldado é ledo
ledo coitado coitada da leda
lea na grade vé o soldado ledo
ledo tem pena pena a leda
leda chora suspira o ledo
ledo olha led'a
leda pisca ledo
ledo cisca leda
CEMITÉRIO
Jaz
·Iia
jaz paz j az
srm
el.
tem
paz
alí
j.z.
DO JAZZ
77
"tNVENC;;AO
DO EU"
ledo perto aperta o ledo
ledo beija ledo
beijo derrete grade
foge corren do ledo
leda ledo leda.
RELO~ÁO
nao tive pai
nem tenho máe
geracño
de injecáo
sern pad rinho
registro
pelo madrinha
catalogado
Felix Pacheco
murada
rn
RECUERDOS
DI1 IPACARAf
Ah
essas cures
essas formas
elas que me fechavam
o ilha
e cu pequcnino ser
anulando
diantc
delas
lTIC
poro poder vi ver
recuerdos
recuerdos
se
me
minado
presente de natal
religiño
um dais
andar para frente
bom :d';a boa tarde van bem abrigado
de qucm cmpacou
canta o ponto
ponta
lanca avanca
al i
meu Sao Jorge
espanto o ogre de papel
cortesía
modo social
levantar de manhñ
sete horas café com leite
alrnóco a urna
jan tar
as
sete
bolo nao se come foro do rcfcicño
ir ~ privada todos os dias
P~rque
u'a revolucáo?
eu riño 50U
eu nao existo
cm mim
tuda vestido
vestido nao
gente.
é
é
Referindo-se a urna etapa seguinte, caracterizada pela luta contra o retorno
de seu Ego feminino ("máu"), que costantemente arnea cava a solucño neurótica penosamente conseguida, há urna série de poesías de Ana, dcntre as
quais transcrevo:
F ABIO LEITE
78
LOBO
VOLTINHA
LADAÍNHA
Meia noite
Boite
meia noite
mu1her mundana
meia noite
atomizador desodorante
whisky falsificado
meia
a
eu
q
que sofrimento
foi
ser ente
noitc
roubo assalto um marta
PARA CONTAR
VERDADE
dais feridos
noite
revista confidencial
ausente
ab sente
fora da vida
verdade
meia
meia
noitc
farmacia
meia
de bairro
noite
fazcdor de anjinlios
meia
noitc
a
eu
q
que sofrimento
foi
ser vivente irreal
trico no colo gato cochilando
de fantasia
lucia noite
nésse mundo
construido dia a dia
feirico no chao farofa galinha
meia
noite
mulher
zozinha
meia noite
doze horas concretas
meia
noite
meio dia no jap áo.
a
eu
q
que sofrimento
foi
ser
circulo fechado
negativo de um retrato
girando
capengando
satélite d'ésse mundo
imundo
verso
ite missa est
reverso
ao contrário
vade retrum
beelzebnt.
JaGO
DO AMOR
J\ . .. pareado
desde o parto
atada
a ésse cruel amor
ah!
é
lá vai a barquinha
carregada de
é
esperanca
espera paga a prenda
é outra vez outra nao se escreve com
U'A
79
HrNVEN(i\o DO EU"
com poderia amar
se desde o parto
atara matara eu
o amor.
é paga prenda pede perdño ao moco do lado
é teu narnorado
nao
carnes cornecar
nao quero jogar,
Num outro grupo, Ana historia o ressurgimento e a acietacáo de sue Ego
fcrninino, inicialmente débil e trópcgo, su paulatina cxpansño, seu quotidiano
Iortalecimcnto, descreyendo os obstáculos que te ve de superar. as reparacóes
que emprendeu, os objetos internos que abandonou, as técnicas que utilizou,
etc. Citarei apenas as seguintes, dentre dezenas de poesias referentes a esta
fase:
BATISMO
Ma
ti
zou
batizou no rio
ma
ria
Maria
auto
noma
nomeada Maria
auto
ri
autorizada
a viver
com o nome de Maria
batizada
olha O arco-iris
Maria
que foi pedacos de muitas córes
antes de ver odia
POESIA
CONCRETA
Sim
Sim vocé pode me aj udar
sou dentro de mim
sim
eu
enfin
j á consigo ser um
há
dentro de rnim um
e utdo se combinou
AsemE
o A chegou o A escorracou com E
vocé sim 11lC ajudou
o parto sern dór
nnsceu o filbo catado al i acolá
o filho
maldito
que dentro de mim
pcqueno
monstro
o eu se formar
'nño deixava
sirn
eu sou
Maria
sou má existo
Maria ex-isto.
CAN<;ÁO
AMIGO
Eu canto
inventou
neste canto
nao extranhes
meu eu
contó
a morte do cao
o eu
nao me digas
80
FABro LEITE LOBO
que
mais bcla
a concha
a concha
furt a.iór
bela
é
vida
dai
vida
ela
léa
ou
lia
sirnplesmcnte
fingia
e se escandia
sernpre foi ela
ledo
didi
que
canrava
de
dia
era demais
mas cara
máscara
de carnaval.
que capsulava
insulava
a leda
digo eu
te declaro
que a arte
moderna
feia
é
porque se pinta
a concha
quando
lindo
e belo:
é
tao semente
o verdadeiro
ODISSÉA
MEU DEU
Patcr
dimite
ilis
Poi dimite 'todos eles
elas as córes do arco-iris
que me fizcram
muito
mal
cu era assini
urn bichinho
Éraco
nem simples verme
inerme
diance delas
elas todas elas
as que 111C da vam
pño ou leite
sorvete de mal
Pai Sao Jorge
entño vocé se rí
indiferente
claro
era urna vez um dragño
sombra
do arco-iris
Sao Jorge
rua da alfa
fan
fan de 'Iuem
fandega
fanfarras
farras de' rosas
eu,
Sofrí tormentos
e pavores
eu ví Circe
e o ogre de papel
Polifemo
me assustot
n135 o pior
o piar
e canto das Sereias
que espatifam
o barco da gente
na arcia
é
mas cu cheguci
estou no porto
leda fugiu
da grade
e o dcgrédo
nao recordará
um dia
a menos que
me lembre
de contá-Jo
COlDO
história
da Carochinha.
81
"tNVEN<;;AO
DO EU"
rosas
Ai meu Sao Jorge
eu te adoro
en te amo
hoje
amanhñ
semprc,
Desse último grupo, que ro, cm especial, transcrevcr algumas poesías que
revelam o processo psicológico seguido pela paciente na sua "inveucño do cu",
queconfirma e documenta postulados da teoria da origcm e da estruturacño
nada acrescento de novo ancles postulados, a hao ser urna documcntacño
concreta, dcmonstrativa e definitiva des ses proccssos já formulados cmpiricamente, expontancamcntc descrita por uma paciente cn forma pocticn, documcntacño que cla extrai de suas pro íundezas cm condicócs de c1esligamento
c de solidño semelhantcs a de urna verdadeira situacáo de nascimcnto. N estas
poesías podemos ver como Ana, valendo-se de elementos c1curna outra situacño
cm que tcve de "nascer para peder se relacionar corn", isto é, de sua expcriéncia no aprendizado da linguagcm, podemos ver como Ana "re-Forma"
seu Ego Feminino scguindo leis, etapas, etc., do que estou tentado a denominar
ele urna Fonética e de urna Morfología c10 Ego. E yema-la, cm sua reconstituicáo poética, emitir seus prirneiros e toscos "Si11Sde ego" ("É dansanc1o ...
Rack anc1 Roll", a seguir transcrita. Em seguida surpreendemó-Ia a elcborar
"[onentas de Ego" e a combiná-Ios
cm "sílabas de ego" ("Poema sem neme",
"Nenérn", "Eco-Eu"),
até conseguir formar "oocábulo de ego", substantivo,
individualizado, ("Batismo", "Poesia concreta", "Odisséa", acima transcritos),
"uocábu!o de ego" que doravante poc1c entrar cm qualquer "frase", isto é,
cm qualquer situacño vital, SC1l1perder esta individualidade re-conquistada,
adjetivávcl mas nao mais deforrnávcl ("Uni-Verso", "Era U1l1avez", "Fi1l1") :
É DANSANDO
...
ROCK
(poesia cm linguagem
AND
ROLL
UNI
de gringo)
E
Er
Ea
Ec
in
Ek
instigar
ré:
Ea
eu
Ed
Er
Ea
EH
Dais
elles
end.
VERBO
vestir
vestir
invesrigar
eu
reunir
sol
ver
ver o 'que
disperso
une
solver enigma
une
é
FABla
LEITE
82
LOBO
universo
solvido
.olvido
falso verso.
ERA
POESIA SEM NOME
Assim comeca
a historia de Carochinha
A
Ah
B
era uITIa vez
urna menininha
Ba
pequcnininha
oprimida
murada
tao castigada
que nem ao menos
tinha
beba nao
Ba
Ba
Baba' sim
Ba
AJ,a o A
Bá
um
Babá
Bábá bábá
Que foi Iáiá
Nao pos so nanar tenho medo do escuro
O
Oh
B
Bobo nao
Beba sim
Bábá sim
Bábá bábá
Lampeño vern aí
Durma Jáiá
\Vela Bábá
Tiro nao é de Lampeño
é estouro de Sao joáo,
eu
e saiu por aí
borralheira
eh orando
gemendo
quero meu eu
gata
hoje é princesa
inveritou
seu en
nem varinha de condño
nao por obra de fada
custou
UIU
rosário
de lágrimas
mas
inventan-se o eu
ECO-EU
NENEM
Acordo
A
ler no caminho
VI
Dou
e
da
da
vi
ne
nem
ou
um neném
da
di
va
Cor
UNA
eu no caminho
VEZ
83
nascí
ncm
"tNVEN<;;ÁO
DO
su"
da
vi
da.
agora
sei andar
nern
sei falar
F1M
nem
sei gritar
ne
gosto de vocé
eu caso
estrada de Roma
adeus Baba Boí
nao sou mais ia ia
iáiá
casei sou Sinhá
neném,
sim
ha
S1M
S1NHÁ.
'E cssa evolucíio "fonética" do Ego Feminino, ende nao faltam tropecos,
titubcios, rcgressócs, etc. (cm "Meu Deus", "Cancño", "Uni-Verso",
por
exemplo ) , é feita sob o ferrete da solidáo, da dar e da angústia e termina-se
como um parto e como um nascimento : com um protesto e com urna reconciliacáo :
P.
s.
DESCR1<;:ÁO E PAZ
Jnven~jO
Do
A paz
eu
é
Doeu
assim
descobriu
o eu
I'A'IlIO
LEnE
dentro
LOBO
de
d(eu)s.
Toneleros, 104 (Copacabana)
Rio de Janeiro - Guanabara
Brasil.
RESUMO
Coro base cm producño poética de urna paciente o Autor documenta técnicas e
processos j descritos teoricamente com referencia a (re-) cstruturacño
do ego. Comparando-os com processos e etapas mais tarde seguidos pela crianca na aprendizagem
á
da l l ngua,
outro
instrumento
o Autor
cxemplifica,
paciente,
em
sua
imprescind
ivcl
nas poesías criadas
"invenc
áo
do
Eu"
forma
de ego", "silabas de ego", que, finalmente,
ao cstabelccimicnto
de relncfies
cm pleno tratamento
sucesivamente
sons
ttt
integra no "vocábulo
psicanali tico,
de
ego",
obpjetais,
como a
"fonernus
de ego" individualizado,
F ABIO LEITE
84
LOBO
substantivo,
adjetivável
no
questfío,
mas nao mais deformáve1. Segundo o Autor, poder-se-Is falar,
de verdadeiras
"Fonética"
e "morfología
do ego".
M'arginalmente ao tema, o Autor acentua a necessidade de serem revisadas e reformuladas a conccituacíío e a avaliacño do actin g-out na teoria e na técnica psicanal iticas,
caso
cm
da existencia
RESUMEN
Basándose, en la producción poética de una paciente suya, el Autor documenta
técnicas y procesos ya teóricamente conocidos en lo que se refiere a la (re-) estructuración del ego. Comparando sus hallazgos con procesos y etapas ulteriormente seguidos
por el niño en el aprendizaje del lenguaje, otro instrumento necesario al establecimiento de relaciones objetales, el Autor ejemplifica, en las poesías creadas .duranre
el trntarniento
psicoanalítico,
cómo la paciente, en su "invención del yo" construye
sucesivamente
"sonidos
de ego",
"fonemas
de ego",
"s ilabas
de ego",
que,
finalmente,
integra. en el "vocábulo de ego" individual isado, substantivo, adjctivable, pero no ro,;'
deformable. Según el Autor, se podría hablar, en el caso presentado, de la existencia
de verdaderas "fonética" y "morfología" del ego.
Marginalmcnte al tema,' el Autor pone énfasis en la necesidad de que sean revisadas
y reformuladas la conceptuación y la valoración del acting out en la teoría y en la
técnica psicoanal itic as.
ABSTRACT
With basis on the poetic production of a woman, the Author proves teehniques
and processes, already described theorctically, refering 'to the (re-)estructuration
of
the ego. These are compared with processes and steps later taken by the child while
it learns to speak, another indispensable instrument of objectal relations, as the
Author gives some examples with poems creatcd during the psychoanalytical trcatment
with the patient whom in her "invention of the I", forms gradually, "sounds of ego",
"phonema of ego", "sylables of ego", which she finally integra tes in the "vocablo
of ego', individualised, indcpendent, substantive and adjectivable but no more deformable. The Author's thought about the features of this case is that the existence
of a real "phonetic" and "morphology of ego" may be assertcd,
Beside that theme, rhe Author accentuates that a revisation and reformulation
is nccessary for better judgement and valuation of thc acting-otit in psychoanalytical
theory and technique,

Documentos relacionados