Artigo 2 - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
Transcrição
Artigo 2 - Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
ARTIGO Cuidando da pessoa com ferida cirúrgica: estudo de caso Taking care of the person with a surgical wound: case-study Pedro Miguel Lopes de Sousa* Isabel Margarida Silva Costa Santos** Resumo Abstract Actualmente, o número de pessoas com feridas cirúrgicas parece aumentar tanto nos cuidados de saúde primários como nos diferenciados, exigindo o incremento da investigação para rentabilizar os recursos disponíveis e optimizar os cuidados de enfermagem. Neste âmbito, realizou-se um estudo de caso com um indivíduo submetido a excisão dum sinus pilonidal, com o objectivo de: reflectir sobre o planeamento dos cuidados de enfermagem prestados e avaliar a evolução do processo de cicatrização de uma ferida cirúrgica em função dos materiais de pensos utilizados. No caso estudado verificou-se que a elaboração de um plano de cuidados de enfermagem adequado facilita o processo de tomada de decisão do enfermeiro. De salientar que o tratamento com gaze iodoformada promoveu a hemostasia, o desbridamento e o tecido de granulação. Já a utilização de alginato de cálcio pareceu ter um maior êxito terapêutico, ao contrário do Triticum vulgare que conduziu à regressão evolutiva da ferida e à recidiva de infecção. In our days, the number of people with surgical wounds seems to increase in primary and differentiated health care, which demands for the amplification of investigation to maximize resources and optimize nursing care. So, a case-study was conducted with a subject submitted to excision of a pilonidal disease, with the objective of reflecting about the nursing care plan and evaluating the evolution of the cicatrisation process of a surgical wound according to the used dressing material. In the studied case, we observed that the elaboration of an accurate nursing care plan makes possible the nursing process of taking decisions. The treatment with iodoformed gauze promoted the hemostasy, cleanning and granulation tissue. With calcium alginate we achieved higher therapeutic success, unlike the Triticum vulgare that conduced to the evolutive regression of the wound and to infection. Palavra-chave: Estudo de caso; Ferida cirúrgica; Material Key-words: Ca se-stud y; Surgi c al wound ; Dressin g Material; Nursing Care Plan. de penso; Plano de Cuidados de Enfermagem. * Licenciado em Enfermagem e Mestre em Psicologia Pedagógica pela Universidade de Coimbra. Enfermeiro de Nível I nos Hospitais da Universidade de Coimbra (Cirurgia 3-Homens) ** Licenciada em Enfermagem e Mestranda em Psicologia Pedagógica pela Universidade de Coimbra. Enfermeira de Nível I nos Hospitais da Universidade de Coimbra (Cirurgia 1-Mulheres) Revista Recebido para publicação em 03-05-06 Aceite para publicação em 02-01-07 II.ª Série - nº 4 - Jun. 2007 Introdução A Enfermagem, para progredir na área científica e na área da prática clínica, não pode abdicar da visão holística e humanista do ser humano. Assim como a mente é inseparável do corpo, as actividades científicas de Enfermagem não devem ser divorciadas da sua prática clínica, devendo haver uma aproximação entre o contexto da prática e o contexto formativo. Isto porque a Enfermagem é uma profissão cuja responsabilidade ética e social perante o indivíduo e perante a sociedade torna o Enfermeiro responsável pelos cuidados prestados ao indivíduo, cuidados estes que devem estar na vanguarda das necessidades percepcionadas pela sociedade no presente e no futuro (Watson, 2002). Ao prestarmos cuidados agimos para o bem do outro mas por vezes, no nosso quotidiano, a acção é frequentemente privilegiada em detrimento da reflexão. No nosso contexto profissional, o doente do foro cirúrgico é o principal alvo dos nossos cuidados, pelo que sentimos necessidade de encontrar espaços de reflexão sobre as práticas, de modo a melhorar a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados. Uma das principais áreas de intervenção refere-se ao doente com ferida cirúrgica, sendo necessário encontrar métodos, técnicas e produtos que permitam tratar estas pessoas de uma forma mais rápida, mais eficaz e menos dolorosa, minimizando as complicações a longo prazo. Perante este contexto, considerou-se pertinente desenvolver um estudo de caso com um indivíduo portador de uma ferida cirúrgica, sendo os cuidados de enfermagem planeados e desenvolvidos com base na Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE). Durante o processo de tratamento, as prescrições de enfermagem relativamente à técnica e aos produtos utilizados foram sendo adaptados consoante os diagnósticos de enfermagem activos. Deste modo, o presente estudo visa reflectir sobre o planeamento dos 26 cuidados de enfermagem prestados aos doentes com feridas cirúrgicas, bem como avaliar a evolução de uma ferida cirúrgica de acordo com os materiais de pensos utilizados. Tendo em vista a consecução dos objectivos supracitados, afigura-se pertinente fazer uma breve resenha teórica sobre os principais conceitos envolvidos nesta pesquisa: ferida cirúrgica, materiais de penso e sinus pilonidal. Neste contexto, será pertinente determonos sobre o conceito e classificação das feridas. As feridas consistem em soluções de continuidade que podem estar presentes nos tegumentos e nos órgãos que ocorrem em consequência de uma acção exterior (Paredes, 1999). Estas conduzem à quebra da função protectora da pele e são definidas na perspectiva de Rocha et al. (2000, p. 13) “(...) como uma ruptura da estrutura e função anatómica normal, quer se trate de pele, da mucosa ou eventualmente do osso (...)”. O seu aparecimento pode dever-se a um trauma (mecânico, químico ou físico), a uma cirurgia, ou a um processo isquémico e/ou de pressão. Por sua vez, a CIPE considera que: “Ferida é um tipo de tecido com as seguintes características específicas: lesão do tecido habitualmente associada com agressão física ou mecânica; os estádios são graduados de acordo com a gravidade, desde o esfacelo e tunelização dos tecidos, drenagem serosa, sanguínea ou purulenta, eritema da pele, eritema e edema em torno da ferida, pele circundante com bolhas, macerada e anormal, elevação da temperatura da pele, odor da ferida, sensibilidade dolorosa em torno da ferida; tecido de granulação vermelho, necrose do tecido gordo, feridas negras marcadas pela necrose.” (Mortensen, 2000, p. 41). No entanto, o conceito de ferida abarca uma grande diversidade de situações, pelo que se impõe a necessidade de proceder à sua classificação. colagénio com gentamicina) e os não absorvíveis (ex. gaze iodoformada) (Rocha et al., 2000).No que respeita às feridas exsudativas, estes autores são unânimes ao afirmarem que a presença de exsudado nestas feridas é resultante do aumento da permeabilidade capilar, sendo composto por fluidos extravasados dos vasos sanguíneos, material secretado (como por exemplo: factores de crescimento) a partir de células à volta da ferida e por fragmentos das células mortas resultantes da destruição da matriz extracelular. Todavia, a quantidade de exsudado não é a mesma ao longo de todo o processo de cicatrização, pelo que se apresenta mais elevada na fase inflamatória, o que pode ser interpretado como um indicador de um processo infeccioso (Riijswijk, 2003). É igualmente relevante, o facto de que a humidade pode beneficiar as feridas exsudativas, uma vez que, as células epiteliais só permanecem viáveis e só migram ao longo do leito de uma ferida, caso esta se mantenha húmida. Por tudo isto, há que considerar prioritário, neste tipo de feridas, o controlo do fluído da ferida, tentando manter em condições óptimas para garantir a sua humidade. Assim, pretende-se que o material de penso a utilizar, tenha a capacidade de absorver rapidamente o fluído excessivo e possuir uma grande capacidade de retenção, não permitindo que o exsudado entre em contacto com a pele circundante. Neste sentido, os alginatos, as espumas e as hidrofibras parecem ser os mais indicados para este tipo de feridas (Rijswijk, 2003; Rocha et al., 2000). Quanto às feridas infectadas, Rocha et al. (2000) consideram que normalmente todas as feridas são colonizadas por bactérias, no entanto, tal não significa que a cicatrização atrase ou que as feridas se tornem imediatamente infectadas. Assim, uma ferida infectada será aquela que contém exsudado purulento. Alguns factores locais podem ser susceptíveis de aumentar o risco de infecção, Identifica-se ausência de consenso no campo da comunidade científica, coexistindo várias classificações com indicadores de avaliação distintos, nomeadamente: etiologia, tempo de cicatrização, profundidade, extensão do tecido lesado e aparência clínica (Rocha et al., 2000). Lopes e Rocha (1999) optam por defender uma divisão em quatro tipos distintos de feridas: necrótica, infectada, em granulação e, em epitelização. Na tentativa de uniformizar o pensamento científico e uniformizar os conceitos teóricos relativos à profissão de enfermagem, a CIPE (Mortensen, 2000) apresentou uma categorização em dois tipos de feridas: a ferida cirúrgica e a ferida traumática, que inclui escoriação, contusão, laceração, incisão, queimadura, queimadura por frio, necrose e outros. Esta classificação defende ainda que a infecção na ferida deve ser reconhecida como um fenómeno de enfermagem distinto. Assim, apesar de todos os tipos de ferida merecerem um estudo aprofundado, no contexto deste estudo iremos avaliar uma ferida cirúrgica, que é “(...) um tipo de ferida com as seguintes características específicas: corte de tecido produzido por um instrumento cirúrgico cortante, de modo a criar uma abertura num espaço do corpo ou num órgão, produzindo drenagem de soro e sangue, que se espera que seja limpa, isto é, sem mostrar sinais de infecção ou pus.” (Mortensen, 2000, p. 41). Importa antes de mais, alertar para a existência de uma grande diversidade de feridas cirúrgicas, pelo que aqui apenas nos referiremos de um modo geral à especificidade das feridas hemorrágicas, exsudativas e infectadas. Nas feridas hemorrágicas estão indicados os pensos hemostáticos, visando controlar as hemorragias persistentes devido à cirurgia e sempre que a hemostase tradicional seja de difícil realização. Para o tratamento destas feridas existem dois tipos de pensos hemostáticos: os absorvíveis (ex. esponja de gelatina, celulose oxidada e 27 A primeira pode conduzir a uma cicatrização mais rápida, mas implica uma restrição de várias actividades e tem uma taxa de insucesso de 16% e uma taxa de recorrência de 38%. Já a cicatrização por segunda intenção apresenta uma menor taxa de recorrência (8-21%) mas um tempo médio de cicatrização de 2 meses. Uma outra técnica, reconhecida como marsuapialização, foi uma técnica introduzida em 1937 e representa um método misto. Por um lado, tem como vantagem minimizar a possibilidade de infecção e de deiscência da ferida e, por outro, permite reduzir o tempo de cicatrização visto que a ferida é suturada aberta. Os estudos apontam para um tempo médio de 6 semanas e uma taxa de recorrência de 4-8% (Caestecker, 2005). Estas considerações abrem espaço para uma outra reflexão centrada nos materiais disponíveis para o tratamento das feridas. Existem mais de 200 produtos disponíveis no mercado, o que torna complexa a selecção do material de penso, pelo que Rocha et al. (2000) apontam a necessidade de agrupar o material de penso, de modo a simplificar e clarificar essa selecção. Nesta ordem de ideias, a mesma autora faz ainda referência a uma classificação dos materiais de pensos, organizando-os em 5 grupos principais: material de penso absorvente (alginatos, espumas, hidrocolóides, hidrofibras, celulose oxidada e carvão activado com prata), material de penso desbridante (hidrogéis), material de penso hemostático (esponja de gelatina, gaze iodoformada, celulose oxidada e esponja de colagénio com gentamicina), material de penso impregnado (gaze gorda e gazes medicadas) e filmes (películas semipermeáveis adesivas e não adesivas). No contexto deste estudo, importa analisar com maior pormenor as propriedades da gaze iodoformada, do triticum vulgare e do alginato de cálcio. A gaze iodoformada é um material de penso hemostático não absorvível, indicado sobretudo para o tais como: a presença de tecido desvitalizado; circulação local insuficiente; feridas no abdómen, coxa e nádegas; presença de corpos estranhos; hematomas ou “espaços mortos” (Marquez, 2000b; Rocha, 2000). De acordo com o mesmo autor, a presença de microorganismos dentro da ferida prolonga a cicatrização devido à destruição celular por competição pelo oxigénio dentro de ferida, à libertação de toxinas que danificam o tecido local, causando necrose e formação de pus bem como, à libertação de toxinas na corrente sanguínea (Gogia, 2003). Uma das feridas cirúrgicas muito frequente que requer tratamento durante várias semanas pode ser provocada pela presença de sinus pilonidal, também conhecido por quisto dermóide sacrococcígeo, quisto pilonidal ou doença pilonidal. De facto, segundo Caestecker (2005) esta patologia foi descrita pela primeira vez em 1833, sendo comum em adolescentes e jovens adultos (15-30 anos). Após a puberdade, as hormonas sexuais afectam as glândulas pilossebáceas através da distensão dos folículos pilosos com queratina, razão pela qual pode desenvolver-se uma foliculite que se estende e rompe o tecido subcutâneo, formando um abcesso pilonidal. Deste modo, os pêlos soltos perfuram ou são sugados pelo sinus, com a fricção e o movimento do indivíduo sempre que este se senta e levanta. A manifestação mais comum desta patologia é a presença uma massa dolorosa flutuante na região sacrococcígea. A dor e a drenagem purulenta, por seu lado, estão presentes em cerca de 70 a 80% dos casos. O tratamento desta patologia pode ser feito através de incisão, drenagem e curetagem da cavidade do abcesso sob anestesia local, sendo o tempo de recuperação médio de 1 mês (com curetagem) a 10 semanas (sem curetagem). Existem ainda duas possibilidades cirúrgicas principais: o encerramento primário da ferida e a cicatrização por segunda intenção. 28 que demonstram a capacidade dos alginatos estimularem o crescimento dos fibroblastos e de, quando combinados com hidrocolóides, aumentarem a sua capacidade de absorção (Braun, 2001; Rijswijk, 2003). Está particularmente indicado para feridas superficiais com perda parcial de tecido (placa) ou lesões cavitárias profundas altamente exsudativas, com ou sem infecção (fita). Além disso, pode aplicar-se em feridas sangrantes, agudas ou crónicas, colonizadas ou infectadas. A sua utilização encontra-se contra-indicada em feridas não exsudativas, úlceras que necessitam de uma terapia antibiótica tópica, úlceras de origem infecciosa, oclusão venosa ou arterial e nos casos de alergia aos alginatos (Braun, 2001; Mandelbaum, Di Santis e Mandelbaum, 2003). Este apósito necessita da aplicação de um penso secundário que pode ser feito com compressas ou filmes adesivos. Já a escolha do alginato e a frequência da sua substituição dependem da quantidade de exsudado existente no leito da ferida (Rocha et al., 2000). Em suma, este recurso constitui um material de penso cómodo para o doente e de fácil utilização por parte do profissional de saúde (Braun, 2001). Se o exsudato estiver a ser contido pelo alginato de cálcio, o mesmo poderá ser mantido até 7 dias. De facto, as feridas cirúrgicas são uma realidade constante tanto nos cuidados de saúde diferenciados como nos cuidados de saúde primários, exigindo do enfermeiro uma resposta capaz e adequada. Durante muito tempo, o penso era considerado apenas como uma simples barreira de protecção que impedia a infecção da lesão ulcerada (Durão e Furtado, 1999). Actualmente conhecemse vários problemas associados aos pensos convencionais (denominados pensos secos), tais como a dissecção da ferida, bioadesão e dor associadas à remoção, falta de propriedades de barreira, maceração e pouca adesão das fibras. Assim, nas últimas duas décadas surgiram no mercado diversos tratamento da epistaxis (Rijswijk, 2003; Rocha et al., 2000). A sua utilização no tratamento de feridas está ainda pouco descrita e investigada na literatura científica nacional e internacional. Já o creme de extracto aquoso de triticum vulgare está indicado para o tratamento tópico das alterações do tecido dérmico que necessitem da reactivação dos processos de epitelização, tais como: queimaduras de qualquer grau, extensão e etiologia; úlceras de decúbito, varicosas, neuropáticas, piodermíticas, por radiação; cirurgia plástica e reparadora; cirurgia geral (avulsão de unhas, encerramento de trajectos fistulosos, fissuras anais, atraso de cicatrização); cirurgia urológica (circuncisão e fimoses); e, feridas de qualquer etiologia. O creme deve ser aplicado na superfície da ferida, 2 a 3 vezes por dia ou apenas diariamente, dependendo das características da ferida e da resposta ao tratamento. A duração do tratamento é dependente do ritmo de epitelização da ferida (Rocha et al., 2000). Quanto aos alginatos, estes polímeros de cadeia longa são fibras de não-tecido impregnadas de alginato de cálcio e sódio extraídas das algas marinhas castanhas Laminaria, contendo ácido algínico como princípio activo (Braun, 2001; Mandelbaum, Di Santis e Mandelbaum, 2003). É um material de penso que absorve grandes quantidades de exsudado por capilaridade (cerca de 20 vezes o seu peso), hidratando-se e produzindo um intercâmbio de iões de cálcio para iões de sódio que passam a ser solúveis em solução salina para a sua posterior limpeza. Forma-se um gel viscoso, hidrofílico, hemostático e uniforme de alginato sódiocálcio que permite a troca de gases e cria um meio húmido na superfície da ferida que favorece a sua cicatrização e proporciona um alívio da dor ao humidificar as terminações nervosas. Estes produtos podem apresentar-se sob a forma de compressas ou tiras não adesivas. Existem alguns trabalhos científicos 29 estudo de caso, uma vez que consiste em investigar aprofundadamente um indivíduo (Fortin, 1999). Este tipo de investigação utiliza-se para estudar um caso que é reconhecido como especial, procurando associar a evolução de um fenómeno a uma intervenção. Uma das características do estudo prende-se com a possibilidade de obter informação detalhada sobre um fenómeno novo, com a salvaguarda de os resultados não poderem ser generalizados a outras populações ou situações. O estudo foi realizado com um indivíduo do sexo masculino (Sr. X) de 23 anos de idade, sem antecedentes patológicos pessoais ou familiares relevantes. Este indivíduo foi submetido em 27 de Junho de 2005 a excisão de quisto dermóide sacrococcígeo (sinus pilonidal) com marsupialização sob anestesia local, sendo o caso acompanhado até 3 de Setembro de 2005, data em que foi concluído o plano de cuidados de enfermagem ao indivíduo com o encerramento da sua ferida cirúrgica (num total de 68 dias). A colheita de dados para esta pesquisa foi realizada no domicílio do sujeito do estudo, através da observação directa e recolha fotográfica, atendendo a uma grelha de avaliação da ferida constituída por seis parâmetros: extensão, largura, profundidade, aparência, exsudato (Marquez, 2003) e dor (segundo a Escala Visual Analógica). produtos modernos para o tratamento de feridas que foram concebidos com o intuito de solucionar os problemas apresentados pelos pensos convencionais e, consequentemente, melhorar o processo de cicatrização natural (Rocha et al., 2000). A revolução nos métodos de tratamento ocorreu em 1962, quando George Winter publicou um trabalho sobre o efeito da humidade na epitelização da ferida. Desde aí tem-se assistido a uma constante demanda pela procura do material de penso ideal, mas persiste ainda uma grande discórdia e várias divergências quanto às práticas e opiniões relativas aos diferentes métodos de tratamento das feridas. Ou seja, atendendo a todas estas considerações conclui-se que a escolha do material de penso mais adequado é complexa, devido à diversidade de propriedades de cada produto e ao facto de o mesmo material poder ser utilizado em situações distintas. Para minimizar esta dificuldade, aconselha-se o incremento da investigação mas, o bom senso, a observação atenta das características gerais do utente, e a experiência dos profissionais de saúde também representam factores determinantes para uma decisão terapêutica eficaz e adequada. Neste âmbito, o desafio actual que é colocado ao enfermeiro reportase à necessidade de uniformizar as práticas de actuação, incrementando a pesquisa científica sobre a eficácia dos novos materiais de penso. Assim, considera-se que só através da investigação se tornará possível descriminar de forma adequada todas as indicações, contraindicações, propriedades e modos de utilização dos novos materiais, de forma a rentabilizar os recursos disponíveis e optimizar os cuidados de enfermagem aos indivíduos portadores de feridas. Resultados Como foi referido, o Sr. X foi submetido a excisão de quisto dermóide sacrococcígeo (sinus pilonidal) no dia 27 de Junho de 2005. No dia seguinte foi iniciada a colheita de informações e elaborado o plano de cuidados de enfermagem, utilizando a CIPE como referencial teórico, uma vez que consideramos que a tomada de decisão em enfermagem deve ser cada vez mais fundamentada e rigorosa. Assim, podemos Método O presente estudo é uma pesquisa de índole descritiva, mais concretamente, um 30 Após o 19º dia pós-operatório, o tratamento da ferida manteve-se com gaze iodoformada mas passou a ser efectuado de dois em dois dias, atendendo à diminuição da quantidade de exsudato hemático e à boa evolução do tecido de granulação. Assim, a 16 de Julho foi terminado o diagnóstico de enfermagem de perda sanguínea pela ferida cirúrgica. A 7 de Agosto (41º dia pós-operatório) a ferida apresentava uma dimensão significativamente menor (cf. Tabela 1e Fig.3) com uma profundidade reduzida, pelo que foi iniciado tratamento diário com creme de extracto aquoso de Triticum vulgare. Nessa data foi ainda encerrado o diagnóstico de enfermagem de dor na ferida cirúrgica. Este tratamento foi mantido durante 13 dias, verificando-se uma diminuição da extensão da ferida mas um ligeiro aumento da sua profundidade (cf. Tabela 2 e Fig. 4). levantados (cf. Tabela 1): ferida cirúrgica, perda sanguínea pela ferida cirúrgica, dor na ferida cirúrgica e infecção na ferida cirúrgica. Em 28 de Junho de 2005, no Sr. X, foi diagnosticada a presença de uma ferida curúrgica, de perda sanguínea pela ferida cirúrgica e de dor na ferida cirúrgica, pelo que foi feito tratamento da ferida com a aplicação de gaze iodoformada, atendendo ao facto do leito da ferida estar sangrante (cf. Tabela 2 e Fig. 1). Nesta fase, o tratamento da ferida com gaze iodoformada foi diário, tendo os pontos da sutura sido removidos no 5º dia pós-operatório por dor e laceração dos tecidos. Optou-se pela manutenção deste material de penso, pelo facto de a ferida se manter com exsudato sero-hemático (embora em quantidade reduzida), além dos tecidos desvitalizados terem sido removidos e da ferida apresentar tecido de granulação (cf. Tabela 2 e Fig. 2). Tabela 1 – Diagnósticos de Enfermagem (CIPE): evolução Tabela 2 – Grelha de avaliação da ferida cirúrgica 31 exsudato hemato-purulento, verificando-se apenas uma drenagem serosa em quantidade reduzida. Desta forma foram encerrados os diagnósticos de dor na ferida cirúrgica e de infecção da ferida cirúrgica, ao passo que a perda sanguínea pela ferida cirúrgica terminou a 2 de Setembro. No dia seguinte (68º dia pós-operatório) a ferida estava cicatrizada, sendo finalizado o diagnóstico de ferida cirúrgica e encerrado o plano de cuidados (cf. Tabela 1 e Fig. 6). Analisando os dados obtidos ao longo da cicatrização da ferida cirúrgica do Sr. X, reconhece-se uma evolução gradual neste processo que foi interrompida pela recidiva do processo infeccioso. Feita a limpeza cirúrgica da ferida e com a aplicação do alginato de cálcio, a evolução positiva da ferida retomou-se com uma velocidade de cicatrização bastante superior à anterior (cf. Gráfico 1). No dia 26 de Agosto (60º dia pósoperatório), o sujeito do estudo referiu dor intensa (EVA=8) ao toque e prurido na ferida cirúrgica que apresentava tumefacção e presença de exsudato purulento. Desta forma, foi novamente activado o diagnóstico de enfermagem de dor na ferida cirúrgica e diagnosticou-se ainda uma infecção da ferida cirúrgica. Perante esta situação, o paciente foi encaminhado para o serviço de Cirurgia onde foi feita limpeza cirúrgica da ferida sob anestesia local. No dia seguinte foi reavaliada a ferida e elaborado novo plano de cuidados, diagnosticando-se uma perda sanguínea pela ferida cirúrgica. Foi então iniciado tratamento com alginato de cálcio (cf. Tabela 2 e Fig. 5), por apresentar exsudato hemato-purulento em quantidade moderada. O penso (alginato de cálcio) foi substituído ao fim de 3 dias apresentando Fig. 1 - Ferida cirúrgica hemorrágica (1º dia pós-operatório) Fig. 2 - Ferida cirúrgica exsudativa (19º dia pós-operatório) Fig. 4 - Ferida cirúrgica não exsudativa (54º dia pós-operatório) Fig. 5 - Ferida cirúrgica infectada Fig. 6 - Ferida cirúrgica cicratrizada pós-operatório) (61º dia pós-operatório) Fig. 4 - Ferida cirúrgica(68º nãodia exsudativa Fig. 3 - Ferida cirúrgica não exsudativa (41º dia pós-operatório) (54º dia pós-operatório) 32 Nivel dos parâmetros Tempo Gaze Iodoformada Triticum vulgare Alginato de Cálcio Gráfico 1 – Evolução Cicatricial Bibliografia PAREDES, F. (1999) - Feridas e cicatrização. In Enfermagem cirúrgica. Amadora : McGraw Hill. p. 112-113. BRAUN (2001) - Resumo das características dos pensos. Lisboa : Edições Braun. JSWIJK, L. (2003) - Princípios gerais do tratamento de feridas. In GOGIA, P. P., ed. lit. - Feridas: tratamento e cicatrização. Rio de Janeiro : Revinter. p. 23-44. CAESTECKER, J. (2005) - Pilonidal disease [Em linha]. [Consult. 10 Fev. 2006]. Disponível em W W W: < U R L : h t t p : / / w w w. e m e d i c i n e . c o m / m e d / topic2738.htm>. ROCHA, M. J. [et al.] (2000) - Feridas uma arte secular. Coimbra : Hospitais da Universidade de Coimbra. Serviços Farmacêuticos. DURÃO, A. ; FURTADO, K. (1999) - Uma abordagem multidisciplinar na prevenção das úlceras de pressão. Farmácia Portuguesa. Vol. 119, p. 39-42. SAROJ, M. B. (2003) - Considerações nutricionais no tratamento de feridas. In GOGIA, P. P., ed. lit. - Feridas: tratamento e cicatrização. Rio de Janeiro : Revinter. p. 59-68. FORTIN, M. (1999) - O processo de investigação: da concepção à realização. Loures : Lusociência. SEELEY, R. ; STEPHENS, T. ; TATE, P. (2001) Anatomia & Fisiologia. Lisboa : Lusodidacta. GOGIA, P. P. (2003) - Fisiopatologia da cicatrização de feridas. In GOGIA, P. P., ed lit. - Feridas: tratamento e cicatrização.Rio de Janeiro : Revinter. p. 1-9. LOPES, J. ; ROCHA, M. (1999) - Cuidados a pessoas com feridas cutâneas. In RIBEIRO, C. A. F. [et al.] - Feridas e úlceras cutâneas. Coimbra : Formasau. p. 175-191. MANDELBAUM, S. H. ; DI SANTIS, E. P. ; MANDELBAUM, M. H. S. (2003) - Cicatrização: conceitos actuais e recursos auxiliares. A n a i s Br a s i l ei ro s d e Dermatologia. Vol. 78, nº 5, p. 525-542. MARQUEZ, R. R. (2003) - Avaliação da ferida. In GOGIA, P. P., ed. lit. - Feridas: tratamento e cicatrização. Rio de Janeiro : Revinter. p. 11-22. MORTENSEN, R. A. (2000) - Cl a s si fi c a ç ã o internacional para a prática de enfermagem. Lisboa : Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde. 33 43