volume10, nº 2
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ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico Copyright © Associação Brasileira de Ensino Odontológico, 2005 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorização da ABENO. Catalogação-na-publicação (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo) Revista da ABENO/Associação Brasileira de Ensino Odontológico. – Vol. 1, n. 1, (jan.-dez. 2001). – São Paulo : ABENO, 2001Semestral ISSN# 1679-5954 A partir de 2005, vol. 5, n. 1 a publicação passa a ser semestral. 1. Odontologia (Periódicos) I. Associação Brasileira de Ensino Superior (São Paulo) II. ABENO CDD 617.6 BLACK D05 ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico Presidente Maria Celeste Morita Rua Pernambuco, 540 - 1º andar Clínica Odontológica da UEL CEP: 86020-120 Centro - Londrina - PR E-mail: [email protected] Site: www.abeno.org.br Apoio para esta edição: Sumário Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico DIRETORIA (2010 a 2014) Presidente Maria Celeste Morita Vice-Presidente Adair Luiz Stefanello Busato Secretário Geral Luiz Sérgio Carreiro 1a Secretária Vânia Regina Camargo Fontanella Tesoureira Geral Elisa Emi Tanaka Carloto 1a Tesoureira Maura Sassahara Higasi COMISSÃO DE ENSINO Ana Isabel Fonseca Scavuzzi Cresus Vinícius Depes de Gouveia Elaine Bauer Veeck José Ranali (Presidente) José Tadeu Pinheiro Maria Ercília de Araújo Mário Uriarte Neto CONSELHO FISCAL João Humberto Antoniazzi (Presidente) José Galba de Menezes Gomes Léo Kriger Lino João da Costa Omar Zina Revista da Abeno Editor Científico José Luiz Lage-Marques Conselho Editorial Adair Luis Stefanello Busato (ULBRA-RS) Ana Cristina Barreto Bezerra (UCB) Ana Isabel Fonseca Scavuzzi (UNIME/UEFS) Antonio César Perri de Carvalho Arnaldo de França Caldas Júnior (UPE) Carlos de Paula Eduardo (FO-USP) Carlos Estrela (UFG) Célio Jesus do Prado (UFU) Célio Percinoto (FOA-UNESP) Cresus Vinícius Depes de Gouveia (UFF) Eduardo Batista Franco (FOB-USP) Eduardo Dias de Andrade (UNICAMP) Eduardo Gomes Seabra (UFRN) Efigenia Ferreira e Ferreira (UFMG) Elaine Bauer Veeck (PUC-RS) Elen Marise de Oliveira Oleto (UFMG) Gersinei Carlos de Freitas (UFG) Hilda Maria Montes Ribeiro de Souza (UERJ) Horácio Faig Leite (FOSJC-UNESP) Isabela Almeida Pordeus (UFMG) Jesus Djalma Pécora (FORP-USP) João Humberto Antoniazzi (FO-USP) José Carlos Pereira (FOB-USP) José Ranali (UNICAMP) José Thadeu Pinheiro (UFPE) Léo Kriger (PUC-PR) Liliane Soares Yurgel (PUC-RS) Lino João da Costa (UFPB) Luiz Alberto Plácido Penna (UNIMES) Marco Antonio Campagnoni (FOAR-UNESP) Maria Celeste Morita (UEL) Maria da Gloria Chiarello Matos (FORP-USP) Maria Ercília de Araújo (FO-USP) Nilce Emy Tomita (FOB-USP) Nilza Pereira da Costa (PUC-RS) Oscar Faciola Pessoa (UFPA) Ricardo Prates Macedo (ULBRA-RS) Rui Vicente Oppermann (UFRS) Samuel Jorge Moyses (PUC-PR) Simone Tetu Moysés (UFPar) Vanderlei Luís Gomes (UFU) Indexação A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico está indexada nas seguintes bases de dados: BBO - Bibliografia Brasileira de Odontologia; LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde. v. 10, n. 2, julho/dezembro - 2010 Artigos Desenvolvimento de objetos de aprendizagem modernos em Teleodontologia Development of modern learning objects in teledentistry Cássio José Fornazari Alencar, Érika Sequeira, Chao Lung Wen, Ana Estela Haddad . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 A formação do cirurgião-dentista generalista na Universidade Católica de Brasília The academic training of the general practitioner dentist at the Catholic University of Brasília Vanessa Resende Nogueira Cruvinel, Eric Jacomino Franco, Luciana Bezerra, Marley Mendonça Alves, Alexandre Franco Miranda, Daniel Rey Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Clínica de atenção básica: do discurso teórico à realidade prática Primary care clinic: from theoretical discourse to practice reality Nelson Rubens Mendes Loretto, Ileamá Duque Porto Pessoa Silva, Leila Christiane Lima Carneiro Batista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional Dentistry as a choice: profile of undergraduate students and prospects for the future professional Frederika Cartagena Machado, Danielle Mariana de Almeida Souto, Claudia Helena Soares Morais Freitas, Franklin Delano Soares Forte. . . . . . . . . 27 Projeto pedagógico e estrutura curricular de um curso de odontologia: análise crítica fundamentada na percepção acadêmica Pedagogical project and curricular structure in a dentistry course: critical analysis based on academic perception Suzely Adas Saliba Moimaz, Cristina Berger Fadel, Livia da Silva Bino, Nemre Adas Saliba. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Avaliação e desenvolvimento de um método de avaliação de idade óssea em portadores de síndrome de Down Evaluation and development of a bone age assessment method in patients with Down syndrome Michelle BM, Mari Eli LM, Fernando VR, Simone MRG, Déborah H. . . . . . . . . 41 Percepção da inserção de alunos na atenção primária: visão dos gestores e profissionais da Estratégia Saúde da Família How the inclusion of students in primary care is perceived: point of view of managers and professionals of the Family Health Strategy Ticiane Pedrosa de Moura, Renata Cavalcanti Machado Costa, Ticiana Campos Damasceno, Sharmênia de Araújo Soares Nuto, Lucianna Leite Pequeno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Revista da ABENO • 10(2):3-4 3 Análise transversal do ensino da implantodontia no curso de graduação Cross-sectional study of implant dentistry teaching in the undergraduate course Publicação oficial da Associação Brasileira de Ensino Odontológico Cleverton Corrêa Rabelo, Thomaz Wassall, Jose Gustavo Sproesser . . . . . . . . . . 53 Projeto Terapêutico Singular no processo ensino-aprendizagem de alunos em estágio supervisionado: relato de uma experiência efetiva Singular Therapeutic Project in the teaching-learning process of undergraduate students taking a supervised internship: report of an effective experience Anielle Schonhofen, Juliana Plegge, Cristine Warmiling, Giovana Scalco, Josiani Authaus Santos, Patricia Oliveira, Alexandre Fávero Bulgarelli. . . . . . . . 59 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá Implementing the “Pró-Saúde” program in the Dentistry Course at State University of Maringá Raquel Sano Suga Terada, Mitsue Fujimaki Hayacibara, Cynthia Junqueira Rigolon, Mariliani Chicarelli da Silva, Luiz Fernando Lolli, Mirian Marubayashi Hidalgo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Análise da satisfação do paciente com o atendimento odontológico na Clínica de Odontologia da Universidade de Franca Analysis of patient satisfaction toward dental services in the Dental Clinic of the University of Franca Bruno Alves de Souza Toledo, Alessandra Aparecida Campos, Ronaldo Antônio Leite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 ApêndiceS Índice de artigos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 Normas para apresentação de originais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 4 Revista da ABENO • 10(2):3-4 Desenvolvimento de objetos de aprendizagem modernos em Teleodontologia Cássio José Fornazari Alencar*, Érika Sequeira**, Chao Lung Wen***, Ana Estela Haddad**** *Doutor em Odontopediatria - Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, Professor de Odontopediatria UNIP-Campinas, Professor de Cirurgia em Odontopediatria FUNDECTO/FOUSP **Doutora em Telemedicina - Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo ***Professor Associado do Departamento de Patologia - Telemedicina, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo ****Professora Livre Docente Associada do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria, Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo Resumo Este trabalho tem objetivo de mostrar o Homem Virtual como objeto de aprendizagem e suas etapas de confecção. Considerando a necessidade de se modernizar as iconografias e difundir conhecimentos, foi elaborado ferramentas que permitam transmitir informações de forma mais eficiente e interativa. Através do Projeto Homem Virtual da Disciplina de Telemedicina FMUSP em parceria com a FOUSP foi desenvolvido imagens de alta qualidade visual e didática. Através deste objeto de aprendizagem assiste-se a imagens de estruturas anatômicas em 3D com movimentos fisiológicos, observa-se à biomecânica e a dinâmica funcional que seriam impossíveis de serem demonstradas por métodos convencionais. A possibilidade de estabelecer correlações anatômicas, de aplicar recursos de transparências, subtração (exclusão) e inclusão de dinâmica funcional, o torna uma iconografia inédita para transmissão de grandes quantidades de informações em curto espaço de tempo, aumentando a eficiência educacional. As imagens são usadas para apoiar o estudo dos alunos e a capacitação de profissionais em qualquer local de ensino superior odontológico. Através deste projeto, há grande benefício em transmitir o conhecimento de horas de aula teórica em minutos de estudo dirigido, o que significa um aspecto inovador e motivador. Este recurso educacional, como objeto de aprendizagem, propor- ciona a integração dos conhecimentos, desperta a curiosidade e aumenta a velocidade do aprendizado fazendo parte de uma estrutura cognitiva moderna, onde se participa de forma consciente como sujeito do processo. Descritores Telemedicina. Educação em odontologia. Educação à distância. Anatomia. Introdução e Revisão Diante do pequeno número de produção científica em educação mediada por tecnologia em odontologia, atualmente, este modelo educacional tem sido mais estudado em outras áreas. Os grandes centros de pesquisa destinados ao aprimoramento tecnológico se preocupado com a educação a distância (EAD) e/ou teleducação interativa, vem encontrando ambiente propício para o seu crescimento e difusão devido ao desenvolvimento das redes digitais de comunicação e a ampliação do uso da Internet. Hoje, falar desse tema implica considerar, de forma indissociável, o papel do computador e das redes digitais de transmissão da informação (Côrrea, 2001). A Teleducação Interativa é um modelo de educação apoiado em tecnologia, que utiliza recursos de computação e interação online para promover uma capacitação dos estudantes em nível cognitivo, de Revista da ABENO • 10(2):5-11 5 Desenvolvimento de objetos de aprendizagem modernos em Teleodontologia • Alencar CJF, Sequeira E, Wen CL, Haddad AE raciocínio, desenvolvimento do comportamento frente a situações críticas, da capacidade associativa e das habilidades práticas. Nesse contexto, o qual inclui necessariamente a produção de material didático eletrônico, a Internet assume um destaque como meio pelo qual as informações são disponibilizadas e acessadas. Particularmente as linguagens HTML e XML, veiculadas pela Internet (Web) e que permitem produção de hipertextos, proporcionam mecanismos de acesso às informações que podem favorecer o auto-aprendizado. Por serem recursos tecnológicos, todo o potencial ainda tem muito a ser discutido como ferramenta para oferecer suporte aos modelos pedagógicos. A área da Educação vem buscando, juntamente com a da Informática, propor melhoria no processo educacional, através do uso de ferramentas digitais. Uma das pesquisas mais atuais para criação dessas ferramentas, relaciona-se aos objetos de aprendizagem, que visam proporcionar uma maior interatividade na forma de transmissão de conteúdos (Machado e Silva, 2005). Um objeto de aprendizagem tem como função atuar como recurso didático interativo, abrangendo um determinado segmento de uma disciplina e agrupando diversos tipos de dados como imagens, textos, áudios, vídeos, exercícios, e tudo o que pode auxiliar o processo de aprendizagem. Pode ser utilizado – tanto no ambiente de aula, quanto no ambiente virtual – como complemento, revisão ou reforço de um determinado conteúdo já estudado. Como afirmam Bettio e Martins (2004), eles “vêm para facilitar e melhorar a qualidade do ensino, proporcionando aos tutores, alunos e administradores, diversas ferramentas facilitadoras”. Na Odontologia, a educação a distância tem merecido atenção de algumas universidades americanas, inglesas e australianas, também com poucos resultados disponíveis na literatura científica. Dentre esses trabalhos, encontram-se pesquisas envolvendo a produção de material didático e o uso da Internet no ensino de Odontologia, com uma abordagem mais “empírica” do processo: • cria-se o CDROM a partir da conversão de documentos analógicos para digitais, mas são poucos os trabalhos que verificam a sua aplicação; • disponibiliza-se na Internet o material produzido, mas pouco se avalia o seu valor didático; • enfim, os estudos estão em fases iniciais e ainda 6 precisam ser melhor explorados metodologicamente. Já na Medicina, as grandes distâncias entre os centros médicos especializados e os locais mais carentes, além de recursos escassos e mal distribuídos, representam dificuldades na área da saúde que podem ser diminuídas com a telemedicina (Maceratini, Sabbatini, 1994). Embora já existam outras definições (Chao LW, 2006), a Telemedicina também é definida como a oferta de serviços ligados aos cuidados com a saúde, nos casos em que a distância é um fator crítico. Tais serviços são oferecidos por profissionais da área de saúde, usando tecnologias de informação e de comunicação, visando o intercâmbio de informações válidas para pesquisas, diagnósticos, prevenção e tratamento de doenças e contínua educação de provedores de cuidados com a saúde, no interesse de melhorar a saúde das pessoas e de suas comunidades (OMS). Praticamente quase todas as especialidades médicas e demais áreas da saúde podem vir a utilizar-se da telemedicina, ou como adotado pelo Ministério da Saúde, telessaúde, particularmente aquelas que utilizam imagens como meio diagnóstico. Assim, os setores de radiologia, dermatologia, patologia, ultra-sonografia, oftalmologia, entre outros, são bastante propícios para o estabelecimento de protocolos de transmissão de dados à distância, com finalidades diagnósticas (Chao et al., 2003). Trazendo este conceito e as ferramentas da Telemedicina, para a Odontologia, temos a Teleodontologia; abordando tanto os aspectos da teleducação interativa, como da teleassistência (Chao LW, 2003). Dentre estas ferramentas da Telemedicina, criada pela equipe da Faculdade de Medicina da Univesidadede São Paulo, pode-se citar: • o Cyberambulatório, • o Cybertutor e • o Projeto Homem Virtual (Chao et al., 2003). O Projeto Homem Virtual representa um novo método de comunicação dinâmica e dirigida, sendo considerado um objeto de aprendizagem moderno (www.projetohomemvirtual.com.br). O Projeto Homem Virtual é a representação gráfica de grande número de informações especializadas, de forma interativa, dinâmica e objetiva. Usando tecnologia de modelagem gráfica em 3D, o Homem Virtual é uma forma eficiente de transmitir conhecimentos de anatomia, fisiologia, fisiopatologia e me- Revista da ABENO • 10(2):5-11 Desenvolvimento de objetos de aprendizagem modernos em Teleodontologia • Alencar CJF, Sequeira E, Wen CL, Haddad AE canismos moleculares. Representa uma efetiva modernização nas iconografias educacionais, uma vez que facilita e agiliza o entendimento em relação a um assunto específico. Pode ser utilizada em todos os níveis educacionais. Na Odontologia foram desenvolvidos dois temas: • Articulação têmporo-mandibular (Figura 1) e • Estrutura Dental (Figura 2) Essas ferramentas possibilitam que a educação a distância e a educação continuada seja realizada com objetivos concretos, fundamentados e de forma atualizada e segura. Outras características dos objetos de aprendizagem modernos (Machado e Silva, 2005; Bettio e Martins, 2004) são: •flexibilidade: caracteriza-se pela permissão da criação de novos cursos utilizando-se conhecimentos já escritos e consolidados. Isso garante que o uso da tecnologia tenha uma maior credibilidade, pois eles se sustentam por fontes seguras de informação; •customização: possibilidade de que cada entidade educacional os utilize e arranje da maneira que melhor lhe convier e de que as pessoas possam montar seus próprios conteúdos programáticos, agrupando os módulos conforme seu interesse (on-demand learning); •interoperabilidade: consiste na utilização e reutilização dos objetos de aprendizagem em qualquer plataforma de ensino em todo o mundo, pois eles serão desenvolvidos de tal forma que possam ser utilizados em diversos sistemas; Figura 1 - Estruturas da ATM. Figura 3 - Musculatura relacionada a DTM. E já estão em desenvolvimento: • Desordens têmporo-mandibulares (Figura 3) e • Anestesia/Exodontia (Figuras 4 e 5). Figura 2 - Estrutura dental. Revista da ABENO • 10(2):5-11 7 Desenvolvimento de objetos de aprendizagem modernos em Teleodontologia • Alencar CJF, Sequeira E, Wen CL, Haddad AE •indexação e procura: caracteriza a padronização dos objetos de aprendizagem e dos locais onde eles são armazenados, para que a localização de um conteúdo se torne mais viável (Figura 6). É urgente a modernização educacional da odontologia diante do atual cenário tecnológico e da realidade nacional de saúde. Diversas necessidades surgirão em breve em decorrência da atual política de educação na saúde do Ministério da Saúde, tal como o Programa Nacional de Telessaúde em Apoio à Atenção Básica, que exigirá um componente formativo odontológico para o treinamento das equipes de Saúde da Família. O Programa tem como objetivo integrar em rede as equipes da Estratégia de Saúde da Família em todas as regiões do país, especialmente nas regiões mais remotas, com Núcleos de Telessaúde vinculados a universidades, e com a Rede Universitária de Telemedicina, oferecendo às equipes apoio ao diagnóstico e tratamento, e teleducação, conforme a demanda, contribuindo para a qualidade e resolubilidade da atenção à saúde prestada à população. Vale ressaltar que das 27 mil equipes distribuídas atualmente por todo o território nacional, mais da metade conta com dentistas (Haddad et al., 2007). O presente trabalho propõe-se a demonstrar as etapas de desenvolvimento do objeto de aprendizagem – projeto Homem Virtual – em Odontologia. Metodologia – Etapas de construção O desenvolvimento deste modelo educacional requer a aliança de conhecimentos na área de odontologia, tecnologia da informação, telemedicina e teleducação interativa. A estruturação do plano tecnológico e estratégias de teleducação interativa, serão feitos com o apoio da Disciplina de Telemedicina da FMUSP sob a coorde- Figura 4 - Técnica Anestésica. Figura 5 - Técnica de exodontia. 8 Figura 6 - Características dos objetos de aprendizagem. Revista da ABENO • 10(2):5-11 Desenvolvimento de objetos de aprendizagem modernos em Teleodontologia • Alencar CJF, Sequeira E, Wen CL, Haddad AE nação do co-orientador. Equipe multiprofissional • Especialista no assunto (profissional). • Estrategista de Telemedicina (educador). • Digital designers. Etapas de desenvolvimento •Definição da temática e dos objetivos: Estruturar o tema e as estratégias necessárias para que o objeto de aprendizagem tenha fundamento no processo ensino-aprendizagem. •Avaliação da abrangência e público-alvo: Estudar o público-alvo e verificar a forma de abordagem para este público. •Levantamento de literatura científica: Saber se já não existe o mesmo tema desenvolvido, ou o que se têm na literatura sobre o tema escolhido. •Elaboração de estratégia de roteiro educacional: Trabalhar no conteúdo que vai ser apresentado, traçando início, meio e fim. •Modelagem gráfica computacional (Figura 7): Utilização de softwares para confecção de estruturas. •Geração da Pré-visualização (Figura 8): Análise de câmeras, tomadas, ângulo de visão e preview do trabalho realizado. •Revisão científica: Rever o conteúdo formatado dentro dos conceitos e embasados na literatura científica. •Implementação de legendas e geração do formato texturizado e renderizado (Figura 9): Finalização do trabalho com conteúdos complementares (som, escritos). •Acompanhamento do impacto educacional: Análise de impacto e eficiência como material de aprendizagem. Figura 7 - Modelagem. Recursos necessários Infra-estrutura tecnológica/profissional: • Equipe do Projeto Homem Virtual - Digital Designers. • 4 Estações Gráficas: –– Dual Pentiun IV Xeon HT; –– 4 Gigabytes de memória RAM; –– placa de vídeo profissional; –– tablet; –– programa 3D Studio Max; –– programa Photoshop ou equivalente e programa After effects. • Equipe de desenvolvimento de website e ambiente educacional. • 7 Estações de trabalho: Figura 8 - Pré-visualização. Figura 9 - Renderização. Revista da ABENO • 10(2):5-11 9 Desenvolvimento de objetos de aprendizagem modernos em Teleodontologia • Alencar CJF, Sequeira E, Wen CL, Haddad AE –– editor HTML; –– programa Dreanweaver; –– programa Front page; –– software para edição de imagem; –– computador pentiun IV e –– 512 megas de memória RAM. Descriptors Telemedicine. Education, dental. Education, distance. Anatomy. Referências 1. Alencar CJF, Sequeira É, Chao LW, Haddad AE. Soluções de Telemedicina aplicados na Odontologia – Teleodontologia. Considerações finais Este recurso educacional, como objeto de aprendizagem, proporciona a integração dos conhecimentos, desperta a curiosidade e aumenta a velocidade do aprendizado fazendo parte de uma estrutura cognitiva moderna, onde se particicipa de forma consciente como sujeito do processo ensinoaprendizagem. http://www.ciosp.com.br/anais/Paineis/PalnelEducacao. pdf pg.9-10 2. Alencar CJF, Sequeira É, Chao LW, Haddad AE. Teleodontologia – homem virtual como objeto de aprendizagem – técnica de exodontia de primeiros molares decíduos inferiores. Rev. ABENO, 2007; 7(2):151-152. 3. Bastos LM, Macedo MM. Novas fronteiras da educação: educação à distância. Rev. Bras. Odontol., 2002; 59(2):112-115. 4. Bettio RW, Martins A. Objetos de Aprendizado: um novo mo- Abstract Development of modern learning objects in Teledentistry The purpose of this paper was to show Virtual Man as a learning object and to relate its preparatory stages. Based on the consideration that iconographies must be updated and knowledge must be spread, tools were developed to allow information to be transmitted more efficiently and interactively. Images of high visual and didactic quality were developed by the Virtual Man Project of the Telemedicine Discipline FMUSP (School of Medicine - São Paulo University) together with FOUSP (Dental School - São Paulo University). This learning object makes it possible to watch 3D anatomic structures with physiological movements, observing biomechanics and functional dynamics. This would be impossible to do using conventional methods. The possibility of establishing anatomic correlations, of using transparency resources, subtraction (exclusion) and inclusion of functional dynamics, makes this method a totally new iconography for transmitting large amounts of information in a short period of time, thus improving educational efficiency. The images are used to support student learning and professional training at any dental education institute. This project offers the great benefit of transmitting the knowledge given in hours of theoretical class within only minutes of guided study, thus representing an innovative and a motivating tool. This educational resource is a learning object that integrates knowledge, arouses curiosity and speeds up learning, making it part of a modern cognitive structure, where the individual participates consciously as a subject of the process. 10 delo direcionado ao ensino a distância. http://www.abed.org. br/congresso2002/trabalhos/texto42.htm 5. Carvalho ACP, Kriger L. Educação Odontológica. Artes Médicas, 2006. 6. Côrrea L. Análise da mudança de paradigma do ensino de graduação em patologia na odontologia: proposta de ensinoaprendizagem a distância via internet. Tese de doutorado apresentada a FOUSP. São Paulo, 2001. 185p. 7. Côrrea L, de Campos AC, Souza SC, Novelli MD. Teaching oral surgery to undergraduate students: a pilot study using a Webbased practical course. Eur. J. Dent. Educ.; 2003; 7(3):111-115. 8. Cunha FS, Silva AE, Larentis NL, Fontanella VRC, Nevado RA. Proposta de uma nova abordagem pedagógica para disciplina de informática aplicada à odontologia. Rev. ABENO, 2005; 5(2):102-108. 9. Chao LW, Silveira PSP, Böhm GM. Telemedicine and Education in Brasil. Journal of Telemedicine and Telecare, 1999; 5:137138. 10. Chao LW, Silveira PSP, Azevedo Neto RS, Böhm GM. Internet discussion lists as an educational tool. Journal of Telemedicine and Telecare, 2000; 6:302-304. 11. Chao LW. Modelo de ambulatório virtual (Cyberambulatório) e tutor eletrônico (Cybertutor) para aplicação na interconsulta médica, e educação à distância mediada por tecnologia.. [tese – Livre Docência] apresentada à Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; São Paulo; 2003. 12. Chao LW, Enokihara MY, Silveira PSP, Gomes SR, Böhm GM. Telemedicine model for training non-medical persons in the early recognation of melanoma. Journal of Telemedicine and Telecare, 2003;9:S1:4-7. 13. Chao LW, Cestari TF, Bakos L, Oliveira MR, Miot HA, Böhm GM. Evaluation of na Internet-based tedermatology system.. Journal of Telemedicine and Telecare, 2003; 9:S1:9-12. 14. Chao LW. Telemedicina e Telessaúde. Atualidades Brasileiras em Telemedicina & Telessaúde, 2006; 2(1): 3-5. Revista da ABENO • 10(2):5-11 Desenvolvimento de objetos de aprendizagem modernos em Teleodontologia • Alencar CJF, Sequeira E, Wen CL, Haddad AE 15. Finamor LPS et al. Teleoftalmologia como auxílio diagnóstico nas doenças infecciosas e inflamatórias oculares. Rev. Assoc. de Ensino Odontológico), Belo Horizonte, 2004; 4(1):87. 21. Massad E, Böhm GM, Chao LW, Silveira PSP. O universo da informática e o ensino médico. Educação Médica. Savier Edito- Med. Bras., 2005: 51(5):279-284. 16. Haddad AE, Campos FE, Alkmin MB, Chao LW, Rocshke S. ra de Livros Médicos Ltda, 211-222, 1998. Brazilian National Telehealth Program. The International 22. Oliveira MR, Chao LW, Festa Neto C, Silveira PSP, Rivitti EA, Educational and Networking Forum for e-health, Telemedi- Böhm GM. Web Site for Training Nonmedical Health-Care cine and Health ICT. Proceedings. 2007; p.321-323. Workers to Identify Potentially Malignant Skin Lesions and for 17. Maceratini R, Sabbatini RME. Telemedicina: a nova revolução. Teledermatology. Telemedicine Journal and e-Health, 2002; 8(3):323-332. Informédica, 1994; 1(6):5-9. 18. Machado LL, Silva JT. Objeto de aprendizagem digital para 23. Oficina de Telemedicina e Telessaúde – Atenção Primária é auxiliary o processo de ensino-aprendizagem no Ensino Téc- foco de projeto de Telemática e Telemedicina. Atualidades nico em Informática. Novas Tecnologias na Educação CINT- Brasileiras em Telemedicina & Telessaúde, 2006; 2(1):12. ED-UFRGS, 2005; 3(2);1-16. http://www.cinted.ufrgs.br/re- 24. Rossi F, Andreazzi D, Chao LW. Development of a Web site for Clinical Microbiology in Brazil. Journal of Telemedicine and note/ nov2005/artigosrenote/a23_objeto_aprendizagem_ensino- Telecare, 2002; 8(S2):14-17. 25. Veronezi MC, Sgavioli CAPP, Böhm GM, Wen LW. Cybertutor: tecnico.pdf 19. Malmström MFV, Marchi MM, Chao LW, Böhm GM. Use of a educação mediada por tecnologia na odontologia. Revista da virtual 3D model for educational purposes em odontology. The ABENO (Associação Brasileira de Ensino Odontológico), Belo 9Th European Congress of DentoMaxilloFacial Radiology, 17-19 Horizonte, 2004; 4(1):88. of June 2004, Malmö, Sweden, page 33. 20. Malmström MFV, Marta SN, Böhm GM, Chao LW. Homem Virtual: modelo anatômico 3D dinâmico aplicado para educação em odontologia. Revista da ABENO (Associação Brasileira Revista da ABENO • 10(2):5-11 Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 11 A formação do cirurgião-dentista generalista na Universidade Católica de Brasília Vanessa Resende Nogueira Cruvinel*, Eric Jacomino Franco**, Luciana Bezerra***, Marley Mendonça Alves****, Alexandre Franco Miranda*****, Daniel Rey Carvalho****** *Mestre e Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília, Professora e Coordenadora da área de Saúde Coletiva do curso de Odontologia da UCB **Mestre em Periodontia pela Universidade de São Paulo/Bauru, Professor Mestre da Universidade Católica de Brasília ***Professora da Universidade Católica de Brasilia, Professora do Curso de Especialização em Implantodontia no Instituto Brasileiro de PósGraduação, Mestrado em Ciências da Saúde pela UnB ****Mestrado em Saúde Pública, Doutorado Ciências da Saúde, WUE/Wisconsin ****Professor do curso de Odontologia da UCB - Saúde Coletiva, Odontogeriatria e Pacientes Especiais, Mestre e Doutorando em Ciencias da Saúde - UnB ****Mestrado em Cirurgia Bucomaxilofacial pela UNESP/Araçatuba, Doutorado em Implantodontia pela UNESP/Araçatuba, Diretor do Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília Resumo Este artigo retrata a experiência do curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília na formação do cirurgião-dentista generalista. Esta formação parte desde a articulação das áreas básicas do eixo comunitário onde todos os alunos dos cursos de saúde cursam juntos estas disciplinas nos dois primeiros anos de graduação e têm a oportunidade de vivenciarem os problemas comunitários sob o olhar de diferentes campos de atuação. A partir deste momento, os alunos de odontologia seguem para as disciplinas de saúde coletiva de seu curso que são integradas com as demais áreas do curso como Clínicas de Odontologia Pediátricas; Pacientes Especiais; Clínicas Integradas; Atendimentos a idosos e Estágio extra-muro na Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Assim como as demais profissões de saúde, a Odontologia deve estar articulada a outros setores sociais, para que possa consolidar a construção de um novo conceito de saúde mais positivo e integralizado. Através desta integração, ocorre uma mudança no perfil do novo profissional. Espera-se com estas mudanças que o 12 novo egresso possa apresentar capacidade crítica e reflexiva, que articule os conhecimentos teóricos e práticos ao desenvolvimento concomitante de habilidades pessoais e de relacionamento humano, favoráveis às práticas de comunicação, liderança, trabalho em equipe e interação com a comunidade, sem deixar de lado a excelência técnica. Com isso, passe a se adequar ao atual cenário de saúde brasileiro, que tem a Atenção Básica como estratégia de reorganização do modelo assistencial em saúde. Descritores Formação de recursos humanos. Educação em odontologia. Recursos humanos em odontologia. Humanização na educação. N as últimas décadas, reflexões sobre a formação do profissional de saúde emergiram, ressaltando a necessidade de se adequar o perfil do egresso às necessidades dos setores onde irão atuar, considerando-se os princípios do SUS (Sistema Único de Saúde). Essa discussão enfatiza a necessidade de uma forma- Revista da ABENO • 10(2):12-9 A formação do cirurgião-dentista generalista na Universidade Católica de Brasília • Cruvinel VRN, Franco EJ, Bezerra L, Alves MM, Miranda AF, Carvalho DR ção generalista, crítica e reflexiva, que articule os conhecimentos teóricos e práticos ao desenvolvimento concomitante de habilidades pessoais e de relacionamento humano, favoráveis às práticas de comunicação, liderança, trabalho em equipe e interação com a comunidade.2 Estas práticas constituem-se fundamentais no atual cenário de saúde brasileiro, que tem a Atenção Básica como estratégia de reorganização do modelo assistencial em saúde.7 Uma compreensão biopsicossocial do processo saúde-doença-cuidado tem permitido ampliar a visão sobre a formação profissional, evidenciando não apenas a necessidade de se adquirir conhecimentos teóricos e técnicos interdisciplinares, como também de se criar mecanismos para o profissional pensar enquanto sujeito implicado no processo de cuidado.8 No campo específico da Atenção Básica, estas questões assumem relevância ainda maior, uma vez que esse campo valoriza uma compreensão sistêmica e abrangente acerca do processo saúde-doença-cuidado; o trabalho em equipe multiprofissional; e a qualidade da relação entre o profissional de saúde e a comunidade, em diferentes contextos.4,7 Histórico da formação do Cirurgião-Dentista no Brasil A necessidade da formação teórica do cirurgiãodentista fez com que os projetos novecentistas implantassem um ciclo de disciplinas “curriculares” básicas focadas na teoria “das doenças” (reducionistas, mecanicistas e individualistas) e um ciclo de “disciplinas curriculares” profissionalizantes baseadas nas teorias de aplicação dos conhecimentos (“tecnologias clínicas”). Quanto à formação prática, estes projetos passaram a realizar as disciplinas “curriculares” básicas em laboratórios experimentais. A não articulação da metodologia clínica com o método experimental das disciplinas curriculares básicas formou nos cursos uma lacuna estrutural entre os dois ciclos: básico e profissionalizante. Nesta esfera, o enfoque principal foi dado à doença dentro de um modelo biomédico individualista com a formação de profissional restrito a conhecimentos e práticas fragmentadas tendendo para especializações precoces e com baixo alcance populacional.20 Devido a esta formação, a Odontologia no Brasil tem sido sistematicamente criticada por seu caráter excessivamente técnico, em detrimento dos seus aspectos humanos e sociais. Assim como as demais profissões de saúde, a Odontologia deve estar articulada a outros setores sociais, para que possa consolidar a construção de um novo conceito de saúde mais positivo e integralizado. Para exercer o importante papel que lhe cabe, no processo de transformação das políticas de saúde pública no Brasil, a Odontologia tem o desafio de superar alguns obstáculos que têm, historicamente, distorcido a percepção da sociedade de sua real importância no processo de construção de um novo modelo de saúde. Um dos principais desafios está na formação do novo profissional com características que atendam a demanda social dentro dos princípios do SUS sem deixar de lado o conhecimento científico e a excelência técnica.1,16 Neste artigo, buscamos contribuir com a reflexão sobre a formação do profissional de saúde para atuação nesses novos cenários. Para tanto, descrevemos a experiência do curso de odontologia da Universidade Católica de Brasília, desenvolvido segundo os pressupostos das diretrizes Institucionais do MEC de 2002, dentro de uma abordagem construcionista social, no treinamento de estudantes para atuação na Atenção Básica, assim como no mercado privado. A formação geral em saúde: investindo em um novo perfil profissional Durante as últimas décadas, alguns estudos epidemiológicos de âmbito nacional (SB Brasil 1986, 1996, 2003 e 2010) foram desenvolvidos com a finalidade de identificar os problemas de saúde bucal que acometem a população brasileira e os principais fatores de risco associados, para propor medidas que solucionem estes problemas. O acesso a serviços foi observado como de baixo alcance populacional, o que não condiz com o grande número de CDs no Brasil. Observou-se que os profissionais que atuam no mercado estão concentrados em determinadas regiões, nas grandes metrópoles e atuando principalmente no mercado privado.19 Aqueles que atuam no SUS muitas vezes reproduzem a prática do consultório privado com foco no modelo biomédico, tecnicista e individualista. Durante anos, o ensino da Odontologia foi marcado por uma visão biológica e tecnicista, com a valorização exagerada dos procedimentos técnicos e das clínicas de ensino fragmentadas, com grande tendência de especialização precoce sem se preocupar com as necessidades da população.13 Essa reflexão levou a uma nova estruturação da Odontologia, dos modelos dominantes na explicação da realidade social, bem como das responsabilidades Revista da ABENO • 10(2):12-9 13 A formação do cirurgião-dentista generalista na Universidade Católica de Brasília • Cruvinel VRN, Franco EJ, Bezerra L, Alves MM, Miranda AF, Carvalho DR das universidades ante esta realidade, com repercussões nas reformas de ensino. Começou, então, a se configurar um novo paradigma de prática de saúde bucal no cenário brasileiro. A nova geração de profissionais de saúde não deve ter o seu foco de atuação apenas no atendimento individual, com visão clínica restrita à odontotécnica, mas sim, deve ser preparada para as necessidades das pessoas, das famílias e da comunidade e para a mudança do paradigma de atenção. As mudanças no perfil epidemiológico das doenças bucais, as novas práticas baseadas em evidências científicas e, principalmente, a promoção de saúde no seu conceito ampliado exigem a formação de um profissional generalista, tecnicamente competente e com sensibilidade social com foco nas famílias para trabalhar no Setor público que apresenta a Estratégia de Saúde da Família como reorientadora destes serviços.10,13 A formulação do modelo de atenção à saúde bucal no Programa Saúde da Família - PSF segue os princípios e as diretrizes preconizados por esta estratégia, os princípios do SUS. Para a operacionalização desse novo modelo, entretanto, pode-se constatar, juntamente com um grande número de estudiosos do tema, a necessidade da formação de recursos humanos na Odontologia para o desenvolvimento desse novo processo de trabalho.18 A sinalização desta nova concepção na formação do profissional odontólogo já pode ser conferida no texto das Diretrizes Curriculares Nacionais, publicado no ano de 2002, pelo Ministério da Educação do Brasil, para os cursos de Odontologia, no qual é descrito o perfil do formando egresso e do profissional, como se segue: [...] cirurgião-dentista, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade.3 Busca-se, agora oficialmente, um profissional que saiba se engajar no plano social, que possa atuar tanto no consultório particular quanto em equipes multidisciplinares de saúde, uma vez que os cirurgiões-dentistas foram formados, até então, quase que exclusivamente, para o exercício profissional liberal.5,6 14 Nesse sentido, embora as indicações propostas nas Diretrizes Curriculares (Resolução CNE/CES 3/2002) para o curso de Odontologia sejam recentes, do ano de 2002, é importante verificar, na realidade da formação dos alunos, o que está sendo concretizado ou se concretizando. A proposta do profissional egresso dos cursos de Odontologia em relação à nova postura, de compromissos éticos com a sociedade, ajudando o usuário a viver com saúde, é um terreno amplo para investigação. A formação, aliada à promoção de saúde, constitui a realidade do discurso contemporâneo no campo da saúde coletiva, que visa, em última instância, à promoção de saúde do indivíduo e da comunidade. No Sistema Único de Saúde - SUS, ela é parte de um processo que apenas se inicia, mas que já evidencia seus novos rumos.18 O grande desafio da formação do profissional generalista está em sair de um modelo centrado no diagnóstico de doenças, tratamento e recuperação, para outro centrado no diagnóstico integral, na promoção de saúde, na prevenção e no cuidado com as pessoas.5,14 A formação de profissionais mais capazes de desenvolverem uma assistência humanizada e de alta qualidade e resolutividade será impactante até mesmo para os custos do SUS. O Brasil tem uma notável experiência em aproximação entre a academia e serviços, mas essa ainda está muito aquém do que seria necessário. Projetos experimentais, vinculados a pequenas partes das escolas de medicina, odontologia e enfermagem devem se expandir e tornar-se o centro do processo de ensino e aprendizagem.4,6,11,15 A formação do cirurgião-dentista na Universidade Católica de Brasília O projeto pedagógico do curso de odontologia baseia-se na concretização de um modelo pedagógico diferenciado, cujo principal intento é a formação integral e ajustada às necessidades da sociedade brasileira, em especial no que diz respeito ao sistema de saúde, priorizando iniciativas de promoção da saúde do indivíduo e da comunidade. A interdisciplinaridade é vista como uma dimensão de ensino-aprendizagem pautada nas relações humanas, expressões afetivo-emocionais e biológicas, associadas às condições sociais, históricas, econômicas e culturais dos indivíduos e das coletividades. Esta dimensão é implementada desde os primeiros semestres do curso, de forma integrada, proporcionando ao estudante a oportunidade de problematizar a rea- Revista da ABENO • 10(2):12-9 A formação do cirurgião-dentista generalista na Universidade Católica de Brasília • Cruvinel VRN, Franco EJ, Bezerra L, Alves MM, Miranda AF, Carvalho DR lidade local e nacional. Desta forma, os cenários de ensino são dirigidos para uma realidade constituída dos diversos campos do conhecimento.6 Neste sentido, torna-se de extrema importância a formulação de projetos institucionais desta natureza para a formação superior do profissional CirurgiãoDentista generalista com competências e habilidades para proporcionar promoção à saúde, de acordo com os princípios da integralidade, universalidade e eqüidade a estas comunidades, com responsabilidade social e espírito ético e humano.9,11 O Curso de Odontologia da Universidade Católica de Brasília contempla os aspectos relacionados às diversas dimensões da relação indivíduo e sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos e legais, nos níveis individuais e coletivos, pautados em princípios éticos e cristãos. As relações construídas e vivenciadas ao longo do curso permitem a valorização e visão integral da pessoa humana, sendo indispensáveis na formação do Cirurgião-Dentista. Essas relações iniciam-se desde os primeiros semestres do curso, com a inserção dos estudantes nas comunidades e equipes multidisciplinares, até o último semestre letivo, com a consolidação dos atendimentos odontológicos específicos e integrais, sendo o ser humano o foco principal na formação global do estudante. Esta prática educativa humanizada na área da saúde coloca o homem como centro do processo de construção da cidadania, comprometida e integrada à realidade social e epidemiológica, às políticas sociais e de saúde, oportunizando a formação profissional contextualizada e transformadora.13 A formação geral do estudante de odontologia da UCB dentro das disciplinas básicas do eixo comunitário Desde 2007 todos os cursos de saúde da Universidade Católica de Brasília sofreram uma reestruturação dos seus currículos com a finalidade de formarem seus alunos dentro de uma visão generalista, aptos para atuarem em equipes multiprofissionais, promovendo ações educativas na área da saúde de acordo com o contexto sócio-econômico de cada população participante, abrangendo problemas de saúde referidos e identificados como de importância epidemiológica e visando à orientação para prevenção e tratamento, por meio de ações individuais e coletivas. Assim, os estudantes de saúde cursam conjuntamente as disciplinas básicas do eixo comunitário: • Saúde e sociedade; • Saúde nos ciclos da vida; • Vigilância em saúde; e • Gestão e planejamento. Eles passam a ter uma visão ampla dos problemas sociais que afetam as comunidades, além das questões relacionadas à saúde integral dos indivíduos com foco no trabalho em equipe e de caráter multidisciplinar dentro do modelo de Promoção de Saúde e Vigilância. As visitas que são feitas como cenário de prática de campo seguem as etapas do planejamento estratégico, partindo da compreensão da realidade através do diagnóstico situacional e da escuta da comunidade para o desenvolvimento de ações de promoção e educação em saúde de acordo com o contexto sócioeconômico de cada população participante, abrangendo problemas de saúde referidos e identificados como de importância epidemiológica, visando à orientação para prevenção e tratamento, por meio de ações individuais e coletivas. Estas ações são avaliadas periodicamente, através do monitoramento destas comunidades. A formação generalista do estudante dentro das disciplinas de saúde coletiva do curso de odontologia da UCB Após ter concluído as disciplinas básicas do eixo comunitário, o estudante do curso de odontologia inicia as disciplinas de saúde coletiva específicas de seu curso. Estas disciplinas são de natureza teóricopráticas, onde o aluno tem a oportunidade de fazer atividades extra-muro de Educação em Saúde bucal, levantamento de necessidades, hierarquização dos problemas e execução de atividades curativas nas comunidades carentes pertencentes aos projetos de extensão da UCB. As atividades práticas, também chamadas de atividades laboratoriais, acontecem ao longo de todos os períodos do Curso de Odontologia, como estratégia metodológica de ensino-aprendizagem. Já os estágios supervisionados são as atividades práticas desenvolvidas intramuros em pacientes, com supervisão Docente. As áreas de atuação da saúde coletiva são: PSF, Escolas, Creches, Instituições de idosos, Centro de Ensino de pacientes com necessidades especiais, comunidades carentes como cooperativa de catadores de lixo, etc. A partir da hierarquização dos problemas, os procedimentos de menor complexidade como Revista da ABENO • 10(2):12-9 15 A formação do cirurgião-dentista generalista na Universidade Católica de Brasília • Cruvinel VRN, Franco EJ, Bezerra L, Alves MM, Miranda AF, Carvalho DR adequação do meio, ART (tratamento restaurador atraumático), remoção de fatores de retenção, IHO (instrução de higiene oral), remineralização, dentre outros, são realizados em campo pelos alunos da disciplina de saúde coletiva sob coordenação dos professores e monitores da disciplina. Os pacientes que necessitam de procedimentos de maior complexidade como: ortodontia, exodontia, endodontia e prótese são encaminhados para as clínicas de odontologia da UCB de acordo com a disponibilidade de vagas. Todos os pacientes que recebem atendimento clínico odontológico nas clínicas integradas do curso de odontologia são triados pela disciplina de saúde coletiva. Após a triagem, os adolescentes (11 a 17 anos) que necessitam de procedimentos odontológicos de maior complexidade são encaminhados para a ONG Turma do Bem dentro do Projeto “Dentista do bem”. Este projeto conta com o trabalho voluntário de cirurgiões-dentistas que atendem crianças e adolescentes de baixa renda, proporcionando-lhes tratamento odontológico gratuito até completarem 18 anos. As crianças que recebem alta no tratamento pelas clínicas de odontologia pediátrica são acompanhadas pela saúde coletiva através das clínicas de manutenção preventiva. Desta forma, o aluno desenvolve a responsabilidade social, humanização, criando vínculo com o paciente, dirigindo sua atuação para transformação da realidade e melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. No último semestre do curso, os alunos fazem estágio nos diferentes cenários da secretaria de saúde: • Hospitais de referência. • Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs). • Centros de Saúde e PSF. Esta vivência busca a consolidação de toda a experiência teórico-prática que o aluno obteve ao longo de sua formação para desenvolver seu espírito críticoreflexivo, ético, humanista, capacitando-o para atuar em todos os níveis de atenção a saúde, com base no rigor técnico e científico. DISCUSSÃO O conceito de saúde bucal tem sido, ao longo dos anos, excessivamente fragmentado e reducionista. Muitos avanços têm sido alcançados, principalmente pela aproximação da Odontologia aos conhecimentos e práticas que integram um conjunto mais amplo, identificado como Saúde Coletiva. No entanto, a profissão permanece centrada em 16 uma prática tecnicista, focada na assistência odontológica ao indivíduo doente e realizada quase com exclusividade por um sujeito individual em um ambiente clínico-cirúrgico restrito.1 Para atender às novas diretrizes curriculares que têm como objetivo a formação do cirurgião-dentista generalista deve haver um esforço conjunto de toda equipe de docentes, coordenadores pedagógicos e direção dos cursos substituindo os modelos pedagógicos novecentistas vigentes para uma nova mudança de paradigma onde o foco será conjuntamente com as ciências biológicas, valorizar as ciências sociais como está ocorrendo nas disciplinas básicas do eixo comunitário dos cursos de saúde da Universidade Católica de Brasília. Conforme Gabriel M & Tanaka EE,6 esses avanços não devem se restringir apenas a mudança metodológica, mas a uma transformação na cultura pedagógica da instituição para um efetivo currículo integrado. As atividades extra-muro dos alunos desde o primeiro semestre do curso de graduação permitem que estes tomem conhecimento da realidade da população e de suas necessidades, assim como dos determinantes sócio-ecológicos do processo saúde-doença, para atuarem dentro de um modelo integral de atenção observando os indivíduos de acordo com as suas características sociais e biológicas inerentes a sua fase de vida ao invés de vê-los apenas como portadores de patologia. Permite aos estudantes e professores uma compreensão diferente do mundo, fora da sala de aula, aprendendo de uma forma significativa a ter comprometimento social. A Odontologia e as demais profissões da saúde devem estar integradas entre si para que, articuladas a outros setores sociais, possam consolidar a construção de um novo conceito de saúde mais positivo e integralizado.1 Desta forma, a experiência de vivenciar as disciplinas básicas (teórico-práticas) em conjunto com os estudantes de outros cursos de saúde como medicina, enfermagem, farmácia, nutrição, biomedicina e fisioterapia proporciona ao estudante de odontologia uma visão concreta para atuar de forma interativa (interdisciplinar e multiprofissional) entendendo que a saúde bucal não pode ser dissociada da saúde geral e do campo social que o indivíduo está inserido. A articulação das disciplinas em rede faz com que o aluno não tenha uma visão fragmentada do conhecimento e de sua aplicabilidade para melhoria na qualidade da saúde bucal das pessoas. A integração da Saúde Coletiva com as outras áreas do curso de Revista da ABENO • 10(2):12-9 A formação do cirurgião-dentista generalista na Universidade Católica de Brasília • Cruvinel VRN, Franco EJ, Bezerra L, Alves MM, Miranda AF, Carvalho DR Odontologia como Clínica de Odontologia pediátrica, Clínica Integrada, Clínica de Diagnóstico, Clínica de pacientes especiais, Atendimento a idosos, faz com que os alunos e professores atuem como equipe para a melhoria da saúde das pessoas. É criada uma relação humana, de vínculo e compromisso entre discentes, docentes e pacientes. Através desta relação de confiança, o paciente se torna co-responsável pela sua saúde pactuando com os autores envolvidos para a melhoria da mesma. Experiência similar foi aplicada com sucesso no curso de graduação de Londrina através da mudança no currículo para módulos integrados das áreas de conhecimento.6 A articulação da Saúde Coletiva com a Clínica de Odontologia Pediátrica faz com que os alunos entendam a importância da Educação em Saúde Bucal aos pacientes e respectivas famílias dentro do contexto sócio-econômico que estão inseridos. Os estudantes de Odontologia aprendem a intervir de modo respeitoso com forte fundamentação ética sobre a dinâmica da vida e da comunidade atuando de forma consciente sobre a família tendo-a como a base do atendimento individual e coletivo. Assim, os fatores etiológicos, determinantes e modificadores para a doença de maior prevalência na infância: cárie, são abordados dentro de uma visão de promoção de saúde focada para mudanças de hábitos, buscando equilíbrio entre os fatores que promovem saúde e os agravantes do processo. A experiência dos alunos em promover saúde bucal aos idosos institucionalizados em suas diferentes realidades (independentes, parcialmente dependentes e totalmente dependentes) dentro do meio em que estão inseridos, permite a compreensão da importância da atuação dos profissionais da odontologia na área gerontológica, já que a mudança no perfil demográfico no Brasil constata que a população de idosos cresceu 107% nos últimos anos, sendo as doenças crônicas de maior prevalência na população. Diante dessa realidade, a promoção de saúde bucal deve ser inserida como parte integrante de todo um planejamento multidisciplinar e assistencialista a esses idosos, caracterizados por apresentarem problemas no sistema estomatognático, edentulismo, cárie, doença periodontal, muitas vezes não diagnosticados e desapercebidos por toda a equipe responsável.12 A vivência da Saúde Coletiva com os pacientes portadores de necessidades especiais proporciona uma superação de estigmas, favorecendo o acolhimento destes sujeitos para que os futuros profissionais generalistas possam acolhê-los dentro da atenção bá- sica. Esta iniciativa se faz necessária para agregar à nova lógica de organização dos serviços em saúde que vem de encontro com a necessidade de ampliação dos serviços odontológicos para os deficientes mentais dentro das comunidades. Na lógica do PSF não é possível transferir pacientes, apesar de ser possível realizar o encaminhamento para tratamentos mais complexos. Estas pessoas moram no mesmo bairro, portanto, são de responsabilidade da equipe da região adstrita. Assim, o vínculo e a continuidade exigem lidar com eles, processo para o qual os profissionais nem sempre estão preparados. As visitas periódicas ao Programa de Saúde da Família - PSF permitem que os alunos tenham uma noção real de como os Programas de Atenção Básica incluindo saúde bucal estão atuando junto às comunidades. É entendido com se dá o primeiro contato do usuário com o sistema de saúde (a unidade de saúde da família - USF como porta de entrada do sistema; conhecimento da realidade das famílias sob sua responsabilidade; identificação dos problemas de saúde mais comuns e situações de risco aos quais a população está exposta; elaboração, com participação da comunidade, de um plano local para enfrentar os fatores que colocam em risco a saúde; a relação de vínculo e responsabilidade entre as famílias e os profissionais de saúde; a assistência contínua, evitando complicações e encaminhamentos desnecessários para especialistas e hospitais e a referência e contrareferência. Esta prática é fundamental para que o indivíduo se torne sujeito, participando ativamente de seus processos, comprometido com suas decisões, geradas através de pensamento crítico em relação à realidade local.1,11 As atividades práticas e estágios supervisionados proporcionam ao estudante a oportunidade de vivenciar a prática profissional, conhecer as realidades sociais, aplicar os conhecimentos científicos e desenvolver a capacitação profissional necessária para o ingresso no mercado de trabalho.11,17 O objetivo principal deste estágio é proporcionar ao estudante, através de atividades com grau crescente de complexidade e autonomia, a aproximação do futuro cenário de prática profissional, a vivência e problematização da forma de organização social, do modelo assistencial, do trabalho em equipe e das condições de saúde da população, o treinamento em serviço, conduzindo a aplicação dos conhecimentos adquiridos durante o Curso, além de desenvolver no estagiário o espírito de equipe e de liderança participativa, considerando os aspectos relevantes nos relacionamentos interpes- Revista da ABENO • 10(2):12-9 17 A formação do cirurgião-dentista generalista na Universidade Católica de Brasília • Cruvinel VRN, Franco EJ, Bezerra L, Alves MM, Miranda AF, Carvalho DR soais com chefias, funcionários e clientes em uma unidade de saúde. CONCLUSÃO Através deste projeto pedagógico articulado e voltado para a formação de um profissional generalista, o novo egresso do curso de odontologia da Universidade Católica de Brasília, apresenta potencial para atender as necessidades da população tendo como características a responsabilidade social, entendimento dos determinantes sócio-ecológicos do processo saúde-doença e da relação entre as doenças bucais e outras doenças sistêmicas; agir através de uma filosofia de promoção de saúde com menos intervenção clínica, atuar de forma interativa (interdisciplinar e multiprofissional), ter competência para fazer diagnóstico clínico e epidemiológico, além de possuir sólida formação técnico-científica em odontologia e formação humanística e ser um profissional de saúde comprometido para a melhoria da saúde da população. better fit the reality of the Brazilian healthcare setting, which has primary care as a strategy to reorganize the health care model. Descriptors Education, dental. Educational measurement. Students, dental. Educational humanization. § Referências 1. Almeida AB, Alves MS, Leite ICG. Reflexões sobre os desafios da odontologia no sistema único de saúde. Rev. APS, Juiz de Fora. jan/mar. 2010; v. 13, n. 1, p. 126-132. 2. Araújo ME, Zilbovicius C. A formação acadêmcia para o trabalho no Sistema único de Saúde in Moysés ST, Moysés SJ, Kriger L. Saúde Bucal das Famílias. p. 277- 290. São Paulo Artes Médicas. 3. BRASIL. Ministério da Educação. CNE Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE-CES 3, de 19/02/2002 Institui as diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Graduação em Odontologia. Diário Oficial da União, Brasília, 04 de março de 2002. Seção 1, p.10 4. BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Secre- Abstract The academic training of the general practitioner dentist at the Catholic University of Brasília This article depicts how the dental clinic experience at the Catholic University of Brasilia influences the academic training of the general practitioner dentist. This training starts with interconnected studies in basic areas involving the community core, where all health course students study the same disciplines in the first two years of college and have the opportunity of experiencing community problems from the perspective of different fields. From this point on, dental students take the public health disciplines of their specific course, which are interrelated to all areas of dentistry, such as: Clinical Pediatric Dentistry, Special Patients, Integrated Clinics, Elderly Care, and internship at the Department of Health in the Federal District. Like other health professions, dentistry must be interconnected with other social areas, so that a new health concept may be built and consolidated. This integration prompts a change in the profile of the new professional. It is hoped that these changes may guide new graduates to gain critical and reflexive skills that interconnect theoretical and practical knowledge with the concurrent development of personal skills and human relationships, to promote such practices as communication, leadership, teamwork and interaction with community, without slighting technical excellence. In this way, dentistry can 18 taria de Gestão do trabalho e da Educação na Saúde. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde- PróSaúde: objetivos, implementação, e desenvolvimento profissional/ Ministério da Saúde, Ministério da Educação. 86p Brasília, 2007. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ pro_saude_cgtes.pdf [ Acesso em 22 de agosto de 2011]. 5. Feuerwerker LCM. 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Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 Revista da ABENO • 10(2):12-9 19 Clínica de atenção básica: do discurso teórico à realidade prática Nelson Rubens Mendes Loretto*, Ileamá Duque Porto Pessoa Silva**, Leila Christiane Lima Carneiro Batista** *Professor Adjunto Doutor, Orientador **Alunas do 10º período do curso de graduação da FOP-UPE, Pesquisadoras Resumo Objetivo: Analisar a coerência ideológica de formação ao verificar se a realidade prática do treinamento do estudante do curso de graduação na clínica de atenção básica corresponde ao discurso teórico contido no projeto políticopedagógico do curso. Metodologia: estudo exploratório, descritivo, transversal, quanti-qualitativo realizado com 35 alunos e 9 docentes da Clínica de Atenção Básica I e II de uma Faculdade de Odontologia do estado de Pernambuco. O estudo quantitativo foi utilizou um questionário com dez situações de ensino/aprendizagem respondido mediante uma escala de Likert de 4 opções. O estudo qualitativo utilizou a técnica de análise do conteúdo de Bardin realizada sobre três questões abertas. A estatística descritiva e inferencial utilizou o teste Qui-Quadrado de Pearson e para comparação de médias o teste de Mann Whitney. Resultados: o teste de comparação de médias entre alunos e docentes da CAB I mostrou significância somente nas situações de interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade (p = 0,012); seleção de pacientes (p = 0,045); e conhecimento e cobrança de conhecimentos ministrados nas unidades anteriores (p = 0,001). Na CAB II a associação significativa foi para seleção de pacientes (p = 0,004); conhecimento e cobrança dos conteúdos ministrados nas unidades anteriores (p = 0,001); apoio às atividades para fins diagnósticos (p = 0,001). Conclusões: Não há coerência entre o discurso do PPP da instituição e a realidade prática das CABs I e II; a melhoria na triagem, a interdisciplinaridade e o compromisso e competência docente são as melhorias mais exigidas pelos alunos; e o fortalecimento da interdisciplinaridade e a organização dos prontuários são as mais exigidas pelos docentes. Descritores Educação em odontologia. Atenção primária à saúde. Saúde bucal. 20 O s princípios da Reforma Sanitária consagrados na Lei Orgânica da Saúde de nº 8.080/1990 e na criação do Sistema Único de Saúde apontaram para um novo perfil profissiográfico nas profissões de saúde, aí incluída a Odontologia. Toda formação e atenção antes voltada para a doença, agora se volta para o doente e suas condições sócio-ambientais, refutando a ideologia flexneriana que trazia no seu cerne, como forte elemento de identificação, o biologismo, elemento ideológico determinante na forma de ensinar e de dar assistência à saúde.1 Dessa aproximação entre Educação e Saúde resultaram as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), que têm como ideário básico à flexibilização curricular, com vistas a possibilitar uma sólida formação de acordo com o estágio de desenvolvimento do conhecimento em cada área, permitindo ao graduado enfrentar as rápidas mudanças do conhecimento e seus reflexos no mundo do trabalho. Desde a sua aprovação, os currículos devem ser propostos de modo a contemplar, para cada curso, o perfil acadêmico e profissional, as competências, neles estabelecidos, a partir de referências nacionais e internacionais.2 A formação pretendida sinaliza para o treinamento do estudante na formação e desenvolvimento de habilidades e competências clínicas em clínicas de atenção hierarquizadas denominadas Clínica de Atenção Básica (CAB), Clínica de Atenção de Média Complexidade (CAMC) e Clínica de Atenção de Alta Complexidade (CAAC). A ideologia dessas clínicas deve fazer parte do projeto político-pedagógico (PPP) do curso, superando a formação em clínicas estanques, desarticuladas da realidade social e que refletiam ainda o modelo flexneriano biologicista. Dessa forma, ao elaborar seu PPP a instituição pesquisada apresentou seu modelo de formação no qual se inclui a Clínica de Atenção Básica como primeira experiência clínica do aprendiz, situada no 5º período do curso.3 A atenção básica foi definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1978, Revista da ABENO • 10(2):20-6 Clínica de atenção básica: do discurso teórico à realidade prática • Loretto NRM, Silva IDPP, Batista LCLC como atenção essencial baseada em tecnologia e métodos práticos, cientificamente comprovados e socialmente aceitáveis, tornados universalmente acessíveis a indivíduos e famílias na comunidade por meios aceitáveis para eles e a um custo que tanto a comunidade como o país possa arcar em cada estágio de seu desenvolvimento, um espírito de autoconfiança e autodeterminação. É parte integral do sistema de saúde do país, do qual é função central, sendo o enfoque principal do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. É o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, levando a atenção à saúde o mais próximo possível do local onde as pessoas vivem e trabalham, constituindo o primeiro elemento de um processo de atenção continuada à saúde.4 A formação atual em Odontologia obedece a Resolução CNE/CES nº 3, de 19 de fevereiro de 2002 da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE/CES, 2002) que fixou as Diretrizes Curriculares Nacionais de Odontologia que no seu artigo 5º, ao tratar das competências e habilidades específicas estabeleceu no inciso III que o futuro dentista deve “atuar multiprofissionalmente, interdisciplinarmente e transdisciplinarmente com extrema produtividade na pro- um preparo inadequado para ações ligadas à administração e gerenciamento da própria prática e pouco preparo para o relacionamento com o paciente e com os outros profissionais da própria área. O currículo é um dos conceitos mais potentes, estrategicamente falando, para analisar como a prática se sustenta e se expressa de uma forma peculiar dentro de um contexto escolar.5 A faculdade pesquisada discutiu seu PPP nos anos de 2004 e 2005 e em 2006 chegou à redação do documento final de 126 páginas, no qual transparecia a adequação do ensino de graduação às DCNO. A última reforma curricular dessa instituição tinha sido em 1992. A partir de 2008 os ingressantes no curso passaram a vivenciar o novo currículo disposto no PPP. A discussão que se fez em dois anos trouxe à tona os problemas institucionais mais agudos, a saber: • carga horária excessiva; • falta de interdisciplinaridade; • grade curricular engessada; • currículo inadequado; • conteúdos repetitivos; • aulas magistrais; • superlotação de clínicas e laboratórios; e • falta de integração básico profissional. moção da saúde baseado na convicção científica, de cidadania e de ética.”1 Esse, sem duvida, é o inciso mais importante do ideário da formação, posto que supera a fragmentação do ser, remetendo a compreensão do paciente na sua totalidade ou, na chamada visão holística. Essa parece ser uma das grandes dificuldades das IES na implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Odontologia (DCNO), posto que ultrapassar o antigo modelo curricular, de natureza conteudista e forte marca de poder pelo exercício das cátedras. Por essa razão, Cordioli (2006) ao pesquisar egresso com até cinco anos de formado sintetizou que os principais achados evidenciam aspectos essenciais que ainda dificultam a concretização do perfil de egresso preconizado pelas Diretrizes Curriculares, especialmente no tocante ao preparo para uma prática generalista da profissão. Salienta-se a falta de articulação da teoria com a prática, uma visão da Odontologia descontextualizada da realidade com conseqüente despreparo para atuação no mercado de trabalho, uma ênfase intra-profissional com pouca integração com as outras áreas da saúde, uma formação inadequada para o trabalho no contexto do SUS, Uma pergunta se fez necessária: a atual formação clínica orientada pelo discurso teórico do PPP da instituição pesquisada encontra ressonância na primeira experiência clínica do aluno, denominada Clínica de Atenção Básica? Materiais e Métodos Este estudo, de caráter exploratório e descritivo, corte transversal e natureza quali-quantitativa, foi realizado em dois momentos distintos, com uma mesma população, a saber: trinta e cinco alunos matriculados na Clínica de Atenção Básica I (CAB I)do 5º período (equivalentes aos 100% do total de alunos matriculados) do curso de graduação de uma faculdade de odontologia do estado de Pernambuco e nove docentes atuantes na referida clínica e repetido com a mesma população no semestre seguinte quando os alunos foram matriculados na Clínica de Atenção Básica II (CAB II) no 6º período. Foram considerados incluídos na pesquisa todos os alunos regularmente matriculados, sem nenhum regime de dependência do semestre anterior ou que estivesse cursando a CAB I como disciplina isolada, e os docentes em efetivo exercício das atividades docentes nas CAB I e II. Para a Revista da ABENO • 10(2):20-6 21 Clínica de atenção básica: do discurso teórico à realidade prática • Loretto NRM, Silva IDPP, Batista LCLC metodologia quantitativa foi elaborado um questionário dividido em duas partes: • a primeira para registro de dados sociodemográficos de ambos os grupos. –– para os docentes: gênero, idade,especialidade e titulação e –– para os discentes: gênero e idade. gravada, sugerindo que as respostas às perguntas fossem dadas por escrito. Assim foi feito. Todas as respostas forma analisadas segundo a técnica da análise de conteúdo6 utilizando-se as estratégias propostas por Minayo,7 a qual inclui a pré-análise, a exploração do material ou codificação e o tratamento dos resultados obtidos. • A segunda parte do questionário foi composta por dez situações de ensino-aprendizagem elaboradas a partir do PPP da instituição e das DCNO e que podem ser resumidas nas seguintes categorias: 1. valores morais e conduta social; 2. interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade; 3. integração com sistema de saúde; 4. nível de resolutividade; 5. uso de metodologias ativas; 6. adequação de necessidades ao nível de formação; 7. exigência e utilização dos pré-requisitos; 8. apoio para construção de diagnóstico; 9. apoio para plano de tratamento; e 10. atuação norteada pelo PPP e DCNO. Resultados e Discussão Do ponto de vista quantitativo a amostra discente revelou-se predominantemente feminina (80%) seguindo uma tendência natural nos cursos de Odontologia com a presença sempre majoritária das mulheres e a idade média masculina foi de 21,7 anos e feminina de 21,6 anos. Entre os docentes 55,6% eram homens e 44,4% mulheres. A titulação apontou 77,8% de doutores; 11,1% de especialista e 11,1% de pós-doutor. As disciplinas com maior número de docentes foram Periodontia e Dentística com 33,3% dos professores cada uma. Olhando o conjunto das respostas de alunos e professores e levando em consideração as sub-escalas de respostas (nunca, algumas vezes, muitas vezes e sempre) o resultado comparativo entre as duas categorias amostrais foi expresso conforme a Tabela 1. A diferença entre as médias foi muito elevada na resposta NUNCA pois o valor dos docentes foi 5,96 vezes maior do que o dos alunos quando atribuíram NUNCA a sua situação de ensino. Ou seja, os professores reconhecem que “nunca” realizam ou procedem em uma determinada atuação na sua situação de ensino, mas isso não é percebido pelo aluno na sua situação de aprendizagem. Claro está que aqui estamos falando do conjunto das situações. Para melhor entendermos o problema em cada questão isoladamente, foi construída a Tabela 2 a que compara a média de respostas de alunos e docentes. A questão 2 trata dos conceitos de interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade que modernamente devem fazer parte dos processos pedagógicos de formação, especialmente na área da saúde. A questão 6 invoca algo que podemos considerar um nó crítico da CAB, qual seja, a seleção de pacien- Uma escala de Likert foi utilizada com as seguintes sub-escalas: • (0) nunca, • (1) algumas vezes, • (2) muitas vezes e • (3) sempre. Para conhecer a média de avaliação em cada uma das questões oferecidas e que retratavam situações de ensino (docentes) e de aprendizagem (alunos) somou-se o valor da resposta de cada aluno e cada docente para cada uma das questões, dividindo-se o total pelo número de sujeitos respondentes. O valor encontrado foi a média alcançada pela questão em cada grupo pesquisado e esse valor foi interpretado segundo a escala de Likert. As médias de docentes e discentes foram comparadas e para estatística inferencial utilizou-se o teste de Mann-Whitney. Para a metodologia qualitativa foi utilizada a entrevista dirigida, devendo cada pesquisado responder três perguntas (abertas) condutoras, sem nenhuma interferência das pesquisadoras. No primeiro momento pensou-se em gravar as respostas, mas o estudo piloto realizado com 6 alunos e 3 docentes que não fizeram parte da amostra (eram de outro período), revelou, por parte dos alunos, a preocupação com a entrevista 22 Tabela 1 - Distribuição relativa da média de respostas de alunos e docentes segundo a sub-escala. Resposta Alunos Docentes Revista da ABENO • 10(2):20-6 Nunca Algumas vezes Muitas vezes Sempre 2,8 39,8 40,4 17,0 16,7 23,3 32,2 27,8 Clínica de atenção básica: do discurso teórico à realidade prática • Loretto NRM, Silva IDPP, Batista LCLC Tabela 2 - Teste de Médias entre alunos e docentes da Tabela 3 - Teste de Médias entre alunos e docentes da CAB I. CAB II. Questão Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Média Grupo N Média Desvio padrão Alunos 35 2,09 0,658 Docentes 9 2,33 0,707 Alunos 35 1,23 0,646 Docentes 9 1,89 0,782 Alunos 35 1,34 0,873 Docentes 9 1,89 0,928 Alunos 35 1,97 0,857 Docentes 9 1,89 0,782 Alunos 35 1,43 0,739 Docentes 9 1,78 0,972 Alunos 35 1,26 0,657 Docentes 9 0,78 1,093 Alunos 35 1,97 0,618 Docentes 9 1,00 0,866 Alunos 35 1,94 0,765 Docentes 9 2,33 1,323 Alunos 35 1,89 0,758 Docentes 9 2,33 0,500 Alunos 35 1,34 0,725 Docentes 9 0,89 1,054 Alunos 1,64 Docentes 1,71 Valor de p(1) Questão 0,308 Q1 0,012 Q2 0,088 Q3 0,686 Q4 0,213 Q5 0,045 Q6 0,001 Q7 0,085 Q8 0,099 Q9 0,098 Q10 Grupo N Média Desvio padrão Alunos 35 2,17 0,707 Docentes 9 2,33 0,707 Alunos 35 1,83 0,747 Docentes 9 1,89 0,782 Alunos 35 1,6 0,651 Docentes 9 1,89 0,928 Alunos 35 1,97 0,747 Docentes 9 1,89 0,782 Alunos 35 1,34 0,639 Docentes 9 1,78 0,972 Alunos 35 1,89 0,758 Docentes 9 0,78 1,093 Alunos 35 2,17 0,707 Docentes 9 1,00 0,866 Alunos 35 1,86 0,733 Docentes 9 2,33 1,323 Alunos 35 1,51 0,612 Docentes 9 2,33 0,5 Alunos 35 1,31 0,832 Docentes 9 0,89 1,054 Valor de p(1) 0,536 0,826 0,198 0,766 0,121 0,004 0,001 0,053 0,001 0,137 Através do teste de Mann-Whitney. (1) Através do teste de Mann-Whitney. (1) tes. Se alunos revelaram que recebem pacientes com necessidades incompatíveis com seu nível de formação, docentes confirmaram essa questão ao afirmarem que nunca ou algumas vezes participam dessa seleção (77,%). Por fim a questão 7 suscita uma falha recorrente no ensino da instituição, na qual docentes de uma disciplina desconhecem o que é ensinado nas demais disciplinas, e cuja associação foi a mais significativa nessa comparação de médias. Isso revela uma falta de integração horizontal do curso, uma vez que entre os docentes essa falha foi de 88,9% ao se combinarem as respostas NUNCA e ALGUMAS VEZES, mas entre os alunos a cobrança desses conhecimentos prévios mostrou um resultado contraditório, posto que 40,0% é o percentual médio de combinação das respostas MUITAS VEZES e SEMPRE entre os alunos das CAB I. Ou seja, apesar do professor não ter conhecimento do que foi ministrado nas unidades prévias, o aluno registrou a cobrança desse conhecimento que pode ocorrer por simples intuição da parte do docente. Raciocínio idêntico foi aplicado na compa- ração de médias entre docentes e alunos da CAB II (Tabela 3). Aqui a significância da associação se deu nas questões 6, 7 e 9. A exemplo da CAB I as questões 6 e 7 foram recorrentes, o que significa dizer que persiste entre os alunos e docentes as dificuldades relativas à seleção de pacientes e o os conhecimentos ministrados nas unidades prévias. Nessa comparação surgiu um dado novo, qual seja a significância estatística entre as médias da questão 9 que se refere à participação docente na elaboração do plano de tratamento articulando especialidades e especialistas dentro da visão holística que deve ter o processo. Se 50,0% dos docentes afirmaram que MUITAS VEZES ou SEMPRE participam efetivamente dessa situação de ensino, apenas 22,9% dos alunos da CAB II reconheceram essa participação, indicando um aspecto contraditório nas respostas. Na tentativa de saber se havia associação entre a resposta dos alunos com gênero e idade e a resposta dos docentes com gênero e titulação, procedeu-se a análise estatística utilizando o teste do Qui-Quadrado de Pearson e somente uma associação mostrou-se significativa, entre a Q3 – Minha orienta- Revista da ABENO • 10(2):20-6 23 Clínica de atenção básica: do discurso teórico à realidade prática • Loretto NRM, Silva IDPP, Batista LCLC ção ao aluno é de que a sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos – e a titulação docente com p = 0,045. Todas as demais associações não foram significativas, com p > 0,050. Na abordagem qualitativa a análise de conteúdo das respostas à 1ª questão (Em sua opinião, qual a importância da Clínica de Atenção Básica na formação do futuro cirurgião-dentista, considerando que ela é a primeira experiência clínica do estudante?) permitiu identificar, no discurso discente, cinco categorias temáticas: a) visão holística do paciente na profissão (28,6%); b) desenvolvimento de habilidades clínicas (20,0%); c) aprender a lidar com pacientes (17,1%); d) atendimento integrado (17,1%); e e) preparo para o SUS (8,6%). Entre os docentes, para essa mesma questão, foram identificadas as categorias: a) prática clínica integrada (44,4%); b) visão holística (33,3%); c) primeiro contato com o paciente (33,3%); e d) adquirir prática clínica (22,2%). Comparando-se essas duas últimas categorizações é possível observar que há uma convergência de conteúdos entre as respostas dos alunos e dos docentes. Ambos pensam de forma semelhante no que diz respeito à importância da Clínica de Atenção Básica, diferindo apenas na hierarquização dessa importância, pois enquanto os docentes preocupam-se com o treinamento do aluno numa prática clínica integrada, os alunos consideram que a visão holística do paciente na profissão a primeira grande lição da CAB. Essa convergência indica que o pressuposto ideológico contido no PPP da instituição tem alguma ressonância na prática clínica, posto que ao discorrer sobre as competências gerais, está referido, com base nas DCNO, que o esforço pedagógico da instituição deve (...) Concorrer para formação de um cirurgiãodentista generalista, com capacidade e habilidade para examinar o paciente dentro de uma concepção holística e planejar tratamentos baseados em evidências cientificas. A visão do aluno aponta para a importância da CAB na formação, desocultando claramente a importância do conhecimento sobre o SUS como orientador dessa 24 formação. Contudo, surge uma dúvida: os docentes estão conscientes dessa orientação? Outro aspecto singular é sobre a importância da integração tanto no plano horizontal (as disciplinas/especialidades) quanto no plano vertical (complexidade dos conteúdos). Aqui chama a atenção a importância que se deve a transversalidade de certos conteúdos como relações humanas no trabalho, ergonomia, princípios da administração aplicados à Odontologia, filosofia de trabalho, etc., conteúdos este ministrados no 3º período, mas que parecem não ser do conhecimento dos docentes das CABs. A análise de conteúdo das respostas à 2ª questão (A CAB está estruturada para o atendimento das necessidades dos alunos e dos pacientes? Justifique sua resposta) indicou dois tipos de análise. A primeira, quantitativa, em que a resposta não obteve 91,6% de respostas tanto na CABI quando na CAB II entre os alunos e 98,9% entre os docentes. A segunda quando o discurso revela que a triagem deficiente está presente em 20,9% das falas dos alunos, seguida de falta de compromisso de alguns professores (15,2%), planejamento deficiente com 13.3% e falta de interdisciplinaridade (10,5%) as cinco falas que se destacaram num conjunto de doze razões que justificaram a resposta não a pergunta formulada. Entre os docentes as razões mais fortes foram falha na triagem, espaço reduzido e falta de assiduidade de alguns professores, todas com 20% de ocorrência. Um olhar atento às respostas permitiu observar que há defeitos de gerenciamento, falta de planejamento, baixa motivação docente, falta de integração, inobservância de princípios fundamentais, entre outras observações. As respostas de alunos e professores revelam um quadro de angústia, mas entre os alunos e um único docente há um sinal de esperança. Imaginamos ser desanimador a consciência crítica de que o processo está errado e não vislumbrar nenhuma saída de curto prazo. A análise de conteúdo das respostas à 3ª questão (Que sugestões você oferece para a melhoria da Clínica de Atenção Básica como parte integrante da formação do futuro cirurgião-dentista?) permitiu identificar que para os alunos, num conjunto de dezesseis sugestões, as maiores necessidades de correção devem se dar na correta triagem dos pacientes que devem ter necessidades compatíveis com o nível de formação; na melhoria do planejamento das atividades por parte dos professores; capacitação docente para exercício da interdisciplinaridade; maior empenho, dedicação, envolvimento e dedicação de alguns professores; melhoria do espaço físico da clínica. Entre os docentes as sugestões de melhoria puderam ser agrupadas em três categorias básicas: Revista da ABENO • 10(2):20-6 Clínica de atenção básica: do discurso teórico à realidade prática • Loretto NRM, Silva IDPP, Batista LCLC • fortalecimento da interdisciplinaridade; • organização dos prontuários; • melhoria na triagem e no espaço físico. O conjunto dessa respostas revela que se do lado do aluno o apelo é quase desesperador em relação ao compromisso docente que vai desde a compreensão dos objetivos da CAB, passando pelo PPP da FOP, insistindo na assiduidade e na competência para formar, do lado docente há reconhecimento da falta desse conhecimento sobre o PPP, a negligência no cumprimento da ação integrada, o abandono de valores fundamentais como compromisso, assiduidade e competência pedagógica. O docente que apela para o retorno à velha formatação das clínicas estanques seguramente não está atualizado suficientemente em relação às DCNO e parece fazer coro com a afirmação de Marsiglia (1995) quando aquele autor alertava para o modelo de prática baseado na concepção mecanicista da Odontologia com uma forte tendência à especialização precoce por parte do aluno. Os achados de nosso estudo reclamam por uma melhoria didática e pedagógica dos docentes,8 e a formação do aluno deve contemplar suas dimensões cognitivas, psicomotoras e afetivas, de modo a prepará-lo para atuar de forma tecnicamente perfeita, eticamente aceitável, socialmente justa e reveladora de cidadania.9 Mesmo que atenção ao paciente seja individualizada, ainda assim deve haver uma preocupação com as ações coletivas que podem ser realizadas no âmbito da CAB. Uma não exclui a outra, pelo contrário, reforçam-se mutuamente. O que parece de fato estar acontecendo é que a formação se dá de forma individualista, excessivamente técnica e com dominância da especialização de forma antagônica ao que preconizam as DCNO.10 A postura docente deve ultrapassar o estreito limite da técnica e desaguar numa formação que priorize a cidadania, revalorize conceitos ético-morais e dê ao aluno a autonomia e a confiança suficientes para produção e ressiginificação de conhecimentos. Os alunos, de certa forma, reclamam por isso, pois talvez percebam que as técnicas ensinadas hoje logo estarão em desuso, e, mais importante do que conhecê-las e sabê-las executar com grande precisão, é criar hábitos e métodos que valorizem o auto-aprendizado, a abordagem, crítica dos conhecimentos e a permanente inquietação.11 A partir da recategorização do conteúdo das respostas de alunos e professores foi possível indicar os eixos condutores das intervenções a serem procedidas na melhoria da CAB, a saber: 1) compreensão e atuação na estratégia de atenção á saúde; 2) fortalecimento da interdisciplinaridade na toma da decisão; 3) requalificação da infraestrutura; 4) compreensão da ideologia de formação baseada no SUS; e 5) compromisso docente com a formação dos alunos. Conclusões Com base na metodologia utilizada e para esse grupo amostral, parece-nos lícito concluir que não há coerência plena entre o discurso contido nos referenciais teóricos do currículo da FOP e a realidade prática das CABs I e II; a melhoria na triagem, a interdisciplinaridade e o compromisso e competência docente são as melhorias mais exigidas pelos alunos; e o fortalecimento da interdisciplinaridade e a organização dos prontuários são as melhorias mais exigidas pelos docentes. Abstract Primary care clinic: from theoretical discourse to practice reality Objective: To analyze the ideological coherence of training in order to determine if the practical reality of undergraduate student training at the primary care clinic (PCC) corresponds to the theoretical discourse of the political-pedagogical project of the course. Methodology: exploratory, descriptive, cross-sectional, quantitative and qualitative study, conducted with 35 students and 9 teachers from Primary Care Clinic I and II of the School of Dentistry of Pernambuco. The quantitative study used a questionnaire with ten teaching/learning situations. The answers were rated according to the Likert scale of four options. The qualitative study used the Bardin technique of content analysis on three open questions. Pearson’s chisquare test was used to perform the descriptive and inferential statistics, and the Mann Whitney test was used to compare means. Results: The mean comparison test between students and teachers of PCC I was significant only in interdisciplinary, multidisciplinary and transdisciplinary (p = 0.012) situations, in selecting patients (p = 0.045), and in testing the knowledge and skills acquired in the earlier units (p = 0.001). The significant association at PCC II was in selecting patients (p = 0.004), in testing the knowledge acquired in previous units (p = 0.001), and in diagnosisrelated support activities (p = 0.001). Conclusions: There is no consistency between the discourse of the Revista da ABENO • 10(2):20-6 25 Clínica de atenção básica: do discurso teórico à realidade prática • Loretto NRM, Silva IDPP, Batista LCLC political-pedagogical project of the institution and the practice reality of PCC I and II. Improvements in screening, interdisciplinary studies, teacher commitment and competence, are what is most requested by students, whereas the strengthening of interdisciplinary studies and the organization of records are the improvements most requested by teachers. 5. Sácristan JG O currículo: uma reflexão sobre a prática. Trad. Ernani F. da F. Rosa. 3.ed. Porto Alegre: Art Med, 1998. p.37 6. Szymanski H (Organizadora); Almeida LR, Prandini RCAR A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Brasília: Liber Editora, 2002. 87 p. 7. Minayo MCS O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, Abrasco, 6 ed.,1999, 269 p. 8. Carvalho D, Carvalho ACP, Sampaio H Motivações e expecta- Descriptors Dental education. Primary health care. Oral health. § tivas para o curso e para o exercício da odontologia. Rev Ass Paul Cirurg Dent. 1997; 51 (4):345-49. 9. Masetto MT Processo de aprendizagem no ensino superior e suas conseqüências para a docência universitária. In: reunião Referências da associação brasileira de ensino odontológico, 33.; Encontro 1. Brasil Ministério da Educação e Cultura. Conselho Nacional nacional de dirigentes das faculdades de odontologia, 24., de Educação. Resolução CNE/CES nº 3/ 2002. Institui as di- 1998, Fortaleza. Anais... Fortaleza, 1998. p. 9-16. retrizes curriculares nacionais do curso de graduação em 10. 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Disponível em: http://www.opas.org.br/promocao/ uploadArq/Alma-Ata.pdf Acesso: 12/03/2010 26 Revista da ABENO • 10(2):20-6 Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional Frederika Cartagena Machado*, Danielle Mariana de Almeida Souto**, Claudia Helena Soares Morais Freitas***, Franklin Delano Soares Forte**** * Cirurgiã-Dentista formadas pelo Curso de odontologia da Universidade Federal da Paraíba **Cirurgiã-Dentista formadas pelo Curso de odontologia da Universidade Federal da Paraíba ***Professora Doutora do Departamento de Clínica e Odontologia Social da Universidade Federal da Paraíba ****Professor Doutor do Departamento de Clínica e Odontologia Social da Universidade Federal da Paraíba Resumo Objetivo: Verificar o perfil sócio-econômico dos acadêmicos do Curso de Odontologia da UFPB, destacando-se motivo de escolha profissional e percepção de mercado de trabalho. Participaram 235 acadêmicos, do primeiro ao décimo período. Material e Método: Realizou-se investigação quantitativa, baseada na aplicação de questionários estruturados. Os estudantes foram agrupados em dois: G1 (1º, 2º e 3º anos) e G2 (4º e 5º anos). Resultados: A análise demonstrou que a maioria foi do sexo feminino 31,9% G1 e 22 G2. A maioria em ambos os grupos concluiu o ensino médio em escola privada. Em relação a renda 58,3% G1 51,5% G2 e são provenientes de famílias com renda acima de seis salários mínimo. A maioria não trabalhava, tinha computador em casa e residiam com suas famílias. A formação profissional voltada para o trabalho foi citada por 52,3% G1 e 73,8% G2. Dentre os motivos de escolha da profissão mais citados esteve a realização profissional e pessoal com 39,1% para o G1 e 27,9% para o G2. Não havendo diferenças entre os grupos (p = 0,175). A maioria pretende trabalhar no setor público e privado independente do grupo. Relataram a saturação de profissionais no mercado de trabalho (p = 0,036), a condição financeira da população (p = 0,043) e a falta de informação (p = 0,419) como possíveis dificuldades no exercício da profissão. Conclusões: Os acadêmicos são provenientes de famílias com boas condições sócio-econômicas; realizaram escolha profissional baseados na vocação; relataram intenção de realizar capacitações; expressaram preocupação com o mercado de trabalho. Descritores Recursos humanos em odontologia. Mercado de trabalho. Formação profissional. N os últimos anos os profissionais de saúde bucal foram inseridos nos diversos níveis de atenção a saúde e na gestão de serviços de saúde no Brasil, o que reforça a necessidade de reflexão sobre a prática profissional com responsabilidade e ética na produção do cuidado. Sendo assim, é importante saber quais as expectativas dos dentistas em relação a profissão assim como, quais os motivos de se fazer odontologia, assim como compreender os esforços da profissão para responder as demandas da sociedade. O Brasil teve um grande crescimento no número de cursos de odontologia, em 1996 tinha 90 cursos, aumentando para 191 em 2009, sendo a maioria localizado na região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais). Se por um lado existe a oferta na demanda na formação de profissionais, a pesquisa nacional por amostra de domicílios publicada em 2010 revelou que 11,6% dos brasileiros não receberam tratamento odontológico e 98% dos participantes da pesquisa com rendimento de mais de cinco salários mínimos já foi ao consultório do dentista, por outro lado, dentre os que ganham até um quarto de salário mínimo esse percentual foi de 73%.1 Quando considerado apenas as consultas feitas no último ano Revista da ABENO • 10(2):27-34 27 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional • Machado FC, Souto DMA, Freitas CHSM, Forte FDS existe uma diferença expressiva entre o grupo de maior renda 67,2% com a de menor 28,5%.1 Neste contexto, existe ainda a crença de que o número maior de profissionais seria a solução para resolução dos problemas de saúde bucal das pessoas. Em países desenvolvidos e em desenvolvimento a quantidade de profissionais não é tão importante assim na determinação de melhores condições do padrão de saúde bucal dos indivíduos.2 Além dessa questão existe a concentração de profissionais nos grandes centros urbanos.3,4 No Brasil existem registrados no Conselho Federal de Odontologia 219.575 dentistas. Do total, 2.859 tem seu registro no Conselho Regional da Paraíba, sendo 2.035 de inscrição principal, com 58,5% dos profissionais concentrados na capital.4 Atualmente, existem três Universidades Públicas que formam os profissionais no estado da Paraíba, com campus localizados em João Pessoa, Campina Grande, e quatro Instituições (duas publicas e duas privadas) que ofertaram cursos de odontologia recentemente que não possui turmas formadas. Em 2002 foi implantado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) o novo Projeto Pedagógico do Curso de Odontologia e entre seus objetivos está a formação de recursos humanos dentro de padrões éticos e humanos, voltados para o perfil epidemiológico da população como também para o Sistema de Saúde vigente no Brasil. Diante deste contexto, o objetivo desse trabalho foi analisar o perfil sócio-econômico-cultural do acadêmico do Curso de Odontologia da Universidade Federal da Paraíba, buscando identificar o motivo de sua escolha pela profissão e perspectivas para o futuro profissional. Material e métodos Este é um estudo descritivo, transversal com abordagem quantitativa. Os sujeitos da pesquisa foram acadêmicos, de ambos os gêneros, do Curso de Odontologia da Universidade Federal da Paraíba, regularmente 250 213 200 150 100 50 0 4 norte nordeste 1 3 3 sul sudeste centro-oeste Gráfico 1 - Distribuição dos estudantes segundo região de origem. João Pessoa, 2008. 28 matriculados no primeiro semestre do ano de 2007. A amostra foi calculada considerando-se grau de confiança de 95%, poder do teste de 50% e erro aceitável de 5%. Foi acrescido 20% para compensar possíveis perdas amostrais. Participaram da amostra 235 acadêmicos do curso de odontologia da UFPB. O processo de amostragem desse estudo foi probabilística casual simples sem reposição. Como o curso é semestral a amostra foi constituída por semestre, posteriormente agrupada por ano e então dividida em dois grupos: • G1: aqueles matriculados no primeiro e segundo ano do curso; • G2: os que estavam matriculados no terceiro, quarto e quinto ano. A divisão se deu dessa forma, em função do inicio das clinicas odontológicas ser um fator importante na formação profissional, podendo influenciar suas decisões e percepções ao responder ao questionário. Para tanto foi solicitado a Coordenação do Curso uma lista com os nomes dos alunos. Inicialmente foram explicados os objetivos do estudo e depois aplicado o instrumento de coleta de dados. O questionário foi adaptado de Freire et al. (1995)5 e Freitas e Nakayama (1995)6 com perguntas objetivas e subjetivas. Este questionário foi previamente aplicado a seis estudantes e a um docente do Curso de Odontologia da UFPB a título de pré-teste. Após a análise, consideraram o questionário de fácil compreensão, sugeriramalgumasmodificaçõesenãoapontaramproblemas em respondê-lo. Dessa forma, incluímos e re-estruturamos algumas questões, chegando-se à versão final. O instrumento de coleta abordou questões que vão desde a caracterização sócio-econômica, motivos para escolha da profissão e expectativas para o futuro profissional. Os dados foram analisados pela estatística descritiva e submetidos ao teste estatístico quiquadrado considerando significativo ao nível de 5%. A proposta do estudo baseou-se no cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsink (2000), além do atendimento da resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba com o numero 440/06. Todos os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. RESULTADOS Em ambos os grupos a maioria dos entrevistados 51,5% G1 e 34,0% G2 concluíram o ensino médio em Revista da ABENO • 10(2):27-34 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional • Machado FC, Souto DMA, Freitas CHSM, Forte FDS unidade escolar privada. Além disso, 41,5% G1 e 28,9% são provenientes de famílias com renda acima de 6 salários mínimos. A maioria das mães e dos pais tem curso superior (Tabela 1). Do total de alunos pesquisados observa-se que a maioria reside com sua família na cidade de João Pessoa. A maioria 35,5% G1 e 18,3% G2 usa o transporte coletivo da cidade para se locomover até a Universidade. Cerca de 48,9% G1 e 33,6% G2 (p = 0,116) tem computador em casa e o utiliza em sua maioria para entretenimento, trabalhos escolares e profissional. A maioria 59,1% G1 e 36,9% G2 apenas estuda e não exerce atividade profissional remunerada (Tabela 2). Quando se refere as expectativas em relação ao curso universitário, os estudantes destacaram a formação profissional voltada para o trabalho, formação teórica voltada para a pesquisa e conhecimento para compreender melhor o mundo. Não foram observadas diferenças entre os grupos estudados (p < 0,05). Os motivos que levaram os estudantes a escolher a Odontologia como profissão podem ser observados na Tabela 3, predominando a realização pessoal e profissional, não sendo verificada diferença estatisti- camente significante. As principais dificuldades relatadas para o exercício da profissão foram: • saturação do mercado de trabalho, • falta de informação da população e • condição financeira da população. Observamos que a expectativa dos estudantes para a inserção no mercado de trabalho é em sua maioria 48,3% G1 e % 28,4% G2 no consultório particular associado ao público. Os estudantes pretendem após o término do curso, em sua maioria realizar cursos de pós-graduação lato sensu (aperfeiçoamento e especialização) (Tabela 4). DISCUSSÃO A presença de muitos estudantes paraibanos e também de outros estados nordestinos representa a inserção da instituição de ensino superior na comunidade na qual está inserida. Evidencia-se dessa forma, a importância e a responsabilidade institucional na formação e capacitação de recursos humanos em saúde. Alguns fatores como capacitação, formação e compromisso influenciam na qualidade da prestação Tabela 1 - Perfil sócio econômico dos estudantes de Odontologia da UFPB. João Pessoa, 2008. Grupo 1 Perfil Sexo Estado civil Masculino Feminino Grupo 2 p n % n % 67 28,9 40 17,2 74 31,9 51 22,0 Solteiro 134 58,3 83 36,1 Casado 3 1,3 6 2,6 4 1,7 Todo em escola pública Outros 12 5,1 4 1,7 Todo em escola privada 121 51,5 80 34,0 Escola privada e pública 11 4,6 7 3,0 3 1,3 1 0,4 De 1 a 3 salários mínimos 34 14,5 19 8,1 De 3 a 6 salários mínimos 9 3,8 1 0,4 Acima de 6 salários mínimos 97 41,5 70 29,9 Escolaridade materna Até 8 anos 11 4,7 1 0,4 132 56,7 89 38,2 Escolaridade paterna Até 8 anos Ensino médio Até 1 Salário mínimo Renda familiar Transporte para a universidade Acima de 8 anos - 17 7,4 5 2,2 54,1 84 36,4 Carro ou motocicleta próprios 21 8,9 15 6,4 Carro dos pais 21 8,9 22 9,4 9 3,8 6 2,6 84 35,7 43 18,3 Carona com amigos e vizinhos Transporte coletivo (ônibus) Revista da ABENO • 10(2):27-34 - - 125 Acima de 8 anos 0,346 - - 0,022 0,082 - 29 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional • Machado FC, Souto DMA, Freitas CHSM, Forte FDS Tabela 2 - Residência e uso de computador por estudantes de odontologia da UFPB. João Pessoa, 2008. Grupo 1 Residência Com família (pais, irmãos) Grupo 2 p n % N % 93 39,7 59 25,2 3 1,3 3 1,3 Com família (cônjuge) Com parentes (primos, tios, padrinhos) 18 7,7 8 3,4 Com amigos ou colegas 19 8,1 14 6,0 Pensionato ou quitinete 7 3,0 4 1,7 Alojamento universitário 3 1,3 2 0,9 Sim 115 48,9 79 33,6 Não 29 12,3 12 5,1 4 1,7 1 0,4 11 4,7 3 1,3 1 0,4 0 0 125 53,6 86 36,9 4 1,7 3 1,3 - Tem computador em casa? 0,116 Para quê utiliza o computador?* Não utilizo computador Trabalhos escolares Trabalhos profissionais Entretenimento e trabalhos - O estudante trabalha? Sim (até 30 horas semanais) Sim (mais de 30 horas semanais) Não 1 139 4 0 0 59,1 88 37,4 - *opção de mais de um registro. Tabela 3 - Motivos de escolha profissional pelos estudantes de Odontologia da UFPB. João Pessoa, 2008. Grupo 1 Grupo 2 n % n % 123 52,3 7 73,8 0,867 8 3,4 9 3,8 0,211 Formação acadêmica para melhorar atividade prática atual 7 3,0 10 4,3 0,77 Conhecimento para melhorar o grau de instrução 5 2,1 10 4,3 0,022 Formação teórica voltada para a pesquisa 10 4,3 13 5,5 0,065 Conhecimento para compreender melhor o mundo 10 4,3 13 5,5 0,065 0 0 4 1,7 - Qual sua expectativa em relação ao curso universitário?* Formação profissional voltada para o trabalho Aquisição de cultura geral ampla Possibilidade de obter melhores salários p Qual foi o motivo de escolha para o curso de odontologia?* Realização pessoal e profissional 91 39,1 65 27,9 0,175 Segurança e tranqüilidade no futuro, posição social e conforto financeiro 28 12,0 13 5,6 0,316 Influência de CD parentes ou amigos 15 6,4 10 4,3 0,881 Grande mercado de trabalho 14 6,0 6 2,6 0,407 Qual (is) dificuldade(s) você imagina encontrar no exercício profissional?* Falta de informação da comunidade 47 20,3 32 13,8 0,043 Condição financeira da população 37 15,8 25 10,7 0,419 Falta de preparo do dentista 11 4,7 11 4,7 0,181 4 1,7 2 0,9 0,571 88 37,6 67 28,6 0,036 Acho que não terei problemas Saturação do mercado de trabalho *opção de mais de um registro. 30 Revista da ABENO • 10(2):27-34 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional • Machado FC, Souto DMA, Freitas CHSM, Forte FDS Tabela 4 - Expectativas para o futuro profissional e investimento em capacitação. João Pessoa, 2008. Ao término do curso você pretende trabalhar?* Grupo 1 Grupo 2 n n % % Consultório particular alugado com convênios 2 0,9 1 Consultório particular alugado sem convênios 3 1,3 0 0 Consultório particular próprio sem convênios 6 2,6 1 0,4 Consultório particular próprio com convênios 0,4 9 3,9 2 0,9 112 48,3 66 28,4 17 7,3 22 9,5 Não fazer nenhum outro curso 2 0,9 0 0 Fazer outro curso de graduação 6 2,6 14 6,0 Consultório particular e serviço público Serviço público Quanto aos estudos, após a conclusão deste curso, o que pretende?* Fazer cursos de aperfeiçoamento e especialização 98 42,3 64 27,6 Fazer curso de mestrado e doutorado na mesma área 56 24,1 46 20,0 2 0,9 2 0,9 Fazer curso de mestrado e doutorado em outra área *opção de mais de um registro. de serviços em saúde. Observou-se na presente pesquisa a forte presença do sexo feminino, independente dos G1 e G2. A força do trabalho das mulheres também foi observada por outros estudos.4-14 Isso indica uma mudança não só na odontologia, mas uma tendência em todas as áreas, a força de trabalho feminino na economia e na produção. Dados nacionais publicados em 2010 demonstraram a feminização do trabalho em quase todos os estados da federação, com exceção para Acre e Santa Catarina. Na Paraíba 67% dos profissionais são mulheres.4 Na maioria dos estados brasileiros os profissionais cirurgiões-dentistas são jovens de 26 a 35 anos,4 com concentração na região Sul e Sudeste, especialmente no estado de São Paulo, atuando como clínicos gerais e/ou especialistas nos seus consultórios.4,7,8 A Pesquisa do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas (INBRAPE)9 verificou que 57% dos cirurgiões-dentistas do Brasil são mulheres. Na presente pesquisa, quanto ao estado civil observou-se que a maioria era solteira, refletindo uma tendência da população brasileira em casar-se mais tarde priorizando a construção de uma formação profissional e inserção no mercado de trabalho. Independente de ser do G1 ou G2, os indicadores socioeconômicos dos estudantes e suas famílias revelaram boas condições. Dessa forma, pode-se observar que o nível sócioeconômico dos acadêmicos pode ser considerado bastante privilegiado se considerada a escolaridade materna e paterna e a renda familiar mensal, a posse de computador e o transporte para a universidade.16 Essa condição pode trazer mais con- forto ao estudante no sentido de desenvolver suas atividades no curso de forma de dedicação exclusiva, na aquisição de livros, e equipamentos necessários no desempenho de suas atividades, também pode significar facilidade de deslocamento para os cenários diversos de práticas nas atividades intra e extramuros. Discussões precisam ser feitas no sentido de ampliar o acesso ao curso a classes com menores indicadores socioeconômicos. Essa questão tem movimentado nos últimos anos diversos instituições brasileiras inclusive a UFPB, não só relacionado à odontologia, mas o acesso a cursos de nível superior. A partir de 2011, o processo seletivo da UFPB tem a modalidade de ingresso por reserva de vagas. Sendo assim, a presente pesquisa subsidiará novas comparações futuras, assim como discussões dessa modalidade de ingresso por reserva de vagas. Possivelmente o perfil socioeconômico do estudante irá mudar especialmente oriundos de escolas públicas do ensino médio. Os estudantes relataram sua opção pelo curso de odontologia por vocação e por acreditarem ser uma profissão compensadora em termos financeiros. Outros estudos nacionais também apontaram essa perspectiva.7,11,16-18 Outros fatores têm sido citados pelos acadêmicos como no Ceará, onde se observou a escolha de curso por aptidão (37%) e 32,9% por estar relacionado à saúde.19 Em outra pesquisa realizada em Lages - SC16 os alunos destacaram como motivos da escolha pela odontologia a realização profissional e pessoal (45,4%) e 18,8% pelo interesse em atuar na comunidade. A sobrevivência econômica foi o fator mais destacado no estudo em Goiás.5 Em Minas Ge- Revista da ABENO • 10(2):27-34 31 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional • Machado FC, Souto DMA, Freitas CHSM, Forte FDS rais20 os estudantes relataram que a autonomia foi o motivo mais citado para a escolha profissional, outros destaques foram curso da área biológica e pelo retorno financeiro. Essa perspectiva de ser uma profissão liberal, boa renda e independência foram aspectos destacados por profissionais em recente pesquisa em Pernambuco, João Pessoa - PB e Peru.18-20-21 A intenção de inserção no mercado de trabalho dos estudantes é no setor publico e privado. Apesar de jovens, os acadêmicos expressam a preocupação com dificuldades no mercado de trabalho em odontologia ao relatarem a necessidade de inserção no setor público e privado suplementar, estudos em diversas partes do país apontam a mesma demanda.5,18 Em outro estudo realizado em João Pessoa - PB (24) verificou-se que 78,4% dos cirurgiões-dentistas trabalham em consultório, 59% têm emprego público e 9,9% emprego privado. Dos entrevistados 61,6% admitiram trabalhar com convênios. No estudo do SB Brasil23 o setor público foi o maior prestador de serviços odontológicos 55,6%, 48,1% e 40,5% nas faixas etárias 15-19, 35-44 e 65-74 anos respectivamente. Estudo em Fortaleza - CE8 com egressos observou que a maioria se inseriu no setor público, sem vinculo empregatício e como prestador de serviço. A inserção no mercado de trabalho se deu logo após a formatura. Nos últimos anos, percebem-se, no exercício da profissão, diversas mudanças nos cenários de atuação como: • implantação e ampliação de serviços públicos odontológicos nas diversas esferas do governo e na rede de atenção compreendidos pelo SUS e da política nacional de saúde bucal do Governo Federal, • criação de serviços especiais odontológicos em empresas, associações e sindicatos, • expansão dos planos odontológicos, o que de certa forma compromete a atuação do serviço privado,7,11,18 • aumento da oferta de especializações e consequentemente tecnologia disponível no mercado. Todos esses movimentos são percebidos pelos estudantes durante a trajetória no curso, os quais influenciam a percepção sobre o mercado de trabalho futuro. O PPC do curso de odontologia oferta como cenário de aprendizagem os estágios supervisionados no SUS, em seus diversos níveis de atenção. O objetivo é desenvolver competência e habilidades para o 32 trabalho em equipe, procurando desenvolver as atividades clínicas individuais e as ações com grupos operativos nos equipamentos sociais adscritos as unidades de saúde da família, buscando a integralidade da atenção em saúde bucal. Dentre as dificuldades relatadas para o futuro exercício profissional destacaram-se a saturação do mercado de trabalho, condição financeira da população e falta de informação da comunidade. Segundo dados recentemente publicados,4 a proporção dentista/população em João Pessoa é de 1/378 e concentração de 58,5% dos trabalhadores na capital. A fixação de profissionais de saúde no interior, especialmente da equipe mínima da atenção primária é uma demanda para discussões. A implantação de políticas nessa perspectivas é importante, no sentindo de melhorias na qualidade de trabalho dos profissionais, implantação de serviços, consequentemente ampliação de postos de trabalho, melhoria nas condições salariais, investimento de recursos humanos em capacitações e educação permanente em saúde, oferta de pós-graduação na forma de especialização e residência multiprofissional em saúde e hospitalar de forma descentralizada dos grandes centros urbanos são eixos importantes para discussão de gestores, trabalhadores da saúde, instituição de ensino superior ou centro formadores, associações e conselho representativo da classe odontológica e comunidade em geral. Assim, esse cenário do mercado de trabalho e as formas de inserção profissional determinam alterações nas relações de trabalho e sua clientela. Neste contexto, há formas distintas de captação, redefinição do tipo, fluxo e acesso dos sujeitos aos profissionais.11,18 Isso é percebido não só pela população em geral, mas também pelos futuros profissionais. Nesta perspectiva existe um esforço e um direcionamento de resoluções do conselho nacional de ensino na mudança na formação dos profissionais de Saúde bucal, de acordo com o sistema de saúde público vigente no país (SUS). A aspiração salarial após cinco anos de trabalho, neste estudo, foi semelhante a estudos desenvolvidos nacionalmente,11,16,25 ou seja, receber entre 6 a 10 salários mínimos. Na pesquisa do CFO de 2003, mais de 48% dos Dentistas relataram renda familiar mensal 3.600,00; destacando-se a prática privada com convênios/credenciamentos, o que poderiam ser percebidos como forma de assalariamento indireto.9 Recente pesquisa4 analisou que na região norte 19% dos dentistas declarou maior renda anual (mais que 72 mil/ano), na Paraíba esse valor é de apenas 6% dos Revista da ABENO • 10(2):27-34 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional • Machado FC, Souto DMA, Freitas CHSM, Forte FDS profissionais. A relação anual de informações sociais do ministério do trabalho e emprego demonstrou que a hora de trabalho no nordeste é de R$57,47. A maioria dos estudantes tem intenção de realizar cursos de pós-graduação mais na perspectiva de cursos latu sensu (aperfeiçoamento e especialização). É interessante pontuar esse aspecto, pois, mesmo sem exercer a atividade como profissionais já relatam a demanda de cursos de pós-graduação, fato também observado por outros estudos nacionais.5,6,11,16 É importante que se investigue essa demanda, por exemplo, se já se percebe na graduação lacunas de conhecimentos e habilidades, que serão barreiras para o exercício da profissão e como enfrentar essa demanda no curriculo. Associado a esses fatores é importante destacar ainda a insegurança sentida por alguns recém formados no enfrentamento do mercado de trabalho e as deficiências existentes nos cursos de graduação em termos de alcançar as habilidades, competências e conhecimentos orientados pelas diretrizes nacionais e para as demandas da comunidade. Muitos cursos têm implementadas novas propostas pedagógicas e essas mudanças têm sido percebidas, embora com diferentes níveis de avanços. Por outro lado, em odontologia assim como em outras profissões existe a constante necessidade de atualização e aperfeiçoamento, em função das mudanças operadas na estruturação do sistema de saúde, dos avanços tecnológicos e das mudanças de paradigmas da sociedade. Nesta perspectiva esse estudo foi importante ferramenta de diagnóstico na definição do perfil acadêmico do curso de odontologia da UFPB, norteador para discussão desse egresso no mercado de trabalho na região. Especialmente porque o cirurgião-dentista pode atuar em diversos campos, sendo importante a reflexão sobre a formação de profissionais de saúde e sua articulação com educação permanente, equipe multiprofissional, desenvolvimento de ações intersetoriais e o trabalho na gestão de serviços. CONCLUSÕES O estudo evidenciou que a maioria dos acadêmicos do curso de odontologia eram adultos jovens, do sexo feminino, solteiros, e provenientes de famílias com boas condições sócioeconômica. A expansão do mercado de trabalho público e a oportunidade de melhor remuneração, inserção no mercado de trabalho em associação privado e público são fatores destacados pelo conjunto amostral. A vocação foi um dos fatores mais citados pelos estudantes para a escolha profissional. A intenção da realização de capacitações latu e stricto-sensu foi expressa pela maioria. Os acadêmicos percebem e relatam preocupação em relação a perspectiva de mercado de trabalho futuro sendo essa demanda coerente com a realidade brasileira. ABSTRACT Dentistry as a choice: profile of undergraduate students and prospects for the future professional Objective: The aim of this study was to assess the socioeconomic profile of students from the Dental School of the Federal University of Paraíba, highlighting why they chose their profession and how they perceive the job market. A total of 235 students participated in the study, from the first to the tenth terms. Material and Methods: Quantitative research was conducted, based on structured questionnaires. Students were grouped into two groups: G1 (1st and 2nd years) and G2 (3rd, 4th and 5th years). Results: The analysis showed that most of the students were female: 31.9% of G1 and 22% of G2. Most of the students from both groups finished high school in a private school. Regarding income, 58.3% of G1 and 51.5% of G2 were from families with incomes over six minimum wages. Most of the students did not work, used a computer at home and lived with their families. Professional training for work purposes was cited by 52.3% of G1 and 73.8% of G2. Among the most frequently cited reasons for choosing the profession were professional and personal achievement, with 39.1% for G1 and 27.9% for G2. There was no differences between the groups (p = 0.175). Most of the students want to work in the public and the private sectors, regardless of the group. Both groups reported the saturation of the labor market (p = 0.036), the financial situation of the population (p = 0.043) and lack of information (p = 0.419) as potential difficulties in exercising their profession. Conclusions: The students were from families of a good socioeconomic status, made career choices based on their calling, reported their intention to perform training, and expressed concern regarding the labor market. Descriptors Professional practice. Labor market. Professional training. § Referências 1. Pesquisa nacional por amostra de domicílios. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Um panorama da saúde no Brasil: acesso e utilização dos serviços, condições de saúde e fatores de risco e proteção à saúde 2008 Acesso e utilização de Revista da ABENO • 10(2):27-34 33 Odontologia como escolha: perfil de graduandos e perspectiva para o futuro profissional • Machado FC, Souto DMA, Freitas CHSM, Forte FDS serviços de saúde: 2010. 245p. Federal do Rio Grande do Sul. 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Michel-Crosato E, Calvielli ITP, Biazevic MGH, Crosato E. Per- trabalho: perfil do acadêmico de Odontologia da Universidade fil da força de trabalho representada pelos egressos da FOUSP (1990-1998). Revista de Pós-Graduação 2003; 10(3): 217-223. Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 34 Revista da ABENO • 10(2):27-34 Projeto pedagógico e estrutura curricular de um curso de odontologia: análise crítica fundamentada na percepção acadêmica Suzely Adas Saliba Moimaz*, Cristina Berger Fadel**, Livia da Silva Bino***, Nemre Adas Saliba* *Professora Titular do Departamento de Odontologia Infantil e Social, Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP, Brasil **Professora Adjunto do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Brasil ***Mestre em Odontologia Preventiva e Social, Programa de Pósgraduação em Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP, Brasil RESUMO Considerando-se que o projeto pedagógico vigente do curso de graduação de Odontologia da FOAUnesp foi formulado em 2001, ano anterior à resolução nacional que instituiu as novas Diretrizes Curriculares para a área odontológica, objetivou-se realizar a análise crítica desse documento e avaliar a percepção acadêmica, quanto ao projeto pedagógico e à estrutura curricular vigentes. Para a obtenção das informações, além de análise documental, utilizou-se um questionário semi-estruturado, elaborado com base em dados constantes nas DCN e nas diretrizes do SUS, previamente testado e validado. A amostra constituiu-se de 92,4% de formandos de 2007 (n = 61). Destes, 95% não conheciam o projeto pedagógico que estrutura o curso de graduação; 53% consideraram insuficiente a integração entre as disciplinas ofertadas pelo curso; 66% apontaram que havia duplicação de conteúdos trabalhados; 41% disseram que a relação interdisciplinar era insatisfatória e 67,2% optariam pelo sistema modular de ensino. Ainda, 55,7% dos acadêmicos afirmaram que o curso não contempla totalmente os princípios da integralidade e resolutividade das ações, e 37,7% ressaltaram que o atendimento clínico não era humanizado. Quanto às competências e habilidades necessárias ao exercício da profissão, os acadêmicos admitiram sentir segurança para realizarem ações clínicas preventivo-curativas e demonstraram insegurança para desenvolverem ações amplas, como as gerenciais e de planejamento. A análise documental indicou certo desacordo na organização do projeto pedagógico e da estrutura curricular, quando confrontados com as vertentes pautadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais. Os dados comprovam a urgente necessidade de reformulação curricular da FOA-Unesp e confirmam a importância da avaliação contínua no ensino superior. DESCRITORES Educação superior. Ensino. Odontologia. A elaboração de um projeto pedagógico, compreendida como o ápice do planejamento de um curso, deve ser pautada na definição clara do perfil do graduando e na coerência no trabalho das competências, habilidades e conteúdos pretendidos e desenvolvidos com os alunos. Com base em evidências que apontam a exposição do setor saúde brasileiro a situações de âmbito técnicocientífico, gerencial e humano adversas almeja-se que as instituições de ensino superior, enquanto detentoras do papel formador, acompanhem efetivamente qualquer processo de mudança e disponham-se a adequar seus princípios, fundamentos, condições e procedimentos à formação integral dos futuros profissionais. Sob esse aspecto, e visando nortear indispensáveis transformações, as Diretrizes Curriculares Nacionais - DCN3 sinalizam para uma mudança de paradigmas na formação do cirurgião-dentista como profissional da saúde e enfatizam estratégias para a integração no Revista da ABENO • 10(2):35-40 35 Projeto pedagógico e estrutura curricular de um curso de odontologia: análise crítica fundamentada na percepção acadêmica • Moimaz SAS, Fadel CB, Bino LS, Saliba NA ensino da Odontologia.4 Vale lembrar que não há caráter único para os diversos cursos distribuídos no Brasil, mas uma base formadora sólida, que deve dispor-se a ser constantemente complementada pelas instituições de ensino superior, trazendo à tona suas diferentes experiências, realidades e regionalidades. Em seu artigo terceiro, as DCN propõem “como perfil do formando egresso/profissional o cirurgiãodentista, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade”.12 Considerando-se que a elaboração de um projeto pedagógico deva apreciar o perfil do graduando e a coesão lógica de suas capacidades, neste trabalho objetivouse realizar a análise crítica desse documento e avaliar a percepção dos acadêmicos formandos, quanto ao projeto pedagógico e à estrutura curricular vigentes. Assim, o estudo busca contribuir com o processo de reforma pedagógica e curricular da FOA-Unesp, visando facilitar as mudanças necessárias e subsidiar as adaptações aos novos princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de cirurgiões-dentistas no Brasil. MÉTODOS A percepção dos acadêmicos foi verificada utilizando-se um questionário semi-estruturado, especialmente desenvolvido para a pesquisa, elaborado com base em algumas informações constantes nas DCN e nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), previamente testado e validado por meio de um estudo piloto. Este aparelho metodológico contou com a participação de cinco alunos formandos do curso noturno de Odontologia da FOA-Unesp e permitiu avaliar a compreensão da “amostra teste” sobre o texto, vocabulário utilizado, sensibilidade e sensitividade das respostas. A partir de então, adequou-se algumas questões visando o melhor entendimento e captação dos acadêmicos. O estudo piloto também se mostrou importante para o treinamento do pesquisador. A aplicação desse instrumento foi realizada por uma única pessoa, treinada para coletar os dados e suprir supostas dúvidas, sem influenciar nas respostas. As questões buscaram investigar aspectos relacionados à visão acadêmica, no que se refere à estrutura e ao desenvolvimento do curso e abordaram o sentimento do aluno em “estar preparado” para a sua fu36 tura atuação profissional. O formando pôde ainda expressar, por meio de questão aberta, a sua opinião quanto a modificações em seu curso, visando melhorias na sua estrutura, qualidade e desenvolvimento. De um universo de 66 acadêmicos formandos do curso integral de graduação em Odontologia da FOAUnesp (ano base de formatura: 2007), 92,4% compuseram a amostra para a presente pesquisa (n = 61). Todos os participantes foram previamente informados sobre os propósitos da pesquisa, e, quando em acordo, de livre e espontânea vontade, responderam ao questionário. O presente estudo obteve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (processo FOAUnesp 01042/2007). Paralelamente, os pesquisadores procederam à análise do projeto pedagógico da FOA-Unesp, documento obtido junto à instituição, a qual contemplou a apreciação de sua estrutura e de dados relevantes para o desenvolvimento desse estudo. Para tanto, cada pesquisador procedeu inicialmente a um diagnóstico individual crítico do documento, sob a ótica de questões pré-estabelecidas nas DCN, o qual se juntou com o dos demais, constituindo o exame documental. Do total de 24 capítulos que constituem o projeto pedagógico, foram avaliados os elementos que se relacionam diretamente ao processo ensino-aprendizagem: • Introdução. • Considerações sobre a Odontologia. • A Filosofia do Curso. • O Professor de Odontologia. • A Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem. • Estrutura Curricular. • Quadro de Desdobramentos de Matérias. • Informações Acadêmicas e • Planos de Ensino. Para criação de um banco de dados, tabulação dos resultados, análise estatística e posterior obtenção das freqüências, utilizou-se o programa Epi Info 3.2.5 RESULTADOS Na análise documental, verificou-se que o curso de Odontologia da FOA-Unesp constitui-se por um regime seriado anual, com duração de 4 anos, sistema de ensino disciplinar e processo ensino-aprendizagem com acentuada centralização docente “o professor da Faculdade de Odontologia de Araçatuba sabe que a responsabilidade pelo ensino e pela aprendizagem é dele e está preparado para desenvolver uma educação eficaz, tomando o cuidado de especificar completamente o comportamento que deseja ensinar e de observar o aluno”. Revista da ABENO • 10(2):35-40 Projeto pedagógico e estrutura curricular de um curso de odontologia: análise crítica fundamentada na percepção acadêmica • Moimaz SAS, Fadel CB, Bino LS, Saliba NA Quadro 1 - Distribuição percentual dos discentes, quanto à integração entre disciplinas clínicas e básicas, e entre teoria e prática. FOA-Unesp. Sistema Disciplinar Sistema Modular Integração Inexistente Satisfatória Ideal Total Disciplina X disciplina 6,6% Insuficiente 53% 39,3% 1,1% 100% Básicas X clínicas 5% 30% 60% 5% 100% Teoria X prática 0% 16,4% 64% 19,6% 100% (a) Desenvolver ações deproteção, prevenção e reabilitação da saúde 100 90 33% 80 67% (b) Aprender permanentemente 86,9 (c) Atuar em equipe multiprofissional a (d) Administrar e gerenciar serviços de saúde 70 (e) Tomar decisões 60 50 (f) Assumir liderança 49,1 b 42,6 e 40 Gráfico 1 - Distribuição percentual dos discentes, quanto a preferência em relação ao sistema de ensino. FOA-Unesp. 30 20 10 O projeto pedagógico vigente foi elaborado em 2001, sendo que a descrição sobre o modo como o projeto foi construído (individual ou coletivamente) não consta no documento de referência, assim como, não há definição clara do perfil do profissional a ser formado. Observou-se ainda a existência de nítida fragmentação no processo de ensino, com ciclo de disciplinas básicas distribuídas nos primeiros anos do curso e de disciplinas aplicadas nos anos subseqüentes. No campo dos conteúdos, evidenciou-se que constam no projeto pedagógico temas relacionados à ética e moral, ao reconhecimento das diferentes realidades sociais, à integralidade das ações e à atuação multi e transdisciplinar aliados ao projeto, contudo, não confirmados pelo exame de sua estrutura curricular e pela resposta acadêmica: • 32,8% dos alunos afirmaram que consciência social, humanismo, ética, prevenção e cidadania não são abordados de forma sinérgica pelas disciplinas, • 47,5% acreditam que os pacientes que buscam atenção odontológica na FOA não têm seus problemas resolvidos e • 50,9% asseguram que as disciplinas a eles ofertadas não trabalham sob a perspectiva da atenção integral à saúde, fato que gera discordância com as prerrogativas das DCN e do SUS. Ainda com base na resposta acadêmica, deparamo-nos com dados significantes: • 95,09% dos alunos afirmaram não conhecer o 24,5 c 11,4 9,8 d f 13,1 g 0 Gráfico 2 - Percentual de respostas relativas às compe- tências e habilidades apontadas pelos discentes, conquistadas durante o curso de graduação. FOA-Unesp. projeto pedagógico que estrutura o seu curso de graduação, • 65,6% acreditam existir duplicação ou repetição de conteúdos disciplinares, • 60,7% apontam a metodologia da transmissão de informações como a mais utilizada e • 37,7% garantem que as ações voltadas aos pacientes durante o atendimento clínico não são humanizadas. Os dados do Quadro 1 apresentam opiniões acadêmicas conflitantes, uma vez que 53% julgam ser insuficiente a relação entre as disciplinas e que a maioria considera satisfatória a integração entre disciplinas básicas e clínicas e entre teoria e prática (60% e 64%, respectivamente). O Gráfico 1 reafirma o desejo acadêmico pela integralidade das ações, visto que 67% optariam pelo trabalho desenvolvido com clínicas integradas do início ao final do curso, trabalhadas por complexidade de atenção (sistema modular), ao invés do trabalho com clínicas isoladas (sistema disciplinar). O Gráfico 2 evidencia o sentimento de segurança para o desenvolvimento de atividades clínicas e a falta de preparo dos acadêmicos para o desenvolvimen- Revista da ABENO • 10(2):35-40 37 Projeto pedagógico e estrutura curricular de um curso de odontologia: análise crítica fundamentada na percepção acadêmica • Moimaz SAS, Fadel CB, Bino LS, Saliba NA 6% 48% 46% Insuficiente Satisfatória Ideal Gráfico 3 - Distribuição percentual dos discentes, quanto à carga horária do curso. FOA- Unesp. 4 anos 5 anos 16% 84% Gráfico 4 - Distribuição percentual dos discentes, quanto à duração total do curso. FOA- Unesp. to de ações gerenciais. Os Gráficos 3 e 4 expõem a visão acadêmica, no que se relaciona ao tempo dedicado para a conclusão de seu curso de graduação: • somente 6% o considera ideal e • 84% julgam necessário a ampliação da carga horária, que passaria a ser distribuída ao longo de 5 anos. DISCUSSÃO Atualmente, com os valores educacionais sendo repensados e as transformações institucionais ocorrendo aceleradamente, não é mais possível admitir a manutenção dos moldes tradicionais de ensino, uma vez que se mostram claramente superados e incapazes de responder às expectativas acadêmicas e às necessidades da sociedade. Observa-se na FOA-Unesp a ocorrência de um ensino centrado na figura do professor, o qual, imaginando deter a autonomia do conhecimento, atua de forma desintegrada, criando como conseqüência um fluxo de comunicação unilateral e isolado. Essa postura docente dificulta o desenvolvimento do pensamento crítico por parte do aprendiz, que na maio38 ria das vezes assimila somente o que lhe é imposto, de forma pouco contestadora.7 Deve-se ter como finalidade primeira, prepará-lo para atuar no mundo em constante transformação, e para tanto, se faz necessária a ampliação de sua capacidade crítica, a fim de instrumentalizá-lo para o exercício da profissão, de forma contextualizada. Ressalta-se ainda que o curso de Odontologia da FOA-Unesp apresenta algumas falhas em seu processo de formação acadêmica, visto que a instituição não consegue contemplar, de forma concreta, princípios norteados pelas diretrizes do SUS, como os da integralidade e da resolutividade das ações. Esses dados foram evidenciados frente à análise da estrutura curricular e à resposta acadêmica as questões abertas. Essas carências devem ser cuidadosamente observadas e efetivamente solucionadas pelas instituições de ensino superior, pois se refletem diretamente na prática do trabalho odontológico, tanto no âmbito dos serviços, quanto no exercício da gestão. Ações concretas de humanização do atendimento, com atitudes que promovam o bem-estar dos pacientes, também ganham posição de destaque nas DCN.1,6 No curso de graduação da FOA-Unesp essas ações ainda não foram completamente implementadas, uma vez que um expressivo número de graduandos (37,7%) não consideram que o atendimento clínico praticado seja humanizado. O momento histórico, econômico e social em que se vive, exige do futuro profissional, além de um perfil mais crítico, arrojado e perspicaz, também o desenvolvimento de distintas e variadas competências. Atualmente essa cobrança ocorre, em especial, na área da saúde pública, a qual vem constantemente incitando a utilização de práticas humanizadas, menos mecanicistas e voltadas para a atenção integral das demandas da população. Assim, almeja-se que o acadêmico ocupe o centro do processo de construção da cidadania, comprometido e integrado à realidade social e epidemiológica, às políticas sociais e de saúde, oportunizando uma formação profissional situacional e transformadora.10 Vale ressaltar que é inegável a influência do cenário sócio-político sobre questões relacionadas às políticas educacionais,1-3,6 na medida em que avaliam, discutem e instituem novos caminhos para a transformação do ensino no Brasil. Na área odontológica, as novas diretrizes curriculares aprovadas pela Resolução CNE/CES 3/2002,3,12 expõem que o curso de graduação em Odontologia almeja, como perfil do futuro profissional, a contem- Revista da ABENO • 10(2):35-40 Projeto pedagógico e estrutura curricular de um curso de odontologia: análise crítica fundamentada na percepção acadêmica • Moimaz SAS, Fadel CB, Bino LS, Saliba NA plação de uma formação generalista, humanista crítica, reflexiva e apta a atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico.7,6 Nesse sentido, o presente estudo, duplamente evidencia falhas na FOA-Unesp, uma vez que seus alunos sentemse despreparados para as ações amplas da Odontologia, como as atividades gerenciais, ligadas ao planejamento, à atuação multiprofissional e ao exercício de liderança, assim como, o projeto pedagógico da instituição claramente prioriza o desenvolvimento de capacidades técnicas, com ênfase em ações clínicas. Sendo a metodologia da transmissão de conhecimentos, em detrimento à metodologia da problematização, apontada por 60,7% dos alunos como a eleita pelos professores, a FOA-Unesp endossa mais uma das preocupações das DCN, uma vez que essa abordagem deveria propiciar aos alunos uma participação ativa nesse processo.2 Na definição do Conselho Nacional de Educação, a carga horária mínima para o curso de Odontologia é de competência da instituição que os abona, apesar da forte tendência em ampliá-la.1 Na FOA-Unesp o tempo despendido para a formação acadêmica é de 4095 horas, distribuídas ao longo de 4 anos, sendo que a preferência apontada pelos alunos é para um incremento na carga horária. Para os alunos, o aumento de sua carga horária curricular e da sua permanência no curso parece contribuir para a qualidade deste e para a melhoria de seu aprendizado. Atualmente, com o acelerado avanço humano e técnico-científico, um currículo conteudista não mais contempla a moderna formação exigida ao futuro profissional. Assim sendo, o aluno deve ser e estar estimulado à incessante busca pelo conhecimento, com vistas à prática da educação permanente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como resposta à análise crítica documental, evidenciou-se certo desacordo na formulação do projeto pedagógico e da estrutura curricular do curso de Odontologia da FOA-Unesp, quando confrontados com as vertentes pautadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, fato que torna imprescindível a tomada de atitude em prol de adequações urgentes e extremamente necessárias ao processo de mudança pedagógica. A percepção dos acadêmicos formandos do curso de Odontologia da FOA-Unesp foi de extremo valor e corroborou com essa apreciação, ao apontar entraves importantes na estrutura vigente de seu curso de graduação. Nesse contexto, edifica-se a importância do pro- cesso contínuo de avaliação em instituições de ensino superior, uma vez que guarda em si informações fundamentais para o processo de readequação e reestruturação educacional no país. ABSTRACT Pedagogical project and curricular structure in a dentistry course: critical analysis based on academic perception Considering that the current pedagogical project for the Dentistry course at FOA-Unesp was structured in 2001, a year before the national resolution that introduced the new curricular guidelines for the dental field, the aim of this study was to analyze critically this document and assess the academic perception of the pedagogical project, as well as the current curricular structure. A previously tested and validated semi-structured questionnaire was used to obtain the needed information, and a documentary analysis was conducted. The questionnaire was drafted based on data from the National Curricular Guidelines (DCN) and Unified Health System (SUS) guidelines. The sample consisted of almost all the graduating students of 2007 (n = 61). Of these, 95% had no knowledge of the pedagogical project for the undergraduate course; 53% found the integration between the disciplines offered by the course insufficient; 66% pointed out that there was duplication of the revised contents; 41% said that the interdisciplinary relation was unsatisfactory, and 67.2% said they preferred the modular system of teaching. Furthermore, 55.7% of the students said that that the course does not fully cover the principles of completeness and resolution of actions, and 37.7% pointed out that clinical care was not humanized. As for the competence and skills needed to exercise the profession, the students admitted feeling secure about carrying out preventivecurative clinical actions, and feeling insecure about developing broad ranging actions, like managing and planning. Analysis of the documents showed a certain disagreement in the organization of the pedagogical project and the curricular structure, when confronted with the course of action set down by the National Curricular Guidelines. The data prove the urgent need to restructure the FOA-Unesp curriculum and confirm the importance of a continuous evaluation in higher education. DESCRIPTORS Higher education. Teaching. Dentistry. § Revista da ABENO • 10(2):35-40 39 Projeto pedagógico e estrutura curricular de um curso de odontologia: análise crítica fundamentada na percepção acadêmica • Moimaz SAS, Fadel CB, Bino LS, Saliba NA Referências 8. Loureiro RMT, Saliba NA, Moimaz SAS, Ono R. Avaliação do 1. Análise sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Odontologia. Revista da ABENO 2002; desempenho do docente com a participação do corpo discente no ensino superior. Revista da ABENO 2006; 6(2): 119-22. 9. Morita MC, Kriger L. Mudanças nos cursos de Odontologia e 2(1): 35-8. 2. Brasil. Lei n°9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece a interação com o SUS. Revista da ABENO 2004; 4(1):17-21. 10. Moysés ST, Moysés SJ, Kriger L, Schmitt EJ. Humanizando a as diretrizes e bases da educação nacional. 3. Brasil. Ministério da Educação. Resolução nº. CNE/CES 3/2002 de 19 de fevereiro de 2002. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Farmácia e Odontologia. Diário Oficial, Brasília, 04 mar. 2002, seção 1, p.10. 4. Carvalho ACP. Planejamento do curso de graduação de Odon- educação em Odontologia. Revista da ABENO 2003; 3(1): 5864. 11. Neto AJF. A evolução dos cursos de Odontologia no Brasil. Revista da ABENO 2002; 2(1):55-56. 12. 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A database comprised of 57 case records of individuals with this syndrome, both male and female, with ages ranging between 5 and 18 years, was used for this purpose. These records had lateral cephalometric radiographs and radiographs of hand and wrist, all of which had been obtained on the same date. There were 48 other records of individuals who did not suffer from Down syndrome. The Tanner and Whitehouse (TW3) method was used to perform the hand and wrist radiographs for obtaining bone age. The Caldas method was employed on the lateral cephalometric radiographs in order to obtain the vertebral bone age. From the information acquired on bone age, vertebral bone age and chronological age, it could be concluded that there is a statistically significant difference between the three ages for both the male and the female control group and for the female Down syndrome group. Therefore, this method was employed only on male Down syndrome individuals. Based on the results, a formula was devel- oped to obtain the bone age for Down syndrome individuals. DESCRIPTORS Down syndrome. Bone development. Cervical vertebrae. Growth. Radiology. T he Down syndrome is characterized by mental deficiency and innumerous physical anomalies caused by chromosome 21 trissomy. In 1866, Langdon Down first described the characteristics of individuals with chromosome 21 trissomy and named the individuals with this anomaly, Mongolian idiots. This term soon came into disuse, following a recommendation by the World Health Organization (WHO). It was later renamed Down Syndrome.3 In his study, Santos (2007) used 85 X-rays of 52 males and 33 females, all of them suffering from Down syndrome.6 He evaluated the Greulich and Pyle (1959), the Eklöf and Ringertz (1967) and the Tanner and Whitehouse (1983) methods in order to evaluate how accurate they were in determining chronological age in Down syndrome individuals aged between 61 and 180 months. Evaluations were made using hand Revista da ABENO • 10(2):41-5 41 Evaluation and development of a bone age assessment method in patients with Down syndrome • Michelle BM, Mari Eli LM, Fernando VR, Simone MRG, Déborah H and wrist X-rays.4,7,9 According to the research conducted by Santos, the TW3 and the Greulich and Pyle methods came closest to determining chronological ages, followed by the Eklöf and Ringertz approach. Mito et al. (2002) also devised a new method to evaluate bone maturation specifically, using lateral cephalometric X-rays.5 They stated that the correlation between the bone age obtained by the hand and wrist radiograms and the cervical vertebrae maturation was statistically significant. The difference between the bone ages was small and statistically insignificant, when compared with chronological age. It was concluded that, if the objective is to obtain bone age through the cervical vertebrae, a study analyzing details of cephalometric X-rays is viable. Caldas (2007) evaluated the applicability of the bone age analysis method of the cervical vertebrae developed by Mito et al. (2002) in females of Japanese descent in the Brazilian population.1 He also devised two new methods for Brazilian girls and boys, designed to determine bone maturation of the cervical vertebrae in a straightforward manner in lateral cephalometric X-rays. Bone age was used as the gold standard to determine the reliability of the Mito method. The results showed that there was a statistically significant difference between the vertebral and the chronological age and between the bone age and the chronological age for the female population. The devising of a formula for Brazilian boys and girls derived from an objective analysis of the bone maturation of the cervical vertebrae revealed that there is no statistical difference between the bone age of the cervical vertebrae, bone age and chronological age. Therefore, it was concluded that the Mito method can be applied only to Brazilian girls. In addition, the derived formulas for objective evaluation of the bone age of the cervical vertebrae can be applied to Brazilian boys and girls in an efficient manner. MATERIAL AND METHOD After approval by the Research Ethics Committee, under number 018/2007-PH/CEP, 105 cases were selected for study from the files of the Discipline of Radiology of the Department of Diagnosis and Surgery of the São José dos Campos School of Dentistry, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”UNESP. These cases were divided into 2 groups: • Down Group: 57 cases of Down syndrome, 23 females and 34 males. • Control Group: 48 cases of non-Down syndrome, 24 females and 24 males. 42 Both groups were comprised of individuals with ages ranging from 5 to 18 years who had lateral cephalometric X-rays and hand and wrist X-rays obtained on the same dates. Lateral cephalometric X-rays were used to analyze the vertebral bone age of the individuals according to the method proposed by Caldas, used on both female and male Brazilian individuals, who did not suffer from Down syndrome. This method consists of applying one formula for the male and another one for the female group, both of which use the mathematical ratio obtained by measuring the variables of the bodies of cervical vertebrae C3 and C4 for obtaining the bone vertebral age of each individual. • Female vertebral bone age = 1.3523 + 6.7691 x AH3/AP3 + 8.6408 x AH4/AP4 • Male vertebral bone age = 1.4892 + 11.3736 x AH3/AP3 + 4.8726x H4/AP4 The following variables were obtained for both cervical vertebrae: • (AH) anterior height of the vertebral body, • (AP) lateral anterior-posterior of the vertebral body and • (H) the height of the vertebral body, • (PH) posterior height of the vertebral body. These variables were named AH3, AP3, H3, PH 3 when referring to the cervical vertebra C3, and AH4, AP4, H4, PH 4 when referring to cervical vertebra C4 (Figure 1). The C3 and C4 vertebral segments were scratched manually and measured by a millimeter ruler and a digital caliper. Two repetitions of the scratch were made after at least a week and in a random manner. The intention was to obtain an average between the measurements made in each radiographic incidence. The segments were called vertebral age 1 and 2 for the Down syndrome individuals. The method proposed by Tanner and Whitehouse (2003), TW3, was used to obtain bone age using hand and wrist X-rays of the same individuals.10 All the measurements were made by only one examiner, previously trained and author of this paper. RESULTS In this study, the authors chose non-parametric statistical tests. These tests do not compare groups by the average but by the position of the data. Even though this method was not used to make the com- Revista da ABENO • 10(2):x-x Evaluation and development of a bone age assessment method in patients with Down syndrome • Michelle BM, Mari Eli LM, Fernando VR, Simone MRG, Déborah H parisons, descriptive statistics was used to allow us to understand the results, which can be seen in nonDown syndrome individuals. In this group, we observed that there were significant statistical differences for both male and female individuals, among the different ages in overall manner. We used the Wilcoxon test to compare all the ages in pairs in order to discover precisely where the difference occurred (Table 1). Regarding the p-values comparatively, a significant statistical difference was observed between vertebral bone age, bone age, and chronological age. In the sample studied, the vertebral bone age for both male and female individuals presented higher values than the other ages. Below, we will show the results for the comparison made among all the ages for the group of Down syndrome individuals. In this group, significant statistical differences could be noticed among the ages for the female individuals (Table 2). According to the p-values observed, the differences occurring between vertebral age 2 and vertebral age 1 were revealed. Vertebral age 2 was that which had the highest values when compared to the other ages. Thus, in this sample of the female group of Down syndrome individuals, the formula designed by Caldas was not applied (Figures 2 and 3). Significant statistical differences among the ages were not observed for the Down syndrome individuals of the male group, thus allowing the formula by Caldas to be applied. Based on these results, we can formulate a description of the method for bone age in Down syndrome individuals. • Female vertebral bone age = Óssea = -2.364 + 1.441 - H3/R2 = 84.2% • Male vertebral bone age = Óssea = -1.004 + 0.759 x H3 + 0.580 x AH4/R2 = 84.1% The results obtained made it possible to prove that the Caldas1 formula created for Brazilian boys and girls cannot be applied to the female Down syndrome individuals of the studied sample. Thus, two new formulas were devised using the statistical method, one for women and another for men. Figure 1 - Body of cervical vertebrae C3 and C4 measured by means of lateral cephalometric X-rays: (AH) anterior height of the vertebral body, (AP) lateral anteriorposterior of the vertebral body and (H) height of the vertebral body, (PH) posterior height of the vertebral body. Table 1 - p-values for non-Down syndrome individuals, Table 2 - p-values for Down syndrome individuals, chro- chronological, bone and vertebral age for male and female. nological, bone, vertebral, and vertebral 1 age for female individuals. Male Female Non-Down Syndrome Chronological Bone 0.367 Vertebral 0.042 Bone 0.788 Vertebral 0.048 Bone < 0.001 Down Syndrome Chronological Bone 0.308 Vertebral 0.287 0.114 Vertebral 0.073 0.039 Female Bone Vertebral 1 0.046 0.037 Revista da ABENO • 10(2):41-5 43 Evaluation and development of a bone age assessment method in patients with Down syndrome • Michelle BM, Mari Eli LM, Fernando VR, Simone MRG, Déborah H non-Down syndrome 11.28 11.5 Chronogical age Bone age Vertebral age 10.92 11 10.5 10 Down syndrome Chronogical age Bone age Vertebral age Vertebral age 1 14 13.52 13.5 13.3 13.05 13 12.86 13 10.36 10.18 10.26 12.38 12.5 9.92 12 11.68 11.5 11.37 9.5 11 9 Male 10.5 Female Figure 2 - Comparison of the chronological, vertebral 10 bone and bone age for male and female non-Down syndrome individuals. Figure 3 - Comparison of the chronological, vertebral Male Female bone 1 and bone 1 age in male and female Down syndrome individuals. We determined that both models were significant and very explanatory. This means that they were well correlated with reference to the value of R2. We determined that the model is applicable, because there is no significant statistical difference between the bone age value (obtained by TW3) and the final bone age calculated through the model developed in this study. In this context, it is worth mentioning that there is a difference between the final bone ages and the vertebral bone age only for the female group. There is no specific method for determining the bone age index of Down syndrome individuals. DISCUSSION After applying three methods to estimate the bone age of Down syndrome individuals, Santos (2007) noticed that there were statistical differences only using the Eklöf and Ringertz method, in referring to sex and chronological age. 6 The TW3 1 and the Greulich and Pyle methods were statistically the same. In relation to the Eklöf and Ringertz method in Down syndrome individuals, Sannomiya et al. (1998) made the same observation, but did not find significant statistical differences among the sexes.8 Calles et al. (2004) observed that the Greulich and Pyle method is used for Down syndrome individuals, but it is not recommended to determine chronological ages between 10 and 13 years old for the female group and between 13 and 15 years old for the male group.2 They concluded that there was a significant statistical difference in these age groups, when analyzing the chronological and bone ages. Sannomiya et 44 al. (2005) came to the same conclusion. This is why the authors preferred to adopt the TW3 method in this study, and also because it is more updated.7 Mito et al. (2002) created a formula using lateral cephalometric X-rays of Japanese people with the measurements of vertebral bodies C3 and C4.. The formula obtains bone age according to the cervical vertebrae of these individuals.5 They concluded that this result is reliable when compared to those obtained by hand and wrists X-rays using the TW2 method. In 2007, Caldas applied the Mito et al. (2002) formula in female and male Brazilians, and observed that it was only applicable to Brazilian girls.1 With this in mind, he created a formula to analyze the skeleton maturation of the cervical vertebrae in Brazilian boys and girls. In this study, the authors applied the Caldas formula created for female and male Brazilians to nonDown syndrome individuals, and the result was different from the author’s, because the formula created was not statistically significant for the sample studied. Moreover, when applied to the Down syndrome individuals sample, it was statistically significant only for the male but not for the female group. CONCLUDING REMARKS Based on the findings of this study, some important considerations can be made: • The method proposed by Caldas, when applied to our samples of female and male non-Down syndrome individuals, showed results with a statistically significant difference between bone, vertebral bone, and chronological age. Revista da ABENO • 10(2):x-x Evaluation and development of a bone age assessment method in patients with Down syndrome • Michelle BM, Mari Eli LM, Fernando VR, Simone MRG, Déborah H • Thus, a similar method of evaluation was developed for bone and vertebral bone age for both male and female Down syndrome individuals. REFERENCES 1. Caldas MP. Avaliação da maturação esquelética na população brasileira por meio da análise das vértebras cervicais [tese]. Piracicaba: Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Univer- RESUMO Avaliação e desenvolvimento de um método de avaliação de idade óssea em portadores de síndrome de Down O objetivo deste trabalho foi avaliar a aplicabilidade do método desenvolvido por Caldas para medir a idade óssea vertebral em brasileiros, quando empregado em indivíduos portadores da síndrome de Down. Foram estudados 57 prontuários de indivíduos com síndrome de Down, de ambos os sexos, com idades variando entre 5 e 18 anos. Esses prontuários continham radiografias cefalométricas laterais e radiografias de mão e punho, obtidas no mesmo dia, e também foram avaliados 48 prontuários de indivíduos não portadores de síndrome de Down. Para as radiografias de mão e punho, o método de Tanner e Whitehouse (TW3) foi usado para que pudéssemos obter a idade óssea. O método de Caldas foi empregado nas radiografias cefalométricas laterais, e assim obtivemos a idade óssea vertebral. A partir das informações sobre a idade óssea, idade óssea vertebral e idade cronológica, foi verificada uma diferença estatisticamente significativa entre as três faixas etárias para ambos os sexos do grupo controle e grupo com síndrome de Down do sexo feminino. Portanto, este método foi aplicável apenas em indivíduos do sexo masculino portadores da síndrome de Down. Com base nos resultados, uma fórmula para obtenção da idade óssea de indivíduos com síndrome de Down foi desenvolvida. sidade Estadual de Campinas; 2007. 2. Calles AC, Carinhena G. Avaliação da idade óssea em indivíduos portadores da síndrome de Down por meio de radiografias da mão e punho. 7º Simpósio de informática na ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares; 9-12 out 2004; São Paulo. [acesso em: mar.2008]. Disponível em: http: // www.cleber. com.br/orto2004/andreia.html 3. Coelho CRS, Loevy HT. Aspectos odontológicos da síndrome de Down. Ars Curandi Odontol.1982;8(3):9-16. 4. Greulich WW, Pyle SI. Radiographic atlas of skeletal development of the hand and wrist. Stanford: Stanford University Press; 1959. 5. Mito T, Sato K, Mitani H. Cervical vertebral bone age in girls. Am J Orthod Dentofac Orthop. 2002;122(4):380-85. 6. Santos LRA. Análise comparativa entre três métodos de estimativa da idade óssea em indivíduos com síndrome de Down, por meio de radiografias de mão e punho [tese]. São José dos Campos: Faculdade de Odontologia de São José dos Campos, Universidade Estadual Paulista; 2007. 7. Sannomiya EK, Calles A. Comparação da idade óssea com a cronológica em indivíduos portadores da síndrome de Down pelo índice de Eklöf & Ringertz, por meio de radiografias de mão e punho. Cienc Odontol Bras. 2005;8(2):39-44. 8. Sannomiya EK, Médici-Filho E, Castilho JCM, Graziosi MAOC. Avaliação da idade óssea em indivíduos portadores da síndrome de Down por meio de radiografias da mão e punho. Rev. Odontol. Unesp.1998;27(2):527-36. 9. Tanner JM, Whitehouse RH, Cameron N. Assessment of skeletal maturity and prediction of adult height (TW2 Method). Institute of Education, University of London: Academic Press; DESCRITORES Síndrome de Down. Desenvolvimento ósseo. Vértebras cervicais. Crescimento. Radiologia. § 1983. 10. Tanner JM, Whitehouse RH, Cameron N, Healy MJR, Goldstein H. Assessment of skeletal maturity and prediction of adult height (TW3 Method). Austral Radiol. 2003;47:340-41 Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 Revista da ABENO • 10(2):41-5 45 Percepção da inserção de alunos na atenção primária: visão dos gestores e profissionais da Estratégia Saúde da Família Ticiane Pedrosa de Moura*, Renata Cavalcanti Machado Costa*, Ticiana Campos Damasceno*, Sharmênia de Araújo Soares Nuto**, Lucianna Leite Pequeno*** *Cirurgiã-dentista graduada pela Universidade de Fortaleza **Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte ***Mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará Resumo Esta pesquisa objetiva analisar a percepção que gestores e profissionais da saúde têm acerca da inserção de alunos do PRO-Saúde e PET-Saúde da Universidade de Fortaleza no Centro de Saúde da Família Maria de Lourdes Ribeiro Jereissati, localizado em Fortaleza-CE. Realizou-se um estudo qualitativo e quantitativo por meio de entrevistas semi-estruturadas aplicadas à 16 profissionais. Por meio da análise de conteúdo identificaram-se 4 categorias: conhecimento sobre os projetos e seus objetivos; processo de inserção dos alunos na unidade de saúde e na comunidade; benefícios dos projetos: realidade ou utopia; o que precisa ser aprimorado. Para os resultados das questões objetivas foram calculadas as frequências simples e percentuais. A Avaliação sobre a implantação das ações desenvolvidas pelos projetos PRO-Saúde e PET-Saúde, respectivamente, foram 3 (18,8%) e 6 (37,5%) excelente, 9 (56,3%) e 8 (50%) bom e 4 (25%) e 2 (12,5%) indiferente. Conclui-se que os projetos contribuíram para um bom funcionamento da unidade de saúde, havendo a qualificação dos profissionais, além da adequação das diretrizes curriculares nacionais e do fortalecimento da atuação em saúde coletiva, mas é necessária uma maior divulgação das atividades desenvolvidas. Descritores Programas nacionais de saúde. Avaliação de programas e projetos de saúde. Serviços de integração docente-assistencial. 46 A Política Nacional de Atenção Básica9 atribui ao Ministério da Saúde a função de articular, junto ao Ministério da Educação, estratégias de indução a mudanças curriculares nos cursos de graduação na área da saúde, visando à formação de profissionais com perfil adequado à Atenção Básica. Assim, o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRO-Saúde) foi lançado por meio da Portaria Interministerial MS/MEC nº 2.101, de 03 de novembro de 2005, com o objetivo principal de fomentar a integração ensino-serviço, garantindo a reorientação da formação profissional e assegurando uma abordagem integral do processo saúde-doença com ênfase na Atenção Básica, promovendo transformações na prestação de serviços à população.8 Posteriormente, como forma de fortalecimento do PRO-Saúde, foi criado o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), instituído pela Portaria Interministerial MS/MEC N° 1.802/08,7 de 26 de agosto de 2008, com o objetivo de formar grupos de aprendizagem tutorial no âmbito da Estratégia Saúde da Família (ESF), caracterizando-se como instrumento para qualificação em serviço dos profissionais da saúde, bem como de iniciação ao trabalho e vivências dirigidos aos estudantes das graduações em saúde, de acordo com as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Conforme a legislação vigente do Programa, o monitoramento e a avaliação dos grupos fundamenta-se em algumas diretrizes, incluindo a participação dos alunos em atividades de ensino, pesquisa e extensão.7 Revista da ABENO • 10(2):46-52 Percepção da inserção de alunos na atenção primária: visão dos gestores e profissionais da Estratégia Saúde da Família • Moura TP, Costa RCM, Damasceno TC, Nuto SAS, Pequeno LL As iniciativas do PRO-Saúde e PET-Saúde, assim como outras que ampliem a relação ensino-serviço, devem ser fortalecidas uma vez que a articulação entre as Instituições de Ensino Superior e o sistema de saúde potencializa respostas às necessidades concretas da população brasileira, mediante a formação de recursos humanos, a produção do conhecimento e a prestação dos serviços com vistas ao fortalecimento do SUS.7 A Universidade de Fortaleza (UNIFOR), em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Fortaleza, foi contemplada em 2008 com os programas PRO-Saúde e PET-Saúde, os quais possuem projetos envolvendo os Centros de Saúde da Família (CSF) da Secretaria Executiva Regional VI (SER VI) e os cursos de graduação do Centro de Ciências da Saúde (CCS). O CCS abrange as graduações em Ciências da Nutrição, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Odontologia e Terapia Ocupacional. Na busca de ofertar respostas concretas às necessidades de saúde da população, reorientação da formação na graduação e qualificação dos serviços, o PRO-Saúde/UNIFOR está inserido em 16 CSF. Seus objetivos contemplam a organização da inserção dos alunos de graduação através de disciplinas práticas, teórico-práticas e estágios, bem como da articulação das atividades curriculares com as desenvolvidas no PET-Saúde/UNIFOR, além da adequação do espaço físico de três CSF.12 O PET-Saúde/UNIFOR busca a implementação dos Sistemas Locais Saúde-Escola da SER VI, promovendo a reorientação da formação profissional, integrando a ESF com atividades de ensino, pesquisa e extensão. Os planos de intervenção foram planejados conforme problemas identificados no território adstrito aos CSF. Nos anos 2010 e 2011, o PET-Saúde/ UNIFOR é composto por quatro grupos tutoriais, 24 preceptores e 120 alunos de graduação atuando em oito CSF.12 Sabe-se que o serviço de saúde precisa dispor de conhecimento atualizado e estruturado de suas ações pautado em dados, para um adequado planejamento. Considerando que a análise e o feedback das informações produzidas propiciam auto avaliação, autoquestionamento e confere crescimento, indica-se por objeto a informação em saúde como instrumento de educação.11 A institucionalização da avaliação em saúde é necessária para o acompanhamento de programas, projetos e ações, visando assegurar o contínuo progresso da formação profissional e produzir benefícios diretamente voltados para a coletividade. Neste contexto é que surge a necessidade de conhecer como gestores e profissionais de saúde avaliam a inserção dos alunos dos Projetos PRO-Saúde/UNIFOR e PET-Saúde/ UNIFOR, bem como as atividades desenvolvidas por estes conforme objetivos propostos pelo MS e pela UNIFOR, tornando-se objeto de estudo da presente pesquisa. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa teve caráter primariamente qualitativo, apresentando alguns índices quantitativos, tendo sido realizada no CSF Maria de Lourdes Ribeiro Jereissati (CSF MLRJ). A escolha deste deveu-se ao fato da unidade ter sido a primeira beneficiada com a inserção de alunos dos dois projetos, PRO-Saúde e PET-Saúde/ UNIFOR, e com a adequação do espaço físico. Para compor os sujeitos da pesquisa, 19 profissionais de saúde de nível superior foram selecionados de forma intencional. O critério de inclusão foi o início de seu trabalho na unidade de saúde no ano anterior a 2008, de forma a garantir que todos os entrevistados estivessem presentes durante a inclusão dos projetos. Excluiram-se os profissionais que trabalhavam no turno noturno, os que se encontravam no período de férias ou licença maternidade durante a coleta de dados e os que se recusaram a participar do estudo. A amostra final foi composta por 14 profissionais da ESF, sendo quatro cirurgiões-dentistas, quatro médicos, seis enfermeiros, e dois gestores, totalizando 16 entrevistados. Destes, um já foi preceptor do PETSaúde/UNIFOR e atualmente, outros cinco exercem essa função. A coleta de dados ocorreu no período de junho a outubro de 2010, por meio de instrumento composto de duas partes: • um roteiro de entrevista semiestruturada e • um questionário com perguntas objetivas. A aplicação deste realizou-se por três alunas do curso de Odontologia, também bolsistas dos projetos. A análise qualitativa se deu por meio da Análise de Conteúdo seguindo o processo preconizado por Bardin.2 As entrevistas foram gravadas, posteriormente transcritas e, em seguida, realizou-se leitura exaustiva do material. A regra da enumeração ou modo de contagem foi realizada, por meio da frequência de aparição para que as categorias pudessem ser escolhidas, através do inventário e da classificação. Construiu-se as seguintes categorias de análise: Revista da ABENO • 10(2):46-52 47 Percepção da inserção de alunos na atenção primária: visão dos gestores e profissionais da Estratégia Saúde da Família • Moura TP, Costa RCM, Damasceno TC, Nuto SAS, Pequeno LL • conhecimento sobre os projetos e seus objetivos; • processo de inserção dos alunos na unidade de saúde e na comunidade; • benefícios dos projetos: –– realidade ou utopia; –– o que precisa ser aprimorado. O resultado das questões objetivas consolidou-se com o auxilio do programa estatístico EpiInfoTM Versão 3.5., em que calcularam-se as freqüências simples e percentuais. Quanto aos aspectos éticos, a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFOR, processo N°128/2010 conforme determina a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde.6 Os sujeitos foram informados quanto aos objetivos do estudo e, após os esclarecimentos, aceitaram participar voluntariamente, a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. RESULTADOS Conforme descrito no tratamento metodológico, foram criadas categorias de análises por meio das quais os resultados serão apresentados. As falas seguem fielmente as respostas dos entrevistados, não sendo corrigidos os erros de português ou alterados vícios de linguagem. Conhecimento sobre os projetos e seus objetivos Quando indagados sobre a compreensão que tinham dos projetos PRO-Saúde e PET-Saúde e dos seus objetivos, a maioria dos sujeitos não apresentou consistência em sua resposta. As falas sugerem o pouco ou nenhum conhecimento que os profissionais possuem sobre a essência dos projetos. “Eu só conheço o PET; eu sei que é um programa com a Universidade, que alunos bolsistas são orientados por profissionais do posto de saúde e que também tem um professor que é tutor e que desenvolvem trabalho.” “Sei que foi implantado aqui, mas não tenho nenhuma informação a respeito do significa ou do que esta está sendo inserido.” Quando interrogados sobre o conhecimento acerca dos objetivos dos projetos, a maioria respondeu conhecer, embora também sem propriedade; outros nada sabem: “É a questão interdisciplinar, o trabalho interdisciplinar. Promover essas ações em conjunto. E desenvolver atividades assim que tragam tanto a organização do serviço como a melhoria da qualidade, o aprendizado, ensino-serviço, essa ligação. Ver a realidade, transformar a realidade, que às vezes a pessoa vem da faculdade com tudo pronto bonitinho e quando chega aqui vê que a realidade é bem diferente.” “Meu conhecimento é superficial (...) eu sei que existe o projeto, que tem os alunos inseridos, mas os objetivos assim de forma detalhada eu não tenho conhecimento, nem do PRO... nem do PET-Saúde não.” Processo de inserção dos alunos no CSF e na comunidade A diversificação dos cenários é compreendida como uma das estratégias para a transformação curricular. Essa estratégia aproxima os estudantes da vida cotidiana da população e desenvolve um olhar crítico, possibilitando cuidar dos reais problemas da sociedade.10 A inserção do estudante desde o início do curso em atividades práticas propicia um campo potencial e necessário, condizente com a realidade vivenciada pela grande massa populacional brasileira, possibilitando uma clínica ampliada dos saberes, a aplicação efetiva de ações preventivas e promotoras da Saúde Coletiva e a vivência do acolhimento à demanda.10 Em relação à maneira como os profissionais tem recebido a inserção dos estudantes de graduação do PRO-Saúde e do PET-Saúde destaca-se: “Eu acho que é um projeto que veio em nível de ministério “No inicio tem sempre aquela questão: Ah, aluno, tá inco- para somar (...) nas atividades do dia a dia dentro da uni- modando. (...) Teve gente que até falou: vou atender com dade de saúde, para trabalhar em equipe conosco;e dar uma alma do meu lado?” (risadas). “E aí a gente tem que mais uma visão para o aluno (...) uma ideia de como é que dizer: a gente já foi aluno também, né?” na realidade funciona.” “Bom eu acho que a recepção é boa, mas eu convidaria 48 “O que a gente sabe é que são projetos né, que se ligam todos para ter um esclarecimento maior, porque, por diretamente com a comunidade.” exemplo, é a primeira vez que alguém dos projetos chega Revista da ABENO • 10(2):46-52 Percepção da inserção de alunos na atenção primária: visão dos gestores e profissionais da Estratégia Saúde da Família • Moura TP, Costa RCM, Damasceno TC, Nuto SAS, Pequeno LL até a mim para falar algo, eu acho que seria interessante uma abordagem com todos os profissionais.” Em relação à aceitação da comunidade, a maioria dos entrevistados afirmou que a população tem recebido a inserção dos estudantes nos serviços de forma positiva, porém houve divergência de pensamentos: “A população é muito receptiva, tudo que é novidade para melhorar para eles, eles acham muito bom.” “A população também recebe de forma positiva, porque mostrou satisfação com a adequação do espaço físico, classificando-a como excelente 1 (6,3%), boa 12 (75%), regular 2 (12%) e indiferente 1 (6,3%). Apesar disso, quando questionados sobre as principais dificuldades encontradas em decorrência da inserção dos alunos foram citadas a falta de tempo dos profissionais da unidade; falta de integração entre o planejamento dos cursos e projetos; pouca continuidade das atividades; falta de material e ausência de estacionamento para os alunos no local. As falas a seguir refletem a melhoria da qualidade do serviço: pra ela dá um diferencial no atendimento.” “(...) não houve mudança da programação de trabalhos, “Eu acho que a população não tem conhecimento sobre mas a gente, de uma maneira ou de outra, termina fazen- qual o serviço que o aluno está exercendo, se é só aluno do um trabalho de melhor qualidade quando um aluno mesmo da Universidade que não fazem parte de nenhum está dentro da sala, né? A gente é cutucado para estudar projeto.” de novo e é bom.” “Eu acho que a população tem recebido bem de uma for- “(...) a partir do momento que eles (os profissionais) estão ma geral. No entanto eu não sei bem se eles já tem esse, acompanhando os estudantes, se sentem na obrigação até vamos dizer, essa consciência dessa diferença.. (...) a nossa de se capacitarem pra acompanhar.” (comunidade) talvez ainda não tenha tanto conhecimento embora a gente tenha divulgado; mas acredito que ela não tenha rejeição, né? E que tenha um respeito muito grande.” Benefícios do projeto: realidade ou utopia Quando indagados sobre os benefícios proporcionados pelos projetos, os sujeitos não discorreram muito, restringindo-se à melhoria da estrutura física da unidade, à oferta de serviços assistenciais e individuais; alguns relataram desconhecimento sobre aspectos que melhoraram no CSF e na comunidade: No que diz respeito à melhoria da qualificação e da educação permanente dos profissionais que atuam no CSF, a maior parte dos entrevistados afirmou que estas têm sido proporcionadas pelo PRO-Saúde e PETSaúde/UNIFOR: “(...) nós já tivemos treinamento com os auxiliares de enfermagem, já tivemos alguns treinamentos dos profissionais, dos profissionais do PET, dos profissionais de saúde da família que são do PET (...). Então, eu acho que nós tivemos sim muitas mudanças (...) e foram muitas as oportunidades.” “Tá começando a mudar. Eu acho que já deu alguma coisa.” “Pelo fato de desconhecer o projeto, fica prejudicada a resposta.” “Pra gente preceptor, acho que a educação permanente tá sendo uma coisa bem interessante. Primeiro, é funda- “Bom, eu não diria que já houve impacto; só com os pro- mental se ter uma Educação permanente é essa oportu- jetos não, mas a gente sente um impacto com todos os nidade de tá discutindo com os alunos. (...) Essa troca de alunos que estão ainda na graduação, entendeu? (...) acho informação com esse pessoal que tá dentro da universi- que está engatinhando.” dade agora já é o primeiro ponto. E o segundo ponto é a questão das próprias reuniões do PET. A gente tem tido “Teve a reforma da unidade por conta disso; a gente tem acesso a muita coisa nova com os próprios professores. um número de serviços que antes não era oferecido.” Não sei se isso pode ser estendido a todos os profissionais da unidade.” Quando perguntados diretamente sobre a percepção dos benefícios do PRO-Saúde para a melhoria da infraestrutura do CSF, a maioria dos entrevistados A opinião dos entrevistados sobre a parceria da UNIFOR com a SMS nestes projetos e o seu nível de Revista da ABENO • 10(2):46-52 49 Percepção da inserção de alunos na atenção primária: visão dos gestores e profissionais da Estratégia Saúde da Família • Moura TP, Costa RCM, Damasceno TC, Nuto SAS, Pequeno LL 60 56,3 50 40 44% 30 Gráfico 1 - Parceria da UNIFOR com a SMS nos projetos PRO-Saúde e PET-Saúde/UNIFOR no CSF MLRJ. Fortaleza-CE, 2010. satisfação estão representados pelos Gráficos 1 e 2, respectivamente. 20 18,8 12,5 12,5 10 ui ic ie In su f R e nt e re fe di In R eg ul nt ar m Bo te 0 m 0 0 en Excelente Bom Regular Indiferente Insuficiente Ruim Ex ce l 56% Gráfico 2 - Nível de satisfação em relação aos projetos do PRO-Saúde e PET-Saúde/UNIFOR no CSF MLRJ. Fortaleza-CE, 2010. realizado. Isso é fundamental para conseguir uma produção melhor e que possa valorizar os dois lados....E o pro serviço, o que é interessante? Que a inserção dos alunos O que precisa ser aprimorado Os entrevistados acreditam que os aspectos a serem aprimorados para melhor atender às necessidades do serviço e à formação dos profissionais de saúde envolvem uma maior divulgação dos projetos durante as rodas de gestão, momento esse em que profissionais, gestores e comunidade se reúnem para discutir assuntos administrativos e científicos da unidade, de modo que os objetivos possam ser discutidos com todos os profissionais que atuam no CSF; educação permanente dos profissionais; adequação da carga horária dos profissionais para atender os alunos fora do seu horário de trabalho e treinamento envolvendo os profissionais da unidade. “(...) tem que haver mais divulgação com os profissionais, participação na roda. Porque às vezes tá acontecendo algum trabalho de vocês o profissional não tá nem sabendo.” “Eu acho que mais treinamento, fazer reciclagem desses profissionais, porque assim vocês trazem coisas novas pra gente.” “Eu acho assim esse contato maior, essa abordagem com todos os profissionais, porque eu nunca sabia da existência...sabia assim por causa do movimento de alunos aqui dentro da unidade.” “Antes o planejamento era feito dentro da universidade e nos chegavam com esse planejamento feito. E esse ano, a gente já tá podendo discutir como o trabalho deve ser 50 possa tá trazendo alguma vantagem pra população, pro andamento do serviço, pra solucionar os problemas da comunidade....” DISCUSSÃO Observa-se que foram identificadas pelos profissionais algumas características do processo de trabalho do PRO-Saúde e do PET-Saúde, mas não a essência. De fato, o PET-Saúde trabalha com a lógica de um tutor, o qual é responsável por seis preceptores e 30 alunos distribuídos em dois CSF. Foi relatada também a proposta de aproximação do aluno de graduação com seu futuro campo de atuação, a atenção primária, bem como a interação com a comunidade. No entanto, objetivos como reorientação profissional, educação permanente dos profissionais de saúde e iniciação dos estudantes no serviço parecem não estar claros. Comprova-se, portanto, que a maioria de fato não sabe o que são esses projetos, havendo uma falta de divulgação por parte dos seus integrantes e/ou a falta de interesse dos profissionais, que não estão diretamente envolvidos. A última fala acerca da receptividade para com os alunos retrata a ausência de integração dos discentes com os demais profissionais da unidade que não estejam desempenhando a função de preceptoria. Este fato é determinante para resistência destes profissionais em aderir às mudanças propostas pelos projetos de intervenção, principalmente aquelas relacionadas ao modelo assistencial centrado na doença. Alguns autores4,5,10 discutem a importância de projetos para aproximar o ensino da atenção primária de Revista da ABENO • 10(2):46-52 Percepção da inserção de alunos na atenção primária: visão dos gestores e profissionais da Estratégia Saúde da Família • Moura TP, Costa RCM, Damasceno TC, Nuto SAS, Pequeno LL forma a substituir o modelo tradicional da organização do cuidado em saúde, muito voltado para o atendimento hospitalar e particular. Em uma pesquisa6 foi comentado ainda que, mais especificamente no campo da Odontologia, é necessária uma readequação dos cursos de graduação para a formação de profissionais capacitados a exercerem uma prática que atenda ao SUS, e a contínua capacitação dos já graduados que atuam no sistema. É importante ressaltar que os projetos de intervenção envolvem direta ou indiretamente a comunidade. A população participa diretamente quando é sujeito das intervenções de promoção da saúde, prevenção de doenças e, inclusive, da assistência individual. Atividades como mudanças de protocolos e implantação de novas estratégias de intervenção beneficiam indiretamente a população adstrita ao CSF. Os relatos evidenciam que os benefícios foram identificados pela maioria dos entrevistados, destacando-se o que mais foi relatado: • maior escuta do paciente; • população mais participativa e informada; • melhoria da estrutura física; • aumento do número de procedimentos realizados na unidade; • inclusão de novos profissionais formando a equipe ampliada de saúde; • presença de atividades diferenciadas; • a vinda de novas tecnologias provenientes da parceria com a UNIFOR; e • a melhoria na qualidade dos serviços. No entanto, a contribuição oferecida pelos projetos parece não estar clara, ou não ser perceptível para todos. A melhoria da qualidade do serviço mostra-se como consequência da incorporação de novos profissionais e de novas tecnologias, pela presença da Universidade, bem como em decorrência da qualificação dos profissionais proporcionada pelos projetos ou pelo próprio interesse destes de se qualificarem. A educação permanente está contemplada nos objetivos do PET-Saúde, como consta no Art. 2˚ da Portaria Interministerial MS/MEC N° 1.802/083.7 Segundo este, o projeto objetiva estimular a formação de profissionais e docentes de elevada qualificação técnica, científica, tecnológica e acadêmica, bem como a atuação profissional; sensibilizar e preparar profissionais de saúde para o adequado enfrentamento das diferentes realidades de vida e de saúde da população brasileira; e induzir o provimento e favo- recer a fixação de profissionais de saúde capazes de promover a qualificação da atenção à saúde em todo o território nacional. Apesar das vantagens proporcionadas no primeiro ano de inclusão dos projetos no CSF MLRJ, sabe-se que ainda há muito a ser feito. É importante ressaltar que, para a inserção dos cursos de graduação na unidade, são realizados momentos de planejamento e discussão das intervenções antes do inicio de cada semestre letivo. Esses momentos são realizados com os profissionais da unidade em um momento de planejamento. Apenas após esse processo, os projetos de intervenção foram apresentados e aprovados pelo conselho local de saúde e pelo conselho gestor da unidade. Concorda-se, no entanto, que é de extrema importância trabalhar com uma proposta de maior divulgação, principalmente para os profissionais que não estão diretamente envolvidos com os projetos, bem como para a população. A divulgação de informações é um dos princípios do SUS garantido pela Lei Orgânica da Saúde 8.080/9017.3 No que diz respeito à educação continuada dos profissionais, está sendo realizada por meio de atividades de ensino, como a capacitação com duração de 40 horas que foi oferecida a todos os auxiliares de enfermagem da unidade em janeiro de 2010; treinamento sobre tuberculose para os agentes comunitários de saúde; além dos cursos ofertados pelo PROSaúde e PET- Saúde, relatados anteriormente. Em um estudo,1 que avaliou a percepção dos bolsistas do PET-Saúde, relata que foram apontadas como sugestões para uma melhoria dos objetivos previstos dos projetos na unidade uma maior integração entre os alunos; maior divulgação do projeto para a comunidade e apresentação do projeto aos diretores dos CSF. CONCLUSÕES As atividades realizadas pelos projetos contribuíram para um bom funcionamento do CSF MLRJ, a inserção dos alunos para a adequação das diretrizes curriculares nacionais foi proporcionada, a atuação em saúde coletiva está fortalecida, a qualificação dos profissionais está acontecendo, atendendo aos objetivos propostos e as atividades desenvolvidas estão de acordo com as necessidades da população, apesar da avaliação negativa da adequação do espaço físico. Pois a estrutura do CSF, devido à precariedade na atenção primária, ainda é insuficiente para atender a necessidade de inserção de ambos, alunos e equipes da ESF. A divulgação das atividades na unidade e no conselho gestor ainda é um ponto a ser trabalhada. Revista da ABENO • 10(2):46-52 51 Percepção da inserção de alunos na atenção primária: visão dos gestores e profissionais da Estratégia Saúde da Família • Moura TP, Costa RCM, Damasceno TC, Nuto SAS, Pequeno LL Abstract How the inclusion of students in primary care is perceived: point of view of managers and professionals of the Family Health Strategy This study aimed at analyzing the perceptions held by health managers and professionals from the Maria de Lourdes Ribeiro Jereissati Family Health Center, in Fortaleza - CE, concerning the inclusion of students in the “PRO-Saúde” and “PET-Saúde” programs. The study was qualitative and quantitative, conducted using semi-structured interviews applied to 16 professionals. Four categories were identified using content analysis: knowledge about the programs and their goals, process of student inclusion in the Family Health Center and in the community, determining whether the benefits of the programs are a reality or an illusion, and what needs to be improved. Simple frequency and percentages were calculated to arrive at the results of the objective questions. The evaluation of the actions developed by the “PRO-Saúde” and the “PET-Saúde” programs, respectively, were 3 (18.8%) and 6 (37.5%) – excellent, 9 (56.3%) and 8 (50%) – good, and 4 (25%) and 2 (12.5%) – indifferent. It may be concluded that the programs contribute to a better running public health unit, since there is professional qualification, the national curricular guidelines are aligned to the programs, and the collective health system has been improved. However, greater dissemination of the activities developed in these programs is still needed. Descriptors National health programs. Program evaluation. Teaching care integration services. § mento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília; 1990. 4. Dos Anjos RMP, Gianini RJ, Minari FC, De Luca AHS, Rodrigues MP. “Vivendo o SUS”: uma experiência prática no cenário da atenção básica. Rev Bras Educ Méd. 2010;34(1):172-183. 5. Martins RJ, Moimaz SAS, Garbin CAS, Garbin AJ, Lima DC. Percepção dos coordenadores de saúde bucal e cirurgiõesdentistas do serviço público sobre o Sistema Único de Saúde (SUS). Rev Saúde Soc. 2009;18(1):75-82. 6. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução Nº 196 de 10 de outubro de 1996: aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: Ministério da Saúde; 1996. 7. Ministério da Saúde (BR), Ministério da Educação. Portaria Interministerial Nº 1.802 de 26 de agosto de 2008: institui o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde - PETSaúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2008. 8. Ministério da Saúde (BR), Ministério da Educação. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – Pró-Saúde: objetivos, implementação e desenvolvimento potencial. Brasília: Ministério da Saúde; 2007. 9. Ministério da Saúde (BR), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Portaria 648/GM de 28 de março de 2006: Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília: Ministério da Saúde; 2006. (Série Pactos pela Saúde 2006; v. 4). 10. Morita MC, Kriger L, Gasparetto A, Tanaka EE, Higasi MS, Mesas AE, Iwakura MLH, Alvanham D. Projeto Pró-Saúde Odontologia: relato das atividades iniciais em universidades do Estado do Paraná. Rev Esp Saúde. 2007;8(2):53-57. 11. Oliveira D. A utilização da informação em saúde pelo enfermei- Referências 1. 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Dispõe sobre as condições para a promoção, Recebido em 14/10/2010 proteção e recuperação da saúde, a organização e o funciona- Aceito em 17/12/2010 52 Revista da ABENO • 10(2):46-52 Análise transversal do ensino da implantodontia no curso de graduação Cleverton Corrêa Rabelo*, Thomaz Wassall**, Jose Gustavo Sproesser*** *Aluno do Mestrado em Implantodontia, CPO São Leopoldo Mandic **Coordenador do Mestrado em Implantodontia, CPO São Leopoldo Mandic ***Professor Titular, Mestrado em Implantodontia, CPO São Leopoldo Mandic RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar o ensino da Implantodontia na graduação nas faculdades brasileiras. Realizamos estudo transversal baseado em questionários enviados aos coordenadores de todas as faculdades brasileiras regularmente inscritas no Conselho Federal de Odontologia,5 para avaliar o conhecimento da ciência Implantodontia disponibilizado aos alunos de graduação. Constatamos que a disciplina Implantodontia está presente em 56,96% das faculdades de Odontologia pesquisadas e, nas faculdades onde a disciplina inexiste, os conhecimentos sobre a Implantodontia são ministrados, na maioria das vezes, na disciplina de cirurgia buco-maxilo-facial, o que poderia trazer ao aluno uma visão fragmentada predominantemente cirúrgica da Implantodontia; a carga horária de conhecimentos teóricos e práticos sobre Implantodontia são expressivamente maiores nas faculdades onde a disciplina existe, comparada às faculdades onde os conhecimentos são ministrados como parte de outras disciplinas; não houve comprovação da associação entre o fato da disciplina não ser ofertada e carga horária total do curso; os professores responsáveis pelo ensino da Implantodontia, em mais de dois terços das faculdades não possuem especialidade em Implantodontia, podendo ser a falta de corpo docente qualificado o motivo da ausência da disciplina em quase metade das escolas brasileiras. Diante dos resultados, sugerimos a incorporação da disciplina Implantodontia na grade curricular promovendo melhor embasamento científico para os futuros profissionais. Descritores Implantodontia. Osseointegração. Ensino. Currículo. Graduação. A reabilitação dentária por meio de implantes osseointegráveis tem se mostrado como um método seguro dentre as alternativas terapêuticas na reabilitação bucal. Apesar dos altos índices de sucesso, os insucessos ainda são motivos de preocupação; dentre as causas principais de insucesso, o planejamento inadequado ou a imperícia técnica merecem especial atenção por representar um problema de estruturação na formação dos profissionais que se dedicam à Implantodontia. Maior controle sobre a formação dos implantodontistas poderia ser alcançado se a Implantodontia como disciplina fosse incluída na grade curricular dos cursos de graduação. A exemplo de outras especialidades, conhecimentos básicos e fundamentais poderiam ser administrados desde a graduação.8 Chappell4 (1974) realizou pesquisa-questionário avaliando o ensino da Implantodontia em 61 escolas norte-americanas, canadenses e porto-riquenhas. Trinta e uma escolas (50.8%) realizavam cirurgias para instalação de implantes. Os alunos realizavam cirurgias para instalação de implantes em duas escolas enquanto uma escola respondeu que os alunos assistiam as cirurgias e oito escolas responderam que os alunos restauravam os implantes proteticamente. Segundo o autor, 30 escolas (50%) afirmaram a realização de pesquisas na área de Implantodontia. Bertolami2 (2001) ressalta que o currículo odontológico deve corresponder às evidências atuais: alterações demográficas das doenças atuais e projeções futuras, avanços em ciência e tecnologia e uma transformação sócio-cultural da população afetando a demanda de pacientes para tratamento e capacidade de pagar por ele. Donoff7 (2001) relatou que se a decadente necessidade de reabilitações com próteses totais removíveis Revista da ABENO • 10(2):53-8 53 Análise transversal do ensino da implantodontia no curso de graduação • Rabelo CC, Wassall T, Sproesser JG transfere esse tratamento para uma determinada especialidade e devemos estar prontos para transferir mais conhecimentos sobre Implantodontia no currículo de graduação. No Brasil, o aumento da expectativa de vida foi comprovado pelos dados do IBGE9 (2002), entre 1992 e 2001, a população de mais de 60 anos passou de 7,9% para 9,1% da população brasileira, trazendo acréscimo na faixa populacional mais afetada pelo edentulismo. Huebner8 (2002), avaliou grupos de alunos que receberam ou não treinamento laboratorial em Implantodontia durante a graduação. Os alunos da CUSD (Creighton University School of Dentistry), cujo programa propicia aos alunos conhecimentos e prática clínica de Implantodontia, apresentaram melhores resultados comparados aos alunos da MWDS (Midwestern Dental School), onde não é ofertado laboratório e clínica em Implantodontia. Como prática clínica, os graduados pela CUSD exercem a Implantodontia em maiores proporções. Estatisticamente, os graduados da CUSD também referenciam mais pacientes aos especialistas para realização de implantes. Petropoulos et al.11(2006), relataram pesquisa realizada em 2004 entre os representantes de 56 faculdades de Odontologia dos Estados Unidos e Canadá em uma conferência da ADEA (Associação Americana de Ensino Odontológico). A disciplina de Implantodontia estava presente em 97% das escolas. Addy et al.1(2008) pesquisaram as escolas de Odontologia no Reino Unido e Irlanda com respeito ao ensino da Implantodontia na graduação. Das 15 escolas, 13(87%) proviam treinamento em Implantodontia e 4 escolas (27%) possibilitavam aos alunos executarem tratamento com implantes em pacientes. Sete escolas (46%) ofereciam aos alunos o estudo de plano de tratamento com implantes e possibilitavam aos alunos a observação e confecção de prótese sobre implantes. Em 5 escolas (33%) os alunos observavam cirurgia de instalação de implantes. Apenas 1 escola permitia a instalação de implantes pelos alunos. Os departamentos responsáveis pela Implantodontia foram conjuntamente Odontologia restauradora e cirurgia buco-maxilo-facial em 8 escolas, e somente a Odontologia restauradora em 5 escolas. De Bruyn et al.6(2009) avaliou a situação do ensino da Implantodontia na graduação através de formadores de opinião de 18 países europeus presentes no Workshop da Associação Européia de Educação Odontológica. A carga horária média da disciplina é 54 de 36 horas; em 57% das faculdades é permitido aos alunos assistir e em 50% executar procedimentos restauradores; assistem ou auxiliam cirurgias em 53% e apenas 5% executam procedimentos cirúrgicos de instalação de implantes. Pós-graduações na área de Implantodontia são ofertadas em 90% das faculdades. As barreiras para inserção da disciplina foram a falta de tempo no currículo, falta de corpo docente especializado e falta de subsídios financeiros. Sanz & Saphira12 (2009) relataram que, a Implantodontia na graduação traz uma tendência para se focar no apropriado treinamento médico para os cirurgiões-dentistas e aumentar a competência no manejo com pacientes com problemas sistêmicos. McAndrew et al.10(2010), reportaram consenso do encontro da British Society of Prosthetic Dentistry’s Education Group, em 2009, com respeito à integração da Implantodontia no currículo de graduação. O treinamento adequado dos graduados é fundamental para a inserção do uso de próteses implanto-suportadas como corrente principal para o tratamento bem sucedido de pacientes edêntulos. Por se tratar de uma ciência complexa, que exige destreza e habilidades múltiplas para uma prática segura e eficaz, e também devido à ausência de um padrão de nivelamento da formação dos alunos que ingressam nos cursos de habilitação em Implantodontia, realizamos uma avaliação do ensino da Implantodontia durante a graduação nas faculdades brasileiras durante o ano de 2008. MATERIAL E MÉTODOS A técnica metodológica proposta foi baseado segundo estudo transversal através de pesquisa de campo. Foi utilizado um questionário com perguntas objetivas e mistas, dicotômicas e de múltipla escolha. O questionário é composto por perguntas quantitativas (carga horária do curso, duração do curso, alunos por classe, carga horária total do conteúdo, carga horária de laboratório, carga horária das clinicas) e qualitativas (demais perguntas). Em relação ao tipo de observação, foram utilizadas variáveis independentes em relação à variável analisada (cidade do curso, existência de pós-graduação), mas a quase totalidade das perguntas foram compostas por variáveis dependentes, fatores que diretamente se relacionam ao desempenho da disciplina junto ao curso. Os questionários foram enviados aos coordenadores de todos os cursos de Odontologia no Brasil, reconhecidos pelo Conselho Federal de Odontologia com formação regular, totalizando 188 faculdades. Revista da ABENO • 10(2):53-8 Análise transversal do ensino da implantodontia no curso de graduação • Rabelo CC, Wassall T, Sproesser JG RESULTADOS Os resultados desta pesquisa refletem as respostas apresentadas por 79 faculdades de Odontologia do país, através de seus coordenadores com representação de todas as regiões brasileiras e suas dependências administrativas, em um universo de 188 faculdades, o que representa 42% de taxa de retorno. Das 79 faculdades brasileiras respondentes, 88,60% ensinam algo relacionado ao tema Implantodontia e pouco mais da metade tem a disciplina como parte integrante do currículo. A análise estatística foi realizada pela análise descritiva não paramétrica de homogeneidade das proporções utilizando o teste do qui-quadrado e correlação de Pearson, estabelecendo-se o nível de significância de 5% (p < 0,05). As variáveis quantitativas foram pareadas e analisadas a variação de sua correlação visando estudar o grau de interdependência dos seus resultados. Com respeito ao desempenho no ENADE3 do ano 2007, das faculdades de Odontologia, apesar do desempenho estatísticamente superior das escolas públicas frente às particulares (p ≤ 0,05), não observamos diferenças significativas quando comparamos as faculdades que oferecem ou não a disciplina de Implantodontia na graduação(p ≥ 0,05) (Tabela 1). Com respeito às aulas de laboratório, a carga horária média entre as escolas que possuem a disciplina Tabela 1 - Nota no ENADE das faculdades por natureza, com ou sem a disciplina Implantodontia. Faculdades Com a disciplina Sem a disciplina Privadas 2,82 Ba (± 0,74) 2,86 Ba (± 0,73) Públicas 4,10 Aa (± 0,57) 4,00 Aa (± 1,00) Fonte: Dados dos questionários. foi quase cinco vezes superior às que não possuem a disciplina, e a carga horária média de clínica foi quase três vezes superior. Aulas de laboratório de Implantodontia estão presentes em 39,20% das escolas, 50,6% das escolas realizam cirurgias demonstrativas para instalação de implantes e 40,51% fazem demonstrações clínicas de restaurações protéticas sobre implantes. Os alunos fazem as cirurgias em 5,06% das escolas e fazem as próteses em 7,59% das faculdades. No que tange as atividades clínicas, mais de dois terços das escolas que possuem a disciplina, realizam cirurgias demonstrativas (68,90%) contra menos de um terço (26,50%) das escolas sem a disciplina. Mais da metade das escolas com a disciplina (55,60%) permitem aos alunos acompanharem a reabilitação protética enquanto pouco mais de um quinto das escolas sem a disciplina (20,60%) os permitem. Onde o tema faz parte do currículo, 60% das escolas ofertam aulas de laboratório, enquanto somente 11,80% das escolas que não tem a disciplina oferecem prática de laboratório (Gráfico 1). Com respeito à carga horária total do curso, cargas horárias médias muito próximas foram encontradas entre as faculdades que possuem ou não possuem a disciplina. Porém, é significativamente superior a carga horária destinada ao ensino da Implantodontia nas faculdades brasileiras que possuem a disciplina (54,02 horas), representando mais que o dobro em comparação com as que não possuem a disciplina (23,47 horas), conseqüentemente maior quantidade de informações a serem passadas aos alunos. Com respeito à especialidade do professor responsável pelo ensino da Implantodontia, encontramos dados significativamente diferentes entre as escolas. Entre as faculdades que possuem a discipli- (%) 80 68,90 70 60 60 Gráfico 1 - Atividades clínicas em faculdades com ou sem a disciplina Implantodontia. com implantodontia sem implantodontia 55,60 50 40 26,70 30 20 10 26,50 20,60 7,60 1,80 6,71 0 Laboratório Clínicas Cirurgias demonstrativas Reabilitações demonstrativas 8,90 2,94 Alunos fazem cirugia 5,88 Alunos fazem prótese Tipo de aula Revista da ABENO • 10(2):53-8 55 Análise transversal do ensino da implantodontia no curso de graduação • Rabelo CC, Wassall T, Sproesser JG (%) 60 com implantodontia sem implantodontia s ro ut O ia ica ín l ia ia ac rg -F iru xilo C a -M co Bu Cl 0 nt 0 Gráfico 2 - Especialidade do professor responsável. (%) 19,23 7,69 ót es e Pr ó Im t an pl 23,07 10 do o od 6,82 rio se ia nt te nt do io Pe r ia ac rg -F iru xilo C a -M co Bu ia 4,20 l ia 19,23 20 Pe 10 0 30 27,27 s 31,82 30 20 53,84 50 40 45,45 41,67 37,50 ra 50 40 38,64 com implantodontia sem implantodontia Pr 70,83 70 60 O ut (%) 80 Disciplinas Gráfico 3 - Disciplinas que ofertam o tema nas faculda- des que não tem a disciplina Implantodontia. Gráfico 4 - Modalidades de Pós-graduações em Implantodontia nas faculdades com ou sem a disciplina. Com relação aos recursos pedagógicos utilizados, apresentação de casos clínicos são referenciados nas respostas dos coordenadores com frequência quase três vezes maior (60%) nas faculdades que oferecem a disciplina em comparação com as que não tem a disciplina (23,53%). Mais da metade das faculdades (51,16%) oferecem os conhecimentos sobre Implantodontia, no oitavo período do curso, quando os alunos, geralmente tem maior conhecimento clínico sobre as terapias odontológicas. na, em 45% das escolas, o professor responsável tem especialidade em Implantodontia, este percentual cai para 4,17% nas faculdades que não ofertam a disciplina. Nas faculdades sem a disciplina a maioria dos professores tem a especialização em cirurgia buco-maxilo-facial (70,83%) enquanto nas faculdades onde existe a disciplina, 38,64% tem a mesma especialização. É importante ressaltar que foi possível responder mais de uma especialidade para cada professor (Gráfico 2). Nas faculdades brasileiras onde a disciplina Implantodontia não existe, os conhecimentos relacionados à Implantodontia são apresentados principalmente na disciplina de cirurgia buco-maxilo-facial (56%) enquanto 24% são abordados na disciplina de prótese, e 20% nas áreas de periodontia e clínica integrada (Gráfico 3). Observamos que a presença da disciplina na graduação parece estar relacionada à maior oferta de educação continuada. No grupo que possui a disciplina, quase um quinto das escolas que possuem pósgraduações oferecem a modalidade sricto sensu (Gráfico 4). DISCUSSÃO Segundo pesquisas, o número de desdentados totais está diminuindo, mas o número total de pessoas edêntulas não é menor. Há mais adultos com mais dentes presentes e seus problemas dentais se tornam mais complexos e difíceis de tratar, e isto implica, numa necessidade de mudança na formação dos estudantes de Odontologia, frente aos novos paradigmas que se apresentam.1 O resultado deste estudo poderá situar os coordenadores dos cursos de Odontologia sobre o tema em foco, dado a importância do assunto que oferece. No Brasil, a disciplina Implantodontia ainda hoje não preenche os currículos de quase a metade das escolas brasileiras. Das 79 faculdades brasileiras respondentes, 88,60% ensinam algo relacionado ao tema Implantodontia e pouco mais da metade (56,96%), tem a disciplina como parte integrante do currículo. Na revista de literatura, os motivos de algumas escolas não ofertarem a disciplina foram relacionados à falta de recursos financeiros, falta de tempo dentro da grade curricular, ênfase nos programas de pós- 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 87,88 84,21 73,33 55,88 51,51 18,18 42,10 10,52 Pós Graduação Strictu sensu Latu sensu Atualização Curso de Pós Graduação 56 Revista da ABENO • 10(2):53-8 Análise transversal do ensino da implantodontia no curso de graduação • Rabelo CC, Wassall T, Sproesser JG graduações na área de Implantodontia e insuficiente corpo docente especializado.1,11 Quando questionamos sobre a especialidade do professor responsável pelo ensino da Implantodontia, encontramos dados significativamente diferentes entre as escolas. Entre as faculdades que possuem a disciplina, em 45% das escolas, o professor responsável tem especialidade em Implantodontia, este percentual cai para 4,17% nas faculdades que não ofertam a disciplina; podendo então discutir se não seria a falta de corpo docente qualificado o motivo para a ausência da disciplina no currículo.11 Nas faculdades brasileiras onde a disciplina Implantodontia não existe, os conhecimentos relacionados à Implantodontia são apresentados na maioria das vezes, na disciplina de cirurgia buco-maxilo-facial, contrastando com metodologias internacionais,1,4 onde existe abordagem multidisciplinar entre os departamentos envolvidos na terapia com implantes. O predomínio do departamento de cirurgia buco-maxilo-facial entre as escolas que não têm a disciplina Implantodontia corrobora com o trabalho de Huebner8 (2002) onde os recém-formados oriundos de escolas que não tinham a disciplina Implantodontia estruturada na graduação referenciavam seus pacientes para especialistas em cirurgia buco-maxilo-facial 10 vezes mais que outra especialidade, denotando uma visão fragmentada predominantemente cirúrgica da Implantodontia. Em nossa pesquisa, a qualificação das escolas frente ao desempenho no ENADE3 e sua dependência administrativa não foram significativos com relação ao fato da disciplina ser ofertada. A Implantodontia faz parte do conteúdo avaliativo do ENADE3 e seria de se esperar melhor desempenho dos cursos que possuem a disciplina. É importante a qualificação do corpo docente responsável além de destinar carga horária adequada ao conteúdo de forma que possibilite ao aluno um aprendizado substancial, com correlação prática e teórica. A presença da disciplina na graduação teve uma correlação positiva com a oferta de pós-graduações na mesma área, não configurando em nosso estudo um motivo para a ausência da disciplina. Pelo contrário, os cursos de educação continuada podem possibilitar oportunidades de pesquisas, estudos triados, e diversos intercâmbios com a graduação. A carga horária total dos cursos apontada como saturada e justificativa para ausência da Implantodontia, não foi significativamente diferente entre os dois grupos de nossa pesquisa. As médias de cargas horá- rias foram semelhantes, independentemente da presença da disciplina. Porém, é significativamente superior a carga horária destinada ao ensino da Implantodontia nas faculdades brasileiras que possuem a disciplina, conseqüentemente maior tempo em sala de aula, favorece maior quantidade de informações a serem passadas aos alunos. Com respeito às aulas de laboratório, a carga horária média entre as escolas que possuem a disciplina foi quase cinco vezes superior às que não possuem a disciplina, e a carga horária média de clínica foi quase três vezes superior. A importância de atividades clínicas e laboratoriais no programa de ensino de Implantodontia foi relacionada a melhor desempenho em prática, melhor capacidade de planejamento e maior interesse em educação continuada.8 No que tange as atividades clínicas, mais de dois terços das escolas que possuem a disciplina, realizam cirurgias demonstrativas contra menos de um terço das escolas sem a disciplina. Mais da metade das escolas com a disciplina permitem aos alunos acompanharem a reabilitação protética enquanto pouco mais de um quinto das escolas sem a disciplina os permitem. Com relação aos recursos pedagógicos utilizados, a apresentação de casos clínicos foi referenciada com freqüência quase três vezes maior nas escolas que tem a disciplina, reforçando a importância de estudos direcionados de associação teórico-demonstrativo, possíveis devido às atividades práticas. A relevância deste tema persiste na importância desta ciência para os profissionais da Odontologia de uma forma geral e o dever das instituições de oferecer ao aluno a oportunidade de receber conhecimentos nesta área, favorecendo conseqüentemente a comunidade que pode ser muito beneficiada por profissionais melhores formados. CONCLUSÃO • A Implantodontia, como disciplina está presente em 56,96% das faculdades de Odontologia pesquisadas. • Nas faculdades onde a disciplina inexiste, os conhecimentos sobre a Implantodontia são ministrados, na maioria das vezes (53,84%), na disciplina de Cirurgia Buco-Maxilo-Facial. • A carga horária de conhecimentos teóricos e práticos sobre Implantodontia são expressivamente maiores nas faculdades onde a disciplina existe, favorecendo o aprendizado e experiência clínica. Revista da ABENO • 10(2):53-8 57 Análise transversal do ensino da implantodontia no curso de graduação • Rabelo CC, Wassall T, Sproesser JG • Não houve comprovação da associação entre o fato da disciplina não ser ofertada e a carga horária total do curso. • Não houve correlação entre o fato da disciplina não ser ofertada na graduação com o ensino de pós-graduação. • Os professores responsáveis pelo ensino da Implantodontia, em mais de dois terços das faculdades não possuem especialidade em Implantodontia. ABSTRACT Cross-sectional study of implant dentistry teaching in the undergraduate course The objective of this study was to evaluate the teaching of implant dentistry in colleges in Brazil. We conducted a cross-sectional study based on questionnaires sent to the coordinators of all the Brazilian colleges regularly enrolled in the Federal Council of Dentistry,5 to assess the level of knowledge of the science of implant dentistry available to undergraduate students. We found that the academic subject of implant dentistry was found in 56.96% of the dental schools and colleges surveyed. In those colleges where the discipline does not exist, implant dentistry is mostly taught in the course on maxillofacial surgery. This approach could give the student a fragmented, predominantly surgical view of implant dentistry. The workload of theoretical and practical dental implant subject matter is significantly higher in schools where the discipline is offered, compared to the colleges where the subject matter is taught as part of other disciplines. There was no evidence of an association between the fact that the course is not offered and the total hours of the course. The teachers responsible for teaching implant dentistry in more than two thirds of Brazilian colleges have no expertise in this field. The reason why this discipline does not exist in almost half of Brazilian schools may be because of a lack of a qualified teaching staff. In view of these results, we suggest that the subject of implant dentistry be included in the curriculum of dental schools to establish a better scientific basis for future professionals. Referências 1. Addy, L.D. et al.. The teaching of implant dentistry in undergraduate dental schools in the United Kingdom and Ireland. 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Undergraduate. § 58 Revista da ABENO • 10(2):53-8 Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 Projeto Terapêutico Singular no processo ensino-aprendizagem de alunos em estágio supervisionado: relato de uma experiência efetiva Anielle Schonhofen*, Juliana Plegge*, Cristine Warmiling**, Giovana Scalco**, Josiani Authaus Santos***, Patricia Oliveira***, Alexandre Fávero Bulgarelli** *Cirurgião Dentista. Graduado pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul **Professor Doutor. Departamento de Odontologia Preventiva e Social da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul ***Cirurgião Dentista. Preceptor do aluno no campo de estágio Resumo O presente estudo é um Relato de Experiência da utilização da metodologia de Projetos Terapêuticos Singulares no processo de ensino aprendizagem de alunos do curso de odontologia. Os alunos do curso de odontologia da Faculdade de odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul planejaram, estruturaram e criaram um programa de sensibilização da população assistida pelo serviço de odontologia do DMAE para os cuidados preventivos do câncer de boca durante o último semestre do curso em estágio supervisionado extramuros. Tal programa foi e laborado e aplicado durante o décimo semestre do curso no momento de Estágio Supervisionado Curricular no primeiro semestre de 2012. O programa criado pelos alunos, por mostrar-se efetivo, foi instituído pelo serviço em questão e foi dado segmento desde então. Descritores Educação em odontologia. Estágio clínico. Odontologia comunitária. A Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/FO-UFRGS, na reestruturação de seu modelo curricular, oferta aos seus alunos do nono e décimo semestre, campos de estágios extramuros desde o ano de 2009. Nesse processo, durante o primeiro semestre de 2012 os alunos do décimo semestre tiveram a oportunidade de estagiar em um ambulatório de serviços odontológicos no Departamento Municipal de Água e Esgoto/DMAE do município de Porto Alegre/RS, como parte do Estágio Supervisionado Curricular da Odontologia II. O ambulatório em questão é um serviço da referida autarquia – DMAE – o qual é mantido pela prefeitura do município e oferta serviços odontológicos especializados aos funcionários. A oportunidade de vivenciar outros espaços de prestação de serviços odontológicos engrandece a formação do aluno, pois o mesmo enfrenta a realidade fora de um ambiente controlado como as clínicas odontológicas das faculdades. Desse modo o aluno é estimulado a desenvolver certa pró-atividade em relação aos problemas de saúde bucal da população em que está atuando fora do limites da Universidade. A liberdade em pensar sobre os problemas faz com que o aluno descreva, planeje e reflita sobre o que será feito em determinado processo de atenção à saúde bucal. Nessa lógica, emerge na dinâmica de aprendizado do Estágio Supervisionado Curricular II, para o curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a possibilidade do aluno trabalhar o conceito de Projetos Terapêuticos Singulares/PTS.1 Dito de outra forma, o estagiário desenvolve no seu caminhar um projeto terapêutico juntamente com a equipe do local onde está estagiando e muitas vezes o implementa no serviço em questão. O processo para se trabalhar com a lógica de um PTS surgiu diante o enfrentamento de desafios para Revista da ABENO • 10(2):59-63 59 Projeto Terapêutico Singular no processo ensino-aprendizagem de alunos em estágio supervisionado: relato de uma experiência efetiva • Schonhofen A, Plegge J, Warmiling C, Scalco G, Santos JA, Oliveira P, Bulgarelli AF solucionar casos complexos de atenção à saúde ao longo da história do Sistema Único de Saúde/SUS, da reforma sanitária, bem como da reforma psiquiátrica.1-3 O PTS constitui-se em um movimento de produção e de gestão conjunta do cuidado em saúde de um sujeito ou grupo que esteja em situação de vulnerabilidade.1 Ao se olhar para a vulnerabilidade de um caso singular emerge o conceito de singularidade que remete ao contexto de se trabalhar com uma abordagem específica para aquele caso o qual necessita de um cuidado interdisciplinar.1 O termo projeto está associado a idéia de projetualidade que se mostra como a busca da terapêutica para o caso ao longo do cuidado.4 A elaboração e realização de Projetos Terapêuticos Singulares mostram-se relevantes. No caso específico do presente estudo, a utilização da filosofia de um PTS mostrou-se como uma experiência que fez os alunos se preocuparem com a promoção da saúde em nível coletivo bem como compreenderem a necessidade da interdisciplinaridade no cuidado com a saúde bucal. Trabalhar com PTS faz o aluno descrever e pensar sobre o problema e buscar soluções práticas com uma equipe multidisciplinar para solucionar diversos problemas de saúde enfrentados nos campos de estágio. Objetivos O objetivo do presente estudo é apresentar, por meio do relato de uma experiência exitosa, vivida na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a aplicabilidade e a construção conjunta de Projetos Terapêuticos Singulares no enriquecimento do processo de ensino-aprendizagem para a formação de Cirurgiões Dentistas. Material e Métodos O presente estudo é um relato de experiência apresentado por meio de um processo metodológico descritivo e narrativo. A realização do presente estudo aconteceu em um espaço de estágio curricular supervisionado extramuros de assistência à saúde bucal ofertado pelo Ambulatório de Odontologia do Departamento Municipal de Água e Esgoto/DMAE do município de Porto Alegre/RS. O DMAE constitui-se como uma autarquia da prefeitura de Porto Alegre e tem dentre suas ofertas de serviços de saúde a assistência a saúde bucal para seus funcionários e dependentes, sendo quase 1400 a população assistida. Tratase de um serviço de saúde público ofertado a uma população específica. Tal espaço proporciona ao alu60 no do curso de Odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob supervisão de cirurgiões dentistas e tutoria de um professor universitário, uma instância de aprendizado onde o aluno exerce sua autonomia para discutir, com seus supervisores, a tomada de decisão frente aos problemas de saúde bucal da população atendida pelo referido espaço. Diante desse fato os sujeitos envolvidos no referido estudo são alunos do último semestre do curso de Odontologia da faculdade supracitada, dois cirurgiões dentistas funcionários do referido espaço de aprendizado, e um professor universitário. Durante o semestre os participantes (alunos, preceptores e professores) trocam conhecimentos e constroem o aprendizado. Por se tratar de um relato de uma experiência e da apresentação de um objeto de ensino-aprendizagem utilizado semestralmente pelo estágio curricular supervisionado II da faculdade em questão o referido estudo enquadra-se na modalidade de relato de experiência com risco mínimo aos sujeitos envolvidos. Resultados e discussão Ao longo do primeiro semestre de 2012, os alunos desenvolveram juntamente com cirurgiões dentistas, médicos e assistentes sociais do campo de estágio onde atuaram, um PTS de abordagem coletiva para a prevenção do câncer bucal na população assistida pelo serviço. Seguindo os passos metodológicos para a elaboração do PTS o mesmo foi desenvolvido e a intervenção planejada foi implantada no serviço desde então. No primeiro momento os alunos caracterizaram e identificaram um problema na população assistida. A busca pela identificação de possíveis problemas e necessidades na comunidade, pelos alunos em estágio supervisionado, corrobora-se na literatura visto que atividades de extensão e experiências de estágios supervisionados em saúde bucal são níveis de complementação, de trocas e de contribuições para que problemas de saúde sejam desvendados nos seus ambientes reais.5 A população assistida pelo serviço de odontologia do DMAE, na sua grande maioria, é composta por homens com idade entre 35 e 50 anos, fumantes e alcoolistas, e que trabalham expostos ao sol. Nesse diagnóstico populacional os alunos observaram que não havia no serviço nenhum tipo de orientação pra a prevenção do câncer de boca e que não existia nenhum exercício de busca ativa de possíveis casos da doença. Desse modo o primeiro momento da elabo- Revista da ABENO • 10(2):59-63 Projeto Terapêutico Singular no processo ensino-aprendizagem de alunos em estágio supervisionado: relato de uma experiência efetiva • Schonhofen A, Plegge J, Warmiling C, Scalco G, Santos JA, Oliveira P, Bulgarelli AF ração de um PTS que constitui o diagnóstico e escolha do caso singular havia sido contemplado.1 Os alunos identificaram uma população sob risco de desenvolvimento de câncer de boca e problematizaram em uma co-construção a situação singular do caso coletivo. Nessa lógica objetivaram nesse projeto terapêutico a elaboração de ações para prevenção de câncer de boca em funcionários da referida autarquia. Tal serviço possui um programa horizontal de prevenção de doenças crônicas como hipertensão e diabetes já em andamento chamado de “DMAE-maissaudável”. Os alunos no processo de co-produção do PTS buscaram a inserção da prevenção do câncer bucal nesse espaço já instituído pelo serviço de saúde em questão. Em um segundo momento de co-produção do projeto1 os alunos juntamente com os outros profissionais envolvidos (apoio matricial) traçaram metas para elaboração de ações de prevenção de câncer de boca. Nesse momento a equipe problematizou sobre as questões a serem trabalhadas, e por meio da equipe odontológica – na condição de equipe de referência para o referido caso – trabalharam a educação preventiva em saúde por meio de atividades de educação em saúde, informação e comunicação (Figura 1). A relevância dessa práxis encontra-se no processo de construção conjunta de algo, e desse modo corrobora o pressuposto de se fazer junto incluindo o usuário na produção do projeto e na projetualidade da prática.4 Nessa lógica é válido destacar que a aprendizagem no serviço de saúde enriquece e cria potencialidades no currículo, e de certo modo aproxima instituições Figura 1 - Quadro ilustrativo da produção conjunta de um Projeto Terapêutico Singular para a sensibilização dos usuários de um serviço de saúde, para a prevenção do câncer de boca. Porto Alegre/RS, 2012. de ensino com a comunidade e faz com que se criem espaços de reflexão crítica para a solução de problemas de saúde em nível coletivo.6 Nessa lógica os alunos desenvolveram atividades de educação em saúde como rodas de conversas e palestras seguidas de momentos de ensinamentos sobre o autoexame. Nessas atividades mensais os alunos incentivavam os funcionários a buscarem o atendimento odontológico no intuito de criar vínculos entre serviço odontológico e usuário. Essa aproximação com o usuário e a problematização sobre as possibilidades de ação vem ao encontro de uma perspectiva complexa do campo do cuidado na interação com usuários e familiares na constante busca do efetivo reconhecimento do outro.4 Com a instituição das ações, e seguindo a lógica de um PTS os alunos desenvolveram um processo de co-avaliação.1 Nesse contexto os alunos elaboraram um estudo avaliativo para observar a efetividade das ações que haviam instituído no serviço. Para tanto, observaram que as ações de prevenção de câncer de boca foram incorporadas ao Programa DMAE-maissaudável e desse modo garantiram a continuidade de tal programa de prevenção. Os alunos que realizaram tal intervenção são alunos que vivenciam, na atualidade, uma odontologia em que novas praticas vêm sendo incorporadas na constituição da formação de um cirurgião dentista com uma visão social, epidemiológica e holística do usuário de um serviço de saúde. Uma dessas incorporações é esse olhar subjetivo para o usuário que é reflexo da construção de competências dos processos de ensino-aprendizagem na pós-modernidade. A atual formação pós-moderna na odontologia emerge de um processo onde fatos históricos e políticos foram se relacionando ao longo do tempo e formaram o ensino da odontologia consolidado na atualidade.7 Nessa lógica, o aluno se molda em espaços de subjetividade ofertado pelos cursos, a exemplo do presente estudo. A subjetividade emerge em diferentes cenários de formação. Portanto, é relevante trabalhar a diversidade dos cenários de aprendizagem e orientação pedagógica por meio de metodologias ativas e análise critica da atenção à saúde das populações assistidas por sistemas públicos de saúde.8,9 Do exposto, os alunos observaram a presença crescente dos usuários nas rodas de conversa e palestras, e as participações individuais tornaram-se mais ativas (Figura 2). Portanto, a sensibilização pela temática foi observada pelo crescente interesse refletido na Revista da ABENO • 10(2):59-63 61 Projeto Terapêutico Singular no processo ensino-aprendizagem de alunos em estágio supervisionado: relato de uma experiência efetiva • Schonhofen A, Plegge J, Warmiling C, Scalco G, Santos JA, Oliveira P, Bulgarelli AF questão. De certo modo essas ações estimularam criatividade, capacidade de liderança e pró-atividade nos alunos em formação. Tais características são de fundamental importância para a vida profissional futura. Agradecimentos Os autores agradecem ao Serviço de Saúde do Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto Alegre pela oferta de campo de estágio aos alunos do curso de Odontologia da Faculdade de odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Figura 2 - Quadro ilustrativo da avaliação conjunta de um Projeto Terapêutico Singular para a sensibilização dos usuários de um serviço de saúde, para a prevenção do câncer de boca. Porto Alegre/RS, 2012. participação crescente dos usuários nesses momentos de informação sobre a doença bem como no aumento da procura dos mesmos pelo serviço odontológico. Tal aspecto reflete a efetividade do projeto terapêutico realizado. Na lógica do processo ensino-aprendizagem apresentado, é fato que o estímulo ao pensamento sobre o problema do outro/comunidade, a tentativa de se buscar soluções para o caso e a observação de ações efetivas para o problema, fazem com que o aluno pense e se identifique com sua formação fora da ambiente clínico controlado da universidade. Esse fato vem ao encontro da literatura que mostra que o processo ensino-aprendizagem deve ser pensado como um processo social, cultural e individual que necessita de forças motivadoras como a referida experiência.10 Desse modo, essa dinâmica mostra-se essencial para o futuro de um profissional da saúde que se responsabiliza pelo cuidado da comunidade e/ou sujeito que irá encontrar nos seu caminhar profissional. Conclusões A experiência de se trabalhar a elaboração de um Projeto Terapêutico Singular com alunos de odontologia foi muito efetiva pois trouxe bons resultados ao aprendizado do aluno e proporcionou o desenvolvimento de capacidades necessárias a um profissional da saúde na pós-modernidade. Os alunos seguiram um caminho de aprendizado onde perceberam problemas na população, trabalharam objetivos e planejaram metas para solucionar os problemas, exerceram atividades de educação em saúde e atividades interdisicplinares. O resultado final foi a implementação do projeto no serviço em 62 Abstract Singular Therapeutic Project in the teachinglearning process of undergraduate students taking a supervised internship: report of an effective experience The present study reports an experience using the Singular Therapeutic Project method in the learning process of dentistry students. The students of the dentistry course at the Federal University of Rio Grande do Sul planned, structured and created a program to arouse oral cancer preventive care awareness of the population assisted by the Municipal Department of Water and Sewage (DMAE) dentistry service. The program was put together in the last semester of the course, in a supervised extramural internship. It was prepared and applied during the tenth semester of the course, during the Supervised Curricular Internship conducted in the first half of 2012. The program created by the students proved effective, was instituted by the DMAE dentistry service and has continued in place ever since. Descriptors Education, dental. Clinical clerkship. Community dentistry. § Referências 1. Oliveira GN. O projeto terapêutico e as mudanças nos modos de produzir saúde. São Paulo: Hucitec, 2008. 2. Carvalho YM, Ceccim RB. Formação e educação em saúde: aprendizados com a saúde coletiva. 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Revista da ABENO • 10(2):59-63 Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 63 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá Raquel Sano Suga Terada*, Mitsue Fujimaki Hayacibara**, Cynthia Junqueira Rigolon***, Mariliani Chicarelli da Silva****, Luiz Fernando Lolli*****, Mirian Marubayashi Hidalgo****** * Doutora em Odontologia (Dentística) pela Universidade de São Paulo (FOB/USP) e Professora Associada do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá ** Doutora em Cariologia pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba (UNICAMP) e Professora Adjunta da área de Saúde Coletiva do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá *** Mestre em Odontologia pela Universidade de São Paulo (FOB/ USP-UEL), Professora Auxiliar da área de Saúde Coletiva do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá **** Doutora em Radiologia Odontológica pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba (UNICAMP) e Professora Adjunta do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá ***** Doutor em Odontologia Preventiva e Social pela Universidade Estadual Paulista (UNESP/Araçatuba), Professor Adjunto da área de Saúde Coletiva do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá e Professor Adjunto da área de Odontologia Legal da UNINGÁ (Faculdade Ingá) ****** Doutora em Odontologia (Patologia Bucal) pela Universidade de São Paulo (FOB/USP) e Professora Associada da área de Endodontia do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá RESUMO Este trabalho objetivou relatar a implementação do Pró-saúde no curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e as atividades realizadas até o ano 2010. Trata-se de um estudo documental retrospectivo de consulta a relatórios técnicos e financeiros das duas cartas acordos do projeto. Uma equipe de seis docentes do Departamento de Odontologia da UEM se encarregou de avaliar todo o material e relacionar as principais ações desenvolvidas. Neste processo, foram fundamentais as constituições de comitês gestor e de acompanhamento e a contratação de assessorias administrativa e pedagógica de recursos humanos. Dentre as ações, destacam-se a atuação nas atividades extramurais, a re-inserção de acadêmicos nos serviços municipais de saúde de Maringá, o esta64 belecimento de parceria com a Secretaria de Saúde de Marialva, a criação da Clínica Ampliada em Odontologia, os fóruns para relato de experiência e avaliação, os levantamentos epidemiológicos e o projeto de heterocontrole das águas de abastecimento público de Maringá. Conclui-se que a implantação do Pró-Saúde serviu como marco inicial do processo de mudança com a constituição de uma massa crítica de docentes engajados na formação dos profissionais de saúde e trabalhando de forma colegiada. Persistem como desafios a integração multiprofissional e a mudança do paradigma curativista para o de promoção de saúde. DESCRITORES Recursos humanos em saúde. Odontologia. Política de educação superior. Revista da ABENO • 10(2):64-71 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá • Terada RSS, Hayacibara MF, Rigolon CJ, Silva MC, Lolli LF, Hidalgo MM O s desafios na formação de profissionais de saúde para o século XXI incluem a necessidade de superar as grandes lacunas e desigualdades que persistem em todo mundo, onde uma grande parte dos 7 bilhões de habitantes ainda estão presos às condições de saúde do século passado. Neste contexto, a reforma educacional é um processo longo e difícil, porém, segundo o relatório da Comissão Independente sobre a Educação dos Profissionais de Saúde para o Século XXI, divulgado em novembro de 2010 na revista Lancet,1 a aprendizagem transformadora e a compreensão da interdependência são duas ideias básicas que fortalecerão os sistemas de saúde. Discutir a formação dos profissionais de saúde é de co-responsabilidade dos setores saúde e de educação, há de se desejar uma retroalimentação nos moldes de parceria intersetorial, em que o ensino, minimamente se responsabilize com o desenvolvimento de um processo ensino-aprendizagem significativo para o aluno, criativo e comprometido com as necessidades locorregionais de saúde, e incentive a autonomia e auto-gestão do próprio aprender.2 Diante da necessidade de mudança no perfil dos egressos que passam pelas instituições de ensino, várias iniciativas sobre os rumos da educação na área da saúde têm sido experimentadas há pelo menos trinta anos, inicialmente na área médica e, atualmente, direcionadas a todas as demais áreas. Este movimento tem ocorrido internacionalmente, apoiado também pela Organização Mundial de Saúde. No Brasil, em 2005, a Portaria Interministerial nº 2.101, de 03 de novembro instituiu o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde - Pró-Saúde,3 para os cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia, cursos vinculados à estratégia Saúde da Família, com objetivo de melhorar a formação de recursos humanos, adequando-os às necessidades da população brasileira, visando o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Os Cursos de Medicina e Odontologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) tiveram seus projetos aprovados no edital de 2005, sendo que a implementação do programa na Odontologia vem acontecendo de forma gradativa e com a participação efetiva dos docentes, discentes, serviço e comunidade. No entanto, nenhum ensaio apresentando a trajetória, com seus avanços, ações e dificuldades, ainda foi publicado. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi relatar a história da implantação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da UEM bem como as ações desenvolvidas até o momento. METOLODOGIA Trata-se de um estudo documental, retrospectivo, no qual foram consultados os relatórios técnicos e financeiros referentes à 1ª e 2ª Cartas Acordo do projeto Pró-Saúde Odontologia - UEM, encaminhados, respectivamente, ao Departamento de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde e Organização Pan-americana de Saúde, nos anos de 2008 e 2010, e todos os documentos do Comitê Gestor e de Acompanhamento do referido projeto, incluindo ofícios, atas, memórias de reuniões e relatórios. A análise ocorreu por uma equipe de seis docentes do Departamento de Odontologia, diretamente vinculados às ações desenvolvidas desde a contemplação do PróSaúde até o ano de 2010. Os avaliadores destacaram coletivamente as principais ações desenvolvidas bem como a aplicação dos recursos financeiros. Além disso, foram relacionadas as avaliações realizadas durante a implementação do projeto, as estratégias adotadas e as principais dificuldades ou nós-críticos para o avanço das iniciativas de mudança. Os dados foram apresentados em formato textual, considerando a facilidade de exposição e contextualização de idéias, nas variáveis: • breve histórico da implantação, • principais ações desenvolvidas, • resumo orçamentário e • avaliação do projeto e impacto no curso. RESULTADOS Breve histórico da implantação do projeto A proposta inicial foi elaborada por um pequeno grupo de docentes, alguns envolvidos com o movimento dos ativadores de mudança na formação profissional, outros na coordenação do curso, como também docentes da área de Saúde Coletiva, durante reuniões realizadas no ano de 2005. Nos dias 23 e 24 de novembro de 2006, o curso recebeu a primeira visita técnica do Ministério da Saúde e, na ocasião, as assessoras indicaram a necessidade e importância da implantação de um Comitê Gestor e de Acompanhamento do Pró-Saúde. Assim, a partir de 22 de janeiro de 2007, ocorreu a primeira reunião do Comitê de Acompanhamento do PróSaúde da UEM. Esta iniciativa foi fundamental, pois além de institucionalizar o projeto com a Pró-Reitoria de Ensino da UEM, criou-se um espaço para integração dos cursos que haviam recebido aprovação da proposta para o Pró-Saúde; Odontologia e Medicina. Revista da ABENO • 10(2):64-71 65 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá • Terada RSS, Hayacibara MF, Rigolon CJ, Silva MC, Lolli LF, Hidalgo MM Posteriormente, o curso de Enfermagem foi convidado a participar deste Comitê, pois havia sido contemplado no edital do Pró-Saúde 2. Principais ações desenvolvidas Na 1ª Carta Acordo, todos os projetos previstos para o Eixo A - Orientação Teórica foram realizados. Um ponto de destaque foi a participação no “I Fórum Paranaense Pró-Saúde Odontologia”, em Londrina4. Outro marco importante foi o “II Fórum Parananense do Pró-Saúde da Odontologia”,5 realizado em Maringá no ano de 2008, quando ocorreu a “Oficina das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Odontologia”, coordenada pelo Prof Léo Krieger e a Profa Maria Celeste Morita, seguindo os moldes das oficinas da ABENO. Outras atividades de extensão, como “Sistema Único de Saúde como Referência e a Formação Profissional para o SUS” e “A Política Nacional de Humanização e a Formação Profissional de Saúde” foram fundamentais para sensibilizarem principalmente a academia sobre os rumos da formação em saúde. Além disso, outros projetos, inicialmente não previstos, foram surgindo e sendo desenvolvidos. No Eixo B - Cenários de Prática, destacaram-se algumas fortalezas: • realização de atividades extramurais em escolas e na comunidade desde o segundo ano do curso; • diálogo aberto e efetiva parceria com os municípios de Maringá e Marialva, onde ocorrem os estágios em unidades básicas de saúde com os estudantes do quarto e quinto ano; • atuação de equipes de saúde bucal da Odontologia/UEM junto à equipe 21 da casa do PSF, da UBS Mandacaru em Maringá; • participação de discentes e docentes nas reuniões do conselho municipal e local de saúde; • desenvolvimento de mecanismos institucionais de referência e contra-referência com a rede do SUS. No Eixo C - Orientação pedagógica, todos os projetos previstos também foram realizados. Uma ação fundamental, tanto para este eixo quanto para o Eixo A, foi a contratação de Assessoria Pedagógica para avaliação da implementação do Pró-Saúde e Assessoria Administrativa para gestão de recursos humanos. Considerando a 2ª Carta Acordo, no Eixo A Orientação Teórica, destacaram-se os “levantamentos epidemiológicos das condições de saúde bucal da população de Maringá e Marialva” realizados em parceria com as coordenações de saúde bucal dos referidos municí66 pios. Em ambos os locais, foram os primeiros dados epidemiológicos que seguiram a metodologia preconizada pela Organização Mundial de Saúde e os levantamentos do SB - Brasil. Igualmente, uma pesquisa relevante foi iniciada em Julho/2009 sobre o heterocontrole da fluoretação da água de abastecimento público em Maringá. Este trabalho extende-se até o momento. Ainda neste eixo, foram produzidos dois vídeos institucionais, um sobre o Conselho Local de Saúde e outro sobre o Projeto Lebu, um projeto de extensão que é referência de diagnóstico e tratamento na área de Estomatologia para todos os 30 municípios da 15a Regional de Saúde do Paraná e alguns de outras regionais do Estado. No Eixo B - Cenários de Prática, foi dada continuidade aos estágios supervisionados nas unidades de saúde. Como ação nova mais relevante neste momento, ocorreu a implantação da Clínica Ampliada do Curso de Odontologia, a primeira do Brasil. O principal objetivo desta é organizar o serviço de referência e contra-referência da Clínica Odontológica do curso para um cuidado integral, humanizado e resolutivo, tendo em vista os pressupostos da Clínica Ampliada da Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde. No Eixo C - Orientação Pedagógica, destacaram-se três oficinas realizadas em conjunto com os projetos Pró-Saúde Medicina e Enfermagem: • “II Oficina do Comitê de Acompanhamento do PróSaúde”, • “I Fórum de Orientação Pedagógica para Docentes da Área da Saúde” e a • “Oficina Pró-Saúde, FNEPAS e a formação de recursos humanos para o Sistema Único de Saúde”. Durante a execução da 2ª Carta Acordo o curso se inseriu, juntamente com os cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia, Psicologia e Educação Física, nos Programas de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) de Maringá e Marialva e, desde então, tem-se buscado esforços para um trabalho conjunto, fato que deverá se potencializar na 3ª Carta Acordo. Igualmente ao disposto na 1ª Carta Acordo, contou-se com apoio das assessorias pedagógica e administrativa de recursos humanos, fundamentais para êxito das ações. Resumo orçamentário No projeto elaborado em 2005, o montante total de recursos aprovado foi de R$1.243.879,00, dividido em três anos, sendo R$399.730,00, R$425.350,00 e Revista da ABENO • 10(2):64-71 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá • Terada RSS, Hayacibara MF, Rigolon CJ, Silva MC, Lolli LF, Hidalgo MM R$418.799,00, respectivamente, para o primeiro, segundo e terceiro anos. Na 1a Carta Acordo, 100% dos recursos foram empreendidos. Já na 2ª Carta Acordo, o pagamento foi dividido em três parcelas, respectivamente, de R$202.252,50, R$180,562,50 e R$ 42.535,00. Utilizouse somente 90% do recurso devido a dificuldade no recebimento da segunda parcela e o não recebimento da terceira, pois não houve tempo hábil para a tramitação dos documentos. O tempo para execução da 2ª carta acordo foi de 8 meses. Na 1ª Carta Acordo, 72% dos recursos foram destinados a materiais permanentes. Isto justifica-se, pois a intenção era estruturar os campos de estágio a receberem os estudantes, promovendo a reaproximação e fortalecimento dos laços da academia com o serviço municipal de saúde. Os eventos promovidos foram mais pontuais, com o objetivo principal de sensibilizar os atores envolvidos acerca da necessidade de mudança no perfil do egresso a ser formado. Neste período, a maior dificuldade foi lidar com a parte burocrática e gerencial dos recursos financeiros, pelo grande volume orçamentário e, principalmente, pela forma com que o convênio foi estabelecido, ou seja, pela instituição e não por uma fundação. Por outro lado, mesmo com inexperiência dos principais envolvidos à frente do projeto sobre o funcionamento da máquina administrativa universitária, os gastos orçamentários foram executados com êxito. Na 2a Carta Acordo, 85% dos recursos foram destinados à custeio, totalizando R$361.547,50 e, para material permanente, 15%, o que representa R$63.802,50. Destacam-se os eventos realizados para a implementação da Clínica Ampliada do Curso de Odontologia da UEM. 1 1 9 Avaliação do projeto e impacto no curso O diagnóstico Inicial do Curso de Odontologia UEM, definido pelo perfil radial, a fim de elaborar o projeto de participação no Pró-Saúde, apresentava-se, como demonstrado na Figura 1, com um grau de inovação incipiente. Ao analisar os dados da aplicação do perfil radial, obtidos no evento I Seminário de Avaliação do Curso de Odontologia da UEM (outubro de 2007), percebeu-se um avanço na pontuação (16) o que permitiu verificar a inovação parcial que começava a ocorrer dentro do curso, conforme apresentado na Figura 2. 9 2 2 3 8 3 8 4 7 6 Pontuação 4 7 6 5 Grau de inovação % de avanço 0–10 Tradicional 35 11–15 Inovação Incipiente 47 16–20 Inovação Parcial 64 21–24 Inovação avançada 84 25–30 Transformação 96 Pontuação 5 Grau de inovação % de avanço 0–10 Tradicional 35 11–15 Inovação Incipiente 47 16–20 Inovação Parcial 64 21–24 Inovação avançada 84 25–30 Transformação 96 Figura 1 - Diagnóstico inicial do grau de inovação do Figura 2 - Perfil radial do grau de inovação - Outu- Curso de Odontologia - Dezembro/2005. bro/2007. Revista da ABENO • 10(2):64-71 67 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá • Terada RSS, Hayacibara MF, Rigolon CJ, Silva MC, Lolli LF, Hidalgo MM 1 1 9 9 2 2 3 8 4 7 6 4 7 6 5 5 Pontuação Grau de inovação % de avanço Pontuação Grau de inovação % de avanço 0–10 Tradicional 35 0–10 Tradicional 35 11–15 Inovação Incipiente 47 11–15 Inovação Incipiente 47 16–20 Inovação Parcial 64 16–20 Inovação Parcial 64 21–24 Inovação avançada 84 21–24 Inovação avançada 84 25–30 Transformação 96 25–30 Transformação 96 Figura 3 - Perfil radial do grau de inovação em Novem- bro/2008. Figura 4 - Perfil radial do grau de inovação em Mar- ço/2010. Em novembro de 2008, realizou-se uma terceira avaliação e a partir da análise das percepções e dados obtidos avançaram-se mais quatro pontos, em relação ao perfil anterior (Figura 3). O comitê gestor decidiu dar continuidade à forma de avaliação já empregada nos anos anteriores, até que um instrumento de avaliação indicado por órgãos superiores seja sugerido. Nesse sentido, a partir da estrutura matricial de eixos, vetores e estágios de desenvolvimento, sugerida pelo Programa, em março de 2010 foram organizados encontros com alunos, professores e prestadores de serviços bem como, elaborados instrumentos de coleta de dados para serem aplicados junto aos segmentos docente e discente, para aferir o grau do nível de avanço do Curso. O perfil radial avançou para 21 pontos, o que permite subir ao primeiro nível do grau de inovação avançada (Figura 4). Consensualmente tem-se que o impacto mais positivo da implementação do Pró-Saúde no curso de Odontologia da UEM foi impulsionar o movimento de mudança de forma que, mesmo sem recursos financeiros, ele continue acontecendo. A sustentabilidade das ações deverá permanecer, pois indiscutivel68 3 8 mente houve uma melhor compreensão do que significa formar recursos humanos para o Sistema Único de Saúde, em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais. DISCUSSÃO Na busca incessante pela consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) enquanto política de Estado que assegure aos brasileiros as condições de atenção previstas na Constituição Federal, muito foi investido em 20 anos de história. Até pouco tempo atrás, tais investimentos eram fortemente voltados a insumos estratégicos e tecnologia. Não é de longa data que as políticas governamentais voltaram atenção para a formação de recursos humanos em saúde. Apesar da previsão de formação desde a carta constitucional, há aproximadamente 10 anos é que foi iniciada uma ação realmente estruturada para este fim.6 A questão da formação de profissionais de saúde envolve diretamente as oportunidades advindas do mercado de trabalho, o perfil profissional e a satisfação das demandas populacionais. Assim, a articulação entre as políticas de educação e de saúde é fundamental para que as transformações sejam possíveis.7 O Revista da ABENO • 10(2):64-71 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá • Terada RSS, Hayacibara MF, Rigolon CJ, Silva MC, Lolli LF, Hidalgo MM advento das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) para Cursos da saúde representa uma destas ações integradas com potencial de gerar frutos para a sociedade. As autoras Senna & Lima8 ao estudarem os artigos publicados na revista da ABENO sobre as DCN’s para o curso de odontologia concluíram que dentre as dificuldades formativas destacam-se a ressignificação do papel da universidade e do ensino de graduação na formação de profissionais de saúde. A Odontologia no Brasil tem sido sistematicamente criticada por seu caráter excessivamente técnico em detrimento de aspectos fundamentais, como a prevenção, uma relação paciente-profissional mais humanizada e a própria ética do cotidiano.9 Neste contexto é que surgiu a proposta de implantação da Clínica Ampliada do Curso de Odontologia da UEM. Embasada na Política Nacional de Humanização e considerando a necessidade de sensibilizar o aluno para outros determinantes do processo saúde-doença é que tal iniciativa se concretizou. Objetiva-se que os frutos dessa formação sejam profissionais cientes da realidade enfrentada pela população e pela saúde pública no Brasil. Por meio dos convênios firmados entre a Universidade e as Prefeituras Municipais a partir do PróSaúde, foi possível reestabelecer parceria do curso de odontologia da UEM com a rede de serviços do município de Maringá e gerar uma nova parceria com o Município de Marialva. Entendem os docentes do referido curso que a inserção na rede de serviços propicia o trabalho em condições reais de práticas, uma vez que na academia, os alunos trabalham em condições favoráveis para o ensino, o que muitas vezes não representa a realidade do serviço. Corroborando com o exposto, Valente et al.,10 salientam que as atividades desenvolvidas nas unidades de saúde são fundamentais para a interiorização de práticas do trabalho em saúde, para ensinar, ouvir e criar relações entre serviço-ensino, sendo uma oportunidade ímpar de estimular os discentes a se inserirem no processo de trabalho, de modo a perceberem a atenção à saúde centrada nas necessidades da população. Os autores Gontijo et al.,11 demonstraram o sucesso de um projeto de saúde bucal coletiva, nos moldes de atuação da estratégia saúde da família para estudantes de uma faculdade privada de Odontologia. Complementarmente destacam Saliba et al.,12 ao documentar os 50 anos de ações em saúde pública da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, que a integração ensino-serviço, quando presente de forma articulada e planejada, historicamente trouxe benefícios à formação profissional e à comunidade, gerando impacto social. A inserção da comunidade permanece um desafio em muitas instituições, pois a construção coletiva que a inclua nas discussões e ações é um caminho possível e promissor. O avanço substantivo na qualidade dos serviços e das ações de saúde só é possível com a participação efetiva da população, pois esta pode apontar problemas e soluções que atendam as suas demandas mais diretamente. Para tanto, o controle social, como espaço político-democrático de representação social sobre os interesses comuns aos cidadãos, deve ser incentivado. Os pesquisadores Cavalcanti et al.,13 analisaram a percepção de estudantes de odontologia em relação à atuação no SUS. Concluíram que os estudantes têm uma visão coerente com o perfil profissional esperado para a Odontologia no SUS, segundo as últimas DCN’s. Ao enfatizar a humanização e a vivência no SUS, os estudantes consideraram que a formação é direcionada às práticas em saúde pública e desacreditam na eficácia do SUS em atender as necessidades da população. Os autores salientaram ainda existir forte tendência a especialização e ao trabalho articulado entre o setor público e o privado, sendo a autonomia profissional e a lucratividade os principais interesses. De fato, formação de recursos humanos adequados à realidade sócio-epidemiológica do Brasil é o grande desafio para a consolidação do SUS.14 Isso é confirmado pelo fato dos estudantes, no lugar de atenderem às necessidades da população, entendem o paciente como instrumento no qual o conhecimento adquirido é simplesmente reproduzido.15 Apesar do exposto, há de se considerar que o avanço da Odontologia em Saúde Pública em termos de qualificação de procedimentos, postos de trabalho e empregabilidade cresceu muito nos últimos anos, de modo que o recém formado não possa descartar a possibilidade de atuação neste cenário, principalmente se considerar a, cada dia mais famigerada, competição no mercado de trabalho. Embasados pelo aporte financeiro e técnico resultante do Pró-Saúde, o curso de Odontologia da UEM participou efetivamente do inédito levantamento epidemiológico em saúde bucal nos municípios de Maringá e Marialva, em parceria com os mesmos. Tal ocorrido propiciou a oportunidade prática de realizar um levantamento nos moldes metodológicos do SB Brasil. O conhecimento do estado de saúde ou doença de uma população é fundamental para se estabelecer um planejamento de atuação em saúde. No Brasil, a Lei 8.080 de 19/09/90, conhecida como Revista da ABENO • 10(2):64-71 69 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá • Terada RSS, Hayacibara MF, Rigolon CJ, Silva MC, Lolli LF, Hidalgo MM lei orgânica de saúde, determina (art. 7º, VII) a “utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação dos recursos e a orientação programática”.16 Aliar a importância do levantamento em diagnosticar saúde bucal à execução do mesmo em âmbito educacional representou uma rica experiência. Nas iniciativas propostas no Pró-Saúde Odontologia UEM, os envolvidos têm constantemente atribuído atenção às avaliações periódicas das ações, o que tem ocorrido com a participação de todo o corpo docente e auxílio da assessoria pedagógica de formação de recursos humanos. Com vistas à Educação Permanente dos atores, muitas destas avaliações ocorreram no modelo de oficinas e fóruns contando com a participação de representantes do ensino, serviço e comunidade. Segundo Ceccin,17 a Educação Permanente em Saúde vem também ao encontro das novas diretrizes curriculares propostas aos cursos de graduação na área da saúde, pois destina-se à transformação do modelo de atenção a saúde, fortalecendo a promoção e prevenção de agravos no Sistema Único de Saúde. Busca também a formação de um profissional crítico, capaz de aprender a aprender, de trabalhar em equipe, de levar em conta a realidade social para prestar uma assistência humana e de qualidade. De um modo geral, a implantação, adequação e avaliação das ações decorrentes do projeto Pró-Saúde no curso de Odontologia da UEM propiciam constantes reflexões sobre a formação profissional, objetivando a consolidação formativa de um cirurgiãodentista com domínio técnico-científico, conhecedor da realidade social e do Sistema de Saúde Brasileiro, dotado de sensibilidade social e com competências e habilidades para bem atuar no mercado de trabalho. para o de promoção de saúde. ABSTRACT Implementing the “Pró-Saúde” program in the Dentistry Course at State University of Maringá The aim of this study was to report on the implementation of the “Pró-Saúde” Program at the State University of Maringá (UEM), and the activities performed up to 2010. This is a retrospective documentary study that examined technical and financial reports on two letters of agreement for the program. Six teachers were in charge of evaluating all the material and listing the main actions developed. The fundamental actions in this process were the establishment of management and monitoring committees and the hiring of administrative and teaching advisers in the area of human resources. Other key actions included: performance in extramural activities, reintegration of academics in the Maringá municipal health services, establishment of a partnership with the Marialva Department of Health, creation of the “Clínica Ampliada em Odontologia” (Extended Dental Clinic), forums for reporting on the experience obtained and for evaluation, epidemiological surveys and external control of fluoride levels in the Maringá public water supply. It was concluded that the implementation of the “Pró-Saúde” program was a landmark for establishing a critical mass of teachers engaged in the training of health professionals. Remaining challenges are to achieve multidisciplinary integration and make a shift from a curative to a health promotion paradigm. DESCRIPTORS Health manpower. Dentistry. Higher education policy. § Referências CONCLUSÕES A implantação do projeto Pró-Saúde no Curso de Odontologia da UEM se constituiu em importante marco inspirador de mudanças de pensamentos e práticas, e a implementação deste processo vem ocorrendo gradativamente, sempre visando o fortalecimento da tríade ensino/serviço/comunidade. Criouse uma massa crítica de docentes engajados com o movimento de mudança na formação dos profissionais de saúde e as ações têm sido planejadas e executadas de forma colegiada. Neste processo, persistem alguns desafios, sendo os principais, a integração multiprofissional e a mudança do paradigma curativista 70 1. Frenk J, Chen L, Bhutta ZA, Cohen J, Crisp N, Evans T, et al. Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world. Lancet 2010; 376:1923-1958. 2. Lucchese R, Vera I, Pereira WR. As políticas públicas de saúde – SUS - como referência para o processo ensino-aprendizagem do enfermeiro. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2010; 12(3): 562-566. 3. Brasil. Ministério da Saúde; Ministério da Educação. Programa nacional de reorientação da formação profissional em saúde – PRÓ-SAÚDE: objetivos, implementação e desenvolvimento potencial. Brasília, 2007. 4. Morita MC, Krieger L, Gasparetto A, Carloto EETC, Hihasi MS, Mesas AE et al. Projeto Pró-Saúde Odontologia: relato das ati- Revista da ABENO • 10(2):64-71 Implementação do Pró-Saúde no Curso de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá • Terada RSS, Hayacibara MF, Rigolon CJ, Silva MC, Lolli LF, Hidalgo MM vidades iniciais em universidades do estado do Paraná. Rev Espaço para a Saúde. 2007; 8(2): 53-7. 12. Saliba NA, Saliba O, Moimaz SAS, Garbin CAS, Arcieri RM, Lolli LF. Integração ensino-serviço e impacto social em cin- 5. Hayacibara MF, Terada RSS, Silva MC, Morita MC, Tanaka E, quenta anos de história da saúde pública na Faculdade de Krieger L. II Fórum dos projetos Pró-Saúde Odontologia das Odontologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mes- universidades do estado do Paraná - relato de experiência. Rev quita Filho. RGO. 2009; 57 (4): 459-465. Espaço para a Saúde. 2009; 11(1): 54-60. 13. Cavalcanti YW, Cartaxo RO Padilha WWN. Educação odonto- 6. Brasil. Ministério da Saúde. Politica de Recursos Humanos para o SUS: balanço e perspectivas. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. lógica e Sistema de Saúde Brasileiro: práticas e percepções de estudantes de graduação. Arq. Odontol. 2010; 46(4): 224-231. 14. Brustolin J, Brustolin J, Toassi RFC, Kuhnen M. Perfil do aca- 7. Araújo ME. Palavras e silêncio na educação superior em odontologia. Ciênc Saúde Coletiva. 2006; 11(1): 179-182. dêmico de Odontologia da Universidade do Planalto Catarinense – Lages – SC, Brasil. Rev ABENO. 2006; 6:70-6. 8. Senna MIB, Lima MLR. Diretrizes curriculares nacionais para o 15. Moimaz SAS, Casotti CA, Saliba NA, Garbin CAS. Representa- ensino de graduação em odontologia: uma análise dos artigos ção social de acadêmicos de odontologia sobre a área de Odon- publicados na revista da ABENO, 2002-2006. 2009; 45(1): 30-36. 9. Almeida AB, Alves MS, Leite ICG. Reflexões sobre os desafios da odontologia no Sistema Único de Saúde. Rev. APS. 2010; 13(1): 126-132. tologia Social. Rev ABENO. 2006; 6:145-149. 16. Pereira AC. Odontologia em saúde coletiva: planejando ações e promovendo saúde. Porto Alegre: Artmed; 2003. Cap. IV. 17. Ceccim RB. Educação permanente em saúde: desafio ambicio- 10. Valente GSC, Gomes HF, Alves FB. Pró-Saúde: Uma nova experiência educativa na formação profissional. Praxis Educa. so e necessário. Interface Comum Saúde Educ. 2005; 9 (16): 161-168. 2010; 6(9): 227-237. 11. Gontijo LPT, Almeida MCP, Gomide LRS, Barra RP. A saúde bucal coletiva na visão do estudante de odontologia: análise de uma experiência. Ciênc. saúde coletiva 2009; 14(4): 1277-1285. Revista da ABENO • 10(2):64-71 Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 71 Análise da satisfação do paciente com o atendimento odontológico na Clínica de Odontologia da Universidade de Franca Bruno Alves de Souza Toledo*, Alessandra Aparecida Campos**, Ronaldo Antônio Leite*** *Cirurgião-dentista, graduado pela Universidade de Franca **Professora Doutora. Docente responsável pela Disciplina de Diagnóstico Integrado do Curso de Odontologia da Universidade de Franca ***Professor Doutor. Docente da Disciplina de Diagnóstico Integrado do Curso de Odontologia da Universidade de Franca RESUMO Para a formação dos cirugiões-dentistas, é de grande importância o atendimento de pacientes durante o período de graduação, por isso, algumas Faculdades oferecem atendimento gratuito a pacientes sob a supervisão de um professor. Muitas avaliações são realizadas para verificar a qualidade do atendimento, no entanto, deixam de lado a visão dos pacientes que exercem um papel fundamental. Tendo em vista a importância do usuário para o processo de ensinoaprendizagem, o objetivo desse trabalho foi avaliar a satisfação dos pacientes com o serviço odontológico prestado pelas clínicas na Universidade de Franca, para assim poder analisar os aspectos do atendimento, e desenvolver novos métodos visando propiciar ao paciente um atendimento adequado e de qualidade. Foram entrevistados 81 pacientes, com o auxílio de um questionário proposto por Davies e Ware Jr. (1982) e adaptado para esta pesquisa, sendo compostas por 18 questões que permitiram avaliar o acesso, disponibilidade ou conveniência, custo, continuidade, satisfação geral, controle da dor, qualidade, acesso total e índice de satisfação com o atendimento odontológico, através de uma regra de escores. Diante dos resultados apresentados, encontrou-se que a maioria das questões apresentou mais de 70% de respostas positivas, no entanto, o item relativo à satisfação geral, que engloba apenas uma pergunta, onde o paciente diz se o atendimento poderia ser melhor, recebeu um percentual menor (56%). Pode-se concluir que os pacientes apresentaram-se parcialmente 72 satisfeitos com o atendimento realizados pelas clínicas da Universidade de Franca. Descritores Avaliação de serviços. Faculdade de Odontologia. Satisfação. P ara a formação de profissionais de saúde como os cirurgiões-dentistas, é de grande importância o atendimento de pacientes durante o período da graduação, assim os estudantes podem entrar no mercado de trabalho, capacitados a realizar procedimentos odontológicos, por isso, algumas faculdades de Odontologia oferecem atendimento gratuito a pacientes atendidos pelo sistema único de saúde (SUS). Muitas vezes são realizadas avaliações para verificar a qualidade do atendimento prestado nas clínicas odontológicas das faculdades, mas estas avaliações, em sua maioria são realizadas por professores e alunos, deixando de lado a visão dos pacientes que exercem um papel fundamental no atendimento odontológico.1 O paciente atendido nas clínicas de odontologia das faculdades deve ser considerado um usuário dos serviços oferecidos, e não como um mero material de estudo como muitos pensam.7 Por isso os pacientes devem ser tratados com respeito e receber um tratamento de qualidade para que fiquem satisfeitos com o tratamento oferecido e tenham a certeza de que receberam o tratamento ideal. Devido essa preocupação com a satisfação dos pa- Revista da ABENO • 10(2):72-8 Análise da satisfação do paciente com o atendimento odontológico na Clínica de Odontologia da Universidade de Franca • Toledo BAS, Campos AA, Leite RA cientes atendidos nas clínicas odontológicas de faculdades, pesquisas são realizadas para avaliar esse índice. Satisfação é definida como um processo complexo que equilibra expectativas do consumidor com percepções do serviço ou produto em questão9 e uma resposta afetiva do paciente ajuda positiva ou negativamente nos efeitos atribuídos pela satisfação.11 São muitos os fatores que podem influenciar o nível satisfação do paciente, Lahti, Tuutti et al.,6 (1995), avaliaram a opinião de vários pacientes e dentistas. Os pacientes mostraram que o dentista ideal é aquele profissional que concede informações e tem uma boa comunicação, e ainda destacaram a importância de uma aparência mais agradável. Já Brosky, Keefer et al. (2003),2 concluíram em seus estudos que os pacientes preferem que os estudantes de odontologia usem trajes mais formais, influenciando nos níveis de conforto e ansiedade, e acrescentaram ainda que o corte de cabelo, maquiagem e uso de jóias parece ter pouca influência, e destacaram que a primeira impressão que os pacientes têm dos alunos mostra um grande efeito sobre os níveis de confiança no atendimento. Newsome e Wright,10 (1999)concluíram que a culpatibilidade, na definição dos pacientes “quando as coisas saem erradas”, funciona como um filtro para a avaliação da satisfação dos pacientes, mostrado que se os pacientes tem uma experiência negativa com o serviço oferecido ele não saí satisfeito com o serviço oferecido. A calma, paciência, capacidade de informação e comunicação são apontadas por paciente como características ideais de um cirurgião dentista.3 Alguns cirurgiões dentistas adotam métodos para a manutenção de pacientes nos consultórios odontológicos, como dar uma maior atenção no primeiro dia de consulta e passar as informações por meio de linguagem específica tendo como um método básico a orientação direta.5 Outro método de avaliação da satisfação com o atendimento odontológico foi demonstrado por Mascarenhas (2001),8 que avaliou a influência de dois modelos de tratamento adotados nas clínicas odontológicas de faculdade, o modelo tradicional onde o paciente faz um rodízio nas clínicas que necessita, e o modelo de cuidado completo, que são as clínicas integradas onde o paciente passa por todos os tratamentos necessitados em uma única clínica, como nos consultórios particulares. Verificaram que não há diferenças nesses casos. A avaliação dos pacientes, sobre atendimento odontológico prestado nas faculdades permite uma melhor compreensão dos fatores negativos e positivos gerado pelo atendimento prestado, podendo assim levar a construção de idéias para uma melhoria do atendimento. Bottan, Sperb et al.,1 (2006),observaram em uma pesquisa desenvolvida na Universidade do Vale do Itajaí, que os pacientes estavam insatisfeitos com o tempo de espera pelo atendimento, e com isso concluíram que seria necessária uma revisão na triagem dos pacientes, e sugeriram que os prontuários na consulta inicial fossem feitos antes do paciente entrar na clínica odontológica, e que poderiam ser realizados atendimentos durante o período de férias, obtendo assim, uma melhora no atendimento e respectivamente uma maior satisfação dos pacientes. Entretanto a avaliação dos serviços odontológicos na Universidade de Franca nunca foi realizada, a não ser por professores e alunos, portanto houve a preocupação com a visão do paciente com o serviço que está sendo prestado nesta instituição. Sendo assim o objetivo desse trabalho foi avaliar a satisfação dos pacientes com o serviço odontológico prestado na Universidade de Franca, para assim analisar os aspectos positivos e negativos do atendimento, e desenvolver novos métodos de atendimento para propiciar ao paciente um atendimento mais adequado e de melhor qualidade. MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca, através do protocolo número CAAE-0013.0.393.000-08. A pesquisa apresentou um caráter exploratório-descritivo. Uma amostra aleatória foi obtida com auxílio de testes estatísticos que nos permitiram uma avaliação que apresentasse significância, entre os pacientes que estavam agendados para o tratamento nas clínicas do Curso de Odontologia da Universidade de Franca. Para que seja realizado o atendimento odontológico, ao chegar a clínica de odontologia da Unifran, os pacientes são encaminhados a uma sala de espera. A entrevista foi realizada por somente um aluno examinador, antes do paciente entrar para a sala de atendimento. Como critérios de inclusão foram definidos que os pacientes deveriam ter idade mínima de 18 anos, já estarem em tratamento na clínica de Odontologia por pelo menos três sessões, e que participassem da pesquisa por livre e espontânea vontade. Foram entrevistados 81 indivíduos, de ambos os gêneros, sendo que 48 (59,26%) pertenciam ao gênero feminino, sem distinção de raça. Para que fosse possível a realização das entrevistas, realizamos uma Revista da ABENO • 10(2):72-8 73 Análise da satisfação do paciente com o atendimento odontológico na Clínica de Odontologia da Universidade de Franca • Toledo BAS, Campos AA, Leite RA Tabela 1 - Índice de satisfação geral do paciente com o atendimento odontológico. Concordo totalmente Perguntas Concordo Não tenho certeza Discordo Discordo totalmente 1. Os atendimentos nas Clínicas de odontologia da UNIFRAN poderiam ser melhores 2. Os alunos de odontologia da UNIFRAN são cuidadosos ao examinar seus pacientes 3. Você evita ir às clínicas de odontologia da UNIFRAN porque é doloroso 4. O paciente espera muito tempo para ser atendido pelos alunos de odontologia da UNIFRAN 5. Os alunos de odontologia da UNIFRAN sempre tratam seus pacientes com respeito 6. Existe um número suficiente de alunos nas clínicas de odontologia da UNIFRAN 7. Os estudantes necessitam fazer mais para reduzir a dor dos pacientes 8. A clínica de odontologia da UNIFRAN é bem localizada 9. Os estudantes de odontologia da UNIFRAN sempre evitam despesas desnecessárias para o paciente 10. Os estudantes de odontologia da UNIFRAN não têm conhecimento profundo como deveriam ter 11. Você é atendido sempre pelos mesmos alunos quando necessita de cuidados 12. É difícil confirmar um horário de atendimento na clínica de odontologia da UNIFRAN imediatamente 13. Os estudantes de odontologia da UNIFRAN são capazes de aliviar ou curar a maioria dos problemas dentários que as pessoas têm 14. Os horários de atendimento da clínica de odontologia da UNIFRAN são bons para a maioria dos pacientes 15. Os estudantes sempre explicam o que vão fazer, antes de começar o tratamento 16. Os estudantes de odontologia da UNIFRAN devem fazer mais para evitar que os pacientes tenham problemas com seus dentes 17. As clínicas de odontologia da UNIFRAN são modernas e atualizadas 18. Eu não me preocupo em sentir dor quando recebo cuidados odontológicos na clínica de odontologia da UNIFRAN adaptação no questionário proposto por Davies e Ware Jr, 19824 (Tabela 1). Essas alterações que foram realizadas não interferiram nos resultados. Na entrevista, o entrevistador fazia uma afirmação e o paciente respondia se concordava totalmente, concordava, não tinha certeza, discordava, ou discordava totalmente. Para que fosse possível analisar estatisticamente as respostas, foram determinados escores de 1 a 5 sendo que quanto maior o escore maior 74 a satisfação (Tabela 2). Os resultados da soma dos escores de determinadas perguntas permitiam avaliar os aspectos em que os pacientes estavam ou não satisfeitos com o tratamento. Esses aspectos foram: • acesso, • disponibilidade/conveniência, • não custo, • continuidade, Revista da ABENO • 10(2):72-8 Análise da satisfação do paciente com o atendimento odontológico na Clínica de Odontologia da Universidade de Franca • Toledo BAS, Campos AA, Leite RA Tabela 2 - Escala para avaliação dos itens abordados. Escore Número do item 1 = Concordo totalmente 2 = Concordo 1, 3, 4, 7, 10, 12, 16 3 = Não tenho certeza 4 = Discordo 5 = Discordo totalmente Tabela 3 - Escalas de variação para os escores. Escala Soma dos escores para esses itens Acesso 4+12+14 Disponibilidade/ conveniência 6+8 Não custo 9 Continuidade 11 Satisfação geral 1 5 = Discordo totalmente Controle da dor 3+7+18 4 = Discordo Qualidade 2+5+10+13+15+16+17 Acesso total 4+6+8+9+12+14 Índice de satisfação 1+2+3+4+5+6+7+8+9+10+11+1 2+13+14+15+16 2, 5, 6, 8, 9, 11, 13, 14, 15, 17, 18 3 = Não tenho certeza 2 = Concordo 1 = Concordo Totalmente 100 80 b c d f a g h i 60 e 40 20 0 (a) - Acesso (b) - Disponibilidade/ conveniência (c) - Não custo (d) - Continuidade (f) - Controle da dor (e) - Satisfação geral (g) - Qualidade (h) - Acesso total (i) - Índice de satisfação Gráfico 1 - Resultados dos escores de avaliação do aten- dimento indicado pelos usuários das clínicas do curso de odontologia. • satisfação geral, • controle da dor, • qualidade, • acesso total e • índice de satisfação (Tabela 3). RESULTADOS Os dados obtidos foram expressos em gráficos para melhor compreensão e entendimento dos resultados. No Gráfico 1 encontra-se os resultados da avaliação do atendimento indicado pelos usuários das clínicas do curso de Odontologia da Universidade de Franca. Diante dos escores avaliados, a maioria dos itens apresentou mais de 70% de respostas positivas, o entanto o item relativo à satisfação geral, que en- globa apenas a pergunta 1, recebeu um percentual menor que 63%. Como se pode observar na Tabela 4 estão apresentados os resultados expressos por percentual das respostas negativas ou positivas de todos os pacientes apresentados, vale ressaltar que as respostas que apresentam um maior escore (4 ou 5) indica uma maior satifação do paciente. DISCUSSÃO Atualmente pesquisas apresentam a necessidade de se avaliar a satisfação dos pacientes com o atendimento odontológico, oferecido nas faculdades de Odontologia para que através dos resultados obtidos seja possível mudar aspectos negativos referentes ao tratamento gerando assim um melhor atendimento.1-3,8 Para avaliação da satisfação quanto maior o valor do escore, maior significa o grau da satisfação do paciente que recebeu os cuidados da clínica odontológica. Quando as perguntas foram realizadas separadamente geraram maior preocupação as que analisavam se o atendimento poderia ser melhor. 63% dos pacientes responderam que sim. Na quarta pergunta que avaliava se o paciente esperava muito tempo na sala de espera para ser atendido, 57% dos pacientes responderam positivamente, indicando que se deve chamar esse paciente para o atendimento prontamente, ou seja, o paciente não deve esperar. Se necessário esperar, esse momento deve ser utilizado com palestras informativas, o que foi evidenciado com as respostas para a pergunta 16 que avaliou se os estudantes poderiam fazer mais para prevenir que os problemas bucais dos seus pacientes. 80% dos pacientes responderam que sim, ou seja, que deveria ser realizado debates, palestras, panfletagem Revista da ABENO • 10(2):72-8 75 Análise da satisfação do paciente com o atendimento odontológico na Clínica de Odontologia da Universidade de Franca • Toledo BAS, Campos AA, Leite RA Tabela 4 - Porcentagem da satisfação dos pacientes. Concordo totalmente Concordo Não tenho certeza Discordo Discordo totalmente 1. Os atendimentos nas Clínicas de odontologia da UNIFRAN poderiam ser melhores 25% 33% 5% 14% 23% 2. Os alunos de odontologia da UNIFRAN são cuidadosos ao examinar seus pacientes 85% 14% 0% 0% 1% 2% 6% 0% 25% 67% 4. O paciente espera muito tempo para ser atendido pelos alunos de odontologia da UNIFRAN 21% 32% 4% 17% 26% 5. Os alunos de odontologia da UNIFRAN sempre tratam seus pacientes com respeito 80% 19% 1% 0% 0% 6. Existe um número suficiente de alunos nas clínicas de odontologia da UNIFRAN 48% 26% 9% 10% 7% 7. Os estudantes necessitam fazer mais para reduzir a dor dos pacientes 12% 12% 14% 25% 37% 8. A clínica de odontologia da UNIFRAN é bem localizada 58% 17% 2% 14% 9% 9. Os estudantes de odontologia da UNIFRAN sempre evitam despesas desnecessárias para o paciente 51% 26% 7% 9% 7% 10. Os estudantes de odontologia da UNIFRAN não têm conhecimento profundo como deveriam ter 14% 19% 5% 23% 40% 11. Você é atendido sempre pelos mesmos alunos quando necessita de cuidados 46% 26% 9% 11% 9% 12. É difícil confirmar um horário de atendimento na clínica de odontologia da UNIFRAN imediatamente 15% 16% 7% 19% 43% 13. Os estudantes de odontologia da UNIFRAN são capazes de aliviar ou curar a maioria dos problemas dentários que as pessoas têm 59% 30% 7% 2% 1% 14. Os horários de atendimento da clínica de odontologia da UNIFRAN são bons para a maioria dos pacientes 57% 22% 0% 14% 7% 15. Os estudantes sempre explicam o que vão fazer, antes de começar o tratamento 69% 20% 4% 4% 4% 16. Os estudantes de odontologia da UNIFRAN devem fazer mais para evitar que os pacientes tenham problemas com seus dentes 48% 25% 7% 11% 9% 17. As clínicas de odontologia da UNIFRAN são modernas e atualizadas 74% 23% 2% 0% 0% 18. Eu não me preocupo em sentir dor quando recebo cuidados odontológicos na clínica de odontologia da UNIFRAN 40% 25% 0% 10% 26% Perguntas 3. Você evita ir às clínicas de odontologia da UNIFRAN porque é doloroso para a prevenção. Nas demais perguntas, os pacientes apresentaram-se satisfeitos, sendo que essa satisfação variou entre 62% na pergunta sete e 99% na pergunta dois. Bottan, Sperb et al.,1 (2006)relataram que a qualidade percebida pelo paciente está muito mais relacionada com a maneira que ele recebe o tratamento e com as pistas de qualidade que ele vai encontrar no 76 consultório e no profissional do que com a parte técnica. Foi possível observar nos resultados que os pacientes apresentam uma boa impressão do serviço prestado e da arquitetura e modernidade do prédio onde estão instaladas as clínicas de Odontologia da Universidade de Franca, pois na questão que avaliava se a clínica estava bem localizada e se eram modernas e atualizadas, a grande maioria dos pacientes (97%) Revista da ABENO • 10(2):72-8 Análise da satisfação do paciente com o atendimento odontológico na Clínica de Odontologia da Universidade de Franca • Toledo BAS, Campos AA, Leite RA estavam satisfeitos com o atendimento. Em serviço prestado, a maioria dos pacientes (89%) concordaram que os estudantes estão capacitados a resolver a maioria dos problemas bucais dos pacientes. Como resultados esta pesquisa apresentou mais de 70% na maioria das questões avaliadas, exceto no índice de satisfação geral que obteve um índice de 58%, esta questão de satisfação geral englobava apenas a pergunta um, que avaliou se o atendimento poderia ser melhor, os pacientes relataram estar satisfeitos com o atendimento, porém acrescentaram que o atendimento poderia ser melhor, sugeriram que fossem realizados atendimentos noturnos e aos sábados. Em conclusão Mascarenhas (2001),8 relatou que os pacientes avaliados estavam satisfeitos com o tratamento oferecido na Faculdade de Odontologia da Universidade, pois não apresentou diferenças significantes nas questões que permitiam avaliar o acesso, controle da dor e qualidade do serviço prestado, entretanto nesse estudo observaram que os pacientes estavam insatisfeitos com o tempo de espera na sala de espera, isto também foi visto nos resultados apresentados na pesquisa de Bottan et al.,1 (2006). Quando analisamos as afirmações separadamente os pacientes apresentaram-se satisfeitos com o tempo de espera pelo tratamento nas clínicas do Curso de Odontologia da Universidade de Franca. Analisando as afirmações separadamente, o item que analisava se os estudantes deveriam fazer mais para evitar que os pacientes tenham problemas com seus dentes, gerou muita polêmica, pois os pacientes sugeriram que poderiam ser realizadas mais campanhas e debates com os pacientes para incentivar hábitos que prevenissem que esses apresentassem problemas bucais. Leão e Dias (2001)7 concluíram em seus estudos que o objetivo da faculdade deve ser reforçar a promoção de saúde e prevenção, reconhecer a importância do cuidado clínico, reconhecendo os direitos, responsabilidades e escolhas de cada paciente, mostrando que a esta instituição avaliada deve voltar sua atenção para a prevenção. Comparando-se os nossos resultados a achados na literatura, os resultados foram semelhantes já que Garcia e Contreras (2002)5 sugeriram que o cirurgião dentista deve passar as informações referentes ao tratamento de maneira direta. E como resultados verificou-se que os pacientes estavam satisfeitos com a conduta apresentada pelos estudantes, já que apresentaram um nível alto de satisfação na questão que avaliava se os estudantes sempre explicam o que vão fazer antes de começar o tratamento. CONCLUSÃO De acordo com os resultados obtidos neste estudo, pode-se concluir que os pacientes estão parcialmente satisfeitos com o atendimento oferecido no Curso de Odontologia da Universidade de Franca. Portanto uma maior atenção deve ser dada na realização de campanhas e debates para evitar que os pacientes apresentem problemas bucais e também organizar um atendimento diferencial aos sábados ou organizar turnos de atendimentos a noite. ABSTRACT Analysis of patient satisfaction toward dental services in the Dental Clinic of the University of Franca Patient care is an essential component of the academic training of future dentists during their undergraduate studies. For this reason, some colleges offer patients free services, under the supervision of a professor. Many evaluations are made to determine the quality of the services rendered; however, the viewpoint of patients is not considered, albeit of fundamental importance. Considering how important the beneficiary of these services is in the teaching-learning process, the objective of this study was to evaluate the satisfaction of patients toward the dental services rendered by the dental clinics of the University of Franca. This evaluation allows the aspects of the dental services rendered to be analyzed and new methods to be developed to give patients appropriate and quality service. Eighty one patients were interviewed with a questionnaire proposed by Davies and Ware Jr. (1982) and adapted for this study. It was composed of 18 questions that evaluated dental services according to access, availability or convenience, cost, continuity, overall satisfaction, pain control, quality, total access and satisfaction rate. The overall satisfaction toward dental services was 63%. The main complaint was the waiting time for receiving dental services. We can conclude that patients are partially satisfied toward the dental services offered by the dental clinics at the University of Franca. Descritores Service evaluation. Dental schools. Satisfaction. § rEFERÊNCIAS 1. Bottan ER, Sperb RAL, Telles PS, Uriarte Neto M. Avaliação de serviços odontológicos: a visão dos pacientes. Rev da ABENO. 2006 jul.-dez; 6(2):128-33. Revista da ABENO • 10(2):72-8 77 Análise da satisfação do paciente com o atendimento odontológico na Clínica de Odontologia da Universidade de Franca • Toledo BAS, Campos AA, Leite RA 2. Brosky ME, Keefer OA, Hodges JS, Presun IJ, COOK G.Patient perceptions of professionalism in dentistry. J Dent Educ. 2003 Aug; 67(8): 909-15. por faculdades de odontologia: a visão do usuário. Rev Bras Odont Saúde Coletiva. 2001; 2(1): 40-46. 8. Mascarenhas AK. Patient satisfaction with the comprehensive 3. Cruz JS, Cota LOM, Paixão HH, Pordeus IA.. A imagem do cirurgião-dentista: um estudo de representação social. Rev Odontol Univ São Paulo. 1997 out/dez; 11(4): 307-313. 4. Davies ARE, Ware Junior JE. Develpment of a dental satisfaction questionnaire for the health insurance experiment: Rand Corporation. 1982. care model of dental care delivery. J Dent Educ. 2001 Nov; 65(11): 1266-71. 9. Newsome PR, Wright GH. A review of patient satisfaction: 1. Concepts of satisfaction. 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Avaliação dos serviços de saúde prestados 78 Revista da ABENO • 10(2):72-8 Recebido em 14/10/2010 Aceito em 17/12/2010 Índice de artigos v. 10, n. 2, julho/dezembro - 2010 Autores Alencar, Cássio José Fornazari. . . . . . . . . . 5 Alves, Marley Mendonça. . . . . . . . . . . . . 12 Batista, Leila Christiane Lima Carneiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Bezerra, Luciana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Bino, Livia da Silva. . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Bulgarelli, Alexandre Fávero. . . . . . . . . . 59 Campos, Alessandra Aparecida. . . . . . . . 72 Carvalho, Daniel Rey . . . . . . . . . . . . . . . 12 Costa, Renata Cavalcanti Machado. . . . . 46 Cruvinel, Vanessa Resende Nogueira . . 12 Damasceno, Ticiana Campos . . . . . . . . . 46 Fadel, Cristina Berger . . . . . . . . . . . . . . . 35 Forte, Franklin Delano Soares . . . . . . . . 27 Franco, Eric Jacomino. . . . . . . . . . . . . . . 12 Freitas, Claudia Helena Soares Morais. . 27 G, Simone MR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 H, Déborah. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Haddad, Ana Estela . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Hayacibara, Mitsue Fujimaki. . . . . . . . . . 64 Hidalgo, Mirian Marubayashi. . . . . . . . . 64 Leite, Ronaldo Antônio. . . . . . . . . . . . . . 72 Lolli, Luiz Fernando . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Loretto, Nelson Rubens Mendes . . . . . . 20 M, Mari Eli L . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 M, Michelle B. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Machado, Frederika Cartagena. . . . . . . . 27 Miranda, Alexandre Franco . . . . . . . . . . 12 Moimaz, Suzely Adas Saliba. . . . . . . . . . . 35 Moura, Ticiane Pedrosa de. . . . . . . . . . . 46 Nuto, Sharmênia de Araújo Soares. . . . .46 Oliveira, Patricia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Pequeno, Lucianna Leite . . . . . . . . . . . . 46 Plegge, Juliana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 R, Fernando V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Rabelo, Cleverton Corrêa. . . . . . . . . . . . 53 Rigolon, Cynthia Junqueira. . . . . . . . . . . 64 Saliba, Nemre Adas . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Santos, Josiani Authaus. . . . . . . . . . . . . . 59 Scalco, Giovana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Schonhofen, Anielle . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Sequeira, Érika. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Silva, Ileamá Duque Porto Pessoa. . . . . . 20 Silva, Mariliani Chicarelli da. . . . . . . . . . 64 Souto, Danielle Mariana de Almeida. . . 27 Sproesser, Jose Gustavo. . . . . . . . . . . . . . 53 Terada, Raquel Sano Suga. . . . . . . . . . . . 64 Toledo, Bruno Alves de Souza. . . . . . . . . 72 Warmiling, Cristine. . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Wassall, Thomaz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Wen, Chao Lung . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Estágio clínico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Faculdade de Odontologia. . . . . . . . . . . 72 Formação de recursos humanos. . . . . . . 12 Formação profissional. . . . . . . . . . . . . . . 27 Graduação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Humanização na educação. . . . . . . . . . . 12 Implantodontia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Mercado de trabalho. . . . . . . . . . . . . . . . 27 Odontologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35, 64 Odontologia comunitária. . . . . . . . . . . . 59 Osseointegração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Política de educação superior. . . . . . . . . 64 Programas nacionais de saúde . . . . . . . . 46 Radiologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 Recursos humanos em odontologia. . . . . . . . . . . . . . . . 12, 27 Recursos humanos em saúde . . . . . . . . . 64 Satisfação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Saúde bucal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Serviços de integração docente-assistencial . . . . . . . . . . . . . . . 46 Síndrome de Down . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Telemedicina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Vértebras cervicais. . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Educational measurement . . . . . . . . . . . 12 Growth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Health manpower . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 Higher education. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Higher education policy. . . . . . . . . . . . . 64 Implantology . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Labor market. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 National health programs. . . . . . . . . . . . 46 Oral health. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Osseointegration. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Primary health care. . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Professional practice. . . . . . . . . . . . . . . . 27 Professional training. . . . . . . . . . . . . . . . 27 Program evaluation. . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Radiology. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Satisfaction. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Service evaluation . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Students, dental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 Teaching. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Teaching care integration services. . . . . 46 Telemedicine. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Undergraduate. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Descritores Anatomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Atenção primária à saúde. . . . . . . . . . . . 20 Avaliação de programas e projetos de saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Avaliação de serviços. . . . . . . . . . . . . . . . 72 Crescimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Currículo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Desenvolvimento ósseo. . . . . . . . . . . . . . 41 Educação à distância. . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Educação em odontologia. . . . 5, 12, 20, 59 Educação superior. . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Ensino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35, 53 Descriptors Anatomy. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Bone development. . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Cervical vertebrae . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Clinical clerkship. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Community dentistry. . . . . . . . . . . . . . . . 59 Dental education. . . . . . . . . . . . . . . . 20, 53 Dental schools . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Dentistry. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35, 64 Down syndrome. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Education, dental. . . . . . . . . . . . . . 5, 12, 59 Education, distance. . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Educational humanization . . . . . . . . . . . 12 Revista da ABENO • 10(2):79 79 Normas para apresentação de originais I.Missão - A Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico é uma publicação quadrimestral que tem como missão primordial contribuir para a obtenção de indicadores de qualidade do ensino Odontológico, respeitando os desejos de formação discente e capacitação docente, com vistas a assegurar o contínuo progresso da formação profissional e produzir benefícios diretamente voltados para a coletividade. Visa também produzir junto aos especialistas a reflexão e análise crítica dos assuntos da área em nível local, regional, nacional e internacional. II.Originais - Os originais deverão ser redigidos em português ou inglês e digitados na fonte Arial tamanho 12, em página tamanho A4, com espaço 1,5 e margem de 3 cm de cada um dos lados, perfazendo o total de no máximo 17 páginas, incluindo quadros, tabelas e ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc.) ou no máximo 25.000 caracteres contando os espaços. III.Ilustrações - As ilustrações (gráficos, desenhos, esquemas, fotografias etc.) deverão ser limitadas ao mínimo indispensável, apresentadas em páginas separadas e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. As respectivas legendas deverão ser concisas e localizadas abaixo e precedidas da numeração correspondente. Nas tabelas e nos quadros a legenda deverá ser colocada na parte superior. As fotografias deverão ser fornecidas em mídia digital, em formato tif ou jpg, tamanho 10 x 15 cm, em no mínimo 300 dpi. Não serão aceitas fotografias em Word ou Power Point. Deverão ser indicados os locais no texto para inserção das ilustrações e de suas citações. IV.Encaminhamento de originais - Solicita-se o encaminhamento dos originais de acordo com as especificações descritas no item II para o endereço eletrônico www.abeno. org.br. A submissão “on-line” é simples e segura pelo padrão informatizado disponível no site, no ícone “Revista Online”. Somente opte pelo encaminhamento pelo correio diante da necessidade de publicação de ilustrações em formato tif/jpg e alta resolução (veja especificações no item III). Endereço: Revista da ABENO - Associação Brasileira de Ensino Odontológico - Rua Pernambuco, 540 - 1º andar - Clínica Odontológica da UEL. CEP: 86020-120, Centro - Londrina - PR V. A estrutura do original 1. Cabeçalho: Quando os artigos forem em português, colocar título e subtítulo em português e inglês; quando os artigos forem em inglês, colocar título e subtítulo em inglês e português. O título deve ser breve e indicativo da exata finalidade do trabalho e o subtítulo deve contemplar um aspecto importante do trabalho. 2. Autores: Indicação de apenas um título universitário e/ou uma vinculação à instituição de ensino ou pesquisa que indique a sua autoridade em relação ao assunto. 3.Resumo: Representa a condensação do conteúdo, expondo metodologia, resultados e conclusões, não excedendo 250 palavras e em um único parágrafo. 4. Descritores: Palavras ou expressões que identifiquem o conteúdo do artigo. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5). 80 5.Texto: Deverá seguir, dentro do possível, a seguinte estrutura: a)Introdução: deve apresentar com clareza o objetivo do trabalho e sua relação com os outros trabalhos na mesma linha ou área. Extensas revisões de literatura devem ser evitadas e quando possível substituídas por referências aos trabalhos mais recentes, onde certos aspectos e revisões já tenham sido apresentados. Lembre-se que trabalhos e resumos de teses devem sofrer modificações de forma a se apresentarem adequadamente para a publicação na Revista, seguindo-se rigorosamente as normas aqui publicadas. b)Material e métodos: a descrição dos métodos usados deve ser suficientemente clara para possibilitar a perfeita compreensão e repetição do trabalho, não sendo extensa. Técnicas já publicadas, a menos que tenham sido modificadas, devem ser apenas citadas (obrigatoriamente). c)Resultados: deverão ser apresentados com o mínimo possível de discussão ou interpretação pessoal, acompanhados de tabelas e/ou material ilustrativo adequado, quando necessário. Dados estatísticos devem ser submetidos a análises apropriadas. d)Discussão: deve ser restrita ao significado dos dados obtidos, resultados alcançados, relação do conhecimento já existente, sendo evitadas hipóteses não fundamentadas nos resultados. e)Conclusões: devem estar baseadas no próprio texto. f)Agradecimentos (quando houver). 6. Abstract: Resumo do texto em inglês. Sua redação deve ser paralela à do resumo em português. 7. Descriptors: Versão dos descritores para o inglês. Para sua determinação, consultar a lista de “Descritores em Ciências da Saúde - DeCS” (http://decs.bvs.br) (no máximo 5). 8.Referências: Devem ser ordenadas alfabeticamente, numeradas e normatizadas de acordo com o Estilo Vancouver, conforme orientações publicadas no site da “National Library of Medicine” (http://www.nlm.nih.gov/ bsd/uniform_requirements.html). Para as citações no corpo do texto deve-se utilizar o sistema numérico, no qual são indicados no texto somente os números-índices na forma sobrescrita. A citação de nomes de autores só é permitida quando estritamente necessária e deve ser acompanhada de número-índice e ano de publicação entre parênteses. Todas as citações devem ser acompanhadas de sua referência completa e todas as referências devem estar citadas no corpo do texto. As abreviaturas dos títulos dos periódicos deverão estar de acordo com o “List of Journals Indexed in Index Medicus” (http://www.ncbi. nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?db=journals). A exatidão das referências é de responsabilidade dos autores. VI. Endereço - E-mail, telefone e fax de todos os autores. Obs.: Qualquer alteração de endereço, telefone ou e-mail deve ser imediatamente comunicada à Revista. § Revista da ABENO • 10(2):80