Volume 004, número 03 - PET
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PETVetnews Ministério da Educação Secretária de Educação Superior Universidade Federal Rural da Amazônia Programa de Educação Tutorial em Medicina Veterinária PETVet News. Volume 4, número 3, set. – dez. 2015 ISSN: 2447-4592 www.petvet.ufra.edu.br Você curte fotografia? Tem uma foto que retrate a fauna de sua cidade? Se sim, essa notícia é para você: ArtePETVet 2016 concurso de fotografia e desenho: Fauna Urbana. Participe!!! Leão Marinho, Rio Calle Calle, Valdívia, Chile, 2015 PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 Foto: Rinaldo B. Vianna 1 PETVetnews PETVet News. Volume 4, número 3, set. – dez. 2015 ISSN: 2447-4592 www.petvet.ufra.edu.br Índice Expediente 3 Editorial 4 Nossa capa ArtePETVet Rinaldo Batista Viana 5-6 Minireview Osteodistrofia fibrosa em equinos Stefani Costa e Rinaldo B. Viana Cardiopatias congênitas em cães Verena Maciel da Costa e Rinaldo B. Viana Cão doador. Saiba como esse gesto pode salvar uma vida! Walberson Dias da Silva e Rinaldo B. Viana Úlcera de sola: dor e desconforto nos bovinos Andra N. Ferreira, Layna T. G. Corrêa, Stefani P. X. da Costa & Rinaldo B. Viana 7-9 10 - 14 15 - 20 21 - 29 Entrevista Entrevista Dr. Bruno Moura Monteiro Medicina veterinária: qual área de atuação profissional optar? PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 30 - 35 2 Expediente PETVetnews PETVet News. Volume 4, número 3, set. – dez. 2015 ISSN: 2447-4592 www.petvet.ufra.edu.br Equipe editorial Rinaldo Batista Viana Editor-in-chief Associated editors Alef Rodrigo Prata Moreira Helen Kamile de Oliveira Chaves Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Ana Carla Oliveira Ferreira Joévelyn Jacqueline Santos da Silva Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Bolsista IC PIBIC/CNPq Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Andra Nunes Ferreira Layna Thayssa Guimarães Corrêa Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC André Augusto do Nascimento Mendonça Raquel de Alencar e Silva Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Atila Carvalho Guerreiro Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Samantha Silva da Silva Caio Cesar Rocha Mendes Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Carolyne Teixeira do Espirito Santo Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Stefani de Paula Xavier da Costa Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Verena Maciel da Costa Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Brunna Gonçalves Vidal de Lima Walberson Dias da Silva Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Bolsista IC PIBIC/CNPq Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Elen Júlia Pimentel da Rocha Contato Programa de Educação Tutorial Medicina Veterinária - UFRA [email protected] Sala do PETVet (ISPA) Av. Presidente Tancredo Neves, Nº 2501 Cep: 66.077-830 Montese Belém-Pará-Brasil Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Filipe Luigui Soares da Costa Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC Gabriel Sousa Furtado da Silva Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra Membro PET- SESu/MEC PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 Políticas de Privacidade Aviso de Direito Autoral Copyrigth@2012 - PETVet/UFRATodos os Direitos Reservados 3 PETVetnews Editorial E 2015 se encerra assim: implementamos um novo layout, não somente para o jornal, mas também para o site e aprimoramos cada vez mais a qualidade dos textos/artigos publicados além da atribuição do ISSN, que muito contribui para a boa qualidade do jornal. Deste modo, estamos caminhando para um jornal com um enfoque não somente informativo, mas também científico. Esperamos a partir de 2016 publicar o jornal trimestralmente o que nos daria quatro números por ano, assim como abrir para pesquisadores convidados a publicação e divulgação de matérias informativas e artigos de revisão e ou notas. Destarte, esperamos com as ações como essa, contribuir para melhoria da formação dos acadêmicos de medicina veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia, por meio não somente das iniciativas do PETVet, mas também pelo efeito multiplicador da boa formação dos petianos do grupo. Buscar a excelência na formação dos nossos tutorandos, bem como na qualidade de nossas ações tem sido nossa constante meta. Assim esse jornal é feito com todo desvelo e carinho para você, caro leitor e leitora. PETVet News. Volume 4, número 3, set. – dez. 2015 ISSN: 2447-4592 www.petvet.ufra.edu.br Esperamos que apreciem mais essa edição e nos envie sua sugestão, comentário e ou crítica ([email protected]) que será muito bem aceita. Um feliz ano novo para todos e boa leitura. Até a próxima edição. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 Rinaldo B. Viana Tutor PETVet-Ufra Editor-in-chief PETVet News 4 Nossa capa ArtePETVet 2016: concurso de fotografia e desenho PETVet News. 2015;4(3): 5 – 6 A capa dessa edição retrata a foto de um leão marinho registrado na Cidade de Valdívia, ao Sul do Chile. Ela ilustra bem o intuito do ArtePETVet 2016 que é retratar a fauna urbana. Desenho e arte: Walberson Fernandes. PETVet News ©, 2015. Conteúdo de criação própria. O PETVet realizará em 2016 um concurso de fotografia e desenhos. PETVet mais detalhes (www.petvet.ufra.edu.br). Desde já antecipamos algumas informações sobre o referido concurso. Aguardem no site do 1 Apresentação A realização do “ArtePETVet 2016: concurso PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 5 de fotografia e desenho” vem reafirmar o objetivo da Grupo PET de Medicina Veterinária da Ufra (PETVet), em contribuir com as atividades acadêmicas e culturais da sociedade paraense, e valorização e preservação da biodiversidade local. divulgadas em mídia impressa (a definir). 2 Tema 3.4 Entende-se por inédita a fotografia não apresentada em nenhuma mostra ou premiada em outros concursos e editais até a data da inscrição. O tema proposto “Fauna urbana”, busca refletir sobre a valorização da fauna local, por meio da criação de imagens que retratem a integração da biodiversidade e do homem nas metrópoles. 3.3 Todas imagens selecionados participarão da exposição virtual no site do evento por período a ser definido pela comissão organizadora. 3 Do objeto 3.1 Constitui objeto do presente Edital a seleção de imagens inéditas, que abordem o tema acima descrito, para mostra on line – em espaço virtual no site – e em espaço físico para as imagens vencedoras em cada categoria (revista a definir) nas seguintes categorias: a) Categoria 1 – Imagens fotográficas (acima de 300 dpi); b) Categoria 2 – desenhos a mão livre ou feitos em programa computacional; 3.2 Nas categorias 1 premiadas (primeiro categoria) serão formato maior e 2 as imagens lugar de cada impressas em para serem PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 6 Minireview Osteodistrofia fibrosa em equinos PETVet News. 2015;4(3): 7 – 9 Stefani Costa1 e Rinaldo B. Viana2 1Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Membro PETVet- SESu/MEC Email: [email protected] 2Tutor Grupo PETVet SESu/CNPq Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia Introdução A osteodistrofia fibrosa, ou hiperparatireoidismo nutricional secundário, ou ainda “doença da cara inchada” como é conhecida, é uma doença diretamente relacionada a fatores dietéticos, isto é, uma dieta rica em fósforo e oxalato, ou ainda quando há deficiência na disponibilidade de cálcio. Caracteriza-se pela grande liberação de paratormônio (PTH), ocasionando aumento nos níveis de cálcio sérico, na tentativa de um equilíbrio entre Ca:P. Destarte, objetiva-se com esse artigo abordar a etiologia, patogenia, bem como o tratamento e profilaxia da doença, afim de fornecer conhecimento e, instigar o leitor aos constantes cuidados que se deve ter na dieta nutricional da espécie em questão. http://nelsonferreiralucio.blogspot.com.br/2014/06/osteodistrofiafibrosa-generalizada-em.html PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 7 Etiopatogenia De acordo com Méndez e Riet-Correa1, está relacionada diretamente com a alimentação de equinos a partir de forragens a base de Panicum maximum e Setaria anceps, entre outras. Estas atuam no organismo animal ocasionando uma hiperfosfatemia e, consequentemente uma hipocalcemia, pois, o fosfato presente em maior quantidade irá estimular a liberação do PTH; este, por sua vez, estimula a reabsorção óssea, ou seja, a retirada de cálcio dos ossos para o sangue. Contudo, o oxalato presente em grande quantidade nas pastagens se liga ao cálcio formando o complexo oxalato de cálcio, que por sua insolubilidade, não será absorvido no trato intestinal, e consequentemente continuará acarretando em níveis cada vez mais baixos de cálcio no sangue, estimulando ainda mais a liberação de PTH pela paratireoide, ocasionando hiperparatireoidismo com, posteriormente reabsorção óssea. Segundo Méndez e Riet-Correa1, isto leva a um grande desgaste ósseo, principalmente na região da mandíbula; essa lesão resulta em reparação óssea, realizada pela deposição de tecido conjuntivo, dando origem a uma região resistente e consistente, lhe conferindo um aspecto de borracha, que ao ser pressionado observa-se o deslocamento de tal tecido. Como o excesso do P na dieta faz com que o Ca dos ossos seja retirado para que o equilíbrio na relação Ca:P seja mantido. Deste modo é importante atentar para esta relação que deve ser próxima de 2:1, sendo 1,6:1 para potros em crescimento e éguas em lactação; 1,8:1 para cavalos de esporte e em manutenção2. Sinais clínicos Os sinais clínicos são menos evidentes nos animais adultos do que em animais jovens. Os ossos da face (os mais acometidos) ficam com aspecto amolecido devido à perda da matriz óssea, aumentados de volume e deformados, o que lhe confere o nome de “cara inchada”. Esses animais, em um estágio mais avançado, tendem a emagrecer, decorrente da absorção óssea ocorrida nos alvéolos dentários, deixando-os frouxos, e isto resulta em déficit na mastigação, diminuindo assim o consumo alimentar. Outros sinais observados são o baixo desempenho quando submetidos a atividades, devido à dor; claudicação, exostose e, até fraturas decorrentes da intensa reabsorção óssea3. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 8 Tratamento É importante tentar iniciar o tratamento combatendo a causa primária, ou seja aumentar a administração de cálcio, diminuir a de fósforo, e evitar pastagens ricas em oxalato. Em estágios mais avançados deve-se proceder à administração maciça de cálcio, bem como de medicamentos que auxiliem na absorção intestinal deste elemento3. Aplicar uma vez ao dia por via intravenosa cerca de 0,5 mL kg-1 em solução a 10%, de produtos à base de cálcio, suplementando esta ingestão com 30 50 g de carbonato de cálcio (estes podem ser misturados ao sal mineral ou concentrado vitamínico3). Considerações finais A partir de uma dieta administrada de maneira errônea (ricas em oxalato), ou deficiente nos elementos cálcio e fósforo, equinos podem desenvolver o, hiperparatireoidismo nutricional secundário. É importante ressaltar que a prevenção da doença também pode ser realizada expondo o animal, por algumas horas, à luz solar, haja vista que a partir dela há ativação de alguns componentes da formação de vitamina D, e esta auxilia no equilíbrio entre os elementos acima citados. Éguas em final de gestação apresentam tendência a desenvolver a “doença da cara inchada” assim como potros entre seis meses e três anos de idade. Deste modo, são necessários cuidados e atenção com fêmeas em final de gestação, assim como seus potros. Referências 1 Méndez, M.C.; Riet-Correa, F. 2007. Osteodistrofia Fibrosa. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R.A.A. et al. (Ed.) Doenças de Ruminantes e Equídeos. Santa Maria: Pallotti,. v.2, p.289-293. 2 Washington, D. C. NATIONAL RESEARCH COUNCIL / NUTRIENTS REQUERIMENTS OF DOMESTIC ANIMALS. Nutrient requeriments of horses. Fifth revised edition, 1999.: National Academy Press, 1999. 3 Thomassian, A.; Enfermidades do Cavalo, 4 ed., Botucatu – SP: Varela, 573p, 2005. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 9 Minireview Cardiopatias congênitas em cães PETVet News. 2015;4(3):10 – 14 Verena Maciel da Costa1 e Rinaldo B. Viana2 1Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Bolsista PETVet- SESu/MEC Email: [email protected] 2Tutor Grupo PETVet SESu/CNPq Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia Desenho: João Gabriel do Espirito Santo. PETVet News©, 2015. Conteúdo de criação própria. Introdução Os distúrbios congênitos do coração e grandes vasos encontram-se entre as anomalias mais, frequentemente encontradas e mais importantes em animais. As anomalias mais graves podem não ser compatíveis com a vida fetal; outras, embora completamente compatíveis com a sobrevivência fetal, tornam-se evidentes com a mudança da circulação fetal para a circulação pós-natal1. Segundo Sisson2 os defeitos congênitos podem ser causados por fatores genéticos, tóxicos, nutricionais, infecciosos, ambientais e farmacológicos. Dada a importância do tema objetiva-se com esse artigo abordar três cardiopatias, seus aspectos mais relevantes e as raças de cães mais acometidas por cada enfermidade (Tabela 1). PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 10 Tabela 1. Cardiopatias e as raças de cães em que ocorrem com mais frequência Doença 4,15,16 e 17. Raça Ducto Arterioso Patente Maltês, Poodle Toy, Poodle miniatura, Yorkshire terrier, Chihuahua Estenose Pulmonar Bulldog inglês, Cocker Spaniel, Beagle, Chihuahua Estenose Aórtica Golden Retriver, Rottweiler, Boxer, Pastor Alemão, Bulldog Inglês, Dogue Alemão Displasia Tricúspide Labrador Retriver, Pastor Alemão, Boxer Displasia Mitral Bull Terrier, Pastor Alemão, Dogue Alemão, Golden Retriver Ducto Arterioso Patente O ducto pode ficar patente nos filhotes com menos de quatro dias de idade e em geral está fechado com segurança por volta de sete a dez dias após o nascimento. A persistência do ducto arterioso (PDA), também denominada de ducto arterioso patente é um defeito cardíaco congênito frequentemente encontrado em cães. Nesse defeito cardíaco congênito, o lume permanece aberto, o sangue é desviado através do ducto da aorta descendente para a artéria pulmonar1,3,4. O sintoma clínico mais comumente encontrado é um murmúrio contínuo característico que pode ser ouvido na base do coração esquerdo: o pulso femoral se torna hipercinético devido à pressão ampla causada pela passagem de sangue diastólico através do ducto5, 6. Em exames radiográficos de DAP, evidenciam-se aumentos atrial e ventricular esquerdos e dos vasos pulmonares direito e distensão da aorta descendente5, 7. Por ultrassonografia, pode-se confirmar a patência do ducto e excluir ou não o diagnóstico de doenças cardíacas concomitantes7. A primeira ligadura do ducto foi realizada em 1939, por Gross e Hubbard e, desde então, a correção cirúrgica aceita como padrão se dá por toracotomia intercostal esquerda seguida de dissecação e ligadura do ducto5, 8. Esta técnica é considerada curativa e dever ser realizada tão logo seja feito o diagnóstico6. A oclusão do ducto arterioso patente por videotorascopia é indicada por diminuir a dor no pós-operatório, melhorar a função pulmonar, diminuir o risco de hemorragia intra-operatória e diminuir o tempo de internação8. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 11 Estenose Pulmonar (EP) A Estenose Pulmonar é uma doença cardíaca congênita caracterizada por uma obstrução dinâmica ou fixa do trato de saída do ventrículo direito. Dessa forma, cria-se uma resistência à saída de sangue, um aumento da pós-carga e, consequentemente, uma elevação da pressão sistólica e ventricular direita. A maioria dos cães com EP tende a não ter qualquer sinal clínico mesmo com obstrução severa9, 10. Uma diminuição sutil na tolerância ao exercício pode ser observada pelo dono, embora indivíduos com EP leve a moderada tenham uma vida completamente normal e assintomática9, 11. A maioria dos cães é assintomática até ao primeiro ano de vida, sendo a EP descoberta geralmente pela auscultação de um sopro cardíaco12. O achado físico mais proeminentemente encontrado durante o exame físico é um sopro sistólico de ejeção crescendo e decrescendo com ponto de máxima intensidade na base esquerda radiando dorsalmente, sendo que em alguns casos é audível igualmente bem no hemitórax cranial direito12. Ao longo da vida do animal devem ser realizadas uma série de exames ecocardiográficos de modo a monitorar o grau de hipertrofia ventricular e determinar se uma estenose infundibular secundária ou regurgitação tricúspide se desenvolveu, podendo alguns cães agravar a obstrução com o tempo12. Das Cardiopatias congênitas, a EP é a terceira mais frequente, afetando 18% dos pacientes com doença cardíaca congênita. Apenas a persistência do duto arterioso e estenose subaórtica são mais frequentes com assiduidade de 32% e 22% respectivamente13. Estenose Aórtica A estenose aórtica é caracterizada por um estreitamento ou redução, localizada na dimensão do sistema de fluxo causando uma sobrecarga de pressão4. É um defeito congênito que acomete raças grandes14, e parece predispor cães da raça Boxer15, Golden Retriever16 e Rotweiller17. Outros locais que pode ocorrer a estenose são em regiões subaórtica e supravalvular, sendo a primeira a mais comum responsável por 90% dos casos caninos. É caracterizada por um anel fibroso localizado logo abaixo da valva semilunar aórtica que impede o esvaziamento do ventrículo esquerdo. Em cães da raça Golden Retriever é considerada uma alteração familiar, com achados ecocardiográficos característicos de hipertrofia ventricular esquerda, crista subvalvular e insuficiência aórtica18. A estenose supravalvular, é mais comum em gatos4, a indução dessa alteração em PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 12 animais jovens promove o desenvolvimento precoce de hipertrofia ventricular esquerda concêntrica e fibrose miocárdica19. Os sinais clínicos de EA podem ser assintomáticos ou podem apresentar intolerância ao exercício, colapso ou síncope. A falta de sinais clínicos não é uma razão para retardar a avaliação diagnóstica, pois a primeira evidência de EA pode ser a morte súbita14. O achado físico predominante nos animais acometidos com EA é sopro sistólico, melhor audível na base do coração, em casos moderados a graves, pulsos femorais podem ser fracamente visíveis14 e 15. Exames diagnósticos incluem o eletrocardiograma, que mostra uma mudança de eixo cranial esquerda ou ectopia ventricular, sendo esses achados normais para a EA14 e 20. Considerações finais Dentre as Cardiopatias congênitas, as mais frequentes envolvem a patência do ducto arterioso, a estenose pulmonar e a aórtica. Essas enfermidades assumem sintomatologia ou não e estão relacionadas às raças animais com maior assiduidade em determinados tipos. O cuidado relegado a esses seres estão intrínsecos ao tipo de cardiopatia estabelecida, muitas podendo ser corrigidas por meio de intervenções cirúrgicas e outros com a utilização de fármacos para melhoria dos sintomas, no entanto, é importante ressaltar que a visita ao médico veterinário é fundamental para identificação da doença de forma precoce, para que possa ser estabelecido um bom prognóstico a fim de evitar complicações que, inclusive, podem levar o animal a óbito. Referências 1 Jones, Thomas Carlyle; HUNT, Ronald Duncan; KING, Norval William. Patologia Veterinária. Tradução de Fernando Gomes do Nascimento. 6.ed. São Paulo: Manole, 2000. cap. 21, p. 991- 995. 2 Sisson, D. David; Thomas, Willliam P.; Bonagura, J. D. Cardiopatia Congênita. In: Ettinger, Stephen; FELDMAN, Edward C. (Ed.) Tratado de Medicina Interna Veterinária: doenças do cão e do gato. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, © 2004. V.1, cap. 112, p.788-817. 3 Ware, W.A. Anomalias Cardíacas Congênitas Comuns. In: Nelson, R.W., Couto, C.G. (Ed.). Medicina Interna de Pequenos Animais. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. cap. 9, p. 147163. 4 Goodwin, J.K. Cardiopatias congênitas. In: Tilley, L.P.; Goodwin, J.K. Manual de cardiologia para cães e gatos. São Paulo: Roca, 2002. p. 259-276. 5 Bonagura, J.D. Congenital heart disease. In: Ettinger, S.J. Textbook of veterinary internal medicine. 3. Rd. ed. Philadelphia/; Saunders, 1989. Cap. 74, p.976-1030. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 13 6 Orton, C.E. Surgery of cardiovascular system. In: Fossum, T.W. Small animal surgery. St. Louis: Mosby, 1997. Cap. 24, p.575-608. 7 Lipowitz, A.L. et al. Cardiovascular Surgery In: Complications in Small Animal Surgery, Philadelphia: Lea & Febiger, 1996. Cap. 8, p. 267-286. 8 Kim, B.Y. et al. Video-assisted thoracospic ligation of a patent ductus arterious. Technique of sliding loop ligation. Journal of Cardiac Surgery, v. 41, n. 1, p. 69-72, 2000. 9 Kittleson, M.K., RD. Small Animal Cardiovascular Medicine, Mosby, 1998. 10 Fox, P. Textbook of canine and feline cardiology: principles and clinical practice, W.B. Saunders.1999. 11goodwin, J.K. Manual of Canine and Feline Cardiology, WB Saunders. 2001. 12 Ettinger, S. Textbook of Veterinary Internal Medicine, Elsevier Health Sciences. 2004. 13 Buchanan, J.W. Causes and prevalence of cardiovascular diseases. Philadelphia, WB Saunders, 1992. 14 McPhail, C.M. Surgery of the cardiovascular system . In: Fossum, T.W. Small Animal Surgery. 4. ed. Missouri: Editora Elsevier, 2013, cap 28, p. 856-879. 15 Kienle, R.D.; Thomas, W.P.; Pion, P.D. The natural clinical history of canine congenital subaortic stenosis. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 8, n. 6, p. 423-431, 1994. 16 O'Grady, M.R.; Holmberg, D.L.; Miller, C.W.; Cockshutt, J.R. Canine congenital aortic stenosis: A review of the literature and commentary. The Canadian Veterinary Journal, v. 30, n. 10, p. 811-815, 1989. 17 Meurs, K.M. Genetics of Cardiac Disease in the Small Animal Patient. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 40, n. 4, p. 701-715, 2010. 18 Stern, J.A.; Meurs, K.M.; Nelson, O.L.; Lahmers, S.M.; Lehmkuhl, L.B. Familial subvalvular aortic stenosis in golden retrievers: inheritance and echocardiographic findings. Journal of Small Animal Practice, v. 53, p. 213–216, 2012. 19 Ribeiro, H.B.; Okoshi, K.; Cicogna, A.C.; Bregagnollo, E.A.; Rodrigues, M.A.M.; Padovani, C.R.; Okoshi, M.P. Estudo Evolutivo da Morfologia e Função Cardíaca em Ratos Submetidos a Estenose Aórtica Supravalvar. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 81, n. 6, p. 562-8, 2003. 20 McConkey, M.J. Congenital cardiac anomalies in an English Bulldog, The Canadian Veterinary Journal, v. 52, p. 1248-1250, 2011. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 14 Minireview Cão doador. Saiba como esse gesto pode salvar uma vida! PETVet News. 2015;4(3):15 – 20 Walberson Dias da Silva1 e Rinaldo B. Viana2 Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra Bolsista PETVet- SESu/MEC Email: [email protected] 2Tutor Grupo PETVet SESu/CNPq Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia Introdução Desenho: João Gabriel do Espirito Santo. PETVet News©, 2015. Conteúdo de criação própria. A transfusão sanguínea conceitua-se como a terapia intravenosa em que se utiliza sangue total ou hemocomponentes (a depender da disponibilidade e indicação) recomenda para corrigir quadros de anemias graves causada por hemorragia, hemólise, eritropoiese ineficaz, anemia hemolítica auto-imune e neoplasias1. Assim, objetiva-se com este artigo informar os leitores acerca da importância da transfusão sanguínea como terapia emergencial, bem como abordar os aspectos inerentes a erros no mal emprego da técnica. O sangue e suas frações Ao ser colhido em bolsas, contendo anticoagulante, o sangue pode ser fracionado e separado em seus diferentes componentes. Para não se transfundir hemocomponentes desnecessários para o animal, é recomendado que se utilize apenas aqueles indicados para cada situação (Tabela 1). PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 15 Tabela 1: Componentes sanguíneos, suas utilizações e doses2 Produto Dose Observações Anemia hipovolêmica Anemia com alterações hemostáticas (trombocitopenia e coagulopatia) 20 mL kg-1 para elevar em 10% o VG Risco de sobrecarga de volume em animais normovolêmicos Anemia hipovolêmica 20 mL kg-1 para elevar em 10% VG Não preserva plaquetas e nem fatores de coagulação Anemia 10 mL kg-1 para elevar em 10% o VG Ideal para pacientes normovolêmicos Concentrado de plaquetas Trombocitopenia 1Ul 10kg-1; repetir se necessário (10 mL kg-1) Indicação terapêutica e profilática Plasma rico em plaquetas Trombocitopenia 1UI 10kg-1 Risco de sobrecarga de volume Coagulopatias hereditárias e adquiridas (*) Pancreatite aguda Expansor de volume (segunda opção) Hipoproteinemia Hipoglobulinemia 10 a 30 mL kg-1, repetir, se necessário (10 mL kg-1) Múltiplas transfusões podem ser necessárias em razão da meia-vida reduzida dos fatores de coagulação Hipoproteinemia Hipoglobulinemia 10 a 30 mL kg-1; repetir, se necessário (10 mL kg-1) Indicado no tratamento das hipoproteinemias a curto prazo Hemofilia Doença de Von Willebrand 1UI 10kg -1 (repetir se necessário) Administrar 30 minutos antes da cirurgia Sangue total fresco Sangue total estocado Concentrado de hemácias Plasma fresco congelado Plasma congelado Crioprecipitado Indicações VG = volume globular. (*) = Coagulação intravascular disseminada; sepse; hepatopatia; neoplasia; coagulopatia dilucional; dicumarínicos) Grupos sanguíneos Os cães possuem oito grupos sanguíneos (Tabela 2) diferentes identificados como antígenos eritrocitários caninos (“dog erythrocyte antigen”, DEA)3. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 16 Tabela 2: Tipos sanguíneos caninos consoante KRISTENSEN3 Nome atual Nome Comum Incidência na população DEA 1.1 A1 40% DEA 1.2 A2 20% DEA 3 B 5% DEA 4 C 98% DEA 5 D 25% DEA 6 F 98% DEA 7 Tr 45% DEA 8 He 4% O doador O doador canino dever ter idade entre dois a oito anos, ter temperamento dócil e ser vacinado, não apresentar hemoparasitas e outras doenças infecciosas (raiva, cinomose, hepatite infecciosa, leptospirose, parvovirose e coronavirose). Os cães podem doar cerca de 15 a 20% do volume sanguíneo, podendo repetir o procedimento a cada 3 a 4 semanas, desde que recebam nutrição balanceada em quantidade adequada4. Reações transfusionais As reações transfusionais podem ser reduzidas seguindo as normas apropriadas de uso de produtos sanguíneos. Um método imprescindível para PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 17 evitar reações é minimizar a transfusão de produtos desnecessários ao paciente. O médico veterinário deve escolher cuidadosamente o hemocomponente a ser transfundido1. O teste de compatibilidade é usual na clínica para a transfusão sanguínea. Este deve ser realizado antes da transfusão, mesmo que tenha sido feita a tipagem sanguínea. A tipagem é eficaz na identificação dos antígenos presentes nas hemácias do paciente, porém não detecta os anticorpos presentes no paciente e no doador, o que será determinado pelo teste de compatibilidade5. Após a aparição de qualquer sinal clínico deve ser suspensa a transfusão sanguínea. Reações como urticária, eritema, angioedema e prurido podem ser tratadas com a administração intravenosa ou subcutânea de dexametasona (0,5-1,0 mg kg-1) ou difenidramina (2 mg kg-1, via intramuscular). Se os sinais cessarem após o tratamento a transfusão pode ser continuada com cautela. Na ocorrência de sinais graves como choque, dispneia e broncoconstrição severa, a administração de dexametasona em doses elevadas (4-6 mg kg-1, via intravenosa) e de epinefrina (0,01 mg kg-1, via intravenosa) também pode ser usada, e a interrupção da transfusão deve ser mantida6. Os serviços de banco de sangue e ou hemocentros para animais já começam a se difundir no Brasil. Existem bancos de sangue canino no Brasil localizados em algumas unidades da Federação (Tab. 3). Considerações finais A transfusão sanguínea é uma terapia essencial para animais que precisam de reposição emergencial de sangue e ou hemocomponentes. Todavia, por não ser tão divulgada, apresenta entraves na sua utilização no dia-a-dia, sobretudo pela falta de bancos de sangue para animais. Por fim, para que se diminuam os riscos de reações indesejadas é necessário, principalmente o monitoramento constante do animal, essencial para a eficácia da terapia, bem como o conhecimento sobre suas aplicações e possíveis reações transfusionais, assim como as medidas a serem tomadas caso ocorram. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 18 Tabela 3: Relação e endereço de alguns bancos de sangue de acordo com o estado da federação onde se localizam Estado e Estabelecimento Contato Pernambuco Hospital Veterinário da UFRPE Rua Dom Manoel de Medeiros, s/nº – Dois Irmãos, Recife/PE. Telefones: (81) 3320-6401 e 3320-6000 Bahia Banco de Sangue Veterinário Hemodog Rua dos Radialistas, 209, salas 1 e 2 - Pituba, Salvador (BA). Tel.: (71) 3011-6846 / (71) 3011-6846 São Paulo Hospital Veterinário da Univ. Anhembi Morumbi HOVET - USP Banco de Sangue Veterinário Rua Conselheiro Lafaiete, 64 - Brás. Tel.: (11) 2790-4693 / (11) 2790-4693 / (11) 2790-4642 / (11) 2790-4642 Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87 - Cidade Universitária Tel.: (11) 3091 -1244 / 1248 Rua Desembargador do Vale, 196 - Perdizes. Tel.: (11) 3476-9461 / (11) 3476-9461 Rio de Janeiro Hemopet - Hemocentro do Rio de Janeiro Hemoterapet Rio de Janeiro Rua Ipiranga, 53 - Laranjeiras. Tel.: (21) 7855-8898 id: 83*31055 / (21) 7854-5433 / (21) 7854-5433 id: 83*30226 Rua Barão de São Francisco, 56 - Vila Isabel. Tel.: (21) 3286-8888 / (21) 3286-8888 Minas Gerais Life Hospital Veterinário Hospital Veterinário da UFU Rua Platina, 165 - Prado - Belo Horizonte (MG). Tel:. (31) 2552-5694 / (31) 3588-5694 Av. Mato Grosso, 3289 - Bloco 2S Campus Umuarama. Tel.: (34) 3218-2135 Paraná Hospital Veterinário da UFP Rua dos Funcionários, 1540. Tel.: (41) 3350-5663 / (41) 3350-5663 / (41) 3350-5664 / (41) 3350-5664 UEL - Londrina http://www.uel.br/hv/ Tel.: (43) 3371-4269 / (43) 3371-4269 Rio Grande do Sul Faculdade de Veterinária da UFRGS Av. Bento Gonçalves, 9090 - Bairro Agronomia. Tel.: (51) 3308-6095 / (51) 3308-6095 Bluts Centro de Diagnóstico Veterinário Rua Dr. Florêncio Ygartua, 427 - Rio Branco, Porto Alegre (RS). Tel: (51) 3072-0427 Santa Catarina Hospital Veterinário da Unisul Av. José Acácio Moreira, 787 - Humaitá, Tubarão (SC). Tel:(48) 3621-3221 Distrito Federal Centro de Especialidades Veterinárias Condomínio San Diego, Lote 13, Loja 01 do Jardim Botânico PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 19 Referências 1 Apicella, C. [Transfusão Sanguínea em Cães. Monografia]. Graduação em Medicina Veterinária. São Paulo: Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, 2009. 2 Gomes, S.G.R.; Hemocomponentes e Principais Aplicações na Terapia Intensiva Veterinária. In: SANTOS, M. M.; FRAGATA, F. S. Emergência e Terapia Intensiva Veterinária em Pequenos Animais. 1ª edição. São Paulo, ROCA, 2008. cap. 16, p. 191 – 207. 3 Kristensen, A.T.; Feldman, B.F. Bancos de sangue e medicina transfusional. In: Ettinger, S.J.; Feldman, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4ª edição. Philadelphia: WB Saunders, cap. 64, p. 497 – 517, 1995. 4 González, F.H.D; Silva, S.C. (Ed.). Patologia clínica veterinária: texto introdutório. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008. 5 Gomes, S.G.R.; Transfusão Sanguínea. In: SANTOS, M. M.; FRAGATA, F. S. Emergência e Terapia Intensiva Veterinária em Pequenos Animais. 1ª edição. São Paulo, ROCA, 2008. cap. 15, p. 172 – 190. 6 Abrams-Ogg, A. Practical Blood Transfusion. In: Day, M.J.; Mackin, A.; Littlewood, J.D. BSAVA Manual of Canine and Feline Haematology and Transfusion Medicine. British Small Animal Veterinary Association, 2000. cap. 15, p. 263 – 307. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 20 Minireview Úlcera de sola: dor e desconforto nos bovinos PETVet News. 2015;4(3): 21 - 29 Andra N. Ferreira1, Layna T. G. Corrêa1, Stefani P. X. da Costa1 & Rinaldo B. Viana2 1Acadêmicas Medicina Veterinária/Ufra Bolsistas PET- SESu/MEC [email protected] 2Prof. Dr. ISPA-Ufra, Tutor PETVet- SESu/MEC Introdução A bovinocultura leiteira é uma importante atividade para muitos países, entre eles o Brasil. Todavia é uma atividade pecuária em que se requer diversos cuidados, sobretudo com a saúde dos animais, haja vista que doenças como mamite, Figura 1. Úlcera de Rusterholz em bovinos. Foto: Prof. Dr falhas na concepção e Eduardo Harry Birgel unior, FZEA/USP enfermidades dos dígitos estão entre as mais são prevalentes nos rebanhos de bovinos, ocasionando sérios prejuízos ao capital pecuário. As pododermatites ou doenças dos cascos e ou dígitos (Fig. 1) são conhecidas por figurarem entre as principais causas de perdas econômicas em bovinos leiteiros. Possuem etiologias diversas, como manejo inadequado dos animais, precárias condições de higiene das instalações e do ambiente, condições genéticas, enfermidades infeccionas intercorrentes, pisos PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 21 excessivamente ásperos e abrasivos, instalações erroneamente dimensionadas e mal construídas, e até deficiências nutricionais e ou erros no manejo alimentar, entre outras. Entre as doenças podais, destaca-se a úlcera de sola (úlcera de Rusterholz ou pododermatite circunscrita; Fig. 1), comumente diagnosticada nos membros posteriores afetando o cório do casco dos bovinos que causa sérios danos a saúde das vacas leiteiras e graves prejuízos à atividade pecuária. Destarte, este artigo propõe uma revisão sobre o tema, abordando os aspectos inerentes à caracterização, aspectos epidemiológicos, tratamento e profilaxia da doença. Caracterização e aspectos epidemiológicos da doença A intensificação dos sistemas produtivos com o confinamento dos plantéis e o constante aumento da produção, mediante o avanço genético, nutricional e mais eficiente manejo, tem proporcionado o aparecimento de doenças, sobretudo aquelas que acometem os dígitos dos bovinos, principalmente devido à permanência dos animais em pisos ásperos e duro¹ em instalações, muitas vezes, mal dimensionadas ou devido ao excessivo adensamento populacional dos animais Figura 2. Vaca com claUdicação devido a úlcera de nos piquetes, free e tie sola. Foto: Marcus Rezende & Rinaldo Viana, Goiás stalls. A úlcera de sola é uma lesão que ocorre na junção da sola com o bulbo e associa-se a uma zona circunscrita de hemorragia e necrose isquêmica localizada. As infecções podais são tidas como as principais causas de claudicação (Fig. 2) de bovinos, sobretudo leiteiros, apresentando um forte impacto econômico PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 22 negativo na produção. Ademais, a taxa de incidência pode chegar a 50% do plantel em alguns rebanhos onde as condições de higiene são precárias². As vacas acometidas pelas lesões digitais permanecem em decúbito por mais tempo, ingerem menos alimento, tem dificuldades para se levantar e estão mais sujeitas a ocorrência das mamites, além de comprometerem a sua eficiência produtiva. As doenças podais prejudicam não somente a produtividade da vaca, com diminuição da produção de leite e de carne, mas também afeta a sua eficiência reprodutiva. Morris et al.3, comparando a manifestação do estro em vacas saudáveis e naquelas com afecções podais afirmaram que esse comportamento é semelhante, no entanto, a intensidade desse estro, nas vacas coxas é menor. Quando inseminadas, essas vacas expressam taxa de prenhez para a primeira inseminação, 10% menor do que nas vacas sadias. As complicações podais interferem na fertilidade a partir da liberação de endotoxinas e histaminas que podem agir reduzindo a liberação de hormônio luteinizante (LH). Simultaneamente, mediante o estresse provocado, tem-se a liberação de cortisol que reduz os níveis do hormônio regulador de gonadotrofinas (GnRH) e, consequentemente dos hormônio folículo estimulante (FSH) e LH³. Outra complicação que afeta a eficiência reprodutivas de vacas com claudicação é a ingestão de baixa quantidade de matéria seca, visto que a vaca com claudicação passará a maior parte do dia deitada e não irá se alimentar adequadamente. Assim, tem-se um balanço energético negativo (BEN) que pode comprometer o crescimento folicular, reduzir a produção de estradiol, que é essencial para o desenvolvimento e manutenção dos tecidos reprodutivos, e, consequentemente influenciar na expressão do estro4. Possibilidade terapêuticas da doença Entre as possibilidades terapêuticas para o tratamento da úlcera de sola, tem a utilização de pensos (curativos)/bandagens e ou colocação de tamancos. A adoção de antibioticoterapia tópica seguida de colocação de bandagem é realizada a partir de adequada higienização do casco afetado, com desbridamento dos tecidos necrosados (Fig. 3). Em seguida, aplica-se uma pasta à base de antibiótico (oxitetraciclina, sulfanilamida, penicilinas...), sulfato de cobre (somente no primeiro curativo, para o debridamento químico da ferida), enxofre e talco neutro5. Uma bandagem pode ser aplicada no casco afetado, e um tamanco de PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 23 madeira ou de policloreto de vinil sob a unha sadia, desviando o peso e aliviando a dor na unha enferma. Figura 3: Retirada de tecido necrosado para tratamento da úlcera de sola. Foto: Prof. Dr Eduardo Harry Birgel Junior, FZEA/USP A bandagem deve ser impermeabilizada com alcatrão vegetal e aconselha-se sua troca a cada cinco dias¹. Ressalta-se que o uso de sulfato de cobre é recomendado enquanto ainda houver tecidos necrosados, geralmente no primeiro penso. Antibióticos ou quimioterápicos para o tratamento sistêmico somente são aconselháveis nos casos em que haja febre, anorexia e apatia do animal5. Acredita-se que a utilização de bandagens (Fig. 4) é um bom recurso terapêutico, pois além de segurar maior higiene ao local da injúria, confere mais conforto ao animal. Todavia, devem ser renovadas periodicamente (a cada cinco a sete dias) para serem mantidas secas. Se a troca não for realizada, o local da lesão terá uma alta umidade, propiciando uma infecção secundária, prejudicando o tempo de cicatrização e comprometendo a saúde da vaca. Além disso, vacas com penso não devem permanecer em locais úmidos, tampouco utilizar pedilúvios e lava-pés. O tratamento com tamancos de madeira é eficiente e dura cerca de quatro semanas1. Este procedimento proporciona benefícios ao animal, pois retira o peso incidente sobre a unha doente, diminuindo a claudicação e facilitando a locomoção, assim contribui na cicatrização e confere mais conforto e bemestar ao animal. O tratamento também minimiza as perdas econômicas na produção leiteira visto que ocorre uma regulação dos hábitos alimentares do animal, diminuindo a anorexia e melhorando a produção6. O custo total do procedimento terapêutico é bastante dispendioso, devido ao fato de ser PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 24 demorado e por levar em consideração gastos com a intervenção cirúrgica, os curativos durante o tratamento, o custo médio do material utilizado, os honorários do veterinário, bem como o salário do tratador7. Figura 5: Tamancos de madeira para tratamento da úlcera de sola. Foto: Ana Carla Oliveira & Rinaldo Viana. Grupo Gaia, Belém/PA Figura 4: Colocação de penso para tratamento da úlcera de sola. Foto: Ana Carla Oliveira & Rinaldo Viana. Grupo Gaia, Belém/PA PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 25 Figura 6. Esquema sequencial para tratamento da úlcera de sola. Imagens: Ana Carla de Oliveira & Rinaldo B. Viana. Gaia, Belém/PA 1 Identificação da lesão Uma adequada inspeção garantirá um exame bem feito e diagnóstico correto. Úlceras, muitas vezes, estão encobertas por solas duplas. Limpeza, utilização da lixadeira e desbridamento podem ser necessários 2 Colocação de Tamanco Um tamanco pode ser colocado na unha sadia 3 Antibioticoterapia tópica Pomada à base de antibiótico + sulfato de cobre (somente no primeiro curativo) + enxofre + talco neutro. Aplicar sobre a úlcera 4 Utilização de pensos Bandagem para proteger a unha Afetada contra sujidades e garantir a abrsoção do antibiótico, bem como conferir mais conforto à vaca. Todos os cuidados referentes ao uso de bandagens devem ser observados 5 Impermeabilização do Penso O penso deve ser impermeabilizado com alcatrão vegetal PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 26 Profilaxia A prevenção se faz pelo casqueamento corretivo periódico (Fig. 3), pela profilaxia da laminite aguda, exame específico do casco e medidas de biossegurança, como adoção de quarentenário na aquisição e introdução de novos animais no criatório8. Outro fator importante na profilaxia da doença diz respeito às instalações que devem ser adequadamente bem higienizadas. Deve-se atentar para as construções dos estábulos, pois estes devem ter pisos regulares e sem objetos Figura 3. Apara corretiva dos cascos dos bovinos. que traumatizem os cascos Foto: Marcus Luciano Guimaraes Rezende. (quinas, piso excessivamente abrasivo, entre outros), assim como as camas devem ser confortáveis e em quantidade suficiente para todo rebanho8. O pedilúvio também é imprescindível no controle e prevenção de infecções podais, recomenda-se o uso de três a cinco vezes por semana para rebanhos com baixa incidência de lesões, sem a presença de novos casos e com boa higiene de patas, usando formalina 3-5%, sulfato de cobre 5% e sulfato de zinco 10% e sua instalação deve ser preferencialmente na saída da sala de ordenha. A frequência de uso do pedilúvio, todavia, depende da presença dos fatores de risco, prevalência dos casos de lesões infecciosas no rebanho, entrada de novos animais e o grau de higiene das instalações. Já em rebanhos com altos índices de doenças, entrada de animais de outros rebanhos e precárias condições de higiene, pode ser recomendado o uso diário. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 27 As orientações para as dimensões da construção são de aproximadamente 80 cm de largura, 3 metros de comprimento e 20 cm de profundidade com uma lâmina de 10 cm de solução8. Sobre duração da atividade dos produtos utilizados ainda pairam muitas dúvidas , mas de um modo geral o número de passadas com o formol são no máximo 200 animais e o sulfato de cobre 80 animais. Caso misture os dois produtos, o número de passadas são 80 animais. O sulfato de zinco 10% pode ser utilizado para lesões de sola, quando o número de animais acometidos é alto, podendo facilitar o tratamento, uma vez que poderemos não conseguir tratar de todos os animais no primeiro momento. No caso da utilização do formol, por ser volátil, independente da quantidade menor de 200 vacas, o produto somente permanece eficaz por no máximo dois a três dias 2 a 3 dias, dependendo da temperatura do ambiente. O cálculo do volume da solução deve ser feito com a multiplicação das dimensões do pedilúvio. Por exemplo: 300 cm de comprimento, 80 cm de largura e 20 cm de altura da água (300 x 80 x 20 = 480 litros), ou seja, para atingir a altura ideal são necessários 480L da solução. Como a concentração recomendada tanto do formol (formalina 37,5%) como do sulfato de cobre são de 5%, serão necessários 24kg do produto a ser utilizado para os 480L de água. Considerações finais A úlcera de sola que afeta sobremaneira a vaca leiteira, visto que prejudica o conforto e bem-estar dos animais, causando-lhes muita dor e moderada a severa claudicação, com quadros de anorexia, perda de peso, diminuição da produção de leite e eficiência reprodutiva. O tratamento com a utilização de bandagens e tamancos é bastante eficaz e o tempo para pronta recuperação pode variar de acordo com a gravidade da lesão. A profilaxia pode ser obtida pelo casqueamento periódico, ótima higienização das instalações, uso de pedilúvio e nutrição bem balanceada. Referências 1. Silva F.F, Alves C.G.T, Silva Júnior F.F. Pododermatite Solar Circunscrita, Úlcera de Husterholz ou Úlcera da sola. Ciênc. Vet. Tróp. 2006;9(2):102-105. 2. Embrapa. Manejo Sanitário do Rebanho Leiteiro. Cnpg – Br. Acesso em 29 Set 2015. Disponível em: http://www.cnpgl.embrapa.br/sistemaproducao/4102222-ulcera-de-sola-oupododermatite-circunscrita PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 28 3. Morris M.J, Kaneko K, Walker S.L, Jones DN, Routly J.E, Smith R.F, Dobson H. Influence of lameness on follicular growth, ovulation, reproductive hormone concentrations and estrus behavior in dairy cows. Theriogenology. 2011;76:658-668. 4. Walker S.L, Smith R.F, Jones D.N, Routly J.E, Dobson H. Chronic stress, hormone profiles and estrus intensity in dairy cattle. Horm and Behav. 2008;53:493-501. 5. Borges J.R.J, Garcia M. Guia Bayer de Podologia Bovina. 2ª ed. São Paulo: Bayer; 2002. 6. Martins L.F.S, Guisso C.A, Schuster L, Hickenbick C, Brito C. Pododermatite Solar Circunscrita, correção de casco utilizando terapia com recurso a taco ortopédico de madeira. In: Araldi DF, Siqueira LC, editores. Anais do 17ª Fórum de Produção Pecuária-Leite: 4º Salão de Trabalhos Científicos; 22-24 Set 2014; Cruz Alta, RS. Ijuí; 2014. 381-385. 7. Ferreira P.M, Leite R.C, Carvalho A.U, Facury Filho E.J, Souza R.C, Ferreira M.G. Custo e resultados do tratamento de sequelas de laminite bovina: relato de 112 casos em vacas em lactação no sistema free-stall. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 2004;56(5):589-594. 8. Ferreira PM, Carvalho A.U, Facury Filho E.J, Ferreira M.G, Ferreira R.G. Afecções do sistema locomotor dos bovinos. II Simpósio Mineiro de Buiatria; 06-08 Out 2005. Belo Horizonte, MG; 2005. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 29 Medicina veterinária: qual área de atuação profissional optar? PETVet News. 2015;4(3):30 - 35 Entrevista Dr. Bruno Moura Monteiro Dr. Bruno Moura Monteiro na International conference on Lameness in Ruminants, Valdivia, Chile, 2015 Résumé. Médico Veterinário pela Universidade Federal Rural da Amazônia - Ufra (2007). Especialista em Bovinocultura de Corte pela Universidade do Norte do Paraná UNOPAR (2008). Mestre em Clínica Veterinária pela Universidade de São Paulo – VCMFMVZ/USP (2011). Doutor em Reprodução Animal pela Universidade de São Paulo VRA/FMVZ/USP (2015). E Pós-doutorando em Reprodução Animal pelo VRA-FMVZ/USP (atual). Ex-Professor de Semiologia, Clínica e Reprodução de Ruminantes pela Universidade Paulista (UNIP) - 02/2014 07/2015. Tem experiência em clínica e reprodução de bovinos e bubalinos. Entrevista a Alef Moreira1 & Rinaldo B. Viana 1Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra Bolsista PETVet- SESu/MEC [email protected] 2Tutor Grupo PETVet SESu/CNPq Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 30 PETVet News. O que lhe motivou a escolher como profissão, a medicina veterinária? Dr. Bruno Moura Monteiro. Não tenho uma resposta objetiva e direta pra essa pergunta. Antes da realização do processo seletivo, fiz alguns testes vocacionais, e todos indicavam Agronomia, Zootecnia ou Veterinária. Talvez essas opções tenham relação com minha preferência pela proximidade com animais, por não gostar de trabalhar em lugares fechados e não ser muito adepto à rotina... Mas a escolha pela Medicina Veterinária deve ter mais relação à característica pessoal minha, a vontade de “cuidar”. PETVet News. A medicina veterinária possui uma vasta área de atuação profissional. O que o fez optar pela Buiatria? Dr. Bruno Moura Monteiro. Tive excelentes experiências antes de tomar essa decisão. Fiz estágio com Clínica e Cirurgia de Animais de Companhia, junto à equipe da Clínica Saúde Animal. Depois, tive a oportunidade de acompanhar o projeto Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), com o grupo da Dra. Maria das Dores Correia Palha (Profa. Dora). No entanto, foi trabalhando com bovinos, búfalos e pequenos ruminantes, fazendo parte do Grupo de Pesquisa Gaia liderado pelo Prof. Rinaldo Batista Viana a partir do sexto semestre da graduação, que consegui aliar o “cuidar” animal com o “cuidar” de pessoas, por meio da produção de alimentos e da segurança alimentar. Foi na Buiatria, afinal, que percebi que nossa profissão é a única que cuida de animais e de pessoas, em todos os aspectos sociais. PETVet News. Porque você optou pela carreira acadêmica? Comente-nos um pouco sobre essa trajetória, enfocando as maiores dificuldades e o que fazer pra sobrepujá-las. Dr. Bruno Moura Monteiro. A escolha sobre a carreira acadêmica tem a ver com a vontade que sempre tive em ser professor. Desde o início da graduação sabia que queria me formar para ministrar aulas, e buscaria os meios necessários para atingir esse objetivo. Na ocasião, eu já sabia que precisaria cursar os cursos de pós-graduação stricto sensu, mestrado e doutorado, mas como, quando ou onde isso aconteceria, foi sendo construído com o tempo. Quando comecei o estágio com animais de produção, fui descobrindo que precisaria de uma série de conhecimentos e PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 31 habilidades específicos para poder construir uma carreira acadêmica sólida. Para exercitar as habilidades de escrita e pensamento científicos, ingressas nos programas de iniciação científica era uma etapa fundamental. Não demorou pra perceber que o domínio da língua inglesa também facilitaria muito as coisas, haja vista que a maioria das informações científicas de qualidade estava publicada nessa língua. Outro fato que ajudou muito adentrar no mestrado de uma Douta Universidade foi realizar um curso de pós-graduação lacto sensu, ou seja especialização, antes de optar pelo Mestrado. Era um diferencial para a maioria dos alunos da seleção, que tinham somente a graduação, não só do ponto de vista curricular, mas também de maturidade profissional. Outra área do conhecimento que seria fundamental à carreira acadêmica era a estatística experimental. Conhecimentos básicos sobre delineamento experimental e análise estatística já faziam muita falta para a iniciação científica, mas seriam determinantes para finalizar o mestrado e ter um número razoável de publicações de impacto até o final do doutorado. Porém, a mais importante e, talvez a maior dificuldade que senti, mas que pode ser aplicada tanto para a vida profissional quanto a pessoal, diz respeito às “relações interpessoais”. Poderia discorrer dezenas de linhas sobre isso, todavia, pra resumir, tem uma frase que traduz bem o que se deve saber sobre convivência... “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.” (Leon C. Megginson). PETVet News. Durante o seu Mestrado e Doutorado você elegeu trabalhar com Búfalos. Como se deu essa escolha e por quê? Dr. Bruno Moura Monteiro. Durante a graduação, na realização de estágios com animais de produção, tive contato com a bubalinocultura, assim como com as demais espécies de animais de produção (principalmente bovinos, caprinos, ovinos e suínos). No entanto, uma coisa que me chamava atenção era que o Estado do Pará detém o maior efetivo de búfalos do país. Além disso, essa é uma espécie que se adaptou muito bem as diversas condições ambientais e climáticas do nosso Estado e, em algumas situações como em áreas de várzea, o búfalo não compete espaço com o bovino. Por fim, como dizia meu orientador de doutorado, Dr. Pietro Baruselli, “quem trabalha com búfalos também trabalha com bovinos, mas quem trabalha com bovinos não trabalha com búfalos.” PETVet News. Sendo você um profissional de qualidade e com muitas experiências, qual área da medicina veterinária você aconselharia aos futuros Médicos Veterinários? PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 32 Dr. Bruno Moura Monteiro. A produção de alimentos estará sempre em alta. Seja qual for a conjuntura política, social ou econômica do planeta, todos sempre precisarão comer! A única coisa que garante isso é a tecnologia e, por conseguinte, técnicos para aplicar essa tecnologia. Portanto, qualquer área ligada à produção de alimentos sempre terá oportunidades, seja com saúde animal, criação, produção, tecnologia de produtos de origem animal ou segurança alimentar. E no médio-curto prazo, assim como já acontece nos países desenvolvidos, é a iniciativa privada que garantirá os investimentos para a produção de tecnologia e qualificação profissional. "Se o homem do campo não roça, a cidade não almoça; se o homem do campo não planta, a cidade não janta". (Deputado Zé Carlos/MA). PETVet News. Comente-nos um pouco sobre os resultados de suas pesquisas. Que contribuição elas trazem à luz do conhecimento sobre a criação de bubalinos? Dr. Bruno Moura Monteiro. Durante o mestrado estudamos a influência de diferentes situações fisiológicas no metabolismo de búfalos para exploração leiteira. Especificamente no mestrado, observamos momentos de sobrecarga metabólica severa em todas as categorias animais, principalmente no que tange a deficiência nutricional que os animais são submetidos quando criados extensivamente, sem qualquer suplementação nutricional estratégica. Já no doutorado, estudamos a aplicação de uma biotécnica para garantir eficiência reprodutiva aceitável em búfalas leiteiras sob influência do fotoperíodo, tanto nos períodos de dias curtos e como nos dias longos no Sudeste do Brasil. Em linhas gerais, acredito que estas pesquisas apontaram algumas limitações de aplicação de tecnologia que a bubalinocultura ainda sofre nas condições criatórias do Brasil. Tivemos a oportunidade de mostrar que a utilização de tecnologia simples e barata no manejo reprodutivo de fazendas produtoras de leite de búfala é capaz de melhorar a eficiência reprodutiva e potencializar a produção de leite da propriedade. Vale ressaltar que muitas vezes a tecnologia já existe. Por vezes essa tecnologia precisa de adaptações para a utilização em búfalos. No entanto, é notória a dificuldade de comunicação entre os locais de produção de conhecimento, como institutos de pesquisa e universidades com a outra ponta da cadeia produtiva, o produtor rural. De nada serve conhecimento produzido ou tecnologia desenvolvida se esta não pode proporcionar o bem-estar da comunidade. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 33 PETVet News. Recentemente você ganhou o prêmio MSD Animal Health CLINICAL RESEARCH AWARD. Fale-nos um pouco sobre a premiação e legado cientifico do seu trabalho premiado. Dr. Bruno Moura Monteiro. O prêmio foi o resultado de um bom trabalho em equipe. Acho que essa pesquisa ilustra muito bem o sucesso da parceria público-privada. Fomos capazes de aliar uma necessidade prática relacionada à saúde de bovinos (tratamento da ceratoconjuntivite infecciosa), com a utilização racional e segura de um antibiótico comercial. A pesquisa produziu um resultado aparentemente contraditório, que só a experimentação científica e a análise econômica juntas foram capazes de sustentar, comprovando aplicabilidade e viabilidade. Deste modo, acreditamos que foi possível ser agraciado com o prêmio, mesmo concorrendo com trabalhos de toda a América Latina. Foram premiados dois trabalhos, o nosso e outro do Equador. Com a pesquisa, mostramos que a utilização local de um antibiótico indicado para uso sistêmico não só reduziu substancialmente as quantidades de antibiótico utilizadas, como se diminuiu o custo (cerca de 20 vezes menos) do tratamento sem comprometimento algum na eficácia do tratamento. Ou seja, uma pesquisa aplicada à bovinocultura, mas que teve influência direta no custo de produção da cadeia pecuária, impacto sobre a resistência microbiana a antibióticos e na segurança alimentar do consumidor final, visto que a forma proposta de administração manteve a eficácia do tratamento com somente 5% da dose convencional. PETVet News. Na sua opinião, como professor, o que um graduando precisa fazer para ser um profissional de qualidade? Dr. Bruno Moura Monteiro. (1) Criticidade: acredito que é muito importante você buscar identificar suas limitações e dificuldades, pra poder saber como e quanto deve melhorar. Quase sempre precisamos de um chefe duro ou um verdadeiro amigo pra nos falar nossos verdadeiros defeitos. É preciso humildade pra melhorar; (2) Dedicação: todo sucesso é pautado em esforço. O descanso é importante pra pensar, refletir e melhorar, mas só o trabalho constrói. Só a dedicação produz algo bem feito; (3) Respeitar as pessoas que trabalham com você: nunca esqueça que todos os que fazem parte do processo são importantes. Se uma pessoa está desmotivada ou faz o trabalho mal feito, todo o sistema perde rendimento. Todos têm limitações e dificuldades, inclusive você. Cabe a cada um reconhecer e respeitar as funções, atribuições e limitações dos membros da equipe. Cumprimente, agradeça e seja gentil. O SEU direito SÓ começa quando o do OUTRO PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 34 acaba, e não o contrário; (4) Eficácia: fazer sempre o melhor que você puder fazer, para cada momento: Lembre-se que existe um abismo entre “tentar” fazer e fazer o “melhor”. Quando você “tenta”, existe uma grande chance de desistir no primeiro ou no segundo obstáculo. Em contrapartida, “fazer o melhor” é dinâmico, é o possível somente para aquele momento, mas se a situação muda, automaticamente você tem motivação para refazer, melhorar, aprimorar e caprichar. Com o tempo percebemos que quem quer fazer arruma um jeito, quem não quer fazer arruma uma desculpa. PETVet News. Que conselhos você daria a um jovem profissional na escolha de que caminho trilhar no exercício profissional? Como direcionar o exercício profissional após a graduação: residência, mestrado/doutorado, carreira acadêmica e ou científica...? Dr. Bruno Moura Monteiro. Gosto muito de um texto do Stephen Charles Kanitz chamado “Fazer o Que Se Gosta”. É uma opinião que, no mínimo, causa reflexão, portanto, farei minhas algumas das palavras dele... “Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito”. “Empresas pagam a profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer”. “A saída para esse dilema é aprender a gostar do que você faz. E isso é mais fácil do que se pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição”. “Você poderá não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltará, porque se paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que fazem o mínimo necessário”. “Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitirão que realize seu trabalho com distinção e o colocarão à frente dos demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem porque não se prepararam adequadamente, não estudaram o suficiente, não sabem fazer aquilo que gostam, e aí odeiam o que fazem mal feito”. “Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado, e outras portas se abrirão”. “Faça seu trabalho mal feito e você odiará o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, seu país e a si mesmo”. PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015 35
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