Volume 004, número 03 - PET

Transcrição

Volume 004, número 03 - PET
PETVetnews
Ministério da Educação
Secretária de Educação Superior
Universidade Federal Rural da Amazônia
Programa de Educação Tutorial em Medicina Veterinária
PETVet News. Volume 4, número 3, set. – dez. 2015
ISSN: 2447-4592
www.petvet.ufra.edu.br
Você curte fotografia? Tem uma foto
que retrate a fauna de sua cidade? Se
sim, essa notícia é para você:
ArtePETVet 2016
concurso de fotografia e desenho:
Fauna Urbana.
Participe!!!
Leão Marinho, Rio Calle Calle, Valdívia, Chile, 2015
PETVet
News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
Foto: Rinaldo
B. Vianna
1
PETVetnews
PETVet News. Volume 4, número 3, set. – dez. 2015
ISSN: 2447-4592
www.petvet.ufra.edu.br
Índice
Expediente
3
Editorial
4
Nossa capa
ArtePETVet
Rinaldo Batista Viana
5-6
Minireview
Osteodistrofia fibrosa em equinos
Stefani Costa e Rinaldo B. Viana
Cardiopatias congênitas em cães
Verena Maciel da Costa e Rinaldo B. Viana
Cão doador. Saiba como esse gesto pode salvar uma vida!
Walberson Dias da Silva e Rinaldo B. Viana
Úlcera de sola: dor e desconforto nos bovinos
Andra N. Ferreira, Layna T. G. Corrêa, Stefani P. X. da Costa & Rinaldo B. Viana
7-9
10 - 14
15 - 20
21 - 29
Entrevista
Entrevista
Dr. Bruno Moura Monteiro
Medicina veterinária: qual área de atuação profissional optar?
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
30 - 35
2
Expediente
PETVetnews
PETVet News. Volume 4, número 3, set. – dez. 2015
ISSN: 2447-4592
www.petvet.ufra.edu.br
Equipe editorial
Rinaldo Batista Viana
Editor-in-chief
Associated editors
Alef Rodrigo Prata Moreira
Helen Kamile de Oliveira Chaves
Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Ana Carla Oliveira Ferreira
Joévelyn Jacqueline Santos da Silva
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Bolsista IC PIBIC/CNPq
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Andra Nunes Ferreira
Layna Thayssa Guimarães Corrêa
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
André Augusto do Nascimento Mendonça
Raquel de Alencar e Silva
Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Atila Carvalho Guerreiro
Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Samantha Silva da Silva
Caio Cesar Rocha Mendes
Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Carolyne Teixeira do Espirito Santo
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Stefani de Paula Xavier da Costa
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Verena Maciel da Costa
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Brunna Gonçalves Vidal de Lima
Walberson Dias da Silva
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Bolsista IC PIBIC/CNPq
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Elen Júlia Pimentel da Rocha
Contato
Programa de Educação Tutorial
Medicina Veterinária - UFRA
[email protected]
Sala do PETVet (ISPA)
Av. Presidente Tancredo Neves, Nº 2501
Cep: 66.077-830 Montese Belém-Pará-Brasil
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Filipe Luigui Soares da Costa
Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
Gabriel Sousa Furtado da Silva
Acadêmico de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PET- SESu/MEC
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
Políticas de Privacidade
Aviso de Direito Autoral
Copyrigth@2012 - PETVet/UFRATodos os
Direitos Reservados
3
PETVetnews
Editorial
E
2015
se
encerra
assim:
implementamos um novo layout, não
somente para o jornal, mas também
para o site e aprimoramos cada vez
mais a qualidade dos textos/artigos
publicados além da atribuição do
ISSN, que muito contribui para a boa
qualidade do jornal.
Deste modo, estamos caminhando
para um jornal com um enfoque não
somente informativo, mas também
científico.
Esperamos a partir de 2016 publicar o
jornal trimestralmente o que nos
daria quatro números por ano, assim
como abrir para pesquisadores
convidados
a
publicação
e
divulgação de matérias informativas
e artigos de revisão e ou notas.
Destarte, esperamos com as ações
como essa, contribuir para melhoria
da formação dos acadêmicos de
medicina veterinária da Universidade
Federal Rural da Amazônia, por meio
não somente das iniciativas do
PETVet, mas também pelo efeito
multiplicador da boa formação dos
petianos do grupo.
Buscar a excelência na formação
dos nossos tutorandos, bem como na
qualidade de nossas ações tem sido
nossa constante meta.
Assim esse jornal é feito com todo
desvelo e carinho para você, caro
leitor e leitora.
PETVet News. Volume 4, número 3, set. – dez. 2015
ISSN: 2447-4592
www.petvet.ufra.edu.br
Esperamos que apreciem mais essa
edição e nos envie sua sugestão,
comentário
e
ou
crítica
([email protected]) que será
muito bem aceita.
Um feliz ano novo para todos e boa
leitura.
Até a próxima edição.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
Rinaldo B. Viana
Tutor PETVet-Ufra
Editor-in-chief PETVet News
4
Nossa capa
ArtePETVet 2016:
concurso de fotografia e desenho
PETVet News. 2015;4(3): 5 – 6 A capa dessa edição retrata a foto de um leão marinho registrado na
Cidade de Valdívia, ao Sul do Chile. Ela ilustra bem o intuito do ArtePETVet
2016 que é retratar a fauna urbana.
Desenho e arte: Walberson Fernandes.
PETVet News ©, 2015. Conteúdo de criação própria.
O
PETVet realizará em 2016 um
concurso de fotografia e desenhos.
PETVet
mais
detalhes
(www.petvet.ufra.edu.br).
Desde já antecipamos algumas
informações
sobre
o
referido
concurso. Aguardem no site do
1 Apresentação
A realização do “ArtePETVet 2016:
concurso
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
5
de fotografia e desenho” vem
reafirmar o objetivo da Grupo PET de
Medicina
Veterinária
da
Ufra
(PETVet), em contribuir
com as
atividades acadêmicas e culturais
da
sociedade
paraense,
e
valorização e preservação da
biodiversidade local.
divulgadas em mídia impressa (a
definir).
2 Tema
3.4 Entende-se por inédita a
fotografia não apresentada em
nenhuma mostra ou premiada em
outros concursos e editais até a data
da inscrição.
O tema proposto “Fauna urbana”,
busca refletir sobre a valorização da
fauna local, por meio da criação de
imagens que retratem a integração
da biodiversidade e do homem nas
metrópoles.
3.3 Todas imagens selecionados
participarão da exposição virtual no
site do evento por período a ser
definido
pela
comissão
organizadora.
3 Do objeto
3.1 Constitui objeto do presente
Edital a seleção de imagens inéditas,
que abordem o tema acima
descrito, para mostra on line – em
espaço virtual no site – e em espaço
físico para as imagens vencedoras
em cada categoria (revista a definir)
nas seguintes categorias:
a)
Categoria
1
–
Imagens
fotográficas (acima de 300 dpi);
b) Categoria 2 – desenhos a mão
livre
ou
feitos
em
programa
computacional;
3.2 Nas categorias 1
premiadas (primeiro
categoria) serão
formato
maior
e 2 as imagens
lugar de cada
impressas em
para
serem
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
6
Minireview
Osteodistrofia
fibrosa em
equinos
PETVet News. 2015;4(3): 7 – 9 Stefani Costa1 e Rinaldo B. Viana2
1Acadêmica
de Medicina Veterinária/Ufra
Membro PETVet- SESu/MEC
Email: [email protected]
2Tutor Grupo PETVet SESu/CNPq
Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia
Introdução
A
osteodistrofia fibrosa, ou
hiperparatireoidismo
nutricional
secundário, ou ainda “doença da
cara inchada” como é conhecida,
é uma doença diretamente relacionada a fatores dietéticos, isto é, uma
dieta rica em fósforo e oxalato, ou ainda quando há deficiência na
disponibilidade de cálcio. Caracteriza-se pela grande liberação de
paratormônio (PTH), ocasionando aumento nos níveis de cálcio sérico, na
tentativa de um equilíbrio entre Ca:P. Destarte, objetiva-se com esse artigo
abordar a etiologia, patogenia, bem como o tratamento e profilaxia da
doença, afim de fornecer conhecimento e, instigar o leitor aos constantes
cuidados que se deve ter na dieta nutricional da espécie em questão.
http://nelsonferreiralucio.blogspot.com.br/2014/06/osteodistrofiafibrosa-generalizada-em.html
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
7
Etiopatogenia
De acordo com Méndez e Riet-Correa1, está relacionada diretamente com
a alimentação de equinos a partir de forragens a base de Panicum
maximum e Setaria anceps, entre outras. Estas atuam no organismo animal
ocasionando
uma
hiperfosfatemia
e,
consequentemente
uma
hipocalcemia, pois, o fosfato presente em maior quantidade irá estimular a
liberação do PTH; este, por sua vez, estimula a reabsorção óssea, ou seja, a
retirada de cálcio dos ossos para o sangue. Contudo, o oxalato presente em
grande quantidade nas pastagens se liga ao cálcio formando o complexo
oxalato de cálcio, que por sua insolubilidade, não será absorvido no trato
intestinal, e consequentemente continuará acarretando em níveis cada vez
mais baixos de cálcio no sangue, estimulando ainda mais a liberação de PTH
pela paratireoide, ocasionando hiperparatireoidismo com, posteriormente
reabsorção óssea.
Segundo Méndez e Riet-Correa1, isto leva a um grande desgaste ósseo,
principalmente na região da mandíbula; essa lesão resulta em reparação
óssea, realizada pela deposição de tecido conjuntivo, dando origem a uma
região resistente e consistente, lhe conferindo um aspecto de borracha, que
ao ser pressionado observa-se o deslocamento de tal tecido.
Como o excesso do P na dieta faz com que o Ca dos ossos seja retirado
para que o equilíbrio na relação Ca:P seja mantido. Deste modo é
importante atentar para esta relação que deve ser próxima de 2:1, sendo
1,6:1 para potros em crescimento e éguas em lactação; 1,8:1 para cavalos
de esporte e em manutenção2.
Sinais clínicos
Os sinais clínicos são menos evidentes nos animais adultos do que em animais
jovens. Os ossos da face (os mais acometidos) ficam com aspecto
amolecido devido à perda da matriz óssea, aumentados de volume e
deformados, o que lhe confere o nome de “cara inchada”. Esses animais,
em um estágio mais avançado, tendem a emagrecer, decorrente da
absorção óssea ocorrida nos alvéolos dentários, deixando-os frouxos, e isto
resulta em déficit na mastigação, diminuindo assim o consumo alimentar.
Outros sinais observados são o baixo desempenho quando submetidos a
atividades, devido à dor; claudicação, exostose e, até fraturas decorrentes
da intensa reabsorção óssea3.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
8
Tratamento
É importante tentar iniciar o tratamento combatendo a causa primária, ou
seja aumentar a administração de cálcio, diminuir a de fósforo, e evitar
pastagens ricas em oxalato. Em estágios mais avançados deve-se proceder
à administração maciça de cálcio, bem como de medicamentos que
auxiliem na absorção intestinal deste elemento3.
Aplicar uma vez ao dia por via intravenosa cerca de 0,5 mL kg-1 em solução
a 10%, de produtos à base de cálcio, suplementando esta ingestão com 30 50 g de carbonato de cálcio (estes podem ser misturados ao sal mineral ou
concentrado vitamínico3). Considerações finais
A partir de uma dieta administrada de maneira errônea (ricas em oxalato),
ou deficiente nos elementos cálcio e fósforo, equinos podem desenvolver o,
hiperparatireoidismo nutricional secundário.
É importante ressaltar que a prevenção da doença também pode ser
realizada expondo o animal, por algumas horas, à luz solar, haja vista que a
partir dela há ativação de alguns componentes da formação de vitamina D,
e esta auxilia no equilíbrio entre os elementos acima citados.
Éguas em final de gestação apresentam tendência a desenvolver a
“doença da cara inchada” assim como potros entre seis meses e três anos
de idade. Deste modo, são necessários cuidados e atenção com fêmeas em
final de gestação, assim como seus potros.
Referências
1 Méndez, M.C.; Riet-Correa, F. 2007. Osteodistrofia Fibrosa. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.;
LEMOS, R.A.A. et al. (Ed.) Doenças de Ruminantes e Equídeos. Santa Maria: Pallotti,. v.2,
p.289-293.
2 Washington, D. C. NATIONAL RESEARCH COUNCIL / NUTRIENTS REQUERIMENTS OF DOMESTIC
ANIMALS. Nutrient requeriments of horses. Fifth revised edition, 1999.: National Academy
Press, 1999.
3 Thomassian, A.; Enfermidades do Cavalo, 4 ed., Botucatu – SP: Varela, 573p, 2005.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
9
Minireview
Cardiopatias congênitas em cães
PETVet News. 2015;4(3):10 – 14
Verena Maciel da Costa1 e Rinaldo B. Viana2
1Acadêmica
de Medicina Veterinária/Ufra
Bolsista PETVet- SESu/MEC
Email: [email protected]
2Tutor Grupo PETVet SESu/CNPq
Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia
Desenho: João Gabriel do Espirito Santo.
PETVet News©, 2015.
Conteúdo de criação própria.
Introdução
Os distúrbios congênitos do coração e grandes vasos encontram-se entre as
anomalias mais, frequentemente encontradas e mais importantes em
animais. As anomalias mais graves podem não ser compatíveis com a vida
fetal; outras, embora completamente compatíveis com a sobrevivência
fetal, tornam-se evidentes com a mudança da circulação fetal para a
circulação pós-natal1.
Segundo Sisson2 os defeitos congênitos podem ser causados por fatores
genéticos, tóxicos, nutricionais, infecciosos, ambientais e farmacológicos.
Dada a importância do tema objetiva-se com esse artigo abordar três
cardiopatias, seus aspectos mais relevantes e as raças de cães mais
acometidas por cada enfermidade (Tabela 1).
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
10
Tabela 1. Cardiopatias e as raças de cães em que ocorrem com mais frequência
Doença
4,15,16 e 17.
Raça
Ducto Arterioso Patente
Maltês, Poodle Toy, Poodle miniatura, Yorkshire
terrier, Chihuahua
Estenose Pulmonar
Bulldog inglês, Cocker Spaniel, Beagle, Chihuahua
Estenose Aórtica
Golden Retriver, Rottweiler, Boxer, Pastor Alemão,
Bulldog Inglês, Dogue Alemão
Displasia Tricúspide
Labrador Retriver, Pastor Alemão, Boxer
Displasia Mitral
Bull Terrier, Pastor Alemão, Dogue Alemão, Golden
Retriver
Ducto Arterioso Patente
O ducto pode ficar patente nos filhotes com menos de quatro dias de idade
e em geral está fechado com segurança por volta de sete a dez dias após o
nascimento. A persistência do ducto arterioso (PDA), também denominada
de ducto arterioso patente é um defeito cardíaco congênito
frequentemente encontrado em cães. Nesse defeito cardíaco congênito, o
lume permanece aberto, o sangue é desviado através do ducto da aorta
descendente para a artéria pulmonar1,3,4. O sintoma clínico mais comumente
encontrado é um murmúrio contínuo característico que pode ser ouvido na
base do coração esquerdo: o pulso femoral se torna hipercinético devido à
pressão ampla causada pela passagem de sangue diastólico através do
ducto5, 6. Em exames radiográficos de DAP, evidenciam-se aumentos atrial e
ventricular esquerdos e dos vasos pulmonares direito e distensão da aorta
descendente5, 7. Por ultrassonografia, pode-se confirmar a patência do
ducto e excluir ou não o diagnóstico de doenças cardíacas concomitantes7.
A primeira ligadura do ducto foi realizada em 1939, por Gross e Hubbard e,
desde então, a correção cirúrgica aceita como padrão se dá por
toracotomia intercostal esquerda seguida de dissecação e ligadura do
ducto5, 8. Esta técnica é considerada curativa e dever ser realizada tão logo
seja feito o diagnóstico6. A oclusão do ducto arterioso patente por
videotorascopia é indicada por diminuir a dor no pós-operatório, melhorar a
função pulmonar, diminuir o risco de hemorragia intra-operatória e diminuir o
tempo de internação8.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
11
Estenose Pulmonar (EP)
A Estenose Pulmonar é uma doença cardíaca congênita caracterizada por
uma obstrução dinâmica ou fixa do trato de saída do ventrículo direito.
Dessa forma, cria-se uma resistência à saída de sangue, um aumento da
pós-carga e, consequentemente, uma elevação da pressão sistólica e
ventricular direita.
A maioria dos cães com EP tende a não ter qualquer sinal clínico mesmo
com obstrução severa9, 10. Uma diminuição sutil na tolerância ao exercício
pode ser observada pelo dono, embora indivíduos com EP leve a moderada
tenham uma vida completamente normal e assintomática9, 11. A maioria dos
cães é assintomática até ao primeiro ano de vida, sendo a EP descoberta
geralmente pela auscultação de um sopro cardíaco12.
O achado físico mais proeminentemente encontrado durante o exame físico
é um sopro sistólico de ejeção crescendo e decrescendo com ponto de
máxima intensidade na base esquerda radiando dorsalmente, sendo que
em alguns casos é audível igualmente bem no hemitórax cranial direito12.
Ao longo da vida do animal devem ser realizadas uma série de exames
ecocardiográficos de modo a monitorar o grau de hipertrofia ventricular e
determinar se uma estenose infundibular secundária ou regurgitação
tricúspide se desenvolveu, podendo alguns cães agravar a obstrução com o
tempo12.
Das Cardiopatias congênitas, a EP é a terceira mais frequente, afetando 18%
dos pacientes com doença cardíaca congênita. Apenas a persistência do
duto arterioso e estenose subaórtica são mais frequentes com assiduidade
de 32% e 22% respectivamente13.
Estenose Aórtica
A estenose aórtica é caracterizada por um estreitamento ou redução,
localizada na dimensão do sistema de fluxo causando uma sobrecarga de
pressão4. É um defeito congênito que acomete raças grandes14, e parece
predispor cães da raça Boxer15, Golden Retriever16 e Rotweiller17. Outros
locais que pode ocorrer a estenose são em regiões subaórtica e
supravalvular, sendo a primeira a mais comum responsável por 90% dos
casos caninos. É caracterizada por um anel fibroso localizado logo abaixo
da valva semilunar aórtica que impede o esvaziamento do ventrículo
esquerdo. Em cães da raça Golden Retriever é considerada uma alteração
familiar, com achados ecocardiográficos característicos de hipertrofia
ventricular esquerda, crista subvalvular e insuficiência aórtica18. A estenose
supravalvular, é mais comum em gatos4, a indução dessa alteração em
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
12
animais jovens promove o desenvolvimento precoce de hipertrofia
ventricular esquerda concêntrica e fibrose miocárdica19.
Os sinais clínicos de EA podem ser assintomáticos ou podem apresentar
intolerância ao exercício, colapso ou síncope. A falta de sinais clínicos não é
uma razão para retardar a avaliação diagnóstica, pois a primeira evidência
de EA pode ser a morte súbita14. O achado físico predominante nos animais
acometidos com EA é sopro sistólico, melhor audível na base do coração,
em casos moderados a graves, pulsos femorais podem ser fracamente
visíveis14 e 15.
Exames diagnósticos incluem o eletrocardiograma, que mostra uma
mudança de eixo cranial esquerda ou ectopia ventricular, sendo esses
achados normais para a EA14 e 20.
Considerações finais
Dentre as Cardiopatias congênitas, as mais frequentes envolvem a patência
do ducto arterioso, a estenose pulmonar e a aórtica. Essas enfermidades
assumem sintomatologia ou não e estão relacionadas às raças animais com
maior assiduidade em determinados tipos. O cuidado relegado a esses seres
estão intrínsecos ao tipo de cardiopatia estabelecida, muitas podendo ser
corrigidas por meio de intervenções cirúrgicas e outros com a utilização de
fármacos para melhoria dos sintomas, no entanto, é importante ressaltar que
a visita ao médico veterinário é fundamental para identificação da doença
de forma precoce, para que possa ser estabelecido um bom prognóstico a
fim de evitar complicações que, inclusive, podem levar o animal a óbito.
Referências
1 Jones, Thomas Carlyle; HUNT, Ronald Duncan; KING, Norval William. Patologia Veterinária.
Tradução de Fernando Gomes do Nascimento. 6.ed. São Paulo: Manole, 2000. cap. 21, p.
991- 995.
2 Sisson, D. David; Thomas, Willliam P.; Bonagura, J. D. Cardiopatia Congênita. In: Ettinger,
Stephen; FELDMAN, Edward C. (Ed.) Tratado de Medicina Interna Veterinária: doenças do
cão e do gato. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, © 2004. V.1, cap. 112, p.788-817.
3 Ware, W.A. Anomalias Cardíacas Congênitas Comuns. In: Nelson, R.W., Couto, C.G. (Ed.).
Medicina Interna de Pequenos Animais. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. cap. 9, p. 147163.
4 Goodwin, J.K. Cardiopatias congênitas. In: Tilley, L.P.; Goodwin, J.K. Manual de cardiologia
para cães e gatos. São Paulo: Roca, 2002. p. 259-276.
5 Bonagura, J.D. Congenital heart disease. In: Ettinger, S.J. Textbook of veterinary internal
medicine. 3. Rd. ed. Philadelphia/; Saunders, 1989. Cap. 74, p.976-1030.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
13
6 Orton, C.E. Surgery of cardiovascular system. In: Fossum, T.W. Small animal surgery. St. Louis:
Mosby, 1997. Cap. 24, p.575-608.
7 Lipowitz, A.L. et al. Cardiovascular Surgery In: Complications in Small Animal Surgery,
Philadelphia: Lea & Febiger, 1996. Cap. 8, p. 267-286.
8 Kim, B.Y. et al. Video-assisted thoracospic ligation of a patent ductus arterious. Technique of
sliding loop ligation. Journal of Cardiac Surgery, v. 41, n. 1, p. 69-72, 2000.
9 Kittleson, M.K., RD. Small Animal Cardiovascular Medicine, Mosby, 1998.
10 Fox, P. Textbook of canine and feline cardiology: principles and clinical practice, W.B.
Saunders.1999.
11goodwin, J.K. Manual of Canine and Feline Cardiology, WB Saunders. 2001.
12 Ettinger, S. Textbook of Veterinary Internal Medicine, Elsevier Health Sciences. 2004.
13 Buchanan, J.W. Causes and prevalence of cardiovascular diseases. Philadelphia, WB
Saunders, 1992.
14 McPhail, C.M. Surgery of the cardiovascular system . In: Fossum, T.W. Small Animal Surgery.
4. ed. Missouri: Editora Elsevier, 2013, cap 28, p. 856-879.
15 Kienle, R.D.; Thomas, W.P.; Pion, P.D. The natural clinical history of canine congenital
subaortic stenosis. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 8, n. 6, p. 423-431, 1994.
16 O'Grady, M.R.; Holmberg, D.L.; Miller, C.W.; Cockshutt, J.R. Canine congenital aortic
stenosis: A review of the literature and commentary. The Canadian Veterinary Journal, v. 30,
n. 10, p. 811-815, 1989.
17 Meurs, K.M. Genetics of Cardiac Disease in the Small Animal Patient. Veterinary Clinics of
North America: Small Animal Practice, v. 40, n. 4, p. 701-715, 2010.
18 Stern, J.A.; Meurs, K.M.; Nelson, O.L.; Lahmers, S.M.; Lehmkuhl, L.B. Familial subvalvular
aortic stenosis in golden retrievers: inheritance and echocardiographic findings. Journal of
Small Animal Practice, v. 53, p. 213–216, 2012.
19 Ribeiro, H.B.; Okoshi, K.; Cicogna, A.C.; Bregagnollo, E.A.; Rodrigues, M.A.M.; Padovani,
C.R.; Okoshi, M.P. Estudo Evolutivo da Morfologia e Função Cardíaca em Ratos Submetidos a
Estenose Aórtica Supravalvar. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 81, n. 6, p. 562-8, 2003.
20 McConkey, M.J. Congenital cardiac anomalies in an English Bulldog, The Canadian
Veterinary Journal, v. 52, p. 1248-1250, 2011.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
14
Minireview
Cão doador. Saiba como esse
gesto pode salvar uma vida!
PETVet News. 2015;4(3):15 – 20
Walberson Dias da Silva1 e Rinaldo B. Viana2
Acadêmica de Medicina Veterinária/Ufra
Bolsista PETVet- SESu/MEC
Email: [email protected] 2Tutor Grupo PETVet SESu/CNPq
Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia
Introdução
Desenho: João Gabriel do Espirito Santo.
PETVet News©, 2015.
Conteúdo de criação própria.
A
transfusão sanguínea conceitua-se
como a terapia intravenosa em que se
utiliza sangue total ou hemocomponentes
(a depender da disponibilidade e indicação) recomenda para corrigir
quadros de anemias graves causada por hemorragia, hemólise, eritropoiese
ineficaz, anemia hemolítica auto-imune e neoplasias1. Assim, objetiva-se
com este artigo informar os leitores acerca da importância da transfusão
sanguínea como terapia emergencial, bem como abordar os aspectos
inerentes a erros no mal emprego da técnica.
O sangue e suas frações
Ao ser colhido em bolsas, contendo anticoagulante, o sangue pode ser
fracionado e separado em seus diferentes componentes. Para não se
transfundir hemocomponentes desnecessários para o animal, é
recomendado que se utilize apenas aqueles indicados para cada situação
(Tabela 1).
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
15
Tabela 1: Componentes sanguíneos, suas utilizações e doses2
Produto
Dose
Observações
Anemia hipovolêmica
Anemia com alterações
hemostáticas
(trombocitopenia e
coagulopatia)
20 mL kg-1 para
elevar em 10%
o VG
Risco de sobrecarga
de volume em animais
normovolêmicos
Anemia hipovolêmica
20 mL kg-1 para
elevar em 10%
VG
Não preserva
plaquetas e nem
fatores de coagulação
Anemia
10 mL kg-1 para
elevar em 10%
o VG
Ideal para pacientes
normovolêmicos
Concentrado de
plaquetas
Trombocitopenia
1Ul 10kg-1;
repetir se
necessário (10
mL kg-1)
Indicação terapêutica
e profilática
Plasma rico em
plaquetas
Trombocitopenia
1UI 10kg-1
Risco de sobrecarga
de volume
Coagulopatias hereditárias
e adquiridas (*)
Pancreatite aguda
Expansor de volume
(segunda opção)
Hipoproteinemia
Hipoglobulinemia
10 a 30 mL kg-1,
repetir, se
necessário (10
mL kg-1)
Múltiplas transfusões
podem ser necessárias
em razão da meia-vida
reduzida dos fatores de
coagulação
Hipoproteinemia
Hipoglobulinemia
10 a 30 mL kg-1;
repetir, se
necessário (10
mL kg-1)
Indicado no
tratamento das
hipoproteinemias a
curto prazo
Hemofilia
Doença de Von Willebrand
1UI 10kg -1
(repetir se
necessário)
Administrar 30 minutos
antes da cirurgia
Sangue total
fresco
Sangue total
estocado
Concentrado de
hemácias
Plasma fresco
congelado
Plasma
congelado
Crioprecipitado
Indicações
VG = volume globular. (*) = Coagulação intravascular disseminada; sepse; hepatopatia;
neoplasia; coagulopatia dilucional; dicumarínicos)
Grupos sanguíneos
Os cães possuem oito grupos sanguíneos (Tabela 2) diferentes identificados
como antígenos eritrocitários caninos (“dog erythrocyte antigen”, DEA)3.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
16
Tabela 2: Tipos sanguíneos caninos consoante KRISTENSEN3
Nome atual
Nome Comum
Incidência na população
DEA 1.1
A1
40%
DEA 1.2
A2
20%
DEA 3
B
5%
DEA 4
C
98%
DEA 5
D
25%
DEA 6
F
98%
DEA 7
Tr
45%
DEA 8
He
4%
O doador
O doador canino dever ter
idade entre dois a oito anos,
ter temperamento dócil e ser
vacinado,
não
apresentar
hemoparasitas
e
outras
doenças infecciosas (raiva,
cinomose, hepatite infecciosa,
leptospirose,
parvovirose
e
coronavirose). Os cães podem
doar cerca de 15 a 20% do
volume sanguíneo, podendo
repetir o procedimento a cada
3 a 4 semanas, desde que
recebam nutrição balanceada
em quantidade adequada4.
Reações transfusionais
As
reações
transfusionais
podem ser reduzidas seguindo
as normas apropriadas de uso
de produtos sanguíneos. Um
método imprescindível para
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
17
evitar reações é minimizar a transfusão de produtos desnecessários ao
paciente. O médico veterinário deve escolher cuidadosamente o
hemocomponente a ser transfundido1.
O teste de compatibilidade é usual na clínica para a transfusão sanguínea.
Este deve ser realizado antes da transfusão, mesmo que tenha sido feita a
tipagem sanguínea. A tipagem é eficaz na identificação dos antígenos
presentes nas hemácias do paciente, porém não detecta os anticorpos
presentes no paciente e no doador, o que será determinado pelo teste de
compatibilidade5.
Após a aparição de qualquer sinal clínico deve ser suspensa a transfusão
sanguínea. Reações como urticária, eritema, angioedema e prurido podem
ser tratadas com a administração intravenosa ou subcutânea de
dexametasona (0,5-1,0 mg kg-1) ou difenidramina (2 mg kg-1, via
intramuscular). Se os sinais cessarem após o tratamento a transfusão pode ser
continuada com cautela. Na ocorrência de sinais graves como choque,
dispneia e broncoconstrição severa, a administração de dexametasona em
doses elevadas (4-6 mg kg-1, via intravenosa) e de epinefrina (0,01 mg kg-1,
via intravenosa) também pode ser usada, e a interrupção da transfusão
deve ser mantida6.
Os serviços de banco de sangue e ou hemocentros para animais já
começam a se difundir no Brasil. Existem bancos de sangue canino no Brasil
localizados em algumas unidades da Federação (Tab. 3).
Considerações finais
A transfusão sanguínea é uma terapia essencial para animais que precisam
de reposição emergencial de sangue e ou hemocomponentes. Todavia, por
não ser tão divulgada, apresenta entraves na sua utilização no dia-a-dia,
sobretudo pela falta de bancos de sangue para animais. Por fim, para que
se diminuam os riscos de reações indesejadas é necessário, principalmente o
monitoramento constante do animal, essencial para a eficácia da terapia,
bem como o conhecimento sobre suas aplicações e possíveis reações
transfusionais, assim como as medidas a serem tomadas caso ocorram.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
18
Tabela 3: Relação e endereço de alguns bancos de sangue de acordo com o estado da
federação onde se localizam
Estado e Estabelecimento
Contato
Pernambuco
Hospital Veterinário da UFRPE
Rua Dom Manoel de Medeiros, s/nº – Dois Irmãos,
Recife/PE. Telefones: (81) 3320-6401 e 3320-6000
Bahia
Banco de Sangue Veterinário
Hemodog
Rua dos Radialistas, 209, salas 1 e 2 - Pituba, Salvador
(BA). Tel.: (71) 3011-6846 / (71) 3011-6846
São Paulo
Hospital Veterinário da Univ.
Anhembi Morumbi
HOVET - USP
Banco de Sangue Veterinário
Rua Conselheiro Lafaiete, 64 - Brás. Tel.: (11) 2790-4693 /
(11) 2790-4693 / (11) 2790-4642 / (11) 2790-4642
Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87 - Cidade
Universitária Tel.: (11) 3091 -1244 / 1248
Rua Desembargador do Vale, 196 - Perdizes. Tel.: (11)
3476-9461 / (11) 3476-9461
Rio de Janeiro
Hemopet - Hemocentro do Rio
de Janeiro
Hemoterapet Rio de Janeiro
Rua Ipiranga, 53 - Laranjeiras. Tel.: (21) 7855-8898 id:
83*31055 / (21) 7854-5433 / (21) 7854-5433 id: 83*30226
Rua Barão de São Francisco, 56 - Vila Isabel. Tel.: (21)
3286-8888 / (21) 3286-8888
Minas Gerais
Life Hospital Veterinário
Hospital Veterinário da UFU
Rua Platina, 165 - Prado - Belo Horizonte (MG). Tel:. (31)
2552-5694 / (31) 3588-5694
Av. Mato Grosso, 3289 - Bloco 2S Campus Umuarama.
Tel.: (34) 3218-2135
Paraná
Hospital Veterinário da UFP
Rua dos Funcionários, 1540. Tel.: (41) 3350-5663 / (41)
3350-5663 / (41) 3350-5664 / (41) 3350-5664
UEL - Londrina
http://www.uel.br/hv/ Tel.: (43) 3371-4269 / (43) 3371-4269
Rio Grande do Sul
Faculdade de Veterinária da
UFRGS
Av. Bento Gonçalves, 9090 - Bairro Agronomia. Tel.: (51)
3308-6095 / (51) 3308-6095
Bluts Centro de Diagnóstico
Veterinário
Rua Dr. Florêncio Ygartua, 427 - Rio Branco, Porto Alegre
(RS). Tel: (51) 3072-0427
Santa Catarina
Hospital Veterinário da Unisul
Av. José Acácio Moreira, 787 - Humaitá, Tubarão (SC).
Tel:(48) 3621-3221
Distrito Federal
Centro de Especialidades
Veterinárias
Condomínio San Diego, Lote 13, Loja 01 do Jardim
Botânico
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
19
Referências
1 Apicella, C. [Transfusão Sanguínea em Cães. Monografia]. Graduação em Medicina
Veterinária. São Paulo: Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, 2009.
2 Gomes, S.G.R.; Hemocomponentes e Principais Aplicações na Terapia Intensiva
Veterinária. In: SANTOS, M. M.; FRAGATA, F. S. Emergência e Terapia Intensiva Veterinária em
Pequenos Animais. 1ª edição. São Paulo, ROCA, 2008. cap. 16, p. 191 – 207.
3 Kristensen, A.T.; Feldman, B.F. Bancos de sangue e medicina transfusional. In: Ettinger, S.J.;
Feldman, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4ª edição. Philadelphia: WB
Saunders, cap. 64, p. 497 – 517, 1995.
4 González, F.H.D; Silva, S.C. (Ed.). Patologia clínica veterinária: texto introdutório.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008.
5 Gomes, S.G.R.; Transfusão Sanguínea. In: SANTOS, M. M.; FRAGATA, F. S. Emergência e
Terapia Intensiva Veterinária em Pequenos Animais. 1ª edição. São Paulo, ROCA, 2008. cap.
15, p. 172 – 190.
6 Abrams-Ogg, A. Practical Blood Transfusion. In: Day, M.J.; Mackin, A.; Littlewood, J.D. BSAVA
Manual of Canine and Feline Haematology and Transfusion Medicine. British Small Animal
Veterinary Association, 2000. cap. 15, p. 263 – 307.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
20
Minireview
Úlcera de sola: dor e desconforto nos bovinos
PETVet News. 2015;4(3): 21 - 29
Andra N. Ferreira1, Layna T. G. Corrêa1,
Stefani P. X. da Costa1 & Rinaldo B.
Viana2
1Acadêmicas Medicina Veterinária/Ufra
Bolsistas PET- SESu/MEC
[email protected]
2Prof. Dr. ISPA-Ufra,
Tutor PETVet- SESu/MEC
Introdução
A
bovinocultura leiteira é
uma importante atividade para
muitos países, entre eles o Brasil.
Todavia
é
uma
atividade
pecuária em que se requer
diversos cuidados, sobretudo
com a saúde dos animais, haja
vista que doenças como mamite,
Figura 1. Úlcera de Rusterholz em bovinos. Foto: Prof. Dr
falhas
na
concepção
e
Eduardo Harry Birgel unior, FZEA/USP
enfermidades dos dígitos estão
entre as mais são prevalentes nos
rebanhos de bovinos, ocasionando sérios prejuízos ao capital pecuário.
As pododermatites ou doenças dos cascos e ou dígitos (Fig. 1) são
conhecidas por figurarem entre as principais causas de perdas econômicas
em bovinos leiteiros. Possuem etiologias diversas, como manejo inadequado
dos animais, precárias condições de higiene das instalações e do ambiente,
condições genéticas, enfermidades infeccionas intercorrentes, pisos
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
21
excessivamente
ásperos
e
abrasivos,
instalações
erroneamente
dimensionadas e mal construídas, e até deficiências nutricionais e ou erros
no manejo alimentar, entre outras.
Entre as doenças podais, destaca-se a úlcera de sola (úlcera de Rusterholz
ou pododermatite circunscrita; Fig. 1), comumente diagnosticada nos
membros posteriores afetando o cório do casco dos bovinos que causa
sérios danos a saúde das vacas leiteiras e graves prejuízos à atividade
pecuária.
Destarte, este artigo propõe uma revisão sobre o tema, abordando os
aspectos inerentes à caracterização, aspectos epidemiológicos, tratamento
e profilaxia da doença.
Caracterização e aspectos epidemiológicos da doença
A
intensificação
dos
sistemas produtivos com o
confinamento dos plantéis
e o constante aumento da
produção, mediante o
avanço
genético,
nutricional e mais eficiente
manejo,
tem
proporcionado
o
aparecimento de doenças,
sobretudo aquelas que
acometem os dígitos dos
bovinos,
principalmente
devido à permanência dos
animais em pisos ásperos e
duro¹
em
instalações,
muitas
vezes,
mal
dimensionadas ou devido
ao excessivo adensamento
populacional dos animais
Figura 2. Vaca com claUdicação devido a úlcera de
nos piquetes, free e tie
sola. Foto: Marcus Rezende & Rinaldo Viana, Goiás
stalls.
A úlcera de sola é uma lesão que ocorre na junção da sola com o bulbo e
associa-se a uma zona circunscrita de hemorragia e necrose isquêmica
localizada.
As infecções podais são tidas como as principais causas de claudicação (Fig.
2) de bovinos, sobretudo leiteiros, apresentando um forte impacto econômico
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
22
negativo na produção. Ademais, a taxa de incidência pode chegar a 50% do
plantel em alguns rebanhos onde as condições de higiene são precárias².
As vacas acometidas pelas lesões digitais permanecem em decúbito por mais
tempo, ingerem menos alimento, tem dificuldades para se levantar e estão
mais sujeitas a ocorrência das mamites, além de comprometerem a sua
eficiência produtiva.
As doenças podais prejudicam não somente a produtividade da vaca, com
diminuição da produção de leite e de carne, mas também afeta a sua
eficiência reprodutiva.
Morris et al.3, comparando a manifestação do estro em vacas saudáveis e
naquelas com afecções podais afirmaram que esse comportamento é
semelhante, no entanto, a intensidade desse estro, nas vacas coxas é
menor. Quando inseminadas, essas vacas expressam taxa de prenhez para a
primeira inseminação, 10% menor do que nas vacas sadias.
As complicações podais interferem na fertilidade a partir da liberação de
endotoxinas e histaminas que podem agir reduzindo a liberação de
hormônio luteinizante (LH).
Simultaneamente, mediante o estresse
provocado, tem-se a liberação de cortisol que reduz os níveis do hormônio
regulador de gonadotrofinas (GnRH) e, consequentemente dos hormônio
folículo estimulante (FSH) e LH³.
Outra complicação que afeta a eficiência reprodutivas de vacas com
claudicação é a ingestão de baixa quantidade de matéria seca, visto que a
vaca com claudicação passará a maior parte do dia deitada e não irá se
alimentar adequadamente. Assim, tem-se um balanço energético negativo
(BEN) que pode comprometer o crescimento folicular, reduzir a produção de
estradiol, que é essencial para o desenvolvimento e manutenção dos
tecidos reprodutivos, e, consequentemente influenciar na expressão do
estro4.
Possibilidade terapêuticas da doença
Entre as possibilidades terapêuticas para o tratamento da úlcera de sola,
tem a utilização de pensos (curativos)/bandagens e ou colocação de
tamancos. A adoção de antibioticoterapia tópica seguida de colocação
de bandagem é realizada a partir de adequada higienização do casco
afetado, com desbridamento dos tecidos necrosados (Fig. 3).
Em seguida, aplica-se uma pasta à base de antibiótico (oxitetraciclina,
sulfanilamida, penicilinas...), sulfato de cobre (somente no primeiro curativo,
para o debridamento químico da ferida), enxofre e talco neutro5. Uma
bandagem pode ser aplicada no casco afetado, e um tamanco de
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
23
madeira ou de policloreto de vinil sob a unha sadia, desviando o peso e
aliviando a dor na unha enferma.
Figura 3: Retirada de tecido necrosado para
tratamento da úlcera de sola. Foto: Prof. Dr Eduardo
Harry Birgel Junior, FZEA/USP
A bandagem deve ser
impermeabilizada
com
alcatrão
vegetal
e
aconselha-se sua troca a
cada
cinco
dias¹.
Ressalta-se que o uso de
sulfato
de
cobre
é
recomendado enquanto
ainda
houver
tecidos
necrosados, geralmente
no
primeiro
penso.
Antibióticos
ou
quimioterápicos para o
tratamento
sistêmico
somente
são
aconselháveis nos casos
em que haja febre,
anorexia e apatia do
animal5.
Acredita-se que a utilização de bandagens (Fig. 4) é um bom recurso
terapêutico, pois além de segurar maior higiene ao local da injúria, confere
mais conforto ao animal. Todavia, devem ser renovadas periodicamente (a
cada cinco a sete dias) para serem mantidas secas. Se a troca não for
realizada, o local da lesão terá uma alta umidade, propiciando uma infecção
secundária, prejudicando o tempo de cicatrização e comprometendo a
saúde da vaca. Além disso, vacas com penso não devem permanecer em
locais úmidos, tampouco utilizar pedilúvios e lava-pés.
O tratamento com tamancos de madeira é eficiente e dura cerca de quatro
semanas1. Este procedimento proporciona benefícios ao animal, pois retira o
peso incidente sobre a unha doente, diminuindo a claudicação e facilitando
a locomoção, assim contribui na cicatrização e confere mais conforto e bemestar ao animal.
O tratamento também minimiza as perdas econômicas na produção leiteira
visto que ocorre uma regulação dos hábitos alimentares do animal,
diminuindo a anorexia e melhorando a produção6. O custo total do
procedimento terapêutico é bastante dispendioso, devido ao fato de ser
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
24
demorado e por levar em consideração gastos com a intervenção cirúrgica,
os curativos durante o tratamento, o custo médio do material utilizado, os
honorários do veterinário, bem como o salário do tratador7.
Figura 5: Tamancos de madeira para
tratamento da úlcera de sola. Foto: Ana
Carla Oliveira & Rinaldo Viana. Grupo Gaia,
Belém/PA
Figura 4: Colocação de penso para
tratamento da úlcera de sola. Foto:
Ana Carla Oliveira & Rinaldo Viana.
Grupo Gaia, Belém/PA
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
25
Figura 6. Esquema sequencial para tratamento da úlcera de sola. Imagens:
Ana Carla de Oliveira & Rinaldo B. Viana. Gaia, Belém/PA
1
Identificação da lesão
Uma adequada inspeção garantirá um exame bem feito e
diagnóstico correto. Úlceras, muitas vezes, estão encobertas
por solas duplas. Limpeza, utilização da lixadeira e
desbridamento podem ser necessários
2
Colocação de Tamanco
Um tamanco pode ser colocado na unha sadia
3
Antibioticoterapia tópica
Pomada à base de antibiótico + sulfato de cobre (somente
no primeiro curativo) + enxofre + talco neutro. Aplicar sobre
a úlcera
4
Utilização de pensos
Bandagem para proteger a unha Afetada contra sujidades e
garantir a abrsoção do antibiótico, bem como conferir mais
conforto à vaca. Todos os cuidados referentes ao uso de
bandagens devem ser observados
5
Impermeabilização do Penso
O penso deve ser impermeabilizado com alcatrão vegetal
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
26
Profilaxia
A prevenção se faz pelo
casqueamento
corretivo
periódico (Fig. 3), pela
profilaxia
da
laminite
aguda, exame específico
do casco e medidas de
biossegurança,
como
adoção de quarentenário
na aquisição e introdução
de novos animais no
criatório8.
Outro fator importante na
profilaxia da doença diz
respeito às instalações que
devem
ser
adequadamente
bem
higienizadas.
Deve-se
atentar
para
as
construções dos estábulos,
pois estes devem ter pisos
regulares e sem objetos
Figura 3. Apara corretiva dos cascos dos bovinos.
que traumatizem os cascos
Foto: Marcus Luciano Guimaraes Rezende.
(quinas,
piso
excessivamente abrasivo,
entre outros), assim como as camas devem ser confortáveis e em
quantidade suficiente para todo rebanho8.
O pedilúvio também é imprescindível no controle e prevenção de infecções
podais, recomenda-se o uso de três a cinco vezes por semana para
rebanhos com baixa incidência de lesões, sem a presença de novos casos e
com boa higiene de patas, usando formalina 3-5%, sulfato de cobre 5% e
sulfato de zinco 10% e sua instalação deve ser preferencialmente na saída
da sala de ordenha. A frequência de uso do pedilúvio, todavia, depende da
presença dos fatores de risco, prevalência dos casos de lesões infecciosas
no rebanho, entrada de novos animais e o grau de higiene das instalações.
Já em rebanhos com altos índices de doenças, entrada de animais de outros
rebanhos e precárias condições de higiene, pode ser recomendado o uso
diário.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
27
As orientações para as dimensões da construção são de aproximadamente
80 cm de largura, 3 metros de comprimento e 20 cm de profundidade com
uma lâmina de 10 cm de solução8.
Sobre duração da atividade dos produtos utilizados ainda pairam muitas
dúvidas , mas de um modo geral o número de passadas com o formol são
no máximo 200 animais e o sulfato de cobre 80 animais. Caso misture os dois
produtos, o número de passadas são 80 animais. O sulfato de zinco 10%
pode ser utilizado para lesões de sola, quando o número de animais
acometidos é alto, podendo facilitar o tratamento, uma vez que poderemos
não conseguir tratar de todos os animais no primeiro momento.
No caso da utilização do formol, por ser volátil, independente da
quantidade menor de 200 vacas, o produto somente permanece eficaz por
no máximo dois a três dias 2 a 3 dias, dependendo da temperatura do
ambiente.
O cálculo do volume da solução deve ser feito com a multiplicação das
dimensões do pedilúvio. Por exemplo: 300 cm de comprimento, 80 cm de
largura e 20 cm de altura da água (300 x 80 x 20 = 480 litros), ou seja, para
atingir a altura ideal são necessários 480L da solução. Como a concentração
recomendada tanto do formol (formalina 37,5%) como do sulfato de cobre
são de 5%, serão necessários 24kg do produto a ser utilizado para os 480L de
água.
Considerações finais
A úlcera de sola que afeta sobremaneira a vaca leiteira, visto que prejudica
o conforto e bem-estar dos animais, causando-lhes muita dor e moderada a
severa claudicação, com quadros de anorexia, perda de peso, diminuição
da produção de leite e eficiência reprodutiva.
O tratamento com a utilização de bandagens e tamancos é bastante eficaz
e o tempo para pronta recuperação pode variar de acordo com a
gravidade da lesão. A profilaxia pode ser obtida pelo casqueamento
periódico, ótima higienização das instalações, uso de pedilúvio e nutrição
bem balanceada.
Referências
1. Silva F.F, Alves C.G.T, Silva Júnior F.F. Pododermatite Solar Circunscrita, Úlcera de Husterholz
ou Úlcera da sola. Ciênc. Vet. Tróp. 2006;9(2):102-105.
2. Embrapa. Manejo Sanitário do Rebanho Leiteiro. Cnpg – Br. Acesso em 29 Set 2015.
Disponível em: http://www.cnpgl.embrapa.br/sistemaproducao/4102222-ulcera-de-sola-oupododermatite-circunscrita
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
28
3. Morris M.J, Kaneko K, Walker S.L, Jones DN, Routly J.E, Smith R.F, Dobson H. Influence of
lameness on follicular growth, ovulation, reproductive hormone concentrations and estrus
behavior in dairy cows. Theriogenology. 2011;76:658-668.
4. Walker S.L, Smith R.F, Jones D.N, Routly J.E, Dobson H. Chronic stress, hormone profiles and
estrus intensity in dairy cattle. Horm and Behav. 2008;53:493-501.
5. Borges J.R.J, Garcia M. Guia Bayer de Podologia Bovina. 2ª ed. São Paulo: Bayer; 2002.
6. Martins L.F.S, Guisso C.A, Schuster L, Hickenbick C, Brito C. Pododermatite Solar
Circunscrita, correção de casco utilizando terapia com recurso a taco ortopédico de
madeira. In: Araldi DF, Siqueira LC, editores. Anais do 17ª Fórum de Produção Pecuária-Leite:
4º Salão de Trabalhos Científicos; 22-24 Set 2014; Cruz Alta, RS. Ijuí; 2014. 381-385.
7. Ferreira P.M, Leite R.C, Carvalho A.U, Facury Filho E.J, Souza R.C, Ferreira M.G. Custo e
resultados do tratamento de sequelas de laminite bovina: relato de 112 casos em vacas em
lactação no sistema free-stall. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 2004;56(5):589-594.
8. Ferreira PM, Carvalho A.U, Facury Filho E.J, Ferreira M.G, Ferreira R.G. Afecções do sistema
locomotor dos bovinos. II Simpósio Mineiro de Buiatria; 06-08 Out 2005. Belo Horizonte, MG;
2005.
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
29
Medicina veterinária: qual área de atuação
profissional optar?
PETVet News. 2015;4(3):30 - 35
Entrevista
Dr. Bruno Moura Monteiro
Dr. Bruno Moura Monteiro na International conference on
Lameness in Ruminants, Valdivia, Chile, 2015
Résumé.
Médico Veterinário
pela Universidade
Federal Rural da
Amazônia - Ufra (2007).
Especialista em
Bovinocultura de Corte
pela Universidade do
Norte do Paraná UNOPAR (2008). Mestre
em Clínica Veterinária
pela Universidade de
São Paulo – VCMFMVZ/USP (2011).
Doutor em
Reprodução Animal
pela Universidade de
São Paulo VRA/FMVZ/USP (2015).
E Pós-doutorando em
Reprodução Animal
pelo VRA-FMVZ/USP
(atual). Ex-Professor de
Semiologia, Clínica e
Reprodução de
Ruminantes pela
Universidade Paulista
(UNIP) - 02/2014 07/2015. Tem
experiência em clínica
e reprodução de
bovinos e bubalinos.
Entrevista a Alef Moreira1 & Rinaldo B. Viana 1Acadêmico
de Medicina Veterinária/Ufra
Bolsista PETVet- SESu/MEC
[email protected]
2Tutor Grupo PETVet SESu/CNPq
Prof. Dr. Universidade Federal Rural da Amazônia
PETVet News. Volume 4, número 3, set – dez, 2015
30
PETVet News. O que lhe motivou a escolher como profissão, a medicina
veterinária?
Dr. Bruno Moura Monteiro. Não tenho uma resposta objetiva e direta pra essa
pergunta. Antes da realização do processo seletivo, fiz alguns testes
vocacionais, e todos indicavam Agronomia, Zootecnia ou Veterinária. Talvez
essas opções tenham relação com minha preferência pela proximidade
com animais, por não gostar de trabalhar em lugares fechados e não ser
muito adepto à rotina... Mas a escolha pela Medicina Veterinária deve ter
mais relação à característica pessoal minha, a vontade de “cuidar”.
PETVet News. A medicina veterinária possui uma vasta área de atuação
profissional. O que o fez optar pela Buiatria?
Dr. Bruno Moura Monteiro. Tive excelentes experiências antes de tomar essa
decisão. Fiz estágio com Clínica e Cirurgia de Animais de Companhia, junto
à equipe da Clínica Saúde Animal. Depois, tive a oportunidade de
acompanhar o projeto Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais
Silvestres (RENCTAS), com o grupo da Dra. Maria das Dores Correia Palha
(Profa. Dora). No entanto, foi trabalhando com bovinos, búfalos e pequenos
ruminantes, fazendo parte do Grupo de Pesquisa Gaia liderado pelo Prof.
Rinaldo Batista Viana a partir do sexto semestre da graduação, que consegui
aliar o “cuidar” animal com o “cuidar” de pessoas, por meio da produção
de alimentos e da segurança alimentar. Foi na Buiatria, afinal, que percebi
que nossa profissão é a única que cuida de animais e de pessoas, em todos
os aspectos sociais.
PETVet News. Porque você optou pela carreira acadêmica? Comente-nos
um pouco sobre essa trajetória, enfocando as maiores dificuldades e o que
fazer pra sobrepujá-las.
Dr. Bruno Moura Monteiro. A escolha sobre a carreira acadêmica tem a ver
com a vontade que sempre tive em ser professor. Desde o início da
graduação sabia que queria me formar para ministrar aulas, e buscaria os
meios necessários para atingir esse objetivo. Na ocasião, eu já sabia que
precisaria cursar os cursos de pós-graduação stricto sensu, mestrado e
doutorado, mas como, quando ou onde isso aconteceria, foi sendo
construído com o tempo. Quando comecei o estágio com animais de
produção, fui descobrindo que precisaria de uma série de conhecimentos e
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habilidades específicos para poder construir uma carreira acadêmica sólida.
Para exercitar as habilidades de escrita e pensamento científicos, ingressas
nos programas de iniciação científica era uma etapa fundamental. Não
demorou pra perceber que o domínio da língua inglesa também facilitaria
muito as coisas, haja vista que a maioria das informações científicas de
qualidade estava publicada nessa língua. Outro fato que ajudou muito
adentrar no mestrado de uma Douta Universidade foi realizar um curso de
pós-graduação lacto sensu, ou seja especialização, antes de optar pelo
Mestrado. Era um diferencial para a maioria dos alunos da seleção, que
tinham somente a graduação, não só do ponto de vista curricular, mas
também de maturidade profissional. Outra área do conhecimento que seria
fundamental à carreira acadêmica era a estatística experimental.
Conhecimentos básicos sobre delineamento experimental e análise
estatística já faziam muita falta para a iniciação científica, mas seriam
determinantes para finalizar o mestrado e ter um número razoável de
publicações de impacto até o final do doutorado. Porém, a mais importante
e, talvez a maior dificuldade que senti, mas que pode ser aplicada tanto
para a vida profissional quanto a pessoal, diz respeito às “relações
interpessoais”. Poderia discorrer dezenas de linhas sobre isso, todavia, pra
resumir, tem uma frase que traduz bem o que se deve saber sobre
convivência... “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente,
mas o que melhor se adapta às mudanças.” (Leon C. Megginson).
PETVet News. Durante o seu Mestrado e Doutorado você elegeu trabalhar
com Búfalos. Como se deu essa escolha e por quê?
Dr. Bruno Moura Monteiro. Durante a graduação, na realização de estágios
com animais de produção, tive contato com a bubalinocultura, assim como
com as demais espécies de animais de produção (principalmente bovinos,
caprinos, ovinos e suínos). No entanto, uma coisa que me chamava atenção
era que o Estado do Pará detém o maior efetivo de búfalos do país. Além
disso, essa é uma espécie que se adaptou muito bem as diversas condições
ambientais e climáticas do nosso Estado e, em algumas situações como em
áreas de várzea, o búfalo não compete espaço com o bovino. Por fim,
como dizia meu orientador de doutorado, Dr. Pietro Baruselli, “quem trabalha
com búfalos também trabalha com bovinos, mas quem trabalha com
bovinos não trabalha com búfalos.”
PETVet News. Sendo você um profissional de qualidade e com muitas
experiências, qual área da medicina veterinária você aconselharia aos
futuros Médicos Veterinários?
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Dr. Bruno Moura Monteiro. A produção de alimentos estará sempre em alta.
Seja qual for a conjuntura política, social ou econômica do planeta, todos
sempre precisarão comer! A única coisa que garante isso é a tecnologia e,
por conseguinte, técnicos para aplicar essa tecnologia. Portanto, qualquer
área ligada à produção de alimentos sempre terá oportunidades, seja com
saúde animal, criação, produção, tecnologia de produtos de origem animal
ou segurança alimentar. E no médio-curto prazo, assim como já acontece
nos países desenvolvidos, é a iniciativa privada que garantirá os
investimentos para a produção de tecnologia e qualificação profissional.
"Se o homem do campo não roça, a cidade não almoça; se o homem do
campo não planta, a cidade não janta". (Deputado Zé Carlos/MA).
PETVet News. Comente-nos um pouco sobre os resultados de suas pesquisas.
Que contribuição elas trazem à luz do conhecimento sobre a criação de
bubalinos?
Dr. Bruno Moura Monteiro. Durante o mestrado estudamos a influência de
diferentes situações fisiológicas no metabolismo de búfalos para exploração
leiteira. Especificamente no mestrado, observamos momentos de
sobrecarga metabólica severa em todas as categorias animais,
principalmente no que tange a deficiência nutricional que os animais são
submetidos quando criados extensivamente, sem qualquer suplementação
nutricional estratégica.
Já no doutorado, estudamos a aplicação de uma biotécnica para garantir
eficiência reprodutiva aceitável em búfalas leiteiras sob influência do
fotoperíodo, tanto nos períodos de dias curtos e como nos dias longos no
Sudeste do Brasil. Em linhas gerais, acredito que estas pesquisas apontaram
algumas limitações de aplicação de tecnologia que a bubalinocultura
ainda sofre nas condições criatórias do Brasil. Tivemos a oportunidade de
mostrar que a utilização de tecnologia simples e barata no manejo
reprodutivo de fazendas produtoras de leite de búfala é capaz de melhorar
a eficiência reprodutiva e potencializar a produção de leite da propriedade.
Vale ressaltar que muitas vezes a tecnologia já existe. Por vezes essa
tecnologia precisa de adaptações para a utilização em búfalos. No entanto,
é notória a dificuldade de comunicação entre os locais de produção de
conhecimento, como institutos de pesquisa e universidades com a outra
ponta da cadeia produtiva, o produtor rural. De nada serve conhecimento
produzido ou tecnologia desenvolvida se esta não pode proporcionar o
bem-estar da comunidade.
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PETVet News. Recentemente você ganhou o prêmio MSD Animal Health
CLINICAL RESEARCH AWARD. Fale-nos um pouco sobre a premiação e
legado cientifico do seu trabalho premiado.
Dr. Bruno Moura Monteiro. O prêmio foi o resultado de um bom trabalho em
equipe. Acho que essa pesquisa ilustra muito bem o sucesso da parceria
público-privada. Fomos capazes de aliar uma necessidade prática
relacionada à saúde de bovinos (tratamento da ceratoconjuntivite
infecciosa), com a utilização racional e segura de um antibiótico comercial.
A pesquisa produziu um resultado aparentemente contraditório, que só a
experimentação científica e a análise econômica juntas foram capazes de
sustentar, comprovando aplicabilidade e viabilidade. Deste modo,
acreditamos que foi possível ser agraciado com o prêmio, mesmo
concorrendo com trabalhos de toda a América Latina. Foram premiados
dois trabalhos, o nosso e outro do Equador. Com a pesquisa, mostramos que
a utilização local de um antibiótico indicado para uso sistêmico não só
reduziu substancialmente as quantidades de antibiótico utilizadas, como se
diminuiu o custo (cerca de 20 vezes menos) do tratamento sem
comprometimento algum na eficácia do tratamento. Ou seja, uma pesquisa
aplicada à bovinocultura, mas que teve influência direta no custo de
produção da cadeia pecuária, impacto sobre a resistência microbiana a
antibióticos e na segurança alimentar do consumidor final, visto que a forma
proposta de administração manteve a eficácia do tratamento com somente
5% da dose convencional.
PETVet News. Na sua opinião, como professor, o que um graduando precisa
fazer para ser um profissional de qualidade?
Dr. Bruno Moura Monteiro. (1) Criticidade: acredito que é muito importante
você buscar identificar suas limitações e dificuldades, pra poder saber como
e quanto deve melhorar. Quase sempre precisamos de um chefe duro ou
um verdadeiro amigo pra nos falar nossos verdadeiros defeitos. É preciso
humildade pra melhorar; (2) Dedicação: todo sucesso é pautado em
esforço. O descanso é importante pra pensar, refletir e melhorar, mas só o
trabalho constrói. Só a dedicação produz algo bem feito; (3) Respeitar as
pessoas que trabalham com você: nunca esqueça que todos os que fazem
parte do processo são importantes. Se uma pessoa está desmotivada ou faz
o trabalho mal feito, todo o sistema perde rendimento. Todos têm limitações
e dificuldades, inclusive você. Cabe a cada um reconhecer e respeitar as
funções, atribuições e limitações dos membros da equipe. Cumprimente,
agradeça e seja gentil. O SEU direito SÓ começa quando o do OUTRO
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acaba, e não o contrário; (4) Eficácia: fazer sempre o melhor que você
puder fazer, para cada momento: Lembre-se que existe um abismo entre
“tentar” fazer e fazer o “melhor”. Quando você “tenta”, existe uma grande
chance de desistir no primeiro ou no segundo obstáculo. Em contrapartida,
“fazer o melhor” é dinâmico, é o possível somente para aquele momento,
mas se a situação muda, automaticamente você tem motivação para
refazer, melhorar, aprimorar e caprichar. Com o tempo percebemos que
quem quer fazer arruma um jeito, quem não quer fazer arruma uma
desculpa.
PETVet News. Que conselhos você daria a um jovem profissional na escolha
de que caminho trilhar no exercício profissional? Como direcionar o exercício
profissional após a graduação: residência, mestrado/doutorado, carreira
acadêmica e ou científica...?
Dr. Bruno Moura Monteiro. Gosto muito de um texto do Stephen Charles
Kanitz chamado “Fazer o Que Se Gosta”. É uma opinião que, no mínimo,
causa reflexão, portanto, farei minhas algumas das palavras dele...
“Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem
exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito”. “Empresas
pagam a profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser
feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer”. “A saída para esse
dilema é aprender a gostar do que você faz. E isso é mais fácil do que se
pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da
excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição”. “Você poderá
não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltará, porque se
paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que
fazem o mínimo necessário”. “Se quiser procurar algo, descubra suas
habilidades naturais, que permitirão que realize seu trabalho com distinção e
o colocarão à frente dos demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem
porque não se prepararam adequadamente, não estudaram o suficiente,
não sabem fazer aquilo que gostam, e aí odeiam o que fazem mal feito”.
“Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor
em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado,
procurado, e outras portas se abrirão”. “Faça seu trabalho mal feito e você
odiará o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, seu país
e a si mesmo”.
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