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Foto Rogério Voltan AO PON TO as delícias da alta gastronomia e da comida caseira, em receitas ótimas de comer e fáceis de fazer CC06_AO_PONTO.indd 77 03/08/2010 15:56:53 ao ponto | para beliscar [Marca registrada] A porção de Batatas bravas aparece no cardápio dos quatro restaurantes do estrelado chef catalão Sergi Arola – um é em São Paulo textos Dagmar Serpa com Andressa Trindade + fotos Rogério Voltan 78 * casa e comida CC06_Beliscar.indd 78 03/08/2010 16:06:05 [Polenta charmosa] Servida em uma panelinha de cobre, em três versões, a receita italiana é opção de abre-alas do novo Villa Cioè Em um sobrado de 1929 da rua Tupi, que tem chamado a atenção da numerosa tribo gourmet paulistana por sua alta concentração de restaurantes, funciona desde maio o italiano contemporâneo Villa Cioè. Alguns pratos do cardápio criado pela chef consultora Ana Soares já despontam nas preferências. “Um dos mais pedidos é o Risoto de arroz vermelho com polvo”, diz a chef Elisa Ayres, que comanda a cozinha. Entre os beliscos e entradas, um destaque – pelo sabor e pela apresentação – é a Polentinha cremosa. Feita com grano duro, chega à mesa em uma caçarolinha de cobre que é um charme. São três opções: com lula al nero di seppia – ou tinta de lula – e azeites aromáticos (foto), com cogumelos e com lascas de parmesão e azeite trufado. villa cioè R. Tupi, 564, Higienópolis, São Paulo, SP, tel. (11) 3662-1121. De 3ª a sáb., das 12h às 16h e das 19h às 23h30; dom., das 12h às 16h. Cartões de crédito: todos. A Polentinha cremosa com lula custa R$ 23. a o reinventar uma receita típica de sua terra natal, o premiado chef catalão Sergi Arola criou uma espécie de clássico da sua grife: as Batatas bravas Arola. Confitadas, depois fritas em azeite, levam molho picante e maionese de alho. Figuram no cardápio dos quatro restaurantes do chef. Dois ficam na Espanha, um em Madri, com duas estrelas no guia Michelin, e outro em Barcelona. O terceiro, em Sintra, Portugal. E o mais novo da turma, no Brasil. Aberto há menos de um ano, o Arola-Vintetres ocupa o 23° andar do hotel Tivoli São Paulo – Mofarrej. De sua cozinha, tocada no dia a dia pelo chef paulista Fábio Andrade, saem iguarias como Caldereta de lagosta e Panceta de leitão com purê de abóbora e manga. Para quem é estreante no estilo culinário do espanhol, o conselho é não chegar ao prato principal sem antes provar a entrada emblemática. CC06_Beliscar.indd 79 Campeão dos pedidos entre as entradas do Mestiço, o Krathong-thong também pode ser servido na sua festa site arola-vintetres Al. Santos, 1.437, Tivoli São Paulo – Mofarrej, 23° andar, Jardins, São Paulo, SP, tel. (11) 3146-5923. De 2a a 5a, das 12h às 15h e das 19h às 24h; 6a, das 12h às 15h e das 19h à 1h; sáb., das 19h à 1h. Cartões de crédito: todos. A porção de Batatas bravas Arola custa R$ 29. [Best-seller da casa] confira receitas em www.casa ejardim. com.br/ casaecomida O Krathong-thong está lá no cardápio desde que o Mestiço, restaurante contemporâneo paulistano, abriu suas portas, há 13 anos. “E é, disparado, a nossa entrada de maior sucesso. São 4 mil pedidos por mês”, diz a chef e proprietária Ina de Abreu. O nome desse petisco original da Tailândia, onde era servido somente nos palácios, significa cestinha de ouro e dá pistas do que é: massa dourada e crocante nesse formato, com recheio de peito de frango moído, milho, raiz de coentro, cebolinha, dedo-de-moça, alho e molho de soja. A iguaria também pode ser servida em festinhas e reuniões em casa, já que são aceitas encomendas. “Mando massa e recheio separados e explico como montar. É fácil e rápido.” mestiço R. Fernando de Albuquerque, 277, Consolação, São Paulo, SP, tel. (11) 3256-3165. Dom. e 2a, das 11h45 às 24h; de 3a a 5a, das 11h45 à 1h; 6a e sáb., das 11h45 às 2h. Cartões de crédito: todos. A porção de Krathong-thong custa R$ 17,60. 03/08/2010 16:06:22 ao ponto | é época de... ervilha [Figurinha fácil] Fonte de proteínas e carboidratos, ela é presença constante em pratos de chef e receitas caseiras. Mais usada como ingrediente coadjuvante, às vezes a ervilha também é a protagonista reportagem Andressa Trindade + fotos Rogério Voltan CC06_Epoca_Ervilha.indd 80 03/08/2010 16:01:45 n ão é uma planta nativa do Brasil, e sim da Ásia, mas seu fruto é bastante popular por aqui. Muito menos o país está entre os maiores produtores mundiais de ervilha. Por ordem, eles são Índia, com 2 milhões de toneladas, China, com 1,1 milhão, e Estados Unidos, com 1 milhão. O volume nacional, segundo estimativas, é bem inferior: fica na casa das 2 mil toneladas. Curiosamente, porém, a ervilha aparece com enorme frequência nas mesas brasileiras, tanto em receitas caseiras como em pratos de chef. Em São Paulo, ela é ingrediente indispensável de uma famosa comida típica. “Nunca vi cuscuz paulista sem ervilha”, diz a chef Eliane Carvalho, do Brie Restô, que ensina aqui a fazer uma musse à base do ingrediente. A iguaria é uma prova de que, embora seja mais usada como coadjuvante nas mais variadas receitas, de saladas a risotos e recheios de tortas, a ervilha também pode ser protagonista. E não só do creme de ervilhas, sopa que virou um clássico da culinária local. Segundo Eliane, existem mais de 220 variedades dessa leguminosa. As mais conhecidas são a ervilha-de-grão e a torta. A segunda é a sua preferida. “Tem uma textura mais firme”, justifica ela. Seja qual for o tipo, seu sabor é sempre bem sutil – daí sua vocação maior para desempenhar papel secundário nos preparos – e deve ser ressaltado com temperos leves. A chef recomenda especialmente azeite ou manteiga e suco de limão. “A ervilha é uma importante fonte de proteínas e carboidratos, assim como o feijão, a lentilha e a soja”, diz a nutricionista Clarissa Magalhães, professora da Universidade Anhembi Morumbi. Ainda contém cálcio, ferro, potássio e fibras. Vale, portanto, testar novas receitas com ela. Ainda mais agora, época em que é mais fácil encontrá-la fresquinha. Segundo a tabela de sazonalidade da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), os meses de agosto e setembro estão entre os períodos de especial fartura do alimento. brie restô R. Dr. Melo Alves, 216, Jardim Paulista, São Paulo, SP, tels. (11) 3063-4838/3081-4690. De 3a a 5a, das 12h às 15h e das 19h à 0h; 6a, das 12h às 15h e das 19h à 1h; sáb., das 13h às 17h e das 19h à 1h; dom., das 13h às 17h. Cartões de crédito: Amex, Diners, Master e Visa. A Musse de ervilhas frescas não faz parte do cardápio. CC06_Epoca_Ervilha.indd 81 musse de ervilhas frescas rendimento 6 porções tempo de preparo cerca de 30 min Ingredientes Modo de fazer 4 xícaras de 1 Em uma panela, doure a cebola picadinha ervilhas frescas no azeite, adicione as ervilhas e refogue escaldadas e por 5 min. Espere esfriar e bata no escorridas; liquidificador juntamente com o creme de 1 xícara de creme leite, a ricota e o suco de limão. de leite; 2 Passe a mistura para uma bacia, 3 colheres (sopa) adicione a cebolinha e a salsinha e de ricota; tempere com sal e pimenta-do-reino 1 xícara (chá) moída na hora a gosto. de creme para 3 Dilua a gelatina em 2 colheres (sopa) chantilly sem de água morna e incorpore ao creme açúcar; de ervilhas. Adicione o chantilly batido 2 sachês de misturando delicadamente com uma gelatina incolor escumadeira para não tombar a musse. sem sabor; 4 Distribua a musse em 6 forminhas ou 1 colher (sopa) de aros individuais untados com azeite – salsinha picadinha; ou, se preferir, despeje em uma vasilha 1 colher (sopa) refratária e não desenforme depois. de cebolinha Cubra com filme plástico e deixe na picadinha; geladeira por pelo menos 3 horas. Se 2 colheres (sopa) estiver usando forminhas, na hora de de suco de limão; desenformar, coloque água quente 1 colher (sopa) de numa assadeira, deixe cada forminha azeite; na água por 1 min e desenforme. Sirva a 1 colher (sopa) de musse gelada, acompanhada de salada cebola picadinha; verde ou como entradinha. Decore sal e pimenta-do- regando com um azeite com ervas. -reino a gosto; azeite para untar as forminhas. casa e comida * 81 03/08/2010 16:01:53 ao ponto | a cozinha dele [Estreia precoce] Mestre-cuca adepto da cozinha simples e caseira, o arquiteto Maurício Arruda ainda era um adolescente quando preparou o primeiro prato de sua vida, um bolo de chocolate d texto Dagmar Serpa + fotos Rogério Voltan e sua primeira receita concluída com sucesso, o arquiteto Maurício Arruda não se esquece. Foi uma estreia precoce. “Aconteceu quando minha mãe, que trabalhava fora, começou a me deixar sozinho em casa. Em uma tarde, fiz um bolo de chocolate”, conta ele, nascido e criado em Londrina, no Paraná. “Eu devia ter uns 13, 14 anos.” Maurício só não se lembra o que exatamente o moveu até a cozinha. Pode ter sido uma daquelas vontades irresistíveis de comer uma guloseima bem gostosa ou, talvez, uma necessidade de matar o tempo com uma atividade mais desafiadora do que as habituais. Ou ambas. O fato é que lhe pareceu muito natural consultar os cadernos e livros de receitas da casa e pôr a mão na massa. O produto de sua iniciativa rendeu depois elogios maternos. E é claro que isso o incentivou a explorar cada vez mais seu talento para lidar com assadeiras e panelas – algo que não chegou a pensar em transformar em profissão, mas que se revelou ali um hobby dos mais prazerosos. Maurício nunca frequentou cursos de culinária. Foi se aprimorando com a prática. Treinou particularmente muito quando, em 1997, já formado em arquitetura, foi fazer mestrado em São Carlos, interior paulista. Primeiro, porque na nova cidade precisava mesmo preparar suas refeições. Segundo, porque firmou por lá uma ótima parceria. “Dividia a casa com duas garotas. Uma delas, amiga minha até hoje, adorava cozinhar, e a gente vivia fazendo comida juntos.” Hoje, aos 37 anos, radicado em São Paulo, ele toca um escritório de arquitetura e design (de interiores e de móveis e objetos). No entanto, em média uma vez por semana, arranja tempo para reunir amigos em torno da mesa da década de 1960 que fica bem no meio de sua cozinha integrada à sala. 82 * casa e comida CC06_Cozinha_dele.indd 82 03/08/2010 16:04:00 casa e comida * 83 CC06_Cozinha_dele.indd 83 03/08/2010 16:04:01 ao ponto | a cozinha dele capeletti em brodo rendimento pelo menos 6 porções tempo de preparo cerca de 3 h Ingredientes Modo de fazer brodo 1 Coloque todos os ingredientes 5 l de água; Não é de preparar pratos que exigem técnicas de chef. Ao contrário: é adepto de uma comida mais simples e caseira. Seu repertório inclui de assados e panquecas a doces, como o pudim de claras e damasco com calda de anis, receita de uma bisavó que ele revela nesta reportagem. Também transita pela culinária italiana, como prova seu brodo, que mistura ossobuco e frango. “Minha mãe morou na Itália e, na volta, me ensinou alguns pratos”, conta Maurício, que também aprende muito em livros de culinária, nos quais vira e mexe garimpa uma receita para testar. Nessas horas, não costuma escolher aquelas complicadas demais, cheias de etapas. Ultimamente, ele anda curioso com a cozinha vietnamita. Dessa vez, a responsável é uma amiga, a chef argentina Narda Lepes, apresentadora de TV em seu país e autora do livro Comer y pasarla bien. CC06_Cozinha_dele.indd 84 Em visita recente ao Brasil, Narda foi cozinhar no apartamento de Maurício. “Fez rolls de camarão com vegetais e umas berinjelas empanadas com panko (uma farinha de rosca oriental)”, conta ele. Para garantir que saberia reproduzir os pratos depois, sozinho, fotografou todo o preparo, passo a passo. “Já repeti e deu supercerto”, garante ele. “Adorei os rolls, que, além de gostosos e fáceis de fazer, são saudáveis”. Segundo Maurício, essa é uma característica que combina, e muito, com seu estilo de vida de atleta. Praticante de corrida, ele até já participou da São Silvestre. Diz, com precisão, que cumpriu o percurso de 15 quilômetros em 59 minutos. Tudo indica que o que o arquiteto gosta mesmo é de desafios – e eles podem estar em um novo projeto profissional, em uma prova de velocidade e resistência ou à beira do fogão. do brodo em uma panela grande 1 cenoura lavada e e leve ao fogo alto até ferver. descascada; Diminua, então, o fogo e deixe 1 cebola descascada; cozinhando por cerca de 3 horas. 3 a 4 talos de salsão O ideal é que o caldo reduza para lavados; aproximadamente 3 litros. salsinha a gosto; 2 Coe o caldo e cozinhe nele os 1 sobrecoxa de frango capeletti, seguindo o tempo sem pele; especificado na embalagem. 1 pedaço de ossobuco 3 Sirva quente, acompanhado de de cerca de 200 g; queijo parmesão ralado na hora, 1 colher (sopa) de sal; para que cada um polvilhe a pimenta-do-reino e gosto a sua porção. azeite a gosto. capeletti 1 kg de capeletti de carne ou outro recheio de sua preferência (use massa fresca); queijo parmesão ralado na hora a gosto. 03/08/2010 16:04:19 Guloseima de família O pudim de claras com calda de anis é receita de uma bisavó de Maurício pudim de claras e damasco com calda de anis rendimento 8 a 10 pedaços tempo de preparo 1h30 Ingredientes Modo de fazer pudim 1 Deixe os damascos de molho na água por 8 claras; uma noite. No dia seguinte, escorra-os, 16 colheres coloque-os em uma panela, cubra-os com (sopa) de água e leve-os ao fogo para cozinhar até que açúcar; 250 g de comecem a desmanchar. Reserve. 2 Bata as claras. Vá adicionando aos poucos damascos as 16 colheres (sopa) de açúcar do pudim, desidratados. continuando a bater, até que as claras calda de açúcar estejam em ponto de suspiro. Incorpore com 2 ½ colheres (sopa) de açúcar; 1 copo de água. calda de anis 3 gemas 750 ml de leite; 3 colheres (sopa) açúcar; 1 punhado de anis-estrelado. cuidados os damascos cozidos. 3 Faça a calda de açúcar: em uma panela, coloque as 2 ½ colheres (sopa) de açúcar e leve ao fogo para derreter. Quando começar a caramelizar, acrescente o copo de água e espere a calda engrossar. Unte com a calda a fôrma em que vai assar o pudim e deixe esfriar. 4 Quando a calda de açúcar estiver fria, despeje na fôrma a mistura de claras e leve ao forno por cerca de 40 minutos – ou até que o pudim esteja dourado. 5 Faça a calda de anis: coloque os ingredientes em uma panela e leve ao fogo baixo, mexendo sempre, até engrossar. Espere esfriar e reserve na geladeira. Sirva o pudim desenformado e gelado, com a calda de anis à parte, também gelada. CC06_Cozinha_dele.indd 85 03/08/2010 16:04:40 ao ponto | a história do... sal [Ouro branco] Precioso no passado, a ponto de provocar guerras, o sal barateou e se popularizou, mas nunca perdeu sua importância: ninguém vive sem ele 86 * casa e comida CC06_Historia_Sal.indd 86 Pote Utilplast; pedra Pedras Morumbi texto Dagmar Serpa com Andressa Trindade + fotos Rogério Voltan 03/08/2010 16:08:33 u sado para realçar o sabor da comida, o sal é uma presença das mais triviais nas panelas de todo o mundo. No passado, foi tão valioso que provocou guerras pelo controle de sua produção, criou monopólios e foi fartamente taxado, o que desencadeou revoltas. Até já desempenhou o papel de moeda e originou a palavra salário (leia quadro 6 curiosidades sobre ele). Grande parte de toda essa importância está relacionada a um benefício essencial que ele proporciona: a conservação de alimentos, especialmente carnes e peixes. “A descoberta disso fez diferença para o mundo, foi uma revolução”, diz a professora de gastronomia Michele Bunemer, do Centro Universitário Senac, em São Paulo, estudiosa do assunto. De fato, o sal – quase sempre usado em parceria com a exposição ao sol – tem o poder de desidratar os alimentos. Ao absorver a água, impede a proliferação de bactérias, pois elas precisam de umidade para sobreviver. Basta lembrar do bacalhau salgado ou do charque, que, sem refrigeração, têm prazo de validade longo. Há indícios de que, já na pré-história, os homens se preocupavam com a preservação da comida. É certo que povos antigos de diferentes culturas usaram a salga para conseguir isso. O poeta Homero se refere ao uso do método em grande escala na antiga Grécia. Egípcios e chineses também o adotavam. Os fenícios comiam peixes e carnes preservados dessa forma em suas viagens comerciais marítimas. A invenção da geladeira, no século 19, e de mais métodos de conservação da comida abalaram o reinado do sal, que acabou tornando-se barato e popular. Mas nunca perdeu sua importância: é essencial ao funcionamento do nosso organismo, embora excessos não façam bem à saúde. A ingestão diária recomendada de cloreto de sódio (sua composição química) é de até 5 gramas. Estima-se que o brasileiro consuma mais do que o dobro disso. Na gastronomia, a onda do momento são os sais especiais, como o rosa do Himalaia, o preto do Havaí e a flor de sal. A última é coletada artesanalmente em uma camada fina cristalizada na superfície das salinas e virou febre entre os chefs. Vendida pura ou aromatizada, é utilizada na finalização de pratos preparados com pouco ou nenhum sal comum. “Tem textura diferente e gostosa: você sente uns saisinhos na boca”, diz Flávia Mariotto, chef dos restaurantes Mercearia do Conde e Condessa. CC06_Historia_Sal.indd 87 sal aromático de hibisco a receita, da chef flávia mariotto, é simples: em uma assadeira, misture 7 medidas de sal grosso com 1 medida igual de chá de hibisco (ou de frutas silvestres). leve ao forno por 2 minutos. Retire e triture no processador ou liquidificador. flávia usa em saladas, carnes com preparo agridoce, com molho ferrugem ou que levem vinagre balsâmico. “dá um sabor mais silvestre ao prato”, diz ela. 6 curiosidades sobre ele 1. guerras O sal foi pivô de acirradas disputas. Em 250 a.C, Roma e Cartago guerrearam pelo domínio da produção e distribuição pelos mares Adriático e Mediterrâneo. Roma venceu e jogou sal em terras inimigas, para esterilizá-las. 2. salário Está até em dicionário: a palavra tem origem em salarium, uma “ração de sal”, ou quantia paga aos soldados romanos para comprar sal. 3. alto valor Na atual Mauritânia, noroeste da África, trocava-se sal por ouro (um peso pelo outro). Na Etiópia, lado leste do continente, ele era moeda. 4. revolta O ouro branco sustentou o luxo da corte na França. O país criou a gabelle, pesada taxa sobre o sal, que gerou revolta popular e é apontada como um dos fatores desencadeantes da Revolução Francesa. 5. para “limpar” Ele foi símbolo de pureza. A mulher de Ló acabou transformada em estátua de sal ao olhar para trás na destruição de Sodoma e Gomorra. Hoje, há quem receite banho de sal grosso para “limpar” e afastar e inveja. 6. mau sinal Na Idade Média, desperdiçá-lo era mau agouro. No período seguinte, a Renascença, o pintor Leonardo da Vinci colocou, em seu famoso quadro A última ceia, um saleiro tombado e derramado à frente de Judas. 03/08/2010 16:08:41 ao ponto | capricho no prato [O retorno do estrogonofe] No paulistano Lá da Venda, o prato – que, convertido em comida do dia a dia, andava sumido dos cardápios dos restaurantes – ressurge com roupa nova e toques de chef reportagem Andressa Trindade + foto Rogério Voltan 88 * casa e comida CC06_Capricho_prato.indd 88 03/08/2010 16:09:37 estrogonofe com batatas rústicas assadas rendimento 6 porções | tempo de preparo 1h30 n ascido na Rússia, modificado depois na França, o estrogonofe já desfrutou do status de prato chique. Nos anos 1960 e 1970, era servido em restaurantes elegantes e em ocasiões especiais. Com o tempo, ele foi perdendo a pose e acabou extinto da alta gastronomia. Mas sobreviveu nas casas brasileiras como opção eventual do cardápio do dia a dia. Muito por causa de sua história, a chef Heloísa Bacellar escalou o estrogonofe para ser uma das estrelas da cozinha de seu Lá da Venda, misto de restaurante e loja de presentes, utensílios e objetos para a casa, na Vila Madalena, em São Paulo. “Fiquei buscando receitas que encantariam as pessoas e aí pensei logo nele. Uma comida cremosa e quentinha sempre cai bem e conforta”, afirma. A iguaria é oferecida no menu das quintas-feiras e já conquistou um público cativo. Mas Heloísa não quis servi-la de maneira básica e bolou uma apresentação cheia de bossa. “Quando o prato é charmoso de se olhar, a comida tem outra graça”, diz ela. Assim, no Lá da Venda, nada de estrogonofe espalhado em um prato branco, acompanhado de arroz enformadinho e um punhado de batata palha. Ali, ele chega à mesa em uma marmita colorida de ágata, com o arroz em uma minitigela de cerâmica e batatas – rústicas (cortadas com casca e tudo e assadas, não palha – em um copo baixo do mesmo material. Ainda é oferecida uma saladinha, em um bowl de ágata. Tudo a ver com a ambientação do local, que tem ares de armazém do interior. A chef também caprichou na receita. Como há várias formas de preparar estrogonofe, Heloísa criou a sua inspirada, principalmente, no modo de fazer mais corrente por aqui na década 1960 – e, claro, deu seus toques. A carne é misturada à farinha de trigo antes de ser dourada na manteiga. O creme rosé leva molho inglês, páprica, mostarda, ketchup e limão. Também vai conhaque ou uísque, mas sem flambar (veja receita ao lado). No entanto, é outro detalhe que ela considera o mais essencial de todos. “A carne deve ser cortada em tirinhas bem miúdas e finas.” Ingredientes estrogonofe 1 kg de filé-mignon em tirinhas finas; Modo de fazer 1 Em uma tigela, misture a carne e a farinha de trigo e reserve. 2 Em uma panela grande, aqueça 2 colheres (sopa) de metade da manteiga e doure as farinha de trigo; tirinhas de carne de todos os lados. 50 g de manteiga; Com uma escumadeira, transfira 1 colher (chá) de a carne da panela para um prato e açúcar; 1 cebola média em reserve. 3 Na mesma panela, derreta a manteiga cubinhos; restante, junte o açúcar e a cebola 1 colher (sopa) de e deixe dourar. Volte com a carne mostarda; para a panela e junte a mostarda, o 2 colheres (sopa) de ketchup, o molho inglês, a páprica, ketchup; sal e pimenta a gosto, mais o suco 1 colher (sopa) de de limão, os cogumelos em conserva molho inglês; já escorridos e o caldo de carne. 1 colher (chá) de Cozinhe em fogo baixo por uns 20 páprica doce; minutos, até que a carne esteja bem suco de 1 limão; macia. Junte o uísque (ou conhaque) 250 g de cogumelos em e deixe ferver por mais 5 minutos. conserva; Prove e, se necessário, acerte o sal e a 1 xícara de caldo de pimenta. Dica: se quiser, prepare até carne; essa etapa na véspera, deixe esfriar e 1 colher (sopa) de guarde na geladeira, para prosseguir uísque ou conhaque; no dia seguinte, perto da hora de 1¼ xícara de creme de leite espesso; 2 colheres (sopa) de salsinha bem picadinha; sal e pimenta-do-reino servir. 4 Acrescente o creme de leite, espere aquecer, mas sem deixar ferver, e junte a salsinha. 5 Enquanto isso, aqueça o forno a 200oC. Corte as batatas (com a gosto. casca) em quatro no sentido do batatas rústicas comprimento. Coloque o azeite em 8 batatas médias uma assadeira capaz de acomodar as lavadas e com casca; batatas em uma camada só. Polvilhe ¼ de xícara de com sal e pimenta-do-reino a gosto, azeite de oliva junte as batatas e misture até deixar (aproximadamente); os pedaços totalmente besuntados sal e pimenta-do-reino de azeite. Espalhe os pedaços pela a gosto. assadeira. Leve ao forno por uns 40 minutos, até que as batatas estejam macias por dentro e crocantes por fora. Retire do forno, descole as lá da venda R. Harmonia, 161, Vila Madalena, São Paulo, SP, tel. (11) 3037-7702, www.ladavenda.com.br. De 2a a 6a, das 12h30 às 15h30; sáb. e dom., das 12h30 às 16h30. Cartões de crédito: Amex, Diners, Master e Visa. O Estrogonofe custa R$ 28. CC06_Capricho_prato.indd 89 batatas da assadeira com cuidado. Sirva o estrogonofe acompanhado das batatas e de arroz branco. 03/08/2010 16:09:41 ao ponto | despensa [Turma eclética] Um rápido passeio pela variedade de cogumelos e dicas de como prepará-los Produção Viviane Gonçalves texto Cristiana Couto + fotos Iara Venanzi 90 * casa e comida CC06_Cogumelos.indd 90 03/08/2010 16:20:24 o s silvestres já eram usados na cozinha por várias culturas fazia séculos quando os cogumelos começaram a ser cultivados, há 300 anos. Na Idade Média, do século 5 ao 15, os médicos classificaram esse alimento como não indicado para a saúde. Compreensível: de fato, muitas espécies são venenosas. Mas a variedade de cogumelos cosmestíveis é imensa. “São ótimas fontes de vitaminas e proteínas”, diz o chef Sauro Scarabotta, do Friccò di Frango, em São Paulo. Podem ser consumidos frescos ou desidratados – no segundo caso, concentram mais seus aromas e sabores. Quando frescos, o melhor é não lavá-los, pois são porosos e absorvem muita água, o que afeta seu sabor e sua textura. Apenas limpe-os com uma escovinha apropriada. Alguns tipos são bem familiares ao paladar do brasileiro. Com sabor delicado, o shimeji é um deles. “Fica bom puro, apenas refogado com azeite e alho, e também em risotos e em molho vermelho para massas”, diz Sauro, que dá mais dicas de preparo a seguir. 1. shitake Há dois tipos desse cogumelo asiático. “Os melhores, difíceis de achar, são cultivados em toras de carvalho japonês. O mais comum, em euca- Gostinho suave lipto”, diz o chef. “O primeiro é ótimo cru, com azeite, suco de limão e lascas de parmesão. O segundo, refogado em azeite, com alho, salsinha e vinho branco.” 2 e 3. pleurotus A esse gênero, pertencem cogumelos como o Pleurotus ostreatus (3) e o eryngii (2), usados na culinária oriental. “E há um de cor salmão que fica muito bom feito na grelha com carvão, em pasta de alho, salsinha e gordura de presunto cru picado.” 4 e 7. champignon São assim chamadas as variedades do gênero Agaricus. A mais famosa é o cogumelo de Paris (4), cultivado também na versão extra size (7), própria para recheios. “Como o sabor é pouco acentuado, gosto de misturar com porcini secos”, diz Sauro. 5. champignon noir Conhecido como orelha-de-judas, é popular na cozinha chinesa. Seco ou moído, participa do preparo de sopas e cozidos. 6. maitake Tem uso terapêutico para estimular o sistema imunológico e regular a pressão, o açúcar e o colesterol. “Vai bem nos mesmos preparos do shimeji.” 8. porcini Com um perfume único, o rei da cozinha italiana costuma ser achado no Brasil na versão seca. Pode ser a estrela do risoto ou entrar em molhos. 1 6 2 5 3 4 Consultoria Vera Bononi, diretora do Instituto de Botânica-SP. Óleo saudável Delícias orgânicas 7 Tempero de chef As castanhas-de-caju acima são do Piauí e estão à venda, com exclusividade, no Empório Chiappetta, em São Paulo (R$ 22 o pacote de 500 g). Seu diferencial é a torra, que não utiliza o óleo vegetal normalmente presente nesse processo e é feita a temperaturas mais baixas. O resultado é uma tonalidade clarinha e um irresistível sabor delicado. Um lançamento da Pecanita, empresa gaúcha de Cachoeira do Sul, o óleo de noz-pecã (R$ 36,50, 250 ml) é rico em vitamina e tem o poder de aumentar o HDL, o chamado colesterol bom. Utilizado na culinária mediterrânea, vai bem tanto em saladas como no preparo de carnes e pescados. Parceria do americano Frederick Schilling, da Dagoba Organic Chocolate, e do cacauicultor baiano Diego Badaró, a linha de chocolates AMMA é feita só com cacau orgânico nacional. Já tinha quatro versões: com 45%, 60%, 75% e 85% de cacau. Ganhou mais duas: 30% (ao leite) e 50% (R$ 18 cada barra de 80 g). Anis-estrelado (R$ 7,90, 30 g), pimenta rosa em grãos (R$ 11,49, 41 g) e capim-limão (R$ 10,59, 16 g) são novidades da linha de temperos do chef Filipe Baccarin. Feita artesanalmente e sem o uso de nenhum químico no processo, tem cerca de 30 produtos à base de ervas e especiarias. empório chiappetta Tel. (11) 3814-7043 empório elli Tel. (11) 3228-3468 pão padaria artesanal Tel. (11) 3384-6900 pão de açúcar (real parque) Tel. (11) 3758-7509 CC06_Cogumelos.indd 91 8 03/08/2010 16:21:40 ao ponto | doce vida [Em traje de gala] 92 * casa e comida CC06_Doce_Vida.indd 92 Foto Divulgação No Kotobuki, restaurante japonês do Rio de Janeiro, o popularíssimo petit gateau chega à mesa com “roupa” especial do Oriente e companhias inéditas 03/08/2010 16:23:00 b Fotos Rogério Voltan ento (lê-se bentô) é uma espécie de marmita japonesa. Seja qual for seu conteúdo, a disposição dos alimentos é sempre de encher os olhos. Assim fica fácil entender por que a sobremesa de maior sucesso do Kotobuki, no Rio de Janeiro, chama-se Bento box. Nada mais é do que um petit gateau – guloseima que virou um dos maiores hits gastronômicos do país nos últimos tempos – servido dentro de uma charmosa caixa oriental. Além do traje de gala, o bolinho quente de chocolate com recheio cremoso ganhou companhias inéditas: em vez da calda de chocolate de praxe, uma de frutas vermelhas e, no lugar do tradicional sabor creme, sorvete de macadâmia. A tentadora marmita doce ainda chega à mesa fechada e, quando aberta, oferece um pequeno show particular. “Sai uma fumacinha e o aroma se espalha”, descreve o chef e sushiman Hirokazu Kuboki. “Os clientes adoram.” [Como o da mamãe] kotobuki Av. das Américas, 7.777, Shopping Rio Design Barra, 3º andar, Barra, Rio de Janeiro, RJ, tel. (21) 3328-8844. De 2a. a dom., das 12h às 24h. Cartões de crédito: todos. A sobremesa Bento box custa R$ 16. [Brigadeiros de mestre] Bolos caseiros tradicionais fazem sucesso. Quanto mais simples, melhor É cada vez maior e mais variada a oferta de versões para o público gourmet do mais brasileiro dos doces Este com amêndoas é uma das 40 opções oferecidas – na loja e sob encomenda – por essa marca criada pela doceira Juliana Motter, pioneira na onda dos brigadeiros de luxo. No menu, há versões bem diferentes, como a com gengibre e a com majericão. Tel. (11) 3085-3687; www.maria brigadeiro.com.br. CC06_Doce_Vida.indd 93 ninoca brigaderia Entre as mais A versão acima de dez opções leva cookies de brigadeiro na receita. No que podem ser total, essa marca encomendadas especializada nessa doceria em brigadeiros, especializada, que aceita estão o de encomendas pistache (foto) e mantém loja e o de paçoca. em São Paulo, Como é praxe no dispõe de mais segmento, todos de 20 sabores. são oferecidos Outras opções em duas versões: são ovomaltine, a tradicional e chocolate meio a cremosa, para amargo e branco. comer de colher. Tels. (11) 8874-2494. Tel. (11) 9968-7024; www.brigaderia. com.br. galeria chocolate Por fora, o docinho acima parece um brigadeiro comum. Na receita, porém, vai água de rosas. É uma criação do chef Diego Lozano, dono dessa loja especializada em chocolate. Tem também o docinho brasileiro com jasmim, cháverde e por aí vai. Tel. (11) 5051-1302; www.galeria chocolate.com.br. site maria brigadeiro Massa leve e fofinha de dois sabores, açúcar por cima e só. Nada de recheio, glacê ou cobertura. Deliciosamente simples, a tentação aí no alto bem que poderia ter sido feita em casa, pela mamãe ou vovó. Mas se chama Frappé e é uma das 25 opções da Crazy for Cakes, especializada em bolos caseiros tradicionais. Segundo a dona, Simone Ferrarezi, o interesse por esse segmento é cada vez maior. Parte de seu cardápio é formada por receitas superbásicas. Tem, por exemplo, bolo de fubá, de laranja e o clássico formigueiro. Outra parcela até leva calda por cima. “Em nenhum dos meus bolos, porém, vai recheio”, avisa Simone. confira receitas em www.casa ejardim. com.br/ casaecomida crazy for cakes Tel. (11) 9144-8512, www.crazyforcakes.com.br. O Bolo frappé custa R$ 73 (serve cerca de dez pessoas). Os pedidos devem ser feitos com 24 horas de antecedência – ou, se for para entrega no fim de semana, dois dias antes. casa e comida * 93 03/08/2010 16:23:29 ao ponto | a receita do chef CC06_Receita_Chef.indd 94 03/08/2010 16:38:19 confiança Na base da Em seu novo espaço, batizado de Clandestino, a chef Bel Coelho propõe um passeio por incríveis experiências gastronômicas – mas seguindo um roteiro que só ela conhece texto Flávia Pinho + fotos Rogério Voltan A qui, o cliente come o que eu mandar para a mesa. É um menu confiança de oito a 12 etapas, para quem gosta de se arriscar.” Assim a chef Bel Coelho define a proposta de sua mais nova empreitada gastronômica, o espaço batizado de Clandestino. Escondido no mezanino do seu restaurante Dui, no Jardim Paulista, em São Paulo, com inaguração em agosto, nasce para dar vazão à criatividade da chef. Embora o cardápio contemporâneo em vigor no salão do térreo seja dos mais instigantes, só quem subir as escadas terá chance de conferir até onde vai a inventividade da profissional. O esquema de funcionamento no piso superior também é outro: inicialmente, apenas uma noite por semana, sempre às quintas-feiras, com reservas obrigatórias e atendimento de, no máximo, 12 pessoas. “Prometo experiências bem mais complexas, não é para quem come apenas por lazer.” Técnicas culinárias de vanguarda, que Bel aprendeu na cozinha do restaurante espanhol El Celler Can Roca (quarto melhor do mundo de acordo com o ranking da revista britânica Restaurant), se mesclam a ingredientes bem brasileiros para produzir receitas inovadoras – mas com um certo quê familiar. É o caso do Siri--mole grelhado, com farofa e espuma de moqueca, cuja receita você confere aqui. Ou da colorida salada de frutas tropicais, que mistura ingredientes de diferentes texturas e temperaturas, entre os quais pastilhas geladas de cajá, compotas de caju e de carambola e espuma de abacate com capim-santo. casa e comida * 95 CC06_Receita_Chef.indd 95 03/08/2010 16:38:34 ao ponto | a receita do chef ág. + c onfira recei 149 siri-mole grelhado com farofa e espuma de moqueca na ta p rendimento 4 porções tempo de preparo 1h30 Ingredientes Modo de fazer siri siri 8 siris-moles; 1 Grelhe os siris em uma 20 ml de azeite frigideira, até que fiquem extravirgem; dourados em ambos os sal a gosto; Risoto de paio com favas verdes e couve Para chegar até aqui, a paulistana Isabel Aranha Coelho fez uma trajetória de respeito. Aos 31 anos, 14 de carreira, ela já esteve na cozinha de profissionais internacionalmente respeitados, como o brasileiro Alex Atala e o francês radicado em São Paulo Laurent Suaudeau. Do fogão, gosta desde a mais tenra idade. Bisneta do diplomata Oswaldo Aranha, aquele que batizou o famoso filé com alho frito, cresceu em uma família boa de garfo. Frequentou muitos restaurantes paulistanos e sempre metia a colher nas panelas da cozinheira da família, Diná. Não deu outra: matriculada na faculdade de psicologia, Bel não passou do primeiro dia de aula e deu um susto nos pais ao anunciar que queria cursar o Culinary Institute of America, em Nova York, para se tornar chef. “Meu pai impôs a condição de que eu fizesse primeiro um estágio em uma cozinha profissional.” Como aprendiz na equipe de Laurent, ela estranhou o ambiente rude, o calor escaldante, a pressão... Chegou em casa chorando no dia da estreia e por pouco não desistiu. “Só que o bichinho me picou. Depois de uma semana, me acostumei com aquilo e fiquei encantada.” A persistência foi recompensada com o sonhado curso de um ano nos Estados Unidos, reforçado por um estágio na famosa confeitaria Payard, em Manhattan. Na volta ao Brasil, em 2001, a primeira experiência como profissional viria a moldar para sempre seu estilo. Ao lado de Alex Atala, do D.O.M., Bel Coelho descobriu que todas aquelas influências às quais estava acostumada desde a infância poderiam se juntar em CC06_Receita_Chef.indd 96 lados. pimenta-do-reino moída farofa na hora a gosto. 1 Esquente a manteiga em farofa uma frigideira, acrescente 400 g de farinha de a farinha e o sal. Mexa até mandioca em flocos; dourar. 200 g de manteiga; espuma de moqueca sal a gosto. 1 Em uma frigideira, doure as espuma de moqueca 300 g de cabeças de camarão; 1 cebola média partida ao meio; 1 tomate limpo e ligeiramente picado; ½ pimentão; 30 g de caules de salsinha; 20 g de coentro; 100 ml de leite de coco; 500 ml de água; 200 ml de creme de leite fresco; sal a gosto; pimenta-do-reino moída na hora a gosto. cabeças de camarão. 2 Em uma caçarola, coloque as cabeças com a água, a cebola, o tomate, o pimentão, os talos de salsinha e o coentro. Deixe cozinhar em fogo baixo por 40 minutos. 3 Coe o caldo, agregue o leite de coco e o creme de leite fresco. Tempere com sal e pimenta a gosto. 4 Coloque o caldo em um sifão* com duas cargas de gás. Em cada prato, sirva um pouco de farofa e dois siris. Arremate usando o sifão para produzir uma porção de espuma de moqueca. * O sifão, também conhecido como garrafa para produzir chantilly, é muito usado pelos chefs para fazer cremes aerados doces ou salgados. Funciona com cápsulas de gás N2O (óxido nitroso). Cada carga produz cerca de ½ litro de espuma. 03/08/2010 16:38:42 casa e comida * 97 CC06_Receita_Chef.indd 97 03/08/2010 16:38:44 ao ponto | a receita do chef 98 * casa e comida CC06_Receita_Chef.indd 98 03/08/2010 16:38:47 Novo espaço No mezanino sobre o salão do Dui, Bel Coelho abriu o Clandestino, onde se propõe a surpreender com um menu degustação cassoulet de frutos do mar rendimento 4 porções tempo de preparo 30 min (sem contar o preparo do caldo de legumes, se for fazer em casa) Ingredientes Modo de fazer cassoulet 1 Refogue no azeite a 500 g de feijão-branco cozido; cebola picada, o bacon e o 150 g de cebola picada; alho. Acrescente o feijão- 2 dentes de alho picados; -branco cozido, o caldo 15 ml de azeite extravirgem; de legumes e ferva. 500 ml de caldo de legumes 2 Em uma frigideira, (se quiser fazer em casa, veja receita da chef em Nosso guia); sal e pimenta-do-reino moída sele o camarão e a lula. 3 Junte ao feijão, tempere com sal, pimenta e as na hora a gosto; ervas picadas. Sirva com 12 camarões médios limpos; arroz branco. 300 g de lulas limpas fatiadas; 300 g de polvo cozido limpo; 100 g de bacon em cubinhos; 20 g de salsinha, tomilho e alecrim picados. CC06_Receita_Chef.indd 99 um mesmo prato. O segredo estava no equilíbrio e na técnica, noções que não custou a dominar. Em 2003, por indicação de seu mentor, assumiu a cozinha do restaurante Madelleine e, no ano seguinte, a do Sabuji – que a fez conquistar o noticiário gastronômico. Isso lhe rendeu um convite, a princípio tentador: comandar um restaurante brasileiro contemporâneo em Londres, batizado de Mocotó, com promessa de projeção internacional e direito a uma inauguração recheada de celebridades do naipe de Madonna. Lá se foi Bel. Mas o projeto fez água e ela pediu demissão meses depois. “A política do dono não tinha a ver comigo e, ainda por cima, ele não cumpriu nossos acordos.” Como já estava na Europa, aproveitou para circular por lá, apurar seus conhecimentos e encontrar o próprio caminho como chef. Um ano depois, sentiu-se pronta para voltar e assumir uma posição que muitos colegas de sua idade devem ter invejado: chef-executiva do Buddha Bar paulistano, inaugurado em 2007. Foram 18 meses de muito trabalho, fama e badalação. No entanto, Bel continuava inquieta. “Aquele nunca foi meu projeto de vida, pois sonhava em desenvolver um trabalho mais autoral.” Era hora de ter o próprio restaurante, um sonho que realizou em 2009, quando inaugurou o Dui, em sociedade com o empresário Cristiano Almeida. O bonito salão com tom de berinjela, aberto para almoço e jantar, é o palco onde a chef apresenta interpretações muito particulares de receitas que todo mundo conhece, como bobó de camarão, cassoulet e Risoto de paio com favas e couve. Cada pedido, uma surpresa. dui Al. Franca, 1.590, Jardins, São Paulo, SP, tel. (11) 2649-7952. De 3a a 5a, das 12h às 15h e das 20h às 24h; 6a, das 12h às 15h e das 20h à 1h; sáb., das 12h30 às 17h e das 20h à 1h; dom., das 12h30 às 17h. Cartões de crédito: Amex, Diners, Master e Visa. O Cassoulet de frutos do mar integra o almoço executivo, que inclui entrada e sobremesa e custa R$ 49. O risoto de paio com favas verdes e couve sai por R$ 42. O preço do menu degustação, no qual pode figurar o Siri-mole com espuma de moqueca, ainda não estava definido até o fechamento desta edição. 03/08/2010 16:39:11 ao ponto | comida para perfumar Que cheirinho bom! Já reparou como alguns ingredientes têm o poder de perfumar a casa inteira e despertar o apetite até da vizinhança? Confira sete receitas capazes de deixar seus convidados com água na boca – mesmo de olhos fechados texto Flávia Pinho + fotos Rogério Voltan + produção Cláudia Pixu A traído pelo aroma, quem passa a pé diante da pequena Pão, a padaria artesanal orgânica de Rafael Rosa, em São Paulo, dificilmente resiste a uma paradinha para conferir a vitrine. Se cheiro de pão assando (assim como de bolo) já é uma tentação, imagine quando a massa leva ervas, limão, vinho... Em dias de friozinho, então, nem se fala: Rafael prepara um chá de especiarias que fica horas em fogo bem baixinho e é um chamariz. “Os clientes já entram perguntando de onde vem o perfume”, conta ele. Assim como as especiarias, há uma série de ingredientes que se destacam pelo perfume pronunciado durante o preparo, como ervas frescas, camarões, alho, cebola, vinho e algumas frutas, em especial a maçã e o limão. E não dá outra: depois de aspirar aquele cheirinho bom, é impossível resistir. 100 * casa e comida CC06_Cheiro.indd 100 03/08/2010 16:42:29 Pedra do tipo São Tomé Pedras Morumbi casa e comida * 101 CC06_Cheiro.indd 101 03/08/2010 16:42:33 CC06_Cheiro.indd 102 03/08/2010 16:42:39 Guardanapo, Roupa de Mesa, bule e caneca de ágata, Casa Canela chá detox com pão de ervas com raspas de limão-siciliano (receitas de rafael rosa) pão de ervas rendimento 10 porções tempo de preparo 30 min (+ 13 horas de fermentação) Ingredientes Modo de fazer 500 g de farinha 1 Coloque todos os ingredientes em uma vasilha e misture de trigo; com as mãos, amassando até deixar uniforme. A massa 1 colher (café) deve ficar bem úmida, quase molhada. de fermento 2 Guarde a massa em uma vasilha tampada e deixe biológico seco; descansar por 3 horas em temperatura ambiente. 10 g de sal; Depois, leve à geladeira por mais 10 horas, para que a 350 ml de água; massa cresça. 2 colheres (sopa) 3 Polvilhe a massa com farinha e modele o pão no formato de ervas picadas que desejar. Ponha em uma fôrma e faça pequenos talhos (manjericão, diagonais na massa, com a ajuda de uma lâmina afiada, alecrim, tomilho e hortelã); para que ela cresça ainda mais. 4 Leve o pão ao forno bem quente, na temperatura máxima, raspas de 1 limão- e asse por cerca de 40 minutos. A casca fica mais crocante -siciliano médio. quando se deixa uma travessa com água dentro do forno, enquanto o pão estiver assando, para formar vapor. Dica do chef Você pode também assar o pão dentro de uma panela de ferro. Preaqueça a panela vazia no forno por 30 minutos. Retire-a, coloque o pão dentro, tampe e devolva-a ao forno por mais 30 minutos. Destampe a panela e mantenha no forno por mais 10 minutos. chá rendimento 8 porções | tempo de preparo 10 min (+ 3 h no fogo) Ingredientes Modo de fazer canela em pau, 1 Coloque todos os ingredientes cravo, manjericão em uma panela. Deixe em fogo bem fresco, maçã baixinho de 2 a 3 horas. Cuide para não em pedaços secar – se necessário, vá adicionando (com casca), água. No final, o chá deve ficar bem carambola, escuro. Coe e sirva quente. pimenta rosa, alecrim, noz-moscada, açúcar, anis-estrelado e Isso acontece porque o paladar e o olfato são sentidos que atuam em um sistema de estreita ligação. Enquanto o primeiro é bem limitado, o segundo vai longe – somos capazes de identificar quatro sabores primários (salgado, doce, amargo e ácido) e mais de 10 mil odores diferentes. Essas informações são registradas conjuntamente pelo cérebro. Não por acaso, não sentimos o gosto da comida quando estamos resfriados, com o nariz entupido. “Sem a participação do olfato, não há degustação completa, como também sou tentado a supor que o olfato e o gosto formam um único sentido, do qual a boca é o laboratório e o nariz, a chaminé”, afirmou o francês Jean-Anthelme Brillat-Savarin, autor do clássico A fisiologia do gosto, de 1825. “O nariz cumpre sempre a função de sentinela avançada, que exclama: ‘Quem vem lá?’”, completa. As receitas que você confere aqui, segundo seus criadores, funcionam como gatilhos infalíveis para o apetite. Andrea Kaufmann, da AK Delicatessen, Rafael Rosa, da padaria Pão, e Bia Forte, da Brigadeiro Doceria, pinçaram de seus acervos os pratos que consideram mais perfumados e poderosos. Andrea diz que ama preparar em casa uma receita do cardápio da AK: o chupe peruano. “Meus amigos já entram com água na boca.” Outra sugestão dela faz parte de seu universo doméstico e não está no menu: um assado judaico chamado choulent, que praticamente se autoprepara durante o shabat, o período que vai do pôr do sol de sexta--feira ao mesmo horário do sábado, no qual os judeus não podem trabalhar. “O cheiro é maravilhoso.” cardamomo a gosto; 1 l de água. CC06_Cheiro.indd 103 casa e comida * 103 03/08/2010 16:42:44 ao ponto | comida para perfumar bolo de chocolate com banana e especiarias (receita de bia forte) rendimento 16 porções tempo de preparo 40 min Ingredientes massa 1 xícara de farinha de trigo; 1 xícara de açúcar; ½ xícara de chocolate em pó; 1 colher (sopa) de fermento; Prato Stella Ferraz ½ xícara de óleo; 2 ovos; ½ xícara de água quente. recheio cake aux olives (receita de rafael rosa) rendimento 10 porções tempo de preparo 50 min Ingredientes Modo de fazer 300 g de farinha 1 Coloque as azeitonas de molho em de trigo; água, por cerca de 30 minutos, para 4 ovos; dessalgá-las. 200 g de queijo 2 Coloque todos os ingredientes gruyère ralado; na batedeira e bata até obter uma 100 g de azeitonas mistura homogênea. pretas fatiadas; 3 Ponha a massa em uma fôrma 100 g de azeitonas retangular, untada e com o fundo verdes fatiadas; forrado com papel-manteiga. Asse 1 colher (sopa) de em forno preaquecido a 1800C por fermento químico; 40 minutos. Sirva fatias grelhadas 150 ml de azeite ou torradas, regadas com azeite. 6 bananas-nanicas Modo de fazer 1 Misture os ingredientes da massa, com ajuda de um batedor manual (fouet), e coloque numa fôrma de bolo (com ou sem furo). 2 Por cima da massa, acrescente as bananas picadas. 3 Misture os ingredientes da farofa, dosando a quantidade de manteiga para que não vire uma massa uniforme. Adicione a farofa sobre as bananas e asse em forno médio (1800C) por aproximadamente 45 minutos. picadas. farofa 1 xícara de farinha de trigo; 1 xícara de açúcar; 1 colher (café) de gengibre em pó; 1 colher (café) de cardamomo em pó; 1 colher (café) de canela em pó; manteiga o quanto baste. extravirgem; 150 ml de vinho branco seco. 104 * casa e comida CC06_Cheiro.indd 104 03/08/2010 16:43:02 CC06_Cheiro.indd 105 03/08/2010 16:43:04 Prato Stella Ferraz; pano de prato Lá da Venda 106 * casa e comida CC06_Cheiro.indd 106 Prato Stella Ferraz ao ponto | comida para perfumar 03/08/2010 16:43:13 torta de maçã Travessa Lá da Venda; guardanapo Roupa de Mesa (receita de bia forte) rendimento 12 porções tempo de preparo 1 h Ingredientes Modo de fazer massa 1 1 Misture com as mãos os 200 g de farinha ingredientes da massa 1, até que de trigo; fique homogênea e sem grudar 2 colheres (sopa) de açúcar; nos dedos. Reserve. 2 Misture os ingredientes da 120 g de manteiga. massa 2, até obter uma farofa, massa 2 sem deixar que vire uma massa 1 xícara de farinha de uniforme. Reserve. trigo; 1 xícara de açúcar; manteiga o quanto 3 Tempere as maçãs picadas com açúcar e canela a gosto. Reserve. 4 Forre com a massa 1 o fundo baste. e a lateral de uma fôrma recheio (de fundo removível) com 3 maçãs médias (tipo aproximadamente 20 cm de gala ou fuji) picadas; diâmetro. açúcar e canela a 5 Em seguida, intercale camadas gosto; de maçã e da Massa 2, cuidando ½ lata de creme para que a última seja de massa. de leite. 6 Cubra com creme de leite e leve ao forno médio (1800C) por aproximadamente 1 hora. Desenforme e decore com açúcar e canela. Sirva quente, com sorvete de creme. choulent (receita de andrea kaufmann) rendimento 10 porções tempo de preparo 40 min (+ 10 horas de cozimento) Ingredientes Modo de fazer 1,5 kg de ossobuco; 1 Na véspera, tempere as carnes 1 kg de peito; 1 costela; 600 g de pastrami; (exceto o pastrami) com sal, alho picado, azeite e páprica. 2 No dia, esquente bem uma frigideira e sele 1 kg de feijão- as carnes, formando uma crosta dourada -branco; por fora, sem deixar cozinhar por dentro. 500 g de cevadinha; 3 Refogue as cebolas picadas em azeite na 30 dentes de alho; mesma frigideira em que selou as carnes 20 folhas de louro; e tempere-as com sal, páprica e louro. 4 colheres (sopa) de páprica; 100 ml de azeite; Depois, misture as carnes com a cebola. 4 Monte o prato em uma panela que vá ao forno (Use uma panela bonita, de ferro 5 cebolas picadas ou esmaltada, que possa ir direto à mesa. finamente; Não pode ter cabo plástico). Coloque no 3 cebolas em fundo o azeite com as cebolas em rodelas rodelas; 10 batatas bolinha (que serão descartadas ao servir). 5 Separe todos os demais ingredientes em com casca; duas partes e arrume camadas na seguinte 12 minicebolas ordem: feijões crus, cevadinha, carnes, sem casca; pastrami, alhos inteiros com louro. Repita 10 ovos; as camadas e, por cima de tudo, ponha as sal a gosto. batatas, os ovos inteiros e as minicebolas. 6 Cubra com água ou caldo de frango, tampe a panela e leve ao forno médio (1800C). Deixe assar, sem abrir, por 10 horas. CC06_Cheiro.indd 107 03/08/2010 16:43:27 ao ponto | comida para perfumar chupe peruano (receita de andrea kaufmann) rendimento 1 porção | tempo de preparo 1h50 Ingredientes caldo de camarão ½ kg de casca 1 Em um caldeirão, refogue a cebola e o alho em de camarão; azeite bem quente. Adicione o tomate, a cenoura, 2 cenouras picadas; o tomilho e as cascas de camarão. Refogue bem 2 talos de salsão inteiros; 5 dentes de alho picados; cozinhar por cerca de 1 hora. Coe. Rende 4 tomates picados; 2 litros – use o quanto precisa e guarde o restante 6 galhos de tomilho; em um recipiente tampado. Conserve no freezer. azeite o quanto baste; chupe 5 litros de água. 1 Em uma panela, refogue a cebola, o pimentão, 2 colheres (sopa) de cebola picada; 2 colheres (sopa) de tomate picado, sem pele nem sementes; Bata, no liquidificador, 300 ml de azeite com 250 g de alho, e deixe descansar por 30 minutos antes de usar até que as cascas estejam bem alaranjadas. 2 Adicione o salsão e a água. Abaixe o fogo e deixe 2 cebolas picadas; chupe Dica da chef Modo de fazer caldo de camarão azeite de alho para refogar; 1 colher (sopa) de pimentão o tomate e o arroz no azeite de alho. 2 Adicione a pimenta calabresa, o tomilho, o alecrim e o caldo de camarão. Ferva até que o arroz esteja cozido al dente. 3 Acrescente o alho e o camarão, o creme de leite, o queijo e a salsa picada. Ferva por mais 3 minutos. 4 Coloque o chupe em uma panelinha ou bowl vermelho picado sem sementes; individual que possa ir ao forno, com a gema 2 colheres (sopa) inteira por cima. Leve para gratinar por 1 minuto de arroz cozido; e sirva imediatamente. 5 g de pimenta calabresa; 2 galhos de tomilho; ½ galho de alecrim; 100 ml de caldo de camarão; 1 dente de alho picado; 50 ml de creme de leite fresco; 100g de camarão limpo; 1 colher (sopa) de salsinha picada; 20 g de queijo prato em cubos; 1 gema. 108 * casa e comida CC06_Cheiro.indd 108 03/08/2010 16:43:31 Panela de ágata Raul's CC06_Cheiro.indd 109 03/08/2010 16:43:34 CC06_Jamie.indd 110 03/08/2010 16:47:10 ao ponto | ao ar livre Jamie No jardim de Pratos simples e saborosos, à base de ingredientes frescos colhidos em sua horta, recheiam os almoços que o chef inglês gosta de preparar em dias ensolarados texto + receitas + fotos ©Jamie Oliver t o do s o s d i re i t o s re se r va d o s O favorito Uma das três filhas do chef com o macarrão que as meninas adoram casa e comida * 111 CC06_Jamie.indd 111 03/08/2010 16:47:58 t enho viajado um bocado a trabalho. Mas, quando estou em casa e faz sol, gosto de desfrutar uma das grandes alegrias da vida: almoços descontraídos ao ar livre. E nem precisa ser verão e fazer aquele calorão para curtir uma mesa do jardim. Basta que o céu esteja claro – ainda que seja um dia frio de outono, quando você tem de vestir um agasalho antes de ir para a cozinha preparar uma comida reconfortante. Aqui, apresento alguns bons momentos dos animados almoços que andei preparando nos meus dias de folga dos últimos tempos, a maior parte feita com ingredientes que colhi na minha horta. A chegada do bebê número 3 da família tornou nossa vida definitivamente muito agitada. Passei a investir cada vez mais em pratos rápidos e deliciosos capazes de alimentar todos os amigos que pipocavam para visitar a pequena Petal (a terceira filha do chef Jamie Oliver, nascida em abril de 2009), incluindo meu fornecedor de gás e parceiro, Andy, que finalmente estabeleceu contato com seu lado paternal... Que ótimo! Nessas ocasiões, costumo fazer minhas receitas de verão favoritas. Minhas filhas maiores adoram especialmente um macarrão simples com molho cremoso de berinjela, tomate e manjericão, que é bem saboroso e nutritivo – assim como a Torta de peixe de verão, outra campeã de audiência. Ainda há uma receita à base de sardinha, que é o meu jeito favorito de servi-las: transformo-as em belos, saudáveis e gostosos sanduíches sem pão. Por fim, tem a Salada de beterraba em palitos. Todos os anos, invariavelmente, eu me apaixono mais pelas beterrabas. A gente pode comer as folhas, os talos e, claro, os bulbos. É até ridícula a facilidade com que elas crescem. Minha horta produz montes e montes delas. Por isso, sempre preciso pensar rapidamente em como estocá-las. Se CC06_Jamie.indd 112 você tem um sítio com horta, vou revelar agora o melhor jeito de fazer isso: enterrá-las. Foi meu jardineiro, Pete, quem me ensinou essa maneira de conservar legumes. Tudo o que você precisa fazer é arrancar suas batatas, beterrabas e companhia, depois deixar secar por cerca de uma hora. Então, cave a área de onde os arrancou, espalhe uma camada de palha e empilhe sobre ela os vegetais, formando uma espécie de pirâmide. Então, cubra-os com palha e alguns centímetros de terra ou areia. Parece incrível, mas esse método os conserva por meses, ajudando a manter seu valor nutricional. Tentei esse sistema pela primeira vez em 2008 e devo admitir que fiz uma bela confusão – montes de areia e vegetais por todo lado. Mas o caos valeu a pena, porque acabamos comendo parte da minha colheita de verão de coloridas beterrabas no inverno. E elas estavam absolutamente perfeitas. Desde então, decidi fazer sempre assim – só que sem tanta confusão. site ao ponto | ao ar livre acesse www.jamieoliver.com 03/08/2010 16:48:22 Cenas da vida Na horta de sua casa, Jamie colhe beterrabas. À direita, na foto do meio, o amigo Andy com a caçula do chef, Petal CC06_Jamie.indd 113 03/08/2010 16:49:03 ao ponto | ao ar livre CC06_Jamie.indd 114 03/08/2010 16:49:06 linguine com molho cremoso de berinjela, tomate e manjericão rendimento serve 4 pessoas Ingredientes 1 berinjela; Modo de preparo 1 Corte a berinjela em 4 pedaços no sentido do 4 dentes de alho comprimento: se ela estiver fresca e firme, ótimo; se descascados estiver fofa, remova as sementes. Corte, então, os quartos e fatiados de berinjela em pedaços de 1 cm e coloque-os em uma finamente; frigideira grande, com alguns borrifos de azeite. Frite-os 2 filés de em fogo médio por 4 ou 5 minutos, até que comecem a anchova; dourar. Depois, adicione o alho e os filés de anchova. 400 g de linguine 2 Para cozinhar a massa, ponha um caldeirão com água (ou espaguete); e sal no fogo e, assim que ferver, cozinhe o linguine 1 punhado conforme o tempo especificado na embalagem. A massa grande de manjericão; deve ficar al dente. 3 Enquanto isso, retire as folhas de manjericão dos talos. 400 g de tomates Coloque as menores em água para usar mais tarde e pique pelados (em lata), grosseiramente as maiores. Adicione o tomate à berinjela cortados em com um pouco de água. Mexa e esmague os pedaços de pedaços; tomate. Tempere a gosto e adicione o vinagre balsâmico, a 1 colher (sopa) manteiga e as folhas de manjericão picadas. Com cuidado, de vinagre despeje tudo em um processador de alimentos (ou no balsâmico; liquidificador) e bata até obter um creme macio. Prove, 1 pedaço de adicione mais tempero se necessário, leve de volta à manteiga; 100 g de queijo frigideira e reserve. 4 Escorra o linguine, reservando um pouco de água do parmesão ralado; cozimento. Acrescente a massa à frigideira com o molho azeite de oliva e mexa, adicionando borrifos da água do cozimento, a gosto. para incrementar o sabor do molho. Despeje a massa numa travessa, salpique-a com as folhas de manjericão reservadas e o resto do parmesão e sirva. Informações nutricionais (por porção) 577 calorias | 21,8 g de gorduras (8,9 g de saturada) 19,4 g de proteínas | 76,1 g de carboidratos | 1,6 g de açúcares. minhas filhas amam quando preparo berinjelas assim porque elas viram um delicioso molho cremoso. esse é um prato de massa realmente simples e básico, mas com um sabor maravilhoso. e você pode incrementar a receita com outros ingredientes. casa e comida * 115 CC06_Jamie.indd 115 03/08/2010 16:49:10 ao ponto | ao ar livre sanduíche de sardinha sem pão rendimento serve 2 pessoas Ingredientes Azeite de oliva salada de beterraba branca em palito rendimento serve 4 pessoas (como acompanhamento) Ingredientes Modo de preparo 100 g de queijo 1 Esmigalhe o queijo fetta em uma tigela. Corte fetta; finamente as ervas, adicione-as ao queijo e 1 punhado de misture. Corte as beterrabas e a maçã (com folhas frescas caroço e tudo) em fatias delgadas. Depois, de hortelã, salsa corte as fatias em palitos finos. lisa, erva-doce 2 Coloque os palitos de beterraba e maçã em ou endro (dill) uma tigela com o queijo fetta e as ervas e e manjericão adicione a pimenta vermelha (se for usar). verde ou roxo; Antes de servir, regue com o azeite, o suco de 300 g de limão e polvilhe uma pitada de pimenta-do- beterrabas bem -reino. Misture tudo com as mãos e prove. O lavadas; sal do queijo deve ser suficiente, mas, se for 1 maçã Granny preciso, adicione uma pitada, misture e sirva Smith (verde); enquanto estiver fresco e crocante. Modo de preparo 1 Preaqueça o forno a 220oC. Forre duas a gosto; assadeiras com papel-manteiga e unte 1 punhado com azeite de oliva. Polvilhe as duas grande de farinha com ¼ da generosa porção de farinha de rosca de boa de rosca. Acomode nas assadeiras qualidade; metade dos filés de sardinha, lado a lado 16 sardinhas e com a pele voltada para baixo. Com frescas cortadas metade da pimenta picada, salpique as em filés; assadeiras. Faça o mesmo com metade 1 pimenta dedo- das raspas de casca de limão, das ervas -de-moça bem e das alcaparras e mais ¼ da farinha de picada; rosca. Tempere a gosto. raspas da casca 2 Acomode os filés de sardinha de 1 limão; restantes sobre os que já estão nas 1 bom punhado assadeiras com o lado da pele para de folhas de erva- cima. Polvilhe tudo com a outra -doce ou de salsa metade dos ingredientes. Borrife lisa bem picadas; com azeite de oliva e asse por 1 ou 2 colheres 10 ou 15 minutos, até que a pele (sopa) de fique levemente dourada. Sirva em alcaparras uma travessa ou sobre um papel, em conserva, acompanhado de salada de rúcula. escorridas e bem picadas. Informações nutricionais (por porção) 731 calorias | 44,7 g de gorduras (11,6 g de saturada) | 78,3 g de proteínas 4g de carboidratos | 0,4 g de açúcares. acho que essa é uma das formas mais deliciosas de se comer sardinha. no começo, minhas filhas odiaram a ideia, mas, quando eu as convenci a experimentar, adoraram e se fartaram. 1 pimenta vermelha dedo- Informações nutricionais (por porção) -de-moça fresca 318 calorias | 29 g de gorduras (6,8 g de saturada) finamente 5,7 g de proteínas | 8,6 g de carboidratos fatiada 7,6 g de açúcares. (opcional); 8 colheres (sopa) de azeite de oliva; suco de 1 limão. CC06_Jamie.indd 116 faço essa salada fresca e crocante com beterrabas brancas, mas as roxas (mais conhecidas e usadas no brasil) também ficam boas. você ainda pode adicionar cenouras ou abobrinhas, igualmente cortadas em palito. 03/08/2010 16:49:39 CC06_Jamie.indd 117 03/08/2010 16:49:54 ao ponto | ao ar livre CC06_Jamie.indd 118 03/08/2010 16:50:02 torta de peixe de verão rendimento serve de 8 a 10 pessoas Ingredientes 1 maço de hortelã Modo de preparo 1 Destaque as folhas de hortelã dos talos e reserve-as. fresca; Ponha os talos em uma panela com água fervente e sal 2 kg de batatas junto com as batatas e cozinhe por 10 minutos ou novas, bem limpas; 2 bulbos de erva- até que estejam tenras. 2 Ponha as folhas da erva-doce em uma travessa e leve à -doce, com as folhas geladeira junto com as folhas de hortelã até a hora de usá- reservadas e os -las. Preaqueça o forno a 200oC. Coloque um bom borrifo bulbos cortados em de azeite e um pedaço de manteiga em uma caçarola, fatias finas; depois adicione as fatias de alho-poró, erva-doce e da azeite de oliva a pimenta. Tempere a gosto. Cozinhe por 10 minutos ou até gosto; que os vegetais fiquem macios. Adicione, o vinho branco, 1 pedaço de a mostarda e as folhas de louro. Deixe o vinho evaporar e, manteiga; então, tire a caçarola do fogo. 3 alhos-porós 3 Corte os peixes em fatias de 2,5 cm e coloque-as na desbastados, lavados caçarola junto com os camarões, o creme de leite, e finamente fatiados; o suco de limão e o queijo parmesão. Tempere a gosto. ½ pimenta dedo-de- 4 Escorra as batatas, descartando os talos de hortelã. Depois, -moça fresca, sem coloque-as de volta na panela com um pouco de manteiga sementes e finamente e de azeite de oliva. Tempere a gosto. Pique finamente as fatiada; folhas de hortelã e adicione-as à panela. Em seguida, amasse ½ copo de vinho grosseiramente as batatas, deixando pedaços. Espalhe a branco; massa de batata na caçarola, sobre os peixes e camarões, até 2 colheres (chá) de obter uma perfeita cobertura. Leve ao forno por 35 minutos mostarda; ou até que a torta fique dourada, borbulhante e apetitosa. 2 folhas de louro Espere esfriar. Sirva a torta no meio da mesa, coberta com frescas; as folhas de erva-doce, ao lado de uma garrafa de ketchup e 600 g de filé de aspargos ou ervilhas. Adorável. salmão, sem pele e sem espinha; Informações nutricionais (por porção) 600 g de hadoque 588 calorias | 23,8 g de gorduras (10 g de saturada) defumado, sem pele 51,5 g de proteínas | 40,3 g de carboidratos | 5,2 g de açúcares. e sem espinha; 400 g de camarão-rosa congelado; 200 ml de creme de leite; suco de 1 limão; 150 g de queijo essa receita é mais leve porque leva menos creme e gordura do que as tortas convencionais. além disso, coloco um pouco de limão e ervas para tornar o prato ainda mais fresco. para completar, com batatas amassadas, obtenho uma cobertura bem fofa. no recheio, apresento minha combinação preferida de ingredientes, mas fique à vontade para fazer a sua, usando caranguejo, mariscos ou o que preferir. parmesão ralado na hora. casa e comida * 119 CC06_Jamie.indd 119 03/08/2010 16:50:10