PDF - Jornal Plástico Bolha

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PDF - Jornal Plástico Bolha
plástico bolha
Distribuição Gratuita
Ano 3 - Número 22 - Junho/Julho 2008
envolvendo palavras
AGORA COM 16 PÁGINAS
Ao som do belíssimo poema de Paulo Henriques Britto (um toque aos novos poetas), Heinz Langer se levanta para dançar. Também a ocasião não é para menos:
o jornal plástico bolha cresceu e agora vem com inacreditáveis 16 páginas e
nova diagramação.
Heinz Lan
ger
Para comemorar, criamos um novo suplemento musical, onde Santuza Cambraia
Naves continua Por dentro do tom. Juntam-se a ela Mauro Rebello, que, na coluna
Estouros Futuros, revela quem serão os bolhas de amanhã, e Mauro Ferreira, com
suas Notas no Plástico, resenhas fresquinhas sobre o mercado fonográfico.
Um pouco de Strauss
Em meio aos sons de tanta festa, as Mulheres-damas bordam suas tramas e corações sem ar sobrevivem como podem. De repente, Carolina de Jesus constata: é
junho, é o ano que desliza! Que o diga Miriam Sutter, que analisa o mês sexto na
coluna Oráculo. E, se é tempo de juventude, as crianças também estão convidadas
para a comemoração, na coluna mineira das Bolhas Geraes.
Não escreva versos íntimos, sinceros,
como quem mete o dedo no nariz.
Lá dentro não há nada que compense
todo esse trabalho de perfuratriz,
só muco e lero-lero.
Até mesmo o escritor e diplomata Edgard Telles Ribeiro, que passou pela PUC-Rio
no mês passado, foi tragado para a festa da Bolha em uma entrevista exclusiva. O
clima vai ficando quente, e a professora da UERJ e bandeirante das bolhas, Ana
Chiara, puxa a poeta portuguesa Luiza Neto Jorge, que passava pelo local, para
deitar-se com ela no aconchego da página 14.
Não faça poesias melodiosas
e frágeis como essas caixinhas de música
que tocam a “Valsa do Imperador”.
É sempre a mesma lengalenga estúpida,
sentimental, melosa.
Se você acha que as coisas estão ficando esquisitas, vá até a nova seção dos
Contos Insólitos, onde Greco Blue mostra a que ponto as coisas podem chegar. A
loucura é tanta que até Antonin Artaud veio marcar presença em mais um Puzzles
de Anna Lee. Desafio poético, novo Clique Aqui, o melhor da poesia e da prosa,
está tudo aqui no plástico bolha!
Esquece o eu, esse negócio escroto
e pegajoso, esse mal sem remédio
que suga tudo e não dá nada em troca
além de solidão e tédio:
escreve pros outros.
Agora, para a festa ficar completa mesmo, só falta você. Adiante! Boa leitura!
Mas se de tudo que há no vasto mundo
só gostas mesmo é dessa coisa falsa
que se disfarça fingindo se expressar,
então enfia o dedo no nariz, bem fundo,
e escreve, escreve até estourar. E tome valsa.
Paulo Henriques Britto
Poema do livro Trovar Claro (Companhia Das Letras, 1997)
NESTA EDIÇãO
EDGARD TELLES RIBEIRO / ANNA LEE / SANTUZA CAMBRAIA NAVES / MAURO FERREIRA / HEINZ
LANGER / PAULO HENRIQUES BRITTO / AUGUSTO DE GUIMARAENS CAVALCANTI / THIAGO COSTA
FARIA / DIMITRI MERINO / ISABEL DIEGUES / LUIZA MARCIER / FELIPE CARVALHO DOS SANTOS
BEATRIZ JUNQUEIRA PEDRAS / CATHARINA WREDE / ALEXANDRA WILTSHIRE / GRECO BLUE / ALEXIA
BOMTEMPO / MAURO REBELLO / CAROLINA MARIA DE JESUS / SELMA FONTES / DANIEL PIRAS
CONSTANZA DE CÓRDOVA / LETÍCIA SIMÕES / MARA LIBBER / ALICE SANT’ANNA / PRISCILA MENDES
MIRIAM SUTTER / EDSON SANTANA / DIANA SANDES / ANA CHIARA / PAULO GRAVINA / CARLA GUEDES
MARCELA SPERANDIO ROSA / ANTONIA RATTO / EDITE DIAS DOS SANTOS / PÉRICLES F. DRELOS
≠1
BOLHETIM
Extra! Extra! Surto de plástico bolha invade
o estado do Rio de Janeiro.
Casa de Cultura de Paraty
A Casa de Cultura de Paraty é um local dedicado à cultura e à arte. Localizado no Centro Histórico da cidade, o espaço conta com auditório, sala
de exposição, loja de artesanato e café, mas é na livraria onde os visitantes
e moradores de Paraty podem encontrar a mais nova cara da literatura
fora da Flip: o plástico bolha. Podem conferir: Rua Dona Geralda, 177,
Centro — Paraty/RJ.
Botequim Honesto
O plástico bolha atravessa a ponte para aumentar ainda mais o sorriso
dos moradores de Niterói, que, para ler o jornal, não precisam mais vir
ao Rio. Basta pegá-lo no Botequim Honesto! Localizado no bucólico e
aprazível Jardim Icaraí, o bar conta com um ambiente confortável e um
atendimento diferenciado. Aproveitem a leitura entre uma cervejinha e outra. O endereço é Rua Ministro Otávio Kelly, 483, Icaraí — Niterói/RJ.
os ingênuos
mesmo através do turvo e estilhaçado espelho das feras,
mesmo através dos mapas litúrgicos,
mesmo através das igrejas teleguiadas que me perseguem,
qual será o novo desastre?
todo índice é símbolo, tudo é artifício, tudo é caverna.
em todo esse tempo o meu cinema era você.
um dilúvio de cartões postais,
me manda uma mensagem de batom para naufrágio,
sete segundos de radiação,
só os ingênuos não viram
esse colírio de óleo diesel,
puro aborto luminoso,
a rainha de sabá já chegou.
uma mulher acaba de parir um peixe
rompendo a escuridão de todos os túneis do metrô.
Barraca das Letras
Augusto de Guimaraens Cavalcanti
Maricá, Maricá, o plástico bolha acaba de chegar. Temos o prazer de distribuir o jornal na Barraca da Letras, projeto de inclusão social que divulga
a leitura e a cultura de forma simples, prática e popular, promovendo a
leitura em todos os níveis por meio da locação de livros e da troca de idéias.
Além de ter acesso ao plástico bolha, na Barraca das Letras o leitor pode
participar de rodas de leitura e história, saraus poéticos, palestras literárias
e esquetes de teatro. Esperamos que todos os leitores aproveitem essa rara
oportunidade! A Barraca das Letras fica na Praça do Skate — Maricá/RJ;
aos finais de semana, em funcionamento das 17 às 21 horas.
EDITORES
COMISSÃO aVaLIaDORa
COORDENaÇÃO
EQUIPE
Lucas Viriato
Paulo Gravina
Constanza de Córdova
Carlos Andreas
Tomé Lavigne
Nadja Voss
Mauro Rebello
Isabel Wilker
Edson Santana
Manoela Ferrari
Cristiane Mendes
Roberta Rubinstein
Thiago Bento
Lucas Viriato
Márcia Brito
Beatriz Pedras
REVISÃO
aGRaDECIMENTOS
Marilena Moraes
Rubiane Valério
Rafael Anselmé
Gabriel Matos
Gisela Gold
Leonardo Marona
Lasana Lukata
Andrea C. Stark
Léo Carnevale
EDITORa aSSISTENTE
Marilena Moraes
CONSELHO EDITORIaL
Luiz Coelho
Gregório Duvivier
Isabel Diegues
DISTRIBUÍDO no estado do Rio de Janeiro e na cidade de Belo Horizonte / TIRAGEM 8.000 / IMPRESSO na CUT Graf
ENVIE SEUS TEXTOS PARA [email protected]
≠2
Insônia monstruosa
Dia de grilo
Dia novo e nós aqui
Cheios de idéias.
Sei que tem sentido
E o vazio passará,
Mas agora é ar,
Sons, olhos, dispersos.
Estou mais pra montanhas,
Coisinhas mudas, ciscos,
Vozes d’água, etc...
Um de meus nós
Pede lagartixas, grama,
Boca e boca,
Desminhocar goiabas.
Hoje me sinto desimportante.
Formigas memórias
Me dizem nuvens, elefantes,
Por isso são gigantes essazinhas.
Eu grilo de dia,
Ou a lua noturna ensolarou esta manhã?
Dimitri Merino
Se aquele estranho e súbito pressentimento (que mais
se parecia com uma indisposição) estivesse correto, se
realmente não existissem monstros, então seus maiores medos se tornariam realidade. Não poder apontar
alguém como uma exceção bizarra do que deveria ser
um autêntico ser humano, com todas as suas elevadas
aspirações morais e o sentimento de altruísmo, não
poder dizer que todos os horrores até hoje cometidos
— todas as mesquinharias, as mentiras, as traições,
o ódio, a violência em seu estado mais instintivo e, o
que é pior, em seu estado mais requintado, tudo isso,
sem exceção — foram levados a cabo por pessoas
desumanas e estranhamente cruéis, mas, muito pelo
contrário, por pessoas como ele próprio, feitas todas
da mesma substância e sob a mesma moldura, lhe
era inadmissível, quase uma ofensa. Não havia senão
irmãos ao seu redor, Caim e Abel vivendo no mesmo
jardim. Ou todos eram monstros ou nenhum o era. A
primeira opção lhe soara inverossímil, posto que jamais
havia sido uma pessoa má ou desonesta e, ademais,
não poderia desconsiderar assim tão levianamente
todos os seus reiterados esforços de ser não somente
agradável e útil às outras pessoas, mas também ser
um homem bom, em tudo o que essa palavra possa
invocar de grandeza e desprendimento. (Não era raro
vê-lo distribuindo sorrisos a porteiros e bom-dia aos
vizinhos, sendo amável à exaustão.) Absolutamente,
ele não poderia ser um monstro; essa era uma opção
absurda. Descartou-a. Mas então sobrou-lhe apenas
a consideração, não menos assustadora, de que não
há monstros. O que, em outras palavras, queria dizer
era que havia uma desconcertante comunhão entre
aquilo que se reprovava e o reprovador. Não quis (não
podia) aceitá-la. Não ser diferente, fundamentalmente
diferente da escória do mundo lhe causava calafrios.
Desconfiar que ele mesmo era capaz de se tornar um
monstro, já que estruturalmente nada lhe impediria a
tanto (aquilo que o faz humano faz humano a todos)
era algo intolerável. Tremia só de pensá-lo. E o que lhe
fez tremer mais ainda, a ponto de desabar, foi dar-se
conta de que não se tratava de transformar-se em um
monstro, pois que, em nenhum momento, nem nos
melhores nem nos piores, se deixa — não temos esse
privilégio — de ser homem. Deu-se conta, finalmente,
de que Caim era seu irmão de sangue, o caçula, e que
por muito pouco não foi ele quem nasceu agarrado ao
seu calcanhar. Esta descoberta o arrebentou todo, do
início ao fim. Sem monstros para velar seu sono, suas
noites se tornaram insuportáveis.
Thiago Costa Faria
≠3
PUZZLES
por aNNa LEE
ARTAUD, SILVIANO E AS
ÂNCORAS
Antonin Artaud está a bordo do S. S. Albertville Não vou seguir para a região dos taraumaras,
no porto de Antuérpia. É dia 10 de janeiro de 1936. pelo menos não agora. Escolho estar, neste moEle deixara Paris de trem no dia anterior, numa mento, na Universidade do México na companhia
manhã recoberta de nuvens cinzentas, baixas e de Artaud. Interessam-me as Mensagens revolupesadas. Caía uma garoa fina e incômoda que, cionárias. Numa de suas palestras, ele afirmou:
de vez em quando, era chicoteada por rajadas de “Eu vim para o México fugido da civilização
vento, e Artaud sentiu prazer ao olhar para a mala européia, produto de sete ou oito séculos de
nova de papelão na cor marrom-escuro e pensar cultura burguesa, movido pelo ódio contra essa
que estava partindo. Ele não suportava umidade. civilização e essa cultura. Esperava encontrar
aqui uma forma vital de cultura e só encontrei o
Agora, Artaud está deitado, sonolento, no beliche cadáver da cultura da Europa, do qual a própria
da cabine de segunda classe, que divide com três Europa já começa a se desembaraçar”.
companheiros no navio que o levará ao México.
De repente, ele tem um sobressalto e pula da cama. Muito antes disso, em 1925, Artaud escrevera
A trepidação causada pelo movimento das hélices a “Carta aos reitores das universidades euroindica que a viagem começava de fato naquele péias”: “(...) A Europa cristaliza-se, mumifica-se
momento. O navio se afasta do cais. A trepidação lentamente sob as ataduras das suas fronteiras,
aumenta. Artaud sente uma zonzeira que ainda das suas fábricas, dos seus tribunais, das suas
não sabe se é boa ou ruim, mas tem certeza de universidades. (...) a culpa é vossa, reitores presos
que não há mais terra firme sob seus pés. “Navio e no laço dos silogismos. Os senhores. fabricam
passageiro perderam as âncoras”, afi rma Silviano engenheiros, magistrados, médicos, aos quais
Santiago em Viagem ao México, no qual evoca a escapam os verdadeiros mistérios do corpo, as
ida do dramaturgo francês à América, em 1936. leis cósmicas do ser, falsos sábios, cegos para o
Foi neste ano que ele nasceu numa cidade do in- além-terra, filósofos com a pretensão de reconsterior de Minas Gerais, em fins de setembro — e tituir o espírito(...)”.
isto é tratado no livro, não na perspectiva simplista
de coincidência, mas como uma permissão que os É significativo que durante o Maio de 68 na
astros deram para Silviano criar seu personagem França, este texto tenha servido como panfleto
revolucionário e sido afi xado na Sorbonne. Falo
e fabular um encontro com ele.
disto aqui porque neste 2008 se comemoram
Não sei se a viagem de Artaud se deu exatamente não só os quarenta anos do movimento francês,
como está narrada em Viagem ao México. De mas das manifestações ocorridas em diversos
qualquer forma, isso pouco importa, não vou países durante 1968 — um ano-constelação.
me dar o trabalho de checar fatos nas biografias Se, por um lado, esses eventos não provocaram
tradicionais do escritor francês. Os dados desse transformações radicais no cenário político
livro, dos quais me apropriei à minha maneira, mundial, por outro marcaram profundamente o
me servem.
comportamento e os valores sociais e culturais.
A partir de 1968, houve mudanças fundamentais
Silviano Santiago enfatiza o sentido utópico da na maneira de enxergar e pensar o mundo. E não
viagem de Artaud, que queria resgatar o passado há dúvida de que temas levantados há quarenta
mítico da civilização asteca, mas se decepciona anos – aliás, mais que isso, em 1925 e 1936, por
diante de uma intelectualidade que inveja o ra- Artaud — ainda colocam em xeque a sociedade
cionalismo da cultura européia. Na verdade, o contemporânea.
livro de Silviano é uma espécie de preâmbulo de
Viagem ao país dos taraumaras, no qual Artaud Sim, isto é um convite (não uma carta). Um connarra sua viagem ao México, que começou efe- vite para uma viagem a bordo do S. S. Albertville,
tivamente depois de ele deixar a capital e rumar na qual certamente navio e passageiros perderão
para a região dos índios taraumaras, onde expe- suas âncoras.
rimentou o peiote.
Leidriadne
Como é forte essa lei
Que me explica o que eu já sei
E me unifica em não-sonhar
Como é forte essa lei
Que trasborda de mentira
Faz do oposto a minha mira
E me impede de prever
Como é minha essa lei
Que nasceu do meu mormaço
E faz de mim meu próprio inverso
Como é minha essa lei
Que me obriga a ser dois
Põe em mim o próprio ser
Que eu matei quando nasci
Péricles F. Drelos
≠4
MULHERES-DAMAS
por ISaBEL DIEGUES
O bordado da espera
Entre os dedos longos fios
escorregam desfiando
o tecido a ser traçado
a espera retocando
Desenhado à luz do dia
o traçado a ser tecido
as mãos ágeis decidindo
desfazer o seu destino
Costurando dia a dia
à espera faz-se o manto
tentando frear o tempo
ao novelo aprisionando
Quando a tarde traz a noite
o sol carrega consigo
a extrema ponta do fio
e assim desfaz o tecido
Sol-carretel anoitece
enrola o fio ao novelo
o tempo pára e concede
espaço espera enlevo
(SOBRE)VIVêNCIAS
por FELIPE CaRVaLHO DOS SaNTOS
E com a manhã seguinte
desponta a ponta do fio
sol traz de volta o caminho
do bordado do tecido
000
Coração sem ar
Preso no peito
Dor
Arranhado e amarrado
Pulsa a força
Dor
Ela ao tecer incansável
isola o corpo no manto
constrói um fosso um abismo
pretendentes afastando
E enquanto borda a memória
na direção do marido
ele recolhe as pegadas
reconstruindo o caminho
Entre a perfeição e o erro. Entre a iluminação (nirvana) e o samsara junkie (nossas vidas do dia-a-dia).
Entre o já sabe tudo e o não sabe nada. Entre a
exata força e a exaustão da força. Impossível reconciliação. Caminhar descalço sobre as pedras?
E passam longos os dias
trama traçado tecido
à espera do encontro
desaprisionar o tempo
e tece o manto mais uma vez
como se fora a primeira vez
Luiza Marcier
Entre o choro e o não se importar ou, simplesmente,
limpar as lágrimas, lavar o rosto e olhar. Em meio
à comunicação com os outros e não conseguir falar — palavra sufoca a garganta, engasga e abafa
o coração. No choque da adaptação protocolar ao
mundo com a ruptura completa de suas amarras.
Este é o meu lugar (último que virou primeiro ou
o primeiro que virou último). Entre a clareza e a
obscuridade.
≠5
BOLHAS GERAES
por BEaTRIZ PEDRaS
A bienal do Livro de BH pelo
olhar de uma menininha de 3
anos e meio
O que será uma buenu do livro que a vovó e a
Tia Ana estão me convidando para ir visitar? O
livro já conheço e é meu grande amigo desde que
era pequenina, porque agora já sou glande. Me
explicam que é um lugar cheio de livros e onde eu
poderei pegar os que eu quiser para ler. Parecido
com a biblioteca em que a vovó trabalha.
Damos meia volta e saímos em busca de mais
novidades. Em cada loja encontro mesinhas com
livros e cadeirinhas do meu tamanho, onde posso
sentar e folhear os livros: do gatinho, do cachorrinho, da Arca de Noé, do Charlie e da Lola...
De repente vejo uns fantoches. Tem do Chapeuzinho Vermelho... Será que tem do Lobo Mau?
No caminho, fico ansiosa: já chegamos? Mas está Achamos. Como adoro contar as historinhas que
muito longe! Por que está demorando? Afinal o conheço, vovó me pergunta se quero um fantoche.
carro parou. O lugar é muito grande e cheio de Prefi ro do Chapeuzinho porque na minha casa
gente. Isso me deixa um pouco assustada, mas não tem floresta, então não posso levar o do Lonada que um colinho aconchegante não resolva. bo Mau. Junto com o fantoche, ganhei livrinhos
E como tem criança! Estão todas alegres e ani- dos animais selvagens — do tucano, da cobra,
do rinoceronte, do tubarão... Depois foram dez
madas, e eu fico também.
revistinhas para colorir.
As novidades começam a chegar. Logo no começo
encontro muitos livros novos. Algumas histórias Depois de um tempo, com algumas sacolas e o
eu já conheço, mas a capa e os desenhos são di- cansaço chegando, pedi para voltar para casa. No
ferentes. Conta para mim, Tia Ana, a historinha carro mesmo já começamos a ler uns livrinhos.
da Cigarra e da Formiga. Mas tem a da Raposa
e das Uvas; eu quero ouvir essa. Gosto muito de Segunda-feira, quando eu for para a escola, vou
ouvir as fábulas, mas algumas palavras são meio contar, na rodinha, para todo mundo como foi
difíceis e logo começo a me distrair. Que bom! boa a buenu do livro!
Vovó achou o livrinho da família do Trully, meu
cachorro. Ah! Esse está bem mais fácil e eu quero
A 1ª Bienal do Livro de Belo Horizonte aconteceu
esse. Você compra para mim, vovó?!
de 15 a 25 de maio de 2008. Em onze dias, 225
Com a sacolinha no braço, vejo um pipoqueiro. mil pessoas passaram pelo local — das quais 28
Lá vem minha tia com um saco de pipocas, e eu mil, pela visitação escolar e 197 mil, público
adoro pipoca. Pena que atrás dela estou vendo um em geral. Nesse pequeno conto, narro a bienal
coelho gigante. Quero voltar. Vovó me explica pelos olhos de minha neta, porque o evento teve
que é um moço fantasiado de coelho, mas eu não como principal participante o público infantil.
gosto. Prefiro os coelhinhos pequenos, que posso Longe das pretensões literárias, espero que este
segurar no colo.
texto sirva como uma recordação para minha
neta, recordação esta que compartilho com os
leitores do jornal.
≠6
Meu sentimento tem que caber
numa caixa silábica e torto
o ritmo é dividido em dois
palavras e bordas todas tortas
para descrever o que não posso.
Alexandra Wiltshire
Drama
Olhou a navalha com espanto fez que
ia segurar o pranto mas num grito agudo
caiu na calçada dura com o vestido sujo de
lama e o rosto triste de choro cegando os olhos
com as mãos trêmulas em lábios de súplicas
erguendo a cabeça para ver o que era:
apenas o amolador de facas.
Catharina Wrede
CONTOS
INSÓLITOS
por GRECO BLUE
101
Eu, meu pai e o ator Jim Carrey viajávamos há
horas em uma minivan. Jim Carrey dirigia a minivan. Ninguém pediu que ele dirigisse, nós até nos
oferecemos para revezar, mas ele recusou e ficou de
cara emburrada. O clima estava tenso, eu e meu pai
estávamos constrangidos. Daí, o Jim Carrey perguntou se nós fumaríamos um baseado. É claro que
nós fumaríamos, nós adoraríamos fumar, nós tínhamos o fumo. O problema é que nós pensamos
que ele era um policial à paisana. Nós pensamos
que ele fosse um policial, mas ele só estava com um
figurino. Saber que aquele policial era o ator Jim
Carrey nos deixou muito tranqüilos. Ele era uma
pessoa muito agradável. Sabe todas aquelas caretas
que ele faz em seus filmes? Ele realmente sabe fazêlas, não é nenhum dublê, como meu amigo Marcos
sempre insistiu em dizer. Então nós chegamos na
festa que Clint Eastwood nos havia convidado, mas
quem tinha alugado o hotel àquela noite foi a Xuxa.
Clint certamente escreveu errado no convite. Clint
nunca daria uma mancada dessas comigo. Certamente não. Eu não me aborreci porque fiquei horas
conversando com o empresário Edson Arantes do
Nascimento, enquanto o jogador Pelé dava investidas contra a anfitriã. O empresário Edson Arantes
do Nascimento é realmente um cara muito legal, nheiro feminino e realizar minha cota de travessumas cheio de manias, entende? O legal foi saber do ra ali mesmo. Ninguém na festa se importava com
seu ponto de vista muito peculiar sobre as questões nada, tinha cinco mil trezentos e cinqüenta e sete
do Sudão nos dias de hoje. O empresário começou convidados, e mil e setecentos e vinte e nove penea me encher um pouco o saco, e eu resolvi me jun- tras, além, é claro, de quinhentos e quarenta e dois
tar ao guitarrista Ronnie Wood e ao bailarino Jean serventes, e por volta de vinte e dois banheiros feClaude Van Dame, que estavam se embebedando mininos. Todos estavam muito entretidos assistindo
e agarrando modelos em começo de carreira con- ao violonista e filho do cão Robert Johnson tocar
tratadas para a figuração da festa. O bailarino nos suas composições inéditas ao piano. Eu disse para
abandonou logo que foi convidado para um ména- minha garota que não tinha intenção de machucáge com a anfitriã e o maior jogador de futebol de la, eu só queria parar num tablóide fazendo traquitodos os tempos. Ronnie me convidou para dar um nagem ao lado de um Rolling Stone, prometi que
teco, eu disse que estava bem assim, mas que o eu seria educado e a amaria pra sempre, do fundo
acompanharia até o banheiro. Quando o guitarris- do meu coração. Naquele momento eu amava muita saiu de sua cabine, sugeriu que nós invadíssemos to aquela mulher e torcia pra que ela me amasse
o banheiro feminino. Meu pai, que nessa hora também. Eu perguntei seu nome e ela respondeu
usava o urinol coletivo, disse que aquilo era uma que era Rebeca. Rebeca tinha cabelos ruivos natuidéia terrível, mas Ronnie falou que ele estava com- rais, algo entre o fogo e a cenoura, pele branca
pletamente ultrapassado e fora de moda. Eu disse como a neve, mas muito longe da palidez e falta de
que talvez fosse uma boa idéia ouvir meu pai, mas saúde, e seu corpo era algo realmente muito especial
Ron gemeu “Hmmm.... oooooh” e completou que para receber qualquer tipo de comentário. E eu
eu poderia ouvir meu pai ou ir parar nos tablóides amava muito ela. Eu rasguei toda sua roupa, deicom um Rolling Stone, e aquilo foi o suficiente xando Rebeca totalmente nua, e amando muito ela.
para me convencer. Nós pegamos a tubulação de Eu beijei seu corpo todo, e entrei em Rebeca. Horas
gás, já que atravessar o corredor era óbvio demais. depois que suas lágrimas de humilhação já se haViramos à esquerda logo que passamos pela big viam transformado em lágrimas de prazer e que
band de ratos cegos, e o guitarrista rolante falou todos os músculos de seu corpo já se haviam con“É aqui!”. Nós pedimos um delivery de armamentos torcido junto ao meu, ela disse que me amava tampesados — que chegava em 14 minutos ou seu pe- bém. Eu me ajoelhei, tirei o buquê e o anel da
dido grátis! Eu comecei a jogar as bombinhas de cartola e pedi que Rebeca se casasse comigo. Ela
fumaça, enquanto meu novo melhor amigo de todos, disse que também me amava, mas que estava noiva
o guitarrista Ronnie Wood, soltava os morcegos de um mezzo-baiano que cantava na melhor banda
programados para enroscar em cabelos femininos. do país, uma com um nome muito ruim, alguma
Depois que todas estavam imobilizadas por nossas coisa sobre a cor azul. Eu perguntei se ele já a havia
feras e em nossas miras a laser, nós as separamos feito sentir-se tão bem assim, e ela disse que isso
em grupos: um com mulheres bonitas bem-arru- não estava em questão e que o ponto principal era
madas, um com mulheres bonitas deselegantes e que ela deveria ser fiel a sua palavra. Eu fiquei posoutro com todos os tipos de mulheres feias que lá suído por ira, joguei Rebeca no vaso sanitário,
se encontravam. As mulheres bonitas e deselegantes puxei a descarga e, enquanto ela descia rodopiando
foram levadas ao paredão, onde seriam tortutadas rumo ao esgoto, eu gargalhava e urrava que ela não
e executadas por Bill Wyman & John Entwistle. As era nada pra mim e que eu aceitaria a Madonna de
mulheres feias em geral foram vendidas como es- volta! Eu saí do banheiro bufando, perguntando
crava a Don Quixote, que havia sido contratado por Ronnie, exigindo que ele me encontrasse. Crupara fazer mágica para uma coleção de bebês de zei com meu pai, que agora bebia algum Johnnie
proveta. Nessa hora, meu pai entrou no banheiro Walker, e ele me disse que tinha conhecido as mucom uma taça de champanhe para comentar que lheres de seus sonhos e que assinou um contrato de
no grupo de mulheres feias, em geral, havia muitas casamento com as nove mulheres do grupo bonitas
jeitosinhas que não mereciam ser dispensadas e que e arrumadas que nós lhe demos de presente. Ele
havia um pastel de tofu delicioso que deveríamos disse também que tinha visto o guitarrista Ronnie
experimentar. Nós demos algumas das bonitas e Wood fugindo num Jaguar que não lhe pertencia e
arrumadas a ele de presente, a fi m de que ele as que arrancou da garagem, derrubando o portão e
levasse para tomar champanhe, comer tofu e fazer seguindo pela rodovia a uns cento e vinte quilômeuma orgia. Das restantes, algumas foram entregues tros por hora. Eu xinguei Ron com as mãos para o
ao Hulk para que ele desse uma morte rápida a elas, céu e disse que, como meu melhor amigo, ele não
e as duas com ar mais esnobe e olhar mais arro- poderia ter feito uma coisa dessas! Nessa hora,
gante ficaram para serem estupradas por mim e barulho de freadas de carro e rodopios de hélice de
Ronnie. Ronnie levou sua nova acompanhante helicóptero invadiram a casa, misturados com forpara o bosque, pois lá ele se sentia mais à vontade tes luzes de canhões de busca. Foi aí que o Batalhão
e dizia que seu sangue circulava melhor ao ar livre. de Operações Especiais da polícia adentrou a casa,
Já eu resolvi simplesmente trancar a porta do ba- regido pelo ator Jim Carrey, que era seguido pela
banda do colégio militar. Jim Carrey empunhou o
megafone e declarou ordem de prisão a todos naquela festa. Eu perguntei do que aquilo se tratava,
se era uma pegadinha ou se o filme estava sendo
rodado lá e eu não tinha sido informado. Ele me
disse que, na verdade, ele sempre foi um militar
interpretando um ator civil e que eu não poderia
mais chamá-lo de Jim, e sim de gal. James Eugene
Carrey e que eu seria preso por formação de quadrilha, aliciação de menores e por muitos outros
motivos que ele preferia não citar para não agredir
os ouvidos dos muito inocentes ali presentes. Gal.
James Eugene Carrey ainda sussurrou ao meu ouvido que tinha pego Ronnie numa blitz, mas que,
para sair limpo, disse tudo sobre mim. Maldito
Ronnie! Ele me disse, ainda, que sabia tudo sobre
Rebeca e que eu ia fritar na cadeira elétrica. Eu
berrei que ele não sabia nada sobre Rebeca e que se
soubesse estava errado, pois nós nos amávamos e
nós iríamos nos casar. Ele riu de mim, me chamou
de lunático e disse que iria gozar nas calças quando
me visse queimando na cadeira elétrica. Eu precisava de Rebeca do meu lado. Só ela realmente me
conheceu e me entendeu bem o suficiente para me
apoiar nesse momento de tensão e desespero e, oh,
como eu amo essa mulher! Com um tapa atrás da
orelha, eu parei de pensar em minha amada e voltei
para a realidade. Olhei em minha volta, tentando
solucionar o problema, e vi que aquele cão amigável
que ajudava o Sebastião a solucionar a história sem
fi m, bebia um martíni e conversava com algumas
modelos. Eu berrei pra ele que dava cem pratas pra
ele me tirar dali bem depressa. Ele respondeu “Fechado!”. Eu pulei na garupa dele, joguei uns canapés em sua boca, fi z um carinho atrás da orelha e
disse que não lembrava seu nome, se ele não se
importava de chamá-lo de Totó, que era o nome
mais comum dado aos cães na minha terra natal.
Ele disse que era uma honra trabalhar comigo e que,
por mais cem pratas, eu rodava com ele à vontade,
por tempo indeterminado. Então nós fomos até a
estação de esgoto mais próxima, buscamos Rebeca,
e eu disse a ela como eu estava arrependido e que
ela era mulher da minha vida. Rebeca disse que me
perdoava e que nunca havia deixado de me amar.
Nós nos beijamos. Um beijo demorado e molhado,
com um abraço apertado e muito amor. Rebeca
subiu na garupa do nosso amigo Totó, me agarrou
pela cintura e nós partimos para Las Vegas, onde
eu comecei minha grande carreira como cover de
Elvis Presley gordo e fui feliz para sempre — com
Totó, como meu empresário e Rebeca, preparando
pratos fantásticos e deixando tudo arrumado para
quando eu chegar em casa exausto banquetear,
satisfazê-la e ter boas noites de sono e nunca me
lembrar que um dia eu não tive essa mulher ou que
eu já fui traído pelo novo guitarrista dos Rolling
Stones.
≠7
POR DENTRO DO TOM
por SaNTUZa CaMBRaIa NaVES
Entrando na conversa sobre o
fim da canção (2)
No artigo anterior, eu havia argumentado que a
canção tropicalista não é mais o artefato completo,
totalmente contido na unidade música-letra, que
fora a canção bossa-nova, pois ela só se completa
com elementos externos — arranjo, interpretação,
até mesmo capa de disco. Retomo, neste número,
o tema da desconstrução da canção pelos músicos
tropicalistas a partir de um outro viés, referente
ao uso de procedimentos intertextuais. Citam-se,
além de composições que fazem parte do cancioneiro nacional e estrangeiro, os mais diferentes
elementos de tradições culturais também distintas,
provenientes tanto do universo pop, como também
da “alta cultura”. As citações aparecem na própria
forma de estruturar a canção, nos arranjos inusitados de Rogério Duprat para o LP Tropicália (1968)
e até mesmo nas performances do grupo.
As canções-citações se criam a partir de músicas
já consagradas pela tradição do nosso cancioneiro.
Tomo como paradigmática do gênero “Paisagem
útil”, de Caetano Veloso (LP Caetano Veloso,
1968), que me dedico a analisar nesta coluna.
O título inverte o sentido de “Inútil paisagem”,
composição de Tom Jobim e Aloísio de Oliveira,
de 1964. “Inútil paisagem” é prenhe de subjetividade, dando voz a um sujeito lírico que se sente
só. Vejamos a letra:
Mas pra quê
Pra que tanto céu
Pra que tanto mar,
Pra quê?
De que serve esta onda que quebra
E o vento da tarde
De que serve a tarde
Inútil paisagem?
Pode ser
Que não venhas mais
Que não voltes nunca mais
De que servem as flores que nascem
Pelo caminho
Se o meu caminho
Sozinho é nada
É nada
É nada
≠8
A inversão completa, entretanto, dá-se apenas no Chico Buarque, não apenas por lhe imitar o modo
título, pois “Paisagem útil”, de maneira inusitada, de cantar, mas também pela sucessão de versos
reúne os espíritos solar e noir, alternando poética iniciados por “quem”, os quais trazem à lembrane musicalmente a melancolia presente em “Inútil ça várias passagens de canções de Chico: “Quem
paisagem” com a celebração do cotidiano. A canção canta comigo/ canta o meu refrão” (“Meu refrão”),
“Estou vendendo um realejo/ Quem vai levar? /
se inicia com a plena positividade da estrofe
Quem vai levar?” (“Realejo”) e, é claro, “Quem te
Olhos abertos em vento
viu, quem te vê”.
Sobre o espaço do aterro
Logo depois, também de maneira inesperada, no
Sobre o espaço sobre o mar
intervalo que prepara o próximo tema, ouvem-se
“Paisagem útil” surpreende o ouvinte habituado com acordes de bossa-nova que introduzem a passagem
a tradição poética construtivista ao lidar com temas poética “Os automóveis parecem voar”. A marchaconcretos — objetos e informações que povoam o rancho é retomada em seqüência e, como que prepaespaço modernizado do Aterro do Flamengo, como rando a introdução do tema lunar, Caetano começa
os automóveis “que parecem voar” e a “lua oval a cantar como um intérprete de boleros, soltando a
da Esso” — de maneira introspectiva, fazendo jus, voz e pronunciando os erres à maneira de Nelson
dessa maneira, à concepção de “Inútil paisagem”. Gonçalves, na seguinte passagem:
Mas, se a interioridade de “Inútil paisagem” é
cantada a partir do estilo musical da bossa nova, Mas já se acende e flutua
com instrumentação e interpretação pequena, “Pai- No alto do céu uma lua
sagem útil” é uma marcha-rancho que recorre a um Oval, vermelha e azul
arranjo exuberante com cordas e metais.
No alto do céu do Rio
Num certo ponto do desenvolvimento da música, O tom intimista retorna com a estrofe fi nal, que
natureza e cultura do Aterro são contempladas — substitui, entretanto, o espírito cool e sofisticado
de “Inútil paisagem” por um registro kitsch, porém
O céu vai longe do Outeiro
triste, lembrando um circo retratado por Fellini:
O céu vai longe da Glória
Uma lua oval da Esso
O céu vai longe suspenso
Comove e ilumina o beijo
Em luzes de luas mortas
Dos pobres tristes felizes
Luzes de uma nova aurora
Corações amantes do nosso Brasil
Que mantém a grama nova
E o dia sempre nascendo
— para em seguida comentar o cenário urbano
povoado de transeuntes com um destino certo —
“Quem vai ao cinema/ quem vai ao teatro/ Quem
vai ao trabalho/ quem vai descansar” —, de artistas — “Quem canta/ quem canta/ Quem pensa
na vida” — e fl anêurs — “Quem olha a avenida/
quem espera voltar”. Neste trecho, Caetano alude a
NOTAS NO PLÁSTICO
por MaURO FERREIRa
Baleiro desmembra ‘Coração’
em dois volumes
O próximo CD de inéditas de Zeca Baleiro, O Coração do Homem-Bomba, vai ser duplo, mas ficará
desmembrado em dois volumes que serão vendidos
em edições avulsas. Já em fase final de mixagem,
o primeiro volume tem seu lançamento agendado
para 25 de julho. O segundo deverá chegar às lojas somente em novembro, mas a gravadora MZA
Music autorizou o artista a disponibilizar algumas
faixas já em setembro.
Dominguinhos e Domenico no
álbum de Camelo
Dominguinhos, Clara Sverner e o grupo paulista
Hurtmold — além de Domenico Lancellotti —
estão entre os convidados do primeiro disco-solo
de Marcelo Camelo. Programado para o segundo
semestre de 2008, o lançamento do álbum vai ser
acompanhado por uma turnê nacional, que começa
no fi m do ano. Camelo vem formatando, desde
dezembro de 2007, seu primeiro trabalho após o
recesso por tempo indeterminado do quarteto Los
Hermanos. A conferir.
Tributo a Noel sai em CD e DVD
pelo selo MP,B
Na noite de 5 de dezembro de 2007, um elenco de
cantores — integrado por Diogo Nogueira, João
Bosco, Maurício Pessoa, Moska, Ney Matogrosso, Roberta Sá, Rodrigo Maranhão e Zé Renato,
entre outros — subiu ao palco da casa Vivo Rio,
no Rio de Janeiro, para festejar Noel Rosa (1910
- 1937). Intitulado Acervo Noel Rosa, o show foi
gravado ao vivo para gerar CD e DVD que chegam
às lojas no fi m de julho de 2008 pelo selo MP,B
(Maior Prazer, Brasil), com distribuição da major
Universal Music. Os intérpretes revivem clássicos
do cancioneiro do Poeta da Vila. Roberta Sá, por
exemplo, canta O X do Problema, samba lançado
por Noel em 1936. Ney Matogrosso interpreta
duas músicas. Entre elas, Último Desejo. Já Diogo
Nogueira recorda Conversa de Botequim. Todos os
astros foram acompanhados pelo grupo de samba
Anjos da Lua.
Para ler mais notas musicais acesse
http://blogdomauroferreira.blogspot.com
fUTUROS ESTOUROS
por MaURO REBELLO
ALEXIA BOMTEMPO
Trinta minutos nos pilotis da PUC com a simpática permitem o acesso online ao álbum ou música
Alexia Bomtempo, que lança seu primeiro disco, de uma banda, Alexia revela com humor: “Achei
Astrolábio, pela gravadora EMI, foram suficientes que o CD fosse virar o pen drive; o pen drive
para conhecer um pouco melhor essa simpática numa caixinha bonitinha”.
cantora, apontada por muitos como um dos novos
Alexia foi uma das convidadas brasileiras do
talentos da MPB.
festival South by southwest (Texas, 2008), onde
Filha de pai brasileiro e mãe americana, Alexia também cantaram Marcelo D2 e Pierre Aderne.
nasceu nos EUA e veio para o Brasil aos 7 anos Em agosto, ela estará no Festival Sudoeste, em
de idade. Entre idas e vindas, Alexia que estudava Portugal, ao lado de destaques da música intercanto lírico na Plymouth State University, em New nacional.
Hampshire, conheceu em 2005 no Rio de Janeiro o
produtor Dadi Carvalho — ex-novos baianos, com Encantado, despedi-me de Alexia com a certeza
quem passou a compor e a gravar algumas canções. de ter conhecido uma grande artista. Além de ser
Em poucos meses de parceria, se deram conta de dona de uma técnica vocal impecável, a moça é
que tinham um disco praticamente pronto em mãos. linda e muito simpática. Em casa, escutei todo
O contato com a gravadora EMI surgiu no final das o álbum e vi que não tinha perguntado sobre o
título do disco, Astrolábio. Àquela altura, já não
gravações, em 2006.
importava mais.
Astrolábio “é um disco de encontros, encontros
felizes, a começar pelo produtor Dadi”, declara o
músico Domenico Lancellotti no release da cantora.
O álbum contém — além das ótimas parcerias de
Dadi e Alexia, como “Para dormir mais tarde”,
“Nuvem d´água” e “Cromologia”, co-assinadas
também por Pierre Aderne, belíssimas releituras Para saber mais sobre a cantora, acesse
www.myspace.com/alexiabomtempo
das músicas “Leãozinho”, de Caetano Veloso, e
“Roxanne”, de Sting.
No papo, Alexia chamou atenção para a revitalização do samba e para a importância da Lapa, o
bairro com maior abertura para o gênero. Sobre o
mercado fonográfico, internet, e mídias alternativas, Alexia, que diz nunca ter baixado uma música,
assume que fazer parte do casting de uma grande
gravadora tem lá suas vantagens, mas diz que
qualquer artista pode divulgar seu trabalho pela
internet, apoiado ou não por um selo ou gravadora.
Ela destaca a ferramenta myspace como um ótimo
espaço para a difusão de músicas e para o trabalho
de marketing de bandas independentes. Sobre a
crescente utilização das novas mídias digitais, como
o brasileiro SMD — semi metalic disc, e os cards
coolnex — pequenos cartões personalizados que
Divulgação
≠9
QUARTO DE DESPEJO
por CaROLINa MaRIa DE JESUS
Eu nada tenho que dizer da minha saudosa mãe.
Ela era muito boa. Queria que eu estudasse para
professora. Foi as contingências da vida que lhe
impossibilitou de concretizar o seu sonho. Mas ela
formou o meu caráter, ensinando-me a gostar dos
humildes e fracos. É porisso que eu tenho dó dos
favelados. Se bem que aqui tem pessoas dignas de
desprêso, pessoas de espírito perverso. Esta noite a
Dona Amélia e o seu companheiro brigaram. Ela
— Eu fui vacinado com o sangue do Lampeão!
disse-lhe que êle está com ela por causa do dinheiro
que ela lhe dá. Só se ouvia a voz de Dona Amélia
Dia 1 de janeiro de 1958 êle disse-me que ia quebrarque demonstrava prazer na polemica. Ela teve vários
me a cara. Mas eu lhe ensinei que a é a e b é b. Êle é
filhos. Distribuio todos. Tem dois filhos moços que
de ferro e eu sou de aço. Não tenho força física, mas
ela não os quer em casa. Pretere os filhos e prefere
as minhas palavras ferem mais do que espada. E as
os homens.
feridas são incicatrisaveis. Êle deixou de aborrecerme porque eu chamei a radio patrulha para êle, e êle O homem entra pela porta. O filho é raiz do coficou 4 horas detido. Quando êle saiu andou dizendo ração.
que ia matar-me. Então o Adalberto disse-lhe:
É quatro horas. Eu já fiz o almôço — hoje foi almôço.
— É o pior negocio que você vai fazer. Porque se Tinha arroz, feijão e repolho e lingüiça. Quando eu
você não matá-la ela é quem te mata. Eu tenho uma faço quatro pratos penso que sou alguem. Quando
habilidade que não vou relatar aqui, porque isto há vejo meus filhos comendo arroz e feijão, o alimento
de defender-me. Quem vive na favela deve procurar que não está ao alcance do favelado, fico sorrindo
isolar-se, viver só. O Vitor está tocando radio. Pen- atôa. Como se eu estivesse assistindo um espetaculo
so: hoje é domingo e nós podíamos dormir até as 8. deslumbrante. Lavei as roupas e o barracão. Agora
Mas aqui não há consideração mutua.
vou ler e escrever. Vejo os jovens jogando bola. E êles
correm pelo campo demonstrando energia. Penso:
se êles tomassem leite puro e comessem carne...
1 de junho é o início do mês. É o ano que deslisa.
E a gente vendo os amigos morrer e outros nascer.
(...) É treis e meia da manhã. Não posso durmir.
Chegou o tal Vitor, o homem mais feio da favela. O
representante do bicho papão. Tão feio, e tem duas
mulheres. Ambas vivem juntas no mesmo barraco.
Quando êle veio residir na favela veio demonstrando
valentia. Dizia:
2 de junho Amanheceu fazendo frio. Acendi o fogo
e mandei o João ir comprar pão e café. O pão, o
Chico do Mercadinho cortou um pedaço.
Eu chinguei o Chico de ordinário, cachorro, eu
queria ser um raio para cortar-lhe em mil pedaços.
O pão não deu e os meninos não levaram lanche.
...De manhã eu estou sempre nervosa. Com medo
de não arranjar dinheiro para comprar o que comer.
Mas hoje é segunda-feira e tem muito papel na
rua. (...) O senhor Manuel apareceu dizendo que
quer casar-se comigo. Mas eu não quero porque já
estou na maturidade. E depois, um homem não há
de gostar de uma mulher que não pode passar sem
ler. E que levanta para escrever. E que deita com
lápis e papel debaixo do travesseiro. Por isso é que
eu prefi ro viver só para o meu ideal. Êle deu-me
50 cruzeiros e eu paguei a costureira. Um vestido
que fez para a Vera. A Dona Alice veiu queixar-se
que o senhor Alexandre estava lhe insultando por
causa de 65 cruzeiros. Pensei: ah! O dinheiro! Que
faz morte, que faz odio criar raiz.
Trechos do diário da moradora da favela do
Canindé, São Paulo, catadora de lixo e mãe de
três filhos.
Olhos Meus
Para a adorável Ângela Perriconi,
mulher generosa, sábia e sensível,
referência de ser humano e de profi ssional.
O sol que brilhava lá fora? Quantas saudades sinto.
As crianças já não brincam como antes; agora elas
trocam fraldas.
A respiração é lenta para uma mulher que
desaprendeu a viver. Lembranças breves e eternas
me fazem companhia. Não, não me equivoquei:
tudo é breve e eterno aos olhos em suas primeiras
descobertas.
Na moldura o traje permanece alinhado. Retrato da
época em que eu me vestia. Havia bolas coloridas
no salão, excitação dentro do vestido, beleza
e música.Eu brilhava em olhos alheios. Todas
tínhamos o mesmo penteado, penteado de mulher.
Imitar os homens, só mesmo em segredo.
Saudades? Quantas sinto de ficar observando
minha mãe conversar. Ela parecia saborear as
palavras. Eu queria saber falar como ela e ser um
ponto de partida na vida de alguém.
Quantas saudades sinto das meias compridas, das
fitas nos cabelos e do abraço do vento. Hoje, o
vento apenas me cumprimenta.
Saudades sinto do tempo amigo, das risadas
compartilhadas, da alegria inocente e da alma
intocável. A inocência e a alegria são o que há de
mais preciosos em um Ser. Quando profanados
perde-se a poesia cabível a eles. O tempo ora amigo
— ora o pior dos inimigos — me faz crer:
Não somos o que desejamos, mas o que a vida
nos permite ser. É, o tempo passa com a mesma
velocidade que o vento.
Quantas saudades sinto do sol que brilhava lá fora.
Selma Fontes
≠ 10
DESAfIO POÉTICO
Nesta edição, nossos queridos
Cosme Velho
Copacabana
poetas foram desafiados a escrever
uma mulher carrega sua televisão
no colo como se fosse um bebê
um homem desce de muletas
pela porta da frente, um jovem
anota exclamações para si mesmo
em um caderno (terminar
o trabalho hoje sem falta!!!!!!)
uma turista enrolada
em uma canga azul não passou protetor
solar, a cobradora altiva
conversa com dois
homens que esticam pescoço
de ganso para assistir ao balanço de seus
brincos, o ônibus atravessa
desembestado o rebouças no fim
de tarde, alguns escutam música
poucos lêem, uma menina brinca
com os cabelos, saímos do túnel
e flutuamos numa lagoa de céu
rosa rabiscado
com duas ou três nuvens
Segunda quase terça
fito meus pés de calçadas inóspitas:
latejam buzinas ponteiros, entranhas
que choram pois trocam verões
por noites céus encobertos
de cinzas - etérea eterna angústia, palidez
dos vazios olhares, olheiras
de medo aziadas retinas me
encaram: as minhas doentes
insones febris, refletidas nas
tuas -- doentes, insones
febris.
Constanza de Córdova
sobre localidades, colocando em
versos seus bairros, suas cidades.
Chegaram poemas de todos os
lugares: do Rio de Janeiro, de Belo
Horizonte e até mesmo de Paquetá.
Para o próximo número, convidamos
os leitores para escreverem um
poema sobre o mais batido de todos
os temas: o amor. Aproveitem o dia
Alice Sant’anna
dos namorados para dar inspiração e
mãos à obra! Basta enviar seu poema
Laranjeiras
para [email protected],
às vezes,
muitas vezes,
temo a loucura que aparece
em noites de domingo
dentro deste apartamento
fracamente iluminado.
estamos aguardando.
o calor é meu mais fiel amante
e divido com ele um cigarro,
o último da noite,
que acabou o dinheiro
e a esperança.
Letícia Simões
Paquetá
Paquetá é um paraíso
E o paraíso é meu lugar
Paquetá é um sorriso
que a ilha oferece ao mar
Paquetá é Moreninha
bicicleta
é amar
Mas o que fascina mesmo essa ilha
é o luar de Paquetá
Mara Libber
Minas
Cidades de Minas
Cidades de Belos Horizontes
Sabará, cidade dos contos
Sete Lagoas, cidade dos encantos
Ouro Preto, cidade da nobreza
Diamantina, cidade de extrema beleza.
Cidades de Minas
Cidades de respectividades
Belo Horizonte, cidade do mineiro
do pão de queijo, do movimento,
da multidão e da simplicidade.
Priscila Mendes
≠ 11
ORÁCULO
por MIRIaM SUTTER
O MÊS DE JUNHO
JUNHO, etimologicamente, provém do latim
Iunius mensis, o mês de Juno. Luno, -onis —
em português, Juno — era a deusa itálica, cujas
características originais se perderam nos tempos
devido ao sincretismo Juno-Hera. Segundo Ovídio (Fastos, VI, 1-100), a origem do nome Iuno
pode estar relacionado com iuuenis, “jovem”,
cujo sentido na língua latina é “o que está entre
o adulescens e o senex, logo “aquele que está na
força da idade” — o que significa, outrossim, “na
idade própria para o casamento e a procriação”.
Sem dúvida, este valor semântico confirma-se
na principal interferência da deusa latina na
vida dos mortais e, sobretudo, na das mulheres:
presidir aos matrimônios e aos partos. Sob estas
faces, recebia, respectivamente, os epítetos de
Juno Pronuba e Juno Lucina (< lux, lucis, “luz”,
e daí, “dar à luz”). Esses epítetos caracterizam
Juno como uma deusa essencialmente feminil,
pois o verbo nubere, “casar”, presente em Pronuba, só era usado para designar o casamento
da mulher.
Vale lembrar que, sob o epíteto de Moneta
(< do verbo moneo, monere, “advertir”, “fazer
lembrar”), Juno, “aquela que adverte”, velava
pelo tesouro do Estado, que era guardado em
seu templo. Mas a associação com a atividade
monetária deve-se à lenda histórica de que os
gansos do santuário de Juno teriam dado o sinal
da invasão gaulesa de 390 a.C., o que permitiu
aos romanos defender a Arx, a Cidadela do
Capitolino, dos inimigos. Mais tarde, com a
cunhagem de moedas (< moneta < Moneta), esse
templo de Juno passou a ser chamado de Casa
da Moeda. De moneta advém nosso vocábulo
“moeda”, por sonorização da consoante surda
–t- em posição intervocálica na sonora –d- e pela
síncope da nasal –n- em posição intervocálica.
Como o humor é fundamental, se Juno era a
deusa das mulheres, e sob o aspecto Moneta é
aquela que, primordialmente, faz lembrar, mas
também aquela que vela sobre as moedas, não
é de estranhar que, na economia doméstica, as
mulheres sejam, na maioria das vezes, aquelas
a “contar as moedas”. Mas, como se diz, esse
costume também “faz parte” da lei (nómos) da
casa (oíkos), cujas origens também se perderam
nos meandros do tempo.
Voltando ao mês, na Europa, é em junho que
acontece o solstício de verão, quando, no dia
22, o hesmisfério norte está mais voltado para o
Sol, de maneira que recebe mais luz, marcando,
assim, o início do verão nesse hemisfério. Mesmo por isso, o mês de junho era a época do ano
em que diferentes povos antigos (celtas, bascos,
egípcios, persas, sumérios, etc.) promoviam rituais propiciatórios de fertilidade para estimular o
crescimento da vegetação, a fartura das colheitas
e a benção das chuvas.
Sob a perspectiva de uma cultura ainda essencialmente agrária, pode-se dizer, pois, que junho é o
mês a assinalar simbolicamente a potencialidade
plena da vida, assim como o binômio Iuno-iuuenis
assinala “aquilo ou aquele que está na força da
vida” e — assim, talvez — resgatar a significação
itálica original da deusa romana, e desvestí-la do
seu quase exclusivo e ridículo atributo de “esposa
ciumenta de Júpiter”, advindo do sincretismo
cultural entre as divindades latinas e as helênicas
(Zeus-Hera).
Encontrei o belo,
Iluminado num corpo de mulher
Vinha ele,
Com palavras que eram calmantes,
E o corpo luz profana,
Exalando idéias,
Almejando ser o que não era.
Edson Santana
Um pedaço de corpo estendido
cercado de medo por todos os lados.
As águas dos meus sonhos são profundas,
já não tenho pernas, e o fôlego me foi tomado.
Olho pro céu
sorrindo
e peço asas que substituam meus braços partidos.
Diana Sandes
Banca da PUC
Tel.: 2512-7109
Hoje em dia, junho é marcado principalmente
pelas festas juninas, em homenagem a São João
Batista (dia 24), mas também a Santo Antônio
(dia 13), a São Pedro (29) e a São Marçal (30).
E ainda, mais em função de um fator monetário e comercial e absolutamente não religioso,
comemora-se, coladinho ao dia de Santo Antônio,
folcloricamente conhecido como o “Santo Casamenteiro”, o dia dos namorados (12).
Capelinha de melão
É de São João
É de cravo, é de rosa
É de manjericão … Feliz junho a todos!
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A VELA PERFUMADA
Olhava para mim. Parecia entender o que se passava comigo e pedia-me
para que a tirasse do lugar e a transportasse para qualquer outro, com cara de desespero, amarela, porque há muito tempo já sentira a indiferença,
o descaso da vida e que sozinha não sobreviveria. Queria morrer! Era o
início do desfecho de uma vida. Em poucas horas, em que o mundo nada
sabia de sua existência e em que apenas o perfume alastrava-se nele como
uma dissipação de algo profundo, se dava o fim. Deveria flamejar, então,
a pequenina chama e que, esvaindo, cresceria e choraria lágrimas densas
e porosas, chegaria à sua finitude; um destino antevisto e incontrolável.
Queria mesmo era morrer! Sentia-se útil ao morrer sobre um belo tapete
vermelho bordado, com flores vermelhas e laços ainda mais vermelhos e
folhas verdes, com um fino fio dourado ao lado do rústico ainda verde vaso
árabe, que a assistia, envolvendo um majestoso antúrio branco onde as
cores dissimulavam um belo quadro, sem nada entender. Lágrimas pesadas
espessas e esbranquiçadas grudam no tapete, deixando a marca última e
definitiva de sua existência flébil. Frágil, com a potente chama incandescente
e forte, impregna nas paredes do castelo o seu calor final e finito; atribui
à sua fantasia de brilho e de luz, espetáculo de um pôr do sol, através das
portas e janelas do pequeno palácio, claustrofóbica, em metros quadrados
e, entre cultura e sabedoria, apinhadas em, ainda, centímetros milimétricos
quadrados junto aos guardas, Quixote, cavalheiros, trabalhadores, mendigos e pajés que a admiram e prostram-se, certamente ofuscados, diante de
tanta beleza instantânea da luz, aos girassóis da Rússia.
Duas horas se passaram. O processo da agonia é antiantagônico. Três centímetros e meio de matéria e cento e vinte minutos de pura incandescência
iniciam o processo de morte; e o príncipe, cego, insiste em viver na escuridão
duplamente. Sente, por segundos, um diferente e delicioso aroma no ar, sem
se dar conta de que a chama definha e agoniza a vela, num processo lento
da perda do brilho da sua luz que, lentamente, o seu último pôr do sol ainda
mais vermelho, esbranquiçadas e frias e sem perfume jaz no rez-de-chaussée,
como nuvens, pairando, sobre o oceano num fim de dia.
CLIQUE AQUI
www.historiadobrasil.com.br
Procurando redescobrir o passado do país? Curioso
sobre um evento ou personagem? Então reencontre
nossas raízes nessa enciclopédia virtual que inclui
os principais capítulos da história do Brasil, minibiografias de personagens históricos e até textos de
alguns documentos do passado.
www.instituto-camoes.pt
O site do Instituto Camões traz o que há de mais
novo e mais antigo no mundo dos falantes da língua portuguesa. Ali se encontram notícias, datas de
exposições e atividades culturais, além de concursos,
bolsas e cursos que o Instituto oferece.
www.ossetenovos.org
No site dos poetas “Os Sete Novos”, o leitor pode
conhecer um pouco melhor esse curioso grupo de
poetas e artistas. Augusto de Guimaraens, Domingos
Guimaraens e Mariano Marovatto mostram um
pouco de sua poesia, seus clipes e fotos, além de
um link para o blog dos Sete Novos com os textos
mais recentes do trio.
Vale o clique!
O castelo está às escuras. O príncipe tateia emaranhado pela vida e o
momento se fez imperceptível! A ruptura da inércia fez-se obediência, testemunho e introspecção.
Edite Dias dos Santos
PÃES ANTEPASTOS MASSAS MOLHOS
PIZZAS SALGADOS DOCES TORTAS
Entregas na Gávea e no Leblon
sábados, domingos e feriados
www.ettore.com.br
Av. Armando Lombardi, 800 - lojas C/D. Condado de Cascais, Barra da Tijuca - RJ
Tel.: 2493-5611 / 2493-8939
≠ 13
DEITAR COM LUIZA NETO JORGE
por ANA CHIARA
(a lei da gravidade da palavra: o coágulo; a tresleitura histórica; difícil poema de amor/
amor difícil; a transubstancialização do verbo em corpo: encarnação)
Deitar com Luiza Neto Jorge, como seria? Seria gasto? Dispêndio? Frio na espinha? Seria vertigem de
cair? Como seria cair na cama com Luiza Neto Jorge? Cair de boca na poesia? Deitar com Luiza numa
caminha, leitura pânica, pouca farinha? Aprenderia
a vertigem de cair? O poema me ensinaria?
Como seria deitar e dormir com Luiza Neto Jorge?
Seria provar nosso eco, nós duas, águas impuras
irrompendo noutra língua? Ato de cair como nos
poemas de Luiza tudo descamba, descai, desmorona? Verbo, língua, em que impera o declive... Deitar
com Luiza como cai o som, como o pingo cai, como
da sombra cai a sombra, o assombro? Seria provar
da palavra o peso, a textura, a densidade? Deixar o
vocábulo solto na força de sua própria gravidade e
daí como seria? Deitar e dormir com Luiza, provar
desta arma antiaérea artesanal, a palavra estranha,
familiar, rodopio sobre si mesma, giro próprio,
espetacular?
Seria deitar minha pouca boca nesta língua outra, língua rolada, legendada, seixos estrangeiros,
rolling stones? Como seria deitar com Luiza, essa
prima, essa portuguesinha? Atravessar um oceano
lingüístico, atravessar a língua da mãe, a deslíngua
do português, minha língua na língua de Luiza,
como seria? Qual sotaque? Qual arritmia?
Deitar com Luiza como subir pelas paredes, osga
invertebrada, cauda de serpente, língua que toca o
palato, aversão, nojo, bicho repelente, poema que
se contorce sobre a areia quente? Como seria provar
destes nomes, destes verbos, desta contracorrente?
Deitar com Luiza Neto Jorge, cosida à garganta dela,
pronunciar, coagular a palavra, palavra intensa,
em suspensão, arco histérico, descolada da página,
profanação: coágulo de pássaros, coágulo de luz,
coágulo de leite, coágulo de sangue, coágulos nos
dedos, coágulo nos ossos, coágulo dos sentidos,
coágulo da dor, baba quente, substância viva, matéria encarnada, cicatriz aguda, página que agora
re-escrevo, página inscrita no meu próprio corpo,
garfo niquelado, tridente? Como seria desafiar meu
sotaque, meu jeito? Provar da minha parente?
Deitar com Luiza, passar uma Noite Invertebrada,
descobrir os Dezanove Recantos. Poderia? E depois? A Terra (ficaria pra sempre) Imóvel, pasma,
assustada, com nossos corpos embolados na Quarta
Dimensão...? Como haveria de ser, como seria?
Nós duas, nós desatados, “eros frenético” como de
≠ 14
Luiza, o Jorge , outro poeta, diria? Um corpo [...]
assim movido e assinalado às avessas, é um corpo
em estado de alarme...
Deitar com Luiza que ritmo teria? A música brava
dos dela poemas, imagens surrealistas, o verbo
desengatado, casas, casas, casas, asas, asas, fumaça? Como seria? Um duelo agudíssimo entre duas
fêmeas? Como seria? Feminino que inscreve, escreve,
Jesus me carregue e o diabo releve, em bolhas de
ar, respiração difícil, verso que pende, imprensa,
subleva? Deitar com Luiza e sentir, a cabeça muito
pesada e o pescoço finíssimo, flor da metáfora sobre
haste delicada... ?
Reescrever no corpo dela a mini-biografia, revisitála em filmes, traduções, como seria?
Seria o respirar difícil da sua asma, sua alma, sua
pouca saúde? Deitar com ela numa tenda de oxigênio, irrespirável moradia? Deitar com Luiza e ter um
filho com ela? Teria nome de rei, dinastia dos Dinis,
seria príncipe, navegador, bicha, poeta, bailarino?
E depois, como seria?
Com Luiza Neto Jorge aprenderia o amor a qualquer
preço? Repetiria tudo? The same old shit’, discurso
abismado do suicida no lago? Toda tralha acumulada no rio caudaloso da poesia? Ferida narcísica
doendo, remoendo: eu e ela, cara dupla no espelho?
Pagaria o alto custo do amor desonesto (feito) de
marés ambulantes, amor barato, baratinho fumado,
amor fraco, fósforo riscado, fútil, frívolo, descartável, amor teatro, delivery, usou, jogou fora, bruma
lírica, gloss, gel, glitter, adereço, brinco na orelha,
pingente... ? (Não esqueço)... Deitaria, com Luiza?
Repetiria a ralação amorosa, abandono, asfixia,
sofrimento, luto e melancolia; trabalho analítico,
overdose de porcaria? Com Luiza iria até o fim
deste endereço: caixa postal violada, dor de corno,
ameaças, chantagem histérica? (Estremeço...)
Ou seria com Luiza difícil poema de amor? Fendas
no ar que respiro, magma, pó entornado, odor de
pedra, maresia, ventos e pânico na baía? De que
jeito deitaria com Luiza? Faria do amor punhal
entre os olhos? Quem de nós gritaria primeiro: “Eu
te amo... Não, não te amo mais... Desejo-te...Não te
desejo mais”? Deitaria com Luiza na cama exígua
do amor difícil, do difícil do amor, celebraríamos
um secreto pacto, um pacto do amor eterno, pacto
de vida e morte, pacto sagrado, luz cega, favo intumescido, tenebrosa fruta? Suicídio?
Ou deitar com Luiza, motor íntimo, seria aprender
o ódio? Desejo febril de acabar logo com a coisa,
diálogo tenso? Com ela experimentaria ser assassinada em pleno verão? Numa tarde fria? Assassinaria
o amor? E depois como seria? Sairia tonta e cega,
deceparia cabeças, cometeria carnificina?
Deitar com um So-Neto Jorge, em sítios perdidos
no tempo, em tresleituras históricas, sem desculpas,
nem culpa, sem pretender dizer o “que quer que
fosse”, deitaria, à noite, na noite das palavras, no
escuro poema apontado contra o peito, e todo o
sentido comum se esvairia? Seria deitar e escorrer
na língua em cal viva de Luiza? Deitaria com Luiza
para perder o chão político, perder o solo da história, noutra história redivivo? Como seria isso?
Com Luiza escorregar pelo monumento Camões,
línguas bífidas, nós duas, lambendo-lhe o corpo em
ciclópico acto, tempos superpostos, tempos feitos
de qual tempo? Eu e Luiza a deitar no verso atemporal? Nós duas, além de nós duas, a pique, à toda,
eu-toda, ela-toda, nosso dente enfiado na língua
do rei dos poetas? Como seria revisitar trepidantes,
trêmulas as ruínas, os restos, a erosão dos espaços
conquistados, do império assombroso, do rosto de
quem se encobre, do sonho para sempre adiado?
Visitaríamos o canto nove, ou nos proibiriam?
Sopro de búzio, areia fina, falharíamos, sem saber
nos perdoar? Perderíamos as guerras na África,
granadas, minas, pernas arrancadas? Eu seria sua
menina? Arrebentaria em feias feridas minha boca,
meu sexo, meu reto? Chegaríamos ao fadado fim?
Instrumentos desses danos? Provaria dela a pimenta ardente, a seca flor, a noz, o negro cravo, a rica
canela? Trocaríamos com outras aquáticas donzelas,
beijos lascivos em brando movimento? Subiríamos
aos montes Idálios, usando nossas coisas para sermos somente amadas, desconcerto do mundo, desejo
que queima e não consume?
Deitaria com Luiza em trânsito, trânsidas, num
mar de acrílico, mergulharíamos juntas no oscilante orgulho português feito de desejo, aventura,
conquista e fracasso? Ricto agudíssimo, desafio,
tropeço, trompaço, em costas africanas, chicote e
sangue? Viríamos nós duas, heroínas incandescentes,
indecentes, do outro lado do tempo, possuídas por
outrens, matrizes ferradas, ventrílocas loucas, bocas
abertas, ondas do mar que comeu a terra, comeu
os filhos, comeu as naus, boca escancarada, frenesi
convulsivo, pulsos abertos?
ENTREVISTA
por PAULO GRAVINA
A literatura da concórdia
EDGARD TELLES RIBEIRO é diplomata e escritor.
Como seria deitar e, dormir com Luiza? Crime
escuro? Quebrar os membros no verso que se
parte? Quebrar os dentes na palavra? Ficar acordada e atenta? Perder o sono pra sempre? Olho
aberto grudado à porta, porta estreita, porta que
aporta, cão noturno, sexo desperto, grão e lume?
Sexo facho, sexo fácil, sexo sexo sexo, sexo inseguro, assobio, membros inertes, notas agudas,
som estridente.
Para Luiza, flor exótica, abriria meu sexo, entregar-me-ia? Entregaria meu ouro, meu grão, minha
alegria? Generosidade e escravatura, eu e ela, nós
duas, mortas na cama, assim seria?
Márcia Brito
Deitar-me-ia, eu com Luiza, sobre tantos outros
corpos, corpos que proliferam em outros corpos,
demais corpos, corpos demais, saídos da sua boca
aberta em pasmo, substâncias soltas, corpos densos, feitos de sonho e de morte? Como seria então?
Como seria dormir com Luiza Neto Jorge, esfregar
meu corpo no corpo dela aceso, corpo dolorido,
carne ardida, corpo intenso, mais denso que o
denso, corpo apodrecendo na doença, arco teso
de espasmos, corpo de cheiros, salsugem, corpo
insurrecto que se diz em estado de de-com-po-sição, sulco do universo? Corpo ímpio, Desinferno
número II? Afinal, como seria deitar com Luiza
Neto Jorge, sanguessugas sobre a pele, incêndio
na minha cintura, na parte de baixo da barriga,
no púbis, entre as pernas? Como seria deitar e
dormir com Luiza, sobre ela? Seria roubo, contração, homenagem póstuma, repuxo na perna,
consagração?
Publicou alguns livros de contos e os romances “O
Criado-Mudo”, “Branco Como o Arco-Íris” e o seu
último, “Um Livro em Fuga”. Em uma passagem pela
PUC-Rio, no mês de Maio, o plástico bolha aproveitou
para entrevistá-lo. Nesta conversa, Edgard fala sobre
o lançamento do novo romance e sobre o que há de
verdade por trás de suas histórias.
Sua obra trabalha muito com a infância
e também com experiências sensoriais
relativas à memória. Há aí alguma tentativa
de reviver o passado?
Não se trata de opção muito consciente, nem creio que
boa parte de meus livros trafegue por essa via; mas
não resta dúvida que o filão do passado, como seus
ecos de lembranças e associações, acaba representando
terreno fértil para a criação literária. Não chegaria a
afirmar que se trata de “reviver” o passado; mas que
tal sugerir que pode se tratar de “namorá-lo”?
Há, na sua obra, uma forte combinação
de elementos narrativos e descritivos e,
sempre, uma mistura de ações e sensações.
Qual é o ponto de partida para as suas
histórias?
Varia muito, de romance para romance, de conto para
conto. Por vezes, é algo que testemunhei, pelo menos
em parte, e que depois adaptei ou redimensionei; em
outros caso, leio algo (jornal, livro, ou revista) que
me leva a imaginar um cenário paralelo (ao que vi) e
daí parto em vereda própria. Por fim, por vezes ganho
uma história de presente (o núcleo narrativo de meu
primeiro romance, “O Criado-Mudo”). A questão de
“ganhar uma história de presente” ocorreu comigo e
deu origem ao Criado-Mudo, meu primeiro romance, cujo núcleo básico (que fica esclarecido logo nas
primeiras páginas do livro), me foi contado por uma
senhora que gostava muito de mim e que sabia que eu,
um dia, faria bom uso da história... (Levei 20 anos com
a história na cabeça até começar a escrever um texto
que pensava em dar para um cineasta filmar — texto
esse que acabou crescendo, crescendo, crescendo —
e se transformando no romance.).
Você está relançando agora seu livro
de estréia, “O Criado-Mudo”. Algo mudou
no Edgard daquela época para o Edgard
de hoje?
Passaram-se 18 anos e trinta quilos... Graças aos 18
anos, espero ter amadurecido; quanto aos quilos, rechearam bons momentos literários (recorro muito a
cenas de almoços e jantares em meus livros...).
Você declarou, em entrevista recente, que
vivemos em um mundo onde não há mais
clareza na distinção entre o bem e o mal.
Diante disso, qual seria o papel do escritor
hoje?
Trabalhar essas fronteiras imprecisas, fazendo correlações que ajudem os leitores a enriquecer suas próprias
visões do mundo. E viajar com eles pelo tempo, relembrando momentos do passado que possam iluminar
o futuro.
Você considera a diplomacia como porta de
entrada para sua literatura ou a literatura
como uma necessidade para sua atuação
como diplomata? Em outras palavras, você
acha que é um escritor-diplomata ou um
diplomata-escritor?
Essas minhas duas carreiras evoluem de forma
muito harmoniosa e se enriquecem mutuamente.
Tenho muita sorte, graças à carreira diplomática, de
ter acesso a outras culturas, outros mundos. Dessas
encruzilhadas, nascem idéias e, por vezes, histórias.
Por outro lado, depois que comecei a escrever (e a
publicar...), passei a relativizar muitas das pressões
que sofria em meu dia-a-dia como diplomata, um
pouco como se o ato de escrever me proporcionasse
um recuo de observador.
Você poderia comentar o seu novo romance,
“Um Livro em Fuga”, em termos ficcionais e
autobiográficos?
Trata-se de uma obra sobre perdas, que se entrelaçam
como em uma fuga bachiana, com seus temas e contrapontos: a perda da mulher amada (por força de um
casamento que se desfez), a perda das ilusões (face a um
mundo globalizado e crescentemente imbecilizado), a
perda de valores de todo tipo (entre eles intelectuais,
particularmente no domínio da literatura). Mas essa
espécie de costura de perdas acaba também se abrindo para a esperança — mesmo porque o que seria do
artista sem ela...?
O que você tem lido hoje em dia? Poderia
deixar uma mensagem final para nossos
leitores e os aspirantes a escritor?
Ando relendo, muito mais do que lendo. Pode ser uma
fase. Mas andei revisitando Flaubert, Camus e Borges,
para ficar neste último ano. Tenho achado enorme
graça em comparar minhas reações atuais (às obras
primas desses escritores) às impressões de juventude
dessas mesma obras. Conselho para quem quer escrever? Delicado, isso... Mas vá lá: não se preocupe em
escrever uma OBRA. Faça uma frase. E depois outra.
Encerrado o primeiro parágrafo, faça o segundo. Se
houver tranquilidade nesse exercício, e se não surgirem
autocobranças muito excessivas, é bem possível que o
(eventual) prazer em escrever “passe” para o leitor.
≠ 15
Café com maçãs e cigarros
Tentativa de poeta
Reflexivo
O homem de neanderthal degusta a carne
de carneiro que capturou mais cedo no
mercado bem refrigerado.
Riscava as primeiras rimas
Como quem arriscava os primeiros passos.
E rabiscando de leve, redondo e lento
Compunha, em pronto, de certo,
Eu não tinha este rosto
senão o esboço
o risco O homem de neanderthal cozinhou sozinho
com diversas ervas o carneiro e deu para
sua esposa um punhado para experimentar.
A esposa do homem de neanderthal usa
botas de couro negro, batom vermelho, e
prende suas enormes madeixas louras de
uma maneira encantadora.
Pensamentos do próprio homem de
neanderthal.
O homem de neanderthal se perde nos fios
dourados cuidadosamente trançados por
mãos imortais.
Marcela Sperandio Rosa
Versos tolos.
E regendo assim as palavras
Libertando-as de minha sã loucura
Minha escrita, hoje, é eterna procura:
Nada de termos exatos ou
Versos inteiros.
Dentre caudalosos rios fonéticos
Escolho em tantos somente poucos;
Profanar temas herméticos, em meu dever de poeta;
Na proeminência de meus
Versos ocos.
Meus desvarios lógicos, frenéticos
Em minha tentativa de compor versos poéticos,
Assemelho-me a crônicos, insanos, insensatos, léxicos.
Tomado por inteiro de meus
Eu não tinha lábios
nem barriga
todas as artes
do meu corpo eram
tuas e eu não sabia
Eu não via
havia óleos
meu contorno escorria
até que entre
teu olho reflexivo
bem-me-vi
e não era tarde
Antonia Ratto
Versos loucos.
Carla Guedes
VIU?
Você não foi o único
PRODUTO OU SERVIÇO PARA 8.000 PESSOAS NO RIO DE JANEIRO, EM NITERÓI E EM BELO HORIZONTE.
ESPAÇOS A PARTIR DE R$ 75.
≠ 16
[email protected]

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