tempos modernos, tempos de sociologia
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TEMPOS MODERNOS, TEMPOS DE SOCIOLOGIA SOCIOLOGIA Volume único E n s i n o Médio Capítulo 8 : A s m u i t a s do poder coordenação faces Helena Bomeny Doutora e m Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Professora titular de Sociologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora do C P D O C / F G V e professora da Escola Superior de Ciências Sociais da FGV. Coordenadora geral do Setor de Ensino de Graduação do C P D O C / F G V e Coordenadora geral da Escola Superior de Ciências Sociais da FGV (2006-2010). Bianca Freire-Medeiros Doutora e m História e Teoria da Arte e da Arquitetura pela Binghamton University/SUNY. Pesquisadora do C P D O C / F G V e professora da Escola Superior de Ciências Sociais da FGV. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Tempos modernos, tempos de sociologia / coordenação Helena Bomeny, Bianca Freire-Medeiros. - Sáo Paulo : Editora do Brasil, 2010. ISBN 978-85-10-04823-1 (aluno) 978-85-10-04824-8 (professor) Bibliografia 1. Sociologia (Ensino médio) I. Bomeny, Helena. II. Freire-Medeiros, Bianca. III. Série. 10-01205 CDD-301 índices para catálogo sistemático: 1. Sociologia : Ensino médio 301 F U N D A Ç Ã O 1 edição, São Paulo, 2010 a EDITORA d o BRASIL GETÚLIO V A R G A S 8 As muitas do poder E m cena: A garota faces órfã Carlitos e a Garota em cena do filme T e m p o s m o d e r n o s . Há uma personagem de Tempos que até agora usá-los como lenha, trabalhadores desempregados pro- não foi apresentada aqui: é uma adolescente descalça, testam em uma rua próxima. Ouvem-se tiros, a Garota se modernos vestida pobremente, que aparece pela primeira vez rou- aproxima e vê o pai morto, caído no chão. Sem mãe e sem bando bananas no cais e distribuindo-as entre outras pai, agora as meninas passarão à responsabilidade do Es- crianças pobres. O entretítulo explica: "A Garota - uma tado. Dois homens engravatados e um guarda vão à casi- menina do cais que se recusa a passar fome". E a ação nha das órfãs, examinam papéis e encaminham as duas começa: descobertas pelo dono da carga de bananas, as pequenas para um abrigo de menores. Enquanto isso, crianças e a Garota fogem em disparada. Ela chega ofe- mais uma vez, a Garota escapa. gante a uma casa pobre onde estão duas meninas menores, e somos informados, sempre pelo entretítulo, de que as três são irmãs e órfãs de mãe. Dali a pouco chega o pai, deprimido porque não consegue emprego. A Garota distribui bananas, e todos comem alegremente. Na segunda sequência da Garota, enquanto ela e as irmãs catam pedaços de madeira no cais, certamente para 84 Apresentando Michel Foucault O pensador que convidamos para assistir a essas cenas, embora não fosse um sociólogo, marcou o campo das ciências sociais com suas reflexões sobre a relação entre verdade e poder. Seu nome é Michel Foucault. M i c h e l Foucault foi um filósofo, hjstoriador, crítico e ativista político francês que d e s e n volveu uma teoria e um método de pesquisa próprios, caracterizados por aproximar história e filosofia. Seus trabalhos abordam temas diversos, como poder, conhecimento, discurso, sexualidade, loucura. Foucault foi influenciado pela filosofia da ciência francesa, pela psicologia e pelo estruturalismo. Já sua atuação política foi influenciada sobretudo pela desilusão com o comunismo e pelo movimento de maio de 1968 na França. Sua experiência pessoal com tratamento psiquiátrico motivou-o a estudar a loucura. Interessava-se pela relação entre poder, conhecimento científico e discurso, e pelas práticas a eles associadas na definição da loucura e no tratamento destinado àqueles classificados como "loucos". Suas ideias inspiraram tanto críticas quanto apoios fervorosos e influenciaram diverMichel Foucault, c. 1969. sas áreas, como a arte, a filosofia, a história, a sociologia, a antropologia e muitas outras. Destacam-se, nela, História d a l o u c u r a n a i d a d e clássica (1961), A s p a l a v r a s e a s c o i s a s Michel (1966), A r q u e o l o g i a d o s a b e r (1969), V i g i a r e p u n i r ( W S ) , Microfísica Foucault (Poitiers, França, 15 de outubro de ainda o projeto inacabado História 1926 - Paris, 26 de junho de 1984) (1976), 0 u s o d o s p r a z e r e s (1984) e O c u i d a d o d e s i (1984). do poder (WS), e d a s e x u a l i d a d e , composto de A v o n t a d e d e s a b e r Para entender a complicada relação entre verdade e como a biologia, a economia política, a psiquiatria e a poder, Foucault realizou pesquisas sobre temas variados. própria sociologia - e novos dispositivos disciplinares. A Um dos pontos em que mais se deteve foi a questão da influência progressiva desses novos saberes e a multipli- disciplina. Como homens e mulheres aprendem a se com- cação desses dispositivos por toda a sociedade levaram, portar? O que acontece quando não se comportam de acor- segundo ele, à consolidação de um modelo peculiar de do com o previsto? Em que tipo de justificativas se baseiam organização social: as "sociedades disciplinares" dos sé- as regras de comportamento? Em que lugares os ensina- culos XIX e XX. mentos sobre o que é socialmente aceitável e não aceitável A emergência desse novo formato de arranjo social, são transmitidos? Por que e por quem eles são cobrados? com suas lógicas de controle e penalização, constitui o Para responder a questões como essas, Foucault investi- tema central de uma das obras mais conhecidas de Fou- gou a origem e o desenvolvimento de várias instituições de cault, que tem o sugestivo título Vigiar epunir, nascimento controle, entre elas os abrigos, como aquele para onde as da prisão. Nesse livro, ele nos mostra como, a partir dos pequenas órfãs de Tempos foram enviadas, e séculos XVII e XVIII, houve o que chama de um "desblo- as prisões, como aquela de onde Carlitos não queria sair. queio tecnológico da produtividade do poder". Esse des- Seguiremos, portanto, com Michel Foucault, numa visita bloqueio teria permitido o estabelecimento de procedi- por algumas instituições de controle e poder. mentos de controle ao mesmo tempo muito mais eficazes modernos e menos dispendiosos. E isso ocorreu não apenas nas pri- Curar e adestrar, vigiar e punir sões, mas também em várias outras instituições, onde a vigilância dos indivíduos é constante e necessária. Nos capítulos anteriores, vimos como as transformações Obviamente, mecanismos de disciplina e controle já trazidas pela Revolução Industrial e a Revolução France- existiam muito antes do surgimento de saberes como a sa possibilitaram o surgimento de novos hábitos e valo- economia ou a sociologia. Durante o Antigo Regime, nos res, novas estruturas de pensamento e práticas sociais. lembra Foucault, havia critérios que permitiam identificar Michel Foucault também se voltou para esse momento de os indivíduos que eram capazes de se submeter às nor- profunda transformação, em que as instituições sociais mas - os "normais" - e os que, incapazes de respeitá-las, do Antigo Regime cederam o lugar a sistemas de organi- deveriam receber como castigo a exclusão da vida em so- zação inéditos. Seu interesse se voltou, sobretudo, para ciedade. Nesse grupo dos que eram afastados do convívio as condições de surgimento de novos saberes - ciências com os outros encontravam-se aqueles considerados 85 "loucos", "maus", "doentes" ou "monstros" - qualquer nados na chamada "nau dos insensatos"; todos os crimi- um, portanto, que apresentasse "desvios de conduta", nosos eram condenados à pena de morte; quaisquer tipos quer por conta de sua demência, de sua índole, de sua de "deformados" eram recolhidos aos mosteiros; e os que moléstia ou de sua aparência. Ao longo da Idade Média, sofriam de males físicos eram levados a hospitais que na todos os que fossem tidos como "dementes" eram confi- verdade eram "depósitos de doentes". Charles Grignion. U m a p e r s p e c t i v a d o H o s p i t a l F o u n d l i n g c o m f i g u r a s , 1749. N a u dos insensatos A alegoria, ou representação figurativa, da " n a u d o s i n s e n s a t o s " surgiu no final da Idade Média e teve uma de suas mais famosas expressões artísticas no quadro de mesmo nome de Hieronymus Bosch (de 1490), que nele faz uma profunda crítica aos costumes da época, denunciando a fragilidade dos princípios religiosos e a devassidão presente em todos os grupos sociais, inclusive no clero. M i c h e l Foucault se inspirou nessa imagem para e s crever a introdução de sua História d a l o u c u r a . Assim como as naus dos insensatos da Idade Média, navios que deslizavam pelos rios e mares com uma carga de loucos e sem um rumo definido, o saber psiquiátrico desenvolvido no século XIX seria um mecanismo radical de e x c l u são, cuja maior expressão seriam os manicômios. A alegoria da nau foi tomada por ele como símbolo de uma cultura - a ocidental - marcada pela não aceitação d e n tro do corpo social daqueles tidos como loucos. Se no início da Renascença a nau dos insensatos tinha um l u gar no imaginário coletivo, para Foucault isso expressava o crescente fascínio pela questão da loucura, que a partir do século X V passou a ganhar cada vez mais espaço Hieronymus Bosch. N a u d o s i n s e n s a t o s , c.1490. Óleo sobre madeira, 58 x 33 cm. 86 entre as preocupações humanas. Foucault lembra também que foi a partir do século cina clínica passou a ter como foco o corpo do doente e XVIII que se iniciou um processo de organização e classi- como.objetivo trazer esse corpo "de volta ao normal". Sur- ficação científica dos indivíduos, que veio garantir uma giram então expressões como "temperatura normal", "pul- nova forma de disciplinar e controlar a sociedade. Cada sação normal", "altura e pesos normais". Esse padrão de "anormalidade" passou então a ser identificada em seus normalidade passou a ser um parâmetro para toda a socie- mínimos detalhes por um saber específico e a ser encaixa- dade - é claro que há componentes culturais que determi- da em um complexo quadro de "patologias sociais". nam variações nesse padrão - , e a medicina ganhou uma Estamos tão acostumados a depender desses saberes dimensão política de controle. Hoje, mais que nunca, vive- especializados e a conviver com os espaços que lhes são mos em função de ter o corpo "normal", de acordo com to- próprios que muitas vezes nos esquecemos de que nem dos os padrões, índices e prescrições que a medicina esta- sempre eles existiram. O nascimento da medicina clínica e belece. Muitas vezes estamos nos sentindo bem e vamos ao a criação do hospital tal como o conhecemos, por exemplo, médico para um simples exame de rotina. O médico nos são fenómenos historicamente recentes. Foucault toma examina e diz que há algo errado, algo "que não está nor- como exemplo o projeto de criação de hospitais surgido na mal". Saímos da consulta com uma lista de remédios que França em fins do século XVHI, em que pela primeira vez supostamente irão trazer nosso corpo de volta à normalida- foram expostas regras minuciosas de separação dos vários de. Também nos é apresentada uma longa lista de coisas tipos de doentes. O médico - e não mais qualquer "curan- que podemos ou não podemos fazer e de alimentos que po- deiro" - passou a ser o responsável por essa nova "máqui- demos ou não podemos ingerir. É certo que nem sempre na de curar", que lembrava muito pouco aquele "depósito obedecemos a tudo que nos diz o médico. Porém, ao fim e de doentes" medieval. ao caho, acreditamos que a medicina, como ciência, tem o Se a medicina clássica trabalhava com o conceito vago de "saúde" e procurava "eliminar a doença", a medi- poder de curar porque tem o poder de saJber mais sobre o nosso corpo do que nós mesmos. Pierre Andre Brouillet, U m a a u l a d e m e d i c i n a c o m d o u t o r C h a r c o t e m S a l p e t r i e r e , óleo sobre tela, 1887. A ideia de uma educação que não está a cargo dos pais, e sim do Estado, que é oferecida a todos os cidadãos, acordo com parâmetros pedagógicos é uma invenção do fim do século XVIII e início do XIX. Acreditamos que a que tem um conteúdo comum e necessita do espaço da escola tem o p o d e r d e e n s i n a r porque tem o p o d e r de s a - escola também é fruto dessas transformações de que fala ber quais são os comportamentos desejáveis, quais são os Foucault. Não por coincidência, a escola organizada de conteúdos imprescindíveis e qual é a didática adequada. 87 Jean Beraud, A saída d o L i c e u C o n d o r c e t , óleo sobre tela, 51 x 65 cm, 1903. O mesmo se dá com o conjunto das instituições de turas, esquartejamentos, queimaduras, enforcamentos - justiça e punição, que encontra nas prisões seu espaço realizado em praça pública para a glória do soberano. Hoje, de realização. O grupo dos "maus" desdobra-se em uma mesmo em um estado como o Texas, nos Estados Unidos, série de subgrupos de "personalidades criminosas", que onde vigora a pena de morte, vigora também uma série de passa a ser objeto de um saber específico: a criminologia. princípios que buscam garantir uma "morte humanizada" A reclusão por tempo determinado no presídio substituiu, para o condenado, sem torturas ou humilhações. Acredita- na maior parte dos países do Ocidente, a morte punitiva. mos que o sistema judiciário tem o poder Foucault nos lembra que, até o século XVIII, a pena de mor- (com a morte, se necessário) porque tem o poder te era precedida por um detalhado suplício do corpo - tor- distinguir entre os inocentes e os criminosos. Gravura de 1723 representando condenado pelo Tribunal da Inquisição morto na fogueira em praça pública. 88 de vigiar e punir de saber Câmara de execução em presídio estadual da Califórnia, EUA. plina e o descontrole de Carlitos atrapalham a produção. Aproximadamente 74 países adotam a pena de morte, en- Ele é levado ao manicômio para aprender a se comportar tre como os demais e novamente se tornar apto a produzir. eles China, Irã, Arábia Saudita e Estados Unidos. A pena de morte foi legalmente praticada no Brasil até a segunda metade do século XIX. Recorria-se ao enforcamento, à espada, à fogueira e a vários outros métodos. A Em uma linha de produção o trabalho é disciplinado, os cor- última execução no Brasil aconteceu em 1861, na Paraíba. pos são adestrados, e tudo é supervisionado por técnicos que conhecem o ritmo adequado ("normal"), o produto de qualidade ("normal") e produtividade esperada ("normal"). Foucault fez uma "arqueologia" - uma investigação minuciosa da origem e do desenvolvimento histórico - de todos esses saberes: da medicina clínica, da psiquiatria, da criminologia etc. E não apenas isso como também se encarregou de formular uma crítica incisiva das práticas disciplinadoras - de controle e adestramento - de cada uma das instituições onde esses saberes são praticados e reproduzidos. O s c o r p o s dóceis e o s a b e r i n t e r e s s a d o As formas de curar, educar e punir não foram as únicas a ter seus princípios alterados na modernidade. Foucault nos mostra como as maneiras de produzir e os lugares da produção também passaram por um sério processo de especialização e controle. As fábricas, por exemplo, reproduzem a estrutura da prisão, no sentido de que colocam os indivíduos, separados segundo suas diferentes funções, sob um rígido sistema de vigilância. Lembremo-nos da fábrica de Carlitos: disciplinados e sob o olhar vigilante do capitalista, os operários produzem mais. A indisci- Podemos observar que, ao se voltar para a produção, Foucault não reduz a questão ao aspecto puramente económico. Mesmo nesse contexto, diferentemente de Marx, ele está interessado não tanto na dominação económica, mas nas relações de poder que perpassam toda a sociedade. Em uma entrevista qiie concedeu ao brasileiro Alexandre Fontana, Foucault resumiu sua posição: Para dizer as coisas mais simplesmente: o internamento psiquiátrico, a normalização mental dos indivíduos, as instituições penais têm, sem dúvida, uma importância muito limitada se se procura somente sua significação económica. Em contrapartida, no funcionamento geral das engrenagens do poder, eles são, sem dúvida, essenciais. E n quanto se colocava a questão do poder subordinando-o à instância económica e ao sistema de interesse que garantia, se dava pouca importância a estes problemas. M i c h e l Foucault. Microfísica d o poder. Rio de Janeiro: Graal, 1977. O que Foucault está nos dizendo exatamente? Em primeiro lugar, que não podemos entender as relações de poder reduzindo-as à sua dimensão económica ou à esfera do Estado. Para ele, as estruturas de poder extrapolam o Estado e permeiam, ainda que de forma difusa e pouco evidente, as diversas práticas sociais cotidianas. Ouvimos dizer que os governantes detêm o poder. Sim, mas apenas até certo ponto. Governantes não têm o poder, por exemplo, de determinar qual será a nova moda que mobilizará os jovens e fará circular uma quantidade incalculável de dinheiro no Operárias em fábrica no início do século XX. próximo inverno. Será, então, que 89 são os ricos que detêm o poder? Os ricos certamente têm duo, o biopoder dirige-se à massa, ao conjunto da popula- muito poder, mas não todo o poder. Nem eles, nem nin- ção e ao seu habitat - a metrópole, sobretudo. Isso ocorre guém. Ninguém é titular do poder, porque ele se espalha porgue o processo de especialização, deflagrado com a di- em várias direções, em diferentes instituições, na rua e na visão do trabalho, exige cada vez mais que a população casa, no mundo público e nas relações afetivas. como um todo seja racionalmente classificada, educada e Em segundo lugar, Foucault está insistindo em sua controlada para ser, por fim, transformada em força produ- resposta numa ideia que atravessa toda a sua obra e que tiva. O objeto do biopoder são fenómenos coletivos, como vimos destacando até aqui: existe uma forte correlação en- os processos de natalidade, longevidade e mortalidade, tre saber e poder. Instituições como a escola, o hospital, a prisão, o abrigo para menores etc. nem são politicamente gue são medidos e controlados por meio de novos dispositivos, como os censos e as estatísticas. neutras, nem estão simplesmente a serviço do bem geral da O biopoder mede, calcula, prevê e por fim estabele- sociedade. Nós é que acreditamos que elas são neutras, le- ce, por exemplo, gue é preciso diminuir a taxa de natali- gítimas e eficazes porque acreditamos na neutralidade, na dade de detenriinado país. Como alcançar tal objetivo? legitimidade e na eficácia dos saberes Controlando o número de nascimentos, ou seja, intervin- científicos - como a pedagogia, a medicina, o direito, o serviço social - que lhes do diretamente na vida dão sustentação. Foucault nos ajuda a perceber, portanto, não precisa ser feito por meio de uma lei específica e pu- que há relações de poder onde elas não eram normalmente nitiva, como na China. O processo de controle não depen- percebidas. O conhecimento não é uma entidade neutra e de necessariamente da repressão direta do Estado. Mui- abstrata; ele expressa uma vontade de poder. Se a ciência tas outras instâncias de poder podem ser mobilizadas, moderna se apresenta como um discurso objetivo, acima como, as instituições de educação e de saúde ou os meios das crenças particulares e das preferências políticas, alheio de comunicação de massa. Essas instâncias passam a pro- aos preconceitos, na prática, ela ajuda a tomar os "corpos duzir discursos sobre as desvantagens da maternidade dóceis", para usar outra de suas expressões. precoce ou as dificuldades enfrentadas por famílias muito do conjunto da população. Isso "Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a não ser dizer não", provoca Foucault, "você acredita que seria obedecido?". Por meio de perguntas como esta, ele nos leva a refletir sobre os mecanismos de manutenção, aceitação e reprodução do poder. O poder, tal como Foucault o concebe, não equivale à dominação, à soberania ou à lei. É um poder gue se faz aceito porque está associado ao conceito de verdade: QUEfUADptASp OMIVUUOlSt.. FALTA DE A "Somos submeti- dos pelo poder à produção da verdade e só podemos exercer o poder mediante a produção da verdade", afirma ele. Nós estamos acostumados a pensar a verdade como independente do poder porgue acreditamos gue ela de nada depende, é única e absoluta. Assim sendo, temos dificuldade em aceitar a ideia de que o "verdadeiro" é "apenas" aquilo gue os próprios seres humanos definem como tal. Para Foucault, é a crença nessa verdade gue independe EXraMMENTAk O CRACKPARA das decisões humanas gue nos autoriza a julgar, condenar, classificar, reprimir e coagir uns aos outros. Indivíduos e populações Nunca experimente o crack. Ele causa dependência e mata. Em seus últimos escritos, Foucault dedicou-se a exajninar como o poder baseado no conceito de disciplina, surgido no século XVHI, foi se sofisticando e adcmirindo contornos ainda mais complexos ao longo do século XX. Ao poder disciplinar veio somar-se o gue ele chamou de "biopoder". Enguanto o primeiro tem como alvo o corpo de cada indiví90 Cartaz de campanha contra o uso de droga, veiculada em dezembro de 2009. numerosas, e o fato é que nós, como população, somos afetados por essas ideias. Introjetamos esses discursos como hanseníase eram parte do cotidiano de muitos cidadãos, verdades absolutas e não como convenções históricas e so- que sofriam principalmente com grandes epidemias de cialmente estabelecidas. Mas não custa lembrar, por exem- febre amarela, varíola e peste bubônica. plo, que para muitas pessoas que vivem em contextos rurais ter uma família numerosa é desejável, porque a mão de obra mobilizada na produção é de base familiar. Ou que nem sempre ter filhos aos 15 anos foi algo visto com maus olhos. Durante o longo período em que a expectativa de vida não chegava a ultrapassar os 50 anos, era desejável que as jovens começassem a procriar tão logo ocorresse sua primeira menstruação. Além das políticas de controle da natalidade, políti- Foi diante desse quadro que Oswaldo Cruz, médico sanitarista convocado pelo presidente Rodrigues Alves para higienizar a cidade e a população carioca, passou a tomar medidas para conter doenças. Era preciso sanear para modernizar. Entre as muitas propostas apresentadas pelo médico, uma causou especial polémica: a da vacinação obrigatória, que se tornou lei em 31 de outubro de 1904. De acordo com a lei, brigadas sanitárias, acompanhadas de policiais, cas de habitação social ou de higiene pública são exem- deveriam entrar nas casas para aplicar, de bom grado ou à plos do biopoder, que é acionado para garantir a resolu- força, a vacina contra a varíola em toda a população. ção e o controle dos problemas da coletividade. Nem sempre, porém, tais políticas surtem o efeito desejado... Grande parte da população e setores da oposição se revoltaram contra o autoritarismo da medida. Lojas foram saqueadas, bondes depredados, lampiões quebrados: era a Revolta da Vacina, uma reação violenta a uma medida Revolta d a Vacina Um dos episódios mais polémicos do início do período re- de disciplinamento sanitário imposto pelo governo à população, medida essa legitimada pela posse de um s a b e r - publicano no Brasil pode nos ajudar a pensar sobre o c o n - o higienismo - aplicado como forma de controle em nome ceito de biopoder e as formas de controle que ele articula. Em 1904, o Rio de Janeiro começava a passar pelo pro- do ideal de modernidade. A reação popular levou à s u s pensão da obrigatoriedade da vacina e à declaração do cesso de reformas urbanas levado a cabo pelo então prefeito Pereira Passos, mas ainda conservava muito da e s - estado de sítio por parte do governo. A rebelião terminou em dez dias, deixando cinquenta mortos e mais de cem trutura colonial que o governo buscava eliminar em nome feridos, além de centenas de presos. Pouco depois, o pro- do ideal de modernização. Ruas estreitas, pessoas amon- cesso de vacinação foi reiniciado, e a varíola foi rapida- toadas em cortiços e precárias noções de higiene faziam mente erradicada da capital da República. parte da paisagem carioca. Tuberculose, sarampo, tifo e 3» Charge A revolta da vacina, O m a l h o , 1904. Vimos que Carlitos e a Garota órfã são, em grande medida, "personagens indisciplinados". perto. Assim surgiram os hospitais, abrigos e muitas outras instituições disciplinadoras. Assim surgiram Os dois resistem a muitas convenções e frequentam também os orfanatos, as escolas, as fábricas. as margens da sociedade. Mas isso não quer dizer que não Foucault quis nos fazer entender que o poder estejam inseridos, não façam parte dos jogos de poder e se espalha por diferentes domínios sociais, atuando controle de que fala Foucault. Apesar de socialmente inade- sobre os indivíduos e também sobre as massas. O quados em tantos aspectos, também eles introjetam os va- biopoder, por exemplo, é exercido toda vez que, lores de sua sociedade e, como veremos, aspiram a viver de com base na voz dos especialistas, é feito um con- maneira "civilizada". trole do comportamento da coletividade. Foucault não se preocupou em dizer se esse controle é positivo ou negativo. Interessou-se pelo processo que levou as pessoas a depositar sua confiança nessas vozes especializadas e pela maneira como isso alte- Recapitulando Os olhares dos cientistas sociais podem se voltar rou o desenho das sociedades. para muitas direções. No capítulo anterior, vimos Tocqueville interessado no tema da liberdade. Neste, tomamos contato com Michel Foucault, um observador da sociedade que desvendou as minúcias da disciplina e do controle social. As mudanças trazidas pelos tempos modernos foram, sem dúvida alguma, de ordem económica e política. Nesses domínios já estamos acostumados a operar com a noção de poder. Foucault, no TESTANDO SEUS CONHECIMENTOS entanto, foi além. Buscou em outras instituições modernas os mecanismos por meio dos quais o poder é exercido. A medicina, a pedagogia, a criminologia, a engenharia etc. serviram-lhe como pistas. É curioso constatar que esses saberes são chamados 1. O interesse de M i c h e l Foucault c o m o o b s e r v a d o r d o de "disciplinas". O que eles disciplinam? Eles cons- m u n d o social era estudar c o m o o p o d e r se c o n f i g u r a nas troem padrões de normalidade que circulam pela s o c i e d a d e s m o d e r n a s . C o m base nas informações deste sociedade como um todo. Ao classificar o que é nor- capítulo, defina a ideia d e " s o c i e d a d e disciplinar'.' mal e o que é anormal, eles se valem da noção de verdade. Os especialistas se tomaram autoridades e por isso exercem o poder, dizendo-nos o que fazer. É difícil resistir, porque acreditamos em suas verdades. Foucault entendia que o poder é um conceito 2. De que f o r m a a institucionalização d o s s a b e r e s e s p e c i a l i z a d o s c o n t r i b u i u para alterar a distribuição d o p o d e r nas s o c i e d a d e s m o d e r n a s , s e g u n d o Foucault? 3. O que diferencia as s o c i e d a d e s pré-modernas d a s s o c i e - muito mais amplo do que parece. Não diz respeito d a d e s m o d e r n a s no tocante a o t r a t a m e n t o d a d o às p e s - apenas à enunciação explícita de uma regra ou lei a soas consideradas "anormais"? que devemos obedecer, já que existem comandos a que obedecemos sem perceber. Ele também nos lembra que o poder circula em várias direções dentro da estrutura social. 4. O s o b s e r v a d o r e s d a s o c i e d a d e p o d e m produzir d i f e r e n tes interpretações s o b r e u m m e s m o fenómeno social. Karl M a r x e M i c h e l Foucault, p o r e x e m p l o , o b s e r v a r a m a distribuição d o p o d e r n a s s o c i e d a d e s m o d e r n a s . C o m No período pré-modemo não havia "sociedades base nas informações c o n t i d a s neste capítulo, a p o n t e as disciplinares". Aqueles que fossem considerados divergências entre e s s e s d o i s autores no tocante à " q u e s - anormais eram banidos do convívio social. A socieda- tão sociológica" d o poder. de moderna incorporou esses indivíduos, mas confinou-os em espaços onde podiam ser controlados de • 92 1. MONITORANDO A APRENDIZAGEM 5. E x p l i q u e o que é o " b i o p o d e r " na definição d e Foucault, c i t a n d o e x e m p l o s d o dia a dia. 2. ASSIMILANDO CONCEITOS 1. O b s e r v e o s cartazes d e c a m p a n h a s a b a i x o : 2. Você já viu esta placa e m a l g u m lugar? í til J 1 1 \9:\ PU /tf J SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO! a) E m q u e tipo de lugar ela é u s a d a ? Por quê? b) De q u e m a n e i r a p o d e m o s p e n s a r no c o n t r o l e social e m nossa s o c i e d a d e a partir desta i m a g e m ? 3. OLHARES SOBRE A SOCIEDADE 0 PODER Deus criou o universo, criou c o m todo poder E Adão até foi expulso, pois quis desobedecer Poder pra chutar o balde, Poder pra mandar matar E m cada desejo plantado U m fruto pra cobiçar Poder, poder, poder, poder até não mais poder. Poder dentro de casa, quem menos pode dorme no sofá Atravesse o oceano e o couro tá comendo por lá M e u s olhos andam famintos, prontos pra te devorar Não sei se você quer ou pode M a s não posso m e controlar Poder, poder, poder, poder até não mais poder. O poder no fio da navalha Tudo que valha a pena poder Q u e m pode a cabeça perder, Poder já nem importa por quê O poder na primeira pessoa Poder e m última instância a) De q u e tratam? A q u e m a m e n s a g e m d e c a d a u m d e l e s é dirigida? b) A m e n s a g e m c o n t i d a n e s s e s cartazes está b a s e a d a e m saberes especializados? Quais? c) Há a l g u m a relação de p o d e r entre o s e n s o c o m u m (saber popular) e o s a b e r e s p e c i a l i z a d o nas informações d o s cartazes? d) C o m o e s s a s m e n s a g e n s se r e l a c i o n a m c o m o c o n c e i t o de " b i o p o d e r " de Foucault? A mão alcançando o chapéu, Acima de qualquer circunstância Poder, poder, poder, poder até não mais poder. De que vale o caminho certo Se tudo pode acontecer Lá v e m a mula s e m cabeça Voando nas asas do poder Esqueça o que lhe ensinaram 93 E c o m e c e de novo a aprender Não há nada de errado e m querer consertar uma Só conserve o seu medo diário falta de acabamento congénita, melhorar a silhueta E morra agarrado ao poder castigada pelo excesso de comida e pelo sedentaris- Poder, poder, poder, poder até não mais poder. mo ou atenuar as marcas do tempo. É uma forma per- O p o d e r . Marcelo Nova e Karl Hummel. Camisa de feitamente compreensível e legítima de conservar (ou Vénus. Q u e m é você. Polidor: 1996. restaurar) a autoestima. U m nariz menos adunco, uma Warner Chappell Edições Musicais Ltda. ruguinha cancelada, uns quilinhos aspirados - e eis que Todos os direitos reservados a beleza deixa de ser apenas a promessa de felicidade, para citar a frase do escritor francês Stendhal. A ques- A canção O p o d e r s e afina c o m a concepção de p o d e r de Foucault? Destaque a l g u n s v e r s o s que j u s t i f i q u e m sua resposta. tão é quando se exagera na dose.Tem-se aí uma patologia. Pessoas que não se cansam de encontrar defeitos ao espelho (na maioria das vezes, inexistentes) e, para corrigi-los, perseguem compulsivamente u m pa- 4. EXERCITANDO A IMAGINAÇÃO SOCIOLÓGICA drão estético inatingível sofrem do que os médicos chamam de transtorno dismórfico corporal. Descrito e m 1987 pela Associação Americana de Psiquiatria, o Q U A N D O O B E L O G A N H A A MÁSCARA D A distúrbio, nos casos mais graves, causa ansiedade e PLÁSTICA depressão profundas - e pode levar a pessoa a deformar-se nas mãos de cirurgiões inescrupulosos. B e n f e i t a s e b e m i n d i c a d a s , a s c i r u r g i a s estéticas repre- s e n t a m u mg a n h o p a r a a a u t o e s t i m a . M a s a falta d e Anna Paula Buchalla, Veja, Ed. Abril, 4 jul. 2008. b o m - s e n s o está à v i s t a d e t o d o m u n d o . Pouco tempo atrás, a escritora americana Stacy Se você pensa que a modificação d o c o r p o é u m fenó- Schiff desfrutava uma linda tarde ao lado de u m amigo m e n o recente, a s s o c i a d o ao d e s e n v o l v i m e n t o d a cirurgia francês que visitava Nova York pela primeira vez. No fim plástica, engana-se p o r c o m p l e t o . Essa prática já existia do dia, porém, ele mostrou-se intrigado. Queria saber o e m t e m p o s remotos m e s m o nas s o c i e d a d e s não o c i d e n - que havia acontecido c o m as pessoas mais velhas na tais. N o Brasil, até hoje o s Caiapós são c o n h e c i d o s por cidade. Seus rostos eram esticados demais, lustrosos suas ornamentações e pinturas na pele. N a s Filipinas, há demais. E m Paris, disse ele, os velhos pareciam velhos g r u p o s que t o r n a m seus dentes p o n t i a g u d o s c o m o símbo- - e não havia nada de errado nisso. A idade do amigo lo d e beleza e s t a t u s . Você já deve ter visto i m a g e n s d a s francês de Stacy: 8 anos. Sim, até m e s m o uma criança m u l h e r e s girafa africanas, q u e têm o pescoço a l o n g a d o mais observadora pode perceber que algo de estranho c o m u m colar de múltiplas argolas. Também já deve ter vem ocorrendo. E não só em Nova York, é claro. Basta ir o u v i d o falar nas mulheres chinesas que apertavam o s pés a s h o p p i n g s e restaurantes de qualquer grande cidade c o m p a n o s para impedir s e u c r e s c i m e n t o . São muitos brasileira, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Hori- e x e m p l o s que nos m o s t r a m que as modificações d o c o r p o zonte, para deparar c o m pessoas de pele alaranjada são praticadas e m várias culturas e sociedades. Isso s i g n i - (sessões de bronzeamento artificial podem dar esse fica que o c o r p o h u m a n o se presta a manifestações c u l t u - efeito), maçãs do rosto salientes, testa estirada, lábios rais. P o d e m o s c o n h e c e r u m a s o c i e d a d e a partir da relação inflados e dentes branquíssimos, de uma alvura inexis- que seus integrantes mantêm c o m s e u s corpos. tente na natureza. É um contingente que, pelo jeito, tende a aumentar, graças aos avanços técnicos e ao bara- A reportagem citada discute a modificação d o corpo e m excesso, que cria aberrações o u resultados insatisfatórios. teamento dos procedimentos estéticos. Ficou mais Ela nos ajuda a perceber que nem todo tipo de modificação fácil, enfim, fazer uma intervenção atrás da outra - e corporal é valorizado culturalmente. Muitos aspectos estão isso dá vazão à obsessão doentia pela manutenção da e m jogo: conceito de beleza; bem-estar d o indivíduo; s t a t u s beleza e juventude. "O resultado dessa obsessão são que a mudança confere; poder social de q u e m a pratica etc. bizarrices produzidas por falta de bom-senso não só dos Além da cirurgia plástica, existem nas sociedades o c i - pacientes, como dos próprios médicos','diz o presidente dentais outras especializações q u e lidam c o m o corpo, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - Regional c o m o a nutrição São Paulo, João de Moraes Prado Neto. é saudável na alimentação), a educação física (que estimula (que define o que é saudável e o que não a prática de atividades que c o m b a t e m o s m a l e s d o s e d e n - tarismo, além de estabelecer padrões de beleza), a estética erros d e s s a natureza p o d e m ter e m c o n t e x t o s o n d e v i g o - (que propõe d i v e r s o s tratamentos para adiar o envelheci- ra a pena d e morte. mento, c o m o os fármacos, aparelhos e cosméticos), a m e - Tema para debate: A justiça é c e g a - p o r q u e é i m p a r c i a l d i c i n a (que propõe tratamentos preventivos e curativos das ou p o r q u e é e q u i v o c a d a ? enfermidades e oferece recursos de p r o l o n g a m e n t o da vida) e a m o d a (que propõe padrões d e vestuário que c u l turalmente nos s e r v e m c o m o u m a " s e g u n d a pele"). Dê a s a s à sua imaginação sociológica e faça u m a pes- 6. DE OLHO NO ENEM O t e m a d e redação proposto pelo E n e m n oa n o d e 2006 está r e l a c i o n a d o à i d e i a d e p o d e r , t e m a c e n t r a l d a análise quisa sobre c o m o o s b r a s i l e i r o s e b r a s i l e i r a s s e r e l a c i o - d e Michel Foucault. Leia o e n u n c i a d o e descubra u m a face n a m c o m s e u s c o r p o s . Escolha u m dos campos acima positiva d o poder. E m seguida desenvolva s u a (nutrição, educação física, estética, m e d i c i n a e m o d a ) e a b o r d e aspectos culturais e s o c i a i s r e l a c i o n a d o s ao c o n trole d o c o r p o . Não deixe de ficar atento ao que o s e s p e cialistas dizem: c o m o d e f i n e m o que é " n o r m a l " e o que é " a n o r m a l " e que padrões propõem. U s e e m sua p e s q u i s a d a d o s estatísticos e l a b o r a d o s , p o r e x e m p l o , pela O r g a n i zação M u n d i a l d a Saúde ( O M S ) . Após coletar as i n f o r m a ções, organize-as e m cartazes - fotografias, gráficos e t a belas são b e m - v i n d o s - e faça u m a exposição na escola. 5. SESSÃO DE CINEMA Juízo Brasil, 2007. Documentário, duração 90 m i n u t o s . Direção de M a r i a A u g u s t a R a m o s . A trajetória d e j o v e n s p o b r e s infratores c o m m e n o s d e 18 a n o s é a c o m p a n h a d a d e s d e o instante d a prisão até o j u l g a m e n t o . Tema para debate: J u v e n t u d e , d i s c i p l i n a e legalidade. redação. 1. ( E n e m , 2006) Redação. U m a vez que nos tomamos leitores da palavra, invariavelmente estaremos lendo o mundo sob a influência dela, tenhamos consciência disso ou não. A partir de então, mundo e palavra permearão constantemente nossa leitura e inevitáveis serão as correlações, de modo intertextual, simbiótico, entre realidade e ficção. Lemos porque a necessidade de desvendar caracteres, letreiros, números faz c o m que passemos a olhar, a questionar, a buscar decifrar o desconhecido. Antes m e s m o de ler a palavra, já lemos o universo que nos permeia: u m cartaz, uma imagem, u m som, um olhar, u m gesto. São muitas as razões para a leitura. Cada leitor tem a sua maneira de perceber e de atribuir significado ao que lê. Inajá Martins de Almeida, O a t o d e l e r . Sociedade dos Poetas Mortos E s t a d o s U n i d o s , 1989, duração de 129 m i n u t o s . Direção de Peter Weir. E m u m a e s c o l a c o n s e r v a d o r a e d i s c i p l i n a dora v o l t a d a para j o v e n s d e elite da s o c i e d a d e n o r t e - a m e ricana, u m e x - a l u n o retorna c o m o professor d e literatura. A rigidez d a formação e da d i s c i p l i n a d a e s c o l a contrasta c o m o c a r i s m a d o professor, q u e leva o s a l u n o s a enxergar o c o n h e c i m e n t o de u m a outra m a n e i r a - diferente d a ideia d e " d i s c i p l i n a ' ' O f i l m e também m o s t r a outras rela- Minha mãe muito cedo me introduziu aos livros. Embora nos faltassem móveis e roupas, livros não poderiam faltar. E estava absolutamente certa. Entrei na universidade e tornei-me escritor. Posso garantir: todo escritor é, antes de tudo, u m leitor. Moacyr Scliar, O p o d e r d a s l e t r a s , 2006. ções de p o d e r que a c o n t e c e m nas famílias d o s estudantes e as d i f i c u l d a d e s que eles têm para rompê-las. Tema para debate: L i b e r d a d e v e r s u s d i s c i p l i n a . A vida de David Gale E s t a d o s U n i d o s , 2003, duração 130 m i n u t o s . Direção d e A l a n Parker. U m brilhante p r o f e s s o r d e f i l o s o f i a , a c u s a d o de ter e s t u p r a d o e a s s a s s i n a d o u m a c o l e g a d e t r a b a l h o , está no " c o r r e d o r d a morte'' Às vésperas de s u a e x e c u ção, D a v i d G a l e pede a presença da repórter Bitsey B l o o m para c o n c e d e r - l h e u m a entrevista na qual contaria t o d a a v e r d a d e s o b r e o c a s o . O f i l m e põe e m questão as interpretações d o s e s p e c i a l i s t a s e m c r i m e s e a g r a v i d a d e q u e Existem inúmeros universos coexistindo c o m o nosso, neste exato instante, e todos bem perto de nós. Eles são bidimensionais e, em geral, neles imperam o branco e o negro. Estes universos bidimensionais que nos rodeiam guardam surpresas incríveis e inimagináveis! Viajamos instantaneamente aos mais remotos pontos da Terra ou do Universo; ficamos sabendo os segredos mais ocultos de vidas humanas e da natureza; atravessamos eras num piscar de olhos; c o n h e c e m o s civilizações desaparecidas e outras que nunca foram vistas por olhos humanos. Estou falando dos universos a que chamamos de livros. Por uns poucos reais podemos nos transportar a e s s e s universos e sair deles muito mais ricos do que quando entramos. Disponível e m : www.amigosdolivro.com.br (com adaptações). Está correto o que se a f i r m a e m (A) I, apenas. (D) II e III, a p e n a s . (B) II, apenas. (E) I, II e III. (C) I e III, a p e n a s . 3. ( E n e m , 2003) PEQUENOSTORMENTOS DA VIDA De cada lado da sala de aula, pelas janelas altas, o azul convida os meninos, C o n s i d e r a n d o q u e o s t e x t o s a c i m a têm caráter a p e n a s as nuvens desenrolam-se, lentas c o m o quem vai m o t i v a d o r , redija u m texto dissertativo a respeito d o s e guinte t e m a : O poder de transformação da leitura. A o d e s e n v o l v e r o t e m a p r o p o s t o , p r o c u r e utilizar os c o n h e c i m e n t o s a d q u i r i d o s e as reflexões feitas ao l o n g o d e s u a formação. S e l e c i o n e , organize e relacione a r g u m e n t o s , fatos e opiniões para d e f e n d e r s e u ponto d e vista e s u a s p r o p o s t a s , s e m ferir o s direitos h u m a n o s . 2. ( E n e m , 2002) U m a n o v a preocupação atinge os p r o f i s s i o nais q u e t r a b a l h a m na prevenção d a A I D S no Brasil. Tem-se observado u m aumento crescente, principalmente entre o s j o v e n s , d e n o v o s c a s o s d e A I D S , q u e s t i o n a n d o - s e , i n c l u s i v e , s e a prevenção v e m s e n d o o u não r e l a x a d a . E s s a temática v e m s e n d o a b o r d a d a p e l a mídia: inventando preguiçosamente uma história s e m fim... S e m fim é a aula: e nada acontece, nada... Bocejos e moscas. Se ao menos, pensa Margarida, se ao menos u m avião entrasse por uma janela e saísse por outra! Mário Quintana. P o e s i a s . Rio de Janeiro: Globo, 1961. Na c e n a retratada no texto, o s e n t i m e n t o d o tédio (A) p r o v o c a q u e o s m e n i n o s f i q u e m c o n t a n d o histórias. (B) leva o s a l u n o s a s i m u l a r b o c e j o s , e m protesto contra a m o n o t o n i a da aula. (C) a c a b a e s t i m u l a n d o a fantasia, c r i a n d o a e x p e c t a t i v a de a l g u m i m p r e v i s t o mágico. (D) prevalece de m o d o a b s o l u t o , i m p e d i n d o até m e s m o a Medicamentos já não fazem efeito e m 2 0 % dos infectados pelo vírus HIV. Análises revelam que u m quinto das pessoas recém-infectadas não haviam sido sub- distração o u o exercício d o p e n s a m e n t o . (E) decorre d a m o r o s i d a d e d a a u l a , e m contraste c o m o m o v i m e n t o a c e l e r a d o d a s n u v e n s e das m o s c a s . metidas a nenhum tratamento e, m e s m o assim, não responderam às duas principais drogas anti-AIDS. Dos 4. (Enem, 2006) N o primeiro semestre de 2006, o M o v i m e n t o pacientes estudados, 5 0 % apresentavam o vírus FB, G l o b a l pela Criança, e m parceira c o m o Unicef, d i v u l g o u o uma combinação dos dois subtipos mais prevalentes relatório Salvando vidas: o direito das crianças ao trata- no país, F e B. mento de HIV e AIDS. N e s s e relatório, c o n c l u i - s e q u e o Adaptado do J o r n a l d o B r a s i l , 2 de outubro de 2001. a u m e n t o da prevenção primária ao vírus deverá reduzir o número d e n o v o s c a s o s de infecção entre j o v e n s de 15 a D a d a s as afirmações a c i m a , c o n s i d e r a n d o o e n f o q u e d a 24 a n o s d e idade, c o m o mostra o gráfico a seguir. prevenção, e d e v i d o ao a u m e n t o d e c a s o s d a doença e m a d o l e s c e n t e s , a f i r m a - s e que: I. O s u c e s s o inicial d o s coquetéis anti-HIV talvez t e n h a l e v a d o a população a se d e s c u i d a r e não utilizar m e d i d a s d e proteção, pois s e c r i o u a ideia d e q u e estes remédios sempre funcionam. II. O s vários t i p o s d e vírus estão tão resistentes q u e não há n e n h u m tipo d e t r a t a m e n t o eficaz n e m m e s m o q u a l q u e r m e d i d a d e prevenção a d e q u a d a . III. Os vírus estão c a d a vez m a i s resistentes e, para evitar s u a 2005 2006 2007 2008 2009 disseminação, o s infectados também d e v e m usar c a m i s i - c o m m a i o r prevenção nhas e não a p e n a s a d m i n i s t r a r coquetéis. c o m a prevenção atual 2010 C o m base nesses d a d o s , analise as seguintes afirmações. I. Ações e d u c a t i v a s de prevenção d a transmissão d o vírus (C) O Brasil, p r i m e i r o país a e l i m i n a r o tráfico d o m i c o --leão-dourado, garantiu a preservação dessa espécie. HIV poderão c o n t r i b u i r para a redução, e m 2008, d e m a i s (D) O a u m e n t o da b i o d i v e r s i d a d e e m outros países d e p e n - de 2 0 % d o s n o v o s c a s o s d e infecção entre o s jovens, e m de d o comércio ilegal da fauna silvestre brasileira. relação a o a n o d e 2005. II. Ações e d u c a t i v a s relativas à utilização d e p r e s e r v a t i v o s (E) O tráfico de a n i m a i s silvestres é benéfico para a preservação das espécies, pois garante-lhes a sobrevivência. nas relações s e x u a i s reduzirão e m 2 5 % ao ano o s n o v o s c a s o s de A I D S entre os j o v e n s . III. S e m o a u m e n t o de m e d i d a s d e prevenção primária, esti- NEM SEMPRE E 0 CRIMINOSO QUEM VAI PARA ATRÁS DAS GRADES. m a - s e que, e m 2010, o a u m e n t o d e n o v o s c a s o s d e infecção p o r HIV entre o s j o v e n s será, e m relação ao a n o d e 2005, 5 0 % maior. É correto a p e n a s o que se a f i r m a e m (A) l. (B) II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III. 5. ( E n e m , 2007) A f i g u r a a b a i x o é parte de u m a c a m p a n h a publicitária. Essa c a m p a n h a publicitária r e l a c i o n a - s e d i r e t a m e n t e c o m a seguinte afirmativa: (A) O comércio ilícito d a f a u n a silvestre, a t i v i d a d e d e g r a n d e i m p a c t o , é u m a ameaça para a b i o d i v e r s i d a d e nacional. (B) A manutenção d o mico-leão-dourado e m jaula é a m e dida que garante a preservação dessa espécie a n i m a l . 38 milhões de vidas! Essa f J m~ai<i to MWK k * m * stasr*& reirato í , < • • • 3à n Ú H t"» 3-3 tvrs « a » '•'••(. M b ít rtiaM IITJ 09 KUW. D OTCCt d flJtt 5**5i1t í LU»tfWiCS$W l*ri sobe i > x -írs i e i t i s x t iima sremitodareima,apwi t>' *x. is N M i» ,\fSJ"»ivfrs-Ci TWTB-l ri ;XJ*JÍ8 A. dj-iílS 0 TSMff» i :o .v 4J táfcc ;* srrws è crua, pat ^OÍTO * * Í èn&tM de«TKfc-to'a • sp ie : .-m Contribua com essa luta! Renctas www. renctas.org. br ; 97