Saber Inovar
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Saber Investir Saber Inovar Investigação Clínica em Portugal Valor da Inovação Inovação Biofarmacêutica e Biossimilares Dispositivos de Segurança e Codificação Modelo de Financiamento dos Medicamentos e Impacto na Sustentabilidade Ciclo de Conferências Apifarma Ciclo de Conferências 2013 1 Ser Parceiro na Saúde Investir em inovação e desenvolver melhores respostas para a área da Saúde é a missão da Indústria Farmacêutica. Missão que se concretiza através da promoção do diálogo entre todos os stakeholders, na busca das melhores soluções para os doentes, para Portugal e para as empresas que dedicam a sua actividade à Saúde. A APIFARMA – Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica promoveu, entre Junho e Outubro de 2013, o ciclo de conferências «Saber Investir – Saber Inovar», que reuniu mais de 1000 participantes, com o objectivo de debater e apoiar o desenvolvimento de uma visão estratégica integrada da actividade das empresas farmacêuticas, com impacto positivo para o País. Neste ciclo de conferências pretendeu abordar-se o percurso da inovação farmacêutica, sabido que este se processa através de diferentes fases, a começar pela concepção, e continuando-se pelos modos como a inovação se concretiza, se desenvolve, se disponibiliza e se torna acessível aos doentes. Ficou patente que a relevância da inovação difere de fase para fase, e foram perspectivadas a sua diversidade e a sua complexidade. Concretizou-se também a ambição de fazer deste ciclo uma oportunidade estimulante para a cooperação intersectorial e interdisciplinar. Os temas abordados durante as cinco sessões do ciclo foram a investigação clínica, a inovação, os dispositivos de segurança no âmbito da directiva dos medicamentos falsificados, os medicamentos biológicos e os possíveis modelos de financiamento dos medicamentos. Procurou-se uma discussão alargada e com intervenientes de diversas áreas, na presunção de que os diferentes e legítimos interesses de cada parceiro não têm de significar uma postura antagonista e porque as melhores soluções são, com frequência, aquelas que resultam de um diálogo no qual se geram consensos. 2 O progresso global na resposta às necessidades de saúde das pessoas tem sido notável. Muitos factores contribuíram para esta melhoria, mas podemos assumir, com orgulho, que têm sido particularmente críticos os avanços no desenvolvimento de novas tecnologias de saúde. Os agentes económicos privados têm sabido investir continuadamente em novas tecnologias de saúde eficazes no diagnóstico, em novos medicamentos e em novas vacinas úteis para a prevenção e para o tratamento.Um conjunto de inovações que permitiu revolucionar a prática médica, tornando curáveis ou tratáveis muitas doenças antes fatais e melhorando significativamente a qualidade de vida dos doentes que sofrem de doenças crónicas. O investimento da Indústria Farmacêutica em inovação tem sido, é, e continuará a ser o cerne deste progresso. Através destes avanços, decisivos para tornar as sociedades mais saudáveis e mais produtivas, a Indústria Farmacêutica contribui igualmente para o desenvolvimento económico e social. Ao trazer novas soluções para a resolução de diferentes problemas de saúde permite-se a alocação mais eficiente dos recursos, levando a poupanças financeiras importantes nos sistemas de cuidados de saúde, como sejam as que resultam das reduções dos tempos de internamento hospitalar e do número de cirurgias efectuado. Ciclo de Conferências APIFARMA 2013 João Almeida Lopes Presidente da Direcção da APIFARMA – Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica Saber Investir Saber Inovar A necessidade de mais inovação farmacêutica é clara e percebida por todos, sobretudo quando hoje nos confrontamos com a evolução das necessidades de saúde pública, associadas a fenómenos globais como o envelhecimento, as alterações na prevalência e na incidência das doenças e nas principais causas de morte, a crescente resistência aos antimicrobianos e a evolução contínua dos vírus e das bactérias. Garantir a continuidade, mesmo o reforço, do investimento na inovação farmacêutica é fundamental para a humanidade. O histórico de êxito da Indústria Farmacêutica na inovação comprova as suas competências, os seus recursos e as suas capacidades. A tal, porém, é imprescindível aliar um ambiente com factores críticos de sucesso, como sejam políticas governamentais estáveis e preditivas, espírito de cooperação entre os reguladores e a Indústria Farmacêutica e um encarar dos gastos não como mera despesa mas sim como investimento. Uma melhor compreensão das realidades da inovação por todos os intervenientes na Saúde, em particular por parte dos responsáveis pelas políticas governamentais, é crucial para que, todos nós e as gerações futuras, tenhamos em Portugal um país mais Saber Investir Saber Inovar saudável. Ciclo de Conferências 2013 3 Conferência “Investigação Clínica em Portugal - Desafios e Constrangimentos” PARTICIPANTES Ana Maria Nogueira Membro do Grupo de Trabalho de Investigação Clínica da APIFARMA António Lourenço Membro da Comissão Executiva da Comissão de Ética para a Investigação Clínica Carlos Martins Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte Eurico Castro Alves Presidente do INFARMED, I.P. Fernando Leal da Costa Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde 18 de Junho Centro Cultural de Belém, Lisboa Heitor Costa Director Executivo da APIFARMA Hélder Mota-Filipe Vice-Presidente do INFARMED, I.P. João Almeida Lopes Presidente da APIFARMA Jorge Oliveira Ferreira Consulting Senior Manager da PricewaterhouseCoopers José Cunha Vaz Presidente do AIBILI – Associação para a Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem José Dinis Responsável pela Unidade de Investigação Clínica do Instituto Português de Oncologia – Porto Marina CaldasJornalista 4 Saber Investir Saber Inovar Rui Cernardas Vice-Presidente do Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde do Norte, I.P. Vítor Neves Presidente da Europacolon Portugal Ciclo de Conferências 2013 5 Espaço para crescer Hélder Mota-Filipe, Vice-Presidente do INFARMED I. P. João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA Fernando Leal da Costa, Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde Investigação Clínica em Portugal Jorge Oliveira Ferreira, Consulting Senior Manager da PricewaterhouseCoopers - Desafios e Constrangimentos A primeira conferência do ciclo Saber Investir, Saber Inovar, intitulada “Investigação Clínica em Portugal – Desafios e Constrangimentos”, realizada a 18 de Junho, procurou identificar e analisar as oportunidades para a Investigação Clínica em Portugal e os contributos dos vários intervenientes da área para a sua dinamização, aumentando o número de estudos clínicos e melhorando a sua competitividade num contexto internacional. O cenário do qual Portugal parte não é o mais positivo, como o realçou a caracterização efectuada pelo estudo “Ensaios Clínicos em Portugal”, promovido pela APIFARMA - Associação Portuguesa de Indústria Farmacêutica e desenvolvido pela PricewaterhouseCoopers (PwC), apresentado nesta conferência. Os últimos anos têm registado uma diminuição contínua da actividade de en- 6 saios clínicos em Portugal, tendo caído 26% o número de estudos autorizados entre 2006 e 2012 (de 160 para 118), o que coloca a taxa nacional de ensaios clínicos, por milhão de habitantes, entre as mais baixas da Europa Ocidental. Tendência que parece ignorar o significativo efeito multiplicador na economia que esta actividade possui, realçando o estudo que, por cada euro investido, estima-se um retorno de quase dois euros no total da economia portuguesa. O mesmo documento conclui que a realização de ensaios clínicos no País representa também uma oportunidade única para aceder às novas tecnologias de saúde, adoptar melhores práticas no acompanhamento dos doentes, qualificar os recursos humanos envolvidos e promover a criação de emprego, constituindo adicionalmente uma fonte de financiamento alternativa para as instituições. O investimento em ensaios clínicos assume-se, assim, como uma das actividades com maior retorno no país, realçou Jorge Oliveira Ferreira, da PwC, responsável pela apresentação do estudo na conferência, destacando que, em 2012, se estima que a realização de ensaios clínicos tenha representado cerca de 76 milhões de euros de impacto no VAB (Valor Acrescentado Bruto) e gerado cerca de 1.000 postos de trabalho directos. A análise detalhada no estudo “Ensaios Clínicos em Portugal” revela ainda que a tendência negativa dificilmente poderá ser contrariada, caso não se inverta a competitividade de Portugal ao nível da captação de novos ensaios, solucionando sobretudo a complexidade e a morosidade dos processos de aprovação, em que existem casos de uma demora de 6 a 8 meses no processo global. Saber Investir Saber Inovar A pesar deste enquadramento menos favorável, o estudo considera existir espaço significativo para o crescimento da actividade de ensaios clínicos no País, tendo em conta a comparação com a relevância desta actividade noutros países europeus de referência nesta área. Entre as iniciativas propostas no estudo destacam-se: • a definição de uma agenda governamental e de um plano estratégico para o sector; • a revisão da legislação actual sobre o processo de aprovação de ensaios clínicos; • a criação de legislação específica para a divulgação de ensaios clínicos; • a criação de estruturas de gestão dedicadas à investigação clínica; • a criação das condições necessárias à realização de ensaios nos centros de saúde; • a revisão da componente de investigação na carreira e no horário de trabalho. Ciclo de Conferências 2013 A identificação de áreas de actuação e a comparação com iniciativas implementadas nestes países permitiu, ainda, a elaboração de um conjunto de propostas de actuação para ultrapassar os constrangimentos identificados ao desenvolvimento da actividade em Portugal. Porém, o estudo salienta que o sucesso e a obtenção de resultados na implementação destas iniciativas dependerão sempre do envolvimento das diferentes partes interessadas, bem como da dinamização de um ambiente propício à inovação e outros incentivos que atraiam ensaios clínicos para Portugal. Antecipando o próximo quadro legislativo comunitário, o estudo apela à necessidade urgente de reconhecer o desenvolvimento dos ensaios clínicos como uma janela de oportunidade a promover, sendo, para tal, também fundamental melhorar a necessária comunicação entre todos os intervenientes. Em acréscimo, o reconhecimento público da importância estratégica da investigação e a prioridade atribuída pelo Governo à implementação de medidas que visam recuperar a eficiência e promover uma dinâmica de investigação clínica são inquestionáveis Call for Action, em que todos os parceiros são chamados a participar. 7 Hélder Mota-Filipe, Vice-Presidente do INFARMED I. P. “Os ensaios clínicos são uma área instrumental para a melhoria contínua da qualidade. Criam condições para o acesso dos doentes a medicamentos e tratamentos experimentais, que de outra forma não seriam acessíveis, estimulam a criação de centros de excelência, promovem o conhecimento, permitem que o futuro de quem sofre possa ser melhor, e projetam Portugal para a primeira linha do desenvolvimento tecnológico.” Fernando Leal da Costa, Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde 8 Saber Investir Saber Inovar Agilizar procedimentos para atrair ensaios clínicos E m Portugal, a maioria dos ensaios clínicos é promovido por empresas farmacêuticas multinacionais. Porém, apesar da excelente capacidade científica nas instituições de saúde e investigação do País, bem como de profissionais competentes, a crescente dificuldade no recrutamento dos doentes tem representado um grave entrave à capacidade nacional de atrair investimento. Um Projecto de Lei do Governo, já aprovado na generalidade pela Assembleia da República, cria um quadro de referência global para a investigação clínica em Portugal, aplicável a todas as áreas, embora reconhecendo as suas especificidades. A legislação generaliza o registo dos estudos pelas próprias instituições e a apreciação e acompanhamento pelas comissões de ética, Comissão de ÉtiCiclo de Conferências 2013 ca para a Investigação Clínica (CEIC) e o INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P, ao mesmo tempo que clarifica as responsabilidades e papéis do promotor, investigador, monitor e centro de estudo clínico. O diploma cria ainda o Registo Nacional de Investigação Clínica e a obrigação implícita dos vários intervenientes no processo de se registarem no mesmo, o que se traduz na criação de uma plataforma total e completa para o registo dos estudos clínicos, com base na Plataforma Nacional de Ensaios Clínicos dinamizada pelo INFARMED I.P.. Durante a sua intervenção, Hélder Mota-Filipe, Vice-Presidente do INFARMED I.P., notou que “o compromisso do Instituto para com a melhoria sistemática dos processos é, por si só, razão bas- tante para o forte empenho na investigação em saúde”, acrescentando uma perspectiva positiva ao referir que “no último ano, registou-se um aumento de 14% do número de ensaios clínicos autorizados em Portugal”. Sobre a legislação em preparação, João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA, salientou, na sua intervenção, que “esta é uma Lei positiva para o País, atendendo à excelência da prestação de cuidados por parte dos serviços de saúde e à elevada qualidade dos seus profissionais”. Porém, alertou: “importa ainda, num contexto de inovação e desenvolvimento da investigação clínica, garantir a existência de um ambiente regulador que realmente proteja as patentes em relação aos novos medicamentos fruto do investimento em I&D”. 9 Investir para o sucesso da inovação A mesa redonda realizada no âmbito desta Conferência contou com a participação de vários especialistas, cada qual portador de uma visão específica sobre os ensaios clínicos, em consonância com a sua posição enquanto parceiro neste processo. José Dinis, médico responsável pela Unidade de Investigação Clínica do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, transmitiu a perspectiva do investigador, sublinhando que “a realização de ensaios clínicos é uma oportunidade para os doentes, mas também para as instituições”. “As unidades de investigação clínica a nível nacional devem ter como principais objectivos atrair os melhores ensaios clínicos mundiais e apoiar na sua execução”, frisou o investigador, sem esquecer a importância de “zelar pelo cumprimento dos respectivos protocolos e procedimentos, promovendo um envolvimento do maior número possível de profissionais da instituição”. A importância de assumir uma postura de investimento para o sucesso da inovação foi também defendida por José Cunha Vaz, Presidente da AIBILI - Associação para a Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem, infra-estrutura tecnológica portuguesa da área da Saúde sem fins lucrativos. O responsável frisou que “Portugal tem de tomar medidas urgentes para apoiar e fomentar a realização de ensaios clínicos, quer da iniciativa do investigador, quer da iniciativa da indústria, para que se desenvolvam competências que garantam uma boa relação entre a qualidade e os custos de execução, e existam investigadores líderes internacionais na respectiva área científica”. “O caminho a percorrer é claro”, acrescentou, enumerando que “para haver mais ensaios clínicos da iniciativa da indústria, é necessária a realização de mais ensaios clínicos da iniciativa do investigador, estes últimos com o apoio de CROs (Contract Research Organizations) académicas, sem fins lucrativos”. Como resultado do trabalho desenvolvido ao nível do IPO Porto, esta unidade de investigação registou, nos últimos anos, um crescimento progressivo e sustentado do número de ensaios clínicos e de doentes recrutados, reduzindo ainda o respectivo tempo de implementação, com consequentes ganhos em competitividade, descreveu José Dinis. Para José Cunha Vaz, estas entidades permitem “garantir as condições técnicas adequadas e necessárias à realização de ensaios clínicos com todo o rigor científico e que dêem visibilidade internacional à investigação científica feita em Portugal”. Devido a este posicionamento, o investigador sublinhou que o IPO Porto é actualmente um centro de referência para os ensaios clínicos realizados em Portugal, na esmagadora maioria das patologias tratadas na instituição. A adesão de Portugal a redes de centros de investigação clínica, como o consórcio ECRIN - European Clinical Research Infrastructure Network e, mais recentemente, a constituição do consórcio PtCRIN - Portuguese Clinical Research 10 Vítor Neves, Presidente da Europacolon Portugal Redes e parcerias precisam-se A José Dinis, Responsável pela Unidade de Investigação Clínica do Instituto Português de Oncologia – Porto Infrastructure Network, são iniciativas fundamentais para captar o financiamento europeu para os ensaios clínicos de iniciativa académica, ou do investigador, e uma oportunidade única para ultrapassar algumas das limitações nesta área, defendeu José Cunha Vaz. E, exemplificou: a AIBILI participa no consórcio PtCRIN e apresenta condições únicas para desempenhar um papel relevante neste contexto, uma vez que é a sede e Centro Coordenador da Rede Europeia de Investigação Clínica em Oftalmologia (European Vision Institute Clinical Research Network - EVICR.net). Saber Investir Saber Inovar importância da cooperação entre os vários intervenientes e da constituição de redes foi também um aspecto destacado pelo Vice-Presidente do INFARMED I.P., Hélder Mota-Filipe, na sua intervenção no âmbito da mesa redonda e, como sublinhou, a visão que “esteve na génese da já referida Plataforma Nacional de Ensaios Clínicos (PNEC). A PNEC consiste numa “parceria de diversas entidades envolvidas na realização de ensaios clínicos em Portugal – promotores, centros de ensaio, (CROs) e entidades reguladoras”, pormenorizou. Para este responsável, “a concretização de esforços de todos os intervenientes na realização de ensaios clínicos e o recurso aos instrumentos fornecidos pela PNEC são dois factores fundamentais para que se possa caminhar no sentido de incrementar a realização de ensaios clínicos de elevada qualidade em centros de ensaio de excelência, tornando o País mais atractivo à investigação e desenvolvimento de medicamentos num contexto europeu”. Ciclo de Conferências 2013 Sem esquecer, conforme alertou também o Presidente da AIBILI, que um dos desafios nacionais “passa pelo reconhecimento de que Portugal não pode ser competitivo em todas as áreas, devendo apostar claramente nas áreas médicas em que existe já excelência e competitividade reconhecidas internacionalmente”. A necessidade de agilizar os prazos de aprovação para a realização de ensaios clínicos é crucial para este sucesso e, sobre esta matéria, António Lourenço, membro da Comissão Executiva da Comissão de Ética para a Investigação Clínica (CEIC), deu conta da intervenção realizada, notando que esta entidade “tem vindo a diminuir o número de dias de aprovação”. O tempo médio, em dias para emissão de parecer pela CEIC para o “pedido de parecer dos ensaios”, foi de 59,7 dias em 2011 e de 42,3 dias em 2012, exemplificou António Lourenço, acrescentando que o tempo médio, em dias para emissão de parecer pela CEIC para o “pedido de parecer de alteração substancial”, foi de 34,4 dias em 2011 e 30,1 dias em 2012”. O “envolvimento de todos os parceiros” é ainda necessário para, conforme destacou Ana Maria Nogueira, membro do Grupo de Trabalho de Investigação Clínica da APIFARMA, a “definição urgente de um conjunto de medidas e de um plano de acção que inclua métricas de desempenho objectivas, transparentes e rigorosamente monitorizadas, que promovam a dinamização da Investigação Clínica em Portugal”. “Sem investigação clínica não seria possível o progresso do conhecimento nem o acesso à inovação”, afirmou Ana Maria Nogueira, acrescentando que “a disciplina e o rigor necessários nos ensaios clínicos transmitem-se e impactam de forma positiva na qualidade dos cuidados de saúde, e fazem com que a investigação clínica seja reconhecida como motor e garantia de qualidade dos cuidados assistenciais”. 11 A investigação clínica como investimento na assistência ao doente O desafio nacional “passa pelo reconhecimento de que Portugal não pode ser competitivo em todas as áreas, devendo apostar claramente nas áreas médicas em que existe já excelência e competitividade reconhecidas internacionalmente”. A importância de reconhecer o contributo significativo da investigação na área assistencial foi precisamente o aspecto destacado pelo Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), Carlos Martins, que defendeu que esta “deve ser considerada como um investimento no processo assistencial e no próprio desenvolvimento dos hospitais”. O responsável ilustrou este posicionamento ao realçar que o CHLN integra hoje o Centro Académico de Medicina de Lisboa, a par da Faculdade de Medicina de Lisboa e do Instituto de Medicina Molecular, “com o objectivo de desenvolver a dimensão académica em medicina clínica, a modernização e qualificação na educação médica e nas ciências da Saúde, o fomento da investigação Biomédica e Clínica e a criação de programas de formação académica avançada”. “As Administrações Regionais podem contribuir positivamente para fomentar e apoiar os projectos e estudos que decorram ou aproveitem a capacidade instalada em dependência directa e exclusiva das regiões de saúde, como é o caso da Unidade de Investigação Clínica da Região de Saúde do Norte”, exemplificou também Carlos Martins. Não é apenas na área hospitalar que a investigação clínica deve ganhar relevo, mas também nos Cuidados de Saúde Primários (CSP), onde se encontra “ainda numa fase inicial e requer uma nova abordagem à análise da evidência clínica, assente em programas de educação em saúde, estudos de efectividade e investigação de natureza epidemiológica”, defendeu o Vice-Presidente do Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde do Norte, Rui Cernadas. Na sua intervenção, Rui Cernadas salientou que “há dados que demostram que a investigação em CSP deve assentar em 12 José Cunha Vaz, Presidente da AIBILI Associação para a Investigação Biomédica e Inovação em Luz e Imagem Carlos Martins, Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Norte metodologias não intervencionais, que descrevam a prática clínica real e possam ser aplicadas no contexto da prestação de cuidados de saúde, para uma maximização da eficiência das instituições e dos ganhos em saúde para os doentes”. e devem desenvolver para aumentar o conhecimento dos doentes sobre os processos de investigação clínica, nomeadamente em relação aos ensaios clínicos, contribuindo, assim, para o aumento do recrutamento em Portugal”. Consensual entre os participantes na mesa redonda é a característica de benefícios múltiplos, sobretudo para o doente, que resulta da investigação clínica. Como resumiu António Lourenço, da Comissão Executiva da CEIC, “o acesso dos doentes às novas tecnologias, por via das actividades de investigação clínica, mais do que permitir o seu tratamento, irá, a longo prazo, promover o conhecimento científico e um benefício generalizado” transversal, que resulta da inovação. O investimento em investigação clínica é um dever de cidadania que não deve ser desperdiçado, concluíram os intervenientes na mesa redonda, que salientaram, como formas de o capitalizar, a dotação de infra-estruturas e recursos dedicados à investigação, bem como a profissionalização das mesmas, para que as actividades sejam realizadas com o rigor e excelência desejados. “E porque as novas tecnologias, em particular os novos medicamentos, melhoram a qualidade de vida das populações, é importante que estas tenham um papel cada vez mais interveniente e activo nestas matérias, o que só poderá acontecer se estiverem devidamente esclarecidas”, afirmou Vítor Neves, Presidente da Europacolon Portugal. A promoção da educação sobre metodologias de investigação e de sistemas de incentivos aos profissionais envolvidos – não só por via de condições financeiras, mas também do suporte prestado pelas organizações e das oportunidades de desenvolvimento de projectos da iniciativa dos investigadores -, foram igualmente destacados como meios de atrair investigadores e de consolidar a realização da investigação clínica. Neste contexto, Vítor Neves defendeu a importância de se capacitarem os doentes no acompanhamento do seu processo terapêutico e, consequentemente, de se apostar em acções de sensibilização que as “associações de doentes podem Também a criação de centros de excelência e a promoção de parcerias de investigação se assumem, para os participantes na mesa redonda, como aspectos fundamentais para a dinamização da investigação clínica em Portugal. Saber Investir Saber Inovar A criação de condições atractivas para a captação de ensaios clínicos para Portugal exige, em primeiro lugar, uma visão convergente entre os diversos stakeholders, incluindo o Ministério da Saúde, que contribua para a definição de uma agenda governamental e de um plano estratégico para o sector. Ciclo de Conferências 2013 13 Conferência “O Valor da Inovação - Da Investigação ao Doente” 28 de Junho Centro Cultural de Belém, Lisboa 14 Saber Investir Saber Inovar PARTICIPANTES Cristina Lopes Directora de Assuntos Técnicos da APIFARMA Emília Rodrigues Presidente da SOS Hepatites Portugal Eurico Castro Alves Presidente do INFARMED I.P. Heitor Costa Director Executivo da Apifarma João Almeida Lopes Presidente da APIFARMA Joaquim Ferreira Director do Centro de Investigação Clínica do Centro Académico de Lisboa Jorge Félix Director da Exigo Consultores Leonor Parreira Secretária de Estado da Ciência Marina CaldasJornalista Miguel Prudêncio Investigador Principal da Unidade de Malária, Instituto de Medicina Molecular Patrícia Cavaco Silva Administradora da TechnoPhage e Professora Associada do Instituto Superior de Ciências da Saúde - Egas Moniz Sérgio Barroso Investigador e Secretário-Geral do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo Ciclo de Conferências 2013 15 Inovação: um novo paradigma? “A inovação resulta de um processo contínuo e apaixonante de confronto entre o conhecimento científico e as necessidades humanas e sociais”, destacou o Presidente da APIFARMA - Associação Portuguesa de Indústria Farmacêutica, João Almeida Lopes, na abertura da conferência, sublinhando que é “através do contínuo desenvolvimento de medicamentos que a Indústria Farmacêutica coloca este esforço permanente de inovação ao serviço dos doentes”. Neste contexto, João Almeida Lopes considerou que ”o valor da inovação é inquestionável”, contribuindo de “forma decisiva para o acesso da população a melhores cuidados de saúde, bem como para o desenvolvimento científico e para a valorização da economia a uma escala global”. O papel fundamental da inovação na área da Saúde e o contributo da Indústria Farmacêutica neste contexto foram também destacados pelo Vice-Presidente do INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P., Hélder Mota-Filipe, que resumiu: “Falar da Indústria Farmacêutica é falar de Inovação”. Sessão de Abertura O Valor da Inovação - Da Investigação ao Doente A investigação clínica e a inovação farmacêutica são as grandes responsáveis pelo aumento da longevidade humana e da sua qualidade de vida, sendo a investigação em torno do Medicamento crucial para os grandes avanços no tratamento de patologias como a infecção pelo VIH/SIDA e o Cancro, e no combate a doenças como as neurodegenerativas ou as doenças raras. As condições necessárias ao desenvolvimento da inovação, os 16 desafios que enfrenta, os critérios que a orientam, o valor que representa e o papel dos doentes foram alguns dos temas em debate na segunda conferência do ciclo Saber Investir, Saber Inovar. Neste encontro foi também apresentada a última edição do estudo The Value of Innovation - “The Patients W.A.I.T.” Indicator, promovido pela Federação Europeia das Associações da Indústria Farmacêutica (EFPIA), que avalia o atraso entre a concessão da autorização de introdução no mercado e o efectivo acesso dos doentes às novas terapêuticas por via da comparticipação. Saber Investir Saber Inovar Fazendo um balanço dos últimos anos, o dirigente do INFARMED referiu que o sector tem vindo a perder competitividade na Europa, comparativamente aos Estados Unidos da América e aos países emergentes do Oriente, o que tem feito com que o continente europeu, em resposta, invista em parcerias de inovação, como é o caso da Innovative Medicines Initiative (IMI). Uma postura que levou Hélder Mota-Filipe a lançar o repto às empresas farmacêuticas nacionais para se organizarem e procurarem novos parceiros, quer sejam start-up’s, instituições académicas ou institutos de IDT&I, garantindo a sua participação em todo o processo de Investigação e Desenvolvimento (I&D), desde as fases mais iniciais. Ciclo de Conferências 2013 São necessários “novos modelos em I&D, mais eficientes e mais sustentáveis, apostando no estabelecimento de parcerias, estratégias de consolidação e especialização, acordos com a academia, outsourcing, networks de inovação e estratégias globais de drug development e expansão em mercados emergentes”. Patrícia Cavaco Silva, Administradora da Technophage Também a Secretária de Estado da Ciência, Leonor Parreira, centrou a sua intervenção num diagnóstico de contexto, apresentando os resultados da mais recente avaliação ao Sistema de Investi- gação e Inovação em Portugal, realizada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Leonor Parreira realçou este relatório como um instrumento importante na identificação das instituições que mais 17 investem e nas que têm melhor performance nas diversas áreas médicas e científicas, nomeadamente em medicina clínica, biotecnologia e nanotecnologia. cado pelos casos de bioterrorismo, das ameaças de pandemia e por questões de segurança dos medicamentos”. A procura de novos parceiros e a internacionalização foram igualmente defendidos pela governante como “críticos para a competitividade do País” em áreas de excelência e potencial, já identificados no âmbito da Estratégia Nacional de Investigação e Inovação para uma Especialização Inteligente, a aplicar no próximo período de programação financeira, entre 2014-2020. Porém, estes desafios não foram acompanhados pelo investimento financeiro desejável por parte dos governos e o cenário actual evidencia uma “pressão cada vez maior sobre as questões de financiamento, a escassez de recursos públicos, a forte concorrência, as exigências regulamentares crescentes” e o contínuo aumento dos “custos associados à I&D de novos medicamentos”. É indiscutível que as alterações sociais e tecnológicas, bem como o seu impacto na inovação, colocam novos desafios e, segundo Patrícia Cavaco Silva, Administradora da Technophage, “o novo século provavelmente terá sido um ponto de viragem na indústria farmacêutica, mar- “O paradigma da inovação está a mudar”, declarou Patrícia Cavaco Silva, indicando um “crescimento em I&D próximo de zero, ciclos de desenvolvimento longos e o declínio no investimento em medicamentos nas chamadas áreas críticas de doença”. Perante este ambien- te, a também investigadora defendeu a necessidade de “novos modelos em I&D, mais eficientes e mais sustentáveis, apostando no estabelecimento de parcerias, estratégias de consolidação e especialização, acordos com a academia, outsourcing, networks de inovação e estratégias globais de drug development e expansão em mercados emergentes”. Em relação a estes últimos, exemplificou que sobressaem áreas como as perturbações neuropsiquiátricas – por exemplo a depressão, o Alzheimer ou a Parkinson - que são a principal causa de incapacidade tanto nos EUA como na Europa, e as doenças infecciosas, particularmente as causadas por bactérias multi-resistentes. Mas também “a oncologia, a inflamação e as doenças metabólicas, que são áreas em que tem existido um enorme avanço no conhecimento científico”, concluiu. Dificuldades à actividade de I&D A análise do momento actual em que se encontra a inovação motivou Joaquim Ferreira, Director do Centro de Investigação Clínica do Centro Académico de Lisboa, a concluir que existe “um elevado investimento em I&D que não se traduz necessariamente em maior número de fármacos lançados para o mercado”. Para o também médico e investigador, este é um problema relevante a que se assiste na Europa e nos Estados Unidos, traduzido por um “declínio na produtividade das actividades de I&D”. E, sublinhou, “ainda que o papel das academias, neste contexto, seja de enorme importância, mais de 90% da investigação em desenvolvimento de medicamentos realizada em todo o mundo é da iniciativa da Indústria Farmacêutica. Esta é uma realidade inquestionável.” Assim, é com preocupação que se assiste à diminuição, nos últimos anos, do número de ensaios clínicos, registando-se, em Portugal, um predomínio dos ensaios de fase III. Joaquim Ferreira apontou o recrutamento de doentes como um dos problemas e uma das razões pelas quais Portugal está “na cauda da Europa” nesta matéria. Para isso contribuem “a falta de tempo dos médicos que realizam os ensaios clínicos, em paralelo com a sua actividade”, segundo clínico. Para Miguel Prudêncio, Investigador Principal da Unidade de Malária do Instituto de Medicina Molecular, “o grande desafio nesta matéria passa por encontrar a ponte que liga o trabalho pré-clínico, no laboratório, aos ensaios clínicos a realizar em voluntários ou doentes”. Portugal destaca-se pelo aumento de produção científica na última década, em domínios como a Farmacologia e Farmácia. 18 Leonor Parreira, Secretária de Estado da Ciência Saber Investir Saber Inovar Sobre esta matéria, o investigador apontou três dificuldades que urge resolver, como é o caso das “lacunas ao nível da Ciclo de Conferências 2013 capacidade das instituições guiarem, aconselharem e apoiarem esse processo através de mecanismos institucionalmente estabelecidos e habilitados”, a “falta de formação dos investigadores sobre como conduzir e desenvolver uma investigação mais aplicada” e, finalmente, as “lacunas ao nível do interesse pela investigação clínica por parte de uma percentagem significativa de profissionais da medicina clínica”. Na perspectiva da aplicação da inovação, Sérgio Barroso, Investigador e Secretário-Geral do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo, salientou que, embora a inovação esteja “associada à originalidade”, esta representa “sobretudo algo de relevante, único e com valor acrescentado”. Nesta óptica, “os ganhos em saúde traduzem-se num aumento de sobrevivência e numa melhoria da qualidade de vida, da eficiência e custo-efectividade do sistema, à custa de uma aposta em novas opções de diagnóstico e de tratamento”. “Em Oncologia a inovação é absolutamente essencial”, realçou Sérgio Barroso, dando como exemplo o cancro digestivo, onde a “taxa de mortalidade é de 9.000 casos /ano” e que “pode ser prevenido” com o contributo da inovação. Quando a pergunta é como materializar atempadamente os benefícios da invoação, Sérgio Barroso argumentou que existem diferentes peças no puzzle e diferentes níveis de actuação que é necessário congregar no mesmo sistema, para garantir os melhores resultados em saúde. Ou seja, doentes, reguladores, políticos, investigadores e médicos devem unir esforços para garantir o melhor tratamento, quer na perspectiva da investigação quer na perspectiva do acesso dos doentes aos melhores tratamentos disponíveis no momento, defendeu o investigador. “Ainda que o papel das academias, neste contexto, seja de enorme importância, mais de 90% da investigação em desenvolvimento de medicamentos realizada em todo o mundo é da iniciativa da Indústria Farmacêutica. Esta é uma realidade inquestionável.” Joaquim Ferreira, Director do Centro de Investigação Clínica do Centro Académico de Lisboa 19 nomeadamente a necessidade de os governos focarem as decisões de financiamento no valor e não exclusivamente no custo das tecnologias de saúde. Proporcionar mecanismos de financiamento sustentáveis dos sistemas de saúde, apoiar a Ciência e fortalecer as bases científicas de cada país são outras recomendações apresentadas pela organização europeia. O facto de Portugal “não possuir nem um sistema, nem uma política coerente de avaliação de tecnologias em saúde” contribui para atrasar significativamente o acesso dos doentes à inovação terapêutica, defendeu, na sua intervenção, Jorge Félix, da Exigo Consultores. No caso concreto do medicamento, “o processo de avaliação apresenta inconsistências, como, por exemplo, comparações indirectas realizadas sem qualquer método formal e falta de transparência, como a existência de pareceres sem identificação do comparador”, acrescentou. Jorge Félix, Director da Exigo Consultores Além disso, Jorge Félix chamou a atenção para o facto de, no que se refere à decisão propriamente dita, existirem processos com avaliação farmacoterapêutica e económica concluída, mas que aguardam “decisão superior”, “não sendo conhecidos os critérios utilizados no patamar superior, nem quem participa ou é ouvido”. Inovação chega tarde aos doentes portugueses É quando impacta directamente na vida humana que a inovação terapêutica assume plenamente o seu valor para a sociedade, o que torna a sua disponibilização para aqueles que dela mais necessitam – os doentes – uma questão essencial nesta discussão. Com a preocupação de avaliar o tempo que medeia entre a concessão de autorização de introdução no mercado de um medicamento e o efectivo acesso ao mesmo, através de um sistema de comparticipação, a EFPIA – Federação Europeia da Indústria Farmacêutica, desenvolveu um estudo, designado The Value of Innovation - The “Patient W.A.I.T. Indicator”, cujos resultados de 2012 foram apresentados pela Directo- 20 ra de Assuntos Técnicos da APIFARMA, Cristina Lopes. O estudo abrange os medicamentos de novas substâncias activas autorizadas pela primeira vez no mercado europeu por via centralizada (medicamentos inovadores cuja avaliação está a cargo da Agência Europeia do Medicamento) e avaliou 169 novos medicamentos e 15 vacinas, no período entre 2004 e o 1º semestre de 2012. E as conclusões indicam que, em Portugal, entre 2011 e o primeiro semestre de 2012, apenas estavam acessíveis 20% dos medicamentos inovadores analisados, com um tempo médio de aprovação de 498 dias. No mesmo período, o tempo de espera dos doentes portugueses cresceu 86 dias, uma tendência de aumento que se assinala desde 2005, quando a diferença temporal entre a aprovação de introdução no mercado de um medicamento inovador e a decisão de comparticipação para disponibilização aos doentes era de 220 dias. A pressão sobre os governos para a redução da despesa pública em Saúde indicia que esta será uma tendência que se vai manter, com claros prejuízos para a celeridade de acesso à inovação terapêutica. Em busca de soluções para contornar esta situação, a EFPIA apresenta no mesmo documento algumas recomendações, Saber Investir Saber Inovar O consultor sublinhou ainda que “por força dos vários constrangimentos verificados no processo de avaliação e decisão dos medicamentos em Portugal, os prazos estipulados na Lei não são cumpridos” e que “existe evidência de que o processo é excessivamente lento para a generalidade dos medicamentos (com uma demora média de 372 dias, em 2013) e incompreensivelmente arrastado no tempo no caso dos medicamentos órfãos (com uma demora média de 718 dias, entre 2007-2011) e dos medicamentos oncológicos (uma demora média de 743 dias, em igual período)”. “São recorrentes os registos de dificuldades de acesso a medicamentos inovado- Ciclo de Conferências 2013 Emília Rodrigues, Presidente da SOS Hepatites Portugal res em vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, concluiu o consultor. Casos reais de dificuldades de acesso dos doentes às terapêuticas inovadoras foram apresentados nesta conferência por Emília Rodrigues, representante da SOS Hepatites Portugal, que reportou “a existência de iniquidades entre os doentes hepáticos em todo o País”, na medida em que “os novos medicamentos anti-virais estão a ser usados de forma diferente consoante os hospitais onde são tratados, havendo algumas unidades que não estão a permitir a sua utilização”. A representante da SOS Hepatites acrescentou que existem “casos em que os doentes estão à espera há muito tempo de medicamentos de uso exclusivo hospitalar, sujeitos a um processo de avaliação prévia antes de autorizados para uso nos hospitais do SNS” e que “o acesso a estas terapêuticas tem sido feito, sobretudo, por via da concessão de autorizações de utilização especial pelo INFARMED I.P.”. Procurando uma síntese das apresentações realizadas, o Director-Executivo da APIFARMA, Heitor Costa, realçou que “o valor da inovação é axiomático e paradigmático” e, se “a Indústria Farmacêutica tem contribuído para ganhos em saúde bastante significativos”, este “valor preventivo, económico e social só existirá se for garantido o acesso dos doentes ao medicamento”. Uma preocupação que não é exclusivamente portuguesa, mas também europeia, embora “os resultados apresentados pelo estudo da EFPIA coloquem Portugal no lugar do pódio no que se refere aos atrasos no acesso à inovação”, afirmou. Atrasos que se devem, sobretudo, “a uma política de contenção orçamental, apostando fortemente na redução da despesa farmacêutica”, advertiu Heitor Costa, concluindo que “perante os sinais de iniquidade e de falta de acesso dos doentes ao medicamento em Portugal, a APIFARMA defende que sejam adoptadas políticas mais amplas, que promovam uma abordagem integrada e que privilegiem uma avaliação responsável, transparente e rigorosa do valor do medicamento, numa perspectiva de sustentabilidade e equidade do sistema”. 21 Entre 2011 e o primeiro semestre de 2012, apenas estavam acessíveis 20% dos medicamentos inovadores analisados, com um tempo médio de aprovação de 498 dias. Estudo The Value of Innovation - The “Patients W.A.I.T.” Indicator - EFPIA Miguel Prudêncio, Investigador Principal da Unidade de Malária, Instituto de Medicina Molecular Sérgio Barroso, Investigador e Secretário-Geral do Grupo de Investigação do Cancro Digestivo “A APIFARMA defende que sejam adoptadas políticas mais amplas, que promovam uma abordagem integrada e que privilegiem uma avaliação responsável, transparente e rigorosa do valor do medicamento, numa perspectiva de sustentabilidade e equidade do sistema.” Heitor Costa, Director-Executivo da APIFARMA 22 Saber Investir Saber Inovar Mesa Redonda - O Valor da Inovação: da Investigação ao Doente Ciclo de Conferências 2013 23 Conferência “Dispositivos de Segurança no Âmbito da Directiva dos Medicamentos Falsificados - Codificação” 3 de JuLho Centro Cultural de Belém, Lisboa 24 Saber Investir Saber Inovar PARTICIPANTES Andreas M. Walter Director de Projecto “Coding & Serialisation” da EFPIA Cristina Lopes Directora de Assuntos Técnicos da APIFARMA Diogo Gouveia Vice-Presidente da GROQUIFAR Eurico Castro Alves Presidente do INFARMED I.P Heitor Costa Director Executivo da APIFARMA Hélder Mota-Filipe Vice-Presidente do INFARMED, I.P João Almeida Lopes Presidente da APIFARMA Martin Friedrich Serviços de Tecnologia da Bayer e Gestor de Projecto “Coding & Serialisation” da EFPIA Paulo Duarte Presidente da Associação Nacional das Farmácias Silvério Paixão Director de Inovação e Standards da GS1 Portugal Sónia Queiroz Assessora da Direcção e Responsável das Relações Internacionais da Associação Nacional das Farmácias Ciclo de Conferências 2013 25 Implementação de um sistema de segurança europeu A Sessão de Abertura Dispositivos de Segurança no âmbito da Directiva dos Medicamentos Falsificados - Codificação O aumento significativo de medicamentos falsificados na União Europeia, nos últimos anos, e a ameaça que representam para a saúde humana motivaram a aprovação da Directiva dos Medicamentos Falsificados, em 8 de Junho de 2011, pelo Parlamento Europeu. A terceira conferência do ciclo Saber Investir, Saber Inovar ele- 26 geu esta matéria como tema central, embora na Europa e em Portugal o problema seja ainda residual face à realidade em outros países. Porém, a gravidade dos riscos associados à falsificação de medicamentos exigem a construção de uma visão comum entre os principais agentes da Cadeia de Valor do Medicamento, que possa obviar os desafios e constrangimentos iniciais inerentes à sua aplicação. Saber Investir Saber Inovar Directiva 2011/62/EU, de 8 de Junho de 2011, introduz um novo enquadramento legal que visa salvaguardar o funcionamento do mercado interno para os medicamentos, garantindo, simultaneamente, um elevado nível de protecção da saúde pública contra os medicamentos falsificados. são chamados a intervir”, acrescentou. O objectivo é dotar este Instituto de informação considerada relevante para a definição de um sistema de segurança europeu que responda aos objectivos da Directiva, mas “respeitando o mais possível as especificidades e os interesses nacionais nesta matéria”. colaboração de todos os agentes da Cadeia de Valor do Medicamento” e que representa “um problema grave em qualquer segmento económico porque infringe os direitos de propriedade intelectual, assumindo na saúde um cariz mais preocupante, pois não é possível antever quais as consequências que pode representar para a vida humana.” A nova legislação europeia pretende limitar os danos associados à falsificação de medicamentos, incidindo, sobretudo em medicamentos que, quando adulterados, representam um maior risco para saúde. A venda de fármacos pela internet é também objecto de regulamentação nesta diretiva europeia, que prevê ainda a garantia da total rastreabilidade dos medicamentos e sanções penais para os falsificadores. A articulação activa de todas as partes envolvidas na disponibilização dos medicamentos à sociedade evidenciou-se como a tónica mais relevante na resolução deste problema. João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, afirmou que “a falsificação de medicamentos é um problema de saúde pública, cuja resolução requer a “Os medicamentos contrafeitos podem não ter qualquer princípio activo, podem ter princípios activos diferentes dos declarados, podem existir numa dosagem errada ou, ainda, apresentarem a rotulagem falsificada”, enumerou o Presidente da APIFARMA. Uma das medidas incluídas neste pacote legislativo obriga à introdução de dispositivos de segurança nas embalagens dos medicamentos, que permitam verificar a sua autenticidade e garantir a sua rastreabilidade ao longo de toda a cadeia de distribuição. Portugal, bem como os restantes países, terá de se adaptar às normas que vierem a ser definidas a nível europeu, as quais serão adoptadas em meados de 2014. A falsificação de medicamentos, é “uma ameaça particular para a saúde humana, que pode conduzir a uma falta de confiança dos doentes na cadeia de abastecimento”, alertou, na sua intervenção, Eurico Castro Alves, presidente do INFARMED I.P. – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P. Para colmatar esta situação “o INFARMED I.P. assumiu recentemente a liderança do grupo europeu que procura soluções harmonizadas de implementação dos novos requisitos introduzidos pela Directiva Europeia” e, “no âmbito deste grupo, todos os parceiros nacionais Ciclo de Conferências 2013 Esta visão foi partilhada por Paulo Duarte, Presidente da ANF - Associação Na- Por ser um dos sectores mais regulados, o circuito do medicamento segue regras próprias e rigorosas desde o fabrico à distribuição, garantido que o medicamento que chega ao doente cumpre todos os requisitos de qualidade e segurança. No entanto, um novo elemento tem contribuído para a entrada de medicamentos falsificados no mercado europeu – a internet – estando em causa toda a cadeia de valor, com uma dimensão e resultado imprevisíveis. 27 cional de Farmácias (ANF), que reconheceu “a importância do percurso realizado nesta matéria, e o mérito na união de todos os parceiros na procura de soluções harmonizadas para um problema transversal que afecta não só os países em vias de desenvolvimento, mas, cada vez mais, os países desenvolvidos”. Nesta matéria, a “ANF tem prestado o seu contributo e apoio para a resolução desta questão através do Grupo Farmacêutico da União Europeia (PGEU - Pharmaceu- tical Group of European Union), referiu. Para o Presidente da ANF, “Portugal deverá assumir, neste contexto, o compromisso e a disponibilidade para garantir uma posição de liderança nas discussões sobre o modelo europeu, que possa traduzir, o mais possível, a realidade nacional”. Na óptica dos distribuidores, a luta contra a falsificação de medicamentos traduz-se numa acção de responsabili- dade social “em prol da segurança dos doentes”, como afirmou Diogo Gouveia, Vice-Presidente da Direcção da GROQUIFAR - Associação de Grossistas de Produtos Químicos e Farmacêuticos. O também Presidente da Divisão Farmacêutica da mesma instituição vê nesta Directiva “uma oportunidade para reforçar o controlo e a eficiência da cadeia de distribuição do medicamento, através de um maior nível de informação a incluir no sistema de codificação dos medicamentos” como, por exemplo, a referência ao lote e à validade. Para este representante da área da distribuição, o novo modelo pode acarretar custos de adaptação dos sistemas nacionais, pelo que será uma oportunidade única de dotar o circuito do medicamento de dispositivos eficazes na identificação, rastreabilidade e controlo dos medicamentos. Para responder às actuais necessidades da rastreabilidade dos medicamentos, a EFPIA - Federação Europeia da Indústria Farmacêutica, defende um sistema de rastreabilidade ao longo de toda a cadeia de valor do medicamento, tendo estado envolvida no desenvolvimento de um ambicioso sistema pan-europeu de codificação e seriação de embalagens, cuja designação em inglês é European Medicines Verification System (EMVS). Andreas M. Walter, Director de Projecto “Coding & Serialisation” da EFPIA De acordo com a Aliança Europeia para o Acesso a Medicamentos Seguros (EAASM), 60% dos medicamentos comprados online são falsificados, contrafeitos ou não conformes. 28 Silvério Paixão, Director de Inovação e Standards da GS1 Portugal Código DataMatrix - O identificador único U ma acção concreta na qual regulados e reguladores podem trabalhar conjuntamente para permitir a adequada rastreabilidade dos medicamentos, e que defende os interesses nacionais e as características específicas de cada mercado é a adopção do código bidimensional DataMatrix. Esta codificação permite o acesso a bases de dados com informação sobre lote, validade, preço e outros dados adicionais e tem a vantagem de ser um código de barras global, não apenas adequado ao mercado português. Este sistema oferece uma oportunidade de construir novas relações estratégicas de longo prazo com os principais parceiros, de melhorar a segurança dos doentes e a gestão da cadeia de distribuição, mas, ao envolver custos para todas as partes, requer a definição de estruturas de gestão entre os principais parceiros. A solução, defendida por Hélder Mota-Filipe, Vice-Presidente do INFARMED I.P., assenta num modelo global de identificação e rastreabilidade dos medicamentos, designado Modelo Multilateral Europeu (European Stakeholder Model, ESM), e é também defendida pelos parceiros. A nível europeu, o processo passa pela implementação da Directiva dos Medicamentos Falsificados e por assegurar que os doentes e os profissionais de saúde sejam adequadamente informados das medidas de segurança que venham a ser adoptadas. Andreas Walter, Director de Projecto “Coding & Serialisation” da EFPIA frisou, a propósito deste tema, que “a segurança dos doentes constitui a principal missão da Indústria Farmacêutica”. Andreas Walter, da EFPIA, apresentou os princípios gerais de desenvolvimento deste modelo, baseado no conceito de que cada embalagem tem a sua própria identidade. Como referiu Andreas Walter, “neste modelo a identidade é garantida pela aplicação do código 2D DataMatrix (código matricial 2D GS1) e pela utilização de normas existentes e reconhecidas a nível internacional”, prevendo-se ainda “a codificação da informação relativa ao produto, lote, prazo de validade e número de série”. Saber Investir Saber Inovar Ciclo de Conferências 2013 De acordo com um estudo da EFPIA realizado em 2010 e 2011, para avaliar os custos de implementação da Directiva dos Medicamentos Falsificados, estima-se que o custo para adaptação das linhas de embalagem aos novos requisitos de identificação e codificação dos medicamentos será de, aproximadamente, 1,6 euros por embalagem (incluindo impressoras, equipamentos e sistemas informáticos). O DataMatrix revelou-se como a tecnologia mais custo-efectiva, apresentando claras vantagens face a outras opões tecnológicas, quer em termos de capacidade de armazenamento de dados, quer em termos de custos de implementação. do de transição nos países que aplicam, actualmente, sistemas de codificação que incorporam números de identificação nacional. O projecto europeu assenta num dispositivo Hub central, ligado a uma série de repositórios de dados nacionais, que servirá como plataforma para a verificação da autenticidade dos medicamentos ao nível das farmácias (verificação sistemática) e de outras entidades registadas (distribuidores grossistas – responsáveis pelas verificações adicionais em função do risco do produto ou em situações excepcionais). Na sua apresentação, Silvério Paixão, Director de Inovação e Standards da GS1 Portugal, referiu que os desafios que se colocam aos sistemas de saúde a nível mundial afectam toda a Cadeia de Valor do Medicamento, como “a ameaça crescente da contrafacção, a ineficaz recolha de medicamentos e dispositivos e os erros de medicação”. Este sistema será interoperável entre os países, num modelo denominado “Blueprint”, cuja implementação é feita a partir do modelo europeu, mas adaptado às exigências e especificidades nacionais que está a ser desenvolvido pela EFPIA, como foi evidenciado por Martin Friedrich, dos Serviços de Tecnologia da Bayer e Gestor de Projecto “Coding & Serialisation” da EFPIA. As empresas farmacêuticas e a GS1 partilham da mesma visão no que respeita à identificação de medicamentos na cadeia global de abastecimento, nomeadamente pelo número GTIN (Global Trade Item Number), por ser uma visão de longo prazo e que permite um perío- No que se refere à política de gestão de dados, o modelo em desenvolvimento prevê a sua gestão pelos parceiros, a qual apresenta como vantagens: ser mais flexível, apresentar maior capacidade de adaptação aos novos requisitos e ser mais custo-efectivo. 29 Martin Friedrich, Serviços de Tecnologia da Bayer e Gestor de Projecto “Coding & Serialisation” da EFPIA Segundo um relatório da McKinsey, “Strength in unity: The promise of Global Standards in Healthcare”, a implementação de standards globais ao longo de toda a cadeia de valor da saúde poderia salvar entre 22 a 43 mil vidas humanas e evitar a incapacidade em 0,7 a 1,4 milhões de doentes. Diogo Gouveia, Vice-Presidente da GROQUIFAR Oportunidades e desafios do sistema R elativamente ao modelo de sistema a adoptar para a codificação dos medicamentos, Sónia Queirós, responsável pelas Relações Internacionais da ANF, defendeu que, “a principal prioridade é a segurança dos doentes” pelo que os farmacêuticos advogam “a criação de um sistema flexível, prático e custo-efectivo, subscrevendo o projecto internacional ESM – European Stakeholder Model, o qual se mostrou efectivo na identificação e autenticação das embalagens, além de facilitar o controlo de prazos de validade e a identificação e separação dos produtos recolhidos do mercado”. Para a representante da ANF, “a implementação deste sistema a nível nacional deve, ainda, garantir a desburocratização e a agilização de procedimentos que tornem mais eficiente o circuito de dados relativos à dispensa, facturação e comparticipação de medicamentos, possibilitando um maior rigor na validação e no controlo do receituário”. 30 Hélder Mota-Filipe, Vice-Presidente do INFARMED, I.P Saber Investir Saber Inovar Ciclo de Conferências 2013 Sónia Queirós conclui ser ”essencial que o novo código DataMatrix venha a incluir informação sobre o preço de venda ao público dos medicamentos”, defendendo ainda “a sua integração com os sistemas de facturação e comparticipação nacionais e a sua utilização em programas de saúde, nomeadamente de seguimento farmacoterapêutico de doentes”. No que respeita à perspectiva das empresas farmacêuticas, Cristina Lopes, Directora de Assuntos Técnicos da APIFARMA, salientou que “as empresas nacionais estão alinhadas com o modelo desenvolvido pela EFPIA e os restantes parceiros” e lembrou que “a Indústria Farmacêutica tem defendido o modelo do sistema de codificação único hoje apresentado (Aliança Europeia para o Acesso a Medicamentos Seguros)”. Porém, advertiu, “as empresas a operar no mercado nacional reconhecem os desafios e as oportunidades proporcionadas pelo sistema, mas vêm com preocupação os custos de implementação”. Em Portugal, dada a conjuntura económica difícil, qualquer solução adoptada irá implicar um esforço acrescido das empresas nacionais, pelo que deverão ser pensados prazos flexíveis de implementação e, eventualmente, algum apoio específico que, sobretudo pequenas e médias empresas, venham a precisar. Para Diogo Gouveia, da GROQUIFAR, “o modelo subscrito pelos parceiros permite melhorar a segurança na distribuição do medicamento e um aumento de eficiência da cadeia de distribuição. Diogo Gouveia acrescentou que “os standards a aplicar e a desenvolver devem ter em conta a relação custo-benefício”. Para os grossistas, as soluções a implementar deverão respeitar a actual capacidade tecnológica instalada. Em caso de necessidade de novos investimentos em tecnologia de suporte, deverá ser respeitado um prazo alargado de implementação que permita a evolução gradual em função da capacidade de investimento 31 do sector. Diogo Gouveia advertiu ainda para “a importância na discussão sobre o prazo e custos para a implementação da Directiva, ao nível da formação, equipamento hardware e software, tendo em conta os sistemas já existentes em Portugal” e para “a necessidade de minimizar o impacto da transposição, tentando conciliar esta alteração com a implementação da “prescrição electrónica”. No que respeita à implementação da solução preconizada pela União Europeia, Hélder Mota-Filipe reconheceu a existência de “duas perspectivas diferentes: uma europeia, na qual os parceiros têm adoptado uma atitude pragmática, alinhando as suas ideias e posicionamentos para cumprir com os objectivos da Directiva e outra nacional, na qual a defesa do modelo europeu deverá acomodar especificidades do sistema nacional, sendo esta uma oportunidade para, inclusivamente, resolver problemas específicos do país”. Oportunidade que passa pela “inclusão de informação nacional relevante em termos de comparticipação, como é o caso do preço e de outros aspectos relevantes”, elucidou. Quanto aos custos para todos os operadores económicos decorrentes da implementação da Directiva, Hélder Mota-Filipe adiantou que o INFARMERD I.P. pretende adoptar uma posição facilitadora, potenciado as vantagens da Directiva versus os seus custos, o que passa garantir um sistema de partilha de custos, sobretudo no que se refere à gestão do modelo e do sistema de repositórios, a qual deve ter um orçamento partilhado por quota e para cada um dos parceiros implicados na gestão do sistema. Eurico Castro Alves, Presidente do INFARMED I.P Sónia Queiroz, Assessora da Direcção e Responsável das Relações Internacionais da Associação Nacional das Farmácias O INFARMED advoga um sistema de partilha de custos para a implementação da Directiva, defendendo que a gestão do modelo e do sistema de repositórios deve ter um orçamento partilhado por quota para cada um dos parceiros na gestão do sistema. 32 Saber Investir Saber Inovar Paulo Duarte, Presidente da Associação Nacional das Farmácias Ciclo de Conferências 2013 33 Conferência A Inovação Biofarmacêutica e Biossimilares: A identidade dos Biológicos 18 de SETEMBRO SALÃO NOBRE DA REITORIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PARTICIPANTES Andrea RappagliosiVice-presidente “Market Access, Health Policy & Medical Affairs” da Sanofi Pasteur MSD e Ex-Presidente da EuropaBio – Associação Europeia de Bioindústrias Arsisete Saraiva Presidente da ANDAR Carlos Martins Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte Carlos Maurício Barbosa Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos Håkan Mellstedt Professor de Bioterapia Oncológica no Instituto Karolinska e no Cancer Centre Karolinska no Hospital Universitário Karolinska, em Estocolmo, Suécia Heitor Costa Director Executivo da APIFARMA João Almeida Lopes Presidente da APIFARMA João Cabral da Fonseca Hospital de Santa Maria José Manuel Silva Bastonário da Ordem dos Médicos Marina CaldasJornalista 34 Saber Investir Saber Inovar Marta Marcelino Directora da Unidade de Introdução no Mercado da Direção de Avaliação e Medicamentos, do INFARMED, I.P. Paula Almeida Vogal do Conselho Directivo do INFARMED I.P. Ciclo de Conferências 2013 35 Um mundo novo P ara João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA - Associação Portuguesa de Indústria Farmacêutica, “os medicamentos biológicos são um exemplo claro e evidente do que é inovação na área farmacêutica”, constituindo “um campo de investigação muito activo e desafiante, mas também muito exigente e complexo”, que tem crescentemente “merecido a atenção das instituições governativas a nível europeu”. A complexidade da estrutura destas moléculas e a reduzida experiência clínica com estes medicamentos são, nas palavras de João Almeida Lopes, “todo um mundo novo” que pode representar novos desafios aos profissionais de saúde. Neste contexto, é fundamental que Portugal saiba “dar resposta aos desafios nesta área, sendo a regulamentação um passo importante para garantir o acesso e a segurança dos doentes às terapêuticas biológicas”. Inovação Biofarmacêutica e Biossimilares: A identidade dos Biológicos A Inovação é o principal investimento da Indústria Biofarmacêutica e o seu valor reflecte-se no aumento da esperança média de vida e da sua qualidade, bem como na redução, a longo prazo, dos custos relacionados com a doença. A regulamentação da utilização dos medicamentos biológicos é já hoje uma realidade em vários Estados-Membros da União 36 Europeia, como o Reino Unido, a França, a Itália e a Holanda. Em Portugal, para que os medicamentos biológicos sejam utilizados de forma segura e eficaz, é essencial um enquadramento regulamentar para a sua prescrição, dispensa e utilização, que previna o uso alternado de diferentes medicamentos biológicos num mesmo doente, ou a sua substituição automática por biossimilares, sem conhecimento do médico prescritor ou do doente. Saber Investir Saber Inovar Na sua intervenção na quarta conferência do ciclo Saber Investir, Saber Inovar, José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos, reconheceu “o importante contributo da ciência e do investimento realizado em investigação e desenvolvimento para o aparecimento de novos medicamentos e novas soluções terapêuticas”. Porém, lamentou, “a regulamentação em Portugal parece dar prioridade a outras áreas da medicina e das terapêuticas fundamentadas na tradição, estabelecendo filtros e níveis de exigência diferentes”, deixando, assim, “um enorme potencial não explorado” em relação a estas terapêuticas. Já o Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Carlos Maurício Barbosa, advertiu que, embora os biofármacos seCiclo de Conferências 2013 José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos jam “produtos similares”, “não [o são] exactamente iguais entre si”. “Falamos de proteínas de alto peso molecular e heterogéneas, obtidas por tecnologia de ponta, as quais revolucionaram definitivamente a medicina e o mercado farmacêutico”, pormenorizou Carlos Maurício Barbosa. Porém, contrapôs, “a expiração das primeiras patentes dos medicamentos biológicos abriu caminho para o desenvolvimento e comercialização de biossimilares, de custo mais reduzido do que o respectivo original, o que é um elemento importante para garantir o acesso dos doentes às terapêuticas biológicas”. Neste contexto, o Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos sustentou que “a utilização da inovação terapêutica deve resultar de um equilíbrio entre critérios de eficácia, de segurança e critérios económicos, respeitando sempre a primazia e os interesses do doente”, pelo que os biossimilares são “uma oportunidade”. Garantem “poupanças para o Estado e a mesma qualidade para o doente”, e, simultaneamente “libertam recursos para que os doentes possam contribuir e usufruir da inovação terapêutica em Portugal”, defendeu. Também Paula Almeida, Vogal do Conselho Directivo do INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P., privilegiou na sua intervenção uma perspectiva de dicotomia entre inovação e custos, salientando que, por um lado, “a inovação é uma característica dominante do perfil da indústria farmacêutica, a qual tem colocado à disposição dos doentes novos e melhores medicamentos”. Por outro, referiu, a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) “é um elemento crucial para que a inovação possa ser introduzida em benefício de todos”. Nesta óptica, concluiu, os biossimilares e os genéricos desempenham “um papel preponderante ao permitir equilibrar os orçamentos, pois representam custos significativamente mais baixos”. 37 A Indústria Biofarmacêutica deverá encontrar “novas formas de financiamento, novos modelos de colaboração entre as empresas farmacêuticas e os centros de investigação académicos, bem como novos modelos de negócio, para alavancar o necessário investimento em I&D na Europa, a criação de emprego qualificado e a redução das causas de exclusão social e de iniquidades entre a população europeia”. Desafios para a Indústria Farmacêutica D ando conta da perspetiva da Indústria Farmacêutica, Andrea Rappagliosi, vice-presidente da Market Access, Health Policy & Medical Affairs da Sanofi Pasteur MSD, começou por reforçar que o valor da inovação biofarmacêutica e o seu contributo para os resultados em saúde se concretizaram já em “mais de 350 milhões de doentes tratados com os novos medicamentos de biotecnologia, sobretudo em doenças debilitantes e potencialmente fatais, como é o caso do cancro e de doenças raras”. A Indústria Biofarmacêutica deverá, assim, encontrar “novas formas de financiamento, novos modelos de colaboração entre as empresas farmacêuticas e os centros de investigação académicos, bem como novos modelos de negócio, para alavancar o necessário investimento em I&D na Europa, a criação de emprego qualificado e a redução das causas de exclusão social e de iniquidades entre a população europeia”. Porém, para o também ex-Presidente da EuropaBio – Associação Europeia de Bioindústrias, “o paradigma da inovação necessita de uma nova abordagem, assente não apenas no tratamento da doença, mas também na identificação das causas subjacentes, o que constitui um enorme desafio à medicina moderna”. Privilegiando uma abordagem de contexto, Håkan Mellstedt, professor catedrático de bioterapia oncológica no Instituto Karolinska, em Estocolomo, recordou que “os medicamentos biológicos são fármacos complexos, quer do ponto de vista estrutural (tamanho, estrutura, propriedades físico-químicas e heterogeneidade) quer do ponto de vista da sua produção (processo de fabrico, formulação, manipulação e via de administração) ”. Abrem-se, assim, novas perspectivas no âmbito da medicina personalizada através da estratificação dos respectivos alvos da doença, para a qual “a existência de uma resposta terapêutica pode realmente fazer a diferença”, concluiu Andrea Rappagliosi. Esta complexidade, reconhecida pela EMA - Agência Europeia do Medicamento, determinou que fosse estabelecido o termo biossimilar, assumindo, desde logo, que “se trata de um produto similar e não exactamente de uma cópia do original”, afirmou. Neste sentido, advogou, a Europa deverá reforçar a sua posição global em investigação, inovação e tecnologia. Estes são os objectivos inscritos na Estratégia Europa 2020, a qual pretende tornar a economia europeia mais competitiva, orientada para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo. No âmbito da sua aprovação pela EMA, o medicamento biossimilar “é sujeito a um extenso exercício de comparabilidade em relação ao medicamento original de referência”. Em acréscimo, referiu, “nem todas as indicações terapêuticas são alvo de ensaio nos biossimilares, podendo ser extrapoladas para as indicações 38 Andrea Rappagliosi, Vice-Presidente da Market Access, Health Policy & Medical Affairs da Sanofi Pasteur MSD aprovadas para o medicamento original de referência, desde que apresentem o mesmo mecanismo de acção”. Em termos de contenção da despesa em saúde, Håkan Mellstedt apresentou dados que evidenciam “uma redução de preço com a utilização dos biossimilares, na Europa, na ordem dos 20-30%”. No entanto, salientou, “os médicos, os gestores hospitalares e outros prestadores de cuidados em saúde devem estar cientes das possíveis diferenças entre o medicamento inovador original e o respectivo biossimilar”, bem como da existência de informação clínica incompleta no momento da sua aprovação. Para colmatar esta falta de informação, o docente do Instituto Karolinska afirmou que “a realização de uma farmacovigilância activa pós-comercialização poderá contribuir, de forma gradual, para a recolha de novos dados clínicos, bem como de dados de segurança em relação aos biossimilares, promovendo o uso racional deste grupo de medicamentos na prática clínica”. Håkan Mellstedt concluiu considerando “essencial uma prescrição por nome comercial” e reconheceu que, não existindo informação científica que suporte a substituição segura dos medicamentos biotecnológicos, quer com os originais quer com os biossimilares, “não é prudente alterar a prescrição dos doentes que já se encontrem sob terapêutica crónica com biológicos originais”. Saber Investir Saber Inovar Não existindo informação científica que suporte a substituição segura dos medicamentos biotecnológicos, quer com os originais quer com os biossimilares, “não é prudente alterar a prescrição dos doentes que já se encontrem sob terapêutica crónica com biológicos originais”. Håkan Mellstedt, Professor Catedrático de Bioterapia Oncológica no Instituto Karolinska Ciclo de Conferências 2013 39 Biológicos e Biossimilares: riscos e benefícios J oão Cabral da Fonseca, médico do Hospital de Santa Maria e professor de Reumatologia, referiu que “os medicamentos biológicos permitem que doentes que não respondem à terapêutica imunossupressora convencional passem a ter a doença controlada”, sublinhando que, “no caso de doentes com patologia reumática, 70% respondem positivamente à terapêutica biológica e apresentam melhoras significativas, com uma boa qualidade de vida e uma paragem da progressão e da incapacidade induzida pela doença de base”. Para o médico, a introdução de biossimilares surge como “uma esperança de redução de custos de utilização de medicamentos biológicos”. Porém, assumiu, é “necessária alguma prudência neste processo, uma vez que os biológicos são estruturas moleculares complexas, milhares de vezes maiores do que as moléculas tradicionais e pequenas diferenças estruturais podem induzir comportamentos diferentes em termos de eficácia e segurança”. Isto porque, conforme explicou, “os biossimilares não utilizam um processo de produção exactamente igual ao da molécula original”, devido ao segredo industrial, pelo que “surgem diferenças subtis entre as duas moléculas”. João Cabral da Fonseca enfatizou também “a importância de reconhecer que os medicamentos biológicos pertencentes à mesma classe terapêutica podem não apresentar a mesma eficácia relativa em doenças diferentes, pelo que é discutível a extrapolação de dados de ensaios clínicos numa dada indicação para outra”. E defendeu igualmente “a importância do registo e da monitorização dos doentes expostos a biossimilares, após a sua comercialização, para detectar efeitos adversos inesperados destes medicamentos que não tenham sido detectados até ao momento da sua aprovação”. Na área da reumatologia, exemplificou, estão em seguimento cerca de 8.000 doentes através do registo na base de dados Reuma.pt, desenvolvida pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia. Se “os biológicos representam um avanço significativo no tratamento dos doentes com artrite reumatóide”, a “promoção da autonomia dos doentes e, consequentemente, uma maior respon- sabilização pela sua saúde exige maiores e melhores níveis de informação”, frisou Arsisete Saraiva, Presidente da ANDAR - Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide. E como existem ainda “uma série de questões por clarificar”, este vazio “tem levado à perda de confiança por parte dos doentes em relação à sua utilização”, alertou a dirigente da ANDAR. Uma das maiores preocupações, exemplificou, “prende-se com a utilização dos biossimilares a nível hospitalar e a possibilidade de haver substituição automática, sabendo que não é certo que a eficácia seja igual à do biológico original” e que “é desconhecida a possibilidade de surgirem efeitos adversos inesperados”. Apresentando na conferência a perspectiva dos hospitais, o Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Carlos Martins, advertiu para a existência de diferentes níveis de ponderação que consubstanciam a política de gestão do medicamento a nível hospitalar, desde a ponderação académica dos centros de investigação Arsisete Saraiva, Presidente da ANDAR Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatoide Saber Investir Saber Inovar E, sublinhou, trata-se de uma discussão científica que “é isenta do entusiasmo e da visão economicista da ponderação realizada a outros níveis”. “Mas antes de qualquer tomada de decisão”, continuou, “existe um outro nível de ponderação (preliminar) que deverá orientar as Administrações Hospitalares para aquelas que são as recomendações do mercado externo e do regulador”. Desta forma, pretende-se assegurar que o hospital mantém a mesma efectividade, a mesma segurança clínica e a qualidade dos tratamentos prestados aos seus doentes e que estes, por sua vez, mantêm a sua confiança nas instituições hospitalares. Para Carlos Martins, este é todo “um fluxo de partilha de responsabilidades que envolve os investigadores, os médicos e os farmacêuticos, até que a decisão possa ser tomada do ponto de vista da administração”. Neste contexto, “existe a preocupação de disponibilizar as melhores tecnologias em saúde, no caso em concreto, de medicamentos seguros e efectivos, permitindo o tratamento de mais doentes, com o mesmo orçamento”, referiu. Os biossimilares são, assim, ferramentas importantes para libertar recursos, os quais podem ser usados para tratar mais doentes e para investir nas actividades de I&D. O Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte revelou ainda que a instituição que dirige tem contratualizado um biossimilar, o qual permitiu gerar uma poupança de 1,2 milhões de euros no período de um ano. A sua estimativa é introduzir mais um biossimilar no próximo ano e mais dois em 2015. Aos valores de hoje, e tendo em conta a previsão de evolução das doenças abrangidas, a estimativa de poupança dos quatro biossimilares pode ir de seis a oito milhões de euros. Na gestão do medicamento hospitalar existe “um fluxo de partilha de responsabilidades que envolve os investigadores, os médicos e os farmacêuticos, até que a decisão possa ser tomada do ponto de vista da administração”. Existem ainda “uma série de questões por clarificar” relativamente aos medicamentos biológicos e este vazio “tem levado à perda de confiança por parte dos doentes em relação à sua utilização”. 40 ao próprio centro hospitalar, que fornece os dados e a evidência clínica necessários para a tomada de decisão. Carlos Martins, Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte Ciclo de Conferências 2013 41 Regulamentação necessária Heitor Costa, Director Executivo da APIFARMA, iniciou a sua intervenção com uma crítica: “o sistema mudou o seu foco do doente e dos programas de prestação de cuidados para uma análise puramente economicista da Saúde, centrando-se exclusivamente nos custos e na necessidade de controlo da despesa”. Com esta inversão de perspectiva,“o valor da inovação e a capacidade de a Indústria Farmacêutica responder eficazmente às necessidades de saúde das populações, desenvolvendo e introduzindo novos medicamentos no mercado, com claras vantagens terapêuticas face aos medicamentos tradicionais, não tem tido reconhecimento por parte dos decisores políticos”. Dado que o investimento em Saúde é um elemento chave deste sistema, Heitor Costa sublinhou que “é necessário recentrar o sistema político no cidadão, em defesa do primado do SNS enquanto sistema político (funcional) e enquanto serviço (prestador)”. E continuou: “a excelência da investigação realizada pela Indústria Biofarmacêutica constitui o desiderato da sua actividade, colocando esse esforço permanente de inovação ao serviço das populações”. O Director Executivo da APIFARMA realçou que o investimento realizado nesta área tem permitido o lançamento de novos produtos todos os anos, onde se incluem os medicamentos de biotecnologia. Quanto à discussão em torno da utilização destes medicamentos, Heitor Costa enfatizou que “os biossimilares, como o próprio nome indica, são semelhantes, mas não idênticos” aos medicamentos biológicos, pelo que “há nesta aborda- 42 gem questões de segurança, de eficácia e de qualidade que é necessário considerar, e que caracterizam a identidade dos biológicos.” mentos, de forma a torná-lo mais célere e com regras específicas”, incluindo a implementação do que designou por uma «Via Verde Biossimilares». No desenvolvimento destes medicamentos as questões de qualidade são facilmente ultrapassáveis, “mas a eficácia nem sempre é sobreponível”, uma vez que “existe uma variabilidade intrínseca e um potencial imunogénico que podem representar um risco no caso de ocorrer a substituição do medicamento sem o conhecimento do médico prescritor”. O “medicamento biológico ou biossimilar para o qual foi demonstrada Qualidade, Segurança e Eficácia é passível de ser utilizado nas condições em que foi autorizado” e “qualquer alteração ao tratamento deve ser ponderada, do ponto de vista clínico, tendo em conta também as informações regulamentares, nomeadamente a informação do medicamento da Agência Europeia do Medicamento”, explicitou a responsável da autoridade reguladora portuguesa. Nesta perspectiva, o Director Executivo da APIFARMA asseverou que “a prescrição generalizada por denominação comum internacional (DCI) pode afectar a farmacovigilância do medicamento e a monitorização do doente, pelo que qualquer regulamentação sobre esta matéria deverá ter este aspecto em conta”. Para Heitor Costa, ainda que “haja um consenso mais ou menos generalizado sobre os aspectos técnicos, a falta de enquadramento regulamentar sobre esta matéria tem colocado em causa os actuais procedimentos de acesso ao mercado dos medicamentos biológicos. Em Portugal, este acesso está condicionado a uma avaliação prévia do valor terapêutico acrescentado que, de uma forma genérica, se designa value base pricing”. Sobre esta matéria, Marta Marcelino, Directora da Unidade de Introdução no Mercado da Direcção de Avaliação de Medicamentos do INFARMED I.P., indicou que a autoridade regulamentar está precisamente a “analisar internamente uma proposta para regular o preço e as regras de financiamento destes medica- O desafio em relação aos biológicos é que “cada medicamento é único”, o que exige “um acompanhamento mais profundo do ponto de vista da farmacovigilância, através de planos de gestão de risco e da monitorização das reacções adversas, quer para o medicamento biológico original quer para o biossimilar”, sublinhou Marta Marcelino. A mesma responsável indicou que, presentemente, existem 3 medicamentos biossimilares comercializados em Portugal, mas são esperadas novas versões no curto prazo, o que, acredita, irá criar uma outra dinâmica no mercado de medicamentos. O mercado de biossimilares representa ainda uma pequena parcela do mercado total de medicamentos (0,5% do mercado total e 4% do mercado dos medicamentos biológicos). Em relação aos consumos dos hospitais do SNS, Marta Marcelino acrescentou que o mercado de biossimilares representa 1,56% do total dos consumos hospitalares. Saber Investir Saber Inovar É necessário “um acompanhamento mais profundo do ponto de vista da farmacovigilância, através de planos de gestão de risco e da monitorização das reacções adversas, quer para o medicamento biológico original quer para o biossimilar”. Marta Marcelino, Directora da Unidade de Introdução no Mercado da Direcção de Avaliação de Medicamentos do INFARMED I.P. Ciclo de Conferências 2013 43 Conferência “Financiamento dos Medicamentos e Impacto na Sustentabilidade dos Sistemas de Saúde” 17 de OUTUBRO SALÃO NOBRE DA REITORIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA PARTICIPANTES Adalberto Campos Fernandes Presidente da Comissão Executiva SAMS Augusto Mateus Presidente da Augusto Mateus & Associados Carlos Gouveia Pinto Professor Associado com Agregação do ISEG /UTL e Coordenador de Investigação do CISEP – (ISEG/UTL) Eurico Castro Alves Presidente do INFARMED I.P. João Almeida Lopes Presidente da APIFARMA José Félix RibeiroEconomista José Mendes Ribeiro Membro do Conselho Científico da Fundação Francisco Manuel dos Santos Luís Mendão Presidente do Grupo de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA Marina CaldasJornalista Martin Buxton 44 Saber Investir Saber Inovar Professor de Economia da Saúde da Brunel University do Reino Unido Ciclo de Conferências 2013 45 À procura de equilíbrio N este processo, os modelos de financiamento dos sistemas públicos de saúde desempenham um papel chave, contribuindo, por um lado, para uma maior racionalização dos recursos e eficiência da prestação por parte do SNS e, por outro, garantindo aos doentes um acesso continuado ao medicamento de que necessitam. E estas são, para João Almeida Lopes, “premissas fundamentais na construção do valor da Saúde e na intervenção do SNS”. A Indústria Farmacêutica, enquanto parceira do SNS, assume o compromisso de investir no desenvolvimento de medicamentos inovadores e de procurar garantir o acesso das populações aos melhores tratamentos adequados às suas necessidades. Mas o completo equilíbrio deste sistema exige que, além da capacidade financeira do SNS, seja assegurada a sustentabilidade dos seus fornecedores e da Cadeia de Valor do Medicamento. Financiamento dos Medicamentos e Impacto na Sustentabilidade dos Sistemas de Saúde N a sessão de abertura da quinta e última conferência do ciclo Saber Investir, Saber Inovar, João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, lembrou que “a saúde é um direito fundamental dos cidadãos e um valor a defender e a preservar”, e que “uma sociedade saudável é um importante motor e indicador chave do desenvolvimento sustentável de um país”. Porém, a preocupante subida de custos na área da saúde, agravada pela tendência de envelhecimento demográfico, e o evoluir do desenvolvimento tecnológico, nomeadamente de novos me- 46 dicamentos e de meios de diagnóstico mais eficazes, “têm criado um dilema entre a exigência dos cidadãos de mais e melhor acesso aos cuidados de saúde e a necessidade de controlar o crescimento da despesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”. Face aos resultados obtidos na saúde dos portugueses, o Presidente da APIFARMA destacou que o financiamento do SNS é, sem dúvida, “um dos melhores investimentos realizados pela democracia portuguesa”, o que “torna particularmente exigente a avaliação das opções a tomar para que continue a proporcionar ganhos em saúde, assegurando, em simultâneo, a sua sustentabilidade”. Saber Investir Saber Inovar É neste contexto, explicitou João Almeida Lopes, que surge o aditamento ao Protocolo celebrado em 2012 com o Ministério da Saúde, que responde, simultaneamente, à necessidade de sustentabilidade dos encargos públicos com medicamentos e à criação de condições de estabilidade necessárias à actividade das empresas farmacêuticas. No âmbito deste aditamento, as empresas farmacêuticas asseguram, em 2013, “uma contribuição no valor de 122 milhões de euros para a redução da despesa pública com medicamentos”. Para João Almeida Lopes, “a consciência das restrições financeiras do SNS exige que sejam avaliadas com cuidado as suas consequências, primeiro que tudo para os doentes, mas também para os agentes económicos da área e para a sociedade em geral”. Ciclo de Conferências 2013 Neste sentido, o Presidente da APIFARMA defendeu a importância de uma visão de conjunto e de longo prazo, ao invés de opiniões, medidas e metas avulsas, sem suporte na realidade, que salvaguardem os princípios do acesso e da universalidade do sistema de saúde português. implica uma visão global do bem-estar e a aplicação sistemática de avaliação de impactos na saúde, pelo que “assegurar que o verdadeiramente inovador e de interesse para os doentes estará disponível é uma garantia de acesso dos doentes à inovação terapêutica e aos melhores cuidados em saúde”. A relação entre as questões de financiamento e de sustentabilidade do SNS “não podem ser dissociadas do contexto socioeconómico imposto pela realidade de uma intervenção externa em que Portugal se encontra”, sustentou o Presidente do INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P., Eurico Castro Alves, para quem “a Saúde constitui uma das áreas mais sensíveis e com desafios acrescidos”, enquanto “um dos eixos estruturantes da sociedade portuguesa”. Neste contexto, e dado que “a avaliação do custo-efectividade das tecnologias de saúde é um factor determinante na decisão de financiamento público, está em curso, no âmbito do Programa do Ministério da Saúde, o desenvolvimento de um sistema de avaliação de tecnologias de saúde aplicado aos dispositivos médicos e medicamentos”. Desta forma, Eurico Castro Alves defendeu que se “impõe uma gestão mais eficiente dos recursos existentes, utilizando-os de forma inteligente”, que permita a “redução da despesa, sem pôr em causa o acesso equitativo dos doentes aos cuidados de saúde de que necessitam”. E, enquanto denominador comum de grande parte das intervenções em saúde, o medicamento apresenta desafios adicionais neste equilíbrio, tendo a “sustentação dos encargos com medicamentos sido conseguida com a participação de todos os parceiros do sector”, sublinhou. O que, defendeu, traduziu-se “de forma imediata, na redução do esforço financeiro dos cidadãos para aceder a medicamentos seguros, de qualidade, eficazes e a preços comportáveis”. Na óptica do responsável pela entidade reguladora do medicamento, a melhoria na qualidade de vida dos cidadãos O objectivo, referiu Eurico Castro Alves, “é garantir a equidade de acesso, a nível nacional, a medicamentos e dispositivos médicos, disponibilizando os tratamentos mais aconselhados à situação clínica de cada doente, adequando-os aos recursos do sistema de saúde nacional”. No futuro, avançou, este sistema deverá também “estar alinhado com as iniciativas europeias”. Actualmente, adiantou Eurico Castro Alves, o INFARMED participa em vários projectos-piloto que decorrem ao nível da Agência Europeia do Medicamento no âmbito da avaliação de tecnologias de saúde, e que visam redefinir os modelos de avaliação custo-efectividade de medicamentos e dispositivos médicos utilizados a nível europeu. Eurico Castro Alves referiu igualmente a interligação desta medida com o Formulário Nacional de Medicamentos, cuja elaboração está a cargo da Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica, e que “constitui um importante instrumento de promoção da utilização mais eficiente dos medicamentos em Portugal”. 47 Mesa Redonda - Modelo de Financiamento e Impacto na Sustentabilidade dos Sistemas de Saúde Financiadores em mudança A nalisando a evolução do sistema de saúde em Portugal, o economista José Félix Ribeiro salientou ser importante “reconhecer que os grandes avanços verificados ao nível da saúde, nas últimas décadas, resultaram de uma parceria entre os inovadores, representados pela indústria farmacêutica e a indústria dos equipamentos médicos, e os financiadores de sistemas públicos ou privados, que permitiram a cobertura abrangente das populações com serviços de saúde”. Uma parceria que pretende garantir que o maior número de pessoas possa beneficiar do que os inovadores vão produzindo, gerando ganhos em saúde, do ponto de vista individual, mas também para a sociedade. Dado que “a avaliação do custo-efectividade das tecnologias de saúde é um factor determinante na decisão de financiamento público, está em curso, no âmbito do Programa do Ministério da Saúde, o desenvolvimento de um sistema de avaliação de tecnologias de saúde aplicado aos dispositivos médicos e medicamentos”. Eurico Castro Alves, Presidente do INFARMED 48 E embora Portugal tenha chegado tarde relativamente à criação de um sistema de saúde, na década de 70 “actuou com determinação para, em pouco mais de duas décadas, dispor de um sistema de saúde de âmbito nacional de responsabilidade pública comparável aos melhores exemplos europeus”, salientou José Félix Ribeiro. Porém, acrescentou, “uma década de crescimento quase nulo, de aumento Saber Investir Saber Inovar Ciclo de Conferências 2013 generalizado das despesas sociais e da procura crescente de cuidados em saúde, a par do endividamento externo, colocaram Portugal perante a exigência de consolidação orçamental”. Uma exigência que, ao afectar a prestação de cuidados de saúde suportados pela despesa pública, obriga à análise dos factores que desencadeiam a sua procura e a sua tendência de evolução. Entre “os principais determinantes desta mudança” está a “evolução dos padrões de morbilidade”, sendo igualmente fundamental prestar atenção à “demografia e aos estilos de vida”, identificados “como os principais factores a influenciar o perfil de procura de cuidados de saúde”. Neste contexto, destacou José Félix Ribeiro, serão necessárias novas abordagens terapêuticas em áreas com maior procura, verificando-se já um forte crescimento em áreas ditas “não tradicionais”, como é o caso da genómica e da proteómica, tanto no campo do diagnóstico, como do tratamento. No primeiro, salientou o economista, “a capacidade de compreender as doenças que se vão tornando cada vez mais ameaçadoras e de conceber tratamen- tos a nível molecular para o seu tratamento irá contribuir para uma abordagem mais personalizada da medicina”. Quanto a este aspecto, a sua expectativa é a de que, já em 2020, a Industria Farmacêutica “forneça uma gama mais variada de produtos, sobretudo de base biotecnológica, mais caros do que as pequenas moléculas” e que, pelo facto de se dirigirem a populações mais pequenas, terão um “preço muito superior”. É inevitável, para José Félix Ribeiro, que a curto-médio prazo a Indústria Farmacêutica venha a deparar-se com uma mudança nas preferências dos financiadores. E, atendendo ao perfil de procura de cuidados de saúde, os financiadores estão cada vez mais interessados em reduzir a probabilidade de manifestação de doenças, privilegiando a prevenção, e em poder contar com soluções de cura definitiva ou formas de administração de medicamentos que aumentem substancialmente a eficácia dos mesmos. A medicina preditiva vai também determinar uma mudança no modo de abordar o risco de saúde individual, advogou o economista e, através disso, inovar nos modos de financiar a cobertura diferenciada desse mesmo risco. 49 Em acréscimo, os financiadores irão privilegiar a utilização de tecnologias que, não sendo decisivas em termos de custos, sejam mais fáceis de gerir. Este é o caso das novas terapêuticas menos dependentes de medicamentos, onde se podem incluir as vacinas para doenças não infecciosas ou novas abordagens, como a regeneração de tecidos, exemplificou. Perante este cenário, é previsível uma reforma estrutural dos sistemas de saúde, existindo vários modelos possíveis para Portugal. Após um breve enqua- dramento sobre as diferentes opções, José Félix Ribeiro lançou para debate um conjunto de desafios à sua evolução a nível nacional. Por um lado, sublinhou, “importa definir se a área da saúde deve ser considerada como núcleo central do contrato social implícito nas actuais políticas de saúde e, por isso, ser objecto de um tratamento preferencial no âmbito da consolidação orçamental”. Por outro, adiantou, “esta mudança exigirá avaliar um novo modelo de financiamento da economia, assente na intermediação bancária ou num mercado de capitais e em que os sistemas de protecção social assentarão necessariamente em estruturas do Estado, com intervenção directa ou através de investidores institucionais”. Em jeito de conclusão, José Félix Ribeiro defendeu que “o novo modelo deverá acomodar um número crescente de entidades a prestar cuidados de saúde e uma maior colaboração entre o sector público e privado, alicerçada em alterações profundas do actual quadro de financiamento”. “Os financiadores estão cada vez mais interessados em reduzir a probabilidade de manifestação de doenças, privilegiando a prevenção, e em poder contar com soluções de cura definitiva ou formas de administração de medicamentos que aumentem substancialmente a eficácia dos mesmos.” José Félix Ribeiro, Economista EUnetHTA - Cooperação entre agências nacionais A crescente importância da avaliação económica de novas tecnologias em saúde é, para Martin Buxton, Professor de Economia da Saúde da Universidade de Brunel, no Reino Unido, uma marca distintiva dos últimos 20 anos, “como resultado da crescente pressão sobre os orçamentos de saúde”. tência internacional, atendendo às diferenças existentes entre os Estados Membros, quer em relação aos elementos de evidência científica considerados quer em relação às diferenças organizacionais dentro do contexto da avaliação, na própria contextualização do problema e na adopção de diferentes valores a nível nacional. “Muitos países já criaram os seus próprios métodos e a forma de aplicar a evidência económica nas avaliações de tecnologias de saúde, como é o caso do NICE - National Institute for Health and Care Excellence, no Reino Unido, que mais recentemente tem vindo a desenvolver uma avaliação do preço direccionado para o valor Value Based Pricing”, referiu. Face a este enquadramento, a harmonização nas decisões de financiamento continuará a ser uma realidade distante, enquanto os sistemas de saúde e as expectativas públicas em relação a esses sistemas diferirem em elementos essenciais, nomeadamente quanto aos limites de custo -efectividade e atitudes perante a incerteza. Saber Investir Saber Inovar Numa perspectiva mais optimista, Martin Buxton considerou que “as pressões sobre os orçamentos de saúde talvez venham a forçar os sistemas nacionais a alinhar, de uma forma mais adequada, os seus orçamentos e incentivos, com as orientações clínicas e as expectativas dos doentes, para que todos estes factores possam, de forma mais efectiva, influenciar positivamente a introdução de novas tecnologias mais custo-efectivas, mas respeitando as diferenças do contexto local e os respectivos valores”. No entanto, no caso dos medicamentos, “o objectivo é garantir que o seu valor é suficiente para o sistema e que os custos de oportunidade das tecnologias alternativas são largamente compensados. E, argumentou o docente, “não se trata de um simples exercício académico ou de um acto de boas intenções, nem se pretende que seja um obstáculo para retardar a adopção de novos medicamentos, mas de uma ferramenta de apoio à decisão, que reflecte o contexto local e os valores do próprio sistema”. A Europa, através do projecto EUnetHTA, tenta alcançar alguma consistência nos requisitos e estrutura da avaliação das tecnologias de saúde e respectiva submissão às autoridades e, por isso, este projecto tem vindo a fomentar uma maior cooperação entre as agências nacionais de avaliação de tecnologias em saúde, institutos de investigação e ministérios da saúde, permitindo a troca de informação sobre a efectividade das tecnologias de saúde e apoiando a tomada de decisão pelas estruturas a nível nacional. No entanto, advertiu Martin Buxton, estamos muito longe de um quadro de consis- 50 Uma decisão única europeia seria, neste contexto, “muito ineficiente e não desejável”, afirmou. Ciclo de Conferências 2013 “As pressões sobre os orçamentos de saúde talvez venham a forçar os sistemas nacionais a alinhar, de uma forma mais adequada, os seus orçamentos e incentivos, com as orientações clínicas e as expectativas dos doentes, para que todos estes factores possam, de forma mais efectiva, influenciar positivamente a introdução de novas tecnologias mais custo-efectivas, mas respeitando as diferenças do contexto local e os respectivos valores.” Martin Buxton, Professor de Economia da Saúde da Universidade de Brunel, Reino Unido 51 Decisões baseadas em evidência e avaliação N a mesa redonda promovida na conferência, sob o título “Modelos de Financiamento e Impacto na Sustentabilidade dos Sistemas de Saúde”, Adalberto Campos Fernandes, Presidente da Comissão Executiva SAMS, considerou que a reforma do sistema de saúde num contexto orçamental restritivo “requer iniciativa e empreendedorismo para uma transformação sustentável e duradoura, merecendo especial realce o desafio resultante da procura de criação de valor em saúde”. Porém, contrapôs, “a pressão sobre os custos da saúde tem conduzido à introdução de medidas de controlo da despesa aplicadas de forma transversal ao sector, mas em particular na área do medicamento”. “A situação actual reflecte um sistema doente, a sofrer de uma hemorragia aguda, com um risco de gangrena emergente”, ilustrou, defendendo ser “prioritária uma reflexão de carácter estratégico sobre a necessidade de reconstrução do sector, assente numa política de desenvolvimento inteligente e numa vertente de progresso económico e social, de modo a evitar retrocessos nesta área”. valor marginal poderá contribuir para a sustentabilidade do sistema de saúde, sem incorrer no risco de desencorajar a inovação tecnológica”. Este modelo pode incluir o recurso adicional a mecanismos de incentivo, favorecendo a utilização de tratamentos mais eficazes em termos de custos. E, em qualquer dos cenários, “parece indispensável a consolidação de uma política do medicamento centrada numa relação explícita entre o custo do desenvolvimento e da inovação e a criação de valor”, advogou. Adalberto Campos Fernandes salvaguardou que não se trata de condicionar, em nenhum momento, o acesso à inovação, mas sim democratizá-lo, diminuindo as desigualdades, sem aumentar a despesa. E, sublinhou, não é “possível ter tudo porque os recursos em saúde são finitos e, para haver sustentabilidade do sistema, são necessárias decisões e é preciso saber escolher”. Face ao contexto actual, Adalberto Campos Fernandes argumentou que esta é uma oportunidade única de incorporar no sistema de saúde novos modelos suportados na evidência e na avaliação, reforçando a ideia de que a optimização não deve ser feita de forma cega e pouco racional. “É urgente construir soluções, não através de pequenas medidas conjunturais que apenas vão agravando os problemas, mas apostar em reformas de fundo, como é o caso do programa para a reforma hospitalar, garantindo um desenvolvimento sustentável e inteligente do sector”, instou o administrador hospitalar. Na área do medicamento, sublinhou, “o principal desafio passa por aplicar os instrumentos de avaliação à decisão de financiamento, quer no momento da entrada no mercado, quer ao longo da sua permanência”, uma vez que a ”redução dos custos com a tecnologia de baixo A necessidade de tomar decisões foi também sublinhada por Augusto Mateus, tendo o economista e Presidente da consultora Augusto Mateus & Associados defendido que “não é tempo de continuar a avaliar, mas de tomar decisões”. 52 e representa uma melhoria da efectividade e/ou da segurança dos produtos e serviços desenvolvidos. Mas é fundamental “continuar a apostar no desenvolvimento científico e tecnológico, sejam inovações radicais ou incrementais, que se traduzam numa efectiva mais-valia para os doentes”, insistiu. Na perspectiva de Augusto Mateus, o sector da Saúde em Portugal tem-se caracterizado “pelo potencial de crescimento, inovação e dinamismo e pelas decisões que enfrenta em matéria de sustentabilidade financeira, social e de eficácia”. O novo modelo para a saúde, enquanto “sector” que satisfaz necessidades, “deve focar-se na procura e não na oferta. O seu financiamento, por sua vez, deve resultar essencialmente de parte das receitas de impostos, gerando valor para a sociedade e não para as instituições”, sintetizou. E o País não tem estado sozinho nesta matéria, uma vez que em quase todos os sistemas de saúde a nível mundial estão a ser realizadas reformas para responder aos desafios da (in)sustentabilidade no sector da saúde, explicitou. Para o consultor, as prioridades que se apresentam actualmente ao sistema de Saúde português são: melhorar o financiamento e alocação de recursos no sistema; organizar a oferta de cuidados de saúde dentro do sistema; separar os papéis de prestador e de pagador e redistribuir as responsabilidades; aprofundar a liberdade de escolha dos cidadãos dentro do sistema; promover o envolvimento da sociedade nas decisões de financiamento da saúde; dar maior equi- Além disso, referiu, “existe um declínio a nível europeu em termos de políticas de saúde, com vários problemas em termos de mercado e de procura de valor”. líbrio ao papel dos sectores público e privado, com mercados mais dinâmicos e concorrenciais e equilibrar as diferentes variáveis do sistema, como o acesso, a proximidade e a eficiência. Na sua intervenção, Carlos Gouveia Pinto, Professor Associado do ISEG/ UTL, começou por frisar que a sustentabilidade económica “depende de um orçamento disponível para a Saúde que cresça à mesma taxa do PIB”. “Quando o orçamento cresce a um ritmo superior ao do PIB, a situação financeira torna-se insustentável, o que obriga a encontrar uma solução para o problema”. Por isso, sublinhou, “tomar decisões neste contexto é admitir que Portugal necessita de ajustar o nível de cuidados que paga ao orçamento de que dispõe e tentar maximizar os resultados em saúde”. Neste enquadramento, referiu, “a avaliação de tecnologias de saúde é um dos instrumentos principais de política de saúde, embora, actualmente, seja ainda um processo estático, em que as novas tecnologias “ou passam ou não passam o crivo da avaliação”. Carlos Gouveia Pinto salientou que é, assim, necessário criar “um novo modelo de avaliação, gerando uma dinâmica de avaliação contínua, por forma a garantir a eficiência no sector e a satisfação das previsíveis necessidades de saúde, maximizando o benefício a cada momento, por se tratar de um sistema exigente, quer em termos de processo, quer em termos de comportamentos”. Na medida em que existe hoje “um conjunto de intervenções na saúde muito diversificado”, aumentar a efectividade, passa pela capacidade de medir a utilização inapropriada dos recursos e identificar as respectivas causas, de forma a aumentar o impacto dessas intervenções”, afirmou. Sublinhando ser necessário “actuar sobre as intervenções e não sobre as instituições”, Carlos Gouveia Pinto destacou ser “fundamental definir políticas, quer ao nível central, quer ao nível local, que permitam a introdução de instrumentos de avaliação económica com efeitos mesmo no longo prazo”. Perante este cenário, ”importa reformar o sistema e projectar o futuro, ou seremos derrotados”, resumiu. A reforma impõe-se, explicitou, “não tanto como resposta ao programa de ajustamento da Troika, mas porque Portugal tem de apostar num elevado nível de qualidade e capacidade técnica, que assegure o acesso, a integração e a complementaridade dos cuidados, garantindo um bom desempenho global do sistema”. E, acrescentou, a capacidade evolutiva do sistema, aliada a um “mercado aberto e global, deverá criar valor para o doente, para o Estado e para as instituições de saúde, sempre com o objectivo final da melhoria da qualidade, da acessibilidade, da sustentabilidade e de cuidados de saúde mais eficientes”. O principal desafio passa por aplicar os instrumentos de avaliação à decisão de financiamento, quer no momento da entrada no mercado quer ao longo da sua permanência”, uma vez que a ”redução dos custos com a tecnologia de baixo valor marginal poderá contribuir para a sustentabilidade do sistema de saúde, sem incorrer no risco de desencorajar a inovação tecnológica”. Augusto Mateus sublinhou também que a inovação na área da saúde, nomeadamente na área do medicamento, “continua a ser de extrema relevância e uma aposta dos principais players do sector”, Saber Investir Saber Inovar Adalberto Campos Fernandes, Presidente da Comissão Executiva SAMS Ciclo de Conferências 2013 53 É necessário criar “um novo modelo de avaliação, gerando uma dinâmica de avaliação contínua, por forma a garantir a eficiência no sector e a satisfação das previsíveis necessidades de saúde, maximizando o benefício a cada momento, por se tratar de um sistema exigente, quer em termos de processo quer em termos de comportamentos”. Carlos Gouveia Pinto Professor Associado do ISEG/UTL Partilha de risco entre Estado e empresas P ara João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA, é inegável que “a crise económica e financeira veio acentuar a tensão entre os vários factores que influenciam o equilíbrio das contas públicas e o desejável aumento da cobertura de cuidados de saúde”. Dentro destas condicionantes, referiu que “as empresas farmacêuticas prestaram um contributo muito positivo para o controlo do crescimento da despesa pública na Saúde ao longo dos últimos três anos” e, “com a colaboração do sector farmacêutico, o Estado conseguiu uma poupança sem paralelo em outras áreas”. Porém, alertou, “assistimos hoje a um agravamento sistemático da dívida dos hospitais, apesar da existência da Lei dos Compromissos” e ao agravamento dos “indicadores de acesso à inovação e, consequentemente, dos resultados em saúde, pondo em causa a evolução dos cuidados registada nas últimas décadas em Portugal”. Defendendo a necessidade de medidas estruturantes, João Almeida Lopes afirmou que deve ser equacionada uma reforma do actual regime de comparticipação de medicamentos, dotando-o de mecanismos de acesso à inovação e tornando-o mais transparente, objectivo, equitativo e centrado nas verdadeiras 54 necessidades dos doentes, uma vez que “as patologias de hoje pouco têm a ver com as doenças do passado”. Lembrando que o País foi pioneiro na utilização de instrumentos de avaliação fármaco-económica no ambulatório, o Presidente da APIFARMA enfatizou que “o problema em Portugal não está na avaliação em si”, mas com o que se faz “com os seus resultados”. Como proposta, o Presidente da APIFARMA advogou que “o modelo de financiamento público deve assentar numa lógica de partilha de risco entre o Estado e as empresas”, tendo considerado que o acordo assinado entre o Ministério da Saúde e a APIFARMA “é um bom exemplo” desse modelo. Porém, este não é isento de riscos e foi esse um dos alertas da intervenção de Luís Mendão, representante do Grupo de Activistas sobre Tratamentos de VIH/ SIDA, para quem o aditamento ao Protocolo para 2013, assinado entre o Ministério da Saúde e a APIFARMA, merece particular atenção por parte dos doentes. “Pela mudança de modelo, que passa a ser um reembolso fixo por parte da Indústria Farmacêutica, pode existir uma pressão sobre o não gasto, que poderá pôr em causa a qualidade e a equidade do modelo de financiamento e o acesso à inovação”, advertiu. Apresentando-se como “um exemplo de quem usufruiu e continua a usufruir de uma inovação sustentada no que concerne às terapêuticas antiretrovíricas”, Luís Mendão ressalvou que “não só a inovação disruptiva tem valor, mas também a inovação incremental, que na área do VIH/SIDA tem permitido melhorar, de forma significativa, a qualidade de vida dos doentes”. Mas no contexto actual, em que “o financiamento na área da saúde é uma preocupação”, como garantir que os doentes são tratados de acordo com a “evidência científica?”, questionou. As barreiras no acesso podem assumir diversas formas, lembrou Luís Mendão, dando como exemplo “as dificuldades no levantamento da medicação pelos doentes num centro hospitalar em Lisboa, para os quais apenas é dispensada a quantidade suficiente para 2-3 dias de tratamento”, o que “pode assumir contornos gravosos”. Reconhecendo que “a margem de financiamento nacional para um país em bailout é muito pequena” e que “a subsidiariedade da Zona Euro acabou”, Luís Mendão defendeu que será necessário que Portugal adapte as políticas de saúde É fundamental “continuar a apostar no desenvolvimento científico e tecnológico, sejam inovações radicais ou incrementais, que se traduzam numa efectiva mais-valia para os doentes”. “O modelo de financiamento público deve assentar numa lógica de partilha de risco entre o Estado e as empresas.” Augusto Mateus, Economista e Presidente da consultora Augusto Mateus & Associados João Almeida Lopes, Presidente da APIFARMA Saber Investir Saber Inovar Ciclo de Conferências 2013 55 “Não só a inovação disruptiva tem valor, mas também a inovação incremental, que na área do VIH/ SIDA tem permitido melhorar, de forma significativa, a qualidade de vida dos doentes.” Luís Mendão, Representante do Grupo de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA Mesa Redonda - Modelos de Financianciamento e Impacto na Sustentabilidade dos Sistemas de Saúde à sua medida, ao invés de importar modelos que nada têm a ver com a realidade nacional, “numa lógica de financiamento mais racional para o país, assente na criação de valor e na harmonização de critérios de comparticipação e re-análise”. Em Portugal, a gestão na área do medicamento “pode e deve ser optimizada”, sendo “prioritário” o desenvolvimento de um Programa de Gestão do Medicamento Hospitalar, utilizado no Internamento e no Ambulatório Hospitalar”, afiançou, na sua intervenção, José Mendes Ribeiro, Membro do Conselho Científico da Fundação Francisco Manuel dos Santos. “A componente mais importante da despesa com medicamentos a nível hospitalar corresponde à dispensa de medicamentos ao nível ambulatório, registando, igualmente, taxas de crescimento mais elevadas”, explicitou, adiantando que 56 “esta componente representa mais de 40% da despesa com medicamentos a nível hospitalar, ultrapassando os 70%, se forem adicionados os consumos do hospital de dia”. Notando que, de futuro, “a sustentabilidade será um traço comum na avaliação das políticas sociais, dada a tendência de diminuição do número de contribuintes activos e a necessidade de financiar o prolongamento dos anos de vida e as terapêuticas de longo prazo das doenças crónicas”, José Mendes Ribeiro observou que deverá ser tido em consideração o benchmarking internacional na reforma estrutural que se pretende para o sector. A sua utilização vai permitir, com transparência, repartir os ganhos e os custos da inovação entre os diversos agentes, abandonando as práticas administrati- vas como barreira de entrada aos medicamentos de inovação, asseverou. José Mendes Ribeiro preconizou também “um modelo concorrencial misto que permita um caminho da reforma mais suave, dependente das várias entidades intervenientes”, nomeadamente “de quem presta e de quem paga”. A criação de condições de confiança para um diálogo intrínseco e produtivo entre as empresas farmacêuticas, o Regulador e os financiadores é, na opinião de José Mendes Ribeiro, a via mais eficaz para obter ganhos de saúde para a população. Esta relação de confiança é essencial para manter uma dinâmica de continuidade ao nível das políticas nacionais e dos compromissos assumidos com os parceiros do sector. Saber Investir Saber Inovar “A componente mais importante da despesa com medicamentos a nível hospitalar corresponde à dispensa de medicamentos ao nível ambulatório, registando, igualmente, taxas de crescimento mais elevadas.” José Mendes Ribeiro, Membro do Conselho Científico da Fundação Francisco Manuel dos Santos Ciclo de Conferências 2013 57 Edição APIFARMA Fevereiro 2014 500 Exemplares 58 Saber Investir Saber Inovar