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VII SiAT – Simpósio de Análise Térmica Unesp - Bauru/SP, 19 a 21/07/2015 ESTUDO TERMOANALÍTICO DO FÁRMACO MALEATO DE ENALAPRIL Juliana A. P. Sato*, Fabio F. Ferreira, [email protected] Centro de Ciências Naturais e Humanas (CCNH), Universidade Federal do ABC(UFABC), Santo André, SP Resumo A calorimetria exploratória diferencial é muitas vezes utilizada para detectar formas polimórficas de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) visto que, normalmente, estes possuem diferentes pontos de fusão. Além das técnicas termoanalíticas, a difração de raios X por policristais, aliada ao método de Rietveld, é uma ferramenta útil para a identificação e quantificação de diferentes fases cristalinas. Neste contexto, serão utilizadas diferentes técnicas de modo a realizar a caracterização estrutural do fármaco Maleato de Enalapril. Palavras-chave: maleato de enalapril, difração de raios X por policristais, análise térmica Abstract Differential scanning calorimetry is often used to detect polymorphic forms of active pharmaceutical ingredients (APIs) since they typically display different melting points. X-ray powder diffraction together with the Rietveld method is a useful tool for the identification and quantification of the different phases. In this context, different techniques will be used in order to achieve a structural characterization of Enalapril Maleate drug. Keywords: enalapril maleate, X-ray powder diffraction, thermal analysis Introdução O Enalapril é um inibidor da enzima carboxipeptidase, apresentando baixa solubilidade, o que dificulta sua absorção pelo corpo humano. Desta forma, o fármaco é administrado na forma de Maleato de Enalapril, que é um composto mais solúvel. Este fármaco pode sofrer fotodegradação entre os valores de pH 2,5 e 6 se exposto a radiações UVA-UVB. Sob estas condições específicas, é encontrada como produto de degradação a dicetopiperazina interferindo na eficácia do medicamento [1,2]. Técnicas de análise térmica como a calorimetria exploratória diferencial (DSC) e a termogravimetria (TG) são rotineiramente empregadas no estudo de medicamentos. Como exemplo, podemos citar: determinação do grau de pureza, identificação/caracterização de polimorfos, estudos de compatibilidade de formulações sólidas farmacêuticas (estudos de pré-formulação), avaliação da estabilidade térmica, cinética de degradação térmica, ponto de fusão, entre tantos outros exemplos. Desta forma, os resultados obtidos utilizando análise térmica estão diretamente relacionados com o controle de qualidade de medicamentos e de IFAs, tanto na caracterização da matéria-prima, nos medicamentos, bem como na estabilidade e biodisponibilidade [3]. Objetivos O objetivo deste trabalho é o de estudar o fármaco Maleato de Enalapril, proveniente de duas farmácias de manipulação, realizando a caracterização estrutural do princípio ativo por meio das técnicas de difração de raios X por policristais (DRXP), calorimetria exploratória diferencial (DSC), termogravimetria (TG) e espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) de modo a identificar possíveis polimorfos presentes nas amostras provenientes de farmácias de manipulação e realizar um estudo sobre a fotodegradação na estrutura cristalina do fármaco. Métodos e Materiais Serão utilizadas amostras do princípio ativo Maleato de Enalapril provenientes de duas farmácias de manipulação da região de Santo André-SP denominadas de amostras F e S, de modo a manter o sigilo. Foram realizadas análises sobre a influência da luz em amostras de princípio ativo para verificar se a incidência de radiação poderia induzir transição polimórfica no fármaco. Na Página: 354 VII SiAT – Simpósio de Análise Térmica Unesp - Bauru/SP, 19 a 21/07/2015 literatura há relatos de transições polimórficas para o Maleato de Enalapril em solução. Com isso, pretendemos estudar se ocorre o mesmo fenômeno em estado sólido. As amostras irradiadas foram separadas da seguinte forma: controle, 24 h, 48 h, 72 h, 96 h, 168 h e 240 h. A exposição à luz das amostras foi realizada no Laboratório de Desenvolvimento e Inovação Farmacotécnica (DEINFAR), coordenado pelo prof. Dr. Humberto Gomes Ferraz, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP). A câmara foi desenvolvida no próprio laboratório do Prof. Ferraz, permitindo um controle de temperatura com estabilidade de 1 °C. Resultados e Discussão As curvas termoanalíticas TG/DTG e DSC do Maleato de Enalapril são apresentadas nas Figuras 1 e 2. A curva de TG/DTG mostra que o Maleato de Enalapril é termicamente estável até aproximadamente 143,92 °C (amostra F) e 134,89 °C (amostra S). A decomposição térmica da amostra ocorre em duas etapas: o primeiro evento, em 165,98 °C (DTG), com perda de massa Δm = 24,74%, e o segundo evento, em 309,40 °C (DTG), com perda de massa de Δm = 75,26%, não havendo resíduo ao final do experimento para a amostra F. Já para a amostra proveniente da farmácia S, o primeiro evento ocorre em 163,98 °C (DTG), com perda de massa Δm = 24,41%, e o segundo evento, em 309,40 °C (DTG), com perda de massa de Δm = 74,64%, havendo um resíduo de Δmresíduo = 0,95% no final do experimento. Na curva de DSC para o fármaco Maleato de Enalapril da farmácia F foi observado um evento endotérmico em 153,62 °C referente à fusão do fármaco; a entalpia de fusão foi de ΔH = 56,86 kJ.mol-1 e Tonset=151,79 °C. Para a amostra da farmácia S, o evento endotérmico observado ocorreu em 151,40 °C (Tpico) referente à fusão do fármaco com uma entalpia de fusão de ΔH = 41,75 kJ.mol-1 e Tonset = 149,10 °C. Foram realizadas medidas de DSC para o princípio ativo Maleato de Enalapril irradiado e os resultados são apresentados na Tabela 1 e na Figura 2(b). Nas Figuras 3 e 4 estão apresentados os gráficos de Rietveld para as amostras dos princípios ativos das farmácias F e S. Podemos perceber que, para ambas as amostras, os difratogramas observados e calculados foram sobrepostos satisfatoriamente, indicando que o modelo estrutural considerado é o correto. Na Figura 5 são apresentados os difratogramas das amostras que foram irradiadas em diferentes intervalos de tempo, mantendo-se constante a potência da radiação. 2,5 Enalapril F TG Massa (%) 60 DTG 1,0 40 0,5 20 0,0 0 100 200 300 400 Temperatura (°C) 500 Enalapril S TG 600 2,0 b) 80 1,5 60 DTG 1,0 40 0,5 20 Deriv. Massa (% °C-1) 1,5 Deriv. Massa (% °C-1) a) 80 100 2,0 Massa (%) 100 0,0 0 100 200 300 400 500 600 Temperatura (°C) Figura 1: Curvas TG/DTG da amostra do fármaco Maleato de Enalapril das farmácias F (a) e S (b), obtidas a 10 °C.min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (100 mL.min-1) Página: 355 VII SiAT – Simpósio de Análise Térmica Unesp - Bauru/SP, 19 a 21/07/2015 b) Fluxo de Calor (un. arb.) Fluxo de Calor (un. arb.) a) Enalapril Controle Enalapril 24h Enalapril 48h Enalapril 72h Enalapril 98h Enalapril 168h Enalapril 240h Enalapril F Enalapril S 40 60 80 100 120 140 160 40 180 60 80 Temperatura (°C) 100 120 140 160 180 Temperatura (°C) Figura 2: Curvas de DSC das amostras do fármaco Maleato e Enalapril das farmácias F e S (a) e das amostras irradiadas (b), obtidas a 10 °C.min-1, sob atmosfera dinâmica de N2 (50 mL.min-1). Tabela 1: Dados termoanalíticos obtidos por DSC da amostra de Enalapril irradiada. Maleato de Enalapril Tonset (°C) Tpico (°C) ΔH (kJ.mol-1) Tfusão (°C) Controle 24 h 48 h 72 h 96 h 168 h 240 h 152,17 152,16 151,97 151,84 151,25 151,34 151,49 153,95 153,50 153,29 153,72 152,38 152,87 152,99 43,40 51,99 46,19 53,70 58,46 52,09 58,67 152,29 152,07 151,96 151,85 150,72 151,42 151,44 Intensidade (Contagens) Para a realização do refinamento de Rietveld, foi utilizado como arquivo de entrada o Crystallographic Information Framework (CIF) referente ao princípio ativo (DIVHOF02. O sistema cristalino do Cloridrato de Propranolol que refere-se a forma farmaceuticamente ativa é o ortorrômbico e o grupo espacial é o P212121, e este foi o arquivo utilizado para o refinamento. DIVHOF02 100.00 % 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 10 15 20 25 2Theta (°) 30 35 40 Figura 3: Gráfico de Rietveld do fármaco Maleato de Enalapril F. A linha em azul representa o difratograma observado, os círculos em preto correspondem ao difratograma calculado, a linha em cinza é a diferença entre o difratograma observado e o calculado e as barras verticais em azul se referem aos picos de Bragg. Rwp = 6,195%; Rexp = 3,073%; RBragg = 2,397%; χ2 = 2,016. Página: 356 DIVHOF02 100.00 % 20.000 15.000 10.000 5.000 0 5 10 15 20 25 2Theta (°) 30 35 40 Figura 4: Gráfico de Rietveld do fármaco Maleato de Enalapril S. A linha em azul representa o difratograma observado, os círculos em preto correspondem ao difratograma calculado, a linha em cinza é a diferença entre o difratograma observado e o calculado e as barras verticais em azul se referem aos picos de Bragg.. Rwp = 5,443%; Rexp = 2,933%; RBragg = 2,937%; χ2 = 1,856. 240h Intensidade (un. arb.) Intensidade (Contagens) VII SiAT – Simpósio de Análise Térmica Unesp - Bauru/SP, 19 a 21/07/2015 168h 96h 72h 48h 24h Controle 5 10 15 20 25 30 35 2Theta (°) Figura 5: Difratogramas de raios X do fármaco Maleato de Enalapril irradiado. Conclusões Nota-se que os valores para o ponto de fusão são relativamente próximos para todas as amostras irradiadas bem como a Tonset. Conclui-se, desta forma, que a incidência de luz para o princípio não ocasionou transição polimórfica e estes dados corroboram com os resultados encontrados nas medidas realizadas utilizando difração de raios X por policristais. As amostras das farmácias de manipulação estão de acordo com os resultados encontrados na literatura, não havendo indícios de mudança na estrutura cristalina ou degradação do IFA. Agradecimentos FAPESP, CNPq, CEM-UFABC, PPG-Nano e DEINFAR Referências [1] Oliva ML, Sombra LL, Olsina RA, Masi AN. A New Florescent Assay for Enalapril Maleate. Journal Of Fluorescence. 2005:15 (5): 723-728. [2] Rezende RLO, Santoro MIRM, Matos J R. Stability and Compatibility Study on Enalapril Maleate Using Thermoanalytical Techniques. Journal of Thermal Analysis and Calorimetry. 2008:93 (3): 881-886. [3] Zoppi A, Garnero C, Linck YG, Chattah AK, Monti GA, Longhi M. R. Enalapril: β-CD Complex: Stability Enhancement in Solid State. Carbohydrate Polymers. 2011: 86 716-721. Página: 357