Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Ano 2 n.2
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Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Ano 2 n.2
4 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica RevistaMultidisciplinar Multidisciplinarde deIniciação IniciaçãoCientífica Científica | | Revista 55 Ficha Catalográfica Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica / Centro Universitário UniSEB – COC. Ano 1. n. 1 (jan. 2009) -.- Ribeirão Preto, SP : UNICOC, 2009. Ano 2. n. 2 (dez. 2010) Anual ISSN: 2178-1993 (versão impressa) 1. Educação. 2. Pesquisa Científica. 3. Multidisciplinaridade. 4. Ambiente. 5. Comportamento. I. Centro Universitário UniSEBCOC. II. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica. CDD 001 6 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | A SAÚDE E A INTEGRIDADE DO TRABALHADOR COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL: UMA REFLEXÃO TEÓRICA | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 7 8 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | A SAÚDE E A INTEGRIDADE DO TRABALHADOR COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL: UMA REFLEXÃO TEÓRICA | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 9 Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP Lucas Colucci1 Renan Roberto Bardine1 Fernando Scandiuzzi 2 1. RESUMO O mercado brasileiro de produtos de limpeza apresenta uma acirrada concorrência entre as empresas nacionais e internacionais, isso se deve principalmente as expectativas de que o setor continuará crescendo acima do PIB nacional como já vem ocorrendo ao longo dos últimos anos, tal fato é um grande estímulo para as mesmas, visto que o Brasil apresenta um baixo consumo desses produtos se comparado a outros países, mas atualmente apresenta uma demanda em constante alta. O presente trabalho visa atingir os consumidores de produtos de limpeza tendo como delimitação a região de Ribeirão Preto, buscando coletar informações sobre os hábitos dessas pessoas (principalmente o público feminino) que estão cada vez mais exigentes. Foi realizado um levantamento no qual as pessoas foram selecionadas para compor uma amostra a ser analisada, totalizando 100 entrevistas com homens e mulheres de diferentes idades e classes sociais com o objetivo de compreender quais são as variáveis mais importantes no processo de compra de produtos de limpeza para os consumidores dessa região e detectar os fatores mais influentes e relevantes para satisfazer as suas necessidades a fim de garantir a sua fidelização, bem como avaliar se estão realmente satisfeitos com a qualidade dos produtos de limpeza ofertados pelo mercado. Entre os resultados mais relevantes do levantamento realizado, observou-se que a compra de produtos de limpeza é feita principalmente em supermercados com uma frequência mensal, o gasto com os mesmos se concentra em uma faixa de até R$ 100 e que perante as diversas marcas existentes, uma se destacou como a mais lembrada pelos entrevistados. Já em relação às melhorias que poderiam ser feitas, foram sugeridas que o produto seja menos agressivo à saúde, possua um dosador, uma fragrância duradoura, seja biodegradável, tenha uma embalagem mais prática e resistente, renda mais e que seja vendido a um preço mais acessível. Por fim utilizou-se para o cruzamento dos resultados obtidos a partir dos dados tabulados no Excel, o programa estatístico denominado SPSS, por meio do qual se chegou à conclusão de que as variáveis mais importantes no processo de compra de produtos de limpeza para a região analisada por este estudo são a qualidade e o preço que os mesmos apresentam. Palavras-chave: Produtos de limpeza, comportamento dos consumidores, concorrência do setor. 1. ABSTRACT The Brazilian market for cleaning products has a fierce competition between domestic and international companies, this is mainly due to expectations that the sector will continue growing above the national GDP as has been occurring over the past years, this fact is a major stimulus for them, since Brazil has a low consumption of these products compared to other countries, 1 Aluno do Curso de Administração do Centro Universitário UniSEB-COC 2 Docente do UniSEB COC 10 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica but currently has a constantly high demand. The present work aims to reach consumers in cleaning products having as boundary the region of Ribeirao Preto, seeking to gather information about the habits of those people (mostly female audience) who are increasingly demanding. We conducted a survey in which people were selected to compose a sample to be analyzed, totaling 100 interviews with men and women of different ages and social classes in order to understand what variables are most important in the process of buying cleaning products for consumers in this region and identify the factors most influential and relevant to meet their needs in order to ensure their loyalty, and assess whether they are satisfied with the quality of cleaning offered by the market. Among the most relevant results of the survey, we found that the purchase of cleaning products is mainly done in supermarkets each month, spending on them focuses on a range of up to $ 100 and that given the various brands existing one stood out as the most remembered by the interviewees. With regard to improvements that could be made, have been suggested that the product is less aggressive to health, have a feeder, a lasting fragrance, is biodegradable packaging has a more practical and durable, and more income to be sold at a price accessible. Finally it was used for the crossing of the results obtained from the data entered in Excel, the statistical program called SPSS, through which came to the conclusion that the most important variables in the process of buying cleaning products for region analyzed in this study are the quality and price that they present. Keywords: cleaning products, consumer behavior, competition in the industry. cipalmente o público feminino) frente aos produtos de limpeza doméstica, as estratégias das empresas do setor em relação às novas tendências do mundo moderno e as informações sobre os hábitos desses consumidores que estão cada vez mais exigentes. O mercado brasileiro de produtos de limpeza é muito concorrido, e isso se deve principalmente a enorme variedade de itens que podem ser escolhidos e a enorme quantidade de categorias existentes. (RBT, 2004). Neste contexto de grande concorrência, há expectativas de que o setor continue crescendo acima do PIB, Produto Interno Bruto, como ocorreu nos últimos cinco anos. Em 2009, o setor teve um faturamento estimado de R$ 12,2 bilhões registrando 7% de aumento em relação a 2008 quando faturou R$ 11,4 bilhões. Em relação ao volume de produtos comercializados, houve um aumento de 8% mesmo com a crise econômica mundial (ABIPLA, 2009). Para Kotler e Keller (2006), a satisfação do consumidor depende da sensação de prazer ou descontentamento obtida após a compra por meio da comparação entre o desempenho percebido do produto ofertado e as expectativas que o cliente alimentava sobre o mesmo. Em relação ao comportamento de compra, os autores afirmam que o consumidor sofre influência de fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos. Assim, de acordo com o exposto, fica clara a necessidade de se conhecer melhor o perfil do consumidor (principalmente o público feminino) deste setor, com a finalidade de detectar as variáveis mais influentes e relevantes para satisfazer suas necessidades e garantir sua fidelização, bem como avaliar se este está realmente satisfeito com a qualidade dos produtos de limpeza ofertados pelo mercado. 1. Introdução 2. Conceitos Essenciais O presente trabalho aborda o comportamento do consumidor brasileiro (prin- O conceito central de Marketing segundo Kotler e Keller (2006) é a troca que Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 11 Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP envolve obter o produto desejado por meio de alguém oferecendo alguma coisa em troca. Geralmente a troca implica a obtenção de produtos por meio da oferta de dinheiro. Para que a troca ocorra é necessária a existência de duas partes no mínimo, que as mesmas tenham algo de valor para ambas, que sejam capazes de se comunicar e de realizar entregas, que sejam livres para aceitar ou recusar aquilo que lhes é ofertado e por último, que estejam dispostas a participar da negociação. A troca cria valor porque normalmente deixa as partes envolvidas em melhor situação do que já se encontravam. Faz-se necessário também definir alguns conceitos referentes à aplicação de Marketing dos quais se destacam: os bens tangíveis ou produtos que representam o grande esforço de produção e marketing do mundo atual em que as empresas, a internet e até mesmos os indivíduos em si os comercializam buscando ser cada vez mais eficazes nesse processo (KOTLER; KELLER, 2006). Segundo Kotler e Keller (2006) o conjunto de compradores e vendedores que realizam transações de certos produtos ou classe de produtos denomina-se mercado. Para Kotler e Armstrong (2007) os compradores de um produto compartilham um desejo ou uma necessidade semelhante que podem ser satisfeitas através de trocas e relacionamentos. De acordo com Ferrell e Hartline (2006), o termo mercado não mudou quanto a sua definição, mas sim em relação a sua localização na medida em que os mercados estão cada vez menos definidos pela geografia. Faz-se necessário definir também outros conceitos como: necessidades que segundo Kotler e Keller (2006) são os requisitos humanos básicos para sobreviver e desejos que são necessidades voltadas a objetos específicos que podem satisfazer um Para os autores, os desejos são produtos da sociedade e o conjunto de desejos de várias pessoas associadas pela capacidade de compra das mesmas define o que denominase demanda. O Marketing não cria necessida- 12 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica des, ele influencia desejos assim como outros fatores sociais (KOTLER; KELLER, 2006). Atualmente é raro uma empresa conseguir satisfazer todos os seus potenciais clientes em um mercado. Por isso começouse a dividir o mercado em segmentos devido a diferenças demográficas, psicográficas e comportamentais entre os consumidores. Com a segmentação do mercado em grupos distintos, as empresas passaram a decidir em qual segmento atuar de acordo com as oportunidades que cada um disponibiliza. O grupo distinto do mercado que uma empresa pretende atuar denomina-se mercado-alvo (KOTLER; KELLER, 2006). A partir do mercado-alvo definido, a empresa desenvolve uma oferta de mercado que seja posicionada para oferecer vários benefícios centrais aos seus compradores-alvo para atender as necessidades dos mesmos por meio de uma proposta de valor que pode ser uma combinação de produtos, serviços, informações e experiências (KOTLER; KELLER, 2006). Para Kotler e Keller (2006), a marca deve ser sólida, exclusiva, forte e favorável, porque tem uma grande importância ao marketing para que os consumidores fiquem cientes da existência de determinada organização e dos produtos ofertados pela mesma. A oferta quando bem-sucedida proporciona valor e satisfação. Valor segundo Kotler e Armstrong (2007) demonstra os benefícios e os custos tangíveis e intangíveis que são percebidos pelos consumidores. Quanto maior a qualidade e o serviço ofertado maior o valor percebido. De modo contrário o preço influi no valor, em que quanto maior o preço menor será a percepção do valor. Já a satisfação demonstra o julgamento comparativo de uma pessoa de acordo com o desempenho de um produto ou serviço por este percebido confrontado com as suas expectativas. Se o desempenho supera as expectativas do cliente, maior a sua satisfação e encantamento. Se caso contrário, e o desempenho não superar as expectativas, o cliente Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP ficará desapontado e insatisfeito. Se o desempenho e as expectativas se equivalerem o cliente fica satisfeito (KOTLER; KELLER, 2006). 3. Os Quatro Ps Para Kotler e Armstrong (2007) a empresa precisa desenvolver um mix de marketing, orientada pela estratégia de marketing, integrando o composto de fatores sob seu controle – produto, preço, praça e promoção conhecidos como os 4 Ps. Para encontrar a melhor estratégia e seu mix de marketing, a empresa precisa engajar-se na análise, planejamento, implementação e controle de marketing, por meio do qual, observa-se a sua adaptação aos participantes e às forças do seu ambiente. Entretanto para Baker (2005), os 4 Ps são basicamente um resumo da função de marketing que é responsável pelo gerenciamento do mix de marketing. Ele destaca que a adoção de uma orientação de marketing não requer que a função de marketing deve ser vista como a mais importante. A necessidade de uma função especializada de marketing em uma organização é provavelmente muito menor do que as empresas que são dominadas por vendas ou produção. 3.1 Produto Kotler e Armstrong (2007) definem um produto como algo que pode ser oferecido a um mercado para apreciação, uso, consumo ou aquisição e que pode satisfazer desejos ou necessidades. Produtos são muito mais que bens tangíveis, além de objetos físicos, incluem serviços, pessoas, eventos, lugares, ideias, organizações ou um misto de todas essas entidades. Para Silk (2006), produto não é o que se oferece em si, mas sim todo o conjunto conhecido como pacote total de benefícios que é disponibilizado ao cliente. Para o autor o produto deve ser sempre analisado a partir do valor que o cliente recebe. Por sua vez, Las Casas (2006) aponta que o produto é a parte mais importante do composto de marketing, as várias partes de uma empresa se justificam pela sua existência. “Produtos podem ser definidos como o objeto principal das relações de troca que podem ser oferecidos num mercado para pessoas físicas ou jurídicas, visando proporcionar satisfação a quem os adquire ou consome.” (LAS CASAS, 2006, p. 164). 3.2 Preço Kotler e Armstrong (2007) indicam que é fundamental para o sucesso de uma empresa encontrar a estratégia certa de determinação de preços e implementá-la, até mesmo para sua sobrevivência. A determinação de preços permite que a empresa seja paga pelo valor que cria para os clientes, essas decisões podem representar o sucesso ou o fracasso de uma empresa. Já que após a criação de valor para o cliente, a empresa pode captar uma parcela do mesmo para ela com o objetivo de financiar futuras ações para desenvolver o valor, no caso tal processo representaria uma precificação eficaz (SILK, 2006). Kotler e Armstrong (2007) definem preço de duas formas, no sentido estrito como sendo a quantia em dinheiro que se cobra por um produto e/ou serviço e em um sentido mais amplo como sendo a soma de todos os valores que os consumidores trocam pelos benefícios de obter ou utilizar um produto e/ou serviço Segundo Kotler e Armstrong (2007), o único elemento do mix de marketing que produz receita e um dos mais flexíveis é o preço; todos os outros são custos. Os preços podem ser alterados rapidamente, diferentemente das características dos produtos e dos compromissos com os canais de distribuição. O preço é também um dos maiores problemas que os executivos de marketing enfrentam, sendo que a precificação não é lidada Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 13 Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP muito bem pelas empresas. Ainda de acordo com Kotler e Armstrong (2007), o teto para o preço de um produto é estabelecido pelos custos e pelas percepções que o consumidor tem do valor do produto. Ele não o comprará se perceber que o preço é maior que o valor do produto. É preciso considerar diversos fatores externos e internos ao estabelecer um preço entre esses dois extremos, incluindo as estratégias e preços dos concorrentes, natureza do mercado e da demanda como também sua própria estratégia e mix de marketing. Las Casas (2006) afirma que quando os produtos são desejados e aparecem em pouca quantidade, os preços tendem a subir para chegar ao equilíbrio entre produção e consumo, porém, se um produto for muito ofertado e sua procura for pequena, os preços tendem a diminuir para proporcionar o desejado equilíbrio. Para Silk (2006), existem duas estratégias de precificação, sendo estas: a estratégia de skimming4 e a estratégia de precificação de penetração. Na estratégia de skimming, o cliente de alto valor é o foco, ou seja, “retirar a nata”, a parte superior do mercado oferecendo um produto diferenciado ou customizado o qual lhe é atribuído um grande valor. Já na estratégia de precificação de penetração, há o estabelecimento de um preço mais baixo com o objetivo de gerar um grande volume de vendas de maneira rápida e de modo a antecipar a concorrência ganhando um significativo número de clientes nos períodos iniciais. 3.3. Praça ou Distribuição Para Silk (2006), os canais de marketing (praça) são o conjunto de mecanismos da rede por meio do qual a organização se dirige ao mercado para contatar seus clientes através de uma série de atividades para geração de demanda até a entrega física dos produtos. 4 “ Skimming” - palavra inglesa cujo significado é desnatação. 14 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Segundo Kotler e Armstrong (2007), as empresas raramente trabalham sozinhas na criação de valor para os clientes e no desenvolvimento de relacionamentos lucrativos com eles. Pelo contrário, as empresas compõe um único elo em um canal de distribuição e uma cadeia de suprimentos mais amplos. Com isso o sucesso individual de uma empresa não depende apenas de seu desempenho, mas também da competitividade de todo seu canal de distribuição com os canais dos concorrentes. Se a empresa quer ser eficaz na gestão de relacionamento com o cliente, ela também precisa ser eficaz na administração de relacionamento de parceria. Las Casas (2006) afirma que somente um produto e um preço adequado são insuficientes para assegurar as vendas, se faz necessária também uma forma eficiente de conduzir os produtos até os compradores finais, senão o plano de marketing será deficiente, pois os consumidores estão acostumados a comprar em locais que lhes sejam acessíveis, convenientes e disponíveis quando eles necessitam. De acordo com o autor é através do sistema de distribuição que o marketing proporciona utilidade de lugar e de tempo. Os fabricantes elegem seus distribuidores para que possam vender seus produtos nos locais e tempo certos. O que é determinante para o sucesso de uma estratégia mercadológica é a colocação de produtos em estabelecimentos apropriados e em épocas certas, o que nem sempre é tarefa fácil podendo ser exigido até mesmo uma reformulação na estratégia geral de marketing. Para Kotler e Keller (2006), as empresas utilizam intermediários quando elas podem ganhar mais fazendo uso desses ou quando lhes faltam recursos para trabalhar com marketing direto. É por sua eficiência em tornar as mercadorias largamente disponíveis e acessíveis aos mercados-alvo que os intermediários são utilizados. É preciso analisar as necessidades Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP dos clientes para as decisões de qual tipo de canal utilizar, além de estabelecer os objetivos do canal e identificar e avaliar as principais opções, inclusive os tipos e a quantidade de intermediários a serem envolvidos no canal. Além disso, é preciso selecionar, treinar e motivar os intermediários para um gerenciamento eficaz do canal e formar uma parceria duradoura que seja lucrativa para todos os membros (KOTLER; KELLER, 2006). 3.4 Propaganda ou Comunicação De acordo com Silk (2006), a propaganda (promoção) se refere ao conjunto de maneiras de comunicação com os clientes cuja finalidade é divulgar seu produto, suas características, aumentar o interesse de compra dos consumidores, a chance de experimentar o produto e/ou repetir a compra. Para Kotler e Armstrong (2007) a propaganda envolve comunicar a proposição de valor da empresa ou da marca utilizando uma mídia paga para informar, persuadir e lembrar os consumidores. Assim, de acordo com os autores, o objetivo geral da propaganda consiste em ajudar a construir relacionamentos com o cliente pela comunicação do valor para o cliente. É preciso contar com grandes doses de discernimento e análise quantitativa por parte dos gerentes para determinar os orçamentos de propaganda. De acordo com Las Casas (2006) o termo propaganda no Brasil é confundido com publicidade, na verdade publicidade refere-se à divulgação não paga, já a propaganda, segundo a Associação Americana de Marketing, é qualquer forma paga de apresentação não pessoal de ideias, produtos ou serviços, levada a efeito por um patrocinador identificado. Ainda segundo o autor, pode haver dois tipos de propaganda, a promocional e a institucional. A propaganda promocional é realizada no intuito de estimular a venda imediata, enquanto que a propaganda institucional visa divulgar marcas de produtos ou a própria imagem da empresa, com a intenção de venda direta. 4. Comportamento do Consumidor Segundo Solomon (2008), a percepção é um processo que envolve a seleção, a organização e a interpretação de sensações físicas como imagens, sons, odores e etc. que são estímulos de marketing muito importantes para a avaliação do produto pelo consumidor. Por isso um estímulo deve apresentar certo grau de intensidade para que possa ser percebido pelos receptores sensoriais e também possa ser diferenciado por meio de mudanças de embalagem, alteração no tamanho do produto ou redução de seu preço. Cada vez mais os clientes buscam produtos que ofereçam um valor hedônico superior além do valor funcional, pois a maioria das marcas apresenta desempenhos semelhantes e com isso a estética do produto se tornou a alternativa a ser mais avaliada para a tomada de decisão de compra. Além disso, os indivíduos frequentemente utilizam a heurística (práticas mentais) para tomar a decisão sobre o que comprar por meio de muitas crenças que estes desenvolvem ao longo da vida como a que o preço está relacionado de maneira positiva com a qualidade, que marcas conhecidas ou o país de origem de determinado produto indicam qualidade e etc.. Tais fatores demonstram a lealdade das pessoas com certa marca (produto) ou a inércia em se comprar o que é mais fácil e prático para os mesmos (SOLOMON, 2008). Para Churchill Jr. e Peter (2000), o processo de compra de produtos e serviços se inicia pelo reconhecimento de uma necessidade que pode vir de uma sensação interna como a fome, cansaço e etc. ou estímulos externos como um convite para uma festa. O impulso interior para atender uma necessidade é denominado de motivação De acordo com Kotler e Keller (2006), a avaliação geral que um consumidor realiza Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 15 Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP a respeito de um objeto, comportamento ou conceito denomina-se atitude, que determina do que este gosta ou não. Para Silk (2006), atitudes definem-se como avaliações gerais realizadas pelo indivíduo por meio de sua experiência ou através da busca de informação de uma determinada marca ou produto. Para Kotler e Keller (2006), após o consumidor analisar todas as opções ele toma a decisão de compra podendo agir rapidamente se o produto estiver em liquidação, desistir da compra se nenhuma das opções identificadas de fato não o satisfazer, ou adiar a compra se o mesmo quiser economizar dinheiro. As razões do porquê de um produto ser comprado variam muito e a identificação dos motivos pelos quais um consumidor realiza uma compra é muito importante para assegurar que um produto satisfará apropriadamente as necessidades e desejos de seus clientes o que pode até mesmo determinar com o tempo e com o acúmulo de experiências favoráveis, a lealdade dos mesmos com a marca. Para Solomon (2008), o tempo é um recurso importante que determina quanto esforço e procura, contribuirá para a tomada de decisão de compra. O ambiente criado pela loja também afeta o grau de prazer e excitação do cliente por meio da conveniência percebida, a sofisticação, o conhecimento da equipe de venda e etc. que muitas vezes promovem as compras de impulso, em que o consumidor compra um produto devido uma súbita necessidade de adquiri-lo. O contexto de uso do produto também serve de base para a sua segmentação, porque dependendo de sua destinação os consumidores procuram diferentes atributos para determinar o que comprar. A presença de outras pessoas (coconsumidores) e os tipos de pessoas também influi nas decisões de compra pelo desejo de serem aceitos pelos outros. Os indivíduos ou grupos as quais as opiniões ou comportamento são considerados especiais e impor- 16 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica tantes denominam-se grupos de referência. A conformidade com os desejos dos outros depende de dois fatores: a influência social informal em que as pessoas moldam seu comportamento a partir de outras devido à ideia de que o comportamento dos outros são a maneira correta de agir e a influência social normativa nas quais as pessoas se moldam para serem aceitas e satisfazer as expectativas do grupo de referência. Os membros do grupo fundem as suas identidades em uma identidade única, grupal, tornando os indivíduos desindividualizados. Além dos grupos de referência, existem também os lideres de opinião cujas opiniões são altamente consideradas influindo sobre as escolhas de outras pessoas (SOLOMON, 2008). O autor ainda afirma que o conhecimento que um indivíduo tem sobre os produtos muitas vezes é aprendido pela comunicação boca a boca e não pela propaganda formal. Mas apesar da grande utilidade da comunicação boca a boca para o marketing de difundir a existência de um produto, ele também pode lesar as empresas através de boatos prejudiciais ou propaganda boca a boca negativa. Segundo Churchill Jr. e Peter (2000), uma reação comum do consumidor após efetivar uma compra é ele se perguntar se ele realmente fez a melhor escolha. Esse sentimento é conhecido como dissonância cognitiva, remorso do comprador, ou dissonância pós- compra que resulta da dificuldade ou até mesmo da impossibilidade de se examinar minuciosamente todas as ações possíveis de modo a assegurar que a decisão tomada foi realmente a melhor. Quanto à tomada de decisão geralmente há três tipos: a tomada decisão rotineira que envolve poucas atividades de pesquisa, baixo envolvimento com a compra, a consideração de poucas marcas, minimização de custos e etc. por se tratar de produtos simples, baratos e conhecidos. Depois temse a tomada de decisão limitada que envolve um grau moderado de atividades de pesqui- Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP sa, considerando várias marcas, comparando algumas características dos produtos, buscando informações sobre os mesmos e gastando certo tempo na busca de um maior valor, menor custo e esforço. Por fim, há a tomada de decisão extensiva em que o grau de envolvimento é considerável, por causa da comparação de muitas opções analisadas por meio de várias características, da consulta de inúmeras fontes de informações, da necessidade de um grande investimento em tempo e esforço e etc.. Esta tomada de decisão é a menos comum por se tratar da aquisição de produtos mais caros (CHURCHILL JR.; PETER, 2000). 5. Fatores que influenciam o processo de decisão Para Kotler e Keller (2006), existem quatro fatores que influenciam o processo de decisão de compra, sendo estes os: culturais, sociais, pessoais e psicológicos. Quanto aos fatores culturais citam-se a cultura, a subcultura e a classe social. A cultura segundo Churchill Jr. e Peter (2000) é um conjunto de valores básicos e comportamentos que são aprendidos e compartilhados por uma sociedade com a finalidade de assegurar a sua sobrevivência. A cultura é o grande fator determinante do comportamento e desejos de uma pessoa e compõem-se de diversas subculturas que identificam e socializam de maneira mais específica os seus membros, sendo um segmento dentro da cultura de pessoas que compartilham valores e padrões de comportamentos distintos. Exemplos de subculturas são: as nacionalidades, as religiões, os grupos raciais, as regiões geográficas e etc.. Para Kotler e Keller (2006), a maioria das sociedades humanas apresenta estratificação social, algumas se organizam através de sistema de castas em que cada indivíduo é educado por regras específicas sem haver mobilidade social, outras e mais frequentemente se estratificam por meio de classes sociais que apresentam divisões homogêneas e duradouras chamadas hierarquias cujos membros têm valores, interesses e comportamentos semelhantes. De acordo com Cobra (2003), a classe social de um indivíduo expressa a junção de fatores de renda (renda pessoal ou familiar com a adição de seu patrimônio) e de atividades sociais (o nível educacional e a ocupação exercida). As classes se diferenciam em diversas características como o vestuário, preferências, padrões de linguagens e etc.. Conforme a estratificação social, seus membros são dispostos como ocupantes de classes superiores ou inferiores de acordo com as seguintes variáveis: a ocupação, a renda, grau de instrução e etc., nas quais há mobilidade social. Além disso, as classes sociais têm diferenças de preferências por produtos, marcas, meios de comunicação, tipos de linguagens e etc. (KOTLER; KELLER, 2006). O comportamento do consumidor também é influenciado por fatores sociais como os grupos de referência que exercem influência direta ou indireta nas atitudes, pensamentos, sentimentos e comportamentos do indivíduo (KOTLER; KELLER, 2006). Segundo Kotler e Armstrong (2007), tais grupos são de grande importância para o marketing, porque remetem as pessoas a comportamentos e estilos de vida novos, influenciando as atitudes pessoais, a autoimagem, entre outros fatores, além de pressionar as mesmas a escolherem marcas e produtos que se identificam com o grupo. Há a tendência de que essa influência fique cada vez mais forte quanto mais visível for o produto em relação ao grupo que o comprador respeita. Em relação à posição da pessoa em cada grupo, esta pode ser definida por meio dos papéis e status que apresenta. Papel define-se como as atividades que são esperadas que uma pessoa desempenhe e que acarreta em um status que indica o quanto a sociedade a estima. Tanto o papel quanto o status são determinantes de quais produtos adquirir. Por fim há o líder de opinião que é um Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 17 Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP indivíduo que divulga informalmente, oferece conselhos e informações específicas sobre produtos ao grupo de referência que influencia (KOTLER; KELLER, 2006). Para Kotler e Armstrong (2007), os líderes de opinião possuem habilidades, conhecimento, personalidade entre outras características que exercem grande influência sobre os demais impulsionando tendências, e consequentemente aumentando e muito as vendas de determinados produtos disseminando informações sobre o que deve ser comprado e o que não se deve comprar. Para Kotler e Keller (2006), a família além de ser o grupo de influência primária mais influente, é também a organização de compra de produtos de consumo mais importante em uma sociedade. A família se distingue em família de orientação formada pelos pais e irmãos e família de procriação que inclui o cônjuge e os filhos. Os consumidores são também influenciados por características pessoais, como a idade, o estágio no ciclo de vida, a ocupação, a personalidade, a autoimagem, o estilo de vida, os valores e etc.. Conforme a idade, as pessoas compram diferentes produtos como roupas, móveis, e etc. de acordo com as suas necessidades e desejos. Além disso, existem os estágios de ciclo de vida psicológicos, as transições ou mudanças na vida do indivíduo como casamento, nascimento de filhos, viuvez, ocupação, circunstâncias econômicas e etc. que também influenciam o padrão de compra. Outros fatores bastantes influentes são: a personalidade e a autoimagem. Segundo os autores, personalidade são traços psicológicos distintos que tornam coerentes e contínuas as reações de um indivíduo diante de um estímulo. Características como autoconfiança, domínio, autonomia, sociabilidade, adaptabilidade entre outras descrevem a personalidade. Diante disso, as marcas também apresentam uma personalidade própria que faz com que o cliente escolha aquelas que combinem com a sua. Daí define-se personalidade da marca como um conjunto de carac- 18 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica terísticas humanas distintas que são atribuídas a uma marca. Outro fator muito influente é o estilo de vida que representa o padrão de vida de certa pessoa por meio de atividades, interesses e opiniões. Os estilos de vida dos indivíduos são determinados pela restrição monetária e pela restrição de tempo, que são determinantes muitos utilizados pelo marketing para produzir produtos com alta praticidade, qualidade e baixo custo para atender seus consumidores. Os valores centrais do indivíduo da mesma forma influem na decisão de compra, pois estes são as crenças que embasam as atitudes e o comportamento da pessoa determinando suas escolhas e desejos (KOTLER; KELLER, 2006). Ainda segundo os autores, estímulos ambientais de marketing influem no consciente do cliente, que juntamente com os fatores psicológicos combinados às características do indivíduo acarretam no processo de decisão de compra. Entre os fatores psicológicos citam-se: a motivação, a percepção, a aprendizagem e a memória que são bastante influentes nas reações dos consumidores em relação aos vários estímulos de marketing. Para Kotler e Armstrong (2007), uma pessoa motivada age influenciada pela percepção que ela tem da situação. Ela aprende por meio de seus cincos sentidos: audição, paladar, visão, olfato e tato. Porém a recepção, a organização e interpretação destas informações sensoriais ocorrem de maneira individual. Percepção é o processo de seleção, organização e interpretação das informações recebidas para que através disso, o indivíduo possa criar uma imagem do mundo. A percepção depende dos estímulos físicos e das relações dos mesmos com o ambiente e as condições internas da pessoa. As percepções dos indivíduos expostos a uma mesma realidade variam consideravelmente. Para o Marketing a percepção é o principal fator que influencia o comportamento de compra do consumidor (KOTLER; KELLER, 2006). Outro fator importante é a apren- Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP dizagem, que é definida por Kotler e Keller (2006) como: um processo de mudanças comportamentais causados em decorrência de experiências vivenciadas. Para Kotler e Armstrong (2007), a aprendizagem ocorre também por meio da aquisição de comportamentos humanos já existentes. Um grande estímulo que nos motiva a agir chama-se impulso, enquanto que os sinais são estímulos de baixa intensidade que definem quando, onde e como o indivíduo irá reagir. Já a generalização se refere ao não reconhecimento de diferenças em um conjunto de estímulos semelhantes. Para Las Casas (2006) a generalização é a tendência de a pessoa responder a uma nova situação de forma semelhante a situações similares já vivenciadas. Segundo Kotler e Keller (2006), discriminação é o inverso, pois ela implica na aprendizagem que permite a distinção de estímulos semelhantes para que a partir disso, a pessoa possa adaptar suas respostas a essas diferenças. Para os autores, em relação ao processamento da memória, ela se inicia com a codificação que determina como e onde a informação será armazenada. Quanto maior a quantidade e a qualidade do processamento, melhor a força de associação da informação. Por fim, há a recuperação que indica como ocorre a extração da informação da memória. Quanto maior a força de associação de uma informação, maior será a capacidade de ela ser lembrada. 6. Metodologia O presente estudo compõe-se de uma pesquisa quantitativa que segundo Malhotra (2006), trata-se de uma pesquisa que busca quantificar dados aplicando alguma forma de análise estatística nos mesmos. Para Hair Jr. et al. (2005) os dados quantitativos são números utilizados para representar de maneira direta as propriedades do objeto de estudo em questão, sendo a base para a realização de análises estatísticas. A partir das definições apresenta- das, tem-se que este estudo foi elaborado através de uma pesquisa descritiva que segundo Cooper e Schindler (2003), referese a um estudo formal, estruturado sobre hipóteses ou questões investigativas claras atendendo a diversos objetivos como: descrições de fenômenos ou associações de características da população-alvo, estimativa das proporções de uma população que possuem essas características e descoberta de associações entre variáveis distintas. Um estudo descritivo pode apresentar vários níveis de complexidade, mas independentemente disso, o mesmo exigirá muitas habilidades e altos padrões de planejamento e execução. Este estudo também envolveu um survey (levantamento) que de acordo com Hair Jr. et al. (2005), define-se como um estudo transversal (descreve um panorama ou elementos administrativos a partir de um determinado ponto no tempo) o qual investiga uma propriedade com a finalidade de descrever as características distintas da mesma, devendo-se levar em consideração que estes elementos são medidos uma única vez no processo investigativo. Prosseguindo no que se refere ao estudo, cabe aos pesquisadores definirem quem e quantas pessoas entrevistar, quais eventos analisar e quais registros investigar (COOPER; SCHINDLER, 2003). Um elemento da população indica uma unidade de pesquisa, ou seja, uma pessoa selecionada para que sejam realizadas mensurações, é o objeto a partir do qual se busca uma determinada informação. Malhotra (2006), denomina população-alvo como a soma ou agregado de todos os elementos que possuem características comuns e que compreendem o universo do problema de pesquisa de marketing dos quais serão feitas análises. A amostra segundo Cooper e Schindler (2003), define-se como uma parcela representativa da população-alvo que deve ser cuidadosamente selecionada pelo pesquisador. Toda amostra possui uma composi- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 19 Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP ção que é uma representação dos elementos contidos na população-alvo, podendo ser uma lista ou um conjunto de instruções necessárias para a identificação da populaçãoalvo (MALHOTRA, 2006). Quanto à classificação das técnicas de amostragem, tem-se que esta pesquisa valeu-se de uma amostragem probabilística na qual para Cooper e Schindler (2003), cada elemento da população possui uma chance conhecida, fixa e diferente de zero de ser inserida na amostra, sendo que os pesquisadores realizam uma seleção aleatória de elementos de modo a reduzir ou até mesmo eliminar os vieses na amostragem, assim a amostra selecionada apresenta uma confiança substancial demonstrando ser representativa da população-alvo e reduzindo a chance de erros amostrais. Referente às técnicas de amostragem probabilística, o presente estudo utilizou uma amostragem aleatória simples, a qual de acordo com Cooper e Schindler (2003), como a sua própria denominação sugere, é a forma mais simples de amostragem probabilística. Já para Malhotra (2006) é uma técnica em que cada elemento da população possui uma probabilidade conhecida e igual de ser selecionado independentemente de qualquer outro, sendo que a amostra em questão foi selecionada por um processo aleatório. A amostragem aleatória simples possui diversas características convenientes sendo de fácil compreensão, seus resultados podem ser projetados para a população-alvo e a maior parte das abordagens da inferência estatística admite que os dados sejam realmente oriundos de uma amostragem aleatória simples. 7. Levantamento e Análise dos Resultados Após a tabulação dos dados realizada no Excel constatou-se que referente à renda familiar a amostra analisada apresentou uma 20 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica renda média alta, concentrada na faixa de 2 a 4 salários mínimos. Referente ao sexo das pessoas que compuseram a amostra as mulheres se mostraram mais aceptivas à abordagem pessoal e ao tema do levantamento deste estudo, tal fato comprova-se devido à maior parte das pessoas entrevistadas (62%) serem do sexo feminino. Quanto à escolaridade, a amostra também se compôs de pessoas de formação média alta, sendo que 35% apresentaram ensino médio completo e 53% superior incompleto ou completo. Referente à frequência de compra, constatou-se que na amostra analisada, ninguém realiza compras diárias de produtos de limpeza e a maioria (65%) faz as suas compras mensalmente. O gasto mensal com produtos de limpeza dentro das faixas analisadas demonstrou um gasto baixo sendo que 76% da amostra gastam até 100 reais. O supermercado é o principal centro de compras de produtos de limpeza em evidência (95% da amostra). Referente ao grau de importância o preço, a marca, a fragrância, o desempenho, a proteção ao meio ambiente e o SAC, Serviço de Atendimento ao Consumidor, possuem grande importância para os produtos de limpeza segundos os entrevistados, enquanto que a propaganda e a embalagem apresentaram um grau de importância menor em relação às demais características analisadas. A amostra analisada também demonstrou ser fiel a determinadas marcas (63%), mas nota-se que é grande a tendência em se trocar de marcas principalmente devido ao preço praticado pelas mesmas. Entre os produtos que apresentaram um grande volume de compras, destacase: o sabão em pó, o amaciante, a água sanitária, o detergente e o sabão em barra sendo estes os mais citados pelos entrevistados. Devido o sabão em pó ter sido o mais citado em relação aos produtos mais comprados, a marca Omo foi a mais lembrada sendo bem evidente a sua significância entre as demais marcas citadas. Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP apresentar um preço mais acessível para o consumo. Referente aos problemas encontrados para fazer a limpeza com o uso dos produtos, constata-se que o principal problema se encontra no baixo desempenho destes quanto ao grau de limpeza esperada pelos entrevistados. Além dessa constatação, observou-se que uma parcela significativa da amostra não enfrenta problemas para realizar a limpeza utilizando os produtos analisados e já outra parcela disse que o principal problema encontrado está na dificuldade de se usar o produto devido a sua embalagem. Finalizando a análise dos resultados, foram realizados cruzamentos de dados por meio do programa estatístico SPSS, na qual obteve-se os seguintes resultados: Os principais fatores evidentes para se experimentar novos produtos de limpeza segundo os entrevistados foram: o menor preço apresentado e a qualidade/rendimento esperado para o uso do produto. Quanto às sugestões de melhorias aos produtos de limpeza, os entrevistados apresentaram várias ideias sendo importante citar: produtos que agridam menos à saúde devido a alergias que muitos deles causam, apresentar um dosador por causa da dificuldade de se mensurar o quanto gastar do produto para um desempenho eficiente, apresentar uma fragrância mais duradoura e ser tanto a embalagem quanto o produto em si biodegradável. Mas o que mais foi evidente neste quesito referente a melhorias foi que os produtos devem apresentar maior qualidade/rendimento, ter uma embalagem mais prática e resistente e Tabela 5 - Motivos que estimulam a compra de outras marcas e/ou produtos X Renda familiar Renda Familiar (salário mínimo) Motivos que estimulam a compra de outras marcas e/ou produtos Nenhum Qualidade Preço Fragrância Curiosidade/ Conhecer Falta do produto preferido Propaganda Total Até 1 0 1 2 0 2 0 0 5 de 1 a 2 0 8 9 0 2 1 2 22 de 2 a 4 4 15 23 0 9 1 3 55 de 4 a 10 2 8 13 2 2 0 1 28 acima de 10 1 7 6 1 2 1 0 18 Total 7 39 53 3 17 3 6 128 FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. Conforme se observa acima neste cruzamento de resultados entre a renda familiar dos entrevistados e os motivos que os levam a comprarem outras marcas e/ou produtos, tem-se que independentemente da renda, todos os consumidores são motivados a experimentar outros produtos ou marcas devido a dois principais fatores, sendo estes: o preço e a qualidade. Quanto menor a renda maior o estímulo de compra motivado devido ao preço que o produto apresenta e quanto maior a renda maior é a motivação de se adquirir um novo produto ou marca por causa de sua qualidade esperada. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 21 Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP Tabela 5 - Motivos que estimulam a compra de outras marcas e/ou produtos X Renda familiar Você se considera fiel a alguma marca? Motivos que estimulam a compra de outras marcas e/ou produtos Nenhum Qualidade Preço Fragrância Curiosidade/ Conhecer Falta do produto preferido Propaganda Total Sim e não penso em trocar 2 10 10 0 2 1 2 27 Sim, mas compro outra marca quando há promoção 2 15 22 1 8 2 3 53 Não, estou sempre experimentando novidades 2 13 18 2 7 0 1 43 Não, cada vez eu compro um diferente 1 1 3 0 0 0 0 5 Total 7 39 53 3 17 3 6 128 FONTE: Elaborado pelos autores, 2010. No cruzamento de resultados acima apresentado com relação à fidelidade ou não a determinada marca e entre os motivos que estimulam a compra de outras marcas e/ou produtos, torna-se mais evidente ainda que independentemente de o consumidor ser fiel ou não, os principais fatores como já constatados no cruzamento anterior já apresentado e agora novamente reafirmados, para se experimentar outros produtos são: a qualidade e principalmente o preço conforme diminui o grau de fidelidade dos consumidores. Conclusão Esta pesquisa teve a finalidade de avaliar as variáveis que interferem no comportamento do consumidor de produtos de limpeza da região de Ribeirão Preto. Em um mercado muito concorrido, como o de produtos de limpeza, a gestão da qualidade e do preço praticado atualmente é um fator decisivo para desenvolver um diferencial que inclua valor ao produto e conquiste o consumidor, devido a isso é grande a importância para que os gestores desenvolvam a qualidade de seus produtos ofertados e ofereçam um preço mais acessível para atender as necessidades de seus clientes e superar as suas expectativas. Uma vez realizado o instrumento de coleta de dados e obtido as informações e suas 22 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica respectivas análises, chegou-se aos resultados que permitiram aos pesquisadores apresentar o seguinte conjunto de conclusões: A satisfação quanto aos produtos baseia-se nas avaliações efetivas nos desejos dos consumidores. Durante a realização das entrevistas pode-se observar que a maior parte das pessoas valoriza principalmente a qualidade e o preço apresentado pelo produto de limpeza. Referente à importância dos atributos dos produtos de limpeza, os entrevistados classificaram os principais como: o preço, a marca, a fragrância, o desempenho, a proteção ao meio ambiente e o SAC, enquanto que a embalagem e a propaganda apresentaram menor grau de importância. Outro fator de fundamental importância é que a satisfação do cliente deve ser uma procura permanente de qualquer tipo de organização ou setor mesmo que haja mudanças das necessidades e desejos das pessoas. É tarefa das organizações acompanharem as tendências do mercado e se adequarem a estas da melhor maneira possível, elas devem focar sempre o cliente, avaliando seu perfil e o que ele considera importante. A cada ano cresce o consumo de produtos de limpeza dentro e fora dos lares brasileiros e entender este consumidor para melhor atendê-lo torna-se um dos fatores mais importantes para que as empresas do setor tenham sucesso. Um Estudo sobre o Comportamento dos Clientes de Produtos de Limpeza na Região de Ribeirão Preto – SP Referências bibliográficas ABIPLA. Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins. Anuário, 2009. Disponível em: <http://www.abipla.org.br/novo/anuario.aspx>. Acesso em: 19 mar. 2010. BAKER; Michael J. (Org.). Administração de Marketing. 5º ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. CHURCHILL JR., Gilbert A.; PETER, J. Paul. Marketing: criando valor para os clientes. São Paulo: Saraiva, 2000. COBRA, Marcos. Administração de Marketing no Brasil. 2º ed. São Paulo: Cobra, 2003. COOPER, Donald R.; SCHINDLER, Pamela S.. Método de Pesquisa em Administração. 7º ed. Porto Alegre: Bookman, 2003. FERRELL, O. C.; HARTLINE, Michael D.. Estratégia de Marketing. 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Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 23 A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional Kristian Casaquia Domingos¹ Antonio Nardi² RESUMO Este artigo tem por objetivo comparar e analisar o comportamento organizacional de funcionários de uma empresa do setor público e privado, por meio da teoria das três necessidades de David McClelland, bem como apresentar os conceitos de motivação de diferentes filósofos de nossa história. A pesquisa foi realizada de forma empírica, onde os principais resultados foram apresentados para comprovar que a necessidade depende de quanto a pessoa está motivada ou satisfeita no seu ambiente de trabalho. Para demonstrar isto, junto com o desempenho de cada um que são assuntos que devem ser estudados sempre com o propósito de que os colaboradores devem se comprometer ao máximo na realização de seu trabalho, pois esta motivação está dentro de cada um nós e nenhuma organização conseguirá funcionar sem o desempenho de seus funcionários. Assim não será possível alcançar os objetivos e metas, tanto da organização como os pessoais, pois a motivação funciona como um conjunto de elementos ou fatores que influenciam o comportamento do ser humano tanto na vida pessoal como na profissional, fazendo com que ele seja impulsionado a realizar determinadas tarefas ou objetivos que lhe são impostos. E com isso, foi aplicado um questionário com base em informações sobre a Realização, Filiação e Poder das pessoas, dando início a uma pesquisa empírica para poder chegar aos resultados esperados. Dessa forma, conseguimos identificar se os colaboradores estão motivados, realizados, va¹Bacharelada em Direito pelas Faculdades COC ²Profª. Dra. do curso de Direito das Faculdades COC. 24 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica lorizados, reconhecidos e satisfeitos com seu ambiente de trabalho e com seus benefícios, bem como tendo bons relacionamentos com seus colegas. Palavras-Chave: Motivação, Comportamento e Realização. ABSTRACT This article aims to compare and analyze the organizational behavior of employees of a company from public and private sector, through the theory of the three necessities of David McClelland, and introduce the concepts of motivation of different philosophers of our history. The research was carried out empirically, where key findings were presented to demonstrate that the need depends on how the person is motivated or satisfied in their work environment. To demonstrate this, along with the performance of each of which are issues that must always be studied in order that employees must commit themselves to the utmost in carrying out their work because this motivation is within each of us and no organization able function without the performance of their employees. So you can not achieve the goals and objectives of both the organization and the personal motivation for working as a set of elements or factors that influence human behavior in both personal and in professional, causing it to be driven to perform certain tasks or goals that are imposed. And with that, a questionnaire was based on information on the Achievement, Affiliation and Power of the people, ushering in an empirical research in order to achieve the expected results. Thus, we can identify if employees are motivated, fulfilled, appreciated, recognized and satisfied with their working environment and benefits, as well as having good relationships with their colleagues. Key Words: Motivation, Behavior and Achievement. 1. Introdução Todas as informações contidas neste artigo foram extraídas de leituras realizadas em livros e sites relacionados ao tema, e do desenvolvimento de uma pesquisa de campo para qual mostra o quanto à descoberta da necessidade e da motivação humana, se torna importante para um bom relacionamento pessoal e profissional na organização. Além de mostrar a importância da necessidade baseado principalmente em suas teorias e melhores formas de motivar um funcionário, também será mostrado a seguir o significado de motivação e outras teorias apresentadas por diversos filósofos de nossa história. De acordo com essas teorias, vamos compreender melhor que toda necessidade precisa de um incentivo para a satisfação própria, e esse incentivo vem em forma de motivação, para que essa dificuldade que surgiu em forma de necessidade seja saciada, o indivíduo precisa de uma motivação, que normalmente está dentro de nós mesmos. Essa necessidade quando satisfeita faz com que ele seja levado a sua realização tanto pessoal como profissional. Agora quando a necessidade não o satisfaz, faz com que o comportamento desse indivíduo não mude, ou seja, sem motivação não há mudanças. O estudo da motivação de funcionários nas empresas vem sendo mais observado nos últimos anos por meio do comportamento humano, pois a satisfação envolve a interação entre o indivíduo e a situação que o envolve na organização. Quanto mais se aprofunda no estudo do comportamento motivacional humano, mais claramente se percebe que a motivação de cada um está ligada a um aspecto que diz respeito à sua própria felicidade pessoal, e aos poucos vai se percebendo que não é possível motivar quem quer que seja. As pessoas já trazem dentro de si as expectativas pessoais que ativam determinado tipo de busca aos seus objetivos e ideais. Porém é sempre importante levar em consideração a existência de diferenças individuais e culturais entre as pessoas, quando se fala em tipo de necessidade e motivação, porque elas estão em busca de meios para alcançar seus objetivos finais como: dinheiro, benefícios sociais, promoções ou aceitação do grupo, entre outros. Devido a essa motivação, as necessidades acabam se transformando em realização de planos ou metas e projetos. As ideias iniciais fundamentam a definição do objetivo dessa pesquisa que consiste em analisar a necessidade de realização, filiação e poder dos funcionários de uma empresa pública e privada, baseado na motivação para com o seu trabalho. A hipótese foi fundamentada na seguinte consideração; que a necessidade de realização, filiação e poder estão interligados a motivação em qualquer ambiente de trabalho, no que se associa para uma maior contribuição no comprometimento e desempenho dos funcionários em suas atividades e a boa relação pessoal e profissional de seus colaboradores nas organizações. O primeiro capítulo deste trabalho apresenta a parte da fundamentação teórica enfatizando os conceitos e características de acordo com o que vem a ser apresentado. O segundo capítulo destaca todos os procedimentos metodológicos, o detalhamento da pesquisa, junto com o problema encontrado e o objetivo esperado no campo empírico, os quais são indispensáveis em um artigo para conclusão de curso. E ainda descrevendo o Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 25 A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional resultado e envolvendo a uma análise dos dados coletados na empresa para qual a pesquisa foi realizada. A conclusão apresenta uma síntese dos principais pontos da pesquisa, tanto do ponto de vista teórico quanto do ponto de vista prático. 2. Necessidade e Motivação nas Organizações Toda necessidade precisa de um incentivo para a satisfação, e esse incentivo vem em forma de motivação, e para que seja saciada essa necessidade, o indivíduo precisa de uma motivação. A necessidade é uma forma de se conseguir atingir um objetivo, ou seja, ela surge a partir de um estímulo que é dado por alguém para o cumprimento de alguma atividade, ou também pode vir de uma necessidade pessoal. Em resumo toda necessidade surge para se alcançar alguma meta ou objetivo, fazendo com que o indivíduo busque sua realização tanto pessoal como também profissional. 2.1. Motivação: o que é? “Motivação sf.1.Ato ou efeito de motiva.2.Exposição de motivos ou causas.3.Conjunto de fatores, os quais agem entre si, e determinam a conduta de um indivíduo.4.V.móbil(2).[Pl.:ções.].”(FERREIRA, 2000, p.473). A Motivação é um dos fatores intrínsecos que influenciam o comportamento dos colaboradores, este sentido é fundamental para entender as pessoas no ambiente de trabalho. O significado de motivação deriva da palavra latina “movere”, que significa mover. “A motivação é considerada como um aspecto intrínseco aos colaboradores, ninguém pode motivar ninguém, sendo que a motivação específica para o trabalho depende do sentido que se dá a ele.” (BERGAMINI, 1997, p. 24) A motivação surge de acordo com as necessidades de cada indivíduo. Qualquer 26 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica que seja essa necessidade ele sempre vai precisar estar motivado para poder alcançar ou suprir esse objetivo ou meta. Pode-se dizer também que a motivação é um conjunto de fatores psicológicos, conscientes ou não, de ordens fisiológicas, intelectuais ou afetivas, que determinam certo tipo de conduta em alguém. Sendo assim motivação está ligada aos motivos que leva uma pessoa a algum estado ou atividade. Para Robbins (2005), a motivação é como um processo responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de uma pessoa para o alcance de uma determinada meta. A motivação é toda forma encontrada para impulsionar um indivíduo tanto para uma tomada de decisão como também para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Ela envolve atividades as quais nos levam a um determinado objetivo. Assim, vamos nos tornar motivados ou estimulados por necessidades internas e externas que podem ser de caráter fisiológico ou psicológico. O comportamento motivado tenderá a prosseguir até que o nosso objetivo seja alcançado, de forma a reduzir a tensão que sentimos. Compreender a motivação humana tem sido um grande desafio para muitos administradores. A motivação é a energia ou força que movimenta o comportamento, tem três propriedades: a) Direção: o objetivo do comportamento humano motivado ou a direção para qual a motivação leva o comportamento; b) Intensidade: magnitude da motivação; c) Permanência: direção da motivação. (MAXIMIANO, 2007, p.250). Essa energia situa-se no plano psicológico, nas necessidades satisfeitas, a exemplo de trabalhar no que gosta, de sentir-se realizado com os resultados atingidos e de manter bom relacionamento com os colegas e com os chefes no ambiente de trabalho. A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional 2.2. Importância da Motivação A importância do estudo da motivação para o ambiente de trabalho, mostra as condições responsáveis pelos seus objetivos e pela qualidade e intensidade do comportamento humano. Segundo Bergamini (1997), o estudo da motivação abrange, em última análise, aquelas tentativas de conhecer como o comportamento é iniciado, persiste e termina. Assim quando o indivíduo procura um resultado, está buscando meios para alcançar resultados finais como: dinheiro, benefícios sociais, promoções ou aceitação do grupo. Graças à motivação, as necessidades se transformam em objetivos, planos e projetos. Os motivos podem ser definidos como necessidades, desejos ou impulsos oriundos do indivíduo e dirigidos para objetivos, que podem ser conscientes ou subconscientes. De acordo com Maximiano (2007, p. 251), “uma pessoa motivada usualmente significa alguém que demonstra alto grau de disposição para realizar uma tarefa ou atividade de qualquer natureza”. Ele ainda acrescenta que o estudo da motivação para o trabalho desperta grande interesse entre administradores e pesquisadores, dada à importância de entender e manejar as causas ou os fatores que podem causar o estado de disposição para realizar tarefas. energia dessas necessidades e emoções. A motivação extrínseca envolve os fatores externos que vêm buscar uma melhor condição na satisfação, tanto na vida profissional como também na vida pessoal. Motivações que surgem por meio de um conjunto de benefícios, que, somados ao salário, formam concretamente a sua remuneração. De acordo com Bergamini (1997), muitos teóricos do mundo acadêmico e principalmente administradores fora dele atribuem às ações condicionadas pelas variáveis do meio ambiente a denominação de comportamento motivado. As necessidades ou motivações intrínsecas podem vir como necessidades sociais, de relacionamento, de status, e que podem ser saciadas principalmente pelas empresas de acordo com suas políticas sociais, culturais, e de acordo com a situação que a empresa vive no momento. Para Bergamini (1997, p. 32), entende que a motivação “é um impulso que vem de dentro e que tem, portanto, suas fontes de energia no interior de cada pessoa”. Ninguém consegue motivar outra pessoa, o que pode ser feito é o estímulo para a execução de alguma tarefa ou algum outro tipo de atividade, a motivação é uma força que está dentro de cada um de nós e que pode estar ligada a uma vontade ou desejo. 2.3. Motivação Extrínseca e Intrínseca 2.4. A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland Tanto a motivação extrínseca quanto a motivação intrínseca são fatores importantes no desenvolvimento das necessidades e na busca de sua superação buscando sempre alcançar a motivação certa para a conclusão da atividade que está sendo exercida naquele momento ou situação. Segundo Bergamini (1997), as pessoas entram em ação por várias razões. Há, no entanto, grande diferença entre o movimento que se origina das reações aos agentes condicionantes extrínsecos ao indivíduo e a motivação que nasce das necessidades internas e que tiram a sua fonte de Essa teoria procura mostrar que existem três tipos diferentes de necessidades e que elas direcionam, impulsionam e selecionam o comportamento humano. As referidas necessidades são únicas para cada indivíduo, pois elas possuem objetivos e desejos que são indispensáveis para o seu direcionamento frente às situações que surgirão. Chiavenato (2004, p. 173), mostra que as teorias das necessidades partem do princípio de que os “motivos do comportamento residem dentro do próprio indivíduo: sua motivação para agir e se comportar, deriva das forças que Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 27 A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional existem dentro dele próprio. Algumas dessas necessidades são conscientes, enquanto outras não”. Para isso, McClelland, propõe três fatores que são especialmente úteis para entender melhor o comportamento humano no trabalho. Esses fatores são os seguintes: realização, filiação e poder. 2.4.1. Necessidade de realização Essa necessidade é um conjunto de expectativas de cada indivíduo, em poder realizar seus desejos e em poder crescer dentro de uma organização. De acordo com Motta e Vasconcellos (2002), a necessidade de realização “é o desejo inconsciente do indivíduo de atingir um nível de excelência técnica ou profissional”, na qual ele obtém o reconhecimento de seus pares. Segundo McClelland (MAXIMIANO, 2007, p. 253), as pessoas com necessidades de realização: Escolhem metas que são desafiadoras, porém viáveis. Não se arriscam demasiadamente, preferindo as situações cujos resultados podem controlar. Dão mais importância à realização da meta que às possíveis recompensas. Precisam de feedback específico sobre seu desempenho. Dedicam tempo a pensar sobre realizações de alto nível. A necessidade de realização, para Robbins (2005, p. 138), corresponde “ao impulso de buscar a excelência, realizar coisas com relação a um conjunto de padrões, lutar para ter sucesso”. Essa necessidade depende do potencial de cada pessoa e do seu comprometimento em fazer as coisas bem feitas, investir no seu potencial e tornar-se bem sucedido nas atividades que realiza. 2.4.2. Necessidade de filiação O indivíduo possui a necessidade de 28 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica se relacionar com outras pessoas, buscando sempre valorizar essas relações pessoais do que o próprio trabalho. As pessoas com necessidades de filiação, para McClelland valorizam as relações humanas, não se preocupam tanto com realizações e preferem atividades que proporcionem muitos contatos com outras pessoas (MAXIMIANO, 2007). De acordo com Motta e Vasconcellos (2002), essa necessidade é o desejo inconsciente de fazer parte de um grupo social acolhedor, no qual se desenvolvam relações interpessoais positivas. 2.4.3. Necessidade de poder A necessidade de poder é caracterizada pela busca de controle e dominação sobre outros indivíduos. Segundo McClelland (MAXIMIANO, 2007, p. 257), as pessoas com uma elevada necessidade de poder procuram cargos que tenham poder e procuram também influenciar outras pessoas e seu ambiente. Essas pessoas têm duas orientações distintas: poder pessoal e poder institucional. O poder pessoal é perigoso porque conduz à tentativa de dominação, ao passo que o poder institucional é benéfico porque enfatiza o desenvolvimento de grupos eficazes, trabalho organizado, recompensas equitativas e o bem da organização. Já para Motta e Vasconcellos (2002), a necessidade de poder é o desejo inconsciente de ter que tomar decisões que tenham impacto sobre os outros indivíduos e sobre o grupo organizacional em geral. Indivíduos voltados para o poder enquanto fatores de motivação buscam posições de liderança, em que possam controlar recursos e influenciar outras pessoas. Essa necessidade mostra o poder correspondente ao desejo de ser influente e ter impacto sobre outros indivíduos. São pessoas que gostam de estar no comando, ocupando posições altas dentro de uma organização, num grau de hierarquia elevado. A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional 2.5. Outras Teorias: a Hierarquia de Maslow De acordo com Motta e Vasconcelos (2002), a teoria sobre a hierarquia de necessidades de Abraham H. Maslow (1943) foi fundamental para os estudos sobre motivação que se voltavam primordialmente para a teoria da personalidade e do desenvolvimento humano, independente de preocupações com eficiência organizacional. Maslow mostra que o ser humano tem necessidades complexas que podem ser hierarquizadas e que o homem é motivado por necessidades organizadas numa hierarquia de relativa prepotência. Isto significa que uma necessidade de ordem superior surge somente quando a de ordem inferior for relativamente satisfeita. Essas necessidades estão ligadas com o fato de que o homem procura sempre se satisfazer, buscando cada dia melhorar suas condições tanto pessoal como também profissional, e toda vez que uma dessas necessidades é satisfeitas, sempre vai surgir uma nova, e assim buscar o grau máximo de satisfação para a sua vida. Segundo Maslow (MAXIMIANO, 2007), as necessidades humanas são divididas em cinco grupos: necessidades fisiológicas ou básicas, necessidades de segurança, necessidades sociais, necessidades de estima e necessidades de auto-realização. As necessidades fisiológicas ou básicas estão ligadas à sobrevivência do indivíduo, como alimento, abrigo (proteção contra a natureza), repouso, exercício, sexo e outras necessidades orgânicas. O homem é um animal dotado de necessidades; assim que uma de suas necessidades é satisfeita, surge outra em seu lugar. Esse processo não tem fim: é contínuo, desde o nascimento até a morte. As necessidades do homem estão organizadas numa série de níveis, ou numa hierarquia de valor. O homem só busca o pão quando não há pão. A menos que as circunstâncias sejam especiais, suas necessidades de amor, status e reconhecimento são inoperantes quando seu estômago está vazio há certo tempo. Mas quando ele come regularmente e de maneira adequada, a fome deixa de ser motivação importante. O mesmo ocorre em relação às outras necessidades fisiológicas do homem: de descanso, exercício, abrigo, proteção, etc. Chiavenato (2004) mostra que “as necessidades fisiológicas incluem fome, sede, sono, sexo, e outras necessidades corporais” e são as necessidades básicas de sobrevivência biológica. Figura 1 Pirâmide da hierarquia das necessidades de Maslow FONTE: Adaptado de Maximiano, 2007. As necessidades de segurança estão ligadas à proteção contra ameaças, inclusive a ameaça de perda do emprego, na proteção contra o perigo, ou a privação. Quando as necessidades fisiológicas estão razoavelmente satisfeitas, as necessidades localizadas no nível superior começam a dominar o comportamento do homem; começam a motiválo. Essas são as chamadas necessidades de segurança que são necessidades de proteção contra o perigo, a ameaça, a privação. As sociais estão ligadas ao afeto, interação e a sua situação perante a sociedade, ou seja, a sua participação e a sua aceitação por parte dos seus amigos. Quando as necessidades fisiológicas do homem estão satisfeitas e ele não está mais temeroso a respeito do seu bem-estar físico, suas necessidades sociais tornam- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 29 A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional se importante fator de motivação de seu comportamento; necessidades de participação, de associação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade e afeto vêm à tona. A auto-estima envolve a autoapreciação, a autoconfiança, a necessidade de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e consideração, além de desejo de força e de adequação, de confiança perante o mundo, independência e autonomia. Para Chiavenato (2004, p.175), as necessidades de estima incluem “fatores internos de estima, como autorrespeito, autonomia, senso de competência, e fatores externos de estima, como status, reconhecimento, prestígio, atenção e consideração”. A auto-realização surge quando todas as necessidades anteriores são saciadas, pois esta é a mais difícil de ser alcançada, porque depende da boa realização das anteriores. Ela é a necessidade mais elevada, pela qual pode ser mostrado todo o seu potencial e o seu contínuo desenvolvimento, aptidões e habilidades, e a realização pessoal. A teoria de Maslow , segundo Maximiano (2007, p. 257) exige algumas premissas básicas. As necessidades básicas manifestam-se em primeiro lugar, e as pessoas procuram satisfazê-las antes de se preocupar com as de nível mais elevado. Uma necessidade de uma categoria qualquer precisa ser atendida antes que a necessidade de uma categoria seguinte se manifeste. Uma vez atendida, a necessidade perde sua força motivadora, e a pessoa passa a ser motivada pela ordem seguinte de necessidades. Quanto mais elevado o nível de necessidades, mais saudável a pessoa é. O comportamento irresponsável é sintoma de privação das necessidades sociais e de estima. O comportamento negativo é consequência de má administração. Há técnicas de administração que satisfazem as necessidades fisio- 30 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica lógicas, de segurança e sociais. Os gerentes podem trabalhar no sentido de possibilitar que as outras sejam satisfatoriamente atendidas. 2.5.1 Herzberg e a Teoria dos Dois Fatores A motivação das pessoas depende de dois fatores que são essenciais para a busca da motivação: fatores higiênicos e fatores motivacionais. Conforme a chamada Teoria dos Dois Fatores, Herzberg (MAXIMIANO, 2007, p.258), aponta para a ideia de que no campo motivacional existem dois tipos de fatores: “os que causam, predominantemente, satisfação e os que causam, predominantemente, insatisfação”. De acordo Motta e Vasconcelos (2002, p.184), esses fatores que causam satisfação “estão relacionados ao aprendizado e à realização do potencial humano no trabalho, às necessidades mais complexas, cuja busca por satisfação permite a canalização da energia vital para o trabalho, e geram maior comprometimento com a organização”. Os que causam satisfação ou motivação, não necessariamente causam insatisfação ou desmotivação, ou seja, realização ou sucesso de um trabalho ou tarefa; reconhecimento pela realização de um trabalho bem feito ou um resultado conseguido; o trabalho em si, tarefas consideradas agradáveis e que provocam satisfação; responsabilidade proveniente da realização do próprio trabalho ou do trabalho de outros; desenvolvimento pessoal, possibilidade de aumento de status; possibilidade de crescimento, uma alavanca dentro da estrutura organizacional, em termos de cargos ou responsabilidade. Os que causam, predominantemente, insatisfação referem-se a fatores higiênicos que são aqueles que não motivam, mas na sua falta causa insatisfação, ou seja, supervisão a disposição ou a boa vontade de ensinar; políticas empresariais, normas e procedimentos que encerram os valores e crenças A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional da organização; condições ambientais, ambientes físicos e psicológicos que envolvem as pessoas e os grupos de trabalho; relações interpessoais, transações pessoais e de trabalho; status, forma pela qual a nossa posição está sendo vista pelos demais; remuneração, o valor da contrapartida da prestação de serviço; vida pessoal, aspectos do trabalho que influenciam a vida pessoal. Segundo apontam Motta e Vasconcelos (2002), Herzberg argumenta que essas necessidades devem ser atendidas em um nível mínimo, sem o qual a atividade humana no trabalho não é possível. Trata-se do que Herzberg chamou de um nível de higiene mínimo abaixo do qual o homem parar de trabalhar. Os fatores higiênicos referem-se às condições que rodeiam as pessoas enquanto trabalham, englobando as condições físicas e ambientais de trabalho, o salário, os benefícios sociais, a política da empresa, o tipo de supervisão recebido, o clima de relações entre a direção e os empregados, os regulamentos internos, as oportunidades existentes etc. Sendo esses dois fatores de suma importância, vale ressaltar que os dois juntos são indispensáveis para um melhor entendimento e melhoramento da motivação dos colaboradores dentro de uma organização. 3. Metodologia 3.1. Caracterização da Pesquisa A pesquisa caracterizou-se como descritiva e exploratória (LIMA, 2004). 3.2. Problematização As teorias comportamentais da administração mostram que motivação, satisfação no trabalho e desempenho dos funcionários de uma organização são assuntos que devem ser estudados com objetivo de demonstrar a necessidade do comprometimento dos colaboradores com a organização, para que seja possível alcançar os objetivos e as metas. Esta pesquisa avalia a realidade dentro de uma organização, procurando analisar de forma clara e objetiva as necessidades de realização, filiação e poder, junto com a motivação dos funcionários de uma empresa do setor público e privado, fazendo com que se tenha uma melhor convivência dentro desta organização, e uma melhora na qualidade de vida pessoal e profissional destes colaboradores. Com esse problema, se inicia toda uma pesquisa onde foi feito um estudo para saber: Qual necessidade, segundo a Teoria de McClelland, predomina mais entre os funcionários do setor público e do setor privado? 3.3. Objetivos Buscou-se verificar as necessidades de realização, filiação e poder dos funcionários de uma empresa do setor público e privado, baseado na teoria das três necessidades de McClelland, comparando assim, em qual delas podemos encontrar um maior número de funcionários com esses três tipos de necessidades. 3.4. Campo Empírico, Universo e Amostra Esta pesquisa foi desenvolvida com dois segmentos distintos: no campo empírico de um hospital público de Ribeirão Preto-SP e em uma empresa privada de prestação de serviços advocatícios de médio porte situado em Ribeirão Preto-SP. O universo desta pesquisa foi constituído pelos funcionários diretos que atuam nas empresas do setor público e privado, independente da função que exercem. Nessa pesquisa a amostra foi o universo global, composto por 30 (trinta) funcionários de cada uma das empresas, e devido ao pequeno numero de amostra, proporcionou uma coleta de dados mais exata o que facilitou a busca das informações necessárias para esta pesquisa. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 31 A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional 3.5. Instrumento de Coleta e Análise dos Dados Os dados desta pesquisa foram coletados através de um questionário sobre motivação baseado nas necessidades de realização, filiação e poder aplicado aos componentes da amostra. O questionário foi aplicado a 30 funcionários de cada uma das empresas do setor público e privado, assim distribuídos: Setor Privado Setor Público Homens Mulheres Homens Mulheres 7 23 18 12 Foram utilizadas questões fechadas para evitar dificuldades na elaboração das respostas, permitindo assim que o entrevistado fizesse uma escolha entre as alternativas que lhe foram apresentadas, tornando essa coleta mais rápida. O questionário é composto de 15 (quinze) perguntas objetivas, cada uma com 5 (cinco) alternativas, sendo 1) Discordo Totalmente; 2)Discordo; 3)Concordo Parcialmente; 4) Concordo; 5) Concordo Totalmente, para qual são destacados os principais objetivos desta pesquisa. Após ter os questionários respondidos, foi feita a análise dos dados coletados para determinar suas necessidades dominantes, e o que o motiva, seguindo a metodologia de Robbin (2007), que coloca números de 1 a 5 que representam a pontuação para cada frase perto do número dessa frase. Totais 32 Realização Poder Afiliação 1._____ 2._____ 3._____ 4._____ 5._____ 6._____ 7._____ 8._____ 9._____ 10._____ 11._____ 12.____ 13.____ 14.____ 15.____ _____ _____ _____ | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Posteriormente foi somado o total de cada coluna para que a soma dos números sejam entre 5 e 25 pontos. A coluna com a pontuação mais alta é a que indica qual é sua necessidade dominante. Depois de ter os dados analisados, e feita uma média dos 30 participantes de cada setor público e privado, os resultados obtidos foram: Empresa Privada Homens Mulheres Realização 20 15 Afiliação 16 21 Poder 15 13 Empresa Pública Homens Mulheres Realização 11 11 Afiliação 17 21 Poder 22 18 Gráfico 1 – Homem x Mulher no Setor Privado FONTE: Pesquisa de Campo, 2010. A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional Gráfico 2 – Homem x Mulher no Setor Público FONTE: Pesquisa de Campo, 2010. Além disso, foi feita uma comparação entre as duas empresas do setor público e privado, somando todos os participantes da pesquisa, foi identificado que no setor privado prevalece à necessidade de Afiliação com 37%, contra 35% de Realização e 28% de Poder, talvez devido à quantidade de mulheres na pesquisa, ser maior que o número de homens. Já no setor público, a necessidade de Poder dos participantes chega a 40%, contra 38% de Afiliação e 22% de Realização, mas no mesmo caso de que a quantidade de homens foi maior que o número de mulheres pesquisadas. Veja o gráfico 3 abaixo: Gráfico 3 – Setor privado e Setor Público FONTE: Pesquisa de Campo, 2010. 4. Conclusão O estudo da teoria das três necessidades de McClelland foi o foco central apresentado nesse artigo sobre a motivação humana nas organizações. As teorias da motivação e de necessidades tratam das forças propulsoras de cada indivíduo para o trabalho e estão normalmente associadas à produtividade e ao desempenho, despertando o interesse da organização. Desta forma, o crescimento dos estudos da motivação para o trabalho se dá pela possibilidade de atender as necessidades das empresas de criar um modo que mantenha o seu funcionário trabalhando, conforme as expectativas da organização. A empresa gostaria de ver seus funcionários motivados e integrados com os seus objetivos de forma a atingir o máximo de produtividade. Os indivíduos se tornam um meio para a busca dos fins definidos pela organização devido ao uso de padrões organizacionais de motivação. A motivação no trabalho está totalmente relacionada ao reconhecimento pelos esforços dos funcionários, a elaboração de metas com recompensas bem estabelecidas e a altura do esforço exercido, realizando feedback para que os mesmos tenham noção do quanto o seu trabalho está gerando crescimento para a empresa. As pessoas são motivadas para agir e obter resultados e pela vontade de satisfazer seus desejos e suas necessidades próprias. O segredo é identificar o que motiva o profissional, ou seja, saber quais são suas aspirações e desejos para então incentivá-lo a alcançar aquele objetivo. Por isso, é preciso identificar o nível de motivação de cada pessoa, pois muitos já estão motivados. Outros estão em busca de bens e desafios, e precisam de muita motivação. O presente estudo parte agora a se deter em apresentar aquilo que tivemos como meta a ser atingida e proposta como nosso objetivo geral: analisar as necessidades de realização, filiação e poder dos funcionários das empresas do setor público e privado se- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 33 A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional gundo as teorias motivacionais nas organizações. Observando sob a ótica da motivação, as principais conclusões da pesquisa são as que seguem. Um dos fatores que influenciam na motivação dos funcionários, é a necessidade de realização que é o desejo inconsciente do indivíduo de atingir um nível de excelência técnica ou profissional; a necessidade de associação que valorizam as relações humanas, não se preocupando tanto com realizações e acabam preferindo as atividades que proporcionem muitos contatos com outras pessoas; e a necessidade de poder que é o desejo inconsciente de ter que tomar decisões que tenham impacto sobre as outras pessoas e sobre o grupo organizacional em geral, o que os indivíduos voltados para o poder enquanto fatores de motivação buscam posições de liderança, em que possam controlar recursos e influenciar outras pessoas. Conforme os resultados apresentados, no setor privado os homens possuem maior necessidade de realização e as mulheres de afiliação. Já no setor público os homens maior necessidade de poder, enquanto as mulheres de afiliação. Comparando em relação aos setores público e privado, possui maior necessidade de poder as amostras do setor público por serem os homens a maior quantidade dos entrevistados, enquanto o setor privado possui necessidade de afiliação por serem as mulheres a maior quantidade da amostra. Assim as necessidades dos funcionários estão satisfeitas e a organização obtém o resultado desejado. A motivação é a melhor fonte potencial de maior produtividade. Desta forma, as capacidades dos empregados serão usadas com mais eficácia, o que por sua vez deve levar a uma melhor satisfação no trabalho, assim como a maior produtividade. Fala-se de motivação todo o tempo e cada empresa parece ter sempre alguém desmotivado para trabalhar. Pode-se pensar em duas abordagens sobre motivação: a própria, e como motivar pessoas ou terceiros. A mo- 34 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica tivação é uma das grandes forças impulsionadoras do comportamento humano. É ela quem determina os níveis de desempenho pessoal e profissional obtidos. 5. Limitações do Trabalho e Sugestões Futuras Este artigo apresentou algumas limitações para ser desenvolvido de acordo com um cronograma. Isto se exemplifica pelo fato de ter sido utilizada apenas uma empresa de cada setor público e privado de diferente segmentação, sendo que apenas trinta funcionários de cada uma delas foram utilizados como amostra de pesquisa empírica. Como sugestão para um próximo trabalho, poderia ser desenvolvida uma pesquisa com várias empresas de diferentes segmentos dos setores públicos, privados e até ONGs, para que assim fosse feita uma comparação de duas organizações da mesma área atuante, apontando para um resultado possivelmente mais preciso, pois o campo utilizado seria maior fazendo com que a pesquisa fosse mais ampla de acordo com a amostra dos dados coletados. A Teoria das Três Necessidades de Mcclelland: Comparação entre o Setor Público e Privado na Motivação Organizacional Referências bibliográficas BERGAMINI, Cecília Whitaker. Motivação nas Organizações. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 1997. CAVALCANTI, Vera Lucia. Liderança e Motivação. Rio de Janeiro: FGV, 2005. CHIAVENATO, Idalberto. Administração dos novos tempos: totalmente revista e atualizada. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. DAVIS, Keith; NEWSTROM, John W. Comportamento Humano no Trabalho. São Paulo: Pioneira Thomson, 1996/1998. DUBRIN, Andrew J. Fundamentos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Pioneira Thomson, 2006. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua portuguesa. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. FLEURY, Maria Tereza Leme (Coord.); Vários Autores. As Pessoas na Organização. 10ª ed. São Paulo: Gente, 2002. LIMA, Manolita Correia. Monografia: a engenharia da produção acadêmica. São Paulo: Saraiva, 2004. 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Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 35 O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais Antonio Carlos Santos Marques¹ Vera Lúcia Blat Migliorini² RESUMO O conjunto arquitetônico denominado “Quarteirão Paulista”, no centro da cidade de Ribeirão Preto, foi inaugurado na década de 1920, auge da economia cafeeira na região ribeirãopretana, por iniciativa da Cia. Cervejaria Paulista. O conjunto é formado por três edifícios, considerados de estilo Eclético: o Hotel Central, o Theatro Pedro II e o Palacete Meira Junior. Todos esses edifícios, ao longo dos anos, sofreram intervenções que alteraram várias de suas características originais. Essa pesquisa tem como objetivo organizar, e estudar de forma cronológica, todas as intervenções sofridas pelos três prédios e relacioná-las aos seus respectivos contextos históricos, sociais, culturais e artísticos em Ribeirão Preto. O estudo proposto será feito valendo-se de imagens e maquetes eletrônicas dos edifícios. Estas representações arquitetônicas, além de constituírem um registro histórico inédito, são imprescindíveis à memória da cidade, e permitirão interpretar as alterações espaciais relacionando-as ao contexto que as gerou ABSTRACT The architectural ensemble known as “Quarteirão Paulista” in Ribeirão Preto downtown has been build at the 20s coffee economic boom by the Cia. Cervejaria Paulista. This group of three ecletic buildings: the Hotel Central, the Theatro Pedro II e and the Palacete Meira Junior has changed through the years by several architectural interventions and has lost many of its original characteristics. This research aims to organize, and cronologicaly study, all the architectural interventions done and its relations with the historical, social, cultural and artistic context of Ribeirão Preto. This study will be done by original images and electronic models, specially made to allow a contextual interpretation and an yet inexistent historical documentation. 1. Introdução O ciclo econômico gerado pela cultura do café durante os séc. XIX e início do séc. XX foi de grande importância para economia brasileira que se tornou a maior exportadora mundial do produto, mas foi a economia paulista que mais se beneficiou, pois era onde estava o centro dos acontecimentos em torno da cultura cafeeira. A região do Planalto Paulista passou por uma crescente dinamização e modernização, devido à grande quantidade de capital que circulava pela região. A dinamização não ocorreu somente no aspecto econômico, mas também social, cultural e artístico. A crescente urbanização, a vinda de ¹Graduado em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário UniSEB-COC e bolsista de Iniciação Científica pela FAPESP. email: [email protected] ²Professora e Doutora em Arquitetura e Urbanismo, docente do Centro Universitário UniSEB-COC e orientadora da pesquisa de iniciação científica. 36 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica mão-de-obra assalariada de várias partes do mundo, a consolidação da classe média, a construção das ferrovias, surgimento de grupos industriais, entre outros, foram elementos que contribuíram para criação de um cenário de modernidade e euforia. A cultura e costumes europeus serviam de ícones à modernidade que se consolidava, o ecletismo e o neoclassicismo arquitetônico praticado nos países europeus foram então incorporados à arquitetura brasileira. Ficou como importante marco desse período, no centro da cidade de Ribeirão Preto, o conjunto arquitetônico denominado como “Quarteirão Paulista” (Fig. 1). Formado por três edifícios considerados de estilo Eclético, o Hotel Palace, antes chamado de Central Hotel, o Cine-Theatro Pedro II e o Palacete Meira Júnior, o conjunto arquitetônico foi projetado pelo engenheiro-arquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Júnior e financiados pela Cia Cervejaria Paulista. Os edifícios foram inaugurados entre os anos 1926 e 1930, época em que a economia em torno da cultura cafeeira já estava em declínio, devido a diversas crises no setor e ao crak na Bolsa de Valores de Nova York em 1929. Dada a importância desse conjunto arquitetônico para a história da cidade de Ribeirão Preto, esta pesquisa tem como objetivo principal apresentar um levantamento histórico e interpretativo das intervenções que ocorreram nos edifícios desde a data de inauguração nas décadas de 1920 e 1930 até ano de 2007. Estas intervenções serão representadas através de modelos tridimensionais digitais dos edifícios. Estas representações arquitetônicas, além de ajudarem na compreensão das intervenções, constituem um registro imprescindível à memória da cidade. Além dos levantamentos históricos, a respeito das intervenções, e a produção de modelos tridimensionais digitais do conjunto arquitetônico “Quarteirão Paulista” esta pesquisa se propôs realizar um levantamento histórico e a produção de modelo tridimensional digital de outro edifício de grande importância para a história ribeirãopretana, o Teatro Carlos Gomes, construído no auge da economia cafeeira, no ano de 1897, a pedido dos maiores fazendeiros de café da região de Ribeirão Preto. Em estilo Neoclássico, é considerado como o primeiro teatro do Estado de São Paulo e, na época, como um dos mais importantes do país. Figura 1: Conjunto arquitetônico “Quarteirão Paulista”. Fonte: Pesquisa de Campo, 2009. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 37 O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais Figura 2: Hotel Palace Fonte: Pesquisa de Campo, 2009. O mais antigo dos três edifícios do conjunto arquitetônico “Quarteirão Paulista” é datado do ano de 1926, projetado pelo engenheiroarquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Júnior (Fig. 2). Este edifício fica localizado na esquina entre as ruas Álvares Cabral e Duque de Caxias. Possui três pavimentos com sistema estrutural em concreto armado. Vários materiais utilizados no projeto são importados como, por exemplo, madeiras, mármores e ferragens. Segundo o arquiteto Cláudio Bauso (2008, comunicação oral), o prédio foi construído a pedido de Adalberto Henrique de Oliveira Roxo, investidor l ocal (Fig. 3). No ano 1927, a Cia. Cervejaria Paulista vira proprietária do edifício. 38 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Figura 3:Hotel Palace antes da reforma. Fonte: MAGGIORI, R., 1930. O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais Em 1930 acontece a primeira grande intervenção, também projetada pelo arquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Jr.. Essa intervenção teve como objetivo principal a incorporação desse edifício ao conjunto formado pelos dois novos edifícios vizinhos, o CineTheatro Pedro II e o Palacete Meira Junior, formando assim um conjunto arquitetônico marcado por uma mesma linguagem ou estilo, Eclético. No “C entral Hotel”, na Praça XV de Novembro, inaugurado em 1926(...). Vários elementos apresentados nas fachadas não faziam parte do projeto original, tendo sido “aplicados” ao edifício após sua incorporação ao conjunto arquitetônico denominado “Quarteirão Paulista” (1930). (VALADÃO, 1997, p.132) Também segundo Bauso (2008, comunicação oral), em 1942 o hotel foi adquirido pela família Sinelle e em 1955 começa a ser administrado pela Lazzerono, Simões & Cia. Ltda.. Em 1957, a Cervejaria Antarctica vira proprietária do prédio. Na década de 1970 acontece a segunda grande intervenção no edifício. Para se adequar aos novos padrões exigidos pela Embratur, são construídos banheiros em cada quarto, já que antes dessa intervenção os banheiros eram de uso coletivo. (Fig. 4, 5, Figura 5: Vista superior do modelo digital do Hotel Palace, entre 1974 e 2006. Figura 6: Corte interno no modelo tridimensional do Hotel Palace, entre 1974 e 2006. 6 e 7). Depois dessa interv enção o hotel continuou em funcionamento até 1992. Figura 7: Corte longitudinal no modelo digital do Palace Hotel, entre 1974 e 2006. Figura 4: Modelo tridimensional digital do Hotel Palace, período entre 1974 e 2006. Em 1996, a Prefeitura de Ribeirão Preto adquiriu o edifício e dez anos mais tarde, em 2006, começa uma nova intervenção com caráter de requalificação do prédio e de sua utilização. Foi planejado um Centro Cultural destinado a várias atividades culturais e artísticas. O projeto foi executado pelo arqui- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 39 O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais teto Jeferson Dantas Navolar. (Fig. 8, 9 e 10) A intervenção de 2006 possui algumas características importantes em relação ao tratamento com o edifício de valor histórico, uma delas é a intenção de valorizar as características históricas e monumentais da edificação, principalmente as fachadas do edifício, defendidas por leis de proteção e preservação do patrimônio histórico e arquitetônico, devido à ligação com os outros edifícios do conjunto. Está, portanto, delineada a problemática especial da arquitetura como exterior, no que tange à problemática geral da obra de arte em relação às eventuais operações de restauro. Coloca-se, por isso, em primeiro lugar, a inalienabilidade do monumento como exterior do sítio histórico em que foi realizado. (BRANDI, 2004, p. 133) Percebemos também que o projeto se preocupa em diferenciar através das características materiais, materialidade, as novas construções e intervenções das construções antigas, procurando dessa maneira valorizar as características históricas originais da edificação, assim como defendiam alguns estudiosos e teóricos do patrimônio histórico como Camilo Boito. Uma vez admitido o princípio da restauração, esta deve adquirir sua legitimidade. Para isso, é necessário e suficiente fazer que seja reconhecida como tal. O caráter pertinente, adventício, ortopédico do trabalho refeito deve ser marcado de forma ostensiva. Ele não deve por nenhuma hipótese passar por original. É imperioso que se possa, num relance, distinguir a inautenticidade da parte restaurada das partes originais do edifício, (CHOAY, 2006, p. 166) 40 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Figura 8: Fachada do modelo digital do edifício do Hotel Palace após a intervenção de 2006. Figura 9: Corte interno no modelo digital mostrando as estruturas criadas para a nova utilização, após 2006. Figura 10: Corte longitudinal do modelo digital mostrando as novas estruturas, as novas aberturas e também, em alguns pontos, o aumento do espaço interno devido a demolição de paredes, após 2006. O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais Figura 11: Theatro Pedro II. Fonte: Pesquisa de campo, 2009. O projeto do Cine-Theatro Pedro II é do ano de 1928, executado pelo engenheiroarquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Júnior e financiado pela Cia. Cervejaria Paulista. O edifício está localizado na rua Álvares Cabral, em frente a praça XV de Novembro (Fig. 11). O edifício foi construído com estrutura em concreto armado e estrutura metálica na cobertura e na cúpula, o projeto estrutural foi desenvolvido pela empresa E. Kimmits e Cia..Várias outras empresas participaram da empreitada para a construção do Cine-Theatro e do Palacete Meira Jr, entre elas a Guilherme Degen, responsável pela alvenaria de tijolos; a Ulysses Pelliciotti & Cia., responsável pelos ornatos; a Irmãos Granja responsável pelas esquadrias e a B. Sant’Anna & Cia. encarregada das instalações elétricas. (MEIRA Jr., 1932). Segundo publicação do advogado João Alves Meira Júnior, então responsável pela Cia Cervejaria Paulista aconteceram, durante as obras para a construção do Theatro e do Palacete, diversos atritos com o engenheiro-arquiteto responsável pela obra, Hyppolito Gustavo Pujol Júnior, devido às discordâncias entre o projeto original apresentado e a obra final. E o mais curioso de tudo isso, é que o Autor fugiu á planta, supprimiu obras previstas como o salão de chá na confeitaria, quatro salas e um foyer no theatro, a columnata ou terraço na frente dos treis edificios; reduziu a lotação do theatro; não assentou apparelhos, como telephones, campainhas, e o regulador da intensidade da iluminação do palco scenico; abandonou o theatro antes de concluil-o e lá deixou uma serie de defeitos que não recommendam o seu apregoado renome de architecto... (MEIRA Jr, 1932, p. 12). Durante a execução da obra foi acrescentado um pavimento no subsolo do Theatro, segundo consta em uma carta enviada Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 41 O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais pelo engenheiro-arquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Júnior ao presidente da Cia Cervejaria Paulista, sugerindo que: “No desenvolvimento do projecto de execução, surgiu-nos a possibilidade, com pequeno augmento de despesas, de aproveitar todo o porão do Theatro em um magnifico ‘salão de cabaret’ ou ‘dancing’”. (MEIRA Jr., 1932, p.16). O projeto do Cine-Theatro Pedro II é inspirado na Ópera de Paris, projetada por Charles Garnier (Fig. 12, 13 e 14). Assim como este, outros teatros projetados no Brasil no início do séc. XX tomaram como partido de projeto a mesma referência como, por exemplo, os Theatros Municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro, o primeiro projetado por Ramos de Azevedo e o segundo por Francisco de Oliveira Passos. Isso mostra de maneira clara quais eram as referências e intenções a respeito dos atributos para uma cidade em processo de modernização. Figura 14: Corte longitudinal no modelo digital do edifício do Theatro Pedro II segundo projeto original (1928). Em 1930, a construção do Theatro Pedro II e do conjunto “Quarteirão Paulista” é finalizada. Devido ao crak na Bolsa de Valores de Nova York em 1929 e aos problemas que ocorreram durante as obras, já comentados anteriormente, vários padrões de acabamentos foram alterados ou dispensados e o projeto original sofreu diversas modificações. Mesmo assim, no dia 08 de outubro de 1930, foi inaugurado o Cine-Theatro Pedro II, com apresentação do filme “Alvoradas do Amor”. (FUNDAÇÃO D. PEDRO II, 2009) (Fig. 15) Figura 12: Desenho de elevação do Theatro Pedro II (1928). Figura 15: Evento próximo a data de inauguração do Theatro. Fonte: Fundação Pedro II. Figura 13: Modelo digital do “Quarteirão Paulista” segundo projeto original (1928). 42 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Em 1939 acontece a primeira intervenção no edifício do Theatro, para construção e montagem do piso e do assoalho no subsolo, e foi projetada pelo arquiteto Ernesto Correa. O projeto tinha a intenção de me- O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais lhorar as condições no subterrâneo do Theatro para que fosse mais bem aproveitado. A partir a década de 1950, devido principalmente às alterações dos locais de interesse especulativo do mercado imobiliário, em direção ao vetor de expansão sul da cidade “(...) na década de 1940 e 1950, onde residiam camadas de alta renda, atraiu o comércio de luxo na direção desses novos bairros” (CALIL Jr., 2003, p. 130), o centro de Ribeirão Preto começa a presenciar um processo de degradação, juntamente com seu patrimônio arquitetônico. Na década seguinte, o Theatro Pedro II sofreu sucessivas intervenções, tanto na sala de espetáculos quanto no subsolo, que foram modificados para atender a novos usos (Fig. 16). Na década de 60, o prédio passou por reforma que o descaracterizou. Vários elementos decorativos foram destruídos, a platéia foi reduzida e placas de madeira encobriram camarotes, frisas e galerias laterais para transformá-lo em cinema. Entre as décadas de 50 e 70, o subsolo do Theatro Pedro II foi transformado em salão de bailes de carnaval. Fora do período carnavalesco, era transformado em sala de jogos. O local ficou conhecido como “Caverna do Diabo” (FUNDAÇÃO D. PEDRO II, 2009). Figura 16: Tela de projeção do cinema que sobrepôs o palco. Fonte: CEDOM Theatro Pedro II. Até que no dia 15 de junho de 1980, durante a exibição do filme “Os Três Mosqueteiros Trapalhões”, inicia-se um grande incêndio que destrói parcialmente o Theatro. Com este episódio a estrutura do edifício foi abalada e o prédio ficou inutilizado por vários anos. Em junho de 1982, o Theatro Pedro II foi tombado como Patrimônio Histórico pelo CONDEPHAAT, e a partir de então iniciaram-se diversas discussões a respeito da reforma e requalificação do edifício, que incluíram a população ribeirãopretana, os órgãos públicos e a iniciativa privada, até então, proprietária do prédio. Depois de intensas discussões, em 1989 o Theatro foi desapropriado pelo Governo do Estado de São Paulo e entregue à Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto. Em 1991, iniciou-se a primeira fase de intervenção no edifício, sendo que a construtora responsável pela obra foi a Jábali Aude Construções Ltda. Essa primeira fase termina em 1992. Em 1993 são retomadas as obras, com projetos de arquitetura desenvolvidos pelo arquiteto Nelson Dupré. A reforma e restauração do prédio vão até o ano de 1996, quando o Theatro é reinaugurado, no dia 15 de maio. As maiores alterações aconteceram: no subsolo, onde foi criada uma área para café, um teatro de câmara, camarins individuais e coletivos e salas de apoios aos artistas; na cúpula do Theatro, que foi totalmente modificada em relação a original, pela artista plástica Tomie Ohtake; na infra-estrutura do edifício, onde foram implantados novos sistemas elétricos e hidráulicos e elementos para a acessibilidade universal, instalados aparelhos de ar-condicionado nas salas de espetáculos e nos camarins; na infra-estrutura cênica, que também foi modernizada com novos aparelhos de som e iluminação; na sala principal do Theatro, que ganhou painéis acústicos e parte do palco funciona como um elevador para acomodação da orquestra ou para trânsito de instrumentos . (Fig. 17, 18, 19, 20 e 21). Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 43 O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais Figura 17: Platéia e palco principal do Theatro. Fonte: Pesquisa de campo, 2009. Figura 20: Modelo digital do Thaetro Pedro II, após intervenção de 1996. Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Figura 18: Cúpula do Theatro desenhada pela artista plástica Tomie Otahke. Fonte: Pesquisa de campo, 2009. Figura 21: Corte longitudinal no modelo digital do Theatro Pedro II, após intervenção de 1996. Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Figura 19: Auditório Meira Júnior no subsolo do Theatro. Fonte: Pesquisa de campo, 2009. Figura 22: Palacete Meira Júnior. Fonte: Pesquisa de Campo, 2008. 44 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais O palacete ou edifício Meira Júnior foi projetado no ano 1928, juntamente com o projeto do Theatro Pedro II pelo engenheiroarquiteto Hyppolito Gustavo Pujol Júnior, e assim como os demais possui estrutura de concreto armado (Fig. 22). Situado na esquina das ruas Álvares de Cabral e General Osório, “O projeto original do Edifício Meira Júnior apresentava em seu pavimento térreo as instalações de lojas, uma confeitaria de luxo. Os dois pavimentos superiores seriam ocupados por escritórios.” (Guia Histórico da Cidade de Ribeirão Preto, 2000) (Fig. 23 e 24) Figura 23: Modelo digital do Edifício Meira Júnior, segundo projeto original de 1928 Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Figura 24: Corte do modelo digital do Edifício Meira Junior, segundo projeto original de 1928. Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. O prédio foi inaugurado no ano de 1930. Seis anos depois acontece a primeira intervenção, projetada pelo arquiteto Baudilio Domingues. O projeto é de uma marquise na fachada da Rua General Osório em continuação à marquise já existente na fachada da rua Álvares Cabral. A partir do ano de 1977, a famosa choperia “Pinguim 2” passa a funcionar no térreo do edifício. Atualmente o edifício inteiro é alugado para a choperia, o primeiro pavimento é ocupado por um salão de eventos e o segundo pavimento por diversas salas de escritórios e a atual proprietária do prédio é a Santa Casa de Ribeirão Preto. No ano de 1994 o edifício Meira júnior, juntamente como o conjunto arquitetônico “Quarteirão Paulista” e a praça XV de Novembro, foram tombados como Patrimônio Histórico pelo CONDEPHAAT (SECRETARIA DA CULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULO). Em 2001 aconteceu a última intervenção no edifício, quando a choperia e o salão de eventos foram reformados internamente para atender aos seus respectivos usos, nessa intervenção percebemos novamente a intenção de valorizar as características históricas e monumentais do edifício, principalmente em relação a fachada, que possui poucas interferências. Figura 25: Lateral do Teatro Carlos Gomes. Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. O Teatro foi projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo, “Em estilo neoclássico de RevistaMultidisciplinar Multidisciplinarde deIniciação IniciaçãoCientífica Científica | | Revista 45 45 O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais influência italiana” (VALADÃO, 1997, p. 115) a pedido dos maiores fazendeiros da região de Ribeirão Preto na época, “No início do século, a aristocracia fazendária do Café local, com a ajuda de capitalistas de boa vontade, fez uma ‘combinação’ bairrista: construir um teatro moderno que projetasse a cidade. Seria o Teatro Carlos Gomes!” (CIONE, 1997, p. 50). (Fig. 25, 26, 27, 28 e 29) No dia 7 de dezembro de 1897, com a apresentação da peça “O Guarany”, do maestro Antonio Carlos Gomes e interpretado pela Cia. Lírica Italiana DE MATIA o teatro foi inaugurado. ‘A construção do edifício, o monumental de então, o maior e melhor teatro do setor sul do país, de melhor acústica, imponente, em plena praça XV de Novembro, constitui um plano arrojado. Escadarias de mármore de Carrara, candelabros de bronze alemão, madeira de lei, pinhos de Rigas, portas lavradas e material de proscênio e da ribalta importados da Europa, assim como os vitrais italianos e telhas (ardósia) francesas.’. (VALADÃO, 1997, p.116) Figura 26: Interior do Teatro Carlos Gomes. Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. “Podemos assim deduzir que o modelo de ‘modernidade’ européia havia chegado a Ribeirão Preto através da arquitetura” (VALADÃO, 1997, p.116). O Teatro representava tanto com sua arquitetura, como com sua 46 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica função a pujança do capital da economia cafeeira, na arquitetura através da adoção de diversas características da cultura européia, tanto nos materiais utilizados como também na adoção de estilo, no caso neoclássico, que representavam para a sociedade brasileira, na época, a sintonia com os estilos modernos das cidades européias, em processo de industrialização. Já na função do edifício, como equipamento cultural, percebemos a consolidação de uma sociedade urbana e que utiliza esse equipamento como local de encontros sociais. Durante vários anos o Teatro serviu com um dos centros das manifestações culturais na cidade de Ribeirão Preto, “o Teatro Carlos Gomes, foi um teatro realmente famoso. Merecidamente famoso. No Brasil e no exterior, na Europa especialmente de onde procediam companhias líricas especialmente contratadas para as noites de gala do tempo áureo do café.” (CIONE, 1989, p. 344). Além das diversas companhias teatrais e musicais, até algumas novidades para época foram apresentadas no Teatro, como uma sessão de cinematógrafo cantante, “o Teatro Carlos Gomes convida os seus ‘habitués’ no dia 14 de janeiro de 1910 a irem assistir o seu número ‘o cinematógrafo cantante’” (CIONE, 1997, p. 49). Com o passar dos anos e devido a diversos acontecimentos como a crise financeira na cultura cafeeira gerada pela quebra da bolsa de valores de Nova York em 1929 e também por causa da construção de um novo teatro, o Theatro Pedro II, o Teatro Carlos começou a perder importância. “Tudo durou enquanto durou o café. Com a queda do café, em virtude da crise de 29, a elite foi desaparecendo, dando lugar aos plebeus que ascendiam na sociedade, popularizando a cultura e lhe dando rumos novos”;“O Teatro Carlos Gomes foi o primeiro local das manifestações artísticas da elite de Ribeirão Preto; o Pedro II o substituiu.” (CIONE, 1997, p. 51). “Depois da construção do Teatro Pedro II, em 1930, o Carlos Gomes perdeu importância O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais e passou a ser considerado de segunda categoria, não obstante sua linha arquitetônica expressiva e a riqueza do seu interior.” (JORNAL VERDADE) O edifício do teatro também começou a sofrer alterações em relações ao uso, “A partir de 1930, passou a ser sede de entidades políticas ficando em precárias condições” (CIONE, 1997, p. 51). Devido a esses acontecimentos, parte da sociedade ribeirãopretana começa a ficar insatisfeita com a presença do Teatro, iniciou-se, então, uma mobilização para que o edifício fosse demolido, “A demolição do teatro passou a ser defendida por uma forte corrente sob o argumento de que havia de transformado em um ‘pardieiro’. (...). O articulista reconhece que o Teatro Carlos Gomes ‘foi um orgulho de Ribeirão Preto nos anos 20, acolhendo as mais belas vozes do mundo’. Mas que a partir dos anos 30, ‘virou um velho cinema’ e ali se instalou um ringue de patinação, além de ser ocupado como sede da Escola de Samba ‘Os Bambas’” (JORNAL VERDADE) No final da década de 1930 iniciaram diversas discussões a respeito de que destino deveria ter o edifício do Teatro Carlos Gomes. Em carta datada do dia 15 de setembro de 1939 dirigida ao Secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, Sr. Dr. Antonio C. de Sales Junior, a Caixa Econômica do Estado de São Paulo dispõe sobre a intenção de se instalar no edifício, juntamente com o Palácio de Justiça da cidade de Ribeirão Preto, através de “adaptações necessarias e possiveis” (LEITE, 1939, p. 1), no edifício. Sabêdores que fômos da boa vontade que há por parte do benemérito Prefeito local em dar á justiça de Ribeirão Preto agasalho compativel á importancia da nóssa urbs, para o que está pronto em promover a desapropriação do vélho Teatro Carlos Gomes, o que feito seria o mesmo doado ao Estado para que aproveitado fôsse para a construção, por adaptação, do Forum local;. (LEITE, 1939, p. 1) Durante os primeiros anos da década de 1940 o futuro do Teatro Carlos Gomes continuou incerto, até que no ano de 1943 a Prefeitura de Ribeirão Preto desapropriou o teatro, pagando o valor de doze mil e quinhentos cruzeiros a cada um dos oito dos herdeiros. No mesmo ano iniciou-se a demolição do edifício e que durou até o ano de 1946. Depois da demolição não houve a construção do Palácio da Justiça, nem de qualquer outro edifício no local do antigo Teatro. Anos mais tarde foi construído na Praça Carlos Gomes um terminal de ônibus urbanos, tempos depois esse terminal foi desativado e o quarteirão virou praça novamente. Figura 27: Modelo do Teatro Carlos Gomes. Figura 28: Vista Lateral do Modelo do Teatro Carlos Gomes. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 47 O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais Figura 29: Corte longitudinal no modelo do Teatro Carlos Gomes. CONSIDERAÇÕES GERAIS Analisando os levantamentos históricos e os materiais produzidos, percebe-se de maneira clara que a história do conjunto arquitetônico “Quarteirão Paulista” está relacionada de forma direta com a história da cidade de Ribeirão Preto, principalmente com a história de sua área central. Relacionando a história desses edifícios com da cultura cafeeira, que foi de fundamental importância para o desenvolvimento da cidade e da região de Ribeirão Preto, do ponto de vista, econômico, social, cultural e artístico. Esse período foi marcado pela construção do Teatro Carlos Gomes, que representa claramente esse desenvolvimento, sendo considerado um dos teatros mais importantes do país e que financiava a vinda de diversas companhias teatrais da Europa para se apresentarem na cidade. O conjunto arquitetônico “Quarteirão Paulista” reflete o período de início da industrialização e da modernização urbana provocada pelo ciclo do café no início do séc. XX. Financiado por industriais da época, os edifícios do conjunto, executados com estruturas de concreto armado, um avanço para época, seguem a mesma influência estética, o ecletismo, praticado na arquitetura européia. Assim como a economia das cidades, entre elas Ribeirão Preto, dependentes das riquezas geradas pela cultura do café, 48 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica sofreram com o crak da Bolsa de Nova York no ano de 1929, o conjunto “Quarteirão Paulista” também sofreu diversas modificações antes da sua inauguração, no ano seguinte. E o Teatro Carlos Gomes iniciou a sua fase de decadência. O “Quarteirão Paulista” também refletiu o processo de degradação ocorrido no centro da cidade a partir da década de 1950. Assim como em outras cidades brasileiras, Ribeirão Preto acompanhou as transformações geradas pelas mudanças dos interesses financeiros e especulativos que dirigiram seus investimentos imobiliários para outras regiões da cidade. Na década de 1990, o conjunto arquitetônico tornou-se centro de debates e discussões por parte de vários setores da sociedade ribeirãopretana. Tanto a população como o poder público e privado debateram sobre qual seria a melhor solução para a requalificação do conjunto. Isso apresenta uma nova forma e postura de organização em torno de projetos de interesse da comunidade. As posturas projetuais das intervenções que ocorreram nos edifícios do conjunto também revelam diferentes conceitos em relação ao patrimônio histórico arquitetônico. Até o tombamento dos edifícios, que aconteceu nas décadas de 1980 e 1990, as intervenções tinham como objetivo principal satisfazer as necessidades usuais das edificações, nos casos em que esses usos eram alterados, como no caso no Theatro, durante a década de 1950, a preocupação com as características originais da construção e seu valor artístico e histórico eram desconsideradas. Após o tombamento dos edifícios, percebe-se que os projetos de intervenção, pautados agora por uma legislação específica, tentam respeitar ao máximo as características originais das edificações, sem que isso impeça que essas construções abriguem novos usos. Essas intervenções propõem, quando necessário, a construção de elementos novos ou a demolição de partes do edifício antigo, e dessa maneira os prédios O histórico de intervenções no “Quarteirão Paulista” e no Teatro Carlos Gomes em Ribeirão Preto por meio de representações tridimensionais digitais ganham flexibilidades para os novos usos. Porém algumas intervenções, com a introdução elementos novos, ou até com a manutenção das características originais das edificações, em alguns casos, são questionáveis e fazem parte de diversas discussões atuais a respeito de como intervir em construções que possuam um importante significado histórico e artístico. Dessa maneira, fica mais uma vez evidente que o Teatro Carlos Gomes e o conjunto arquitetônico “Quarteirão Paulista” não representam somente um marco de um período histórico importante na cidade de Ribeirão Preto, como foi o final do século XIX e início do século XX, mas principalmente reflete as mudanças da sociedade, da cultura e dos conceitos artísticos das diferentes épocas. Referências bibliográficas ARQUIVO PÚBLICO E HISTÓRICO DE RIBEIRÃO PRETO. Disponível em < http://www. arquivopublico.ribeiraopreto.sp.gov.br/scultura/arqpublico/i14index.asp>. Acesso em julho de 2009. BRANDI, C. Teoria da Restauração. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004. CALIL Jr., O. O Centro de Ribeirão Preto: os processos de expansão e setorização.São Carlos: EESC-USP, 2003. CHOAY, F. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Ed. Unesp, 2006. CIONE, R. História de Ribeirão Preto. v. 5. Ribeirão Preto: Legis Summa LTDA, 1997. _________. História de Ribeirão Preto. v. 1. Ribeirão Preto: Legis Summa LTD, 1989. FUNDAÇÃO D. PEDRO II. Disponível em: <http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/FUND ACAO/teatro/I36PRINCIPAL.php>. Acesso em junho de 2009. JORNAL VERDADE. Faz 50 anos que o Teatro Carlos Gomes foi demolido. Ribeirão Preto, 22 de janeiro de 1996. Política, História, p.4. LEITE, R. G. Carta ao Exmo. Sr. Dr. Antonio C. de Sales Junior. São Paulo, 1939. MEIRA Jr, J. A. Allegações finaes da Ré. Ribeirão Preto, 1932. SECRETARIA DA CULTURA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Disponível em < http://www. cultura.sp.gov.br/portal/site/SEC/menuitem.fe8f17d002247c2c53bbcfeae2308ca0/?vgnext oid=963c6ed1306b0210VgnVCM1000002e03c80aRCRD>. Acesso em julho de 2009. VALADÃO, V. Memória arquitetônica em Ribeirão Preto: Planejamento Urbano e Política de Preservação. Franca: UNESP, 1997. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 49 Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight Juliana Jurkovick Garzon¹ Delson Ferreira² RESUMO Este trabalho tem por objetivo a análise do papel da mídia norte-americana na divulgação da série de livros Twilight e dos filmes baseados nos mesmos e do impacto desse objeto de estudo nos fãs destes produtos de entretenimento. A saga conta a história de um romance proibido entre uma adolescente humana, Isabella Swan, e um vampiro, Edward Cullen. Foi escrita por Stephenie Meyer e é composta por quatro livros: Twilight, New Moon, Eclipse e Breaking Dawn. Lançados nos EUA em 2005, 2006, 2007 e 2008, respectivamente, os quatro volumes totalizam mais de 85 milhões de livros vendidos pelo mundo. Para a análise da atenção preferencial dada ao “fenômeno Twilight” pela mídia norte-americana, foi utilizado, como ferramenta metodológica principal, dois fã-sites: Twilighters.org (http://www.twilighters.org) e Bellaandedward.com (http://bellaandedward.com), ambos dedicados à divulgação de conteúdos relacionados à série de livros. O sucesso do casal ‘Bella e Edward’ chegou aos quatro cantos do mundo e agrega cada vez mais fãs dos mais variados perfis. A partir do conceito de Indústria Cultural, desenvolvido por Adorno e Horkheimer, estudiosos da Escola de Frankfurt, inferiu-se que a mídia tornou, ou potencializou, estes livros em mercadoria cultural a partir da produção dos filmes, tomando-se como referência os dados as informações divulgadas nos fã-sites analisados. E verificou-se, também, o efeito desse produto e da sua expansiva divulgação em seu público alvo, constituído principalmente, mas não somente, por meninas na faixa etária de 13 a 19 anos. As conclusões observadas norteiam a afirmação da ocorrência, no caso do objeto analisado, do consumo de produtos de entretenimento, da integração entre os fãs através da web e, também, da busca pelo prazer no consumo deste produto cultural. Palavras-chave: Twilight; cultura de massa; mídia; capitalismo; prazer e consumo. ABSTRACT The following scientific article has the goal of analyzing the North American media’s role in the divulgation of the books series Twilight, the movies based on the books, and the impact of the series as whole on fans. The saga tells the story of a forbidden romance between a human teenager, Isabella Swan, and a vampire, Edward Cullen. It was written by Stephenie Meyer and it has four books: Twilight, New Moon, Eclipse and Breaking Dawn. Released in the USA in 2005, 2006, 2007 and 2008, the four volumes totaled more than 86 million copies sold around the world. To analyze the attention given to the “Twilight phenomenon” by the North American media two fan-sites were used as a methodological tool: Twilighters.org (http://www.twilighters.org) and Bellaandedward.com (http://bellaandedward.com), both dedicated to publishing content related to the book series. Edward ¹Aluna de graduação em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo. Bolsista do Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) do UniSEB – COC – Ribeirão Preto-SP ²Professor do UniSEB -COC – Ribeirão Preto- SP, orientador da Iniciação Científica da qual este artigo é fruto. 50 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica and Bella’s popularity has reached the four corners of the world and aggregates more fans as time goes by. Using the concept of Cultural Industry, developed by Theodor Adorno and Max Horkheimer, theorists from the Frankfurt School of Critical Theory, this study infers that the media has turned, the Twilight books into a cultural product through the movies’ production, using as reference the data published on the analyzed fan-sites. And this article also analyzed the effects of this product, and its broad marketing on the main public, mostly consisting of, but not limited to, girls between the ages of 13 and 19 years. The conclusions observed are about the affirmation of the occurrence, in the case of the analyzed object, of the consumption of the entertainment products, of the interaction among fans using the web and, also, the search for the pleasure derived through the consumption of this cultural product. Key-words: Twilight; mass culture; media, capitalism and pleasure. ••• Os vampiros de Meyer são construídos com grande beleza física, são extremamente rápidos e fortes, brilham ao sol e não possuem nenhuma aversão a alho, água benta ou ao crucifixo. Seus olhos mudam de cor: para os vegetarianos um marrom dourado, quando estão alimentados, e preto, quando estão famintos. Já os que se alimentam de sangue humano possuem os olhos vermelhosangue quando saciados e vermelho escuro quando estão com sede. Apesar de não possuírem presas, os famosos caninos alongados, eles são venenosos e o seu veneno tem um poder de cura que é o que transforma uma pessoa, depois de atacada, em vampiro, após três dias de dor excruciante. Todas essas características podem parecer repulsivas para os fãs do estilo clássico neste gênero, mas o objetivo de Meyer não era agradá-los, uma vez que ela não se importou com a história tradicional e estabelecida sobre estes personagens. “A única vez que eu realmente fiz pesquisa sobre vampiros, foi quando Bella pesquisou sobre vampiros. Eu queria saber o que ela encontraria se ela colocasse o assunto no Google. Porque eu estava criando o meu próprio mundo, e sabia que estava quebrando todas as regras. Acho que não queria descobrir quantas estava quebrando. Parte da diversão de escrever é criar um mundo. Se você escreve fantasia, porque se limitar pelo mundo de outra pessoa?³”, confessa a escritora. Meyer preocupou-se, exclusivamente, em agradar a si mesma: “eu não escrevi esses livros para uma audiência específica. Eu os escrevi para mim”. O que não impede que a série, direcionada inicialmente a jovens de 13 a 19 anos (teens), pelo conteúdo da história, tenha fãs de todas as idades, segundo a própria autora relata4: “eu tenho vários fãs da minha idade, as mães de 30 e poucos anos. O que eu realmente amo porque escrevi o livro para mim mesma, então faz sentido para mim que elas também gostem. Nós temos meninos leitores, eu recebi uma carta de uma vovó de 86 anos, que estava muito animada sobre as séries. Acho que essa foi a minha idade máxima, e para baixo de crianças de oito anos”. Este nivelamento entre adultos e crianças, faz-se importante notar, é algo almejado pelos produtores de cultura de massa. Pode-se dizer que a cultura de massa, em seu setor infantil, leva precocemente a criança ao alcance do setor adulto, enquanto em seu setor adulto ela se coloca ao alcance da criança. Esta cultura cria uma criança com caracteres pré-adultos ou um adulto acriançado? A resposta a essa pergunta não é necessariamente alternati- ³http://www.youtube.com/watch?v=_17kgVcHzy8 (acessado em 16/11/2010) 4 http://www.youtube.com/watch?v=QsoWcRazcIk (acessado em 16/11/2010) Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 51 Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight va. Horkheimer vai mais longe, longe de mais, porém indica uma tendência: ‘O desenvolvimento deixou de existir. A criança é adulto desde que sabe andar e o adulto fica, em princípio, estacionário.’ Assim, uma homogeneização da produção se prolonga em homogeneização do consumo que tende a atenuar as barreiras entre as idades. (MORIN, 1989, p. 39) Tal homogeneização de faixas etárias facilita o consumo. A criança não precisa mais pedir para o adulto, que tem o poder de comprar, adquirir tal objeto de desejo. Não há discernimento entre o que é destinado ao público mais maduro e aos que ainda estão em fase de desenvolvimento. Isso tudo implica na demolição de barreiras que poderiam impedir o consumo. Se os pais aprovam tal objeto, ele será consumido por todos. A Indústria Cultural ainda tenta minimizar as diferenças culturais, facilitando seu consumo mesmo em países de hábitos diferentes. A cultura industrial se desenvolve no plano do mercado mundial. Daí sua formidável tendência ao sincretismo-ecletismo e à homogeneização, seu fluxo imaginário, lúdico, estético, atenta contra as barreiras locais, étnicas, sociais, nacionais, de idade, sexo, educação; ela separa dos folclores e das tradições temas que ela universaliza, ela inventa temas imediatamente universais. (MORIN, 1989, p. 44) E ainda, O cinema de Hollywood visa não apenas ao público americano, mas o público mundial, e há mais de 10 anos as agências especializadas eliminam os temas suscetíveis de chocarem as platéias européias, asiáticas ou africanas.” (MORIN, 1989, p. 40) 52 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Provavelmente, esta é a razão de Bella, no filme, consumir um “veggie burger” na lanchonete com o pai, ao invés de cozinhar bifes em casa. Vender o último comportamento em um ambiente onde a carne de vaca é sagrada é impossível. Transformá-la, portanto, em uma menina com uma alimentação mais natural e saudável surge como uma simples solução para uma adversidade que poderia prejudicar a identificação com a história pelos espectadores que se recusam a comer carne. O processo de identificação envolve a escolha de atores simpáticos ao público, que poderão encarnar personagens amados e serem idolatrados por isso. Para o espectador poder se encontrar na história também é necessário que esta contenha elementos que agradem os mais diversos gostos. A procura de um público variado implica a procura de variedade na informação ou no imaginário; a procura de um grande público implica a procura de um denominador comum. (...) Os filmes-padrão tendem igualmente a oferecer amor, ação, humor, erotismo em doses variáveis; misturam os conteúdos viris (agressivos) e femininos (sentimentais), os temos juvenis e os temas adultos. A variedade, no seio de um jornal, de um filme, de um programa de rádio, visa a satisfazer todos os interesses e gostos de modo a obter o máximo de consumo. (MORIN, 1989, p. 35) Assim, um produto que visa agregar o maior número possível de seguidores deve, ao mesmo tempo, agrupar tudo e nada. Em um processo contraditório, é preciso ter tudo que uma audiência variada vai gostar, ou seja, amor, ação e humor; e também não ter nenhum fator de repulsa. Nesta corda bamba de extremos, resta ao espectador aprovar os esforços da indústria ou traduzir o fracasso Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight em baixas cifras de arrecadação. Twilight não é algo bem sucedido o suficiente para agradar cada pessoa que entra em contato com o seu universo; mas teve capacidade suficiente para impressionar uma boa parte dos consumidores, bastante para tornar as séries em produto muito lucrativo. A paixão dos fãs por Twilight é comparada a dos Beatles, considerada a maior banda de rock de todos os tempos. Uma rápida análise nos permite inferir os fundamentos da comparação entre a banda de rock e o objeto de estudo deste trabalho, uma vez que na década de 1960 a internet não existia e, consequentemente, não era um meio de comunicação atuante e de impacto. Podemos considerar o fanatismo pelos Beatles como um fenômeno de cultura de massa mais “puro”, no sentido de ter assumido tamanha proporção ao redor de todo o mundo sem a difusão mediada pela alta tecnologia comunicacional, que facilita a disseminação de comportamentos e ideologias. No documentário lançado em 2009, “Twilight In Forks: The Saga of a Real Town”, que descreve o impacto dos livros e dos filmes na cidade de Forks, certo personagem, que não pôde ser identificado devido a ausência de créditos na fala, declara: Some of the women here talk about how they read the book and they could do nothing else. They couldn’t take care of their children, they couldn’t cook meals for their husbands, they couldn’t go to work, because they had to read these books. Ou seja, a influência desse produto na vida das pessoas é tamanha, que interfere até nas tarefas diárias, como cuidar dos filhos, fazer comida e até trabalhar. Tudo porque para as fãs, consumir este trabalho literário é mais importante do que tomar conta da própria vida. A participação das mães neste universo fica ainda mais clara nos dados da Ad- ministração da Segurança Social dos EUA, publicado em artigo do jornal Folha de São Paulo (ILUSTRADA, 12/05/2010). O órgão divulgou, em maio deste ano, que o nome “Cullen”, sobrenome do vampiro Edward, foi um dos nomes que tiveram o maior uso em 2008, saltando cerca de 300 posições desde 2008. Porém o nome mais popular foi o do rival, Jacob. Para as meninas, já não mais uma surpresa: Isabella foi o favorito das mães para batizar suas meninas. Em Twilight encontramos, no espaço social cibernético, incontáveis fóruns de discussões, fã-sites, blogs e todos os tipos de tecnologia disponíveis. Há incontáveis vídeos no Youtube demonstrando reações a qualquer lançamento, comentários, críticas e choros. Apesar da grande abrangência de idade, os fãs são praticamente divididos em dois grupos: Team Edward e Team Jacob. Tal artifício já era previsto pelos teóricos da Indústria Cultural: Para disfarçar a incômoda distância entre indivíduos particulares, eles se chamam de Bob e Harry, como elementos intercambiáveis de teams. Tal prática degrada as relações pessoais à fraternidade do público esportivo, que impede a verdadeira fraternidade. (ADORNO & HORKHEIMER, 1985, p. 154) É como se fosse impossível se relacionar com o “adversário”. Mesmo não sendo uma disputa fervorosa como um verdadeiro esporte, a rivalidade entre os personagens é transportada para o plano das relações pessoais humanas, criando desconforto e contrariedade onde tal comportamento não deveria existir. Em contrapartida, há simpatia por parte da platéia pelos personagens protagonistas. A aceitação do elenco do filme pelos fãs era crucial, Kristen Stewart e Robert Pattinson receberam, por isso, a missão dar vida a Bella e Edward. Ambos sofreram com Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 53 Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight a extrema idealização dos personagens, ninguém parecia ser bom o suficiente para viver o casal. Mas, com o lançamento do primeiro teaser do filme, a situação mudou de repulsa para adoração. A primeira demonstração do tamanho, e intensidade, da idolatria dos fãs pelos personagens da série foi na edição 2008 da Comic-Con, convenção de fantasia e história em quadrinhos realizada em San Diego. Os gritos dos fãs eram tão altos que os atores mal conseguiam responder durante o painel de perguntas. O elenco é unânime ao dizer que não sabiam o quão grande e apaixonada a base de fãs era. Todos achavam que seria um pequeno filme independente. A adaptação cinematográfica do primeiro livro ficou por conta da pequena e independente produtora Summit Entertainment. Com um orçamento de US$37 milhões, direção de Catherine Hardwicke e roteiro de Melissa Rosenberg, o filme arrecadou US$69.6 milhões na estréia, em novembro de 2008. O filme encerrou sua apresentação com US$400 milhões, garantindo, assim, um lugar na edição 2010 do Guinnes World Records na categoria “Highest-Grossing Movie By A Female Director” (livro que virou filme dirigido por uma mulher com o faturamento mais alto). A trilha sonora também teve um importante papel na divulgação do filme. Com maior destaque para a banda Paramore, o álbum ficou 27 semanas5 seguidas no topo da Billboard, desbancando o então record de Cidade dos Anjos, com 20 semanas. O CD ganhou disco duplo de platina, totalizando quase dois milhões de discos vendidos. O segundo filme, New Moon, só se- ria realizado se o primeiro fizesse sucesso, ou seja, se vendesse. E foi. Segundo matéria da revista Exame6, apenas para Twilight são oito milhões de DVDs vendidos e 350 produtos licenciados, entre eles Barbies de Bella, Edward e Jacob. New Moon estreou em novembro de 2009. Ainda com roteiro de Melissa Rosenberg, desta vez a película teve direção de Chris Weitz. O filme teve um orçamento de US$50 milhões, o que permitiu melhores efeitos especiais e até filmagens na Itália. E o segmento já deu resultados7 positivos: arrecadou US$140.7 milhões nos três primeiros dias de exibição nos EUA em 4024 cinemas, US$72.78 apenas no primeiro dia. O que lhe dá o terceiro lugar no ranking de maior bilheteria em final de semana de estréia de todos os tempos. O filme também rendeu US$258.8 milhões em lançamento mundial. A trilha sonora também mostrou resultados. Uma semana após estrear em segundo lugar na Billboard, o CD9 atingiu o topo com 153 mil cópias vendidas. Eclipse foi lançado no dia 30 de junho de 2010. O roteiro continuou a encargo de Melissa Rosenberg, e a direção foi de David Slade. No fim de semana de estréia, o filme arrecadou mais de US$64.8 milhões10. Segundo artigo publicado no jornal Folha de São Paulo (ILUSTRADA, 2/07/2010), apenas na estréia, às 0h01 foram US$30 milhões, superando o número de New Moon, nas mesmas condições. No dia 3 de agosto de 2010 foi oficialmente confirmado que a adaptação cinematográfica de Breaking Dawn será dividida em duas partes. O lançamento da primeira parte está previsto para o dia 18 de novembro de 5 http://mtv.uol.com.br/noticias/trilha-sonora-de-crep%C3%BAsculo-faz-hist%C3%B3ria-na-parada-da-billboard (acessado em 16/11/2010) 6 http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0955/marketing/noticias/como-criar-febre-508258?page=1 (acessado em 16/11/2010) 7 http://www.pronetworks.org/index.php/independent_films/post/new_moon_opening_weekend_box_office_record_numbers/ (acessado em 16/11/2010) 8 http://hollywoodinsider.ew.com/2009/11/22/new-moon-banks-140-million/#comment-93702 (acessado em 16/11/2010) 9 http://www.sidneyrezende.com/noticia/62074+trilha+sonora+de+lua+nova+sobe+ao+topo+do+billboard+200 (acessado em 16/11/2010) 10 http://boxofficemojo.com/movies/?id=eclipse.htm (acessado em 16/11/2010) 54 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight 2011. A continuação deve chegar às telas de cinema aproximadamente um ano depois, no dia 16 de novembro de 2012. Twilight ganhou espaço na mídia norte-americana quando o filme começou a ser produzido. Em um curto espaço de tempo, a novidade não passou a ser o novo longa, mas sim os atores que nele estrelavam. Com o jovem elenco dos filmes em evidência, incontáveis revistas discutem seu estilo de vestir, seus hobbies e principalmente, suas relações pessoais. A proximidade do casal protagonista fora das câmeras alimenta rumores de um possível relacionamento, estimulando, assim, o mercado de fotos tiradas por paparazzis. Palinuro é um microcosmo vivido da cultura de massa. Nele se distinguem dois grupos: de um lado, os ‘olimpianos’ ativos, que tomam os aperitivos no bar, dançam com destreza, praticam os esportes aquáticos, flertam, seduzem, e, de outro lado, aqueles que são antes espectadores, menos ativos, que contemplam os ‘olimpianos’. Mas em Palinuro, o fosso que separa as duas classes é bem menos profundo, bem mais estreito do que o que separa as celebridades e vedetes dos comuns dos mortais; em Palinuro, os contatos são fáceis, a passagem para o Olimpo é possível... Assim, de modo fragmentário, temporário, o Olimpo da cultura de massa toma forma e figura no que Raymond chama, com muita propriedade, uma utopia concreta. Isto significa, igualmente, que o ideal da cultura do lazer, sua obscura finalidade, é a vida dos olimpianos modernos, heróis do espetáculo, do jogo e do esporte. (MORIN, 1989, p. 74 e 75) A constante exploração da mídia norte americana sobre a vida particular dos atores estimula não mais apenas a identificação com os personagens interpretados pelos dois jovens atores. A partir do que lhes é vendido como verdade, os espectadores passam a formular as próprias ideias do que seria um casal ideal na vida real, fora do filme. Logo, o romance que, hipoteticamente ou não, foi transportado para o plano concreto torna-se mais uma ferramenta de identificação dos fãs e, consequentemente, de manipulação por parte da indústria cultural. Esses heróis da cultura de massa foram promovidos a vedete em detrimento das antigas celebridades (comparando os artigos consagrados em 1904 e em 1941 às personalidades eminentes do Saturday Evening Post, Léo Lowenthal constata que os animadores, dentre os quais emergiram astros de cinema e campeões esportivos, aumentaram em 50%, em detrimento dos homens de negócios ou políticos). A imprensa, o rádio, a televisão, nos informam sem cessar sobre sua vida privada, verídica ou fictícia. Eles vivem de amores, de festivais, de viagens. Sua existência está livre da necessidade. Ela se efetua no prazer e no jogo. Sua personalidade desabrocha sobre a dupla face do sonho e do imaginário. Até mesmo seu trabalho é uma espécie de grande divertimento, votado à glorificação de sua própria imagem, ao culto de seu próprio ‘doublé’ (duplo). (MORIN, 1989, p. 74 e 75) Os atores envolvidos neste projeto passaram a ser vangloriados principalmente pelo trabalho desenvolvido, e não pelo o que são como pessoas, fato que já é clássico na indústria cinematográfica e televisiva. A mídia mascara, ou pelo menos tenta fazêlo, as características de cada indivíduo para aproximá-los dos próprios personagens, que já são simpáticos ao público. Desta forma não há mais diferenciação do que é a pessoa privada e a sua fachada pública. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 55 Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight Esses olimpianos propõem o modelo ideal de vida de lazer, sua suprema aspiração. Vivem segundo a ética da felicidade e do prazer, do jogo e do espetáculo. Essa exaltação simultânea da vida privada, do espetáculo, do jogo é aquela mesma do lazer, e aquela mesma da cultura de massa. Assim se esboçam as correlações complexas entre o lazer, a cultura de massa, os valores privados, o jogo-espetáculo, as férias, os olimpianos modernos. (MORIN, 1989, p. 74-75) Logo, para a mídia, o suposto envolvimento entre Kristen Stewart e Robert Pattinson tornou-se um assunto muito mais interessante a ser explorado do que as aventuras de Bella e Edward. Desta forma, a imprensa, principalmente por meio das revistas de fofocas, estimula o consumo de uma suposta realidade que, independentemente de ser verdade ou não, aliena a população. A alienação aqui não chega a ser sugerida em aspectos políticos, ou de importância social. O sujeito fica separado até do que inicialmente o provocou: a história em si. A emissora MTV fez uma série de entrevistas com todo o elenco no set de filmagens e, a cada terça-feira, um trecho dessas entrevistas eram disponibilizadas no site da rede televisiva. Esse segmento ficou conhecido como MTV Twilight Tuesday, e o repórter Larry Carroll acompanha o desdobramento do frenesi até hoje. No documentário “Twilight In Forks: The Saga of a Real Town”, Larry Carroll, desta vez fazendo as vezes de entrevistado, declara: The Twilight fan base is still gonna be very powerfull 40, 50, 60 years from now. You’re gonna have old ladies who are gonna remember their first crush was on Robert Pattinson, and they will be 70 years old. So, I hope, sincerely, that 50, 60, 70 years from now this fan base is still as pure 56 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica and sweet and welcoming as it is right now. That’s my hope. (LARRY CARROLL, 2009) Ora, já que o jornalista experimentou um contato tão próximo com tais fãs, ele tem créditos para atribuir-lhes tais créditos. Mas o próprio se contradiz quando a questão é a efemeridade do produto. Primeiramente ele afirma que os fãs continuaram fiéis e dedicados mesmo depois de cerca de meio século. Depois o discurso muda para a esperança do jornalista de que isso ocorra. A loja Hot Topic, que produz diversos artigos relacionados à série, carregou a tour pelo país, com o objetivo de apresentar os novos atores aos jovens americanos. A Hot Topic Tour contou com 13 expedições, com shows das bandas presentes na trilha sonora, e sessão de autógrafo com o elenco. Segundo matéria da revista Exame, citada acima, a Summit firmou uma parceria com o canal de TV Reelzchannel para exibir semanalmente um programa centrado nos bastidores da produção de New Moon. Todas as iniciativas foram estrategicamente montadas para apresentar o relativamente desconhecido elenco ao público, aproximá-los da audiência. A parceria, do ponto de vista empreendedor funciona para os dois lados: o estúdio garante maior lucro, já que mais pessoas irão assistir; e as marcas vinculadas ao produto considerado principal pegam “carona” no sucesso. Qualquer segmento televisivo, virtual, ou impresso, é postado nos fã-sites. Para comprovar a importância dessas comunidades na divulgação da série, a Summit convidou alguns proprietários para participarem das entrevistas do tapete vermelho, na estréia dos filmes. Assim, os fãs ficam mais pertos de seus ídolos. Na premiere de New Moon, Michelle, do site Bellaandedward. com, e Geo, do site Twilighters.org, usados como ferramentas de verificação midiática desse estudo, juntaram-se nas entrevistas, e os vídeos podem ser conferidos nos sites. A Revolução Industrial, no século Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight XVIII é a condição básica para o surgimento da chamada Indústria Cultural, aquela que vende cultura massificada e padronizada, termo primeiramente definido, tal como hoje aceito, por Adorno e Horkheimer na década de 1940. Para divulgar esta nova ideologia também são necessários os meios de comunicação de massa, cujo marco é a invenção dos tipos móveis por Gutenberg, no século XV. Mas, a esse fator é preciso acrescentar a presença de uma economia de mercado forte, ou seja, uma economia estimulada pela compra e venda de bens, e esta sociedade de consumo pode ser percebida apenas na segunda metade do século XIX. Essa cultura instala-se definitivamente no século XX, quando o capitalismo assume os contornos atuais do nosso modo de organização social e cria condições objetivas para o desenvolvimento, e reforço, de tal ideologia consumista. Portanto, os países de Primeiro Mundo (EUA, Alemanha, Japão, Inglaterra, etc.) são os primeiros a adotar este modelo. Esta exaustiva busca pela posse do bem resulta na coisificação, ou reificação, e na alienação. O homem reificado, o homem produto, torna-se alienado ao trocar seu trabalho por um valor em moeda menor, o qual ele mesmo não é capaz de pagar. Nesta visão, a cultura também tem intuito estritamente comercial, e, ao invés de ser uma ferramenta de expressão, conhecimento e crítica, tornase um produto a ser consumido em troca de dinheiro. Outro aspecto essencial para a existência da indústria cultural é a recusa do questionamento aos valores impostos, existente na maior parte da produção pop. Verifica-se em Twilight, ao contrário do esperado, uma rede de discussões. Ao longo do desenvolvimento deste estudo, foi observado, por meio de pesquisa sistemática nos fã-sites, que os questionamentos surgiram na fase inicial de divulgação do projeto. Hoje, por outro lado, a frequência desses artigos que discutem a qualidade da obra tor11 12 nou-se muito pequena. O trabalho de recolhimento de informações para estudo e análise deste objeto foi iniciado no final de 2008. Alguns dos sites selecionados (provenientes de links dos dois fã-sites de partida) não possuem base de dados consistente, ou seja, uma área destinada ao armazenamento organizado de todo o material publicado. Portanto, partes do material separado, principalmente os do início do processo, não puderam ser recuperadas. Durante a elaboração do texto deste trabalho não foi verificada nenhuma perda de informação dessas fontes que mereça relevância, mesmo que tais porções tenham sido separadas para inspeção. Ainda quanto ao questionamento, durante todo o primeiro semestre de 2010 não foi recolhida uma única amostra de conteúdo que pusesse os valores vendidos por Twilight a prova. No dia 8 de agosto deste ano o site Helium.com11 abre espaço para que pessoas possam escrever suas respostas para a pergunta: “Por que a série Twilight, de Stephenie Meyer, se tornou tão bem sucedida?” As conclusões vão da exploração de sentimentos, como o amor, até a necessidade de escapar dos problemas do dia a dia. Independentemente das conclusões escritas, que, nesse caso, não possuem embasamento científico, o espaço no site revela que, ainda que mais escasso do que no começo, o status-quo, tão almejado pelos interesses mercadológicos, não é totalmente aceito por aqueles que, de alguma forma, entram em contato com o mundo de Twilight. Dessa forma, os questionamentos, ao alcançarem os fã-sites, alcançam também os fãs. O assunto deixa de ser quem é Team Edward, quem é Team Jacob, e passa a abordar pontos desse trabalho teórico. Por exemplo, no livro Strange Horizons, a autora Karen Healey12 analisa as transformações físicas de personagens de livros adolescentes e uma das análises inclui a personagem Bella. http://www.helium.com/knowledge/214652-why-twilight-became-a-success (acessado em 16/11/2010) http://io9.com/5413038/twilights-bella-is-the-sexual-aggressor (acessado em 16/11/2010) Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 57 Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight Healey afirma que a personagem é “agressora sexual e instigadora da mudança em seu relacionamento”. Os fãs não deixam uma declaração como essa passar despercebidamente. Há também a famosa, para quem acompanha as notícias sobre a saga, discussão sobre as atitudes de Edward. Ele é um maníaco perseguidor ou apenas um romântico? Um vídeo13 que mostra Buffy, a famosa caçadora de vampiros da TV, matando Edward ganhou espaço na mídia, justamente por questionar o pedestal onde o “bom vampiro” foi colocado. O questionamento vem ainda da fonte mais improvável: a mídia de entretenimento. Se ela é a responsável pela divulgação de produtos culturais alienadores, por que se preocuparia em acusar14 Twilight de estar em todos os lugares? É o que faz o artigo do site E! Online, mídia online do canal de entretenimento norte-americano E!. Dawight MacDonald divide as manifestações culturais em três categorias: superior, média, ou midcult, e de massa, ou masscult. A primeira é aquela aclamada pela crítica erudita. A segunda é a que utiliza elementos da cultura superior, “uma falsificação utilizada pela indústria cultural para fazer tilintar suas caixas registradoras” (COELHO, 1981, p. 16), e que remete aos valores pequeno-burgueses. E a última, é definida pela maioria de teóricos como cultura inferior e “debochada”, na verdade, uma cultura da elite para a massa. Toda a saga é repleta de referências da alta cultura clássica. Bella ouve uma coleção de Chopin, reconhece Debussy como som de fundo do carro de Edward e, em seu casamento, toca Canon In D de Pachelbel. Mas a maior influência vem da literatura. Os livros favoritos de Bella são O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë, e também Romeu e Julieta de Shakespeare. Estas referências não estão apenas presentes nos gostos da personagem, mas também no desenvolvimento da narrativa. Meyer afirma15 que, para Twilight, sua inspiração clássica foi Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Em New Moon, Romeo e Julieta. Em Eclipse, o Morro dos Ventos Uivantes. E, em Breaking Dawn, Sonho de Uma Noite de Verão e O Mercador de Veneza, ambos também de Shakespeare. Tais referências classificam a saga não como uma cultura de massa, ou para a massa, mas sim uma cultura média, uma midcult. Para desfrutar da série e sua exposição midiática, é necessário ter internet, assinar canais de TV pagos e freqüentar livrarias e cinemas. Sabe-se que a chamada massa não possui esses comportamentos de consumo, portanto, o produto permanece na mesma classe social de origem ou sobe, mas muito dificilmente, difícil precisar sem um estudo paralelo não realizado aqui, atinge a massa. Observa MacDonald que, da distinção entre os níveis culturais, não se devia concluir por uma moção de censura contra a cultura de massa e a indústria cultural pelo fato de serem responsáveis por produtos de pouco ou nenhum valor cultural. Devia-se era reprovar essa mesma indústria cultural e a midcult por explorarem propostas originárias da cultura superior, apresentando-as de modo a fazer com que o público acredite estar consumindo obras de grande valor cultural, como ocorre com filmes como Love Story, ou com a pasteurização da música dita clássica ou com os romances tipo classe média. (COELHO, 1981, p.18) Dessa forma, inserido no contexto da Indústria Cultural, pode-se efetivamente considerar o objeto estudado como um produto de cultura média, por reproduzir valores da aclamada alta cultura. Porém tal reprodução não deve ser encarada como negativa em sua totalidade. Segundo Walter Benjamin, a arte, desde seu primórdios, sempre permitiu http://www.wimnonline.org/WIMNsVoicesBlog/?p=1272 (acessado em 16/11/2010) http://www.eonline.com/uberblog/b139281_vampires_jump_shark_thanks_twilight.html (acessado em 16/11/2010) 15 http://www.youtube.com/watch?v=UVEvEtF08S8 (acessado em 16/11/2010) 13 14 58 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight a imitação: Mesmo por princípio, a obra de arte sempre foi suscetível de reprodução. O que uns homens haviam feito, outros podiam refazer. Em todas as épocas discípulos copiaram obras de arte a título de exercício; mestres as reproduziam para assegurar-lhes difusão; falsários as imitaram para assim obter um ganho material. (LIMA, 2005, p. 222) Analisando a problemática deste ponto de vista, é possível admitir que, por mais que esta reprodução implique na diminuição da qualidade, ela também possibilita o conhecimento de um maior número de pessoas. Logo há uma popularização de valores que ficariam restritos ao âmbito da elite. No caso de Twilight, a mera menção de artistas clássicos não deprecia o valor de tais obras, pelo contrário, enaltece o trabalho e estimula a admiração estética. A reprodução é óbvia na prática de se imprimir diferentes capas para o mesmo conteúdo. Assim, quem é Team Jacob, compra a capa do Jacob, quem é Team Edward compra a capa do Edward, e quem não consegue decidir compra os dois e mais a capa da Bella. O exemplo é a Entertainment Weekly, lançada no dia 4 de dezembro. [...] Partindo do pressuposto (aceito a título de argumentação) de que a cultura de massa aliena, forçando o indivíduo a perder ou a não formar uma imagem de si mesmo diante da sociedade uma das primeiras funções por ela exercida seria a narcotizante, obtida através da ênfase ao divertimento em seus produtos. Procurando a diversão, a indústria cultural estaria mascarando realidades intoleráveis e fornecendo ocasiões de fuga da realidade. […]. (COELHO, 1981, p. 23 e 24) nenhum produto da Indústria Cultural promove qualquer tipo de contestação ou esclarecimento. Essa premissa nega a diversão como uma forma descontraída de conhecimento. Por outro lado, com seus produtos a indústria cultural pratica o reforço das normas sociais, repetidas até a exaustão e sem discussão. Em conseqüência, uma outra função: a de promover o conformismo social. E a esses aspectos centrais do funcionamento da indústria cultural viriam somar-se outros, consequência ou subprodutos dos primeiros: a indústria cultural fabrica produtos cuja finalidade é a de serem trocados por moeda; promove a deturpação e a degradação do gosto popular; simplifica ao máximo seus produtos, de modo a obter uma atitude sempre passiva do consumidor; assume uma atitude paternalista, dirigindo o consumidor ao invés de colocar-se à sua disposição. (COELHO, 1981, p. 23 e 24) Apoiado na teoria da aldeia global, o mundo como uma grande aldeia interligada pela tecnologia, de Marshall McLuhan, Teixeira Coelho afirma que “é possível, de fato, que o mundo todo venha a adotar os mesmo valores, a mesma ideologia, graças às chamadas “multinacionais da cultura”, que tendem a difundir por toda a parte, particularmente pela TV, uma mesma estrutura de pensamento, um mesmo comportamento, gerados num ou em alguns poucos centros de decisão. No caso, e por enquanto, os EUA. Mas dizer, a partir daí, que o mundo todo estaria participando desse processo vai uma grande distância”. (COELHO, 1981, p. 45) [...] A TV estende ao máximo um traço da imprensa: assim como a imprensa homogeneizou grupos diversos, fazendo com que superassem o espírito de clã e desembocassem na nação, a TV homoge- O conceito parte do pressuposto que Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 59 Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight neíza as nações, globalizando-as. O próprio Marx já havia previsto que, graças ao desenvolvimento da tecnologia, as culturas nacionais acabariam por apresentar um número cada vez maior de traços em comum, a caminho de uma eventual cultura universal. (COELHO, 1981, p. 48) A saga é, originalmente, dos Estados Unidos, mas é como se não fosse. As emoções e os sentimentos não estão restritos àqueles norte-americanos que leram os livros e viram os filmes, está em todos os cantos do mundo. A web potencializa este agrupamento, já que um fã do Japão pode se comunicar com um do Brasil, que se comunica com outro dos EUA. Ou seja, para os fãs da série, há a efetivação de uma forma de convergência cultural. O termo sugere a relação de grupos que interagem em um sistema on-line, conectados a pessoas de qualquer lugar do planeta. Eles não são limitados por barreiras geográficas e, instantaneamente, trocam opiniões e experiências sobre o mesmo assunto. A tecnologia possibilita a agilidade, estimulando o surgimento de uma nova identidade para estas pessoas, principalmente para os jovens. As experiências de uma vida conectada encorajam os jovens a passar de abordagens e vivências locais ou nacionais para outras multiculturais e globais. E esse parece ser cada vez mais o modo de vida da juventude dos centros urbanos em tempos de conexões e vida on-line. (DA SILVA E COUTO, 2008, p. 13) Antes de Twilight ser lançado, a série Harry Potter era o assunto preferido dos adolescentes e da mídia. Agora, com exceção dos fã-sites, do ocasional lançamento de algum dos últimos filmes e das comparações de Stephenie Meyer com J. K. Rowling, o bruxinho inglês não é mais comentado. Esses fenômenos teens têm como regra a carac- 60 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica terística da efemeridade. Edgar Morin define que “isso só durará algum tempo: as novas aspirações, as novas necessidades continuarão a fermentar.” (1989, p. 164). Portanto, o desejo do jornalista Larry Carroll, exposto no início, dificilmente irá se realizar. Em 50, 60, 70 anos, só quem teve tal experiência, talvez, se lembre de que algum dia um filme sobre vampiros fez parte da sua vida. O mesmo curto prazo de vida vale para os atores envolvidos na produção. George Clooney era o solteiro mais desejado do mundo, até Robert Pattinson ser lançado. E este vai perdurar nas revistas adolescentes até que outro jovem, tido como “bonitão”, estrele um filme de sucesso. O indivíduo e o desenvolvimento da personalidade viram-se marginalizados no processo de desenvolvimento do capitalismoprodutor, acima de tudo, da reificação e alienação das pessoas. Nesse caso, a saída está na criação de condições para que o indivíduo (e o pequeno grupo de que participa) desenvolva sua personalidade e tenha condições de constituir um coletivo que não o esmague. A saída está na organização ou reorganização da vida privada e não na alienação dessa vida na massa ou no coletivo. (COELHO, 1981, p. 91) O fã-site é um local onde os fãs, sempre quando há oportunidade, se encontram para dividir informações e opiniões. É como encontrar um grupo de amigos para ir ao cinema e depois tomar um sorvete. A conversa sobre o filme flui conforme cada um dá seu veredito e relaciona a história com outros fatos. Se for ‘permitido’ comprar um sorvete, por que não é ‘permitido’ comprar uma revista com o Taylor Lautner na capa? Uma adolescente pode considerar, naquele momento, muito mais prazeroso comprar a revista do que tomar o sorvete. Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight [...] Se acredita ainda que a busca ou admissão do prazer é indício de um comportamento grosseiro, consumista, e indício da adesão aos princípios de uma ideologia burguesa, reacionária. [...] Roland Barthes observou a existência [...] de toda uma mitologia dirigida no sentido de apresentar o prazer como sendo um objetivo e uma proposta da direita. Mitologia que, praticamente identificando o prazer com a indecência, tratava de espalhar a idéia segundo a qual o prazer se opunha ao conhecimento, ao compromisso, ao combatecom isso renegando-se a hipótese de que estes possam ser alguns aspectos desse mesmo prazer. (COELHO, 1981, p. 30, 32, 33 e 34) Ou seja, o consumidor de produtos culturais massificados e o de alta cultura não seriam capazes de manter um diálogo. Do ponto de vista deste aspecto teórico, o esclarecimento não traz prazer ao indivíduo e a massificação não permite nenhuma captação de conhecimento. [...] Quer dizer: quando o negócio é com a cultura dita superior, tudo é permitido; da cultura inferior, da masscult, exige-se seriedade. Este é um índice claro da existência de um preconceito contra a cultura pop, contra o povo. [...] Hoje está mais que demonstrado o papel essencial desempenhado pela catarse [“liberação imaginária das tensões psíquicas individuais”] no bom funcionamento psíquico do indivíduo- e o prazer tem sua função nesse processo de catarse. Não há, portanto, por que condenar a indústria cultural sob a alegação de que ela é uma prática do entretenimento, da diversão, do prazer. O prazer é, sempre, uma forma do saber. (COELHO, 1981, p. 30, 32, 33 e 34) Para Edgar Morin, o lazer segue a ideologia capitalista e institui o tempo livre como a hora para se gastar o dinheiro ganho com o trabalho. O lazer moderno não é apenas o acesso democrático a um tempo livre que era o privilégio das classes dominantes. Ele saiu da própria organização do trabalho burocrático e industrial. O tempo de trabalho enquadrado em horários fixos, permanentes, independentemente das estações, se retraiu sob o impulso do movimento sindical e segundo a lógica de uma economia que, englobando lentamente os trabalhadores em seu mercado, encontra-se obrigada a lhes fornecer não mais apenas um tempo de repouso e de recuperação, mas um tempo de consumo. (MORIN, 1989, p. 67) Já de acordo com Walter Benjamin, o cinema possibilita uma nova forma de percepção, que estimula a rapidez e que populariza a habilidade de formar uma opinião sobre algo. Ora, o homem que se diverte também pode adquirir hábitos; ou mais precisamente: é óbvio que ele não pode realizar certas tarefas, no estado de distração, senão quando elas se lhe tornaram habituais. Mediante essa espécie de divertimento, que tem por finalidade nos proporcionar, a arte nos confirma, implicitamente, que nosso modo de percepção é hoje capaz de responder a novas tarefas. Outrossim, dado que o indivíduo conserva a tentação de recusar tais tarefas, a arte enfrentará as mais importantes a partir de quando puder mobilizar as massas. (LIMA, 2005, p. 251 e 252) Logo, os filmes são capazes de transmitir conhecimento, mesmo que aliado à diversão. O ambiente e a velocidade das mensagens transmitidas podem contribuir para a lentidão da assimilação ou questionamento, Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 61 Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight mas eventualmente, e ainda que brevemente, há este tipo de percepção. Particularmente, no caso de Twilight, a contraposição de opiniões sobre o conteúdo da história já estimula um debate, que é alimentado por hipóteses, premissas e contestações. Então, ainda que de forma primária e precária, a mobilização criada pelo produto não é imune aos contrapontos. É o que faz atualmente por meio do cinema. Essa forma de recepção mediante o divertimento, cada vez mais evidente hoje em todos os domínios da arte, e que é em si mesma um sintoma de importantes modificações nos modos de percepção, encontrou no cinema seu melhor campo de experiência. Por seu efeito de choque, o filme corresponde a essa forma de recepção. Se ele rejeita basicamente o valor cultural da arte, não é apenas porque transforma cada espectador em especialista, mas porque a atitude desse especialista não exige de si nenhum esforço de atenção. O público da sala escura é indubitavelmente um examinador, mas um examinador que se distrai. (LIMA, 2005, p. 251 - 252) Em considerações finais, o produto Twilight permite ao espectador uma fuga da realidade, que não exclui a capacidade deste de analisar o que lhe é mostrado. Para desfrutar de tal lazer é necessário pagar, portanto há consumo durante o descanso. Mas esta folga não implica, necessariamente, em uma blindagem do exercício do pensamento esclarecido. O cinema propõe, ao espectador atento, um novo tópico de reflexão. Ao que se deixa levar pela história, resta um momento vazio de passividade, o que não é algo catastrófico. Pelo contrário, para suportar as dificuldades impostas pelas tarefas diárias, às vezes o vazio se torna um mal necessário. Portanto, o aproveitamento de Twilight, obra devidamente classificada no contexto dos 62 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica produtos da Indústria Cultural, por parte dos fãs e de pessoas indiretamente influenciadas, depende do objetivo e da capacidade de seleção do indivíduo. Conclusão Este estudo conclui que a saga Twilight pode ser caracterizada como um produto de cultura média, ou midcult, já que utiliza referências da alta cultura clássica para transmitir valores de forma genérica e reproduzida. O objeto de estudo foi, e ainda é, explorado pela mídia norte-america, que induz o consumo de itens relacionados à série por meio da identificação do público. Foi verificado que a simpatia dos fãs é estimulada pela imprensa que, além de expor a história fictícia dos livros, também aborda com freqüência e de forma questionável a vida particular dos atores. Os intérpretes, principalmente no caso dos protagonistas Kristen Stewart e Robert Pattinson, são transformados em semideuses, cujo estilo de vida deve servir de modelo aos fãs. Logo, a alienação vem do pressuposto de que se o indivíduo segue o estilo de vida imposto pela mídia, ele perde as próprias características e já não se encontra mais no ambiente em que está inserido. Este é o esforço da mídia, o que não significa que todos os fãs e outras pessoas influenciadas indiretamente pela série são suscetíveis a tal controle. Assim como a passividade ou ação diante de um problema é uma questão individual, a submissão aos valores impostos pela Indústria Cultural também é. Como revelam os próprios idealizadores da teoria de Indústria Cultura, Adorno & Horkheimer: “a arte ‘leve’ como tal, a diversão, não é uma forma decadente. Quem lastima como traição do ideal da expressão pura está alimentando ilusões sobre a sociedade” (1985, p. 126-127). Esta pesquisa percebe que é possível compreender pontos positivos no produto. Foi observado e documentado exemplos de discussões sobre os temas abordados na Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight saga, o que descaracteriza, em parte, a indução da alienação por parte da mídia, sendo que esta também fornece material para alimentar tais questionamentos. Vale ressaltar que não é toda a base de fãs que participa das indagações, mas mesmo assim, a iniciativa clarifica que identificar os livros e os filmes como totalmente inúteis do ponto de vista intelectual é errôneo, visto que este próprio estudo analisa cientificamente o produto. Outro aspecto pertinente verificado é a integração de pessoas de diversas culturas, dos mais diferentes lugares do mundo, onde a série também conseguiu fãs, pela internet. A web aproxima essas pessoas por meio de uma interação on-line. A ferramenta tecnológica é capaz de manter as características nativas dos usuários no ambiente real, mas ainda permitir a adição de elementos de outras culturas. Assim, há um intercâmbio cultural que proporciona divertimento e eventuais análises. Como diz Lima (2005, p. 244), A característica de um comportamento progressista reside no fato de o prazer do espetáculo e a experiência vivida correspondente ligaram-se, de modo direto e íntimo, à atitude do conhecedor. Esta ligação tem uma importância social. (...) No cinema, o público não separa a crítica da fruição. O elemento decisivo, aqui, é que, mais do que em qualquer outra parte, as reações individuais, cujo conjunto constitui a reação maciça do público, são aí determinadas, desde o início, pela imediata virtualidade de seu caráter coletivo. Ao mesmo tempo em que se manifestam, tais reações controlam-se mutuamente. O pensamento de Walter Benjamin é válido ao mencionar a integração do público, que parte de um sentimento individual. Assim, o espectador que identifica os próprios anseios e dúvidas, consegue expor e contrapor a experiência com outros indivíduos. A interação desses fãs é tão importante que a produtora dos filmes, Summit Entertaiment, e outras empresas envolvidas da franquia, percebem a importância desse movimento, estimulando-o com patrocínio de eventos destinados aos fãs e apoiando, inclusive, a participação de fãs em eventos oficiais. O prazer de sentar-se na cadeira e ver um filme sobre vampiros e lobisomens, e se emocionar com isso, não pode, na conclusão deste trabalho, ser condenado pelo fato de proporcionar uma fuga da realidade. Na verdade, os filmes podem transmitir alguma forma de conhecimento ao espectador, mesmo que este processo intelectual esteja aliado à diversão. O caráter das mensagens transmitidas é diferente de uma análise teórica, pois em uma sala de cinema não há tempo para analisar cena por cena ou para tecer uma linha de raciocínio enquanto a cena já foi alterada. Uma observação mais cuidadosa dos fatos que acontecem na história pode ser analisada na versão literária. Logo, mesmo a demora do entendimento ou da inquietação, esses sentimentos, mesmo que breves, podem ser percebidos. Especificamente em Twilight, este estudo mostra que há debates sobre o conteúdo da história, que são alimentados por meio de cada pessoa participante, que fundamenta seu ponto de vista e contesta, ou apóia o de outro indivíduo. Mostrando, mais uma vez, que o modelo passivo imposto pela mídia norte-americana não pode ser generalizado. Mesmo que informalmente e precariamente, há uma mobilização que visa o questionamento. O estudo finalmente conclui que a apreciação dos livros e dos filmes, de forma a não prejudicar o intelecto, e, ao contrário, estimular o desenvolvimento, cabe ao uso feito individualmente deles. O sujeito pode escolher aceitar a imposição de valores da mídia e não questioná-los, como também pode, mesmo admirando o produto, perceber que há espaço para discussões, tanto em nível de enredo, como a do que lhe está sendo oferecido como informação. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 63 Indústria Cultural, Mídia e Cultura de Massa: o Produto Twilight Referências bibliográficas ADORNO E HORKHEIMER. Dialética do Esclarecimento. 1ª ed., Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 1985. BROWN, Jason. Documentário “Twilight in Forks: The Saga of a Real Town”. Summit Entertainment, 2009. CHAUÍ, Marilena de Souza. O que é Ideologia. 38ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1994. COELHO, Teixeira. O que é indústria Cultural. 4ª ed., São Paulo: Brasiliense, 1981. COSTA, Rosa Maria C. D.; MACHADO, Rafael C. e SIQUEIRA, Daniele. Teoria da Comunicação na América Latina: da Herança Cultural à Construção de Uma Identidade Própria. Escola de Frankfurt: A Teoria Crítica. UFPR, 2006, p. 13-33. DA SILVA E COUTO. Convergência Cultural-Midiática: As Tecnologias e a Fruidez da Juventude na Cibercultura, 2008. Disponível em: www.cult.ufba.br/enecult2008/14165.pdf (acessado em 12/09/2010). FOLHA DE SÃO PAULO. Saga sobre vampiros inspira mães nos EUA. 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Constata-se a necessidade de práticas restaurativas, focadas numa forma reconstrutiva das relações sociais, capazes de preparar um futuro convívio respeitoso que supere esta forma de agressão moral. Palavras-chave: bullying; agentes escolares; combate ao bullying; pesquisa empírica. ABSTRACT This article seeks to present an analysis concerning the phenomenon of bullying, showing the results of empirical research that has focused his practice in the school environment, as well as ways to combat such phenomena. The empirical research took place through conducting semi-directive with teachers and principals of teaching children, making sure the perspective of those guys who, like children, living directly with the practice of bullying. There is a need for restorative practices, focusing on reconstructive form of social relations, able to prepare a future respectful coexistence that overcomes this form of moral aggression. Keywords: bullying, school, school agents, anti-bullying; empirical research. 1. Introdução Buscou-se neste artigo apresentar uma análise acerca do fenômeno do bullying, evidenciando parte dos resultados da pesquisa empírica realizada, a qual enfocou sua prática e as formas de combate. Embora este tema venha sendo estudado sob o foco de todas as idades e em vários ambientes sociais, devido à sua relevância historicamente constatada na vida social mais ampla, neste trabalho, de forma específica, o fenômeno foi investigado numa perspectiva que aborda exclusivamente crianças, circunscritas ao ambiente escolar. A relevância deste tema justifica-se pelo fato de que, a cada ano, o fenômeno do bullying se torna cada vez mais constante e presente no ambiente escolar infantil, acarretando diversas conseqüências físicas e/ou psíquicas, o que é, sem dúvida, prejudicial para as crianças, tanto no presente quanto em sua vida futura. Observa-se que essas conseqüências vêm prejudicando o crescimento, o desenvolvimento intelectual, social e principalmente emocional das crianças envolvidas (RUOTTI, ALVES e CUBAS, 2007 p.176). ¹Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Centro Universitário UniSEB – COC. ² Doutora em Sociologia; Docente da UniSEB – COC, orientadora da pesquisa realizada. 66 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Na esfera do direito brasileiro, tanto na Constituição Federal, como nas leis infraconstitucionais, existem diversas normas de proteção à criança, especialmente o ECA – Estatuto da criança e do adolescente, que traz em seu conteúdo uma série de regras que visam tal proteção, em defesa do desenvolvimento digno de crianças e adolescentes. Além dessas, existem diversos tratados e acordos internacionais de proteção a criança. Portanto, a justificativa dessa pesquisa pautou-se na necessidade de que sejam encontradas possíveis maneiras de conter ou eliminar o bullying entre crianças; formas de se evitar que essas práticas ocorram e, num primeiro e imediato momento, identificar maneiras de se minimizar os efeitos que essas condutas acarretam. Para tanto, como recorte deste trabalho de pesquisa, buscou-se verificar a problemática a partir do levantamento acerca das visão dos agentes escolares acerca do fenômeno. Para tanto, a pesquisa empírica deu-se por meio da realização de entrevistas semi-diretivas com professores do ensino infantil, verificando a perspectiva desses sujeitos que, assim como as crianças, possivelmente convivem diretamente com prática do Bullying. Além dos professores, foram entrevistados diretores de escolas, a fim de se descobrir se essas práticas infantis, muitas vezes tidas como “brincadeiras de criança” apresentam repercussão no ambiente escolar, se chegam ao conhecimento da diretoria a sua ocorrência, e quais as medidas tomadas pelo professor e pela direção a este respeito. Vale esclarecer que por uma preocupação ética, os nomes de todos os envolvidos nas entrevistas foram omitidos, a fim de preservar suas identidades. Além das entrevistas, foi também realizada a pesquisa teórica acerca do tema, por meio do levantamento bibliográfico, buscando uma melhor compreensão sobre o fenômeno Bullying. Complementarmente ao material bibliográfico, optou-se pelo levantamento e acompanhamento de projetos de lei que tratem da problemática, analisando suas propostas e viabilidade jurídica. 1.1. Metodologia e Delimitação do Universo Da Pesquisa Segundo Duarte (2002), a opção metodológica e a definição do objeto de pesquisa constituem um processo tão importante para o pesquisador quanto o texto que ele elabora ao final. É nesta linha que ressalta Brandão (apud DUARTE, 2002, P. 140): ... se nossas conclusões somente são possíveis em razão dos instrumentos que utilizamos e da interpretação dos resultados a que o uso dos instrumentos permite chegar, relatar procedimentos de pesquisa, mais do que cumprir uma formalidade, oferece a outros a possibilidade de refazer o caminho e, desse modo, avaliar com mais segurança as afirmações que fazemos. Na construção desta pesquisa, optouse pela abordagem qualitativa, caracterizada pelo interpretacionismo, entendendo que o homem não é um ser passivo, mas um ser que interpreta o mundo em que vive continuamente. Nesse posicionamento metodológico, a vida humana é vista como uma atividade interativa e interpretativa, realizada pelo contato das pessoas (OLIVEIRA, 2010) Conforme explica Neves (1996): Pesquisa qualitativa compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas que visam a descrever e a decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo traduzir e expressar o sentido dos fenômenos do mundo social. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 67 O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas No mesmo sentido, vale salientar que a pesquisa qualitativa, por ter características exploratórias, estimula os entrevistados a pensarem livremente sobre algum tema, objeto ou conceito, fazendo emergir aspectos subjetivos e atingem motivações não explícitas, ou não conscientes, de maneira espontânea. Conforme aponta Minayo (2003) a pesquisa qualitativa coloca-se como essencial no estudo de determinados fenômenos. A pesquisa qualitativa, (...), tratase de uma atividade da ciência, que visa a construção da realidade, mas que se preocupa com as ciências sociais em um nível de realidade que não pode ser quantificado, trabalhando com o universo de crenças, valores, significados e outros construto profundos das relações que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Dentro da abordagem qualitativa, trabalhou-se nesta pesquisa com a entrevista semi-estruturada, com momentos de não diretividade. Vale ressaltar que: Entende-se por entrevista estruturada aquela que contem perguntas fechadas, semelhantes a formulários, sem apresentar flexibilidade; semi-estruturada a direcionada por um roteiro previamente elaborado, composto geralmente por questões abertas; não-estruturada aquela que oferece ampla liberdade na formulação e na intervenção da fala do entrevistado. (BELEI, PASCHOAL, NASCIMENTO e MATSUMOTO, 2008, p. 189) Importante considerar que na pesquisa qualitativa não há como se determinar a priori o número de sujeitos que irão participar das entrevistas, tendo em vista que a estipulação desse número dependerá da 68 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica qualidade das informações obtidas em cada depoimento, assim como o grau e a profundidade de informações similares e divergentes que serão obtidas. Portanto, pressupôs-se que: Esse tipo de trabalho de campo tem como objetivo “compreender as redes de significado a partir do ponto de vista do ‘outro’, operando com a lógica e não apenas com a sistematização de suas categorias” e não deve ser interrompido enquanto essa lógica não puder ser, minimamente, compreendida (DAUSTER, 1999, apud DUARTE, 2002). Tomando por base tais elementos, o presente trabalho foi realizado com base em pesquisa pesquisa de campo, de caráter qualitativo, pela qual buscou-se conhecer a realidade concreta do tema em questão, sua ocorrência, manifestações, sintomas, conseqüências e possíveis soluções, sob o ângulo daqueles que convivem diariamente com essa problemática. Para tanto, foram entrevistados diretores de escola e professores, bem como um promotor público, profissionais que, de alguma forma, direta ou indireta, estão relacionados com a questão do bullying, uma vez que tratam da problemática da criança e do adolescente. Dessa forma foi possível buscar elementos que evidenciem o que realmente acontece em relação ao fenômeno estudado, e quais as formas ou tentativas de combate ao Bullying dentro das escolas. Do mesmo modo, foi possível verificar se essa prática já chegou ao conhecimento do poder judiciário, e conseqüentemente se o judiciário está conseguindo solucionar o problema. 2. Sobre o Bullying A vida moderna manifesta-se por meio de inúmeras contradições. Por um O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas lado, proporcionou tecnologia, conforto, avanços científicos, acesso às informações entre outros benefícios para a humanidade; porém, em contrapartida, permitiu o surgimento de inúmeras formas de violação aos direitos da personalidade, como ocorre com a violação ao direito de privacidade por meio da internet, com a possibilidade de roubo de material genético, formas virtuais de abuso ou assédio, enfim, inúmeras possibilidades anteriormente não imaginadas. Dentre estas, o Bullying pode ser considerado uma forma de violação aos direitos de personalidade, que juridicamente implica na aptidão da pessoa para adquirir direitos e contrair obrigações, implicando no direito subjetivo da pessoa defender o que lhe é próprio (VENOSA, 2004). O fenômeno do Bullying diz respeito à reiteradas práticas realizadas por parte de uma criança socialmente percebida como “mais forte, mais inteligente, mais popular”, contra outras vistas como “menores, mais fracas e anti-sociais”. Essas práticas envolvem formas daquilo que pode ser também denominado de violência moral, implicando em xingamentos, ofensas, apelidos, entre outros, bem como violência física, como chutes e empurrões. (RUOTTI, ALVES e CUBAS, 2007, p. 176). Observa-se que este fenômeno não é recente, pois ocorre das mais diversas formas e nos mais diversos ambientes sociais, marcando a própria vida em sociedade. Embora tenha sido nos anos 80 que surgiram as primeiras menções a respeito do Bullying, essa prática é mais antiga e nem sempre possuiu essa denominação. Anteriormente, tal prática chamavase “mobbing”, referindo-se à violência de um grupo contra uma pessoa considerada “diferente”. Com o passar do tempo, mais países de dedicaram a pesquisas acerca deste fenômeno, e tendo em vista a dificuldade de se traduzir algumas palavras em outras línguas, esse fenômeno ficou conhecido por diferentes termos como: “victimization (viti- mização)”, “peer rejection (rejeição pelos colegas)”, “violência moral”, “comportamento agressivo entre estudantes”, entre outros. Portanto, o que pode se considerar recente é a importância que este tema conquistou, pois foi a partir da década de 1980 que vários países começaram a estudar esta prática com mais afinco. Atualmente, as pesquisas mais avançadas sobre o tema acontecem na Noruega, Estados Unidos, Portugal e Espanha (ALBINO e TERÊNCIO, 2010). Tais países passaram a se importar mais diretamente com o Bullying quando perceberam haver uma relação deste fenômeno com certos acontecimentos, como o que ocorreu na Noruega em 1983, quando três adolescentes que sofriam severo Bullying dos colegas acabaram cometendo suicídio. A pesquisa sobre Bullying teve Peter Paul Heinemann, médico sueco e Heiz Leynemann, psicólogo alemão como precursores nos anos 80, e foi nessa época que surgiu o termo “mobbing”, - do inglês to mob, que significa maltratar, atacar, perseguir. Heinemann descreve como a violência de um grupo contra uma pessoa diferente; violência essa que se inicia e se finaliza de forma inesperada. Em seguida, Dan Olweus, professor da universidade de Bergen (Noruega) também deu início a pesquisas sobre o fenômeno, utilizando a nomenclatura de Heineman, porém, incluindo no conceito os ataques sistemáticos, pessoa a pessoa, de uma criança mais forte contra a criança mais fraca. Outras nomenclaturas foram surgindo ao longo do tempo por causa do envolvimento de mais países pelo assunto, como por exemplo, “victimization”, “peer rejection”, entre outras. Tendo em vista a dificuldade de se encontrar um termo comum ou de encontrar traduções de mesmo significado nas diferentes línguas, adotou-se a explicação elaborada por Olweus, definindo genericamente Bullying como “comportamento agressivo ou de uma ofensa intencional; ocorre repetidamente e durante muito tempo; ocorre em Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 69 O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas relações interpessoais caracterizadas por um desequilíbrio de poder.” (RUOTTI, ALVES e CUBAS, 2007, p. 177). Dessa forma, Olweus distingue o Bullying de qualquer outra agressão momentânea e eventual, fixando apenas a atenção para práticas reiteradas dessa conduta agressiva. O termo bullying não possui tradução literal para o português. Bully é o termo, em inglês, para “valentão”. A palavra Bullying deriva da expressão to bully, que significa tratar com desumanidade, com grosseria. Assim, bullying pode ser traduzido por “intimidação”, o que permite a compreensão deste complexo fenômeno como sendo, em uma das suas múltiplas formas de manifestação, um comportamento de ameaças e intimidações. O termo bullying nos parece de acepção mais ampla do que o termo mobbing. Vai de chacotas e isolamento até condutas abusivas de conotação sexual ou agressões físicas. Referem-se mais a ofensas ou violência individual do que a violência organizacional. Em estudo comparativo entre o mobbing e o bullying, Dieter Zapf considera que o bullying é originário majoritariamente de superiores hierárquicos, enquanto o mobbing é muito mais um fenômeno de grupo (HIRIGOYEN, 2002, p. 80) Hirigoyen (2002, p. 85) entende ser o termo mobbing relacionado a perseguições coletivas ou à violência ligada a organizações, incluindo desvios que podem acabar em violência física. Enquanto isso aponta o termo bullying como mais amplo, no sentido de abranger chacotas e isolamentos até condutas abusivas com conotações sexuais ou agressões físicas. Observa ainda, que o bullying está mais ligado a ofensas individuais do que à violência organizacional ou coletiva. Além das terminologias científicas, 70 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica podemos encontrar no dia-a-dia menções ao Bullying nos filmes e nos desenhos animados direcionados as crianças e adolescentes, que trazem cenas de violência infantil, e se referem aos autores dessa violência como “pit boys” (relacionando a raça de cachorro pit Bull, conhecida por sua extrema violência); como “pit aluno” (como acontece em “Bart the General” – da série americana The Simpsons), entre outras. De forma a sintetizar tal questão, entendem Barreto e Santos (2006) que: ... em todas as hipóteses, fica cabalmente caracterizado um dano a integridade psíquica do indivíduo, muitas vezes com conseqüências biológicas e físicas, tais como stresse, depressão profunda, estomatites, doenças dermatológicas, etc., ou seja, uma série de distúrbios diretamente ligados ao estado psíquico da pessoa humana. 3. A visão dos Agentes Pesquisados 3.1. Depoimentos dos Professores Como indicado anteriormente, foram entrevistados Professores de escolas públicas e particulares, a respeito do tema Bullying, a fim de obtermos informações daqueles que estão perto e presenciam diariamente a ocorrência dessa violência dentro do ambiente escolar. As entrevistas foram direcionadas para a ocorrência, intensidade, especificidade, medidas de combates e prevenção utilizadas pelas escolas, entre outros aspectos. Conforme anteriormente mencionado, a prática da Bullying nas escolas vem aumentando, e dessa forma, cada vez mais, a atitude de uma criança em relação à outra pode ser perigosa e trazer conseqüências danosas e irreversíveis. Por meio das entrevistas, foi possível confirmar que o Bullying já faz parte do convívio entre as crianças, como destacam os depoimentos a seguir: O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas “Cada vez mais estão crescendo as atitudes que levam à situações de bullying nas escolas”. (PROFESSOR 1 – ESCOLA PÚBLICA) “Sim, é comum casos de bullying dentro da sala de aula, isso ocorre com muita freqüência”. (PROFESSOR 4 – ESCOLA PÚBLICA) “Todo adolescente tem uma tendência a discriminar aquele que ele considera mais fraco ou vulnerável. Tento coibir sempre que percebo”. (PROFESSOR 3 – ESCOLA PÚBLICA) Vale ressaltar, porém, que a questão da desigualdade econômica se mostra como aspecto diferenciador. Como mencionado acima, os professores das escolas públicas deixaram clara a ocorrência e freqüência do Bullying de forma bastante intensa. Em contrapartida, os entrevistados da escola particular contrariaram tal afirmativa, respondendo à pergunta “É comum casos de bullying dentro da sala de aula?”: “Não é comum, mas existem”. (PROFESSOR 1 – ESCOLA PARTICULAR) “Não de forma corriqueira, mas ocorre sim”. (PROFESSOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) “Não, não na nossa escola”. (PROFESSOR 3 – ESCOLA PARTICULAR) Independentemente da quantidade da ocorrência do fenômeno, é importante frisar que, a percepção dos professores é fundamental para seu combate, e deste modo, ao presenciarem qualquer tipo de violência entre os alunos, os professores devem, imediatamente, tomar alguma atitude, no sentido de orientar e principalmente deixar claro que tal comportamento não será aceito. Dessa forma, a criança passa a conhecer e obedecer aos limites, construindo um caminho que as levará a se tornar um adulto consciente de suas responsabilidades e principalmente, uma pessoa que respeita o espaço e a diferença das outras pessoas. Com relação a esta percepção, perguntamos aos professores entrevistados “Quando acontece, qual a atitude do senhor (a) em relação à agressão?”, ao que obtivemos os seguintes depoimentos: “Acolho os envolvidos, esclareço a situação e, dependendo da gravidade e da incidência de fatos parecidos, tento trabalhar mais com a temática nas aulas”. (PROFESSOR 1 – ESCOLA PÚBLICA) “Normalmente converso com o agressor, sempre falando sobre respeito ao próximo e o direito de todos ocuparem um mesmo espaço com igualdade”. (PROFESSOR 3 – ESCOLA PÚBLICA) “Converso, ouço as partes, peço que se respeitem, pois só respeitando é que somos respeitados”. (PROFESSOR 4 – ESCOLA PÚBLICA) Com relação à mesma questão, os professores das escolas particulares apresentaram respostas bastante semelhantes: “Repreendo instantaneamente e se acontece novamente encaminho o problema à coordenação”. (PROFESSOR 1 – ESCOLA PARTICULAR) “Eu repreendo o aluno que cometeu o ato, se for o caso colocandoo para fora, e sempre comunico o caso à direção”. (PROFESSOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) “A um primeiro sinal de um “possível bullying”, o aluno(s) agressor deve ser orientado imediatamente para que não repita o ato e cons- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 71 O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas cientizá-lo para a não-violência”. (PROFESSOR 3 – ESCOLA PARTICULAR) “Primeiro a conscientização; depois a observação. Em caso de continuidade, comunicação aos superiores”. (PROFESSOR 5 – ESCOLA PARTICULAR) “Minha primeira atitude é conversar com os envolvidos e caso a situação não mude, levo o caso a coordenação e direção. Na reunião de pais, procuro “sondar” o fato com eles”. (PROFESSOR 6 – ESCOLA PARTICULAR) Importante considerar que um dos principais aspectos a ser esclarecido referese à participação dos pais nos problemas ocorridos dentro do ambiente escolar. A participação dos pais é essencial na vida das crianças, tendo em vista que estão formando seu caráter, que estão se desenvolvendo, e os pais representam o maior e mais próximo modelo a ser seguido. Assim, dirigimo-nos aos professores indagando “Quanto aos pais dos alunos, eles estão cientes quanto à gravidade do bullying? Eles sabem o que significa, sabem como agir se o filho sofrer algum tipo de agressão, ou o senhor (a) percebe que os responsáveis ainda estão desinformados quanto ao assunto?” Acerca desta questão, obtivemos os seguintes depoimentos: “Certamente os pais estão desinformados acerca desse tema, assim como a maior parte da sociedade.” (PROFESSOR 1 – ESCOLA PÚBLICA) “A grande maioria está por fora do assunto e da sua gravidade. Muitos nem se dão conta do desempenho da vida escolar do seu filho, quanto mais se ele é o agressor ou o agredido em caso como o de bullying.” (PROFESSOR 2 – ES- 72 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica COLA PÚBLICA) “Não sabem, e na grande maioria, não querem saber, e entendem isso como um problema a ser resolvido na escola e pela a escola”. (PROFESSOR 3 – ESCOLA PÚBLICA) “Eles conhecem mais ou menos, muitos desconhecem as conseqüências do bullying. Só se revoltam os pais do agredido, os pais dos agressores nem aparecem. E quando aparecem, tem a coragem de falar que instruem os filhos a agredirem.” (PROFESSOR 4 – ESCOLA PÚBLICA) Percebemos pelas respostas fornecidas que os professores apontam um certo distanciamento entre os pais e as crianças, uma certa falta de conhecimento sobre o próprio filho, especialmente a falta de atenção em sintomas, muitas vezes, nítidos, que as crianças que sofrem e que praticam o Bullying apresentam. Da mesma forma, essa percepção não foi diferente na escola particular, na qual os professores também se queixaram da displicência dos pais dos alunos: “Acho que os responsáveis sabem pouco sobre o assunto pois quando acontece o bullying a criança tenta esconder”. (PROFESSOR 1 – ESCOLA PARTICULAR) “Acredito que a maioria não está devidamente informada sobre o assunto”. (PROFESSOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) “Percebemos que alguns pais estão cientes e se preocupam com este assunto, outros não, são ausentes”. (PROFESSOR 4 – ESCOLA PARTICULAR) “Alguns sim pois percebo a preocupação com o filho. Alguns são O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas ausentes”. (PROFESSOR 6 – ESCOLA PARTICULAR) Por fim, buscamos entender, na visão dos professores, quais os fatores de maior influência sobre as crianças, a ponto de incentivá-las a ter uma postura agressiva e violenta perante seus colegas, tanto em gestos como em palavras e atitudes. Frente à pergunta: “Para o senhor (a), quais são os aspectos que mais influenciam no comportamento das crianças, para que elas pratiquem o bullying, por exemplo?”, obtivemos os depoimentos que seguem: “A falta de educação que existe na sociedade como um todo, a falta de amor ao próximo, a falta de limite na família, no sentido de respeito.” (PROFESSOR 3 – ESCOLA PÚBLICA) “É o retrato da vida familiar. O que eles aprendem em casa, cometem na rua e na escola.” (PROFESSOR 4 – ESCOLA PÚBLICA) “Falta de estrutura familiar, interferência da mídia, crianças sem limites”. (PROFESSOR 2 – ESCOLA PÚBLICA) “Acredito que é a mídia, em todas as suas formas, e a falta de punição para estes casos”. (PROFESSOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) “Aspectos socias, culturais e econômicas (...)”. (PROFESSOR 3 – ESCOLA PARTICULAR) Mas afinal, como os professores interpretam este fenômeno, no sentido de entender suas causas? Perguntamos aos entrevistados “De que maneira o senhor (a) acha que as formas de entretenimento do mundo moderno (vídeo-game, computador, filmes, novela, desenhos) podem influenciar uma criança, fazendo com que ela se torne agressiva ou submissa?”. Algumas das respostas são abaixo indicadas: “O adolescente ou criança que passa muito tempo nessas atividades desenvolvem um comportamento que não condiz com a realidade de sua vida, vive contextos que não fazem parte de sua vida, dando uma noção errada da realidade. Muitos fantasiam e almejam o que não lhes pertencem. E fora este comportamento , alguns ainda desenvolvem comportamento agressivo, discriminatório e tomam como exemplos ídolos criados pela sua imaginação (apologia ao crime, aos milionários, aos vândalos, etc.”(PROFESSOR 3 – ESCOLA PÚBLICA) “Já vi em vários programas televisivos atitudes incorretas como apelidar pejorativamente alguém, tratar de formar preconceituosa pessoas obesas, impor padrões estéticos muitas vezes inalcançáveis, games altamente violentos e exposição a pornografia”. (PROFESSOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) “A televisão é o maior mediador. Os pais perderam as rédeas da educação de seus filhos. Há situações graves... Relato um ocorrido na escola no começo deste ano: um aluno da 3ª série (de 11 anos) foi ao banheiro e agrediu um aluno da 2ª série ( de 7 anos) colocando o rosto do menino dentro do vaso sanitário, onde ele tinha feito as necessidades, e deu descarga. ‘Lameou’ o menino de fezes. A criança agredida ficou traumatizada. A Direção tomou as providências cabíveis, mas para o agressor nada aconteceu”. (PROFESSOR 4 – ESCOLA PÚBLICA) “Para o adolescente, na internet ele não tem rosto, e fica mais fácil falar aquilo que quer, sem encarar o outro, e isso cresce como uma bola de neve”. (PROFESSOR 5 – ESCOLA PARTICULAR) Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 73 O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas “Algumas crianças são muito influenciáveis; a falta de limites, de censura, de orientação podem ser essenciais para essa transformação. Os pais precisam preparar os filhos para esse tanto de informação”. (PROFESSOR 6 – ESCOLA PARTICULAR) Resta claro que os professores que convivem diariamente com as crianças, que participam e acompanham o desenvolvimento dessas crianças, confirmam a existência do Bullying na sala de aula, e na escola em geral. Frente a isto, tentam ajudar, conversando e orientando os alunos envolvidos, assim como explicando a todos os alunos a gravidade da rejeição e da violência. Percebem que os pais não estão devidamente informados e principalmente não estão devidamente atentos à seus filhos, a ponto de não perceberem os sintomas que apresentam, deixando dessa forma de socorrer aqueles que precisam de ajuda e de educar aqueles que estão sem limites. Além disso, evidenciam que as formas modernas de entretenimento tem grande parcela de culpa, ao insinuarem naturalmente e constantemente situações de violência, confundindo as crianças sobre os princípios e parâmetros a serem seguidos, misturando o que é permitido do que é proibido, o que é certo do que é errado. 3.2. Depoimentos dos Diretores de Escolas Dando continuidade à pesquisa de campo, da mesma forma, foram entrevistados os diretores das escolas pesquisadas, buscando identificar a que grau de competência chegam as informações sobre os casos de bullying, qual a atitude da escola em relação aos envolvidos, assim como quais são, na visão dos diretores, as maiores influências externas sobre as crianças que praticam essa violência. 74 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Deste modo, indagamos “Quando há um caso de bullying na sua escola, ele chega ao conhecimento da diretoria? Como?”. As respostas que se apresentaram foram: “Sim, chega à direção, através do professor, da inspetora de alunos e do próprio aluno”. (DIRETOR 1 – ESCOLA PÚBLICA) “Chega sim, pelos próprios alunos, pelos professores e inspetores de alunos”. (DIRETOR 2 – ESCOLA PÚBLICA) “Sim. Esses casos chegam à diretoria através da própria manifestação do aluno que recebe a agressão ou através do contato da família quando o aluno se manifesta em casa também, em casos perceptíveis pelos professores e coordenação”. (DIRETOR 1 – ESCOLA PARTICULAR) “Alguns chegam por denuncia do próprio aluno que esta sofrendo de bullying, outros são os pais que denunciam e existem casos que os colegas denunciam”. (DIRETOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) Fator positivo ocorreu em relação a este quesito, onde a unanimidade dos diretores respondeu que sempre toma conhecimento dos casos de Bullying que ocorre no interior da escola. Importante agora destacar, qual atitude tomam os diretores em relação a essa situação. Para tanto, perguntamos aos diretores entrevistados: “Quando toma ciência da situação, de que um aluno foi agredido por outro, seja por violência verbal ou física, qual a atitude da escola em relação a isso?”. Os depoimentos obtidos são expostos a seguir: Primeiro passo conversar com os alunos envolvidos, em seguida conversar com os responsáveis, observando a evolução do caso. (DIRETOR 1 – ESCOLA PÚBLI- O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas CA) Chamamos os alunos e apuramos os fatos, no caso de realmente ter acontecido, registramos a ocorrência, repreendemos verbalmente os agressores e comunicamos as famílias. (DIRETOR 2 – ESCOLA PÚBLICA) São aplicadas as normas de convivência da escola. Sempre há uma orientação no sentido de inibir e conscientizar, e as famílias são comunicados dos fatos. (DIRETOR 1 – ESCOLA PARTICULAR) Primeiramente os envolvidos são chamados para conversar e constatado a violência, seja verbal ou física, concluímos com a suspensão das atividades dos alunos. (DIRETOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) Assim como os professores, a primeira atitude dos diretores é tentar resolver o conflito entre os alunos com base na conversa, buscando orientação e educação. Porém, resta saber se essa atitude está trazendo resultados. Frente à pergunta: “Na opinião do senhor (a), o que mais influencia a criança ou o adolescente a cometer esse tipo de agressão?”, outra coincidência de respostas ocorreu: “É um reflexo do meio em que vive e falta de participação da família em seu cotidiano.” (DIRETOR 1 – ESCOLA PÚBLICA) “Falta de valores transmitidos pela família. Na maioria dos casos observamos que as famílias dos agressores são displicentes e desestruturadas”. (DIRETOR 2 – ESCOLA PÚBLICA) “A deficiência de uma boa educação em casa, e um acompa- nhamento maior por parte da família”. (DIRETOR 1 – ESCOLA PARTICULAR) “Normalmente é a impunidade. A partir dos casos que ocorreram e houve suspensão, houve também uma redução nas denúncias”. (DIRETOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) Por sua vez, em relação à pergunta: “O senhor acredita que as formas de entretenimento modernas (filmes, musicas, novelas, desenhos e jogos de vídeo-game), podem influenciar de alguma maneira as crianças a se tornarem mais agressivas com outras pessoas? Por quê?”, as respostas obtidas foram: “Sim, porque passa a ser normal esse tipo de comportamento por fazer parte do seu dia a dia”. (DIRETOR 1 – ESCOLA PÚBLICA) “Sim. A televisão é sensacionalista e coloca as situações a sua maneira, muitos programas tiram vantagem da ignorância do povo pra manipular opiniões.” (DIRETOR 2 – ESCOLA PÚBLICA) “Certamente todas essas formas de entretenimento contribuem de uma forma negativa para essa mudança de comportamento. Outro fator que eu colocaria também é a carência de bons exemplos, do bom modelo para ser copiado. Infelizmente está havendo uma inversão de valores na nossa sociedade.” (DIRETOR 1 – ESCOLA PARTICULAR) “A Agressividade já é um atributo de algumas pessoas e essas formas de entretenimento podem, muitas vezes, estimular essa agressividade. Aqueles que não possuem este atributo, não têm esses entretenimentos como estímulos.” (DIRETOR 2 – ESCOLA PARTICULAR) Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 75 O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas Podemos constatar que a escola, como um todo, preocupa-se com o aumento dos casos de Bullying entre crianças, porém, possuem apenas instrumentos como a conversa, e regras internas da própria escola para tentar combater o problema. Percebe-se que a falta de um instrumento efetivo, a falta de programas e até mesmo de instrução dos profissionais é grande colaboradora para que a violência se expanda e não diminua. 4. Formas de Combate As pesquisas têm comprovado aquilo que os estudiosos do tema têm sustentado há muitos anos: o Bullying é prática cotidiana e os seus efeitos podem ser devastadores (ROSA e PRUDENTE, 2010). Não só no Brasil, mas por todo o mundo os países estão sofrendo com a prática de Bullying entre as crianças, e tentam de todas as formas combater este mal. Em geral, a grande maioria dos países trabalha, principalmente, com a informação e conscientização sobre o Bullying, através de palestras, folhetos informativos, além da implementação de políticas públicas pelos órgãos responsáveis pela educação. Em alguns países da Europa, como por exemplo, a Finlândia, Suíça, França e Inglaterra, já existem exigências específicas legais contra o Bullying. Esses programas têm como premissa o direito de todas as crianças de estudarem em um ambiente seguro e o dever dos professores de garantir a integridade física e moral de seus alunos. (RUOTTI, ALVES e CUBAS, 2007, p. 188). O primeiro programa de intervenção, aplicado em escolas da Noruega, foi desenvolvido nos anos 80 pelo professor Dan Olweus. Tal programa consistia em três níveis: aplicado individualmente, aplicado a toda sala de aula e aplicado a toda a escola. Olweus ensina que a escola que pretende lidar com os problemas de Bullying deve trabalhar com os agressores de forma ativa e firme, deixando claro que alguns com- 76 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica portamentos não são permitidos e principalmente deixando claros os limites que devem ser respeitados. Além disso, explica que o projeto de intervenção só terá sucesso num ambiente em que as pessoas reconheçam que o Bullying deve ser eliminado e no qual haja total comprometimento e dedicação dos professores (RUOTTI, ALVES e CUBAS, 2007, p. 189-191). É certo e unânime entre especialistas do mundo inteiro que os pais dos alunos envolvidos (agressores e agredidos) têm papel fundamental para combater a violência moral nas escolas, e para isso, precisam saber lidar com a situação. No caso de pais dos agressores, por exemplo, é preciso que convençam seus filhos que esse comportamento é prejudicial a eles. Lopes Neto e Saavedra (2003) entendem que a única maneira de combater esse tipo de prática é a cooperação por parte de todos os envolvidos: professores, funcionários, alunos e pais. Todos devem estar de acordo com o compromisso de que o Bullying não será mais tolerado. As estratégias utilizadas devem ser definidas em cada escola, observando suas características e as de sua população. O incentivo ao protagonismo dos alunos, permitindo sua participação nas decisões e no desenvolvimento do projeto, é uma garantia ainda maior de sucesso. Não há, geralmente, necessidade de atuação de profissionais especializados; a própria comunidade escolar pode identificar seus problemas e apontar as melhores soluções. (...) Enfim, é fundamental que se construa uma escola que não se restrinja a ensinar apenas o conteúdo programático, mas também onde eduquem as crianças e os adolescentes para a prática de uma cidadania justa. Os conhecimentos adquiridos através de todos os estudos aumentaram a visibilida- O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas de do fenômeno, e devem ser utilizados para orientar, direcionar e para delinear técnicas de identificação e enfrentamento do problema, para formulação de políticas públicas, a fim de buscar respostas adequadas e eficazes para reduzir e futuramente acabar com o problema (ROSA e PRUDENTE, 2010). Estes autores entendem que as respostas repressoras (como a expulsão de alunos ou recorrer ao judiciário) são válidas, mas nem sempre são as mais adequadas, e por isso devem ser evitadas, devendo-se privilegiar os mecanismos alternativos ou complementares, como por exemplo, a justiça restaurativa. As práticas restaurativas estão focadas numa forma reconstrutiva das relações e preparativas de um futuro convívio respeitoso. A mediação, conferências familiares ou círculos fazem parte dessa modalidade, e proporcionam a vítima, ao agressor e a outros interessados a oportunidade de se reunirem, exporem os fatos, falarem sobre os motivos e conseqüência do ato, ouvirem o outro, visando identificar as necessidades e obrigações de ambos. Dessa forma, firma-se um compromisso entre as partes. Rosa e Prudente (2010) concluem dizendo que, com a justiça restaurativa, as escolas aprendem que em vez de punir, é melhor dialogar para resolver os conflitos. 4.1. Formas de Combate ao Bullying no Brasil No Brasil, o principal programa de combate ao Bullying é feito pela ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de proteção à Infância e a Juventude. Este programa foi criado para redução do comportamento agressivo entre estudantes, com patrocínio da Petrobrás, o auxílio da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro, do IBOPE, e das 11 escolas que participaram do projeto. Além do grupo ABRAPIA, existem outros programas sendo aplicados e testados nas escolas a fim de diminuir e futuramente acabar com a problemática do Bullying entre crianças. Dentre estes projetos, encontra-se o da professora Marta Canfield, que também utilizando-se de uma adaptação do questionário de Olweus, procura observar o comportamento agressivo das crianças de quatro escolas de ensino público de Santa Maria (Rio Grande do Sul). Ainda em busca do mesmo objetivo, qual seja reduzir a ocorrência de violência moral entre as crianças, existe no Brasil o programa chamado “Programa educar para a paz”, presidido pela professora doutora em ciências da educação, Cleodelice Aparecida Zonato Fante (2010). Tramitam no Congresso Nacional projetos especificamente voltados para proteção ao Bullying. Deste modo, observa-se que alguns parlamentares pretendem criar uma lei federal específica contra essa prática, tendo alguns projetos a intenção até mesmo de tipificar e criminalizar tais condutas. Contudo, resta apenas saber se essa lei vai ajudar a amenizar ou mesmo acabar com o problema, ou se poderá colocar-se como uma medida que superdimensiona a pena e não se efetiva no combate ao problema propriamente. Os projetos de Lei com tal proposta são, em suma, muito parecidos, visando a criação de programas nacionais, estaduais e municipais de combate a essa forma de violência, prevendo destinação de verbas públicas direcionadas a esses programas, entre outras propostas. Esses projetos são também muito parecidos com a Lei 14.651 de 12 de Janeiro de 2009, que trata do mesmo assunto e já está vigente no Estado de Santa Catarina. 5. Considerações Finais Constatou-se nas entrevistas realizadas que no ambiente escolar, entre crianças, a prática do bullying aumenta e se intensifica a cada dia. Os professores e a própria escola, até hoje, possuem apenas instrumentos como o diálogo e regras internas para tentar controlar, amenizar e acabar com a violência Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 77 O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas entre os alunos; além disso, percebe-se que falta a participação efetiva dos pais na vida dos alunos prejudica ainda mais seu desenvolvimento e a capacidade de discernimento entre o que é certo e o que é errado. Não há ainda no ordenamento jurídico federal uma Lei específica sobre o Bullying, embora tramitem no Congresso Nacional alguns projetos que tratam deste tema, nos quais fica prevista a criação de programas antibullying, a conceituação e informação da sociedade, entre outras medidas específicas. Tendo em vista que este fenômeno é antigo e vem apenas aumentando, e que essas normas de proteção existem e podem ser usadas há muito tempo, conclui-se primeiramente que a ocorrência deste fenômeno não está ligada a inexistência de uma Lei específica. Considera-se, de fato, que tal ocorrência está ligada à falta de informação e participação da sociedade, principalmente no que diz respeito à ação das escolas e à instrução dos profissionais que convivem com as crianças para lidar com a questão. Além disto, está fortemente ligada à participação dos pais na vida dos filhos, na postura voltada a obter informação quanto aos sintomas que apresentam os envolvidos em casos de Bullying (vítimas e agressores), e em como lidar com a questão. Além disto, o fenômeno está ligado também com a atitude da mídia em geral, que libera o acesso de crianças às cenas de violência, tortura, abusos, que cria e impõe parâmetros de beleza, de atitude, de bens materiais, sendo que, aquele que não se encaixar nesses parâmetros, pode ser considerado excluído do circulo principal da sociedade, ou seja, não é considerado igual aos demais. Apóiam-se as práticas restaurativas focadas numa forma reconstrutiva das relações sociais, que possam preparar uma coexistência pautada no respeito. Assim, a mediação, conferências familiares ou círculos fazem parte dessa modalidade, e pro- 78 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica porcionam à vítima, ao agressor e a outros interessados a oportunidade de se reunirem, exporem os fatos, falarem sobre os motivos e conseqüência do ato, ouvirem o outro, visando identificar as necessidades e obrigações de ambos. Portanto, num primeiro momento, a necessidade maior parece ser a promoção de informação e formação social, no sentido de explicar, mostrar a diferença entre brincadeiras de criança e violência moral entre crianças, dar publicidade aos sintomas mais comuns que apresentam os envolvidos, instruir sobre como devem agir ao se deparar com a situação, portanto, abrir os olhos da sociedade para essa prática que vem trazendo cada vez mais conseqüências terríveis e irreversíveis nas crianças e nos adultos que se tornarão. O Fenômeno Bullying: Resultado de Pesquisa Empírica sobre sua Prática nas Escolas Referências bibliográficas ABRAPIA virtual. Projeto Governamental do Estado do Rio de Janeiro. Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Disponível em <http://www.bullying.com.br>. Acesso em: 05 abr. 2010. ALBINO, Priscila Linhares e TERÊNCIO, Marlos Gonçalves. Considerações críticas sobre o fenômeno do Bullying: do conceito ao combate e a prevenção. 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Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 79 O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação Santo de Almeida Vieira¹ Sérgio Gustavo Perego Zavatti² Rodrigo César Vulcano dos Santos³ RESUMO Este estudo aborda os discursos do atual Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Seguindo o dispositivo teórico da Análise do Discurso de Linha Francesa, objetiva-se investigar os sentidos que são construídos pelo discurso e sua historicidade, procurando identificar a ideologia do candidato e, depois, presidente da república. Palavras-chaves: discurso; ideologia; sentido. ABSTRACT This study approach the speeches of the current President of the Republic Luiz Inácio Lula da Silva. Following the theoretical device of the Analysis of the Speech of French Line, objectify to investigate the directions that are constructed by the speech and its sense in time, looking for to identify the ideology of the candidate and, later, president of the republic. Keywords: speech; ideology; sense. 1. Introdução O estudo tratará dos discursos do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Através da análise dos discursos no tempo, de sindicalista à presidente da repú- blica, discutirá os processos discursivos. Os discursos preparados são, em sua maioria, fáceis de encontrar na mídia impressa, mas os improvisados geralmente ficam apenas na oralidade e poucos foram transcritos na íntegra. Uma carreira política não se faz ao acaso. Quando se depara com um candidato ou figura pública, não se está à frente apenas de um cidadão com vontade de exercer mudanças. Há um grande trabalho de imagem e conduta ideológica que acercam e norteiam os passos e palavras de cada grupo social. É perceptível que uma má conduta ou descuido às vésperas de um pleito pode mudar os rumos de ou decidir uma eleição. Não há eleição vencida na véspera, mas um passo em falso, uma palavra mal colocada ou desvios sérios de conduta ajudam a definir distâncias e esclarecerem indecisos. Para análise, precisa-se, porém, dividir a carreira política de Lula em algumas fases, que possibilitaram amadurecimento, experiências e mudanças de posição ideológica: 1. Extrema esquerda: sindicalista, fundador do Partido dos Trabalhadores (PT). Nessa fase foi eleito Deputado Federal em 1986 e concorreu a primeira eleição presidencial em 1989. 2. Transição: presidente e líder do PT (Partido dos Trabalhadores); candidato derrotado nas eleições presidenciais de 1994 e 1998. 3. Centro-Esquerda: eleito presidente ¹ Letras - Curso de Letras do Centro Universitário UniSEB Interativo; Araraquara; São Paulo; Brasil; [email protected] ² Letras - Curso de Letras do Centro Universitário UniSEB Interativo; Araraquara; São Paulo; Brasil; [email protected] ³ Letras - Curso de Letras do Centro Universitário UniSEB Interativo; Araraquara; São Paulo; Brasil; [email protected] 80 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica da República em 2002 e reeleito em 2006 com mandato até 2010, não podendo concorrer à reeleição. O marketing político é um verdadeiro formador de opiniões, principalmente entre os mais desinteressados eleitores. Entre as mais importantes técnicas marqueteiras está o discurso político. Um candidato ao mais alto cargo de uma nação chega a fazer mais de um discurso por dia e deve estar bem assessorado e atualizado sobre os assuntos de suas explanações. Não há espaço para erros. Durante uma campanha, também são alvos de ataques os discursos feitos nos inícios de carreira. Se lá atrás houve um deslize significativo ou comprometimento com alguma ideologia ou promessa, isso, com certeza, será utilizado a favor do adversário. Os candidatos são definidos cada vez mais cedo para possibilitar um trabalho de imagem e postura política pertinentes ao cargo pretendido. Mudam feições, atitudes, retórica, afinidades, parcerias, e o que mais for preciso para formar uma figura em que valha a pena investir tempo e dinheiro. 2. O Discurso A Análise do Discurso aparece no final dos anos 1960 com o lançamento, em 1969, por Michel Pêcheux, do livro Análise Automática do Discurso, que representa a fundação dessa disciplina. Segundo Orlandi (2005, p. 26), “A análise do discurso visa a compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos”. A AD considera a produção de sentido dos sujeitos de uma sociedade, determinada por fatores históricos e sociais. Dos conceitos pertencentes à AD destaca-se a Memória Discursiva, a Formação Discursiva, a Formação Ideológica e o Interdiscurso. A memória discursiva permite que todo discurso enunciado resgate formulações anteriores pertencentes e posicionadas na história. Orlandi (1993) diz que o sujeito toma como suas as palavras de uma voz anônima que se produz no interdiscurso, apropriando-se da memória que se manifestará de diferentes formas em discursos distintos. Sobre Formação Discursiva, Foucault diz que: Sempre que se puder descrever, entre certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão e se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições, funcionamentos, transformações) entre os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, teremos uma formação discursiva. (1997, p. 43) Falando sobre Formação Ideológica, Pêcheux diz que a ideologia adquire materialidade no discurso. Se o discurso é relação de sentidos, a formação ideológica é um conjunto de atitudes e representações ligado mais ou menos diretamente a determinada classe. A formação ideológica tem como um de seus componentes uma ou várias formações discursivas interligadas. Orlandi (1992, p. 8990) diz: O interdiscurso é o conjunto do dizível, histórica e linguisticamente definido. Pelo conceito de interdiscurso, Pêcheux nos indica que sempre já há discurso, ou seja, que o enunciável (o dizível) já está aí e é exterior ao sujeito enunciador. Ele se apresenta como séries de formulações que derivam de enunciações distintas e dispersas que formam em seu conjunto o domínio da memória. Esse domínio constitui a exterioridade discursiva para o sujeito do discurso. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 81 O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação 3. Análise do Discurso e o Poder Historicamente pode-se perceber que bons discursos4, entendidos como enunciados linguísticos cujos sentidos são determinados por suas inscrições ideológicas, que conseguem resgatar sentidos pré-existentes tornando possível e interpretável o dizer dos interlocutores, fazem parte da manutenção do poder, tanto nas ditaduras como nas democracias. Grandes ditadores, como Hitler e Fidel Castro, têm, em seus currículos, discursos arrebatadores. Na história recente da democracia brasileira, também se tem exemplos claros de eleições que foram decididas nos discursos: a disputa Collor x Lula, na primeira eleição democrática do país pós-ditadura militar foi uma delas. Enquanto Lula mantinha uma posição de esquerda, bem próxima aos princípios socialistas, um tanto quanto radical, Collor mantinha a cara de “bom moço” mantendo os dois pés em cima do muro, com uma tendência à direita. A democracia era uma coisa nova e o radicalismo de podermos votar já era o bastante. Uma mudança radical extrema, representada por Lula e seus ideais socialistas, não foi bem aceita pelos eleitores. Mas tudo a seu tempo, a democracia foi consolidada com a direita no poder por vários mandatos e abrindose as portas para mais uma mudança: a esquerda no poder, um país liderado por um ex-representante sindical com pouco estudo, mas com grande capacidade de persuasão e já nem tanto radical. Pode-se, todos os dias, perder ou ganhar eleitores. Convencer as pessoas e manter a opinião pública a uma distância confortável faz parte da manutenção dos cargos. Ganha-se poder com as palavras e há uma clara diferença entre oralidade e escrita, o tom da voz, a ênfase, os gestos, expressões faciais, permeadas pelo local e diretamente associadas ao público alvo dos discursos. To- dos esses elementos devem ser considerados, pois modificam e norteiam as análises. Para isso, as análises de discursos precisam ser profundas, todos os aspectos que envolvem o discurso, tanto externos como internos devem ser considerados. Um discurso feito na época eleitoral é diferente de um discurso feito durante o mandato. Um discurso perante jornalistas é diferente de um discurso feito para a população menos informada: são diferentes tipos de persuasão, linguagens diferentes, efeitos e sentidos diferentes. Segundo diz Orlandi: Pela ideologia se naturaliza o que é produzido pela história; há transposição de certas formas materiais em outras. Há simulação (e não ocultação de conteúdos) em que são construídas transparências (como se a linguagem não tivesse sua materialidade, sua opacidade) para serem interpretadas por determinações históricas que aparecem como evidências empíricas. (1994, p. 57) 4. Condições de Produção do Discurso de Lula Aborda-se primeiro aqui as Condições de Produção do Discurso do Presidente Lula, sua Ideologia, Formação Discursiva e Lula como sujeito de seu discurso. Devem-se levar em conta as condições sócio-históricas em que se formou o atual presidente, quando ainda metalúrgico e sindicalista. Lula, nordestino, retirante, trouxe em sua formação psicológica as agruras de um brasileiro nascido na extrema pobreza, vítima da concentração de riquezas, que o marginalizou e sua classe. Quando em São Paulo, sentindo-se talvez pela primeira vez, como sindicalista, na condição de lutar por si e por sua classe, conseguiu, através da persuasão e mobiliza- 4 Refere-se aqui ao “discurso político”, gênero textual que cumpre sua função na situação comunicativa específica de uma disputa política, atendendo seu propósito comunicativo. Difere do “Discurso”, objeto teórico da “Análise do Discurso”, de onde se observa as relações entre Língua e Ideologia na produção de sentidos. 82 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação ção de seus companheiros, lutar contra os símbolos que representavam suas agruras: a concentração de riquezas nas mãos dos patrões, que impedia que trabalhadores tivessem moradia, comida, educação e saúde, tudo o que lhe faltou em sua infância. É este contexto sócio-histórico, carregado de privações e desencantos com o poder público, que traz as condições de produção de seus discursos. 5. A Formação Ideológica de Lula A Formação Ideológica de Lula vem de sua interpretação da realidade histórica. Sua realidade histórica corresponde às suas práticas, ações e maneiras com que se relacionou com essa realidade histórica, principalmente a sua atuação como sindicalista e candidato a presidente da república. Se for analisada mais profundamente, a maioria dos discursos de Lula remete, de alguma forma, seja por alguma consideração ou análise, a ele próprio. Sobre qualquer tema, do MeioAmbiente ao FMI, ele inclui e faz questão de incluir, ainda que implícitas, considerações sobre o “trabalhador”, a “nação”, a “fome”, etc.. Lula puxa, a todo o momento, a memória de quem o elegeu, como se estivesse dizendo “olha, agora que estou aqui, mais uma vez estou lutando por nós”, já que ele se incluiu no conceito de “povo” e usa a linguagem do povo. Se sua ideologia foi formada por sua vivência de luta contra a exploração patronal, o desemprego e a fome, o seu convencimento da opinião pública deve-se à fidelidade de suas propostas, formalizadas através de linguagem apropriada, que corroborasse sua identidade com seu “povo”. 6. A Formação Discursiva de Lula Considerando-se que Lula veio do “povo”, nada mais claro que sua formação discursiva viesse da visão de mundo contida em sua ideologia. Boa parte de seus enunciados provêm de já-ditos presentes na lin- guagem sindical, nos bordões utilizados por sem-tetos, sem-terras e sem-empregos. Em discurso do Presidente da República, na cerimônia de inauguração da fábrica de pneus, de mineração e terraplanagem da Michelin – América do Sul - Bairro Campo Grande – Rio de Janeiro, em 26 de fevereiro de 2008, Lula disse: Somente quem está dentro de uma fábrica, ou quem está em casa esperando que o companheiro ou a companheira chegue, ao final do mês, com o salário para ajudar a família sobreviver, tem noção do que é o desemprego, tem noção do que é um trabalhador ir marcar o seu cartão, chegar lá e o cartão não está, vai ao departamento de pessoal e recebe o comunicado de que foi dispensado. (http://www.info. planalto.gov.br) Lula usou termos que costumava usar nos tempos de sindicato, como “companheiro, “companheira” e “marcar ponto”. Ele se utiliza de palavras resgatadas de sua história, que dão um sentido a seu discurso e gravam sua marca que é o uso, às vezes exagerado, de poucas e mesmas palavras. Dá-se, por muitas vezes, a impressão de que seu vocabulário é limitado às mesmas palavras que usava há vinte anos. Mas, analisando que hoje, simplesmente por ocupar a presidência e, ainda mais, pela vontade natural de superação e pela estrutura institucional da Presidência da República que, forçosamente, levou-o a estruturar melhor seus discursos em situações que a correção gramatical fosse imperiosa, desfaz-se qualquer consideração de que o presidente, por ignorância, ainda use palavras fora de contexto. Lula usa a linguagem que convém ao momento e ao público que o ouve. 7. Sujeito do Discurso Não se pode deixar de considerar de onde o sujeito do discurso enuncia, qual sua Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 83 83 O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação função no ato da enunciação e em quais condições este foi produzido. Orlandi diz: O sentido não existe em si, mas é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico em que as palavras são produzidas. As palavras mudam de sentido segundo as posições daqueles que as empregam. Elas “tiram” seu sentido dessas posições, isto é, em relação às formações ideológicas nas quais essas posições se inscrevem. (1999, p. 42-43. Aspas do original) Lula, como sujeito de seu discurso, traz exemplos de equívocos e fuga do controle consciente de suas palavras e pensamentos em seus discursos. Em 10/03/03, em discurso, disse que “antes que Napoleão Bonaparte ter visitado a China, o hino brasileiro já falava que somos um gigante.” Evidente equívoco, pois Napoleão nunca esteve na China. Lula nunca obteve informação de qualquer fonte de que tal viagem teria ocorrido. Dotado de um inconsciente, expressou algo que lhe escapou, sem que tivesse tido tempo ou condições de analisar o sentido do que proferiu. Também clara é a ilusão de ser a origem de seu discurso. Tem-se sempre a impressão de que, quando Lula discursa, ele tem a ilusão de que está dizendo algo totalmente inédito, principalmente em suas considerações sobre Pobreza, Desenvolvimento, Trabalho, Educação, Justiça e Fome. Sobre Pobreza, em 09/05/08, em Salvador-BA, ao discursar disse: “... mas a parte mais pobre tem que ter a nossa preferência para deixar de ser mais pobre. Quando ela deixar de ser pobre vai virar consumidora, ela vai comprar, a empresa vai produzir, o mercado vai vender, vai ter mais emprego, mais um salário, mais um consumidor”. Quem ouve Lula em um discurso como este sabe que ele discursa como se estivesse esclarecendo um fato ou uma dinâmica que não era perceptível ou entendida 84 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica por outros seres. Percebe-se em seu tom de voz e em sua satisfação por conseguir dizer algo que pretendia expressar, aquela ilusão de ser a origem de seu discurso. Tal fenômeno é chamado por Pêcheux de esquecimento número um. Mas esses fenômenos, em Lula, funcionaram como qualidade, pois seu eleitorado, composto inicialmente por pessoas mais humildes, viu, nessas atitudes, demonstrações de superação pessoal do presidente. O eleitorado de Lula vê no Presidente a si próprio, ditando regras e conceitos a uma nação. Lula, afinal, sabe do poder da linguagem e a usa da maneira que julga apropriada para “seu povo”, seus “companheiros e companheiras”. Em discurso, proferido em 04/12/08, ao usar um exemplo, rebatendo críticas de que ele tentava passar otimismo para a população, de modo a não retrair o consumo, o que pioraria ainda mais a crise econômica, ele disse: “Imaginem vocês, se um de vocês fosse médico e atendesse um paciente doente, o que vocês falariam para ele? “Olha, companheiro, o senhor tem um problema, mas a medicina já avançou demais, nós vamos dar tal remédio e você vai recuperar.” Ou você diria: “Meu, ‘sifu’.” Vocês falariam isso para um paciente de vocês? Vocês não falariam”. Fica-se pensando nos aplausos e nas considerações, de seus “companheiros”, de que isto foi um ato de coragem em falar a “língua do povo” sem constrangimento. Lula atenuou, usando “sifu”, um eufemismo para “se fodeu”, mas para o povo, Lula falou sem ser “difícil”. Lula, realmente, fala, quando lhe convém, como costumava falar em tempos de sindicalista e candidato à presidente da república, usando e abusando de figuras de linguagem, usando principalmente seus métodos preferidos, a metáfora e a comparação. Na formatura de alunos do SESI, RJ, O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação disse: “é como se esse palco fosse um grande ovo cheio de pintinhos dentro, que até então não sabiam como era o mundo. Esse curso, na verdade, fez vocês quebrarem a casca do ovo e aparecerem para o mundo em que vocês vão viver daqui pra frente.” 8. O Corpus O corpus é composto do discurso de Lula em 17 de abril de 1980, dirigindo-se aos sindicalistas e metalúrgicos em greve, no Sindicato dos Metalúrgicos, da transcrição de vídeos usados na propaganda eleitoral gratuita na televisão, sendo um texto da propaganda do primeiro turno das eleições de 1994, quando foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso, outro texto da propaganda do primeiro turno de das eleições de 1998, quando, novamente, foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso e o terceiro da propaganda do primeiro turno da Eleição de 2002, quando foi eleito no segundo turno, derrotando José Serra. Finalmente tem-se o primeiro discurso como presidente eleito, proferido no dia 27 de outubro de 2002. 8.1 Análise do Corpus Lula elegeu-se, em abril de 1975, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema e foi reeleito em 1978. Em seu primeiro mandato ia para as portas das fábricas, liderando comícios onde convocava os trabalhadores a participarem de assembléias. Naquela época a maioria dos discursos era improvisada, o que já dava aos metalúrgicos a noção do grande poder comunicativo de Lula. A rapidez com que resgatava jargões e frases de efeito, constitutivas da formação discursiva dos trabalhadores, que reconheciam tais chamamentos, permitia a interação entre enunciador e enunciatário. No discurso aos metalúrgicos, em abril de 1980, disse: “Pessoal, vamos bater um papo aqui como nós sempre fizemos. Vocês sabem tanto quanto eu sei que, mais dia menos dia, isto viria a acontecer. [...] Se a gente continuasse em greve, com o esquema de massacre que estava montado, a greve continuaria mais dois ou três dias. E a gente voltava a trabalhar, quem sabe, embaixo de porrada. Vocês sabem o quanto custou pra eu pedir pra vocês voltarem a trabalhar. Quantos dos companheiros que estão aqui hoje, quantos de vocês foram vanguarda naquela greve e são vanguarda agora - e por isso estão aqui dentro - me chamaram de filho da puta. Quantos companheiros chegavam aqui no sindicato e falavam: Lula, a barra está pesada.” Vê-se a colocação do líder, por ele próprio, no mesmo patamar de seus liderados ao chamá-los para “bater um papo”, numa relação que permite compreender diálogo e não ordens diretas. Lula interagia com seus interlocutores sempre se utilizando de recursos lingüísticos, como a utilização de expressões que incluíam o emissor na ação proposta por ele. Quando diz “Se a gente continuasse em greve...”, entende-se “Se nós continuássemos em greve...”, mesmo se sabendo que, como presidente de um sindicato poderoso, Lula já não mais trabalhava no “chão da fábrica”. O enunciador ora assume seu papel de sujeito do discurso, ora assume o papel de enunciatário, já que, quando assume valores que acredita ser importante transmitir ao enunciatário, pretende também mostrar a este que tal conceito é também importante e extensivo a quem enuncia, dando credibilidade de que é uma ação cujo efeito é aplicado a ambos, como se vê no trecho abaixo: “Cada um de nós aqui, cada um de nós, o Lula, o Ratinho, o jornalista, o metalúrgico, individualmente não vale porra nenhuma. Não Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 85 O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação vale. A categoria como um todo vale muito. E o que nós precisamos preservar é a categoria. O que nós precisamos preservar é todo o trabalho que foi montado desde o dia primeiro de abril. É por isso que eu vou fazer um pedido pra vocês. Durante 15 dias, eu pedi pelo microfone que os companheiros viessem para o sindicato. O pedido que eu faço hoje é o contrário. E eu gostaria que vocês entendessem que nem é um pedido, é uma súplica.” Na fase de transição, quando candidato nas eleições de 1994 e 1998, no horário eleitoral gratuito, Lula, numa mesma frase, usa deste mesmo recurso quando diz “... Os mesmos que falavam que eu ia acabar com a poupança, acabaram com a poupança. [...] Vocês estão lembrados que diziam que nós não tínhamos experiência”. Há, ainda que subtendida, a abrangência da palavra “nós” aos eleitores que desejavam Lula no poder. Na propaganda eleitoral do primeiro turno, há uma clara divisão de responsabilidades na frase “... Temos que encontrar novas soluções para nossos velhos problemas”, frase esta dita quando já adequava seu discurso à posição centro-esquerda, procurando novos eleitores. Nesta fase de sindicalista, Lula impôs sua marca discursiva, utilizando-se de recursos lingüísticos como a repetição e a metáfora. Tais recursos são usados para fixação, principalmente em discursos políticos, como no trecho abaixo em que são repetidas palavras chaves que evocam da formação discursiva dos enunciatários o significado pretendido. Observa-se a repetição das palavras ‘greve’, ‘consciência’ e ‘vitória’. “É por isso que eu apelo aos companheiros. Meditem! Meditem! A minha opinião pessoal é que nós temos que decidir o que é mais importante. Nós temos que decidir o que é mais importante. Para mim 86 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica o mais importante é os trabalhadores ficarem em greve e voltarem a trabalhar com uma vitória. Porque, se voltarem a trabalhar com uma vitória, no ano que vem teremos outra vitória. Eu não estou precisando de proteção. Eu acho que Deus protege cada um de nós. Entretanto, existem alguns milhares de trabalhadores aí na rua que precisam de proteção daqueles que tem consciência. E vocês têm consciência e têm que ir lá fora dar consciência para esse pessoal. A vitória da nossa greve, a vitória do nosso movimento será a capacidade de decisão que vocês tiverem.” Quando Lula diz “... Não sei se todo mundo me ouviu bem, porque a minha voz está como duas folhas de lixa grossa raspando uma na outra”, nada mais natural para um metalúrgico resgatar o significado, pois, Lula, para justificar sua rouquidão, provocada, talvez, muitas horas de discurso, usa uma comparação, tentando associar o som de sua voz ao som de lixas raspando uma na outra, o que provoca um som desagradável, conhecido por quem trabalha em metalúrgicas. Para Foucault (1997, pág. 135), o discurso é um conjunto de enunciados apoiados na mesma formação discursiva. Entendendo-se que a formação discursiva contém a formação ideológica, o discurso político de Lula reflete e encontra amparo primeiramente na classe social de onde adveio sua formação ideológica. Lula, na campanha eleitoral de 2002, já representando, também, os interesses de uma classe dominante economicamente, também interessada no processo de mudança política que agora prometia sua inclusão nas discussões sobre as decisões de governo, teve que adequar o tom de seu discurso político. Procurando o apoio e voto também dos empresários e da classe economicamente mais elevada, teria que ter seu discurso também reconhecido por estas novas clas- O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação ses incluídas no apoio político que buscava. O discurso não teria que ser dirigido apenas aos trabalhadores. Cada grupo social tem seu repertório de formas de discurso na comunicação sócio-ideológica. A inclusão de novos grupos sociais teria que abarcar uma abrangência maior até mesmo do léxico. A justificativa da adequação da prática discursiva aparece na propaganda eleitoral gratuita na televisão: “Tenho conversado com muito empresários e com sindicatos de trabalhadores e todos estão convencidos que a única solução é o Brasil voltar a crescer [...] É por isso que a minha proposta de fazer um grande pacto social entre governos, empresários e trabalhadores é cada vez mais aceita, cada vez mais compreendida por todos. [...] Temos que encontrar novas soluções para nossos velhos problemas.” (10 de setembro – primeiro turno das eleições de 2002) Percebe-se uma justificativa implícita, destinada aos trabalhadores, já que a partir dali seriam incluídas reivindicações e propostas também dos empresários. No trecho “Temos que encontrar novas soluções para nossos velhos problemas”, o verbo “temos” tem como sujeito Lula e os trabalhadores e “novas soluções” implicaria mudanças, com a inclusão de mais categorias no poder. O discurso radical, inflamado e de caráter anti-elitista é amenizado. Os discursos em grandes comícios, destinados apenas a trabalhadores foram substituídos por discursos que suscitavam a idéia de promover o enunciatário, incluídas aí outras classes aderidas à campanha, a tomada de decisões na estrutura política. A palavra constituía aí o produto de interação de indivíduos socialmente organizados. Característica importante do discurso político é a imagem que o enunciatário tem do enunciador político. Lula se ajusta à imagem do homem público, assumindo um papel mais abrangente, correspondente ao que pressupunham seus enunciatários. No discurso como presidente eleito, além de ser identificado pela sua formação discursiva, está evidente o alargamento desta formação, adquirida do relacionamento mais amplo. Está presente o conceito de interdiscurso quando, apesar de a chegada ao poder ser um uma situação inédita, Lula faz agradecimentos e chamamentos para toda a sociedade, incluída a elite, governar junta. Lula retoma sentidos já existentes, ele não é a fonte de seu próprio discurso. “Eu e minha equipe iremos governar esse país, mas não seria exagero dizer pra vocês que apenas um presidente, o seu vice e a nossa equipe não será suficiente para que a gente governe o Brasil com os seus problemas, portanto nós vamos convocar toda a sociedade brasileira, todos os homens e mulheres de bem desse país, todos os empresários, todos os sindicalistas, todos os intelectuais, todos os trabalhadores rurais, toda a sociedade brasileira, enfim, para que a gente possa construir um país mais justo, mais fraterno e mais solidário.” (discurso como presidente eleito) Todo discurso é determinado pelo interdiscurso. Lula retoma discursos, já-ditos de sua própria formação discursiva, que já foram formados de sentidos já criados, já existentes na sociedade, nas estratégias lingüísticas e no contexto do conhecimento humano. Falar, discursar, nunca foi um gesto despretensioso e ingênuo. Segundo Foucault: Basta-me referir que, nos dias que correm, as regiões onde a grelha mais se aperta, onde os quadrados negros se multiplicam, são as regiões da sexualidade e as da política: longe de ser um elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se desarma e a política se pa- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 87 O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação cifica, é como se o discurso fosse um dos lugares onde estas regiões exercem, de maneira privilegiada, alguns dos seus mais temíveis poderes. O discurso, aparentemente, pode até nem ser nada de por aí além, mas, no entanto, os interditos que o atingem, revelam, cedo, de imediato, o seu vínculo ao desejo e o poder. E com isso não há com que admirarmo-nos: uma vez que o discurso — a psicanálise mostrou-o —, não é simplesmente o que manifesta (ou esconde) o desejo; é também aquilo que é objecto do desejo; e porque — e isso a história desde sempre o ensinou — o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas é aquilo pelo qual e com o qual se luta, é o próprio poder de que procuramos assenhorear-nos. (A Ordem do Discurso – Michel Foucault - Espaço Michel Foucault www.filoesco.unb.br/foucault). Há uma escolha do repertório a ser utilizado, pois o enunciatário não é apenas uma classe social. Lula continua usando termos como “companheiro” e “companheira”, mas outros temas, além dos principais que eram reconhecidos em seus discursos, são incorporados ao discurso. Salienta a importância de uma negra, Benedita da Silva, assumir o governo do Estado do Rio de Janeiro. A política internacional também é destacada no trecho “E farei o que estiver ao alcance do presidente da República do Brasil para que a paz seja uma conquista definitiva do nosso continente”. Lula, eleito presidente, representa agora não mais os interesses de uma classe, mas os interesses de uma nação. Seu discurso tem agora que engajar uma nação a apoiá-lo. “... portanto nós vamos convocar toda a sociedade brasileira, todos os homens e mulheres de bem desse país, todos os empresários, 88 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica todos os sindicalistas, todos os intelectuais, todos os trabalhadores rurais, toda a sociedade brasileira, enfim, para que a gente possa construir um país mais justo, mais fraterno e mais solidário”. (discurso como presidente eleito). O sujeito, que é afetado pela língua se significa pela sua inscrição em determinada formação discursiva, abarcada por sua ideologia. “O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que se produza o dizer.” (ORLANDI, 2003, p.46) 9. Conclusão O discurso é composto de mensagens a serem decodificadas pelo receptor. O sentido, assim, não depende somente da intenção do emissor. Como todo discurso se relaciona a outros discursos, todo sentido se relaciona a outros sentidos. Para fundamentar um dizer, o emissor resgata da sua memória discursiva dizeres que são disponibilizados e constituem sentido de acordo com sua formação discursiva e sua ideologia. Como as palavras não tem sentido vinculado à sua literalidade, o emissor as usa levando-se em conta a interpretação do receptor, conseguindo o sentido pretendido. São as estratégias linguísticas que materializam, através do discurso, as intenções ideológicas, obtendo assim afinidades com o público. Um candidato, no decorrer de sua vida política não muda, no sentido de tomar um rumo totalmente diferente, sua ideologia ou discurso. Usa, observando erros que são cometidos ao se dirigir somente a determinadas classes, o acréscimo de outras classes que eram preteridas ou atacadas em seus discursos, adaptando e reformulando seu discurso. É a palavra que possibilita, primeiro, uma pré-disposição de eleitores que não faziam parte de seu eleitorado tradicional a levar em consideração suas propostas e, depois, ocupar o cargo almejado. Essa mudança só é possível através da adaptação do discurso, do diálogo e da negociação para que o resultado seja crível e duradouro. O Discurso do Presidente: Efeitos de Sentido e Argumentação Referências bibliográficas FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. GREGOLIN, M. R. Discurso e Mídia: a cultura do espetáculo. São Carlos: Claraluz, 2003. KOCH, Ingedore G. Villaça. As Tramas do Texto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. ORLANDI, E. Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos. 2ª Ed. Campinas: Pontes, 2005. ______ Análise de discurso. Campinas: Pontes, 2003. ______ As formas do silêncio: no movimento dos sentidos. Campinas: Editora da Unicamp, 1992. PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso - uma crítica à afirmação do óbvio. Campinas, Editora da Unicamp, 1995. REBOUL, Olivier. Introdução à Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Tradução de Ivone Castilho Benedetti. http://www.info.planalto.gov.br, site acessado dia 12 de Novembro de 2009, às 16:00 horas. http://www.filoesco.unb.br/foucault, site acessado em 14 de abril de 2010 ás 18:00 horas. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 89 Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores1 Adriana Souza Rodrigues Catia Daniel de Azevedo Eloisa Gonçalves Schermann Evandra Soares Mascarenhas Bernardes Marina Caprio² RESUMO dificuldades que envolviam o estágio obrigatório para alunos do curso de pedagogia. Abalizamos como um equívoco perturbador, a obrigatoriedade do estágio para professores com experiência em sala de aula, assim como a imposição de se fazer o estágio em instituições diferentes da que já trabalham,uma regra que desconsidera todo o saber acumulado de um profissional da educação, além de diminuir o número de vagas para os estudantes sem experiência em instituições escolares. Consideramos também a dificuldade para encontrar uma escola disposta a aceitar alunos da faculdade de pedagogia como estagiários, já que não existe obrigatoriedade legal para que as escolas recebam um determinado número de estagiários por ano. Supomos que o desinteresse das escolas ocorra pela ausência de estímulo financeiro, profissional ou classificatório para esse sobre-trabalho, além de se tornar extremamente inconveniente para a rotina escolar a presença de pessoas estranhas, que podem vir a prejudicar o bom andamento das aulas, ou ter atitudes conflitantes com a filosofia de trabalho da instituição. Diante de tantas constatações negativas, passamos a pensar em novas soluções, pois não há a menor dúvida de que algum tipo de vivência e aprendizado real é fundamental para os alunos de pedagogia. Analisando a formação de profissionais em outras áreas e relembrando a proposta de nosso Secretário da Educação, Prof. Paulo Renato de Souza, que visa tornar o curso de pedagogia O presente artigo tem o intuito de desvendar a realidade dos estágios supervisionados, obrigatórios para os alunos de graduação em pedagogia, buscando respostas para as dificuldades na realização de estágios eficientes e as limitações de seus resultados, para finalmente esquadrinhar soluções inovadoras, capazes de formar profissionais transformadores da educação em nosso país. Palavras-chave: estágio, formação, profissionalização, teoria, prática reflexiva. ABSTRACT This article aims at unfolding the reality about mandatory supervised internship for undergraduate students of Pedagogy. It searches answers for the difficulties in performing effective training and the limitations of their results in order to eventually scan innovative solutions that enable the formation of transforming professionals of education in our country. Key words: internship, formation, training, theory, reflective practice. Introdução O projeto de uma nova versão de processo de formação de professores surgiu quando nosso grupo acadêmico discutia as ¹ Artigo oriundo de Trabalho de Conclusão de Curso – TCC – realizado como requisito para conclusão do curso em Licenciatura em Pedagogia do UNISEB Interativo. 2 Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso. 90 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica mais prático de que teórico, idealizamos a Escola-escola. Se para a formação de um médico se faz um estágio curricular e um estágio profissional na forma de residência em hospitaisescola, para formação em hotelaria, se faz residência em hotéis-escola, por que não se criar as escolas-escola, com condições de proporcionar o exercício profissional de professores no Brasil? Esta proposta nos trouxe questionamentos motivadores para uma pesquisa detalhada da realidade dos estágios que, possivelmente, nos indicaria os subsídios teóricos para confirmar a aplicabilidade de nosso intento. 1. Estágio obrigatório: lei e contradição O Estágio deveria permitir a integração da teoria e da prática, objetivando o surgimento de professores cada vez mais preparados, aproximando a realidade escolar e a prática da reflexão. O artigo 65 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 tornou o estágio obrigatório para todos os alunos do curso superior de Pedagogia com um mínimo de 300 horas e parecia garantir a qualidade de formação de professores. Mas como na prática a teoria é outra, fomos buscar na lei os motivos dessa premissa não ser efetiva. Em primeiro lugar existe a obrigatoriedade do aluno de realizar o estágio, mas nenhum artigo garante a obrigatoriedade das escolas públicas ou particulares de receberem esses alunos. Art. 1º - A distribuição das trezentas horas mínimas, referidas no Art. 65 da Lei nº 9.394/96, será feita nos termos da Indicação CEE nº 11/97. Art. 2º - A regência de classe e os estágios sempre ocorrerão em escolas, públicas ou particulares, previamente escolhidas e indicadas, mediante acordo entre os res- ponsáveis pelos cursos de licenciatura e as autoridades competentes das escolas. § 1º - A critério da Secretaria de Estado da Educação, as escolas referidas neste artigo poderão ser credenciadas como “escolas de aplicação”, por período determinado, sem ônus para o Estado. (grifo nosso) Este é o único artigo que fala sobre o papel das escolas nos estágios, mas junto à possibilidade da criação de uma escola de aplicação, vem o descomprometimento financeiro do Estado para com essas instituições. O artigo 2º desestimula as instituições escolares e isenta a responsabilidade da Secretaria de Estado de Educação na execução da lei de estágio, explicando a dificuldade dos alunos de Pedagogia para encontrar uma escola disposta a recebê-los e disposta a participar de sua formação. Como se pode imaginar que as escolas tenham qualquer interesse em manter alunos de graduação em pedagogia invadindo seu espaço de trabalho, com teorias que atrapalham as velhas rotinas e convicções, além de interromperem o vicioso jogo de se perpetuar o estabelecido? Nesse sentido, Piconez (1991, p.29) aponta: Há necessidade de se reverterem legalmente as determinações sobre os estágios, no sentido de recuperar a sua realização, impedindo o velho teatro: alunos fingindo que aprendem, professores fingindo que ensinam, todos aplaudindo sem saber qual o ator da peça.As bilheterias estão se esvaziando, e a peça insiste em ficar em cartaz, sem as devidas reformulações. Como se pode supor o envolvimento de mestres e diretores na formação de novos professores sem nenhuma recompensa financeira ou benefício no plano de carreira? É pedir demais ao quesito amor à arte. Existe Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 91 Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores uma repetição em vários setores públicos de se delegar ao cidadão comum a responsabilidade por mudanças, sem se comprometer com a mínima condição para a execução dessa tarefa e na área de Educação não é diferente. Nem se cogita a contratação de supervisores ou coordenadores de estágio para as escolas públicas, o que poderia fazer toda a diferença. Segundo Andrade (2004, p.2) Aqui surge um problema grave: as escolas de ensino, público ou privado, não tem sido lugar de formação para os alunos de licenciatura nos termos em que as diretrizes supõem. As escolas privadas não se interessam por estagiários supervisionados. As escolas públicas, embora sejam a parte principal do mercado de trabalho do profissional da educação, não participam desse esforço de formação com uma política que defina, junto com as agências formadoras, o perfil do professor do ensino básico e que ofereça espaço para os estágios de formação e, para os professores, isso é um sobre- trabalho para o qual não foi preparado, que exige dedicação, o expõe à críticas e, finalmente,não é recompensado. Outra incoerência na lei de estágio é a obrigatoriedade do estágio para professores com experiência em sala de aula, além da necessidade de que o estágio seja realizado em instituições diferentes das que já trabalham. Um disparate, pois desconsidera todo o saber acumulado de um profissional da educação e pressupõe que qualquer outro profissional ou instituição escolar é melhor que a sua própria experiência. Mas em contrapartida, esse mesmo professor é capaz de receber estagiários e zelar por sua formação. Essa questão é abordada no parecer CNE/CP9/2001 92 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica 1.1 Desconsideração do repertório de conhecimento dos professores em formação Aqui, o problema é o fato de o repertório de conhecimentos prévios dos professores em formação nem sempre ser considerado no planejamento e desenvolvimento das ações pedagógicas. Esse problema se apresenta de forma diferenciada. Uma delas diz respeito aos conhecimentos que esses alunos possuem, em função de suas experiências anteriores de vida cotidiana e escolar. A outra forma ocorre quando os alunos dos cursos de formação, por circunstâncias diversas, já têm experiência como professores e, portanto, já construíram conhecimentos profissionais na prática e, mesmo assim, estes conhecimentos acabam não sendo considerados/tematizados em seu processo de formação. (ANDRADE, 2004, p.2) É urgente a revisão das leis de estágio e a retomada das discussões para que ela se torne mais do que uma obrigatoriedade burocrática e passe a ser um dos recursos para uma efetiva mudança educacional. A primeira medida deveria ser mudança de postura: do governo, se comprometendo com os dois lados da moeda, exigindo o estágio, mas criando condições financeiras e técnicas para que os resultados sejam bem mais amplos do que preenchimentos de papelada inútil e dos professores e dirigentes das escolas públicas e particulares comprometendo-se com o projeto de se mudar o perfil da educação brasileira. Não basta obrigar que se cumpra uma lei que está repleta de incoerências, de unilateralidade e baseada na boa vontade do profissional da educação para se conseguir resultados que vão além de um documento bem redigido. ”Vale dizer, somente uma ação Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores conjunta entre quem forma e quem paga, pode encaminhar a questão do profissional da educação” (GUERRA, 1999) 2. Realidade dos Estágios A função primordial do estágio para alunos de graduação em pedagogia é a aproximação da teoria com a prática pedagógica, gerando conhecimento da realidade escolar e reflexão sobre uma prática criativa e transformadora, permitindo a reconstrução das teorias aprendidas durante o curso. Maravilhoso no papel, mas nebuloso e caótico em sua realidade, já que não existe o envolvimento das escolas contratantes, impossibilitando a realização daquilo que as universidades pedem, gerando descontentamento e desconfiança em relação ao estagiário. “Havia um distanciamento muito grande entre o que a Escola queria que o aluno fizesse e o que realmente fazia. O que provocava uma reação contrária ao estagiário que nunca era bem vindo” (CAVALCANTI, 1992). A aspiração de intercâmbio entre a universidade e a escola fundamental através do estágio supervisionado não se mostra eficiente, pois só assim seria, se fosse bilateral, uma via de mão dupla, onde todos estariam se beneficiando, sobretudo o exercício do magistério. Nem o estagiário encontra espaço para uma formação comprometida com um projeto político, social e pedagógico pela democratização do saber, nem os professores cooperantes do estágio se valem da presença do pedagogo em formação, no auge de suas descobertas teóricas, para utilizar esse encontro como uma troca propiciadora de formação continuada. Na pesquisa realizada por Pimenta para o livro O Estágio na Formação dos Professores (1993), ela transcreveu o depoimento da Profª Margarida Jardim Cavalcante, técnica do Ministério da Educação em Habilitação para o magistério, que é um dos retratos mais fiéis da realidade do estágio. Muitas vezes a sua participação consistia em levar crianças ao banheiro, à sopa. Às vezes fazia recreio dirigido. Outras vezes auxiliar de regente de classe corrigindo cadernos e mesmo levandoos para casa!Ficava então, como ajudante do professor, preparava algum material didático (comprando ele mesmo cartolina, papel, etc.), pintava fichinhas para as atividades de cálculo, colecionava palitos de picolé. Como esses estágios não acrescentavam nada às aulas, que, por sua vez, já não estavam muito interessadas, instaurava-se a burla: se na escola houvesse uma professora que era amiga da mãe, etc., esta conseguia as assinaturas necessárias para comprovar a realização do estágio_ inventavam-se fichas de observação, de participação. E conclui: “não havia nenhum trabalho conjunto dos professores, nenhuma interdisciplinaridade, nem discussão de pólos temáticos”. Felizmente essa não é uma inquietação de uma minoria idealista. Vários educadores, estudiosos e órgãos do governo se debruçam sobre a questão do estágio supervisionado e cabe reproduzir uma pesquisa feita pela Secretaria da Educação do Paraná, realizada durante o projeto “Avaliação Curricular de Habilitação Magistério” em 1989, antes mesmo da elaboração da LDB, que tem resultados totalmente pertinentes à realidade atual, conforme transcrição abaixo: • Número insuficiente de escolas de 1º grau (atualmente Ensino Fundamental) interessadas em receber estagiários; • Dificuldade de acompanhamento do estágio devido ao grande número de alunos, à diversidade de escolas onde se estagia, e à falta de coordenador de estágios em alguns cursos; • Estagiários, em sua maioria, não são bem recebidos pelos pro- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 93 Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores fessores; • Distorções nas atividades de estágio; • Falta de comprometimento dos professores do curso com o estágio; a responsabilidade pelo estágio é exclusiva do professor de Didática; • Estágio visto como “pólo prático” do curso e como atividade terminal: • Dificuldade de garantir a relação teoria/prática; • Divisão do estágio em etapas fixas e estanques: observação, participação e regência • Restrição à etapa de observação, ficando o aluno apenas como visitante; • Transformação do estágio em atividades burocráticas de preenchimento de fichas, correções de cadernos, etc.; • Falta de integração entre a escola de magistério e a escola de 1º grau (atualmente Ensino Fundamental); • Ausência de um plano de estágio integrado e integrante nos diversos níveis de sua execução Esse resultado, encontrado pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná, foi o mesmo encontrado por nosso grupo para realizar o nosso estágio e provavelmente por muitos outros, embora mais de 20 anos tenham se passado. Por quanto tempo mais deveremos nos curvar às imposições da pedagogia de gabinete e realmente buscar a superação dessa dissociação no estágio? É preciso pensar num projeto coletivo de trabalho, desenvolvido de forma articulada, de construção de conhecimento através da ação concreta que possibilite preparar o futuro profissional para compreender as estruturas de ensino e os determinantes mais profundos de sua prática. (GUERRA, 1999) 94 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica 3. EXPERIÊNCIAS INOVADORAS DE ESTÁGIOS A vivência do cumprimento das etapas de estágio e as discussões decorrentes sobre as dificuldades e incoerências dessa atividade, nos fez num primeiro momento, supor sermos as únicas pessoas preocupadas com a dissociação entre a prática e a teoria, além de constatar a impossibilidade de se tornar um profissional da educação capaz de contribuir para a mudança da realidade escolar, através do estágio supervisionado. Porém, nossas pesquisas nos revelaram um exército de pesquisadores e estudiosos envolvidos na questão do estágio supervisionado, concordantes ou não, mas preocupados em alterar o quadro de precariedade na formação de professores. Os educadores brasileiros não estão assistindo passivamente à deterioração do magistério. Bem como não estão apenas diagnosticando os problemas. Desde o início dos anos 80 vêm gestando um movimento de pesquisas, estudos e propostas, denunciando, analisando e encaminhando superações. (PIMENTA 1991) Nossa pesquisa apontou vários caminhos e tentativas de se promover estágios integradores e formadores e foram elencados alguns para contextualizar nossas conclusões. 3.1 Habilitação Pré-Escola E Séries Iniciais de 1º Grau e Magistério 2º Grau do Centro Universitário 3 Lagoas (CEUL) sob a forma de estágio supervisionado (1995) Essa experiência relatada e desenvolvida pela PRFª MSc Miriam Darlete Seade Guerra é peculiar, porém não desvinculada de um contexto social e político.Seu resultado se transformou na dissertação de mestrado da professora, dado os seus resultados. Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores A proposta de um estágio diferenciado foi feita a uma turma de alunos que já havia superado a concepção tecnicista de estágio e entendiam o estágio como uma unidade indissociável entre ensino e pesquisa. Apostava na idéia do estágio como uma “via de mão dupla.” O estagiário precisa da escola, mas ao mesmo tempo esse estagiário tem que se perguntar qual a sua possível contribuição para a escola de ensino fundamental. O primeiro grande passo dado em direção ao sucesso desse empreendimento foi o acordo prévio entre os Ceul (Centro Universitário Três Lagoas. MS) e a coordenação de estágio. Parceria essa que eliminou muitas das dificuldades dos alunos usufruírem dos efeitos do estágio supervisionado, propiciando oportunidade de vivenciar o cotidiano de uma escola pública e buscar uma formação política, através de uma informação crítica, além de produzir saberes a respeito da prática pedagógica. A opção metodológica assumida foi a intenção política e pedagógica de transformações de práticas docentes e todo o seu desenvolvimento foi formulado pelo grupo de acadêmicos, em conjunto com o corpo docente. Como resultado da observação da prática, os estagiários produziram relatórios com os dados coletados e refletindo sobre esses dados organizaram mini-cursos para as professoras cooperantes. Essa era a via de mão dupla escolhida. Sem dúvida, muito proveitosa para os acadêmicos, mas ficou o questionamento sobre o efeito dessa atividade nos professores dos Ceuls, pois somente depois de uma avaliação final se constatou que em nenhum momento esses professores mencionaram precisar ou aceitar a necessidade de uma formação complementar e continuada. Em contrapartida esses professores descrevem outra função para os estagiários. “... Os estagiários da Prática de ensino do 1º grau, assim como da Pré-escola, estarão atuando como monitores dos professores, servindo com o ponto de apoio na pesquisa de conteúdos , assim como, das metodologias. Corrigindo cadernos, planejando e confeccionando material, num trabalho de parceria”. (doc. 7.12, proposta de ação) A experiência acabou demonstrando que a via de mão dupla esperada falhou em um dos sentidos, gerando uma contradição teórica a respeito da função do estágio. Para que essa bilateralidade exista, é necessário que estagiário e estágio entrem no programa da escola e não só a sua direção, “senão acaba se assumindo que nós, que somos da universidade, temos toda a sabedoria e vamos transmitir essa sabedoria “àqueles pobres mortais” (GUERRA, 1999) 4.2. Estágio e Prática de Ensino de 1º Grau, no Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Unicamp Desenvolvido pela doutora em metodologia de ensino pela faculdade de educação da Unicamp, Vani Moreira Kenski, essa proposta de estágio surgiu da preocupação em relação à formação de um professor consciente de que sua prática envolve um comportamento de observação, reflexão crítica e reorganização de suas ações. Seu ponto de partida foi a recuperação da vivência escolar dos estagiários, através de atividades diversas, fazendo-os mergulhar em suas memórias e a partir daí criar uma identidade de professor, não a herdada de seus antigos professores, mas a sua própria identidade de mestre. O mesmo processo foi repetido com os professores das turmas de estágio, incluindo um pedido de que eles especulassem como achavam que seriam lembrados pelos seus atuais alunos. Em seguida, os estagiários pediram aos alunos que, anonimamente, representassem seus professores através de desenhos e frases, deixando clara a discrepância entre a opinião dos alunos e a suposição de imagem dos professores. Essa proposição de estágio baseou-se Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 95 Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores em determinantes psíquicos existentes no inconsciente e que atuam sobre o comportamento dos professores. Assim surgiu uma nova proposta de estágio, realmente comprometida com um novo caminho teóricoprático ainda não explorado e que está se firmando como uma das estratégias de desenvolvimento de um projeto em Estágio e Prática de Ensino 5-Proposta Escola-escola A pesquisa e análise dos problemas e soluções na execução do Estágio Supervisionado para os estudantes de Pedagogia, sua realidade, suas exigências legais e as poucas tentativas de projetos inovadores nos encaminhou para a idealização da Escola-escola. Nossa pesquisa aponta e não deixa dúvidas de que o estágio é indispensável na formação do professor competente e comprometido, assim como a formação continuada dos professores em exercício. O estágio é o suporte essencial do desenvolvimento da competência técnica necessária ao futuro professor. Embora os dados de pesquisa mostrem que o estágio tem se desenvolvido de forma “atópica”, desvinculado da Didática e do currículo do curso de formação. (MEDIANO, 1987). Como vincular didática, prática, responsabilidade social e comprometimento com a educação democrática? Como aproximar as universidades das escolas públicas e torná-las participantes do processo de formação de perfil do profissional da educação?Como planejar em conjunto com as escolas públicas e particulares espaços, rotinas e planejamento pedagógico articulados com o planejamento de estágios? Impossível! O universo é enorme, as práticas diferenciadas e os governos se alternam e mudam parâmetros constantemente. Grandes mudanças iniciam-se com 96 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica pequenos passos que podem se tornar definitivos e amplos se alcançar a solução de problemas reconhecidos, porém circunstancialmente insolúveis. A Escola-escola teria o perfil muito parecido com o que se tem hoje nas escolas de Aplicação das Universidades Federais, como a Escola de Aplicação da USP, da Universidade Federal do Pará, de Pernambuco ou do Amapá. Todas elas se destinam aos filhos de seus funcionários e recebe os estagiários com uma estrutura tecnicamente perfeita. O programa de estágio da Escola de Aplicação da USP é um programa modelo, totalmente inserido dentro das novas proposições para o cumprimento de estágio. São das informações para inclusão no programa de estágio da EAUPS as instruções transcritas a seguir. 11 - FORMAS DE INSERÇÃO NA ESCOLA EA USP A inserção do estagiário na escola pode se dar de várias formas, conforme seus interesses e possibilidades, respeitadas as normas que regem a prática de estágios na EA. Como orientação comum aos estagiários, propõe-se que participem e acompanhem atividades que lhe dêem uma visão da vida institucional da escola e que se engajem em modalidades de ação mais específicas. O cotidiano de uma escola não se reduz às aulas, e a diversidade de situações que ocorrem na instituição escolar interfere no trabalho do professor. Por isso, é importante que todo estagiário, não só os interessados na administração escolar, vivencie algumas destas situações, observando-as ou assumindo algum outro. a) Reuniões para planejamento e avaliação de atividades pedagógicas. b) Reuniões para discussão de temáticas amplas concernentes a proposta pedagógica da escola. c) Reuniões para avaliação do Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores aproveitamento escolar dos alunos e da prática pedagógica (Conselhos de Série). d) Reuniões com pais. e) Reuniões do Conselho de Escola (Informar-se sobre o dia na Secretaria da EA). Incluem-se nesse âmbito, o acompanhamento a atividades eventuais como estudos do meio, excursões, mostras culturais e outras apresentações. Além de acompanhar situações que dêem uma visão global da instituição, é importante que o estagiário se insira em modalidades de estágio mais específicas, voltadas para as aulas regulares ou para outros projetos desenvolvidos na escola. Aconselha-se, sempre que possível, a participação em mais de uma modalidade, para enriquecimento da experiência. As demais universidades citadas têm o mesmo tipo de proposta e também estão abertas para os alunos dos funcionários e com campo de estágio voltado para a experimentação pedagógica dos alunos de suas faculdades. Já em nosso projeto, a Escola-escola seria um campo de vivência profissional. Não seria um privilégio para filhos de funcionários das universidades, mas um privilégio para os filhos de famílias que buscam uma educação de qualidade e que se comprometam com o projeto político-social da escola. Nossa primeira meta seria a de seguir a proposição da Profª Maria A Lequerica que o último ano curso seja inteiramente voltado para a prática de estágio. O aluno do último ano do curso de Pedagogia assumiria uma classe pelo período de um semestre, supervisionado por uma equipe estável de coordenadores de áreas e séries e no segundo semestre se candidataria a uma vaga dentro de diversas funções de gestão e de trabalhos com a comunidade escolar. Seguindo o exemplo da Faculdade de Medicina que exige um estágio curricular e um profissionalizante, a Escola-escola propi- ciaria o estágio profissionalizante, uma “residência” assistida por profissionais voltados para o ensino de qualidade, compromissados com a democratização do saber, com a formação da cidadania e a formação de profissionais competentes e prontos para entrar no mundo da Educação com identidade de professor atuante e transformador da sociedade brasileira. Conclusão Nossa pesquisa foi uma busca para determinar o papel do estágio na formação do professor e quanto mais nos aprofundamos no assunto, mais questionamentos surgiram, porém muitas respostas já foram encontradas. Concluímos que o estágio supervisionado não consegue atingir os objetivos esperados porque não existe um compromisso real de que ele se torne efetivo e útil. De nada adianta o compromisso das escolas formadoras em exigir e elaborar roteiros completos e abrangentes, nem o aluno almejar pôr em prática as teorias aprendidas, se as escolas contratantes não desempenharem o seu papel. Também não se pode supor que elas o cumpram sem preparo, sem remuneração e sem estrutura. As escolas que recebem estagiários são soberanas no êxito ou no fracasso dos objetivos de tal empreendimento, mas como demonstramos, através da pesquisa e elaboração desse artigo, a prática do estágio acabou se tornando um jogo de favores para derrotar uma burocracia imposta por uma lei incompleta e omissa. Como estudantes e educadoras somos ainda idealistas e acreditamos que a disseminação de Escolas de Aplicação seria a resposta para nossa inquietação em relação aos caminhos da educação em nosso país e assim, ousamos mais, e idealizamos a Escola-escola. Durante o tempo que estivemos elaborando esse artigo, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) lançou o Programa de Residência em Pedagogia, em moldes muito Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 97 Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores semelhantes ao que ambicionávamos. O programa se dá por meio de um convênio entre a Unifesp, a Prefeitura de Guarulhos e o governo do Estado. Esse programa é a confirmação de que nossa crença em que os estágios supervisionados se tornem um dos instrumentos mais importantes na formação do professor não se reduz a um mero sonho impossível. 98 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Reflexões sobre o Estágio Obrigatório para Formar Professores Referências bibliográficas ANDRADE, Arnon de. O Estágio Supervisionado e a Práxis Docente. Disponível em htpp // www.educ.ufrn.br/Arnon Acesso em: 29 março 2010 GUERRA, Miriam Darlete Seade. Reflexões sobre um Processo vivido em Estágio Supervisionado Disponível em htpp //www.anped.org.br/reunioes/23/textos/08397.pdf Acesso em: 25 ag 2010 PICONEZ, Stela C.B. A Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado. Campinas, SP: Papirus,1991. PIMENTA, Selma G. O Estágio na Formação do Professor: Unidade,Teoria e Prática?.São Paulo: Cortez Editora, 1995. MEC. Lei de diretrizes e bases da Educação Nacional nº 9394/96 Disponível em: htpp // www.espaçoacademico.com.br/073/73silva.htm Acesso em: 29 março 2010. USP. Diretrizes para realização de Estágios na Escola de Aplicação. Disponível em htpp // www.ea.fe.usp/br/paginas/estagios/estagios.html Acesso em: 7 set 2010. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 99 O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos1 Crislene de Castro Oliveira Jean Valter Caris Ronaldo Boscolo Marina Caprio² RESUMO Atualmente as empresas têm dificuldades em treinar seus funcionários para executar suas atividades de forma eficaz. Os maiores obstáculos para a formação dos trabalhadores são: custo e tempo. Com o objetivo de atender as demandas é analisada neste trabalho a Educação Corporativa a Distância. Educação à Distância é uma forma de educação em que professores e alunos estão separados espacialmente, utilizando diferentes tecnologias de informação e comunicação, o que requer planejamento das instituições. Este tipo de educação ganhou destaque com a expansão e popularização da Internet no início do século XXI. Considera-se como Educação Corporativa qualquer curso que vise preparar o trabalhador de uma empresa para executar algum tipo de função. Esperava-se alcançar resultados positivos em relação à aprendizagem e à relação custo-eficácia para comprovar a eficiência de um curso na modalidade à distância, quando devidamente planejado e desenvolvido, usando a intersecção entre educação e tecnologia. Palavras-chave: educação corporativa; eduacação à distância; planejamento. ABSTRACT Currently companies have difficulties in training their employees to perform their activities effectively. The biggest obstacles to employee training are: cost and time. Ai- ming to meet the demands above quotations studied in this work the Corporate Distance Education. Distance education is a form of education in which teachers and students are separated spatially, but it requires planning institutions and using different technologies and information and communication. This type of education has gained prominence with the expansion and popularization of the Internet in the early twenty-first century. Any course that aims to prepare the employee for a company to perform any function can be called Corporate Education. Using the tool developed a Moodle course, with lectures with media resources and video lessons. We expected to achieve positive results in relation to learning and costeffective to prove the efficiency of a course in distance mode, when properly planned and developed with the intersection between education and technology. Key words: corporate education, distance education; planning. 1. Introdução Este artigo tem como objetivo apresentar as possibilidades da aplicação da Educação a Distância em ambientes corporativos. Mostramos as vantagens de um treinamento nessa modalidade, com relação ao treinamento presencial. Enfatizamos a importância da troca de conhecimentos entre os funcionários da empresa, que acaba influenciando na evolução do colaborador e conseqüentemente, da corporação. Final- ¹ Artigo oriundo do Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido como requisito para conclusão do curso em Licenciatura em Computação Curso de Licenciatura em Computação do Centro Universitário UniSEB-COC. ² Professora orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso. 100 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica mente, destacamos a aplicação de um Ambiente Virtual de Aprendizagem, utilizando a ferramenta Moodle em uma corporação, contendo um curso básico de manutenção preventiva de Windows e ameaças oriundas da internet. 2. O que é Educação a Distância 2.1. Um Pouco da História da Educação a Distância Os primeiros registros de Educação a Distância se deram por volta de 1728, por Caulleb Philips, que anunciava em classificados de jornais que lecionava por correspondência o curso de Taquigrafia. Em seguida, de acordo com Nunes (2009), “por volta de 1840, na Grã Bretanha, Isaac Pitman também oferece curso de taquigrafia por correspondência”. Essas ações isoladas culminaram também em ações institucionalizadas. As primeiras universidades que começaram a se destacar na Educação a Distância foram Open University em Londres que foi fundada em 1969, além das Universidades abertas da Espanha fundada em 1972 e Venezuela fundada em 1976 (NUNES, 2009). Em 1928 a BBC (British Broadcasting Corporation), uma emissora de rádio e televisão pública britânica promoveu cursos para a educação de adultos, usando o rádio. Essa tecnologia de comunicação foi usada em vários países, com os mesmos propósitos, inclusive, no Brasil, desde 1930. De acordo com Nunes (2009), para suprir as necessidades educacionais após a 2º Guerra Mundial, principalmente a alfabetização, o modelo de Educação a Distância, fundamentada nos recursos radiofônicos, foi adotado em grande parte da Europa e Estados Unidos, onde eram e são disponibilizados cursos que vão desde alfabetização, profissionalizantes, graduação e extensão. Na Europa a Educação a Distância ganhou força, após o término da 2º Guerra Mundial, pois o continente estava em ruí- nas e precisava de mão de obra qualificada para a sua reconstrução. Assim, a alternativa encontrada para educar massivamente a população foi a educação intermediada pelas tecnologias de comunicação existentes no período. Neste momento pós-guerra, inicia-se a expansão da Educação a Distância, que foi um dos principais avanços na educação no século XX. Considera-se que a Educação a Distância tem como objetivo atender o maior número de pessoas com qualidade e chegar a locais remotos, no qual o modelo de educação presencial não alcança, em razão da distância ou problemas relacionados à infraestrutura. Já no século XXI a Educação a Distância vem ganhando força, pois ela consegue reduzir a defasagem das classes sociais menos favorecidas na educação. Essa inclusão se dá devido à flexibilidade de horários, diversas opções de cursos, modelos de estudos, inclusão digital e preços acessíveis. Com a modalidade de Educação a Distância, atualmente com diferentes modelos pedagógicos que se fundamentam em várias mídias e recursos tecnológicos é preciso compreender que é bem diferente dos cursos pós Guerra Mundial. Antes os cursos eram feitos através de correspondência ou rádio e televisão (tecnologias disponíveis no período), além do aluno estudar por conta própria e não ter nenhum suporte pedagógico. Atualmente e graças às tecnologias, fundamentadas principalmente pela internet, o aluno de um curso na modalidade de Educação a Distância, tem acesso a todo conteúdo online através do Ambiente Virtual de Aprendizagem. Nesse ambiente é possível disponibilizar textos, vídeos, áudios, animações, chat, fóruns de discussão com outros alunos do mesmo curso sobre o tema abordado, além de tutoria. Para que um curso em Educação a Distância tenha êxito, é importante explorar as várias formas que a tecnologia possibilita, como por exemplo: vídeos, imagens, áudio, Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 101 O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos metodologia de aprendizagem, técnicas de ensino, tutoria etc. “Atualmente mais de 80 países utilizam a Educação a Distância em todos os níveis de educação, em sistema formal e não-formal” (NUNES, 2009). Ainda que de forma tímida a Educação a Distância vem sendo utilizada em ambientes corporativos, visando capacitar seus colaboradores para realizar suas atividades profissionais. 2.2. Surgimento da Educação a Distância no Brasil De acordo com Alves (2009), há registros que no ano de 1900 professores particulares ofereciam cursos profissionalizantes de datilografia por correspondência. Mas foi só em 1923 que essa modalidade de educação se tornou mais sólida com a fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que tinha como objetivo ensinar seus ouvintes através da sua programação. Mas o rádio despertou a preocupação dos governantes daquela época, pois consideravam o seu conteúdo subversivo. Por conta disso o governo tomou várias medidas, visando dificultar o funcionamento da rádio. Já no ano de 1937 foi criado o serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação. Através desse serviço, surgiram vários programas de Educação a Distância. “O Mobral, Movimento Brasileiro de Alfabetização, programa de alfabetização vinculado ao governo federal, também teve uma grande abrangência, pois utilizava o rádio” (ALVES, 2009). “Com o golpe militar em 1969, teve início a censura. E isto foi um grande golpe para a Educação a Distância no Brasil que ficou estagnada desde a década de 70, voltando a ganhar espaço no início do século XXI” (ALVES, 2009). Conforme foi dito anteriormente a ditadura no Brasil, fez com que a Educação a Distância ficasse estagnada até o início do século XXI. O avanço da internet no Brasil, 102 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica com a popularização da banda larga contribuiu para a consolidação da Educação a Distância no país. Porém, ainda existem alguns pontos que precisam ser superados e um dos principais para que aconteça sua expansão, é o alto custo de transmissão para fins sociais. No Brasil é cobrada a mesma taxa para quem faz uso da Internet para fins educacionais ou para acessar conteúdos impróprios na rede. No processo de Educação a Distância no Brasil tivemos instituições que desempenharam um papel importante no desenvolvimento desse modelo de educação. Podemos dividir a história da Educação a Distância no Brasil em três fases: Inicialmente com o surgimento das escolas internacionais em 1904, e o surgimento em 1923 da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Já na fase intermediária, tivemos duas instituições importantes na área de cursos profissionalizantes o Instituto Monitor e o Instituto Universal Brasileiro. Quanto à parte universitária podemos citar a Universidade de Brasília. Na fase moderna, não podemos deixar de citar três organizações: ABT (Associação Brasileira de Teleducação), IPAE e ABED (Associação Brasileira de Ensino a Distância). Até o ano de 2008 o Brasil contava com 175 instituições credenciadas pelo governo federal para ministrar cursos de graduação e pós-graduação lato sensu. Havia também por volta de 100 instituições que atuam na educação básica, com atos de permissão expedidos pelos sistemas de ensino dos estados e do distrito federal. “Além disso, há um número significativo de cursos livres e programas de capacitação de funcionários, denominado universidade corporativa”. (ALVES, 2009). Segundo a ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância) no ano de 2010 há 2.100 instituições que utilizam a Educação a Distância em sua metodologia de aprendizagem. O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos 3. O Uso Da Tecnologia Na Educação Segundo o dicionário Aurélio, educação diz respeito ao “processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando a sua melhor integração individual e social.” Para que ocorra essa integração, é necessário que se utilize a educação para ensinar sobre a tecnologia constante na base da identidade e da ação do grupo e que se usufrua delas, para ensinar as bases da educação. Porém, para serem utilizadas pelas pessoas, além do seu criador, deve ser ensinada a forma de utilização da inovação, seja ela – a tecnologia, um tipo novo de processo, produto, serviço ou comportamento. A partir do momento em que somos informados sobre a inovação, ela se incorpora ao nosso universo de conhecimentos e habilidades e a utilizamos na medida de nossas possibilidades e necessidades. Para McLuhan (1970), teórico da comunicação, “as tecnologias tornam-se invisíveis à medida que se tornam mais familiares”. Podemos verificar que existe uma relação direta entre educação e tecnologia, pois muitas pessoas que passaram por processo de inovações em suas vidas, hoje não conseguem mais viver sem elas. E o processo educativo segue essa tendência, em que são constantemente utilizadas as tecnologias em todos os momentos do processo pedagógico, desde o planejamento das disciplinas, a elaboração da proposta curricular, até a certificação dos alunos que concluíram o curso. A utilização da tecnologia pode influenciar na maneira de organizar o ensino. Um exemplo é o ensino de um idioma na modalidade à distância, baseando-se em livros didáticos e na pronuncia da professora em aulas expositivas. Ela será mais bem aproveitada, se realizada com apoio docente, com possibilidade de diálogos, conversas e troca de comunicações entre os alunos, o uso de vídeos e laboratórios interativos. A escolha de determinada tecnolo- gia, altera consideravelmente a natureza do processo educacional. Uma aula dada em anfiteatro, com a sala cheia de alunos, exige alguns recursos tecnológicos, como microfones, projetores, etc., a aula pode se tornar cansativa e desinteressante para os alunos, se esses recursos tecnológicos não estiverem sendo utilizados. As novas tecnologias de informação e de comunicação, sobretudo a televisão e o computador, criaram um grande impacto na educação alterando as medições entre a abordagem do professor, a compreensão do aluno e o conteúdo veiculado. “A tecnologia utilizada em forma de imagem, som e movimento, se dão de forma mais realista ao que está sendo ensinado, e se bem utilizadas, os professores e alunos demonstram obter uma melhor qualidade no conhecimento passado e adquirido” (KENSKI, 2007). Os vídeos, os programas educativos na televisão e no computador, os sites educacionais e softwares diferenciados transformam a aula tradicional, dinamizando o espaço de ensino-aprendizagem, onde, há pouco tempo atrás, predominava a lousa, o giz, o livro e a voz do professor. Porém, não basta utilizar a televisão ou o computador. De acordo com Kenski (2007), É preciso saber usá-los de forma pedagogicamente correta, aplicando a motivação para a aprendizagem e adequando o processo educacional aos objetivos que levarão os usuários ao encontro desse desafio de aprender, sendo essas as diferenças qualitativas do uso das tecnologias [...] Destaca-se assim que nenhum recurso em si é educativo ou pedagógico, mas sim o uso que professores e instituições educacionais fazem da tecnologia é que pode ser pedagógico. O avanço das redes digitais, por meio da internet, permite uma interação entre profissionais de várias áreas de conhecimento, trazendo novas possibilidades para o apren- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 103 O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos dizado. Porém, com a amplitude do mercado de trabalho e a subjetividade de cada profissional em busca de conhecimentos em sua área específica, se torna mais difícil a criação de um curso que consiga atender a todos os requisitos particulares. Ainda assim, as experiências virtuais podem ser compartilhadas por várias pessoas ao mesmo tempo, mesmo que estejam em locais diferentes. Isso é possível através das tecnologias digitais, como simulações, tele-presença, realidade virtual e inteligência artificial. Ainda para kenski (2007), Com toda a interação de informações entre profissionais e usuários, o sistema educacional evidência a necessidade de uma reformulação na sua estrutura, que deverá ser mais flexível e acontecer de maneira horizontal, procurando atender às necessidades particulares de cada profissional [...]. Dentre todas as vantagem e facilidades apresentadas com uso das tecnologias, elas não se resumem apenas em maravilhas, vendo que as ferramentas tecnológicas surgiram para possibilitar a melhoria no processo educacional, temos que estar cientes aos cuidados que precisamos tomar. Cada vez mais nos tornamos “dependentes” de equipamentos que estão sujeitos a problemas técnicos que causam a perda de dados e horas de trabalho. Independente dos problemas técnicos existe também os problemas dos softwares que não atendem ou não são adequados às necessidades dos usuários e instituições, além do alto investimento. Há o lado, também da internet que possibilita a facilidade de cópias de pesquisas, compra e venda de trabalhos escolares prontos, permite que o aluno se distraia com conteúdos não pertinentes ao assunto abordado na sala de aula. Já não sendo suficientes as dificuldades citadas acima, há os casos em que os erros vêm por parte dos mantenedores dos cursos. Não basta conhecer a tecnologia a ser utilizada. É extremamente importante, que o 104 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica profissional saiba como utilizá-la de maneira correta. Conforme afirma Kenski (2007), em geral ocorrem problemas no uso das tecnologias na educação porque as pessoas que estão envolvidas no processo de sua utilização com fins educacionais não consideram a complexidade que esta envolve. Assim, é importante considerarmos o uso da tecnologia em sua forma adequada, mas é muito importante também, nos atentarmos a parte pedagógica. Essa relação, tecnologia pedagogia, pode determinar o sucesso ou o fracasso de um curso a distância. Muitos profissionais da tecnologia se dispõem a criar cursos de Educação a Distância, se esquecendo das exigências pedagógicas que um curso necessita. Os docentes têm uma ampla fonte de recursos dentro da tecnologia para ensinar, e cada um precisa se adequar para poder utilizar esses recursos a fim de propiciar uma melhor educação para seus alunos. Com a integração da tecnologia e o ensino, não podemos esquecer que a qualidade é fundamental. Os docentes devem atingir o objetivo de aplicar as diversas áreas de conhecimentos aos seus alunos, levando estes para uma formação integral na vida pessoal, social e profissional. Esta é a educação de qualidade, no qual deve ter bases inovadoras, dinâmicas, com projeto pedagógico coerente, aberto, participativo, com infra-estrutura adequada e tecnologias acessíveis. Deve haver também, docentes com características de qualidade e alunos motivados e preparados para adquirir esta educação. Com todas as mudanças que precisam ser feitas para uma constante melhora na educação, nos deparamos com muitas dificuldades. Nem todos estão aptos a aceitar suas mudanças ou ajudar a melhorar a educação, principalmente porque a teoria e a prática não estão integradas. Também, dependem dos alunos que precisam estar abertos as mudanças para facilitar todo processo. Essas mudanças podem facilitar os caminhos para a aprendizagem, tendo uma ligação direta em seu sucesso. E a aprendizagem se O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos dá de muitas formas e meios, sendo vasto o campo do aprender, podendo ser por: experiências, vivências, relacionamentos, interação com o mundo, interesse, necessidade, desejo, motivação, prazer, teoria e prática, dentre outros. Com as inovações da Educação a Distância e sua transição, a concepção de individual está se transformando em mais participativa e em grupos. Da comunicação off-line para a off e on-line. Utilizando mídias interativas. “Haverá combinações de cursos presenciais e virtuais. Porém essas mudanças são lentas e é recebida com resistência por muitas pessoas” (MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2007). A comodidade e o costume são peças importantes para a resistência às mudanças. Antes de a criança ingressar na vida escolar, ela já passou por processos de educação, por intermédio dos familiares e mídias eletrônicas. Sendo que essas mídias têm um grande poder para entreter e passar informações de forma clara ou subliminar para cada um, como é o caso da TV, no qual ela facilmente seduz com falas e imagens envolventes a fim de prender a total atenção do espectador. A educação precisa compreender e incorporar essas informações para incentivar e estimular a aprendizagem. Tanto a TV como o vídeo traz grandes oportunidades para o desenvolvimento do aluno, e deve ser utilizado coerentemente com que se deve ser ensinado e se será realmente aprendido pelos alunos. A internet, também, sendo uma das principais protagonista do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação dentro da educação, trás grandes possibilidades de aprendizagem no meio acadêmico, tendo visto um aumento significativo de pessoas conectadas, pode-se fazê-la uma extensão da sala de aula. O professor tem a possibilidade de criar uma relação presencial e virtual com seus alunos, utilizando ferramentas voltadas para esse fim na educação. As aulas, discussões e pesquisas virtuais estão cada vez mais presentes nas escolas e são adotados alguns recursos tais como: Lista eletrônica ou fórum, em que a comunicação e interação entre professor-aluno e aluno-aluno se dão de forma rica para orientação, dúvidas, discussões, trabalhos. Autores como Moran, Massetto, Behrens (2007) afirmam que As aulas-pesquisa são uma forma de adquirir conhecimento pela própria experiência tornando-a muito mais definitiva, sendo que o professor sugere, coordena e dirige pesquisas dos alunos fazendo a interação entre eles e seus resultados, usando a internet como fonte, a descoberta do conhecimento pela pesquisa se dá de uma forma muita mais interessante [...]. Já a construção cooperativa traz a vantagem de combinar o que se faz na sala de aula e com o que pode ser feito virtualmente entre alunos e professor. “O conhecimento quebra a barreira do espaço e do tempo e pode envolver todos de forma cooperada em um meio na internet para a interação do conhecimento” (MORAN; MASETTO; BEHRENS, 2007). Antes de tudo deve-se tornar possível o acesso freqüente dos professores na internet. As escolas menos favorecidas precisam ter disponibilidade da tecnologia adequada para que o professor ingresse nessa tecnologia educacional. Além disto, o professor deve ser capacitado para a utilização da tecnologia, e isso se deve de forma gradativa, tendo níveis básicos, avançados e por fim auxiliar a utilização da ferramenta para pesquisas. A utilização da internet coloca ao professor questões de bom senso, em que ele saiba selecionar conteúdos. Ter intuição, em que através da experiência de acerto e erro ele traça caminhos que pode levá-lo ao seu objetivo. E o gosto estético, em que ajuda para a adesão e o interesse dos alunos. Com tantas informações e páginas visualmente distintas, os alunos acabam fo- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 105 O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos cando seu interesse naquelas que lhes agradam visualmente, e podem deixar de fora conteúdos importantes pelo seu visual menos atrativo. Contudo, a internet pode trazer vários problemas no ensino. Temos que filtrar a informação para ela se tornar fonte de conhecimento, e esse trabalho cabe ao professor. O mesmo também deve se atentar para a dispersão dos alunos, que pode haver no trabalho com a internet, já que há aqueles menos motivados e ativos para o desenvolvimento do conhecimento. 4. A Educação a Distância no Ambiente Corporativo 4.1. Universidades Corporativas A partir da década de 80, as empresas perceberam que muitos dos paradigmas que sustentaram a era industrial haviam chegado ao fim. Então foi observado que o treinamento e desenvolvimento (T&D) não eram mais suficientes para a formação de talentos humanos. Com isso surgiu o termo educação corporativa, por meio das universidades corporativas. Para Bayama (2004, p.25), A educação corporativa constituiu um avanço em relação aos tradicionais programas de treinamento em que busca desenvolver competências em sintonia com as estratégias das empresas. Seu foco reside na organização que aprende, que estimula o aprendizado, principalmente, no que se refere às competências essenciais da empresa [...] Mesmo com o advento das universidades corporativas, o treinamento e desenvolvimento ainda são necessários para as empresas. A principal diferença entre universidades corporativas e treinamento e desenvolvimento é que as universidades corporativas têm uma postura comprometida com a educação continuada e firmemente arrai- 106 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica gada aos objetivos de negócios da empresa. Já o treinamento e desenvolvimento são utilizados de maneira corretiva e utilizado fora do contexto das necessidades das empresas e colaboradores. Outra diferença é que as empresas que adotam as universidades corporativas procuram fornecer aos seus colaboradores conhecimentos amplos e beneficiados por todos os elementos que compõem o sistema social, econômico e político vigente. Assim tem-se a possibilidade de que todos compartilhem de uma visão estratégica mais ampla sobre o contexto de negócios da empresa. Conforme a empregabilidade passou a requerer novos padrões, tornaram-se imprescindíveis as ações que visassem a aquisição de conhecimentos para: aprender a se comunicar e a colaborar; utilizar o raciocínio criativo; lidar com as tecnologias; exercer liderança e promover o autogerenciamento da carreira. No entanto ainda são raros os casos de escolas de nível básico ou superior, que se preocupam com a ligação entre seus currículos e o mercado de trabalho. As empresas notaram que era preciso investir em algo mais sólido, a partir disso criou-se o conceito de competências essenciais. Competências essenciais é um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes que suportam e justificam um alto desempenho, ou seja, estamos falando de atributos humanos. O e-learning surgiu no momento em que as habilidades humanas passaram a ser consideradas como sustentação e diferencial estratégico das empresas. Então foi modificado o cenário. A concorrência entre as empresas deixou de acontecer nos quesitos preço versus desempenho do produto e passou a focar em desenvolver produtos a custos mais baixos versus menor tempo que a concorrência. Com isso o mercado de gestão de pessoas, especificamente na área de educação empresarial teve um aumento significativo, na segunda me- O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos tade da década de 90, bem diferente da primeira metade do mesmo período em que os investimentos ficaram estagnados por volta de US$ 55 bilhões de dólares no ano. A globalização que podemos resumir em encurtamento das distâncias, entre seus muitos efeitos, propiciou uma competitividade entre as empresas e indivíduos nunca vista. E a tecnologia que antes era de difícil acesso, passou a estar ao alcance de todos, desde que se possa pagar por ela. Em condições iguais de tecnologia, sobreviverá aquele que detiver o conhecimento e for mais competente, os quais são recursos oriundos dos seres humanos. 4.2. Educação Corporativa: Presencial Ou A Distância? A educação corporativa e Educação a Distância possuem relações muito estreitas. O percentual de crescimento de ambas as modalidades são semelhantes. É nas empresas que a Educação a Distância encontrou espaço para seu crescimento, por sua vez por intermédio da Educação a Distância que a educação corporativa encontrou condições para sua expansão. Atendendo muito mais pessoas do que seria possível se os processos educacionais fossem presenciais. Apesar do crescimento que a Educação a Distância vem alcançando nos campos acadêmicos e escolares, são nas empresas que as grandes mudanças e saltos qualitativos encontram os campos mais férteis. As duas últimas décadas foram importantes para o fortalecimento dessa relação, em virtude do crescimento da educação on-line. Nesse contexto o avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação foi fundamental. Analisar o quanto as tecnologias e as mídias que elas transportam influenciam a educação sempre foi importante, uma vez que as invenções humanas transformam os métodos, os conteúdos e as metodologias por ela utilizados. Hoje as Tecnologias de Informação e Comunicação trazem à tona uma possibilidade de que comunicação, diálogo e a troca possam efetivamente fazer parte dos processos educacionais, o que implica a necessidade de reavaliar o papel das instituições educacionais. As tecnologias de informação e comunicação cada vez mais, fazem com que a distinção entre ensino presencial e a distância desapareça. Exemplo dessa constatação é que em ambas as modalidades são adotadas práticas comuns a modalidade oposta. O novo contexto educacional, seja ele formal ou empresarial, é impulsionado pela digitalização, que por ser inovadora faz com que as práticas pedagógicas sejam repensadas, pois o conhecimento e aprendizagem acontecem o tempo todo. Nesse novo contexto as Tecnologias de Informação e Comunicação, com destaque a Internet passa a ser uma base estruturante para a produção coletiva do conhecimento. Temos como exemplo as salas de bate-papo, fóruns, bibliotecas virtuais, glossários e simulações que permitem aos estudantes configurar e gerenciar sua busca pela informação e a transformação em conhecimento. Adotar as Tecnologias de Informação e Comunicação não significa obrigatoriamente a adoção da Internet. Os gestores das Universidades Corporativas sabem dessas possibilidades e as exploram de diversas maneiras. Tendo em vista que 90 por cento das Universidades Corporativas utilizam material impresso em seus cursos. Portanto, mediante a tantos recursos disponíveis, escolher as Tecnologias de Informação e Comunicação que serão adotadas faz parte do planejamento estratégico das Universidades Corporativas. As redes constituídas pela Internet e seu aprimoramento por meio da convergência digital de mídias e Tecnologias de Informação e Comunicação fazem da Web uma nova fronteira, onde novas demandas surgem constantemente. O e-learning é o maior desafio para a educação, pois requer uma nova forma de pensar a pedagogia e a Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 107 O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos criação de condições para que a virtualização possa ser utilizada corretamente, permitindo a criação de ambientes nos quais a aprendizagem e a liberdade de escolha por parte daquele que aprende sejam o grande foco. Os termos Educação on-line, Educação a Distância e e-learning são utilizados como sinônimos. Mas há diferenças conceituais que não podem ser ignoradas, conforme Almeida (apud PADRO e VALENTE, 2003, p. 239): ... a Educação a Distância pode se realizar pelo uso de diferentes meios (correspondência postal ou eletrônica, rádio, televisão, telefone, fax, computador, Internet etc.), técnicas que possibilitem a comunicação e abordagens educacionais; baseia-se tanto na noção de distância física entre o aluno e o professor como na flexibilidade do tempo e na localização do aluno em qualquer espaço (...). Educação on-line é uma modalidade de Educação a Distância realizada via Internet, cuja comunicação ocorre de formas sincrônicas ou assincrônicas. Tanto pode utilizar a Internet para distribuir rapidamente as informações como pode fazer uso da interatividade propiciada pela Internet para concretizar a interação entre as pessoas, cuja comunicação pode se dar de acordo com as distintas modalidades comunicativas. Segundo Rosenberg (2002, p. 25), “e-learning refere-se à utilização das tecnologias da Internet para fornecer um conjunto de soluções que melhoram o conhecimento e o desempenho”. Para Almeida (2003, p. 239), os ambientes virtuais de aprendizagem são: ... sistemas computacionais disponíveis na Internet destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar várias mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de 108 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos. O que distingue os Ambientes Virtuais de Aprendizagem de outros sistemas, é a forma como organiza e faz a gestão de ferramentas existentes, pois sua essência reside em inúmeras características pedagógicas. Seu objetivo é permitir que processos de ensino-aprendizagem se processem não apenas por meio da interatividade, mas, principalmente pela interação, privilegiando a construção e reconstrução do conhecimento, a autoria, a produção de conhecimento em colaboração com os pares e a aprendizagem significativa do aluno. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem estão fortalecendo e ampliando as melhores práticas nas Universidades Corporativas. Os benefícios oriundos do e-learning são: cursos on-line e disponibilizados em Ambientes Virtuais de Aprendizagem quando devidamente elaborados, aguçam a curiosidade e o desejo de saber mais, facilitando assim a pesquisa, o autodesenvolvimento e o comprometimento com os objetivos dos programas; a prática por meio da simulação aumenta a capacidade perceptiva, diminuindo as margens de erro na prática cotidiana; o aprendizado em grupo e a gestão do conhecimento diminuem barreiras, aproximam as pessoas e abrem caminhos para a busca de soluções. Vale salientar que a possibilidade do feedback diminui as eventuais barreiras causadas pela distância e pelo tempo. 5. Educação A Distância e as Tecnologias de Informação e Comunicação Como vimos anteriormente e ainda de acordo com Cardoso (2001), “a Educação a Distância, pressupõe a separação física entre o aluno e seu professor, em tempo ou O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos espaço”. Suas características são: baixo custo de investimento e o processo educacional centrado no aluno. Autores como Nova e Alves (2003, p.3), conceituaram a Educação a Distância como sendo “uma das modalidades de ensino-aprendizagem, possibilitada pela mediação dos suportes tecnológicos digitais e de rede, seja esta inserida em sistemas de ensino presenciais, mistos ou completamente realizada por meio da distância física.” O conceito de Educação a Distância está sendo transformado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação, pois as suas introduções em programas de Educação a Distância e o avanço em pesquisas sobre o uso desses recursos contribuem a cada dia para que haja uma superação da distância e do tempo, tornando um processo educacional sem distância. O uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem é um exemplo disso, pois permitem atividades síncronas e assíncronas. As atividades síncronas são vantajosas pelo fato de permitir o contato instantâneo, com ferramentas como chat, onde os alunos podem interagir e discutir em grupos com a mediação do tutor. Outra vantagem dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem é a capacidade de armazenamento de diálogos e atividades em seu banco de dados. O avanço da tecnologia possibilitou a criação de um histórico nesses bancos de dados em Ambientes Virtuais de Aprendizagem e processos de aprendizagem, o que não era possível no início da sua criação, pois não coletava e armazenava as informações nele contidas. Os registros ali armazenados auxiliam nas informações para pesquisas posteriores, revisão de estratégias de aprendizagem e feedback. De acordo com essas vantagens, as empresas passam por mudanças em seus programas de Educação Corporativa (EC), beneficiando-se cada vez mais. As práticas educativas à distância avançam a cada inclusão de uma nova solução tecnológica. A Educação a Distância obteve formas de interação e superação de barreiras, desde o telefone até a internet, aperfeiçoou a entrega de conteúdos e possibilitou maior interatividade entre os membros de comunidades de aprendizagem. Essas tecnologias possibilitaram o auxílio nas práticas interativas de aprendizagem e permitem o registro de aulas, como por exemplo. A videoconferência e a teleconferência. Essas tecnologias possibilitaram também, um feedback entre alunos, tutores e equipes pedagógicas, permitindo uma integração maior de cada segmento e a estruturação do material didático e do planejamento de ensino. As Tecnologias de Informação e Comunicação ainda permitem que o Designer Instrucional³ (DI) de um curso adote novas soluções e novas rotas no transcorrer do processo. Filatro (2003) denomina de “Design Instrucional Contextualizado (DIC)”. Ainda Filatro (2003, p. 19) diz que o DIC ... não dispensa a identificação de necessidades de aprendizagem, a definição de objetivos instrucionais, a caracterização de alunos, o levantamento de restrições que fazem parte do modelo tradicional de design instrucional. No entanto, essas atividades não são realizadas a priori ou de modo definitivo, mas estabelecem um foco inicial para posterior aprimoramento; [...] A partir das Tecnologias de Informação e Comunicação, é notória a transformação do ponto de vista dos cursos à distância e ao mesmo tempo, a transformação comunicacional entre alunos, professores/tutores e equipe pedagógica em ambientes interativos. Silva (2002) define a interatividade como mais “comunicacional, em que as relações entre receptor e emissor saem do padrão linear unidirecional deslocando-se para um padrão bidimensional”. A relevância do conceito de interatividade está na quebra do ³ ”Designer Instrucional” é um especialista em didática e linguagem para Educação a Distância, responsável por qualquer modificação no conteúdo a fim de facilitar o entendimento por parte do aluno. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 109 O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos paradigma comunicacional, onde o receptor recebia mensagens sem possibilidade de manipulação/alteração da mesma. Ao contrário disso, em uma situação de comunicação interativa, todos podem ser emissores e receptores, podendo manipular, modificar, intervir e transformar a mensagem, possibilitando a participação concreta. A interatividade na Educação a Distância trouxe reflexões consideradas enriquecedoras, pois o processo educacional em Ambiente Virtual de Aprendizagem pode ser interativo, propondo a participação ativa, além de textos e leituras. O aluno tem autonomia para traçar seu próprio percurso de aprendizagem, realizando pesquisas, modificando conteúdos, tornando-os mais atrativos. A interatividade deve ser estimulada. Um projeto em Educação a Distância pode acontecer com diálogo, espaço para troca de informações, críticas, sugestões e confrontos. “No espaço corporativo, a interatividade auxilia no desenvolvimento de uma aprendizagem organizacional pautada na participação coletiva da construção do conhecimento, em que os membros da comunidade dialogam e compõem estratégias e metas para ações pontuais”. (CARDOSO, 2001) 6. Educação a Distância: um Recurso Estratégico da Educação Corporativa De acordo com Ricardo (2005), Empresas de médio e de grande porte, objetivando melhores resultados na formação/ (re) qualificação de seus colaboradores/ funcionários e fornecedores, implantaram programas de Educação a Distância associados às Tecnologias de Informação e Comunicação. Exemplo disto são empresas como: Embratel, Petrobras, CAIXA, Banco do Brasil, Vale e Banco Santander; [...]. Com a existência de escolas corporativas virtuais, as empresas lançam suas estra- 110 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica tégias e cultura com maior agilidade e os seus trabalhadores lidam com o mundo digital no seu dia-a-dia, obtendo uma aprendizagem contínua, adaptada à realidade e urgência de atualização. Para Ricardo (2005), Os programas de Educação a Distância baseados nas Tecnologias de Informação e Comunicação favorecem: a formação de redes de conhecimento; a troca colaborativa entre seus usuários; a distribuição de conteúdos a um número maior de participantes; alcance territorial em diferentes pontos; maior possibilidade de interatividade; auto-gestão do estudo e controle do próprio ritmo de aprendizagem. Outras vantagens na oferta de cursos a distância são destacados por Silva e Zabot (2002), como: a diminuição do afastamento do servidor no horário de expediente; acesso ao quadro de professores numa dimensão maior do que o ensino presencial e otimização da difusão da cultura de aprendizagem na corporação; [...]. A Educação corporativa em Educação a Distância, além de compor seu próprio banco de conteúdos e possuir melhor desempenho mercadológico, possui outras vantagens como: redução de custos com deslocamentos e estadias desnecessárias de seus colaboradores, desenvolvimento tecnológico, colaboradores mais flexivos e adaptados ao ambiente tecnológico. Percebemos que as escolas e universidades corporativas lucram com a oferta de cursos a distância, porém, para estruturar um bom projeto de Educação a Distância baseado em TIC, devemos iniciar o projeto com um estudo da sua real necessidade e viabilidade, compor uma boa equipe de produção e capacitá-los para que realizem um bom planejamento e seleção adequada de recursos tecnológicos. Muitas vezes, um projeto de Educação a Distância requisita um planeja- O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos mento minucioso e cuidadoso, devido às suas peculiaridades. Ainda para Ricardo (2005), algumas ações para a implementação de um programa de Educação a Distância são: análise e diagnóstico da necessidade de um programa de Educação a Distância na corporação; estudo da viabilidade técnica e orçamentária de implementação; adequação dos objetivos do projeto às diretrizes estratégicas da corporação; seleção dos recursos humanos para composição de equipe de produção; divisão das tarefas da equipe de acordo com as competências e habilidades de cada um; capacitação da equipe de produção; planejamento das ações da equipe; escolha dos recursos tecnológicos a serem adotados pela Universidades Corporativas; [...] As ações acima elencadas permitem uma base sólida à estruturação de um projeto de Educação a Distância, permitindo que a empresa tenha autonomia e gerenciamento das suas práticas de aprendizagem. Porém, a composição da equipe de produção que no início é multidisciplinar e atua de forma integrada é quem marca o diferencial competitivo da empresa, pois é a equipe que irá estruturar os cursos da empresa, selecionar fornecedores, viabilizar a logística do curso. Apesar de cada um ter seu papel e função, o objetivo da equipe é trabalhar compartilhando as responsabilidades para que colham frutos de uma autoria coletiva. A equipe deve conter pessoas com conhecimentos em Educação a Distância, diversos tipos de mídia, educadores com prática em educação de adultos (andragogia), precisam conhecer a cultura da empresa, estratégias de ação e expectativas. De acordo com Ricardo (2005), uma equipe de produção deve contar com uma composição mínima, envolvendo: Gestor do projeto; Especialista em desenho pedagógico (design instrucional); Webdesigner; Programador web; Revisor gramatical; Revisor pedagógico; [...]. Além de pessoas com tais funções, a equipe deve conter um pedagogo. Existem casos em que esses são substituídos por um programador web ou por um administrador, que conhecem a área de atuação, mas não possuem um quadro teórico da educação, o que é fundamental. 7. Estratégias para Desenvolvimento de um Curso a Distância em uma Empresa Em Agosto de 2010, decidimos aplicar um programa de capacitação utilizando o Moodle, e então buscamos uma empresa com o perfil desejado para a aplicação de um treinamento básico em segurança e manutenção preventiva de computadores com o sistema operacional Windows XP. Em seguida, escolhemos o conteúdo que deveria ser aplicado no curso, tendo como escopo dois módulos, sendo um de segurança, onde existiriam textos e vídeos explicando ameaças encontradas no mundo da informática, vídeos explicativos sobre como utilizar programas para remover itens maliciosos do computador e posteriormente, exercícios para fixar o conteúdo. O segundo módulo seria sobre manutenção do Windows XP, com vídeos explicativos ensinando a usar programas que melhoram o desempenho do sistema operacional e exercícios para fixar o conteúdo. O próximo passo foi marcar uma reunião com o responsável pela empresa, doravante denominaremos de empresa X, foi proposto o programa de capacitação para seus funcionários. Explicamos os temas abordados assuntos sobre a funcionalidade do programa de capacitação. Explicamos que a proposta do curso é totalmente online, com conteúdos teóricos, vídeos explicativos e avaliações dos módulos. Esclarecemos também, que o programa de capacitação não haveria custos para a empresa e que tínhamos o propósito de avaliar a aplicação do curso online, para fins acadêmicos. Ao final da reunião, após todas as dúvidas esclarecidas, o responsável pela empresa X aceitou a proposta e delegou poderes a um funcionário do departa- Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 111 O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos mento administrativo para tratar de todos os assuntos que fossem necessários para o bom andamento da capacitação. A partir deste momento, deu-se início ao desenvolvimento do programa de capacitação através do questionário elaborado para tomarmos ciência sobre o grau de conhecimento técnico que os funcionários possuíam e a partir das informações coletadas, aplicarmos o conteúdo. 7.1. O Moodle Segundo Nardin, Oliveira e Bastos (2009 apud DOUGIAMAS e TAYLOR et al, 2002), A ferramenta Moodle, é uma ferramenta construtivista, desenvolvida por Dougiamas (2001), para servir de ambiente virtual para a aprendizagem colaborativa, pois apresenta uma perspectiva construtivista. Ele foi desenhado para promover a integração entre pessoas interessadas em desenvolver ambientes de aprendizagem centrados no aluno; [...] O Moodle é um ambiente dinâmico que possui recursos para disponibilizar os materiais didáticos em formato de texto, imagens, vídeos, simulações, páginas web, etc. Também possui funcionalidade para fóruns, chat, tarefas e wikis; e aceita objetos unificados, por meio de conteúdos Web, agregados com o padrão dos objetos de aprendizagem, como páginas, gráficos, programas, apresentações. Os aspectos pedagógicos, em acordo com a metodologia construtivista, destaca que o docente deve se concentrar sobre experiências significativas para a aprendizagem do aluno, ao invés de apenas avaliar a informação que julgam que eles devem saber. Já os aspectos tecnológicos defendem a capacidade da mídia para o aumento da aprendizagem no ambiente. O Ambiente Virtual de Aprendizagem deve oferecer uma estrutura de módulos que possibilitam con- 112 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica trolar a apresentação do material. Deve ser possível também, monitorar e disponibilizar o histórico das páginas visitadas e permitir que sejam adicionados aplicativos para atender as necessidades individuais e coletivas. São destacados por Antonenko et al. (2004) os aspectos culturais que envolvem as comunidades de aprendizagens. No caso específico da comunidade Moodle, as idéias centrais são colaboração, compartilhamento e comunidade. A comunidade é construída pelos co-desenvolvedores que visam aperfeiçoar o sistema, como contribuição e disponibilizá-lo. O aspecto paradigmático verifica como o Moodle atende às necessidades do grupo, se há limitações e potencialidades. 8. Avaliação Dos Resultados Conforme apresentado, o propósito do curso foi capacitar os colaboradores da empresa, visando que estes obtivessem condições de efetuar manutenções preventivas em seus computadores e detectar possíveis ameaças provenientes da Internet. Durante o decorrer do curso foram ministrados os conteúdos discriminados anteriormente, divididos por módulos. Ao final de cada módulo o colaborador foi submetido a exercícios de fixação. Os resultados dos exercícios ficaram disponíveis para os gestores do curso e com os resultados foi possível fazer a análise de desempenho individual de cada colaborador. Para o curso em questão não há critérios para aprovação, pois o curso é uma ferramenta para auxílio do colaborador, o aproveitamento de cada colaborador deveria ser feito pelos seus encarregados. Posteriormente foi procurada a empresa para nos dar um feedback do resultado do treinamento no dia-a-dia dos colaboradores. Como resposta, constatou-se que a empresa obteve a redução da manutenção terceirizada, permitindo concluir que os próprios colaboradores estão mantendo seus computadores mais seguros e organizados. O Uso da Educação a Distância em Ambientes Corporativos Referências bibliográficas ANTONENKO, P.; TOY, S.; NIEDERHAUSER, D. Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment: What Open Source Has To Offer. In: Association for Educational Communications and Technology, 27th, Chicago, IL, October 19-23, 2004. Disponível em: http:// www.eric.ed.gov/ERICWebPortal/contentdelivery/servlet/ERICServlet?accno=ED485088 Acesso em: 25 set. 2009. ARETIO, L. G. Para uma definição de educação a distância. In: NETTO, F. J. S. L (Org.). Educação a distância: referências & trajetórias. Rio de Janeiro: ABT, 2001. p. 21-32. GOMES, P. V. A experiência da PUC-PR na implantação das tecnologias de informação e comunicação no ensino superior. Colabora, Curitiba, v. 1, n. 1, p. 25, 2001. FREDRIC, L. 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Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 113 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Fernando Fricher Boesso¹ Julio Cesar de Souza Inácio Gonçalves2 RESUMO Entre os recursos naturais que o homem dispõe, a água aparece como um dos mais importantes, sendo indispensável para a sua sobrevivência. A água é um recurso finito e com o volume praticamente constante durante os últimos 500 milhões de anos. Do volume total 1.386 milhões de km3 de água na Terra, 97,75% são de água salgada e os 2,25% restantes são de água doce. Baseandose no contexto da disponibilidade da água, este estudo tem como objetivo realizar a caracterização ambiental e avaliar a quantidade e qualidade presente da água da bacia hidrográfica do rio Jaú (SP), visando fornecer subsídios para o gerenciamento da bacia. Atividades como o levantamento de dados secundários e primários foram elaboradas para realização da caracterização ambiental. Os resultados da avaliação da qualidade da água foram trabalhados estatisticamente com o uso da ferramenta análise de variância (ANOVA). Esta ferramenta foi de suma importância para a interpretação dos resultados obtidos, pois com base na ANOVA pôde-se concluir as possíveis e reais interferências antrópicas no sistema lótico. A bacia do rio Jaú apresenta um crescente processo de degradação ambiental devido à monocultura em expansão (cana-de-açúcar) na área rural e atividades humanas em centros urbanos. O levantamento preliminar indica a necessidade de estudos nas áreas de poluição aos cursos d´água e caracterização da disponibilidade hídrica. Estes estudos poderão ter início a partir deste trabalho. Palavras-chave: caracterização ambiental, ANOVA , poluição. ABSTRACT Among the human natural resources, water is one of the most important, and it is essential to the civilization’s survival. Water is finite and practically constant during the last 500 million years. Between the total amount of water in the Earth, which is 1.386 millions of km3, 97,75% correspond to salt water and 2,25% to fresh water. Considering the water availability, this survey aim to make an environmental characterization and to evaluate the quantity and quality of the Jaú River’s watershed water at the same time it objectifies to give support to the watershed’s management. Activities like the collection of primary and secondary data were fundamental to make the environmental characterization. The results were statistically analyzed using the Variance examine implement (ANOVA). This appliance was very important to interpret the results, because based on ANOVA it was easy to conclude the possible and real human beings interferences in the lotic system. The Jaú River’s watershed has a growing environmental degradation process due to the sugar cane expansion in the countryside and the human activities in the urban centers. The preliminary analysis suggests the necessity of water pollution’s surveys and water availability characterization. Other works could start based on this survey. Key words: environmental characterization, ANOVA, pollution. ¹ Acadêmico do curso de Engenharia Ambiental pelo UniSEB – COC. Bolsista de IC do PIBIC – UniSEB-COC. ² Prof. Orientador, docente da UniSEB – COC. 114 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica 1. Introdução Uma bacia hidrográfica ou fluvial é o conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes. Seu contorno é limitado pela partes mais altas do relevo, chamadas de divisores de água. As águas das chuvas escoam e superficialmente formando os riachos e rios, ou infiltram no solo para a formação de nascentes e do lençol freático. Em condições naturais as cabeceiras são formadas por riachos que brotam em terrenos de maior declividade. À medida que as águas destes riachos descem, juntam-se com as águas de outros riachos. Estes pequenos rios continuam seus trajetos recebendo água de outros tributários, formando rios cada vez maiores até desembocar nos oceanos (BARRELA et.al. 2001). A disponibilidade de água significa que ela estará presente não somente em quantidade, mas também que sua qualidade seja satisfatória para suprir as necessidades de um determinado conjunto de seres vivos (biota), podendo ainda ser utilizada para gerar energia elétrica, assimilar resíduos e uma variedade de outros propósitos. Os usos e as atividades desenvolvidas em toda bacia hidrográfica causam interferências negativas na qualidade e quantidade das águas de um corpo hídrico. Nos programas de planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos é de fundamental importância à escolha da bacia hidrográfica como unidade de estudo, considerando, a integração dos recursos hídricos entre si e com os aspectos fisiográficos da bacia. De acordo com Santos (2004), o uso da bacia hidrográfica como área de estudo é comumente empregado porque constituiu um sistema natural bem delimitado no espaço, composto por um conjunto de terras topograficamente drenadas por um cursos d’água e seus afluentes, onde as interações, pelo menos físicas, são integradas e assim mais facilmente interpretadas. De acordo com Tundisi (2005), a utilização da bacia hidrográfica como unidade de estudo é essencial devido as suas características, as quais possibilitam a integração multidisciplinar entre diferentes sistemas de gerenciamento, estudo, atividades ambientais e aplicações adequadas de tecnologias avançadas. Na adoção da bacia hidrográfica como unidade de estudo, a fase do diagnóstico ambiental assume elevada importância, pois é nesta etapa que é identificada a dinâmica ambiental atual da área, os processos relacionados, os principais problemas e os conflitos de uso da água. De acordo com Jesus (2006), modelos de simulação têm um papel importante na gestão dos recursos naturais, pois permitem aumentar o entendimento da bacia através da soma dos impactos de todas as fontes sobre um dado parâmetro ou indicador de qualidade da água, de modo que as fontes com maior impacto possam ser identificadas e classificadas. O mesmo autor lembra que, cenários alternativos podem ser avaliados pelos modelos de simulação, para testar a influência de distintas estratégias de gestão ou do futuro crescimento de um determinado setor econômico. Os modelos auxiliam também os gestores de recursos hídricos na tomada de decisão, que, através da modelagem da bacia e dos corpos d’água, simulam vazões, cargas e efeitos resultantes nos corpos d’água. Desta forma, o presente trabalho tem como principal diretriz estudar a bacia hidrográfica do rio Jaú (SP), utilizando uma abordagem que integra diversos elementos do meio físico e da qualidade da água. 2. Objetivo Este estudo teve como objetivo realizar a caracterização ambiental e avaliar a Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 115 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) qualidade da água da bacia hidrográfica do rio Jaú (SP), visando fornecer subsídios para o gerenciamento da bacia. Como atividades específicas realizadas para o cumprimento deste objetivo, buscou-se: caracterizar os aspectos fisiográficos da bacia do rio Jaú com geração de banco de dados tabulares e georreferenciado; caracterizar a qualidade e quantidade das águas superficiais na bacia em seu gradiente espacial e temporal; integrar as variáveis de qualidade da água com os aspectos fiosiográficos da bacia (geologia, pedologia, uso do solo, fontes poluidoras); 3. Materiais e métodos 3.1 Caracterização Geral da Área de Estudo A bacia do rio Jaú abrange os municípios de Brotas, Dois Córregos, Dourado, Bariri e Jaú com uma área total de 752 km2 e um perímetro de 154 km. Ela está localizada na porção central do Estado de São Paulo, entre os paralelos 2209’ e 2228’ de latitude sul e os meridianos 4816’ e 4847’ de longitude oeste. Segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica do Tietê/Jacaré a bacia do rio Jaú está localizada na (UGRHI-13). De acordo com o DECRETO Nº 10.755 - DE 22 DE NOVEMBRO DE 1977, o rio Jaú é considerado como classe IV desde a confluência com o Córrego do Pires, até a confluência com o Ribeirão Pouso Alegre, no Município de Jaú. O rio Jaú é formado pela junção dos córregos do Bugio e Lageado dentro dos limites do município de Dois Córregos, a uma cota aproximada de 640 metros.A rede de drenagem abrange as áreas ur- 116 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica banas das cidades de Dois Córregos, Mineiros do Tietê e Jaú, sendo que Bariri, Itapuí, Bocaina e Torrinha também têm seus limites inseridos nesta bacia. O rio Jaú possui 10 sub-bacias na margem direta e 12 na margem esquerda (Figura 1). Além da sub-bacia do ribeirão do Peixe e da sub-bacia do ribeirão do Bugio, onde está a nascente mais elevada do Rio Jaú, na Serra do Tabuleiro a quase 850 m de altitude. A rede de drenagem dos ribeirões formadores do rio Jaú é do tipo dendritica, lembrando o desenho dos ramos de uma árvore e a rede de drenagem do rio Jaú é em treliça, ou seja, seus afluentes deságuam formando ângulos próximos de a 90o. Grande parte da água consumida na bacia hidrográfica do rio Jaú vem de mananciais superficiais. A água para abastecimento público é captada em pequenos córregos e nascentes ao longo de toda a bacia e somam aproximadamente 850 l/s. São 7 sub-bacias utilizadas como mananciais pelos municípios de Jaú, Mineiros do Tiete e Dois córregos, além da sub-bacia do córrego Dos Pires utilizada eventualmente. Figura 1. Sub-bacias do rio Jaú Fonte: Rezende, 2009. Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) 3.2 Caracterização Ambiental 3.2.5 Fontes Poluidoras A metodologia empregada para a realização da caracterização ambiental da bacia hidrográfica do rio Jaú (SP), foi constituída basicamente no levantamento e sistematização de dados secundários, geração de dados primários e na criação de cartas geográficas da bacia em estudo. As cartas temáticas foram produzidas através do software AutoCAD Map. O levantamento de campo para a tomada de coordenadas geográficas foi feito utilizando equipamento GPS (Global Positioning System). As fontes poluidoras relacionadas aos corpos hídricos são: fontes industriais e domésticas, sendo identificadas e quantificadas em termos de kgDBO/dia. Ambas as fontes são coletadas pelo mesmo sistema de esgotamento sanitário e posteriormente tratadas. A empresa SANEJ (Saneamento de Jaú) é responsável pelo tratamento do esgoto. As coordenadas geográficas do ponto de lançamento do efluente tratado são respectivamente: 7.534,51 N e 749,63 E. O tratamento utilizado pela empresa é do tipo lodo ativado por batelada, sendo tratados 24.650 m3/dia de efluente com uma eficiência de 98% de remoção de DBO. 3.2.2 Meio Físico 3.3 Avaliação da Qualidade da Água Foi realizado o levantamento de dados secundários sobre a bacia em estudo dos seguintes aspectos: clima, geologia e pedologia. Este levantamento foi baseado nos estudos desenvolvidos por IPT (1999), Souza e Cremonese (2002) e Rezende (2009). A avaliação da qualidade da água foi realizada em dois períodos do ano hidrológico, cheia e estiagem. As amostras, utilizadas para caracterizar o período de cheia, foram coletadas durante quatro dias consecutivos no mês de março; já para caracterizar o período de estiagem, foram coletadas no final do mês de setembro e inicio do mês de outubro. Estes meses foram escolhidos em função dos seus índices pluviométricos. Os pontos de coleta foram escolhidos em função das características físicas do corpo hídrico e das fontes poluidoras existentes. As informações usadas para essa seleção foram obtidas através de visitas técnicas de reconhecimento e os pontos de coleta estão descritos na Tabela 1. A localização dos pontos de coleta está apresentada na Figura 2. A água foi coletada superficialmente (cerca de 30 cm de profundidade) com balde de plástico e frascos de polietileno, preferencialmente no centro da seção transversal. 3.2.1 Cartas Temáticas Básicas 3.2.3 Meio Sócio-Econômico O levantamento sobre o meio sócioeconômico foi realizado através de dados secundários baseado nos estudos desenvolvidos por IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas 1999), IBGE, SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) , SEBRAE (Serviço Brasileiro de apoio as Micro e Pequenas Empresas), Prefeitura Municipal e Comitê da Bacia Hidrográfica do Tietê/Jacaré (UGRHI-13). 3.2.4 Uso de Recursos Hídricos O levantamento sobre o uso de recursos hídricos foi realizado através de dados secundários baseados nos estudos desenvolvidos por IPT (1999). Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 117 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Tabela 1. Pontos de coleta para avaliação da qualidade da água na bacia do rio Jaú Pontos de Coleta Longitude Latitude Altitude (m) Caracterização especial J1 7531313 753705 512 Rio Jaú, montante do lançamento de emissários doméstico-industriais do município de Jaú, Serviço de Água e Esgoto do Município de Jaú (SAEMJA). J2 750481 7534415 493 Rio Jaú, jusante do lançamento de emissários doméstico-industriais.Secretaria do Meio Ambiente(SEMEIA) J3 749628 7534472 475 Rio Jaú, Jusante da contribuição urbana do município e antes da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) J4 748321 753440 468 Rio Jaú, Jusante da contribuição urbana do município e após a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) As variáveis temperatura, oxigênio dissolvido e condutividade elétrica foram realizadas in situ. Para a análise das outras variáveis, as amostras foram levadas ao laboratório para serem analisadas. Na Tabela 2 são apresentadas as variáveis medidas, seus métodos de análise e unidades de medidas. Tabela 2 Variáveis físicas e químicas da água na bacia do rio Jaú 118 A vazão do rio Jaú foi estimada por meio do programa SIGRH (Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos). Este programa é disponibilizado gratuitamente pelo departamento de água e energia elétrica do estado de São Paulo (DAEE), no website: http://www.sigrh.sp.gov.br. Para a estimativa da vazão é necessário fornecer ao programa as coorde- Variáveis Método de Análise Unidades Temperatura Termômetro ºC Condutividade Analisador Multiparâmetros VERNIER mS/cm Turbidez Analisador Multiparâmetros VERNIER NTU Cloreto Analisador Multiparâmetros VERNIER (mg/L) Oxigênio Dissolvido Analisador Multiparâmetros VERNIER (mg/L) Sólidos Suspensos Totais Gravimetria (APHA, 1995) (mg/L) pH pHmetro de bancada – | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) nadas geográficas do ponto onde se deseja determinar a vazão, além da área drenada e a longitude do mediano central. Os resultados da avaliação foram explorados estatisticamente utilizando-se a análise de variância bifatorial (ANOVA), com o objetivo de testar diferentes fontes de variação que atuam sobre a bacia estudada. Para a análise de variância (ANOVA), foram fixados como fontes de variação: 1) as estações de amostragem e 2) as épocas de coleta. 4.1.2 Geologia e Geomorfologia A bacia hidrográfica do rio Jaú está situada nas Cuestas Basálticas, que são formas de relevo tubulares, onde escarpas íngremes limitam um topo plano, formado por terra de maiores altitudes, que se contrapõem as terras mais baixas e de vertentes suaves (Oliveira, 1992). O relevo da bacia segundo Palanca & Koffler (1996), é representado por dois tipos de modalidades conhecidas como “Colinas Médias” e “Morrotes Alongados e Espigões”. Do ponto de vista geológico, a bacia hidrográfica do rio Jaú está inserida na bacia sedimentar do rio Paraná pertencente ao Grupo São Bento e Grupo Bauru. 4.1.3 Pedologia Figura 2. Pontos de coleta de dados para análise na bacia do rio Jaú-SP 4 Resultados 4.1 Meio Físico 4.1.1 Clima De acordo com a classificação de Koppen, o clima da bacia hidrográfica do Rio jaú é do tipo Cwa, mesotérmico, também chamado de Tropical de Altitude, que é caracterizado por possuir um inverno seco e verão chuvoso, com uma temperatura média superior a 22 ºC. Segundo Palanca & Koffler (1996), a precipitação pluviométrica anual apresenta média de 1.428 mm. O período chuvoso é de outubro a março e o período seco é de abril a setembro. A umidade relativa do ar é alta, com uma média de 70%. Foram identificados nos 75200 ha da bacia hidrográfica em questão, 7 unidades de solos, que pertencem aos grupos: Latossolo (Latossolo), Argiloso (Podzólico), Nitossolo Vermelho (Terra Roxa Estruturada), Neossolo Quartzarênico (Areias Quartzosas) e Neossolo Litólico (Litólico). Esses tipos de solos estão com a nomenclatura atual, e no interior dos parêntesis, os nomes antigos que ainda são utilizados. Os Latossolos constituem a grande maioria da bacia, sendo aproximadamente 56900 ha ou 75% da área total. Em seguida, vem o Nitossolo Vermelho, com 10860 ha ou 19%. Os Argissolos são em torno de 4800 ha ou 5,6%, seguidos pelo Neossolo Quartzarênico com 175 ha ou 0,20% e pelo Neossolo Litólico com 37 ha ou 0,04%. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 119 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) 4.1.4 Biodiversidade 4.4 Uso dos Recursos Hídricos Segundo Souza & Cremonese (2002), a biodiversidade da bacia do rio Jaú foi reduzida a quase zero por causa do sistema exploratório da agricultura. Com extensas plantações das monoculturas do café e, posteriormente da cana-de-açúcar, os habitat da bacia foram destruídos. Restaram poucos fragmentos florestais nativos onde se abrigam os exemplares da diversidade da fauna e da flora que suportaram essa agressão. 4.4.1 Captações Superficiais e Subterrâneas nos Municípios da Bacia. 4.3 Meio Sócio Econômico 4.3.1 População Residente Na Tabela 3 é mostrada a população municipal residente na bacia hidrográfica do rio Jaú, destacando o município de Jaú com 125.469 habitantes. Tabela 3. População residente nos municípios da bacia do rio Jaú Municípios Número de habitantes Jaú 125.469 Dois Córregos 24.384 Mineiros do Tietê 11.760 Itapuí 11.605 Torrinha 8.918 Total 182.136 A Tabela 4 apresenta os dados relativos ao tipo de captação de água para o abastecimento público. Os municípios de Jaú e Dois Córregos apresentam fontes predominantemente superficiais, enquanto Mineiros do Tietê utiliza 90% da água proveniente de mananciais subterrâneos. Tabela 4. Mananciais de abastecimento de água superficiais e subterrâneos na bacia do rio Jaú Municípios Dois Córregos Jaú Mineiros do Tiete Operação SAAEDOCO SAEMJA SANECISTE Manancial Subterrâneo(%) 37,0 72,3 90,0 Manancial Superficial(%) 63,0 27,7 10,0 Número Poços 4 17 4 Número Captações 2 3 1 Fonte: IPT, 1999. Fonte: Fundação SEADE, 2007. Observa-se que o município de Jaú representa a maior influência populacional sobre a bacia. Quanto à área, Jaú também apresenta o maior percentual (47,40%) no interior da bacia. 120 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica 4.5 Vazão estimada para a bacia hidrográfica do rio Jaú Dentre os vários pontos possíveis localizados ao longo do rio Jaú -, foi escolhido o ponto de coleta 1 para a estimativa da vazão. A área de drenagem foi obtida pela somatória das áreas das sub-bacias localizadas a montante do Ponto 1. A visualização das sub-bacias e do ponto 1 é possível a partir da Figura 3. A soma das áreas resultou no valor de 344,16 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) km2. Já a tomada de coordenadas geográficas foi realizada utilizando equipamento GPS (Global Positioning System). A Tabela 5 mostra os valores de vazão para vários períodos de retorno. Análise de Variância bifatorial (ANOVA) foi aplicada para todas as variáveis medidas com o intuito de verificar as diferenças temporais (estações climáticas) e espaciais (pontos de coleta). O cálculo da variabilidade das amostras, de forma geral, pode ser dividido em duas partes ou fontes de variação. A primei- Tabela 4. Mananciais de abastecimento de água superficiais e subterrâneos na bacia do rio Jaú T (anos) 10 15 20 25 50 100 Q (m³/s) 1,151 1,111 1,087 1,07 1,026 0,991 Fonte: SIGRH 2010 Figura 3. Área das sub-bacias utilizada para o calculo da vazão Fonte: Adaptada de Rezende, 2009. 5. Avaliação da Qualidade da Água 5.1 Aplicação da ferramenta análise de variância ou ANOVA bifatorial usando o Excel ra parte de variabilidade é proveniente das populações serem diferentes, denominada variabilidade entre. Quanto maior for a variabilidade entre, mais forte é a evidência de as médias das populações serem diferentes. A segunda parte de variabilidade é causada Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 121 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) pelas diferenças dentro de cada amostra, denominada variabilidade dentro. Quanto maior for a variabilidade dentro, maior será a dificuldade para concluir se as médias das populações são diferentes (LAPPONI, 2005). O roteiro de cálculo para a determinação da variância entre e variância dentro, bem como dos outros parâmetros usados para a aplicação da análise da variância é bem descrito por (LAPPONI, 2005). Neste trabalho é mostrado apenas como que a ANOVA pode ser realizada com o uso do EXCEL. Para a aplicação da ferramenta ANOVA, os dados das Tabelas 8 a 13 foram organizados em planilhas do Excel. A aplicação da ANOVA para a variável OD é mostrada como exemplo na Figura 4. Pode ser observado nesta figura que, o fator pontos de coleta com quatro níveis e o fator estações climáticas com dois níveis são apresentados, na planilha, com a cor vermelha. Esses dois fatores formam 4 grupos de resultados com duas observações cada um, para cada ponto de amostragem. Figura 4. Dados organizados na planilha Excel para Estiagem e Cheia. 122 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Para construir a tabela de análise da variância no Excel, deve-se escolher a ferramenta Anova: fator duplo com repetição que está localizada na caixa de diálogo análise de dados. Na Figura 5 é apresentada a janela exibida pelo Excel para a entrada dos dados mostrados na Figura 4. Figura 5. Janela para a entrada dos dados referente à Estiagem e Cheia Na opção intervalo de entrada, devem estar incluídos os nomes e os níveis dos dois fatores de análise. Na opção alfa, deve-se informar o nível de significância alfa do teste de hipóteses, nesse caso 0,05. No quadro opções de saída, deve ser obrigatoriamente informado um endereço a partir do qual a ferramenta análise de variância registrará os resultados, neste caso F16. Vale destacar que o procedimento descrito acima foi repetido cada variável de qualidade da água. Os resultados da análise da variância são apresentados nas Tabelas 8 a 13. Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Tabela 8. Resultados da análise da variância para o OD Fonte da variação SS df³ MS F valor-P F crítico Amostra 0,355938 3 0,118646 0,860922 0,474781 3,008787 Colunas 5,865313 1 5,865313 42,56009 9,54E-07 4,259677 Interações 1,893437 3 0,631146 4,579743 0,011314 3,008787 Dentro 3,3075 24 0,137813 Total 11,42219 31 Tabela 9. Resultados da análise da variância para a Condutividade Fonte da variação SS df MS F valor-P F crítico Amostra 24,49125 3 8,16375 1,01282 0,404291 3,008787 Colunas 9961,661 1 9961,661 1235,874 3,71E-22 4,259677 Interações 19,81625 3 6,605417 0,819488 0,495859 3,008787 Dentro 193,45 24 8,060417 Total 10199,42 31 Tabela 10. Resultados da análise da variância para o Nitrato Fonte da variação SS df MS F valor-P F crítico Amostra 0,55125 3 0,18375 1,577818 0,220707 3,008787 Colunas 1,125 1 1,125 9,660107 0,004794 4,259677 Interações 0,0075 3 0,0025 0,021467 0,995615 3,008787 Dentro 2,795 24 0,116458 Total 4,47875 31 ³ df registra os graus de liberdade de cada grupo de resultados; SS é a soma dos quadrados dos desvios das amostras; MS registra o resultado da divisão da soma dos quadrados dos desvios da coluna SS pelo número de graus de liberdade correspondente da coluna DF e F representa o F observado, o qual é o resultado da divisão entre cada valor da coluna MS pelo SS da linha dentro. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 123 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Tabela 11. Resultados da análise da variância para o pH Fonte da variação SS df³ MS F valor-P F crítico Amostra 0,0988625 3 0,032954 3,299541 0,03753 3,008787 Colunas 2,4753125 1 2,475313 247,8411 3,8E-14 4,259677 Interações 0,0058125 3 0,001937 0,193992 0,89945 3,008787 Dentro 0,2397 24 0,009987 Total 2,8196875 31 Tabela 12. Resultados da análise da variância para a Turbidez Fonte da variação SS df MS F valor-P F crítico Amostra 97,07125 3 32,35708333 4,236491094 0,015448286 3,008787 Colunas 1679,1013 1 1679,10125 219,843594 1,39702E-13 4,259677 Interações 21,08125 3 7,027083333 0,920051281 0,446095454 3,008787 Dentro 183,305 24 7,637708333 Total 1980,5588 31 Tabela 13. Resultados da análise da variância para o STS 124 Fonte da variação SS df MS F valor-P F crítico Amostra 0,006143375 3 0,0020478 0,803298 0,504317 3,0087866 Colunas 0,0006845 1 0,0006845 0,268513 0,6090758 4,2596772 Interações 0,0005865 3 0,0001955 0,07669 0,9719809 3,0087866 Dentro 0,0611815 24 0,0025492 Total 0,068595875 31 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Optou-se, neste trabalho, por apresentar os dados integralmente conforme eles foram gerados, por isso a quantidade de números significativos dos parâmetros analisados não foi modificada. O ponto de partida, para a interpretação das tabelas, é a análise dos resultados das linhas amostra e colunas. O título amostra refere-se ao fator pontos de coleta. Quando o F é maior do que o F crítico, a hipótese nula não pode ser aceita. Isto significa que, com 95% de confiança, as concentrações médias são significativamente diferentes nos quatro diferentes pontos de amostragem. Vale destacar que esta situação só ocorreu para as variáveis Turbidez e pH, ou seja, não há variação da qualidade da água ao longo do trecho monitorado para as outras variáveis avaliadas. O título colunas refere-se aos resultados do fator estações climática. Quando o F é menor do que o F crítico, a hipótese nula pode ser aceita. A aceitação da hipótese nula indica que não há variabilidade da qualidade da água ao longo das estações do ano, ou seja, não ocorreu nenhuma alteração significativa nas concentrações médias nas estações amostradas. A partir da observação das Tabelas 8 a 13 pode-se concluir que a única variável que não se alterou, em relação às estações climáticas, foi o STS. Os resultados das medidas físicas e químicas da água realizadas na bacia em estudo durante o período de cheia (março de 2010) estão apresentados nas Tabelas 14 a 20. Já Os resultados das medidas realizadas na estiagem (setembro/outubro) estão representados nas Tabelas 21 a 27. Tabela 14. Análise da Turbidez realizada na cheia Pontos Turbinez (UNT) J1 53,7 J2 J3 Mínimo Media Máximo 54,5 48,9 54,4 60,5 53,7 50 49,3 52,5 57 56 55,7 52,9 55,725 58,3 59 60 60,5 57 59,125 60,5 05/04/10 06/04/10 07/04/10 Mínimo Media Máximo 25 33,5 51 60,5 48,9 49,3 57 52,9 58,3 J4 57 Dias 04/03/10 Tabela 15. Análise de Cloreto realizada na cheia Pontos Cloreto (mg/L) J1 51 28 25 30 J2 38 J3 45 20 29 34 20 30,25 38 46 40 47 40 44,5 47 35 42 48 Mínimo Media Máximo J4 35 47 48 38 Dias 04/03/10 05/04/10 06/04/10 07/04/10 Tabela 16. Análise do pH realizada na cheia Pontos Ph J1 7,6 7,59 7,44 7,54 7,44 7,5425 7,6 J2 7,4 7,66 7,4 7,46 7,4 7,48 7,66 J3 7,43 7,4 7,36 7,34 7,34 7,3825 7,43 J4 7,47 7,4 7,63 7,48 7,4 7,495 7,63 Dias 04/03/10 05/04/10 06/04/10 07/04/10 Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 125 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Tabela 17. Análise da Condutividade realizada na cheia Pontos J1 Condutividade (μs/cm) 43,1 46,2 48,2 53,2 Mínimo Media Máximo 43,1 47,675 53,2 J2 42,3 45,3 47,3 50,3 42,3 46,3 50,3 J3 46,9 47,8 49,8 49,1 46,9 48,4 49,8 45,1 47,675 49,3 Mínimo Media Máximo J4 47,8 45,1 48,5 49,3 Dias 04/03/10 05/03/10 06/03/10 07/03/10 Tabela 18. Análise do Oxigênio Dissolvido (OD) realizada na cheia Pontos OD (mg/L) J1 5,7 6,7 6,3 5,9 5,7 6,15 6,7 J2 5,2 6,5 6,1 5,9 5,2 5,925 6,5 J3 5,4 5,9 5,9 5,7 5,4 5,725 5,9 J4 5 5,7 5,7 5,4 5 5,45 5,7 Dias 04/03/10 05/03/10 06/03/10 07/03/10 Mínimo Media Máximo 1,9 2,225 2,6 Tabela 19. Análise do Nitrato realizada na cheia Pontos J1 Nitrato (mg/L) 2,3 1,9 2,6 2,1 J2 2,5 1,7 2,1 2 1,7 2,075 2,5 J3 2,8 2,3 2,3 2,3 2,3 2,425 2,8 J4 2,9 2,1 2,3 2,3 2,1 2,4 2,9 Dias 04/03/10 05/03/10 06/03/10 07/03/10 Mínimo Media Máximo Tabela 20. Análise dos Sólidos Totais em Suspensão realizada na cheia Pontos STS (g/L) J1 0,065 0,125 0,195 0,23 0,065 0,15375 0,23 J2 0,195 0,16 0,2 0,265 0,16 0,195 0,265 J3 0,115 0,16 0,215 0,195 0,115 0,17125 0,215 J4 0,14 0,17 0,21 0,185 0,14 0,17625 0,21 Dias 04/03/10 05/03/10 06/03/10 07/03/10 Mínimo Media Máximo 38,9 39,775 40,5 Tabela 21. Análise da Turbidez realizada na estiagem Pontos J1 126 Turbidez (UNT) 40,5 39,6 38,9 40,1 J2 40 38,4 43,7 40,6 38,4 40,675 43,7 J3 42,9 38,8 40 39,6 38,8 40,325 42,9 J4 47,6 41,2 42,5 40,8 40,8 43,025 47,6 Dias 30/09/10 01/10/10 02/10/10 03/10/10 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Tabela 22. Análise de Cloreto realizada na estiagem Pontos Cloreto (mg/L) J1 44,7 J2 J3 Mínimo Media Máximo 51,5 44,7 50,15 55,5 55,6 50 40,3 49,225 55,6 56 53,6 46,9 51,45 56 48 51,125 55,5 Mínimo Media Máximo 55,5 48,9 40,3 51 46,9 49,3 J4 49,5 48 51,5 55,5 Dias 30/09/10 01/10/10 02/10/10 03/10/10 Tabela 23. Análise do pH realizada na estiagem Pontos Ph J1 7,02 7,04 6,9 7,04 6,9 7 7,04 J2 6,88 7 6,94 6,92 6,88 6,935 7 J3 6,9 6,91 6,58 7 6,58 6,8475 7 J4 6,95 6,97 6,87 6,78 6,78 6,8925 6,97 Dias 30/09/10 01/10/10 02/10/10 03/10/10 Mínimo Media Máximo 81,8 81,9 85,4 Tabela 24 Análise da Condutividade realizada na estiagem Pontos J1 Condutividade (μs/cm) 85,4 81,9 81,8 82,8 J2 78,9 J3 86,5 85,6 80,2 81,9 80,2 85,6 78,9 78,3 80,9 80 80,9 78,3 86,5 J4 86,7 81,5 85,5 86,9 85,5 81,5 86,7 Dias 30/09/10 01/10/10 02/10/10 03/10/10 Mínimo Media Máximo Tabela 25. Análise do Oxigênio Dissolvido (OD) realizada na estiagem Pontos OD (mg/L) J1 4,9 4,7 4,4 5,3 4,4 4,7 4,9 J2 5,1 4,7 4,4 4,1 4,4 4,7 5,1 J3 5,4 4,9 4,3 5,1 4,3 4,9 5,4 J4 5 5,3 5,3 5,1 5,3 5,3 5 Dias 30/09/10 01/10/10 02/10/10 03/10/10 Mínimo Media Máximo 1,8 1,3 2,1 Tabela 26. Análise do Nitrato realizada na estiagem Pontos J1 Nitrato (mg/L) 1,8 1,3 2,1 2,1 J2 2 1,7 1,3 2 1,3 1,7 2 J3 2,5 1,9 1,4 2,3 1,4 1,9 2,5 J4 2,1 2 1,7 2,3 1,7 2 2,1 Dias 30/09/10 01/10/10 02/10/10 03/10/10 Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 127 Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Tabela 27. Análise dos Sólidos Totais em Suspensão realizada na estiagem Pontos J1 STS (g/L) Media Máximo 0,095 0,15675 0,21 0,129 0,193 0,21 J2 0,195 0,145 0,203 0,215 0,145 0,1895 0,215 J3 0,102 0,112 0,205 0,2 0,102 0,15475 0,205 0,1 0,15825 0,225 J4 0,1 0,1 0,208 0,225 Dias 30/09/10 01/10/10 02/10/10 03/10/10 6. Discussão Ressaltando o conceito defendido por Tundisi (2005), a utilização da bacia hidrográfica como unidade de planejamento de estudo é essencial devido as suas características, as quais possibilitam a integração multidisciplinar entre diferentes sistemas de gerenciamento, estudo, atividades ambientais e aplicações adequadas de tecnologias avançadas. A progressiva deterioração da qualidade da água tem despertado a necessidade do desenvolvimento de ações integradas de gerenciamento e monitoramento deste recurso, que visam à diminuição dos conflitos de uso. O gerenciamento apresenta ser uma ferramenta muito eficaz na mitigação de impactos causados na bacia. De acordo com o conceito adotado por Lanna (1999) e Mota (1997) o gerenciamento deve incluir um conjunto de ações destinado à regular na prática operacional o uso, controle, proteção e conservação do ambiente, e avaliar a conformidade da situação corrente com os princípios doutrinários estabelecidos pela política ambiental. O gerenciamento dos recursos hídricos é um conjunto de ações que garante às populações e às atividades econômicas uma utilização otimizada da água, tanto em termos qualitativos como quantitativos. A utilização das análises estatísticas relativamente simples, com a aplicação de conceitos básicos, permitiu a determinação de indicadores para avaliar a bacia do rio Jaú. Desta maneira foi possível verificar as 128 Mínimo 0,095 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica relações existentes entre as estações climáticas e os pontos de análises. É importante destacar o eficiente uso da modelagem matemática para avaliar possíveis alterações na qualidade ambiental e “prever” situações futuras através da construção de cenários. Os resultados da avaliação da qualidade da água na bacia do rio Jaú demonstraram variações espaço-temporais que refletem sobremaneira as atividades humanas e ocupação do solo existente. Com os resultados da ANOVA é possível compreender que, dentre as duas estações climáticas as condições do corpo hídrico sofrem alterações, ou seja, o aumento da vazão ocasionado pela elevação do índice pluviométrico melhorou de forma significativa as condições de autodepuração do corpo hídrico. Por exemplo, a concentração de oxigênio dissolvido é alterada durante o ano hidrológico. O levantamento preliminar indica a necessidade de estudos nas áreas de poluição aos cursos d´água e caracterização da disponibilidade hídrica, estes estudos poderão ter início a partir deste trabalho. Caracterização Ambiental e Avaliação da Qualidade da Água da Bacia Hidrográfica do Rio Jaú (SP) Referências Bibliográficas BARRELA, W. PERERE JR, M., SMITH, W. S, MONTAG. L. F. A. AS relações entre as matas ciliares, os rios e os peixes. In RODRIGUES, R . LEITAO FILHO, H.F. Matas Ciliares- conservação e recuperação. Sao Paulo: Edusp, 2001. p. 1187-207. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 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São Carlos: Rima, Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 129 Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto Fernando Girardi de Abreu¹ Ricardo Adriano Martoni Pereira Gomes² RESUMO ABSTRACT O processo de fundição de metais envolve o uso de um molde, cujos materiais são argila, areia de base, areia de retorno e aditivos. A areia tem a possibilidade de ser reutilizada algumas vezes, através de técnicas de reutilização específicas; porém, o seu uso contínuo ao longo do tempo não é possível, devendo assim o material ser descartado. Esse sub-produto despendido em larga escala pelas indústrias no processo de fundição de metais é então destinado a aterros sanitários, onerando a empresa geradora do resíduo com os custos do transporte, caracterizando-o como um passivo ambiental a ser gerenciado adequadamente. Testes elaborados com a areia de fundição residual demonstram a viabilidade de utilizá-lo no processo de produção de concreto asfáltico e outros artefatos de concreto, reinserindo esse subproduto novamente na cadeia produtiva. Esta pesquisa visa elaborar uma revisão bibliográfica dos processos já utilizados no reaproveitamento desse resíduo, a análise sistemática das normas de órgãos públicos referentes ao seu uso ambientalmente responsável e a análise de dados de empresas regionais de fundição que utilizam tais procedimentos no processo de descarte desse sub-produto. The process of metal casting involves the use of a mold, whose materials are clay, sand (base and return) and additives. The sand has the possibility to be reused a few times through specific reuse techniques, but their continued use over time is not possible, so the material must be discarded. This sub-product spent on large-scale industries in the process of casting metal is then designed to landfills, overburdening the company generating the waste with the shipping costs, characterizing it as an environmental damage to be managed properly. Tests made with the foundry sand waste demonstrate the feasibility of using it in production of asphalt concrete and other concrete artifacts, reinserting it again in the sub-product supply chain. This research had the purpose of developing a literature review of the processes already used in the reuse of such waste, the systematic analysis of the standards of government agencies regarding their use, environmentally responsible and analysis of regional casting using such procedures in the disposal of this sub-product. ¹ Aluno do Curso de Engenharia Ambiental – Bolsista do Programa de Iniciação Científica do UniSEB – COC. [email protected] ² Professor Doutor, orientador do Programa de Iniciação Científica do UniSEB – COC [email protected] 130 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica 1. Introdução A geração de resíduos pela humanidade torna-se uma constante a partir da sua transformação da condição de nômade para sedentário, consolidando-se em um local determinado e estabelecendo esse como território. Soma-se a isso o crescimento exponencial da população, através da história, devido ao aumento da expectativa de vida e ao declínio das taxas de mortalidade, e obtém-se como produto o agravamento do problema da disposição dos resíduos gerados. Tal crescimento populacional, juntamente com as demandas geradas pela cultura consumista na qual estamos inseridos, fez com que a humanidade passasse a pressionar a natureza quanto à sua capacidade de absorver os impactos gerados pelas atividades humanas. Assim, é urgente a necessidade de se buscar formas alternativas e menos impactantes de se utilizar os recursos naturais, sob pena de esgotamento dos ativos ambientais e de graves conseqüências ecológicas. De acordo com Pablos (apud BONET, 2002), ... uma das questões de fundamental importância para a sociedade é a necessidade de reciclar ou reaproveitar lixos, rejeitos e resíduos por ela gerados, como forma de recuperar matéria e energia, preservando recursos naturais, oferecendo uma menor degradação do meio ambiente e proporcionando melhorias nas condições de vida das comunidades. As indústrias de fundição têm significativa participação na história da sociedade desde a antiguidade, dado que a descoberta da fundição (5000 a.C.) é um marco histórico da humanidade, que passa a denominar essa época como Idade dos Metais. Os primeiros objetos foram fundidos em cobre, ao qual se acrescentou depois o estanho – originando o bronze. Há 3500 anos, iniciou-se a fundição do ferro, que substituiu a pedra na confecção de armas. A partir daí, as cidades cresceram em regiões do Egito e do Oriente e começaram a surgir os primeiros registros escritos – marcos da passagem para a História. (Panorama adaptado de Arruda, J.J de Andrade História Antiga e Medieval, São Paulo, Ática, 1976 - pp. 39 - 40). Atualmente, são inúmeros os campos de atuação das indústrias fundições, com destaque aos ramos automotivo, agroindustrial, doméstico e bélico. A disposição dos resíduos gerados por esse ramo industrial, principalmente a areia de fundição, é extremamente oneroso aos empresários do ramo. Estudos apontam que sua disposição final em células de aterros industriais classe II pode custar aproximadamente R$ 70,00/ton. (setenta reais), significando no caso da geração de 2000 ton/mês um custo adicional de R$ 140.000,00 (cento e quarenta mil reais) por mês para a indústria (MARIOTTO apud BONET, 2002). As empresas de fundição de metais são conceituadas como de baixo desempenho ambiental devido ao fato de consumirem grandes quantidades de recursos naturais e de gerarem grandes volumes de poluentes. De acordo com Marioto & Bonin (1996, apud MATOS & SCALTCH, 2000) ... o custo da geração de tais resíduos já afeta a economia destas empresas no Brasil e a situação tende a agravar-se devido a fatores como o aumento dos custos de disposição dos resíduos, a progressiva carência de áreas adequadas para depositá-los e a eminente exigência de adequação às normas ambientais internacionais. No processo de fundição, a areia é utilizada como produto na elaboração de um molde, composto basicamente por areia e substâncias fenólicas, onde é derramado o metal fundido que dará origem ao metal sólido, como pode ser observado na Figura 1.1. A resina fenólica é obtida através da reação Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 131 Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto de condensação e polimerização entre fenol e aldeído. Normalmente, utiliza-se o aldeído fórmico (também chamado de “Formol”) e o hidroxibenzeno (ou “Fenol comum”). As resinas fenólicas podem apresentar-se na forma líquida ou sólida, de acordo com a proporção de cada reagente e do tempo de polimerização e são solúveis em álcool, éteres e cetonas. A areia tem a possibilidade de ser reutilizada algumas vezes, através de técnicas de reutilização específicas; porém, o seu uso contínuo ao longo do tempo não é possível, devendo assim o material ser descartado. Esse material descartado, pode se enquadrar na categoria de resíduo classe II (não perigoso - NBR 10004/2004) ou ainda ser considerado resíduo classe I (perigoso NBR10004/2004), dependendo do processo de moldagem e das características químicas do resíduo. novos espaços para essa finalidade, além da diminuição de custos para a empresa geradora do resíduo e de adequação as normas ambientais vigentes. O concreto asfáltico, também chamado de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), é um revestimento flexível, resultante da mistura a quente, em usina apropriada, de agregado mineral graduado (areia principalmente), material de enchimento (filer) e material betuminoso, espalhada e comprimida a quente. De acordo com a decisão de diretoria CETESB nº 152/2007, “o resíduo industrial areia de fundição tem apresentado viabilidade ambiental para a sua reutilização na produção de concreto asfáltico e artefatos de cimento ou de concreto, desde que observados critérios específicos estabelecidos”. Dessa maneira, compreender melhor os processos e as normas necessários para o reaproveitamento desse resíduo é fundamental para que se melhor gerencie a destinação final desse passivo. 2. Processo de Fundição Figura 1.1 – Processo de moldagem de peças fundidas através da utilização de macho em molde de areia Fonte: ENCARTA, 2006. Segundo Mariotto (2001), em todo o país, as empresas de fundição de metais geram na ordem de 1.700 mil toneladas por mês de areias contaminadas. Devido a esse grande volume de areia residual decorrente do processo de fundição e da necessidade de se diminuir a carga de resíduos destinados aos aterros, a reutilização desse subproduto em outras atividades é uma necessidade que atende as premissas da sustentabilidade, pois promove o aumento de sua vida útil e conseqüente postergação da ocupação de 132 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica A história da fundição no Brasil remonta aos anos de sua ocupação, datada entre 1530 e 1640, na qual juntamente com colonos, alguns mestres e artesãos conhecedores da técnica da fundição foram trazidos para cá para trabalhar na p rodução de enxadas. “Esses artífices tinham por incumbência atender às necessidades de fornecimento de instrumentos para o trabalho na lavoura de subsistência e de peças necessárias aos estabelecimentos dos primeiros (...). No início do século XVIII, o ferro já começava a se tornar imprescindível aos povoadores para a fabricação de utensílios como fechaduras, ferrolhos, pregos, cravos, enxadas, foices, facões, pás, armas e cunhas para o aprisionamento de índios e negros” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE METAIS, 1989). O conhecimento da fundição de Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto metais cresceu devido a experiências de como melhor fazer os moldes e verter metais, que foi passado de geração a geração, e aperfeiçoada continuamente, sendo que hoje esta prática é um elemento essencial para a qualidade das atividades de fundição. Em 2001, segundo a ABIFA, o Brasil era o 11º produtor mundial de fundidos, produzindo quase 1.600.000 toneladas/ano, em cerca de 1000 empresas de pequeno e médio porte, empregando cerca de 40.000 trabalhadores (BONET, 2002). O processo de fundição de metais consiste na realização das seguintes etapas, conforme demonstrado pelo fluxograma da Figura 2.2: - Modelação: São todos os requisitos necessários para a confecção de um modelo em que será reproduzida a peça fundida. O modelo pode ser fabricado em madeira, metal, resinas ou outros materiais (PERINI, 1986). - Machos: Para que se produzam as superfícies internas em certas peças fundidas, colocam-se, no interior dos moldes de areia, peças sólidas conformadas ou machos feitos de uma mistura compatível com o metal a ser vazado e com o tamanho da peça fundida. Após o vazamento, o macho é removido do interior da peça, deixando a forma interna desejada. (KONDIC, 1973) - Fusão: Nesta etapa, é obtido o metal no estado líquido com a utilização de fornos de fusão, como forno de cadinho, rotativo a óleo, cubilô, entre outros (MORAES, 1978). - Enchimento do molde com metal líquido (vazamento). De acordo com Maciel (2005), “após o processo de fusão, o metal no estado líquido é vazado no molde à temperatura adequada e, quando possível, com vazão controlada. A técnica de vazamento consiste na colocação da borda do cadinho ou da panela o mais próximo possível do canal de entrada do molde, diminuindo a distância de queda do metal através do ar.” - Desmoldagem – Depois que o material é vazado, a peça sofre processo de solidificação no molde e, após período de resfriamento (que depende do tipo de peça, do tipo de molde e de metal), ocorre o processo de desmoldagem, que tem por finalidade separar a areia dos fundidos (TEIXEIRA, 1993) - Limpeza, quebra de canais e rebarbas (limpeza e rebarbação) – consiste na separação (quebra ou corte) entre a peça e os canais de alimentação e massalotes. Os massalotes retornam ao forno para uma próxima fusão, sendo denominada retorno. Também se realizam operações de rebarbação e jateamento de areia na etapa de acabamento (MACIEL, 2005). Figura 2.2 - Fluxograma das etapas de operação de uma fundição. Fonte: SHULZ, S.A. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 133 Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto 3. Estudo de Caso: Utilização de Areia de Fundição Residual para uso em Argamassa Armange et al (2005) apresentam o s resultados dos testes realizados sobre argamassas fabricadas com dois resíduos da indústria de fundição: areia de exaustão e areia de retorno. Foram elaboradas análises de caracterização de argamassas com diferentes concentrações de resíduos, inserindo tais resíduos ao agregado e verificando suas peculiaridades. Foram elaborados ensaios de granulometria, morfológica e estrutural, mecânicos, de moldagem e cura dos corpos-deprova, de lixiviação e de solubilização. O estudo avalia duas espécies do mesmo resíduo, originados de diferentes etapas do processo produtivo, e caracterizaos de acordo com suas peculiaridades físicoquímicas amostrais. O fluxograma da figura 3.1 estabelece as entradas e saídas de materiais no decorrer do processo: Com relação à resistência de compressão axial, foram elaboradas análises com diferentes concentrações de agregados para os resíduos de exaustão (A) e de retorno (B). O resíduo da exaustão apresentou resistência mecânica constante, enquanto o resíduo da areia de retorno demonstrou queda progressiva de sua resistência: Figura 3.2 - Valores médios de resistência mecânica em compressão de argamassas elaboradas com resíduos A e B. Fonte: ARMANGE et al, 2005. Quanto à lixiviação e a solubilização, ambas as amostras apresentaram excesso de alumínio e a areia de exaustão apresentou excesso de fluoretos. Dessa maneira, pode-se indicar que diminuindo a concentração do resíduo proveniente da areia de exaustão pode-se eliminar o excesso de fluoretos para que a amostra se torne adequada às normas vigente: Figura 3.1 - Fluxograma sucinto do processo de fundição e geração de resíduos Fonte:ARMANGE et al, 2005. 134 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto Tabela 3.1 – Resultados de ensaios de lixiviação dos resíduos. Fonte: ARMANGE et al, 2005. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 135 Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto Tabela 3.2 – Resultados do ensaio de solubilização Fonte: ARMANGE et al, 2005. A decisão de Diretoria CETSB nº. 152/2007, que dispõe sobre procedimentos para gerenciamento de areia de fundição para uso em concreto asfáltico e outros artefatos de concreto, estabelece que para o reuso da areia originária dos processos de fundição em concreto asfáltico e artefatos de concreto, o material analisado necessita apresentar os seguintes limites de concentração: Tabela 3.3 – Concentração máxima de poluentes no lixiviado. (Decisão de Diretoria CETESB Nº. 152/2007) 136 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto Tabela 3.4 - Concentração máxima de poluentes no lixiviado neutro. Fonte: Decisão de Diretoria CETESB Nº. 152/2007. Dessa forma, a partir dos resultados das análises do material residual e comparando-os com os padrões da decisão CETESB 152/2007, conclui-se não haver óbice ao uso dessa areia no incremento do agregado utilizado na fabricação, devendo haver adequações quanto a concentração dos resíduos provenientes da areia de fundição para que esta se torne adequado ao reuso de acordo com as normas técnicas da construção civil e as normas vigentes para o reuso em concreto asfáltico. 4. Conclusões A exaustão dos recursos naturais têm sido uma constante em nossa sociedade devido ao consumo desenfreado e a cultura utilitarista dos re cursos naturais. A escassez de tais recursos finitos se dará em um dado momento e, dessa maneira, formas alternativas de reutilização de resíduos e a sua transformação em subproduto para retorno a cadeia produtiva. O presente trabalho utilizou-se de dados da região de Ribeirão Preto, referentes às indústrias de fundição, para determinar parâmetros econômicos e ambientais relativos ao reaproveitamento do subproduto areia de fundição nos usos descritos anteriormente. Além disso, caracterizou os benefícios ambientais e econômicos potencias para a região de Ribeirão Preto através de gráficos e tabelas, e demonstrando a necessidade de políticas públicas mais auspiciosas para o seu reaproveitamento, coletando dados de demanda por região e convênios com empresas que sejam potenciais utilizadoras desse subproduto. Análises particulares para cada amostra de areia são necessárias para que se demonstre a sua real capacidade de uso sem impactar outras instâncias do ambiente, principalmente referente à solubilização do composto e seu potencial de lixiviação no solo. Outras formas de reaproveitamento também têm potencial de serem empregadas, como a utilizada por Mariotto (2001) com sua máquina regeneradora de areia de fundição, que garante o tratamento do fenol e de outros potenciais contaminantes da areia de fundição. Em adição, pode-se concluir através desta pesquisa que aspectos técnicos referentes à sua reutilização têm o potencial de ser economicamente viáveis já no curto prazo. Porém, aspectos políticos e empresariais tendem a frear o sucesso dessa atividade, tendo em vista que a destinação final desse subproduto é duplamente lucrativa às empresas administradoras de aterros sanitários. Lucra-se tanto com a sua deposição junto a o aterro, quanto com a sua utilização na cobertura final do aterro, o que traz economia de imensos volumes que teriam de ser retirados de zonas de empréstimo. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 137 Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto Referências bibliográficas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 10.004. Resíduos Sólidos – Classificação. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p.33, 1987 a. ARMANGE, L C; NEPPEL, L F; Enori GEMELLI; ALMEIDA, N H. 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Propostas de reaproveitamento de areia de fundição em sub-base e bases de pavimentos flexíveis, através de sua incorporação a solos argilosos – Universidade de São Paulo – Escola de engenharia de São Carlos (2008) 138 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Avaliação de Aspectos Ambientais, Técnicos e Econômicos Ocasionados pelo Reaproveitamento do Subproduto “Areia De Fundição” na Produção de Concreto Asfáltico e Artefatos de Concreto pelas Empresas da Região de Ribeirão Preto KONDIC, Voya. Princípios metalúrgicos de fundição. São Paulo: Polígono, 1973. LERIPIO, A.A. GAIA : Um método de Gerenciamento de Aspectos e Impactos Ambientais. Florianópolis, 2001, 161p. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). UFSC, 2001. MACIEL, Cristiane B. Avaliação da geração do resíduo sólido areia de fundição visando sua minimização na empresa metalcorte metalurgia – fundição. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005 MARIOTTO, L. C. Regeneração de Areias de Fundição. 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Universidade Estadual de Campinas, 1993. TOCHETTO, M.R.L. Resíduos Sólidos Industriais : Gerenciamento e Destinação Final – Módulo 1. Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental-Secção RS, 2000, 73p. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 139 Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional Ricardo Pina de Vassimon Brandão¹ Patrícia Magna² Henrique Fabrício Gagliardi3 RESUMO ABSTRACT A criação de ambientes de grades computacionais é uma opção interessante que permite disponibilizar recursos tanto de armazenamento de dados quanto de processamento. Este trabalho concentrase na utilização do ambiente de uma grade com o propósito serem utilizados por serviços de simulação que podem dispor de bases de dados distribuídas e de recursos de processamento. Especificamente, este trabalho tem como objetivo a criação de uma interface que realize a validação dos dados antes da submissão da tarefa, tornando a submissão mais simples e padronizada, facilitando a forma como o usuário deste serviço realiza a interação com o simulador. Para tanto são criados metadados XML para descrever os parâmetros de um simulador e através da interface é realizada a validação destes, usando o que está definido em um XML schema. Apenas a depois da verificação e validação dos valores passados como parâmetros é feita a submissão de tarefas numa grade por diferentes módulos. Para elaboração do projeto foi utilizado para a criação do ambiente de grade Globus Toolkit versão 4. Para realização dos testes foi utilizado módulo de simulação da dengue IntegraModel que realiza simulações para realizar a previsão de epidemias de doenças infecto-contagiosas, em particular a dengue. This work focuses on the use of a grid environment with the purpose to be used for simulation services that may have distributed databases and processing resources. Specifically, this work aims to create an interface that performs data validation prior to submission of the task, making the submission more simple and standardized, facilitating the way the user interact to with the simulator. For this purpose, we created XML metadata to describe the parameters of a simulator and using the developed interface is performed to validate these using what is defined in an XML schema. Only after the verification and validation of the values passed as parameters, these are passed to the submission of a simulation grid of different modules. The methodology defined for the development of this project was to conduct studies on the grid environment, its infrastructure and components that implement them. More specifically, the middleware Globus Toolkit version 4. To perform the tests was used IntegraModel simulation module that performs simulations to make the prediction of epidemics of infectious diseases, particularly dengue fever. 1.Introdução De acordo com Ian Foster (FOSTER, 2002) uma grade computacional é um sistema ¹ Graduando em Ciência da Computação – Bolsista do Programa de Iniciação Científica do UniSEB- COC. Ribeirão Preto- SP. ² Doutora em Física Computacional IFSC/USP- Professora e Orientadora de Iniciação Científica – UniSEBCOC. Ribeirão Preto- SP ³ Mestre em Ciência da Computação Universidade Católica de Santos – Professor e Co-orientador Iniciação Científica – UniSEB- COC – Ribeirão Preto -SP. 140 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica que coordena recursos que não estão sujeitos a um controle centralizado, utilizando protocolos e interfaces padronizados, abertos e não específicos para oferecer qualidades de serviços não triviais. Para se utilizar estes recursos compartilhados é necessário que existam padrões e uma infra-estrutura implementados, que gerenciam e controlam as tarefas e os recursos disponíveis. É necessário também que exista um determinado conjunto de políticas de compartilhamento dos recursos entre as entidades, formando uma ou mais organizações virtuais (VO). E s s a s organizações virtuais são responsáveis pelo compartilhamento de recursos existente em um ambiente de grade. Conforme o conceito de grade computacional se desenvolvia, foram necessários o desenvolvimento de padrões, ambientes, bibliotecas e middlewares que possibilitassem a construção da mesma, voltadas para a segurança, gerência de dados e de execução e serviços. Da necessidade da formalização dos padrões foi desenvolvida a OGSA (Open Grid Services Architecture), definindo um conjunto de capacidades e comportamentos fundamentais em um sistema em grade. Esta padronização foi definida pelo Open Grid Forum4, uma comunidade de usuários e desenvolvedores visando padronizar a arquitetura de uma grade. No ambiente de computação em grade, devem existir ferramentas para gerenciamento e controle das tarefas e dos recursos disponíveis em um ambiente distribuído. Um conjunto de ferramentas muito utilizado para gerenciar domínios distintos é o Globus Toolkit5. O Globus Toolkit versão 4 (GT4) (FOSTER, 2005) é uma ferramenta bastante estudada e utilizada em vários projetos, dentre eles o projeto IntegraEpi (SILVA et al, 2007). O objetivo do projeto IntegraEpi 4 5 é auxiliar os estudos de doenças epidemiológicas como a dengue. Este projeto teve em seu início o objetivo auxiliar os estudos de doenças epidemiológicas como a dengue usando as bases de dados das secretarias de saúde e que usando uma modelagem simular cenários que pudessem ser usados para inferir, por exemplo, como ocorreria o avanço da doença nas várias regiões de uma cidade. Esse projeto desenvolvido por um grupo de pesquisadores de diferentes instituições originou uma linha de pesquisa dentro das faculdades COC (ANDRADE, 2008) (PESSOA, 2008) (SILVA, 2008) (SOUZA, 2008) (THOMAZ, 2008). Utilizando os componentes do GT4 foi desenvolvido como projeto o serviço de simulação IntegraModel. O objetivo desse serviço de simulação (GAGLIARDI, 2007) foi desenvolver uma primeira versão do mecanismo de previsão de epidemias do sistema IntegraEPI baseando-se em modelos epidêmicos para efetuar simulações a partir de dados reais disponíveis (GAGLIARDI, 2006). Essas simulações, realizadas dentro de um ambiente de grades computacionais, tem por objetivo maior oferecer aos agentes de saúde a capacidade de testar a eficácia de diferentes reações antes que surtos reais aconteçam ou mesmo decidir sobre um conjunto de contramedidas possíveis que podem ser estudadas previamente em uma população virtual modelada a partir de dados reais. Este trabalho deu continuidade a um particular serviço do IntegraEpi, o serviço de simulação. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo criar uma forma de submeter tarefas para o serviço de simulação dentro de um ambiente de computação em grade de forma mais simples, facilitando a maneira como o usuário deste serviço realiza essa tarefa hoje. Esse serviço deve apresentar uma lista para a escolha de vários simuladores www.gridforum.org/ www.globus.org Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 141 Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional existentes no ambiente e, através da criação de metadados que descrevem a interface de comandos disponível para cada módulo, escolher parâmetros e cenários a serem simulados. Em seguida, o serviço de simulação deve submeter essa tarefa ao ambiente de grade, sempre fazendo uso de escalonadores de tarefas previamente configurados para distribuir tarefas aos vários nós que compõem a grade. Neste trabalho foi desenvolvida uma interface do serviço de simulação utilizando o conceito de web services. Em seguida, foi utilizado para realização dos testes o módulo de simulação da dengue IntegraModel que realiza simulações para realizar a previsão de epidemias de doenças infecto-contagiosas, em particular a dengue. Este artigo está organizado da seguinte forma: na seção 2 são apresentados as características principais de simuladores que utilizam um ambiente de computação em grade, em particular é descrito o serviço de simulação IntegraModel do projeto IntegraEpi que foi utilizado para a fase de teste. Na seção 3 é apresentada a descrição do desenvolvimento da interface desenvolvida neste trabalho. Finalmente, os resultados, as conclusões e propostas para continuidade deste trabalho são apresentadas na seção 4. 2. Simulação Utilizando Serviços de Computação Paralela e Distribuída Em computação, simulação consiste em empregar técnicas matemáticas com o auxílio de computadores para imitar um processo ou operação no mundo real. Em uma simulação é possível estudar um sistema modelado, verificando o seu funcionamento e o seu comportamento. A modelagem é feita utilizando um modelo matemático, que tenta encontrar soluções analíticas que permitam a previsão do comportamento do sistema a partir de um conjunto de parâmetros e condições iniciais. Por depender da entrada de variáveis 142 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica para prever os estados da simulação, este ramo de atividade exige uma grande capacidade de processamento e armazenamento para concluir seus cálculos. Este requisito se encaixa perfeitamente na necessidade de se utilizar um ambiente de grade computacional para o processamento destes cálculos, assim como para o compartilhamento do resultado. Um dos projetos desenvolvidos para se utilizar da estrutura de grade para realizar simulações é o IntegraEPI, um sistema de previsão e analise de epidemias que será abordado no próxima subseção. 2.1. IntegraEPI Por fazer parte do objetivo deste trabalho, nesta seção será descrito o sistema IntegraEPI. O IntegraEPI [SILVA et al, 2007] foi um projeto em conjunto entre os programas de pós-graduação em Informática e pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Católica de Santos e atualmente abrange outras instituições como a Unifesp, Faculdades COC de Ribeirão Preto, Secretaria Municipal de Santos, Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e a Superintendência de Controle de Epidemias (SUCEN). Seu objetivo é o desenvolvimento de um sistema distribuído em larga escala de tempo-espaço de integração, visualização, monitoramento, modelagem e análise de dados epidemiológicos com base na tecnologia de Grade. Dentro deste projeto, o serviço de simulação do IntegraEPI, denominado IntegraModel. Este módulo de simulação, IntegraModel, vem sendo construído para agir como um mecanismo de execução de simulações que servirão para a previsão do comportamento de doenças infectocontagiosas tendo como aplicações modelos epidêmicos. A Figura 1 apresenta um esquema simplificado da arquitetura do IntegraEPI. É dado foco principalmente em três componentes: o serviço de dados e integração Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional no grid GISE (Grid Integration Service) (GALLO, 2007), o serviço de simulação IntegraModel, e o serviço de Análise IntegraAnalysis (REZENDE et al, 2006). indicadores capazes de determinar o risco de alguma doença se transformar em epidemia. O IntegraModel é o módulo responsável pelas simulações dentro do Figura 1: Arquitetura do Sistema IntegraEPI simplificada Fonte: CAVICCHIOLI, GAGLIARDI et al, 2006 (apud GAGLIARDI, 2007). IntegraEPI, sendo ele dividido em duas partes: um simulador do modelo da dengue desenvolvido na linguagem C de programação, e o serviço de simulação capaz de receber as requisições de clientes para processar tarefas submetidas pelos clientes. Para fazer uso do serviço IntegraModel, o cliente deverá informar três parâmetros em um arquivo de configuração ao método que desejar, sendo eles: a máquina onde se pretende submeter a tarefa (que pode ser tanto a máquina que hospeda o serviço em si ou um front end), a cidade em que se deseja simular e os parâmetros do modelo desejado, respectivamente. O serviço de simulação realiza as transferências dos arquivos necessários para a simulação (como os mapas das cidades entre outros) utilizando uma classe cliente do GridFTP. O GISE é um serviço de integração de dados que através de mediadores, wrappers e modelos de dados canônicos, é capaz de realizar consultas de dados em fontes heterogêneas e distribuídas, de maneira integrada. Ele mapeia todas as fontes de dados envolvidas em um modelo comum, encapsulando as diferenças sintáticas e estruturais, através de um arquivo XML. Desta forma, ele interage com os serviços do OGSA-DAI para realizar consultas, inserções e atualizações nos dados presentes no Banco de Dados. O Módulo de Análise é o componente responsável em analisar os dados da simulação, gerando informações e Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 143 Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional 2.1.1.Descrição da Simulação Serviço IntegraModel no O primeiro evento que ocorre da interação do cliente com o serviço de simulação é a autenticação dele através do Serviço de Delegação, responsável pela delegação das credenciais necessárias durante o processo de stage in e stage out. O serviço de simulação, após o recebimento da mensagem do cliente, busca os dados necessários para a configuração da rede na qual a simulação deverá ocorrer. Estes dados configurarão o Modelo Comum de Dados (MDC), que apresenta dados referentes à região na qual se está executando a simulação. Com os dados necessários para executar uma simulação na cidade desejada, uma instância de um cliente WS-GRAM (Web Service Grid Resource Allocation and Management) é criada com a definição das tarefas que se pretende executar. Esta instância é responsável pela submissão deste conjunto de tarefas ao adaptador do serviço GRAM, que se encarrega de distribuir as requisições aos escalonadores de tarefas locais que se encontrarem disponíveis. A Figura 2 representa esquematicamente a forma como uma execução do serviço IntegraModel é realizada. Nesta figura é representada a ordem em que ocorre cada evento através de numeração. 144 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Os parâmetros do simulador são passados para a instância da classe GRAM através de um vetor de string contendo seus valores. Desta forma, eles são armazenados como os parâmetros da simulação na instância JDT (Job Description Type), que contém a descrição dos parâmetros para a simulação (tais como o executável, a saída padrão e o erro padrão). Os parâmetros do simulador referemse a propriedades para a configuração da população de humanos e mosquitos, no caso do IntegraModel. Esses parâmetros configuram as regras de interação adequadas para se efetuar a simulação. Figura 2: A execução do serviço IntegraModel Fonte: GAGLIARDI, 2007. A simulação é então executada e seus resultados, que contém informações sobre o número de pessoas em cada estado a cada dia da simulação para cada realização e Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional dados referentes à posição no espaço de cada novo humano infectado que surge durante a simulação, são registrados no serviço de réplica RLS (Replica Location Service). O serviço retorna um nome lógico LFN (Logical File Name) para a aplicação recuperar o conjunto de resultados que foram obtidos. Na seqüência o cliente então passa a recuperar os arquivos que podem estar distribuídos por toda a grade através do serviço GridFTP. A partir disto, o cliente trata as informações recuperadas conforme achar necessário. 3. Desenvolvimento da Interface de Submissão Tendo apresentado como são submetidas tarefas para realização de simulação pelo serviço IntegraModel em um ambiente de computação em grade usando o GT4, agora será apresentado o trabalho desenvolvido neste projeto. Para serem feitas as simulações através do módulo de simulação epidemiológica IntegraModel é necessário passar os dados para construir a entrada que irá descrever a configuração da rede para o cenário da dengue. Com a utilização de metadados necessários para descrever os parâmetros dos simuladores que o IntegraModel utiliza, é criado uma parametrização da submissão de tarefas para o simulador. Cada modelo de simulador tem seu conjunto de parâmetros, sendo que cada documento contendo os parâmetros são diferentes uns dos outros. Desta forma, mesmo mudando o documento, o simulador consegue se adaptar a ele através de sua sintaxe. O IntegraModel funciona como um mediador entre a requisição de um cliente que deseja fazer uma simulação de algum modelo epidemiológico e os sistemas que executarão as simulações que forem enviadas a ele. Ele faz a interação com o simulador através de um documento denominado IntegraModel Definition Document, que contém o modelo de dados da doença a ser simulada e as informações básicas necessárias para cada simulador ser implantado como um recurso da grade (GALLO et al, 2007). Para que esses dados sejam utilizados corretamente como parâmetros de uma simulação, se faz necessário realizar uma validação deles para executar uma simulação. A proposta de desenvolvimento se refere à criação de uma interface de validação dos parâmetros, fornecendo os meios para se verificar os valores fornecidos pelo cliente a fim de facilitar e padronizar a submissão de tarefas para a grade computacional. Para que seja efetuada uma simulação de um cenário de epidemias, é necessário que o cliente passe ao simulador alguns parâmetros de configuração. Como exemplo de parâmetros para executar a simulação, no caso do IntegraModel, pode-se citar o número de realizações da simulação, a largura da rede dos humanos e dos mosquitos, a altura da rede dos humanos e dos mosquitos, probabilidade de mobilidade global dos humanos e dos mosquitos, tempo de vida dos mosquitos, entre outros. Em um ambiente de grade computacional que estivesse disponível um conjunto de vários simuladores, cada simulador teria seus próprios parâmetros de execução para simulações, não sendo necessariamente os mesmos. Atualmente esses parâmetros são configurados no cliente do serviço e passados como um vetor de string na classe do ClientGram para a execução da simulação. Desta forma, é possível que se passem parâmetros fora da especificação ou até mesmo inconsistentes com os esperados pelo serviço, fazendo com que a simulação seja executada com esses parâmetros, obviamente levando a erros detectados apenas durante a execução do simulador. Este cenário causaria uma perda de tempo e recursos que seriam alocados para a submissão da simulação. Portanto, utilizando o modelo Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 145 Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional comum de dados para a simulação faz com que o serviço de simulação seja capaz de validar qualquer conjunto de parâmetros informados a partir das regras descritas no documento XML daquele simulador, deixando de ser particular de cada modelo, passando a se moldar ao contexto de cada simulador. Através da criação de metadados XML (eXtensible Markup Language) que descrevem os parâmetros do simulador e do desenvolvimento de uma interface que valida esses parâmetros, é possível se verificar os parâmetros antes de mandar a simulação ser executada. A Figura 3 mostra o diagrama de classe para o validador. Através deste diagrama podemos observar que o validador possui dois atributos: o esquema, do tipo Schema, contendo as definições para os parâmetros, e o documento, do tipo Document, que possui o XML com os parâmetros. Figura 3: Diagrama de Classes do Validador Pode-se observar também que o validador possui três métodos. O primeiro método, loadSchema, carrega o arquivo contendo o schema, cujo o caminho é passado através da string, retornando o documento Schema. O método parseXMLDom é utilizado para gerar um documento descrevendo a estrutura em árvore do arquivo XML informado. O método validarXML, através de um schema e um documento contendo a estrutura do XML, confronta os valores descritos no XML com os definidos no 146 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica schema. Caso os dados contidos no XML estejam de acordo com o schema, a instância do validador retorna um valor lógico true. Em caso onde os valores não forem válidos, será retornado false e uma mensagem será mostrada indicando o parâmetro inválido e o motivo. Figura 4: Diagrama de Classes do Serviço IntegraModel O cliente do serviço envia ao simulador o arquivo XML contendo os parâmetros a serem simulados. Nele são passados parâmetros que descrevem a entrada, a descrição da população de humanos e mosquitos, e o arquivo de saída. Através do componente parse, o objeto da classe validadora verifica os valores de acordo com o esquema. Caso os valores estejam de acordo com os esperados pelo simulador, uma resposta positiva é enviada ao cliente, confirmando a submissão da simulação pelo GRAM e o início da sua execução. Caso algum parâmetro estiver fora da especificação, a resposta do validador ao cliente será uma mensagem informando qual parâmetro está inválido e o seu valor. Na Figura 4 é mostrado o diagrama de classes do serviço IntegraModel, mostrando como o serviço utiliza as classes que implementam o ambiente de grade computacional. Podemos verificar a utilização da classe validadora pelo serviço. O serviço utiliza uma instância da classe para verificar os parâmetros, submetendo a tarefa. Com isso, é possível generalizar a submissão para qualquer simulador disponível. A partir de um XML escrito através de um esquema que descreve quaisquer parâmetros, se consegue que cada requisição seja validada antes de mandar iniciar a simulação, evitando-se assim o desperdício de recursos computacionais caso a simulação fosse iniciada com parâmetros inválidos. Com a utilização de metadados, Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional o cliente passa a interagir melhor com o serviço. É possível, por exemplo, adaptar a sua interface para criar a requisição de acordo com os documentos XML. Para os parâmetros e seus respectivos tipos e intervalos aceitos, a interface desenvolvida neste trabalho permitiu ao cliente de um simulador de doenças epidemiológicas Figura 4: Diagrama de Classes do Serviço IntegraModel cada simulador, seriam mostrados quais parâmetros são necessários, de acordo com os metadados. 4. Resultados e Conclusões Através da utilização de metadados descritivos dos parâmetros, indicando fazer uma validação dos dados antes da submissão da tarefa. Demonstrou-se que é possível evitar que recursos computacionais pertencentes à grade computacional fossem desperdiçados. Também se tornou possível uma forma mais simples e padronizada para o cliente submeter tarefas da simulação, facilitando como o usuário deste serviço Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 147 Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional realiza a interação com o simulador. Foi possível uma interoperabilidade proporcionada pelo uso de XML, trazendo benefícios ao sistema. A interação entre os módulos ficou padronizada, facilitando o desenvolvimento de novos simuladores, não sendo necessário mudar o cliente ou o serviço. Sendo assim a modularização dos simuladores a partir de uma interface de simulação unificada faz com que o IntegraModel torne-se um serviço de simulação de uso geral. A interface desenvolvida neste trabalho focou apenas o módulo de previsão da dengue do IntegraModel. Para que todos os módulos de previsão de doenças possam se utilizar desta implementação é necessário generalizar os metadados dos parâmetros, tornando possível que todos os módulos se utilizem desta interface. O schema trata de definir o que cada campo do XML representa em termos de parâmetros, de acordo com a necessidade de cada simulador. A partir disto, torna-se interessante o desenvolvimento da interface do cliente se adaptando aos documentos, facilitando a sua interação com o usuário. O cliente, a partir do esquema XML, mostraria os parâmetros esperados e as suas restrições. Como continuação deste trabalho o schema poderia se tornar ainda mais geral, podendo servir para qualquer tipo de simulação. Não seria especificado para nenhum tipo de simulação, descrevendo os parâmetros de acordo com o simulador especificado. Com base no serviço de simulação, pode-se criar um mecanismo para lidar com as requisições do cliente diante dos valores informados, considerando-se a disponibilidade de recursos, consumo de memória e processamento, tornando assim o serviço mais eficiente para o cliente. 148 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Desenvolvimento de um Serviço de Simulação para um Ambiente de Grade Computacional Referências bibliográficas ANDRADE, R.C.A. Estudo de Propostas para Solucionar problema de limitação de Memória em Consultas em base de dados distribuídos usando o OGSA- DAI em um ambiente de Computação em Grade. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciência da Computação) - Faculdades COC, 2008. FOSTER,I, KESSELMAN,V, NICK, J., TUECKE, S.: The Physiology of the Grid: An Open Grid Services Architecture for Distributed Systems Integration. June/2002. Available at: http://www. globus.org/research/papers.html FOSTER, I. Globus Toolkit Version 4: Software for Service-Oriented Systems. IFIP International Conference on Network and Parallel Computing, Springer-Verlag LNCS 3779, pp 2-13, 2005. GAGLIARDI, H. F., SILVA, F. A. B., ALVES, D., Automata networks applied to the epidemiology of urban dengue fever; in International Conference on Computational Science (ICCS 2006) – Workshop on Modelling of Complex Systems by Cellular Automata, 2006, Reading, UK. Lectures Notes in Computational Science. V.N. Alexandrov et al. (Eds.): ICCS 2006 Part III, LNCS 3993, p.297-304. Springer-Verlag Berlin Heidelberg 2006. GAGLIARDI, H. INTEGRAMODEL: Um serviço de simulação de epidemias em Grades Computacionais. Dissertação de Mestrado, Universidade Católica de Santos, 2007. GALLO, E. ; GAGLIARDI, H. F. ; CAVICCHIOLI NETO, V. ; ALVES, D.; SILVA, F. A.B. “GISE: A Data Access and Integration Service for a Grid-Based Epidemic Surveillance System”. In: 40th Annual Simulation Simposium, 2007, Norfolk. Proceedings of the 40th Annual Simulation Simposium, 2007. PESSOA, L.; GAGLIARDI, H.F. Integrando um serviço de descobrimento de recursos com o sistema de simulação de epidemias integramodel utilizando o ambiente de grid globus toolkit. Trabalho de conclusão de curso. Ciência da computação. Faculdades COC. Ribeirão Preto, 2008. REZENDE, A. S., GAGLIARDI, H. F., SILVA, F. A. B., Alves, D. “IntegraEPI-GIS: A Geographic Information System to visualize and análise the spatio-temporal patterns of the spread and control of epidemics”. Spatial Epidemiology Conference, 2006, Londes. Proceeding Spatial Epidemiology Conference, 2006. SILVA, F. A. B., GAGLIARDI, H. F., GALLO, E., CAVICCHIOLI NETO, V.; PISA, I. T. ; ALVES, D. IntegraEPI: a Grid-based Epidemic Surveillance System. Healthgrid 2007 Conference, 2007, Genebra. Proceeding of Healthgrid 2007 (accepted for publication). Amsterdã: IOS Press, 2007. SILVA, R. F. ; MAGNA, P. Estudo do OGSA-DAI e OGSA-DQP na Integrac ao de Dados em um Ambiente de Computação em Grade. In: 16º SIICUSP, São Paulo, 2008. SOUZA, R.R. ; MAGNA, P. Estudo e elaboração de uma rede peer-to-peer utilizando a tecnologia JXTA visando facilitar a comunicação entre grades. In: 16º SIICUSP, São Paulo, 2008. THOMAZ, A. P. Estudo sobre a integração de uma plataforma de grades computacionais e redes peer-to-peer JXTA. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de Computação) - Faculdades COC, 2008. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 149 Identificação e classificação automática de defeitos em superfícies metálicas industriais Diego R. Moraes¹ Jean-Jacques De Groote² RESUMO Neste trabalho é apresentado um sistema para automatização do procedimento de identificação e classificação de defeitos em superfícies metálicas, utilizando técnicas de Processamento Digital de Imagens e Inteligência Artificial. Peças metálicas desenvolvidas com o propósito de oferecer superfícies de contato para equipamentos industriais são submetidas a testes para identificar defeitos que podem comprometer seu desempenho. Uma norma de qualidade específica, PT 70-3, que estabelece os padrões de classificação destes defeitos, é utilizada como base por inspetores de qualidade na seleção de peças que podem ser aproveitadas, ou que devem ser reparadas. Este processo, que exige precisão, é realizado por meio de processos manuais por inspetores de qualidade. O aplicativo desenvolvido neste trabalho recebe como entrada a imagem da superfície da peça a ser analisada e, por meio de algoritmos de segmentação, ajusta sua escala (pixel/mm) e identifica os defeitos, permitindo ao operador a realização de medições de área, largura, altura e distâncias entre os defeitos. Baseado nas restrições da norma e, de acordo com as medições realizadas, o sistema é capaz de classificar os defeitos de forma rápida e precisa. ABSTRACT This paper presents a system for automatic identification and classification of defects on metal surfaces using digital image processing techniques and artificial intelligence. Metal parts developed to provide contact surfaces for industrial equipment are subjected to tests to identify defects that may compromise their performance. A specific quality standard, PT 70-3, which establishes defects classification standards, is used by quality inspectors to select pieces that can be used, or have to be repaired. This process, which requires precision, is accomplished through manual processes by quality inspectors. The application developed in this work takes as input the surface image of the part to be examined and, through algorithm segmentation, adjusts its scale (pixels / mm) and identifies the defects, allowing the operator to perform area, width, height and distances measurements between them. Based on the standard constraints and, according to measurements made, the system is capable of quickly and accurately classify defects . 1. Introdução O processo de análise da superfície de peças metálicas industriais hoje é realizado manualmente por inspetores de qualidade. A área de inspeção de qualidade tem muita importância nas empresas que cumprem normas nacionais e internacionais. Este trabalho baseia-se na norma PT 70-3, referente à inspeção de qualidade com líquido penetrante, processo por meio do qual se identifica e classifica defeitos na superfície de peças industriais, sem ¹ Bolsista do Programa de Iniciação Científica do UniSEB- COC. Ribeirão Preto- SP. [email protected] ² Docente do UniSEB- COC. Ribeirão Preto- SP. 150 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica limitações de tipo de material, tamanho ou forma da peça, exceto para materiais porosos (ANDREUCCI, 2008). Considerando que a classificação da norma PT 70-3 baseia-se em critérios de dimensões milimétricas, o processo torna-se vulnerável ao erro do operador na análise de fotos, que pode ser agravado pela repetição, baixa qualidade da imagem, iluminação, brilho, distorção, entre outros. O produto utilizado como teste no desenvolvimento deste trabalho é o casquilho de bronze, também conhecido como bucha de bronze, que também deve seguir as especificações da norma. Os casquilhos são, em geral, corpos cilíndricos que envolvem os eixos, permitindo-lhes uma melhor rotação. São feitos de materiais macios, como o bronze e ligas de metais leves (BIGATON, 2007). O uso de casquilhos e de lubrificantes permite a redução do atrito, melhorando a rotação do eixo. Por isso, dá-se muita importância ao processo de inspeção de qualidade de sua fabricação, onde qualquer imperfeição pode aumentar o esforço, o que causa maior atrito e ocasiona um maior desgaste do eixo. A proposta deste trabalho envolve a utilização de técnicas de Processamento Digital de Imagens (PDI) e Inteligência Artificial (IA), na elaboração de um software, desenvolvido para auxiliar os inspetores de qualidade na identificação e classificação de defeitos na superfície de peças metálicas industriais, com base na norma de qualidade PT 70-3, automatizando o processo de análise. 2. Metodologia A técnica de identificação de defeitos em estruturas metálicas por líquido penetrante pode ser descrita em seis etapas, -Preparação da superfície: limpeza da superfície; - Aplicação do penetrante: aplicação do liquido na superfície, geralmente de cor avermelhada; - Remoção do excesso do penetrante; - Revelação: aplica-se um revelador, usualmente pó ou aerosol de cor branca; -Avaliação e inspeção: é realizada visualmente pelo inspetor de qualidade e classificada de acordo com a norma. No final é preparado um relatório técnico; - Limpeza pós ensaio. Para classificar os defeitos em uma imagem digital de acordo com a norma padrão, é necessário inicialmente realizar um processo de segmentação. Uma investigação da aplicação das técnicas de PDI mostrou que, embora sejam aplicadas a diferentes objetos, problemas de segmentação em estruturas de formas semelhantes são encontrados em áreas como medicina (CALDAS, 2005) (AZEVEDO-MARQUES, 2001), agricultura (TEIXEIRA, CICERO, NETO, 2006) (KHATCHATOURIAN; PADILHA, 2008) (LINO, SANCHES, FABBRO, 2008) e industrial (CONCI, SEGENREICH, 1999) (ALMEIDA; CORSO; JUNIOR, 2009) (JUNIOR, et al, 2005) (GOMES et al, 2008). A pesquisa foi dividida em duas fases, a primeira foi a implementação de técnicas de PDI e IA para teste e análise de diferentes algoritmos de segmentação (GONZALEZ; WOODS, 2008) (FILHO; NETO, 1999) (KOVÁCS, 2006), utilizados como entrada para a segunda fase, responsável pela identificação e classificação dos defeitos em superfícies metálicas industriais. Em paralelo, foi realizado o estudo detalhado da norma de qualidade PT 703, que é dividida em cinco classes, melhor compreendida na Tabela 1, sendo que para diferi-las, é necessário analisar cinco critérios de dimensão com precisão milimétrica: limiaridade, arredondamento, linearidade, alinhamento e área total de defeitos na superfície (ANDREUCCI, 2008). Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 151 Identificação e classificação automática de defeitos em superfícies metálicas industriais Tabela 1: critérios das classes da norma PT 70-3. Para o desenvolvimento do sistema foi utilizado o IDE Delphi, produzido pela Borland Software Corporation, que utiliza a linguagem de programação Object Pascal. Esta escolha foi baseada na grande versatilidade desta plataforma, que permite a aquisição eficiente das imagens de câmeras digitais e o processamento destas em tempo real. Os algoritmos de PDI e IA foram desenvolvidos ao longo da pesquisa, o que permitiu um maior controle sobre os resultados obtidos, e sobre as variações nos algoritmos. As imagens utilizadas foram adquiridas por meio de uma câmera digital HP PhotoSmart R727, com resolução 6.2 megapixel e armazenadas no formato JPEG. Um exemplo é apresentado na Fig. 1. Parametrização, que é fundamental para o processo de classificação, pois é a responsável pela segmentação da imagem e pela definição da escala de pixel/mm (quantos pixels correspondem a um milímetro). Foi dividida em três passos, são eles, - Escala pixel/mm: como referência foi utilizado um marcador quadrado de papel impresso na cor verde, com 10 mm de largura por 10 mm de altura, ou seja, uma área de 100 mm2. Neste passo, o aplicativo segmenta a imagem deixando apenas os pixels com valor de R/G próximos a 0.4, ou seja, os pixels correspondentes à referência (cor verde ). Após a segmentação, faz-se uma contagem desses pixels (QtP) e calcula-se o fator de a escala f linear como, (1) e de área, fa como, (2) Estes valores são armazenados em variáveis globais para cálculos futuros de largura, altura e área dos defeitos. Figura 1: amostra de imagem com dimensões de 1792x1312, no formato de cores RGB de 24 bits. 3. Desenvolvimento A primeira etapa para execução deste trabalho é a aquisição das imagens que serão processadas pelo aplicativo desenvolvido com as ferramentas de segmentação e classificação. Dentre as ferramentas implementadas, utiliza-se inicialmente a 152 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica - Segmentação dos defeitos: permitese a escolha de dois algoritmos, segmentação com relação à razão de R/G ou por Rede Neural. A razão R/G agora limita os valores de interesse para a faixa entre 1.5 e 2.0 (Fig. 2), valores que representam os defeitos (tom avermelhado). Esta segmentação foi possível, pois o fundo da imagem tem valores de R/G próximos a 1.0. Para a Rede Neural, técnica de Inteligência Artificial, foi utilizado Perceptron de camada simples. Identificação e classificação automática de defeitos em superfícies metálicas industriais dimensões, o algoritmo libera o processo de classificação, que é realizado de acordo com a norma. A saída pode ser observada na barra de status (Fig. 3). Figura 2: processo de segmentação dos defeitos. Figura 3: barra de status do processo de classificação. - Binarização: binariza a imagem em preto (0) e branco (255), sendo que a imagem é facilmente segmentada devido ao contraste entre o fundo e os defeitos. A binarização é um elemento facilitador para os próximos algoritmos, como por exemplo o Flood. Após o processo de parametrização, o aplicativo disponibiliza um processo para determinação de dimensões. Para comprimento, a cada dois cliques simples do mouse é traçada uma reta e calculado seu comprimento por meio da distância euclidiana, ou seja, Após o processo de classificação, o sistema permite a execução de um relatório (Fig. 4), que tem a função de documentar toda a análise realizada pelo aplicativo. Muito utilizado no dia-a-dia dos inspetores, estes relatórios devem ser apresentados para seus supervisores e posteriormente para seus clientes. A largura e a altura de estruturas podem ser identificadas por meio deste processo. Para determinação da área, um clique duplo marca e calcula a área do defeito selecionado, por meio da técnica de PDI flood, onde os vizinhos ao pixel selecionado são marcados até a borda do defeito, como em um processo de inundação. Após o processo de aquisição das Figura 4: exemplo de relatório após análise do aplicativo. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 153 Identificação e classificação automática de defeitos em superfícies metálicas industriais 4. Resultados Com o desenvolvimento deste sistema, foi possível alcançar diversos resultados, são eles: - Tempo para Análise e Registro: Considerando que o teste de líquido penetrante consiste no resultado de reações químicas e físicas, existe um tempo limite para o ensaio ser considerado confiável. Nos casos em que existe uma quantidade significativa a ser analisada, o processo de registro dos defeitos deve ser feito de forma mais rápida, o que pode comprometer a integridade do ensaio. Utilizando o aplicativo, as imagens podem ser capturadas imediatamente e investigadas posteriormente, incluindo a geração de relatórios. No caso de perda desses relatórios, é suficiente a realização de uma nova análise pelo software, sem a necessidade de repetir o ensaio de líquido penetrante, ou seja, sem aumento de custos e perda de tempo. - Área do Defeito: Atualmente não é possível calcular manualmente a área precisa de cada defeito e conseqüentemente a área total na superfície analisada; isto ocorre porque os defeitos são de formas indefinidas. Sendo assim, estes valores precisam ser estimados por meio de formas definidas (enquadramento), o que influencia negativamente no item cinco da norma, que compara a área total dos defeitos analisados com um valor limitado pela sua classe, podendo reprovar defeitos que estariam aprovados. Com o auxílio do aplicativo, esta área é estimada com melhor precisão, pois quanto mais precisa a escala (pixel/mm), mais precisa será a área. - Agilidade na Comparação com as Classes da Norma: Depois de encontradas e registradas as características dos defeitos, faz-se necessário comparar com as classes da norma PT 70-3, processo também custoso dependendo do número de defeitos a ser 154 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica analisado, ou ainda, passível de falhas nas comparações. Portanto, outra vantagem do aplicativo é a velocidade na comparação com tais classes da norma, pois os valores além de não poderem ser alterados, o processo computacional é bem mais rápido do que o humano. - Estimativa de Precisão: Neste trabalho, a precisão é dependente do processo de escala, ou seja, quantos pixels representam um milímetro. Quanto mais preciso for esta referência, melhores serão os resultados. Portanto, devem-se tomar alguns cuidados na aquisição das imagens, como por exemplo, a posição da câmera com a referência (marcador quadrado verde). Esta posição deve ser normal (90º) à superfície analisada. Para qualquer outro ângulo diferente deste, não será possível manter a escala cartesiana uniforme (x, y), o que diminuiria a precisão da análise. Neste trabalho, fica difícil calcular a sua precisão, pois, para encontrar uma taxa de erro mais apurada, se faz necessário calcular a média de várias contagens manuais, por humanos diferentes. Em contrapartida, para estimar esta precisão, foi adicionada uma trena (fita métrica), no momento da aquisição das imagens. Os valores encontrados pelo aplicativo são comparados com os valores analisados visualmente com a ajuda da trena. Entretanto, serão comparados apenas os valores referentes à largura e altura dos defeitos, pois conforme mencionado anteriormente, na prática, o cálculo manual das áreas é aproximado devido às formas serem indefinidas. A Tabela 2 apresenta esta comparação. Identificação e classificação automática de defeitos em superfícies metálicas industriais Tabela 2: comparação dos valores: Manuais (trena/metro) x Algoritmo R/G x Rede Neural (Perceptron 1 camada). 5. Conclusão Neste trabalho foi desenvolvido um aplicativo baseado em técnicas de PDI, para auxiliar a identificação e a classificação de defeitos em superfícies metálicas industriais, de acordo com a norma de qualidade PT 703. Foi realizada uma pesquisa e interpretação desta, e também uma pesquisa em PDI, onde a mesma deu origem a um aplicativo capaz de permitir a utilização de algoritmos adaptados ao sistema analisado. Um estudo mais aprofundado nesta área somado ao aplicativo inicial deu origem ao processamento das imagens para a extração de informações, por meio de algoritmos de segmentação, removendo o fundo e destacando os defeitos, técnicas como razão R/G e Rede Neural com Perceptron de 1 camada. Outros algoritmos foram implementados, como Flood, técnica responsável pela detecção e contagem do número de pixels da área dos defeitos, e também um algoritmo para o cálculo da distância entre os pixels. Para este, foi tomada como base a distância euclidiana, o que aumenta ainda mais a precisão das análises. Por último, foi desenvolvido um protocolo para comparar as características encontradas dos defeitos com as classes da norma, informando como saída a aprovação ou reprovação individual do defeito analisado. Com todos os resultados obtidos pelo diagnóstico, foi possível gerar um relatório composto por dados e imagem dos defeitos. Com o auxílio deste aplicativo, além de automatizar o processo, reduzindo tempo e custo, pode-se melhorar a qualidade da imagem e ainda aumentar a precisão das análises e classificações, quando comparado ao processo de análise convencional que é realizado manualmente e a olho nu. 6. Agradecimentos Agradecemos ao apoio, incentivo e financiamento a esta pesquisa proporcionados pelo Programa Institucional de Iniciação Científica do UniSEB-COC de Ribeirão Preto. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 155 Identificação e classificação automática de defeitos em superfícies metálicas industriais Referências bibliográficas ALMEIDA, R. H. P.; CORSO, D. A.; JUNIOR, A. S. B. Visão Computacional – Sistemas de Visão aplicados à Inspeção Industrial. UEPG. Disponível em: http://www.enetec.deinfo.uepg. br. Acessado em: 06/04/2009. ANDREUCCI, R., Líquidos Penetrantes, 2008. Disponível em: http://www.abende.org.br/ down2/apostilalp.pdf. Acessado em: 23/04/2009. 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O objetivo desse trabalho é propor uma solução para automatizar a metodologia de classificação proposta pelo Programa Brasileiro para a Modernização da Horticultura (CEAGESP, 2004) através do protótipo de um sistema de visão computacional que classifica a fruta de acordo com sua cor e forma utilizando-se da linguagem Java para o desenvolvimento do protótipo e das bibliotecas JAI e ImageJ para o armazenamento e manipulação da imagem, além da API WEKA (Waikato Environment for Knowledge Analysis) para implementação da rede neural utilizada nesse trabalho. O protótipo do sistema desenvolvido mostrou-se efetivo, efetuando a classificação de imagem de pêssego de forma satisfatória após um treinamento correto da rede neural. ABSTRACT The peach is a new culture in the Brazilian market and its consumption is still quite small. The fruit needs a single reference for quality in the country to compete in the international market. The aim of this study is to propose a solution to automate the classification methodology proposed by the Brazilian Program for the Modernization of Horticulture (CEAGESP, 2004) through the prototype of a computer vision system that classifies fruit according to its color and shape using Java language for prototype development and JAI and ImageJ libraries for image manipulation and storage, plus the API WEKA (Waikato Environment for Knowledge Analysis) for implementation of neural network used in this work. The prototype system developed was effective, making the classification of an image of peach satisfactorily after a proper training of the neural network. 1. Introdução As exportações de produtos agrícolas representam um montante significativo da economia brasileira e a melhora da qualidade desses produtos torna-se fator vital para aumentar a qualidade na competitividade nesse setor. No Brasil, especificamente no caso de produtos da Horticultura, há o Programa Brasileiro para a Modernização da Horticultura (CEAGESP, 2004) que desde 1997 busca a melhoria da qualidade por meio da padronização dos preços de comercialização e a adoção de normas de classificação. O pêssego e a nectarina (uma mutação do pêssego com epiderme glabra, sem pilosidade) são frutos com um modesto consumo entre os brasileiros (apenas um ¹ Academico do Curso de Ciência da Computação UniSEB-Coc, bolsista do PIBIC [email protected]; ² Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo Docente e coordenador de curso da UniSEB-COC [email protected]; ³ Pesquisador Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Docente do UNISEB –Coc. [email protected] 158 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica quilograma per capita ao ano é consumido em média, somando-se a quantidade do fruto fresco e processado (CEAGESP; PBMH & PIF, 2008)). A produção de pêssego no Brasil, em 2005, superou a marca de 235 mil toneladas distribuída em 22.435 hectares, sendo o estado de São Paulo o segundo maior produtor da fruta no país perdendo apenas para o Rio Grande do Sul (CEAGESP; PBMH & PIF, 2008). O protótipo proposto por este trabalho foi criado com base em algumas características em que o pêssego pode ser classificado, em conformidade com a carte de apresentação da CEAGESP. Devido à importância dessa área em nosso país, os estudos para aumentar a qualidade desses produtos tornam-se um fator estratégico. Várias empresas pelo mundo utilizam o PDI (Processamento digital de imagens) para obter maior qualidade nos processos e em seus produtos, como é o caso de (STIVANELLO, 200), onde foram utilizados descritores de Fourier como descritor de forma em conjunto com redes neurais para inspeção industrial. De acordo com as normas de classificação, definidas graças à iniciativa da CEAGESP em conjunto com a EMBRAPA Clima Temperado e Uva e Vinho, existem Figura 1 – Grupo pêssego e nectarina. Fonte: CEAGESP; PBMH & PIF, 2008. O agrupamento por classe que a fruta em questão pode pertencer está diretamente ligado ao calibre ou ao peso da fruta. O agrupamento por classe é utilizado para definir um tamanho semelhante por lote. Se o calibre for utilizado como medida, utilizamse as medidas apresentadas na Figura 2 definidas pela norma de classificação. Há também uma tolerância entre as classes, como ilustra a figura. Porém, se a medida de classe utilizada for o peso, faz-se necessário o cálculo do peso médio das frutas e informar o tipo que significa o número de frutos em uma camada da caixa, não importando quantas camadas existam em uma caixa. certas c aracterísticas em que pode ser agrupada a fruta como: grupo, sua coloração de polpa (subgrupo), tamanho (classe), e sua categoria (qualidade) (CEAGESP; PBMH & PIF, 2008). Na Figura 1 pode-se ver o grupo (cultivares com características parecidas) em que se enquadra o pêssego e a nectarina, que são da espécie Prumus pérsica (L.). Figura 2 – Medidas para classificação por calibre do pêssego e nectarina. Fonte: CEAGESP; PBMH & PIF, 2008 Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 159 Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais Relacionado com a classe, existe ainda a característica de subclasse, que agrupa a fruta pelo estado de maturidade, um fator muito importante para evitar defeitos na fruta, estados esses que dependem da coloração da fruta no momento da coleta, definidos como Creme esverdeado, Amarelo creme, Amarelo e Alaranjado. Por fim, um dos mais importantes critérios para avaliar o pêssego é a sua categoria (qualidade). O fator que se relaciona diretamente à categoria é o defeito da fruta que, de acordo com a (CEAGESP; PBMH & PIF, 2008), pode ser categorizado como grave, leve ou variável, podendo ser causado por diversos fatores como alteração interna por frio, rompimento da epiderme do fruto, perda de água dos tecidos do fruto, fruto colhido antes de alcançar o estágio ideal, etc. A norma de classificação define ainda que o fruto que contenha algum defeito grave deve ser eliminado antes que o mesmo seja embalado. A Figura 3 ilustra os defeitos graves que inviabilizam o consumo do pêssego e pode ou não contaminar outros frutos. Esse tipo de dano causa grande perda no valor da fruta e as causas desses defeitos vão desde condições climáticas até a ação de microorganismos. Figura 3 – Ilustração dos Defeitos graves da fruta. Fonte: CEAGESP; PBMH & PIF, 2008 Também há os defeitos variáveis que podem ser graves, leves ou desconsiderados e são medidos em função da intensidade em que ocorrem. Na Figura 4 podem-se fitar os tipos de defeitos variáveis e como são classificados de acordo com intensidade ocorrida. 160 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais 2. Metodologia As imagens utilizadas para testes foram disponibilizadas pela EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e foram previamente tratadas retirando-se o fundo da imagem e diminuindo-se a resolução da mesma para diminuir o tempo de processamento. A classificação dos frutos foi realizada utilizando-se de técnicas de PDI (GONZALEZ, 2010) juntamente com a criação de uma rede neural artificial (BRAGA, 2007). O protótipo fora desenvolvido na linguagem Java, utilizando-se das bibliotecas ImageJ e JAI para manipulação da imagem e da API do Weka para a criação e manipulação da rede neural. 2.1 Técnicas de PDI 2.1.1 Cor Figura 4 – Ilustração dos Defeitos variáveis da fruta. Fonte: CEAGESP; PBMH & PIF, 2008 A pesquisa de novas tecnologias para acentuar a qualidade vem a ser um fator estratégico. Várias empresas pelo mundo já utilizam técnicas para inspeção de qualidade e classificação dos produtos na linha de produção. O PDI é bastante utilizado para classificar produtos como, por exemplo, em Stivanello (2004) foram utilizados descritores de Fourier como descritor de forma em conjunto com redes neurais para inspeção industrial. A utilização de cores no proces samento de imagens digitais tem uma grande importância de acordo com Gonzalez (2010). A representação de cores utiliza modelos matemáticos. Um dos modelos mais conhecidos é o modelo RGB. Este modelo, baseando-se num sistema de coordenadas cartesianas, é constituído pela adição da mistura de três cores primárias: Red (vermelho), Green (verde) e Blue (azul). As cores primárias desse modelo são na maioria das vezes utilizadas como referência por dispositivos, pois formam a base de um vetor ortogonal tridimensional onde o vetor zero (ou origem, também conhecido como “black point”) representa o preto. Conseqüentemente, qualquer cor pode ser encontrada por uma combinação linear do vetor base no espaço RGB (KOSCHAN, 2008). Embora o modelo RGB seja muito utilizado por hardwares (monitores, câmeras fotográficas, impressoras, etc.) e seja fundamental para gerar imagens coloridas, Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 161 Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais esse modelo pecam quando se trata de descrever as cores para a interpretação humana. Apesar de o olho humano adaptarse muito bem às cores primárias utilizadas pelo modelo RGB, nós não enxergamos um objeto imaginando qual é a porcentagem de cada cor presente em um determinado objeto e sim pensando em termos de matiz (utilizado para descrever uma cor pura como, por exemplo, o amarelo, o laranja, etc.), de saturação (noção de diluição de uma cor pura por luz branca) e brilho. Sob esses princípios foi criado o modelo HSI, hue (H), saturation (S) e intensity (I), que utilizada exatamente a idéia de percepção humana de cor e separa a intensidade das informações de cor numa imagem colorida. Tais características do modelo HSI tornam-no um excelente modelo para o desenvolvimento de algoritmos de processamento de imagens (GONZALEZ, 2010). Todos os modelos apresentados até então são orientados ao hardware e, em alguns casos, podem não satisfazer as exigências requeridas. Por exemplo, um modelo que representa uma cor em um monitor, pode, após ser impresso, representar uma cor diferente no papel. Isso pode ocorrer por diversas razões e uma delas é pelo simples fato de que o modelo não esteja representando a cor corretamente, da maneira que fora capturada pelo dispositivo de entrada. Para resolver esse problema, é necessário que se faça da utilização de um modelo independente de hardware que represente todas as cores uniformemente, como o modelo CIE La*b* ou Cielab (GONZALEZ, 2010). Neste trabalho as imagens foram obtidas no modelo RGB e convertidas para o modelo La*b*, cujas componentes podem ser obtidas das equações 1 , 2 e 3, conforme descrito por Gonzalez (2010): 162 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Sendo 2.1.2 Segmentação de Otsu Neste trabalho foi utilizada a operação de limiarização, ou segmentação, utilizando o método de Otsu, um dos métodos automáticos mais usados para definir um limiar ótimo para identificar os objetos numa imagem e classificá-lo corretamente. Gonzalez (2010) afirma inclusive, que esse método baseia-se inteiramente em cálculos efetuados com base no histograma de uma imagem. Nas equações de 5 a 12 é apresentado o cálculo da probabilidade de um pixel pertencer a uma classe C1, a probabilidade de um pixel pertencer a uma classe C2, o valor da intensidade média dos pixels pertencentes à classe C1 e a intensidade média dos pixels pertences à classe C2, a intensidade média de toda a imagem (dita intensidade global), utilizados para avaliar a qualidade do limiar em um nível k e a variância global de intensidade e a variância entre classes, de acordo com Gonzalez (2010) no método de Otsu: Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais Ainda segundo Gonzalez (2010), a idéia geral é transformar a representação da fronteira 2-D numa função 1-D, tornando-a mais fácil de descrever. Nesse trabalho, a assinatura é calculada tomando-se a distância euclidiana do centro até o pixel de borda, variando-se de 10o em 10o até totalizar 360o, obtendo-se 36 valores de distâncias. A representação da aplicação do método descrito pode ser vista na Figura 6, a qual representa a borda de um pêssego. 2.1.3 Determinação da Forma pela Assinatura A assinatura, segundo Gonzalez (2010), é uma função 1-D de uma fronteira determinada na imagem e pode ser gerada de várias formas. Umas das maneiras mais simples e utilizada nesse trabalho, é representada na Figura 5 abaixo. Figura 6 – Aplicação do método assinatura em uma imagem de pêssego. 2.2 Redes neurais Figura 5 – Assinatura de distância em função do ângulo. Fonte: Gonzalez, 2010. Redes neurais podem ser consideradas como sistemas paralelos distribuídos e podem ser compostas por uma ou várias unidades de processamento (também denominada de nodo ou neurônio) (Braga, 2000). Segundo Braga, quando se trata de mais de uma unidade de processamento, estas são dispostas em uma ou mais camadas interligadas por meio de vários números de conexões e associadas a pesos. Tais pesos armazenam o conhecimento da rede e servem também para balancear a(s) entrada(s) recebida(s) por cada um dos neurônios da rede. Braga afirma, inclusive, Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 163 Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais que as redes neurais são uma tentativa de imitar o funcionamento do cérebro humano e cada neurônio corresponde a um neurônio do cérebro humano. Para este trabalho foi utilizada uma rede chamada de Multilayer Perceptron (MLP), cuja representação pode ser vista na Figura 7. 3.Os resultados da saída da rede são comparados com os valores esperados para as entradas utilizadas e o erro também é calculado. Fase backward: 1.Os pesos da última camada são atualizados de acordo com o erro encontrado. 2.Os erros encontrados nos nodos da última camada são propagados para a camada anterior através dos pesos das conexões entre as duas camadas, multiplicando o erro pelo peso correspondente criando assim uma estimativa do erro para cada nodo da camada intermediária em questão. 3.Os erros encontrados para a camada intermediária são utilizados para atualizar os pesos dos nodos nessa camada. 4.O processo do passo 2 se repete, até que todas as camadas tenham seus pesos ajustados. 3. Arquitetura do sistema Figura 7 – Representação de uma MLP. Fonte: Russel 2004. Esta rede possui duas fases: fase forward, utilizada para calcular a saída da rede, e a fase backward que utiliza a saída obtida e a saída desejada para atualizar os pesos da rede, utilizando a função de retro propagação descrita por Braga (2007). Fase forward: 1. Os valores de entrada são apresentados às respectivas camadas de entrada da rede e as saídas da primeira camada intermediária são calculadas. 2. As saídas da primeira camada intermediária irão prover as entradas da segunda camada intermediária. A segunda cama intermediária por sua vez, terá suas saídas calculadas. Esse passo é efetuado até que a última camada seja alcançada. 164 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Na Figura 8 tem-se um diagrama que representa os passos implementados para classificar uma imagem por cor ou por forma utilizando a MLP proposta. Figura 8 – Diagrama da estrutura do sistema. Na abartura da imagem já são convertidas as componentes de cor posteriormente utilizadas na rede neural para classificação por cor, é calculado o limiar de Otsu para extração das bordas e determinação da assinatura e posteriormente utilizada na rede neural para análise por forma. Na Figura 9 podem ser vistos os principais menus do sistema. Figura 9 – Representação dos menus do aplicativo. O menu é constituído de dois itens: Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais Figura 8 – Diagrama da estrutura do sistema. Arquivo e Processamento. O menu Arquivo contêm apenas os itens de menu Abrir... e Sair, responsáveis por abrir uma imagem e fechar o programa, respectivamente. Já de maneira bastante simples. Na Figura 10 encontra-se os passos utilizados na segmentação por cor. Os passos descritos no fluxograma Figura 9 Representação dos menus do aplicativo. o menu Processamento contêm todas as opções relativas às operações efetuadas na imagem para segmentá-la e classificá-la. A segmentação por cor é efetuada são facilmente executados no aplicativo. Primeiramente, é necessário abrir uma imagem, criar as classes de padrões de cores que se deseja segmentar na imagem para Figura 10 – Fluxograma que representa a classificação por cor. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 165 Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais efetuar o treinamento da rede neural. Na Figura 11 pode ser vista a interface de entrada das classes por cor. Figura 11 – Tela Nome da classe. Uma vez criadas as classes, o próximo passo, de acordo com o fluxograma apresentado anteriormente, é editar a classe recém-criada para definir quais padrões de pixels pertencem à classe criada e, posteriormente, treinar a rede neural com esses padrões que nada mais são do que os componentes RGB da região selecionada na imagem que se deseja classificar. Tal classe é simplesmente um arquivo físico no disco que armazena os valores RGB de cada pixel da área selecionada da imagem, convertidos posteriormente em valores CIELa*b*. Uma vez criadas e editadas as classes, cria-se a rede neural com topologia prédefinida com 3 camadas, entrada RGB ou CIE-La*b*, e saída as classes desejadas. A taxa de aprendizado estabelecida na rede neural foi de 0,4 e o treinamento é realizando com número fixo de ciclos igual a 1000. Ao final do treinamento da MLP, esta rede pode ser utilizada para classificar a imagem por cor. Também a mesma classe desenvolvida para a MLP é utilizada para análise por forma, sendo que, neste caso, possui 36 entradas representando a assinatura calculada do contorno da fruta. A rede neural é criada pelo conjunto de classes da biblioteca WEKA, a qual automaticamente seta todas as propriedades da rede neural, como taxa de aprendizado, topologia da rede, número de épocas de treinamento, etc. Um exemplo de segmentação para identificação do que é pessego pode ser observado na Figura 11. Figura 11 – Tela de classificação por cor. A tela de classificação mostra as porcentagens de cada classe, além da imagem propriamente dita com a técnica de inundação aplicada, de acordo com as cores selecionadas na tela de criação de classes. A classificação por forma é realizada de uma maneira parecida, com apenas algumas Figura 12 – Fluxograma que representa a classificação por forma. 166 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais alterações. O esquema da Figura 12 apresenta os passos necessários para classificar uma imagem por forma, semelhante ao esquema da classificação por cor. A extração da assinatura apresentada no fluxograma é feita através do item de menu Otsu do aplicativo o qual binariza a imagem, conforme apresentado na Figura 13.. Além de binarizar a imagem, há um tratamento que extrai a assinatura da imagem, utilizando a técnica de assinatura. A assinatura é formada por um vetor de 36 posições (que representa os 360o percorridos na imagem) e cada posição armazena o valor da distância calculada através da distância euclidiana. A assinatura é utilizada da mesma forma para criar uma rede neural para classificação por forma e a saída resultante é apresentada num janela conforme Figura 14. Figura 13 – Tela de binarização da imagem. 4. Resultados e discussões: 4.1 Classificação por cor O principal desafio encontrado na classificação por cor utilizando o pêssego está no fato de que a variedade de cores que um pêssego pode assumir, devido a diversos fatores, é muito grande. Devido a esse fator, deve-se ter muita atenção ao treinar a rede neural, pois o seu treinamento é um fator crucial para o sucesso da classificação. Para exemplificar essa dificuldade relacionada às diferentes cores que um pêssego pode assumir, a seguir encontramse testes realizados, testes estes gradativos de treinamento da rede neural, aumentando a quantidade de classes para o treinamento a cada classificação. Foi separado um total de doze imagens de pêssego previamente tratadas, das quais dez dessas imagens podem ser utilizadas para treinamento e duas para o teste de classificação. A resolução dessas imagens foi reduzida e não passa de 612 x 567 para que o processamento da imagem não fique muito sobrecarregado. Uma rede neural MLP fora criada e treinada com apenas duas classes denominadas “COR-SADIO” e “fundo”. A classe “fundo” contêm pixels brancos selecionados para treinar a rede enquanto a classe “COR-SADIO” contêm pixels amarelos de um primeiro pêssego, que pode ser observado na Figura 15, para o treinamento da rede. Figura 15 – Primeira imagem utilizada no treinamento da rede de cor. Figura 14 – Tela de classificação por forma. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 167 Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais O resultado da classificação de um segundo pêssego, este com algumas tonalidades diferentes da cor dos pixels utilizados para treinamento, pode ser observado na Figura 16. Percebe-se que houve uma melhora considerável na classificação após a adição da nova classe. Para efetuar um novo teste, uma nova classe chamada “COR-MADURO” fora adicionada com pixels de tons avermelhados pertencentes a um quarto pêssego (Figura 19). Figura 16 - Resultado da classificação por cor utilizando uma classe. Nota-se que a classificação não se deu de forma adequada, pois os diferentes tons foram classificados na mesma classe, segundo a análise feita sem a ajuda do software. A seguir, fora efetuado um novo teste, com uma rede neural criada a partir das classes especificadas anteriormente e a adição de uma nova classe denominada “COR-MANCHA”, com pixels de tons marrons, pertencentes a um terceiro pêssego que pode ser visualizado na Figura 17. Figura 19 – Terceira imagem utilizada no treinamento da rede de cor. A classificação pode ser vista na Figura 20. Figura 20 – Resultado da classificação por cor utilizando três classes. Figura 17 – Segunda imagem utilizada no treinamento da rede de cor. O resultado da classificação pode ser observado na Figura 18 a seguir. Nota-se novamente uma melhora na classificação onde pequenas áreas foram identificadas como a classe recém-criada. Conclui-se a partir desses resultados que a classificação por cor atingiu um resultado consideravelmente satisfatório e que o resultado está intimamente ligado ao treinamento da rede neural. 4.2 Classificação por forma Figura 18 – Resultado da classificação por cor utilizando duas classes. 168 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Uma abordagem semelhante à aplicada na classificação por cor foi adotada para obter os resultados da classificação por forma. A rede neural fora criada, sendo gradativamente treinada, cada vez Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais com mais assinaturas de imagens, para observar o resultado das classificações. Como a quantidade de imagens para testes foi demasiada pequena, poucas assinaturas foram utilizadas para efetuar o treinamento. Infelizmente também não foi possível conseguir imagens de pêssegos naturalmente deformados, sendo necessário editar as doze imagens disponíveis, simulando deformações nos pêssegos. Como anteriormente, dez imagens ficaram disponíveis para o treinamento da rede e duas imagens foram poupadas para testes de classificação. Após a criação da classe “ASS-SADIO” extraindo-se a assinatura de um pêssego com a forma saudável (Figura 21), efetuou-se a classificação de um segundo pêssego, também saudável. Na primeira tentativa obteve-se sucesso, com uma probabilidade de 100% na classificação. No próximo teste, uma nova classe chamada “ASS-DEFORMADO” foi criada, utilizando um terceiro pêssego, esse modificado para simular um pêssego deformado (Figura 23). Outra rede neural também foi criada, adicionando-se essa nova classe para o treinamento. Novamente, efetuou-se a classificação, dessa vez utilizando a mesma imagem classificada anteriormente, porém modificada pelo Photoshop para simular um pêssego deformado. Figura 23 – Segunda imagem utilizada no treinamento da rede de forma. Figura 21– Primeira imagem treinamento da rede de forma. utilizada no O resultado da classificação pode ser visto na Figura 23 a seguir. O resultado pode ser observado na Figura 22. Figura 23 – Resultado da classificação por forma utilizando duas classes. Figura 22 – Resultado da classificação por forma utilizando uma classe. Outra classificação foi bem sucedida com 98% de probabilidade de acerto. Podese, portanto concluir que a classificação por Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 169 Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais forma é propícia a ser mais bem sucedida, pois as mudanças das entradas na rede neural são radicalmente diferentes. Outro ponto a ser considerado, é que a forma de um pêssego saudável geralmente segue um padrão bem definido e qualquer mudança na forma é facilmente reconhecida. 5. Conclusões O objetivo desse trabalho foi criar um protótipo de um sistema de visão computacional que, por meio de técnicas específicas de segmentação tais como a técnica para extração de assinatura de imagem, binarização utilizando o método de Otsu e também utilizando uma rede neural MLP para classificação das imagens, pudesse classificar imagens de pêssegos de acordo com sua cor e forma. Tal sistema foi elaborado utilizandose a linguagem Java e o ambiente NetBeans para o desenvolvimento, utilizando as bibliotecas JAI e ImageJ para manipulação da imagem além das bibliotecas do WEKA para a criação da rede neural artificial. As principais dificuldades encontradas na criação desse protótipo foi a integração das diferentes tecnologias, principalmente das bibliotecas de manipulação de imagem JAI e ImageJ que trabalham de uma maneira ligeiramente diferente. Os resultados da aplicação foram satisfatórios, classificando as imagens de forma satisfatória com uma interface simples e manipulação também nada complicada, demonstrando que o fator crucial para o sucesso na classificação das imagens é o treinamento adequado da rede neural. No futuro, pode-se aperfeiçoar esse protótipo, utilizando-o para reconhecer não só pêssegos, mas também outros frutos, utilizando as técnicas mais adequadas para cada fruto, dependendo de sua natureza de forma e cor. Além disso, diferentes técnicas de classificação poderiam ser utilizadas para realizar comparações entre essas técnicas. 170 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Também pode-se melhorar o protótipo atual, tornando-o completamente apto para classificar o fruto utilizado nesse trabalho seguindo a risca os padrões da CEAGESP, classificando-o de acordo com as características detalhadas na introdução deste trabalho. Classificação e segmentação de pêssegos utilizando imagens digitais Referências bibliográficas BRAGA, Antônio de Pádua; CARVALHO, André P. L. F.; Redes Neurais Artificiais: Teoria e Aplicação, Rio de Janeiro, 2007. CEAGESP; PBMH & PIF – Programa Brasileiro para a Modernização & Produção Integrada de Frutas, São Paulo, 2008. CEAGESP; Programa Brasileiro para Modernização da Horticultura Brasileira Normas de Classificação do Tomate, São Paulo, 2004. FILHO, Ogê M.; Neto, Hugo V. Processamento digital de imagens. Rio de Janeiro: Brasport, 1999. GONZALEZ,Rafael C.; WOODS, Richard E.; Processamento Digital de Imagens. 3nd Ed, São Paulo, 2010. IMAGEJ, Image Processing and Analysis in Java. Disponível em http://rsbweb.nih.gov/ij/ index.html. Acessado dia 25 de fevereiro JAVA ADVANCED IMAGING (JAI) API. Disponível em http://java.sun.com/javase/technologies/desktop/media/jai/. Acessado dia 25 de fevereiro de 2011. KOSCHAN, Andreas; Abidi, Mongi A. Digital Color Image Processing. Hoboken, New Jersey: John Wiley & Sons, Inc, 2008. STIVANELLO, Maurício Edgar; Inspeção Industrial através de visão computacional, Blumenau, 2004. WEKA, Waikato Environment for Knowledge Analysis. Disponível em http://www.cs.waikato. ac.nz/ml/weka/. Acessado dia 25 de fevereiro de 2011. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 171 Efeito Do Alongamento Muscular Agudo Sobre A Força De Preensão Manual – Um Estudo Preliminar Daniel Ferreira Moreira Lobato¹ Cristiane Soncino Silva² Juliana Moraes Santos³ Larissa Oliveira Lopes4 RESUMO Os exercícios de alongamento muscular encontram-se entre os mais utilizados na reabilitação e na prática esportiva. Entretanto, ainda existem divergências importantes sobre os seus reais efeitos em relação à ocorrência de lesões esportivas e ao desempenho físico. Alguns estudos apontam que o alongamento agudo, ou seja, aquele realizado imediatamente anterior à atividade esportiva, além de não auxiliar na prevenção de lesões, pode repercutir em uma redução da capacidade de realizar movimentos que envolvam força e potência muscular, causando prejuízos ao desempenho esportivo. Desta forma, o objetivo deste estudo preliminar foi avaliar o efeito do alongamento agudo sobre a força de preensão manual. Doze pessoas ativas (21,64±2,97 anos; 58,54±4,95 kg; 1,66±0,07 m), de ambos os gêneros (sendo 9 mulheres e 3 homens), participaram do presente estudo. Os voluntários foram avaliados quanto à força de preensão manual em um dinamômetro manual Saehan (Snedleytype), por meio de três contrações máximas de preensão manual, com duração média de 5 segundos e intervalo médio entre as contrações de 15 segundos (para evitar a fadiga muscular). Em seguida, os voluntários realizaram o alongamento ativo dos músculos flexores e extensores do punho por meio de 3 séries de 30 segundos para cada grupo muscular e foram reavaliados, conforme a avaliação inicial. O teste t-Student para amostras dependentes (considerando um nível de significância de 5%) revelou que a realização do alongamento agudo não levou a uma redução significativa do desempenho no teste de preensão manual (p= 0,09), com redução média de 4,4% nos valores de torque (pré-alongamento= 31,4±1,8 N; pós-alongamento= 30,1±1,7 N). Para o membro controle, não houve diferença significativa (p=0,55) em relação às duas avaliações realizadas (1ª avaliação= 31,0±2,2 N; 2ª avaliação= 30,6±1,2 N), com redução percentual de 1,2%. Deste modo, o presente estudo verificou que o alongamento agudo parece não alterar de forma significativa a força muscular para a preensão manual. Entretanto, destaca-se o seu caráter ainda preliminar que, associado a uma amostra de maior representatividade e ao estudo de outras variáveis do desempenho muscular, poderá levar a resultados mais conclusivos sobre este tema. Palavras-chave: Alongamento, força muscular, preensão manual, dinamometria. 1,2 Docentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNISEB-COC 3,4 Discentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNISEB-COC 172 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica ABSTRACT Stretching exercises are among the most widely used in rehabilitation and sports practice. However, there are still important controversies about its real effects on the occurrence of sports injuries and physical performance. Some studies indicate that acute stretching (the one performed immediately prior to sports activity) does not aid in the prevention of injury and may still reflect a reduction in the ability to perform movements involving muscle strength and power, causing damage to the sports performance. Thus, the purpose of this study was to evaluate the effect of acute stretching on the handgrip. Twelve active people (21.64±2.97 years; 58.54±4.95 kg; 1.66±0.07 m) of both genders (9 women and 3 men) participated in this study. The volunteers were tested for grip strength in a Saehan (Snedley-type) hand dynamometer, performing three maximal contractions of handgrip with a 5 seconds of average duration and a 15 seconds average rest interval between contractions (to avoid muscle fatigue). Then, the volunteers underwent active stretching of the wrist flexors and extensors muscles through 3 sets of 30 seconds for each muscle group and were evaluated again, according to the initial assessment. The Student t-test for dependent samples (considering an alpha level of 5%) revealed that the completion of acute stretching did not lead to a significant reduction in the handgrip performance (p = 0.09), with an average reduction of 4.4% in the torque values (pre-stretching = 31.4±1.8 N; post-stretching = 30.1±1.7 N). For the control limb, there was no significant difference (p = 0.55) between the two assessments (1st assessment = 31.0±2.2 N; 2nd assessment = 30.6±1.2 N), with a percentage reduction of 1.2%. Thus, this study found that acute stretching does not seem to significantly alter muscle grip strength. However, considering its preliminary characteristics, the need of a more representative sample and the study of other variables of muscle performance we could lead to more conclusive results on this topic. Keywords: Stretching, muscle strength, handgrip, dynamometry. 1. Introdução Os exercícios de alongamento muscular encontram-se entre os mais utilizados na reabilitação e na prática esportiva (HALL & BRODY, 2007). Esses exercícios usualmente compõem parte do programa de aquecimento e visam o aumento da extensibilidade músculo-tendínea e do tecido conjuntivo muscular e periarticular, contribuindo desta forma para o aumento da flexibilidade (MAREK et al., 2005). Durante décadas, o alongamento agudo (aquele realizado imediatamente antes do exercício físico) tem sido uma prática intensamente recomendada em todos os níveis do desporto, visando à prevenção de lesões músculo-esqueléticas (AMAKO et al., 2003; MAREK et al., 2005). Contudo, tem-se demonstrado que essa modalidade de alongamento não reduz necessariamente as taxas de lesões e, em alguns casos, pode até mesmo predispor à ocorrência de lesões (POPE et al., 2000; HERBERT & GABRIEL, 2002; MCHUGH & COSGRAVE, 2010). A literatura científica tem indicado ainda que o alongamento agudo pode comprometer a capacidade muscular em produzir força (MAREK et al., 2005) e gerar potência para a contração (CONWELL et al., 2001; YOUNG & BEHM, 2003), prejudicando o desempenho funcional (Ramos et al., 2007). Tais achados contribuíram para o surgimento do termo “perda de força muscular induzida pelo alongamento” e foram inicialmente verificados nos músculos flexores e extensores do joelho, bem como Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 173 Efeito Do Alongamento Muscular Agudo Sobre A Força De Preensão Manual – Um Estudo Preliminar nos músculos flexores plantares do tornozelo (MCHUGH & COSGRAVE, 2010). Deste modo, supõe-se que sessões de alongamentos estáticos, efetuados antes de atividades que envolvam força dinâmica, possuem a capacidade de alterar negativamente o desempenho dessa qualidade física (ENDLICH et al., 2009). Postula-se que mecanismos neurais, tais como a redução no recrutamento de unidades motoras, bem como a ativação dos órgãos tendinosos de Golgi e de nociceptores (FOWLES et al., 2000), estejam envolvidos nesse processo (AVELA et al., 1999), inibindo a produção de força. Adicionalmente, questões mecânicas, representadas por alterações nas propriedades visco-elásticas da unidade músculo-tendão (reduzindo a tensão e a “rigidez” da unidade motora), bem como por modificações na relação comprimentotensão dos sarcômeros (com alteração da sobreposição fisiológica entre os filamentos de actina e miosina), também participariam desse processo (FOWLES et al., 2000; AVELA et al., 1999). Como resultado, ambas as alterações musculares (neurais e mecânicas), decorrentes da realização do alongamento agudo, influenciariam negativamente o mecanismo de contração muscular. Entretanto, ainda há controvérsia quanto aos efeitos decorrentes da realização do alongamento agudo uma vez que, enquanto diversos estudos demonstram uma redução no rendimento quando se aplica um alongamento prévio ao exercício resistido (YOUNG & BEHM, 2003; SHRIER, 2004; ENDLICH et al., 2009), outros não verificaram interferência do alongamento na produção de força (YAMAGUCHI & ISHI, 2005; Ribeiro et al., 2007). Os diferentes protocolos de avaliação e de intervenção utilizados nos experimentos são apontados como uma das possíveis causas para a divergência entre esses resultados (RAMOS et al., 2007). 174 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Diante do exposto, verifica-se que a relação entre o alongamento muscular e a capacidade de produzir força muscular, bem como a relação entre o alongamento muscular e o desempenho funcional e/ou esportivo, ainda é objeto de questionamento e de necessidade de elucidações. Deste modo, o objetivo do presente estudo foi analisar o efeito do alongamento agudo na força de preensão manual em homens e mulheres saudáveis. 2. Metodologia 2.1. Sujeitos Doze pessoas ativas (21,64±2,97 anos; 58,54±4,95 kg; 1,66±0,07 m), de ambos os gêneros (sendo 9 mulheres e 3 homens), com idade entre 18 e 26 anos, normais ativos (não praticantes de atividades físicas regulares), participaram do presente estudo. Foram considerados como critérios de exclusão dos voluntários: a) idade inferior a 18 anos e superior a 26 anos; b) ser atleta ou apresentar participação regular em atividades físicas (mínimo de 3 vezes por semana, durante 30 minutos por treino); c) presença de dores ou disfunções relacionadas aos complexos articulares do membro superior; d) presença de disfunções cárdio-respiratórias que limitassem a realização da atividade. 2.2. Instrumentação Os voluntários foram avaliados quanto à força de preensão manual por meio de um dinamômetro manual Saehan (Snedley-type) – Figura 1. Esse tipo de equipamento funciona através de dispositivos que operam segundo o princípio da compressão. Quando uma força externa é aplicada ao dinamômetro, uma mola de aço é comprimida e movimenta um ponteiro. Sabendo-se a quantidade de força necessária para deslocar o ponteiro através de uma determinada distância, pode-se determinar Efeito Do Alongamento Muscular Agudo Sobre A Força De Preensão Manual – Um Estudo Preliminar com exatidão a quantidade de força “estática” externa aplicada ao dinamômetro (McARDLE, 1991). Figura 2 – Posicionamento da voluntária durante a realização do teste de preensão manual Figura 1 – Dinamômetro manual Saeyan (Snedley type) utilizado para avaliação da força de preensão manual 2.3. Procedimentos Os voluntários foram posicionados sentados confortavelmente em uma cadeira, com o cotovelo do membro a ser avaliado mantido em flexão de 90º (0 – extensão completa) e com o quadril e joelhos flexionados a aproximadamente 90º (0 – extensão completa), segundo as recomendações de Kendall et al. (1995) para a avaliação da função muscular de preensão manual – Figura 2. Previamente à avaliação, os voluntários realizaram uma familiarização com o equipamento e com a metodologia do teste, por meio de 3 esforços máximos de preensão manual no aparelho, com cada membro superior a ser avaliado. Ainda, foi sorteado qual membro (dominante ou nãodominante) seria submetido ao exercício de alongamento e qual seria o membro controle (não submetido a qualquer intervenção), bem como a ordem de avaliação dos membros, para cada voluntário. Após a avaliação inicial, que consistiu de três contrações máximas de preensão manual, com duração média de 5 segundos e intervalo médio entre as contrações de 15 segundos (para evitar a fadiga muscular), os voluntários realizaram o alongamento ativo dos músculos flexores e extensores do punho por meio de 3 séries de 30 segundos para cada grupo muscular. Embora a preensão manual envolva primariamente a ação dos músculos flexores superficiais Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 175 Efeito Do Alongamento Muscular Agudo Sobre A Força De Preensão Manual – Um Estudo Preliminar e profundos dos dedos, flexor longo do polegar, flexor curto do polegar e flexor do dedo mínimo, considerou-se também o papel da musculatura extensora do punho para a estabilização articular durante essa ação manual para o delineamento do programa de alongamento muscular. Em seguida ao exercício de alongamento, ambos os membros foram reavaliados, conforme a avaliação inicial. Cada contração máxima de preensão manual foi verbalmente estimulada pelo mesmo examinador, a fim de padronizar o comando verbal para que os voluntários obtivessem o máximo desempenho na atividade. Os resultados de torque de preensão manual (em N) foram revelados aos voluntários somente após a completa realização dos testes, a fim de se evitar efeitos de interferência durante a avaliação. avaliações realizadas (1ª avaliação= 31,0±2,2 N; 2ª avaliação= 30,6±1,2 N), com redução percentual de 1,2%. – Figura 3. Figura 3 – Média dos valores de torque (em N) dos voluntários durante o teste de preensão manual, antes e após a realização do alongamento (ALONGAMENTO) e na primeira e segunda avaliação (CONTROLE) – n=12 2.4. Análise dos dados 4. Discussão Os dados de preensão manual foram analisados por meio do software STATISTICA 5.0 for Windows (StatSoft, Inc, Tulsa, USA). Os testes de Shapiro-Wilks e de KolmogorovSmirnov foram utilizados para testar a normalidade dos conjuntos de dados e, uma vez tais critérios foram satisfeitos, utilizou-se o teste t-Student para amostras dependentes para a comparação do desempenho entre os membros submetidos e não-submetidos ao alongamento, considerando um nível de significância de 5% 3. Resultados A realização do alongamento agudo não levou a uma redução significativa do desempenho no teste de preensão manual (p= 0,09), embora tenha sido observada uma redução média de 4,4% nos valores de torque (pré-alongamento= 31,4±1,8 N; pós-alongamento= 30,1±1,7 N). Para o membro controle, não houve diferença significativa (p=0,55) em relação às duas 176 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica O efeito do alongamento agudo sobre a força muscular e, conseqüentemente, sobre o desempenho esportivo, tem sido alvo de inúmeros questionamentos e controvérsias. Tendo esta situação em mente, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito dessa modalidade de exercício sobre a força de preensão manual, por meio de um estudo preliminar, que apresentará continuidade futura. Neste contexto, os resultados deste estudo indicam até o momento que a realização do alongamento agudo não interfere de forma significativa na capacidade contrátil do músculo, ou seja, em sua capacidade de gerar força para o trabalho. Tais achados apresentam discordância direta ou indireta com diversos estudos que já se dedicaram a esse tema, as quais são discutidas a seguir. Como ponto de partida, verifica-se que as informações envolvendo alongamento e treinamento de força apresentam grande contradição entre os Efeito Do Alongamento Muscular Agudo Sobre A Força De Preensão Manual – Um Estudo Preliminar diferentes estudos, sendo as características dos protocolos utilizados nos experimentos (formas de avaliação e características da intervenção) uma das possíveis causas para a divergência entre os resultados. Em comparação direta, os resultados do presente estudo discordam parcialmente de Knudson & Nofall (2005), que verificaram uma redução significativa (88,8%) na força isométrica de preensão manual após a realização de 100 segundos de alongamento da musculatura responsável por essa ação, sendo essa redução significativa a partir de 40 segundos de alongamento. Uma possível explicação para essa divergência de resultados pode ser atribuída ao baixo volume do alongamento utilizado no presente estudo (30 segundos), uma vez que existem suposições de que exercícios de alongamento com baixo volume não interferem no desempenho do exercício de força (RIBEIRO et al., 1997). Desta forma, apesar das diferenças metodológicas, nossos resultados se aproximam dos achados de Siatras et al. (2008), que verificaram redução 16% no pico de torque extensor de joelho após a realização de 60 segundos de alongamento agudo do músculo quadríceps, sem contudo verificar efeitos negativos dessa prática quando os tempos de manutenção do alongamento foram reduzidos para 20 segundos e 10 segundos. Em relação a trabalhos que verificaram o efeito do alongamento agudo sobre a força e a performance, Shrier (2004) revela que o alongamento agudo não é benéfico para o desempenho em eventos relacionados à força e ao salto. Além disso, outras pesquisas realizadas para verificar a influência do alongamento agudo no salto vertical constataram que este tinha sua performance diminuída (YOUNG & BEHM, 2003; CHURCH et al., 2001; KNUDSON et al., 2001; YOUNG & ELLIOTT, 2001; SIATRAS et al., 2008). Um desses estudos (YOUNG & BEHM, 2003) comparou os efeitos de diversas formas de aquecimento sobre a força explosiva e sobre o desempenho em atividades de salto, constatando que a corrida submáxima e a realização de saltos apresentaram efeitos positivos, enquanto o alongamento estático apresentou influência negativa nestas variáveis. Comparando diversas formas de aquecimento na performance do sprint de 20 metros em atletas de rugby, Fletcher & Jones (2004) verificaram que os alongamentos estáticos aumentaram o tempo do sprint, ou seja, prejudicaram o desempenho para essa atividade. Esta diminuição da performance foi atribuída a um aumento na flexibilidade da unidade musculotendínea, diminuindo sua capacidade de absorver energia na fase excêntrica do movimento. Contrariando os resultados acima apresentados, mas em acordo indireto com o presente estudo, outros trabalhos (YAMAGUCHI & ISHI, 2005; UNICK et al., 2005; KNUDSON et al., 2004; RIBEIRO et al., 1997) demonstraram que o alongamento agudo não ocasiona alterações na performance muscular. Yamaguchi & Ishi (2005) verificaram que o alongamento estático de 30 segundos não influencia a performance na extensão de joelho em préadolescentes, enquanto Unick et al. (2005) não identificaram influência negativa da realização de alongamentos balísticos de 15 ou 30 minutos no teste de salto vertical, em mulheres treinadas. Com resultados de mesma tendência, Knudson et al. (2004) não observaram redução na performance do serviço do tênis (velocidade e precisão) com a realização de alongamento adicionado a 5 minutos de aquecimento, independente do nível de habilidade, idade ou sexo dos atletas, enquanto Ribeiro et al. (1997) não encontraram diferença significativa no teste de 10 RM realizado no exercício leg-press após a realização de alongamento agudo de 30 segundos. Deste modo, um fator importante a ser considerado pelos profissionais Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 177 Efeito Do Alongamento Muscular Agudo Sobre A Força De Preensão Manual – Um Estudo Preliminar envolvidos em treinamento esportivo parece ser o volume dos protocolos de prática de alongamento. Estudos têm demonstrado que, quanto maior for o volume (tempo) de alongamento, maior a probabilidade de se encontrar uma influência negativa na produção de força (KOKKONEN et al., 1998; GREGO NETO & MANFFRA, 2009). Neste sentido, recomendações para abandonar os exercícios de alongamento pré-esforço físico parecem prematuras, uma vez que a maioria dos estudos que verificaram efeitos negativos dessa prática utilizam protocolos prolongados de alongamento, portanto não representativos das rotinas clínicas e esportivas mais utilizadas. Estudos anteriores (FOWLES et al., 2000; AVELA et al., 1999; YOUNG & ELLIOTT, 2001; YOUNG & BEHM, 2003) têm sugerido que os mecanismos que causam a diminuição na performance muscular após a realização do alongamento agudo são de natureza neural e mecânica. As alterações neurais, ou seja, a redução no nível de atividade neuromuscular, ocorrem durante o alongamento estático de 30 segundos, mas são restauradas imediatamente após o alongamento (GUISSARD et al., 1988). Por sua vez, sabe-se que as alterações mecânicas, ou seja, a diminuição das propriedades visco-elásticas das estruturas músculotendinosas, também ocorrem durante o alongamento estático de 30 segundos. Entretanto, Magnusson et al. (1993) já determinaram que o tempo decorrido para a recuperação dessas propriedades é inferior a um minuto, após a realização de manobras de alongamento de 45 segundos. Em outras palavras, tanto as alterações neurais quanto mecânicas parecem não ser contínuas e prolongadas a um exercício de alongamento de baixa duração, como o proposto pelo presente estudo. Desta forma, a ausência dessas alterações (em protocolos de baixo volume) poderiam explicar a ausência de alterações (negativas) relevantes na força muscular. 178 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Embora não seja possível descartar que os efeitos agudos do alongamento possam resultar em diminuição da força e velocidade de contração muscular (o que não foi verificado no presente estudo), é importante enfatizar que a realização crônica desse tipo de exercício pode levar à melhora dessas características em longo prazo (SHRIER, 2004). Ross et al. (2007) verificaram aumento da flexibilidade e da performance no salto em distância em cadetes submetidos a um protocolo de 15 dias de alongamentos para os músculos flexores do joelho, enquanto em outro estudo (KOKKONEN et al., 2007) foi constatado que a realização de alongamento para membros inferiores durante o período de 10 semanas foi suficiente para aumentar a flexibilidade (18,1%), o desempenho no salto vertical (6,7%) e no salto em distância (2,3%), bem como reduzir o tempo para realizar o sprint de 20 metros (1,3%). Além disso, foi verificado aumento na força muscular nos testes de 1 RM (30,4%) e de 60% RM (32,4%). Desta forma, recomendase que o alongamento seja realizado após a prática de exercícios ou em uma sessão à parte, como componente de um programa de treinamento (alongamento crônico). Vale considerar que, a exemplo de outros estudos, há alguns elementos que correspondem a fatores de limitação deste trabalho preliminar. Em primeiro lugar, o reduzido tamanho amostral implica em cuidado ao extrapolar essas informações a uma população geral. Ainda, considerase que os sujeitos deste estudo são pessoas normais ativas, e que nossos resultados podem não ser diretamente aplicáveis a outras populações, como a de atletas ou praticantes de atividades esportivas, ou até mesmo a indivíduos normais ativos de outras faixas etárias. Tal fato destaca a necessidade de futuros trabalhos que investiguem como essas diferentes populações respondem a esse tipo de exercício. Por fim, fatores de cunho psicológico, Efeito Do Alongamento Muscular Agudo Sobre A Força De Preensão Manual – Um Estudo Preliminar como o estado de motivação dos voluntários para a execução dos testes e o fenômeno da habituação com os mesmos, sempre devem ser considerados como relevantes ao se avaliar o desempenho muscular. Entretanto, a padronização do comando verbal, a utilização de apenas um examinador para conduzir as avaliações, bem como a devida familiarização dos voluntários com todas as etapas do teste foram adotadas como estratégias experimentais para reduzir a possibilidade de interferência desses fatores. 5. Conclusão O presente estudo verificou que o alongamento agudo parece não alterar de forma significativa a força muscular para a preensão manual. Entretanto, destaca-se o seu caráter ainda preliminar que, associado a uma amostra de maior representatividade e ao estudo de outras variáveis do desempenho muscular, poderá levar a resultados mais conclusivos sobre este tema. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 179 Efeito Do Alongamento Muscular Agudo Sobre A Força De Preensão Manual – Um Estudo Preliminar Referências bibliográficas AMAKO M, ODA T, MASUOKA K, YOKOI H, CAMPISI P. Effect of static stretching on prevention of injuries for military recruits. 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E por fim, as sugestões de enfermidades tratáveis pela acupuntura foram além das citadas nas tratadas: problemas com o intestino, circulação e estômago, hipertensão, artrite, pós-operatório, nervosismo, epicondilite, diabetes, causas psicológicas e microlesões. Na análise comparativa dos grupos é possível observar que o GF foi o que mais recebeu e estava propenso a receber este tratamento. Os dados nos levam a entender que pouco se sabe a respeito desta técnica mesmo em estudantes da área da saúde. Para ambos os grupos o espectro de enfermidades tratáveis e tratadas foram limitados diante da capacidade de tratamento da técnica, pois distúrbios dermatológicos, respiratórios, reumáticos, estéticos e tabagismo não foram citados. Outro aspecto notado na análise de ambos os grupos é que o conhecimento da técnica permeia o âmbito curativo e não preventivo. A prevenção deve ser incluída na rotina dos profissionais de saúde e as funções preventivas da acupuntura devem ser reforçadas no processo de ensino aprendizado. Diante do exposto conclui-se que é fundamental a divulgação A acupuntura é uma técnica milenar de origem chinesa, que faz parte do contexto da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), tem seu uso recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e no Brasil foi incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS). É uma terapia de intervenção em saúde que aborda de modo integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser humano, podendo ser usada de forma isolada ou integrada com outros recursos terapêuticos tradicionais. O objetivo deste trabalho é identificar e analisar as percepções dos estudantes de fisioterapia e educação física acerca da acupuntura referente às enfermidades tratadas e tratáveis por esta técnica. Trata-se de um estudo exploratório, realizado com 71 estudantes sendo 24 do curso de Fisioterapia-Grupo Fisioterapia (GF) e 47 de Educação Fisica- Grupo Educação Ficia (GEF) de um Centro Universitário de Ribeirão Preto (São Paulo). Foi aplicado um questionário semi-estrurado. O instrumento de coleta de dados consistiu de 3 questões: (1) você já se tratou com acupuntura? Se sim para qual finalidade? (2) Para quem não se tratou, você se trataria? Para qual finalidade?; (3) Sugestões de enfermidades sugeridas para tratamento com acupuntura. Foi constatado que 37,5% (GF) e 6,3% (GEF) já foram tratados com a técnica. As enfermidades tratadas no (GF) e (GEF) ¹ Docentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNISEB-COC ² Discentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário UNISEB-COC 182 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica e esclarecimento da acupuntura aos acadêmicos da área da saúde feito por meio dos docentes e na disciplina especifica, enfatizando além dos aspectos curativos e preventivos as diferentes possibilidades de disfunções abordadas. Palavras-chave: Acupuntura, fisioterapia, educação física. ABSTRACT Acupuncture is an ancient technique of Chinese origin, which is part of the context of Traditional Chinese Medicine (TCM), its use has been recommended by the World Health Organization (WHO) and Brazil was incorporated into the Unified Health System (SUS). Therapy is a health intervention that addresses the way comprehensive and dynamic healthdisease process in humans and may be used alone or integrated with other traditional therapeutic resources. The objective of the present estudy is to identify and analyze the students’ perceptions of physiotherapy and physical education on acupuncture relating to diseases that are treated by this technique. This is an exploratory study, conducted with 71 students and 24-of Physiotherapy Course - Physiotherapy Group (FG) and 47 of Physical Education Course- Physical Education Group (GEF) of a University Center of Ribeirão Preto (São Paulo). We applied a semi-structured questionnaire. The data collection instrument consisted of three questions: (1) you have been treated with acupuncture? If so for what purpose? (2) For those who have treated you, if you treat? For what purpose?, (3) Tips for diseases suggested acupuncture treatment. It was found that 37.5% (GF) and 6.3% (GFE) have been treated with the technique. The disorders treated in (GF) and (GFE) were: premenstrual tension, migraine, anxiety, pain (muscular limbs, back) and tendonitis. For students who are not treated we observed that 93.3% (GF) and 68.1% (GFE) would treat. The purposes cited for both groups were pain (head, muscle, spine), stress, anxiety, smoking, pre-menstrual tension. Finally, the suggestions of diseases treatable by acupuncture were treated than those cited in: problems with the bowel, stomach and circulation, hypertension, arthritis, postoperative, nervousness, epicondylitis, diabetes, psychological causes and microdamage. The comparative analysis of the groups is observed that the GF was the most received treatment and was prone to receive this treatment case. The data lead us to understand that little is known about this technique even students in the health field. For both groups the spectrum of treatable disorders were treated and given the limited treatment capacity of the technique, for dermatological disorders, respiratory, rheumatic, aesthetic, and smoking were not cited. Another aspect noted in the analysis of both groups is that knowledge permeates the scope of the technique is not curative and preventive. Prevention should be included in routine health care and preventive functions of acupuncture should be reinforced in the teaching learning. As a conclusion that it is essential disclosure and explanation of acupuncture to academic health care made by the discipline of teachers and specifies, in addition to emphasizing preventive and curative aspects of the different possibilities of disorders addressed. Keywords: Acupuncture, Physiotherapy and Physical Education 1. Introdução A Organização Mundial da Saúde (OMS) sugeriu oferecimento da acupuntura como medicina complementar e criou um movimento de abertura legal para a prática desta especialidade por diversos profissionais da saúde com formação em nível superior: Fisioterapia, Odontologia, Psicologia, Medicina, Fonoaudiologia, Biomedicina e Enfermagem. A resolução Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 183 Percepção de Estudantes de Fisioterapia Versus Educação Física Quanto a Enfermidades Tratadas e Tratáveis com Acupuntura N. 201/1999 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional dispõe sobre a prática de acupuntura pelo fisioterapeuta e no seu Art. 5º é reconhecida a legitimidade ao Fisioterapeuta de aplicar, complementarmente, os métodos e técnicas de acupuntura nas suas atividades profissionais (COFFITO- Resolução- N. 201/1999). Atualmente há interesse e reconhecimento do Ministério da Saúde (portarias 971, 853, 154) em sedimentar a inserção de vários profissionais da saúde, incluindo o fisioterapeuta como acupunturista no SUS (Ministério da Saúde, 2006; Secretaria de Atenção à Saúde, 2006; Ministério da Saúde 2008). No que diz respeito às evidências científicas do método, a Organização Mundial de Saúde publicou um manuscrito que apresenta uma gama de possibilidades terapêuticas da acupuntura incluindo doenças agudas e crônicas, para todas as faixas etárias. Ela pode ser sugerida em todos os níveis de atenção com alto grau de resolutividade e eficiência (World Health Organization, 2003). A literatura científica ligada à fisioterapia e educação física tem demonstrado que acupuntura associada à outros recursos promove benefícios significativos. Como exemplo está o estudo de Kazumi et al. (2009), que comprova os efeitos da associação entre massagem e acupuntura na síndrome do piriforme de corredores. Os autores concluíram que as duas técnicas associadas proporcionaram aos corredores melhora da dor e flexibilidade restabelecendo a função muscular. Em outro estudo, cujo objetivo foi avaliar os efeitos da acupuntura associada à reeducação postural em pacientes com hérnia de disco foi observado que houve melhora nos seguintes parâmetros: nivel de dor, amplitude de movimento, medida dedochao, atividades de vida diaria e padrão enérgetico (FERRACIOALI et al., 2006). 184 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica Por fim, vários são os efeitos da acupuntura encontrados nos estudos científicos: potencializa a ação da cinesioterapia, aumenta a incidência de partos vaginais, reduz a dor lombar, diminui a dor e melhora o sono em indivíduos com fibromialgia dentre outros (FERNADES, 2003; BIO, 2005; WITT, 2006; LIN, 2010). Diante do exposto há preocupação das Instituições de Ensino Superior em oferecer formação crítica e científica neste recurso complementar, além de orientar quanto à legislação relacionada à utilização da técnica. Para este processo pedagógico é fundamental conhecer a percepção dos estudantes quanto às doenças tratáveis e tratadas pela a acupuntura. Assim, o objetivo deste trabalho é identificar e analisar as percepções dos estudantes de fisioterapia e educação física acerca da acupuntura referente às enfermidades tratadas e tratáveis por esta técnica. 2. Metodologia 2.1. Sujeitos Trata-se de um estudo exploratório, realizado com 71 estudantes sendo 24 do curso de Fisioterapia-Grupo Fisioterapia (GF) e 47 de Educação Fisica- Grupo Educação Ficia (GEF) de um Centro Universitário de Ribeirão Preto (São Paulo). 2.2. Procedimentos Foi aplicado um breve questionário semi-estrurado auto responsivo contendo 3 questões. Este questionário foi respondido de forma anônima, na sala de aula e posteriormente recolhido. O instrumento de coleta de dados consistiu de 3 questões: (1) você já se tratou com acupuntura? Se sim para qual finalidade? (2) Para quem não se tratou você se trataria? Para qual finalidade?; (3) Sugestões de enfermidades sugeridas para Percepção de Estudantes de Fisioterapia Versus Educação Física Quanto a Enfermidades Tratadas e Tratáveis com Acupuntura tratamento com acupuntura. Posteriormente foi realizada análise qualitativa descritiva dos dados. 3. Resultados Foi constatado que 37,5% (GF) e 6,3% (GEF) já foram tratados com a técnica. As enfermidades tratadas no (GF) e (GEF) foram: tensão pré-menstrual, enxaqueca, ansiedade, dor (muscular, membros, costas) e tendinite. Para os alunos que não se trataram observamos que 93,3% (GF) e 68,1% (GEF) se tratariam. As finalidades citadas para ambos os grupos foram: dor (cabeça, muscular, coluna), estresse, ansiedade, tabagismo, tensão pré-menstrual. E por fim, as sugestões de enfermidades tratáveis pela acupuntura foram além das citadas nas tratadas: problemas com o intestino, circulação e estômago, hipertensão, artrite, pós-operatório, nervosismo, epicondilite, diabetes, causas psicológicas e microlesões. Na análise comparativa dos grupos é possível observar que o GF foi o que mais recebeu tratamento e estava propenso a receber este tratamento. 4. Discussão Há uma forte tendência de utilizar a acupuntura como recurso terapêutico complementar, em especial por profissionais não médicos (Santos, 2009). Isso faz com que os estudantes de fisioterapia demonstrem cada vez mais interesse no aprendizado da técnica, predispondo as Instituições de Ensino a fornecerem noções gerais para que o futuro profissional possa optar após a conclusão da graduação pela formação específica. Neste contexto, as possibilidades de tratamento de acupuntura devem ser conhecidas pelos profissionais da saúde. Neste estudo, foi observado que 37,5% (GF) e 6,3% (GEF) já foram tratados com a técnica. Quando analisadas as enfermidades tratadas por ambos os grupos com maior freqüência observou-se: tensão prémenstrual, enxaqueca, ansiedade, dor (muscular, membros, costas) e tendinite. Diante destes dados pode-se reforçar que as afecções dolorosas são as mais citadas e consequentemente conhecidas pelos estudantes. Entretanto, eles devem ser orientados quanto à lista gerada na pesquisa da Organização Mundial de Saúde que inclui afecções físicas, mentais e emocionais (World Health Organization, 2003), pois se observou que menos da metade dos estudantes de ambos os grupos receberam este tratamento. Poucos estudantes do grupo GEF foram tratados com a técnica, este fato pode estar relacionado à desinformação ou medo. Os usuários dos sistemas de saúde acreditam que a acupuntura é aplicada utilizandose somente agulhas o que não é verdade. Outros métodos podem ser utilizados como moxabustão, laser, magnetos, acupressão dentre outras. Demonstrando esta mesma dinâmica, Silva (2001), encontrou em seu estudo uma desvantagem da utilização da acupuntura: o medo. Respaldando estas informações, no estudo de Ferreira (2010), sobre conhecimento e utilização da acupuntura em Tangará da Serra MT, foi observado que 67% da população têm medo da acupuntura o que pode ser justificado segundo a autora, pelo pânico por agulhas sendo este o instrumento mais utilizado nesta terapia complementar. Quando avaliamos os alunos que não se trataram, foi observado que 93,3% (GF) e 68,1% (GEF) se tratariam. Isso demonstra posicionamento favorável por parte dos estudantes em receber esta técnica e um provável preconceito reduzido com a mesma. Nestes grupos as finalidades citadas para utilização da técnica foram: dor (cabeça, muscular, coluna), estresse, ansiedade, tabagismo, tensão pré-menstrual. Na análise comparativa dos grupos é possível observar que o GF foi o que mais recebeu e estava Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 185 Percepção de Estudantes de Fisioterapia Versus Educação Física Quanto a Enfermidades Tratadas e Tratáveis com Acupuntura propenso a receber este tratamento. Em comparação direta, os resultados do presente estudo estão de acordo com Kurebayashi et al. (2009), que ao analisar a percepção de enfermeiras de 11 Unidades de Saúde Pública da Região Sudeste do Município de São Paulo, sobre doenças tratadas e tratáveis por acupuntura verificaram que foram mais sugeridas para tratamento doenças músculo-esqueléticas (41,5%) e doenças crônico-degenerativas (10%). E por fim, as sugestões gerais de enfermidades tratáveis pela acupuntura foram além das citadas nas tratadas: problemas com o intestino, circulação e estômago, hipertensão, artrite, pósoperatório, nervosismo, epicondilite, diabetes, causas psicológicas e microlesões. Estas informações nos levam a crer que uma discussão aprofundada sobre doenças tratáveis pela acupuntura deva ocorrer na formação destes estudantes. A completa listagem organizada pela Organização Mundial de Saúde deve ser o documento básico para estas discussões. Posteriormente sugere-se aprofundamento na literatura que demonstra evidências científica e outras aplicações na área da Fisioterapia e Educação Física. Temas como, acupuntura na performance de atletas, na fibromialgia, nas disfunções temporomandibulares, no acidente vascular encefálico, no câncer, na esclerose múltipla dentre outros estão indicados (BRUM et al., 2009; BRANCO et al., 2005; LUNA & FERNANDES FILHO, 2005). Não foi apresentada pelos estudantes a utilização da acupuntura na prevenção de disfunções orgânicas. A literatura traz poucos estudos neste tema devido à dificuldade metodológica. Um exemplo é o estudo realizado por Assumpção et al. (1996) que demonstrou em bebês de alto risco, o estímulo dos pontos de acupuntura Ting como eficaz na prevenção de hipoglicemia neonatal. Esta abordagem preventiva pode 186 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica ser discutida em todas as disciplinas da formação do fisioterapeuta como aspecto de promoção de saúde. Além disso, a fisioterapia laboral também pode usufruir desta terapia complementar tanto no aspecto preventivo como curativo. A pesquisa aponta, ainda, para a necessidade de concientizar a população usuária dos serviços de saúde sobre a importância, utilização e técnicas da acupuntura, sendo fundamentais as ações dos alunos, do corpo docente e dos funcionários destes serviços. 5. Conclusão Apesar de se tratar de amostragem intencional, não representativa do coletivo de estudantes de fisioterapia e educação física conclui-se que é fundamental a divulgação e esclarecimento da acupuntura aos acadêmicos da área da saúde feito por meio dos docentes, na disciplina específica ou generalista, enfatizando além dos aspectos curativos e preventivos as diferentes possibilidades de disfunções tratáveis pela acupuntura. Percepção de Estudantes de Fisioterapia Versus Educação Física Quanto a Enfermidades Tratadas e Tratáveis com Acupuntura Referências bibliográficas BIO, E; BITTAR, RE; MAGANHA, C.A.; ZUGAIB, M. Intervenção fisioterapêutica no trabalho de parto. Femina 2005; 33 (10): 783-787. BRANCO, CA; RODRIGO, BF; OLIVEIRA TRC; GOMES VL; FERNANDES NETO AJ. Acupuntura como tratamento complementar nas disfunções temporomandibulares: revisão da literatura. Rev Odontol da UNESP 2005; 34 (1): 11-16. BRUM, KN; ALONSO, AC; BREC, GC. 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Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 187 Normas de publicação da Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica do UniSEB-COC A revista Multidisciplinar de Iniciação Científica do UniSEb-COC tem por objetivos incentivar a reflexão acadêmica, difundir pesquisas e propiciar um intercâmbio científico entre pesquisadores. A publicação divulga trabalhos inéditos de pesquisadores do UniSEBCOC e de outras instituições de ensino. As colaborações poderão ser apresentadas em forma de artigos, resenhas, relatos de pesquisas em andamento e de congressos científicos, levantamentos bibliográficos ou informações gerais e estarão condicionadas à aprovação prévia da Comissão Editorial. O conteúdo e o compromisso com o ineditismo dos textos são de responsabilidade dos seus autores, que deverão enviar a autorização de publicação concordando com as normas descritas neste documento juntamente com o texto. Os direitos autorais de ilustrações, gráficos, fotografias, tabelas e desenhos que acompanharem os textos serão de exclusiva responsabilidade do colaborador. Os trabalhos publicados serão considerados colaborações não remuneradas, visto que a revista não é de caráter comercial e sim de divulgação científica. Normas para envio de Artigos 1. Os arquivos devem ser encaminhados por e-mail para os endereços: [email protected], configurados no programa Word for Windows – 2003-2007. 2. Os textos devem ter entre 15 a 20 laudas em fonte Times New Roman, corpo 12, espaço 1,5 cm. Folha A4. Editor de texto Word for Windows 6.0 ou posterior. Parágrafo justificado com tabulação 1,25 cm. Margens esquerda e superior de 3,0 cm e direita e inferior de 2,0 cm. 188 | Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica 3. A estrutura do texto deve a apresentar a seguinte ordem: Título, nome do autor com credenciais em rodapé (5 linhas no máximo), resumo (em 600 caracteres no máximo), abstract (versões para o inglês ou espanhol); 3 a 5 palavras-chave; Corpo do Texto; Referências Bibliográficas. 4. Nas credenciais do autor do artigo deve conter as seguintes informações: Nome, maior titulação, entidade a que está vinculado e endereço eletrônico. 6. Ilustrações e/ou fotografia serão utilizadas dentro das possibilidades de editoração; 7. Tabelas e gráficos devem ser numerados e encabeçados pelo seu título; 8. Desenhos, ilustrações e fotografias devem ser identificados por suas respectivas legendas e pelo nome de seus respectivos autores; 9. Citações no corpo do texto deverão seguir o padrão: a) citações diretas com mais de 3 linhas devem vir em recuo de 4 cm à esquerda, sem aspas, fonte 10, espaço simples, seguidas de referência (sobrenome do AUTOR, em caixa alta, ano da publicação, número da página). b) citações diretas até 3 linhas devem vir no corpo do texto, sem recuo, entre aspas, fonte 12, seguidas de referência (sobrenome do AUTOR, em caixa alta, ano da publicação, número da página). c) citações indiretas devem apontar somente sobrenome do AUTOR, em caixa alta e ano da publicação. 10. As referências bibliográficas (obras citadas ou mencionadas) deverão estar dispostas no final do artigo e redigidas em ordem alfabética, com a seguinte seqüência: Autor (SOBRENOME em caixa alta, nome). Título em bold. Edição. Cidade: Editora, ano de publicação. Revista Multidisciplinar de Iniciação Científica | 189
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