ministério da cultura, inhotim, itaú e fundação clóvis salgado
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ministério da cultura, inhotim, itaú e fundação clóvis salgado
MINISTÉRIO DA CULTURA, INHOTIM, ITAÚ E FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO APRESENTAM Palácio das Artes capa : Tsuruko Yamazaki, Red, 1956/2013 ©Tsuruko Yamazaki e membros da Gutai Art Association. Cortesia do Ashiya City Museum of Art & History, Ashiya Centro de Arte Contemporânea e Fotografia 12 de dezembro de 2014 a 8 de março de 2015 Do Objeto para o Mundo – Coleção Inhotim, exposição inédita e de grande porte realizada no Palácio das Artes e no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, permite aproximar a arte contemporânea do público. Trata-se de uma parceria entre instituições, que viabiliza a ampliação das diretrizes da Fundação Clóvis Salgado ao estender o acesso à cultura a um maior número de pessoas, por meio de um projeto audacioso que exibe, pela primeira vez, parte do acervo do Instituto Inhotim fora da sua sede. Entrecortando o cenário urbano de Belo Horizonte, em contraposição à paisagem de Brumadinho, o percurso da exposição nos sugere a dissolução dos contornos da imagem representada e da materialidade dos objetos, que se tornaram acontecimentos artísticos. Essa mudança crucial marcou a história do próprio Palácio das Artes que, desde sua inauguração, vivenciou os desafios da arte de vanguarda aos seus limites formais e institucionais. Agora, testemunhamos o retorno de artistas visuais brasileiros que se consolidaram a partir das exposições e manifestações iniciadas neste espaço e que foram ampliadas em outros contextos, marcando a história da arte contemporânea com propostas e experiências inovadoras. A partir do Programa de Exposições e do Programa Educativo em Artes Visuais, a Fundação Clóvis Salgado perpetua sua missão de trazer ao público ações artísticas e formativas de destaque, favorecendo a construção do conhecimento e o desenvolvimento cultural. Esperamos que Do Objeto Para o Mundo – Coleção Inhotim seja mais uma oportunidade para que o público encontre, nas diversas manifestações artísticas contemporâneas, convergências e aproximações com seu cotidiano e interesses, aprofundando as relações entre arte e vida. Erika Ziller Diretora de Programação da Fundação Clóvis Salgado Fernanda Machado Presidente da Fundação Clóvis Salgado é a primeira exposição da Coleção Inhotim fora de sua sede, em Brumadinho, e reúne obras de 29 artistas de diversas gerações e partes do mundo. A mostra ocupa todos os espaços expositivos da Fundação Clóvis Salgado – as galerias do Palácio das Artes e o Centro de Arte Contemporânea e Fotografia. Esta publicação agrupa textos breves sobre cada um dos artistas, bem como planos da disposição das obras no espaço, servindo como um guia de navegação do espectador na exposição. As obras apresentadas nesta mostra foram produzidas entre meados dos anos 1950 e as primeiras décadas dos anos 2000, propondo uma entre muitas possíveis antologias do acervo do Inhotim. Na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, a exposição se subdivide em núcleos que examinam quatro momentos de formação da arte contemporânea: o neoconcretismo brasileiro, a produção dos anos 1960, o grupo de vanguarda japonesa Gutai e as práticas de acionismo e de performance dos anos 1970. As obras e os documentos históricos são apresentados ao lado de trabalhos mais recentes, apontando para sua contundência no presente e para uma ideia de história em construção. Temas como a geometria, o movimento, o corpo, a política e a natureza atravessam esse recorte. Nas galerias Arlinda Corrêa Lima, Genesco Murta e no Espaço Mari’Stella Tristão, obras em várias mídias e suportes de Ernesto Neto, Jorge Macchi, Mauro Restiffe, Melanie Smith, Rivane Neuenschwander e Thomas Hirschhorn dão sequência ao percurso expositivo. No Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, é exibida a videoinstalação Homo sapiens sapiens, de Pipilotti Rist, produzida no Inhotim, em 2005, e agora apresentada no Brasil pela primeira vez. O título DO OBJETO PARA O MUNDO faz menção ao movimento de aproximação do objeto de arte à experiência cotidiana e de mundo do espectador, desmaterializando-se ou tomando novas feições mais próximas à vida. É ainda uma referência à manifestação “Do corpo à terra”, realizada em Belo Horizonte, em 1970, e ao mote de Hélio Oiticica: “museu é o mundo”. Ao fazer circular seu acervo e propor novas leituras e interpretações sobre ele, o Inhotim contribui para a partilha da cultura na sociedade, aprofundando afinidades estéticas e conceituais com seu trabalho dos últimos dez anos. DO OBJETO PARA O MUNDO Instituto Inhotim SUMÁRIO 8 Abraham Cruzvillegas 26 Iran do Espírito Santo 9 André Cadere 27 Jac Leirner 10 Artur Barrio 28 Jorge Macchi 11 Channa Horwitz 29 Jose Dávila 12 Chris Burden 30 Juan Araujo 13 Cildo Meireles 31 Kiyoji Otsuji 14 Cinthia Marcelle 32 Lygia Clark 15 Daniel Steegmann Mangrané 33 Lygia Pape 16 David Lamelas 34 Mauro Restiffe 17 Décio Noviello 35 Melanie Smith 18 Ernesto Neto 36 Pipilotti Rist 19 Gabriel Sierra 37 Raquel Garbelotti 20 Hélio Oiticica 38 Rivane Neuenschwander 39 Thomas Hirschhorn 40 Tsuruko Yamazaki 21 - 24 25 PL A NOS DA E XP OSIÇ ÃO Hitoshi Nomura ABRAHAM CRUZVILLEGAS 8 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D ANDRÉ CADERE G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Cidade do México, 1968; vive na Cidade do México Varsóvia, Polônia, 1934 – Paris, França, 1978 Ink & Blood, 1968-2009, 2009, tinta sobre papel, conjunto de 41 cartazes, dimensões variáveis Sem título, 1975, madeira pintada, 45 cm; vista de exposição na galeria Banco, Brescia, Itália, 1975 Abraham Cruzvillegas cresceu na colonia Ajusco, ao sul da Cidade do México. Formadas por migrantes que deixavam a zona rural e partiam para a capital do país em busca de melhores condições de vida, as colonias mexicanas são marcadas pela forte presença da coletividade, do improviso e da precariedade. A forma de ocupação do terreno muitas vezes é ilegal, gerando condições impróprias para a construção – as casas estão em constante mudança, atendendo às necessidades impostas pelas famílias e pelo ambiente. Essa experiência com a autoconstrução é decisiva na prática artística de Cruzvillegas. Seu trabalho é autobiográfico, e suas formas são criadas a partir de materiais disponíveis e relacionados ao contexto. Sua história lhe deu a convicção de que poderia, por meio da arte, agir politicamente, construindo um discurso crítico sobre a realidade. Em 1968, o México foi sede das Olimpíadas. Dez dias antes de seu início, um número ainda desconhecido de André Cadere nasceu na Polônia, cresceu na Romênia e, antes de sua morte precoce, em Paris, em 1978, já era considerado um dos artistas mais singulares do seu tempo. Pouco se conhece da sua atividade inicial na Romênia. Quando chegou à França, juntou-se à geração de artistas pioneiros da arte conceitual, que, no início da década de 1970, contestava o estatuto dominante da obra de arte e das instituições museológicas. É nesse contexto que surgem os seus célebres Barres de Bois Rond (197078), bastões cilíndricos de madeira, que lhe valeram o apelido “o homem do bastão”. Os bastões eram fabricados artesanalmente pelo artista, revelando características de um objeto feito à mão, com pequenas imperfeições propositalmente criadas. Sua produção, contudo, baseava-se em rigorosos princípios matemáticos e numa sequência precisa de cores. Como parte de um projeto que entrelaçava arte e vida, Cadere carregava esses bastões, que podiam medir 1 metro de estudantes foi assassinado pelo governo do país ao protestar pela liberdade, no que ficou conhecido como Massacre de Tlatelolco. Também em 1968, Cruzvillegas nasceu, e é do mesmo ano o mais antigo cartaz da coleção apresentada em Ink & Blood: 1968-2009 [Tinta e sangue: 19682009]. Nessa obra, 41 cartazes e flyers criados por movimentos sociais, entre 1968 e 2009, foram reproduzidos em diferentes formatos e papéis, remetendo à diversidade de seus contextos originais. Cruzvillegas partiu de uma pesquisa mais ampla sobre materiais gráficos usado em todo o mundo como meio e ferramenta para a comunicação de grupos relacionados a causas sociais, chegando a uma coleção de peças relacionadas à América Latina. Para sua obra, escolheu formatos, slogans e linguagens que servem a diferentes agendas da esquerda – como a reforma agrária, a luta por liberdade política e a recusa da intervenção norte-americana. CR comprimento, por espaços da arte e fora deles. Questionando os sistemas de produção, circulação e visibilidade do objeto artístico e a sua indissociabilidade do mercado e das instituições, suas aparições em vernissages, por toda a Europa, tornaram-se lendárias. Cadere circulava com os bastões na mão e os colocava clandestinamente no espaço expositivo, escondendo-os atrás de trabalhos em exposição e intervindo de forma provocativa nas mostras de outros artistas. Um espírito nômade, associado à ideia de liberdade e de autonomia ante o meio artístico, sempre caracterizou a vida e a prática artística de Cadere. Os cerca de 200 bastões que produziu durante sua curta trajetória representam um instrumento de ruptura com o circuito artístico da época, do qual, no entanto, não deixam de fazer parte. Até hoje Cadere permanece simultaneamente dentro e fora do circuito que o legitimou. IG 9 Artur Barrio G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Porto, Portugal, 1945; vive no Rio de Janeiro 10 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Los Angeles, eua, 1932 – Santa Mônica, eua, 2013 Situação T/T1 – Belo Horizonte, 1970, 54 fotografias c-print, 43 fotos de 30,45 x 45,6 cm e 11 fotos de 45,6 x 30,45 cm; 16 mm transferido para mídia digital, cor, sem som, 6’ Em 20 de abril de 1970, 14 trouxas ensanguentadas foram encontradas às margens do rio Arrudas, no Parque Municipal, em Belo Horizonte. Era manhã de segunda-feira, e, em pouco tempo, os transeuntes começaram a se aglomerar ao redor das trouxas, compostas de ossos, carne, sangue, barro, espuma de borracha, pano, cordas e cinzel, envoltos em um tecido branco já manchado. A polícia e o Corpo de Bombeiros foram acionados pela população. Anonimamente, César Carneiro registrava a ação, com câmera fotográfica e de 16 mm. Tratava-se de Situação T/T1, proposição artística de Artur Barrio para a manifestação “Do corpo à terra”, organizada por Frederico Morais, que aconteceu de 17 a 21 de abril de 1970. A colocação das trouxas no Arrudas foi a segunda parte de uma ação que havia começado na noite anterior, quando Barrio produziu as trouxas, descrevendo passo a passo sua sensação e o ambiente: CHANNA HORWITZ “Manuseio de carne em estado de decomposição.....(...) cheiro.... memória..... tempo.... fumaça (...) liberdade etc. ..... ideias elétricas...”. Depois da aparição das trouxas ensanguentadas, aconteceu a terceira parte da Situação T/T1, quando Barrio desenrolou 60 rolos de papel higiênico nas pedras que margeavam o rio. Português de nascimento, Artur Barrio ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro. Sua produção artística contesta, desde seu início, as categorias da arte, desafiando instituições e tensionando as condições de produção, circulação e consumo da arte. Ao escolher as matériasprimas para suas obras, Barrio opta por relacionar-se com resíduos orgânicos, lixo, sobras, tudo aquilo que é refugo. Em boa parte de sua produção, sobretudo aquela das décadas de 1960 e 1970, não há um objeto, propriamente, mas sim ações, eventos, acontecimentos, que lidam com o real, o poético e o político. Há situações. JR Variation and Inversion on a Rhythm, 1976, lápis e tinta sobre papel, 64 partes, 188 x 224 cm, detalhe Autora de uma obra extensa, Channa Horwitz exerceu sua atividade em relativo isolamento na Costa Oeste dos Estados Unidos, e serão necessários ainda alguns anos para uma releitura profunda de suas investigações no contexto da arte produzida nos anos de 1960 e 1970 – suas relações são complexas e incluem a poesia visual, a arte minimal e conceitual e, sobretudo, Sol Lewitt (1928–2007). Durante mais de quatro décadas, Horwitz produziu desenhos, pinturas e instalações usando um rigoroso vocabulário formal construído com base em um sistema matemático de notações que repetem e combinam sequências de números, cores, linhas e ângulos. Esse sistema, que a artista denominou Sonakinatography, foi desenvolvido como forma de marcar e expressar tempo, movimento e ritmo. As Sonas, como a artista se referia a essas obras, são intricadas composições de padrões geométricos sobre papel milimetrado e servem de roteiro ou partituras para performances interpretadas por músicos, dançarinos e atores. Variation and Inversion on a Rhythm [Variação e inversão sobre um ritmo] pertence a uma série homônima que Horwitz desenvolveu posteriormente e representa um desdobramento de suas pesquisas em torno da tradução bidimensional do movimento, resultando numa manifestação estática e virtual. A obra é composta de 64 desenhos, do mesmo formato e com a mesma técnica, que compõem um painel de dimensões consideráveis. Em cada desenho, Horwitz repete os mesmos elementos, introduzindo sutis variações para ilustrar a sequência de um movimento. Da mesma época das Sonakinatography, a série de esculturas cinéticas intituladas Breather [Respirador, 1968/2005] mostra uma bolha de vinil transparente que, pela ação de uma ventoinha colocada no interior da estrutura, vai inflando e desinflando, como um movimento corporal. Mostradas pela primeira vez numa convenção mundial de anestesiologia, a convite de um amigo médico, essas esculturas submergem-nos poeticamente no ritmo cadenciado da respiração. IG 11 CHRIS BURDEN CILDO MEIRELES G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Boston, eua, 1946; vive em Topanga, eua Rio de Janeiro, 1948; vive no Rio de Janeiro Deluxe Photo Book 1971-73, 1973, pasta com fotografias em emulsão de prata e textos explicativos, 84 páginas, 29,5 x 27 x 7 cm; edição 6/10 Inserções em circuitos ideológicos: Projeto cédula, 1970-1976, carimbos de borracha sobre cédulas Chris Burden é figura central de uma geração de artistas que combateram o autoritarismo, entre o fim dos anos 1960 e o início dos anos 1970, vendo em museus e instituições representantes do establishment. A land art, a arte conceitual e a performance surgiram como propostas alinhadas ao espírito de movimentos sociais pró-igualdade de direitos e contra a Guerra do Vietnã, que naquele momento desafiavam o status quo. Embora seja hoje mais conhecido por suas esculturas de grande escala e enormes desafios técnicos, quando estava se graduando na Universidade da Califórnia, em 1971, Burden desenvolveu um corpo de obra com a ideia de que, no futuro, a arte verdadeiramente significativa e duradoura não seria mais baseada em objetos, deixando de ser algo facilmente colecionável e comercializável. Sua obra se juntava à de outros colegas que acreditavam que a arte deveria ser efêmera, além de política e socialmente engajada. 12 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Nessa altura, Burden realizou uma série de performances, levando esse entendimento sobre arte a um novo extremo ao transformar seu corpo em objeto e suporte. Chocantemente diretas, as ações que ele realizava perturbavam de maneira direta as convenções do mundo da arte e da sociedade. Em Shoot [Atirar, 1971], pediu a um amigo que atirasse em seu braço com um revólver, em frente ao público de uma galeria, ao passo que em Five Day Locker Piece [Peça de escaninho de cinco dias, 1971] ele se trancou num escaninho da universidade por cinco dias consecutivos e em Doorway to Heaven [Porta do céu, 1973] ele se eletrocutou. Deluxe Photo Book 1971-73 [Livro de foto Deluxe 1971-73] nada mais é que um álbum fotográfico que registra essas e mais 20 performances desse período com imagens e textos do artista – um arquivo precioso, por meio do qual essas obras sobrevivem de maneira simples e profunda. JV As obras de Cildo Meireles já foram descritas como “objetos filosóficos” ou “pensamentos materiais”, apontando para sua forte ligação com as diversas abordagens da arte conceitual. É da unidade entre conceito e objeto, entre espírito e matéria, que a arte de Meireles deriva sua força. Desde o fim da década de 1960, o artista experimentou diversas estratégias e técnicas em sua obra e, com frequência, uma ampla gama de material está em jogo. As obras de Meireles são ricas em referências simbólicas e linguísticas e cheias de substância poética e política. Em 1967-68, Meireles trabalhou em uma série de 44 desenhos, intitulada Espaços virtuais: Cantos, variação imaginativa de um canto de um cômodo doméstico, indicado pelo encontro de duas paredes e do piso, acentuado por rodapés. Alguns desses exercícios de geometria e do virtual foram realizados como objetos tridimensionais em escala real. Espaços virtuais: Canto nº VI (1967-68/2005) é um dos melhores exemplos da destreza de Meireles em envolver o espectador, que tenta compreender a perspectiva com seu próprio movimento em torno do objeto. As notas de dinheiro em exposição são de dois corpos de obra distintos. Para “Information”, exposição no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York, em 1970, Meireles desenvolveu suas Inserções em circuitos ideológicos, explorando a noção de circulação e de intercâmbio de riqueza. Para o Projeto cédula, o artista carimbou mensagens em notas de dinheiro antes de devolvê-las à circulação normal. As mensagens, que apareciam tanto em inglês quanto em português, incluem vários slogans políticos, como a questão: “Quem Matou Herzog?”, referindo-se ao jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), preso e morto pela ditadura militar. Zero cruzeiro (1974-1978) e Zero Dollar (1978-1984) usam estratégias similares de distribuição, propondo notas falsas e questionando o valor do dinheiro, trazido à desvalia total. JV 13 CINTHIA MARCELLE DANIEL STEEGMANN MANGRANÉ Belo Horizonte, 1974; vive em São Paulo Barcelona, Espanha, 1977; vive no Rio de Janeiro Fonte 193, 2007, vídeo, cor, som, 5’40’’, still 16 mm, 2008-2011, 16 mm, cor, som, 4’54” Desde o início da década de 2000, Cinthia Marcelle vem construindo sua obra com ampla variedade de mídias, da instalação à escultura, passando por fotografia, vídeo e performance. A artista trabalha com a invenção de imagens e delas extrai fortes cenas poéticas. Vez por outra, parece criar explicitamente circunstâncias ou antes pequenas configurações, comparáveis a modelos concebidos para verificar as coisas. Um modelo é a representação abstrata de um sistema do ponto de vista do criador. Isso ajuda a simular a realidade, a questioná-la e a compreendê-la. Essa é a força do trabalho de Marcelle, sempre começando com curiosidade, com uma ideia ou um pensamento, transformados em imagem – uma afirmação clara de que a arte diz respeito sobretudo ao ato de se dispor a questionar as coisas. Respostas são obtidas apenas no sentido em que são necessárias para continuar estimulando mais e novas perguntas. 14 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Como ponto de partida, a maior parte das obras de Marcelle se baseia em instruções claras. Em Fonte 193, por exemplo, a artista contratou um caminhão de bombeiro para rodar constantemente em um círculo completo, com a mangueira lançando água em direção ao centro, criando a imagem de uma fonte invertida. A cena é filmada do alto, numa mina de ferro em Minas Gerais. Com o tempo, a terra vermelha, que preenche todo o quadro da imagem, fica enlameada, fazendo com que o movimento circular do caminhão seja cada vez mais difícil. O filme é apresentado em loop contínuo, como um desenho animado criado pela equação homem-máquina-terra, cuja ação é localizada no tempo pela mudança de luz. Assim como em outras obras em vídeo de Marcelle da série Unus Mundus – marcada por investigações de simultaneidade e sincronicidade –, em Fonte 193 há um grau de absurdo digno de Sísifo. JV Em seus trabalhos, Daniel Steegmann Mangrané já reinterpretou grafismos indígenas, mostrou imagens da floresta tropical ao som do canto estridente de uma ave em vias de extinção e filmou uma família de bichos-pau escondida numa maquete geométrica. Como uma jornada poética e conceitual, sua obra, que compreende desenho, pintura, escultura, filmes e instalações site-specific, usa a geometria, fechada ou expandida, pura ou contaminada, para convocar a oposição entre o analítico e o orgânico, o imaterial e o corpóreo. Sua rede densamente estruturada combina reflexões sobre tempo, espaço, cor e abstração com elementos da cultura indígena, da botânica e das ciências sociais. Radicado no Brasil, desde 2004, Steegmann Mangrané atravessou o Atlântico para conhecer a Amazônia. Desde então, tem construído enigmáticas narrativas que se entrelaçam, com referências que vão da arte moderna brasileira (a inclinação ao orgânico, de Tarsila do Amaral [1886–1973]ao Bicho, G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D de Lygia Clark, vêm à mente) à arte conceitual. Exibido, pela primeira vez, na 30ª Bienal de São Paulo, em 2012, 16 mm foi filmado com um dispositivo especialmente criado pelo artista, por meio do qual uma câmera de 16 mm desliza por um cabo de aço colocado a três metros de altura. Como uma penetração ótica na natureza, a câmera avança sincronizada à velocidade da bobina: a cada metro de filme rodado, um metro de trilho é percorrido. O filme é composto de um longo travelling, que adentra a Mata Atlântica, linha reta que desaparece na floresta. Relacionando geometria, percepção e natureza, 16 mm representa uma síntese entre forma, conteúdo e processo. A câmera dolly usada nas filmagens é apresentada suspensa num cabo que atravessa o espaço expositivo – uma alegoria que nos lembra ser esse um filme sobre a ocupação e a exploração da floresta, mas também, como sugere o título da obra, sobre o tempo e a natureza do processo criativo. IG 15 DAVID LAMELAS G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Buenos Aires, Argentina, 1946; vive em Buenos Aires, Los Angeles, eua, e Paris, França Situación de Quatro Placas de Aluminio, 1966, alumínio, dimensões variáveis David Lamelas é um daqueles casos em que vida e obra se tornaram inseparáveis. Alcançou visibilidade internacional em 1967, com a participação, aos 21 anos, na 9ª Bienal de São Paulo e, no ano seguinte, na 36ª Bienal de Veneza. Nessa altura, mudou-se para a Europa e daí em diante nunca mais parou – Londres, Paris, Los Angeles, Nova York. Por mais de quatro décadas, seu trabalho dialogou diretamente com a sua vida de artista cosmopolita. Por exemplo, a série de filmes experimentais Time as Activity [Tempo como atividade,1969-2007], iniciada em Düsseldorf, na Alemanha, é uma meditação sobre a passagem do tempo nas metrópoles por onde transitou ou viveu. O contexto artístico de cada lugar é essencial para a sua produção. E, ainda assim, sua obra ultrapassa as fronteiras de um âmbito geográfico específico, usando essa própria condição nômade para um entendimento da arte como algo transitório e fugidio. 16 Situación de Quatro Placas de Aluminio [Situação de quatro placas de alumínio] remonta ao início de sua produção, quando Lamelas, ainda muito jovem, participava da vanguarda argentina. Naquele momento, sua prática estava voltada ao exame do estatuto do objeto artístico. Situación são situações no espaço, provisórias e definidas pela arquitetura. Neste caso, uma escultura composta de quatro placas genéricas de alumínio ocupam os lugares eletivos onde a arte normalmente se encontra, o chão e a parede, formando o cruzamento de uma linha vertical e outra horizontal. Sem se valer de nenhum recurso de fixação, apenas apoiando-se em si mesmas e na arquitetura, acabam por criar uma pequena deformação, que chama a atenção para esse efêmero arranjo de coisas. Obras como essa levaram o artista a um processo de desmaterialização da escultura. Logo em seguida, Lamelas começaria suas célebres instalações de luz, convertendo imaterialidade em objeto no espaço. IG DÉCIO NOVIELLO G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D São Gonçalo do Sapucaí, mg, 1929; vive em Belo Horizonte Ação no Parque Municipal, 1970, 18 fotografias c-print, 50 x 75 cm; super 8 transferido para mídia digital, cor, som, 2’57” Convidado a organizar o Salão de Ouro Preto de 1970, o crítico e curador Frederico Morais propôs a realização da mostra “Objeto e participação” nas galerias do Palácio das Artes, que então inaugurava, e uma manifestação intitulada “Do corpo à terra”, que aconteceria no Parque Municipal, em Belo Horizonte, na semana de comemoração da Inconfidência Mineira. Morais estabeleceu alguns critérios para a manifestação, entre os quais determinava que as obras teriam de ser pensadas para o local, com sua concretização condicionada àquele momento. Deveriam ser expostas no parque, e os vestígios das ações seriam deixados no local até que fossem naturalmente destruídos. Os trabalhos também ocorreriam em horas e locais diversos, de modo que ninguém pudesse acompanhar a manifestação em sua totalidade. Entre os vários artistas convidados, estava Décio Noviello, que respondeu aos critérios de Morais propondo Ação no Parque Municipal. A obra consistia na propagação de fumaça em várias cores, em pontos espalhados pelo parque, usando sinalizadores e discutindo o uso da cor no espaço. Décio Noviello vinha desenvolvendo, àquela altura, uma produção centrada na pintura, com forte influência do movimento pop. Interessava-se por estudos sobre cor e a diversidade de materiais e técnicas, gerando pinturas-objetos e questionando não apenas os limites daquele suporte, mas também sua identidade e os gêneros. Além de artista, Noviello era oficial do Exército e sua atuação como tenentecoronel deu-lhe acesso ao Manual Técnico de Munições Químicas, publicado pelo Ministério da Guerra, em 1955, que serviu de base para o happening realizado em “Do corpo à terra”. Com seus artefatos bélicos, cujo uso também era reportado no Vietnã, Noviello não só dilatava as possibilidades da pintura, como também transgredia as práticas militares ao fazer uso delas com intuitos lúdicos, artísticos e políticos. JR 17 ERNESTO NETO GABRIEL SIERRA G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Rio de Janeiro, 1964; vive no Rio de Janeiro San Juan de Nepomuceno, Colômbia, 1975; vive em Bogotá Copulônia, 1989-2009, poliamida e esferas de chumbo, dimensões variáveis Estantes Interrumpidos #9, 2008-2012, pintura sobre madeira e tecido, imãs, 93 x 44 x 9 cm Ernesto Neto é conhecido internacionalmente por suas instalações e esculturas, frequentemente em grande escala, muitas das quais são desenvolvidas especificamente para os espaços onde são exibidas. Partindo de uma forte tradição de obras participativas no Brasil, cujas origens podem ser encontradas no movimento neoconcreto, gestado no mesmo Rio de Janeiro natal de Neto, muitas das obras do artista são criadas de maneira a serem adentradas pelo espectador, convocado a explorá-las não só com os olhos, como também com o corpo. Mas, mesmo nas obras que não são penetráveis, estão presentes conceitos de saturação e imersão, experimentados por meio da estrutura da obra, baseada em estímulos de natureza visual, tátil e olfativa. No começo de sua obra, o artista usou chapas de metal tensionadas e colocadas no espaço, mas, partir do fim dos anos 1980, Neto se aproximou de materiais cotidianos, como as meias 18 G A L E R I A A R L I N DA CO R R Ê A L I M A de poliamida e esferas de chumbo, que caracterizam o amadurecimento de sua linguagem como escultor. Nesse sentido, Copulônia ocupa posição especial na trajetória de Neto. Muitos dos elementos que vieram a se tornar característicos de sua obra já se encontram desenvolvidos nessa obra: a compreensão sensível da abstração geométrica; a noção de escultura composta de muitas partes, em oposição ao monólito; o emprego de formas lúdicas; e especialmente a tensão elástica de materiais têxteis. Noções como opacidade e transparência, tensão e repouso, peso e leveza, cheio e vazio, todo e parte, corpo e paisagem criam relações não necessariamente opostas entre si. Seu título faz referência à “cópula” (termo utilizado pelo artista para caracterizar um tipo de elemento, presente na obra, em que duas partes se penetram) e à “colônia” (seção da obra na qual os elementos se repetem). JV Embora seja colombiano e tenha feito formação em desenho industrial na Colômbia, Gabriel Sierra costuma dizer que tem mais afinidade com a arte brasileira do que com aquela produzida em seu país. Assim, é natural que boa parte de sua produção nutra uma relação fecunda com o neoconcretismo, considerado o primeiro momento de independência, originalidade e superação da arte brasileira do século 20 em relação a suas matrizes europeias. Entre seu panteão neoconcretista, Lygia Clark ocupa um lugar especial, e, assim com as de Clark, suas obras fazem um percurso entre objeto, espaço e corpo. Por ter formação em design, Sierra dialoga também com arquitetos e designers, como Mies Van Der Rohe (1886-1969) e Bruno Munari (19071998). A utopia moderna é uma espécie de paradigma em aberto para ele, que diz desejar ter sido arquiteto na época em que esses desenhavam não apenas os edifícios, mas os objetos que os recheavam. Estantes Interrumpidos [Estantes interrompidas] estão entre as primeiras obras de Sierra e são híbridas no sentido que ainda revelam o seu interesse inicial pelo desenho de mobiliário, porém de maneira evidentemente subvertida. Construídas com planos de madeira organizados em vetores verticais e horizontais, são estantes que podem vir a ter seu uso interrompido pela modificação do seu estado. Forma e função operam aqui um estranho colapso. Sierra se interessa tanto pelo estado em que o objeto poderia cumprir seu papel de estante, isto é, um elemento extraído do universo industrial e inserido no contexto da arte, quanto pelo outro, em que a função deixa de estar presente, e o móvel passa a se assemelhar a quadros geométricos pendurados na parede. Poderia se dizer, porém, que o maior interesse se encontra, nesse momento de transição, facilitado pelo uso de planos articulados, evocando a obra de Lygia Clark. RM 19 HÉLIO OITICICA G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D P L A N O S DA E X P O S I ÇÃO C E N T RO D E A R T E CO N T E M P O R Â N EGAR E FOTO F II A A AN D E GG ARL A ER Rio de Janeiro, 1937 – Rio de Janeiro, 1980 Relevo espacial A17, 1959/1991, acrílica sobre madeira, 76 x 156 x 8 cm Integrante mais jovem do Grupo Frente e, ao lado de Lygia Pape e Lygia Clark, um dos principais nomes do movimento neoconcreto, Hélio Oiticica pode ser considerado um prodígio da arte brasileira. Sua obra de início, os guaches da série Metaesquemas, desestabiliza a grade ortogonal mediante ritmos, distorções e diagonais. As séries se sucedem, passando pelas Invenções, Relevos espaciais, Bilaterais, Núcleos, Penetráveis, Bólides, Parangolés, Ninhos, entre outras, além de combinações e variações das categorias. Seu programa de invenção rigoroso aponta para a aproximação entre arte e vida, tendo na cor o elemento plástico que quebra os limites da pintura e a leva ao espaço real. Sua produção é acompanhada por um vasto corpo de escritos sobre o estatuto da arte. Desde 2008, a obra penetrável Invenção da cor - Magic Square # 5, De Luxe (1977) está instalada permanentemente nos jardins do Inhotim, propondo a imersão do espectador numa ampla arquitetura cromática. 20 Ao lado dos Bilaterais, os Relevos espaciais são suas primeiras obras tridimensionais, suspensas no espaço. Oiticica as chama de “estrutura-cor no espaço”. O que lhes dá sentido e as tornam fundamentais no seu percurso é a relação complexa que instauram na fruição do espectador. Há a superação gradual da relação frontal do olhar sobre o objeto, em direção a uma maior convocação do corpo, rompendo com a afinidade eletiva da pintura com a parede. O objeto deixa de se revelar inteiramente na linha dos olhos e se desvenda à medida que o espectador se movimenta em torno dele, descobrindo seu desfolhar do plano com fendas, sobreposições e assimetrias. Assim, a pintura deixa de ser janela para o mundo para se tornar coisa no mundo. “Museu é o mundo”, diz um dos motes de Oiticica, que aparece no texto Posição e programa (1966). Os Relevos são etapa importante nessa formulação. RM 1 1.Pipilotti Rist, Homo sapiens sapiens, 2005 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D P L A N O S DA E X P O S I ÇÃO 5 6 A B 2 4 3 7 7 1 A. Vitrine de documentação, Inhotim 2006-2014 3. Anos 1960, circulação e virtualidade Iran do Espírito Santo, Caixa branca, 2003. 5. Hitoshi Nomura, Turning the Arm with a Movie Camera, 1972 B.Vídeos Série Retratos André Cadere, Sem título, 1975 Caixa preta, 2003 6. Daniel Steegmann Mangrané, 16 mm, 2008-2011 1. Raquel Garbelotti, A clareira, 2000 Channa Horwitz, Variation and Inversion on a Rhythm, 1976. Jac Leirner, Fase azul (Numbers), 1995. 7. Acionismos e artes do corpo Breather, 1968/2005. Sonakinatography 1 (Composition nº3), 1973 Corpus Delicti, 1992-2006 Gabriel Sierra, Estantes Interrumpidos #9, 2008-2012 Cildo Meireles. Espaços virtuais: Cantos no VI, Rivane Neuenschwander, A uma certa distância 2. Neoconcretismo, ontem e hoje Hélio Oiticica, Relevos espaciais, 1959/1991-2002 1967-68/2005. Inserções em circuitos ideológicos: Projeto (Pinturas de ex-votos), 2010. Um dia como Jose Dávila, Homage to the Square, 2012 cédula, 1970-76. Zero cruzeiro, 1974-78 outro qualquer, 2008 Lygia Clark, Livro obra, 1983. Unidade, 1954-84 Lygia Pape, Livro da criação, 1959-60 Zero Dollar, 1978-84. Zero centavos, 1978-84 Juan Araujo, Vasarely-Milan II, 2011 4. Gutai e além David Lamelas, Situación de Quatro Placas de Aluminio, 1966 Kiyoji Otsuji, Gutai Photograph 1956-57, 2012 Tsuruko Yamazaki, Red, 1956/2013 Artur Barrio, Situação T/T1 - Belo Horizonte, 1970 Abraham Cruzvillegas, Ink & Blood, 1968-2009, 2009 Cinthia Marcelle, Fonte 193, 2007 Chris Burden, Deluxe Photo Book 1971-73, 1973. Beam Drop, 1984/2008, filmes Décio Noviello, Ação no Parque Municipal, 1970 G A L E R I A G E N E S CO M U R TA E G A L E R I A A R L I N DA CO R R Ê A L I M A P L A N O S DA E X P O S I ÇÃO HITOSHI NOMURA G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Hyogo, Japão, 1945; vive em Tóquio, Japão 5 4 4 1 3 2 1. Jorge Macchi, Fuegos de Artificio, 2002 3. Melanie Smith, Aztec Stadium. Malleable Deed, 2010 2. Rivane Neuenschwander, Zé Carioca no 2, A volta dos três 4. Mauro Restiffe, Empossamento, 2003 cavaleiros (1944) (Ed. Histórica, Ed. Abril), 2004 5. Ernesto Neto, Copulônia, 1989-2009 E S PAÇO M A R I ’ S T E LL A T R I S TÃO 1 1. Thomas Hirschhorn, Concept Car, 2007 Turning the Arm with a Movie Camera, 1972, 16 mm transferido para mídia digital, p & b , sem som, 11’’ No fim da década de 1960, Hitoshi Nomura viu caixas de papelão se deformarem com a passagem dos dias e percebeu que havia novas maneiras de se pensar a escultura. Essa observação resultou em Tardiology (1968-69), sua primeira obra conhecida, em que uma torre de papelão é fotografada enquanto se desfaz pela ação do tempo, da intempérie e da gravidade. Em sua obra, fenômenos naturais, tempo e espaço são materializados em estruturas e ações efêmeras, registradas em fotografias e filmes de forma objetiva e analítica. A partir desse primeiro esforço antimonumental, o artista criou trabalhos sobre as propriedades químicas de diferentes elementos, registrou em áudio conversas cotidianas, registrou o movimento dos astros. Sua obra, sistemática e metódica, é como a de um homem da ciência, mas sua reação aos fenômenos é criar narrativas poéticas que nos dizem de um universo em movimento. Por dez anos, Nomura carregou consigo uma câmera de 16 mm. Nesse período, produziu Turning the Arm with a Movie Camera [Girando o braço com uma câmera], em que duas imagens são captadas e posteriormente exibidas simultaneamente. Numa delas, vemos o registro do artista fazendo movimentos circulares com o braço com uma câmera na mão; na outra, a imagem gravada a partir do braço que se move. O artista evoca tempo e espaço. O espaço e sua ocupação são percebidos mediante o corpo e a ação do artista, gravados de diferentes ângulos e orientações. Uma das câmeras é como um espectador externo; a outra, o prolongamento de seu corpo. Nesta última, é mais evidente a representação do tempo, com um movimento semelhante ao do relógio e à rotação da Terra – que, apesar de conhecermos, não sentimos. Nessa encenação em pequena escala, vemos o movimento planetário e, segundo o artista, “tomamos conhecimento de algo que poderia ser chamado de sensibilidade cósmica”. CR 25 IRAN DO ESPÍRITO SANTO G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Mococa, sp, 1963; vive em São Paulo 26 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D São Paulo, 1961; vive em São Paulo Caixa branca, 2003, mármore, 12 x 32,6 x 22,6 cm Iran do Espírito Santo atua desde meados dos anos 1980. Ainda que a escultura seja o suporte que melhor caracteriza seu trabalho, o artista também desenvolve fotografia, pintura de parede e desenho. A representação é um de seus principais campos de estudo, que pode referenciar a própria arte, mas também se relaciona à arquitetura e ao desenho industrial. Em sua obra, objetos ordinários e formas comuns são transformados por meio de técnicas precisas, com material tradicional do campo da escultura. Na elaboração de suas obras, cada objeto sofre análise meticulosa, fazendo notar suas dobras, revelando sua textura, dissecando os planos que o integram, a sua forma desdobrada. A escala industrial associada às formas com que trabalha é contrariada por peças únicas, com grande concisão, mas extremamente sedutoras. Em sua produção, o artista estabelece forte relação com a arte pop, o minimalismo, mas sobretudo, com o JAC LEIRNER Fase azul (Numbers), 1995, notas falsas de cruzeiro brasileiro, 86 x 116 cm concretismo paulista e com a tradição modernista brasileira. Suas obras são realizadas quase sempre com um único material, que pode ser mármore, granito, vidro ou metal, fazendo uso das cores preta, branca e de escalas de cinza como seus tons principais. Caixa branca e Caixa preta (2003) integram uma série de esculturas que representam objetos cuja função primordial é guardar ou conter coisas. Além das caixas, há barris e latas, que, feitos em mármore ou em granito, preservam apenas a aparência do objeto que lhes serviu de modelo. O vazio, fundamental para a sua utilização, foi substituído por maciços de matéria sólida. Expostos, lado a lado, em sua versão branca e preta, o artista ressalta a simplicidade rigorosa dessas formas que aqui parecem representar, paradigmaticamente, uma gama de outros objetos. Essa tensão é criada pelo jogo entre peso, forma, volume e densidade, e está presente em um extenso conjunto de suas esculturas. JR Jac Leirner junta objetos banais: souvenirs de voos, notas de dinheiro, cartões de visita, maços de cigarro, etiquetas de identificação de obras de arte. Ao longo de anos, acumula, classifica e organiza esses materiais, que antes eram invisíveis por serem tão familiares. Uma vez deslocados, porém, para um novo contexto, suas formas plásticas são ressaltadas, e a artista cria composições utilizando-os como matéria-prima. A leitura do trabalho necessariamente passa pelo reconhecimento do uso cotidiano desses objetos, que se transformam em composições influenciadas por movimentos artísticos históricos, como a pop art, a colagem dadaísta, o concretismo paulista e o minimalismo. O trânsito entre os contextos sociais e artísticos é reforçado pelo material escolhido, que têm função primordial de ser meio – seja para trocas financeiras, seja como parte de ambientes onde acontecem as viagens. Na série Os cem, realizada entre as décadas de 1980 e 1990, período da hiperinflação brasileira, Leirner trabalhou com papelmoeda, colecionando notas de cruzeiros e cruzados. O título, com seu duplo sentido fonético, refere-se tanto ao numeral quanto a uma falta. As notas trazem a história de sua circulação, com seus tons desbotados, sujeira acumulada e grafites feitos pelos usuários. Em Fase azul (Numbers), elas foram dispostas geometricamente, assemelhando-se a uma pintura construtiva. Mas estão presentes também as recorrências de Leirner, como a organização, a repetição e a sequencialidade. A composição é feita a partir de cédulas com números aleatórios rabiscados por pessoas anônimas, colecionadas pela artista e então obsessivamente ordenadas. Em Corpus Delicti (1993), os objetos revelam as viagens feitas por Leirner: cartões de embarque e cinzeiros tirados naqueles voos, daqueles assentos. A tradução do título em latim nos sugere que o que vemos é a prova do crime, a afirmação material da possibilidade de transgressão que interessa à artista desde sua adolescência punk e levada adiante por sua arte. CR 27 JORGE MACCHI G a l eria G enesco M urta Buenos Aires, Argentina, 1963; vive em Buenos Aires Fuegos de Artificio, 2002, pregos de aço e luminárias de escritório, dimensões variáveis, detalhe Situações e objetos extraídos do cotidiano são as matérias-primas principais da obra de Jorge Macchi, que vem expondo suas instalações, pinturas, esculturas, desenhos, colagens e vídeos internacionalmente, desde o início dos anos 1990. O artista já se utilizou de mapas, relógios, partituras musicais e notícias e páginas de jornal, apropriando-se deles e, delicadamente, manipulando-os em operações cuja simplicidade é evidente. Ao reapresentar elementos triviais, ao recontar histórias quase invisíveis por sua banalidade, o artista faz despertar uma nova perspectiva de enfrentamento com o dia a dia, transformando também o entendimento dessas situações corriqueiras e aproximando-as de uma espécie de ficção. Mais do que testemunhar essas operações, na obra de Macchi, o espectador é percebido como cúmplice, alguém envolvido no gesto do artista e que, em resposta, integra a obra ao depositar nela sua percepção. Outra característica de sua produção é que, em diversos momentos, o 28 espaço arquitetônico, seja ele de natureza expositiva ou não, é utilizado como parte da obra, quando o artista a ele reage ou com ele dialoga. Fuegos de Artificio [Fogos de artifício], que integra um relevante corpo de trabalhos do artista no acervo do Inhotim, entre as quais está a instalação permanente Piscina (2009), anuncia aquilo que está representado nas paredes: uma explosão pirotécnica que se utiliza de pregos, de luz e de sombra. O artista desafia, assim, a natureza dos objetos e as suas funções originais, conferindo usos e qualidades extraordinárias a elementos ordinários. O que seria o estouro da efemeridade, neste trabalho, são permanência e imobilidade, como uma negativa ao próprio fenômeno que está reproduzido. A matéria fugaz dos fogos de artifício é congelada em pregos de aço, enquanto o movimento da luz e das cores é paralisado pelas sombras. Macchi transforma a ilusão em presença, promovendo uma permutação, algo violenta, algo divertida, entre fato e fantasia. JR JOSE DÁVILA G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Guadalajara, México, 1974; vive em Guadalajara Homage to the Square, 2012, vidro e tinta acrílica, 250 x 250 x 40 cm A obra de Jose Dávila é construída com base em um intenso diálogo entre arquitetura e arte. Da arquitetura, sua área de formação, o artista traz a pesquisa sobre a ocupação do espaço, os materiais construtivos, a composição de elementos que possibilita que uma estrutura se erga, o cálculo matemático das forças que a mantêm equilibrada. Da arte, aprendida de forma autodidata, vêm os processos experimentais, a liberdade criativa, o questionamento das formas e funções, o trabalho com a memória e a percepção do espectador. Sua obra é frequentemente composta de comentários pessoais sobre movimentos artísticos dos anos 1960 e 1970, como o neoconcretismo brasileiro, o minimalismo e a arte conceitual. Dávila, em diferentes ocasiões, recriou obras icônicas desse período, utilizando diferentes materiais e escalas para acrescentar novos significados àqueles já existentes. Um desses trabalhos de reinterpretação foi feito com a série Homage to the Square [Homenagem ao quadrado], de Joseph Albers (1888-1976). Ao longo de 25 anos, Albers explorou aspectos da cor e da luz em uma grande série de pinturas, gravuras, tapeçarias e desenhos desenvolvidos a partir de quadrados sobrepostos. Nessas composições abstratas, a combinação de tons e a repetição assimétrica de formas geométricas possibilitam a experimentação subjetiva da cor. Dávila desenvolveu sua homenagem ao artista e à abstração geométrica, criando uma série de mesmo nome, em que um quadrado monocromático é pintado numa parede, e, à frente dele, vidros transparentes também quadrados, cada um com uma dimensão, sobrepõem-se. Da combinação de camadas de materiais, diferentes matizes do monocromo são criados pela diferente incidência da luz. Aquilo que, na pintura de Albers, era pura experiência ótica com a cor é rematerializado em três dimensões por Dávila, com elementos que, em seu precário equilíbrio, provocam o corpo do espectador. CR 29 JUAN ARAUJO G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Caracas, Venezuela, 1971; vive em Caracas 30 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Tóquio, Japão, 1923 – Tóquio, 2001 Vasarely-Milan II, 2011, óleo sobre tela, 50 x 99 cm As obras de Juan Araujo evidenciam uma teia de relações e referências tão elaborada quanto a própria natureza do seu trabalho pictórico. Desde os anos 1990, o artista desenvolve um vasto corpo de obras, marcado pela reflexão sobre a relação que a pintura e a arquitetura estabelecem com os sistemas que as reproduzem. Convocando o princípio da mimese, mas também a apropriação e a citação, o artista cria imagens que têm como tema outras imagens, provenientes de ilustrações, livros e fotografias. O conjunto de pinturas sobre a Casa de Vidro (1951) de Lina Bo Bardi (1914–1992), concebidas para a 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, marcou o início do seu interesse pela arquitetura moderna brasileira. Desde então, Araujo se aprofundou no assunto, até chegar ao ciclo Mineiriana (2013), comissionado pelo Inhotim, em que trabalhou com referências de Minas Gerais, da Pampulha ao barroco mineiro e sua representação ao longo do século 20. KIYOJI OTSUJI Gutai Photographs 1956-57, 2012, fotografias em emulsão de prata 35,5 x 27,2 cm Em Vasarely-Milan II, o interior de um ambiente doméstico aparece ref letido no vidro que cobre uma serigrafia emoldurada do artista húngaro Vitor Vasarely (1908–1997), pendurada nesse ambiente. A casa que se vê na pintura é a Residência Milan (1972), de Marcos Acayaba, discípulo de Vilanova Artigas (1915–1985), um dos principais nomes da arquitetura moderna paulista. À composição de Vasarely, sobrepõemse as principais características da casa – a estrutura em formato de concha, evocando uma forma orgânica, e a ligação entre os espaços internos, que trazem a natureza para o “interior” da arquitetura. A representação virtuosa de Araujo está longe de ser naturalista, mas não deixa de sugerir um contraponto à obra cinética. Vasarely-Milan II retoma, assim, os jogos de transparência, o desdobramento de planos sobre o plano de representação e as noções de abstração/figuração e realidade/ ficção, que têm permeado a obra do artista. IG A partir dos anos 1950, com a emergência de práticas artísticas efêmeras como ações e performances, a documentação fotográfica ganhou importante papel para garantir a sobrevivência desses gestos. Nesses casos, a fotografia reveste-se de uma carga singular, uma vez que funde suas possibilidades de reprodução ao caráter fugidio das obras que registra. Não se trata da obra em sua totalidade, mas de vestígios e traços de memórias. É o caso do portfólio Gutai Photographs 1956–57, de Kiyoji Otsuji, em que vemos o registro de algumas das primeiras obras do grupo Gutai, um dos mais importantes da vanguarda japonesa no pós-guerra. O contexto da vanguarda é o próprio contexto do surgimento da obra de Otsuji, que também esteve envolvido em outro grupo japonês importante, Jikken Kobo (Ateliê Experimental), no qual, além do próprio trabalho como fotógrafo retratava obras de outros artistas. O espírito de experimentação acompanha sua obra, bem como a dos artistas com quem colaborou. Nas imagens do portfólio, vemos Saburo Murakami atravessar telas de papel, rompendo a superfície pictórica com o próprio corpo; Kazuo Shiraga usa os pés para distribuir a tinta sobre suas pinturas, enquanto Shozo Shimamoto lança bombas de pigmento contra o quadro, recriando o gesto; afastando-se um pouco da pintura, Atsuko Tanaka experimenta seu Vestido Elétrico (foto acima). Todas essas ações pertencem à 2a Exposição Gutai, de 1956. No ano seguinte, o espaço da arte se desloca para o palco, e as fotografias de Otsuji ganham um tom mais noturno. Há dança, material efêmero ou sua própria destruição, luzes, fumaça e sombras, e a ritualização da prática artística – o corpo torna-se o principal veículo da obra. Vários desses gestos são pioneiros e ressurgem, de forma consciente ou não, na obra de artistas que trabalham em outras partes do globo. A testemunha ocular, munida de uma câmera, não deixou que suas origens fossem esquecidas. RM 31 LYGIA CLARK G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Belo Horizonte, 1920 – Rio de Janeiro, 1988 32 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Nova Friburgo, RJ, 1927 – Rio de Janeiro, 2004 Livro obra, 1983, papel, plástico, cartão, 21 x 21 x 45 cm Ainda está para ser inteiramente compreendido o alcance da contribuição de Lygia Clark para a arte do século 20 em diante. E o fato é que ele é cada vez mais amplo e incontestável. Belo-horizontina, Clark emergiu no contexto do grupo concretista do Rio de Janeiro e foi aluna do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994), que inspirou os jardins do Inhotim. O plano pictórico foi seu ponto de partida para dialogar com os principais artistas do cânone construtivista, como Piet Mondrian (1872–1944), Kazimir Malevich (1879–1935) e Paul Klee (1879–1940). De meados dos anos 1950 à metade da década seguinte, a artista empreendeu uma jornada de emancipação do estatuto cultural da pintura, conferindo caráter objetal ao quadro, reforçando a importância da linha como elemento de organização do espaço e chegando à abolição da fronteira entre a pintura e o mundo. A essa descoberta Clark chamou de “quebra da moldura”. LYGIA PAPE Livro da criação, 1959-60, guache sobre cartão, 16 lâminas 30,5 x 30,5 cm cada As Unidades (1959-84) representam um momento importante nesse percurso. Essas pequenas pinturas monocromáticas são construídas com chapa de madeira e tinta industrial. Sobre sua superfície, outras chapas são colocadas, gerando intervalos e sobreposições, frestas e sombras, que reforçam o caráter orgânico da obra e de sua existência no espaço. A complexidade desses interesses aparece reunida e narrada em Livro obra, livro de artista com edição limitada de 24 exemplares. Ali Clark evoca, com textos e imagens, uma série de obras produzidas desde meados dos anos 1950, nas quais o espaço é torcido, reconfigurado e ativado, e a experiência da pintura é revivida no papel. O livro, com suas múltiplas possibilidades de leitura, revela-se suporte apropriado para registrar as descobertas da artista. Num texto de 1966, incluído no Livro obra e batizado Nós recusamos, Clark anuncia: “Propomos o precário como conceito de existência contra toda cristalização estética na duração”. RM Uma das artistas mais inovadoras de seu tempo, Lygia Pape trabalhou com pintura, gravura, escultura, dança, design gráfico, filme, performance e instalação. Foi fundadora do Grupo Frente, em 1954, e do neoconcretismo alguns anos depois, dois dos principais movimentos brasileiros de renovação do cânone construtivo europeu, ambos baseados no Rio de Janeiro. De forma inventiva, os neoconcretistas transcenderam o distanciamento formal do concretismo, mediante seu interesse pela dimensão social da arte e pela interação entre arte e público. Ao lado de Amilcar de Castro (1920–2002), Ferreira Gullar, Franz Weissmann (1911– 2005), Hélio Oiticica, Lygia Clark e outros, Pape transformou radicalmente a arte brasileira do período. Esse grupo alcançou visibilidade inicialmente na 1a Exposição de Arte Neoconcreta e com a publicação do Manifesto Neoconcreto, ambos em 1959, reivindicando o lugar da liberdade, da experimentação e da subjetividade na obra de arte. Nesse sentido, o Livro da criação é considerado uma obra-chave do período neoconcreto inicial, consistindo em 16 páginas de papelão pintadas e recortadas, que se desdobram em relevos geométricos e abstratos. Cada página é acompanhada de um título, que sugere poeticamente uma representação correspondente a cada uma das composições abstratas. O livro conta a história da criação do mundo, com passagens sobre o recuo das águas e a invenção do tempo e da luz. Originalmente, Pape convidava o espectador a criar outros sentidos e narrativas ao manipular o livro. De modo similar à Tteia 1C (2002), em exposição permanente no Inhotim, o Livro da criação se caracteriza pelo contraste entre um objeto físico simples e feito à mão e a espiritualidade sublime contida nesse gesto. Trata-se de uma obra aberta, que fala tanto sobre a gênese da Terra quanto sobre o processo de criação pelo qual todos nós passamos diante de uma obra de arte. JV 33 MAURO RESTIFFE G A L E R I A A R L I N DA CO R R Ê A L I M A São José do Rio Pardo, sp, 1970; vive em São Paulo Empossamento # 7, 2003, fotografia em emulsão de prata, 117 x 230 cm Mauro Restiffe é um dos mais importantes fotógrafos brasileiros da contemporaneidade. A natureza autoral de sua obra e a consolidação de um estilo fotográfico marcam a sua produção. Seu trabalho baseia-se em fotografias em preto e branco, com grande variedade de tons de cinza, granuladas em razão da utilização de película de alta sensibilidade e ampliadas diretamente sobre papel mediante métodos analógicos. Esse processo meticuloso o distingue da prática corrente da fotografia atual, que faz da imagem digital um registro corriqueiro de todo e qualquer evento, seja na vida privada, seja na esfera pública, ao alcance de todo aquele que empunha um telefone celular ou uma câmera. A cidade, a arquitetura e a arte são objetos recorrentes de sua fotografia, que tem como tema, acima de tudo, a relação do sujeito com o seu entorno, desencaixado dos padrões sociais, descompassado com o tempo das instituições de poder. As imagens de Restiffe, individualmente, condensam diversos elementos narrativos, 34 mas com frequência são articuladas em conjuntos. A série Empossamento registra a posse para o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. A complexidade e a pluralidade de sentidos do momento histórico estão reveladas nos elementos que integram as imagens em um só tempo. Aviões da Esquadrilha da Fumaça, o povo invadindo o gramado e rompendo protocolos oficiais, a imponente arquitetura modernista de Oscar Niemeyer (1907–2012), que consagra o presidente eleito a subir uma rampa em direção ao Palácio do Planalto, o caos da espontaneidade e da força do processo democrático e o rigor, igualmente forte, das instituições políticas ali retratadas. A essa série seguiu-se um trabalho como Inauguration [Posse, 2008], quando o artista vai a Washington retratar a posse do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em seu primeiro mandato. Nas duas ocasiões, os presidentes, que, em tese, seriam os personagens principais, não aparecem. JR Melanie Smith G A L E R I A G E N E S CO M U R TA Poole, Inglaterra, 1965; vive na Cidade do México Aztec Stadium. Malleable Deed, 2010, vídeo, cor, som, 10’29’’, still Melanie Smith se mudou para a Cidade do México em 1989. Pouco depois de se formar como artista em sua Inglaterra natal, passou a fazer uma obra que inclui vídeo, fotografia, pintura e instalação e é influenciada pela história da arte, pela cultura mexicana e por sua condição de estrangeira. Seu trabalho é uma reflexão sobre a transposição do conceito eurocêntrico de modernidade para a América Latina, com foco principalmente no México. Smith associa características formais de movimentos artísticos de vanguarda, como a pesquisa das cores e a análise da geometria, à natureza e à herança colonial e pós-colonial. Entre os procedimentos que a artista usa em seu trabalho, está a viagem, que a levou a retratar projetos utópicos, como o centro industrial Fordlândia (2013), criado por Henry Ford (1863–1947) visando a processar látex na Amazônia. Para a artista, a incompletude do processo de modernização latino-americano é vista como potencialidade, e não como fracasso. Em Aztec Stadium. Malleable Deed [Estádio Asteca. Proeza maleável], Smith cria um monumento à modernidade mexicana. Filmado no mais importante estádio do país, projetado em 1968 por Pedro Ramirez Vazquéz (1919-2013), arquiteto que desenhou edifícios modernos na Cidade do México, o vídeo é uma resposta subversiva às comemorações oficiais do bicentenário da independência do país. Três mil alunos de escolas públicas criam imensos mosaicos com imagens de marcos formadores do imaginário nacionalista e popular mexicano (como uma máscara asteca e a bandeira do país) e da história da arte (como Kazimir Malevich [1879–1935] e sua célebre pintura Quadrado vermelho, 1915), enquanto mensagens são inseridas numa tela (“a revolução não será televisionada”). Como se fossem performances encenadas para o vídeo, textos e imagens estão condenados à desintegração, evocando a potencialidade do caos e da ação das massas. CR 35 PIPILOTTI RIST C E N T RO D E A R T E CO N T E M P O R Â N E A E FOTO G R A F I A Grabs, Suíça, 1962; vive em Zurique, Suíça 36 G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Dracena, SP, 1973; vive em São Paulo Homo sapiens sapiens, 2005, instalação de áudio e vídeo, dimensões variáveis, still Desde meados da década de 1980, Pipilotti Rist cria videoinstalações que exploram emocional e esteticamente o espaço físico e psicológico do espectador. Escolheu o vídeo em vez do cinema porque, se nos dois cabem movimento, tecnologia e música, no vídeo é mais possível trabalhar em pequenas equipes e manter o experimentalismo. A artista compara suas imagens a pinturas que se movem atrás de vidros, e elas são resultado de muitas horas de gravação e de interferências tecnológicas, como a saturação das cores, a transformação de escalas, a sobreposição de gravações e a alteração de ritmos. Sua obra não é construída de representações realistas, mas se reporta às imagens internas da artista, suas sensações e sensibilidade. Para a exibição de seus trabalhos, Rist muitas vezes cria espaços imersivos em que a instalação se confunde com a arquitetura expositiva – para ela “o museu é o contexto para desejos extraordinários”. RAQUEL GARBELOTTI Homo sapiens sapiens foi gravado no Inhotim, em 2005, antes de o parque ser aberto ao público. No vídeo, a natureza e o corpo humano são explorados sensorialmente – as imagens são táteis; a trilha sonora, hipnótica; as cores, vivas e brilhantes. Ali não há mais polaridade entre homem e ambiente, entre sonho e realidade. A qualidade onírica do que vemos é ampliada pela transformação de formas familiares em imagens caleidoscópicas que se fragmentam e se multiplicam. Interagir com o ambiente idílico criado pela artista requer do espectador que se deite em pufes e assista à projeção no teto da galeria. A obra foi exibida pela primeira vez na Igreja de San Stae, na Bienal de Veneza de 2005 e, desde então, foi readaptada para outros espaços, incluindo o Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, prédio originalmente desenhado para ser um banco no centro de Belo Horizonte e inaugurado em 1925. CR A clareira, 2000, fotografia c-print, 100 x 150 cm No ano 2000, a jovem artista Raquel Garbelotti esteve em uma fazenda no interior de Minas Gerais, onde havia uma casa, um jardim e o desejo de convidar artistas para criar obras de arte. Entre esses, a própria artista, que, durante a visita, fotografou o lugar para o qual sua obra poderia vir a ser concebida, produzida e instalada. Como desfecho do encontro, por diversas razões, artista e colecionador acabaram não levando adiante o projeto. Aquele local, porém, anos mais tarde, seria a sede do Instituto Inhotim, um dos principais museus de arte contemporânea da América Latina. O documento de Garbelotti registra a paisagem de maneira misteriosa. É a tomada de um espaço aberto, A clareira, mas seus contornos são pouco nítidos. Trata-se de pensamento a posteriori, resultado do contato ativo com um espaço fértil. Numa inversão hierárquica, a imagem de processo acabou por se tornar a própria obra encomendada. Na obra de Garbelotti, que inclui fotografia, instalação, videoinstalação e escultura, muitas vezes a percepção do espectador é desafiada por jogos de escala, modulação e montagem. Sua linguagem é composta de estranhamentos, como nas obras em que se apropria de material de modelismo; nas casas desmontadas, como caixas; nas microparedes que dividem o espaço expositivo ou nas maquetes de cinema feitas para filmes específicos. A representação do espaço está, assim, sempre no centro dos seus interesses, e o objeto de arte é uma espécie de índice ou antes mediador dessa relação entre o sujeito e o mundo. Em A clareira, porém, a alteração é mais de natureza temporal do que espacial. Ao evocar a memória e gerar um documento que é também uma obra, a artista nos coloca encapsulados entre passado e futuro, numa espécie de presente eterno. Aqui, para nosso alívio, nosso estado é de pura potencialidade. RM 37 RIVANE NEUENSCHWANDER G R A N D E G A L E R I A , G A L E R I A G E N E S CO M U R TA E O U T RO S E S PAÇO S Belo Horizonte, 1967; vive em Londres, Inglaterra Um dia como outro qualquer, 2008, 24 relógios modificados, dimensões variáveis Quando passa um minuto, o relógio vira o zero; na hora seguinte, novo zero. Um dia como outro qualquer consiste num conjunto de relógios, instalados em locais expositivos ou não, que registram apenas zero hora e zero minuto. Do repertório de temas com os quais Rivane Neuenschwander trabalha, destaca-se o uso de ambientes, situações e objetos do cotidiano, manifestações da cultura popular, linguagem verbal e não verbal, coleções de efemérides, estados de espírito, memórias afetivas. De um vocabulário artístico extenso e variado, o apagamento é uma operação recorrente. No entanto, apagar para a artista não tem a ver com negação ou fechamento, mas com a criação de espaços, silêncios, possibilidades de recomeço. As obras contempladas nesta exposição convocam o usuário a incorporar suas narrativas ou a observar-se de um novo ponto de vista. A série A uma certa distância (Pinturas de ex-votos) (2010) parte da tradição religiosa de agradecer por uma graça alcançada por meio de pinturas. Na reconstituição 38 feita por Neuenschwander, os elementos figurativos são extraídos, restando elementos arquitetônicos que relevam jogos de cor e perspectivas. Gesto semelhante se dá em Zé Carioca no 2, A volta dos três cavaleiros (1944) (Ed. Histórica, Ed. Abril) (2004), quando a história em quadrinhos tem seu conteúdo imagético e discursivo suprimido, restando do original a diagramação de fundos coloridos e balões de diálogo. Ao espectador são oferecidos pedaços de giz para que ele possa criar a história que preferir. O personagem de Walt Disney (1901–1966) Zé Carioca foi criado nos anos 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos tentavam angariar aliados na América Latina. Encarnando um estereótipo do malandro brasileiro, o personagem é festeiro, preguiçoso e sempre escapa dos problemas por meio de artimanhas. Nas obras de Neuenschwander, estão suspensas as imposições e o determinismo de ordem política, social e cultural. JR THOMAS HIRSCHHORN E S PAÇO M A R I ’ S T E LL A T R I S TÃO Berna, Suíça, 1957; vive em Paris Concept Car, 2007, materiais diversos, 185 x 240 x 405 cm Thomas Hirschhorn é conhecido por suas instalações e esculturas de grande escala, que transformam espaços “cubo branco” de museus e galerias em ambientes cativantes que evocam a política global, a teoria crítica e o consumismo. Treinado originalmente como designer gráfico, Hirschhorn examina a política e a economia na esfera pública, combinando objetos, imagens encontradas e textos e utilizando construções de baixa tecnologia feitas com papelão, papel alumínio e fita adesiva, assim como outros materiais cotidianos associados ao consumo. Por meio da suntuosidade e do exagero de suas obras, Hirschhorn engaja o espectador em discussões sobre justiça, injustiça, poder, impotência e responsabilidade moral. Sua prática é ampla, passando por colagens, vídeos e filmes até chegar a instalações de escala ambiental e obras de engajamento comunitário no espaço público. Um excesso sensorial atravessa toda a sua obra, estimulando nosso processo de luta com a afluência de informação que cruza o dia a dia. Concept Car [Carro conceito] é uma escultura que segue o mesmo princípio de abundância. Um Ford Fiesta usado é coberto e decorado com diversos tipos de objetos e de textos. Em dois painéis de compensado, pode-se ler: “Onde estou?” e “O que eu quero?”. Outros escritos incluem palavras como “Verdade”, “Autonomia”, “Beleza”, “Vida dos Sonhos”. Livros, adesivos, cartazes de papelão, ferramentas e brinquedos estão colados ao carro, não obedecendo a nenhuma ordem específica. A escultura nos lembra tanto dos vendedores de rua que usam seus veículos para expor mercadorias quanto da prática de utilização do carro como plataforma de expressão de crenças pessoais e orientação política. Mediante esses elementos e seu acúmulo, o artista denuncia o consumismo na sociedade contemporânea e a manipulação nos meios de comunicação – ao mesmo tempo, lembranos de que os livros, por exemplo, podem ser as novas ferramentas que nos permitirão intervir no mundo. JV 39 TSURUKO YAMAZAKI G R A N D E G A L E R I A A L B E R TO DA V E I G A G U I G N A R D Ashiya, Japão, 1925; vive em Ashiya FICHA TÉCNICA INSTITUTO INHOTIM curadoria coleção inhotim Diretor Executivo Allan Schwartzman, Jochen Volz, Rodrigo Moura, Julia Rebouças e Inês Grosso curadoria dO OBJETO PARA O MUNDO – COLEÇÃO INHOTIM Rodrigo Moura e Inês Grosso coordenação executiva Carolina Assis PRODUÇÃO INHOTIM Lucas Sigefredo, Paulo Soares (produtor encarregado), Lorena Valadão, Gabriela Werner, Paulo Rodrigues, Elton Damasceno, Valdiney Santos, Ingredi França produção Endora Arte Produções Ltda. / Mauro Saraiva produção executiva Bianca Fontoura coordenação editorial Cecília Rocha programas públicos Morgana Rissinger arquitetura Red, 1956/2013, vinil, madeira, metal, fios, 270 x 360 x 360 cm MACh Arquitetos identidade visual Hardy Design O grupo Gutai emergiu em 1954, na cidade de Ashiya, perto de Osaka, no Japão, no contexto efervescente de reconstrução do país. Fundado pelo pintor e teórico Jirō Yoshihara (1905–1972), pioneiro da arte abstrata no Japão, o Gutai está entre as mais importantes expressões artísticas da vanguarda do pós-guerra. Precursores dos happenings, seus membros conciliavam profundo engajamento ideológico e político com o desejo de produzir arte num contexto global, transcendendo fronteiras entre pintura e performance, objeto e processo, arte e vida. Em quase duas décadas de atividade, mais de 50 artistas fizeram parte do coletivo, cujas obras incluíam intervenções de caráter experimental no espaço urbano e em parques públicos. Red [Vermelho] é uma recriação da obra que Yamazaki concebeu para a 1a Exposição Gutai de Arte ao Ar Livre, em 1956, em Ashiya. Um cubo de vinil vermelho, suspenso a poucos centímetros do chão, instaura a cor no ambiente, 40 como uma grande pintura monocromática ativada pelo jogo de luz e sombra e pela presença do espectador. Nosso corpo é convidado a explorar o trabalho: precisa curvar-se para entrar na estrutura e, uma vez no seu interior, contamina-se pela cor e torna-se parte de uma coreografia de silhuetas, que se revela para o espectador do lado de fora. Embora pouco conhecida no Brasil, Red revela afinidades conceituais e formais com a obra do grupo neoconcreto brasileiro, sobretudo com a série de Penetráveis, de Hélio Oiticica, na passagem que ambas as obras promovem da geometria em direção ao espaço. Autora de uma obra extensa, aos 89 anos, Yamazaki continua a dedicar-se à pintura sobre metal industrial, tirando partido das suas qualidades reflexivas para explorar efeitos visuais, prosseguindo sua pesquisa em torno da matéria, da cor e da luz, que marcam sua produção desde os anos Gutai. IG projeto luminotécnico LD Studio projeto audiovisual EAV Engenharia Audiovisual agradecimentos Fernanda Arruda Juliana Arantes Karla Guerra Renata Salles Solanda Steckelberg GUIA editor Rodrigo Moura coordenação editorial Cecília Rocha design gráfico Hardy Design textos Rodrigo Moura (RM), Jochen Volz (JV), Julia Rebouças (JR), Inês Grosso (IG) e Cecília Rocha (CR) tradução Ana Ban REVISÃO DE TEXTOS Vera Lúcia De Simoni Antônio Grassi Diretor Jurídico Bruno Diniz Andrade de Oliveira Diretora de Projetos e Captação Janayna Bhering Diretora de Inclusão e Cidadania Raquel Novais Diretor Financeiro Ricardo Leite Diretor de Arte e Programas Culturais Rodrigo Moura Diretor de Operações e Logística Sérgio Viana Gerência de Jardim Botânico e Meio Ambiente Arthur Castro Gerência de Recursos Humanos Cristina Manoelina Maciel Gerência de Comunicação e Eventos Felipe Paz Gerência de Compras e Suprimentos Flávio Bernadino dos Santos Gerência de Operações Gustavo Ferraz Gerência de Exposições e Produção de Arte Lucas Sigefredo Gerência de Manutenção Geral Lúcio Pinto Gerência de Educação María Eugenia Salcedo Gerência de TI Webert Silva Governador do Estado de Minas Gerais Produtor Secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais Apoio Administrativo Alberto Pinto Coelho André Murta Eliane Parreiras Jairo de Oliveira Secretária Adjunta de Estado de Cultura de Minas Gerais Maria Olívia de Castro e Oliveira Montagem Edivaldo Gomes da Cruz e Ronaldo Braz da Silva Estagiários FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO Cristina Lima Cardoso e Leandro Duarte Presidente Coordenadora do Programa Educativo Chefe de Gabinete Técnica em Gestão Artística Diretora Artística Educadores Fabíola Rodrigues Fernanda Medeiros Azevedo Machado Daniela Soares Renata Bernardo Ana Carolina Ministério, Clarita Gonzaga, Daniela Marques, Elisa Reis, Eugênio Macêdo, Frederico Mendes, Gerson Castro, Gustavo Mackenzie, Isa Carolina, Jacqueline Gomes, Janaína Beling, Janete Fonseca, Janice Rosa, Luciana Coelho, Naíra Duarte, Paulo Peixoto, Renata Nery e Rita da Matta Edilane Carneiro Diretora de Ensino e Extensão Patrícia Avellar Zol Diretora de Marketing, Intercâmbio e Projetos Institucionais Cláudia Garcia Elias Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças Assessora-chefe de Comunicação Social Luiz Guilherme Melo Brandão Júnia Alvarenga Diretora de Programação Coordenador de Publicidade Erika Ziller Vitor Garcia Gerente de Artes Visuais Mídias Digitais Sara Moreno Ana Carolina Dias e Rafael Rodrigues Assessora da Gerência de Artes Visuais Assistente de Comunicação Ana Cristina Lima Thiago Amador Chefe de Departamento de Artes Plásticas Revisão Editorial Karolina Penido Maria Eliana Goulart Chefe de Departamento do Centro de Arte Contemporânea e Fotografia Rodrigo Gonçalves da Paixão CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS p. 8Cortesia do artista e Galeria Kurimanzutto, Cidade do México. Foto Estúdio Michel Zabé p. 9Cortesia Galleria Massimo Minini, Brescia. Foto Massimo Minini p. 10 Foto César Carneiro p. 11Cortesia Aanant & Zoo, Berlim p. 12Cortesia do artista e Chris Burden Studio p. 13 Cortesia do artista. Foto Daniel Mansur p. 14Cortesia da artista e Galeria Vermelho, São Paulo p. 15Cortesia Mendes Wood DM, São Paulo. Foto Daniel Steegmann Mangrané p. 16Cortesia do artista e Galeria Sprüth Magers, Berlim/Londres p. 17Cortesia do artista, Belo Horizonte p. 18, 26, 27 Cortesia Galeria Fortes Vilaça, São Paulo. Fotos Eduardo Ortega p. 19Cortesia do artista e Galeria Kurimanzutto, Cidade do México p. 20 © César e Claudio Oiticica. Foto Eduardo Eckenfels p. 25Cortesia do artista e McCaffrey Fine Art, Nova York p. 28 Foto Pedro Motta p. 29Cortesia do artista e Jose Dávila Studio p. 30Cortesia Galeria Luisa Strina, São Paulo. Foto Edouard Fraipont p. 31 © Otsuji Seiko © Tokyo Publishing House p. 32Cortesia O Mundo de Lygia Clark p. 33Cortesia Projeto Lygia Pape. Foto Paula Pape p. 34Cortesia do artista e Galeria Fortes Vilaça p. 35Cortesia da artista e Galeria Nara Roesler, São Paulo p. 36Cortesia da artista e Galeria Hauser & Wirth, Zurique p. 37Cortesia da artista p. 38Cortesia da artista e Galeria Fortes Vilaça. Foto Daniel Mansur p. 39Cortesia do artista e Thomas Hirschhorn Studio p. 40 © Tsuruko Yamazaki e membros da Gutai Art Association. Cortesia do Ashiya City Museum of Art & History, Ashiya © Instituto Inhotim, os artistas e os autores, 2014. DO OBJETO PAR A O MUNDO GR ANDE GALERIA 12 de dezembro de 2014 a 8 de março de 2015 Terça a sábado, das 9h30 às 21h Domingo, das 16h às 21h PALÁCIO DAS ARTES Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, Galeria Genesco Murta, Galeria Arlinda Corrêa Lima, Espaço Mari’Stella Tristão Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, Belo Horizonte CENTRO DE ARTE CONTEMPOR ÂNEA E FOTOGR AFIA Av. Afonso Pena, 737, Centro, Belo Horizonte doobjetoparaomundo.org.br | fcs.mg.gov.br Informações: 31 3236 7400 Programa Educativo em Artes Visuais | Agendamento: 31 3236 7471 ENTR ADA GR ATUITA Apresentação Parceria de mídia Realização Patrocínio Master Promoção Realização Patrocínio Apoio Parceria