Me Descobrindo Mulher

Transcrição

Me Descobrindo Mulher
MANU TORRES
ME DESCOBRINDO
MULHER
Copyright © Me Descobrindo Mulher
2015 por Editora Bezz
Capa
Dri K.K
Revisão:
Patricia da Silva
Valéria Avelar
Diagramação
Valéria Avelar
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é
entreter as pessoas. Nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova
Ortografia da Língua Portuguesa.
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São proibidos o armazenamento e/ou a
reprodução de qualquer parte dessa obra,
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A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
"Quando você perdoa, você ama. E
quando você ama, a luz de Deus brilha
em cima de você."
Christopher McCandless
AGRADECIMENTOS
Posso dizer que um desafio foi cumprido, e
apesar da saudade que tenho de escrever, sobre
esses dois personagens amados, sinto-me
completamente realizada.
Primeiro quero agradecer, imensamente, a Natália
Sá por me presentear de forma tão carinhosa com
essa história. Sem ela, nada disso seria construído.
Acreditou e encorajou-me a continuar. Nunca vou
me esquecer das palavras que disseste a mim
quando ofereceu que continuasse o M e
Descobrindo M ulher; Elas estarão marcadas em
minha memória. Para sempre.
Não poderia deixar de expressar o amor que
tenho por minhas meninas Wilka Silva, Andressa
Clara e M aria Falcão. Obrigada por toda a paciência
que demonstraram comigo. Vocês nunca me
desmotivaram e sempre estavam dispostas a ajudar.
Amo vocês, demais.
A minha amiga Rita Cintra, que encheu o meu
cartão de memória do celular de músicas para ouvir
enquanto escrevia. A Emily, minha filha, que
sempre escolhia a música perfeita quando eu pedia.
A M arcella Arianna, Caterine Santos, Luziana
Lima e Eri Guimarães, que foram minhas amigas e
companheiras nessa jornada, sempre conversando e
incentivando-me a continuar.
As minhas estrelinhas, Camila M oreira, Drizinha
Dri, Carol Yamashita e Biia Rozante, obrigada por
sempre estarem ao meu lado. As meninas do
Petisco e LC Natal, que fazem parte do meu dia a
dia e por embarcarem nessa loucura comigo. As
Noobs, que foram as primogênitas. Onde tudo
começou. M eninas vocês são especiais.
Agradeço a Vanessa M aia que sempre atenciosa e
prestativa ajudou-me nas dúvidas que surgiam
durante esse trabalho. A minha "Isabela" real, que
com muito carinho, permitiu que eu contasse sua
história. M ostrando sempre a paciência e atenção
quando fazia milhões de perguntas. M ulher você é
incrível. Um ser humano raro que tenho o orgulho
de chamar de AM IGA-IRM Ã.
E, por fim, e o mais importante. Agradeço todas
as leitoras que acompanharam essa história e se
apaixonaram pela M inha M enina, Isa. A todos os
carinhos, depoimentos, incentivos e elogios que
recebi de vocês. Vocês foram incríveis. O meu muito
obrigada!
S inopse
Isabela Alencar havia sido criada para odiar o sexo e
jamais deixar que um homem virasse sua cabeça. Isso foi
fácil até se formar na faculdade e ir trabalhar na Clínica
M édica do seu pai, onde um competente cardiologista
mexe literalmente com o seu coração.
Leonardo Menezes é um cara comprometido com a
profissão e também é muito sério. Ele parece inacessível
dentro e fora do Hospital e da Clínica onde trabalha.
M as Isabela Alencar, que é fisioterapeuta e filha do
dono da Clínica lhe tira dos eixos, e três meses, depois
que a conhece ele a leva ao altar e lhe jura amor eterno.
Será que os traumas de Isabela podem ser
superados?
O amor de Leonardo por Isabela transportará essa
barreira?
Você é frígida!
Índice
Sinopse
Capítulo 01 – Isso é um problema?
Capítulo 02 – Eu posso ser poderosa
Capítulo 03 – Confusão total
Capítulo 04 – Até que enfim
Capítulo 05 – Entre a paixão e a fúria
Capítulo 06 – Novas opções... Novas escolhas
Capítulo 07 – Caindo na real
Capítulo 08 – Era da preocupação
Capítulo 09 – Descobertas e confusões
Capítulo 10 – Decisão
Capítulo 11 – Realidade
Capítulo 12 – Novos objetivos
Capítulo 13 – O casamento
Capítulo 14 – Porque você é meu tudo
Capítulo 15 – Reconstruindo
Capítulo 16 – Rumo ao paraíso
Capítulo 17 – O inesperado
Capítulo 18 – O retorno
Capítulo 19 – As duas faces
Capítulo 20 – Não desista de mim
Capítulo 21 – Buscar forças
Capítulo 22 – Encontros
Capítulo 23 – Um anjo trazendo esperanças
Capítulo 24 – Acontecimentos inesperados
Capítulo 25 – Amor inevitável
Capítulo 26 – Se ajustando a realidade
Capítulo 27 - Apresentações
Capítulo 28 – Concluindo mais um ciclo
Capítulo 29 – Realização de um sonho
Capítulo 30 – V.I.D.A.
Epílogo
Leonardo
Capítulo 01 – Isso é um problema?
Isabela
— Puta que pariu! Assim não dá, Isabela — era a
terceira vez que ele interrompia uma relação sexual
exatamente com aquelas palavras.
— Leonardo... — eu sabia que não tinha
argumentos, e vê-lo chateado naquela hora era
devastador.
— Para Isabela, para —ele se levantou bruscamente
da cama. — Não dá mais, simplesmente não dá.
Qualquer masturbação é melhor que ficar com uma
mulher fria como você — ele estava mais furioso que de
costume.
Nós estávamos casados há apenas seis meses e a
maioria das nossas relações sexuais terminavam em
tragédia. Eu não me sentia confortável e isso fazia com
que eu sentisse um desconforto enorme.
— Eu preciso de tempo... — sexo ainda era um tabu
para mim. M inha vida inteira ouvi minha mãe dizer que
o sexo é para o prazer dos homens e sofrimento das
mulheres. E por mais que hoje eu fosse uma mulher
adulta, não estava fácil conseguir ser o que o Leonardo
esperava.
— Tempo? Eu estou esperando há seis meses para
você relaxar e agora você vem com essa que precisa de
tempo? Eu não consigo encostar em você. M eu Deus!
Eu me sinto um maldito estuprador por querer fazer
sexo com a minha esposa —Leonardo realmente estava
mais furioso que em qualquer outro momento. — Você
precisa ver a cara que faz quando eu encosto em você.
Parece que está sendo torturada. Sexo não é isso Isabela,
eu garanto que não é.
Ele entrou no banheiro e eu continuei deitada por que
simplesmente não conseguia me mover. Ele realmente
tinha sido compreensivo, mas no último mês era
palpável o quanto estava cansando de ser paciente. Eu
nunca havia transado e sou travada no que diz respeito a
essas coisas. Eu tive apenas dois namorados antes do
Leonardo. Um no ginásio quando tinha quinze anos e
outro na faculdade e, coincidentemente, ambos eram os
nerds da turma. Então não transar ou querer dar uns
amassos no banco traseiro do carro dos pais nunca foi
problema.
Leonardo foi o único cara por quem me apaixonei de
verdade. Eu o vi no meu primeiro dia de trabalho na
Clínica M édica do meu pai. Acho que me apaixonei
instantaneamente. Ele é alto, em seus aproximadamente
um metro e noventa. M usculoso, cabelo castanho,
sempre bem cortado, rosto marcante com traços fortes,
olhos esverdeados e uma cara de mau que não saiu da
minha cabeça desde o primeiro momento. Ele é
cardiologista e trabalha na Clínica há muito tempo, mas
como eu morava em Campinas e não vinha muito ao
Rio, não o conhecia pessoalmente. Apesar de sempre
ouvir meu pai falar do profissional exemplar que ele era.
M uitos dos pacientes da Clínica faziam questão de ser
atendidos por ele.
— Não dá mais Isabela. Eu estou indo embora.
M eu corpo foi tomando por um forte tremor, eu
sempre havia temido ouvir aquelas palavras.
— Leonardo, por favor... —fiquei de pé usando
apenas um lençol para me cobrir. — Eu vou conseguir,
eu vou me esforçar para te agradar, eu prometo.
— O problema está aí, Isabela. M e agradar. E você?
Sexo é algo para ser compartilhado, não é um sacrifício
que se faz por alguém. Parte significativa da relação a
dois é oferecer prazer, e eu nunca consegui fazer isso
com você. Nossa vida sexual, se é que existe uma vida
sexual entre nós, é um fiasco. Uma frustração completa.
— ele já havia vestido uma cueca e uma bermuda o que
me apavorava ainda mais, pois como ele não usava
roupas para dormir era provável que ele realmente
pretendesse sair.
— M e desculpa, mas para mim já deu. Eu não
suporto mais isso. Cara, eu chego a temer ficar em um
quarto a sós contigo. Se você quer saber, eu nem sei se
sinto mais tesão por você, acho que eu ainda tento por
pura fisiologia mesmo.
Eu estava sentindo meu coração se dilacerar e lutava
contra as lágrimas, pois eu precisava lutar. Eu precisava
lutar pelo meu marido, pelo meu casamento.
— Não fala isso Leo.
— Isabela, quando eu te conheci era difícil disfarçar
a excitação louca que eu sentia por você. Seu corpo, sua
boca. Porra! Eu morria de tesão. M as depois que nos
casamos você age como se tivesse nojo de mim. Não
aceita meu toque e sempre me evita. Isso é mais do que
eu posso suportar.
— Leonardo, mas e o amor? — eu estava apelando
para qualquer coisa que o fizesse ficar.
— Eu nunca disse que amava você — a voz dele era
hesitante, mas foi suficiente para destruir meu último
fio de esperança.
— Você tem razão.
— Olha, Isabela, eu não quero te machucar, porém
eu não posso continuar...
— Leonardo você não precisa sair. Esse
apartamento é seu e vou embora —eu morava sozinha
desde o dezessete anos, e tinha ficado somente alguns
meses na casa dos meus pais, antes de me mudar para a
casa do Leonardo. — Eu não quero nada. Nada.
Eu estudei em uma faculdade pública e trabalhava
meio expediente em uma loja de departamentos de um
shopping, para depender o mínimo possível dos meus
pais. E não seria agora que eu era uma profissional e
tinha um bom emprego, que eu ia me permitir depender
de um homem, que acabava de esfregar na minha cara
que não me amava.
— Isabela nós casamos com comunhão...
— Pouco me importa o que a droga do papel diz. Eu
quero amor, e se isso você não pode me oferecer
tampouco eu quero essa droga de apartamento — eu não
me considerava covarde, mas naquele momento sentia
uma coragem nascida da humilhação, da dor.
— Isabela você não precisa ir, eu não quero ficar
aqui — Leonardo agora parecia perdido.
— M e deixa em paz Leonardo — ele pegou uma
camisa no armário e saiu. Quando ouvi a porta da frente
bater, me joguei na cama e chorei. As lágrimas saiam em
torrentes. Era dor, tristeza, mágoa, humilhação e amor.
M inha mãe costumava me dizer que era idiotice
entregar o coração para quem quer que fosse e, mais do
que nunca, eu precisava concordar com ela. O amor
havia aberto uma cratera imensa no meu peito e eu havia
permitido que isso ocorresse.
Eu não queria dormir nessa cama. Levantei mesmo
sentindo que estava sem forças, comecei a retirar as
minhas coisas do guarda-roupa. Não me importei em
tirar as peças com cuidado, eu simplesmente arrastei
tudo que era meu e joguei na cama. Assim que tirei tudo,
peguei as malas. As mesmas que eu usei seis meses atrás
para trazer minhas coisas pra cá e comecei a jogar tudo
dentro. Quando estava quase acabando ouço meu celular
tocar, e pelo som característico eu sabia que era a Lilian,
minha melhor amiga e recepcionista da clínica.
— Oi Lilian — minha voz ainda estava embargada
pelas lágrimas.
— Eu estou indo para sua casa — ela tem quarenta
e dois anos de idade. Quase vinte a mais que eu. M as,
ainda assim, eu me sentia muito melhor com ela do que
com qualquer garota da minha idade. — Ele me ligou.
Lilian trabalhava na recepção geral da clínica e depois
que eu fui trabalhar lá também cuidava da minha agenda.
Todos gostavam muito dela, o seu jeito extrovertido
contagiava geral e depois que Leonardo e eu estávamos
juntos ele também havia se tornado muito próximo a ela.
— Ei, tudo bem, não precisa vir, eu vou dar um jeito
— eu não queria a pena de quem quer que fosse.
— Isa, você não precisa enfrentar nada sozinha. É
isso que os amigos fazem, eles se apoiam. Para de tentar
ser a supergirl pelo menos um pouco — o jeito bravo
dela falar foi suficiente para que eu reconhecesse que ela
estava certa.
— Está bem — desliguei e continuei organizando
minhas coisas. Independente do que Leonardo tivesse
dito pra Lilian, eu iria sair dali e recomeçar. O buraco
que tinha na alma teria que ser preenchido com trabalho,
ou com qualquer outra coisa, menos com a presença
dele.
A campainha tocou no momento que terminei de
fechar a mala.
— Oi Lilian— abracei minha amiga.
— Oi Isa. O que houve? Leo parecia muito nervoso
e me pediu para cuidar de você, mas não explicou nada
— Lilian era de estatura mediana e magra, ela tinha um
cabelo castanho claro na altura dos ombros. Estava
sempre sorrindo e isso, junto a sua ótima aparência,
ajudava a disfarçar a idade.
— Acabou — por mais que eu quisesse ser forte, as
lágrimas insistiam em cair.
— Calma, calma —ela me abraçava passando as
mãos nas minhas costas como se eu fosse uma criança
chorando pelo brinquedo perdido. — É muito cedo para
dizer que acabou, Isa. Vamos conversar, vamos tomar
alguma coisa e pensar com calma em tudo isso.
— Lilian não há o que pensar. Eu só quero sair
daqui. Eu quero ir embora daqui agora —estava me
sentindo sufocada. Cada parede, cada móvel, cada
imagem. Tudo ampliava minha dor. — Eu quero ir
Lilian. Por favor.
— Tudo bem, então vamos pegar algumas coisas pra
você levar e vamos para minha casa —ela caminhou até
o quarto e eu a segui logo atrás. Lilian era literalmente
alguém de casa. — E essas malas? Você precisa pensar,
conversar com o Leo. Decidir o futuro de uma relação no
calor do momento é muito perigoso.
— Leonardo disse com todas as letras que não me
ama. Isso não requer nenhuma análise — Lilian ficou
chocada com a minha colocação.
— Eu achei que fosse mais um desentendimento
bobo — eu sempre falava das minhas desavenças com o
Leonardo, mas nunca havia lhe contado o motivo real.
Eu morria de vergonha de falar sobre isso.
M esmo achando que era precipitado, Lilian me
ajudou a colocar tudo no carro dela. Eu viria pegar o meu
amanhã. Naquele momento só precisava ficar longe dali,
longe de tudo que me lembrasse ele.
— Você fica aqui até resolver o que fazer. Nem me
venha com essa conversa de: eu vou pra um hotel.
Porque eu juro que bato em você, Isabela — o humor da
Lilian era muito peculiar.
— Ok, eu fico — Lilian havia sido casada e tinha
uma filha de quinze anos, Ludmila. Um doce de garota.
Apesar de um divórcio traumático, ela vivia um
casamento moderno com Cláudio. Cada um morava na
sua casa e se viam como namorados em encontros
marcados com antecedência.
— Vou te instalar no quarto de hóspede que é pra te
dar privacidade.
— Obrigada.
Coloquei minhas malas num canto e separei um
pijama de flanela azul. Eu não havia tomado banho antes
de sair de casa, então me encaminhei para o banheiro.
Falei com Ludmila que estava ouvindo música no quarto
e fui tomar banho. O cheiro do corpo dele continuava
em mim e, por mais que eu me lavasse, parecia que
aquilo estava entranhado na minha pele. Lavei meu
cabelo com o shampoo de cereja que sempre usava e
ainda assim continuava a sentir o aroma da pele dele.
Desisti de apagá-lo de mim e enrolei uma toalha na
cabeça e me envolvi em outra, segui para o quarto e me
troquei. Alcancei os fones de ouvido que estavam na
minha bolsa e conectei ao celular. Broken Angel de
Boyce Avenue encheu os meus ouvidos.
Eu nunca tinha sofrido por amor. Eu sempre fui
sonhadora, sentimental, mas nenhum cara jamais tinha
entrado no meu coração e isso era insano. M inha mãe
tinha razão, deixar alguém entrar na nossa vida era abrir
a porta para o sofrimento.
— Oi, eu trouxe um copo de leite e um sanduíche já
que você não me disse se comeu alguma coisa — a Lilian
costumava me dar bronca por não me preocupar com
minha alimentação.
— Obrigada — disse colocando o fone de ouvido e o
celular de lado.
— Você quer falar sobre o que aconteceu? Eu não
quero ser enxerida, mas falar as vezes ajuda — ela
colocou a bandeja no criado mudo e sentou-se a meu
lado.
— Sexo.
— O que tem sexo? — eu precisava me abrir, mas
era muito constrangedor falar da minha intimidade
daquela forma.
— O sexo é o problema entre Leonardo e eu.
— Como assim, Isa? A falta de sexo é um problema
para vocês? Eu realmente não estou entendendo — eu já
tinha ouvido Lilian falar tudo sobre a sua intimidade,
mas ainda assim ficava tímida em me abrir.
— Espera Lilian, eu vou tentar te explicar, é que eu
sou muito tímida na cama e o Leonardo gosta de coisas
que eu não... Deixa eu ver como explicar...
— Você é tímida na cama? Com o seu marido? —ela
estava atônita. — M eu Deus! Isa, você é linda de doer e
fica tímida?
— Ai Lilian, para — enrubesci.
— Espera aí, timidez não deve ser um problema tão
grave assim também. Por que o Leonardo ficou tão
chateado assim?
— Ele disse que eu pareço frígida — estava
envergonhada. M as talvez falar realmente me ajudasse.
— Espera. Como eram as relações sexuais de vocês?
— Hum! Eram sempre no escuro por que eu não
gostava de ser vista, e não me sentia à vontade com
certos toques.
— Quais toques, Isa? — estava percebendo que
Lilian estava achando aquilo estranho, ou talvez errado.
— Eu não... Bem... Eu não gostava que ele me
tocasse lá... Embaixo.
— Você não deixava que ele fizesse sexo oral em
você, é isso?
— Isso. Eu não deixava que ele me tocasse de forma
nenhuma lá — não conseguia ficar à vontade sendo
tocada de forma tão íntima.
— Nada? Nunca? — o choque na face dela estava
me fazendo pensar que talvez o Leonardo estivesse
certo. Eu realmente não era normal.
— Nunca.
— Então você também não fazia sexo oral nele?
— Não!
— Isa, isso realmente é um problema — parou e
pensou um instante. — Entretanto, um problema com
solução.
— Lilian eu sentia dor durante o sexo, era algo
desconfortável. Por mais que Leonardo sempre me
dissesse para relaxar, era impossível. Ele sempre se
mostrou paciente e até muito carinhoso, mas, eu não
consigo.
— Isabela, ele machucou você? — ela questionou
preocupada.
— Não! Ele nunca foi bruto comigo, mas ele é...
Grande. E eu, hum... Não relaxava o suficiente para
lubrificar. Eu não queria que ele tocasse os meus seios,
que ele colocasse a boca em mim e ele não queria só a
penetração.
— Ai meu santo protetor das mulheres que amam o
sexo! O cara é carinhoso, lindo que chega a doer, e ainda
é grande? Pode isso produção? — Lilian falava de
maneira engraçada e eu acabei sorrindo da maluquice da
minha amiga. — As mulheres amam as preliminares e os
homens são os que geralmente negligenciam essa parte
do sexo, aí você me diz que seu marido queria te tocar
para proporcionar prazer e você não queria? — ela agora
parecia incrédula.
— O sexo é para o prazer dos homens, Lilian. As
mulheres fazem o sacrifício de suportar isso, mas, eu
não conseguia parecer feliz durante o ato, entende? E eu
sei que é isso que os caras querem. Eles querem que a
gente pareça feliz durante o ato —desembuchei.
— Querida eu não quero te ofender, mas o cara é um
santo de ter tido paciência por tanto tempo. Isabela que
maluquice é essa de sexo é para os homens? Sexo é algo
incrível e que deve ser partilhado por duas pessoas que
se amam, que se gostam, que se queiram, que... Bem
deixa pra lá. O importante é que você entenda que o
sexo é algo prazeroso e isso vale para os homens e para
as mulheres.
— Você quer dizer que sente prazer quando Cláudio
e você transam? — eu queria entender aquilo, para ser
capaz de me autoanalisar.
— Sim querida. Eu não transo para satisfazê-lo eu
transo por que eu quero sentir prazer, eu sinto muito
prazer durante o sexo. E isso poderia ter acontecido com
você também se tivesse deixado o seu marido lhe
mostrar —ela sabia que eu havia casado virgem. — Você
pode construir uma relação sexual saudável e satisfatória
querida, a questão é: você quer se descobrir
sexualmente?
— Para que, se eu já perdi meu marido? — a
amargura me assaltou novamente.
— Bem, eu não acho que você o tenha perdido de
verdade. M as, ainda que vocês não voltem. Você precisa
aprender a ser uma mulher que desfrute do sexo. Eu
acho que isso vai realmente mudar algumas coisinhas na
sua vida — o olhar maldoso de Lilian me dizia que ela
estava tramando algo.
— E se eu me tornar uma maníaca? — minha mãe
falava que as mulheres que gostavam de sexo tinham
distúrbios. Eu nunca acreditei naquilo, mas, e se
realmente
me
tornasse
uma
mulher desesperada por dar?
— Você não vai se tornar maníaca. Você vai ser uma
mulher normal, com uma libido normal. Então, você vai
ou não querer mudar essa situação? — ela estava com
uma sobrancelha arqueada.
— Sim.
— Então você vai precisar confiar em mim. Espera
um pouco — disse saindo do quarto.
Por mais que estivesse ainda muito assustada agora
diante da animação da Lilian, eu também estava
esperançosa. Se o sexo era algo prazeroso eu quero
descobrir. Quero poder proporcionar isso ao meu
marido e a mim mesma.
Tomei o leite que Lilian havia trazido e aguardei-a
voltar.
— Prontinho. Acabei de falar com Luíza, não tudo,
é claro. Amanhã depois do trabalho nós vamos começar
— a animação dela era palpável.
— Luíza? A minha tia Luíza? — a irmã da minha
mãe era uma ninfomaníaca assumida. Ela era a
sensualidade em formato de mulher apesar da idade.
— Isso mesmo. Não imagino ninguém melhor para
nos ajudar nisso — minha tia era cliente da
dermatologista da Clínica e por isso acabou se tornado,
consideravelmente, próxima da Lilian.
— Lilian a minha tia vai me transformar numa
piriguete — Tia Luíza e minha mãe eram como a lua e o
sol, dois opostos completos.
— Isabela, você é muito tímida. Sua tia é um
furacão. Acho que o meio termo vai ser torná-la uma
tigresa – ela fez como se estivesse mostrando as garras
de maneira sensual.
— Deus me ajude.
— Querida é muito tarde. M elhor você dormir, pois
amanhã a gente começa.
— Amanhã a gente começa o quê?
— A operação mulherão — ela fazia aquilo parecer
uma operação de guerra.
— Operação mulherão?
— É. Amanhã nós vamos ajudar você a descobrir a
tigresa que habita em seu interior. Boa noite. Ah! E nada
de desânimo. A batalha ainda não começou, e o
Leonardo não vai resistir à mulher que você vai se tornar
— Lilian apagou a luz e encostou a porta.
Se essa mulher realmente estiver em algum lugar aqui
dentro, eu pretendo descobrir e colocá-la para fora.
Relaxei o corpo um pouco mais, a cabeça ainda
continuava a mil. Eu vou sim, me descobrir mulher.
Capítulo 02 – Eu posso ser poderosa
Isabela
Dormi mal. As poucas horas que passei realmente
dormindo foram, na verdade, assombradas por
pesadelos. Acordei cedo e tomei café junto com
Ludmila e Lilian.
— Isa, você ainda está decidida a continuar com o
plano de ontem?
— Sim, vou continuar.
— Eu vou ligar para Luíza. Você quer que eu conte
ou você quer contar? — ela estava sendo discreta por
causa de Ludmila.
— Conte — tinha sido suficientemente desgastante
contar a Lilian e eu sabia que tia Luíza faria um
escândalo considerável.
Quando elas saíram fiquei sozinha e voltei a me
deitar. Eu precisava pensar no que faria da vida. Eu
havia entregado o controle da minha vida a Leonardo e
não estava disposta a fazer isso novamente com mais
ninguém. Ninguém mesmo.
Ouvi o toque de mensagem e abri.
Hoje começamos a Operação Mulherão, prepare-se.
Era tia Luíza, ou seja, Lilian já havia entrado em
contato com ela. Eu sorri, pois sabia que hoje viraria
cobaia daquelas duas.
M as que uma ida ao shopping e alguns conselhos
sobre como me tornar uma predadora sexual, eu
precisava encontrar comigo mesma. Precisava estar bem
interiormente. Eu já fui frágil por tempo demais e não
estou disposta a continuar a ser. Eu quero muito ter o
meu marido de volta, mas encontrar minha própria
essência seria prioridade.
Liguei para Suzana, que era a terapeuta da Clínica,
marquei uma consulta para a manhã seguinte. Eu vou
embarcar nessa viagem com tudo. Ah! E sem pretensão
de volta.
Uma nova mensagem chegou.
Ouça isso e deixe esse sentimento te invadir.
Vi que era um link com a música Girl on Fire da
Alícia Keys. M as antes de abrir, fui para o banheiro e
tomei uma ducha rápida. Queria estar acordada de
verdade. Vesti uma malha preta e uma regata azul. Não
lavei os cabelos, então os prendi em um coque. Abri o
link e esperei carregar.
A batida quente e a voz de Alícia Keys encheram o
quarto. Tentei ouvir deitada na cama, mas, aquela batida
me chamava. Nunca fui de dançar, apesar de achar algo
divertido e sensual. M inha mãe nunca gostou de
barulhos excessivos, então me conformava em ouvir
músicas no volume baixo. Já havia participado de danças
na escola, mas era só isso.
Em uma atitude ousada, me levantei e voltei a
selecionar a música e aumentei o som. Comecei a me
mexer com os olhos fechados deixando que a música me
conduzisse. M exi, remexi e arrisquei alguns rebolados,
no fim já estava totalmente solta. Não sabia se
conseguiria fazer aquilo na frente de outras pessoas, mas
estava realmente me divertindo. Enquanto dançava não
havia pai, mãe, trabalho ou Leonardo. Era só a música e
eu. Coloquei a música no repeat e dancei mais quatro
vezes. Terminei suada e feliz.
Peguei meu tablet e busquei o filme “M iss
Simpatia”, já conhecia o filme e me lembrei das
mudanças da personagem. Eu quero algo daquela forma,
ser tratada por dentro e por fora. A agente do FBI não
enxerga a própria beleza, assim como quem estava ao
seu redor, mas, depois de um desafio de trabalho ela é
confrontada com a própria beleza e sensualidade.
Assisti alguns trechos e corri para o banheiro, eu
precisava encontrar Lilian e Tia Luíza, e já havia
recebido uma dose de ânimo para enfrentar aquele
momento. Lavei calmamente os cabelos e esfreguei meu
corpo com uma esponja macia. Escolhi um vestido
soltinho na altura dos joelhos e uma sapatilha. O cabelo
eu deixei que secasse naturalmente, pois não havia
tempo para secador. Lembrei que estava sem carro e
segui de táxi para o meu antigo prédio. Passei direto
para a garagem e saí guiando meu Fox. Segui para o
shopping e as aguardei na praça de alimentação. Lilian
foi a primeira a chegar. Ela havia conseguido à tarde de
folga para me ajudar naquela louca aventura.
— Leo perguntou por você.
— Hum — eu já não estava certa se conseguiria falar
sobre ele. Queria focar em mim naquele momento.
— Ele está irado por você ter saído de casa.
— Leonardo não tem poder de decisão sobre isso.
— Ele está preocupado com você.
— O que você disse? — sabia que Lilian também era
amiga dele e se preocupava com ele.
— Disse que você está bem. Nós conversamos
rapidamente.
— Obrigada.
Observamos tia Luíza se aproximar e eu reconheci
que a presença dela era realmente marcante. Ela usava
uma calça jeans bem justa e uma baby look rosa com
detalhes pretos. O mais marcante no visual era o sapato
de salto altíssimo pink. Estava sendo confrontada com a
verdade de que algumas coisas, realmente, traziam um ar
de sensualidade bem maior.
— Olá, boa tarde — Tia Luíza nos cumprimentou
com beijos no rosto.
— Oi tia — sempre havia achado minha tia louca,
mas confesso que a estava olhando com outros olhos.
Ela era uma mulher confiante o suficiente para agir como
bem queria sem se preocupar com a opinião alheia. Quer
algo mais sensual que confiança?
— Vamos almoçar e depois vamos às compras —
Lilian sugeriu.
Eu nunca tive problemas financeiros apesar de ter
tido todos os outros e, assim que saí de casa passei a
receber participação nos lucros da Clínica. M inha mãe
tinha algumas atitudes extremas, mas sempre foi uma
boa mãe e minha segurança e conforto sempre foram
prioridades. Como meu pai era um mulherengo
inveterado, minha mãe exigiu que eu recebesse uma parte
da herança em vida. Eu não gastava esse dinheiro, pois
sempre tinha tido meu próprio salário, mas naquele
momento estava em uma emergência. Então peguei uma
parte.
— Isa, ouça com atenção o que eu vou lhe dizer —
tínhamos terminado de almoçar e estávamos ainda
sentadas à mesa. — M ulher tem poder de controlar um
homem e isso não tem nada a ver com ser bonita ou
feia. Gorda ou magra. M ulher tem que ser confiante e
saber usar o que tem de bom a seu favor — lembrei-me
do filme M iss Simpatia. — Você já é linda, Isabela. Nós
vamos somente dar um toque de sensualidade e deixar
que a confiança brote naturalmente.
— Certo, tia — por mais que durante toda minha
vida tivesse me achado muito apagadinha, estava
disposta a tentar ser uma mulher sensual.
— Lilian, você está com a lista? — Tia Luíza
perguntou olhando para Lilian.
— Sim. Primeira parada loja de perfumes — Lilian
respondeu empolgada.
Seguimos pelos corredores do shopping enquanto
minha tia e Lilian continuavam me falando sobre como
eu poderia usar o que tinha a meu favor.
— Seu cabelo é uma arma secreta, Isa. Seu corpo é
um espetáculo e com esse rostinho de bebê dá para fazer
qualquer marmanjo implorar — Lilian falava quando
alcançamos a loja de perfumes importados.
— Isabela, uma mulher deve ter um cheiro marcante.
Quando ela entrar em um ambiente deve atrair a atenção
de todos e o perfume correto pode fazer exatamente
isso.
— M as como saber qual o perfume correto? Eu, por
exemplo, adoro perfumes suaves e colônias de bebê.
— O perfume certo é aquele que te dá um toque de
ousadia. Não se preocupe. Hoje você vai sentir. Ah, e
perfumes de bebês despertam o lado cute-cute das
pessoas e você não vai querer isso. Eu garanto.
Eu já havia explicado a Lilian minha situação
financeira e ela certamente já devia ter transmitido para
tia Luíza. Não vou economizar nessa missão.
— Sinta esse cheiro, Isa — minha tia indicou uma
paleta olfativa e eu cheirei. O odor era adocicado, mas,
realmente muito marcante impossível não amar.
— Adorei.
— Vamos levar.
— E esse, Isa? — Lilian me passou uma paleta.
— Uau! —Se ousadia tivesse cheiro seria aquele
perfume ali. — M aravilhoso.
— Dizem que esse perfume tem a essência do sexo
— deveria ter mesmo.
— M ais um, Isabela. Usar sempre o mesmo
perfume não fará com que você se torne marcante. Saber
usar a fragrância certa, na hora certa, fará isso.
— Delicioso esse, tia.
Passei o cartão de crédito e saímos da loja. Passamos
em frente a uma loja de perfumes nacionais e minha tia
me puxou pela mão para que entrássemos.
— Esse eu vou te presentear. Eu quero que você
entenda que ser um mulherão não é algo inacessível, ou
para um pequeno grupo de mulheres. Qualquer mulher
pode ser gostosa e bonita, basta decidir ser.
Ela pediu um perfume à vendedora e me indicou uma
paleta.
— Nossa tia! Tão gostoso quanto os outros —
também era adocicado e, em minha opinião, era muito
sexy. — Obrigada — agradeci segurando a sacola
enquanto minha tia pagava a compra.
Seguimos pelos corredores e entramos na loja de
roupas femininas.
— Isabela nós vamos dar um toque de ousadia e
sensualidade no seu guarda-roupa. — Lilian me puxou
para dentro da loja enquanto falava.
Eu sempre achei muito bonito, roupa um pouco
curta e decotada, porém minha mãe odiava essas coisas e
eu acabei por nunca tentar usar para evitar o sermão.
— Qual o seu número? — a vendedora me
perguntou depois que Lilian disse o que queria.
— 38.
Estava me sentindo a M iss Simpatia. Durante a
operação para transformá-la em uma mulher digna de
participar do Concurso de M iss Estados Unidos. M inha
tia e minha amiga valiam por uma equipe completa do
FBI.
— Vá provar e lembre-se de manter a mente aberta
— Lilian ainda me olhava com alguma desconfiança.
— Tá — segui para o provador com os braços
carregados com várias peças jeans e similares.
Comecei pelas peças menores. Uma saia curta,
branca, linda que era quase indecente. Um shortinho
preto com tachas nos bolsos e desfiado na barra. Um
vestido verde com enorme decote e lindo. Um short de
paetês preto que, apesar de ser incrível, eu não saberia
se teria coragem de ir a algum lugar com ele. Uma calça
jeans azul escuro de uma coleção nova, que parecia que
não ia entrar em mim, mas, que quando a vesti parecia
uma segunda pele de tão justa. Uma calça que imitava
couro, preto, com uma faixa lateral de cetim, também
justa. Uma saia curta com listras verticais em preto e
branco. Um micro short em jeans branco que certamente
marcaria a calcinha. Provei mais algumas peças e adorei
todas. Sabia que teria que me habituar aquele novo
estilo, mas, a verdade é que estava me sentindo de volta
a adolescência quando eu teria pagado caro para sair de
casa com uma roupa daquelas.
Selecionei mais dois vestidos e algumas blusas com
transparências e rendas, justas, ou simplesmente muito
bonitas e fui para o caixa.
— Vou levar esses — depositei uma pilha enorme de
roupas sobre o balcão. A moça recebeu meu cartão de
débito e começou a processar a minha compra.
— Esse eu sei que vai ficar lindo em você e eu quero
te dar de presente.
— Lilian...
— Eu quero te dar, Isabela. Facilita — Lilian me
repreendeu entregando o cartão de crédito a vendedora.
Saímos de lá carregadas de sacolas e se eu estivesse
sozinha certamente já não conseguiria carregar mais
nada.
— Sapatos, Isabela — minha tia me puxou em
direção a uma loja de calçados.
— Sapatos? O que sapatos vão influenciar nisso
tudo? — parecia bobo investir dinheiro em sapatos se
eu já tinha alguns que gostava.
— O que sapatos vão influenciar? Querida, vejo que
você realmente está precisando entrar nessa loja e ver
alguns modelos básicos. Existem sapatos que passam
uma mensagem mais sensual que uma lingerie. Nunca
ouviu falar dos sapatos “foda-me”? — neguei ciente que
estava corada até a raiz do cabelo.
— Nós vamos comprá-los e o Leonardo vai sentir a
diferença na nova Isabela da cabeça aos pés.
Olhamos alguns modelos e minha tia ia pedindo
vários outros. Todos com saltos.
— Numeração?
— 36 — sempre ouvia as mulheres falarem sobre
paixão por sapatos, mas nunca fui picada por esse
bichinho. Sapatos para mim eram uma necessidade e
tinham que ser confortáveis e pronto.
A vendedora voltou com algumas caixas e um rapaz
veio atrás dela trazendo mais alguns. Percebi que o
rapaz gostou de mim, pois ele não tirava os olhos e,
mesmo depois que se afastou, continuava me encarando
e, para ser bem sincera, eu gostei. Droga! Eu adorei ver
aquele cara me comendo com os olhos. Em outro
momento eu teria me sentido constrangida e talvez
tivesse desistido da compra e ido embora, mas, naquele
momento, eu queria mesmo me sentir admirada.
— Nossa! São lindos, tia — os sapatos e sandálias
que tia Luíza havia escolhido eram realmente belíssimos.
Provei primeiro um sapato simples, em camurça do
preto, com um salto altíssimo. Em seguida uma sandália
vermelha que tinha somente uma tira próxima à linha
dos dedos e uma faixa larga que a prendia ao tornozelo.
Depois, um par de botas pretas que iam até próximo ao
joelho e um salto de, pelo menos, doze centímetros. Um
sapato nude com detalhes em tachas de salto plataforma
foi minha próxima escolha, além de um sapato que
imitava couro de cobra e uma sandália preta com
dourado. Finalizei com uma sandália branca com uma
flor vermelha presa a faixa que ficava próxima à linha
dos dedos. Amei todas e observei que minhas pernas
ficavam, especialmente, destacadas com auxílio do salto
alto.
— Vou levar todos — eu não costumava usar saltos
tão altos, mas sabia que não teria problemas em me
equilibrar sobre um. Lembrei que tinha ligado para uma
academia próxima a meu antigo apartamento e me
informado sobre aulas de dança. Havia me sentido tão
poderosa enquanto dançava que me lembrei de um
cartão da academia que havia recebido meses atrás e
deixado dentro da agenda.
— M oça eu quero um sapato de salto, mas,
confortável o suficiente para conseguir dançar Zouk e
dança flamenca — diante do olhar surpreso de tia Luíza
e de Lilian, recebi uma caixa contendo um sapato estilo
boneca preto com um salto de aproximadamente oito
centímetros. Um pouco mais largo que os demais, o que
o tornava muito mais confortável para a tarefa que
executaria com eles. Passei o cartão de débito e, apesar
de o valor ter sido um tanto salgado, fiquei muito feliz
com a aquisição. Já estava saindo da loja quando vi outra
vitrine contendo bolsas lindas. Voltei e comprei quatro
modelos. Duas maiores para usar no trabalho, uma
pequena com corrente lateral que era mais despojada e
outra, também, pequena, mas bem feminina, que ficaria
bem para um visual de noite.
Fomos até o estacionamento e colocamos todas as
sacolas no porta-malas do carro. Se ainda faríamos
compras precisávamos de mãos livres, o que já não
tínhamos mais.
— Isabela, a sensualidade está ligada a confiança.
Então, mesmo que ninguém esteja vendo o que está
usando, as peças te darão confiança para ser uma mulher
que arrasa quarteirão — não havia compreendido muito
bem o que Lilian havia falado, mas quando entramos em
uma loja que parecia um shopping dentro do shopping e
que vendia somente roupas íntimas, Tudo fez sentido.
— De quais cores você gosta? —Lilian me
perguntou. Eu não tinha grande preferência por cada cor,
mas sabia que vermelha era uma das cores que mexia
com a imaginação masculina. Inclusive eu tinha uma
camisola transparente nessa cor e, claro, que nunca usei.
— Vermelho, preto e branco — respondi e vi que as
duas ficaram surpresas.
— O tradicional —a vendedora respondeu com um
sorriso simpático nos lábios. — M e diz o que você
quer.
— Eu quero tudo, calcinhas, sutiãs, camisolas,
corpetes, cintas-ligas e tudo mais que você tiver. Quero
tudo bem sensual — tia Luíza e minha amiga me
olhavam com as bocas formando um O. Acho que as
tinha surpreendido.
— Que foi? Entrei na brincadeira — elas sorriram e
começaram a olhar as vitrines e a pedir algumas peças
para elas mesmas. Acho que elas confiaram que eu faria
boas compras. Reparei que a vendedora não havia
perguntado meu tamanho de lingerie, mas aguardei para
ver no que daria.
— Aqui está — a vendedora apareceu depois de
vários minutos com os braços carregados de lingeries de
cores bem variadas. — Trouxe nas cores que você me
pediu e trouxe também peças lindas em outras cores
para o caso de você gostar.
Olhei com atenção cada peça e fiquei encantada como
simples calcinhas podiam se tornar verdadeiras obras de
arte. Os sutiãs eram muito delicados e muito sensuais.
As rendas e aplicações tornavam cada peça única.
Comprei várias peças e, por incrível que pareça, foi à
loja em que eu mais me diverti, pois imaginar a cara que
o Leonardo faria ao me ver trajando aquelas coisas era
realmente engraçado.
Esse pensamento me fez constatar algo. E estava
fazendo tudo aquilo, lógico, com a intenção de
reconquistá-lo, mas também estava empenhando por
mim mesma. Empenhada em me descobrir por mim
mesma. Queria saber até onde era capaz de ir e, se com
isso eu reconquistasse o cara que gostava ótimo, se não,
eu estaria pronta para encarar o futuro. Assim esperava.
Saí da loja carregando minhas muitas sacolas e, tia
Luíza e Lilian carregando as suas.
— Acho que agora vamos para a última parada —
Tia Luíza olhou para Lilian que assentiu.
Seguimos andando e confesso que tomei um choque
quando nos vi parada em frente a uma loja com uma
fachada negra com o que parecia ser um bordado
dourado e uma placa na qual se lia: S ex Love S hop.
Nunca. Nunca mesmo havia entrado em um sex shop e
estava temendo que ali não conseguisse me sentir à
vontade.
— Isa, abra a sua mente e lembre-se que você não é
obrigada a nada — assenti com um sinal de cabeça. A
loja não era muito grande e também não era como eu
imaginei que fosse. Havia apenas três vendedoras, que
vestiam roupas normais de vendedoras.
— Isabela, nós vamos comprar coisas para você.
Não vamos comprar nada para você usar com o
Leonardo. Ainda. É importante que você descubra o
próprio prazer primeiro, depois poderá se concentrar no
dele.
— Certo — não sabia sobre o que elas falavam, mas
aquilo me parecia sensato.
— Filmes —Tia Luíza pediu à vendedora, que nos
conduziu a uma prateleira onde havia diversos títulos,
inclusive alguns que eu não teria coragem de repetir em
voz alta. M inha tia selecionou três filmes e colocou em
uma cestinha. — Vamos levar somente esses, depois
você poderá pesquisar na internet e baixar uma
infinidade.
— Vibradores — fiquei chocada e corada até a alma.
Ela deveria estar brincando.
— Está doida tia? — sussurrei em seu ouvido para
que a vendedora não ouvisse e percebi diversão nos
olhos de Lilian.
— Relaxa Isabela. Relaxe e aproveite — ela e Lilian
se dirigiram a um balcão onde peças diversas estavam
dispostas. Eu pedi que elas escolhessem, pois para falar
a verdade, eu estava constrangida demais para tocar
naquilo em público. Apesar de estar bem curiosa para
aprender sobre eles em particular.
— Vamos levar esses dois — Tia Luíza apontou
para uma imitação de pênis humana consideravelmente
grande e um pequeno e simples que parecia um batom.
Não quis perguntar por que a necessidade de dois.
Entreguei o cartão e saímos da loja após a confirmação
do pagamento.
— Isabela, pela sua cara, você não se masturba, né?
— minha tia realmente não tinha papas na língua.
— Não.
— Então isso será um bom começo. Quero que você
assista aos filmes que compramos e use os vibradores.
Ninguém precisará ficar sabendo disso, mas é bem
importante que você descubra o que gosta e o que não
gosta durante o sexo. Onde você sente mais prazer ao
ser tocada e, assim, você saberá guiar seu parceiro
durante o ato sexual. Além de aprender como
enlouquecer um cara na cama. Se for uma boa aprendiz,
muito em breve, Leonardo irá implorar por você.
— Ok — foi tudo que consegui dizer.
— Só mais um lugar, agora —Lilian disse e percebi
que até minha tia se surpreendeu. — Livraria.
— Hum! Tem razão — Tia Luíza concordou.
— Isa, você já leu livros eróticos?
— Não Lilian — respondi.
— Isabela, você precisa aprender a conhecer todas
as coisas e reter só o que for bom —minha tia explicava
de forma tão apaixonada que já me deu vontade de ler.
— Que tal se você lesse e formasse a própria opinião
sobre cada enredo?
— Concordo e confesso que fiquei curiosa —
assenti.
Chegamos a uma livraria bem grande que ficava no
terceiro piso e me senti em casa. Eu sempre adorei ler e
os romances eram os meus preferidos. Eu tenho pilhas
de livros, que por sinal, deixei no meu antigo
apartamento.
— Eu te indico a leitura de romances hot. Eles são
bonitos e quentes e vão, com certeza, estimular sua
imaginação — Lilian já estava em uma prateleira mais de
canto.
— Certo, vai me falando as sinopses e escolhemos
juntas.
Acabei escolhendo vários livros. Até uns de sucesso
mundial.
— Eu preciso de um Ovomaltine gigante. E se vocês
estiverem sentindo metade do calor que eu estou
também vão querer — Lilian sibilou.
O Rio de Janeiro devia treinar seus moradores para ir
para o inferno, pois depois daquele calor que estávamos
encarando era difícil estranhar qualquer outra
temperatura. M esmo com o ar condicionado do
shopping só de saber como estava quente lá fora eu já
ficava suada.
Enquanto seguíamos para a praça de alimentação vi
uma loja de moda praia. Estava realmente precisando de
um biquíni, pois mesmo morando no Rio, ia muito
pouco a praia e queria pegar um bronze, nos dias que
ainda restava do verão.
— Vão andando, eu vou passar aqui nessa loja —
elas continuaram andando eu entrei na loja.
— Olá, em que posso ser útil? — uma vendedora
com sorriso engessado na cara me perguntou.
— Biquínis — por mais que eu parecesse antiquada
para a minha idade eu nunca gostei de maiôs, e meus
biquínis também não eram nenhuma anomalia de
grandes.
A moça sorridente voltou com vários modelos de
várias cores. Eu gostei de um modelo tomara que caia
vermelho e de um preto tipo cortininha. Fiquei tentada a
levar um biquíni azul fio dental com a parte de cima
também bem pequena. Pedi para ver saídas de praia
enquanto continuava indecisa sobre o biquíni. Escolhi
dois modelos básicos de saída e acabei levando também
o biquíni azul. Na praia ninguém me conheceria e
tentaria usar o micro biquíni e ver como me sentiria.
— Um milk-shake médio de morango — pedi e já
me sentei à mesa com tia Luíza e Lilian.
— Comprou o biquíni? — Lilian perguntou.
— Comprei sim.
— Isabela, acho que você deveria voltar para o
apartamento que morava com o Leo — percebi que
Lilian fez uma careta. Não tinha dúvidas, quanto a ser
bem vinda em sua casa.
— Por quê? — eu temia me sentir muito sozinha lá.
Não apenas por morar só, já que estava acostumada,
mas por ser um apartamento muito grande e ter
lembranças do Leonardo.
— Porque lá é um lugar onde há coisas do Leo e há
uma possibilidade maior de que ele apareça, favorecendo
assim suas investidas —fazia sentido. — E também
porque no seu ambiente de trabalho, com certeza, você
não poderá ousar tanto quanto em um ambiente mais
privado.
— Ok. Se ele voltar a tocar nesse assunto, vou
aceitar, mas não vou procurá-lo para pedir para voltar.
— Certo, eu concordo — Lilian sorriu.
— Isabela, você sabe por que sua mãe te ensinou
essas coisas? — Tia Luíza perguntou duvidosa.
— Não, eu não sei. A única coisa que sei é que ela
não fez por mal. M inha mãe me ama e ela nunca teria
feito algo que fosse me prejudicar — M amãe era uma
boa mãe e eu nunca duvidei disso.
— Você tem toda razão. Sua mãe ama você e não fez
isso para te prejudicar. M as infelizmente, ela acabou
transmitindo para você os traumas dela.
— Traumas?
— Sua mãe teve um namorado quando tinha
dezessete anos. Foi o primeiro namorado dela, e ela era
realmente muito apaixonada por ele. Quando eles já
estavam juntos há algum tempo ela achou que estava
grávida e acabou contando para a nossa mãe. Papai foi
falar com o rapaz que negou ter sido o primeiro a transar
com ela, coisa que naquela época era suficiente para
gerar um escândalo. Ele se negou a casar e simplesmente
sumiu — Puxa! M inha mãe nunca havia me falado nada
sobre aquilo. — Ela felizmente não estava grávida, mas
ficou triste por muito tempo. Ela só voltou a namorar
quando conheceu o seu pai e, dias antes do casamento, o
encontrou transando com uma prima nossa em frente da
casa da nossa tia Rebeca. Sua mãe queria acabar o
relacionamento, mas papai insistiu para que ela casasse,
pois era a oportunidade de limpar a sujeira que o outro
havia lançado sobre o nome da família. O resto da
história você conhece — Tia Luíza concluiu.
Eu estava realmente chocada. A parte referente ao
meu pai infelizmente eu conhecia, mas todo restante era
total novidade para mim.
— Que coisa mais triste — pensei na minha mãe
sofrendo por um amor perdido.
Terminamos o lanche e seguimos para o
estacionamento. Havíamos chegado ali em carros
separados então não tínhamos escolha quanto à volta.
Despedi-me de tia Luíza.
— Querida, eu vou te mandar mensagens diárias
com tarefas que você deverá executar. Serão coisas
simples que contribuirão para você se sentir mais segura
e desinibida.
— Ok — eu estava disposta a entrar com tudo
naquela louca aventura.
Segui para meu antigo bairro, pois queria me
matricular nas aulas de dança. Havia me sentido tão bem
dançando que queria mais.
— Oi, eu quero saber sobre as aulas de dança — falei
para a recepcionista da academia. Ela me passou as
modalidades e horários oferecidos.
— Eu quero me matricular na turma de Zouk, de
dança Flamenca e na de Dança do Ventre. E quero,
também, na aula de aeróbica — não estava querendo
perder peso, mas tonificar os músculos seria bom. Além
do mais eu odiava musculação. Fiquei com quatro noites
e uma tarde comprometida. Não queria ficar em casa
lambendo minhas feridas e, como não trabalhava nas
sextas-feiras, comprometi aquela tarde também. As
noites das sextas-feiras ficaram livres, porque eu tinha
planos de usá-las para sair e fazer amigos.
— Certo, será Zouk na segunda, aeróbica na terça,
flamenca na quarta, aeróbica de novo na quinta e dança
do ventre as sextas. Certo? —concordei e paguei o valor
da matrícula. — Você gostaria de conhecer as
dependências da academia? — a recepcionista
questionou.
— Claro.
Ela me mostrou várias salas onde aconteciam várias
aulas. A academia era imensa e possuía realmente muitos
aparelhos.
— Fernando, essa é Isabela. Ela será sua aluna na
turma iniciante — apertei a mão do moreno claro da cor
do pecado, a quem a recepcionista me apresentava. O
cara era a encarnação da luxúria. Corpo malhado e
músculos bem definidos. Um tom levemente moreno na
pele que eu sempre admirei e os olhos amendoados mais
lindos que eu já havia visto.
—Prazer, Isabela. Espero que você goste de bailar
Zouk — ele também me analisava e fiquei curiosa sobre
o que ele havia achado. Percebi que quando apertou
minha mão ele aproveitou para olhar meus dedos. Em
busca de aliança? Talvez.
— O prazer é todo meu Fernando. Eu nunca dancei
e por isso optei pela turma iniciante. Espero conseguir
realizar os movimentos.
— Não se preocupe. Você vai conseguir. Nós vamos
cuidar para que isso funcione.
Saí da academia me sentindo meio tonta e com a
sensação que aquele homem ia me mostrar mais que
apenas passos de Zouk.
Jantei com Lílian, Ludmila e Cláudio. O casal vinte
passaria a noite fora e eu dormiria com Ludmila. Tomei
um banho quente bem demorado e voltei para o quarto
de hóspedes, que por sinal estava uma zorra. Eu não
havia desfeito as malas, porque não pretendia ficar aqui
por muito tempo. E agora além das malas um mar de
sacolas se aglomerava próxima a cama. Não queria mexer
em nada por hora. A casa da Lilian era aconchegante e
confortável, mas eu precisava do meu canto. Se for o
caso, voltaria para o antigo apartamento, se Leonardo
pedisse. Caso contrário, segunda-feira mesmo procuraria
um flat.
Não quis fazer nada de muito estrambólico como ver
os filmes que havia comprado, pois não me sentia à
vontade de fazer aquilo ali na casa da minha amiga.
Optei então por começar a ler e escolhi Cinquenta Tons
de Cinza. Confesso que o Christian Grey me pegou.
Amei o livro, apesar de ter ficado surpresa com a
descrição tão detalhada sobre as cenas de sexo. Fiquei
também excitada, o que foi algo realmente novo para
mim. Li até as duas da manhã e apesar de guardar o
livro, a cabeça continuava a mil.
Acordei cedo e, antes de me levantar, liguei para o
salão próximo a clínica onde eu costumava fazer
manicure e pedicure. M arquei hora para fazer tudo,
mão, pé, cabelo, depilação e massagem. Eu queria me
tornar uma mulher poderosa e a aparência é um dos
itens para que isso aconteça.
Tomei café rápido e saí para a terapia. Sabia que
Leonardo não estaria na clínica em um sábado e fiquei
confortável em ir até lá. A sessão foi muito proveitosa e
apesar da minha timidez contei tudo que sentia. Já sabia
que tinha sido alvo de traumas da minha mãe e que, pelo
jeito, haviam se tornado meus também e, se eu queria ser
alguém diferente, precisava aproveitar todas as
oportunidades. E a terapia era uma ótima maneira de
fazê-la.
Voltei para a casa de Lilian somente para buscar
Ludmila que me acompanhou até o salão. Ela aproveitou
para fazer alguns tratamentos, também. Voltamos para
casa e já passavam das cinco da tarde. Estávamos
cansadas, famintas, mas muito felizes. Havia pintado as
unhas com um vermelho sangue lindo e meu cabelo havia
sido cortado em camadas e hidratado. Coisas simples,
mas que faziam diferença.
Concluí a leitura do primeiro livro da coleção e iniciei
o livro dois. Passei o domingo lendo e pesquisando dicas
de beleza e sedução na internet. Confesso que estava
nervosa para voltar ao trabalho na segunda-feira, mas,
depois da conversa com Suzana e da força que havia
recebido de Lilian e tia Luíza, não podia decepcioná-las
e, principalmente, não estava disposta a decepcionar a
mim mesma.
Acordei cedo na manhã de segunda e ajudei Lilian a
preparar o café da manhã. Não sei a que horas ela
chegou, já que até a hora que a Ludmila e eu fomos
dormir Lilian ainda não haviam voltado.
— Preparada, Isa?
— Preparadíssima — assenti com o coração
acelerado e as mãos frias.
— Leo não aceita a ideia de você não ficar com o
apartamento —Lilian estava coando o café de costas
para mim. — Gostaria que você ficasse aqui, mas a
opção é sua.
— Vou voltar Lilian. Também acho que o
apartamento será o cenário ideal para que as coisas
aconteçam.
— Eu vou apoiar o que você decidir.
Tomamos café sozinhas pois Ludmila ainda estava se
arrumando. Tomei um banho demorado e lembrei-me da
cena do banheiro em que o Christian e a Anastácia
haviam feito sexo. Toquei meu próprio corpo, sentindo
sensações ainda não experimentadas. A forma como o
Christian havia reagido ao sexo oral me deixou curiosa.
Será que eu conseguiria proporcionar tamanho prazer ao
Leonardo?
Saí do banho ainda com o meu sexo latejando. Era
uma vontade de me tocar, até ver no que daria, mas,
precisava trabalhar.
— Isa já estou saindo — Lilian gritou ainda da sala.
— Vai lá — ela começava o expediente antes de mim
e por isso sairia mais cedo.
Sequei meu cabelo apenas com a toalha e o penteei
para que secasse naturalmente. Ainda de roupão
comecei a fazer a maquiagem. Sempre usava tons pastéis
para sombra e batom cor de boca, pois temia que o
excesso me deixasse ridícula. Separei uma sombra
marrom e outra rosa, fiz um esfumaçado leve e
completei com o delineador preto. Não ficou berrante,
mas confesso que estava diferente. Passei duas camadas
de máscara de cílios e um batom coral. Incrível. Apenas
alguns detalhes tinham me deixado com uma cara mais
de mulher e menos de menina.
Vesti um caleçon preto, pois queria usar um vestido
também desta cor. Há uns seis meses atrás eu tinha visto
um vestido bem justo e com um decote delicado nas
costas, por um impulso acabei comprando, mas nunca o
vesti estando a peça inclusive com etiqueta ainda. Hoje
decidi usá-lo, pois a nova Isabela tinha coragem, e para
usar aquela peça, mesmo o decote não sendo tão
discreto, fiquei tranquila, pois o jaleco o cobriria e ficaria
comportado.
Vesti o vestido e calcei um sapato azul que eu amava
e, apesar de não ser do tipo “foda-me”, completou meu
visual com esmero. Passei o perfume que havia ganhado
da minha tia, conferi a bolsa e peguei as chaves do carro.
— Você consegue Isabela — disse para mim mesma,
respirando fundo.
Segui tranquilamente para a clínica e, por incrível que
pareça, estava até calma. A terapia e minha própria
decisão de ser uma nova mulher estavam me dando à
segurança que precisava. Só esperava que essa confiança
não fosse um castelo de areia.
— Bom dia, Lílian — cumprimentei-a quando
adentrei a recepção da clínica.
— Bom dia... Isabela! Você está um arraso. M enina,
você já está diferente — percebi que Lílian estava
realmente surpresa.
— Que bom. Como está meu dia hoje? — ela
controlava minha agenda profissional.
— Uma loucura.
— Que bom — amava meu trabalho e quanto mais
pacientes, mais dinheiro, mais segurança e muito mais
independência.
— Lílian, quem é esse pecado em forma de mulher?
Porque parece a Isabela, mas é claro, que a nossa
fisioterapeuta não usaria uma delícia de vestido desses.
Ou usaria? — ouvi a voz de Igor atrás de mim. Ele era
ginecologista. Achava que ele levava a sério a ideia de
brincar de médico. O cara era o maior pegador que eu
conhecia, além de ser um galanteador por natureza.
Olhos esverdeados e o cabelo loiro escuro. Além da cara
de cafajeste, e o corpo sarado. Era a perdição das nossas
residentes e enfermeiras. Sem falar em jovens pacientes.
— Bom dia, Dr. Igor. Alguma coisa contra o meu
vestido? — sempre nos demos muito bem, pois fingia
não ver as cantadas que me dirigia.
— Tudo a favor, Minha Deusa. Aliás, acho até que
esse deveria ser o novo uniforme das funcionárias da
clínica, só precisaríamos trocar a cor.
— Vou pensar nessa ideia — falei para Igor seguindo
para o meu consultório.
— M enina, seu cheiro está uma delícia. Isabela, você
está má hoje — me virei para ver Igor enviando-me um
olhar predador.
— Você nem imagina o quanto — percebi Leonardo
parado no outro corredor. Ele provavelmente tinha
ouvido o comentário do Igor, mas aquilo não me
preocupava mais, afinal eu agora estava solteira, e o
ciúme do Leonardo contra o Igor não era mais uma
perturbação.
Entrei no meu consultório e ouvi a porta abrir antes
que eu alcançasse a minha mesa.
— Isabela — aquela voz que me hipnotizava soou
meu nome.
— Olá — prendi o fôlego. Não importava quantas
vezes eu o visse ele sempre tinha o poder de me deixar
sem ar. Ele estava com uma calça jeans branca e uma
camisa polo de mesma cor coberta pelo jaleco.
— Não consegui falar com você no fim de semana.
Você está me evitando? — sabia que estava irritado pelo
que tinha ouvido lá fora, além de toda a confusão que
nossas vidas estavam.
— Talvez. Acho que já conversamos o suficiente —
percebi que seus olhos se estreitaram. Leonardo já tinha
uma cara de mal. Que assustava muitos, inclusive a mim,
mas naquela manhã eu o vi ainda mais carrancudo.
Virei às costas para pegar meu jaleco no armário e
quando voltei a olhá-lo vi que ele estava com os olhos
arregalados.
— Que roupa é essa? — interrogou atônito.
Não respondi. Estava ocupada comemorando por
dentro a reação causada.
— Eu tenho paciente em alguns minutos, então acho
melhor você me dizer o que quer — O QUÊ? Eu
realmente estava o dispensando? SIM ! Isabela você tem
potencial, garota. Brindava interiormente.
— Eu quero que você volte para o apartamento —
pediu.
— Por quê? — queria voltar, mas já que estava na
chuva queria me molhar.
— Porque eu acho que você deve ficar lá. Vou me
sentir mais tranquilo sabendo que você está em casa —
ele ainda estava examinando meu vestido. Ouvi-lo falar
sobre estar em casa me deu vontade de chorar, mas,
lógico, que eu não faria isso.
— Casa? Casa de quem? — questionei.
— Sua casa — respondeu no mesmo segundo.
Permaneci em silêncio, pois não queria uma casa,
queria um lar.
— As minhas chaves estão aqui, espero
sinceramente que você volte —ele depositou as chaves
sobre a minha mesa chegando inclusive perto demais de
mim. — Você está com um cheiro diferente — falou e
pude senti-lo inalando meu cheiro.
— Diferente? — quase gaguejei.
— É. Cheiro de mulher — sorri com a colocação das
palavras dele.
— Eu sou uma mulher, Leonardo — afirmei.
— É. M as você preferia parecer uma menininha. E
os seus perfumes também tinham cheiro de criança —
investigou.
Leonardo se virou e caminhou até a porta e, quando
já havia aberto para sair, eu completei: — É que às
vezes as crianças crescem.
*******
Trabalhei o dia inteiro e almocei na clínica como de
costume. Segui do trabalho direto para a academia
passando somente em uma loja para comprar uma
sapatilha mais maleável, pois Fernando me pediu que
usasse uma dessas nas primeiras aulas.
A aula foi muito legal, apesar de sentir que estava
fazendo tudo errado. Fernando era um professor muito
paciente e percebi que a maioria das mulheres não tirava
os olhos da bunda linda dele. Ops! Nunca reparei em
bunda de homem, mas Fernando usava uma calça que
não tinha como não notar.
— Isabela, vem cá —a aula havia acabado e eu
estava recolhendo a minha mochila enquanto as demais
alunas saíam. Fernando continuava no meio da sala de
aula. — Vou soltar uma música e quero que você feche
os olhos e me deixe te conduzir.
— Fernando, eu não sei dançar, eu vou...
— Shiii. Feche os olhos e sinta a música — pediu.
Fiz o que ele me mandou. Fernando me segurou
junto a si e começou a movimentar no ritmo da música.
Ele não executava passos específicos, estávamos apenas
nos movimentando juntos. Estava me sentindo leve nos
braços dele e a sensação da proximidade do seu corpo no
meu, fazia com que me sentisse ainda mais mole.
— Viu? Você vai ser uma dançarina perfeita — ele
comentou quando a música chegou ao fim.
— Ah! —eu estava em transe. — Obrigada. Até
segunda-feira — agradeci.
Saí da academia me sentido estranha. M eu corpo
estava tendo reações muito loucas e eu estava surpresa
com meus próprios pensamentos.
Apesar dos protestos de Lilian, recolhi minhas
coisas e voltei para o apartamento do Leonardo.
Confesso que foi estranho estar ali sozinha, mas
aproveitaria minhas noites para pôr em prática a
operação “Isabela Poderosa”. Sorri do meu louco
pensamento. Não havia tomado banho ainda depois da
aula de Zouk, então depois de arrumar algumas coisas
nos armários tomei um banho quente bem relaxante. Já
era tarde, porém, por curiosidade, eu ainda queria
assistir um dos filmes comprados. Vesti somente uma
calcinha minúscula e uma camisola que mal cobria a
calcinha. Se for pra ser poderosa, então vamos.
Deitei na minha enorme cama e peguei meu
notebook. Liguei o filme e apaguei as luzes. Quando as
imagens começaram a transcorrer senti um misto de
vergonha e excitação. O ator pornô, realmente sabia
mexer com a imaginação de uma pessoa. Senti minha
calcinha ficar úmida, e me surpreendi, pois nunca tinha
me excitado a ponto de lubrificar. Em um momento de
loucura alcancei o vibrador maior que eu já havia
higienizado e colocado na mesa de cabeceira e tirei a
calcinha.
Ainda com o filme rolando liguei o aparelho e o
coloquei na entrada no meu sexo. A sensação aumentou
e eu introduzi parte do vibrador em mim. A sensação era
deliciosa. Senti que os meus mamilos estavam
endurecidos, então levei uma mão ao seio e o massageei.
Gemi alto. Aumentei o ritmo do vibrador e senti que o
prazer me tomava. Puta que pariu! Isso é muito
gostoso. Continuei saboreando aquele momento até
sentir como se meu corpo estivesse sendo despedaçado.
— Porra! — nunca falava palavrão, mas, outra
palavra não daria conta daquele momento.
Estava certa que poderia me acostumar com aquilo,
minha dúvida agora era: se sexo era tudo aquilo, por que
eu não consegui ter aquilo com o Leonardo? Bem, se for
algo comigo iria descobrir.
*******
M inha semana passou rápida, pois estava muito
atarefada. Trabalho, academia, assistir filmes, ter
orgasmos, ler livros hots, ter orgasmos, dormir e
recomeçar tudo no outro dia. Todos, sem exceção,
estavam comentando como eu estava diferente.
Leonardo não havia mais se aproximado de mim, apesar
de estar sempre por perto.
As tarefas que minha tia Luíza me enviava, estava
executando, apesar de ter algumas dificuldades em
algumas específicas.
Na segunda: paquerar alguém ou se deixar paquerar.
Cumpri na academia aproveitando as olhadas do
Fernando.
Na terça: seduzir alguém. Essa foi difícil, mas no fim
consegui atrair a atenção do vendedor de água de coco
que estava em frente à clínica. Considerei cumprida.
Na quarta: falar três palavrões como forma de se
desinibir. Essa foi difícil e constrangedora. Lembrei
como me sentia excitada quando lia que os caras falavam
palavrões na hora do sexo, então achei que deveria
quebrar a barreira. Acabei deixando escapar: porra,
merda e puta que pariu, na academia, sendo que o
terceiro eu já estava dentro do meu carro. M as, contei
como válido.
Na quinta: provocar Leonardo. Porra! Já consigo
falar isso quando não estou na clínica. Usei uma calça
jeans e uma blusa bem justa com uma sandália nude
altíssima. Aproveitei o horário que Leonardo estava
anotando medicação nos prontuários para ficar de papo
com Igor próximo ao seu consultório. Não me senti mal
por usar o Igor, porque ele amava aquele tipo de
situação. Sabia que tinha cumprido minha tarefa quando
vi meu ex, abandonar os prontuários sobre o balcão e
seguir para o seu consultório dando um baque na porta.
Tarefa executada com muito sucesso.
Na sexta: dançar como forma de seduzir. Bem, não
queria fazer aquilo com alguém conhecido, então acabei
indo a uma boate e me liberei na pista. O quê? Você não
acredita? Verdade. Eu nunca tinha feito isso, mas o fato
de ser anônima, ali, me permitiu ousar. Resultado: tive
que sair escondida, pois dois carinhas foram quase aos
tapas para dançar comigo. Acho que consegui executar a
tarefa, apesar dos pesares.
Nas semanas seguintes já me sentia muito mais
segura e confiante, apesar de sentir muita falta do Leo.
Estava disposta a atacar para valer. Já havia decidido
qual seria minha arma, mas ainda não sabia qual o
momento ideal.
As aulas e a terapia estavam fazendo milagres. Os
filmes e livros, então... Nem se fala.
— Isabela? — a voz do Leonardo do outro lado da
linha do celular me tirou de um devaneio. Havia chegado
da academia e estava a mais de meia hora no banho.
— Oi.
— É... Chegou aí à correspondência do torneio de
M otoCross? —Leonardo sempre participava de eventos
esportivos, já que amava adrenalina. — Esqueci,
completamente, de mandar um e-mail corrigindo o
endereço de correspondência.
— Chegou sim. Acabei de pegar a carta na portaria.
Ia levar para você na clínica amanhã.
— É que eu vou precisar disso para hoje. Posso
passar aí para pegar? — no mesmo instante, tive uma
louca ideia. Essa seria a minha chance, mas eu queria
atacar no território dele e não no meu.
— Olha Leonardo, estou de saída. Se você quiser
passo aí e deixo, pois seu flat fica no meu caminho – ele
havia me dado o seu novo endereço, caso precisasse.
— Eu não quero incomodar, mas se você realmente
vem para esse lado da cidade, ficarei grato.
— Ok. Chego aí em um minuto.
Corri e sequei o cabelo. Ainda tinha que escolher o
que vestir e calçar. Optei por um shortinho branco com
um espartilho preto e uma sandália preta, também. Não
queria ir de saia ou vestido para que ele não tivesse a
ideia errada da visita. Usei o perfume que a Lilian dizia
ser puro sexo. Passei uma maquiagem leve que foi
coroada com um batom vermelhão. Tipo vermelho
prostituta.
Segui para o endereço que ele havia me dado e
coloquei a música Girl on Fire de Alícia Keys para
encher meu carro durante o trajeto.
— Olá — Leonardo atendeu a porta no segundo
toque. Percebi que estava saindo do banho. Ele estava
com uma camiseta regata preta, que delineava seu tórax
musculoso, e uma bermuda cargo bege. Os pés estavam
descalços e algumas gotas de água ainda marcavam sua
pele. — Entra.
— Oi. Espero não estar incomodando —entrei,
apesar de saber que deveria entregar a carta e sair. M inha
vontade por ele transformou o meu plano em algo ainda
mais certo. — Aqui está à correspondência – entregueilhe.
— Estava tomando uma cerveja, você quer beber
algo? — só nesse momento percebi que, no lugar de
examinar a correspondência, ele estava examinando meu
corpo. Em especial, minhas pernas e colo.
— Se realmente não estiver incomodando, aceito
sim.
— Cerveja? — nunca bebia, mas nesse último mês
sempre saía à noite e as meninas da academia, que fiz
amizade, bebiam e eu acabava sempre tomando uma
cerveja ou um drink leve.
— Sim — Leonardo estava surpreso.
Recebi o copo que ele me serviu e olhei pela janela. A
vista do seu flat era para uma movimentada avenida,
diferente do nosso apartamento que dava vista para uma
reserva florestal linda.
Bebemos em silêncio e, mesmo sem olhar para ele, eu
sabia que ele me olhava.
— Leonardo, posso te pedir algo? — tomei coragem
antes que decidisse desistir e ir embora.
— Claro.
— M e deixa ver teu pênis? — pedi com
tranquilidade olhando o mais dentro dos olhos dele
possível.
— O QUÊ? — ele praticamente gritou quase se
engasgando com a cerveja.
— É isso que você ouviu. É que eu tenho
curiosidade de analisar um membro masculino, mas
estou sem jeito de fazer isso com um estranho.
— Isabela, você ficou louca? M eu Deus! As roupas,
os sapatos, o perfume. Tudo bem, mas e essa agora?
Fizeram lavagem cerebral em você?
Ele ficou pasmo ao invés de me ofender. Fiquei feliz,
pois isso era a prova que ele havia percebido tudo que
eu tinha feito.
— Tudo bem, Leonardo, deixa pra lá, eu vou dar um
jeito — disse pegando minha bolsa e me dirigindo para a
porta.
— Ei, você está falando sério? — perguntou ainda
assustado.
— Sim, mas, você não precisa fazer isso — coloquei
a mão na maçaneta.
— Eu faço — disse convicto.
Parei de respirar. Ia dar certo.
— Sério?
— Se você está curiosa, eu vou te mostrar para que
não ouse fazer esse pedido a quem quer que seja. Tudo
bem? — Leonardo sabia que eu era muito tímida e nunca
havia reparado diretamente no seu membro. M esmo que
em alguns momentos tê-lo visto e saber da sua largura e
tamanho avantajado.
— Posso apagar essa luz para não ficar com
vergonha? – o flat tinha uma cozinha conjugada e a
iluminação de lá seria suficiente para o que tinha em
mente.
— Se você acha melhor — dei de ombros.
Leonardo abriu a bermuda e abaixou junto com a
cueca. O seu membro enorme saltou e eu me senti toda
orgulhosa ao ver que já estava endurecido.
— Senta no sofá para que o observe com calma —
ele sentou-se.
Fui até o meio das suas pernas e me ajoelhei.
Leonardo estava com a respiração pesada e eu estava
muito ansiosa para sentir sua reação. Toquei e ouvi um
gemido baixo.
— Estou machucando você? — perguntei com a voz
baixa.
— Nã... Não — gaguejou.
Continuei movimentando-o e percebi que ele fechou
os olhos e começou a respirar mais rápido. Levei meus
lábios até a ponta e o toquei.
— Ah! Isabela — gemeu sussurrando meu nome.
Leonardo abriu os olhos e ao ver a nuvem de luxúria
que enchia o seu olhar foi o impulso para que eu abrisse
a boca e o tomasse. Lambi toda a extensão do seu
membro rijo e saboreei sua excitação. Ele estava
gemendo e suas mãos foram para o meu cabelo. Ele não
os puxava, mas mantinha suas mãos segurando minhas
madeixas. Continuei movimentando e chupando. Os
livros e filmes haviam me mostrado exatamente o que
fazer e, quando senti que os gemidos estavam ficando
cada vez mais frequentes, levei uma das mãos até suas
bolas e as massageei com cuidado.
— Porra... Porra, Isabela! Eu vou gozar desse jeito
— gritou excitado.
Ouvi-lo praguejar me fez aumentar o ritmo. Tentei
colocá-lo todo na boca, mas o seu tamanho não permitia.
Continuei a masturbá-lo e chupá-lo. Um jorro forte
atingiu minha garganta e o engoli, fazendo o mesmo com
o restante. Quando percebi que ele estava
completamente perdido, me levantei, peguei minha bolsa
e saí.
— Isabela — ouvi que ele me chamou, mas, não
estava pronta para encará-lo. Dei-lhe uma amostra grátis
da nova mulher que eu havia me tornado. M as ele ainda
precisava processar tudo aquilo.
Estava feliz com o que tinha feito e agora precisava ir
para casa resolver minha própria excitação, pois ver o
corpo gostoso do Leo e ouvir seus gemidos de tesão,
tinham despertado minha própria excitação.
Dirigi até em casa e percebi que tinha no celular,
várias chamadas perdidas dele. Não quis retornar, mas,
conhecendo Leonardo, sabia que era bem capaz de vir
até o meu apartamento para falar comigo, então lhe
enviei uma mensagem.
Relaxa. Eu estou em casa.
Ele respondeu de imediato.
Precisamos conversar.
Eu não sabia o que falar, então enviei outra
mensagem.
Aproveita o momento.
Tomei um banho e me masturbei no banheiro. Estava
impressionada com o prazer que o Leonardo
demonstrou sentir.
Dormi e no dia seguinte sabia que teria que encará-lo,
mas já que tinha escolhido provocar tinha que estar
pronta para a reação. Tomei banho e vesti uma calça
bem justa e uma camiseta de alça fina com estampa e um
sapato de salto alto preto completava o visual. Uma
maquiagem leve com olho marcado, bocão vermelho,
perfume marcante e estava pronta. Peguei um iogurte na
geladeira, minha bolsa e segui para o meu carro. Liguei o
som e ouvi Rihanna. A música era meu novo calmante
preferido.
— Bom dia, Lílian, minha linda —cumprimentei
com todo entusiasmo. — Tenho novidades para te
contar, almoçamos juntas?
— Nunca duvide disso. Se é que eu vou sobreviver
até a hora do almoço. Curiosidade me consome —
proferiu ansiosa.
Segui com um sorriso até meu consultório e, ao olhar
para Lilian, acabei esbarrando em Igor.
— Desculpa Igor, estava distraída.
— Não se desculpe. Você fez o meu dia muito mais
feliz, Minha Deusa.
— Você não presta Igor — comentei sorrindo
— É para combinar com o seu novo lado malvada.
— E eu estou malvada? — questionei com uma
mágoa fingida.
— Ah meu bem, você está muito má. Você, solteira e
vestida desse jeito? M inha imaginação não aguenta.
— Bobo.
— Linda.
Entrei e fechei a porta. Estava acabando de vestir
meu jaleco quando ouvi uma batida na porta.
— Entre — pedi.
Leonardo entrou e eu sabia que à hora da verdade
havia chegado.
— Bom dia — falei para quebrar o gelo, pois o olhar
que ele me dirigia desconcertaria qualquer uma.
— O que foi aquilo? — não ia bancar a idiota de
perguntar do que ele estava falando.
— Sexo, eu acho.
— Por quê? — ele me interrogou como se fosse um
detetive tentando descobrir um crime.
— Porque estava afim e achei que não fosse ser tão
ruim para você também — ontem ele estava delirando de
prazer, mas hoje parecia bravo com tudo que aconteceu
na noite anterior.
— Isabela, aquilo foi incrível. Eu amei sua boca em
mim, mas por que uma atitude dessas depois que
terminamos? Por que você não agiu assim enquanto
estávamos juntos?
— Boa pergunta — não podia abrir o jogo tão cedo.
O telefone tocou e fiz sinal para que aguardasse. Era
Lílian avisando que tinha um paciente me aguardando.
— M e dá cinco minutos e manda entrar— avisei e
desliguei.
— Boa pergunta? É tudo que você tem para me
dizer? — Leonardo estava desconcertado.
— Eu queria te explicar, mas não tenho explicação.
Fiz o que estava com vontade de fazer. Se é tempo ou
não, é uma questão de ponto de vista.
— Ponto de vista —ele sorriu com ironia. — É só
isso?
— Ai Leonardo... Carpe Diem — soltei o meu
melhor sorriso para ele.
Capítulo 03 – Confusão total
Leonardo
Há algum tempo estava dirigindo sem rumo. M inha
vida estava um completo caos. Era difícil acreditar que
nos últimos nove meses eu tinha conseguido fazer tanta
merda junta. A Isabela tinha surgindo como um furacão
na minha vida, eu a vi em uma manhã de segunda-feira
na clínica e simplesmente enlouqueci por ela.
Eu só havia me apaixonado de verdade uma única
vez, na época da faculdade, e mesmo nessa época não
sentia uma necessidade tão grande por uma pessoa como
senti por Isabela. O jeito de menina com um ar de
sensualidade invadiu minha mente e eu não conseguia
pensar em mais nada até que, enfim, eu a convidei para
sair e percebi que ela também estava interessada por
mim.
Ela era muito tímida e até os nossos beijos eram
castos, mas eu via nela um potencial para ser uma
amante satisfatória. Ledo engano. Por tamanho desejo e
paixão acabamos nos casando em uma cerimônia simples
para poucas pessoas e, devido à decisão de nos casar
rápido, não pudemos viajar em lua de mel por causa do
trabalho.
Na primeira transa eu percebi o comportamento
travado dela, já que ela era virgem. Eu associei a isso um
comportamento assustado, mas com o passar dos dias,
percebi que havia algo realmente errado. Nunca consegui
fazer sexo oral nela e, mesmo carícias mais normais, ela
sempre recusava. Uma mulher linda como a Isabela
deveria ser apreciada na cama, eu sempre quis dar-lhe
muito prazer, mas jamais consegui vê-la gozar. Ela
sempre ficava muito tensa quando eu me aproximava e
quando a tocava, ela agia como se estivesse sendo levada
à forca. Nunca vi uma mulher reagir tão mal a um
homem apaixonado. Nunca consegui fazê-la se abrir e,
muito menos, procurar ajuda. Na vez que sugeri que
procurasse um terapeuta ela quase enfartou. No fim deu
nessa merda.
Não aguentei muito tempo, acabei saindo de casa e
estou aqui dando voltas pela rua igual a um idiota. Se
houvesse qualquer esperança lutaria por nosso
casamento, pois além do imenso tesão que sinto, tenho
muito carinho por ela. Isabela me inspira cuidado e
afeto. Não a amava como havia amado a Gabriela, mas,
ainda assim, ela tinha sido a única mulher capaz de me
fazer querer casamento.
— E aí gato. O que houve? — sem muita ideia do
que fazer ou de para onde ir, eu acabei indo parar no
apartamento de minha irmã Júlia. M inha única irmã.
Somos mais que irmãos, somos confidentes.
— Oi, posso passar a noite aqui?
— Você sempre vai ser bem-vindo. M as quero saber
o porquê dessa loucura — Júlia havia chegado a pouco
tempo de Portugal, onde estava participando de um
Congresso de M édicos. Acho que ela sequer tinha
encontrado com Isabela. As duas se davam muito bem,
apesar de serem totalmente diferentes. Júlia é despojada
e não há assunto algum capaz de deixá-la encabulada, já
a Isabela...
— O casamento não está funcionando. Acabou de
vez.
— De novo isso de "o casamento não está
funcionando"? Você precisa tomar uma atitude,
Leonardo. A Isabela é boba demais para buscar ajuda
sozinha — a única pessoa com quem comentava aquele
assunto era com a minha irmã, pois, por mais que ela
fosse mais nova, tinha a mente aberta e desde a
adolescência nos abríamos um com o outro.
— Júlia, não adianta. Sempre que tocava no assunto
ela passava dias sem falar comigo e chorava o tempo
todo. Diz que eu a acho doente. Ju, para falar a verdade
acho que ela é doente. Problema sexual ou psicológico,
mas isso não é normal.
Conversamos até de madrugada. M inha irmã estava
sozinha, pois o seu noivo, que nossa família não sabe,
dorme com ela com muita frequência, estava
trabalhando. Passei a noite lá, pois sabia que Lílian
deveria estar com Isabela, já que pedi a ela que fosse vêla. Trouxe pouquíssimas coisas comigo, mas amanhã
ligaria para Lílian e pediria para que veja com Isa o
melhor horário para passar no apartamento e pegar o
restante das minhas coisas.
Não estou pronto para vê-la. Sei que está sofrendo e
sua presença desperta uma série de sentimentos
contraditórios em mim. Não posso dizer que sou imune
a ela, apesar de saber que sexualmente sou totalmente
frustrado.
M al consegui pregar o olho a noite inteira. A imagem
da Isabela enrolada naquele lençol tentando me fazer
ficar estava cravada na minha mente. Ela era, sem
dúvidas, a mulher mais bonita que conhecia, e sempre
que saíamos juntos, a via ser devorada pelos homens.
M as não me importava, pois sabia que mal percebia e,
se percebesse, sentiria mais incomodada do que
lisonjeada.
— Ei gato, estou saindo. Fique à vontade. Alguém
tem que trabalhar nessa família — Júlia disse quando me
encontrou na cozinha.
Trabalhava até a quinta-feira na clínica e dava plantão
de vinte e quatro horas, uma vez por semana, em um
hospital da cidade. M inha família tinha tradição no
mercado imobiliário, mas minha irmã e eu não quisemos
cursar engenharia como nosso pai, ou viver só
desfrutando do dinheiro já ganho, como a minha mãe.
Tomei um banho rápido e me vesti, após o café que
havia tomado acompanhando Júlia. Liguei para a Lílian
para saber a que horas podia passar no apartamento e
fiquei furioso ao saber que Isabela havia saído de lá. O
apartamento tinha sido minha primeira aquisição na vida
adulta. Ele é grande, bem localizado, confortável e em
um bairro seguro. Ela odiava a forma teatral como os
pais dela conviviam e eu sabia que não voltaria para lá,
então queria que ficasse com o apartamento, pois era
uma forma de mantê-la segura e confortável depois de
tudo.
— Lílian, o apartamento é dela. Ela não poderia ter
saído — sabia que Lílian e Isabela eram unha e carne.
— Leo, a opção foi dela. E acho que não há nada que
você possa fazer — por mais que Lilian fosse nossa
amiga em comum, ela não escondia a proteção que nutria
pela Isabela.
— Não posso uma porra! Ela ainda é minha mulher e
tenho a obrigação de mantê-la segura.
— Leo, a Isa não quer segurança e sim amor. Algo me
diz que você não está pronto para dar isso para ela.
— Lílian você não sabe o quanto eu tentei. Você...
—Ei! — interrompeu-me. — Sei sim, e tenho que
admitir que você fez o que pôde, mas não é porque a Isa
tem problemas relacionados a sua sexualidade que ela
deve se conformar com algo menos que amor. Toda
mulher merece ser amada, Leo, e a Isabela não é
diferente.
Conversamos um pouco mais e fiquei muito feliz em
ver que a Isabela havia enfim se aberto com alguém. O
primeiro passo para a cura estava em reconhecer o
problema. E, por mais que não fosse me beneficiar por
uma mudança sua, torcia por sua felicidade.
Passei no escritório do meu pai e falei que queria um
apartamento. Não expliquei muita coisa, falei somente
que Isabela e eu havíamos nos separado. Ele me
acompanhou a um edifício novo, próximo ao que Júlia
morava, e escolhi um dos que ainda estava desocupado.
M eu pai havia investido alto na construção de novos
prédios em áreas mais centrais e pelo visto estava
valendo à pena.
Escolhi um flat bem pequeno. Somente uma sala,
cozinha, suíte e área de serviço, além de uma pequena
sacada que dava para o mar. Não precisaria de muito
espaço, queria somente conforto e privacidade.
Passei o dia providenciando móveis e acessórios para
tornar o apartamento funcional. Sabia que Luigi chegaria
ao apartamento de Júlia hoje e não queria sentir que
estava invadindo o espaço deles. Não consegui que um
montador me atendesse para hoje, mas deixei agendado
para o dia seguinte. Peguei minhas coisas na casa da
minha irmã e segui para o que parecia ser uma casa póstornado em que os entregadores haviam transformado
meu novo "lar".
Já passava das cinco da tarde quando enfim consegui
sentar, pois a correria do dia tinha sido sem tamanho.
Ouvi meu celular tocar e o procurei como louco, pois no
meio da Faixa de Gaza, que estava aquele lugar,
encontrar qualquer coisa seria um milagre.
— Oi lindinha.
— Por que você saiu daqui, Leo? Voltou para casa?
—Não, Julinha. Não voltei para casa. Estou em um
flat próximo ao seu apartamento — suspirei exausto. —
Já disse que não tem volta.
— Leo eu preciso de você — percebi que Júlia
deveria ter chorado. Se é que ainda não estava chorando.
— Vem para cá — suplicou manhosa.
— O que houve Julinha? — minha irmã havia sido
um acidente de percurso no casamento dos meus pais,
tendo nascido quando eu já tinha oito anos.
— Vem jantar comigo, preciso conversar e você sabe
que quando preciso de um ombro sobra para você. Não
sabe? — minha irmã tentava parecer natural, mas sabia
que não estava. — Faço torta de frango para você —
minha mãe sempre cuidou da nossa alimentação de
forma extremista, então Júlia aprendeu a fazer torta para
que pudéssemos ter nossa cota de besteira, apesar de
não ser uma das nossas besteiras mais calóricas. Julinha
morria de medo de engordar.
— Claro que vou. Faço qualquer coisa por sua torta
de frango — estava exausto, mas também fiquei
preocupado demais com minha irmã para descansar. —
Chego aí em uma hora, no máximo— avisei.
Tomei banho e vesti-me depois, é claro, de conseguir
localizar todos os itens que precisava. Em menos de
uma hora estava batendo na porta do apartamento de
Julinha. Tinha a chave que ela mesma havia me
entregado pela manhã, mas não quis usá-la sabendo que
estaria em casa.
— Oi gato, entra — os olhos inchados e vermelhos
comprovaram minha teoria.
— O que houve? — não havia rodeios entre nós.
— Eu estou grávida — disse cabisbaixa.
—Uau! — fiquei sem palavras. Júlia tinha vinte e
cinco anos e sempre tinha sido muito independente. O
namoro dela com Luigi era muito sério e eu, lógico, sabia
que eles tinham uma vida sexual ativa, mas ouvi-la dizer
que estava grávida ainda me causou um choque.
— Sei que é loucura, mas aconteceu. Não planejei
nada. É que tiveram as viagens e eu parei o
anticoncepcional...
— Calma Julinha — ela estava se desmanchando em
lágrimas como se me devesse explicações. — Aconteceu.
Tudo bem. Não vou te criticar, estou aqui para te apoiar
— disse aninhando-a em meus braços.
— O Luigi surtou. Falou um monte de bobagem —
confidenciou.
— O quê? Como assim "o Luigi surtou"? Que
besteiras ele falou? — senti uma ira enorme me atingir,
agora compreendia as lágrimas da minha irmãzinha.
—Ai Leo! — minha raiva fez com que ela chorasse
ainda mais. Apertei-a com forças nos meus braços e a
consolei como fazia quando era pequena.
Nada me perturbava mais que ver as pessoas que
amava sofrer. Quando Júlia se acalmou um pouco, sentime atingido por uma dura realidade. Assim como o Luigi
havia magoado a Julinha, por sentir-se acuado em uma
situação, eu tinha feito a mesma coisa com a Isabela.
Droga! Quando as coisas acontecem conosco parecem
doer mais. Provavelmente havia causado a mesma dor
que enxergava nos olhos da minha irmã em Isabela.
— Julinha, Luigi deve estar surpreso e assustado.
Você precisa dar um tempo pra ele — expliquei. — No
calor do momento falamos coisas que não pensamos e
atingimos as pessoas a quem amamos de forma cruel —
buscava redimir a mim mesmo com aquele argumento.
— Eu também estou assustada, mas nem por isso
pensei em aborto — porra! Luigi havia sugerido fazer
um aborto?
— Dá um tempo para ele, Ju. E além do mais, estou
aqui para te apoiar no que for preciso. Sempre estarei
aqui — vi surgir um pequeno sorriso no seu rosto. —
Quer dizer que vou ser titio? — incitei animando-a.
— Sim, mas fecha o bico, ainda não estou pronta
para contar para mamãe e para o papai, então... —
nossos pais eram muito tradicionais e não podiam
sonhar com a metade das loucuras que nós fizemos na
adolescência.
— Não se preocupe — concordei.
Jantamos a torta de frango, que por sinal estava uma
delícia e, quando estava me preparando para ir embora, a
campainha tocou. Luigi pelo jeito não tinha demorado
tanto para se dar conta do erro cometido e estava na
porta da casa de Júlia com cara de cachorro que caiu da
mudança. Eu saí de cena e os deixei conversando. Já
tinha meus próprios problemas para pensar e Júlia, com
certeza, saberia punir o pobre do Luigi com rigor.
Estendi um lençol sobre o colchão que estava no
chão do quarto e me deitei. Peguei meu celular e
selecionei algumas músicas, comecei a escutar uma
seleção de clássico dos anos 80, que adorava. M eu
corpo estava todo moído, mas minha mente dava voltas.
Precisava pedir desculpas à Isabela. Precisava dizer o
que realmente penso sobre ela. Queria que entendesse
que nunca tive a intenção de usá-la e que não a vi como
um objeto. Isabela tinha tido todo o poder sobre mim,
mas forças contrárias fizeram que as coisas não
acontecessem como deveriam. Quem imaginaria que
uma mulher linda e naturalmente sensual como ela seria
na verdade um cordeirinho acuado na cama?
Acabei vencido pelo sono e acordei com a luz do sol
invadido o quarto. Fiz uma nota mental para comprar
cortinas urgentemente. Passei o dia com os montadores
no flat, enquanto Júlia fazia compras para mim tentando
transformar aquilo em um lar.
O final de semana foi uma loucura exaustiva, mas na
segunda-feira de manhã, quando saí para trabalhar, o flat
estava do jeitinho que queria. Simples, prático e
aconchegante.
Cheguei cedo à clínica e encontrei Lílian no
estacionamento.
— Bom dia, Leo — ela me cumprimentou com o
carinho que nos era natural. — Como você está?
— Poderia estar melhor — comentei chateado. — E
sua hóspede, como está?
— Bem, Isabela não é tão frágil quanto parece.
Definitivamente ela não é de cristal — apesar de
discordar, acenei afirmativamente com a cabeça.
— Ela decidiu voltar para o apartamento? — isso me
incomodava ao extremo.
—Acho que você deveria conversar, pessoalmente,
com ela. Não é porque estão separados que vocês
precisarão agir como dois inimigos.
— Claro — concordei. Não queria inimizade com
Isabela. Ela era uma pessoa especial para mim.
Segui para o meu consultório onde Pâmela já me
aguardava com a agenda a postos. M eu dia a dia estava
sempre lotado ultimamente.
— Bom dia, Pâmela — cumprimentei.
— Bom dia, Dr. Leonardo. Temos muitos pacientes
para hoje incluindo o pai do Dr. Benício que o senhor
mandou encaixar na agenda — Benício era meu melhor
amigo desde os tempos do colégio e só tínhamos deixado
de estudar juntos na especialização, já que optei por
cardiologia e ele neurologia.
— Certo. Dê-me alguns minutos, e já começamos —
pedi.
Voltei para a recepção para pedir que Lílian me
avisasse quando Isabela chegasse, mas antes que
pudesse alcançar o cômodo fiquei estático. Isabela havia
chegado estonteante, linda, cheirosa, sensual e alegre.
Alegre? Isso mesmo, alegre. O paspalho do Dr. Igor já
estava arrastando uma asa para cima dela e, contrariando
a lógica, aquilo me irritou.
Igor sempre tinha demonstrado ter uma queda por
minha mulher e, apesar dela atribuir o comportamento
dele a irreverência, sabia que havia mais que isso, porém
nunca me incomodei ou fingia não me incomodar. Isabela
o tratava com carinho, mas sempre lhe mostrando qual
era o seu lugar. No entanto, agora que estava solteira,
pelo menos era o que ela achava, parecia bastante
confortável com as cantadas baratas do Igor.
—... Pecado em forma de mulher — o imbecil até que
conseguiu definir corretamente. Um pecado! O vestido
preto, justo ao corpo realçava todas as curvas do corpo
bem feito dela, e o cabelo solto lhe dava um ar selvagem.
Nunca na minha vida a tinha visto daquela forma. Pena
que era só a casca. —... Seu cheiro está uma delícia —
Dr. Igor estava impactado pela nova imagem da Isabela,
assim como eu. De onde eu estava não conseguia sentir
seu cheiro, porém sabia que não era sua fragrância
habitual de criança. Ele falou alguma coisa e ela virou-se
de modo extremamente sensual respondendo-lhe. Nesse
instante ela me viu. Tinha olhos muito expressivos.
Nunca foi muito boa em esconder como se sentia e,
naquele momento, soube que não estava pronta para me
ver, assim como eu também. Surpreendeu-me quando
seguiu para o seu consultório sem sequer me olhar
novamente. Havia algo diferente. E eu queria descobrir
do que se tratava.
No lugar de falar com Lilian, segui para o seu
consultório e, antes de entrar, olhei para trás e vi que
Igor continuava olhando com cara de idiota na direção
que Isabela havia seguido. Ele provavelmente já sabia
que estava supostamente solteira, pois quando
estávamos casados ele a comia com os olhos, mas pelo
menos disfarçava quando me via e, naquele momento,
ele não estava nem aí.
Não perdi tempo batendo na porta, abri e encontrei-a
próxima de sua mesa. Aquela não era a minha mulher, ou
melhor, minha ex-mulher. Estava diferente e não era
apenas pelas roupas. Carregava consigo uma áurea de
sensualidade que não tinha como não perceber.
Nossa conversa foi rápida e, felizmente, ela não
recusou voltar para o apartamento, apesar de ter tentado
me encurralar. Confesso que me senti muito atraído por
ela, o cheiro do seu perfume estava me deixando
embriagado. Precisei ficar repetindo, para mim mesmo,
que aquela não era a Isabela. A Isabela era uma mulher
tímida com quem eu tinha vivido por seis meses, caso
contrário, teria agarrado ela ali mesmo, naquele
consultório.
Passei o dia inteiro atordoado. A imagem das curvas
marcadas pelo vestido preto e das costas nuas dela não
saiam da minha cabeça. E a droga do mantra, que fiquei
repetindo sobre ela ser fria, não estava convencendo
meu amiguinho lá embaixo.
Não voltei a vê-la durante o dia e, quando voltei para
meu novo lar, percebi que não estava bem para ficar
sozinho. Precisava de companhia, de preferência uma
bem fogosa. Uma ideia louca me passou pela cabeça e,
antes de desistir, saquei o celular e disquei.
— Oi Gabriela — falei assim que ela atendeu.
— Oi Leonardo, que milagre é esse de você me ligar?
— Gabriela tinha sido minha namorada durante quase
toda a faculdade e as minhas melhores transas foram
com ela. Não era virgem quando comecei a namorá-la,
mas sexo gostoso, com certeza, aprendi com ela.
— Virei Leonardo, agora? — fiz charme. — Sempre
fui Leo para você.
— Isso foi antes de casar, depois que casou passou a
ser Dr. Leonardo M enezes e se eu lhe dirigir a palavra,
pois sua esposa parece muito possessiva.
— Ex. M inha ex-esposa era sim possessiva — fui
direto ao ponto.
—Hum. Ex é? M uito interessante — adorava o jeito
direto da Gabi. Ela não fazia o tipo "santinha do pau
oco", gostava de sexo e admitia isso. A única coisa que
eu precisava saber era se ela estava solteira. — Também
estou sozinha, Leo — nem precisei perguntar, ela
mesma se entregou.
—Pois é. Estou buscando companhia para um
drinque — joguei.
M arcamos de nos encontrar em um bar próximo e,
após uma chuveirada, segui para encontrá-la. Confesso
que estava me sentindo estranho, pois há quase um ano
não saía com ninguém. Nunca fui de trair, sempre
procurava ser honesto com a pessoa com quem
estivesse e, apesar de saber que tinha sido sincero com
Isabela, minha consciência ainda me condenava. Olhei
para a mão esquerda onde a marca da aliança
permanecia. Liguei o rádio e tentei dissipar esses
pensamentos, pois era de carne e osso e estava na seca
há meses.
Gabriela era loira, alta e tinha um corpo de
hipnotizar qualquer homem. Ela era muito atraente e,
apesar de nosso relacionamento ter terminado enquanto
ainda gostava dela, tínhamos tido sexo sem
compromisso até eu conhecer a Isabela.
— Leo, esse papinho de que acabou não me
convenceu, mas se você está disposto a ficar comigo,
quem sou eu para questionar? — Gabi era sempre muito
direta.
— Claro que quero ficar com você — não me permiti
pensar muito, pois se o fizesse desistiria. — Sexo sem
compromisso pelos velhos tempos — quis deixar claro
que seria apenas sexo.
—Tem um motel aqui perto. Vamos no seu carro ou
no meu? — a praticidade com que ela lidava com aquilo
era alarmante.
— No meu — proferi rápido.
Seguimos para o motel e não trocamos sequer um
beijo em todo o trajeto, o papo transcorria sobre
assuntos do cotidiano e tudo aquilo era muito anormal
para mim.
Ao entramos no quarto, Gabriela avançou sobre mim
e me senti incendiar. Seu beijo foi fogo puro e meu pau
ficou ereto em tempo recorde. Arranquei o seu vestido e
comecei a devorar seu corpo. Chupei os seus seios e os
lambi. Ela tinha seios redondos e pequenos. Também me
lambia e me beijava. Desci até ficar de joelhos na sua
frente. Queria sentir o sabor incrível que só as mulheres
tinham. Nenhum outro sabor já provado se compara a
delícia que é o aroma de uma mulher excitada.
— Isso, lambe... Vai... Ui... Adoro essa sua boca
gulosa em mim — Gabi gemia e incitava-me cada vez
mais.
Estava me esbaldando em chupar o sexo dela, a sua
excitação fazia a minha própria crescer, alarmantemente.
Não deixei de lamber, chupar e mordiscar até senti-la
explodir em um gozo alucinante.
—Ai que delícia, Leo! Agora é a minha vez de te
chupar — não pensei duas vezes e arranquei as minhas
roupas.
— Nossa! Você é maior do que me lembrava —
dizendo isso, Gabriela caiu de boca no meu pau.
— Calma, benzinho. Desse jeito não vou durar muito
— Gabi sabia fazer um homem enlouquecer na cama.
Ela afastou-se e a joguei na cama. Coloquei um
preservativo observando-a lamber os lábios em
antecipação. Deitei sobre ela e a invadi de um único
golpe.
— Porra! Que delícia, Leo — gritou.
Começamos a nos movimentar juntos, estocando
cada vez mais rápidos. Nossa libertação veio junta e foi
incrível a sensação. Transamos mais três vezes no
decorrer da noite. Assim como eu, Gabriela também
estava em um período de seca. Quando voltamos para o
bar, já muito tarde, despedimo-nos. Não houve beijinhos
ou qualquer outro carinho, apenas um até logo.
— Leo, eu me arrependo da forma como as coisas
acabaram entre nós — pronunciou assim que abriu a
porta do seu carro. Gabriela havia me traído, mas tinha
sido bastante sincera comigo, o que me fez não guardar
mágoa.
— Compreendo. Foi uma pena sim, mas nesse
momento não quero pensar nisso Gabi. Quero ficar livre
por algum tempo — disse sincero. Não queria que ela
criasse alguma expectativa. Na verdade, nunca dei
esperança de volta quando saíamos vez ou outra.
— Eu entendo — respondeu envergonhada
adentrando no seu carro.
M arcamos de voltarmos a nos ver em outros
momentos. Seria confortável mantermos uma relação
puramente sexual. Gabriela não fazia o gênero carente ou
dramático.
Nos dias que se passaram, fui surpreendido com a
nova Isabela que encontrava na clínica. Não apenas
pelas roupas muito mais ousadas e sexys. M as pela
postura descontraída e segura. Percebi que Igor estava
igual a um abutre no pé dela, e por incrível que pareça,
ela não demonstrava desconforto, pelo contrário, estava
dando lugar para que as investidas continuassem.
Parecia estar adorando ser o centro das atenções.
— Bom dia — cumprimentei Lílian, Igor e Isabela
que estavam na recepção da Clínica.
— Bom dia — todos responderam. Contudo, percebi
que Isabela logo se despediu. Pelo que parecia, ela não
estava impondo sua presença como achei que faria.
— Bom trabalho, delícia — Igor falou enquanto se
afastava. Isabela se virou lhe dando o sorriso pelo qual
adorava.
— Igor você não perde tempo mesmo — Lílian
comentou.
— Claro que não. Uma mulher linda e gostosa como
a Isa. Tem fila para conquistar, então vou logo me
adiantando — o cínico comentou. — E nem vou me
desculpar com o Dr. Leonardo. Afinal ele não é mais o
marido dela, o que tenho muito que agradecer por deixar
minha musa solteira.
— Quem lhe disse que Isabela não é mais a minha
esposa? — bradei furioso — Até onde sei não nos
divorciamos, ainda — por mais que eu soubesse que ele
tinha razão, me incomodava vê-lo investir nela. E me
incomodava ainda mais, vê-la reagir com tanta
receptividade.
—Todo mundo sabe que vocês estão separados e um
papel não é suficiente para prender uma mulher
Leonardo — não respondi de volta. Ele tinha toda razão.
Por mais que eu nunca fosse admitir.
Os dias seguiam normais, considerando a nova
pessoa que a Isabela demonstrava ser. Estava sexy,
ousada, atraente e mexendo com o imaginário masculino
da clínica. Não era raro flagrar alguém tecendo
comentários sobre ela.
—Pâmela, eu quero os prontuários que te passei
mais cedo. Vou precisar alterar algumas informações —
solicitei.
— Sim, senhor.
Já havia atendido a maior parte dos pacientes do
horário da manhã e estava aproveitado para preencher
os prontuários que tinham lacunas.
Ouvi aquela risada inconfundível da Isabela e me
virei na direção que soava. A desgraçada estava no
maior papo com o Igor. Ela encostada à parede e o
paspalho, em questão, a sua frente, quase a tocando.
Estava toda derretida e o filho da mãe não tirava os
olhos da porra do seu decote. M erda! Desde quando
Isabela passou a usar roupas que deixavam metade dos
seus seios de fora? Porra! E que seios.
O corpo inteiro dela era uma tentação. Uma bunda
empinada muito gostosa, coxas incríveis, os seios dela...
Ah! Eram redondos, firmes, grandes na medida certa e
tinham um bico rosadinho que sempre me fazia salivar.
Era uma das poucas partes do seu corpo que eu
conseguia tocar e, talvez por isso, tivesse verdadeira
adoração por eles.
— Vai Isa, vamos sair hoje à noite? Garanto que vai
valer à pena — os dois falavam em um tom
consideravelmente baixo, mas como eu estava
totalmente concentrado no que diziam conseguia ouvilos.
— Igor, já disse que não confio em você.
Aquele papinho estava me dando nos nervos, então
larguei os prontuários sobre o balcão e voltei para o meu
consultório. Dane-se!
Aquela maldita não estava correndo atrás de mim
como eu esperei que fizesse. M as em compensação
estava me levando à loucura com aquele novo jeito de
ser.
Voltei a me encontrar com Gabriela nas noites
seguintes. Íamos sempre ao mesmo motel e
terminávamos a noite cada um em sua própria casa.
Já haviam se passado algumas semanas desde que saí
do apartamento que morava com Isabela e confesso que
sempre que estava com a Gabi ainda sentia culpa.
Sempre fazia planos de procurar um advogado para
resolver a questão do divórcio, mas acabava sempre
adiando ou arrumando uma desculpa.
— M erda!
Havia acabado de chegar da academia e fui conferir
meus e-mails antes de tomar banho. Havia uma
mensagem do grupo de M otocross do qual eu fazia
parte. Uma correspondência importante havia sido
enviada para meu endereço e eu teria que mandá-la
preenchida até o dia seguinte. Pela lógica a carta deveria
ter chegado ao apartamento de Isa, então liguei para ela
que se ofereceu para vir deixar a correspondência.
Estava com um encontro marcado com Gabriela, mas
depois de receber a carta correria e ainda conseguiria
encontrá-la no bar de sempre.
Tomei um banho rápido e vesti uma bermuda e uma
camiseta.
Quando a Isabela chegou senti-me impactado por sua
presença. Ela estava usando um short curto e apertado e
uma blusa sem alças que parecia deixar-lhe com os seios
maiores e mais redondos. Convidei-a para entrar e
ofereci uma bebida esperando que pedisse suco, mas,
contrariando a lógica, me acompanhou tomando cerveja.
O que estava acontecendo com ela, não fazia a
mínima ideia, mas definitivamente havia algo muito
diferente acontecendo. Parecia perdida olhando pela
janela e eu não conseguia deixar de olhar aquela mulher a
minha frente. Não era a mesma que tinha me pertencido
um dia.
Quando achei que Isabela ia embora fui surpreendido
com o pedido mais louco que já tinha feito. Se é que já
tinha feito alguma vez.
— M e deixa ver teu pênis? — pediu inocentemente.
— O QUÊ? — Não podia estar ouvindo isso. Isabela
sempre tinha sido excessivamente tímida e mal me
olhava quando estávamos juntos.
M inha cabeça começou a girar. O que estava
acontecendo com ela? M al a ouvia, pois a pergunta que
ela me fez ainda ecoava em minha mente. Ouvi-la
insinuar que pediria para ver o pênis de outro cara foi o
suficiente para me trazer de volta a realidade.
— Tudo bem, eu deixo — bradei sem pensar duas
vezes.
Não me sentia tímido, tanto pela intimidade que já
tinha com ela, e também porque meu corpo nunca me
trouxe constrangimentos. Abri o zíper da bermuda e
baixei junto com a cueca. Não notei o pavor e muito
menos o rubor que sempre existia em sua face quando
ficava nu diante dela.
— Senta no sofá para que o observe com calma —
pediu e obedeci.
A princípio só me tocava. O que já tinha um efeito
devastador sobre mim, pois desde que havia entrado na
minha casa já estava excitado. M as sentir as mãos
delicadas dela tocando o meu membro era um tormento
completo.
Não consegui manter os olhos abertos. A sensação
era boa demais e eu estava me perdendo no calor das
suas mãos. Sentir seus lábios suaves rodeando minha
ereção fez com que os gemidos que prendia na garganta
saíssem de uma vez... Delícia! Enquanto éramos casados
teria ficado mais que feliz em ter metade daquilo, mas
naquele momento estava recebendo uma dose gigante de
prazer que, provavelmente, compensaria muitos eventos
ruins.
— Ah! — não tinha a menor ideia onde ela havia
aprendido a fazer aquilo, mas a verdade é que estava
extasiado. A sua boca e as suas mãos estavam me
levando ao paraíso.
Prendi minhas mãos em seus cabelos e me perdi no
cheiro gostoso que exalava de seu corpo e cabelo. O
perfume não o conhecia, mas o shampoo era o de cereja
que sempre usava e que, por surpresa, sentia muita falta
quando deitava e não sentia essa fragrância no
travesseiro ao lado.
Joguei a cabeça para trás e aproveitei a sensação
incrível. Gozei de forma intensa, tão intensa que me
senti em transe. Quando enfim abri os olhos, Isabela
havia desaparecido.
— Isabela — tentei vestir a bermuda o mais rápido
possível para poder alcançá-la, mas não consegui. Ela já
havia partido.
Liguei feito louco para ela, mas não me atendeu.
Quando estava atordoado o suficiente para ir até a sua
casa recebi uma mensagem de texto dela onde dizia que
já estava em casa. Realmente queria vê-la, conversar com
ela, tentar entender, mas decidi esperar para a manhã
seguinte. Deitei e fiquei olhando para o teto. A sensação
da boca dela em mim continuava presente. Ainda estava
tomado por um desejo febril que era como se há meses
não transasse. Quando o meu celular tocou lembrei-me
da Gabriela.
—Alô — tinha me esquecido completamente de
Gabriela.
— Olá, cadê você? Estou te esperando — sua voz
manhosa mostrava que tinha planos.
— M e desculpe Gabi. Aconteceu um imprevisto e
não pude ir. Vamos marcar novamente para outro dia?
Apesar da decepção na sua voz, Gabriela entendeu.
Não tinha qualquer condição de deitar com outra mulher
enquanto Isabela continuasse entranhada em mim e, pelo
jeito, aquilo iria durar.
M inha mente não se desligou nem dormindo. Estava
a mil por hora e até em sonhos a imagem de Isabela me
chupando era constante.
No dia seguinte estava um morto vivo, mal tinha
pregado os olhos. Precisava entender o porquê Isabela
havia feito aquilo. Ninguém pode mudar tanto em tão
pouco tempo. Ou pode?
Encontrei-a, normalmente, em seu consultório, para
ela tudo parecia normal, e eu cada vez mais confuso. A
conversa foi muito natural e a sua naturalidade me
perturbava.
— Ai, Leonardo... Carpe Diem.
Aproveite o momento. Esse tinha sido o conselho
dela para mim. Aquilo podia ser correto se visto em
favor próprio, mas como eu reagiria quando ela quisesse
aproveitar o momento?
— Alô? — atendi ao toque do meu celular. Estava na
cantina tomando um café enquanto remoía os últimos
acontecimentos.
— Oi meu velho, o que houve? Você sumiu, será que
certa cardiologista loira lhe devorou, literalmente? —
meu melhor amigo Benício zoou. Ele sabia tudo sobre
Gabriela.
— Quem dera. Gabriela não tem mais poder de me
devorar, meu amigo. Os tempos mudaram — tinha
sofrido como louco quando ela me deixou. M as só
Benício sabia disso.
Conversamos por algum tempo. Sempre falava com
Benício durante a semana por telefone ou nos
encontrávamos nos plantões do hospital e nos finais de
semana sempre rolava uma cervejinha, na sua casa ou na
minha. Benício era casado há pouco mais de um ano com
M aitê. Eles tinham alguns problemas de ordem sexual,
assim como eu tinha com Isabela. M aitê é filha de
líderes religiosos fervorosos e tem uma opinião muito
fechada sobre o sexo.
— Leo, quero conversar contigo cara, mas tem que
ser pessoalmente. Está rolando umas paradas aqui em
casa que eu não estou entendendo — questionou
receoso. M arcamos de nos encontrar para
conversarmos.
Depois que desliguei o celular fiquei pensativo.
Consegui abrir mão do meu casamento e achei que não
sofreria. M as ainda não estava pronto para abrir mão
dela, Isabela, principalmente de quem ela havia se
tornado. Eu desejava a minha mulher.
Capítulo 04 – Até que enfim
Isabela
Confesso que a princípio estava mais ansiosa e
apreensiva, no entanto vinha me divertindo horrores.
Sentia muita falta do Leonardo. Na verdade, o desejo de
me conhecer e me encontrar, interiormente, eram maiores
que meu desejo por ele.
Continuava com a terapia, as aulas de dança e meus
encontros interiores. Na clínica tudo estava igual, via
Leonardo e o tratava polidamente e ele agia de modo
semelhante, apesar de ficar aparentemente possesso
quando Igor se aproximava de mim. Lógico que o Igor
aproveitava da situação e, preciso reconhecer, que com o
meu consentimento. Não me sentia atraída por ele, mas
confesso que me sentia lisonjeada com as séries de
elogios que me dedicava. Já havíamos conversado sobre
isso, Igor estava ciente dos meus sentimentos. Tenho
certeza que sentia certo prazer em maltratar Leonardo
com as suas insinuações comigo.
Acordei no meio da noite após um sonho estranho.
Sonhei que M aitê me pedia ajuda em meio a um
emaranhado de fios escarlates que a prendiam. Ela é uma
pessoa de quem havia me aproximado depois de me
casar com o Leonardo. Benício é o melhor amigo do meu
ex-marido desde a infância e M aitê é sua esposa. Não
tinha muitas amizades fora Lílian e Júlia, irmã de
Leonardo, mas com M aitê sentia-me muito à vontade,
até por perceber a mesma timidez que eu mesma sentia.
Falávamo-nos com alguma frequência por telefone e,
mesmo depois da minha separação, continuávamos a
nos falar. Só voltei a dormir depois de prometer a mim
mesma que marcaria um encontro com ela.
M arquei logo pela manhã um almoço com minha
amiga e trabalhei durante todo o período da manhã com
um friozinho na barriga. Queria ajudar M aitê, mas não
sabia como ela reagiria a aquelas ideias. Tirando pela
minha própria reação.
— Isabela, você está cada dia mais linda, e eu nem
sabia que isso era possível — Igor disse, quando eu saía
da clínica para encontrar M aitê.
— Obrigada, você cada dia está mais cavalheiro —
Igor era sempre muito gentil e galanteador.
— Isabela... — Ele segurou minha mão e encarou-me.
— Não sou só brincadeira. Sei que você não me leva a
sério, mas eu poderia te mostrar que sou mais que um
cara engraçado — percebi que estava falando sério. —
Pensa nisso Isabela — concluiu.
— Igor, eu...
— Ei, tudo bem. Só pensa.
Fiquei no estacionamento da clínica sem saber como
agir. Igor sempre foi um amigo e eu sabia que ele queria
transar com tudo que se move, mas nunca o tinha visto
falar em mudar por alguém ou mostrar ser algo além do
"Igor pegador". Não estava pronta para reconsiderar
nada, então fiquei grata por ele não esperar nenhuma
resposta minha, até porque não queria magoá-lo jamais.
******
O almoço com M aitê foi como esperava. Uma
sucessão de negativas sobre problemas emocionais e
sexuais. Sendo assim respeitei a postura dela. Ela era
uma morena de beleza exótica. Seus cabelos negros e
longos somados aos seus olhos negros lhe davam um
diferencial incrível. Eu não estava desistindo dela,
estava apenas deixando-a assimilar tudo que tinha lhe
falado. Voltei para a clínica após a refeição.
— Alô — quando já havia encerrado as consultas, o
meu celular tocou e eu atendi sem sequer olhar no visor
para ver quem chamava.
— Oi cunhadinha, cheguei de Portugal e você nem
apareceu para me dizer um “olá” — era Júlia, minha
amiga e irmã do Leonardo, ou seja, minha ex-cunhada.
— Oi Ju, estou numa correria só, por isso ainda não
consegui entrar em contato. Como foi a viagem? — não
tinha dúvidas que ela já sabia sobre o término do meu
casamento e não a procurei por não saber como reagiria
a tudo isso.
— A viagem foi ótima, produtiva até demais, e eu
liguei para marcar a farra da galera.
Uma vez por mês, nós nos encontrávamos com um
grupo de amigos em um bar de um antigo conhecido da
galera. Eram algumas pessoas da clínica e outras ligadas
a essas.
— Não sei Ju, acho que não vai rolar — não queria
explicar o motivo, porém não achava que havia clima
para estar junto com os amigos do "casal" tendo deixado
de ser um casal.
— Deixa de bobagem Isa. Todo mundo sabe que
vocês estão dando um tempo e não haverá
constrangimento algum — esse era realmente o meu
temor. — Além do mais, jura que você não quer passar a
noite perto do Leo? Isa, eu te conheço suficientemente
bem, para saber que o amor não acabou — fiquei calada,
pois a Júlia realmente conseguia me deixar sem palavras.
— Combinado? — pensei ainda por alguns poucos
instantes, mas a verdade era que se eu havia ido até ali
não deveria recuar agora.
— Combinado — e seja o que Deus quiser.
Arrumei as minhas coisas e me dirigi para a recepção
para me despedir de Lílian e seguir para a academia.
M esmo estando cansada não abria mão das minhas
aulas.
— Lilian, você vai ao encontro da galera? — ela
sempre comparecia junto com o Cláudio.
— Não vai dar Isa, vou visitar a sogrinha — a sogra
de Lílian morava no interior e algumas vezes ela ia para
lá, passar o final de semana.
— Ah... Pensei que você iria.
— Não vou. M as você irá. E irá arrasar — advertiu.
— Nem pense em deixar a Isabela insegura entrar em
cena de novo, ouviu? Quero o relatório completo na
segunda — não nos veríamos na sexta, pois não trabalho
nesse dia e nem no final de semana.
— Tudo bem, eu prometo.
A aula foi ótima e vi o Fernando rapidamente. Ele
estava dando aula e eu dei uma passada rápida na sala
para ver a turma avançada do Zouk. Ok. Eu confesso.
Queria vê-lo também. Não sentia nada por ele, mas
também não podia negar que o cara era um deus grego.
Tomei um banho bem demorado e já estava indo
deitar quando o meu celular tocou. Era M aitê.
— Oi.
— Isa, preciso de sua ajuda. É difícil reconhecer que
você tem problemas de autoestima e autoconhecimento,
mas a verdade é que tenho esses problemas e acho que
você tem razão.
Conversamos madrugada adentro e passei um pouco
do que tinha aprendido para a M aitê, mas antes de
qualquer coisa eu a escutava. Ela tinha sido criada por
avós extremamente religiosos. Que ameaçavam qualquer
postura contrária ao que eles pregavam com o fogo do
inferno além da expulsão de casa. M aitê havia sido
abandonada quando bebê por sua mãe, que havia se
casado para agradar os pais e viu seu relacionamento
jamais ir para frente. Quando enfim o casamento acabou,
sua mãe não teve apoio, pois as separadas não
herdariam o reino dos céus e assim decidiu ir embora
deixando a filha pequena na segurança do lar dos pais e
nunca mais regressou.
M aitê cresceu apavorada, não só com os castigos que
Deus supostamente imporia a comportamentos errados,
mas também por saber que os seus avós não hesitariam
em mandá-la embora de casa. Sendo assim, educou seu
corpo para ser frio e sem emoções. Nunca se permitiu
apaixonar-se ou provar os prazeres físicos, porque a
carne é fraca. Ela havia se casado com Benício, que era
um parente distante e, mesmo fora da casa dos avós,
ainda sentia os grilhões prendê-la.
Passei para ela o que tinha aprendido sobre mim
mesma durante esse tempo e lhe indiquei minha
terapeuta. M arcamos de nos ver com frequência e ela
aceitou tentar a minha "operação mulherão". Nos
despedimos muito depois das três da manhã e confesso
que dormi bem mais tranquila.
Acordei e já passava do meio dia. Não queria ficar
em casa, então rumei para o shopping onde almocei e fui
ao cinema. Sabendo que na noite de sábado teria o
encontro com a galera aproveitei para procurar algo
bonito e sensual para vestir. Acabei encontrando o que
queria. Um vestido vermelho sangue, curto, com alças
bem finas e saia em camadas. Tinha uma sandália ideal
em casa para combinar.
Já estava pronta para ir para casa quando meu celular
tocou. Era M aitê novamente querendo me ver.
M arcamos naquele mesmo shopping e iniciamos as
compras para a sua operação de guerra. Ela tinha
conseguido um encaixe com Suzana naquela manhã e
estava feliz com o resultado da primeira consulta.
Saímos do shopping quando já estava fechando. Estava
muito esperançosa, pois apesar da história dela ser ainda
mais pesada que a minha, via um brilho no seu olhar que
não sei se tinha tido no meu no início do processo.
Dormi igual a uma pedra. No sábado pela manhã fui
ao salão para dar uma geral no visual. M aitê também
estaria presente na saída da galera e eu estava ansiosa
para ver como ela se portaria.
Já havia chegado em casa há algum tempo quando
Júlia ligou me pedindo para ajudá-la a organizar algumas
coisas no bar em que nos encontraríamos. Nunca
tínhamos feito algo assim, mas não recusei. Arrumei
uma valise e segui para lá, pois ela queria que eu me
arrumasse em sua casa e só voltasse para a minha depois
da noitada. Luigi e Júlia vieram me buscar e rumamos
para o bar. Ela tinha umas loucas ideias, queria organizar
o ambiente para que as coisas ocorressem como previsto
para suas brincadeiras.
Quando tudo estava pronto, me arrumei na casa da
Júlia e senti-me, especialmente, bela ao ver a reação dela.
— M enina do céu! O que foi que fizeram contigo?
— Julinha parecia horrorizada, mas eu sabia que era no
bom sentido.
— Nada, só resolvi mudar um pouco de estilo.
— Um pouco? Nem te reconheço. E você diz que
mudou um pouco? — apenas sorri. Estava me
acostumando a ver aquela reação nas pessoas. — M as
seja lá o que aconteceu eu amei. Visual aprovadíssimo.
Espero ver se a atitude também foi repaginada —
inquiriu.
Voltamos para o bar na companhia de Luigi. Estava
sem carro, já que tinha seguido de carona até lá, mas
como o lugar era bem movimentado no final pegaria um
táxi facilmente.
M uitas pessoas já haviam chegado e eu notei em
cada face a mesma surpresa que havia visto no rosto da
Júlia. Falei com todos e me dirigi para perto de Igor e
Clarissa, que era uma jovem enfermeira da clínica. Igor
estava um gato. Usava uma calça jeans branca bem justa
e uma camiseta preta também muito justa. Estava
simplesmente irresistível e eu gostaria de já estar
despojada o suficiente para ter uma noite quente com
ele. M as primeiro, não tinha coragem e, segundo, não
queria que ele confundisse as coisas. Sendo assim...
— Boa noite.
— Boa noite — responderam Igor e Clarissa em
uníssono. Todos sabiam que eles dois costumavam ficar
juntos quando os plantões coincidiam. M as como aquilo
não influenciava sobre o trabalho que eles desenvolviam
na clínica, todos faziam vista grossa.
Estávamos na maior diversão e, apesar de estar me
divertindo muito, estava um tanto apreensiva quanto a
tal brincadeira que a Julinha faria.
— Uma ice de maracujá, por favor — havia
aprendido a apreciar bebidas com baixo teor alcoólico.
Observei quando Leonardo chegou e percebi também
que todos estavam me olhando como se esperassem
minha reação. Confesso que precisei usar todo meu
controle para não deixar o meu queixo ir ao chão. Ele
estava usando uma calça preta muito justa e uma
camiseta de botões também preta que realçava cada
músculo dos seus braços, ombros e costas. Não sei
exatamente quando aprendi a apreciar a musculatura
masculina, mas Leonardo era definitivamente um
belíssimo espécime.
Vi que ele me olhava e que eu também não conseguia
tirar os olhos dele, enquanto o Igor não tirava as mãos
de mim, para aparente chateação da Clarissa.
— Boa noite amigos. Hoje nós resolvemos
incrementar a nossa noite e para isso vamos fazer a
brincadeira "Verdade ou desafio", mas com teor adulto é
claro.
Todo mundo levou na brincadeira, como se o que
Júlia estivesse propondo fosse apenas uma
"brincadeirinha" infantil, mas entendi de primeira que
não seria assim. Júlia começou e logo conseguiu atrair a
atenção de todos.
— Igor, a pergunta é: com quantas mulheres você já
transou? E o desafio é: dançar uma música inteira para
nós vermos todo o seu talento — falou Guilherme que
era o anestesista da clínica e amigo de Igor.
O desafio fez todos sorrirem, pois há alguns meses
atrás contaram no trabalho que Igor havia bebido demais
em um bar e acabou dando um show de dança para quem
quisesse ver. Ele negava, veementemente, mas
Guilherme não perdeu a oportunidade de provocá-lo.
— Posso escolher uma parceira para dançar? Porque
não irei responder e nem vou dançar sozinho — o
contrário do constrangimento esperado, Igor estava
muito à vontade.
— Pode. Fique à vontade — Guilherme concordou.
— Dança comigo, Isabela? — Igor estendeu-me a
mão.
Fiquei sem saber o que fazer. Nunca imaginei que
Igor fosse me tirar para dançar.
— Eu não sei dançar — não sabia o que ele tentaria
dançar e meus talentos nessa área eram muito restritos.
Ainda.
Igor se aproximou, tomou minha mão e falou junto
ao meu ouvido — Eu sei que você faz aula de Zouk.
Prometo que não irei fazer você passar vergonha e muito
menos pisar no seu pé — ainda estava sentada, mas
acho que o pouco do álcool da ice, junto com um louco
desejo de desafiar, me fez ficar de pé.
— Vou pedir uma música — fui para a pista
enquanto todos da mesa me observavam, e os demais
clientes também. Quando Igor se aproximou de mim
ouvi a batida da música e reconheci sendo With or
without you do U2. Sendo que no ritmo do Zouk.
Igor tomou-me em seus braços e me lembrei da voz
de comando do Fernando pedindo que deixasse a música
me levar. Não sei onde Igor havia aprendido, mas ele
executava passos perfeitos e eu me sentia extremamente
tranquila ao dançar com ele. A batida quente e saber que
todos estavam nos olhando eram um forte afrodisíaco.
— Onde você aprendeu a dançar? — perguntei
quando meu corpo colou-se ao dele.
—Tenho uma irmã mais nova que ama dançar — Igor
respondeu depois de mais alguns movimentos. —
Digamos que sempre sou a cobaia dela — sorriu.
Quando a dança chegou ao fim estava suada, sem
fôlego e muito impressionada. Igor era uma verdadeira
caixinha de surpresas. Todos explodiram em aplausos e
eu olhei automaticamente para Leonardo que estava
lívido. O ódio exalava em cada poro do seu corpo. M as
eu não me intimidei e voltei ao meu lugar enquanto Igor
era parabenizado e chacoteado ao mesmo tempo.
— Isabela, me conta quando foi seu último orgasmo?
E com quem? Ou te desafio a escolher um dos presentes
e dar um beijão de língua — Júlia emendou quando
chegou sua vez.
— Júlia... Isso nem é pergunta que se faça e muito
menos desafio que se proponha — tentei me defender
ciente que estava corada até o último fio de cabelo.
— É verdade ou desafio para adultos, baby. E a
pergunta está até bem justa — ela sempre adorou causar.
Júlia sabia que havia quase dois meses que eu estava
separada, mas o que ela realmente queria era me fazer
beijar o Leonardo. M as é óbvio que eu jamais pediria
isso.
— Eu beijo — respondi depois de tomar mais um
gole da ice.
— Escolha — a danada da Júlia me desafiava com o
olhar.
— Sou voluntário — Igor gritou.
Eu estava lutando para me tornar uma nova mulher e,
beijar alguém não era o tipo de coisa que arrancaria
pedaço, eu poderia fazer. Como um desafio silencioso,
olhei para Leonardo e o encarei. Ele também sustentou o
olhar ao meu.
— Isa, eu te beijo com muito prazer — Igor voltou a
se oferecer e eu sabia que ele estava me ajudando a
provocar o Leo. Virei para ele e estava pronta para
aceitar o convite quando senti a mão de Leonardo
tocando o meu braço. Voltei-me e seu rosto estava muito
próximo ao meu.
— Você ainda carrega meu sobrenome — confesso
que demorei a assimilar o que ele dizia. A verdade é que
a proximidade dele sempre me desnorteava.
Como o desafio havia sido lançado para mim, eu me
adiantei em colar os lábios aos dele. Eu estava tão
desinibida que até a mim mesma estava surpreendendo.
Leo entrelaçou os dedos ao meu cabelo e aprofundou o
beijo. Coloquei minha língua na sua boca e ele a chupou
com força. Beijamo-nos até ouvir a galera gritar para
pararmos ou procurarmos um quarto.
— Obrigada — provoquei ainda mais. Seu olhar, que
parecia cheio de desejo, tornou-se frio e duro. Leonardo
voltou a se sentar sem me responder nada.
A brincadeira continuou e Julinha sempre atacava a
mim ou ao próprio irmão. No fim da noite eu havia
respondido perguntas indiscretas e feito algumas
loucuras como resposta aos desafios. O Leonardo
respondeu todas as perguntas e não executou nenhum
desafio.
Na saída do bar avisei a Júlia que pegaria um táxi,
pois vi que ela e Luigi estavam no maior chamego e eu
não queria atrapalhar o clima deles.
— Nada disso, eu te fiz sair de casa sem carro e
agora eu providencio para que você chegue em casa.
Havia escutado Clarissa pedindo uma carona para o
Igor e não precisei que ninguém desenhasse para que eu
entendesse no que aquela carona iria dar. Então Igor
também não era opção.
— Eu levo você em casa Isa — Igor sugeriu ao ouvir
o comentário da Júlia. Virei para olhá-lo e vi que Clarissa
ficou, instantaneamente, emburrada. Deu-me vontade de
sorrir, ou melhor, aceitar a carona só para provocar, mas
não queria estragar o programa do Igor sem ter o que
oferecer em troca.
— Obrigada, Igor, mas minha casa fica ao contrário
da casa da Clarissa. Então não se preocupe.
— Isso não é problema, Isa. Levo a Clarissa e depois
te deixo em casa. Sem problemas nenhum.
— Não se preocupe Igor. Leo vai me fazer esse favor
— nem tinha visto que Leonardo havia chegado ao
estacionamento também. — Pedi para Isa vir sem carro
que Luigi e eu a levaria em casa depois, mas estou
cansada e Leo vai dar uma carona pra ela, não é Léo?
Estava me sentindo um estorvo.
— Parem com isso. Eu posso muito bem ir de táxi.
Não precisam ficar me jogando como se fosse uma meia
suja — falei muito irritada, já me dirigindo para a saída
do estacionamento, quando senti uma mão forte
segurando meu braço.
— Pode parar aí, Isabela. Eu te levo em casa —
Leonardo falou com o olhar firme no meu.
— Não precisa...
— Já disse que te levo — sua voz grave
interrompeu-me.
Percebi que não adiantava questionar. Segui para
onde a caminhonete dele estava estacionada. Quando ele
destravou a porta, me acomodei no lado do passageiro e
coloquei o cinto de segurança. Leo acomodou-se atrás do
volante e deu partida. Acenei para Júlia e vi o carro de
Igor seguir na direção contrária.
— Você está louca! — ouvi dizer depois de alguns
instantes dirigindo em silêncio.
— O quê? Por que eu fiquei louca? — não estava
entendendo de onde vinha aquele comentário, naquele
momento.
— Você ficou se esfregando no Igor como se fosse
uma mulher solteira, não parece a Isabela que eu
conheci. A mulher com quem casei — seu tom de voz
era de repreensão.
— Em primeiro lugar, eu sou solteira. Você me
largou, lembra? E em segundo, EU NÃO SOU
AQUELA ISABELA! — falei mais alto do que
pretendia.
— Você mudou demais. Vive com umas roupas
estranhas e se comporta de forma estranha. M as hoje foi
demais. Que merda de dança foi aquela com o Igor? M eu
Deus! — alternava o olhar entre a estrada e eu — Você
ia beijá-lo, Isabela? Na frente de todo mundo?
Aquele comentário me irritou de verdade. Leonardo
havia optado por me deixar e agora se sentia no direito
de tomar satisfações?
— Boa pergunta. Talvez o tivesse beijado. E daí se
tivesse? Você escolheu deixar de ser meu marido. Então
quem eu beijo ou deixo de beijar, não é mais da sua
conta.
— Você ainda usa meu nome, porra! Todo mundo
acha que você ainda é minha mulher, Isabela.
— Tira a porra do seu sobrenome, então. Não estou
nem aí para a merda de nome.
Ele não respondeu e dirigiu o restante do caminho
emburrado, eu, no entanto, estava gritando internamente
de ódio. Assim que ele estacionou em frente ao meu
prédio, desci e segui sem olhar para trás. Realmente
deveria seguir meu caminho. Subi para o apartamento
fumaçando e fui direto tomar um banho. Estava me
secando quando a campainha começou a tocar. Ainda de
roupão fui ver quem era. Deveria ser alguém conhecido,
pois o porteiro não anunciou. M eu coração acelerou,
freneticamente, assim que abri a porta e me deparei com
um Leonardo furioso.
— O que você quer Leonardo?
No lugar de me responder ele entrou e me agarrou.
Ainda com a porta aberta ele me apertou nos braços
enquanto invadia minha boca. Ouvi barulho da porta
batendo e fui prensada contra ela.
— Quero saber o que você aprendeu nesses últimos
dois meses, Isabela — voltou a beijar minha boca e eu
senti um desejo descontrolado me invadir. Estava mais
que disposta a mostrar-lhe o que havia aprendido. Puxei
sua nuca de forma que nossas bocas não se descolassem
e corri a outra mão pelos músculos das suas costas. Ele
usava o próprio corpo para me prender, enquanto
acariciava todo o meu corpo ao mesmo tempo, como se
estivesse com pressa, com desespero. Estava me
sentindo louca por mais, queria o toque de sua mão por
todo o meu corpo e o roupão apresentava uma barreira
entre nós.
— Tira... — consegui dizer, quando Leo afastou a
boca da minha e avançou sobre meu pescoço. Gemi
enlouquecida enquanto ele mordiscava, chupava minha
pele e passava a ponta da língua fazendo uma trilha que
ia até a minha orelha.
Arranquei sua camisa e ele afastou apenas o
suficiente para ela passar por sua cabeça. Podia sentir
sua ereção dura contra a minha barriga cada vez que
apertava sua pélvis. M as eu desejava muito mais
contato.
— Tira isso... — minhas mãos apertavam seus
músculos firmes. Estava totalmente pronta. Só queria
que ele arrancasse meu roupão. — Tira essa porcaria de
roupão — implorei. Ansiava para tê-lo dentro de mim.
Não como antes, como se fosse por obrigação. Ainda
mais com a raiva e desejo que estávamos sentindo um
pelo o outro naquele momento, e isso só completou o
tempero.
Ele desfez o nó do meu roupão e em tempo recorde a
peça estava no chão, e eu, completamente, nua diante
dele.
— Você é linda — proferiu me olhando como se
fosse pela primeira vez, e por mais que isso nunca
tivesse sido um hábito, estava confortável diante dos
seus olhos famintos. — Porra! Você é linda demais, Isa.
Leonardo voltou a me tomar nos braços e,
contrariando minhas estatísticas particulares, eu estava
muito molhada e louca para ser penetrada, apesar de
saber que o meu vibrador nem se comparava ao membro
enorme do Leonardo. Agarramo-nos como dois
desesperados. M as consegui alcançar o zíper da calça
dele ansiosa para tocar o seu pau novamente.
— Calma, eu não vou aguentar muito — arfou.
Fiquei orgulhosa de saber que estava fazendo-o perder o
controle.
— Eu não quero que você aguente. Quero rápido —
se não estivesse tão excitada, teria rido da cara de
surpresa que ele fez quando pronuncie cada palavra.
— Caralho, você está gostosa demais.
Abri a calça dele e a puxei junto com a sua boxer. Ele
ajudou a tirá-las, puxando também os sapatos.
Estávamos em uma luta de mãos, línguas e corpos na
sala de estar do meu apartamento, de pé e com as luzes
acesas e nada daquilo diminuía minha vontade ou me
deixava envergonhada como antes.
— Isabela, eu preciso estar dentro de você agora —
suplicou sem fôlego. — Não estou aguentando mais —
seu desespero levou minha excitação às alturas.
— Por favor, vem logo.
Senti quando me empurrou de encontro ao encosto
do sofá e me colocou sentada. Entendi que eu iria me
apoiar ali enquanto ele permaneceria de pé. Enlacei
minhas pernas em sua cintura e ele guiou seu membro
rijo para a minha entrada. Quando o senti me invadir,
pela primeira vez, sabia que teria prazer. M uito prazer
com a penetração. Comecei a pressionar minha pélvis
involuntariamente.
— Isa, eu quero ser paciente, mas você empurrando
esse seu corpo gostoso contra mim não tá ajudando —
ele parecia estar fazendo um grande esforço para não
gozar antes de mim.
— Eu não quero sua paciência, quero você louco,
louco por mim — com essas palavras Leo retirou seu
membro de dentro de mim e invadiu-me, novamente, em
um único golpe. Gritei ensandecida.
— Te machuquei? — perguntou assustado.
— Não... Quero mais.
Ele movia-se rapidamente e nós dois gemíamos
muito alto. Sentia-me completamente cheia e meu corpo
estava em chamas. Senti um orgasmo devastador se
construindo no meu interior e comecei a esfregar-me
contra ele ainda mais.
Gozei com um grito alto e fui seguida por ele que
gozou com um grito abafado no meu pescoço.
Continuamos agarrados um ao outro controlando nossas
respirações ofegantes. Quando senti que não
desmoronaria, falei:
— Acho que preciso de outro banho.
— Aceita companhia? — perguntou ainda com o
rosto enterrado em meu pescoço.
— Sim, mas com uma condição.
— Qual? — retirou seu rosto da curva do meu
pescoço e encarou-me.
— Nada de perguntas — eu o queria de volta, mas
tinha muito que mostrar-lhe antes de reatar a nossa
relação. Então aquele seria um momento só para sentir e
não para falar.
— Por que nada de perguntas, Isabela? O que você
tem para esconder? — Leo tinha voltado para o modo
"ciumento e desconfiado" e a raiva estava estampada em
sua face.
— Sem perguntas Leo, simples assim. Eu não quero
falar nada por enquanto — me dirigi até o banheiro e
torci para que ele me seguisse, mas isso não aconteceu.
Tomei banho e quando cheguei à sala ele havia ido
embora. A princípio me senti mal, mas depois entendi
que para ele aquilo tinha sido mais que apenas sexo.
Pois se ele quisesse só uma transa teria aceitado minha
condição. M as, como não aceitou, mesmo que eu não
entenda o motivo, ele queria mais.
Adormeci rápido. A dança, as Ices e o sexo haviam
me deixado relaxada e lânguida. M eu domingo foi
preguiçoso e muito bom. Dormi cedo e acordei bem
disposta na segunda.
— Bom dia, Lílian — cumprimentei quando cheguei
à recepção da clínica.
— Bom dia é o cacete. Arrume um tempo nessa sua
agenda para me contar o que aconteceu porque eu não
estou engolindo aquela historinha de "depois eu te conto
Lilian" — ela fazia caras e bocas. Impossível não sorrir.
— Vamos almoçar juntas e eu te conto. Por telefone
não dava — ela havia me ligado. M as eu disse que só
contaria pessoalmente, o que parece tê-la aborrecido um
pouco.
— M e dá cinco minutos e manda entrar o primeiro
paciente.
Guardei minha bolsa e vesti o jaleco. Estava
terminando de me organizar quando ouvi uma batida na
porta e sabia que era o primeiro paciente do dia.
— Pode entrar — a porta se abriu e um homem bem
alto, com uma barba rala, cabelos que alcançavam o
colarinho da camisa, olhos castanhos marcantes e um
físico... Bem, melhor não entrar em detalhes.
— Bom dia — disse sorrindo e pude perceber duas
covinhas aparecendo no seu rosto.
— Bom dia. A senhora que é a fisioterapeuta? —
pareceu cético.
— Sim. Não pareço profissional? — fingi seriedade.
— Ah, e é você, por favor.
— Não, não é isso, é que a senho... Digo você é
muito jovem.
Conversamos por algum tempo e ele me contou o
motivo de estar ali. Acidente de moto.
— Nossa! M oto pode ser muito perigoso. M eu exmarido adora, mas eu morro de medo.
— Ex-marido? — eu havia dado várias informações,
mas ele pelo jeito fixou-se nessa.
— Sim, ex-marido. Por quê? — tinha percebido seu
olhar para minha mão e agora fazia sentido.
— Hã... Você é muito jovem para ter um ex-marido
— ele pareceu desconcertado com a minha pergunta.
— Pelo jeito você me acha jovem pra um monte de
coisas, não é, Juan? Posso te chamar pelo seu primeiro
nome? – ele se chamava Juan Valadares, o que me leva a
pensar que devia ter influência espanhola ou latina.
— Claro. Juan está ótimo. E desculpe-me se pareço
indiscreto, mas é muito bom saber que uma bela mulher
como você é... Solteira — seu olhar era quase hipnótico.
— Para falar a verdade, muito bom — sorriu novamente
mostrando suas covinhas.
Capítulo 05 – Entre a paixão e a fúria
Leonardo
Além de tesão, Isabela estava se tornando
especialista em despertar minha fúria. Ela estava usando
roupas estranhas e dando muita ousadia para o Igor. Vêla dançar com ele daquele jeito foi, sem dúvida, uma
prova de paciência e sanidade.
Levá-la até o nosso antigo apartamento foi à
oportunidade para questionar suas atitudes, mas a
"nova" Isabela não justificava nada para ninguém. Essa
nova Isabela estava me dando nos nervos. Deixei-a em
casa, e segui para a minha, mas no meio do caminho
acabei voltando. Iria dizer a ela tudo que estava com
vontade. O que ela estava pensando? Que podia pintar e
bordar enquanto estivesse casada comigo? Pois eu ia
mostrar a ela que não.
Quando toquei a campainha, Isabela demorou um
pouco para atender e achei que já estivesse dormindo,
mas em seguida a porta se abriu e eu esqueci até o meu
nome, quanto mais, o motivo pelo qual tinha ido até lá.
Ela estava vestida em um roupão cor de rosa e a pele
ainda úmida do banho. O cheiro de cereja, dos produtos
de banho que ela usava, invadiram minhas narinas e
minha mente e quando percebi já havia a tomado nos
braços. Daí por diante as sensações controlaram as
ações.
Ela já havia feito sexo oral em mim depois da
separação, mas sentir seu corpo contra o meu, sentir sua
boceta molhada de desejo e ouvi-la gemer de prazer e
não de dor tinha sido uma experiência incomparável. Eu
já havia tido muitas experiências sexuais, mesmo antes
de me casar com a Isabela, mas aquele momento havia
me deixado sem parâmetros. Puta que pariu! Achei que
ia enfartar tamanha a dimensão das sensações.
Felizmente eu havia conseguido me conter até tê-la
satisfeita. Confesso que por um momento achei que não
fosse conseguir. M as é lógico que tudo tinha que dar em
merda. Quando eu achei que iríamos tomar banho juntos
e dormir agarradinhos, Isabela estraga tudo.
— Nada de perguntas — é óbvio que estou sendo
corroído por uma série de perguntas e ela me vem com
"nada de perguntas"? Que porra ela está escondendo?
Ela seguiu para o banheiro como se me deixar sem
respostas, igual a um idiota, fosse rotina. Saí de lá igual
um vulcão em erupção. Aquela era, sem dúvida
nenhuma, a mulher mais frustrante do mundo.
Passei o domingo na casa da Júlia. Na segunda
cheguei cedo a clínica, pois não estava a fim de encontrar
com a Isabela, por mais que ansiasse por isso. Naquela
noite, treinei na academia até a exaustão. Precisava
gastar energia e apesar de ter cogitado chamar a Gabi,
desisti, pois percebi que ela estava querendo mais que
sexo descompromissado e, sendo assim, optei por me
acabar no body combat e muay thai.
Os dias seguiram normais. Apesar de estar odiando a
mim mesmo pela expectativa que sentia pela manhã
quando saia para trabalhar. Eu estava parecendo à porra
de um adolescente controlado pelos hormônios.
Na sexta-feira saí para tomar uma bebida com o
Benício. Ele estava assustado com a forma como a sua
esposa M aitê estava agindo. Confesso que teria rido
dele se não me sentisse da mesma forma em relação à
Isabela. Que bicho será que havia mordido essas
mulheres?
Benício deu a entender que Isabela estava envolvida
com um tal professor de dança, e por mais que eu
tentasse me convencer que ela era livre para fazer o que
quisesse, não estava funcionando. Não estava mesmo!
Eu teria que entender direitinho o que estava
acontecendo, pois estava começando a desconfiar que
esse professorzinho tivesse algo a ver com a nova faceta
da Isabela e, se tinha, eu iria descobrir.
Passei o final de semana participando de um
campeonato de M otocross no interior do estado. Acabei
em terceiro lugar, o que foi uma frustração, mas pelo
menos havia preenchido a mente durante todo o final de
semana com algo que não era problema. Na segunda,
acabei chegando atrasado pois só consegui vir do interior
de madrugada e na tentativa de descansar acabei
perdendo a hora.
— Bom dia, Lílian — cumprimentei quando alcancei
a recepção.
— Bom dia, Leonardo.
Ela estava de cabeça baixa fazendo algo na agenda e
eu vi na mesinha atrás do balcão um imenso buquê de
rosas vermelhas e brancas. Aquele era, sem dúvidas, o
maior buquê que já tinha visto.
— Que flores lindas, Lílian — comentei.
— Ah sim, são lindas — ela ergueu a cabeça só o
suficiente para me olhar. Como não me disse pra quem
eram percebi que havia algo ali.
— Para quem são? — nunca fui intrometido, mas um
buquê tão ostensivo despertou minha curiosidade.
— São para Isabela — bingo! Assim como eu
imaginava. M as uma vez ela respondeu de forma
concisa. Optei por não perguntar quem havia mandado,
deveria ter sido o tal professor.
— Foi um paciente que mandou — mesmo assim
disse quem havia enviado o buquê.
— Ah, claro — segui para meu consultório, pois já
estava atrasado, mas a história de paciente não havia me
convencido. Paciente nenhum se dignaria a enviar um
buquê como aquele para a fisioterapeuta que lhe ajudou.
Não um buquê daqueles.
M inha manhã passou rápido, já que além dos
pacientes agendados e do meu atraso, contei com duas
urgências. Quando estava saindo para almoçar, ouvi
Isabela falando para Lílian.
— Ai, meu Deus! Eu quero ver até quando o Juan
vai aguentar isso. Desde quinta-feira ele me manda um
buquê assim e, quando eu liguei para ele ontem, me disse
que só deixaria de enviar flores quando eu aceitasse sair
com ele — comentava enquanto admirava as flores que
agora estavam sobre o balcão. — Vou ligar para ele,
novamente.
— Ligue e aceite logo sair com ele, porque daqui a
pouco você terá que pagar o jantar, pois o coitado estará
quebrado de tanto lhe enviar flores — Lilian
comunicava.
Ah. Então o tal paciente era esse. Um cara que
mandava flores com tamanha frequência e com o intuito
de sair com uma mulher, certamente, tinha um grande
interesse por ela. M erda! Além do Dr. Igor e do tal
professor, que eu ainda nem conhecia, havia, mais um,
para me preocupar. Isso é ótimo!
Passei por elas, que ainda não haviam se dado conta
da minha presença, sem ao menos cumprimentar.
Provavelmente estava com cara de poucos amigos.
Quando retornei, da minha tentativa de almoço, o
buquê não estava mais lá e Isabela também não. Não
quis perguntar nada a Lilian, pois não fazia sentido que
eu me importasse com aquilo. Não fazia sentido, mas eu
me importava.
Trabalhei a tarde lutando para me concentrar e
quando saí da clínica liguei para Benício. Talvez eu
estivesse precisando conversar.
— Leo, eu te encontro depois que deixar a M aitê na
academia. Hoje ela tem aula de dança.
Aquele comentário me lembrou, que eu ainda tinha
que conhecer o tal professor. Então me ocorreu algo.
— Benício, me passa o endereço da academia de
dança que eu te encontro lá.
Apesar das brincadeiras ele me passou o endereço e
eu segui para o local. Conhecia o lugar, pois quando
morava naquele bairro passava sempre em frente à
academia quando ia trabalhar.
Encontrei Benício no estacionamento. M as não tinha
ido até ali para ir embora sem dar uma olhada no que
estava acontecendo lá dentro. Deixei o meu amigo me
esperando e entrei. A atendente me indicou onde
aconteciam as aulas de Zouk, já que era isso que Isabela
estava aprendendo. Cheguei sorrateiramente à sala onde
ela estava e fiquei próximo à porta. A sala estava com
uma luz baixa e Isabela estava dançando com o
professor enquanto os demais alunos observavam. Pelo
que entendi ele estava apresentando alguma técnica ou
passo para os demais, mas a forma como ele tomava a
minha ex-mulher nos braços, prendendo-a e girando de
forma sensual, estava além da questão didática da dança.
Observei até o fim e não pude deixar de concordar
que o talzinho era bem apessoado, isso me incomodou.
Encontrei Benício e seguimos no meu carro para um
barzinho, ali perto. M aitê levaria o carro deles embora e
eu o deixaria em casa mais tarde. Conversamos sobre
assuntos diversos, apesar de sempre voltar para as
mulheres.
Depois que o deixei em casa, resolvi passar em frente
à casa de Isabela, apesar de ser um percurso contrário.
Estava me sentindo um idiota com as coisas que fazia,
mas não conseguia evitar. Sentia essa necessidade.
Quando cheguei em frente ao seu prédio, a encontrei
na portaria, mas ela não estava sozinha, um cara que eu
não conhecia estava com ela. Não conseguia ver o rosto
com nitidez, mas o que veio a seguir era algo
inconfundível. Ele a puxou para si e tomou sua boca em
um beijo.
— Que porra a Isabela está fazendo? — esperei que
ela se ofendesse e o afastasse, mas não foi isso o que
aconteceu. Ela o enlaçou pelo pescoço e se permitiu
beijar. Quando estava quase descendo do carro, vi o cara
se afastar e entrar num outro carro que estava
estacionado ali próximo e ela seguiu para o interior do
edifício. Ainda pensei em descer, mas não havia o que
dizer. Saí dali cantando pneu, cego de ciúmes.
Nos dias seguintes eu evitei a Isabela e voltei a
encontrar a Gabriela. Se a vida da minha ex-mulher
seguia, a minha também tomaria um rumo. Durante toda
aquela semana percebi a presença do tal paciente e
descobri que ele se chamava Juan Valadares e era dono
de uma empresa de consultoria contábil que possuía
bastante tradição no ramo. As consultas dele aconteciam
com uma frequência maior que o normal e ele sempre
levava a doutora embora. Confesso que estava
descontando tudo aquilo na cama. Transava com a
Gabriela, mas era na Isabela que eu pensava, era a
Isabela que eu desejava.
Em uma manhã de chuva forte, Isabela se molhou e
acabou tirando a blusa e vestindo uma que tinha
conseguido com uma das enfermeiras. Entrei no banheiro
de funcionários e vi sua blusa colocada em um canto
para secar e não resisti. Apesar de molhada a peça
mantinha o cheiro gostoso da sua dona, e não era só o
cheiro do seu perfume, era o odor característico dela, da
pele dela. Passei o dia inteiro com o seu cheiro em mim.
Já à noite estava em casa quando a campainha tocou,
não estava esperando ninguém, mas poucas pessoas
estavam autorizadas a subir, então fui atender. Era
Gabriela. Apesar de não esperá-la, fiquei feliz em vê-la.
Começamos a nos beijar e arrancar as nossas roupas ali
mesmo, na sala de estar, mas pela primeira vez em toda
a minha vida, meu pau não reagiu. Tentei me concentrar
na mulher que gemia em meus braços, mas o cheiro
daquela maldita continuava em mim. Era como se a
Isabela estivesse ali, para garantir que nada acontecesse.
— M erda! — não consegui segurar.
— Leo? O que foi?
— Desculpa Gabriela, mas não dá. Não estou bem
hoje — apesar da experiência que já tinha com Gabriela,
fiquei constrangido. Por mais que ela tenha ido embora
afirmando compreender, aquilo não me impedia de me
sentir um lixo. Aquela droga de mulher estava
arrancando até a minha virilidade.
— M aldição! — xinguei insano.
Sabia que a Gabi deveria ter ido procurar sexo em
algum lugar e eu não me incomodava nenhum pouco,
mas imaginar que a Isabela podia estar com aquele
espanhol de uma figa era suficiente para me pôr irado.
Não consegui pregar o olho durante toda a noite.
Levantei com um mau humor do inferno, e tomei
somente uma ducha antes de seguir para a clínica.
— Bom dia — cumprimentei Lílian que estava
concentrada em algo.
— Bom dia, Dr. Leonardo.
Como havia chegado mais cedo, resolvi tomar um
café ali na recepção mesmo. Não sabia se a Isabela já
tinha chegado e me surpreendi quando vi que Igor estava
próximo à recepção. Eu não havia percebido sua
chegada.
— Lilian, será que a Isabela não vai mesmo me dar
uma foto? Que maldade.
— Deixa de ser safado Igor, você quer a foto para
quê? Para pôr no seu banheiro?
Aquela fala sobre fotos da Isabela me despertou.
Nem perguntei sobre o que falavam, segui para o balcão
e vi um álbum repleto de fotos sensuais da minha
mulher. Havia imagem dela em peças íntimas. Havia foto
dela com biquíni, imagens com roupas curtíssimas em
poses muito sensuais. Havia todo tipo de foto e se não
havia nenhuma nua, também, não estava fazendo falta,
pois sobrava sensualidade.
— A Isabela já chegou Lilian? — a ira fluía em cada
poro do meu corpo.
— Sim, ela está no escritório — Isabela ajudava o pai
na administração da clínica, então sempre que tinha um
tempo livre, ela dava uma olhada na papelada.
Rumei para o escritório e nem bati na porta, Isabela
estava sentada atrás da mesa do pai.
— Agora você vai virar modelo sensual, Isabela? Vai
presentear o teu amante com fotos sexys? — proferi
furioso.
Capítulo 06 – Novas opções... Novas
escolhas
Isabela
O sexo com o Leonardo tinha virado a minha cabeça.
Eu definitivamente estava encarando as coisas de uma
forma completamente diferente. A descoberta do sexo
para mim havia sido, como o fogo para a humanidade,
um divisor de águas. Os valores nos quais eu baseava a
minha vida haviam mudado totalmente e não é por eu ter
me tornado uma ninfomaníaca, não. Era a forma como eu
estava encarado minhas vontades, meus desejos eram
diferentes. Não me via mais como alguém secundário.
Havia me tornado protagonista da minha própria vida, e
nunca mais, me permitiria ser mera coadjuvante da
minha existência. Nunca mais.
Leonardo tinha me proporcionado o melhor orgasmo
da minha vida. Tudo bem que havia sido o primeiro com
penetração, mas eu sabia que com ele seria intenso e
desejado. Sabia que se fosse com qualquer outra pessoa
seria diferente. Além dos meus sentimentos por ele, o
homem era um pecado durante o sexo. Cada toque, cada
beijo, cada gemido dele acendia uma chama imensa em
mim e, no lugar de abrandar o meu fogo, sentia que a
minha vontade por ele só crescia.
Lógico, que a noite havia acabado de forma tensa.
Leonardo queria respostas e eu ainda estava no meio do
processo do meu descobrimento e não me sentia
preparada para falar sobre o que já havia encontrado em
mim. Sabia que havia muito mais para buscar, para
descobrir, e enquanto eu não me sentisse plena, não
falaria nada. Nem a Leonardo e nem a ninguém.
Claro que ele estava me evitando completamente
desde então. M al nos víamos na clínica e a cara de
poucos amigos dele me dizia que meu sigilo o tinha
atingido em cheio. Por mais que eu também tivesse
dando uma de durona, sentia uma vontade enorme de
estar com ele. Não conseguia negar para mim o que
sentia. Eu ainda o amava. M uito.
Depois de alguns dias lutando contra mim mesma,
decidi ir até o apartamento dele. Assim como eu,
Leonardo não trabalhava às sextas-feiras. Então
aproveitei que ele havia descansado durante o dia e segui
até lá à noite. Estacionei o meu carro do lado de fora do
seu flat, pois não sabia se ainda tinha autorização para
entrar sem ser anunciada e, também, sequer sabia se ele
estava em casa. Antes que eu descesse do carro para ir
até a portaria, vi seu carro passar pelo meu e, apesar dos
vidros estarem fechados e serem escuros, eu sabia que
ele não estava só. M inha cabeça acusava com quem ele
estava, mas o meu coração se recusava em aceitar.
Gabriela, sua ex.
Quando o carro adentrou no condomínio e
estacionou no que deveria ser uma das suas vagas, eles
desceram e seguiram juntos de mãos dadas em direção ao
elevador. Eu sabia que minha cabeça estava certa e meu
coração idiota mais uma vez estava errado.
Liguei o meu carro e segui de volta para minha casa,
mesmo com os olhos embaçados pelas lágrimas que
teimavam em cair. Recaída. Estava me sentindo quebrada
e mesmo com toda a força que eu achava que tinha não
parecia ser suficiente para me fazer aguentar aquela dor.
Chorei durante toda a noite. Não havia nada dentro
de mim que me consolasse. Eu não pensava em
Leonardo com outras mulheres, mas no meu interior eu
sabia que ele não deveria estar celibatário. M as nunca
me ocorreu que ele tivesse voltado a encontrar com a
Gabriela. Ela havia sido o grande amor da sua vida na
faculdade e eles só haviam se separado por que ela tinha
encontrado outra pessoa. Eu sempre soube que eles não
tinham perdido totalmente o contato, pois Gabriela
trabalhava no mesmo hospital que o Leo dava plantão às
quintas-feiras, no entanto vê-los juntos era saber que ali
havia mais que só sexo. E era aí, que mais me doía.
Na manhã seguinte não consegui me levantar. Não
tinha motivo algum para encarar o dia. Não saí de casa,
não atendi ao telefone, não tomei banho durante o dia,
tomei somente um copo de leite e passei o dia inteiro na
cama. Não havia mudado por ele, mas a verdade é que
ele era o prêmio que eu queria obter em tudo isso e,
agora, eu sabia que não conseguiria. Tomei banho perto
da meia noite, voltei a pôr o pijama e me deitei. Não
havia qualquer ânimo em mim.
O domingo havia se tornado o meu dia de beleza. Era
geralmente no domingo que eu fazia em casa os
procedimentos de manutenção do que fazia no salão. Os
cuidados com a beleza não estavam relacionados à
vaidade, estava mais relacionada à disposição em me
cuidar e valorizar. Eu hidratava o cabelo, fazia limpeza
de pele, retocava o esmalte da unha, caso não pudesse ir
à manicure, e limpava a sobrancelha. Naquele domingo,
eu não queria fazer nada daquilo, estava mal. M uito mal.
Levantei e fui procurar meu celular, pois minha mãe
devia ter me ligado e eu não queria causar preocupação.
Ainda estava de pijama e com o cabelo que parecia um
ninho de pássaros. Vi as chamadas perdidas, incluindo
várias da minha mãe, Lilian e M aitê, e havia uma
mensagem de texto de um número desconhecido. Abri a
mensagem e me surpreendi com o conteúdo.
"Aquilo que não causa a minha morte me torna mais
forte"- Friedrich Nietzsche.
Eu não tinha ideia de quem havia me enviado a
mensagem e não sabia se a intenção era enviá-la para
mim, mas confesso que havia me atingido em cheio.
Aquilo certamente não causaria a minha morte, então
que me tornasse mais forte. Deitei no sofá e comecei a
refletir sobre tudo aquilo. Eu não podia permitir que
Leonardo determinasse o rumo da minha vida. Eu era a
única que podia definir o rumo dela e eu não me
permitiria ser amargurada, não mesmo.
Levantei do sofá igual uma bala e corri para o
banheiro. Tomei um banho demorado, lavei de mim a
sujeira do corpo e a tristeza da alma. Quando saí do
banheiro fui para a cozinha e ainda vestida em um
roupão tomei um café da manhã reforçado e me troquei.
Vesti uma calça jeans justa e uma camisetinha rosa.
Sequei meu cabelo e fiz uma maquiagem leve para ajudar
a amenizar o inchaço dos meus olhos. Retornei as
ligações que havia recebido e liguei para Larissa. Nós
fazíamos aula de dança juntas e nos dávamos muito
bem, além dela ser muito alto astral e carismática.
Nos encontramos no shopping e passamos
momentos muito agradáveis. Fizemos compras,
almoçamos, fomos ao cinema, rimos bastante e, no fim
do dia, me sentia mais forte que nunca. Eu jamais me
permitiria amar alguém mais do que eu amava a mim
mesma. Nunca. Era assim que tinha que pensar.
Fui jantar com minha mãe na casa dos meus pais e
acabei dormindo por lá, eu sempre achei que ela fosse
me hostilizar pelo meu novo comportamento, mas na
verdade ela agia como se não houvesse percebido nada e
isso eu tomava como apoio. Apesar do seu jeito
antiquado, minha mãe era uma mulher linda. Todos
falavam que eu era parecida com ela, a dona Lorena.
Apenas puxei os olhos claros do meu pai, o todo
poderoso Dr. Estevão Alencar.
Acho que pela noite anterior em claro e o cansaço de
bater perna no shopping, dormi igual uma pedra e
acordei atrasada. Saí para casa em disparada igual uma
louca, depois de um banho rápido, optei por um vestido
longo estampado e um coque mal arrumado no cabelo.
Passei uma sombra suave, uma camada de rímel e segui
para o trabalho. Sabia que tinha um gloss na bolsa e
depois resolveria isso.
M inha manhã foi corrida e quando estava saindo
para almoçar recebi uma visita. Digo visita por que eu
sabia que aquele paciente não estava em busca de uma
sessão de fisioterapia.
— Boa tarde, Juan, como está a perna? — recebi ele
no consultório apesar de já ter tirado o jaleco e ter
pegado a minha bolsa.
— Boa tarde, Dra. Isabela. Desculpe incomodá-la,
mas eu queria fazer-lhe um convite — havia percebido
que o seu olhar para mim ia além da admiração
profissional e as sessões marcadas com uma frequência,
que eu mesma não aprovava, reforçava isso.
— Isabela, Juan. Pode me chamar só de Isabela —
não estava desesperada para encontrar alguém, mas
havia decidido deixar de me boicotar. Eu estava solteira e
não havia nada mais comum, no mundo, que uma mulher
solteira paquerar.
Ele falou repetidamente sobre a melhora na perna, de
como estava se movimentando bem, mas eu sabia que
não era por nada daquilo que ele estava ali.
— Isso é muito bom, Juan. Logo você estará
completamente recuperado — disse me ajeitando na
cadeira para que ele percebesse minha impaciência.
— Acredito que sim. Eu sei que você está de saída,
mas não vim até aqui apenas para lhe contar da minha
evolução. Gostaria de convidá-la para jantar comigo. Sei
que dá outra vez que lhe convidei você achou que não
devíamos misturar as coisas, mas eu estou disposto até
mudar de fisioterapeuta se isso lhe fizer mudar de ideia
— era perceptível que ele estava inseguro. — Lógico
que você pode recusar. M as como eu sei que você é
solteira, achei que não haveria problema em sairmos
juntos, é claro, se você quiser...
— Sim — surpreendi.
— Sim? — eu o havia interrompido, pois ele
passaria dias me explicando. Eu realmente havia
recusado o primeiro convite para sair com ele, pois além
de não querer misturar relacionamento com trabalho, eu
havia acabado de transar com o Leonardo e tinha
esperança que enfim nos entenderíamos. M as como
aquela esperança havia se esvaído, era hora de seguir
adiante assim como ele fez. Juan estava surpreso, pelo
jeito não achou que receberia um sinal verde dessa vez.
— Você me convidou para jantar? — questionei.
— Sim, eu a convidei.
— Ótimo. A resposta é sim.
— Oh, isso é muito bom. M uito bom mesmo.
Na manhã seguinte quando cheguei à clínica, um
imenso buquê estava sobre a mesa da recepção. Com
rosas vermelhas e brancas. Eram lindas e o cartão
continha o meu nome. Eu estava recebendo flores
diariamente desde o primeiro convite dele para sairmos
juntos, mas aquele buquê era especialmente lindo.
— Isa, são para você — Lilian confirmou.
Confesso que por um momento achei que fossem do
Leonardo, apesar dele não fazer o gênero romântico, mas
obviamente não eram dele, eram do Juan. O cartão
escrito à mão trazia a seguinte mensagem:
O simples fato de você aceitar sair comigo já me deixou
muito feliz.
Obrigado.
Com carinho, Juan Valadares.
O gesto dele me tocou. Como alguém me mandava
um imenso buquê de flores só por eu ter aceitado um
jantar? Esse cara tem algo de muito especial, e sabe de
uma coisa? Eu quero descobrir o que é. Liguei para
agradecer e confirmei o nosso encontro para quinta. Nos
dias seguintes nos falamos com frequência e a cada
ligação descobríamos mais afinidades. Estava me
encantando com o jeito carismático e carinhoso do Juan.
À noite passei em casa, tomei uma ducha e segui
para a academia onde teria aula de Zouk. Estava cada dia
mais apaixonada pelo universo da dança. Encontrei
M aitê, que chegou um pouco depois de mim. Ela
também estava curtindo as aulas.
— Isabela venha até aqui... — Fernando me chamou.
Ele sempre me usava de cobaia quando ia mostrar um
passo novo.
Fui até onde ele estava e ouvi as instruções do que
iríamos fazer. Eu dançava há pouco tempo, mas nos
braços do Fernando me sentia confiante. Ele ditava o
ritmo e para mim era natural segui-lo. Quando a música
tocava eu fechava os olhos e tudo que sentia era o calor
daquele corpo forte, nada mais fazia sentido, nada mais
existia.
Fernando nunca havia falado nada comigo que não
fosse relacionado diretamente à aula, mas havia sempre
uma forte aura de sedução quando ele se aproximava. Eu
não sabia se isso acontecia com todas as alunas, já que
ele era um cara naturalmente charmoso, mas comigo ele
mexia.
Já em meu apartamento, eu não estava nervosa para
o encontro com Juan, mas sentia um friozinho na barriga
que eu desconhecia. Optei por usar um vestido vinho
sem alças, ele é bem justo e vai até a altura dos joelhos.
Não era tão ousado, mas certamente era sensual e a cor
realçava minha pele. Deixei o cabelo solto e calcei uma
sandália preta de tiras finas e salto bem alto. M arquei os
olhos com um delineador preto e duas camadas de rímel
completaram os olhos. Fiz um bocão vermelho e
acrescentei um pouco de perfume, peguei minha bolsa e
desci. Juan estava me esperando, ele tinha me avisado
por mensagem.
— Oi — tentei chamar a atenção de Juan que estava
com o corpo apoiado no carro, mas de costas para mim.
— Ah. Oi... Nossa! Você está ainda mais linda que
no consultório, e olha que eu não achei que isso fosse
possível — Juan me deixou encabulada. Ele usava uma
calça jeans escura e uma blusa preta que marcava seu
peitoral. Caramba! Eu sempre o achei atraente, mas hoje
ele estava quente. Realmente quente.
— Obrigada — agradeci enquanto ele me beijava no
rosto, mas quando fui retribuir ao carinho acabei
acertando o canto da sua boca.
— Oh! Desculpe-me — fiquei sem graça. Não queria
que ele achasse que tinha sido proposital.
— Não se desculpe, sei que não foi por querer.
Infelizmente.
Seguimos até o restaurante e tudo foi muito
agradável. O ambiente, a comida, a conversa, tudo estava
sendo perfeito. Eu sabia que Juan queria algo a mais e,
enquanto nós conversávamos, eu analisava a situação
por todos os ângulos e por mais que não me sentisse
pronta para começar um relacionamento, sentia-me
desafiada a tentar. Não queria me ferir e nem tampouco
ferir o Juan. Então talvez aquele jantar fosse o primeiro
passo e devêssemos dar passos cautelosos para ver o
que aconteceria.
Na volta para minha casa, estávamos discutindo
sobre músicas. Juan amava música e eu, apesar de não
entender, também gostava muito. Quando chegamos em
frente ao meu prédio, já estávamos completamente à
vontade um com o outro. Ele desceu para abrir a porta
do carro para mim, como um perfeito cavalheiro que era.
— Obrigada pelo jantar, Juan. A minha noite foi
muito agradável.
— A minha também foi, Isabela. Gostaria
sinceramente que ela se repetisse.
— Também gostaria.
— Isabela... Sei que você percebeu que meus
sentimentos por você vão além de um paciente pela sua
fisioterapeuta. Eu me sinto atraído por você e gostaria
muito que você me permitisse uma aproximação. Sei
também que sua separação é bem recente e
provavelmente você ainda nutre sentimentos pelo seu
ex-marido, mas gostaria muito de tentar encontrar um
caminho para o seu coração — merda! Além de muito
bonito e atraente, o cara ainda era carinhoso e sensato.
Isso tá ficando perigoso. M uito perigoso.
— Juan, gostaria de te dar carta branca, mas o
caminho do coração é desconhecido. Não tenho como
saber se você vai encontrar esse caminho para o meu e,
além do mais, eu acho que ainda não estou pronta para
iniciar um novo relacionamento.
— Eu entendo você Isabela e admiro sua sinceridade,
mas gostaria de correr esse risco. M esmo sem me fazer
promessas, permita-me ficar perto de você. Não preciso
de rótulos, vamos ser amigos e ver no que vai dar.
Não havia como negar aquela chance. Era uma chance
pra ele, era uma chance para mim mesma.
— Claro que aceito sua amizade Juan e vou ficar
feliz em voltar a sair com você.
Quando nos despedíamos, toquei meus lábios nos
dele, propositalmente, e ele no lugar de se surpreender
com minha atitude, acabou tomando os meus lábios em
um beijo de verdade. A sensação de beijar outra boca foi
estranha, mas ao mesmo tempo agradável. A boca do
Juan era macia, mas seu beijo era urgente, e eu estava me
deliciando naquele beijo.
Quando se afastou estávamos ofegantes, mas ele
manteve os braços ao meu redor e a sensação continuava
muito boa.
— Não vou te convidar para subir — optei por
deixar claro.
—Tudo bem, sem pressão — ele voltou a me beijar,
sendo que com menos intensidade e despediu-se em
seguida.
Subi para o meu apartamento e senti meu coração se
confortar. Eu não era apaixonada pelo Juan, mas, estava
mais do que disposta a lhe dar um lugar em meu coração.
M as que isso, estava disposta a ser feliz.
No dia seguinte enquanto estava na clínica, meu
telefone tocou e quando atendi, era tia Luíza. Ela havia
me falado que estava pretendendo fazer fotos sensuais
para presentear o marido pela passagem do seu
aniversário de casamento, me convidou para
acompanhá-la e ver se eu não me interessava. Acabei
concordando.
As fotos de tia Luíza ficaram incríveis e eu não
resisti e acabei marcando as minhas também. Estava
ansiosa para ver como o book ficaria. Acabei recebendo
o álbum alguns dias depois e levei para a clínica para que
Lilian visse. Estava tentando convencê-la a fazer
também. Igor acabou vendo as fotos e pedindo uma
delas, logicamente eu neguei. As fotos não eram nada
pornográficas, mas eram sim, bastante sensuais.
Na quinta-feira eu tinha tirado o dia somente para
verificar uns extratos que meu pai havia me pedido para
ver no escritório da clínica. Optei por usar um vestido
de alcinha leve que ia até a altura do meu joelho e uma
rasteirinha. Quando saísse dali pretendia encontrar a
Larissa para irmos tomar um drink. Fiquei de confirmar
com ela, pois não sabia quanto tempo levaria para fazer
a verificação. Estava tão entretida avaliando os
documentos que não percebi a porta do escritório ser
aberta.
— Agora você vai virar modelo sensual, Isabela? Vai
presentear o teu amante com fotos sexys? — assusteime ao ouvir a voz grave do Leonardo ressoando no
escritório. Sequer assimilei o que ele havia falado,
tamanha a surpresa.
— Droga Leonardo! Você me deu um susto — falei já
levantando da poltrona.
— Fala Isabela! Você virou modelo? Ou está fazendo
essas merdas de fotos para dar àquele idiota com quem
você estava se agarrando em frente ao prédio que mora?
Eu não tinha ideia de como ele sabia, mas obviamente
ele estava falando do Juan. Lembrei, no entanto, de tê-lo
visto com a Gabriela e isso foi suficiente para trazer
toda a ira que eu havia guardado em mim.
— Não é da sua conta se eu sou modelo ou se eu
tenho um amante. Se você me viu com o Juan. Ótimo!
Sabe por quê? O Juan é uma nova etapa na minha vida, é
algo novo. Diferente de você, que correu para o passado
— estava cuspindo cada palavra contra ele com fúria.
Percebi que ele voltou-se para a porta e a trancou.
Então se aproximou de mim a passos largos.
— E quem voltou ao passado, Isabela? Quem?
— Você! Você acha que eu não sei que está transando
com a sua ex? A Gabriela. Não negue Leonardo — ele
arregalou os olhos, surpreso, mas tenho certeza que foi
mais pela forma como eu estava o acusando.
— Não nego que venho me encontrando com a Gabi,
mas também não saberia te responder por que a procurei
— a sinceridade dele veio como um baque no meu
coração e senti meu corpo tremer e as lágrimas forçarem
a sair dos meus olhos. Apertei-os com tanta força
impedindo de virem à tona. Não queria mostrar fraqueza
na frente dele, apesar de que sentia cada vez mais, meu
coração pisoteado.
— Você ainda a ama? — a pergunta saiu tão rápida
que nem tive tempo de processar.
—Nãaaaao! Claro que não – respondeu de forma
rápida e convicta, se aproximando cada vez mais de
mim, a ponto que eu já podia sentir seu cheiro exalando
do seu corpo. Apesar de fraquejar isso não diminuiu a
dor que eu estava sentindo. Respirei fundo e decidi não
me abalar por nada.
Lembrei-me da mensagem que recebi dias atrás. E
divaguei mentalmente tirando forças não sei de onde,
mas não me abalaria na frente dele. Depois, longe daqui,
choraria até tirar essa dor do meu peito. Eu tinha que
ficar longe dele. Isso era fato.
— Leonardo estou ocupada. Tenho extratos e
documentos para serem avaliados. Por favor, queira me
deixar sozinha — falei olhando nos seus olhos e
tentando soar o mais natural possível. Enxerguei em
seus olhos ira e desejo se acumulando. Com suas mãos
ele agarrou-me de forma forte em cada lado dos meus
ombros me prensando entre a mesa.
— Isabela, você ainda não respondeu à minha
pergunta — senti meu corpo mais uma vez, me trair.
Droga! Não iria resistir a ele.
— Qu... Que pergunta? — gaguejei enquanto ele se
aproximava ainda mais de uma forma que nossos corpos
se encaixaram e eu pudesse sentir seu hálito delicioso na
minha face.
— Perguntei por que você fez as aquelas fotos
sensuais? Pretende presentear alguém? — Leonardo me
perguntava sem tirar os olhos da minha boca e eu sentia
meu corpo mais uma vez me traindo e o desejo de juntar
os nossos lábios. M eu Deus será que um dia vou
conseguir ser imune a ele?
— O que faz aqui? — tentei a todo custo me livrar
desse desejo, vício ou frio no estômago. Tentei mudar a
conversa, mas foi em vão.
— Não mude de assunto, me responde porra! — seu
corpo tremeu junto ao meu e me apertava ainda mais a
ele.
— Leo, você está me machucando — pronunciei
tentando me livrar dele.
— Isa... Isabela, por favor! — ele sussurrou meu
nome e em seus olhos vi o mesmo desejo e necessidade
que eu estava sentindo. Não pensei duas vezes puxei-o
pelo pescoço para que nossos lábios se tocassem e
quando aconteceu meu cérebro apagou.
Naquele momento esqueci tudo. Juan, Gabriela, onde
estávamos. Só existíamos nós dois. Ele me beijou com
desespero, suas mãos vagando por todo o meu corpo até
chegar a minha bunda me deixando louca e molhada em
fração de segundo. Leonardo me levantou e me colocou
sentada em cima da mesa sem tirar seus lábios dos meus.
Senti-me no lugar certo, segura em seus braços. E
mesmo sabendo que me machucaria eu iria sugar tudo o
que pudesse daquele momento.
Ele deixou meus lábios e percorreu beijando meu
pescoço e descendo pelo meu ombro já puxando as alças
do meu vestido. Eu delirava de tanto prazer por senti-lo
tocando em todo meu corpo. Quando menos esperei ele
puxava meu vestido pela cabeça me deixando apenas de
calcinha preta com lacinhos rosa rendado. Não demorou
muito e a calcinha sumiu do meu corpo. Apesar de toda
minha excitação, vi quando Leo cheirou e colocou a
minha calcinha no bolso da sua calça. Ele sentou na
poltrona colocando minhas pernas de cada lado do
encosto me deixando totalmente aberta para ele.
— Isa, você é tão linda! — declamava ao mesmo
tempo em que seus olhos vagavam por todo meu corpo.
Seu olhar era sincero, puro e altivo. Nunca me senti tão
desejada em toda minha vida. Sentado como estava ele
puxou a cadeira e se inclinou sobre o meu sexo. Apoieime sobre os cotovelos e senti sua língua me invadir. A
sensação era maravilhosa. Eu estava totalmente nua e
aberta diante dele, enquanto ele permanecia
completamente vestido.
— Ah! Que delícia! — estava perdida no turbilhão
de sensações que sua boca me proporcionava. Leonardo
alternava lambidas suaves e mais fortes, o que me levava
à loucura. —Diz para mim que tá gostoso. Diz Minha
Paixão — ele ergueu a cabeça e me olhou esperando
minha resposta. Eu percebi nos seus olhos que aquilo
era sim muito importante para ele. — M e diz que está
tendo prazer princesa, diz para mim.
— Sim... Eu estou amando... — murmurei baixinho,
mas sei que ele ouviu, pois voltou a colocar sua boca em
meu clitóris, sugando de modo delicado, porém
constante. Sabia que a sensação era boa demais para me
permitir durar muito tempo. Comecei a gemer ainda
mais alto, pouco me importava que alguém ouvisse
tudo. O que me interessava era o redemoinho que se
concentrava em meu ventre.
Eu havia estado em outro plano enquanto havíamos
transado na minha casa, mas a sensação daquele
momento era indescritível. Era a primeira vez que
faziam sexo oral em mim.
Gozei gemendo alto, não havia como controlar o que
sentia. Leonardo continuou alternando chupadas e
lambidas no meu clitóris. M al havia acabado de ter um
orgasmo maravilhoso, ele continuava me estimulando e
me excitando novamente.
Levantou-se da cadeira e abriu a calça expondo seu
membro completamente ereto. Eu ainda estava com o
corpo sobre a mesa me apoiando nos antebraços. Leo
me puxou pelas coxas me colocando na borda da mesa.
— Tudo até agora foi aperitivo, Isa. Agora nós
vamos juntos saborear o melhor — falava enquanto se
encaixava entre as minhas pernas, sendo que ele
continuava segurando a parte externa das minhas coxas.
— Quero me enterrar em você e de preferência nunca
mais sair do seu corpo delicioso.
Leonardo guiou seu pau a minha entrada que estava
completamente pronta para recebê-lo. Eu sabia que ele
estava tão desesperado quanto eu para mais contato.
Ainda assim a sua invasão dentro de mim foi lenta e
completamente torturante.
— Quero saborear esse momento. Teu cheiro, teu
gosto, o som da tua voz. Quero saciar essa ânsia louca
que eu tenho por você, Isa.
Eu estava muito desesperada para que ele
aumentasse o ritmo, pois era angustiante ter dele em
pequenas porções.
— M ais rápido Leo, por favor. Eu não vou suportar
isso assim.
— Calma. Quem disse que quero que acabe? Preciso
fazer durar o máximo possível.
As palavras dele me fizeram pensar de modo igual.
Queria que aquele momento não terminasse.
Leonardo continuava arremetendo em mim e enterrou
o rosto na curva do meu pescoço.
— Teu cheiro é minha perdição, Isa. Estou viciado
no teu cheiro, no teu gosto.
Com a luxúria daquele momento e a sensação
provocada por aquelas palavras, não aguentei mais e
comecei a esfregar o meu corpo no dele.
—Porra Isabela! Assim eu não aguento — gemeu
alto de prazer.
Leo aumentou a velocidade das estocadas e eu já
estava perdida em deleite quando senti ele se derramar
dentro de mim. Estávamos suados e ofegantes como
nunca tínhamos ficado em outro momento. Éramos um
só. Ele permanecia dentro de mim e ao mesmo tempo
inalava o cheiro do meu pescoço.
— Isso foi intenso — consegui falar tentando
descontrair. Ele passou a sua língua quente pelo meu
pescoço e eu suspirei sentindo o seu pau endurecer
dentro de mim novamente. Ele tinha que ter algum
sentimento por mim. Paixão, desejo... Seja o que for ele
nutria algo por mim. Eu tinha certeza disso, apesar dele
ter falado que não me amava quando me deixou, ele
demonstrava o contrário. Só podia ser seu orgulho e
machismo que impedia de algo. Não era possível tudo
isso ser fingimento ou preocupação.
— M uito intenso — respondeu dando beijos castos
no meu ombro. — Acho que você ficará um pouco
dolorida — falou e eu senti seu sorriso safado sobre meu
ombro.
— Hum! — confirmei gemendo baixinho
aproveitando todo aquele momento de toques e
carinhos.
— Aquele espanhol paraguaio te faz sentir isso
tudo? — interrogou, levando aquele momento perfeito
entre nós dois ao Polo Norte. Enrubesci de raiva
empurrando ele de forma que caiu sentando na poltrona.
M al senti a ardência de seu membro saindo
abruptamente de dentro de mim.
— O que você disse? — perguntei sentindo a
decepção emanar da minha pele.
— Ah Isabela! Você mudou muito. M al me deixava
tocar em você. Agora está diferente, sexy, cheirosa e até
seu jeito mudou. E o sexo então nem se fala. Não que eu
não aprove, mas alguém está te ensinando a praticar. É
aquele cara? O seu paciente? Que está te ensinando a se
desinibir? Ou o Igor? — não acreditava que estava
escutando tudo aquilo. Depois do nosso sexo selvagem e
suado, ele age feito um homem das cavernas e cheio de
si. Eu daria um basta nisso. Sabia que Leo sentia algo
por mim, mas não o permitiria me humilhar daquele
jeito. Jamais.
Levantei-me da mesa e peguei meu vestido caído no
chão. Enquanto me vestia senti seu líquido escorrer por
entre as minhas pernas, mas não me importei.
— Por favor, Leonardo. Vá embora — pedi tentando
controlar a decepção que estava sentindo.
— Olha Isa, eu só comentei, porque você poderia ter
falado comigo e... — não o deixei terminar. Puxei forças
do meu interior e o arranquei da poltrona empurrando
em direção à porta.
— Eu disse que é para você ir embora — cuspi cada
palavra friamente enquanto o empurrava e destrancava a
porta do escritório. Tudo ao mesmo tempo.
— Isabela, me escuta. Eu queria dizer... — não queria
mais ouvir nada. Queria ficar sozinha e superar tudo que
estava sentindo e chorar. Chorar muito.
— Você é um idiota, Leonardo! — gritei jogando
aquele homem enorme para fora do escritório e
trancando a porta em seguida.
M esmo com raiva consegui enxergar um vislumbre
do seu olhar. Era uma mistura de dúvida e
arrependimento pelo o que tinha falado. Sim, ele sabia
que tinha pisado na bola comigo, mas agora era tarde.
Leonardo agora correria atrás de mim. Eu buscaria
forças, mas ele não me tocaria sem eu ter certeza do que
realmente sentia por mim. Sem dizer palavras que me
humilhasse. Também não esperaria até que engolisse seu
orgulho e decidisse o que queria de mim. Iria aproveitar
a minha nova vida como já vinha fazendo e se, no final,
não ficássemos juntos buscaria outro amor. Eu precisava
urgentemente superar.
Capítulo 07 – Caindo na real
Leonardo
Você é um idiota Leonardo!
Essas foram às últimas palavras da Isabela antes de
bater à porta na minha cara. Vi decepção e lágrimas se
formando em seus olhos. Jamais quis magoá-la, quero
protegê-la desses gaviões que a ficam circulando. Isabela
é inocente e não consegue ver maldade nas pessoas.
Acha que todo mundo é bom.
Daria um tempo até ela se acalmar e depois a
procuraria. No fundo eu sei que exagerei com as
palavras, mas não sei o que me deu. Eu ainda estava
dentro dela e de repente passou na minha cabeça ela com
o tal Juan, enlouqueci ao pensar, nela nos braços dele. E
acabei que proferindo aquela pergunta idiota que
estragou o nosso momento.
Nosso sexo tinha sido perfeito, selvagem e desejado.
Ainda podia sentir o gosto e o cheiro delicioso da sua
boceta em minha boca. Saí em direção à recepção e
encontrei Lilian, Dr. Igor e mais duas enfermeiras
conversando. Assim que me viram se fizeram de
desentendidos, mas com certeza eles sabiam o que havia
acontecido no escritório. Os gemidos da Isabela foram
altos o suficiente para serem ouvidos.
— Lilian, minha primeira consulta para segunda-feira
é a partir de que horas? — perguntei enquanto me
aproximava do balcão de recepção.
— Só um minuto enquanto verifico Dr. Leonardo —
normalmente a Lilian me chamava de Leonardo ou Leo,
mas quando estávamos no trabalho e com os
funcionários ou pacientes por perto ela me chamava de
doutor. — A partir das oito horas. Você quer que eu
desmarque? — perguntou enquanto eu percebia que o
Dr. Igor ainda sustentava o álbum com as fotos sensuais
da Isabela.
— Não precisa desmarcar Lilian, chegarei a tempo.
Obrigado — respondi sem tirar os olhos daquele álbum.
— Igor, por favor, me entregue as fotos da minha mulher
— surpreendi-me com o que falei.
— Ah você e a Isa reataram? Não sabia — disse
aquele comedor de enfermeiras tirando onda com a
minha cara. Fazendo minha raiva voltar só em pensar
que ele a desejava na sua cama.
— Isso não é da sua conta. E vamos logo, me
entregue essas fotos — esbravejei sem importar-me de
quem estava ao redor. Estava começando a perceber que
tudo relacionado à Isabela me tirava do sério.
— Calma, Dr. Leonardo! Aqui estão as fotos da
M inha Deusa — o filho da puta falou enquanto me
entregava o álbum de fotos com um sorriso sarcástico
nos lábios e a chamando de deusa só para me provocar.
Assim que peguei virei sem falar nada em direção à
saída, porque se ficasse mais um segundo ali não
responderia por mim.
— Leonardo, as fotos são da Isa, você não pode
levar sem a sua autorização. M e entregue, por favor! —
Lilian falou no tom autoritário e eu sabia que ali ela não
se referia a mim como um médico. Lilian adorava a
Isabela e, por mais que gostasse de mim, ela não
aprovava a minha atitude nesse momento.
— Sinto muito Lilian, mas dessa vez não. Fale para a
Isabela que se quiser as fotos que vá pega-las em meu
apartamento — proferi enquanto seguia para o
estacionamento. E deixando uma Lilian chateada.
Entrei no meu carro e coloquei o álbum de fotos no
banco do passageiro. Isabela tinha que entender que não
deveria sair mostrando fotos seminuas a todo mundo,
principalmente a caras como Igor. Respirei fundo e mais
calmo dirigi em direção ao meu apartamento e, é claro,
não parava de pensar no que havia acontecido no
escritório. M eu Deus! Aquilo tinha sido perfeito, nos
encaixávamos perfeitamente. Ela conseguia ficar ainda
mais linda enquanto gemia e gozava e eu ficava ainda
mais louco a vendo excitada e totalmente entregue a
mim.
Fiquei imaginando se todo esse sexo tivesse
acontecido desde o início do nosso casamento, acho que
teríamos ficado trancafiados no apartamento até nos
sentirmos totalmente saciados. Claro que a Isabela
melhorou, e muito. Estava mais sexy e mais mulher, mas
eu ficava me perguntando: quem a ajudou em todas
essas mudanças? Principalmente no sexo. Sei que a
Lilian a apoiou bastante. M as e o sexo? Quem a ajudou?
Isso não saía da minha cabeça. Teria que arrumar uma
forma da Isabela se abrir comigo.
Cheguei ao estacionamento do prédio em que moro e
segui em direção ao elevador. Ao entrar no meu flat
coloquei o álbum da Isa em cima da mesinha de centro e
fui em direção à cozinha pegar uma cerveja. Percebi meu
celular tocando e vi que era a minha irmã.
— Fala maninha! O que você anda aprontando?
— Gato preciso urgente falar com você — a voz da
Jú estava um pouco alterada e eu sabia que algo tinha
acontecido.
— O que foi Júlia? Onde você está? — perguntei já
indo em direção à porta para ir atrás dela. Júlia podia
ter seu jeito maluca e desbocada, mas era a minha irmã
perfeita, não mudaria nada nela.
— Estou próximo ao seu apartamento, você está em
casa? — perguntou toda dengosa fazendo com que eu
parasse automaticamente.
— Acabei de chegar. Venha para cá, e com calma,
conversaremos — acabei falando tentando não parecer
preocupado. Principalmente pelo seu estado. Os três
primeiros meses de uma gestação são muito delicados e
requerem cuidados.
— Chego em dez minutos. Beijos Gato!
Sentei no sofá, encostei a cabeça e fechei os olhos
para relaxar e esperar o que o furacão da minha irmã
tinha para conversar. Ainda nem era meio dia e eu já me
sentia exausto mentalmente. Suspirei e abri os olhos, vi
o álbum dela, Isabela. Ajeitei-me no sofá e o peguei.
Assim que o abri, observei com mais atenção. Fiquei
hipnotizado pelas fotos. Isabela era linda e tinha aquele
jeito de menina mulher, o contraste de ousada e inocente
ao mesmo tempo, que enlouqueceria qualquer homem. A
cada foto que olhava ficava mais excitado, querendo
estar dentro dela novamente. Aqueles olhos me
enfeitiçavam, eu não compreendia direito essa sensação.
Só sei que queria mais e mais dela. No entanto, fui
obrigado a parar de admirar as fotos. Seria meio
constrangedor estar de pau duro com minha irmã
chegando.
A campainha tocou e sabia que era a Júlia. Levanteime, mas antes de abrir a porta escondi o álbum da Isa
numa gaveta do armário da sala. A última coisa que eu
queria era minha irmã me enchendo de perguntas e
acusações. Abri a porta e deparei-me com uma Júlia de
olhos inchados. Não pensei duas vezes e a puxei para os
meus braços para confortá-la.
— Oi minha linda. O que foi que aconteceu?
— O papai e a mamãe já sabem da gravidez —
compreendi perfeitamente o motivo do seu nervosismo.
Nossos pais eram pessoas maravilhosas, mas muito
tradicionais. Na certa fizeram um discurso de uma hora
sobre sexo antes do casamento. Ainda abraçado com ela
fungando no meu peito, a levei em direção ao sofá.
— Julinha, você deveria ter me falado que eu teria
ido dar apoio a você e o Luigi.
— M ano, eu não fui lá para falar da gravidez, nem o
Luigi estava comigo. Fui visitá-los, já que eles vivem
reclamando que nós dois nunca aparecemos — isso não
era totalmente verdade. Sempre nos fins de semana
passávamos na casa deles para visitá-los.
M as para nossos pais o “nunca aparecer” quer dizer
que não os visitamos todos os dias, como eles querem.
— M amãe percebeu quando senti um cheiro
enjoativo que vinha da cozinha, ou melhor, o cheiro da
sua famosa carne de panela. Corri desesperada para o
banheiro para não vomitar nos seus tapetes indianos da
sala. Você sabe como ela é. Na mesma hora me
perguntou de quantos meses eu estava e fez cara de
decepção.
Uma coisa era certa, todas as mães conhecem
realmente seus filhos e a nossa era PHD. Nunca
conseguíamos esconder nada dela.
Ficamos conversando a tarde toda. Júlia falou sobre
como nossos pais queriam apressar o casamento já que
ela não tinha seguido os conselhos que eles haviam
ensinado para uma moça de respeito e família. Ao
mesmo tempo ríamos quando dizíamos que o papai iria
levar para a cerimônia uma espingarda para ameaçar o
Luigi caso ele fugisse. Pedimos comida chinesa, que por
sinal a Júlia devorou quase tudo. E também estava muito
mais relaxada.
Nós dois sempre nos demos muito bem, desde
crianças éramos confidentes. No fim da tarde a
acompanhei até seu apartamento. Como ela morava
perto fomos caminhando pelo calçadão da praia.
— Gato, você será meu padrinho de casamento,
certo?
— Noooossa! Que emoção! — levei as mãos aos
olhos fingindo estar chorando de emoção pelo convite. E
é claro que ela me deu um tapa forte no braço e me
xingou de bobo. — M inha irmãzinha, será uma honra ser
seu padrinho de casamento.
— Você quer saber quem estará ao seu lado no altar?
— ela fazia uma cara de sapeca enquanto me
perguntava. E eu, já imaginava quem seria, mas não
respondi que era a Isabela. Estava na cara que a Júlia
queria que reatássemos.
— Não importa quem seja a madrinha. Desde que eu
seja o padrinho.
O resto do caminho a Júlia estava a todo vapor
tagarelando sem parar, parecia um vulcão em erupção
cuspindo larva para todos os lados.
Em vinte minutos de caminhada ela decidiu sobre a
lista de convidados, vestido de noiva, lua de mel,
recepção, Buffet e até as músicas ela divagou. Não sei
como ela conseguia essa proeza, mesmo que tudo aquilo
que ela pronunciava não me interessasse, estava feliz
por ela e tentava mostrar o máximo de atenção e
concordava com tudo. Confesso que passar à tarde com
a minha irmã ajudou bastante a me distrair e não pensar
na mágoa que causei à Isabela hoje pela manhã.
Depois de deixar minha irmã em seu apartamento,
voltei caminhando pela praia e parei para tomar uma
água de coco e apreciar o cair da noite. Essa hora o
calçadão da praia era bastante movimentado e fiquei por
ali dando um tempo e conversando com alguns
moradores. M al percebi a hora passar. Voltei para meu
flat, tomei uma ducha e deitei-me.
Lembrei-me do passeio de sábado que tinha
combinado com Benício. Seria um passeio de mountain
bike em uma trilha com montanhas, que havíamos
planejado desde a semana passada. Decidi então ligar só
para reconfirmar.
— E ai cara, tudo certo para sábado? — disse assim
que ele atendeu.
— M ano tudo arranjado. Sábado bem cedo estarei
passando aí — Benício falava em um tom muito baixo
que eu mal ouvi direito.
— O que você disse cara?
— Espera um momento. — escutei sussurros do
outro lado da linha.
— Leo, desculpa mano, mas minha morena estava
cochilando nos meus braços. Sobre o passeio de bike, às
seis horas estarei na sua porta — desde que a M aitê
entrou na onda da Isabela de ser mais ousada e sexy o
Benício estava de quatro pela mulher, nem sequer olhava
para outras que davam em cima dele. Eu estava feliz
pelo casal e também pelo meu amigo. M aitê era uma
mulher incrível, inteligente e de uma beleza exótica —
Cara vamos deixar para nos falarmos amanhã. O corpo
quentinho e cheiroso da minha morena me espera.
— Porra cara! Eu não precisava ficar com essa
imagem de você e da M aitê na cabeça para dormir —
brinquei com Benício porque eu sabia o quanto a sua
morena o dominava, desde então.
— Leo, enquanto eu viver quero dormir enroscado
todas as noites com a M aitê.
Ao desligar o celular senti uma estranha sensação de
vazio e solidão. Na mesma hora Isabela surgiu em meus
pensamentos e sem pensar duas vezes disquei o seu
número. Chamou até cair na caixa postal. Tentei mais
duas vezes e nada. Acho que ela ainda estava magoada.
Sem conseguir falar com ela, enviei uma mensagem.
Preciso falar com você. Estou com seu álbum de fotos.
Por favor, me liga assim que ver esse recado.
Leo.
Adormeci esperando por sua resposta, mas nem
sinal. O fim de semana passou tão rápido que quando vi
já era segunda-feira. A Isabela não havia retornado as
minhas ligações e muito menos respondido a minha
mensagem durante todo fim de semana. Cheguei cedo a
clínica, muito antes do horário do meu primeiro
paciente.
— Bom dia Lilian! A Isabela já chegou?
— Bom dia, Leonardo. Olha eu acho melhor você dar
um tempo para ela — dava para perceber que a Lilian
ainda estava furiosa comigo.
— Agradeço sua amizade e apoio, mas isso só cabe a
mim e a Isabela, Lilian — cerrei meus punhos, tentando
me controlar, tinha que estar tranquilo quando a
encontrasse.
— Tudo bem Leo. Depois não diga que eu não avisei.
— Ok. Por favor, me avise assim que o meu paciente
chegar.
Segui em direção à sala da Isabela. De hoje não
passaria nossa conversa. Bati na porta do seu
consultório e não ouvi nada. Insisti em bater, mas, nada.
Abri a porta, porém o consultório estava vazio. Fechei a
porta e retornei pelo corredor sentido à lanchonete da
clínica. Talvez ela estivesse comendo alguma coisa, mas
também não se encontrava lá. Circulei por quase todos
os lugares que a Isabela poderia estar, mas nada. Talvez
ela ainda não tivesse chegado, então lembrei que a Lilian
não tinha respondido a minha pergunta.
Voltando pelo o corredor a caminho da minha sala,
peguei meu celular e quando já ia ligar para Isabela a
avistei saindo do banheiro feminino e fiquei parado a
olhando. Estava linda vestida com uma calça jeans
escura justa, blusa branca, sandálias vermelhas altas e o
seu cabelo numa trança caindo por seu ombro direito.
Perfeita.
— Isabela — seu nome saiu trêmulo da minha boca.
Não compreendi o porquê do nervosismo se abater.
Devia ser pelo fato de estar controlando meus impulsos.
Ela virou olhando-me e na mesma hora percebi que tinha
algo de errado. Isabela estava pálida com o semblante
decaído. Aproximei o mais rápido dela e peguei sua mão
que estava gélida. Sua pressão com certeza estava baixa.
— Isa, o que você tem? Está passando mal? Vou levá-la
a sua sala e aferir sua pressão — falava rápido e um
pouco nervoso. Não queria nem pensar o que ela estava
sentindo, sentia meu coração apertado. Tinha que me
manter calmo e usar todo o meu controle profissional.
Não estávamos mais juntos, mas ela era minha
responsabilidade e era meu dever protegê-la.
— Estou bem, Leonardo. Estou apenas com cólicas
— falava friamente enquanto puxava sua mão do meu
toque.
— Tem certeza? Você parece estar com muita dor.
— Não se preocupe, estou bem. Tenho um paciente
agora, com licença – ultrapassei a sua frente impedindo
que seguisse.
— Por que não retornou as minhas ligações ou
respondeu minha mensagem? — avaliava cada expressão
de seu rosto e estranhei a frieza do seu olhar. Não era
mais mágoa ali. Tentei pensar que estava assim devido à
cólica que estava sentindo. M esmo estando separados,
Isabela nunca agia friamente comigo. E isso não era um
bom sinal.
— Estive ocupada esse fim de semana — continuava
fria nas respostas.
— Você não estava em casa quando te liguei? —
monitorava cada palavra saída da minha boca, mesmo
que por dentro eu tinha certeza que ela tinha estado com
o seu paciente. Juan.
— Eu... — parou e apertou o seu ventre fechando os
olhos como se a dor aumentasse e a consumisse, ao
mesmo tempo me impedia que a ajudasse.
— Isabela, eu sei que você está magoada comigo.
Disse coisas horríveis no escritório que a machucaram.
Quero muito conversar com você sobre tanta coisa, mas
primeiro, por favor, deixe-me examiná-la?
— Toda mulher tem cólicas, isso faz parte das
nossas vidas, tomei um medicamento e logo fará efeito.
Obrigada pela preocupação — ela olhava em meus olhos
séria e totalmente sem expressão. — E... Aquilo no
escritório foi apenas sexo. Eu estava com tesão e você
também e acabamos fodendo na mesa do escritório do
meu pai. Foi gostoso e intenso e fim. Acabou. Cada um
para seu canto.
Olhava para ela surpreso com suas palavras. Não
podia acreditar no que escutava. Senti todo meu
autocontrole esvaecer. Puxei-a com força apertando-a em
meus braços e forçando a levantar ainda mais seu rosto
para olhar-me.
— Eu não acredito no que diz. Nunca será uma porra
de foda conosco. E você sabe disso. Sabe que é muito
mais — explodi.
— Não me importa se você acredita ou não, é a
verdade — ela esbravejava. Não reconhecia aquela
mulher na minha frente. M esmo não se sentido bem,
agia indiferente. — Agora, me largue Leonardo. Tenho o
que fazer. E a última coisa que quero é um escândalo
aqui na clínica.
— Não! Você é minha mulher e precisamos
conversar. Vamos até a sua sala então.
— Ex... Sou sua ex-mulher! E não tenho nada... Nada
para falar com você — pronunciava cada palavra com
um tom arrogante. Fechei os olhos e respirei fundo,
tinha que me controlar. Fui soltando ela aos poucos dos
meus braços, porém impedindo que fugisse.
— Isa... Desculpe-me! Eu...
— Ai está você, Leo, estava lhe procurando por toda
a clínica — Isabela e eu viramos ao mesmo tempo para o
lado do corredor que a voz soava. Uma Gabriela
decidida se aproximava.
— Gabi, o que faz aqui? — perguntei surpreso, ela
nunca tinha aparecido na clínica e muito menos sem
avisar. E a Isabela já tinha um pé atrás com a Gabi. Na
verdade ela nunca falou abertamente, mas sabia que se
sentia insegura pelo fato da Gabi e eu termos sido
noivos antes de nos conhecer.
— Preciso urgente falar com você querido. — em
seguida virou seu olhar para Isabela examinando-a de
cima a baixo. — Como está Isabela? — Gabriela
revistava nossos rostos buscando algum indício do que
estava acontecendo. — Estou atrapalhado algo?
— Estou muito bem e você? Chegou em uma boa
hora, mas infelizmente tenho trabalho a fazer. Foi um
prazer revê-la, Gabriela. Com licença — Isabela saiu
sem nem ao menos deixar a Gabi responder, andando
rápido virando o corredor em direção a sua sala.
— Que merda, Gabi! O que faz aqui? — explodi
ainda olhando Isabela se distanciar.
— Desculpa Leo, não viria à clínica se não fosse
importante — deveria ser mesmo algum assunto de
urgência. Não fazia o estilo dela correr atrás de um
homem. M esmo que esse homem fosse seu ex-noivo, o
qual ela abandonou.
— Poderia ter ligado antes.
— Sim, eu sei, é que...
De repente ouvi uma agitação entre os corredores.
Deixei Gabriela falando sozinha e percorri o caminho de
onde vinha o barulho. Ao virar o corredor meu coração
gelou. Isabela estava desacordada, indefesa e desmaiada
nos braços do Igor, enquanto Lilian e uma enfermeira o
ajudavam a colocá-la numa maca.
M eu Deus o que aconteceu?!
Capítulo 08 – Era da preocupação
Isabela
— Graças a Deus! Ela está acordando. Isabela... Isa
você está bem? — despertei desorientada sem saber
onde estava. M ãos tocavam meu rosto e seguravam
meus pulsos. Escutei a voz de Leonardo, parecia
ansioso e preocupado.
— Por favor, Isa, diga alguma coisa? — estava
deitada em uma cama hospitalar, em uma das salas de
observação da clínica. Comecei a lembrar-me do que
tinha ocorrido. Estava com fortes cólicas abdominais.
Passei todo o fim de semana com dores, mas essa manhã
a dor só piorou e o meu medo também.
— Isa, minha querida, fale alguma coisa. Você está
sentindo algo? — procurei Lilian pelo som da sua voz e
a encontrei no final da cama ao lado de Igor.
— Eu... Eu acho que estou bem. O que aconteceu?
Eu só lembro que... — parei de falar e olhei para o
Leonardo ao meu lado. E minha memória iluminou com
os últimos acontecimentos. Estávamos conversando ou
tentando conversar no corredor quando a Gabriela
apareceu. Lembro que esqueci na hora a dor que estava
sentindo, não queria demonstrar fragilidade na frente
dela. O que será que ela tinha vindo fazer na clínica?
Será que ela ainda estava aqui?
— Você desmaiou e o Igor a socorreu — Leonardo
parecia preocupado e acho que assustado.
— Obrigada Igor, por me ajudar — olhei para Igor
sem dar atenção ao Leonardo. Ainda estava magoada
com tudo que vinha acontecendo nos últimos dias.
— Não tem o que agradecer, Isabela. É minha
obrigação, mas preciso te examinar para saber o que
aconteceu — o Igor falava, e ali eu percebia que ele
estava em seu modo profissional – Aferi sua pressão e
estava baixa. E também...
— Você se alimentou, Isabela? Quero dizer, está
sentindo algum enjoo? — Leonardo perguntava sem
deixar o Igor terminar de falar. E eu tentava entender o
porquê de todo aquela preocupação.
— Dr. Leonardo entendo que está preocupado, mas a
Isabela é minha paciente e gostaria de saber o que
ocorreu.
— Leo deixe o Igor examiná-la, por favor — Lilian
pedia gentilmente
— Sua paciente? Desde quando minha esposa é sua
paciente? — segurei sua mão, apertando-a para tentar
silenciá-lo e acabou que surtiu efeito de imediato.
Apesar da cara fechada.
— Como estava dizendo. Sua pressão está baixa
Isabela e preciso fazer umas perguntas antes de
examiná-la — Igor voltou a falar e eu assenti. — Isabela
o que você estava sentido antes do desmaio? E não
omita nada — alertou-me.
— Está bem Igor, não omitirei nada — sabia que ele
estava preocupado com a minha situação pelos últimos
exames que tinha feito há pouco mais de dois meses. —
Desde sexta-feira sinto cólicas e hoje a dor ficou
insuportável — Leonardo tentou abrir a boca, mas o
intervir apenas com um olhar.
— E você parou os analgésicos e anticoncepcionais
como havia me falado que faria? M esmo contra ordens
médicas? — Igor continuava com suas perguntas me
deixando um pouco nervosa.
— Apenas os anticoncepcionais — pronunciei
baixinho porque sabia que ele não aprovava minha
atitude.
— Que droga! Do que vocês estão falando? E desde
quando o Igor é seu médico? E por que não me falou que
parou de tomar pílula? Você quer ter um bebê, Isabela, é
isso? Você poderia ter falado comigo antes de parar o
contraceptivo — Leonardo levantou irritado da cadeira
que estava ao meu lado, soltando minha mão e andando
nervoso por todo o quarto — M erda, merda, merda.
Você está grávida?
— M as uma vez, Leonardo. Peço que se acalme ou
terei que pedir que se retire. Preciso examiná-la — Igor
se mantinha firme e autoritário com suas palavras. — E
sinceramente acho que você está atrapalhando e
deixando a Isa mais nervosa.
— Eu não saio daqui enquanto não souber o que ela
tem. O que, pelo visto, acho que você sabe muito bem o
que é... Dr. Igor — Leo gritava na sala, mas Igor não
parecia se amedrontar com aquelas palavras.
Eu sabia onde aquilo tudo ia chegar e eu não deixaria
ele me humilhar outra vez, principalmente, na frente dos
meus amigos. Raiva atravessou o meu corpo e esqueci
toda postura e educação que meus pais haviam me
ensinado.
— FODA-SE LEONARDO! Eu não aguento mais
esse seu drama sem motivo algum. Você fez sua escolha
e agora sou seu passado. Então cale a merda da sua boca
ou vá embora — seis pares de olhos me olhavam
surpresos. A doce e gentil Isabela gritando alterada e
ofegante era algo inédito até para mim mesma.
Ainda surpreso com minhas palavras Leonardo se
movimentou pelo quarto, encostando-se a parede em
silêncio, fazendo gesto para o Igor continuar com as
perguntas. Desse momento em diante o seu olhar se
tornou frio e profundo, uma incógnita para mim.
— Leonardo a Isabela se tornou minha paciente há
pouco tempo. Depois que a Dra. Leda se aposentou ela
remanejou algumas das suas pacientes para mim e dentre
elas a Isabela aceitou que eu me tornasse seu
ginecologista — o Igor explicava enquanto Leo
permanecia calado apenas ouvindo e não demonstrava
nenhuma reação.
Eu sabia que explicava a ele para tentar amenizar a
situação.
— Em um dos exames ginecológicos do histórico da
Isabela, constatei que ela tem endometriose e a própria
Dra. Leda já tinha prescrito um tratamento com pílulas
contraceptivas e analgésicas. M as terei que solicitar
novos exames, dado as fortes dores que ela vem
sentindo no decorrer desse fim de semana e que se
agravaram hoje, já que a própria não estava fazendo uso
dos medicamentos necessários.
Senti todo meu corpo se arrepiar depois que o Igor
terminou. Leo sem dizer uma palavra ao Igor virou-se
para mim.
— Por que escondeu isso de mim, Isabela? — seu
olhar era frio.
— Eu não escondi. Descobri dias antes de você sair
de casa — sem falar nada ele voltou seu olhar para o
Igor.
— O que você pretende fazer? Que tipo de
tratamento ela fará? — eles conversavam como se eu
não estivesse presente e por mais que odiasse essa
situação, não quis insistir com a minha presença.
M inha cabeça rodava e ainda sentia dores
abdominais. Recostei minha cabeça no travesseiro e
fechei os olhos, apenas escutando os dois falarem. Senti
mãos delicadas tocarem meu rosto e sabia que era Lilian
me dando apoio e carinho como sempre.
No decorrer da conversa entre os dois, falaram dos
exames que eu precisaria fazer, como: laparoscopia e
ultrassonografia pélvica para diagnosticar o tipo de
endometriose e se a doença havia evoluído. Desde a
adolescência sempre sofri de cólicas fortes no período
da menstruação. Quando me casei com o Leonardo,
passei a tomar pílulas anticoncepcionais, o que aliviou
bastante essas dores. Tinha o desejo de ser mãe então,
recentemente, procurei a Dra. Leda para saber se meu
corpo estava preparado para um bebê e ela falou da sua
aposentadoria e indicou Igor. No início, fiquei receosa
em aceitar por causa do Leo e também pela minha
timidez, mas ele foi completamente competente e fiquei
muito relaxada, que acabei esquecendo meus traumas. O
meu casamento acabou, mas o meu desejo de ser mãe
não. E quero muito ter filhos. Dependendo do tipo de
endometriose haveria a possibilidade de ficar infértil e
esse era o meu desespero.
—Isabela, como se sente nesse momento? Têm
cólicas? — Igor resolveu me dar atenção.
— Sinto minha cabeça rodar e ainda tenho cólicas.
M as logo passará, preciso ir, tenho pacientes para
atender — tentei levantar-me, mas fui barrada por
Lilian.
— Não querida, já solicitei a Ana que remarcasse
suas consultas de hoje. Você agora irá descansar.
Por mais que não gostasse de remarcar minhas
consultas, tudo o que queria, agora, era ir embora para
casa e deitar na cama e dormir para esquecer todo esse
dia. Esquecer da discussão com o Leonardo no corredor,
esquecer da Gabriela na clínica e esquecer que teria que
tomar coragem e enfrentar o meu problema.
— Isabela você irá ficar de repouso durante o dia na
clínica. Tente descansar. Amanhã cedo coletarei sangue
para um hemograma completo e em seguida marcaremos
os exames. Não tenha medo, sei que está assustada —
adorava o Igor folgado e galanteador, mas ele se tornava
ainda mais atraente em seu modo médico.
Igor veio até mim, deu-me um beijo na testa e falou
que voltava depois. Não olhei para Leonardo para ver
sua reação por esse gesto e também não me importava.
Igor sempre se insinuou para mim, porém ele também
me respeitava e sabia que o tinha como um amigo.
Pouco tempo depois Lilian teve que voltar para
recepção. E disse que providenciaria algo para me
alimentar, deixando-me então sozinha com o Leo.
Leonardo permanecia encostado na parede e em
silêncio, seu olhar era perdido.
— Você não precisa ficar, Leo. Tem seus pacientes
— tomei a iniciativa. Ele não precisava ficar aqui
comigo, estava bem e só precisaria de repouso por hoje.
— Pedi a Lilian que remarcasse meus pacientes —
respondeu sem olhar para mim. Por mais que Leo
merecesse minha indiferença eu não conseguia tratá-lo
assim. Não agora. Não nesse momento.
— Leo... Olha, eu...
— Isabela não fale nada, já entendi. Eu escolhi deixar
você e, como você mesma falou, agora é o meu passado.
Eu até estou tentando fazer minha cabeça compreender
que você omitiu sobre o seu caso e que o Igor tinha
passado a ser seu médico quando ainda éramos casados.
Sei do seu desejo de ser mãe, porque era algo que você
falava sempre. Só não entendo como pretendia ficar
grávida se você me repudiava só em chegar perto de
você na cama? — suas palavras eram indiferentes e
aquilo me atingiu.
Eu queria ser forte na frente dele, tinha me
transformado por mim e também por ele. E eu odiava
saber que o amava e que cada palavra dita era verdadeira.
Aquilo me derrubava e eu não sabia o que responder.
O resto da manhã transcorreu num silêncio total no
quarto. Não tentei argumentar nada e muito menos ele.
Leonardo estava visivelmente magoado. Ficou todo
tempo sentado perdido em seus pensamentos ou
mexendo no seu smartphone.
Uma enfermeira apareceu trazendo um lanche que
Lilian tinha enviado, ofereci para Leonardo, mas ele
recusou. E para completar todo o pacote do dia, o meu
desmaio foi anunciado aos quatro ventos. E não
demorou muito para chegar às primeiras mensagens,
ligações e flores. Flores de Juan desejando melhoras e
avisando que passaria no final da tarde para me visitar, o
que fez o Leo resmungar algo que não entendi. M eus
pais ligaram preocupados e me fizeram prometer que
iria dormir na casa deles hoje, só assim para conseguir
tranquilizá-los. Larissa, M aitê e tia Luíza também
ligaram e conversei um pouco com cada uma.
Estava entediada de tudo. A hora não passava e a
presença de Leonardo estava começando a me
incomodar. O Igor tinha passado um analgésico para dor
e desconforto abdominal. Ainda sentia dores, mas já não
incomodava tanto.
Acho que cochilei, porque despertei com o barulho
leve de uma batida na porta. Leonardo abriu e para
minha surpresa era Fernando parado em frente à porta
segurando um ramalhete de flores. Assim que me viu
deu um sorriso sexy, enrubesci e Leo percebeu.
— Soube que a minha aluna favorita passou mal hoje
e quis fazer-lhe uma visita. Posso entrar? — Fernando
exalava sedução. Olhei para Leonardo que apenas o
encarava sem dizer nada.
— Olá, Fernando. Entre, por favor. Como você ficou
sabendo?
— Pela Larissa. Ela estava na academia hoje pela
manhã e comentou comigo. Fiz mal em vir aqui te
visitar?
— Não! Claro que não! Sente-se, por favor. Esse é
Leonardo meu...
— Sou marido da Isabela. E você é? — o Leonardo
mandão e possessivo estava de volta. E no fundo eu
gostava dessa reação que provocava nele.
— Sou Fernando, professor de dança e amigo da
Isabela. — o aroma no quarto era pura testosterona com
esses dois homens sexys e viris se encarando.
Fernando não se intimidou com a presença do Leo
dizendo ser meu marido. Sabia que nas aulas ele era pura
sedução comigo, mas estava realmente surpresa com sua
presença aqui. Sua visita não durou muito. Conversamos
um pouco, falei que não apareceria hoje na academia e
ele disse que a aula não seria a mesma coisa. Entregoume rosas amarelas lindas e jogou todo seu charme para
mim.
Leonardo ficou o tempo todo próximo, como se
estivesse marcando o terreno e, apesar de todo
desconforto que causava, eu estava amando mexer com
ele, tanto que até esqueci-me do real motivo de estar sob
observação na clínica.
— Não me diga que seu paciente espanhol e
candidato a namorado também lhe fará uma visita? Já
não bastam as flores que ele lhe enviou com um cartão
meloso e a visita do Baryshnikov brasileiro. O que mais
tenho que aturar hoje? — fui pega de surpresa com as
interrogações de Leonardo enquanto atualizava as
minhas mensagens.
— O que disse?
— Perguntei se o Juan virá te visitar.
— Talvez sim, ele não deixou claro. Se você se
incomoda tanto com meus amigos, Leonardo, não
precisa ficar aqui. Aliás, eu ainda não entendo o que faz
aqui até agora. Estou melhor e não há necessidade de
fazer plantão comigo. Acredito que têm pessoas
querendo falar com você assuntos importantes.
Parei de imediato, não poderia demonstrar que estava
com ciúmes e raivosa por Gabriela ter aparecido aqui.
— Você pode não compreender, mas me preocupo
com você e muito. M uitos desses seus amigos querem
se aproveitar de você. E se você fala da Gabriela. Não
sei o que ela queria, depois que você desmaiou, ela foi
embora.
Novamente a porta voltou a bater e ao abrir vejo um
furacão lindo e sorridente entrar, vindo direto me
abraçar.
— Ei, cunhadinha! Que susto você me deu, hein?
Como você está? E esse médico delicioso que é meu
irmão está cuidando direito de você? — Júlia era uma
figura. Trazia energia onde passava.
— Estou bem, foi apenas um susto. Desculpa te
assustar no seu estado. Pelo visto a Lilian saiu avisando
do vexame pela manhã a todo mundo.
— Deixa de ser boba, Isa. Pelo que sei não foi um
vexame. Você desmaiou porque não estava bem. E não
foi a Lilian que me avisou, foi o gato ao seu lado — olhei
para Leonardo e ele estava todo sorridente para irmã.
Admirava o amor que eles sentiam um pelo outro.
Sempre quis ter um irmão ou irmã, mas minha mãe, por
mais amorosa que fosse comigo, não quis mais filhos.
— Leo já contou a novidade?
— Que você terá um bebê? Você me contou que serei
titia — brinquei com ela porque sabia que o mínimo já a
irritava.
— Não sua bobinha, isso você já sabe. Falo do meu
casamento. Luigi e eu vamos nos casar — Júlia exalava
felicidade ao falar.
— Que maravilha Ju! — vibrei com sua felicidade.
— E se tudo der certo, amanhã, na igreja,
marcaremos para daqui a três semanas.
— Jura? Tão rápido? Você até um tempo desses não
queria casar e agora está aí, praticamente, pronta para
entrar na igreja.
— Digamos que a Julinha teve uma forcinha dos
nossos pais — pela primeira vez no dia vi o Leo
relaxado. Deus! Como ele era lindo assim. Sentia-me
enfeitiçada. A conversa ficou agradável e rimos bastante.
Júlia tinha o poder de contagiar as pessoas.
— Isa, eu queria te convidar para ser minha madrinha
de casamento e não aceito um não como resposta.
— Isso é um convite ou uma ordem?
— É um convite, mas pela sua reação será uma
ordem — Júlia me conhecia perfeitamente e sabia que eu
não me sentiria bem ao lado do padrinho, que com
certeza seria o Leo. — Júlia, eu não sei... Eu poderia te
ajudar nos preparativos.
— Não Isabela! Eu quero você como minha
madrinha. Você é minha amiga, então, por favor, esquece,
por mim, os seus problemas com o meu irmão só por
uma hora.
— Júlia, se Isabela não se sente bem, é melhor não
forçar.
— Não Leonardo, tudo bem. Será um grande prazer,
Julinha, ser sua madrinha — e eu não estava mentindo,
amo a Júlia como minha irmã. E se ela queria que o Leo e
eu fossemos seus padrinhos, teria que deixar nossos
problemas de lado por ela. Júlia ficou mais alguns
minutos e conversamos sobre os preparativos para o
casamento.
Pela primeira vez no dia Leo saiu do quarto para
acompanhar sua irmã até o estacionamento. Ouvi meu
celular tocar em cima da mesinha ao lado da cama. Era o
Juan ligando.
— Alô!
— Oi linda, se sente melhor?
— Sim, estou bem.
— Isabela, estou ligando para avisar que não poderei
passar na clínica agora a tarde e como você me avisou
que estaria em seu apartamento à noite, gostaria de saber
se poderia passar por lá para te ver. — tínhamos
trocado mensagens durante toda a manhã, desde que ele
tinha me enviado flores desejando melhoras. O Juan era
um cavalheiro, sempre gentil e educado. Nos
encontramos duas vezes esse final de semana e eu tinha
adorado.
Na sexta-feira fomos a um restaurante japonês e
conversamos sobre nosso dia a dia. A conversa estava
tão boa que acabei esquecendo, por algumas horas, que
tinha chorado praticamente a tarde toda pela forma
como o Leo me tratou no escritório depois que
transamos. No sábado saímos novamente e ele me levou
para dançar e, é claro, eu amei. A noite tinha sido muito
quente. Houve muitos beijos e amasso. O Juan deixou
um pouco de lado seu cavalheirismo e me levou ao
delírio de tão excitada que fiquei.
— Desculpa Juan, mudança de planos. Irei dormir na
casa dos meus pais. M as poderíamos almoçar amanhã.
O que acha?
—Já estou ansioso para amanhã — conversamos um
pouco mais e fiquei de ligar pra ele depois que
terminasse os meus exames, que faria pela manhã
seguinte, para combinarmos onde almoçaríamos.
Deitei-me e fechei os olhos para dormir um pouco.
Estava sonhando com um bebê num jardim, um menino
lindo. Coloquei-o no colo e fiquei brincando com ele,
escutando suas risadas. De repente uma sombra
apareceu e o tomou de mim. Tentei conversar e
perguntei se o bebê era seu, mas a sombra não deu
ouvidos, afastou-se levando o menino para longe de
mim. Acordei assustada e estava escuro. Senti mãos
fortes alisando meu rosto e quando virei vi Leo me
admirando tão próximo, nossos rostos quase colocados.
M inha vontade era puxá-lo pela nuca e encostar seus
lábios nos meus. M as segurei esse desejo e apenas o
olhei de volta.
— Tem noção do quanto você é linda? — seu olhar
era de desejo.
— Leo... Eu...
— Não fala nada, M inha Paixão. Deixa-me
aproveitar esse momento. Não canso de te olhar — ele
passava os dedos pelos meus lábios impedindo que eu
dissesse algo. — Você não sabe o medo que senti ao te
encontrar desmaiada nos braços do Igor. Achei que tinha
perdido o mundo — o meu coração acelerou com cada
palavra pronunciada por ele. — M inha Paixão... Eu
quero...
— Soube que minha princesinha reinou neste quarto
hoje — meu pai, Dr. Estevão, entrava no quarto junto
com minha mãe ao seu lado. Se eles bateram na porta,
Leo e eu não escutamos.
Capítulo 09 – Descobertas e confusões
Leonardo
— Oi papai. Oi mamãe — Isabela cumprimentou
seus pais assim que eles adentraram ao quarto.
Quando voltei do estacionamento, onde tinha ido
levar minha irmã, Isabela estava dormindo
tranquilamente, mais linda do que nunca. Não resisti e
me aproximei o máximo e fiquei admirando-a. Por pouco
a tinha beijado. Na minha cabeça passaram-se tantas
coisas, mas a única certeza era que eu a queria na minha
vida. Para ser minha.
— Como vai, Dr. Estevão? — cumprimentei meu
sogro ainda sem graça pela interrupção, enquanto a mãe
de Isabela ia para o outro lado da cama falar com a filha.
— Aliviado após o susto da minha princesa. Você
sabe o quanto ela é importante para mim Leonardo —
sim eu sabia. Dr. Estevão deixou bem claro o quanto a
Isabela era seu bem mais precioso. O que ele não sabia
era que ela também era o meu maior tesouro. Pelo menos
era isso que estava descobrindo. Eu estava apaixonado
por minha mulher.
Aguardamos o Dr. Igor para liberar a Isabela e acertar
os exames necessários que ela deveria fazer. Depois
meus sogros, Isabela e eu seguimos em direção ao
estacionamento. Queria ficar mais tempo com ela e
tentei prolongar ao máximo.
— Dr. Estevão. Dona Lorena. Importam-se que eu
leve a Isabela até a casa de vocês?
— Não precisa Leo, meu carro está logo ali —
Isabela interferiu.
— Claro que não Leonardo! E você mocinha, não
sairá daqui com seu carro. Ou vai comigo e sua mãe ou
irá com Leonardo. Amanhã cedo trago você de volta —
Dr. Estevão falou um pouco autoritário, porém, mais
alcoviteiro. M esmo estando separado da sua filha, era
visível que ele não concordava com a nossa situação.
A princípio achei que Isabela iria bater o pé e não
aceitar as ordens do pai. Ela meio que sabia conseguir o
queria com ele, mas, graças a Deus concordou sem
pestanejar em vir comigo. Despedi-me do Dr. Estevão e
dona Lorena e caminhamos em direção ao meu carro,
abri a porta do passageiro e ajudei a acomodá-la.
Durante o percurso até a casa dos seus pais Isabela
estava silenciosa e olhava distraída pela janela. A
vontade que tinha era de agarrá-la e dizer o quanto a
queria de volta, mas teria que agir com cautela e mostrar
que eu poderia sim fazê-la feliz. No dia da nossa
separação falei palavras das quais me arrependo. Então
teria que ser o mais gentil possível e provar que meus
sentimentos eram verdadeiros.
— Amanhã não poderei te acompanhar nos exames.
Tenho uma cirurgia marcada para logo cedo e não sei
quanto tempo irá levar — comecei a conversar com ela.
— Não tem problema, Leo. Os exames serão
realizados na clínica mesmo — ela falava ainda olhando
pela janela e aquilo me incomodou.
— Está tudo bem, Isa? Você parece distraída.
— O que você quer Leonardo? — disparou enquanto
estávamos parados no sinal vermelho e dessa vez ela me
encarou. — O que você iria me dizer na clínica, antes
dos meus pais nos interromperem?
— Isa eu... Eu quero muito ter essa conversa, mas
agora não é o momento e nem o lugar — ela apenas me
encarava séria... E linda. — Faremos o seguinte, amanhã
provavelmente terei que passar o dia no hospital, mas a
noite eu irei ao seu apartamento para conversamos —
amanhã daria o primeiro passo para reconquistá-la.
— E seria sobre nós dois? Essa conversa? —
perguntou curiosa.
— Sim. Será sobre nós dois — apenas confirmei.
Continuamos o restante do trajeto cada um perdido
em seus pensamentos. Sentia-me nervoso perto dela.
Com medo de fazer algo que a magoasse.
Desde o momento que a vi desacordada nos braços
do Igor meu mundo girou. Nunca senti tanto medo na
minha vida. Tive que passar por todo esse susto para
abrir meus olhos e saber que toda a proteção que achava
que tinha por ela era na verdade amor. Era um
sentimento avassalador. Sentimento de posse.
Tudo na Isabela era perfeito para mim. Seu cheiro,
seu olhar, seu sorriso. Ah! O seu sorriso. Era algo que
me enfeitiçava. Um sorriso genuíno. Isabela não tinha
noção do quanto ela era linda. Não culpava os outros
homens pelo efeito que ela causava neles, mas ela era
minha. Só minha.
Parei em frente à casa dos seus pais e desci do carro
para abrir a porta para ela. Ao perceber sua timidez
lembrei-me do tempo que namorávamos. Adorava vê-la
vermelha de vergonha. Acompanhei-a até a porta da
casa. Seus pais moravam em um condomínio fechado.
— Gostaria de entrar? — perguntou educadamente.
— Não. Tenho que dormir cedo — percebi que a
Isabela ficou triste pela resposta.
— Entendo — respondeu. Levantei seu queixo para
que pudesse olhar para mim. E toquei seus lábios com
os meus castamente.
— Te vejo amanhã, M inha Paixão — falei ainda
sentindo o toque suave dos seus lábios.
Esperei Isabela entrar e segui caminho para meu
apartamento. Hoje o dia realmente tinha sido cheio de
revelações. O que era para ser um pedido de desculpa
por agir feito um idiota com Isabela na semana passada,
no escritório, acabou dando uma volta de trezentos e
sessenta graus. Esqueci-me de tudo hoje, só enxergava
Isabela e a queria por perto. Nunca tinha sentido isso
por mulher nenhuma.
Namorei a Gabriela durante a faculdade, era intensa e
prazerosa nossa relação, mas não chegava aos pés do
que eu sinto por Isa. A Gabi tinha aparecido hoje na
clínica sem avisar, o que achei estranho. Ela nunca
aparecia em meus locais de trabalho sem me avisar. Com
toda confusão acabou que não conversei com ela. Gabi
apenas avisou a Lilian que entraria em contato comigo e
pouco tempo depois passou uma mensagem querendo
saber se a Isa tinha melhorado e falando que realmente
precisava conversar, porém estava de viagem para a
Alemanha onde iria fazer uma especialização e quando
voltasse me procuraria. Apenas respondi que a Isa
estava bem e que aguardaria seu retorno.
Cheguei em casa tomei um banho e capotei na cama,
porém, antes, busquei no meu celular, imagens da
Isabela. Escolhi uma foto e coloquei como papel de
parede. Estava sentindo-me um bobo. M as para Isabela
eu seria tudo que ela quisesse.
*****
Cheguei cedo ao Hospital para verificar se tudo
estava em ordem e preparado para a cirurgia. Não
gostava de fazer nada de última hora. Passei primeiro
pela sala de consultas para dar mais uma olhada nos
exames do paciente que iria operar hoje. Seria uma
cirurgia para revascularização miocárdica e, se tudo
corresse perfeitamente, daria tempo de chegar à clínica
de surpresa e almoçar com a Isabela.
Ao entrar na sala de consultas encontrei Clarissa. Ela
trabalhava como enfermeira tanto no Hospital como na
clínica. E também era uma das enfermeiras que o Dr. Igor
pegava nas horas vagas. Como ele mesmo titulava suas
saídas.
—Bom dia, Dr. Leonardo. O Dr. Augusto me
instruiu a participar da cirurgia que o senhor irá
conduzir. Vim buscar os exames do paciente para ele —
Dr. Augusto tem em média cinquenta e dois anos e é
anestesista e sempre está presente nas cirurgias que
comando. Confio demais em seu profissionalismo.
Estamos nessa parceria desde que voltei do exterior.
— Bom dia, Clarissa. Vim justamente buscar os
exames para reavaliá-los.
— Então aviso ao Dr. Augusto que está com o
senhor?
— Pode levar para ele. Já sei tudo que contém nesses
exames — respondi.
— Tudo bem — ela seguiu em direção a porta, parou
e virou novamente. — Dr. Leonardo. Depois da cirurgia,
você bem que poderia me convidar para almoçar. —
olhei surpreso com a sua atitude, mas disfarcei. Clarissa
era uma mulher sexy e voluptuosa, tinha cabelos
avermelhados e olhos claros. Com certeza levava um
homem à loucura na cama.
— Não sei se você lembra, mas eu sou um homem
casado — falei rispidamente.
— Achei que você e a Dra. Isabela estavam
separados — respondeu atrevida.
— Não estamos — finalizei.
— Que pena! M as se mudar de ideia sabe onde me
encontrar — a descarada ainda piscou para mim
enquanto falava.
A cirurgia transcorreu melhor do que esperava e o
paciente estava reagindo bem à recuperação. Liguei para
Isabela para saber como tinha sido os exames, mas caiu
na caixa de mensagem. Liguei para a clínica e Lilian
informou-me que ela estava com um paciente na ala de
fisioterapia e que tinha deixado seu celular carregando na
recepção. Fiquei mais um tempo no hospital resolvendo
algumas burocracias e depois segui para clínica por volta
do meio dia.
Cheguei à clínica e encontrei Pâmela na recepção.
Provavelmente a Lilian estaria na sua hora de almoço.
— Boa tarde, Pâmela. Lilian saiu para almoçar? —
perguntei.
— Boa tarde Dr. Leonardo. Sim, Lilian está na sua
hora de almoço.
— A minha esposa está com algum paciente, nesse
momento? —perguntei já indo em direção ao seu
consultório.
— Não, Dr. Leonardo. A Dra. Isabela saiu há poucos
minutos para almoçar — parei no meio do caminho e
retornei à recepção. — Ela informou aonde iria almoçar?
— perguntei decepcionado. Queria ter ido com ela.
— Não disse. Apenas falou que iria comer por aqui
por perto e que não iria demorar. Ela tem uma consulta
marcada para logo mais — continuou Pâmela.
— Obrigado— agradeci e saí em direção ao
estacionamento. Se Isabela não demoraria no almoço
então ela deveria estar em algum restaurante perto da
clínica. Reparei que ela não tinha saído no seu carro,
então seria mais fácil de encontrá-la. Entrei no meu carro
e saí buscando os restaurantes próximos.
Próximo à clínica havia três restaurantes que eu sabia
que a Isabela apreciava a comida. Estacionei perto e
preferi seguir a pé. Parei numa floricultura e comprei
rosas vermelhas para ela. Começaria a demonstrar o meu
amor por ela.
Entrei nos dois primeiros restaurantes e não a
encontrei, já imaginava que ela estaria no terceiro, que
era um bistrô francês. A Isabela adorava a gastronomia
francesa. Segui em direção ao restaurante e fui recebido
pelo maitre que confirmou que Isabela estava lá e guiou-
me a mesa onde ela se encontrava.
Ao chegar próximo à mesa que Isabela estava meu
corpo paralisou e uma fúria incontrolável tomou conta
do mim. Isabela não estava sozinha. Juan, seu paciente,
estava com ela, e o pior, eles pareciam se divertir.
Estavam rindo. Completamente cego de ódio fui em
direção à mesa pisando fundo.
— Que porra é essa, Isabela? — ela se assustou com
o grito que dei chamando a atenção das outras mesas,
mas não me importei, à raiva já havia me dominado.
— Leo? O que faz aqui? — perguntou assustada e
levantando-se da mesa.
— Vim almoçar com minha esposa, mas pelo visto
ela preferiu estar com um dos seus amantes. Depois
desse irá se encontrar com o professorzinho de dança?
— O maitre tentou acalmar-me, mas nada nem ninguém,
naquele momento, conseguiriam me deter.
— Ei cara! Respeita a Isabela — o genérico de
espanhol a protegeu.
— Respeitar? Uma mulherzinha que se finge de
sonsa e me trai pelas costas? Cuidado, hein! Você será o
próximo a ser traído — não escutei o que Juan falou,
senti apenas meu queixo virar. O maldito tinha me
socado. Não pensei duas vezes e avancei em cima dele.
Depois de muito sacrifício os funcionários do bistrô
conseguiram apartar a briga. Olhei para Isabela e ela
apenas chorava assustada.
— Você é um imbecil, Leonardo. Você deveria
primeiro ter me perguntando o porquê de estar
almoçando com o Juan. M as sabe o quê? Não vale a
pena te explicar — ela gritava comigo e chorava. Pediu
desculpas a Juan e saiu em disparada para fora do
restaurante. Olhei para o maitre e pedi que avaliasse o
prejuízo. Entreguei-lhe o meu cartão para me ligar
quando soubesse o valor. Vi Juan observando-me.
— O que foi? Ainda quer mais um round? —
esbravejei. Ele apenas continuou me olhando.
— Você tinha uma pérola em suas mãos e acabou de
perdê-la — falou enquanto passava me encarando.
Saí em direção ao meu carro, adentrei-o e chorei
copiosamente de raiva, medo e dor. Em vinte quatro
horas soube o que era amar e descobri também o que era
sofrer por amor. Fiquei alguns instantes perdido em
pensamentos. Depois de toda cena que eu fiz ainda
sentia-me angustiado. Dessa vez eu não a queria de
volta. Liguei meu carro e saí em disparada para o
hospital. Eu sabia o que poderia me acalmar ao menos
por agora. No caminho disquei para o Igor.
— Alô – ele atendeu prontamente.
— Leonardo falando. Igor, preciso de um favor.
— O que manda cara? – questionou debochado.
— Preciso do número do telefone da Clarissa —
minha consciência gritava dizendo que eu iria fazer mais
uma merda. Todavia a raiva não me deixava enxergar.
Capítulo 10 – Decisão
Isabela
Desde a noite anterior, quando Leo deixou-me na
casa dos meus pais, compreendi que era ele quem eu
queria e amava. Percebi que eu tinha mudado por mim,
mas também por ele. Por nosso casamento.
Passei a noite toda pensado como seria o dia de hoje
e a nossa conversa em breve. Cheguei cedo a clínica para
realizar todos os exames que o Igor tinha solicitado,
depois atendi alguns pacientes e em seguida liguei para o
Juan para combinarmos de almoçar. Desde o início dessa
nossa amizade colorida tinha sido sincera com ele sobre
os meus sentimentos. E o mínimo que Juan merecia era
uma justificativa por me afastar dele.
Para não demorar muito tempo me locomovendo
para outras zonas da cidade, combinei com o Juan de
almoçarmos num restaurante perto da clínica. Ao meio
dia cheguei prontamente ao Bistrô Chez L’Ami M artin e
o Juan já me aguardava lindo e atraente. A mulher que
conquistasse o coração dele poderia dizer que era uma
sortuda.
Fizemos nossos pedidos e ele me perguntou como eu
estava. Comecei explicando todo o ocorrido do dia
anterior, os exames que fiz hoje e o quanto estava
nervosa sobre os resultados. Sentia-me à vontade com o
Juan. Ele me compreendia em tudo e sempre tinha o
comentário certo a fazer. E o mais engraçado, ele me
achava divertida.
Estava comentando sobre um episódio que aconteceu
comigo na época da faculdade, quando em uma palestra
fiquei tão nervosa que passei mal a ponto que ter crises
de risos e não conseguir falar nada. Apenas ria e chorava
ao mesmo tempo, na frente de milhares de alunos e
professores. Foi nesse momento de descontração entre o
Juan e eu que o Leonardo chegou fazendo todo um
escândalo. E por vergonha saí correndo do restaurante
sem prestar atenção a nada, estava tão desesperada. Não
acreditava que o Leonardo tinha me humilhado daquela
forma na frente de várias pessoas. Nem ao menos me
deu a chance de explicar.
Não tinha cabeça, nem condições, de voltar para a
clínica. Peguei um táxi e a única pessoa que me veio à
cabeça, onde eu poderia pedir colo para chorar e me
descabelar por um imbecil como Leonardo e, é claro,
aconselhar-me, seria a minha tia Luíza. Passei o
endereço dela ao taxista e continuei chorando no banco
de trás do táxi. M eu coração estava apertado, mas o
ódio que eu estava sentindo no momento era muito
maior. Leonardo esteve ao meu lado ontem durante todo
o dia e eu vi em seus olhos o quanto eu era importante
para ele, o quanto ele me queria, mas fui tonta e idiota.
Ele apenas estava preocupado por se sentir obrigado a
cuidar de mim.
Estava perdida em meus pensamentos quando o
taxista avisou-me que havíamos chegado. Paguei-o e saí
em disparada para o prédio onde tia Luíza morava.
Rezava para que ela estivesse em casa. Não saberia para
onde ir caso ela não estivesse e não queria ficar sozinha
no meu apartamento. Pelo menos não agora.
O porteiro autorizou minha entrada depois que a
comunicou da minha chegada. Saí em disparada para os
elevadores. Tia Luíza morava no décimo primeiro andar.
Quando o elevador abriu, ela já me esperava na porta do
seu apartamento e, assim que me olhou, abriu seus
braços, onde a agarrei como bálsamo para minha dor. E
chorei ainda mais.
— Leonardo fez o quê? Eu vou matar aquele
desgraçado! — falou enfurecida, após explicar tudo o
que tinha acontecido, inclusive sobre sua atitude
atenciosa comigo ontem e a decisão que eu havia tomado
de lutar de vez por ele e não só mostrar o quanto havia
amadurecido como mulher.
— Foi horrível, ele estava fora de si e não me
escutava. Estava ensandecido — continuei falando do
ocorrido.
— O que você pretende fazer agora? — perguntou
receosa.
— Quero ele fora da minha vida. Quero me divorciar
dele — falei prontamente.
— Isa, você tem certeza disso? Estou com muita
raiva dele por ter feito isso com você, mas pense um
pouco, você está com a cabeça quente. Não tome
decisões assim — Tia Luíza sempre me apoiava, mesmo
não concordando, e eu sabia que ela cederia e me
ajudaria.
— A senhora acha que eu deveria aceitar essa atitude
dele? — perguntei surpresa com o seu comentário.
— Não. Nunca. M as também não quero que você
tome uma atitude precipitada. Divórcio é um momento
difícil na vida de um casal. E eu acho que vocês dois se
amam. Apenas estão meio que perdidos e precisando
conversar — Tia Luíza continuava tentando me
convencer, no entanto eu estava bastante desiludida.
— O que o Leonardo fez hoje não tem perdão.
Quero ficar longe dele o máximo que puder. Infelizmente
terão momentos na clínica em que nos esbarraremos e
com isso eu não posso fazer nada, porém não quero ter
mais nenhuma ligação com ele — concluí.
Tia Luíza preparou um chá para mim e ligou para
Lilian para avisar onde eu estava e mais uma vez
desmarcar as minhas consultas. Ela pediu que eu
tentasse dormir um pouco para quem sabe, com a mente
mais tranquila, tornar a raciocinar melhor. Deitei-me no
seu quarto de hóspede e depois de uma eternidade
rolando na cama consegui dormir.
Acordei e já havia escurecido. Desorientada, liguei o
abajur que ficava na mesinha de cama e procurei meu
celular. Haviam várias chamadas perdidas. Da Lilian,
minha mãe, Juan e da Júlia. Não queria falar com
ninguém, muito menos com a irmã dele. Cansei das
pessoas me dizerem o que fazer. M inha decisão já
estava tomada.
Levantei e fui em direção ao banheiro. Olhei no
espelho e tive pavor ao me ver e saber que não era a
primeira vez que o Leonardo provocava isso em mim.
Eu mudaria essa situação. Leonardo não faria mais parte
de minha vida.
Saí à procura de tia Luíza e a encontrei na cozinha.
Pelo cheiro que senti, ela estava fazendo algo delicioso e
meu estômago deu sinal de alerta. Tinha apenas comido
uma fruta de manhã e fui interrompida na hora do
almoço.
— Hum! Que cheiro delicioso. O que está fazendo?
— adentrei na cozinha curiosa com o que ela cozinhava
— A minha princesa acordou — era assim que ela me
chamava quando era criança e vinha dormir aqui com ela.
— Estou fazendo um caldo de frutos do mar. Fiquei com
vontade de tomar e como eu sei que você também adora,
resolvi fazer uma mistura de tudo que achei na geladeira,
que vem do mar. Não sei se está bom — falou sarcástica.
Ela sabia o quanto estava bom. Tia Luíza amava
cozinhar. Dizia ser um hobby.
— O cheiro está maravilhoso e tenho certeza que
está delicioso também — pronunciei sorrindo.
— Como você está? Acalmou-se um pouco? —
virou para mim e perguntou preocupada.
— Acho que estou bem. Pelo menos não estou
descontrolada como quando cheguei aqui mais cedo —
respondi calmamente.
— O que você pretende fazer? — repetiu a mesma
pergunta que havia feito antes.
— Não mudei minha decisão. Quero me divorciar —
era a decisão mais correta que já havia tomado. — A
senhora me ajuda? — Tia Luíza era advogada. Não era
especializada na cível, mas tinha amigos nessa área e que
poderiam me ajudar.
— Se é isso que você quer, eu amanhã falarei com
uma amiga de confiança que pode te ajudar. Pedirei que
entre em contato com você. Divórcio não é um bicho de
sete de cabeças quando ambas as partes concordam —
só esperava que o Leonardo não desse trabalho em
relação a isso.
Fiquei mais um tempinho na casa de tia Luíza. Tomei
seu caldo e, realmente, estava delicioso. Conversarmos
mais um pouco e em seguida peguei um táxi. M esmo
com os protestos da minha tia para passar a noite com
ela, eu neguei, estava mais calma, despedaçada por
dentro, no entanto decidida.
Cheguei ao meu apartamento, tomei um banho e
vesti algo confortável para dormir. Peguei um livro para
tentar espairecer. Depois de um tempo senti meu celular
vibrar, tinha colocado no silencioso. Olhei e era a Júlia.
Não queria falar com ela sobre o que aconteceu, mas
sabia que insistiria até eu atender.
— Oi, Julinha.
— Isa. Onde você está garota? Passei o dia todo te
procurando e você não me responde. A Lilian falou que
você não estava bem e não voltou para a clínica à tarde.
Sentiu dores novamente? — juro, não sei como ela
consegue fazer vinte perguntas numa só frase.
— Passei à tarde na casa da tia Luíza. Estou bem e
não tive dores. Apenas não tinha cabeça para voltar para
a clínica — respondi feito uma mocinha suas perguntas.
— O que aconteceu? Você não voltou para a clínica.
O meu irmão também não. Poxa! Não me diz que vocês
brigaram novamente? Pensei que depois do susto de
ontem vocês se entenderiam de vez — falou chateada.
Júlia era a maior torcedora para a nossa reconciliação.
Infelizmente iria decepcioná-la.
— Ai Julinha! Não quero falar disso agora e muito
menos por telefone. Só posso dizer que seu irmão é um
completo imbecil.
— Não quero nem pensar no que o Leonardo
aprontou. Em todo o caso irei ficar sabendo mesmo,
então não vou forçá-la a falar, hoje — Júlia era
alvoroçada. Contudo era uma grande amiga e me
entendia. — M as não foi por isso que te liguei a tarde
toda. Queria te comunicar que já marquei a data do meu
casamento. Estou tão feliz cunhadinha — enquanto ela
falava a imaginava saltitante pelos cantos da casa.
— Nossa Ju! E pra quando será? — isso era uma
notícia maravilhosa.
— De hoje a trinta dias. Quero um casamento
simples, só com amigos mais chegados e a família, mas
quero me esbaldar com tudo que tenho direito. E a
minha madrinha estará no meio de tudo. Do SPA à
badalação — o sorriso que eu estampava na cara
diminuiu ao lembrar quem estaria ao meu lado no
casamento da Júlia. E eu não poderia fazer uma desfeita
dessas com minha amiga. Teria que deixar o meu orgulho
de lado por ela.
Assim que terminei de falar com Júlia voltei a ler um
pouco, mas lembrei do Juan. Ele tinha sido um
cavalheiro ao tentar me defender. Peguei meu celular e
escrevi uma mensagem de texto para ele.
Desculpa por hoje. E obrigada por tudo. Beijos!
Não demorou muito e meu celular começou a vibrar.
Juan me ligava.
— Olá – atendi envergonhada.
— Oi, Isabela. Desculpe te ligar, mas queria ouvir
sua voz e saber como estava — ele parecia preocupado
e ansioso.
— Prometo que ficarei melhor. Apenas estou
decepcionada.
— Seu ex-marido é um idiota arrogante. Desculpe-me
— ele se mostrava chateado.
— M as ele é um idiota mesmo — concordei com ele.
— Eu tenho que te pedir desculpa pelo vexame — por
mais que eu amasse o idiota do meu “ex”, eu adorava a
companhia do Juan.
Conversamos por bastante tempo e ele me distraiu.
O Juan me fazia bem. Ele me convidou para um evento
da sua empresa que aconteceria num rancho nas
proximidades da cidade. Seria um tipo de
confraternização dos funcionários com suas famílias.
Aceitei mais no impulso, por estar machucada ou por
querer estar perto dele.
No dia seguinte, acordei cedo e fui para clínica. Fiz
uma oração silenciosa no estacionamento e pedi a Deus
que me desse sabedoria e discernimento nas minhas
atitudes. Passei rapidamente pela recepção e fui direto
para o meu consultório. Poucos instantes depois, ouvi
alguém bater na porta.
—Bom dia, Isa — Lilian falou assim que entrou.
Falamos rapidamente sobre tudo que havia ocorrido.
Lilian estava chocada com a atitude do Leo. Comentou
que ele já se encontrava na clínica. E que passou direto
para sua sala com cara de poucos amigos. Não perguntei
e nem falei nada, fiquei em silêncio. Estava decidido:
tiraria Leonardo da minha vida.
O restante do meu dia foi entre meu consultório e a
Ala de Fisioterapia. Tentei adiantar ao máximo o meu
trabalho que estava atrasado. Comi rapidamente, na
minha sala mesmo e voltei às atividades.
Estava terminando de organizar uma papelada
quando Igor, como sempre, adentrou na minha sala sem
bater.
— Olá, M inha Deusa — falou com aquela cara de
safado.
— Você sabia que é educado bater na porta antes de
entrar? Se eu estivesse com um paciente? — falei
fingindo estar brava com ele.
— Eu sabia que você não tinha paciente. Informeime com a Lilian antes — sorriu se achando, o que me
fez sorrir também. — Apenas vim informar que seu
hemograma está sem alterações. E no seu ultrassom deu
para avaliar a textura dos ovários, entre as principais
regiões afetadas pela endometriose, além de ter sido
possível encontrar os endometriomas.
— E? — perguntei nervosa.
— Isabela, seu caso não é inicial, mas ainda não está
avançado para recorrer a uma cirurgia. Podemos começar
com um tratamento clínico com a pílula
anticoncepcional combinada ou só com progesterona.
Além disso, são de fundamental importância a prática de
exercícios físicos e trabalhar a parte emocional. Você
também pode recorrer a um suporte psicoterápico, em
virtude da influência que o estresse e a ansiedade
também podem exercer sobre a doença. E depois de
alguns meses voltaremos a fazer novos exames —
explicou prestando atenção as minhas reações. M as só
uma única pergunta vinha a minha cabeça.
—Igor. Eu... Eu tenho chances de engravidar? — meu
coração só faltava sair pela boca de tão nervosa. O medo
de não poder me realizar como mãe era meu pior
pesadelo.
— Sim. Se fizer todo o tratamento, há grandes
chances de me tornar titio... Ou quem sabe... Papai —
falou tentando tirar a tensão que eu estava.
— Igor! — bati no seu ombro, mas sorri por tentar
me ajudar. — Prometo que farei tudo direitinho. Já
pratico dança, então ajuda né?! Falarei também com a
Dra. Suzana sobre esse tratamento psicoterápico — não
duvidava que todo esse estresse com Leonardo tivesse
contribuído. E moveria céus e terras para conseguir um
dia realizar meu sonho.
Despedi-me do Igor após ele prescrever minha
medicação. Lilian já havia ido embora mais cedo devido a
um compromisso, então segui em direção ao
estacionamento. M al havia aberto a porta do meu carro
quando avistei Leonardo. Ele me olhou, porém fingiu
que não me conhecia. Entrou no seu carro e saiu em
disparada. M esmo com o cair da noite percebi o
hematoma no seu queixo, obra do soco que Juan havia
lhe dado. Entrei no meu carro, tremendo. Respirei fundo
e agradeci a Deus por ter dado tudo certo. Amanhã seria
outro dia.
******
M esmo cansada do dia de trabalho fui direto para
academia, dançar me ajudaria a relaxar. Fiz uma aula de
dança flamenca por uma hora e ainda dancei trinta
minutos de Zouk com o Fernando, que havia insistido
devido eu ter faltado a sua aula na segunda quando
passei mal e fiquei em observação na clínica.
No final Larissa, Fernando e uma galera combinaram
de passar no barzinho para relaxar. Acompanhei-os, mas
avisei que não iria demorar por estar muito cansada.
Fomos a um bar Karaokê. A noite estava tão divertida
que nem percebi o tempo passar, quando dei por mim já
passava das onze horas. Despedi-me da turma e prometi
que nos encontraríamos na próxima semana.
Assim que entrei no carro percebi que havia uma
mensagem da tia Luíza falando que já havia passado meu
número de telefone para sua amiga advogada e que, em
breve, ela entraria em contato comigo. E também outra
mensagem do Juan falando que queria me ver. Respondi
a mensagem da tia Luíza agradecendo. Não respondi a
do Juan.
Assim que entrei em casa peguei meu celular e liguei
para Juan. Não sei bem explicar o motivo, mas ele me
trazia paz e era isso que eu estava precisando no
momento. Se era certo ou errado eu não saberia explicar.
Conversarmos até a madrugada. E mesmo já tendo
marcado um compromisso com ele para o sábado, aceitei
de sair para dançar amanhã, quinta-feira, e ir ao cinema e
comer pizza na sexta.
O resto da semana se resumiu em trabalho, academia
e sair com o Juan. Depois do estacionamento não vi
mais o Leonardo. Acho que até o divórcio sair quanto
menos nos víssemos melhor seria. Na sexta de manhã,
logo cedo, fui acordada pela Júlia. Ela queria minha
opinião sobre as lembrancinhas do casamento.
Contei tudo o que tinha ocorrido comigo e o Leo na
terça-feira. Ela ficou revoltada e disse que iria capar o
irmão. Depois de um tempo falou que o Leonardo
estava agindo estranho, que o Raul conhecido nosso e
dono de um bar havia ligado para o Luigi avisando que
ele estava bêbado e sem condições para dirigir. Por mais
que meu coração clamasse para perguntar se ele estava
bem, não o fiz. E seria assim daqui para frente.
Despedi-me da Julinha e fui para o meu
apartamento. Queria descansar um pouco para meu
encontro com Juan logo mais à noite. Ontem ele havia
me levado para dançar. Tudo tinha sido maravilhoso e é
claro que o final acabou com beijos e mãos bobas no seu
carro. Sentia-me uma adolescente.
Dormi toda a tarde e às vinte horas o Juan me ligou
avisando que estava na portaria me aguardando. Havia
colocado um vestido florido leve de alças finas e uma
rasteirinha. Queria algo confortável. Desci e o encontrei
esperando, como sempre, encostado ao seu carro. Juan
era o oposto do Leonardo. Enquanto o Leo exalava
domínio e autoridade o Juan era sedutor e cavalheiro.
Primeiro seguimos para a pizzaria e logo após para o
cinema. Ele deixou que eu escolhesse o filme. Optamos,
no final, por um filme de ação. Eu estava fugindo de
filmes de drama, e os romances que estavam em cartaz
não nos agradaram. Não prestamos muita atenção ao
filme. Não sei explicar o motivo, mas eu adorava a
sensação de estar perto do Juan e enquanto ele me desse
essa oportunidade eu iria aceitar. Se era uma forma de
fugir também não saberia dizer. Acabou que nem
esperamos o final do filme para ir embora.
Ao chegar à frente do prédio no qual eu morava
começamos a nos beijar. O beijo foi se aprofundando. A
cada minuto que passávamos juntos tinha certeza que o
queria mais. Criei coragem e, timidamente, toquei no
volume entre as suas pernas, que apesar da calça, dava
para perceber o quão duro o Juan estava. Ao sentir
minhas mãos ele gemeu em minha boca.
— Isa... É melhor pararmos antes que eu esqueça
onde estou — ele falava gemendo, beijando e
massageando meus seios tudo ao mesmo tempo.
— Não para, Juan. Por favor, não para — ele desceu
suas mãos até a barra do meu vestido e subiu passando
suas mãos entre as minhas pernas, forçando para que eu
abrisse mais um pouco. Chegou a minha calcinha e
gemeu ao sentir o quanto eu estava encharcada.
Delicadamente, afastou minha calcinha para o lado para
ter total aceso ao meu núcleo. Passou seus dedos no
meu clitóris fazendo com que eu enterrasse minha boca
no seu pescoço para não gritar de prazer. Quase fui à
loucura quando ele introduziu um dedo em mim e depois
outro e começou a movimentar, colocando e tirando,
numa tortura deliciosa.
— Ah, Isa. Você é perfeita — Juan sussurrava no
meu ouvido. — Você é tão apertadinha. Que delícia! —
o carro já estava completamente embaçado. Comecei a
massagear seu pau mesmo por cima da sua calça,
fazendo com que ele aumentasse o movimento dos seus
dedos dentro de mim e com o polegar incitava meu
clitóris me fazendo delirar. — Goza para mim, Isa...
Goza na minha mão — estava totalmente entregue a
esse momento. Juan estava me levando ao orgasmo.
Gozei mordendo seu pescoço que, com certeza,
amanheceria com uma marca. Ele esperou meus tremores
passarem. Tirou delicadamente seus dedos de dentro de
mim e beijou-me com ternura. No momento em que o
Juan deixou os meus lábios e começou a morder
deliciosamente o meu pescoço me excitando, novamente,
tomei uma decisão que não teria volta.
— Juan, vamos subir para o meu apartamento? —
ele parou abruptamente, olhou-me surpreso... E sorriu.
Capítulo 11 – Realidade
Leonardo
Já passavam das dezoito horas, e nada do Igor chegar
com a Clarissa. Tinha ligado para ele pedindo o número
dela. Eu poderia ter ido direto ao hospital e tê-la
procurado, mas não tinha cabeça para encarar os
funcionários pelos corredores. Igor não quis me passar o
número, o que achei estranho. Então combinou comigo
de nos encontrarmos no bar do Raul, que é um
conhecido nosso. E aqui estou eu, a doses de uísque,
querendo arrancar aquela mulher da minha mente e do
meu coração. M inha esposa. M inha Paixão. M inha
Isabela.
Cara! Se isso realmente é amor, eu estou fodido.
Arrependo-me de tê-la magoado, quando naquela noite
disse que não sabia se a amava. Arrependo-me de ter
causado qualquer tipo de sofrimento a ela. Hoje só eu
sei o quanto essas palavras pesam para mim, porque
tudo que eu queria era correr atrás dela e me jogar aos
seus pés. M esmo me lembrando da cena do restaurante
e do sorriso genuíno que ela dava para aquele espanhol
metido.
Toda a raiva voltou a me consumir. E meu queixo
pulsava pelo soco que aquele filho da puta me deu.
Como pude ser tão idiota de cair de amores por ela?! Sei
que ela mudou em parte por mim e a admiro por isso.
M as com essa mudança, também, veio o medo dela se
interessar por outro e por isso não consigo controlar
meus impulsos. Quando a vejo com um homem por
perto perco meus sentidos. Principalmente se esse
homem for seu paciente Juan. Desde que o vi beijando
Isabela, na frente do prédio em que ela mora, me sinto
ameaçado por ele. E quando vejo, já fiz merda!
M as por que diabos a Isabela tinha ido almoçar com
ele? Depois que disse que iríamos conversar sobre nós
dois.
Olho para a porta na mesma hora que o Igor chega e
caminha em minha direção, mas Clarissa não veio com
ele.
— Vejo que o Dr. Leonardo M enezes está afogando
raiva em doses de uísque. E pela sua cara já foi bastante.
Desse jeito você não irá conseguir nem abrir o sutiã da
Clarissa — falou debochando da minha cara. — Não me
diga que a Isabela além de fazer aulas de dança, também
começou a lutar M M A? — continuou com o deboche
apontando para meu queixo que com certeza estava
inchado.
— Cadê a Clarissa? Você ficou de trazê-la, lembra?
— perguntei, fingindo não ter entendido suas piadas.
— Leo. A Clarissa não está comigo. Eu nem sequer
liguei para ela — respondeu, sentando ao meu lado e
pedindo uma água ao garçom que passava no momento.
— M as que porra é essa? Você está de gozação com
a minha cara? — o que esse merda queria dizer com
isso?
— Primeiro vamos conversar de homem para homem
e depois, se você quiser, eu te dou todos os números de
telefone de mulheres que eu tenho. M as quero que você
me escute primeiro — falava sério, olhando em meus
olhos.
— Fala logo Igor, porque não tenho a noite toda —
respondi ríspido, sem olhar ao menos para a sua cara. Só
faltava ele vir até mim e dizer que também quer a
Isabela.
— Cara, que merda você está querendo fazer? Você é
idiota por acaso? — perguntou e eu o olhei surpreso. —
Não me olhe assim como quem está se preparando para
brigar. Você primeiro vai ouvir e responder,
tranquilamente, e depois se quiser iremos lá fora e
brigaremos. Porque Leo faz meses que quero socá-lo —
falou sério e, de certa forma, ele ganhou meu respeito
por sua atitude. Fiz um gesto para que prosseguisse
com sua conversa.
— Eu nunca fui de me meter na vida de ninguém,
mas quando vejo alguém querer fazer uma idiotice que
trará mágoas a pessoas que eu admiro eu atrevo a me
meter — já imaginava aonde ele queria chegar. — É isso
mesmo que você quer Leonardo? Passar uma noite com
uma mulher qualquer enquanto você tem uma mulher
linda que te ama? — não. Eu queria Isabela, mas era
orgulhoso demais para admitir.
— Admira-me você falar isso para mim. Você que,
além de ter fama de pegador, nunca escondeu que tem
interesse pela minha esposa — estava tentando soar o
mais tranquilo possível, mas estava sem paciência. —
Não me diga que você gosta da Clarissa?! — fui
sarcástico ao perguntar.
— Vai demorar muito para uma mulher me prender
— respondeu rindo. — E a Clarissa não é mulher para
apresentar a família... A Isabela sim. — olhou-me
desconfiado.
— Deixa de enrolar! Fala logo o que você quer dizer
e some da minha frente — cuspi as palavras. Eu sabia
que o Igor tinha interesse na Isabela.
— Cara, você tem que controlar essa sua raiva. Você
só tem a perder — parou e bebeu um longo gole de água.
— Leonardo, você e a Isabela são loucos um pelo outro.
Ela já era linda quando se vestia parecendo uma noviça
sexy. Então como um passe de mágica ela muda
completamente e consegue a proeza de se tornar ainda
mais linda — ele gesticula ao falar da mudança da Isa. —
Não sei o que aconteceu hoje, mas me surpreendi ao
receber sua ligação. Você tem noção da burrada que está
prestes a fazer? Você dormindo com a Clarissa hoje,
amanhã a clínica e o hospital inteiro ficarão sabendo.
Você não acha que é humilhação demais para a Isa e para
a sua integridade? — ele não sabia, mas eu queria que ela
soubesse. Queria que a Isabela sentisse o que eu estava
sentindo.
— Não vejo mal algum. Sou separado e não devo
satisfação a ninguém. Em relação à integridade, a sua
nunca foi abalada — fingi sorrir.
— Todas as mulheres que fico sabem que é só sexo.
Nada a mais que isso. Não me prendo. M as uma coisa
eu te falo, Leonardo. Com todo respeito — ele baixou
os olhos e sorriu, discretamente. — Adoro a Isabela. A
quis desde a primeira vez que a vi. Com certeza ela seria
mais do que uma noite de foda para mim. No entanto,
ela escolheu você. E eu estou vendo você perdendo-a —
virei de uma vez o copo de uísque enquanto ele falava,
lembrando, mais uma vez, dela aos beijos com o idiota
na porta do seu prédio. Já não tinha tanta certeza que a
Isabela me amava e isso estava deixando-me inquieto de
todas as formas. — Ela precisa de você. Vocês precisam
conversar. Um escutar o outro — terminou de falar e
esperou que eu dissesse algo.
— Por que isso agora, Igor? Você sempre deu em
cima da Isabela descaradamente na minha frente e agora
quer dar um de conciliador de casais? — interroguei
curioso. — Esse é o momento certo de você correr atrás
da Isabela. M as vou logo avisando, a concorrência está
grande. Já tem o tal do Juan na jogada — eu devia estar
bêbado para mandar o Igor ir procurar Isabela.
— Você não entende, não é? — balançou a cabeça. —
Eu não vou tentar conquistar a Isa, mesmo porque, ela já
demonstrou que tem carinho por mim, apenas como
amigo. Porém haverá outros caras.
Ele pegou uma caneta que estava no bolso da camisa
e escreveu algo num pedaço de guardanapo.
— Tenho uma leve ideia do que levou a separação de
vocês, mas até um cego percebe que essa relação está
mal acabada. Desse jeito você e ela nunca serão felizes
completamente — parou de escrever e olhou novamente
para mim. — Quer um conselho? Tire um tempo pra
você e avalie suas atitudes.
Igor levantou-se e empurrou o pedaço de papel que
havia escrito em minha direção.
— Ah! Pague a água que consumi. Achou que a
consulta psicológica sairia de graça? Não sou da área,
mas poderia. Por falar em área, passe no meu
consultório depois. Precisamos fazer um tratamento
hormonal com urgência. Seus hormônios masculinos
estão sendo mascarados por doses excessivas de
hormônios femininos. Está até tendo crises
existencialistas. Até mais ver, moça... Ops! Cara — o
filho da puta saiu sorrindo e seguiu em direção à saída.
Peguei o pedaço de papel e vi que era o número de
telefone da Clarissa. Coloquei-o no bolso e pedi a conta.
Que ele nunca me ouça falar, mas o Igor parece ser um
grande cara e um bom amigo. Só poderia estar muito
bêbado mesmo, com esses pensamentos.
Saí do bar sob os protestos do Raul para eu não
dirigir, já que tinha bebido. Prometi que teria o maior
cuidado. Estava consciente do risco. Saí em direção ao
meu carro com as palavras do Igor martelando na minha
cabeça.
Cheguei em casa e liguei para o Raul para tranquilizálo. Tomei um banho e deitei-me. Queria dormir e
esquecer o dia de hoje. Fechei os olhos e só lembrava
das lágrimas e do olhar de decepção da Isa. O Igor estava
certo, precisava pensar no que fazer. Depois de muito
tempo consegui pegar no sono.
Acordei com uma ressaca e um mau humor
desgraçado, mas teria um dia cheio hoje e não poderia
cancelar as consultas, então arrumei coragem e levantei
da cama. Queria chegar cedo à clínica, ainda não estava
preparado para ver a Isabela. E, sinceramente, estou
com medo de encontrá-la.
Ao chegar na clínica, passei direto pela recepção sem
falar com ninguém. Passei pela lanchonete rapidamente e
pedi um café forte sem açúcar, seguindo para o meu
consultório. De lá mesmo solicitei a Lilian que mandasse
o primeiro paciente assim que chegasse. Senti-a fria
comigo. Com certeza ela já sabia do ocorrido no
restaurante.
Ao meio dia liguei para um restaurante chinês e pedi
uma entrega rápida na clínica. Teria duas horas livres até
a próxima consulta e iria aproveitar para dormir um
pouco, logo depois de me alimentar, aqui mesmo no
consultório. Quando o almoço chegou, pedi para não ser
incomodado até o horário da próxima consulta.
M esmo com o dia lotado de pacientes, Isabela não
saía dos meus pensamentos. Sabia que precisava
procurá-la, mas não queria fazer aqui na clínica. E não
agora. Uma batida na porta me tirou dos meus
devaneios. Fiquei surpreso ao ver a Luíza, a tia da Isa,
entrando em meu consultório com cara de pouco amigos.
— Olá, Luíza — tentei soar o mais gentil possível,
mas pelo o seu olhar, coisa boa não vinha.
— Leonardo, você sabe que não sou mulher de
rodeios então vou direto ao assunto. — falou secamente.
— A vontade que tenho é de chutar bem no meio das
suas pernas por ter humilhado a minha menina, ontem.
Nunca vi a Isa tão abalada. Nem mesmo quando você a
deixou. Ela nunca havia ficado tão magoada e decidida
quanto ontem.
Agora mais calmo, sabia que tinha exagerado no
restaurante. Isabela tinha razão, eu sou completo idiota,
volúvel.
— Eu nem deveria estar aqui, a Isabela não pode nem
sonhar. M as, mesmo sem você merecer, vim te dar um
aviso. Ela irá dar entrada no pedido de divórcio e, por
mais que finja que ficará bem, eu sei que isso irá acabar
com ela — fiquei atônito com o que Luíza falou. — Não
faço isso por você, Leonardo. E sim por minha sobrinha,
porque a amo como uma filha. E só te peço que se você,
realmente, a ama, como acredito, mude. Ao contrário, eu
mesma apressarei os papéis.
Divórcio? Logo que me separei pensei em me
divorciar da Isabela, mas sempre protelava arrumando
uma desculpa. No entanto ouvir a Luíza falando que a
Isa queria o divórcio me deixou estático e muito
amedrontado. Fiquei sem saber o que dizer.
— Disse a minha pequena que tinha uma amiga que
ajudaria com o divórcio. Vou enrolá-la por alguns dias e,
nesse meio tempo, pense sobre vocês dois. M as, se
escolher ficar com ela, não a quero ver como a vi ontem,
pois se isso acontecer, novamente, serei a primeira
pessoa a afastá-la de vez de você. Que fique bem claro
Leonardo M enezes — Luíza saiu da mesma forma que
entrou, como um furacão. Fiquei em choque com suas
palavras.
Divórcio?
Precisava conversar com alguém, desabafar. Liguei
para Benício, mas o telefone estava desligado. Lembreime que ele não estava na cidade, tinha viajado com sua
esposa, M aitê, para o interior. Juntei minhas coisas e saí
apressado. Sem falar com ninguém que passava por
mim, igual quando cheguei pela manhã. Tudo que eu
queria era sair da clínica o mais rápido possível.
Antes mesmo de chegar ao estacionamento avistei
Isabela, próxima ao seu carro. M inha vontade era de ir
até ela e agarrá-la. No entanto fugi por medo e fingi não
vê-la. Nesse momento não saberia o que dizer. Precisava
me acalmar com a notícia que a Luíza tinha me dado.
Entrei no meu carro e saí de lá, para longe da M inha
Paixão. Fui direto para o bar do Raul. Tinha que beber e
pensar sobre o que vinha fazendo nas últimas vinte e
quatro horas.
*****
Já tinha perdido a conta de quanto tempo estava no
bar e o quanto havia bebido. Sentia meu corpo dormente
e a minha cabeça girava, meu único pensamento era
Isabela. Ela era minha, eu jamais aceitaria o divórcio sem
lutar. Só que ainda não tinha ideia de como faria.
Precisava passar segurança para ela e não assustá-la.
— Leonardo — escutei alguém me chamar e quando
virei para olhar vi que era o Luigi, meu futuro cunhado.
— A Julinha está bem? — perguntei enrolando a
língua.
— Cara, não queria ser você amanhã quando acordar
e tiver que enfrentar a fúria da sua irmã — não entendi o
que ele quis dizer. — Vamos Leo. Vou te levar para casa.
Você não está em condições de dirigir.
Luigi está insinuando que estou bêbado? Tentei me
levantar e mostrar para ele que estava sóbrio. M as acho
que minhas pernas ficaram dormentes, devido ao tempo
que estava sentado, pois escorreguei feito geleia ao chão.
— M e dá sua mão, Leo, que te ajudo a levantar —
pediu Luigi.
— Vá embora Luigi! Eu estou ótimo e ainda não são
nem sete horas — disse, olhando para meu relógio que
estava com algum problema porque via vários números e
tinham aparecido outros ponteiros.
— Você está ótimo, sim. Ótimo de receber um bom
banho frio e uma xícara de café bem forte. E para seu
governo já passa das dez horas da noite. O Raul me
ligou e pediu que viesse buscá-lo. Você tem noção do
quanto a Júlia está preocupada com você, por estar
bêbado? Você sabe que seu estado não permite
preocupação. Então me dê sua mão. Irei te levar para
casa.
Sai tropeçando com Luigi e Raul levando-me em
direção ao... Onde eles estavam me levando mesmo?
Acordei e estava no banco do carona de um carro.
Olhei de lado e vi o Luigi vindo em minha direção com
um homem que reconheci, depois, como o porteiro do
meu prédio. Realmente, acho que bebi exageradamente.
Os dois homens me ajudaram a sair do carro. Nessa hora
meu estômago embrulhou e eu apenas abaixei a cabeça e
vomitei.
— Porra, Leonardo! Poderia ter avisado, cacete! —
Luigi bufou de raiva. E eu ia lá saber que horas eu
vomitaria? Apenas fiz sinal com o polegar para dizer
que estava bem. Algum tempo depois, já mais
consciente, comecei a lembrar aos poucos que cheguei ao
bar e sentei-me em uma mesa e bebi
descontroladamente.
Já no apartamento, Luigi forçou-me a tomar um
banho frio e em seguida tomar algo amargo que o Sr.
Joaquim, o porteiro, havia trazido para mim.
— Leonardo. Estou indo para casa. Preciso avisar a
Júlia que você está sã e salvo em sua casa. Vê se não sai
até todo esse álcool sair do seu corpo. E amanhã,
quando acordar, ligue para sua irmã, e se prepare —
Luigi falava, e eu apenas balançava a cabeça. Tenho
certeza que minha irmãzinha estaria aqui quando eu
acordasse amanhã.
Luigi seguiu em direção à porta e eu o chamei.
— O que foi? — perguntou.
— Eu a amo — falei.
— A sua irmã, também, ama muito você —
respondeu sorrindo.
— Luigi, você não entendeu. Eu amo a Isabela. Sou
completamente apaixonado por ela — disparei.
— Ah... Eu já sabia disso — falou enquanto saía e
fechava a porta atrás de si.
Fui em direção ao armário da sala e abri a gaveta,
peguei o álbum de fotos da Isa que havia guardado ali.
Segui para meu quarto e espalhei todas as fotos na cama
deixando apenas um pequeno espaço para me deitar.
Admirei por vários minutos cada imagem dela. Em
seguida puxei um punhado de fotos com cuidado para
não amassar. Fechei os olhos e imaginei Isabela ali,
dormindo ao meu lado. Teria que arrumar uma forma de
reconquistar o amor e a confiança dela. No entanto, hoje
eu só queria imaginar que ela estava dormindo aqui, nos
meus braços, o lugar onde sempre pertenceu, pois ela
sempre foi minha.
Com esse pensamento apaguei.
Capítulo 12 – Novos objetivos
Isabela
Acordei com o reflexo do sol no meu rosto, olhei
para o relógio e marcava oito horas da manhã. Apaguei
tão rapidamente que me esqueci de fechar a segunda
camada da cortina. M inha noite tinha sido
completamente
insana,
porém
perfeita.
Foi
surpreendente a maneira com que me envolvi na relação,
foi natural. Sempre tinha sido reservada e medrosa.
Ontem, não pensei duas vezes e tomei a decisão. Queria
ter novas experiências.
Sou consciente que a minha decisão foi tomada mais
por mágoa e decepção, que agi como uma adolescente
que faz primeiro e depois pensa. Pelo menos até agora o
arrependimento não tinha chegado. M exi na cama e senti
o braço de Juan sobre a minha cintura puxando-me mais
para perto dele. Ele encaixou seu nariz na curva do meu
pescoço, inalou e voltou a dormir.
Passei a lembrar da noite anterior quando entramos
no meu apartamento e eu me sentia nervosa e assustada.
Na realidade fiquei com medo de voltar a ser a Isabela de
antes e travar na hora do sexo, ainda sentia-me insegura
às vezes. Juan, pelo contrário, estava centrado e
paciente. Ele na realidade foi quem conduziu tudo,
conseguindo assim me deixar relaxada. Primeiro
tomamos uma dose de vodca com gelo e limão e
conversarmos. Juan tinha o poder de conseguir que me
abrisse com ele. Então decidi jogar todas as cartas e a
partir daí ele tomaria a decisão de passar a noite
comigo... Ou não. M esmo sabendo dos meus problemas
com o sexo.
Contei tudo desde o princípio da minha criação até
os motivos da minha mudança. Juan apenas balançava a
cabeça sem demonstrar nada. Ao final, quando achei que
ele iria embora, se levantou e seguiu em direção ao meu
micro system, enfiou a mão no bolso da sua calça e
retirou um pen drive que conectou ao aparelho, surgindo
assim uma música suave que logo reconheci ser da banda
The Passenger.
Juan voltou sua atenção a mim e me convidou para
dançar, o que aceitei de imediato. No decorrer da música
o senti inalando o meu cabelo e dando suaves beijos por
todo o meu rosto, tocou no meu queixo com uma das
suas mãos, o levantou fazendo com que o olhasse
diretamente em seus olhos. Em seguida, me perguntou
se eu tinha certeza se queria passar a noite com ele.
Confirmei com a cabeça, não podendo pronunciar com
palavras as emoções que passavam por mim. Um
sorriso lindo surgiu e logo em seguida se desfez quando
seus lábios tocaram os meus, gentilmente, invadindo
com sua língua e acariciando numa dança sincronizada
com a minha.
Levei minhas mãos ao seu pescoço o trazendo para
perto de mim. Suas mãos hábeis começaram a passear
pelo meu corpo até chegar à barra do meu vestido, que
foi retirado rapidamente, me deixando apenas com uma
micro calcinha lilás, com laços nas laterais, que também
não demorou muito a ser retirada.
A princípio me senti envergonhada, além do
Leonardo nunca havia ficado nua na frente de um
homem. Juan admirou-me de cima a baixo. Seus olhos
indicavam pura luxúria. Sem nenhum pudor avancei
para o Juan tirando sua camisa e em seguida a calça,
deixando-o apenas de cueca boxer. Puxei-o em direção ao
meu quarto e, assim que entramos, deixei apenas uma
meia luz no ambiente.
Juan me abraçou por trás, beijando toda extensão do
meu pescoço seguindo para meu ombro. Quando senti
sua ereção tocar meu bumbum, rebolei o incitando ainda
mais. Tinha lido isso em um livro e tomei coragem e fiz.
Juan passou a dizer o quanto eu era linda e o quanto
desejou estar aqui comigo. Ele virou-me para ficar de
frente para ele, voltou a me beijar até chegar aos meus
seios, onde chupava e mordiscava, deliciosamente, um e
depois outro, me levando ao céu e gemendo sem
controle.
Juan me conduziu para cama deitando junto comigo.
Suas mãos passearam por todo o meu corpo até chegar
ao meu núcleo molhado e começou a esfregar seus
dedos. Introduziu um dedo e ficou fazendo movimentos
de entra e sai até deslizar outro dedo dentro de mim.
Nesse momento esqueci até quem eu era de tão excitada
que estava. Ele retirou seus dedos, beijou-me e levantouse saindo em direção a sala e voltando, rapidamente.
Percebi um pacote laminado na sua mão que logo vi que
era um preservativo. Nunca tinha feito sexo com
camisinha. Quando estava casada com o Leonardo
sempre era sem, e até mesmo, depois da nossa
separação não utilizamos.
Chamei-o para cama, mas antes disso Juan rasgou o
pacote e desenrolou em seu pau. Voltou a deitar por
cima de mim, tornando a me beijar e se encaixando entre
as minhas pernas até sentir seu membro duro na minha
entrada. Ele empurrou para dentro de mim e parou por
alguns segundos até eu me acostumar com ele.
Lentamente Juan começou o movimento de dentro e fora
aumentando a velocidade, gradativamente.
Nos minutos seguintes de beijos, apertos e gemidos,
sentia que nada estava errado. O Juan me levou ao
orgasmo seguido do seu. Ficamos calados, abraçados,
por alguns minutos e, logo em seguida, transamos por
mais duas vezes até cairmos exaustos em um sono
profundo.
— Não consegue dormir, linda? — fui tirada das
lembranças de ontem à noite por Juan.
— Oh. Bom dia. Acordei há poucos minutos —
disse enquanto me aconchegava mais nos seus braços.
— Bom dia. Nunca dormi tão bem como essa noite.
Acho que você acabou comigo — sorria enquanto
beijava meu rosto — Isa, você sabe que precisamos
conversar — parou de me beijar e olhou-me sério.
— Sim. Eu sei. M as primeiro poderíamos tomar um
banho e em seguida comer alguma coisa? — perguntei.
— Estou faminta — completei sorrindo para evitar uma
tensão.
Pedi a ele que me deixasse tomar banho primeiro.
Nunca havia tomado banho com um homem, nem
mesmo com o meu ex-marido. Poderia ser bobagem, mas
não queria apressar demais a nossa... Ainda não sabia
como iríamos ficar. Troquei de roupa no banheiro
mesmo. Assim que saí de lá, Juan levantou e seguiu em
minha direção me abraçando.
— Você. É. Linda. — falou lentamente e beijou meus
lábios.
— Enquanto você toma banho eu vou preparar algo
para comermos — balançou a cabeça concordando. —
Não demora — disse e o beijei me soltando dos seus
braços.
Coloquei o pó do café na cafeteira e como não sabia
seus gostos alimentares preparei também um suco de
laranja. Decidi fritar ovos e preparar algumas torradas.
Tínhamos gastado bastante energia e precisávamos
repor com proteínas e carboidratos.
A campainha do meu apartamento tocou e de início
fiquei assustada. Se não fosse o porteiro era o Leonardo,
pois não fui avisada pelo interfone e eu temia outro
escândalo como aquele do restaurante. Só que dessa vez
ele teria a certeza do fato consumado. Respirei fundo e
fui em direção à porta principal. Olhei pelo olho mágico
e meu coração aliviou de certa forma. Era a Júlia. O que
também não sabia se era bom ou ruim ela encontrar o
Juan aqui. Abri a porta.
— Bom dia, Júlia — sorri, nervosamente.
— Bom dia, cunhadinha — disse dando aquele
sorriso contagiante — Precisamos... Por que você está
me olhando assim? — bingo! Não conseguia disfarçar
nada dela.
— Olhando como? —fingi-me de boba enquanto seu
sorriso se desfez.
— Isabela Alencar, ainda, M enezes. O que você está
escondendo de mim? — perguntou autoritária.
— Tá maluca mulher! Estou normal — respondi
desviando seu olhar e seguindo em direção à cozinha. —
O que faz aqui tão cedo? — tentei mudar de assunto e
graças aos céus consegui.
— Isa, precisamos falar sobre o meu irmão — claro
que ela queria falar do Leonardo.
— Ah não! Júlia, amo você, mas não quero falar do
seu irmão — falei exasperada.
— O Leonardo anda bebendo muito — fingiu não me
ouvir e continuou — É verdade que você irá pedir o
divórcio? — Tia Luíza e sua boca grande. M erda!
— Sim, é verdade — não consigo esconder nada da
Júlia. E também o divórcio não é um segredo — Ele...
Leonardo já sabe? — odiava-me por ainda querer saber
dele.
— Sim. E, pra ser sincera, eu nunca vi o Leo tão
perdido — por que ela está fazendo isso comigo?
Estragando o que até agora estava perfeito. Não queria
escutar nada sobre o Leonardo, mas meu coração era
teimoso. — Um de vocês tem que dar o braço a torcer. E
procurar o outro para conversar — olhei surpresa para
minha cunhada.
— O quê? Você veio até aqui para dizer que eu tenho
que ir atrás do Leonardo? — perguntei incrédula. —
Você tem noção do quanto o seu querido irmão me
magoou e me humilhou? — Júlia abriu a boca para falar,
mas fiz um gesto para que não me interrompesse. —
Ele me acusa, agride verbalmente sem, nem ao menos,
me deixar explicar. E você acha que eu tenho que
esquecer o meu orgulho e minha dignidade para ir falar
com o Leonardo, só porque ele não sabe encarar suas
falhas? — pela primeira vez na vida tinha sido grosseira
com alguém.
— Isa o que eu quero dizer é... — Júlia parou de
falar e olhou em direção a porta da cozinha no momento
em que Juan entrava timidamente.
— Bom dia. Desculpe-me se atrapalho — ele disse
um pouco sem graça.
Fiz as apresentações de Juan e Júlia. E, logo em
seguida, ela começou seu interrogatório. O que ele fazia.
De onde era. Quais suas intenções comigo. Juan
respondia todas as perguntas, educadamente. No fim ela
decidiu ir embora e a acompanhei até a porta. Onde
seguiu totalmente calada e sem demonstrar nenhuma
reação. E isso me preocupava.
— Júlia. Depois conversaremos — tentei explicar. —
Podemos combinar de almoçarmos na segunda-feira. E
aproveitamos para falar do seu casamento — continuei.
— Ele parece ser um cara legal — seu olhar não era
de mágoa e nem decepção. E sim tristeza.
— Júlia, por favor, não me julgue sem me escutar —
meus olhos encheram de lágrimas. Não suportaria ser
acusada por ela.
— Eu te amo pequena. Só estou surpresa. Na
segunda-feira almoçaremos. Agora vai aproveitar o
bonitão — abraçou-me, fortemente, o que me deixou
tranquila, em seguida foi embora.
Voltei para a cozinha e encontrei Juan próximo ao
fogão com a frigideira na mão, já com ovos fritos
passando para um prato.
— Hum! Acho que o café da manhã está pronto —
sorriu lindamente mostrando as covinhas.
— Estou morrendo de fome — retribuí o sorriso.
Arrumamos a mesa e sentamos de frente um para o
outro. Juan com todo seu cavalheirismo colocou os ovos
fritos no meu prato com torradas e perguntou se eu
preferia suco ou café. Disse suco e ele encheu um copo
para mim. Ficamos alguns minutos em silêncio
apreciando a comida. E, sinceramente, não sabia o que
dizer, principalmente sobre a Júlia.
— Ela. A Júlia. Ela gosta muito de você — Juan
quebrou o silêncio para o meu alívio.
— Sim. Somos muito amigas e ela se preocupa
comigo — respondi.
— E pelo que entendi, ela é sua cunhada também? —
confirmei com cabeça. — Desculpa Isabela, mas não
pude deixar de escutar a conversa — ele falava
tranquilamente. — Olha, eu sei que nunca me prometeu
nada. Adoro estar com você e a noite de ontem foi
incrível, mas precisamos conversar sobre como as coisas
entre a gente irão ficar — ele não tirava os olhos de mim
enquanto falava.
— Juan. Você me faz sentir bem e feliz, porém ainda
não estou pronta para um relacionamento mais sério.
M eu casamento foi conturbado e não vou mentir para
você sobre meus sentimentos — tentei não desviar o
olhar dele, queria ser verdadeira com ele. — Eu amo o
Leonardo. Não quero, mas, o amo. E me odeio por isso.
Por não conseguir arrancar ele do meu coração —
suspirei tristemente.
— Ei, linda. Não se sinta culpada por amar alguém.
— ele levantou-se e rodeou a mesa parando ao meu lado.
— Vamos deixar as coisas acontecerem. Estarei aqui com
você até quando você me permitir — alisava meu rosto
enquanto falava. — Que tal terminarmos nosso café e
irmos para a confraternização de funcionários e família
da minha empresa? — abriu um sorriso. Queria tanto
poder amá-lo. Às vezes me sentia mal por achar que o
usava.
******
O Juan falou que fazia essas comemorações a cada
seis meses como forma de interagir e conhecer melhor os
seus funcionários e familiares. Chegamos ao rancho por
volta das onze horas, onde já se encontravam a maioria
das pessoas. Fui apresentada a grande parte deles como
uma amiga e todos pareceram serem agradáveis. Havia
brincadeiras com pais, filhos e muita interação. Juan
tentava ao máximo me dar atenção, mas em
determinados momentos se fazia necessário ele se
afastar. Eu entendia perfeitamente e o mais engraçado é
que estava me divertindo muito.
— Oi. Você deve ser a Isabela — uma linda jovem
falou comigo.
— Sim. Sou a Isabela — respondi sorrindo.
— Eu sou a M aria. Sou assistente e amiga do Juan
— M aria era linda e simpática, gostei dela de cara. Era
pequena como eu. Tinha cabelos castanhos lisos, um
pouco abaixo dos ombros, mas o que me chamou
atenção foram seus olhos cor de amêndoas,
arredondados. Ela era aquele tipo de pessoa que falava
com o olhar.
— Prazer em conhecê-la, M aria.
Começamos uma conversa agradável e aos poucos fui
percebendo o carinho que ela tinha pelo Juan. Nossa
interação foi tão boa que acabei falando das aulas de
dança e a convidei para um dia ir assistir, e quem sabe,
se animar a fazer.
— Vejo que as mulheres mais lindas da festa se
conheceram — Juan chegou, colocando um braço de
cada lado dos nossos ombros. — Isa, a M aria é minha
guia. Sem ela não consigo fazer nada — falava
alegremente.
Percebi com o decorrer da nossa conversa que o Juan
era totalmente alheio ao sentimento que a M aria tinha
por ele. Qualquer pessoa, em sã consciência, perceberia
que ela o devotava. Eu precisava fazer alguma coisa para
ajudá-la. O Juan merecia alguém especial e era
perceptível que a M aria era a mulher ideal.
No final da tarde Juan me deixou no meu
apartamento. Não combinamos nada, apenas que
ligaríamos um para o outro durante os próximos dias.
Seria melhor assim, sem compromisso, só o casual.
Assim que entrei em casa peguei meu celular e
disquei para tia Luíza. Xinguei ela de fofoqueira, por
sair espalhando minhas decisões. Ela contou que havia
procurado o Leo na quinta-feira e que ele não reagiu bem
à notícia do divórcio. Pediu-me que pensasse com calma,
pois sabia que era mais birra e teimosia nossa. Não quis
prolongar a conversa e apenas falei que iria pensar
calmamente.
No domingo passei o dia com meus pais, almoçamos
juntos e fizemos uma tarde de cinema em família. Algo
que amei. Acabei dormindo na casa deles, por insistência
da minha mãe. M as acabei adorando. Estava mesmo
precisando ser mimada.
Na segunda-feira, como só teria pacientes à tarde,
liguei para Júlia e perguntei se ela não queria me ajudar a
escolher meu vestido de madrinha do seu casamento. Ela
pulou de felicidade e marquei de pegá-la na frente do seu
apartamento.
Com a Júlia tudo era eletrizante. Após várias provas
de vestidos decidi escolher um vestido longo, de um
tecido leve, de alças finas com caimentos em camadas,
com uma abertura na altura dos joelhos. Tinha um tom
lindo de cinza e bege claro. Também escolhi sandálias de
saltos altos na cor nude e uma clutch dourada para
combinar. Júlia tentou falar do Leonardo, mas pedi que
não falasse nada. Expliquei minha relação com o Juan e
por incrível que pareça ela adorou saber que eu havia
dormido com ele. Disse que esse meu envolvimento
poderia ajudar a decidir o que era melhor para mim.
Os dias seguintes foram carregados de trabalho, junto
com minhas aulas de danças e mais alguns livros que
havia comprado para recarregar o estoque de leitura.
Leonardo e eu nos vimos uma vez, rapidamente, pelos
corredores da clínica, mas ele abaixou a cabeça e evitoume.
Lilian falou que Leonardo havia pedido que marcasse
seus pacientes para serem atendido diretamente no
hospital. Usou a desculpa de que tinha vários trabalhos
pendentes por lá e ficaria difícil dele se locomover para
os dois setores. E eu não sabia se agradecia ou chorava
com essa atitude dele. Querendo ou não, eu sentia
saudades dele. E me preocupava por saber que andava
bebendo exageradamente.
Na quinta-feira, após a aula de dança, fui com a
turma para o bar Karaokê novamente. Aproveitei e
convidei o Juan para ir conosco, já que nós não nos
víamos desde o sábado, apenas conversado por telefone.
Pedi também que convidasse a M aria para vir.
A turma estava toda animada, bebendo e cantando no
karaokê. Fernando era o mais animado para cantar. O
pessoal do bar vibrava para cada voz desafinada que
aparecia. Alguns minutos depois, M aitê e Benício
chegaram e logo em seguida Juan que sentou ao meu lado
após as apresentações.
— Isabela — Benício chamou-me sem graça e eu não
entendi. Sorri para ele — Leonardo... Ele está aqui. Ele
queria te ver — meu coração acelerou com paixão e
medo ao mesmo tempo.
— Por favor, Benício, não o deixe fazer um escândalo
na frente dos meus amigos. Eu não irei suportar —
pavor e vergonha me tomavam por não saber o próximo
passo que o Leo daria.
— Shhh... Calma Isa, ele não irá fazer nada eu
prometo — Benício me abraçou tentando me acalmar,
mas sentia-se inseguro.
— Chegou à vez de a Isa cantar — Larissa falou ao
microfone e todo mundo começou a gritar meu nome
para que fosse ao palco.
Benício falou silenciosamente como uma forma de
dizer que nada iria acontecer. Sorri pra ele e virei em
direção ao palco. Avistei M aria que acabava de chegar e
a abracei, rapidamente. Subi no palco e agora o
nervosismo era do mico que iria pagar.
M esmo com o salão a meia luz, procurei pelo
Leonardo e o encontrei encostado no balcão do bar
olhando fixamente para mim. Ele parecia diferente e
abatido. M eu coração acelerou quando nossos olhos se
encontraram. Abaixei a cabeça e procurei por Larissa
para pedir o caderno de músicas para escolher a qual iria
cantar.
Queria me divertir e animar a galera. Então nada
melhor que uma desafinada como eu. Acabei escolhendo
King of Anytinhg de Sara Bareilles para alegrar o
ambiente. Fechei os olhos e esperei os primeiros acordes
da música. M ostraria para o Leonardo que estava bem,
mesmo não sendo verdade.
Quando a primeira frase saiu da minha voz, fui
aplaudida de pé pelo quão ruim era eu cantando. A
animação era tamanha que até palmas no ritmo da
música todos faziam. Os meus amigos começaram a
fazer um círculo em torno de mim dançando. Apesar de
amar músicas, eu era uma péssima cantora. Senti-me tão
liberta e feliz por um momento. Estava suada e com os
cabelos bagunçados de cantar e dançar. No final da
música quando todos diziam que eu levaria o troféu da
pior cantora olhei na direção do Leonardo e vislumbrei,
mesmo que rapidamente, um sorriso lindo. Daqueles que
me fez lembrar o motivo de ser completamente
apaixonada por ele.
— Você é horrível cantando — Juan falou, rindo
bastante.
— Isabela, ainda bem que você é linda e inteligente. E
não precisa sobreviver da música — Fernando zoava de
mim.
Enquanto cada um dizia algo, senti o Benício mais
próximo a mim e uma tensão no ar que calou a todos.
Quando virei para olhar, vi que Leo estava a minha
frente. Vendo-o assim, de perto, ele realmente estava
abatido e mais magro. Estava relaxado e com a barba por
fazer. Fechei meus olhos e orei silenciosamente para que
ele não fizesse nenhuma idiotice. Quando abri meus
olhos novamente, lágrimas queriam sair, mas me
controlei. Leonardo levou sua mão até o meu rosto
alisando carinhosamente.
— Você estava perfeita no palco, Minha Paixão —
Juan, Fernando e Benício estavam próximos a mim
esperando qualquer atitude dele. Ele me olhou, por mais
alguns minutos, passando seus dedos pelos meus lábios.
Em seguida virou e partiu.
Naquele momento tudo que eu queria era correr para
os seus braços e dizer o quanto o amava, mas ainda não
me sentia segura para confiar nas suas reações. M inha
noite seria longa e dolorosa.
Capítulo 13 – O casamento
Isabela
Como havia imaginado, minha noite depois do
karaokê foi longa, cheia de choro e coração apertado por
causa do Leonardo. No final da noite Juan se ofereceu
para me seguir com o seu carro até o meu prédio, mas
acabei convencendo ele que não precisava. A noite que
ficamos juntos tinha sido maravilhosa e tinha sido
sincera com ele sobre meus sentimentos. M as também
não queria me afastar dele. Adorava conversar com ele e
pelo andar da carruagem ele estava aceitando numa boa.
Já passava das quatro horas da manhã e eu ainda não
tinha conseguido pregar o olho, tinha chorado bastante.
Disquei várias vezes para o Léo, mas antes que
começasse a chamar eu desligava. Não tinha coragem.
Sentia-me uma bobona e insegura sem saber o que fazer.
Quando pensava que estava evoluindo, a minha baixa
autoestima voltava querendo me possuir novamente.
A atitude do Leonardo no Bar Karaokê mexeu
totalmente comigo. Sentia um misto de desespero e ódio
por ele. Como uma pessoa podia me rejeitar e ao mesmo
tempo me desejar? Sim. Desejar. Pois foi o que ele
passou para mim através dos seus olhos. Aqueles olhos
que conseguia me derrubar de todas as formas possíveis.
Tia Luíza estava certa. Eu não estava preparada para
pedir o divórcio e, agora, o meu coração doía só em
pensar na possibilidade do Leonardo querer se divorciar.
Passei o final de semana enfurnada no meu
apartamento, não queria ver ninguém. Fiz tudo que uma
pessoa que sofre de insegurança não deveria fazer.
Chorei. Empanturrei-me de guloseimas. Chorei. Assisti
a filmes melosos. Chorei... Enfim, chorei muito, por não
saber o que fazer e com medo que o Leonardo me
rejeitasse, novamente. Lilian me ligou várias vezes e
percebendo minha tristeza me convidou para um
passeio. Dei várias desculpas e ela acabou sendo forçada
a aceitar meio a contragosto.
Na segunda-feira, mesmo ainda para baixo, consegui
levantar da cama a base de muito esforço. Tomei um
banho rápido, vesti uma calça jeans com uma camisa de
botões com manga na cor azul clara e calcei uma
sapatilha confortável vermelha. Já na frente do espelho,
ainda se percebia que eu havia chorado muito e por
muito tempo. Passei um pouco de base para disfarçar o
inchaço combinado com um pouco de rímel e gloss cor
de boca. Fiz uma trança meio torta nos cabelos e passei
um pouco de perfume no pescoço. Não estava nos meus
melhores dias para se estar apresentável, mas também
não faria feio na frente dos meus pacientes. Arrumei
minha bolsa e separei o necessário para levar ao
trabalho. Saí do apartamento e segui para a garagem.
Assim que cheguei à clínica, a primeira coisa que fiz
foi procurar o carro do Leonardo no estacionamento.
Procuraria motivos para conversarmos e esbarrar com
ele no estacionamento era um deles. M as para a minha
infelicidade o seu carro não se encontrava. Segui em
direção à recepção e procurei por Lilian, que logo avistei
conversando com a enfermeira Clarissa. Não sei o que
era, mas tenho a sensação que a Clarissa não vai com a
minha cara. De certa forma imagino que seja pelo fato
dela ser um dos casinhos do Igor.
Lembro que no dia que a turma da clínica se reuniu
em um bar de um conhecido nosso. Ela estava
acompanhada dele, porém isso não o impediu de se
insinuar para o meu lado e até mesmo me convidar para
dançar um Zouk, que por sinal surpreendeu-me
bastante. Passei por elas, cumprimentando, e pedi a
Lilian que assim que pudesse fosse a minha sala. Ela
sorriu gentilmente e me disse que em dez minutos
apareceria. Já a Clarissa sorriu falsamente, mas nem
liguei.
Segui em direção ao meu consultório, mas antes parei
em frente à porta do consultório de Leonardo. Respirei
fundo, toquei na maçaneta e abri a porta. Sabia que o
Leo não estava então não correria o risco de ser pega por
ele. Entrei e fui surpreendida pelo seu aroma
inesquecível e único. Era tipo amadeirado e sexy. Olhei
aquele espaço e cada pedaço o lembrava.
A sua sala emanava poder e domínio assim como ele.
Fui para sua mesa e mesmo sabendo que era errado
folheei algumas páginas da sua agenda, apenas para
poder senti-lo próximo a mim. Na sua mesa do lado
esquerdo constava seu notebook, um porta-canetas e
folhas de prescrição médica. Já no lado direito ainda
continha um porta-retratos com a foto do nosso
casamento. Um presente dado pela Julinha, sua irmã.
Admirei nossa foto e lembrei-me do dia do nosso
matrimônio. Tinha sido uma cerimônia simples. Apenas
nossos familiares e amigos mais chegados. M as também
tinha sido lindo e emocionante. Guardaria esse
momento, enquanto vivesse, na minha memória. Toquei
a foto e observei nossos sorrisos, estávamos tão felizes.
Em cima da sua poltrona se encontrava um dos seus
jalecos, aproximei e peguei. Fechei os olhos e levei o
tecido ao nariz para sentir o seu cheiro. Peguei cada
manga do jaleco e ainda com olhos fechados comecei a
acariciar meu rosto e dorso imaginando que eram as
mãos do Leonardo. Estava tão perdida em meus
pensamentos que não percebi quando a Lilian entrou.
— Atrapalho? — ela me olhava com aqueles olhos
gentis. Enrubesci e coloquei o jaleco de volta onde
estava.
— Hum... Eu... Eu só estava... — não consegui
processar nada e com certeza Lilian já havia sacado o
que estava fazendo.
— Cheirando o jaleco do seu marido — concluiu. —
Isa, não se sinta envergonhada. Eu sei que você o ama.
Não precisa me esconder — lágrimas saltaram dos meus
olhos e Lilian veio ao meu socorro para me abraçar,
acolhendo-me carinhosamente.
— Eu, sinceramente, não sei o que fazer. Estou aos
prantos com medo de procurá-lo e ser rejeitada,
novamente — disparei tudo que o meu coração sentia.
Sabia que tínhamos que conversar, mas morria de medo
do que o Leonardo falaria. — Eu pensei que poderia
esquecê-lo e tentei Lilian. Juro que tentei, mas acho que
o que eu sinto pelo Leonardo é muito forte — choro e
os soluços haviam voltado.
— Shiii... Não chora, pequena. Você precisa se
acalmar e pensar no que deve fazer — Lilian consolavame. — Você já pensou que talvez o Leonardo esteja com
medo de você rejeitá-lo, também? — perguntou.
— Leonardo me leva a loucura. Uma hora é atencioso
e carinhoso. Outra me humilha e é ignorante. Não sei o
que se passa na cabeça dele — soltei seu abraço e levei
minhas mãos aos olhos para enxugar as lágrimas.
— Isabela Alencar, me ouça! — falou enquanto
pegava lenços de papel em um armário próximo e me
entregava. — Leo te ama e está perdido e confuso, assim
como você — Lilian sentou na poltrona dele e puxou-me
para seu colo. — As coisas desandaram um pouco com
a Operação Mulherão. Quer dizer, te ajudou bastante, é
claro, como mulher. Você ficou ainda mais linda e você
teve orgasmos — riu seriamente. — M as você já pensou
o quanto isso pirou na cabeça do Leo? Ele é ciumento e
possessivo, mas acredito que certas atitudes foram
tomadas por impulso — Lilian mexia na minha trança do
cabelo.
— Eu sei que o provoquei, mas ele foi grosso
comigo. No entanto, eu não consigo ter raiva dele. Tenho
na hora, mas depois passa — falei.
— O que eu vejo são dois orgulhosos apaixonados
que estão com medo de dar o braço a torcer e um fica
esperando o outro tomar a iniciativa.
A Lilian sempre conseguia falar o que eu precisava.
— Por que você não faz o seguinte: espere até o
casamento da Ju. Lá vocês serão obrigados a estar
próximos. E se ele não falar nada, tome a iniciativa e o
chame para conversar.
Não tinha lembrado que ele e eu estaríamos lado a
lado no casamento da Júlia.
— E se ele recusar, algo que duvido, seja forte e siga
em frente sem medo — ela concluiu sorrindo.
— Ele não irá aparecer aqui pela clínica antes do
casamento, não é? — perguntei e Lilian concordou com
a cabeça dizendo que ele ficaria esse tempo pelo
hospital. — Queria conversar com ele antes, mas você
está certa Lilian, o casamento da Julinha será minha
última cartada — fechei os olhos e orei, pedindo
silenciosamente, que não me deixasse falhar na hora.
— Isa? — Lilian chamou e abri os meus olhos. —
Você sabe que para a relação de vocês dar certo, você
deverá contar tudo pra ele. Inclusive sua noite com o
gostosão do seu paciente — falou seriamente.
— Sim. Eu direi tudo para o Leonardo e seja o que
Deus quiser — não me arrependi de ter ido pra cama
com o Juan. Tinha sido maravilhoso e eu adorava estar
com ele. M eu único receio seria a reação do Leo sobre a
notícia. Principalmente em aceitar a nossa amizade.
Porque minha nova operação seria a de unir duas
pessoas incríveis. E se fosse preciso seria o cupido da
M aria com o Juan.
Lilian e eu ficamos mais alguns minutos no
consultório dele e depois segui para minha sala para
atender o meu primeiro paciente do dia.
Os dias seguintes foram à base de trabalho, ajudar
Júlia com os preparativos do casamento e ligar para o
Raul para saber se o Leo estava no bar dele. Isso
mesmo, não o procurei, mas seguia seus passos. E um
deles era o Raul que, depois que conversei com ele, me
ligava quase todas as manhãs para dizer que o Leonardo
tinha estado em seu bar. Porém ficava recolhido em uma
mesa de canto bebendo e pensativo. M uitas vezes quis
ir até lá e levá-lo para minha casa e cuidar dele, mas não
queria que ele se sentisse fragilizado por encontrá-lo
indefeso. Então só buscava o máximo de notícias dele.
Quando faltava apenas três dias para o casamento,
Julinha estava mais nervosa. Era algo que significava
perigo, uma bomba relógio prestes a explodir. E de
quebra eu começava a ficar ansiosa, também, com a
aproximação do casamento e de estar frente a frente com
Leo. Então, precisava espairecer e sair um pouco dessa
vida de madrinha de casamento de uma noiva grávida
com os hormônios todos alterados, pois praticamente
encontrei-me todos os dias com ela para resolver tudo.
Decidi então ligar para M aria e convidá-la para
almoçar. Tentaria confirmar o que eu já sabia sobre seus
sentimentos com o Juan e, a partir daí, buscaria uma
forma de uni-los.
M arcamos em um restaurante próximo à clínica, não
aquele que o Leonardo deu um show, lá ainda não teria
coragem de voltar. Escolhi um restaurante de massas.
Quando cheguei, M aria já me esperava. Linda e
sorridente. Cumprimentamo-nos e fizemos nossos
pedidos.
— Isa, obrigada por me convidar para almoçar —
falou sorridente.
— Peço desculpa pela demora do convite, mas com o
casamento da Júlia, estou praticamente sem tempo
mesmo com meu tempo livre — sorri me lembrando da
prova do vestido de noiva que a Ju chorou se achando
uma melancia embrulhada, o que era totalmente exagero
dela. Ficou divino o vestido.
— Juan comentou comigo sobre esse casamento. Da
sua cunhada, não é isso? — perguntou.
— Sim. A Júlia é irmã do Leonardo, meu marido —
falei meio sem graça. Era estranho dizer meu marido. Já
não morávamos juntos há alguns meses.
— Isabela — M aria chamou e me olhou nos olhos.
— O Juan me falou tudo que aconteceu entre vocês.
Não fique com raiva dele por me contar, mas somos
amigos há anos e ele adora você e meio que fica
preocupado. Entende? — ficou sem graça quando parou
de falar.
— Entendo perfeitamente M aria. E não ficarei com
raiva do Juan — parei de falar e esperei que ela
continuasse, mas ela ficou calada, então tinha chegado o
momento de perguntar. — M aria, posso te perguntar
algo? — ela percebendo aonde queria chegar sorriu.
— Sim, Isabela. Sou completamente apaixonada pelo
Juan — respondeu antes mesmo de eu perguntar, porém
com um ar de tristeza, o que me fez franzir o cenho. —
M as ele me vê como uma irmã, nada mais que isso —
abaixou a cabeça e fingiu estar olhando seu celular. M as
sabia que estava envergonhada.
— Deixe-me te ajudar a conquistá-lo? Não sou uma
PHD em homens, mas poderemos pensar em algo —
falei confiante.
Contei toda a minha história, desde a infância, como
a minha mãe se referia aos homens e minha mudança até
os dias atuais. M aria gargalhou alto que chamou atenção
das pessoas nas mesas vizinhas, quando contei que
tinha pedido para ver o pau do Leonardo numa visita
que fiz ao seu apartamento, o que também me fez ter
crises de riso ao lembrar. Claro que isso era algo íntimo,
mas ela me passava confiança e queria mostrar para ela
que poderia, sim, conquistar o Juan.
Dei algumas dicas do que tinha aprendido com a Tia
Luíza e Lilian para ela já começar a fazer. Combinamos
de nos encontrar novamente, depois do casamento da
Júlia com Luigi. M aria ficou meio receosa, mas ainda
assim disse que tentaria fazer e me agradeceu por querer
ajudá-la. Saí do restaurante totalmente relaxada e feliz
por estar ajudando uma amiga a conquistar um homem.
No entanto, quando a questão era a minha situação me
sentia insegura e com medo de fracassar.
******
Acordei cedinho, pois a Julinha insistiu que eu
estivesse ao seu lado o dia todo. Peguei meu carro e fui
buscá-la para irmos ao SPA em que eu tinha reservado
seu dia de noiva, como presente de casamento. Ela não
quis aceitar quando sugeri, em contrapartida, de tanto
insistir, ela aceitou com uma condição. Que eu estivesse
ao seu lado o dia inteiro.
Para que ela não desistisse, aceitei e não foi esforço
algum para mim. Tinha a Ju como a irmã que não tive e
queria, sim, estar naquele momento com ela. Parei na
frente de seu prédio e esperei que ela descesse. Ao
entrar no carro percebi que aquela agitação dos dias
anteriores havia sumido. Ela demonstrou uma tensão,
então decidi nem dar partida. Ela estranhou o carro não
estar em movimento e olhou para mim. Vi em seus olhos
que existia o "bichinho" da dúvida e perguntei se estava
tudo bem. Ela disse que sim, mas virando a cabeça para
a janela, tentando me evitar. Segurei em seu braço e a
puxei para um abraço.
Neste momento, percebi que a Julinha soluçava e eu
alisava suas costas dizendo que estaria ali com ela e que
não a deixaria em momento algum. Ela se separou do
meu abraço e me falou que tinha medo de estar
precipitando as coisas em casar tão cedo, só por causa
da gravidez. Não tinha dúvidas com relação ao que
sentia pelo Luigi. M as o que me chamou atenção foi o
fato dela dizer que via a mim e seu irmão como um casal
modelo para ela, e que achava que isso seria somente
uma crise. M as que estava percebendo que nós não
teríamos mais volta, o que me deixou mais nervosa.
Disfarcei para não piorar seu estado.
Às vezes sinto raiva de mim por esses problemas
com relação ao Leo ainda me abalarem tanto. Enfim,
disse a ela que nem todos os casais eram iguais. Que ela
não tomasse meu casamento por experiência. O Luigi a
amava muito e eles teriam um bebê. O que abençoaria
ainda mais a união deles dois. Foi a partir daí que pude
enxergar esperança em seus olhos e um belo sorriso.
Seguimos para o SPA e o dia passou voando.
Tivemos banho de ofurô com sais, velas e pétalas de
rosas. Relaxante corporal, shiatsu facial, almoço e lanche
especial. E logo depois, seguimos para os camarins, o
exclusivo da Ju e eu, como madrinha, no camarim ao
lado.
No camarim foram feitas maquiagem, pele, unha e
cabelo. Tudo sendo fotografado para compor parte do
seu álbum de casamento. No fim a Julinha estava
deslumbrante. Seu vestido era de alça, com tecido
prateado entrelaçado. O decote em "V", valorizando o
seu colo marcado por flores prateadas de pequenos
brilhantes. Tinha uma leve camada de tecido que caía por
cima da sua barriga de grávida que já aparecia.
Quando Júlia se virou para colocar os brincos,
percebi que suas costas estavam nuas, abertas em um
decote deslumbrante, que acabava no meio das costas
com várias camadas de cetim formando uma calda ao
redor dos pés. O cabelo dela estava perfeito. Ela fez
questão de não prendê-lo por completo, já que colocaria
um arranjo que a meu ver seria uma tiara, mas o mesmo
era uma fita de pedras que em cima servia como tiara,
circundando seus cabelos como uma coroa que descia
envolvendo sua trança folgada, caída sobre os seus
ombros.
A Ju estava linda. Dei-lhe um beijo e disse que estava
a caminho do local e que logo nos encontraríamos. Ela
me abraçou dizendo que eu estava linda e tentamos não
chorar para não borrar a maquiagem. Ao sair encontrei
com o Senhor Virgílio, pai da Júlia e do Leonardo, que
chegava para pegar a filha. Cumprimentou-me
educadamente e depois foi ao encontro da filha.
Peguei meu carro e segui em direção aonde seria
realizado o casamento. A cerimônia e a festa
aconteceriam no jardim da casa dos pais de Luigi e ao
chegar percebi que tudo estava divino. Toda a decoração
estava nos tons de verde e branco. As flores eram lírios
espalhados em todos os locais.
A cerimônia seria ao entardecer e de frente à vista do
sol se pondo, o que seria perfeito. Foi colocado um
tapete vermelho da entrada ao altar e dispostas cadeiras
aparadas por arranjos de flores. Terminando a cerimônia,
os convidados iriam se dirigir à parte dos fundos do
jardim, no qual foi armada uma tenda enorme, com todos
os móveis na cor branca, assim como toda a tenda.
Pendurados nela tinham lustres nos formatos de bolas,
todas espelhadas, mas o que mais chamava atenção era o
tapete central que tinha suas inicias gravadas num tom
de verde, para fazer a combinação com as toalhas de
mesa.
Fiquei perambulando até que encontrei M aitê e
Benício indo em direção aonde seria realizada a
cerimônia. M aitê estava linda num vestido longo
amarelo e é claro que o Benício não a desgrudava sequer
um segundo. Ficamos conversando até que escutei a voz
do Leonardo. Virei automaticamente em direção de onde
vinha o som de sua voz e nossos olhares se encontraram
de imediato. Se meu coração estava a mil, triplicou
quando o vi.
Leonardo caminhava elegantemente em nossa
direção, seu olhar sem nunca deixar o meu. Ele estava
divino, vestindo um terno sob medida, cinza grafite,
camisa branca e uma gravata verde que era uma das cores
do casamento. Seu cabelo estava cortado e bem aparado,
sua barba estava por fazer e usava óculos de grau, o que
dava um charme ao seu porte.
— Acho que ainda posso dizer boa tarde. Então, boa
tarde — falou e sorriu abraçando Benício e dando um
beijo no rosto da M aitê. — M aitê, você está linda, não é
à toa que o meu amigo não à solta por um minuto —
debochou do Benício, que apenas concordou dizendo
que estava cuidando do que é dele. Ele se aproximou de
mim. M inhas mãos estavam frias e suava só por estar
próxima a ele.
— Perfeita, M inha Paixão. Como sempre, perfeita!
— disse tocando com uma das suas mãos meu rosto,
igual como fez no bar Karaokê. Sorri timidamente.
Ficamos os quatro conversando. Leonardo comentou o
quanto o Luigi estava nervoso com medo de que a Júlia
não aparecesse. E em nenhum momento, da conversa,
parou de me tocar ou saiu do meu lado, também. Agia
normalmente como se fôssemos um casal.
A mestre de cerimônia apareceu avisando que a
cerimônia iria dar início e nos mostrou onde deveríamos
ficar. Leonardo de imediato pegou a minha mão, beijou o
dorso e encaixou em seu braço. Despedimo-nos de
Benício e M aitê e seguimos para onde a mestre de
cerimônia nos indicou. Sentia-me completa estando ao
lado do Leo, parecia que tudo estava perfeito, busquei
esquecer por algumas horas a nossa crise conjugal.
Um pouco à frente avistei o Luigi com sua mãe, e era
visível o quanto ele estava nervoso. Dona Rosália, mãe
do Leonardo e da Júlia, estava com o pai do Luigi
aguardando o momento de seguir no tapete até o altar.
Não éramos muito próximas. M as não a tinha
cumprimentado desde que cheguei porque ainda não a
tinha visto, não sei se seria falta de educação, mas
esperaria para depois da cerimônia para falar com ela.
Sem esperar, fui pega de surpresa quando o Leonardo
com as duas mãos pegou cada lado do meu rosto e
forçou-me a olhá-lo.
— Hoje você não me escapa — disse e roçou seus
lábios nos meus — Prometa-me que não irá embora sem
mim — pediu olhando fundo nos meus olhos.
— Sim. Eu prometo — concordei, completamente,
hipnotizada. Era tudo que eu queria nesse momento.
Ficar com ele, mesmo que não desse certo, mas hoje
decidiríamos nossa relação de vez.
A cerimônia começou, perfeitamente, com a entrada
dos padrinhos, seguidos pelo pai do Luigi e a mãe do
Leo e da Júlia. Luigi entrou com sua mãe e seus olhos
estavam marejados. Ao chegar ao altar beijou sua mãe
que foi sentar-se no seu lugar. Pegou um violão que já
estava no altar e ajustou o pedestal do microfone até
ficar em uma boa posição. Luigi respirou fundo e, como
num passe de mágica, Julinha apareceu no início do
tapete, ao lado do seu pai. Os primeiros acordes do
violão surgiram e logo em seguida a voz do Luigi
encantou a todos ao som da música Marry Me, da banda
Train. Ele tinha feito questão de cantar enquanto a Júlia
entrava, apesar de ter receio que sua voz não sairia pela
ansiedade. M as estava dando tudo certo até o momento.
Júlia seguiu no tapete, totalmente emocionada,
lágrimas escorriam dos seus olhos e seu buquê de lírios
tremia, visivelmente, em suas mãos, pelo seu
nervosismo. Olhei em direção ao Leonardo e ele estava
estático admirando sua irmã. Era um momento único na
vida da Júlia e do Luigi e amigos e familiares estavam ali
para prestigiar o casal.
O Luigi mesmo emocionado conseguiu cantar toda a
música até o fim. O senhor Virgílio entregou a Júlia
colocando a mão dela sobre a do Luigi e falando que
estava dando o seu bem mais precioso e que ele cuidasse
dela como uma preciosidade. Foi uma cerimônia linda e
o Leonardo não soltou minha mão em nenhum
momento, nem mesmo quando algumas lágrimas de
felicidade surgiram em meus olhos. Ele mesmo secou,
passando seus dedos delicadamente pelo meu rosto.
Além do Benício e M aitê, foram convidados a Lilian,
o Igor e os meus pais, que não puderam comparecer
devido uma viagem já marcada. Porém enviaram um
belíssimo presente e um cartão.
Ao final do casamento todos seguiram para as tendas
onde poderíamos cumprimentar os noivos e aproveitar a
festa. Tudo estava saindo como a Júlia havia planejado.
Leonardo e eu ficamos com nossos amigos, mas em
alguns momentos ele precisava falar com algum
conhecido da família e fazia questão que eu estivesse
com ele, para minha tranquilidade. Esses dias que passei
sem vê-lo tinham me deixado receosa, mas sua atitude
estava saindo melhor do que eu esperava. Todavia, ainda
não tínhamos tido nossa conversa e não estava segura
com sua reação após ela.
Às vinte horas foi anunciado o jantar e nós seguimos
para a nossa mesa, onde também estaria seus pais e mais
alguns membros da sua família. Enquanto chegávamos
aos nossos lugares uma banda cover tocava uma música
romântica e dois casais dançavam na pista. Eu ia na
frente e Leo logo atrás. De repente, fui puxada
encostando minhas costas no seu peito. Ele me apertou
possessivamente.
— Após o jantar quero dançar com você a noite toda
— Leonardo falou enquanto mordia o lóbulo da minha
orelha. Uma sensação maravilhosa me preencheu dando
esperança à nossa relação.
— Não vejo a hora — falei tentando soar mais sexy
possível.
Antes de chegar à mesa, o pai do Leonardo o chamou
e pediu ajuda com um imprevisto. Leo beijou-me na
testa e disse que não demoraria. Balancei a cabeça
confirmando e segui em direção à mesa que deveríamos
ficar. Passei por Júlia, a abracei mais uma vez, e toquei
sua barriguinha. Ela estava radiante e me pedia mil
perdões por não estar me dando atenção. Chamei-a de
boba e disse que entendia e que ela tinha mais que
aproveitar a festa. Júlia riu e falou que o que mais queria
agora, era a sua noite de núpcias e que achava que outro
casal, que ela torcia bastante, também teria uma noite e
tanto. Sorri e a beijei sem dizer uma palavra.
Ao chegar na mesa, o senhor João e sua esposa Dona
Renata, tios do Leo e da Júlia vieram falar comigo.
— Isabela, como vai? — Dona Renata que era irmã
do pai do Leo me abraçou, gentilmente. Seguida por seu
marido.
— Estou bem. Obrigada — respondi, educadamente.
Sentamos nos nossos lugares e começamos uma
conversa animada.
— Peço desculpa pelo atraso, mas em instantes o
jantar será servido — Dona Rosália, mãe do Leo, chegou
falando. Levantei e fui em sua direção cumprimentá-la.
Sabia que ela era uma pessoa reservada. No entanto, ela
foi totalmente ríspida ao falar comigo, mal dirigiu uma
palavra.
Constrangida
voltei
e
sentei-me,
silenciosamente, procurando pelo Leonardo que havia
sumido com seu pai já algum tempo.
— Isabela, você não pensa em aproveitar a
temporada da cegonha da família M edeiros e trazer mais
um rebento? Aproveite que a cegonha está à solta.
Primeiro a Julinha e, agora, meu filho Edgar me ligou
ontem da Espanha comunicando que serei vovó. Estou
numa alegria só — Dona Renata era totalmente animada.
Com certeza Júlia tinha puxado a ela. — Tem previsão
para você e o Leozinho planejarem um bebê? —
perguntou.
— Acho essa conversa totalmente desnecessária, já
que meu filho está separado — Dona Rosália falou antes
mim.
— Separado? — perguntou Dona Renata surpresa
— Como, se eles não se desgrudaram, em nenhum
momento, durante todo o casamento, até agora? Não
quero nem pensar se estivessem juntos. Com certeza
rolaria sexo explícito — concluiu tentando melhorar o
ambiente.
— Como é mesmo que os jovens falam hoje em dia?
— Dona Rosália parou e pensou. — Ah. Foda! Uma
noite de foda. É isso que Leonardo quer com essa daí
que a Júlia insiste em ter como amiga — meus olhos
arregalaram e, com certeza, estava totalmente vermelha,
tomada por vergonha. Sabia que a mãe do Leo era
antiquada, mas nunca tinha dado motivos para me
desrespeitar. Dona Renata tentou acalmar os ânimos da
cunhada o que só piorou. Não sabia o que fazer, não
podia discutir no casamento da Ju justamente com a sua
mãe. Educadamente me levantei e pedi desculpa a Dona
Renata e ao senhor João. E, antes mesmo que eles
falassem algo, virei e choquei em um peitoral que me
segurou firme.
— Isa, não dê ouvidos à ela. Dona Rosália está
enciumada — Luigi falava baixinho tentando me acalmar.
M as tudo o que queria era sair dali o quanto antes.
— Luigi não fala nada para Ju, por favor. Não quero
estragar a festa de vocês e ela está tão feliz — supliquei
tentando segurar as lágrimas.
M esmo indeciso, Luigi concordou e me soltou. Saí
em disparada em direção ao meu carro. Não falei com
ninguém, não tinha condições. Com as mãos trêmulas
procurei a chave do carro na clutch. Abri a porta e entrei
encostando a cabeça no banco e deixando as lágrimas
saírem. Agora eu tinha ideia de onde o Leo aprendeu a
usar palavras duras. Debrucei a cabeça no volante e
tentava acalmar meu corpo trêmulo para conseguir sair
dali.
Levei um susto quando a porta do meu carro foi
aberta, abruptamente. Era Leonardo. Parecia assustado.
Abaixou e secou minhas lágrimas. Tirou-me do carro,
colocando-me em seus braços. Senti-me totalmente
segura novamente. Ele deu a volta no carro, abriu a porta
do passageiro e me fez sentar no banco. Apertou o cinto
de segurança e tocou no meu queixo levantando para que
olhasse em seus olhos.
— Nada de ir embora sem mim. Você prometeu —
beijou meus lábios e levantou fechando a porta em
seguida. Segundos depois, abriu a porta do motorista,
entrou, e, sem dizer uma palavra, ajustou o banco e
pegou a chave que estava em minhas mãos. Apenas o
observava. Leonardo estava ali comigo e era tudo que me
importava agora.
— Vamos para casa, M inha Paixão. A partir de hoje,
se você tiver que chorar, será em meus braços — ligou o
carro e saiu. Para onde iríamos não me importava.
Fechei os olhos e agradeci. Uma etapa tinha
ultrapassado. E para mim já era uma vitória.
Capítulo 14 – Porque você é meu tudo
Leonardo
Desde o dia que a Luíza falou que a Isabela iria pedir
o divórcio passei a ter pavor de encontrá-la. M orria de
medo de ouvir sair da sua maldita boca a palavra
divórcio. Sempre fui um homem de enfrentar meus
medos e desafios, mas em se tratando da Isabela, posso
assim dizer, que me descobri um covarde e fraco. Eu a
amei desde o primeiro momento que a vi, porém fui
orgulhoso o suficiente para não admitir.
O que mais corroía em minha cabeça era a forma
como a tratei em cada momento em que estivemos
juntos. Eu a humilhei e agredi verbalmente. Entendia
perfeitamente o fato de ela querer se separar de mim, no
entanto eu iria lutar até o fim para tê-la em meus braços.
Para isso a primeira coisa que tentaria mudar seriam
minhas atitudes e impulsos. Claro que é algo que não se
muda da noite para o dia, mas pela Isabela faria tudo o
que fosse preciso.
As semanas se passaram e avistei Isabela
pouquíssimas vezes. Havia evitado ir à clínica, então
transferi todas as minhas consultas para o hospital.
Foram dias difíceis por estar longe dela, mas quando
você almeja algo tem que lutar.
Durante as manhãs focalizava em meu trabalho.
M atriculei-me em aulas de jiu-jitsu, no fim do dia, e à
noite, sem querer ir para casa, me enfurnava no bar do
Raul. Foi a forma que encontrei para não correr até o seu
apartamento e implorar o seu perdão. Apesar de que
muitas vezes não resistia e, sem que a Isabela
percebesse, seguia ela até a academia de dança. Eu me
sentia como um maníaco, mas foi a única forma que
encontrei para vê-la.
Quase todos os dias Júlia me ligava, ou ia ao meu
apartamento, para dizer que eu estava agindo feito um
idiota e que deveria ir atrás da Isa antes que fosse tarde
demais. M as sem ninguém saber, em uma noite de
bebedeira, não resisti e liguei para a Lilian implorando
que me ajudasse a reconquistá-la. Ela foi ao meu
encontro e conversamos. Lilian se prontificou a me
ajudar, porém deixou claro que se eu a magoasse
novamente, sem ao menos deixá-la se defender, seria a
primeira a afastá-la de mim. Combinamos então que a
tentativa de reconquista seria no casamento da minha
irmã. Lilian iria encontrar uma forma de mostrar a
Isabela que eu a amava e que eu iria provar esse amor.
***
Hoje era o casamento da Júlia e eu estava
duplamente ansioso. Primeiro por ser o casamento da
minha irmã. Era o seu dia e não queria que nada desse
errado; e segundo porque seria tudo ou nada para ter
minha mulher nos meus braços para nunca mais sair.
Estava me concentrando ao máximo para não estragar
nada.
Desde o dia que a vi no Bar Karaokê aumentei as
esperanças da nossa reconciliação dar certo. O Benício
tinha comentado que levaria a M aitê para uma reunião
de amigos da academia de dança, algo que eles vinham
fazendo todas as quintas-feiras. Falou-me que a Isabela
também estaria lá. Então como um teste de controle, fui
até esse bar. Cheguei e fiquei de longe só observando a
minha pequena. É claro que os idiotas, o Juan e o
professorzinho Fernando estavam lá. M eu corpo tremia
só em vê-los perto dela, mas busquei força não sei de
onde e tentei me controlar ao máximo.
Surpreendi-me ao vê-la subir ao palco quando uma
moça a chamou para cantar. M inha Paixão tinha arrasado
no karaokê. Desafinada, linda e muito sexy cantando.
Tinha acertado toda a letra. Porém sua voz era um
desastre fazendo-me sorrir, vendo-a se divertir. M eu
coração se partiu em pedaços quando vi todos os seus
amigos zoando ela na brincadeira, após o término da
música. Era para eu estar ali naquele meio também.
Então não resisti e levantei indo em sua direção.
Chegando próximo a Isa, me amaldiçoei internamente
quando vi em seus olhos pavor. Com certeza ela achava
que iria humilhá-la novamente e tive ainda mais certeza
do quanto a magoei. Toquei seu rosto macio passando
meu polegar entre seus lábios carnudos e a elogiei,
transformando aquele olhar de medo para um olhar cheio
de dúvidas. Com muito esforço virei-me e fui embora.
M esmo sem querer ir. E agora estava aqui tentando
acalmar os nervos do meu futuro cunhado e o meu
também.
Avistei de longe quando a Isabela chegou à casa dos
pais do Luigi, onde seria realizada a cerimônia.
Timidamente caminhou entre os convidados até
encontrar Benício e M aitê. Estava linda. Que a Júlia não
me ouvisse, mas a Isabela era a mulher mais linda do
casamento. M eu lado possessivo ficou em alerta e não
pensei duas vezes em ir ao seu encontro.
Ao me aproximar percebi o quanto a afetava. E me
aproveitei da situação para não sair de perto dela.
Estava autoconfiante, Lilian havia me ligado na noite
anterior e dito que havia conversado com a Isabela e
incentivado a me procurar para conversarmos. E mais
uma vez, alertou-me sobre ouvi-la.
A cerimônia tinha sido linda e emocionante. M inha
maninha estava radiante, porém, estava louco que a festa
acabasse para enfim ficar a sós com a Isa. Para onde eu
ia a levava comigo e entre muitas pessoas que
cumprimentamos a apresentei como minha esposa, algo
que ela não reclamou.
Estávamos seguindo para nossa mesa, onde seria
servido o jantar quando meu pai me chamou para ajudálo em um problema que havia acontecido com o buffet.
Beijei a sua testa carinhosamente e pedi que seguisse
para a mesa, que logo eu apareceria.
— O que está acontecendo? — perguntei ao meu pai
preocupado.
— Não sei direito filho, mas sua mãe falou algo sobre
o buffet não ter cumprido com o cardápio que ela e a
Júlia escolheram — falou chateado. M eu pai apesar de
conservador era um homem tranquilo e com certeza
estava odiando resolver esse tipo de pepino. Tomei a
frente do problema e tentei solucionar o mais rápido.
Acabou que não era nada demais, apenas exagero de uma
mãe de noiva. M amãe tinha solicitado como prato
principal um creme à base de frutos do mar com ervas
finas e acabou que o pedido foi trocado. Porém a
própria equipe do buffet havia percebido o erro e já
estava solucionando. Agradeci a equipe e voltei para a
tenda. Antes mesmo de chegar à mesa, Luigi apareceu na
minha frente e seu semblante indicou que algo havia
acontecido.
— Se você me disser que acabou o gelo vou te socar
a cara — falei irônico.
— Antes fosse o gelo... — disse sem graça. — Sem
fazer alarde para a Júlia não perceber, quero que você vá
atrás da Isabela — meu corpo gelou só de imaginar o que
poderia ter acontecido.
— Fala logo Luigi! O que aconteceu? — perguntei já
com o coração saindo pela boca.
— Sua mãe, Dona Rosália, a destratou na frente dos
seus tios — olhei para a mesa aonde tinha pedido para
Isabela me esperar e minha mãe conversava
tranquilamente, como se nada tivesse acontecido. Tio
Joaquim e tia Renata aparentavam estar chateados.
— Para onde ela foi? — perguntei tentando não
deixar o desespero me dominar. Por mais que eu amasse
a Júlia, eu iria correr a atrás da minha felicidade.
— Ela foi embora, mas se você correr ainda a
encontra no estacionamento — respondeu. — Não se
preocupe com a Júlia, não deixarei que estraguem o
nosso dia. Agora vá atrás da Isabela — concluiu.
Saí apressado. Se a Isabela já tivesse ido embora iria
direto ao seu apartamento, mas hoje ela estaria comigo.
Já com minha mãe eu resolveria depois. A Isabela nunca
deu motivos para mamãe a destratar. E a Dona Rosália
teria que me dar uma boa explicação.
Avistei o carro da Isa ainda parado no mesmo lugar
que ela havia estacionado. Corri em sua direção. Sem
pensar duas vezes, abri a porta do motorista, assustado,
com medo de que ela não estivesse ali. Encontrei uma
Isabela trêmula e chorando copiosamente. Sequei suas
lágrimas e sem dizer nada a peguei em meus braços,
onde ela se aconchegou perfeitamente, a levei para o
outro lado do carro, colocando-a no banco do
passageiro. Retornei ao lado do motorista e saí em
direção ao meu apartamento.
Durante o percurso Isabela se mantinha silenciosa,
mas percebi que estava mais calma e suas lágrimas
haviam cessado. Toquei seu rosto a fazendo olhar para
mim genuinamente.
— M e desculpe por minha mãe — falei.
— Não foi culpa sua — disse tentando amenizar. —
Acho que ela deve ter seus motivos para ter feito isso
— não acreditava que a Isabela estava tentando aliviar a
barra da minha mãe.
— Sim. Foi culpa dela. E depois a minha mãe terá
que me explicar o porquê dessa atitude — disse
categórico.
— Por favor, Leo. Não quero criar intrigas entre mãe
e filho — tentou soar preocupada, mas levei minha mão
aos seus lábios silenciando-os. Ela concordou e
seguimos o nosso trajeto em silêncio.
— Você disse no estacionamento que estávamos indo
para casa — Olhava para mim insegura.
— Por hoje estamos indo para o meu apartamento,
mas depois veremos a questão da moradia —
comuniquei.
— Leo... Nós precisamos conversar antes de
qualquer coisa — disse enquanto se ajeitava no banco.
— Iremos conversar, mas não hoje — parei num
sinal vermelho e a olhei nos olhos. — Tudo o que eu
quero hoje é terminar essa noite com você em meus
braços — sorri. — Amanhã conversaremos. Tudo bem?
Ao chegar ao meu prédio, estacionei seu carro na
minha garagem. Estava tentando soar tranquilo, mas
estava nervoso. Queria que essa noite fosse perfeita. Ao
entrarmos no meu apartamento, Isabela parou no meio
da sala olhando tudo em volta. Ela sabia que não
encontraria nada fora do lugar. Por morar sozinho desde
os meus vinte anos, sempre busquei organização. Seu
olhar se fixou no sofá e a vi sorrir lindamente. Sabia que
estava lembrando-se da noite em que esteve aqui e me
enlouqueceu fazendo sexo oral. Aproximei-me por trás
dela e a abracei. Ela encostou sua cabeça no meu peito e
juntou suas mãos aos meus braços.
— Naquela noite você me deixou totalmente louco de
desejo — falei buscando acesso ao seu pescoço para
sentir o seu cheiro delicioso.
— Você também me deixou completamente em
chamas — mordeu o lábio inferior.
Virei-a para mim e levantei seu rosto, olhando
aqueles olhos verdes hipnotizantes. Não acreditava que
ela estava aqui comigo. Com certeza, Isabela estava
sentindo o quanto meu coração estava acelerado. Não
resisti à tentação e encostei nossos lábios. A princípio
foi um beijo terno. Em seguida, aprofundei mais o beijo
a
sugando
totalmente.
Isabela
correspondeu
perfeitamente. Parecíamos dois desesperados. Com
muita dificuldade soltei seus lábios tentando me
controlar para fazer tudo certo.
— Estava morrendo de saudades de você, M inha
Paixão — disse ofegante com nossas testas encostadas
uma na outra.
— Leo me leva para seu quarto e faça amor comigo
— suplicou baixinho com olhos fechados, totalmente
excitada.
Rapidamente a coloquei em meus braços e a levei
para o meu quarto. Chegando lá, não acendi a luz. Deixei
a luz do corredor ligada e com ela, ainda, em meus
braços fui em direção à suíte para acender a luz. Queria
tudo à meia luz, para ser mais romântico. Em seguida,
fui em direção à cama e a coloquei de pé. Voltamos a nos
beijar desesperadamente como se o mundo fosse acabar
em um minuto.
— Eu preciso de você, meu amor — implorava, se
esfregando em mim, me deixando mais louco.
Em segundos tirei todo o meu terno, com sua ajuda,
ficando apenas de cueca. Olhei para minha Afrodite e
quase gozei só pela forma como ela desejava o meu
corpo. Puxei-a para mim e tirei seu vestido jogando-o no
outro lado do quarto. Isabela estava apenas com uma
pequena calcinha preta de renda.
Coloquei-a na beira da cama e fiquei de joelhos entre
suas pernas. Comecei a beijar todo seu corpo. Peguei
cada seio em uma mão, comecei a massagear e brincar
com os meus dedos nos seus bicos endurecidos. Levei
um seio à boca, sugando e mordiscando, deixando
pequenas marcas. Em seguida, fiz o mesmo com o outro.
Isabela gemia e clamava meu nome como uma oração.
Já louco para estar dentro dela. Deitei Isabela e ainda de
joelhos desci beijando todo seu corpo delicioso,
seguindo o caminho até chegar ao seu núcleo, que
mesmo ainda coberto, dava para sentir o seu pulsar. De
forma rápida rasguei sua calcinha e abocanhei entre suas
pernas sugando toda a sua essência.
Isabela estava tão excitada que não demorou muito
para os primeiros espasmos aparecerem, gozando assim
deliciosamente em minha boca.
Ainda estava
recuperando-se do orgasmo quando fui para cima dela e
antes mesmo que ela me tocasse aprofundei meu pau em
sua boceta. Gritamos juntos pela sensação maravilhosa.
Sentia-me completo, em casa, de onde eu não queria sair
nunca mais.
— M ais forte amor... Quero mais forte — Isabela
gemia e implorava para que eu estocasse cada vez mais
forte.
— Paixão... Eu não vou durar muito — respondia
enquanto mordia seu ombro tentando aliviar essa
sensação deliciosa.
Enterrei meu rosto em seu pescoço aumentando a
velocidade das estocadas. Isabela gritava de prazer e ao
mesmo tempo nos libertamos no orgasmo. Retirei meu
pau, ainda pingando de dentro dela e a puxei para os
meus braços.
Ainda normalizando nossas respirações, não
conseguia me desgrudar dela. Cheirando seu cabelo, e
dando vários beijos em sua boca, orelha, olhos, nariz e
queixo. Não cabia em mim de tanta felicidade.
— Você é maravilhosa — Senti-a sorrindo e comecei
a alisar seus cabelos. Demorou pouco tempo, quando
ouvi a respiração da Isa normalizar, percebi que tinha
caído no sono. Ajustei ela ao meu corpo para deixá-la
mais confortável, eu só queria ficar ali, daquela maneira.
Nada mais me importava. A partir de hoje seria o
homem mais feliz do mundo, pois sabia que ela me
amava. Pensando em tudo que tínhamos passado há
pouco, e ainda com um sorriso bobo no rosto, adormeci
abraçado a minha pequena.
*****
— Leo... Acorda — Isabela me chamava. Abri os
olhos e ela estava sentada na cama. Ainda estava escuro.
Olhei para o relógio que ficava na mesinha ao lado e
indicava quatro e quarenta da manhã.
— O que foi paixão? Não consegue dormir? —
perguntei puxando-a para meus braços e beijando seus
lábios.
— Perdi o sono — ela estava nervosa. — Leo,
precisamos conversar — disse voltando a sentar,
novamente, sobre seus joelhos. Percebi que ela tinha
vestido uma camisa minha.
Sorri para ela e perguntei se não poderíamos ter
nossa conversa após fazermos sexo mais uma vez.
Percebi que ela estava ansiosa com algo e resolvi que
realmente deveríamos conversar.
— Você tem razão. Precisamos conversar —
concordei me sentando. — M as me deixe falar primeiro
— pedi. E ela acenou com a cabeça concordando. — Isa,
eu fui um completo idiota — comecei. Ela tentou falar,
mas pedi que me deixasse dizer tudo. — Como disse, eu
sei que fui um idiota, errei muito com você. Eu tinha que
ter te ouvido, ser mais paciente, porra, eu perdi o
controle!
Eu estava nervoso, as palavras saíam sem que eu
pudesse controlar.
— Você não imagina tudo que passei nesses últimos
malditos dias! Eu tentei negar Isa, eu acho que neguei até
para mim mesmo... M as entenda. Você de repente
aparece como outra mulher, eu sei que é a minha Isabela,
M inha Paixão, mas, você mudou. E ver esses abutres de
olho na minha mulher me deixava louco... E eu acabava
agindo feito um ogro, me perdoa, eu vou mudar, eu
quero mudar Isa, por você, por nós — acariciei seu
rosto.
—Leo — Isabela me interrompeu, estava
emocionada, me olhando, me analisando.
Tentei continuar falando, mas ela dessa vez não
permitiu.
— Agora me deixe falar, por favor, me escute até o
fim. — senti que dali não vinha notícia boa, Isa tinha
esse poder de falar com os olhos, e eu estava
aprendendo a perceber cada emoção dela. — Leo, eu te
amo. M as você me magoou muito e chegou a um ponto
que eu não via mais como nossa relação iria dar certo. Eu
não aguentava mais sofrer! — disse com lágrimas nos
olhos, e continuou. — Eu decidi que iria viver minha
vida... Que merecia ser feliz. Eu estou me descobrindo
ainda como mulher.
Parou e acariciou meu rosto assim como fiz com ela.
— Leo! Eu não me conhecia. Não sabia do que eu era
capaz. Fiz coisas que nunca imaginei, eu mudei não só o
visual, eu mudei por dentro, eu me permiti isso, Leo.
— Isabela, é claro que eu percebi que você mudou —
Interrompi, eu sabia que ela ia dizer algo que podia
mudar tudo, ela estava séria e falava de forma decidida,
não era mais só aquela menina assustada. E eu estava
assustado com o que vinha dessa conversa. M as ela não
me deixou falar muito e continuou.
— Eu acreditei — me olhou receosa. — E você
também me ajudou a acreditar, Leo, que tudo entre nós
tinha acabado. E a nova Isabela precisava superar, e não
apenas se entregar ao sofrimento. E eu tentei, eu
realmente tentei, seguir em frente. Não sei se por estar
magoada, mas eu me sentia carente e confusa e quando
vi — fechou os olhos e como uma apunhalada, escutei o
que mais temia. — Leo... Leo, eu passei uma noite com
o Juan.
Paralisado. Foi assim que eu fiquei. M inha cabeça
girava, eu não conseguia ouvir nada do que a Isabela
dizia, só via seus lábios se movendo, mas ou eu ficava
quieto, ou tinha certeza que faria uma grande besteira.
Lutei contra minha vontade de gritar, me sentia um
animal enjaulado. Deitei-me novamente e fitei o teto
absorto. Depois de algum tempo a Isabela fez o mesmo.
Não sei bem quanto tempo se passou, mas ainda
estávamos deitados e aquela frase se repetia em minha
cabeça, inúmeras vezes. “Eu passei uma noite com o
Juan”.
Como aceitar que a mulher que nunca, anteriormente,
tinha se entregado a mim com desejo, e agora ouvi-la
confessar que esteve nos braços de outro? Acho que
realmente estou surtando e não escutei o que ela falou. A
Isa não teria coragem. Neste momento saí dos meus
devaneios com o toque tímido dela em meu braço.
— Olha para mim, Leo. Não me trata assim. Eu o
amo mais que tudo, mas não queria sofrer por esse amor.
Você me magoou e eu já tinha decidido que não teria
mais volta e que tocaria minha vida — não queria aceitar
os fatos e como um garoto birrento, coloquei meus
braços nos olhos, achando que aquilo não teria passado
de um pesadelo. — Leo... Leo olha para mim — Isabela
me chamava, mas tive receio de olhar em seus olhos e
ver que o que sentia por mim tinha desaparecido por
causa de uma noite estúpida, com aquele indigente. Não
quero nem pensar em cruzar com ele. Sou capaz de fazer
uma arte abstrata em sua cara. Sentindo-me mal, baixei
os braços e disse o que estava entalado em minha
garganta.
— Desculpa Isabela! Não acho que posso conviver
com isso. Não posso te tocar sabendo que, mesmo
tendo sentimentos por mim, você se entregou ao
primeiro que cruzou sua calçada. Acho... — parei,
fechei os olhos, pensando no que responderia a seguir
sem humilhá-la, mas tinha que continuar a falar. — Acho
que paramos por aqui. Desculpa!
Pensei que me sentiria bem ao pronunciar essas
palavras, mas ainda tinha algo. Algo que estava me
rasgando por dentro e não sabia o que era. Acho que não
conseguiria e não poderia magoar e fazê-la chorar mais
uma vez. Então tinha que decidir esse ponto rápido e
naquele momento. M esmo sentindo essa dor absurda
que me rasgava por dentro. Sentia-me como estivesse
agindo errado. Já vi o quanto era difícil sem ela. Eu a
amo. M as como tomá-la em meus braços, sabendo que
teve nos braços de outro?
Diante da minha tortura, meu erro foi sentar na cama
e virar minha cabeça para olhar em seus olhos. Nunca
tinha visto aquela expressão. Achei que ela choraria, mas
seu olhar não demonstrava apenas decepção e tristeza.
Não. Ela tinha um olhar diferente do que já tinha visto.
Era um olhar gélido e com o poder de me congelar ali.
—Ok. Leonardo. Você tem todo direito de pensar e
agir como lhe convir. Não concordo, mas, não implorarei
o seu perdão, ou de qualquer outro alguém. Também não
vou dizer que me arrependo do eu fiz. Porque estaria
mentindo. Estive tentando seguir em frente, pois não
suportaria ser magoada por mais ninguém. Ainda o amo
e esse sentimento é verdadeiro. M as nossa separação me
fez ver que me amo e, não por orgulho, mas por bem-
estar, não voltarei a procurá-lo. Que você siga seu rumo
e eu seguirei o meu — ela estava diferente, decidida. —
Não será fácil, mas farei o possível e o impossível para
tirá-lo da minha mente e do meu coração.
Ao vê-la se levantando e arrumando suas coisas, não
consegui pronunciar nada, mas percebi que não
conseguiria viver longe dela. Eu a amava, demais. Ou eu
aceitaria o que tinha acontecido, ou ficaria na penumbra
para o resto da vida, pois a mesma não teria sentido
algum sem a presença da minha Isabela. Só me toquei
que estava fazendo mais uma burrada quando a vi saindo
pela porta do quarto para ir embora de vez.
— Não! Não faz isso comigo — gritei exasperado.
Corri e a abracei pelas costas. Sentindo o quanto estava
tensa. M as continuei. — Não me deixe. Desculpa se fui
um imbecil mais uma vez. Não faz sentido algum te
jogar fora da minha vida. Não posso ficar longe de você
— implorava para que me perdoasse. — Não consigo
Isabela! Não consigo viver sem você. Não quero e não
permitirei que você se afaste de mim novamente.
Ela se virou totalmente convicta e segurou meu
rosto, que neste momento, já estava banhado de lágrimas
por mais uma idiotice.
— Leo... Quero saber: você ainda sentirá desejo por
mim ou ficará jogando na minha cara o que te contei a
cada crise nossa?
Já não queria pensar nos fatos. Era um fraco em
relação à Isabela. Ajoelhei-me diante dela e olhei em seus
olhos.
— Eu prometo aqui e agora diante de ti que tentarei
melhorar a cada dia a nossa relação. Sei que haverá
momentos difíceis, mas estaremos juntos, caminhando
lado a lado.
Isabela se mantinha firme sem nunca desviar seu
olhar do meu.
— Você é o meu tudo, Isabela — levantei-me e com
as mãos peguei cada lado do seu rosto e fixei seu olhar.
— Eu te amo — pronunciei o que o meu coração
implorava para dizer.
Capítulo 15 – Reconstruindo
Isabela
— Você é meu tudo, Isabela. — Leonardo não parava
de repetir essas palavras em desespero. — M e perdoa
por essa idiotice que iria fazer, M inha Paixão.
Com nossas testas encostadas uma na outra e olhos
fechados, ele divagava, como uma oração, o seu pedido
de desculpa. Claro que eu sabia que não seria moleza dar
a notícia a ele, mas por incrível que pareça o Leonardo
me surpreendeu. Vi o quanto ele lutou internamente para
não explodir e acabar me agredindo verbalmente,
deixando o seu lado "homem das cavernas" falar mais
alto do que seu amor por mim. Que ele tinha acabado de
declarar com todas as letras. E, apesar de ter falado que
não suportaria conviver com o fato de outro homem ter
me tocado, pronunciou de forma triste, mas controlado.
M esmo assim havia tido uma atitude machista.
Na mesma hora quis jogar na cara dele o fato de ter
estado várias noites com sua ex-noiva, Gabriela. Porém a
meu ver não seria por esse caminho que eu iria reaver
meu casamento e colocar um ponto final nessa confusão
toda. Não queria que nossa relação fosse baseada em
trocas de farpas. Sabia sim, do seu envolvimento com a
Gabi, mesmo que ele nunca tenha confirmado, e agora
ele sabia do Juan. Não foi fácil ser forte para com ele,
claro que foi dolorido ouvir o que saiu de sua boca, mas
tinha que me impor, ou então sempre me sentiria uma
fraca na sua presença. Eu o amava, no entanto, queria
mostrar para o Leo que eu me amava mais.
— M e responde Leonardo. Você ainda sentirá desejo
por mim? —eu precisava ouvir da sua boca. Ainda com
olhos fechados e o rosto molhado pelas lágrimas,
Leonardo tentava sugar de mim toda a minha essência,
sussurrando baixinho, perguntei mais uma vez: — me
diz, por favor.
— Sempre... Sempre irei te desejar — respondeu tão
convicto com as palavras que não duvidei sequer por um
segundo. — Te desejo agora mesmo. Nem por um
segundo. Nunca. Nunca pense que eu vou parar de
desejar você, Isa. — Leonardo encostou-me entre o meio
da porta do quarto e o corredor, empurrando sua pélvis,
onde pude sentir a sua excitação. — Prometo a você,
M inha Paixão, que esqueceremos esse assunto —
pronunciou cada palavra entre beijos pelo meu rosto. —
M as... Preciso fazer algo e prometo que enterrarei de
vez essa maldita história. — de repente ele parou de me
beijar e olhou fixamente em meus olhos.
— O... O quê? — gaguejei, sem saber o que sairia da
sua boca. Porém sabia que nos levaria ao nosso prazer.
— Quero estar dentro de você o máximo que puder
— falou e, em seguida, mordeu meu lábio inferior. —
Quero fazer amor de todas as formas com você.
Com suas mãos Leonardo passeou pelo meu corpo,
pegando o tecido do vestido e subindo pelo meu corpo
me deixando completamente nua, já que não vestia
calcinha, pois ele mesmo havia a rasgado na noite
anterior. Suas mãos desceram novamente pelo meu
corpo e apertaram cada lado da minha bunda.
— Te deixarei tão exausta e dolorida que você nunca
se lembrará de que outro homem esteve dentro de você,
além de mim. — sem me deixar responder Leonardo
encostou ferozmente a sua boca na minha, me
devorando com loucura. Levantou-me nos seus braços
onde enrolei minhas pernas em sua cintura. Era uma
sensação maravilhosa, estávamos esfomeados um pelo
outro.
Levei minhas mãos rapidamente até a sua cueca
boxer e puxei seu membro grande e duro para fora, alisei
firmemente sentindo suas veias inchadas. Leonardo
soltou um gemido desesperador deixando meus lábios e
abocanhando meu pescoço, descendo até chegar aos
meus seios onde chupou, lambeu e mordiscou o meu
seio direito, seguindo para o esquerdo, beijando e
lambendo, dando a mesma atenção que deu para o outro,
deixando meus bicos completamente vermelhos.
— Você é minha Isabela. Só minha — sussurrava,
lambendo e beijando meu corpo. Leonardo desceu sua
mão e tocou no meu núcleo completamente molhado e
brincou com meu clitóris.
— Leo... Eu preciso de você dentro de mim...
M eu corpo tremia em busca do antídoto para a cura.
A minha cura era ele dentro de mim, para acalmar essa
chama que me incendiava. Sem mais aguentar, apertei
fortemente seu pau e passei a esfregá-lo na minha
entrada desejando sugá-lo para dentro. M eu núcleo
pingava em necessidade de tê-lo.
— M e penetra... M e tome... Por favor — implorei
quase que inaudível. Com um sorriso safado,
percebendo que já me tinha completamente pronta,
Leonardo entrou em mim com um só golpe. Gemi tão
alto que com certeza o vizinho do apartamento ao lado
escutou. Era uma sensação sublime a que sentíamos. Ele
aumentou o ritmo das estocadas fazendo todo o meu
corpo entrar em choque com a aproximação do orgasmo,
que veio muito rápido. Leo penetrou mais algumas
vezes, gozando logo em seguida.
Ainda estávamos na mesma posição, ofegantes,
suados e silenciosos. Nossos corpos tremiam.
— Nunca vou me saciar de você, Isabela — quebrou
o silêncio falando quase que sem fôlego. — Quero mais.
M uito mais. — Beijou-me loucamente desencostandome da parede. Comigo ainda em seus braços, Leo seguiu
para a cama.
— Isa. Quero tudo de você — sentou-se na beira da
cama ajustando minhas pernas de cada lado do seu
corpo. — E quero dar tudo a você. — percorreu seu
olhar desejoso, cheio de tesão por todo o meu corpo
voltando em seguida e parando nos meus seios. — Você
não sabe o quanto é belo apreciar sua pele branca e
macia, ficando avermelhada por meus beijos, toques e
mordidas. — acariciou meus seios. M eu corpo
correspondeu de imediato, me deixando completamente
quente. M olhada.
— Leo... Quero te pedir uma coisa. — ele acena com
a cabeça, continuando a brincar com meus mamilos. —
Preciso... Você me deixa cavalgar em você? — excitada,
perguntei. Nunca tinha experimentado essa posição e
queria fazer tudo com ele, começando com as posições
mais conhecidas. Queria saber onde poderia excitá-lo e
mostrar quais os meus pontos mais sensíveis.
— Ah. M eu amor! — levou a boca aos meus lábios
mordiscando, chupando para sua boca. — Sou todo seu.
Ele era lindo, corpo perfeito e totalmente sexy. Ele
me excitava ao extremo, tudo com Leonardo era
diferente. Desci do seu colo apenas para retirar sua
cueca que estava no meio das coxas e atrapalhando. Seu
pau já estava completamente duro, lindo e delicioso.
Leonardo foi para o meio da cama, deitou e me chamou.
Subi lentamente por cima dele, engatinhando. Beijei todo
o seu corpo escutando seus gemidos e rosnados.
— Vem Isa. M onta em mim. M e leve dentro de você.
O simples fato de excitá-lo, já me deixava
completamente pronta para ele. Sentei-me em cima dele,
colocando meus joelhos um de cada lado do seu corpo.
Elevei meu quadril e com a mão peguei seu pau
colocando na minha entrada. Forcei meu núcleo,
sentindo-o entrando, lentamente, pelo meu corpo.
Convulsionei pela sensação que aquela posição me fez
sentir.
— Isa... Ah... Você é tão gostosa. Sua boceta é tão
apertada. Hummm...
Quando todo o seu membro estava dentro de mim,
comecei a movimentar devagar até que me acostumasse.
Leonardo colocou uma mão de cada lado do meu quadril
e me ajudou a cavalgar mais rápido. Nossos corpos
tremiam com o êxtase. Estava tão pronta para gozar,
essa posição estimulava meu clitóris além da conta. M as
me controlei ao máximo. Queria esperar por ele.
Implorei que viesse logo. Que gozasse dentro de mim.
Leonardo sentou e agarrou meu corpo, não demorou
muito e gozamos igualmente cada um mordendo o
ombro do outro. Deixando nossas marcas, deixando
claro a quem pertencíamos. Caímos exaustos na cama e
ficamos curtindo apenas um ao outro silenciosamente
até cairmos no sono.
*****
Passamos todo o fim de semana trancados no seu
apartamento. Realmente Leo cumpriu o que havia
falado, me deixou completamente exausta e dolorida.
Descobri alguns lugares em seu corpo que o levava ao
delírio. E ele, além de saber onde me tocar, me ensinou a
conhecer melhor o meu corpo. Praticamente não saímos
do quarto e, quando fazíamos isso, era apenas para
repor energias nos alimentando e depois voltávamos
para o quarto.
Fizemos muito sexo duro, forte e selvagem, mas
também fizemos amor suave e lento. Conversamos
bastante. E é claro que discutimos, quero dizer, quase
discutimos. Leonardo estava decidido que não
dormiríamos mais separados e a discussão era onde
deveríamos ficar.
Por mais que ele tentasse justificar o fato de não
querer voltar para nosso antigo apartamento, no qual eu
morava atualmente, eu sabia que era pelo fato da minha
noite com o Juan ter sido lá. M as bati o pé e o deixei
sem justificativa, como localização, espaço e até
garagem, já que seriam dois carros para guardar e o seu
atual flat não proporcionava esse conforto. No fim das
contas relutantemente acabou cedendo.
Na segunda-feira, bem cedo, Leonardo separou
algumas mudas de roupas e seguimos para onde seria o
nosso lar. Ao chegarmos ao apartamento, ele guardou o
que havia trazido no seu espaço no Closet, o qual ainda
estava vazio desde a nossa separação, e depois seguiu
até a cozinha para preparar o café da manhã, enquanto
eu tomava banho e me arrumava para irmos juntos para
a clínica, pois seu carro tinha ficado na casa dos pais de
Luigi. Na verdade não faria diferença se os dois carros
estivessem na garagem, Leonardo já havia decidido que
só as quintas-feiras, que era o dia que ele trabalhava no
Hospital, sairíamos em carros separados.
No percurso até a clínica, fomos conversando sobre
os nossos horários e consultas. Tentaríamos fazer o
possível para nossas agendas coincidirem. Tudo bem
que ocorreriam momentos de urgências e emergências,
principalmente para o Leo. Chegamos
ao
estacionamento da clínica e alguns curiosos ficaram nos
observando enquanto seguimos de mãos dadas em
direção à porta de entrada da recepção.
— Bom dia, Lilian. Igor — cumprimentei aos dois
seguidos pelo cumprimento do Leo. Ambos olharam
entre si e sorriram, voltando a nos olhar em seguida.
— Ora. Ora. Vejo que perdi de vez as minhas
esperanças. — Igor falou provocando o Leo, mas no
fundo sabíamos que ele estava feliz por nossa
reconciliação.
— Dr. Igor nada do que você falar irá estragar a
minha alegria — Leonardo falava todo debochado. —
M as isso não significa que vou deixar você ficar dando
em cima da minha mulher — finalizou com um sorriso,
mas seus olhos indicavam o quanto ele estava falando
sério.
— Já estava mais do que na hora da reconciliação. —
Lilian veio ao nosso encontro e me abraçou. —
Parabéns. Precisamos comemorar. — ela sorria toda
empolgada.
— É verdade. Temos que comemorar pelo casal. —
Igor se aproximou. — Apesar de que eu vi a Isa
primeiro, Dr. Leonardo. — Igor tinha prazer em
provocar Leonardo.
— Lilian como está a minha agenda hoje? —
Leonardo fingiu não ouvir o Igor e entrou no seu modo
profissional.
Depois de conferir nossas agendas Leonardo me
acompanhou até a porta da minha sala, beijou-me longa
e demoradamente e seguiu para sua sala. Não teríamos
tempo para almoçarmos juntos e eu queria ir para a aula
de dança no final da tarde. Então só em casa que
ficaríamos juntos.
O dia passou rápido. Não tinha parado um segundo
sequer. Tive três pacientes com lesões gravíssimas para
ajudá-los no tratamento e, pôr mais que ame a minha
profissão, às vezes você acabava sendo um pouco
psicóloga nas situações onde o ânimo dos pacientes já
não é o melhor, pois nem todos têm a mesma
persistência de superar os obstáculos. E eram casos
como esses que tornavam o meu trabalho cansativo.
Nunca deixar o meu paciente desistir.
Às dezoito horas liguei para recepção e perguntei a
Lilian se o Leo estava com paciente em sua sala. Ela
respondeu que seu próximo paciente entraria em cinco
minutos. Pedi que segurasse o paciente enquanto
passava por sua sala apenas para me despedir dele.
Bati devagar na sua porta e abri. Leonardo estava tão
concentrando lendo alguns papéis que não notou a
minha presença. Ele estava totalmente lindo e com seu
ar dominante, tão sensual. Estava vestido com um jaleco
branco por cima da roupa, o estetoscópio pendurando
ao redor do pescoço e óculos de leitura que o deixava
completamente sexy. Admirei mais um pouco e bati
novamente na porta entreaberta. Leonardo levantou a
cabeça e olhou para mim abrindo um sorriso lindo e
convidativo.
— Atrapalho? — perguntei entrando e fechando à
porta.
— M inha Paixão, você nunca atrapalha — levantou e
veio ao meu encontro me abraçando e me beijando. —
Estava com saudades.
Também estava morrendo de saudades. M esmo que
tivéssemos passado todo o fim de semana juntos, não
havia sido suficiente para saciar o nosso desejo.
— Tenho três pacientes para atender e em seguida
podemos ir para casa — explicou. — Estava pensando
em jantarmos naquele restaurante chinês que fomos uma
vez quando ainda éramos namorados. O que acha? —
beijou-me castamente.
— Seria ótimo. M as passei aqui para avisar que
estou indo para a aula de dança. — Leonardo franziu o
cenho e olhou-me já carrancudo.
— Eu achei que...
Não o deixei terminar de falar.
— Leo. Não vou parar minhas aulas — disse
convicta. Não deixaria minhas aulas por ciúmes do
Leonardo. Ele teria que aprender a confiar em mim para
a nossa relação dar certo.
— M as aquele professor de dança quer o que é meu.
— já tinha alterado seu humor.
— Vamos fazer o seguinte — fingi não perceber sua
mudança de humor e levantei-me nas pontas dos pés
para beijá-lo, mordiscando seu lábio inferior e dando
pequenas lambidas, e comecei a acariciar o seu peitoral.
— Vou pegar um táxi daqui até a academia de dança.
Você termina de atender aos seus pacientes e em seguida
pega o carro e vai ao meu encontro. Provavelmente a
aula ainda não terá acabado. Daí você entra e vai me
assistir dançar, quem sabe você não decide que eu
preciso de um parceiro de dança? — sorri
inocentemente. Quando ele abriu a boca para falar
continuei — E em seguida iremos jantar. — Pendurei
minhas mãos em seu pescoço e massageie.
— Você quer mesmo continuar a fazer essas aulas?
— acenei com a cabeça. Ele fechou os olhos, respirou
fundo e abriu novamente. — Tudo bem, mas se eu ver
aquele Fred Astaire cobiçar você, a aula dele você não
frequenta mais. — beijou-me brutalmente como se
estivesse me marcando, me dominando, mostrando a
quem eu pertencia. Chupou forte meus lábios que, com
certeza, ficariam inchados. Despedi-me dele e fui ficar
com Lilian e aguardar o táxi que tinha acabado de
chamar.
Cheguei em cima da hora para a aula. Cumprimentei
rapidamente Larissa, M aitê e algumas meninas que
estavam próximas. Fernando sorriu e eu acenei com a
cabeça. Fizemos o alongamento e demos início à aula. Já
havia passado um pouco da metade da aula quando
Fernando instruiu alguns passos novos para acrescentar
em uma coreografia que estávamos fazendo.
Estava tão atenta nos passos novos que não percebi
que o Leonardo havia chegado e estava me observando.
M aitê me cutucou e apontou em sua direção. Quando
nossos olhos se encontraram ele me admirava com
desejo e orgulho. Enrubesci e mordi meus lábios. Tentei
ser mais sensual nos passos executados só para
provocá-lo. E obtive sucesso, a aula mal havia acabado
quando Leonardo entrou na sala, beijou o rosto da M aitê
e em seguida beijou meus lábios perguntado se já
poderíamos ir. Confirmei. Despedi-me de todos e antes
que pudesse me despedir de Fernando, Leo me puxou,
então, acenei dando apenas um tchau.
Leonardo tinha estacionado o carro um pouco
distante da academia. Atravessamos a avenida e
caminhamos em silêncio pelo calçadão da praia. Ele
estava tenso, a mão que segurava a minha estava rígida,
mas mesmo com a cara fechada ele não aparentava mau
humor. Ao chegar ao carro ele abriu a porta do
passageiro para eu entrar e em seguida circulou entrando
do lado do condutor. Sem dizer uma palavra ele saiu e
nos guiou para o restaurante.
— Você vai ficar calado a noite toda? — falei já
sentindo a raiva me atingir. Ele não poderia agir assim
todas as vezes que fosse me buscar nas aulas de dança.
A princípio achei que ele tinha me admirado dançar, mas
acho que entendi tudo errado. — Leo!!??? — gritei
sentindo lágrimas querendo chegar. Sem dizer uma
palavra pegou minha mão e mordiscou, levou aos seus
lábios beijando cada nó dos meus dedos.
Chegamos ao restaurante e quando virei-me para sair
Leonardo segurou a minha mão impedindo. — Não
vamos jantar aqui. — falou abusado. Ele percebeu que
não entendi o que tinha falado e continuou. — Pedi para
viajem, vamos comer em casa. — Levantei os braços em
sinal de desistência. E fechei a cara para ele também.
Parecíamos duas crianças. Esperamos a comida no carro
mesmo.
Estava tão enfurecida com ele que, assim que
adentramos no estacionamento do prédio onde
morávamos, sai do carro sem esperar por ele. Não quis
esperar o elevador. Subi pela escada, xingando-o
silenciosamente para ver se a raiva diminuía.
Leonardo chegou primeiro do que eu ao apartamento,
pois tinha subido de elevador, deixou a porta aberta para
que eu entrasse. Percebi que ele estava na cozinha. Bati
com força a porta para ele saber que havia entrado e fui
direto para o quarto. Joguei minha bolsa em cima de um
sofá pequeno, que ficava no canto do quarto, e entrei no
banheiro. Tirei toda a roupa levando a calcinha junto
com a calça de malha que estava vestida e joguei no
cesto de roupa. Liguei o chuveiro, não esperei nem a
água esquentar e entrei de cabeça e tudo para aliviar a
tensão.
Eu o amava, mas essas mudanças de humor dele
acabavam comigo. Eu não podia ceder, não fiz nada de
errado. Se não houver confiança, nosso casamento nunca
dará certo. Saí do banho e vesti uma camisola de alcinhas
de seda azul. Sequei o cabelo na toalha. Quando saí do
banheiro, Leonardo estava sentando na cama apenas
com uma toalha enrolada na cintura. Seus cabelos
estavam molhados o que implica dizer que havia tomado
banho no banheiro social. Assim que me viu, avaliou
meu corpo e quase percebi fogo e desejo sair dos seus
olhos. Quando tentei passar por ele para sair do quarto,
sua mão alcançou meu braço.
— Paixão, estou tentando me controlar. — respirou
fundo — Não é fácil para mim ver outros homens a
desejando — ele estava tão tenso que mal se ouvia as
palavras.
— Você precisa confiar em mim, Leo. Desse jeito
nunca dará certo nosso casamento — falei, mas não o
encarei. Estava exausta para discutir.
— Eu confio em você. M as me entenda, também. Eu
estou tentando mudar. — calou por alguns segundos. Ele
pegou minha mão e a levou até o seu membro rígido. —
Estou assim por você desde o momento que a vi
dançando. — forçou minha mão a pegá-lo com força. —
Eu estava calado tentando evitar dois constrangimentos
a você. Um por não quebrar a cara de todos os caras que
te comiam com o olhar naquela academia. E dois. —
parou de falar e acariciou minha mão que estava
segurando seu membro — Não poderia dar um vexame
na frente das suas amigas. Estava tão excitado que sentia
meu pau perfurando a calça para saltar. — Leonardo
sorriu tão sexy que não resisti. Arranquei a tolha que
estava envolta em seu corpo. Ajoelhei-me diante daquele
mastro rígido. M assageei com as duas mãos. Passei a
língua apenas pela cabeça do seu pau, que já soltava o
líquido pré-ejaculatório. Leonardo uivou de tesão. Eu
tentaria ser mais paciente, pois sabia que ele estava
tentando controlar seus impulsos. Depois de algumas
lambidas abocanhei seu pau e chupei duramente. Eu iria
sugar toda essa tensão dele. Custe o que custar.
*****
Já passava da meia-noite quando estava me
preparando para deitar. Leonardo e eu tínhamos nos
perdido novamente em um sexo delicioso que levou
algumas horas para acabar. Quando fomos jantar
tivemos que requentar a comida, pois estava
completamente fria.
— Amor, vem deitar — chamei-o. Ele estava
mexendo no notebook.
— Vem aqui Isa. Quero te mostrar algo. — fui até a
mesa de jantar onde ele estava. Assim que me aproximei
ele passou o braço em volta de minha cintura. — O que
acha? — ele apontou para o notebook. Era um site de
uma agência de viagem.
— Você irá a algum Congresso de medicina? —
perguntei.
— Não. Não vou a nenhum Congresso. —
respondeu — Acabei de comprar um pacote de viagem.
—percebendo que não havia entendido ele continuou. —
Comprei um pacote de lua de mel para Fernando de
Noronha. — compreendendo aonde ele queria chegar,
observei atentamente o que continha no site.
— Leo... Aqui diz que você comprou pacote de
cinco dias para Fernando de Noronha — meu coração
não acreditava que ele tinha feito isso.
— Sim, meu amor, eu comprei para nós dois — ele
mordeu meu seio esquerdo por cima da minha camisola
— Quando nos casamos não tivemos uma lua de mel. E
eu quero nos proporcionar essa viagem para selar nossa
união.
— M as nesse pacote diz que a viagem é para daqui a
dois dias — estava atônita. Como iríamos cancelar a
quantidade de pacientes que tínhamos para essa semana.
— Não se preocupe com isso — o braço que estava
agarrando a minha cintura desceu até a minha bunda
onde ele ficou massageando e apertando — Hoje
enquanto você atendia seus pacientes, Lilian e eu
arrumamos tudo, reagendamos alguns pacientes e os que
ligavam, querendo marcar consulta, agendamos para a
próxima semana. Então só trabalharemos até amanhã —
sorriu triunfante.
— Você poderia ter me falado — fiz biquinho. Ele
me puxou para o seu colo e beijou-me lentamente.
— E estragar a surpresa? Nunca — passou as mãos
pelas alças da minha camisola tirando-a — Agora vem
aqui, porque ainda não estou completamente satisfeito.
Capítulo 16 – Rumo ao paraíso
Leonardo
Acordei às seis da manhã, tinha dormido poucas
horas, não deixando a Isa dormir, sempre querendo mais
dela e do seu corpo, mas estava totalmente disposto.
Olhei para o lado e vi Isabela dormindo parecendo uma
gatinha manhosa sexy. Deitada de bruços totalmente
nua, enrolada apenas com um lençol.
Deus! Nem acreditava que estávamos juntos
novamente. Nosso sexo estava melhorando cada vez
mais. Claro que ela ainda era um pouco tímida, mas em
comparação com a antiga Isabela, essa era uma leoa. O
que mais me surpreendia na Isabela era o fato de querer
descobrir pontos em meu corpo onde me dava mais
prazer, querendo me levar ao limite da insanidade. M al
sabia ela que só em me tocar eu já ficava duro, louco de
desejo.
Beijei seus ombros delicadamente sentindo seu
cheiro único. Cheiro de cereja. Levantei e coloquei uma
roupa confortável e calcei um tênis. Desde que havíamos
nos separados não tinha mais corrido. Um hobby que
havia adquirido desde a época da faculdade e que nesses
últimos meses tinha deixado de lado. Peguei meu fone de
ouvido e Ipod e saí a caminho de uma reserva florestal
próximo ao nosso prédio.
Fiz um percurso de mais ou menos uma hora e meia.
M inha cabeça fervilhava planejando a nossa viagem a
Fernando de Noronha, queria que tudo saísse perfeito.
Casamos tão rápido que não tivemos tempo de ter uma
lua de mel, e depois nos acomodamos demais no nosso
relacionamento e no trabalho. Passei na padaria e
comprei croissant, os favoritos da Isa. A essa hora ela já
estaria de pé se preparando para irmos ao trabalho.
Já na porta do nosso apartamento senti o cheiro de
café. M inha Paixão tinha essa mania de tomar café cedo.
Entrei e segui direto para a cozinha, mas ela não se
encontrava lá. Fui até o quarto e escutei o som do
chuveiro ligado. Por mais que desejasse, evitei ir ao
banheiro, pois com certeza iríamos nos atrasar no banho
e eu ainda precisava ir ao hospital comunicar sobre a
minha ausência essa semana.
Liguei meu notebook para verificar se já havia
chegado o e-mail confirmando tudo sobre a viagem.
Horário do voo, hospedagens e passeios. Havia
comprado um pacote completo, queria que tudo saísse
perfeito. Assim que abri meu correio eletrônico uma
mensagem me chamou atenção.
Era Gabriela.
Olhei em direção ao corredor que dava até o quarto
que dividia com Isabela. Não que estava fazendo algo
errado, mas sabia o quanto a minha mulher era ciumenta
e insegura em relação a minha ex. E preferia evitar
magoá-la. Abri o e-mail e não entendi o porquê de toda
aquela
justificação.
Nunca
havia
prometido
compromisso. Foi apenas sexo que tivemos.
Olá Leo,
Como está? Não vejo a hora de voltar para
conversarmos. Aqui em Munique já deu para mim,
mas infelizmente devido alguns problemas precisarei
ficar mais algum tempo. Mas já estou na contagem
regressiva para voltar ao Brasil e principalmente para
revê-lo. Tenho ótimas notícias.
Muitas saudades. Beijos meu amor!
Gabriela Paiva
Li a mensagem de novo e excluí logo em seguida. A
Isabela sequer poderia imaginar que a Gabi me enviou
um e-mail, muito menos saber o conteúdo que havia
nele. Assim que a Gabriela retornasse ao Brasil
conversaríamos. E deixaria claro que é a minha mulher
que eu quero. Apenas ela. Nunca seria outra.
Verifiquei o e-mail da agência de viagem, confirmando
tudo sobre a viagem, e em seguida desliguei meu
notebook. Assim que virei para seguir para o quarto
assustei-me. Isabela estava encostada na parede olhando
para mim. Será que ela tinha visto alguma coisa?
— Bom dia, meu amor — Falou sorridente trazendo
um alívio ao meu coração.
— Bom dia, meu amor — Respondi da mesma forma
caminhando em sua direção — Você está linda e cheirosa
— disse admirando-a e cheirando seu pescoço. Já nem
me lembrava mais do que a Gabriela havia enviado para
mim.
— Acordei e não te vi na cama. Imaginei que tivesse
ido correr — disse entrelaçando nossas mãos e me
puxando para dar um selinho.
— Pequena, estou suado — me afastei não querendo
sujá-la — Vou tomar um banho bem rápido. Espera-me
para tomarmos café juntos? Comprei seu croissant
favorito — ela abriu o sorriso mais lindo e a vontade que
tive era de agarrar e prendê-la no quarto. M as lembrei de
que em poucas horas estaríamos a sós num paraíso.
Corri para o banheiro e tomei um banho rápido. Vesti
uma calça jeans e camisa branca e calcei um par de
sapatênis. Arrumei alguns documentos que precisaria
levar para o hospital e segui pra cozinha, para tomar
café da manhã com Isa.
Fizemos vários planos para a viagem durante o café,
estávamos animados e precisávamos desse tempo só
para nós dois. Depois arrumamos a cozinha e saímos em
direção à clínica. O meu carro já se encontrava na
garagem do nosso prédio, um funcionário dos pais do
Luigi havia deixado hoje bem cedo e entregara a chave ao
porteiro.
Ao chegar à Clínica cumprimentamos Lilian e
acompanhei Isabela até o seu consultório. Observei ela
vestir seu jaleco e arrumar sua mesa. Se amar é se tornar
um bobo, por admirar pequenos gestos que sua mulher
fazia, então posso dizer que sou um bobo completo e
com muito orgulho.
— Leo, você não tem paciente para atender agora?
— falou quando percebeu que eu não saía da sua sala.
— Não tenho pacientes hoje pela manhã — respondi
encostando na sua mesa e a puxando para meus braços
— Estou indo ao hospital verificar quem irá me
substituir enquanto estivermos fora e também deixar
alguns documentos — esfreguei meu pau excitado na sua
pélvis só para vê-la enrubescer.
— Leo! — disse toda tímida, porém desejosa — A
qualquer momento minha paciente irá entrar —
reclamou tentando se soltar de mim, mas foi em vão.
— Eu não tenho culpa se você me deixa assim... Hã...
Duro — disse, fazendo sinal para entre as minhas
pernas.
— Sério Leo. Preciso me organizar para trabalhar.
Teremos muito tempo para saciarmos a nossa vontade
— beijou-me rápido e se livrou do meu abraço. Acariciei
o seu rosto e fui em direção à porta.
— Almoça comigo? — perguntei assim que abri a
porta.
— Não vai dar amor, combinei de almoçar com a
Lilian — parou de falar. Depois abriu um sorriso
malicioso— E também quero fazer umas comprinhas
para levar pra viagem — concluiu me expulsando da sua
sala
— Posso saber o que é? — perguntei maliciosamente
também. Ela sorriu e disse que era uma surpresa. Em
seguida fechou a porta na minha cara.
******
O dia, realmente, tinha sido exaustivo tanto para
mim como para Isabela. Teimosa do jeito que é, atendeu
o máximo de pacientes que pôde.
M esmo essa viagem sendo de última hora, acabou
que tudo deu certo. Tínhamos saído da clínica por volta
das dezenove horas e seguimos direto para nosso
apartamento para preparar as malas, o que acabou sendo
uma aventura, pois a Isa não quis de forma alguma me
mostrar o que tinha comprado, me deixando ainda mais
curioso. Já estávamos no aeroporto aguardando para
embarcar, pois nosso voo estava marcado para duas da
manhã e, se não houvesse nenhum atraso, chegaríamos a
Fernando de Noronha para o café da manhã.
Isabela estava ao telefone falando com os seus pais e
informando da nossa reconciliação e também da nossa
viagem, eles estavam em uma viagem pela África.
Eu tinha um grande respeito por meus sogros.
M esmo com os seus problemas pessoais, que atingiu a
Isabela de certa forma, eles eram pais maravilhosos e
estavam tentando melhorar. Principalmente entre eles
mesmos. Digamos que eles, tanto o Dr. Estevão como a
Lorena estavam cedendo um pouquinho. Isso me fez
lembrar a discussão muito rápida que tive com a minha
mãe hoje à tarde por telefone.
Apenas liguei informando, friamente, sobre a viagem
e deixando claro que quando voltasse iríamos ter uma
longa conversa. Era o tempo certo em que minha irmã
Júlia chegaria, também, de sua viagem de lua de mel e
nós dois juntos forçaríamos a Dona Rosália pedir
desculpa a minha mulher, pelo constrangimento no
casamento da Julinha. M inha mãe não poderia ficar
destratando minha esposa, e nem existia motivo para
essa reação dela, ela sabia que eu e a Isabela estávamos
passando por problemas no casamento, mas não sabia a
profundidade desses problemas.
Escutei o nosso voo sendo chamado, e virei para o
lado que a Isabela estava falando ao celular para chamala, não a encontrei e levantei-me a sua procura. E nada.
Quando estava procurando meu celular para ligar para
ela, avistei-a, próximo, conversando com uma jovem que
segurava um bebê no colo. Eu sabia que, mesmo ela
sendo muito jovem, desejava ser mãe. A forma como
brincava com a criança era algo prazeroso de se ver. Até
o meu lado paterno, algo que nunca tive, tocou-me. E
naquele instante havia decidido que quando voltássemos
de viagem, procuraria o Dr. Igor. A Isabela tinha
dificuldade de engravidar devido à endometriose, mas
juntos buscaríamos uma forma para que pudéssemos
nos tornar pais.
Caminhei até onde ela estava e avisei do nosso voo.
Ela gentilmente se despediu do bebê e da mãe e
seguimos para o nosso embarque. Antes de adentramos
na aeronave, puxei-a para um local mais reservado e do
bolso da minha jaqueta tirei uma caixinha aveludada azul
e a entreguei. Ela me olhou espantada e fiz sinal para
que abrisse. Um pouco trêmula, no entanto curiosa.
Abriu vagarosamente.
— Oh! Nossas alianças — pronunciou ao perceber o
que continha dentro da caixinha, olhando-me
emocionada.
— Espero que nunca mais precisemos tirá-las do
dedo — consegui falar — Claro, quando precisarmos
renovar os nossos votos de casamento, poderá sim,
serem retiradas — brinquei. Segurei sua mão e peguei a
aliança menor que estava na caixinha. Beijei como fiz no
nosso casamento e em seguida coloquei em seu dedo
anelar esquerdo sussurrando “eu te amo”. Isabela pegou
a minha aliança, repetiu o mesmo gesto e sussurrou
“sempre te amarei”.
Abraçamos e nos beijamos, discretamente, no
entanto apaixonadamente. Chamando a atenção de
algumas pessoas que passavam próximo. Com
dificuldade nos soltamos e rimos ao mesmo tempo
achando engraçada a cena clichê que tínhamos acabado
de realizar, mas que seria uma bela recordação.
******
Fernando de Noronha era realmente um lugar
paradisíaco. Até o ar era mais puro. Desembarcamos no
horário previsto e o guia já nos aguardava para fazer o
translado até o Resort. Como imaginei Isabela foi
vencida pelo cansaço e praticamente hibernou durante
toda a viagem, acordando apenas para fazermos a
conexão de Recife para o nosso destino e em seguida
voltando a dormir. Tinha a acomodado em meus braços
para descansar e também para vigiar seu sono.
Era tão linda quando dormia, não queria que nada à
abalasse ou assustasse, queria afastar todos os seus
pesadelos e deixar só os sonhos bons. Ela ficou toda
envergonhada quando a acordei para desembarcar e
mostrei uma região na minha camisa molhada, falando
que tinha sido ela que babou. Sendo que fui eu que havia
molhado com água, mas adorava fazer essas brincadeiras
bobas com ela.
— Sejam bem-vindos ao Resort M aravilha — uma
moça gentil nos recebeu e nos guiou até a recepção para
fazermos os check-in.
Tinha escolhido um bangalô onde teríamos total
privacidade e que era bem próximo do mar, o local era
perfeito. No meio do quarto se encontrava uma cama de
dossel, feita de uma madeira pesada e rústica. O quarto
tinha tons creme e verde claro, assim como as cobertas
de cama. Passando tranquilidade e harmonia ao
ambiente.
Na frente da cama, em vez de se encontrar uma TV,
existia uma porta enorme de vidro que dava para uma
varanda enorme e totalmente privativa. Nela tinha um
futon, perfeito para namorar, e uma mesa já com o nosso
café da manhã posto. A esquerda havia um caminho de
pedra que dava em um jardim e terminava de encontro
com um pequeno deck ao lado de uma piscina
encontrando com o mar. Aguardei até que todas nossas
bagagens fossem entregues e acompanhei o mensageiro
até a porta. Procurei por Isabela e vi quando ela saía já
descalça de uma porta que provavelmente seria o
banheiro.
— É tudo tão lindo! — pronunciou empolgada,
vindo em minha direção. — Tem uma enorme banheira
de hidromassagem no banheiro. Cabem duas pessoas
facilmente — aproximou, fazendo charme. Permaneci
parado porque adorava quando ela levantava na ponta
dos pés para tentar alcançar meus lábios.
— Banho de banheira é? Interessante — sussurrei
aguardando ela me beijar — O que você quer fazer
primeiro? Tomar café? Fazer um passeio? Ou...
Inaugurar aquela cama ali — falei, maldosamente,
sedutor apontando para cama.
— Hum... Parecem interessantes essas propostas —
mordiscou meu lábio inferior passando sua língua. Não
resisti e forcei o beijo, adentrando minha língua em sua
boca, procurando e enroscando com a dela, levantei ela
em meus braços. Isabela circulou suas pernas na minha
cintura, esfregando-se em meu corpo. Caminhei em
direção da cama, nos jogando nela em seguida.
— Inaugurar a cama primeiro? Perfeito — concluí
passando minhas mãos por todo seu corpo tirando sua
camisa e depois sua calça, lentamente, e a olhando todo
o tempo, notando sua excitação ao meu toque.
Isabela virou e subiu em cima de mim se esfregando
no meu corpo, mordiscando e rosnando baixo em meu
ouvido. Abriu minha calça suavemente e desceu o zíper,
puxando minha calça junto com a cueca para baixo.
Olhou-me, maliciosamente, eu já me encontrava duro, só
com a visão da Isabela em cima de mim, beijando e
mordiscando meu peitoral, onde dava pequenas
lambidas, até chegar próximo ao meu pau excitado e
pronto para ela. Lambeu a cabeça e mordiscou,
deixando-me louco e cheio de tesão para ter aquela boca
gostosa me engolindo todo.
Senti todo meu corpo se arrepiar quando me enfiou
todo em sua boquinha gulosa até a garganta, retirando-se
devagar e dando pequenas lambidas na ponta, em
seguida chupava minhas bolas como se fosse um doce na
sua boca. E eu totalmente extasiado. Voltou sua atenção
para a cabeça do meu pau e puxou a pele lambendo e
sugando, devotamente, voraz.
— Ah! Amor assim eu não vou aguentar — gemi
louco de desejo, agarrando seu cabelo e puxando.
Essa mulher iria me levar à loucura, estava com o
corpo tremendo só com suas lambidas e mordidinhas,
quase perdi a cabeça com o pensamento de quando
entrasse todo nela, sentindo sua boceta apertadinha me
tragando avidamente.
Quando pensei que estava no ápice da loucura,
Isabela foi descendo sua boca pelo meu pau, fazendo
movimentos com a língua até encostar novamente na
garganta onde parou por alguns segundos e tentou sugar
a cabeça com a sua garganta, apertando a base do meu
membro forte, fazendo movimentos de baixo para cima.
Percebendo que não aguentaria mais um minuto sequer,
puxei-a sentando em cima de mim, tão rápido, que só
tive tempo de afastar sua calcinha para o lado e entrar
duro e forte no seu núcleo molhado.
Gritamos em uníssono. Gemendo com cada estocada
que dava nela, enrosquei os meus dedos pelo seu cabelo
e mordi seus lábios puxando sua cabeça para trás,
descendo minha boca pelo seu pescoço e mordendo ali
também, deixando a minha marca. Suguei seu seio
esquerdo lambendo e mordendo ao redor do seu mamilo
rosado.
Isabela gemia meu nome, até que abocanhei todo seu
mamilo, chupando, dando a mesma atenção e repetindo
os movimentos em seu seio direito. Nos amamos de
forma intensa, nos completando por igual em uma dança
erótica.
— Le... Leo! — Isabela chegou ao clímax gritando
meu nome como uma melodia. Fitei os seus olhos,
gozando, logo após ela. Todo meu corpo tremia pela
sensação de prazer que tinha acabado de receber. Ouvir
Isabela gemer e gritar meu nome. Era um paraíso.
Tomamos banho juntos, nos deliciando um com o
outro um pouco mais. Vesti uma bermuda de malha fina
e uma regata branca e sentei-me à mesa aguardando
Isabela para tomarmos café e, logo em seguida, explorar
as redondezas do lugar.
Isabela surgiu na varanda, linda, sexy, com um
biquíni branco tomara que caia, que com somente um
puxão para baixo mostraria seus lindos seios
arredondados que se encachavam, perfeitamente, em
minhas mãos. Esse top me daria à oportunidade de tocálos assim que tivesse a chance. Veio em minha direção e
pediu que passasse protetor solar nas suas costas e,
assim que o fiz, ela passou nas minhas.
— Esse biquíni era a surpresa? — perguntei já
sentindo algo ficando rígido entre minhas pernas.
— Ainda não. M as acho que em breve você irá
gostar — ela virou para ajustar a saída de praia dourada
com flores brancas e foi aí que meu pau ficou ainda mais
duro. Ela vestia a parte de baixo do biquíni comportada,
mas não era isso que me deixou em estado de excitação e
sim porque era branca a calcinha com as laterais finas,
seguras apenas por um laço, e para me deixar ainda mais
duro, era estilo cortininha, era só afastar um pouco para
o lado e eu poderia ter acesso total a minha mulher.
— Vamos tomar logo esse café. Senão só
exploraremos nosso bangalô — finalizei já com raiva.
Sabia que a Isabela iria atrair olhares não só por sua
beleza, mas também com essa roupa de banho.
— Você é quem manda — sorriu sentando-se no meu
colo e mordiscando o lóbulo da minha orelha,
tranquilamente, fingindo que não havia percebido minha
mudança de humor. O que piorou meu estado de tesão
— Oba! Tapioca! Amor, eu amo tapioca — pegou uma
tapioca e mordeu, fechando os olhos, apreciando o
sabor. Droga! Ou ela me mataria ou eu iria matar alguém.
Capítulo 17 – O inesperado
Isabela
— Deixe-me ajudar, senhorita — o instrutor se
ofereceu para ajudar-me a retirar o cilindro de oxigênio
das minhas costas. Tínhamos acabado de subir ao barco
depois de mergulhar. Foi a primeira vez que mergulhei e,
como o Leonardo tinha experiência em mergulho, não
precisamos que um instrutor nos acompanhasse no
passeio.
— Obrigada — agradeci.
— Seu namorado é bem experiente em mergulho —
disse o instrutor.
— Sim, ele é. E não, ele não é meu namorado. É meu
marido — respondi mostrando a minha aliança que
recentemente tinha colocado de volta no meu dedo.
— Ah. Recém-casados em lua de mel — disse
fazendo um gesto surpreso. — Esse paraíso é perfeito
para dar início a uma nova etapa da vida — continuou
falando. Embora eu apenas sorrisse educadamente. Ele
tinha razão, estávamos nos dando uma nova chance.
Não quis explicar ao instrutor que já estávamos casados
há quase um ano. Tirando os quatro meses que ficamos
separados, é claro, mas enfim apenas balançava a cabeça
atenciosamente.
Avistei Leo subindo ao barco. Ele tinha voltado a
mergulhar depois que me ajudou a emergir e subir ao
barco. Ele queria algo do fundo do mar de Fernando de
Noronha para levar de lembrança. O instrutor
prontamente foi em sua direção ajudá-lo a tirar os
equipamentos. Assim que Leo me viu sorriu e levantou
uma das mãos me mostrando uma concha enorme.
Nosso mergulho tinha sido perfeito, assim como
todo o passeio. Aqui é um lugar belíssimo para admirar
a fauna marinha.
Leonardo tinha sido totalmente atencioso comigo
enquanto estávamos no fundo do mar. Enquanto ele
tirava a roupa de mergulho, olhei ao redor para o paraíso
que ficamos durante esses últimos quatro dias. Cada dia
tinha sido melhor que outro. Fizemos passeios pelas
praias, arquipélagos, trekking e, o melhor, nadar junto
com os golfinhos-rotadores. Tinha sido inesquecível.
M eu marido tinha nos proporcionado a melhor lua
de mel. Hoje era o nosso último dia que seria encerrado
com um luau promovido pelo Resort para todos os
hóspedes. Amanhã após o café seguiríamos de volta
para casa. Um pequeno aperto me deu por ter que deixar
esse lugar.
— O que foi? Não gostou do mergulho? — Leonardo
se aproximou me abraçando por trás, dando leves beijos
no meu pescoço e na minha orelha, me provocando
arrepios por estar ainda molhado.
— Eu amei. Achei que iria surtar quando mergulhei,
mas fez efeito contrário. Lá embaixo foi deslumbrante
— fiz gesto para o mar e me aconcheguei mais nele. — É
uma pena que está acabando — falei já saudosa.
— Não se preocupa amor. Esse é o primeiro dos
nossos passeios. Prometo — mordiscou o lóbulo da
minha orelha. — Está cansada? — balancei a cabeça
negando. — Esses dias nós quase não descansamos com
os passeios e os... Exercícios no quarto — senti seu
sorriso torto e debochado pelo meu pescoço.
Virei-me para ficar de frente com ele e encarei aqueles
olhos dominadores.
— M e beija — não resisti ao seu olhar e pedi o que
ele fez prontamente. Seus lábios estavam salgados
devido à água do mar. Leonardo me beijou, castamente,
segurando meu rosto com suas duas mãos. — Tem
certeza que quer ir ao luau mais tarde? — perguntou
duvidoso, pois ele sabia que eu queria ir.
— Sim amor. Eu quero ir — respondi.
— Então iremos, mas... Quero que você descanse um
pouco antes — advertiu. — Dormir no voo de volta
para casa não irá ajudá-la a relaxar. E sei que na segundafeira você tem paciente logo cedo — finalizou.
— Sim senhor! — brinquei com ele fazendo gesto de
continência. O que o fez abrir um lindo e largo sorriso.
Leonardo me deixou no nosso bangalô e foi na
recepção verificar o horário que teríamos que sair
amanhã para ir para o aeroporto. Por mais que eu
quisesse um banho de banheira com ele. Leonardo é
totalmente centrado, não gosta de deixar nada de última
hora, então não fiz sequer questão por ele ter ido
verificar o horário.
Segui para o banheiro e tomei um banho relaxante.
Passei uma loção pós sol. Sempre tive o maior cuidado
com minha pele por ser muito branca e também por
insistência do Leo. Vesti um vestidinho leve e sentei na
cama para secar meu cabelo. Realmente precisava dormir
um pouco, o sol dos últimos dias tinha me deixado
exausta.
Na mesinha ao lado da cama escutei o celular do
Leonardo tocar. Aproximei e vi um número que
certamente não era do Brasil. Não atendi, pois poderia
ser algo relacionado ao seu trabalho e não alguém
conhecido ou da família. Tocou mais duas vezes e vi
quando registrou uma mensagem de voz. Assim que ele
retornasse avisaria para ele verificar se era alguma
urgência. O que não aconteceu de imediato, porque
assim que me deitei apaguei.
Acordei um pouco desorientada, fechei os olhos e
aguardei minha mente se acostumar. Levantei
devagarinho e vi que o sol já havia cessado. Procurei por
Leonardo por todo bangalô e fora dele, mas não o
encontrei. Entrei novamente e vi que havia uma rosa
vermelha no travesseiro ao lado do outro ao qual
adormeci. Junto da rosa também tinha um bilhete.
Querida,
Fui surfar, não irei demorar. Não te chamei porque
você estava realmente cansada. Eu te amo!
Seu Leo.
Busquei seu celular para verificar a hora. Já
passavam das dezoito horas. Com certeza, ele apareceria
a qualquer momento. Antes de colocar o celular de volta,
vi que Leonardo havia visto as ligações e escutado a
mensagem. Quando ele voltasse perguntaria quem era.
Segui para o banheiro, fiz minha higiene e em seguida
fui me arrumar para o luau. Escolhi um vestido floral
solto tomara que caia, um pouco acima do joelho, que
foi presente da minha mãe. Fiz uma trança deixando
alguns fios soltos, uma maquiagem leve, pois meu rosto
estava um pouco avermelhado do sol. De acessórios
coloquei algumas pulseiras coloridas e, em uma orelha,
um brinco artesanal de pena e filtro dos sonhos que
comprei no mercado de artesanato em um dos nossos
passeios. Calcei uma rasteirinha que, com certeza, seria
retirada assim que chegássemos à praia e finalizei com
um pouco de perfume. Olhei-me no espelho e acho que
estava pronta para um luau.
— Você está linda — estava tão distraída que me
assustei com Leonardo. Ele estava encostado na porta
olhando-me como um predador. E por mais que
tivéssemos muita intimidade, ele ainda tinha o poder de
me deixar tímida.
— Obrigada. Faz tempo que você chegou? —
perguntei olhando para o seu corpo. Leonardo vestia
apenas uma bermuda.
— Tempo suficiente para admirar a minha mulher —
se aproximou e beijou a minha testa. — Vou tomar um
banho rápido — disse inalando o meu cheiro. — O
quanto mais cedo formos para o luau mais cedo
voltaremos. Ainda espero a surpresa que você tinha me
prometido — sorriu com olhos esperançosos.
— Claa... Claro que farei a surpresa — estava um
pouco receosa em pedir a ele para avançamos, ainda
mais, na nossa relação sexual. Não sabia se ele gostava.
— O que foi? Você de repente ficou envergonhada —
franziu o cenho e eu sabia que tinha plantado a dúvida
nele.
— Não é nada, Leo — tentei convencê-lo que não
estava nervosa. — Vai tomar seu banho. Vou te esperar
na varanda — analisou-me por alguns segundos. Beijou
meus lábios e seguiu para o banheiro. Ainda pensei em
perguntar sobre os telefonemas, mas desisti, se fosse
algo importante ele teria comentado.
******
Chegamos ao luau e já se encontravam alguns dos
hóspedes, circulando. O cenário estava típico para um
luau tranquilo e aconchegante. A decoração ressaltava os
traços de uma festa havaiana, com muitas cores. Tinha
também tochas de bambu por toda parte, dando um
efeito interessante, e juntando assim os quatro
elementos da natureza: terra, água, ar e fogo.
Em um canto reservado, havia uma mesa enorme com
uma variedade de frutas, bebidas e tábuas de frios. Com
garçons servindo sem parar. Do outro lado tinha
espalhados vários tapetes com almofadas enormes
trazendo um clima romântico para qualquer casal.
Como ainda estava no início do luau, tinha um cantor
cover cantando só na voz e violão, mas logo haveria um
DJ tocando músicas caribenhas, segundo Leo me
contou.
— O que vão querer para beber? — ofereceu o
garçom quando nos aproximamos das bebidas. Tinha
uma variedade de coquetéis, pina coladas, daiquiris,
margaritas.
— Eu vou querer um uísque — disse Leonardo ao
garçom. — E você, paixão, o que vai querer? — fiquei
sem saber o que escolher, como era fraca com bebida,
pedi algo suave.
— Quero um HulaHula com pouca vodca, por favor
— pedi ao garçom.
Assim que pegamos as nossas bebidas nos dirigimos
para uma das almofadas gigantes e ficamos lá apreciando
o lugar e namorando um pouquinho.
— Amor, desse jeito meu amigo não vai aguentar
aqui e vai acabar furando as minhas calças — comentou
assim que rompeu um dos nossos beijos. — Vamos para
o nosso bangalô — implorou, sussurrando, com os
lábios colados aos meus e fazendo charme.
— Vamos ficar só mais um pouquinho — fiz um
biquinho manhoso. Acho que mesmo com pouco álcool
na minha bebida fiquei acesa e mais atrevida. — Nem
dançamos ainda — continuei falando.
— Você quer dançar? — perguntou, maliciosamente,
pegando uma pedra de gelo da sua bebida e passando
delicadamente pelo meu pescoço e sugando o líquido
que ali derretia com a minha pele quente, fazendo-me
arrepiar por inteira.
— Sim — pronunciei de forma quase inaudível.
Nesse momento o DJ, que já havia começado há algum
tempo, trocou para uma música que eu adorava e
comecei a me remexer sensualmente. Com um salto,
Leonardo se levantou e me puxou para dançar. Fomos
para o centro onde montaram uma pista de dança e
outros casais já dançavam. A música era Don’tM atter de
Akon. A batida era lenta e sensual.
Antes de chegarmos à pista de dança, Leonardo
abraçou-me por trás. Agarrando meu quadril, começou a
remexer sensualmente e pude sentir a sua dureza
esfregando no meu bumbum.
Sem nos importar com as pessoas ao redor,
passamos a fazer essa dança sensual. Era caliente e
sedutor. Nossas mãos passeando por todas as extensões
dos nossos corpos. Era único e sublime. Passei minhas
mãos por seu peitoral sentindo queimá-las por sua pele
a cada toque. Permanecemos assim, perdidos em nosso
momento. Era como se ali só estivesse Leonardo e eu.
— Isa — Leonardo uivou baixinho no meu ouvido
acordando-me do transe que me encontrava.
— Sim. Vamos para o nosso bangalô — retruquei a
reposta antes mesma dela ser perguntada por ele. Sem
pensar duas vezes, Leo agarrou minha mão forte e saiu
em disparada para o nosso ninho.
Seus olhos queimavam de luxúria. Antes mesmo de
abrir a porta da varanda para entrarmos no quarto, ele
me derrubou em cima do futon. Levantando meu
vestido, tirando minha calcinha pequena, puxando seu
membro totalmente endurecido entrou em mim com
rispidez. Fizemos amor duro e forte, mas cheio de
paixão e necessidade. A única luz que brilhava era a luz
da lua cheia que estava sobre nós. Vigiando. Acalentando
o nosso amor.
Depois de nos amarmos no futon, fomos direto para
a banheira onde, mais uma vez, fizemos amor. Só que
dessa vez lento, sem desespero, mas com a mesma
paixão que sentimos anteriormente.
*****
— Paixão, vem deitar — Leo gritou da cama. Estava
no closet vestindo uma lingerie minúscula, preta de
renda com detalhes florais, que tia Luiza havia me dado
de presente antes de virmos para Fernando de Noronha.
O sutiã realçava os meus seios, dando a impressão de
serem maiores. E a micro calcinha era um fio dental que
mal cobria o meu núcleo.
Queria dar mais um passo na nossa relação. Um
pouco nervosa, pensei em desistir, mas respirei fundo e
olhei-me no espelho e disse: você consegue Isabela
Alencar M enezes. Peguei o lubrificante que havia
escondido e fui de encontro a ele.
Leonardo estava deitado apenas com uma cueca
preta boxer com as mãos levantadas até a cabeça.
— Já estava indo te bus... — calou e arregalou os
olhos assim que me viu. — M inha Afrodite —
conseguiu pronunciar meio abobado.
Sentou-se na cama e me puxou para entre as suas
pernas. Até o momento, não conseguia dizer uma
palavra.
— Você ainda quer mais, pequena? — mordi os
lábios, meio envergonhada e balancei a cabeça afirmando.
Ele entrelaçou sua mão à minha e franziu o cenho
duvidoso — O que foi Isa? Sua mão está fria.
— Eu... Eu quero testar outras novidades do sexo —
gaguejei um pouco nervosa, mas estava decidida a ir em
frente.
— Outras posições? — perguntou.
— Também. M as quero sentir prazer em outros
lugares — olhou-me sem entender. Acho que havia me
expressado errado.
Sem dizer uma palavra levantei a outra mão, que
estava nas minhas costas, e mostrei a ele o lubrificante.
Seus olhos fitaram os meus surpresos com o meu
pedido silencioso.
— Tem certeza, Isa? Eu não quero que faça nada
para agradar só a mim. Sexo tem quer ser compartilhado
pelos dois e às vezes o sexo anal não agrada às mulheres.
Não porque seja ruim, mas depende muito de como o
companheiro conduz, ou do momento.
— Eu sei, mas eu quero tentar... Se você quiser, é
claro — essa curiosidade para tentar o sexo anal veio
devido a uma conversa que tive com a Lilian e tia Luiza.
E ambas diziam que era prazeroso.
— Eu quero, mas vamos por etapas, tá bom? — ele
pegou o lubrificante da minha mão e colocou ao lado da
cama. Com toda delicadeza e me beijando, lentamente,
fez com que eu me deitasse.
Estava nervosa, mas sabia que Leo conduziria tudo
com perfeição. Já deitada, ele começou a retirar minha
calcinha sem, em momento algum, deixar de fazer
contato visual comigo. Percebi que estava mordendo os
lábios em expectativa do que ele pudesse fazer em
seguida. Ele deu um sorrisinho torto.
— M eu amor, já te disse que você me faz o homem
mais realizado deste mundo? — à medida que ele ia
falando, também abria minhas pernas lentamente. M as
antes que eu pudesse responder qualquer coisa Leo
passou a língua sobre o meu sexo, o que provocou
arrepios por toda a extensão do meu corpo.
— Deliciosa. Seu gosto em minha boca é minha
perdição — continuou a trabalhar sua língua em mim e
percebi que aquela sensação de orgasmo estava prestes a
vir, quando ele me virou de lado encaixou o seu corpo
em mim.
Vi quando ele pegou o lubrificante e com a ponta de
um dedo passou no meu buraquinho de trás. A todo o
momento sussurrando em meu ouvido maravilhas.
Levantou-me a perna sobre a dele, que já estava
levantada, e o senti ali entrando devagar, parando para
que me acostumasse. A sensação era estranha, um pouco
incômoda, porém confiava no Leo.
Quando achei que fosse travar, com a outra mão, ele
começou a fazer movimentos circulares sobre meu
clitóris e aos poucos, seu membro duro enterrou no meu
sexo latejante. Era um prazer extremo. Sentir seu dedo, o
seu comprimento e sua língua trabalhando em mim,
todos ao mesmo tempo sobre o meu corpo,
proporcionou-me arrepios intermináveis.
Saber também que ali não era apenas eu que estava
sentindo prazer, mas ver Leo urrando a todo o momento
foi único. Chegamos ao orgasmo juntos e quando, ainda
deitados na cama, estávamos esperando nossas
respirações se acalmarem, vi quando ele se inclinou
sobre mim, com a cabeça apoiada sobre o cotovelo e
começou a me encarar. Já não estava aguentando aquela
situação, quando vi um leve sorriso em sua boca.
— Você tem noção do quanto isso foi maravilhoso?
— perguntou percorrendo um dedo por todo o meu
corpo. — Eu tendo receio de um dia negar a você
qualquer tipo de prazer. Que isso não aconteça nunca,
pois não quero ter que presenciar nós dois velhinhos e
você me dizendo que um dia neguei fogo. Isso é de ferir
o ego de qualquer homem — falou com um sarcasmo
forçado, mas não parando de me beijar.
Não me aguentei e caí na gargalhada ao pensar na
situação.
— Você está rindo de mim, Isabela Alencar
M enezes? — perguntou com os olhos semicerrados.
— Jamais cometeria tal insanidade, Dr. Leonardo —
comentei com o mesmo tom sarcástico, porém já me
afastando dele e levantando, sabendo que ele não
deixaria por menos. M as ao perceber minha tática, mal
pude dar dois passos para correr para o banheiro
quando ele me agarrou por trás e me jogou sobre o
ombro, sem nenhum esforço, como se eu fosse uma
boneca de pano. Não conseguia parar de rir. — Desculpa
amor... Desculpa...
— Isabela, você vai aprender que não se pode rir de
um homem com um possível orgulho ferido. Agora
vamos tomar banho, pois amanhã teremos que acordar
bem cedo. M aaaas... — ele deu uma pausa — Seu
castigo será não me tocar durante o banho — nessa hora
não me aguentei e gargalhei ainda mais alto.
— Ah! Estou pagando para ver, Dr. Leonardo
M enezes.
Dois meses depois
Era final de tarde de uma quinta-feira. Como
Leonardo estava de plantão hoje no hospital, até as
vinte três horas, tinha falado que iria para aula de dança
e, em seguida, ficar um tempinho com a galera da
academia no bar de sempre. Ele não gostou muito, mas
também não proibiu. Apenas disse que tivesse cuidado.
Desde que voltamos da nossa viagem, nosso
casamento vinha melhorando a cada dia. Claro que havia
discussões, mas a convivência diária ajudava cada vez
mais a nossa relação. Tanto ele como eu estávamos
cedendo e nos ajudando. Leonardo ainda fechava a cara
quando o assunto era o Juan, porém eu entendia. M as
desde que comentei que estava ajudando a M aria a
conquistá-lo, digamos que ele cedeu um pouquinho. Não
totalmente, mas já era alguma coisa.
Juan e eu nos tornamos amigos. Evitávamos muito
contato por causa do Leo, e o Juan entendia
perfeitamente. M aria dizia que tínhamos uma amizade
platônica.
Como meu período menstrual havia chegado de
surpresa e estava com um pouco de cólica, desisti de ir
fazer aulas e fui direto para meu apartamento. Caso
mais tarde estivesse melhor iria para o bar me reunir
com o pessoal.
Cheguei em casa, tomei um banho e vesti uma camisa
do Leo. M inha cólica tinha aumentando. Tomei um
antiespasmódico e deitei-me um pouco. Fiquei
pensando no meu casamento e nas perguntas do Leo,
recentemente, sobre bebês e tratamentos para
engravidar. Será que ele queria filhos? M eu coração se
apertava, apenas, com a possibilidade de nunca poder
gerar um filho e que isso destruísse nosso casamento.
Desviei os pensamentos negativos. Igor tinha dito
que, fazendo o tratamento corretamente, eu teria
chances de engravidar. Pensei na Júlia que já estava
entrando no seu sétimo mês de gestação. Ela estava cada
dia mais radiante. Heloísa já era bastante amada por seus
pais, avós e seus padrinhos. Luigi e Júlia havia nos
apadrinhado. E a dinda aqui não via a hora de ver o
rostinho da princesinha.
Adormeci perdida nos pensamentos e acordei
assustada com uma dor forte na região abdominal.
Levantei com dificuldade e fui ao banheiro. Sentei na
privada e puxei o absorvente íntimo de dentro do meu
corpo. O sangue estava escurecido, porém o fluxo estava
normal. Tomei um banho rápido e coloquei outro
absorvente. A dor estava mais forte, mas era suportável.
Caso não passasse ligaria para o Igor e pediria ajuda.
Saí do banheiro e quase tenho uma síncope.
Leonardo estava sentado na cama com as luzes
apagadas, apenas as luzes do banheiro e da sala refletia o
quarto.
— Que susto Leo! Faz tempo que você chegou? —
perguntei tentando me recompor.
— Poucos minutos – falou distraído. Fui até o
interruptor e liguei as luzes do quarto. Leonardo estava
abatido e com ar preocupado.
— Aconteceu alguma coisa? Você parece preocupado
— fui em sua direção e ajoelhei entre as suas pernas
tentando ficar por igual com ele.
Ao ver seu olhar esqueci, por um momento, à dor
que estava sentindo. Seus olhos estavam vazios e
amedrontados. Ele puxou-me para o seu colo enterrando
seu rosto em meu pescoço.
— Querido. Estou ficando preocupada — seu abraço
sobre o meu corpo era angustiado.
— Eu te amo Isabela. Não esqueça, por favor —
divagou como estivesse buscando esperança. Tentei
puxá-lo para encara-lo, mas ele não me permitiu.
— Você quer falar agora? — indaguei.
— Hoje não. Amanhã conversaremos. Eu só quero
ficar assim. Você me passa paz e é disso que eu preciso
agora — expressou tristemente. O assunto deve ser algo
importante, pois ele nem sequer perguntou se eu fui ao
bar.
Depois de muito esforço, Leonardo soltou-me do seu
abraço e foi tomar banho. Preparei um lanche para nós,
contudo ele mal tocou na comida. Perguntei algumas
vezes o que estava acontecendo e ele apenas disse que
amanhã conversaríamos.
Fomos nos deitar e, mais uma vez, tomou-me em
seus braços e pediu que confiasse nele. Respondi que
sim, pois ele era o homem da minha vida. Ficamos em
silêncio perdidos em pensamentos. Demorei a dormir,
pois sabia que ele não estava conseguindo dormir e eu
também não conseguia porque estava preocupada com
ele e minhas dores estavam aumentando.
Acordei com uma pontada muito forte no baixo
abdome. M exi com dificuldades para sair do abraço do
Leo. Assim que consegui sair dos seus braços e estava
tentando levantar, uma vertigem atingiu-me fortemente.
— O que foi? — Leo perguntou acordando
assustado e sentando-se rapidamente ao perceber que
estava muito pálida.
— Só uma tontura — falei tentando sentar
novamente na cama. M as minha cabeça rodava muito.
— Isa, você está totalmente sem cor e muito gélida
— pegou meus pulsos para verificar os batimentos. —
Quase não sinto sua pulsação. Fique aí. M inha maleta
está na sala — saiu em disparada. A dor estava voltando
novamente e me mexi incomodada. Senti algo úmido na
cama e puxei o lençol para olhar. Pavor me tomou
completamente e gritei pelo Leonardo, que apareceu no
mesmo instante, e ao se deparar com a cena vi medo em
seus olhos. Correu rapidamente para a mesinha ao lado
da cama, pegou o seu celular e discou, acho que
chamando a emergência.
— Lilian! Leonardo. M anda com urgência a
ambulância da clínica e avisa ao Igor para vir junto.
Isabela está tendo uma hemorragia. — o semblante de
Leonardo estava totalmente sem vida. Ele falava aos
berros pedindo ajuda. Foi à última imagem que enxerguei
dele antes de tudo ficar escuro.
Capítulo 18 – O retorno
Leonardo
— Só não demore. Gostaria que estivesse em casa
quando eu chegasse do plantão — pedi a Isabela que não
demorasse muito na sua saída com seus amigos da
academia de dança. Hoje é quinta-feira e eu estou de
plantão de doze horas no hospital. Ela havia me
perguntando se poderia ir ao bar com os amigos. Na
verdade queria dizer não, mas não poderia fazer isso.
Isabela precisa de distração.
— Não demorarei. E também a M aitê estará lá —
respondeu, carinhosamente.
— Tudo bem, meu amor. Se cuide! Já estou
desejando repetir nossa brincadeira da noite passada —
confessei, maliciosamente.
— Você me deixou exausta ontem — sorriu. —
M as… também já estou contando as horas — retrucou
com sua voz de gatinha manhosa que faz meu pau
pulsar todas as vezes. — Querido, preciso ir. Ainda não
almocei e tenho um paciente em vinte minutos.
Reclamei com ela pela milésima vez sobre a sua
alimentação. Isabela nas últimas semanas estava com
bastante falta de apetite, causando até fraqueza e
tonturas frequentes. Quando estávamos juntos
conseguia que comesse nos horários corretos, mas nem
sempre era fácil, principalmente quando tinha algum
paciente que precisava de uma atenção especial.
Nos despedimos e parei por um tempo pensando o
quanto a nossa vida tinha mudado. Já se passavam
pouco mais de dois meses que nos reconciliamos e,
desde então, o nosso casamento estava a todo vapor.
Incrível! Convivência, diálogo, sexo e entre outras
coisas. Não tinha do que reclamar.
Claro que nem tudo eram flores. Ainda tinha a minha
mãe que não aceitava a minha volta com Isabela, porém
não a destratava mais, e, mesmo com um sorriso
forçado, tratava a Isa bem, mas apenas por educação.
Nos domingos sempre almoçávamos na casa dos meus
pais. E por mais que às vezes eu insistisse para não
irmos, Isa fazia questão. Dizia que se não fôssemos
daríamos motivos para dona Rosália falar.
Verifiquei as horas e vi que faltavam poucos minutos
para fazer a ronda nos ambulatórios e leitos dos
pacientes. Hoje estariam comigo alguns residentes.
M uitos médicos não gostavam dessa relação “M édico
versus Residentes”. Eu pelo contrário adorava. M e
sentia feliz e livre para passar os meus conhecimentos
para esses jovens. M uitos deles me agradeciam. E essa
gratidão eu não trocava por nada.
Escutei uma batida na porta e já sabia que era a
enfermeira chefe.
— Dr. Leonardo. Os residentes já o aguardam na
recepção do primeiro andar — anunciou já com os
prontuários dos pacientes em mãos para me entregar.
— Obrigado, Sra. M árcia — respondi levantando-me
e colocando o celular no bolso esquerdo, o
esfigmomanômetro no bolso direito e pendurando o
estetoscópio no pescoço. E saí de encontro aos médicos
residentes.
Como havia imaginado, levei a tarde toda e boa parte
da noite orientando os jovens médicos. Passamos por
vários ambulatórios e cada leito. Dando toda assistência
necessária a cada paciente naquelas alas. Além do prazer
de mostrar os meus conhecimentos na área cardiológica,
também buscava transmitir a eles humanidade, igualdade
e compaixão com o próximo.
Despedi-me dos residentes e segui em direção ao
consultório, ainda faltavam três horas antes de ir para
casa. Provavelmente a aula da Isabela já havia terminado
e ela seguiria para o bar. Assim que virei o corredor
encontrei com Benício vindo pelo sentindo contrário.
— Fala, mano! — falei, dando um abraço nele.
Éramos melhores amigos. E um entendia o outro.
— Cara, estou morto. Acabei de sair de uma cirurgia
complicada, que levou todas as minhas energias. M as no
final foi um sucesso. Graças a Deus — desabafou
abatido pelo cansaço.
— Você é um excelente neurocirurgião. Tenho certeza
que foi um sucesso mesmo — elogiei. — Seu plantão
acaba as vinte três horas, também? — perguntei. E ele
logo balançou a cabeça positivamente.
— Acabei de falar com a M aitê. Ela disse que a
Isabela não foi para academia — aposto que ela decidiu
atender alguns pacientes de emergência. Pensei já
ficando chateado com excesso de trabalho da Isa nos
últimos dias. — Ia te chamar para daqui irmos para o
bar pegar as meninas. Será que ela ainda irá? —
perguntou indeciso.
— Vou saber com a Isabela o que foi que aconteceu e
se ela ainda irá para o bar — Se ela ainda estivesse na
clínica, ouviria umas verdades. — Caso sim, poderemos
passar por lá — completei.
— Por mim tudo bem. Estarei no meu consultório —
nos despedimos e segui para o meu destino já pegando o
celular do bolso para ligar para M inha Paixão.
Estava tão distraído, discando o número do telefone
da Isabela, que não percebi ao entrar no meu consultório
que havia uma pessoa sentada na minha poltrona virada
para parede. Por um rápido segundo, achei que seria a
Isabela me fazendo uma surpresa. M as vislumbrei uma
pequena mecha loira. Tirando-me completamente dessa
ilusão.
— Olá, posso ajudar? — chamei a atenção sem saber
quem era. De repente uma velha risada conhecida soou
pelo consultório. Escutei o ranger da poltrona virando
em minha direção. E, assim que a vi, um calafrio
percorreu todo o meu corpo. Era Gabriela. M inha ex
sorrindo lindamente.
— Olá querido. Sentiu minha falta? — fiquei sem
reação. Gabriela apesar ser minha ex, também tinha se
tornado minha amiga. E eu não compreendia o medo que
meu corpo emanava por estar de frente com ela. —
Nossa! Acho que você não esperava por mim. Vejo uma
mistura de surpresa e medo saindo dos seus olhos,
Leonardo M enezes — expressou, meio que
diabolicamente, mantendo-se ainda sentada na minha
poltrona.
— Não esperava você aqui. Quando chegou da
Alemanha? — indaguei. — Poderia ter ligado antes —
continuei falando. Caminhei até a mesa e sentei-me de
frente para ela.
— Cheguei faz algumas semanas, mas estava no
interior visitando minha tia Beth — respondeu fitandome. — Você sabe como a titia é — sim. Eu sabia. Dona
Beth era uma tia solteirona e beata que havia criado a
Gabriela desde que seus pais haviam morrido. Gabi
cresceu tendo uma educação totalmente rígida, apesar de
que, muito dessa disciplina ela deixou para trás.
— E como está tia Beth? — perguntei.
— Do mesmo jeito. De casa para igreja. Da igreja
para o bingo — disse. — Sugeri até que arrumasse um
velhote no clube do bingo — suspirou. — Por pouco
não levei uma corça e me ajoelhei no milho para rezar
um terço – falou, zombeteira. E tentei sufocar o riso.
— Isso não seria novidade. Interessante mesmo seria
ver uma mulher de trinta e três anos ficar de castigo por
ser rebelde com a titia — brinquei tentando relaxar.
Desde a época da faculdade, Benício e eu ríamos dos
castigos que a Gabi passou na sua infância por causa
dos desaforos que causava a sua tia.
— Você não respondeu que sentiu a minha falta —
proferiu mordendo o lábio inferior. E meu instinto ficou
em alerta novamente.
— Gabriela, você sabe que não assumimos nenhum
compromisso. Foi apenas sexo — uma pequena
decepção brilhou em seus olhos, mas sabia que ela
tentaria não demonstrar. Gabi nunca foi mulher de fazer
papel de vítima. M as também não tinha a humildade de
reconhecer os seus erros. Tudo tinha de ser como ela
desejava. Sempre.
— Ah! Conheço essa expressão. Você não me
engana, Leonardo M enezes. Te conheço há anos. Quem
é a vítima agora? — desdenhou curiosa.
— Não tem vítima. Não sou mais aquele jovem que
agarrava o primeiro rabo de saia que passava na minha
frente.
Seu rosto ficou sério. Avaliou meu semblante por
alguns minutos como se tentando chegar até meus
pensamentos.
— Você está apaixonado — declarou, raivosamente
— É ela. Não é? A Isabela? Vocês se reconciliaram? —
afirmou magoada.
— Gabi, você passou uma temporada fora do Brasil.
E muita coisa aconteceu. E… — sem nem me deixar
terminar, atropelou-me com palavras sarcásticas.
— E você resolveu que queria brincar de casinha com
a bonequinha de porcelana, novamente — tripudiou.
Levantei tentando não entrar no seu jogo. Sou pavio
curto e sei muito bem aonde ela quer chegar com essas
piadinhas. Fechei os olhos e respirei fundo buscando
calma.
— O que você quer? Não te prometi amor eterno,
Gabriela — enunciei, calmamente. Fúria saltava dos seus
olhos.
— Lembra que antes de viajar fui a clínica para
conversamos? — balancei a cabeça confirmando. — E
acabou que a bonequinha teve um piti e você correu
como um poodle treinado para ela? — continuei calado e
a deixei falar, — pois bem, querido — olhou-me e riu
triunfante. — Como será que a donzela em perigo
reagirá quando descobrir que você será papai do filho da
sua amante? — Gabriela levantou-se da poltrona e uma
barriga redonda apareceu. — Parabéns papai. É um
menino!
O sangue drenou de todo o meu corpo e meus olhos
não saíam daquela pequena barriga. Isso só pode ser
brincadeira! M esmo assim me mantive calmo. M esmo
querendo degolar aquele pescoço fino na minha frente.
— Quem garante que esse filho seja meu? E por que
só agora você veio me contar? — olhou-me estupefata.
E eu sorri internamente. Conhecendo a Gabriela, ela
tinha horror a quem duvidasse da sua palavra.
— Você sabe que eu não minto — alterou a voz
contrariada. — Tive um início de aborto na Alemanha. E
você sabe quais sãos os procedimentos nesses casos.
Não pude voltar para o Brasil — justificou. Seu corpo
começava a tremer, nervosamente. Eu sabia que tinha
atingido seu ponto fraco. Gabi cresceu com medo da
rejeição.
— Você sabe que vou querer um exame de DNA —
afirmei, friamente. M as por dentro, pânico gritava
dentro de mim. Na minha mente a única coisa que
pairava era como a Isabela reagiria com essa notícia? —
Eu não era seu único parceiro na época.
— Quando estávamos juntos não tive outros
parceiros — proferiu. — E sempre usei preservativo
nas minhas relações — Não aguentei e gargalhei com
suas últimas palavras. Deixando-a mais nervosa, ainda.
— Gabriela, por favor! — debochei. — Você é uma
mulher inteligente. Não me venha com explicações bobas
sobre preservativo — olhei-a de baixo para cima e parei
olhando firmes em seus olhos. — Todo mundo sabe que
você gosta de sexo — me aproximei, ainda mais dela,
sentindo seu aroma. — E em nenhum momento que te
fodi estava sem proteção. Então esse filho pode ser de
qualquer um. Ou você quer dizer que o meu esperma foi
o único capaz de romper com o látex?
Virei-me e fui em direção à porta para expulsá-la do
meu consultório. Se ficasse mais alguns segundos com
ela, perderia toda a minha passividade. M as antes
mesmo de chegar à porta, fui atingindo com murros nas
minhas costas. Virei-me rapidamente e por pouco um
golpe não atingiu meu rosto. Ainda esmurrando e
gritando, agarrei seus pulsos e pedi que se acalmasse.
Temia pelo inocente dentro dela.
— Para Gabriela. Para porra! — ela se debatia cada
vez mais. Dando-me dificuldade para contê-la.
— M eu Deus! O que está acontecendo aqui? —
Benício apareceu. E fechou à porta abruptamente para
não chamar atenção. — Dá para ouvir os gritos do
corredor — ele veio na nossa direção e ajudou-me.
Benício com toda sua paciência conseguiu acalmá-la.
E aferiu sua pressão. Eu, por outro lado, encostei na
parede mais distante deles.
— Se sente mais calma? — Benício perguntou a
Gabriela após recolher de suas mãos um copo com água.
— Parabéns pela gravidez — Tentou amenizar a
situação.
— Como você é o meu amigo e também do pai do
meu filho, acredito que você será o padrinho — Gabriela
retrucou. E olhou para mim, esperando uma resposta
minha. Da qual não veio.
Benício olhou-me, também, sem dizer nada, mas só
por aquele olhar eu já sabia o que se passava na sua
cabeça. “Que merda você fez dessa vez, Leonardo?”
Essa pergunta saltava dos seus olhos.
Enquanto Gabriela explicava tudo que aconteceu,
desde o nosso sexo até agora ao Benício, eu pensava.
Pensava se, realmente, essa criança fosse minha eu não
poderia rejeitá-lo. Pensava na Isabela. Deus! M inha
mulher sofreria quando soubesse. Um bebê. Era tudo
que ela almejava. E era tudo que eu queria proporcionar
a ela. No entanto, esse enredo estava completamente
errado. Coloquei minhas mãos na cabeça e orei
silenciosamente. M inha esperança era que esse exame de
DNA desse negativo. Já que a progenitora era assídua ao
sexo com vários parceiros.
Benício convenceu Gabriela a ir embora. Depois que
os ânimos estivessem mais calmos voltaríamos,
novamente, a conversar.
M eu amigo a acompanhou, acho que até o
estacionamento, e após alguns minutos ele retornou ao
meu consultório e ficou me encarando. Esperando uma
explicação.
— Você sabe muito bem que esse bebê pode não ter
meu sangue — estava já exausto desse assunto. A única
coisa que desejava era abraçar Isabela.
— Sei sim. M as existe a possibilidade dele, o
inocente, ser seu filho — ficamos em silêncio por alguns
segundos. — O que pensa em fazer? — perguntou.
— Penso em ir para casa. Tomar um banho. E ficar
com a minha mulher — falei.
— E em relação à Gabriela? — Benício, apesar de ser
meu melhor amigo, também tinha uma amizade com a
Gabi. E eu sabia que ele estava preocupado com ela.
— Se o bebê for meu filho, garanto que não lhe
faltará nada — fitei-o magoado. — Você sabe que não
corro das minhas responsabilidades. Admira-me muito
você duvidar de mim.
— Nunca duvidei. Apenas perguntei em relação à
Gabriela. Vocês precisam conversar — retrucou.
— O que você quer que eu faça?
Precisava ir embora. Sentia-me sufocado nesse lugar.
— Não vou largar a Isabela. Se for isso que espera.
Se aquela criança realmente for meu filho — repeti, —
Não lhe faltará amor e carinho.
Arrumei minha maleta e segui em direção à porta.
Parando assim que abri. Sem nem ao menos olhar para o
meu amigo.
— Compreendo que ela é sua amiga. E respeito essa
amizade. Porém não me peça nada além do bebê —
esclareci. Fechei a porta e fui embora.
Fui até o estacionamento e entrei no carro e fiquei ali
pensando. Como pode tudo estar perfeito e de uma hora
para outra mudar tudo? E o Benício, o que ele queria que
eu fizesse? Largasse a minha esposa? Antes mesmo de
pensar na resposta ouvi o toque do meu celular. Era o
próprio Benício.
— Diz — atendi sem ânimo.
— M e desculpa, mano. Você não tem nenhuma
obrigação com a Gabi — disse. — Conte comigo para o
que precisar cara — terminou de falar.
— Hoje já deu o que tinha que dar. Amanhã
conversaremos — proferi. — Só peço que não comente
com ninguém até que eu fale com a Isa — Benício
concordou.
Benício tentou conversar mais um pouco. Disse que
tinha acabado de falar com a M aitê. E a mesma tinha
dito que Isabela não tinha ido ao bar. Desliguei a
chamada. Respirei fundo e liguei o carro e segui para
casa. Estava prestes a decepcionar a pessoa mais
importante da minha vida e isso estava me corroendo
por dentro. M esmo que existisse uma possibilidade
remota que esse filho não fosse meu, mesmo assim,
magoaria de qualquer maneira a M inha Paixão.
Parei o carro na minha vaga da garagem do prédio e
fiquei pensando. Como dar uma notícia dessa a pessoa
que você ama? Entrei no elevador tão distraído que não
cumprimentei as pessoas ali presentes. Estava perdido
em como começar a contar. Não fazia ideia. Era pior do
que contar a morte de um ente querido.
Ao entrar no apartamento, tudo estava escuro, mas o
carro da Isabela estava na sua vaga da garagem. Segui em
direção ao quarto e ela dormia profundamente. Não quis
acordá-la. Retornei para sala, apaguei as luzes e senteime no sofá. Agora que a adrenalina evaporou do meu
corpo, o pavor aumentou. Eu, provavelmente, seria pai
em poucos meses. Nem sei com quantos meses de
gestação a Gabriela está. M as pelo tempo que estivemos
juntos acredito que seria cinco a seis meses. Oh Deus!
Faça com que a Isabela não sofra. Levei as mãos ao
rosto. Não sei quanto tempo fiquei ali na sala
martelando essa angústia.
Escutei o barulho de água saindo do chuveiro. Isabela
havia acordado e estava no banho. Acendi a luz da sala e
segui para o quarto. O mesmo estava totalmente escuro,
apenas luzes refletiam da fresta da porta do banheiro e
da sala. Sentei na beira da cama e aguardei ela sair. Logo
daria início ao nosso martírio.
Ao sair do banheiro, Isabela se assustou com a minha
presença na escuridão. Estava tão aturdido que nem
escutava o que ela falava. Só tive reação quando ela
ajoelhou entre as minhas pernas e pude constatar
aqueles olhos verdes cheios de preocupação. Nesse
momento perdi toda a coragem que já não tinha.
Rapidamente a puxei para meu colo e enterrei meu rosto
em seu pescoço. Era aqui que eu queria ficar.
Hoje eu não diria nada. Sou covarde demais para
destruir a nossa felicidade. E se ela não me perdoasse?
Como suportaria a dor de viver mais uma vez separado
da mulher da minha vida?
— Eu te amo Isabela. Não esqueça, por favor —
implorei, antecipadamente. Ela tentou ainda conversar,
mas eu não estava pronto. Acho que nunca estaria. Pedi
para conversarmos amanhã. Essa noite daria seu sono de
paz.
Passei a noite em claro, não consegui dormir.
Pensava, pensava e pensava. Nunca minha mente
trabalhou tanto. Ao contrário do que esperava, Isabela
também não dormiu bem. Passou a noite inquieta.
Parecia que algo a perturbava. Cada vez que ela se mexia
eu a abraçava forte, para demonstrar proteção e muitas
das vezes ela se aquietava. Quando comecei a cochilar
senti a Isa se mexendo.
Abri os olhos e notei algo estranho em seu
semblante. Ela estava completamente pálida. De
imediato verifiquei a sua pulsação e a constatei baixa.
Suas mãos estavam uma pedra de gelo. Levantei e corri
até a sala para pegar a minha maleta para examiná-la
melhor. Antes mesmo de retornar ao quarto escutei um
grito de horror me chamando. E cheguei no instante em
que ela me olhou amedrontada. M eu coração quase saiu
pela boca ao me deparar com Isabela trêmula, sem vida,
e em cima de uma poça de sangue. M eu amor estava
tendo uma hemorragia.
******
— Leonardo — escutei de longe a voz da Júlia me
chamando. — Como a Isa está? — perguntou
preocupada.
— Igor a levou para fazer alguns exames. Estou
aguardando, mas até agora nada — não sei ao certo
quanto tempo tem que ele a levou. M as parecia uma
eternidade. Queria estar presente, mas acharam melhor
não. Apesar de ser um médico de total controle, para
qualquer emoção, Isabela era o calcanhar de Aquiles para
me descontrolar. Não sei como consegui reanimá-la do
desmaio. Fiz tudo no modo automático.
— Calma, gato. Nossa pequena ficará bem — disse
massageando meus ombros. M esmo desnorteado reparei
na linda barriga da minha irmã e de imediato a Gabriela
veio em meus pensamentos.
— Você não deveria ter vindo Júlia — reclamei.
M inha irmã estava entrando no oitavo mês de gravidez e
não queria atormentá-la. — Quem te falou? — indaguei.
— Isso não importa maninho. O importante é que
estou aqui — articulou. — Acho que não fui a única a
ser informada do problema da Isa. Lá vem o Benício —
olhei de lado e vi meu amigo vindo em nossa direção.
Seu olhar era compassivo e questionador.
Benício nos cumprimentou. Seus olhos sempre nos
meus. Como se estivesse perguntando se o problema da
Isa tinha algo a ver com a gravidez da Gabi.
Depois que pareceu um século de espera, Igor
apareceu e nos conduziu até a sua sala.
— O que a Isabela tem Igor? Foi outra crise de
endometriose? — interroguei desesperado.
— Sim e não. M as quero que escute com atenção —
seu olhar era sombrio, trazendo um medo antecipado, —
nos últimos exames que a Isabela fez a endometriose
estava controlada devido ao tratamento com os
anticoncepcionais — parou e respirou, profundamente,
— porém, nesse último exame que fiz, constatei um
tumor no seu ovário esquerdo de aproximadamente vinte
centímetros cúbicos. Pela forma como se desenvolveu
tão rápido e silenciosamente, acredito que seja um tipo
de cisto benigno — olhou-me esperando alguma atitude,
no entanto estava estático tentando absorver tudo que
ele falava.
— Que tipo de tumor, Igor? — Júlia perguntou
apreensiva.
— Um teratoma. Esse tipo de tumor causa nas
mulheres dores insuportáveis em certos momentos. No
caso da Isabela, o teratoma se formou muito rápido
tomando todo seu ovário esquerdo. A hemorragia da Isa
ocorreu, eu acredito, devido à inflamação da
endometriose. Já que ela estava entrando no seu ciclo
menstrual, provocado também por esse cisto — parou
de falar e aguardou por mais perguntas.
— Então a Isabela precisa ser operada o quanto
antes — dessa vez foi o Benício que afirmou.
— O quanto antes melhor — Igor confirmou.
— Você quer me dizer que a minha esposa terá de
passar por uma cirurgia para a retirada do seu ovário
esquerdo, porque um cisto idiota se desenvolveu nele?
— questionei mesmo já sabendo a resposta. Igor
confirmou mais uma vez. — E como ela reagiu a isso?
— Isabela ainda não sabe. Estava com muitas dores,
então apliquei no seu soro um remédio para amenizar a
dor e ela está descansando agora — esclareceu
profissionalmente. M as eu sabia que, por dentro, estava
tão preocupado como qualquer um aqui na sua sala.
— Igor, me responda — precisava saber de tudo.
Antes de tomar qualquer atitude. — Isabela ainda
poderá ter filho?
— Ela ainda terá o ovário direito — falou com ar
questionador, como se dissesse: você passou seis anos
na Faculdade de medicina fazendo o quê? M as nesse
momento eu era o marido de sua paciente, queria ter
certeza e esperança. Isabela já tinha dificuldades de
engravidar com os dois ovários, imagina com apenas um.
— M eu Deus! Ela ficará assustada — precisava
recompor minhas forças para ajudar a Isa nesse
momento. — Tenho medo que ela não aguente. Vocês
sabem o quanto ela tem medo de ficar infértil.
— Calma, mano. A Isa é forte. Ela tirará de letra esse
problema — Júlia se mostrou confiante em relação a
minha esposa, mas eu tinha as minhas dúvidas.
Conversamos mais um pouco sobre o caso da
Isabela. Igor é um “puta” de um especialista e tenho
certeza que ele faria de tudo para o bem-estar da minha
esposa. Logo em seguida, Júlia foi ficar um pouco com
Isa. Ela tinha adormecido. E pela quantidade de remédio
que o Igor havia dado a ela, dormiria o suficiente para
acordar e receber a notícia.
— Leo. Preciso ir. A M aitê está preocupada com a
Isabela. M ais tarde a trago para uma visita —
comunicou. — Quando você acha que será a cirurgia?
— O mais rápido possível. Já pedi ao Igor para
providenciar a transferência dela para o hospital. Não
quero vê-la no estado que a vi hoje cedo — comentei
desanimado.
— E a Gabriela? — indagou receoso.
— Não tenho cabeça para a Gabriela agora — não
menti. A última coisa que queria era dizer a minha
esposa que minha ex. estava grávida e que
provavelmente o filho seja meu. Não que eu fosse
esconder isso, mas estava com muito medo da sua
reação. Agora não era o momento certo, não com a
Isabela nesse estado. M inha Paixão não merecia tudo
isso que estava acontecendo.
— Entendo. No entanto, você não pode adiar por
muito tempo — olhei em sua direção e tive certeza que
ele estava preocupado tanto comigo como com a Gabi.
Uma coisa não posso negar, o Benício era um grande
amigo e eu sabia que poderia confiar nele. M as iria
desapontá-lo.
— Enquanto a Isabela estiver nessa situação, peço
sua discrição em relação à Gabi — mesmo que
decepcionado, concordou.
— Você sabe que a Gabriela trabalha no hospital,
então a gravidez dela logo estará nos quatro cantos da
cidade — alertou.
— E nós dois sabemos que a Gabriela zela por sua
reputação. A gravidez ela não tem como esconder,
porém quanto ao pai do bebê ela não abrirá a boca para
dizer que, provavelmente, seja um homem casado —
disso eu poderia me tranquilizar. — No momento certo,
eu conto a Isabela.
Por hora a saúde da minha esposa vinha em primeiro
lugar.
Capítulo 19 – As duas faces
Gabriela
— Como se sente? — Benício questionou, enquanto
caminhávamos em direção ao estacionamento do
hospital. — Tem condições de dirigir?
— Sim. Estou bem. Você sabe que não é fácil me
derrubar — sorri sem vontade. Estava chateada com a
frieza que o Leonardo recebeu a notícia do bebê.
Não planejei essa gravidez. Aconteceu. E com ela
veio à chance de reaver o amor da minha vida que, por
capricho, perdi.
— Você acha que ele — apontei em direção ao
hospital, — irá aceitar essa criança?
Leonardo sempre foi responsável, mas tinha receio
que ele não aceitasse o nosso filho. Porque é o nosso
filho. Sem chance de ele fazer exame de DNA. Tinha que
o convencer.
— Se o filho for do Leo, tenho certeza que não
deixará faltar nada — disse receoso.
— Até você, Bê? Achei que fôssemos amigos.
Somos amigos desde a época da faculdade. Éramos o
trio inseparável. Benício, Leonardo e eu. M as as coisas
meio que mudaram depois que destruí o meu namoro
com o Leo, por causa do Renato. O que foi um grande
erro da minha vida e custou o coração do homem que
amo.
— Se você que é meu amigo, e me conhece bem, tem
dúvidas. Imagina aquele tosco!
— Gabi, você é uma mulher decidida. Sempre foi.
Sempre correu atrás do que almeja — parou e olhou-me
por alguns instantes. — M as convenhamos que é
estranho, você aparecer depois de... Cinco, seis meses
grávida e ainda por cima, falar que é do Leo, que é a
pessoa mais sistemática que conheço — Benício tinha
um carinho de irmão comigo, mas defenderia o Leonardo
acima de qualquer coisa. — Desculpa, mas é o que eu
penso. Você o conhece bem, tanto quanto eu, e sabe que
exigirá o exame. Ainda mais agora que ele e a Isabela
estão muito bem — concluiu.
— Que droga! Essa fedelha tinha que aparecer na
vida dele — esbravejei revoltada. — Essa idiota da
Isabela tinha que atrapalhar. Sempre atrapalhou. Sempre
está no meu caminho. Se não fosse por ela, Leo e eu
estaríamos juntos hoje — eu não entendia o que
Leonardo viu nessa pirralha.
— Você está errada, novamente — Benício atreveuse a falar. — Quando Leo conheceu a Isabela, aquele cara
já tinha te dado um fora há bastante tempo. Não culpe a
garota pelos seus erros. Ela não tem culpa alguma do
que está acontecendo com vocês e, tenho certeza, que
será a mais magoada quando isso tudo vier à tona —
falou com o tom chateado, e eu tive que me conter ao
falar daquela mulher. Pois, pelo que parece, ela
“cativou” todos ao seu redor.
— M as bem que ele nunca me negou quando o
procurava — estava irritada por ele me contradizer.
— Você disse bem Gabi. Ele nunca negou uma foda,
mas tenho certeza que ele deixava claro que era só isso.
Então não crie expectativa de amor, porque ele não te
dará — comentou firme.
— Tudo bem. Tudo bem. Já vi que a donzela tem
vários defensores — falei, sarcástica, levantando os
braços em sinal de rendição, o que fez Benício balançar a
cabeça desaprovando minha piada. M as era verdade, se
a Isabela não tivesse caído de paraquedas na frente do
Leo, estaríamos curtindo nosso filhote.
Antes mesmo de terminamos a faculdade, caí na
besteira de me envolver com um idiota chamado Renato.
Eu era apaixonada pelo Leo. Sempre fui, mas gostava de
sexo. A vida monogâmica estava entediante. Por causa
das provas finais da faculdade, Leo e eu mal tínhamos
tempo de dormir, quanto mais de transar. Um dia a
galera resolveu acampar na serra, onde tinha trilhas e
cachoeira próxima ao local. Leo não quis ir porque
queria estudar e também visitaria os seus pais. Já que
dividíamos uma quitinete próxima da faculdade. Decidi
ir sem ele. O Benício também iria então o Leo não ficou
chateado por eu querer ir.
Foi nesse maldito acampamento que conheci o
Renato. Ele virou minha cabeça, completamente.
Tínhamos uma química, ele era o oposto do Leo. Não
queria nada com a vida, só curtição, e eu estava
precisando disso naquele momento. Distração. Ele não
fazia cerimônia, insistiu o suficiente para ficarmos
juntos. O que aconteceu, claro que escondido, era pra
ser apenas um fim de semana.
Sentia-me revigorada, relaxada e pronta para voltar e
cuidar do meu homem, que ficou me esperando. M as
infelizmente nem tudo foi assim. Três dias depois
Renato me procurou na faculdade. Tinha acabado de
discutir com o Leo que não se lembrou do nosso
aniversário de namoro, pudera eu também não tinha
lembrado. A data surgiu de repente em minha memória,
mas ele nunca esquecia. O que me deixou bastante
magoada.
Acabei saindo com Renato e passamos a noite
juntos. Inventei uma desculpa para o Leo para dormir
fora. Renato conseguia me tirar dos eixos, sentia-me leve
e livre com ele. O meu relacionamento com Leonardo era
intenso e seguro. Não trocaria meu homem por nada.
M as o Renato passava aquela sensação de perigo e eu
estava necessitando de adrenalina. Quando dei por mim,
já não conseguia controlar esse envolvimento. Cada vez
buscava mais o Renato e ele a mim.
Um dia estava no apartamento do Renato e sua irmã
chegou sem avisar. Só que para a minha desgraça, a
infeliz era uma das fãs do Leo. M uitas mulheres eram
apaixonadas por ele e me odiavam.
Não demorou uma hora para que todos soubessem
da minha traição. Quando encontrei o Leo, ele me olhava
decepcionado. Seus pertences já estavam todos
encaixotados e ele saiu do nosso cantinho sem olhar para
trás. Chorei por dias e pensei em desistir do curso, mas
o Benício mesmo a contragosto do Leonardo me deu
incentivo para continuar.
Depois inventei um boato na faculdade dizendo que
o Leo e eu não nos relacionávamos mais. Apenas
dividíamos a quitinete, enquanto ele arrumava um lugar
para ficar. Era o mínimo que eu poderia fazer por ele. E,
graças a Deus, deu certo.
Assumi meu relacionamento com o Renato, mas logo
caiu na rotina. Não aguentei mais e pus fim nesse
namoro quando o peguei na nossa cama com uma vadia.
Leonardo por outro lado estudava e pegava todas as
mulheres que passava por perto dele. O que não era
legal presenciar. Ele parecia alheio a mim, não deixava
ninguém me difamar, porém não demonstrava
sofrimento. Assim que terminamos o curso, ele foi
embora para os Estados Unidos fazer sua residência,
restando apenas eu e Benício, um cuidando do outro.
Quando vinha ao Brasil o procurava e sempre
ficávamos juntos, implorava o seu perdão e ele dizia que
não tinha mágoa de mim, no entanto não prometia nada
além de uma foda. M as nosso sexo ficava cada vez
melhor.
Poucos meses antes dele voltar para o Brasil, me
convidou para passar uns dias com ele em Wisconsin.
Foi a melhor semana da minha vida. Parecíamos recémcasados. Quando retornei passei a ficar na expectativa
de nos encontrarmos e dar continuidade de onde
paramos. Esperei até quinze dias depois que ele tinha
retornado.
Não resisti e fui procurá-lo em seu
apartamento. Quando cheguei, encontrei aquela vadia
que me dedurou, a irmã do Renato, bem à vontade.
Quase fiz um escândalo, mas engoli calada e fingi ser a
amiga que tinha ido dar boas-vindas. Não podia
demonstrar fraqueza.
Depois que conheceu a Isabela a situação piorou,
ainda mais. Leonardo parecia enfeitiçado pela filha do
seu M entor. E ela, todavia, mesmo com aquela cara de
inocente, não simpatizou comigo e o afastou de mim, o
forçando a se casar.
— Como foi à reação da tia Beth ao saber da
gravidez? — Benício chamou minha atenção, tirando-me
dos devaneios.
— Não muito bem. Queria vir aqui dizer umas
poucas e boas ao Leo, mas a convenci que iríamos nos
casar. O que a deixou menos decepcionada.
Perdi meus pais quando tinha doze anos e desde
então tia Beth me criou. Não foi fácil viver com ela,
porém ela me ensinou a nunca fechar os olhos para as
oportunidades que a vida me desse. E tive várias,
conquistei minha independência financeira. Agora só me
restava ter o meu homem de volta.
— Por que mentiu, Gabi? Você sabe que o Leo não
casará com você — falou, desapontado. — Você não tem
jeito mesmo, né maluquinha?! Sempre na expectativa de
que o Leo volte para você — passou o braço entre meus
ombros me puxando para um abraço. — O que eu
preciso fazer para colocar juízo nessa sua cabecinha? —
sorriu.
— Eu nunca deixei de amá-lo. Sempre esperei por ele
— respondi, me aconchegando em meu amigo — Você
vai ver. Em breve ele se cansará da pirralha — suspirei.
— Soube até que a primeira vez que eles se separaram
foi devido ao sexo... Ops! A falta dele.
Caí na gargalhada imaginando o Leo, que é totalmente
voraz na cama, ensinando a Isabela como fazer um papai
e mamãe. Ela nunca conseguiria satisfazer o meu
Leonardo na cama como eu.
— M eu Deus mulher! Quem te disse um absurdo
desses? — sondou-me, mas disse que tinha ouvido por
aí. O que não o convenceu. — Só te peço que não tome
nenhuma atitude por impulso, Gabi. Deixe as coisas
esfriarem. Leonardo ainda não absorveu a notícia. E
quando ele te procurar não o provoque. Lembre-se que
esse bebê não tem culpa — pediu quase como uma
advertência. — Sobre o teste de DNA...
Não o deixei terminar de falar.
— Não se preocupe. Não irei atrás da anjinha Isabela
para dizer que estou esperando um filho do Leo. Não a
quero no meu caminho mesmo — falei, fazendo gesto
com os dedos, em sinal de juramento. — M as você sabe
que não sou de levar desaforo para casa.
Não deixaria a Isabela se meter na vida do meu filho.
Isso já era fato.
— M udando de assunto agora — saí dos seus braços
para olhá-lo. — M esmo com todo esse sufoco de hoje
reparei em você —gracejei, — e essa cara de felicidade?
Quais são as novidades?
Adorava o Benício e torcia muito por sua felicidade.
— Dá para perceber, é? — perguntou todo faceiro.
— Sim — concordei. — Posso saber qual o motivo
de toda essa animação?
— O amor me pegou — disse todo orgulhoso. O que
me fez cair na risada. — Não ria, é verdade. A minha
morena é perfeita. Estou muito feliz, Gabi.
— Oh meu querido! Que notícia boa — Benício fora
um galinha no passado, mas estava na cara que agora
tinha encontrado sua alma gêmea. — Ela é uma mulher
de sorte — proferi.
— Não, minha amiga — discordou, sorrindo — Eu
que sou um homem de sorte — concluiu.
Isabela
Acordei desorientada, lembrei que o Igor havia
injetado algo no soro para aliviar a dor terrível que não
parava. M al o deixei me examinar. A dor era tanta que
parecia que estava arrancando meu útero. Fiquei tão
assustada com todo aquele sangue que desfaleci.
Não entendia o motivo dessa dor forte, estava
fazendo tudo certo no tratamento para combater a
endometriose. Nos últimos meses mal sentia uma cólica.
Olhei de lado e vi Leo dormindo, sentando em uma
poltrona próxima a cama. Estava com um semblante
preocupado e cansado. Imagino o baita susto que o
causei.
Ontem ele chegou com algo que o preocupava, disseme que conversaríamos no dia seguinte, mas acabei
dando trabalho para ele, aumentando ainda mais a sua
preocupação.
Fiquei admirando o meu marido por alguns minutos.
Depois tirei, cuidadosamente, a agulha que estava na
minha veia e tentei levantar sem fazer barulho para que
ele não acordasse. Precisava, urgentemente, usar o
banheiro. O que foi uma tortura, pois mal consegui me
sentar na privada e doía bastante enquanto urinava. Algo
estava errado. Precisava falar com o Igor. Lavei minhas
mãos e olhei-me no espelho. Estava pálida e nada
agradável. Abri a porta e quase caí para trás com o
susto. Leonardo estava na porta me encarando sério.
— Você não imagina o susto que tive ao abrir os
olhos e não te ver na cama — reclamou bem chateado.
— Precisava usar o banheiro e não queria te acordar.
Sei que não dormiu bem a noite passada — respondi
passando por ele e indo em direção à cama. Não queria
assustá-lo, mas me sentia fraca.
— Isa, você teve uma hemorragia. Ainda não se
alimentou. Está fraca. Não quero nem pensar o que
poderia acontecer com você aí trancada no banheiro —
resmungou segurando meu braço e ajudando a me deitar
novamente na cama.
— Amor, o que eu tenho? — perguntei receosa em
querer saber a resposta. — A dor foi diferente da última
crise.
— Você teve uma hemorragia. O Igor fez alguns
exames e logo ele estará aqui para conversarmos —
pronunciou, mas não me convenceu. Ele estava me
escondendo algo.
— Você sabe o que eu tenho — afirmei. Porém ele
mudou de assunto dizendo que ia pedir a alguém que
avisasse ao Igor que eu tinha acordado. O que me irritou.
Detestava quando me escondia algo, principalmente
relacionado a mim.
Enquanto esperava Leonardo retornar, percebi que
alguns objetos pessoais estavam no quarto, como meu
celular e uma pequena valise que usava quando fazia
viagens curtas. Puxei-a e dentro havia um vestido,
lingeries, meus produtos de higiene pessoal e duas
camisolas.
— Encontrei a Pâmela no corredor e pedi que
avisasse ao Igor que você acordou — Leo falou entrando
no quarto. Olhei-o de cara feia, para saber que estava
magoada por me esconder algo. O que o fez sorrir
tristemente.
— Você não vai me dizer o que tenho? Eu sei que
você sabe — questionei. — Você não está conseguindo
disfarçar — fechei os olhos e quando abri, Leonardo me
olhava indeciso. — Preferia saber por você — meu
coração palpitava.
Será que era algo sério comigo. Nas últimas duas
semanas estava me sentindo muito cansada e sem
apetite. Achei que era excesso de trabalho, mas estou
começando a achar que tem algo a ver com todo esse
meu problema.
Leonardo se aproximou lentamente e sentou na
beirada da cama, bem próximo a mim. Pegou minha mão
e a beijou ternamente.
— M eu amor, não é fácil o que vou dizer, mas antes
de tudo quero que saiba que estou e estarei aqui sempre.
Se ele estava tentando me acalmar com essas
palavras, só piorou. M eu coração estava para sair pela
boca, mas permaneci calada para ouvi-lo. Se eu tentasse
falar, agora, era capaz que ele desistisse de me contar.
— Nos exames que o Igor fez, foi encontrando um
cisto dermóide, mais conhecido por teratoma, no seu
ovário esquerdo — uma fraqueza percorreu por todo o
meu corpo, deixando-me apavorada. — Ainda não
podemos afirmar, mas pela experiência do Igor, ele acha
que é um tumor benigno que tem aproximadamente vinte
centímetros cúbicos. M as é preciso passar por uma
biópsia para afirmar — completou e esperou a minha
reação, a qual não teve, pois fiquei estática.
— Vo... Você quer dizer que eu tenho uma bola de
resto de tecido de células que é, aproximadamente, do
tamanho de uma laranja dentro de mim? — balançou a
cabeça confirmando. — M as como? Eu estava fazendo
os exames direito. Como um negócio deste tamanho
pôde passar despercebido? — M eu Deus! Isso não
pode estar acontecendo.
— Também perguntei ao Igor sobre isso. Ele
informou que esse tipo de cisto na maioria dos casos se
desenvolve rapidamente e silenciosamente — acariciou
meu rosto, passando seu polegar pelos meus lábios. —
Eu sinto muito, M inha Paixão. Se eu pudesse trocaria de
lugar com você e sentiria toda a sua dor. M as
infelizmente eu não... Posso — finalizou cabisbaixo.
Ajeitei-me na cama para poder ficar mais próxima a
ele. Segurei seu queixo e elevei para que voltasse a me
olhar novamente.
— Eu sei querido. Sei que você faria qualquer coisa
por mim. E é por isso que te amo — beijei-o, passando
minha língua bem devagar por entre os seus lábios.
Leonardo recebeu meu beijo e mordeu de leve meu
lábio inferior. Estava tão assustada com o que vinha pela
frente que eu precisava beijá-lo. Seus lábios eram como a
força que eu necessitava para lutar qualquer batalha.
Ficamos nos beijando por alguns instantes e, em
seguida, fiz a pergunta que não queria ouvir a resposta.
Pois já tinha ideia de qual seria. M as meu pai sempre
dizia que para tudo na vida há uma luz no fim do túnel.
Esse era o momento que eu queria achar essa luz.
— Se esse teratoma está localizado no meu ovário
esquerdo. Então será preciso remover esse tumor com
urgência — disse e Leo apenas respondia balançando a
cabeça. — Até porque para fazer uma biópsia precisa de
uma amostra do tecido — sentia lágrimas se formando.
Estava tentando ser forte, mas acho que não
conseguiria.
— Amor, o que acontecerá com esse
ovário afetado? — fechei os olhos esperando a resposta.
Ele permaneceu em silêncio. Abri os olhos e o encarei.
Ele tinha um olhar devastador. Dando-me a resposta que
eu precisava.
Levei as mãos ao rosto e deixei as lágrimas caírem.
Chorando copiosamente. Leo me embalou em seus
braços e tentava me acalentar, mas não funcionava. Pode
até ser natural para algumas mulheres, mas para mim
não era. Sentia-me quebrada. Na fila para ser mutilada.
— Sinto muito, meu amor — repetiu várias vezes
como uma oração. M as eu não conseguia parar de
chorar. M inhas chances já eram pequenas para me tornar
mãe, agora seria quase que impossível.
Escutamos uma batida na porta que, em seguida, foi
aberta. Igor, minha mãe e tia Luiza entravam. Assim que
mamãe percebeu meu estado correu para me abraçar.
— Eu nunca poderei gerar um filho, mamãe —
alegava, derrotada.
— Isso não é verdade, minha menina. Não se deixe
derrotar — mamãe respondia. Tentando me passar
coragem. Assim como fazia quando era criança e ficava
assustada com alguma coisa.
— Pelo visto ela já está sabendo — pronunciou Igor,
mas não escutei o que o Leo respondeu.
— M inha querida, não fique assim. Vamos primeiro
cuidar da sua saúde — Tia Luiza disse enquanto afagava
meu cabelo.
Leonardo se desvencilhou de perto de mim indo de
encontro ao Igor. M amãe e tia Luiza tentavam me
consolar. M as eu estava muito apavorada com tudo. Sei
que teria que me acostumar. Não era a primeira mulher a
passar por isso. M as nesse momento queria chorar tudo
que pudesse. Depois, quando essa tempestade passasse,
teria que me habituar à realidade.
— Isa — escutei o Igor me chamar. Virei e encarei ele
com dificuldade, pois meus olhos estavam inchados
demais para visualizar com clareza. — Precisamos fazer
a cirurgia o quanto antes.
Calou e esperou que eu dissesse alguma coisa.
Permaneci calada e ele deu continuidade.
— Estava conversando com o Leonardo. Achamos
que essa cirurgia poderia ser feita amanhã bem cedo —
aguardou, mais uma vez, por minha resposta. Fitei
Leonardo que também estava aguardando uma palavra
minha.
— Concorda com o Igor? — perguntei para o Leo.
— Sim — disse, — o quanto antes melhor. Não
quero que você tenha outra crise como a que teve hoje
pela manhã — tentou relaxar os ombros, mas estava
exausto demais. — A cirurgia só não será hoje porque
você está fraca demais e precisa se alimentar, M inha
Paixão — sorriu tristemente.
— Então marque para amanhã — confirmei.
— M uito bem, pequena. Pedirei a Lilian que prepare
sua transferência e internação no hospital, ainda hoje. E
antes que eu me esqueça. Como você consegue passar
por tanta dor e, ao acordar, ainda continuar a mulher
mais linda do mundo? Realmente ainda não sei o que
você viu nesse Shrek aqui — Igor falou apontando para
onde Leo estava.
Conhecia bem o Igor. Ele não gostava de situações
tensas, principalmente quando envolviam pessoas das
quais ele gostava. Não pude deixar de sorrir com o seu
comentário e de ver os olhos de ciúmes do Leo para ele.
Estava com medo, mas sabia que estaria bem nas mãos
de Igor, pois além de um cirurgião exemplar, ele era meu
amigo.
— Vou parando por aqui, porque pelas tochas de
fogo que esse homem está carregando nos olhos, é capaz
dele querer estragar as mãozinhas delicadas que só
cuidam de coraçõezinhos de mulheres lindas e tentar me
esganar. M as estou feliz pela sua coragem, pequena.
Vamos logo vencer essa guerra, M inha Helena de Troia?
— sorri para ele, pois o Igor conseguia passar confiança
e acalmar os nervos de qualquer um ali. Pelo visto só
não os de Leonardo, que puxou Igor pela gola do seu
jaleco e tentou empurrá-lo para fora do quarto. ​
— Vamos parar com essa bajulação toda para cima da
minha mulher? Acho que você tem muita coisa para
resolver com relação às burocracias de sua cirurgia e, vou
logo dizendo, que essa será a última vez que você
colocará as mãos em minha mulher. Então não tente
curtir muito o momento. É só um aviso — vi minha mãe
e a tia Luíza se contendo para não sorrir do acesso de
ciúmes do Leo.
​— Calma, calma! — falou levantando os braços em
sinal de rendição e olhando para mim. — Eu não disse
que ele é um ogro? Tá bom, amigão. Vou me preparar e
estudar um pouquinho, pois amanhã serei o homem
mais feliz do mundo ao tocar na sua mulher sem ter você
por perto — falou, piscando o olho para mim e
segurando o riso. Agradeci com um olhar pôr o Igor
estar tentando me acalmar, mesmo que aquilo irritasse o
Leo.
— Vai embora, Dr. Igor! — gritou Leo.
— Estou indo, rapaz. E deixa de se estressar com
facilidade. Você morrerá cedo e deixará a Isa para mim,
viu? — instigou debochado. — Pequena, não perca a fé.
Amanhã, infelizmente, tirarei de você um ovário, mas
num futuro próximo tirarei um bebê, de preferência, uma
menina linda como você.
Igor deu aquele sorriso malicioso que fazia várias
enfermeiras suspirarem. Virou-se para a minha mãe e
minha tia, desejou um bom dia, e disse que cuidaria dos
últimos exames que anteciparia minha cirurgia, e ao sair
deu uns tapinhas no ombro de Leo.
— Qualquer coisa me chama no meu consultório.
Leo somente assentiu e virou seu rosto para mim
com um sorriso encorajador. Eu sabia que ele me daria
força e passaríamos por tudo isso juntos, ele era tudo
que eu precisava.
Capítulo 20 – Não desista de mim
Leonardo
Estou há mais de duas horas sentado no sofá, no
consultório do hospital, aguardando angustiado o final
da cirurgia da Isa. Não quis ficar com seus pais na sala
de espera e também o Igor achou melhor que eu não
acompanhasse a cirurgia. E como a minha irmã, Júlia,
estava com quase trinta e três semanas de gestação,
Luigi também não a autorizou assistir. Então o Benício
se prontificou a acompanhar, o que me trouxe um pouco
de alívio. Não que eu não confiasse no Igor, mas não
queria que a Isabela se sentisse abandonada e o Benício é
como um irmão para mim e estaria lá, apoiando-a no
meu lugar.
Na noite passada Isabela tentava não demonstrar que
estava angustiada e triste devido a sua nova condição.
Não chorou mais, no entanto passou a maior parte do
tempo perdida em seus pensamentos e com um olhar
vazio. O que me torturava cada vez que a olhava. Só de
ver minha pequena eu sabia que sua cabecinha estava a
todo vapor sobre um único motivo: ter dificuldade de
engravidar.
E o que vinha na minha mente a todo o momento era
a gravidez da Gabriela. Tinha prometido nunca esconder
nada da minha esposa, mas na situação em que ela se
encontrava não tinha a menor chance que eu falasse da
possibilidade do filho da minha ex ser meu. Pelo menos,
não agora. Isabela vinha em primeiro lugar e eu faria o
possível para trazer a sua felicidade de volta. Até omitir
a gravidez da Gabi, temporariamente.
Igor havia comentado que em determinados casos
como o da Isabela, algumas mulheres caíam em
depressão e outras perdiam a libido. Pediu que caso
notasse alguma dessas reações na Isabela, após a
cirurgia, que não a recriminasse e buscasse ajuda
psicológica, pois era normal a mulher se sentir assim.
Ontem mesmo na clínica conversei com sua terapeuta
Suzana e a deixei a par de toda a situação. E pedi que já
acompanhasse o caso da Isa. Devido ao seu silêncio,
tinha medo que ela se fechasse completamente.
Ouvi uma batida na porta que em seguida foi aberta.
Uma barriga arredondada aparecia, primeiramente,
seguida depois pelo restante do corpo da minha irmã
Júlia. Ela estava cada dia mais linda com a gravidez. E
graças a Deus minha sobrinha e afilhada, Heloísa, estava
ótima.
— Ei gato, precisa de alguma coisa? — perguntou
receosa.
— Alguma notícia? — Júlia balançou a cabeça
negativamente e veio sentar ao meu lado no sofá onde
permanecia.
— Ei! Não se martirize assim. Você não tem culpa.
Não podemos prever essas coisas — consolou-me
alisando meu cabelo, carinhosamente. Toquei sua barriga
e senti um pequeno movimento da minha sobrinha, o
que me trouxe um pequeno sorriso. — M uito em breve
será na barriga da Isa que você sentirá essa sensação —
disse juntando sua mão com a minha na sua barriga.
— Tenho medo que ela não consiga engravidar —
confessei. Jamais demonstraria na frente da Isabela, mas
tinha muito medo de que ela não conseguisse engravidar
um dia.
— Shhi! Não fala isso — recriminou. — A Isa é
jovem e saudável, muito em breve ela conseguirá
engravidar. M uitas mulheres que tiveram o mesmo
problema conseguiram — olhou-me firme. — Só não
desista, por mais difícil que possa ficar — minha irmã
era a pessoa que mais me conhecia, ela sabia só de olhar
para mim que o meu maior medo era da Isa se sentir
incapaz de me fazer feliz e querer se afastar. Algo que
não permitiria. Nunca.
— Não vou abandonar minha mulher novamente —
falei decidido. Com todos esses problemas à nossa
volta, essa era a única opção que não aceitaria. Nunca
deixaria a M inha Paixão. — Isso está fora de cogitação
— conclui.
Júlia levantou e caminhou pelo meu consultório
observando. Devido ao barrigão ela ficava inquieta, mas
do que já era. Acho que era o desconforto de final de
gravidez. M as também estava preocupada com a demora
da cirurgia.
— Quem está na sala de espera? — mudei de
assunto, para quebrar a tensão.
— Os pais da Isa. Lilian. Luiza e M aitê. E alguns
amigos da academia passaram rapidamente para saber
notícias e avisaram que voltarão depois — respondeu
olhando para um porta-retratos que continha uma foto
nossa quando ainda éramos crianças. — E quando vinha
para cá avistei a Gabriela. Ela não me viu, porém eu a vi
muito bem — olhou-me desconfiada. Não tinha segredos
com minha irmã. Ela sabia que tinha me envolvido com a
Gabi quando a Isa e eu nos separamos.
— Sim. Ela está grávida. E afirma que o bebê é meu
— disparei logo.
— M eu Deus Leonardo! Isso vai acabar com a
Isabela — esbravejou. — Tudo bem que vocês estavam
separados, mas logo você que é todo sistemático —
reclamou.
A Júlia nunca gostou da Gabriela, mesmo quando
namorávamos. E muito antes que conhecesse e casasse
com a Isa, ela sempre se irritava quando passava uma
noite com a Gabi. M esmo sem compromisso algum. As
duas viviam trocando farpas. A Gabi porque dizia que
eu mimava demais a Júlia e a Júlia porque achava ela
uma fingida.
— Ei! — chamei sua atenção, — não me acuse sem
saber — levantei do sofá e fui em sua direção. — Nunca
transei com a Gabi sem precaução, muito menos quando
era só uma foda — olhei em seus olhos falando,
sinceramente, — assim que o bebê nascer cobrarei o
exame de DNA. Tenho certeza Ju, essa criança não é
minha — afirmei. Porque era a verdade que o meu
coração gritava.
— E o que a Gabi diz sobre isso? — indagou. —
Não gosto dela. Nunca neguei. M as ela não é burra. Ela
não te procuraria sem ter certeza que é o pai do filho
que espera — debateu. — Além do mais, você sabe mais
do que eu, que há vários estudos que comprovam que o
preservativo não é 100% seguro — finalizou olhandome preocupada.
— Não sei, Ju, mas ela ficou histérica quando falei
que faria o exame. O que me faz pensar que ela mesma
não sabe.
— E se for seu filho? O que pensa em fazer? —
perguntou séria. — E a Isa?! Quando vai contar a ela?
— Se for meu filho irei registrá-lo e assumirei minha
responsabilidade. Não faltará nada para ele. Inclusive
amor — falei e a olhei para ela.
— E a Isa? — insistiu. Fiquei olhando para minha
irmã. Sinceramente ainda não saberia dar aquela
resposta.
— Eu não sei — fechei os olhos e pensei o quanto
essa notícia seria difícil para minha esposa. M as eu teria
que dá-la, quanto mais rápido fizesse esse teste mais
rápido descobriria toda a verdade. — Só sei que agora
não. Isso seria demais para ela. E a Isabela precisa de
apoio nesse momento.
— Você está maluco? — falou duvidosa. — Você não
pode esconder isso da Isa. Já imaginou se ela fica
sabendo por outra pessoa? Ela tem de saber por você,
Leo. Por mais doloroso que seja — implorou. — Não
faça isso.
— Eu não queria, Ju. Estava decidido a contar toda a
verdade, mas aconteceu tudo de repente. E vê-la naquele
estado, me derrubou por inteiro — levei as mãos ao
rosto tentando controlar as emoções. — Eu não… Eu
não posso dar esse desgosto a ela. Ela não precisa de
mais sofrimento — disse derrotado. Não sabia o que
fazer nesse momento.
— Entendo meu irmão, mas a Gabi trabalha aqui e
muitas pessoas que a conhecem irão vê-la. E isso pode
chegar a Isa — alertava-me sobre essa possibilidade.
— Eu sei. Eu sei. — eu sabia dos riscos. — Além de
você e o Benício, ninguém mais sabe que me envolvi
com ela após minha separação.
— A Isa sabe — arregalei os olhos para minha irmã.
— Ela viu vocês entrando juntos no seu antigo flat. Ela
tinha ido até lá para tentar se acertar com você.
— A Isabela uma vez insinuou sobre a Gabi e eu,
mas eu nunca confirmei e ela também não insistiu mais
— confirmei.
— Leo. M e escuta! Não esconda dela. Será pior meu
irmão — disse mais uma vez.
— Júlia eu não esconderei. Só que agora não posso
contar a ela. Simplesmente, não posso. — falei convicto.
— Por favor, entenda.
— Até quando Leo? Até quando acha que poderá
esconder da sua esposa, que você pode ser pai de um
bebê de outra mulher? — a Júlia não desistia fácil. — Vai
esperar a outra parir para dizer a Isabela?
— Chega, porra! — gritei irritado com sua
insistência. — Já disse. Na hora certa ela saberá. Não
insista mais.
— A Isa não é esse cristal delicado que você tanto
idolatra. Ela é forte e decidida — olhou-me furiosa. —
M esmo assim, você continua achando ela frágil. Saiba
que cristal quando quebra não cola?! Jamais — beijou
meu rosto e saiu. Deixando-me mais culpado do que já
estava. A Júlia tem esse poder também. Ela estava certa
sobre tudo, mas tinha medo que ela não aguentasse toda
essa loucura.
Sentei na poltrona e abaixei a cabeça na mesa.
Precisava falar para a Isa, mas não podia ser nesse
momento. Precisava conversar com a Gabi e resolver
essa situação. Não sei quanto tempo fiquei perdido em
meus pensamentos. Senti uma mão delicada alisar meu
cabelo. Levantei para ver quem era.
— A cirurgia acabou — Lilian falou, gentilmente, —
correu tudo bem e a Isa em breve será levada para o
quarto — sorriu.
— Obrigado, Lilian — respondi já levantando para ir
falar com o Igor ou procurar Benício para saber como
foi. — Quanto tempo para levarem ela para o quarto?
— queria estar lá quando ela acordasse.
— No máximo em meia hora — disse e seguiu-me em
direção à sala de espera, para nos juntarmos com o
restante do pessoal.
Encontrei Igor saindo do centro cirúrgico. Parecia
tranquilo e confiante. A cada dia que passava admirava
mais esse cara. Igor não tinha mais que vinte e oito anos
e, apesar de ser um mulherengo assumido, me provocar
ciúmes dando em cima da minha mulher, era um homem
íntegro e competente. O que o fazia subir bastante no
meu conceito.
— A cirurgia foi um sucesso. Tudo ocorreu como
esperando e ela está ótima. Agora é só a recuperação —
Igor foi logo me acalmando. — Já enviei o tumor para a
biópsia, para ser avaliado. Em breve teremos o
resultado.
— Obrigado, cara — estendi a mão para ele que,
meio hesitante sorriu, aceitou o cumprimento, mas antes
não deixou de me provocar.
— Acho um desperdício, depois de ter passado
horas com as mãos na Isa, ter que tocar nas tuas mãos
cheias de calos, mas fazer o quê, né?! — falou com um
sorriso debochado e eu dei um soco de leve no seu
braço. ​
— Deixa de ser babaca e diz: eu já posso vê-la?
— Acho que ela já está sendo encaminhada para o
quarto, mas dormirá a maior parte do tempo devido ao
efeito da anestesia — comentou sério. — Se o seu
quadro se mantiver regular, em dois dias ela receberá
alta.
O Senhor Estevão, meu sogro, e Benício se juntaram
a nós e ficamos conversando enquanto aguardávamos a
enfermeira nos avisar que a Isa já se encontrava no
quarto. E, em silêncio, pedia a Deus que a minha esposa
conseguisse passar por mais essa. Eu só queria a minha
esposa bem.
******
O pós-operatório da Isa correu às mil maravilhas. Ela
permaneceu apenas dois dias internada e já fazia uma
semana que ela estava em casa. Quis pedir um
afastamento da clínica para cuidar, inteiramente, dela,
mas a mesma se negou. Então sua mãe passava o dia no
nosso apartamento cuidando dela e eu fazia o possível
para estar o tempo que eu pudesse com ela. Saía da
clínica mais cedo só para almoçar com ela. Fazia questão
de eu mesmo dar-lhe de comer, mesmo que ela recusasse
dizendo que estava bem, mas não era pela cirurgia que
eu fazia e sim por que eu gostava e queria mimá-la.
Trazia nosso jantar e não esquecia de passar na
floricultura e encomendar flores todas as noites.
Algumas noites trazia filmes, que assistíamos no nosso
quarto. Outras, a levava para a varanda do nosso
apartamento e ficávamos conversando amenidades por
horas. Queria fazer o possível para vê-la menos
preocupada, mas sabia que ela andava tensa, devido à
espera do exame.
O resultado da biópsia constatou que o tumor,
apesar de grande, era benigno, pesando em média cento e
trinta gramas.
Nesse período a Isabela ainda se mantinha distante e
falava pouco. Tentei falar algumas vezes com ela,
pedindo que se abrisse comigo e contasse o que a afligia,
mas era em vão. Suzana, sua terapeuta, também
conversou, mas ela continuava na mesma. Isabela não
percebia, mas eu a ouvia chorar muitas madrugadas no
banheiro. O que me torturava, pois tudo que eu queria
era consolá-la.
E por tudo isso eu ainda não sentia que era o
momento certo para despejar sobre ela a história da
Gabriela. Isabela estava sensível e com o emocional
abalado, sabia que, se ela soubesse que esse filho tinha a
possibilidade de ser meu, sofreria muito mais.
— Oi, amor — Isabela atendeu ao seu celular. Hoje
era meu plantão no hospital e liguei para saber como ela
estava.
— Oi, amor. Liguei para saber como você está? —
perguntei.
— Estou bem, querido. M amãe já foi embora, mas já
jantei e estou deitada lendo um livro — reclamou. —
Não aguento mais ficar sem fazer nada e essa cinta, me
apertando, está me deixando louca — sorri do seu
comentário. Desde que o Igor disse que seria ideal usar
uma cinta para ajudar na recuperação e também para
evitar ficar muito inchado, ela se queixava do
desconforto.
— Tenho uma surpresa para você — disse
sorridente. — Acho que você gostará.
— Já posso voltar a trabalhar semana que vem? —
interrogou brincalhona. Para o meu alívio. Estava com
saudades desse seu jeito.
— Não. Serão trinta dias de repouso absoluto. Nada
de ir para a clínica, apenas para retorno médico —
respondi. E quase gargalhei quando ouvi ela praguejar
baixinho. — Porém estou levando alguns documentos da
clínica para você avaliar e verificar se o financeiro está
em dia — comuniquei. — Será um bom passatempo
quando estiver sozinha. E sua mãe pode ajudar também.
A Isabela era responsável por avaliar o financeiro da
clínica, mas como estava afastada, essa função ficou a
cargo da Lilian e eu. Então havia combinado com a Lilian
de separar alguns documentos para que a Isa pudesse
olhar e assim não ficar entediada.
Conversamos por mais alguns instantes e tive que
desligar, pois tinha sido chamado para atender a uma
emergência. Infelizmente o paciente não resistiu a um
ataque no miocárdio, devido à demora em prestar
socorro. Vindo a óbito no caminho para o hospital.
Segui de volta para o meu consultório. Faltava pouco
mais de uma hora para terminar o meu plantão. Passei
em frente ao consultório da Gabriela. Sabia que ela
estava trabalhando porque vi sua assinatura em alguns
prontuários dos pacientes.
Bati a sua porta. Não podia adiar mais essa conversa.
Era a vida de uma criança que estava em jogo. E não
poderíamos estar de birra um com outro. Escutei quando
ela pediu que eu entrasse. Ela estava sentada na sua
poltrona avaliando algum exame de paciente. Assim que
me viu abriu um sorriso sedutor. Não poderia negar que
a desgraçada era linda. E tinha um olhar que conseguia o
que desejasse.
— Ora. Ora. Ora. Até que enfim lembrou que tem
responsabilidades — disse de um jeito debochado. A
Gabi sempre era sarcástica com as palavras. M otivos de
muitas brigas nossas no tempo de namoro.
— Vim para conversarmos e decidir o que fazer —
respondi totalmente rude.
— Soube da Isabela. Que pena! — abaixou a cabeça
fingindo estar sensibilizada pelo que ocorreu com minha
esposa. — Ainda bem que o Davi está chegando.
— Quem é Davi? — perguntei incrédulo.
— Nosso filho. Coloquei o nome do meu pai. O que
acha? — questionou, alegremente.
— Gabriela, precisamos conversar — olhei-a sério.
— Temos que resolver o que devemos fazer.
— Tudo bem, Leo. O que você quer que eu diga. Que
esse filho é seu? Sim. Ele é seu filho. O que me magoa é
você duvidar.
— Gabi não é que eu duvide de você, mas não
tínhamos uma relação fixa. Você mantinha casos com
outros homens — exprimi, já cansado disso tudo.
— M as quando voltamos a ficar, era só você Leo.
Não teve outros. Era só com você — falou circunspecta.
— M as lembro de um dia que você saiu do meu
apartamento em busca de prazer — Lembrei-a.
— O dia que você broxou? — sorriu olhando minha
cara séria. Assenti sem dar ênfase ao ocorrido. A Gabi
gosta de fazer dramas, mas comigo não cola. — Fui para
casa e me aliviei com um vibrador — contestou, no
entanto não acreditei.
— De quanto tempo você está? — olhei para sua
barriga e imaginei a carinha daquele bebê. Deus! Será que
é meu filho?
— Vinte e cinco semanas — disse, alisando a barriga.
— Estou torcendo que ele tenha os seus olhos —
continuou falando toda babona com sua barriga. Olhei a
hora e percebi que estava perto de ir embora. Tudo que
eu queria era estar com a minha mulher. Cuidar dela.
Proteger a M inha Paixão.
— Gabriela — chamei sua atenção, — vou querer o
exame de DNA e, caso você se negue, vou recorrer pelos
meios jurídicos — ela tentou falar, mas não deixei, —
quero resolver da maneira mais correta, mas é você
mesma que está complicando — suspirei. — Se o Davi
for meu filho. Ele terá o meu nome e será amado por
mim. Não deixarei faltar nada. Só peço que pense a
forma como quer dar continuidade nessa história.
— E eu? Como fico? — perguntou, mas não entendi
o que quis dizer. — E nós? Como ficamos?
— Não tem nós, Gabriela. Eu sou casado. Eu amo a
minha mulher e não vou deixá-la. Assumirei a minha
responsabilidade perante a criança. Estipularemos uma
guarda compartilhada. Buscaremos o melhor para ele —
fiz gesto para a sua barriga.
— M as eu não quero que o meu filho tenha uma
madrasta, muito menos contato com ela — proferiu
cheia de si.
— Isso, veremos — caminhei em direção à porta.
Queria logo sair daqui. — Pense Gabriela. Pense.
— Leo? — chamou e me virei, já da porta, para
encará-la, — Você ainda não contou a Isabela, não é? —
vi um brilho diferente em seus olhos e, pela primeira
vez, pensei se realmente estava agindo certo, ou errado,
em esconder essa gravidez da Isa. Saí sem responder.
Juntei minhas coisas e saí em disparada para casa.
Ao chegar ao meu apartamento fui direto ao quarto,
mas a Isa estava no banheiro. A porta estava
entreaberta. Fui cuidadosamente até a porta e visualizei
minha mulher sentada na privada chorando baixinho,
totalmente destruída.
Sem pensar duas vezes fui até ela, peguei, embalei
nos meus braços e sentei com ela em meu colo na cama.
Eu não poderia ser frio ao ponto de despejar tudo o que
vinha acontecendo em cima da Isa, sabendo desse estado
emocional frágil no qual ela vinha passando
ultimamente. Era como se ela já soubesse de tudo e já
estivesse sofrendo. Eu não saberia o que fazer. E se a Isa
não aceitasse tudo? E se ela quisesse se afastar de mim?
— Shhh. Eu estou aqui meu amor. Não chora. Eu
estou aqui — divaguei várias vezes as mesmas palavras
como uma oração. — Vai dar tudo certo.
— M e ajuda Leo... Por favor, me ajuda! —
implorava, copiosamente. — Eu não vou conseguir.
Sinto-me um lixo — era doloroso demais ver minha
pequena tão indefesa. Não resisti e chorei junto a ela.
— Não fala assim, meu amor. O que tivermos que
passar, nós enfrentaremos juntos. Eu não deixarei você
sozinha. Nunca. Vamos passar por tudo isso de cabeça
erguida. Você sabe que tem a mim.
Beijei a ponta do seu nariz e, em seguida, seus olhos.
Pois àquelas lágrimas me doíam e era dali que queria que
cessassem.
— Não posso te ver mais assim, Isa. É difícil te ver
nesse estado e não saber o que fazer. M eu coração,
ultimamente, está em pedaços — falava com lágrimas
escorrendo por meus olhos, — Sei que você vem ao
banheiro e chora todas as noites. Consigo escutar e fico
quieto para que você fique um momento só, mas isso
também me machuca demais. Saber que não posso
arrancar esse sofrimento de você — beijei seu lindo
rosto enquanto secava suas lágrimas. — Divida comigo.
Não tente passar por essa barra sozinha, mesmo que
tenha que chorar junto com você todas as noites, mas
quero que faça isso comigo, para passarmos por isso
juntos — no mesmo instante, Isa agarrou seus braços ao
meu pescoço e me abraçou com força.
​— Obrigada, amor — um pequeno sorriso se
formou em seus lábios.
Nesse momento eu tinha a resposta da pergunta que
me fazia no consultório. Ainda não era o momento
certo. A Isa precisaria estar inteira novamente. Nunca
fui um homem muito religioso, mas nesse momento
rezei para que Deus me desse forças, para contar tudo a
Isa em alguns dias.
Capítulo 21 – Buscar forças
Isabela
Os dias de recuperação da cirurgia passei em casa.
Leo e meus pais não me deixavam fazer nada.
M imavam-me como uma criança, o que às vezes me
irritava um pouco. M as o pior era não poder sair, nem
que fosse ao calçadão da praia para observar o pôr do
sol. Diziam que o Igor havia recomendado repouso
absoluto.
Os dois dias que fiquei internada estava sob efeito
anestésico, então, ainda não tinha caído a ficha sobre o
meu real problema. Tudo aconteceu tão rápido que não
tive tempo de processar nada. Só chorava. Sentia-me
uma fracassada. O que piorou depois que recebi alta. Era
uma sensação de vazio, minha vontade era só chorar e
dormir. Tinha medo do resultado da biópsia. Tinha medo
de voltar a acontecer novamente e ter de retirar o meu
outro ovário, e era a partir daí que o pior de todos os
meus medos surgia. O de nunca poder sentir a emoção
de ter uma vida crescendo em meu ventre.
Leo estava sendo mais que perfeito comigo,
atencioso e paciente. Tentava de todas as formas me
agradar e estar presente, mas nem sempre conseguia.
Então, quando aquele vazio surgia, eu corria para o
banheiro e chorava baixinho para não atormentá-lo. No
entanto, poucos dias depois ele mesmo me confessou
que sabia que eu chorava escondida. O que fez sua
atenção ser redobrada.
Ele não sabia, mas os seus cuidados, apoio e,
principalmente, seu amor, estavam sendo minha tábua
de salvação. M inha busca para não deixar me abater.
M esmo vendo em seus olhos preocupação, percebi que
algo o angustiava.
Nesse período descobri que tinham várias pessoas
que realmente gostavam e torciam por mim. Lilian e tia
Luiza passavam todos os dias aqui em casa para me ver,
antes de irem para o trabalho. M uitas vezes até
tomavam café ou ficavam comigo enquanto minha mãe
não chegava e o Leo precisava sair mais cedo.
Larissa e Fernando também vieram me visitar e
trouxeram cartões do restante do pessoal da academia
me desejando melhoras e dizendo que, assim que ficasse
recuperada, iríamos comemorar no Bar do Karaokê.
M inha mais nova amiga, M aria, também veio e
conversamos bastante, foi uma tarde relaxante, minha
mãe caiu de amores por ela e até o Leo apareceu de
repente para pegar um documento, que havia esquecido,
a conheceu.
Juan não veio me visitar, mas me ligava ou enviava
mensagem para saber como estava. M esmo eu dizendo
ao Leo sobre os sentimentos da M aria pelo Juan, ele
ainda não se sentia bem quando seu nome era tocado e
tentava disfarçar, mas eu sabia que ainda não era o
momento de ter o Juan próximo novamente.
Os pais do Leo também vieram me visitar. Foi um
pouco formal, mas, pelo menos, a dona Rosália tinha
sido educada e acredito que foi condescendente com a
minha recuperação. Júlia, Luigi, Benício, M aitê e até o
Igor já estavam quase ganhando cartão de visita
permanente nos fins de semana. Sempre apareciam e,
muitas vezes, traziam o jantar e fazíamos uma sessão de
filmes ou jogos. Era um dos poucos momentos que
esquecia os meus problemas e me dava o direito de rir
um pouco.
O cuidado comigo era tão extremo que o Igor vinha
até o meu apartamento para saber como andava a minha
recuperação. E, graças a Deus, pelo andar da carruagem
estava me recuperando melhor do que ele mesmo
esperava. Apenas o inchaço que me incomodava e essa
maldita cinta que o Igor insistia que eu continuasse
usando.
Leo que limpava meu curativo todos os dias pela
manhã. Na verdade, ele me acordava às seis horas da
manhã e me ajudava dando banho e ajudando com a
minha higiene. Dizia que o Igor tinha feito um belíssimo
trabalho e que eu ficaria com uma cicatriz quase
invisível.
M esmo com todos os carinhos e mimos que agora
estava acostumada, principalmente porque minha mãe e
eu ficamos mais tempo juntas, pude perceber que apesar
de todos os seus traumas e decepções do passado, ela
era uma mulher de fibra e estava se dando uma chance de
ser feliz com o meu pai, que também havia mudado da
água para o vinho.
No entanto, o pensamento de nunca ser completa
martelava vinte e quatro horas em minha cabeça. Tinha
medo de o Leo um dia querer filhos, eu nunca poder
gerar, e ele acabasse me abandonando.
Acabei por confessar isso com a minha terapeuta
Suzana em uma de suas visitas. Ela acabou me indicando
um blog onde havia várias mulheres que passavam pelo
mesmo problema que eu. Lá elas desabafavam tudo. E
percebi que não era a única a passar por isso. Então
meio que nos uníamos umas com as outras para nos
apoiar.
Nunca fui de ter amigos virtualmente, mas nesse blog
conheci mulheres incríveis que, com certeza, fariam
parte de minha vida. Acabamos montando um grupo no
whatsapp. Confesso que me sentia mais à vontade de
falar meus medos e receios com elas do que com a Ju e
Lilian e o próprio Leo. Cada uma tinha uma história
diferente, mas que você acabava tirando uma lição de
cada.
******
— Querido. Essas contas não estão batendo. Está
dando um gasto exorbitante — cometei com Leo. Era
sábado de manhã e estávamos avaliando o financeiro da
clínica.
— Você percebeu? — falou despreocupado.
— Claro que percebi. O que está acontecendo? —
questionei. — Está havendo alguma obra na clínica e
você e o papai não me disseram?
— Sim — respondeu com um largo sorriso por cima
dos seus óculos de grau. Permaneci calada aguardando
que ele continuasse. — Queríamos fazer uma surpresa
para você, mas acabei esquecendo que trouxe as contas
para você avaliar. Então você descobriria — falou todo
empolgado.
— Que surpresa? Fala logo, Leo! — fiquei curiosa
demais.
— Seu pai decidiu ampliar a clínica — revelou. — E
também abrirá uma filial.
Não pude conter a emoção e sorri de tanta felicidade.
Desde que fui para a clínica trabalhar, vivia comentando
com papai para ampliar as instalações. Abrir mais salas
para novos especialistas. A clínica tinha um terreno
enorme que poderia utilizar, sem afetar o meio ambiente,
e de quebra trazer visibilidade para a mesma.
— Sério amor? Papai está ampliando? — perguntei
eufórica.
— Sim. E você terá muito trabalho quando voltar.
Por isso precisa descansar bastante — alertou-me.
— Por quê? — interroguei.
— Porque seu pai e eu decidimos que será você a
pessoa que avaliará os candidatos. Claro que iremos
ajudá-la, mas no final a decisão será sua — olhou-me
atrevido. — E posso garantir que não param de chegar
pessoas querendo fazer parte da Clínica Estevão
Alencar.
— Eu não sei se saberei selecionar — nunca tinha
feito entrevistas ou seleções de candidatos para avaliar
se é bom ou não para um determinado cargo.
— Você não estará sozinha. Eu estarei com você —
passou segurança para mim. — Além do mais, muitos
dos candidatos que selecionaremos, serão os estagiários
da clínica e alguns indicados.
Levantei e fui em sua direção e sentei em seu colo,
passando os braços pelo seu pescoço, e lhe dando um
selinho.
— Obrigada — pronunciei, fazendo charme. —
Obrigada por tudo. Por cuidar de mim e, principalmente,
por me amar e ser paciente comigo.
— Sempre, meu amor. Sempre cuidarei e mimarei
você. Você é essencial na minha vida — declarou
retribuindo com beijos castos.
M eu corpo começou a formigar pelo seu toque e
comecei, vagarosamente, rebolar em cima do seu
membro que reagiu automaticamente. Aumentando ainda
mais meu desejo. O que me alegrou bastante. Das
pesquisas que fiz sobre o pós-operatório, muitas
mulheres têm como reação o baixo libido. O que vejo
que comigo está fazendo efeito contrário.
— Isa... Não — sussurrou colocando suas mãos de
cada lado dos meus quadris para parar-me. — Você
ainda não está liberada para fazermos extravagância.
Então não me provoque — falou decidido, mas, no
fundo, eu sabia que já não aguentava mais esse período
de abstinência.
— Nem um oral pode? — insisti esperançosa.
Estávamos com quase quatro semanas sem ter relação e
isso estava começando a me perturbar.
— Paixão... — diferiu quase desistindo, — nada de
oral — Levantou-me do seu colo e saiu em direção ao
banheiro do nosso quarto trancando a porta.
Sorri, internamente, quando escutei o barulho do
chuveiro sendo ligado. Eu sabia que tinha o afetado, mas
ele é todo certinho. E enquanto o Igor não desse veredito
da minha recuperação eu ficaria aqui desejosa e
chupando o dedo.
******
Estávamos dormindo abraçadinhos, eu deitada com a
cabeça em seu peito. Uma proeza que consegui depois
de muita insistência. Quando escutamos o toque do seu
celular chamando. Era madrugada e, provavelmente,
seria alguma chamada de emergência do hospital. Sem
me tirar dos seus braços ele pegou o seu aparelho, que
estava na mesinha de cabeceira ao seu lado,
cuidadosamente para não me machucar.
— Alô — Leonardo atendeu ainda sonolento. —
Fala, Benício. Aconteceu alguma coisa? — fiquei em
alerta porque não era costume do Benício ligar altas
horas da noite. Só se tivesse acontecido algo mais sério.
— E como ela está? — senti o corpo do Leonardo
enrijecer, completamente. Escutando o que Benício
dizia. M eu Deus! Será que aconteceu algo com a M aitê?
Ou Julinha, já que a qualquer momento a Heloísa estava
para chegar? — M e deixe de sobreaviso. E obrigado por
me comunicar — finalizou a ligação e ficou em silêncio.
Perdido em pensamentos.
— Querido, o que o Benício queria? — perguntei
preocupada. — Leo. Leo — chamei-o, quando não
respondeu nada. Sentei-me e busquei os seus olhos que
se encontravam fechados. — Leo! — Chamei mais uma
vez. Ele abriu seus olhos e o medo me dominou quando
olhou para mim. Seu olhar era de pânico e... Incerteza —
O que... O Benício te falou? — repeti mais uma vez a
pergunta, mas agora estava insegura se eu queria ouvir.
— A Gabriela foi hospitalizada — respondeu
temeroso, — ela ficará em observação até amanhã —
não entendi o motivo de o Benício ter avisado sobre ela
ao Leo e ainda mais essa hora.
— Por que o Benício te ligou para falar sobre ela? —
indaguei receosa. Tentando compreender a situação.
Ele sentou na cama encostando os cotovelos nas suas
coxas e levando as mãos ao rosto.
— Ela teve um leve sangramento devido a um
deslocamento prematuro da placenta — proferiu quase
inaudível, mas que deu para compreender perfeitamente.
Gabriela estava grávida e teve problemas. Será que
ela perdeu o bebê? Tanta coisa passava na minha
cabeça... M as a única coisa que me cutucava na verdade
era a paternidade da criança. M eu Deus! Será? Não. Ele
não teria me traído. Ele não cairia tanto no meu conceito.
Estávamos felizes juntos.
— Ela e o bebê estão bem? — sondei.
— Sim. Estão bem — falou ainda sem me encarar.
Nesse momento como se fosse um filme, várias
lembranças passaram na minha cabeça. O dia que os
encontrei juntos, entrando no seu antigo apartamento. O
dia que a Gabriela foi a clínica para falar algo importante
com ele. Foi nesse mesmo dia que passei mal. Será que
era isso que ela queria falar? Será que ele está
escondendo essa gravidez de mim esse tempo todo? Isso
seria pior que me trair. Deus! Não permita essa baixeza.
Respirei fundo e perguntei.
— Você tem algo a me falar, Leonardo?
Depois de quase um século em silêncio ele levantou a
cabeça e olhou, novamente, em meus olhos e lágrimas
escorriam dos seus. M as permaneci forte e fiz de tudo
para não chorar. Eu não suportaria, não agora. Não sem
saber direito o porquê.
— Há possibilidade do filho da Gabriela... Ser meu
— sua resposta saiu como facas sendo atiradas e o alvo
era o meu coração.
M eu corpo tremeu e minha vontade era gritar.
Levantei-me da cama esquecendo completamente a dor
fina que atravessou a minha cirurgia, devido ao esforço
rápido que fiz. Corri ao closet e vesti a primeira roupa
que vi na frente. Sentia-me sufocada, precisava sair,
antes que cometesse algo que trouxesse arrependimentos
futuros.
— O que você está fazendo? — Leo estava logo
atrás de mim. Seu rosto amedrontado e sem entender o
que eu estava fazendo.
— Eu preciso sair — respondi passando por ele e
indo a caminho da sala para procurar a chave do meu
carro, mas fui barrada por um corpo forte que me puxou
e envolveu seus braços pelo meu corpo.
— Eu sei o que você está pensando. Eu não te traí.
Eu nunca te traí. Eu descobri recentemente a gravidez
dela. M ais precisamente, uma noite antes de você sofrer
a hemorragia e precisar fazer a cirurgia de emergência.
Tudo foi tão rápido. Eu queria te contar, mas eu não
conseguia. Cada vez que a via chorando, sofrendo. Eu
me quebrava em milhões de cacos por dentro. Seria
muito cruel e frio jogar essa gravidez na sua cara —
fiquei estática. Não sabia o que fazer ou o que dizer,
apenas que precisava sair dali com urgência.
— Leo. Eu preciso ficar sozinha. Por favor, me solte
— pedi sentindo que minha fraqueza se aproximava.
M as eu não poderia deixar-me cair aqui. Era uma dor
insuportável que se aproximava.
— Não vá embora. Deixe-me explicar! — suplicava.
— Conversaremos, mas não agora. Eu preciso digerir
tudo. Não é fácil para mim achar que tudo está às mil
maravilhas e no meio da noite receber uma notícia dessa.
O que você queria que acontecesse, Leonardo? Que eu
batesse palmas e dissesse que estou feliz com tudo isso?
É difícil para qualquer mulher. É difícil para mim.
Principalmente porque foi com ela, Leonardo. A sua ex!
— fechei os olhos e respirei fundo. — Até quando você
me esconderia, Leonardo? — perguntei. No entanto,
queria que tivesse soado retórico.
Nesse momento não queria olhar, nem sequer ouvir
suas desculpas. Se tinha sido traição, ou não, o que
importa é que eu estava me sentindo traída. Não sei se
pelo momento que estava passando. A dificuldade de
engravidar ou pelo fato dele ter conseguido isso com
uma pessoa que sempre deixou claro que ainda o queria.
— Não faz assim — pedia sem reação.
Eu não queria olhá-lo, mas acabei cedendo e o que
pude ver foi puro tormento.
— Está escuro, lá fora, Isa. Eu não vou deixar você
sair assim. Fica aqui comigo. Se você quiser, posso
dormir no outro quarto ou aqui na sala, mas não me
deixa aqui, sem me explicar. Sem você compreender —
continuava pedindo e cada vez mais atormentado.
Eu já não me importava com a dor que invadia meu
corpo sem pedir licença. Lágrimas saltaram como
cachoeira dos meus olhos. Forcei-me para sair dos seus
braços. Ele, se sentindo derrotado, me libertou e caiu de
joelhos chorando ao ver meu desespero.
— Não vai. Eu dou o tempo necessário que você
precisa, mas fica. Ficarei preocupado com você por aí,
sozinha. — rogava.
Eu tinha que ser forte e ficar só. Tinha que pensar.
Aquilo estava me sufocando. A dor em meu peito
crescendo. Eu precisava sair. Não poderia ficar ali. Era
muita coisa passando por minha cabeça, os sentimentos
explodindo dentro de mim. Eu não ia conseguir
raciocinar com o Leonardo por perto. Tinha medo do
que poderia fazer, não queria agir por impulso. E estava
sendo difícil me controlar.
— Eu saberei me cuidar — tentei tranquilizá-lo.
Fui em direção à porta do nosso apartamento, mas
antes de sair virei para encarar mais uma vez o homem
que eu amava. E vê-lo de joelhos e chorando, só
aumentou mais ainda a dor em meu peito. Não queria
fazê-lo sofrer. M as e quanto a mim? Eu estava quebrada
por dentro.
— Assim que eu estiver pronta eu te procuro e
conversaremos. Até lá, vá ao hospital e verifique o
estado de saúde do seu bebê e da mãe dele. É sua
obrigação! — cuspi as palavras para machucá-lo, mas
não adiantou, pois na verdade machucou muito mais a
mim ao pronunciá-las.
— Eu não tenho certeza se ele é meu filho —
retrucou.
— M as até ter certeza, faça o que é certo — disse e
saí sem olhar para trás.
Eu precisava pensar em como seria a minha vida
daqui para frente. Eu seria a pessoa que sobraria quando
o bebê nascesse. De onde eu tiraria forças para superar
tudo isso? Nesse momento eu não fazia ideia, a dor só
aumentava em meu peito. As palavras se repetiam em
minha mente. O que seria de nós dois daqui para frente?
Cheguei ao estacionamento e entrei no carro como uma
louca. Chorei até os primeiros raios de sol aparecer.
Liguei o carro e saí sem rumo. De todas as dúvidas e
receios que se passavam por mim. Uma coisa eu já tinha
certeza. A próxima vez que o encontrasse eu já teria
tomado uma decisão. Que seria definitiva para a nossa
relação.
Capítulo 22 – Encontros
Isabela
Não sei por quanto tempo dirigi, fiquei perdida em
meus pensamentos, na minha cabeça passava tudo como
um flashback, desde o meu casamento, separação,
reconciliação e o agora.
Ela está grávida. A Gabriela, a sua ex. Justo ela. De
todas as mulheres do mundo o Leo foi procurar logo ela.
Parecia uma pirraça infantil minha com a exnamorada/amante do meu marido. M as a Gabriela
sempre quis o Leo de volta, ela nunca falava
abertamente para todo mundo, mas era visível. O modo
como o olhava no hospital, as conversinhas das
enfermeiras sobre o desejo dela pelo meu marido. Tudo
indicava que ela o queria.
Sei que na época da faculdade, ela, Leonardo e
Benício eram o trio inseparável e, mesmo depois que
eles romperam o namoro, ainda mantinham contato. Não
como antes. M as ajudavam um ao outro. Até mesmo
depois de casado, volta e meia ela o procurava com uma
desculpa boba. Leonardo evitava o máximo de contato
porque sabia que eu não me sentia confortável. M as
sempre havia os plantões no hospital.
Estacionei no calçadão e segui em direção à beira mar
para escutar o barulho das ondas. Era algo que me trazia
paz e acalanto. Tudo o que eu precisava nesse momento.
O sol estava mais forte, não tinha noção que horas eram,
mas percebia que ainda era cedo, acho que sete ou oito
horas da manhã, talvez. Saí tão apressada que esqueci
relógio e celular, peguei apenas a chave do carro e minha
bolsa que estava próxima. Nem reparei se a carteira com
os documentos e dinheiro estava dentro dela.
Parei ali em frente aquele mar perfeito e senti
tranquilidade quando a água tocou meus pés, parecia
Deus me tomando em seus braços. Fechei os olhos e
senti aquele cheiro de maresia. Busquei limpar minha
mente e orei pedindo sabedoria e discernimento para o
que fazer. Fiquei tanto tempo parada ali meditando, em
transe, que não prestava atenção em quem passava por
mim.
Escutei meu nome sendo chamado, bem longe, mas
não virei para olhar, a voz era conhecida e cada vez se
aproximava mais. Virei e vi um lindo sorriso se desfazer
ao olhar para mim e apressar os passos. Juan estava ali,
apenas de sunga preta, boné e óculos de sol.
Provavelmente estava correndo pela praia. Seu rosto
mostrava preocupação ao me ver.
— Isabela?! — olhou-me espantando. Com certeza
meu rosto não estava dos melhores. — O que… O que
você está fazendo aqui? O que aconteceu? — perguntou
preocupado.
Comecei a chorar novamente. Juan sem pensar duas
vezes abraçou-me e eu deixei. Nem reparei se ele estava
suado ou não. Eu precisava ser confortada, precisava de
um abraço amigo.
— Isa. O que está acontecendo? — repetiu a
pergunta. Eu apenas chorava a soluçar, despejei toda dor
naquele momento. Queria chorar nos seus braços. —
Venha comigo — levou-me em direção a uma lanchonete
próxima.
Sentamos em uma mesa bem reservada, onde
ninguém nos perturbaria. Perguntou se eu tinha comido
alguma coisa, respondi que estava sem fome. M esmo
assim ele pediu dois sucos de laranja com cenoura.
Tinha me esquecido que com Juan tudo era
confortável. Ele não forçava nada, ficou em silêncio
esperando que eu dissesse algo. A garçonete trouxe
nossos sucos e deu um sorriso piedoso para mim. Acho
que ela pensou que estava levando um fora dele, por
estar com a cara inchada de tanto chorar.
— Tome o suco. É delicioso e te fará bem — pediu
gentilmente.
— Obrigada — agradeci e tomei. Realmente era
delicioso e percebi que estava com sede tomando tudo
de uma vez. Juan percebendo perguntou se eu queria
outro, mas neguei, porém ele não deu ouvido e pediu
outro que a moça trouxe o mais rápido possível.
— O que você está fazendo por aqui? — perguntei
tentando ser agradável.
— Eu moro aqui ao lado e corro todas as manhãs na
praia — disse. — Tinha entrando no mar para dar um
mergulho quando te vi — respirou e percebi que ele
realmente estava preocupado. No entanto, continuou
aguardando que eu começasse a falar.
— Eu descobri que o Leo, possivelmente, será pai —
desembuchei de uma vez. — De sua ex-namorada ou exnoiva. Eu não sei o que eles foram no passado.
Juan ficou calado por alguns instantes como se
tivesse pensando no que dizer.
— Como você está? — proferiu — Digo. Você fez
uma cirurgia, recentemente, provavelmente deveria estar
em repouso. Como o Leonardo deixou você sair
sozinha? — queixou-se.
— Eu que quis sair… Precisava ficar sozinha para
não dizer palavras das quais poderia vir me arrepender
no futuro — baixei a cabeça porque sabia que tinha
tomado a decisão certa. Com certeza se eu tivesse ficado
acabaria machucando-o muito mais.
— Não consigo imaginar o seu marido te traindo —
comentou. — Ele é esquentado e possessivo em relação
a você, mas eu vi naquela noite no Bar do Karaokê o
quanto ele te ama.
— Para falar a verdade, Juan, eu acho que o Leo não
me traiu — Juan franziu o cenho sem entender. — Eu
não sei ao certo, mas me parece que essa gravidez não é
de agora — sorri forçadamente.
— Não estou entendendo Isa — disse retribuindo o
sorriso. — Desculpa! Você não precisa falar nada. Só
que fiquei preocupado quando te vi ali na praia sozinha
e… Com o rosto inchado de quem chorou muito —
finalizou sem graça.
Contei tudo a Juan. Desde a minha separação com
Leonardo e os motivos que o levou a esconder essa
gravidez de mim. Leonardo tinha me falado que tinha
descoberto recentemente, mas, precisamente um dia
antes da minha crise. M as por que ele não me contou
depois?
No fundo eu sabia a resposta. Ele estava me
protegendo a sua maneira, pois sabia o quanto isso me
machucaria, principalmente pelo fato de ter dificuldades
em engravidar. M as se a Gabriela não tivesse passado
mal e o Benício não tivesse ligado avisando, quando ele
iria me dizer? Será que ele estava esperando o bebê
nascer para fazer o exame para comprovar a sua
paternidade? Essa era a pergunta que martelava na
minha cabeça.
— Eu entendo os dois lados. Principalmente o
Leonardo. Imagina como estava a cabeça dele essas
últimas semanas? — Juan indagou. — Vendo você
sofrendo com medo de nunca poder engravidar e correr o
risco de futuramente esse tumor surgir no outro ovário.
E sem saber como te contar da possibilidade de ser pai
com outra mulher.
— Sua ex — proferi. — Não entendo porque ele a
procurou. Tem tantas mulheres que sonham em ter uma
noite com o Leo, mas justo com a ex ele me arruma uma
gravidez. Eu sei que o bebê não tem culpa e não vou
odiá-lo por isso. Porém, a Gabriela usará essa criança de
todas as formas para atingir a mim e ao Leo. Não sei se
aguentarei isso.
— Que seja a ex. Nem acredito que vou falar isso —
disse para si mesmo, mas eu escutei. — Isa, vocês se
amam e é notório esse amor. Desde a briga no
restaurante eu vi o quanto aquilo te magoou por ser ele
que estava provocando aquela humilhação, o homem que
você ama — suspirou e levou sua mão a tocar na minha
que estava em cima da mesa. — Eu poderia estar usando
essa discórdia para te incentivar a se separar dele,
porque eu te desejei desde a minha primeira consulta
com você.
Tentei falar, mas ele me pediu que o escutasse.
— Aquela nossa noite… Foi inesquecível ter você
em meus braços, no entanto eu já sabia que era o
Leonardo que você amava. Eu já sabia que a nossa noite
foi como um teste para você ter certeza sobre seus
sentimentos — olhou-me carinhosamente ainda
acariciando minha mão. — M as eu não me arrependo de
ter sido usado por você — sorriu corando e duas
covinhas lindas vieram juntas.
— Juan! — chamei sua atenção. — Eu não te usei.
Eu gostei muito da nossa noite, mas...
— M as, é seu marido que você ama — finalizou.
— Sim. Eu o amo muito. E tenho certeza que ele
também me ama.
— Então? — inquiriu.
— Então o quê? —sorri, já entendendo aonde ele
queria chegar.
— Então… Você deixará seu casamento terminar por
causa de uma... — levou a mão ao queixo pensativo. —
Ex-namorada que acha que vai segurar um homem com o
golpe da barriga? Vai entregar assim, de mãos beijada o
seu marido? Sem nem ao menos lutar? Essa não é a
Isabela que achei que você fosse. É isso que ela quer.
Que você desista do seu casamento e deixe ele livre para
ela.
— Não. Eu não vou desistir do meu homem assim
tão fácil — falei otimista. — M as também não serei
boba — Juan aplaudiu gargalhando por ter conseguido
arrancar um sorriso confiante de mim.
— Essa é a Isa que eu conheço. Você é uma mulher
incrível e merece a felicidade. Lute por ela. Sei que você
vai saber lidar com a situação e tomar a decisão certa —
disse ele, me puxando para um abraço carinhoso.
Conversamos por mais algum tempo. Pedi o seu
celular emprestado e liguei para minha mãe para avisar
que estava bem e que avisasse ao Leo que estaria indo
para a casa dela. E que, em breve, o procuraria. Por mais
que quisesse o Leo na minha vida, ainda estava muito
magoada por ter escondido de mim algo tão sério.
Precisaria de um tempo.
Juan me acompanhou até o meu carro.
— Foi muito bom encontrar com você Isa. M esmo
nessas circunstâncias — disse.
— Obrigada Juan. Por tudo — abracei-o, — por ter
me escutado.
— Eu adorei cada momento. E se por acaso você
pensar em desistir do Leo. Saiba que serei o primeiro da
fila — manifestou sorridente. Fingi fazer cara feia. —
Estou brincando linda. Tomara que você siga seu coração
e tome a decisão que te fará feliz. E quando precisar
conversar sabe onde me encontrar.
Beijou-me a testa com carinho.
— O Leonardo é um homem de sorte por ter você.
Quem sabe um dia eu acho a minha pequena também.
Juan abriu a porta do motorista para mim e aguardou
que eu entrasse e colocasse o cinto. Fechou a porta e eu
baixei os vidros assim que liguei o carro. Olhei para ele
sorrindo.
— A sua pequena pode estar bem mais perto do que
você imagina. Basta prestar mais atenção — saí sem
nem ao menos esperar sua reação. Olhei pelo retrovisor
e ele estava acenando sem entender. Sorri achando graça
da sua cara.
Fui direto para casa dos meus pais, ainda não estava
pronta para encarar o Leo. Por mais que o Juan tivesse
conversado comigo e me incentivado a não abandonar o
meu marido. Ainda me sentia insegura sobre o futuro.
Tenho certeza que a Gabriela usará essa criança para
tentar, principalmente, me atingir. E será nesses
momentos que não saberei o que fazer, não tenho como
impedir Leo de apoiar o bebê, é sua obrigação. E nos
primeiros anos ele será totalmente dependente dos pais.
Depois de trinta minutos dirigindo, cheguei à casa
dos meus pais. M inha mãe veio logo em minha direção e
seu olhar era de total preocupação.
— Isabela Alencar. Como você faz isso conosco?
Sair assim, ainda no escuro e sem celular. Você tem
noção do quanto nos deixou preocupados? —
repreendeu-me. Em seguida me abraçou. — Leonardo e
seu pai já estavam para ir à polícia, se você não tivesse
ligado — abraçou-me mais forte.
— Desculpa mamãe. Não queria preocupar ninguém.
É que o Leo e...
— Nós já sabemos o que aconteceu — olhei para ela
sem entender. — Seu marido esteve aqui, logo cedo, e
nos contou o que aconteceu. M as isso não lhe dava o
direito de sumir a manhã inteira, nos deixando loucos de
preocupação. A cidade está violenta — continuou
repreendendo-me.
— M amãe eu sei me cuidar — ela fez gesto de que
eu estava errada e que nada justificava, então mudei de
assunto. — Vamos entrar, preciso tomar um banho.
— Você deve ter feito muito esforço. E precisa
limpar e fazer curativo na cicatriz. Tomara que não
esteja aberta — estava com um pouco de dor na região
onde fiz a cirurgia, ela veio me incomodando todo o
trajeto, mas jamais falaria para mamãe. Com certeza ela
ligaria para o Igor e faria ele estar aqui em três minutos.
Entramos e fui direto para o meu antigo quarto.
M amãe como sempre preocupada veio logo atrás de
mim. Pegou toalhas limpas e pediu para Cida, sua
secretária, para trocar os lençóis de cama enquanto eu
tomava banho. Disse que ia até o seu quarto buscar uma
roupa confortável dela para vestir. Tínhamos
praticamente o mesmo biótipo então não seria difícil
achar.
Entrei no banheiro, tirei a roupa e olhei-me no
espelho, minha cicatriz, que agora estava sem os pontos,
parecia irritada e inflamada. Tomei um banho relaxante.
Estava tão exausta. Nesse momento tudo que eu
precisava era dormir por algumas horas e depois
pensaria no que fazer a seguir.
Quando saí do banho avistei uma calça moletom
cinza, uma camiseta de alcinhas branca, uma calcinha de
algodão e chinelos limpos em cima da cama. Na mesinha
de cabeceira, produtos para fazer curativos e limpeza
para minha cicatriz. Ouvi a voz de mamãe no corredor e
de roupão fui verificar com quem ela estava falando.
Falava ao telefone baixinho sobre mim.
— Ela está no banho — ficou em silêncio escutando
o que a outra pessoa do lado linha falava, — farei o
curativo... Sim... Ela irá descansar um pouco. Não se
preocupe não a perderei de vista... Pode ficar tranquilo
— desligou o telefone e ao se virar tomou um susto ao
me ver parada olhando-a.
— Que susto filha! — levou as mãos ao coração.
— Quem era ao telefone? — tinha certeza que não
era o papai. E já tinha noção de quem era.
— Era sua tia... Luiza — gaguejou. E eu sabia que
estava mentindo. Dona Lorena era péssima para mentir.
Isso eu puxei dela.
— Quem era ao telefone? — perguntei,
novamente, mostrando com o olhar que não tinha
acreditado nela.
— Ah filha! Desculpe-me. M as ele estava tão
preocupado para saber como você estava — proferiu,
tristemente. — Liguei para o Leonardo só para
tranquiliza-lo — respondeu.
Virei e voltei para o meu quarto sem dizer nada.
M amãe veio logo atrás de mim. Não sei se estava
chateada com ela por ter avisado ele. M as, ao mesmo
tempo, eu agradecia por ele estar tão desesperado, por
querer saber notícias minhas. Era uma forma de ter
certeza que ele me amava. Eu estava naqueles momentos
que queria xingá-lo por ter engravidado outra mulher,
dizer coisas horríveis, e ao mesmo tempo queria estar
em seus braços, sentindo-me protegida e amada do jeito
que só ele me fazia.
— Deite-se querida, para fazer o curativo — mamãe
tirou-me dos meus pensamentos.
Tirei o roupão e deitei. M amãe limpou e fez o
curativo e é claro que reclamou, porque o local da
cirurgia estava irritado e aparentemente inchado. M enti
dizendo que não estava sentindo nada, mas estava
incomodada e com um pouco de dor. Se continuasse
assim, logo mais à noite comunicaria ao Igor.
— Liga para ele filha — pediu enquanto me ajudava
a vestir a roupa.
— A senhora já o avisou que estou bem — disse
fingindo não importar.
— M as ele quer ouvir sua voz — insistiu. — Liga,
Isa. Parte o meu coração quando lembro o quanto ele
estava apavorado sem notícias suas hoje pela manhã —
implorou mais uma vez. — Parecia uma criança perdida
sem você — mamãe sabia fazer drama quando queria
algo. Papai, tia Luzia e eu que o diga.
— Tudo bem. Vou ligar para o Leo — vi seu sorriso
aparecer. — M as não agora. Vou dormir um pouco e
quando acordar ligo para ele — continuei. Dona Lorena
não gostou muito, mas balançou a cabeça positivamente.
— A Cida preparou algo bem gostoso e levinho para
você almoçar. Vou lá pegar — disse e saiu em direção a
cozinha.
Não falou mais nada sobre o Leo. Ela sabia que se
insistisse mas era bem capaz que eu me chateasse e não
ligasse para ele.
Depois da refeição me deitei e dormi quase que de
imediato. Acordei e pela janela vi que estava
anoitecendo. M inha bexiga estava cheia, corri para o
banheiro e em seguida fiz minha higiene.
Quando saí percebi que minha valise, contendo
algumas mudas de roupas, estava sobre a penteadeira. E
na cabeceira da cama o meu celular e os meus
medicamentos. Não acredito que o Leo esteve aqui
enquanto dormia! Havia dito que o procuraria. Peguei
meu celular e verifiquei as chamadas e mensagens. Havia
chamadas perdidas da Lilian, Tia Luiza e Júlia e uma
mensagem do Juan pedindo que ligasse para ele assim
que pudesse. Sorri imaginando a curiosidade dele sobre o
que dissera antes de deixá-lo.
Saí do quarto e segui pelo corredor para saber com
mamãe, se Leo tinha estado por aqui enquanto dormia,
no entanto antes mesmo de chegar à sala obtive a
resposta. Um sorriso agudo e contagiante soou pelos
quatro cantos da sala. Júlia. M inha cunhada/amiga
estava ali conversando com meus pais.
— Olá! — falei meio sem graça. Todos viraram ao
mesmo tempo enquanto eu adentrava.
— M inha princesa, acordou. Como está? — papai
veio em minha direção me abraçando e beijando minha
testa.
— Estou bem. Eu acho — falei.
A Julinha tentava se levantar com aquele barrigão,
mas a impedi indo em sua direção. Beijei sua barriga e
sua testa. Em seguida dei aquele olhar que dizia que
estava magoada com ela. Tenho certeza que a Ju já sabia
da gravidez da Gabriela e omitiu a favor do irmão.
Apertando forte a minha mão, gesticulou um desculpe.
— O gato me pediu que viesse ver como você estava
—
pronunciou
desconfiada.
Ela
chamava
carinhosamente Leonardo de “gato”.
— Obrigada — agradeci e não disse mais nada.
Já tinha tomado a minha decisão. Não iria me separar
do Leo. Estaria ao seu lado assim como ele esteve do
meu. Porém, ainda não sabia como agiria em relação à
Gabriela e, menos ainda, em relação ao sentimento do
Leo com o bebê. Tinha medo, muito medo de nunca
conseguir lhe proporcionar o fruto do nosso amor.
Ficamos os quatro conversando amenidades. Em
nenhum momento tocaram no verdadeiro assunto que
levou a Júlia a me visitar, o que me deixou bastante
confortável. Não queria ninguém se metendo nos meus
problemas.
M amãe lembrou que já estava na hora de tomar
minha medicação e foi ao meu antigo quarto buscar.
Papai pediu licença e se retirou para tomar um banho
antes do jantar.
— Você sabia Júlia, e não me disse nada — reclamei
assim que papai sumiu pelos corredores.
— Eu não concordei com o meu irmão Isa, mas não
cabia a mim te falar — retrucou. — M e desculpa. Tudo
aconteceu tão rápido. O Leo soube horas antes de você
passar mal. E depois veio sua cirurgia. A retirada do
ovário — deu de ombros fazendo beiço. — Ele ficou tão
angustiado sobre esconder de você.
— M entir você quer dizer — bradei, raivosamente.
— Porque vocês mentiram para mim. Que droga! —
raiva me tomava quando pensava que todos sabiam,
menos eu.
— Só quem sabia era Benício, Leo e eu… — parou
para pensar e continuou, — e o Luigi.
— Não importa mais. Só peço que nunca me
escondam nada. Por pior que eu vá me sentir, não me
escondam— sorri para acalmá-la.
Não podia descarregar minha chateação na Júlia.
Alisei sua barriga e senti quando a pequena Heloísa
mexeu. Às vezes imaginava se um dia também teria essa
mesma sensação dentro de mim.
— Ela não me deixa mais dormir — disse, sorrindo,
acariciando sua barriga. — E eu não deixo o Luigi dormir
— sorriu.
— Pobre Luigi — balancei a cabeça. — Agora serão
duas para levá-lo à loucura — Gargalhamos juntas.
— M arcamos para daqui a uma semana a cesariana
— anunciou.
— Ué! Eu pensei que você tentaria o parto
normal — expressei sem entender.
— E quero, mas se eu não sentir nada até a data
prevista terá que ser cesariana — comentou.
M amãe chegou com os meus medicamentos e é claro
o meu celular a tiracolo também. Seu olhar já dizia que
ela queria que eu ligasse para Leo. Peguei o pequeno
aparelho e pedi licença e fui para o jardim. M eu coração
já palpitava só em pensar em ligar para ele e ouvir sua
voz. Por mais que estivesse magoada, era com ele que eu
queria estar. M as nesse momento meu orgulho era maior.
Disquei o seu número e no segundo toque ele
atendeu.
— Isa? — falou receoso. M eu coração acelerou só
em escutar sua voz dizendo meu nome.
— Oi... — respondi. Ele ficou em silêncio esperando
alguma palavra minha. — Liguei para dizer que estou
bem — avisei.
— Está tomando os remédios corretamente? —
perguntou e eu confirmei. — Amanhã o Igor irá vê-la —
comunicou.
— Como está a Gabriela e o bebê? — por mais que
me doesse eu tinha que perguntar.
— Ela saiu hoje cedo do hospital. Eles estão bem —
ficou quieto esperando uma resposta minha e como não
veio, ele continuou, — o médico que a atendeu pediu
repouso para essa etapa final — então ela realmente
ficou grávida quando estávamos separados.
— Compreendo — mais silêncio.
— Paixão! Não faz assim. M e deixa ir te buscar —
clamou. — Precisamos conversar. Por favor! Sinto sua
falta — suplicou.
Por mais que eu quisesse, tinha que resistir. Tinha
que decidir o que fazer assim que o encontrasse. Não
aceitaria ele virar as costas para o bebê, mas também não
aceitaria a Gabriela dominar a situação.
— Em breve eu te procuro — ele insistiu mais um
pouco, porém resisti. — Até mais — me despedi.
— Eu te amo — falou derrotado. Desliguei e voltei
para sala onde Julinha se despedia dos meus pais.
— Não ficará para jantar? — perguntei.
— Não. O Luigi está me esperando. M as queria te
chamar para amanhã ir comigo na loja em que
encomendei o enxoval — convidou-me. — Não disse a
ninguém como encomendei o enxoval. Quero sua
opinião.
— Irei sim. Que horas?
— Passo às oito horas para te pegar.
— Não. Vamos fazer o seguinte — discordei. — Eu
passo na sua casa às oito horas. Não precisa dirigir com
esse barrigão.
Combinamos mais alguns detalhes e a Ju foi embora.
O restante da noite, fui mimada pelos meus pais.
Depois subi para o quarto e pensei em tudo que
aconteceu desde aquele telefonema de madrugada. Um
vazio tomou conta de mim. Chorei por tudo. Por um
inocente que estava para chegar, e eu teria que aceitar e
nunca culpá-lo, pois ele não tinha culpa de nada. Chorei
por me sentir fraca e impotente. Chorei por inveja de a
Gabi ter o que eu mais desejava nesse momento. Um
filho que poderia ser do meu marido. E por fim, chorei
com saudades de estar com ele.
Não sei que horas consegui dormir. Acordei com
mamãe me chamando para tomar café e tomar mais
remédios. Troquei de roupa e fui para a cozinha. Dei
bom dia a todos que estavam na cozinha. Tomei um
rápido café e me despedi de todos.
Antes de chegar à garagem mamãe me chamou.
— Que horas aviso ao Igor para vir te visitar? —
perguntou.
— Não precisa. Eu passarei na clínica — rebati. —
Preciso ver uns documentos que deixei na minha sala —
mentira. Estava arrumando uma desculpa para ver o
Leo.
Senti muita falta dele essa noite. Principalmente de
tê-lo deitado ao meu lado, era como se faltasse um
pedaço de mim. Também não adiantaria nada em
protelar algo que só o tempo poderia ajudar. Beijei o
rosto de mamãe e saí para ir buscar a Ju.
******
Chegamos à loja de acessórios de bebê. A Júlia estava
muito quieta o que me preocupou.
— Está tudo bem? — já tinha perguntado como ela
estava no carro no caminho para cá, mas não me
convenceu.
— Nada demais. O peso da barriga está me
provocando dores na região lombar — queixou.
— Que ir para casa?
— Nãaao! Já estamos aqui e quero pegar logo o
enxoval. Não vejo a hora de ver o quarto da minha
princesa, todo pronto — disse alisando sua barriga. A
Júlia estava linda grávida, parecia iluminada com seu
barrigão. Seu cabelo mais brilhoso e vivo. Estava
perfeita, como só uma gravidez poderia proporcionar.
Enquanto a atendente foi buscar o enxoval
encomendado, a Ju foi sentar numa poltrona próxima
enquanto fiquei olhando alguns acessórios de bebê. Em
breve, se confirmado a paternidade, o Leo teria que
providenciar acessórios para acomodar seu filho quando
fosse ao nosso apartamento.
— Olha só quem está aqui — uma voz zombeteira
falou por trás de mim.
Virei e tudo que eu não planejei aconteceu. Gabriela
estava ali na minha frente. Linda e grávida. M eu corpo
gelou ao olhar aquela barriga.
— Como vai Gabriela? — articulei quase sem voz.
— Como você pode ver. Grávida. E é do Leonardo
— sorriu, triunfante, alisando sua barriga arredondada.
Não entraria na dela. Ela queria me provocar, mas
não deixaria.
— Achei que você deveria estar de repouso —
comentei friamente.
— É verdade. O Leonardo estava todo preocupado e
atencioso. Passou a manhã de ontem toda comigo —
divagava, alegremente.
Senti uma mão pousar sobre meus ombros. Olhei e vi
uma Júlia soltando fogos pelos olhos.
— Olá Júlia — Gabriela cumprimentou
sarcasticamente. — Olha Davi, essa é sua titia — falou
com sua barriga.
Era um menino, então. Leonardo poderia ser pai de
um menino.
— Será ótimo os priminhos crescerem juntos. Não
acha? — disse para Júlia com tranquilidade.
— Não use essa criança, Gabriela. Isso não
funcionará — expressou Júlia. — Se esse bebê for o meu
sobrinho, ele será amado por mim e meus familiares,
mas não abuse. Você não fará parte da família — o
sorriso zombeteiro da Gabriela se desfez.
— Vamos ver — retrucou raivosa. — Você pode ter
que me engolir.
— Gabriela — chamei sua atenção. — Como você
pretende fazer parte da família? Que eu saiba não estou
e nem pretendo me separar do Leonardo — falei
sarcástica, da mesma forma que ela vinha fazendo.
Queria que ela provasse do próprio veneno.
— Hahahaha — chacoalhou alto. Chamando atenção
de outras clientes na loja. — Vamos ver até onde a
bonequinha de porcelana aguentará — ficou cara a cara
comigo me desafiando. — Já soube que você é
praticamente seca.
Uma raiva subiu por todo o meu corpo. Cerrei os
pulsos para me conter.
— Só não meto a mão na sua fuça porque está
grávida. E não quero ser a culpada se algo de errado
acontecer — levantei ainda mais a cabeça para encará-la.
Já que eu era um pouco mais baixa que ela.
— Ah! M as eu posso bater, e com muito gosto —
Júlia disse avançado e enfiando a mão no rosto de
Gabriela a pegando de surpresa.
— Júliaaaa! — gritei.
Eu e uma atendente tentávamos separar as duas
grávidas que se atracavam. Uma agarrando o cabelo da
outra, girando ao redor da loja sem que nenhuma cedesse
o controle, mãos arranhando e batendo no rosto, uma
gritaria imensa. Seria cômico, se não fosse trágico!
— Parem com isso! Cuidado com os bebês —
avisava às duas, que mal me ouviam.
A Júlia parou, ficando estática, ainda levando um
tapa de raspão no queixo. Duas moças vieram e
afastaram a Gabriela que xingava Julinha, ferozmente.
— Julinha está tudo bem? — coloquei minhas mãos
em cada lado do seu rosto e observava preocupada —
Ju. M e responde.
De repente sem esperar um mundaréu de água descia
pelas suas pernas.
— M inha bolsa estourou. M inha princesa vai nascer
— expressou alegremente como se não tivesse acabado
de sair de uma briga de grávidas.
Capítulo 23 – Um anjo trazendo
esperanças
Leonardo
M inha cabeça estava a mil desde que a Isabela saiu
de casa. E o pior, o estado em que ela se encontrava
deixou-me totalmente no chão. A última coisa no mundo
que eu queria era magoá-la, mas sabia que seria
inevitável quando ela descobrisse tudo sobre a gravidez
da Gabriela.
Seu olhar era uma mistura de decepção e desespero,
mas, principalmente, controle. Ela fez de tudo para não
enfraquecer na minha frente, tentou ao máximo se
manter forte. Lágrimas pularam dos seus olhos quando
não suportou mais. Eu me condenava por fazê-la passar
por tudo aquilo. Daria minha vida para não vê-la naquele
estado, tão destruída e desolada.
Assim que ela deixou nosso apartamento liguei para
o porteiro para ver qual sentindo a Isabela tomaria. Ela
não me queria por perto, e isso eu respeitaria, no
entanto tomaria conta dela de longe.
Ao chegar à garagem, mesmo sem me aproximar dela,
meu corpo gelou quando vi a mulher da minha vida
chorando dentro do seu carro, debruçada sobre o
volante. Senti-me um inútil, queria acalentá-la, dizer que
estaria ao seu lado sempre e que eu só faria algo quando
tivesse certeza que ela estaria confortável com a
situação, mas não podia. Ela queria ficar sozinha e
respeitaria sua vontade, mesmo que isso me destruísse
por dentro.
Graças a Deus Isabela esperou amanhecer o dia para
sair. Fui em direção ao meu carro para segui-la, porém
algo no meu coração gritou dizendo que eu não a
seguisse. Que mesmo desesperado para estar com ela,
esperasse. Liguei e desliguei o carro, várias vezes,
querendo ir contra essa intuição. Só desisti quando
percebi que não adiantaria mais, com certeza ela já
estaria distante.
Voltei ao apartamento, eram cinco e meia da manhã.
Uma fúria se abateu em mim e comecei esmurrar a
parede, só parei quando vi marcas de sangue na mesma.
Sem me incomodar com a dor, segui para o banheiro e
tomei um banho frio para acalmar. Depois limpei, passei
antisséptico e enfaixei a mão machucada. Tinha feito um
estrago e tanto, cada nó dos meus dedos estavam
feridos, foi uma sorte não ter acontecido algo pior, mas
aparentemente não tinha quebrado nenhum osso, eram
apenas escoriações. Parece loucura, mas não me
arrependi do que fiz. Arrebentaria toda a minha cara se
tivesse a certeza que em troca aliviaria a dor da minha
mulher.
******
Às sete horas em ponto estava na sala da casa dos
meus sogros. Sabia que a Isa não estaria ali, mas tinha
esperança que ela tinha ligado para avisar onde estava.
Já tinha se passado mais de duas horas, desde que ela
tinha saído de casa. E para mim já era tempo suficiente
sem notícias.
Surpresos e preocupados com a minha presença logo
cedo em sua casa, o Senhor Estevão e Lorena desceram
ainda com roupas de dormir. Envergonhado contei tudo
o que havia acontecido. Não é fácil você encarar os pais
da mulher que você ama e dizer que provavelmente será
pai do filho da sua ex-amante. M esmo tentando serem
educados, sentia que de certa forma havia os
decepcionados, entretanto se disponibilizaram em
ajudar. Eles acreditavam no nosso amor.
Fui forçadamente obrigado a tomar café. Estávamos
todos apreensivos à mesa, o que não facilitou a ingestão.
Nada descia pela minha garganta. Lorena repetia que a
Isabela era muito responsável e que logo daria notícias,
mas que puxaria suas orelhas assim que a visse. E o meu
sogro se mostrava preocupado com o ferimento da
minha mão. Essa parte menti, disse que foi um acidente
com uma faca de cozinha. O que não o convenceu.
Despedi-me deles e fui fazer o que a Isa havia me
pedido. Verificar como estavam a Gabriela e o bebê. Não
estava com cabeça para encarar os deboches da Gabi,
contudo era um pedido da Isa, e por ela eu iria até o
inferno. Despedi-me do Senhor Estevão na garagem de
sua casa, ele estava a caminho da clínica para verificar há
quantas andavam as obras de ampliações. Ele não via a
hora de ver tudo pronto e funcionando. Porém antes
combinamos que aguardaríamos notícias da Isa até o
meio dia, caso contrário, iríamos à polícia.
Ao chegar ao estacionamento do hospital encontreime com Benício. Ele estava acabando de sair de um
plantão. Seu semblante mudou assim que viu meu
estado. M atou a charada só de me olhar. A Isa já sabia
da gravidez.
— Como a Isabela recebeu a notícia? — foi logo
perguntando, demonstrando preocupação.
— Ela está péssima — disse derrotado. — Saiu de
casa. Pediu para ficar sozinha por um tempo e que
depois me procuraria — continuei, — acho que ela
pensa que a traí ou escondi dela. Sei lá... Não sei o que
está passando na cabeça dela nesse momento.
Baixei a cabeça derrotado. Não tinha notícias da
M inha Paixão. Não sabia como ela estava. Era
desesperador.
— Sinto muito, irmão — falou colocando uma mãoamiga em meu ombro. — O que você precisar, saiba que
estou aqui — e eu sabia que podia contar com a amizade
dele. Éramos amigos há bastante tempo e há muito o
considerava o meu melhor amigo.
— Eu sei cara. E obrigado — sorri forçadamente.
— Você veio aqui saber da Gabi? — perguntou
curioso. E apenas confirmei com a cabeça — É para
você ter vindo, com certeza…
— A Isa me pediu. Estou aqui por ela. Apenas a
pedido dela — terminei de falar por ele.
Eu precisava ter a certeza da paternidade dessa
criança, por toda a situação em que estava e por tudo
que estava acontecendo. Só assim eu conseguiria assumir
minha provável responsabilidade com Gabriela e,
principalmente, com o bebê.
O Benício era também muito ligado a Gabi, e isso o
deixava em uma situação desconfortável. Ele
compreendia minha atitude e era uma pessoa sensata.
Apoiaria o lado justo.
— Ela está melhor. Como disse ao telefone foi um
pequeno descolamento de placenta — pronunciou. —
Ela deve receber alta ainda hoje pela manhã. Precisará de
algum repouso, mas apenas para garantir que nada de
mais sério aconteça.
Não falei e nem perguntei nada. Apenas o escutava.
— Andou brincando de socar parede novamente? —
perguntou para distrair a tensão em que encontrava.
Benício conhecia meus impulsos e essa não era a
primeira vez que esmurrava uma parede para liberar
sentimentos que me sufocavam. A primeira vez que fiz
foi quando descobri a traição da Gabi. Só que daquela
vez bati na parede para liberar a raiva e decepção que ela
havia me causado. Dessa vez eu merecia cada corte e
inchaço.
— É melhor fazer um raio-X. Parece bastante
inchado.
— Eu farei — respondi olhando para a minha mão e
constatando que realmente ela estava inchada. — Eu vou
lá ver a Gabriela. E você vai para casa dormir. Essa sua
cara feia tá precisando melhorar. Tem muitas rugas
aparecendo — tentei descontrair, também. — Lembre-se
que você tem uma morenaça para dar conta. Ancião —
alfinetei.
— Não se preocupe. O vovô aqui está servindo
muito bem a minha morena — retrucou debochado. —
Pelo menos a minha morena não tem um fã clube
masculino.
—Hahaha! Engraçadinho — fingi não gostar da
piada.
Não guardávamos segredos um do outro. Benício
sabia dos meus ciúmes com o professor de dança,
Fernando, o espanholito Juan e o Igor, esse último já não
tinha mais tanto ciúmes, mas ele sabia cutucar o meu
calcanhar de Aquiles. Conversamos por mais alguns
minutos. Falei o quanto estava angustiado sem saber por
onde a Isa andava. Ela já tinha passado da hora de tomar
os seus medicamentos.
Depois que me despedi do Benício, adentrei o
hospital e fui direto para o quarto. Assim que cheguei, à
porta estava semiaberta. Respirei fundo. Não podia
demonstrar fragilidade na frente da Gabriela. Ela sequer
pode sonhar o que aconteceu comigo e a Isa. Bati e abri.
Uma funcionária do hospital estava recolhendo a
bandeja do café da manhã.
— Leonardo! — disse sorrindo.
— Bom dia — falei.
A funcionária respondeu ao meu bom dia e em
seguida se retirou, fechando a porta.
— Como se sente? — perguntei.
— Nossa! Passei por um grande susto ontem, mas
graças a Deus nosso Davi está bem e saudável. Desde
então não me deixa quieta, não para de mexer — disse
alisando sua barriga alegremente.
— Que bom. Fico feliz que vocês estejam bem —
comentei.
— Vem aqui. Venha sentir ele se mexendo — pediu.
— É uma sensação única. Perfeita!
— E o obstetra que te atendeu. Quem era? Ele virá a
que horas novamente? — mudei de assunto, fingindo
não escutar o seu pedido.
— É o Dr. Gilvan que estava de plantão ontem e me
atendeu. Ele daqui a pouco aparece. M as o Bê passou
mais cedo aqui e acha que terei alta ainda pela manhã.
Não é minha especialidade, porém creio que estou
ótima, me sinto bem — Gabriela estava alegre. Um
brilho nos olhos, mas não de maldade. E sim porque
sabia que o bebê estava fora de perigo. — Você não quer
sentir ele mexer? — perguntou desconfiada.
— Não.
— Leonardo é o seu bebê, também. Não arrancará
pedaço se você tocar na minha barriga e muito menos
você trairá a Isabela — retorquiu seriamente.
— Gabriela. Vou dizer só mais uma vez — aproximei
um pouco e olhei fixamente em seus olhos, — até o bebê
nascer, e confirmarmos que eu sou o pai dele, não tenho
e não quero sentir nada — cuspi friamente. M eu coração
apertou por dizer essas palavras, porque no fundo esse
inocente não tinha culpa de nada.
— Se você não se sente obrigado a nada, por que está
aqui então? — questionou animosamente.
— Porque a minha mulher pediu que viesse saber
como vocês estavam — retruquei sem pestanejar.
A expressão do seu rosto mudou de doce e gentil
para surpresa e desaforada. Aquele olhar que eu
conhecia muito bem havia voltado. Pressenti que as
próximas perguntas seriam com ataques e sarcasmo para
me tentar tirar do sério.
— Ah! Que dizer...
Uma batida na porta não deixou que a Gabriela
destilasse o seu veneno contra a Isa. Abri a porta e Dr.
Gilvan e uma enfermeira entraram para avalia-la. Fiquei
no canto próximo a janela enquanto ela era examinada.
Depois de alguns minutos Gabriela recebeu alta e o
médico saiu, mas antes avisou que fizesse repouso
absoluto, pois sua gestação era delicada e ela estava com
a pressão um pouco alterada. A enfermeira a ajudou
arrumar seus pertences e depois se retirou também.
— Eu vou acompanhá-la até em casa — pronunciei.
— Não! Você não tem obrigação de nada — rebateu
birrenta. — Avisa a sua mulherzinha que estamos bem.
Não quero a Santa Isabela preocupada. Ela está
passando por um momento difícil. E precisa de toda
atenção — disparou colocando a bolsa no ombro e
saindo do quarto.
Silenciosamente fui seguindo-a. M esmo com todo
esse showzinho precisava ter certeza que ela, pelo
menos, pegasse um táxi.
Esperei na recepção que ela resolvesse as questões
burocráticas. Tentei ainda ajudá-la, mas fui impedido.
Gabriela é orgulhosa demais. E eu acabei atacando o seu
ego.
— Tem certeza que não quer que eu a leve em casa?
— interroguei assim que saímos do Hospital.
— Tenho — respondeu sem nem ao menos me
encarar.
Chamei um táxi e abri a porta dianteira para que ela
entrasse.
— Se cuida Gabi. O Dr. Gilvan falou que sua pressão
está alterada. E no seu estado não é bom — ela
conseguia ser peçonhenta e arrogante quando queria,
mas teve uma época que ela foi especial para mim.
Sempre foi uma mulher reservada, com poucos
amigos. Com certeza não teria uma pessoa para ajudar
nessa etapa final da gravidez. Ela jamais iria para casa da
tia e nem a chamaria para a sua. Esses eram ainda alguns
dos motivos que me sensibilizavam.
Gabriela não tinha ninguém e sofria por ser solitária.
Pegava o máximo de plantão nos hospitais e congressos
para não ter que voltar para casa e ficar sozinha. Uma
vez Benício e eu a aconselhamos a ter um animal de
estimação. Um gato ou cachorro, entretanto ela comprou
um peixe. Disse que era judiação deixar um cachorro
preso em um apartamento o dia todo. No fundo eu sabia
que tinha cutucado suas feridas. Tinha mexido aonde
mais doía. Solidão.
Gabriela entrou no táxi, fechou a porta e baixou o
vidro.
— Assim que o Davi nascer, você será informado —
proferiu com os olhos marejados. Voltou a subir o vidro
e foi embora.
Senti-me um crápula por ter agido assim, mas ela
tinha que entender que a Isabela era minha prioridade. E
mesmo que o pequeno Davi fosse meu filho, minha
relação seria estritamente com ele. Gabriela não faria
parte do meu coração.
Peguei meu celular e não tinha nenhuma chamada ou
mensagem. Sabia que a Isa não ligaria, pelo menos não
do seu celular. Ela havia esquecido o aparelho em casa.
Liguei para minha sogra e para minha decepção a Isa
ainda não tinha dado notícias. Lorena prometeu que
assim que tivesse novidades me informaria. Fui embora
para casa. Estava tão atordoado com os últimos
acontecimentos que acabei esquecendo de fazer o raio-X
da minha mão.
******
O resto do meu dia foi de mal a pior. Não consegui
trabalhar e desmarquei todos os meus pacientes. M elhor
dizendo, foi maravilhoso saber que M inha Paixão estava
bem e se encontrava na casa de seus pais. M as toda a
situação estava me atormentando.
Assim que soube que estava lá, arrumei uma pequena
mala com umas mudas de roupas, lingeries, produtos de
higiene pessoal, seus medicamentos e seu celular.
Esperava que ela não demorasse muito a me procurar.
Contudo ainda não sabia quanto tempo ela ficaria longe
de mim.
Fui até a casa da minha irmã e contei tudo o que
tinha acontecido, queria que ela fosse ver a Isa. E a
minha Ju é a única que ao menos pode me tranquilizar
quando o assunto é Isabela. O que ela fez com muito
carinho. Claro que fez questão de falar o famoso “eu
avisei”. Se não tivesse feito isso, não seria a minha irmã
Júlia, ela não perderia essa oportunidade de me alfinetar.
E eu sabia que ela tinha razão, então não disse nada.
A pior parte foi dormir longe da minha pequena.
Desde que nos reconciliamos nunca, em um só dia,
dormimos separados. Tinha diminuído até os horários
dos plantões para não ter que passar a noite fora.
M esmo que chegasse de madrugada, eu sempre voltava
para os seus braços. E essa noite estava aqui, sozinho,
sem conseguir dormir. Seu cheiro em todos os cômodos
do apartamento, lembrando que ela era meu vício,
M inha Paixão.
Passei a noite pensando na sua voz doce e suave. Ela
me ligou para avisar que estava bem e que dormiria na
casa dos pais. Sua voz ainda estava tristonha, porém
senti que ela também estava com saudades. Ainda
implorei para ir buscá-la, mas negou. Repetiu que em
breve me procuraria e conversaríamos.
******
— Lilian, pode vir até a minha sala? — chamei pelo
interfone da clínica.
M inha manhã estava agitada com vários pacientes, já
que havia cancelado os do dia anterior. De certa forma,
essa agitação preenchia minha mente. Antes de vir para
clínica liguei novamente para Lorena. Ela disse que a
Isabela ainda dormia, mas passou a noite tranquila.
Tomou os medicamentos e não se queixou de dor. Pedi
que a avisasse o melhor horário para que o Igor fosse
examiná-la. Conversamos rapidamente e desliguei.
Lilian bateu e em seguida abriu a porta do
consultório, entrando e fechando logo a seguir.
— Em que posso ajudar? — perguntou.
— Você separou a lista com os nomes dos
profissionais que participarão da seleção? Quero ter
uma ideia de quantas pessoas tem e quais os cargos.
— Sim. Também separei por área. Com nomes,
telefones e quem indicou. Já que a maioria são
estagiários e indicação de funcionários — disse
profissionalmente.
— Ótimo. Temos que começar a seleção o quanto
antes — falei. — A Isabela fará a maior parte do
processo. Claro que ela estará acompanhada de um de
nós dois, para orientá-la, caso necessite — sorri
lembrando o quanto a minha pequena ficou preocupada
em saber que ela iria ser responsável por esta seleção.
— Pode contar com minha ajuda — garantiu.
— Eu sei Lilian. Obrigado.
— M ais alguma coisa? O dia hoje na clínica está uma
loucura. Deixei a Pâmela sozinha na recepção.
— No momento não. Pode mandar entrar o próximo
paciente — assentiu e caminhou em direção à porta, mas
antes de abri-la virou me chamando. Seus olhos estavam
acolhedores.
— A Isabela não é tão frágil quanto parece,
Leonardo. Ela saberá guiar tudo que está acontecendo
sabiamente. Então não tente querer fazer tudo sozinho
— aconselhou.
— Obrigado. Você é uma excelente amiga — sorri
carinhosamente.
Depois que a Lilian saiu, atendi a três pacientes.
Dois retornos para mostrar exames que eu havia
solicitado e uma consulta que demorei bastante a
terminar, já que era a primeira vez e gostava de conhecer
ao máximo cada paciente.
M eu celular estava na gaveta e quando peguei havia
cinco chamadas perdidas da Isabela. M eu coração
acelerou e de imediato retornei à ligação. Chamou quatro
vezes e nada dela atender. Disquei mais uma vez e nada.
Um nervosismo se abateu imaginando se algo de ruim
havia acontecido. Quando pensei em ligar novamente,
meu celular vibrou e o seu lindo rosto surgiu na tela.
Atendi antes do segundo toque.
— Isa! — chamei seu nome esperançoso com o que
ela tinha para dizer.
— Oi Leo — disse meu nome lindamente.
— Está tudo bem, meu amor? — perguntei quando
ela ficou quieta.
— É… Está tudo bem — respirou nervosa. — Estou
na maternidade com a Júlia. Sua bolsa estourou
enquanto estávamos em uma loja — saltei da cadeira
tirando o jaleco e pegando a chave do carro.
— Como elas estão? — minha princesinha estava
chegando. Será que estava tudo bem?
— Estou na sala de espera. Fica tranquilo e vem com
calma. A Julinha está ótima e pela sua animação a
Heloísa chegará logo — avisou num tom de voz
animado.
— Tudo bem. Daqui a pouco estou ai —
comuniquei. Queria estar perto da minha irmã quando a
minha sobrinha chegasse. — Já avisaram aos meus pais?
— perguntei.
— Enquanto a trazia para maternidade ela mesma
ligou para o Luigi e seus pais. Luigi chegou e já está com
ela. Os seus pais ainda não, mas com certeza devem
estar chegando — explicou.
— Estou a caminho — comentei e saí ainda falando
com a Isa ao celular. Ela estava me dizendo qual a
maternidade eles estavam.
Comuniquei todo empolgado e sorridente a Lilian
sobre a princesa do titio que estava nascendo. Ela bateu
palmas de emoção e avisou que a noite faria uma visita.
Despedi-me de todos e saí.
O trânsito estava congestionado. Por isso, demorei
tempo suficiente para fazer até três viagens ao mesmo
local. Fui direto para a recepção e pedi informação sobre
minha irmã. A recepcionista, gentilmente, informou onde
era a sala de espera e que já tinha alguns familiares à
espera. Agradeci e saí.
Na sala indicada logo avistei os pais do Luigi, o seu
irmão com a esposa e meus pais. Não vi a Isabela e
fiquei preocupado. Depois de cumprimentar a todos
chamei o meu pai.
— Alguma notícia da Julinha? — interroguei.
— Ela já foi encaminhada para sala de parto. Tudo
indica que será normal. O Luigi está com ela — Papai
estava nervoso. M as tentava manter a calma. — E sua
mãe está se queixando porque queria estar na sala de
parto e a Julinha escolheu o Luigi — queixou revirando
os olhos. Papai era o homem mais paciente que eu
conhecia quando o assunto era a Dona Rosália.
— Relaxa papai. O senhor já a conhece. Tem ciúmes
de tudo — confortei ele.
Olhei em volta mais uma vez e nada da Isa. Peguei o
celular para ligar para ela.
— Se está procurando a Isabela, ela foi à lanchonete
— papai mencionou. Agradeci e fui à sua procura.
Não foi difícil de achá-la. A lanchonete era pequena e
de fácil acesso. Isabela estava sentada sozinha em uma
mesa com quatro lugares. Ela ainda não tinha percebido
a minha presença. Estava linda com um vestido soltinho
branco que eu tinha dado de presente, quando estivemos
em Fernando de Noronha. Incrível como a amava. E vêla assim, aparentemente tranquila, aliviou um pouco
meu coração.
Aproximei vagarosamente e fiquei de frente para ela.
Isabela levantou a cabeça, lentamente, e assim que
nossos olhos se encontraram tive certeza que ela não me
abandonaria. Tinha amor naquele olhar. Era um olhar
totalmente diferente do que havia visto dois dias atrás.
— Oi — disse um pouco desconfiado.
— Oi — falou tímida.
Ficamos nos analisando por uns minutos. Era
impressionante o quanto os nossos corpos ansiavam
pelo toque um do outro. Quando fiz menção em sentar
ela levantou e veio até mim.
— Vamos para sala de espera — chamou, tentado
fugir de ficar a sós comigo. Internamente vibrei. Eu a
conhecia. Se a tocasse, ela não resistira.
— Eu te amo — disse a primeira frase que veio em
minha mente. Ela arregalou os olhos assim que viu o
curativo em minha mão.
— O que foi isso?
— Nada que eu não merecesse — mal sabe que foi
por ela. Para me punir.
— Você sabe que ainda precisamos conversar —
tentou mudar de assunto sem tirar os olhos da minha
mão machucada.
Toquei seu rosto delicadamente. Sentindo a maciez
da sua pele. E sua resistência se esvaindo.
— Eu sei. Eu sei que precisamos conversar — puxeia pela nuca, deixando-a ainda mais perto de mim.
Inspirei seu aroma, — no entanto, nesse momento, eu
preciso sentir o gosto dos seus lábios — finalizei
tocando os seus lábios com os meus e forçando a
entrada da minha língua.
Ela não fez nenhuma resistência. Aceitou e chupou
minha língua. Era um beijo de entrega e confirmação. Ela
me pertencia e eu pertencia a ela. Teríamos sim uma
conversa, mas agora eu usurparia tudo o que tinha
direito com aquele beijo. Envolvendo-a em meus braços
a puxei mais para mim e aprofundei o beijo, precisava da
M inha Paixão e só me sentiria vivo de novo com ela. Ela
envolveu seus braços em meu pescoço e se entregou ao
nosso amor.
Não sei quanto tempo ficamos ali perdidos no nosso
mundinho. Escutamos uma tosse irônica. Isabela
acordou do transe em que estávamos e cessou o beijo.
Envergonhada olhou em direção de onde veio o barulho.
Era Luigi, meu cunhado, com um sorriso idiota olhando
para nós.
— Sinto atrapalhar os pombinhos, mas vim informar
que a sobrinha de vocês nasceu. M edindo cinquenta e
um centímetros e pesando três quilos e seiscentos
gramas — abriu um sorriso gigante. — M inha
princesinha é linda como a mãe. E nasceu aos berros
afirmando de quem é filha — abriu os braços. — Eu sou
pai agora! — gritou na lanchonete. Isabela e eu caímos
na risada e o puxamos para um abraço coletivo. A
Heloísa nasceu e junto com ela me trouxe esperança.
Capítulo 24 – Acontecimentos
inesperados
Isabela
— O que você fez Júlia? — Luigi bradou ao
descobrir sobre sua briga com a Gabriela.
Estávamos nós cinco: Júlia, Luigi, Leonardo, a
pequena Heloísa e eu, reunidos no seu quarto na
M aternidade. Os avós maternos e paternos, babões, já
tinham ido embora e voltariam mais tarde.
— Psiu! — Júlia falou beijando carinhosamente a
testinha de seu bebê que estava aninhada em seus braços
— Quer assustar a nossa princesa?! — continuou
falando como se nada tivesse acontecido nas últimas seis
horas — Aquela vaca insultou a Isa. Não podia deixar
barato, então dei só um tapinha de leve. Nem sequer
consegui arranhar aquele rostinho, quer dizer, bem que
tentei arranhar, mas só fiz sujar minhas unhas com
aquela quantidade de base. Como uma pessoa passa
tanta maquiagem para o dia a dia?! Ela não sabe que a
pele precisa respirar?! — sorriu de maneira angelical
para Luigi, fazendo o Leonardo que até então estava
apenas paparicando a sua sobrinha, olhar para mim.
— O que foi ela te disse, Isabela? — perguntou
vindo todo preocupado em minha direção. Tocou no
meu queixo levantando meu rosto para encará-lo, no
entanto desviei e olhei de cara feia para Júlia e ela
entendeu o que eu queria dizer com meu olhar.
A última coisa que eu queria, era que o Leonardo
soubesse as palavras horríveis ditas pela Gabriela. Na
hora que aquela vaca me chamou de seca, meu coração
deu um impulso para arrancar cada fio loiro daquele
cabelo e mostrar que o Leonardo era meu... M eu
homem. M eu marido. E nada atrapalharia a nossa
relação, apesar de que não tinha tanta certeza assim
sobre nosso futuro. M as minha razão falou mais alto e
não queria ser acusada se algo acontecesse com a
gravidez dela.
— Ela não falou nada que eu já não esperava —
respondi quando ele pegou meu rosto com suas mãos.
Fazendo-me olhar em seus olhos.
— Eu sei do que a Gabriela é capaz, então não tente
esconder nada de mim — disse me olhando firme e em
seguida beijou carinhosamente meus lábios — Entendeu,
Isa? Se ela te ofendeu, eu quero saber. Sugiro então que
as duas mocinhas comecem a falar o que aconteceu
enquanto vocês estavam na loja — senti seus músculos
tensos enquanto pronunciava.
— Também acho — concordou Luigi ainda
enfurecido com a sua mulher.
— Esse não é o momento para nos estressarmos. É
momento de alegria — falei tentando mudar de assunto.
Soltei meu rosto de suas mãos — Desse jeito a Helô vai
querer voltar para a paz e tranquilidade da barriga da sua
mamãe — fui em direção da Júlia e pedi para pegar a
bebê.
— Por hora vou deixar passar, mas eu quero saber o
que aconteceu — Leonardo proferiu emburrado.
Peguei a Heloísa e aconcheguei em meus braços. Ela
dormia profundamente, devia estar cansada da aventura
que teve esta manhã, com a briga da sua mamãe e a
Gabriela. Observei-a atentamente. Era perfeita. Linda.
Ainda não dava para saber com quem parecia, mas
apostaria meu carro, que ela teria o gênio da mãe, só
pelos gritos estridentes que a pequenina deu, assim que
enfermeira a trouxe para o quarto. E também a forma
como ela pegou o bico do seio da Ju de primeira e sugou
ferozmente. Trazendo risos a todos que se encontravam
no quarto no momento.
Não sei quanto tempo fiquei ali paralisada,
admirando a minha sobrinha-afilhada. Ser mãe é
definitivamente uma bênção. E um dia esperava ser
agraciada. Nem se fosse por adoção.
— Você tem jeito com crianças — Julinha disse
tirando-me do transe — E ela parece que gostou de
você.
— Parabéns Ju. Ela é linda... Você e o Luigi tem
muita sorte — Proferi com os olhos marejados de
emoção.
— Hoje é o dia mais feliz da minha vida — Luigi
disse sorrindo, orgulhosamente, admirando as duas
mulheres da sua vida — M uito em breve vocês serão
abençoados também — finalizou.
Senti um pouco de tristeza pelas suas últimas
palavras, pois não tinha tanta certeza e também não
queria viver de esperança e ilusões. Leonardo
percebendo, veio para perto de mim e acalentou-me em
seus braços, cuidadosamente, para não apertar a
Heloísa.
— Ah não, Isa! Você não vai me fazer chorar —
queixou-se Júlia. — Hoje é o dia mais feliz da minha
vida. Um dia que começou cheio de emoções — sorriu
emocionada — Tive uma luta de UFC logo cedo e em
seguida outra luta dolorosa, mas inesquecível. Tudo bem
que parto normal é mais saudável e aconselhável, mas
dói pra cacete. Sentia que estavam me rasgando por
dentro — todos nós sorrimos— Vou virar adepta dos
exercícios de kegel. Senão o Luigi vai me achar frouxa,
assim que a obstetra nos liberar para fazer sexo
novamente.
— Júlia! Eu não preciso ficar sabendo da sua
intimidade com o Luigi — reclamou Leonardo.
— Ah gato! Até parece que você e a Isa são
puritanos — retorquiu Júlia.
Quando Luigi ia chamar a atenção de Júlia uma batida
soou na porta, que foi aberta logo em seguida.
— Olá mamãe e papai. Vim pegar a princesa e levar
para o berçário — falou uma enfermeira sorridente.
— M as já? Eu mal a mimei — Júlia chiou triste.
— Eu sei mamãe, mas, tanto ela, como você,
precisam descansar. E outra, tem muitas flores aqui no
quarto e não faz bem para a princesinha ficar. Ela ainda
não está acostumada — a enfermeira falava calmamente.
Tentando convencê-la.
— Por favor, só mais um pouquinho — Julinha
pediu e olhou para o Luigi e o Leonardo suplicando por
ajuda.
— Eu a trago mais tarde. Com certeza vocês ainda
receberão visitas e eles vão querer conhecê-la —
continuou falando a enfermeira.
Levei a Heloísa para Ju se despedir dela. Ela a
abraçou e disse palavras de amor para a pequena. Luigi
se juntou as duas se despedindo da sua princesinha e
acalentando uma Júlia chorona, quando entregou a bebê
cuidadosamente a enfermeira. Antes de sair, Leonardo e
eu também nos despedimos da nossa afilhada, beijando
suas mãozinhas.
M inha mãe ligou para saber que horas poderia
aparecer na maternidade para visitar a Júlia e conhecer a
Heloísa e, também, me avisar que o Igor havia ligado.
Com tudo que tinha acontecido acabei esquecendo de
ligar para ele e avisar que passaria na clínica para ser
examinada. Prometi a ela que seguiria daqui direto para a
clínica. Disse também que deixasse para vir à
maternidade no dia seguinte. Faltavam poucas horas
para anoitecer e a Julinha ainda não havia descansado
nada.
Despedi-me da Júlia e do Luigi, prometendo voltar
no outro dia. Brinquei dizendo que de hoje em diante
eles enjoariam de mim, pois todos os dias planejava
mimar bastante minha afilhada. Leo com todo seu
protecionismo também se despediu deles. Ele não
perguntou quando iríamos conversar, contudo seus
olhos imploravam para que eu não o afastasse.
Assim que saímos do quarto da Júlia, Leo entrelaçou
sua mão na minha. Não posso negar que ainda estava
magoada por ter mentido para mim sobre a gravidez da
Gabriela, mas estava decidida a lutar por nós, porém o
que havia ocorrido não era algo que eu poderia esquecer
da noite para o dia. M esmo assim me senti protegida e
segura com seus dedos entrelaçados aos meus.
Seguimos silenciosamente até o estacionamento.
Apenas um sentindo a presença do outro. Ao chegarmos
ao estacionamento, fui em direção ao meu carro.
Leonardo de imediato puxou-me para seus braços me
abraçando forte e com carinho. Levando seus lábios ao
lóbulo da minha orelha e mordiscando.
— M e deixa te levar para casa. Por favor… —
sussurrou no meu ouvido. Trazendo arrepios por todo o
caminho da minha coluna.
— Eu… Eu… Preciso passar na clínica, primeiro —
gaguejei, completamente, derretida em seus braços.
Leonardo afastou-se, apenas o necessário para
encarar-me.
— O que você tem que fazer na clínica, Isabela? —
interrogou encucado. Com certeza passava na sua cabeça
que estava indo lá atrás de afazeres.
— Tenho consulta com o Igor — contei sorrindo
gentilmente, quando seu rosto relaxou.
— Isso é bom. M uito bom — sorriu mordiscando
meus lábios — Posso te levar? — pediu ainda com os
lábios encostados aos meus.
— Estou de carro. Fui eu que trouxe a Ju para cá.
Esqueceu?!
— Eu sei. Assim que chegarmos a clínica, pedirei ao
Sr. Severino para vir buscar o seu carro — comunicou,
simplesmente.
Apenas concordei e fui guiada até o seu carro.
Leonardo abriu a porta do passageiro para mim e
esperou que eu entrasse, depois fechou a porta e
marchou até o lado do motorista.
Nosso caminho até a clínica foi em silêncio.
Tínhamos muitas coisas a serem ditas, mas ainda não era
o momento. Essa conversa teria que ser sem
interrupções.
Quando chegamos à clínica havia um pôr-do-sol
lindo. Ainda no carro Leo pegou a minha mão e levou
aos seus lábios, beijando cada nó dos meus dedos. O que
me fez lembrar dos machucados em sua mão.
— Não falará mesmo sobre o machucado? —
apontei com a cabeça em direção a sua mão.
— Sim. Irei — ainda beijando minhas mãos
respondeu — Isso foi uma forma que encontrei para me
punir pela decepção que lhe causei — soltou minha mão
e baixou a cabeça — Esmurrei a parede da nossa sala —
revelou.
— Leo! Por que fez isso? — gritei assustada com
sua atitude — Você poderia ter lesionado um osso ou ter
tido algo mais grave. — reclamei magoada e preocupada.
Leonardo virou o corpo totalmente para mim.
Cravou aqueles lindos olhos hipnotizantes nos meus.
— Isabela, você não tem ideia do que sou capaz de
fazer para tirar toda a sua dor e mágoa — respirou
fundo e continuou — Isso aqui... — mostrou a mão
machucada — Não é nada comparado do que sou capaz
de fazer por você.
Tentei me pronunciar, mas ele interrompeu-me.
— Eu daria a minha vida, se eu pudesse, para te
proporcionar toda a felicidade e sonhos que você tanto
almeja — exprimiu verdadeiramente — Eu te amo tanto,
Isabela. Sou totalmente enfeitiçado por você, M inha
Paixão — finalizou.
M eu coração pulsava mais rápido por tudo aquilo
que ele tinha me dito. Agradeci em meus pensamentos
por não ter desistido do nosso amor. Não sei o que o
futuro nos esperava. A única certeza que tinha era de
que estaríamos juntos enfrentando o que for. Ele me
amava com a mesma intensidade dos meus sentimentos
por ele. Não será a biscate da ex-namorada que destruirá
o nosso amor. M al sabe ela que, quanto mais ela atacar,
mais forças buscarei para destruí-la.
Ficamos nos fitando. Nossos olhares falando por si
mesmos. Leonardo esperava que eu dissesse algo. Ele
virou e abriu a porta, mas antes mesmo dele sair, segurei
em seu braço. Leo voltou a me encarar curioso.
— Nunca mais repita isso — bradei — Eu te amo,
Leonardo M enezes. M inha felicidade e meu sonho é
você comigo, ao meu lado — declamei.
Como um foguete, Leo puxou-me para os seus
braços e capturou meus lábios com o seu. Devorando-o
ferozmente. Uma das suas mãos presas no meu cabelo,
enquanto a outra passeava pelo meu corpo. Leonardo
mordeu, lambeu e chupou meus lábios e língua, rosto e
pescoço. Deixando minha pele totalmente avermelhada e
minha boca inchada.
Quando o desejo ficou quase incontrolável e quase
gozei apenas com os seus beijos e toques pelo meu
corpo, o Leonardo, responsável, falou mais alto, então
se afastou bruscamente de mim. Enquanto o Igor não
desse a bendita “carta branca”, ele não aprofundaria em
relação ao sexo.
— Precisamos entrar, antes que façamos uma loucura
— disse ofegante. Concordei decepcionada.
Saímos do carro e adentramos a clínica. Vários
funcionários, estagiários e alguns pacientes meus vieram
me cumprimentar e saber como estava a minha
recuperação. Buscava dar atenção a todos, mas Leo
estava meio que grudado comigo, de certa forma, o
compreendia, estávamos em reconciliação e ele queria a
minha atenção naquele momento voltada apenas para
ele, além dele estar bastante excitado. Ainda.
Avistei Lilian e sorri indo em sua direção para
abraçar carinhosamente a minha amiga e confidente. Leo
perguntou se o Igor estava com algum paciente. E Lilian
confirmou, mas informou que era a última paciente e que
logo em seguida ele me atenderia.
Fui com Lilian para sala da administração. Leo pediu
a chave e documento do meu carro e foi atrás do Sr.
Severino pedir que fosse pegar o mesmo na maternidade
e trazer aqui para a clínica.
Enquanto o Igor não me chamava e o Leo não estava
por perto, contei tudo que havia acontecido hoje para
Lilian, claro que de uma forma rápida, pois o Leo
poderia aparecer a qualquer momento. M inha amiga
apoiou a minha decisão e xingou bastante a Gabriela.
Disse que não me deixasse abater pelo resultado do
exame de DNA, pois tinha certeza que o Leo faria de
tudo para me proteger. Disso eu não tinha dúvida, mas o
que a Gabi não tinha ideia, foi que quando me atacou
verbalmente na loja, ela acordou uma guerreira dentro de
mim.
******
— M inha deusa. Você está ótima — Igor falou
sorrindo enquanto estava deitada em cima da maca do
seu consultório. — Está cicatrizando perfeitamente.
Você ficará apenas com uma linha fina de cicatriz. Não
afetará a beleza da sua pele lisa e branquinha — Igor
piscou para mim. Eu sabia que ele estava provocando o
Leo.
— Vamos parar com as gracinhas, doutor. Acho que
já alisou demais a minha mulher — Leo bufou logo atrás
do Igor — Posso esquecer por um segundo que você é
um amigo. Cafajeste, mas amigo.
— Obrigado, doutor. Fico lisonjeado por suas belas
palavras — Igor falou desafiando — Porém tenho que
cuidar, bravamente, das minhas pacientes.
— Igor! — chamei sua atenção — Pare de provocálo.
— Tudo bem, meu amor. Hoje é um dia muito
especial — Leo respondeu sorrindo para mim — Nada
que o bonito falar, me tirará do sério — olhou para Igor
sorrindo, abertamente.
— Ora. Ora. Ora. Quer dizer que meus pombinhos
favoritos estão felizes? — Igor perguntou enquanto me
ajudava a sentar na maca e olhava para nós dois.
— Claro que estamos muito felizes. Nossa sobrinha
nasceu saudável. E a cada dia estamos mais apaixonados
— falei.
— Ecaaa! — Igor fingiu ter nojo das minhas
palavras.
— Você fala isso porque nunca se apaixonou — Leo
proferiu conforme me ajudava a descer da maca.
— Graças a Deus! Não sofro desse mal — Igor disse
sucinto.
— Sabe o que eu acho, Igor? — olhei em sua direção
— No dia em que se apaixonar você será totalmente
domado — sorri — E tenho certeza que ela te deixará
completamente de quatro aos seus pés.
— Nunca, minha deusa. Eu não corro esse perigo.
Sou vacinado — proferiu sarcástico — Esqueceu que
sou eu que domino as mulheres? São elas que vêm atrás
de mim — completou cheio de si e dando um sorriso
safado.
Igor explicou que eu estava totalmente recuperada,
mas não poderia exagerar nos esforços. Liberou para
voltar a trabalhar na próxima segunda-feira, contanto
que voltasse no ritmo mais lento, nada de vários
pacientes em um dia só de trabalho. Falou também que
nesse início pós-cirúrgico, a cada dois meses, faríamos
exames de rotina e depois passariam para a cada seis
meses. Perguntei se poderia parar de tomar os
anticoncepcionais, já que só os tomava, para ajudar no
combate da endometriose. Igor respondeu que por
enquanto sim, pararia com os contraceptivos, mas
deixou-me de sobreaviso, sobre voltar tomar no futuro,
caso fosse necessário.
O ponto épico da consulta foi quando Leo perguntou
se eu estava liberada para ter relações sexuais. E é claro
que o Igor não perderia a oportunidade de zoar com ele.
Irritou o quanto pôde, mas no final liberou, porém
alertou para não irmos com muita sede ao pote, pois eu
poderia sentir de início, um desconforto ou até mesmo
ardência.
Despedimo-nos de todos, avisei que na próxima
semana estaria de volta e que começaria com as
entrevistas para os novos funcionários. Queria ter ido
olhar as obras de ampliação, mas como o anoitecer já
havia caído, não adiantaria de nada.
Caminhamos abraçados até o carro. E, como sempre,
todo cavalheiro, Leo abriu a porta do carro para mim.
Assim que entrou no carro sorriu e me beijou.
— Que ir comer em algum restaurante? — perguntou
cordialmente.
— Queria ir para casa dos meus pais — respondi e
vi seu sorriso lindo murchar. Acariciei seu rosto
apaixonadamente — Quero ir lá, para pegar minha mala
com minhas roupas e acessórios — beijei-o ternamente
— E também a dona Lorena está aguardando para saber
como foi minha consulta com o Igor — beijei-o,
novamente — Poderíamos jantar com meus pais e
depois irmos para o nosso apartamento. Para a nossa
cama — disse enquanto alisava seu peitoral. Leo
abraçou-me beijando.
— Jura que você vai voltar para casa? — interrogou
ansioso.
— Sim. Voltarei para a nossa casa. Para nunca mais
sair — concordei.
*****
— Seja bem-vinda, meu amor! — Leo disse assim
que entramos no nosso apartamento. Ele me carregava
em seus braços. Colocou-me neles assim que saímos do
elevador.
— Obrigada, M inha Paixão — agradeci usando as
palavras de carinho que, sempre, falava comigo.
Não demoramos muito na casa dos meus pais.
Jantamos com eles e colocamos a par das novidades do
dia, é claro que omiti a briga de grávidas. Depois recolhi
meus pertences e nos despedimos. Nosso trajeto até em
casa foi harmonioso. Com mãos bobas e troca de
palavras de carinho.
— Promete que não esconderá nada de mim? Por
mais difícil que seja — pedi como se fosse uma urgência
ouvi-lo dizer.
— Sim. Eu prometo — respondeu categórico — No
entanto, quero que você também não me esconda nada
— balancei a cabeça concordando e prometi — Então
me fale o que a Gabriela te falou, que fez a Júlia arriscar
a sua gravidez para te defender — indagou.
— Hoje não. Por favor! — proferi — Hoje quero
que seja só você e eu. Nada de Gabriela, bebê, briga ou
qualquer coisa relacionado a ela — mordi o lóbulo da sua
orelha.
— Tudo bem, por hoje, mas amanhã quero saber —
ainda em seus braços fui carregada até o nosso quarto.
Leo sentou na beira da cama. Sem sair dos seus
braços o montei, esfregando-me avidamente no seu
membro já ereto e chupando sua língua loucamente.
— Ah! Que saudade que eu estava, paixão — falou
alisando com suas mãos grandes todo o meu corpo.
Gemendo a cada esfregada que dava nele.
Estávamos tão loucos de desejos que tiramos as
roupas desesperadamente. Leo deitou-me na cama e
passou a acariciar todo o meu corpo. Admirando,
beijando e mordiscando cada parte dele. Beijou e chupou
deixando marquinhas em cada seio. Eu estava
completamente à mercê do homem que eu amava.
Sua boca fez caminho até a abertura entre as minhas
pernas. Ele delicadamente começou a beijar, chupando
meu clitóris causando espasmos por todo o meu corpo.
Leonardo estava tão cuidadoso comigo e atencioso pelas
palavras que Igor tinha dito, que enfiou apenas um dedo
na minha entrada. Estava tão receptiva a ele, que arfei
com seu dedo dentro de mim. Cuidadosamente ele
enfiou o segundo, fazendo movimentos de vai e vem,
firmes, e continuando a chupar meu clitóris ao mesmo
tempo. Gozei delirantemente, ficando dormente.
Como sentia falta dessa sensação!
Assim que recuperei da minha libertação avancei
para Leo, pegando ele de surpresa. Abocanhei seu
membro e chupei levando-o a soltar gemidos
desesperado de prazer. Passava a minha língua por todo
a sua ereção e depois o colocava todo na boca e chupava
feroz por ele. Quando percebi que ele estava perto de
gozar, aumentei a velocidade das chupadas. No entanto,
ele foi mais rápido, livrando-se de mim e jogando seu
corpo másculo sobre o meu.
— Quero gozar dentro de você, Isa. Quero que sinta
minha porra escorrendo entre as suas pernas — falou
com sua boca contra a minha, enquanto esfregava sua
pélvis em meu clitóris. Fazendo-me gemer e o segurar
mais forte — Abra mais as pernas e as enrole em mim,
paixão. Do jeito que estou louco de tesão posso te
machucar. E quero deslizar bem devagarzinho nessa
boceta molhadinha e apertada — completou.
Fiz o que ele pediu, arreganhei as pernas, as
enrolando em seu quadril, dando passagem total para
seu membro percorrer por toda a vulva. Leo deslizou
lentamente seu pau para dentro de mim. Senti um pouco
de desconforto no início, mas ele fez todo o possível
para deixar-me relaxada e excitada. M assageava e
chupava meus seios e com os dedos da outra mão tocava
meu clitóris, enquanto eu, o arranhava nas costas,
beijando o seu corpo e gemendo em seus ouvidos.
— Isa — ele rosnou o meu nome me segurando forte.
— Leo — gemi, ofegante.
Seu membro entrava e saia, deliciosamente.
Aumentou o impulso das estocadas. Era incrível o nosso
magnetismo. Não demorou muito e gozamos juntos. E
seu corpo suado caiu sobre o meu.
— Te machuquei? — interrogou preocupado depois
que recuperamos a respiração. Balancei a cabeça
negando. Tinha sido um pouco desconfortável, na
verdade, mas a saudade era tanta de tê-lo dentro de mim
que não me incomodei — Quer tomar um banho
demorado? — perguntou com aquela cara de safado e
mordendo meus lábios, onde revelava que teríamos uma
segunda rodada.
Leo saiu de cima de mim e ajudou-me a levantar.
Beijando minha testa logo em seguida. Antes mesmo de
chegar à porta do banheiro seu celular tocou. Ele foi até
onde estava e pegou verificando quem ligava.
— É o Benício — disse mudando sua fisionomia.
— Atenda — falei — Pode ser importante — minha
intuição gritava já dizendo sobre o que era, e de quem
era.
Leo atendeu e escutou Benício, atentamente, sem
interrompê-lo em nenhum momento. Agradeceu e
desligou. Olhou para mim como implorando uma ajuda.
— A pressão arterial da Gabriela elevou, trazendo
risco para ela e o bebê — disse incomodado. Permaneci
em silêncio, para que ele continuasse — Tiveram que
fazer uma cesariana — na mesma hora meu coração
apertou. Nasceu. — O bebê apesar de prematuro, está
bem. Encontra-se na Unidade Neonatal do Hospital.
Leonardo ficou em silêncio aguardando que eu
dissesse algo.
— E como está a Gabriela? — perguntei receosa.
— Ela teve uma eclâmpsia. Seu estado é delicado,
mas aparentemente não corre risco de morte —
terminou pesaroso.
Por mais que eu queira a Gabriela longe de mim e do
Leo, não desejo seu mal, muito menos a sua morte.
Então posso dizer que foi um alívio saber que ela está
fora de perigo.
Corri para seus braços e abracei o meu homem
destemido e possessivo que, agora, parecia sem saber o
que fazer.
— O que você pensa em fazer? — indaguei.
Ele beijou a minha testa e fitou-me com amor e,
principalmente, implorando desculpa. Sorri tentando
demonstrar apoio, mesmo com o coração em pedaços.
— O Benício pediu que eu fosse ao hospital para…
Não sei na verdade — bufou chateado — E também
fazer o exame de DNA. — fechou os olhos deixando cair
uma lágrima pelo seu rosto.
— Ei! Não fica assim — tirei forças não sei de onde,
mas não poderia demonstrar fraqueza nesse momento na
frente dele — Se esse bebezinho for seu, ele será uma
criança muito sortuda por ter você como pai — disse
segurando seu rosto de maneira firme, forçando-o a abrir
os olhos — Agora tome um banho e vá ao hospital. E
faça tudo que for correto a se fazer — beijei seus lábios
— Quando você voltar ainda estarei aqui esperando por
você — Leo levantou-me em seus braços, buscando a
curva do meu pescoço e inalando meu cheiro.
— Quero que saiba que você sempre estará em
primeiro lugar na minha vida. M esmo que tenha
momentos em que tudo pareça errado. Você sempre será
M inha Paixão — sussurrou baixinho— Você é onde eu
me encontro no final. Você é minha casa.
Capítulo 25 – Amor inevitável
Leonardo
Fui meio que no piloto automático dirigindo até o
Hospital. Estava perdido em meus pensamentos. A hora
da verdade estava chegando, descobriria se o filho da
Gabi era realmente meu.
Não foi fácil sair e deixar a Isabela sozinha, quando
acabamos de fazer as pazes. Ela tinha voltado para a
nossa casa, estávamos nos amando e, de repente tudo
muda, recebo uma ligação sobre a Gabriela e o bebê.
Estragando assim nossa noite. Por mais que visse
tristeza em seus olhos, Isabela se mostrou forte e me
deu total apoio. M inha mulher a cada dia vinha me
surpreendendo. Aquela menina tímida que conheci logo
quando chegou à clínica se transformou em uma mulher
forte. Eu realmente era um homem abençoado por tê-la
na minha vida, e principalmente, por ser minha. Só
minha.
Cheguei ao hospital e fui direto à procura do Benício.
Assim que o encontrei, me levou até a médica
responsável pelo parto da Gabriela, a Dra. Jaqueline. Ela
já vinha acompanhando o seu pré-natal desde que voltou
da Alemanha.
A doutora me explicou que durante o pré-natal a
Gabriela tinha sido diagnosticada com pré-eclâmpsia,
mas já vinha sendo tratada fazendo uso de
medicamentos e orientada quanto a todos os cuidados
para controlar a pressão arterial e evitar uma convulsão
ou outras complicações. Explicou também que nesses
casos, para a saúde da mãe, tinha sido cogitado o bebê
nascer com até trinta e sete semanas, caso já estivesse
bem desenvolvido, portanto a Gabriela desde que
completou vinte e quatro semanas de gestação passou a
tomar também medicamentos para acelerar o
desenvolvimento dos pulmões do bebê.
Olhei para Benício totalmente aturdido. Como a
Gabriela podia ser tão irresponsável com sua saúde? Ao
ponto de colocar em risco a vida do bebê e dela própria.
Esse tempo todo era para estar afastada do trabalho, de
repouso absoluto, no entanto, além de clinicar, também
estava infernizando a vida de todos ao seu redor e se
metendo em brigas.
M esmo irritado, perguntei como estava o seu estado
de saúde no momento e se poderia ir ver o bebê. A Dra.
Jaqueline respondeu que seu estado ainda era crítico,
porém controlado. Junto com Benício segui em direção a
Unidade Neonatal.
Assim que chegamos, avistei a parede de vidro que
dividia a ala em que os bebês ficavam. A doutora
apontou a incubadora que o pequeno Davi se
encontrava. Fiquei ali parado, estático, buscando alguma
semelhança, mesmo que de longe, mas ainda era muito
cedo para afirmar.
— Doutora, não sei se a Gabriela comentou, mas eu
gostaria de providenciar o exame de DNA o mais rápido
possível — solicitei. Deixando a colega de trabalho um
pouco sem graça pela situação.
— Sim. Ela já havia comentando sobre isso na sua
última consulta — respondeu ríspida. Levando-me
acreditar que a Gabriela fez sua cabeça contra mim e,
com certeza, contra a Isabela.
— Perfeito — disse convicto e virei-me para falar
com Benício para mostrar que sua reação não me
incomodou — Benício você pode providenciar a
realização do exame junto ao laboratório? — pedi. Ele
confirmou e saiu para resolver.
Conversei mais alguns minutos com a médica. Pedi
que assim que a Gabriela acordasse que eu fosse
informado. Ela concordou e, logo em seguida, foi embora
me deixando sozinho. Voltei o olhar para onde o bebê
estava. Aquele pequenino, indefeso, não tinha ideia do
que vinha pela frente. M eu Deus! Será pecado não estar
sensibilizado com ele? Era apenas um menino inocente.
Aquele sentimento de amor, que nasce, quando
avistamos um bebê pela primeira vez, que, nesse caso,
poderia ser meu filho, não surgiu, como aconteceu
quando vi a minha sobrinha Heloísa. Estou aqui
tentando sentir pelo menos uma sensação sobre ser pai.
Será egoísmo meu, desejar que o Davi não fosse meu
filho? Será tão desumano? Não sabia o que pensar sobre
tudo que estava acontecendo.
Saí daquela ala e fui a caminho do meu consultório,
minha cabeça estava cheia e ficar parado sem fazer nada
só me traria mau humor. Como já era tarde da noite,
provavelmente, esse exame, mesmo sendo coletado hoje,
só seria encaminhado amanhã para análise. Enviei uma
mensagem para o Benício avisando aonde ele poderia me
encontrar.
Passei pela recepção e peguei alguns exames de
pacientes para analisar, só assim o tempo passaria mais
depressa.
Assim que cheguei ao meu consultório, tirei meus
sapatos e deitei-me no sofá com os exames dos meus
pacientes em mãos. Verifiquei que passava das vinte e
duas horas. Queria muito ligar para a Isa e dizer o que
estava acontecendo, mas poderia ser que ela já estivesse
dormindo e não queria acordá-la para atormentá-la com
meus erros. Ela já vinha carregando uma bagagem pesada
demais. Decidi enviar uma mensagem. Normalmente
Isabela deixava o celular no silencioso, se não
respondesse, saberia que estava dormindo.
Oi meu amor, ainda estou aguardando para fazer o
exame. Por enquanto não tenho nenhuma notícia
nova, além do que você já sabe. Não sei a que horas
voltarei, então não espere por mim acordada. Qualquer
notícia te aviso.
Te amo, mais que tudo,
Seu Leo.
Enviei a mensagem e aguardei alguns minutos, não
obtendo resposta. Em parte, era um alívio a Isa estar
dormindo, mas, ao mesmo tempo, eu desejava que ela
estivesse aqui, só a sua presença, traria paz, ao meu
coração.
Depois de ficar um bom tempo analisando os
diagnósticos dos pacientes, acabei desistindo e deixei-os
de lado. Apaguei as luzes do consultório, deixando
apenas um pequeno abajur fazendo uma meia-luz por
toda a sala. Fechei os olhos e a imagem da Isabela, linda
e sexy, apareceu na minha mente, sorri feito um bobo
apaixonado e logo em seguida adormeci.
Acordei com uma batida firme na porta. Sentei-me,
rapidamente, e pedi que entrasse. Era o Benício. Que
entrou já acendendo as luzes. Olhei no relógio e passava
da meia-noite.
— Achei que seu plantão já tivesse terminado —
instiguei.
— E já. Apenas decidi ficar, caso você ou a Gabi
precisem de alguma coisa — disse.
— A M aitê sabe? — questionei.
— Sim. Avisei a ela que não tinha hora para chegar. E
também disse o motivo — balançou a cabeça
tristemente — ela também não gosta da Gabi, então
amanhã, provavelmente, ficarei de castigo.
Ficamos em silêncio por alguns instantes. Eu sabia
que o Benício estava meio que na corda bamba, em
relação a mim e a Gabriela. M as, não queria que
prejudicasse seu relacionamento com sua mulher.
— Tem notícia da Gabi? — perguntei.
— Estava com ela até a pouco tempo.
Aparentemente, seu quadro ainda é o mesmo — parou e
olhou-me. E já imaginava o que viria a seguir — Leo, sei
que a Gabi é geniosa, mas você sabe que ela não é uma
má pessoa — suspirou — Gostaria que quando
conversassem não a provocasse. Ela já passou por isso
hoje. Não queira piorar a situação.
Olhei-o de volta e sorri.
— Benício. Você tem ideia do que a Gabriela fez
depois que saiu daqui do hospital no último dia? — ele
balançou a cabeça negando — Pergunte-me como foi que
a bolsa da Júlia estourou? — ele me olhou sem entender
nada.
Contei tudo o que eu sabia, mais ou menos, o que
tinha acontecido na loja de bebês. Benício estava
surpreso. A Gabi agiu, precipitadamente, estando
consciente que deveria estar em casa de repouso
absoluto.
— Eu não sabia que Gabi tinha sido tão
irresponsável a esse ponto — comentou chateado —
Ah. Ela vai ouvir umas poucas e boas. Ah se vai!
O telefone do consultório tocou e Benício atendeu.
Com certeza era do laboratório. Ele escutou
pacientemente o que a pessoa do outro lado da linha
falava, em seguida agradeceu e desligou.
— É do Laboratório — falou — Estão te aguardando
na salinha das enfermeiras na Unidade Neonatal. De lá
você poderá ver sendo coletada a amostra do bebê e
depois a sua — assenti e saímos do consultório ao
caminho destinado.
******
— Quanto tempo para o resultado sair, Beto? —
perguntei ao enfermeiro que fez as coletas.
— Em média de vinte a trinta dias doutor —
respondeu, guardando as amostras na maleta
acondicionada — Assim que amanhecer, estarei
enviando para análise. E pedirei urgência — completou.
— Obrigado, Beto — agradeci apertando sua mão.
Tinha admiração por esse rapaz e, com certeza, ele
estava retribuindo um favor que fiz há um ano. Quando
consegui uma bolsa integral para ele cursar a faculdade
de medicina em uma faculdade conceituada do estado.
Ele já era graduado em enfermagem, então, em breve,
Beto poderia ser um dos meus residentes.
— Agora é só questão de tempo para saber se eu sou
titio ou não — Benício proferiu.
— Eu pensei que você já fosse tio. Ou os filhos da
sua irmã não contam?
— É verdade, tenho dois pestinhas que adoro. São
uns diabinhos, mas amo quando estou com eles — zoou
— falando em sobrinho. Parabéns titio — felicitou.
— Agora também já sou tio — disse todo babão —
Não vejo a hora de ver Heloísa sair gritando pela minha
casa gritando “tio Leo, tio Leo” — pronunciei, imitando
uma vozinha de criança.
— Pode ser que, além do “tio Leo” tenha, também,
“papai, papai” — Benício caçoou com um olhar sério.
— Eu sei. Eu sei — falei cabisbaixo perdendo o
sorriso — Benício... Ehhh... Pode parecer egoísmo e,
também, sei que aquele bebê — apontei para onde o
Davi estava — Não tem culpa de nada, mas... Eu não me
sinto pai. Ainda.
Não levantei a cabeça para encará-lo. Como o
Benício permaneceu em silêncio, continuei:
— Claro que se ele, realmente, for meu, não faltará
nada, porém tenho medo de não conseguir amá-lo como
merece — calei, senão sairiam barbaridades, que a minha
mente estava produzindo.
— Não sei o que dizer Leo. M as te conheço há anos
e te tenho como um irmão — colocou uma das suas
mãos no meu ombro — Tenho certeza de que, se o Davi
for seu, dará tudo a ele, inclusive amor — sorriu
encorajando-me
Fiquei quieto, pensando em como agir daqui para
frente até esse resultado sair. Como a Gabriela afirmava
categoricamente que o bebê era meu, vou estar à
disposição dele até que saísse o resultado. Teria que
conversar com a pediatra que o atendeu. Para saber
quanto tempo ele precisará ficar aqui no hospital. Eu
nem sequer procurei saber com quantos quilos e
tamanho o bebê nasceu. É tão estranho tudo isso.
Despedi-me das enfermeiras do local, enquanto
Benício ia para a lanchonete. Fui direto para o quarto da
Gabriela, esperar que acordasse.
Entrei sem bater. Não tinha ninguém com ela. Fui até
a cama onde estava e a observei atentamente. Gabriela
estava pálida, um pouco inchada e indefesa.
Internamente pedi aos céus para ser paciente, devido a
sua saúde. Caminhei até uma poltrona próxima e sentei.
Peguei meu celular para verificar se a Isa tinha
respondido a minha mensagem. Não tinha. Decidi enviar
outra, então. Sei que era madrugada, mas a queria ciente
de tudo que estava acontecendo.
Fiz a coleta sanguínea para o exame de DNA. A
Gabriela ainda não acordou. Assim que conseguir
falar com ela. Irei para casa.
Te amo, mais que tudo,
Seu Leo.
Depois que enviei a mensagem para Isa, não consegui
pregar o olho. Não sei se era o local onde estava e com
quem estava, que não estava ajudando.
Para passar o tempo comecei a verificar e responder
meus e-mails, que por sinal estava com a caixa de
entrada lotada. Verifiquei alguns convites para palestrar
em algumas Convenções M édicas de Cardiologia pelo
Brasil. E dentre todas essas convenções, me interessei
bastante por uma que aconteceria em Brasília daqui a
seis meses. Nesse evento trocaria experiência com
grandes médicos, os melhores dos melhores do Brasil e
do mundo, inclusive um deles era meu sogro e mestre,
Dr. Estevão Alencar. Seria muito importante para minha
carreira participar dessa convenção. Analisei
atenciosamente tudo e enviei a minha resposta
confirmando presença.
Não sei quanto tempo fiquei perdido, respondendo
meus e-mails e navegando na net. Quando dei por mim o
sol saía ao nascente. Olhei para cama rapidamente e vi
um par de olhos verdes, silenciosamente, encarando-me.
— Como se sente? — perguntei levantando e indo na
sua direção.
— Onde está o meu bebê? — indagou preocupada.
— Ele está bem. M as precisa ficar na incubadora —
disse.
— Eu quero ir vê-lo — falou tentando sair da cama,
mas eu a impedi.
— Gabriela. Você acabou de passar por uma cirurgia
e passou muito mal — chamei sua atenção — Eu
garanto a você que ele está bem. Você precisa se cuidar, o
bebê precisará muito de você.
— Por favor, Leo. Deixe-me vê-lo — implorou,
chorando — O meu bebê é a única coisa que tenho na
vida — falava derrotada. O rosto já coberto por
lágrimas. Faz mais de quinze anos que a conheço e
nunca a vi tão desestabilizada.
— Vamos fazer o seguinte — disse pegando suas
mãos para confortá-la — Se você prometer ficar
boazinha para se recuperar, eu prometo que você o verá
logo — assegurei firmemente.
— Você irá comigo? — interrogou limpando suas
lágrimas do rosto.
— Não, Gabriela. Não crie expectativas. Apenas
quero você forte e saudável, porque existe um inocente
que precisará muito de você — repeti, categoricamente.
— Você o viu? — perguntou e eu confirmei — Ele se
parece comigo ou com você? Não o vi quando foi
retirado de mim. Perdi os sentidos — divagou.
— Ainda não dá para saber com quem se parece —
não queria ter essa conversa com ela. Já imaginava onde
iria parar.
— Tenho certeza que o Davi será a sua...
— Não sente nada? — interferi, mudando de
assunto. Estava exausto para discutir com ela àquela
hora da manhã.
— Acordei um pouco tonta, mas já passou — falou
com um olhar questionador — Tenho sede —
completou depois.
Caminhei até o frigobar para pegar uma garrafa de
água.
— M ais cedo ou mais tarde iremos ter essa conversa,
Leonardo. Não adianta fugir — cuspiu.
Voltei entregando sua água.
— Sim. E vamos ter. M as, não agora — falei
encarando-a — Não quando você acaba de acordar
depois que quase estourou seus miolos com a pressão
altíssima, sendo obrigada a fazer uma cesariana. Tudo
isso por negligência sua. Além do mais, você não deveria
estar falando tanto, vai ficar cheia de gases e sentir dor, e
sabe muito bem disso, você também é médica —
esclareci ríspido.
— Já vi que ficou sabendo da briga na loja de bebê.
— Sim. No entanto, você já sabia dos seus
problemas e ainda agiu de forma irresponsável —
respirei fundo — Por que não falou para ninguém sobre
sua hipertensão? — perguntei atroz — Eu respondo.
Você não falou nada porque se algo de trágico
acontecesse, culparia a mim. A mim Gabriela! — acusei
ferozmente.
Gabriela ficou quieta sem saber como argumentar.
Virei e segui para a porta. Queria sair desse lugar. Queria
os braços da minha mulher.
— Onde pensa que vai? — gritou.
Sem sair do lugar, a encarei, com os olhos cheio de
fúria.
— Gabriela, escuta. Porque só vou falar dessa vez.
Não te devo satisfação de porra nenhuma. Não tenho
obrigação com você — fechei os olhos e contei até dez
para acalmar e os abri — Quero informar que fiz a coleta
de sangue para o teste de paternidade — ao ouvir isso,
ela fez uma carranca — No máximo em trinta dias sairá
o resultado. E quero deixar claro, desde já, que não tente
usar aquele inocente para me atingir, caso o resultado for
positivo. E nem pense de me proibir de vê-lo. Caso
contrário, buscarei meus direitos judicialmente —
conclui.
— O nosso filho precisará do pai por perto. Entenda
isso, Leonardo.
— Se for meu filho, estarei ao lado dele. Sempre.
Não com a mãe dele. Entenda isso, Gabriela — informei
— Não tente usá-lo para atingir a mim ou a Isabela.
Porque Gabriela, eu juro para você, que não permitirei
— finalizei abrindo a porta bruscamente e saindo. —Aja
como uma mulher adulta e mãe que, agora, é!
Saí tão apressado e cego de raiva que acabei
esquecendo de me despedir do Benício. Assim que
adentrei no carro, enviei uma mensagem avisando que
estava indo embora.
Ultrapassei todos os limites da cidade para chegar
em casa. O caminho todo só pensava no aconchego dos
braços da minha mulher. Ela era a única capaz de tirar
toda essa raiva de dentro de mim.
Estacionei o carro na garagem e subi rapidamente.
Abri a porta e aquele cheiro que tanto amo invadiu
minhas narinas. Caminhei silenciosamente até o quarto e
lá estava ela, dormindo como anjo. O rosto estava
inchado, como se tivesse chorado, assim como previ.
Corri para o banheiro e tomei um banho rápido. Vesti
apenas uma boxer branca e fui para cama. Lentamente
aninhei Isa em meus braços. E sorri com a sensação.
— Oi, amor. Como foi lá? — Isabela perguntou
sonolenta.
— Shii... Vamos dormir paixão. M ais tarde
conversaremos, depois que acordarmos e fizermos amor
— beijei o topo de sua testa, abraçando-a ainda mais.
Ela se aconchegou mais a mim e apaguei, sabendo
que estaríamos seguros um nos braços do outro.
25 dias depois
Os dias passaram rápidos. Para minha surpresa a
Isabela estava lidando com a situação melhor do que eu
esperava. M elhor do que eu, para falar a verdade. Claro
que no fundo ela estava muito ansiosa com o resultado
do exame. Às vezes ela se perdia em seus pensamentos
e era nessas horas, que buscava demonstrar muito mais
o meu amor por ela.
A vantagem de tudo que estava acontecendo ao
nosso redor foi que nos unimos mais e mais. Nada era
feito ou dito sem a opinião do outro. A cada dia a nossa
confiança só crescia.
Isabela voltou com tudo para o trabalho. Nas
primeiras
semanas
entrevistou
e selecionou,
praticamente, quase todos os candidatos às vagas
selecionadas. Para o meu orgulho, é claro. Não deixei de
fiscalizar em nenhum momento, ficava no seu pé sobre o
excesso de trabalho, no entanto, o trabalho trouxe um
brilho ainda mais especial à M inha Paixão.
A clínica, agora, estava com uma equipe excelente e
de todas as áreas. Alguns desses novos profissionais
tinham uma beleza atrativa. E a mulherada da clínica
vibrou com os homens recém-chegados. Bom, eram os
cochichos que ouvia pelos corredores.
Igor não gostou muito de ter que dividir a atenção da
mulherada. Apesar de que, dois desses bonitões eram
amigos e indicados por ele. M as, é claro que eu não
perderia a oportunidade de zoar com ele sobre isso,
falando que agora ele era “carne velha” no pedaço e
estava na hora de se agarrar a uma mulher.
Ainda falando no Igor, ele continuava a me provocar
com insinuações para Isabela, nossa amizade vinha se
solidificando a cada dia. Ele não passava de um
convencido filho da puta, porém, era um excelente
ouvinte e aconselhador.
Julinha e Luigi estavam surpreendendo a todos como
pais de primeira viagem. A princesinha veio para
agraciar nossa família. A Heloísa conseguiu até amaciar o
coração da vovó Rosália. Sempre que saíamos do
trabalho, Isa e eu passávamos no apartamento deles
para fazer uma visita a nossa pequena. M uitas vezes até
jantávamos ou levávamos comida pronta.
Todo dia, bem cedinho, antes de ir para a clínica,
passava no Hospital para visitar o Davi, ele vinha se
desenvolvendo e ganhando peso rapidamente. Era um
garoto determinado. A pediatra que vinha o
acompanhando disse que dentre poucos dias ele já
poderia ir para casa. Com esses dias de visitas, adquiri
um carinho por ele, Davi era tão forte e corajoso para
um bebê tão pequeno, além de ser muito bonzinho.
Gabriela ficou poucos dias internada e logo recebeu
alta. Graças a Deus, pelo menos, para ser mãe ela tomou
juízo e vinha se cuidando, mas em compensação, volta e
meia me ligava para encher o saco, com desculpas
enfarrapadas. Até a minha mulher ela incomodava, no
entanto Isa sempre a colocava no seu devido lugar.
M inhas conversas com a Gabriela estavam sendo
intermediadas pelo Benício, uma solução que segundo
ele, era a melhor. Ela também odiou porque contratei
uma enfermeira para ficar, semanalmente, com ela e
também com o bebê quando fosse para casa. Só não a
destratava, porque era a enfermeira Quitéria, uma
senhora que todos no hospital tinham carinho e
respeito. Por enquanto, dona Quitéria tinha sido
contratada para trabalhar no horário integral, mas ainda
temporário, tornando-se permanente dependendo do
resultado do exame. Ela há alguns dias vinha querendo
arrumar um trabalho menos puxado. E quando falei
sobre o que era, ela se prontificou, mesmo sabendo que
não seria garantido ficar.
******
Isabela e eu estávamos terminando nosso café
quando Beto ligou avisando que o resultado havia
chegado. M eu coração acelerou de imediato, enfim essa
tortura acabaria. Já não aguentava mais essa dúvida. Pedi
a Beto que comunicasse a Gabriela e pedisse que fosse
para o hospital, imediatamente. Isa percebendo o que
falava ao telefone veio me abraçar.
— Você quer que eu vá com você? — perguntou
ansiosa, assim que desliguei a chamada.
— É tudo que eu mais quero — confessei enquanto a
beijava — Preciso de você para me tranquilizar.
— Leo, não vou mentir para você — falou receosa
— Estou tentando ser forte, mas quero que saiba que
está sendo difícil demais para mim — tocou
delicadamente meus lábios para que não a atrapalhasse
falar — Não pela criança, que não tem culpa, mas... —
fechou olhos e respirou fundo — Por não ter certeza se
poderei também te dar filhos um dia.
— Isa, meu amor. Iremos, sim, ter nossos filhos. Não
duvide, por favor. Não duvide nunca — beijei cada olho,
docemente, limpando as pequenas lágrimas que se
formavam. Trocamos mais algumas palavras de amor.
Fortalecendo nossas promessas.
Enquanto tirava a mesa do café da manhã, Isabela
terminava de se arrumar para sairmos.
O percurso até o hospital foi torturante e silencioso.
Porém, nossas mãos foram entrelaçadas até lá, sendo
retirada apenas quando necessitava, por causa do
trânsito.
Para testar ainda mais minha paciência,
coincidentemente, Gabriela e Benício chegaram ao
mesmo tempo que Isa e eu no estacionamento do
hospital. Esperei insultos serem cuspido da boca da
Gabriela, porém ela não disse nada, caminhou quieta e
silenciosamente adentrando e sumindo pelos corredores
indo em direção ao laboratório.
Benício veio até nós e nos cumprimentou. Pediu
desculpas por ter vindo com Gabriela, explicando que
ela o chamou apenas para não vir sozinha. Todavia, eu
sabia que ele estava aqui para tentar controlar os
ânimos, se necessário. E no fundo agradeci por isso.
Sem verificar quantas pessoas estavam no
laboratório, caminhei direto para Beto que segurava um
envelope branco com detalhes dourados nas mãos.
— Bom dia, Beto.
— Bom dia, Dr. Leonardo — respondeu o
cumprimento entregando-me o envelope.
Virei e olhei para Gabriela, que permanecia calada,
em seguida para Benício que estava entre nós e pôr fim a
minha Isabela que permanecia ao meu lado, determinada
e forte, mas, somente eu sabia, que por dentro estava
tão inquieta quanto eu.
Rompi o lacre do envelope e abri. Olhei pulando as
partes que não importava buscando, apenas, o que me
interessava. E lá estava. Li e reli mentalmente antes de
pronunciar em voz alta.
... Concluir-se que o S r. Leonardo Abrantes
Menezes é o pai biológico do nascido vivo, ainda
sem registro da S ra. Gabriela Cavalcanti Paiva...
Depois de lido e confirmado, Gabriela caminhou
ainda sem dizer uma palavra, ficando de frente entre Isa
e eu. Seus olhos emanavam ódio. Ela primeiro encarou
Isabela friamente. Depois seus olhos voltaram para
mim. Sem esperar, um tapa forte foi dado em meu rosto
por ela, fazendo meu pescoço virar com a força.
— Isso é para você saber que eu nunca minto —
bravejou — M eus advogados entrarão em contato com
você, Leonardo M enezes — Disse, virando e saindo.
Uma raiva subiu por todo o meu corpo, fechei as
mãos em punhos e sai em sua direção. Escutei Benício e
Isabela tentando me segurar, mas a fúria cegou-me
completamente.
Agarrei fortemente o braço de Gabriela e arrastei
pelos corredores do hospital. Ela xingava chamando
atenção de poucos curiosos que passavam sem entender
se estávamos brigando ou falando alto. Continuei
puxando até chegar ao meu destino. A recepção da
maternidade.
— Bom... Bom dia, Dr. Leonardo — a recepcionista
falou gaguejando, sem entender nada.
— A plantonista do cartório já chegou? — proferi
áspero.
— Sim. Sim. Vou chamá-la imediatamente — a pobre
moça respondeu enquanto discava, nervosamente.
Nesse meio tempo, Benício e Isa chegaram. Benício
exigindo que eu largasse o braço de Gabriela e Isabela
tentando conversar comigo.
— M e larga, seu idiota! — Gabriela esperneava.
A recepção estava vazia. Apenas nós e a
recepcionista. Cravei um olhar que Gabriela e Benício
conheciam desde os tempos da faculdade. Eles sabiam
que naquele momento nada me importava. Nada além de
conseguir meu objetivo.
A plantonista do cartório chegou olhando totalmente
confusa, sem entender nada do que estava acontecendo.
— Gabriela me dê um documento e a DNV do Davi
— exigi severamente.
— Se você soltar o meu braço, eu posso pegar na
minha bolsa, imbecil — indagou furiosamente.
Soltei seu braço e aguardei ela retirar o que havia
pedido. Assim que tirou colocou em cima do balcão da
recepção e foi se proteger perto do Benício. Peguei
minha carteira do bolso e tirei meu documento de
identidade. Juntei com os que a Gabriela colocou sobre o
balcão e entreguei a plantonista do cartório.
— Por favor, gostaria que registrasse meu filho —
pedi, educadamente.
— Sim, doutor. E como ele irá se chamar? — Olhei
para Gabriela que alisava o braço ao qual eu havia
apertado. Seu rosto todo borrado de maquiagem pelas
lágrimas.
— Davi Paiva M enezes — disse pela primeira vez o
nome completo do meu filho.
Depois de alguns minutos a plantonista entregou-me
a certidão do Davi. Caminhei até onde Benício e
Gabriela estava. Isabela não saiu do meu lado, o que foi
de suma importância para me pacificar.
— Aqui está Gabriela seu documento, a certidão do
Davi e de presente ainda lhe entrego a confirmação do
DNA para você emoldurar na sua sala de estar —
proferi debochado, da mesma maneira que ela fazia —
Não vou pedir desculpa pelo meu comportamento, você
sabe que procurou por isso, agora aguente as
consequências — continuei falando, fitando-a — E até
que seja determinada pela justiça, dia e hora para que eu
possa vê-lo, sugiro que não se torne um empecilho —
conclui, vendo uma Gabriela assustada.
Olhei para Benício para despedir-me, mesmo ele não
concordando com a atitude drástica que tomei, ele no
fundo sabia que eu tinha tentado ser o mais correto
possível. M as tudo tinha limite.
Virei-me em direção da Isabela. Seus olhos estavam
amedrontados, no entanto ela sorriu para mim. Coloquei
minhas mãos em cada lado do seu rosto e beijei,
ternamente, sua testa e lábios.
— Venha, meu amor. Quero te apresentar o Davi —
enunciei guiando-a em direção a Unidade Neonatal.
Capítulo 26 – Se ajustando a realidade
Gabriela
— Droga! Droga! Droga! — xinguei assim que entrei
no meu consultório com Benício logo atrás de mim.
Adoro meu amigo e agradeço o apoio que ele vem me
dando nesses últimos tempos, mas tudo que eu queria
agora, era ficar sozinha ou estar com meu bebê. Só
aquele serzinho conseguiria acalmar meu coração nesse
momento.
É incrível como tudo mudou depois que vi o Davi
pela primeira vez. Um amor inexplicável aflorou dentro
de mim. Eu me tornei completamente submissa e
protetora dele. Daria minha vida pela sua. Não via a
hora de levá-lo para casa, para seu cantinho. Tinha
arrumado seu quarto para a sua chegada. Enfeitei nas
cores azul, branca e pequenos detalhes coloridos para
deixar a cara de um quarto de menino. Apesar de todo o
estresse com a reforma, pois tive que mexer
praticamente com todo meu apartamento para ficar
adequado às necessidades de um bebê, tudo tinha ficado
perfeito, do jeito que sonhei. M eu Davi merecia, não
deixaria faltar nada a ele.
— Calma, Gabi. Você ainda não está completamente
recuperada. Não te fará bem todo esse estresse —
resmungou Benício fechando a porta a seguir.
— Agora não, Bê! Não estou com cabeça para
pensar em nada — retruquei raivosa — Enquanto estou
aqui, Leonardo está lá, com o meu filho. M eu filho.
Apresentando para sua esposinha.
Eu andava de um lado para o outro, inquieta.
— Sinto te decepcionar, mas o filho é do Leo
também. Ele tem os mesmos direitos que você —
respondeu crítico — E você pediu por isso. Não vejo
motivos para estar se queixando agora — deu de
ombros, sentando-se no sofá que ficava próximo a
janela.
Fulminei o Benício apenas com o olhar.
— Olha, se veio atrás de mim, para me criticar, por
gentileza, quero que vá embora — disse indo até a porta
do consultório e abrindo para que ele saísse, mas o
desgraçado era teimoso e sequer se mexeu do assento.
— Fecha a porta. Você sabe que não irei embora—
sorriu — Só não entendo o motivo de todo esse estresse
— fez cara de questionador — Claro que a forma que o
Leo agiu, há pouco tempo, não foi correta, mas, os
últimos meses, desde que você voltou da Alemanha
foram bem conturbados entre vocês dois. E o pior, eu
fico no meio desse tiroteio.
Olhei para o meu braço, o qual Leonardo apertou
ferozmente, ainda tinha marcas dos seus dedos na minha
pele.
— Ele mereceu aquele tapa. Disso eu não me
arrependo — proferi alisando a marca no braço — Eu
posso ter vários defeitos, no entanto, eu não sou uma
mentirosa. E ele duvidou de mim e isso eu não admito.
Qual mulher gostaria que o homem que esteve dormindo
com ela, duvidasse da paternidade do filho que
esperava? — questionei – Além do mais, quando ele me
procurou não estava saindo com ninguém, e assim
permaneci só com ele — completei.
O que mais me magoou, foi o Leonardo duvidar de
mim. Sei que fiz muitas burradas no passado, das quais
algumas eu me arrependo. Também nunca mais quis me
envolver em um relacionamento sério depois do último,
que foi um desastre completo. Vivia minha vida apenas
de curtição. Era sozinha, não tinha nada a perder, mas
sempre largava tudo para ficar com Leonardo, todas as
vezes que ele me procurava. Tinha esperanças que ele
um dia, me aceitasse de volta e enfim poderíamos
construir nossa vida de casados. Ser um do outro e ter
uma família juntos.
Então, do nada, ele me aparece casado com a Isabela.
A princípio, achei que era porque ela havia engravidado,
mas, depois descobri que não. M esmo casado,
continuávamos amigos devido ao trabalho, mas ele já
não me procurava mais, sempre devoto da mulher. Até
que surgiu a separação e ele veio à minha busca,
novamente.
Sempre fui fogosa na cama e Leo sabia disso, e
adorava. Essa separação tinha sido a deixa para
reconquistá-lo de vez, mesmo ele falando que não queria
se envolver. E os deuses estavam conspirando ao nosso
favor. Semanas depois me descobri grávida, era tudo que
precisava. Leonardo com certeza não deixaria um filho
abandonado e assumiria de vez nossa relação.
Ledo engano, quando voltei da Alemanha fui
surpreendida com sua reconciliação com a bonequinha
de porcelana. E toda a desgraça aconteceu desde então.
A única coisa maravilhosa de tudo, é o meu pequeno,
deu um trabalho a sua gestação. Davi ainda está no
hospital, mas ele é determinado e guerreiro. M uito em
breve estaríamos nos curtindo, mãe e filho, no nosso lar.
— M e escuta, Gabi — Benício fitou-me firme —
Agora não é o momento de brigar. Você está agindo como
uma mulher burra. Tá mais que provado, que o
Leonardo não irá brincar de casinha com você — sorriu
sem graça — Ele é louco pela Isabela, por mais que isso
te machuque, minha amiga. A verdade é que o único elo
que prenderá vocês, será o Davi.
Ao ver que meus olhos lacrimejavam por suas
palavras, Benício levantou e veio até mim, ficando frente
a frente comigo.
— Sinto muito por dizer tudo isso, mas é a verdade.
Você não pode se sentir prejudicada porque o Leo
sempre foi sincero em relação a vocês dois. Ele não te
enganou. Ele não mentiu para você. Ele apenas procurou
por prazer, com uma pessoa que ele achava que
confiava, em um momento que sua vida não estava bem.
E você sabia disso, não é Gabi? Admita, minha querida
— abraçou-me — Você agora é mãe! Não estou dizendo
que você não poderá ter seus envolvimentos. Não. Não
é isso. Eu sei o quanto você já sofreu e merece ter seu
final feliz. Só que agora você terá que pensar no seu
filho em primeiro lugar, antes de sair fazendo suas
merdas.
Benício soltou-me do abraço, mas continuou
segurando firme em cada ombro meu.
— E outra, não poderei sempre estar aqui para
limpá-las — sorriu.
— Eu tenho tanto medo Benício — Levei as mãos ao
rosto e chorei copiosamente. Aquelas lágrimas que
estavam guardadas há anos.
Chorei pela morte dos meus pais, por nunca ter tido
chance de me despedir deles. Chorei pelo amor que
desejava que minha tia Beth me desse. Chorei pelas as
amigas que nunca tive. Chorei por viver sozinha, mesmo
com várias pessoas ao meu redor. Chorei pelo amor do
Leo que ficou para trás. E agora viveria desesperada com
medo que meu filho não me amasse, também. Por que
tudo isso deve ser um carma, só pode! Por que ninguém
me ama de verdade?! Eu sei que nunca fui santa, mas, eu
sou um ser humano. Será essa a minha cruz? Nunca ser
amada?
M eu pai nunca escondeu a decepção por eu não ter
nascido homem, tratava-me com indiferença, mas
mesmo assim coloquei o seu nome no meu filho. M inha
mãe era completamente obediente ao meu pai, o que
facilitou sua rejeição a mim também. Como defesa,
usava a rebeldia que, na época, foi a minha única aliada.
Só assim conseguia ser enxergada por eles. Hoje, adulta,
vejo isso claramente. No entanto quando soube da morte
deles sofri internamente por essa perda, sem derramar
uma lágrima, até agora. Com o Davi, estou tendo a
chance de ser amada, ao mesmo tempo, tenho pânico de
perdê-lo para o pai dele.
— Tenho tanto medo que o Davi não me ame. Como
é que uma pessoinha daquele tamanho consegue me
desestabilizar de todas as formas possíveis? — soluçava
a cada palavra dita — Agora que eu o vi, que o amo
incondicionalmente. Eu o quero só para mim. Que merda
eu fiz, Benício?!
Gritei para libertar a dor que meu coração pulsava.
— Se eu soubesse que seria assim, esse sentimento,
jamais teria dito nada ao Leo — disse sem forças — O
amor que tenho por meu bebê supera qualquer outro.
Benício ficou estático por alguns segundos
assimilando cada palavra que eu havia pronunciado.
Esperei, até que ele dissesse algo.
— Ei! Que medo é esse? O Davi irá te amar e sentirá
orgulho da mãe que tem. Não sofra por antecipação —
ajudou-me a sentar e foi buscar uma garrafinha de água
no frigobar, abrindo e entregando-me em seguida—
Beba! — pediu.
— Será que ele irá amar mais o pai dele do que a
mim? Tem também a Isabela. Ela não tem cara que fará
mal ao meu filho. Oh céus! Ela irá enfeitiça-lo, assim
como fez com o Leo — tomei um longo gole de água,
tentando me acalmar
— Gabi. Ele amará você. Ele amará o Leo. E qual o
problema dele ser amado pela Isa? — sentou-se ao meu
lado — Você deveria agradecer a Deus. O Davi será
muito amado.
Benício tomou a garrafinha de água da minha mão,
levando até sua boca e bebendo-a também.
— Ele terá uma família grande. Um pai e uma
madrasta que o amará. Uma tia maluca, mas totalmente
amorosa que é a Júlia, avós, uma priminha, que ele
poderá proteger dos gaviões que ousar chegar perto dela.
E até esse padrinho babaca aqui dará muito amor — fez
um gesto referindo-se ele— M esmo com as
circunstâncias. O Davi já chegou marcando presença e
mostrando que veio fazer história na família M enezes e
Paiva. Deveria ficar feliz.
— Será que eles farão a cabeça do Davi contra mim?
— guiei meus olhos até Benício. E por seu olhar eu sabia
que a família do Leonardo jamais faria isso, eu os
conhecia. Convivi com eles por um bom tempo.
Eu deveria mesmo agradecer a Deus por meu
pequenino não ser sozinho, assim como eu fui. Só que
agora que o tenho, não é fácil dividi-lo, quando antes, era
ao contrário.
— Liga lá para a Unidade e verifica se o Leo já foi,
por favor. Quero ver meu bebê, mas não quero encontrar
o Leo e a Isabela lá. Ainda não estou pronta para isso—
solicitei, mudando de assunto. Era orgulhosa demais
para admitir que o meu amigo tinha razão.
— Certo. Só que antes disso ouça— disse sério —
Essa bagunça entre você e o Leonardo tem que parar. Eu
não estou brincando, Gabi.
M eu amigo levantou-se indo em direção ao birô,
onde estava o telefone para ramais dentro do hospital.
— Espere os ânimos esfriarem primeiro, para que
depois, com calma, vocês dois possam conversar e
decidir a melhor forma para ambos conviverem com o
Davi sem colocá-lo numa disputa. Ok?
Confirmei com a cabeça, mas não sei se aceitaria
facilmente. Benício pegou o telefone e discou o ramal.
— Leo e a Isa já não estão mais lá — confirmou— a
enfermeira falou que tem um rapazinho bravo, gritando,
por sua comida — informou animado. Levantei de
imediato pegando minha bolsa.
M eus seios já estavam latejando de tanto leite. Tive
muita sorte por produzir uma quantidade boa de leite
para o meu bebê e também doava para alguns bebês que
estavam na mesma situação do Davi, cujas mães não
tiveram a mesma sorte de produzir leite, assim como eu.
— Tudo que eu quero agora é sentir o cheirinho do
meu pequeno e amamentá-lo — afirmei limpando as
lágrimas.
Saí do consultório, mesmo com todo o medo que
percorria dentro de mim, por agora, teria um pouco de
paz, estava a caminho do meu porto seguro. Nunca
pensei que um filho me levaria à rendição.
Isabela
Foi uma situação totalmente constrangedora a reação
do Leo perante o tapa da Gabriela. Ele agiu de forma
bruta com ela, arrastando-a pelos corredores do
hospital, no entanto permaneci ao seu lado, mesmo que
um pouco assustada. Sabia que o Leonardo era
impulsivo e nervoso, mas seus olhos demonstravam
fúria e determinação, algo que nunca havia presenciado.
Quando Leonardo abriu o exame e fitou o papel, por
alguns segundos, naquele momento eu soube que o bebê
era seu. As suas palavras confirmando a paternidade,
não foi um baque para mim, posso dizer que, descobrir a
gravidez da Gabriela foi uma sensação muito pior.
A dor foi muito mais dilacerante ao saber da
gravidez, no entanto sem saber, a própria Gabriela,
naquele fatídico dia na loja, me fez enxergar claramente a
força que estava escondida dentro de mim. Adormecida.
M as que agora despertou como um vulcão em erupção.
Decidi que não quero ser a coitada. A inocente. A
vida não é um conto de fadas, e eu sei muito bem disso.
E sei que existirão muitos obstáculos para enfrentar. E
um deles será o Davi. Iremos dividir o amor do mesmo
homem. Não sei como será minha relação com ele, como
vou me sentir ao ouvi-lo chamar Leo de papai, sendo
que eu não sou a mãe dele. Será que vou amá-lo? Ou irei
disputar a atenção do Leo só para mim? Parece meio
infantil tudo isso, mas seria hipócrita se fingisse que
nada disso passa na minha cabeça. É um filho. E esse
vínculo por si só já é muito forte. Como ficarei no meio
de tudo isso? Deus me dê forças!
Leo e eu ainda não conversamos como será daqui pra
frente. Ele está no momento de cabeça quente, por causa
do que passou há pouco. M as se bem o conheço buscará
o melhor para o Davi. E é isso que quero, o Leo que eu
amo sempre foi um bom homem, não tenho dúvidas que
também será um bom pai. M esmo esse filho não sendo
meu. Que loucura. Lidar com isso não vai ser nada fácil.
Estou do lado de fora da parede de vidro na ala da
maternidade, ela é dividida em duas paredes na verdade.
De um lado fica um pequeno berçário e um pouco mais
distante tem outra parede que fica a entrada da UTI
Neonatal. E é lá que o Leo se encontra com o filho dele.
Ele havia me chamado para conhecê-lo, mas no caminho
até aqui, achei melhor esse momento ser só deles. Essa
seria a primeira vez que o Leo o veria tendo a certeza de
ser seu filho. E eu não queria atrapalhar esse momento.
Principalmente, por não saber se estou preparada para
conhecê-lo.
Tem dois recém-nascidos dormindo no berçário a
minha frente, um menino e uma menina, deduzo por
causa das roupinhas que vestem. Fico pensando se
algum dia terei alguém que me chamará de "mamãe".
Involuntariamente toco a minha barriga plana. Baixo o
olhar até ela e fico me imaginado gerando um bebê.
Sentir a sensação de um ser vivo crescendo dentro de
você. Deve ser épico. Algo que era desejado por mim, e
passou a ser um sonho. Ficar grávida, era tudo que
almejava depois da retirada do ovário.
Ainda hoje teria consulta com Igor, Leonardo pensa
que é apenas exames de rotina, mas sem que ele saiba,
andei conversando com Igor e decidimos começar um
tratamento. Como tudo está bem, após a minha cirurgia,
a princípio, Igor sugeriu o tratamento de indução de
ovulação. Não é que eu não ovule, pelos exames, o Igor
garantiu que o ovário que sobrou está funcionando sem
nenhum problema, mas ele quer aumentar a produção de
óvulos, aumentando assim, as chances de engravidar. No
momento farei sem o Leo saber, ele anda com a cabeça
cheia e agora tem o Davi. Não quero que se martirize a
cada mês quando não conseguir engravidar.
Por outro lado, tem também a adoção. Andei
olhando, pesquisando, porém isso é algo que não posso
fazer escondida. Leo e eu teremos que fazer em conjunto
o cadastro de adoção. É algo que teremos que sentar e
conversar no futuro.
— Demorei muito? — Leonardo pergunta me tirando
dos pensamentos, abraçando-me por trás e buscando a
curva do meu pescoço.
— Claro que não — respondi passando os braços
entre os seus. — Como foi lá? Papai — indaguei. Era
estrando o chamar de papai, mas teria que me
acostumar.
— Foi... Diferente — falou virando-me para
ficarmos frente a frente — Ele está reagindo muito bem.
Falei com a pediatra que o vem acompanhado e ela disse
que, se continuar assim, em dois ou três dias ele estará
saindo daqui.
— Que bom, meu amor — sorri forçadamente.
— Ei! — levou sua mão até o meu queixo e o elevou
para me olhar, analisando-me — Te conheço, paixão, não
tente fingir que está tudo bem. Sei que está abalada. M as
não quero que esconda de mim seus sentimentos —
beijou a minha testa e voltou a me olhar — Não vou
mentir que tentarei ser um bom pai. Sei que um filho
fora do casamento, não será fácil. M as quero que saiba
que você é a M inha Paixão. A mulher que amo. Nunca se
esqueça disso! — mordiscou levemente meu lábio
inferior.
— Eu só preciso de um tempo para me adaptar à
nova situação — expliquei tranquilizando-o.
Saímos de lá abraçados, trocando carinhos e afetos.
De uma coisa eu não tinha dúvida, Leonardo se viraria
em mil, mas tentaria de todas as formas me fazer feliz. E
por mais difícil que fosse para mim, tentaria retribuir
essa felicidade. E eu faria o mesmo por ele. Assim era o
nosso amor.
No caminho até a clínica, fui dirigindo seu carro,
enquanto Leonardo comunicava por celular aos seus
pais sobre mais um membro que chegara a família. A
gravidez da Gabriela, todos já sabiam, não foi uma
surpresa para eles. Decidiram então, fazer um almoço
assim que o bebê saísse do hospital. Leo se prontificou
em tentar levar o Davi para os avôs conhecê-lo. Ele não
queria seus pais e principalmente a Julinha zanzando
pelos arredores da UTI Neonatal, correndo o risco de
encontrar a Gabriela. Quanto menos a vissem melhor.
******
Em poucos dias, só o que se falava pela clínica, no
momento, era "o Dr. Leonardo era pai do filho da Dra.
Gabriela". Algumas pessoas me olhavam com piedade,
esperando que a qualquer momento eu aparecesse
chorando pelos cantos. Coisa que não aconteceu.
M uitos não entendiam. M as fazia questão de
demonstrar indiferença quando o assunto era abordado.
Leonardo estava sendo muito mais atencioso comigo
desde então, compreendeu que a minha relação com o
Davi deveria acontecer no seu tempo. M as sempre que
voltava das suas visitas, compartilhava tudo, não
escondia nada de mim, inclusive as reações da Gabriela.
Ele estava estranhando sua calmaria, tinha receio que
estivesse planejando algo. M as o que ficava mais claro
para mim era o quanto o Leo já estava apaixonado pelo
seu filho. Seus olhos tinham um brilho diferente quando
falava nele. Isso mexia muito comigo. Era tão confuso
lidar com essa gama de sentimentos. M as, cada vez mais
eu admirava o homem que escolhi para ser meu marido.
Enfiei a cara no trabalho, a clínica estava uma loucura
com os novos funcionários e ainda tinha que montar
minha equipe de fisioterapia. Já tinha selecionado alguns
currículos para marcar as entrevistas.
Cheguei atrasada a Clínica, tinha uma reunião com
Lilian no administrativo, passei pela recepção
alvoroçada, entregando a lista com os nomes e telefones
dos candidatos às vagas, explicando a Pâmela que ligasse
marcando as entrevistas. Agradeci e virei rapidamente
trombando em um peitoral duro feito pedra. Senti mãos
fortes me segurando firmes para não me deixar cair.
— Desculpa — merda! Pedi levantando a cabeça e
olhando-o. Era um homem alto, muito bonito por sinal.
M oreno de olhos claros. Lilian ficaria louca na sua barba
por fazer. Sorri internamente com o pensamento
maldoso.
— Você está bem? — perguntou atencioso,
ajudando-me a recompor — Aonde uma mulher linda
como você vai tão apressada? — perguntou todo
galanteador.
Antes que eu pudesse responder, uma voz conhecida
soou aproximando.
— Cara! Começou mal — Igor zombou com o seu
conhecido sorriso sarcástico — Se quer abrir seu
consultório aqui na clínica, sugiro que fique longe dessa
deusa. É difícil. A tentação é grande, eu que o diga, meu
caro, mas ela é P-R-O-I-B-I-D-A — falou,
exageradamente, o “proibida” e piscou para mim.
Deixando-me sem graça entre os dois, que pareciam
velhos conhecidos — O M inistério da saúde adverte:
casada e com um marido altamente ciumento e
possessivo. E não vou mentir, estou só esperando o dito
cujo escorregar para tomar o lugar dele, não é minha
princesa? — aproximou dando-me um beijo na cabeça.
Acabei sorrindo com a situação, mas fingindo raiva e
dei uma cotovelada em seu braço. Esse Igor era uma
figura, mesmo.
— Nossa! — o estranho falou — Pudera, até eu
ficaria possessivo se tivesse uma deusa dessas. Olá, me
chamo Gabriel — apresentou-se pegando minha mão e
beijando — Acho que vou amar trabalhar aqui.
Com certeza eu estava igual a um pimentão
vermelho, de vergonha. Acho que nunca me acostumaria
com certos galanteios.
— Depois não diga que eu não avisei. E pode ir
parando com sua lábia, Sr. Dr. Gabe. Cara, você nem
bonito é. Se toca! — Igor deu uma tapa no ombro de
Gabriel e começou a gargalhar — Nossa amizade foi boa
enquanto durou.
Fiquei sem entender sua frase até que vi Igor olhar
em direção à entrada da clínica e sorriu abertamente.
Virei e olhei na mesma direção e, assim que o vislumbrei,
senti meu corpo gelar. Um Leonardo nada animado
fixava furiosamente o olhar na mão do Gabriel encostada
na minha.
Leonardo deu quatro passadas, chegando até nós
três. Puxou-me firmemente para perto dele, mostrando
que o território já era marcado.
— Posso participar da reuniãozinha? — me enlaçou
em seus braços apertando minha cintura e dando um
beijo rápido na minha boca.
— Dr. Leonardo, quero te apresentar Gabriel Brito.
O nutricionista que tinha lhe falado que queria alugar
uma sala aqui na clínica — Igor fez as apresentações —
M as pelo visto será alugado para uma funerária. É meu
amigo, mas como ele estava dando em cima da nossa
deusa, posso te ajudar a despachar o amigão — falou
piscando o olho rapidamente para o Leo e debochou.
Típico dele, não perderia a oportunidade de provocá-
lo.
— Concordo em parte, Dr. Igor. Só não vejo nada de
"Nosso" por aqui — Leo respondeu friamente.
— Eita, que o homem acordou virado em uma lata de
lixo. O pequeno Davi já borrou em você? M ais ânimo,
meu caro. Não sei como você aguenta esse homem,
minha pequena — expressou tentando amenizar o clima
e juro que me segurei para não rir na frente do Leo, pois
isso aumentaria ainda mais sua raiva.
M ais uma vez, Leo não deu a mínima para o Igor e se
dirigiu para o Gabriel — Sua reunião era comigo Sr.
Gabriel. Não me lembro de ter agendado com a minha
esposa.
— M e des... Desculpe! Eu não sabia — o pobre
rapaz estava branco. Seu sangue foi sugado
provavelmente só com o olhar do Leo — M il perdões
senhorita...
— Senhora. Ela é casada — Leonardo retrucava sem
ao menos piscar.
— Dr. Leonardo, me desculpe. Sua esposa realmente
é muito bonita. Você é um homem de sorte — Gabriel,
mesmo surpreso pela gafe cometida, tentava se redimir.
— Hahahaha — Igor, com os braços cruzados,
olhava de um para o outro, gargalhando alto, chamando
atenção de alguns funcionários que estavam passando na
hora — Cala a boca, Gabe! Você está piorando. Tente
pelo menos sair vivo daqui.
— Igor! — chamei sua atenção. Cutuquei meu
marido – Leo, pode vir ao meu consultório por um
instante? — tudo que não queria, era um atrito no meio
da recepção com os pacientes começando a chegar para
suas consultas.
Já estava atrasada mesmo, Lilian teria que esperar
mais um pouco.
— Pâmela! — Leo chamou a recepcionista — Por
favor, leve o Sr. Gabriel Brito até Lilian e avise-a que em
cinco minutos estarei lá. — Encarou novamente o rapaz
— Lilian irá explicar os procedimentos da clínica, logo
estarei lá para conversamos — finalizou e saiu me
levando até meu consultório sem dizer uma palavra.
Abriu a porta e, assim que adentrei, ele a trancou.
Puxou-me para seus braços e me beijou loucamente,
chupando minha língua com força. Levantando meu
vestido e agarrando fortemente minha bunda e apertando
com força.
Arrastou-me até minha mesa, sentando-me em cima,
encaixando-se entre as minhas pernas. Enquanto uma
mão me prendia pelo pescoço, a outra fazia o percurso
por dentro das minhas coxas até chegar ao meu sexo.
Leo afastou minha calcinha para o lado e enfiou dois
dedos dentro de mim com precisão. M ordisquei seu
lábio gemendo baixinho com o impacto delicioso que
senti. Ele começou a movimentar os dedos em um vai e
vem sem fim. M inha cabeça rodava de tanto prazer.
— Leo... — gemi entre seus lábios — Estamos...
Ahhhh... No trabalho — mexi meu quadril para
aumentar a intensidade da fricção dentro de mim.
— Preciso que você goze. Preciso sentir seu aroma
quando é fodida por mim. Quero o seu líquido de prazer
escorrendo em minha mão — proferiu aumentando o
ritmo das estocadas.
Era como um vício, mas o Leo tinha esse poder sobre
meu corpo, me incendiava com seus toques. E não
demorou muito, logo o orgasmo chegou me deixando
mole em seus braços. Leonardo retirou delicadamente os
dedos de dentro de mim, levando-os a boca, chupando
como fosse uma calda de chocolate melada entre seus
dedos.
Vendo a cena comecei a rir. Feito uma boba.
— Isso tudo para me mostrar de algo que já sei? Que
sou sua. Apenas sua — indaguei beijando seu pescoço.
— Confio em você, paixão. Sei que aquele
conquistador não iria conseguir nada, mas não é fácil ver
minha mulher sendo paquerada — massageou um dos
meus seios sob o tecido do vestido — Você me traz
tranquilidade, precisava ver você gozar, sentir sua
excitação. Agora que consegui, estou pronto para
encarar o nutricionista sem ter vontade de matá-lo.
Alisei seu membro duro preso dentro de sua calça
branca e o olhei mordendo o lábio inferior.
— Preciso fazer algo por você com urgência —
comuniquei buscando o botão da calça para abri-la.
Leo impediu puxando minha mão e beijando-a com
ternura.
— M ais tarde, paixão. O dia está pequeno para o
tanto que temos que fazer — avisou — M as garanto
que a noite será curta para o que pretendo fazer com
você — seu olhar confirmava que ele explodiria meus
miolos de tanto tesão.
— Não vejo a hora— Instiguei beijando-o.
Nossos corpos responderam novamente de imediato.
Porém Leo era mais controlado do que eu e afastou-se
de mim. Fiz bico, mas compreendia que não era o
momento, então tratei de esfriar meu corpo mudando de
assunto.
— Você irá alugar a sala para o amigo do Igor montar
seu consultório?
— Provavelmente sim. Não gostei dele paquerando
você, descaradamente. E de saber que, além do idiota do
Igor, você ganhou mais um fã na clínica — disse
ajustando o seu sexo que provavelmente o incomodava
dentro da calça — Ele tem experiência e excelentes
referências. E precisamos de um nutricionista —
realmente precisamos, pensei.
Veio até mim e ajudou-me a descer da mesa e arrumar
o meu vestido.
— Como foi com o Davi? — perguntei.
Leonardo tinha saído de casa antes de mim, para
passar no Hospital. Hoje era o dia que o pequeno iria
receber alta.
— Ele está ótimo. Nem parece que ficou dias na
incubadora — relatou.
— Que horas ele sairá?
— A pediatra estará lá ao meio-dia, mas não irei
buscá-lo — informou.
Não perguntei o motivo, mantive-me em silêncio
encarando-o, esperando ele continuar.
— Andei pensando, Isa. O Davi é muito pequeno e
nesse momento ele é totalmente dependente da Gabriela.
Quero que ele me ame e tenha orgulho do pai que tem.
M as por enquanto irei visita-lo esporadicamente —
franzi o cenho não compreendendo — Não irei
abandoná-lo. Ligarei todos os dias para saber dele e farei
visitas rápidas — aguardou, esperando que o
questionasse, mas permaneci em silêncio — A cada mês
vou me aproximando conforme o seu crescimento.
— Leo — puxei seu rosto para fixar seu olhar ao
meu — Você está fazendo isso por minha causa? Para
não me machucar? — eu jamais me perdoaria se o Davi
sofresse indiferença.
Ele não respondeu. No lugar fechou os olhos.
— Amor. Olhe para mim — ele abriu os olhos —
Prometa-me que você irá vê-lo ou buscá-lo todas as
vezes que sentir vontade. Prometa-me que tentará
conversar com a Gabriela para ver como ficará os
primeiros meses que o Davi precisará mais dela — não
acredito que estou falando isso, mas era o que eu sentia
nesse momento — Você é o pai. E quer, e tem, o direito
de fazer parte da vida dele. Então faça.
— Eu só não quero que ele se sinta rejeitado por
mim — explicou, tristemente.
— Não será — dei um sorriso para animá-lo — Se
quiser ir buscá-lo no Hospital e levá-lo pra casa. Vá.
— Eu sou um filho da puta de um sortudo. Sabia? —
envolveu seus braços pelo meu corpo, apoiando seu
queixo no auto da minha cabeça — Isabela, obrigado por
me amar. Juro que não irei desapontá-la. Viverei para te
fazer feliz e realizada.
— Eu não duvido amor. Eu não duvido nem por um
segundo — concordei, aconchegando-me em seu
peitoral.
Capítulo 27 – Apresentação
Leonardo
Nas últimas semanas, minha vida mudou da água
para o vinho. Andava exausto, ainda me acostumando à
nova rotina, mas juro que até o momento estava valendo
cada esforço. Só em proporcionar a felicidade das duas
pessoas mais importantes da minha vida, valeria muito a
pena. Faria tudo por Isabela e Davi.
M eu bebê vinha crescendo e adquirindo sua
imunidade gradativamente. Ele é um excelente garoto,
não dá trabalho algum, chora apenas quando está com
fome ou precisa que troque suas fraldas. Era incrível
como a cada dia meu sentimento por ele aumentava, já
pensava no seu futuro. Será que ele seguiria a carreira
dos pais? Teria muito orgulho se optasse pela medicina,
seria como seguir o meu legado, passando de pai para
filho. Claro que não interferiria na sua escolha, mas
conselhos não lhe faltariam.
Gabriela e eu estávamos tentando manter a paz,
ainda não conversamos como ficaria tudo,
principalmente os dias que pegaria o Davi para ficar
comigo. Como ele ainda é recém-nascido, não cobrava
nada, por enquanto, já que ele precisava mais da mãe
nesse momento. Visitava-o sempre que podia e deixei
claro que ela poderia me ligar a qualquer momento que o
Davi precisasse de algo.
Também tinha a dona Quitéria, ela foi contratada
para cuidar da recuperação da Gabriela e ajudá-la com o
bebê. Era uma senhora de idade muito simpática e
bondosa e, nesse período que estava com eles, acabou
adquirindo um carinho enorme pelos dois, o que
sinceramente deixou-me muito mais tranquilo. Com
certeza Gabriela cuidaria muito bem do nosso filho,
sozinha, mas como eu nem sempre estaria por perto, a
dona Quitéria era perfeita. E também seria uma ótima
companhia, já que a sua tia Beth deixou claro que não a
apoiaria em nada. O que me irritou bastante. Tive meus
problemas com a Gabi, mas abandonar a única pessoa da
família, por não agir conforme os padrões, a qual ela
seguia, era desumano. Então, eu meio que tomei as
dores.
Tinha decidido deixar de lado todos os nossos
problemas e xingamentos, queria ter uma boa relação
com a Gabriela. Antes de tudo isso acontecer e o Davi
nascer, éramos amigos, sei que nossa relação não será
como antes, e também não queria dar muita liberdade,
mas, pelo nosso Davi, faria o possível para vivermos
tranquilos e em paz.
O nosso apaziguador, o Benício, apelido carinhoso
que Ju tinha dado para ele, sugeriu que morássemos
próximo um do outro, para caso surgisse uma
eventualidade com o bebê. No início balancei, recusando
a ideia por causa da Isabela. M inha mulher estava sendo
maravilhosa em relação a minha convivência com o Davi.
M esmo assim, eu sabia que estava sendo difícil para ela,
não era fácil lidar com todos esses acontecimentos.
Isa sempre buscava solucionar os problemas. E ela
mesma sugeriu que comprássemos uma casa em um
condomínio fechado próximo ao apartamento da Gabi. A
princípio fiquei receoso, principalmente pelo tamanho
da casa que vimos. Era enorme. Tudo bem que o Davi
ficaria alguns dias conosco, mas a casa era para uma
família muito maior.
Só de quarto eram cinco, todos suítes, fora o da
dependência de empregada. Era espaçosa demais, tanto
por dentro, quanto por fora, tinha toda a área de lazer
que o condomínio proporcionava, com parquinho e
playground, piscina, quadra poliesportiva, academia,
pista de caminhada, até um pequeno rio, para pescaria
tinha, o lugar era totalmente arborizado. O que as
pessoas não inventavam? Ali, naquele local, me imaginei
fazendo um piquenique e namorando a Isa e, também,
ensinando o Davi a pescar, a andar de bicicleta. Seria
nosso programa de fim de semana. M orando num local
assim, você não precisava ir a lugar algum para curtir sua
família.
Quando o corretor perguntou se eu faria a proposta,
olhei para minha pequena e não resisti àqueles olhinhos
suplicantes e ansiosos da Isabela, ela realmente amou o
lugar. Era próximo à casa da Gabi e da clínica, ficou
contramão para o hospital, mas como eu havia dito
antes, faria o possível e o impossível para proporcionar
a felicidade das pessoas que amo. Não pensei duas
vezes, liguei na mesma hora para o meu pai para entrar
em contato com o corretor e fechar o negócio.
M eu pai trabalhava na aérea imobiliária há anos,
tinha muita experiência sobre o que fazer. Sabíamos que
o valor da casa seria altíssimo e, para não ficarmos no
vermelho, Isa e eu decidimos vender o apartamento.
Sempre vivi confortavelmente, não era rico, mas, tinha
minhas economias e podia dar estabilidade e conforto a
minha família.
Tinha certeza que meus sogros, quando soubessem
que estaríamos vendendo o apartamento, iriam querer
ajudar na compra da casa, e até compreenderia que era
para a filha deles e eles tinham condições suficientes
para nos ajudar, no entanto não aceitaria. Essa casa seria
comprada por mim, com o meu dinheiro, para dar a
minha mulher. E no futuro investiria em um apartamento
para o Davi e aos filhos que teria com a Isa. Sim, filhos.
Tenho certeza que a Isa conseguiria engravidar, os seus
exames deram tudo certo, seu útero estava limpo e o
ovário que restou era saudável. Por mim ela começaria a
fazer o tratamento o mais rápido possível, mas ela
queria tentar primeiro sem o tratamento, por meios
naturais. E estávamos trabalhando bastante.
Sempre me perdia nos pensamentos quando
imaginava a menina tímida que conheci, e casei, para a
mulher que se tornou hoje. Isabela parecia segura, tudo
nela mudou para melhor, ainda ficava avermelhada
quando se sentia envergonhada, o que era um charme,
mesmo assim passava confiança, era decidida.
Ficava feito um bobo nas reuniões da clínica quando
expressava suas opiniões firmes, cheia de si. Todos os
funcionários paravam para ouvi-la. A desvantagem eram
os olhares masculinos que aumentaram. Não era fácil ver
um idiota todo babão para o seu lado e, como a Isa era
por nascença gentil, nem sempre os cortava, na sua
inocência muitas vezes nem percebia os olhares daqueles
gaviões. O que me irritava bastante, e me deixava louco
de ciúmes.
A clínica estava a todo vapor, com as novas
instalações o número de pacientes triplicou. O
nutricionista Gabriel Brito havia começado a atender
seus pacientes e tinha uma excelente clientela, nossa
relação ainda era mais para o lado profissional, não
tínhamos criado um vínculo de amizade desde o
incidente na recepção. Ele sempre que via a Isa a
cumprimentava educadamente, porém sempre o pegava
olhando-a, discretamente, quando achava que ninguém
estava percebendo. Em compensação, se tornou mais
um pegador e conquistador das funcionárias e pacientes.
Outro médico que começou a trabalhar na clínica era
o jovem Luís Viana, era amigo do Igor e Gabriel. Era
médico pediatra. Posso dizer que era bem apanhado, ou
seja, outro bonitão. Lilian os chamava de “O trio do
pecado”. Contudo Luís era o oposto dos dois amigos.
Enquanto Igor e Gabriel não queria nada sério com
mulher alguma e adorava uma festa, ele era mais
tranquilo, dizia que estava em busca da sua mulher ideal.
Um motivo perfeito para o idiota do Igor chacotear o
coitado. E esquecer de me provocar com relação à Isa.
De vez em quando.
Por coincidência em uma tarde de conversa com Dr.
Luís Viana, descobri que ele era irmão de Joaquim Viana,
um grande amigo de faculdade, meu e do Benício. Ele me
falou que o Joaquim casou e morava em M anaus com
sua esposa e dois filhos. Depois de descobrir o
parentesco, comecei a perceber as semelhanças entre os
irmãos. Luís se mostrou ser um grande homem e
excelente profissional, apesar de ser muito jovem.
Passou-me bastante confiança.
Falei do meu filho para ele. Davi já era acompanhado
pela pediatra que o assistiu desde o nascimento, mas
como nem sempre poderia levá-lo ao médico, conversei
com Luís para saber se podia um dia trazer o meu
garoto, para ele dar uma olhada. Expliquei tudo a ele,
para evitar constrangimento e ele foi o mais discreto
possível. Disse que quando eu quisesse examinaria o
Davi.
Quando sua vida muda completamente, você não
percebe que o tempo passa. Hoje Davi faria dois meses
e decidi que já tinha passado da hora de ele ser
apresentado a Isabela e a Júlia. M eus pais não
aguentaram esperar e foram conhecer o neto. Graças a
Deus Gabriela os tratou muito bem e deixou eles bem à
vontade.
Hoje Davi sairia pela primeira vez comigo. Eu o
levaria para um almoço em família na casa da minha
irmã. Ele finalmente conheceria a titia Júlia, a priminha
Heloísa e a madrasta Isabela. Termo que a Júlia dizia não
combinar com a Isa. Achava melhor chamá-la de “Bruxa
boa”, minha irmã era fanática pelo O M ágico de Oz.
Cheguei ao apartamento da Gabriela às onze horas,
conforme combinado. Como já era autorizado a entrar
sem ser anunciado, o porteiro já foi abrindo a porta e me
cumprimentando. Retribui o cumprimento e segui direto
para o elevador, indo para o andar que ficava o
apartamento da Gabi. Apertei o botão da campainha e
aguardei.
A porta foi aberta por dona Quitéria.
— Bom dia, Dr. Leonardo — cumprimentou dando
espaço para que eu entrasse.
— Bom dia, dona Quitéria — cumprimentei, também
— M eu garotão já está pronto? — perguntei, seguindo o
olhar através do corredor para ver se ele apareceria nos
braços da mãe.
— Ah Dr. Leonardo! A cada dia o menino fica mais
esfomeado. A Dra. Gabriela tem bastante leite, mas
parece que não dá conta — disse gesticulando com as
mãos — ela o está amamentando mais um pouco. Sentese, é o tempo que termino de arrumar a bolsa dele —
completou.
Assim que me sentei no sofá da sala de estar, dona
Quitéria encaminhou-se em direção ao quarto do Davi.
Peguei meu celular para buscar um joguinho para passar
o tempo enquanto o Davi terminava de mamar. Assim
que desbloqueie o celular, apareceu a foto do papel de
parede que havia escolhido. Era uma foto minha e da Isa
tirada recentemente na nossa casa nova. Ainda não
havíamos nos mudado. A casa estava passando por
algumas reformas para ficar mais com a nossa cara.
Tínhamos contratado uma decoradora de interiores, e ela
estava fazendo um trabalho incrível. Disse que no
máximo em um mês estaria tudo pronto. M as pelo valor
exorbitante que estávamos pagando, teria mesmo que
entregar no prazo estipulado.
Aliso o rosto da minha mulher na foto, ela estava tão
feliz nesse dia. Foi o dia que assinamos o contrato de
compra da nossa casa. Estávamos tão eufóricos de
felicidade que assim que saímos do cartório fomos direto
para lá. E inauguramos, em grande estilo, fizemos amor
em várias partes da casa. Essa foto foi tirada logo após
gozarmos ao mesmo tempo em cima da bancada da
cozinha. Assim que recuperei o fôlego peguei meu
celular e bati a foto. Suas bochechas estavam rosadas e
os lábios inchados. Isabela estava radiante. Uma deusa
da inocência em puro êxtase.
— Dr. Leonardo? — Dona Quitéria chamou, tirandome dos meus pensamentos. M eu olhar foi até onde ela
estava — O Davizinho já está vindo — franzo a testa ao
ouvir pronunciar o nome do meu filho no diminutivo.
Pouco tempo depois, Gabriela aparece com meu
garoto nos braços. Sua expressão está diferente. Percebo
que ela está receosa por eu sair com ele.
— Como vai, Gabriela?
— Oi Leonardo — ela caminhou até próximo a mim
para entregar o bebê — Tem tudo que você precisa na
bolsa — disse nervosa — Quanto tempo você acha que
ficará com ele? — perguntou beijando suas mãozinhas.
— Ele ficará bem, Gabi — disse encarando-a — Ele
está comigo, não deixarei nada acontecer. Não se
preocupe — tentei acalmá-la.
— Pensei que a Isabela viria com você — proferiu
mudando de assunto. Gabriela era orgulhosa demais, a
ponto de se mostrar fraca.
— Ela começou a fazer doutorado recentemente e
está sobrecarregada tendo que conciliar trabalho, estudo
e um marido idiota — tentei amenizar o clima.
— Imagino que esteja — sorriu, discretamente.
— Irei buscá-la, assim que sairmos daqui —
completei.
Peguei sua bolsa e coloquei no ombro e fui em
direção à porta. Gabriela veio logo atrás.
Assim que cheguei ao elevador, apertei o botão e
fiquei aguardando chegar.
— Leo — Gabriela me chamou.
— Oi.
— Você colocou a cadeirinha no carro direito? —
perguntou, mas eu tinha certeza que essa não era a
pergunta que ela queria fazer.
— Sim. O carro está todo certinho para locomoverse com um bebê. Não se preocupe, Gabi. Ele ficará bem.
Eu o amo. Não duvide disso — afirmei cheirando a
cabecinha do bebê.
— Eu sei — falou deixando-me surpreso — Só para
ressaltar… Cuida dele, por favor — pediu.
— Com a minha vida, Gabriela. — conclui. Assim
que a porta do elevador abriu, entrei com o Davi nos
braços e apertei o botão do térreo.
Não tinha nada acertado de concreto, mas Gabriela e
eu havíamos combinado do Davi ir interagindo com a
minha família, gradativamente. Hoje ele ficaria algumas
horas, com o tempo aumentaria mais um pouco a
permanência dele comigo, até que chegasse o dia dele
dormir pela primeira vez. Isabela achou melhor que sua
primeira noite, com o pai, fosse apenas na casa nova, lá
estávamos preparando seu quartinho com tudo que ele
precisaria.
Acomodei-o na sua cadeirinha, corretamente, e o
prendi no cinto de segurança. Davi estava sonolento.
Acho que a mamada o levou à exaustão. Entrei no carro
e segui rumo ao meu apartamento, tinha chegado a hora
de colocar frente a frente meus dois amores.
Por mais que Isa se mostrasse sempre forte, eu sabia
que ela estava receosa em como agir em relação ao Davi.
E confesso que também estava, mas não poderia adiar
mais. Essa seria a etapa decisiva para saber como seria
nossa relação daqui pra frente. A Isabela tinha decidido
estar ao meu lado e juntos enfrentarmos as dificuldades,
eu jurei fazê-la feliz. E não desistiria. Posso até ser
egoísta por permitir que a Isa passe por todo esse
constrangimento, mas lutaria por sua felicidade até
quando ela permitisse, eu sempre ficaria ao seu lado.
Ao chegar ao prédio que morávamos, estacionei o
carro na garagem e fui direto tirar o Davi da cadeirinha
de bebê. Não peguei sua bolsa, pois não íamos demorar
em ir para casa da Ju. Ela também estava ansiosa para
conhecer o sobrinho.
— Olha filhão, aqui é o lugar onde o papai mora com
a Isa. Em breve mudaremos para um lugar maior — saí
conversando com ele e mostrando onde estávamos. Ele
não entendia, mas, ao menos, conhecia a minha voz e
isso era o mais importante — Lá também será sua casa.
É um lugar lindo, tenho certeza que você amará — fui
conversando com ele até chegar à porta do apartamento.
Parei. Respirei profundamente e olhei atentamente
aquele anjinho nos meus braços.
— Davi — pronunciei bem baixinho — O papai
agora vai te apresentar a mulher da minha vida. Ela é
incrível e tenho certeza que você irá amá-la, também.
Um dia você poderá se perguntar o porquê você tem
alguns amiguinhos ou até mesmo irmãozinhos que os
pais vivem na mesma casa e outros não. Pode parecer
estranho ou até mesmo errado, mas você não será o
único, filho.
Senti seu aroma. Descobri que bebê tem um
cheirinho delicioso. Cheirinho de bebê, como a Isa fala
quando está com a Heloísa nos braços.
— Às vezes os papais vivem melhores e mais felizes
quando não estão juntos. Um dia você amará alguém e,
com certeza, cometerá erros. E para esses erros haverá
consequências — encarei meu bebê que já começava a
mostrar seus traços. Ele era loiro como a mãe, mas seu
rostinho e olhar não negava que era meu filho. — Irei te
confiar um segredo. Quando estava com sua mãe tudo
parecia errado e não nego que fiquei amedrontado por
saber que ela estava grávida de você. Um dia te contarei
tudo, e quando isso acontecer, quero que saiba que você
foi o meu erro mais perfeito. Eu te amo — beijei sua
cabecinha. Abri a porta e entrei.
A sala estava silenciosa. Caminhei até o quarto.
— Paixão — chamei assim que entramos no quarto.
— Estou no banheiro. Só um minutinho amor —
respondeu.
Coloquei Davi no meio da cama e fiquei velando seu
sono. Parecia tão tranquilo. Tão relaxado, nem parecia
que tinha mudado de ambiente. Não sei quanto tempo
fiquei assim, só percebi quando duas mãos delicadas
tocaram meu ombro, me acariciando.
— Ele parece com você — Isabela pronunciou
encarando-o.
A puxei para meu colo beijando seus lábios. Ela
estava linda. Usava um vestido solto de alças finas,
verde com detalhes brancos bordados, os cabelos
estavam uma parte presa e a outra escorria por suas
costas. Usava um chinelo de dedo delicado cheio de
pedrinhas.
— Você está linda — informei.
— Obrigada, querido — beijou-me.
Isabela ficou observando Davi dormir, podia não
transparecer, mas conhecia minha pequena, ela estava
sem saber como agir, suas mãos estavam geladas, sinal
de nervosismo. Precisava quebrar esse clima.
— Isabela, minha esposa e mulher que amo. Te
apresento Davi, meu filho a quem também amo —
divaguei.
Ela levantou do meu colo e foi até o outro lado da
cama deitando próximo ao Davi. Cheirou sua cabecinha
e alisou seu rostinho carinhosamente.
— Prazer em conhecê-lo, Davi. Eu sou a Isabela,
esposa do seu papai. As pessoas falam que sou sua
madrasta, mas não gosto como soa essa palavra —
sorriu — A sua tia louca diz que serei uma bruxa boa
para você. M as sabe o que andei pensando? Um dia
iremos escolher um nome melhor, que você irá me
chamar. Só espero que você goste de mim, pois eu já
gosto muito de você — Deitou, juntando sua cabeça
junto com a do Davi.
Se eu vivesse por mais cem anos, nunca esqueceria
esse momento. Foi etéreo. Não tinha palavras para
descrever essa cena. Se pudesse eternizava em minha
memória. Não aguentei de emoção e lágrimas rolaram
pelo meu rosto de pura felicidade.
— Obrigado, meu amor. Obrigado por estar ao meu
lado, mesmo não te merecendo — agradeci emocionado.
Isabela pediu que eu fosse para perto dela e assim o
fiz. Deitei ao seu lado, na beirada da cama praticamente.
Abracei-a e inalei seu cheiro viciante.
— Eu te amo, Leonardo M enezes. Quero estar ao
seu lado e ser sua esposa — encostou e juntou nossas
mãos e as entrelaçou — Dificuldades vamos enfrentar,
mas não vamos temer, porque estaremos juntos, unidos,
lado a lado. Até que a morte nos separe.
— Até que a morte nos separe — repeti suas
palavras.
Após alguns minutos nos curtindo, só nós três, nos
reorganizamos e fomos para a casa da Julinha. Na
verdade não ficamos mais no nosso quarto, vivendo o
nosso momento, porque a sem noção da minha irmã
ligou perguntando se já estávamos a caminho.
Na casa da Julinha, foi um almoço em família
agradável. Todos queriam curtir seu tempo com o Davi.
Quando pensava que minha irmã não me surpreenderia
mais, me engano completamente, ao conhecer seu
sobrinho, ficou completamente emocionada e chorou ao
lembrar que colocou em risco a vida dele e da minha
princesinha Heloísa quando brigou na loja com a
Gabriela. Pediu desculpas várias vezes aos dois bebês.
Luigi aproveitou a ocasião e a fez jurar, que não sairia
brigando por aí. Ela prometeu, mas não o convenceu.
M eus pais estavam felizes por seus dois netos, e se
tornaram os vovôs babões. M imaram os dois sem parar.
M eu pai era o pior dos dois. M inha mãe estava mais
pacífica, foi totalmente atenciosa com a Isa. E a
incentivou a não desistir de engravidar, ou se necessário
procurasse por uma adoção.
Davi tomou as duas mamadeiras de leite que a
Gabriela tinha colocado na bolsa térmica e ainda ficou
chorando por leite. Julinha ao ver que ainda estava
faminto, pegou ele no colo e amamentou. Era a primeira
vez que via meu filho sendo amamentado, pois nunca vi
Gabriela fazer isso. E era melhor assim. Eu sabia que ela
estava se tornando uma pessoa menos egoísta depois do
nosso filho e me sentia orgulhoso por ela. Desejava que
ela encontrasse um homem que a amasse e a fizesse
feliz. Todos merecem ser amado.
Depois de tomar banho, dado por minha mãe, Davi
adormeceu logo em seguida. Coloquei na cadeirinha e
nos despedimos de todos. Enviei uma mensagem para a
Gabriela dizendo que estávamos a caminho.
Isabela preferiu ir dirigindo até a casa de Gabriela.
Ao chegarmos, ela estacionou e esperou no carro
enquanto fui entregá-lo a mãe.
Não demorei muito no apartamento da Gabi. Ela já
estava na porta e perguntou se tudo tinha ocorrido bem
e confirmei. Despedi do meu garotão e fui embora.
Um mês depois
Hoje era nossa última noite no apartamento, amanhã
estaríamos nos mudando para a casa nova. Depois de
muita insistência, o nosso apartamento foi comprado
pela Luíza, tia da Isabela. Ela, do nada, apareceu
dizendo que queria um apartamento para investir e
insistiu em comprar. Isa e eu desconfiávamos que seus
pais estivessem por trás dessa compra. Como havia
imaginado, eles queriam a todo custo ajudar. Isabela
ainda aceitou relutante que seus pais nos presenteassem
com uma cozinha nova, toda projetada e montada, com
todos os utensílios necessários para a casa nova.
Davi, agora com três meses estava esperto, olhava
atenciosamente para tudo, ele estava descobrindo as
cores, tudo que era colorido ele adorava. Até o
momento, estava dando certo os meus passeios com ele.
Gabriela ainda não tinha se acostumado sobre levá-lo
para ficar um tempo comigo e depois trazê-lo. Ela não
negava, mas era visível o alívio que sentia quando o
trazia de volta. Ela vivia praticamente por ele. Não
quero nem pensar como ela ficará, quando ele for dormir
pela primeira vez longe dela.
Benício sempre chamava Gabriela para sair junto
com ele, M aitê e alguns amigos de trabalho do hospital.
Ela negava todos os convites. Dizia que tinha um filho
pequeno e que sua atenção nesse momento era voltada
exclusivamente para ele.
Eram quase dez horas da noite de uma sexta-feira
quando cheguei ao apartamento, tinha tido uma
emergência no hospital e só consegui sair agora. Entrei
esperando encontrar pilhas de caixas de mudanças na
sala, mas o que eu vi me deixou estático na porta. A sala
estava repleta de pequenas velas perfumadas espalhadas
pelo chão. Havia uma mesa de dois lugares posta com
vinho e um tipo de peixe, o cheiro delicioso estava por
toda parte. M inha poltrona estava localizada um pouco
mais à frente e ao lado dele um micro system.
Tranquei a porta e andei esperando que algo me
surpreendesse. E não me enganei. Poucos segundos
depois. Uma sombra apareceu, e assim que a iluminação
das velas bateu sobre seu corpo, a poucos metros de
mim, quase arfei. Estava sem ar com toda aquela beleza
na minha frente. Isabela é uma mulher linda, porém hoje
ela conseguiu se superar.
— Esse apartamento me traz lembranças
inesquecíveis. Então pensei em termos uma noite
especial para guardar — expressou totalmente sexy.
— Concordo — disse sentindo a baba escorrer pela
boca, igual a um lobo quando consegue encurralar um
carneirinho. A noite seria quente e muito proveitosa —
Você está linda e… M uito sexy — emiti olhando seu
corpo de cima a baixo e voltando a encará-la.
Isabela vestia um vestido justo preto, que delineava
todas as suas curvas, uma sandália com salto altíssimo.
Seu cabelo estava preso em um coque bagunçado. Eu
não entendia de maquiagem, mas aquela em seu rosto
confirmava que ela explodiria meus miolos.
— Leo. Sente-se na sua poltrona — pediu fazendo
charme.
— Pensei que jantaríamos primeiro — comuniquei.
Queria fazer tudo certo. Com calma. Sem pressa. A
noite seria só nossa.
— Em breve comeremos, mas primeiro teremos o
aperitivo — avisou.
Fui em sua direção, mas fui barrado, só poderia tocála quando permitisse. Seria impossível, mas por ora faria
seus desejos.
Sentei e aguardei ansioso o seu próximo passo. Já
estava tão excitado que meu pau só faltava perfurar a
cueca e a calça para saltar para fora.
Isabela foi até o micro system e pegou o controle
remoto, voltou parando de frente para mim sentando na
poltrona.
— Dançar foi um dos motivos que me ajudou a
descobrir a mulher que tinha dentro de mim — falou
fitando-me — Hoje me sinto outra mulher, me sinto
completamente diferente daquela menina que você
conheceu quando nos casamos. M e sinto linda, sexy e…
Poderosa — sorriu enrubescendo — Por isso escolhi
hoje. Aqui, no nosso ainda apartamento. O lugar que me
trouxe de tudo um pouco, mas, com certeza, posso dizer
que fui completamente feliz enquanto morei aqui.
Ela mirou o controle remoto ao micro system e
apertou, soltando uma música com uma batida caliente.
Começando lentamente a mexer os quadris.
— Primeiro, quero dançar um Zouk para você,
Leonardo. Depois quero que você venha dançar comigo.
E, no final, quero estar deitada neste carpete com você
em cima de mim me preenchendo e me fazendo gozar
loucamente — finalizou aumentando o volume da
música.
— A despedida do nosso ainda apartamento —
imitei — terá até direito a apoteose. Eu garanto —
conclui, não vendo a hora de sentir meu pau deslizar por
seu núcleo quente e molhado. O cheiro da sua excitação
já começava a me atingir em cheio. Certamente ficaria
louco até o final da noite.
Capítulo 28 – Concluindo mais um ciclo
Isabela
M eu coração batia acelerado. M inhas mãos estavam
suando frio, internamente, estava em chamas. Sentia as
minhas bochechas queimarem de desejo. Era a primeira
vez que dançava para ele. Seus olhos estavam presos
aos meus. A batida da música soava por todo o
apartamento.
Comecei balançando sensualmente, mexendo meus
quadris de forma erótica. M eu vestido era justo e muito
curto, tinha comprado exclusivamente para esta noite.
Devido aos meus movimentos com o quadril ele
começou a subir, mostrando, ainda mais, as minhas
pernas. Leonardo parecia estático, hipnotizado. Suas
mãos apertavam fortemente cada braço da poltrona,
tentando se controlar. Ele estava esperando chamá-lo
para se juntar a mim.
Fui me aproximando dele lentamente. Leo abriu um
sorriso malicioso. Peguei suas duas mãos e coloquei em
cada lado do meu quadril, o fazendo seguir com as mãos
os movimentos que fazia com meu corpo.
— Isa! — chamou-me — Eu quero você, paixão. —
disse com a voz rouca, cheio de desejo.
Vibrei internamente por deixá-lo excitado. A música
estava chegando à metade e Leo estava louco de tesão.
Imagina quando ele descobrisse que estava sem nenhuma
lingerie por baixo! Apenas o micro vestido me cobria.
Sentia minha excitação se formando só em pensar.
Desabotoei sua camisa, sem em momento algum,
deixar de fazer contanto visual com seus olhos. À
medida que desabotoava, beijava lentamente e
desejosamente sua boca. Escutava sua respiração pesada
e seus gemidos. Retirei seu cinto e depois abri o botão
da sua calça, abaixando o zíper. Conferi o quão duro
estava seu membro.
Comecei a rebolar, incitando-o a dançar comigo
sensualmente. Virei-me de costas e comecei a esfregar
meu bumbum na sua ereção. Leo entrou no ritmo e
juntos começamos uma dança erótica sincronizada,
nossos corpos fazendo amor de uma nova maneira. Suas
mãos passeavam pelo meu corpo. Ele apertava meus
seios fortes juntando um ao outro, beliscando, deixando
os bicos enrijecidos, ao mesmo tempo em que
sussurrava em meu ouvido.
— Não vejo a hora de te provar — falou
mordiscando a curva do meu pescoço — O aroma da sua
excitação já me deixou drogado. Você é viciante —
mordia e chupava meu pescoço enquanto pronunciava
cada palavra.
Juntei minhas mãos nas suas e comecei a passear
pelo meu corpo. Descendo no ritmo da música. Quando
nossas mãos chegaram à barra do vestido, lentamente fui
subindo. Senti suas mãos pararem, de repente, quando
ele percebeu que não usava nada por baixo.
— Ah! Pequena. Eu não aguento mais — proferiu
virando-me de frente para ele.
Rapidamente invadiu minha boca, consumindo meus
lábios com fervor. Suas mãos agarraram cada lado do
meu bumbum, me puxando ainda mais para perto de sua
ereção. Nesse momento abri minhas pernas para que
aquele encaixe fosse perfeito. Léo me beijava
ardentemente e esfregava seu pau em mim. Alisei todo
seu peito, descendo até chegar em sua calça. Forcei seu
jeans para baixo.
Sem Leo esperar, saí do seu beijo e o empurrei para
sentar novamente na poltrona. Levantei meu vestido,
tirando por cima da cabeça, ficando totalmente nua.
Ajoelhei-me na sua frente e, como uma submissa, tirei
seu calçado lentamente, um e depois o outro. Leo estava
me deixando conduzir o momento. M inhas mãos
fizeram o percurso até chegar ao cós da sua calça. Puxei
trazendo junto sua cueca boxer. Seu membro saltou
ereto, duro, pronto para mim, babando, para que lhe
desse atenção. Suas veias estavam grossas e cheias.
Agarrei firme e comecei a massagear, em movimentos
leves, mas determinados.
— Nunca vou me esquecer da primeira vez que me
chupou — Disse em um sussurro — Ver sua boquinha
deliciosa engolindo todo meu gozo pela primeira vez, foi
algo inesquecível, ficou marcado em minha memória —
passou seus dedos, delicadamente, nos meus lábios —
Você é perfeita. E é só minha, Isa.
— E você é só meu, Leo — repeti suas palavras.
— Sim meu anjo. Eu sou apenas seu — concordou.
Abocanhei seu membro, chupando e passando a
língua por todo seu comprimento. Leo gemia e se
contorcia de prazer, enrolou suas mãos em meu cabelo
prendendo-o. Chupei com vontade a cabeça do seu pau
excitando-o ainda mais. Desci e lambi seus testículos,
percorrendo a língua por seu períneo, o fazendo uivar.
Quando senti suas veias incharem ainda mais, voltei a
lamber seu pau, o colocando na boca até a garganta.
— Paixão, não quero gozar na sua boca — pediu, me
puxando para ele.
Subi em cima do Leo, colocando uma perna de cada
lado. Ajustei meus pés para que o salto da sandália não
incomodasse. Começamos a nos beijar, enquanto eu
esfregava meu corpo no dele, louca de desejo, louca para
tê-lo dentro de mim. Quando não aguentava mais as
provocações, direcionei seu membro até a entrada do
meu sexo molhado, esfregando a cabeça grossa do seu
membro em meu ponto de prazer. Desci lentamente,
fazendo seu pau deslizar facilmente. A sensação dele
dentro de mim era única. Não consegui segurar, e gemi
como uma mulher necessitada de seu homem.
— Leo!
— Isa!
Comecei a cavalgar lentamente, aumentando a
velocidade e o prazer. Leonardo soltou meus lábios e
começou a lamber e chupar meus seios, estimulando-os.
M eu clitóris estava tão sensível, que só roçar nele já
me fazia delirar. Percebendo que estava perto de gozar,
Leo assumiu o comando, levantou comigo em seus
braços e deitou-me no carpete. Percorreu, beijando todo
o meu corpo até chegar ao meu núcleo. Passou a língua
deliciosamente, fazendo acrobacias com ela, mordendo e
sugando em seguida minha essência.
— Amor… Eu não aguento mais... Ah... Quero gozar
— pedi já sentindo os espasmos pelo meu corpo
começando.
— Goza, minha pequena. Goza na minha boca para
que eu possa sentir seu prazer intensamente —
respondeu dando lambidas na minha vulva.
Assim que Leo mordeu meu clitóris, meu corpo não
aguentou e convulsionou, me libertando em um prazer
alucinante. Gritei seu nome, enfiando meus dedos em
seus cabelos e os puxando com força, absorvendo todo
aquele ápice.
Com o corpo ainda tremendo, Leo me virou,
colocando-me de quatro e entrando em mim de uma vez,
duro e forte. Batendo em movimentos rápidos, entrando
e saindo. Corria sua língua por toda minha coluna,
beijando e mordendo. Introduziu um dedo delicadamente
no meu ânus. Ele queria tirar tudo de mim, e estava
conseguindo. Percebi que seu orgasmo se aproximava e
comecei a mexer meus quadris, rebolando ainda mais em
seu pau. Leo debruçou seu corpo sobre o meu e, antes
de derramar seu líquido dentro de mim, gritou libertando
seu prazer.
— Ahhhh! Isa. Como eu te amo — declarou saindo
de mim, sutilmente, depois de alguns minutos que
permanecemos unidos, contemplando o momento.
Senti seu líquido quente escorrer por entre as minhas
pernas, assim que ele me puxou para seus braços
deitando em cima dele no carpete.
— Se a despedida foi tão boa assim. Não quero nem
pensar como será a inauguração da casa nova — vibrou
extasiado.
— Bem, a casa é enorme. Temos muito lugares para
inaugurar — falei alisando seu peitoral suado.
— Você ainda vai me matar mulher — pronunciou
sorrindo.
— Hum! Está fora de forma, Dr. Leonardo
M enezes? — questionei brincando — Achei que
teríamos uma segunda rodada.
— Ah! Isabela Alencar M enezes, pode contar com
isso — contestou, me virando e subindo em cima de
mim — M as antes precisamos repor as energias —
informou, beijando cada canto do meu rosto — A noite
está apenas começando — anunciou ficando de pé e me
ajudando a levantar.
— Tenho certeza disso — concordei mordiscando
seu queixo — Venha, vamos jantar.
Três meses depois
Leonardo ainda não estava acostumado a morar em
uma casa maior. Reclamava por deixar-me sozinha nas
noites que dava plantão. Por mais que explicasse que era
um condomínio residencial seguro e com vigilância, ele
ainda sentia-se inseguro e me ligava várias vezes durante
a noite.
Reclamava também do vazio de alguns cômodos da
casa. Tínhamos mobilado o essencial. Cozinha, sala,
nosso quarto, o quarto do Davi e o escritório. Os outros
cômodos, deixamos para ir arrumando e mobilando com
o tempo. M as, mesmo concordando que fosse dessa
forma, ainda reclamava, porém o dobrava com carinhos,
beijos e até umas brincadeiras eróticas. Acredito que ele
fazia birra só para ser recompensado.
Já havia começado meu tratamento para induzir à
ovulação, já estava no meu quarto ciclo de tratamento.
Nos últimos meses, a cada mês que passava, vivia uma
expectativa, que logo se perdia cada vez que minha
menstruação chegava. Igor estava sendo mais do que um
profissional, do que um amigo… Estava sendo um
irmão. M e animava e incentivava todas as vezes que não
conseguia. Logo que comecei, ele tinha me dito que o
tratamento poderia dar certo no mês seguinte, como
também demoraria meses ou até anos, mas que não
desanimasse.
Leo não fazia ideia de que estava fazendo esse
tratamento. Tinha dito a ele que queria tentar engravidar
primeiro sem tratamento. Como o Igor tinha falado ao
Leo que meus exames estavam ótimos, acabou
convencido que poderia dar certo. Era uma loucura
esconder dele as pílulas. Igor e Lilian eram meus
cúmplices, só eles sabiam, nem minha tia Luiza e nem
Julinha sabiam. Quando as duas descobrissem ficariam
chateadas, mas elas eram bocudas demais e logo dariam
com a língua nos dentes.
Depois de muitas conversas e intermediações do
Benício e dos meus sogros, Gabriela aceitou o acordo
dos dias que o Leo ficaria com seu filho. Como Davi
ainda mamava, ele por enquanto não passava a noite
conosco, porém o tempo de permanência com o pai
tinha aumentado. E, também, muito em breve Gabriela
voltaria ao trabalho, e tanto ela como Leo davam
plantões no mesmo hospital, assim, eles programaram
não coincidir o mesmo dia de plantão. E nos dias da
Gabi o Davi ficaria conosco a noite inteira.
Apesar de ter nascido prematuro, Davi era forte e
cheio de alegria. Estaria mentindo se dissesse que não
tenho sentimento por ele. Não posso descontar nesse
inocente, a tristeza de não ter sido eu, a mulher que deu
o filho primogênito ao Leo. Aconteceu. Não tem volta.
Não busco mais quem errou, ou quem está certo. Estou
seguindo em frente.
No fundo, no fundo, sou uma pessoa abençoada.
Tenho um homem que tenta me fazer a mulher mais feliz
do mundo todos os dias, que atura minhas chatices e
cólicas com muita paciência, cuidando de mim e estando
sempre ao meu lado. Ele errou, se arrependeu e mudou
por mim. Talvez se Leo não tivesse me deixado, hoje
nosso casamento estaria ainda mais desgastado, e eu
continuaria aquela menina boba e sonsa.
Apesar de todo o sofrimento que passei,
sinceramente, não mudaria nada, do que a linha da vida
projetou para mim. Estou feliz e sou amada. Um filho?
Quero muito, mas tenho fé que viria no momento certo.
******
— Amor, colocou tudo que precisa na mala? —
perguntei enquanto confirmava o horário do seu voo
pela internet.
Leo estaria viajando para Brasília para um Congresso
de Cardiologistas que ele participaria.
— Sim, paixão. Coloquei tudo que vou precisar —
respondeu se aproximando de mim — Você tem certeza
que não quer ficar na casa dos seus pais? — questionou.
— Não. Eu vou ficar bem. — Beijei-o assim que
sentou ao meu lado no sofá — Serão apenas dois dias.
Aproveitarei para fazer umas coreografias novas para te
mostrar quando você voltar — incitei mordendo meu
lábio inferior.
Desde que dancei para ele, a primeira vez, passou a
me pedir para dançar. Com isso voltei para aulas de
dança, três vezes por semana e, também, passei a
pesquisar pela internet por coreografias novas.
Coloquei o notebook de lado e subi em seu colo
enlaçando meus braços em seu pescoço e o beijei,
buscando aproveitar o máximo aquele momento. Suas
mãos desceram pelo meu corpo. M e apertando e
excitando. Comecei a rebolar em cima do seu membro,
fazendo gemer em minha boca.
— Amor… Se você continuar esfregando essa sua
bundinha gostosa em mim, juro que não vou resistir e
perco o voo só para entrar em você — informou.
— Tudo bem — falei fazendo bico e saindo do seu
colo, o que arrancou uma gargalhada dele — É melhor
irmos agora, provavelmente pegaremos um pequeno
engarrafamento — disse fingindo certa raiva quando fiz
uma careta para ele por rir de mim. Ele me pegou
novamente no colo, afastou meu cabelo e alisou meu
rosto.
— Eu preferia ir de táxi até o aeroporto — chiou —
Ficarei preocupado por você voltar sozinha.
— Eu faço questão de ir com você até o aeroporto. E
depois ainda está cedo — avisei já descendo do seu colo,
novamente, e indo pegar minha bolsa e a chave do carro
— Na volta vou passar na casa da Ju para paparicar a
Helô — sorri lembrando da minha afilhada. Ela era linda
e brava. Com seis meses, conseguia dobrar a sua mãe e
sua madrinha.
— A princesinha é louca por você. Assim que te vê
já abre um sorrisão lindo — disse todo amoroso — E o
Davi também está indo pelo mesmo caminho. Ele
também é gamado na bruxinha boa dele — concluiu,
dizendo o apelido que ganhei da Ju.
— Ah! Eu acho que o Davi será louco na Ju. Quando
ele está agitado, ela é a única que consegue acalmá-lo.
Nem com a Helô a Julinha consegue essa proeza — dei
minha opinião.
Saímos de casa ainda falando dos bebês. Realmente,
eles eram crianças adoráveis. Davi já começava a mostrar
seus traços de personalidade forte. Era igual ao pai,
possessivo e ciumento, birrento e sorridente como a tia
Júlia.
Pegamos pouco trânsito e logo chegamos ao
aeroporto. Como já tinha feito check-in pela internet,
Leonardo embarcou a mala e fomos nos sentar para
aguardar seu voo ser chamado.
— Gabriela decidiu se irá ao congresso? —
perguntei.
Ela estava receosa de ir e deixar o Davi e, também,
Leonardo não queria que o levasse para Brasília para
ficar trancado o dia todo em um quarto de hotel
enquanto seus pais participavam de um congresso.
Dona Rosália, mãe do Leo, se prontificou a cuidar dele e
também teria a dona Quitéria para ajudar.
— Ela concordou em ir, se for para voltar no mesmo
dia. — respondeu — Ela vai amanhã cedo e volta no
início da noite — completou.
— Davi ficará com sua mãe, então? —perguntei.
— Não. Dona Quitéria ficará com ele, mas deixei o
telefone de todos, caso aconteça algo — Fitou-me sem
graça, como se tivesse receio da minha reação do que ia
falar a seguir — Inclusive… Deixei o seu número de
celular e o da clínica — calou, esperando minha
resposta.
— Fez bem, querido — acariciei seu rosto,
desfazendo uma ruga que se formava em sua testa.
Prometi para mim, mesma, que não me envolveria na
relação do Leo com a Gabriela. Até então, ela estava na
dela. Aquela Gabi metida tinha desaparecido. M aitê
tinha me falado que o Benício comentava que ela mudou
radicalmente depois que se tornou mãe, até ele mesmo
se surpreendeu. Estava feliz por ela. Claro que não nos
tornaríamos melhores amigas, porém até o momento as
coisas estavam dando certo. E se o Davi precisasse de
mim na ausência de Leo, eu o ajudaria.
Nos despedimos e segui meu caminho para casa da
Julinha. Acabei jantando por lá. Heloísa estava elétrica e
não parava quieta. Ela aprendeu a pegar objetos e levar a
boca e adorava derrubá-los no chão para que uma de nós
pegasse. Quanto mais derrubava mais espoleta e risonha
ficava. Assim que Luigi chegou, pegou sua princesa e
como em um passe de mágica a colocou para dormir.
Julinha ficava morta de inveja de como ele conseguia
acalmá-la.
Cheguei em casa, tomei um banho e fui assistir a um
filme, estava fazendo hora esperando Leo ligar para
avisar que já tinha chegado ao hotel, o que não demorou
muito. Conversamos por uns quinze minutos e nos
despedimos. Adormeci assim que deitei a cabeça no
travesseiro.
Acordei bem cedo, queria chegar logo à clínica, tinha
bastante trabalho a fazer. Estava montando uma turma
de profissionais de fisioterapia. Como a clínica foi
ampliada, a quantidade de pacientes em busca dessa área
estava grande, portanto foi necessário aumentar o
quadro de fisioterapeutas. Antes a clínica contava
apenas com o Cláudio e eu. Agora estava contratando
mais quatro. Depois da minha cirurgia, meus pais e Leo
vivem no meu pé para não trabalhar além da conta.
Agora as consultas eram marcadas com uma quantidade
a menos de pacientes do que antes. Além disso,
precisava dar apoio a Lilian na administração e tinha
meu doutorado.
M inha manhã foi tão corrida, entrevistando os
candidatos, que quando percebi já passava de meio-dia.
Enviei uma mensagem para Leo, que não estava
podendo atender telefone e, em seguida, pedi um lanche
na lanchonete mesmo da clínica, suco de melancia e
sanduíche natural com peito de peru.
Estava tão absorta lendo um documento que não
ouvi quando Lilian entrou e sentou à minha frente.
— Basta eu ligar para certo médico que está em
Brasília e falar que você não parou um minuto sequer,
para respirar, que ele chega aqui em dois minutos —
queixou-se em frente à porta de braços cruzados.
— É verdade — sorri só de imaginar Leo reclamando
por eu estar trabalhando demais — M as sabe qual é a
verdade, Lilian? Não consigo ficar parada — aleguei —
M e sinto doente quando não faço nada ou fico olhando
alguém fazer por mim.
— Eu te entendo perfeitamente — sorriu e sentou na
cadeira a minha frente — No entanto, pare um pouco e
se alimente direito. Você está com esse sanduíche na mão
há horas e aposto que nem sentiu o gosto — pronunciou
e eu sabia que ela estava certa.
Lilian era minha amiga, confidente, conselheira e meu
braço direito. M e apoiava em tudo. Como hoje era
sexta-feira, não tinha pacientes para atender, apenas
trabalhos administrativos.
Com ajuda de Lilian, conseguimos adiantar bastante
serviço, principalmente os mais burocráticos. Depois
ficamos conversando no escritório. Ela estava me
contando sua última aventura com o namorado.
Uma batida na porta interferiu nossa conversa.
— Pode entrar — autorizei.
A porta foi aberta e Pâmela entrou trazendo um
telefone sem fio nas mãos.
— Isabela, tem uma senhora na linha que insiste falar
com você— comunicou — Ela parece nervosa, disse que
se chama Quitéria.
Arregalei os olhos, levantando rapidamente, indo em
sua direção e pegando o aparelho. Coloquei no ouvido,
fechando olhos e fazendo uma oração silenciosa. M eu
Deus! Não permita que nada tenha acontecido com Davi
sem seus pais por perto.
— Dona Quitéria? É Isabela falando — falei
preocupada.
— Graças a Deus! Dona Isabela. Estou tentando
ligar para os pais do Dr. Leonardo, mas eles não
atendem — pronunciou nervosa.
— Aconteceu algo com o Davi? — perguntei
sentindo meu corpo esfriar.
— O Davizinho está com febre. Verifiquei sua
temperatura, ele está com trinta e nove graus de febre. E
não para de chorar. Já fiz de tudo para acalentá-lo, mas
não parou. Estou preocupada — concluiu.
— Dona Quitéria, eu quero que você pegue o Davi,
chame um táxi e venha direto aqui para clínica — pedi.
— Não é melhor eu levá-lo direto a sua pediatra e a
senhora nos encontra lá? — indagou.
— Aqui na clínica temos um excelente pediatra. Se
for necessário ligamos para pediatra do Davi — disse.
— Tudo bem. Chego aí em poucos minutos —
concluiu.
M eu Deus! Será que era algo sério? Será que eu
deveria ligar para o Leo? Ou era melhor esperar o Dr.
Luís examiná-lo e, dependendo do que fosse, decidiria se
ligava ou não.
Pedi a Lilian que verificasse se o Luís tinha muitos
pacientes para atender. E o informasse da situação do
Davi. Peguei minha carteira e tirei dinheiro para pagar o
táxi, corri para o estacionamento para esperar eles
chegarem.
Dez minutos depois, o táxi chegou. Fui logo abrindo
a porta para que dona Quitéria saísse com Davi. Paguei
o taxista e voltei para dar assistência ao meu enteado.
Assim que o coloquei nos meus braços, senti o quão
quente estava. Seus olhinhos estavam inchados de tanto
que havia chorado.
— Ele adormeceu no caminho — falou dona Quitéria
sorrindo — Adora andar de carro. Às vezes quando está
emburrado Dra. Gabriela o leva para passear e ele volta
mansinho.
Sorri porque era verdade, por mais que estivesse
agitado quando estava conosco, na hora que Leo o
colocava na sua cadeirinha no carro se acalmava
automaticamente. E com a Heloísa era do mesmo jeito.
— Falei com a dona Gabriela há uma hora — avisou,
alisando sua cabecinha — Ela ficou tão preocupada,
acredito que estará aqui em poucas horas.
Imagino que ela tenha enlouquecido de preocupação.
Não duvido que nesse momento esteja dentro de um
avião vindo pra cá. Será que ela avisou o Leo? Precisava
falar com ele — Vamos entrar. O pediatra irá examinálo — sorri para a senhora a minha frente.
Os conduzi até a minha sala e fiquei com Davi em
meus braços aguardando o Dr. Luís terminar de atender
dois pacientes, dona Quitéria e eu conversamos
bastante. Ela era uma senhora agradável e muito justa e
era visível o quanto gostava da Gabriela e do Davi. M as
não conseguia me concentrar muito na conversa, fitava o
Davi em meus braços e desejava que não fosse nada
muito grave.
Olhei para o relógio e marcava dezessete horas e
quinze minutos, hoje tinha perdido totalmente a noção
do tempo. Lilian apareceu na porta avisando que o
pediatra iria atendê-lo. M e deu um aperto no coração
saber que o Dr. Luís iria acordá-lo quando estivesse
examinando. Davi dormia tão sereno, nem parecia que
estava febril. Lilian informou também que tinha chegado
mais duas crianças para serem atendidas. Como a dona
Quitéria falou que ele dormiu muito pouco e que o tinha
medicado antes de vir pra cá, pedi a Lilian que deixasse
o Luís ir atendendo as outras crianças. Tirei sua
temperatura e tinha baixado, porém ainda estava febril.
Peguei o telefone e liguei para Leo. Ele precisava
saber o que estava acontecendo, no entanto seu telefone
chamou até cair na caixa postal. Deixei uma mensagem
de voz, pedindo que me ligasse assim que possível.
Encerrei a chamada e passei a observar aquele anjinho
nos meus braços.
Já estava escuro lá fora, quando Davi acordou,
abrindo aqueles olhinhos redondos. Assim que me viu
abriu um sorriso largo, banguela, que derreteu meu
coração. Começou a observar o lugar, admirando um
quadro colorido que tenho na minha sala.
Dona Quitéria pegou sua mamadeira da bolsa térmica
e me entregou para tentar fazê-lo comer. Antes mesmo
de encostar o bico na sua boca, Davi já abriu a boca e
sugou o bico da mamadeira com força.
— Sabe o que eu acho, dona Quitéria? Esse garotão
aqui está cheio de dengo — pronunciei olhando e
brincando com ele, imitando uma voz engraçada.
— Também acho — Dona Quitéria concordou.
Sem esperar, a porta foi aberta de repente. Gabriela
surgiu ofegante e nervosa.
— Oh meu Deus! Como ele está? A febre abaixou?
— passava a mão por todo o seu corpinho analisando e
verificando se estava febril.
— A febre abaixou um pouco, mas é importante o
pediatra avaliá-lo — falei.
Entreguei Davi em seus braços, que o agarrou com
amor. Ficou pedindo desculpa por tê-lo deixado sozinho
e que iria matar o padrinho dele, Benício, por convencêla de ir a Brasília. Davi sorria, achando graça da mãe.
— Vou verificar se o Dr. Luís já pode atendê-lo —
avisei e saí da minha sala.
Cheguei à recepção e perguntei se o pediatra ainda
tinha paciente. Pâmela me informou que era o último
que ele estava atendendo e logo depois poderia levar o
Davi. Agradeci e voltei para minha sala.
*******
— Oi paixão, vi sua mensagem agora — falou e
mesmo sem vê-lo eu sabia que sorria — Estou com
saudades — disse com sua voz grossa e rouca.
— Também estou morrendo de saudades, não vejo a
hora que chegue amanhã à noite para me aconchegar em
seus braços — proferi, sorrindo, feito uma bobona.
— Ah! Que dizer que só sente falta dos meus
abraços — brincou. E por mais que eu adorasse esses
charminhos, não era o momento.
A Gabriela não o avisou sobre o Davi. Assim que
soube que ele estava doentinho, pegou o primeiro táxi
que viu e foi direto para o aeroporto.
— Leo. O Davi está aqui na clínica. A dona Quitéria
me ligou avisando que ele estava com febre e não parava
de chorar, então pedi que o trouxesse aqui para o Dr.
Luís examiná-lo — cuspi de uma vez. Se falasse
pausadamente, Leonardo acharia que estava escondendo
algo.
Senti sua respiração acelerar através do celular.
— Como ele está? — sua voz mudou para um tom
preocupado. Expliquei tudo deste o momento que ele
chegou aqui, até agora. Tinha certeza que Leo estava em
uma luta interna se voltava e ficava próximo do seu filho
ou se permanecia em Brasília até amanhã à noite —
Amor, ele está bem. Eu garanto — tentei tranquilizá-lo.
— Eu acredito em você, mas você acha que eu
deveria voltar e ficar com ele? — questionou. Eu não
poderia impedi-lo de vir, se assim desejasse.
Depois de alguns minutos conversando, Leonardo
decidiu ficar em Brasília.
Fiquei na minha sala aguardando terminar a consulta.
Leonardo queria falar com o Luís e saber qual o foi o
motivo do Davi ter desenvolvido uma febre.
Escutei uma batida na porta, que foi aberta em
seguida. Era Gabriela, novamente. Parecia mais serena.
— O que o Dr. Luís disse? — perguntei.
— Aparentemente ele está bem, porém pediu que
fizesse alguns exames só para ter certeza — informou.
— Que bom! Criança doente é preocupante e com
febre então, é melhor correr para o médico — disse,
tentando quebrar o gelo.
Gabriela me olhava séria, me analisando. Fiquei
desnorteada, porém a encarava por igual. Não tinha a
mínima ideia do que sairia daquela boca logo a seguir.
Tinha que estar preparada.
— Isabela — Chamou-me
— É… Estou… —
percebi que ela lutava internamente com seu orgulho.
Não disse nada, fiquei esperando que ela falasse —
Obrigada, Isabela — calou, novamente — Obrigada por
cuidar do Davi — repetiu.
— Não tem o que agradecer, Gabriela. Gosto do Davi
— proferi com sinceridade.
— Eu sei… É só que… Bem... Você sabe que não fui
uma pessoa agradável. E você não tinha nenhuma
responsabilidade com ele, então, obrigada — gaguejou e
abaixou a cabeça.
Gabriela era orgulhosa demais para admitir que não
tive culpa do seu relacionamento com Leo não ter dado
certo. Cheguei muitos anos depois que eles haviam
rompido.
— Gabriela, entendo que sua situação não é fácil. Da
mesma forma que foi difícil para você, para mim
também foi, quando soube da sua gravidez e toda a
confusão que causou diante disso. — levantei e
caminhei, parando em sua frente. Ela era bem mais alta
do que eu, mas a olhei cara a cara — Agora, o que
devemos fazer, é deixarmos tudo de ruim para trás. Já
passou. Não adianta viver amargurando o passado.
Gabriela permanecia calada, apenas escutando.
— Eu errei, você errou, o Leo errou — ergui minha
mão para que ela apertasse. Receosa, ela retribuiu o
aperto — Haverá épocas que compartilharemos
momentos. De agora em diante, vamos seguir com
nossas vidas em paz — pedi.
Soltei sua mão e retornei para a poltrona que estava
sentada. Pela primeira vez a vi sorrir com bondade.
— Bem! — respirou fundo — Agora eu compreendo
porque todos a admiram — Apertou a bolsa que estava
no seu ombro — Preciso ir. M eu bebê precisa descansar.
E... Obrigada mais uma vez por cuidar do Davi —
exprimiu.
— Até logo, Gabriela! — finalizei, acreditando que
tinha cumprindo mais uma etapa da minha vida.
Capítulo 29 – Realização de um sonho
Isabela
Acordei com o reflexo do sol entrando pelo quarto. A
felicidade logo encheu meu peito e me peguei sorrindo
feito uma boba. Hoje o dia era mais que especial.
Primeiro porque era o aniversário do Leonardo e,
segundo, queria fazer desse dia, um dia inesquecível. E
tenho certeza que seria.
Estava preparando um jantar para logo mais à noite,
aqui, em nossa casa. Seria uma reunião pequena e
aconchegante, apenas nossos familiares e amigos mais
próximos. M as também durante o dia, queria paparicálo bastante.
Nos últimos tempos, Leo vinha cumprindo com sua
promessa de me fazer feliz todos os dias. Não há um dia
que possa me queixar. Ele vem tentando e posso garantir
que vem conseguindo. Claro que como todo casal, temos
nossas divergências, mas isso é tempero de um
casamento.
Senti seu peso sobre mim. Era assim que Leo
adorava dormir, comigo enlaçada nos braços. Dormia
profundamente com seu rosto descansando na curva do
meu pescoço. Ele tinha dado plantão na noite anterior e,
quando estava prestes a voltar para casa, foi chamado às
pressas para realizar uma cirurgia de emergência
chegando em casa por volta das cinco da manhã,
completamente exausto.
Saí dos seus braços, ele se queixou ainda dormindo,
mas logo relaxou. Realmente estava muito cansado,
normalmente eu sou mais preguiçosa para levantar da
cama. Deixei-o dormindo e segui para o banheiro. Tomei
um banho relaxante e fiquei pensando sobre o dia de
hoje. Não via a hora de começar a entregar os presentes
que comprei para ele.
Vesti um vestido florido de algodão e fui para a
cozinha. Queria preparar um café da manhã especial
para o Leo e levar na cama para acordá-lo, assim como
ele faz comigo todos os fins de semana.
— Bom dia, Cida! — cumprimentei — M adrugou
hein?
Cida trabalhava na casa dos meus pais desde que eu
era uma criança, mamãe havia enviado ela para me ajudar
com os preparativos do jantar. Já que havia decidido
preparar a maioria dos pratos. Quero dizer, pensei em
fazer tudo sozinha, mas assim que minha sogra soube,
insistiu em preparar os pratos favoritos do seu filho,
restando para mim os coquetéis e a mesa de frutas que
ele adora. Tinha encomendado apenas uma torta para
quando fôssemos cantar parabéns. Os canapês e
sobremesas, Lilian e tia Luiza se ofereceram para fazer e
Julinha contratou um barman.
— Bom dia, menina Isabela. Cheguei bem cedo aqui.
Ainda bem que a sua mãe havia me dado a cópia da
chave. Senão teria que acordá-la — falou enquanto
picava algumas frutas para preparar uma salada —
Sente-se para tomar café. Não pense que não reparei o
quanto está magrinha — Para Cida eu sempre estou
magrinha, ela acha que não me alimento direito.
— Quero preparar um café da manhã bem gostoso
para o Leo e tomar café com ele na cama — falei
beijando sua bochecha e roubando uma uva que estava
na sua mão e colocando na boca.
— Deixe o doutor dormir mais um pouco —
queixou-se — O José da portaria falou que ele chegou
quando o dia estava amanhecendo.
— Sim. Ele teve uma emergência de última hora —
concordei — Leo não consegue dormir até tarde, mesmo
dormindo poucas horas — informei — Daqui a pouco
ele desperta — sorri.
— A Dona Júlia ligou avisando que chegará por volta
das dez horas e que já vem para ficar direto para o jantar
— comunicou. — Já tirei todos os objetos que possa
ficar ao alcance da sapequinha — disse se referindo a
Heloísa, minha afilhada.
— Tudo bem — assenti — Leo ficou de pegar o
Davi e a dona Quitéria no início da tarde, também —
acrescentei
Heloísa e Davi tinham completado um ano e seis
meses na semana passada. Enquanto Heloísa, parecia
um furação, que derrubava tudo por onde passava. Davi
era muito ciumento, mas obediente e menos agitado,
amava puxar os laços do cabelo da prima, acho que era o
único momento que a Helô se assustava, pois ele
avançava com gosto sobre ela. Eles dois estavam na fase
de correr para todos os lados. Já pronunciavam algumas
palavras. A primeira palavra dos dois foi “papa”. Para
derretimento do Luigi e do Leo. A Julinha disfarçava,
mas no fundo sabíamos que ela ficou meio enciumada.
Desde a nossa última conversa na clínica, Gabriela e
eu selamos um tipo de acordo de paz. Não convivíamos
juntas, mas nos encontrávamos, esporadicamente.
Normalmente esses encontros não duravam mais do que
dez minutos. Só em caso de datas especiais, como foi a
festinha de um aninho do Davi. Ela e o Leo alugaram
uma casa de festa, com brinquedos, algodão doce,
palhaços e tudo mais. A criançada se divertiu bastante.
Davi brincou um pouco, mas como estava resfriado,
logo ficava esmorecido, só querendo saber do colo do
pai.
A primeira vez que Davi dormiu em nossa casa,
Gabriela ligou umas quatro vezes durante a noite toda,
para saber se ele havia estranhado. O que não ocorreu.
Ele já estava acostumado com seu quarto quando vinha
passar o dia conosco. E, é claro, Leo estava ligado em
qualquer movimento que seu filho fazia. Qualquer
barulho que escutava através da babá eletrônica, corria
para verificá-lo.
Preparei a bandeja de café da manhã com tudo que
Leo gostava. Suco de laranja, pão de queijo, croissants,
iogurtes, frios e uma salada de frutas com granola e mel.
Caminhei para o quarto cuidadosamente para não fazer
barulho. Ele ainda dormia virado de bruços tomando
toda a nossa cama king size. Coloquei a bandeja em cima
do aparador, tranquei a porta do quarto e subi
engatinhando por cima dele traçando beijos molhados
por suas costas até chegar ao seu pescoço. Senti seu
corpo reagir e mordisquei sua orelha. Um sorriso
preguiçoso apareceu no meu homem.
— Feliz aniversário, amor! — falei com voz melosa.
— Obrigado, pequena — agradeceu. Continuei
beijando sua pele. Excitando-o — Hum! É tão bom
acordar assim com você em cima de mim. Acho que vou
ficar mal-acostumado — virou, segurando meu corpo,
para me manter ainda montada por cima dele. Notei seu
membro endurecido por baixo da cueca boxer e esfreguei,
friccionando nossos sexos um ao outro.
— Trouxe café da manhã para nós dois — apontei
para onde estava a bandeja — Tem tudo que você gosta
— seus olhos e seu sorriso demonstravam o quanto Leo
estava feliz.
Tentei sair de cima dele, mas me impediu colocando
suas mãos fortes sobre as minhas coxas, foi subindo até
levantar meu vestido e chegar em meu bumbum.
— Estou faminto... M as aquilo ali... — falou
apontando para a bandeja ​— Pode esperar um
pouquinho. Estou faminto por você, M inha Paixão —
puxou-me com força e devorou minha boca,
ardentemente.
Fizemos amor lento. Sentindo o atrito dos nossos
corpos roçando. Em seguida tomamos banho juntos, um
lavando o outro. Depois voltamos para cama e tomamos
café. Como sempre me mimava bastante, adorava me dar
comida na boca. Leo sempre certificava se eu tinha me
alimentado para depois comer.
— Era para eu estar te paparicando. E não ao
contrário — resmunguei, enquanto me oferecia uma
colherada de salada de frutas.
— Eu amo mimar você — falou sorrindo, beijou-me
e ofereceu mais uma colher cheia de salada. Neguei e
disse que estava satisfeita. Deu de ombros e começou a
se alimentar.
Levantei e fui até o closet pegar seu presente.
Leonardo me fitava esperando que eu dissesse algo.
Com a primeira caixinha azul na mão voltei e sentei por
cima das minhas pernas.
— Esse é o primeiro presente — avisei entregando
para ele — Espero que goste.
— O primeiro? — perguntou confuso.
— Sim. Você receberá três presentes — respondi —
Esse, agora, outro na parte da tarde quando o Davi
estiver aqui e o último à noite, no jantar, junto da nossa
família e amigos — abri um sorriso largo e beijei sua
boca, chupando o sumo das frutas em seus lábios —
Não vai abrir?
Balançou a cabeça e tirou a fita branca que enrolava a
caixinha. Abriu a tampa e desenrolou o embrulho. Assim
que reconheceu o objeto sorriu lindamente.
— Ah! Paixão. Você lembrou! — pronunciou,
admirando o relógio esportivo que ele tinha adorado uma
vez que fomos ao Shopping — Você viu que marca
frequência cardíaca e distância percorrida? — indagou.
— Claro que sim. Você falou desse relógio por dias.
E o quanto tinha se arrependido de não ter comprado —
confirmei — Comprei já faz umas duas semanas —
disse.
— Jura? — questionou incrédulo — Como você
consegue? Quando compro algo para você, quero te dar
logo. Só para ver seu sorriso e sua carinha de felicidade.
— Só digo que pensei várias vezes em te dar antes
— declarei. E era verdade. Estava ansiosa para ver sua
reação a cada presente.
Leonardo colocou o relógio no pulso e ficamos
conversando por alguns instantes, até ouvimos uma
batida na porta. Como estava trancada à chave, levantei
e fui destrancar. Um toquinho de cabelos encaracolados
castanhos invadia o quarto correndo desengonçada em
direção a cama. Gritando “Tito”.
— M inha princesa chegou para dar o beijo no Tito?
— Leo falou abrindo os braços e agarrando a Heloísa
que sorria toda serelepe.
— O dia mal começou e essa menina já me cansou —
Julinha adentrou falando e se jogando na cama — Feliz
aniversário, gato! E a propósito, a princesinha é toda
sua. Quero trinta minutos de sono — bradou.
— Descansa, maninha — Disse Leo para Júlia — O
melhor titio do mundo vai cuidar da minha pequenina
princesa — beijou a testinha da Helô.
Deixamos Julinha deitada na nossa cama e seguimos
com a nossa afilhada para cozinha.
— Bom dia, Cida! — Leo cumprimentou assim que
chegamos à cozinha.
— Bom dia, Dr. Leonardo. Feliz aniversário! — Cida
respondeu.
— Obrigado, Cida. Por favor, coloca um pouco de
salada de frutas para essa sapeca — Leo pediu fazendo
cócegas na Helô, me fazendo sorrir admirando-o. Ele
realmente fazia por onde ser o homem da minha vida.
******
Já passava das dezoito horas, tudo já estava
preparado e arrumado para o jantar. Os convidados
estavam previstos para chegar a partir das vinte horas.
Leo tinha saído com Luigi. Segundo Julinha, eles
estavam de segredinho, mas ela desconfia de tudo. Até
de mim, vivia se queixando que escondo algo dela, o que
de certa forma não era mentira. Ela não sabia ainda do
tratamento que vinha fazendo para engravidar.
Quando Davi chegou, logo após o almoço, peguei o
segundo presente de aniversário do Leo e pedi para que
Davi desse ao pai. Era também uma caixa azul enrolada
com fitas brancas, só que um pouco maior do que a
primeira. Era uma camisa branca com uma imagem na
frente dos dois dormindo na mesma posição, barriga
para cima e os braços levantados acima da cabeça. Havia
tirado essa foto há um mês, quando cheguei da academia
e os encontrei dormindo. Na mesma hora Leonardo
vestiu a camisa. Heloísa muito esperta percebeu na hora
que era seu “Tito” e o “Dadá”, como ela chamava o
Davi.
— Tomara que a Cida consiga dar uma canseira na
Heloísa. A pilha dessa menina nunca acaba — zombou
Julinha.
Cida e dona Quitéria tinham levado as crianças para
brincar no parquinho aqui do condomínio. Estavam
distraindo-os para dormirem próximo ao jantar.
— Isso é saúde, Ju. Agradeça a Deus que sua filha é
saudável e muito esperta — retruquei.
— Esperta? Essa pirralha não para um segundo.
Nem dormindo Heloísa sossega — gargalhei das suas
reclamações — Você acredita que ela é o terror do
berçário? Ela só tem um ano e meio e já lidera uma turma
de bebês.
— Dona Rosália e eu já falamos que se quiser pode
deixar a Heloísa um ou dois dias conosco para você
descansar.
— Bem que eu queria, mas o Luigi viria buscá-la em
dois tempos.
A Ju vivia reclamando, mas sabíamos que ela era
louca pela filha e, que não ficaria um minuto sem a
Heloísa. Ela não sabia, mas Luigi havia nos
confidenciado que um dia fingiu que levaria Heloísa para
dormir na casa da minha sogra e que a Julinha antes
mesmo de chegar à garagem do apartamento começou a
chorar implorando para que não a deixasse ir.
— Todos confirmaram presença para o jantar? —
interrogou.
— Só Luís que ligou se desculpando, sobre um
compromisso que apareceu de última hora.
— Sei bem qual é esse compromisso — Caçoou
sarcástica.
Depois da primeira consulta do Davi com o Dr. Luís,
percebemos que pintou um clima entre ele e a Gabriela.
Claro que ambos eram muito discretos, não sabíamos se
realmente eles tinham algo. Nem o Igor que era um dos
melhores amigos do Luís, ele não comentava nada. A
única certeza que tínhamos, era que os dois sempre
tinham compromissos ou estavam ocupados nos
mesmos
horários.
Até
viagem
à
França,
coincidentemente, eles fizeram na mesma temporada.
— Se o Luís e a Gabriela estão tendo algum caso, que
eu tenho 100% de certeza, e não vejo motivo algum para
todo esse mistério. Ambos são solteiros. Qual o
problema? — Ju manifestou.
— M aitê me disse que uma vez a Gabriela
questionou ao Benício sobre o que ele achava de
relacionamento com diferenças de idade.
— Ah! Isso é bobagem. Você e o meu irmão tem
praticamente dez anos de diferença. — xingou Ju — E
outra, a diferença de idade deles não deve ser tão grande.
— Não sei Ju. Só desejo que eles sejam felizes.
— Balú! — Davi e Heloísa invadiram a sala gritando,
em uníssono, pulando ao mesmo tempo em meus
braços. Os dois completamente sujos de areia do
parque.
Se você me perguntar como surgiu esse apelido, não
saberei responder. A Julinha ainda tentou ensinar a
Heloísa a me chamar de Dinda, mas como ela é do
contra, acabou aprendendo chamar Balú e logo o Davi
aprendeu também. E para ser sincera eu amei. Adoro
quando os dois me chamam assim, pedindo para
paparicá-los ou para salvá-los de encrencas. Era incrível
como mesmo pequeninos já sabiam a quem apelar por
socorro. E a boba aqui era a primeira a socorrê-los.
— Podemos dar banho neles na banheira da sua
suíte, Isa? — Cida pediu e eu assenti.
******
A maioria dos convidados já havia chegado e estavam
bem à vontade e servidos pelos três garçons que
contratei. Tudo estava saindo como esperávamos.
Depois da farra na banheira e um jantarzinho bem
nutritivo para os bebês, enfim, eles apagaram, ou como
diz a Ju, descarregaram a bateria. M as não antes do Leo
chegar para colocar o Davi para dormir e Luigi a sua
princesinha.
A portaria informou que mais um carro havia
chegado. Era Igor e Gabriel, os últimos que faltavam.
Leonardo seguiu para a entrada da casa para recepcionálos.
— Não vejo a hora de o Leo abrir os presentes —
Lilian falou toda empolgada, enquanto bebericava uma
taça de vinho branco.
— Também estou ansiosa. Será que ele irá gostar do
meu terceiro presente? — perguntei duvidosa.
Lilian olhou-me de cara feia questionando minha
pergunta ridícula.
— Você comprou um terceiro presente para o
Leonardo e não me falou?!
— bradou Julinha
enciumada — Puxa Isa! Você não me fala mais nada —
fez um bico, tristonha.
— Você me ajudou a comprar o relógio e a camisa,
Julinha — expressei a abraçando e beijando sua face —
Além disso, não falei para ninguém o que comprei para
o terceiro presente — conclui e Lilian concordou.
— Paixão? — ouvi Leo me chamando do outro lado
da sala.
Dei mais um beijinho na Ju e saí ao encontro do meu
marido.
— Boa noite — cumprimentei Igor e Gabriel.
Leonardo me puxou para seus braços em sinal de posse.
O que fez o Igor rir — Sejam bem-vindos à nossa casa.
Espero que se divirtam essa noite.
— Com certeza! A noite promete — Igor falou
piscando o olho para mim.
— Luís não vem? Liguei para ele, mas seu celular só
cai na caixa postal — Gabriel contou.
— Ele me avisou, hoje pela manhã, que tinha surgido
um compromisso irremediável — Leo explicou.
— Ah! Tá. Sei muito bem o que é esse compromisso
irremediável. — bufou Igor — Deus me livre de me
apaixonar! Está feito um idiota. O cara sempre esperou
a mulher ideal. Do nada aparece a loira platinada e de
quebra, ainda traz uma amostra grátis pendurado no
pescoço — instigou. Fazendo com que Gabriel e eu
sorríssemos.
— Essa amostra grátis a qual se refere, por acaso é
meu filho? — Leo perguntou já irritado com a piadinha.
— Dr. Leonardo, relaxe. Hoje é seu aniversário. Olha
os cabelos brancos — brincou Igor.
Pedi que ficassem à vontade e me retirei. Conversei
um pouco com meus pais e os meus sogros. Eles
estavam animados. Papai com o resultado e desempenho
da clínica e o Senhor Virgílio por causa da sua
aposentadoria.
M amãe lembrou-me para não servir o jantar muito
tarde, pois Benício e M aitê estavam de viagem marcada
e o voo deles seria em poucas horas. Eles estavam
saindo em uma segunda lua de mel. Benício iria
apresentar a Europa à M aitê. Como professora
universitária de História Antiga, seu sonho era conhecer
Roma e a Grécia. E ele estava proporcionando a
felicidade da sua morena.
Pedi à mamãe que avisasse a Cida para servir o
jantar, porém tinha certeza que tudo já estava
devidamente organizado. Cida não parava quieta. Hoje
pela manhã, sentiu-se ofendida quando falei que
contrataria uma pessoa para ajudá-la na cozinha para o
serviço não ficar muito pesado. Nem cheguei
argumentar. Ela me fuzilou só com o olhar e eu já sabia a
resposta. Não quero.
O jantar ocorreu com muitos risos. Igor comandou a
alegria, até Leonardo acabou esquecendo a piada que ele
tinha feito com Davi e se divertiu. Em seguida Cida
trouxe a torta que havia encomendado. Era recheada de
morangos com chocolate, a favorita do Leo. Cantamos
parabéns e fizemos aquela algazarra na hora. Quando
assoprou as velinhas, Leonardo fechou os olhos e sorriu
ao fazer o pedido silenciosamente. Cortou a torta e
ofereceu o primeiro pedaço para mim. Que retribuí com
muitos beijos. Como estava satisfeita, acabamos
dividindo o mesmo prato de torta, no entanto ele pediu
discretamente a Cida, que guardasse um pedaço na
geladeira para ele comer mais tarde.
Todos nós retornamos para sala, para que Leonardo
abrisse os presentes. Essa era a parte que ele mais
odiava. Ser o centro das atenções. M esmo que fossem
sua família e amigos mais chegados o encarando. O
primeiro presente que Leo abriu foi o dos seus pais,
depois da Ju e Luigi, em seguida dos meus pais e nossos
amigos. Por fim peguei a terceira caixinha azul enrolada
com fitas brancas e parei de frente a ele. Assim que viu a
embalagem abriu um sorriso, na certa imaginou que seria
um cinto branco, já que o formato assemelhava a uma
caixinha de cinto e ele tinha se queixado do seu cinto
estar ficando encardido e que precisava comprar de
outro.
— Primeiro quero agradecer a presença de todos —
chamei a atenção de todos na sala — Saibam que essa
noite é muito especial para mim e para o Leo. E fico
muito feliz por vocês fazerem parte desse momento
único.
Acenei para o barman que, no mesmo instante, abriu
a porta da cozinha e dois garçons surgiram com bandejas
repletas de taças de champanhe. Aguardei que servisse a
todos os convidados e a Leo. Peguei uma taça de suco
que tinha pedido e olhei para o Igor que me incentivava
a continuar. Fitei Leo, novamente.
— Leonardo, hoje quero agradecer a Deus por tê-lo
ao meu lado e dizer que sou feliz, do amanhecer ao
anoitecer com você — minhas mãos tremiam de tão
nervosa que estava — Você é a pessoa mais incrível que
conheço. Sei que é muito possessivo e ciumento, mas,
com tudo isso, nunca o vi se envaidecendo ou
acumulando raiva de alguém.
Coloquei a taça de suco em cima da mesinha do
centro e peguei a sua mão.
— Agradeço a Deus, por tudo de bom e de ruim que
aconteceu nas nossas vidas. Você é o homem que escolhi
viver para o meu “todo o sempre” — Leo me fitava com
olhos marejados — O aniversário é seu, mas quem ganha
o melhor presente do mundo sou eu — ele beijou minha
testa, emocionado.
O silêncio tomava toda a sala.
— Na hora que apagou as velinhas, sei que fez um
pedido especial. No entanto gostaria que fechasse os
olhos, novamente. E, com os olhos fechados, gostaria
que pedisse a Deus sabedoria, perseverança e muita
disposição, porque daqui em diante sua carga diária irá
aumentar — lágrimas já banhavam meu rosto.
Leo abriu os olhos e encarou-me desconfiado.
Entreguei a caixinha azul. Ele desfez o laço,
rapidamente, retirando a tampa. Ficou estático olhando
para o conteúdo sem acreditar no que continha no seu
interior. Depois fixou o olhar em mim. Nesse momento
alisei meu ventre e escutei suspiros da minha mãe, que
tinha compreendido. Leonardo retirou da caixinha um
par de sapatinhos de bebê, sendo um na cor rosa e outro
na cor azul.
— Comprei de cores diferentes porque ainda não
tem como saber o sexo — expliquei.
— Jura? — perguntou incrédulo olhando meu ventre.
Ele parecia não acreditar.
— Davi agora será o irmaozão mais velho, papai —
confirmei.
Escutei aplausos, assobios e alguns choros dos
nossos amigos e familiares, porém estávamos, ali,
parados, um fitando o outro. Peguei a taça de suco —
Um brinde a nossa família que está crescendo e por
realizar o meu sonho de me tornar mãe.
Leo aproximou-se de mim e beijou meus lábios,
ajoelhando-se, em seguida, e beijando meu ventre.
M esmo com todos festejando, era o nosso momento. Só
ele e eu, ali, emocionados e chorosos.
— Como? Quando descobriu? — perguntou ainda
sem acreditar.
— Descobri ontem pela manhã.
— M as... M as você não comentou nada.
— Queria te fazer uma surpresa, mas juro que foi
muito difícil de esconder. Quase te falei quando chegou
do plantão de madrugada.
— Leonardo me deixe abraçar a minha menina —
meu pai pediu emocionado ao lado da minha mãe — Oh!
M inha menina que notícia maravilhosa. Quer dizer que
vou ser vovô?
— Aham... Um vovô muito bonitão por sinal —
afirmei.
Um a um, todos nos parabenizaram. Leo permaneceu
o tempo todo ao meu lado. Vez e outra alisava minha
barriga. Até a Julinha quando nos parabenizou não fez
drama, veio toda chorosa. Compreendeu e amou a
surpresa de ter mais um sobrinho.
M ais tarde quando todos já tinham ido embora. Fui à
cozinha beber água, enquanto Leo verificava o Davi.
Abri a geladeira e tive uma ideia ao ver o pedaço de torta
que Cida tinha separado para ele. Peguei a torta e um
garfo, pendurei uma garrafa d’água debaixo dos braços e
fui para o nosso quarto. Passei devagarzinho pela porta
do quarto de Davi, para não chamar a atenção dele.
Sentei na cama e fiquei aguardando Leo voltar. O que
não demorou muito.
— Sabia que essa torta, a Cida guardou para mim?
— questionou sorrindo assim que viu a torta nas
minhas mãos.
— Essa torta?
— perguntei, fingindo não
compreender e levando um pedaço enorme a boca —
Hum! Está deliciosa — brinquei.
Ele veio até mim e tentou pegar o prato, mas o
impedi.
— É meu aniversário. É meu pedaço de torta,
sabichona — fingiu estar bravo — M e devolva! —
pediu sério, no entanto seus olhos sorriam com a
brincadeira.
— Amor! Você vai negar um pedaço de torta a sua
mulher grávida? Cuidado no terçol, hein! — não
aguentamos e caímos na gargalhada.
— Nunca negaria nada a você e aos meus filhos. —
Beijou-me chupando meu lábio inferior.
Comecei a dar garfadas de torta na sua boca, assim
como ele faz comigo. Quando acabou, ele abriu a garrafa
de água e ofereceu-me antes de beber.
— Você está ainda mais radiante — declarou entre os
goles de água que dava.
— Eu estou muito feliz — confirmei.
Colocou a garrafinha na mesinha ao lado e puxou-me
para seus braços. Levantou minha camisola e alisou
minha barriga com carinho.
— Obrigado, Isabela. Obrigado por fazer de mim um
homem totalmente realizado. Você e meus filhos são a
minha vida — concluiu.
*******
No dia seguinte, levantamos um pouco mais tarde,
trocamos de roupa, arrumamos o Davi e seguimos para
clínica. Era sábado, mas Leo tinha convencido Igor a
fazer uma ultrassonografia para saber como estava o
bebê.
Depois da ampliação, papai decidiu que o
funcionamento da clínica fosse apenas de segunda à
sexta. Então seríamos apenas nós, por lá. Chegamos ao
estacionamento e avistamos Igor conversando com Sr.
Severino, o caseiro que morava numa casinha nos fundos
com sua esposa dona Neide, que trabalhava também na
clínica como auxiliar de limpeza.
— Eu devo gostar muito de vocês para deixar uma
morena linda e muito gostosa na minha cama para vim
brincar de médico — Igor xingou adentrando a clínica
assim que foi aberta por Sr. Severino. Porém sabia que
ele estava brincando.
— Bom dia Igor. Bom dia Sr. Severino — disse
seguindo ele e Leo com Davi em seus braços logo atrás
de mim.
Entramos em seu consultório e Igor foi logo ligando
os aparelhos. Fui até o seu banheiro e troquei de roupa,
colocando um robe de seda perolado que tinha trazido
de casa. Retornei para o consultório. Igor e Leo estavam
conversando. Não vi Davi e presumi que a dona Neide o
tinha levado para ficarmos mais relaxados.
— Está tudo pronto? — perguntei caminhando em
direção à maca.
— Sim, minha deusa — Igor confirmou.
Leo veio para perto de mim e ajudou-me a deitar na
maca.
Igor delicadamente introduziu a sonda em mim e
moveu lentamente. Seria uma ultrassonografia
transvaginal. Apontou para o monitor e logo apareceu o
meu bebê. Tão pequenino. Levei minha mão à barriga e
alisei. M eu amor por ele já era enorme. Depois de mais
de um ano fazendo tratamento, vivendo a expectativa
mensal de uma possível gravidez, enfim consegui
realizar meu sonho. Hoje eu poderia dizer que sou uma
mulher completa.
— Está vendo amor, nosso bebê? — Leo perguntou
emocionado, beijando meu rosto e os nós dos dedos da
minha mão.
— Sim. Nosso bebê — respondi sem piscar o olho
do monitor.
— Aqui está o batimento cardíaco do bebê — Igor
disse.
Os batimentos eram fortes e parecia música para os
meus ouvidos. Fechei os olhos, ouvindo aquele som
único. Perfeito. Senti uma mão acariciando meu rosto
secando as lágrimas que não cessavam de cair. Abri os
olhos e vi Leo emocionado, suas lágrimas começavam a
derramar. Alisei seu rosto secando-as também.
— Aparentemente tudo está bem. Não há nenhuma
má formação — Igor interrompeu enquanto analisava —
Pelas minhas contas, você deve estar com sete semanas
— senti Igor deslizar a sonda alguns centímetros e parar
rapidamente — Opa! Opa! Opa! Veja só o que eu
encontrei. Quase passei despercebido — M eu corpo
gelou por completo. Apertei forte a mão de Leo.
— O que foi, Igor? — proferi assustada — Fala,
logo! Está tudo bem com meu bebê?
— Dr. Leonardo, você está vendo o que estou
vendo? — Igor questionou Leo.
Um sorriso perfeito se formou em Leo assim que
notou algo que Igor mostrava no monitor.
— Congela essa imagem, Igor — Leo pediu — Preste
bem atenção na imagem, amor — Olhei atentamente.
Buscando enxergar o que eles estavam vendo. Olhei
os quatro cantos do monitor. E quando percebi meu
coração pulou. Se pudesse morrer de felicidade, morreria
aqui e agora. Agradeci silenciosamente a Deus por essa
bênção.
— São gêmeos? — interroguei ainda sem acreditar.
— Sim meu amor. Seremos pais de gêmeos — Leo
replicou — Obrigado, M inha Paixão. Obrigado —
beijava meu rosto. Nossas lágrimas nos banhando de
choro de alegria.
— Sugiro a vocês buscar patrocínio com alguma
fábrica de fraldas descartáveis — caçoou Igor — Além
dos gêmeos, ainda tem o cachinho dourado — zoou
ainda mais — Cara, você está ferrado. Três crianças?
Não consigo lidar com isso — balançou a cabeça — No
entanto, parabéns ao casal. E vou logo dizendo que se
forem meninas, ou sequer uma sair menina e tiver um
por cento da beleza da minha deusa, não quero nem
saber se existiu plebiscito para o porte de arma. Vou
comprar uma e não vou deixar ninguém chegar perto dela
— começamos a rir e não cabia em mim, tanta felicidade.
— Hoje é um dia inesquecível — expressei extasiada.
— Ah! Hoje é o dia mais feliz da minha vida — Leo
pronunciou— A partir de hoje terei quatro motivos para
me fazer sorrir todos os dias — Puxou-me para os seus
braços e sugou minha boca sem se importar estar na
frente de Igor — Eu te amo, Isabela.
Capítulo 30 – V.I.D.A.
Leonardo
— Lilian, onde está Isabela? — perguntei por minha
mulher assim que adentrei ao escritório.
— Ela está na aula de Pilates — Lilian respondeu
tranquilamente. Droga! Que mulher teimosa. Eu já tinha
pedido a ela que não exagerasse nos exercícios. M aldita a
hora que o Igor indicou Pilates para Isa — Não faça essa
cara, Leo. A Isa precisa fazer alongamentos. Os bebês
estão pesados e a sua coluna dói, apesar de que não se
queixa de nada e vive conversando com os bebês, ela
sente dores na coluna e precisa fazer exercícios. Se
acalme, homem! — queixou-se.
Nesses últimos meses, devo ter criado vários fios de
cabelo branco na minha cabeça. A gravidez de gêmeos no
início estava sendo bem tranquila. Isabela não havia tido
nenhum dos famosos enjoos matinais do primeiro
trimestre da gestação, sua única alteração tinha sido o
aumento do apetite, já que se alimentava por três, e o
sono incontrolável. Onde se encostava, minha pequena
dormia, até na clínica, muitas vezes tirava uma ou duas
horas de almoço para dormir, coisa rara de acontecer
antes.
M as com os meses passando, a barriga crescendo e o
peso de carregar dois bebês aumentando, Isa vinha
compreendendo que seu ritmo não era mais o mesmo. Já
não achava posição para dormir e tinha momentos que,
os bebês, entravam em conflitos entre si, na sua barriga,
em plena madrugada, mostrando que seriam peraltas. E
mesmo assim, ainda era birrenta e queria trabalhar todos
os dias.
— Sua amiga é muito teimosa — xinguei e falei para
Lilian — Ela já está entrando no oitavo mês, não pode
estar fazendo estripulia. Vê minha cabeça! Já está cheia
de fios de cabelo branco.
— A Isa está seguindo todas as orientações médicas.
Ela é ciente e muito obediente do que pode e não pode
fazer — explicou.
— Se fosse obediente, estaria em casa descansando e
não aqui na clínica, trabalhando.
— Ela está grávida e não doente — disse. Como se
eu pudesse esquecer.
— De gêmeos! — lembrei-a.
— Desisto, Leonardo M enezes. Não sei como a
Isabela aguenta você e o Dr. Estevão no pé dela 24 horas
por dia — levantou a mão em sinal de rendição.
Saí do escritório sem dizer mais nada e caminhei indo
direto para a ala de fisioterapia, onde ficavam os
aparelhos de Pilates. Cheguei lá de mansinho e fiquei
observando Isabela fazendo o alongamento assistido por
Alice, que era especialista na área.
Isabela tinha conseguido a proeza de ficar ainda mais
bela do que já era. A gravidez tinha feito muito bem a
ela. Sua barriga estava enorme e arredondada. Eu
realmente estava exagerando nas minhas atitudes.
Embora não aceitasse que viesse trabalhar todos os dias,
ela, ao menos, concordou em parar de exercer sua função
no período gestacional.
Seus pacientes haviam sido designados a outros
fisioterapeutas, atendendo todas as suas orientações e
assistências. Ainda tentou continuar no doutorado, mas
com uma barriga de gêmeos, ela passou a ficar inquieta e,
não conseguia ficar mais de duas horas, parada no
mesmo lugar.
No escritório, Dr. Estevão reorganizou o lugar,
deixando-o estruturado para uma gestante trabalhar. Isa
havia se queixado, achando exagero do pai. Dizia que
muitas grávidas trabalhavam com muito menos, e seus
filhos nasciam saudáveis. No entanto, meu sogro fora
categórico: eu posso, eu faço. E de certa forma o
entendia. Isabela era sua única filha e, depois de mim,
meu sogro era o segundo mais paranoico com sua
gravidez.
Assim que me viu, abriu o sorriso lindo, que me fazia
apaixonar por ela todas as vezes, que aparecia em seu
rosto. Aproximei-me beijando seus lábios e acariciando
sua linda barriga.
— Olá barrigudinha! — saudei. E no mesmo instante
senti os bebês mexerem.
— Nossa! Estavam tão quietinhos — colocou sua
mão sobre a minha — Eles não podem escutar sua voz
que já ficam agitados. — Sorriu.
Depois que os bebês mexeram a primeira vez, todas
as noites antes de dormir, Isa cantava baixinho músicas
de ninar. Ela falava que os relaxava e deixavam ela dormir
um pouco, então passei a cantar também para eles e,
muitas das vezes, conseguia acalmá-los e fazer a Isa
dormir também. Até o Davi, quando passava a noite
conosco, adormecia sustentando sua mãozinha em cima
da barriga. Tanto ele, como a Helô, compreendiam que
dentro da barriga da sua Balú havia bebês e que eles
tomariam conta, por serem os mais velhos, porém não
entendiam o porquê da Isa não poder brincar de correr
atrás deles e colocá-los nos braços. Só podia quando
estivesse sentada. E com cuidado.
— Como está sua coluna? — interroguei atento.
— Hoje pela manhã incomodou bastante, mas agora
já está bem melhor — proferiu — Cadê seus modos
Leonardo? Não cumprimenta as pessoas ao redor —
reclamou, pelo fato de não ter cumprimentado a nossa
colega de trabalho.
— Como vai, Alice? — disse — Desculpe minha
falta de educação.
— Não tem problema, Dr. Leonardo — ela parecia
ser uma boa moça, tinha começado a trabalhar há alguns
meses na clínica, para substituir Isabela na coordenação
da ala fisioterapêutica e ortopédica. Ambas se deram tão
bem que se tornaram amigas — Tenho outra paciente
para atender agora. Com licença — despediu e se
retirou, deixando Isa e eu sozinhos.
— Temos consulta com Igor em poucos minutos —
avisei.
— Sim. M as, antes, preciso falar com as meninas da
recepção — franzi o cenho sem entender, mas Isa foi
logo explicando — É sobre um mal-entendido que
ocorreu pela manhã com um paciente e acabou dando
um grande problema para Lilian resolver — alisou meu
peitoral — Nos encontramos em quinze minutos na sala
do Igor? — perguntou e acenei, confirmando.
Acompanhei-a até o corredor que dava até a
recepção. Beijei sua testa. Ela virou e foi caminhando,
tranquilamente. Fiquei observando até ela sumir das
minhas vistas.
********
— Está todo mundo procriando — Igor comentou —
Benício levou a mulher para conhecer a Europa e a sua
morena voltou grávida — balançou a cabeça discordando
— Até parece final de novela que todas as mocinhas
aparecem grávidas.
Estávamos no seu consultório aguardando Isabela.
— Sim. As férias prolongadas, do casal rendeu um
fruto — sorri com seu comentário. Estava feliz pelo
meu amigo. Poucos dias antes de voltar para o Brasil
M aitê teve uma indisposição que acabou revelando,
também, uma gravidez. A diferença dela para a Isa era de
dois meses. Um garotão estava para chegar e Benício
estava exultante — Você precisa encontrar alguém, Igor.
E construir uma família. Ser pai é muito gratificante —
disse orgulhoso.
— Essa vida monogâmica não é para mim, Léo.
Gosto da liberdade. Voar livre — sorriu malicioso.
— M as para quem gosta de ser livre, ultimamente,
você anda um pouco quieto. A mulherada aqui da clínica
está estranhando. Ou sentindo falta do Igor pegador —
incitei-o.
— Você que pensa que estou quieto, apenas estou
buscando novos ares.
— Sei… — fingi acreditar.
— Sabe o quê? — perguntou desconfiado — O que
se passa nessa sua cabeça, Dr. Leonardo M enezes?
— Não só na minha cabeça, Igor, mas na cabeça de
todos os funcionários da clínica — provoquei, mais
ainda. Era a primeira vez que o via irritado, sem saber o
que dizer — Talvez certa loira, que parece mais uma das
Angel’s da Victoria’s Secret do que uma simples
fisioterapeuta, te lembre algo. Hein?! — Nossa! Como
era incrível estar do outro lado. Do lado provocativo.
Estava adorando vê-lo sem reação.
— Ela não faz o meu tipo. M uito alta e muito magra
— falou sem me encarar. Não aguentei e caí na
gargalhada, minha barriga se contorcia — Não vejo
motivos para toda essa algazarra.
— Eu vejo. Vejo onde isso vai chegar. Igor fugindo de
uma mulher — pronunciei entre os risos.
Uma batida na porta me fez controlar, ela foi aberta e
logo surgiu uma barriga linda, seguida da mulher que
amo.
— Atrapalho o bate-papo? — Isabela perguntou
sorrindo.
— Você nunca atrapalha, minha deusa. Estávamos
falando bobagem enquanto você não vinha — Igor se
habilitou a falar rápido para mudar de assunto — Vá
colocar seu robe e venha para vermos como os bebês
estão.
Isabela seguiu para o banheiro adiante e Igor
começou a analisar o prontuário dela. Ele conhecia o
histórico da minha mulher de trás para frente, mas
estava evitando olhar para mim, receoso que eu
continuasse provocando. Fiquei calado encarando-o,
sorrindo internamente. M eus dias de dar-lhe o troco
estavam chegando.
Isabela retornou ao consultório com um robe lilás
que sua mãe, Lorena, havia comprado para seu enxoval.
Sempre que ela tinha consulta trazia um robe consigo na
bolsa.
Depois que Igor fez todos os procedimentos pediu
que Isabela sentasse ao meu lado.
— Isa, você está entrando na 32° semana de
gestação, a partir de agora todo o cuidado é pouco e, no
seu caso, é em dobro — minha pequena prestava
atenção, atentamente, ao que Igor falava — A partir de
agora seu corpo vai mudar ainda mais. É normal o
aumento do inchaço nos pés, mãos e rosto, a facilidade
de aumentar peso também é diferente nessa etapa final.
Os bebês estão ocupando quase todo o espaço da sua
barriga, mas isso não quer dizer que eles fiquem menos
ativo. Talvez você tenha ouvido dizer que os bebês se
mexem menos no final da gravidez, mas não é
exatamente isso. O que acontece é que os movimentos
ficam diferentes. Sensação de rolamento — Igor
concluiu.
—Está tudo bem com eles, Igor? — apertei sua mão
a confortando. M esmo com todo o desconforto que
vinha sentindo nas últimas semanas, ela vinha tendo
uma gravidez muito tranquila e saudável.
— Sim. Eles estão ótimos e loucos para sair e
conhecer a mãe linda deles — Igor a tranquilizava —
M as a partir de agora ficaremos em alerta. Se sentir
dores de cabeça, contrações, pequenos sangramentos,
me liguem imediatamente — Isa e eu confirmamos —
Como sei que estará aqui na clínica, aumentarei suas
consultas, então não tire esse robe da sua bolsa se não
quiser vestir uma das minhas batas de paciente. Elas são
totalmente sexys para gestante — Igor piscou para ela.
Percebi que me olhava desconfiada e imaginei o que
queria perguntar.
— Amor, está tão pertinho dos nossos filhos
chegarem, tem certeza que quer fazer outra
ultrassonografia? — antecipei perguntando.
— Leo, eu quero saber o sexo do outro bebê —
pediu toda manhosa. Nas últimas ultrassonografias
conseguimos detectar apenas o sexo de um dos bebês.
— M as não tínhamos combinado para ser surpresa?
— questionei.
— Sim. M as estou muito curiosa.
Não resisti ao seu bico e concordei em fazer mais
uma ultrassom. Isabela levantou e sentou no meu colo
beijando meu pescoço e agradecendo.
— Bem, já que os pombinhos vão fazer outra
ultrassom, vou ligar o aparelho — Igor tinha desligado o
aparelho porque éramos os últimos a serem atendidos e
achava que não iríamos usá-lo.
Ajudei Isabela a subir e deitar na maca. Abri seu
robe, cuidadosamente, deixando apenas sua barriga de
fora. Peguei sua mão e entrelacei com a minha como
fazia das outras vezes. Igor sentou-se do outro lado da
maca. Espalhou o gel sobre sua barriga e cuidadosamente
começou a deslizar o transdutor. De imediato a imagem
dos nossos bebês apareceram. Igor analisou
minuciosamente cada um. Peso, tamanho e a vitalidade
dos bebês. Isabela, como sempre, olhava para o monitor,
ansiosa e apaixonada.
— Eles são lindos! — Isa admirava-os — Oi meus
amores, a mamãe está vendo vocês.
— Aquele narizinho ali será arrebitado como o seu,
amor — proferi encantado.
A tecnologia nos proporcionava essa alegria de ver os
rostinhos, mãozinhas e até se ele teria cabelinho.
— Bem, aqui está um meninão — Igor pronunciou
centralizando apenas num bebê.
— Oi Vinícius, meu amor — Isa expressou.
— Como você sabe que é o Vinícius? E se outro
também for um menino? — questionei sorrindo e
alisando seus cabelos.
— É ele. Tenho certeza — garantiu — Igor, e o outro
bebê? Será que dessa vez colabora conosco?
— Com certeza, minha deusa — afirmou — Vamos
às apostas, Leo? M enino ou menina?
Fitei Isa que vivia a expectativa de saber se seria mãe
de dois meninos ou de um casal.
— O importante é que venha com saúde — afirmei.
— Chuta amor! Tenho certeza que se você errar não
influenciará no seu amor por ele.
Isso era verdade. Independentemente do sexo, eu já
os amava com toda a minha força.
— Bem, então eu aposto uma pizza gigante que é
outro garotão— pisquei para ela — Você sabe amor,
quero montar um time de futebol — dei de ombros.
— Eu aposto uma barca imensa de sushi que é uma
menina — Encarou-me com seus olhinhos brilhando —
Ela será a garotinha do papai.
Não resisti e beijei seus lábios, demostrando o
quanto a amava.
— Você sabe que ganhando ou perdendo, você terá
sua barca imensa de sushi. Não sabe? — relatei assim
que soltei seus lábios.
— Tenho certeza que sim — alisou meu rosto e
voltou a fitar Igor — E aí, meu amigo? Eu sei que você já
sabe o que é — certificou. Igor sorriu, movimentou o
transdutor paralisando no próximo bebê.
— E aqui está… A garotinha do papai. Uma
deusinha como a mãe — Igor disse, confirmando o sexo.
Dessa vez, fui eu que fiquei estático, vislumbrando
aquela imagem perfeita na minha frente. Eu seria pai de
uma menina. A garotinha do papai. Era felicidade
demais.
— Eu sabia. Eu sabia que era uma menina — Isa
vibrava — Sonhei ontem penteando os cabelos da minha
menina.
— Já pensaram no nome? — Igor perguntou.
— Sim — Isa e eu dissemos juntos. Logo que
soubemos que seriam gêmeos escolhemos dois nomes de
meninas e dois nomes de menino.
— M inha menina se chamará Annie — Isa expressou
como uma mãe orgulhosa.
— Lindos os nomes. Vinícius e Annie. Parabéns
papais! — congratulou Igor.
*******
— Amor! Você está demorando. Vou contar até dez e
entrarei no banheiro se não sair — avisei segurando a
maçaneta da porta do banheiro.
A porta foi aberta e uma carinha de anjo muito malhumorada passou por mim indo direto para a cama.
— Nem xixi eu posso mais fazer sossegada,
Leonardo? — xingou abrindo a porta e saindo.
— Você estava demorando, então fiquei preocupado
— respondi seguindo-a — Precisava fechar a porta? —
perguntei, mas me arrependi na mesma hora. Seus
hormônios estavam alterados e ser um chato no pé de
uma grávida, às vezes era mau sinal. Vai por mim.
— Eu não posso mais ter minha privacidade nem
para fazer minhas necessidades fisiológicas? — sacudiu
os braços para cima sentando na cama indignada.
— Desculpa. Você está certa. Acho que sou
paranoico demais — comuniquei.
— Sim. Você e papai vão me levar à loucura. Com
esse cuidado exagerado.
Aproximei-me dela e comecei a massagear seus pés,
um de cada vez, eles já demostravam traços de inchaços.
— Deite e durma um pouco — pedi amavelmente.
— Eles estão inquietos. Parece que a ultrassom os
despertaram de vez — falou alisando sua barriga.
— Quer que eu cante algo para ver se eles relaxam?
— indaguei.
— Por favor. Não vejo a hora de eles nascerem.
Levantei da cama e pedi a Isa que aguardasse. Corri
até o quarto ao lado que, em breve, seria o quarto dos
bebês, peguei o violão que Luigi havia esquecido aqui na
última reunião de amigos. Retornei o mais rápido
possível.
— Não sabia que havia voltado a praticar violão? —
Isa questionou assim que viu o violão em minhas mãos.
— Você sabe, arranhava um pouco na minha
adolescência, mas ando meio enferrujado — informei —
Lembra quando saía com o Luigi algumas semanas antes
do meu aniversário? — perguntei e ela confirmou — Ele
estava me ajudando a tocar uma música que eu queria
cantar para você como prova do meu amor e da nossa
história, no entanto você como sempre me surpreendeu
na noite do jantar, me dando o melhor presente, que
foram nossos filhos.
— Que música?
— Quando era pequeno sonhava em ser cowboy —
sorri envergonhado.
— Que lindo amor!
— Adorava filmes de faroeste e músicas country —
confessei —Tinha uma música que escutava direto e
pensava em cantar um dia para a mulher que
aprisionasse meu coração.
— E eu aprisionei seu coração? — perguntou
— E jogou a chave no mar — completei — Posso
cantar?
Isabela suspirou e concordou. Ajudei a se acomodar
na cama, encostando várias almofadas para ficar o mais
confortável possível. Sentei no meio da cama e dedilhei
os primeiros acordes. Assim que consegui a melodia
comecei a cantar.
Eu juro do meu coração,
Prometo também
Dar tudo o que eu tenho pra dar
Para fazer todos seus sonhos se tornarem realidade
Em todo o mundo,
Você não irá encontrar
Um amor tão verdadeiro quanto o meu
Você sempre será o milagre
Que completará minha vida
E enquanto eu puder respirar
Eu farei a sua ser doce
O quanto nós olharmos para o futuro
Ele estará tão longe quanto pudermos enxergar.
Então vamos fazer cada amanhã
Ser o melhor que puder ser
(I cross my heart – George Strait)
Cantei toda a música como uma oração, desafinei
algumas vezes, mas naquele momento, nada importava.
Só o que declamava para ela. Era sublime e verdadeiro.
Assim que terminei, larguei o violão e fui ao seu abraço.
Seus olhos estavam marejados e emocionados. E, nossos
bebês haviam se acalmados, como se soubessem que
aquele momento era apenas dos seus pais.
Nos amamos devagar, sem pressa e sem muitos
esforços. Beijei cada parte da pele quente, lisa e ávida da
minha pequena, marcando e jurando o meu amor,
enquanto vivesse, assim como a música. No fim a
abracei de conchinha e a pus para dormir, acariciando
seu ventre e pedindo a Vinícius e Annie que deixasse a
mamãe dormir sossegada.
******
— Boa noite, anjinho. Durma bem — acariciei os
cabelos loiros de Davi — Papai estará aqui ao seu lado,
não precisa ficar com medo.
Davi havia acordado no meio da madrugada chorando
assustado por causa de um pesadelo. Sempre que isso
acontecia, levava ele para dormir comigo e Isa, mas com
a proximidade do parto, achei melhor colocar um
colchão no chão ao lado da cama e fiquei com ele até
adormecer novamente.
Levantei, lentamente, para não despertá-lo. Deixei o
mais confortável possível e fui para cama deitar. Isabela
dormia tranquilamente essa noite. Estava de barriga para
cima e várias almofadas ajudando a posicioná-la da
melhor forma. Beijei seu rosto e alisei a imensa barriga.
Já estávamos na expectativa, a qualquer momento os
bebês nasceriam. Fechei os olhos e adormeci de
imediato.
Acordei com Davi deitado ao meu lado tomando sua
mamadeira e assistindo a um desenho animado. Procurei
por Isa, mas não a vi.
— Bom dia, garotão — aninhei-o apoiando sua
cabecinha nos meus braços.
Davi sorriu e apertou meu nariz, como se
respondendo meu cumprimento sem tirar a mamadeira
da boca.
— Você viu, a Balú? — perguntei a ele por Isa, mas
continuou tomando sua vitamina de banana.
Fiquei com Davi mais alguns segundos e fui à
procura de Isa na cozinha.
— Bom dia, Cida. Você viu a Isabela? — entrei na
cozinha já perguntando por ela.
— Bom dia, Dr. Leonardo. A menina Isabela está na
varanda com a Quitéria — respondeu.
— Obrigado, Cida.
Caminhei rumo à varanda. Isabela estava sentada
com os pés apoiados. Dona Quitéria estava ao seu lado.
— Olá, amor. Saiu da cama e não percebi — falei
beijando seus lábios.
— Perdi o sono — expressou com uma vozinha
cansada.
— Ela está assim, Dr. Leonardo. Esmorecida. Pedi
que o chamasse, mas não quis — Dona Quitéria
reclamou.
— O que foi? — pronunciei preocupado — Está
sentindo algo?
— Não é nada, amor — tranquilizou, mas não me
convenceu — Só não acho uma posição confortável.
— Venha deitar, vou te fazer uma massagem — ela
abriu um sorriso e ajudei a se levantar.
Caminhamos juntos até o quarto. Isabela parou
assim que adentrou ao quarto.
— Deixe-me só arrumar a cama para ficar confortável
para você. — avisei.
Davi ainda estava deitado assistindo TV. Pedi que
levantasse só um momento para arrumar a cama para ele
e Isa ficarem juntinhos deitados.
— Vou passar aquele óleo de massagem que você
adora, o cheiro te relaxa — proferi.
— Papai, a Balú feizi xixi na talça — Davi apontou
para Isa.
Virei imediatamente e vi minha menina estática ainda
na porta segurando seu ventre.
— Cida! Quitéria! — gritei chamando-as e indo para
perto da Isabela — Davi fique quietinho aí. Tá? — pedi
e ele obedeceu.
— A bolsa estourou — Isa comunicou e abriu um
sorriso.
— Sim, meu amor. Nossos bebês estão querendo vir
para o mundo — concordei.
Ajudei ela a sair da poça de água. Cida e Quitéria
chegaram. Uma foi cuidar do Davi e a outra foi ajudar a
Isa, enquanto ligava para Igor ir direto para a
maternidade.
O caminho até a M aternidade fui tentando me
manter calmo, Isabela parecia relaxada. As contrações
haviam começado. E estavam vindo cada vez mais
frequentes em um curto espaço de tempo.
Davi ficou chorando, querendo vir conosco, porém
expliquei a ele que os seus irmãozinhos estavam
nascendo e que logo voltaria para pegá-lo para conhecer
seus irmãos. M esmo não gostando, ficou com Quitéria e
Cida, que ficou com a função de ligar para todos
avisando que a Isabela tinha entrando em trabalho de
parto.
Assim que chegamos à maternidade, Isa foi
encaminhada para uma sala reservada. Igor já se
encontrava lá e tinha organizado tudo. Vesti minha roupa
cirúrgica e fui ficar perto da minha mulher. Luís também
já estava de plantão aguardando. Ele apertou meu ombro
e balancei a cabeça.
Depois de duas horas, de contrações e mais
contrações, Igor confirmou que Isa já estava pronta. Sua
dilatação estava completa. Ela parecia mais tranquila do
que eu. Não gritava, apenas gemia e sorria, até o
momento que começou a forçar para a saída dos bebês.
Exausta, não desanimava e continuava empurrando.
Um grito alto e forte rompeu o ar, um dos nossos
pequenos anunciava sua chegada.
— Seja bem-vindo, Vinícius — Igor comunicou.
Cortou o cordão umbilical e entregou nosso bebê ao
Luís.
— M e deixe vê-lo, por favor — Isa pediu.
— Calma, minha deusa. Logo ele estará em seus
braços. Ainda tem sua garotinha — Igor lembrou e Isa
acenou concordando.
Beijei sua testa e a encorajei a forçar para nossa
pequena vir ao mundo. M enos de dez minutos depois,
Annie nascia aos berros, igual ao irmão.
— Ela é linda, amor — disse enquanto a beijava
emocionado — Obrigado. Obrigado — repetia entre os
beijos.
Depois que foram examinados, uma enfermeira
trouxe nossos bebês que estavam abraçadinhos entre si e
colocou nos braços de Isa. Que não parava de chorar de
emoção. E eu também.
— Oi, meus amores. Olha a mamãe aqui novamente
— Isa admirava e observava cada um — Eles são tão
lindos, Leo. Nossos bebês. Hoje é o dia mais feliz da
minha vida.
— O meu também, amor — concordei.
Vinícius tinha nascido com 3.050kg e Annie com
2.750kg. Pesos saudáveis para bebês recém-nascidos.
Isabela foi conduzida para um quarto individual. Ela
parecia muito cansada, mas não queria dormir. E, sim,
ficar mimando os bebês.
Logo que a notícia do nascimento dos gêmeos se
espalhou, vários presentes e flores foram chegando à
maternidade, desejando boas-vindas aos bebês. De
amigos, colegas de trabalho da clínica, amigos da
academia de dança e até do Juan, felicitando-nos pelo
nascimento.
Nossos familiares estavam todos ao nosso lado. Dr.
Estevão era o mais babão, não parava de admirar seus
netos.
— Amor, vá pegar o Davi para conhecer seus
irmãozinhos — M inha Paixão pediu segurando Vinícius
em seus braços. Annie estava pulando de braço em
braço dos avós.
— Eu só irei pegá-lo quando você dormir um pouco
— desafiei. Eu sabia que ela queria muito o Davi aqui
conosco curtindo o momento, mas Isabela precisava
descansar. Até a noite, ela e os gêmeos receberiam várias
visitas.
— Eu não estou cansada.
— Amor! Está sim. Trazer ao mundo dois bebês não
é como uma aula de dança — expliquei.
— Isabela, o seu marido está certo meu anjo. Você
precisa dormir um pouco, para estar disposta para as
visitas e, principalmente, alimentar os gêmeos —
Lorena, sua mãe, concordou comigo.
— Tudo bem — disse derrotada.
Ajudei-a se acomodar na cama e logo em seguida à
exaustão a dominou, caindo no sono. Lorena e minha
mãe colocaram os bebês nos bercinhos e saíram do
quarto para deixar minha pequena descansar tranquila.
Fiquei ali parado olhando para eles, três amores da
minha vida, enfeitiçado. Agora estávamos completos.
Tínhamos uma família linda. O que viesse daqui para
frente nas nossas vidas de maravilhoso seria lucro e mais
bênçãos. Eu era o cara mais sortudo do mundo. Tinha a
mulher perfeita e três filhos lindos e saudáveis, e estaria
com eles sempre, apoiando e incentivando a cada dia.
Precisava pegar o Davi como havia prometido, mas
antes disso homenagearia as minhas quatro bênçãos.
Chamei Lorena e pedi que ficasse com Isabela até eu
voltar. Expliquei que demoraria um pouco, mas que
quando voltasse traria o Davi. Ela amou ficar e mimar
sua filha e seus netos.
Beijei os lábios adormecidos da Isabela e acariciei
meus anjinhos que dormiam, tranquilamente, e sai para
preparar a surpresa.
Isabela
Acordei desorientada, levei à mão a barriga e logo um
calafrio tomou-me. Sentei assustada.
— Calma, meu anjo. Desse jeito você ficará tonta —
mamãe aproximou, me tranquilizando.
— M eus bebês? — perguntei nervosa.
— Estão dormindo. Estão exaustos também. Daqui a
pouco eles acordam esfomeados — virei para os
bercinhos ao lado e me apaixonei ainda mais por eles.
Será que seria sempre assim? Sinto que daria minha vida
por eles.
— M amãe, cadê o Leo? — proferi, sentindo sua
falta.
— Ele já deve estar chegando. Assim que você
dormiu, pediu que tomasse conta de você e saiu —
explicou — Ah! E também falou que pegaria o Davi —
estranhei. Deveria ter acontecido algo muito sério para
ele me deixar com os gêmeos justo hoje.
— Quanto tempo dormi?
— Algumas horas, mas você precisava descansar. E
essa duplinha, em breve, entrará em ação e você
precisará estar disposta — sorriu. — Sua amiga, M aria,
esteve aqui. Ficou alguns minutos, recebeu um
telefonema e foi embora — avisou — Gosto dela. Ela
parece uma boa pessoa.
— Sim. Ela é — concordei.
— Ela pediu para avisar que o plano deu certo. E que
iria te visitar quando estivesse em casa e que contaria as
novidades. Não entendi, mas falou que você sabia o que
significava — mamãe deu de ombros.
— Que maravilha! — vibrei. M aria estava atacando
de todos os lados para conseguir conquistar o Juan. Eles
tinham dormido juntos algumas vezes, mas nada de
assumir um compromisso sério. Ela tinha bolado um
plano que seria sua última cartada. E pelo visto tinha
dado certo. Agora estava curiosa para saber.
— Balú! — Helô e Davi entraram correndo como
sempre pelo quarto.
— Psiu! O que foi que combinamos? Nada de
barulho— Julinha entrou reclamando.
— Oi, meus amores. A Balú quer um beijo bem
gostoso dos dois. — pedi fazendo beicinho de beijo.
M amãe e Julinha os ergueram para me abraçar. Fui
alvejada de beijos e abraços pelos meus anjinhos.
Depois apresentei Vinícius e Annie. E expliquei que não
podia gritar perto deles, pois ainda eram muito
pequeninos e, os dois como os mais velhos, tinham que
protegê-los. Eles balançaram a cabeça concordando. Ju
deixou cada um beijar os gêmeos e saiu com eles para
uma sala ao lado para eles brincarem.
— Oi — escutei a voz do Leo da porta.
— Oi — disse tímida. Fazia pouco tempo que tinha
acordado e não sei se estava apresentável — M amãe
pega minha necessárie, por favor.
— Você está maravilhosa, amor — Leo pronunciou
se aproximando e sentando na beira da cama. Beijou
meus lábios e acariciou meu rosto.
M amãe pediu licença e saiu nos deixando sozinhos.
— Onde esteve à tarde toda? — interroguei.
— Fui num estúdio — disse calmamente.
— Estúdio?
— Sim.
Lembrei-me da música que ele tinha cantando e que
declarava seu amor.
— Estúdio de música? — insisti.
— Não.
— Leo! Vai ficar falando monossílabo o tempo todo?
— bradei irritada. Leo riu e novamente acariciou meu
rosto, passando um dedo delicado pelos lábios.
— Eu te amo, Isabela.
— Eu também te amo.
— Fui a um estúdio de tatuagem. Fiz uma tatuagem
— pronunciou.
— Fez uma tatuagem? — olhei surpresa, observando
seus braços para encontrar a tatuagem.
— Fiz na costela, sua boba — sorriu.
— Posso ver? — fitei-o.
— Claro, mas antes quero que saiba que é apenas
uma forma de demonstrar o quanto eu fui abençoado.
Essa tatuagem é a razão do porquê acordo todos os dias
e tenho motivos para lutar — Leo levantou-se da cama e
começou a desabotoar a camisa, tirando-a em seguida.
Do lado esquerdo havia um plástico transparente
protegendo a tatuagem. Leo retirou e virou-se para mim.
Em vertical estava escrito a palavra: V.I.D.A.
— Tatuei os quatro motivos que fazem de mim um
outro homem. Não aquele imbecil, impulsivo, do
passado. M as um pai de família, que morreria por seus
filhos e sua mulher amada. Que antes de tudo, pensa no
bem estar de vocês. Então Vinícius, Isabela, Davi e
Annie são a minha vida — finalizou com olhos
marejados, enquanto os meus escorriam de tanta
felicidade.
— M eu Deus! Leo. Não sei nem o que dizer.
— Não diga. Vocês merecem — puxei-o para perto
de mim e o beijei enlouquecida. Agradecendo e
declamando meu amor por ele e nossos três filhos. Sim.
Três filhos. Porque eu já tinha o Davi como um filho
amado.
— M as… Se depois tivermos outro bebê? — parei
de repente questionando — Ele também precisará ser
homenageado.
— Por isso deixei um espaço ao lado para
acrescentar a letra S . — gargalhou baixinho, para não
assustar os gêmeos.
Leo e eu admiramos nossos filhos por alguns
instantes.
— Isabela, você se transformou na mulher dos
sonhos de qualquer homem — Leo quebrou o silêncio
— Linda, inteligente, educada, bondosa, forte,
determinada e muito sexy. Não tenho dúvidas que será
uma mãe excepcional. Você mudou por amor, por mim,
mas muito mais por você. Da menina tímida para a
mulher poderosa. Sou ciente que o caminho não foi fácil.
M as me fala, qual é o segredo? A fórmula que encontrou
para conseguir chegar até aqui e realizar todos seus os
sonhos?
Olhei para meus bebês novamente e pensei em tudo,
o meu antes e depois de decidir ser outra pessoa.
Conquistei tudo, mesmo nos momentos mais difíceis
quando pensei em desistir. Lutei pelo o meu ideal, o que
desejava. Peguei a mão de Leo e beijei.
— ME DESCOBRINDO MULHER. Foi à melhor
forma que encontrei para ser feliz no final dessa história
— conclui entrelaçando nossas mãos.
Epílogo
Quatro anos depois...
Leonardo
— Bom dia, Dr. Leonardo — José, o porteiro
cumprimentou-me assim que parei próximo a portaria
para alongar-me depois da minha corrida matinal.
— Bom dia, José. Como estão as crianças? — José
era pai de dois adolescentes, um de dezesseis e outro de
quatorze anos. E sempre conversávamos sobre nossos
filhos.
— Estão bem, doutor. Obrigado por perguntar —
disse gentilmente — Hoje é o dia da aulinha de futebol
dos seus meninos? — perguntou.
— Sim. Daqui a pouco Benício passará aqui, vai
levá-los para a escolinha de futebol — Os meus
meninos, Davi e Vinícius, junto com Pedro, filho de
Benício, jogavam futebol todas as terças e quintas,
porém como eles estavam de férias escolares, tínhamos
aumentado uma aula extra aos sábados para treinarem
para o campeonato Interescolar que aconteceria no
próximo final de semana.
— O Vinícius falou que Davi está se empenhando
bastante para ser o craque do campeonato — sorri com
orgulho dos meus filhos e o quanto Davi era protetor e
admirado por seus irmãos mais novos, Anne e Vinícius.
— É verdade. Davi quer ser jogador de futebol
quando crescer - José confirmou.
M eu garotão mais velho estava com seis anos e era
fascinado por futebol. E como Vinícius imitava tudo que
o irmão mais velho fazia, acabou sendo atraído pelo
mesmo esporte.
— Seus garotos são ótimas crianças, doutor —
elogiou meus filhos, fazendo surgir um sorriso bobo na
minha cara de pai orgulhoso.
— Obrigado, José. Eles são meninos adoráveis —
agradeci — Bom. Preciso de um banho urgente. —
Comentei assim que terminei meu alongamento. — Até
mais tarde, José.
— Até mais, Dr. Leonardo — despediu.
— Ah! José. O Dr. Benício daqui a pouco chega para
pegar os meninos. Pode autorizar sua entrada sem
anunciar.
— Sim, Senhor — concordou
Segui para casa ainda alongando os braços. Esperava
que as crianças ainda estivessem dormindo, só assim a
Isa também estaria. Ela vinha tendo dificuldades para
dormir nos últimos dias e precisava descansar.
Entrei silenciosamente pela porta da cozinha. Dona
Cida já estava preparando o café da manhã. Desde que
os gêmeos nasceram, ela passou a ficar
permanentemente conosco. Era uma pessoa de confiança
e há anos trabalhava com os meus sogros, inclusive criou
a Isa. E as crianças eram apaixonadas por ela.
— Bom Dia, Cida. As crianças acordaram?
— Bom Dia, Senhor. Tudo na santa paz até o
momento. Só Ágata, Houdini e Estrela que já bateram o
ponto por aqui atrás de comida — Cida referia-se aos
nossos animais de estimação, dois labradores e uma gata
siamesa.
— Ah, esses não perdem tempo mesmo — sorri —
Bem, vou tomar banho enquanto a trupe não acorda —
falei saindo da cozinha.
— Não tomará café, Senhor? — perguntou antes que
chegasse a porta da cozinha.
— Vou tomar café da manhã com a Isa quando ela
acordar, mas venho te ajudar a alimentar as crianças.
Subi a escada lentamente para não fazer barulho,
passei pelos quartos das crianças e meus pequenos
ainda permaneciam dormindo. Entrei no meu quarto e
vislumbrei M inha Paixão dormindo, profundamente.
M inha vontade era beijá-la, mas não o fiz. Isa precisava
descansar.
Tomei uma ducha rápida e vesti uma bermuda cargo
na cor verde musgo com uma camisa de malha branca da
minha banda de rock favorita U2.
Saí do banheiro e avistei a minha garotinha, deitada
abraçada com sua mãe. Annie era a versão mirim da
Isabela, ninguém negava que eram mãe e filha, no
entanto tinha puxado o meu gênio, era impulsiva e ao
mesmo tempo carinhosa. Era incrível como um toquinho
daquele tamanho conseguia dobrar um adulto com seu
charminho, principalmente meu sogro, o Dr. Estevão,
que era capaz de dar a lua a Annie se assim ela quisesse.
— Bom Dia, Papai — Annie falou toda dengosa,
soltando-se da Isa e vindo até a mim, para que a
colocasse nos meus braços.
M inha pequenina se aninhou em meus braços
deitando a cabecinha no meu ombro.
— Bom Dia, meu anjinho — respondi — Vamos
deixar a mamãe dormir? — pedi, carregando-a e saindo
do quarto.
M inha garotinha acenou com a cabeça concordando e
colocando o dedinho na boca avisando para que não
fizéssemos barulho. A Isa devia estar em um sono muito
profundo, pois, sequer percebeu que a nossa pequena
estava agarradinha nela. E desde o nascimento dos
gêmeos, ela sempre acordava com qualquer barulho.
Annie esperou que eu fechasse a porta do quarto
para poder falar novamente.
— A mamãe vai demolar muito para atordar, papai?
— minha pequenina perguntou arrebitando aquele
narizinho lindo.
— Deixa a mamãe dormir só mais um pouquinho,
anjinho — Annie concordou suspirando, tristemente —
O que foi, pequena? — Perguntei sem entender a sua
reação.
— A mamãe pometeu pintar minhas zunhas assim
que eu atordasse — explicou toda séria — Eu atordei e a
mamãe ainda dorme — olhou-me abrindo aquele sorriso
de quem teve uma brilhante ideia — Papai, pinta as
minhas zunhas? Por favor!
— Ah, anjinho. O papai não é bom nessas coisas de
frufru de meninas.
— Fluflu? Ah, papai. O senhor é muito engaçado —
minha garotinha zombava de mim.
— E outra, a mamãe pode ficar triste. Vocês duas não
combinaram de fazer hoje o “Dia das meninas”? —
perguntei e Annie balançou a cabeça concordando —
Então, tenho certeza que assim que a mamãe acordar
pintará suas unhas e você as dela — disse, beijando seu
rostinho e entrando no seu quarto, colocando ela em
cima da cama — Agora você vai tomar um banho e
depois tomar seu café da manhã. Senão, o papai ficará
de castigo por não alimentar você e seus irmãos direito.
A Isabela era muito cuidadosa com a alimentação das
crianças, principalmente, com o Vinícius e Davi que
eram intolerantes à lactose.
Ajudei tirar seu pijama amarelo, cheios de desenhos
da Bela, sua princesa favorita da Disney. Era incrível!
Antes de ser pai, eu não sabia nada ou entendia de
criança. Hoje participo ativamente da vida dos meus
filhos. Sei o que cada um gosta e não gosta. Sei quando
estão chateados. Conheço seus brinquedos favoritos e
sei até o nome de alguns. Assisto todos os desenhos
animados com eles. Até os desenhos daquela boneca
loira, Barbie, eu assisto.
Sei distinguir cada um dos meus pequenos de olhos
fechados. Davi é forte, corajoso e muito protetor, porém
sempre enxugo suas lágrimas todas as vezes que ele
assiste M ogli, o menino lobo, na parte que o garoto lobo
se despede do urso Balú e vai embora para aldeia dos
humanos, próxima a floresta. Coincidentemente, Balú é
apelido que até hoje ele chama a Isa. M inha garotinha
Annie, chora soluçando até dormir quando assiste ao
filme O Cão e a Raposa. Dá dó de ver a tristeza nos
olhinhos dos meus filhos quando partes tristes de um
determinado filme acontecem, mas, mesmo assim, eles
sempre insistem em assistir novamente e choram e
sofrem com os personagens novamente.
Isa faz de tudo para não assistir determinados
desenhos animados com eles, pois chora junto todas as
milhares de vezes que eles pedem que ela assista. M eu
garotão Vinícius é o mais centrado dos três, fisicamente
idêntico a mim, exceto os olhos que são a réplica dos da
Isabela. Ele gosta de desenhos animados também, porém
não se comove. Sua paixão é por carros, com apenas
quatro anos é curioso e quer saber tudo de carro. Troca
qualquer desenho e jogo de futebol para assistir a uma
corrida de carros. Ele ainda não sabia, mas muito em
breve o levarei para assistir a um GP de fórmula 1.
Estou ansioso para ver seus olhinhos brilhando quando
entrarmos no autódromo de Interlagos.
Dona Cida entrou no quarto da Annie e avisou que
os garotos acordaram entusiasmados. Pedi que ajudasse
a minha pequena a tomar banho e terminar de arrumá-la
enquanto vou ajudar os meninos.
Entro no quarto deles e já vejo Davi todo empolgado
por causa da partida de futebol de logo mais.
— Bom Dia, Garotos.
— Bom dia, Papai — Davi e Vinícius respondem em
uníssono.
— Papai, me empresta seu celular para ligar para o
padrinho Benício para saber que horas ele vem.
Benício e eu reversávamos durante os dias de treino
dos garotos. Vinícius e Pedro estavam na turma
iniciante, já Davi era um pouco mais avançado, porém
ajudava e incentivava o irmão e o amigo.
Essa semana Davi ficaria conosco. A guarda
compartilhada, Gabriela e eu fizemos um acordo entre
nós mesmo, sem determinação judicial. Davi passaria
uma semana na casa de cada um, porém se ele ou a Gabi,
ou eu, sentíssemos saudades poderíamos ir visitá-lo ou
até mesmo ele poderia dormir uma noite na casa de um
dos pais. As viagens em família sempre eram
programadas antecipadamente para que o nosso menino
participasse de todas, tanto da minha parte como da
parte da Gabi. Até o momento vinha dando certo. A mãe
do meu garoto estava bem e muito feliz com seu marido
que parecia amá-la como ela merecia. Além do Vinícius e
da Annie, Davi também tinha outra irmãzinha por parte
de mãe, ela tinha acabado de completar um aninho. Se
chamava Luana, mas a Annie a chamava carinhosamente
de Lua e se dizia ser sua irmã mais velha.
— Seu padrinho ficou de passar para pegar vocês às
oito horas — expliquei.
— M as papai, não podemos atrasar. Prometi ensinar
alguns dribles ao Pedro — queixou-se Davi, mas sem
largar a bola.
Para onde meu garoto ia, levava sua bola a tiracolo. E
às vezes na empolgação executava alguns dribles sem
prestar atenção onde estava. Causando alguns prejuízos
nas decorações da casa da mãe, avó e Balú.
— Tenho certeza que o Pedro está, nesse momento,
apressando seu padrinho para vir pegar vocês. Então
vamos trocar de roupas e tomar café. Vocês sabem que a
Cida chiará se vocês saírem sem comer nada — Davi e
Vinícius balançaram a cabeça concordando.
— Papai, descanse bastante, porque mais tarde o
senhor comerá poeira na disputa de Formula 1 —
Vinícius falou entusiasmado. M eu menino parecia um
homenzinho falando. Julinha dizia que Vini era uma
criança feliz, mas tinha a serenidade de uma pessoa mais
velha. Diferente de sua irmã.
Tínhamos programado uma disputa de Formula 1 no
Xbox para logo mais à noite. Na verdade, seria uma
revanche que eu havia exigido eufórico, desde a última
partida que jogamos e eu perdi feio para ele.
— Estou preparadíssimo. Completamente em forma
— caçoei brincando com ele — A taça será minha hoje
— completei, fazendo Vinícius e Davi gargalharem
zombando que eu perderia feio, novamente. Eu amava
esses momentos com eles.
Ajudei os garotos a se vestirem. Em seguida fomos
para a cozinha, onde Annie já estava comendo sua
papinha de aveia com suco de laranja. Dessa vez o café
da manhã deles estava ocorrendo tranquilamente, algo
que nunca acontecia. Sempre tinha algazarra e cachorros
latindo para todos os lados. Isa amava a casa cheia de
crianças. Às vezes Heloísa, minha sobrinha, passava o
fim de semana conosco. Isso quando não estava de
castigo. Era atrevida e muito inteligente, sempre tinha as
respostas certas na ponta da língua. Levava Julinha e
Luigi na mão como bem queria, mas os amava
loucamente. Heloísa desde bebê foi esperta e decidida.
No futuro, com certeza, seria uma grande líder se assim
desejasse. As únicas pessoas que ela escutava era Isa,
por quem a Helô tinha uma grande admiração e o Davi,
que era seu parceiro e amigo de todas as horas. A Isa e
Ju achavam lindo o amor de primos que eles cultivavam.
Já Luigi e Gabi morriam de ciúmes.
— Papai, a mamãe não vai descer para tomar café?
— Vinícius perguntou.
Isa sempre estava presente em todas as refeições
com as crianças e, com certeza, eles estranharam a sua
ausência hoje.
— A mamãe não dormiu bem na noite passada e está
descansando um pouco — expliquei.
— A Balú está bem, papai? — Davi perguntou
preocupado. Ele se preocupava com o bem-estar de
todos da família.
No dia que a Gabi entrou em trabalho de parto, para
dar à luz a sua irmãzinha, Luana, meu garotão andava de
um lado para o outro todo preocupado na sala de espera
da maternidade. Só sossegou quando viu sua mãe e irmã
bem.
— Ela está bem. Só está…
— Oba! Cheguei na melhor hora — Benício
adentrava a cozinha com Pedro ao seu lado.
— Bom dia, Padrinho — cumprimentou Davi,
levantando-se e indo abraçá-lo — Vou pegar minha
mochila. Vem Vini e Pedro — chamou os meninos
deixando de lado o pedaço do sanduíche que estava
comendo.
Vinícius e Pedro saíram em disparada para pegar as
mochilas que Isa havia arrumado e deixado em cima do
sofá na noite passada. Os nossos cachorros correram,
latindo atrás deles.
— Sente-se Dr. Benício e tome café — Cida falou, já
pegando xícaras e pratos.
— Obrigado Cida, mas preciso levar os meninos para
o treino — Benício agradeceu — E a minha princesinha
como está? — Benício perguntou beijando o rostinho da
Annie.
— Estou bem, tio Bê — respondeu meu anjinho,
entretida tomando seu suco.
Enquanto os meninos não voltavam, conversamos
rapidamente sobre um paciente que nós dois estávamos
assistindo. Ele sofria de Alzheimer e na semana passada
havia sofrido uma cardiomiopatia hipertrófica, que é
quando a um aumento do músculo cardíaco, dificultando
a saída do sangue do coração forçando-o a trabalhar mais
para bombear o sangue. Estávamos esperançosos com
sua recuperação, apesar da certa idade.
Depois que as crianças retornaram, acompanhei-os
até o carro do Benício. Confirmei com Davi e Vinícius se
não estavam faltando nada na mochila e eles disseram
que não. Abracei meus filhos e afilhado, Pedro, e
despedi do meu amigo e compadre. Aguardei o carro sair
e retornei para casa entrando pela porta da cozinha.
— Cida, que horas o funcionário do Pet Shop virá
pegar Ágata, Houdini e Estrela? — todos os sábados, os
nossos bichos de estimação tomavam banho. E Isa havia
feito um pacote com o Pet Shop para vir buscar e deixar
em casa.
— Ele já deve estar chegando a qualquer momento —
respondeu.
— Vou prender logo a Estrela no container, antes que
ela se esconda.
— Já fiz. Já prendi os cachorros e a gata está na sua
gaiola. Assim que o moço chegar, entrego eles — avisou,
arrumando a bagunça que as crianças tinham feito
tomando café da manhã.
— Obrigado, Cida — agradeci.
Estrela era nossa gata siamesa, na verdade era a gata
da Annie. Ela havia escolhido uma gata ao invés de um
cachorro. Na época, Isabela ficou meio receosa devido a
sua alergia, mas acabou que nossa garotinha caiu de
amores pelo bichano e o meu pai não resistiu e deu de
presente. Por incrível que pareça ela nunca mais teve
uma crise de asma.
Além da gata, meu pai também comprou bichos de
estimação para seus outros netos. Dois labradores,
sendo Ágata para Davi e Houdini para Vinícius. E para
Heloísa comprou uma iguana, chamada Lola, um
bichinho exótico que era tratado como um bebê pela
minha sobrinha. Quando a Helô chegou com o bicho em
casa, quase mata a Julinha de um infarto. Ela ainda
tentou convencer a filha a trocar, mas não houve acordo.
M amãe sempre dizia que a Helô tinha vindo ao mundo
para ter sua marca. E, realmente, ela marcava nos
surpreendendo todos os dias.
— Onde está a Annie? — procurei minha filha, mas
não avistei.
— A deixei na sala de TV. A minha menininha está
entediada esperando a mãe acordar.
Sorri internamente, imaginando minha pequena
esperando a mãe acordar. Annie era vaidosa e muito
ansiosa.
— Vou ficar com ela. Quem sabe não consigo
amansar minha leoazinha. Quando Isa acordar avise que
estamos na sala de TV, por favor — pedi gentilmente.
— Sim. Dr. Leonardo.
M archei direto para sala de TV. Havíamos criado
esse espaço especialmente para as crianças assistirem a
seus desenhos e filmes favoritos. Além de jogar
videogame, coisa que eu adorava, fazer com eles. Era um
espaço aberto e arejado que trazia harmonia e paz. A
sala era nas cores branca, azul e vermelho. Tinha um
tapete felpudo coberto com várias almofadas, um
enorme sofá em formato de “L”, pufes coloridos e uma
mesa de centro quadrada grande feita em madeira para as
crianças desenharem.
Na parede branca ao lado, Isabela colocou fotos da
família dispostas em quadros. A minha favorita, era uma
que todos nós fazíamos caretas. Lembro perfeitamente o
momento que essa foto foi tirada. O fotógrafo queria
fazer uma foto bem descontraída e decidimos fazer uma
careta, mas ao fazermos a minha princesinha, que na
época tinha dois anos, começou a tremer os lábios e
franziu a testa chorando em seguida, alegando que eu
estava “brabo”. Nesse momento o fotógrafo capturou a
imagem e aquela carinha emburrada e iminente ao choro
foi a coisa mais linda. Diante disso, todos nós
gargalhamos e escutamos as capturas das lentes do
fotógrafo, completaram com as outras imagens na
decoração.
Entrei e encontrei minha menina quieta mexendo em
uma caixa. Aproximei e vi que era a caixa de manicure da
Isa.
— Anjinho, sua mamãe autorizou você a mexer nas
coisas dela? — questionei.
Tanto Isabela como eu, ensinávamos aos nossos
filhos a não pegar nada sem permissão.
— Sim, papai. M amãe deixou aqui para pintar
minhas zunhas hoje bem cedo — retrucou, ainda
olhando para a caixa.
— M as ela apenas deixou aqui, para facilitar quando
vocês forem pintar. E não que podia mexer sem ela por
perto — tentei explicar, mas minha pequena sempre
tinha uma resposta.
— Não estou mexendo, papai. Estou estolhendo a
tor que eu quero pintar minhas zunhas.
Annie trocava a letra “C” pela a letra “T”. E quando
ficava agitada trocava outras letras também. Ela vinha
sendo acompanhada por uma fonoaudióloga e já tinha
melhorado bastante sua dicção. Fora isso, ela já
pronunciava palavras e frases, perfeitamente, assim
como seu irmão gêmeo Vinícius.
— Vamos assistir algum desenho enquanto
esperamos a mamãe?
— Eu não quero. Quero que a mamãe atorde, papai
— disse, fazendo carinha de choro e pegando no meu
ponto fraco. Eu não sabia dizer não aos meus filhos.
— E se eu deixar você pintar as minhas unhas? Só as
das mãos — pronunciei a primeira coisa que veio em
minha mente.
Faria tudo para ver o sorriso angelical da minha
pequenina.
— Você deixa, papai? — arregalou os olhinhos que
começavam a brilhar em expectativa.
— Sim. — Concordei, já sentando no sofá e ficando
de frente para minha menina que sentava em cima da
mesa de centro.
— Estolhe a tor papai — proferiu toda empolgada.
— Deixo você escolher. Confio nos seus gostos —
respondi tirando uma mecha do seu cabelo que caia para
os seus olhos
— Oba! Adoro esse— Annie mostrou um tubinho
de esmalte na cor rosa.
— Você quer pintar as unhas do papai de rosa? — se
não fosse para ver a alegria da minha garotinha, eu já
teria me arrependido de ter sugerido ser sua cobaia.
— É a cor que vou pintar as zunhas da mamãe —
justificou — Vou testar no senhor para ver se fica
bonito. — disse simplesmente.
Annie pegou uma das minhas mãos e como se já
fosse experiente na área de manicure, limpou, lixou e
pintou seguida da outra mão.
— O que achou, papai? — perguntou curiosa assim
que terminou.
Olhei para minhas mãos e segurei o riso para sua
pintura. Havia uns borrões, mas ela tinha feito com
muita dedicação.
— Ficou lindo, meu anjinho. Sua mãe vai adorar —
falei beijando sua bochecha rosada — Agora eu quero
pintar as suas.
— M as só a dos pés, papai. A mamãe pinta a das
mãos. Eu não quero que ela fique tiste por não pintar
minhas zunhas — contestou minha pequena. Deixandome ainda mais orgulhoso, pois sabia que meus filhos não
eram crianças egoístas.
— Tudo bem, Anjinho. Passe-me esses seus
pezinhos, que o papai agora vai pintar.
Peguei um dos seus pés e mordi, delicadamente,
fazendo Annie cair na gargalhada por causa das cócegas.
Depois com seu auxílio limpei, lixei e pintei, da mesma
forma como ela tinha feito com as minhas unhas.
— O que achou? — interroguei assim que terminei.
— Eu adorei — toda sorridente — O senhor pode
trabalhar no salão. Ficou lindo.
Puxei minha garotinha para o colo e comecei a fazer
cócegas novamente, mas dessa vez fingia que ela era uma
sanfona e que estava tocando o instrumento. Annie
gritava e sorria ao mesmo tempo dizendo que borrariam
suas unhas, mas amando a brincadeira.
— Aí estão vocês — Isabela surgiu deslumbrante na
sala.
— M amãe! — Annie pulou saindo dos meus braços
e indo abraçar sua mãe subindo em cima do sofá para
ficar quase do mesmo tamanho. — Eu pintei as zunhas
do papai e depois ele pintou as zunhas dos meus pés.
M as deixei as zunhas da minha mão para a senhora
pintar — minha menina proferia as palavras
rapidamente, sem parar para respirar.
— Foi mesmo! Deixa a mamãe ver — Isabela era
uma mãe espetacular e atenciosa — Ficaram lindas, meu
amorzinho — Enunciou abraçando e beijando nossa
filha.
— Vou pintar a da senhora agora? — Annie
perguntou curiosa?
— Sim. M as primeiro deixa a mamãe dar um beijo de
bom dia no seu papai — confirmou carinhosamente e
em seguida veio até mim.
— Pintou as unhas é? — instigou fazendo uma
carinha de sapeca zombeteira para mim.
— Pintei. O que eu não faço pelas mulheres da
minha vida — retorqui a puxando graciosamente para o
meu colo e beijando seus lábios. Tendo o maior cuidado
com a intensidade do beijo, pois a nossa pequena estava
na sala — Bom dia, M inha Paixão. Você está radiante,
hoje — saudei enfeitiçado por sua beleza e doçura.
— Dormi demais, amor. Nem vi quando os meninos
acordaram e saíram — protestou tristemente.
Encostando a testa na minha e acariciando meu rosto.
— Você estava cansada, paixão. M al dormiu esses
dias — expliquei, pegando sua mão em meu rosto e
beijando seus dedos.
— Eu sei. M as gosto de estar com as crianças no
café da manhã.
— Não fique triste. As crianças entendem que esse
período não está sendo fácil para você — falei, levando
minha mão a sua barriga e acariciando o seu ventre de
sete meses de gestação.
Havíamos sido abençoados, novamente, com outra
gravidez, sem planejamento. Não esperávamos ter outro
bebê, pelo menos por agora, mas fomos agraciados com
um serzinho que daqui a dois meses chegaria ao mundo.
Essa gravidez estava sendo completamente diferente. Na
primeira vez, Isabela teve uma gravidez tranquila, sofreu
apenas com o peso de carregar dois bebês no ventre. Já
essa segunda gravidez, minha mulher vinha sofrendo os
sintomas desde o início. Enjoos, vômitos, cansaço,
fadiga e incômodo. Nosso rapazinho não parava quieto
na sua barriga. Não havia música ou conversas que o
fazia sossegar e dar descanso a Isa.
— Eu não quero que eles pensem que estou os
deixando de lado — continuou resmungando, baixinho.
— Eles não pensam, amor. Você é a melhor mãe e
esposa do mundo — alisei seus cabelos admirando-a.
Depois baixei a minha cabeça e aproximei da sua barriga
arredonda. Encostei meus lábios acariciando com beijos
por toda ela — Samuel, deixa mamãe descansar só um
pouquinho, filho — proferi para meu garoto em seu
ventre.
— O Samuca está dando trabalho, mamãe? — Annie
inquiriu curiosa.
Desde que soubemos que seria outro menino.
Escolhemos o nome de Samuel, com aprovação das
crianças que já o chamavam de Samuca. Apelido é claro,
arrumado pela pequena grande Heloísa, minha sobrinha.
— Só um pouquinho, amor — expressou Isa, se
endireitando no meu colo para visualizar melhor nossa
menina — Vamos pintar as unhas da mamãe? — Isabela
interrogou animada.
Annie vibrou e as duas ficaram ao meu lado. Cada
uma cuidando da outra. E eu apenas olhava para elas,
orgulhoso e agradecido por ter sido tão afortunado por
minha família.
FIM