análise de ecoeficiência dos sistemas de produção de carne bovina

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análise de ecoeficiência dos sistemas de produção de carne bovina
IV CONGRESSO BRASILEIRO SOBRE GESTÃO PELO
CICLO DE VIDA
9 a 12 de novembro de 2014
São Bernardo do Campo – SP – Brasil
ANÁLISE DE ECOEFICIÊNCIA DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO
DE CARNE BOVINA NOS ESTADOS UNIDOS
NR.S. VIÑAS1,I. SCHULZE1, J. SILVA1, T. BATTAGLIESE2, K.R. STACKHOUSELAWSON3, C.A. ROTZ4, B.J. ISENBERG4, E.J. POLLAK4, B. UHLMAN2, C. BARCAN2 J.O.
E REAGAN3
1
Fundação Espaço ECO, São Bernardo do Campo, Brasil
BASF Corporation, EUA
3
National Cattlemen’s Beef Association, EUA
4
USDA, United States Department of Agriculture, EUA
2
A indústria de carne bovina norte americana solicitou uma avaliação em uma abordagem
inovadora, devido à dimensão do setor no país e à complexidade de sua cadeia de fornecimento.
O objetivo desta iniciativa está em determinar uma linha de base de ecoeficiência para o setor
de carne dos EUA, quantificando as entradas e saídas de ciclo de vida para a produção de carne
bovina ao longo do tempo, avaliando a indústria em 2005 e 2011. As fontes de dados utilizadas
combinam modelos provenientes do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e de seu
Centro de Pesquisa em Carne (USMARC). Estes dados foram integrados aos conjuntos de dados
pós-agrícolas representativos da indústria de carne bovina para os EUA (empacotadores, varejo
e fases de consumo) com auxílio de ferramentas BASF de ecoeficiência para calcular os impactos
de sustentabilidade da carne do berço ao tumulo. Os impactos avaliados incluídos são
determinados pela versão mais recente do método de Análise de Ecoeficiência da BASF (AEE).
De maneira ampla os resultados revelam que o desempenho da indústria de carne bovina nos
EUA, dadas as premissas do estudo, que houve melhora em 5% entre 2005 e 2011.
1. Cadeia da Carne Bovina nos EUA
A Associação Nacional da Indústria de Carne Bovina nos Estados Unidos (do inglês “National
Cattlemen’s Beef Association”ou NCBA) define sustentabilidade como atender à crescente
demanda por carne bovina, equilibrando a responsabilidade ambiental, oportunidade econômica
e diligência social (NCBA, 2011). Mensurar estes desempenhos com precisão representa um
desafio, uma vez que esta cadeia de fornecimento de carne é um dos sistemas alimentares mais
complexos do mundo. Devido à dimensão do estudo, esta análise representa uma abordagem
inovadora para o setor na criação de um produto de carne mais sustentável.
Como representado na Figura 1, o ciclo de vida da carne bovina se inicia na fase de cultivo de
alimentos para o gado (ou seja, as culturas agrícolas de grãos e pastagens). Esta produção segue
para a alimentação do animal vivo, desde o nascimento até sair do confinamento. Uma vez
transportado, o gado é abatido na correspondente instalação industrial. A carne comestível é então
embalada para consumo em uma saída pronta para a comercialização em varejo. As operações
seguintes incluem armazenamento refrigerado e, por fim, o consumo final da carne bovina.
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Cultivos para
Alimentação
Pecuária de Gado
Bovino
Abatimento do
Gado
Consumo do Bife
Comércio em
Varejo
Embalagem da
Carne Bovina
FIGURA 1: Processos do Sistema de Produto da Carne Bovina nos EUA
1.1 Objetivo do estudo e anos de comparação
O objetivo do estudo foi quantificar as alterações no desempenho ambiental e econômico da carne
ao longo do tempo por meio da Análise de Ecoeficiência (SALING et al., 2002), a fim de avaliar,
planejar melhorias para indústria de carne bovina os EUA. Foram considerados os seguintes
períodos como alternativas para a comparação:
· Ano de 2005, quando houve o último momento de uso exclusivamente convencional de
grãos como alimento para o gado.
· Ano de 2011, o qual representa a análise mais recente e considera o uso de grãos de
destilaria para alimentação bovina.
2. Desenvolvimento do desempenho ecoeficiente da cadeia
Esta avaliação se sustenta na estrutura conceitual prevista nas normas ISO 14044:2006, próprias
para esta classe de avaliações. O enfoque descrito acima enquadra-se em uma abordagem de
“berço ao túmulo”, conforme a Definição de Escopo descrita a seguir:
a) Unidade funcional (UF): A fim de capturar a média relativa da indústria de carne bovina,
determinou-se avaliar os desempenhos associados ao ciclo de vida de uma libra de carne
comestível consumida sem osso.
b) Definição de Fronteiras: tal como descrito junto da Figura 1, os estágios dos ciclos de
vida avaliados se iniciam nas etapas de cultivo de grãos (incluindo manejo do solo, plantio
e colheita, silagem e perdas das lavouras) até a destinação final das perdas e emissões
derivadas das etapas da cadeia de carne.
c) Fonte e Qualidade dos dados: o estudo considerou a indústria de carne bovina nacional
dos EUA e não inclui fluxos de carne exportados ou importados do país. O Centro de
Pesquisa de Carne Animal do Ministério da Agricultura (USMARC) possui um conjunto
de dados extensos em seu Modelo Integrado de Sistemas de Fazenda para Agricultura
(IFSM), o qual inclui alguns que voltam a 1970. Estes dados são referentes aos cultivos
e práticas de gestão animal representativos da indústria da carne bovina, o qual seria
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muito difícil encontrar de forma centralizada em outro lugar na indústria. Dados primários
foram coletados de três empresas que realizam o abatimento de gado, cujas operações
representaram aproximadamente 60% da indústria de carne bovina nos EUA. Com base
na opinião de especialistas, os valores de dados para embalagem para varejo, tais como
consumo de água, de produtos químicos de limpeza e geração de resíduos, foram
assumidos como sendo 10% da média dos dados do processo de abatimento. Dados
secundários oferecidos pela literatura representam os processos de varejo (consumo de
eletricidade e gás natural, perdas de líquido refrigerante e os resíduos de carne bovina) e
de consumo (reembalagem de carne, transporte pelo consumidor, consumo de
eletricidade aliada à refrigeração e ao cozimento, além das perdas de carne bovina). Os
valores de riscos de doenças e acidentes ocupacionais da cadeia foram avaliados ao longo
do tempo de acordo com as duas alternativas (2005 e 2011), utilizando o “US Bureau of
Labor Statistics” (BLS).
d) Categorias de impacto e método de Avaliação de Impactos do Ciclo de Vida (AICV): A
Análise de Ecoeficiência (SALING et al, 2002) determina procedimentos para
agrupamento das categorias de impacto ambiental avaliadas (chamada de Impressão
Ambiental), assim como critérios (e suas respectivas justificativas) para normalização e
agrupamento. Em conjunto deste desempenho ambiental, os custos finais de aquisição da
carne bovina são utilizados a fim de estabelecer a Matriz de Ecoeficiência.
Foram também definidas condições de contorno específicas para o estudo:
· O gado leiteiro não foi incluído no escopo do presente estudo, pois não ser incluído no
USMARC. Tal condição reduz significativamente o impacto ambiental de bovinos
criados a partir de bezerros leiteiros.
· Bens de capital, infraestrutura e material de manutenção foram excluídos. Aspectos
associados a atividades administrativas, deslocamentos de funcionários, sementes para
alimentação, medicamentos veterinários e produtos químicos de limpeza utilizados no
setor de varejo foram excluídos de acordo com os critérios de corte. Individualmente,
esses aspectos possuem contribuição menor que 3% aos impactos globais da cadeia.
3. Resultados e Discussão
Após os passos metodológicos determinados pela AEE, o desempenho relativo para todas as sete
principais classes de categorias ambientais de cada alternativa é apresentada na Impressão
Ambiental na Figura 2.
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FIGURA 2: Impressão Ambiental do Sistema de Produto para a Carne Bovina nos EUA
Assim, ao longo dos anos avaliados, houve pelo menos um pequeno decréscimo em cada uma das
classes de categorias de impacto ambiental. A maior melhoria está associada à categoria de Risco
(Doenças e Acidentes Ocupacionais), a qual ofereceu uma contribuição significativa para a
redução do impacto ambiental global de 7% para a cadeia de valor da carne.
Individualmente, a categoria de Doenças e Acidentes Ocupacionais reduziu em 32% seu potencial
de impacto, enquanto que a classe de emissões de Efluentes Hídricos em 10%. As mudanças
demais categorias (Emissões – formada por Potencial de Aquecimento Global, Potencial de
Acidificação, Potencial de Formação Fotoquímica de Ozônio, Potencial de Depleção da Camada
de Ozônio, geração de Resíduos Sólidos – Consumo Acumulado de Energia, Uso da Terra,
Depleção de Recursos Abióticos, Uso de Água Consuntiva, Potencial de Toxidade Humana)
podem ser vistas como reduções muito discretas.
Embora os impactos ambientais sejam resultado de todas os processos elementares do cilo de vida
da carne, a maior contribuição é atribuída aos processos agrícolas, nas fases de cultivo para
alimentação e do gado bovino. Muitas das reduções de impacto avaliadas estão diretamente
relacionadas à melhoria do rendimento das culturas de alimentação, conduzindo a menores
quantidades de entradas por unidade de área, a fim de conseguir o mesmo resultado desejado de
carne.
Os resultados da análise de custo econômico de ciclo de vida com base em uma abordagem de
valor presente demonstrou um aumento de 6% entre 2005 e 2011.
Matriz de Ecoeficiência
A Figura 3 mostra a matriz de ecoeficiência e melhora dos desempenhos da cadeia de carne nos
EUA entre 2005 e 2011.
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FIGURA 3: Matriz de Ecoeficiência do Sistema de Produto para a Carne Bovina nos EUA.
Embora tenha havido um aumento no preço da carne bovina, não houve redução simultânea nos
impactos ambientais globais da cadeia norte-americana. As ações realizadas ao longo deste
período resultam em uma melhora de 5% na ecoeficiência global.
4. Conclusões
Conforme apresentado pela Matriz de Ecoeficiência, houve uma melhora de 5% na desempnho
da ecoeficiência da indústria de carne bovina os EUA entre 2005 e 2011. Isso se correlaciona a
um aumento de 6% no custo (com base no preço de venda ao consumidor) e uma diminuição de
7% no impacto ambiental (como representado pela Impressão Ambiental) durante o mesmo
período.
A principal razão da escolha do ano de 2005 como um período a ser analisado foi porque este foi
o último ano em que não houve ampla utilização de grãos de destilaria como fonte de alimentação.
O uso destes grãos (com alocação associada) no lugar de milho e uréia em 2011 ofereceram
melhora em consumo de entradas agrícolas além da eficácia no custo de alimentação.
Os impactos associados às fases de pós-fazenda (Embalagem, Varejo e Consumo), enquanto
menores contribuintes aos impactos globais da cadeia, apresentam oportunidades significativas
de melhoria. Além disso, essas oportunidades geralmente pode ser mais simples em termos de
implementação, com exemplos como a captura de biogás e recuperação nas instalações de
colheita, otimizações de embalagem, e as oportunidades de eficiência energética por toda parte.
Estes resultados de análise de ecoeficiência fornecem um roteiro para identificar e priorizar
oportunidades e para permitir uma melhor compreensão das práticas específicas que podem ser
usados para reduzir ainda mais os impactos ambientais da cadeia de valor da carne, mantendo a
proposição geral de valor econômico.
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5. Limitações dos resultados do estudo
Estes resultados de Análise de Ecoeficiência e as suas conclusões são baseadas na comparação
específica da produção, uso e disposição, para o benefício do contexto descrito, alternativas e
limites do sistema. A pesquisa futura já está em andamento para entender melhor algumas dessas
diferenças regionais na fase de alimentação e gado, bem como para recolher pontos de dados mais
específicos para se obter um conjunto de dados de qualidade ainda maior para medição e melhoria
da indústria de carne bovina os EUA.
Referências
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. Life Cycle Assessment –
Requirements and Guidelines, 2006
NATIONAL CATTLEMEN’S BEEF ASSOCIATION. Overcoming Defrosting Barriers, 2011. Disponível
em:
http://www.beefresearch.org/CMDocs/BeefResearch/MR_Presentations/Overcoming_Defrosting_Bar
riers_2011.pdf
SALING P, KICHERER A, DITTRICH-KRÄMER B, WITTLINGER R, ZOMBIK W, SCHMIDT I,
SCHROTT W, SCHMIDT S: Eco-efficiency Analysis by BASF: The method. Int J LCA 7 (4) 203–
218, 2002.
U.S. DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Loss-adjusted food availability for meat, poultry, fish, eggs,
and nuts, 2012. Disponível em: http://www.ers.usda.gov/data-products/food-availability-(per-capita)data-system/.aspx
U.S. DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Historical beef, pork and broiler price data, 2012. Disponível
em: http://www.ers.usda.gov/datafiles/Meat_Price_Spreads/history.xls
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