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CENTRO UNIVERSITÁRIO – FMU CURSO DE SERVIÇO SOCIAL LILIANE PAZ DE ARAÚJO PAULA GUALANDI LEITE A INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO PROJETO EMPREGABILIDADE DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE São Paulo 2013 LILIANE PAZ DE ARAÚJO PAULA GUALANDI LEITE A INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO PROJETO EMPREGABILIDADE DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social do Centro Universitário – FMU, como exigência para obtenção do título de bacharel em Serviço Social, sob orientação da Profª. Dra. Therezinha Lourdes Lopes. São Paulo 2013 FICHA CATALOGRÁFICA ARAÚJO, Liliane Paz de; LEITE, Paula Gualandi. A Inclusão das Pessoas com Deficiência no Projeto Empregabilidade da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade. Liliane Paz de Araújo, Paula Gualandi Leite, São Paulo, Centro Universitário – FMU, Curso de Serviço Social, TCC, 2013. 142 p. Mercado de Trabalho. Pessoas com Deficiência. Inclusão Social. Lei de Cotas. Projeto Empregabilidade. LILIANE PAZ DE ARAÚJO PAULA GUALANDI LEITE A INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO PROJETO EMPREGABILIDADE DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social do Centro Universitário – FMU, como exigência para obtenção do título de bacharel em Serviço Social, sendo integrantes da banca: Profª. Dra. Therezinha Lourdes Lopes e Profª. Dra. Elza Koumrouyan. Nota ____________ São Paulo, 10 de junho de 2013. __________________________________________ Orientadora: Profª. Dra. Therezinha Lourdes Lopes __________________________________________ Leitora: Profª. Dra. Elza Koumrouyan DEDICATÓRIA Dedicamos este trabalho a todas as pessoas que lutam pelo direito de viver dignamente, mesmo em meio às suas limitações, consideradas como o fim, mas que na verdade é apenas o começo de uma nova jornada ... jornada esta de superação e de vitórias... de mos trar que é possível viver uma nova história. AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a DEUS pela força e coragem que nos deu durante toda a nossa jornada, por não ter nos deixado desistir em meio há tantos obstáculos encontrados pelo caminho percorrido. OBRIGADA SENHOR POR MAIS UMA VEZ ESTAR DO NOSSO LADO! Agradecemos aos nossos amados PAIS, familiares, esposo, por todo o amor, carinho e compreensão, permitindo assim que nos tornássemos o que somos hoje, e que se chegamos até aqui foi porque nos deram as mãos , acreditando que poderíamos lutar e vencer. Agradecemos à nossa PROFESSORA THEREZINHA, por seu amor e dedicação, e por acreditar em nosso esforço, por toda a disponibilidade em nos ajudar e orientar cada passo da construção do nosso TCC. MUITÍSSIMO OBRIGADA PROFESSORA ... receba nossa admiração eterna! Agradecemos com muito carinho à nossa PROFESSORA ELZA, que ajudou a darmos os primeiros passos e que gentilmente aceitou nosso convite para compor a banca de nossa apresentação como leitora. OBRIGADA PROFESSORA por tudo! Também agradecemos a todos que colaboraram com o nosso trabalho, direta e indiretamente, seja em nossa pesquisa de campo, seja pela troca de vários e-mail´s, telefonemas, e etc... Agradecemos a todos os colegas do Curso de Serviço Social que conquistamos nesses três anos e meio. Agradecemos também a todos os nossos PROFESSORES que estiveram conosco durante todos estes anos de faculdade, nos ensinando o verdadeiro significado da palavra APRENDER, para que em nosso futuro profissional possamos fazer o “diferente”, com paixão e sensibilidade. À Dra. Dacy Lucinda Batista, por ter realizado as correções gramaticais deste trabalho e pelos ensinamentos. Agradecemos à Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil, pelo espaço cedido para a realização da pesquisa, em especial a Wilma Aparecida de Abreu Avoglio e Miriam Rodrigues Pinto pela confiança. A todos os pesquisados pela disponibilidade e por oportunizar que a pesquisa seja de fato baseada em elementos verídicos. Liliane Paz de Araújo e Paula Gualandi Leite EPÍGRAFE “Só a participação ci dadã é capaz de mudar o país’’ Herbert de Sou za RESUMO A presente pesquisa trata da inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, mais especificamente através do Projeto Empregabilidade, da Associação de Pais, Amigos, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade, bem como se dá este processo em meio às contradições de nossa sociedade capitalista. O estudo apresenta a relevância em ampliar reflexões relacionadas às diversas questões, dentre elas, destacam-se as barreiras físicas e sociais, construídas historicamente, que cotidianamente, estas pessoas encontram, impedindoas de exercerem seus direitos enquanto cidadãs e cidadãos. Em virtude de tais barreiras, percebe-se que há uma grande importância em promover maiores discussões sobre a falta de conhecimento da sociedade (não de um modo geral) acerca da pessoa com deficiência e sua integralidade no meio em que vive, tendo em vista articular movimentos e propostas que possam atingir patamares maiores do poder público, visando a construção de políticas que garantam maiores acessos a seus direitos sociais. Palavras-Chave: Mercado de trabalho. Pessoas com Deficiência. Inclusão Social. Lei de Cotas. Projeto Empregabilidade. LISTA DE SIGLAS AACD - Associação de Assistência à Criança Defeituosa APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais APABB - Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade BPC - Benefício de Prestação Continuada CAT - Centro de Apoio ao Trabalhador CFESS - Conselho Federal de Serviço Social CONADE - Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência CORDE - Coordenação Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência FEBRABAN - Federação Brasileira de Bancos FNAS - Fundo Nacional de Assistência Social IBDD – Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada INSS – Instituto Nacional do Seguro Social LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social NOB - SUAS - Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS - Organização Mundial de Saúde ONU – Organização das Nações Unidas PNAS - Plano Nacional de Assistência Social PCD – Pessoa com deficiência RAIS - Relação Anual de Informação Social RH – Recursos Humanos SEAS – Secretaria de Estado de Assistência Social SUAS - Sistema Único Assistência Social TI – Tecnologia da informação LISTA DE TABELAS 01 A deficiência que teve mais acesso no período de 2010 a 2012 ...................................... 100 02 A deficiência que tem menor possibilidade para entrar no mercado de trabalho ........... 101 03 Qual a escolaridade das pessoas com deficiências q ue são inseridas no mercado de trabalho? .............................................................................................................................. 102 04 Quais as funções e/ou cargos ocupados pelas pessoas com deficiência nas empresas? .. 102 05 Qual a idade das pessoas com deficiência que são inseridas no mercado de trabalho? ... 104 06 As condições de trabalho oferecidas para as pessoas com deficiências nas empresas .... 105 07As dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência antes, durante e depois da conquista no mercado de trabalho ......................................................................................... 106 08 As pessoas com deficiência, que foram acompanhadas pelo projeto, continuam no mesmo local de trabalho? Caso não continuem, quais foram os motivos? ...................................... 108 09 Qual o significado do trabalho pra você? ......................................................................... 109 10 Como você foi recebido pela equipe da empresa? ........................................................... 110 11 Quais foram as suas dificuldades nas atividades e com as pessoas da empresa? ............ 111 12 O que a APABB influenciou na sua vida através do projeto? ......................................... 112 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 13 1 REESTRUTURAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO............................................ 18 1.1 As transformações no sistema capitalista e seus impactos sobre o trabalho.............. 20 1.1.1 Fordismo......................................................................................................................... 30 1.1.2 Toyotismo....................................................................................................................... 32 1.1.3 Acumulação Flexível...................................................................................................... 33 2 AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS.............................................................................. 36 2.1 As Deficiências e a Construção Histórica dos Movimentos Sociais das Pessoas com Deficiência............................................................................................................................... 36 2.2 O Resgate Histórico da Legislação das Pessoas com Deficiência..................................... 47 2.3 A Importância das Políticas Setoriais para as Pessoas Deficiência................................... 51 2.3.1 Saúde ............................................................................................................................. 53 2.3.2 Educação ....................................................................................................................... 55 2.3.3 Esporte, Lazer e Cultura ............................................................................................. 56 2.3.4 Esporte .......................................................................................................................... 57 2.3.5 Lazer e Cultura ............................................................................................................ 57 2.3.6 Família ........................................................................................................................... 57 2.3.7 Ambiente Físico e Transporte ..................................................................................... 59 2.4 As Pessoas com Deficiência e a inclusão no me rcado de trabalho............................... 61 2.4.1 Lei de Cotas.................................................................................................................... 61 3 Associação APABB............................................................................................................. 74 3.1 Sua História........................................................................................................................ 74 3.2 O Projeto Empregabilidade................................................................................................ 81 3.3 Pesquisa de Campo............................................................................................................ 82 3.3.1 Análise: As contribuições da Gerente e da Coordenadora ............................................. 90 3.3.2 Análise: As contribuições das Assistentes Sociais ........................................................ 99 3.3.4 Análise: As contribuições dos Usuários ....................................................................... 109 3.3.5 Análise: As contribuições da Supervisora Administrativa e Estagiário do Serviço Social .................................................................................................................................................113 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 115 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 120 ANEXOS .............................................................................................................................. 126 APÊNDICE .......................................................................................................................... 137 13 INTRODUÇÃO A presente pesquisa pretende se aproximar da realidade vivida pelas pessoas com deficiência que buscam o mercado de trabalho. O interesse por essa realidade surgiu a partir de indagações feitas por uma das pesquisadoras, observando seu campo de estágio e conhecimento teórico do segmento. Desse modo, a segunda pesquisadora teve o interesse pelo tema devido aos seus conhecimentos adquiridos em seminários, palestras, oficinas e leituras referentes ao tema. A preocupação com a inclusão social das pessoas com deficiência surge de modo mais visível, por ocasião do fim da 2ª Guerra Mundial, quando um número significativo delas passou a fazer parte do contexto social, em decorrência do cenário sangrento que se estabeleceu no período da guerra. Muitas foram as iniciativas tomadas para se dar conta desse novo fenômeno na Inglaterra. Em 1919, foi criada a Comissão Central da Grã-Bretanha que iria se preocupar com os cuidados necessários das pessoas com deficiência, atitude esta que acabou por impulsionar o surgimento de Políticas Públicas. O tema passa, então, a ganhar relevância na sociedade, chegando, ao âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). E as discussões sobre políticas públicas voltadas para a nova realidade, muito embora, os países nelas envolvidos, não caminhassem em um mesmo ritmo. No Brasil, o instrumento jurídico precursor em relação à inclusão social das pessoas com deficiência foi a Constituição Federal de 1988, quando em seu art. 5° afirma que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza garantida aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito á vida, liberdade, á igualdade, á segurança e á propriedade”. Sabe-se, no entanto, que o reconhecimento constitucional de um direito não significa a sua garantia efetiva, pois, muitas são as visões equivocadas de boa parte de nossa sociedade acerca da eficiência e capacidade das pessoas com deficiência. Nesse aspecto é importante registrar o papel dos movimentos sociais que lutaram por essa causa, precisamente entre a década de 1950 até os anos 1970, não medindo esforços para fazer romper ideias e práticas cristalizadas em nossa sociedade, pelo simples fato de se desconhecer ou não se tolerar grupos de pessoas não correspondentes aos padrões por ela considerados “normais”. 14 É nessa direção que a sociedade civil se organiza e começa a ganhar relevância as mobilizações em prol dos direitos das pessoas com deficiência, embora devessem estar incluídos na sociedade. Considerando-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Constituição Federal 1988, e, no período de 2008, a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, muitas trajetórias deveriam, ainda, ser percorridas para que a inclusão ocorresse, sem que, para tanto, fosse necessário se travar tantas batalhas. A constância dessa luta é diária e bastante nítida quando se trata de mercado de trabalho, porque, na sociedade capitalista, as pessoas com deficiência são sumariamente excluídas sob a alegação de que suas habilidades são limitadas para o que se exige em um processo de produção. Nesse sentido, são classificados como sujeitos que não apresentam as condições necessárias para responderem à agilidade que se quer no mundo da criação e do consumo. O capitalis mo está assentado sobre os pressupos tos da propriedade privada e dos meios de produção, na relação assalariada do trabalho, na produção de mercadorias e na obtenção do lucro por meio da extração da mais valia. Para atender a estes pressupostos, em uma sociedade onde a força de trabalho é vis ta como uma mercadoria a ser adquirida pelo capitalista e gerar para ele o maior lucro possível; o homem fo i desumanizado e transformado em u ma ferramenta a serviço do capital; a pessoa com deficiência é vista como u ma ferramenta defeituosa que não tem condições de satisfazer as necessidades do comprador da única mercadoria que este tem para vender, a sua mão-de-obra. (ROSSETTO et al. 2006, p. 106). Assim, a deficiência da pessoa constitui-se em barreira intransponível para que ela se torne a mercadoria necessária ao sistema de produção, e, por esse motivo, pode ser descartada sem que se a reconheça como sujeito de direitos, conforme prerrogativa constitucional. Assim sendo, é pertinente salientar que o trabalho é direito universal de todas as pessoas para que possam suprir as suas necessidades básicas, de convivência social com outros sujeitos, proporcionando também o acesso econômico das pessoas com e sem deficiência. Para pessoas com deficiência faz-se necessário que sejam oferecidas condições iguais de oportunidade para que possam incluir-se na sociedade e dela participar como sujeitos de direito. Mas, pelo fato de serem muitas as dificuldades e barreiras impostas pela sociedade, criou-se, em 1991, no Brasil, a lei de cotas n° 8213, que viabiliza a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Nesta perspectiva os dados de pesquisa da ONU indicam que cerca de 10% da população mundial, ou seja, aproximadamente 650 milhões de pessoas vivem com alguma deficiência. No Brasil, conforme dados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE- de 2010, existem cerca de 45,6 milhões de pessoas com deficiência; em São Paulo são 9,3 milhões. 15 Para enfatizar as reflexões feitas até o momento e os dados das pesquisas acima citados, o Ministério do Trabalho, através da Relação Anual de Informação Social - RAIS2010, pesquisou a quantidade de pessoas com deficiência que estão fora do mercado de trabalho no Brasil. A pesquisa indica que temos 27,0 milhões no Brasil e em São Paulo 5,6 milhões. Apesar da existência da lei de cotas, as dificuldades encontradas no cotidiano pelas pessoas com deficiência continuam. Neste particular, cabe citar as vagas previstas em lei nos setores público e privado no Brasil, que são cerca de 937 mil no Brasil e São Paulo 266 mil. Mesmo com a ação fiscal no Brasil cerca de 222 mil pessoas com deficiência e em São Paulo 116 mil tiveram acesso ao mercado de trabalho. A esse respeito, cabe destacar que o índice de cumprimento da lei de cotas no Brasil é de 23,7% e em São Paulo é de 43,7%. Com a articulação dos movimentos sociais e das conquistas das Políticas P úblicas e do contexto da sociedade contemporânea, a interpretação da sociedade em relação à deficiência continua praticamente a mesma, comparada ao longo da história, sendo vistas e tratadas como inúteis, incapacitados, defeituosos, mesmo com o instrumental jurídico, o Decreto n° 6.949 de 25 de agosto de 2009, no artigo 4° da Constituição Federal, explicitando o conceito da pessoa com deficiência, que é aquela que possui uma redução efetiva e acentuada capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem estar pessoal e ao desempenho de função ou atividades a ser exercida. Apesar de todas essas conquistas em relação às pessoas com deficiência, ainda há muito que realizar, para romper com os preconceitos. Assim sendo, no presente estudo, passamos a usar terminologia já oficializada e consagrada na legislação vigente e também defendida na literatura publicada por Romeu Kazumi Sassaki, assistente social, consultor e autor de vários livros na área da inclusão social. A inclusão social é o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais, gerais, pessoas com necessidades especiais e, simu ltaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. Cabe, portanto, às empresas eliminar todas as barreiras físicas, programáticas, atitudinais para que as pessoas com necessidades especiais possam ter acesso ao mundo do trabalho e assim desenvolver-se pessoal, social, educacional e profissionalmente. (SASSA KI, 2003, p. 41). O processo de inclusão a que se refere o autor não deixa dúvidas quanto a muitas providências que devem ser tomadas para que o acesso das pessoas com deficiência no mundo do trabalho se efetive, possibilitando viver suas diferenças sem que nessas diferenças sejam 16 impressas as marcas da desigualdade. Não se desconhece as dificuldades de se efetivar direitos, de modo especial, quando se trata do mundo do trabalho, porque, como afirma Antunes (2004, p.40): O capitalista, med iante a comp ra da força de trabalho, incorporou o próprio trabalho, como fermento vivo, aos elementos mortos constitutivo do produto, que lhe pertencem igualmente. O ponto de vista, o processo de trabalho é apenas o consumo da mercadoria, força de trabalho, por ele co mprada, que só pode, no entanto, consumir ao acrescentar – lhe meios de produção. Foi com base nessas preliminares reflexões que elegemos como objetivo de nosso trabalho, compreender os processos de inclusão das pessoas com deficiência nas atividades de trabalho considerando-se as contradições e exigências do sistema capitalista. No decorrer da presente pesquisa temos como propósito compreender como as pessoas com deficiência que participam do Projeto Empregabilidade da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade – APABB são incluídas no Mercado de Trabalho. A pesquisa será realizada na sede nacional na Coordenação do Serviço Social para justificarmos a hipótese: As condições concretas dos trabalhos oferecidos para as pessoas com deficiência que participam do Projeto Empregabilidade na APABB influenciam, no desenvolvimento das potencialidades e proporcionam a igualdade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Assim, a pesquisa pretende compreender como as pessoas com deficiência, são incluídas no mercado de trabalho. Quais são as condições de trabalho oferecidas para pessoas com deficiências nas empresas? Quais as dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência antes, durante e depois da conquista no mercado de trabalho? Essas questões estão sendo priorizadas e analisadas porque temos uma legislação chamada lei de cotas n° 8213/1991, ora já mencionada, que regulamenta as empresas para inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Contudo, podemos observar que a sociedade não acredita que as pessoas com deficiência tenham a capacidade de desenvolver atividades laborativas. Porque a preocupação das instituições é no cumprimento da legislação, não na inclusão social das pessoas com deficiência, sendo um paradigma a ser rompido. Para as informações referentes ao Projeto Empregabilidade será utilizado como base, o cotidiano da entidade APABB que possui 14 núcleos no Brasil, sendo escolhida a sede nacional em São Paulo, mais precisamente a Coordenadoria do Serviço Social. 17 Nesta realidade temos acesso aos relatórios elaborados pelas profissionais Assistentes Sociais, para deste modo observarmos e acompanharmos a realidade desse espaço. Também serão de grande importância a utilização de relatos informados, em relação às possibilidades e os limites enfrentados por essas profissionais para a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Para tanto consideramos pertinente apresentar na primeira seção a “Reestruturação do Mercado de Trabalho”, enfatizando as transformações que ocorreram no mundo do trabalho desde a década de 1980 até os dias de hoje, sob os aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos. No segunda seção denominada “As Pessoas com Deficiência”, traçamos o percurso da construção histórica dos movimentos da luta das pessoas com deficiência em busca do reconhecimento de seus direitos como cidadãos, bem como o resgate histórico de sua legislação e análise das políticas setoriais para pessoas com deficiência no Brasil. Nessa perspectiva, a terceira seção direcionada à Associação a APABB, a abordagem é apresentada pela história e os projetos realizados, mas especificamente o Projeto Empregabilidade. Para a coleta de dados da pesquisa utilizamos o método qualitativo e quantitativo, uma vez que consideramos esta perspectiva a mais adequada para compreender as particularidades da atuação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Optamos pela entrevista semi-estruturada para todos os sujeitos da pesquisa, com a Assistente Social é Coordenadora do Projeto Empregabilidade em todo o Brasil. Com os usuários e os profissionais do Projeto Empregabilidade, utilizamos a entrevista semiestruturada, pois esta modalidade de entrevista confere certa autonomia ao pesquisador que pode solicitar complementações ao entrevistado para melhor atingir os objetivos colimados. Cabe salientar que o presente estudo tem como propósito sistematizar os dados coletados do Projeto Empregabilidade da entidade em questão, desde o ano de 2010 até o ano de 2012, com base nas seguintes indagações: Quantas pessoas com deficiência foram incluídas no mercado de trabalho através do Projeto Empregabilidade? Qual o tipo de deficiência que possui maior acesso? Qual a deficiência com índice menor de possibilidade para o mercado de trabalho? Quais os cargos ocupados? Qual a idade das pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho? Qual a escolaridade, o sexo e quantidade de pessoas com deficiência que foram incluídas no mercado de trabalho pelo projeto e por fim avaliar se ainda continuam no mesmo local ou não. 18 Portanto, a pesquisa tem o objetivo de contribuir para a inclusão social das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, assim como melhor compreender o meio em que vivem e a realidade em que estão inseridas. 19 1 A REESTRUTURAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO 1.1 As transformações no sistema capitalista e seus impactos sobre o trabalho A partir da década de 1980, a economia mundial encontra-se imersa em um contexto de mudanças significativas, no que diz respeito às estruturas de produção e circulação; provocando uma reestruturação no mercado de trabalho, e por consequência ocasionando mudanças na vida do trabalhador assalariado inserido no sistema capitalista de produção. Segundo Antunes (2003), tais transformações tiveram profundas repercussões na subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento da “classe que vive do trabalho”, afetando a forma de ser do trabalhador. Aparentemente o desemprego é “apenas o resultado de um ajuste estrutural”, produzido pela introdução de tecnologias poupadoras de força de trabalho. Ou seja, o desemprego é visto apenas como um fenômeno “natural” do atual processo de reestruturação capitalista. Essa obviedade conceitual, contudo esconde as condições históricas em que se apoia a contraditória tendência do desemprego massivo do mundo. A difusão de conceitos como “taxa natural de desemprego” e “desemprego necessário” sugere uma vingança do mercado contra o período keynesiano. (NETO, 1998, p.76). Nessas novas transformações do mundo do trabalho o homem é negado em todo o processo de produção, não tendo a possibilidade do seu desenvolvendo intelectual, psicológico e convivência social e de continuar suas conquistas através da atividade do labor, ou seja, a prática da reflexão, do conhecimento da realidade e do acúmulo de saber. Na produção flexível o homem não se reconhece nesse processo, porque o essencial para o sistema capitalista é que o homem tenha as suas necessidades supridas e gerando novas necessidades até chegar à sociedade de consumo. Por meio do trabalho, os homens não apenas constroem materialmente a sociedade, mas também lançam as bases para que se construam como indivíduos. A partir do trabalho, o ser humano se faz d iferente da natureza, se faz u m autêntico ser social, como leis de desenvolvimento históricas completamente distintas das leis que regem os processos naturais. (LESSA; TONET, 2008, p.17). O trabalho no sistema capitalista caracteriza-se pela venda da força de trabalho do homem, tornando-se, assim, uma mercadoria. Nessa organização de sociedade, há uma divisão de classes, onde de um lado se tem a classe burguesa, que possui e detém os meios de produção, e de outro a classe de trabalhadores que vende a sua força de trabalho pa ra a classe burguesa. O trabalhador vende a sua força física e intelectual para suprir as suas necessidades, num processo em que ela se torna a mercadoria, porque existe uma troca. Para 20 a classe burguesa que compra a força de trabalho, o homem tem seu va lor calculado pelas horas de atividades executadas no trabalho e pelo tipo de trabalho desenvolvido. Se o trabalho for teleológico 1 terá o valor maior e o prestígio da sociedade, e atividade operacional terá um valor especifico geralmente inferior ao trabalho de planejamento. Entretanto, segundo Lessa e Tonet (2008), reforçado por Iamamoto (2001): Todo o ato de trabalho, portanto dá origem a u ma nova situação, tanto objetiva quando subjetiva. Essa nova situação possibilitará aos indivíduos novas prévias ideações, novos projetos e, desse modo, novos atos de trabalho, os quais, modificando a realidade, darão origem a novas situações, e assim por diante . (LESSA; TONET, 2008, p. 22). De outra parte, a divisão do trabalho e com ela a emergência da propriedade p rivada geram repartição desigual do trabalho e seus produtos. O indivíduo, separado de seu produto, não é capaz de apropriar–se das objetivações (atividade, produtos, meios de trabalho) por ele produzidas como parte do trabalho coletivo: da ação conjugada de vários indivíduos, reciprocamente dependentes, entre os quais é partilhado o trabalho social. (IAMAMOTO, 2001, p.43). Considerando todas essas mudanças que afetaram a vida da classe trabalhadora, podemos ressaltar a definição do salário no sistema cap italista, que foi a principal mudança ocorrida na vida dos trabalhadores. O salário passou a ser calculado pela quantidade de horas que o homem leva para executar seu labor. Em suma, o salário é uma troca de valor de uma atividade laboral, estipulado pelo empregador. O valor pago para o trabalhador será sempre inferior à sua atividade, daí o trabalho excedente sob a forma de horas extras, ser apropriado pela classe burguesa. Nesse processo o homem não tem valor justo pelas horas de trabalho executadas, o q ue faz com que o mesmo gere mais-valia para quem possua os meios de produção. Podemos salientar que o homem não se reconhece no processo de trabalho do sistema capitalista (produção flexível), porque o objeto por ele construído não poderá tê- lo para si (não poderá adquiri- lo), pois o mesmo tem mais valor do que quem o construiu. Significa dizer que o trabalhador é responsável pelo que produz, mas não o proprietário de sua criação, e muitas vezes não possui acesso para usufruir da sua produção. Entretanto, todo o seu trabalho é um processo teleológico, próprio de sua constituição como homem, ser pensante, e não somente aquele que executa determinada tarefa. 1 Capacidade do homem de projetar antecipadamente na sua imaginação o resultado a ser alcançado pelo trabalho, de modo que, ao realizá-lo, não apenas provoca uma mudança de forma da matéria natural, mas nela realiza seus próprios fins. (IAM AMOTO, 2001, p. 40). 21 Sendo o trabalho a atividade vital especifica do homem, ele mediatiza a satisfação de suas necessidades pela transformação prévia da realidade material, modificando a sua forma natural, produzindo valores de uso. O homem é um agente ativo, capaz de dar respostas prático-conscientes aos seus carecimentos, através da atividade laborativa. Co mo agente ativo amplia incessantemente o círculo de objetos que podem servir à atividade vital humana, seja para seu consumo direto, seja como meio de trabalho. Vive em um universo humanizado, ele mesmo produto da atividade humana de gerações precedente: de objetivações de suas experiências, faculdades e necessidades. (IAMAMOTO, 2001, p .40). O homem foi se desenvolvendo através da transformação da natureza, a partir de descobertas (conquistas) que surgiram da atividade trabalhista, construindo-se através do trabalho, ou seja, pela prática da reflexão e da ação (Pré-Ideação2 ), pelo conhecimento da realidade e do acúmulo de saber. E constituindo-se, na convivência com outros sujeitos, para tornar-se um ser social. Mas, não podemos deixar de ressaltar que o homem supre as suas necessidades, gerando outras necessidades até chegar a uma sociedade de consumo. Essas novas necessidades e possibilidades impulsionam o indivíduo a novas prévias – ideações, a novos projetos e, seguida, a novas objetivações. Estas, por sua vez darão origem a novas situações que farão surgir novas necessidades e possibilidades de objetivações, e assim por d iante. (LESSA; TONET, 2008, p.20). Nesse processo de produção, sob o aspecto contemporâneo capitalista, há maior índice da mais- valia para o sistema capitalista e o homem é mais explorado do que em todos os outros processos de organização de trabalho até então visto na história da humanidade. Algumas das mudanças ocorridas são decorrentes de um salto ontológico: a automação, a robótica e a microeletrônica que ocuparam o espaço fabril, foram responsáveis pelo surgimento de novas configurações nas relações de trabalho. O trabalho é o fundamento do ser social porque transforma a natureza na base material indispensável ao mundo dos homens. Ele possibilita que, ao transformarem a natureza, os homens também se transformem. E essa articulada transformação da natureza e dos indivíduos permite constante construção de novas situações históricas, de novas relações sociais, de novos conhecimentos e habilidades, num processo de acumulação. É esse processo de acumulação de novas situações e de novos conhecimentos – o que significa novas possibilidades de evolução- que faz com que o desenvolvimento do ser social seja ontologicamente (isto é no plano do ser) distinto da natureza. (LESSA; TONET, 2008, p.26). Portanto, novos processos de trabalho emergiram o cronômetro e a produção em série e de massa foram “substituídos” pela flexibilização da produção, pela “especialização flexível”, por novos padrões de busca de produtividade, e por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado. (ANTUNES, 2003, p.24). Nesse cenário e considerado outras exigências, paralela mente a uma nova realidade, é possível constatar que, 2 Ação e seu resultado são sempre projetados na consciência antes de serem construídos na prática, tendo o homem a capacidade de criar ideias. (LESSA; TONET, 2008). 22 “[...] o sistema capitalista de produção vem passando, sobretudo nas últimas décadas, por transformações profundas que provocaram enorme impacto tanto no próprio processo de produção, quanto no trabalho e em suas estratégias de organização. Uma delas é o que convencionou denominar de “globalização 3 ” das relações econômicas, que pode ser entendida como u ma fase de aprofundamento da economia”. (MANFREDO, 1998, p.163-164). Entende-se que Globalização é um processo dialético de integração entre os aspectos: econômico, social, cultural e político da sociedade, num âmbito global, com ritmo em crescente desenvolvimento mundial. Esta integração permite a “união” entre pessoas de diferentes lugares, o contato de empresas e mercados financeiros de diferentes países, a difusão e a propagação de tecnologias, diminuindo, assim, através desses avanços, as distâncias territoriais, por meio da comunicação, e facilitando as relações sociais entre “todos”. Ao lançar olha para o processo social global da sociedade, verifica - se que este tem seu movimento suas próprias legalidades tendências, normativ idades, que ultrapassam o indivíduo singular. Aquele processo social global (a sociedade) é portador de causalidades, mas não é objetivamente dirigido para a realização de finalidades. Estabelece-se frequentemente uma defasagem entre intenções dos indivíduos e resultados produzidos, entre posições teleológicas efeitos causais, o que se amplia co m co mp lexificação da vida em sociedade. (IAMAMOTO, 2001, p.44). Conforme Manfredo (1998), o surgimento da globalização teve por objetivo construir um bloco econômico constituído por um conjunto de empresas de vários países, com vistas para uma hegemonia das decisões e influências no mundo financeiro; tendo como estratégia a centralidade das riquezas sociais, resultando na ruptura de fronteiras entre os países. Com a disseminação de fronteiras, surgiu entre os países a competitividade entre empresas, contribuindo para o aumento da rentabilidade, motivando, assim, as transformações na produção dos produtos. O modo de produção do bloco econômico teve como proposta ampliar as fronteiras na relação de compra da matéria prima, originária de um determinado país, com a vantagem de um custo mais baixo, e maior qualidade. Na produção do produto a escolha recai sobre o país que tem a força de trabalho mais baixo, concluída ela é vendida para diversos países. O processo de globalização iniciou-se no ano de 1970, e em 1980 já estavam avançadas as ações, sobressaindo-se as áreas de telecomunicação e informática, em 3 Criada por uma necessidade do capitalismo. Como o consumo interno estava diminuindo criou- se a estratégia da união de indivíduos que são representantes de instituições comerciais e financeiras. (IANNI, 1994) 23 decorrência do contato rápido de informações e negociações comerciais entre as empresas de um país para outro. Destacou-se, nesse processo, o transporte marítimo, que teve grande importância para o desenvolvimento da globalização, proporcionando a venda de mercadorias em outros países do mundo com o termo “importação e exportação”. O objetivo central dessa modificação foi a relação das empresas chamadas multinacionais e transnacionais, q ue expandiram seus negócios em vários países. Como podemos analisar, a globalização é a integração de um sistema econômico que convive com a exclusão de uma parcela da população, isso porque apenas um grupo se apropria da riqueza gerada. Portanto, as modificações no processo de produção do trabalho influenciaram a exclusão dos indivíduos e até de grupos de trabalhadores. Devido às transformações mundiais no trabalho, o “mercado” passou a requisitar um perfil de trabalhadores que, além do conhecimento técnico, também, o cientifico, onde a força de trabalho operacional não possuía mais o mesmo valor no mercado de trabalho. Segundo Chauí (1980 p.1-2): A ciência co mo saber separado e como coisa privada, como instrumento de dominação no mundo contemporâneo. [...]. Se instala e se conserva graças a uma regra que poderia ser assim resumida: não é qualquer um que pode dizer qualquer coisa a qualquer outro em qualquer ocasião e em qualquer lugar. Com esta regra, ele produz sua contraface: os inco mpetentes sociais. Podemos ressaltar que essas estratégias surgem para termos os “incompetentes sociais”, conforme Chauí. Ao mesmo tempo há de se destacar, que hoje temos uma verdadeira “massa sobrante” conforme Assmann (1994 apud KAPPAUN, 2006), em decorrência da nova estruturação do trabalho. A criação da tecnologia de informação foi desenvolvida por homens que tinham capacidades intelectuais, sendo vendidas como mercadoria e apropriada pela classe burguesa, com base na argumentação de que esse processo diminui os erros, ao mesmo tempo em que os trabalhos são realizados de forma mais rápida. Todas essas transformações provocaram a modificação da organização do trabalho, pois anteriormente tínhamos monopólios constituídos por trabalhadores do gênero masculino para a produção industrial. Atualmente, com as novas estruturações concentradas apenas no consumo dos homens, o modo de produção vem sendo desenvolvido e produzido pelas inteligências artificiais, através das ciências e tecnologia, construindo e fortalecendo novos monopólios, que são os blocos econômicos. 24 Na sociedade industrial, os homens tinham uma articulação com sindicatos e movimentos sociais para negociar e garantir a distribuição da riqueza que eram negociadas com os capitalistas, gerando para os trabalhadores salários crescentes, mediante acordos e participação na construção das políticas sociais. Segundo Manfredo (1998), as características dos trabalhadores na sociedade globalizada se apresentam pela descentralização dos processos produtivos, que impedem a possibilidade de iniciar o processo da produção de matéria prima até o produto final, tornando-se fragmentado. O homem tem o estranhamento de seu trabalho quando finaliza o produto. Nessa nova conjuntura, os indivíduos são passivos sem a articulação em movimentos sociais, sindicatos e participação na política, pois a ideologia do mundo globalizado é o individualismo e a competitividade entre os homens, porque a cada dia o mundo do trabalho tem um maior aumento do acúmulo de conhecimento, seja nas ciências, na política, na cultura e entre os aspectos filosóficos. Na sociedade globalizada o novo trabalhador é caracterizado como “artesão eletrônico 4 ” e os microempresários são responsáveis em desenvolver e controlar o próprio trabalho. Isto nos remete a refletir que, ambas as características compõem uma estratégia ideológica do Estado Neoliberal para a diminuição do desemprego estrutural, por que promove ocupação dos expulsos do mercado formal. Com essa nova forma de contratação informal iniciou-se a diminuição dos trabalhadores nos movimentos sociais e nos sindicatos, contribuindo assim para que os trabalhadores percam a consciência de seus direitos soc iais. Conforme explica Benevides (1992), os cidadãos hoje são apenas observadores e não integrantes da política. Atualmente a liberdade do homem é condicionada pela alienação, processo proveniente do modo de produção capitalista, exercido e disseminado pe la dominação da mídia e pela falta de educação política e participação dos cidadãos. O individualismo aumenta, assim como a competição, ficando apenas na teoria o que é democracia e cidadania. Então, o trabalhador para atender as exigências do modo de prod ução capitalista, além de ser operativo torna-se criativo, tendo em vista a construção frequente de novos instrumentos, onde surgem a cada momento exigências de qualificação intelectuais para que possam permanecer em suas funções laborativas. 4 Compreende a subjetividade do trabalhador p or que é criativo e suas ações são especificas, exigindo maior conhecimento, proporcionando liberdade na execução das tarefas. 25 Conforme Harvery (1998), temos duas características de organização de trabalho: a primeira é o grupo inserido em período integral no setor financeiro e nas áreas de trabalho rotineiro, nesse espaço temos grande rotatividade de trabalhadores pela falta de oportunidade de crescimento nas empresas; o outro grupo é de tempo parcial, com atividades tendentes para o comércio, que contribuem para o aumento da taxa de emprego. Com os novos sistemas de tecnologia, as atividades do trabalho colaboram para o surgimento de diversas áreas de serviços, configurando-se numa outra categoria de trabalho para o homem, contudo são estratégias do Estado Neoliberal para diminuição do desemprego estrutural, conforme citado anteriormente. Nota-se que grande parte dos trabalhadores tem suas atividades no espaço externo das empresas, e que são chamados de autônomos, por estratégia de capital, buscando a apropriação de mais impostos produzidos por esses trabalhadores. Assim, os trabalhadores “autônomos” acabam sendo seduzidos pela camuflada realidade e pela ideologia que reforça “ser dono” do próprio negócio, da maior liberdade na execução de ações e da ausência de hierarquia na realização do trabalho, entretanto, via de regra, não percebem que estão sendo controlados pelo empregador, tanto em re lação ao tempo definido para a entrega dos produtos, como pelos valores dos produtos, dentre outros aspectos. Nesse sentido, a produção de serviços se torna o trabalho bruto do produto para o capitalista, proporcionando para os grandes empresários uma redução de custos trabalhistas, e direitos sociais para os funcionários, como por exemplo, o acesso a convênios de saúde e até mesmo da produção da mercadoria, porque sendo terceirizados os serviços, os valores diminuem e a qualidade permanece. Deste modo, o trabalhador autônomo tem uma redução de salários, não perceptível, muitas vezes, devido à ideologia da “liberdade” do trabalho; tendo nesse “processo os salários por peça, como foi citado por Marx (1985), gerando uma potencialização da mais valia e da autoexploração do trabalhador”. O grande salto da transformação do mundo do trabalho foi a estratégia da produção flexível da tecnologia no círculo de controle de qualidade dos produtos, que as grandes empresas utilizam, repassando a responsabilidade para um grupo de trabalhadores que tem a função de reduzir os custos da produção e de propor ações que aumentem a produção. Para que o processo de controle de qualidade dos produtos seja concretizado, todos os trabalhadores são inseridos no procedimento sob a forma troca: em troca de sua responsabilidade “ganham” um valor adicional em seu salário, conhecido como resultado de 26 participação nos lucros da empresa, para reforçar a ideia de que os trabalhadores são os responsáveis pelo seu salário. Para ressaltar essa questão, colocamos como exemplo as lojas “Casas Pernambucanas” e “Magazine Luiza” que são grandes empresas. As produções são por quantidades determinadas e por períodos pré-estabelecidos, reduzindo, assim, a criatividade dos homens, onde: 1) o controle de todo o processo é realizado pela gestão de produção, efetuada apenas por um trabalhador, e 2) a organização do trabalho é realizada pela divisão sócio-técnica, definindo o trabalhador pelo tipo do seu trabalho e pela classe social na qual se encontra inserido. Hoje temos uma nova configuração do sistema mundial: um pequeno número de empresas de grande porte dominando o mercado de trabalho. Mercado que é impulsionado pelo desenvolvimento das chamadas Bolsas de Valores, denominado mercado financeiro, onde empresas do mundo inteiro se unem, compram umas às outras, conforme aborda Manfredo (1998). Por conseguinte, o que realmente importa, é o processo de compra e venda e não mais o de produção. Este conceito possui embasamento em doutrina do século XX (déc ada de 1970): O Neoliberalismo, que se caracteriza por um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do Estado na economia, sob a forma de controle, mas defende a sua ação como forma de apoio, de acordo com Harvey (2005). Segundo essa doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. De fato, o desenvolvimento econômico ocorre constantemente, porém o social fica subsumido a esse crescimento econômico, acarretando várias críticas de estudiosos das ciências sociais sobre essa concepção, dominante há anos em vários países, segundo o autor supracitado. Para Harvey (2005, p.12) o neoliberalismo é “[...] uma teoria das práticas políticoeconômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais”. Tal pensamento neoliberal alastrou-se a partir da década de 1970, levando quase todos os Estados do mundo a adotarem alguma política ou prática neoliberal, como desregulações, privatização e a retirada do Estado de muitas áreas do bem-estar social. Para o autor em referência, “A neoliberalização envolveu muita destruição criativa, não somente dos antigos poderes e estruturas institucionais, mas também, dos modos de vida e de pensamento, das atividades reprodutivas, das formas de ligação à terra e dos hábitos do coração”. 27 Conforme Perry (1995), a origem do Neoliberalismo 5 foi no ano de 1947, com a fundação da sociedade de Mont Pelerin 6, por aproximadamente 30 anos o pensamento político econômico neoliberal foi ignorado. Spínola (2004) nos mostra que, em meados de 1970, o neoliberalismo começou a ganhar espaço no meio acadêmico, com a alternativa de explicar a crise econômica industrial, devido ao seu quadro de baixas taxas de crescimento e o alto índice da inflação. Por isso o Keynesianismo passou a ser questionado e essas discussões no meio acadêmico tornaram estratégias para que o neoliberalismo fosse oferecido como solução. Os principais fundamentos do Neoliberalismo eram o liberalismo econômico de Adam Smith e o liberalismo político de John Locke. O pensamento econômico da escola Austríaca de economia, feroz adversária do socialismo e de qualquer forma de intervencionismo estatal. Segundo Perry (1995, p.10), a ideologia do Neoliberalismo é o mercado como unificador e autorregulador da sociedade, por isso defendem o lucro como elemento fundamental para o progresso da sociedade. O Neoliberalismo é fundamentado no individualismo de iniciativa livre e suas ações são pautadas no ataque ao poder dos sindicatos, como forma de conter o avanço dos salários sobre o lucro e a ampliação do Estado de bem estar social. Após, quase uma década de crise os governos passam a adotar as políticas econômicas neoliberais, na Inglaterra com Margareth Thatcher, em 1979; e nos Estados Unidos com Ronald Reagan, em 1980. Esses foram os primeiros governos de economias ricas a adotarem os programas neoliberais. Outros países Europeus seguiram o mesmo caminho, e pouco a pouco o mundo foi aderindo ao neoliberalismo. Perry Anderson (1995. p15), nos fala que sob todos os itens: deflação, lucro empregos e salários, o programa neoliberal se mostrou realista, obtendo êxito. Os neoliberais tinham um diagnóstico definido para a crise do ano de 1970: o Estado Keynesiano e suas políticas de orçamento desequilibrado e emissões monetárias eram responsáveis pelas altas taxas de inflação. Nessa realidade, o grande poder dos sindicatos estava correndo ao lado dos lucros capitalistas, juntamente com o movimento dos operários. 5 O Neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra M undial, na região da Europa e da América do Norte onde imperava o capital. (Perry Anderson.,pág 9.). 5 A sociedade M ont Pélun foi iniciada pelo economista e filósofo austríaco Fredrick Von Hanyek com objetivo de fundar o capitalismo do futuro livre de regras e de interferência do Estado. 6 A sociedade M ont Pélun foi iniciad a pelo economista e filósofo austríaco Fredrick Von Hanyek com objetivo de fundar o capitalismo do futuro livre de regras e de interferência do Estado. 28 Dessa forma, pressionava o governo para expandir “privilégios” 7 ·, aumentando assim o custo de manutenção do Estado. Por isso, recomendavam medidas para solucionar a crise: como o combate ao poder sindical, o Estado com intervenção nos mínimos sociais, com vistas para as reduções de gastos públicos, principalmente com os gastos sociais. Também, se destacavam a privatização dos serviços públicos, tendo assim uma redução da intervenção estatal. Segundo Perry (1995, p.23), “[...] o neoliberalis mo fracassou, não conseguido nenhuma revitalização básica do capitalis mo avançado. Socialmente, ao contrário, o neoliberalismo conseguiu muitos dos seus objetivos, criando sociedades marcadamente mais desiguais, embora não tão desestatizadas como queria. Política e ideologicamente, todavia, o neoliberalis mo alcançou êxito num grau com o qual seus fundadores provavelmente jamais sonharam, disseminado a simp les ideia de que não há alternativas para os seus princípios, que todos, seja confessado ou negando, têm de adapta-se as suas norma ”. Segundo Spínola, (2004, p.114): “[...] os neoliberais encontram justificativas para ignorar o crescimento da massa de excluídos, decorrente da aplicação de seus princípios”. Conforme Perry (1995, p.15), a razão principal dessa transformação foi, sem dúvida, a derrota do movimento sindical, expressado na queda drástica do número de greves durante os anos 1980 e numa notável contenção de salários. Essa nova postura sindical, muito mais moderada, por sua vez, em grande parte era produto de um terceiro êxito do neoliberalismo, ou seja, o crescimento das taxas de desemprego concebido como um mecanismo natural e necessário de qualquer economia de mercado eficiente. Aliás, para esses autores, o desemprego tem a vantagem de contribuir para manter os salários baixos, já que salários reais elevados são fatores determinantes para o aumento de desemprego. Porém, esse sistema capitalista não se limita ao mercado financeiro. Há uma nova forma de produção: a substituição do homem pela tecnologia: a substituição do homem pela máquina, o que gera o desemprego em grande escala. Em síntese, o elemento central desse processo produtivo é a utilização da tecnologia da informação. O controle da produção de bens duráveis e não duráveis passa a ser exercido por computadores: a chamada “inteligência artificial”. Todo esse conjunto de mudança provocou uma radical reestruturação do “mercado de trabalho” (MANFREDO,1998, p.166) . Tais mudanças geraram, para o trabalhador, difícil adaptação a essa nova forma de produção. O autor em referência nos mostra que, “Hoje ao invés das enormes corporações do passado, com milhares de operários, produzindo desde a matéria-prima aos produtos finais, 7 Leia-se direitos sociais. 29 verticalmente estruturadas com suas redes burocratizadas, se dá a descentralização do processo produtivo.” (p.167). Isto nos remete ao modo de produção no processo da Revolução Industrial. Nesse particular, o autor citado, enfatiza: “Este processo tem significado uma diminuição expressiva da presença e da marca dos trabalhadores na sociedade e no Estado, com uma consequente diminuição dos direitos sociais.” (p.168). Nesta realidade, o trabalho passa a ser flexível, uma vez que a produção é feita de acordo com as demandas de mercado, visando o não desperdício da produção, produzindo apenas o necessário. Este tipo de produção é uma técnica denominada: Just in time, segundo Kanbam, citado pelo autor em referência. Surge também um novo modo de trabalho: o trabalho autônomo, citado anteriormente, aqui o trabalhador tem a “liberdade” e a “independência” de produzir o seu trabalho, longe da hierarquização de padrões, podendo ele próprio determinar a carga horária de produção, e ser o seu próprio patrão. Porém, esse novo tipo de trabalho faz com que o homem produza mais, pois ele agora é responsável pelo próprio salário. O pagamento desse salário depende da quantidade de produtos que o trabalhador fornece para as empresas que necessitam da matéria-prima ou da mercadoria já finalizada, para assim revender a preços sempre elevados. Diante dessas e de outras transformações no processo de produção, pode-se perceber que o trabalho, para a metade da população ativa no mercado, deixa de ser parte integrante numa comunidade de produção e passa a adquirir um novo sentido: definir um lugar na sociedade. Hoje, o que realmente interessa não é o “ser” e sim o “ter”. Quanto maior o cargo ocupado e maior o número de habilidades que o trabalhador possui no mercado de trabalho, mais “status” e valor ele adquire, colocando-o em lugares diferentes dentre toda a sociedade. O autor Sílvio Gallo (1997) relata que a ideologia tem ação e fatos que levam o homem a ter seus pensamentos individuais ou em grupos. A partir desse conceito, poderemos analisar o comportamento dos seres humanos, quanto à propaganda de produtos, da forma como são publicizados ou demonstrados, faz com que nós indivíduos, inseridos no sistema de produção capitalista, pensemos de maneira que, se tivermos aquele produto seremos mais felizes e bem sucedidos na sociedade. Portanto, “As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmos (como a propaganda as mostra e oferece)” (CHAUÍ, 2010, p. 217). Neste sentido, a ideologia do desejo, da vontade e a 30 necessidade de ter, para estar incluído até mesmo em grupos, tornam os seres humanos dominados pela classe burguesa, uma vez que o mais importante está em convencer a sociedade a ter determinado produto pelo valor que o mesmo possui no mercado de consumo, tornando uma sociedade de senso comum e não científico, tendo um comportamento alienado, fato que contribui para o aumento da acumulação capitalista. O trabalhador vai às compras. Olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada do que está exposto no comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquanto indivíduo, e sim co mo classe social, quem produziu tudo aquilo co m seu trabalho e que não pode ter os produtos porque os preços dele é muito alto do que o preço dele, isto é, que o seu salários. (CHAUÍ, 2010, p. 217). A partir das identificações realizadas pelo referido autor, podemos destacar que surgem no decorrer da história da humanidade, a alienação e a dominação dentre classes sociais, com maior expressão entre os trabalhadores. O autor enfatiza o afastamento do homem do trabalho como domínio dos seus processos. O homem do século XVI e XVII tinha o domínio do seu trabalho, horário e dos valores por ele adquiridos. Com o advento da produção industrial, o domínio centralizou-se nas mãos da classe burguesa, a classe operária perde o domínio de seus recursos e de seu trabalho. Os operários sem o domínio de seu trabalho iniciam, nesse momento, a venda da força de trabalho para a classe dominante. [...] à qual os trabalhadores vendem a sua força de trabalho. Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores são mercadorias, recebe u m preço, isto é o salário. Entretanto, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos á condição de coisas que produzem coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados. (CHA UÍ, 2010, p. 216). Com o processo de desenvolvimento da história, mais precisame nte no inicio do século XX, Frederick Taylor estabeleceu o princípio da racionalização da produção, diminuindo o tempo da execução dos trabalhos, porém os trabalhadores não tinham mais o domínio total da produção, apenas o controle de tarefas específicas. Os operários tornaram-se alienados 8 por não ter mais condições de criar e dominar o seu trabalho, mesmo sendo os únicos responsáveis pela sua criação. O autor destaca que desde o século XVI até os dias de hoje, o homem é dominado e alienado, a dominação disseminada pelas propagandas do desejo de ter algo, ou apenas para 8 Fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam-se governar por ela como se ela tivesse poder em si e por si mesma, não se reconhecem na obra que criaram, fazendo-a um ser-outro, separado dos homens, superior a eles e com poder sobre eles. (M arilena Chaui p 214. 2005). 31 mostrar que possui o produto apenas pelos valores que lhe são agregados. O consumo estimulado pela classe dominante, ou apenas para fazer parte de grupos de pessoas torna-se o que chamamos de senso comum. Os trabalhadores por não terem mais o domínio dos processos do seu trabalho, mas, apenas parte dele, tornam-se repetitivos e sem estímulos para novas perspectivas de criação e produção. A divisão social entre as duas modalidades de trabalho (material e intelectual) leva a crer que o trabalho material é u ma tarefa que não exige conhecimento, mas apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivamente pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os int electuais também se alienam. (CHAUÍ, 2010, p. 216). Sem dúvida que essa ideologia de domínio e exploração nos remete a refletir sobre nossa sociedade contemporânea, que está baseada e estruturada sob uma ética de consumo, e mesmo sendo uma civilização “moderna” gera indivíduos classificados como “selvagens” uns com outros por se tratar apenas do domínio. A sociedade é outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós. Na outra, os humanos se rebelam individualmente contra esse outro social, ju lgando que por sua própria vontade e inteligência, podem mais do que a realidade que os condiciona e que ela não tem poder nenhum sobre nós. (CHA UÍ, 2010, p. 216). Portanto, temos nesse processo a expressão de alienação na vida dos indivíduos por falta de conhecimento da relação capital fetiche 9 . As relações sociais são fragmentadas porque o “ter” proporciona o “status” o dinheiro torna a relação de sociabilidade, não a mais o ser social tem importância nessa sociabilidade humana. 1.1.1 Fordis mo O Fordismo caracteriza-se por um sistema em série em que a produção é dividida em funções distintas e o tempo de execução é pré-estabelecido, advindo da indústria automobilística, criada por Henry Ford (1863-1947) em 1914 no distrito de Dearbon, na cidade de Michigan nos Estados Unidos. A implementação desse sistema ocorreu para desenvolver um crescimento acelerado e contínuo do capital e seu lucro. Tal processo de produção qualificou-se como a forma pela qual a indústria e o processo de trabalho consolidaram-se ao longo do século XX, onde há uma dicotomia entre a elaboração e a execução do trabalho: uma fragmentação das funções. 9 Entendido como elemento fundamental da manutenção do modo de produção capitalista. Consiste em uma ilusão dentre o universo de consumo, onde as pessoas são subsumidas por propagandas de produtos e serviços que possuem mais valor do que o trabalhador, fazendo com que o mesmo sinta a necessidade de adquirir determinados produtos para se tornar notável e valorizado em sua sociedade. 32 “Compreendemos o fordismo como processo de trabalho que, junto com o taylorismo, predominou na grande indústria capitalista ao longo desse século.” (ANTUNES, 2003, p.25). Vale salientar que o Fordismo estruturou-se no mundo do trabalho, com produção na indústria automobilística, empregando um grande número de trabalhadores. Nesse período, o industrial possuía o controle de produção, visando o aumento de lucro por meio de maior produtividade. Com o decorrer do processo de industrialização, a classe operária passa a se impor diante à exploração de seu trabalho, decorrente da exigência de uma produção acelerada que visava apenas a satisfação financeira de seus idealizadores, deixando de se pensar em atender as necessidades básicas de sobrevivência destes operários, colocando-os em condições de vida e trabalho extremamente precárias. E assim nesse sentido, o Estado mostrou-se presente pela pressão da classe burguesa, porque os trabalhadores nesse momento estavam representados pelos movimentos sociais e sindicatos. A classe burguesa tinha o interesse da representatividade do Estado para que os conflitos entre o capital e o trabalho pudessem ser amenizados, estimulando dessa forma a criação de políticas sociais como estratégia nesse processo. Como os trabalhadores tinham uma participação crítica e política mais ativa, existiam grandes paralisações como forma de pressionar os grandes empresários pela garantia de direitos. Nesse processo ocorreram crises devido ao acúmulo de mercadoria e pela falta de consumo relativo a produção excedente. Segundo Manfredo (1998), o longo período de acúmulo que o capital obteve ocorreu em meio ao processo de automação, ora citado chamado fordismo. Em decorrência desse avanço tecnológico, surgiram novos elementos para o desenvolvimento da produção, como por exemplo, a “tecnologia de informação”, através da expansão da informática e computadores, rompendo com o espaço dos trabalhadores operacionais que eram realizados pelos homens, sendo neste momento substituídos pelas máquinas. Nessa estrutura de trabalho temos também a produção descentralizada produzida internacionalmente, podemos exemplificar o Brasil, que possui a matéria prima e a exporta para a China, que dispõe da força de trabalho, com custo mais baixo. Outra transformação foi ausência do Estado, que repassou a responsabilidade para a sociedade civil, com o discurso de que o sujeito é culpado de não estar inserido no mercado de trabalho, porque não teve esforço para estudar. Assim, são instituídas as entidades não governamentais, “responsáveis” em atender essa nova demanda. Cabendo ressaltar que o 33 sujeito não participa dos espaços públicos, dos movimentos sociais e dos sindicatos. Os sindicatos são cooperativos tendo como objetivo apenas atender as instituições. Os cidadãos nesse período têm uma participação passiva, q ue se limita à observação dos representantes governamentais. As mudanças no mundo do trabalho continuam, à medida que as transformações pressupõem novos modelos de produção para acompanhar o sistema capitalista, que precisa manter os seus níveis de exploração e consumo elevados. Surge a partir de então um novo processo: a acumulação flexível, caracterizada por três formas de produção: a primeira é voltada para o crescimento; a segunda na exploração do trabalho vivo e a terceira constitui-se em uma intrínseca relação entre tecnologia e organização. 1.1.2 Toyotis mo Seguindo a lógica do Fordismo, surge no Japão, no período pós Segunda Guerra Mundial, o sistema denominado Toyotismo, também conhecido como Ohnismo, criado pelo engenheiro Taiichi Ohno, aplicado na fábrica de automóveis da Toyota. O Toyotismo espalhou-se, a partir da década de 1960, por várias regiões do mundo e até hoje é aplicado em muitas empresas. Esse sistema caracteriza-se pela operação simultânea de várias máquinas por um único trabalhador, tendo em conta seja o operário polivalente, objetivando o aumento da produção, sem, contudo, aumentar o número de funcionários. Uma das principais características, também, está em produzir somente o necessário e em menor tempo, onde a reposição de produtos seria feita após a venda no mercado de consumo, evitando, assim, o desperdício de matéria-prima e todo o seu processo de produção. Um dos elementos mais significativos, consequente de todas as transformações, ora citadas, é o desemprego estrutur al, que atualmente situa-se em âmbito mundial. Essas transformações, presentes ou em curso, em maior ou menor escala, dependendo de inúmeras condições econômicas, sociais, políticas, culturais, etc, dos diversos países onde são vivenciadas, afetam diretamente o operariado industrial tradicional, acarretando metamorfoses no ser do trabalho. A crise atinge também intensamente, como se evidencia, o universo da consciência, da subjetividade do trabalho, das suas formas de representações. (ANTUNES, 2003, p.42 -43). Percebe-se que, mundialmente no trabalho capitalista contemporâneo, tem-se uma acentuada diminuição da classe operária fabril, devido aos avanços tecnológicos do modo de produção. Consequentemente, inicia-se uma expansão do trabalho assalariado dentre o setor de serviços. Neste cenário, também, se observa uma crescente ampliação do contingente feminino no mercado de trabalho. Segundo Antunes (2003), vivencia-se uma 34 subproletarização, originando o trabalho temporário, precário, subcontratado, “terceirizado”, marcando, assim, uma sociedade de capitalismo avançado. O surgimento do toytismo teve como base o acúmulo de mercadoria, identificado como gestão flexível, porque iniciou a produção por períodos de maior demanda como, por exemplo, o Natal, o Dia das Mães, entre outros. Antunes explica que em decorrência das formas transitórias de produção, surgem mudanças que afetam os direitos dos trabalhadores. Direitos que foram conquistados ao longo de toda a história da humanidade, mas que passaram a ser substituídos e eliminados pelo mundo da produção e do consumo. 1.1.3 Acumulação Flexível Em consequência à crise do Fordismo, na década de 1970, houve um excesso de produção industrial, sendo necessária a reestruturação de todo o capital acumulado, que até então não estava em circulação no mercado, gerando uma acentuada ausência de lucros para o capitalista. Segundo Harvey (2006), a busca primordial pelo lucro permanece, mas as formas de obtê- lo transformam a organização industrial em um sistema de acumulação flexível, onde a produção encontra-se em um contexto de precarização, com trabalhos temporários, terceirizados, como já mencionados por Antunes (2003). Tinha-se, portanto, como princípio básico nesse novo sistema, a redução dos custos dos fatores de produção, ou seja, a redução do capital, para que dessa forma os níveis de lucros pudessem se manter elevados e em constante crescimento. O mesmo autor, ainda, cita que o contexto da acumulação flexível pressionou para o desaparecimento de postos de trabalho em grandes proporções e, paralelamente, reforçou formas contratuais de trabalho com contratos de trabalho não regulamentados, de tempo parcial, por tempo determinado e subcontratações, bem como formas não assalariadas de inserção, ligadas às chamadas economias informais que englobam o trabalho autônomo ou por conta própria, por exemplo. Também, se observa uma maior frequência de modalidades diferenciadas de emprego, tais como as de jornadas flexíveis, terceirizações, além do aumento da informalidade e do desemprego. Hoje vivemos um processo flexível de produção e reprodução econômica no trabalho. Temos, em decorrência da acumulação flexível, a negação do trabalhador, resultado do discurso das instituições de que o mesmo é um “colaborador”. E, essas por sua vez têm em vista disseminar uma ideologia que exprima que o indivíduo é responsável pelos resultados das empresas, e seu desenvolvimento pode, tanto prejudicar, como proporcionar o alto índice 35 nos lucros. Sendo assim, nesse contexto de produção, o trabalhador proporciona maior acúmulo de mais-valia para classe burguesa, fazendo-o experimentar um sentimento de proprietário de seu espaço de trabalho, com fins de um excedente de produção, sem, contudo, ter o trabalhador conhecimento real desse processo. Ou seja, ele é responsável pelo que produz, mas não é proprietário de sua criação, e não tendo, muitas vezes acesso para usufruir dessa produção, assim, todo o trabalho executado é um processo teleológico, próprio de sua constituição como homem, ser pensante, e não somente o que executa determinada tarefa. Segundo Mèszaros (2002), nas fases anteriores ao desenvolvimento capitalista, os aspectos negativos eram ignorados, com exceção dos socialistas que possuíam outras perspectivas em longo prazo, como Marx, conforme citações em suas obras no ano de 1845. Por outro lado, percebe-se que dentre esse cenário de contradições capital-trabalho, nas últimas décadas, surgiram movimentos de protestos notáveis para estabelecer base de apoio político em muitos países capitalistas, como um meio de penetrar na estrutura do poder e nos processos de tomada de decisão da ordem estabelecida. A dificuldade para se estabelecer uma nova ordem social não está apenas pautada no fato de que, diante do atual processo de desenvolvimento, seus elementos se apresentam de forma muito mais acentuada, do que em qualquer outro momento, mas também no fato de que o sistema do capital globalizado tenha atingido um patamar de níveis incontestáveis e contraditórios de maturação e saturação. Os perigos agora se estendem por todo o planeta: consequentemente, a urgência de soluções para eles, antes que seja tarde de mais, é especialmente severa, conforme explica Mèszaros (2002). Até algumas décadas atrás, era possível extrair do capital concessão aparentemente positiva – tais como os relativos ganhos para o movimento socialista (tanto sob a forma de medidas legislativas para a ação da classe trabalhadora, como sob a de melhoria gradual do padrão de vida, que mais tarde se demonstraram reversível), obtidos por meio de organizações de defesa do trabalho: sindicatos e grupos parlamentares. O capital teve condições de conceder esses ganhos, que puderam ser assimilados pelo conjunto do sistema, e integrados a ele, e resultaram em vantagem produtiva para o capital durante o processo de autoexpansão. Hoje, ao contrário, temos de enfrentar questões que implicam em desafiar o sistema do capital como tal. Por um lado, temos a modernidade econômica para o grande capital, que vem contando com o decisivo apoio do Estado via subsídios fiscais, creditícios e outras formas protecionistas estimuladas com a expansão monopolista, sob a égide do capital financeiro. Ou seja, o estado a serviço da modernização tecnológica, agrícola e industrial, efetuada pelos grandes grupos econômicos, regulando e subsidiando a acumulação privada'. Assim, o Estado vem marcando uma forte presença no apoio 36 às chamadas "classes produtoras", aliada a uma débil participação na reprodução e socialização da força de t rabalho. O outro lado dessa "modernidade", que os dados supracitados nos aponta é a barbárie na reprodução das condições de vida da população trabalhadora, com a qual nos defrontamos, cotidianamente em nosso exercício profissional. É a radicalização da miséria, a impossibilidade de obtenção dos meios de vida por parte dos trabalhadores inteiramente despossuídos das condições necessárias para satisfazer suas necessidades vitais, à medida que se verifica, inclusive, um incremento expressivo do setor informal de trabalho e do desemprego. Hoje v ivemos tanto a luta contra a exploração capitalista, co mo a luta contra a exclusão permanente ou temporária da órbita da produção. (IAMAMOTO, 2011, p. 154). Nessa perspectiva, o trabalho deixa de ser visto no sentido ontológico, mas sim como pleno desenvolvimento da atividade em si, da qual desapareceu a necessidade natural na sua forma direta; porque uma necessidade historicamente criada tomou o lugar da natural. É por isso que o capital é produtivo, ou seja, uma relação essencial para o desenvolvimento das forças produtivas sociais, segundo Mèszaros (2002, p.622). Como explica Lukács (2003, p. 343), “A divisão do trabalho, estranha à natureza do homem, faz os homens se ossificarem em sua atividade, faz deles autômatos nos seus trabalhos e os transforma em escravos de uma rotina”. Entre os séculos XVIII e XIX tinha-se, no contexto da sociedade do trabalho expressamente explícito, a necessidade de se conceber a transição para a ordem reprodutiva socialista, seguindo a linha de menor resistência. Marx advertiu os trabalhadores contra a ilusão de que a busca de “um salário justo por um dia justo de trabalho” poderia conduzir em direção à transformação almejada, dizendo- lhes que, ao contrário, “deveriam inscrever na sua bandeira o slogan revolucionário: “Abolição do sistema de salários”, como cita Meszàros”. Para que haja uma reestruturação positiva do trabalho, bem como de salários e a disseminação da extração do trabalho excedente, produzida pelo capital, é preciso que todo esse sistema seja superado, pois não há como abolir o capitalismo e sua dominação frente ao Estado de uma única vez; trata-se de todo um processo que possuí raízes intrínsecas há séculos. 37 2 AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS 2.1 A Deficiência e a Construção Histórica dos Movimentos Sociais das Pessoas com Deficiência Esta parte do estudo tem como propósito traçar o percurso da construção histórica dos movimentos relacionados à luta das pessoas com deficiência em busca do reconhecimento de seus direitos como cidadãos, assim como o resgate histórico da legislação correspondente. Então, iniciaremos a discussão com a definição da terminologia “pessoa com deficiência”, ou seja, trata-se de pessoa com perda de uma ou mais funções do corpo humano, podendo ser psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do “padrão considerado normal para o ser humano”. ( Decreto regulamentado nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999 o art. 3º, inciso I). As pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (ONU, 2006; BRASIL, 2008; BRASIL, 2009). A definição da deficiência segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é uma anomalia de estrutura ou de aparência do corpo humano e do funcionamento de um órgão ou sistema, independentemente de sua causa, tratando-se em princípio de uma perturbação de tipo orgânico. Neste sentido, podemos enfatizar que: A deficiência é uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa com deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida. (Decreto n° 6.949 de 25 de agosto de 2009, no artigo 4°). Nesta perspectiva, a deficiência permanente é aquela que ocorre ou se estabiliza durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter a probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos. Conforme a Convenção sobre os direitos da Pessoa com Deficiência: Deficiência é um conceito em evolução e resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. (Preâmbulo- e, 2010, p.22). Assim sendo, a deficiência no âmbito funcional representa uma barreira, que muitas vezes é compreendida como incapacidade, impondo limitações na relação do indivíduo 38 com meio em que vive. Esta barreira é constituída por várias outras, onde se destacam as sociais e as ambientais, pois a pessoa com deficiência não consegue ultrapassar estes obstáculos, da mesma forma que uma pessoa sem deficiência. Cabe salientar que as barreiras ambientais referem-se à necessidade de adaptações e as barreiras sociais são entendidas como as atitudes marginalizadoras da sociedade. Contudo, a cada período da história essas concepções são revistas e ampliadas com informações e fundamentações necessárias. Neste sentido, são realizadas palestras, estudos, divulgações de pesquisas, implementação de leis com o envolvimento de movimentos sociais e da sociedade em geral. Para romper com o preconceito das barreiras sociais, compete à sociedade, eliminar, reduzir ou compensar estas barreiras, de forma a garantir a cada indivíduo o exercício da sua cidadania, respeitando os direitos e deveres de cada um. Tais barreiras que são classificadas como limitações psicomotoras, as quais fazem parte do cotidiano da pessoa com deficiência, podem ser definidas por cinco formas: a deficiência física, auditiva, visual, intelectual e múltipla. Na mesma perspectiva de compreensão das características das deficiências, foram apresentadas ao Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência CONADE em Brasília, suas definições, concretizando uma nova redação relativa à caracterização das deficiências, através do Decreto N° 3298/99 art. 4° - alterado pelo Decreto 5296 de 02/12/2004. (Vide anexo A). A denominação das pessoas com deficiência vem assumindo vários significados ao longo da história, tais como: inúteis, incapacitados, defeituosos, pessoas portadoras de deficiência, pessoas com necessidades especiais. Conforme Costa (2011) 10, no período da Idade Média as pessoas com deficiência viviam em uma forma de segregação. Dentre os termos muito usados, inclusive pela igreja, essas pessoas eram denominadas como endemoniados, doentes e loucos ou referiam-se a elas como sendo um “incômodo” para a sociedade. Neste sentido, a deficiência era relacionada com o sobrenatural, ou seja: crença divina logo identificada como obra e intervenção direta de Deus ou de outros seres superiores, sob a forma de castigo. Nesse período existiam alguns mitos e estereótipos construídos pela sociedade e, sendo incorporados desde a Idade Média até os dias atuais, no imaginário de muitas pessoas. Portanto, pode-se constatar que a segregação social e a marginalização dos indivíduos com 10 Site completo nas referências finais. 39 deficiências têm raízes históricas profundas. Conforme (BRUNO, 2006 apud DANTAS et al. 2010,p.2.). Nesta época essas pessoas eram consideradas inválidas e sem utilidade para desempenhar funções produtivas, condicionando sua deficiência a um estado n ão passível de mudanças, além de basear-se na religião para justificar o processo de exclusão pautado em questões místicas e ocultas, o que foi vivenciado na Idade Antiga, Idade Média e parte da Idade Moderna. Podemos compreender que nesse período a sociedade não tinha informação em relação à sociabilidade das pessoas com deficiência, porque havia o controle da igreja, assim como a influência da concepção, que desde a antiguidade clássica tratava as pessoas com deficiência considerando-as possessas de demônios e de maus espíritos. Os modelos econômicos, sociais e culturais impuseram às pessoas com deficiência uma inadaptação geradora de ignorância, preconceitos e tabus que, ao longo dos séculos e séculos, alimentaram os mitos populares da perigosidade das pessoas com deficiência mental e do seu caráter demoníaco, determinando atitudes de rejeição, medo e vergonha. (PEREIRA 2003 apud DANTAS et al. 2010, p. 3). Todo esse processo de isolamento das pessoas com deficiência proporcionou a [...] exclusão destas pessoas e assim continuavam sendo vistas como um mal para a sociedade, transformando-as em objetos de torturas, chegando por vezes à morte, o que representou um período de forte rejeição, discriminação e preconceitos na vida dessas pessoas. A exclusão era total, viviam fora do seio da família e à margem da sociedade. Com a evolução da medicina a questão da deficiência passa a ser vista então, como u ma doença, gerando ações de proteção e cuidado, justificando assim, o paradigma da institucionalização. (M ENDES, 2006 apud DANTAS et al. 2010, p. 3). Para entendermos como iniciou o período de institucionalização em clínicas e hospitais psiquiátricos, citaremos Philippe Pinel (França,1800). Philippe estudou a mente, fazendo a classificação das pessoas com deficiência em todos os níveis, com doenças mentais e tendo como definição a patologia mórbida e doente, criando um rótulo de doentes mentais. Com a concepção da herança genética citado como distúrbios físicos e intelectuais, a sociedade começou a incorporar a idéia tendo como estratégia o isolamento desses indivíduos e as suas práticas era institucionalização. (GARCIA, 2011) 11. O paradigma da institucionalização tinha como fundamento as pesquisas científicas da medicina, rompendo com as concepções da igreja de demônios e outros mitos. Porém, a sociedade continuou com a prática de isolamento das pessoas com deficiência, apresentando uma “nova concepção” de sociabilidade para essas pessoas, mantendo-as em clínicas e hospitais psiquiátricos, com o único objetivo da “cura” através de tratamento médico e de proteção das ações que a igreja determinava. Neste sentido, cabe destacar que esse, 11 Site completo nas referências finais. 40 [...] paradig ma significou o isolamento de pessoas com deficiência em instituições residenciais ou escolas especiais com fins, também, de proteger a sociedade do que era considerado diferente. Esta prátic1a social perdurou por aproximadamente oito séculos baseada em ações pontuais de cunho social, religioso e caritativo de proteção e cuidado como: hospitais, prisões e abrigos. Vár ias instituições e classes especiais surgiram no início do século XX, entretanto com os mes mos moldes de segregação do século anterior. (M ENDES, 2006 apud DANTAS et al. 2010). Esses foram os caminhos percorridos, em relação à história das pessoas com deficiência, porém, mantendo ocultos os verdadeiros objetivos da sociedade. Neste sentido, cabe destacar e concordamos com Marques (1998): 12 O investimento social no corpo põe em evidência valores estéticos e de produtividade, determinantes dos padrões de normalidade vigentes. Um corpo deficiente está fora dos padrões estabelecidos, gerando uma prática preconceituosa e segregacionista. A instituição assistencialista constitui um dos mais eficientes mecan ismos de defesa da sociedade em relação aos portadores de deficiência, identificando-os e mantendo-os isolados do convívio social. Escondida atrás de um discurso de proteção e de preparação dos deficientes para uma possível reintegração no contexto social, a institucionalização da deficiência protege mais a sociedade do que seus portadores. No Brasil, como em todo mundo, a concepção era de institucionalização das pessoas com deficiência, mas na década de 1950 e 1970, houve, porém um marco importante na história que modificou a concepção das pessoas com deficiência. O fim da 2° Guerra Mundial provocou uma intensa insatisfação social, devido ao grande número de pessoas que se tornaram deficientes por conta de batalhas, bombas e campos minados. A partir, de então, a sociedade civil se organiza e começam as mobilizações referentes aos direitos da pessoa com deficiência. (GARCIA, 2011) 13. Com a mudança da concepção de segregação para a garantia de direitos pela sociedade, as pessoas com deficiência passam a ser vistas como cidadãs, embora ainda persistisse a visão assistencial. Os movimentos sociais dominantes nas décadas de 1970 e 1980 foram importantes historicamente, pela ruptura das ideias e práticas cristalizadas acerca da ineficiência e incapacidade das pessoas com deficiências. Na década de 1980, com os avanços tecnológicos surgem novas propostas de transformação social, voltadas à garantia dos direitos das pessoas com deficiência na busca da melhoria de qualidade de vida. A partir da década de 1990, co m a Conferência Mundial de Educação para Todos, surge a proposta de enfrentar o desafio das diversidades, considerando cada indivíduo como sujeito de direito, no sentido de democratizar o ensino e minimizar o 12 13 Site completo nas referências finais. Site completo nas referências finais. 41 processo de exclusão. Essa máxima foi confirmada pela Declaração de Salamanca (1994), que propõe aos países signatários uma educação com atenção voltada para pessoas com necessidades educacionais especiais, evidenciando a igualdade de direitos e oportunidades educacionais para todos. (ARANHA, 2004, apud DANTAS et al. 2010, p.4, 5 ). Neste período, o Brasil retomava o percurso de sua democracia, que por 20 anos tornou-se oculto devido ao poder repressivo exercido pela Ditadura Militar, tendo uma sociedade civil organizada e preocupada em garantir direitos universais, como acesso à educação, trabalho, saúde, moradia. Com o avanço da democracia passa a existir uma exigência de um tratamento mais humanitário e de proteção aos direitos das populações, sem acesso aos direitos e participação nos espaços de discussões das leis. Com a sociedade ocupando os espaços de discussões, através dos movimentos sociais, podemos destacar a luta desses movimentos para romper com o conceito, até então, existente dentre a sociedade, de que pessoas com deficiência tinham a sua identidade definida por “incompetentes sociais”. Seguindo essa mesma reflexão, iremos explanar o conceito da terminologia: “Portador (a) de Deficiência”, dando início a algumas indagações, e assim a mesma foi citada no manual de dicas de relacionamento da pessoa com deficiência da Prefeitura de São Paulo em 2011: “termos como “portador de deficiência”, pessoa portadora de deficiência ou “portador de necessidades especiais” não é mais utilizada. A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa. A pessoa não porta uma deficiência, ela “tem uma deficiência”. “Tanto o verbo “portar” como o substantivo ou adjetivo “portador” não se aplica a uma condição inata ou adquirida que faz parte da pessoa. Ou seja, a pessoa só porta algo que ela pode deixar de portar. Por exemplo, não dizemos que uma pessoa “é portadora de olhos verdes” diz que ela “tem olhos verdes”. (SÃO PAULO MUNICÍPIO, 2011) 14. Ao longo da historia, a terminologia usada para referir-se a uma pessoa com deficiência, mostra como a sociedade identificava estas pessoas, ou seja, com muitos preconceitos, ou seja: com caráter de exclusão. Entretanto, a partir da participação, cada vez maior, das próprias pessoas com deficiência e da sociedade em geral houve diversas mobilizações e estudos nesta direção. Neste sentido, as pessoas com deficiência e a sociedade em geral foram se mobilizando, tendo como bandeira maior os direitos destas pessoas. Assim, em diferentes Estados foram promulgadas leis estaduais, no âmbito federal foi promulgada a 14 Manual de dicas de relacionamento da pessoa com deficiência da Prefeitura de São Paulo em 2011. Site completo nas referências finais.. 42 “Legislação Brasileira sobre pessoas portadores da deficiência” (em 2004). A partir da mesma foram implementadas políticas específicas em relação a estas pessoas. A partir, deste “momento histórico” a terminologia referente a essas pessoas vem sendo cada vez mais alvo de atenção e adequação à sua realidade. Por conseguinte, a terminologia “portador” de deficiência (conforme consta na lei) foi e está sendo alvo de críticas. Afinal, ninguém “porta uma deficiência”... a pessoa “tem uma deficiência”. Portanto, ter uma deficiência é apenas uma de suas características. Neste sentido, os movimentos mundiais engajados pela luta das pessoas com deficiência, incluindo os do Brasil já convencionaram de que forma preferem que a terminologia seja usada: pessoa(s) com deficiência. Esse termo faz parte do texto aprovado pela Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidades das Pessoas com Deficiência, aprovado pela Assembléia Geral da ONU, em 2006, e ratificada no Brasil em julho de 2008. (SÃO PAULO MUNICÍPIO, 2011). Essa conquista dos movimentos sociais enfatiza que as pessoas com deficiências têm condições de sociabilidade e atividade produtiva. Mas é necessária a compreensão da sociedade em romper com as barreiras que as pessoas com deficiência enfrentam em seu cotidiano, sendo elas atitudinais, físicas e muitas vezes financeiras. Neste sentido, Clemente (2012) esclarece que a deficiência não é doença, pessoas com deficiência podem agir estudar, trabalhar, sonhar e viver a vida normalmente. Podem ficar doentes, como qualquer pessoa sem deficiência. A deficiência pode se manifestar em qualquer um de nós, de modo permanente ou temporário. Algumas pessoas com deficiência já nascem nessa condição, outras adquirem no transcorrer da vida como consequência de doenças e acidentes, entre outras causas [...], condições socioeconômicas em crescente deterioração, fatores orgânicos ou hereditários e fatores genéticos. De 30% a 40% dos casos, podem ser evitados com medidas preventivas”. (CLEMENTE, 2012, p.15.). A luta da pessoa com deficiência, em conjunto com os movimentos sociais, atuaram para a garantia dos direitos e de igualdade, para isso foi necessário enfrentar e romper vários paradigmas, como a segregação, através da influência da igreja, a medicina, com práticas de instituição, a integração social com práticas assistencialista e nos dias atuais a inclusão social que, tem como objetivo romper esses paradigmas, para que as diferenças sejam respeitas com equidade, a fim de romper com o isolamento, através da garantia de direitos. 43 Por conseguinte, parece-nos pertinente ponderar que, à medida que a sociedade incorpora conceitos de que o sujeito é o problema, não haverá respeito à diversidade, resultando na exclusão dos deficientes da sociedade. Na realidade social, em geral, considerase que suas habilidades são limitadas e para o sistema capitalista o sujeito ideal é o que produz com agilidade. Dessa forma o que acontece é que a deficiência, co mo estereótipo do desvio, também se enquadra no grupo das marg inalidades produzidas pela ideologia da classe dominante. Portanto, não se pode dissociar a condição de indivíduo deficiente de uma ideia exterior de capacidade produtiva e da concepção de corpo social que fundamenta todas as relações políticas e econômicas. Nu ma sociedade capitalista, onde as relações definem-se pela produção e pelo lucro, o padrão ideal de homem segue os valores sociais determinantes. (MARQUES, 1998, p.3) 15 . Segundo o autor citado, A vida do homem em sociedade ao longo dos séculos e nas diversas regiões do planeta consiste no complexo produto de uma art iculada trama de poder, que evidencia direito e privilégios de uns, ao mesmo tempo em que estabelece obrigações e subalternidade para outros. Sem dúvida, tal trama aperfeiçoa-se a cada dia, tornando-se, certamente, a principal característica da chamada sociedade moderna. A todo o mo mento, forças antagônicas enfrentam-se, dando origem a u ma série de imposições e deveres que acabam se tornando verdadeiros "princípios morais". Indivíduos e grupos (categorias) vestem-se de máscaras de identificação e passam a reproduzir mu itas das atribuições que lhes são impostas pela ideologia dominante. A pessoa com deficiência tem as suas limitações, mas tem o direito à igualdade e justiça social, para ter o mesmo acesso que as pessoas que não enfrentam barreiras em seu cotidiano para se deslocar, para que assim passem a serem reconhecidos como sujeitos de direitos. Dessa forma MA RQUES (1998, p.3). 16 Ao colocar as pessoas deficientes numa condição de inferioridade corpórea e de incapacidade produtiva, a sociedade gera uma estratificação, com limites muito claros quanto às possibilidades de realização pessoal, profissional e afet iva de seus memb ros [....]. Do mesmo modo, é forte a concepção de que o deficiente não pode desempenhar com sucesso as atividades profissionais desempenhadas pelas pessoas normais, e de que a oportunidade de trabalho dada a ele representa sempre u m ato de caridade por parte do empregador. Nesta perspectiva, os direitos das pessoas com deficiência no Brasil é enfatizado pela fala de cidadania e de direitos humanos, porém cabe ressaltar que as marcas da história se fazem presentes, caracterizadas pelo preconceito e pela falta de acesso a serviços de prevenção, saúde e educação e falta de oportunidade no mercado de trabalho. (CFESS, 2010). 15 16 Site completo nas referências finais. Site completo nas referências finais. 44 Por isso que as possibilidades de acesso para as pessoas com deficiência têm características de assistencialismo, porque a sociedade continua com a compreensão de caridade, rompendo com a luta de garantia de direitos dos movimentos sociais. Podemos identificar essas ações nas atividades laborativas para pessoas com deficiência, que são muitas vezes operacionais e de cunho artesanal, com perspectiva de salários baixos. A deficiência é utilizada pelas empresas como marketing cujo discurso é a responsabilidade social. Podemos romper com o discurso da responsabilidade social empresarial 17 realizada por empresas de grande porte, enfatizando a falta de acesso econômico e social. Os dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) indicam que 28,8% da população vivem hoje em situação de pobreza absoluta com até ½ salário mínimo mensal per capta e para as pessoas com deficiência, calcula-se que cerca de 7,67 milhões vivem em condições de escassez de renda, incluindo a falta de acessos aos serviços públicos. As pessoas com deficiência a vivenciam condições precárias de vida como “Cegos sem bengalas, amputados sem muletas, paraplégicos sem cadeiras de rodas, surdos sem comunicação, deficiente intelectuais totalmente isolados” (IBDD, 2008). Apesar de estarmos em uma sociedade democrática, em que as discussões são para a inclusão social das pessoas com deficiência, não podemos deixar de enfatizar que os fatores econômicos e sociais, são questões que pesam nesse momento da história de segregação e marginalização dessas pessoas. Porque grande parte da sociedade já compreende que as pessoas com deficiência têm habilidades para sociabilidade e atividades laborativas, porém necessitam de tecnologias assistivas 18 para desenvolvê- las. Mas nas questões econômicas e sociais a desigualdade está, ainda, muito presente. Segundo CFESS (2009), a situação, que revela essencialmente a desigualdade das condições de vida de acesso aos bens e serviços socialmente produzidos, de um grupo significativo da população, requer medidas urgentes para garantir o acesso aos direitos e políticas públicas. 17 Responsabilidade Social empresarial: é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais ” ( REIS E BRUNO 2013.). 18 Tecnologias Assistivas: é uma área do conhecimento de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada á atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidade ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (COM ITÊ DE AJUDAS TÉCNICAS- CAT PORTARIA N° 142, DE 16 DE NOVEM BRO DE 2006). 45 Para enfatizar a questão da desigualdade nos fatores econômico e social, ressaltamos os dados preliminares do Censo-Inclusão 2012 da cidade de São Paulo. Verificase nesta realidade, as pessoas com deficiência têm acesso à renda, trabalho e educação, porém, em pequena porcentagem. Entretanto, neste estudo priorizamos os dados renda e trabalho, para análise. Em relação ao aspecto econômico podemos analisar que a renda e o trabalho das pessoas com deficiência são muito inferiores à quantidade dessas pessoas, existentes na cidade de São Paulo, ou seja, 41.262.199. (IBGE, 2010) 19. Por outro lado, os dados do censo- inclusão de 2012 demonstram que as pessoas com deficiência que não possuem renda equivalem a 20,6%, as que possuem renda pessoal de até 1 salário mínimo: 31,8%, com renda pessoal de 4 a 6 salários mínimos: 9,5%, e renda pessoal acima de 6 salários mínimos: 8,1%. A pesquisa também registrou que foram 13,3% de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal e informal, dados obtidos a partir dos 40 mil formulários respondidos pelos cidadãos com deficiência. Nesta perspectiva podemos identificar que não existe responsabilidade social das empresas, e sim a utilização da imagem das pessoas com deficiência para aumentar o seu lucro. Se de fato, a responsabilidade social promovesse de forma efetiva a inclusão social das pessoas com deficiência e rompesse com a desigualdade social e econômica, não teríamos esse resultado de renda pessoal e ocupação de trabalho no que se refere à realidade dessas pessoas com deficiência, na cidade de São Paulo. Podemos salientar que, a pesquisa do IBGE (2010) 20 identificou a quantidade de deficiência no Brasil sendo: deficiência visual 58,3% , auditiva 15,8% Motora 21,6% e Intelectual 4,3% . Essas pesquisas enfatizam que pessoas com deficiência continuam em isolamento social, principalmente as pessoas com deficiência intelectual, tendo como resultado de 4,3% da população, isso porque, muitas vezes o acesso é limitado e a família não o aceita. Corrobora os dados dessa pesquisa, a APABB (Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade) , espaço de 19 Os dados foram divididos pelo tipo de deficiência e suas particularidades, sendo subdivididas em: não conseguem de modo algum, grande dificuldade e algumas dificuldades. Os dados mostram que 23,9% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. É preciso, então garantir acesso aos espaços públicos e o direito ao trabalho, entre outras oportunidades que proporcionem o exercício da cidadania às pessoas com deficiência. 20 Evidenciando a inclusão das pessoas com deficiência, o Censo Demográfico de 2010 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) tendo como diretrizes para sua pesquisa pessoas incluídas em mais de um tipo de deficiência, obteve-se os seguintes resultados: o primeiro dados foram contados apenas uma vez, segundo dados a inclusão das pessoas sem declaração de deficiências, a terceiras inclusão da população sem qualquer tipo de deficiência e a quarta a porcentagem com relação á população residente. 46 pesquisa de campo, identificados que a quantidade maior de atendimento são as pessoas com deficiência intelectual, e também que a família, muitas vezes, não aceita a possibilidade de seus filhos ter o acesso ao mercado de trabalho. Entretanto, podemos destacar ainda outros fatores que influenciam aspectos relacionados à forma desigual de tratar as pessoas com deficiência. Constata-se, por exemplo, que a presença de deficiências entre os diferentes grupos populacionais está associada às desiguais formas de acesso e apropriação dos bens, serviços e riqueza socialmente produzidos, impactando diretamente nas populações com deficiências. Sobre essas pessoas, incidem com mais frequência, fatores que são indutores dessa condição: a fome que produz o nanismo, os danos cerebrais irreversíveis e outras degenerações; a precária situação do sistema de saúde pública, com os erros médicos, a desinformação sobre a prevenção das doenças, a automedicação; a falta de centros de orientação e de reabilitação, os acidentes de trabalho e de trânsito, a violência urbana e rural, a falta de segurança pública adequada, as precárias condições de vida com escassos recursos de sanea mento, de água tratada, de alimentação e de habitação adequada, alto índice de doenças infecto-contagiosas e inadequado atendimento, as grandes distâncias geográficas com populações assistidas pelo Estado, a contaminação do meio ambiente e deterioração das condições de vida. (CFESS, 2009). Todas essas situações envolvem necessidades básicas para pessoas com deficiência e sem deficiência. Nas condições de pessoas com deficiência, fica evidente a desigualdade de acesso. Nesse caso, podemos identificar como essas situações rompem com a garantia de direitos e com a luta dos movimentos sociais. Vale destacar que estamos em um momento da historia em que temos diversos espaços de discussões, ou seja, fóruns que podem e devem romper o “círculo vicioso” do “não atendimento aos direitos” das pessoas com deficiência. Afinal, essas têm que ter acesso pleno às políticas públicas em todas as instâncias. Por outro lado, essas temáticas também estão presentes no espaço de discussão da nossa profissão. Conforme CFESS (2010) a falta de garantia dos direitos humanos está claro nos efeitos da miséria e da discriminação causada pelo preconceito, surgindo o desrespeito: No direito se ir e v ir das pessoas com deficiência física, u ma vez que são inúmeras as barreiras de acessibilidade: meios de transporte coletivos não adaptados ou conduzidos por profissionais não habilitados a lidar co m as diferenças; calçadas e vias públicas não acessíveis; prédios públicos ou de uso coletivo não propício ao acesso de cadeiras de rodas e outras dificuldades de locomoção; O direito de acesso à justiça na medida em que, além das barreiras arquitetônicas, dificilmente existem, nas Delegacias, Defensorias, Pro motorias e Ju izados Especiais, intérpretes de linguagem de sinais ou possibilidades de impressão em Braille; Aos direitos políticos, uma vez que a grande maioria das pessoas com deficiência não faz parte do processo político, não voltando, seja porque as condições para o exercício do voto não estão acessíveis, seja porque formas interditadas civ ilmente (especialmente em casos de pessoas com transtornos mentais ou surdos) ou por falta de 47 representação política consistem para suas reivindicações. Ao direito ao trabalho, tanto pela falta, tanto pela falta de formação profissional, como na hora da disputa por competência. Ao direito à assistência social, tanto pela restrição do acesso ao BPC, previsto na LOAS, quanto à dificuldade de acesso à rede socioassistencial. Sabemos da importância dessas discussões nos espaços profissionais, para modificação das políticas públicas e da sociedade civil, podendo compreender que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos das pessoas sem deficiência, temos que romper com as barreiras sociais e ambientais para que essas pessoas tenham acesso a direito de decisão, que afeta diretamente as suas vidas. Mas, não podemos esquecer- nos da responsabilidade do Estado à frente dessas situações, que muitas vezes não tem informações da realidade dessas pessoas, adotando, quase sempre, uma postura de assistencialismo, não identificado-as como cidadão. Dessa forma, conforme CFESS (2010), [...] essas questões passam, muitas vezes, ao largo Estado. A problemática das pessoas com deficiência é, de forma geral, da caridade, do paternalismo, esfera, essa, em que não está presente a exigibilidade por direitos, aquele que recebe se espera uma relação de subordinação e gratidão. No entanto, falar em luta é falar da não resignação, é falar de não aceitação ao instituído, é falar de resistência. E é nesse terreno de conflitos que se reatualiza a exigência por direitos. Para garantir os direitos das pessoas com deficiência temos que continuar com as lutas, através dos movimentos sociais, pois os participantes são os mais informados acerca da realidade e convivência das barreiras enfrentadas no cotidiano. Atualmente, temos garantias de direitos concedidas por muitas leis, no entanto, precisam ser regulamentadas. Especialmente, a inclusão no mercado de trabalho, que muitas empresas solicitam, apenas, os dados pessoais. Porém, a presença de pessoas deficientes, traz benefícios para a empresa, tanto na fiscalização de agentes do trabalho, quanto parara marketing visando aumento do lucro. Nesse sentido, se faz necessário romper com atitudes da sociedade civil e jurídica, no que diz respeito à marginalização das pessoas com deficiência, tendo em vista ampliar o princípio que prega o direito em ter todas as suas necessidades asseguradas, repudiando assim qualquer forma de excepcionalidade, tanto aquela que segrega, mantendo-a longe, quanto aquela que super-protege, mantendo-a diferente. O desafio do convívio dos diferentes permite criar os mecanismos de igualdade e inventar novas formas de construir uma sociedade justa, democrática e emancipatória (CFESS,2010). 48 2.2 O Resgate Histórico da Legislação das Pessoas com Deficiência Quais as conquistas das Políticas Públicas para as pessoas com deficiência no me rcado de trabalho Neste capitulo iremos analisar as conquistas das políticas públicas para segmento das pessoas com deficiência, para isso destacaremos na linha do tempo, apenas, citando as Legislação Internacional e Nacional do ano de 1980 e 2004. Nos anos de 1980 fo i, estabelecida como a Década Internacional da Pessoa com Deficiência, em 1981 Adotado pela ONU co mo o Ano Internacional das Pessoas com Deficiências, 1983 Elaboração da Convenção 159 pela OIT, 1990 Aprovada a ADA (lei dos deficientes dos Estados Unidos), aplicável a toda empresa mais de quinze funcionários, 1992 Estabelecida a data de 3 de dezembro com Dia Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência da ONU, 1994 Declaração de Salamaca (Espanha), tratando da educação especial, 1995 A Inglaterra aprova legislação semelhante para empresas com mais de vinte empregados, 1997 Tratado de Amsterdã, em que a Un ião Européia se co mpro mete a facilitar a inserção e a permanência das pessoas com deficiência nos mercados de trabalho, 1999 Pro mulgada na Guatemala a Convenção Interamericana para Eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência. (FEBRABAN, 2006, p 5.). Assim sendo, todas essas conquistas da política públicas foi iniciada para inclusão das pessoas com deficiência como cidadãs e na participação da sociedade. Apesar das nove leis garantidas iremos enfatizar o direito do trabalho que surgiu com a diretriz da Convenção 159 da Organização Internacional do Trabalho no ano de 1983. Com objetivo de direcionar os países membros para e readaptação profissional, com essa ação as pessoas com deficiência tiveram a inclusão social no mercado de trabalho, mas com objetivo da permanência e da qualidade de vida dessas pessoas. Na legislação do Brasil as conquistas das pessoas com deficiência, foram no ano de 1989, porém iremos citar até ano de 2004, porque foram articuladas pelos movimentos sociais, com o compromisso internacional da OIT Convenção 159, que impulsionou em 1989. Entretanto, Na lei 7853(10/1989), estabelece normas gerais dos direitos das pessoas com deficiência, ás competências dos órgãos da administração pública em relação ás pessoas com deficiência, as normas de funcionalidade das edificações e vias publicas, as competências da CORDE. Em 1991 lei 8.213/ 91 estabelece cotas de contratação para empresas privadas com mais de cem funcionários. Dispõe também sobre os Planos Benefícios da Previdência Social, 1999 Decreto 3298(20/12/1999) regulamenta a lei 7853/ 89, dispõe sobre a Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência na sociedade. Traz a conceituação de deficiência e fixa os parâmetros de avaliação de todos os tipos de deficiência, 2000 lei 10.098(19/ 12/2000) estabelece as normas de suspensão de barreiras e obstáculos ás pessoas com deficiência em espaços públicos, edifícios, meios de transporte e comunicação, 2001 lei 10.048(11/2000) Dá prioridade de atendimento ás pessoas com deficiência em repartições públicas e bancos. Instrução normativa 20/ 2001 determina que o auditor fiscal do trabalho verificará, med iante fiscalização direta ou 49 indireta, se as empresas estão cumprindo a cota. Em 2004 Decreto 5296 (04/12/2004) regulamenta as lei 10.098 e 10.048, que tratam de atendimento e acessibilidade para pessoas com deficiência (FEBRA BAN, 2006, p 5.). Dessa forma, legislação no Brasil, foi enfatizada com o, instrumento jurídico precursor em relação à inclusão social das pessoas com deficiência, a Constituição Federal de 1988 onde no art. 5° afirma: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade”. O artigo 1º elege como valores fundantes da República a dignidade da pessoa humana, a cidadania, bem como o valor social do trabalho e da livre iniciativa. O artigo 3º, ao seu turno, obriga o Estado Brasileiro a adotar medidas para: “construir uma sociedade livre, justa e solidária; (...); erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. O art. 7º, inciso XXXI, preceitua: "proibição de qualquer discriminação no tocante a salário ou critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência". Durante muito tempo, as pessoas com deficiência foram isoladas da convivência social, em decorrência foram criadas leis para garantir o acesso social, econômico, político e cultural. Podemos ressaltar que a sociedade neste período tinha pouco conhecimento científico das suas limitações, ressurgia a ação antiga de assistencialismo e vitimização, a sociedade continuava com preconceitos de que as pessoas com deficiência, não tinham capacidade laborativa, resultando na falta de acesso à cidadania. Nesse processo foram necessárias ações que garantissem o direito e principalmente, a representação social das pessoas com deficiência. O art. 37, inciso VIII, do mencionado estatuto legal, determina que "A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas com deficiência e definirá os critérios de sua admissão”. A reserva de vagas na Administração Pública ou nas empresas privadas jamais poderá ser considerada como uma proteção paternalista trata-se, isto sim, da própria revelação da essência do Direito do Trabalho, o qual nasce da premissa básica de que a lei deve assegurar a igualdade real entre as pessoas, suprindo as desigualdades que se constituam em fatores de segregação. (FONSECA, 2003). Na esfera privada, a Constituição determina a obrigatoriedade de reserva de postos às pessoas com de deficiência. A Lei nº 8.213/91 fixa os seguintes percentuais: "A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher 2% (dois por cento) a 5% (cinco por 50 cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção: Até 200 empregados..............2% De 201 a 500 empregados......3% De 501 a 1.000..........................4% De 1001 em diante..................5% A Lei nº 8.112 /1990 estabelece que a união reserve, em seus concursos, até 20% das vagas às pessoas com deficiências, havendo iniciativas semelhantes nos Estatutos Estaduais e Municipais, para o regime dos servidores públicos. Por sua vez, o Estatuto do portador de deficiência em 2006, no artigo 5° especifica que é dever do Estado, da sociedade, da comunidade e da família assegurar, com prioridade, às pessoas com deficiência a plena efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, habilitação e reabilitação, transporte, acessibilidade, cultura, desporto, turismo, lazer, informação e comunicação, avanços científicos e tecnológicos, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária, dentre outros decorrentes da Constituição Federal e de leis, que propiciem o bem estar pessoal, social e econômico. As conquistas transformaram a vida do deficiente, que passaram a fazer parte da sociedade produtiva, por conseguinte, tornando-se capaz de assumir responsabilidade e ser ativo. Entretanto, para a inclusão social dessas pessoas nos espaços de trabalho, haverá a necessidade de que suas ações sejam direcionadas, igualmente aos dos outros trabalhadores, e se a empresa tiver atividades que exijam metas, objetivos e avaliação, o mesmo critério deverá ser utilizado, e até mesmo a aplicação da pena de demissão, como qualquer empregado. Porque as pessoas com deficiência têm direitos e deveres iguais a de qualquer cidadão. Para assegurar ações de igualdade foram necessários artic ulação dos movimentos sociais, construção de conselhos e outros espaços com objetivo de garantir necessidades básicas, que são de importância para todos com deficiência ou sem deficiência. Neste sentido, a Lei nº 7.853, de outubro de 1989, que criou a CORDE (Coordenação Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), estabelece mecanismo de tutela dos interesses difusos das pessoas deficientes, pelo Ministério Público, impõe a priorização das medidas de integração dos deficientes no trabalho e na sociedade, institui as Oficinas Protegidas de Trabalho e define como criminosa a conduta injustamente discriminatória de deficientes no trabalho. 51 As modificações na sociedade e na legislação facilitam o acesso ao mercado de trabalho, todavia a inclusão ocorrerá quando todos os trabalhadores realizarem as suas atividades conjuntamente, com igualdade e oportunidade garantida. Para romper com ações de assistencialismo nas empresas, é necessário o planejamento de recursos e pessoas para garantir a partic ipação com igualdade. O trabalho propicia a inclusão econômica da pessoa com deficiência, fortalece sua inclusão social e eleva a autoestima , sendo indispensável à conquista da plena cidadania. Porém, com alto índice de desemprego e as seleções mais rigorosas, as pessoas com deficiência enfrentam obstáculos maiores do que pessoa sem deficiência, mesmo com a garantia da lei de cota. Porém para fazer parte do mundo corporativo são necessários qualificação profissional e conhecimento das atualidades. Sendo assim, destacaremos como as pessoas com deficiência podem ser incluídas nas empresas através do acesso com igualdade nas atividades de trabalho. Conforme Sassaki (2003), o trabalho competitivo tradicional é aquele que realizado com ou sem um mínimo de modificações ou ajustamentos no posto de trabalho ou na forma de execução das tarefas; o trabalho competitivo apoiado é aquele que é realizado, em suas quatro modalidades, com modificações ou ajustamentos de médio ou grande porte, inc luindo tecnologias assistidas, tanto nos ambientes de trabalho, como nas formas de execução das tarefas. Esse tipo de procedimentos especiais e apoios especiais são admitidos pelo artigo 35 do Decreto n. 3.298, de 20/12/99. O trabalho quase competitivo: aquele que é executado em instituições sociais, cooperativas sociais, oficinas protegidas de trabalho e organizações similares, por pessoas com deficiência que ainda não apresentam (mas têm potencial para apresentar) nível co mpetitivo de produtividade. O trabalho não competitivo: Aquele que é executado em instituições sociais, cooperativas sociais, oficinas protegidas de trabalho e organizações similares, por pessoas com deficiência que ainda não apresentam (mas têm potencial para apresentar) nível quase competitivo de produtividade mente, o nível competitivo em alguns casos. (SASSAKI, 2003, s/d .). Para as pessoas com deficiência estar incluída no mercado de trabalho e ser reconhecida como profissional é se sentir cidadão. Mas, a luta não está apenas na inclusão da atividade produtiva, mas em outros aspectos também. O Brasil tem registro de resultados de sucessivas lutas e conquistas dos movimentos sociais, dentre as quais se destaca: 52 Lei Federal n° 7.853, 24/10/1989, dispõe sobre as responsabilidades do poder público nas áreas da educação, saúde, formação profissional, trabalho, recursos humanos, acessibilidade aos espaços públicos, criminalização do preconceito; A Lei Federal n° 8.213, 24/07/1991, dispõe que as empresas com 100(cem) ou mais empregadas devem empregar 2% a 5% de pessoas com deficiência; Lei Federal n° 10.098, 20/12/2000, dispõe sobre acessibilidade nos edifícios públicos ou de uso coletivo, nos edifícios de uso privado, nos veículos de transporte coletivo, nos sistemas de comunicação e sinalização, e ajudas técnicas que contribuam para a autonomia das pessoas com deficiências; Lei Federal n° 10.436, 24/04/2002, dispõe sobre o reconhecimento de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais para os surdos; Conquista-se o dia da pessoa com deficiência, celebrado anualmente no dia 21 de setembro, instituído e oficializado pela Lei n° 11. 133, de 14 de julho de 2005, como dia Nacional de luta das pessoas com deficiência. O Plano Nacional da Pessoa com Deficiência de 2012 dispõe sobre ações que estão agrupadas em quatro grandes áreas: Acesso à Educação e ao Trabalho; Prevenção; Tratamento e Reabilitação; Inclusão e Promoção Social; e Acessibilidade Física e Tecnológica. O projeto envolveu catorze Ministérios durante sua elaboração. Para ser lançada, a presidenta da República Dilma Rousseff, exigiu que as ações fossem antes apreciadas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência - CONADE, demonstrando uma clara e forte demonstração da força e a visibilidade que o segmento vem conquistando na sociedade. Foi com intensa participação da Casa Civil na construção deste plano, que as políticas públicas para a pessoa com deficiência foram implementadas pelo governo. “Este é um marco muito importante para este segmento da população brasileira, que precisa ter seus direitos reconhecidos”, observou Maria do Rosário no “Espaço Cidadania” (2011). 53 2.3 A Importância das Políticas Setoriais para as Pessoas Deficiência Seguindo a proposta do presente trabalho, apresentaremos agora um breve estudo sobre uma das principais articulações presentes na trajetória da luta das pessoas com deficiência, que são as Políticas Setoriais. Cada uma, de acordo com sua especificidade tem por objetivo garantir acessibilidade às pessoas com deficiência para que possam exercer seus direitos como cidadãos. A operacionalização das Políticas Setoriais caracteriza-se pela necessidade de articular e promover a inclusão social 21, àquelas pessoas que não têm acesso a direitos como : educação, saúde, trabalho, transporte, esporte, cultura e lazer. Mesmo com a legislação que permite esse acesso, percebemos que nos dias de hoje há uma expressiva exclusão de pessoas que são consideradas diferentes das demais, em virtude das próprias deficiências, impedindo que as mesmas possam interagir com o meio ao redor. Nesse sentido, nos deparamos com um grande desafio, fazer com que a sociedade lance um novo olhar para os deficientes, ou seja, que possa compreender que essas pessoas devem ser vistas como um todo, sem fragmentações ou segregações, e não apenas como pessoas que não podem levar uma vida “normal”, como as outras devido à sua limitação psicomotora. Acima de tudo, trata-se de um ser complexo, pensante e com infinitas capacidades, portanto, é fundamental compartilhar informações que objetivam mostrar como surgem essas limitações (deficiências), ou seja, suas causas, contribuindo, dessa forma, para fortalecer o conhecimento daqueles que têm limitações. Em suma, um dos principais problemas com os quais as pessoas com deficiência se deparam em seu cotidiano, não está “somente” nas barreiras funcionais de suas limitações, mas principalmente nas barreiras impostas pela sociedade, construídas em virtude da discriminação, do preconceito e do estigma da insuficiência e incapacidade de exercer funções simples ou complexas, seja no meio em que vivem ou no ambiente de seu trabalho. Para romper com tais barreiras sociais, criadas por “nós”, conforme discussão realizada por Neri (2003) é preciso que haja esforços políticos consideráveis para alcançar de forma efetiva mudanças significativas, no que diz respeito às relações sociais entre todos, destacando-se 21 Conceitua-se a inclusão social como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos. (Sassaki, 1997, p. 3) 54 ações no campo da educação, saúde, ciência e tecnologia, no segmento empresarial e no campo legislativo. Com relação às políticas educacionais as ações são voltadas para a habilitação e reabilitação profissional da pessoa com deficiência. Um exemplo de habilitação seria a criação de escolas inclusivas para este público, bem como uma formação e treiname nto sistematizado para professores responsáveis em ministrar as aulas, adaptando o processo didático a métodos que possam ir de encontro às necessidades especiais de cada aluno, como por exemplo, a utilização do braile para pessoas com deficiência visual. Quanto à reabilitação o trabalho desenvolvido visa um acompanhamento direcionado, através de assistência médica e psicofisioterapêutica com profissionais especializados, para promover uma “adequação” ao novo modo de vida e seu desenvolvimento ao longo do tempo. No campo da ciência e tecnologia, são realizados investimentos com vistas a reduzir as exigências motoras individuais, diminuindo dessa forma, as barreiras funcionais. Podemos observar tais investimentos, por exemplo, através do desenvolvimento pleno da informática e das telecomunicações que possibilitam a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Com relação às medidas legislativas, pode-se dizer que, atualmente, são os principais canais para “barrar” discriminações e incentivar as empresas a contratarem pessoas com deficiência. Também cabe ressaltar, que dentre as políticas operacionais, destacam-se as ações de comunicação, transporte, ambientais, seguridade social e de transferências de renda para as pessoas com deficiência. Na área da comunicação, por exemplo, as promoções de campanhas publicitárias são de grande valia, pois ampliam a divulgação de informações q ue valorizam a imagem da pessoa com deficiência na sociedade, podendo dessa forma desconstruir a cultura do preconceito e da marginalização contra as mesmas. Em paralelo, as políticas de transporte têm por objetivo promover o direito de ir e vir dessas pessoas forma adequada, para que possam atender às suas necessidades. O Sistema de Seguridade Social, além de defender e operacionalizar benefícios da Assistência Social à pessoa com deficiência, também visa “amortecer” os choques de rendimentos causados por acidentes de trabalho ou não, ou doença que cause disfunções temporárias ou permanentes. Atualmente, verifica-se que esses benefícios são a principal fonte de renda da família para o sustento do lar. As Políticas Setoriais, como citado anteriormente, carac terizam-se por distintos elementos, os quais serão a seguir sistematizados, para melhor compreensão do contexto, ora 55 abordado. Ambas estão divididas em: Saúde, Educação, Esporte, Lazer e Cultura, Família, Ambiente Físico e Transporte. 2.3.1 Saúde Nesse sentido, no campo da saúde, a deficiência ganha espaço para estudos tanto em relação às suas origens, quanto aos cuidados especiais que devem receber, embora que a deficiência não deva ser considerada como uma doença. De acordo com Neri (2003), além de causas congênitas, as deficiências podem surgir de fatores externos, como a violência, os acidentes de trânsito e de trabalho, principalmente nos centros urbanos de médio e grande porte. Observa-se também que o envelhecimento da população brasileira cria um novo quadro, onde o surgimento de deficiências está relacionada a males crônico-degenerativos, tais como hipertensão arterial, diabetes, acidentes vasculares encefálicos, doença de Alzheimer, câncer, osteoporose e outros males que se apresentam com maior expressão em pessoas de idade avançada. De acordo com o autor referido, de um modo geral, as causas da deficiência deveriam ser tratadas como questões de saúde pública, ou seja, com política que promovesse a segurança e prevenção de acidentes e doenças, atendendo as demandas sociais de forma integral à saúde comprometida ou doença já estabelecida. Cesário (2001), explica que mais da metade (em uma escala de 100%) dos casos de deficiência física e intelectual poderiam ser evitados, ou pelo menos minimizados, com ações preventivas e melhorias das condições de vida. Neste contexto, podemos observar que nosso país tem avançado em programas de reabilitação e educação especial, deixando para segundo plano as ações preventivas, que quando efetivadas, muitas vezes os responsáveis desconhecem os seus efeitos (ENUMO e TRINDADE, 2002). Entretanto, cabe salientar que os dois níveis de políticas preventivas, primária e secundária, caracterizados pelo diagnóstico e tratamento, são ações conjuntas que visam proporcionar reduções nos índices de agravos que levam à deficiência e limitar as consequências físicas e sociais de doenças já estabelecidas. Todavia, Quando as ações desses dois tipos de prevenção são esgotadas, deve-se então pensar sobre o papel da reabilitação, que tem a função de reduzir a “incapacidade social” produzida por um dado nível de dano, fortalecendo as funções remanescentes do paciente, como o auxiliando a aprender e estabelecer-se de maneiras alternativas (Jekel et al., 1999). Inclu i-se aí, a criação de uma rede de serviços de reabilitação e habilitação, que limita as consequências físicas e sociais de doenças já estabelecidas. 56 Essas políticas ultrapassam o significado estrito de reabilitação e habilitação médica e paramédica para u ma perspectiva mais abrangente, no sentido de desenvolver as diferentes potencialidades do indivíduo que adquiriu algu ma deficiência, criando condições a essa pessoa de modo a contar com meios para modificar sua própria vida e ser mais independente. (NERI, 2003, p.10-11). Vale salientar que, nos dias de hoje, temos um retrato das condições de saúde das pessoas com deficiência bem diferente, do observado antes da conquista da Constituição de 1988, o que nos permite refletir sobre impactos e consequências. Quanto ao acesso aos serviços públicos de saúde, determina a Lei 8.069/90, no artigo 11, parágrafo 2º, que compete ao poder público o fornecimento gratuito de medicamentos, próteses e outros recursos que se fizerem necessários para a habilitação e reabilitação. Porém, vale lembrar que a garantia desses direitos está diretamente relacionada aos recursos materiais e tecnológicos disponíveis, bem como a oferta de serviços em locais de fácil acesso a pessoa com deficiência. A Constituição de 1988 declara que o acesso à saúde é universal e igualitário, bem como o uso dos serviços de habilitação e reabilitação. Entretanto, a manutenção desse sistema depende de suportes e investimentos financeiros realizados por parte do poder público. De acordo com o princípio de eqüidade vertical, os serviços de saúde deveriam ser distribuídos segundo as necessidades de cuidados com a saúde, independentemente das características socioeconômicas individuais, fato esse que não se observa na prática (NERI e SOARES, 2001). Nesse caso, é necessário analisar de que forma se dá o acesso das pessoas com deficiência nos serviços de saúde, bem como a partir de quais medidas a universalidade tanto pregada constitucionalmente, é consolidada para esta parcela da população. Contudo, não é preciso apenas promover melhorias nas condições de vida, mas sim assegurar a participação integral no processo de desenvolvimento de políticas voltadas para viabilizar e efetivar direitos, como membros da sociedade. Deste modo, se faz necessário uma ação integrada e articulada, ligando a prevenção e a reabilitação, através de estratégias e mudanças num esforço governamental, com objetivo de alterar as atitudes chaves de desenvolvimento, no combate à pobreza e na garantia dos direitos humanos. 2.3.2 Educação No que se refere à educação, temos como princípio a palavra inclusão, estruturada por dois significados distintos, um quando falamos em possibilitar as pessoas com deficiência a iguais oportunidades de aprendizado, e outro quando se pensa no conceito de educação 57 inclusiva. O primeiro significado diz respeito ao acesso físico à escola, treinamento, retreinamento e o desenvolvimento de atividades educacionais que estimulem as habilidades culturais, artísticas e laborais. Já a educação inclusiva, caracteriza-se pela inserção do aluno em sala de aula comum, mais do que isso, significa a criação de uma escola onde pessoas com ou sem deficiência possam conviver e estudar em ambientes, onde os indivíduos aprendam a lidar com a diversidade e com a diferença, com intuito de aprender a s ituar a deficiência no meio dos outros (MOTA, 1999). A inserção e integração escolar com base na Constituição preconizam o atendimento à pessoa com deficiência preferencialmente na rede regular de ensino (Art. 208, Constituição Federal, 1988), o que vem fortalecer a ideia de educação inclusiva. Segundo Fonseca (1989), o princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em que todos os alunos aprendam juntos, independente das dificuldades e das diferenças que apresentem, para garantir um bom nível de educação. Apesar de ser considerado ideal, evitando a segregação de indivíduos, a educação inclusiva é ainda questionada por muitos educadores, especialistas e formadores de professores, que admitem que a eficiência do processo esbarra-se ainda com o despreparo dos professores, a falta de infraestrutura, barreiras arquitetônicas e com a rejeição dos demais alunos e de seus familiares. Conforme Neri (2003, p.26), Quando se fala em educação de uma pessoa com deficiência pensa -se primeiro na escola, mas não é na escola onde as barreiras de aprendizado se iniciam, e sim na família, cujo papel desempenhado em estimu lar e acompanhar o desenvolvimento da criança é fundamental para sua inserção educacional. Partindo do pressuposto da educação inclusiva, observa-se que esta é a melhor forma para os indivíduos desenvolverem suas potencialidades, e ganharem respeito junto à sociedade em geral, todavia esse caminho precisa ser mais bem preparado, ou seja, é preciso criar condições de igualdade nas escolas regulares, pois uma grande parcela de pais, ainda teme essa medida educativa, por acharem que seus filhos ficam mais desprotegidos, do que em instituições privadas voltadas para o atendimento somente de pessoas com deficiência, sem o contato com a diversidade de nossa sociedade. 58 2.3.3 Esporte, Lazer e Cultura Segundo o Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiência (ONU, 2001), as oportunidades de frequentar atividades recreativas, restaurantes, praias, teatros, bibliotecas, cinemas, estádios esportivos, hotéis e outras formas de lazer devem ser estendidos a todos os cidadãos. Entretanto, as medidas precisam ser regulamentadas para viabilizar o alcance de todos, permitindo, ainda, o acesso às atividades culturais (dança, música, literatura, teatro e artes plásticas), e utilização das qualidades pessoais, criativas, artísticas e intelectuais. 2.3.4 Esporte No que diz respeito ao esporte, o envolvimento das pessoas com deficiência deve ser incentivado e facilitado, em razão dos benefícios psicológicos e médicos amplamente reconhecidos, segundo Patel & Greydanus (2002). Observa-se que a prática de esportes é um processo de grande relevância para a reabilitação da pessoa com deficiência, promovendo sua autoestima e valorização pessoal, promovendo assim uma vida mais ampla e de melhor qualidade. Segundo Sassaki (1997), à medida que o conceito de inclusão social ganha valorização por pessoas no mundo todo, mais e mais profissionais de educação física, que atuam nos setores de esportes, turismo, lazer e recreação, estão sendo chamados a enfrentar o desafio de incluir em suas atividades rotineiras as pessoas com deficiência – individualmente ou em grupos elas procuram os clubes e associações desportivas. Essa tendência vale também para profissionais com outra formação acadêmica que estejam desenvolvendo atividades nos mesmos setores. Nesse sentido vale salientar que, é necessário desenvolver medidas para capacitar profissionais que atuem com esse público nas áreas de educação física e prática de esportes. 2.3.5 Lazer e Cultura No âmbito da cultura e lazer, destacam-se as atividades de dança, música, literatura, teatro e artes plásticas, além de outras atividades recreativas. Segundo o Programa de Ação Mundial para as pessoas com deficiência (2001), a gestão estadua l deve providenciar e ofertar essas atividades para que as pessoas com deficiência tenham oportunidade de utilizar ao máximo suas qualidades criativas, artísticas e intelectuais. No cenário Nacional, o Ministério 59 da Cultura estabelece normas gerais e critérios para a promoção da acessibilidade à cultura e ao lazer, enquanto que estados e municípios, por meio de ações isoladas, obtém maior participação das pessoas com deficiência. 2.3.6 Família Conforme nos mostra Neri (2003), a criança com deficiência, cuja família, por não possuir conhecimentos acerca de suas limitações, adota atitudes “inadequadas”, que acarreta exclusão e rejeição, de forma mais intensa num período crítico para o desenvolvimento e estruturação da personalidade, desenvolvendo sentimento de desvalorização pessoal, como a baixa estima. Nesse caso, os indivíduos submetidos a tais pressões adquirem problemas psicológicos tornando- se uma questão social. Segundo Rey & Martinez (1989), a família representa, talvez, a forma de relação mais completa e de ação mais profunda sobre a pessoa humana, dada a enorme carga emocional das relações entre seus membros. Nesse caso, a mesma torna-se fator importante no processo de reabilitação, devendo ser incluída como co participante desse processo, recebendo assistência e orientação adequada. Telford & Sawrey (1978, apud BRITO e DESSEN, 1999) afirmam que para evitar a rejeição social e a perda de prestígio, alguns pais tendem a renunciar à participação social. Ou seja, o nascimento de um filho com deficiência pode provocar mudanças que alteram as relações e os objetivos familiares, modificando comportamentos sociais dos pais. Os autores em referência argumentam que existe um período de choque emocional intenso até o processo de aceitação do bebê, e com o tempo, os pais tendem a se adaptar e tentar ajudar a criança em sua convivência com a deficiência. Silva (1988 apud BRITO e DESSEN, 1999) em estudo de investigação a respeito das experiências e necessidade de mães após o diagnóstico de deficiência intelectual do filho, verificou que a maioria delas admitiu mudanças no seu relacionamento sexual/conjugal e também social, após a revelação do diagnóstico. Contudo, percebe-se que o processo de inclusão começa na família, pois ela precisa ter clareza no que se refere à importância de uma pessoa com deficiência estabelecer relações ampliadas – além da família, participando da vida em sociedade, integrando-se, portanto, em diversos grupos sociais. Nesse caso, a aceitação da deficiência por parte dos pais é o fator fundamental para o desenvolvimento da criança ao longo da vida, estimulando sua convivência com os demais membros da sociedade, nas atividades culturais, esportivas, de lazer etc. Todas as pessoas com deficiência têm o direito de igual oportunidade de participação no sistema sócio-cultural em que vivem; entretanto, muitas vezes isso lhes é 60 negado, sendo excluídas do contato e do relacionamento com as pessoas, inclusive parentes, permanecendo em instituições. Nesse sentido, para “minimizar impactos causados pela deficiência” às famílias, no que diz respeito a seu aspecto financeiro, temos instituídas, por lei, políticas de atenção à família. Menandro (1995) defende o uso de um sistema de suporte social eficiente, com condições de agir como redutor de estresse para os genitores de crianças com doenças ou “incapacidades” físicas congênitas. Um suporte social, neste sentido é o Benefício de Prestação Continuada (BPC), regulamentado pela Lei n.8742 de 7 de julho de 1993, assim como a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), financiado pelo Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e gerenciado pela Secretaria de Estado de Assistência Social (SEAS/MPAS). O BPC foi implantado em 1º de janeiro de 1996, a partir do decreto n.1744/1995, que garante um salário mínimo mensal os idosos com 65 anos ou mais de idade e às pessoas com deficiência que as impedem de trabalhar e de ter uma vida independente. Para ter direito ao benefício é preciso que o indivíduo tenha uma “renda” familiar per capita inferior a ¼ do salário mínimo. Portanto, trata-se de um benefício assistencial, pois não exige que o beneficiário tenha contribuído para o sistema previdenciário. A SEAS e o INSS, além de revisarem os benefícios concedidos, a fim de avaliar se persiste a condição de incapacidade para a vida independente e para o trabalho do beneficiário portador de deficiência, analisam também as condições sociais de todos os beneficiários. O INSS faz avaliações médicas, enquanto que a SEAS avalia as condições sociais tais como carência, oferta de serviços comunitários e aspectos relacionados à família. De um modo geral, programas “compensatórios” de ajuda financeira e material para famílias responsáveis por pessoas com deficiência são vistos de forma positiva no sentido de “amortecer” os choques de rendimento, o surgimento dessa nova condição de vida acarreta a necessidade de investimentos para promover adaptações que possam atender as necessidades especiais do indivíduo, desde seu nascimento até atingir a fase adulta. Outra forma de programa de atenção familiar são as políticas informativas, no sentido de esclarecer sobre as capacidades, potencialidades, recursos, terapias disponíveis e, principalmente, sobre a importância da inclusão dos filhos na sociedade de um modo geral. Todavia, cabe ressaltar outro elemento importante na inclusão social de uma pessoa com deficiência na família, o fato de essa também ser capaz de constituir sua própria unidade familiar, desenvolvendo relacionamentos sociais, pessoais e inclusive sexuais, como qualquer outra pessoa. 61 2.3.7 Ambiente Físico e Transporte A inserção da pessoa com deficiência ao meio físico e ao transporte está relacionada diretamente com a questão de acessibilidade, ou seja, garantia do direito de ir e vir, permitindo acesso à estrutura adequada, quanto à sua locomoção diária. Portanto, a acessibilidade surge como elemento de grande importância na sociedade, pois permite, além do direito de ir e vir, que todos possam desfrutar das mesmas oportunidades na educação, saúde, trabalho, lazer, cultura e etc. É importante ressaltar que a acessibilidade e a garantia da oferta de serviços não são sinônimos, uma vez que pode existir excesso de oferta de serviços, mas não acessibilidade, e vice versa. É o caso da pessoa com deficiência residente em determinado município, haverá a necessidade de garantia de atendimento especializado hospitalar, educacional, lazer, cultura e desporto, entretanto, não há disponibilidade na estrutura viária, assim como transporte adequado, a fim de possibilitar o deslocamento para local de atendimento. Segundo a Coordenadoria Nacional para Integração da pessoa portadora de deficiência (CORDE, 1998), as soluções de acesso para atender demanda específica devem fazer parte da agenda municipal, uma vez que o acesso aos elementos que compõe o ambiente é fator a ser trabalhado no processo de planejamento das cidades. Nesse sentido, retomemos a Constituição de 1988, que delegou aos municípios maior autonomia para legislar sobre assuntos de interesse local e traçar diretrizes no ordename nto do território. A Constituição de 1988 é uma das mais avançadas do mundo em relação à questão da deficiência, após sua vigência, foi promulgada a lei 7.853, de 1989, que transferiu para os Estados e Municípios a responsabilidade para adoção de medidas, a serem normatizadas, que eliminem as barreiras de acesso para pessoas portadoras de deficiência às edificações, espaços urbanos e meios de transportes. Mesmo diante de toda legislação que regulamenta o direito de acesso aos diversos segmentos e setores que compõem a vida cotidiana de nossa sociedade, o que de fato percebemos é que, as ações governamentais que deveriam garantir esses direitos não conseguem viabilizar a contento o acesso dessas pessoas. Neste sentido, cabe, então, indagar: se a garantia de direitos é instituída por Lei, porque há uma expressiva ausência de acesso à estes direitos? A explicação para este fato se dá pelo modo como nossa sociedade encontra-se estruturada, principalmente nossa gestão governamental. Vivemos em uma conjuntura onde as bases de organização são regidas pela ideologia neoliberal, que tem como princípio contemplar ao máximo o capital financeiro, destinando o mínimo para o segmento social, justificando esta “não lógica” pela redução de gastos. 62 Segundo Neri (2003), o que se observa neste contexto é uma grande desarticulação das instituições da esfera governamental, o que compromete o efetivo desenvolvimento das iniciativas, fazendo assim com que haja a necessidade de uma maior articulação e integração entre os diferentes atores da sociedade. É fundamental destacar que compete à gestão Municipal, Estadual e Federal cuidar da saúde, promover assistência pública, proteção e garantia, bem como a formulação e aprovação de normas que visem à articulação e operacionalização relativa à efetiva inclusão social das pessoas com deficiência. Com relação à sociedade civil organizada, percebe-se que há uma grande diversidade de organizações voltadas para o segmento das pessoas com deficiência; muitas destacam-se pelo trabalho desenvolvido, como por exemplo, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), a Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AAC D), a Sociedade Pestalozzi, que possui notável trabalho na área de deficiência intelectual, a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida (LARAMARA), a Associação Brasileira de Epilepsia, a Fundação Síndrome de Down, dentre outras. Nesse sentido, cabe afirmar se não houver uma ação efetiva da soc iedade, os direitos não serão garantidos, e para que essas ações possam ser ampliadas de modo a atingir as instâncias da gestão pública, devem ser articuladas e organizadas, fazendo assim com que haja a legitimação de seu papel. Todavia, sabemos que a conquista de garantia de direitos se faz através da pressão e mobilização de um conjunto, ou seja, de todos nós, atores da sociedade. Sendo assim, é preciso que haja um diálogo entre todos os setores, programas, projetos, tendo em vista lutar, conjuntamente, pela defesa da garantia dos direitos, principalmente no que diz respeito às pessoas com deficiência. 2.4 As Pessoas com Deficiência e a Inclusão no Mercado de Trabalho 2.4.1 Lei de cotas A Lei 8.213, de 24 de Julho de 1991, conhecida como Lei de Cotas, vigora há 21 anos. Sob um ponto de vista histórico-cultural não é muito tempo, levando-se em consideração que sua regulamentação só ocorreu em 1999 por meio do Decreto 3.298 e, mais adiante, pelo Decreto 5.296 de 2004 que redefiniu os tipos de deficiência que se enquadram para a cota. Porém, neste relativo espaço de tempo percebeu-se uma acentuada transformação e ascensão do movimento de inclusão social da pessoa com deficiência. De acordo com os 63 dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), de 2010, o Brasil conta com 306.000 trabalhadores com deficiência no mercado de trabalho formal. Este resultado é fruto da existência da Lei de Cotas. Por outro lado, de acordo com comparações realizadas através de dados da RAIS de anos anteriores (2007, 2008 e 2009), constatou-se que o número de profissionais com deficiência vem diminuindo gradativamente em relação ao número de trabalhadores sem deficiência no mercado de trabalho. Em 2007 eram 348.818. Em 2008 este número caiu para 323.210. Em 2009 diminuiu para 288.593 trabalhadores com deficiência. (I. SOCIAL, 2011). De acordo com a pesquisa desenvolvida e considerando os dados obtidos, a equipe da i.Social22 começou a se perguntar sobre as razões que levaram ou que estão levando à retração do movimento de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal, uma vez que a Lei de Cotas está em pleno vigor, a fiscalização está ativa, as empresas estão desenvolvendo programas de inclusão, então onde está o motivo que têm impulsionado a diminuição desses índices de inclusão? Ante as vivências e experiências, através de contato diário com diversas empresas, pessoas com deficiência, órgãos públicos, representantes da sociedade civil organizada e formadores de opinião, foi apurado pela equipe i.Social que é possível perceber diversos fatores que indicam os inúmeros motivos desta diminuição no ritmo da inclusão, apresentando um panorama geral, ou seja, um retrato da inclusão em nosso país. Para o desenvolvimento da pesquisa, foram estabelecidos contatos diretos com as pessoas com deficiência, para que fosse possível abordá- las e compreender esse segmento, como verificar quais são suas percepções e expectativas em relação à sua própria vivência acerca da inclusão e exclusão, bem como a visão que possuíam sobre o mercado de trabalho. Os resultados obtidos registram informações de grande valia em relação às empresas que desejam promover programas de inclusão, devidamente planejados e estruturados, em consonância com as expectativas e necessidades destas pessoas. Além disso, o resultado da pesquisa pôde auxiliar o poder público a traçar políticas que ajudaram a impulsionar a inclusão de profissionais com deficiência no mercado de trabalho e na sociedade. Cabe salientar que a pesquisa “Pessoas com Deficiência: expectativas e percepções sobre o mercado de trabalho” foi realizada entre os meses de abril e maio de 2011, em âmbito nacional. 22 A i.Social é uma consultoria com foco exclusivo na inclusão sócio econômica de pessoas com deficiên cia no mercado de trabalho.(I.SOCIAL, 2011). 64 Responderam, por meio de questionário eletrônico divulgado no banco de currículos da i.Social e nas redes sociais, 800 pessoas co m deficiências físicas, auditivas, visuais, intelectuais e múltiplas. A partir dos dados obtidos, percebeu-se que a porcentagem de pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho divide-se em: 64,3% física; 23,4% auditiva; 10,7% visual; 1,0% múltipla e 0,6% intelectual. A proporção dos dados acima citados se assemelha com os dados da RAIS 2010, que informam que das 306.000 pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho 54,47% possuem alguma deficiência física, 22,49% auditiva, 5,79% visua l, 5,10% intelectual, 1,26% múltipla e 10,90% reabilitados. Estas informações indicam claramente a preferência que o mercado possui atualmente por pessoas com deficiências físicas leves e, em segundo plano, auditivas leves. (I.SOCIAL, 2011). Para pessoas com deficiências visuais, intelectuais ou múltiplas a dificuldade de conseguir emprego ainda apresenta muitos obstáculos, como mostram os dados. Sabemos que por falta de acessibilidade física e tecnológica e por conta de barreiras culturais, existe uma maior dificuldade de se incluir pessoas com deficiências físicas e auditivas consideradas mais severas, como cadeirantes e surdos totais – principalmente aqueles com dificuldades de se comunicar. Com relação ao gênero, percebe-se que há um equilíbrio razoável, com 54,5% de homens e 45,5% de mulheres, embora os dados do Censo 2010 (IBGE) em relação a esse indicador mostram que, 48,69% da população são compostas por homens e 51,04%, por mulheres. Já os dados da RAIS 2010 indicam que a proporção da população com deficiência empregada seja de 65,42% homens e 34,58% mulheres. De acordo com a pesquisa, em relação ao quesito escolaridade, foi identificado que o grau de escolaridade das pessoas com deficiência apresenta-se da seguinte forma: 35,4% possuem o Ensino Médio completo; 20,2% o Superior completo; 17,4% Superior em andamento; 12,5% Superior incompleto; 7,2 Pós- graduação concluída; 4,2% Pós-graduação em andamento; 2,7% o Ensino fundamental completo e 0,5 Ensino fundamental incompleto. Com base nestas informações entende-se que os respondentes são pessoas instruídas com alto grau de acesso à informação e com acesso ao computador e internet, já que todo o questionário foi aplicado virtualmente. São pessoas que trazem opiniões importantes sobre o panorama do mercado de trabalho para pessoas com deficiência, conhecido como “mercado inclusivo”. 65 As estatísticas, ora apresentadas, contribuem para que seja disseminado um dos maiores mitos difundido por aqueles que trabalham na contramão da inclusão: “as pessoas co m deficiência não são qualificadas”. Sabemos que a grande parte da população com deficiência é pouco qualificada, assim como a maior parte da população brasileira. Desta forma podemos observar claramente que a afirmação anterior generaliza o grupo de pessoas com deficiência, incluindo-os em uma única categoria: a dos não qualificados. Neste contexto também, se percebe que a oferta de trabalhos e serviços aos profissionais com deficiência são apenas de vagas classificadas dentro da base da pirâmide organizacional. Contudo, cabe ressaltar que desde o surgimento da Lei de Cotas, há 20 anos, as pessoas com deficiência passaram a investir mais em qualificação, ao perceberem que as portas do mercado de trabalho estavam se abrindo e que estava se formando um mercado inclusivo. Porém, de acordo com a pesquisa realizada, verifica-se que umas parcelas dos respondentes do estudo realizado disseram que não conheciam a lei de cotas. Cerca de 88,7% das pessoas com deficiência disseram que conheciam a lei, e 11,3% responderam que não tinham o conhecimento sobre a mesma.Sendo assim, surge uma oportunidade para que órgãos públicos possam divulgar e levar ao conhecimento de todos os direitos que lhe são garantidos por lei. Quando questionados sobre sua inserção no mercado de trabalho, 72,4% declararam que trabalham ou já trabalharam através da lei de cotas, sendo 27,6% declarantes de que não trabalham ou que trabalharam através da lei de cotas. Observa-se que a maior parte dos respondentes que trabalham ou já trabalharam pela Lei de Cotas (71%) possui deficiência física, segundo a tendência apresentada pela RAIS (2010). Depois, temos a inclusão de profissionais com deficiência auditiva (20,3%), visual (7,3%), múltipla (0,9%) e intelectual (0,5%). O elevado número de profissionais com deficiência física pode ser explicado por duas razões. A primeira seria pelo fato de que muitas deficiências físicas requerem mínimas ou, às vezes, nenhuma adaptação nos postos de trabalho. As deficiências mais severas, as leves não exigem grandes mudanças de mobiliário ou de tecnologia. A outra hipótese é que dentre as deficiências, a física é aquela que abarca a maior possibilidade de expressão. Ou seja, a deficiência física abrange muitas variações. Em relação à elevada porcentagem de profissionais com deficiência auditiva, podemos considerar o fato de que as tecnologias assistivas ou acessibilidade que esse tipo de 66 deficiência requer são, na maior parte, pequenas, de acordo com comentário da i.social e também de Andrea Schwarz. (I.SOCIAL, 2011) 23. Segundo relato da organização (i.Social), as expectativas do mercado de trabalho são as baixas contratações das pessoas com deficiência visual, uma vez que para as empresas surge a necessidade de implementar(investir, arcar com custos) as tecnologias assistivas, sobretudo os softwares de leitura de texto. (I.SOCIAL, 2011) 24. Como nos mostra os estudos realizados por Andrea Schwarz e também pela i.Social, muitas vezes, as empresas têm que alterar programas e servidores de TI para a instalação desses softwares, o que, infelizmente, acaba por fazê- las não investir nessas contratações. Além disso, algumas funções e postos de trabalho não conseguem absorver pessoas cegas, devido àquilo que o cargo exige. Por fim, cabe ressaltar o baixíssimo índice de contratação de pessoas com deficiência intelectual, que ainda é desafio, dado que não se trata apenas de munir os postos de trabalho com acessibilidade e tecnologia assistiva, mas também de se desconstruir uma cultura de exclusão existente há vários anos em nossa sociedade. Outro fator de relevância, apontado pela pesquisa, foi o fato de que a maioria dos respondentes (62,5%) declarou estar atuando no mercado formal de trabalho, ou seja, estão experimentando o mercado inclusivo, e assim puderam compartilhar e expor opiniões e experiências baseadas na realidade que enfrentam cotidianamente. De acordo com os dados estatísticos, observa-se também um baixo número de empreendedores – apenas 1% declarou possuir empresa própria e 3,4% trabalham de forma autônoma. Talvez esse seja um reflexo da Lei de Cotas que, ao propiciar um benefício de entrada no mercado de trabalho, acaba desencorajando o empreendedorismo. Seguindo nesta mesma reflexão, constata-se bastante baixo o percentual, cerca de 2,3% , daqueles que disseram trabalhar no mercado informal de trabalho, o que é um bom sinal, pois demonstra que a Lei de Cotas tornou o mercado informal desinteressant e para a pessoa com deficiência, e ilustrando os dados citados, temos inseridos no mercado de trabalho: 62,5% atuando no mercado formal de trabalho; 29,1% encontram-se desempregados, fora do mercado formal de trabalho; 3,4% atuam como autônomos; 2,3% estão inseridos no mercado informal de trabalho; 1,6% declararam que nunca trabalharam e 1,0% seria proprietário de sua própria empresa. 23 24 Site completo nas referências finais. Site completo nas referências finais 67 Com relação ao índice de desemprego, analisados de acordo com o grau de escolaridade verifica-se que o maior grau de educação não significa garantia de inclusão. Podemos associar essa realidade com o fato de que, no geral, as empresas ofertam as pessoas com deficiência vagas da base da pirâmide organizacional que absorvem profissionais com a qualificação mais baixa. Aos que declararam estar empregados, percebe-se que a grande maioria (84%) encontra-se em posições operacionais, divididos em cargos de entrada, pouco atrativos, com baixo grau de responsabilidade e tomada de decisão. Sob o controle de cargos gerenciais, cerca de 9%, e em cargos técnicos, 7%. Eis aqui um dos principais problemas atuais do mercado inclusivo. Ainda hoje, a discussão sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho está focada nos números, na quantidade de pessoas incluídas e no atendimento da cota por parte das empresas. O poder público determina e controla sua fiscalização, através do número de pessoas com deficiência empregadas e as empresas direcionam seus esforços em inclusão no preenchimento da cota legal. O debate sobre a qualidade da inclusão ainda é pouco discutido e este é um dos principais fatores que impedem um crescimento mais vigoroso do mercado inclusivo. Frequentemente, ouvimos relatos de pessoas com deficiência qualificadas que não conseguem encontrar oportunidades compatíveis com o seu perfil, bem como pessoas que dizem não possuir possibilidades de crescer e prosperar dentro das organizações. Porém, a pesquisa apontou um quadro inverso deste processo, em relação ao tempo de permanência do último emprego, onde 49,4 dos respondentes disseram ter ficado ou estar entre o período de 2 a 5 anos ou mais, o que demonstra baixo nível de rotatividade. Por outro lado, foi identificado um grande grupo (28,5%) que diz ter ficado no último emprego entre 1 a 12 meses, o que comprova que parte das pessoas com deficiência apresenta, sim, alto índice de rotatividade. A fim de obter conhecimento sobre a forma como as pessoas com deficiência buscam por emprego, a pesquisa buscou questioná-las, pedindo para que apontassem os principais canais utilizados nesta procura. A internet apareceu em primeiro lugar com 687 citações, seguida por indicações de conhecidos (294) e jornais (276). Ainda, muitas pessoas (209) citaram buscar por vagas diretamente em consultorias. 68 Uma parte considerável (131 respostas) disse procurar empregos nas redes sociais, o que indica que as pessoas com deficiência estão alinhadas com as novas tecnologias. Estes dados permitem às empresas traçar estratégias de divulgação de suas vagas. Importante salientar que esta questão permitia assinalar mais de uma opção, ou seja, para obter maior sucesso na captação de candidatos deve-se pensar em uma ação conjunta que contemple mais de um canal de divulgação. Percepção sobre o mercado de trabalho, atualmente discute-se muito que o mercado de trabalho para pessoas com deficiência está aquecido. E sobre esse aspecto, de acordo com a pesquisa, descobriu-se que apenas 21,6% dos respondentes percebem o mercado inclusivo dessa forma. A maioria (41,2%) considera que o mercado encontra-se estável, 38,7% possuem a percepção de que o mercado inclusivo encontra-se retraído ou que é praticamente inexistente, e por último, cerca de 71,3% considera que o mercado formal de trabalho para a pessoa com deficiência não está em desenvolvimento como é apresentado. Estes dados apresentam quadros preocupantes, quando comparados com os números apontados pela RAIS, comprovam que além da quantidade de pessoas com deficiência contratadas ter diminuído sistematicamente nos últimos 02 anos, as próprias pessoas com deficiência sentem e percebem este movimento de retração na pele. O volume de oportunidades recebidas, conforme o resultado obtido pelo questionário apresentado, no quesito de propostas realizadas mensalmente, a média de oportunidades de emprego ofertadas para as pessoas com deficiência é bastante expressiva, já que 44,8% das pessoas declararam receber, em média, entre 1 a 3 propostas por mês, 18,5% disseram que chegam a receber de 4 a 10 oportunidades de emprego mensalmente e, ainda, 6,9% responderam que recebem mais de 10 propostas mensais de trabalho. Outros 29,9% disseram que recebem menos de 1 proposta de emprego por mês. São dados impressionantes, que contrastam com os resultados da pergunta anterior, já que 72,4% dos respondentes não concordam que o mercado de trabalho formal está aquecido para pessoas com deficiência. (I.SOCIAL, 2011). Ao analisarmos as próximas questões veremos que a quantidade de propostas de trabalho recebidas não está diretamente ligada à percepção, de que o mercado está aquecido, simplesmente, porque as oportunidades, apesar de abundantes, são muito ruins, muitas vezes bem aquém do perfil dos profissionais que as recebem. A percepção sobre as oportunidades recebidas inferida nos resultados anteriores demonstraram que grande parte dos respondentes não considera que o mercado de trabalho formal esteja aquecido para as pessoas com deficiência. Por outro lado, verificamos que a 69 quantidade de propostas de emprego recebidas é alta, o que pode parecer uma informação contraditória, em uma primeira impressão. Fazendo uma análise mais profunda acerca dessa questão, mais precisamente sobre a qualidade das propostas de trabalho que as pessoas com deficiência recebem em comparação com seus perfis profissionais, constatou-se que há uma aparente contradição, onde apenas 5,5% consideram, no geral, como ótimas as oportunidades recebidas em comparação com seu perfil profissional. Outras 29,2% classificaram as oportunidades de trabalho como boas adequadas ao perfil profissional, mas 46% disseram que as propostas recebidas são regulares e outros 19,3% que as oportunidades oferecidas são ruins, totalmente inadequadas ao perfil profissional. Em suma, 65,3% dos respondentes disseram que recebem oportunidades de baixa qualidade, o que justifica uma percepção ruim sobre o mercado inclusivo, a despeito da quantidade de ofertas de trabalho recebida. A baixa qualidade das vagas que são ofertadas às pessoas com deficiência fica bastante evidente nesta questão. Muitos profissionais com deficiência se vêem em uma situação delicada já que precisam, em muitos casos, abrir mão de sua pretensão salarial, cargo ou área de atuação pretendida, entre outros aspectos. A média salarial pretendida, esta informação é de grande relevância para as empresas definirem as vagas que serão ofertadas e traçar estratégias de remuneração e atração. A maioria dos respondentes (34,7%) declarou que pretende receber de R$ 1.001,00 a R$1.500,00. Em seguida 26,9% disseram que pretendem ganhar entre R$ 1.501,00 e R$ 2.500,00 e 14,7% buscam remuneração entre R$ 2.501,00 e R$ 4.500,00. Apenas 5,6% possuem pretensão acima de R$ 4.501,00 e 18% declararam querer ganhar entre R$ 501,00 a R$ 1.000,00. Vale lembrar que, em relação à qualidade das vagas disponibilizadas para pessoas com deficiência, grande parte delas é de vagas operacionais, da base da pirâmide organizacional, que oferecem salários abaixo de R$ 1.000,00. Nestes casos, de acordo com os resultados dessa pesquisa, as vagas seriam atrativas para apenas 18% das pessoas com deficiência, considerando apenas a questão salarial. Outros filtros como car go, área de atuação, localidade e tipo de deficiência, por exemplo, limitam mais ainda a quantidade de candidatos interessados na vaga, o que explica a grande dificuldade que as empresas encontram para preencher vagas deste perfil. (I.SOCIAL,2011) As oportunidades mais atrativas: ao serem questionados sobre quais seriam os fatores mais atrativos em uma oportunidade de emprego, a grande maioria respondeu que seria o pacote de “benefícios/plano de carreira”, com 457 referências. Esperava-se que o item primordial seria o salário, mas o mesmo ficou em outra posição dentre as estatísticas. 70 Demonstrando assim que há uma preocupação dos profissionais com deficiência com o médio e longo prazo. O salário está relacionado com uma perspectiva mais imediata, de curto prazo e, conforme demonstrou a pesquisa, também é de grande importância, tornando a oportunidade de emprego atraente para as pessoas com deficiência, atingindo a segunda colocação nos índices apresentados, com 427 citações. Isto nos mostra que, a pessoa com deficiência pode optar mais por uma vaga que, em comparação a outra, ofereça um salário menor, mas que em compensação tenha um pacote de benefícios melhor e um plano de carreira que possibilite uma perspectiva de crescimento na empresa. Em terceiro lugar, com 339 citações, está o item “ambiente de trabalho”, com colaboradores sensibilizados e informados sobre pessoas com deficiência. O ambiente de trabalho representa o lado cultural da empresa, o relacionamento interpessoal entre o profissional com deficiência e seus colegas de trabalho e gestores. Sendo assim, vale salientar que, dentre os aspectos abordados, considerados de maior relevância para compreender o contexto de inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, a questão cultural possui um maior grau de relevância do que a acessibilidade do local de trabalho que foi citada 204 vezes entre os três itens mais importantes em relação à atratividade de uma oportunidade de trabalho. (I.SOCIAL, 2011). Em níveis aproximados de porcentagem, aparecem os itens “localização”, “área de atuação” e “programa de inclusão estruturado”. Por último, aparece “remuneração variável” e “nome/tamanho da empresa”. Em síntese, a oportunidade ideal, considerando os três principais elementos apontados, é aquela que oferece a melhor combinação entre pacote de benefícios e plano de carreira, salário e ambiente de trabalho. Daí, uma valiosa orientação para as empresas que pretendem atrair os melhores talentos com deficiência e se destacar nesta competição pelos me lhores profissionais. Como demonstram os resultados é importante investir em sensibilização, informação e treinamento da alta liderança, dos gestores e dos colaboradores da empresa, não apenas para buscar um ambiente melhor de trabalho – harmônico respeitoso e diverso, mas também para que o RH consiga negociar com a alta liderança e gestores da empresa a disponibilização de vagas melhores às pessoas com deficiência. 71 Sobre o processo seletivo, o recrutamento e a seleção de profissionais com deficiência apresentam um problema crônico que é o alto índice de desistência dos candidatos dos processos seletivos. É comum, infelizmente, determinado candidato não comparecer a entrevistas agendadas e a declinar em processos seletivos, devido à certos fatores, onde destacam-se: em primeiro lugar, com 411 citações (20% do total), a falta de transparência no processo seletivo. Alguns profissionais de RH querem conhecer diversos profissionais com deficiência sem possuir uma vaga aberta, por exemplo, no intuito de chamá- lo eventualmente no caso de aparecer uma vaga adequada a determinado perfil. (I.SOCIAL, 2011). Nestes casos, o candidato sente que não há um compromisso firme da empresa em contratá-lo, pelo menos não naquele momento, e acaba desistindo de comparecer à entrevista mesmo que tenha confirmado sua presença. Outras vezes, a empresa recruta os profissionais com determinada proposta e na primeira entrevista oferece uma oportunidade pior em determinado ponto como salário, cargo ou turno, por exemplo. Na segunda entrevista o candidato não aparece. Em segundo lugar, quase empatado na quantidade de citações, está a demora do retorno da aprovação. Diferente de um processo com muitas fases – que teve apenas 135 referências – a demora do retorno da empresa após determinada etapa leva muitos candidatos a desistirem do processo. Portanto, processos mais ágeis e dinâmicos para com os candidatos possuem maiores chances de sucesso e menor índice de desistência. Em terceiro lugar, aparece o item: “oportunidades melhores”. É normal um candidato com deficiência participar de mais de um processo seletivo simultaneamente. Em seguida, e bastante citado também, está o item características do cargo. Muitas pessoas acabam aceitando participar de um processo que não atende suas expectativas, seja em relação ao tipo de função, carga horária, salário, localidade, entre outros aspectos e acabam por desistir do processo no meio. O formato de seleção preferido, dentre a referida pesquisa, os respondentes também foram indagados a responderem sobre o formato de seleção preferido, onde o intuito seria repassar tais informações para os setores de RH, a fim de orientar seus profissionais. A maioria (47,8%) disse preferir as entrevistas individuais e apenas 6,1% optou pela dinâmica de grupo. Os outros 46,1% disseram ser indiferentes quanto ao formato. (I.SOCIAL 2011). 72 Se for possível ao profissional de RH escolher o formato de seleção, aqui o mais indicado seria optar pela entrevista individual, que atende à preferência de quase todos e que permite ao candidato expor suas qualidades e capacidades profissionais. A percepção sobre os profissionais de RH e gestores, normalmente, o processo seletivo compreende, entre outras etapas, uma entrevista ou dinâmica com o RH e outra entrevista com o gestor, o profissional que irá coordenar o trabalho do futuro candidato. Este contato entre o candidato e os profissionais da empresa envolvidos na seleção é muito importante, pois são eles (RH e gestores) os responsáveis por passar a primeira impressão da empresa aos futuros profissionais da instituição. Após a entrada do profissional com deficiência na empresa, o papel do gestor se torna fundamental, afinal, é ele que convive diariamente com o funcionário, sendo responsável por gerenciá- lo e inseri- lo na equipe. A função do RH continua também importante, funcionando como suporte ao funcionário com deficiência e ao gestor. Nesse sentido, os pesquisadores tiveram a preocupação de se saber quais seriam as percepções que as pessoas com deficiência tinham sobre o trabalho desenvolvido por esses profissionais; se achavam que eles estariam preparados para entrevistar e lidar com elas no ambiente de trabalho. Constatou-se que 94,4% dos respondentes disseram que os profissionais de RH, bem como os gestores, necessitam se informar e conscientizar sobre o tema da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. É preciso divulgar de forma mais efetiva e abrangente, informações aos colaboradores da empresa sobre o tema da inclusão e treinar constantemente os gestores para que possam gerenciar a diversidade de forma a oferecer igualdade de oportunidades. Não se pode apenas oferecer um treinamento e uma cartilha. Far-se-á necessário acompanhar o relacionamento cotidiano e realizar encontros para orientação e discussão de casos. A inclusão dos profissionais com deficiência no mercado de trabalho ainda é em tema novo para a maioria, algo muito recente. Estamos todos em processo de aprendizado, inclusive as pessoas com deficiência. Também vale ressaltar sobre a importância das empresas prestarem suporte, oferecerem treinamentos e acompanhamento de forma direta às pessoas com deficiência. O departamento de Recursos Humanos, gestores e os profissionais com deficiência, de acordo com os entrevistados, observam que tanto a equipe de RH, quanto os gestores poderiam estar mais bem preparados para entrevistar profissionais com deficiência. 73 Infelizmente, ao longo de nossas vidas, tivemos poucas oportunidades em nos relacionarmos cotidianamente com pessoas com deficiência e esse déficit contribuiu para o surgimento de uma série de mitos em relação a essa parcela da população. Isso ficou evidente na pesquisa, quando os resultados revelaram que grande parte dos entrevistados afirmou que os profissionais envolvidos no processo de recrutamento e seleção das pessoas com deficiência não têm o preparo necessário em relação à deficiência e questões colocadas em pauta. As principais barreiras para a inclusão que impedem a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, conforme os dados obtidos e analisados apresentam-se em três principais aspectos: o primeiro seria pelo fato de poucas oportunidades, com 331 citações; em segundo lugar, pelo foco exclusivo no cumprimento de cota, com 329 opiniões e em terceiro lugar com 322 citações para “oportunidades ruins”. Neste contexto nota-se que os três fatores citados estão interligados, uma vez que o foco no preenchimento da cota acaba por gerar a falta de boas oportunidades para as pessoas com deficiência. E assim entende-se que de um modo geral, as empresas passam a ter uma visão limitada sobre a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, sem perceberem que essa seria uma boa oportunidade em diversificar sua mão de obra, com pessoas dotadas de qualificações, experiências, aptas para desenvolver um trabalho efetivo como um todo, porém acabam somente investindo no cumprimento da legislação. Infelizmente ainda persiste o estigma de que essas pessoas é um são profissionais desqualificados e pouco produtivos. A pessoa com deficiência não pode ser classificada como alguém que tenha menos capacidade de desenvolvimento em comparação com as demais, elas apenas desenvolvem suas atividades de outra forma. Enquanto não houver uma compreensão comum de que a pessoa com deficiência é um profissional como qualquer outro, que cada indivíduo é único e que não devemos generalizar um grupo baseados em uma única característica – possuir uma deficiência – o processo de inclusão ficará em retração em meio à pré-conceitos culturais e dificilmente avançará. A pesquisa “Pessoas com Deficiência: expectativas e percepções sobre o mercado de trabalho” teve como objetivo trazer uma abordagem da realidade do processo de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal sob o ponto de vista das próprias pessoas com deficiência. Tal estudo torna-se instrumento de grande valia para que haja o aprimoramento das políticas públicas e para orientar as empresas em suas ações inclusivas. Como se pôde 74 observar nos resultados da pesquisa, o processo de inclusão apresenta uma série de barreiras, percebidas pelas pessoas com deficiência, que impedem uma progressão mais efetiva na quantidade de profissionais incluídos, mas principalmente no que se refere na qualidade desta inclusão. A questão cultural foi apontada como o principal fator impeditivo da inclusão. Situações como o despreparo dos profissionais de RH e gestores, a necessidade de informações sobre inclusão, o foco das empresas no cumprimento de cota, as oportunidades ruins, entre outros aspectos, possuem relação direta com a cultura que predomina em nossa sociedade. Afinal, as empresas são constituídas por indivíduos que, em grande parte, não conviveram com pessoas com deficiência. A Lei de Cotas, bem como o processo de inclusão, são recentes, o que explica em grande parte os problemas culturais enfrentados atualmente. Há 50 anos, por exemplo, não imaginávamos que as mulheres ocupariam o lugar de destaque que ocupam atualmente no mercado de trabalho. Sem dúvida, ainda há muito que melhorar para as mulheres, mas como grupos sociais estão muitos à frente das pessoas com deficiência. Entre os diversos pontos discutidos, detectamos que o principal obstáculo é a qualidade da inclusão. No geral, as vagas ofertadas às pessoas com deficiência são ruins, pouco atrativas e os processos de contratação são cansativos e desanimadores. Pessoas bem qualificadas, por exemplo, possuem dificuldade em encontrar vagas inclusivas para o seu per fil e não conseguem competir em igualdade de condições, já que são vagas voltadas para profissionais sem deficiência. Outra questão importante é que a inclusão atinge uma parcela muito pequena da população com deficiência. As empresas concentram seus esforços na contratação de pessoas com deficiência física leve e, em menor volume, pessoas com deficiência auditiva leve, pois não exigem grandes mudanças e investimentos em adaptações no ambiente de trabalho. O direcionamento da inclusão por parte das empresas voltada em uma pequena parte do grupo que deveria ser beneficiado pela Lei de Cotas gera uma impressão de mercado aquecido. Enquanto, a maior parte das pessoas com deficiência enfrenta as aflições da exclusão. A Lei de Cotas, apesar de muito importante, por si só não está tendo força necessária para fazer com que o processo de inclusão se torne abrangente. Seus efeitos, segundo estimativas, apresentam resultados que variam entre 300.00 pessoas incluídas, tendo uma qualidade questionável. 75 Sendo assim, é preciso desenvolver formas que contribuam para uma inclusão mais ampla e qualitativa das pessoas com deficiência no mundo do trabalho, com melhores oportunidades e ambientes de trabalho. Entretanto, o ponto de maior reflexão para mudanças refere-se à perspectiva cultural de nossa sociedade contemporânea, estruturada pelo sistema capitalista, desconstruindo assim uma série de preconceitos que acabam por rotular a pessoa com deficiência, fazendo com que a mesma seja apenas tolerada, e não incluída como é de seu direito. Contudo, muito mais que uma obrigação legal da lei, incluir pessoas com deficiência no mercado de trabalho é ter o privilégio de agregar conhecimentos e aprendizagem de uma nova vida. 76 3 ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE - APABB 3.1 A história da Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade - APABB A entidade escolhida para pesquisa foi APABB. Para melhor entender os trabalhos desenvolvidos pela entidade, passamos a descrever a história e os programas desenvolvidos. Inicialmente, cabe esclarecer que a APABB foi fundada oficialmente em 8 de agosto de 1987, por quatro funcionários da Agência Centro do Banco do Brasil, em São Paulo. Tratava-se de funcionários, pais de pessoas com deficiência. Os mesmos começaram a se reunir, motivados pelas experiências e vivências semelhantes, possuidores de necessidade para enfrentar os mesmos desafios. Aquele primeiro momento pode ser traduzido como uma simples troca de experiências, de informações sobre recursos e ideias, ou seja, um momento de apoio mútuo em busca de romper o isolamento social. O grupo foi tomando maiores proporções e outros funcionários do Banco do Brasil desejaram se juntar a eles. Alguns eram, inclusive, de outros Estados e outros, nem sequer possuíam filhos com deficiência. Este movimento, “[...] de início conjuntural e geograficamente localizado, foi sendo positivamente levado a se estruturar de modo mais consistente e institucional” (Portifólio da APABB, 2004, p.2). Em entrevista à Revista PREVI a ex- Presidente da APABB – Berenice Souza relata que “a entidade começou em São Paulo, com cerca de 1.500 associados. Pessoas que não eram deficientes nem tinham familiares portadores de deficiência, mas começaram a contribuir” (PREVI, 2005, p. 25). A iniciativa bem sucedida em São Paulo fez surgir núcleos em várias regiões do país, a partir de 1991. O primeiro deles foi no Ceará. Atualmente, há um total de 14 núcleos regionais, dentre eles no Distrito Federal e nos Estados da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Para continuação das atividades da APABB, foi necessária a obtenção de recurso para dar impulso às ações da Associação. Foi realizada uma campanha com a participação funcionários do Banco do Brasil, quando se explicava q uem eram os associados, o que pretendiam e fazia-se o convite para que se associassem também e colaborassem 77 financeiramente com uma quantia mensal em prol das pessoas com deficiência. A campanha teve resultados positivos e a APABB passou a contar com contribuições financeiras voluntárias e regulares de funcionários do Banco do Brasil. Com o início dos trabalhos ficou perceptível que não era possível dar continuidade apenas com o empréstimo de funcionários do banco, era preciso profissionalizar. Assim, em 1989, foi contratada a primeira profissional, no caso Assiste nte Social, na Sede em São Paulo, dando início ao atendimento às famílias. Com essas modificações, o Banco do Brasil uma instituição de abrangência nacional em outros Estados, a exemplo de São Paulo, foram criando seus núcleos da APABB, conforme relação (Vide anexo B). Com a disseminação desse trabalho por todo o Brasil, a APABB acabou se tornando uma Entidade Nacional, que desenvolve seus trabalhos de Assistência Social através do atendimento do Serviço Social e atividades nas áreas do Lazer, Esporte, Cultura, Educação e Trabalho, em benefícios das pessoas com deficiências e suas famílias. Em fevereiro de 1997 a Associação tornou-se oficialmente Utilidade Pública Federal, recebendo, em 15 de maio 1998, o certificado de entidade com fins filantrópicos. Sua atuação na defesa dos direitos das pessoas com deficiência consolidou-se ainda mais quando passou a integrar a bancada da sociedade civil no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – CONADE, representando o segmento das múltiplas deficiências. Atualmente tem assento como titular do CONADE, sendo a sua quarta-gestão. A APABB tem as suas atividades em três contextos. No contexto político, defendendo e disseminando a concepção de inclusão da pessoa com deficiência na sociedade, como o direito ao exercício da cidadania, estabelecendo inter-relações com entidades afins e fomentando estratégias que garantam os direitos das pessoas com deficiência. No contexto sócio cultural a APABB presta atendimento promovendo atividades de Lazer e de Esportes para a pessoa com deficiência e suas famílias. No contexto emocional a Associação presta atendimento para famílias em situações diversas. Na estrutura organizacional da APABB abrange a Sede Nacional de caráter consultivo e estratégico que normatiza, orienta, acompanha e avalia o trabalho de todos os núcleos regionais, contando com uma coordenadora nacional empenhado na assessoria, acompanhamento e desenvolvimento dos técnicos das áreas. Cada núcleo regional possui equipe técnica responsável pela execução e avaliação das ações de Lazer e Esportes, pela contratação, capacitação, acompanhamento e avaliação da equipe de recreadores e profissionais que executa as atividades para as pessoas com deficiência e mesmo objetivo na área do Serviço Social. (Vide anexo D). 78 Para compreendemos essa realidade, iremos citar os trabalhos desenvolvidos, pela entidade e quais são a intervenção do Serviço Social e área de Esporte e Lazer e os programas realizados por cada área. No Serviço Social temos os programas e projetos que são: Programa de Voluntariado, Programa de Capacitação e Qualificação Profissional, sendo especificados por Projetos como: Superação Digital, Ciclo de Palestras, Empregabilidade, Extensão Universitária e no Programa de Atenção a Família os projetos são Caminhando com as Escolas, Grupo de Apoio as Famílias, Tratamento Diferenciado na Saúde, Oficinas de Arte, Várias Formas de Expressão, Musicoterapia e Centro de Convivência. Na área de Esporte e Lazer os projetos são: Acampamento, Acantonamento e Colônia de Férias, Caminhar, Passeios, Discoteca, Encontro de Famílias I e II, no Programa de Esporte os projetos são Eventos Esportivos e projeto Movimento. Os Programas e Projetos, desenvolvidos pela APABB têm objetivo da qualidade de vida das pessoas com deficiência, com as áreas de Serviço Social, Lazer e Esporte, além de participar ativamente das políticas públicas de defesa dos direitos da pessoa com deficiência. Enfatizaremos os projetos e programas realizados pela APABB com as atividades realizadas pelo Serviço Social. O Serviço Social ao desenvolver as suas atividades identificou a necessidade de romper vínculos e dependência que as famílias criaram para proteção dos seus filhos, por motivo dos preconceitos que enfrentam cotidianamente. Por esses motivos surgiu o Programa de Atenção às Famílias e às pessoas com deficiência que são atividades de atendimento, orientação, encaminhamento e acompanhamento individual, familiar e em grupo. O Projeto Grupo de Apoio as Família tem a participação das pessoas com deficiência e seus familiares, em grupos de discussão, podendo relatar suas experiências e encontrar alternativas para problemas em comuns. O objetivo é informar sobre direitos, tratamentos, recursos, programas e projetos voltados às pessoas com deficiências. Os encontros têm temática de interesse do grupo, com profissional da área ou com as Assistentes Sociais, quando o tema é do seu conhecimento e da sua competência. Na área da Educação, o Serviço Social verificou as dificuldades de acesso nas escolas para as pessoas com deficiência e falta de informação dos profissionais referente às deficiências. Então o Projeto Caminhando com as Escolas contribui para inclusão das pessoas com deficiência na escola, possibilitando o desenvolvimento de um processo educativo participativo, solidário e menos excludente, enquanto os profissionais das escolas a disseminação das necessidades e habilidade desse aluno. O projeto desenvolvido no programa é o ciclo de palestras para informar o público e a comunidade sobre temas relacionados às 79 pessoas com deficiência, como a lei de cotas, educação inclusiva, entre outros assuntos. O ciclo atrai estudantes de educação física, turismo e pedagogia, entre outras áreas, que participam das palestras para se inteirar e adquirir conhecimentos extracurriculares. Esse projeto é também uma forma da APABB divulgar sua atuação, ampliar seu público e formar parcerias. Na questão da saúde o Serviço Social direcionou as suas ações para os usuários da comunidade através do Projeto de Tratamentos Diferenciados na Saúde, por dificuldade de acesso a alguns tipos de tratamento em áreas como, as de fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia e neurologia, essas ações são realizadas com parcerias com instituição pública e privada. Nos encontros realizados pela APABB com as famílias da pessoa com deficiência, as Assistentes Sociais observaram as dificuldades enfrentadas pelas famílias na convivência com outras famílias, com ou sem pessoas com deficiência, neste sentido foi criado pelo Serviço Social o projeto Oficina de Arte que capacita pais para realizar trabalhos manuais e artesanais, favorecendo a geração de renda. A outra ação é o lado lúdico do ser humano visando ao autoconhecimento, utilizando a música, a dança e o teatro, tendo o objetivo de que pais e usuários a se descobrir, utilizando diferentes formas de expressão. Nesta mesma perspectiva, o projeto Musicoterapia utiliza a música com objetivo de desempenhar um papel importante no desenvolvimento das habilidades motoras, sociais, cognitivas e de comunicação verbal e não verbal. Por conseguinte o projeto direcionado pelo Serviço Social do núcleo Rio Grande do Norte, o Centro de Convivência é um espaço em que as pessoas com deficiência, seus familiares e integrantes da comunidade participam de ativid ades educativas e ocupacionais, que estimulam a cognição, a afetividade e a convivência entre todos. Esse projeto é realizado apenas núcleo Rio Grande do Norte pelo alto custo para ma nutenção, sendo que o mesmo recebe parceria do Governo Municipal. O Serviço Social identificou alta demanda de usuários da comunidade sem acesso de serviços especializados para pessoas com deficiência, neste sentido efetivou o Projeto de Cadastro de Recursos para coletar, classificar e armazenar informações sobre todos os recursos do território do núcleo da APABB. Esse cadastro é composto de escolas rede pública e privada, clinicas, centro de convivência e esportivos, clubes recreativos, instituições, associações, oficinas, lojas e locais para manutenção de equipamentos para pessoas com deficiência (Portifólio da APABB, 2004). 80 Referente ao mundo acadêmico é realizado o Projeto de Extensão Universitária oferece aos usuários atividades que motivam sua capacidade laboral. Proporciona também o contato com a comunidade acadêmica, possibilitando a troca de informações entre os envolvidos e o exercício da inclusão social. Com a constante luta dos movimentos sociais e da Associação, representada nos espaços de discussão pelas Assistentes Sociais, conquistaram algumas Leis, dentre elas a Lei de Cotas. Com a vigência da Lei de Cotas algumas dessas pessoas iniciaram no mercado de trabalho, outras não tinham possibilidade por faltar- lhes conhecimento especializado ou por falta de acesso. Verificado essa necessidade o Serviço Social, criou o Programa de Capacitação e Qualificação Profissional, realizando cursos de capacitação profissional e de inclusão digital, que possibilitaram a inserção no mercado de trabalho de pessoas com deficiência. Organizando, ainda, palestras, seminários e treinamentos, visando atender profissionais, estudantes e entidades. Nessa perspectiva, foram criados outros projetos como o Projeto Superação – Foco na Empregabilidade, o Projeto Superação – Inclusão Digital e o Projeto Superação – Familiar, visando investir no acesso os familiares das pessoas com deficiência a tecnologia digital, proporcionando direito à informação e a inclusão social. A APABB em conjunto do Serviço Social desenvolveu ações com o intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência e suas famílias, contribuindo para o processo de inclusão social, ajudando na construção de uma política de direitos igualitários através de programas e projetos que contemplam o desenvolvimento da infância até a fase adulta. (Portifólio da APABB, 2004). No que se refere à inclusão social a APABB utiliza o canal de comunicação e divulgação do seu site 25 , a partir do qual é possível ter conhecimento do histórico da associação, informações sobre os Núcleos. Paralelamente, o jornal APABB, visa divulgar a atuação da APABB, prestar serviço à comunidade, informando sobre questões referentes às pessoas com deficiência. O jornal tem periodicidade quadrimestral e tiragem de 12.000 exemplares, sendo distribuído aos sócios, em agências bancárias, aos profissionais e instituições da área, etc. Após as informações históricas e os programas realizados pela entidade APABB, iremos compreender qual o contexto da associação, na estrutura do sistema capitalista. A Associação tem suas atividades desenvolvidas no segmento do terceiro setor, porque suas atividades não visam lucros, estando incluída na política da Assistência Social. 25 www.apabb.com.br, 81 Neste sentido, passamos a analisar a estrutura da política da Assistência Social. Para tanto, consideramos relevante registrar como foi o desenvolvimento na história até os meados da década de 1930, com a prática do assistencialismo, benesses, favores, doações caridosas, que estabelecem nas relações sociais do sujeito concedentes e o sujeito beneficiado uma relação de dependência, na qual o sujeito busca ganhar o reconhecimento e a dívida de favor do tutelado, que permanece sob a sua vontade. A partir da Constituição Federal em 1988, no artigo 6º, temos a garantia da assistência aos desamparados, neste momento rompe com o assistencialismo com a ideologia da moral, para acesso ao direito, então a Assistência Social é um conjunto de bens e serviços que são prestados pelo Estado em direitos para sociedade, para atende a necessidades públicas. A Política Pública tem finalidade de assegurar a proteção social dos excluídos socialmente, visando garantir os direitos básicos para vida com dignidade. Na Constituição Federal, no artigo 194, tem-se garantido a proteção social, na estrutura da Política Pública com a pirâmide da Seguridade Social, que está dividida em três eixos: Saúde, Previdência Social e a Assistência Social. No eixo da Assistência Social, temos a garantia da proteção social para todos que dela necessitarem, independentemente de contribuição. Atribuída pela Constituição Federal 1998 e efetivada pelos atos normativos da Assistência Social - LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social 1993), Leis Municipais e Estaduais, PNAS (Plano Nacional Assistência Social) 2004 e NOB (Normas Operacional Básica da Assistência Social) e SUAS (Sistema Único Assistência Social) de 2005. A Política da Assistência Social tem o objetivo de superar o assistencialismo para prover serviços e bens para a proteção social, contribuir para inclusão social e assegurar centralidade na família e garantia da convivência familiar e comunitária, enfrentamento da pobreza, garantia de mínimos sociais e a universalização do direito social. Mas com incumbência de garantia da proteção social de caráter gratuito e não contributivo, da perspectiva do direito e não da necessidade dos usuários como era no assistencialismo. Com a edição da lei 8.742, de 07 de setembro de 1993 - LOAS – (Lei Orgânica Assistência Social), tendo como meta o campo de direito social, universalização dos acessos, responsabilidade estatal, possui diretrizes para descentralização da política- administrativa, participação da sociedade civil, controle social e a responsabilidade do Estado na 82 universalização de direitos de acessos aos serviços e a centralidade na família para a implementação de programas e projetos. Nesse sentido, o Sistema Único de Assistência Social – SUAS traz para a assistência social o compromisso de organizar e gerir os serviços socioassistenciais em nosso país, promovendo a gestão e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social, com vistas a consolidar este sistema público para que haja a “oferta” dos benefícios assistenciais a quem deles necessitam. O SUAS também tem a finalidade de orientar e regular no território nacional a hierarquia e responsabilidades do sistema de serviços, benefícios, programa e projetos da Assistência Social nas redes Municipais, Estaduais e Federais. As ações da Assistência Social implementadas pelo – SUAS – caracterizam-se como benefícios, com investimento continuado e/ou eventual por meio de transferência de renda, BPC - Benefícios de Prestação Continuada - e o trabalho sócio–educativo na centralidade da família. Na organização da política da Assistência Social, a entidade pesquisada tem suas atividades, inseridas na proteção social básica para prevenir situações de risco, propiciando o desenvolvimento de potencialidade e aquisições, fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Após a efetivação da Política Nacional da Assistência Social, houve crescimento da APABB, aumentando a procura, para o apoio e atendimento, e também por famílias da comunidade, sem vínculos de funcionários do Banco do Brasil. A APABB demonstrou a necessidade de promover o atendimento às famílias da comunidade externa ao Banco do Brasil. Demonstrando que os problemas relacionados à administração da rotina com filhos com deficiência não é somente de famílias do Banco do Brasil, mas da comunidade, como um todo. Assim, de forma ampla a APABB atende pessoas com deficiências e suas famílias, com ações de orientação, informação, encaminhamento, acompanhamento e visita domiciliar, promovendo atividades que visam à estruturação ou reestruturação da vida familiar, auxiliando na construção de uma vida digna e com qualidade, a inclusão social da família e do portador de deficiência e a conscientização acerca dos direitos das pessoas com deficiência, enquanto cidadão possuidor de direitos especiais. (Portfólio da APABB, 2004). Porém os objetivos da Associação no seu trabalho estão direcionados no estatuto social da APABB, nos princípios e objetivos da organização. (Vide anexo C). 83 Portanto, os programas realizados pela Associação têm a intencionalidade de potencializar o sujeito e contribuir para inclusão social de pessoas com deficiência. Nessa perspectiva a pesquisa será realizada no programa de capacitação e qualificação profissional, tendo como objeto de estudo o Projeto Empregabilidade. A pesquisa é realizada na Sede Nacional, localizada na cidade de São Paulo, com ações mais centralizadas na gestão dos projetos sociais. A finalidade do Projeto Empregabilidade é desenvolver a capacidade produtiva da pessoa com deficiência, visando prepará- la para a vida profissional. Ao mesmo tempo, é feito um trabalho junto às empresas para se adequarem às condições dessas pessoas, desenvolvendo a acessibilidade atitudinal, arquitetônica e instrumental. A APABB estabelece parcerias com organizações e empresas para oferecerem capacitação, busca a inserção desse usuário e acompanha seu processo de adaptação. (APABB, site). 3.2 O Projeto Empregabilidade No Projeto Empregabilidade todas as fases são desenvolvidas considerando as melhores práticas, a seleção de vagas adequadas, a capacitação da pessoa com deficiência para a função, a análise da acessibilidade dos espaços e a disponibilização de equipamentos de trabalho adaptados. Além, da preparação do ambiente em que se desenvolvem as relações interpessoais, realizadas por meio de atividades de sensibilização dos gestores e dos colegas de trabalho. (Vide anexo F). A iniciativa tem por objetivo desenvolver a capacidade produtiva visando prepará- la para a vida profissional. A elaboração do presente projeto deu-se devido as empresas e entidades procurarem constantemente a APABB para o fornecimento de um banco de dados de pessoas qualificadas com deficiência física, auditiva ou visual para serem inseridas no mercado de trabalho. Em alguns raros casos, procuram as pessoas com síndrome de down, porém, em geral, não procuram pelas pessoas com deficiência intelectual, pois não são consideradas aptas para uma atividade laborativa. No entanto, entendemos que essas pessoas podem estar aptas para o trabalho, por possuírem capacidades e potencialidades que pode ser desenvolvidas num ambiente de trabalho. Por isso, para tornar possível a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, a APABB desenvolveu esse projeto em todos os Núcleos Regionais, com o intuito de efetivá-las no meio social. 84 Cada Núcleo Regional da APABB desenvolve esse projeto conforme as suas realidades. Para especificar esse cotidiano iremos relatar uma ação desenvolvida pelo Núcleo Rio Grande do Norte, que elaborou cartilha para as empresas, para informar e orientar como as pessoas com deficiência devem ser contratadas. A cartilha teve o tema: Porque Contratar um Pessoa com Deficiência. Segundo 26 Dulciana , a contratação de uma pessoa com deficiência não deve acontecer somente por força da lei ou com o objetivo de divulgar atitudes empresariais revestidas de um caráter assistencialista ou protecionista. Felizmente os empresários e os trabalhadores em geral estão se tornando conscientes das habilidades e possibilidades que essas pessoas têm para exercer as mais diversas atividades num ambiente de trabalho. (A Cartilha encontra-se parcialmente no anexo G). Isso pode ser verificado nas empresas que tem trabalhadores com alguma deficiência. A atitude da empresa no processo de contratação de uma pessoa com deficiência deve ser antes de tudo de oferecer oportunidades reais, livres de estigmas, preconceitos ou discriminações. Para que isso aconteça, as mudanças do ponto de vista social e cultural também devem se realizar, através do engajamento de toda a sociedade civil, que deve exigir do Estado o cumprimento de seu papel. Mas que ao mesmo tempo, deve também, participar ativamente dos processos de mudanças, viabilizando e tornando realidade as ideias voltadas para o crescimento pessoal, cultural e social de todos, aceitando e respeitando as diferenças, sem concebê- las como condições impeditivas do exercício da cidadania, e sim como condições que até podem limitar, mas instigam o vencimento de desafios e a superação de limites que transformam os homens e mulheres em verdadeiros cidadãos. 3.3 Pesquisa de campo A pesquisa realizada na sede nacional – São Paulo, mais especificamente, na Coordenação do Serviço Social, para justificarmos a seguinte hipótese: As condições concretas dos trabalhos oferecidos para as pessoas com deficiência, que participam do Projeto Empregabilidade na APABB, influenciam no desenvolvimento das potencialidades e proporcionam a igualdade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Assim, a pesquisa pretende compreender como as pessoas com deficiência, são incluídas no mercado de trabalho. 26 Dulciana foi a profissional da APABB que elaborou a cartilha. 85 Para a coleta dos dados foi utilizada a metodologia qualitativa e quantitativa, uma vez que consideramos esta perspectiva a mais adequada para compreender as particularidades da atuação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho através do projeto. A pesquisa iniciou com o levantamento de dados registrados em um instrumental utilizado no cotidiano das Assistentes Sociais dos 14 núcleos no Brasil que sistematizam os dados coletados do projeto empregabilidade, identificado como relatório mensal de atividades. Para analisarmos os dados, preferimos verificar os dados contabilizados anualmente dos anos de 2010 a 2012. Assim, a pergunta utilizada para compreender o cotidiano das pessoas com deficiência através do Projeto foi: “Quantas pessoas com deficiência foram incluídas no mercado de trabalho através do Projeto Empregabilidade de 2010 a 2012?”. Vale salientar que os dados foram coletados a partir da pesquisa de campo, utilizando-se relatório mensal de atividades para levantamento de dados junto às Assistentes Sociais, no que se refere ao Projeto Empregabilidade dos 14 núcleos no Brasil. Assim sendo, foram coletados os seguintes dados apresentados nos gráficos que seguem, com respectiva análise: 86 Gráfico 1 - Projeto Empregabilidade 100 90 80 Informação sobre vagas 70 Seleção 60 Pessoas inseridas no mercado de trabalho 50 Treinamento e Capacitação Atividade de Sensibilização 40 Reunião 30 Acompanhamento 20 Orientação e encaminhamento 10 Demanda de informação sobre mercado de trabalho 0 2010 2011 2012 Para iniciamos a análise dos dados coletados, consideramos pertinente ressaltar a indagação que iniciou a pesquisa, a partir do instrumental utilizado junto às Assistentes sociais, que foi “Quantas pessoas com deficiência foram incluídas no mercado de trabalho através do Projeto Empregabilidade de 2010 a 2012?”. Com referência a essa indagação no ano de 2010 tivemos 20% da demanda da Associação de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, porém no ano de 2011% tivemos aumento significativo de 25%; mas no ano de 2012 o aumento foi de 75%. Podemos analisar que a Associação teve esse aumento de 75% da inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, porque foram desenvolvidas algumas ações do projeto empregabilidade nos anos anteriores, que são destacados nos dados coletados no gráfico do período de 2010, 2011 e continuou ano de 2012. As atividades foram de orientação e encaminhamento, informação sobre mercado de trabalho e acompanhando das pessoas com deficiência tendo atingido 100% nesses anos. Neste 87 contexto a demanda de treinamento e capacitação foi de 25% no ano de 2010, no ano de 2011 e 2012 foram 100 %. Essas ações que foram anteriores à inclusão no mercado de trabalho que influenciaram no resultado obtido da inclusão das pessoas com deficiência referente ao a no de 2012, porque foram ações de disseminação de conhecimento que a Associação com anos de contato com essas pessoas adquiriram, então disponibilizou essas informações para as empresas, para as pessoas com deficiências e a sua família. Assim sendo, para compreender como essas ações foram desenvolvidas para atingir esses resultados, analisamos as descrições das atividades desenvolvidas pelo Projeto Empregabilidade e como são executadas. Podemos salientar que primeiramente, o contato com o usuário e sua família para compreender a dinâmica familiar e conhecer as habilidades e competência da pessoa com deficiência. Em seguida, o trabalho desenvolvido destaca-se pela informação referente à inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, com as famílias, as empresas e as pessoas com deficiências. Com as famílias foram desenvolvidas palestras para compreensão dos pais, de que seus filhos têm potencialidade para estarem em outros espaços e possibilidade de acesso ao mercado de trabalho. Nessa palestra de sensibilização, a Associação tem a preocupação de contratar profissionais qualificados na área da pessoa com deficiência e conhecimento referente à inclusão delas no mercado de trabalho e profissionais que podemos destacar as Assistentes Sociais dos núcleos, que muitas vezes tem o conhecimento e especializações referentes ao assunto escolhido para a palestra. Referente à pessoa com deficiência, o objetivo do projeto é analisar qual o conhecimento que o candidato tem, verificando alguma deficiência de informação para inclusão dessa pessoa no mercado de trabalho, desenvolvendo capacitação profissional com parceria de entidades, órgão público e privado e treinamento em conjunto com a empresa. Na capacitação, a APABB realiza uma pré-seleção dos candidatos para encaminhar aos locais de trabalho que já conhece o trabalho da Associação. Para garantia dos direitos a Associação está amparada pela legislação, prevista no artigo 59, inciso IV, da Lei Federal 9.394/96 e no artigo 28 do Decreto 3.298/99, a educação especial para o trabalho, tanto em instituições públicas quanto nas privadas, portanto, além da contratação, tem-se que capacitar, preparar a pessoa com deficiência. (Vide em anexo F). Nesse processo, podemos identificar outra etapa do projeto que complementa essa ação que é o acompanhamento das pessoas com deficiência no treinamento. Porém, no desenvolvimento do projeto a etapa de acompanhamento poderá ser executada somente 88 quando a pessoa for contratada, sendo necessário o acompanha mento em conjunto no local contratante. O profissional da APABB visitará o local para conhecimento do espaço físico e das vagas disponíveis e das atribuições, acompanhará o processo seletivo e o desempenho da pessoa contratada, através de agendamento prévio de visitas ao local, bem como através de contato telefônico ou outros meios. (Vide Anexo F). Com esse contato com a empresa, a outra etapa executada pelo projeto é a reunião, que no ano de 2010 foram 63%, no ano de 2011 foi 83% e 2012 atingiu 100% da meta do projeto. Podemos enfatizar importância desse processo porque são realizados com os empresários, gestores, coordenadores e os funcionários dos recursos humanos. Com objetivo de compreender a dinâmica da empresa, quais as dificuldades encontradas com o trabalhador com deficiência e as dúvidas que tem referente ao assunto. Nessas reuniões, os Assistentes Sociais interpretaram uma série de questões referentes aos obstáculos que as pessoas com deficiência enfrentam na empresa, assim como a estrutura do local ou de tecnologia assistida, estratégias e recursos necessários para desenvolvimento da atividade ou mesmo de relacionamento com colegas de trabalho. Paralelamente, as ações junto às empresas, o projeto visa o desenvolvimento de atividades de sensibilização desenvolvidas em oficinas, onde o deficiente desempenhará as atividades cotidianas. Essa ação abrangeu 55% da demanda da Associação no ano de 2010, e no ano de 2011 foi de 13% e no ano 2012 de 23%. Podemos verificar que atividade teve, no ano de 2010, uma significativa procura, com redução nos anos seguintes. Assim, a partir da análise dessas informações poderemos supor que a baixa procura, foi motivada pela compreensão do cotidiano, que valeu como rompimento dos obstáculos para o exercício das funções nas empresas. Os dados coletados de seleção foram de 17% no ano de 2010, em 2011 tivemos 31% e em ano de 2012 a demanda foi de 19%, os resultados foram alternados porque esse processo, muitas vezes, foi realizado nas empresas, entretanto, podemos descartar a hipótese de que algum deficiente, pôde estar sem o acompanhamento de Assistentes Sociais, durante a realização do projeto. Podemos, também, salientar que em relação à análise dos dados acima citados restou uma indagação referente a esse resultado, quando comparado com o resultado da inclusão das pessoas com deficiência, no mercado de trabalho porque apresenta divergência. Mas a partir, das análises do instrumental utilizado pelo Assistente Social dos núcleos, os relatórios das atividades realizadas, verificamos que em algumas situações são necessárias ou não a intervenção de um profissional no espaço da seleção. Em virtude disso explica-se o 89 baixo resultado, porque não é contabilizada a seleção em que a pessoa com deficiência comparece na empresa sem acompanhamento da profissional. Portanto, no ano de 2010 a demanda referente à informação de vaga foi de 31%, em 2011 de 25%, e de 15% em 2012, nessa etapa do projeto, o primeiro momento das pessoas que procura a Associação é apenas para obter informação de vaga, feito através de contato por telefone ou pelo site da APABB. Mas, quando a comunicação é feita pessoalmente a possibilidade das pessoas serem direcionada para outras etapas do projeto, são poucas, que permanecem na etapa de informação da vaga, entretanto as contabilizações são dos acessos no site da APABB e por telefones. Para fundamentar as dados coletas pela APABB, o Relatório Mundial sobre a Deficiência (2011 p. 19) relata que: A capacidade dos recursos humanos pode ser melhorada por meio da educação, treinamento e recrutamento efetivos. Uma revisão dos conhecimentos e competências dos funcionários em áreas relevantes pod e oferecer um ponto de partida para o desenvolvimento de medidas apropriadas para sua melhoria. Um treinamento corporativo, realizado dentro das organizações, deveria ser realizado com os profissionais atuais responsáveis pelos serviços de prestação e administração. Por exemplo, o fortalecimento da capacidade dos trabalhos [...] economicamente acessíveis às pessoas com deficiências. O Relatório Mundial recomenda aos governantes de todo o mundo, ações que já são desenvolvidas no Projeto Empregabilidade. A publicação do Relatório é um instrumento de referência para elaboração de políticas públicas para pessoas com deficiência, contendo informações científica referentes a essas pessoas, a pesquisa foi elaborada e desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde, em 2011 e traduzida para a língua portuguesa pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência em São Paulo. 90 Gráfico 2 – Público atendido pela APABB Sexo Masculino 0 0 1073 Sexo Feminino 0 0 3481 444 388 355 Deficiência Múltipla Deficiência Auditiva Deficiência Visual Deficiência Física 2012 49 52 58 2011 2010 98 51 61 244 243 224 4165 3824 Deficiência Inteletual 2618 O levantamento realizado no campo de pesquisa foi a partir do relatório mensal de atividade do Projeto Empregabilidade. Foram coletados dados, referentes ao público atendido pela APABB. A partir, da análise do gráfico destacamos os tipos de deficiências que procuram pelos serviços da APABB. Nos anos de 2010 a 2012, os destaques foram, em primeiro lugar, para a deficiência intelectual e em segundo as deficiências físicas, cabendo em terceiro lugar a deficiência múltipla, índices que persistiram durante três anos consecutivos. A 91 baixa procura foi, em primeiro lugar, deficiência auditiva e em segundo a deficiência visual. Com base nesses dados poderemos analisar que faltam informações referentes às deficiências. Porque ao fazermos a leitura dos dados coletados, identificamos que a procura maior é da deficiência intelectual, em seguida a deficiência multiplica nos Projetos desenvolvidos pela APABB. Porque para essas pessoas terem acesso ao mercado de trabalho, e em outros acessos como educação, transporte e outros, as dificuldades são maiores do que as outras deficiências, por falta de conhecimento e informações da sociedade. Neste sentido, a procura pela APABB, são maiores pelo público de pessoas com deficiência intelectual, física e múltipla, que sentem-se acolhidos e a família tem confiança e acredita no trabalho desenvolvido, em razão do conhecimento adquirido pela experiência do cotidiano e a competência teórica, desenvolvida através de cursos e especializações que os profissionais da APABB possuem, que foram destacadas na análise no gráfico anterior. O objetivo da APABB é proporcionar a essas pessoas acesso com confiança, principalmente às famílias. Nesta análise podemos ressaltar que a deficiência auditiva e deficiência visual têm mais acesso no mercado de trabalho, essa afirmação é considerada pelos dados coletos na pesquisa na APABB e pelas observações do cotidiano que identificamos nos espaços de trabalhos como comércios, espaços públicos e outros. Deparamos com essas situações no campo de estágio, entre tanto na visão dos empregadores essas pessoas têm mais autonomia do que as outras deficiências, demonstrando total falta de informação quanto às deficiências. Essas indagações foram vivências no campo de estágios e também nos relatórios de visitas do Projeto Empregabilidade e nas participações de reuniões do Conselho da Pessoa com Deficiência, nos relatos da própria família e no comparecimento na APABB, para iniciar o acompanhamento para inclusão no mercado de trabalho e a pesquisa de campo confirmou essas indagações do cotidiano que não estavam previstas. Apesar de outros obstáculos mencionados nessa pesquisa, ainda destacamos a barreira da seletividade da deficiência pelas empresas. De acordo com essa perspectiva podemos salientar que a sociedade contemporânea ainda esta em processo de conhecimento e carente de informação quanto à especificidade de cada deficiência, surgindo outros obstáculos para essas pessoas possam romper, a partir do surgimento de novos conflitos. O Relatório Mundial sobre a Deficiência recomenda o aumento da conscientização pública e o entendimento das deficiências: O respeito mútuo e a co mpreensão contribuem para u ma sociedade inclusiva. Portanto, é vital au mentar a conscientização sobre a deficiência, confrontar as percepções negativas, e representar a deficiência com justiça. Co letar informações sobre o conhecimento, crenças e atitudes sobre a deficiência pode ajudar na 92 identificação de falhas na compreensão da opinião pública que podem ser corrigidas por meio da educação e da disseminação pública de informações. Governos, organizações voluntárias, e associações profissionais deveriam considerar a veiculação de campanhas de marketing social que alteram as atitudes a respeito de questões estigmatizadas tais com o HIV, a doenças mentais , e a hanseníase. Envolver a mídia é vital para o sucesso dessas campanhas e para assegurar a disseminação de histórias positivas sobre as pessoas com deficiências (p. 20 2011). Nesse sentido, o Ministério do Trabalho e Emprego Secretaria de Inspeção do Trabalho elaborou a Instrução Normativa n° 98, de 15 de agosto de 2012, que dispõe sobre o procedimento de fiscalização do cumprimento, por parte dos empregadores, de normas destinadas ao trabalho de pessoas com deficiência. Estabelece o artigo 1°: Estabelecer os procedimentos de fiscalização da inclusão de pessoas com deficiências (...) no mercado de trabalho, com vistas a assegurar o exercício pleno e equânime do direito ao trabalho e pro moção do respeito á dignidade da pessoa humana, conforme estabelece a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facu ltativo, pro mulgados por meio do Decreto n° 6.949, de 25 de agosto de 2009. Em seguida, utilizamos o instrumental de entrevista aberta ou em profundidade para todos os sujeitos pesquisados, proporcionando liberdade dos informantes para responder as questões, a pesquisa teve como objetivo a análise das mesmas. As questões foram elaboradas (Vide em anexo apêndice) e encaminhadas para 14 Assistentes Sociais dos núcleos da APABB no Brasil, porém tivemos o retorno de 05 profissionais, a intenção de analisar as resposta é para compreendermos as dificuldades enfrentadas por pessoas com deficiência e como o trabalho da APABB influência essa realidade. O questionário foi enviado por e- mail pelo motivo da localização dos núcleos, não solicitamos a identificação das profissionais e nem dos usuários, foi encaminhado o Termo de Consentimento (Vide anexo H), para todos os sujeitos pesquisados. Entrevistamos também, com o mesmo procedimento, Gerente e a Coordenadora do Projeto Empregabilidade, as perguntas elaboradas para essas profissionais foram direcionadas para as políticas públicas e as condições de trabalho que são ofertadas (vide em anexo apêndice), ressaltamos que essas profissionais são Assistentes Sociais. A pesquisa também teve o objetivo de coletar informações dos usuários do Projeto (Vide em anexo apêndice), encaminhamos em conjunto, com os questionários das Assistentes Sociais, solicitando a colaboração das mesmas para realizar a entrevista com essas pessoas. Então, encaminhamos 14 questionários e tivemos o retorno de 03 núcleos com a entrevista dos usuários. As análises desses questionários foram para compreender como os usuários são recebidos nas empresas e quais as possibilidades e seus limites, qual o significado do trabalho e a influência da APABB na vida deles. 93 Na pesquisa realizada o instrumental utilizado no Projeto Empregabilidade, referente ao ano de 2010, identificamos, também, outras informações relevantes, qual o gênero que procura os projetos desenvolvidos pela APABB, na questão de gênero foram: de 3481 feminino e 1073 masculino, sendo a procura, superior do gênero feminino, não realizamos uma pesquisa comparativa com outros anos, porque no instrumental da pesquisa não tivemos a informação referente aos anos anteriores. Segundo o Relatório Mundial sobre pessoas com deficiência (2011 p. 11), [..] Com os dados mundiais World Health Suvey, identificou que 53% do gênero masculino com deficiência e 20 % do gênero feminino com deficiência. Para compreendermos a realidade das pessoas com deficiência na inclusão do mercado de trabalho, optamos por realizar a pesquisa nas empresas que utilizam os serviços da APABB, no Projeto Empregabilidade, especificamente no Núcleo da cidade de São Paulo. O objetivo da pesquisa era conhecer e entender a visão dos representantes da empresa, no que se refere à admissão de funcionários com deficiência. Porém, tivemos dificuldades no acesso; assim sendo, não conseguimos realizar essa pesquisa. As indagações que tínhamos como objetivos para investigar seriam para compreender a realidade das empresas. (Vide em anexo apêndice). Portanto, realizamos a pesquisa de campo, no espaço da APABB, o instrumental utilizado foi o questionário, que foram respondidos pelas profissionais da APABB que nos proporcionaram uma análise para compreender a realidade dos profissionais, nesse espaço para inclusão das pessoas com deficiência. Sendo assim obtivemos respostas dos questionários da Gerente do Projeto Empregabilidade e da Coordenadora, num terceiro momento as Assistentes Socais dos Núcleos e por último de alguns usuários. 3.3.1 Análise: as contribuições da Gerente e da Coordenadora do Projeto Empregabilidade A pesquisa de campo com a Gerente do Projeto Empregabilidade teve o objetivo de compreendemos à efetivação do direito das pessoas com deficiência. A partir, das contribuições, tivemos o propósito de identificar como se dá a relação da responsabilidade do Estado, no que se refere às pessoas com deficiências, assim como as condições de trabalho ofertadas para essas pessoas. Com os dados coletados, pudemos identificar a questão da responsabilidade do Estado, referente às Políticas Públicas. As informações da Gerente do 94 Projeto foram: que antes de ter assegurada a garantia de direitos, os representantes do Estado têm que respeitar essa população, para que tenham o direito de: Ir e vir. Em sua grande maioria os meios de transporte coletivos não estão adaptados, as calçadas e vias públicas não são acessíveis, os prédios, nem os públicos nem os de uso coletivo, respeitam as necessidades mínimas de acessibilidade para cadeiras de rodas e outras dificuldades de locomoção. Liberdade de expressão. Não somente sua própria expressão individual lhes é negada – quando a educação não lhes garante esses meios –, mas também lhes é negado o acesso aos meios de comunicação, que poderiam se tornar acessíveis através de adaptações fáceis, para citarmos apenas algumas simples, como o uso da impressão em Braille, a utilização da linguagem de sinais e de legendas nos meios de comunicação, dentre outras inúmeras possibilidades. Acesso à justiça. Embora o Brasil tenha uma legislação relativa às pessoas com deficiência moderna, considerada por organismo internacional como a mais inclusiva das Américas, ela não é nem conhecida nem aplicada nem respeitada, o que quase a torna inútil. Direitos políticos. A grande maioria das pessoas com deficiência não faz parte do processo político, não votando, pois as condições para o exercício do vo to não estão acessíveis, ou não participando porque seu alijamento da cidadania faz com que não exista representação política consistente para suas reivindicações. Direito à saúde não é respeitado. Se não são expulsas logo na entrada pelas barreiras da discriminação e do desconhecimento, são logo em seguida descartadas pelo despreparo e o preconceito dos profissionais de saúde que em sua grande maioria parecem querer desconhecer que as necessidades de âmbito geral dessas pessoas são as mesmas de qualquer um. Não dispomos de um sistema de prevenção coordenado e não temos atendimento especializado. Direito à educação. O Brasil discute ininterruptamente as reformas do ensino, as novas necessidades da educação, a criança na escola, a formação profissional, mas a educação especial inclusiva não existe como problema importante a ser enfrentado. (Gerente Projeto Empregabilidade 2013.). Segundo a Gerente do Projeto Empregabilidade (2013), no Brasil, existem leis que garantem o direito das pessoas com deficiência, mas no cotidiano os desafios são grandes, é como se elas não existissem. Foi ressaltado que o acesso na saúde, educação, política, justiça, liberdade de expressão e direito de ir e vir, são negados a todo o momento para essas pessoas. Sendo necessário exigir do poder Público que a garantia desses direitos saiam do papel e sejam efetivados. A estratégia encontrada para efetivação dos direitos pelo Ministério Público, é investigar denúncias, representar a população nas reivindicações e defender os direitos da sociedade. Mas para essa estratégia se efetivar é necessário que a população tenha conhecimento das necessidades das pessoas com deficiência. Para isso, é necessário que os cidadãos tenham participações nos espaços de discussão, para romper com a exclusão e possibilitar o acesso nas políticas públicas. Quanto a essas indagações, podemos analisar as respostas da Coordenadora do Projeto Empregabilidade, na questão da responsabilidade do Estado, ela relatou que existem leis, porém é necessário que sejam efetivadas. Na questão de exigir do Estado a efetivação das 95 leis, através da participação da população nos espaços de discussão, como fóruns e Conselho Municipal e Estadual das pessoas com deficiências. Nesse aspecto, pela compreensão da Coordenadora a efetivação dos direitos seria “ somente através da articulação nos espaços de discussão e participação maciça de todos envolvidos que poderemos conseguir com que a inclusão realmente se efetive, pois a “União faz a Força”. A pesquisa de campo com a Coordenadora de Projeto Empregabilidade foi direcionada no aspecto das políticas públicas como está acima citada, porém o objetivo principal da pesquisa é compreender as condições concretas da inclusão de pessoas com deficiências, através do Projeto Empregabilidade direcionamos pergunta referente à realidade do Projeto para a Gerente e a Coordenadora do Projeto Empregabilidade. As nossas indagações como pesquisadoras frente à realidade do Projeto Empregabilidade foram direcionadas pela a Lei de Cotas, por dois objetivos: verificar se a lei é utilizada para garantia de direito ou como utilização de marketing, por empresas com ró tulo de responsabilidade social. Na análise dos questionários da Gerente e da Coordenadora, no tocante à essas indagações, identificamos que cada uma tem compreensão clara no que se refere à Lei de Cotas. A Gerente do Projeto relatou que na sua vivência profissional existem dois tipos de empresas, a que trabalha na inclusão de pessoas com deficiência, que visa defender ações de igualdade e proporcionar e o desenvolvimento profissional e reconhecimento das suas potencialidades: Em uma empresa inclusiva todos os funcionários trabalham juntos e possuem igualdade de oportunidades. Assim, as pessoas com deficiência devem ter metas e objetivos claros, ter seu desempenho avaliado e ser promovidas e mesmo demitidas quando necessário, como qualquer outro funcionário. (Gerente 2013). Conforme a Gerente do Projeto Empregabilidade (2013), as pessoas com deficiência têm direitos e deveres, se identificarmos essas pessoas dessa forma, teremos relação de igualdade e uma sociedade que irá compreender que elas precisam, ap enas de alguns instrumentos para suas atividades laborativas. Para as pessoas com deficiência a inclusão no mercado de trabalho, é uma representação social que proporcionar autonomia, responsabilidade e participação no processo produtivo da sociedade. “Mas para permanecer nas empresas inclusivas, é necessário romper com “novo paradigma”, que são as contratações das pessoas com deficiência para cumprimento da Lei, e sim uma contratação pela competência profissional e ocupar espaço no mercado de trabalho”. Para temos essas situações efetivadas, teremos uma luta de ambos, na empresa inclusiva e das pessoas com deficiência. 96 “As empresas não têm o papel apenas de contratar as pessoas com deficiência, mas de proporcionar a possibilidade para desenvolver potencialidade para permanecer na empresa e de desempenhar os critérios estabelecidos pela empresa”. O outro tipo de empresa tem a preocupação, apenas de cumprir a Lei de Cotas, para não ser multada, a ações para romper com a exclusão das pessoas com deficiência não existem, Não buscar superar os obstáculos e as dificuldades de compreensão e informação por parte dos gestores e empregados; a inexperiência das pessoas em conviver com pessoas com deficiência, e a precária educação e profissionalização da maioria delas. Certamente, onde não há o compromisso da direção, não existe um projeto de empregabilidade de fato. (Gerente 2013.). Nesta mesma perspectiva a Coordenadora do Projeto Empregabilidade, relatou: “que no seu cotidiano as empresas efetivam a Lei de Cotas, porque não querem pagar multa, mas por elas o melhor era que não existissem a Lei de Cotas. Nessas condições temos efetivação da lei de Cotas de uma forma imposta que traduz em ações fragmentadas e não existe conscientização na inclusão das pessoas com deficiência, apenas de uma contratação para cumprimento de uma lei ”. Mas a Coordenadora do Projeto entende que a lei é instrumento de garantia de direito, porém: O maior desafio a ser enfrentado na lei de cotas é a quebra de paradigmas, o preconceito com relação à pessoa com deficiência, é a sociedade entender que a pessoa com deficiência não é alguém que precisa ser incluído, na minha opinião nada disso seria necessário se a nossa cultura entendesse que as pessoas com deficiên cia são pessoas normais, apenas com algumas limitações, que na realidade todos nós sem exceção temos algum tipo de deficiência, algumas mais aparentes outras menos. Enquanto a cultura não mudar, com certeza a lei de cotas será mais uma lei inviável e que não será cumprida, enfim não se efetivará. As empresas continuarão a serem seletivas e as pessoas com deficiência longe do mercado de trabalho. (Coordenadora do Projeto Empregabilidade APABB 2013.). Na análise dos dados coletados dos públicos atendidos pela APABB, gráficos dois, identificamos que existe a seletividade das deficiências, pelos resultados e pela vivência no campo de estágio. Mas, na análise das repostas da Coordenadora do Projeto, temos o relato dela, nessa prática das empresas de seletividade da deficiência, sendo no vo desafio para as pessoas com deficiência romper em conjunto com as ações da APABB, porém na experiência da Coordenadora do Projeto, essa situação terá permanecia longa na inclusão das pessoas com deficiência, assim é necessário que essas empresas tenham mais informações referentes à deficiência. Segundo Goffman (1988, p. 11.): A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e o total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas categorias: Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontradas. As rotinas de relação social em ambientes estabelecidos nos permitem u m relacionamento com “outras pessoas” previstas sem atenção ou reflexão particular. Então, quando um estranho nos é apresentado, os primeiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos [...] As características, ignoramos que fizemos tais exigências ou o que elas significam até 97 que surge uma questão efetiva. Essas exigências são preenchidas? É nesse ponto, provavelmente, que percebemos que durante todo o tempo estivemos fazendo algumas afirmativas em relação aquilo que o indiv iduo que está à nossa frente deveria ser. Com relação às condições de trabalho oferecidas para as pessoas com deficiência nas empresas, obtivemos os relatos da Gerente e da Coordenadora do Projeto de Empregabilidade, que foram semelhantes entre ambas. Os dados informados revelam que nas empresas não há o conhecimento sobre as deficiências, por isso as ofertas e as condições de trabalho são precárias. Referentes aos cargos ocupados, na grande maioria, são de produção ou operacionais, em virtude da falta de qualificação profissional das pessoas com deficiência como citado anteriormente, porém o que de fato se percebe, é a falta de interesse das empresas em investir nessa necessidade, e isto nos remete refletir sobre os diversos preconceitos gerados pela sociedade ao longo de toda a história, onde o isolamento era considerado o “ideal” para essas pessoas. Sendo assim, qual seria o papel dessas empresas, que apresentam nos meios de comunicação sua “responsabilidade social?”. Nota-se que na verdade, o sistema de produção (setor empresarial) preocupa-se apenas pelo cumprimento da Lei de Cotas, e não em promover a tão divulgada “responsabilidade social” para as pessoas com deficiência. Trata-se então de uma estratégia capitalista, onde há o uso de uma falsa imagem (o social) para ocultar o que não deveria acontecer (a exclusão). Ressaltando as condições de trabalho para as pessoas com deficiência nessas empresas, em nenhum momento estes aspectos (acessibilidade, por exemplo) são considerados na hora da contratação. Segundo a Gerente do Projeto Empregabilidade (2013): [...] não dão de fato condições de trabalho a essas pessoas, o que inviabiliza o bom desenvolvimento desse profissional, não por ser pessoa com deficiência, mas por não serem dadas a ele condições de executar o trabalho para o qual foi supostamente contratado. Outra questão muito importante se refere ao preconceito dos empregadores, que muitas vezes não vêm o indivíduo com deficiência como capaz de realizar plenamente as atividades intrínsecas. Isto é, a maioria dos empregadores vê em primeiro plano a deficiência para depois ver o profissional, o que se configura um completo absurdo, pois a deficiência não é um obstáculo, mas um fator que faz com que a pessoa realize as coisas de forma alternativa às demais. Ainda assim existe preconceito, discriminação e desconfiança, pois existe a noção geral de que um trabalhador com deficiência terá um desempenho insatisfatório, o que não é verdade, já que, se ao deficiente forem oferecidas condições adequadas de trabalho, este profissional poderá desempenhar suas ativid ades com rendimento semelhante ou, até mesmo, com mais produtividade que um trabalhador sem deficiência. Por este motivo as empresas não querem contratar as pessoas com deficiência, pois consideram que as mesmas não possuem “produtividade” suficiente para exercer a 98 função que lhes compete na instituição contratante. Contudo sabemos que, de fato o que as PCD não possuem são instrumentos e condições de trabalho para ter a tal produtividade então esperadas por eles: Muitas empresas alegam que o motivo de não contratarem pessoas com deficiência é o fato de que, para estas empresas, estas pessoas tem um ritmo de produtividade menor, o que interferiria na produtividade geral da empresa. Esta é mais uma consideração preconceituosa, sem base cientifica e que parte do mito de que tais pessoas não realizam as tarefas no ritmo normal devido a sua deficiência. Provavelmente, isto pode até vir a acontecer, mas dentre os verdadeiros motivos para tal, um é, principalmente, o fato de que estas pessoas não receberam os equipamentos e condições adequados para realizar de forma plena a atividade para a qual foram contratadas. Também é válido lembrar que cada um tem seu ritmo para realizar suas atividades, tendo ou não uma deficiência. Isto nos faz concluir que, na verdade, somos todos diferentes e mesmo entre as pessoas ditas “normais” cada um tem seu tempo e sua maneira de realizar as suas funções. (Gerente do Projeto Empregabilidade 2013). A realidade, no tocante a inclusão do mercado de trabalho, podemos ressaltar que essas pessoas não têm o direito ao trabalho efetivado e muito menos a plano de carreira, com cargos de chefias, porque a sociedade compreende que para ser ter cargo superior na empresa é necessário uma pessoa considerada no “padrão” supostamente imposto pela a sociedade. Segundo a Gerente do Projeto Empregabilidade (2013). Não é comum ver pessoas com deficiência em cargos de chefia ou gerencia, por onde podemos presumir que, para que possam ocupar estes cargos, é necessário que as pessoas não possuam nenhuma deficiência, gerando mais um preconceito e afastando ainda mais as pessoas com deficiência de vagas para cargos de maior destaque e prestígio para ela dentro da empresa. Assim como na sociedade, há preconceito contra e marginalização do deficiente entre os fu ncionários das empresas, e estas também temem, no caso de promoção de um deficiente, que haja reação adversa de funcionários que ficarão subordinados a esta pessoa, insatisfeitos por terem que acatar ordens e aceitar a liderança de uma pessoa “diferente”. Nas contribuições da Gerente e da Coordenadora quanto as questões de acessibilidade foram citadas algumas ações significativas: [...] verifica-se a importância em discutir as instalações físicas dessas instituições, haja vista geralmente não serem adaptadas para receber um trabalhador com deficiência, isto é, quando no momento da execução do projeto, não foram observadas regras de acessibilidade nos edifícios como: rampas para cadeirantes, elevadores com inscrições em Braille e sistema de voz, banheiros ad aptados, etc., que são fundamentais para que uma pessoa cega, com baixa visão ou cadeirante possa ter acesso pleno ao seu local de trabalho. (Gerente 2013). Para compreender melhor a realidade no acesso ao mercado de trabalho analisamos algumas fases do Projeto Empregabilidade, inicialmente pela fase com as famílias. Segundo a Coordenadora do Projeto (2013) o objetivo é romper com o excesso de proteção, proporcionar informação e orientação aos familiares, e que a deficiência não é obstáculos para 99 ter acesso ao mercado de trabalho. Romper com a visão das famílias de que pessoas com deficiências serão exploradas ou maltratas ou deixar seus filhos ter acesso a outro ambiente não apenas na sua residência. A outra fase que identificamos como relevante, no sentido de melhor compreensão dessa realidade foi como as empresas necessitam das atividades de sensibilização. Conforme a Coordenadora do Projeto (2013): A questão da atividade de sensibilização é feita através de visita técnica, entrevista com os gestores, funcionários, verificação da acessibilidade na empresa. Após a obtenção de todas estas informações, feito o mapeamento das demandas, é montado um curso de capacitação utilizando-se como metodologia aulas expositivas e dinâmicas de grupo, feita posteriormente uma avaliação e acompanhamento. As ações de sensibilização estão relacionadas a uma estratégia que visa romper os preconceitos enfrentados na inclusão do mercado de trabalho, ao mesmo tempo abordar e divulgar conhecimentos específicos no que se referem às deficiências, as habilidades e competências que essas pessoas têm para o desenvolvimento das suas atividades ocupacionais. Paralelamente, também, esclarecer quais as estratégias e instrumentos necessários a fim de que possam assumir funções específicas (e adequadas) nas diferentes realidades de trabalho. O projeto, também, visa promover trabalhos de sensibilização com as famílias dos usuários, pois já está identificada que, a relação intrafamiliar é a primeira a apresentar resistência para permitir que seu membro passe a se relacionar com o meio exterior, repleto de diversidades, discriminações e preconceitos. A partir, das ações desenvolvidas pelo Projeto Empregabilidade, as pessoas com deficiência romperam com o paradigma de que elas não têm competência para ocuparem uma vaga de emprego ou sua participação na sociedade através do trabalho. Os que ainda acreditam que essas pessoas não têm condições para estar no mercado de trabalho, possivelmente, ainda defendem ações de assistencialismo, segundo a Coordenadora do Projeto Empregabilidade (2013), Eu entendo que as pessoas com deficiência estão sim rompendo paradigmas na medida em que se utilizam dos seus direitos para reivindicarem o seu espaço na sociedade, porém está tudo muito latente. Entendo que só recentemente as pessoas com deficiência já fartas de tantas arbitrariedades estão buscando o cumprimento de uma legislação que no momento em que declara toda uma proteção acaba excluindo essas pessoas da mesma forma. A Coordenadora do Projeto esclarece que a pessoa com deficiência está rompendo com paradigmas e que muitas empresas continuam promovendo ações de assistencialismo. 100 Sua posição acerca deste questionamento é positiva e consciente, quando informa que as pessoas com deficiências estão rompendo com obstáculos existentes em seu convívio social, no que diz respeito a conhecer e usufruir seus direitos como cidadãos, como seres humanos. Porém, ressalta que ainda há muito que ser feito, para que haja de fato o cumprimento e a operacionalização de todo o aparato constitucional, que aparentemente garante o acesso a políticas públicas, em todos os aspectos: saúde, educação, trabalho, moradia, cultura e lazer, entre outros. Contudo, também explica que nos últimos anos, a discussão sobre os direitos das pessoas com deficiência vem ganhando maior amplitude, colocado em pauta que todas elas precisam e deve usufruir iguais oportunidades, independente da deficiência e o grau de comprometimento que esta cause em sua vida. As ações de assistencialismo estão sendo rompidas, com a postura das pessoas com deficiência, em garantir seu acesso ao mercado de trabalho. Para que as empresas não continuem com essas ações, é necessário que as pessoas com deficiência tenham capacitação profissional e conheçam seus direitos. Na questão de direitos, observa-se que há o conhecimento acerca da Lei de Cotas e que o mesmo tem surtido efeitos, no sentido de ser utilizada pelas PCD, com vistas a sua efetivação, tendo como eixo norteador a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Neste contexto, as pessoas com deficiência têm um desafio a enfrentar: mostrar a sociedade suas habilidades e competências, para que recebam o devido valor e respeito, longe de qualquer manifestação de caridade e assistencialismo. Para lustrar a análise, apresentamos o mapeamento/levantamento realizado pelo IBGE sobre quantas pessoas com deficiência há Brasil. A soma seria cerca de 45,6 milhões. Comparando esta informação com a representação das pessoas com deficiência na inclusão no mercado de trabalho, nota-se que o grau de efetivação é irrisório, considerando a luta delas pelo direito de acesso ao mercado de trabalho. A Coordenadora do Projeto Empregabilidade (2013) relatou que um dos obstáculos impactantes para uma maior inclusão das pessoas co m deficiência no mercado de trabalho seria: O recebimento do Beneficio da Prestação Continuada – BPC [“...] a pessoa com deficiência inserida no mercado de trabalho teria o seu benefício imediatamente cancelado, o que atualmente não acontece”. Porém as maiores causas são o preconceito, ter acesso e ser mantido na escola, com ensino de qualidade; ter meios de qualificar-se profissionalmente; ter acesso adequado a bens e serviços; concorrer em igualdade de condições para um trabalho digno e produtivo. 101 Os desafios enfrentados no cotidiano pelas pessoas com deficiência, vão além de ações assistencialistas das empresas, pois a todo o momento emergem lutas e conflitos para garantir o acesso a educação, capacitação profissional, saúde, trabalho, cultura, esporte e lazer, entre outros. Quanto à questão do trabalho, compreendemos que a visão por parte do projeto, bem como de seus gestores, parte do pressuposto ontológico desta categoria, onde o homem se faz, se constrói através do trabalho, desenvolvendo capacidades e potencialidades inerentes à sua constituição como ser pensante. Também é colocado como base estruturante a Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma vez que “o reconhecimento da dignidade faz parte de todos os membros da humanidade, tornando os direitos iguais e inalienáveis, constituindo o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo e no oferecimento de possibilidades de desenvolvimento”. Neste sentido, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 23, I, estabelece que: “Toda pessoa, sem considerar a sua condição, tem direito ao trabalho, à livre escolha do mesmo, a condições equitativas e à proteção contra o desemprego.” Segundo a Coordenação do Projeto Empregabilidade (2013), isso nos remete a refletir, que todas as pessoas, inclusive a pessoa com deficiência, têm direito de exercer funções laborativas. Para que seja efetivado, far-se-á necessário promover condições iguais para todos, com vistas à igualdade de oportunidades, contribuindo para o desenvolvimento de suas habilidades. Para a coordenação do projeto, a inserção no mercado formal de trabalho é uma das principais formas de promover a inclusão social dessas pessoas. Tratando-se da questão da inclusão no mercado formal de trabalho, percebe-se que as empresas, na grande maioria, preocupam-se apenas em cumprir a Lei de Cotas para não receber sanções que comprometam sua lucratividade. E assim acabam por não investir com preparos de equipes para recebê- las no espaço institucional. A Coordenadora do Projeto (2013) enfatiza, que na realidade das empresas a inclusão deixa algumas indagações: No que se refere às pessoas com deficiência, apesar da política institucional do Ministério Público do Trabalho voltada para o cumprimento da reserva de cargos em empresas com cem ou mais empregados, revelam dados da RAIS 2010/MT que dos 44,1 milhões de vínculos ativos em 31 de dezembro, 306,0 mil foram pessoas com deficiência representando 0,7% do total de vínculos empregatícios (Fonte Ministério do Trabalho e Emprego-resultado 2010). Diante desses resultados, questiona-se o que acontece no mundo do trabalho para gerar tantos trabalhadores com deficiência, excluídos do mercado formal? 102 Também acentua, que a lei de cotas tem contribuído significativamente para a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, porém, ainda, um elevado nível daquela parcela se encontra excluído do mercado formal. As causas da exclusão baseiam-se no preconceito; falta de acesso à escola, bem como a um ensino de qualidade; ausência de oportunidades para a qualificação profissional; falta de acesso a bens e serviços, e por fim, oportunidade de “concorrer em igualdade de condições para um trabalho digno e produtivo”. Todavia, as condições de trabalho oferecidas pelas empresas, de acordo com os relatos da Coordenadora, há um índice alto de desconhecimento por parte das empresas, por não saberem de fato o que realmente essas pessoas precisam para trabalhar, de forma a atender suas necessidades psicomotoras. Deste modo, grande parte do processo de “inclusão”, são cargos operacionais de execução e produção, não havendo interesse por parte das empresas para investir em capacitação, promover readequação da instituição como um todo. Portanto, somente com conhecimento de ambos os lados propriamente dito e também, a reestruturação das empresas, e compreensão das variáveis limitações e direitos será possível a promoção de condições dignas, para que possam ingressar no mercado de trabalho 3.3.2 Análise: as contribuições das Assistentes Sociais do Projeto Empregabilidade A análise foi realizada com 06 profissionais. Cada qual será identificada pelo núcleo que representa. O objetivo da pesquisa de campo é compreender os limites e possibilidades que essas profissionais enfrentam para a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. A seguir, constam os dados coletados, apresentados por suas respectivas tabelas. Tabela 1 103 A deficiência que teve mais acesso no período de 2010 à 2012 Núcleo Deficiência Santa Catarina Intelectual Paraná Intelectual, Física São Paul o Auditiva * Rio Grande do Sul Física. Rio de Janeiro Intelectual. *Neste caso, a inclusão da pessoa com deficiência auditiva no mercado de trabalho ocorreu em v irtude da falência de u ma empresa que terceirizava funcionários para os Correios, pois todos foram indicados para a APABB do mes mo local. De acordo com os dados coletos e enviados pelas profissionais, sistematizados na tabela acima, verifica-se que a maior inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho seria das que possuíam deficiência intelectual. Esse acesso deve-se ao trabalho desenvolvido pela APABB, a partir do Projeto Empregabilidade, cujo o objetivo é viabilizar o acesso da pessoa com deficiência ao mercado de trabalho. A pesquisa de campo, conforme identificado no gráfico dois, mostra a seletividade da deficiência pelas empresas. Antes mesmo dos relatos da Coordenadora, pôde-se confirmar, por meio da pesquisa realizada com as Assistentes Sociais dos seis núcleos, esta seletividade, onde “as preferências” das empresas para a inclusão seriam as deficiências auditiva, visual e física. Conforme a pesquisa realizada sobre a realidade do Projeto Empregabilidade, percebe-se que é necessário romper com esse novo paradigma, enfrentado pelas pessoas com deficiência. As estratégias utilizadas pelo projeto são as ações de informações das especificidades da deficiência, com atividade de reuniões nos espaços das empresas. Com essas ações podemos identificar que os dados coletados por essas profissionais no cotidiano da APABB têm a função de efetivação de direitos. Esses resultados confirmam que as ações do Projeto Empregabilidade têm por objetivo romper com todos os tipos de obstáculos e preconceitos emergentes no cotidiano das pessoas com deficiência. Outra informação relatada pelo núcleo São Paulo nos mostra que, a deficiência com maior acesso ao mercado de trabalho no período de 2010 a 2012, foi a deficiência auditiva, devido a falência de uma determinada empresa. Podemos mais uma vez compreender que realmente existe a seletividade da deficiência, porque todos os funcionários com deficiência dessa empresa têm a deficiência auditiva. Esses funcionários foram 104 encaminhados pela empresa para a APABB. Segundo o relato da Assistente Social deste núcleo, esta não seria uma demanda comum em seu cotidiano profissional. Nesse sentido, a APABB desenvolve o seu trabalho para romper com esta seletividade, onde observa-se que a menor inclusão no mercado de trabalho seria da pessoa com deficiência intelectual. Tabela 2 A deficiência que tem menor possibilidade para entrar no mercado de trabalho Núcleo Santa Catari ana Deficiência Intelectual Paraná Múltiplas deficiências e Intelectual São Paul o Intelectual Rio Grande do Sul Intelectual Rio de Janeiro Intelectual Conforme as informações citadas na tabela acima nota-se que a deficiência intelectual seria a limitação com menor inclusão ao mercado de trabalho, em diferentes territórios. Compreendemos nesse sentido que, devido à deficiência intelectual possuir maior complexidade para compreensão acaba por demandar maiores investimentos por parte das empresas para que então possam receber de forma adequada este funcionário, porém como sabemos, uma grande maioria procura investir em outras deficiências, consideráveis mais “fáceis” para evitar gastos a mais e desnecessários, apenas porque precisam cumprir com a legislação vigente de “amparo” à pessoa com deficiência, evitando o pagamento de multas, caso não cumpram com a prerrogativa constitucional. Sendo assim, O corpo marcado pela deficiência, por ser disforme ou fora dos padrões, lembra a imperfeição humana. Co mo nossa sociedade cultua o corpo útil e aparentemente saudável, aqueles que portam u ma deficiência lembram a frag ilidade que se quer negar. [...] Não os aceitamos porque não queremos que eles sejam co mo nós, pois assim nos igualaríamos. É co mo se eles nos remetessem a uma situação de inferioridade. (DA SILVA, 2006, p. 5, apud RODRIGUES, 2007, p.5). Entendemos que o direito de acesso ao trabalho é universal, independente do tipo de deficiência que o cidadão venha a apresentar. Porém há de fato uma diferença: apenas de identificar a especificidade de cada limitação, tendo em vista promover ações que possam atender as expectativas do trabalhador, enquanto um ser complexo, sem fragmentá- lo. 105 Tabela 3 Qual a escolari dade das pessoas com deficiências que são inseridas no mercado de trabalho? Núcleo Escolari dade Santa Catarina Ensino Fundamental Incomp leto Tabela 4 Quais funções e/ou cargos ocupados pel as pessoas com deficiência nas empresas? Núcleo Carg os Santa Catarina Escola Especial Ensino Fundamental co mp leto e Paraná incomp leto São Paul o Paraná São Paul o Ensino Fundamental co mp leto Ensino superior, Educação Rio Grande Sul Rio de Janeiro Rio Grande do Sul Especial. Em processo de alfabetização em escolas especiais Rio de Janeiro Supermercado Empacotadores Estagiários Atendente Serviços gerais e áreas administrativas Auxiliares, vendedores, embaladores, secretaria, recepcionista Atendimento em lo ja e auxiliando em variadas funções As informações relatadas pelas profissionais afirmam o que estamos pesquisando teoricamente, onde as pessoas com deficiência quando incluídas no mercado de trabalho tem apenas a possibilidade dos cargos operacionais, conforme a tabela 4. Deste modo, com base nos dados analisados, compreendemos que a sociedade ainda não compreende o que é inclusão e como as pessoas com deficiência tem habilidade, competência e conhecimento para desenvolver diversas atividades. Para fundamentar esses dados coletados nos diferentes territórios no Brasil, iremos destacar uma pesquisa realizada pela Secretaria Municipal do Trabalho e Empreendedorismo da cidade de São Paulo em 2013, com informações do CAT (Centro de Apoio ao Trabalhador). A análise em questão seria de forma compa rativa entre os dados da pesquisa de campo da APABB com a pesquisa do CAT dos cargos com vagas disponíveis. Utilizamos esses dados da cidade de São Paulo porque obtivemos os dados desse território. Neste caso destacamos a questão dos cargos operacionais o ferecidos, bem como e a escolaridade que são exigidos no CAT para a possibilidade de exercer essas vagas, ressaltando que as vagas não foram identificadas para pessoas com deficiência. Então os cargos descritos na pesquisa CAT foram 10 funções, sendo que serão analisados apenas 05 que são os mesmos citados pelas profissionais da APABB. Observa-se que as vagas sempre disponíveis no CAT são: cargos de atendente de lanchonete em primeiro lugar, com 628 vagas; operador de telemarketing com 490 vagas; auxiliar de limpeza com 450 vagas, operador de supermercado com 251 vagas e operador de caixa com 202 vagas, onde é exigido experiência para ocupar o cargo oferecido. 106 Enfatizamos essas informações porque são os mesmos cargos informados pelas profissionais do Projeto Empregabilidade em relação as vagas que as pessoas com deficiência tem mais acesso. Assim podemos fazer uma comparação com a pesquisa da Secretaria Municipal de São Paulo, que são vagas sempre disponíveis. Neste sentido, percebemos que as vagas estão sempre disponíveis devido a necessidade das empresas em preencher estes cargos, uma vez que há uma baixa procura por essas funções, então as mesmas são “disponibilizadas” para as pessoas com deficiência. Todavia sabemos que, esses espaços de ocupação não têm condições adequadas e suficientes para as pessoas com deficiência. Vale ressaltar que foi relatada pelas profissionais esta falta de equiparação nos espaços ora citados. Essa análise pôde afirmar uma das hipóteses dessa realidade: que as empresas não estão preocupadas na “responsabilidade social” ou na inclusão social das pessoas com deficiências, a única preocupação de fato é suprir as suas necessidades para que não tenham resultados negativos em sua produção. Com relação à escolaridade, conforme a tabela três, as pessoas com deficiência têm a formação do ensino fundamental incompleto e completo, em comparação com a pesquisa da Secretaria Municipal de São Paulo em 2013, referente aos cargos operaciona is, onde é solicitado este nível de formação, e também o ensino médio completo, o que afirma o motivo pelo qual os cargos operacionais são ofertados para as pessoas com deficiência, em virtude da falta de escolaridade superior e qualificação profissional. O único núcleo que informou que as pessoas com deficiência têm ensino superior foi o núcleo Rio Grande do Norte, pois neste espaço há o Centro de Conivências que desenvolve atividades educacionais com técnicas especificas para as necessidades das pessoas com deficiência, tendo em vista viabilizar a conclusão dos seus estudos. Essas ações são proporcionadas pela APABB em parceria do governo Municipal, como citado anteriormente. Ainda em comparação com as duas pesquisas da APABB e do CAT, o cargo operacional não necessita de experiência anterior, sendo muitas vezes as condições dos profissionais com deficiência. Contudo nota-se também que, a partir da pesquisa, as pessoas identificadas como “normais”, estão cada vez mais se qualificando profissionalmente e não querem ocupar essas vagas operacionais que ficam disponíveis para quem não tem qualificação profissional, sendo uma das dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência, conforme mencionamos no Gráfico 1, por este motivo as empresas passam a requisitar as atividades das profissionais da APABB, em virtude da falta de qualificação das pessoas com deficiência. 107 Destacamos também que entre as atividades do Projeto Empregabilidade, constam as ações de capacitação e qualificação profissional das pessoas com deficiência para que assim possam romper com esses resultados de cargos operacionais, onde o intuito é efetivar a igualdade de acesso à outros cargos. Tabela 5 Qual a i dade das pessoas com deficiência que são inseridas no mercado de trabalho? Núcleos Idade Santa Catarina Entre: 18 a40 anos. Paraná Entre 20 e 53 anos São Paul o Entre 20 a 30 anos. Rio Grande do Sul Entre 25 e 35 anos Rio de Janeiro Entre 20 a 30 anos Nos dados sistematizados na referida tabela, por meio dos questionários apresentados pelas Assistentes Sociais dos núcleos, em relação ao quesito idade, percebe-se que em grande parte das unidades, a faixa etária das pessoas com deficiência incluídas no mercado de trabalho seria entre 20 e 30 anos, tendo uma variante de 40 à 50 anos. Obtivemos também os dados coletados do instrumental utilizado pelo Projeto Empregabilidade desenvolvido pela APABB, chamado RAM (Relatório Mensal de Atividades), já citado anteriormente nesta pesquisa, que as pessoas com deficiências que procuram os projetos da APABB foram à idade de 23 a 54, referente ao de 2010, os outros anos não citado no instrumental. Neste sentido, cabe ressaltar e refletir sobre o “modelo” de faixa etária mais comum encontrado no atual mercado de trabalho. Diante os dados obtidos e também partindo do pressuposto da compreensão do processo histórico de nossa sociedade e suas relações sociais, entendemos que o sistema capitalista de produção privilegia com maior ênfase a faixa etária de pessoas mais jovens, com menos de 55 anos, pois tem-se a ideologia (“oculta”) que há maior produtividade nesta fase da vida. Sabemos que o trabalho e seu exercício são direito sociais de todo o cidadão, com citado na Constituição Federal de 1988, em seu art.6º, porém nem sempre há a efetividade destes princípios em nossa sociedade, tendo em vista o sistema que a rege. Mas sabemos também sobre a existência de atores sociais que lutam para que haja a desconstrução deste processo, através das ações que visem à inclusão digna das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. 108 Para ilustrar este aspecto, segundo o Relatório Mundial sobre as pessoas com deficiência (2011, p. 11): [...] Um estudo recente da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) demonstrou que em 27 países as pessoas com deficiência em idade de trabalho experimentavam desvantagens significat ivas no mercado de trabalho e piores resultados nessa área do que as pessoas em idade de trabalho se m deficiência. Na média, suas taxas de emprego, em 44%, eram pouco mais da metade daquelas das pessoas sem deficiência 75%. A taxa de inativ idade estava aproximadamente 2,5 vezes maior entre as pessoas sem deficiência (49% e 20% respectivamente). Assim como explica Rodrigues, Os-não portadores de deficiência ignoram que, co m o passar da idade, os seres humanos, eles inclusive, terão as suas funções reduzidas afinal. A degenerescência dos órgãos e a velhice formam o destino de todos nós. Ademais, ninguém está livre de, a qualquer mo mento, passar a ter uma limitação de ordem física, sensorial ou mental. No fundo, todos os seres vivos terão de conviver com algum t ipo de deficiência ao longo de suas vidas. (PASTORE, 2000, p. 20, apud, RODRIGUES,2007, p.5). Mas a realidade das pessoas com deficiência para inclusão no mercado de trabalho referente à idade está se comparando as pessoas sem deficiência, porque o sistema capitalista, a cada momento exclui mais pessoas do processo de produção, pois a cada dia as atividades são fragmentadas e executadas por máquinas, onde nessa conjuntura não se requer a utilização da força de trabalho humana. Tabela 6 As condições de trabalho ofereci das para as pessoas com deficiências nas empresas Núcleo Santa Catarina Paraná Condições de trabalho ofereci das. As mesmas condições de trabalho de pessoas que não tem deficiência. Mas com atenção especial. As condições estão de acordo com o cargo ocupado, porém em havendo discordância os ajustes são feitos após conversa com os encarregados diretos. São Paul o Percebemos que as empresas têm procurado se adequar às normas estabelecidas, mas ainda não existe um acompanhamento constante e próximo de todos os locais para este público que é recebido. Rio Grande do Sul Inicialmente observo que muitas empresas não estão preparadas para receber PCD pois vai mu ito além das barreiras arquitetônicas, perpassa na barreira atitudinal, mu itos cargos oferecidos não são compatíveis para as PCD. Rio de Janeiro Carga horária de 6h diárias e todos os benefícios, tais como vale transporte, alimentação, plano de saúde e carteira assinada. 109 Com base nos dados citados acima, percebemos que o Projeto Empregabilidade tem desenvolvido um trabalho efetivo no que diz respeito a viabilizar a inclusão das pessoas com deficiências nas empresas, de forma a usufruírem dos mesmos direitos de um trabalhador sem deficiência. Também nota-se que as empresas (na sua maioria) têm demonstrado interesse em se adequarem para receberem este usuário. O Projeto possui várias ações sistematizadas para o desenvolvimento de seu trabalho, como o acompanhamento da contratação do usuário, porém nem todas as empresas aderiram a esse processo, como mostra o núcleo de São Paulo. Bem como no acompanhamento de seu desenvolvimento dentro das instituições solicitantes e solicitadas e também com relação ao interesse das empresas em se adequarem para receberem este público. No núcleo Santa Catarina, temos a informação que no cotidiano das pessoas com deficiência não são realizadas adaptações para suprir suas necessidades. Com isto percebe-se que as mesmas estão em espaço ocupacional para desenvolver suas atividades com competência e qualidade, sem esperar por não atitudes de proteção de equipe e gestão, pois não estão à procura de assistencialismo e sim da garantia de seu direito de exercer a atividade laborativa, conforme os princípios da Lei de Cotas. De um modo geral, sem deixar de refletir sobre os pontos menos positivos, apontados por alguns núcleos, nota-se que os resultados aqui obtidos são satisfatórios, pelo comportamento da sociedade contemporânea referente à deficiência e a sua garantia de direito, que é um processo longo para sua efetivação e para condições de trabalho com igualdade. Tabela 7 As dificul dades encontradas pelas pessoas com deficiência antes, durante e depois da conquista no mercado de trabal ho Núcleo Dificul dades Santa Catarina Paraná São Paul o Rio Grande do Sul Rio de Janeiro Horários, carga horária e a loco moção (acessibilidade atitudinal) As dificuldades são em todo o processo para alcançarmos uma vaga que seja adequada e de qualidade, em que possa haver acompanhamento do usuário por parte do local. Pós conquista do espaço é a recepção e aceitação dos demais funcionários de entender que há limitações, mas que se é possível trabalhar igualmente co m o novo empregado As mesmas dificuldades são encontradas seja antes, durante ou depois; uma delas falta de qualificação profissional, fazendo co m que ele tenha dificuldade de encontrar e permanecer no mercado de trabalho; o preconceito ainda é mu ito presente aí norteamos as barreiras tanto físicas como at itudinais, os cargos oferecidos muitas vezes não compatíveis co m as suas limitações Dificu ldade com a rotina d iária de aula e trabalho 110 As informações enviadas pelos núcleos revelam que as dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência em sua inclusão no mercado de trabalho surgem inicialmente na procura da vaga que seja direcionada para “deficientes”. O segundo impasse seria a questão dos procedimentos para adaptação com o ambiente da empresa e com a equipe, em seguida a dificuldade observada seria o preconceito que emerge por parte dos profissionais da empresa. Também vale ressaltar que as vagas oferecidas, já abordadas, tornam-se também uma dificuldade para a inclusão da pessoa com deficiência no mercado, durante todo o seu processo, conforme mostra a tabela 4. Contudo sabemos que essas relações de impasses e dificuldades possuem raízes históricas, uma vez que por longos períodos houve o isolamento dessas pessoas, principalmente no que se refere a sua inclusão no mercado de trabalho e na escola, juntamente com aqueles considerados “saudáveis”. Por este motivo surge o preconceito, citado anteriormente, uma vez que a sociedade não teve possibilidade de conviver o bastante com as pessoas com deficiência, remetendo- lhes a ideia de que tudo é estranho e diferente do que até então seria considerado padrão, adequado para o seu estilo de vida. A dificuldade na questão da acessibilidade também é um dos obstáculos no cotidiano da pessoa com deficiência, uma vez que contribui para o surgimento de barreiras físicas, sendo estas identificadas pelas empresas como custos elevados de investimentos, comprometedores de sua lucratividade. Então surge uma indagação: Qual seria o objetivo dos empresários em se preocupar com a acessibilidade se, na verdade, precisam apenas cumpr ir a Lei de Cotas? Porém, a acessibilidade é um direito das pessoas com deficiência. Segundo a Convenção dos direitos das pessoas com deficiência ( artigo 9, inciso 1. p. 11): A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de fo rma independente e participar p lenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as med idas apropriadas para assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona urbana como na rural. Essas medidas, que incluirão a identificação e a eliminação de obstáculos e barreiras à acessibilidade, serão aplicadas, entre outros. Diante a essas dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência, o Projeto Empregabilidade nas ações de sensibilização e reunião conforme o gráfico 1, visa diminuir as atitudes de preconceito dos outros funcionários, influenciando também que as empresas 111 desenvolvam adaptações de acessibilidade e divulgação de informações sobre o significado e a especificidade de cada deficiência para o seu quadro geral de trabalhadores. Para que as pessoas com deficiência sejam contratas em vagas que proporcionam a igualdade nas suas atividades laborativas, é necessário que o departamento de recursos humanos seja informado das necessidades e especificidade das deficiências, para compreender como divulgar uma vaga e no momento da seleção para esse público, proporcionando as pessoas com deficiência o acesso ao mercado de trabalho com a possibilidade de escolha. Conforme Hipólito (2012): Os critérios de perfil que levem em consideração raça, gênero, idade, condição física, orientação sexual entre outros itens são discriminatórios e não devem ser utilizados. Contratamos pessoas por suas competências e habilidades e não por suas características. A empresa tem um objetivo a alcançar e só poderá realizá-lo a partir do conhecimento de seus profissionais. A demanda de contratação de profissionais com deficiência requer que as empresas flexibilizem suas exigências e invistam em programas de treinamento para ajustar as necessidades da função com o conhecimento do profissional. Quando o segmento empresarial adquirir a compreensão e o conhecimento adequado sobre o que é a inclusão social, será possível promover atitudes de flexibilidade para romper com as dificuldades da falta de qualificação profissional das pessoas com deficiência, contribuindo assim para a efetivação dos princípios de igualdade e justiça social. Tabela 8 As pessoas com deficiência, que foram acompanhadas pel o projeto, continuam no mesmo local de trabalho? Caso não continuem, quais foram os moti vos? Núcleo Continuam no mes mo trabalho O moti vo que não continuaram Dificu ldade de acesso á localização Santa Catarina A maioria continua Dificu ldade de relacionamento co m os colegas. São Paul o Rio de Janeiro 90% dos usuários encaminhados continuam no mesmo local Atualmente temos dificu ldade com u ma usuária no encaminhamento, mas não pela empresa. E sim pelo entendimento de prioridades de sua rotina. Continuam o mesmo local De acordo com o grupo Trigo, "nas entrelinhas" o desligamentos dos PCDs se deu por não performace. E não houve substituição desses PCDs desligados. Neste aspecto, percebe-se que em boa parte dos núcleos, os usuários incluídos nas empresas através do projeto permanecem no mesmo local de trabalho. Porém também nota-se 112 que entre a inclusão e a permanência, surgem elementos que “contribuem” para que alguns candidatos deixem seus cargos, como por exemplo, a falta de relacionamento interpessoal, que seria o aspecto de maior relevância observado, também tem a questão de adaptação do próprio candidato encaminhado com a rotina de trabalho oferecida. Segundo Amiralian (1997), não se deve considerar a deficiência como a causa de perturbações psíquicas, mas sim como uma condição que dificulta as relações com o ambiente. Relata, ainda, que embora apresentem peculiaridades relacionadas à sua condição orgânica, as necessidades das pessoas com deficiência são as mesmas vivenciadas por todas as pessoas. Querer tornar o indivíduo com deficiência o mais parecido possível com aquele que não a possui não significa não aceitá-lo como ele é?; Treiná-lo não significa que não acredito em sua capacidade de aprendizagem?; Modificá-lo não significa que, como ele é eu o considero inferior e incapaz de viver em sociedade?; Como, então, educar ou reabilitar as pessoas com deficiência?(AMIRALIAN, 2005, p. 64). 3.3.4 Análise: as contribuições dos usuários do Projeto Empregabilidade. Com os usuários do Projeto Empregabilidade, a pesquisa de campo foi realizada por meio de questionário direcionado aos mesmos, através da colaboração das Assistentes Sociais dos núcleos a serem citados, contribuindo para a construção da análise da realidade pesquisada. Tivemos o retorno de três Núcleos: Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro, sendo que dois usuários responderam, através do Núcleo do Rio de Janeiro as respostas foram de alguns usuários, porém não houve a identificação de quantos responderam. Iremos identificar os usuários pelos Núcleos em que tiveram acesso. Núcleo Paraná Santa Catarina Rio de Janeiro Tabela 9 Qual o Significado do Trabalho? A sua autonomia e empoderamento. Ganhar o salário e conhecer novas pessoas e fazer amigos. De acordo com os PCDs eles trabalham por que seus pais dizem que é importante para eles. estão fazendo atividades, ganham dinheiro, podem viajar, u m deles disse que vai comprar u m apartamento e morar sozinho Na apresentação dos dados podemos identificar de que forma os usuários são recebidos nas empresas e quais as possibilidades e limites que enfrentam em seu cotidiano, 113 tendo como elementos norteadores para a análise, entender qual seria o significado do trabalho e a influência da APABB na vida de cada um. Aquele que fica separado dos demais, isolado, privado de sua capacidade de agir, está socialmente morto. É precisamente em razão disso que o respeito à diversidade e a prática de cooperação e solidariedade devem ser os sólidos pilares da edificação de uma ordem social que prioriza a construção do outro como sujeito e cidadão (MAZZOTTA, 2007). Percebe-se que, a partir da atividade laborativa, os usuários adquirem “autonomia” e empoderamento, para que consigam ultrapassar obstáculos que sua limitação psicomotora lhes impõe todos os dias, tendo desta forma bases para o seu fortalecimento enquanto ser humano, cidadão de direitos. Outro ponto importante que merece ressalva seria o emergir de expectativas e percepções para o futuro, uma vez que isto não ocorria antes de sua inclusão no projeto. Também vale destacar que, por meio de sua inclusão nas empresas, as pessoas com deficiências têm a oportunidade de conhecerem novas pessoas e assim criarem relações de amizade e cooperação, contribuindo assim para a sua permanência na instituição. Fator este que muitas vezes, de acordo com relatos já mencionados nesta pesquisa, possui maior importância do que a questão salarial em nível elevado para eles. Núcleo Paraná Santa Catarina Rio de Janeiro Tabela 10 Como você foi recebi do pela equi pe da empresa? Fui bem recebido a principio, as dificuldades começam a aparecer com o passar dos dias. Com a convivência é que se conhecem as pessoas. Fui mu ito bem recebido. Cheguei à empresa era bem t ímido e depois de algum tempo conseguir me soltar e fazer novos amigos. Os PCDs dizem que muito bem. Mas avalia que houve certa resistência por parte das equipes, mesmo tendo acontecido sensibilização nas lojas, antes do início do projeto. Pois o novo sempre causa um desconforto. Neste momento constata-se que, em boa parte dos questionários, os usuários relatam que tiverem boa recepção na empresa empregadora, bem como de sua equipe, porém identificam alguns pontos negativos, como a resistência de diálogo e relação com alguns integrantes, “pois o novo sempre causa certo desconforto”, conforme relato dos próprios usuários. Mas uma vez na pesquisa de campo confirmamos que pelo motivo do período longo que essas pessoas ficaram isoladas da sociedade, temos reações como citadas pelos sujeitos de 114 pesquisa de estranhamento, total falta de convivência com elas. Por isso é importante a todo o momento garantimos o espaços das pessoas com deficiência na sociedade, para diminuímos essas reações. Núcleo Tabela 11 Quais foram as suas dificul dades nas ati vi dades e com as pessoas da empresa? Paraná A sensação de que não somos capazes de desenvolver as atividades designadas, temos que a todo o mo mento estar provando isto, quanto às pessoas nem todas tem u m entendimento da pessoa com deficiência. (da causa). Acho que é falta de convivência mes mo. Santa Catarina A principal dificu ldade foi na ativ idade realizada quando os clientes levavam as compras, pois era necessário escrever os itens que foram levados em u ma listagem. Rio de Janeiro Quando perguntado aos PCDs eles disseram que acham que eles morcegam para fazer as tarefas. A partir destes dados, compreendemos que, os usuários em sua rotina de trabalho encontram dificuldades para executarem suas tarefas, uma vez que estão imersos à um sistema de produção constante e alienador (sistema capitalista), onde a relevância está no p roduto final e seu lucro, e não como se dá todo o processo de produção, desenvolvido tanto pelo uso da força física, quanto pelo uso da força intelectual. Ressaltando os dados enviados pelo núcleo Santa Catarina, o relato do usuário que teve dificuldade na hora de descrever os itens dos clientes, nos demonstram que o cotidiano, os enfrentamentos são devidos à falta de escolaridade, e pelo isolamento com a sociedade, mais principalmente por causa dos locais de educação, que não aceitavam pessoas com deficiências. Por isso, no momento de realizar uma tarefa que para nós é simples, para eles torna-se constrangedora, porque não estão preparados para determinadas atividades. Porém, todas essas informações referentes a esse novo funcionário deveriam ser verificado no processo de seleção para realização do trabalho de qualificação profissional para evitar esse tipo de constrangimento. Neste sentido, a APABB promove ações de estratégias para “minimizar” os reflexos das contradições capita-trabalho desse sistema. Tais estratégias constam ilustradas no gráfico 1, anteriormente apresentado. 115 Tabela 12 Núcleo O que APABB influenci ou na sua vi da através do projeto empregabili dade? Paraná Sempre que preciso da APABB ela esta presente, encaminhou meu currícu lo para as empresas me aco mpanhou na entrevista, até já fo i na empresa fazer u ma fala sobre inclusão o que foi bem legal, pois a partir daí estou sendo mais respeitado. Santa Catarina Rio de Janeiro Mudou tudo em minha vida. Deu a oportunidade de inserção no mercado de trabalho e com isso o amadurecimento ao longo do projeto. Quando foi a pergunta eles responderam que: ajudou a conseguir o trabalhar, esta sempre aco mpanhando, que sente falta quando a Michele e Jéssica não vão à loja, pode ligar para pedir ajudam, elas ouvem agentes. É amiga. Como o objetivo do Projeto Empregabilidade, bem como da APABB é viabilizar o acesso e inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, partimos do pressuposto que, as ações sistematizadas para este fim têm surtido efeitos, através dos dados quant itativos, ou seja, pelo número de pessoas incluídas e também pelos dados qualitativos, no que diz respeito aos relatos registrados que mostram um bom relacionamento entre o usuário e a instituição responsável pelo projeto. Percebe-se que nesse processo de inclusão através do projeto, os usuários puderam modificar suas vidas, uma vez que o seu envolvimento com a APABB não se figurou como assistencialismo, mas sim na proteção da garantia de direitos. Porém ainda temos relatos dos usuários de uma proteção no sentido de acolhimento, que inicialmente é necessário, mas durante esse processo as ações precisam fortalecer suas potencialidades, contribuindo para que possam ocupar com dignidade seus espaços enquanto cidadãs e cidadãos. 3.3.5 Análise: as contribuições da Supervisora Administrativa e Estagiário do Serviço Social A pesquisa de campo realizada no Núcleo da cidade de São Paulo, teve por objetivo compreender como os funcionários, que têm ações indiretamente no Projeto Empregabilidade da APABB, a inclusão mercado de trabalho. Qual o entendimento deles quanto à garantia de direitos desse segmento. Fizemos a escolha desse núcleo, pela possibilidade de acesso com os sujeitos de pesquisa. Os sujeitos de pesquisas foram uma Supervisora Administrativa e um estagiário de Serviço Social. Elaboramos quatro perguntas (vide apêndice) para compreendemos essa realidade e identificarmos os sujeitos da pesquisa pelos cargos ocupados na Associação. 116 Ao analisamos as respostas dos “profissionais”, apuramos que eles têm conhecimento das dificuldades no cotidiano da inclusão no mercado de trabalho, pelo motivo de falta de conhecimento das deficiências por “funcionários das empresas”, principalmente os funcionários do departamento de Recursos Humanos, que reflete no acesso para mercado de trabalho. Os “profissionais” da APABB identificaram, também, que a expressão de preconceito é por falta de conhecimento e de convivência. Os funcionários das empresas tem o falso entendimento, de que as pessoas com deficiência não têm habilidad e e competência para atividade laborativa. Conforme Goffman (1988 p. 12): Tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de descrédito é mu ito grande – algumas vezes ele também é considerado um defeito, u ma fraqueza, uma desvantagem [...] que nos leva a reclassificar u m individuo antes situado numa categoria socialmente prevista, colocando o numa categoria diferente, mas igualmente prevista a nossa avaliação. Observe-se, também, que nem todos os atributos indesejáveis estão em questão, mas somente os que são incongruentes com o estereótipo que criamos para um determinado tipo de indiv iduo. Entretanto, os “profissionais” da APABB destacam também outra dificuldade, por parte das pessoas com deficiência, no que diz respeito à falta de qualificação profissional. Muitas vezes essas dificuldades se manifestam em virtude da falta de escolas de qualidade, que tenham o conhecimento e técnicas adequadas para a aprendizagem desse público, como pro exemplo a utilização de tecnologia assitivas. De acordo com o conhecimento dos “profissionais”, referente à Lei de Cotas, foi enfatizado que a lei é uma conquista, porém falta o principal, a efetivação. Nesta perspectiva, perguntamos para os “profissionais”, quais as ações que a APABB utiliza para que as pessoas com deficiência tenham o acesso ao mercado de trabalho. Assim foram citadas a parcerias com instituições para qualificação profissional. Podemos compreender que essa iniciativa do núcleo ocorreu devido aos indicadores da dificuldade desse público em ter acesso ao mercado de trabalho, por falta da qualificação profissional “exigida”. Na questão do trabalho que a APABB realiza para as pessoas com deficiência, os “profissionais” entendem que a APABB proporciona para esse público qualidade de vida, bem como o bem estar de sua família. Nesta perspectiva, a nossa indagação em compreender se os profissionais atuantes indiretamente no Projeto Empregabilidade possuíam a compree nsão da garantia de direito e da inclusão das pessoas com deficiência foi respondida. As informações repassadas mostram que os profissionais têm o compromisso com a inclusão social dessas pessoas, pois identificam as dificuldades do lado das empresas e das pessoas com deficiência, sendo 117 planejadas estratégias que possam romper com estes obstáculos.. Mas referente ao conhecimento sobre a garantia de direito, os “profissionais” compreendem que a Lei de Cotas é instrumento para efetivar o acesso das pessoas co m deficiência, mas que muitas vezes essa inclusão não é cumprida. Nos relatos dos “profissionais” da APABB, foi identificado a falta de acessibilidade no espaço de trabalho, de acompanhamento para os funcionários com deficiência nas empresas e a falta de conhecimento do departamento de Recursos Humanos referente à inclusão das pessoas com deficiência. A participação dos profissionais dos Recursos Humanos, na inclusão das pessoas com deficiência com a equipe, se faz necessária para desconstruir barreiras de preconceitos existentes entre os outros funcionários. Nesta perspectiva, Oliveira (2013), destaca qual seria o papel do Recursos Humanos na inclusão das pessoas com deficiência: A Lei de Cotas (8213/1991), que impõe a obrigatoriedade às empresas com mais de 100 emp regados de terem de dois a cinco por cento de pessoas com deficiência no quadro de funcionários, conforme o nú mero total de colaboradores. O RH deve evitar que a contratação seja apenas um mero cumprimento da Lei de Cotas, deixando o profissional excluído ou sendo tratado com desigualdade. O ideal seria que essa prática se tornasse tão constante, para que no futuro não fosse necessária uma lei para gerar a inclusão, e sim que seja realizada co m espontaneidade a integração de pessoas com deficiênc ia no mercado de trabalho. O papel do RH é auxiliar a instituição a adotar a filosofia da inclusão social. Fica responsável pela med iação entre a organização, a equipe e o novo colaborador, e age como facilitador na construção de vínculos, auxiliando na co mpreensão sobre as diferenças e na convivência mútua. A área de Recursos Humanos, dessa forma, humaniza e sensibiliza o grupo para o acolhimento das pessoas com deficiência, para serem vistos como seres humanos, com limitações e habilidades, assim co mo qualquer indivíduo. Fica, ainda, atenta para diminuir as divergências entre a teoria e a prática, co m o objetivo de evitar situações conflitantes e práticas discriminatórias. Portanto, a pesquisa realizada com os “profissionais” que trabalham indiretamente com o projeto Empregabilidade, ressaltou a falta de eficiência do departamento do Recursos Humanos em proporcionar um acompanhamento para as pessoas com deficiência para que então tenham a oportunidade de exercerem em seu ambiente de trabalho suas atividades laborativas com qualidade e com igualdade. Assim sendo, tanto os profissionais que trabalham diretamente ou indiretamente com o projeto tem a mesma compreensão de que há uma expressiva falta de conhecimento sobre a deficiência por parte do RH. Por esta falta de informação dos profissionais dos Recursos Humanos, identificamos na pesquisa de campo que várias situações poderiam ser evitadas se eles tivessem o conhecimento referente à especificidade das deficiências, quais os limites para essas pessoas realizem as tarefas e principalmente qual seria a qualificação profissional mais propícia para as mesmas. 118 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo apresentado pôde nos proporcionar o aprofundamento de nossos conhecimentos sobre a atual conjuntura em que nos encontramos, estruturada por todo um processo histórico, tanto pela reestruturação do sistema capitalista quanto pelas mudanças emergentes ocorridas na vida das pessoas, principalmente para as pessoas com deficiência. Nesse sentido foi possível compreender a história das pessoas com deficiência desde o momento em que a sociedade compreendia que estas deveriam ser isoladas porque estariam “possuídas por demônios” até o período em que foram conquistando seus direitos, conforme mostra a pesquisa apresentada na seção dois. Os resultados da pesquisa revelaram como se dá a realidade do cotidiano das PCD participantes do Projeto Empregabilidade, bem como a importância que o projeto possui para suas vidas e famílias. De acordo com o grau de relevância, foram escolhidos para a análise, dados coletados dos anos de 2010, 2011 e 2012, no que diz respeito ao número de pessoas com deficiência que foram incluídas no mercado formal de trabalho por meio de iniciativas promovidas pelo projeto referido em 14 núcleos no Brasil. O Projeto Empregabilidade possui eficiência em relação a viabilizar a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, por meio de ações voltadas para capacitação profissional, acompanhamento familiar, sensibilização entre outros, tendo como base estrutural a Lei de Cotas que, nos termos constitucionais garantem que as empresas recebam este usuário em sua organização institucional. Esta análise baseia-se pelos dados citados no gráfico um. Na análise sobre o custo do Projeto Empregabilidade, percebe-se que os gastos são menores devido às ações realizadas serem compartilhadas com as empresas, no que diz respeito aos recursos utilizados nas atividades do projeto como: recursos humanos, financeiros e materiais, sendo divididos entre as empresas e a APABB, ressaltando que em alguns casos a despesas do projeto para APABB, são apenas dos recursos humanos. O Projeto Empregabilidade foi criado a pedido das empresas para que pudessem procurar pessoas com deficiência, em virtude do cumprimento da Lei de Cotas. A outra demanda apresentada pela empresa é a questão da necessidade de se promover o conhecimento referente à especificidade da deficiência, bem como de que maneira os funcionários das empresas devem se relacionar com o funcionário com deficiência. Portanto, os benefícios são maiores do que os custos, conferindo ao projeto o status de eficiência. 119 O indicador utilizado para a análise da pesquisa seria “Quantas pessoas com deficiência foram incluídas no mercado de trabalho através do Projeto Empregabilidade de 2010 a 2012?”. Com referência a esse indicador no ano de 2010 tivemos 20% da demanda da Associação de inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, porém no ano de 2011% tivemos aumento significativo de 25%; mas no ano de 2012 o aumento foi de 75%. O Projeto foi eficaz porque tinha o objetivo de em três anos atingir a meta de 70% da inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. O Projeto Empregabilidade teve o aumento de 75% da inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, sendo este resultado consequência de algumas modificações necessárias no processo da inclusão das pessoas com deficiência entre o período de 2011 e 2012, para assim alcançar o objetivo de 70% da inclusão das pessoas com deficiência em três anos, conforme mostra o gráfico um. Ainda em relação ao Projeto Empregabilidade, no decorrer da pesquisa também tivemos o resultado de compreender as fases do projeto e o que cada uma proporcionou no cotidiano das PCD. Na primeira fase titulada como família, o propósito do trabalho desenvolvido seria fortalecer as competências e habilidades das PCD, tendo em vista romper com o excesso de proteção dos familiares. Em seguida, as fases são divididas em ações de informações de suas necessidades e sua qualificação profissional, onde o momento seria para compreender a especificidade de cada profissional para direcioná- lo a fase correta do projeto, podendo ser de qualificação profissional ou de inclusão no mercado de trabalho. Essas fases são fundamentais na vida das PCD, pois muitas vezes ao chegar nas empresas, são recebidas pela equipe em um ambiente de super-proteção ou mesmo de assistencialismo. Contudo, identificamos na pesquisa sobre as fases do projeto que, as PCD rompem com estes impasses de proteção e assistencialismo porque possuem o conhecimento dos seus direitos e deveres no espaço de trabalho, através do projeto. E desta forma contribuem para uma nova visão sobre as pessoas com deficiência no mercado de trabalho, mesmo que estas ações sejam pequenas ainda. Na pesquisa também foi analisado qual o público que procura pelos projetos desenvolvidos pela APABB. O objetivo neste momento seria compreender quais as deficiências que mais procuravam os projetos. Obtivemos o resultado que as deficiências que mais procuram pelo projeto seriam as deficiências intelectuais, físicas e múltiplas. Esses dados nos levaram então à uma indagação, principalmente porque não era a informação que 120 esperávamos: por que exclusivamente estas deficiências eram as que mais acessavam o projeto, bem como os serviços da APABB? Para compreendemos essa indagação, nos apropriamos dos instrumentais utilizando pelas Assistentes Sociais e principalmente pela vivência no campo de estágio que nos auxiliou a entender o porquê destas deficiências procurarem mais pelos projetos. Sendo assim, identificamos que existe uma seletividade das deficiências pelos empresários no momento da contratação das PCD. Nota-se que a compreensão dos empresários, parte do pressuposto de que as pessoas com deficiência auditiva e visual não precisam de grandes investimentos do que as outras deficiências. Por isso que existem as “preferências” das deficiências para inclusão no mercado de trabalho, que proporciona o alto índice de procura das PCD intelectual, física e múltipla nos projetos da APABB. Com esse resultado sobre o público atendido pela APABB, identificamos ao longo da pesquisa que a questão da seletividade das deficiências se confirma no relato da Coordenadora do Projeto e das Assistentes Sociais, onde revelam que no cotidiano profissional enfrentam esse desafio da seletividade das deficiências. Vale lembrar que as informações das Assistentes Sociais foram de diferentes territórios do Brasil, porém percebese que a compreensão é a mesma no que se refere à desigualdade de acesso entre as próprias PCD, colocando na vida dessas pessoas mais uma barreira imposta pela sociedade, por falta de informação referente às especificidades das deficiências. No decorrer da pesquisa, tivemos as contribuições da vivência da Gerente do Projeto e da Coordenadora, cujo o objetivo, através do contato com essas profissionais , era de compreender como a efetivação da garantia de direitos das PCD se processa em seu cotidiano profissional. O resultado nos mostra que, no Brasil existem leis que fazem com que o país fique em destaque quando comparado à outros países, mas na efetivação dessas leis, no cotidiano dessas pessoas, estas leis parecem não existir, pois ainda não saíram do papel, então a todo o momento as PCD precisam provar que têm direitos e que não são respeitados. As profissionais também ressaltam que, a questão do papel das empresas na inclusão das PCD, baseia-se apenas em cumprir a lei para não serem multadas, onde suprir as necessidades das PCD não seria prioridade. A única preocupação de alguns empresários é utilizar a imagem dessas pessoas como propaganda para elevar seu “prestígio”, proclamando sua participação na inclusão ou na responsabilidade social. Ainda em relação a pesquisa com a Gerente e a Coordenadora do projeto, obtivemos a informação sobre as condições de trabalho oferecidas para as pessoas com deficiência, como citado anteriormente. Como a preocupação dos empresários está apenas no 121 cumprimento da lei, as condições de trabalho oferecidas as PCD são precárias, uma vez que não se tem ações para conhecer as necessidades da pessoa contratada, lhe oferecendo assim condições dignas de trabalho. As oportunidades oferecidas são apenas para cargos operacionais, sem investimentos para uma qualificação profissional e plano de carreira. O argumento de muitos empresários para a inclusão das PCD apenas nos cargos operacionais seria em virtude da falta de qualificação profissional das mesmas, por isso são incluídas nessas funções. Referente às dificuldades enfrentadas pelas PCD em seu cotidiano, a pesquisa mostra que, os desafios se colocam pela dificuldade em encontrar vagas de emprego para pessoas com deficiência, também há o preconceito da equipe e por último a falta de acessibilidade no espaço ocupacional. Mas as dificuldades vão além do mencionado. Segundo consta nos relatos, o que traz mais barreiras para eles é a falta de qualificação profissional porque impossibilita que realizem as tarefas com mais segurança e habilidade. Esses dados demonstraram, no resultado da pesquisa, que o motivo pelo qual são oferecidas condições precárias de trabalho às PCD está pela falta de convivência da sociedade com as PCD, por isso o comportamento é de estranhamento e exclusão. Nessa falta de informação surgem para as PCD algumas dificuldades com relação às condições oferecidas de trabalho, ora citadas, como por exemplo se lhe foram passadas informações no inicio da contratação pelos profissionais dos Recursos Humanos, para que as condições de trabalho pudessem ser apropriadas. Durante a pesquisa tivemos a possibilidade de receber o relato de alguns usuários do Projeto Empregabilidade, ao responderem nossas indagações. Os dados coletados nos proporcionaram compreender que, no cotidiano das PCD a inclusão social para mercado de trabalho está em percurso, pois ainda existe um longo processo para ter acesso com igualdade e que a garantia de direito seja efetivada por todos, seja pelos gestores da política pública, empresários e funcionários das empresas. Tratando-se ainda da questão sobre as dificuldades enfrentadas pelas PCD em seu cotidiano, a maior barreira encontrada seria a falta de qualificação profissional, mencionada em vários momentos da pesquisa de campo. Para ilustrar esta questão, temos os dados do núcleo Santa Catarina, onde o relato de um usuário revela que esta falta de qualificação traz constrangimento para as PCD. Essas informações nos mostram que o acesso ao mercado de trabalho vai muito além do que apenas uma vaga de emprego, pois há também a falta de acesso à educação para os mesmos, a falta de comprometimento dos empresários com a 122 inclusão social e principalmente a falta de informação dos recursos humanos sobre as deficiências e suas especificidades. Contudo, percebemos que o projeto empregabilidade proporciona para as PCD o acesso ao mercado de trabalho, bem como o acesso à informações importantes para que possam reivindicar seus direitos, tendo em vista desenvolver e fortalecer sua autonomia e empoderamento, sendo estas consequências da execução de suas atividades laborativas, que muitas vezes são mais importantes do que o próprio salário que recebem. Ainda nos resultados da pesquisa, tivemos a possibilidade do contato com os funcionários que trabalham indiretamente com o Projeto Empregabilidade. Neste caso o objeto seria em compreender qual o conhecimento dos profissionais referente à inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Os resultados foram à falta de conhecimento sobre as especificidades das deficiências e a falta de informações dos profissionais de Recursos Humanos das empresas. Esse resultado já foi mencionado anteriormente, mas o que podemos compreender com esses dados é que todos os sujeitos pesquisados mencionaram a mesma questão, principalmente as Assistentes Sociais e os usuários, ressaltando que as informações foram de territórios diferentes no Brasil. Com a falta de informação dos profissionais dos Recursos Huma nos surgem impasses para as PCD, que se expressa em preconceito da equipe de trabalho, pois a compreensão da equipe é que as PCD não têm habilidades e competências suficientes para executar as atividades laborativas que lhe são delegadas. Porém vale frisar que estes obstáculos não existiriam se na seleção para a vaga de emprego as necessidades de cada pessoas fossem identificadas. Portanto, a hipótese da pesquisa não confirma: as condições concretas dos trabalhos oferecidos para as pessoas com deficiência que participam do Projeto Empregabilidade na APABB influenciam, no desenvolvimento das potencialidades e proporcionam a igualdade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Os resultados obtidos na pesquisa com os profissionais da APABB e principalmente com alguns usuários que as condições concretas dos trabalhos oferecidos são precárias no sentido de falta de instrumentos para necessidades dos PCD, mas especificamente das deficiências. Na maioria da inclusão dos PCD no mercado de trabalho são direcionados para cargos operacionais e de produção, que não tem acessibilidade para realizar atividade laborativa e muito menos no ambiente físico da empresa. 123 Com esses dados podemos afirmar que não existe a possibilidade da igualdade para PCD nas condições de trabalho oferecidas pelas empresas, porque durante o processo da pesquisa as informações de todos os sujeitos de pesquisa é que existe a lei, porém não é efetivada. Por isso não podemos confirmar a igualdade de possibilidade do PCD, porque no cotidiano não é efetivado as leis pelas empresas contratantes. Para PCD desenvolver a potencialidade é necessário condições de trabalho concretas para proporcionar a eles a autonomia e empoderamento em suas atividades laborativa. Porém nos espaços institucionais é necessário romper com as barreiras que foram construídas socialmente ao longo dos anos referente às pessoas com deficiência, que eles não têm habilidade e competência, para isso é necessários condições de trabalho com igualdade. Mas ao longo da pesquisa tivemos dois resultados que nos demonstraram os motivos da falta de condições de trabalho concretas para os PCD, a primeira é a falta de qualificação dos PCD na questão da escolaridade básica e profissionalizante é a segunda a falta de conhecimento dos profissionais dos Recursos Humanos. No decorrer da pesquisa foram as duas situações citadas por todos os sujeitos da pesquisa. Porém os dados coletados referentes aos profissionais dos Recursos Humanos nos demonstram que poderiam romper com várias barreiras através de ações desses profissionais. Realizando a seleção com mais aprofundamento das necessidades do candidato para direcioná-los em atividades que possam proporcionar potencialidade em suas atividades laborativas que demonstrará para equipe a sua competência e a habilidade, ao mesmo tempo romperiam com os preconceitos da equipe de trabalho, seriam ações que estariam efetivando a inclusão social, em condições concretas de trabalhos para o PCD. O Projeto Empregabilidade está no processo de romper com as barreiras que foram citadas nos resultados da pesquisa, porém há muito que realizar, para fazer com que a sociedade compreenda que as pessoas com deficiência precisam apenas de instrumentos específicos para realizar suas atividades com competência e habilidade, garantindo assim condições concretas de trabalho oferecidas pelas instituições, o que possibilita o fortalecimento de suas potencialidades e a efetivação das leis existentes que lhes garante o direito de viver com dignidade e respeito. 124 REFERÊNCIAS ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Fordismo, Toyotismo e Acumulação Flexível. São Paulo: Cortez, 2003. APABB. Estatuto Social .São Paulo, 2002. ______. 1997-1999. Projetos inovadores. São Paulo, 1999. ______. Regimento Interno. São Paulo, 2003. APABB. História da Associação de Pais e Amigos e Pessoas com Deficiência de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade . Disponível em: <http://www.apabb.org.br>. 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Conforme o Decreto 3.298/98 art. 4° alterado pelo Decreto 5.296 de 02/12/2004, apresenta-se sob as seguintes formas: Paraplegia – perda total das funções motoras de membros inferiores; Paraparesia – perda parcial das funções motoras dos membros inferiores; Monoplegia – perda total das funções motoras de um só membro (podendo ser membro superior ou inferior) Monoparesia – perda parcial das funções motoras de um só membro (podendo ser membro superior ou inferior ) Tetraplegia – perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores; Tetraparesia – perda parcial das funções motoras dos membros inferiores e superiores; Triplegia- perda total das funções motoras em três membros; Triparesia – perda parcial das funções motoras em três membros; Hemiplegia – perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo (direito ou esquerdo); Hemiparesia – perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo ( direito ou esquerdo). Ostomia – intervenção cirúrgica que permite criar uma comunicação (ostoma) entre o órgão interno e o exterior, com a finalidade de eliminar dejetos do organismo. Pode ser digestiva ou urinária; Amputação ou ausência de me mbro – perda total de um determinado membro segmento de um membro (superior ou inferior). Paralisia Cerebral – lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo como consequência alterações psicomotoras podendo, ou não, causar deficiência mental. Geralmente as pessoas com paralisia cerebral possuem movimentos involuntários, espasmos musculares repentinos, chamados espasticidade. Deve-se ressaltar que os músculos, e não a pessoa são espásticos; Namis mo – distúrbio do crescimento que provoca estatura relativamente baixa. Pode ser disfunção hormonal ou genética. Considera-se para o mercado de trabalho altura baixa de 1,40 cm. Membros com deformação congênita ou adquirida – anomalia física desde o nascimento ou adquirida; Deficiência Auditiva: perda bilateral total ou parcial de quarenta e um decibéis (db)ou mais aferida por oudiograma nas frequências de 500hz,1000hz,2000hz e 3000hz conforme Decreto 3.298/99, art 4° alterado pelo Decreto 5.296 de 02/12/2004, variando de graus e níveis na seguinte forma: E 25 de 40 decibéis (db) De 41 a 55 db – surdez moderada De 56 a 70 db surdez acentuada De 71 a 90 db – surdez severa Acima de 91 db – surdez profunda Anacúsia – perda total de audição. 131 Nos casos de perda leve e moderada, a deficiência implica no uso de prótese auditiva de audição funcional. Nos casos de perda acentuada e severa, implica no uso de prótese auditiva para pequenas alterações na fala e no caso de perda profunda, implica em resíduos auditivos não funcionais para audição e não há indicação de prótese auditiva, assim como para alterações maiores na linguagem e fala. Deficiência Visual: É a perda ou a redução da capacidade visual em ambos os olhos, de caráter definitivo e que não possa ser melhorada ou corrigida com o uso de lentes e tratamento clínico ou cirúrgico. Entre os deficientes visuais existem aqueles que possuem cegueira e os de visão normal. Pelos termos do Decreto n° 3.298/99, art. 4°, alterado pelo Decreto 5.296/2004, considera-se deficiente visual o indivíduo cuja cegueira caracteriza-se pela acuidade visual igual ou menor que 0,05 no melhor olho com a melhor correção óptica à baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,03 a 0,05 no melhor olho e com a melhor correção óptica, 0,05 a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60°, ou a ocorrência simultânea de quaisquer condições anteriores. Deficiência Intelectual: Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, apresentando níveis de comprometimento leve, moderado, severo ou profundo comportamento adaptativo, com manifestações antes do 18 anos e limitações associadas à duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: Comunicação Cuidado pessoal Habilidades Sociais Utilização de recursos da comunidade Saúde e Segurança Habilidades Acadêmicas Lazer e Trabalho. Sindrome de Down – É um erro genético que se caracteriza principalmente por sinais físicos e desenvolvimento motor e mental diferentes. Deficiência Múltipla- Associação de duas ou mais deficiências, como por exemplo, pessoa com deficiência Intelectual e Física /Auditiva e Visual (surdocego 27 ). Pessoas com Mobilidade Reduzida: É aquele que, não se enquadra no conceito de pessoa com deficiência, possui por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se permanentemente ou temporariamente gerando redução efetiva de mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção. Anexo B Regime Interno Artigo 2º - São princípios que norteiam a atuação da APABB: I. A inclusão social e a defesa da pessoa com deficiência. II. O respeito às diferenças individuais, sociais e culturais. III. A participação e a gestão democrática da Associação e o repúdio a qualquer forma de discriminação. 27 Surdocegueira: Deficiência única, que apresenta a perda da visão e da audição concomitantemente em diferentes graus (manual dicas de relacionamento com as pessoas com deficiência da prefeitura de São Paulo Publicação da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida). 132 Artigo 3º - São objetivos precípuos da APABB, sem discriminação de qualquer natureza, a habilitação e a reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária através. I. Do apoio às pessoas com deficiência e às suas famílias, mediante orientação, encaminhamento e acompanhamento de soluções. II. Do empreendimento de ações que propiciem às pessoas com deficiência, desenvolver suas capacidades e sua inclusão social. III. Da disseminação de valores e informações à sociedade com vistas a contribuir para inclusão social e melhoria da qualidade de vida, preservação de direitos e cidadania da pessoa com deficiência. IV. Da promoção de estudos e pesquisas, palestras, encontros, seminários, cursos, debates e demais eventos que propiciem o aprofundamento e a difusão de conhecimentos voltados para a pessoa com deficiência. V. Da promoção de intercâmbio social com outras entidades voltadas para atividades sociais, de lazer, de esporte e de promoção da cultura, ao nível municipal, estadual, federal ou internacional. VI. Do estabelecimento de convênios, parcerias e associações com instituições científicas, acadêmicas, organismos públicos, privados e/ou entidades afins, municipais, estaduais, federais ou internacionais, visando a ampliar e fortalecer a oferta de serviços às pessoas com deficiência e do atendimento gratuito do Serviço Social, mediante critérios estabelecidos pelo Colégio de Diretores da APABB, nos moldes da LOAS (Lei 8.742/93), guardado o limite legal. Anexo C Estatuto Social Art. 1º - A APABB tem como visão tornar-se referência no acolhimento da pessoa portadora de deficiência e de sua família, bem como na defesa de seus direitos, contribuindo para sua inclusão social e melhoria de sua qualidade de vida. Art. 2º - É missão de a APABB realizar ações, desenvolver projetos, estabelecer parcerias, captar recursos, garantir a visibilidade e a credibilidade da organização, em prol das pessoas portadoras de deficiência e de suas famílias. No Artigo 2º do Estatuto Social da APABB são definidos seus objetivos, conforme segue: Artigo 2º - São objetivos precípuos da APABB, sem discriminação de qualquer natureza, a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiências e a promoção de sua integração à vida comunitária através: a) do apoio às pessoas portadoras de deficiências e às suas famílias, mediante orientação, encaminhamento e acompanhamento de soluções. b) do empreendimento de ações que propiciem às pessoas portadoras de deficiências, desenvolver suas capacidades e sua inclusão social. c) da disseminação de valores e informações à sociedade com vistas a contribuir para inclusão social e melhoria da qualidade de vida, preservação de direitos e cidadania da pessoa portadora de deficiência. 133 d) da promoção de estudos e pesquisas, palestras, encontros, seminários, cursos, debates e demais eventos que propiciem o aprofundamento e a difusão de conhecimentos voltados para a pessoa portadora de deficiência. e) da promoção de intercâmbio social com demais entidades de funcionários do Banco do Brasil e outras congêneres. f) do estabelecimento de convênios, parcerias e associações com instituições científicas, acadêmicas, organismos públicos e/ou entidades afins, visando ampliar e fortalecer a oferta de serviços às pessoas portadoras de deficiências. Parágrafo Único - Para alcançar seus objetivos a APABB poderá criar centros esportivos, centros de convivência, residências protegidas, e outros empreendimentos que se fizerem necessários com recursos próprios ou oriundos de terceiros. Anexo D Atribuição da coordenação do Serviço Social da APABB Participar e representar a APABB em seminários, fóruns, debates e outros eventos relacionados à Assistência Social. Acompanhar, estudar e estar sempre atualizado com relação às normativas e legislação vigente da Assistência Social. Responder pela sistematização dos instrumentais do Serviço Social. Elaborar, coordenar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social. Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas e planos na área de Serviço Social. Zelar pelo bom atendimento das pessoas com deficiência e de seus familiares, em conformidade com o objetivo e a missão da APABB. Levar ao conhecimento do Gerente Geral, eventuais dificuldades de funcionamento do Núcleo Regional, acompanhadas das sugestões de solução. Acompanhar a realização dos projetos, tomando as providências necessárias para que os Núcleos cumpram o previsto no planejamento anual. Dar supervisão de estágio na Sede. Desenvolver e implantar normas e procedimentos operacionais, definindo necessidades e elaborando métodos de trabalho, visando à uniformidade nas rotinas práticas. Analisar o planejamento anual de trabalho dos Núcleos. Manter o bom relacionamento com o Banco do Brasil, CASSI, e com instituições parceiras da APABB. Elaborar, em conjunto com os profissionais da Sede, o planejamento anual de trabalho. Receber, responder e enviar e- mail e correspondências. Elaborar pareceres para a Diretoria referente à atuação das Assistentes Sociais e todas as questões que dizem respeito ao Serviço Social nos Núcleos Regionais. Elaborar relatório estatístico e qualitativo das atividades desenvolvidas pelos Núcleos. Elaborar plano e relatório de atividades para INSS, CNAS, Ministério da Justiça e outros órgãos quando necessário. Elaboração, execução e coordenação de projetos. Coordenar e participar do processo de seleção do quadro do Serviço Social. Participar periodicamente de reuniões e de eventos, como palestras, seminários, congressos, fóruns, conferência da Assistência Social, que abordem a questão da deficiência ou outros temas relevantes ao trabalho da APABB. Fazer backup dos micros, semanalmente. Assessorar os dirigentes da APABB como relações públicas e cuidar do bom relacionamento com os setores públicos e privados. A APABB tem, de acordo com Estatuto Social (vide em anexo c). 134 Anexo E Datas da criação dos núcleos Ceará – Instalado em 18/01/91 nas dependências da CASSI. (Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil) Espírito Santo - Instalado em 16/10/93 nas dependências da CASSI. Santa Catarina - Instalado em 28/05/94 nas dependências da CASSI. Rio de Janeiro - Instalado em 30/06/94 nas dependências do Banco do Brasil. Goiás - Instalado em 11/03/95 nas dependências da CASSI. Distrito Federal - Instalado em 16/03/95 nas dependências do Banco do Brasil. Sergipe - Instalado em 21//06/95 nas dependências da CASSI. Pernambuco - Instalado em 06/11/95 nas dependências do Banco do Brasil. Mato Grosso do Sul - Instalado em 07/12/96 nas dependências da CASSI. São Paulo - Instalado em 02/03/97 nas dependências do Banco do Brasil. Rio Grande do Norte - Instalado em 30/07/97 nas dependências da CASSI. Minas Gerais - Instalado em 12/07/98 nas dependências da UNAMIBB. Paraná - Instalado em 04/08/98 nas dependências da AABB Curitiba. Rio Grande do Sul - Instalado em 09/12/99 nas dependências do Banco do Brasil. Bahia – Instalado em 12/04/2003. (Portifólio da APABB, 2005.). Anexo F O Projeto de Empregabilidade O Projeto de Empregabilidade tem, objetivo geral é desenvolver um trabalho voltado à inserção de pessoas com deficiências no mercado de trabalho, possibilitando a essas pessoas a oportunidade de utilizar sua capacidade laborativa e sua inclusão social, através de uma participação ativa no processo produtivo e no crescimento socioeconômico do País. Os objetivos específicos do projeto são de capacitar, através de parcerias, jovens e adultos para o mercado de trabalho. Realizar encaminhamentos dos candidatos aos locais de trabalho. Acompanhar sistematicamente, juntamente com a equipe da empresa, o desempenho profissional dessa pessoa contratada. Realizar um trabalho de sensibilização junto aos colaboradores do local onde estará inserida a pessoa com deficiência para viabilizar a inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho, resultando num movimento de mudança de valores e eliminação de preconceitos e propiciador de novas posturas que tornarão as relações mais saudáveis e produtivas. Realizar um trabalho junto às famílias dessas pessoas com deficiência, com o intuito de facilitar a compreensão da autonomia e independência, bem como das potencialidades e habilidades dessas pessoas. A justificativa do projeto é a inclusão da pessoa com deficiência na sociedade, em pleno século XXI, ainda possui alguns relevos de preconceitos, observamos que a sociedade possui uma visão de homem padronizada e classifica as pessoas de acordo com essa visão. Elegemos um padrão de “normalidade” e nos esquecemos de que a sociedade é composta de homens diversos, que ela se constitui na diversidade, assumindo de outro modo às diferenças. 135 É justamente na diversidade que nos deparamos com o outro, que percebemos essas diferenças. Infelizmente, ainda existem pessoas que não aceitam ou não respeitam essas diferenças. Diferenças que aos olhos de uma parcela da sociedade possuem conceitos errôneos a respeito da pessoa com deficiência, como por exemplo, rotulam como sendo incapaz, sem discernimento, sem potencialidades para desenvolver algum tipo de atividade, sempre pensam em pena, dó, limitações ou até mesmo desprezo, e assim contribuem para a exclusão social dessas pessoas. As pessoas com deficiência ainda sofrem muito estigmas que lhe é produzido no decorrer de sua vida, com o estereótipo herdado durante anos. Porém, a sociedade pode contribuir para reverter essa situação. A sociedade precisa conhecer melhor o que é deficiência e qual é o potencial que essa pessoa pode demonstrar se tiver oportunidade. A oportunidade de estímulos, de crescimento, de engajamento como qualquer outra pessoa, com o objetivo da inclusão social dessa pessoa. É apenas isso que as pessoas com deficiência querem, esperam e solicitam da sociedade, fazer valer os seus direitos fundamentais de cidadão e ter a sua vida sem qualquer tipo de preconceito e discriminação. O trabalho é uma ação transformadora do homem, e em se tratando da inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, nos baseamos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, porque o reconhecimento da dignidade é inerente a todos os membros da humanidade, tornando os direitos iguais e inalienáveis, constituindo o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Assim sendo, a Declaração Universal, vem realmente com intuito de fazer valer os direitos fundamentais da pessoa humana. É necessário reconhecê- los, protegê- los, e promovê- los quando se pretende preservar a dignidade humana e oferecer possibilidades de desenvolvimento. O trabalho para a pessoa com deficiência condiz com um direito fundamental. O trabalho é uma atividade humana, de caráter social. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 23, I, estabelece que: Toda pessoa, sem considerar a sua condição, tem direito ao trabalho, à livre escolha do mesmo, a condições equitativas e à proteção contra o desemprego. Isso significa que todas as pessoas, incluindo a pessoa com deficiência, tem o direito ao trabalho. Para tanto, é necessário que sejam oferecidas condições iguais para todas as pessoas, isso implica em igualdade de oportunidades e meios para desenvolver ao máximo suas potencialidades. Ainda sobre o direito ao trabalho, destacamos o que diz a Constituição Federal Brasileira, no seu artigo 7º - XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. A inserção das pessoas com deficiência no processo produtivo é uma das principais formas de promover a inclusão social dessas pessoas. O artigo 37, inciso VIII, da Constituição Federal Brasileira, determina que a lei reserve percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas com deficiência, e defina os critérios de sua admissão. No primeiro setor, a lei nº 8.112, impõe que a União reserve, em seus concursos, até 20% das vagas a pessoas com deficiência, havendo iniciativas semelhantes nos Estatutos 136 Estaduais e Municipais, para o regime dos servidores públicos. Já na iniciativa privada, a lei nº 8.213/91, que é a lei conhecida como a Lei de Cotas, determina percentuais de contratação, a empresa com 100 ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas com deficiência hab ilitadas, na seguinte proporção: A legislação garante ainda, no artigo 59, inciso IV, da Lei Federal 9.394/96 e no artigo 28 do Decreto 3.298/99, a educação especial para o trabalho, tanto em instituições públicas quanto nas privadas, ou seja, além da contratação, tem que capacitar preparar a pessoa com deficiência. Portanto, a partir do exposto, torna-se premente o compromisso da APABB na inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. A metodologia do projeto será realizada em etapas, e conforme o desenvolvimento das ações, as etapas serão realizadas concomitantemente e farão parte do processo contínuo de inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. A princípio será elaborado um formulário a ser preenchidas pela pessoa com deficiência ou família, visando identificar as pessoas interessadas, áreas de interesse para capacitação e colocação no mercado de trabalho. As ações serão sempre focando a atenção da pessoa com deficiência e da família, sejam através de preenchimento de formulários e questionários, reuniões, oficinas, dentre outras. A capacitação dos jovens e adultos será feita através de cursos e treinamentos em parceria com entidades, órgãos públicos e ou privados. Nessa capacitação, a APABB poderá fazer uma pré-seleção dos candidatos para encaminhar aos locais de trabalho que já contataram à Associação. Cada Núcleo Regional entrará em contato com entidades e órgãos públicos e privados que oferecem atendimento para pessoas com deficiência. Esse contato será para a criação do banco de dados, o qual servirá para divulgação dos cursos, divulgação de vagas de trabalho e encaminhamento para locais de trabalho. Essa divulgação e esse encaminhamento serão também para qualquer pessoa que procurar o atendimento da APABB. O acompanhamento realizado pela APABB à pessoa contratada será em conjunto com o local contratante. O profissional da APABB visitará o local para conhecimento do espaço físico e das vagas disponíveis e das atribuições, acompanhará o processo seletivo, acompanhará o desempenho da pessoa contratada através de agendamento prévio de visitas ao local, bem como através de contato telefônico ou outros meios. O trabalho de sensibilização será através da realização de oficinas programadas em conformidade com a rotina do local onde será inserida a pessoa com deficiência. O trabalho realizado junto à família será através de orientação, informação e possíveis encaminhamentos aos recursos da comunidade, bem como da sua participação em ciclo de palestras realizados pela própria APABB sobre assuntos relacionados ao mercado de trabalho e também a participação no projeto Grupo de Apoio às Famílias da Associação. O cronograma desenvolvido por todos os núcleo será citado abaixo: 137 Objetivos Específicos Capacitar, através de parcerias, jovens e adultos para o mercado de trabalho Realizar encaminhamentos dos candidatos aos locais de trabalho. Acompanhar sistematicamente,juntamente com a equipe da emp resa, o desempenho profissional dessa pessoa contratada. 1 2 3 Período 4 5 6 7 8 9 10 11 12 x x x x X x x x x x x x x x x x X x x x x x x x x x x x X x x x x x x x Realizar u m trabalho junto às famílias dessas pessoas com deficiência Realizar u m trabalho de sensibilização junto aos colaboradores do local onde estará inserido a pessoa com deficiência. x x x x X x x x x x x x x x x x X x x x x x x x Anexo G Cartilha Porque Contratar uma Pessoa com Deficiência A avaliação do projeto será feita tomando como referência os resultados que serão obtidos através do acompanhamento, bem como a elaboração de relatórios que apresentarão os resultados obtidos. Todas as ações do projeto serão sistematicamente avaliadas. A pessoa com deficiência pode ser contratada pela empresa em caráter permanente, temporário ou como estagiária e pode trabalhar em qualquer ambiente, desde que sejam resguardadas suas condições de segurança, o que é válido para qualquer trabalhador. O processo de seleção de uma pessoa com deficiência pode ser feito por meio de anúncios em jornais, por meio de contatos com associações ou por meio de agências de emprego especializadas e não requer procedimentos ou instrumentos especiais, ou seja, deve seguir parâmetros normais de recrutamento utilizados pela empresa, observando-se por ocasião de sua contratação os limites de vagas garantidos na forma abaixo, de acordo com o Decreto 3.298: Número de empregados percentual de vagas De 100 a 200 2% De 201 a 500 3% De 501 a 1.000 4% Acima de 1.000 5% 138 A pessoa com deficiência insere-se no mercado de trabalho através de colocação competitiva: contratos regulares de acordo com a Legislação trabalhista e previdenciária, colocação seletiva: contratos regulares, de acordo com a legislação trabalhista e previdenciária, mas que necessitam de procedimentos e apoio especiais; Trabalho por conta própria, ação de uma ou mais pessoas para realização de um trabalho autônomo, em sistema de cooperativa ou economia familiar. As observações da cartilha são consideradas procedimentos especiais, jornada de trabalho variável, horário flexível, proporcionalidade de salário, ambiente de trabalho adaptado. Consideram-se apoios especiais, orientação, supervisão e ajudas técnicas voltadas para ajudar a pessoa com deficiência a superar as barreiras no processo de trabalho. No âmbito do emprego público a pessoa com deficiência tem o direito de se inscrever em concurso, nas mesmas condições dos outros candidatos e pode ocupar vagas para cargos onde as atribuições são compatíveis com a deficiência, sendo garantido à mesma, um percentual mínimo de 20% das vagas oferecidas, em face da classificação obtida (Lei 8.112). Outro tema da cartilha como se relacionar com uma pessoa com deficiência no ambiente de trabalho. As relações pessoais no ambiente de trabalho são hoje a grande preocupação das empresas, diante do paradigma de humanização e de valorização do potencial humano para agregar valores. No caso da contratação da pessoa com deficiência, surgem nos primeiros momentos, sentimentos de insegurança no que diz respeito às formas de relacionamentos que devem ser estabelecidas entre os trabalhadores. Antes de tudo é bom ressaltar que a pessoa com deficiência é um ser humano e social como qualquer outro e, portanto as relações devem se dar da forma mais natural possível. Respeitando-se suas limitações e buscando-se direcionar as situações específicas com a maior tranquilidade, sem esquecer que assim como qualquer outra pessoa, ela constrói sua maturidade pessoal a partir de erros e acertos cometidos, analisados, discutidos e redimensionados. É importante adotar os seguintes procedimentos no processo de comunicação com a pessoa com deficiência visual, observar se a pessoa está com dificuldade na execução de alguma tarefa e oferecer ajuda. Perguntar sempre antes de agir e pedir à pessoa, orientações sobre como ajudar. Guiar a pessoa, oferecendo- lhe o braço, que ela segurará geralmente à altura do cotovelo. Avisar quando sair de perto, para que a pessoa saiba que está sozinha. Explicar à pessoa uma tarefa ou atividade laborativa de forma clara e específica, perguntando- lhe se entendeu e deixando-a a vontade para questionar. Colocar a mão da pessoa no encosto da cadeira, quando guia- la para sentar-se, avisando-a se a cadeira tem braços. Informar à pessoa a posição em que todas as outras se encontram e quem está do seu lado, por ocasião de eventos e reuniões de trabalho. Explicar as direções que a pessoa deve tomar para se locomover no local de trabalho, indicando as distâncias em metros, a existência de degraus, de pisos escorregadios, de corredores estreitos, de elevadores etc. Oferecer ajuda para a pessoa servir-se e avisá- la sobre o cardápio, bem como orienta- la sobre os lugares vazios que podem ser ocupados, no restaurante do local de trabalho. A pessoa com deficiência auditiva, falar claramente e numa velocidade normal, tendo o cuidado de possibilitar que a pessoa enxergue os movimentos da boca de quem está falando. Evitar ficar contra a luz ou por algum objeto à altura da boca, o que dificultará a leitura labial por parte da pessoa surda. Ser expressivo na fala, tendo em vista que a pessoa não escuta e dará toda atenção às expressões faciais de quem está falando. Tocar levemente o braço da pessoa ou sinalizar com a mão, quando for iniciar um diálogo com a pessoa, mantendo sempre o contato visual com a mesma. Sentir-se à vontade para dizer que não entendeu e se a comunicação ficar difícil pedir para a pessoa escrever o que está querendo falar. Falar diretamente à pessoa, mesmo que ela esteja acompanhada de um intérprete. 139 Procurar se comunicar com a linguagem dos sinais, uma vez que essa é a língua universal das pessoas surdas. Providenciar maneiras de comunicar à pessoa surda o que está sendo discutido e direcionado durante as reuniões de trabalho das quais a mesma participa. A pessoa com deficiência física, acomodar a pessoa da maneira mais confortável possível, no ambiente de trabalho, providenciando as adaptações necessárias, inclusive no mobiliário que a mesma utilizará. Considerar a cadeira de rodas,assim como bengalas e muletas, como partes do espaço corporal da pessoa, evitando assim tocá- las, agarrá- las ou apoiar-se nas mesmas, sem a autorização ou comunicação prévias. Empurrar a cadeira de rodas com cuidado, lembrando-se sempre que ela é o instrumento de locomoção de alguém que não pode andar, avisando quando fizer algum movimento específico como desviar um buraco, descer ou subir, dar meia volta parar. Ficar sempre no mesmo nível de altura da pessoa quando estiver conversando, evitando que a mesma tenha que ficar olhando para cima. Para isso é importante sentar-se em frente à pessoa, quando for estabelecido um diálogo mais demorado. Acomodar a pessoa em local de fácil acesso e boa visibilidade, por ocasião de eventos e reuniões de trabalho. Acomodar a pessoa no elevador, antes de entrar no mesmo. Facilitar o acesso da pessoa ao restaurante, bem como ajudá- la a acomodar-se naquele espaço. Perguntar a pessoa, sempre que tiver dificuldades ou dúvidas sobre como agir evitando atitudes inadequadas ou atos que mais atrapalham que ajudam. A pessoa com deficiência intelectual, aceitar e respeitar a pessoa no ambiente de trabalho, cumprimentando-a de maneira normal ao chegar e ao sair. Oferecer ajuda para que a pessoa realize atividades para as quais está demonstrando enfrentar dificuldades. Falar de forma clara e simples, facilitando o entendimento da mensagem a ser dado Evitar a superproteção e atitudes paternalistas, ajudando somente quando for realmente necessário, de forma construtiva e responsável. Ter sempre em mente que a deficiência intelectual não é uma doença, mas uma condição da pessoa, que não a impede de trabalhar e de produzir como qualquer outra. Evitar atitudes coniventes com atos praticados pela pessoa, não condizentes com a postura exigida no trabalho. Evitar tratamentos infantilizados, a pessoa é adulta e assim deve ser considerada e tratada. Inserir a pessoa nos eventos e reuniões de trabalho, ajudando-a a se tornar um membro participativo da equipe. A pessoa com deficiências múltiplas, adotar comportamento condizente com as demais deficiências, lembrando que a pessoa é inteligente, tem o dom do discernimento e é capaz de realizar muitas atividades, desde que os recursos sejam adaptados e oferecidos. Não se impressionar com outros aspectos e considerar que a pessoa é igual às outras e, portanto merece atenção, respeito, solidariedade e ajuda para atingir seus objetivos. Em todas as situações é fundamental tratar a pessoa com deficiência co m a mesma consideração utilizada no trato com as pessoas ditas normais. Todas as oportunidades de participação devem ser viabilizadas e concedidas nos ambientes e nos processos de trabalho. Somente assim essa população conquistará seu espaço na sociedade. É importante ressaltar que as orientações concedidas são válidas no processo de relacionamento com a pessoa com deficiência em qualquer situação e não somente no ambiente de trabalho especificamente. A conclusão da cartilha relata que é válido e oportuno evidenciar as grandes conquistas que a pessoa com deficiência tem conseguido, através dos avanços nas áreas jurídicas e de políticas públicas implementadas. Porém, muito ainda tem que ser feito, para que grande parte dessa população saia de seus redutos fa miliares e venham participar do mundo em toda sua plenitude. 140 Anexo H TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Declaro para os devidos fins, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a), para colaborar com o estudo intitulado, A inclusão das pessoas com deficiência no Projeto Empregabilidade da Associação de Pais Amigos e Pessoas com Deficiência, de funcionário do Banco do Brasil e da Comunidade, desenvolvido pelo(a) aluno(a) Liliane Paz de Araujo e Paula Gualandi Leite e orientado pelo(a) professor(a) Dra. Therezinha Lourdes Lopes. Esclareço que fui informado(a) em relação aos objetivos do estudo, que são estritamente acadêmicos, e afirmo que aceitei participar de livre e espontânea vontade, sem receber qualquer incentivo financeiro ou ter qualquer ônus, tendo como finalidade exclusiva a de colaborar para o bom termo da pesquisa. Estou ciente, ainda, que as minhas informações poderão ser incorporadas ao estudo, considerando e respeitando as normas relativas à Ética, no que se refere à pesquisa que envolve seres humanos, normas essas estabelecidas pela Comissão Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. Minha colaboração será registrada a partir de entrevista, devidamente autorizada, gravada e assinada. Estou ciente de que, caso tenha dúvidas ou me sinta prejudicado(a), poderei contatar a pesquisadora responsável ou seus orientadores. Esclareço ainda que terei uma cópia assinada deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme recomendação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP. Esclareço também que fui informada de que posso me retirar dessa pesquisa a qualquer momento, sem sofrer quaisquer sanções ou constrangimentos. São Paulo, 19 de Março de 2013. ____________________________________ Participante Liliane Paz Araujo e Paula Gualandi Leite Pesquisador(a) ________________________________________ Orientador(a) 141 APÊNDICE Questionário para as Assistentes Sociais dos 14 núcleos 1) Que tipo de deficiência tinham, em sua maioria, as pessoas que tiveram acesso ao mercado de trabalho no período de 2010, 2011 e 2012? 2) Que tipo de deficiência têm as pessoas que têm menor possibilidade para entrar no mercado de trabalho? 3) Quais as funções e/ou cargos ocupados pela maior parte das pessoas com deficiência que são contratadas? 4) Qual a escolaridade destas pessoas? 5) Qual a idade das pessoas com deficiência que são inseridas no mercado de trabalho? 6) Quais são as condições de trabalho oferecidas para as pessoas com deficiências nas empresas? 7) Quais as dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência antes, durante e depois da conquista no mercado de trabalho? 8) Quantas pessoas com deficiência, que foram acompanhadas pelo projeto, continuam no mesmo local de trabalho? Caso não continuem, quais foram os motivos? Questionário para a Coordenadora do Projeto de Empregabilidade 1) O projeto empregabilidade tem algumas fases como seleção de vagas, capacitação das pessoas com deficiência, visitas nas empresas para verificação de acessibilidade e supervisão para acompanhar a pessoa com deficiência na empresa. - Em todo esse processo como você gestora do projeto identifica que a pessoa com deficiência está rompendo com paradigmas ou se ainda as empresas continuam com ações de assistencialismo? 2) Como é identificado que a empresa x, precisa de atividade de sensibilização referente à pessoa com deficiência? Como é realizada essa atividade? 3) Por que o projeto promove, em uma determinada fase, um contato com as famílias das pessoas com deficiência? 4) Na visão de Gestora do Projeto Empregabilidade, como você identifica a responsabilidade do Poder Público, em relação ao segmento das pessoas com deficiência frente à sociedade? 5) Como exigir do Poder Público os direitos das pessoas com deficiência? 6) Na sua visão, como gestora do projeto empregabilidade, a lei de cotas é instrumento para efetivação de direito ou apenas marketing utilizado pelas empresas com o departamento de responsabilidade social? Quais os desafios a serem enfrentados na lei de cotas? 7) Quais são as condições de trabalho oferecidas para pessoas com deficiências nas empresas? 142 Questionário para a Gerente do Projeto Empregabilidade 1) Na visão de gerente do Projeto Empregabilidade, como você identifica a responsabilidade do Poder Público no que se refere às pessoas com deficiência frente à sociedade? 2) Como exigir do Poder Público aos direitos das pessoas com deficiência? 3) Na sua visão, como gerente do projeto empregabilidade, a lei de cotas é instrumento para efetivação de direito ou apenas marketing utilizado pelas empresas, no que se refere à chamada “ responsabilidade social”? Quais os desafios a serem enfrentados na lei de co tas? 4) Quais são as condições de trabalho oferecidas para pessoas com deficiências nas empresas? Questionário para o usuário 1) Qual o significado do trabalho para você? 2) Como você foi recebido pela equipe da empresa? 3) Quais foram as suas dificuldades nas atividades e com as pessoas da empresa? 4) O que APABB influenciou na sua vida através do projeto empregabilidade? Questionário para Núcleo São Paulo 1)Apesar do contato indiretamente com as pessoas com deficiência no projeto empregabilidade, pelas informações que você tem acesso, quais são as dificuldades que essas pessoas encontram para ter a inclusão no mercado de trabalho? 2)O que a APABB proporcionar para as pessoas com deficiência ter acesso ao mercado de trabalho? 3)No seu cotidiano de trabalho na APABB quais são as influências do projeto empregabilidade na vida das pessoas com deficiência? 04) Na sua opinião, e pelo conhecimento que você te m referente a lei de cotas, essa lei é instrumento para efetivação de direito das pessoas com deficiência?