Desmotomia do Ligamento Patelar Medial em Bovino com a

Transcrição

Desmotomia do Ligamento Patelar Medial em Bovino com a
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BARRA MANSA
PRÓ REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
DESMOTOMIA DO LIGAMENTO PATELAR MEDIAL EM BOVINO
COM A UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTO MODIFICADO
Gilmar Maximo Menezes
Barra Mansa
2008
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BARRA MANSA
PRÓ REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
DESMOTOMIA DO LIGAMENTO PATELAR MEDIAL EM BOVINO
COM A UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTO MODIFICADO
Gilmar Maximo Menezes
Monografia apresentada ao
curso de Medicina Veterinária do
Centro Universitário de Barra Mansa,
como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Medicina
Veterinária sob a orientação do
professor João Marcelo Silveira.
Barra Mansa
2008
DESMOTOMIA DO LIGAMENTO PATELAR MEDIAL EM BOVINO
COM A UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTO MODIFICADO
Gilmar Maximo Menezes
Trabalho Final de conclusão do
curso de Medicina Veterinária do
Centro Universitário de Barra
Mansa, submetido à aprovação do
Orientador e do Supervisor de TFC.
_____________________________
M.V. MSC. João Marcelo Silveira
Orientador de Monografia
_____________________________
M.V. Alexandre Galvão
Co-orientador de Monografia
_____________________________
Phd. Carlos Alberto Bento
Coordenador de Monografia
Barra Mansa
2008
AGRADECIMENTO.
Agradeço a Deus, a todos os amigos e colegas de classe e do meu convívio
que, por um longo período fizeram parte da minha vida e que torceram
incondicionalmente pelo meu sucesso.
Aos professores Alan Kardec da Silveira, Amanda Silva Pimentel, Carlos
Alberto Bento, Ercília da Conceição Delgado de Sousa, Bruno José Martini Santos,
que me ajudaram direta ou indiretamente, muitos mudando até o ritmo de seus
afazeres.
Dos mestres que me orientaram ( mestres sim pois, sem a devida orientação,
jamais poderia ter concluído este trabalho), eu só posso agradecer mesmo, e é por
isto que seus nomes constam aqui, João Marcelo Silveira e Alexandre Galvão.
Não posso deixar de agradecer aos proprietários dos animais envolvidos
neste trabalho, uma vez que foram grandes parceiros.
Agradeço a meu irmão Geraldo Magela de Menezes, personagem principal
que proporcionou a minha jornada no curso de Medicina Veterinária.
Dedico este trabalho a meu pai Geraldo Maximo de Menezes meus
irmãos Gabriel e Osório, meu sogro Mauricio, minha sogra Glenda (in
memórian), minha mãe Afoncina Ribeiro de Menezes, a qual me manteve
acolhido em teu ventre durante nove meses protegendo-me e preparando-me
para o que sou hoje, à minha segunda família, pai Chico (in memórian) e mãe
Nenzinha que dividiram o amor de seus filhos com um recém chegado, a
minha mãe Maria (in memórian), que acolheu o mesmo recém chegado para
uma longa mamada em seus fartos seios negros.
A minha esposa Claudia, minhas filhas Mariane e Paula e a todos os
demais familiares biológicos ou não, pelo carinho, compreensão, dedicação
e por terem me apoiado em todos os momentos, momentos estes, que muitas
vezes pareciam intransponíveis, mas que foram vencidos com muita luta,
garra, amor, perseverança e dedicação.
Dedico a todos os professores que dividiram comigo uma parte de
seus conhecimentos, e que esperam que assim como eles eu e meus colegas
formandos, possamos dividir tais conhecimentos com aqueles que ainda estão
por fazerem parte deste time,
Não posso deixar de citar os nossos amiguinhos a quem dedico de
todo coração este humilde trabalho...“Os animais”
...Pare de usar métodos
complicados
para
resolver
problemas fáceis, passe a utilizar
métodos simples para resolver
problemas fáceis e difíceis...
Alan Kardec da Silveira
RESUMO
MENEZES, Gilmar Maximo. Desmotomia do Ligamento Patelar Medial em
Bovinos com a Utilização de Instrumento Modificado, 2008. Nº fs, 53. Monografia
(Graduação em Medicina Veterinária) - Centro Universitário de Barra Mansa,
Barra Mansa-RJ.
A luxação patelar é uma patologia que acomete bovinos de várias raças de ambos
os sexos em diferentes idades, levando o animal a claudicação uni ou bi lateral dos
membros pélvicos, causando grandes prejuízos econômicos com o descarte
precoce. A desmotomia é uma técnica cirúrgica que quando aplicada corretamente
tem a capacidade de devolver aos animais os movimentos naturais. A cirurgia
consta de uma incisão de três centímetros na pele e secção do ligamento patelar
medial utilizando pinças e bisturi. Neste trabalho, foi utilizado exclusivamente um
desmótomo (instrumento experimental modificado), em 10 animais portadores de
luxação patelar, que permitiu uma técnica menos invasiva e traumática, oferecendo
maior agilidade na técnica e melhor recuperação dos mesmos no pós-operatório.
Palavras-chave: Bovinos. Desmótomo. Luxação patelar. Técnica cirúrgica.
ABSTRACT
MENEZES, Gilmar Maximo. Desmotomy of Medial patellar ligament in Bovines
with the use of Modified Instrument, 2008. Nº fs, 53. Monograph (Graduation in
Veterinary Medicine) - University Center of Barra Mansa, Barra Mansa-RJ.Brasil
The patellar luxation is a pathology that affects various bovines breeds from both
sex within different ages, bearing the animal to a unilateral or bilateral lamness of
the pelvic limb, what causes financial damage with the premature culling. When
correctly applied the desmotomy, a surgical practice, can return the natural
movements to the animals. The surgery consists of a three centimeters skin incision
and a medial patellar ligament section with the usage of tweezers and scalpel.
During this study was used a Desmotomer (modified experimental instrument
exclusively Desmotomy) on ten animals carrying the disease allowing a less
invasive and traumatic practice what lead to a better surgery recovery.
Keys words: Bovines. Desmotomer. Patellar luxation. Surgical technique.
SUMARIO
Pág.
1.
INTRODUÇÃO ......................................................................................... 12
1.1.
PROBLEMA ............................................................................................... 12
1.2.
OBJETIVOS................................................................................................ 14
1.2.1. Objetivo geral .............................................................................................. 14
1.2.2. Objetivos específicos ................................................................................... 14
1.3.
JUSTIFICATIVA ........................................................................................ 15
2.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................ 16
2.1.
SUMULA ANATÔMICA ........................................................................... 16
2.2
FISIOLOGIA E TÉCNICA ......................................................................... 27
3.
MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................... 35
3.1
CONTENÇÃO ............................................................................................. 37
3.2
ANESTESIA ................................................................................................ 40
3.3
TRANS-OPERATÓRIO .............................................................................. 40
3.4
PÓS-OPERATÓRIO .................................................................................... 45
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 46
5
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES................................................... 48
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................. 49
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Pág.
Lista de figuras
Figura 1: Membro posterior de bovino ................................................................... 20
Figura 2: Articulação fêmuro-tibio-patelar............................................................. 23
Figura 3: Cavidade da articulação fêmuro-tibio-patelar ......................................... 23
Figura 4: Ligamentos da articulação fêmuro-tibio-patelar ..................................... 25
Figura 5: Vista cranial da articulação fêmuro-tibio-patelar .................................... 25
Figura 6: Vista lateral da articulação fêmuro-tibio-patelar ..................................... 26
Figura 7: Vista medial da articulação fêmuro-tibio-patelar .................................... 26
Figura 8: Vista caudal da articulação fêmuro-tibio-patelar .................................... 27
Figura 9: Animal portador de Luxação Patelar unilateral ....................................... 29
Figura 10: Animal portador de Luxação Patelar bilateral. ...................................... 30
Figura 11: Confecção do instrumento experimental modificado para
a desmotomia do ligamento patelar medial ............................................................ 36
Figura 12: Animal contido mecanicamente em decúbito lateral............................. 38
Figura 13: Animal contido mecanicamente em estação no brete............................ 38
Figura 14: Animal contido mecanicamente em estação com corda ........................ 39
Figura 15: Palpação da articulação fêmur-tíbio-patelar .......................................... 39
Figura 16: Animal submetido a anestesia local infiltrativa contido em estação
no brete .................................................................................................................. 41
Figura 17: Animal submetido a anestesia local infiltrativa contido em estação
com corda ............................................................................................................... 41
Figura 18: Identificação do ligamento patelar medial por palpação direta ............. 42
Figura 19: Incisão e introdução do instrumento experimental modificado
atingindo o ligamento patelar medial ..................................................................... 42
Figura 20: Movimento de giro com o instrumento experimental modificado
para a realização da desmotomia do ligamento patelar medial ............................... 43
Figura 21: Ferimento cirúrgico evidenciando a não utilização de rafia .................. 43
Figura 22: Aplicação de spray cicatrizante no local da ferida cirúrgica ................. 44
Figura 23: Animal solto pós procedimento cirúrgico ............................................. 44
Lista de tabelas
Tabela 01: Dados dos animais utilizados no experimento ...................................... 37
12
1.
INTRODUÇÃO
1.1
PROBLEMA
De acordo com Jones (2000) a patologia consiste no estudo dos transtornos
das moléculas, células, tecidos e funções, ocorrentes nos organismos vivos em
resposta a agentes lesivos. Estes estudos podem ser abordados em quaisquer níveis
possíveis, pelos sinais clínicos óbvios, ou por sintomas subjetivamente
identificados pelo exame macroscópico da amostra.
Thomson (1993) afirma que a patologia é a ciência que estuda a doença,
abrangendo a natureza essencial, e é usualmente resumida como o estudo das
alterações funcionais e morfológicas dos tecidos e líquidos do organismo durante a
doença.
Nicolleti (2004) relata que claudicação é uma das principais patologias
causadora de dores e desconforto em bovinos, além de perdas econômicas que
podem atingir cifras expressivas principalmente na pecuária leiteira.
Smith (2006) descreve a claudicação como uma condição na qual o animal
está incapaz de se locomover normalmente. Geralmente é caracterizada pela
incapacidade de manutenção da marcha normal, manifestada por assimetria no
movimento, fraqueza, aparente incoordenação ou movimentação ineficiente dos
membros.
13
Radostits, Mayhew & Houston (2002) afirmam que é uma alteração na
postura ou marcha normal do animal, na maioria das vezes, mas nem sempre
associada à dor musculoesquelética. Em geral se manifesta por marcha irregular e
pode ser causado por doença dos músculos, ossos, articulações, tecidos moles ou
sistema nervoso.
A luxação patelar em bovinos é uma patologia que vem causando grandes
prejuízos econômicos dentro do rebanho de produção, uma vez que leva o animal a
claudicar, contribuindo para que o mesmo não desempenhe seu total potencial
produtivo e reprodutivo. Pesquisas em rebanhos leiteiros têm demonstrado que 25 a
30% das vacas são acometidas por claudicação a cada ano. As causas de perdas
econômicas decorrentes da claudicação incluem queda na produção leiteira,
aumento do intervalo entre parto e concepção, aumento da taxa de descarte
involuntário.
De acordo com Silva et al (2004) em criações extensivas os animais perdem
peso gradativamente, refletindo de forma negativa em sua produtividade decorrente
do difícil acesso às pastagens.
Para Paddleford (2001) a dor é uma percepção. A não ser que exista o
reconhecimento de um estímulo nocivo pelo sistema nervoso central, nenhuma
resposta ou adaptação irá ocorrer. A dor patológica está associada com cirurgia ou
processos patológicos que provocam lesões de órgãos ou tecidos. Pode ser aguda
ou crônica, de origem somática ou visceral, pode apresentar graus variáveis de
intensidade.
Dentro do contexto, a hipótese deste trabalho é que o emprego de uma
técnica cirúrgica apropriada com a utilização de um instrumento modificado,
14
acompanhada de anestesia local, possa resolver a claudicação causada pela luxação
patelar diminuindo o trauma causado pelo procedimento e o tempo de realização da
cirurgia.
1.1
OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo geral
• Contribuir para melhor conhecimento da técnica cirúrgica da
desmotomia do ligamento patelar medial em bovinos.
1.1.2 Objetivos específicos
• Realizar o tratamento cirúrgico em 10 animais utilizando instrumento
experimental modificado para a desmotomia do ligamento patelar
medial em bovino, visando a sua re-introdução no rebanho de
produção.
• Verificar as vantagens do instrumento na técnica cirúrgica.
• Avaliar a melhor forma de contenção para a realização do
procedimento.
15
1.3
JUSTIFICATIVA
Este trabalho justifica-se teórica e praticamente uma vez que o animal
portador de luxação patelar perde seu potencial de locomoção, gerando perdas
econômicas com seu descarte precoce.
16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 SÚMULA ANATÔMICA
•
Membro pélvico
De acordo com Dyce (2004), o aspecto angular dos quartos posteriores dos
bovinos deve-se, em parte, à formação robusta da cintura pélvica, muito da qual se
delineia abaixo da pele, e em parte ao fraco desenvolvimento dos músculos da
garupa. A linha que une as tuberosidades coxal e isquiática revela a inclinação da
pelve. Um ângulo maior que o usual esta associado a uma entrada pélvica mais
vertical; um ângulo menor (anca achatada) requer que o fêmur seja levado mais
verticalmente, uma conformação que se acredita predispor a traumatismo da
articulação coxofemural por concussão. Nem inspeção nem palpação revelam
diretamente a posição desta articulação, que deve ser deduzida por referência ao
trocânter maior, palpável; este se situa lateral, e ligeiramente caudal, à cabeça do
fêmur, abaixo da linha intertuberal.
•
Pele e anexo
A pele ou tegumento comum é o maior órgão do corpo, representando a
barreira física entre o meio ambiente e o organismo. Impede a perda de liquido e a
invasão de microrganismos em tecidos moles (JONES, 2000).
17
Sisson & Grossman (1986) e Dyce (2004), afirmam que a pele envolve
completamente o corpo e une-se as mucosas nas diversas aberturas naturais. Em
seu estado normal, protege contra abrasões e lacerações superficiais e ainda invasão
por microrganismos, desempenha um papel importante na termorregulação e sendo
praticamente impermeável.
Dyce (2004) cita que a coloração da pele depende parcialmente da presença
de grânulos de pigmento em determinadas células componentes. Estes pigmentos
protegem contra a radiação ultravioleta e estão relacionados com a capacidade em
refletir o calor do sol, que pode elevar a temperatura corpórea.
Os pêlos recobrem quase toda superfície do corpo dos mamíferos
domésticos, e algumas partes que à primeira vista parecem ser desprovidas
apresentam em inspeção apurada, pêlos muito finos e esparsos. Estão
constantemente sendo desprendidos e substituídos, porém em certos períodos, no
cavalo, eles caem em grandes números.
Em algumas espécies são dirigidos de tal maneira a formar mais ou menos
pêlos distribuídos, e em certos pontos estes convergem para formar vértices. A
parte dos pêlos acima da superfície da pele é a lança, enquanto a raiz está situada
em uma depressão chamada folículo piloso (SISSON & GROSSMAN, 1986).
•
Fáscias
Sisson & Grossman (1986), relatam que a fáscia superficial é escassa. Nos
animais, em boa condição, ela contém considerável gordura até metade da coxa. A
18
fáscia profunda é uma forte lâmina e emite septos intermusculares que passam
profundamente entre os músculos.
A profunda fáscia glútea cobre a região do quadril. Ela é contínua com a
fáscia toracolombar cranialmente. Sua borda medial está inserida nos ligamentos
sacroilíacos dorsais; sua borda caudal está inserida no ligamento sacrotuberal largo.
Lateralmente, ela passa sob a borda lateral do músculo glúteo médio e insere-se na
borda lateral do ílio.
A fáscia femoral profunda é denominada de acordo com sua localização,
enquanto a fáscia latae está na superfície lateral. A fáscia superficial da região
femoral medial é escassa, a profunda forma uma lâmina definida mas não é tão
espessa quanto a fáscia latae, com a qual ela é contínua. A fáscia crural superficial
é bastante limitada em sua quantidade, contém os nervos e vasos superficiais,
pouca gordura e sem outras características importantes.
•
Músculos
O músculo tem como função principal conferir a sustentação e movimentos
do corpo e representam de 40 a 50 %, do peso corporal. São órgãos responsáveis
pelo movimento dos animais e constituídos por tecido muscular caracterizando-se
pela sua contractilidade. O músculo funciona aproximando a origem e inserção
muscular pela contração (JONES, 2000).
O músculo esquelético consiste de feixes de fibras multinucleadas, os
núcleos estão dispostos perifericamente e as fibras parecem ser estriadas
transversalmente devido à alteração de dos miofilamentos espessos e finos das
miofibrilas. Cada músculo esquelético é suprido por feixes de fibras nervosas que
19
se separam, de modo variável, fora e dentro das partes mais profundas do músculo.
Na maioria dos músculos, próximos a junções com o tendão, há fusos
neuromusculares. O fuso contém uma ou mais fibras, cada suprida de grandes
fibras nervosas. O músculo pode se originar de uma fáscia larga e inserir-se por um
único tendão (SISSON & GROSSMAN, 1986).
•
Ossos
De acordo com Jones (2000) os ossos se compõem basicamente, de uma
substancia mineral na forma de hidroxiapatita de cálcio, e por colágeno do tipo I
numa substancia fundamental de glicosaminoglicanas.
O membro pélvico, segundo Sisson & Grossman (1986) e Dyce (2004), é
composto de quatro segmentos, o cíngulo pélvico, coxa (fêmur e patela), perna
(tíbia e fíbula), pé (tarso, metatarso e dedos falanges e ossos sesamóides). O
cíngulo pélvico é formado pelos ossos ílio, ísquio e pubs que se unem para formar
o acetábulo, uma grande cavidade cotilóide que se articula com a cabeça do fêmur.
A coxa é composta pelo osso fêmur, longo cilíndrico no seu meio e
prismático distalmente, a patela, é muito espessa com a face cranial fortemente
convexa rugosa e irregular. Comporta-se como um osso sesamóide no tendão do
músculo quadríceps femoral e apresenta sua superfície articular voltada para o
fêmur. Sua superfície livre situa-se sob a pele, sua base proximal serve como
superfície de inserção muscular e seu ápice direciona-se ventralmente.
20
Nos bovinos segundo Konig & Liebich (2002), a superfície medial
apresenta uma expansão cartilagínea, denominada fibrocartilagem parapatelar
medial.
A perna compreende a tíbia perfeitamente encurvada com o lado medial
convexo, apresentando sulcos e cristas e a fíbula com a cabeça fundida ao côndilo
lateral da tíbia é continuada distalmente por um pequeno prolongamento, o pé é
composto pelos ossos társicos, metatársicos e dedos (SISSON & GROSSMAN,
1996 e DYCE, 2004) (Figura 1).
Figura 1: Membro posterior do bovino (KONIG & LIEBICH, 2002).
•
Articulação
Sisson & Grossman (1986) descreveram que a articulação sacroilíaca e os
ligamentos pélvicos não apresentam nenhuma diferença marcante. A articulação do
21
quadril apresenta pouca profundidade do acetábulo é compensada pelo maior
tamanho da cartilagem marginal, que é especialmente grande lateralmente. A
cabeça do fêmur tem um raio de curvatura menor do que o do eqüino,e a superfície
articular se estende em uma considerável distância lateralmente, na superfície
dorsal do colo. O ligamento redondo é inteiramente intra-articular e pequeno. O
ligamento acessório está ausente.
Sisson & Grossman (1986) citam que na articulação do joelho existe uma
considerável comunicação entre as cavidades articulares femuropatelar e
femurotibial medial, ela está situada como no eqüino, mas é mais larga. Uma
pequena comunicação com a cápsula femurotibial lateral pode ocorrer. As duas
cápsulas femurotibiais normalmente se comunicam. O ligamento patelar médio não
está afundado, como também não há sulco na tuberosidade da tíbia onde ele se
insere. O ligamento patelar lateral funde-se completamente com o tendão de
inserção do músculo bíceps, e uma grande bolsa sinovial está interposta entre eles e
o côndilo lateral do fêmur (Figura 2).
Konig & Liebich (2002) citam que a articulação do joelho é do tipo
condilar, composta e incongruente. Nessa articulação, podem ser diferenciadas à
articulação femurotibial entre o fêmur e a tíbia, articulação femuropatelar entre o
fêmur e a patela.
Dyce (2004) também afirma que a articulação do joelho assemelha-se à
aquela do eqüino por possuir três ligamentos patelares e uma tróclea assimétrica. A
patela, os ligamentos patelares e a tuberosidade tibial podem ser palpados em sua
22
superfície cranial; duas “covinhas” palpáveis na extremidade proximal da
tuberosidade separam e identificam convenientemente os três ligamentos. O
epicôndilo femural saliente, o ligamento colateral (e sua ligação à fíbula
rudimentar), e mais cranialmente, a origem comum dos extensores fibular longo e
fibular terceiro são palpáveis na face lateral.
Como no eqüino, o ligamento patelar intermediário, a patela, a
fibrocartilagem medial e o ligamento patelar medial associam-se, formando uma
alça que passa sobre a extremidade proximal expandida da crista medial da tróclea
femural. Embora relativamente pouco esforço muscular mantenha a alça no local,
evitando flexão do joelho, o mecanismo de forma alguma é tão eficiente como o do
cavalo, no qual o joelho pode ser totalmente fechado.
As cavidades articulares femoropatelar e femorotibial medial sempre se
comunicam, mas a articulação femorotibial lateral não se comunica com nenhuma
das outras duas (Figura 3).
Articulação tibiofibular conta com uma extremidade proximal da fíbula, a
qual funde-se com o côndilo lateral da tíbia. A extremidade distal permanece
separada e forma uma artrose com a extremidade distal da tíbia, o movimento aqui
é imperceptível, pois os dois ossos estão intimamente unidos por fortes fibras
periféricas (SISSON & GROSSMAN, 1986).
23
Figura 2: Articulação fêmuro-tibio-patelar (DYCE, 2004).
Figura 3: Cavidade da articulação fêmuro-tibio-patelar
(FOTO DO AUTOR, 2008).
24
•
Ligamentos
Os ligamentos são fortes cintas, geralmente compostos de tecido fibroso
branco, que unem os ossos entre si. Eles são praticamente inelásticos. Podem ser
subdivididos, de acordo com sua posição, em peri ou extra-articulares e intraarticulares. Os ligamentos extra-articulares estão freqüentemente fusionados com a
cápsula fibrosa ou fazendo parte dela; em outros casos eles são perfeitamente
distintos. Os que estão situados nos lados de uma articulação denominam-se
ligamentos colaterais. Rigorosamente falando, ligamentos intracapsulares, embora
dentro da cápsula fibrosa, não estão dentro da cavidade articular; a membrana
sinovial reflete-se sobre eles.
Aqueles que põem em conexão direta com
superfícies ósseas opostas denominam-se ligamentos interósseos.
Em muitos
pontos os músculos, tendões e espessamento da fáscia funcionam como ligamentos
e aumentam a segurança da articulação. A pressão atmosférica e a coesão
desempenham uma considerável parte na manutenção das superfícies articulares em
aposição (SISSON & GROSSMAN, 1986) (Figuras 4, 5, 6, 7).
•
Meniscos
Meniscos Articulares são placas de fibrocartilagem ou tecido fibroso denso
embutidos entre as cartilagens articulares; eles dividem a cavidade articular parcial
ou completamente em dois compartimentos. Tornam mais congruentes certas
superfícies articulares, permitem maior amplitude e variedade de movimentos e
diminuem a concussão (SISSON & GROSSMAN, 1986) (Figura 8).
25
Figura 4: Ligamentos da articulação fêmuro-tibio-patelar
(FOTO DO AUTOR, 2008).
1
3
2
Figura 5: Vista cranial da articulação fêmuro-tibio-patelar mostrando os ligamentos
patelar lateral 1, intermédio 2, medial 3
(FOTO DO AUTOR, 2008).
26
2
1
3
Figura 6: Vista lateral da articulação fêmuro-tibio-patelar mostrando os ligamentos
patelar lateral 1, fêmuro patelar lateral 2, colateral lateral 3
(FOTO DO AUTOR, 2008).
3
4
1
2
Figura 7: Vista medial da articulação fêmuro-tibio-patelar mostrando os ligamentos
patelar medial 1, intermédio 2, fêmuro patelar medial 3, colateral medial 4
(FOTO DO AUTOR, 2008).
27
1
4
2
5
3
Figura 8: Vista caudal da articulação fêmuro-tibio-patelar, mostrando os ligamentos
fêmural do menisco lateral 1, tibial do menisco lateral 2, cruzado caudal 3,
meniscos lateral 4, medial 5 (FOTO DO AUTOR, 2008).
2.2 FISIOLOGIA E TÉCNICA
Segundo Radostits, Mayhew & Houston (2002) luxação patelar é em geral
uma doença de bovinos adultos. Uma extensão caudal de um membro posterior,
seguida por espasmo cranial súbito do membro associado a um estalido nítido e um
deslocamento de ossos de uma articulação, resultando em um desvio do ângulo
normal da articulação.
Ferreira et al (1991), cita que a luxação patelar é uma desordem funcional
das articulações, fêmuro-tibio-patelar, encontrada em grandes animais, podendo a
enfermidade ocorrer em bovinos de forma uni ou bi-lateral, temporária ou
permanente, em ambos os sexos, em diferentes idades, raças e durante todo o ano.
28
Como conseqüência de uma incapacidade locomotora relativa, os animais
acometidos pelo problema podem apresentar perda de peso progressiva com
reflexos na sua produtividade, o que representa níveis consideráveis de prejuízos
econômicos.
As causas predisponentes mais prováveis da luxação patelar são a
deficiência nutricional, o tipo de trabalho, a topografia acidentada do ambiente
criatório, hereditariedade e traumatismos, além da correlação existente com o
período de gestação e lactação (Figura 9,10).
Luxação dorsal de patela é uma enfermidade observada em grandes
animais, ocorrendo em bovinos de forma uni ou bilateral, ambos os sexos,
diferentes raças e geralmente em adultos. (Silva et al, 2004).
De acordo com Garcia (2008) trata-se de uma enfermidade de origem
genética, em que ocorre a fixação permanente ou temporária da patela na porção
superior da tróclea do fêmur.
Esta fixação da patela impede que o membro posterior do animal flexionese normalmente. É uma condição bastante freqüente em gado leiteiro e o animal
afetado não consegue flexionar o membro afetado, mantendo estendido para trás.
Na maioria das vezes, esta condição é transitória e ora aparece, ora
desaparece. A ponta do casco afetado costuma apresentar certo desgaste na sua
porção dorsal, uma vez que o animal arrasta o membro afetado quando este está
estendido.
A técnica cirúrgica de desmotomia patelar medial é comumente realizada
para o tratamento da fixação dorsal da patela. É de fácil execução e na maioria dos
casos seus resultados são imediatos (MARTINS et al, 2008).
29
Luxações articulares necessitam de redução imediata (manual ou
cirurgicamente, sob anestesia) para evitar danos adicionais aos músculos e tecidos
moles ou contraturas que impediriam futura redução ou retorno à função. Indica-se
repouso em baia e tratamento de suporte após a redução (SMITH, 2006).
Figura 9: Animal portador de Luxação Patelar unilateral, membro direito
(FOTO DO AUTOR, 2008).
30
Figura 10: Animal portador de Luxação Patelar bilateral
(FOTO DO AUTOR, 2008).
O tratamento da luxação patelar é basicamente cirúrgico. Para tanto, faz-se
uma infiltração de 10 ml de lidocaína a 2% na face ventral da coxa. Após a
tricotomia da região, faz-se uma incisão de 3 cm na altura do ligamento patelar
medial, o qual deve ser seccionado na sua inserção na tuberosidade da tíbia
(GARCIA et al, 2008).
Silva et al (2004) relatam a possibilidade da realização da desmotomia do
ligamento patelar medial empregando técnicas distintas. A primeira foi realizada
após incisão cutânea de quatro centímetros e exposição do ligamento por meio de
pinça hemostática de crile. Na segunda técnica empregou-se incisão de pele de
meio centímetro, praticando-se a desmotomia com instrumental desenvolvido
especificamente para esse fim.
31
O conhecimento das diversas estruturas que compõem o membro do bovino
é fundamental para o desenvolvimento de estudos envolvendo biomecânica, bem
como para a compreensão das enfermidades que resultam em claudicações nessa
espécie. Assim, qualquer estudo do aparelho locomotor dos bovinos baseia-se em
um perfeito conhecimento anatomofisiológico e na etiopatogenia dessas
enfermidades. A raça do animal é outra informação importante, pois algumas
afecções podem apresentar maior prevalência em determinadas raças, em razão de
fatores hereditários ou características raciais que atuam predispondo determinadas
doenças freqüentemente em machos ou fêmeas (FEITOSA, 2004).
O primeiro passo e freqüentemente o mais importante na abordagem
diagnóstica do ruminante enfermo é o exame físico. A anamnese é realizada ao
longo desse processo por meio do questionamento do proprietário/ administrador
durante o exame do animal. O examinador deve obter o quadro clínico por meio da
observação ou do questionamento do proprietário. A informação que alguém deseja
obter enquanto ouve o histórico é a que está relacionada com a queixa principal, a
duração, se o início foi gradual ou súbito e quaisquer sinais associados que tenham
sido observados. O examinador também deve obter o histórico de vacinação e
vermifugação, além de perguntar sobre as pastagens e alojamentos para determinar
a influência que os fatores de manejo têm sobre a incidência da doença. As doenças
prévias observadas no rebanho, os regimes terapêuticos utilizados e a resolução dos
problemas anteriores são aspectos pertinentes. Um exame completo deve ser
realizado sempre, mesmo que a queixa principal seja facilmente identificável.
O exame físico fornece ao veterinário a informação que é usada para avaliar
o estado de saúde do paciente. A claudicação pode ser observada por meio da
avaliação da relutância em sustentar o peso total no membro acometido, tanto em
estação caminhando. A perda das capacidades flexoras ou extensoras das
32
articulações é vista na paralisia ou paresia neural; ela também pode ser causada por
contratura tendínea e ou articular, na qual as articulações estão rígidas. Com
animais lúcidos e alertas em decúbito, é essencial um exame completo para excluir
fraturas ou traumatismo articular grave. Para ser capaz de julgar o comportamento
do animal como normal ou anormal, o observador deve ter muita experiência. A
observação do animal à distância permite a avaliação do comportamento alimentar
e de ingestão de água , bem como se o animal está ruminando , urinando e
defecando. Como o animal se levanta ou de deita e como caminha também é
importante (SMITH, 2006).
Antes de proceder-se ao exame dos dígitos, ossos, articulações, tendões e
músculos, deve-se certificar de que o bovino está adequadamente contido. Essa
contenção pode ser realizada de várias maneiras, sempre considerando o
temperamento do animal a ser examinado. Os métodos de contenção variam na
dependência do temperamento do animal a ser examinado. A utilização de bretes e
de troncos para o exame do aparelho locomotor apresenta-se como uma ótima
opção de contenção, pois permite a inspeção e a palpação sem a necessidade
imediata de sedação ou anestesia. Outra possibilidade de contenção, quando da
ausência desses bretes, seria o posicionamento em decúbito lateral, sobre o solo,
por meio de cordas. Ao executar-se qualquer um dos métodos de contenção física,
objetivando o exame do aparelho locomotor, deve-se a princípio, evitar a utilização
de sedativos e analgésicos que possam influenciar no resultado dos testes de
sensibilidade a serem utilizados. A manutenção dos bovinos em decúbito lateral,
especialmente quando da administração de tranqüilizantes e anestésicos, deve ser o
mais breve possível e restringir-se ao menor tempo necessário para que o
procedimento seja realizado, reduzindo, dessa maneira, os riscos de miopatias,
33
neuropatias, regurgitação e pneumonias por falsa via. Animais muito pesados ou
demasiadamente magros devem receber cuidados redobrados (FEITOSA, 2004).
De acordo com Muir et al (2001) a posição em estação é ideal para a
cirurgia em ruminantes porque reduz os problemas associados ao timpanismo,
salivação, regurgitação relacionados com o decúbito e os traumatismos musculares
e neurológicos.
Radostits, Mayhew & Houston (2002) afirmam que a obtenção de uma
anamnese acurada é um componente essencial do exame clínico de um animal com
claudicação, podendo fornecer indícios como a causa exata do problema. O exame
a distância com o animal em estação contido ou em marcha, é fundamental para um
bom diagnóstico, bem como exame direto ou físico, incluindo palpação,
manipulação, auscultação, flexão, extensão passiva e percussão.
Lazzeri (1994) define anestesia como sendo a privação geral ou parcial de
sentir. A anestesia pode ser deliberadamente provocada por meio de aplicação de
substâncias químicas, ou de outros recursos. A anestesia da dor chama-se analgesia
ou analgia. A anestesia se divide em três grupos principais, a anestesia geral,
regional e local.
A anestesia local é aquela que se pratica visando insensibilizar uma área
restrita (pequena porção do organismo), a fim de se poder praticar pequenas
cirurgias. A anestesia local pode ser dividida em infiltrativa, pirâmide, pedicular,
linha de incisão e das bolsas e bainhas sinoviáis.
Em linha de incisão é aquela em que o anestésico é distribuído em linha,
sob a pele onde deverá ocorrer a incisão.
34
Muir et al (2001) afirmam que as anestesias tópicas, infiltrativas, epdural,
intravenosa e bloqueio dos nervos são as técnicas mais comumente utilizadas em
ruminantes para a maioria das intervenções cirúrgicas.
Os anestésicos locais produzem dissensibilização e analgesia da superfície
cutânea, de tecidos e bloqueio regional. São agentes estabilizantes de membrana,
que entram e ocupam os canais de membrana pelos quais os íons normalmente se
movem e previnem o fluxo interno de sódio, bloqueando o fluxo iônico
subseqüente.
As técnicas anestésicas locais são alternativas à anestesia intravenosa e
inalatória. Os fármacos mais utilizados no bloqueio local são o cloridrato de
lidocaína e mepivacaina. Estes agentes tem latência curta e produzem anestesia por
um período moderado entre 90 e 120 minutos.
Massone (2003) cita que a desmotomia em bovino, deve ser feita com o
animal tranqüilizado, derrubado e devidamente contido, pois a força nos membros
posteriores deve ser respeitadas e dominada. O fato importante é respeitar a
condição anatômica, pois a desmotomia do ligamento errado inutilizará o animal
em sua marcha. O local a ser feita a incisão, deve ser higienizado com água e
sabão, efetuar antissepsia, palpar o ligamento patelar medial, infiltrar lidocaina a
2% em uma linha de incisão longitudinal, em espinha de peixe sobre o ligamento e
arredores.
35
3. MATERIAL E MÉTODOS
O desmótomo, instrumento utilizado para a realização da desmotomia, foi
obtido através de modificações feitas em uma faca serrilhada de inox, que passou
por vários processos de cortes, recortes, limagens, esmerilhagens, medições e
afiações. O cabo mede 12 centímetros de comprimento, a lâmina mede 1,5
milímetros de espessura, 18 centímetros de comprimento e 1,5 centímetros de
largura , dando um total de aproximadamente 30 centímetros de comprimento. O
ápice é pontiagudo com corte fino em ambas as extremidades para atravessar a pele
e ligamentos. A base afiada de 8cm, proporciona à ferida cirúrgica, um corte
preciso sem a formação de bordas irregulares (Figura 11). O mesmo foi testado
várias vezes e em várias peças oriundas de bovinos necropsiados na fazenda escola
Vila Pepita, onde puderam ser observadas possíveis falhas no projeto e corrigidas
para uso em animais vivos portadores da luxação patelar.
O desmotomo foi esterilizado antes dos procedimentos cirúrgicos aplicados
em todos os animais portadores de luxação patelar.
No presente trabalho, foram utilizados 10 animais (bovinos, fêmeas
mestiças de diferentes propriedades com idades variando entre 04 e 07 anos), os
quais foram examinados e considerados como portadores de claudicação
decorrentes de uma patologia a nível da articulação fêmur tíbio patelar,
diagnosticada como luxação patelar (Tabela 01).
Foi administrada vacina antitetânica para todos os animais 21 dias antes do
procedimento cirúrgico como tratamento preventivo do Clostridiun tetani.
36
Figura 11: Confecção do desmótomo, instrumento experimental modificado para a
desmotomia do ligamento patelar medial em bovino
(FOTO DO AUTOR, 2008).
37
Tabela 01: Dados dos animais utilizados no experimento.
Nº de
Idade dos animais
localidade
Grau de sangue
01
04 anos
Porto Real-RJ
Nelore
01
05 anos
Barra Mansa-RJ
3/4 Holandez/Gir
01
06 anos
Barra Mansa-RJ
1/2 Gir/Holandez
01
06 anos
Resende-RJ
1/2 Gir/Holandez
03
07 anos
Quatis-RJ
5/8 Gir/Holandez
01
07 anos
Quatis-RJ
1/2 Gir/Holandez
02
08 anos
Bocaina de Minas-MG
3/4 Holandez/Gir
animais
3.1
CONTENÇÃO
Os animais foram submetidos a jejum prévio de volumoso por 12 horas e
hídrico de 6 horas. A contenção mecânica foi realizada conforme a estrutura de
cada propriedade. A medicação pré-anestésica não foi necessária. Dois animais
foram contidos em decúbito lateral, com auxílio de corda, onde os membros
torácicos e pélvicos foram amarrados, sendo estes últimos esticados para melhor
acesso à área de intervenção (Figura 12). Três animais foram contidos em estação
no brete (Figura 13). Cinco animais foram contidos em estação com corda (Figura
14).
Após Palpação da articulação fêmur-tibio-patelar, foi realizada ampla
tricotomia e posterior antissepsia com álcool à 70% (Figura 15).
38
Figura 12: Animal contido mecanicamente em decúbito lateral
(FOTO DO AUTOR, 2007).
Figura 13: Animal contido mecanicamente em estação no brete
(FOTO DO AUTOR, 2008).
39
Figura 14: Animal contido mecanicamente em estação com corda
(FOTO DO AUTOR, 2008).
Figura 15: Palpação da articulação fêmur-tíbio-patelar
(FOTO DO AUTOR, 2008).
40
3.2
ANESTESIA
De acordo com Massone (2003), Lazzeri (1994) e Muir et al (2001), a
anestesia realizada nos animais foi a infiltrativa local, com cloridrato de lidocaína à
2%, utilizando-se uma seringa de 20 ml e agulha 25 x 7, em uma linha reta de
incisão e em espinha de peixe sobre o ligamento patelar medial. (Figuras 16 e 17).
3.3
TRANS-OPERATÓRIO
Após terem sido tomadas todas as medidas do preparo do campo cirúrgico,
novamente identificou-se através de palpação direta no membro posterior, o
ligamento patelar medial (Figura 18).
Uma nova antissepsia foi feita após a palpação e a desmotomia foi realizada
com o auxílio do instrumento modificado. Sendo este introduzido através da pele
do animal fazendo-se uma incisão de aproximadamente 1 cm ( Figura 19), após sua
passagem pela cápsula articular, atingiu-se diretamente o ligamento patelar medial,
onde foi feito um leve movimento de giro e utilizando de um corte fino e preciso na
base do instumento, quando da retirada, o mesmo faz a secção do ligamento ao que
se dá o nome de Desmotomia (Figura 20).
Não foi feita a rafia da pele, utilizou-se somente o spray cicatrizante sendo
feita a soltura dos animais (Figuras 21, 22 e 23).
41
Figura 16: Animal submetido a anestesia local infiltrativa contido em estação no
brete (FOTO DO AUTOR, 2008).
Figura 17: Animal submetido a anestesia local infiltrativa contido em estação com
corda (FOTO DO AUTOR, 2008).
42
Figura 18: Identificação do ligamento patelar medial por palpação direta
(FOTO DO AUTOR, 2008).
Figura 19: Incisão e Introdução do instrumento experimental modificado atingindo
o ligamento patelar medial (FOTO DO AUTOR, 2008).
43
Figura 20: Movimento de giro com o instrumento experimental modificado para a
realização da desmotomia do ligamento patelar medial
(FOTO DO AUTOR, 2008).
Figura 21: Ferimento cirúrgico evidenciando a não utilização de ráfia
(FOTO DO AUTOR, 2008).
44
Figura 22: Aplicação de spray cicatrizante no local da ferida cirúrgica
(FOTO DO AUTOR, 2008).
Figura 23: Animal solto após o procedimento cirúrgico
(FOTO DO AUTOR, 2008).
45
3.4
PÓS-OPERATÓRIO
No período pós-operatório, foi realizada diariamente limpeza da ferida
cirúrgica com água e sabão neutro, com posterior aplicação de spray cicatrizante e
administração de Oxitetraciclina na dosagem de 20mg/kg de peso vivo, por via
intramuscular, durante 5 dias.
Os animais, todos em fase de lactação, foram acompanhados com maior
atenção pelos proprietários durante 30 dias. Neste período não foi observado
claudicação pela luxação patelar e não foi observado queda na produção leiteira.
Foi realizada uma visita nas propriedades participantes deste trabalho após
30 dias de pós-operatório, para uma avaliação dos animais operados.
46
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As técnicas de contenção utilizadas, mostraram-se eficazes, oferecendo
segurança tanto para animal quanto para a equipe cirúrgica. Não ocorreu durante o
experimento nem um tipo de acidente o que veio a confirmar a garantia de sua
utilização, concordando com (FEITOSA, 2004 e MUIR et al, 2001).
A utilização de medicamentos pré-anestésicos para tranquilização não foi
necessária, devido à necessidade de obter-se uma avaliação imediata após a soltura
dos animais, discordando do relatado por (MASSONE, 2003).
A anestesia utilizada foi a local infiltrativa, com cloridrato de lidocaína,
mostrando-se bastante eficaz no controle da dor, conforme as descrições de
(LAZZERI, 1994, MUIR et al, 2001 e MASSONE, 2003).
O tratamento realizado para correção da luxação patelar foi o cirúrgico
conforme descrevem (SILVA et al, 2004, MARTINS et al, 2008 e GARCIA et al
2008).
A desmotomia do ligamento patelar medial foi realizada de acordo com a
técnica cirúrgica descrita por Silva et al (2004), onde realizou-se uma incisão de
pele de meio centímetro, praticando-se a desmotomia com instrumental
desenvolvido especificamente para esse fim.
A cirurgia consta da secção do ligamento patelar medial, sendo suficiente
para resolver o problema apresentado pelo animal. O ato cirúrgico foi realizado
exclusivamente com o instrumento modificado, sendo que este contribuiu para um
47
procedimento menos traumático, permitindo agilidade na técnica garantindo assim
a preservação da cápsula articular que apresenta estreita relação com o ligamento
patelar medial, pois o menor erro poderia causar ao animal, seqüelas irreparáveis,
tornando o mesmo inutilizado para sua vida reprodutiva.
No pós-operatório, os animais foram observados diariamente pelos
proprietários, sem a administração de antinflamatórios.
Após trinta dias de pós-operatório, os animais foram avaliados, onde não
constatou-se reincidência da patologia.
Os conhecimentos teóricos e práticos de técnicas cirúrgica e anatômicas
aplicados, respeitando as particularidades da articulação fêmuro-tibio-patelar do
bovino foram de grande importância para a obtenção de resultados favoráveis,
conforme preconiza (MASSONE, 2003).
A técnica de contenção dos animais em estação mostrou-se tão eficaz
quanto a em decúbito lateral, porém com menos trauma e estresses para o animal e
com diminuição do tempo do trans- operatório.
Com a utilização da anestesia local infiltrativa, pode-se obter imediata
observação da eficiência da técnica empregada quando da soltura dos animais.
O uso de um instrumento modificado experimentalmente, contribuiu para
uma técnica menos cruenta, onde pôde dispensar a utilização de vários outros
instrumentos cirúrgicos, fios e agulhas para rafías, o mesmo não contribui para o
emprego desta ou de outras técnicas cirúrgicas por pessoas sem conhecimentos
anatomofisiológico ou mesmo por profissionais que não possuam conhecimentos
básicos.
48
5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
O conjunto de fatores que foram agregados a esta técnica, mostrou um
excelente resultado envolvendo tempo, manejo e execução, o que não incrimina e
ou vem a desmerecer antigas, atuais e futuras técnicas.
Concluiu-se que os procedimentos cirúrgicos empregados resultaram na
recuperação de todos os animais, que a técnica de contenção em estação no brete
foi a mais satisfatória e que o instrumental desenvolvido permitiu a realização da
desmotomia patelar medial, de forma segura, rápida, menos invasiva e com
menores índices de complicações pós-operatórias.
Desse modo, recomenda-se aos Médicos Veterinários, que busquem dentro
desta e de demais técnicas operatórias, maiores e melhores soluções, que se façam
mais testes do instrumento aqui descrito e que investiguem os resultados para que
mais trabalhos sejam feitos objetivando possíveis melhorias, não deixando de
compará-los com outros trabalhos.
As vantagens que a técnica cirúrgica proporcionou, bem como os métodos
de contenção, recomenda-se o seu uso quando necessário, para a desmotomia do
ligamento patelar medial em bovinos.
Que os pecuaristas busquem através dos profissionais, orientações,
tratamentos e intervenções adequadas para uma possível solução de problemas
existentes em seu plantel.
Que sejam fiéis na descrição dos acontecimentos e que não sejam tardios na
busca por orientação profissional de um médico veterinário.
49
BIBLIOGRAFIA
DYCE, K. M. ; SACK, W. O.; WENSING, C.J.G., Tratado de Anatomia
Veterinária 3ª edição, Editora Elsevier, Rio de Janeiro-Rj, Pág 3, 44-46, 93-95,
341-342, 726-727, 730-733, 2004.
FEITOSA, F. L. F., Semiologia Veterinária, A Arte do Diagnostico, Editora Roca,
São Paulo-SP, pág 549, 553, 557-564, 2004.
FERREIRA, H, I.; TONIOLLO, G, H.; SILVA, L, A, F.; ALVES, G, H, S.;
SILVEIRA, J, M.; DEL CARLO, R, J. Tratamento de Luxação de Patela em
Bovinos pela Desmotomia em Estação Quadrupedal. Arquivo Brasileiro de
Medicina e Zootecnia, v. 43, n. 4, pág 329-335, 1991.
GARCIA, M.; ALICE, M, M, P, L, D.; FILHO, I, R, F., Afecções do Sistema
Locomotor. Guia On Line de Clínica Buiátrica 2008, disponível em:
http://www.mgar.com.br/clinicabuiatrica/aspLocomotor.asp. Acessado em 22 de
setembro de 2008.
KONIG, H. E.; LIEBICH, H.G., Anatomia dos Animais Domésticos, Texto e Atlas
Colorido, Artmed, São Paulo-SP, pág, 217, 224, 227-228, 2002.
JONES, T. C.; HUNT, R.D.; KING, N. W., Patologia Veterinária 6ª edição, Editora
Manole, Barueri-SP, pág 1, 17, 831, 887, 913, 2000.
50
LAZZERI, L., Técnica Operatória Veterinária. Editora Ethicon. Belo HorizonteMG, Pág 26 a 28, 1994.
MARTINS, E. M. A.; NUNES, S.; BACCARIN, L.C. L. C.; ARANTES, R. Y.,
Líquido Sinovial da Articulação Femuropatelar após Desmotomia Patelar Medial
Experimental em Eqüinos, disponível em: http:// www.scielo.br/scielo.php
script=sci_arttext&pid=S0103-84782007000300028-2008. Acessado 14 de outubro
de 2008.
MASSONE, F., Atlas de anestesiologia veterinária. Editora Roca. São Paulo-SP,
Cap 10, pág 107, 365 a 367. 2003
MUIR III, W. W,; HUBBELL, J. A. E,; SKARDA, R. T,; BEDNARSKI, R. M.,
Manual de Anestesia Veterinária, 3ª edição, Editora Artmed, Sã0 Paulo-SP, pág,
56, 2001.
NICOLLETI, J. L. M., Manual de Podologia Bovina, Editora Manole, Barueri-SP,
pág 1, 10, 2004.
PADDLEFORD, R, R.; Manual de Anestesia em Pequenos Animais, Editora Roca,
São Paulo-SP, pág, 263, 2001.
RADOSTITS, O, M.; MAYHEEW, I, G, J.; HOUSTON, D, M., Exame Clínico e
Diagnóstico em Veterinária, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro-RJ, Pág 118 a 125,
448 a 449, 495-499, 2002.
51
SILVA, O. S.; SILVA, L. A. F.; RABELO, R. E.; MOURA, M. I.; SILVA, M. A.
M.; SOUZA, V. R.; FRANCO, L. G.; AMARAL, A. V. C. A.; TRINDADE, B. R.,
Desenvolvimento e uso de instrumental específico na desmotomia patelar medial
em bovinos e comparação de dois procedimentos cirúrgicos, IV Congresso Paulista
de Buiatria - CONPABUI 2008, disponível em: http://72.14.205.104/search?q=
cache:ulFFJy1KtNwJ:revistas.ufg.br/index.php/vet/article/viewPDFInterstitial/367
8/3446+DESMOTOMIA+PATELAR+MEDIAL+EM+BOVINOS+E+COMPARA
%C3%87%C3%83O+DE+DOIS+PROCEDIMENTOS+CIR%C3%9ARGICOS&h
l=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br. Acessado dia 18 de junho de 2008.
SMITH, B. P., Medicina Interna de Grandes Animais 3ª edição, Editora Manole,
Barueri-SP, pág 3, 6, 10, 33, 233 a 242, 1104 a 1106, 2006.
SISSON, S.; GROSSMAN, J. D., Anatomia dos Animais Domésticos Getty, 5ª
edição, vol 1, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro-Rj, Pág 1-6, 34 a 45, 737 a 738,
1986.
THONSON, R. G.; Patologia Geral Veterinária, vol1, Guanabara Coogan, Rio de
Janeiro-RJ, pág 1, 1983.

Documentos relacionados