REGIONALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO: UMA
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REGIONALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO: UMA
REGIONALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO: UMA ANÁLISE COM BASE NO COREDE SERRA LOCALIZADO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL José Elmar Feger Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC [email protected] Adriana Marques Rossetto Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI [email protected] Virgínia Elizabeta Etges Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC [email protected] RESUMO A temática do artigo versa sobre a identificação do potencial de desenvolvimento endógeno como alternativa à superar as limitações que precisam ser enfrentadas ao se considerar que as regiões não são homogêneas e seus limites são flexíveis. Trata-se do assunto com base em um caso ilustrativo, o Corede Serra, localizado no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. O objetivo foi verificar as possíveis regionalizações a partir da proximidade e integração de atividades econômicas existentes, tendo como ferramenta o Quociente Locacional para identificar o potencial endógeno da área investigada. Por ser um estudo exploratório, não apresenta conclusões definitivas, porém, sugere que elaborar o planejamento do desenvolvimento, tendo-se como área uma região pré-estabelecida, pode ser um dos limitadores à definição de estratégias mais efetivas. Palavras-chave: regionalização; desenvolvimento endógeno; quociente locacional REGIONALIZACIÓN Y DESARROLLO ENDÓGENO: UNA ANALISE CON BASE EN LO COREDE SIERRA LOCALIZADO EN LO ESTADO DEL RIO GRANDE DEL SUR, BRASIL RESUMEN La temática de lo artigo versa sobre la identificación do potencial de desarrollo endógeno como alternativa para superar las limitaciones que necesitan ser enfrentadas cuando se considera que las regiones no son homogéneas y sus limites son flexibles. Trata-se de lo asunto con base en un caso ilustrativo, o Corede Sierra, localizado en lo Estado de lo Río Grande del Sur, Brasil. Lo objetivo fue verificar las posibles regionalizaciones a partir de la proximidad y integración de actividades económicas existentes, tiendo como herramienta lo Cuociente de Localización para identificar lo potencial endógeno de la área investigada. Por se tratar de un estudio exploratorio, no presenta conclusiones definitivas. Entretanto sugiere que elaborar lo planeamiento de lo desarrollo, adoptando-se como área una región establecida la priori, puede ser un dos limitadores para la definición de estrategias mas efectivas. Palabras-clave: regionalización; desarrollo endógeno; cuociente de localización 1 INTRODUÇÃO O debate sobre o desenvolvimento encontra-se acirrado no atual contexto sócio-econômico. Avolumam-se estudos com o intuito de compreender as diversas facetas que constituem o fenômeno. As perspectivas são muitas, pois cada disciplina aborda o tema a partir de pressupostos próprios. Diante disso, não há concenso conceitual entre os diversos pesquisadores que se ocupam com o estudo da temática. Todavia, parece haver certa confluência em torno do entendimento de que o desenvolvimento não se constitui em sinônimo de crescimento. Nesse sentido, adquire características de uma concepção mais complexa que articula diferentes sustentabilidades, sobretudo a social, a ambiental e a econômica (SACHS, 2002), sustentadas pelo capital social existente no território e pelo desenho insitucional adotado (PUTNAM, 2002). Trata-se ainda, de perseguir um estilo de desenvolvimento que seja endógeno, isto é, respeite as particularidades e mobilize as forças de territórios que são construídos a partir de relações sócio-políticas de vizinhança e reciprocidade (ARNS, 2003; PUTNAM, 2002). A dinâmica deste desenvolvimento não ocorre de forma isolada e embora alguns caminhos possam ser definidos e percorridos a partir das decisões e ações de nível local, diversas escalas de relacionamento permeiam este processo e um importante contexto é o regional. A busca pela consolidação de condições de crescimento e de melhoria na qualidade de vida das populações e da manutenção do equilíbrio ambiental demandam o aproveitamento tanto das potencialidades locais como das oportunidades globais mas encontram na escala regional um locus privilegiado de articulação (BECKER; WITTMANN, 2003). As regiões se constituem numa construção social que atende interesses precisos e que se constroem a partir das ações de agentes em múltiplas escalas articuladas que encontram rebatimento em práticas e processos sócio-espaciais localizados. Uma regionalização fundamenta uma reflexão teórica ou atende a necessidades impostas por políticas setoriais, práticas de planejamento ou processos de desenvolvimento regional. Assim, as regionalizações possíveis para um determinado território podem apresentar variações devido a finalidade que se propõe a atender (LIMONAD, 2004). A esse propósito, o processo de planejamento do desenvolvimento regional tem se pautado em espaços definidos a priori, levando em consideração critérios ditados por interesses que, por mais legítimos que sejam, impedem a apreensão mais eficaz das características espaciais dos diferentes fenômenos econômicos, sociais e políticos. Nesse sentido, há necessidade de compreender as configurações geográficas que se formam através da consideração das linhas de força que estruturam o espaço. A maneira de recortar o espaço a priori num certo número de regiões, das quais só se deve constatar a existência, oculta todas as demais formas espaciais (LACOSTE, 1988). Aqui emergem duas questões: se aceitarmos que o desenvolvimento pode ocorrer com mais facilidade a partir da existência e da mobilização de capacidades existentes em determinado território, como identificá-las a fim de conduzir as estratégias de desenvolvimento regional? se aceitarmos que uma região homogênea inexiste e sim é uma sobreposição de conjuntos que se formam a partir da articulação e interação de diversos agentes num determinado território e que, por conseqüência disso, dependendo dos interesses dos pesquisadores ou planejadores dificilmente corresponde a regiões definidas a priori, como delimitar o espaço geográfico a fim de se elaborar o planejamento estratégico para o desenvolvimento regional? O entendimento de que as forças que atuam ou mesmo as capacidades (endógenas), contribuem para definir as potencialidades para o desenvolvimento implica em dificuldades na delimitação de áreas para planejamento. A somatória de forças resulta em espaços territoriais específicos que poderiam servir de parâmetros para a definição tanto da região a ser considerada para um planejamento do desenvolvimento, como também, dos aspectos a serem levados em conta para este desenvolvimento (ações, parcerias, envolvimento de atores, dentre outros). A grande questão está em se encontrar metodologias adequadas para permitir o nível de análise proposto. Dentre várias possibilidades disponíveis, encontra-se uma apresentada por Paiva (2004) que poderia gerar parâmetros para estas escolhas. A temática explorada neste artigo versa sobre a identificação do potencial de desenvolvimento endógeno de uma região juntamente com as limitações que precisam ser enfrentadas ao se considerar os conjuntos que se formam a partir da localização no espaço das atividades econômicas. Em virtude da complexidade da tarefa, optou-se por tratar do assunto a partir de um caso ilustrativo, o Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra Gaúcha – Corede Serra (previamente delimitada pelos métodos tradicionalmente utilizados) que subsidiasse uma análise sobre as possibilidades que a metodologia pode oferecer. Com relação a delimitação temporal, enfoca-se o estudo em período recente, mais precisamente ao compreendido entre os anos 2001 e 2006 em virtude da disponibilidade dos dados e por considerá-los suficientes para atender aos objetivos da pesquisa. O objetivo central do artigo, portanto, visa discutir a temática da identificação do potencial endógeno e da regionalização a partir de um caso ilustrativo, no caso o Corede Serra, a fim de verificar as regionalizações possíveis de se construir em virtude da proximidade e da integração das atividades econômicas nele existentes. Os objetivos específicos foram: a) Aplicar a metodologia proposta por Paiva (2004) a fim de identificar o potencial endógeno da região; b) identificar os conjuntos que se formam pela proximidade das atividades econômicas; c) verificar a existência de contigüidade de atividades que ocorrem no Corede objeto de estudo com as existentes nos Coredes vizinhos; d) analisar a pertinência do uso do método de identificação do potencial endógeno para determinar regiões com vistas ao planejamento do desenvolvimento. O estudo caracteriza-se como exploratório, com abordagem quantitativa e utilizou o método do estudo de caso. Cabe ressaltar que o referencial teórico adotado para suportar a pesquisa é relativamente consolidado, portanto, possibilitando uma generalização teórica e não estatística (YIN, 2001), superando desta forma a limitação imposta em razão da metodologia de estudo de caso para a generalização dos resultados. No que diz respeito à definição das variáveis, considerou-se que para se avaliar o potencial de desenvolvimento endógeno de uma região deve-se adotar como princípio orientador a identificação de atividades que se constituam em vantagens absolutas. Para isto foram utilizadas as premissas da metodologia proposta por Paiva (2004), ampliando a análise iniciada por ele. 2 REFLEXÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO E PROCESSOS DE REGIONALIZAÇÃO Na reflexão sobre o tema do desenvolvimento, uma primeira problemática se apresenta: a freqüente confusão entre desenvolvimento e crescimento. A análise da literatura esclarece que os dois termos não são sinônimos, já que crescimento remete, quase que exclusivamente, à esfera econômica, excluindo aspectos fundamentais, tais como o ecológico, o ético e o político. A ética necessária ao desenvolvimento se traduz em solidariedade sincrônica e solidariedade diacrônica que, combinadas, podem conduzir a um novo estilo de vida para as populações (SACHS, 2002). Esta discussão tem permeado diversos estudos, dentre os quais cita-se Pronk; Ul Haq (1992); Costanza (1991), em especial após a difusão do conceito de desenvolvimento sustentável e ampliado as agendas de desenvolvimento em todos os níveis de planejamento e gestão. Algumas questões têm sido recorrentes: o foco multidisciplinar, distanciando o conceito da hegemonia anteriormente dada ao fator econômico; a interação entre múltiplos atores; a importância do tecido social existente e a escala de atuação. Importantes pressupostos nesta nova concepção de desenvolvimento são: o entendimento sobre a necessidade de participação das comunidades envolvidas em todas as fazes de planejamento e de gestão deste desenvolvimento e a crença de que a tarefa de promovê-lo não é exclusiva dos governos nacionais, mas que pode ser mais eficazmente conduzida pelos outros níveis de governo. Num terceiro ponto, igualmente inter-relacionado aos dois primeiros, está posto que o desenvolvimento é mais facilmente alcançado por meio de redes sociais que se configuram por uma articulação de esforços e ações com vistas a garantir a qualidade de vida das atuais e futuras gerações. Putnam (2002) ao relacionar o desempenho econômico e institucional das regiões italianas às suas tradições cívicas e às características da organização social, como confiança, normas e sistemas, ao que denominou “capital social”, argumentou que esta estrutura contribui para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas necessárias ao desenvolvimento regional. Por fim, um outro ponto de convergência é o de que o desenvolvimento é um processo endógeno, isto é, depende da articulação de forças do próprio território, resultando em capacidade de dinamização socioeconômica e ambiental. Neste sentido, a organização territorial/regional deixou de ter um papel passivo. Para Benko e Lipietz (1994) a importância atribuída aos fatores endógenos, chega a caracterizar uma nova ortodoxia na disciplina alavancada, por um lado, pelo interesse no sucesso de algumas regiões, como os distritos industriais da “Terceira Itália” e por outro, pela insatisfação com o resultado das políticas tradicionais de desenvolvimento regional. Esse processo de otimização das potencialidades locais e regionais não pode prescindir, no entanto, de considerar a inserção do local no contexto global. Sem esse cuidado, pode-se cair num ingênuo otimismo quanto às possibilidades locais diante da imposição de mecanismos dos mercados, externos ao território, mas determinantes no processo de seu desenvolvimento ( BECKER, 2003). Embora se considere que a dificuldade em conceituar região e território persista, devido ao amplo debate ainda em andamento, aborda-se nesse tópico, sem a pretensão de esgotar o assunto, alguns conceitos que servirão de base ao estudo aqui proposto. A região corresponde a uma área geográfica que constitui uma entidade que permite, simultaneamente, a descrição de fenômenos naturais e humanos, a análise de dados socioeconômicos e a aplicação de uma política. Funda-se em duas características principais: homogeneidade e integração funcional, e resulta, ao mesmo tempo, num sentimento de solidariedade vivida e em relações de interdependência com os restantes conjuntos regionais e com o espaço nacional e internacional (LAJUGIE; LACOUR, 1979 apud BENKO, 1999). Atualmente com as facilidades de comunicação e de transporte, através do processo denominado globalização, ocorrem interferências constantes no seio das comunidades regionais. Nesse sentido, “[...] o espaço geográfico ganha novos contornos, novas características, novas definições. E, também, uma nova importância, porque a eficácia das ações está estreitamente relacionada com a sua localização” (SANTOS, 2000, p. 79). Assim, o autor continua demonstrando que o âmbito territorial e social sofre mudanças numa relação dialética entre rigidez e flexibilidade, baseadas em um conjunto de normas (públicas, privadas, locais, globais, jurídicas ou informais). Numa reflexão sobre regiões e processo de regionalização, Limonad (2004, p. 58) recorda que a despeito das adjetivações que acompanham a discussão de região como categoria de análise, ela é antes de qualquer coisa uma construção social que atende interesses precisos. A autora destaca que a região “constrói-se a partir da ação de distintos agentes em múltiplas escalas articuladas que de certa forma encontram um rebatimento em práticas e processos sócio-espaciais histórica e geograficamente localizados”. Nesse sentido, uma regionalização fundamenta uma reflexão teórica ou atende à necessidades impostas por políticas setoriais, práticas de planejamento ou processos de desenvolvimento regional. Assim, as regionalizações possíveis para um determinado território podem apresentar variações devido a finalidade às quais se propõe a atender. Esta forma de pensamento é consoante com a de Lacoste (1988), ao criticar o método utilizado pela geografia tradicional. O autor destaca que o método mais utilizado para realizar estudos científicos, e que se proliferou para outros fins, consiste em aprofundar conhecimentos sobre diversos aspectos que se mantém ao longo do tempo, excluindo das análises a evolução econômica e social recente. Essa maneira de pensar impede a apreensão mais eficaz das características espaciais dos diferentes fenômenos econômicos, sociais e políticos. “De fato, cada um deles tem uma configuração geográfica particular que não corresponde à da ‘região’” (LACOSTE, 1988, p. 62). Para compreendê-los com maior propriedade é necessário levar em conta as linhas de força que estruturam o espaço, evitando que sejam ocultas distintas formas espaciais pelo modo de regionalização utilizada que recorta o espaço em proporções pré-definidas e estáticas. As críticas feitas pelo autor à forma de regionalização e percepção do espaço, que é disseminada pela mídia, demonstram que este pensamento torna-se um obstáculo ao conhecimento como instrumento de ação. Os fenômenos que podem ser isolados pelo pensamento não se ordenam espacialmente segundo grandes compartimentos, mas ao contrário se superpõem. Por isso é importante considerar as múltiplas intersecções entre as configurações precisas dos fenômenos para se poder agir estrategicamente, facilitando inclusive, evitar àqueles aspectos que podem se constituir em obstáculos à ação que se pretende empreender. “O método que permite pensar eficazmente, estrategicamente, a complexidade do espaço terrestre é fundamentado, em grande parte, na observação das intersecções dos múltiplos conjuntos espaciais1 que se podem formar e isolar pelo raciocínio e pela observação precisa de suas configurações cartográficas” (LACOSTE, 1988, p. 68). A ampliação deste debate tem gerado propostas diferenciadas para a definição destas regiões para enfoques de planejamento e de desenvolvimento. Paiva (2004) ao levantar questões como as dificuldades de planejamento sem uma definição criteriosa dos limites em que ele deve ocorrer além de considerar que os dados acumulados podem esconder a heterogeneidade interna à área definida para planejamento; argumenta que os critérios políticos adotados para a delimitação de áreas de planejamento implicam em restrições, visto que circunscrevem as análises e decisões em fronteiras intransponíveis, na visão tradicional, deixando de levar em conta a integração dos agentes inscritos no território, especialmente as relações de 1 Para o autor conjunto espacial é considerado como uma forma de destacar na carta o contorno, ou seja, os limites dos diversos conjuntos levados em consideração. troca entre os atores envolvidos na localidade. Questionando estas delimitações feitas a priori, apresenta uma metodologia de identificação do potencial endógeno de territórios, elemento que demarcaria uma região para fins específicos de planejamento. O autor reconhece a complexidade que envolve a questão, e por isso, sugere que devem ocorrer pelo menos dois momentos: um primeiro em que se realiza um diagnóstico preliminar das potencialidades regionais com base em dados secundários; um segundo que demanda pesquisa de campo com levantamento de dados primários com vistas a testar a consistência e a possibilidade econômica das hipóteses surgidas no diagnóstico preliminar. A necessidade desses dois momentos é defendida por Paiva (2004) dentre outras razões, pela incapacidade dos dados secundários captarem a percepção que os agentes locais possuem de sua realidade e potencialidades. Ressalta o autor, que não é possível mobilizar o esforço produtivo de uma comunidade se ela não tem consciência ou expectativas positivas quanto ao potencial do projeto. Além desse fato, muitas informações necessárias, ao diagnóstico e por conseqüência ao planejamento do desenvolvimento são qualitativas e não estão disponíveis, havendo necessidade de levantá-los junto à população alvo. Argumenta ainda, o autor, que o entendimento de que somente uma pesquisa empírica primária viabiliza a identificação do potencial regional é crucial a fim de se evitar falsas expectativas de que é possível extrair conclusões políticas e elaborar planos de ação a partir de dados empíricos secundários. “O papel específico do estudo empírico baseado em dados secundários é o de definir os segmentos produtivos que podem e devem ser objeto de pesquisa primária, com vistas à identificação da relação benefício/custo de enfrentamento dos seus gargalos de oferta e/ou de realização” (PAIVA, 2004, p. 13). O aspecto impositivo dessa primeira etapa, de análise com base em dados secundários, é enfatizada pelo autor, pois sem ela, fica impossível definir sequer o modelo de levantamento, amostras, instrumentos, recursos humanos, dentre outros fatores envolvidos numa pesquisa de campo. Para poder dar uma resposta adequada ao conjunto de questões que envolvem a definição de potenciais econômicos, potenciais gargalos, dentre outras, que precisam ser analisadas é necessário dissecar a região-objeto a partir de recortes cada vez mais restritivos e específicos, no sentido região, microrregião, município, comparando as medidas pertinentes a cada um desses recortes com as medidas equivalentes de referência definidas em patamares superiores de agregação (PAIVA, 2004). O autor propõe como alternativa para orientar o estudo identificar o seu potencial a partir da especialização produtiva. Alega que, “identificar aqueles setores que, uma vez mobilizados/fomentados, geram o maior benefício por unidade de custo. [...] o potencial de uma região deve ser pensado como a capacidade da mesma em dar inicio e sustentação a processos de autonomia material e bem-estar crescente dos agentes produtivos locais [...] com base na mobilização do maior volume possível de recursos produtivos disponíveis internamente” (PAIVA, 2004, p. 16). Em síntese, o autor após ampla defesa de seus argumentos, indica como ferramenta para identificação do potencial a utilização de medidas de especialização, o Quociente Locacional (QL). Alega que com esses indicadores é possível identificar os níveis de especialização, identificar as atividades afins, e com isso potenciais cadeias produtivas existentes na área investigada, orientando assim o campo de estudo para buscar os dados primários. Com essa alternativa, analisamse as possibilidades de agrupar municípios com atividades semelhantes, independentemente da sua localização em um Corede, Associação de Município, Estado tornando assim as fronteiras mais flexíveis. O QL é uma medida de especialização, utilizada para verificar a concentração de atividades econômicas existentes em um lugar. Através de fórmulas matemáticas calcula-se a concentração de um grupo de empresas de um município, por exemplo, em relação ao total de empresas existentes em um estado ou país. 3 ANÁLISE DO POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO DO COREDE SERRA Pelo entendimento sobre o assunto até aqui discutido, fica-se em dúvida se é possível encontrar uma forma de regionalização ideal. Parece que a regionalização ideal é aquela que é útil para o foco de estudo ou planejamento. Assim, se o objetivo é analisar o ambiente ecológico o critério deveria ser a bacia hidrográfica, caso o interesse seja o turismo, o critério deveria ser a localização no território dos atrativos turísticos com hierarquia suficiente para atrair fluxos de distâncias maiores, e, no caso de estudos sobre o desenvolvimento econômico as concentrações de atividades e cadeias produtivas. Em princípio, parece que a regionalização utilizando critérios políticoadministrativos usuais, como as associações de municípios e mesmo a própria formação dos Coredes, que embora levem em consideração os interesses das comunidades que as formam, ou de alguns representantes delas, conduzem a uma dificuldade no planejamento do desenvolvimento, em primeiro lugar porque se consideram os dados acumulados da região, e como já discutido amplamente por Paiva (2004) não consideram a heterogeneidade existente. Em segundo lugar, parece, e é uma hipótese que precisa ser avaliada, talvez totalmente infundada, é que no momento em que se criam as regiões a partir de critérios políticos, consideram-se suas fronteiras como intransponíveis, os planos e programas são desenvolvidos para os territórios específicos, esquecendo-se que algumas atividades extrapolam o território e, no caso de estudos de cadeias produtivas, por exemplo, alguns municípios possuem especialidades que se integram a especialidades de outros municípios que não necessariamente fazem parte da região criada e representada pelo Corede ou Associação de Município, ou mesmo, do município considerado como objeto de estudo. Talvez uma solução seja considerar esses limites com mais flexibilidade, sendo provisórios, e na medida em que os estudos se aprofundam e nos momentos em que as interligações começam a aparecer ajustar as fronteiras de forma que possam ser incorporados outros elementos considerados externos, num primeiro momento, mas que em vista da sua especificidade sejam internalizados para possibilitar maior qualidade ao processo de intervenção. Quem sabe uma visão mais sistêmica (CAPRA, 1996) da realidade ajudaria a minimizar esses problemas. Pretende-se aqui, considerar algumas situações internas ao Corde Serra, na tentativa de contribuir para a discussão sobre desenvolvimento regional. O Corede Serra é constituído por trinta e quatro municípios, com uma população total de 742.765 habitantes, e uma taxa de urbanização de 83%, correspondendo a 7,3% da população total do Estado do Rio Grande do Sul. Entretanto, quando se estratifica as populações dos municípios que o compõe, verifica-se que há uma grande concentração dessa população (48,5%) no município de Caxias do Sul, com uma taxa de urbanização de 93%. O segundo município em população da região é Bento Gonçalves com 12% e taxa de urbanização de 91%. Os demais municípios apresentam populações próximas ou inferiores a 20.000 habitantes com taxas de urbanização variando de 08% (Coronel Pilar) à 88% (Guaporé). Excluindo-se os municípios maiores, já citados, a taxa de urbanização cai para percentuais em torno de 50%. Somente nesse aspecto já se pode perceber a heterogeneidade interna do Corede. Trata-se de um estudo preliminar, ampliando a análise já iniciada por Paiva (2004), em cujo trabalho apresenta uma análise comparativa entre diversas regiões correspondentes aos Conselhos Regionais de Desenvolvimento – Coredes, regionalização essa, adotada no Rio Grande do Sul com vistas ao planejamento do desenvolvimento. Num primeiro momento, a tarefa de tal análise não parece complexa em se tratando da aplicação mecânica das fórmulas, porém, na medida em que se levantam os dados e se procede a sua análise, vão surgindo várias hipóteses, que por sua vez implicam na busca de mais dados para sua comprovação. Diante dessa constatação, e na impossibilidade de aprofundar nesse momento todas as nuances, optou-se por analisar com mais profundidade somente alguns aspectos revelados pelos dados, mesmo correndo o risco de uma interpretação superficial. Deve-se ressaltar ainda, que em nome da simplificação, a análise concentra-se apenas em aspectos econômicos, fato que, entretanto, não invalida o estudo, pois segundo Paiva (2004) deve-se utilizar o método de identificação do potencial como ponto de partida para orientar estudos específicos e mais profundos, possibilitando oferecer aos planejadores hipóteses e não constatações definitivas. Os dados que originaram a análise foram organizados em planilhas eletrônicas excel tendo como fontes o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, especialmente o sistema SIDRA disponível na internet. Os cálculos do QL da agropecuária foram feitos levando-se em consideração médias trienais, para se evitar os reflexos climáticos que influenciam esses tipos de atividade. Utilizou-se para esse fim, dados sobre VAB – Valor Agregado Bruto de 2001, 2002 e 2003 disponibilizados na internet pela Fundação de Economia e Estatística do Estado do Rio Grande do Sul – FEE no arquivo eletrônico denominado FEEDADOS. No tocante aos dados industriais, comerciais e de serviços foram utilizadas informações sobre o número de empregos, número de empresas, organizados por classe CNAE – Código Nacional de Atividade Econômica, disponibilizados pelo Sistema RAIS – Relatório Anual de Indicadores Sociais do Ministério do Trabalho e do Emprego para o ano 2005. Os dados colhidos das fontes anteriormente citadas foram consolidados por município e Corede de forma que possibilitassem as análises como já referido. Optou-se por analisar os municípios integrantes do Corede Serra tendo como referência o Estado, partindo-se do entendimento de que, analisando os dados municipais com referência aos microrregionais verificar-se-ia a extrapolação de setores desses limites territoriais, e em termos de desenvolvimento, a princípio, parece mais interessante observar se os setores de destaque nos municípios também indicam a extrapolação aos limites do território estadual. Com relação ao número de trabalhadores, manteve-se o corte em quinhentos funcionários, mesmo considerando que o setor comercial produz um movimento econômico maior com uma demanda menor de mão de obra. Essa decisão foi tomada para manter os critérios, e mesmo que superficialmente, permitir comparar os resultados com os alcançados em trabalho anterior já realizado por Paiva (2004). Após calcular os QL da região e seus municípios (setores industriais, comerciais e serviços e, agricultura), calculou-se também, o QL das regiões adjacentes ao Corede foco desse trabalho, para verificar possíveis similaridades. No que concerne a identificação dos conjuntos espaciais, a mais subjetiva, utilizouse como princípio a proximidade de municípios com potencialidades identificadas semelhantes, entendendo que, em função das vantagens da aglomeração (PORTER, 1990; CASAROTTO E PIRES, 2001; PAIVA, 2004) e do adensamento das cadeias produtivas poderiam indicar pistas para futuros estudos mais aprofundados. Com os dados secundários levantados, procedeu-se a sua análise, a qual será adiante apresentada. Para o artigo, insiste-se que serão apresentadas apenas as análises e informações inerentes ao Corede Serra, visto que abranger todos os Coredes do estado implicaria em necessidade de maior espaço para discussão. Ressalta-se que o desenvolvimento é dependente de uma série de fatores, dos quais aqui se considera apenas os econômicos. Todavia, entende-se que a metodologia pretende indicar hipóteses que orientem decisões preliminares e indiquem caminhos para estudos mais profundos sobre a área a ser investigada. Trata-se, portanto, de um ponto de partida, e não de chegada. Reconhecendo-se as limitações do trabalho, considera-se que com o enfoque estabelecido é possível atender aos objetivos propostos. No que concerne a análise do número de estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços verifica-se que há uma concentração, pois 42,7% dos estabelecimentos industriais e 49,2% dos comerciais e de serviços encontram-se em Caxias do Sul, com 48,5% e 57% respectivamente, dos trabalhadores. O Corede como um todo, concentra 18% da indústria e 9,5% do setor de comércio e serviço do Estado do Rio Grande do Sul. É necessário levar em conta que os números relativamente pequenos de estabelecimentos comerciais e industriais nos demais municípios podem levar aos cálculos de QLs mais elevados para eles, não se constituindo, entretanto, num potencial efetivo, apenas um reflexo das desproporções numéricas, conforme referido por Paiva (2004). Iniciando-se a busca por possíveis especializações locais, que segundo Paiva (2004), é o passo inicial na identificação de oportunidades para o planejamento do desenvolvimento, pois algum conhecimento inicial já existente na região facilita o processo, ao contrário de atividades totalmente novas, que demandariam mais esforço, passa-se a analisar os dados a partir dos QLs. Conforme os cálculos nas planilhas, pode-se infirmar que a região possui especializações em produção ovos de galinha com QL 3,5721 seguida de produção de galos, frangas, frangos e pintos, com QL 3,5; e galinhas com QL 2,9825, no que concerne a atividades agropecuárias. Descendo-se para o nível municipal, observase que estas não são atividades que ocorrem em todos os municípios com o mesmo peso. Apenas para exemplificar, no caso de produção de galinhas o município de Protásio Alves apresenta um QL de 9,8887 e o de Santa Tereza de 0,1714. Lembrase que se devem levar em consideração as desproporções de valores que podem desvirtuar os números, porém, pode-se, num primeiro olhar verificar que não são atividades homogêneas em toda a região em análise. No caso, por exemplo, da produção de suínos que é a quarta atividade com QL mais elevado (1,4514) os maiores QL municipais, acima de dois pontos, encontram-se nos municípios de Guabijú, Guaporé, Ipê, Montauri, Nova Araçá, Nova Bassano, Parai, Protásio Alves, Santa Tereza, São Jorge, Serafina Corrêa, União da Serra, Vila Flores, Vista Alegre do Prata, em grande parte localizados na divisa do Corede Serra com o Corede Produção. Nesse sentido, pode-se inferir que essa atividade pode estar vinculada a processos industriais localizados fora dos limites do Corede objeto de estudo, pois o QL industrial de abate de aves e pequenos industriais no Corede aqui estudado é de 1,4914, enquanto que o mesmo QL do Corede Produção chega a 6,7229. Utilizando-se esse modelo de pensamento, pode-se chegar a conclusões semelhantes quanto a outros produtos. Nota-se também, uma variação que a princípio vale a pena investigar, no que diz respeito a produção de codornas e ovos de codorna. Observa-se que o QL de produção de codornas corresponde a 1,5540 enquanto que o de ovos de codorna fica em 1,0877. Em alguns municípios a produção de ovos e de codornas é igualmente significativa como, por exemplo, Carlos Barbosa com QL em produção de Codornas 3,5579 e ovos de codorna 3,7738, porém, o município de Serafina Corrêa apresenta um QL 0,8686 na produção de codornas enquanto que o seu QL na produção de ovos é de 2,2793. Prudentemente, seria necessário aprofundar o estudo sobre esses dados para evitar equívocos, porém, como o objetivo do presente estudo é identificar pistas que possam levar à especializações regionais, parece ser uma primeira hipótese de gargalo verificada na região. No que concerne a produção agrícola permanente, verifica-se que o Corede objeto desse estudo possui indicativos de especialização na produção uva (9,4603), Tungue (7,7765), Caqui (7,3769) e Pêssego (4,3158). Novamente observa-se a concentração dessas atividades em alguns municípios. Com relação ao Tungue, observa-se que alguns municípios como Cotiporã e Fagundes Varela apresentam QLs desproporcionais em relação aos demais municípios, o que pode estar elevando a média devido a desproporções numéricas. Para as demais atividades, também há variações, porém são menos evidentes. Seguindo a linha de raciocínio adotada para a pecuária, observa-se também a concentração de atividades em alguns municípios, como por exemplo, a maçã nos municípios de Antônio Prado (3,4153), Campestre da Serra (11,2951), Caxias do Sul (10,190) Ipê (8,3412) Protásio Alves (2,1331), entretanto, nesse caso verifica-se a descontiguidade de produção pelos municípios. Há municípios intermediários à esses que apresentam pequena produção dessa fruta. Considerando-se que essa região deve possuir uma mesma condição microclimática, pode-se supor que é uma oportunidade de verificar o motivo dessa descontiguidade como por exemplo Nova Roma (0,0000) Nova Pádua (0,2651). Trata-se de um gargalo possível de ser alargado através de um processo de planejamento? Logicamente, e para um observador externo (que conhece a fama dos vinhos da Serra Gaúcha) o que se esperaria, a produção de uva é a atividade de agricultura permanente que aparece em todos os municípios, com destaque para Antônio Prado, Bento Gonçalves, Coronel Pilar, Flores da Cunha, Garibaldi, Monte Belo do Sul, Nova Pádua, Nova Roma do Sul, Santa Tereza e São Marcos, todos apresentando QLs acima de 10 pontos. Aqui parece que a produção está vinculada a uma cadeia produtiva endógena, pois o QL da atividade industrial fabricação de vinho é de 4,4245 e a região concentra 197 das 223 indústrias desse setor do Rio Grande do Sul e 86% da mão de obra dessa indústria em relação ao mesmo estado. Observando-se os QLs dos Coredes adjacentes ao Corede Serra, não se observa em nenhum a presença de QL significativo nessa atividade. Pode-se inferir, portanto, que se trata de uma especialidade regional. É importante notar, também, que há certa proximidade geográfica dos maiores produtores de uva e destes com os municípios que concentram a maior produção de vinho. No que concerne a análise dos dados referentes à agricultura temporária, verifica-se de maneira geral que a região apresenta especializações em somente algumas culturas. Destacam-se o alho (6,8245) o tomate (6,2203) a ervilha (3,6990) e cebola (2,5193). Novamente apresenta-se a tendência de concentração da produção em municípios próximos. Pelos QLs municipais pode-se observar que o tomate e a ervilha aparecem com relevância na maioria dos municípios, enquanto que o alho é mais concentrado. Alguns produtos aparecem com destaque em municípios isolados como é o caso do Melão em Antonio Prado, Campestre da Serra, Guabiju e Monte Belo do Sul, como também amendoim em Fagundes Varela. No que diz respeito a lavoura temporária, parece estar mais concentrada em atividades peculiares de pequenas propriedades e que não demandam grandes extensões para alcançar níveis de produção economicamente viáveis como o soja, trigo, dentre outros. Observando-se os dados quanto aos QL industriais, comerciais e de serviços pode-se tecer os seguintes comentários. No tocante às especializações industriais relativas estão: fabricação de caminhões e ônibus (5,0354), fabricação de válvulas, torneiras e registros (4,7031) fabricação de cabines, carrocerias, torneiras e reboques para caminhões (4,6084), fabricação de motores elétricos (4,5813), fabricação de vinho (4,4245), fabricação de peças e acessórios para o sistema de freios (4,2474). De saída é necessário reconhecer que há algumas diferenças com relação ao trabalho realizado por Paiva (2004). Os setores mais importantes estão semelhantes, porém, não seguem a mesma ordem e não apresentam os mesmos indicadores. Isso certamente se deve a inexperiência dos pesquisadores em juntar atividades semelhantes, uma vez que foram tomadas por base as atividades individualmente e em Paiva (2004) foram agrupadas por atividades afins. Outra variação que pode ter levado a essas disparidades é que esses pesquisadores adotaram rigidamente o corte em quinhentos trabalhadores, não levando em conta números muito próximos, como por exemplo, fabricação de válvulas, torneiras e registros que possuíam um total de 511 funcionários no estado do Rio Grande do Sul. Essa limitação do presente trabalho deve ser levada em conta. Entretanto, observando-se as diversas atividades que apresentam QL acima de 1,5 verifica-se que as mesmas são coerentes com as especializações apontadas por Paiva (2004). Um fato chama atenção, no estudo de Paiva não aparece a atividade de produção de Vinho com um QL de 4,4245 concentrando 88% das empresas e com 1.963 trabalhadores vinculados a essa atividade. No que diz respeito aos QLs comerciais e de serviços parece ter havido o mesmo problema com relação a esse trabalho. Verifica-se que os maiores QLs estão em comércio atacadista especializado em mercadorias não especificadas (4,6818), atividades especializadas em urgências e emergências (4,1771) outras atividades de concessão de crédito. Enquanto que Paiva (2004) aponta em primeiro lugar outras atividades de concessão de crédito (3,4314), consultoria e elaboração de programas de informática (2,2273), manutenção e reparação de automóveis, ônibus e caminhões (2,2269). Observando-se esses indicadores e olhando com mais cuidado fica evidente que os dados de Paiva (2004) estão mais corretos, pois, acumula várias atividades similares antes de se fazer o cálculo dos QL. Verificandose os dados somente da informática percebe-se que existem na região várias atividades vinculadas e que se somadas dariam um contexto diferente, pelo menos no que diz respeito a ordem de importância das atividades econômicas. Esse é um aprendizado que fica desse trabalho e que deve ser considerado pelos pesquisadores em outras oportunidades. Quando se estratifica os dados para os municípios, observa-se que há uma concentração de indústrias nos municípios de maior população o que de certa forma seria esperado, se o entendimento dos conceitos trabalhados foi correto. Os maiores QLs do município de Caxias do Sul são coincidentes com a especialização relativa da região: Fabricação de caminhões e ônibus, fabricação de motores elétricos, fabricação de cabines, carrocerias e reboques, fabricação de peças e acessórios para sistema de freios, embora não seguindo a mesma ordem. Em Bento Gonçalves observa-se as especializações relativas em fabricação de pneumáticos e de câmarade-ar, produção de sucos de frutas e legumes, fabricação de móveis com predomínio de metal; fabricação de massas alimentícias e fabricação de Vinho. Antônio Prado, produção de sucos de frutas e legumes, moagem de trigo e fabricação de derivados, fabricação de artigos de vidro, fabricação de vinho. No município de Carlos Barbosa destaca-se a fabricação de artigos de cutelaria, fabricação de ferramentas manuais, fabricação de material elétrico para instalações em circuito, fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso especializado. Farroupilha, fabricação de calçados plásticos, fabricação de embalagens de papelão, fabricação de outros artigos têxteis – exceto vestuário, fabricação de outros artigos do vestuário produzidos em malha. Flores da Cunha fabricação de vinho, fabricação de móveis com predomínio de madeira, fabricação de refrigerantes e refrescos, fabricação de móveis com predomínio de metal. Enfim, verifica-se que a região pode ser considerada de especialização múltipla, concentrada nos maiores municípios, porém, pode-se perceber de maneira geral que os setores metalmecânico, têxtil e de confecções, madeireiro/moveleiro e vinícola poderiam ser apontados como os mais relevantes. Também, a especialização relativa de cada município adjacente à Caxias do Sul possui uma concentração maior em alguns tipos de atividades que em média culminarão com o QL regional. No que diz a identificação de possíveis gargalos, parece que a sua identificação depende de um estudo mais detalhado dos potenciais aqui identificados. Esses estudos somente poderiam ser levados a cabo e com maior probabilidade de acerto com a coleta de dados primários na região e nos municípios. Porém, parece a esses pesquisadores que haveria de determinar uma metodologia a fim de conseguir levantar informações concretas que permitam analisar com maior propriedade a questão. Trata-se aqui, portanto, de apontar algumas hipóteses que no seu entendimento poderiam levar a um conhecimento mais aproximado da realidade. Como foi visto no até aqui discutido, existem dentro da região objeto de estudo algumas microrregiões que concentram atividades específicas. Nesse sentido, um caminho visualizado seria realizar estudos micro-regionalizados das atividades que apresentam um maior QL, verificando-se o seu vínculo com as outras regiões ou com os municípios que concentram a maior produção. O estudo deveria levar em conta o mapeamento das atividades, tanto do setor primário, secundário e terciário, existentes na região, verificando-se o nível de integração e a existência de lideranças locais do processo. Assim, poderiam ser identificados nesses aglomerados, se há uma evolução para alguns arranjos produtivos locais ou até para sistemas locais de produção, no sentido discutido por Paiva (2004). Seguindo essa linha de pensamento, seria possível identificar atividades não desenvolvidas na região e que complementam a cadeia de valor e também, ficaria mais evidente quem coordena a produção e se ela é oligopolista ou não, como parece ser a cadeia de produção de carnes, e aí identificar onde está localizada a empresa que lidera esse processo, se dentro dos limites do corede ou não. Outro aspecto que pode se constituir em um gargalo são as condições de mercado, o que demandaria estudos mais específicos e completos, o que já ficou evidenciado por Paiva (2004). Outros possíveis estudos seriam identificar porque há discrepância entre produção de algum tipo de produto, por exemplo, a produção de codornas e ovos de codornas. Outra hipótese seria analisar as razões de não existência significativa de produção em determinadas micro-regiões, como no caso da maça, pois teoricamente pela proximidade dos municípios não há diferenças climáticas significativas, o que poderia indicar a possibilidade de ampliação e diversificação da produção nos demais municípios, se ficar evidente que não há restrições mercadológicas. Essa ultima parte da análise, deve-se reconhecer que se trata de um tateio, ou seja, de uma tentativa de apontar caminhos que levem ao aprofundamento da questão. Isso se deve em grande parte às limitações dos pesquisadores, e por isso, são também dúvidas. Seria essa forma de pensamento promissora? São hipóteses totalmente sem nexo e devem ser descartadas? Há outros caminhos mais fáceis e efetivos na identificação de gargalos? São questões que podem ser elucidadas pela avaliação desse trabalho e discussão com os demais pesquisadores que se preocupam com estudos desta natureza. No momento, entretanto, são caminhos possíveis a partir do entendimento dos conteúdos até aqui discutidos. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A temática do artigo pautou-se na discussão sobre a identificação do potencial de desenvolvimento endógeno e tangencialmente nos fatores de regionalização, com vistas ao planejamento do desenvolvimento. Como já referido ao longo do trabalho, não teve como objetivo apresentar conclusões definitivas, porém, trazer alguns aspectos para discussão. A partir do caso apresentado, aceitando-se que as forças internas podem se constituir em potencialidades para o desenvolvimento, utilizar o QL como um indicador de atividades econômicas mais importantes, pode ser um ponto de partida útil. Além da constatação de atividades economicamente representativas, observar as localizações espaciais dessas produções possibilita levantar hipóteses que auxiliam na definição de áreas para intervenções. Nesse sentido, parece que pensar o planejamento estratégico do desenvolvimento, considerando-se os limites já definidos pelos agentes que delimitaram os municípios que compõem o Corede parece extremamente restrita, pois como visto, existem atividades que se integram a cadeias produtivas de outras regiões, e nesse caso, desconsiderar esses aspectos pode limitar a formulação de estratégias coerentes. No que concerne ao atendimento dos objetivos propostos, a aplicação da metodologia adotada por Paiva (2004) para analisar o potencial de desenvolvimento endógeno dos Coredes, foi realizada, demonstrando que ater-se somente a dados consolidados regionalmente pode trazer inconsistência na análise e por conseqüência na proposição de estratégias de desenvolvimento. Observou-se que a espacialidade das atividades não coaduna com os limites definidos pelas lideranças locais, as atividades estão concentradas em municípios próximos e não necessariamente pertencentes à mesma região. Nesse caso, parece que há necessidade de se tratar de cada aglomeração de atividades como processo de regionalização a fim de se estudar as relações existentes entre os diversos agentes envolvidos. Uma possibilidade vislumbrada é aplicar a metodologia para análise de clusters proposta por Porter (1990) a fim de identificar gargalos e propor alternativas para o desenvolvimento. Nesse caso cada aglomeração constitui-se numa região. Parece estar claro que a regionalização a partir de um critério único, seja político, geográfico, ou econômico pode limitar a tomada de decisão em projetos de intervenção, havendo a necessidade de identificação de fatores multidisciplinares. Também a análise comparativa de regiões, sem levar em conta as suas especificidades internas fica limitada, porque as médias escondem as diferenças existentes e pode levar a conclusão precipitada. O estabelecimento de divisas territoriais inflexíveis pode também limitar a visão dos planejadores quanto à integração das atividades internas da região objeto de estudo com as demais regiões próximas. 5 REFERÊNCIAS ARNS, S. E. Desenvolvimento Local Integrado. In: II ECOPAR. Anais... Maringá: UEM/UEL/UEPG/UNIOEST/IPARDES, 2003. BECKER, D. F. A Contradição em Processo: o local e o global na dinâmica do desenvolvimento regional. In: BECKER, D. F; WITTMANN, M. L. (orgs). Desenvolvimento Regional. Abordagens Interdisciplinares. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003. BECKER, D. F; WITTMANN, M. L. (orgs). Desenvolvimento Abordagens Interdisciplinares. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003. Regional. BENKO, G.; LIPIETZ, A. As regiões Ganhadoras: Distritos e Redes, os Novos Paradigmas da Geografia Econômica. Oeiras: Celta Editora, 1994. BENKO, G. A ciência regional. Oeiras: Celta, 1999. CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996. CASAROTTO FILHO, N. PIRES, L. H. 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