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ΘΕΟΤΌΚΟΣ: UMA VISUALIZAÇÃO
DO DESDOBRAMENTO
DOUTRINAL, VALÊNCIA DESTES
ΘΕΟΛΟΓΟΎΜΕΝΑΙ NOS
PROTESTANTISMOS E O SITZ IM
LEBEN DA DISCUSSÃO
Θεοτόκος: A preview of the doctrinal unfolding,
validity of these θεολογούμεναι, in Protestantism and
the sitz im leben of discussion
Elias Paraizo Jr *
RESUMO: Este artigo é uma aproximação e reconciliação de juízos relativas à vasta discussão
teológica em torno de Maria, a mãe de Jesus. Trata-se de uma síntese, sob o olhar do
protestantismo, de temas como Teotokos (Mãe de Deus), nascimento virginal de Jesus, virgindade
perpétua de Maria, sua veneração como Rainha do Céu, o dogma da Imaculada Conceição, a
sua assunção e dormição. É um esforço em direção ao respeito e a admiração séria, que nasce
do ‘reconhecimento altero’ da natureza ou condição do que seja “o outro”, do que é distinto nas
disposições teológicas dessemelhantes e de um emaranhado de relações de contraste, distinção
e diferença. Perpassa as teorias, teologias e obras de alguns dos mais importantes reformadores:
Martin Luther, Iohannes Calvinvs, Ulrich Zwingli, Thomaz Cranmer e John Wesley. O texto não é
propriamente uma discussão teológica, o que não o torna menos candente.
PALAVRAS CHAVES: Maria (mãe de Jesus); Teotokos (Mãe de Deus); Mariologia (no protestantismo);
Martin Luther; Virgindade Perpétua (de Maria).
ABSTRACT: This article is an approach and a reconciliation of judgments concerning the wide
theological discussion around Mary, the mother of Jesus. This is a summary, under the gaze
of Protestantism, of topics such as Teotokos (= Mother of God), the virgin birth of Jesus, the
perpetual virginity of Mary, his veneration as the Queen of Heaven, the dogma of the Immaculate
* Professor, teólogo e clérigo protestante de tradição metodista. Doutorado em Estudos da
Tradução: Processos de Retextualização, UFSC. Pós Doutorando em Ciências da Religião, PUCGO.
99
Conception, his assumption and dormition. It is an effort towards the respect and genuine
admiration that comes from the act of recognizing, with otherness, the nature or condition of
which is “the other”, also of what is different in dissimilar theological provisions and a contrast
ratios tangle, distinction and difference. The text goes by the theories, theologies and works of
some of the most important reformers Martin Luther, Iohannes Calvinvs, Ulrich Zwingli, Thomas
Cranmer and John Wesley. The text is not properly a theological discussion, which does not make
it less burning.
KEYWORDS: Mary (mother of Jesus); Theotokos (Mother of God); Mariology (Protestantism);
Martin Luther; Perpetual Virginity (of the Mary).
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Maria: aram. Mirjam, ‫םָיְרִמ‬, como sua gente a teria cognominado no séculos
I a.C. - I A.D. No heb. Maryam: ‫ םירמ‬e no gr. Maryām: Μαριάμ, uma campesina
da Galileia: Maria de Nazaré1. Para católicos e ortodoxos: Nossa Senhora. Duas
grandes tradições: (i) Novo Testamento (NT), menciona-a 20 vezes; (ii) no Alcorão,
aparece muito mais que no NT2. Honrada, com distinção, dentre as mulheres do
Alcorão nas Suras (capítulos) 13 e 193, inclusive com uma Sura que lhe é intitulada:
“Maryam” – a única Sura que leva um nome feminino, ao mesmo tempo, da única
mulher nominada, diretamente, no Alcorão. Esta conta a história, na versão do Islã,
da mãe de Īsā (= Jesus, diminutivo persa), o Cristo, resultado de um nascimento
virginal através da operação divina4. Chamada de syyidatuna – Nossa Senhora, filha
de Imran e Hannah5, segundo a religião islâmica, concebida sem pecado, empós
dar à luz, conservou-se virginal6. E seriam “as únicas crianças [Maryam e Īsā] que
1 BROW, Raymond Edward; FITZMYER, Joseph Augustine; DONFRIED, Karl Paul. Mary in the
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New Testament. [Uma colaboração de scholars ecumênicos Protestantes, Anglicanos e
Católicos Romanos]. New York: Paulist Press, 1978, p.140.
ALAHARASAN, V. Antony John. Home of the Assumption: Reconstructing Mary’s Life in
Ephesus. Worcester: Embassador Books, 2006, p.66.
Praticamente idêntica ao relato lucano. Ambos iniciam com a visita de um anjo a Zakariya
(= Zacarias) com a boa e alvissareira notícia do nascimento de Yahya (= João Batista),
seguido pela anunciação de que Maryam, em breve, teria um filho varão, mesmo sendo
uma virgem.
No NT: Mt 1,16-25, Lc 1,26-56; 2,1-7. —— No Alcorão: proclamada (com Īsā) como “um
sinal de Allah para a humanidade”, Al-Muminun, 23,50; a que “guardava a sua castidade”,
“a obediente”, At-Tahrim, 66,12; “escolhida por sua mãe e dedicada a Deus, enquanto ainda
estava no ventre”, Al-i-Imran, 3,36; na infância “residiu no Templo de Salomão” e tinha “acesso
exclusivo ao Al-Mihrab” (equivalente do Santo dos Santos, do Templo), Al-i-Imran, 3:37; era
“exclusivamente (entre mulheres) aceita em serviço de Deus”, “entregue aos cuidados de
um dos profetas do Islã, Zakariya” (Zacarias), Al-i-Imran, 3,37; é chamada “de a escolhida”, “a
purificada”, Al-i-Imran, 3,42; “a mais sincera entre todas (as mulheres), Al-Ma’ida, 5,75; “seu
filho foi concebido por meio da ação de Deus”, Al-i-Imran, 3,45; e “exaltada acima de todas
(as mulheres) da humanidade”, Al-i-Imran, 3,42); GLASSÉ, Cyril; SMITH, Huston. The new
encyclopedia of Islam. Walnut Creek: AltaMira Press, 2003.
GLASSÉ. The new encyclop… op.cit., 2003, p.296.
NAZIR-ALI, Michael. Islam, a Christian perspective. Exeter: Paternoster, 1983, p.110.
não lhes seria permitido serem tocadas por Satanás no tempo do seu nascimento,
porquanto Allah entrepôs um véu entre eles e o anjo caído”7.
Não poucos cristãos, até teólogos, insistem em irem além: – “a primeira
adepta do cristianismo”8. Uma bela história – um tema de fé e, de imediato,
sensível, assinalado pela dupla acusação entre protestantes e ortodoxo-católicos.
As teses e termos basilares não são apenas escorregadios, eles estão muito
claramente marcados por uma dupla acusação, moral e pragmática. O que pode
tornar muito forçosa a discussão neutra – onde há de se obedecer ao “movimento
hermenêutico” – o ato de extração e transferência apropriadora de significação,
em seus principais estágios. Enfim, este agenciamento, nestas férias, abrolhou da
iniciativa de grande amigo de quem sou admirador, colega e editor desta revista.
Levantar reptos mais difíceis e espinhosos é imperioso à pesquisa teológica
contemporânea e globalizada. E eu não “fujo-da-raia”.
Dando início, perifrasticamente. Se, e.g., nos pronunciamos contra cartilha do
ativismo-gay, da homossexualidade ou da homoafetividade-matrimonial, a passos
largos, o militante LGBT nos acoima de “preconceito e homofobia”, ainda que se
alerte um “milhão-de-vezes” que coisa alguma há contra a pessoa-em-si, mas com
a prática. Mais fácil é rotular todos os cristãos: – “odeiam homoafetivos”, do que
embrenhar-se no campo dos debates. No íntimo, o ativista reconhece que a maior
parte não execra gays, mas “pinta” esta efígie para defender seu lobby. Ou ainda,
se alguma discussão sadia se pretenda com um “comunista-de-carteirinha” ou
esquerdista apaixonado, é comum ter que se lidar com dissimulações e vitimizações.
Pouco adianta discutir sobre estatismo-versus-socialismo, livre-mercado, liberalismo
7 RODWELL, John Medows. The Koran (Al-Qur’An). Hardback, BiblioLife, 2009, p.505.
8 Contrariando supra, a alcunha gr.→lat.: christianus, que ocorre apenas três vezes no NT (=
seguidor de Jesus Cristo, compatível ou sob influência dos seus princípios: At 11,26; 26,28; 1Pe
4,16), particularmente At 11,26: “Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados
cristãos.” Com alguma plausibilidade, este epíteto poderia ter sido empregado desde 44 A.D.,
ocasião dos eventos circunscritos neste texto, embora a estrutura gramatical desta frase não
necessariamente aponte para isso. Outros entendem que foi um pouco mais tarde. De qualquer
maneira, ca. 58 A.D., em Cesareia — At 26,28 a expressão era bem conhecida, com seu uso
bem consolidado até mesmo por autoridades públicas, porque, naquela época, o rei Herodes
Agripa II disse a Paulo: “Por pouco me persuades a me fazer cristão (...)”. Há um caloroso debate
em curso se os christiani autodenominaram-se cristãos, foram assim chamados ou se Deus os
teria designado. O verbo gr. χρηματίσαι (inf. aor. at. de χρηματίζω = dar um oráculo, injunção
ou revelação divina, profetizar, deliberar em assembleia) τε πρῶτον ἐν Ἀντιοχείᾳ τοὺς μαθητὰς
Χριστιανούς – neste texto de At 11,26, costuma ser traduzido simplesmente pela passiva (e não
é) – “foram chamados”, e isto é o que se faz na maioria das traduções. Contudo, há traduções que
indicam que Deus tinha algo que ver com a escolha do nome “cristão”, pois esta oração infinitiva
de χρηματίσαι pode funcionar como um sujeito de ἐγένετο adicionada como um destaque, em
separado, pelo uso de τε ao invés de καί. Para o uso do termo no sentido de desígnio divino, uide
Mt 2,12,22; Lc 2,26; At 10,22. Outrossim, Rm 7,3 e Políbio usam neste sentido, onde τοὺς μαθητὰς
(= os discípulos) está no acus. de referência geral com o infinitivo.
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econômico ou conservadorismo-cristão. Decisivamente, virá o brocardo: – “você
odeia os pobres”, ainda que se argumente por “A+B... e até +C” que esta ou aquela
teoria favorece mais os pobres. Igualmente, tal esquerdista sabe que quem é da
direita não “odeia os pobres”, mas tenta acenar com a senso público de que ele está
ad populum. Mútua acusação é uma tática mais recursiva do que pensamos.
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Constatemos: o tema deste artigo é difícil tanto para protestantesfanáticos quanto para católicos-demasiadamente-apaixonados. Afinal, política,
comportamento e fé são temas sensíveis que evidenciam a necessidade: (i)
de se evitar uma superficialidade ingênua no seu trato; (ii) de não escamotear
as conjunturas histórico-literárias que espantam pelo rebrote destas; (iii) de
distinguir e lidar com a resistência dos fundamentalismos já sedimentados, de
um lado e do outro; (iv) e de intuir que a hermenêutica de tais motes “oscilam
historicamente” de um lado para o outro. A despeito, e para além do problema
desta complexidade, supra referida, é instigante estarmos abertos a novos e
mútuos olhares com alteridade.
Mas, às avessas, certos grupos evangélicos mais contemporâneos acusam
os católicos de “idolatria”, atacando a mãe de Jesus; alguns, com tanto afoitamento,
sequer se importam quebrar imagens em frente às câmeras de TV. Por outra via,
certos católicos denunciam “protestantes de execrarem Virgem Maria”. Nos últimos
dias, um certo teólogo, um tanto decadente, no melhor estilo de “bom samaritano”
usou-se do seu Facebook para, num argumento buliçoso, atacar aos protestantes,
reiteradas ocasiões, de que estaria “resguardando a reputação e honra de Maria,
a Virgem” de certos “malignos que a odeiam”, sem citar, explicitamente, qualquer
menção de ódio a Maria advinda de algum protestante reconhecidamente
sério. Tudo não passa de artifícios de persuasão, de ambos os lados, usados por
imprudentes para alcançar outros mais incautos ainda. Além do mais, estes dois
extremos não são as duas únicas posições possíveis neste amplo espectro.
O respeito e a admiração séria, abrolha do ‘reconhecimento altero’ da
natureza ou condição do que é “o outro”, do que é distinto nas disposições
teológicas dessemelhantes e de um emaranhado de relações de contraste,
distinção e diferença. Este relegado, pela metafísica9 antiga ao plano de realidade
9 Para Ἀριστοτέλης (= Aristóteles, 384-†322 a.C.), uma subdivisão fundamental da filosofia, marcada
pela investigação das “realidades que transcendem a experiência sensível”, capaz de fornecer um
fundamento a todas as ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial
do ser; uma filosofia primeira. Já, mais recentemente, para o filósofo prussiano, geralmente,
considerado como o último grande filósofo da era moderna – Imannuel Kant (1724-†1804), um
estudo das formas ou arcabouço legal constitutivo da razão, fundamento de toda especulação
a respeito de realidades suprassensíveis: “a totalidade cósmica”, “Deus”, “a alma humana”, e
nascedouro dos princípios gerais para o conhecimento empírico. Hoje, qualquer sistema filosófico
destinado à compreensão ontológica, teológica ou suprassensível da realidade.
não-essencial, se reveste de centralidade e relevância ontológica na filosofia
hegeliana10 moderna, em particular, no pós-estruturalismo11 contemporâneo. De
tal modo dito, segue-se uma sinopse do tema e não, a priori, a discussão teológica;
todavia não menos candente.
I – UMA VISÃO MAIS ABRAGENTE DO PROBLEMA
Nestes dois mil anos de “cristianismos”, divididos e/ou não, o mote sobre a
mãe e os irmãos do Jesus (histórico) tem sido exposto à luz da história, da exegese
e da fé cristã; e de modos muito díspares. O assunto é áspero porque alude a fé
das grandes ramificações cristãs – ortodoxa, católica e protestante – e é cativo
das escrituras bíblicas que o chancelam e da tradição exegética sobre estas, nem
sempre coincidente. A doutrina eclesial ortodoxo-católica acastela que mãe
do menino Jesus, trouxe à existência o seu filho, de maneira virginal12, e que os
“irmãos de Jesus”, aludidos nos evangelhos13, seriam parentes achegados. Os
protestantes contemporâneos, por sua vez, controvertem que Jesus teria nascido
de uma progenitora παρθένος (= virgem), de acordo com as narrativas evangélicas
da infância14, mas que os “irmãos” seriam filhos do casal Maria e José ou só de José.
Isto, do mesmo modo, foi objeto de entendimentos dessemelhantes nos Pais da
Igreja, nomeadamente, anterior ao Concílio de Niceia I, onde se definiu a natureza
humana e divina de Jesus, sua consubstancialidade, e Maria, mãe de Jesus, como
Θεοτόκος (= theotokos, Mãe de Deus, literalmente Portadora de Deus). No entanto,
o termo nos restou conhecido pelo uso em Ὠριγένης (= Origenes Adamantius)15
e pela mais remota oração mariana de que se tem conhecimento – Sub tuum
præsidium (ca. 250 A.D.), encontrada em 1917, em papyrus, no Egito.
10 Corrente filosófica alemã de Georg Friedrich Hegel (1770-†1831), segundo a qual o κόσμος seria
“uma totalidade integrada” sujeita a um movimento gerado “por sucessivas contradições” – a
“dialética”. Ε, assim, voltada para um fim último: um equivalente da “realização plena de sua
essência espiritual”.
11 Um conjunto de investigações filosóficas contemporâneas, particularmente, em autores como:
o filósofo, historiador das ideias, teórico social, filólogo e crítico literário – Michel Foucault (1926†1984), ou ainda, o filósofo franco-magrebino – Jacques Derrida (1930-†2004) que, negando ou
transformando os princípios teóricos do estruturalismo, além da forte influência de Friedrich
Nietzsche (1844-†1900), propõem um pensamento de recusa aos fundamentos tradicionais da
filosofia, como as ideias de verdade, objetividade e razão.
12 Os sinóticos de Mateus e Lucas descrevem Maria, em gr. como uma παρθένος (= virgem). Para
cristãos, concebeu, miraculosamente, pela ação do Espírito Santo; para muçulmanos, através do
comando de Deus.
13 Mc 3,22 (par.); 6,3 (par.).
14 Lc 1-2; Mt 1-2.
15 BENZ, Ernst. The Eastern Orthodox Church: Its Thought and Life. Piscataway: Anchor; Aldine
Transaction, 2009, p.62: a expressão Θεοτόκος ocorre a primeira vez no pai da Igreja de
Alexandria – Ὠριγένης (= Origenes Adamantius, 185-†253).
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Empós Niceia, a fronteira teológica, hoje ortodoxo-católica, demarcou, de
contínuo, nos “irmãos” de Jesus, “parentes” próximos. Uma designação com algo
de natural na cultura antropológico-semita ambientada naqueles tempos, como
resta ainda hoje, em povos africanos e entre os árabes.
Desperta a atenção ver a prática tradutória lusófona em 1 Macabeus, que
não compõe as Bíblias protestantes nem têm sido enfocada por tradutores, a
priori, protestantes, onde o lexema gr. ἀδελφοί (= adelphoi, irmãos), tem seu
campo semântico elastecido para: “irmãos na fé”, “irmãos de sangue”, ou até ainda
“parentes” (argumento intratextual). Ou seja, em acepção própria, por vezes, e
em sentido lato, outras vezes. O mesmo esforço não ocorre nos textos comuns a
ambas as Bíblias. Observemos um embrião de uma lista que é bem mais ampla:
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(i)
2,17: “(...) e os enviados por Antíoco disseram a Matatias: ‘Tu és um
notável, poderoso e respeitado nesta cidade e apoiado por teus
filhos e parentes (ἀδελφοί, significado lato)”; idem 2,20;
(ii)
3,2 [relacionado com Judas]: “Toda a sua parentela (ἀδελφοί,
significado lato) o auxiliavam, do mesmo modo todos aqueles se
tinham unido (...)”;
(iii) 3,25: “Então, o terror e o medo, que infundiam medo de Judas e seus
irmãos (acepção própria) (...)”;
(iv)
3,42: “Judas e os seus irmãos (acepção própria) (...)”;
(v)
4,59: “E foi estabelecido por Judas e os seus irmãos (acepção própria)
e toda a assembleia de Israel (...)”;
(vi)
5,10: “e mandaram missivas para Judas e aos seus irmãos (acepção
própria) (...)”;
(vii) 5,13: “Todos os nossos irmãos (significado lato), que habitavam na
região de Tubi, foram mortos (...)”;
(viii) 5,14: “Judas e os seus irmãos (acepção própria)”;
(ix)
5,16: “(...) para ajudar os seus irmãos (significado lato) que estavam
em perigo”; idem 5,17 (significado lato);
(x)
5,24: “Judas, o Macabeu e seu irmão (acepção própria) (...)”;
(xi)
5,61: “por não terem seguido as ordens de Judas e dos seus irmãos
(acepção própria), imaginando (...)”;
(xii) 6,22: “Foram ter com o rei e disseram-lhe: Até quando diferes
fazer-nos justiça e vingar os nossos irmãos (significado lato)?”;
(xiii) 7,6: “Eles acusaram os seus compatriotas: Judas e os seus irmãos
(acepção própria) mataram muitos dos teus amigos, ó rei (...)”.
Modernamente, tem-se labutado por pesquisas ‘científicas’ abalizadas na
filologia, no texto-contexto e na cultura antropo-teológica da tradição. Mas, o
tema resta está envolto numa teia de fé e cultura. Difícil de se resilir e decodificar
para ofertar-se uma tese, mesmo que parcial, ou conclusão de cunho científico. O
objeto em causa é tanto mais sensível quanto a necessidade de se ver claro, nos
nossos dias, tendo-se em vista a moderna ciência biogênico-ginecológica, que
não existia no tempo de Jesus.
No entanto, a discussão não está polarizada entre católicos-protestantes.
Há fogo amigo, para ambos. Na obra recente, talvez, a mais relevante, nestas
últimas décadas, sobre a face histórica de Jesus à luz da exegese bíblica e outras
ciências, o exegeta católico Pe. John Paul Meier – A Marginal Jew. Rethinking the
Historical Jesus16 (com tradução em português), defende a questão históricobiológica dos irmãos de Jesus. O subtítulo da produção intelectual é bem explícito
e provocativo: Repensar o Jesus histórico. Têm abundado, ultimamente, discussões
importantes sobre o Jesus, no âmbito da “história”. Quiçá, dentre todas, esta seja
a mais abrangente. Ao mesmo tempo, o também exegeta católico Pe. Xabier
Pikaza, da Pontificia Universidad de Salamanca, com várias produções relevantes
ao campo da história das religiões e da exegese neotestamentária, abriga a tese
dos “irmãos de Jesus” como, de fato, irmãos consanguíneos17.
II – MARTIN LUTHER: UMA BUSCA DE RASTROS
A partir Reforma com Martin Luther, por razões doutrino-apologéticas
abalizadas, literalmente, nos escritos evangélicos – princípio da sola scriptura
– os protestantes demarcaram diversamente o nascimento virginal de Jesus
do nascimento natural dos outros “irmãos”. Esta tomada de lado está ferida de
apologética ou “posição doutrinal”, mas assente, em certa medida, na literalidade dos
16 MEIER, John Paul. Um Judeu Marginal: repensando o Jesus Histórico. 4 vols. Rio de Janeiro:
Imago, 1996. Teólogo, ex-professor da cátedra de NT Dep. de Estudos Bíblicos – Univ.
Católica da América do Norte (desde 1984). Professor de NT na Univ. de Notre Dame, USA.
Doutorou-se em Escrituras Sagradas (1976), Instituto Bíblico de Roma, com louvor máximo
e recebeu a comenda papal de ouro. Antes condecorado em 1968, quando completou o
Curso de Teologia, Univ. Gregoriana, Roma. Ex-presidente (1990-1991) da Catholical Biblical
Association. Escreveu consideráveis obras e artigos sempre preferindo o método históricocrítico. Foi o ed. chefe do Catholical Biblical Quarterly. O notável produto da sua pena, Um
Judeu Marginal (4 vols.), não é um empreendimento pessoal, mas faz parte da biblioteca
de referência – Anchor Bible Reference Library e, consequentemente, Meier não pôde ficar
circunscrito a mostrar apenas suas cômodas posições, deixando passar ao largo vozes
contestatórias e antagônicas e, por isso, é uma mostra bastante extensa e representativa
do tema.
17 PIKAZA, Xabier. La nueva figura de Jesús. Pamplona: Verbo Divino, 2003, pp.269-83.
105
textos. Em tal entendimento, seria presumível conjecturar que o posicionamento
ortodoxo-católico, assentado na doutrina de Maria – Θεοτόκος (= theotokos,
mãe de Deus), aparentemente, resta avesso à letra dos textos.
Não obstante ao vigente preconceito, no protestantismo nascente, no
que diz respeito às tradicionais cláusulas de fé católicas: papado, a comunhão
dos santos, matrimônio sacramental, purgatório, sacerdócio, confissão auricular,
etc., causa espanto Martin Luther – um vigoroso conservador em algumas
das suas posições doutrinais, como: na eucaristia, na regeneração batismal e,
particularmente, em relação à sua devoção à Bem-Aventurada Virgem Maria e
crenças marianas.
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Nas tardes do verão-outono de 2009, ministrei no Studium Theologicum
uma fecunda disciplina a uma pequena classe: “Teologia e Documentos da
Reforma” (usando latim, documentos originais em alemão), ocasião em que
revelou-se que a constatação supra não é muito recursiva nos relatos biográficos
do protestantismo coevo acerca do reformador. Contudo, tal mote resta
irrefutavelmente verdadeiro.
Deveria ser uma disposição de espírito, natural, que os protestantes atuais
tencionassem se projetar a partir do perfil do criador do movimento que lhes deu
o nome. Se compreendemos que o atual luteranismo não possui uma mariologia
muito consistente, isto induz-nos, de imediato, a conjecturar que o próprio Martin
Luther também apresentasse juízos análogos à estes pontos de vista. No entanto,
como veremos a seguir, por meio de fontes originais do próprio Martin Luther
et alli, os informes histórico-originais são outros e bem dessemelhantes. Para tal,
nós consideraremos citações do ex-monge agostiniano et alii, no vário espectro
da doutrina mariana.
Não deveria surpreender-nos que aquele que, em 02 de julho de 1505,
quando voltava para a universidade, a cavalo, numa tempestade, um raio caiu
perto e, com pânico da morte e do julgamento de Deus, gritou: – “Socorro! Santa
Ana, eu me tornarei um monge!” e outros reformadores: Iohannes Calvinvs, Ulrich
Zwingli, John Wesley, Thomaz Cranmer acolhiam a tese de que Jesus não teria
tido nenhum irmão de sangue, tendo fé, igualmente, na doutrina tradicional
da ἀειπαρθὲνος (= Perpétua Virgindade de Maria), e distinguindo seu status de
Θεοτόκος. De Luther temos:
Cristo, nosso Salvador, consiste na obra real e natural do ventre
virginal de Maria. Tal fato, deu-se sem a cooperação de um
homem, continuando a ser virgem após o parto [ἀειπαρθὲνος].18
[Referindo-se a Mt 1,25]: Destas tais letras não se pode ambicionar
concluir que, após o parto, Maria tenha tido consórcio conjugal.
Não se deve crer nem dizer isto.19
Cristo era o único filho de Maria. Das entranhas de Maria
[não provém] nenhuma outra criança além dEle. Os ‘irmãos’
significam, genuinamente, ‘primos’ aqui: a Sagrada Escritura e
os judeus, de contínuo, cognominaram primos de ‘irmãos’.20
Deus diz: “o filho de Maria é meu Filho somente.” Deste modo,
Maria é a Mãe de Deus.21
Alguns diriam ser derradeiros vestígios do catolicismo medieval que ainda
permeavam o coração e a mente do ex-monge agostiniano. Posto que, se o
tempo avançasse, passando-se os anos, com certeza sua teologia amadureceria.
No entanto, em 1529 – mais de cinco anos adiante, em Wittemberg, ele faz uso da
pena:
Deus não recebeu sua divindade de Maria; contudo, não
segue que seja, por conseguinte, errado asseverar que Deus foi
conduzido por Maria, que Deus é fruto do ventre de Maria, e que
Maria resta a Mãe de Deus. Assim sendo, é a Mãe verdadeira de
Deus, a portadora de Deus. Maria amamentou o próprio Deus;
ele foi embalado para adormecer por ela, foi alimentado por ela,
etc. Igualmente para o Deus e como o Homem: um único ser, um
único filho, um único Jesus, e não “dois Cristos”. De tal modo, que
sua criança não consiste em dois filhos (...) mesmo que tenha
duas naturezas.22
18 Martin Luther. Sermões sobre João 1-4, 1534-39; – in: Jaroslav Pelikan (trad. ing.). LW-Luther’s
Work. [de D. Martin Luthers Werke, Kritische Gesamtausgabe. Weimar (ed.)]. vols. 1-30. St.
Louis: Concordia Pub House, 1955. E em Helmut T. Lehmann (ed.). LW-Luther’s Work. vols.
31-55. Philadelphia: Fortress Press, 1955. Armstrong, Dave. — As citações provêm de uma
variedade de línguas, nas quais o material de pesquisa encontra-se disponível. As traduções
para pt. destas, quando não identificados os tradutores (caso de terceiros), foram realizadas
por este pesquisador.
19 Martin Luther. – in: D. Martin Luthers Werke, Kritische Gesamtausgabe. 61 vols. Weimar (ed.).
Verlag: Hermann Böhlaus Nochfolger, 1883-1983, t.11, p.323.
20 Martin Luther. Sermões... op.cit., 1534-39. – in: Helmut T. Lehmann. LW-Luther’s Work... op.cit.
21 id. ibid.
22 Martin Luther. Nos Conselhos e na Igreja, 1539. – in: Helmut T. Lehmann. LW-Luther’s Work...
op.cit.
107
É um artigo de fé que Maria é a Mãe do Senhor e, ainda, é virgem.
(...) Cristo, cremos, saiu de um ventre que deixou perfeitamente
intacto.23
108
Assim posto, o Papa Bento XVI, experiente teólogo alemão e a par destas
questões, é citado na conceituada e mais antiga co-publicação evangélica
das Igrejas Metodista e Presbiteriana, ambas de Portugal, e que poderia vir a
“reabilitar” Martin Luther (termo canônico inadequado)24. E, que vozes autorizadas
do Vaticano, à época, adiantavam que o Papa o “reabilitaria” pelo argumento de
“que jamais teria sido seu desígnio ver a Igreja dividida, mas sim labutar contra
os excessos e práticas de corrupção dentro da mesma”. E, complementava que “o
cardeal presidente – Walter Kasper – do Pontifício Conselho para a Promoção da
Unidade dos Cristãos, adiantava que estas afirmações frutificariam em novo alento
ao diálogo ecumênico e desmentiriam, até certa medida, declarações feitas em
julho do ano antecedente desmerecendo a fé, a protestante e a ortodoxa, ao não
reconhecer estas duas ramificações do cristianismo como Igrejas verdadeiras”. Tal
intento, não se confirmou e foi até negado pelo Pe. Federico Lombardi da Sala
de Imprensa da Santa Sé. Boato ou não, o assunto ganhou notoriedade e vai de
encontro com o espírito geral deste artigo.
Ao longo de sua vida, Lutero se refere a Maria como a “Rainha do Céu”,
entretanto desaconselhou as pessoas que tendiam a fazer uso do epíteto em
demasiado25. Possivelmente, a apreciação crítica mais oscilante de Martin Luther,
seja na aquiescência da Imaculada Conceição de Maria que, na sua época,
ainda não era artigo de fé católico. Veio a ser em 1854, só 300 anos depois, com
a dogmatização pelo Papa Pius IX. Mas Luther foi um firme partidário desta
compreensão. A este respeito, há uma demanda em curso: se os entendimentos
e pontos de vista técnicos das teorias do Medievo sobre a concepção e sobre a
alma que teriam se alterado, mais tarde, em Martin Luther? Para determinados
teólogos luteranos egrégios, e.g., Arthur Carl Piepkorn26, mantêm-se a aceitação
do dogma e Luther parecia inclinado a não incluir Maria na sua tradução alemã
absolutista de “Denn es ist hier kein Unterschied: sie sind allzumal Sünder und
mangeln des Ruhmes, den sie bei GOtt haben sollten,”27 e afirma que:
23 Martin Luther. – in: J. Pelikan (trad. ing.). LW-Luther’s Work… op.cit., 1955, vol.11, pp.319-320;
e (…) vol.6. p.510.
24 Separata do Portugal Evangélico. ed. 932. Porto, 2008.
25 Martin Luther. – in: Helmut T. Lehmann. LW-Luther’s Work... op.cit. vol.7, p.573.
26(1907-†1973), do Concordia Seminary, St. Louis, USA. – in: SAUER, Paul. Lutheran Forum: The
Legacy of Arthur Carl Piepkorn. Clayton, Missouri, 13/dez./1973. Publicado em Christmass,
Winter, 2001.
27BÍBLIA, LutherBible, 1545, Rm 3,23. “Pois não há distinção: todos pecaram e estão destituídos
da glória que teriam com Deus (...)”.
É cheia de graça, aclamada para ser inteiramente sem pecado,
algo tremendamente grande. Afim de que fosse feita plena pela
graça de Deus, com todas as coisas de melhor, e para torná-la
desprovida de todo mal.28
Deus formou a alma e o corpo da Virgem Maria, tornada plena
do Espírito Santo, de tal modo que ela subsiste, sem qualquer dos
pecados, porque ela concebeu e carregou o Senhor Jesus.29
Toda semente, exceto Maria estava viciada [pelo pecado
original].30
É uma doce e piedosa apreciação que a infusão da alma de Maria
ocorreu sem o pecado original; de modo que, ao infundir-se sua
alma livre e isenta do pecado original, foi ataviada com dádivas de
Deus, tendo auferido uma alma pura, infusa por Deus; assim, desde
o momento inicial em que principiou a viver, esteve livre de todo o
pecado.31
Paradoxalmente, algumas das alusões mais antigas à Imaculada Conceição
de Maria ganham existência a partir seu Sermão de Casa no Natal, em 1533,
e em De Encontro ao Papado de Roma, em 1545. Martin Luther não acreditava,
convencionalmente, que tal dogma, ainda embrionário naqueles tempos,
precisaria ser aderido integralmente pela totalidade dos fiéis. Ele entendia
que as Escrituras não instruíam explícita e formalmente a questão e acatava à
recomendação de não ir “além daquilo que está escrito.”32 Justifica-se pelo seu
princípio hermenêutico – sola scriptura.
Ele parece acreditar na Assunção corpórea de Maria ao céu – crença que
jamais abjurou, conquanto recriminasse certos exageros na celebração desta
festa. Seu conhecimento se baseava nos apócrifos que retratam a morte de Maria
e, posterior, assunção ao céu. Quando pregava, pela última vez, na festividade da
Assunção, afirmou:
28 Martin Luther. Livro Pessoal de Oração, 1522. – in: Helmut T. Lehmann. (ed.). Luther’s Works.
ed. Amer. 55 vols. Philadelphia: Fortress, 1968, vol.43, p.40.
29 Martin Luther. D. Martin Luthers Werke… Weimar (ed.). op.cit., t.52, p.39.
30 id. ibid., 39, II, p.107.
31 Martin Luther. Sermão No dia da concepção da Mãe de Deus, dez./1527; – in: Hartmann
Grisar. Martin Luther: His Life and Work. St. Louis: B. Herder Book Company. 1930, p.x, 609;
baseado na tradução alem.→ing. de E. M. Lamond. – in: Luiggi Coppadelta (ed.). 1ª. ed.
Londres: Kegan Paul; Trubner, 1915, vol. IV [de 6], p.238; revisado por Werke (em alem.),
Erlangen, 1826-1868, – in: J. G. Plochmann, J. A. Irmischer, L. Enders (eds.). Francoforte,
1862 ff., 67 vols.; citação 152, p.58.
32 1Co 4,6.
109
Não se pode haver qualquer dúvida que a Virgem Maria está no
céu. Como isso sucedeu, nós desconhecemos. E, uma vez que o
Espírito Santo não nos revelou nada acerca disso, não podemos
fazer disso um artigo de fé. É satisfatório que saibamos que ela
vive em Cristo.33
Martin Luther, visto à luz das suas fontes primárias, parece ter sido alguma
tendência favorável à praxis devocional de veneração à Maria, mediantes algumas
restrições. Expressa isto em reiteradas ocasiões e até com veemência:
A veneração de Maria está registrada no mais profundo do coração
humano.34
110
Mulher mais elevada é Maria e a pedra preciosa mais nobre no
cristianismo empós Cristo (...) Ela é a elevação, a sabedoria e a
santidade personificadas. Nós não poderemos nunca honrá-la o
suficiente. No entanto, a honra e os louvores precisam ser dados,
de tal modo, que não alanceiem a Cristo nem às Escrituras.35
Nenhuma mulher é como tu! Estás para além de Eva ou Sara,
nomeadamente, pela altivez, bem-aventurança, sabedoria e
santidade!36
Martin Luther, apreciador da música sacra, compôs uma série de poemas
voltados à veneração, que sobrevêm da virgindade de Maria. Também traduziu
antigos hinos latinos devocionais sobre Maria para o alemão, que expressam,
de várias maneiras, a encarnação de Deus através de uma virgem. Os pontos de
vista luteranos sobre a veneração de Maria, aqui-e-acolá foram interpretados de
forma díspar por diferentes teólogos ao longo do tempo. O canto do Magnificat,
em latim, foi mantida em muitas comunidades luteranas alemãs. Brandenburg,
Johannes Bugenhagen de Braunschweig e chefes reais da Igreja Luterana de
outras cidades estabeleceram decretos para os três dias de festas marianas,
observados como feriados. É sabido que Martin Luther teria aprovado isto. Ele
também sancionou manter pinturas marianas e estátuas nas Igrejas.37 Resta certa
33Luther. Sermões... op.cit., de 15/ago./1522. – in: Helmut T. Lehmann. LW-Luther’s Work...
op.cit. Também – in: Sermons of Martin Luther. John Nicholas Lenker (ed.). Grand Rapids:
Baker Book House, 1983, II, p.149.
34 id. ibid.
35Luther. Sermões... op.cit., Sermão na Festa da Visitação, 1537. – in: Helmut T. Lehmann. LWLuther’s Work... op.cit.
36 id. ibid.
37 BÄUMER, Remigius. Marienlexikon Gesamtausgabe. – in: Leo Scheffczyk (ed.). Regensburg:
Institutum Mariano, 1994, p.190.
controvérsia, todavia parece ter acastelado o uso da parte inicial do Ave Maria38,
uma insígnia da devoção e reverência à Virgem. De outra via, Hartmann Grisar, um
biógrafo católico romano, atesta que:
Luther sempre acreditou na virgindade de Maria, mesmo após
o parto, como afirma o Credo dos Apóstolos, embora depois
ele negou o seu poder de intercessão, assim como o dos santos
em geral, impugnando as muitas interpretações erradas e
combatidas, bem como o excesso, o uso pagão e a veneração
imódica que a Igreja Católica mostrou por Maria.39
Martin Luther viveu os embates de seu tempo. As considerações derradeiras
sobre a devoção e veneração à Maria encontram-se expostas em um sermão em
Wittenberg, um mês antes de sua morte:
Portanto, quando pregamos a fé de que não precisamos adorar
coisa alguma além Deus – Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.
Assim pronunciamos no Credo: “Creio em Deus Pai Todopoderoso [criador do céu e da terra] e em Jesus Cristo (...)”, deste
modo, estamos permanecendo no templo de Jerusalém. E ainda
outra vez: “Este é meu Filho amado, ouvi-lo (...)” e “irás encontrálo numa manjedoura”. Ele somente faz isso. Mas a razão diz o
oposto: “Por que, nós devemos adorar somente a Cristo? De fato,
não deveríamos também homenagear a santa mãe de Cristo?
Ela foi a mulher que esmagou a cabeça da víbora. Ouve-nos, ó
Maria, porquanto o teu Filho a ti honra e ele não pode recusarte nada. Aqui Bernard [de Clairvaux] foi longe demais em sua
Homilia sobre o Evangelho: Missus est Angelus [Gabriel].40
Deus deu a ordenança de que precisamos honrar os pais, por
isso clamo à Maria. Ela vai interceder por mim junto o Filho e o
Filho junto ao Pai, que ouvirá o Filho. Desta forma, você tem a
imagem de um Deus raivoso e Cristo como juiz. Maria apresenta
a Cristo seu regaço e Cristo exibe suas chagas para o Pai irado (...)
Maria é a mãe de Cristo, seguramente Cristo vai ouvi-la; Cristo
é um severo magistrado, por isso brado a São Jorge ou a São
Cristóvão.41
38 “Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita és tu entre as mulheres e bendito
é o fruto do vosso ventre, Jesus.”
39 GRISAR, Hartmann. Martin Luther: His Life and Work. Michigan: Ams Press Inc, 1930, p.210. 40 Martin Luther citando Bernard de Clairvaux. Homiliæ S. Bernardi super evangelio: “Missus est
angelus Gabriel”. Madrid: G. Gops, 1648, p.1476.
41 Martin Luther. Sermon on the Second Sunday after Epiphany. – in: Doberstein, John W.;
Lehmann, Helmut T. (eds.). Luther’s Works, vol.51 Sermons I. Philadelphia: Fortress Press,
1959, p.375. Também – in: Weimar (ed.). Dr. Martin Luthers Werke, Kritische Gesamtausgabe,
vol.51, Weimar, 1883, p.128.
111
Dezessete anos após a excomunhão de Martin Luther, o Pai da Reforma
com palavras iluminadas, argui em sua homilia:
Precisamos honrar Maria como ela mesma almejou e expressou
no Magnificat. Louvou a Deus por suas obras. Como, então,
podemos nós exaltá-la? A autêntica honra a Maria é a honra
a Deus, louvor à graça de Deus. Maria não consiste em nada
por si mesma, mas o é para a causa de Cristo. A Virgem jamais
ambicionou isso, mas, que de outra forma, nós a miremos, mas,
através dela, Deus.42
Fontes primárias de Martin Luther o assentam mais à frente: abona a
Bem-Aventurada Virgem Exaltada no status quo ante de “Mãe Espiritual” para os
cristãos:
112
É conforto e benevolência superabundante de Deus, o fato de o
homem ser capaz exultar por tal tesouro: a Virgem, qual seja, é,
verdadeira e genuinamente, sua mãe; Jesus, seu irmão; Deus, o seu
Pai.43
Tendo em mente esta união pessoal e a comunhão destas
naturezas, Maria, a Santíssima Virgem, não trouxe à luz um
simples ser humano banal, mas um ente humano que é, em
verdade, o Filho do Deus Altíssimo, como o anjo testemunha.
Ele demonstrou sua majestade divina ainda no ventre materno,
quando ele nasceu de uma virgem, sem violar a sua virgindade.
Por conseguinte, ela é, legitimamente, a progenitora de Deus e,
ainda assim, permaneceu virgem.44
Maria foi a Mãe de Jesus e é a Mãe de nós todos, não obstante só
Cristo tenha sido quem repousou no regaço dela (...) Ele, sendo nosso,
é natural que estejamos na condição dele, lá onde ele se encontra,
também devemos estar e tudo aquilo que ele tem, deveria ser nosso.
Assim sendo, a mãe dele também é nossa mãe.45
42 Martin Luther. Explicação do Magnificat, 1521. – in: Helmut T. Lehmann. LW-Luther’s Work...
op.cit. Também – in: Sermons of Martin Luther. John Nicholas Lenker (ed.). Grand Rapids:
Baker Book House, 1983.
43 Martin Luther. Sermões... op.cit., Sermão de Natal, 1522. – in: Helmut T. Lehmann. LW-Luther’s
Work... op.cit.
44 Essa crença foi oficialmente professada pelos luteranos em sua Konkordienformel; lat. Formula
concordiæ (= Fórmula de Concórdia); também Bergic Book, Bergen Book ou Declaração
Sólida, 1577 por August von Sachsen, artigo VIII.24, conforme TAPPERT, Theodore G. The
Book of Concord: The Confessions of the Evangelical Lutheran Church. Philadelphia: Fortress
Press, 1959, p.595.
45 Martin Luther. Sermões... op.cit., Sermão de Natal, 1529. – in: Helmut T. Lehmann. LW-Luther’s
Work... op.cit.
Poder-se-ia concluir que Martin Luther foi um mariologista passivo, em
contraste aos ortodoxos-católicos, ativos devotos de Maria. Resta, pois, como
certa ex post: a deserção e rejeição dos protestantes contemporâneos a alguns dos
artigos de fé marianos trata-se de evento ex nunc. E, tal ocorrência progressiva no
desenvolvimento destes novos θεολογούμεναι (= discursos sobre os divindades),
no ambiente protestante atual, carecem de estudos, cujos os primeiros passos
estão por serem ainda dados.
III – UMA BREVÍSSIMA ANTOLOGIA MARIANA NA TEOLOGIA DE IOHANNES
CALVINVS
Alguns anos mais à frente, conheçamos Iohannes Calvinvs46 – teólogo
central para as Igrejas Reformadas. Teve uma visão positiva de Maria, mas
renunciou sua veneração e suprimiu a festas marianas. O seu gênio não estava na
concepção de novos conceitos e de um ideário “original”, porém na ampliação e
desenvolvimento do pensamento de então ao seu arremate lógico. Das ruas de
Genebra, o Pai do calvinismo nos afirma:
Não podemos distinguir as bênçãos advindas por Jesus, sem
perfilhar, concomitantemente, quão infinitamente Deus honrou e
enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus.47
Não se tem como denegar que Deus, na sua escolha, tenha destinado
Maria para fosse a Mãe do seu Filho, e assim, outorgou-lhe a mais
alta honraria. (...) Elizabeth chamou Maria, Mãe do Senhor, porque
a unidade ontológica, nas duas naturezas de Cristo, alcançou tal
medida, que [Elizabeth] poderia ter dito que o indivíduo mortal
concebido no ventre de Maria, ao mesmo tempo, era o Deus eterno.48
Existiram determinadas pessoas que almejaram aludir, que
partindo deste texto [Mt 1,25], a Virgem Maria tivera ulteriores
filhos além do Filho de Deus, e que teria, depois, se relacionado
José intimamente com ela. Mas que estupidez! O redator
evangelista não tivera o intuito de historiar o que ocorrera depois;
simplesmente ansiou deixar, de forma bastante explícita, a
obediência de José (...). Ele, assim sendo, jamais coabitou com ela
nem partilhou seu leito (...). Tanto mais, Nosso Senhor Jesus Cristo
é nominado de o primogênito, não afim de que fosse percebida
46(1509-†1564).
47 Iean Calvin (Iohannes Calvinvs). Commentai Res de Iaean Calvin: ʆur la Concordance ou Harmonie,
compoʃee des trois Euagelistes, aʃʃauoir fainƐt Matthieu, fainƐt Marc, & fainƐt Luc. Geneve: De
l’Imprimerie de Michel Blanchier, MDLXII, 20.
48Iohannes Calvinvs. Corpus Reformatorum: Calvini Opera. Braunschweig-Berlin, 1863-1900,
vol.45, pp.348, 35.
113
a existência de um segundo ou um terceiro filho, mas porque o
autor do Evangelho dando destaque à sua precedência.49
As Confissões Francesa, Escocesa, Belga e o Catecismo de Heidelberg – todas
incluem referências ao nascimento virginal, mencionando especificamente, que
Jesus nasceu sem a participação de um homem. No entanto, há restrições quanto
à “plenitude de graça” da Virgem, uma vez que, segundo Calvinvs. a plenitude de
graça é “só de Cristo”. Do mesmo modo, o espectro elastecido do que seja “Mãe
de Deus” recebia alguma restrição, quanto ao seu uso constante. Não obstante,
nutria um respeito genuíno de Maria e viu-a como um modelo para a fé:
Até hoje nós não podemos apreciar a bênção que Cristo a nós trouxe,
sem ponderar, concomitantemente, naquilo que Deus deu como
adorno e honra à Maria, no ato de querer de que ela fosse a mãe de
seu unigênito.50
114
Tal reverência, escrituristicamente, numa tentativa de expressar suas
convicções marianas aos fiéis de seu tempo, parece que não é totalmente conhecida
ou compartilhada por Protestantes Reformados após Iohannes Calvinvs.51
IV – UM PANORAMA NA OBRA DE ULRICH ZWINGLI E NA REFORMA TARDIA
COM JOHN WESLEY
Note-se que Ulrich Zwingli concordava que Nossa Senhora não teve outros
filhos além de Jesus, em coro com Martin Luther e Iohannes Calvinvs. Em Genebra,
principal líder da Reforma Protestante na Suíça, segue nesta mesma linha de fé:
Julgo em grande estima a Mãe de Deus, a virgem Maria
perpetuamente casta e imaculada. (...) Entendo, com firmeza,
conforme as letras do Evangelho, que Maria, bem como virgem
pura, para nós deu a luz ao Filho de Deus e que, de tal maneira
no parto como pós parto, conservou-se virgem pura e íntegra.52
Acredito firmemente que Maria, de acordo com as palavras do
Evangelho como uma virgem pura trouxe para nós o Filho de
Deus. Assim tanto no parto quanto após, para sempre mantevese, a virgem intacta e pura.53
49 Iohannes Calvinvs. Sermão sobre Mateus 1,22-25, 1562.
50 Iohannes Calvinvs. Calvini Opera. Ev Johann. c.II: op.47, 39; vol.46, p.309. – in: ALGERMISSEN,
Konrad. Calvini Opera. Regensburg: 1988, p.642.
51ALGERMISSEN. Calvini Op… Marienlexikon. op.cit., 1988, p.642.
52 Ulrich Zwingli. Corpus Reformatorum: Zwingli Opera. Berlin, 1905, vol.2, p.189.
53 Ulrich Zwingli. Corpus Reformatorum: Zwingli… op.cit., vol.1, p.424.
Na atualidade, na United Metodist Church (em outras Igrejas Metodistas),
não há documentação oficial ou preceitos típicos ou particulares sobre a Virgem
Maria. Valoriza-se apenas as menções bíblicas e os credos ecumênicos. No entanto,
John Wesley, fundador do movimento, clérigo que expirou ainda anglicano,
de contínuo, compreendeu que a Virgem Maria foi uma ἀειπαρθένος (= virgem
perpétua), qual seja, ela nunca teve relações maritais:
[Em uma Carta para um Católico Romano]: A Santíssima Virgem
Maria que, mesmo depois de quando ela O trouxe, continuou
uma pura e imaculada virgem.54
A partir do artigo II dos Artigos de Religião da Igreja Metodista, a Virgem
Maria é considerada Θεοτόκος, conquanto a terminologia, habitualmente, apareça
sendo empregada na “Alta Igreja” e por evangélicos-católicos, afirma que:
O Filho, que é a Palavra do Pai, verdadeiro e eterno Deus, da
substância do Pai, tomou a natureza humana no ventre da
bendita virgem, de maneira que duas naturezas inteiras e
perfeitas, a saber, a divindade e a humanidade, se uniram em
uma só pessoa, para jamais se separar, a qual pessoa (sic) é Cristo,
verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que realmente sofreu, foi
crucificado, morto e sepultado, para nos reconciliar com seu Pai,
para ser um sacrifício não somente pelo pecado original, mas
também pelos pecados atuais dos homens.55
V – EPÍTOME E CONCLUSÕES
Segue-se um brevíssimo panorama, adstrito à limitação do presente artigo,
sobre a aceitação das doutrinas marianas nas igrejas cristãs, não levando em conta a
diversidade significativa nas crenças e da praxia devocional mariana entre as grandes
tradições cristãs 56:
54 John Wesley. Letter to a Roman Catholic, 1749. – in: The Letters of John Wesley. John Telford
(ed.) London: Epworth Press, 1931.
55 IGREJA METODISTA. The Articles of Religion of the Methodist Church. (on line) < http://wesley.
nnu.edu/ >. Acessado 15/jan./2016. Também
– in: Cânones. São Paulo: Cedro, 2002.
56 Conforme JACKSON, Gregory Lee. Catholic, Lutheran, Protestant: a doctrinal comparison. St.
Louis: Martin Chemnitz, 1993, p.254. Também BASSETT, Doug. Doctrinal Insights to the Book
of Mormon. Springville: Cedar Fort, 2007, p.49. Ainda HILLERBRAND, Hans Joachim (ed.)
Encyclopedia of Protestantism. 4 vols. New York: Oxford University Press, 1996, vol.3. p.1174.
E ainda MIRAVALLE, Mark. Introduction to Mary. Santa Barbara: Queenship Publishing, 1993,
p.51. Mais ainda FRONK, Camille Mary, Mother of Jesus. – in: Encyclopedia of Mormonism.
New York: Macmillan, 1992, vol.2, pp.863–64.
115
Doutrina
Definida em
Igrejas que aceitam
Concílio de Niceia I, 325
Católicas, Ortodoxas, Anglicana, Luteranas
Protestantes, Mórmons e reformadores: Martin
Luther, Iohannes Calvinvs, Ulrich Zwingli, John
Wesley et alii.
Mãe de Deus:
Μήτηρ Θεοῦ,
Θεοτόκος 2
Concílio de Éfeso I, 431
Católicas, Ortodoxas, Anglicana, Luteranas,
Metodistas, Mórmons (na variante de Mãe do
Filho de Deus) e reformadores: Martin Luther,
Iohannes Calvinvs, Ulrich Zwingli, John Wesley
et alii
Perpétua
Virgindade:
ἀειπαρθένος3
Concílio de
Constantinopla II, 533
Artigos de Esmalcalde4,
1537
Católicas, Ortodoxas, Anglicana (alguns),
Luteranas (alguns)
e reformadores: Martin Luther, Iohannes
Calvinvs, Ulrich Zwingli, John Wesley et alii
Veneração: Rainha
do Céu5
Concílio de Niceia II, 787
Católicas, Ortodoxas6, Anglicana (alguns),
Luteranas (algumas) e Martin Luther
Imaculada
Conceição7
Ineffabilis Deus: encíclica
do Papa Pius IX, ex
cathedra, 1854
Católicas, Anglicana (alguns), Luteranas
(algumas) e entre reformadores e ortodoxos
com diversas controvérsias
Assunção de
Maria8
Munificentissimus Deus:
encíclica do Papa Pius
XII, 1950
Católicas, Anglicanas (algumas), Luteranas
(algumas) e Ortodoxas (algumas e com
alguma controvérsia relativa a Dormição)
Dormição:
Κοίμησις
Θεοτόκου9
Munificentissimus Deus:
encíclica do Papa Pius
XII, 1950
Ortodoxas Orientais, Católicas
(algumas), Apostólica Armênia
Nascimento
virginal de Jesus1
116
Orientais
Pode-se rematar que a Igreja Anglicana, em relação às crenças marianas,
parece a conciliadora dentre as tradições protestantes. Num livro sobre a oração
com os ícones de Maria, de Rowan Williams, Arcebispo de Cantuária, nos afirma:
“Não se trata tão somente de não sermos capazes de entender Maria sem vê-la
fazendo referência a Cristo; não podemos compreender a Cristo sem dar o devido
cuidado à Maria.”57
Conclui-se que grande parte do embate na questão mariana não está na
raiz da Reforma. Se pudessem viajar no tempo, para hoje, os reformadores teriam,
provavelmente, muitos problemas nos púlpitos protestantes atuais.
57 ROWAN, Williams. Ponder these things: praying with icons of the Virgin. Norwich: Canterbury
Press, 2002, p.7.
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Church. Philadelphia: Fortress Press, 1959.
TRIGILIO, John; BRIGHENTI, Kenneth. The Catholicism Answer Book. Naperville: Sourcebooks,
2007.
ULRICH ZWINGLI. Corpus Reformatorum: Zwingli Opera. Berlin, 1905, vol.2.
WEIMAR (ed.). D. Martin Luthers Werke, Kritische Gesamtausgabe. 61 vols. Weimar (ed.).
Verlag: Hermann Böhlaus Nochfolger, 1883-1983.
(Footnotes)
1 Maria deu à luz a Jesus, miraculosamente, pela intervenção do Espírito Santo,
conservando-se virgem após o parto.
2 Sendo a mãe de Jesus é, por conseguinte, a mãe de Deus (coexistem variações no
sentido geral, na liturgia e praxis nas diversas igrejas).
3 Conservou-se “sempre virgem”, por toda a sua vida.
4 Schmalkaldischen Artikel. um resumo da doutrina luterana, da pena de Martin Luther,
1537, em preparação para um Concílio Ecumênico de Igrejas Luteranas.
5 Trata-se da acepção hierárquico-cultíca, em três níveis: latria, hiperdulia e dulia. Trata-se
da distinção dos termos: hiperdulia (define a veneração a Maria), ao contrário de latria
(aplicado, exclusivamente, a Deus) e dulia (se aplica aos demais santos); TRIGILIO, John;
BRIGHENTI, Kenneth. The Catholicism Answer Book. Naperville: Sourcebooks, 2007,
p.58. As Igrejas: Católica Romana, Ortodoxa Oriental, Anglicana e a Luterana veneram
a Virgem Maria, cada uma a seu modo.
6 Os detalhes são sutis e distintos, e.g.: ortodoxos apenas oram e veneram ícones
bidimensionais e não estátuas tridimensionais, como os católicos. Ou ainda, os
ortodoxos veneram a mãe de Jesus como “a mais nobre do que os querubins e mais
repleta de glória que os serafins; CIARAVINO, Helene. How to Pray. Garden City Park;
New York: Square One, 2001, pp.118-19.
7 Maria foi esteve sempre cheia de graça, da sua concepção no ventre de sua mãe, não
sendo maculada pelo pecado original. Comumente ortodoxos rejeitam a Imaculada
Conceição, particularmente, por entendimento distinto acerca do pecado original.
8 Diz que Maria teria sido elevada de corpo e alma ao céu. Nem todos os teólogos
aceitam a Assunção, embora seja uma tradição antiquíssima, conforme FAHLBUSCH,
Erwin et alii. The encyclopedia of Christianity. Grand Rapids: Eerdmans, 3002, vol.3,
pp.403-9. Também, Papa PIUS XII. Munificentissimus Deus – Defining the Dogma of the
Assumption. Vaticano, 01/nov./1950, §.44.
9 Maria passa por um profundo sono, que antecede sua mortificação natural. O
ensinamento católico comumente aceito é de que Maria foi “assunta” no céu, de corpo
e alma, assim como seu filho Jesus ascendeu. Alguns católicos, contudo, caminham
com os ortodoxos que este evento teria acontecido após a morte de Maria. No entanto,
outros contestam afirmando que ela não experimentou a morte. O Papa Pius XII, na
Munificentissimus Deus, institui o dogma da Assunção, mas deixando a divergência,
propositadamente, em aberto acerca de se Maria teria ou não morrido no momento
de sua partida, embora aluda à sua morte pelo menos cinco vezes. Em audiência geral
em 25/jul./1997, o Papa João Paulo II afirma que Maria, de fato, experimentou a morte
natural antes de ascender.
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