Uma geracao ISIS surge nos Estados Unidos

Transcrição

Uma geracao ISIS surge nos Estados Unidos
Uma "geração Estado Islâmico"
surge nos Estados Unidos
4
Madjid Zerrouky
16/06/201606h00 > Atualizada 16/06/201606h00
Seriam os Estados Unidos uma terra de jihad? Com o massacre que terminou
em 49 mortos e 53 feridos em uma casa noturna gay de Orlando, levanta-se a
questão da presença em solo norte-americano da organização EI (Estado
Islâmico), que reivindicou esse atentado. Omar Mateen, o autor do massacre,
estava no radar do serviço secreto depois de ter chamado a atenção da polícia
federal em 2014, em razão de possíveis ligações com Moner Mohammad Abu
Salha, o primeiro jihadista de nacionalidade norte-americana morto em um
atentado suicida na Síria. É um caso que está longe de ser isolado.
No final de 2015, quase 250 norte-americanos entraram ou tentaram entrar
para o EI na Síria ou no Iraque, segundo estimativas do programa sobre o
extremismo da George Washington University, que se baseia em fontes das
agências de inteligência. Entre cem e 150 teriam conseguido e uma dezena
teria morrido, enquanto 900 investigações foram abertas em todos os 50
Estados norte-americanos sobre supostos simpatizantes do EI, dentre os quais
71 eram alvo de processos em novembro.
O fenômeno não é novo. Entre 2007 e 2009, duas dezenas de norteamericanos de origem somali se juntaram às fileiras do grupo islamita dos Al-
Shabaab, afiliados à Al-Qaeda. Mas essa rede de Minneapolis, cidade do
Minnesota de onde saíram os jihadistas, se baseava na época em laços
pessoais, familiares, tribais e comunitários. Esses norte-americanos de origem
somali --dentre os quais 15 em seguida entraram para as fileiras do EI no
Iraque ou na Síria-- haviam crescido no mesmo bairro, frequentavam as
mesmas escolas e os mesmos locais de prece.
Totalmente diferente é a "geração Estado Islâmico" e as 71 pessoas
processadas (56 presas só no ano de 2015) de hoje, cujos perfis foram
estudados pelos pesquisadores da George Washington University.
Provenientes de 21 Estados em uma área geográfica extensa, cerca de 40%
deles são convertidos. O mais jovem tinha 15 anos quando foi detido para
averiguações, e o mais velho é um ex-piloto da US Air Force, de 47 anos. A
maioria (86%) é homem, mas o número de mulheres tende a aumentar.
Em uma manhã de outubro de 2014, três jovens adolescentes de um subúrbio
de Denver, duas irmãs de origem somali de 15 e 17 anos e uma amiga
sudanesa de 16 anos, desapareceram quando iam para a escola. Elas foram
interceptadas pela polícia alemã no aeroporto de Frankfurt, quando se
encaminhavam para a Síria. Durante vários meses, elas fizeram contato e
amizade pela internet com ativistas do EI, entre eles Oum Waqqas, uma
"recrutadora" do movimento muito influente até o outono de 2015 no Twitter.
Dos cerca de 20 mil ativistas online do movimento jihadista que são muito
ativos nas redes sociais, milhares de contas são baseadas em território norteamericano. É uma terra altamente simbólica para a missão do movimento
jihadista.
ATIRADOR DE ORLANDO MENCIONOU EI EM LIGAÇÃO PARA POLÍCIA
"Potencial inspiração"
O diretor do FBI, James Comey, exprimiu, na segunda-feira (13), sua convicção
de que o atirador de Orlando, Omar Mateen, havia sido "radicalizado" em parte
através da internet. Ele também mencionou "uma potencial inspiração" em
organizações terroristas estrangeiras.
Pouco antes, o presidente Barack Obama havia declarado que não havia
"provas claras" de que o ataque de Orlando havia sido ordenado a partir de
outro país. "Aparentemente o atirador se inspirou em fontes diversas de
informação extremistas na internet", ele declarou após uma reunião com James
Comey e o ministro da Segurança Interna, Jeh Johnson, entre outros.
Engajado há mais de uma década em uma guerra antiterrorista visando
prioritariamente a rede Al-Qaeda no Afeganistão e no Paquistão, bem como a
franquia iemenita do grupo, Washington demorou para entender a dimensão da
ascensão e da periculosidade da organização Estado Islâmico, chegando a
considerá-la no início como uma ameaça menor. "Um time reserva", chegou a
dizer Barack Obama, no início de 2014, usando uma metáfora esportiva,
quando o movimento tinha acabado de tomar Fallujah, no Iraque.
Em junho do mesmo ano, o EI se apoderou de Mosul, a segunda maior cidade
do Iraque, e suas tropas passaram a ameaçar o Curdistão e Bagdá. Em
agosto, James Foley, um jornalista norte-americano, sequestrado em 2012 no
noroeste da Síria, foi decapitado pelo grupo jihadista. Esses dois
acontecimentos vieram a precipitar a intervenção militar dos Estados Unidos no
Iraque e na Síria contra o EI.
Durante esse tempo, o EI pacientemente se empenhou em recrutar e "inspirar"
para levar a guerra ao território norte-americano. No dia 2 de dezembro de
2015, Tashfeen Malik e Syed Farouk, um casal sem passado político, nem
radical, matou 14 pessoas em San Bernardino, na Califórnia. Na noite de 12 de
junho, em Orlando, na Flórida, Omar Mateen assinou o ataque terrorista mais
mortal cometido em solo norte-americano desde o de 11 de setembro de 2001.

Documentos relacionados

Sete perguntas para entender o `Estado Islâmico` e como ele surgiu

Sete perguntas para entender o `Estado Islâmico` e como ele surgiu Os líderes da Al Nusra rejeitaram esta fusão. Mas os combatentes leais a Abu Bakr o seguiram em seu empenho jihadista. Em dezembro de 2013, o ISIS se concentrou no Iraque e aproveitou a divisão pol...

Leia mais

Milícia radical Estado Islâmico completa um ano fortalecida

Milícia radical Estado Islâmico completa um ano fortalecida se transformava em duas quando cortada. A analogia parece válida para a facção terrorista instalada entre a Síria e o Iraque. Os EUA bombardeiam militantes do Estado Islâmico desde agosto de 2014. ...

Leia mais