Rui Manuel Borges Linhares-Dias
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Rui Manuel Borges Linhares-Dias
04 (S)EM REDE DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LITERATURAS MODERNAS DA UNIVERSIDADE DOS AÇORES MARÇO DE 2014 In Memoriam Rui Manuel Borges Linhares-Dias (Lajes / Terceira, -- - Ponta Delgada / São Miguel, --) Rui Dias no momento da apresentação pública do seu livro .ª edição de How to Show Things with Words Isto não é um obituário. Não o será, pelo menos, se consideradas as convenções do género, quer o tomemos na sua aceção restrita, burocrático-administrativa, quer o entendamos no seu sentido mais amplo, o de modalidade discursiva própria ao jornalismo de imprensa. E não o é - dizia -, porque isto se conforma, antes, como manifesta e pessoal declaração de amizade e estima intelectual por quem recentemente nos deixou. Nado e criado nas Lajes, onde, em apenas dois anos, deu a volta às quatro classes da primária, o Rui prosseguiu a sua formação escolar no Seminário P.e Damião (Praia da Vitória) e no então Liceu Nacional de Angra do Heroísmo. Em 1972, ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa, nela tendo permanecido até 1974. O PREC e as convulsões que se lhe seguiram fizeram-no rumar a Coimbra, por cuja Faculdade de Direito se diplomou em 1978. Ficha Técnica O percurso profissional do Rui iniciou-se com a experiência da condição docente, que muito prezava (passou pela Secundária da Praia da Vitória e pela de Angra do Heroísmo, hoje denominadas Vitorino Nemésio e P.e Emiliano de Andrade, respetivamente, onde assumiu a lecionação de diferentes disciplinas, tais como a Introdução ao Direito e a Introdução à Economia, a Sociologia e a Psicossociologia), vindo depois a assentar na carreira superior da Administração Pública, no âmbito da qual exerceu funções de assessoria jurídica nos Serviços Académicos da Universidade dos Açores, destes tendo sido diretor entre 1991 e 1997. Jurista de formação e profissão, bem longe do direito moravam os estímulos e os afetos que moviam a fina inteligência e a intrepidez intelectual do Rui. Em verdade, nele sempre conheci duas sérias e bem cultivadas - ri- gorosamente cultivadas! - paixões: a dos clássicos, os da literatura e os da música, nomeadamente os de matriz germânica (debilitado já pela doença, vezes várias me confidenciou, com incontidas lágrimas de sofrimento físico e psicológico: "Paulo, já só os meus clássicos me valem!"), e a do estudo de uma complexa categoria dos textos narrativos, a respeitante à expressão do tempo. Esta última foi de tal modo a paixão de uma vida , que deixou obra: How to Show Things with Words. A Study on Logic, Language and Literature , publicada sob a chancela da prestigiosa Mouton de Gruyter, em 2006, com 2.ª edição em 2012. Trata-se de um estudo com tanto de complexo como de fecundo, lido pelos seus pares nos quatro cantos do mun- Carolina Melo, Dianne Costa, Diogo Moreira, Margarida Moura, Micaela Santos, Paulo Meneses e Rute Ferreira. do, além de extensa e elucidativamente recenseado por José Angel García Landa. Nele se cruzam as esferas do saber que sempre convocaram o aturado trabalho do Rui: a narratologia, a filosofia da linguagem, a linguística textual e a lógica formal. Foi, de resto, esta íntima convivência com a filosofia da linguagem que ditou a publicação de um seu ensaio na influente revista Brentano Studien ("Linguistic Functions: The Viena-Prague Circuit"). O mérito absoluto destas suas publicações valeu-lhe o reconhecimento académico do International Communicology Institute, do qual se tornou Fellow, por voto unâmime do Diretor e do Collegium of Fellows, em novembro de 2009. Senhor de uma requintada arte do discurso - na escrita, como na oralidade! -, conversador discreto e exímio, o Rui foi o Amigo com quem sempre muito aprendi, no campo das 'coisas da vida' tidas por graves (as demoradas conversas sobre o andamento do seu livro , o contacto com a sua criteriosa biblioteca, os conselhos sobre maestros e executantes de música clássica), como no das bem mais ligeiras mas não menos intensas (as andanças da juventude, dos episódios efervescentes associados à vivência de uma democracia emergente aos nossos jogos de uma espécie de futebol de salão ao 'ar livre', praticado nas traseiras da igreja das Lajes). Bem hajas, pois, por tudo isto. E até sempre, meu Amigo. PAULO MENESES (DOCENTE DLLM)