Da Escravidão para a Liberdade
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Da Escravidão para a Liberdade
Da Escravidão para a Liberdade Da Escravidão para a Liberdade F.T. Wright 1. edição: 3.000 exemplares -1978 - Excepto quando nao indicados, todos os textos bíblicos foram tirados da Biblia, traduzida por Joao Ferreira de Almeida, edição de 1957 PREFÁCIO A presente obra baseia-se num estudo bíblico que foi apresentado pela autor pela primeira vez na Austrália, em 1965, e que naquela ocasião foi gravado numa fita magnética. Para aqueles ouvintes, um grupo ainda bastante restrito, era este tema tão novo que, apesar de um certo receio que uma transcrição não pudesse satisfazer um assunto tão vivo como este, pediram que fosse publicado por escrito. Em virtude da grande necessidade de poder transmitir esse importante tema aos interessados de todo o mundo, foi então publicada uma edição provisória, sob o título »From Bondage to Deliverance«. Essa primeira edição foi tão bem aceite, que nos anos posteriores mais de dez mil exemplares foram espalhados em todo o mundo. E não somente isto, mas também foi traduzida para o alemão, norueguês e zulu. Depois da primeira edição se ter esgotado e a procura ter continuado inalteradamente, foi então elaborada a edição definitiva, sob o título »From Bondage to Freedom«. Essa edição é muito válida, visto ter como base não somente a edição provisória, mas também as experiências de muitos que provaram que a vitória sobre o pecado será ganha por todos aqueles que fielmente seguem os princípios aqui apresentados. Em todo o mundo há um grande número de crentes que não se satisfazem com uma mera teoria religiosa ou com argumentos complicados, mas esperam que lhes seja entregue um guia prático de como podem alcançar o carácter perfeito de Jesus Cristo. Com a presente obra, que pela primeira vez é publicada na língua portuguesa, oferecemos aos crentes interessados um guia simples e prático. Apesar do valor indiscutível deste guia podem os leitores, em virtude de opiniões particulares ou preconceitos existentes, ficar privados das grandes bênçãos, destinadas a cada um. Pode, por exemplo, acontecer que pensam concordar com cada palavra escrita, quando na realidade compreendem algo muito diferente. Queremos, portanto, encorajar a todos a procurarem compreender o que esta publicação realmente diz, e não o que pensam que esteja a dizer. Também há muitos que acham que a entrega do velho homem do pecado exige sacrifícios demasiado grandes. Quantos há, hoje em dia, que estão realmente alarmados com o caminho que o mundo leva e que desejam uma inversão dessa direcção. Porém, mesmo assim, não estão verdadeiramente interessados no caminho que Deus indicou. Oramos, no entanto, que, na leitura deste volume, o estimado leitor seja um desses que entrega tudo, para que possa obter essa Pérola de grande apreço, e que se realize em si, assim como em muitos outros, o que se realizou no autor desta publicação. OS EDITORES Tradução do título original: FROM BONDAGE TO FREEDOM Edição revisada, Junho 1975 ÍNDICE O PROBLEMA 7 A NATUREZA DO HOMEM 35 A SOLUÇÃO 43 LIBERTAÇÃO 53 O MEU TESTEMUNHO 65 NÃO DE CATIVEIRO PARA CATIVEIRO 74 MANUTENÇÃO 77 VIGIAI 81 A LUTA É DO SENHOR 82 PALAVRAS FINAIS 84 O PROBLEMA O presente estudo foi elaborado com o propósito de mostrar aos atribulados do tempo actual a maneira certa de como pode ser alcançada uma vida de vitória sobre os pecados, que tão persistentemente marcam a experiência diária da humanidade de hoje. Não é um estudo que nos diz o que deveríamos ser, pois a maioria das pessoas, com excepção daquelas que se têm em conta de serem melhores do que realmente são, não somente já sabem o que desejam, mas também já estão lutando por esse objectivo. Mais ainda, em virtude das diversas congregações cristãs terem uma doutrina elevada, já aos seus membros é explicado, qual a condição que deveriam ter, e não somente isto, mas também a exigência da própria congregação para o crente alcançar esse ideal, é também mais forte. O problema comum de todos é: Como alcançarei eu, o que segundo a minha mais profunda consciência considero ser justo e sobre todas as coisas digno de ser alcançado? Esta é a pergunta para a qual milhares de pessoas estão procurando resposta certa. Se o estimado leitor for uma dessas pessoas, então este estudo é para si. Ele foi escrito não por alguém que expôs simplesmente as suas teorias religiosas, mas que acima de tudo procurou alcançar os ideais mais elevados duma vida cristã, achando finalmente o caminho que o levou da escravidão da sua natureza ímpia para a liberdade duma vida vitoriosa sobre o pecado. O tema apresentado, além de ser segundo as Sagradas Escrituras, é tanto experimentado como provado. É ainda um caminho que, uma vez apresentado a outras almas em circunstâncias iguais, provou ser tão efectivo como o foi para o autor desta publicação. O mundo de hoje está envolvido em muitos problemas. Apesar dos homens procurarem intensamente encontrar uma solução, não o conseguem por os mesmos dia após dia se multiplicarem. Quando os apóstolos Pedro e João estavam perante os seus adversários judeus, declararam de Cristo o seguinte: »E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.« Act. 4:12 Não é por conseguinte o psiquiatra, o médico, nem qualquer outro cientista ou sábio, que nos pode resolver esses problemas. Somente na Palavra de Deus está revelado tanto o poder salvador de Jesus Cristo, como também a maneira como esse poder se pode tornar nosso. Na Santa Escritura temos o testemunho de alguém que, através da própria experiência, conhecia o poder salvador dessa Palavra. Foi Paulo que declarou: »Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu e também do grego.« Havia uma razão pela qual ele não se envergonhou de falar francamente no evangelho de Jesus Cristo: »Pois é o poder de Deus.« Pensemos em todas as características possíveis, das quais Paulo podia ter falado, explicando o evangelho. Podia tê-lo designado como teoria, como argumento ou boas novas; porém, não se referiu a nenhuma dessas definições. O evangelho »é o poder de Deus», proclamou. Era-lhe um poder, mas não um poder qualquer; era-lhe »o poder de Deus«. É essencial que logo no início deste estudo compreendamos o que é o evangelho realmente. Fazemos bem em considerar a força e majestade desse poder. É o poder de Deus pelo qual, através da Sua Palavra, foram criados tanto os Céus como a terra. O mesmo poder que através duma palavra dantes criou os mundos, está no presente actuando no evangelho, pois diz a Palavra de Deus, »é o poder de Deus para salvação«. Esse texto não especifica claramente do que o evangelho nos salva. Mas existe ainda a necessidade de o especificar, estando tão claramente explicado na Santa Escritura? Quando o anjo do Senhor veio a José, marido de Maria, mãe de Jesus, a fim de anunciar o nascimento de Cristo, disse: »E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.« Para podermos compreender a Bíblia Sagrada, deve ser comparado texto com texto. Verdades uma vez declaradas não necessitam mais ser repetidas com as mesmas palavras. Jesus é tanto o poder como o centro do evangelho. Portanto se Jesus veio para salvar o Seu povo dos seus pecados e se Paulo nos diz que o evangelho é o poder de Deus para a salvação, está claro que se trata aqui da salvação do pecado. Se um tal poder infinito, que não tem igual, está disposto a salvar os seres humanos dos seus pecados, como pode então haver uma desculpa para que o pecado habite ainda em qualquer um de nós? Não há desculpa alguma. A maioria é indiferente no que diz respeito ao problema do pecado, vivendo segundo o seu modo preferido. O Senhor dá-lhes inteira liberdade para esco- 10 lherem o que gostam. Porém, mesmo assim são culpados e colherão os resultados das suas erróneas acções. Mas aqueles que lutam para que o seu carácter seja segundo o molde divino, que têm as suas vidas cheias de amor e alegria como resultado natural da sua experiência, podem saber que através de Jesus Cristo é-lhes oferecido o poder de Deus, para os salvar dos seus pecados. Portanto não necessitamos pecar. Podemos viver uma vida de vitória perfeita sobre cada pecado, se quisermos e se acreditarmos no poder salvador de Deus. Apesar do evangelho ser para todos, não é o evangelho o poder de Deus para todos, »pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, e também do grego.« Somente para os crentes é o evangelho o poder de Deus para a salvação do pecado. Para todos os outros é uma simples teoria, uma história, uma doutrina ou algo semelhante. No versículo seguinte continua o apóstolo Paulo a mostrar-nos os resultados do poder do evangelho; »porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé«. Rom. 1:17 No evangelho está revelada a justiça de Deus. Meditemos um pouco sobre a palavra »revelada«. Indica que a justiça de Deus é mostrada de modo a ser claramente vista por todos aqueles que são observadores da cena. Mas, onde está o evangelho de Cristo melhor revelado, senão nas vidas daqueles que por Ele já foram transformados? Na vida do próprio Cristo, quando habitou nesta terra, manifestou-se o evangelho como o poder de Deus. Enquanto andou nesta terra, dia após dia salvou-O Deus do pecado, de modo que de fé em fé revelou em Si a justiça de Deus. Portanto é Cristo o 11 nosso grande exemplo para o que devemos ser; »porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.« 1.Pedro 2:21 Do mesmo modo como a justiça de Deus, através do poder do evangelho, foi revelada dia após dia na vida de Cristo, assim há-de ser revelada hoje, na vida dos Seus seguidores. Na vida de Jesus Cristo encontramos a revelação de Deus, do que devemos ser. Ao olhar para essa vida, vê nela cada professo filho de Deus o fluxo contínuo de amor, perdão, graça, paciência e as demais virtudes cristãs, de modo que deseja copiar esse ideal. Mas uma vida de derrota e frustração leva ao pensamento de que isto jamais possa ser possível. Desde o início deste estudo, é importante compreender que o evangelho é o poder salvador de Deus, que revelará na vida de cada verdadeiro crente a justiça de Deus de fé em fé. Que perspectiva tão maravilhosa de vitória pessoal através do poder de Jesus Cristo, nosso Salvador. Esse é o poder através do qual Jesus cumpre a Sua promessa de expelir dum homem ímpio, corrupto, poluido, imperfeito, cheio de maldades e más suspeitas, todos os frutos da carne, para o enriquecer de amor, alegria, paz, delicadeza, humildade, paciência e todos os demais frutos do Espírito. Este é o evangelho. Nada a não ser isto, jamais pode ser o evangelho verdadeiro de Jesus Cristo. Mas é esta a experiência dos que hoje se dizem ser filhos professos de Deus? Para encontrarmos a resposta, façamos a seguinte experiência: Dirijamo-nos a um crente, que professa ser filho de Deus, perguntando: »Diga-me francamente; peca dia após dia?« 12 Se a pessoa for realmente honesta, certamente responderá: »Sim, devo dizer que peco.« Segue então a seguinte pergunta: «Quando comete um pecado, sentindo-se culpado, que faz?« Em resposta dirá: »Confesso-o, peço ao Senhor que mo perdoe e ajude a não tornar a cometê-lo.« Seguimos com mais uma pergunta, avançando mais um passo: »Depois de ter confessado o pecado, ter pedido o perdão e a ajuda para não tornar a cometê-lo, que pensa que irá acontecer? Pertence agora esse pecado ao passado ou existe ele ainda como anteriormente? Com outras palavras: verifica que continua cometendo esse pecado?« Nesse momento um olhar de espanto aparece na face daquele a quem perguntamos. »Porque me pergunta tal coisa?« Responde-nos. É claro que o mesmo pecado ainda existe. Sou ainda um ser humano, e devo para sempre lutar contra esse pecado. Repetidamente o cometo e repetidamente devo confessá-lo. Pode uma tal experiência ser chamada libertação do pecado? A resposta deve ser, »não«. Essa é a experiência de pecar e confessar, pecar e confessar, pecar e confessar. Pensai nas vossas experiências do passado. Pensai no pecado capital das vossa vida. Pensai como cometestes o mesmo, como sentistes os remorsos, como procurastes o Senhor para obterdes o perdão e a Sua ajuda, a fim de vos guardar de o tornar a cometer novamente. Pensai como o cometestes de novo e sempre de novo. Não é verdade que a não ser que tenhais descoberto e seguido o verdadeiro caminho da libertação, esse mesmo pecado que era o vosso principal problema dez anos atrás, ainda é o mesmo de hoje? 13 Se com toda a franqueza podeis confirmar que era assim, então destes o primeiro passo importante, para que se realize em vós a libertação do pecado. Não é a vontade de Deus que pequemos e todo aquele que como crente conhece o evangelho como poder de Deus para a salvação, não necessita pecar. Hoje em dia há diferenças visíveis nas crenças de cada uma das diferentes congregações cristãs. Cada uma reclama, em virtude de acreditar numa certa doutrina, pregar o caminho verdadeiro da salvação. O facto real, porém, é que, não importando quão correcta uma doutrina possa ser, se alguém não compreender e não experimentar o poder salvador do evangelho, encontra-se tão perdido como se nunca tivesse acreditado na libertação do pecado. Alguém pode ter uma certa teoria de religião, uma certa crença, pode visitar uma certa igreja, um certo templo, pode pertencer a uma certa congregação Cristã, mas tudo isso, não trará necessariamente a salvação. O que importa é o que a religião efectua na pessoa. Se o evangelho ao qual nos temos ligado for menos poderoso do que o evangelho de Jesus Cristo, então o nosso evangelho é somente uma imitação do real. Somente aqueles que possuem uma vitória pessoal sobre o pecado, que por si próprios sabem o que significa ser salvo dos seus pecados, e que nas suas vidas espirituais vêem um crescimento real, têm o evangelho de Cristo e podem por conseguinte pregá-lo. Ninguém pode pregar o que não conhece. Somente um homem justo pode ser um professor de justiça. Mas o que deve ser reconhecido neste ponto é que a obra da salvação envolve a nossa colaboração intelectual. Há uma obra que Deus faz e há outra que nós devemos 14 fazer. Deus está sempre pronto a fazer a Sua parte. O problema é que os homens não compreendem qual a sua, impossibilitando assim a Deus de fazer a d'Ele. Que temos uma certa parte a cumprir é-nos mostrado nas seguintes palavras de Cristo: »E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.« João 8:32 O verdadeiro propósito deste estudo é mostrar-nos a verdade que nos libertará. Portanto, entremos directamente neste estudo, numa linguagem tão clara e simples quanto possível. A primeira pergunta que devemos fazer é: »O que é pecado?« Para melhor compreensão seja dito que a pergunta não é, »o que são pecados «, mas »o que é pecado?« À pergunta anterior certamente responderíamos: »Assassínio, mentira, roubo, etc. Mas a resposta à segunta pergunta é diferente. Não exageramos ao dizermos que, se não pudermos responder correctamente a esta pergunta, não nos será possível encontrar o caminho da libertação do pecado, porque antes de podermos encontrar a solução, devemos compreender qual o problema a ser resolvido. Mesmo assim é comum pessoas pensarem, que sabem responder a esta pergunta. Ao serem interrogadas, respondem imediatamente com as seguintes palavras da Santa Escritura: »O pecado é a transgressão da lei.« l.João 3:4 Esta definição sobre o que é pecado, é segundo a Escritura; por conseguinte, tem de ser correcta, desde que compreendamos tudo o que o texto realmente diz. A palavra »transgressão«, dá-nos a entender a ideia duma acção. Portanto, a compreensão comum deste versículo é que o pecado seja uma acção de fazer mal. Devido a estas más acções a condição do malfeitor 16 oportunidade para explicar-lhes o que é o pecado. Disse: »E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertar á.« João 8:32 Esses homens mostraram a sua ignorância a respeito dos princípios básicos do problema do pecado, dizendo: »Somos descendentes de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.« João 8:33,34. Na resposta de Cristo temos a definição completa sobre o que é pecado. Aqui o pecado é identificado, não como uma acção, mas como um senhor; porque se o pecador é servo do pecado, então o pecado tem de ser o senhor do pecador. Para ser tal senhor, tem o pecado que ser um poder, porque ninguém pode reinar sem o devido poder; sobretudo quando os subjugados — os pecadores — não se querem entregar livremente. O pecado não é um senhor que recebe um serviço de amor dos que lhe estão sujeitos, mas um que tem de ser forçado. A palavra original em grego, da qual a palavra »servo« é traduzida, era de facto a palavra normalmente usada para um escravo, sendo essa portanto usada nas traduções modernas. A nossa definição sobre o pecado deve ser entendida como segue: o pecado é um tirano que contra a nossa vontade reina sobre nós, de modo que nos encontramos na condição de escravidão. Para este problema, o perdão, no sentido em que esta palavra é normalmente entendida, não é a solução. O que necessitamos é de libertação. Em complemento à primeira definição simplificada com a definição acima descrita, obtemos este gráfico: 18 Este é o estado do homem do mundo, antes de chegar ao conhecimento da lei de Deus. Ele não se aflige em ser um pecador. Mas finalmente vem o momento em que a lei entra na sua vida e ele fica conhecedor das suas justas exigências. Esse primeiro passo em direcção a Cristo — o conhecimento da lei — pode chegar até ele através do estudo da Santa Palavra, através dum pregador vivo ou duma outra maneira. É importante saber que caso não chegue ao conhecimento da lei, jamais encontrará a Cristo como Salvador do pecado. O conhecimento da lei de Deus leva a um outro conhecimento, ou seja à convicção do seu estado interior. Este é o segundo passo essencial para Cristo. A convicção leva ao arrependimento, desde que não seja abafada ou erguida uma resistência contra a obra do Espírito Santo. Isto acontece porque não é agradável de se ver como Deus nos vê. A tendência natural da natureza humana é de rejeitar tais revelações como sendo inoportunas. Um caso destes encontramos na história de Felix e sua mulher Drusila, conforme está descrito em Actos 24:24-27. »E alguns dias depois, vindo Felix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou chamar a Paulo, e ouviu-o acerca da fé em Cristo. E tratando ele da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro, Felix espavorido, respondeu: Por agora vai-te, e em tendo oportunidade te chamarei. Esperando ao mesmo tempo que Paulo lhe desse dinheiro, para que o soltasse; pelo que também muitas vezes o mandava chamar, e falava com ele. Mas passados dois anos, Felix teve por sucessor a Porcio Festo; e, querendo comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso.« O facto de Felix ter ficado espavorido é uma evi- 19 dência clara de que tinha a convicção profunda, e não somente isto, mas o seu estado natural o teria levado ao arrependimento, se não tivesse rejeitado essa revelação. A sua falta foi mandar embora o apóstolo no tempo em que mais necessitava do ministério dele. Queiramos ter muito cuidado a fim de que, quando o Senhor nos mostrar o nosso verdadeiro íntimo, reconheçamos não somente o que somos, mas que também não rejeitemos o testemunho fiel do espírito do verdadeiro arrependimento que o Senhor nos dará ao mesmo tempo. Arrependimento significa não somente odiarmos o pecado, mas desviarmo-nos dele. Não é somente odiar o pecado por causa do que faz em nós. Judas e Balaão odiaram ambos as consequências do pecado, mas não o próprio pecado. Assim como odiamos a sujidade por ser sujidade, havemos de odiar o pecado por ser pecado. Assim fazendo, significa que amaremos a justiça por ser justiça. Porém, isso não é natural ao ser humano. Não é algo que possamos criar em nós próprios. Arrependimento é o dom de Deus. Este é o sentido da Escritura que declara: »Deus com a sua dextra o elevou a Príncipe e Salvador para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados.» Actos 5:31 Arrependimento, uma vez recebido por Deus, como resultado da actuação do Espírito Santo, será acompanhado da confissão dos pecados. Estes são os primeiros quatro passos para Cristo: conhecimento, convicção, arrependimento e confissão. É verdade que muitos entraram em cada uma destas experiências segundo a melhor maneira por eles conhecida, pensando que haviam cumprido todas as exigências necessárias para a libertação do pecado; porém, 20 mesmo assim verificaram que não estavam de modo algum libertos do mesmo. Certamente teriam esses crentes ganho a libertação, se tivessem obtido essas experiências, conforme a designação de Deus. O problema é que muitos não compreenderam o que cada uma dessas experiências realmente significa. Chegaram de facto a um arrependimento e confissão, mas falharam em compreenderem que deve haver um arrependimento e confissão mais profundo acerca do que somos e uma confissão do mesmo. Pensemos no momento comovente, quando pela primeira vez nos chegou o conhecimento da verdade de Deus. Que maravilhosa e firme aparecia a verdade de um lado, mas que poder convincente e terrível mostrava do outro lado. Vimos todo o passado da nossa vida, cheio de egoísmo e pecado, e com arrependimento profundo desejamos que todo esse mal termine para sempre. Decidimos como os israelitas do passado, que iremos obedecer a cada um dos mandamentos de Deus. «Tudo o que o Senhor tem falado faremos e obedeceremos.« Ex. 24:7. Decidimos obedecer a todos os mandamentos de Deus e após essa decisão verificamos que de facto algum sucesso obtivemos no que diz respeito a certas acções exteriores: grandes vitórias foram ganhas, por exemplo, sobre as atracções do mundo que anteriormente nos haviam atraído; mas o que nos fez estranhar foi que a impaciência, o mau génio e outros problemas íntimos permaneceram. Em virtude disto chegamos à convicção profunda da permanência no pecado e que a nossa experiência seja tentar e falhar, tentar e falhar, tentar e falhar. Confessamos os pecados e decidimos que a partir desse momento seria diferente; mas verificámos que o não era, surgindo sempre os mesmos problemas. 21 Esta é justamente a imagem que o apóstolo Paulo descreve em Romanos 7:15-24. »Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que nào quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum: e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já não o faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim; que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?« Paulo não podia ter descrito a nossa experiência do passado, como filhos professos de Deus, melhor do que fez nestes versículos. Quantas vezes li estas palavras aos ouvintes, e me responderam, dizendo: »Esta é exactamente a minha experiência. Paulo, quando escreveu estas palavras, escreveu a meu respeito.« Após termos lido esta passagem, podemos ver que Paulo tinha todos os primeiros passos para Cristo. As suas repetidas confissões mostram claramente que conhecia tanto a lei como a própria condição perante ela. No mesmo capítulo falou da lei nos seguintes termos: »E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom.« Vers. 12. Disse mais ainda: «Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.« Vers. 14 22 Como constatamos mais acima, este estudo é o conhecimento da lei, acompanhado de um reconhecimento de nós próprios. Por isso é que Paulo, após ter constatado que a lei é espiritual, confessa: »mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.« Tais convicções são seguidas de arrependimento, a não ser que sejam impedidas. Paulo teve sem dúvida o arrependimento sincero, porque conforme o seu sincero testemunho, odiava o pecado: »porque o que faço não o aprovo.» Ainda mais; ele afastava-se do pecado tanto quanto possível. Sem dúvida é este um arrependimento verdadeiro, e não somente isto, esse arrependimento foi acompanhado pela respectiva confissão, porque tudo neste versículo é de facto uma confissão. É então evidente que Paulo deu esses quatro passos para Cristo: conhecimento, convicção, arrependimento e confissão. É igualmente evidente que apesar disto não alcançou a libertação do pecado. È muito importante reconhecermos isto, porque existe o grande perigo de pensarmos que por termos dado esses quatro passos a nossa salvação já esteja assegurada. Esta passagem da Santa Escritura mostra-nos claramente que é possível alguém dar esses quatro passos e mesmo assim permanecer um escravo do pecado, estando portanto ainda debaixo do poder daquele senhor do pecado, que nos domina contra a nossa vontade. Esta é de facto a experiência de pecar e arrepender-se, pecar e arrepender-se dos mesmos pecados ano após ano. Quando uma pessoa chega ao conhecimento da verdade de Deus, quando experimenta a convicção do pecado, quando se arrepende dele e o confessa, acredita ter encontrado a salvação, apesar de ainda ser um escravo com a sua natureza antiga e pecaminosa. O 23 testemunho de Paulo em Romanos sete é uma confirmação desse facto. Paulo foi sem dúvida um grande homem de Deus. Compreendeu o evangelho e o plano da salvação e estará no reino de Deus; porém, mesmo assim testificou que era carnal, vendido sob o pecado. Não fazia o que sabia que era justo, mas viu-se a si próprio fazendo coisas que sabia serem pecado. Se essa foi a experiência de Paulo naquele tempo, quando se havia tornado um verdadeiro cristão, por conseguinte com a esperança da salvação, então devemos esperar, que também a nossa experiência cristã seja a mesma descrita em Romanos sete. Com outras palavras, devemos acreditar que a experiência do homem de Romanos sete, seja a experiência dum filho de Deus, verdadeiramente renascido. Para ilustrar melhor este ponto, permitam-me contar urna experiência que uma vez tive. Recebi um dia um convite para falar sobre o caminho da libertação a um homem que tinha uma posição elevada na sua igreja. Ainda mais: ele era um lider duma instituição religiosa e era conhecedor da doutrina da sua igreja e certamente cumpria a lei no que diz respeito às exigências exteriores. Por anos pregara ao seu povo. Porém, quando lhes li as palavras de Romanos sete, disse-me: »Isto é a descrição certa da minha experiência, desde que me entreguei ao Senhor. Eu nasci com mau génio e ainda tenho esse mesmo problema. Perco o controle sobre mim mesmo. Sinto a convicção do pecado. Confesso-o e decido que nunca mais o farei. Depois, porém, vem novamente o poder da tentação e perco-o outra vez e sempre de novo uma e outra vez. Posso realmente sentir como Paulo em Romanos sete.« Este senhor foi tão franco e sincero como o foi 24 Paulo. Sem querermos ser juizes é-nos lícito perguntar se um homem destes se levantará na ressurreição dos justos, ou se estará eternamente perdido? Antes de tentarmos responder a esta pergunta devemos compreender qual a experiência demonstrada em Romanos sete. Aqui é-nos apresentado um homem, que conhece a lei de Deus e a guarda tanto quanto possível. Nos seus deveres religiosos é fiel semana após semana. Ocupa um lugar elevado na igreja, paga os seus dízimos e ofertas. É activo nos projectos missionários para o desenvolvimento do evangelho. É altamente respeitado pelos membros da igreja, mas mesmo assim confessa que ainda é um escravo da sua própria natureza interior e que não pode cumprir as coisas que segundo sabe perfeitamente deveria cumprir. Este é o homem de Romanos sete. Não é o pecador voluntário do mundo, que pouco se importa das coisas do Senhor e da eternidade. Sabemos que o homem do mundo, enquanto permanecer neste estado, não participará da ressurreição. Mas como é a situação do homem de Romanos sete? Esta é a pergunta principal. Aparte do forte argumento da vida de Paulo, há dois faclores que influenciarão fortemente a nossa atenção, porque parecem indicar que aqui se trata da experiência dum verdadeiro filho de Deus. Em primeiro lugar há o testemunho que a nossa própria vida. durante todo o tempo em que pertencemos à igreja, tem sido conforme o que está escrito em Romanos sete. Gostamos de pensar em todos os sacrifícios que para a verdade fizemos e estamos relutantes em admitir que tudo isto para nada tenha servido, pois se não recebermos a vida eterna, certamente que tudo terá sido em vão. Pensamos também em todos aqueles que morreram 25 e que, como sabemos, estavam sob a experiência de Romanos sete. Se chegamos ao ponto de acreditarmos que o homem de Romanos sete não é um filho de Deus, temos então receio de nunca mais os vermos. Tenho visto pessoas que somente por essa razão se prenderam à fé de que o homem de Romanos sete é um verdadeiro filho de Deus. Não obstante, a sua recusa em acreditar nesse facto não muda a situação nem por um pouco. A pergunta se a experiência de Romanos sete é a de um verdadeiro filho de Deus ou não, está com toda a importância perante nós. Sempre quando se pergunta isto, há três grupos com respostas distintas. Há poucos que dizem sem hesitar que certamente participarão na ressureição dos justos. A seguir há aqueles que não têm uma posição definida, e finalmente há os que dizem que esse homem, caso morra nesse estado, não terá a vida eterna. É evidente que há uma certa ignorância sobre o tema, se a experiência de Romanos sete é a daqueles que serão salvos ou não. É muito importante que essa questão seja bem clara para todos os que procuram a vida eterna. Existe uma razão para isso. Considerem a situação perigosa daquele que sabe que está na experiência descrita em Romanos sete e que ao mesmo tempo acredita que essa seja uma experiência cristã verdadeira, enquanto, como sabemos, não é. Uma tal pessoa ficará contente com o que é e nada mais procurará. Somente aqueles que procuram, encontrarão. Por isso, o que não procurar, jamais encontrará. Quando no grande dia do juízo descobrir que se tinha apoiado sobre uma esperança errada, a sua perda será terrível. Nada há de mais terrível do que viver e pensar que tudo está bem, enquanto descobrir demasiado tarde que tinha seguido uma doutrina falsa. 26 É muito importante que as interpretações e opiniões humanas não tenham lugar na determinação desta resposta e que a Palavra de Deus seja a única autoridade. Nela, e somente nela, é o lugar onde a resposta certa pode ser encontrada. O homem de Romanos sete está sem dúvida na escravidão. Ele sabe o que deveria fazer, mas vê que lhe é impossível fazê-lo. De modo algum é um pecador voluntário, mas involuntário. O que importa é que ele é um pecador, que está servindo ao pecado e está por isso ao serviço de Satanás. Se está servindo a Satanás, então não pode servir a Deus, porque »ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há-de odiar um e amar outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mammon.« Mat. 6:24 Se não está servindo a Deus, como pode ter a salvação? Outra vez a resposta é que não pode. Por conseguinte, é claro que o homem de Romanos sete não tem a salvação. Mas isto é somente um testemunho a respeito da questão, que o homem de Romanos sete não tem a salvação. Pode ser convincente, porém, não é suficiente, porque a regra bíblica é que »pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada.« Por conseguinte, devemos continuar a procurar mais testemunhos bíblicos a este respeito. Nos versículos finais de Romanos sete o apóstolo Paulo chega ao fim da sua descrição sobre a experiência de estar na escravidão do poder do pecado. No desespero, no qual a experiência o deixou, exclama: »Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?« 28 E.J. Waggoner, no seu livro, «Christ and His Righteousness«, pág. 86 e 87, pergunta: »É a verdadeira experiência cristã um corpo de morte tào terrível que a alma é constrangida a clamar por libertação? — Não, certamente que não. Liberta Cristo duma verdadeira experiência cristã? Não, de facto não. Então a servidão do pecado, da qual o apóstolo se queixa no sétimo capítulo de Romanos, não é a experiência dum filho de Deus, mas dum servo do pecado. Cristo veio para libertar o homem deste cativeiro. Ele não veio para nos libertar de lutas durante esta vida, mas para impedir de sermos vencidos e para nos dar a possibilidade de sermos fortes no Senhor e no poder da Sua Omnipotência, a fim de podermos agradecer ao Pai. > q u e nos libertou do poder da escravidão e nos transformou para o reino do Seu Filho Amado«, através de cujo sangue temos a salvação.« O argumento empregado por E.J. Waggoner é que Cristo nunca liberta duma verdadeira experiência cristã. Mas em Romanos sete está Paulo pedindo para ser liberto da sua experiência. O facto dele fazer isto, na luz da verdade que Cristo nunca liberta duma verdadeira experiência crista, é uma prova positiva que essa experiência não é a de um verdadeiro filho de Deus. Este é o segundo testemunho. Voltemos então a nossa atenção para o terceiro testemunho. Quando Paulo clamou pela libertação, sabia que em Deus não há somente salvação, mas que o evangelho é o poder de Deus para salvar dos pecados. À pergunta, »quem me livrará?«, podia ele responder: «Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor.« Rom. 7:25. Depois, de repente, muda toda a situação. Ele interrompe somente para somar a experiência de Romanos 29 sete: »Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.« Esta é a experiência certa do homem de Romanos sete. Ele sabe o que é justo e com a sua mente decide que quer servir a Deus. Ele acredita nas verdades de Deus, quer ser leal ao Senhor e entregar-se ao Seu serviço, mas as actividades reais da sua vida, apesar de saber que estão erradas, são devotadas ao serviço do pecado. Depois de ter resumido essa experiência, descreve Paulo aquela experiência que o levou à libertação do pecado. »Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito. Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.« Rom. 8:1,2. Nos versículos restantes do capítulo fala ele da liberdade, vitória e filiação com Deus, terminando com o testemunho triunfante: »Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.« Rom. 8:37-39 É impossível ler Romanos sete e depois Romanos oito, sem ver que são de facto duas experiências distintas. Romanos sete é a experiência dum escravo que contra a sua vontade é constrangido a fazer as obras do pecado, enquanto o capítulo seguinte relata a história de uma pessoa liberta do poder do pecado, que faz o que sabe ser justo e o que deseja fazer. Ambos não podem ser a descrição de uma experiência cristã. Uma 30 ou a outra pode ser, mas não ambas. Enquanto pode ter havido alguma dificuldade em ver que a experiência de Romanos sete não é a experiência de um filho de Deus, não deveria tal dificuldade existir no que diz respeito a Romanos oito. É de facto bem claro que a experiência descrita nesse capítulo é a de um verdadeiro cristão. Em Romanos oito, »nenhuma condenação há« (vers. 1); ele é livre »da lei do pecado e da morte« (vers. 2); a justiça da lei está sendo cumprida nele, e ele não anda »segundo a carne, mas segundo o espírito« (vers. 4); ele é um filho de Deus (vers. 14-16), portanto um herdeiro de Deus e coherdeiro de Cristo (vers. 17); e ele é mais do que vencedor »por Aquele que nos amou« (vers. 37) Esta é uma verdadeira experiência cristã. Ninguém deveria ter a mínima dificuldade em o ver. Mas que diferente é esta experiência da que está descrita em Romanos sete. Por conseguinte, se Romanos oito é a descrição de uma experiência cristã, Romanos sete deve ser a descrição de algo diferente. Não pode ser a experiência de um cristão. Mas estas ainda não são todas as provas para apoiar estes factos. No final de Romanos sete pede Paulo para ser liberto, e quando a grande mudança veio, agradeceu ao Senhor. Então o seu testemunho imediato foi: »Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.« Rom. 8:1 É conveniente dar ênfase ao significado de duas palavras neste texto. Elas são: »portanto« e »agora«. A primeira é uma palavra muito comum na construção das frases de Paulo. Repetidamente apresenta ele certos factos, para depois tirar conclusões. Como ele tira a 31 conclusão, inicia a frase com a palavra »portanto«. O que diz de facto, é o seguinte: Por causa destes factos que já foram citados, devem seguir as seguintes evidências. Neste caso particular descreveu ele a experiência de estar na servidão ao poder do pecado, e o seu clamor para a libertação do mesmo. Como conseguiu alcançar a sua finalidade, segue o que de outro modo não podia ser. «Portanto agora nenhuma condenação há.« A palavra »agora« dá ênfase à palavra »portanto«, porque indica que houve uma mudança. Tudo era assim e assim, mas agora mudou. Para que todos compreendam a razão pela qual agora nenhuma condenação há, é citado que »a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado da morte.« Em Romanos sete, deu ele um testemunho diferente. Lá, com certeza, não estava livre da lei do pecado e da morte. Agora está, e por estar, nenhuma condenação há. Admite-se, portanto, que se não estava livre da lei do pecado e da morte, estava então sob a condenação. Há uma palavra que significa o mesmo que menhuma condenação« e essa palavra é »justificação«. Temos visto que, onde há liberdade da lei do pecado e da morte, como em Romanos oito, depois de ter sido liberto da servidão de Romanos sete, nenhuma condenação há. Isto significa que há justificação. Igualmente se pode dizer que em Romanos sete há condenação, o que significa que não há justificação. Isto mostra então que o homem de Romanos sete não tem justificação nem perdão. Se ele não os tem, como pode ter então a possibilidade de participar na ressurreição dos justos? Queira o leitor considerar cuidadosamente o que isto significa no que diz respeito à sua própria experiên- 32 cia. Caso seja um dos que neste momento deve testificar, que Romanos sete é uma descrição perfeita do seu estado espiritual, pode então saber que não terá salvação do pecado, e se morrer neste instante, não participará na ressureição dos justos. Quando alguém que por muito tempo é um fiel membro duma igreja, sendo activo nos seus trabalhos missionários, suportando liberalmente os seus programas, sendo fiel na sua crença e tendo uma boa reputação entre os vizinhos, descobre que não tem salvação, está no perigo de cair em grande desespero. Mas é essencial que este conhecimento doloroso venha, a fim de que seja compreendido quais os passos decisivos que devem ser dados na procura do que o Senhor nos tem preparado. Há duas reacções possíveis ao chegar-se a essa realização. A tendência da natureza humana é rejeitar o que está contra os hábitos estabelecidos e enraizados na vida. Depois de ter permanecido por tanto tempo numa segurança, tanto confortável como enganadora dum bem estar, há um forte desejo de não enfrentar a realidade descoberta. Não queremos crer que isto seja a verdade. Portanto existe o perigo real de nos voltarmos para o que nos é mais aceitável e agradável. Caso caíamos nessa tentação, veremos que uma dúzia de argumentos nos parecem estar em contradição com a Palavra de Deus. Diremos com ansiedade: »Porquê? Certamente que sou um cristão! Vejam somente o que deixei para seguir a Cristo; os meus conhecimentos profundos das Escrituras, o tempo empregado nos estudos e orações, o lugar de responsabilidade que ocupo na igreja. . . e. . . e. . .« . 33 Não há erro mais fatal que possa ser cometido, a não ser este. Houve pessoas no passado que perderam a vida eterna, por não terem tido a coragem de neste ponto enfrentar a verdade. O resultado foi que o Espírito de Deus não pôde fazer mais por eles e as impressões feitas se dissiparam. A outra reacção que é muito frequente, é a do desespero fatal. Pela nossa honestidade reconhecemos na Palavra de Deus que a experiência em que nos encontramos não é salvação. O sentimento de estarmos perdidos, porém, sobrevem-nos e então sentimos que estamos eternamente separados de Deus. Chegarmos até este ponto é um passo muito positivo para nós. Ter sido levado a tal experiência é a obra do Espírito Santo. O Espírito sabe que nos é essencial, que a nossa verdadeira condição nos seja revelada. É da maior importância que o brilho duma segurança falsa seja destruído para que o Espírito de Deus possa fazer em nós a obra indicada. Lamentavelmente há muitos que vivem na condição de Laodicéia, como está descrito em Apocalipse: »Eles não sabem que são desgraçados, e miseráveis e pobres, e cegos, e nus.« Apoc. 3:14-22 Isto, porém, deve ser reconhecido, porque se o não for, permanecerá a alma na sonolência de uma segurança errónea, até que seja demasiado tarde. Portanto, alegremo-nos e sejamos felizes, quando alcançamos este ponto, de vermos que estamos perdidos, desesperada e eternamente perdidos. Alegremo-nos, porque há um caminho de libertação do poder do pecado. Não necessitamos de permanecer na experiência de Romanos sete, onde estão vencidos e frustrados os nossos desejos sinceros de servirmos ao Deus vivo. Mais ainda, esse caminho de libertação não é um segredo. Não era a 34 intenção deste estudo levar-vos ao ponto do desespero, sem continuarmos esclarecendo o caminho da libertação. Rogamos que continuem o estudo deste tema, até que a fé abrace o poder de Deus, a fim de que sejam curados. Tendo então estabelecido que o homem de Romanos sete não é certamente um cristão, devemos compreender qual a razão, pois apesar de saber a lei e de desejar guardá-la, não é capaz de o fazer. Essa compreensão é uma parte importante da solução do problema. A NATUREZA DO HOMEM Somente quando tivermos o conhecimento certo da natureza do homem, podemos compreender o problema do pecado. É verdade que o homem em si é muito complexo e que nele há uma relação íntima entre todas as partes. Deve, porém, ser compreendido e considerado por nós, que apesar disto existe ao mesmo tempo uma distinção clara entre certas partes importantes. A primeira parte que queremos considerar é o nosso intelecto. Nele, através dos vários sentidos, como a vista, o ouvido, o olfacto, o tacto e o paladar, recebemos certas informações. Por este intermédio nos são transmitidas as mensagens de Deus, a fim de sabermos o que necessitamos para a nossa salvação e que o Senhor pretende fazer por nós. Mas o intelecto não aceita tudo que lhe é oferecido. Sabemos por experiência própria que certas coisas são aceites, enquanto que outras são rejeitadas. Serão até rejeitadas verdades que mais necessitamos, caso o intelecto já se tenha habituado a acreditar na mentira, ou por a aceitação da verdade ser demasiadamente inconveniente ou dispendiosa. Para reagirmos correctamente tem que o intelecto entrar em acção e tirar conclusões certas. Essas conclusões exigem depois que tomemos decisões, as quais por sua vez resultam em acções correspondentes. Isto é o estabelecimento do nosso querer. No que diz respeito ao nosso corpo deve esse obedecer e cumprir as decisões tomadas pelo intelecto. Para o propósito do presente estudo no entanto é suficiente compreendermos que o corpo é um instrumento designa- 36 do para cumprir os propósitos do intelecto. Será no estudo sobre a obra da reforma, onde veremos que o corpo também é capaz de exercer pressões sobre o intelecto, sobretudo quando se trata de satisfazer as suas necessidades de gratificação ou preservação própria. Que o corpo humano é um instrumento é-nos mostrado nas seguintes palavras: »Nem tão pouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.« Rom. 6:13 Não deveria ser difícil compreendermos que o corpo deve ser o servo do intelecto. Pensemos numa ilustração simples: Como resultado de informações e decisões resultantes, desejamos viajar do lugar presente para outro. As informações colhidas dizem-nos que para viajarmos devemos ir à estação de caminho de ferro. O intelecto não pode ir lá sozinho, mas pode influenciar os membros do corpo a nos transportar até lá. O corpo portanto obedece às directrizes do intelecto. Muitos outros exemplos podiam ser citados. Poderíamos contar muitas coisas semelhantes da vida diária. Mas, ao contrário de tudo isto, no caso do homem de Romanos sete, o corpo não obedece ao que o intelecto deseja fazer. Lemos a declaração clara no versículo quinze: «Porque o que faço não aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.« Todas as acções são realizadas através do corpo físico. Mas o que no caso presente (Romanos sete) é feito, não é o desejado; e o que o intelecto deseja fazer, o corpo não faz, antes faz o que odeia fazer. É evidente que é no intelecto onde o ódio contra isso existe, que ele 37 se recusa. Aqui temos um caso claro duma situação em que o intelecto sabe o que deveria ser feito, deseja fazêlo, manda instruções aos membros do corpo para actuarem, mas para sua surpresa verifica que o corpo age contrariamente às indicações recebidas. Não deve haver dificuldade em compreendermos o exemplo acima citado, porque estou certo que todos nós já temos passado por semelhante experiência. Caso concluamos que estamos ainda na experiência de Romanos sete, então sabemos o que isto significa: Temos por exemplo resolvido nunca mais falarmos palavras apressadas e ofensivas. Somos realmente sinceros nas nossas intenções. Tomamos essa decisão e por algum tempo tudo corre bem; mas chega o dia em que a língua, esse instrumento insubordinado, exprime palavras injuriosas, palavras de recriminação amarga contra o nosso semelhante. Sem dúvida, o homem de Romanos sete sabe o que é certo. Conhece a lei de Deus e tem prazer nas grandes verdades da Palavra de Deus. »O querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.« Rom. 7:18 A questão a ser enfrentada é a seguinte: Qual a razão que na situação como está descrito em Romanos sete. não obedece o corpo às directrizes do intelecto? Quando essa razão for reconhecida e compreendida, então será dado um passo decisivo para solucionar o problema. A experiência de Romanos sete não é positiva. Deus não criou um homem, cujo corpo esteja em rebelião com o intelecto. Deus deu ao homem o corpo para que cumpra os desejos do intelecto e obedeça à sua vontade. Mas apesar de não estar isto relatado em Romanos sete, está descrito em Romanos oito. Ali vemos o crente 38 chegar ao ponto de fazer com o instrumento, o que no seu intelecto sabe estar certo. Neste ponto a maioria das pessoas conclui que o problema é que a sua carne é demasiadamente fraca para conseguir que o corpo esteja sujeito ao intelecto. Pensam que deveriam exercer somente mais força de vontade, a fim de que o corpo seja sujeito ao intelecto. Mas estão enganados, porque não importa quanto esforço seja exercido, pois rapidamente será reconhecido que é impossível vencer o problema desta maneira. A solução deste problema não se encontra na actuação da força de vontade ou numa determinação mais forte. Ela encontra-se num outro campo da natureza humana, que ainda não foi mencionado neste estudo. Cada ser humano tem um intelecto e um corpo. Além disto tem algo mais que tem uma relação muito significativa na vida de cada um. A identificação assim como o isolamento deste algo é fácil, e muitos há que negam por isso a sua existência como sendo uma entidade separada. Trata-se da natureza carnal do homem. É comum os homens identificarem a natureza carnal e humana como sendo uma só. Esse é o erro principal que lhes impede de encontrarem a libertação da escravidão do pecado. Por ser a identificação e o isolamento deste algo da nossa vida tão importante para termos sucesso na busca da vitória sobre o pecado, ser-lhe-á dedicado uma pequena parte deste estudo, a fim de mostrar a sua existência e de a separar da natureza humana e física. No capítulo sete da epístola aos Romanos referiu-se Paulo com grande certeza e clareza às três partes: »Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei, que 39 batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.« Rom. 7:22,23 Consideremos estes versículos com cuidado. Paulo testifica aqui que, segundo o homem interior, tem prazer na lei de Deus. Este prazer, como temos visto mais acima, pode haver somente no intelecto. Na continuação, porém, confessa Paulo: »Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.« Rom. 7:23. Enquanto o intelecto tem prazer na lei de Deus, encontra-se aqui nos membros outra lei, que batalha contra o entendimento. O resultado é ser levado à sujeição dessa lei de pecado que está nos seus membros. Deve-se considerar que a lei do pecado não é propriamente a carne, mas algo que reside nessa carne. Já no versículo dezassete afirma Paulo que, »agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.« Rom. 7:17. Aqui o pensamento de »residir« é expresso pelas palavras «habita em mim«. Essa lei »do pecado« nos membros não é a natureza humana em carne e sangue duma pessoa. É algo diferente que reside nessa carne e que a domina, até contra a vontade e o entendimento educado e inteligente. O mesmo está declarado na Santa Escritura, em Ez. 36:26. O que Paulo chama em Romanos a »lei do pecado« é aqui chamado »coração de pedra«. Em Romanos sete é mostrado como algo que mora na carne, enquanto a promessa aqui é que será expulso da carne. Quando a »lei do pecado« é tirada da carne, esta ainda permanece no mesmo lugar. Não é a carne que é tirada. Isto mostra claramente que há de facto três partes no corpo. São 40 elas: O entendimento, a carne e a lei do pecado, ou seja o coraçáo de pedra que mora na carne e a domina conforme as suas intenções e contra a vontade do entendimento. Romanos 8:7 refere-se com as seguintes palavras a essa mesma entidade, ou seja à inclinação da carne: «Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade o pode ser.« Este texto é uma das provas mais fortes de que no corpo há de facto uma terceira entidade. Consideremos portanto cuidadosamente o que está dito neste versículo. Diz que conquanto é possível à carne pecaminosa e caída do homem ser um instrumento de justiça, por estar sujeita à lei de Deus, é impossível à inclinação da carne de o fazer. A inclinação carnal não é somente inimizade contra a lei de Deus. Ela própria é inimizade. A sua própria natureza, o que ela é em si própria, é inimizade contra Deus. Se fosse uma simples inimizade, poderia reconciliar-se com Deus; mas como é ela própria inimizade, então nunca se poderá reconciliar com Deus, nunca pode estar sujeita à Sua lei. Mas a carne pode ser controlada. De facto em Rom. 6:13, exorta Paulo aos convertidos a entregarem »os seus membros« a Deus, como instrumento de justiça. Como temos visto temos uma natureza, um poder, que está em inimizade com Deus, não o podendo servir, e temos um outro poder, a carne que o pode. Portanto, não podem ser a mesma coisa. Devem ser duas coisas distintas, porque uma não pode ocupar uma posição em que é impossível servir à lei, enquanto que ao mesmo tempo se entrega como instrumento de serviço à lei. 41 A inclinação carnal, a lei do pecado, o coração de pedra é o poder do pecado que domina na vida do homem contra a vontade do entendimento. Não quero dizer com isto que a carne é senhor sobre o entendimento; mas que a carne está sujeita a esse outro poder, de modo que se encontra forçado a obedecer, enquanto esse pecado nela permanece. Paulo resume todo o problema nos últimos versículos de Romanos sete, dizendo: »Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.« Aqui é evidente que há dois senhores a trabalhar na vida do homem de Romanos sete. Um é o grande Senhor de toda a verdade ao qual o entendimento devota o seu serviço; o outro é a lei do pecado à qual a carne está sujeita. Portanto como o entendimento e a carne estão ao serviço de dois poderes distintos, não pode a carne fazer o que o entendimento deseja. Está sujeita a um outro senhor que está em inimizade mortal contra a lei de Deus. Agora chegamos ao ponto principal do problema. Verificamos que o que fazemos é somente o fruto do que somos. A este respeito diz-nos Jesus: »Porque não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. O homem bom do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau do mau tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca.« Lucas 6:43-45 Aqui refere-se Cristo a uma lei da natureza que nunca foi violada e à qual até uma criança é familiar. É um princípio inalterável, que se quisermos ter bons frutos devemos antes de tudo ter uma boa árvore. Após 42 se ter referido ao principio revelado na natureza, declara o Salvador que assim como é na natureza o é no mundo espiritual. Por isso se quisermos ter uma nova vida, cheia de boas obras, devemos em primeiro lugar ser bons. Mas ninguém pode ser bom, enquanto tem a inclinação carnal, o coração de pedra. Ter essa natureza ímpia e esse poder em nós, significa que somos ímpios e como tal podemos ter só obras más e nào boas. Não é o entendimento o problema, porque este está convertido ao serviço de Deus e às verdades da Palavra de Deus. Não é também a natureza humana, porque esta está sujeita a um outro poder, o poder do pecado, que reside nos membros e os controla mesmo contra a sua vontade. Isto no entanto não quer dizer que o entendimento e a carne não possam ser um problema. Podem; mas não são o problema daquele que vive na experiência de Romanos sete. Também a sua carne não é o problema, porque está sujeita a um outro poder, de modo que até que seja liberta desse poder, não pode escapar do domínio do pecado e fazer o que o entendimento indica ser justo. A lei do pecado nos membros é então o verdadeiro problema. É a raiz, a causa principal, a fonte original da nossa calamidade. Em virtude de ser este o problema, é óbvio que deve a solução ser procurada aqui. É portanto neste ponto, que devemos resolver o problema. A SOLUÇÃO Agora, depois de termos conseguido isolar o problema, a nossa pergunta é: »Como pode ele ser resolvido para sempre?« Desde já deve ser compreendido que não adianta tentarmos forçar a inclinação carnal a servir à lei de Deus, porque como sabemos é impossível. Devemo-nos somente lembrar das palavras de Jesus, quando deu a ilustração do espinheiro. Nenhum esforço resultará em termos bons frutos dum coração impio. Consideremos o espinheiro. Ele, pela própria natureza não dá maçãs. Caso alguém encontre no seu jardim um espinheiro, sabe que nenhum cuidado de irrigação ou fertilização pode fazer produzir dele uma única maçã. É completamente impossível. Que cada pessoa que procura a vitória sobre o pecado, tenha a certeza que nenhum esforço, nenhum estudo intensivo da Palavra de Deus, nenhum cargo dentro da igreja, nenhuma actividade missionária, nenhuma oração sincera, nem a doação liberal de ofertas, levará a inclinação da carne a produzir os frutos do Espírito. Este não é o caminho, porque »a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade o pode ser.« Rom. 8:7. Assim isto é tão verdade como é verdade o espinheiro não estar sujeito à lei de produzir maçãs, nem em verdade pode estar. Por isso cada pessoa, que, enquanto tem a inclinação carnal, tentar guardar a lei de Deus, está tentando uma impossibilidade absoluta. Somente depois dessa inclinação carnal ter sido tratada, de modo a que o seu poder 44 tenha sido fragmentado, pode uma pessoa começar a guardar a lei de Deus. O machado deve ser colocado na raiz da árvore. Não há outra possibilidade Aqueles que no mundo de hoje pensam que a solução do problema é de eliminarem a lei, verào, se reflectirem um pouco só, que não pode ser. Um homem ignorante pensou uma vez resolver o problema do calor, quebrando o termómetro; mas quando o inutilizou, o problema continuou a existir da mesma maneira. Em vez de resolver o problema, perdeu ele a possibilidade de saber a temperatura certa do ambiente. Assim do mesmo modo se a lei fosse abolida, o pecado em si permaneceria na mesma situação. Continuaria a existir, ficando o homem privado do padrão exacto, pelo qual saberia o que é o pecado. Na primeira parte de Romanos sete está essa verdade expressa no exemplo do casamento. Aqui está claramente mostrado que não é preciso mudar a lei. Ela é perfeita e não tem necessidade de ser modificada. Quem precisa de ser realmente modificado é o homem, porque é nele que se encontra o problema. »Não sabeis vós. (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive? Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera, se for doutro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não será adúltera, se for doutro marido.» Rom. 7:1-3 Com a lei do casamento estamos todos familiarizados. Enquanto a mulher estiver legalmente casada com seu marido, a lei a condenará como adúltera se fizer qualquer tentativa de casar com outro homem. Mas, 45 caso o marido morra, então a mesma lei que antes a condenava, agora a liberta. Houve uma mudança, mas não na lei. Foi na mulher. Ela que anteriormente era casada agora é como se fosse solteira. Assim é no reino espiritual. Paulo não tratou aqui da questão específica do casamento, mas antes usou a lei do casamento como exemplo, a fim de explicar o casamento espiritual com Cristo. »Assim meus irmãos, também vós estais mortos para a lei, pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou dentre os mortos a fim de que dêmos fruto para Deus.« Rom. 7:4 Neste versículo não existe a mais pequena tentativa para mudar a lei; mas mesmo assim há a referência clara a uma mudança a ser feita, ou seja no homem. Ele deve morrer para que ela possa casar com outro, ou seja com Cristo, porque Ele é o Tal ressuscitado da morte. Todo o propósito da obra de Cristo é salvar do pecado, como está escrito: »E dará à luz um filho e chamarás o seu nome Jesus; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.« Mat. 1:21 Ser salvo do pecado significa ser salvo da transgressão da lei, porque o pecado é a transgressão da lei, como está escrito: »O pecado é a transgressão da lei.« l.João 3:4 (tradução de João Ferreira de Almeida, edição revista e actualizada no Brasil). Transgredir a lei é desobediência. Portanto, ser salvo de transgredir é ser salvo para a obediência. Está então revelado que nenhum esforço de vontade, nem a abolição da lei, são a solução do problema. Tendo nós visto qual é a solução, voltemos para saber em que consiste ela: É a libertação da natureza 46 antiga e a sua completa substituição, pela nova natureza. Nada é na Sagrada Escritura mais claramente ensinado do que isto. Consideremos os versículos seguintes, como mais um testemunho. »E lhes darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; e eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.« Ez. 11:19.20 Numa linguagem bem clara, afirma o Senhor que tirará o coração de pedra antigo e pecaminoso da nossa carne, dando-nos um novo em seu lugar. Ele não diz que nos dará um novo coração além do velho. Esta não é a mensagem dos versículos. Reparem atentamente, porque está dito que o velho será tirado da sua carne e um novo espírito e um novo coração tomarão o lugar do antigo. Tudo isto é feito com um propósito, ou seja para alcançar certos resultados »para (com o intuito ou o propósito) que andem nos meus estatutos e guardem os meus juízos, e os executem; e eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus.« No nosso estudo sobre Romanos sete temos claramente visto que a razão pelo qual o servo intencionado de Deus não podia fazer o que desejava, era porque ainda tinha a inclinação antiga da carne que o dominava como um senhor. Reconhecemos portanto, que a presença deste poder é o problema real deste homem, e que o Senhor é conhecedor de que a única solução é remover o ofensor, ou seja o coração de pedra e substitui-lo por um novo coração. Tornando ao exemplo do espinheiro, encontramos a mesma resposta. O espinheiro está no jardim, verde e 47 florescendo, mas sem utilidade. Ele impede o caminho, ocupa bom terreno e rasga os vestidos daqueles que por ali passam. O jardineiro, apesar de desejar que ele dê bons frutos como maçãs ou laranjas, vê nele somente um estorvo. O que na realidade tem é um espinheiro, portanto sabe que a única solução é arrancá-lo e substitui-lo por uma árvore boa. Tendo feito isto, terá no devido tempo os bons frutos desejados. Assim o homem de Romanos sete deseja ter as boas obras da lei, na forma dos frutos do Espírito, que são: amor alegria, paz, etc. . . Mas a sua natureza ímpia é a fonte da desobediência, ódio, vaidade, inveja, etc. . . O problema e a solução são idênticos ao do jardineiro que tinha o espinheiro. Essa natureza ímpia deve ser arrancada do corpo humano e ser substituída pela natureza nascida do Alto. Só assim pode ele ser um filho de Deus e só assim podem ser produzidos os bons frutos do Espírito. Esta verdade é muitas vezes afirmada na Santa Escritura, de modo que ninguém deve ter mais dúvida, no que diz respeito ao caminho da libertação do poder do pecado. «Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto que estava enferma pela carne. Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito.» Rom. 8:2-4 Deus enviou o Seu Filho a este mundo, para condenar o pecado na carne. Uma distinção importante deve ser reconhecida. As acções do pecado podem ser chamadas pecados da carne, enquanto que o poder interior 48 do coração de pedra ou da inclinação carnal, é o pecado na carne. Devemos observar que Jesus não veio para fazer uma obra superficial, condenando somente os pecados da carne. Ele veio para condenar o pecado que está na carne e que como tal é a raiz do problema e a causa de derrotas contínuas. Deus enviou o Seu Filho a este mundo, para condenar o pecado na carne. Uma distinção importante deve ser reconhecida. As acções do pecado podem ser chamadas pecados da carne, enquanto que o poder interior do coração de pedra ou da inclinação carnal, é o pecado na carne. Devemos observar que Jesus não veio para fazer uma obra superficial, condenando somente os pecados da carne. Ele veio para condenar o pecado que está na carne e que como tal é a raiz do problema e a causa de derrotas contínuas. Porque veio Ele condenar o pecado na carne? »Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o espírito.« Rom. 8:4 A mensagem é sempre a mesma. O velho é condenado, é extirpado e afastado, de modo que um certo objectivo possa ser cumprido; para que possamos, através de Jesus Cristo, nosso Senhor, viver a vida de justiça de Deus. Para que condenou Jesus o pecado na carne? Para ser subjugado e controlado? Para o exilar com uma declaração de não aprovação? Não. Condenou-o à morte; à morte que se tornou efectiva, através da Sua morte e ressurreição. Em parte alguma está a verdade mais claramente afirmada do que em Rom. 6:1-6; »Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós que estamos mortos para o 49 pecado, como viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós tembém em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também seremos na da sua ressurreição; Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.« O versículo seis é o climax do argumento contido neste trecho. Enquanto os versículos anteriores nos dizem que aqueles que estão em Cristo Jesus, que portanto são os verdadeiros filhos de Deus, morreram e ressuscitaram, assim como Ele morreu e ressuscitou, diz-nos este versículo o que foi que morreu. Antes de dirigirmos a nossa atenção para o que deve morrer, deixem-nos ver o poder da mensagem nos versículos precendentes. Em resumo é, que somente aqueles que morreram podem viver. É uma outra maneira de dizer que o velho deve perecer, antes que o novo possa vir. A morte sempre tira o velho; a ressurreição traz algo de novo. É no versículo cinco onde essa verdade está expressa em termos mais firmes. »Porque, se fomos plantados juntamente como ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição.« E muito importante compreendermos que, a não ser que essa condição seja cumprida, o resto não pode seguir, porque somente aqueles que morreram com Cristo, podem viver com Ele. Isto significa que somente quando o velho for tirado, pode o novo entrar. O espi- 50 nheiro deve ser arrancado antes que a macieira possa ser plantada. Eles não crescem e nem podem crescer no mesmo lugar. O que quer dizer Paulo nestes versículos? Está ele exprimindo uma retórica sem valor especial, ou são essas palavras reais, sobre experiências reais? Quando ele afirma que devemos morrer com Cristo, o que quer ele dizer? Devemos nós realmente morrer, ou fala ele somente duma mudança de filosofia. O que faz difícil aos crentes acreditarem que é uma morte real, é não distinguirem entre a carne pecaminosa e a inclinação carnal pecaminosa, a qual também é chamada o coração de pedra, o velho homem e o mestre do pecado. Por as pessoas pensarem que a natureza pecaminosa seja a carne, julgam que é só uma morte retórica, porque como sabem a pessoa não morre segundo a carne e o sangue. Imaginam ser algo meramente reconhecido ou atribuído à pessoa, mas que realmente se manifestou na vida de Cristo. É inteiramente verdade que a pessoa que passa pela experiência de Romanos sete, tornando-se um verdadeiro e ressuscitado filho de Deus, não morre fisicamente. Ele tem, como homem convertido, a mesma carne e o mesmo sangue como dantes. Nisto não há nem morte nem mudança. Carne pecaminosa é mortal. Desta ninguém será liberto antes do grande dia da ressurreição, quando Cristo descer para chamar o Seu povo para o Seu lar celeste. Mas ele morre, porque se não o fizesse, não podia estar com Cristo. O que morre então? A resposta encontra-se no versículo seis: »Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.« Aqui há algo chamado «nosso homem velho«. 51 O que significa esta expressão? Quem, ou o que é o nosso homem velho? Para termos a certeza que temos a compreensão certa, seguimos o versículo. Diz, que o homem velho foi crucificado, »para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.« Paulo podia ter escrito como segue: »Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado para que o homem velho seja descoberto.« Mas em vez de aqui usar o termo »homem velho« usa ele um outro nome »o corpo do pecado«. Agora temos a certeza que o »homem velho« e »corpo do pecado« são uma e única coisa. Em Romanos 7:24, esse »homem velho« é chamado »o corpo desta morte«, sendo esta uma outra maneira de exprimir o que no mesmo capítulo mais acima é chamado a »lei do pecado«. Du estudo já dado nesta publicação, sabemos portanto que »o homem velho«, o »corpo do pecado«, o »corpo da morte« e a »lei do pecado«, todos eles se referem à terceira parte do corpo humano, ou seja à inclinação carnal, que »não está sujeita à lei de Deus, nem em verdade o pode estar.« É isto que é crucificado na vida daqueles que passam do estado não convertido para o convertido. É isto que deve ser arrancado pela morte, de modo que uma nova vida possa ressuscitar no lugar da velha. Que não haja uma interpretação errada sobre o facto que isto tenha de ser uma morte real. Crucificação não é exílio, não é prisão perpétua, não é algo controlado. Crucificação é uma espécie de morte. Portanto se Paulo diz que o homem velho é crucificado, diz ele com outras palavras que é morto. Para ter a certeza e não haja qualquer dúvida, diz ele que o homem velho é crucificado para que o corpo do pecado possa ser destruído. 52 Quando algo é destruído, deixa de existir. Não existe mais. Nos textos e exemplos mencionados temos visto que toda essa obra é cumprida para um certo propósito. É para que a pessoa passe da desobediência para a obediência; da lamentação de que não pode fazer o que deseja para a justiça da lei, cumprida na sua vida. Portanto, o homem velho é crucificado, o corpo do pecado é destruído, »para que não sirvamos mais ao pecado.« A natureza é uma ilustração maravilhosa da verdade bíblica. A verdade deste versículo será melhor compreendida se substituirmos o espinheiro pelo homem velho e se depois lermos o versículo como se dissesse respeito ao jardineiro que dum espinheiro deseja ter bons frutos. Ele o arranca e o substitui pela macieira, dizendo: »Sabendo que a árvore velha tem de ser arrancada pelas raízes para que o espinheiro seja destruído, para que já não produza mais espigas.« Ninguém terá a menor dificuldade em ver que esse princípio opera realmente na natureza. O mesmo princípio devemos ver também no mundo espiritual. Compreendendo a obra da natureza, não teremos dificuldade em compreendermos a obra da purificação da alma, como sendo preliminar à vitória do problema do pecado. LIBERTAÇÃO Uma grande parte do estudo presente tem sido devotado ao problema do pecado. Temos reconhecido que fazemos o que fazemos, não por causa da nossa vontade fraca, mas por causa do que somos. Enquanto tivermos em nós a lei do pecado e da morte, teremos um poder mau dentro de nós que controla a carne humana e a usa de acordo com a vontade do senhor do pecado, sem respeitar o conhecimento, os desejos ou até a consciência. Portanto, para sermos libertos deste poder, devemos arrancá-lo de nós, para que seja implantada uma nova vida em seu lugar. Não há outra possibilidade de entrar na experiência do renascimento. Somente desta maneira podemos passar do cativeiro de Romanos sete para a liberdade de Romanos oito. Esse conhecimento é de importância vital para aquele que procura a libertação do pecado. Não me esqueço do dia em que dei este estudo a uma certa família. Eu tinha acabado de explicar o problema, quando resolvemos fazer uma pequena pausa. Disse então a senhora: »Sabe, faz somente algumas semanas que ouvimos um sermão muito semelhante a este.« »Exactamente«, confirmou o marido. »O prega»dor explicou o problema tal e qual como o senhor. Ouvi atentamente, porque desejava compreender o problema e conhecer a solução. Sabia que estava em Romanos sete e desejava a libertação dele; mas quando terminou de expor o problema, o pastor sentou-se. Na minha ansiedade de saber a solução que ele ainda não tinha dado, levantei-me dizendo: > Pastor, o senhor deu-nos o 54 problema; por favor agora dê-nos a solução. Diga-nos como seremos libertos desse poder. < Em dado momento o pastor levantou-se novamente dizendo com voz entristecida: >Tenho muita pena; não vos posso responder, porque ainda não encontrei a solução para mim próprio.< Fiquei desapontado e sem mais nada poder dizer, sentei-me na minha cadeira.« Durante alguns momentos pensava o esposo nessa experiência. Depois voltou-se para mim dizendo: »E o senhor, também nos traz o problema, deixando-nos sem a solução?« Com alegria disse-lhes então, que tínhamos interrompido somente um instante, mas que a solução seria dada em termos bem claros. Assim também nesta publicação o leitor não ficará somente conhecedor do problema, mas a solução ser-lhe-á explicada em termos compreensíveis e claros. O evangelho é a solução. É o poder de Deus para salvar do pecado. Alguém, porém, pergunta: Então se o evangelho é o poder de Deus, dado para nos libertar do pecado, porque não fui eu já liberto? A resposta é, que o evangelho não é o poder de Deus para a salvação de cada um. Lemos cuidadosamente Romanos 1:16. Paulo não disse: »Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de cada um.« É verdade que Paulo, com excepção da última, usou estas palavras. No entanto, o que ele realmente disse, foi que o evangelho é o poder de Deus para salvação de »todo aquele que crê«. Nisto há uma grande diferença. O evangelho para o incrédulo pode ter muitas palavras bonitas, mas somente para o crente é o poder de Deus para salvação do pecado. 55 O apóstolo João exprimiu a mesma verdade dizendo: »e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé.« l.João 5:4 Se alguém perguntar a professos filhos de Deus se têm fé, receberá da maioria a resposta, que sim. A resposta até um certo ponto está certa, porque a pessoa tem fé na Bíblia como sendo a Palavra de Deus, tem fé em Deus como sendo um Ser Supremo, tem fé que o pecado receberá a sua punição justa e que só em Jesus pode haver salvação. Mas alguém pode ter fé em todas estas coisas e mesmo assim não ter fé no evangelho, como sendo o poder vivo do Deus vivo, que o salva do pecado. Não é demais que se diga, que cada um que ainda está na experiência de Romanos sete não tem a fé que é a vitória que vence o mundo. Fé não somente traz a vitória, f é é a vitória. Portanto se temos a fé da qual Paulo e João falam, então não estamos na experiência de Romanos sete, mas na de Romanos oito. É desta fé da qual Jesus falou quando disse: «Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?« Lucas 18:8. A fé que traz a libertação do cativeiro do pecado, não é aquela que mais frequentemente encontramos no mundo de hoje. Como Jesus sabia que seria assim, fez essa pergunta. Como sem esta fé a vitória não é possível, deve ser esclarecido como a mesma deve ser exercida. Voltemo-nos para o régulo que, vindo de Cafarnaum, veio ter com Jesus para lhe rogar que curasse o seu filho. «Segunda vez foi Jesus a Cana da Galileia, onde da água fizera vinho. E havia ali um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum. Tendo ouvido dizer que Jesus viera da Judeia para a Galileia, foi ter com ele e lhe rogou que descesse para curar o seu filho, que estava 56 à morte. Então Jesus lhe disse: Se porventura não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis. Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra. Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive. O homem creu na palavra de Jesus, e partiu. Já ele descia, quando os seus servos lhe vieram ao encontro, anunciando-lhe que o seu filho vivia. Então indagou deles a que hora o seu filho se sentira melhor. Informaram: Ontem à hora sétima, a febre o deixou. Com isto reconheceu o pai ser aquela precisamente a hora em que Jesus lhe dissera: Teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa. Foi este o segundo sinal que Jesus fez depois de vir da Judeia para a Galileia.« João 4:46-54 O que esse homem procurou para o seu filho que estava tão doente e que poucas horas de vida tinha, foi uma cura física. Os médicos já não tinham esperança, visto ià tudo terem feito para o salvar. Enquanto esta história se refere à fé, no que diz respeito à cura física, tem ela ensinos directos no que diz respeito à cura da enfermidade espiritual. O propósito real de Cristo nas curas físicas foi tanto mostrar o Seu poder divino, como ensinar a maneira de recebermos a libertação das enfermidades espirituais. Se vemos Cristo somente como alguém que tinha poder de curar a lepra, a paralisia ou coisas semelhantes, não compreendemos a Sua mensagem no ministério de curar. A enfermidade na Palavra de Deus é um símbolo do pecado. Lemos em Isaias l :4-6. Comparemos, portanto, o que já estudámos sobre o problema do pecado com o problema da enfermidade. O enfermo deseja fazer certos movimentos; mas a enfermidade é um poder que reside na sua carne e manda nele, de maneira que não pode fazer o que gostaria de 57 fazer. Somente quando a enfermidade for debelada, pode ele ter a esperança de movimentar-se segundo os seus desejos. Não há quadro mais perfeito do que este da enfermidade, que nos pode ilustrar melhor a tríplice natureza do problema do pecado. O régulo viajara de Cafarnaum para Canà, a fim de procurar a ajuda de Cristo. Ele procurava a solução dum problema físico, que de certo modo é idêntico ao do pecado. Assim como ele necessitava que a enfermidade fosse retirada do corpo do seu filho, precisamos nós que o senhor do pecado seja retirado dos nossos corpos. Ele sem dúvida foi ter com a única pessoa capaz de o ajudar, ou seja Jesus Cristo. Ele pediu o que desejava à pessoa certa. Mas Jesus recusou-se descer a sua casa a fim de satisfazer o pedido. Essa rejeição não foi por o régulo não ter achado graça aos olhos de Deus. Não, mas a maneira como apresentou o seu pedido impossibilitou a Jesus de curar o seu Filho. Quantas vezes estamos ajoelhados em oração, pedindo perdão para um pecado, suplicando ao Senhor de nos dar a vitória sobre este pecado, e mesmo assim verificamos que o pecado ainda existe em nós, como se não tivéssemos pedido perdão. Ficamos perturbados e perplexos, incapazes de compreender a razão do Senhor não atender a nossa oração. Também este homem teria seguido seu caminho e teria encontrado seu filho morto, se não tivesse reconhecido que tinha apresentado o seu pedido a Cristo duma maneira errada e se finalmente não tivesse pedido segundo a verdadeira ciência da oração. Foi quando começou a ter fé que a sua petição foi ouvida e respondida. 58 Jesus não deixou este homem na ignorância, no que diz respeito à sua falta de fé. Disse-lhe: »Se não virdes sinais e prodígios, não crereis.« O Senhor numa linguagem clara quis dizer que, apesar da sua apresentação como crente, ainda não possuía a fé verdadeira. Não devemos ignorar que este homem sabia da sua grande necessidade. Sabia que poder algum deste mundo podia curar o seu filho. Também nós temos uma nacessidade. Também nós sabemos que nenhum poder deste mundo nos pode salvar dos nossos pecados. Este homem foi ter com Jesus, para apresentar a sua petição. Também nós devemos ir ter com Jesus, para sermos salvos dos nossos pecados. Este homem orou a Cristo, porque a apresentação dum pedido é uma oração. Cristo, porém, disse-lhe claramente que apesar de tudo o considerava um incrédulo. Cristo nada podia fazer por ele. Isto significa que se, depois de fazermos tudo quanto devemos fazer para alcançarmos a vitória sobre os nossos pecados, verificamos que ainda nos encontramos na experiência de Romanos sete, também nós somos incrédulos. Se somos incrédulos, necessitamos de compreender a fé que actua pelo amor e que purifica a alma. Como se aproximou este homem de Jesus? As palavras de Cristo o mostram claramente. »Se não virdes sinais e prodígios, não crereis.« Este homem com outras palavras veio ter com Jesus para apresentar a sua petição, esperando que Jesus a cumprisse incondicionalmente. Pensava que, se Jesus a cumprisse, acreditaria n'Ele, como seu Salvador pessoal. Este, porém, não é nem nunca pode ser o caminho da fé que salva do pecado. Se todos nós examinássemos com a maior sinceridade a maneira como nas nossas 60 orações apresentamos a Deus as nossas petições, veríamos que são tão erradas como a do régulo. Temos por exemplo pedido ao Senhor que nos abençoe; mas em seguida vamos embora, esperando ver as bênçãos derramadas sobre nós, em vez de acreditarmos que já as temos recebido. É desnecessário dizer que, se o Senhor nos desse as bênçãos solicitadas desta maneira, ficaríamos surpreendidos em ver o seu cumprimento. Para o régulo tinha chegado a hora da verdade. Também para nós deve ela vir, a fim de experimentarmos ã fé salvadora. Quando o Senhor nos repreende, vem o Espírito de Deus, Aquele que convence do pecado, para nos revelar os defeitos de carácter. Foi assim que as palavras de Cristo, sob o ministério do Espírito Santo, revelaram a esse homem a sua incredulidade. Quando ele ouviu o que o Senhor disse, certamente aceitou a repreensão, porque a resposta do nosso Salvador à petição seguinte, foi muito diferente da primeira. O régulo insistiu com o Senhor dizendo: »Senhor desce, antes que meu filho morra.« Havia uma diferença na petição. É possível que não a possamos discernir, mas através da resposta divina, vemos claramente que a havia. A primeira petição teve como resposta só uma repreensão triste, ao passo que a segunda lhe trouxe libertação. Qual a diferença? A diferença está, em que o homem se tornou crente. Sabemos isto porque a Palavra de Deus o diz: »E o homem creu na palavra que Jesus lhe disse, e foi-se.« João 4:50 Caná não era muito distante de Cafarnaum. Devem ter sido cerca de vinte e cinco quilómetros. Cristo falou ao régulo na sétima hora, ou seja cerca da uma hora da 61 tarde, de maneira que nessa mesma tarde podia o régulo ter ido para casa. Mas mesmo assim não foi para ver com os seus próprios olhos que seu filho de facto tinha sido curado. Ele sabia que o filho estava bem. Quando no dia seguinte chegou a casa, contaram-lhe os servos somente o que a fé, um dia antes, lhe tinha contado. Sem dúvida ficaram eles surpreendidos ao verem que seu amo, a respeito da notícia, não se tinha surpreendido. Comparemos agora as diferentes petições do régulo a Cristo. É ao mesmo tempo a comparação do crente com o incrédulo. Na resposta da segunda petição reconheceu ele algo do poder que está em Jesus Cristo. A sua fé abraçou esse poder, no qual viu a resposta às suas necessidades. Pediu então para que seu filho fosse curado, aceitando ao mesmo tempo esse dom pela fé, sabendo que já era seu. Em seguida foi tranquilamente ao seu caminho, sabendo que a bênção da qual já era possuidor, seria revelada no momento em que mais dela precisasse. Nisto é-nos comunicada a fórmula de sucesso da fé verdadeira. Em primeiro lugar devemos ter um conhecimento certo do problema a enfrentar. Quantas vezes no passado fomos ter com Deus, pedindo perdão pelo que temos feito, sem termos reconhecido o verdadeiro problema e sem termos pedido a remoção desta lei do pecado que está em nós. Tem havido uma deficiência séria na compreensão daquilo com que realmente lutamos, deficiência essa que deve ser vencida, antes que possamos orar inteligentemente e com sucesso. Em segundo lugar devemos conhecer e aceitar as promessas de Deus, como sendo o poder de Deus. Para 62 reconhecermos isto, devem elas ser lidas e estudadas até que sejam absorvidas pela nossa mente e que façam parte integrante de nós mesmos. Mas quantas vezes estive perante um grupo de professos cristãos e quando lhes pedi que me citassem algumas das grandes promessas bíblicas da vitória sobre o pecado, não me sabiam responder. Para aqueles que desejam ter e manter uma vitória pessoal sobre o pecado, devem essas promessas ser uma parte importante da sua vida. Devem estar sempre prontos para as pronunciar, quando o inimigo os ataca ou se lhes quer sugerir alguma dúvida a respeito do poder salvador de Deus. Não é a intenção dar aqui uma lista de todas as promessas bíblicas, antes deveria cada um procurar as mesmas por si próprio. Serão indicados somente alguns exemplos, para aqueles que gostariam de iniciar um estudo mais amplo e profundo. «Porque o pecado não terá domínio sobre vós.« Rom. 6:14. Lemos estas palavras até que vejamos que nos são uma promessa pessoal e que Deus não permitirá que o pecado tenho domínio sobre nós. »Nao veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que vos não deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.« l.Cor. 10:13. Assim como um pai não permite que o seu filho tenha de enfrentar perigos excessivos para a sua tenra idade, assim o Senhor nunca permitirá que nos sobrevenha uma tentação demasiado forte, a qual não possamos suportar. Para cada tentação que se nos apresenta, tem Ele provido um caminho de libertação, de modo que não haja desculpa alguma para qualquer pecado. «Posso todas as coisas naquele que me fortalece.» Fil. 4:13 63 Poderíamos citar mais exemplos, mas é melhor que cada um procure as promessas para si próprio. A seguir só mais algumas referências: Mat. 1:21; João 8:36; l.Cor. 15:34-57; 2.Cor. 2:14; Gál. 3:14-21; Fil. 1:6; l.Tes. 4:3-5.23.24; 1.Pedro 1:5; 2.Pedro 1:4; Judas 24. Os Salmos 23 e 46 contêm promessas particularmente boas, no que diz respeito ao poder da libertação. Tenhamos também interesse especial para as promessas de Ez. 11:19.20; 36:26. O grande objectivo de conhecer estas promessas é chegarmos a uma fé que purifica a alma. Quanto mais as lermos e estudarmos, mais elas nos ajudarão na formação de uma fé viva, até chegarmos ao ponto em que aceitamos o poder que nos pode trazer a libertação tão desejada. Fé não é algo que pela própria natureza é nosso. Não é algo que podemos gerar em nós. »E assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo.« Rom. 10:17 (tradução de João Ferreira de Almeida, (edição revistae actualizada no Brasil). Quando tiver chegado o tempo em que a fé realmente acredita nas promessas de Deus e as aceita, é chegada então a hora de dar o terceiro passo. Devemos ir ter com Cristo, pedindo pelas bênçãos. Não façamos a antiga oração, que tantas vezes falhou em nos trazer a libertação. No passado o molde da oração era: »Senhor, eu pequei, rogo-Te que me perdoes este pecado e me ajudes a nunca mais o tornar a cometer.« Essa oração não trouxe vitória alguma no passado e não trará nenhuma no futuro. Como a petição do régulo deve a nossa oração ser apresentada de outra maneira. Em vez do acima citado, devemos agora orar: »Senhor, cheguei ao ponto de reconhecer que o problema verda- 64 deiro se encontra nesta natureza pecaminosa que está em mim. É o »poder do pecado«, a »lei do pecado e da morte«, o »corpo da morte«, a »inclinação carnal« e o »coração de pedra«. Enquanto isto estiver em mim e enquanto o meu corpo estiver sujeito ao controle daquele poder, sou como a árvore má que produz somente frutos maus. Senhor, prometeste tirar o coração de pedra, para dar-me um completamente novo. Acredito que vais fazer isto e por isso dou-Te o meu coração velho. Toma-o de mim, não o quero mais e coloca no seu lugar um novo coração. Faz com que eu possa participar da Tua própria natureza divina. Pela fé aceito esta bênção e por ela Te agradeço, em nome do nosso querido Salvador Jesus Cristo. Ámen.« Caso tenhamos alcançado a fé viva, não esperaremos até vermos a realização das bênçãos, para sabermos que de facto as temos. Saberemos que estamos libertos, que o pecado não tem mais domínio sobre nós e que finalmente nos temos tornado um verdadeiro filho de Deus. Resistamos, portanto, às tendências da natureza humana que, em vez de acreditar, deseja ver. Tão pouco esperemos ver algo, que nos indique que estamos transformados. Acreditemos porque a Palavra de Deus o diz, e em breve veremos a realização dos factos. O régulo, para ter fé e portanto a certeza de que o seu filho estava vivo, não necessitou ir vê-lo. A Palavra de Deus através de Cristo foi-lhe suficiente. Fé na Palavra de Deus não se baseia em ver ou sentir. Aliás o ver e sentir é algo que facilmente pode mudar dia após dia. Por conseguinte, se queremos ter a certeza da nossa relação para com Deus, nunca nos devemos orientar pelos nossos sentimentos, mas sim segundo a Palavra de Deus. O MEU TESTEMUNHO O apóstolo João afirma: »O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão connosco.« l.João 1:3 Aqueles que têm uma experiência própria são os que da melhor maneira podem dar um testemunho verdadeiro. Podem falar do que experimentaram e não do que aprenderam. Para que outros conheçam a actuação positiva do caminho exposto neste estudo, gostaria de relatar como o evangelho actuou na minha vida. Há muitos crentes em todo o mundo, que ouviram o mesmo estudo, aplicaram a mesma sistemática e que através da mensagem presente, podem juntamente comigo confirmar a libertação do pecado. No ano de 1953 tornei-me professor num seminário. No ano seguinte fui escolhido para oficial da igreja à qual pertencia. Eu amava a igreja e me absorvi nas suas actividades. Entendia e amava a doutrina, de modo que pregava a mensagem com seriedade e entusiasmo. Pensava ser salvo e regozijava-me dia após dia na esperança da vida eterna. Apesar de ter tido uma boa reputação e ter vivido uma »boa vida«, tinha no meu interior problemas que não conseguia vencer. Eu era professor na secção de marcenaria e todos os alunos que nas outras disciplinas não venciam, eram transferidos para a minha classe. Alguns desses rapazes resistiram a tal ponto aos estudos diários que nas aulas haviam lutas contínuas, entre os meus esforços de ensinar e a sua resistência em estudar. Fui finalmente levado a tal ponto, que a minha ira se voltou contra eles. Havia ocasiões em que podia ter 66 batido suas cabeças contra a parede. Mas algo me impedia de o fazer: tinha de guardar uma boa reputação e não quis que a directoria tivesse algo a criticar-me. Abafei a minha ira, para que exteriormente ninguém se apercebesse do meu estado interior e crítico. Um gerador de vapor com as válvulas fechadas, quando aquecido, certamente suporta durante algum tempo a pressão crescente, e quando deixamos de o aquecer a pressão baixa, sem que tenha ocorrido a explosão. Se no entanto o aquecermos sem parar, virá o momento em que explodirá. Quanto mais aquecido, tanto maior será a explosão. Assim era comigo. As lutas durante a semana de serviço aqueciam dia após dia a minha ira. Fechei todas as minhas saídas, para que a ira não pudesse escapar. Ela, porém, existia e a sua revelação era somente uma questão de tempo. Quanto mais aguentei, tanto pior foi a explosão quando chegou. Esse momento chegava normalmente nos fins de semana, quando me encontrava em casa. Então minha mulher e meus filhos, sem culpa alguma tornaram-se o recipiente da ira que pelas atitudes dos outros, se acumularam em mim. Quando a pressão me deixava, sentia-me culpado e cheio de remorsos. Fui então ter com o Senhor, pedindo o Seu perdão, prometendo que nunca mais o faria. O que aconteceu, porém, foi a repetição do passado. Novamente provocou a atitude dos alunos a minha ira e novamente fechei todas as minhas saídas. Novamente havia a pressão crescente com a consequente explosão e novamente havia o arrependimento e o pedido de perdão. Isto se repetia semana após semana. Minha vida era pecar e arrepender, pecar e arrepender, pecar e arrepender. Isto sem dúvida era a experiência de 67 Romanos sete. Eu não a compreendia, de modo que a epístola aos Romanos, parecia-me a mais difícil de todas da Bíblia. Procurava uma resposta, ouvia outros pregadores para saber o que diziam sobre o assunto; mas em toda a parte era aparente, que até os homens na liderança da igreja se encontravam na mesma situação. Finalmente comecei a construir uma filosofia, na qual considerava a minha experiência como a dos salvos. Raciocinava que era um homem honesto e sério, que fazia o melhor que podia, pensando que no grande dia do juízo final, o Salvador certamente diria: »Este homem apesar de na terra ter vivido uma vida de pecado, fazia o melhor que podia. Portanto vou perdoar-lhe e dar-lhe um lugar no reino celeste.« Mais tarde encontrei um jovem que de si mesmo dizia que tinha sido liberto do pecado e que gostaria de falar comigo a este respeito. No início parecia-me a sua conversação uma língua estrangeira, porque estava falando duma experiência e duma vida que até àquela data me era completamente desconhecida. De repente voltou-se para mim e duma maneira directa perguntou-me: »Sabe o que significa obter dia após dia a vitória sobre cada pecado conhecido?« Quando ouvi isto ri-me e com ar incrédulo disse: «Faz dez anos que procuro essa experiência. Certamente não haverá ninguém que tenha orado mais sinceramente ou que tenha tentado com mais zelo, do que eu, para a obter. Até à presente data, porém, ainda não encontrei pessoa alguma que tenha obtido essa experiência. É claro, que dia a dia tento fazer o melhor, mas também dia a dia devo pedir perdão a Deus pelos pecados cometidos. Mas, mesmo assim, acredito que Deus me perdoa e que no dia da ressurreição aceitará as minhas obras como as melhores possíveis. Certamente serei salvo. 68 Nunca na minha vida me hei-de esquecer da sua resposta; não em palavras, mas sim no olhar. Sua expressão dizia-me: »Irmão, tu precisas de ajuda e a necessitas com urgência.« Esta mensagem não expressa por palavras impressionou-me tão profundamente que, quando me perguntou se me podia visitar a fim de me dar um estudo bíblico sobre este tema, concordei sem hesitar. Nunca ouvi um estudo mais estranho do que este. Sempre que este jovem lia um texto bíblico, tentava comentá-lo com uma explicação mais ampla. Mas parecia-me que lhe tinham fugido as palavras, de modo que para vencer a situação continuava sempre com o versículo seguinte. O estudo continuava, mas nós não faziamos outra coisa senão lermos versículo após versículo. Fielmente anotei todos estes versículos. No fim apresentei alguns argumentos contra a sua mensagem, e depois foi-se embora. Estou certo de que ele saiu muito desanimado, convicto que eu era um desgraçado que rejeitaria a mensagem da libertação do pecado. Depois disto passaram-se vários dias. Não via nada de definido, tudo me parecia confuso, mas o poder dos versículos trabalhava em mim. Lembrei-me então do cego que começou a ver. »E levantando ele os olhos, disse: Vejo homens; pois os vejo como árvores que andam.« Marcos 8:24. Depois de quatro dias, numa quarta feira à tarde, chegando a minha casa no intervalo das aulas escolares, aproveitei o tempo para estudar a lista dos versículos anotados. Um por um, comecei a lê-los novamente. »Porque o pecado não terá domínio sobre vós«, »e graças a Deus que sempre nos faz triunfar em Cristo«. »Ora àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar«. Rom. 6:14; 2.Cor. 2:14; Judas 24 69 Quando li texto por texto, tentei compreender os seus verdadeiros sentidos. Com a ajuda do Espírito Santo, que sempre está presente para iluminar a Palavra da Verdade, tinha eu lido mais ou menos um terço dos textos, quando me veio uma convicção profunda. Até àquele momento tinha acreditado que nunca poderia viver sem pecado. Com outras palavras, acreditava que Satanás era mais forte do que Cristo, e que o pecado era mais forte do que a justiça. De repente, porém, sobreveio-me a implicação terrível desta crença. Compreendi que enquanto acreditasse nisto, não pararia de pecar. No momento em que compreendi isto, reconheci que a minha vida não era um testemunho do poder de Deus, mas de Satanás. O Espírito de Deus começou a trabalhar em mim; comecei a ver que tudo em que tinha confiado, o meu conhecimento, o meu zelo, a minha posição, o amor pela verdade conforme a tinha compreendido, de repente tudo se tinha tornado inválido. Tudo isto agora nada mais me significava, nem me era mais uma segurança. Vi-me, como Deus me viu — desesperado, perdido, eternamente condenado. Apoderaram-se de mim trevas dum desespero terrível e o tremendo medo de não participar na ressurreição dos justos. Nunca na minha vida tinha passado por um momento mais angustioso do que esse. O Senhor deu-me — não sei como — a honestidade de aceitar tudo isto como a pura verdade. Não argumentei que era professor do colégio, pregador, homem bem familiarizado com as Escrituras, de boa reputação e zelo incansável pela causa da verdade. Agradeço por isto ao Senhor e peço ao mesmo tempo ao leitor que, quando o seu momento da verdade chegar a aceite tal 70 como ela é; porque se argumentar contra o Espírito Santo, certamente fechará a porta para qualquer outra obra da graça futura em seu favor. Isto evidentemente trará consequências graves para a eternidade. O Senhor nunca fere, mas cura. No mesmo momento em que me reconheci como pecador perdido e desesperado, mostrou-me o Senhor as promessas, que antes nunca tinha visto. Elas, a partir desse momento, foram-me como se fossem só para mim em particular. Quando abracei o poder da Palavra viva, fé viva encheu todo o meu ser. Então caí sobre os meus joelhos e pela primeira vez em toda a minha vida orei uma oração nova. «Senhor eu vejo agora que o problema não é o que fiz, mas o que sou. Esta vida ímpia em mim é a raiz de todo o problema, é como uma doença, o senhor do meu corpo, de modo que não consigo fazer o que desejo, apesar de saber o que deveria fazer. Aqui está esta vida antiga, toma-a e dá-me no lugar da antiga a Tua nova vida. Senhor, sei que aceitas a minha oferta e agradeço-Te em nome do nosso querido Salvador Jesus Cristo. Ámen.« Levantei-me então com a a inteira convicção de que fui renascido. Não era um sentimento, não sentia nada de diferente. Era uma convicção, o testemunho da fé, baseada na Palavra de Deus. Era a mesma convicção que levou o régulo a voltar tranquilamente para casa; porque sabia que o seu filho estava curado. Ele nem se tinha apressado, pois tinha a firme certeza dessa cura miraculosa. Do mesmo modo também eu sabia da minha libertação e soube dela nesse mesmo momento. A realização visual ou exterior certamente virá posteriormente, assim como veio para o régulo. Naqueles dias tinhamos um carro antigo, um Ford, 71 modelo A. Minha mulher costumava ir com ele à cidade. Mas nem sempre conseguia voltar para casa. Muitas vezes recebia eu telefonemas dela, dizendo-me que tinha problemas com o carro e que eu tinha de ajudar. Era-me sempre muito inconveniente deixar o meu serviço, e antes do dia da minha libertação ficava muito irritado sobre este problema. Nessas ocasiões sempre tinha para minha mulher palavras impacientes e portanto inconvenientes. Mas sempre quando esses incidentes terminavam, ficava muito triste, por causa do meu comportamento. Confessei então o meu pecado, determinando nunca mais o tornar a cometer. Sempre quando essas chamadas de emergência vieram, lembrava-me que tinha prometido ser paciente e amável. No início tudo corria bem; mas durante o arranjo havia sempre certos incidentes — uma vez fugiu-me a chave de fendas da mão e feriu-me — de modo que a ira tomava posse de mim. Poucos minutos após havia a habitual torrente de palavras irritadas. Depois de ter acalmado, pensava sempre a mesma coisa: »Não adianta, não há outra hipótese, tem que ser assim mesmo.« Sem falar guiava o carro para casa, vencido e incapaz de me compreender a mim próprio. Apesar desses arrependimentos, amontoaram-se os problemas até ao ponto de quase desfazer-se o nosso lar. Depois do dia da minha libertação, não senti nada de diferente em mim. É verdade que também não estava mais sob aquela pressão habitual. O fogo no gerador tinha cessado e eu vivia feliz, dia após dia. Depois veio outra tarde, uma sexta feira, em que minha mulher saiu de carro e em que veio a habitual chamada, por o carro mais uma vez, a cerca de quatro quilómetros da nossa casa, se ter avariado. 72 Fui então o mais rapidamente possível ter com minha mulher, para reparar o carro. Quando vi que não conseguia repará-lo, pedi a minha mulher que fosse para casa, no carro de um vizinho que na ocasião passou. Finalmente mandei rebocar o carro. Fui para casa e jantámos. A seguir fomos a um culto na escola, e terminado esse fomos para casa e deitámo-nos. Como estava muito cansado, não reparei que minha mulher permanecia deitada ao meu lado, sem falar, como se estivesse pensando nalguma coisa. Eu estava quase a dormir, quando ela de repente me perguntou: »O que aconteceu contigo?« Eu não tinha a mínima ideia ao que ela se estava a referir, de modo que pedi uma explicação mais precisa. Mas ela somente respondeu: »Algo aconteceu contigo, que eu gostaria de saber.« Como não entendi ao que ela se queria referir, pedi mais uma vez uma explicação mais clara. Então disse-me ela: »Esta tarde estava eu à tua espera junto do carro. Esperava ouvir as tuas acusações habituais. Mas chegaste, e em vez disto, pediste-me para ir para casa. Eu estava feliz por ir embora, mas convicta que quando chegasses a casa, ouviria algo a respeito do que se passara. Mas chegaste a casa e nada disseste. Pensei que depois do jantar a tua ira habitual se voltasse contra mim; mas mais uma vez continuaste teu caminho pacífico. Tirei finalmente a conclusão de que te tinhas controlado. Mesmo assim pensei que após o culto, ao chegarmos a casa tocarias no assunto; mas até este momento nada disseste. Algo aconteceu contigo, que eu gostaria de saber.« De repente apercebi-me da grande mudança operada em mim. Compreendi que, conquanto dantes procedia como a pessoa que antes tinha sido, naquele mo- 73 mento procedi como a pessoa que naquele momento era. Enquanto antigamente, nas mesmas circunstâncias fiquei impaciente e irritado, agora mantinha a paz e a paciência. O facto desta realização sobreveio-me de tal forma que estava incapaz de dar uma resposta à minha mulher. No meu íntimo lembrei-me do texto. »Foi o Senhor que fez isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos.» Salmo 118:23 Estimado leitor, quando chegar ao ponto de reconhecer esta maravilhosa transformação interna, quando reconhecer que sob as pressões da vida diária há uma reacção completamente nova, compreenderá como me senti naquele momento. Digo somente que foi maravilhoso. Desde então passaram-se muitos anos. Foram anos em que o poder da verdade foi provado no campo da batalha da vida. Sinto muito não poder testificar de nunca mais ter pecado nesse tempo, mas posso regozijar-me no testemunho precioso que a mensagem ainda actua exactamente como naquele dia. Se pequei a culpa foi sempre minha, por ter falhado na minha fé, por me ter desleixado em manter a minha conexão íntima com o poder de Deus. A razão de facto nunca se encontrava na verdade de Deus. Mas desde aqueles dias de derrota, a vida tem sido muito diferente. Naquele tempo, ano após ano, havia uma repetição contínua das mesmas lutas contra os mesmos pecados, sem jamais poder sair desse círculo de pecar e confessar, pecar e confessar. Agora passou definitivamente. Novos conhecimentos juntaram-se, novas vitórias foram ganhas. É-me agora uma satisfação ler a epístola aos Romanos, porque entendo o que Paulo está dizendo e já não me é um mistério. 76 mos somente aprofundar a situação do homem de Romanos sete e a do homem de Romanos oito. Satanás aproxima-se com as suas tentações ao homem de Romanos sete, chamando a sua atenção aos desejos e fraquezas da carne. O homem no seu íntimo sabe que essa chamada leva ao pecado. Ele toma a decisão firme de não fazer o que é injusto e manda ao corpo as instruções adequadas de como deve reagir nesse caso. Mas a inclinação carnal é o senhor verdadeiro do homem, que domina a cena e que torna inválida a vontade do homem. Os desejos da carne não são mantidos sob controle, antes se revelam em pecado aberto. Claro está que nesta situação a inclinação carnal mantém a superioridade. No caso do homem de Romanos oito, a situação é diferente. A tentação aproxima-se aqui à mesma carne. Também aqui a mente é chamada a tomar uma certa decisão. Caso a mente tome a decisão definida de não se entregar à tentação e caso essa decisão seja tomada com a fé absoluta que o poder de Deus nele e o poder de Deus do Alto se unirão para pôr em prática essa decisão, então as forças servirão a vontade. A carne será mantida sob controle perfeito e o pecado será renunciado. Não se pode dar demasiada ênfase, que é a fé que dá a vitória. O centro de controle de facto foi removido da inclinação carnal para a vontade; mas essa vontade pode somente actuar na fé, que o Senhor irá realizar a decisão tomada. Essa fé envolve a confiança de que o poder de Deus é suficiente e que nos virá ajudar. Todo aquele que é renascido e que pensa estar suficientemente forte para resistir ao poder do pecado, cairá certamente na tentação. »O justo viverá da fé.« Rom. 1:17 MANUTENÇÃO Segue então que há uma real necessidade de manter viva a experiência que foi obtida. »O justo viverá da fé«. Mas a fé pode cessar. Portanto, é necessário que ela não só seja mantida, mas revelada e fortificada. Fé é algo vivo e as coisas vivas quando deixam de crescer, morrem. Por isso devemos alimentar-nos diariamente da Palavra de Deus. A Bíblia chama à experiência da libertação do antigo senhor do pecado »renascimento«. É por essa razão que um novo cristão pode ser chamado »bebé«. Um bebé que há pouco começou a percorrer a passagem longa da vida, precisa de ser continuamente alimentado a fim de que possa crescer, até à maturidade completa de homem ou mulher. »Desejai afectuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo.« 1.Pedro 2:2 Não se pode dar demasiada importância para os cristãos novos e mais antigos estudarem diariamente a Palavra de Deus. Nisto há poder. Sem esse alimento espiritual e diário a fé se tornará sempre mais fraca, de modo que quando as poderosas tentações do inimigo se aproximarem, certamente cairão. Cairão apesar de terem o poder de Deus em si. Podemos perguntar: »Como pode ser isto, visto o poder de Deus ser o maior que existe e que o mesmo de certeza é maior do que o pecado? Se esse poder está em nós, como pode o pecado dominar-nos?« Para mostrarmos que a presença do poder de Deus na vida de alguém não é garantia de nunca mais pecar, queremos analisar o seguinte exemplo: Um exército poderoso, como por exemplo o de Júlio César ou Alexandre Magno, avança para o combate. Os exércitos que eles comandavam eram os mais poderosos do seu tempo e não havia nenhum adversário que os pudesse enfrentar. Considerando um desses exércitos verificamos que tinha duas divisões principais: O general que comandava o exército, e o poder colectivo desse exército, composto de soldados a pé e cavaleiros. O general em si sozinho nào tinha poder para combater o mais pequeno adversário. O seu poder é o poder do exército e somente da maneira como este lhe está sujeito pode ele ir avante ao combate. Do mesmo modo precisa o exército da direcção do general, para poder operar eficientemente. O general significa a vontade do exército. Tudo depende da acção certa dessa vontade, para que a vitória seja assegurada. Suponhamos que um exército poderoso e sempre vitorioso tem que vencer somente mais uma batalha para alcançar a vitória final. Um inimigo relativamente pequeno entrincheirou-se numa colina e o confronto torna-se necessário para assegurar o controle daquele país. Mas o general e os seus conselheiros confiam em demasia nas suas habilidades e forças, de modo que no dia antes da batalha decidem festejar a vitória. O general e os seus conselheiros mais íntimos, os subcomandantes e oficiais deixam o exército no acampamento e dedicam as horas da noite aos seus festejos. O resultado é que na manhã Seguinte todos estão embriagados, completamente inconscientes da situação real. Suponhamos que é nesse momento que o inimigo inesperadamente resolve atacar. De repente, alertados pelos vigias, encara o exército o inimigo. Mais do que nunca necessita o exército dos comíndos do general. 79 Mas esse, nesse momento, não está em condições de tomar a mais pequena decisão, nem pode dar qualquer ordem válida. De repente encontra-se o exército sem comandante, sem vontade e sem inteligência dirigente. É, digamos, o exército mais potente do mundo, que está enfrentando um inimigo fraco; mas quem ganhará sob essas circunstâncias? A resposta é: O inimigo. A explicação deste exemplo é a seguinte: O grande poder do exército é o símbolo da presença do poder de Deus na vida. Esse poder é o mais forte que existe e não há nada que lhe possa resistir. O comandante na experiência de Romanos oito é a vontade inteligente e educada. O inimigo é a carne ímpia e pecaminosa, através da qual o inimigo trabalha para vencer e destruir o homem. Enquanto o exército terrestre pode fazer algo sem a vontade e direcção do seu comandante, nada pode, o poder de Deus fazer em nós sem o consentimento da nossa vontade. Portanto, se na hora da tentação não tomamos a decisão firme, dizendo resolutamente ao inimigo. »nao«, então o poder de Deus nada pode fazer em nosso favor, e seremos, através da nossa carne caída, as vítimas do poder de Satanás. Por falta de compreensão caem muitos em poder do inimigo, conquanto que a sua vida deveria ser um cântico contínuo de vitória sobre o pecado. Uma atenção especial deve ser dada à vontade de um lado, e à impiedade da carne caída do outro lado. Necessitamos, como faziam os apóstolos, confessar a impiedade desta natureza, em vez de depositarmos confiança na carne ímpia. Uma tal derrota é inevitável quando falta a fé. Portanto devemos mante-la continuamente viva. Quan- 80 do a nossa vida nos é dada, ela é perfeita, como um bebé recém-nascido. Para que esse bebé possa crescer, deve ser ele alimentado e cuidado. O Senhor põe a alimentação à nossa disposição, mas somos nós que a devemos dar ao bebé. Deus não alimenta automaticamente dia após dia essa criança. Essa é a obrigação dos pais. Assim também proveu Deus, na Bíblia, toda a alimentação necessária para o bebé espiritual; mas é nossa obrigação alimentá-lo. Deus não o fará por nós. Uma Bíblia fechada é como um armazém fechado. Não serve a ninguém. VIGIAI Jesus disse: »Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.« Mat. 26:41 Entrar na vida cristã, significa estar inscrito no exército do Senhor. A vida futura é uma luta dia após dia. Não é uma viagem de recreio. Não nos encontramos em estado de guerra. O nosso inimigo está no campo da batalha, procurando os pontos fracos para nos poder vencer e destruir. «Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar,« 1.Pedro 5:8 Não há exército algum que entre numa guerra, sem ter sentinelas. Assim evita que o inimigo venha inesperadamente. Do mesmo modo deve o cristão, cada dia, colocar as suas sentinelas nos devidos lugares. A Bíblia revela claramente todas as tácticas de Satanás, de modo que podemos saber onde e como podemos vigiar, e como enfrentá-lo com a Palavra de Deus, para que não possa ganhar vantagem. A LUTA E DO SENHOR É muito importante que nenhuma tentativa seja feita por nós, para enfrentarmos Satanás. O grande conflito é entre Cristo e Satanás. Não tenteis lutar a luta que pertence a Cristo. Quando Satanás se aproximar de vós, entregai-o ao Senhor e deixai-O lutar com Satanás. Ao fazerdes isto, Satanás fugirá de vós, porque sabe que Cristo já o venceu. Há muitos que podem achar ridículo o exemplo que vou dar, mas verifiquei que tem sido muito válido: Digamos que nos encontramos no Congo, num safarí. Chega o dia em que devemos atravessar uma área particularmente densa e perigosa. Como não estamos familiarizados com aquela zona e com as diversas espécies de animais que nela há, aceitamos os serviços dum guia experimentado. Na hora da partida apresenta-se ele com toda a armadura necessária para eventuais lutas com os animais selvagens. Depois de algum tempo de marcha perigosa estamos face a face com um grande e terrível gorila que se prepara para nos atacar. Suponhamos que o íamos enfrentar com as mãos vazias. Isto demonstraria uma grande coragem. Mas nós não nos esquecemos do guia contratado, de modo que o chamamos para nos ajudar. Qual seria a reacção do guia? Certamente gritaria: »Volte para trás; não posso apontar a minha arma, enquanto você não estiver fora do caminho.» Assim a actuação do guia seria impedida e a nossa destruição seria certa. De igual modo devemos deixar Cristo fazer o que Lhe pertence. Quando o inimigo se 83 aproximar, não tentemos lutar com ele, «porque do Senhor é a guerra«. 1.Samuel 17:47. »Pois a peleja não é vossa, senão de Deus.« 2.Cor. 20:15 Nós não somos tão fortes como Satanás. Não podemos argumentar com ele. Lembrai-vos sempre de lhe resistir com o poder da Palavra de Deus, e não com o vosso próprio poder. Quando ele se aproximar de vós, dizei-lhe simplesmente que está enganado, que a pessoa que costumava responder às suas tentações não reside mais em vós. Os tempos mudaram e a vida nova que está agora em vós, não mais faz as coisas do passado. Assim que Satanás ouve essa declaração de fé, foge e a tentação passa. PALAVRAS FINAIS Todo aquele que aplicar os princípios descritos neste estudo, conseguirá certamente o resultado desejado. As experiências que faziam parte do homem de Romanos sete pertencem ao passado e em vez disto começou a liberdade de servir a Deus. Desde que trabalhamos na manutenção e no desenvolvimento da vida espiritual, verificamos dia após dia um crescimento. Virão tempos em que cometeremos erros que nos levarão ao pecado. Mas que não sejamos desanimados por isso. Analisemos o que nos levou ao ponto de cairmos. Em seguida vamos a Jesus, a fim de pedirmos a purificação, que certamente e de boa vontade nos será dada. Consideremos essa experiência como uma lição educativa, que nos levará para o futuro, e avancemos para novas alturas na experiência cristã. Para conhecermos a beleza da vida cristã, devemos ter tido algumas experiências, porque não há palavras que a possam descrever adequadamente. Somente aqueles que já ganharam essa experiência serão capazes de compreender mais profundamente as palavras contidas neste estudo. Devemos, porém, advertir que este estudo não abrange todo o tema da experiência cristã. Pode ser considerado somente como guia para entrar na experiência inicial de um verdadeiro renascimento. Há poucas indicações que falam da manutenção desta experiência uma vez alcançada, e nada foi dito sobre as grandes obras de reforma e santificação, pelas quais diariamente serão reeducados os nossos hábitos e ideias antigas. Mas também não há necessidade de o compreendermos logo 85 no inicio, quando entramos como membros na familia de Deus. Somente quando o primeiro passo for realizado, terá chegado o tempo de pensar nos próximos passos maravilhosos, que nos guiarão a experiências sempre mais altas e amplas. Derrota traz-nos miséria e frustação. Isto, porém, não é o plano de Deus para connosco. Para um cristão há alturas e profundidades, que palavras não podem exprimir. Que esta pequena publicação vos guie para a alegria completa que é a herança dos verdadeiros filhos de Deus, não importando o lugar onde neste momento se encontre, a igreja à qual pertence, ou se não professar fé alguma. »Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a essa glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Ámen.« Ef. 3:13-21 Aconselhamos para. continuidade do estudo presente as publicações seguintes: O Caminho Consagrado para a Perfeição Cristã Carta aos Romanos A.T. Jones E.J. Waggoner Raios de Luz Divina (Compilação ilustrada de trechos escolhidos da Carta aos Romanos) E.J.Waggoner Confissão Aceitável F.T. Wright Justificação pela Fé F.T. Wright