arquitectura sustentável na guiné-bissau

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arquitectura sustentável na guiné-bissau
ARQUITECTURA
SUSTENTÁVEL
NA GUINÉ-BISSAU
{ MANUAL DE BOAS PRÁTICAS }
ARQUITECTURA
SUSTENTÁVEL
NA GUINÉ-BISSAU
{ MANUAL DE BOAS PRÁTICAS }
Editor
CPLP • Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
www.cplp.org
Coordenação
Prof. Arqº. Manuel Correia Guedes
[email protected]
Equipa Técnica
Prof. Engº Klas Borges, Universidade de Lund
Prof. Dr. Leão Lopes, Escola Internacional de Artes do Mindelo
Prof. Arqº. Gustavo Cantuária, Universidade de Cambridge
Prof. Arqº. Manuel Correia Guedes, Instituto Superior Técnico
Prof. Engº. Manuel Pinheiro, Instituto Superior Técnico
Engª. Italma Simões Pereira, Instituto Superior Técnico
Arqº. Adolfo Ramos, Ministério das Infra­‑estruturas, Comunicações e Transportes da Guiné Bissau
Engº. Gilberto Lopes, Instituto Superior Técnico
Engª. Carla Gomes, Universidade de Aveiro
Design Gráfico
José Brandão • Susana Brito
Alexandra Viola { Paginação }
[Atelier B2]
Pré­‑impressão e tratamento de imagens
Joana Ramalho • Gabriel Godoi
[Atelier B2]
Impressão
idg Imagem Digital Gráfica
www.idg.pt
isbn
978-989-97178-0-0
Nº de exemplares
750
Depósito Legal
323393/11
ARQUITECTURA
SUSTENTÁVEL
NA GUINÉ-BISSAU
{ MANUAL DE BOAS PRÁTICAS }
5
{ Apresentação }
O presente manual tem como principal objectivo
Internacional de Artes do Mindelo (M–EIA, em
sugerir medidas básicas para a prática de uma ar-
Cabo Verde), o Ministério das Infra­‑estruturas e
quitectura sustentável. Destina­‑se a estudantes e
Transportes da República da Guiné­‑Bissau, e a Fa-
profissionais de arquitectura e engenharia civil,
culdade de Arquitectura da Universidade Eduardo
sendo também acessível ao público com alguma
Mondlane (Moçambique).
preparação técnica na área da construção. Tendo
Ao longo do projecto SURE–Africa, que decor-
em conta o clima, os recursos naturais e o contex-
reu entre 2007 e 2009, foram realizados diversos
to socioeconómico, são traçadas, de forma simpli-
seminários, workshops e conferências, foi criada
ficada, estratégias de boas práticas de projecto.
uma rede de conhecimento entre as instituições
Foi elaborado no âmbito do projecto europeu
envolvidas, no domínio da arquitectura e planea-
SURE–Africa (Sustainable Urban Renewal: Energy
mento urbano sustentável, e foi produzido mate-
Efficient Buildings for Africa), implementado para
rial de apoio ao ensino, assim como manuais de
aprofundar e disseminar o conhecimento existente
boas práticas. Os manuais são publicações pionei-
em quatro países africanos de língua oficial portu-
ras, podendo servir de referência não só para os
guesa, na área da arquitectura sustentável – em
países de língua portuguesa, mas também para
particular no que se refere ao projecto bioclimáti-
outros países africanos, e constituem um ponto de
co e à eficiência energética em edifícios, contri-
partida para futuros trabalhos, tão necessários
buindo para a melhoria das condições de habitabi-
nesta área.
lidade do espaço construído. Participaram no
Deve ser salientado o contributo da Engª. Italma
projecto três instituições académicas europeias –
Simões Pereira para a elaboração deste manual, en-
o Instituto Superior Técnico (coordenador do pro-
quadrado na sua investigação sobre Construção Sus-
jecto), a Universidade de Cambridge (Reino Unido)
tentável na Guiné­‑Bissau.
e a Universidade de Lund (Suécia) – e quatro instituições africanas: o Departamento de Arquitectura
Prof. Manuel Correia Guedes
da Universidade Agostinho Neto (Angola), a Escola
Coordenador do projecto SURE–Africa.
7
{ Agradecimentos }
> Ao Ministério das Infra­‑estruturas, Comunicações e Transportes da República da Guiné­‑Bissau, pelo apoio dado à realização deste manual e ao desenvolvimento das acções do projecto SURE­‑Africa na Guiné Bissau.
> Ao Engº. Gilberto Lopes do IST, pela constante e preciosa ajuda dada ao
longo de todo o projecto.
> A todas as pessoas individuais e entidades locais, públicas ou privadas, que
colaboraram na recolha de informações para este manual, nomeadamente: Universidade Colinas de Boé, Câmara Municipal de Bissau, ONG Acção para o Desenvolvimento (AD), ONG Tininguena, Banco de África Ocidental (BAO), Dimensão 3,
Arquitectónica, ASCON, Arqº. Domingos Fernandes da União dos Arquitectos Guineenses, Engº. Carlos Silva, Domingos Quessange, Catarina Schwarz, Miguel de
Barros e Engº. João Carlos Esteves.
> Aos colegas da Universidade de Cambridge – os Doutores Koen Steemers,
Torwong Chenvidyakarn, Judith Britnell e, muito em particular, ao Doutor Nick
Baker, que esteve na génese do projecto SURE­‑Africa, e que foi um elemento
chave para a sua realização.
> Ao Dr. Luís Alves, aos Engenheiros Ulisses Fernandes e Anildo Costa,
e à Rita Maia e Maria do Céu Miranda, do IDMEC­‑IST.
> À Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que apoiou e financiou esta publicação.
> À Fundação para a Ciência e Tecnologia, que contribuiu com financiamento
para a execução do design gráfico do manual.
> Ao programa COOPENER da União Europeia, principal financiador do projecto
SURE­‑Africa, e às instituições que para ele contribuíram com co­‑financiamento:
a CPLP, a Fundação Calouste Gulbenkian, a FCT e a Direcção Geral de Energia.
8
{ Prefácio }
A profissão de Arquitecto na Guiné-Bissau é, para todos os efeitos, uma
profissão nova.
Por razões que não importa aqui esmiuçar, o ofício
de arquitecto vinha sendo relegado para a penumbra
das profissões. A tendência de absorção da forma pela
substância ou dos meios pelos fins desvirtuou a perspectiva metodológica e artística da obra, retardando a
autonomia do ofício de Arquitecto e subalternizandoa a outros ramos da engenharia, com ele conexos.
Sendo certo que, na Guiné-Bissau, o ensino liceal
só surgiu no terceiro quartel do século passado, natural será que as profissões susceptíveis de cativar a
atenção dos estudiosos e a admiração da praça sejam
as susceptíveis de produzir, por si próprios, resultados concretos de indiscutível utilidade.
Tal como se impuseram os ofícios de médico e de
advogado, também o de engenheiro marcou o seu espaço, com a diferença de trazer em si já uma imparcialidade, englobando agrónomos, civis e electrotécnicos,
para só citar alguns, talvez os mais representativos.
Tão marcante era a tendência que, mesmo durante o
período colonial, não fazia parte do quadro de mestres
o exercício profissional especializado de Arquitecto.
9
Havia, sim, os chamados “desenhadores” da Câ-
Para coroar este esforço permanente de dignifi-
mara Municipal de Bissau geralmente praticados,
cação do ofício, os profissionais desta praça insti-
formados na tarimba, a quem se incumbia a elabo-
tuíram uma associação, a “União dos Arquitectos
ração de “projectos”.
da Guiné-Bissau”, que se afirma, cada vez mais,
Seja como for, assistia-se ao nascimento de
como factor de aglutinação e de uniformização da
uma profissão cuja projecção estava condicionada
linguagem técnica de profissionais oriundos das
pelas reais potencialidades do mercado, nessa al-
mais diferentes escolas, como interlocutora dos po-
tura. Alias, para todos os efeitos, o Regulamento
deres públicos e instrumento de divulgação e pro-
Geral de Edificação Urbana contava com esses prá-
moção da arte arquitectónica.
ticos, facto que testemunha o reconhecimento de
Enfim, é este o desafio com que o Arquitecto
uma profissão indispensável, desde logo, por uma
guineense se vê confrontado, demonstrar a impor-
questão metodológica.
tância e os benefícios da arquitectura e do urbanis-
Com o advento da independência, começaram
mo, lutar pela afirmação e consolidação da união
a surgir Arquitectos de formação. A nova geração
cultural arquitectónica. Neste contexto, o manual
que na segunda metade de década de setenta fize-
de boas práticas vem dar um contributo importante
ra as malas para as faculdades das diferentes Uni-
para a arte de bem projectar e construir.
versidades do exterior, regressava agora com uma
nova visão e novas preocupações profissionais.
Pouco a pouco, o Arquitecto guineense começa a
pôr em causa o seu estatuto de andaime, conquis-
“Se sonhamos, é bom sonhar sonhos grandes
e sublimes para alargar a nossa alma e enchê­‑la de
grandeza.” Maria Ulrich,(1949)
tando, palmo a palmo, o direito de estar presente no
momento da festa, exactamente na mesma posição
Arq. Domingos Fernandes
em que estaria o maestro.
União dos Arquitectos da Guiné­‑Bissau
ÍNDICE
Apresentação
5
Agradecimentos
7
Prefácio
8
Introdução
14
1. Enquadramento
18
1.1 Informação geral
19
1.2 Espaço construído: situação actual
20
1.3 Medidas de intervenção
26
2. Tipologias arquitectónicas
28
2.1 Arquitectura vernacular
31
2.2 Arquitectura colonial
42
2.3 Tendências contemporâneas
45
2.4 Construção para ecoturismo
48
3. Projecto bioclimático: princípios gerais
52
3.1 Contexto climático
55
3.2 Localização, forma e orientação
56
3.3 Sombreamento
62
3.4 Revestimento reflexivo da envolvente
69
3.5 Isolamento
71
3.6 Áreas de envidraçado e tipos de vidro
74
3.7 Ventilação natural
77
3.8 Inércia térmica
87
3.9 Arrefecimento evaporativo
90
3.10 Controle de ganhos internos
91
3.11 O uso de controles ambientais
92
3.12 Estratégias passivas e critérios de conforto térmico
93
4. Materiais de construção
98
4.1 Zinco
101
4.2 Terra crua
102
4.3 Madeira 106
4.3 Bambu 106
4.3 Pedra 107
4.4 Viabilidade económica
108
5. Energias alternativas 110
6. Água e Saneamento 114
6.1 Água
115
6.1.1 Métodos de captação
116
6.1.2 Métodos de potabilização
117
6.1.3 Abastecimento
118
6.1.4 Instalação
118
6.2 Saneamento
118
6.2.1 Latrina seca
119
6.2.2 Fossa séptica
121
7. Casos de estudo 124
7.1 Análise de três casos de estudo
125
7.2 Moradia proposta 139
7.3 Conclusões 148
7.4 Sumário: recomendações gerais para a Guiné­‑Bissau
152
Bibliografia
153
Anexos
A1 Energia solar fotovoltaica 160
A2 O sistema Líder­A
168
A3 Vegetação e conforto microclimático
186
A4 A gestão urbana e o licenciamento: revisão bibliográfica
193
A5 Desenvolvimento limpo nos PALOP
208
Autorias
212
12
{ Introdução }
A questão do desenvolvimento sustentável vem ocupando um lugar de
destaque nas sociedades, e “construir de forma sustentável” tornou­‑se,
mais do que um slogan, numa necessidade cada vez mais pertinente e determinante para a qualidade de vida.
Este estudo centra­‑se na análise dos constrangimentos que se impõem à construção nos trópicos, onde o clima é agente determinante, condicionando o desempenho dos edifícios durante o seu
tempo de vida útil. É desenvolvido para a Guiné­
‑Bissau, país africano de clima tropical, tendo
como premissas os principais problemas que afectam a construção nessa região:
> Elevados níveis de temperatura e humidade
> Défice habitacional provocado pela falta de planeamento urbano, e pelo elevado êxodo rural das populações mais pobres para os centros urbanos
> Degradação do património edificado
> Conflito entre o tradicional e a modernização
> Carência energética
> Fraco poder económico dos utentes
Há muitas definições para Arquitectura Sustentável, mas a essência da sustentabilidade está intrinsecamente ligada à essência da Arquitectura. Um bom
edifício é naturalmente sustentável.
13
“Os edifícios designados para a sustentabilida‑
de são construídos e operados para minimizar to‑
adaptação ao meio ambiente, utilizando recursos locais.
dos os impactos negativos nos ocupantes (em ter‑
As problemáticas da sustentabilidade e das
mos de saúde, conforto e produtividade), e no
alterações climáticas são frequentemente consi-
ambiente (uso de energia, recursos naturais e po‑
deradas como questões pertencentes aos países
luição)” Plainotis (2006).
ricos. O continente africano, apesar de pouco
Podemos afirmar que Vitrúvio no século I a.C.
industrializado e pouco consumista, encontra­‑se
já defendia um projecto de Arquitectura Sustentá‑
numa posição mais vulnerável do que os países
vel. O sistema firmitas, vetustas, utilitas (solidez,
desenvolvidos e fortemente industrializados.
beleza e utilidade) deveria incluir uma observação
O hiper­‑consumismo não deve ser um modelo a
da Natureza e um consequente aproveitamento
seguir pelos países em desenvolvimento que por
dos recursos naturais, com a utilização da ilu-
vezes erradamente prescrevem as tendências oci-
minação solar e da ventilação natural. Factores
dentais. Há uma necessidade latente de não se-
determinantes para a funcionalidade ambiental,
guir os maus exemplos do mundo industrializado
como a escolha do local para implantação das
e preservar uma qualidade, que podemos consi-
cidades, a disposição das vias e a orientação
derar como intrínseca à falta de riqueza financei-
das edificações deveriam reger o projecto desde
ra, que é a capacidade de reciclar e aproveitar os
o seu início.
recursos existentes.
Encontramos também práticas de sustentabi-
Os países mais ricos têm explorado os recursos na-
lidade na arquitectura vernacular, não erudita,
turais dos mais pobres, e alguns dos (poucos) ricos
de muitas comunidades. Esta incorpora tecno-
dos países mais pobres colaboram com este sistema,
logias construtivas que são o produto do conhe-
permitindo a exportação de recursos naturais a custos
cimento empírico de muitas gerações, que ao
irrisórios. O debate contra a fome, a pobreza e as do-
longo de séculos desenvolveram estratégias de
enças endémicas ocupa um lugar cimeiro em África.
14
É essencial pensar em estratégias de planea-
lação neste sentido. O que pode e deve vir do ex-
mento ecológico e desenvolvimento sustentável,
terior são as novas técnicas e concepções de cons-
de forma holística e integrada, evitando soluções
trução, que permitem uma utilização mais racional
de curto prazo e alcance. A sustentabilidade ener-
da matéria­‑prima.
gética e o uso responsável dos recursos locais de-
Apesar de medidas pontuais do sector da cons-
vem ser partes integrantes do desenvolvimento
trução fazerem alguma diferença, este só poderá
sustentável do ecossistema.
ser verdadeiramente fomentado através de um
Actualmente, a problemática da construção
novo modelo de crescimento económico, que te-
sustentável, adaptada o contexto climático, socio­
nha por base um desenvolvimento ecologicamen-
‑económico e cultural em que se insere, não se
te sustentado. Deverão ser incrementadas medi-
encontra devidamente estudada ou explorada no
das para a promoção de materiais de baixo custo,
continente africano. Existe contudo um vasto cor-
com desenvolvimento de tipologias e tecnologias
po de conhecimentos e ferramentas de análise que
de construção locais, que se revelem determinan-
permitem identificar as principais estratégias a
tes e eficientes.
utilizar no projecto de edifícios em África, – solu-
O processo participativo e a auto­‑construção
ções eficazes e económicas para um bom desem-
deverão ser integrados nesta teia sinergética de
penho do conforto interior de um edifício. O pre-
solidariedade e união colectiva, com o objectivo
sente manual pretende ser um contributo para o
de superação dos problemas de escassez de recur-
conhecimento nesta área de estudos.
sos financeiros. O arquitecto, na sua prática pro-
Uma medida indispensável é a auto­‑suficiência.
fissional, para além da utilização de materiais lo-
Os altos custos de importação poderão ser a moti-
cais e da introdução de sistemas de energias
vação para produzir e conduzir naturalmente a so-
renováveis, deve prever no projecto os espaços de
luções mais viáveis em termos ecológicos e de res-
construção prioritária e contemplar o edifício
peito ambiental – envolvendo o uso de recursos
como um organismo que pode crescer, num pro-
locais. Tem de haver uma sensibilização da popu-
cesso espacial evolutivo que acompanha o cresci-
15
mento das famílias. O abrigo evolutivo que com-
calcula­‑se que cem milhões não têm casa. O ob-
porta espaços com potencial de expansão, para a
jectivo deste Manual é sugerir medidas básicas
família em crescimento, é um elemento cultural
para a concepção de uma casa confortável, que
em África. Paralelamente, a definição dos espaços
respeite a natureza, e com custos reduzidos de
de construção prioritária é fundamental para a
construção e de manutenção. Tendo em conta o
gestão dos recursos financeiros.
clima, os recursos naturais e o contexto socioeco-
Mais de mil milhões de pessoas nos países em
desenvolvimento não têm abrigo adequado e
nómico, são traçadas estratégias de boas práticas
para o projecto arquitectónico na Guiné­‑Bissau.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
16
{ capítulo 1 }
Enquadramento
ENQUADRAMENTO
17
1.1 Informação geral
Relevo: caracterizado por planícies, galerias florestais, e ausência de acidentes orográficos, sendo o ponto mais alto na montanha Futa Djalon,
Acerca do território
região de Gabú, com 300 metros de altura.
Localização: Costa Ocidental Africana, latitude
11º5'N e longitude 15º4'E, limitada a Norte pela
República do Senegal, a Este e Sul pela República
da Guiné Conacri e a Oeste pelo Oceano Atlântico.
Superfície: 36.125 km2
População: 1.500.000 habitantes (de acordo com
os resultados provisórios do último censos 2009)
Território: composto por continente e ilhas,
subdivide­‑se num sector autónomo, Bissau, e oito
regiões – Gabú, Bafatá, Oio, Cacheu, Tombali, Quínara, Bolama/Bijagós, e Biombo.
{ FIG. 1.2 } Panorâmicas da Guiné­‑Bissau.
{ FIG. 1.1 } Guiné­‑Bissau, localização geográfica.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
18
Condições climáticas
Economia: apoia­‑se essencialmente na agricultura,
que representa 62% da actividade económica do
Clima: tropical quente e húmido, com duas estações.
País (AD, 2006ª). PIB: 173,32 bilhões FCFA (em va-
Estação húmida: de finais de Maio a Outubro,
lor), dados do Instituto nacional de Estatística.
com ventos de sudoeste, com chuvas fortes que
chegam a tingir 600 mm de precipitação, e níveis
de humidade elevados, acima dos 80% nos meses
de Julho a Outubro.
Estação seca: de Novembro a Abril, com ventos de nordeste, onde ocorrem os dias menos quentes do ano.
Temperatura: média oscila entre os 25 e 30ºC durante todo o ano.
História, cultura e economia
Recursos naturais
Constituições rochosas: xistos argilosos, grés,
doloritos, e formações lateríticas, que se encontram em quase todo o território (Oliveira, 1967).
Madeira: existe em abundância, devido à riqueza
local em espécies florestais.
Outros recursos: bauxite, fosfato, e potencialidade
de se explorar depósitos de petróleo.
História: Descoberta em 1446 pelo navegador
português Nuno Tristão, a Guiné­‑Bissau foi colónia portuguesa durante 527 anos, até à proclama-
1.2 Espaço construído:
situação actual
ção unilateral da independência a 24 de Setembro
de 1973, reconhecida por Portugal após o 25 de
A prática da construção na Guiné­‑Bissau implica
Abril (1974).
enfrentar condições climáticas específicas, e pro-
Cultura e Sociedade: marcadas pelas características
blemas de habitação e urbanismo, como as carên-
dos principais grupos étnicos – Balantas, Papéis, Bija-
cias habitacionais e infra­‑estruturais, degradação
gós, Manjacos e Felupes, essencialmente animistas, os
acentuada de edifícios, e falta de identidade urba-
Fulas e Mandingas, islâmicos, e os Beafadas e Nalus.
na, comuns a países tropicais.
{ FIG. 1.3 } Paisagens da Guiné­‑Bissau.
ENQUADRAMENTO
19
{ FIG. 1.4 } Edifício na zona antiga
da cidade de Bissau – Bissau velho,
agredido ao longos dos anos pelos agentes
climáticos, evidenciando actualmente
necessidade de reabilitação profunda.
{ FIG. 1.5 } Edifício no centro da cidade de Bissau, com todas as fachadas
sombreadas pela cobertura e envolvente arborizada.
Acções como a radiação solar, chuvas intensas e
vada humidade aumenta a sensação térmica de ca-
humidade do ar, desafiam arquitectos, engenheiros
lor, contribuindo significativamente para o aumen-
e urbanistas à criação de soluções mais sustentá-
to de desconforto. O elevado teor de humidade no
veis na procura de segurança e conforto em edifí-
exterior aumenta também o grau de deterioração
cios. A forte exposição à radiação solar contribui
dos materiais (rebocos, madeiras, metais…) por
para o sobreaquecimento, factor crítico para a ob-
acção de vegetações parasitárias e oxidação.
tenção de conforto. A protecção à radiação solar, e
a promoção de ventilação natural são prioridades
para o contexto Guineense.
A acção das chuvas pode ter um efeito erosivo,
contribuindo para o desgaste mais acentuado dos
materiais, principalmente nos aplicados no exterior
(coberturas, revestimentos de fachada, etc.), podendo também ser responsável por fissuras superficiais devido ao arrefecimento rápido das superfícies, e por humidades interiores devido a infiltrações.
Assim, ao fenómeno de sobreaquecimento pode ser
adicionado o da “sobre­‑humidificação”, pois a ele-
{ FIG. 1.6 } Fachada de tipologia importada, bastante desadequada
para a nossa região climática e cultural.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
20
As condições climáticas surgem assim como
energético em combustível, a redução da diversidade
um factor essencial a considerar no projecto de
social, a destruição da natureza circundante, entre
um edifício, seja ele moderno ou tradicional.
outros factores da expansão humana. Investigações
O urbanismo nos trópicos requer também con-
levadas a cabo por economistas latino­‑americanos
siderações relativamente a técnicas de planea-
permitiram determinar que preparar um lote com
mento e reabilitação urbanos. Nas zonas húmidas
serviços nos subúrbios para a construção de uma vi-
a movimentação do ar é necessária para a manu-
venda e custear os serviços, facilidades, transporte,
tenção do conforto. As próprias ruas devem ser
orientadas de forma a aproveitar as brisas, e a arborização não deve impedir a circulação do ar,
sendo as árvores altaneiras como a palmeira as
mais aconselháveis.
Os edifícios, tendo alguma diferença de alturas
podem promover a ventilação, e actuar no sombreamento adjacente uns dos outros. Ruas com
um traçado regular, e espaços amplos entre os
edifícios, também facilitam a ventilação.
Na densificação em baixa altura devem ser considerados os custos com a infra­‑estrutura, o consumo
{ FIG. 1.7 } “Modernização” desadequada da arquitectura tradicional.
{ FIG. 1.8 } O arquitecto deverá ter a capacidade de fazer
a simbiose entre as influências adquiridas no exterior
com as tradições e vivencias locais.
ENQUADRAMENTO
21
{ FIG. 1.9 } A integração e valorização de materiais locais associados a tipologias e materiais modernos reforçam a identidade cultural
e facilitam a integração no meio ambiente.
{ FIG. 1.10 } Arquitectura é o retrato, o resumo, da cultura
e do meio em que surge, da gente que a produz...
equipamentos, custa a um país até 16 vezes mais
que o mesmo num centro urbano consolidado.
{ FIG. 1.11 } Sombreamento de edifícios por palmeiras, com espaço
livre para ventilação natural.
O urbanismo tropical depende de soluções públicas e privadas:
O desenvolvimento de cidades intermédias como
} Melhor aproveitamento do tecido urbano, dotando­
estratégia para alívio das cidades grandes, criando­
‑o de infra­‑estruturas, e passando as actividades
‑se oportunidades de progresso entre elas, deve ser
públicas para os pisos superiores dos edifícios;
uma prática corrente. Evitar a expansão da cidade ao
} Aplicação do princípio da intensidade–densidade,
infinito e estabelecer os seus limites através de cor-
procurando­‑se equilibrar a população com a ener-
redores biológicos urbanos é uma ferramenta aplicá-
gia das suas actividades urbanas. A previsão de ex-
vel nos trópicos, com muitas garantias de êxito.
tensas áreas para a intensidade de vida urbana é
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
22
uma boa prática porque torna a cidade mais homo-
evitando o seu acesso aos rios; sobre­‑elevação
génea, e evita a segregação entre áreas deprimidas
dos edifícios do solo; previsão de áreas de reten-
e animadas;
ção para controlo da água nas grandes avenidas,
} Criação de instrumentos imediatos e efectivos (pa-
evitando­‑se inundações e erosão;
ralelamente aos planos directores), que permitam
} Manipulação do vento dentro das cidades, através
atingir objectivos urbanísticos mais precisos e urgen-
de corredores, pois permite baixar a temperatura da
tes, evitando­‑se a utopia de ordenação e o fomentar
ilha de calor, e quando associada ao solo, fachadas,
da negligência oportunista. Isso implica a definição
e coberturas jardinadas, a frescura é efectiva.
de prioridades por parte da administração, determi-
Em termos de Instrumentos de gestão urbana,
nando quais as cidades previstas, desenvolvendo ins-
ainda nos anos 90 foram aprovados o “Regulamen-
trumentos de acção e aplicando­‑os a curto prazo.
to Geral da Construção e Habitação” (actualmente
} Definição de limites dentro dos limites da peri-
designado “Regulamento Geral para a Construção
feria da cidade, permitindo maior controlo e reali-
e Urbanismo na Guiné­‑Bissau” após revisão em
zações mais efectivas;
2006), e a “Lei do Ordenamento Territorial e Urba-
} Incorporação de vegetação no desenho das ruas;
no”, para Bissau, e elaborados “Planos de Ocupa-
previsão de materiais ecológicos e adequados à ac-
ção do Solo”, para sete cidades (Bafatá, Gabú,
ção da chuva e do sol, na construção de estradas;
Farim, Bissorã, Canchungo, Buba, e Catió), que
} Correcto dimensionamento das soluções de per-
servem de instrumentos de base no uso e ocupa-
meabilização e escoamento das águas pluviais,
ção do solo (A. Ramos, 2007). O “Regulamento
{ FIG. 1.12 } Incorporação de vegetação no desenho da rua, funcionando
simultaneamente como corredor de manipulação do vento, e ao mesmo
tempo protegendo a estrada da acção das chuvas. A inclinação
das bermas é propícia ao escoamento superficial da água das chuvas,
directamente para os jardins laterais.
{ FIG. 1.13 } Edifício ecoturístico sobre­‑elevado do solo,
protegendo­‑o da humidade do terreno, relevante na época
das chuvas.
ENQUADRAMENTO
23
Geral para a Construção e Urbanismo na Guiné­
‑Bissau” regulamenta a execução de novas edificações, e de quaisquer obras de construção civil
(reconstrução, ampliação, reparação, ou demolição), ou ainda trabalhos que impliquem a alteração da topografia local, dentro do perímetro urbano, e das zonas rurais de protecção fixadas para as
sedes de Município e Sector, e para as demais localidades sujeitas por lei a planos de urbanização
e expansão (MOPCU, 2006).
No que toca à problemática da habitação, esta en-
{ FIG. 1.14 } A construção de uma cidade moderna implica: organização
e planeamento participativo; promoção da mudança de mentalidade;
e investimento (rentabilização da cidade e captação de recursos).
globa invariavelmente o alojamento, infra­‑estruturas
sanitárias e de saneamento, energia, educação, equipamentos, e emprego, mais especificamente no respeitante às suas carências. Actualmente a carência
habitacional predomina na capital (onde se situam os
principais equipamentos colectivos) devida em parte
ao enorme êxodo rural, e à falta de planeamento urbano. A malha urbana não tem acompanhado a evolução
da cidade, adoptando­‑se pelo contrário soluções de
urbanização de mais bairros e de concessão de terrenos para a construção de forma liberal, sem conside-
{ FIG. 1.15 } Perante a actual situação económica, as relações
entre a Arquitectura/Planeamento urbano e o trópico devem ser
encaradas, principalmente em termos da contribuição que possam
trazer para o rendimento do nível económico e social das classes
ainda hoje marginalizadas da evolução e do progresso da técnica,
e que representam a imensa maioria entre os que vivem nos trópicos.
rações no âmbito do saneamento básico, ou infra­
‑estruturação de apoio (instalações eléctricas, redes
de abastecimento de água, telefone, ou mesmo vias
de acesso). A falta de manutenção dos edifícios e
infra­‑estruturas antigas é apenas mais um factor determinante na degradação da cidade.
Assim, no panorama actual identificam­‑se os seguintes problemas:
} Falta de identidade urbana nas principais cidades, gerada pela construção livre e espontânea
{ FIG. 1.16 } Edifícios na zona de Bissau velho evidenciando degradação
dos materiais exteriores e aparecimento de vegetação indesejada.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
24
} Carência em termos de infra­‑estruturas habita-
do­‑se também propostas de Pereira (2001) e A. Ra-
cionais, de transportes colectivos, energia, higie-
mos (2007):
ne e saneamento básico
}Desenvolvimento de políticas de promoção à ha-
} Degradação acentuada de edifícios coloniais e
bitação e acções de saneamento, definindo­‑se os
vias de circulação
objectivos, as prioridades, e os instrumentos ne-
} Deficiência no fornecimento de energia eléctrica
cessários à sua implementação
} Desconforto no interior e rápida degradação dos
}Desenvolvimento de políticas de expansão, e de
edifícios em geral devido a agentes atmosféricos
conservação ou recuperação do património arqui-
} Transição das casas vernaculares típicas no meio
tectónico e infra­‑estrutural colonial
rural, para moradias atípicas
}Investimento em tecnologias e materiais de
construção de fabrico local, mais adequados ao
clima, com vista à redução das necessidades de
1.3 Medidas de intervenção
importação e aumento do conforto e durabilidade
}Promoção da coordenação entre as diversas áre-
No diagnóstico da construção e habitação na Guiné­
as intervenientes na cidade (transportes, comér-
‑Bissau propõe­‑se possíveis soluções, consideran-
cio, indústria, etc.);
{ FIG. 1.17 } Edifícios contíguos numa das principais avenidas da cidade
de Bissau (Mercado de Bandim), evidenciando características arquitectónicas e construtivas bastante diferentes entre si, e independentes dos
edifícios típicos do centro da cidade, na sua maioria coloniais. Por um
lado um edifício de 2 pisos com comércio no rés­‑do­‑chão e armaduras de
espera para o seu prolongamento em altura, tipificando uma construção
que tem proliferado na sub­‑região ocidental africana; a cobertura é plana
e as fachadas a descoberto, com elementos estruturais em betão armado.
Por outro lado uma habitação horizontal de baixo custo, com paredes de
adobe, e cobertura de zinco de 4 águas, protegendo as 4 fachadas.
Este tipo de construção é típico dos arredores da cidade e no interior,
tendo vindo a substituir a tradicional palhota de colmo e taipa.
ENQUADRAMENTO
25
{ FIG. 1.18 } “Bungalow” inserido
no logradouro de um conjunto
habitacional tirando partido
do sombreamento natural
e dos materiais locais:
revestimento de pedra,
que resiste bem ao desgaste
provocado pela acção das chuvas,
cobertura em colmo, bastante
mais fresco, protegendo do calor
intenso, e revestimento interior
em esteiras feitas com taras
de cana e bambu local.
No pavimento aproveitamento
de pedaços irregulares
de cerâmica partida.
}Criação de incentivos e mecanismos para o fo-
}Maior planificação, traduzido em planos de urbani-
mento de uma participação mais activa do sector
zação, acompanhados de redes eléctricas, e de sane-
privado, através de investimentos no mercado
amento básico (água, esgotos, recolha de lixo, etc.)
imobiliário, construção civil e obras públicas
}Reabilitação ponderada dos edifícios, adequando­
}Criação de um plano estratégico de formação de
‑os à realidade urbana actual
técnicos, a diversos níveis, com competência para
}Investimento em tecnologias associadas às
implementar e executar as políticas definidas para
energias renováveis
os diversos sectores
}Melhoria dos projectos, com vista à diminuição
}Promoção de acções e campanhas com vista à
de necessidades energéticas em edifícios
mudança de mentalidades e promoção de compor-
}Requalificação e integração dos edifícios exis-
tamentos de cidadania adequados à vida urbana
tentes, para que apresentem as necessárias condi-
}Criação de mecanismos de controlo da qualidade e
ções de habitabilidade
tipo de construção, bem como instrumentos de ges-
}Adopção de regras construtivas que propiciem
tão urbanística, que evitem o caos urbanístico
maior conforto no interior dos edifícios
}Valorização das características da habitação
tradicional
No próximo capítulo são descritas as principais
}Desenvolvimento de políticas de encorajamento
tipologias arquitectónicas existentes na Guiné
das populações rurais à fixação nos seus locais
Bissau – sendo de seguida traçadas estratégias de
tradicionais de residência; criação das autarquias
sustentabilidade, em termos do projecto bioclimá-
regionais, e desenvolvimento dos equipamentos
tico dos edifícios, do uso de energia, da àgua, e
colectivos adequados
do saneamento.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
{ capítulo 2 }
Tipologias arquitectónicas
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
27
Na Guiné­‑Bissau identificam­‑se, de forma geral, qua-
{ 2 } Arquitectura colonial – moradias construídas
tro tipologias arquitectónicas: a arquitectura vernacu-
no período de administração portuguesa no centro
lar, a arquitectura colonial, a arquitectura contempo-
das principais cidades (Cacheu, Bolama, Bissau,
rânea corrente, e também as recentes edificações para
Gabú…), abarcando diferentes estilos, elementos
ecoturismo. Na arquitectura tradicional, encontram­‑se
formais e técnicas construtivas.
soluções construtivas simples, inspiradas na segurança, no conforto e em crenças religiosas, patrimónios
de grande valor cultural, reveladores de profundos conhecimentos empiricamente adquiridos. Na arquitectura típica colonial a utilização da régua e do esquadro é mais evidente, com intervenção clara de técnicos
especializados, bem como nos edifícios com tendências contemporâneas, actualmente distribuídos um
pouco por todo o território.
{ 1 } Arquitectura vernacular – casas de palha, em
zonas rurais, com paredes de taipa ou adobe e cobertura de colmo.
{ FIG. 2.2 } Edifícios da época colonial, com varanda saliente.
{ FIG. 2.1 } Arquitectura vernacular:
Casa do Régulo de Gabú.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
28
{ 3 } Tendências contemporâneas – moradias contem-
{ 4 } Construção para ecoturismo – com predilecção
porâneas com elementos estruturais de betão armado,
pelo uso de materiais naturais como a terra, a madei-
paredes de tijolo cerâmico ou blocos de betão, e co-
ra, e o colmo.
bertura de telha, na periferia dos centros urbanos;
{ FIG. 2.3 } Edifício contemporâneo atípico construído no alto Bandim.
Característica
Descrição
{ FIG. 2.4 } Construção para ecoturismo.
Tipologias
Vernacular
Colonial
Contemporânea
Ecoturismo
Rural
Tipo de inserção
Urbano
Periurbano
Taipa
Adobe
Materiais de parede
Adobe reforçado
Blocos de betão
Tijolo
Colmo
Zinco
Materiais de cobertura
Aluzinco
Fibrocimento
Telha
Betão
Público
Promotor
Privado
Cooperativa
Autoconstrução
Unifamiliar
Tipo de uso
Colectiva
Administrativo
{ QUADRO 2.1 } Classificação das tipologias arquitectónicas da Guiné­‑Bissau. Casas a cinzento indicam ocorrências que não correspondem
à situação típica ou mais usual.
O tipo de construção pode ainda ser distinguido
consoante os agentes, que se dirigem a estratos socioeconómicos diferentes. Por um lado a promoção públi-
Condições de segurança
Materiais de construção
ca destinada essencialmente a famílias com fraco po-
Meio físico
der económico, por outro o sector privado que promove
Actividade económica
habitações para um estrato social economicamente
Modos de vida
Casa
mais estável (rendimentos médios a elevados), e num
plano intermédio o sector cooperativo, que procura
{ FIG. 2.6 } Relações funcionais entre a casa e o meio ambiente.
responder às necessidades de uma pequena burguesia,
organizando­‑se normalmente nos ministérios ou instituições, destinado aos funcionários. Existe ainda a
do território, na construção das habitações e mate-
construção popular não consolidada em espaço urba-
riais utilizados, bem como na simbologia e crenças
no, não controlada pelos mecanismos administrativos,
religiosas. Tal diversidade poderia ainda estender­‑se
praticada em ambiente peri­‑urbano ou infiltrada em
à gastronomia, práticas rituais, manifestações festi-
bairros já existentes, sem qualquer plano de base.
vas e actividades de natureza económica.
A arquitectura vernacular engloba as habita-
2.1 Arquitectura vernacular
ções mais ancestrais do território, designadas “casas de palha”, cuja técnica de construção foi sendo transmitida de geração para geração. Esta
A sociedade guineense possui uma multiculturalida-
arquitectura de autoconstrução, espontânea e sem
de caracterizada pelas diversas etnias, cerca de 30,
intervenção de técnicos especialistas, respeita no
cujas particularidades se reflectem na língua, usos e
entanto uma ordem interna com fundamentos nos
costumes, na organização espacial e ordenamento
usos e costumes seculares dos diversos grupos étnicos, os quais conservam a sua tradição.
As casas de arquitectura vernacular encontram­‑se
distribuídas pelo país com características globais muito próximas e detalhes únicos conforme o grupo étnico, estabelecendo­‑se entre a casa e o meio ambiente
as relações funcionais focadas na { FIGURA 2.6 }.
Tradicionalmente a população rural tem as suas actividades repartidas entre a agricultura, a pesca e a
{ FIG. 2.5 } Distribuição dos grupos étnicos pelas regiões.
pastorícia, o que influencia a organização das habita-
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
29
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
30
ções em moranças1 dispersas ou concentradas. Por
vas, Março ou Abril, e decorem em média 2 meses,
exemplo o grupo Balanta sendo dedicado à agricultura
desde o levantamento das paredes até à execução da
assenta­‑se em moranças dispersas por bolanhas (pân-
cobertura. Primeiro escolhe­‑se o local, cumprem­‑se as
tanos para o cultivo do arroz), enquanto os Bijagó que
praxes cerimoniais religiosas, e antes de se iniciar a
se dedicam mais à pesca, e os Manjaco dedicados a
construção propriamente dita, a planta da casa é tra-
culturas rotativas, apresentam moranças concentradas.
çada numa clareira, com todas as suas divisórias.
O conjunto de várias moranças forma o povoamento.
Não há intervenção de pessoal especializado, é
Os povoamentos com moranças dispersas vão
o próprio interessado que edifica a sua casa, re-
usufruir de melhores condições de ventilação natu-
correndo à ajuda de parentes ou amigos, em troca
ral, embora todos sejam inseridos em meios natural-
de qualquer tipo de remuneração, em geral, gado
mente arborizados por árvores altaneiras, que não só
abatido e comido em comunidade, acompanhado
promovem a ventilação, como também conferem um
de algumas bebidas espirituosas.
adequado sombreamento às habitações, e protecção
contra a acção directa da água das chuvas.
As paredes são erguidas por camadas de 1 metro,
com barro amassado com palha de arroz para aumentar­
As técnicas de construção associadas a alguns
‑lhe a consistência, e após o endurecimento ao sol da
grupos étnicos apresentam­‑se de seguida, de acordo
primeira camada, é colocada a camada seguinte, até
com o seu modo de vida. Foram consultadas obras de
se atingir os 3 metros de altura. Nos intervalos de es-
diversos autores para a elaboração do texto seguida-
pera para o endurecimento das camadas, reúne­‑se o
mente apresentado sobre arquitectura vernacular,
material necessário para a fase seguinte: paus para o
nomeadamente de J. Araújo, Franklin Sousa, Augus-
forro, geralmente paus de mangal, por serem mais re-
to Lima, A. Meireles, Avelino Mota, Ventim Neves, e
sistentes e menos vulneráveis ao ataque dos bichos,
Fernando Quintino (em A. Mota, ed., 1948).
canas para o ripado do telhado, fibras para as ligações,
extraídas de pau de cibe, e colmo para a cobertura.
Balanta
As habitações Balanta são caracterizadas por paredes de barro, cobertura de paus rijos revestidos
de capim, sobre um forro (tecto).
As construções são iniciadas na época seca, durante os meses mais quentes a seguir ao período das chu1. Agrupamentos de casas de indivíduos pertencentes à mesma
família, ao mesmo grupo etário, ou género.
{ FIG. 2.7 } Casa vernacular Balanta, evidenciando­‑se a constituição
da cobertura por colmo aplicado sobre uma trama de bambu e paus
de mangal. As paredes são de adobe ou taipa, e os pilares de tronco
de palmeira.
Ao mesmo tempo que se constroem as paredes,
tidade de gado a recolher, etc. A preocupação
fazem­‑se recipientes no interior, também em bar-
com a segurança está patente não só nos mate-
ro, para guardar o arroz, os quais não poderiam
riais empregues, como na arquitectura interior
depois entrar pelas portas. O pavimento é feito de
da habitação, e deve­‑se maioritariamente aos
terra batida, levando uma camada de barro mistu-
costumes desta etnia, onde aos jovens é permiti-
rado com palha de arroz, e em alguns casos excre-
da uma vida boémia tal, que leva à existência de
mentos de animais. Não são feitas fundações, sen-
roubos de natureza engenhosa e demais actos
do essa camada de reforço que impede que a água
menos lícitos. Com a actividade económica base-
das chuvas afecte a base das paredes.
ada na cultura de arroz, são projectados nas ha-
O tamanho da casa é função das necessidades
bitações espaços próprios para o armazenamento
do chefe de família: número de mulheres, número
deste, denotando uma preocupação óbvia com a
de filhos, quantidade de arroz a armazenar, quan-
segurança contra roubos.
{ FIG. 2.8 } Forro da cobertura, em quirintin, que não só protege o interior da habitação em caso de incêndio, como também permite
a sua ventilação adequada, sendo ainda utilizado para guardar lenha no tempo das chuvas. O quirintin é um entrançado de varas de bambu,
muito utilizado na construção vernacular guineense.
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
31
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
32
A ocupação profissional determina a localização
vada, mantendo­‑se em bom estado de conserva-
das povoações, nas proximidades dos pântanos
ção durante anos. Apenas o colmo tem de ser
onde é cultivado o arroz, de onde advém porém al-
substituído regularmente. Este funciona como
guns inconvenientes como a proliferação dos mos-
bom isolante, e encontra­‑se em abundância, sen-
quitos. Consequentemente, o Balanta atribui uma
do o único inconveniente a humidade proveniente
disposição especial às suas casas, dotando­‑as em
das chuvas, e a acção de insectos.
geral de quartos sem janelas, e havendo alguma, é
A casa tradicional típica de forma arredondada,
pequena, no quarto do dono da casa e virada para
possui uma parede direita na fachada principal,
a varanda. A ventilação é feita através de pequenos
donde se alarga uma varanda em arco, que serve
orifícios vedados com 10 cm de diâmetro.
não só de cozinha, como também de sala de visi-
A cobertura de colmo seco, torna o perigo com
tas e de refeitório.
o fogo bastante real, logo, as casas levam um forro especial, constituído por um gradeamento de
madeira revestido de barro, sobre o qual assenta a
estrutura do telhado.
Bijagó
Os Bijagós vivem num arquipélago composto por
Por todos os cuidados já referidos, a habitação
ilhas muito próximas umas das outras, com árvo-
caracteriza­‑se também por uma longevidade ele-
res imponentes, e plantas herbáceas e sub­
‑arbustivas. As suas habitações apresentam um
carácter concentrado no meio da arborização.
Neste grupo étnico as casas são predominantemente circulares, construídas com recurso aos seguintes materiais:
} Barro: terra vermelha amassada com água, em
proporções livres (quanto baste);
} Cana: utilizada para suportar a cobertura, abundante em algumas ilhas, e com uma forma mais
direita para o assentamento da palha, o que a torna esteticamente mais agradável do que as varas
de mangal; no entanto, a única preocupação é encontrar tamanhos razoáveis de um ou de outro que
alcancem do cume ao beiral da casa;
{ FIG. 2.9 } Planta de uma casa bijagó.
} Corda: tiras das folhas de palmeira, previamente
batidas e metidas em água, de forma a perderem a
enquanto as paredes são elevadas pelas mulheres
seiva, propícia aos insectos, conservando malea-
casadas, e a cobertura executada pelos homens.
bilidade e rigidez;
A casa principal de forma cilíndrica tem um raio
} Colmo: capim entrançado e tecido ao chão, para de-
médio de 2,20 m e a altura de 3,60 m. Neste espaço
pois ser colocado por cima da estrutura da cobertura.
encontram­‑se as camas em terra batida destinadas
No local onde vai ser erguida a habitação é
aos donos da casa, bem como a cozinha que con-
marcado o centro da habitação com um pau crava-
siste em 3 pedras onde assenta o caldeirão. As por-
do no chão. A partir deste traçam­‑se três circun-
tas desta divisão possuem 1,60 m de altura por 46
ferências concêntricas, correspondendo o círculo
cm de largura, com 10 cm de soleira, para o interior
interior à casa principal, o espaço livre entre este
e para o exterior. As paredes da casa têm uma es-
e a circunferência intermédia é utilizado como va-
pessura de 30 cm. O tecto encontra­‑se a 2 metros
randa interior ou corredor, e por fim a varanda ex-
de altura, e é constituído por 6 traves de pau de
terior é limitada pelo círculo exterior.
O processo construtivo inclui 3 fases, elevação
das paredes, alisamento do pavimento e execução
da cobertura. A elevação das paredes é feita de dois
em dois dias, por camadas, dando um dia de intervalo para a secagem das camadas de barro. Nos dias
de intervalo alisa­‑se o chão com palmatórias de
madeira e deitando­‑lhe água. A tarefa de amassar o
barro é da responsabilidade das mulheres solteiras,
{ FIG. 2.11 } Armação para a parede e cobertura de uma casa fula.
{ FIG. 2.10 } Instalação sanitária exterior à casa – Ilha de Bubaque.
{ FIG. 2.12 } Pormenor de uma parede Fula, com uma base
de entramado de canas rebocada com barro, lembrando a técnica
da taipa de fasquio ou tabique.
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
33
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
34
mangal entrançado, atravessados por cima por ou-
de hóspedes. A varanda exterior circunda toda a
tros troncos agarrados uns aos outros, deixando um
casa, numa largura de 1m, e altura de 1m.
espaço lateral livre de um metro que permite subir
A casa não tem janelas, e as portas são feitas
para a espécie de sótão que se forma por cima,
com madeira do Poilão (árvore tropical de troncos
e permitindo ventilar a cobertura.
fortes). No topo da cobertura é executado um remate
O corredor ou varanda interior em geral com dois
de sensivelmente 40cm, composto por um pau verti-
metros da largura, é limitado exteriormente por uma
cal amarrado ao travejamento e forrado com o colmo
parede circular intermédia de 1,80m de altura, e es-
da cobertura. Este elaborado remate tem o fim útil
pessura de 20cm. Este espaço compreende uma sala
de evitar a infiltração das águas da chuva.
de visitas, um quarto, um pequeno hall, e um quarto
Estas casas, típicas palhotas redondas beneficiam de um sombreamento eficaz, conferido pela
cobertura, prolongada quase até ao chão. Aliado ao
isolamento do forro, e do colmo, e à ausência de
janelas, a frescura interior fica garantida. A grande
inclinação da cobertura garante um bom escoamento da água das chuvas, e menor exposição solar.
Fula
{ FIG. 2.13 } Remate da armação da cobertura.
O material preponderante na construção de uma casa
fula é sem dúvida o bambu. Com secções de 3 a 5 cm,
o bambu é cortado longitudinalmente em 4 partes, e
após retirar­‑se o revestimento interior, é tecido em esteiras, formando uma estrutura mais espessa que será
o principal constituinte das paredes (quirintin), construídas fixando este entrançado de bambu a estacas
previamente espetadas no chão, posteriormente revestido de lama no interior e no exterior, ou alternativamente em apenas uma das faces.
A estrutura da cobertura é construída em separado
também com canas de bambu, previamente secas, e só
{ FIG. 2.14 } Pormenor da armação de uma cobertura (região de Tombali).
depois colocado sobre as paredes da casa, com compri-
mento até 2 metros. Caso as paredes sejam muito al-
vés de um sistema de grades com paus de mangal a
tas, a cobertura constrói­‑se directamente sobre elas. O
aguentarem paus de tara unidos, atravessados por
revestimento de colmo é disposto por camadas de bai-
cima. Sobre as taras são colocadas folhas de bana-
xo para cima, e rematado com um tufo de capim, cuja
neira ou palmeira de modo a evitar que a camada de
principal função é barrar a entrada da água das chuvas
barro que se lhe sobrepõe caia para o interior.
na junção das estacas da estrutura da cobertura.
A camada de barro evita a propagação rápida do
fogo em caso de incêndio por queda directa do col-
Manjaco
mo da cobertura para o interior da casa. Desta forma
pode­‑se ganhar um tempo de resistência ao fogo de
Os Manjacos utilizam maioritariamente a forma rec-
30 minutos, o suficiente para pôr a salvo as vidas hu-
tangular, desde a época colonial, com o objectivo
manas, os animais e o recheio da habitação.
de reduzir o valor dos impostos, que incidia sobre o
A construção da cobertura inicia­‑se logo após
número de quartos da habitação, e na casa rectan-
a secagem da camada de barro colocada por cima
gular é possível aproveitar bem o espaço sem efec-
do forro do tecto. A estrutura da cobertura de duas
tuar muitas subdivisões.
(ou quatro) águas é sustentada por colunas de
Os materiais utilizados são o barro amassado
pau de mangal ou pau carvão, que partem do forro
com a água e os paus de mangal. O barro é extra-
ou do chão e terminam em forquilha, permitindo
ído perto do local onde se pretende erguer a habi-
assentar o pau de fileira também do mesmo mate-
tação, sendo molhado com água e amassado for-
rial (cumeeira da cobertura). Deste último partem
mando pequenas bolas.
outros paus, que vão até ao beiral da cobertura,
No local escolhido, é feito um alicerce com pro-
onde são amarrados com cordas de palmeira, bem
fundidade entre 10 a 50cm, no contorno das pare-
como todos os outros paus entre si, pois não há
des exteriores, com a largura destas (20 a 25cm).
recurso a pregos nesta construção. De seguida
O alinhamento das paredes é feito com cordas de
palmeira e pequenas estacas, e estas são erguidas
por camadas de entre 40 a 70cm (sendo mais comum as camadas serem de 50cm), alisadas com pá
de arado, que levam em média 5 dias a secar e ganhar consistência, período de espera entre a execução de duas camadas sucessivas.
Após as paredes estarem completamente erguidas, constrói­‑se o forro ou tecto a 2m do chão, atra-
{ FIG. 2.15 } Casa vernacular Manjaca – sector de Canchungo.
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
35
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
36
executa­‑se a ripagem por cima destes, com canas
quarto do dono da casa. Nos restantes compartimen-
amarradas também com cordas de palmeira.
tos são abertos buracos circulares ao nível do chão
À volta das paredes exteriores da casa é ergui-
entre 3 e 6, com 7 a 8cm de diâmetro, ou quadrados
da uma varanda com uns 20cm de altura acima do
com 15cm de lado. As portas de madeira de poilão,
chão e com largura variável entre 1 e 1,5m, cuja
são colocadas a 30 ou 40cm acima do nível do chão,
função principal é proteger a habitação da pene-
com dimensões variáveis, sendo comuns alturas en-
tração da água das chuvas. Por último a casa é co-
tre 1 e 1,2m, e larguras entre 60 a 80cm.
berta com palha, vinda das lalas ou do mato e entrançada com corda feita de tara.
Estas habitações caracterizam­‑se pela inexistência quase total de janelas. Para a ventilação e claridade, são abertos orifícios quadrados de 30cm de
lado, a uns 2 metros de altura, geralmente apenas no
Mancanha
A casa rural dos Mancanhas situa­‑se geralmente à
sombra de um poilão, de mangueiros ou cajueiros
no interior de um pequeno bosque. A proximidade
das lalas é evitada principalmente devido à acção
dos mosquitos, mais acentuada nas zonas onde
assentam (sectores de Bula, Canchungo e Farim).
As habitações são redondas nas moranças dos homens grandes ou rapazes que já constituíram família (tantas quanto o número de mulheres que
possuem), e quadradas ou rectangulares no caso
de jovens até a idade dos 14 anos.
As palhotas redondas são constituídas por paredes de taras de bambu, revestidas com lama argilosa, e cobertura de palha em formato de sino,
enquanto as casas rectangulares são de paredes
de adobe, as primeiras com maior conforto térmico do que as segundas, por serem mais ligeiras,
e levarem o revestimento de barro.
O processo construtivo inicia­‑se com a fixação das estacas de cibe ou de pau carvão no solo,
com comprimentos entre 1,5m e 2m, que servem
{ FIG. 2.16 } Interior de uma cobertura Manjaca com folhas
de palmeira e armação de troncos.
de suporte à armação da palhota (construída à
37
parte, pelos “homens grandes”, os únicos capa-
primeiro à ventilação natural, e da inércia térmica da
zes de iniciar na perfeição a execução desta ar-
segunda, principalmente se o revestimento for pelo
mação interior). Depois de concluída, a armação
exterior, originando habitações interiormente mais
é colocada por cima do conjunto de estacas, e
frescas. As paredes de terra maciça também tiram
coberta de colmo tecido com fibras de palmeira
partido da inércia térmica do material, sendo massas
de modo a formar uma passadeira que é desenro-
térmicas eficazes no combate ao calor exterior.
lada por cima da armação da casa. De seguida
A planta de forma redonda foi a tradicionalmente
monta­‑se o quirintin que serve de parede, levan-
mais utilizada, com telhado geralmente cónico, de
do por cima um revestimento de lama. Por fim
secção convexa, recta ou em forma de sino, associada
monta­‑se o tecto, uma espécie de forro feito com
a crenças animistas de que o espírito dos antepassa-
canas, e a porta de madeira.
dos permanece assim no interior da habitação.
Nas palhotas a armação da cobertura é consti-
A estrutura de sustentação do telhado é consti-
tuída por um ripado de canas cruzadas formando
tuída por canas amarradas, que podem vir directa-
uma espécie de grelhas, e nas casas rectangulares
mente apoiadas nas paredes exteriores, ou pelo
por cibe atravessado por canas presas à armação
contrário em estacas independentes, neste caso
com fibras de palmeira.
com maiores vantagens para a ventilação natural,
As casas de arquitectura vernacular podiam há
pois assim a cobertura fica suspensa sobre a habi-
umas décadas atrás ser classificadas de acordo
tação funcionando como uma pala, muito bem are-
com a sua forma, técnica de construção utilizada
jada. Por outro lado, quando a cobertura vem apoia-
e os materiais aplicados.
da directamente sobre as paredes, também existe
As paredes ligeiras de entrançado de bambu salpicadas de lama beneficiam da permeabilidade do
possibilidade de ventilação pela armação desta.
Noutros grupos as estacas são ainda apoiadas
numa viga transversal de madeira, e num conjunto
de canas ou ramos (Blazejewicz,1983).
A forma rectangular surgiu durante o período
colonial, sendo actualmente a mais utilizada em
quase todos os grupos étnicos, com telhados de
duas ou quatro águas. Ainda na etnia Balanta
encontra­‑se a casa típica de forma arredondada,
com varanda fechada ao redor.
{ FIG. 2.17 } Entrada de um povoamento Mancanha.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
38
Casas de paredes de terra maciça, com a cobertura apoiada nestas ou em prumos.
Bijagó, Papel: Casas redondas de paredes espessas
em terra;
Grupo 1
Balanta: Casas arredondadas com paredes muito finas;
Papel
Manjaco: Conforme a região, encontram-se casas de
planta em coroa elíptica, coroa circular, (Pecixe e Caió
respectivamente); Nos da região de costa baixo as
paredes não têm função resistente, vindo a cobertura
e o forro assentes em prumos de madeira;
Balanta
Felupe: Casa redonda ou rectangular de paredes
espessas.
Manjaca
Casas de paredes ligeiras feitas de entrançados de bambu ou tara salpicados com lama, revestindo os prumos
de suporte da cobertura, que é independente das paredes.
Grupo 2
Mancanha: Casas redondas com paredes de taras
de bambu (quirintin);
Casas de paredes constituídas por terra amassada com palha de esteiras de bambu, ligadas aos prumos
de suporte da cobertura.
Fula, Mandinga: Casas redondas com paredes feitas
com armação de esteiras de bambu (quirintin) ou
palha (a mesma da cobertura) revestidas com lama;
Grupo 3
Nalus, Beafada: Casas redondas com paredes
construídas com prumos verticais e varas horizontais,
preenchidas com lama.
Mancanha
Fula
Nalu/Beafada
{ QUADRO 2.2 } Tipos de Habitação Vernacular.
Tendo em conta a divisão interior, as casas
A predilecção ancestral da forma redonda sobre
apresentam uma arquitectura simples, com divi-
a quadrada embora tenha conotações religiosas e
são interna ou sem divisão interna, neste último
de culto, pode eventualmente dever­‑se ao facto da
com varanda exterior dividida e aproveitada.
forma redonda termicamente funcionar melhor.
A adopção de plantas simples e varandas exterio-
O modelo de casa tradicional apresenta agora
res, são estratégias interessantes, no sentido em que a
características mais uniformes por todo o territó-
primeira diminui a possibilidade de formação de ilhas
rio nacional, independentemente da localização
de calor, evitando a existência de muitos obstáculos, e
geográfica, ou do grupo étnico dominante. As ca-
consequentemente de zonas activas. A segunda opção
racterísticas individualizadas por regiões vão de-
tem a vantagem de proteger não só as paredes da ac-
saparecendo, porque a distribuição dos grupos ét-
ção directa do sol e das chuvas, mas também de con-
nicos também tem­‑se tornado mais homogénea,
ferir a sobre­‑elevação necessária para a habitação su-
sendo mais difícil encontrar uma região apenas
portar a humidade do solo, e a corrente das chuvas.
com um único grupo étnico.
Cónico – Fula
Secção recta – Nalu
Forma de sino – Mancanha
{ FIG. 2.18 } Tipos de telhados – Casa circular.
Colmo
Cana de Bambu (30 cm) amarrada
com tiras de palmeira
Cibe com 40 a 50 cm
Cana de Bambu (com 40 a 50 cm)
Cibe
{ FIG. 2.19 } Pormenor da armação da cobertura – Manjaca.
Fio da folha
de palmeira
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
39
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
40
{ FIG. 2.20 } Tipos de telhados
– Casa rectangular.
Quatro águas – Balanta
Duas águas – Manjaca
A forma dominante é a rectangular, com paredes
finitiva, em detrimento da casa vernacular, caracteri-
de blocos de adobe simples ou taipa, e cobertura de
zada de precária, não é imparcial na promoção da ha-
palha ou chapa de zinco. Esta última embora pior em
bitação e urbanismo locais.
termos de desempenho térmico, é muito utilizada
pela facilidade de montagem e baixo custo da chapa,
e por não necessitar de substituições periódicas,
2.2 Arquitectura colonial
como acontece no caso da cobertura de colmo.
Continua a ser muito usual a existência de varan-
A arquitectura colonial surge associada às edificações
da ao redor de toda a casa, num patamar sobreleva-
construídas durante a época de administração portu-
do do chão em cerca de 20 a 50cm, com a cobertura
guesa, e varia nas suas características, desde constru-
apoiada em paredes, e em pilares de cibes. A varanda
ção maciça setecentista, a estilos mais ecléticos do
sombreada protege as paredes dos raios solares, e da
início do século 20, moradias típicas dos anos 40 a 60,
água das chuvas, e o espaço entre a cobertura e as
até edificações acentuadamente modernistas.
paredes promove a ventilação natural. A existência
Os edifícios são na sua maioria moradias de pé­
de vãos maiores e mais normalizados também é ac-
‑direito elevado, e varandas largas, isoladas com lo-
tualmente uma característica constante.
gradouro à volta, ou prédios de um andar, com rés­
Um facto também muito comum tem sido o apare-
‑do­‑chão reservado ao comércio e varanda superior
cimento de construções contemporâneas de um ou
saliente. A cobertura é em geral de telha, usando­‑se
dois pisos em meio rural, na sua maioria de imigrantes
também o fibrocimento num período mais recente.
que querem aproveitar o terreno anteriormente rural,
Com a independência, a Guiné herdou um con-
para edificar uma nova habitação. O resultado é a de-
junto edificado de características específicas, bem
sintegração da paisagem rural, e a perda de traços tra-
como infra­‑estruturas de apoio, deixadas essen-
dicionais e históricos da uma cultura nativa. A posição
cialmente nas cidades de Bissau, actual capital,
das autoridades administrativas, bem como o fomento
Cacheu, Bolama, Gabú e Bafatá, que foram impor-
ao desenvolvimento de habitações de construção de-
tantes entrepostos comerciais na época.
A cidade de Bissau apresenta a estrutura organizacional típica das principais cidades dos
acréscimo demográfico que se deu na capital. É o
caso dos bairros de Santa Luzia e Ajuda.
países que passaram pela colonização portugue-
Nos bairros sociais, as habitações são quase to-
sa, caracterizada por uma praça central, rodeada
das de planta rectangular, com um alpendrado na fa-
de edifícios administrativos, a partir da qual esta
chada principal, providenciando uma boa protecção
cresce, em traçado regular, até atingir a perife-
à acção directa dos raios solares. Os materiais de
ria, onde podem ser encontrados bairros habita-
construção utilizados são blocos de betão, e cober-
cionais para os colonos e alguns para alojamento
turas de zinco, fibrocimento, ou telha.
da população local.
No bairro de Santa Luzia, a malha urbana mostra
Até 1914 Bissau limitava­‑se entre o porto e as
um esquema de habitações alinhadas ao longo das
imediações da fortaleza de S. José de Amura, par-
estradas, notando­‑se um planeamento tipo régua e
te da cidade até hoje designada de Bissau velho,
esquadro, com espaços livres para ventilação, bas-
por ser a sua zona mais antiga.
tante diferente do arranjo funcional mais concen-
A expansão e crescimento para além do forte,
trado dado pela população rural nas suas casas tra-
deu­‑se apenas na década de 20, procedendo­‑se à
dicionais. A funcionalidade destas habitações não
abertura de mais ruas, construção da catedral, ce-
constituiu uma resposta eficaz às necessidades da
mitérios, de entre os equipamentos colectivos.
população alvo na altura, mas hoje em dia, esses
Na cidade de Bissau, existem ainda hoje, bairros
bairros constituem importantes núcleos habitacio-
habitacionais de casas sociais para as populações
nais, solucionando parte da problemática que o
locais que surgiram na época colonial, devido ao
país enfrenta, no que toca à habitação na capital.
{ FIG. 2.21 } Edifício da época colonial, em Bissau
{ FIG. 2.22 } Casa colonial.
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
41
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
42
O pé­‑direito elevado das construções coloniais,
as varandas superiores salientes, janelas grandes e
palas por cima dos vãos denotam uma preocupação
adicional na protecção contra o calor, humidade do
solo e promoção da ventilação no interior.
Eram na altura delineadas algumas recomendações de projecto, por exemplo prevendo uma sobre­
‑elevação em altura das construções em 50cm, deno-
{ FIG. 2.23 } Casa Nunes e Irmão, com comércio no rés-do-chão
e habitação na zona superior.
tando preocupações com a humidade do solo.
Existem preocupações adicionais com a orientação,
e a disposição das moradias, de forma a facilitar a
ventilação. As varandas são por vezes fechadas, para
a protecção contra os mosquitos, o seu pavimento
um degrau abaixo do interior da habitação, para que
a água das chuvas não penetre. A sua cobertura revestida inferiormente, para que a camada de ar que
aí se forma, actue como câmara isolante.
{ FIG. 2.24 } Avenida de ligação entre a praça dos heróis nacionais
e o Cais, onde se encontra grande parte dos edifícios
administrativos herança da época colonial.
Os blocos de cimento vazados também utilizados na construção colonial eram produzidos com
areia e inertes de dimensão mais reduzida, com o
cimento como ligante. O sistema tradicional de
produção permitia obtê­‑los no próprio local da
obra, com o auxílio de formas unitárias ou máquinas que moldam 4 a 5 blocos de uma vez, com dimensões correntes de 40x20x20cm3.
{ FIG. 2.25 } Diocese de Bissau.
Também os chamados blocos de terra eram
muito utilizados na época colonial nas construções de e para os locais, em adobe ou em taipa.
Denota­‑se a preocupação para que as coberturas fossem ventiladas, e a sua inclinação acentuada, permitindo o rápido escoamento da água
das chuvas.
{ FIG. 2.26 } Edifício habitacional do bairro de Santa Luzia.
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
43
{ FIG. 2.27 } Bairro de Santa Luzia.
{ FIG. 2.31 } Estado actual do edifício da Câmara Municipal de Bolama.
{ FIG. 2.28 } Bairro social construído na época colonial para
a população local – estado actual.
{ FIG. 2.32 } Antigo edifício administrativo no sector de Bolama,
actualmente abandonado.
{ FIG. 2.29 } Casa Adélio.
{ FIG. 2.33 } Bairro de Santa Luzia.
{ FIG. 2.34 } Bissau velho.
{ FIG. 2.30 } Escola de ensino básico José António de Almeida
(ou como tradicionalmente conhecida “Escola de Padre”).
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
44
Grande parte dos edifícios coloniais encontra­‑se
O sombreamento é conseguido através da va-
actualmente em fase avançada de degradação,
randa corrida, não havendo muitas preocupações
justificando­‑se a sua reabilitação ponderada e requa-
com a promoção da ventilação.
lificação, no sentido de serem dotados de novos usos,
Denota­‑se muita preocupação em termos estéti-
adequados à realidade actual, e de forma a preservar
cos, com influências de uma construção mais euro-
as suas funcionalidades mais básicas, como a seguran-
peizada, aparentando uma transladação quase exac-
ça estrutural, conforto ambiental, e estética.
ta de modelos vigentes no estrangeiro, com pouca
Actualmente, o modelo de casa isolada, com
preocupação da sua adequação à realidade local.
logradouro à volta é o mais utilizado em toda a ci-
Apesar do sombreamento dos vãos, grande parte dos
dade, sendo o modelo com que grande parte da
edifícios de dois pisos apresentam as fachadas a des-
população na cidade se identifica, funcionando
coberto, susceptíveis à acção do sol e da chuva.
bem na promoção da ventilação na envolvente dos
No caso das moradias de piso único já se deno-
edifícios, e beneficiando de sombreamento se o
ta maiores preocupações com a ventilação, e tam-
espaço adjacente for arborizado.
bém na protecção contra a chuva.
Ainda nas zonas peri­‑urbanas encontram­‑se
2.3 Tendências contemporâneas
bairros de moradias sociais ou de cooperativa, tipicamente rectangulares, com paredes de adobe reforçado, ou blocos de betão, e coberturas de zinco,
Actualmente, a periferia das principais cidades vai sen-
são habitações feitas com o apoio ou comparticipa-
do dominada por moradias contemporâneas, que privi-
ção do estado, o qual assume parte do seu custo,
legiam a utilização de materiais como o betão armado
quer seja concedendo terrenos para urbanização,
nos elementos estruturais, e tijolos cerâmicos ou blo-
ou através de fundos para o desenvolvimento. De-
cos de betão nas paredes, com coberturas de telha.
notam características contemporâneas, resolvendo
É muito comum, essas moradias serem em du-
parte dos problemas habitacionais existentes.
plex, com um primeiro andar onde normalmente se
Os prédios de cooperativa apresentam característi-
situam as zonas de dormir, e varandas ou terraços.
cas interessantes. No caso do edifício dos Antigos Com-
Os promotores desta construção são particulares com
batentes a preocupação com a ventilação é clara, pela
algum poder económico, recorrendo a pequenas em-
disposição dos envidraçados, e ventilação da cobertu-
presas locais de construção, ou mais comummente,
ra. Os prédios de Taiwan necessitam de maior manuten-
a um técnico especializado na área, sendo o acom-
ção e conservação, principalmente na protecção contra
panhamento da obra efectuado pelo próprio dono da
a acção das chuvas. O tipo de coberturas utilizado não
obra, em paralelo com o técnico.
é o ideal para o tipo de clima em questão, sendo mais
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
45
{ FIG. 2.36 } Edifícios unifamiliares em duplex, no Alto Bandim, com preocupações de sombreamento
das janelas, e existência de arborização.
{ FIG. 2.35 } Edifício em
construção no Alto Bandim.
aconselhável o uso de coberturas inclinadas, e prolon-
dências contemporâneas. O Palácio do Povo e a sede
gadas em beiral para além das paredes, tanto para esse
do BCEAO1, são apenas alguns dos exemplos mais in-
último como no caso dos prédios Pequeno Moscovo.
teressantes, este último também com tijoleira no ex-
No centro da cidade, (zona do mercado de Ban-
terior ao invés de pintura, e envidraçados reflexivos.
dim) a avenida está preenchida de prédios (destina-
Em zonas peri­‑urbanas, grande parte da popula-
dos ao comércio) de contexto diferente, talvez deno-
ção pratica ainda contudo uma construção espon-
tando alguma influência dos países francófonos
tânea (auto construção), de carácter precário, com
vizinhos. Geralmente o primeiro piso é destinado ao
carência de infra­‑estruturas e sem qualquer plano
comércio sendo os restantes destinados à habitação.
de base. A procura de soluções urbanas e arquitec-
É muito usual a adopção de tijoleiras nas fachadas
tónicas para as zonas de construção não consolida-
exteriores, para evitar a sua rápida degradação e ne-
da em espaço urbano é um desafio prioritário.
cessidade constante de reposição da pintura.
Os edifícios para escritórios vão sendo mais comuns na cidade de Bissau, apresentando também ten-
1. Banco Central dos Estados da África Ocidental.
{ FIG. 2.37 } Moradia unifamiliar, zona de Antula.
{ FIG. 2.38 } Edifício unifamiliar de piso único no Alto Bandim,
denotando preocupações com ventilação, nas diversas aberturas
que podem ser visualizadas.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
46
{ FIG. 2.39 } Urbanização Pequeno Moscovo, construído através
de cooperação bilateral com a ex União Soviética.
{ FIG. 2.40 } Edifício do bairro construído para os funcionários
do Ministério do Plano.
{ FIG. 2.43 } Prédio com alguma degradação pela acção prolongada
da chuva e falta de manutenção.
{ FIG. 2.44 } Prédio na Avenida
principal, com comércio
no piso térreo.
{ FIG. 2.41 } Muro de separação entre duas moradias isoladas num bairro
de cooperativa, evidenciando preocupações na promoção da ventilação.
{ FIG. 2.42 } Prédios novos ainda não habitados, construídos ao abrigo
da cooperação com China, para alojamento dos ex­‑combatentes.
{ FIG. 2.46 } Sede do BCEAO.
{ FIG. 2.45 } Palácio Colinas
de Boé (Assembleia Nacional
Popular).
2.4 Construção para ecoturismo
rais como o adobe e a palha, sendo a estrutura da
cobertura, metálica, por ser mais durável.
A inserção destes bungalows no meio rural, junto do
Dentro das tendências contemporâneas destaca­‑se
Parque Natural Floresta de Cantanhez (floresta densa,
um tipo particular de edificações de qualidade,
típica tropical, rica em fauna e floras raras, onde podem
que merece relevo. O ecoturismo é um segmento
ser encontradas espécies como elefantes, búfalos e leo-
do turismo baseado em princípios que visam es-
pardos), bem como o envolvimento da população local
sencialmente a preservação dos recursos naturais.
na implementação do projecto, tornam­‑no bastante in-
A sua prática permite o intercâmbio com a nature-
teressante em termos da exploração das potencialida-
za, dispondo­‑se dela de forma ponderada.
des ecoturísticas nesta região do sul, Tombali.
A Guiné­‑Bissau um país rico em biodiversidades,
Foram definidas algumas regras ecoturísticas,
e um mercado viável para o turismo, que merece ser
de forma a envolver a comunidade local:
explorado de forma consciente. A maioria dos edifí-
} Envolver o maior número possível de aldeias, be-
cios ecoturísticos inspira­‑se no modelo de habita-
neficiando das actividades promovidas;
ção vernacular. Desde a protecção dos ecossistemas
} Envolver todos os grupos sociais e etários, res-
até à interacção com as populações locais, geral-
pondendo ao seu interesse e prioridade;
mente de elevado interesse cultural, histórico e so-
} Os promotores do ecoturismo devem procurar
cial, o ecoturismo é uma forma inovadora e promis-
colocar­‑se no lugar da comunidade para cada ini-
sora de turismo sustentável, onde a palavra de
ciativa que pretendam implementar, sem impor as
ordem é dispor do bem comum natural, sem com-
suas prioridades;
prometer o seu usufruto a gerações futuras.
} Aliar a preservação e boa gestão dos recursos na-
Os princípios básicos que se associam de um
modo geral a um turismo responsável são: respei-
turais à verdadeira melhoria das condições de vida
e trabalho das comunidades.
tar as culturas locais; minimizar impactos ambien-
O arquipélago dos Bijagós, considerado reserva
tais; maximizar a satisfação do visitante; e maxi-
da Biosfera pela UNESCO (Organização das Nações
mizar os benefícios para as comunidades locais.
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), tam-
Um exemplo de projecto ecoturístico na Guiné­
bém apresenta riquezas em fauna e flora inclusive
‑Bissau são os três bungalows criados em Ienberém,
marítimas, que incitam à prática de um turismo sus-
no sul do país, com características construtivas que
tentável, sem descurar da riqueza cultural Bijagó,
apresentam um enquadramento com o habitat tradi-
antiga e sob muitos aspectos preservada até hoje.
cional, tendo por base o modelo de construção tra-
Desde ilhas virgens, a espécies raras, algumas em
dicional fula. Foram utilizados materiais 100% natu-
vias de extinção, o arquipélago dos Bijagós encerra
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
47
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
48
{ FIG. 2.47 } Bungalows ecoturísticos de Ienberén
– Fase de construção.
{ FIG. 2.48 } Bungalows ecoturísticos de Ienberén
– Pormenor da cobertura (AD, 2006b).
no seu interior o que de mais belo, natural e surpre-
to, explorando­‑se as suas vantagens sem comprome-
endente pode ser visto na Guiné-Bissau.
ter a sua sustentabilidade futura. Alguns bungalows
A riqueza dos espaços naturais é realçada pela
são desenvolvidos a partir de outros materiais natu-
existência de parques e/ou reservas naturais reco-
rais como o barro e a palha, utilizando­‑se a técnica da
nhecidas oficialmente, e de acordo com os critérios
taipa, conhecida pelas suas características de durabi-
estabelecidos a nível internacional como áreas pro-
lidade e eficiência térmica, promovendo o equilíbrio
tegidas: Parque Natural de Mangrove do Rio Cacheu,
em termos do conforto no interior, com revestimento
Parque Natural das Lagoas de Cufada, Parque Nacio-
de terra cozida no exterior, dispensando pintura.
nal de Orango, Parque Nacional Marinho de João
Os maiores desafios que se impõem ao desen-
Vieira e Poilão, Reserva da Biosfera do Arquipélago
volvimento do ecoturismo na Guiné­‑Bissau são
dos Bijagós, e o Parque Nacional Marinho das Ilhas
primeiramente desenvolver­‑se uma consciência
Formosa. As áreas naturais referidas apresentam ri-
nos aspectos relativos ao ambiente e aos recursos
queza tanto em fauna como flora, com uma impor-
naturais disponíveis; posteriormente, a definição,
tante biodiversidade nos diversos meios, quer flores-
valorização e protecção (em alguns casos já feita)
tal como costeiro e marinho. Algumas das espécies
de zonas de reconhecida riqueza natural.
encontram­‑se em vias de extinção: o hipopótamo, o
Na integração de qualquer área no âmbito de
elefante africano, o crocodilo ou lagarto preto, a ga-
um turismo sustentável, é importante a definição
zela pintada, o leão, o chimpanzé, entre outros.
de regras que garantam a utilização ponderada do
Existe um aproveitamento natural das espécies ar-
espaço, a atracção de turistas com consciência
bóreas existentes, as quais são integradas no projec-
ambiental, e não só, que controlem ou evitem a
TIPOLOGIAS ARQUITECTÓNICAS
49
exploração irreversível dos recursos naturais disponíveis, e evitem comportamentos indesejáveis
tanto por parte do empreendedor, como do utilizador final, que possam entrar em conflito com a
cultura, tradições, e valores locais.
Actualmente existe uma tendência natural nos
países mais desenvolvidos para se fugir dos centros urbanos, elegendo­‑se zonas de paisagens naturais, para relaxar do stress diário das grandes ci-
{ FIG. 2.49 } Construções para Ecoturismo no sul, Ienberém
(Fonte: AD – Acção para o Desenvolvimento).
dades. Países em vias de desenvolvimento, e ricos
em biodiversidades como a Guiné­‑Bissau, podem
encontrar nesta forma de turismo, um meio equilibrado de gerar riqueza e promover o desenvolvimento económico local, minimizando o nível de
pobreza, e melhorando o acesso a bens de primeira necessidade, por parte de populações autóctones. Assim o turismo surge como factor não só de
desenvolvimento económico, como de promoção
de bem­‑estar social.
{ FIG. 2.50 } Na ilha de Ruban
(arquipélago dos Bijagós) foram
desenvolvidos projectos de
estância turística, com algumas
características que vão
de encontro aos princípios
do ecoturismo. São soluções
interessantes sob o ponto de vista
de um turismo sustentável,
como as moradias rectangulares
de madeira, cobertas de palha,
ligeiramente destacadas do chão,
e com tecto revestido de cana.
{ FIG. 2.51 } Pormenor da cobertura.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
{ capítulo 3 }
Projecto Bioclimático:
Princípios Gerais
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
51
No contexto climático da Guiné­‑Bissau é possí-
As medidas passivas são as que mais contri-
vel atingir um equilíbrio entre o edifício e o cli-
buem para reduzir os gastos energéticos do edifí-
ma através da aplicação de uma série de estra-
cio ao longo da sua existência. Dois exemplos de
tégias de projecto – referidas como bioclimáticas
estratégias passivas são a optimização do uso da
ou de design passivo.
iluminação natural para reduzir o recurso a siste-
As estratégias de design passivo têm como ob-
mas de iluminação artificial, ou a promoção de
jectivo proporcionar ambientes confortáveis no
ventilação natural, para evitar o uso de aparelhos
interior dos edifícios e simultaneamente reduzir o
de ar condicionado para arrefecimento.
seu consumo energético. Estas técnicas permitem
Na Guiné Bissau existem bons exemplos de ar-
que os edifícios se adaptem ao meio ambiente en-
quitectura adequada ao meio ambiente em que se
volvente, através do projecto de arquitectura e da
insere. Contudo, hoje em dia a prática de uma arqui-
utilização inteligente dos materiais e elementos
tectura passiva ou bioclimática, com preocupações
construtivos, evitando o recurso a sistemas mecâ-
ambientais e energéticas, necessita ainda de imple-
nicos consumidores de energia fóssil.
mentação. Embora as publicações existentes refiram
O uso de energia fóssil, não renovável, é, como
extensamente os potenciais benefícios desta arqui-
se sabe, o principal responsável pelo grave proble-
tectura, o seu uso é ainda muitas vezes mal compre-
ma do aquecimento global, resultante da emissão
endido, sendo erradamente considerado um risco,
de gases de efeito de estufa para a atmosfera. Nos
ineficiente, demasiado complicado ou caro. Por exem-
edifícios, o uso de electricidade proveniente de
plo, em muitas novas construções as preocupações de
energia fóssil, contribui em larga medida para a
climatização são deixadas para engenheiros, que ten-
intensificação deste problema.
dem a adoptar o uso “seguro” do ar condicionado.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
52
{ FIG. 3.1 } Habitação vernacular, adaptada ao contexto climático local.
Apesar de existirem já muitos exemplos que comprovam a eficácia, melhores níveis de conforto, e
vantagens económicas do uso das técnicas passivas
ainda há uma grande necessidade de difusão deste
conhecimento e do aumento do número de edifícios passivos, bioclimáticos, em termos de nova
construção e reabilitação.
Sendo um clima quente, é também dada neste
{ FIG. 3.2 } Edificação recente: para habitação (em cima),
e em complexo turístico (em baixo), com tipologias construtivas
inspiradas na arquitectura vernacular.
manual particular atenção à questão da refrigeração dos edifícios, fundamental para obtenção de
ambientes confortáveis. O arrefecimento dos edi-
nais foram simplesmente reforçadas com o conhe-
fícios deve, e pode, ser conseguido através de
cimento tecnológico hoje disponível, e optimizadas
meios naturais, evitando o recurso a sistemas de
para que pudessem ser incorporados com sucesso
climatização energívoros. O objectivo das técnicas
na concepção e operação dos edifícios.
de arrefecimento passivo é evitar a acumulação de
Neste capítulo é feita primeiramente uma descri-
ganhos de calor e fornecer refrigeração natural,
ção sumária do contexto climático da Guiné­‑Bissau,
evitando o sobreaquecimento. Os princípios de
ponto de partida para a prática de uma arquitectura
técnicas de arrefecimento passivo foram usados
bioclimática, de design passivo. Seguidamente são
com sucesso durante séculos, antes do apareci-
apresentadas as principais estratégias de projecto
mento do ar condicionado. Estas técnicas tradicio-
bioclimático.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
53
3.1 Contexto climático
O território situa­‑se na zona climática quente e
húmida, caracterizada por forte radiação solar, temperaturas constantemente altas, precipitação intensa
(entre 1000 a 1600 mm por ano), humidade relativa
elevada, chegando a ultrapassar os 80%, e ventos moderados, que no seu todo condicionam o nível de conforto no interior dos edifícios, e o seu estado de conservação exterior e interior.
Na Guiné­‑Bissau a temperatura oscila durante o ano
entre mínimas de 20ºC e máximas de 35ºC, com amplitudes diárias na ordem dos 6º–10ºC. O período mais
quente do ano ocorre entre Março a Maio, chegando as
máximas diárias a atingir valores entre 32 a 39ºC. Na
estação seca (de Novembro a Abril), verificam­‑se os
dias menos quentes do ano, nos meses de Dezembro a
Fevereiro, com valores mínimos abaixo dos 20ºC.
°C
MONT HLY DIUR NAL AVE R AGE S - Bissau, Guiné-Bissau
W / m²
40
1.0k
30
0.8k
20
0.6k
10
0.4k
0
0.2k
-10
0.0k
Jan
Feb
Mar
Apr
May
°C
LE GE ND
Comfort: T hermal Neutrality
T emperature
R el.Humidity
W ind S peed
Direct S olar
Diffuse S olar
Cloud Cover
Jun
Jul
Aug
S ep
Oct
Nov
Dec
DAILY CONDIT IONS - 22nd S eptember (265)
W / m²
40
1.0k
30
0.8k
20
0.6k
10
0.4k
0
0.2k
-10
0.0k
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
{ FIG. 3.4 } Valores médios
de radiação solar (IRAD),
temperatura do ar (TEMP),
humidade relativa (linhas azuis
em baixo), e precipitação
(barras cinzentas), para Bissau.
Dados gerados pelo software
Meteonorm, cruzados com
os do Serviço de Previsão
a Nível Mundial
(para a precipitação),
e comparados com os dados
mensais fornecidos pelo
Observatório de Bissau.
{ FIG. 3.3 } Em cima:
gráfico com o perfil anual
de valores médios de
temperatura para Bissau.
Em baixo: valores de
temperatura do ar (azul),
velocidade do vento (tracejado
azul claro), radiação solar
directa (amarelo) e difusa
(tracejado), para um dia típico
(22 de Setembro). Valores
estimados, obtidos através
do software METEONORM.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
54
Durante a estação húmida (de finais de Maio a Outubro) ocorrem chuvas fortes, principalmente no mês
de Agosto, em que a precipitação na cidade de Bissau
ultrapassa os 600 mm, e os ventos dominantes são de
nordeste. Os níveis de humidade são bastante eleva-
• Sol
{ FIG. 3.5 } Localização de um aglomerado numa encosta.
No primeiro esquema, as habitações ficam demasiado expostas
ao sol nas horas de maior incidência. O segundo esquema mostra
uma localização mais favorável. Nas horas de maior incidência
do sol, as casas beneficiam da sombra da encosta.
dos, acima dos 80% nos meses de Julho a Outubro.
Para o projecto de arquitectura devem ser previamente analisadas algumas questões que estão
associadas ao clima, como: a orientação da casa;
os tipos de materiais a serem utilizados; as necessidades de protecção solar nas diferentes zonas,
etc.. Estes princípios são seguidamente apresentados, começando pelos primeiros passos a considerar no projecto – a localização, forma e orientação das edificações.
3.2 Localização, forma
e orientação
A selecção do lugar, a forma e a orientação do edi-
as fachadas voltadas para o mar devem ser prote-
fício são as primeiras opções a considerar para a
gidas por alpendres de dimensões generosas, para
optimização da exposição ao trajecto solar e aos
diminuir o impacto do reflexo do sol sobre o mar
ventos dominantes. Num clima quente como o da
no interior das habitações. Os arranjos exteriores
Guiné, é essencial que a implantação das casas te-
são essenciais para proteger o interior dos ganhos
nha em consideração o regime de ventos, para uma
solares excessivos.
ventilação eficiente, e consequente melhoria do
As novas zonas habitacionais devem também ser
conforto na habitação. Nas zonas de encosta, as
projectadas a uma distância conveniente da estra-
habitações devem ser implantadas nas zonas mais
da de maior circulação, evitando ruídos e outros
baixas e acima do leito das ribeiras, onde circula
inconvenientes. As ruas devem ser estreitas e
mais o ar. Deve privilegiar­‑se o lado da encosta
orientadas por forma a que pelo menos um lados
que beneficia de mais horas de sombra. No litoral,
tenha sempre sombra.
• Chuva
• Vento
{ FIG. 3.6 } É necessário evitar a implantação das habitações
em linhas de água, ribeiras secas, zonas predispostas a inundações
e encostas sujeitas a enxurradas. Devem­‑se escolher zonas seguras
e protegidas de inundações. Nas alturas de chuvas torrenciais, a água
conhece o seu antigo caminho. As obras de correcção pluvial ficam
sempre m ais caras e normalmente só se executam quando as chuvas
já causaram muitos prejuízos. O segundo esquema apresenta
a localização conveniente de um aglomerado.
{ FIG. 3.7 } Orientação correcta, considerando o regime dos ventos.
×
{ Não }
{ FIG. 3.8 } Num aglomerado situado numa encosta devemos estudar
os ventos dominantes, para que a localização favoreça
o arejamento das casas.
Sendo o ambiente externo quente, a ventilação
e o conforto dentro de casa são aspectos críticos.
Nas zonas urbanas o impacto dos raios solares nos
telhados e nas fachadas dos edifícios e a circulação da brisa fresca em redor dos edifícios deve ser
estudado. Caso contrário, poderá haver o risco da
criação de um ambiente muito desconfortável no
interior das habitações.
Em termos de forma do edifício, a configuração e o
arranjo dos espaços internos, de acordo com a função,
influenciam a exposição à radiação solar incidente,
bem como a disponibilidade de ventilação e ilumina-
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
55
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
56
{ FIG. 3.9 } Neste esquema, os raios de sol (1) incidem na fachada
do edifício que os reflecte para o pavimento e depois para o interior
do edifício. Os raios (2) atingem o pavimento e reflectem na zona
de circulação de pessoas. Os raios (3) caem sobre a cobertura plana
do edifício mais baixo reflectindo­‑se na fachada do edifício mais alto.
O vento resvala por cima da cobertura plana e como não encontra
nenhuma reentrância na fachada da frente passa por cima do edifício.
O ambiente fica excessivamente quente em redor e dentro dos edifícios.
{ FIG. 3.10 } A configuração da fachada do edifício alto
e da cobertura do edifício baixo foram alterados para melhorar
o ambiente externo nessa zona. A árvore amortece o efeito
dos raios solares e favorece a circulação do ar. O efeito do vento
na zona, ajudado pela cobertura inclinada do edifício baixo e pelas
varandas do edifício alto, torna­‑se mais diversificado, podendo
assim penetrar nas habitações.
ção natural. Em geral, um edifício compacto terá uma
de espaços adjacentes a átrios. A proporção de área
superfície de exposição relativamente pequena, ou
passiva de um edifício, em relação à sua área total,
seja, um baixo rácio superfície/volume. Para as peque-
dá uma indicação do potencial do edifício para o em-
nas e médias construções, esta situação oferece van-
prego de estratégias bioclimáticas.
tagens para o controlo de trocas de calor através da
O objectivo é sempre maximizar a área passiva. Em
envolvente do edifício – devendo contudo este ofere-
edifícios com áreas não passivas (activas) de dimen-
cer sempre uma área de exposição de aberturas sufi-
são significativa, as soluções com recurso a sistemas
cientemente ampla para potenciar a ventilação natu-
mecânicos energívoros tendem a prevalecer { FIGURA
ral. A geminação dos edifícios em banda tem também
3.11
vantagens; ao diminuir a área de exposição solar, são
activas, deve­‑se procurar que estas sejam convertidas
reduzidos os riscos de sobreaquecimento.
em espaços não ocupados, por exemplo arrumos.
As áreas do edifício potencialmente ventiladas e
iluminadas naturalmente, as chamadas áreas passi-
}. No caso da reabilitação de edifícios com áreas
Quando a área activa atinge grandes dimensões, é
aconselhável a incorporação de saguões ou átrios.
vas, podem ser consideradas como tendo uma pro-
O conceito de zona passiva deve ser considerado
fundidade de duas vezes a altura do pé­‑direito (i.e.
a partir da primeira fase do projecto, em que são
geralmente cerca de 6 metros). Esta profundidade
definidas a forma e a orientação do edifício. As es-
pode ser reduzida quando há obstáculos à luz natural
tratégias de design passivo a utilizar variam segun-
e à ventilação, devido uma compartimentação inte-
do a orientação das diferentes zonas do edifício.
rior pouco adequada, a edifícios vizinhos, ou no caso
Estas estratégias que incluem, por exemplo, a alte-
{ FIG. 3.11 } Definição de áreas passivas (cor clara) e não passivas
(ou activas, cor mais escura) na planta de um edifício (adaptado
de Baker, 2000).
ração da área de envidraçado e a utilização de diferentes dispositivos de sombreamento, encontram­
‑se descritas nos subcapítulos seguintes.
A melhor orientação do edifício para reduzir os ganhos solares de calor será paralela ao eixo Nascente­
‑Poente, uma vez que restringe a área de exposição das
fachadas que recebem sol de ângulo baixo (Nascente e
Poente) e permite o sombreamento da fachada que
mais recebe sol de ângulo alto (Sul), beneficiando ainda de iluminação natural – conforme representado na
{
FIGURA 3.12
}. Em remodelações, e em muitas situa-
ções urbanas onde a orientação está fora do controlo
do projectista, uma orientação desfavorável pode ser
compensada através do reforço de outras estratégias
adequadas de controlo de ganhos solares, como o sombreamento ou o dimensionamento de janelas.
{ FIG. 3.12 } Optimização da orientação solar para a zona de Bissau.
A melhor orientação para a fachada principal é de 2º5’N.
Para o território Guineense, a orientação aceitável não deve
exceder uma variação até 45º a partir do Norte.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
57
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
58
A orientação correcta dos espaços de permanên-
Os quartos de dormir, quando orientados a Nas-
cia da habitação, em função do percurso do sol e do
cente, captam menos calor e durante a tarde são
vento, é o ponto de partida para aproveitar estas
espaços mais frescos. Os alçados orientados a Po-
energias renováveis. A insolação das fachadas é de-
ente devem ser protegidos para não haver radia-
finida no processo de implantação do edifício e é de-
ção solar excessiva. A utilização de frestas e de
cisiva no conforto dos espaços interiores. A orienta-
pequenos vãos é uma medida eficiente. O dimen-
ção a Sul é geralmente recomendada para o hemisfério
sionamento das áreas envidraçadas deve ser com-
Norte, por ser a que mais optimiza os ganhos solares
patibilizado com a orientação da fachada. O espa-
para aquecimento durante a estação fria. Contudo,
ço da cozinha deve ser o mais fresco da habitação,
em regiões onde a questão do sobreaquecimento é
por isso não pode ser orientado a Poente. Deve ser
prioritária, como no caso da Guiné, a melhor orien-
tida em conta a direcção dos ventos dominantes
tação é a Norte, sendo contudo aceitável uma varia-
para que quando soprem não arrastem os cheiros
ção até 45º (entre Nordeste e Noroeste). De acordo
e o calor para o resto da casa.
com simulações realizadas utilizando o software Eco-
A optimização da orientação e da área passiva
tect, por exemplo para o caso de Bissau uma ligeira
contribuem para evitar situações de sobreaquecimen-
variação (2º5’N) será a orientação óptima.
to, sendo o primeiro passo para a promoção de estratégias de protecção e dissipação do calor. As técnicas
de protecção ao calor como o sombreamento, o dimensionamento das janelas, o revestimento reflexivo
da envolvente, ou o isolamento oferecem protecção
térmica contra a penetração de ganhos de calor indesejáveis para o interior do edifício e ganhos internos.
Na Guiné devem ser previstos elementos de sombreamento das áreas de envidraçado e paredes exteriores,
por forma a evitar situações de sobreaquecimento,
para haver conforto térmico no interior dos compartimentos. Estes elementos podem ser tectónicos: palas
ou alpendres, elementos vegetais ou ainda elementos
mistos. Os elementos vegetais junto a fachadas ou
{ FIG. 3.13 } Diagrama Ecotect representando a melhor orientação
para a cidade de Bissau (2º 5’N). A cor encarnada indica
as orientações que podem originar sobreaquecimento, a cor amarela
a zona de maior protecção, a seta amarela a orientação optimizada.
mesmo o revestimento de fachadas com elementos
vegetais aumentam o conforto interior e funcionam
como um filtro dos raios solares.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
59
{ FIG. 3.14 } Os ganhos de calor: I Ganhos solares – causados
pela incidência da radiação solar sobre as superfícies externas,
que é conduzida para o interior do edifício (ganhos solares
externos), e pela passagem da radiação solar através das janelas
(ganhos solares internos); II Ganhos internos – provenientes
dos ocupantes, iluminação artificial e equipamentos;
III Ganhos por condução – a partir da condução de calor
proveniente do ar exterior mais quente para o interior do edifício,
através das superfícies externas do edifício (fachadas e telhado);
IV Ganhos por ventilação – a partir da infiltração de ar quente
para o interior do edifício.
As Técnicas de dissipação do calor maximizam
As melhores soluções de projecto para arrefeci-
as perdas do calor que se acumulou no interior do
mento passivo combinam várias estratégias, com
edifício, dissipando­‑o através de ventilação natural e
o fim de se alcançar uma maior eficácia – como
inércia térmica, evaporação, radiação, ou de um
por exemplo o arrefecimento por ventilação noc-
“poço de calor” como o solo. A utilização destas téc-
turna com isolamento externo da massa térmica.
nicas evita o sobreaquecimento, conduzindo os valo-
A eficácia das técnicas de arrefecimento passi-
res da temperatura interior a níveis próximos da tem-
vo pode muitas vezes ser melhorada através do
peratura do ar exterior, ou mesmo abaixo destes.
uso de sistemas mecânicos de energia renovável,
A radiação solar directa é, de longe, a principal
como os painéis solares ou fotovoltaicos, ou de
fonte de calor. O uso de técnicas de controlo solar
sistemas de baixo consumo (de energia fóssil),
no projecto de arquitectura é uma estratégia de
como as ventoinhas. Estes sistemas são referidos
alta prioridade para minimizar o impacto dos ga-
no capítulo 5.
nhos solares no edifício.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
60
3.3 Sombreamento
O sombreamento da envolvente opaca do edifício pode ser feito por dispositivos fixos de sombreamento, pela vegetação, ou através de disposi-
O sombreamento é uma estratégia muito eficaz para
tivos ajustáveis. Varandas, pátios ou átrios, podem
reduzir a penetração da radiação solar no edifício,
ser tipologias úteis na protecção solar.
oferecendo protecção às áreas de envidraçado (jane-
Em termos de sombreamento das áreas de en-
las), e também à envolvente opaca. Os ganhos de
vidraçado, o edifício deve ser especialmente pro-
calor através das janelas podem ser muito significa-
tegido dos ganhos solares nas janelas orientadas
tivos, visto que estas têm muito pouca resistência à
a Nascente e Poente, devido ao ângulo baixo do
transferência de calor radiante. Em regiões quentes,
sol no início da manhã e ao fim da tarde. As orien-
um edifício bem sombreado pode ser entre 4°C a
tações a Nascente e Poente podem facilmente ori-
12°C mais fresco do que um sem sombra.
ginar sobreaquecimento, especialmente em edifí-
{ FIG. 3.15 } O sombreamento é uma estratégia secular de protecção ao calor.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
61
{ FIG. 3.16 } Sombreamento fixo: projecção da cobertura e varanda
para sombreamento das fachadas.
cios mal isolados e de baixa inércia. Existe uma
{ FIG. 3.17 } Sombreamento ajustável: portadas venezianas
em edifício modernista em Bissau.
to, fixos ou ajustáveis, internos ou externos, mais
grande variedade de dispositivos de sombreamenou menos leves. Os { QUADROS 1 e 2 } apresentam as
características dos diferentes tipos de sombreamento, que podem ser usados em habitações ou
edifícios de serviços.
Os sistemas de sombreamento fixo cortam a incidência dos raios solares antes de atravessarem o vidro, evitando o efeito de estufa. Há diversos elementos que podem ter esta função, como as palas, “brise
soleil”, venezianas, toldos, estores e beirais. É importante garantir alguma distância entre o elemento
de sombreamento e a zona envidraçada, para que a
radiação térmica captada pelo elemento de sombra
não seja transmitida para o interior do edifício.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
62
Sombreamento
Descrição
Desempenho
Dispositivos
fixos
Geralmente elementos
externos, como palas
horizontais, “brise soleil”,
aletas verticais,
ou sistemas
de grelhas.
As palas horizontais, usadas acima de áreas de janela
orientadas a Sul podem proporcionar um bom nível de
sombreamento. Nas fachadas Nascente e Poente um dispositivo fixo vertical pode ser melhor do que um horizontal, mas a janela nunca é completamente sombreada. Aletas verticais podem também proteger a fachada Norte do
sol baixo, de nascente e poente.
O uso de sistemas de grelhas (desde simples gelosias de
madeira até sistemas pré­‑fabricados em cimento ou material
cerâmico) também pode ser muito eficaz para sombreamento, e oferece vantagens em termos de privacidade. Reduz
contudo a vista para o exterior, e na sua concepção devem
ser especialmente consideradas as necessidades de luz e ventilação natural.
O uso de cor clara para o sombreador é preferível à cor
escura, já que tem melhor desempenho na reflexão da radiação solar, reduzindo a sua penetração para o edifício. O uso
de cor clara tem também um melhor desempenho em termos
de iluminação natural.
Espaços
intermédios
Varandas, pátios, átrios
ou arcadas.
Estas tipologias podem ser muito úteis como uma forma de
sombreamento fixo, se o seu design for adequado. Como em
todas as estratégias de sombreamento, o projecto também
deve considerar os requisitos de ventilação e iluminação natural. O desempenho do sombreamento depende da configuração do edifício, e do desenho das varandas.
Prédios
vizinhos
Os edifícios vizinhos,
e.g. do outro lado da rua,
podem proporcionar
sombreamento
de fachada,
particularmente
em pisos inferiores.
Os edifícios vizinhos podem proporcionar um sombreamento
eficiente, embora em algumas situações, como em ruas estreitas, tal possa diminuir a disponibilidade de luz natural.
O impacto do sombreamento dos edifícios vizinhos deve ser
considerado no processo de design, em termos da escolha dos
dispositivos de sombreamento e dimensionamento da janela,
por exemplo aumentando um pouco o tamanho da janela em
áreas permanentemente sombreadas, para melhorar o desempenho de iluminação natural.
{ QUADRO 1 } Características de estratégias de sombreamento através de dispositivos fixos, espaços intermédios e prédios vizinhos.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
63
{ FIG. 3.18 } As árvores e as plantas, e os beirais salientes,
diminuem a incidência solar.
{ FIG. 3.19 } Alguns exemplos típicos de dispositivos
de sombreamento externos para janelas.
{ FIG. 3.20 } Sombreamento fixo: projecção da cobertura
em edifício vernacular (em cima), e em edifícios recentes
(centro e em baixo).
64
{ FIG. 3.21 } Exemplos
de sombreamento fixo
por projecção da varanda
em edifícios na cidade
de Bissau.
{ FIG. 3.22 } Alpendres sombreados.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
65
{ FIG. 3.23 } Sombreamento do espaço exterior – ruas em zona antiga de Bissau.
Sombreamento
Descrição
Desempenho
Vegetação
A vegetação pode ser
usada para sombrear
os pisos inferiores
do edifício.
Nas regiões quentes como na Guiné, é preferível a utilização de
árvores de folha perene, de modo a proporcionar sombra ao longo
de todo o ano. As árvores altaneiras, como a palmeira, são mais
aconselháveis para não causar obstrução do fluxo de ventilação.
Dispositivos
ajustáveis
Estes dispositivos
podem ser externos
– tais como estores
ou persianas retrácteis,
palas ou venezianas
ajustáveis, aletas
giratórias, placas
horizontais, toldos,
tendas, cortinas
ou pérgulas – feitos
de madeira, metais,
plásticos, tecidos, etc.
Também podem ser
internos – como cortinas,
persianas ou venezianas.
Os dispositivos ajustáveis podem ser mais eficazes do que fixos, pois podem ser regulados para diferentes ângulos de incidência solar. A sua flexibilidade permite também um melhor aproveitamento da luz natural, quando comparado com
sombreamento fixo. Os dispositivos ajustáveis permitem
também o controle pelos ocupantes, de acordo com as suas
preferências individuais.
Os dispositivos externos de sombreamento são mais eficientes do que os internos, pois reduzem a incidência da radiação solar sobre a área envidraçada, enquanto que os dispositivos de sombreamento interno apenas conseguem
reflectir uma parcela da radiação que já entrou no espaço interno. No entanto há sistemas, como os estores, comuns em
edifícios domésticos, que podem ser uma má escolha em termos de vista, iluminação natural e ventilação.
Os dispositivos externos translúcidos de cor clara, tais como
dispositivos de tela ajustável, de preferência brancos, podem
reflectir até 60% dessa radiação.
{ QUADRO 2 } Características de estratégias de sombreamento através de vegetação e dispositivos ajustáveis.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
66
{ FIG. 3.24 } Exemplos de utilização de vegetação para sombreamento.
{ FIG. 3.25 } Sombreamento
ajustável: toldo (esquerda)
e janela com cortina interior
e portadas venezianas
exteriores de madeira (direita).
As portadas venezianas
proporcionam sombreamento
e simultaneamente permitem
iluminação e ventilação natural.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
67
3.4 Revestimento reflexivo
da envolvente
As cores claras de alguns materiais de revestimento
reflectem uma parcela considerável da radiação solar. A cal branca para pintar os edifícios é um exemplo. Os revestimentos de cores claras contribuem
para reduzir a temperatura da envolvente do edifício e evitar a condução de calor para o interior do
edifício. O {
QUADRO 3
} descreve as características
dos revestimentos reflexivos, de cor clara.
Descrição
REVESTIMENTO
REFLECTIVO
(Tinta ou azulejos
de cor clara)
Tinta ou azulejos de cor
clara (por exemplo, branco)
nas fachadas.
O telhado, sempre que
possível, também deve
ser de cor clara.
{ FIG. 3.26 } As superfícies pintadas de branco reflectem uma
grande parte da radiação solar (em cima). A proximidade da casa
aos pavimentos de cor escura deve ser evitada, para não haver
absorção de calor e irradiação para dentro da habitação (em baixo).
Desempenho
A pintura de cor clara é um meio económico e eficaz
para reduzir a entrada de calor no edifício, reflectindo
a radiação solar. A cor que mais reflecte a radiação solar é o branco.
A pintura das paredes internas com uma cor clara
também pode melhorar os níveis internos de iluminação
natural, reduzindo assim a necessidade de luz artificial.
Nas proximidades da casa deve evitar­‑se o uso de
materiais de cores escuras, como o gravilhão, a areia preta e o betão, para diminuir a absorção de radiação.
Em algumas situações urbanas, a reflexão da radiação solar para outros prédios, por vezes, pode não ser
desejável, mas pode constituir uma vantagem em termos
de luz natural. As reflexões indesejáveis de prédios vizinhos podem ser evitadas através da utilização de dispositivos de sombreamento.
{ QUADRO 3 } Características do uso de revestimentos de cor clara (reflexivos).
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
68
{ FIG. 3.27 } Edifícios pintados
de cores claras, para reflectir
a radiação solar.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
69
3.5 Isolamento
A localização correcta do isolamento protege o
edifício contra os ganhos de calor durante os períodos mais quentes, e melhora o conforto térmico
durante todo o ano. Também pode melhorar a vedação das paredes (evitando a infiltração de ar
quente), e reduz problemas de condensação em
superfícies, em zonas com climas mais húmidos.
{ FIG. 3.28 } O uso de colmo para cobertura na arquitectura
vernacular. O colmo é um material isolante, que protege o edifício
contra os ganhos de calor.
{ FIG. 3.29 } Utilização do colmo em edifícios contemporâneos.
Ao utilizar esta tipologia de tradição local, recolhem­‑se também
os benefícios térmicos da protecção solar.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
70
Descrição
Desempenho
ISOLAMENTO
O material isolante pode ser
acrescentado na superfície
exterior das fachadas,
ou na cavidade entre panos
de parede (paredes duplas).
Os materiais de isolamento
evitam a condução de calor
para o interior devido
à existência de gás
aprisionado em muitas
camadas (e.g. fibra de vidro,
lã de rocha) ou em células
(poliestireno), aumentando
a resistência térmica
do material à condução,
proporcionalmente à sua
espessura, mas não
restringem necessariamente
o calor radiante.
O isolamento externo pode
ser adicionado utilizando
painéis isolantes
pré­‑fabricados. Deve ser
pintado com cor clara.
O isolamento dos elementos opacos externos, ou o uso de
isolamento adicional para as fachadas, é uma das medidas mais simples e eficazes de protecção ao calor e redução da necessidade de arrefecimento.
O próprio ar existente nas cavidades dos tijolos, ou
no espaço entre paredes (parede dupla de fachada) confere isolamento ao edifício, mas este pode ser significativamente reforçado com material adicional (isolamento
externo ou de cavidade).
O isolamento externo é preferível ao isolamento
de cavidade, fazendo máximo uso da capacidade de armazenamento da massa térmica interna, e tem um melhor
desempenho em termos de prevenção de ganhos de calor.
Minimiza também as pontes térmicas do edifício.
O recurso ao isolamento interno deve ser evitado,
dado que reduz a área de exposição da massa térmica,
retirando o benefício da inércia ao interior do edifício.
O isolamento do telhado é uma prioridade, pois diminui
o risco de temperaturas elevadas no piso superior.
BARREIRAS
RADIANTES
As barreiras radiantes, feitas
de produtos reflexivos, como
chapa de alumínio, podem ser
instaladas em cavidades
ventiladas do telhado.
A chapa metálica reflecte
a radiação, e a ventilação na
cavidade impede a condução
do calor para o interior
do edifício.
A eficácia deste método depende da ventilação necessária para transportar o calor da chapa por convecção.
Quando o arrefecimento é a principal preocupação pode
ser preferível usar um sistema de barreira radiante, em alternativa a elevados níveis de isolamento do telhado.
Este sistema pode contudo ser mais caro e complexo do
que o isolamento simples.
{ QUADRO 4 } Características de isolamentos e barreiras radiantes.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
71
{ FIG. 3.30 } Sistema construtivo misto de cobertura. O colmo é sobreposto em chapa ondulada de material metálico (sub­‑capa):
aos benefícios da impermeabilização e durabilidade conferidos pelo uso da sub­‑capa metálica adiciona­‑se a capacidade isolante do colmo.
{ FIG. 3.31 } O uso sem protecção (isolamento) de material metálico para coberturas deve ser evitado, dado que leva ao agravamento
de situações de sobreaquecimento interno. Com a oxidação, a chapa perde reflectividade, transmitindo ainda mais calor para o interior
das habitações.
Caixa de ar
Folha
de alumínio
Isolamento
{ FIG. 3.32 } Isolamento interno da cobertura, utilizando materiais
de origem local (em cima).
{ FIG. 3.33 } Representação esquemática de uma barreira radiante
num telhado, com caixa de ar ventilada (direita).
Laje
de cobertura
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
72
3.6 Áreas de envidraçado
e tipos de vidro
Grande parte dos ganhos de calor de um edifício
passa através das áreas envidraçadas das fachadas, já que as janelas oferecem muito pouca resistência à transferência de calor radiante. A orientação e dimensionamento das áreas de envidraçado,
bem como a escolha do tipo de vidro, determinam, em grande medida, a penetração da radiação
solar no edifício.
Para um clima quente, com grande incidência de
radiação solar, como na Guiné, é importante evitar
grandes vãos de envidraçado nas fachadas, condu-
{ FIG. 3.35 } Devem ser evitadas tipologias de fachadas com
grandes áreas de envidraçado, largamente responsáveis pelo
sobreaquecimento do interior do edifício, e consequente recurso
a sistemas energívoros de ar condicionado. As fachadas com
grandes áreas de envidraçado são uma tipologia importada,
não se adequando ao clima quente da Guiné.
centes a sobreaquecimento e ao uso de aparelhos
de ar condicionado. De forma geral, a área de envidraçado não deve ultrapassar 40% da área das fachadas a Norte e a Sul, considerando já que os vãos
têm sombreamento adequado. Na fachada Nascente
não deve ultrapassar os 20% com sombreamento. A
Poente o uso de vão envidraçados deve ser, se possível, evitado. O dimensionamento das janelas é
uma tarefa complexa. Há contudo uma série de programas de software de simulação, disponíveis para
projectistas, para ajudar no dimensionamento das
aberturas, como por exemplo, o EnergyPlus, o DOE,
ou, para arquitectos, o Ecotect.
A utilização de vidros duplos pode reduzir os ganhos e as perdas de calor. Pode também recorrer­‑se
{ FIG. 3.34 } Troca energética numa janela de vidro simples de 3mm.
a um tipo de vidro que transmite selectivamente as
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
73
{ FIG. 3.36 } Uma parte significativa dos edifícios residenciais que encontramos nas zonas urbanas mais consolidadas em Maputo têm áreas
de envidraçado muito razoáveis. São uma boa referência para o projecto de novos edifícios. A área de envidraçado não deve exceder os 40%
da superfície total das fachadas Norte ou Sul, e deve ser devidamente sombreada.
DIMENSIONAMENTO
DE JANELAS
Descrição
Desempenho
Janelas, área de envidraçado,
orientação, fachadas.
As janelas também influenciam o desempenho da iluminação e ventilação natural, acústica, e o contacto visual com
o ambiente externo. Devem, portanto, ser projectadas para
permitirem essa integração.
As janelas devem ser dimensionadas de acordo com a
orientação. Existe software apropriado para o dimensionamento de vãos, como por exemplo os programas DOE, Energy
Plus, ou, para arquitectos, o Ecotect. Poder ser utilizados
tanto no design de novos edifícios como na reabilitação.
A área de envidraçado deve ser reduzida ao indispensável. É recomendado que não ultrapasse 40% da área das fachadas a Norte e a Sul, e 20% a Nascente, considerando já
que os vãos têm sombreamento adequado. A Poente o uso de
vãos envidraçados deve ser evitado.
As áreas de envidraçado horizontal só devem ser utilizadas muito pontualmente, em zonas de pé­‑direito elevado (duplo, de preferência), e com sombreamento adequado, pois podem facilmente causar problemas de sobreaquecimento.
{ QUADRO 5 } Descrição das estratégias que envolvem o dimensionamento de janelas.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
74
partes do espectro solar visível necessários para a
proveniente do ar exterior mais quente, através das
iluminação natural, reflectindo a radiação indese
paredes e áreas envidraçadas, quando a temperatura
jável – os chamados vidros de baixa emissividade.
externa é maior do que a temperatura interna. São
Os {
} descrevem as estratégias para
um motivo de preocupação, principalmente em regi-
protecção da radiação solar através do dimensiona-
ões mais quentes, com altas temperaturas, que po-
mento das janelas e da escolha do tipo de vidro.
dem chegar no verão a 40°C, como muitas regiões de
QUADROS 5 e 6
O dimensionamento dos vãos e o isolamento da
países africanos. Os ganhos por condução tendem
envolvente opaca, além de protecção contra a radia-
contudo geralmente a ter um impacto relativamente
ção solar, também previnem a entrada de ganhos de
menor nas necessidades de refrigeração, quando
calor por condução, causados pelo fluxo de calor
comparados com os ganhos solares ou internos.
TIPO DE VIDRO
Descrição
Desempenho
Vidro simples, vidro duplo,
vidro de baixa emissividade.
O vidro duplo aumenta o valor do isolamento da área de
envidraçado, e tem também a vantagem de reduzir condensações, e as taxas de infiltração. Comparado com vidros simples, o seu uso pode reduzir significativamente
os ganhos de calor. A amortização de janelas de vidro duplo pode ser alcançada entre 5 e 15 anos, de acordo com
a qualidade dos materiais e o tamanho das janelas.
Uma maior redução no ganho de calor é alcançada
com o uso de vidros de baixa emissividade. Estes vidros
podem ser quase opacos à radiação infravermelha, reduzindo a transmissão de energia solar em mais de 50%.
Este tipo de vidro não reduz os níveis de luz natural, apesar de serem eficientes na redução da radiação solar. No
entanto, podem ser bastante caros.
O uso de vidros fumados e reflexivos para sombreamento e prevenção de brilho deve ser evitado, pois estes
materiais reduzem substancialmente os níveis de luz natural, aumentando o uso de luz artificial (gerando maior
consumo energético, e calor). É preferível usar vidro
translúcido, e sombreamento adequado.
{ QUADRO 6 } Descrição das estratégias que envolvem a escolha do tipo de vidro.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
75
3.7 Ventilação natural
A ventilação natural consiste no fluxo de ar entre
o exterior e o interior do edifício. A ventilação natural é originada por duas forças naturais: por diferenças de pressão criadas pelo vento em redor
do edifício ­‑ ventilação por acção do vento; e por
diferenças de temperatura – ventilação por “efeito
de chaminé”. O {
QUADRO 9
} mostra os vários ob-
jectivos da ventilação e respectivos requisitos.
{ FIG. 3.37 } Na Guiné é muito comum a utilização de janelas triplas,
a interior em vidro, uma intermédia em rede e a exterior com aparas
de madeira, revestidas a tinta ou verniz, e caixilharia de madeira.
Estas reflectem uma preocupação não só com o calor, mas também
a promoção de ventilação sem entrada de insectos, e a protecção à chuva.
{ FIG. 3.38 } Grelhas de fachada: alem de proporcionarem
sombreamento e segurança, permitem a ventilação natural.
76
A ventilação por pressão do vento é influenciada pela intensidade e direcção do vento e ainda por
obstruções decorrentes de prédios vizinhos ou vegetação. O conhecimento das condições do vento
em torno do edifício e o seu padrão de velocidade
e direcção (informação que pode ser obtida em institutos meteorológicos) são dados necessários para
a concepção dos vãos. A direcção do vento pode
variar ao longo do dia. Além dos ventos dominantes, o regime de ventos de terra (noite) e a brisa do
mar (dia) são também importantes.
A distribuição, dimensão e a forma dos vãos são
elementos fundamentais para a realização de uma ventilação eficiente. As aberturas devem ser amplamente
distribuídas nas diferentes fachadas, de acordo com os
padrões de vento, assegurando que estes terão diferentes pressões, melhorando a distribuição do fluxo de
ar no edifício. As aberturas de entrada e de saída (janelas, portas, outros vãos) devem estar localizadas de
forma a ser alcançado um sistema eficaz de ventilação
em que o ar percorre todo espaço ocupado, considerando já os elementos que poderão funcionar como
obstáculos (divisórias internas). As aberturas que se
localizam numa posição alta permitem altas taxas de
ventilação para dissipação de calor. As aberturas situadas num nível inferior podem proporcionar a circulação
do ar em toda a zona ocupada. As janelas acentuadamente verticais facilitam a ventilação a nível superior,
e conseguem um melhor desempenho em termos de
iluminação natural e arranjo do espaço interior.
No design de janelas para ventilação natural deve
{ FIG. 3.39 } Edifícios com cobertura ventilada.
haver um compromisso com outras necessidades am-
Objectivos
Descrição
Requisitos
Fornecimento
de ar fresco
A ventilação é necessária para
fornecer ar fresco aos ocupantes,
melhorando a qualidade do ar:
substituindo o ar viciado
e controlando odores, humidade,
CO2 e concentração de poluentes.
Para este processo são normalmente necessárias 0,5­‑3 renovações de ar por hora por pessoa, dependendo da intensidade da ocupação. Em geral, a regulamentação internacional
considera um padrão mínimo de 5l/s por pessoa (o que é
conseguido através da taxa de infiltração média), aumentando este padrão para 16l/s em zonas de fumadores.
Remoção de calor
do edifício
Este tipo de ventilação é usado
para remover o calor excessivo
do interior do edifício,
proporcionando temperaturas
mais confortáveis.
Requer maiores taxas de ventilação que o processo anterior. Mais eficaz a nível superior (junto ao tecto),
para remover o calor acumulado.
Quando a temperatura do ar exterior é inferior
à temperatura do ar interior, as taxas típicas de ventilação para dissipação do calor no espaço são 5­‑25 ach/h,
dependendo da diferença de temperaturas. Quanto maior
o ganho de calor, mais necessária é a ventilação.
Arrefecimento
do corpo humano
por convecção
e evaporação.
Uma maior velocidade do ar
aumenta a taxa de evaporação
do suor da pele, ampliando
o limite superior da temperatura
de conforto. A sensação térmica
correspondente a uma temperatura
efectiva de 27°C pode ser alcançada
se uma circulação do ar de 1m/s
for aplicada a um quarto com uma
temperatura do ar de 30°C.
Este processo requer velocidades do ar entre 0,5 e 3 m/s.
Admite­‑se que cada aumento de 0.275m/s corresponde a um acréscimo do limite superior de conforto
de 1°C.
A velocidade máxima do ar recomendado em escritórios é de 1,5 m/s. Para habitações este valor pode
aumentar para os 2,5 – 3m/s.
{ QUADRO 9 } Os vários objectivos da ventilação e respectivos requisitos.
bientais, tais como a protecção contra mosquitos, a
acústicos absorventes sobre as superfícies internas.
iluminação natural, a impermeabilização, os ganhos
Os problemas de poluição também podem ser evitados
solares, o desempenho funcional, a manutenção, o ru-
com o uso de espaços tampão, e trazendo para o inte-
ído, a segurança, os custos e o controlo de circulação
rior do edifício o ar que entra de uma área exterior me-
de ar. O problema do ruído, típico dos ambientes ur-
nos poluída. Os problemas de segurança podem ser
banos, pode ser minimizado através da utilização de
resolvidos através do dimensionamento das aberturas,
prateleiras acústicas no exterior das janelas ou painéis
ou colocação de portadas exteriores venezianas.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
77
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
78
Pressão do vento
Descrição
Desempenho
Ventilação
unilateral
(lado único)
Ventilação fornecida
por aberturas em apenas
um lado da divisão
ou fachada.
A ventilação unilateral tem uma penetração menos profunda do que a ventilação cruzada ­– normalmente de 3 a
6m ou até cerca de duas vezes a altura do tecto ao chão.
Este tipo de ventilação é criado com a entrada de ar na
divisão, ar que sai poucos segundos depois devido à flutuação de pressão estática do vento.
Ventilação
cruzada
Aberturas de ambos
os lados do edifício
e um percurso de fluxo
de ar dentro do edifício.
A ventilação cruzada constante é geralmente o mais forte
mecanismo de ventilação natural, especialmente em edifícios de maiores dimensões.
Este tipo de ventilação funciona em situações com
uma profundidade útil de 9m, ou até três vezes a altura
de pé­‑direito – zonas com 18m podem ser ventiladas, se
estiverem dispostas “costas com costas”.
Áreas de circulação, como corredores e escadas, também podem ser utilizadas para abastecer as divisões que
não têm acesso ao lado de barlavento.
Podem ser utilizados pátios, em vez de planos profundos, para promover a ventilação cruzada.
Se o edifício está voltado para a direcção predominante do vento, e o vento tem uma boa intensidade, a
utilização de condutas e cavidades na laje para ventilação cruzada também podem ser eficazes.
Torres
de vento
Se o edifício não está
numa posição favorável
ao sentido do vento e brisas
predominantes, podem ser
utilizados dispositivos
para canalização do vento,
tais como torres de vento.
Torres eólicas, como as usadas em alguns países quentes
(2 a 20m de altura), também podem ser úteis para criar o
movimento de ar, quando o vento para ventilação cruzada
não está disponível a nível do edifício. O abastecimento
e extracção da torre de vento são feitos por pressão do
vento, revertendo para “efeito de chaminé” quando não
há vento suficiente.
Em certas regiões com clima quente e seco, charcos ou
potes de cerâmica com água são colocadas na base da torre
eólica para fornecer arrefecimento evaporativo adicional.
{ QUADRO 10 } Estratégias de ventilação natural por pressão do vento, para arrefecimento do edifício e do ocupante.
A ventilação por “efeito de chaminé” é apropriada
pendendo da diferença de temperatura média entre a
para edifícios em altura, e principalmente em situações
coluna de ar e da temperatura externa, os tamanhos de
em que o vento não consegue proporcionar um movi-
abertura/localização e da altura da coluna de ar. O ar
mento de ar adequado: quando há baixa velocidade de
quente sobe e sai do topo das aberturas; o ar mais fres-
ventos ou o vento tem um padrão imprevisível. Este
co irá penetrar no edifício em níveis de solo. O proble-
método também pode ser utilizado em conjunto com a
ventilação por pressão do vento, para reforçar o desempenho do sistema de ventilação, especialmente em
prédios de plano mais profundo onde é difícil conseguir
a ventilação cruzada. O “efeito de chaminé” consiste
na geração de uma diferença de pressão vertical, de-
{ FIG. 3.40 } Posição de
aberturas para dois tipos
de arrefecimento. A situação
do primeiro esquema é ideal
para o conforto do ocupante
(arrefecimento) – a entrada
de ar mais fresco é feita a nível
inferior. A situação do segundo
esquema serve para o para
arrefecimento do edifício
– escoamento do ar aquecido,
que sobe e se acumula junto
ao tecto, é feito a nível superior.
O uso de janelas altas, verticais,
é ideal para permitir e controlar
estes dois níveis de ventilação.
{ FIG. 3.41 } Alguns padrões
de ventilação para diferentes
tamanhos e posições de janela.
{ FIG. 3.42 } As pressões positivas e negativas causadas
por diferentes direcções do vento e as posições das aberturas.
As aberturas principais dos espaços devem ser orientadas
perpendicularmente ás brisas prevalecentes na época mais quente.
Se não há uma direcção prevalecente das brisas devem usar­‑se
elementos arquitectónicos como paredes, parapeitos para guiar
e orientar o fluxo de ar. As aberturas de entrada de ar não devem
ser obstruídas mas podem ser usados elementos que distribuam
o fluxo sem restringir a área de entrada e saída do ar. As aberturas
de entrada e saída de ar devem ter a mesma área. Quando
as aberturas são na mesma fachada é aconselhável abrir dois vãos
a mais longe possível um do outro.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
79
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
80
Efeito de chaminé
Descrição
Desempenho
Aberturas duplas
de um único lado
Aberturas com posições
baixa e alta, numa janela
ou parede.
Pode ser eficaz até 6m ou duas vezes a altura do pé direito. Pode aumentar a profundidade da ventilação natural em salas de plano profundo. Depende da diferença de
altura entre a entrada (inferior) e saída (superior).
Átrios
A introdução de um átrio
oferece um bom potencial
para ventilação por efeito
de chaminé.
Os átrios podem ser utilizados em edifícios de maiores dimensões e devem ter uma altura considerável em países
quentes, já que podem conduzir a sobreaquecimento.
Chaminés solares
Em chaminés solares,
a radiação solar é usada
para aumentar o efeito
de chaminé. Quando as
superfícies da chaminé são
aquecidas pelo sol, a taxa
de ventilação aumenta.
A chaminé solar deve terminar bem acima do topo do telhado, de modo a oferecer maior superfície exposta para
aquecimento, potenciando a circulação por efeito de
chaminé. O seu desempenho também é influenciado pelas pressões de vento no topo da chaminé.
Paredes com cavidade
ventilada
Paredes com cavidade
ventilada (ver também
“massa térmica”).
As paredes com cavidade ventilada melhoram a dissipação
do calor armazenado no edifício. Esta técnica é exclusiva
para a remoção de calor do edifício.
{ QUADRO 11 } Estratégias de ventilação natural por efeito de chaminé.
ma da ventilação por “efeito de chaminé” é o sistema
atingir o seu máximo quando se registam temperaturas
exteriores mais baixas e quando há maiores diferenças
de temperatura dentro do edifício. Em climas mais
quentes, como o Guineense, uma chaminé solar pode
ser usada para elevar as temperaturas nas áreas desocupadas, aumentando as diferenças de temperatura.
O desempenho é mais fraco do que o da ventilação por
pressão do vento, uma vez que requer maiores diferen-
{ FIG. 3.43 } Esquema de ventilação por efeito de chaminé
num edifício de átrio.
Dia/Noite
Descrição
Desempenho
Ventilação
diurna
É a estratégia mais simples
para melhorar o conforto quando
a temperatura interna é superior
à temperatura externa. Pode ser usada
ventilação por pressão do vento,
ou por efeito de chaminé.
Apropriado quando o conforto interior pode ser obtido
na temperatura do ar exterior, e com variações de
temperatura diurna inferiores a 10°C.
Recomendada para todas as regiões climáticas da Guiné­
‑Bissau.
Ventilação
nocturna
Usada para arrefecer a massa
do edifício durante a noite. No final
do dia, a temperatura de armazenamento (nas paredes, lajes, e outros
elementos maciços) será aumentada
sem degradar o conforto, aumentando
também a capacidade de dissipação
de calor do sistema. O calor é então
libertado através de ventilação
durante a noite, e o edifício
está fresco na manhã seguinte
(ver também massa térmica).
É especialmente adequada para situações em que as
temperaturas exteriores são demasiado quentes durante o dia, e a ventilação diurna é impossível. A ventilação nocturna é eficaz quando as temperaturas nocturnas são substancialmente inferiores às temperaturas
diurnas, com uma amplitude de 8ºC­‑10ºC.
O seu desempenho pode ser melhorado através da utilização de ventoinhas (ventilação mecânica).
Esta técnica é utilizada para a remoção de calor do
edifício. O seu uso é mais eficaz durante a estação seca.
{ QUADRO 12 } Uso de estratégias de ventilação natural em função da diferença entre as temperaturas externas e internas: ventilação
diurna e nocturna.
ças de temperatura e maiores áreas de aberturas (por
Quando a temperatura exterior é demasiado
exemplo, a ventilação cruzada alcançada a partir de um
quente, há que prevenir os ganhos de calor por
vento a 2.7m/s pode superar a de uma chaminé com
ventilação – causados pela infiltração de ar quente
3m de altura a 43°C no seu topo).
exterior dentro do edifício. Este tipo de ganhos
Os { QUADROS 10 e 11 } mostram as características
pode ser minimizado através da redução da taxa de
da ventilação por pressão do vento e “efeito de
ventilação quando a temperatura exterior é maior
chaminé”. O { QUADRO 12 } diz respeito a casos par-
do que a temperatura interior. A taxa de ventilação
ticulares de técnicas nocturnas e diurnas de ven-
deve ser substancialmente aumentada nos períodos
tilação, incluindo ventilação por pressão do vento
em que a temperatura exterior é menor do que a
e “efeito de chaminé”. O { QUADRO 13 } diz respeito
temperatura interior – por exemplo, durante a noite
à utilização de ventilação assistida.
(ventilação nocturna).
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
81
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
82
{ FIG. 3.44 } O ar quente deve ser puxado para o exterior para não
se acumular no tecto.
{ FIG. 3.45 } Quando os vãos da entrada de ar são mais pequenos
do que os da saída de ar, há maior eficiência na sucção do ar fresco
que expulsa o ar quente.
{ FIG. 3.47 } Com árvores baixas a brisa sobe; com árvores altas
a brisa desce e refresca a habitação.
{ FIG. 3.46 } A pala distanciada da parede aumenta a entrada de ar.
{ FIG. 3.48 } Quanto maior for a distância entre o edifício
e as árvores, mais força terá a entrada da brisa.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
83
{ FIG. 3.49 } No primeiro esquema, a clarabóia está mal localizada,
porque o ar quente do telhado entra dentro do edifício. No segundo
esquema, há um bom posicionamento – o ar quente do compartimento pode sair pela clarabóia.
{ FIG. 3.50 } No caso das coberturas inclinadas, a abertura deve ser
feita na parede mais alta.
{ FIG. 3.53 } Podemos construir um captador central para a ventilação
de todos os compartimentos ou pequenos captadores individuais
(torres de vento). Uma forma de fazer entrar ar fresco e limpo
no interior de um edifício é utilizar captadores, que permitem reciclar
o ar viciado e aquecido. Quanto maior for a altura de captação, mais
fresca é a brisa; evita­‑se também a entrada de poeiras arrastadas
pelo vento. Se a direcção da brisa fresca for relativamente constante,
esta solução é muito eficaz.
{ FIG. 3.51 } Dois recursos para forçar a movimentação do ar,
através de abertura nos tectos.
{ FIG. 3.52 } O movimento de ar fresco também pode ser produzido
através de dois pátios, um mais pequeno que o outro. O ar do pátio
mais pequeno, por ter mais sombra, é mais fresco do que o ar
do pátio maior. Assim, o ar quente sobe, fazendo com que o ar
fresco penetre melhor nos compartimentos entre os dois pátios.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
84
{ FIG. 3.55 } Pormenor de um piso ventilado com tubos PVC. As lajes
podem ter canais de circulação de ar para climatização da habitação.
Estes canais devem ter entrada e saída para o exterior para que o ar
circule e se renove no interior do piso. As aberturas devem ser
protegidas contra a entrada de insectos.
{ FIG. 3.54 } Esquema de um edifício ventilado pelo subsolo,
um sistema que já se usava na antiguidade. É possível baixar a
temperatura interior da habitação através de um sistema de ventilação
de subsolo. Esta técnica consiste em fazer passar o ar por debaixo
do solo por meio de um tubo, a cerca de dois metros de profundidade,
para tornar o ar mais frio. O tubo é conduzido até ao compartimento
que se quer refrescar. É importante que o tubo esteja a essa profundidade para se obter ar fresco. A captação faz­‑se numa área fresca com
sombra de árvores ou de plantas. A saída do tubo, dentro do
compartimento, protege­‑se com uma rede de mosquiteiro, para evitar
a entrada de insectos, e persianas com lâminas móveis, para controlar
a entrada de ar. Estes sistemas requerem geralmente o uso
de ventiladores (de baixo consumo) para acelerar o fluxo de ar.
{ FIG. 3.56 } Esquema de um edifício ventilado pela cobertura.
A maior parte dos ganhos e perdas térmicas dá­‑se através da cobertura,
por estar mais exposta à insolação.
Algumas das medidas para baixar a temperatura
baixa energia podem ser muito úteis em casos de edi-
nas lajes de cobertura são: isolar a cobertura; fazer
fícios existentes, especialmente naqueles onde o po-
aberturas de saída de ar quente na parte mais alta das
tencial da ventilação natural é limitado.
paredes; melhorar a entrada de ar com aberturas na
Em situações muito pontuais em que o poten-
parte baixa das paredes – orientadas na direcção dos
cial de ventilação natural é reduzido e o uso de sis-
ventos de forma a proporcionar no interior da habita-
temas de ventilação de baixo consumo, como as
ção uma ventilação cruzada; isolar com caixa­‑de­‑ar;
ventoinhas, não são suficientes para colmatar as
fazer canteiros. As lajes de betão aligeiradas com abo-
necessidades de ventilação e refrigeração do edifí-
badilhas suportadas por vigotas pré­‑esforçadas são
cio, é preferível utilizar os chamados sistemas de
uma solução eficaz. Além de serem leves, têm custos
“modo misto” – ou seja utilizar os sistemas de cli-
mais reduzidos e permitem uma boa ventilação.
matização apenas quando e onde for necessário.
Em regiões com períodos muito quentes, a venti-
A utilização de estratégias de “modo misto” pode
lação natural pode ser reforçada com dispositivos me-
evitar o sobredimensionamento dos sistemas cen-
cânicos de refrigeração de baixo consumo energético,
tralizados, reduzir os custos operacionais do edifí-
como ventoinhas. Os dispositivos de arrefecimento de
cio e economizar energia.
VENTOINHAS
Descrição
Desempenho
O uso de ventoinhas pode melhorar
o desempenho das técnicas
de ventilação natural.
Ventoinhas de tecto, caixa ou oscilantes, aumentam as velocidades do ar
interior e trocas por convecção,
aumentando os processos convectivos
e melhorando o conforto.
Estes mecanismos podem também
ser úteis quando a abertura de janelas
causa a penetração de calor, excesso de
velocidade do ar, ou problemas de ruído.
Os sistemas de ventilação assistida,
envolvendo ductos e aberturas
especiais para o efeito, podem também
ser utilizados para melhorar a circulação
do ar através do edifício.
A utilização de ventoinhas de tecto, de caixa ou oscilantes
podem permitir um aumento da temperatura de conforto interior, de 3°C­‑5ºC, a 1m/s, digamos de 24°C a 28°C, reduzindo muito as exigências de arrefecimento.
As ventoinhas de tecto podem ter um período de retorno de apenas 3 anos.
A qualidade do movimento turbulento e variável de ar
produzido pelas ventoinhas também produz efeitos mais
confortáveis do que o movimento do ar uniforme.
Uma ventoinha de tecto ou de mesa não incomoda ou
causa correntes de ar a 1m/s.
Os sistemas de ventilação assistida envolvendo ductos
e aberturas especiais, fora da zona ocupada, não são utilizados para o resfriamento convectivo do corpo, mas para
o arrefecimento da massa da construção e fornecimento de
ar fresco. Estes sistemas podem ser muito mais baratos e
consumir menos energia do que o ar condicionado.
{ QUADRO 13 } Ventilação assistida
3.8 Inércia térmica
ser dissipado durante a noite através de ventilação
nocturna. A inércia atrasa as trocas de calor por
condução com o exterior, o que é particularmente
Na maior parte das construções consolidadas na
benéfico durante as ondas de calor. Este sistema
Guiné Bissau, a envolvente opaca do edifício, as
tem utilidade particularmente durante a estação
estruturas e as divisões internas são construídas
seca, e em regiões com amplitudes médias diárias
com materiais maciços, como o adobe, a taipa, o
de temperatura superiores a 8ºC durante uma parte
betão, o tijolo, ou a pedra. A massa térmica actua
significativa do ano. Em zonas onde prevalecem
como armazenamento de calor e frio, regulando e
baixas amplitudes, é aconselhável um tipo de cons-
suavizando as oscilações de temperatura. A inércia
trução leve, de baixa inércia (e.g. em madeira).
térmica dos componentes de construção maciça di-
Ao contrário de outros dissipadores de calor,
minui os valores máximos de temperatura radiante
como a atmosfera, o céu, ou o subsolo, que forne-
no Verão, proporcionando melhores condições de
cem um recurso quase ilimitado para este propósito,
conforto. O calor armazenado durante o dia pode
o uso da massa térmica é uma solução temporária,
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
85
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
86
de transição. Após um certo ponto, o calor começa a
co acima desta, com um desempenho ainda razoável
acumular na massa do edifício e a massa térmica di-
em termos de arrefecimento passivo.
minui a sua eficiência. Portanto, o uso da massa tér-
Quando são necessários sistemas auxiliares de re-
mica deve ser conjugado com estratégias de ventila-
frigeração, como no caso dos edifícios de “modo
ção para remover o calor acumulado, em particular
misto”, a utilização de massa térmica pode atrasar a
com ventilação nocturna. As estratégias de ventila-
necessidade de refrigeração e reduzir os períodos de
ção nocturna aliadas a uma boa massa térmica po-
tempo em que se torna necessário arrefecer.
dem reduzir as temperaturas médias internas durante
O desempenho da massa térmica depende da ca-
o dia abaixo da média das temperaturas exteriores
pacidade das características construtivas do edifí-
diurnas. No entanto, em edifícios com grandes ga-
cio para a transferência de calor para o espaço, ou
nhos internos, como edifícios de serviços com gran-
seja, depende do coeficiente de transmissão térmi-
de concentração de ocupantes e equipamento, isto é
ca dos materiais empregues. O desempenho depen-
mais difícil de ser conseguido. Contudo, mesmo nes-
de também da capacidade física desses materiais
tes casos particulares, as temperaturas médias diur-
para armazenar calor, ou seja, o seu calor específi-
nas no interior podem ser mesmo assim reduzidas
co. A porção de massa térmica utilizada no proces-
para valores próximos da média exterior, ou um pou-
so corresponde tipicamente a uma espessura de
{ FIG. 3.57 } Exemplos
de utilização de materiais
maciços na construção
Guineense.
50­‑150mm a partir da superfície. O material maciço
deve ter a maior exposição possível. Os problemas
de acústica, por vezes causados pelo aumento da
exposição dos elementos maciços (paredes, lajes),
podem ser reduzidos pelo uso de tectos falsos perfurados, com absorvente de som.
{ FIG. 3.58 } O uso de edifícios de estrutura ligeira oferece
vantagens nas zonas com baixas amplitudes térmicas (menores
que 8ºC entre noite e dia durante a maior parte do ano),
onde a inércia tem menor efeito. São consideradas boas práticas
estruturas sobrelevadas, coberturas ventiladas, e varandas
com captação de vento.
MASSA TÉRMICA
Descrição
Desempenho
Elementos construtivos maciços,
como paredes, estrutura, lajes.
A ventilação nocturna da massa térmica
proporciona um meio eficiente
de refrigeração do edifício.
À noite, quando a temperatura exterior
é consideravelmente menor do que no
interior, a ventilação nocturna é usada
para dissipar o calor acumulado
durante o dia na massa do edifício,
para a atmosfera, de mais baixa
temperatura, impedindo
o sobreaquecimento no dia seguinte.
O ar exterior é introduzido no edifício
através das janelas, ou através de canais
especiais incorporados na estrutura
do edifício.
Os sistemas de refrigeração nocturna podem ser
uma das mais eficientes técnicas de arrefecimento
passivo. Este sistema exige taxas de ventilação,
de 10 – 25 ach/h, e amplitudes de 8ºC–10ºC entre
dia e noite, tendo a construção de ser suficientemente maciça para armazenar o efeito de resfriamento até o dia seguinte. Este tipo de ventilação
pode ser natural ou assistida por ventoinhas.
As paredes e a estrutura devem ser suficientemente expostas ao fluxo de ar, evitando o uso de
tectos falsos, e de quaisquer outros elementos que
poderiam impedir este contacto. A optimização da
inércia térmica normalmente não exige acções complexas e caras – pode ser suficiente aumentar a exposição em massa térmica, por exemplo, através da
remoção de tectos falsos e abrir as janelas existentes, tendo em conta as precauções de segurança,
protecção contra insectos e correntes de ar. Para facilitar a ventilação nocturna, as janelas podem ter
aberturas na parte superior.
{ QUADRO 14 } Técnicas que podem ser usadas para optimizar a utilização de massa térmica.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
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ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
88
3.9 Arrefecimento evaporativo
O arrefecimento evaporativo é alcançado por um
processo adiabático, em que a temperatura sensível do ar é reduzida e compensada por um ganho de calor latente. O uso de fontes e vegetação
nos pátios, assim como o acto de derramar água
no chão e a utilização de grandes vasos de barro
poroso cheio de água nos quartos são bons exemplos de técnicas de arrefecimento evaporativo
directo, usados em alguns dos países mais quentes de África e que também poderão ser aplicadas com sucesso na Guiné durante a estação
seca, e quando o teor de humidade relativa não
ultrapassa os 60%.
Existem também técnicas de arrefecimento
evaporativo indirecto, em que o ar é arrefecido
sem que haja aumento do seu conteúdo em vapor
de água. Através destes sistema, a temperatura do
ar pode ser diminuída até se igualar à Temperatura
de Bolbo Húmido. O consumo de água é bastante
mais reduzido que em sistemas directos. Contudo,
os sistemas indirectos envolvem o recurso a aparelhos mecânicos, que podem ser caros e requerer
uma manutenção complexa.
{ FIG. 3.59 } Exemplos de uso de vegetação em espaços exteriores:
além de oferecerem sombreamento e contribuírem para a beleza
do local, a vegetação também contribui para uma ligeira redução
da temperatura do ar através do processo de evapotranspiração
resultante da fotossíntese (arrefecimento evaporativo).
3.10 Controle de ganhos internos
mento, especialmente em edifícios de serviços de
maiores dimensões. As principais estratégias para
reduzir os ganhos internos de calor são:
As principais fontes de calor no interior do edifí-
a) Evitar o uso excessivo de iluminação artificial;
dos ocupantes e os equipamentos que estes utili- b) Optimizar a utilização da luz natural;
zam. Os ganhos internos de calor também podem c) Evitar ganhos excessivos de calor de ocupantes
cio são: a iluminação eléctrica, a concentração
contribuir significativamente para o sobreaqueci-
e equipamentos.
Descrição
Eficiência
Luz Artificial
O uso de iluminação artificial é
muitas vezes excessivo, ou porque
os níveis de iluminação são muito
altos, os sistemas de iluminação
são ineficientes, ou devido a uma
má gestão por parte dos ocupantes.
Os ganhos internos de calor
provenientes da luz artificial podem
variar de 6 a mais de 20 W/m2.
É recomendado o uso de iluminação pontual, de secretária,
com baixos níveis de iluminação de fundo
Fontes de luz de alta eficácia, com baixa emissão de calor
e baixo consumo energético, como lâmpadas fluorescentes, devem ser utilizadas em vez das convencionais lâmpadas incandescentes, de tungsténio.
Em edifícios de serviços também podem ser usados extractos de ventilação junto das luminárias para reduzir os ganhos
de calor.
Luz Natural
O uso da luz natural pode reduzir
substancialmente as cargas
de refrigeração, ao substituir
ou complementar o uso de luz
artificial durante o dia.
A luz natural deve ser bem
distribuída pelas várias divisões.
Deve ser tomado em conta
o conforto visual dos ocupantes,
evitando situações de encadeamento e contraste luminoso excessivo.
Estima­‑se que por cada 1KWh evitado para iluminação na estação de arrefecimento, se poupam cerca de 0.3KWh de electricidade usada pelo ar condicionado.
Deve ser considerado que a área de espaço que pode ser iluminada naturalmente é a correspondente ao dobro da altura do tecto
ao chão – em geral até cerca de 6m em profundidade, a partir das
janelas. Regra geral, janelas localizadas a um nível mais alto têm
um desempenho melhor do que janelas a um nível mais baixo, e janelas verticais altas, têm um desempenho melhor do que janelas
horizontais em banda (visto que a luz do sol entra mais profundamente no espaço). A utilização de cores claras (reflexivas) nas paredes e decoração também aumenta os níveis de iluminação.
A utilização de clarabóias nos últimos andares deve ser feita com cuidado, dado que pode causar o sobreaquecimento durante o verão, assim como o encandeamento.
{ QUADRO 7 } Estratégias de utilização de diferentes tipos de iluminação para reduzir ganhos internos.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
89
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
90
Descrição
Eficiência
Pátios e Átrios
A introdução de pátios e átrios
pode melhorar a iluminação
natural e a ventilação,
reduzindo o consumo
de energia da iluminação
artificial e ar condicionado.
A introdução de átrios envidraçados deve ser cuidadosamente
considerada em climas mais quentes, já que muitas vezes leva
a problemas de sobreaquecimento. A zona naturalmente iluminada adjacente ao átrio a ser considerada é limitada à zona de
visão do céu (o que corresponde a uma proporção de cerca de
3 para 1 entre a altura e a largura do átrio).
Ocupantes
e equipamento
interno
Os ganhos internos provenientes
dos ocupantes e equipamentos,
como computadores
e fotocopiadoras, podem
produzir ganhos de calor anual
na faixa de 15 a 30W/m2.
A redução dos ganhos internos pode ser alcançada através da localização do equipamento de geração de calor em áreas especiais
(por exemplo, sala de informática), com maiores taxas de ventilação (climatização especial, se necessário), servindo como espaços tampão, e longe dos ocupantes, se possível.
Os ganhos internos dos ocupantes podem ser reduzidos evitando uma excessiva densidade de ocupação, no caso de escritórios, através de uma boa gestão da organização espacial.
{ QUADRO 8 } Estratégias para reduzir ganhos internos.
3.11 O uso de controles ambientais
ção de ambientes confortáveis estão condicionadas
não só pela eficiência dos controlos, mas também
pelo pela forma como os ocupantes os utilizam. O uso
Algumas técnicas de arrefecimento passivo, como
de controlos ambientais permite aos utilizadores mu-
a utilização de isolamento térmico ou de revesti-
dar o ambiente, adaptando­‑o às suas necessidades de
mento reflexivo para reduzir a penetração do calor
conforto térmico. Consecutivamente, pode haver uma
dentro do edifício, não envolvem o uso de contro-
melhoria significativa na satisfação térmica, permitin-
los operacionais, ou seja, os sistemas são fixos,
do que os ocupantes vão ao encontro das suas neces-
inerentes ao edifício, não exigindo controlo por
sidades específicas de conforto, reduzindo o descon-
parte do ocupante ou interacção automática.
forto por sobreaquecimento.
No entanto, em muitas outras estratégias passi-
É importante que os ocupantes se apercebam que
vas, como a abertura de janelas para ventilação natu-
a utilização de controlos não só leva a uma melhoria
ral, o ajuste de sombreamento ou a utilização de ven-
da eficiência do próprio sistema, mas também tem um
toinhas, o desempenho do sistema é regulado por
grande impacto sobre a poupança de energia. Para tal,
controlos operacionais. Nestes casos, a eficiência dos
o seu design deve ser simples, por forma a facilitar
sistemas de redução do consumo de energia e a cria-
uma compreensão intuitiva sobre o seu uso.
3.12 Estratégias passivas
e critérios de conforto térmico
actuais normas ASHRAE ou ISO, são considerados
ainda como aplicáveis em qualquer lugar do mundo, apesar da grande variedade climática existente, com apenas uma pequena variação sazonal
As técnicas de design passivo podem ser aplicadas
para situações de Verão e Inverno. Consideram
com um bom grau de eficácia. É verdade que não pro-
temperaturas de Verão em torno de 22ºC como
movem o tipo de ambientes uniformes, de baixas
ideais, com temperaturas máximas na ordem dos
temperaturas, encontradas em edifícios com ar con-
26ºC. Em países mais quentes, tal implica o recur-
dicionado. Coloca­‑se uma questão: esse tipo de am-
so extensivo a sistemas de ar condicionado.
bientes internos é realmente necessário e desejável?
Por outro lado, existe hoje um vasto corpo de
Em pesquisas realizadas por todo o mundo em edi-
informação, que demonstra que as pessoas que vi-
fícios naturalmente ventilados, onde as condições de
vem em países com climas mais quentes estão sa-
ambiente térmico variam fora da zona de conforto
tisfeitas em temperaturas mais altas do que as
convencional, um número maioritário de pessoas rela-
pessoas que vivem em países com climas mais
taram sentir­‑se, de facto, confortáveis com o seu am-
frios, e estas temperaturas são significativamente
biente térmico. Outros estudos, realizados em edifí-
diferentes (superiores e inferiores, respectivamen-
cios com ar condicionado central, demonstraram uma
te) das temperaturas consideradas “ideais” pelos
insatisfação significativa com o ambiente térmico por
padrões convencionais. Nos trópicos, em zonas
parte dos ocupantes. Este descontentamento poderia
onde as médias se situam entre os 24 e os 28ºC o
ser atribuído a várias causas como a falta de “natura-
ano todo, admitem­‑se valores de limite superior
lidade” e os problemas de saúde inerentes ao sistema
de temperatura de conforto 31ºC, com humidade
e ainda a outro factor muito importante: a falta de
relativa entre 35 e 75%, e considerando o efeito
controlos ambientais existentes em edifícios com sis-
de brisa refrescante (Salmon, 1999).
tema centralizado, que inibem o processo natural de
adaptação humana.
Os edifícios que usam técnicas de arrefecimento passivo podem ser uma alternativa mais efi-
Existe hoje uma grande controvérsia em rela-
ciente e económica, de baixo consumo energético
ção aos critérios de conforto térmico. As normas
e amigos do ambiente, a edifícios com ar condi-
convencionais apresentam uma zona limitada de
cionado. Estes edifícios bioclimáticos oferecem
temperatura, como sendo teoricamente “ideal”,
também ambientes térmicos mais satisfatórios –
isto é, dentro da qual a grande maioria dos ocu-
não na sua capacidade de cumprir normas rigoro-
pantes de um edifício se vai sentir confortável.
sas, mas na melhoria do conforto fisiológico e psi-
Estes padrões de conforto convencionais, como as
cológico dos ocupantes.
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
91
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
92
Bissau
Para uma melhor percepção do que poderá sig-
vés da utilização de várias técnicas de arrefecimento
nificar o conforto interior de um edifício para o cli-
passivo com base em pesquisa realizada por Givoni
ma da Guiné, apresentam­‑se na {
(1969). Fora dessas zonas, o uso de ar condicionado,
FIGURA 3.60
} os
diagramas psicométricos para duas grandes cida-
ou sistema activo alternativo, seria requerido.
des, Bissau e Bolama, com representação das áreas
As estratégias referenciadas são as mais adequa-
de influência de cada uma das técnicas de arrefeci-
das ao bom desempenho do edifício nessa zona cli-
mento passivo já referidas. As manchas a azul escu-
mática. Pode verificar­‑se que, se nenhuma estraté-
ro na carta representam as características climáti-
gia passiva for utilizada, a aplicação de padrões de
cas (temperatura de bolbo seco e húmido, humidade
conforto da ASHRAE (ASHRAE, 1995) leva ao uso
relativa e pressão de vapor), e o contorno amarelo,
de ar condicionado durante a maior parte do ano.
a zona convencional de conforto ASHRAE.
Em ambos os casos, a estratégia principal de ar-
Nestas figuras encontram­‑se ainda sobrepostas as
refecimento passivo a implementar é a ventilação
zonas de influência das diversas técnicas de arrefeci-
diurna. A ventilação nocturna e a inércia térmica de-
mento passivo. Os diagramas mostram como a zona
sempenham também um papel importante no arrefe-
convencional de conforto poderia ser ampliada atra-
cimento do edifício, em particular durante a época
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
93
Bolama
{ FIG. 3.60 } Diagramas psicométricos – cidades de Bissau
(esquerda) e Bolama (direita). A mancha azul escura ilustra o perfil
climático da região. O gráfico mostram como a zona convencional
de conforto de verão da ASHRAE (1) pode ser ampliada através
da utilização de várias técnicas de arrefecimento passivo. As várias
zonas apresentadas nos gráficos foram definidas por Givoni (1969)
e correspondem a:
{1} Zona convencional de conforto de Verão da ASHRAE, utilizada
como padrão para o uso de ar condicionado (contorno amarelo)
{2} Zona de influência da ventilação diurna (contorno rosa).
{3} Zona de influência da ventilação nocturna (contorno carmim).
{4} Zona de influência da inércia térmica (contorno azul).
{5} Zona de influência do arrefecimento evaporativo directo
(contorno lilás) e indirecto (verde).
{6} Zona de aquecimento passivo (contorno vermelho).
{7} Zona onde o ar condicionado é necessário
(fundo branco, à direita).
período do ano, que pode ser facilmente conseguido
através de uma correcta orientação solar.
Para os períodos excepcionalmente quentes, correspondentes à margem que se localiza na zona activa (zona a branco à direita), pode­‑se recorrer a sistemas de baixo consumo energético, como ventoinhas
(mais económicas e eficazes), ou sistemas de modo
misto. Para situações de excepção, em que o uso de
ar condicionado é difícil de evitar (e.g. grandes edifícios de serviços), existe também hoje tecnologia
alternativa aos sistemas convencionais de climatiza-
seca. O arrefecimento evaporativo (zona verde) pode
ção: o chamado AVAC solar, um sistema mecânico de
também contribuir para algum arrefecimento duran-
ar condicionado em que o uso de electricidade pro-
te a estação seca. Regista­‑se também uma muito li-
veniente de combustíveis fósseis é substituído pelo
geira necessidade de aquecimento durante um breve
da energia solar, uma fonte renovável, reduzindo as-
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
94
sim o impacto negativo sobre o ambiente, e também
sign passivo, é possível concluir que é através da
os custos de manutenção.
ventilação natural que se pode conseguir as maiores
Os gráficos apresentados na { FIGURA 3.61 } expõem
melhorias no conforto. De uma situação de conforto
a variação na percentagem de conforto mediante a
quase inexistente, passa­‑se para uma situação de
promoção de diversas técnicas, e a {
40%. O que se reflecte no gráfico da variação de con-
FIGURA 3.62
}a
combinação múltipla das técnicas de dissipação de
forto considerando­‑se múltiplas estratégias.
calor. Estas últimas referem­‑se apenas à cidade de Bis-
Não deixam contudo de se observar níveis de insa-
sau, uma vez que o clima não varia muito dentro do
tisfação eventualmente elevados. Mas mostra a expe-
território nacional. De acordo com os referidos gráfi-
riência que habitantes de zonas quentes toleram mais
cos, mostrando as variações nas percentagens de con-
o calor do que indivíduos habituados aos padrões eu-
forto conforme se adoptem ou não estratégias de de-
ropeus de conforto. Isto é, temperaturas altas como
{ FIG. 3.61 } Percentagens de conforto para cada uma das técnicas
de arrefecimento passivo. A ventilação natural é a única técnica
a partir da qual é possível tirar proveito o ano todo, mesmo
nos períodos em que ocorrem os dias medianamente mais quentes
(época húmida, de Junho a Outubro).
PROJECTO BIOCLIMÁTICO: PRINCÍPIOS GERAIS
95
as que chegam a atingir os 30ºC podem na verdade ser
condições de conforto numa região em que as máximas diárias chegam a atingir os 39ºC.
Embora estes gráficos mostrem uma janela de
oportunidades em termos de arrefecimento passivo, não traduzem a situação real de conforto, uma
vez que foram calculados tendo por base fórmulas
empíricas baseadas nos padrões de conforto de
{ FIG. 3.62 } Variação nas percentagens de conforto por combinação
de múltiplas técnicas passivas.
climas tipicamente frios, sendo por isso bastante
conservadores. Esta é uma área de estudos onde é
ainda muito necessário o desenvolvimento de investigação que clarifique as exigências reais de
conforto em regiões tropicais como o caso da Guiné Bissau – por forma a evitar desconforto e gastos desnecessários de energia, com sérias consequências económicas e ambientais.
{ FIG. 3.63 } O uso do ar condicionado pode ser evitado através
da correcta utilização de design passivo, evitando encargos
económicos e danos ambientais.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
96
{ capítulo 4 }
Materiais de construção
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
97
Na Guiné­‑Bissau, tal como em outros países de clima similar, os elevados níveis de humidade, a chuva intensa, e o calor constante, são as principais
agressões aos materiais e às próprias construções.
Nas regiões húmidas encontram­‑se várias madeiras duráveis e resistentes a ataques de insectos, as quais devem ser sempre que necessário
cuidadosamente protegidas. Por exemplo, espécies contendo resina são resistentes às térmitas
(Lauber, 2005).
Os materiais orgânicos por natureza degradam­‑se
mais rapidamente, e nos metais a corrosão é uma
ameaça real e constante, sendo também a sua fraca
inércia térmica merecedora de algumas considerações adicionais. A questão dos insectos como as térmitas (localmente conhecidas por baga baga) representa um grande perigo para todos os materiais de
construção orgânicos, como é exemplo o colmo e a
madeira utilizados na construção vernacular. Embora
existam actualmente vários métodos de protecção
{ FIG. 4.1 } Casa de térmita.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
98
dos materiais naturais contra o ataque dos insectos,
} A disponibilidade de mão­‑de­‑obra, ou necessi-
sejam resinas, óleos, ou protecções químicas, estes
dade de mão­‑de­‑obra especializada;
ainda não se encontram difundidos no país.
} A combinação adequada de materiais diferentes;
Os materiais utilizados na construção das casas
} Os recursos económicos e necessidades do dono
tradicionais são os mais vulneráveis à acção do
da casa;
clima, por serem utilizados no seu estado natural,
} A resistência ao fogo, e a térmitas.
mas esta característica é também o que os torna
E não depender tanto do estatuto conferido a
uma solução ecologicamente mais limpa, e sob
determinados materiais como o betão, o aço, ou o
vários aspectos mais sustentável.
vidro. Nas grandes cidades de regiões tropicais, a
A selecção dos materiais de construção deve
preferência ou o nível de aceitação de um material
obedecer a critérios como:
prende­‑se muito com o seu status. Materiais como
} A disponibilidade do material na região;
a terra, a madeira e o bambu são facilmente rejei-
} Os processos de extracção, transporte, fabrico,
tados, mesmo por pessoas com fraca capacidade
armazenamento ou manutenção requeridos;
económica, as quais anseiam por construir com
} O comportamento do mesmo perante o clima, em
materiais catalogados como mais “nobres”, como
termos do conforto no interior da casa, e durabilidade;
o betão, o aço, e o vidro.
{ FIG. 4.2 } A terra é normalmente utilizada misturada com material
vegetal (bambu, folhas de palmeira ou palha) para aumentar
a resistência das paredes, em terra maciça ou blocos de adobe.
O telhado é coberto de colmo, com uma armação que pode ser
em bambu partido, canas, paus ou cibe (troncos de palmeira).
{ FIG. 4.3 } Combinação de armação de troncos de palmeira (cibes)
com revestimento interior do tecto por esteiras de bambu.
Bubaque, Arquipélago dos Bijagós.
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
99
Vem­‑se notando uma clara preferência pela cobertura de zinco em substituição do termicamente
mais adequado colmo (em zonas rurais), e a catalogação do adobe como um material precário, dando­
‑se preferência ao seguro, e termicamente menos
eficiente bloco de betão (em zonas peri­‑urbanas).
{ FIG. 4.5 } Processo de substituição da cobertura de uma casa
de adobe em zona rural, coberta anteriormente de colmo, por zinco.
A armação utilizada é comum, de troncos de palmeira cortados
longitudinalmente. Ienberém, Sul do País.
{ FIG. 4.4 } Edifício em zona peri­‑urabana construído à base
de materiais como o betão armado e a telha, considerados materiais
de construção definitiva.
{ FIG. 4.6 } Moradia com características contemporâneas inserida
em meio rural. Sector de Canchungo.
4.1 Zinco
As principais vantagens da opção pelo zinco são as
suas características de durabilidade e impermeabilização, e as principais desvantagens o baixo isolamento térmico e acústico, contribuindo para o so-
{ FIG. 4.7 } Cobertura dupla de aluzinco com palha por cima.
breaquecimento interior, principalmente se a casa
não dispor de tecto. A melhor solução seria uma cobertura dupla com estes dois materiais, aliando as
propriedades de durabilidade de um, às boas características térmicas do outro, ou alternativamente a
utilização de painéis sandwich com isolamento (por
exemplo de poliuretano ou poliestireno expandido).
{ FIG. 4.8 } Cobertura dupla com folha de zinco, palha por cima
e revestimento interior em esteira de bambu.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
100
4.2 Terra crua
condutividade térmica. Quanto maior a massa específica e a espessura do elemento terra, maior a sua capacidade térmica, logo maior será o tempo necessário
A terra crua é um dos primeiros materiais a ser
para que o calor externo atinja o interior, e maior o
utilizado pelo homem na construção das suas ci-
amortecimento da amplitude térmica exterior.
dades, desde há cerca de dez mil anos. Este mate-
As principais técnicas de construção por terra po-
rial permite­‑nos conhecer também a identidade
dem ser agrupadas em três grandes grupos: constru-
cultural e arquitectónica de vários povos antigos,
ções monolíticas, alvenarias, e enchimento, que com-
totalmente erguidas em terra, entre um infindável
preendem as técnicas hoje difundidas, nomeadamente:
número de construções que perduram até hoje.
Taipa, Adobe e Blocos de Terra Comprimidos (BTC).
Apresenta características que a tornam um ma-
O Adobe e a taipa foram largamente utilizados
terial ecológico, pois não explora recursos escas-
como técnicas de construção tradicional, nas
sos, nem tão pouco requer processos de transfor-
construções mais antigas do mundo, enquanto os
mação da matéria­‑prima que envolvam meios
BTC, são uma técnica mais moderna e actual.
energéticos dispendiosos, é facilmente reciclável e
As características mais determinantes para se-
reutilizável, não é tóxico, é incombustível, apre-
leccionar o tipo de terra e técnica mais adequadas
senta bom desempenho térmico, e não polui o meio
são a granulometria, a plasticidade, a humidade, e
ambiente. É de acesso fácil, no entanto há que ter
o grau de compactação. Através de ensaios labo-
em consideração os inconvenientes que podem re-
ratoriais é possível determinar estas característi-
sultar da sua aplicação, tais como a rápida degrada-
cas do material, aferindo também a sua adequabi-
ção sob acção da água das chuvas, a fraca resistên-
lidade para à construção.
cia mecânica, e os requisitos de segurança e
A terra é utilizada com diferente teor em água para
durabilidade, pretendidos nas construções actuais.
cada técnica, por exemplo, no adobe deverá estar hú-
No caso do desempenho térmico, a propriedade
mida, dentro do intervalo plástico, enquanto na taipa
mais importante é o calor específico, quantidade ne-
poderá estar praticamente seca, com pouca humidade,
cessária para aquecer 1 kg de material em 1ºC, que
sendo a coesão dada pela compactação. De forma se-
neste caso é de 0,24 Kcal/Kg ºC. A condutividade e
melhante, na produção de BTC a água é necessária
capacidade de transferência, variam em função da for-
apenas para fornecer uma coesão inicial, que facilita
ma como a terra é empregue, e dependem do calor es-
o transporte dos blocos antes de se iniciar o processo
pecífico, da massa específica, e da espessura do ele-
de cura do cimento. O ciclo de produção da terra tem
mento. Quanto maior a massa específica, massa de
um processo idêntico nas várias técnicas, havendo al-
material contida num determinado volume, maior a
gumas especificidades próprias de cada uma.
Uma das grandes limitações desta matéria­
Na construção tradicional guineense a técnica
‑prima como material de construção prende­‑se
da taipa é utilizada (designando­‑se por taipe), no
com a necessidade de garantir certos padrões ac-
entanto sem recurso a moldes ou cofragens.
tuais de qualidade, existindo a necessidade de se
O terreno é escavado perto do local escolhido,
recorrer pontualmente ao betão e/ou outros mate-
retira­‑se a primeira camada, por conter matéria
riais correntes, para satisfazer esses requisitos.
orgânica, utilizando­‑se a terra da camada virgem.
As propriedades mecânicas e de permeabilida-
A terra é desagregada, amassada com um bocado
de podem ser melhoradas por adição de produtos
de água, consoante o seu nível de humidade natu-
ditos estabilizantes.
ral. As fiadas são elevadas por camadas de 50 cm
(sensivelmente), através de bolas de terra, que
são desfeitas e compactadas por cima da camada
Taipa
anterior, formando estruturas monolíticas.
Um dos problemas com que se pode deparar
A taipa é uma técnica de construção de paredes
nesta técnica é a retracção do material, o que leva
monolíticas de aproximadamente 50 cm de espes-
à sua fissuração. Nos meses quentes a secagem do
sura, com recurso à terra crua, que é humedecida
material é mais rápida, acentuando­‑se este pro-
e colocada entre moldes, sendo comprimida para
blema. Uma correcção granulométrica pode dimi-
formar um bloco ou uma parede, que conferem
nuir o índice de vazios, que mais rapidamente são
bom isolamento térmico à habitação. O termo
preenchidos na compactação. Ainda para optimi-
“taipa” é utilizado para caracterizar tanto o mate-
zação do material pode ser adicionada cal apaga-
rial como a técnica.
da em pó, na proporção entre 6 a 8 %. material
que sendo mais poroso diminui a retracção, e a
tendência para a fendilhação, para além de aumentar a trabalhabilidade (Ruivo, 2008).
Beirão (2005) sugere ainda a introdução de uma
camada de 2 a 3 cm de uma mistura de cal e areia,
entre as fiadas da taipa, de forma a reduzir a possibilidade de fissuração, e melhorar a aderência ao
reboco de cal que serve de acabamento.
O uso da taipa em construções modernas é um reconhecimento das suas qualidades. Actualmente no
{ FIG. 4.9 } Construção em taipa.
exterior esta é aplicada essencialmente em paredes
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
101
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
102
exteriores, substituindo a parede dupla de alvenaria
de tijolo com isolamento térmico e caixa­‑de­‑ar. No interior é usual a utilização da alvenaria de tijolo.
Em termos de custo, a taipa é uma técnica
acessível, quando comparada com as outras técnicas de construção em terra, que exigem para além
do custo com a execução, a aquisição e o trans-
{ FIG. 410 } Construção
de paredes em adobe reforçado
com cimento.
porte do material. Quando comparada com as pa-
No seu fabrico a terra deve ser muito bem mis-
redes de alvenaria tradicional de tijolo, as diferen-
turada e amassada, após a adição de água, poden-
ças de custo prendem­‑se mais com os ritmos da
do ser utilizado o mesmo equipamento que se uti-
construção alcançáveis com a última, bastante
liza no fabrico de betões, a betoneira. A pasta que
mais expedita.
resulta é moldada num molde.
Adobe
O adobe refere­‑se a paredes feitas com blocos de
terra crua, por vezes misturada com fibras vegetais
ou sintéticas para aumentar­‑lhe a consistência,
preparados em moldes e secos ao sol. É das técnicas de construção em terra mais antigas, e onde foram desenvolvidos muitos estudos experimentais a
nível mundial, no que toca à utilização de aditivos
e estabilizantes, e à melhoria de processos de fabrico mecânicos. O adobe foi a base da arquitectura
mesopotâmica e egípcia, e permite para além da
construção de paredes, a edificação de arcos, abóbadas e cúpulas (Lourenço, 2002).
O Adobe pode em muitos casos ser uma alternativa viável ao tijolo cozido, reduzindo bastante
os custos de fabrico, para além de que proporciona um maior conforto térmico e acústico.
{ FIG. 4.11 } Hoje em dia, para além dos moldes que permitiam
a execução de uma ou duas peças de cada vez, existem moldes
de compartimentos múltiplos que permitem a execução de vários
blocos em simultâneo, mas para a utilização destes, a terra deve
estar mais líquida, pois ao ser despejada no molde, é necessário
garantir que preencha uniformemente todos os moldes.
Os moldes podem ser com ou sem fundo, de
} Odor a mofo indica que a terra é vegetal, logo
madeira, plástico ou ferro, e a qualidade deve ser
pouco adequada;
tal que não permita o apodrecimento ou o empeno
} O ideal é uma terra com porções de argila e areia.
por contacto com a água. Devem ser molhados e
Também é possível testar o adobe já feito, à
salpicados de areia, antes de levarem a terra, que
resistência mecânica, permeabilidade, procedendo
é então ajustada, sem descuidar dos cantos, que
da seguinte forma:
devem ser completamente preenchidos de terra.
} Colocá­‑lo sobre outros dois, e pisar com força.
Entre duas utilizações os moldes devem ser lava-
Este deve aguentar sem partir;
dos com jactos de água sobre pressão.
} Colocá­‑lo de molho na água durante 4 horas,
Para a execução em obra, os moldes múltiplos
quebrá­‑lo e verificar a espessura da superfície mo-
permitem um bom rendimento, sendo a produção
lhada, a qual não deve ultrapassar 1 cm;
mecânica justificada apenas para produções em
} Colocá­‑lo de molho na água durante 4 horas,
grande escala, por exemplo, de carácter comer-
depois colocá­‑lo sobre outros dois, e empilhar um
cial. A produção é feita por extrusão, cujo rendi-
conjunto de 6 blocos por cima dele. Deve aguen-
mento é também bastante satisfatório.
tar pelo menos 1 minuto antes de quebrar.
A granulometria deve respeitar alguns valores
Tal como nas paredes de tijolo, também com o
de referência, nomeadamente: Areia – 55 a 75%;
adobe podem ser feitas paredes duplas com isola-
Silte – 10 a 28%; Argila – 15 a 18% (Lourenço,
mento no interior, para melhoria tanto do confor-
2002). Quando o teor de argila é baixo, adiciona­
to térmico como acústico.
‑se à terra cal aérea, melhorando a sua resistência. Por outro lado, quando a teor de argila é superior, é usual a adição de fibras vegetais (palha
Blocos de terra comprimidos (BTC)
moída), que diminuem os efeitos da retracção no
Esta técnica é actualmente muito utilizada, e não
processo de secagem, e melhoram a resistência.
deriva de uma técnica manual ou tradicional. Con-
} Em Lengen (2004) são sugeridos testes simples
siste na execução de blocos prensados, que com-
para determinar se uma terra é boa para fazer adobes.
parados ao adobe, são muito regulares em forma e
Nas escavações dispensa­‑se a camada de cima,
dimensões, e mais densos (Lourenço, 2002). Apre-
porque contém muita matéria vegetal;
sentam uma dimensão de 29x14x9 cm, e um peso
} Pela cor dispensa­‑se terra negra, por ser gordu-
de 7,5 Kg, sendo assentes em fiadas e contra fia-
rosa, e branca, por ser arenosa; as melhores cores
das, com juntas desfasadas.
são a vermelha, castanha, e amarelo­‑claro, sendo
esta última a mais adequada;
Os blocos são produzidos por um processo mecanizado e automatizado, em que a matéria­‑prima
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
103
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
104
(argila, silte e areia) é tratada num pulverizador
As construções que utilizam BTC representam so-
que uniformiza a granulometria e retira as impure-
luções económicas e sustentáveis, na produção, con-
zas da mistura. Após este processo, na misturadora
somem pouca energia e provocam impactos ambien-
é adicionada água e estabilizantes (cal e/ou cimen-
tais baixos, e no uso, nível de conforto térmico
to numa quantidade que varia entre 6 a 8%). Este
propício no interior.
material é finalmente transportado para uma máquina compactadora, através de uma passadeira. É
possível produzir até 2500 blocos por cada dia de
4.3 Madeira
trabalho com apenas dois homens para operar. No
final do processo, os blocos podem ser armazena-
A madeira é um recurso que existe em abundância,
dos ao ar livre sem qualquer tipo de protecção.
devido à riqueza local em espécies florestais. De en-
É uma técnica que se adequa a modelos arqui-
tre as várias espécies referem­‑se duas com boas pro-
tectónicos bioclimáticos, pela elevada massa tér-
priedades construtivas (Oliveira, 1967): Bissilon
mica dos BTC, conduzindo a uma estabilização tér-
(Khay senegalensis A. Juss.) – ocorre especialmente
mica no interior das construções, principalmente
na região Norte e Central da floresta aberta (Bafatá,
em temperaturas ambientalmente mais altas. Alia-
Oio e Cacheu); Cibes (Borassus aethiopum Mart.) –
da a sistemas de design passivo, como a promoção
pode ser encontrada em todo o território, desenvolve­
da ventilação natural, aumenta a eficácia em ter-
‑se em terrenos de aluvião e savana, em solos lodo-
mos de conforto ambiental nos edifícios. É utiliza-
sos e em algumas depressões de maior humidade.
da pouca energia na produção dos BTC, utilizando­
Apresenta­‑se sem fendas e resiste ao ataque de xiló-
‑se mais mão­‑de­‑obra.
fagos, sendo muito utilizada em pilares e postes.
4.4 Bambu
Outro material disponível nestas zonas é o bambu,
muito aplicado nos edifícios de construção tradicional. A cana de bambu atinge resistência máxima 3 a
6 anos após o seu crescimento (que dura 3 ou 4 meses), e é nessa altura pode ser utilizado na construção (Lengen, 2004). A partir dos 6 anos, se não for
{ FIG. 4.12 } Troncos de palmeira cortados longitudinalmente.
cortado, começa a perder a sua rigidez. É um mate-
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
105
{ FIG. 4.13 } Entramado de taras de bambu, localmente designado
quirintin. É utilizado em paredes de casas vernaculares revestido em um
ou ambos os lados por barro, e muito utilizado como muro de vedação.
rial extremamente económico, com comprimentos
elevados (20 a 30 metros), oferecendo vantagens
como o facto de ser leve, altamente resistente a forças de tracção, compressão, e momentos flectores, e
ser facilmente trabalhável, sem necessidade de mão­
‑de­‑obra especializada (Lauber, 2005).
A maior vantagem do Bambu é sem dúvida o seu
sistema de rotação, isto é, começa a crescer novamente, imediatamente após o seu corte. A grande
desvantagem é a vulnerabilidade aos insectos, fungos e fogo, embora já existam tratamentos bastante eficazes para ambos.
{ FIG. 4.14 } Pormenor de uma cobertura com revestimento interior
de esteira (taras de bambu).
4.5 Pedra
A pedra sendo abundante nas regiões tropicais, pode
ser utilizada em edifícios construídos em terra, por
resistir à erosão, ou em muros exteriores onde a necessidade de manutenção é mínima. Embora termicamente seja pouco isolante, pode ser funcional
quando combinado com isolamentos ou com tijolos
{ FIG. 4.15 } Tecto falso revestido com esteiras de bambu.
de terra na forma de paredes duplas.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
106
4.6 Viabilidade económica
material ou técnica construtiva, implica avaliar
também o seu impacte sobre o ambiente, pois os
custos que daí advêm, ainda são significativos.
A questão da escolha de materiais sustentáveis para
A localização geográfica da zona em que se
construção, não se resolve apenas com a utilização de
pretende construir, bem como a sua disponibilida-
“materiais naturais”, há que ponderar também a sua
de em termos da matéria­‑prima básica necessária,
disponibilidade como matéria­‑prima, a energia neces-
são factores que podem ter maior ou menor peso,
sária para a sua transformação, bem como o seu po-
na deliberação entre a opção por uma técnica de
tencial de reciclagem e reutilização. A utilização de
construção por terra crua em alternativa aos res-
materiais locais embora tenha a vantagem de reduzir
tantes materiais existentes no mercado.
os gastos com o transporte, deve ter em conta a disponibilidade da matéria­‑prima para exploração.
Do ponto de vista económico, os materiais naturais tornam­‑se atractivos pelo baixo custo energéti-
Os impactes da construção no ambiente são de
co e de material, e pela simplicidade dos processos
diversas ordens, passando pela poluição, consumo
de produção e de aplicação. O sistema construtivo
de recursos naturais, geração de resíduos, e erosão
dos solos. Portanto, a viabilidade económica de um
{ FIG. 4.17 } Museu de Guiledge – aspecto final.
107
{ FIG. 4.16 } Museu de Guiledge – fase de construção.
associado às construções em terra implica baixos
tanto, em locais em que a oferta de mão­‑de­‑obra é
custos de transporte, e mão­‑de­‑obra pouco especia-
elevada, a construção por terra crua revela­‑se bas-
lizada, aliada a prazos de execução da obra relativa-
tante atractiva em termos económicos.
mente curtos. O investimento inicial, em termos de
Nos países industrializados este tipo de cons-
equipamentos para a produção dos materiais é redu-
trução surge associada a uma consciência ambien-
zido, sendo o maior capital de investimento da cons-
tal, mas tradicionalmente, o material pode ser as-
trução em terra crua referente à mão­‑de­‑obra. Por-
sociado a uma cultura de autoconstrução.
{ capítulo 5 }
Energias alternativas
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
ENERGIAS ALTERNATIVAS
109
As energias renováveis ou alternativas caracterizam­
minante o fluxo do vento. A biomassa tem a vanta-
‑se essencialmente pela ausência de poluição, po-
gem da matéria­‑prima ser de baixo custo, não emi-
dendo advir de fontes energéticas como o sol, o
te dióxido de enxofre, podendo também contribuir
vento, a água, e a biomassa, entre outras. Por se-
para a limpeza das florestas, para além de que as
rem uma tecnologia limpa, e inesgotável, o seu uso
cinzas produzidas são de menor agressividade, e
deve ser considerado na concepção de edifícios.
podem ser aproveitadas para outros fins.
No caso dos trópicos, faixa de forte exposição so-
Em termos de energia solar, existem os painéis
lar, justifica­‑se falar no aproveitamento energético
solares fotovoltaicos, que permitem converter
dos raios solares, essencialmente em duas tecnolo-
energia solar em energia eléctrica, tendo também
gias: a solar térmica, tradicionalmente utilizada para
a vantagem de providenciarem um adequado iso-
aquecimento de água, e a solar fotovoltaica, utiliza-
lamento térmico e acústico, através da resistência
da para a produção de energia eléctrica. Podem ain-
do material de que são constituídos. Uma célula
da revestir­‑se de interesse a energia eólica, a hidráu-
fotovoltaica é constituída por camadas de mate-
lica e a biomassa, conforme o contexto climático de
riais semi­‑condutores que absorvem a energia so-
cada País. A primeira baseia­‑se no aproveitamento
lar, produzindo corrente eléctrica.
da energia produzida pelo vento, a segunda na ener-
Existem 3 tipos principais de células solares:
gia produzida pela força da água, e a terceira no
}Mono­‑cristalinas: representam a primeira gera-
aproveitamento de desperdícios de matéria­‑prima.
ção de células, com rendimento eléctrico elevado
A produção de energia eólica envolve tecnolo-
(aproximadamente 16%), mas em contrapartida as
gias avançadas, e portanto associadas a um custo
tecnologias utilizadas na sua produção são com-
inicial bastante elevado, e é uma tecnologia que
plexas e caras. Recorre­‑se a materiais em estado
não responde por si só a picos de consumo, pois
puro, com estrutura cristalina perfeita, o que re-
não é possível controlar nem prever de forma deter-
quer maior consumo de energia no seu fabrico.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
110
}Poli­‑cristalinas: O cristal utilizado é menos per-
dulos – permitem montagens simples e adaptáveis
feito, o que requer menos consumo de energia na
a várias necessidades energéticas;
produção, mas consequentemente o rendimento
}O custo de operação reduzido, e a manutenção
eléctrico é inferior, na ordem dos 13%.
quase inexistente (não necessita combustível, trans-
}De Silício Amorfo: São as de menor custo, mas
porte, nem trabalhadores altamente qualificados);
com um rendimento eléctrico também reduzido
}As qualidades ecológicas, pois o produto final é não
(na ordem dos 8 a 10%).
poluente, silencioso e não perturba o ambiente;
}A melhoria da estética dos edifícios, podendo
Uma célula individual num sistema fotovoltai-
substituir revestimentos (fachadas, telhados…),
co produz uma potência eléctrica que varia co-
(Varandas et al., 2005);
mummente entre 1 a 3W, com uma tensão menor
}A melhoria da rede eléctrica local e descentraliza-
que 1 Volt. A sua integração em painel ou módu-
ção da produção eléctrica (Varandas et al., 2005).
lo torna possível disponibilizar potências mais
elevadas. A ligação em série das células produz
um aumento na tensão disponibilizada, enquanto ligações em paralelo permitem aumentar a
corrente eléctrica. A maioria dos módulos comercializados é composta por 36 células de silício
cristalino, ligadas em série para aplicações de
12V. Quanto maior o módulo, maior a potência e/
ou corrente disponível.
Os módulos por não terem partes móveis, são
de fácil manutenção. Recomenda­‑se uma limpeza
regular, típica dos vidros, para que não haja perda
da eficiência da conversão de energia solar em
eléctrica. Comercializam­‑se com garantias até 25
anos, dadas pelos fabricantes (Febras, 2008).
As principais vantagens da tecnologia solar fotovoltaica são:
}Alta fiabilidade – não tem peças móveis, o que
é muito útil em aplicações em locais isolados;
}A fácil portabilidade e adaptabilidade dos mó-
{ FIG. 5.1 } Aplicação de painéis fotovoltaicos na cobertura da sede
da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné, em Bissau.
111
Algumas desvantagens:
}O fabrico dos módulos fotovoltaicos exige tecnologia muito sofisticada, levando a um investimento inicial elevado;
}O rendimento real de conversão de um módulo é
reduzido (o limite teórico máximo numa célula de
silício cristalino é de 28%), face ao custo do
investimento;
}Os geradores fotovoltaicos raramente são competitivos do ponto de vista económico, face a outros tipos de geradores (e.g. geradores a gasóleo).
A excepção restringe­‑se a casos onde existam reduzidas necessidades de energia em locais isolados e/ou em situações de grande preocupação
ambiental;
}Quando é necessário proceder ao armazenamento
{ FIG. 5.2 } Uso de painéis fotovoltaicos para alimentação de posto
médico, localizado em zona rural.
de energia sob a forma química (baterias), o custo do
sistema fotovoltaico torna­‑se ainda mais elevado.
Em termos de viabilidade económica, esta
forma de energia é ainda bastante cara, com um
tempo de retorno elevado, sendo de se explorar
a redução do seu custo, através da investigação, prevendo­‑se incentivos que permitam a
melhoria da tecnologia. O único custo que importa considerar é o do investimento inicial,
uma vez que, não existem custos adicionais com
combustíveis, e a questão da manutenção também não ser determinante.
Na Guiné já existem alguns edifício com a tecnologia solar fotovoltaica, mas esta ainda se restringe a edifícios públicos e administrativos.
{ FIG. 5.3 } Painel solar para aquecimento de águas quentes,
num edifício em Bissau.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
112
{ capítulo 6 }
Água e saneamento
ÁGUA E SANEAMENTO
113
6.1 Água
Brian Edwards (2008) refere­‑se à água como “o petróleo do futuro". A resolução de problemas de sustentabilidade deve privilegiar as questões ligadas a
Actualmente uma em cada seis pessoas no mundo não
este bem essencial e ao saneamento. É necessário
tem acesso a água potável, e África é o continente
criar redes de abastecimento de água não contamina-
mais afectado. Os problemas ligados à água estão in-
da; incrementar equipamentos sanitários apropriados
timamente conectados com a saúde. Muitas vezes, a
e a colecta e tratamento de águas residuais e esgoto,
água aparece contaminada por bactérias originárias
contribuindo para a saúde da população.
de matérias orgânicas de diversas origens: resíduos
Existem zonas cujo único recurso de abasteci-
humanos, resíduos animais e lixos industriais, provo-
mento é de nascentes, que se situam a grandes dis-
cando cólera, disenteria, febre tifóide, esquistosso-
tâncias de aglomerados habitacionais e em locais
mose, ancilostomíase e tracoma. A água contaminada
de difícil acesso... Muitas famílias gastam também
das principais causas de morte no mundo. A escassez
parte do seu rendimento em água potável engarra-
de água potável é um problema enfrentado em África,
fada, que tem custos muito mais elevados do que
mas que se agrava a um ritmo galopante em todo o
nos países desenvolvidos. Há localidades abasteci-
Mundo. Por isso, actualmente, a investigação nesta
das por lençóis aquíferos subterrâneos e outras por
área é prioritária, e a implementação de medidas nos
nascentes, através de cisternas municipais, onde
países africanos, poderá constituir um potencial mo-
são contudo necessários sistemas de purificação e
delo para o ocidente, num futuro próximo.
distribuição da água.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
114
6.1.1 Métodos de captação
• Sistema de água doce
por evaporação solar da água do mar
Da água do mar ou a partir de águas salobras podemos
• Captação e conservação da água da chuva
ter água doce por evaporação solar. A produção de
Um dos principais problemas para a sobrevivência e
água por metro quadrado pode ir de 4 a 6 litros por
melhoria da qualidade de vida das populações rurais
dia. O processo consiste em fazer evaporar a água den-
é a escassez ou a falta de água potável para o con-
tro de um recipiente fechado (evaporador ou destila-
sumo humano. Um bom sistema de armazenamento
dor solar), cuja tampa é um vidro inclinado. O vapor
de água consiste numa cisterna equipada com um
de água em contacto com o vidro condensa e a água
filtro que recolhe e conserva a água da chuva cana-
purificada é recolhida. O evaporador deve ser orienta-
lizada da cobertura da habitação.
do a Sul e em lugar acessível para facilitar a limpeza.
Nas regiões onde não existem sistemas de abastecimento regular de água, recomenda­‑se a construção de cisternas domésticas para o armazenamento
da água na época das chuvas. A cisterna é equipada
com um filtro que recolhe e conserva a água da
chuva canalizada da cobertura da habitação.
{ FIG. 6.1 } Cisterna doméstica de recolha da água da chuva.
{ FIG. 6.2 } Sistema de filtração da água da chuva.
ÁGUA E SANEAMENTO
115
{ FIG. 6.3 } Sistema de captação da água do mar – vista lateral e perspectiva de um destilador solar.
6.1.2 Métodos de potabilização
Métodos físicos
• Filtração
A água de qualidade duvidosa deve ser filtrada.
Embora a filtração ajude a eliminar as bactérias,
não é suficiente para garantir a potabilização da
{ FIG. 6.4 } Sistema de filtração com um bidão com filtro de areia
e cascalho.
água. Um sistema de um filtro de areia e cascalho
Método químico
de construção simples com um bidão de 200 litros
Existem vários métodos químicos para o tratamento
pode ser uma boa solução para o meio rural.
da água, mas o cloro é sem dúvida o elemento mais
• Ebulição
importante para a desinfecção da água. A lixívia é
de fácil controlo, económica e eficiente. Deve­‑se
A ebulição é o melhor método para destruir os mi-
filtrar a água previamente antes de juntar a lixívia
crorganismos patogénicos que se encontram na
que deve ficar em repouso durante cerca de 20 mi-
água. Para que este método seja efectivo é neces-
nutos antes de ser usada. Para cada litro de água é
sário que a água seja fervida.
necessário juntar duas gotas de lixívia.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
116
6.1.3 Abastecimento
6.1.4 Instalação
Os custos de um sistema de abastecimento de água
O princípio de distribuição de água corrente numa
às comunidades são muito mais baixos relativamente
habitação aplica­‑se tanto no meio rural como no
aos custos que uma família dispensa em tempo e es-
meio urbano. Estas instalações, que se designam
forço para o seu auto­‑abastecimento. Neste caso, os
instalações sanitárias, consistem em tubos de dis-
perigos de contaminação da água são mais evidentes.
tribuição de água aos equipamentos sanitários e
A importância social de um sistema de abastecimen-
seus acessórios e na evacuação das águas negras.
to domiciliário de água é indiscutível, justificando­‑se
A existência de um sistema de abastecimento de
todos os esforços para o realizar. A longo prazo, é o
água exige a presença de um sistema de evacua-
sistema mais barato de obter água potável, uma vez
ção de águas negras.
que proporciona: melhores condições para a saúde;
maior poupança e consequentemente maior riqueza;
um meio ambiente mais saudável. O aproveitamento
6.2 Saneamento
adequado dos sistemas de abastecimento de água
consiste em evitar desperdícios ou fugas de água,
Há uma interdependência entre as condições eco-
que nunca se justificam, especialmente num país
nómicas das pessoas, os seus hábitos de higiene
onde os recursos são escassos.
e a salubridade dos ambientes que habitam. Ao
sistema de conexão recíproca entre estes três elementos é associado um outro: a água. A escassez
de água potável em certas zonas, e a falta de iniciativa para recorrer a sistemas de captação de
água agrava a falta de condições de higiene das
habitações.
Uma grande parte da população africana vive
em ambientes rurais ou periferias, onde as instalações sanitárias e as infra­‑estruturas de saneamento são escassas.
{ FIG. 6.5 } Sistema de abastecimento de água numa habitação.
Os aglomerados familiares são, na maior parte
dos casos, numerosos e, muitas vezes, as habita-
6.2.1 Latrina seca
ções comportam não só as famílias, mas também
As experiências feitas com latrinas secas têm tido
os animais que estas possuem. A vivência em con-
resultados muito positivos. A latrina seca, de for-
dições de higiene precárias provoca doenças,
ma económica, resolve o problema do isolamento
como a febre tifóide, e agrava ainda mais o estado
e da eliminação das fezes humanas.
económico destas famílias.
Este sistema é de fácil manutenção e especial-
Os resíduos são fontes de contaminação do am-
mente indicado para habitações e escolas em zo-
biente natural e como tal devem ser confinados e
nas rurais ou de periferia sem uma rede de abaste-
eliminados, para evitar focos de infecção.
cimento de água. A utilização de materiais locais
Uma resposta eficaz e económica para o isola-
torna esta solução mais sustentável.
mento e tratamento dos resíduos orgânicos é o recurso a latrinas secas.
{ FIG. 6.6 } Auto­‑construção de uma latrina seca.
{ FIG. 6.7 } Auto­‑construção de uma latrina seca com tanque duplo.
ÁGUA E SANEAMENTO
117
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
118
Processo de auto­‑construção
da latrina seca com tanque duplo
Estruturas
O tempo de utilização de um poço para uma família de seis pessoas, segundo as experiências já
desenvolvidas, pode ser de cinco a seis anos.
No entanto, independentemente deste tempo
Sub­‑estrutura: a parte da construção abaixo do ní-
que é meramente indicativo, logo que o nível das
vel do terreno ou a sub­‑estrutura da latrina, que
matérias fecais chegue a cerca de 50cm, deve­‑se
também chamamos de tanque, fosso ou fossa, deve
cobrir o fosso com terra, tapar o buraco e criar um
ser: rectangular com 1.30mx0.90m (medidas para
novo tanque. A transferência do tanque, deverá
cada tanque) e a altura recomendada é de 1.80m.
ser feito no interior da casinha ou abrigo que,
A fossa deve ser revestida com blocos e rebocada para impermeabilização.
Sobre­‑estrutura: O abrigo deve conter uma porta
para protecção das condições climatéricas adversas, um sistema de ventilação e uma sanita.
{ FIG. 6.3 } Localização da latrina seca.
para este caso, terá dimensões apropriadas.
Esta latrina pode ser geminada e ampliada,
para utilização numa escola.
A localização da latrina deverá ter em conta as seguintes condicionantes:
} A distância mínima entre a latrina e a casa de-
} Tapar o buraco quando este não está a ser
verá permitir uma orientação voltada a sul, de
utilizado;
modo a haver uma maior incidência do sol sobre a
} Não deitar água ou outro líquido dentro do fos-
tampa dos tanques;
so, incluindo desinfectantes;
} Em terrenos com pendentes, a latrina deve estar
} Deitar cinzas dentro do fosso.
situada na parte mais baixa;
} Quando há poços no terreno de implantação, a
distância mínima deverá ser de 15 metros.
6.2.2 Fossa séptica
As regras de manutenção para o correcto funcionamento da latrina devem incluir as seguintes acções:
A fossa séptica é um método eficaz e de baixo
} Proteger todas as entradas de ar com rede de mos-
custo para a eliminação de resíduos orgânicos e
quiteiro para evitar a entrada de moscas na latrina;
de pequenas quantidades de águas negras em ha-
} Não guardar nada dentro do abrigo e manter a
bitações unifamiliares ou de um conjunto de habi-
porta sempre fechada;
tações, quando não existem sistemas de esgoto.
A instalação da fossa séptica numa habitação
implica água corrente em quantidade suficiente
para garantir o bom funcionamento do sistema.
Compartimentos
Tanque séptico: É um tanque impermeável, geral-
mente subterrâneo, construído segundo determinados requisitos, que mantendo as águas em repouso, provoca a sedimentação e a formação de
natas. Com o tempo, o volume de natas e a sedimentação tendem a desaparecer deixando uma
água entre as duas camadas pela acção de seres
microscópicos que se desenvolvem no tanque.
O ambiente interior tem de ser favorável ao desenvolvimento destes seres – sem oxigénio nem luz.
Esses seres, que se chamam de anaeróbios, sobrevi{ FIG. 6.9 } Esquema de instalação de uma fossa séptica.
vem nos resíduos orgânicos, transformando­‑os em
ÁGUA E SANEAMENTO
119
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
120
te, que oxida em contacto com o ar contido nos poros do terreno. O poço de absorção substitui o campo de oxidação, quando não se dispõe de terreno
suficiente para a instalação articulada do campo de
oxidação e do poço.
Caixa de separação de gorduras e sabão: Entre a habi-
tação e a fossa séptica deve­‑se construir uma caixa
para reter as gorduras das lavagens da cozinha. Esta
caixa também recebe as águas dos banhos e da lavagem da roupa que poderão ser reaproveitadas para
regar um jardim. Neste caso, este sistema intermédio deve ser montado sem ligação à fossa nem ao
poço de absorção. A água sem gorduras passa pela
caixa, que também funciona como filtro, e depois é
conduzida para o jardim.
{ FIG. 6.10 } Caixa de separação de gorduras e sabão.
Tabela para o desenho das fossas sépticas:
Para se construir uma fossa, com as normas funcionais, de forma a evitar problemas, devemos seguir
uma tabela que tem em conta os seguintes factores:
líquidos e em gases. Com essa transformação, as
águas ficam de tal forma expostas ao ar, que rapi-
Para serviço doméstico: capacidade de 150 litros/
pessoa/dia e um período de retenção de 24 horas.
damente oxidam, tornando­‑se inofensivas pela ac-
Para escolas: no período de trabalho escolar a
ção de outras bactérias que precisam de oxigénio
contabilização é feita com 8 horas de trabalho/
para sobreviver.
dia/pessoa. Para se calcular a capacidade de uma
fossa para uma escola estabelece­‑se a relação en-
Campo de oxidação e poço de absorção: Instalação
tre o período de retenção (24 horas) e o período
para oxidar o efluente, ou seja, as águas negras que
de trabalho escolar (8 horas) e depois relaciona­‑se
saem do depósito séptico. O campo de oxidação con-
o resultado com a capacidade doméstica.
siste numa série de drenos instalados no subsolo de
Para exemplificar, apresentamos a seguinte
um terreno poroso e pelos quais se distribui o efluen-
situação: temos as dimensões de uma fossa de
ÁGUA E SANEAMENTO
121
{ FIG. 6.11 } Tabela para o desenho das fossas sépticas.
uso doméstico que serve 40 pessoas. Queremos
tenção – 24 – pelo período de trabalho – 8. O re-
saber quantas pessoas de uma escola uma fossa,
sultado é 3. Multiplicamos o resultado por 40
com as mesmas características daquela que já foi
(capacidade da fossa). Então, concluímos que a
executada, pode servir, se o período de funciona-
fossa pode servir uma população escolar de 120
mento é de 8 horas. Dividimos o período de re-
pessoas (3x40).
{ FIG. 6.12 } Fossa séptica­‑tipo.
{ FIG. 6.13 } Fossa séptica rectangular para dez pessoas.
{ capítulo 7 }
Casos de Estudo
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
CASOS DE ESTUDO
123
7.1 Análise de três casos de estudo
ência de técnicas de design passivo na promoção do
conforto, e em que medida o consumo energético associado aos equipamentos mecânicos pode ser evita-
Neste capítulo é apresentado um trabalho de inves-
do ou minimizado.
tigação realizado no âmbito de uma tese de Mestra-
Este trabalho pode servir de ponto de partida
do. Ilustra os principais passos metodológicos a con-
para estudos mais aprofundados nesta área, por
siderar para a análise de tipologias do edificado
forma a serem obtidos resultados definitivos, que
existente na Guiné­‑Bissau, no que diz respeito es-
possam, por exemplo, ser utilizados como referên-
sencialmente ao seu desempenho ambiental e ener-
cia na elaboração de regulamentos. A metodologia
gético. O principal objectivo foi determinar a influ-
seguida resume­‑se na { FIGURA 7.1 }.
Casos de estudo
Medições in situ
Questionários
Simulações de edifícos
Moradia colonial
Caracterização da amostra
Moradia vernacular
Moradia social
Conforto e satisfação
Moradia colonial
Moradia contemporânea
Sistemas de arrefecimento
Moradia proposta
Construção sustentável
{ FIG. 7.1 } Casos de estudo – metodologia de investigação.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
124
As medições e os questionários foram realiza-
cios típicos habitacionais, localizados em zonas
dos durante um trabalho de campo decorrido em
urbanas distintas:
Abril e Maio de 2009, i.e. durante a época seca, no
} Moradia Social: casas de cooperativa, com pa-
período do ano em que se registam as máximas di-
redes de adobe reforçado e coberturas de zinco.
árias anuais.
Localização: Bairro de Plano, Alto Bandim, em
Paralelamente desenvolveram­‑se modelos habi-
zona costeira.
tacionais baseados nas tipologias existentes, urba-
} Moradia Colonial: paredes de blocos de betão e
na e rural, e simulou­‑se o seu desempenho térmico
cobertura de telha. Localização: Bairro Chão de
e energético no software Ecotect, propondo­‑se um
Papel, na proximidade de pântanos.
modelo padrão com características contemporâne-
} Moradia Contemporânea: paredes de tijolo ce-
as, para o ambiente urbano.
râmico e cobertura de telha. Localização: Bairro
de Quelélé.
Medições in situ
Os resultados das medições de humidade relativa ilustrados no gráfico seguinte, mostram que
Os aparelhos de medição permitiram registar os
quanto maior a proximidade à zona costeira maior
níveis de temperatura e humidade em três edifí-
a humidade relativa interior.
{ FIG. 7.2 } Bairros de Bissau
e seus limites.
Delimitação dos
Bairros onde foram
realizadas medições
de temperatura
e humidade
CASOS DE ESTUDO
125
{ FIG. 7.3 } Moradia do bairro habitacional de Plano.
{ FIG. 7.4 } Moradia do bairro habitacional de Quelélé.
{ FIG. 7.5 } Amplitudes da humidade relativa.
{ FIG. 7.6 } Amplitudes térmicas no exterior.
É possível observar que a moradia do Bairro de
Plano, é a que apresenta valores maiores de humida-
brisas mais frescas, embora as médias sejam idênticas para as três moradias.
de relativa (entre os 63 e os 68% durante todo o
A tendência diária é a mesma para as três loca-
dia), seguida da moradia no Bairro de Chão de Papel,
lizações especificadas, com as mínimas a ocorre-
e por último a moradia do Bairro de Quelélé, onde os
rem por volta das 7 da manhã, e máximas entre as
mínimos chegam aos 56%. O Bairro de Plano
10 e as 16h. A maior amplitude térmica exterior
encontra­‑se mesmo junto das margens do rio Geba,
verifica­‑se na moradia do Bairro de Quelélé, com
beneficiando por isso da brisa costeira, mais húmida,
mínimas de quase 22ºC, e máximas na ordem dos
seguido do Bairro de Chão de Papel relativamente
32ºC, antevendo­‑se a possibilidade de tirar parti-
próximo, e o Bairro de Quelélé mais distante.
do da inércia térmica e da ventilação nocturna.
A temperatura exterior é inferior na moradia do
Em termos de temperatura interior, { FIGURA 4.6 },
Bairro de Plano, e com menor amplitude diária,
a média na moradia do Bairro de Plano situa­‑se
pois pela sua localização é natural beneficiar de
nos 28ºC, com uma amplitude de 2ºC, do período
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
126
mais fresco, para o período mais quente. A casa
contemporânea do Bairro de Quelélé é a habitação
Questionários
que apresenta maior flutuação diária, cerca de
} Caracterização da amostra
3,5ºC, com máximas de 30,5ºC e mínimas de 27ºC.
O questionário foi realizado na cidade de Bissau, no
Não seria de se esperar que esta habitação apre-
total 100 indivíduos. 21% dos inquiridos são técni-
sentasse o pior comportamento térmico uma vez
cos da área da construção, arquitectura e/ou urba-
que a casa é de tijolo e telhas cerâmicas, mate-
nismo, em exercício da profissão na Guiné­‑Bissau.
riais de conhecida inércia térmica, no entanto é a
habitação mais afastada da costa.
De entre os vários grupos inquiridos incluem­‑se
os moradores do Bairro Cooperativo de Plano, do
Na moradia colonial o Chão de Papel verifica­‑se
conjunto habitacional de casas contemporâneas,
uma mínima ligeiramente abaixo dos 28ºC e máxi-
no Bairro de Quelélé, e do conjunto habitacional
ma de 30ºC.
do Bairro de Chão de Papel, alvos das medições.
Das medições de temperatura no interior, é
Cerca de 30% dos inquiridos vive numa casa
possível tirar essencialmente duas conclusões, a
de adobe e zinco, e 21% de Bloco e zinco, e 6%
primeira é que a tendência para a moradia do
de solo­‑cimento e zinco { FIGURA 7.8 }, isto é, cer-
Bairro de Plano apresentar temperaturas mais
ca de 57% das casas estudas são cobertas de
amenas no interior confirma­‑se, a outra é que
zinco, seguidos da cobertura de telha, em 25%
nenhuma das três habitações está a tirar o maior
dos casos, e as restantes cobertas de aluzinco
partido das flutuações de temperatura e humida-
ou fibrocimento.
de que ocorrem no exterior, principalmente a mo-
No que toca ao material nas paredes, o adobe é
radia contemporânea de tijolo e telha do Bairro
utilizado em 37% dos casos (simples ou reforçado com
de Quelélé, que é a que apresenta maior amplitu-
cimento), e em 49% dos casos o bloco de betão, com
de térmica exterior.
cobertura de zinco ou telha, conforme o poder económico de cada um. O uso do tijolo furado resume­‑se a
5% das casas referidas neste estudo, amostra a partir
da qual não é possível fazer uma análise conclusiva.
Relativamente aos materiais de construção preferidos, as opções recaíram sobre:
} Blocos de cimento: porque são mais resistentes, consideram­‑se de construção definitiva, têm
maior durabilidade, são mais baratos, e apresen-
{ FIG. 7.7 } Amplitudes térmicas no interior das habitações.
tam maior disponibilidade que o tijolo;
} Telha: porque é mais fresca, bonita, e durável;
} Níveis de satisfação
O adobe tem menos aceitação por ser associa-
Embora os utentes revelem satisfação com a venti-
do a uma construção precária, de acordo com as
lação, segurança, iluminação natural e sistemas de
próprias classificações oficiais, e o zinco é referi-
sombreamentos, existe uma percentagem conside-
do em 7% dos casos apenas por ser economica-
rável que se encontra insatisfeita ou muito insatis-
mente mais acessível. Com 83% dos inquiridos a
feita com a temperatura e humidade, resultado que
preferir telha, é facilmente constatável que, gran-
pode indicar que, sendo os níveis de temperatura e
de parte da população prefere este material, mes-
humidade elevados, seja difícil a manutenção do
mo sendo o uso do zinco mais comum.
conforto apenas por estratégias passivas.
As várias propriedades analisadas (temperatura,
humidade, ventilação, segurança, iluminação natural…) encontram­‑se ligadas a soluções construtivas como a abertura de vãos, prolongamento da cobertura, área de envidraçados, e existência de muros
de vedação e grades de protecção nas janelas, entre
outros. As respostas em relação à segurança não re-
{ FIG. 7.8 } Características das habitações.
caíram apenas na segurança estrutural, e sim na segurança contra intrusos, ou roubos.
Os utentes das casas de bloco e zinco expressam conforto no interior das suas habitações, em
cerca de 42% das respostas. Este facto pode ser
associado ao poder económico, superior numa
casa de bloco, à qualidade do zinco utilizado, para
além de que, nas respostas, a questão do recurso
{ FIG. 7.9 } Material preferido nas paredes.
a aparelhos de arrefecimento não está explícita, o
que influenciaria no nível de conforto.
Nas moradias de bloco e telha, o nível de satisfação
é ainda maior, havendo até quem se sinta muito satisfeito, o que pode dever­‑se às características térmicas
da telha, ou mais uma vez ao poder económico dos
utentes, melhores isolamentos e acabamentos, ou ain-
{ FIG. 7.10 } Material preferido na cobertura.
da ao recurso a aparelhos mecânicos de arrefecimento.
CASOS DE ESTUDO
127
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
128
Muito satisfeito
Satisfeito
Insatisfeito
Muito insatisfeito
Temperatura
3
31
44
22
Humidade
5
52
29
14
Ventilação
16
55
18
11
Sombreamentos
13
76
8
3
Iluminação
14
66
16
4
Segurança
20
55
17
8
{ QUADRO 7.1 } Nível de satisfação nas habitações (%).
{ FIG. 7.11 } Nível de satisfação em termos de temperatura para
as principais tipologias.
{ FIG. 7.12 } Nível de satisfação em termos de humidade para
as principais tipologias.
Relativamente à humidade, os utentes das ca-
} Cobertura: Devido a infiltrações; substituição
sas de bloco e zinco são os que denotam maior ní-
de telhas partidas; mudança de zinco para telha,
vel de conforto, seguidos dos utentes das casas de
devido ao barulho com a chuva, e infiltrações;
adobe e zinco.
mudança para chapa galvanizada ou fibrocimento;
Os níveis de insatisfação em geral registados, estão
troca de fibrocimento por telhas; colocação de pa-
associados à época das chuvas, altura em que a humi-
lha ou vegetação por cima do aluzinco;
dade é maior, e à proximidade de zonas alagadas.
} Nada: casas de adobe ou bloco, e zinco;
Na questão seguinte (o que melhoraria na sua habitação?), cerca de 26% dos inquiridos responde que
} Demolia: casas de adobe e zinco na maioria; casa
horizontal para fazer em altura; casa de taipa;
mudava a cobertura, ou ampliava a casa, de forma a
O factor a que é atribuída maior importância é
ter mais espaço. Enquanto 9% preferiam demolir e
a segurança. O custo foi considerado o factor me-
fazer de novo, e 7% dos inquiridos respondem que
nos importante, no sentido de ser um factor de-
não mudavam nada. Justificações apresentadas:
pendente apenas do poder económico.
CASOS DE ESTUDO
129
{ FIG. 7.13 } Tipos de alteração
nas habitações.
{ FIG. 7.14 } Nível de
importância das propriedades
de uma habitação.
Este tópico mostra as prioridades na escolha
ou construção de uma habitação na Guiné.
A protecção contra à chuva é considerada uma
A estética, é considerada a propriedade menos
importante por 24% dos inquiridos, e mais importante por apenas 11%.
qualidade inerente à condição de casa, cuja fun-
Em relação aos períodos de maior desconforto,
ção de abrigar acaba naturalmente por proteger
tanto a época seca como a das chuvas são citadas,
contra à chuva. Por outro lado justificou­‑se que
com as seguintes justificações:
“havendo segurança todas as outras característi-
} Chuva: problemas de saneamento (escoamento
cas estão asseguradas”, ou que “o custo não é im-
superficial deficiente, lixo, mau cheiro); apareci-
portante desde que sejam garantidas todas as
mento de insectos; humidade nas paredes (subida
qualidades necessárias na casa”, devendo ser ga-
de nível freático); vento forte (telhas partidas –
rantidas todas as qualidades da casa procurando­
infiltrações); degradação dos materiais;
‑se sempre o menor custo, um princípio básico da
} Seca: poeira; temperaturas elevadas.
sustentabilidade na construção.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
130
O período da quaresma, que vai de Março a
Maio ou Junho, isto é na transição da seca para a
chuva, é considerado por muitos como sendo o
mais quente da estação seca, o que é na verdade
a altura em que e atingem os picos de calor do
ano. E a altura do dia de maior desconforto é entre
as 12h e as 18h devido simplesmente ao calor.
{ FIG. 7.15 } Períodos de maior desconforto.
Essenciais
Melhor do que nada
Dispensáveis
Preferia não ter
31%
29%
21%
19%
{ QUADRO 7.2 } Opinião sobre os aparelhos de ar condicionado.
Ventoinha
Ar condicionado
Os dois
Nenhum
49%
6%
17%
28%
{ QUADRO 7.3 } Percentagem que utiliza algum sistema mecânico de arrefecimento.
Nada interessado
Pouco interessado
Interessado
Muito interessado
0%
13%
46%
41%
{ QUADRO 7.4 } Nível de Interesse em sistemas passivos de arrefecimento.
} Sistemas de arrefecimento
trica, que mesmo havendo, é com fraca intensi-
São colocadas 3 questões relativamente aos siste-
dade, tornando impossível a utilização destes
mas de arrefecimento, cujas respostas apresentam­
aparelhos. Pelo que, mesmo para os que os têm,
‑se nos { QUADROS 7.2, 7.3 e 7.4 }.
são muitas as referências de que não chegam a
Muitos consideram os aparelhos de ar condicionado essenciais ou mesmo indispensáveis
utilizá­‑los, pois também muito dificilmente são
arrancáveis com geradores.
(31%), tendo em conta o clima da Guiné, bastan-
O que a maioria tem e não dispensa, são as
te quente, no entanto, numa segunda abordagem
ventoinhas, mais baratas, e de menos consumo
fala­‑se logo na questão da falta de energia eléc-
energético (49% dos inquiridos).
Quando confrontados com a possibilidade de uma
jectos são as demais técnicas de design passivo
habitação em que o conforto no interior seja garan-
para além da ventilação e sombreamentos. Na se-
tido pelas regras construtivas, sem necessidade de
lecção dos materiais pesa mais o poder económico
recursos aos sistemas mecânicos de arrefecimento, a
do utente, do que as características de inércia tér-
maioria dos inquiridos mostrou­‑se interessado (46%),
mica, levando à conclusão de que não importa
ou muito interessado (41%), considerando­‑se que
apenas a criação de soluções arquitectónicas sa-
seria uma solução ideal. No entanto, denotam­‑se al-
tisfatórias sob o ponto de vista de um design bio-
gumas reservas na eficiência de uma solução deste
climático, mas sim ter em conta a sua viabilidade
género (13%), pelo facto do clima ser muito quente.
económica. A economia, é um factor muito impor-
O ponto forte desta solução, é o facto de minimizar
tante na Guiné­‑Bissau, país onde 64,7% da popu-
a necessidade de aparelhos mecânicos de arrefeci-
lação vive numa situação de pobreza, com menos
mento, muitas vezes impossíveis de ter, pela carên-
de 2 dólares/dia (Documento de Estratégia Nacio-
cia energética que se vive no país.
nal de Redução da Pobreza, 2005).
Independentemente do conhecimento já exis-
} Construção sustentável
tente sobre a construção sustentável, 99% dos in-
No que diz respeito à construção sustentável,
quiridos mostra­‑se interessado ou muito interes-
colocaram­‑se questões cujo objectivo era determinar
sado em saber mais sobre o assunto.
o nível de conhecimentos que já existe nesse domínio, principalmente junto dos técnicos da área.
No âmbito da construção sustentável também
é importante falar na importância das energias re-
Na Guiné ainda não se falava em “construção
nováveis. Mais de 90% dos inquiridos consideram
sustentável”, no entanto a construção, é feita
os painéis solares importantes, ou muito impor-
tendo em conta os pressupostos de uma constru-
tantes, principalmente num país cheio de sol (du-
ção sustentável, desde a procura de materiais dis-
rante o ano todo) como é a Guiné, e onde a ener-
poníveis localmente, até à preocupação com o que
gia pública é escassa, mas faz­‑se referência ao
é mais confortável termicamente, ou economica-
investimento inicial elevado, como uma condicio-
mente viável. O que ainda não incorpora os pro-
nante à adopção destas soluções.
Sim
Não
Técnicos da área
62%
38%
Restantes inquiridos
46%
54%
{ QUADRO 7.5 } Nível de familiarização com os conceitos de uma construção sustentável.
CASOS DE ESTUDO
131
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
132
{ FIG. 7.16 } Características que as construções para habitação deveriam ter na Guiné­‑Bissau.
As características consideradas importantes para
a construção para habitação na Guiné mostram pre-
Simulações de edifícios
ferência por casas grandes e horizontais, falando­‑se
As simulações foram feitas com recurso ao softwa-
também em prédios de 3 a 4 pisos, no custo aces-
re Ecotect, 5.20, desenvolvido por Andrew J. Mar-
sível e na existência de zonas de convívio e laser, e
sh da Universidade de Cardiff, o qual no âmbito da
da importância de materiais frescos como a palha e
arquitectura bioclimática possibilita uma modela-
a telha e duráveis como os blocos de betão.
ção expedita, em termos elementares, do desempenho energético e de conforto ambiental.
Moradia vernacular redonda
{ FIG. 7.17 } Modelos de edifícios simulados.
Moradia vernacular rectangular
Moradia colonial social
Simularam­‑se 3 modelos de edifícios para habi-
No dia mais quente do ano, a temperatura radian-
tação, com base em algumas das tipologias exis-
te média é na ordem dos 32,6ºC; enquanto no dia
tentes discutidas no capítulo 2: vernacular redon-
mais fresco do ano, a temperatura radiante média
da, vernacular quadrada, e colonial (social).
situa­‑se nos 24,6 ºC.
É possível observar que o dia mais condicio-
} Moradias existentes
nante é 9 Julho, em que a temperatura média no
} Moradia vernacular redonda
interior da habitação se situa nos 32.5ºC, bastan-
O modelo de casa vernacular redonda foi criado com
te acima da banda de conforto estipulada.
Para o dia mais frio a temperatura do ar
base nas características da habitação Bijagó.
Apresenta­‑se o comportamento térmico desta
habitação, para os dias medianamente mais quen-
encontra­‑se dentro da banda de conforto, com um
valor médio de 25ºC.
te e medianamente mais frio do ano.
Paredes de Taipa
Cobertura de Colmo
Alicerce de Terra
300
150
500
Espessura (mm)
{ QUADRO 7.6 } Características do modelo de moradia vernacular redonda.
{ FIG. 7.18 } Análise do Conforto
Térmico – MRT dia mais quente.
°C
{ FIG. 7.19 } Análise do Conforto
Térmico – MRT dia mais frio.
HOUR LY T E MP E R AT UR E S - Casa principal
Monday 9th July (190) - Bissau, Guiné-Bissau
{ FIG. 7.20 } PPD, dia mais quente.
HOUR LY T E MP E R AT UR E S - Casa principal
Friday 12th January (12) - Bissau, Guiné-Bissau
W / m²
°C
40
2.0k
40
W / m²
2.0k
30
1.6k
30
1.6k
20
1.2k
20
1.2k
10
0.8k
10
0.8k
0
0.4k
0
0.4k
-10
0.0k
-10
0.0k
0
Outside T emp.
2
4
Beam S olar
6
8
Diffuse S olar
10
W ind S peed
12
14
Zone T emp.
16
18
20
22
S elected Zone
{ FIG. 7.21 } Temperatura horária no dia mais quente – Moradia redonda.
0
Outside T emp.
2
4
Beam S olar
6
8
Diffuse S olar
10
W ind S peed
12
14
Zone T emp.
16
18
20
22
S elected Zone
{ FIG. 7.22 } Temperatura horária no dia mais frio – Moradia redonda.
CASOS DE ESTUDO
133
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
134
} Moradia vernacular quadrada
A percentagem de insatisfeitos no dia mais
O modelo de casa vernacular rectangular utilizado
quente é na ordem dos 93%, e no dia mais frio
possui as características de uma habitação típica Man-
fica­‑se pelos 45%.
jaca, que é quadrada, e a cobertura vem apoiada em
Os meses mais condicionantes são os mais
prumos, deixando um espaço ventilado entre as pare-
quentes. No dia mais quente, a temperatura per-
des e a cobertura. A Espessura é ligeiramente inferior,
manece acima dos 30ºC, enquanto no dia mais frio
e existe um forro entre a cobertura e o interior.
apresenta­‑se inferior aos 25ºC registados na casa
A média da temperatura radiante é de 32ºC
redonda, principalmente no período nocturno.
para o dia mais quente, e abaixo dos 24ºC (cerca
de 19 ºC), para o dia mais frio.
Espessura (mm)
Paredes de Taipa
Cobertura de Colmo
Varanda circundante
250
150
200
{ QUADRO 7.7 } Características do modelo de moradia vernacular quadrada.
{ FIG. 7.23 } MRT, dia mais quente.
{ FIG. 7.24 } PMV, dia mais frio
{ FIG. 7.25 } PPD, dia mais quente.
{ FIG. 7.26 } PPD, dia mais frio.
°C
HOUR LY T E MP E R AT UR E S - Quarto_chefe
Monday 9th July (190) - Bissau, Guiné-Bissau
HOUR LY T E MP E R AT UR E S - Quarto_chefe
Friday 12th January (12) - Bissau, Guiné-Bissau
W / m²
°C
40
2.0k
40
2.0k
30
1.6k
30
1.6k
20
1.2k
20
1.2k
10
0.8k
10
0.8k
0
0.4k
0
0.4k
0.0k
-10
-10
0
2
Outside T emp.
4
6
Beam S olar
8
Diffuse S olar
10
W ind S peed
12
14
Zone T emp.
16
18
20
22
S elected Zone
0
2
Outside T emp.
4
6
Beam S olar
8
Diffuse S olar
10
W ind S peed
12
14
16
Zone T emp.
18
20
22
W / m²
0.0k
S elected Zone
{ FIG. 7.27 } Temperatura horária no dia mais quente
{ FIG. 7.28 } Temperatura horária no dia mais frio
} Moradia colonial
inércia térmica do cimento reflecte­‑se na capaci-
A moradia colonial criada foi adaptada do modelo
dade de calor que este material consegue reter,
social construído na época colonial, para o bairro
apresentando um valor mais baixo de temperatura
de Santa Luzia.
radiante. Este resultado também é influenciado
Esta moradia possui ainda tecto falso, janelas
envidraçadas, e varanda exterior. A análise térmi-
pela espessura da parede, como se mostra na análise comparativa, mais adiante.
ca a revela que o MRT para o dia mais quente é
É importante referir que, embora os valores da
mais baixo, apresentando um valor médio de
temperatura radiante sejam inferiores, aos dois
24,97ºC, enquanto para o dia mais frio é de
casos anteriormente apresentados, a temperatura
19,10ºC. Tal descida justifica­‑se pelo material pre-
do ar interior mantém­‑se elevada, principalmente
sente nas paredes, blocos de betão, onde a baixa
no dia mais quente.
Espessura (mm)
Paredes de Bloco
Cobertura de Fibrocimento
Piso de betonilha
250
8
200
{ QUADRO 7.8 } Características do modelo de moradia colonial.
{ FIG. 7.29 } MRT para o dia
mais quente (esquerda)
e dia mais frio (direita).
CASOS DE ESTUDO
135
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
136
°C
HOUR LY T E MP E R AT UR E S - Quarto
Monday 9th July (190) - Bissau, Guiné-Bissau
HOUR LY T E MP E R AT UR E S - Quarto
Friday 12th January (12) - Bissau, Guiné-Bissau
W / m²
°C
40
2.0k
40
2.0k
30
1.6k
30
1.6k
20
1.2k
20
1.2k
10
0.8k
10
0.8k
0
0.4k
0
0.4k
0.0k
-10
-10
0
Outside T emp.
2
4
Beam S olar
6
8
Diffuse S olar
10
12
W ind S peed
14
Zone T emp.
16
18
20
22
S elected Zone
0
2
Outside T emp.
{ FIG. 7.30 } Temperatura horária no dia mais quente
– moradia colonial.
4
Beam S olar
6
8
Diffuse S olar
10
W ind S peed
12
14
Zone T emp.
16
18
20
22
W / m²
0.0k
S elected Zone
{ FIG. 7.31 } Temperatura horária no dia mais frio
– moradia colonial.
} Análise comparativa
Os resultados em termos de temperatura nos
Justifica­‑se agora desenvolver uma análise com os
principais compartimentos (quartos) são apresen-
parâmetros do dia mais típico, aquele cujas condi-
tados no { QUADRO 7.10 }, para as 3 habitações.
ções se verificam mais vezes ao longo do ano, o dia
Desta análise conclui­‑se que, para esta situa-
22 de Setembro. É um dia típico, apresentando um
ção típica, o modelo com melhor comportamento
valor de temperatura média semelhante ao das mé-
é a moradia vernacular quadrada. Nesse período as
dias diárias para os 365 dias do ano, e uma máxima
diferenças de temperatura entre o exterior e o in-
igual à moda (e média) das máximas diárias, e mí-
terior chegam a ser de ­‑5.8ºC (às 15h, hora de
nima igual à moda (e média) das mínimas diárias.
maior calor), o que é uma variação considerável.
Temperatura
Min
Med
Máx
23.3
28.5
34.3
{ QUADRO 7.9 } Condições térmicas para um dia típico – 22 de Setembro.
Hora
Moradia redonda
Temp
Moradia quadrada
Temp
Moradia colonial
Temp
Exterior
Temp
Média
29.32
28.80
29.65
28.5
0.14
0.38
0.49
3.9
28.95
28.56
22.59
34.3
Desvio Padrão
MRT (15h)
{ QUADRO 7.10 } Resultados da temperatura do ar nos quartos – 22 de Setembro.
No entanto, no período nocturno, em que as tem-
tação que apresenta melhor comportamento tér-
peraturas no exterior são mais baixas (com míni-
mico) também pode ser explicada pela presença
mas de 23.3ºC), o interior apresenta­‑se mais quen-
do forro interior revestido de barro, que para além
te, com uma amplitude que atinge os 5.9ºC. Este
de funcionar como pára­‑fogo, aumenta a inércia
comportamento reflecte uma propriedade de pare-
térmica na cobertura, elemento mais exposto em
des com elevada massa térmica, que conseguem
qualquer habitação.
armazenar o calor que recebem do exterior durante muito tempo antes de o libertar para o interior,
o que acaba por ocorrer no período nocturno, em
7.2 Moradia proposta
que as temperaturas são mais amenas. Neste caso
poder­‑se­‑ia reduzir significativamente a tempera-
A moradia modelada é uma casa típica contempo-
tura interior através de ventilação nocturna.
rânea, de um piso, com paredes de blocos de be-
Observando o caso das paredes de betão, com
tão, e cobertura de telha.
a baixa inércia térmica característica de materiais
Ensaiaram­‑se variações essencialmente sob o pon-
a base de cimento, nota­‑se o inverso: o ar interior
to de vista da orientação, percentagem de envidraça-
rapidamente é aquecido à tarde, apresentando va-
dos, iluminação natural, sombreamentos, inércia tér-
lores elevados de temperatura, no entanto com rá-
mica, isolamentos, ventilação, e tipos de vidro.
pido arrefecimento à noite. Este material faz com
As análises são feitas em termos de necessida-
que o edifício se apresente quente ou frio, confor-
des de arrefecimento, traduzidas em consumo
me as variações da temperatura exterior, enquanto
energético necessário para que as condições tér-
a taipa conserva no interior uma temperatura mais
micas se encontrem dentro da faixa de conforto.
ou menos constante (o desvio padrão é muito inferior nas duas habitações de taipa).
} Orientação
A ausência quase total de janelas nas habita-
O edifício foi orientado segundo o eixo E-W, com
ções de taipa, também contribui para a constân-
as fachadas principais no eixo N-S, e calculou-se
cia da temperatura interior, sendo positiva duran-
o nível de insolação em cada fachada. É possível
te o período de maior calor (a casa actua como um
observar que todas as fachadas apresentam forte
envelope protector), mas pouco interessante à
exposição solar, facto que se prende com a locali-
noite, pois torna impossível tirar partido do arre-
zação geográfica do país, junto do equador. Ainda
fecimento por ventilação nocturna.
assim, a fachada Norte, sendo mais protegida da
A diminuta temperatura interior no período da
radiação solar, apresenta menor insolação, segui-
tarde na habitação quadrada (sem dúvidas a habi-
da da fachada Sul. Na fachada Oeste o nível de in-
CASOS DE ESTUDO
137
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
138
solação ascende ao valor médio de 149 Wh/m2,
Optou­‑se por distribuir maior percentagem de
pois durante o período da tarde a radiação chega
envidraçados nas fachadas N e S, por serem as que
a incidir perpendicularmente, sendo esta a facha-
apresentam menor insolação média diária (por m2
da mais condicionante.
de área). Nas fachadas E e W colocou­‑se a menor
A orientação segundo o eixo E-W é a que favo-
percentagem de envidraçados, em consideração à
rece a protecção contra a radiação solar nas fa-
incidência solar directa durante o nascer, e o pôr­
chadas principais, ao mesmo tempo que permite
‑do­‑sol, respectivamente.
tirar partido da ventilação natural, com ventos
dominantes de Nordeste.
Verifica­‑se que a alteração de envidraçados não
tem muita influência nos consumos energéticos,
sendo a melhor solução com 30% de envidraçados
} Áreas de Envidraçado
a Norte e a Sul, e 15% nas restantes fachadas.
A distribuição dos vãos envidraçados pelas fachadas
Mantendo a percentagem máxima na fachada
foi feita com base na orientação pré­‑definida, e com
mais protegida ao sol (Norte), simulou­‑se ainda a di-
especial atenção ao máximo aproveitamento solar
minuição da percentagem de envidraçados nas res-
para iluminação natural e conforto visual, sem con-
tantes fachadas de onde resultam as soluções B3, B4
tribuir para o sobreaquecimento global.
e B5, nenhuma com resultados mais satisfatórios.
N
S
E
W
Média diária (Wh/m2)
65.3
87.4
104.6
149.0
Área de fachada (m2)
43.5
43.5
26.1
26.1
{ QUADRO 7.11 } Níveis de insolação nas 4 fachadas.
Solução
Envidraçados N-S-E-W (%)
Total (kWh/m2)
B1
30-30-15-15 (90)
6.11
B2
30-15-30-15 (90)
6.14
B3
30-20-15-15 (80)
6.19
B4
30-15-20-15 (80)
6.20
B5
30-15-15-15 (75)
6.19
{ QUADRO 7.12 } Consumos energéticos para diferentes áreas de envidraçado.
Sol.1
No {
Poderia também ter­‑se simulado o aumento de
QUADRO 7.13
}, mostra­‑se a variação dos
envidraçados na fachada Norte para 40%, no entan-
consumos energéticos de acordo com as altera-
to não há necessidade, uma vez que os 30% res-
ções efectuadas na solução 1, na planta interior e
pondem satisfatoriamente aos níveis de iluminação
no material das portas.
e conforto visual requeridos, conforme se apresenta
A melhoria verificada no quadro acima deve­‑se
de seguida, na simulação de iluminação natural.
essencialmente à melhor disposição interior, salientando a importância da maximização de áreas
} Iluminação Natural
passivas, como factor determinante para a efici-
Em termos de iluminação natural adoptou­‑se como
ência energética dos edifícios, na medida em que
critério a maximização de áreas passivas (áreas que
contribui significativamente para a redução dos
podem ser iluminadas e arrefecidas por meios natu-
consumos e aumento do conforto visual.
rais, não mecânicos) e garantia de que o comparti-
Com a solução 1, obtém­‑se boa iluminação na-
mento menos favorecido pela luz natural (o corre-
tural na fachada principal, e nas laterais. No entan-
dor) beneficiaria pelo menos de 100 lux.
to, a zona central (corredor) e parte da cozinha
Solução 1
Planta alterada
Portas de vidro
6.11
5.74
5.75
Total (kWh/m2)
{ QUADRO 7.13 } Consumos energéticos para alterações em planta.
1.0
3.1
1.0
1.6
3.1
2.0
SALA JANTAR
I.S.
COZINHA
I.S.
QUARTO - 16.8 M2
2.0
8.7
2.0
2.0
SALA ESTAR
0.2
2.0
HALL ENTRADA
QUARTO - 12 M2
0.6
3.1
QUARTO - 16,8 M2
3.1
14.5
{ FIG. 7.32 } Planta inicial.
{ FIG. 7.33 } Iluminação natural para a solução inicial (à direita, em cima).
{ FIG. 7.34 } Iluminação natural para a solução alterada (à direita, em baixo).
Sol.2
CASOS DE ESTUDO
139
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
140
apresentam um nível de iluminação natural inferior
breamentos conseguem­‑se basicamente através da
a 100 lux, sugerindo luz solar insuficiente.
própria cobertura.
A alteração da planta interior, com transforma-
Para os dias 21 de Junho (solstício de verão) e 21
ção dos três compartimentos interiores a sul, em
de Dezembro (solstício de inverno), os períodos mais
dois, reduz as áreas activas, resultando em ganhos
condicionantes são durante o nascer e o pôr­‑do­‑sol,
bastante positivos em termos de iluminação natu-
e as fachadas mais afectadas a Este e Oeste.
ral, e também em diminuição dos consumos ener-
Nessa sequência foram simulados a criação de va-
géticos. Simulou­‑se ainda a alteração das portas
randa exterior fechada na fachada Norte (considera-
dos quartos a Oeste, e a porta central da sala para
da não ventilada pois o regime de ventilação é de-
o corredor, inicialmente em madeira, para vidro. O
pois simulado para toda a moradia), o prolongamento
resultado, na { FIGURA 7.34 }, mostra a valorização
da cobertura em beiral, e a criação de um alpendre
em termos de iluminação passiva, especialmente
em redor de toda a casa para protecção dos vãos.
no corredor, que passa assim a apresentar mais do
Apesar da solução com varanda resultar à pri-
que o mínimo requerido, sem aumento significati-
meira vista pior para os consumos energéticos,
vo nos consumos.
esse aumento de consumos deve­‑se apenas ao facto de neste momento a varanda figurar como mais
} Sombreamentos
um compartimento a arrefecer através do sistema
As alturas que se revestem de maior interesse para
de ar condicionado.
as análises em questão correspondem ao solstício
Durante o solstício de verão, o sol encontra­‑se
de verão, em que o hemisfério Norte se encontra
mais a Norte, existe um sombreamento permanen-
inclinado contrariamente ao sol, e o solstício de
te na fachada sul da moradia que não acontece
inverno em que o mesmo hemisfério se encontra
para a fachada norte.
inclinado para o sol. Os equinócios, alturas em
Adoptou­‑se então a criação de uma varanda
que o sol se encontra sobre o equador revestem­‑se
exterior, ao longo de toda a fachada norte, o que
de menos importância, pois, durante estes os som-
resolve o problema da insolação nesta.
Solução 2
Varanda
Comprimento (mm)
–
1500
500
700
700
500+700
5.75
6.03
5.63
5.54
5.54
4.39
Total (kWh/m2)
Beiral
{ QUADRO 7.14 } Consumos energéticos para soluções de sombreamento.
Palas
Beiral + Alpendre
400+700
6.04
Sol.3
CASOS DE ESTUDO
141
{ FIG. 7.35 } Projecção da sombra
no solstício de verão, fachada Sul.
{ FIG. 7.36 } Projecção da sombra no
solstício de verão, fachada Norte.
{ FIG. 7.37 } Projecção da sombra na
fachada norte, com varanda exterior
– 21 de Junho, 13h.
{ FIG. 7.38 } Projecção
da sombra no solstício
de inverno, fachada Sul
(esquerda).
{ FIG. 7.39 } Projecção
da sombra no solstício
de inverno, fachada Norte.
(direita).
Na { FIGURA 7.38 } apresenta­‑se a situação para o
tício de inverno. A alteração importante que se
solstício de inverno, mais condicionante para a fa-
verifica é a existência de zonas das paredes a S, E, e
chada sul.
W, que passam a estar sombreadas, enquanto na so-
Adicionalmente experimentaram­‑se aumentos no
lução inicial, essas fachadas encontravam­‑se total-
comprimento do beiral da cobertura, para protecção
mente desprotegidas, durante os períodos do ano em
das paredes exteriores e dos vãos contra a radiação
que o sol se encontra a sul do equador.
solar, e palas horizontais. O desempenho dos siste-
Tendo em conta as condições climatéricas locais,
mas adoptados é observado nas três fachadas que re-
que não se prendem apenas com a radiação solar,
manescem desprotegidas (S, E, e W), durante o sols-
mas também com as chuvas intensas durante metade
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
142
{ FIG. 7.41 } Projecção da sombra na fachada sul com alpendre
– 21 de Dezembro, 13h.
das as fachadas encontram­‑se protegidas, havendo apenas um curto período de tempo durante a
nascente e o poente, em que as fachadas Este e
Oeste, respectivamente, apanham radiação solar
directa. Uma outra opção possível, mas mais dispendiosa, para a protecção das paredes exteriores
e envidraçados seria a criação de varanda exterior
em redor de toda a casa, no entanto como já se
{ FIG. 7.40 } Projecção da sombra na fachada NW e NE
– 21 de Dezembro, 13h.
viu, a varanda cria uma zona de calor que tem de
ser correctamente ventilada, e durante a estação
húmida requer­‑se que parte das paredes apanhe
do ano, que podem ser responsáveis por condições
sol para evitar humidades interiores.
interiores de desconforto devido à humidade, optou­
‑se pela alteração das palas horizontais, propícias à
} Inércia térmica
humidade, por alpendres inclinados, com revesti-
De acordo com o Regulamento Geral de Construção
mento semelhante à cobertura.
e Habitação Urbana na Guiné­‑Bissau, em vigor:
Com a solução apresentada, consegue­‑se que
} A espessura mínima estipulada para edificações
as paredes e os envidraçados se encontrem prote-
destinadas à habitação é em geral de 200 mm;
gidos do sol durante a maior parte do tempo, e
} Admite­‑se a possibilidade da construção de pa-
principalmente nos períodos mais condicionantes.
redes exteriores em alvenaria de pedra, sendo para
Quando o sol se encontra alto, a meio do dia, to-
esse caso a espessura mínima de 400 mm.
} No que diz respeito à protecção contra variações tér-
será testada nos pontos seguintes. O solo­‑cimento
micas e humidade, as paredes de edificações de carác-
ou adobe reforçado embora conhecido pelas suas
ter permanente devem ser equivalentes pelo menos à
propriedades de resistência e inércia térmica, ainda
parede de alvenaria de blocos furados de betão, com
existem algumas reservas na sua aplicação em cons-
200 mm de espessura, rebocada em ambos os paramen-
trução urbana de carácter definitivo, pois regula-
tos, sem prejuízo de que, o seu coeficiente de transmis-
mentarmente ainda é considerado um material de
são térmica médio seja superior a 2.5 W/m2 ºC.
construção precário, designação contestável, pelas
A variação da inércia térmica foi simulada
adoptando­‑se materiais mais à base da argila, co-
inúmeras características que o tornam um material
bastante apropriado.
nhecida pelas suas boas propriedades de elevada
Uma vez provado que o comportamento dos blo-
inércia térmica. Testou­‑se então a substituição dos
cos de betão melhora com o aumento da espessura
blocos de betão por tijolos cerâmicos perfurados, e
da parede, procede­‑se às análises seguintes a partir
por adobe reforçado (ou solo­‑cimento), e ainda, o
da solução 3 (paredes de blocos de 200 mm), sendo
aumento da espessura do bloco de betão.
de reter que qualquer solução optimizada apresen-
A parede de tijolo furado para respeitar o regula-
tará um comportamento melhor quando o material
mento tem de ser dupla nas paredes exteriores, com
nas paredes for substituído por blocos de 250 mm,
220 mm de espessura, podendo as paredes interiores
por tijolo cerâmico, ou ainda por solocimento.
ser simples com 110 mm de espessura. Para o caso
em estudo, o teste é feito apenas para realçar as ca-
} Isolamentos
pacidades térmicas deste material, uma vez que no
A prescrição de isolamentos nos materiais em con-
presente momento não é produzido, nem comerciali-
tacto com o exterior é uma das formas possíveis
zado no território nacional. Nas edificações de carác-
de protecção contra o calor, e humidade. A análise
ter permanente a opção recai essencialmente sobre
foi conduzida testando alterações na cobertura
os blocos de betão. Sendo assim é esta solução que
{ QUADRO 7.16 }:
Solução 3/ blocos
Blocos
Tijolo furado
Bloco solo­‑cimento
Total (kWh/m2)
4.39
3.98
3.49
4.09
Espessuras (mm)
200
250
220
240
U (W/m2ºC)
2.27
2.05
1.08
1.97
{ QUADRO 7.15 } Consumos energéticos para diferentes soluções de parede.
CASOS DE ESTUDO
143
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
144
} Painéis sandwich de chapa de zinco com isola-
caixa­‑de­‑ar e isolamento é testada, mais no senti-
mento interior em poliestireno expandido (EPS);
do de comprovar as suas qualidades únicas, no en-
} Isolamento na base das telhas cerâmicas (EPS);
tanto não é objectivo deste estudo utilizar apenas
} Isolamento no tecto falso à base de fibras de vidro;
o melhor material, mas sim testar o compromisso
entre soluções termicamente satisfatórias e economicamente viáveis.
E nas paredes { QUADRO 7.17 }:
} Paredes duplas de tijolo furado, com isolamento
Adopta­‑se então a solução combinada de paredes
e caixa­‑de­‑ar;
de blocos de betão com isolamento exterior em EPS,
} Paredes de bloco de betão com isolamento inte-
com a cobertura de painéis sandwich para a fase se-
rior e exterior.
guinte em que será testado um regime de ventilação.
Comparando­‑se a solução obtida com as que
A solução de isolamento pelo exterior da pare-
até
então
devolveram
melhores
resultados,
de, requer algum cuidado, pois embora mais efi-
verifica­‑se que a opção é coerente pois tanto para
ciente na protecção contra o calor, pode resultar
a solução de paredes duplas de tijolo, como para
incompatível com o clima durante o período das
a solução e cobertura em telha com isolamento, a
chuvas. A solução de parede dupla de tijolo com
diferença em kWh/m2 é inferior a 0,1.
Solução 3
Painéis sandwich
Telha com isolamento
Tecto com isolamento
Isolamento
–
EPS
EPS
Fibra de vidro
Espessura (mm)
–
30
30
30
Total (kWh/m2)
4.39
4.44
4.48
4.05
{ QUADRO 7.16 } Consumos energéticos para soluções de isolamento na cobertura.
Solução 3
Tijolo duplo
Bloco com isolamento int.
Bloco isolamento ext.
Isolamento
–
EPS + caixa-de-ar
EPS
EPS
Espessura (mm)
–
30
30
30
4.39
3.35
3.44
3.37
Total (kWh)
{ QUADRO 7.17 } Consumos energéticos para soluções de isolamento nas paredes.
} Ventilação
plitude térmica interior no compartimento princi-
A ventilação foi simulada com o regime de modo
pal é a que se apresenta na { FIGURA 7.42 }, com uma
misto (mixed­‑mode system), combinando o siste-
média de 28.4ºC, valor perfeitamente aceitável
ma de ar condicionado com a ventilação natural.
para a banda de conforto considerada.
Sempre que as condições exteriores estiverem
Os resultados obtidos permitem a compreensão
dentro da banda de conforto, o sistema de ar con-
do desempenho ambiental das diferentes soluções
dicionado desliga.
simuladas, sendo útil essencialmente na compara-
Esta solução é a que devolve melhores resulta-
ção de cenários. Para resultados absolutos de con-
dos, confirmando a ideia inicial de que a ventila-
sumos energéticos, propõe­‑se simulações, com
ção natural é a melhor estratégia de dissipação de
softwares mais complexos, especificamente dedi-
calor nos climas quentes. Para essa solução
cados a análises energéticas, como os baseados
simulou­‑se ainda alteração do tipo de vidros,
em regulamentos de térmica ou softwares do âm-
obtendo­‑se pouca variação nos resultados. A am-
bito do EnergyPlus.
Painéis sandwich + isolamento parede ext.
3.43
Total (kWh/m2)
Sol.4
{ QUADRO 7.18 } Consumos energéticos para a solução de isolamentos.
Sistema de modo misto
0.83
Total (kWh/m2)
Sol.5
{ QUADRO 7.19 } Consumos energéticos em regime de ventilação de modo misto.
°C
HOUR LY T E MP E R AT UR E S - Quarto_1
S aturday 22nd S eptember (265) - Bissau, Guiné-Bissau
W / m²
40
2.0k
30
1.6k
20
1.2k
10
0.8k
0
0.4k
-10
0
Outside T emp.
2
4
Beam S olar
6
8
Diffuse S olar
10
W ind S peed
12
14
Zone T emp.
16
18
S elected Zone
20
22
0.0k
{ FIG. 7.42 } Temperatura
horária para um dia típico
– Moradia proposta.
CASOS DE ESTUDO
145
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
146
Consumos energéticos para diferentes tipos de vidro
Caixilhos de alumínio
Mês
Caixilhos de madeira
Simples
Persianas
Duplo
simples
Duplo
Duplo_low-E
0.83
0.83
0.82
0.82
0.82
0.81
PER M²
{ QUADRO 7.20 } Consumos energéticos para diferentes tipos de janelas.
7.3 Conclusões
dias analisadas em localizações diferentes, sugerindo
a existência de condições para se tirar partido da inércia térmica, associada à ventilação e radiação noctur-
Na Guiné­‑Bissau, país de clima tropical quente e
nas, na promoção do arrefecimento passivo.
húmido, os principais problemas associados ao
A questão do aumento da inércia deve ser vista
clima são o excesso de calor e o aparecimento de
com algum cuidado. Por um lado, materiais de elevada
sinais de humidade nos elementos construtivos,
inércia térmica preservam a temperatura fresca duran-
principalmente durante a época das chuvas.
te o dia, libertando o calor apenas à noite, altura em
O calor é apontado como a maior causa para o
que beneficiam da ventilação nocturna para a sua dis-
desconforto, tendo se verificado que, embora exista
sipação. Por outro, massas térmicas eficazes levam
o desagrado relativamente ao desempenho térmico,
mais tempo a arrefecer. Neste estudo verificou­‑se nas
em termos das restantes propriedades como a venti-
simulações da moradia proposta que o aumento da es-
lação, os sombreamentos, e a iluminação natural, os
pessura da parede leva a uma diminuição em termos
utentes mostram­‑se bastante satisfeitos.
de consumos energéticos, e na análise dos modelos
As medições de temperatura e humidade confir-
existentes verificou­‑se que os modelos tradicionais de
mam a situação de desconforto térmico no interior
paredes de taipa apresentam um patamar mais mode-
das moradias, independentemente dos materiais apli-
rado e constante para a temperatura interior, com me-
cados, no entanto com melhorias de conforto na mo-
lhorias significativas quando associadas a cobertura
radia em ambiente mais húmido, localizado em zona
ventilada (casa tradicional quadrada), neste último
costeira. Pensa­‑se que esta melhoria deve­‑se essen-
com a média diária nos 28.8ºC, valor de conforto, de
cialmente ao aproveitamento das brisas do rio, mais
acordo com Salmon (1999) para estas regiões.
frescas, pelos vãos adequadamente distribuídos, e
No modelo proposto, com blocos de betão nas pa-
pela cobertura ventilada. Por outro lado, registaram­
redes (material de reduzida inércia térmica), a venti-
‑se amplitudes diárias entre 6 a 10ºC nas três mora-
lação natural é a estratégia mais determinante na re-
dução de consumos associados à climatização artificial.
Nos sistemas de sombreamento a melhor solução
O que se simulou foi um sistema modo misto (Mixed­
na moradia proposta foi a adição de um alpendre in-
‑mode system), que se desliga automaticamente sem-
clinado sobre os vãos, em redor de toda a moradia,
pre que as condições térmicas exteriores estiverem
com material de revestimento idêntico ao da cobertu-
dentro da banda de conforto, admitindo a abertura
ra. A criação de varanda exterior na fachada principal
das janelas. Os resultados obtidos realçam a vantagem
resultou numa solução isoladamente pouco eficiente,
da promoção de conforto através da ventilação natu-
provocando um ligeiro aumento nos consumos ener-
ral e radiação, principalmente em regime nocturno.
géticos por metro quadrado, mas quando associado
Os melhores materiais para o espaço urbano
aos restantes sistemas de sombreamento como a cons-
são o tijolo e a telha, no entanto, neste estudo
trução de alpendre e o prolongamento da cobertura,
optou­‑se por procurar soluções acessíveis ao maior
a eficiência energética da moradia aumenta.
número de utentes possível, portanto, procurou­
Ainda na moradia proposta a maior alteração
‑se adaptar as soluções actualmente mais pratica-
verificada nos consumos energéticos ocorre com a
das como sejam o bloco de betão e o zinco.
simulação simultânea de ventilação natural asso-
Os painéis sandwich com isolamento interior re-
ciada ao sistema de ar condicionado. Por outro
velam um comportamento quase tão eficiente quan-
lado, a alteração de envidraçados pouca influência
to a telha no modelo proposto, no que diz respeito
teve nos resultados, foi mais determinante a ma-
aos consumos energéticos para a manutenção do
ximização de áreas passivas, do que propriamente
conforto interior. Em relação à cobertura de telha,
a optimização dos envidraçados. Com a ventilação
contrariamente ao esperado, a melhor solução de
natural garantida nos períodos em que ocorrem os
isolamentos verificou­‑se no tecto e não na telha.
mínimos de temperatura, o tipo de vidro utilizado
Contudo a prescrição de isolamentos em climas quen-
não provoca alterações nos resultados, sendo per-
tes exige alguma razoabilidade, pois tal como acon-
feitamente adequada a utilização de vidros sim-
tece com a inércia térmica, funcionam nos dois sen-
ples. Durante as análises procurou­‑se a optimiza-
tidos, impedindo a entrada do calor do exterior, mas
ção do modelo em termos de desempenho térmico,
também dificultando a dissipação do calor que já se
mas tendo sempre em atenção o aspecto económi-
encontra no interior. Por isso, recomenda­‑se que este
co da solução adoptada. Pois, ainda que a longo
se encontre próximo do exterior, para impedir a en-
prazo o custo inicial seja reversível, o fraco poder
trada do calor e não o contrário. Mas, prevendo­‑se a
económico da maioria dos utentes não permitiria
utilização de aparelhos de ar condicionado, pode re-
um investimento inicial muito elevado.
sultar mais económico aumentar o nível de isolamento, em todas as envolventes externas.
Os equipamentos mecânicos admitidos neste
estudo podem facilmente funcionar à base de
CASOS DE ESTUDO
147
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
148
energias renováveis, captadas por exemplo através dos painéis solares.
Em termos dos objectivos estabelecidos verifica­
‑se que para o clima da Guiné, a maior forma de dis-
O domínio das energias renováveis, tal como o das
sipação do calor é através da ventilação, seguindo­
tecnologias associadas à produção de materiais à base
‑se medidas de protecção por sombreamentos, e da
da terra, requer alguma consideração, pelos vários as-
inércia térmica associada a uma boa ventilação.
pectos positivos de que se reveste a sua adopção.
O recurso a espaços exteriores arborizados, com ár-
A terra crua é apelativa quer pela sua disponi-
vores altaneiras, também é importante, pois para
bilidade, características de elevada inércia térmi-
além de protecção, permitem a circulação do vento,
ca, quer pelo baixo consumo energético envolvido
actuando directamente na redução da temperatura
na sua transformação e aplicação, e mão­‑de­‑obra
do ar na envolvente. A arborização é importante
disponível. Os materiais à base da argila, como se-
também no contexto urbanístico, na medida em que
jam os tijolos e telhas cerâmicos, também se apre-
protege tanto os edifícios, como as estradas, da ac-
sentam com comportamentos satisfatórios tanto
ção directa e prolongada dos raios solares e da chu-
em termos de resistência, como de desempenho
va, reduzindo o seu desgaste, ou por outras palavras
térmico, rapidez na construção, e durabilidade.
aumentando a sua durabilidade.
Estes recursos apresentam grande potencial de
Os resultados do questionário realçam a pro-
viabilidade, mas requerem estudos e algum investi-
blemática da habitação no principal centro urba-
mento inicial, logo é necessário, primeiro que inte-
no (Bissau), devido ao êxodo rural associado
grem os objectivos e as prioridades estabelecidas pe-
também ao facto de os principais equipamentos
las autoridades responsáveis pela organização e
colectivos se encontrarem essencialmente no
gestão do sector da construção e urbanismo no país.
centro da cidade. Embora a maioria dos utentes
No que diz respeito ao urbanismo, os problemas
denote preferência pela moradia isolada com lo-
referidos em diagnóstico, embora não tenham sido
gradouro à volta, modelo claramente bioclimáti-
o alvo central deste trabalho, requerem alguma
co, pensa­‑se ser a altura ideal para o desenvolvi-
atenção, pois o panorama actual não deixa dúvidas.
mento de soluções de prédios em altura, até um
Admite­‑se a necessidade de maiores cuidados na
máximo de 4 pisos (tendo em conta a realidade
área do planeamento urbano. Problemas como a ca-
do país, onde a carência energética ocupa ainda
rência habitacional e de infra­‑estruturas de apoio
um lugar de grande destaque). O desenvolvimen-
são resolúveis, através da criação de instrumentos
to de edifícios em altura ocupa menor área urba-
de aplicação a pequena escala, sendo os recursos
na, permitindo o desenvolvimento de mais áreas
disponíveis concentrados na resolução de pequenas
verdes, e deixando espaços para os equipamen-
parcelas do problema, bairro por bairro.
tos colectivos que devem acompanhar a expan-
são urbana, para além da densificação em altura
gens, estratégias e tecnologias na concepção dos
ser mais adequada para a resolução dos proble-
edifícios, com a introdução de consciência am-
mas habitacionais supracitados. A expansão para
biental nos edifícios, conceitos que podem vir a
o interior e a criação de autarquias regionais
melhorar o desempenho das tipologias arquitectó-
também são medidas que actuariam na diminui-
nicas e construtivas existentes, determinando
ção do êxodo para a cidade.
também quais as abordagens mais acessíveis eco-
A questão cultural que se prende com a prefe-
nomicamente, e climáticamente mais adaptáveis.
rência pela moradia unifamiliar isolada vai sendo
Factores como a qualidade da paisagem construí-
ultrapassada na actualidade, com tantos emigran-
da, a preservação das diversidades culturais e dos
tes e recém­‑licenciados a regressarem ao país,
valores de identidade, são também a ser conside-
após experiências de vivências em prédios.
rados na racionalização e gestão do sector da
Interessa agora fazer um à parte para referir a
construção, adicionalmente aos aspectos técnicos
questão da habitação vernacular. Estas habitações,
e económicos. A reabilitação ponderada dos inú-
para além do conhecimento empiricamente adquiri-
meros edifícios coloniais que não apresentam ac-
do que encerram, representam um património úni-
tualmente condições mínimas de adequabilidade
co. A valorização das técnicas ancestrais, pela uti-
ao uso, é também um desafio real na actual socie-
lização de termos mais adequados na caracterização
dade guineense.
desta tipologia, e a delimitação séria e concreta de
As principais oportunidades que decorrem des-
zonas reservadas a este tipo de construção, ajuda-
te estudo são a aplicação das estratégias associa-
ria a preservar o que a construção local tem de mais
das ao arrefecimento passivo, tirando­‑se partido
genuíno, a tradicional palhota de barro, coberta de
da ventilação, do aproveitamento da luz solar para
colmo, para além de perfeitamente adequada ao
iluminação natural e transformação em energia
clima, quente, sendo a acção das chuvas evitada
eléctrica, a predilecção no uso de materiais locais,
pelos remates cuidadosos, prolongamento da co-
preferencialmente materiais de fontes renováveis
bertura e elevação da varanda.
ou com possibilidade de reutilização, e que mini-
O futuro da construção na Guiné­‑Bissau passa
mizem o impacto ambiental. Justifica­‑se a reali-
indubitavelmente pela maior participação e envol-
zação de mais investigação neste domínio, para a
vência do sector privado na construção, cabendo
confirmação da eficiência das estratégias que de-
ao estado assumir o seu papel de agente de con-
volveram melhores resultados, bem como a reali-
trolo e supervisão, conforme sugere Pereira (2001).
zação de mais inquéritos, incluindo também o
Este pode ser considerado o maior desafio a longo
meio rural, onde se encontram as casas de arqui-
prazo, aliado ao investimento em novas aborda-
tectura vernacular.
CASOS DE ESTUDO
149
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
150
É interessante num trabalho futuro, desenvolver­
{ 6 } Coberturas inclinadas, pois favorecem o es-
‑se a mesma abordagem com o software de análise
coamento rápido da água das chuvas, e diminuem
energética EnergyPlus, o qual permite a simulação
a área de exposição ao sol, evitando o sobreaque-
de sistemas de AVAC, e cujos resultados permitiriam
cimento do material (num plano inclinado, a área
estabelecer uma correlação, com os aqui apresenta-
de incidência do sol é menor);
dos, bem como a simulação de um modelo de edifí-
{ 7 } A construção de forro ou tecto falso, mes-
cio em altura (até 4 pisos sem elevador, ou até 6 pi-
mo nas moradias vernaculares, pois permitem
sos com elevador), para escritórios ou habitação.
maior protecção ao calor;
{ 8 } A disposição dos vãos em linha, de acordo
com a direcção dos ventos dominantes (de nor-
7.4 Sumário: recomendações
gerais para a Guiné-Bissau
deste), promovendo ventilação cruzada;
{ 9 } Janelas altas e sombreadas; pé­‑direito elevado, para facilitar as renovações do ar interior;
{ 1 } Orientação preferencial segundo o eixo E-W,
{ 10 } Moradias sobrelevadas, para evitar a hu-
com predominância da fachada principal a Norte;
midade do solo;
{ 2 } As maiores áreas de envidraçados devem ser
{ 11 } Impermeabilizações na cobertura para
localizadas nas fachadas a Norte e Sul, por serem
evitar humidades devidas a infiltrações;
as fachadas menos expostas ao sol e mais facil-
{ 12 } O uso de chapas de zinco ou chapas galva-
mente sombreadas, e minimização dos envidraça-
nizadas (mais resistentes e duráveis), associados a
dos nas fachadas Este e Oeste;
isolamentos, por exemplo em painéis sandwich, na
{ 3 } Sombreamento de paredes e vãos envidra-
cobertura, para habitações mais económicas;
çados através do prolongamento dos beirais da
{ 13 } A prescrição de materiais isolantes na en-
cobertura, e se possível com alpendre inclinado
volvente opaca, com a disposição de isolamentos
em redor de todo o edifício ou apenas sobre os
em paredes pelo exterior, quando possível, por
vãos, evitando­‑se deste modo o desgaste dos re-
forma a não reduzir a inércia térmica;
vestimentos das paredes, provocado pelo sol e/ou
{ 14 } Cores claras nas fachadas para reflectir a
pelas chuvas, e o sobreaquecimento ou apareci-
radiação solar;
mento de humidades no interior;
{ 15 } A prescrição de produtos protectores ade-
{ 4 } Prescrição de varanda exterior logo na fase de
quados nos materiais de construção, para a pro-
concepção, essencialmente na fachada principal;
tecção dos vãos, e janelas internas de rede, pela
{ 5 } Envolventes
protecção contra os insectos, muito importante
arborizadas,
para moradias isoladas;
principalmente
no panorama dos climas húmidos.
CASOS DE ESTUDO
151
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ANEXOS
157
{ Anexos }
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
158
A1 Energia Solar Fotovoltaica
Principais aplicações
} Electrificação rural;
} Electrificação de moradias;
} Automação;
Introdução
} Telecomunicações;
} Bombagem de água;
O conceito de construção sustentável está asso-
} Sinalização;
ciado com a melhoria de processo construtivo e de
} Iluminação exterior.
utilização de materiais, equipamentos mais eficientes e energias renováveis com a finalidade de
assegurar conforto, reduzir custos e poluição do
Componentes do sistema
meio ambiente.
Em localidades afastadas da rede eléctrica con-
O sol é a fonte de energia do sistema fotovoltaico.
vencional ou onde a rede funcionar mal ou por ne-
O sistema fotovoltaico começa no painel solar que
cessidade de redução de CO2 na atmosfera, a utili-
converte a radiação solar em electricidade corrente
zação de energia solar fotovoltaica é uma
contínua. Quanto mais radiação recebida mais electri-
alternativa real.
cidade produz. O painel é o gerador de energia.
Um sistema de produção de energia por con-
O regulador de carga liga o painel solar, bateria
versão fotovoltaica é uma fonte de energia que,
e cargas, regula a tensão de carga da bateria e
através da utilização do painel solar, converte a
protege­‑a de sobrecarga e sobre descarga.
radiação solar em electricidade.
A bateria armazena a energia gerada pelo painel fotovoltaico durante as horas de luminosidade
Vantagens fundamentais
a fim de poder ser utilizada à noite ou durante pe-
} Não consome combustível;
ríodos prolongados de céu encoberto.
} É silencioso;
O inversor converte a corrente contínua em
} Tem uma vida útil superior a 20 anos;
corrente alternada para alimentar equipamentos
} É resistente a condições atmosféricas extremas
que funcionam com este tipo de corrente.
(granizo, vento, temperatura e humidade);
Os suportes de fixação são estruturas que asse-
} Não tem peças móveis;
guram a montagem dos painéis solares na cober-
} Baixo custo de manutenção;
tura, no terraço, nas colunas ou no chão.
} É modular, isto é, permite incorporar módulos
adicionais.
As cargas são os equipamentos eléctricos, por
exemplo lâmpadas, TV, rádio, bombas de água, fri-
ANEXOS
159
goríficos, ventoinha, etc. Estes equipamentos devem ser eficientes do ponto de vista do consumo de
Configurações do sistema
energia, e de preferência devem ser escolhidos
O sistema fotovoltaico pode ser muito simples, apenas
aqueles que são concebidos para funcionar com sis-
com painel solar e carga na situação de alimentação
temas fotovoltaico.
directa de uma bomba de água, ou mais complexo
Cabos e condutores fazem a ligação entre os
como por exemplo para alimentação de uma moradia
equipamentos que constituem o sistema fotovol-
moderna. O sistema fotovoltaico para alimentação de
taico, e, devem ser utilizados os cabos específicos
uma bomba de água só necessita de funcionar durante
para esta aplicação.
o dia, enquanto o que alimenta uma moradia moderna
Para a instalação do sistema fotovoltaico é necessário espaço para que os painéis solares fiquem
expostos à radiação solar durante o dia, sobretudo
no período entre às 9h00 e ás 18h00.
necessita de energia durante a noite, pelo que será
necessário reserva de energia.
Em ambas as situações o princípio é o mesmo,
pelo que o sistema é adaptável de acordo com as
necessidades de energia.
Pequeno sistema
fotovoltaico em
corrente contínua.
Grande sistema
fotovoltaico em
corrente contínua.
Sistema fotovoltaico
simples em corrente
contínua.
Grande sistema
fotovoltaico em corrente
contínua e alternada.
Aplicações: Casa de
férias, telemetria.
Aplicações: Casa,
espaços lazer.
Aplicações: Bombagem
de água.
Aplicações: Casa
moderna.
{ QUADRO A2.1 } Exemplos de configurações de sistemas fotovoltaico.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
160
Dimensionamento de sistemas de geração
fotovoltaica de energia
}Ligação em série
Se os elementos de um circuito se conectarem em
série, isso quer dizer que todo o fluxo de electrões
No dimensionamento vamos abordar apenas siste-
passa por cada um dos seus elementos. Portanto o
mas fotovoltaicos isolados.
fluxo é constante em qualquer ponto do circuito.
Quando se ligam módulos em série, a tensão
resultante é a soma das tensões de cada um deles
Conceitos eléctricos
e a corrente do circuito é a menor corrente gerada
pelos módulos.
}Tensão e corrente
A electricidade é o fluxo de partículas carregadas
}Ligação em paralelo
(electrões) que circulam através de materiais con-
Se os elementos de um circuito se conectarem em
dutores – cabos, pedaços de metais, semiconduto-
paralelo, isto quer dizer que o fluxo é repartido
res. Estas partículas adquirem energia numa fonte
por cada um dos seus elementos, a corrente resul-
que pode ser painel solar, bateria gerador eléctri-
tante é soma das correntes de cada um dos ele-
co, etc e transferem essa energia às cargas (lâm-
mentos, e a tensão resultante coincide com a que
pada, TV, motor, etc) e a seguir retornam à fonte
é entregue por cada um dos módulos.
para repetir o ciclo.
{ FIG. A2.1 } Exemplos de circuitos.
{ FIG. A2.3 } Exemplo de circuito paralelo (em cima).
{ FIG. A2.2 } Exemplo de circuito em série (à esquerda).
ANEXOS
161
}Potência
mentos são constituídos por condutores, com-
A potência é a capacidade instantânea de produzir
ponentes e sistemas que para operar consomem
energia. É o produto da tensão pela intensidade
energia e oferecem também resistência à passa-
de corrente: P = V x I
gem de electrões pelo que o sistema terá perdas
Em que:
de potência desde o início (painel solar) até
P é a potência, medida em Watts [W];
à carga.
V é a tensão aplicada, medida em Volts [V];
I é a intensidade de corrente que circula, medida em Amperes [A].
Analisando os exemplos de ligação em série e
Iniciando o percurso energético pelos raios solares que incidem no painel solar, podemos enumerar alguns tipos de perdas:
} Perdas por sujidade no painel solar;
ligação em paralelo, concluímos que os módulos
} Perdas por abaixamento de tensão no painel so-
operam com valores de potência iguais:
lar com o aumento da temperatura;
Ligação em série: 24V x 2A = 48W; ligação em
paralelo: 12V x 4A = 48W.
} Perdas associadas ao início e ao fim do dia,
quando a luminosidade é mais reduzida e a tensão
é insuficiente para carregar a bateria;
}Resistência
} Perdas aos terminais do regulador de carga;
A resistência de um condutor eléctrico é a oposição
} Perdas de rendimento na conversão de corrente;
que um condutor oferece ao fluxo de electrões. É uma
} Perdas devido à eficácia energética da bateria.
propriedade que depende das características próprias
Não restitui toda a energia armazenada;
do material do condutor e da sua geometria.
} Perdas por queda de tensão aos terminais dos
Assim, R = Þ x (L/ S)
condutores, dependendo do seu comprimento,
Em que:
secção e corrente transportada.
R é a resistência, medida em Ohms [Ω];
Þ é a resistência específica ou resistividade do
}Energia
material, medida em [Ω mm2 /m] que no caso do
A energia é “a soma no tempo” da potência. É o
cobre Þ = 0,017 Ω mm2 /m;
produto da potência pelo número de horas de uti-
S é a secção do condutor, medida em [mm2];
L é o comprimento, medido em metros [m].
lização: E = P x t
Em que:
E é a energia necessária para um determinado
}Perdas de potência
Da mesma forma que os condutores oferecem resistência à passagem de electrões, os equipa-
equipamento, medida em Watt­‑hora [Wh];
t é o tempo de utilização de um determinado
equipamento, medido em horas [h].
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
162
Dados necessários para dimensionar um sistema
}Necessidades de energia da aplicação
}Produção eléctrica diária de um painel solar
O painel solar caracteriza­‑se, acima de tudo, pela
sua potência de pico Pc.
Para calcular as necessidades de energia (quer de
Para calcular a produção diária de um painel é
corrente contínua quer de corrente alternada) du-
preciso ter em consideração a localização geográ-
rante o dia, determinam­‑se as necessidades ener-
fica do local (latitude, longitude e estações do
géticas de cada um dos equipamentos e adicionam­
ano) para ter a insolação média que nos permite
‑se. Deve ser incluído nesse cálculo as potências
calcular o factor “número de horas equivalentes”
relativas às perdas, porque todas as necessidades
(média aritmética da energia solar diária do local)
suplementares implicarão um aumento de potên-
que multiplicado pela potência de pico do painel
cia, isto é a capacidade de gerar e armazenar
solar obtém­‑se a energia eléctrica produzida pelo
energia.
painel solar.
}Autonomia prevista
Devido à necessidade de utilização de energia
mesmo no período em que não haja sol (noites e
dias de céu nebulado), é preciso armazenar a energia produzida em bancos de baterias.
A autonomia refere­‑se ao número de dias em
que se prevê que diminuirá ou não haverá geração de energia e que deverão ser tido em conta
no dimensionamento da bateria. Para alimentação rural ou casas tomam­‑se de 5 a 7 dias e para
sistemas de comunicações remotos 7 a 10 dias
de autonomia. Também se deve ter em conta no
dimensionamento da bateria o factor de correcção devido ao envelhecimento, profundidade de
{ FIG. A2.4 } Dados da insolação média na Guiné­‑Bissau.
descarga e redução da capacidade por influência da temperatura.
Mostra­‑se a seguir um exemplo de dimensionamento.
ANEXOS
163
}Dimensionamento de condutores e cabos
de cabo adequada a utilizar para uma queda de
Para assegurar uma operação apropriada das cargas
tensão de 5% em sistema de 12VDC.
deve­‑se efectuar a selecção adequada dos conduto-
Na coluna à esquerda escolhe­‑se a corrente no-
res e cabos de ligação que interligam o sistema às
minal do sistema. Nessa mesma linha procura­‑se a
cargas. A fim de assegurar o funcionamento ade-
distância que o cabo percorrerá e lê­‑se na parte
quado das cargas não deverá haver mais de 5% da
superior da respectiva coluna a secção do cabo
queda de tensão tanto entre painéis solar e as ba-
correspondente.
terias como entre as baterias e as cargas.
Quando a tensão da instalação for diferente de
A selecção do cabo fica mais simplificado se
12VDC, por exemplo 24VDC, 36VDC ou 48VDC, procede­
utilizarmos a tabela seguinte, que indica a secção
‑se da mesma forma, mas nesse caso deve­‑se dividir a
secção do cabo obtido por 2, 3 ou 4 respectivamente.
Se o valor que resultar não for normalizado, escolhe­
‑se a secção normalizada imediatamente superior.
Instalação
Para uma boa instalação é importante seleccionar a
melhor localização possível para os painéis solares,
tendo em consideração os seguintes aspectos:
} Estar o mais próximo possível das baterias;
} Estar suficientemente afastado dos abjectos que
possam projectar sombra sobre os painéis solares;
{ QUADRO A2.2 } Exemplo de dimensionamento de sistema
fotovoltaico para uma casa.
{ QUADRO A2.3 } Tabela com a distância máxima, em metros, para
uma queda de tensão de 5% em sistemas de 12VDC.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
164
} No caso da Guiné­‑Bissau a latitude é 12º Norte os
} O regulador de carga e inversor de corrente devem
painéis deverão estar inclinados em relação ao plano
ser instalados o mais próximo possível das baterias;
horizontal num ângulo de 12º + 5º = 17º de modo a
} As baterias deverão ser instaladas num compar-
que a sua face frontal fique voltada para sul;
timento separado e com ventilação adequada.
Exemplos de equipamentos cargas e aplicações
Painel solar
Regulador de carga
Baterias
Inversor de corrente
Lâmpadas de baixo
consumo
Bomba de água
submersível
Arca congeladora
Sundanzer DCF 165
Instalação de
bombagem de água
{ QUADRO A2.4 } Exemplos de equipamentos, cargas e aplicações.
ANEXOS
165
{ FIG. A2.5 } Perfil de consumo
de energia da Arca Sundanzer
DCF 165.
{ QUADRO A2.5 } Instalação
na cobertura de uma casa.
Autor: Engº. Gilberto Lopes, IST
Bibliografia
Internet:
www.siemenssolar.com;
www.outbackpower.com;
www.lorentz.de;
www.stecasolar.com;
www.studer-inno.com.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
166
A2 O sistema LiderA
sistema voluntário
para avaliação da sustentabilidade
dos ambientes construídos
em comum entre eles. É possível, tal como definido pela Agenda 21 (CIB, 2002), focarem­‑se aspectos comuns e reconhecer a diversidade no facto de
cada solução dever ser ajustada e apropriada ao
contexto local.
Estes países partilham também de barreiras co-
A2.1 Enquadramento: a importância
de utilizar sistemas integrados para a procura
da sustentabilidade no projecto e construção
muns para a implementação da construção sustentável (CIB, 2002), como incertezas ambientais e
económicas, por vezes reduzida compreensão e
capacidade da área da sustentabilidade da cons-
As actividades humanas, de que é um exemplo a
trução, pobreza e subsequentemente baixo inves-
construção, têm acompanhado o crescimento po-
timento urbano, falta de dados precisos e envolvi-
pulacional. De acordo com a UNEP e a UNDP a po-
mento dos vários agentes.
pulação mundial atingiu os 6.464 milhões em
Os desafios envolvem a rápida urbanização, a
2005 (UNEP, 1999; UNPD, 1998) e segundo as mes-
existência de práticas, infra­‑estruturas, soluções
mas fontes, a economia mundial quintuplicou o
construtivas e urbanas inadequadas, sendo as
seu tamanho, nomeadamente por via do aumento
oportunidades a procura de habitação, infra­
do nível de vida individual das populações, da
‑estruturas e zonas urbanas sustentáveis, fomen-
maior capacidade de mobilizar recursos e do con-
to de desenvolvimento rural, educação, aposta
sequente impacte ambiental.
em valores tradicionais ajustados e na inovação
A construção é um vasto processo/mecanismo
para a sustentabilidade.
para realizar os ambientes construídos e infra­
Em muitos casos, esse aumento quantitativa-
‑estruturas que suportem o desenvolvimento das
mente significativo das construções não se re-
sociedades. Esta pode incluir a extracção e bene-
flectiu num aumento das preocupações ambien-
ficiação de matérias­‑primas, a produção de mate-
tais, nem na procura de eficiência em termos dos
riais e componentes, o ciclo do projecto da cons-
consumos energéticos e de materiais, colocando
trução, da viabilidade do projecto, as obras de
assim na agenda a necessidade de uma aborda-
construção, operação e gestão, até a desconstru-
gem mais activa da dimensão ambiental na pro-
ção do ambiente construído (CIB, 2002).
cura sustentabilidade.
Os países africanos de língua oficial Portugue-
Nesta lógica e associado à perspectiva de de-
sa têm diferentes condições climáticas, culturais e
senvolvimento sustentável e da sua aplicação às
económicas, apesar de existirem muitos aspectos
construções, promove­‑se a procura de soluções ar-
ANEXOS
167
quitectónicas de bom desempenho bioclimático,
Portuguesa, denominado de LiderA (www.lidera.
devendo, nesse aspecto estrutural, alargar as ques-
info), isto é liderar pelo ambiente, que seguida-
tões da sustentabilidade a serem consideradas nos
mente se apresenta.
ambientes construídos.
A sustentabilidade da construção significa
que os princípios do desenvolvimento sustentável são aplicados de forma compreensível ao ciclo
A2.2 LiderA como instrumento
para avaliar o caminho para a Sustentabilida‑
de nos Países de Língua Oficial Portuguesa
da construção. Este processo global (holístico)
deseja restaurar e manter a harmonia entre os
O sistema LiderA
ambientes naturais e construídos, enquanto se
O sistema LiderA (Pinheiro, 2004) tem como objec-
criam aglomerados urbanos que afirmam a digni-
tivo liderar a procura de boas soluções ambientais
dade humana e encorajam a equidade económica
e de sustentabilidade nas diferentes fases, desde o
(CIB, 2002).
plano ao projecto e à obra, manutenção, gestão,
A Construção Sustentável é, ainda hoje, um
reabilitação, até à fase final de demolição.
conceito novo para a Indústria da Construção, dis-
Para esse objectivo considera­‑se relevante que
pondo de múltiplas perspectivas, o que desafia o
os planos, projectos, actividades construtivas,
aparecimento de instrumentos que permitam ava-
edifícios, infra­‑estruturas e ambientes construí-
liar a procura da sustentabilidade.
dos olhem a sustentabilidade de uma forma inte-
As formas práticas de avaliar e reconhecer a
grada, abrangendo várias vertentes, já que basta
construção sustentável são cada vez mais uma re-
uma delas não estar assegurada para que a susten-
alidade nos diferentes países, destacando­‑se as
tabilidade efectiva seja difícil de atingir.
que fomentam a construção sustentável através
No LiderA a procura da sustentabilidade en-
de sistemas voluntários de mercado (CIB, 1999;
globa a integração local, o consumo de recursos
Silva, 2004) e as que permitem avaliar desde logo
(como por exemplo a energia, a água, os mate-
o desempenho ambiental dos edifícios.
riais e a produção alimentar), as cargas ambien-
A nível internacional, existem já vários sistemas (Portugal, Reino Unido, Estados Unidos da
tais, o conforto ambiental, a vivência socioeconómica e o uso sustentável.
América, Austrália, Canadá, França, Japão, entre
Para cada uma destas seis vertentes, são conside-
outros), para reconhecer a construção sustentá-
radas áreas (no total vintes e duas, ver { FIGURA A2.1 }).
vel. Entre essas abordagens destaca­‑se o sistema
Em cada uma área são definidos critérios (que na ver-
de apoio e avaliação da construção sustentável
são de aplicação aos Países de Língua Oficial Portu-
para Portugal e para os Países de Língua Oficial
guesa considera vinte e dois critérios).
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
168
{ FIG. A2.1 } Vertentes e áreas (subdivisão das vertentes) consideradas pelo Sistema LiderA para a procura da sustentabilidade.
A procura da sustentabilidade (nas vertentes,
áreas e critérios) pode ser classificada em níveis
de maior desempenho A, A+ e A++, que revelam
uma maior sustentabilidade.
maiores ou menores do desempenho nesse cami-
Esta escala é definida tendo em consideração a
nho para a sustentabilidade, nomeadamente das
prática usual não sustentável, que é classificada
classes de menor desempenho G, E até às classes
como classe E, até uma boa prática que assuma
necessidades de consumos ou reduções da ordem
de 2 vezes (classe A), da ordem das 4 vezes (Classe A+) ou da ordem das 10 vezes (Classe A++).
Por exemplo, a utilização de grandes áreas envidraçadas na fachada do edifício origina consumos
energéticos e necessidades de arrefecimento muito
elevados. Assim, através da área envidraçada (solução adoptada) ou através dos consumos de energia
(kilogramas equivalentes de petróleo (kgep) por m2
ou kWh/m2) tal é classificado como classe E. A redução da área envidraçada no edificado e a utilização de princípios bioclimáticos (adequada orienta-
{ FIG. A2.2 } Níveis de Desempenho Global.
ção, sombreamento, fomento da ventilação natural,
ANEXOS
169
entre outros) permite melhorias energéticas nesse
Princípios para a Sustentabilidade
edifício que podem chegar a reduções dos consu-
Para o LiderA a procura de sustentabilidade nos
mos de 2 a 10 vezes (Classes entre A e A++).
ambientes construídos – edifícios, infra­‑estruturas
Esta classificação pode ser efectuada de forma
e outros espaços construídos – baseia­‑se em pro-
qualitativa, nomeadamente se estão considera-
curar bom desempenho em seis vertentes a serem
dos os princípios da sustentabilidade em cada ver-
adoptados através dos seguintes princípios:
tente (ver explicação da aplicação desta aborda-
{ 1 } Valorizar a dinâmica local e promover uma
gem no capitulo 4.1) de forma semi­‑quantitativa,
adequada integração. Para tal sugere­‑se que a in-
através da resposta a um conjunto de questões
tegração local procure essa dinâmica no que diz
dentro de cada vertente e abrangendo as diferen-
respeito às áreas do Solo, dos Ecossistemas Natu-
tes áreas (ver capitulo 4.2) ou através de uma
rais e da Paisagem e Património;
base quantitativa com o valor do desempenho
{ 2 } Fomentar a eficiência no uso dos recursos,
definido em cada critério (ver capitulo 4.3).
abrangendo as áreas da Energia, da Água, dos Ma-
Esta lógica permite a aplicação do sistema,
teriais e da Produção Alimentar;
desde as fases iniciais de planeamento e projec-
{ 3 } Reduzir o impacte das cargas ambientais
to, até fases de projecto mais detalhadas, culmi-
(quer em valor, quer em toxicidade), envolven-
nando na fase de operação do edificado e am-
do as áreas dos Efluentes (esgotos), das Emis-
bientes construídos. Tal permite avaliar e procurar
sões Atmosféricas (poeiras e gases), dos Resí-
melhorias, mesmo com níveis de informação re-
duos (lixos), do Ruído Exterior e da Poluição
duzidos e ir progredindo até níveis de informa-
térmico­‑lumínica (efeito de ilha de calor e ex-
ção elevados.
cesso de luz);
Essa lógica assume que o nível de sustentabili-
{ 4 } Assegurar a qualidade do ambiente, focada
dade, por exemplo no consumo de energia, varia
no conforto ambiental, nas áreas do Conforto Tér-
de uma habitação para um escritório, ajustando
mico, Iluminação, Qualidade do Ar, e Acústica;
os diferentes níveis de desempenho ao tipo de
{ 5 } Fomentar a vivência socioeconómicas sus-
serviço do ambiente construído e potenciando a
tentável, passando pelas áreas do Acesso para To-
procura de soluções ajustadas e eficientes.
dos, da Diversidade Económica, das Amenidades e
Assim, o sistema, ao definir princípios e níveis
Interacção Social, da Participação e Controlo, e
de desempenho na sustentabilidade, diferencia as
dos Custos no Ciclo de vida;
soluções a considerar, contribuindo para adoptar
{ 6 } Assegurar a melhor utilização sustentável
soluções e propostas mais eficientes no caminho
dos ambientes construídos, através da Gestão Am-
da sustentabilidade pretendida.
biental e da inovação.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
170
A2.3 Que aspectos considerar
Esses princípios podem ser avaliados e implementados considerando a aplicação nas várias áreas e critérios, que seguidamente se explicam de forma sumária, abrangendo as seis vertentes consideradas.
A2.3.1 Assegurar uma boa Integração Local
inter­‑relacionar com a dinâmica local e regional.
O modelo adoptado deve integrar­‑se na perspectiva de desenvolvimento sustentável, ou seja de
acordo com o princípio “pensar globalmente, agir
localmente”.
A forma de crescimento sustentável (sua localização e integração) é um aspecto muito questionado. Uma solução pode assentar, por exemplo,
nos princípios de um crescimento inteligente (re-
Na perspectiva da sustentabilidade, a localização
ferenciado na literatura anglo­‑saxónica como
dos empreendimentos, constituindo a fase inicial
smart growth) que considera a aplicação de 10
de desenvolvimento do projecto, assume­‑se como
princípios (ICMA e Smarth Grow Network, 2003a;
um dos aspectos chave do mesmo. Efeitos como a
ICMA e Smart Grow Network, 2003b):
ocupação do solo, as alterações ecológicas do ter-
{ 1 } Uso misto do solo;
ritório e da paisagem, a pressão sobre as infra­
{ 2 } Adoptar as vantagens de projectar edifícios
‑estruturas e as necessidades de transportes, es-
compactos;
tão associados à escolha do local e condicionam o
{ 3 } Criar uma gama de oportunidades de habita-
seu desempenho ambiental.
ções e de escolhas;
No geral, a decisão da escolha do local é da
{ 4 } Criar uma vizinhança baseada na distância
responsabilidade do promotor e deve estar asso-
que se pode percorrer a pé;
ciada ao conhecimento das sensibilidades e parti-
{ 5 } Criar aspectos distintivos, ou seja, comuni-
cularidades ambientais do mesmo. É útil proceder
dades atractivas com uma forte noção do local;
a uma avaliação das perspectivas de sustentabili-
{ 6 } Manter os espaços abertos, as zonas cultivadas,
dade ao nível da Avaliação Ambiental Estratégica
a beleza natural e as áreas ambientais críticas;
(AAE) se for um plano ou um programa, ou ao ní-
{ 7 } Focar e desenvolver em direcção às comuni-
vel do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), no
dades existentes;
caso de ser um projecto de dimensões significati-
{ 8 } Fornecer variedades de opções de transporte;
vas, ou ainda ao nível de uma análise ambiental
{ 9 } Tornar decisões de desenvolvimento previsí-
expedita, no caso de empreendimentos de dimen-
veis, justas e efectivas em termos de custos;
são reduzida.
{ 10 } Encorajar a comunidade e a colaboração
A escolha do local associa­‑se ao modelo de
desenvolvimento perspectivado, o qual se deve
dos vários agentes envolvidos (stakeholder) nas
decisões de desenvolvimento.
ANEXOS
171
Os aspectos ambientais particulares da localiza-
É essencial dispor de informação ambiental da
ção (por exemplo, a topografia, geologia, geotec-
zona. Complementarmente e em função das carac-
nia) devem ser entendidos não como um problema,
terísticas do local e do empreendimento, pode ser
mas como uma oportunidade de desenvolver essas
relevante considerar outros aspectos, tais como a
especificidades locais, devendo ser equacionados.
condição dos solos.
Para contribuir para a sustentabilidade na vertente da Integração Local, considera­‑se relevante
A2.3.2 Reduzir as necessidades de Recursos
considerar a dinâmica do solo, valorizar e preservar
a ecologia local, assegurar a integração na paisa-
O consumo de recursos, como a energia, a água, os
gem e a valorização e preservação do património.
materiais e os recursos alimentares, associa­‑se
No quadro seguinte { QUADRO A2.1 } sumarizam­‑se
a impactes muito significativos do ponto de vista
os principais aspectos considerados na vertente da
do edificado, sendo este um aspecto fundamental
Integração Local. No quadro apresenta­‑se uma in-
no que se refere à sustentabilidade, nas diferentes
dicação da importância através da ponderação, ou
fases do ciclo de vida dos empreendimentos.
seja do peso de cada área/critério (wi); por exem-
Os Recursos constituem uma vertente que, numa
plo o solo tem um peso de 7%. Simultaneamente,
perspectiva da sustentabilidade, assume um papel
deve­‑se verificar se aplicam requisitos legais (nota-
fundamental para o equilíbrio do meio ambiente,
ção de Pre­‑req, significa que se deve ver se existem
uma vez que os impactes provocados podem ser
pré requisitos legais) e apresenta­‑se o número do
muito significativos e podem ocorrer nas diferentes
critério, no caso de 1 a 6 (A1 a A3).
fases do ciclo de vida dos empreendimentos.
Vertentes
Área
Wi
Pre­‑Req.
Integração local
3 Critérios
14%
Solo
7%
S
Valorização territorial
A1
Ecossistemas naturais
5%
S
Valorização ecológica
A2
Paisagem e património
2%
S
Valorização paisagística
e patrimonial
A3
{ QUADRO A2.1 } Integração Local: Áreas e Critérios de base considerados.
Critério
Nºc
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
172
A possibilidade de produção alimentar pontual
mente para a disponibilização de alimentos, para a
que, apesar de não afectar directamente a operação
ocupação de tempo ligada à natureza e para a redução
dos edifícios e das zonas, pode contribuir pontual-
da pegada do transporte, é um aspecto a considerar.
Vertentes
Área
Wi
Pre­‑Req.
Critério
Nºc
Recursos
4 Critérios
32%
Energia
17%
S
Gestão da energia
A4
Água
8%
S
Gestão da água
A5
Materiais
5%
S
Gestão dos materiais
A6
Produção Alimentar
2%
S
Produção local de alimentos
A7
{ QUADRO A2.2 } Recursos: áreas e critérios de base considerados.
Vertentes
Área
Wi
Pre­‑Req.
Cargas
ambientais
5 Critérios
12%
Efluentes
3%
S
Gestão dos efluentes
A8
Emissões atmosféricas
2%
S
Gestão das emissões
atmosféricas
A9
Resíduos
3%
S
Gestão dos resíduos
A10
Ruído exterior
3%
S
Gestão do ruído
A11
Poluição ilumino­‑térmica
1%
S
Gestão ilumino­‑térmica
A12
{ QUADRO A2.3 } Cargas Ambientais: áreas e critérios de base considerados.
Critério
Nºc
ANEXOS
173
A2.3.3 Reduzir e valorizar as Cargas
Ambientais
À luz dos modos de vida actuais e tendo em conta a consciência mais ponderada sobre as questões
ambientais e económicas por parte da sociedade
As cargas ambientais geradas decorrem das emis-
em geral, torna­‑se essencial que os edifícios e os
sões dos efluentes líquidos, das emissões atmosfé-
ambientes exteriores respondam não só às exigên-
ricas, dos resíduos sólidos e semi­‑sólidos, do ruído
cias de eficiência energética mas também à satisfa-
e dos efeitos térmicos (aumento de temperatura) e
ção dos utentes, pelo que a intervenção nesta área
luminosos.
assume um papel relevante e necessário, que deve
Os impactes das cargas geradas pelos ambientes
ser equacionado. Não há regras rígidas e rápidas ou
construídos e actividades associadas decorrem das
soluções únicas para criar ambientes que respon-
emissões de efluentes líquidos, das emissões atmos-
dam ao conforto e ao bem­‑estar humanos.
féricas, dos resíduos sólidos e semi­‑sólidos produzi-
No entanto, devem existir métodos de quantifica-
dos, do ruído e complementarmente da poluição
ção que demonstrem a eficácia e a eficiência das so-
térmico­‑lumínica. Esta vertente foca­‑se nos edifícios
luções adoptadas. Essas soluções devem estar asso-
e nas estruturas construídas, bem como na estreita
ciadas a estratégias específicas que dependam dos
relação que estes estabelecem com o exterior.
ocupantes, das actividades e do programa. Os factores
seguintes podem ser úteis na consideração de diferen-
A2.3.4 Assegurar um bom nível
de Conforto Ambiental
tes escalas e questões, facilitando desta forma a capacidade dos ocupantes modificarem as suas condições
de conforto nos espaços interiores e exteriores.
No que diz respeito aos edifícios e ambientes construídos, alguns dos problemas de conforto associa-
A2.3.5 Contribuir para a Vivência
dos à má qualidade da construção e acabamentos, à
Socioeconómica
fissuração, ventilação deficiente e a falta de manutenção, são os problemas menos identificados.
A criação de ambientes construídos pode contribuir
Desta forma, verifica­‑se que mesmo em edifícios
também, de forma relevante, para uma melhor vi-
com uma qualidade construtiva superior, os problemas
vência. A questão da vivência económica está rela-
são muitos e, em grande parte, dizem respeito ao con-
cionada directamente com a sociedade e abrange
forto para os ocupantes. Nesta perspectiva, reforça­‑se
vários aspectos sociais e económicos, ao garantir o
a ideia de que o que se anda a construir não só não
acesso para todos, a dinâmica económica, as ame-
obedece aos critérios de eficiência energética, como
nidades e a interacção social, a participação e o
não proporciona a satisfação dos ocupantes.
controlo, e os baixos custos no ciclo de vida.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
174
Vertentes
Área
Wi
Pre­‑Req.
Critério
Nºc
Conforto
ambiental
3 Critérios
15%
Qualidade do ar
5%
S
Gestão da qualidade do ar
A13
Conforto térmico
5%
S
Gestão do conforto térmico
A14
Iluminação e acústica
5%
S
Gestão de outras condições
de conforto
A15
{ QUADRO A2.4 } Conforto Ambiental: áreas e critérios de base considerados.
A vivência socioeconómica é uma vertente que rela-
as condições de participação nas decisões impor-
ciona directamente a sociedade com o espaço em
tantes, que influenciam a sua qualidade de vida;
que esta se situa. Dos vários aspectos sociais e eco-
} nos Custos no Ciclo de Vida – a garantia de bai-
nómicos que compõem esta interacção fazem parte:
xos encargos durante o ciclo de vida dos ambien-
} no Acesso para Todos – a acessibilidade e a mobi-
tes construídos, que estabelecem uma relação
lidade, que abrangem o tipo e a facilidade de movi-
mais adequada entre o preço e qualidade.
mentos e deslocações realizados pela população;
Pretende­‑se que estes aspectos sejam abordados
} nas Amenidades e Interacção Social – a qualida-
de forma a garantir crescentemente uma estrutura e vi-
de e o tipo de amenidades que compõem o espa-
vência socioeconómica mais versátil e eficiente para a
ço, influenciando a qualidade de vida da popula-
qualidade de vida da população residente e flutuante.
ção e o tipo de interacção social que se fomenta
entre a população;
A2.3.6 Contribuir para o uso sustentável
} na Diversidade Económica – a dinâmica económica que, tal como o nome indica, abrange uma
A gestão e uso sustentável, quer através da infor-
maior ou menor variedade de espaços com dife-
mação a fornecer aos agentes envolvidos, quer
rentes tipos de funções e economia;
através da aplicação de sistemas de gestão, pode
} na Participação e Controlo – o controlo e a segu-
assegurar a consistência e concretização dos cri-
rança, que garante uma maior ou menor segurança
térios e soluções com reflexos no desempenho
da população e desta com o espaço envolvente, e
ambiental, uma dinâmica de controlo e melhoria
ANEXOS
175
contínua ambiental dos empreendimentos, e a
promovam a sustentabilidade é a adopção de me-
promoção da inovação. Entre os aspectos relevan-
didas inovadoras. A capacidade para apresentar
tes estão o nível de informação e a sensibilização
elementos inovadores na projecção, construção,
dos utentes (através da criação de, por exemplo,
operação e demolição dos edifícios tem de ser
um manual), a adopção de um Sistema de Gestão
enaltecida, já que cada vez mais os projectos
Ambiental e a inovação de práticas, quer nas solu-
têm a necessidade de se tornarem cada vez mais
ções, quer na integração e na operação.
sustentáveis, pelo que os desafios adquirem uma
Um dos elementos que se pretende reforçar e
incentivar aquando da aplicação de soluções que
dimensão de desempenho muito superior à que
actualmente se regista.
Vertentes
Área
Wi
Pre­‑Req.
Critério
Nºc
Vivência
socioeconómica
5 Critérios
19%
Acesso para todos
5%
S
Contribuir
para acessibilidade
A16
Diversidade económica
4%
S
Contribuir para
a dinâmica económica
A17
Amenidades e
interacção social
4%
S
Contribuir para
as amenidades
A18
Participação e controlo
4%
S
Condições de controlo
A19
Custos no ciclo de vida
2%
S
Contribuir para os baixos
custos no ciclo de vida
A20
{ QUADRO A2.5 } Vivência sócio­‑económica: áreas e critérios de base considerados.
Vertentes
Área
Wi
Pre­‑Req.
Uso sustentável
2 Critérios
Gestão ambiental
6%
S
{ QUADRO A2.6 } Uso sustentável: áreas e critérios de base considerados.
Critério
Promover a utilização
e Gestão
Nºc
A21
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
176
A2.4 Aplicar o LiderA no desenvolvimento
dos Planos, Projectos e Soluções
Os valores atribuídos devem ser somados no final. No caso de a soma ser superior a 6 indica que
se está caminhar para a sustentabilidade, mas que
A2.4.1 Aplicar de forma preliminar
O sistema LiderA, através da sua aplicação nos empreendimentos, permite suportar o desenvolvimento de soluções que procurem a sustentabilidade. Ou
porque se encontra numa fase inicial ou porque o
nível de informação é reduzido, a abordagem é qualitativa. Pode assim avaliar­‑se o edifício ou zona
existente e procurar soluções, utilizando para o
efeito dois conjuntos de questões que abrangem,
as primeiras, os seis princípios referidos (vertentes), e as segundas o conjunto de questões quanto
à abrangência da aplicação (ver { QUADRO A2.7 }).
Analisar se estão assumidos os princípios
de sustentabilidade no caso de análise
Para aplicar os princípios da sustentabilidade
importa considerar outros aspectos. Se tiver um
valor de 12 então é porque estão assumidos os
princípios chave da sustentabilidade. Caso seja inferior a 12 deve ser considerado que aspectos poderão vir a ser incorporados e que oportunidades
de melhoria existem para o caso em análise, sendo
de considerar a possibilidade de as incorporar.
Analisar se princípios de sustentabilidade
estão a ser aplicados nas diferentes áreas
de sustentabilidade no caso de análise
Para analisar a abrangência da aplicabilidade dos
princípios às várias áreas da sustentabilidade,
também através de um processo iterativo de análise, deve verificar­‑se em primeiro lugar se se
abrange as diferentes áreas e, no caso de não serem abrangidas, que aspectos devem ser incluídos
no plano ou projecto para as incluir.
sugere­‑se um processo iterativo de análise, para
Ao efectuar a análise, identificam­‑se soluções
verificar se estão a ser aplicados os princípios e
que podem dar resposta para estas áreas (ver as
em caso de não serem que aspectos devem ser in-
questões colocadas na quinta coluna e inserir a
cluídos no plano ou projecto para os concretizar.
resposta na oitava coluna do { QUADRO A2.7 }) indi-
Ao efectuar a análise identificam­‑se soluções
cando (na sétima coluna do { QUADRO A2.7 }) se foi
que podem dar resposta a estes princípios (ver as
considerado o princípio parcialmente (atribuindo­
questões colocadas na segunda coluna e inserir a
‑lhe um valor de 1) ou totalmente (atribuindo­‑lhe
resposta na quarta coluna do { QUADRO A2.7 }) indi-
o valor de 2).
cando (na terceira coluna do { QUADRO A2.7 }) se foi
Os valores atribuídos devem ser somados no
considerado o princípio parcialmente (atribuindo­
final. No caso de a soma ser superior a 6 indica
‑lhe um valor de 1) ou totalmente (atribuindo­‑lhe
que se está caminhar para a sustentabilidade,
o valor de 2).
mas com uma abrangência parcial, pelo que é de
ANEXOS
177
Assumir dos princípios?
Questões
Vertente iniciais?
Integração
local
Recursos
Abrangência da Aplicação?
NPT Descrição
Área
Está prevista
a valorização
da dinâmica local
e promover uma
adequada integração?
Solo
Está assumido
o fomentar
da eficiência no uso
dos recursos naturais?
Energia
Ecossistemas naturais
Paisagem e património
Água
Abrangência
da aplicação
A integração local procura
essa dinâmica no que diz
respeito à área do Solo,
aos Ecossistemas naturais
e Paisagem e ao Património?
Abrange a área da Energia,
a Água, os Materiais
e os recursos Alimentares?
Materiais
Produção alimentar
Cargas
ambientais
Está previsto
o reduzir do impacte
das cargas ambientais
(quer em valor,
quer em toxicidade)?
Efluentes
Emissões atmosféricas
Resíduos
Ruído exterior
Poluição ilumino­‑térmica
Conforto
ambiental
Vivência
socio­‑
económica
Está assegurada
a qualidade
do ambiente,
focada no conforto
ambiental?
Qualidade do ar
Assume­‑se fomentar
as vivências
socioeconómicas
sustentáveis?
Acesso para todos
Conforto térmico
Envolve as áreas dos
Efluentes (esgotos),
as Emissões Atmosféricas
(poeiras e gases),
os Resíduos (lixos),
o Ruído Exterior
e a Poluição Ilumino­
‑térmica (excesso
de luz e efeito de
ilha de calor)?
Está considerada
a Qualidade do Ar,
do Conforto Térmico,
da Iluminação e Acústica?
Iluminação e acústica
Diversidade económica
Amenidades e interacção social
Participação e controlo
É abrangido o Acesso
para Todos (incluindo
a transportes públicos),
considera os Custos no
Ciclo de vida, a Diversidade
Económica, as Amenidades
e a Interacção Social
e Participação e Controlo?
Custos no ciclo de vida
Uso
sustentável
Estão assumidos
condições de boa
utilização
sustentável?
Gestão ambiental
Inovação
{ QUADRO A2.7 } Princípios e abrangência da aplicação. NPT Não (0), Parcial (1), Total (2).
Estão assumidos modos
de gestão sustentável
e possibilidades
de inovação?
NPT Descrição
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
178
pectos. Se tiver um valor de 12, então é porque
Análise detalhada:
Critérios e níveis de desempenho
estão assumidos princípios chave da sustenta-
Como apoio à procura da sustentabilidade, sugere­
bilidade, abrangendo as diferentes áreas. Caso
‑se um conjunto de critérios nas diferentes áreas.
seja inferior a 12 deve ser considerado que as-
Os critérios propostos pressupõem que as exigên-
pectos podem vir a ser incorporados e que opor-
cias legais são cumpridas e que são adoptadas
tunidades de melhoria existem para o caso em
como requisitos essenciais mínimos nas diferentes
análise sendo de considerar a possibilidade de
áreas consideradas, incluindo a regulamentação
incorporar essas intervenções dando uma abran-
aplicada ao edificado, sendo a sua melhoria a pro-
gência alargada.
cura da sustentabilidade.
analisar se não se devem considerar outros as-
Esta abordagem do LiderA agora referida con-
Para orientar e avaliar o desempenho, o sistema
tribui assim nesta fase para compreender qual é
possui um conjunto de critérios que operacionali-
o âmbito da procura da sustentabilidade posicio-
zam os aspectos a considerar em cada área. Na ver-
nando e identificando áreas de intervenção a
são LiderA África estão predefinidos 22 critérios,
desenvolver.
um por cada área. Os critérios estão numerados de
1 a 22 (isto é, um critério sugerido como NºC).
A2.4.2 Aplicar de forma detalhada
Numa fase de análise mais detalhada, pode ser avalia-
Níveis de desempenho:
Factor 1, 2, 4 e 10 e Classes E a A++
do o desempenho através de uma avaliação ao nível
Tal como noutros sistemas internacionais de avalia-
dos critérios do LiderA, nomeadamente identificando
ção, de que são exemplo o BREEAM, o LEED, o HQE e
quais os níveis de desempenho, valores ou soluções,
o CASBEE (Pinheiro, 2006), estas propostas evo-
que permitem implementar a sustentabilidade.
luem com a tecnologia, permitindo assim dispor de
Assim, vertente a vertente, área a área, critério a
soluções ambientalmente mais eficientes. No en-
critério, cada empreendimento procura desenvolver
tanto, os critérios e as orientações apresentadas
as soluções mais ajustadas ao seu posicionamento
pretendem ajudar a seleccionar, não a melhor solu-
económico e de mercado, registar os comprovativos
ção existente, mas a solução que melhore, prefe-
dessa solução e sempre que possível do desempenho
rencialmente de forma significativa, o desempenho
que consegue atingir. Este processo utiliza o sistema
existente, também numa perspectiva económica.
LiderA e os seus níveis Classe E a A++, como base
Para cada tipologia de utilização e para cada
para orientar e concretizar a procura da sustentabili-
critério são definidos os níveis de desempenho
dade e sua implementação.
considerados, que permitem indicar se a solução é
ANEXOS
179
ou não sustentável. A parametrização para cada um
A título indicativo, apresentam­‑se no quadro
deles segue, ou a melhoria das práticas existentes,
seguinte { QUADRO A2.8 } as vertentes, áreas e crité-
ou a referência aos valores de boas práticas, tal
rios, da versão Lidera África, sendo que se sumari-
como é usual nos sistemas internacionais.
zam os principais aspectos a considerar para as
Estes níveis são derivados a partir de dois referenciais chave. O primeiro assenta no desempenho
diferentes áreas consideradas na procura da sustentabilidade, num caso de análise detalhada.
tecnológico, pelo que a prática construtiva existente
Como sugestão de aplicação deve olhar­‑se
é considerada como nível usual (Classe E) e o melhor
para a proposta de intervenção (em projecto) ou
desempenho decorre da melhor prática construtiva
caso de análise (edifício ou ambiente construído
viável à data, o que tem como pressuposto que uma
existente) e procuram­‑se identificar quais as so-
melhoria substantiva no valor actual é um passo no
luções a adoptar ou presentes e qual será o seu
caminho da sustentabilidade. Decorrentes desta aná-
nível de desempenho.
lise, para cada utilização, são estabelecidos os níveis
de desempenho a serem atingidos.
O foco central da análise na avaliação aos ambientes construídos assenta no desempenho em
Às classificações nos critérios é atribuído um ní-
situação normalizada do ambiente construído, do
vel global de desempenho ambiental que se encaixa
edifício, do espaço público, etc. Isto é, como fun-
num dos escalões de avaliação, sendo que as avalia-
ciona o edificado numa utilização padrão, por
ções iguais ou superiores a A são aquelas que mais
exemplo uma sala de aulas durante as 8 horas pre-
se evidenciam em termos de desempenho ambiental.
vistas, ou a habitação no período usual, ou o es-
Como referencial no valor global final, considera­‑se
paço público.
que o melhor nível de desempenho é A, significando
Esta utilização normalizada revela como funcio-
uma redução de 50% face à prática de referência (no
na o edificado projectado ou construído, tal como
geral a prática actual), que é considerada como E.
quando se indica um automóvel consome 6 litros
O reconhecimento é possível de ser efectuado
aos 100 km se está a indicar que num circuito es-
nas classes C a A. Na melhor classe de desempe-
pecífico, parte urbano e parte rural, esse é o consu-
nho existe, para além da classe A, a classe A+, as-
mo médio. Naturalmente, em função do tipo de uti-
sociada a um factor de melhoria de 4 e a classe
lização o valor pode ser maior o menor. Da mesma
A++ associada a um factor de melhoria de 10.
forma, os valores de desempenho normalizado são
As soluções que sejam regenerativas do ponto de
utilizados para a avaliação, posicionamento, reco-
vista do ambiente, isto é com balanço positivo,
nhecimento/certificação pelo LiderA, e permitem
enquadrando­‑se numa lógica de melhoria, classifica-
ver as possibilidades de melhoria, nomeadamente
da como superior a 10, associam­‑se à classe A+++.
através da adopção de soluções construtivas.
Vertentes
Área
Wi Pre­‑Req. Critério
Nºc
Integração local
Solo
7%
S
Valorização territorial
A1
Ecossistemas naturais
5%
S
Valorização ecológica
A2
Paisagem e património
2%
S
Valorização paisagística
e patrimonial
A3
Energia
17%
S
Gestão da energia
A4
Água
8%
S
Gestão da água
A5
Materiais
5%
S
Gestão dos materiais
A6
Produção alimentar
2%
S
Produção local de alimentos
A7
Efluentes
3%
S
Gestão dos efluentes
A8
Emissões atmosféricas
2%
S
Gestão das emissões
atmosféricas
A9
Resíduos
3%
S
Gestão dos resíduos
A10
Ruído exterior
3%
S
Gestão do ruído
A11
Poluição ilumino­‑térmica
1%
S
Gestão ilumino­‑térmica
A12
Qualidade do ar
5%
S
Gestão da qualidade do ar
A13
Conforto térmico
5%
S
Gestão do conforto térmicocondições de conforto
A14
Iluminação e acústica
5%
S
Gestão de outras
condições de conforto
A15
Vivência
socioeconómica
Acesso para todos
5%
S
Contribuir para
acessibilidade
A16
5 Critérios
Diversidade económica
4%
S
Contribuir para a dinâmica
económica
A17
Amenidades
e interacção social
4%
S
Contribuir para
as amenidades
A18
Participação e controlo
4%
S
Condições de controlo
A19
Custos no ciclo de vida
2%
S
Contribuir para os baixos
custos no ciclo de vida
A20
Gestão ambiental
6%
S
Promover a utilização
e Gestão
A21
Inovação
2%
S
Promover a inovação
A22
C.A.
F.A.
3 Critérios
14%
Recursos
4 Critérios
32%
Cargas ambientais
5 Critérios
12%
Conforto ambiental
3 Critérios
15%
19%
Uso sustentável
2 Critérios
8%
{ QUADRO A2.8 } Aplicação do LiderA – nível detalhado. C.A. Classe de avaliação; F.A. Fundamentação da avaliação.
ANEXOS
181
Como se avalia: Prescritivo versus Desempenho
casos não adequadas, excepto nas soluções verna-
No caso da aplicação dos critérios, estes podem ter
culares) se classifica como classe A e se for quatro
uma lógica prescritiva, isto é, referenciar a solução
vezes superior como classe A+ e dez vezes supe-
a adoptar ou podem ser de desempenho, isto é,
rior como classe A++. Para a aplicação em casos
associarem­‑se a valores de desempenho, por exem-
concretos é de referir que pode ser contactado o
plo percentagem de energias renováveis utilizadas
sistema LiderA ([email protected]) para obter
para aquecimento das águas quentes sanitárias.
mais informação.
As vantagens dos critérios prescritivos é que
apresentam logo a solução a adoptar, sendo fácil
A2.4.3 A certificação pelo Sistema LiderA
este passo; as desvantagens é que restringem a
solução a adoptar. Os critérios de desempenho
A aplicação para certificação pelo LiderA assenta no
apresentam a vantagem de permitir escolher a
acordo para a candidatura, com a equipa de desen-
gama de soluções mais ajustadas, embora seja por
volvimento do LiderA, durante a qual serão aferidos
vezes difícil de avaliar o desempenho em fases
os critérios aplicados e respectivos limiares, em fun-
iniciais do projecto, onde é muito importante que
ção dos usos e da fase em causa. Para a respectiva
a sustentabilidade comece a ser considerada.
aplicação e instrução do processo, é relevante a par-
Assim, a solução adoptada para a versão LiderA
ticipação dos assessores do sistema, que apoiem o
África assenta num conjunto de critérios prescriti-
desenvolvimento das soluções do empreendimento,
vos, pressupondo a capacidade de integração e
bem como sistematizem os comprovativos.
valorização da paisagem e assumindo uma pers-
O seu reconhecimento em fase de projecto ou
pectiva de qualidade arquitectónica. Os critérios
certificação em fase de construção ou operação,
propostos são uma base (núcleo) passível de ser
decorre da obtenção de provas quanto ao nível
ajustada, face ao tipo de utilização do empreendi-
atingido e é efectuado através de um processo de
mento e aos aspectos ambientais considerados.
verificação desses comprovativos e nível do nível
Por exemplo, no caso de uma habitação social,
de desempenho atingido, por uma terceira parte
a acessibilidade à comunidade pode e deve ser en-
(independente face ao empreendimento) e indica-
tendida como o acesso aos utentes e o respectivo
da pelo sistema LiderA.
custo. No caso de um edifício de um banco o cri-
O reconhecimento é possível ser efectuado quan-
tério da acessibilidade pode ser entendido como
do se comprova que, para as diferentes áreas ou no
segurança, e assim sucessivamente.
global, o empreendimento se encontra nas classes C
A lógica é, no geral, que o valor ou solução se
(superior em 25% à prática), B (superior em 37,5%
for superior a 50% às práticas usuais (e em muitos
à pratica) e A (50% superior à pratica). Na melhor
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
182
classe de desempenho existe, para além da classe A,
a classe A+, associada a um factor de melhoria de 4
A2.5 Concluindo
e a classe A++ associada a um factor de melhoria de
A procura da sustentabilidade começa a abranger
10 face à situação inicial considerada, sendo esta úl-
diferentes empreendimentos e desafia estrutural-
tima equivalente a uma situação regenerativa.
mente o sector da construção. O Sistema LiderA
Para cada tipologia de utilização são definidos
tem como objectivo liderar a procura de boas solu-
os níveis de desempenho considerados, que per-
ções ambientais e de sustentabilidade nas diferen-
mitem indicar se a solução é ou não sustentável.
tes fases, desde o plano ao projecto, à obra, manu-
A parametrização para cada um deles segue, ou a
tenção, gestão, reabilitação e até à fase final de
melhoria das práticas existentes, ou a referência
demolição. Para efeito define um conjunto de seis
aos valores de boas práticas, tal como é usual nos
princípios, que se subdividem em vinte e duas áreas
sistemas internacionais.
e em 22 critérios. Os critérios estão numerados de
1 a 22 (isto é, um critério sugerido com NºC).
Exemplo de Certificações pelo Sistema LiderA
Em Outubro de 2007, em Lisboa, foram atribuídos os
primeiros cinco certificados de bom desempenho ambiental (Classe A) pela marca portuguesa registada
LiderA – Sistema de Avaliação da Sustentabilidade.
Para o sistema LiderA o grau de sustentabilidade é mensurável
e passível de ser certificado em classes de bom desempenho
(C, B, A, A+ e A++) que incluem uma melhoria de 25% (Classe C)
face à prática (Classe E), passando por uma melhoria de 50%
(Classe A), melhoria de factor 4 (Classe A+) até uma melhoria
de factor 10 (Classe A++).
Desde essa altura, o sistema Lider A têm sido utilizado para o reconhecimento e certificação de empreendimentos pelo seu bom desempenho, abrangendo
uma diversidade de situações; no sector residencial,
empreendimentos turísticos de vulto, edifícios de
serviços, ou intervenção em planos de pormenor de
novas áreas de expansão urbana. Os exemplos mais
representativos dos certificados atribuídos são apresentados no website www.lidera.info.
Actualmente estão em curso candidaturas muito inovadoras de avaliação para países africanos
de língua oficial portuguesa, quer em termos de
planeamento urbano, quer em termos de projecto
de arquitectura (nova construção e reabilitação).
{ FIG. A2.3 } Níveis de Desempenho Global.
ANEXOS
183
O sistema LiderA pode ser utilizado para efec-
O LiderA assume­‑se assim como um instrumen-
tuar o desenvolvimento e a procura de soluções,
to de apoio ao desenvolvimento de soluções sus-
de forma integrada e eficiente, quer nas fases pre-
tentáveis integradas e de certificação, dando as-
liminares ou qualitativas, quer nas fases detalha-
sim ao mercado uma referência da boa procura da
das e quantitativa, permitindo assim um apoio es-
sustentabilidade.
trutural ao longo das várias fases dos projectos.
{ FIG. A2.4 } Sistema LiderA.
Autor: Manuel Duarte Pinheiro, Instituto Superior Técnico. Responsável do Sistema LiderA (www.lidera.info)
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ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
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{ FIG. A3.1 } Benefícios da vegetação: sombreamento,
arrefecimento do microclima (evapotranspiração), redução
da poluição e conforto psicológico.
Esta secção visa mostrar a possibilidade de melhorar
o microclima local através da vegetação. Foca em
particular o microclima exterior associado a edifícios
localizados no meio urbano, em países africanos lusófonos, durante a estação quente e seca. É referido
o potencial microclimático da vegetação em condicionar um espaço para reduzir as altas temperaturas,
UNPD – United Nations Population Division. (1998).
World population prospects 1950–2050 (The 1998
Revision). United Nations. Disponível em http://esa.
un.org/unpp/
minimizando a sensação de desconforto.
Alguns factores que influenciam as variações
de temperatura e humidade são: o tipo e tamanho
ANEXOS
185
da vegetação, formato de copa, a qualidade e per-
local, tem levado a soluções arquitectónicas im-
meabilidade de sombra projectada, e também a fi-
próprias e inadequadas.
siologia vegetal. O uso da vegetação é uma estra-
É importante, se não essencial, que se faça uso
tégia de arrefecimento passivo eficiente, de baixo
ao máximo do potencial do meio ambiente, para
custo e baixa manutenção. O seu uso gera espaços
se obter o maior benefício possível, de uma ma-
mais confortáveis, salubres, humanos e dignos,
neira inteligente e sustentável
elevando a qualidade de vida da população.
Para muitos, a questão da habitação de baixa ren-
Como a maioria das questões na sociedade mo-
da é meramente um exercício matemático de econo-
derna, a arquitectura também foi influenciada
mia e estatística, resultando muitas vezes em solu-
pelo processo de globalização, onde a cultura e
ções indevidas. A solução apropriada para uma
identidade local tem dado lugar à voz maciça da
comunidade não é necessariamente apropriada para
ignorância e o poder do mais forte. Grandes caixas
outra. Há milhares de pessoas com problemas habita-
de vidro, totalmente seladas, estão sendo cons-
cionais e urbanos, e por isso deveria haver milhares
truída nos trópicos, ignorando qualquer recurso
de soluções. As ideias devem ser abundantes e apro-
natural ou potencial bioclimático. A África não é,
priadas para cada contexto. O conhecimento não
infelizmente, excepção. As “caixas de vidro” sela-
deve jamais ser ignorado, sempre se aperfeiçoando
das estão proliferando pelas cidade, sem noção do
de experiências passadas. Consequentemente, valores
seu absurdo e efeitos negativos. Importar ideias,
culturais, tradições e memória histórica, tudo que faz
tipologias e conceitos arquitectónicos de países
pessoas e cidades distintas, interessantes e únicas,
estrangeiros, onde a geografia, o meio ambiente e
devem ser preservados. As árvores e vegetação de um
o clima são absolutamente diferentes do contexto
modo geral, podem melhorar condições microclimáticas indesejáveis em torno de edificações. Todavia,
seu potencial tem sido ignorado, principalmente pela
falta de informações sobre as suas vantagens em termos de providenciar conforto e bem estar, além dos
benefícios em termos energéticos e ambientais.
Muitas vezes o processo de urbanização tem sido
caracterizado por devastação, onde toda a cobertura
vegetal nativa é removida de forma irresponsável,
{ FIG. A3.2 } Conforto microclimático – vegetação no espaço
suburbano, em Bissau.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
186
na tentativa de simplificar a implementação urbana.
cal, podemos perceber o potencial que a implantação
O processo de devastação traz um enorme impacto
de árvores ao redor da casa tem para o controle am-
negativo no meio ambiente deixando a terra vulnerá-
biental microclimático, providenciando arrefecimento
vel a erosões, escassez de sombreamento e muita po-
passivo através do sombreamento e da humidificação
eira. O maior problema porém é a exposição à exces-
do ar através da evapotranspiração. Com a vegetação
siva e castigante radiação solar. Essa combinação
urbana há ainda benefícios psicológicos e culturais,
agrava ambientes já secos resultando em áreas de
alem de ganhos sustentáveis como retenção de polui-
muita pouca humidade, sendo os baixos valores con-
ção, absorção de barulho e poluição, filtração dos
siderados alarmantes para a saúde pela World Health
raios solares e produção de frutos.
Organisation (WHO). Estas condições tornam algumas
Da mesma forma que não há nenhuma luz me-
tarefas do quotidiano urbano impraticáveis em certas
lhor do que a luz solar natural, e não há nenhuma
épocas do ano. Para se criarem ambientes internos e
brisa melhor do que a brisa de vento, não há tam-
externos confortáveis, ou para se reduzir a carga de
bém nenhuma sombra melhor do que a de uma ár-
arrefecimento, construir com o controle solar em
vore. Os benefícios associados ao microclima com
mente é essencial É vital o melhoramento do microcli-
árvores são descritos posteriormente, em especial a
ma externo para se alcançarem espaços mais confor-
importância da utilização de árvores e seus efeitos
táveis, principalmente para pessoas que não tem ne-
em diminuir a temperatura e aumentar os níveis de
nhum outro recurso ou meio para explorar a não ser o
humidade relativa por meio de bloqueio do sol e da
entorno imediato. Analisando o clima e vegetação lo-
transpiração da folha. Extremo calor e secura são as
{ FIG. A3.3 } Processos de sombreamento (protecção da radiação
solar) e evapotranspiração.
{ FIG. A3.4 } Sombreamento: redução de temperaturas.
ANEXOS
187
principais causas de condições fisiológicas desconfortáveis em locais quentes. Bernatzky (1978) afirma que “o sobreaquecimento provoca distúrbios da
saúde: congestionamento de sangue para a cabeça,
dor de cabeça, náusea e fadiga.” Projectar com vegetação está directamente relacionado e afecta o
conforto térmico das pessoas. Nesses casos é crítico o controle da radiação solar, e a maximização do
ganho por evaporação. São seguidamente descritos
{ FIG. A3.5 } Radiação reflectida, absorvida e transmitida por uma folha.
os efeitos microclimáticos das árvores.
As variáveis do microclima incluem a radiação solar e terrestre, velocidade de vento, humidade, tempe-
midade que é transpirada pelas folhas ou absorvida
ratura do ar e precipitação. O microclima da subcopa
pela terra e lentamente liberada.
é o espaço térmico em baixo da folhagem que é deter-
A evapotranspiração é um processo natural da bio-
minado pelas características da árvore, relacionado as
química das plantas, que tem o efeito de influenciar o
condições ambientais circundantes { FIGURA A3.3 }.
arrefecimento. Durante este processo as árvores ab-
A vegetação é um elemento ideal para a obstru-
sorvem água através de suas raízes, que atravessa seu
ção de radiação solar pois tem baixa transmitância;
tronco e pela transpiração das folhas, lentamente in-
evitando a passagem da radiação para os espaços
troduzem água para a atmosfera circundante. Por con-
adjacentes. Não sobreaquece acima da temperatura
seguinte, o ar perto de espaços verdes tende a ser
do ar devido à sua capacidade auto­‑regulação. Em
mais húmido. Enis (1984) descreve que uma arvore
geral, e’ considerado que, da radiação entrando em
madura de grande porte pode criar um efeito de arre-
uma folha, aproximadamente 50% é absorvida, 30%
fecimento de 2500kcal/h, que equivale a cinco apare-
reflectida e 20% transmitida (Robinnette, 1983)
lhos de ar condicionado de tamanho convencional
{ FIGURA A3.5 }. Como a maioria das copas são cons-
funcionando 20 h/dia. Federer (1976), também, con-
tituídas por múltiplas camadas, a radiação é filtra-
firma que a sombra de uma grande árvore urbana de
da, resultando em uma transmitância muito baixa,
20 metros pode fornecer tanto frio quanto aparelhos
quando atinge a parte inferior da copa. Grande par-
de ar condicionado funcionando praticamente o dia
te da radiação é reflectida para outras folhas, redu-
todo. Sendo assim, a evapotranspiração pode provi-
zindo assim o montante que se reflecte a espaços
denciar um melhoramento local da ilha de calor urba-
adjacentes. A maioria da radiação absorvida pelas
na, e reduzir a energia necessária para o arrefecimento
árvores e plantas é perdido pela evaporação da hu-
de espaços em edificações.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
188
ganhos de calor, mas dois outros factores também
são importantes: calor do ar ambiente radiação indirecta decorrente das imediações. Todos os três desses factores podem ser moderados por plantação de
árvores próximas à residência.
As árvores ajudam especialmente no sombrea{ FIG. A3.6 } Contributo da vegetação para a filtração do ar,
e obstrução e reflexão da radiação solar.
mento de telhados e muros. Pode ser usada de três
maneiras para proteger o edifício da radiação solar, sendo elas: adjacente ao edifício, sobre a
A grande fonte de energia no microclima de qual-
construção e independente do edifício. Telhados
quer local, é radiação solar. O excesso de calor e luz
com vegetação podem diminuir o fluxo de calor
que evitamos, geralmente é bem vinda pela vegeta-
através da laje na cobertura. Alguns estudos de
ção. A quantidade de radiação recebida e mantida em
Cantuária (2001) exemplificam bem as variações
um microclima irá depender de suas características
de temperatura em microclimas com árvores. Nos
como tamanho, localização e orientação do sítio e os
exemplos estudados, a mangueira apresentou ser
objectos nesse sítio; as características de superfície; o
um excelente condicionador de ar natural.
tamanho e tipo de vegetação. Copas finas e leves po-
As árvores têm também uma influência benéfi-
dem interceptar 60–80% da radiação solar e copas
ca na saúde. A presença de árvores nas cidades foi
densas podem interceptar até 99%. Morfologias dife-
associada à redução de stress mental e física dos
rentes de árvores e folhas terão variações. Galhos e
seus habitantes. Paisagens com árvores e vegeta-
ramos também ajudam a bloquear a radiação solar. No
ção “produzem estados fisiológicos mais relaxados
caso de locais quentes, a obstrução eficiente dos ex-
nos seres humanos do que paisagens que carecem
cessos solares é uma necessidade e a árvore uma efi-
de recursos naturais ” (Ulrich, 1984). O ar mais
ciente aliada, de baixo custo e manutenção.
puro também deverá melhorar a saúde.
Elementos de paisagem têm diferentes albedos e
As árvores trazem benefícios sociológicos, contri-
espécies de árvores diferentes interceptam radiação
buindo para a vitalidade de uma cidade ou de uma
em níveis diferentes, dependendo da época do ano.
vizinhança. Elas podem dominar a paisagem urbana
Sua altura, transmissividade da copa, sazonabilida-
e contribuir para seu carácter e imagem de um am-
de, folhagem e desfolhação são algumas maneiras
biente habitável e atraente. O paisagismo urbano
como as arvores se diferenciam na sua capacidade de
traz uma responsabilidade ambiental, ética e um for-
influenciar a radiação directa. Radiação solar directa
te senso de comunidade, capacitação, para os resi-
incidindo em paredes e janelas é a principal fonte de
dentes. Plantar árvores melhora as condições da vizi-
ANEXOS
189
{ FIG. A3.7 } Uso de vegetação para sombreamento, num complexo turístico na zona insular (esquerda) e no continente (direita).
nhança e reforça o sentimento da comunidade de
e problemas de qualidade da água, árvores urbanas
identidade social, auto­‑estima, territorialidade e pro-
pode desempenhar um importante papel nos proces-
move a educação ambiental e sensibilização. A vege-
sos hidrológicos urbanos.
tação urbana ajuda a aliviar algumas das dificuldades
Quando bem projectadas, plantações de árvores
da cidade especialmente para grupos de baixa renda,
e arbustos podem reduzir significativamente o ruí-
e podem fornecer uma oportunidade tão necessária
do, agindo como abafadores de som. As folhas ab-
para crianças de cidade de experimentar a natureza.
sorvem o som e reduzem o tempo de reverberação.
Através da sua rede de raízes e efeitos hidrológi-
Reduções de 50% ou mais podem ser alcançadas na
cos, as árvores afectam também substancialmente a
intensidade aparente por amplos cintos de árvores
estabilidade de encostas inclinadas, e impedem a
densas e altas combinados com superfícies macias
erosão. Funcionam também como estruturas de re-
de terreno (Cook, 1989).
tenção e detenção, quando reduzindo o escoamento,
que é essencial em muitas comunidades, como as-
Recomendações de design:
sentamentos urbanos populares onde a tubulação de
} Uma árvore deve ser localizada por forma a forne-
drenagem não é inexistente. O custo do tratamento
cer o máximo de sombreamento para as fachadas,
de água das chuvas em assentamentos pode ser di-
particularmente a Nascente e Poente. As fachadas
minuído, reduzindo o escoamento devido a intercep-
com maior área de janela devem ser privilegiadas
ção de chuvas. Portanto reduzindo a taxa e o volume
em sombreamento.
de escoamento de água das chuvas, danos de inun-
} O potencial de arrefecimento da sombra tende a di-
dação, custos de tratamento de água de tempestade
minuir com a distanciamento do seu tronco. Devem
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
190
ser plantadas árvores considerando que quando maduras, a parte externa da copa esteja perto da fachada.
Neste processo devem ser também consideradas restrições em termos de segurança, relacionadas com o
sistema de raízes e a resistência do ramo.
} Deve­‑se buscar o sombreamento das coberturas
por altas e grandes copas. Danos ao edifício, ou
de paredes, podem ser evitados, seleccionando as
espécies correctas para o espaço disponível.
} Em locais onde a necessidade de refrigeração do
ambiente está presente quase todo o ano recomenda­‑se o plantio de espécies perenes, com rápido
crescimento.
Autor: Gustavo Cardoso Cantuária,
University of Cambridge
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ANEXOS
191
A4 A gestão urbana e o licencia‑
mento: revisão bibliográfica
recursos, nas regras de funcionamento, e na apli‑
cação e desenvolvimento de ideias e valores”
(Healey 1991)
“...um processo que envolve a alteração ou a in‑
Neste anexo é apresentada e comentada a bibliografia actual e relevante na área da gestão urbana
– numa perspectiva de sustentabilidade. São também sumariamente descritos conceitos essenciais.
A literatura que indicamos serve como fonte de
inspiração para todos, e os diversos títulos mencionados são fácilmente acessíveis.
tensificação do uso da terra para produção de edifí‑
cios para ocupação.” (Wilkinson & Reed 2008)
Estas duas definições focam a transformação do
terreno com a construção. Começa­‑se com uma
ideia e uma análise da possibilidade mudar o uso do
terreno para ter um aproveitamento melhor. A construção vem como consequência desta análise, e do
investimento.
A4.1 O processo de promoção imobiliária
Esta perspectiva do processo de promoção imobiliária não é apenas aplicável na Europa ou nou-
Definição
tros países industrializados. É evidente que a ur-
Na promoção imobiliária identificamos o papel
banização também se enquadra em processos de
dos agentes principais – o promotor imobiliário e
promoção imobiliária em países africanos. As for-
o Município (autarquia local). Também há outros
mas podem ser diferentes, mas os fundamentos
agentes, como por exemplo os construtores indivi-
são os mesmos.
duais, incluindo os auto­‑construtores. Neste grupo encontramos as construções legais e clandesti-
As fases da promoção imobiliária
nas. Uma forma identificar o papel destes agentes
Um modelo de actividades (event­‑sequence) pode
é definir a participação nalgumas partes da pro-
ter um certo número de actividades típicas. Não é
cesso de promoção imobiliária.
uma lista de cada passo que se toma, mas uma
O processo de promoção imobiliária pode ser
definido em várias formas, por exemplo:
classificação das actividades principais. Kalbro
(2010) descreve o processo em oito fases:
} Iniciação de um projecto
“A transformação da forma física, conjunto de
} Planeamento e projecto de uso de terreno, edi-
direitos, e valor material e simbólico de terrenos
fícios e equipamento
e edifícios, através da acção de agentes com inte‑
} Processo de licenciamento por autoridades
resses e propósitos na aquisição e utilização de
} Aquisição de terreno
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
192
} Financiamento
Mesmo nestes casos, sem a intervenção do Município
} Construção
na área de planeamento e de licenciamento, pode
} Avaliação
haver outros actores locais que satisfazem as neces-
Também descreve mais duas fases que são impor-
sidades de organização do espaço físico, transferên-
tantes para completar a lista:
cia de terrenos para construir e do enquadramento
} Acordos de implementação
das infraestruturas.
} Cedência e manutenção
O objectivo de um processo de planeamento urbano e de licenciamento do Município é promover uma
Mesmo num país com capacidade limitada de
planeamento físico pelo Município, há outras for-
perspectiva global da sociedade, coordenando diversos interesses sociais, económicos e ambientais.
mas planear e levar projectos para a frente. O li-
Existe uma variedade de situações onde o pla-
cenciamento através do alvará de loteamento e de
neamento urbano e o licenciamento são factores
construção é a forma usada, quer os para ambos
essenciais. A ambição e capacidade real do Muni-
os alvarás, quer apenas para o de construção. Este
cípio variam. Não é aconselhável ter uma ambição
processo de licenciamento também exige uma ca-
muito além da capacidade da administração do
pacidade urbanística do Município, e nem sempre
Município, pois poderia causar demoras no proces-
existe para satisfazer em quantidade suficiente.
so, e incentivos para desviar os pedidos da trami-
A qualidade na apreciação dos projectos de lotea-
tação normal. Tal situação pode criar oportunida-
mento e/ou construção também é uma questão
des de corrupção, construções clandestinas e
importante para satisfazer as exigências da socie-
outras formas de gestão não desejada. Deve­‑se
dade e do ambiente.
procurar um equilíbrio entre as exigências e a ca-
Significa que as urbanizações se podem desenvolver apenas com iniciativas privadas, dos indivíduos ou famílias, e também dos promotores privados.
pacidade administrativa, com directrizes bem claras e transparência na tramitação.
As estratégias de construção sustentável têm
de ser enquadradas no contexto do processo de
promoção imobiliária. Têm de se encaminhar os
} Healey, P, 1991, Models of the development process:
a review. Journal of Property Research, 9, 219–238.
} Wilkinson, S & Reed, R, 2008, Property
Development, Taylor & Francis Ltd. 5th edition.
{ QUADRO A4.1 } Publicações de referência sobre o processo
de promoção imobiliária. Na quinta edição do livro “Property
Development” foi introduzido um capítulo sobre o impacto
ambiental na promoção imobiliária, com vários exemplos práticos.
indivíduos numa direcção comum, definida pela
sociedade. Entendemos que a indústria imobiliária
está progressivamente disposta a integrar aspectos de sustentabilidade. Resumimos esta secção
sugerindo a leitura de dois livro de referência sobre a produção imobiliária { QUADRO A4.1 }.
ANEXOS
193
A4.2 A gestão urbana e do território
GENUS, Global Energy Network
Perspectivas internacionais
(http://www.unhabitat.org/categories.asp?catid=631)
for Urban Settlements
Nesta parte apresentamos algumas publicações
que consideramos úteis para compreender melhor
Cada organização tem a sua tarefa, com um ou
a área de planeamento urbano, o licenciamento e
alguns departamentos com publicações que nos in-
o processo de promoção imobiliária. A maior par-
teressam. Tomamos a FAO como exemplo. Tem vá-
te das publicações é de instituições das Nações
rias áreas e séries de publicações. A ênfase é no de-
Unidas, sendo a nossa base comum como países
senvolvimento rural, mas existem partes gerais que
membros, independentemente do país e conti-
se aplicam também no contexto urbano. Na página
nente do mundo. Por isso, têm o peso e autorida-
http://www.fao.org/corp/publications/en/ há listas de
de da comunidade global. Os comentários são
publicações, incluindo os documentos acessíveis
nossos, como interpretações e enquadramento
como documentos electrónicos ou impressos.
no contexto local.
A maior parte dos documentos da FAO são es-
As instituições com documentos de interesse
critos em Inglês, mas muitos documentos tam-
nesta área são várias. Apresentamos estas organi-
bém são escritos em Francês, Espanhol e outras
zações com as suas páginas Web de publicações
línguas. As publicações em Português são pou-
visto que muitos são documentos electrónicos, em
cas. A FAO tem várias áreas de acção, e várias sé-
pdf, e assim acessíveis sem nenhum custo. A nos-
ries de publicações. Uma área é “Sustainable Na-
sa escolha é a seguinte:
tural Resources Management” com mais de 100
} FAO, Food and Agriculture Organization
publicações. Uma série de publicações é “Land
of the United Nations (www.fao.org)
Tenure Working Paper”.
} WB, World Bank/Banco Mundial
(www.worldbank.org)
} International Institute for Environment
Gestão urbana e a política
de ordenamento territorial.
and Development (www.iied.org)
Cada construção no meio urbano tem de ser inte-
} UN Habitat, the United Nations Human Settle-
grada neste contexto. Significa que tem de existir
ments Programme (www.unhabitat.org)
uma coordenação entre as construções individuais,
com três redes de internet:
isto é uma política de ordenamento territorial.
GLTN, Global Land Tenure Network (www.gltn.net)
Baseados na literatura apresentada no { QUADRO A4.3 },
SUD­‑NET, Sustainable Urban Development Network
são apresentados alguns aspectos mais relevantes
(http://www.unhabitat.org/categories.asp?catid=570)
sobre o tema.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
194
Há vários níveis de gestão urbana e ordena-
“Governação é o sistema de valores, políticas e
mento territorial. O nível mais directo é o alvará
instituições através das quais uma sociedade admi‑
ou licença de construção. Mas há outros níveis,
nistra as suas acções em termos económicos, políti‑
com exigências e princípios que devem integrar
cos e sociais, entre o Estado, a sociedade civil e o
os alvarás num contexto mais alargado. Pode­‑se
sector privado. A administração da terra diz respeito
definir estes níveis, desde uma escala do porme-
às regras, processos e organizações através das quais
nor até o geral:
são tomadas decisões sobre o acesso à terra e seu
} Alvará/licenciamento (de obras, de loteamento)
uso, a maneira pela qual as decisões são implemen‑
} Planos urbanísticos (loteamento, de pormenor,
tadas, e a forma como os interesses concorrenciais
plano director municipal)
sobre a terra são geridos”. (Sotomayor, 2008, p. 8)
} Outros planos de desenvolvimento e planos sectoriais (gerais, regionais, do meio ambiente, zona
Estas definições identificam os recursos fundiá-
costeira, sociais, etc.)
rios como essenciais para a governação da socieda-
} Nacional: política nacional, legislação (lei de terra,
de. A sociedade é desenvolvida com uma boa ges-
lei de ordenamento territorial, lei de planeamento, lei
tão dos recursos fundiários. No caso contrário, as
de obras), códigos (de obras, municipal, etc.)
perspectivas de futuro da sociedade são piores.
} Enquadramento científico (sobre o território,
posse de terra, gestão/governação)
A partir daqui importa abordar a questão da
gestão destes recursos ao meio urbano. Suaréz et
al (op cit) usam uma descrição do conceito boa
Começando pelo nível geral, apresentamos seguidamente algumas definição básicas sobre os
gestão urbana, proposta pela UN­‑Habitat:
“A boa gestão urbana deve ser baseada no con-
recursos fundiários (Suaréz et al, 2009, p 19):
ceito de «cidades inclusivas», em que as decisões
{ 1 } “A posse da terra é a relação, definida legal‑
são globalmente participadas e há uma devolução
mente ou culturalmente, entre as pessoas com res‑
do poder do governo central para o local. A base
peito à terra.”
conceptual para a descentralização deve ser a
{ 2 } “Administração da terra é a forma como que
transferência de responsabilidades para o nível
as regras da posse da terra são aplicadas e
mais perto da realidade local. A pedra angular
operacionalizadas.”
para uma boa administração urbana – a participa-
{ 3 } “A prevenção da corrupção é um aspecto ób-
ção directa e ampla das comunidades na tomada
vio da boa governação”.
de decisões – é uma forma de melhorar a eficácia
Num relatório elaborado pela FAO faz­‑se a seguinte definição de governação:
das políticas locais e dar prioridade às iniciativas
e necessidades dos cidadãos”.
ANEXOS
195
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{ QUADRO A4.2 } Publicações sobre a gestão urbana e a política de ordenamento territorial.
Significa que se deve procurar um balanço entre
} subsidiariedade – a atribuição de responsabili-
o nível central e local, e que a descentralização
dades e recursos para o nível adequado mais pró-
também deve abranger os cidadãos, de uma forma
ximo da realidade local;
democrática. A descrição inclui a sociedade civil e
} equidade de acesso aos processos de decisão e
o sector privado, isto é, não pode ser uma área
às necessidades básicas da vida urbana;
onde o Estado (Governo central e os Municípios)1
} eficiência na prestação dos serviços públicos e na
tem um poder exclusivo, sem interacção com os ou-
promoção do desenvolvimento económico local;
tros que desempenham um papel nesta área.
} transparência e responsabilização dos decisores
A UN­‑Habitat (2009), faz uma caracterização
políticos e de todas as partes interessadas;
do conceito boa gestão urbana em sete critérios:
} sustentabilidade – equilibrando as necessidades
sociais, económicas e ambientais das gerações
presentes e futuras;
1. Os Municípios fazem uma gestão pública. Podem fazer parte
da estrutura do Estado, ou ser mais independentes como autarquias
locais. Nesta explicação usamos o contexto do Estado,
sem distinguir de uma eventual autonomia municipal.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
196
} responsabilização cívica e de cidadania – reconhe-
Contexto global do urbanismo
cendo que as pessoas são o bem principal das cidades,
A gestão do território tem de ser enquadrada num
indispensável para um desenvolvimento sustentável;
contexto global. As perspectivas são várias, e aqui
} segurança dos indivíduos e do contexto onde vivem.
queremos indicar umas partes que são mais relacionadas com o urbanismo.
Depois desenvolve­‑se mais sobre o planeamento
Comecemos pela perspectiva geral sobre as cida-
físico, enquadramento legal e a política de gestão ur-
des no mundo. O Banco Mundial promove estudos e
bana. Aqui queremos mencionar algumas publicações
análises sobre a gestão urbana, com a perspectiva de
com exemplos concretos. Smolka & Mullahy (2007)
sustentabilidade (Leautier, ed., 2006). Exige­‑se uma
apresenta diversos artigos sobre países na América La-
gestão das cidades, para enquadrar as iniciativas dos
tina, abordando assuntos como as tendências e pers-
actores neste meio urbano. Tem de existir uma gestão
pectivas das políticas de uso da terra, a informalidade,
com directrizes (regimes regulatórios), integrando in-
legislação e direitos de propriedade, imposto predial,
fraestruturas e serviços sociais. Também é dada a ên-
recuperação de mais­‑valias, uso do solo e desenvolvi-
fase à participação dos cidadãos, e dos agentes deste
mento urbano, participação e gestão pública. Estes
mercado. A acção pública é uma necessidade para se
artigos são práticos e acessíveis para usar como exem-
conseguir criar cidades sustentáveis. Esta acção tam-
plo na gestão urbana em países africanos. O livro é
bém inclui uma interligação entre as áreas do clima
indicado pela GLTN como uma colecção de bons exem-
mundial e da gestão fundiária. Significa que a mudan-
plos. Na nossa lista de literatura, apresentada no
ça gradual do clima tem implicações no sistema fun-
{
QUADRO A4.2
}, também propomos algumas publica-
diário e da sua política (land policy; Quan 2008).
ções em Português, do Brasil, Moçambique e Angola.
O Banco Mundial (World Bank 2003) também
A UN­‑Habitat & Global Urban Observatory
desenvolve a ideia da terra como recurso, a sua in-
(2003) identificam quatro critérios para identifi-
tegração no sistema fundiário e o papel para o de-
car o grau de progresso de melhorar a vida urbana
senvolvimento económico: “A definição de direi-
do meio habitacional:
tos, conferindo segurança sobre a posse de terra é
} estabilidade no acesso e posse de terra
um factor crucial para os esforços de desenvolvi-
} durabilidade e qualidade e de edifícios
mento“. Notamos que o Banco Mundial considera a
} acesso a água potável
gestão pública essencial, e que há uma necessida-
} acesso a infraestruturas sanitárias
de criar uma política de terra (land policy) para
Significa que os edifícios fazem parte de um sis-
conseguir o melhor aproveitamento.
tema urbano, incluindo as infraestruturas técnica e fundiária.
Mohlund & Forsman (2010) descrevem o processo
de planeamento da zona urbana. Fazem­‑no como um
ANEXOS
197
guia, com uma descrição detalhado e pratico como
gestão pública, e uma política de urbanismo e de ha-
criar um processo de planeamento a nível de toda a
bitação. Apresenta dados de 52 países, e tira conclu-
cidade. A figura de plano director municipal (PDM) é
sões dos factores que incentivam e desincentivam in-
desenvolvida para coordenar o uso de terra na área
vestimentos. A seguir apresenta um programa como se
total de um município. A zona urbana e peri­‑urbana
pode facilitar aos Governos desenvolver o mercado.
de uma cidade está no foco de interesse de investi-
Negrão (ed., 2004) mostra como se pode identi-
mentos de todas as camadas da população e empre-
ficar o papel do mercado de terras nas zonas urba-
sas. O guia pretende mostrar exemplos e conselhos
nas. Mostra a importância existir um sistema funcio-
como o planeamento pode ser feito com a participa-
nal de alocação de terras para os cidadãos, e o
ção de todos os actores locais, incluindo a popula-
impacto de um desequilíbrio nesta área é essencial
ção pobre, mulheres, políticos, técnicos e outros. Um
para ter uma justiça social. O estudo feito em Mo-
exemplo deste tipo de planeamento é apresentado
çambique é um bom exemplo como realizar um estu-
separadamente por Forsman (2007). As publicações
do num país lusófono na África. Os níveis de valor de
fazem parte das publicações da UN Habitat.
terra são bem conhecidos pela população, como uma
Assim, começamos com uma perspectiva global
realidade que se tem de enfrentar para conseguir um
mas mesmo assim existem conselhos à nível prático
terreno para construir, e também no caso de compra
como desenvolver este contexto global numa situ-
de uma casa já construída.
ação local.
Gilbert (2004) descreve num estudo para o Banco
Mundial uma outra parte da gestão urbana, e em es-
O mercado imobiliário
e o financiamento do meio urbano
pecial como se podem encontrar formas de interven-
A gestão municipal do meio urbano é essencial, mas o
como incentivos para investimento privado. Descre-
papel do mercado imobiliário também tem de ser con-
ve 99 projectos urbanos com participação de habi-
siderado. O mercado tem movimento e actua em rela-
tantes e instituições financeiras. Significa que se
ção às regras e estruturas criadas. Temos de entender
procura uma participação com vários actores, e não
que o mercado reage conforme os custos e benefícios
contam apenas com o município/governo local ou a
que entendem, isto é, com a melhor lógica. Banco
sua verba do Governo Central. Os projectos foram de-
Mundial (World Bank 1993) faz uma análise do merca-
senvolvidos nas áreas dos sistemas de água, esgotos
do imobiliário em países em desenvolvimento, e des-
e de lixo, bem como em outras áreas. Mostra que o
creve o fracasso do seu funcionamento. Propõe que se
meio urbano pode ser melhorado também nas zonas
dever criar estruturas para o sector privado, incluindo
pobres da cidade, com a participação conjunta des-
o sector informal. Também explica o papel de uma
tes actores e consumidores dos sistemas urbanos.
ção nas cidades. As intervenções públicas funcionam
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
198
A4.3 Gestão municipal do urbanismo
Lee & Gilbert (1999) apresentam experiências de
projectos de desenvolvimento de autarquias locais –
O papel do município
municípios, no Brasil e nas Filipinas. O estudo reali-
Os estudos sobre a gestão do meio urbano podem
zado mostra a necessidade haver um funcionamento
ser feitos a nível global, mas a implementação da
local da gestão pública. Mostra como se poder ava-
política é feita a nível local. A gestão municipal é
liar medidas e como implementar as melhores formas
a chave para levar a política nacional à realidade
de descentralização das funções públicas de gestão.
na construção. O ambiente no bairro é um resulta-
É um bom exemplo, mostrando haver possibilidade
do da gestão municipal, tanto em casos positivos,
de se conseguir uma descentralização em países no
como em casos negativos – quando a gestão é
terceiro mundo, onde a estrutura municipal muitas
ineficiente ou mesmo inexistente.
vezes é limitada. Davey (1993) também dá muitos
} Forsman, Åsa, 2007, Strategic citywide spatial planning – A situational analysis of metropolitan Port­‑au­
‑Prince, Haiti. UN Habitat & GLTN http://www.unhabitat.org/pmss/listItemDetails.aspx?publicationID=3021
} Leautier, Frannie (ed.), 2006, Cities in a Globalizing World: Governance, Performance, and Sustainability. World Bank. http://publications.worldbank.
org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown
&item%5fid=5435493
} Mohlund, Örjan & Forsman, Åsa, 2010, Citywide
Strategic Planning – A Step by Step Guide. UNHabi-
tat/GLTN. http://www.unhabitat.org/pmss/listItemDetails.aspx?publicationID=3020
} Quan, Julian, 2008, Climate change and land tenure. The implications of climate change for land tenure and land policy. FAO Land Tenure Working Paper
2. FAO, IIED and Natural Resources Institute. ftp://
ftp.fao.org/docrep/fao/011/aj332e/aj332e00.pdf
} World Bank, 2003, Land Policies for Growth and
Poverty Reduction. http://publications.worldbank.
org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown
&item%5fid=939227
{ QUADRO A4.3 } Publicações sobre o contexto global do urbanismo.
} Gilbert, Roy 2004, Improving the Lives of the Poor
through Investment in Cities: An Update on the Performance of the World Bank’s Urban Portfolio. http://
publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/pro
duct?context=drilldown&item%5fid=2452871
} Negrão, José (ed.), 2004, Mercado De Terras Urbanas Em Moçambique. Research Institute for Development. http://www.gltn.net/index.php?option=com_
docman&gid=196&task=doc_details&Itemid=24
(Inglês, e http://www.iid.org.mz/html/relatorios.html
(Português)
} World Bank, 1993, Housing: Enabling Markets to
Work. A World Bank policy paper.http://www­‑wds.
worldbank.org/external/default/main?pagePK=6419
3027&piPK=64187937&theSitePK=523679&menuPK=
64187510&searchMenuPK=64187283&theSitePK=523
679&entityID=000178830_98101911194018&search
MenuPK=64187283&theSitePK=523679
{ QUADRO A4.4 } Publicações sobre o mercado imobiliário e o financiamento do meio urbano.
ANEXOS
199
bons exemplos da gestão autárquica do meio urbano.
na página de Web desta organização. As publica-
Alguns aspectos são o financiamento dos serviços,
ções abrangem vários aspectos de medidas deseja-
métodos de avaliação dos serviços e colaboração en-
das para melhorar os bairros urbanos existentes,
tre Municípios o sector privado.
tanto a nível geral, político e financeiro como
UN Habitat & GLTN (2007) descrevem a situa-
questões praticas de infraestruturas.
ção de planeamento urbano num país pobre, a cidade de Port­‑au­‑Prince, em Haiti. Analisam o pa-
Comparticipação Município – sector privado
pel do planeamento urbano, com uma gestão
A gestão municipal é essencial, mas podem­‑se pro-
activa do território. Também foca a necessidade
curar formas de colaboração com o sector privado,
integrar a perspectiva metropolitana na gestão
isto é, no mercado imobiliário e noutras actividades
municipal, isto é, não limitar a acção a cada mu-
económicas. Significa que se procura integrar o sec-
nicípio na área metropolitana, mas estender a
tor privado no contexto global, do urbanismo e do
perspectiva a toda a área urbana.
ordenamento do território, e assim alargar a pers-
UN Habitat (2004) também apresenta perspec-
pectiva do licenciamento de obras, ou de loteamen-
tivas sobre a integração dos bairros pobres no pla-
tos. PPIAF & World Bank (2005) descrevem a colabo-
neamento. O papel do Estado e dos municípios é
ração com o sector privado na área de infraestruturas
importante, e também de outros agentes locais.
em Angola. Na área de urbanismo há uma complexi-
As medidas para melhorar os bairros existentes
dade maior, e com benefícios comuns, que não se
também podem servir de exemplo para as novas
pode cobrar directamente no seu consumo, por
urbanizações – e outras ocupações informais de
exemplo, o uso de terrenos comuns. Mas as experiên-
terreno. O processo de licenciamento enquadra
cias numa áreas económicas podem ser usadas para
muitos projectos novos, e em especial projectos
desenvolver a área de urbanismo.
de carácter prioritário. Todos os exemplos e inicia-
Imparato & Ruster (2003) descrevem um outro
tivas para melhorar o meio urbano, com um plane-
processo de colaboração, junto com os cidadãos
amento do uso de terra, e com as habitações exis-
dos bairros degradados na América Latina, e apre-
tentes e novas, devem ser divulgados ao público.
sentam várias formas de financiamento, tanto lo-
O livro da UN Habitat é um bom exemplo que se
cal como externo. Fazem a seguinte definição de
pode trabalhar com métodos e medidas praticas
colaboração (participation):
para as populações pobres. Não devem ser excluídas dos trabalhos urbanísticos.
“A participação é um processo no qual a popula‑
ção, em particular a população carenciada, influen‑
Sugerimos também a consulta de outros títulos
cia a alocação de recursos e a formulação e imple‑
da UN Habitat referidos abaixo, ou directamente
mentação de políticas fundiárias, e é envolvida a
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
200
diferentes níveis na identificação de soluções duran‑
acompanhar o desenvolvimento. Mostram questões
te o projecto de planeamento, e posteriormente na
chaves no que concernem o papel dos parceiros, fi-
sua implementação, e avaliação pós­‑ocupação.“
nanciamento, infraestruturas, etc.
A ênfase inicial no conceito de participação é
Peterson (2008) sublinha as mesmas ideias
feita para sublinhar o papel e a possibilidade
uma década mais tarde, e com uma ênfase no va-
abranger os cidadãos dos bairros, e neste contexto
lor fundiário como recurso para financiamento de
os proprietários dos prédios.
infraestruturas. Faz um exame da teoria subjacen-
Godin & Farvacque­‑Vitkovic (1998), num estudo
te a diferentes aspectos financeiros, tais como ta-
lançado pelo Banco Mundial, apresentam uma pers-
xas de melhoria, taxas de impacto, e da troca de
pectiva do desenvolvimento das cidades na África
activos em terras e infraestruturas públicas e pri-
francófona durante os últimos 25 anos, isto é, du-
vadas. Estas ideias tem sido desenvolvidas duran-
rante as décadas 1970–1990. O crescimento das ci-
te os últimos anos considerando o habitat urbano
dades tem sido muito elevado, e tem causado mui-
como um recurso financeiro, visto que os investi-
tos problemas criar estruturas urbanas para
mentos realizados nas construções representam
} Davey, Kenneth J, 1993. Elements Of Urban Management / Elementos de la Gestion Urbana , World Bank.
http://publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown&item%5fid=194821
(Inglês – esgotado) http://publications.worldbank.org/
ecommerce/catalog/product?context=drilldown&item%
5fid=217916 (Espanhol – acessível)
} Lee, Kuy Sik & Gilbert, Roy, 1999, Developing Towns
& Cities: Lessons from Brazil and the Philippines,
World Bank http://publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown&item%5fi
d=210802
} UN Habitat, 2008a, How to Develop a Pro­‑poor Land Policy – Process, Guide and Lessons. http://www.unhabitat.
org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2456
} UN Habitat 2008b, Manual on the Right to Water
and Sanitation. http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2536
} UN Habitat, 2008c, Participatory Budgeting in Africa –
A Training Companion (Volume I: Concepts and Principles; Volume II: Facilitation Methods). http://www.unha-
bitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2460
} UN Habitat, 2006a, Analytical Perspective of Pro­‑poor
Slum Upgrading Frameworks. http://www.unhabitat.
org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2291
} UN Habitat 2006b, Financial Resource Mapping. For
Pro­‑Poor Governance Part – I. For Untied Resources
Available at City Level Part II. http://www.unhabitat.
org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2391
} UN Habitat, 2004, Pro­‑Poor Land Management: Integrating Slums into City Planning Approaches.
h t t p : / / w w w. u n h a b i t a t . o r g / p m s s / g e t Pa g e.
asp?page=bookView&book=1105
} UN Habitat & GLTN, 2007, Strategic citywide spatial
planning – A situational analysis of metropolitan
Port­‑au­‑Prince,Haiti.http://www.gltn.net/index.
php?option=com_docman&gid=209&task=doc_
details&Itemid=24
} World Bank, 2009, Improving Municipal Management for Cities to Succeed: An IEG Special Study.
http://publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/product?context=drilldown&item%5fid=9199933
{ QUADRO A4.5 } Publicações sobre o papel do município no urbanismo.
ANEXOS
201
um capital muito maior do que os investimentos
tagem alta de pobreza. Significa que a gestão urbana
de cooperação.
tem de procurar formas para garantir estes espaços
UN Habitat & EcoPlan International (2005/2007)
verdes. Propõe­‑se o uso de indicadores no planea-
têm uma série de quatro volumes como um manual
mento. O artigo foi destacado e publicado pela FAO
pratico para entender e trabalhar com a autarquia lo-
como um bom exemplo.
cal, e assim identificar como financiar os investi-
Um outro artigo destacado na página Web da FAO
mentos sem depender do Estado Central. A co­
foi escrito por um grupo de cientistas do Danish Fo-
‑participação com o sector privado, tanto os
rest and Landscape Research Institute (Konijnindijk
construtores como os proprietários, pode contribuir
et al, 2003), para dar ênfase aos aspectos verdes no
nos investimentos para criar o meio urbano deseja-
desenvolvimento urbano. O artigo apresenta o con-
do. A vantagem com esta série é que tem uma partes
ceito de UPF (Urban and peri­‑urban forestry – zonas
gerais e outras partes práticas e que servem bem
verdes/bosque no meio urbano e peri­‑urbano), e aí
para usar pelos encarregados nos municípios e nas
inclui­‑se a participação no processo de planeamento
empresas privadas.
e implementação. Entendemos que a gestão pública
é essencial, mas depende de uma boa co­‑participação
A4.4 A gestão do meio urbano
de outros agentes, privados, associações e de cidadãos para ter sucesso. Também mostram no artigo
Espaços verdes no meio urbano
que não é apenas uma questão dos países desenvol-
O meio urbano não é constituída apenas pelas cons-
vidos, mas de todos os países. Mostram exemplos de
truções, mas também pelas partes publicas e co-
UPF em várias partes do mundo, e assim entendemos
muns. É evidente que as infraestruturas viárias são
que há condições para implementar o conceito.
públicas, mas também há uma necessidade de espaço verde – como um pulmão na área urbana. A área
A4.5 Financiamento e créditos
urbana é desenvolvida como o ‘habitat’ – o nosso
meio de viver. As perspectivas de sustentabilidade
Os investimentos no sector imobiliário representam
nas construções é uma parte importante e talvez a
uma grande parte do produto nacional bruto. As for-
parte mais em foco. As zonas verdes no meio urbano
mas de financiamento são várias, e variam muito en-
também fazem parte deste meio urbano. Aqui limita-
tre as camadas da população. O auto­‑financiamento
mos a nossa perspectiva a alguns exemplos práticos.
é grande nos países em desenvolvimento, em espe-
Rukunuddin & Hassan (2003) mostram a necessidade
cial nas camadas populacionais médias e pobres.
criar um meio ambiente nas cidades grandes, e neste
O crédito hipotecário é uma forma muito usada nos
caso numa cidade em Bangladesh com uma percen-
países desenvolvidos, e permite um investimento
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
202
maior para o dono sem recursos na situação actual.
dade de uma infraestrutura financeira. Outros, por
Exige um sistema de segurança hipotecária, que se
exemplo, Home & Lim (2004) mostram mais perspec-
baseia no enquadramento dos prédios num sistema
tivas para entender as origens do problema e a varie-
de posse formal de terra, para se poder hipotecar va-
dade de soluções em países africanos e das Caraíbas.
lores da unidade predial. Para funcionar bem têm de
O guia da UN Habitat (2008 a) é uma boa introdu-
existir unidades prediais bem distintas e com valor
ção nesta área, como desenvolver as possibilidades fi-
oficial, que é usado como unidade hipotecária.
nanceiras de habitações para toda a população, e em
Em todos os países existe uma estrutura para hipo-
especial para as camadas de rendimento médio e bai-
tecar as propriedades, mas não é usada num nível
xo. Descreve e analisa os sistemas formais e informais.
muito elevado em países em desenvolvimento. O es-
Portanto, é um guia para uma política mais abrangen-
tudo comparativo do economista de Soto (2003) é o
te no sector imobiliário. Não se deve pensar apenas
mais destacado para identificar um problema específi-
nos sistemas formais, a que apenas uma pequena par-
co nesta área. Explica a diferença entre os países
te da população tem efectivamente acesso.
latino­‑americanos e os EUA na confiança no sistema
Também há estudos específicos em vários países,
judicial e no desenvolvimento do sector hipotecário.
nos continentes Sul­‑Americano, Africano e Asiático:
A polémica criada por de Soto tem sido útil para mos-
Bolívia, Chile, Perú, Zimbabwe, África do Sul, Índia,
trar alternativas para financiamento, e com a necessi-
Indonésia, Tailândia e Coreia. O exemplo da África do
} Godin, Lucien & Farvacque­‑Vitkovic, Catherine,
1998, The Future of African Cities: Challenges and
Priorities in Urban Development. World Bank. Também acessível em Francês. http://publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/product?context=drilld
own&item%5fid=204720
} Imparato, Ivo & Ruster, Jeff, 2003, Slum Upgrading and
Participation: Lessons from Latin America. World Bank.
http://publications.worldbank.org/ecommerce/catalog/
product?context=drilldown&item%5fid=1088629.
} Peterson, George E, 2008, Unlocking Land Values to Finance Urban Infrastructure. World Bank. Palgrave Macmillan. http://publications.worldbank.org/ecommerce/
catalog/product?context=drilldown&item%5fid=8811078
} PPIAF & World Bank, 2005, Private Solutions for Infrastructure in Angola. Soluciones Privadas para a Infraestrutura em Angola. Edição em Inglês e Português http://pu-
blications.worldbank.org/ecommerce/catalog/product?c
ontext=drilldown&item%5fid=4281347 ou 4281538
} UN Habitat, 1996, Policies and Measures for Small –
Contractor Development in the Construction Industry.
h t t p : / / w w w. u n h a b i t a t . o r g / p m s s / g e t Pa g e.
asp?page=bookView&book=1340
} UN Habitat e EcoPlan International, 2005/2007, Local
Economic Development (LED) series ­‑Promoting Local
Economic Development through Strategic Planning (Four
Volumes – 1 Quick Guide, 2 Manual, 3 Toolkit and 4 Action
Guide) Promovendo o Desenvolvimento Econômico Local
através do Planejamento Estratégico. Edição em Inglês
2005, em Português 2007. Também acessível em Francês.
http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page
=bookView&book=2625 (em Português) http://www.
unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView
&book=1922 (em Inglês)
{ QUADRO A4.6 } Publicações sobre a comparticipação entre municípios e sector privado.
ANEXOS
203
Sul (UN Habitat 2008 b) pode servir bem. UN Habitat
trução. O acesso geral às publicações da UN Habi-
(2002) também apresenta um panorama de vários
tat: http://www.unhabitat.org/pmss/.
países na área de financiamento habitacional, e as-
Aqui queremos mencionar duas publicações da UN
sim serve de exemplo e incentivo para enquadrar e
Habitat, para mostrar o desenvolvimento nesta área.
desenvolver os sistemas nacionais de financiamento.
UN Habitat (1997) dá uma abordagem global sobre no
As experiências apresentadas mostram que existem
final da década de 1990. Entendemos que esta área já
soluções para melhorar a situação habitacional para
era importante nessa altura, que se tentava mostrar e
todos, e que o financiamento não é restrito ao sector
fazer chegar conhecimentos de soluções adequadas
formal onde o título de propriedade permite a con-
na construção. Nota­‑se que o tema é tecnologias para
cessão de crédito através da hipoteca formal. As ini-
as construções de custos baixos, e assim são adapta-
ciativas na área de construção sustentável exigem
das a pessoas sem grandes recursos financeiros.
tanto um conhecimento melhor de técnicas de construção e design, como investimentos financeiros.
Uma década mais tarde, UN Habitat (2007) apresenta opções para melhorar o acesso e consumo de
energia em bairros suburbanos pobres. Significa que
A4.6 Construção no meio urbano
há soluções para resolver a situação actual nesses bairros. O consumo é individual mas depende do forneci-
As técnicas de construção são descritas noutras partes
mento do bairro, e como se organiza esta área a nível
deste manual. Nesta parte queremos apenas concluir
local. Como se entende da descrição do livro, foi uma
a abordagem de literatura das organizações interna-
reunião de peritos para identificar as limitações em to-
cionais com alguns poucos títulos sobre a construção
das as áreas onde a energia é um factor essencial. Tam-
e o seu papel como consumidor de energia. A área é
bém faz uma análise do ambiente local, onde o consu-
bem vasta, e não pretendemos fazer uma abordagem
mo de energia pode melhorar para evitar a poluição.
grande, mas apenas mostrar que faz parte dos programas e iniciativas das organizações internacionais.
A UN Habitat também promove iniciativas na
área de energia através de uma rede de internet,
A UN Habitat tem uma secção sobre a habitação,
GENUS, the Global Energy Network for Urban Set-
e faz a ligação com o terreno, já descrito acima.
tlements. Acesso: http://www.unhabitat.org/ca-
Chama­‑se ‘Land and Housing’, o que indica que fa-
tegories.asp?catid=631.
zem a ligação entre o acesso a terreno e a construção. São duas partes interligadas na urbanização.
A rede é nova, e realizou dois encontros em
2009, sobre transportes e electrificação para bair-
O tema de ‘Land and Housing’ tem muitos títu-
ros suburbanos respectivamente, e dois em 2010
los sobre as técnicas de construção, incluindo a
sobre transportes urbanos e energia produzida
energia, tecnologias, e sustentabilidade na cons-
com lixo. Nota­‑se que estes tipos de técnicas e
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
204
acções são conhecidos em países desenvolvidos,
como por exemplo o programa do urbanismo sus-
A4.7 Uma cidade sustentável
tentável da cidade de Malmö (ver a parte inicial
O processo de construção sustentável tem de ser
deste capítulo).
apoiado por uma estratégica de sustentabilidade
Uma outra rede de internet criada pela UN Ha-
da gestão urbana. É um aspecto prioritário do pro-
bitat é a SUD–NET – Sustainable Urban Develop-
grama SURE–Africa – Sustainable Urban Renewal
ment Network: http://www.unhabitat.org/cate-
– Energy Efficient Buildings in Africa.
gories.asp?catid=570
Os promotores de construção precisam de uma
Os temas desta rede são grandes, e abrange as-
contrapartida do sector público, tanto a nível lo-
pectos mais globais sobre as mudanças climáticas,
cal e como a nível nacional, com uma boa orien-
mas também aspectos mais locais e aplicáveis na
tação sustentável na gestão urbana.
construção civil e planeamento urbano. A cidade
Seguidamente é descrito, de forma sucinta, um
de Maputo é uma de quatro cidades piloto desta
exemplo de boas práticas de gestão sustentável,
rede, e assim tem alguns estudos já feitos e outros
promovida a nível municipal– a cidade de Malmö.
por fazer. A análise identifica vários problemas,
como por exemplo inundações fluviais, desapare-
A cidade de Malmö – exemplo sustentável
cimento de zonas de mangal, e degradação da
A cidade de Malmö, ao sul da Suécia, é apresentada
qualidade de água.
como inspiração e para mostrar o que o sector público
} Rukunuddin, Ahmed Miyan & Hassan, Rakibul, 2003,
People’s Perception toward Value of Urban Greenspace
in Environmental Development. World Forestry Congress,
Sept 23–30, 2003, Quebec city, Canada http://www.fao.
org/DOCREP/ARTICLE/WFC/XII/0347­‑B5.HTM
} Konijnendijk, Cecil C; Sadio, Syaka; Randrup, Thomas B.
& Schipperijn, Jasper, 2003, Urban and peri­‑urban forestry for sustainable urban development. World Forestry Congress, Sept 23–30, 2003, Quebec city, Canada. http://
www.fao.org/DOCREP/ARTICLE/WFC/XII/0976­‑B5.HTM
{ QUADRO A4.7 } Publicações sobre espaços verdes no meio urbano.
} Home, Robert & Lim, Hilary (ed.) 2004, Demystifying the Mystery of Capital. Land Tenure and Poverty
in Africa and the Caribbean. Glasshouse Press.
} De Soto, Hernando, 2003, The Mystery of Capital/El
mistério del capital. Basic Books/Editorial Diana Sa.
} UN Habitat, 2008a, Housing for All: The Challenges
of Affordability, Accessibility and Sustainability, The
Experiences and Instruments from the Developing and
developed worlds, 2008. Human Settlement Finance
{ QUADRO A4.8 } Publicações sobre financiamento e créditos.
and Policies (Series title) http://www.unhabitat.org/
pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2547
} UN Habitat, 2008b Housing Finance Systems In
South Africa. http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2549
} UN Habitat, 2002, Financing Adequate Shelter for All.
http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page
=bookView&book=1277
ANEXOS
205
pode fazer para apoiar as actividades dos promotores
Este website contem também muitos outros docu-
privados. As condições são diferentes entre a Suécia e
mentos, disponíveis em formato pdf, como por exem-
os países africanos abrangidos pelo Sure­‑Africa. Mas
plo programas gerais de desenvolvimento sustentá-
apresentam­‑se umas ideais do trabalho que se faz para
vel, e programas sobre energia e clima. Os temas dos
orientar a gestão urbana com este objectivo.
workshops da conferência de 2007 mostram a situa-
Vamos começar com o trabalho do Município na
área de sustentabilidade urbana. Aqui encontramos
ção complexa das intervenções, ou seja, as possibilidades de actividades para mudar a gestão urbana.
uma visão bem enraizada, em forma de trabalhos já
A cidade de Malmö foi um exemplo destacado
feitos e visões. Foram realizadas duas conferências
pela UN Habitat no World Habitat Day 2009. Outros
sobre o tema Sustainable City Development, em 2005
exemplos do mundo inteiro, incluindo 20 projectos
e 2007 respectivamente. Identificaram­‑se muitas
em países africanos, desde o início desta iniciativa
áreas para encaminhar o desenvolvimento urbano
em 1989, até 2009, são acessíveis na seguinte di-
nesta direcção. A documentação das conferências
recção: http://www.unhabitat.org/content.asp?ty
está acessível no website http://www.malmo.se/ser-
peid=19&catid=588&cid=7306.
vicemeny/malmostadinenglish/sustainablecitydevel
opment.4.33aee30d103b8f15916800024628.html.
} UN Habitat, 1997, Global Overview of Construction
Technology Trends: Energy­‑Efficiency in Construction.
h t t p : / / w w w. u n h a b i t a t . o r g / p m s s / g e t Pa g e.
asp?page=bookView&book=1452
Autor: Klas Ernald Borges, University of Lund
} UN Habitat, 2007, Enhancing Access to Modern Energy
Options for Poor Urban Settlements. http://www.unhabitat.org/pmss/getPage.asp?page=bookView&book=2354
{ QUADRO A4.9 } Publicações sobre construção no meio urbano.
Workshop
{ 1 } Arquitectura sustentável
{ 2 } Alterações climáticas
{ 3 } Manutenção e operação
de edifícios sustentáveis
{ 4 } Parcerias público­‑privadas
no sector da Energia
{ 5 } Sistemas de energias renováveis
{ 6 } Design de edifícios sustentáveis
– o desenvolvimento do conceito
{ 7 } Como melhorar a acessibilidade
sem aumentar o número
de viaturas privadas
{ 8 } Construção sustentável
nas regiões do Báltico e Escandinávia
{ 9 } Vegetação urbana como meio
de adaptação ao clima
{ 10 } Planeamento urbano
{ 11 } Um futuro sem petróleo
{ 12 } Sistema de saúde sustentável
{ 13 } Como reduzir produção sem reduzir os bens
{ 14 } Integração urbana
{ 15 } Educação e desenvolvimento
sustentável das cidades
{ 16 } Ferramentas para a concepção
de edifícios sustentáveis
{ A4.10 } Workshops na conferência sobre Sustainable Development, em Malmö, 2007.
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
206
A5 Desenvolvimento Limpo
nos PALOP: Potencial
para energias sustentáveis
lado do envolvimento de África, que está em último
plano, com menos de 2% de projectos CDM registados
até hoje. Só a China e a Índia representavam mais de
60% dos projectos registados pelo Comité Executivo do
CDM a 8 de Novembro de 2010 (2 486 no total).
O Protocolo de Quioto, as políticas e mecanismos
Existe uma grande diversidade de tecnologias de
com ele relacionadas deram novo fôlego à ideia de
redução de emissões consideradas no CDM, mas
obter um modelo energético sustentável, que contri-
abordaremos aqui em concretos as que estão rela-
bua ao mesmo tempo para combater as alterações
cionadas com o aproveitamento das Fontes de Ener-
climáticas e para reduzir a pobreza. Enquanto se pro-
gia Renováveis (FER).
cura minimizar os efeitos do crescimento económico
Para fazer face à necessidade de reduzir emis-
sobre o planeta, é indefensável negar às populações
sões em diversas frentes, Portugal recorreu aos me-
mais pobres – que não têm acesso a serviços básicos
canismos de flexibilidade e criou um Fundo de Car-
e foram as que menos contribuiram para a situação
bono com o objectivo de investir em projectos de
actual – a melhoria do seu nível de vida.
redução de emissões, incluindo de Desenvolvimen-
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM na
to Limpo. Desde 2007 já foram assinados memoran-
sigla inglesa) é um dos três mecanismos de flexibilida-
dos de entendimento com os cinco PALOP, que dão
de previstos no Protocolo de Quioto, a par da Imple-
grande destaque aos projectos de FER.
mentação Conjunta e do comércio de emissões, e o
A cooperação portuguesa estava até aqui dedica-
único que envolve directamente os países mais pobres.
da a outras áreas, mas nos últimos anos o ambiente
Pressupõe o investimento dos países desenvolvidos
e a sustentabilidade têm aparecido como preocupa-
(Anexo I da Convenção sobre as Alterações Climáticas)
ções estratégicas, com o ambiente a surgir nos pla-
em projectos de redução de emissões nos países em
nos anuais e plurianuais de cooperação.
desenvolvimento (não Anexo I), contribuindo para o
No entanto, ainda não há projectos CDM no ter-
desenvolvimento sustentável destes países e contabi-
reno e também há pouca informação sobre o real
lizando esses investimentos nos seus próprios compro-
potencial destes países para receber investimentos
missos de redução face ao Protocolo de Quioto (e face
deste tipo. Será necessário apostar nos próximos
a metas regionais como as da União Europeia).
anos em estudos e levantamentos mais exaustivos.
Existem no entanto obstáculos a esta ideia de “de-
É ainda mais escassa a informação sobre países pe-
senvolvimento sustentável”. O CDM, enquanto mecanis-
quenos como São Tomé e Príncipe e a Guiné­‑Bissau.
mo de mercado, e nos moldes actuais, tem­‑se revelado
Angola e Moçambique têm vastos territórios que pare-
mais apropriado para projectos de larga escala e países
cem oferecer um universo de possibilidades. Cabo Ver-
em crescimento económico acelerado. Muito se tem fa-
de, por seu turno, assistiu a um grande entusiasmo
ANEXOS
207
{ FIG. A5.1 } Projectos
CDM registados
(Fonte UNFCCC).
pelas renováveis, nos anos 70 a 80, mas nos últimos
terações Climáticas e o Protocolo de Quioto, mas
anos tem vindo novamente a afirmar­‑se neste campo,
apenas Cabo Verde e Moçambique têm as suas Au-
tendo um conjunto de projectos previstos com apoios
toridades Nacionais Designadas operacionais, um
internacionais, incluindo de Portugal.
passo fundamental para poderem receber projectos
CDM. Portugal tem dado prioridade à constituição
A5.2 O caso dos PALOP: energia e alterações
climáticas
O uso de biomassa é dominante em África, com
consequências na preservação dos recursos naturais
do continente. O consumo de energias fósseis e de
electricidade nunca foi generalizado à população e
a maior parte dos países não é totalmente servida
por uma infra­‑estrutura energética. Esta fonte de
energia permanecerá como a mais importante, mas
há formas de atenuar os seus efeitos, por exemplo
promovendo a utlização de fornos solares ou mais
eficientes, uma vez que a maior parte da energia é
utilizada na confecção de alimentos.
Todos os PALOP estão classificados como Países
destes organismos na cooperação com os PALOP.
Em termos de potencial de implementação de projectos FER, a biomassa e a energia solar serão as duas
fontes mais disponíveis nos PALOP, mas é necessário
proceder a estudos aprofundados para apurar o verdadeiro potencial existente nas diversas áreas. A eólica
não terá viabilidade em todas as geografias, sendo
adequada por exemplo no caso de Cabo Verde.
Um estudo feito pelo Banco Mundial em 2008,
sobre oportunidades de desenvolvimento de projectos CDM em África, abrangeu quatro PALOP (São Tomé
e Príncipe não foi incluído) e apenas uma parte das
FER, mas ainda assim conclui que o potencial de re-
dução de emissões pode ser significativo.
Menos Avançados (PMA) pelas Nações Unidas. Excepto Cabo Verde que passou a ser considerado um
Cabo Verde
País de Rendimento Médio em 2008. Todos estes
O país revela potencial para o aproveitamento de di-
cinco países ratificaram já a Convenção sobre as Al-
versas FER, em particular a solar e a eólica. Cabo Verde
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
208
perfil ambiental de Angola, realizado pela MHV para a
Comissão Europeia em 2006, recomenda a difusão das
fontes renováveis (nomeadamente solar, mini­‑hídrica e
biomassa) a iniciar em escolas em meio rural, nos parques naturais e em áreas desérticas (maior utilização
solar), assim como a promoção da eficiência energética
junto da indústria e da utilização de gás natural, com o
objectivo de reduzir a dependência de combustíveis.
O sector dos biocombustíveis tem suscitado in{ FIG. A5.2 } Micro­‑turbina eólica.
teresse por parte das grandes empresas privadas da
área da energia.
tem muito pouca chuva ao longo do ano e o número
de horas de Sol pode atingir uma média de 200 por
Moçambique
mês (IE4Sahel/IST, 2007). Esta fonte de energia tem
sido pouco aproveitada ao longo dos anos, havendo
A biomassa, lenha e carvão vegetal, representa mais
recentemente alguns projectos para as zonas rurais.
de 90% do consumo de energia, mas o país tem poten-
Além dos elevados níveis de insolação, um dos
cial para exploração de algumas FER, em particular a
elementos climáticos predominantes em Cabo Verde é
hídrica e mini­‑hídrica, pois é rico neste tipo de recur-
o vento, que sopra de forma constante dos quadrantes
sos, exportando inclusivamente a maior parte da elec-
Nordeste e Este. As médias situam­‑se entre os 4 m/s e
tricidade produzida pela barragem de Cahora Bassa.
os 7 m/s (Alves et al., 2007).
A radiação solar global é de 220 W/m2, mais
Em 2004, a energia eólica representou cerca de
que o dobro da do continente europeu, o que per-
3% da produção de electricidade. Em 2007 foi ela-
mite igualmente o aproveitamento da energia so-
borado um Atlas Eólico de Cabo Verde pelo labora-
lar (Greenpeace/ITDG, 2002).
tório Risø, da Dinamarca. Espera­‑se que a taxa de
Já o potencial para desenvolvimento da energia
utilização da eólica aumente para os 18% com os
eólica não é tão significativo neste território, com
quatro projectos recentemente aprovados para as
uma velocidade média de vento que pouco ultrapassa
ilhas de Santiago, São Vicente, Sal e Boa Vista.
2 m/s, excepto nas zonas costeiras onde pode atingir
3 a 4 m/s, como concluíram por exemplo estudos de-
Angola
senvolvidos pelo projecto CDM for Sustainable Africa1.
O desenvolvimento de biocombustíveis tem suscita-
A mini­‑hídrica, solar e aproveitamento da biomassa são
do interesse, tal como em Angola, pelo potencial de ex-
as áreas de maior potencial nas FER. Um estudo sobre o
ploração de produtos como o coqueiro ou a mandioca.
ANEXOS
209
Guiné­‑Bissau
Referências
Essencialmente dependente da biomassa (recursos
Alves, Luís. et al. (2007), Energy for Poverty Al-
florestais) e da importação de produtos petrolíferos.
leviation in Sahel/IE4Sahel: Public Report, Insti-
A desflorestação é um problema significativo que se
tuto Superior Técnico, Lisboa.
tem agravado com o passar dos anos, apesar da po-
Earth Institute, Universidade de Columbia (2004),
lítica nacional de reflorestação. (MHV/CE, 2007).
Relatório sobre Infra­‑estrutura de Energia – São
Também neste país a produção de biocombus-
Tomé e Príncipe, Columbia.
tíveis a partir de recursos agrícolas poderá ser
uma das FER mais importantes a explorar, mas
Gouvello, C., Dayo, F., & Thioye, M. (2008), Low­
também a solar e a eólica.
‑carbon Energy Projects for Development in Sub­
A velocidade média do vento na Guiné­‑Bissau situa­
‑Saharan Africa: Unveiling the Potential, Address-
‑se 3 e 5 m/s, sendo suficiente para a instalação de
ing the Barriers, The International Bank for
parques eólicos. O país dispõe além disso de uma boa
Reconstruction and Development / The World Bank,
radiação solar – 5 a 6 KWh/m /dia (8 horas diárias).
Washington, DC
São Tomé e Príncipe
MWH, Élaboration du Profil Environnemental de
2
O potencial do país para utilização das FER está
ainda pouco estudado e requer um levantamento
exaustivo das potenciais fontes.
O relatório pedido pelo governo de São Tomé ao
Earth Institute da Universidade de Columbia, em
2004, recomendava o uso da biomassa florestal,
através da gaseificação e posterior aproveitamento
do gás na confecção de alimentos. O mesmo estudo
defendia inclusivamente que o agroflorestamento
Pays – Guinée Bissau: Rapport final (pour la CE),
31 de Janeiro de 2007.
MHV (to the EC), Update of the Country Environmental Profile of Angola, Julho 2006.
http://cdm.unfccc.int/, United Nations Framework
Convention on Climate Change
http://www.wri.org, World Resources Institute (WRI)
poderia levar a produção de biomassa a atingir as
40 mil toneladas anuais, o que equivaleria à produção anual de energia eléctrica do país.
Autora: Carla Gomes
Mestre em Gestão e Políticas Ambientais
pela Universidade de Aveiro
1. CDM for Sustainable Africa Project – Consórcio formado
por instituições de ensino e investigação de países europeus
e africanos, com o objectivo de aprofundar o conhecimento sobre
o potencial de África para desenver projectos de Desenvolvimento
Limpo. Dados retirados do mapa CDM de Moçambique: http:
//www.rgesd­‑sustcomm.org/CDM_AFRICA/cdm_africa_Mapping_Mozambique.htm. Fontes: IEA Energy Statistics and The World Fact Book.
{ Autorias }
AUTORIAS
211
{ Texto }
{ Figuras }
Introdução
Leão Lopes,
Italma Simões Pereira
Capítulo 1
Italma Simões Pereira,
Adolfo Ramos
Capítulo 2
Italma Simões Pereira
Capítulo 3
Manuel Correia Guedes,
Italma Simões Pereira
Capítulo 4
Italma Simões Pereira
Capítulo 5
Italma Simões Pereira
Capítulo 6
Leão Lopes,
Italma Simões Pereira
Capítulo 7
Italma Simões Pereira
Capa Foto Italma Simões Pereira
Anexo 1 Gilberto Lopes
Anexo 2 Manuel Pinheiro
Anexo 3 Gustavo Cantuária
Anexo 4 Klas Borges
Anexo 5 Carla Gomes
{ Quadros }
Capítulo 2 Italma Simões Pereira
Capítulo 3 Manuel Correia Guedes
Capítulo 7 Italma Simões Pereira
Anexo 1 Gilberto Lopes
Anexo 2 Manuel Pinheiro
Anexo 4 Klas Borges
1.1 Imagem Italma Simões Pereira
(adaptado de .wikipedia.org)
1.2 Fotos Italma Simões Pereira
1.3 Fotos Catarina Schwarz
1.4 Foto Catarina Schwarz
1.5 Foto Italma Simões Pereira
1.6 Foto Adolfo Ramos
1.7 Foto Adolfo Ramos
1.8 Foto Adolfo Ramos
1.9 Foto Adolfo Ramos
1.10 Foto Adolfo Ramos
1.11 Foto Miguel de Barros
1.12 Foto Manuel Correia Guedes
1.13 Foto Italma Simões Pereira
1.14 Foto Adolfo Ramos
1.15 Foto Adolfo Ramos
1.16 Foto Catarina Schwarz
1.17 Foto Italma Simões Pereira
1.18 Foto Italma Simões Pereira
2.1 Foto Miguel de Barros
2.2 Foto Miguel de Barros
2.3 Foto Italma Simões Pereira
2.4 Foto Manuel Correia Guedes
2.5 Imagem Italma Simões Pereira
(adaptado de Nóbrega, 2003)
2.6 Esquema Italma Simões Pereira
(adaptado de Tenreiro, 1950)
2.7 Desenho de Aisha Ferreira
(adaptado de de Blazejewicz et al., 1983)
2.8 Foto Italma Simões Pereira
2.9 Desenho Italma Simões Pereira
(adaptado de Lima, 1948)
2.10 Foto Italma Simões Pereira
2.11 Foto Italma Simões Pereira
2.12 Foto Italma Simões Pereira
2.13 Foto Italma Simões Pereira
2.14 Foto Italma Simões Pereira
2.15 Foto Italma Simões Pereira
ARQUITECTURA SUSTENTÁVEL NA GUINÉ-BISSAU
212
2.16 Foto Italma Simões Pereira
2.17 Desenho Aisha Ferreira
(adaptado de Araujo, 1948)
2.18 Desenho Aisha Ferreira
(adaptado de Blazejewicz et al., 1983)
2.19 Desenho Aisha Ferreira
(adaptado de Blazejewicz et al., 1983)
2.20 Desenho Aisha Ferreira
(adaptado de Blazejewicz et al., 1983)
2.21 Foto Italma Simões Pereira
2.22 Foto Italma Simões Pereira
2.23 Foto Miguel de Barros
2.24 Foto Miguel de Barros
2.25 Foto Manuel Correia Guedes
2.26 Foto Italma Simões Pereira
2.27 Desenho S. M. Arroja
(em Mota, 1948)
2.28 Foto Italma Simões Pereira
2.29 Foto Italma Simões Pereira
2.30 Foto Italma Simões Pereira
2.31 Foto Domingos Fernandes
2.32 Foto Domingos Fernandes
2.33 Foto Italma Simões Pereira
2.34 Foto Catarina Schwarz
2.35 Foto Italma Simões Pereira
2.36 Fotos Italma Simões Pereira
2.37 Foto Italma Simões Pereira
2.38 Fotos Italma Simões Pereira
2.39 Foto Italma Simões Pereira
2.40 Foto Italma Simões Pereira
2.41 Foto Italma Simões Pereira
2.42 Foto Italma Simões Pereira
2.43 Foto Italma Simões Pereira
2.44 Foto Italma Simões Pereira
2.45 Foto José Carlos Esteves
2.46 Foto Italma Simões Pereira
2.47 Foto Carlos Silva (AD)
2.48 Fonte: Acção para o Desenvolvimento
(AD, 2006b)
2.49 Fonte: Acção para o Desenvolvimento
(AD, 2006b)
2.50 Foto Catarina Schwarz
2.51 Foto Italma Simões Pereira
3.1 Foto Italma Simões Pereira
3.2 Fotos Manuel Correia Guedes
3.3 Gráfico Italma Simões Pereira
3.4 Gráfico Italma Simões Pereira
3.5 Desenho Leão Lopes
3.6 Desenho Leão Lopes
3.7 Desenho Leão Lopes
3.8 Desenho Leão Lopes
3.9 Desenho Leão Lopes
3.10 Desenho Leão Lopes
3.11 Desenho Mariana Pereira
(adaptado de Baker, 2000)
3.12 Desenho Mariana Pereira
3.13 Diagrama Italma Simões Pereira
3.14 Desenho Joana Aleixo
3.15 Foto Manuel Correia Guedes
3.16 Fotos Manuel Correia Guedes
3.17 Foto Manuel Correia Guedes
3.18 Desenho Leão Lopes
3.19 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Goulding, 1992)
3.20 Fotos Manuel Correia Guedes
3.21 Fotos Manuel Correia Guedes
3.22 Fotos Manuel Correia Guedes
3.23 Fotos Manuel Correia Guedes
3.24 Fotos Manuel Correia Guedes
3.25 Fotos Manuel Correia Guedes
3.26 Desenho Leão Lopes
3.27 Fotos Manuel Correia Guedes
3.28 Fotos Manuel Correia Guedes
3.29 Foto Manuel Correia Guedes
3.30 Fotos Manuel Correia Guedes
3.31 Fotos Manuel Correia Guedes
3.32 Foto Manuel Correia Guedes
3.33 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Goulding, 1992)
3.34 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Thomas, 1996)
3.35 Fotos Manuel Correia Guedes
3.36 Fotos Manuel Correia Guedes
AUTORIAS
213
3.37 Foto Manuel Correia Guedes
3.38 Fotos Manuel Correia Guedes
3.39 Fotos Manuel Correia Guedes
3.40 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Thomas, 1992)
3.41 Desenho Joana Aleixo
(adaptado de Thomas, 1992)
3.42 Desenho Mariana Pereira
3.43 Desenho Joana Aleixo
3.44 Desenho Leão Lopes
3.45 Desenho Leão Lopes
3.46 Desenho Leão Lopes
3.47 Desenho Leão Lopes
3.48 Desenho Leão Lopes
3.49 Desenho Leão Lopes
3.50 Desenho Leão Lopes
3.51 Desenho Leão Lopes
3.52 Desenho Leão Lopes
3.53 Desenho Leão Lopes
3.54 Desenho Leão Lopes
3.55 Desenho Leão Lopes
3.56 Desenho Leão Lopes
3.57 Fotos Manuel Correia Guedes
3.58 Foto Italma Simões Pereira
3.59 Fotos Manuel Correia Guedes
3.60 Diagramas Italma Simões Pereira
3.61 Gráficos Italma Simões Pereira
3.62 Gráficos Italma Simões Pereira
3.63 Fotos Manuel Correia Guedes
4.1 Foto Manuel Correia Guedes
4.2 Foto Manuel Correia Guedes
4.3 Foto Italma Simões Pereira
4.4 Foto Italma Simões Pereira
4.5 Foto Italma Simões Pereira
4.6 Foto Italma Simões Pereira
4.7 Foto Italma Simões Pereira
4.8 Foto Italma Simões Pereira
4.9 Foto Italma Simões Pereira
4.10 Foto Carlos Silva
4.11 Desenho Aisha Ferreira
(Adaptado de Lourenço, 2002)
4.12 Foto Italma Simões Pereira
4.13 Foto Italma Simões Pereira
4.14 Foto Italma Simões Pereira
4.15 Foto Italma Simões Pereira
4.16 Foto Italma Simões Pereira
4.17 Foto Italma Simões Pereira
5.1 Foto Miguel de Barros
5.3 Foto Manuel Correia Guedes
5.4 Foto Manuel Correia Guedes
Capítulo 6 Desenhos Leão Lopes
Capítulo 7 Imagens Italma Simões Pereira
Anexo 1 Imagens Gilberto Lopes
Anexo 2 Imagens Manuel Pinheiro
Anexo 3 Imagens Gustavo Cantuária
Anexo 5 Imagens Carla Gomes
O presente manual tem como principal objectivo sugerir medidas
básicas para a prática de uma arquitectura sustentável. Destina‑se a estudantes e profissionais de arquitectura e engenharia,
sendo também acessível ao público com alguma preparação
técnica na área da construção. Tendo em conta o clima, os recursos naturais e o contexto socioeconómico, são traçadas, de
forma simplificada, estratégias de boas práticas de projecto.
Foi elaborado no âmbito do projecto europeu SURE-Africa (Sustainable Urban Renewal: Energy Efficient Buildings for Africa), em
que participaram quatro instituições africanas: o Departamento
de Arquitectura da Universidade Agostinho Neto (Angola), a Escola Internacional de Artes do Mindelo (M-EIA, em Cabo Verde),
o Ministério das Infra-estruturas e Transportes da República da
Guiné-Bissau, e a Faculdade de Arquitectura da Universidade
Eduardo Mondlane (Moçambique), e três instituições académicas
europeias: o Instituto Superior Técnico (coordenador do projecto),
a Universidade de Cambridge (Reino Unido) e a Universidade de
Lund (Suécia).