Apocalipse Adam Clarke - John Wesley por Izilda Bella
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Apocalipse Adam Clarke - John Wesley por Izilda Bella
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Revelação de João, o Divino Adam Clarke Notas Cronológicas relativas a este Livro Ano da era Constantinopolitana do mundo, ou usado pelos historiadores Bizantinos, e outros escritores ocidentais, 5604 – Ano da era Alexandrina do mundo, 5509 – Ano da era Antioquiana do mundo, 5588 – Ano do mundo, de acordo com o Arcebispo Usher, 4100 – Ano do mundo, de acordo com Eusébio, em seu Chronicon, 4322 – Ano da era Judaica do mundo, ou aquela em uso comum, 3856 – Ano da era do Maior Rabínico do mundo, 4455 – Ano do Dilúvio, de acordo com o Arcebispo Usher, e a Bíblia Inglesa, 2444 – Ano da era Cali yuga, ou Indiana do Dilúvio, 3198 – Ano da era de Iphitus, ou desde os primeiros jogos Olímpicos, 1036 – Ano da era de Nabucodonosor, rei da Babilônia, 845 – Ano da ducentésima décima oitava Olimpíada, 4 – Ano da construção de Roma, de acordo com Fabius Pictor, 843 – Ano da construção de Roma, de acordo com Frontinus, 847 – Ano da construção de Roma, de acordo com Fasti Capitolini, 848 – Ano da construção de Roma, de acordo com Varro, que era mais geralmente usada, 849 – Ano da era de Seleucidae, 408 – Ano da era Caesareana de Antioquia, 144 – Ano da era Juliana, 141 – Ano da era Espanhola, 134 – Ano do nascimento de Jesus Cristo, de acordo com o Arcebispo Usher, 100 – Ano da era comum da natividade de Cristo, 96 – Ano de Pacorus II, rei de Partians, 6 – Ano do período Dionisiano, ou do Ciclo Pascal, 97 – Ano do Ciclo Greciano de dezenove anos, ou Número Dourado Comum, 18; ou ano antes do sétimo embolismico – Ano do Ciclo Solar, 21 – Cartas Dominicais, sendo o Bissexto - Dia da Páscoa Judaica, vinte e cinco de Março, que aconteceu neste ano, um dia antes do Sabbah Judaica – Domingo de Páscoa, vinte e sete de Março – Epacta, ou era da lua, em 22 de Março, (dia da primeira Páscoa possível), 11 – Epacta, de acordo com o modo presente de cálculo, ou da era lunar, no dia do Ano Novo, ou dos Calendários de Janeiro, 19 – Epactas Mensais, ou era lunar, nos calendários da cada mês respectivamente, (começando com Janeiro), 19, 21, 22, 23, 24, 26, 26, 27, 29, 29 – Número de direção, ou o número de dias do vigésimo-primeiro de Março até a Páscoa Judaica, 3 – Ano do Imperador Flavio Domitiano César, o último desses usualmente denominado Os Doze Césares, 15: Nerva começa seu reino neste ano – Roman Consuls, C. Antistitus Vetus, e C, Maulius Valens. 1 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO I O prefácio deste livro e a promessa, àqueles que o lerem, 1-3, João endereça às sete Igrejas da Ásia, cujo alto chamado, ele especialmente menciona; e mostra a rápida vinda de Cristo, 4-8. Menciona seu exílio em Patmos, e a aparição do Senhor Jesus a ele, 9-11. De quem ele dá a mais gloriosa descrição, 12-18. A ordem para escrever o que ele viu, e a explicação das sete estrelas e dos sete candelabros dourados, 19, 20. Notas sobre o Capítulo I A Revelação de João, o divino. A este livro as inscrições são várias. “A Revelação – A Revelação de João – De João, o divino – de João, o divino e evangelista – A Revelação de João, o apóstolo e evangelista – A Revelação do santo e glorioso apóstolo e evangelista, o amado virgem João, o divino, do que ele viu na Ilha de Patmos – A Revelação de Jesus Cristo, dada a João, o divino”. Essas diversas inscrições são merecedoras de pouca consideração; o primeiro verso contém o título do livro. 1:1 - A REVELAÇÃO de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo; A Revelação de Jesus Cristo – A palavra apokaluyiv, do qual nós temos a nossa palavra Apocalipse, significa literalmente, revelação, ou descoberta do que estava oculto ou escondido. É dito aqui que esta revelação ou descoberta das coisas escondidas foi dada por Deus a Jesus Cristo; que Cristo a deu a seu anjo; que este anjo a mostrou a João; e que João a enviou às Igrejas. Assim, nos certificamos de que ela veio de Deus a Cristo; de Cristo ao anjo; do anjo a João; e de João à Igreja. Ela é propriamente a Revelação de Deus, enviada por esses vários agentes para seus servos, livremente; e este é o próprio título do livro. As coisas que devem brevemente acontecer – De acordo com a interpretação de Wetstein, isto está claro; porque se o livro fosse escrito antes da destruição de Jerusalém e as profecias nele relatassem aquela destruição, e as guerras civis em meio aos Romanos, que duraram três ou quatro anos, então seria dito que a Revelação trata de coisas que devem brevemente acontecer. Mas se considerarmos o livro como se referindo ao estado da Igreja, em todas as épocas, as palavras aqui, e aquelas no versículo 3, devem ser entendidas como do início dos eventos preditos; como se ele tivesse dito: Em pouco 2 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE tempo, essa série de visões será posta em movimento: -- et incipient magni procedere menses. “E aqueles tempos, abundantes, com os mais estupendos eventos, começarão a acontecer”. 1:2 - O qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto. Quem revela o registro da palavra de Deus - Existe uma referência aqui ao primeiro capítulo do evangelho de João, - no início era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, etc...? Desta Palavra, João testemunhou. Ou, o escritor quer dizer a fidelidade com que ele anotou e relatou a palavra, doutrinas ou profecias, que recebeu naquele tempo, pela revelação de Deus? Isto parece mais consistente com a última parte do versículo. 1:3 – Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo. Abençoado é aquele que lê – Isto deve ser entendido da felicidade ou segurança das pessoas que, lendo ou ouvindo das profecias - daquelas coisas que deveriam acontecer brevemente, tomaram providências apropriadas para escaparem dos males iminentes. O tempo está à mão – No qual, elas deverão ser todas cumpridas, ou começarem a ser cumpridas. Veja a nota no versículo 1. Esses três versos contêm a introdução; agora a dedicatória às sete igrejas começa. 1:4 – João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do seu trono; De João, para as sete Igrejas – O apóstolo começa isto, como os profetas judaicos. Eles frequentemente nomeiam a si mesmos nas mensagens que recebem de Deus, para entregarem ao povo; ou seja, “A visão de Isaias, filho de Amós, que ele teve, concernente Judá e Jerusalém”. “As palavras de Jeremias, o filho de Hilquias; a quem a palavra do Senhor veio. “A palavra do Senhor veio expressamente junto a Ezequiel, o sacerdote”. “A palavra do 3 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Senhor veio a Joel”. “As palavras de Amós, que estava em meio aos pastores de Tecoa”. “Na visão de Obadia; assim diz o Senhor”. “A palavra do Senhor a Jonas”. Assim, “A Revelação de Jesus Cristo que ele enviou e transmitiu ao seu servo João”. “ De Joã, para as sete Igrejas”. Etc. A Ásia aqui mencionada é a chamada de Ásia Menor, ou a Ásia Lidiana, ou Proconsular; as sete Igrejas, aquelas de Efésio, Smyrna, Pergamos, Tiatira, Sardes, Filadélfia, e Laodicéia. Dessas, como elas ocorrem. Não devemos supor que elas eram as únicas Igrejas cristãs, então, na Ásia Menor; havia outras, então, em Phrygia, Pamphylia, Galatia, Pontus, Capadócia, etc. Mas essas sete eram aquelas que se encontravam mais próximas do apóstolo, e estavam mais especificamente sob seus cuidados. Embora a mensagem fosse enviada para as Igrejas em geral, e, talvez, diga respeito a todo o mundo cristão. Mas o número sete pode ser usado aqui como o número da perfeição; como os hebreus usam os sete nomes dos céus, os sete nomes da terra, os sete patriarcas, os sete sóis, as sete espécies, os sete anos, sete meses, sete dias, etc.; em que os rabinos encontram uma grande variedade de mistérios. Graça seja com vocês – Esta forma de bênção apostólica, temos visto frequentemente nas epístolas precedentes. Daquele que é, e que foi, e que será – Esta fraseologia é puramente judaica, e provavelmente tomada do Tetragramatom, hwhy, Yehovah; que, se supõe, inclui em si mesmo todo o tempo passado, presente e futuro. Mas eles frequentemente usam a frase do qual o wn, kai, o hm, kai o ercomenov, do apóstolo, é uma tradução literal. Assim, no Sohar Chadash: “Rabino José diz: Pelo nome Tetragramatom (por exemplo: hwhy Yehovah) as maiores e menores regiões, os céus e terra, e tudo que eles contêm, eram perfeitos; e todos estão diante Dele, como nada: Ele Era, e É, e Será. Assim, em Shemoth Rabba, séc. 3: “O santo e abençoado Deus disse a Moisés: diga a eles: Eu Fui, Eu Sou agora, e Serei”. Em Chasad Shimuel, Rab. Samuel ben David pergunta: Por que somos ordenados a usar três horas de oração? Resposta: Essas horas foram recomendadas pelo santo Deus abençoado; aquele que Foi, que É; e Será A oração da Manhã aponta para aquele que Existia antes da criação do mundo; do Meio-dia, para aquele que É; e a da Noite, para aquele que Será. Esta fraseologia é bastante apropriada e expressa fortemente a eternidade de Deus; porque temos nenhuma outra idéia de tempo, do que passado, ou agora existindo, ou ainda para existir; nem temos qualquer idéia de eternidade, mas daquela duração chamada pelos aeternitas, a parte ante, a eternidade que havia antes do tempo, e aeternitas, a parte posterior, a duração eterna que existirá, quando o tempo não mais existir. Aquele que Foi, é a eternidade antes do 4 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE tempo; aquele que É; é o próprio tempo; e aquele que Será, é a eternidade que existirá, quando o tempo não mais existir. Os sete Espíritos – diante de seu trono – Os anciãos judeus, que simbolizaram o trono de Deus, como o trono de um monarca oriental, supuseram que havia sete anjos ministrando diante do trono, já que havia sete ministros, atendendo no trono do monarca da Pérsia. Temos uma ampla prova disto, Tobit 12:15 – Eu sou Rafael, um dos Sete Anjos Santos que apresenta as orações dos santos, e que entra e sai diante da glória do Altíssimo. E no Targum de Jonathan ben Uzziel, Gênesis 11:7: Deus disse para os Sete Anjos que permanecem diante dele, venham agora, etc... Em Pirkey Eliezer, 4 e 7: “Os anjos que foram os primeiros ministros criados, diante dele, sem o véu”. Algumas vezes, eles os representam como sete coortes ou tropas de anjos, sob os quais estão trinta ordens inferiores. Que os sete Anjos estão aqui significados, e não o Espírito Santo, é mais evidente do lugar, do número, e da tradição. Aqueles que imaginam que se trata do Espírito Santo supõem que o número sete é usado para denotar seus múltiplos dons e graças. Que esses sete espíritos são anjos, veja o capítulo 3:1; 4:5; e, especialmente, 5:6, onde eles são chamados de os sete espíritos de Deus, Enviados a Toda a Terra. 1:5 – E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, A fiel testemunha – O verdadeiro professor, cujo testemunho é infalível, e cujos dizeres devem todos acontecer. O primogênito dos mortos – Veja a nota em Colossenses 1:18 “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência”. [Ele é o cabeça do corpo – O que o apóstolo disse nos dois versículos precedentes – Em Colossenses, refere-se à natureza Divina de Jesus Cristo; ele agora prossegue, para falar de sua natureza humana, e mostrar quão altamente ela é exaltada, além de todas as coisas criadas, e como, nisto, ele é cabeça da Igreja – o autor e distribuidor de luz, vida, e salvação para o mundo cristão; ou, em outras palavras, que ele, como o homem em quem a plenitude da Divindade corporeamente habita, toda a misericórdia e salvação do sistema Evangélico 5 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE devem ser recebidas. O início, o primeiro criado dos mortos - Em I Coríntios 15:20, Cristo é chamado de as primícias daqueles que dormem; e, aqui, o chefe e primeiro nascido dos mortos; ele sendo o primeiro que alguma vez reassumiu a vida natural, com o emprego de todas as suas funções, para nunca mais entrar no império da morte, depois de uma morte natural, e em tais circunstâncias, impedir a possibilidade de decepção. O arquiteto, o chefe, o cabeça, ou primeiro, responde neste verso ao aparch, ou primícias: I Coríntios 15:20. Jesus Cristo não é apenas o primeiro a se erguer dentre os mortos, para não mais morrer, mas as primícias dos seres humanos; porque, uma indicação e garantia da colheita, assim certamente foi a ressurreição de Cristo a prova de que toda a humanidade teria de uma ressurreição dentre os mortos. Quem em tudo – ele teria a preeminência – Que ele seria considerado, em conseqüência de seu ofício mediatório, como possuindo o primeiro lugar, e sendo líder sobre toda a criação de Deus; por isto, é de se admirar que a natureza humana, com a qual o grande Criador condescendeu unir-se, pudesse inspecionar todas as obras de suas mãos]. O príncipe dos reis – O líder ou cabeça, de todos os potentados terrenos, e que estão sob seu domínio e controle e podem dispor deles conforme sua vontade. Junto àquele que nos amou – Isto daria início a um novo versículo, já que é o começo de um novo assunto. Nossa salvação é atribuída ao amor a Deus, que nos deu seu Filho; e ao amor de Cristo, que morreu por nós. Veja João 3:16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Lavou nossos pecados – A redenção da alma, com a remissão dos pecados, e purificação dos iníquos, está aqui, como em todo o Novo Testamento, atribuída ao sangue de Cristo, derramado na cruz, pelo homem. 1:6 – E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém. Os reis e sacerdotes – Veja em I Pedro 2:5,9 – “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. - Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Mas, em vez de basileiv kai iereiv, reis e sacerdotes, as mais 6 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE respeitáveis versões, e patriarcas têm basileian iereive, um reino e sacerdotes; ou seja, um reino de sacerdotes, ou um sacerdócio real. As distinções régias e sacerdotais são as duas mais altas que podem possivelmente existir entre os homens; e essas duas estão aqui mencionadas para mostrar as gloriosas prerrogativas e estado dos filhos de Deus. A ele seja a glória – Ou seja, a Cristo; porque é dele que o profeta fala, e de nenhum outro. Para sempre e sempre – De eras a eras; ou antes, através de todos os períodos indefinidos; através de todo o tempo, e eternidade. Amém – Uma palavra de afirmação e aprovação; de maneira que isto será e deverá ser. 1:7 – Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém. Observe, ele vem com as nuvens – Isto relata sua vinda para executar o julgamento sobre os inimigos de sua religião; talvez, destruir Jerusalém, já que ele deverá ser especialmente manifesto a eles que o perfuraram, o que deve significar os judeus incrédulos e rebeldes. E todas as famílias da terra. Todas as tribos da terra. Através disto, o povo judaico é o mais evidentemente pretendido, e, portanto, todo o verso pode ser entendido, como predizendo a destruição dos judeus; e é uma prova presumível que o Apocalipse foi escrito antes da derrota final do estado judaico. Mesmo assim, Amém – Amém – Sim, Amém. É verdade, assim é. Nosso Senhor virá e executará o julgamento sobre os judeus e gentios. Isto os judeus e romanos especialmente sentiram. 1:8 – Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso. Eu sou o Alfa e o ômega – Eu sou de eternidade a eternidade. Este modo de discurso é emprestado dos judeus, que expressam todo o compasso das coisas por aleph e t tau, a primeira e última letras do alfabeto hebraico; mas como João escrevia em Grego, ele acomoda o todo do alfabeto grego, do qual o 7 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE alfa e w ômega são a primeira e última letras. Com os rabinos, “do alfa ao ômega”, expressava o todo de um assunto; do começo ao fim. Assim, em Yacult Rubeni: Adão transgrediu o todo da lei, do alfa ao ômega; do começo ao fim. Abraão observou a lei, do alfa ao ômega; ele a manteve inteiramente, do começo ao fim. Quando o santo Deus abençoado proferiu uma bênção aos israelitas, ele o fez do alfa e ômega; ele o fez perfeitamente. O começo e o fim – Ou seja, como o alfa é o início do alfabeto, assim eu sou o autor e a causa de todas as coisas; como o ômega é o fim, ou última letra do alfabeto, então, eu sou o fim de todas as coisas, o destruidor, assim como aquele que estabelece todas as coisas. Este parágrafo está faltando em quase toda MS e versão de importância. Ele parece ter sido acrescentado, primeiro, como uma nota explicativa, e no decorrer do tempo, moveu-se para dentro do texto. Griesbach o deixou fora do texto. É merecedor de observação, que como a união de um aleph e t tau em Hebraico fazem ta eth, que os rabinos interpretam da primeira matéria do qual todas as coisas foram formadas (veja Gênesis 1:1), então, a união de um alfa e w, ômega, em grego, cria o verbo aw, Eu respiro, e pode muito propriamente, tal livro simbólico, indicar a Ele, em quem vivemos, e nos movemos, e temos nossa existência; porque, tendo formado o homem do pó da terra, ele respirou em suas narinas o fôlego da vida, e ele se tornou uma alma vivente; e é através da inspiração de seu Espírito que as almas dos homens são vivificadas, tornam-se vivas da morte, e adequadas para a vida eterna. Ele acrescenta também que ele é o Altíssimo, o todo poderoso criador do universo e o insuflador da força divina nos homens. 1:9 – Eu, João, que também sou vosso irmão, e companheiro na aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo. Seu irmão – Um cristão, criado de Deus, e incorporado na família celeste. Companhia na tribulação – Sofrendo, sob a perseguição a qual você também sofre. No reino – Porque nós somos um reino de sacerdotes junto a Deus. E a perseverança de Jesus – Semanalmente suportando todas as indignidades, privações e sofrimentos, por amor a Ele, e seguindo o exemplo de nosso Senhor e Mestre. 8 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A ilha que é chamada de Patmos – Esta ilha é uma das Espórades, e se situa no mar Ageu, entre a Ilha de Icaria e o promontório de Mileto. Ela é agora chamada Pactino, Patmol ou Palmosa. E toda sua celebridade se deve, por ser o local para onde João foi banido, por um dos imperadores romanos; se Domitiano, Claudius ou Nero, não se chega a um acordo, mas mais provavelmente foi o último. A ilha tem um convento sobre uma colina bem fortificada, dedicada a João, o apóstolo; os habitantes somam trezentos homens e por volta de vinte mulheres para cada homem. Ela é muito estéril, produzindo muito pouco grão, mas abundando em perdizes, codornas, tartarugas, pombos, narceja, e coelho. Ela tem muitos bons ancoradouros, e muito infestada por piratas. Patmos é a capital e principal ancoradouro. Toda a ilha tem por volta de trinta milhas na circunferência. Para o testemunho de Jesus Cristo – Para pregar o Cristianismo, e converter os pagãos ao Senhor Jesus. 1:10 – Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, Eu estava no Espírito – Ou seja, eu recebi o Espírito da profecia, e estava sob sua influência, quando a primeira visão foi exibida. O dia do Senhor – O primeiro dia da semana, observado como o Sabbah cristão, porque nele, Jesus Cristo ressuscitou dos mortos; portanto, foi chamado de o dia do Senhor, e tem tomado lugar no Sabbah judaico, no mundo cristão. E ouvi atrás de mim, uma grande voz – Esta voz veio inesperada e subitamente. Ele se sentiu sob a insuflação Divina; mas não sabia quais cenários seriam apresentados. Como de uma trombeta – Isto foi calculado, para que todo pensamento divagante fixasse sua atenção, e solenizasse toda sua estrutura. Assim, Deus preparou Moisés para receber a lei. Veja Êxodos 19:16, 19 em diante. “E aconteceu que, ao terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte, de maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial... E o sonido da buzina ia crescendo cada vez mais; Moisés falava, e Deus lhe respondia em voz alta”. 9 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 1:11- Que dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia. Eu sou o Alfa e Omega, o primeiro e o último: -- Todo este parágrafo está faltando no ABC, e trinta e um, outros; algumas edições; a Siríaca, Cóptica, Etiópiana, Armeniana, Eslavônica, Vulgata, Arethas, Andréas, e Primasius. Griebasch o deixou fora do texto. Dizendo - O que tu vês, escreve no livro – Cuidadosamente anota cada coisa que é apresentada a ti. João teve as visões do céu; mas ele as descreveu em sua própria linguagem e maneira. Envia às sete Igrejas – Cujos nomes, imediatamente se seguem. Na Ásia. Isto esta faltando nos principais manuscritos, e versões. Griesbach deixou isto fora do texto. Éfeso - Esta era uma cidade de Ionia, na Ásia Menor, situada na boca do rio Cayster, na costa do mar Egeu, cerca de cinqüenta milhas ao sul de Esmirna. Veja prefácio para a Epístola aos Efésios. Esmirna – Agora também chamada de Ismir, é a mais ampla e mais rica cidade da Ásia Menor. Está situada, cerca de cento e oitenta e três milhas a oeste, pelo sul de Constantinopla, na costa do Mar Egeu. Supõe-se que contenha aproximadamente cento e quarenta mil habitantes, dos quais, quinze a vinte mil gregos, seis mil armeninanos, cinco mil Católicos Romanos, cento e quarenta Protestantes, cento e dez mil judeus, e cento e quinze mil turcos. É uma bonita cidade, mas frequentemente devastada pela praga, e, raramente, dois anos consecutivos livre dos terremotos. Em 1758, a cidade foi quase assolada pela praga; escassamente um número suficiente de habitantes sobreviveu para armazenar os frutos da terra. Em 1688, houve um terrível terremoto aqui, que destruiu grande número de casas; em um dos abalos, a rocha, sobre a qual o castelo se situava, abriu-se, tragou o castelo e cinco mil pessoas! Nada, ao não ser o amor ao ganho, tão natural ao homem, induziria alguma pessoa a fazer sua residência lá; embora, em outros aspectos, possa vangloriar-se de muitas vantagens. Nesta cidade, os turcos têm dezenove mesquitas; os gregos, duas igrejas; os arminianos, uma; e os judeus, oito sinagogas; e as feitorias inglesas e alemãs têm cada, um capelão. Esmirna está a cem milhas ao norte da ilha de Rhodes. 10 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Pérgamo - Uma cidade da Misia, situada no rio Caicus. Foi residência real de Eumenes, e os reis da família de Attali. Antigamente foi famosa por sua biblioteca que, de acordo com Plutarco, continha duzentos mil volumes. Foi aqui que os Pergaminhos de membrana e de peles foram inventados; dos quais derivamos nossa palavra “parchment”, pergaminho. Pérgamo foi o berço de Galeno; e nele P. Scipio morreu. Ela agora é chamada de Pérgamo ou Bérgamo. Tiatira – Agora chamada Akissat e Ak-kissar, uma cidade da Natólia, na Ásia Menor, situada no rio Hermus, em uma planície dezoito milhas de largura, e está por volta de cinqüenta milhas de Pérgamos. As casas são principalmente construídas de barro, mas as mesquitas são todas de mármore. Muitas inscrições antigas notáveis foram descobertas neste lugar. Sardes – Agora chamada de Sardo e Sart, uma cidade da Ásia, em Natólia, aproximadamente quarenta milhas leste de Esmirna. Está situada ao lado do monte Tímolus, e foi uma vez a capital dos reis Lidianos, e aqui Croesu reinou. Ela é agora um vilarejo pobre e insignificante. Filadélfia – Uma cidade de Natólia, situada aos pés do monte Tímolus, pelo rio Cogamus. Foi fundada por Attalus Fhiladelphus, irmão de Eumenes, de quem seu nome se derivou. Ela agora é chamada Alah-sheker, e cerca de quarenta milhas de Esmirna. Laodicéia – Uma cidade da Firígia, no rio Lycus; primeiramente denominada Dióspolis, ou a cidade de Júpiter. Foi construída por Antiochus Theos, e chamada segundo seu conseorte Laodice. Veja nota em Colossenses 2:1. 1:12 – E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi sete castiçais de ouro; E eu me virei - Porque ouviu a voz por detrás dele. Para ver a voz; ou a pessoa de quem a voz provinha. Sete castiçais dourados – Sete lâmpadas douradas. É absurdo dizer, uma prata dourada, ou castiçal de bronze. Essas sete lâmpadas representaram as sete Igrejas, nas quais a luz de Deus estava continuamente brilhando, e o amor de Deus, continuamente queimando. E elas foram aqui representadas como dourado, para mostrar quão preciosas, eram às vistas de Deus. Esta é uma referência ao templo em Jerusalém, onde havia um 11 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE castiçal ou candelabro de sete hastes; ou antes, seis; três se esticando de cada lado, e um no centro. Veja Êxodo 25: 31-37. “Também farás um candelabro de ouro puro; de ouro batido se fará este candelabro; o seu pé, as suas hastes, os seus copos, os seus botões, e as suas flores serão do mesmo. E dos seus lados sairão seis hastes etc...”. Esta referência ao templo parece insinuar que o templo de Jerusalém era um símbolo de toda a Igreja cristã. 1:13 – E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. Como junto ao Filho do homem – Esta parece uma referência a Daniel 7:13 - “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele”. Este era o próprio nosso abençoado Senhor. Vestido até os pés – Esta é a descrição do sumo sacerdote, em seus paramentos sacerdotais. Veja esses descritos, amplamente, nas notas sobre Êxodo 28:4 em diante., Jesus é nosso sumo sacerdote, mesmo no céu. Ele está ainda desobrigado das funções sacerdotais diante do trono de Deus. Com cinto dourado – O emblema da realeza e decoro sacerdotal. 1:14 – E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã – Este não era apenas uma símbolo de sua antiguidade, mas evidência de sua glória; porque o testemunho ou esplendor de sua cabeça e cabelos, sem dúvida, procedem dos raios de luz e glória que a circundavam, e lançados dela em todas as direções. O esplendor em torno da cabeça era denominado pelos Romanos, nimbo, e, por nós, uma glória; e era representado em redor das cabeças dos santos, e pessoas deificadas, e santas. Ele é usado da mesma maneira, através de todas as nações da terra. Seus olhos eram como uma chama. Para denotar sua onisciência, e toda natureza penetrante do conhecimento Divino. 12 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 1:15 – E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. Seus pés, como de fino metal – Um emblema de sua estabilidade e permanência; o latão, considerado o mais durável de todas as substâncias metálicas ou compostos. A palavra original, calkolibanon, significa o mais famoso aurichalcum, ou metal factício, que, de acordo com os Suidas [sacerdotes dedicados aos estudos], era eidov hiektrou, timwteron crusou, “um tipo de âmbar, mais precioso do que o ouro”. Parece ter sido uma composição de ouro, prata, e latão, e o mesmo que o latão Coríntio, tão altamente afamado e valorizado; porque quando Lucio Mummius tomou e queimou a cidade de Corinto, muitas estátuas destes três metais derreteram e, juntos, formaram a composição já mencionada, e que era mais considerado do que o ouro. Pode, no entanto, não significar mais do que cobre derretido, com lápis calaminaris, que o converte em latão; e a chama que procede do metal durante esta operação é uma mais intensa e intoleravelmente vívida que pode ser imaginada. Eu frequentemente tenho visto diversos fornos empregados nesta operação, e as chamas queimando, através da terra (porque esses fornos estão sob o solo), sempre chamado a lembrar esta descrição dada por João. Seus pés de fino latão, como se eles queimassem em uma fornalha; a propriedade e exatidão, das quais, ninguém poderia duvidar, e cada um que viu esta operação deslumbrante, deve sentir o mesmo. Sua voz, como o som de muitas águas – A mesma descrição, encontramos em Ezequiel 40:2: A glória do Deus de Israel veio do oriente; e sua voz como o barulho de muitas águas: e a terra brilhou com sua glória. 1:16 – E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece. Em sua mão direita, sete estrelas – As estrelas foram mais tarde representadas como sete anjos, mensageiros, ou bispos das sete Igrejas. Estarem na mão direita de Cristo mostra que eles estão sob seu cuidado especial, e mais poderosa proteção. De sua boca, saiu uma espada afiada de dois gumes - Isto, sem dúvida, refere-se aos julgamentos prestes a serem proferidos por Cristo contra os judeus 13 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE rebeldes, e os romanos perseguidores; os julgamentos de Deus estavam exatamente agora sobre ambos. A espada afiada de dois gumes representaria a palavra de Deus, em geral, de acordo com os dizeres do apóstolo, Hebreus 4:12 “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”.: A palavra de Deus é viva e poderosa, mais afiada do que qualquer espada de dois gumes, perfurando até a divisão da alma e espírito, etc.., Também em Efésios 6:17 “Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”, é denominada a espada do Espírito. E seu semblante era como o brilho do sol em sua força – Sua face era como sol no dia mais brilhante do verão, quando não existem nuvens para diminuir o esplendor de seus raios. Forma similar é encontrada em Juízes 5:31: Que aqueles que o amam, sejam como o sol quando surge em sua força. E em Midrash, Yacult Simeoni: “Quando Moisés e Arão vieram e ficaram diante do Faraó, eles pareciam como o ministrar dos anjos; e a estatura deles, como os cedros do Líbano: - e as pupilas de seus olhos eram como o disco do sol; e suas barbas como as uvas de uma palmeira: e o esplendor de suas faces como o esplendor do sol”. 1:17 – E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último; E caiu aos seus pés, como morto – A aparência da glória do Senhor teve o mesmo efeito junto a Ezequiel (Ezequiel 1: 28). E a de Gabriel, em Daniel (Daniel 8:17). O terrível esplendor de tal majestade foi mais do que o apóstolo poderia suportar, e ele caiu privado de seus sentidos, mas logo foi capaz de observar a visão, através de uma transmissão de força da mão direita do Senhor. 1:18 – E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno. Eu sou aquele que vive, e estava morto – Eu sou Jesus, o salvador, que, embora fonte de vida, morreu pela humanidade; e, ressuscitado dentre os mortos, não mais morrerei, o grande sacrifício está consumado. E tenho as chaves da morte e sepultura, de maneira que posso destruir o vivo e ressuscitar o morto. -- A chave aqui significa o poder e autoridade sobre a vida, morte e sepultura. Esta também é uma forma rabínica de discurso. No Targum de Jerusalém, sobre Gênesis 30:22, encontramos: “Essas são quatro chaves nas mãos de Deus, que ele nunca confiou a anjo ou serafim . 1. A chave da chuva; 14 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 2. A chave da provisão; 3. A chave da sepultura; e 4. A chave do ventre estéril”. Em Sanhedrin, está escrito: “Quando o filho da mulher de Sarepta morreu, Elias pediu que a ele fosse dada a chave da ressurreição. Eles lhe disseram que três são chaves que não são dadas na mão do apóstolo, a chave da vida, a chave da chuva, e a chave da ressurreição”. Desses exemplos, é evidente que podemos entender adth, hades, não como inferno, nem o lugar dos espíritos separados, mas como sepultura; e a chave, meramente como símbolo de poder e autoridade. Cristo pode salvar e destruir; matar e vivificar. A morte está sob seu domínio, e ele pode revocar a morte, quando lhe agradar. Ele é a ressurreição e a vida. 1:19 – Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer; Escreve as coisas que tu vês – Essas visões e profecias são para a instrução geral, e, portanto, toda circunstância deve ser fielmente registrada. O que ele viu foi o que ele deveria escrever; e o que ele estava prestes a ver, com respeito às sete Igrejas deveria ser também escrito; e registrado igualmente o que veria mais tarde sobre outras igrejas e estados. 1:20 – O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas. O mistério – Ou a explanação alegórica das sete estrelas são os sete anjos ou ministros das igrejas; e o significado alegórico das sete lâmpadas douradas são estas sete Igrejas. 1. Nas sete estrelas, deve aludir aos selos de diferentes ofícios, debaixo de potentados, cada um tendo seu selo específico, que autenticam todos os instrumentos daquele ofício; e como esses selos eram comumente colocados em anéis, usados nos dedos, devem aludir à esses brilhantes nos anéis, e usados na mão direita. Em Jeremias 22:24, Conias é representado como um sinete na mão direita do Senhor; e que tais sinetes estavam nos anéis, veja em Gênesis 38:18-15 “Então ele disse: Que penhor é que te darei? E ela disse: O teu selo, e o teu cordão, e o cajado que está em tua mão. O que ele lhe deu, e possuiu-a, e ela concebeu dele., etc..”; Daniel 6:17 “E foi trazida uma pedra e posta sobre a boca da cova; e o rei a selou com o seu anel e com o anel dos seus senhores, para que não se mudasse a sentença acerca de Daniel”; Ageu 2:23 “Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, tomar-te-ei, ó Zorobabel, servo meu, filho de Sealtiel, diz o Senhor, e far-te-ei como um anel de selar; porque te 15 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE escolhi, diz o Senhor dos Exércitos”. Num exame minucioso, certificamo-nos que todos os símbolos deste livro têm seu fundamento, tanto na natureza, fato, costume, quanto na opinião geral. Um dos selos da corte de Justiça hindu (cutchery) do falecido Tipoo Saib, com que ele selou todas as comissões daquele ofício, está agora diante de mim; ele é talhado em prata, na característica Taaleck, e a prata é colocada em um anel de ouro largo, pesado, mas asperamente manufaturado. 2. As Igrejas estão representadas por essas lâmpadas; e contêm óleo e fogo, e distribuem luz. Uma lâmpada não tem luz em si mesma; ela é apenas o instrumento de distribuição da luz, e deve receber o óleo e o fogo, antes de distribuir alguma luz; assim, nenhuma Igreja tem, em si mesma, graça ou glória, ela deve receber tudo de Cristo, sua cabeça, ou não poderá distribuir luz, nem vida. 3. Os ministros do Evangelho são sinetes ou selos de Jesus Cristo; ele os usa para estamparem sua verdade; para darem crédito a ela, e promoverem seu uso geral. Mas como o selo não pode fazer coisa alguma por si mesmo, exceto se através de uma mão adequada, então os ministros de Cristo não podem fazer o bem, selar alguma verdade, ou imprimir na alma, a menos que o dono maior permita o uso deles. 4. Quão cuidadosa deveria ser a Igreja que tem o óleo e a luz, para que ela continue a queimar e envie o conhecimento Divino! Em vão, alguma Igreja pretende ser a Igreja de Cristo, se não distribui a luz; se as almas não são iluminadas, vivificadas, e convertidas nela. Se Jesus caminha na luz, sua luz brilhará, clara e fortemente, e os pecadores se converterão a ele; e os membros daquela Igreja serão filhos da luz, e caminharão como filhos da luz e do dia, e não haverá oportunidade de tropeçarem. 5. Quão cuidadosos deveriam ser os ministros de Cristo em proclamarem e creditarem coisa alguma como verdade, a não ser aquilo que venha de seu mestre! Eles também deveriam cuidar para que, depois de terem pregado a outros, eles mesmos não sejam réprobos; a fim de que Deus não diga a eles o que disse a Conias: Vivo eu, diz o Senhor, embora Conias, que ainda que Conias, filho de Jeoiaquim, rei de Judá, fosse o anel do selo na minha mão direita, contudo dali te arrancaria. Por outro lado, se eles forem fiéis, o trabalho deles não será em vão, e sua segurança será grande. Aquele que os toca, toca a menina dos olhos de Deus, e nada será capaz de arrancá-los de sua mão. Eles são os anjos e 16 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE embaixadores do Senhor; serão pessoas sagradas; os mensageiros das Igrejas, e a glória de Cristo. Perdessem eles suas vidas na obra, seria uma entrada mais rápida na glória eterna. Quando mais rude o caminho, quanto mais curta sua estada, as preocupações que surgem gloriosamente apressarão suas almas para os céus. CAPÍTULO II A epístola à Igreja de Efésios, elogia o trabalho e paciência deles, 1-3. E, repreende por terem deixado seu primeiro amor, exortando-os ao arrependimento, com a promessa da árvore de vida, 4-7, A epístola à Igreja de Esmirna, elogia a piedade, e promete apóia-los em suas tribulações, 8-11. A epístola à Igreja de Pérgamo, elogia a firmeza na doutrina divina, 12, 13. E repreende a lassidão na disciplina eclesiástica, no tolerar professores heréges na Igreja, 14-15. O apóstolo os exorta a se arrependerem, com a promessa da pedra branca e um novo nome, 16,17. A epístola à Igreja de Tiatira, com um elogio à caridade, fé e paciência, 18,19. Repreendendo sua tolerância a Jezebel, a falsa profetiza, que é ameaçada com punição grave, 20-23. Exortações especiais e promessas a esta Igreja, 24-29. Notas sobre o Capítulo II Eu devo aqui advertir meus leitores. 1. Que eu não percebo qualquer significado metafórico ou alegórico nas epístolas a essas Igrejas. 2. Eu considero as Igrejas como reais; e seu estado espiritual está aqui real e literalmente apontado; e não se refere ao estado da Igreja de Cristo em todas as eras do mundo, como tem sido imaginado; e que a noção de que se denomina o estado Efésio, o estado Esmirniano, o estado Pergameniano, o estado Tiatiriano, etc.. etc... é infundada, absurda e perigosa; e tais exposições não devem ser mantidas por alguém que deseje chegar a um conhecimento sóbrio e racional das Santas Escrituras. 3. Eu considero o anjo da Igreja, como significando o mensageiro, o pastor, enviado por Cristo e seus apóstolos para ensinarem e edificarem aquela Igreja. 4. Eu considero o que é falado a este 17 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE anjo, como falado a toda a Igreja; e que não é seu estado particular que é descrito, mas os estados das pessoas em geral, sob seus cuidados. A epístola à Igreja de Efésios. 2:1 – ESCREVE ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Ao anjo da Igreja de Efésios – Por aggelov, anjo, nós entendemos o mensageiro, ou pessoa enviada por Deus, para presidir sobre esta Igreja; e a ele a epístola é dirigida, não apontando seu estado, mas o estado da Igreja sob seus cuidados. O anjo da Igreja aqui responde exatamente àquele oficial da sinagoga, em meio aos judeus, chamado de rwbyx jyl• sheliach tsibbur, o mensageiro da Igreja, cuja ocupação é ler, orar, e ensinar na sinagoga. A Igreja em Efésios é a primeiro endereçada, como sendo o local onde João principalmente residiu; e a própria cidade foi a metrópole daquela parte da Ásia. O anjo ou bispo, nesta época, foi mais provavelmente Timóteo, que presidiu sobre aquela Igreja, antes que João residisse lá, e quem se supõe ter continuado naquele ofício, até 97 d.C., e ter sido martirizado pouco tempo antes do retorno de João de Patmos. Mantém as sete estrelas – Quem especificamente preserva, e guia, e sustém, não apenas os ministros daquelas sete Igrejas, mas todos os ministros genuínos de seu Evangelho, em todas as épocas e lugares. Caminha no meio dos sete castiçais dourados – Refere-se ao Bispo supremo e Cabeça, não apenas daquelas Igrejas, mas de todas as Igrejas ou congregações de seu povo, através do mundo. 2:2 – Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. Eu conheço tuas obras – Porque os olhos do Senhor estão por toda a terra, observando o mau e o bom; e, sendo onipresente, todas as coisas estão continuamente abertas e expostas diante dele. É merecedor de observação, que o que quer que seja louvável em alguma dessas Igrejas, é primeiro mencionado; assim, sugerindo que Deus está mais atento em certificar-se do bem, do que do mal, em alguma pessoa da Igreja; e que aqueles que desejam reformar tais que caíram ou não avançaram o suficiente na vida Divina, devem aproveitar a 18 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE oportunidade, do bem que ainda resta, para encorajá-los a se porem a caminho novamente para o reino dos céus. Os caídos ou apóstatas que têm alguma ternura de consciência restante são facilmente desencorajados, e estão aptos a pensar que não existe semente restante da qual alguma colheita pode ser razoavelmente esperada. Que a tais seja dito que ainda existe uma semente de bondade remanescente, e que isto requer apenas observarem e fortalecerem as coisas que restam, pela pronta aplicação a Deus, através de Cristo, com o objetivo de trazê-los de volta ao completo desfrute de tudo que perderam, e renová-los no espírito de suas mentes. Os ministros, que continuamente tocam em sua harpa, Vocês estão mortos, vocês estão mortos; existe pouca ou nenhuma cristandade entre vocês, etc.. etc.., são um contágio na Igreja, e espalham desolação e morte onde quer que vão. É melhor dizer, em tais casos: “Vocês perderam o chão, mas não perderam todo seu chão; vocês poderiam ter avançado muito mais, mas, através da misericórdia, ainda estão no caminho. O Espírito de Deus afligiu-se por causa de vocês, mas é evidente que não os abandonou. Vocês não caminharam na luz, como deveriam, mas seu candelabro ainda não foi removido, e a luz ainda brilha. Vocês não têm muito zelo, mas ainda têm um pouco. Em resumo, Deus ainda luta por vocês, ainda os ama, ainda espera ser gracioso para com vocês; encorajem-se, ponham-se a caminho novamente, venham para Deus, através de Cristo; creiam, amem, obedeçam, e vocês logo encontrarão dias mais abençoados do que vocês alguma vez já experimentaram”. Exortações e encorajamentos deste tipo certamente produzem efeitos mais abençoados; e sob tais, a obra de Deus infalivelmente revive. E tua luta – Ele conhecia as obras deles em geral. Embora tivessem deixado seu primeiro amor, ainda assim, havia tanto amor, de maneira a motivá-los no trabalho, e capacitá-los a suportarem a perseguição, pacientemente, e manterem a fé; já que não podiam tolerar homens pecaminosos, e colocaram os falsos apóstolos em prova, e se certificaram de que eram mentirosos, pretendendo uma autoridade Divina, enquanto tinham nenhuma, e ensinando falsas doutrinas, como se fossem verdades de Deus. 2:3 – E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. E suportaste – As mesmas coisas mencionadas no versículo precedente, mas em uma ordem invertida, a razão específica não aparece; talvez, fosse pretendido mostrar mais forçosamente para esta Igreja, que não havia bem que 19 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE tivessem feito, nem mal que tivessem sofrido, que fossem desprezados diante de Deus. E não te cansaste – Eles devem, portanto, ter uma porção considerável deste amor remanescente, ou não poderiam ter agido assim. 2:4 – Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Não obstante, eu tenho alguma coisa contra ti – O parágrafo poderia ser lido, de acordo com o Grego, desta forma: Mas eu tenho contra ti, que tu perdeste teu primeiro amor. Eles não retiveram aquela afeição forte e ardente por Deus e as coisas sagradas, que eles tinham, quando primeiro trazidos para o conhecimento da verdade, e justificados pela fé em Cristo. 2:5 – Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres. Lembra-te – Considerem o estado da graça em que vocês uma vez estiveram; a felicidade, amor e alegria que vocês sentiram, quando receberam remissão dos pecados; o zelo que vocês tiveram pela glória de Deus, e salvação da humanidade, seu espírito disposto, obediente, sua alegre abnegação; seu fervor nas orações privadas, seu desinteresse pelo mundo, e sua inclinação divina. Lembrem-se – Considera tudo isto. Por isto, caíste – Caíram de todas essas disposições abençoadas e sentimentos graciosos já mencionados. Ou lembrem-se qual a perda, suportaram; porque assim a palavra ekpiptein é frequentemente usada pelos melhores escritores gregos. Arrependa-te – Sejam profundamente humildes diante de Deus, por terem assim cuidadosamente guardado o tesouro Divino. Faze as primeiras obras – Retomem seu zelo e diligência, anteriores; vigiem, jejuem, orem, reprovem o pecado, cuidadosamente atendam todas as ordenanças de Deus, caminhem como em sua luz, e não descansem, até que tenham recuperado todo o chão perdido, e tenham de volta a evidência de sua aceitação com seu Criador. 20 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Brevemente virei a ti – No julgamento. E removerei de ti o candelabro – Tirarei minhas ordenanças, removerei seus ministros, e os enviarei à penúria do mundo. Como existe aqui uma alusão ao candelabro no tabernáculo e templo, que não poderia ser removido, sem suspender todo o serviço Levítico, então, a ameaça aqui sugere que, se eles não se arrependessem, etc.. eles ficariam sem Igreja; não mais teriam um pastor, não mais teriam a obra e sacramentos, e não mais a presença do Senhor Jesus. 2:6 – Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio. Os feitos dos Nicolaitas – Esses eram, como se supõe comumente, uma seita de Gnósticos, que ensinavam as doutrinas, e seguiam as práticas mais impuras. Supõem-se também que se originaram de Nicolau, um dos sete diáconos mencionados em Atos 6:5 “E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia”. Os Nicolaítas ensinavam à comunidade de viúvas, que o adultério e fornicação eram coisas indiferentes, que comer carne oferecida a ídolos era completamente lícito; e misturavam diversos ritos pagãos com as cerimônias cristãs. Agostinho, Irineus, Clemente Alexandrino e Tertuliano falaram largamente com respeito a eles. Veja mais em meu prefácio a II Pedro, onde estão diversas particularidades, concernentes a esses heréticos. 2:7 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus. Àquele que tem ouvido – Que toda pessoa inteligente, e todo cristão, atendam cuidadosamente ao que o Espírito Santo, nesta e nas epístolas seguintes, diz às Igrejas. Veja a nota sobre Mateus 11:15, onde a mesma forma de discurso ocorre. Àquele que conquista – Àquele que continua firme na fé, e não corrupto em sua vida; que fielmente confessa Jesus, e nem embebe as doutrinas, nem é conduzido para fora, pelo erro do iníquo; eu darei de comer da árvore da vida. Como aqueles que venciam seus inimigos tinham geralmente, não apenas grande honra, mas também, uma recompensa; assim aqui uma grande recompensa é prometida ao vencedor: e assim como nos jogos gregos, aos quais pode haver uma alusão, quando o vencedor era coroado com as folhas de 21 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE alguma árvore, aqui está prometido que eles comeriam do fruto da árvore da vida, que está no centro do paraíso de Deus; ou seja, que eles teriam uma imortalidade feliz e gloriosa. Aqui existe também uma alusão à Gênesis 2:9; onde é dito que Deus fez a árvore da vida crescer no meio do jardim; e muito provavelmente que, comendo do fruto desta árvore, a imortalidade de Adão estava assegurada, e dependia. Quando Adão transgrediu, ele foi expulso deste jardim, e não mais permitido comer da árvore da vida; consequentemente tornou-se necessariamente mortal. Esta árvore, em todos os seus efeitos sacramentais, está assegurada e restaurada para o homem, pela encarnação, morte e ressurreição de Cristo. A árvore da vida é frequentemente falada, pelos rabinos; e eles geralmente se referem à imortalidade da alma, e a um estado final de bem-aventurança. Veja muitos exemplos em Schoettgen. Eles também falam de um paraíso celestial e terrestre. O primeiro, eles dizem, “é para a recepção das almas do perfeito justo; e difere muito do paraíso terreno, como a luz da escuridão”. A Epístola à Igreja de Esmirna 2:8 – E ao anjo da igreja que está em Esmirna, escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto, e reviveu: Ao anjo – Este foi provavelmente o famoso Policarpo. Essas coisas dizem do primeiro e último – Aquele que é eterno; de quem todas as coisas provém, e para quem todas as coisas retornam. O que estava morto, para a redenção do mundo; e está vivo para nunca mais morrer, sua humanidade gloriosa, entronizada à mão direita do Pai. 2:9 – Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. Eu conheço tuas obras – Como ele havia falado à Igreja precedente, então, ele fala a esta: Eu sei tudo que vocês têm feito, e tudo que têm sofrido. A tribulação aqui mencionada pode significar perseguição, tanto pelos judeus, pagãos, ou heréticos, que, por causa de suas doutrinas excessivamente indulgentes teriam feito muitos partidários em Esmirna. 22 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E pobreza – Desprovidos provavelmente de todas as posses temporais, devido à ligação com o Evangelho. Mas tu és rico – Ricos na fé, e herdeiros do reino de Cristo. A blasfêmia dos que se dizem judeus – Eles eram pessoas que professavam o Judaísmo, tinham uma sinagoga, e diziam adorar ao Deus verdadeiro; mas não possuíam a religião genuína, e serviam ao diabo. Eles aplicavam um nome sagrado a uma coisa impura: e este é um dos significados da palavra blasfêmia neste livro. 2:10 – Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Teme nada das coisas que tu sofres – Isto pode estar endereçado especificamente a Policarpo, se bispo daquela Igreja, naquela época. Ele teria muito que sofrer; e foi, por fim, queimado vivo em Esmirna, por volta do ano 166, de nosso Senhor. Nós temos um relato muito antigo de seu martírio que foi traduzido por Cave, e é merecedor de leitura atenta. Este relato diz que os judeus foram particularmente ativos neste martírio, e trouxeram os galhos, etc.., através dos quais ele foi consumido. Tais pessoas devem, de fato, ter sido da sinagoga de satanás. Dez dias – Como os dias neste livro são o que é comumente chamado dias proféticos, cada um correspondendo a um ano, os dez anos de tribulação podem significar dez anos de perseguição; e este foi precisamente a duração da perseguição sob Diocleciano [Gaius Aurelius Valerius Diocletianus ou Caio Aurélio Valério Diocleciano (236 — 305 d.C.)], durante o qual todas as Igrejas asiáticas foram gravemente afligidas. Outros entendem a expressão como implicando freqüência e abundância, como em outras partes das Escrituras. Gênesis 31:7 – Tu mudaste meus salários, dez vezes; ou seja, tu frequentemente mudaste meus salários; Gênesis 31:41 “Tenho estado agora vinte anos na tua casa; catorze anos te servi por tuas duas filhas, e seis anos por teu rebanho; mas o meu salário tens mudado dez vezes”; Números 14:22: Aqueles homens tentaram-me agora essas dez vezes; ou seja, eles freqüente e gravemente tentaram e pecaram contra mim.Neemias 4:12: Os judeus que habitavam entre eles, vieram e nos disseram dez vezes, ou, eles freqüentemente vinham e nos informavam que nossos adversários pretendiam atacar-nos; Jó 19:3: Essas dez vezes você me difamou; ou seja, você tem me oprimido com contínuas injúrias. Daniel 1:20: Em todas as questões de sabedoria, ele se 23 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE certificou de que eles eram dez vezes melhores que todos os magos; ou seja, o rei freqüentemente consultava Daniel e seus companheiros, e se certificava de que eles eram mais abundantemente informados e sábios do que todos os seus conselheiros. Alguns acham que a brevidade da aflição está aqui pretendida, e que os dez dias devem ser entendidos como em Terence, Heaut: “Eu desfrutei de minha família, apenas por pouco tempo”. Sê fiel até a morte – Mantenha-se firme na fé, confesse Cristo até o fim, sob todos os riscos, e terá a coroa da vida – Serás coroado com a vida – terá uma existência feliz eterna, embora sofra uma morte temporal. Diz-se que Policarpo, quando trazido diante do Juiz e ordenado a abjurar e blasfemar Cristo, ele firmemente respondeu: “Por oitenta e seis anos, eu o servi, e ele nunca me fez mal, como, então, eu posso blasfemar contra meu rei que me tem salvo?”. Ele foi, então, condenado às chamas e sofreu alegremente por Cristo seu Senhor e Mestre. 2:11 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte. Aquele que conquista – O vencedor que tem se mantido firme em toda a prova, e derroto todos os seus adversários. Não sofrerá a segunda morte – Ou seja, uma separação eterna de Deus, e da glória de seu poder; como comumente queremos dizer por perdição final. Este é um outro modo rabínico de discurso, em uso muito freqüente, e é entendido como a punição do inferno em uma vida futura. A Epístola à Igreja de Pérgamo. 2:12 – E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios: Ao anjo da Igreja de Pérgamo. Que tem a espada afiada – A espada do Espírito, que é a palavra de Deus, corta de todas as formas; ela convence do pecado, retidão, e julgamento; penetra entre as juntas e o tutano, divide a alma e o espírito, disseca toda a mente, e exibe uma anatomia irregular da alma. Ela não apenas reprova e expõe 24 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE o pecado, mas pune o iníquo, indicando e determinando a punição que eles suportem. Jesus tem a espada com dois gumes, porque Ele é o salvador dos pecadores, e o Juiz do vivo e do morto. 2:13 – Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Onde está o trono de satanás – Onde ele reina como rei, e é universalmente obedecido. Era uma máxima, em meio aos Judeus, que onde a lei de Deus não fosse estudada, lá satanás habitava; mas ele era obrigado a deixar o lugar onde uma sinagoga ou academia era estabelecida. Mantém com firmeza meu nome – Não obstante a profissão da Cristandade expusesse esta Igreja a mais amarga perseguição, eles mantiveram firme o nome de Cristãos, que receberam de Jesus Cristo, e não negaram sua fé; porque quando trazidos à prova, eles se confessaram abertamente discípulos e seguidores de seu Senhor e Mestre. Antipas foi meu fiel mártir – Quem este Antipas era, não podemos dizer. Apenas sabemos que ele era um cristão, e, provavelmente executava algum ofício na Igreja, e tornou-se ilustre, através de seu martírio pela causa de Cristo. Existe uma obra chamada Atos de Antipas, que o torna bispo de Pérgamo, e diz que ele foi condenado à morte, sendo encarcerado em um boi de bronze fervente. Mas esta história se contradiz, já que os Romanos, sob cujo governo Pérgamo estava, nunca condenaram pessoa alguma à morte desta maneira. Supõem-se que ele foi assassinado por alguma plebe, que escolheu esta forma, para vindicar a honra de seu deus Esculápio [Esculápio era o deus romano da medicina e da cura. Foi herdado diretamente da mitologia grega, na qual tinha as mesmas propriedades, mas um nome sutilmente diferente], em oposição às reivindicações de nosso Senhor Jesus. 2:14 – Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar 25 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem. Eu tenho poucas coisas contra ti – Seus bons feitos são primeiramente cuidadosamente observados e recomendados; o que estava errado neles é tocado com uma mão gentil, mas eficaz. Os seguidores de Balaão, os Nicolaitas, e os Gnósticos, eram provavelmente todos do mesmo tipo de pessoas. Qual era a doutrina de Balaão, veja as notas em Números 24:1-25; Números 31:1-54. Parece que havia alguns, então, na Igreja de Pérgamo que defendiam que comer coisas oferecidas aos ídolos, em honra daqueles ídolos, e a fornicação, eram coisas indiferentes. Eles se associavam aos idólatras nos templos pagãos, e compartilhavam com eles em seus festivais religiosos. 2:15 – Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio. A doutrina dos Nicolaitas – Veja Apocalipse 2:6. 2:16 – Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca. Lutarei contra eles, com a espada de minha boca – Veja Vers. 12. Ele fala agora para a edificação e salvação deles; mas, se não se arrependerem, ele brevemente declarará que esses julgamentos inevitavelmente cairão sobre eles. 2:17 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe. O maná escondido – Era uma tradição constante dos judeus, que a arca da aliança, as mesas de pedra, a vara de Arão, o santo óleo da unção, e o pote de maná, foram escondidos pelo rei Josias, quando Jerusalém foi tomada pelos Caldeanos; e que esses seriam restaurados nos dias do Messias. Este maná estava escondido, mas Cristo promete dá-lo àquele que fosse o conquistador. Jesus é a arca, o óleo, a vara, o testemunho e o maná. Aquele que é participante de sua graça tem todas essas coisas em seu significado espiritual e perfeição. E darei a ele uma pedra branca – 26 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE I. Supõem-se que por pedra branca, quer se dizer perdão ou aceitação, e a evidência disto; e que existe uma alusão aqui ao costume observado pelos judeus nos tempos antigos, que estavam acostumados a dar seus votos pelas pedras brancas ou pretas; aqueles que davam às primeiras, pretendiam a absolvição do culpado; os que davam às últimas, a sua condenação. Isto é mencionado por Ovídio: Mos erat antiquus, niveis atrisque lapillis, His damnare reos, illis absolvere culpa. Nunc quoque sic lata est sententia tristis. “Um costume antigo ainda permanece; o que os sufrágios ordenam quanto à vida e à morte: Pedras brancas e pretas dentro de uma urna eram tiradas. A primeira absolvia, mas a morte estava na última”. Dryden. II. Outros supõem que exista uma alusão aqui aos vencedores nos jogos públicos, que não eram apenas conduzidos com grande pompa dentro da cidade ao qual pertenciam, mas tinham uma pedra branca dada a eles, com seus nomes inscritos nela; cujo símbolo os habilitava, durante todas as suas vidas, a serem mantidos às expensas públicas. Essas eram chamadas tesselas entre os Romanos, e eram de diversos tipos. 1. Tessela festiva (tesserae conviviales), que respondia exatamente aos nossos cartões de convite ou bilhetes de admissão em uma festa ou banquete público; quando a pessoa convidada apresentava sua tessela, era admitida. A menção do maná escondido aqui pode parecer insinuar que existe uma referência a essas tesselas festivas, quer dadas para o vencedor nos jogos públicos, habilitando-o a ser alimentado às expensas públicas, ou a um amigo particular, convidando-o à refeição familiar, ou banquete público. 2. Havia tesselas inscritas com diferentes tipos de coisas, tais como provisões, vestuários, ouro, ou vasos de prata, cavalos, éguas, escravos, etc. Essas eram algumas vezes atiradas pelos imperadores romanos, em meio à multidão nos teatros, e aquele que agarrasse uma; apresentando-a, era recebido, e cujo nome estivesse inscrito nela. Mas para Dio Cassius parece que aquelas tesselas eram pequenas bolas de madeira, ainda que as tesselas, em geral, fossem quadradas, por isto, eles tinham seus nomes, como tendo quatro lados, ângulos, ou cantos; e esses eram feitos de pedra, mármore, ossos, ou marfim, chumbo, latão, ou outro metal. 3. Tessela frumentícia, ou bilhetes para receber grãos, nas distribuições públicas de milho; o nome da pessoa que deveria receber e a quantidade de 27 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE grão, ambos inscritos neste distintivo ou bilhete. Àqueles que não necessitavam desta provisão pública, era permitido vender seu bilhete, e ao dono, habilitado para a quantidade de grão mencionada nele. 4. Mas o mais notável desses instrumentos eram as tesselas hospitales, que eram dadas como símbolo de amizade e aliança, e nas quais alguns emblemas eram gravados, como um testemunho de que um contrato de amizade tinha sido feito entre as partes. Uma pequena peça de oblongo quadrado, de madeira, osso, pedra, ou marfim, era dividido em duas partes iguais, e em cada uma, escrito seu próprio nome, e então, trocado um com o outro. Isto era cuidadosamente preservado, e legado até a posteridade na mesma família; e apresentado, quando viajavam, dava mútuo direito ao portador de uma recepção amigável e hospitalidade na casa um do outro. É a este costume que Plautus se refere em seu Poenulus, na entrevista entre Agorastocles e seu tio desconhecido, Hanno. HANNO – Salve, meu compatriota! Agorastocles – Eu saúdo a ti também, em nome de Pollus, quem quer que tu sejas. E se tu necessitares de alguma coisa, fala, eu te suplico; e tu obterás o que pedires, por cortesia. HANNO – Eu agradeço a ti, mas eu tenho moradia aqui; eu procuro o filho de Antidamas. Dize-me, se tu conheces Agorastocles. Conhece, neste lugar, o jovem Agorastocles? Agorastocles – Se buscas o filho adotivo de Antidamarchus, eu sou a pessoa a quem tu buscas. HANNO – Ai! O que eu ouço? Agorastocles – Tu ouves que eu sou filho de Antidamas. HANNO – Se assim for, compara, se te agradas, a tessela hospitaleira; aqui está, eu a tenho comigo. Agorastocles – Vem, então, traze-me: é a exata contraparte; eu tenho a outra em casa. 28 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE HANNO – Ó, meu amigo, eu estou feliz de ver-te, porque teu pai foi meu amigo; portanto, Antidamas, teu pai, foi meu hóspede. Eu dividi esta tessela hospitaleira com ele. Agorastocles – Assim sendo, uma acomodação será providenciada para ti, comigo; eu respeito a hospitalidade, e amo Cartage, onde eu nasci. HANNO – Que todos os deuses garantam a ti o que quer que desejares! A tessela, neste sentido, parece ter sido uma espécie de registro; e as duas partes foram comparadas para assegurar a verdade. Agora é muito provável que João possa aludir a isto; porque neste modo de interpretação, toda parte do versículo é consistente. 1. A palavra yhfov não necessariamente significa uma pedra de qualquer tipo, mas um sufrágio, sentença, voto decisivo; e, aqui, parece respondível à tessela. A tessela de Hanno, ele nos diz em sua língua Púnica, foi inscrita com a imagem ou nome de seu deus. Esta é a interpretação das palavras Púnicas no início do quinto ato de Poenulus, como dado por Bochart. 2. A pessoa que a possuía tinha direito à diversão na casa daquele que originalmente a deu; porque era em referência a isto que o contrato amigável era feito. 3. Os nomes das pessoas contraentes, ou algum emblema era escrito na tessela, que celebrava o contrato amigável; e quando as partes eram trocadas, ninguém podia saber que nome ou emblema, a ou a razão do contrato, mas somente aquele que a recebia. 4. Esta, quando apresentada, dava ao portador, direito aos ofícios da hospitalidade; ele era acomodado com comida, moradia, etc. por quanto tempo fosse necessário; e a isto, o comer do maná escondido pode se referir. Mas o que isto significa na linguagem de Cristo? 1. Que a pessoa é levada a um estado íntimo de amizade com Ele. 2. Que este contrato é testemunhado pela parte, através da mesma marca, sinal, ou selo, para o qual ele pode ter recorrido, para apoiar sua reivindicação, e identificar sua pessoa. Isto é provavelmente o que é chamado 29 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE de penhor do Espírito; veja a nota sobre Efésios 1:14 “O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória”, e as colocações lá se referem a isto. Aquele, então, que recebeu e reteve o testemunho do Espírito de que ele foi adotado na família divina, pode humildemente pretender, em virtude disto, seu suprimento de pão e água da vida; o maná escondido – toda a graça do Espírito de Deus; e a árvore da vida – imortalidade, ou a glória final de seu corpo e alma, por toda a eternidade. 3. Através deste estado de graça, para o qual ele é trazido, ele adquire um novo nome, o nome de filho de Deus; o penhor do Espírito, a tessela, que ele recebeu, mostra a ele este novo nome. 4. E este nome de filho de Deus, nenhum homem pode saber ou entender, a não ser aquele que recebeu a tessela ou testemunho Divino. 5. Como seu Amigo e Redentor pode ser encontrado em todos os lugares, já que ele preenche os céus e a terra, em todos os lugares, ele pode, no manter essa tessela, pedir por direção, socorro, graça e glória; e, portanto, os privilégios daquele que venceu, e é o maior e mais glorioso que se pode imaginar. A Epístola à Igreja de Tiatira 2:18 – E ao anjo da igreja de Tiatira escreve: Isto diz o Filho de Deus, que tem seus olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao latão reluzente: Essas coisas diz o Filho de Deus – Veja as notas no capítulo 1:14-15. 2:19 – Eu conheço as tuas obras, e o teu amor, e o teu serviço, e a tua fé, e a tua paciência, e que as tuas últimas obras são mais do que as primeiras. Eu conheço tuas obras - E dessas, ele primeiro destacou a caridade deles, seu amor a Deus e uns aos outros, e, especialmente, ao pobre e aflito: e, consequentemente, sobre sua fé, sua fidelidade, à graça que receberam; e serviço, e ministração; propriamente, serviço piedoso e benevolente às viúvas, órfãos, e pobres em geral. 30 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E tua paciência – Tua perseverança, sob aflições e perseguições, e tua continuidade em fazer o bem. Eu coloco a fé antes do serviço, de acordo com o consenso geral das melhores versões. Tuas obras – O trabalho continuado de amor, e através da obediência. As últimas, mais do que as primeiras – Eles não apenas retiveram o que receberam a princípio, mas cresceram na graça, e no conhecimento e amor a Jesus Cristo. Esta é uma coisa rara na maioria das Igrejas cristãs: elas geralmente perdem o poder da religião, e se apóiam nas formas de adoração; e isto requer um avivamento poderoso para trazê-las ao estado, em que suas últimas obras sejam maiores do que as primeiras. 2:20 – Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria. Esta mulher, Jezebel – Existe uma alusão aqui à história de Acabe e Jesebel, como em II Reis 9:1-10, 36; e, embora não saibamos quem foi esta Jezebel, mesmo assim, da alusão, podemos ter por certo, que se tratava de uma mulher de poder e influência em Tiatira, que corrompeu a verdadeira religião, e atormentou os seguidores de Deus naquela cidade, como Jezebel fizera em Israel. Em vez disto, aquela mulher Jezebel, gunaika iezabhl, em muitos manuscritos excelentes, e em quase todas as versões antigas, lê-se thn gunaika sou iezabhl, - Tua mulher, Jezebel; o que insinua, de fato, afirma, que esta mulher pecaminosa era esposa do bispo da Igreja e a criminalidade dele em apóia-la era, portanto, maior. Esta leitura, Griesbach recebeu no texto. Ela se autodenominava profetiza, ou seja, como professora, ensinava aos cristãos, que a fornicação e o comer coisas oferecidas aos ídolos eram coisas indiferentes, e, assim, eles eram desencaminhados da verdade. Mas é provável que por fornicação aqui signifique meramente idolatria que é frequentemente seu significado nas Escrituras. É também grosseiro supor que a esposa do bispo desta Igreja poderia ensinar fornicação literalmente. O mensageiro ou bispo da Igreja, provavelmente seu marido, apoiava isto; ele tinha poder para expulsá-la e a seus adeptos, ou, como sua esposa, reprimi-la; mas não o fez, e, assim, ela teve toda a oportunidade de desencaminhar o fiel. Isto é o que Cristo tinha contra o mensageiro desta Igreja. 2:21 – E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição; e não se arrependeu. 31 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Eu dei a ela oportunidade de arrepender-se – Em alusão à história de Jezebel. Deus primeiro envia Elias a Acabe, para proferir-lhe um julgamento severo, mas ele mostra sinais de arrependimento, e, assim, Deus cancela sua punição. Desta forma, igual punição proferida contra Jezebel foi também protelada. Deus deu a ela tempo para que se arrependesse, o que ela não o fez, mas, em vez disto, desencaminhou seus filhos, para os mesmos pecados. Veja I Reis 21:1-29. De acordo com a Lei Mosaica, a punição aos sedutores idólatras não demorava, afinal, mas Deus, algumas vezes, mostrou misericórdia; e agora muito mais, sob a dispensação cristã, embora esta misericórdia seja frequentemente afligida, e produza o efeito contrário, como no caso desta Jezebel. Veja Eclesiastes 8:11 “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal”. Versículo 22 – Eis que a porei numa cama, e sobre os que adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das suas obras. Observe, que eu a colocarei em uma cama - Isto novamente alude à mesma história. Acazias, filho de Acabe e Jezebel, pela má instrução e exemplo da mãe, seguiu, nos mesmos caminhos dela. Então, Deus o puniu, fazendo com que ele caísse, como se supõe, do topo do terraço de sua casa, e, assim, acamado, por longo tempo, sob grande angústia, pretendeu, dar-lhe tempo para que se arrependesse; mas, em vez disto, Acazias pediu que consultassem BaalZebube, e Deus enviou Elias, para proferir a sentença final pela sua impenitência. Desta mesma forma, o filho de Jezebel, que havia cometido idolatria, a seu conselho, foi colocado, por muito tempo, em sua cama de aflição, e não se arrependendo, morreu: O mesmo sucedendo a seu irmão Jerão. Tudo isto, enquanto Jezebel teve tempo, e foi advertida, o suficiente, para que se arrependesse; porém, embora não convencesse Jerão a continuar na adoração idólatra à Baal, ainda assim, ela persistiu em seu caminho, não obstante, as advertências de Deus. Os escritores sagrados, portanto, ameaçam aqui a Jzebel gnóstica a fazer aquilo com a qual ela se deleita, como adúlteros na cama de luxúria, que se torna o mesmo local, ocasião e instrumento dos maiores tormentos dela. Assim, em Isaias, a cama se torna um símbolo de tribulação e angústia do corpo e mente. Veja Isaías 28:20 “Porque a cama será tão curta que ninguém se poderá estender nela; e o cobertor tão estreito que ninguém se poderá cobrir com ele”; Jó 33:19 “Também na sua cama é castigado com dores; e com incessante contenda nos seus ossos”. 32 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Versículo 23 – E ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossas obras. E ferirei de morte seus filhos – Ou seja, eu certamente destruirei sua descendência e memória, e desta forma, arruinarei seus desígnios. Os dois filhos de Jezebel, ambos, reis, foram assassinados; e, depois disto, todos os setenta filhos de Acabe (II Reais 10:1), sobre os quais a mão de Deus foi muito visível. Da mesma maneira, Deus prediz a destruição dos heréticos e as heresias a que se dirigem; veja versículo 16. Vê-se pela expressão, eu sou aquele que examina os rins e os corações, que esses heréticos introduziram, e semearam suas perniciosas doutrinas secretamente. Mas nosso Salvador lhes diz que foi em vão, porque Ele trouxe os feitos deles à luz, com aquele poder Divino de examinar nas maldades e afeições dos homens; e, assim, lhes mostrar, e também a nós, que Ele é o Filho de Deus; e possui tais olhos, que espreitam as ações deles, para que, assim como o fogo, inspecionem todas as coisas, e destruam a palha, que não agüenta sua prova; desta forma, as profundezas de satanás, a que isto alude, no versículo seguinte, (Cristo assumindo aqui este título propositadamente), será de nenhum proveito àqueles que acreditam enfraquecer a religião cristã, com suas astúcias secretas; porque Ele não apenas trará ao conhecimento, mas frustrará todas as suas intenções malévolas. Veja Capítulo 17:9. 2:24 – Mas eu vos digo a vós, e aos restantes que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conheceram, como dizem, as profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei. Mas a você eu digo, e aos demais - Mas aos demais, etc... Esta é a leitura de Complutensiano, e parece preferível ao senso comum, já que ela evidentemente mostra que o restante da epístola, se refere totalmente ao fiel, que não recebeu a doutrina anterior do erro. Eu não colocarei sobre vocês outro fardo, é a recomendação à parte saudável da Igreja, de maneira que eles não precisavam de alguma nova exortação ou responsabilidade a ser dada a eles, nenhuma nova advertência, mas se preservarem, como de costume. Veja Romanos 15:14,15 “Eu próprio, meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros. Mas, irmãos, em parte vos escrevi mais ousadamente, como para vos trazer outra vez isto à memória, pela graça que por Deus me foi dada”. A 33 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE expressão fardo é tomada da história de Acabe, II Reis 9:25: O Senhor coloca este fardo sobre ele; uma palavra frequentemente usada pelos profetas para significar a profecia que ameaça com as coisas duras a serem sofridas. Isaías 13:1; e Números 4:19. É merecedor de nota que os Gnósticos chamavam suas doutrinas de as profundezas de Deus, e as profundezas de Bythos, insinuando que elas continham os segredos mais profundos da sabedoria Divina. Cristo aqui as chamava de as profundezas de satanás, sendo as obras-primas de seus subterfúgios. Talvez, eles pensassem que elas fossem de Deus, enquanto, todo o tempo, eram enganados pelo diabo. 2:25 – Mas o que tendes, retende-o até que eu venha. Aquilo que tens – Ou seja, a pura doutrina do Evangelho, segurem-na, firmes, até que eu venha – até que eu venha, para executar os julgamentos, dos quais os tenho ameaçado. 2:26 – E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as nações, Poder sobre as nações – Toda testemunha de Cristo tem o poder de refutar e destruir todas as falsas doutrinas e máximas das nações do mundo, para que o Cristianismo, por fim, prevaleça sobre todas; o reino de Cristo virá, e os reinos desse mundo tornar-se-ão reinos de nosso Deus e de seu Cristo. 2:27 – E com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai. Ele as governará, com vara de ferro – Ele impedirá os maus hábitos, com a mais rigorosa administração de justiça; e aqueles que finalmente menosprezam a palavra e se rebelam, serão quebrados e destruídos, de maneira a nunca mais serem capazes de se voltarem contra a verdade. Isto parece se referir ao mundo pagão; e talvez, se pretenda Constantino, o Grande, já que, quando ele dominou Licinius, tornou-se instrumento nas mãos de Deus da destruição da idolatria sobre todo o império Romano; que foi tão eficazmente quebrada, de maneira a ficar como os fragmentos de um vaso de barro, de nenhum uso em si mesmos, e incapazes de se unirem para algum bom propósito. 2:28 – E dar-lhe-ei a estrela da manhã. 34 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E eu darei a ele a estrela da manhã – Ele terá o mais glorioso e brilhante império, ao lado do próprio Cristo. E é certo que o império Romano, sob Constantino, o Grande, foi o mais brilhante símbolo dos últimos dias de glória que alguma vez foi exibido ao mundo. É sabido que o sol, luz e estrelas são símbolos, na linguagem profética de impérios, reinos e estados. E como a estrela da manhã é aquela que imediatamente precede o nascer do sol, provavelmente se pretenda aqui um império que prenuncie o domínio universal do reino de Cristo. Desde o tempo de Constantino, a luz da verdadeira religião tem se espalhado, e está brilhando mais e mais até o dia perfeito. 2:29 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Aquele que tem ouvidos – Que todo Cristão preste o preciso cuidado a essas predições de Cristo; e permita que elas tenham uma influência apropriada em seu coração e vida. CAPÍTULO III A epístola à Igreja de Sardes, 1-6. A epístola à Igreja de Filadélfia, 713. A epístola à Igreja de Laodicéa, 14-22. Notas sobre o Capítulo III 3:1 – E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto. Os sete Espíritos de Deus – Veja a nota, Apocalipse 1:4, 16 etc. Tu tens um nome, para que vivas – Vocês têm a reputação de cristãos, e, consequentemente, de estarem vivos para Deus, através da influência vivificadora do Espírito Divino; mas vocês estão mortos – vocês não têm a vida de Deus em suas almas. Vocês não caminharam consistente e firmemente 35 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE diante de Deus, e o Espírito dele afligiu-se por isto, e tem retraído muito de sua luz e poder. 3:2 – Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Sê vigilante – Vocês perderam o chão, pela negligência e falta de atenção. Despertem e mantenham-se despertos! Fortaleçam as coisas que permaneceram – As convicções e bons desejos, com alguma medida de temor a Deus, e de uma consciência terna, que, embora ainda subsistindo, está prestes a perecer, porque o Espírito Santo, que é o criador dela, sendo repetidamente afligido, está prestes finalmente a se afastar. De tuas obras perfeitas – Fartem-se – Eles executavam as obrigações de todos os tipos, mas não o dever completamente. Eles estavam constantemente começando, mas nunca traziam coisa alguma para a finalidade adequada. As resoluções eram lânguidas, suas forças frágeis, e sua luz diminuída. Eles provavelmente mantinham sua reputação diante dos homens, mas suas obras não eram perfeitas diante de Deus. 3:3 – Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei. Lembra-te – Considerem seriamente o estado de vocês. Como tu tens recebido – Com que alegria, zelo, e satisfação, vocês ouviram o Evangelho de Cristo, quando primeiro pregado a vocês. Mantém firme – Aqueles bons desejos e influências divinas que ainda permanecem. E arrependa-te – Sejam humildes diante de Deus, porque vocês não têm trabalhado juntos a Ele, mas receberam muito da graça em vão. Se, portanto, tu não vigiares – Se vocês não refletirem sobre os caminhos de vocês, vigiando contra o pecado, e nas oportunidades, receberem e fazerem o bem. 36 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Eu virei a ti como um ladrão – Como o ladrão vem, quando ele não é esperado, assim, virei sobre vocês, se não forem vigilantes e os cortarei da árvore e esperança. 3:4 – Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso. Tu tens alguns poucos nomes, mesmo em Sardes – Algumas poucas pessoas; os nomes sendo dados para os que os carregam. E como os membros da Igreja estavam todos registrados, ou seus nomes constavam no livro, quando admitidos na Igreja ou eram batizados, os nomes aqui são colocados para as próprias pessoas. Vejam versículo 5. Que não corromperam seus vestuários – Suas almas. Os hebreus consideravam santidade como o traje da alma, e, as ações malévolas como sujeiras ou manchas neste traje. Assim, em Shabbarh: “Certo rei forneceu trajes reais aos seus servos; aqueles que foram prudentes os dobraram, e os colocaram em uma arca; os que foram tolos os vestiram e executaram seus trabalhos diariamente neles. Depois de um tempo, o rei perguntou por aqueles trajes reais; os sábios os trouxeram brancos e limpos; os tolos, manchados. Com os primeiros,o rei estava bem satisfeito; com os outros, irado. Com respeito ao primeiro ele disse: Que esses trajem sejam colocados em meu quarda-roupa, e que as pessoas vão para casa em paz. Dos últimos, ele disse: Que esses trajes sejam colocados nas mãos do pisoeiro, e joguem aqueles que os usaram na prisão”. Esta parábola é falada nestas palavras em Eclesiastes 12:7: Que o espírito retorne a Deus que o deu. Eles caminharão comigo, em branco – Eles serão ressuscitados para o estado de glória eterna, e viverão para sempre com seu Senhor. 3:5 – O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Eu apagarei seus nomes - Esta pode ser uma alusão ao costume de registrar os nomes daqueles que foram admitidos na Igreja em um livro, mantido para este propósito, de cujo costume nossos registros batismais derivaram-se. Esses são propriamente livros da vida, já que aqueles que nasciam para Deus eram registrados; e aqueles que nasciam naquela paróquia eram inscritos. Ou pode haver alusões aos vestuários brancos, usados pelos 37 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE sacerdotes, e ao apagar do nome de algum sacerdote, da lista sacerdotal, porque pecou ou certificou-se que não pertencia à semente de Arão. Em Middoth: “O grande concílio de Israel reunia-se e julgava os sacerdotes. Se em algum sacerdote, algum hábito condenável fosse encontrado, eles arrancavam suas vestimentas e o vestia com negro, com o qual ele se envolvia, saía, e partia. Aquele em que nada condenável fosse achado vestia-se de branco, e ele partia e tomava seu lugar no ministério em meio aos seus irmãos sacerdotes”. Eu confessarei seu nome – Eu reconhecerei que esta pessoa é meu verdadeiro discípulo, e um membro de meu corpo místico. Em tudo isto deve haver uma alusão ao costume de registrar cidadãos. Seus nomes entravam em livros, de acordo com suas condições, tribo, família, etc; e quando morriam, ou tinha, por atos inconstitucionais transgredidos o direito de cidadania, o nome era riscado, ou apagado dos registros. Veja a nota em Êxodo 32:32 “Agora, pois, perdoa o seu pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito’. 3:6 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Aquele que tem ouvido – A advertência e conselho, para cuidadosamente atender às coisas faladas aos membros daquela Igreja, em que todo leitor está mais ou menos interessado. Epístola à Igreja em Filadélfia. 3:7 – E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre: Aquele que é santo – Em quem a santidade essencialmente habita, e de quem toda a santidade é derivada. Aquele que é verdadeiro – Aquele que é a fonte da verdade; que não pode mentir ou enganar; de quem toda a verdade procede; e cuja veracidade em sua Revelação é irrepreensível. Aquele que tem a chave de Davi – Veja esta metáfora explicada, Mateus 16:19 “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. A chave é símbolo de autoridade e conhecimento; a chave de Davi é o direito ou a autoridade real de Davi. Davi poderia fechar ou abrir o reino de 38 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Israel, a quem ele quisesse. Ele não foi obrigado a deixar o reino, nem mesmo para seu filho mais velho. Ele poderia escolher quem lhe agradasse para sucedê-lo. O reino do Evangelho, e o reino do céu, estão à disposição de Cristo. Ele pode fechar, para quem ele quiser; ele pode abrir a quem lhe agradar. Se ele fecha, nenhum homem pode abrir; se ele abre, nenhum homem pode fechar. Suas determinações todas permanecem firmes, e ninguém pode contrariá-las. Esta expressão é uma alusão a Isaías 22:22 “E porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro, e abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém abrirá”, onde o profeta promete a Eliaquim, sob o símbolo da chave da casa de Davi, o governo de toda a nação; ou seja, todo o poder de rei a ser executado por ele, como seu representante; mas as palavras, como aqui aplicadas a Cristo, mostra que Ele é absoluto. 3:8 – Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha palavra, e não negaste o meu nome. Eu colocarei diante de ti uma porta aberta - Eu abri uma porta a ti, para proclamares e difundires minha palavra; e, não obstante existam muitos adversários à expansão do Evangelho, ainda assim, nenhum deles será capaz de impedir-te. Tu tens pouca força – Muito pouca autoridade política ou influência; ainda assim, tu mantiveste minha palavra – mantiveste a doutrina verdadeira; e não negaste meu nome, buscando abrigo no ateísmo, quando o Cristianismo foi perseguido. - A pouca força pode referir-se tanto à pequenez dos números, quanto à escassez da graça. 3:9 – Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo. Eu farei com que eles – Mostrarei que são da sinagoga de satanás aqueles que se dizem judeus, pretendendo serem da sinagoga de Deus, e, consequentemente seus filhos verdadeiros e singulares. Venham e adorem – Eu disporei de tal forma as questões, em curso de minha providência, que os judeus serão obrigados a buscarem junto aos cristãos, tolerância, apoio e proteção; e obrigados a pedirem da maneira mais humilde e desprezível. 39 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Para que saibam que eu os amei – Que o amor que anteriormente estava sobre os judeus foi removido, e transferido aos gentios. 3:10 – Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na terra. A palavra de minha paciência – A doutrina que os expôs aos tantos problemas e perseguição, e requereu tanta paciência e magnanimidade para suportarem as provas que os atendiam. Na hora da tentação – Um tempo de dor e prova peculiar que mostraria muito da força deles. Aqueles que são fiéis à graça de Deus são frequentemente afastados das provas e dificuldades que caem sem mitigação sobre aqueles que têm sido infiéis em sua aliança. Muitos entendem a hora de tentação, como sendo a perseguição, sob o governo de Trajano, que foi mais notável e mais extensa do que as precedentes, sob o governo de Nero e Domiciano. Para prová-los - Ou seja, tais perseguições seriam os meios de tentar e provar aqueles que professam o Cristianismo, e mostrar quem era leal e totalmente cristão, e quem não era. 3:11 – Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Observem, eu venho rapidamente – Essas coisas brevemente terão lugar; e eu virei com consolações e recompensas aos meus seguidores fiéis, e com julgamentos aos meus adversários. Tomem sua coroa – Deus providenciou mansões para vocês; que ninguém, através de sua queda ocupe aqueles lugares de bem-aventurança. 3:12 – A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome. Uma coluna no templo – Existe provavelmente toda alusão aqui aos dois pilares no templo de Jerusalém, chamado Jachin e Boaz, estabilidade e força. A Igreja é o templo/ Cristo é o alicerce sobre o qual ela é construída; e seus ministros são os pilares, pelos quais, debaixo dele, ela é adornada e 40 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE apoiada. Paulo tem as mesmas alusões, Gálatas 2:9 “E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão”. Eu escreverei sobre ele o nome de meu Deus – Ou seja, eu o tornarei um sacerdote para si mesmo. O sacerdote escrevia em sua testa: “santidade para o Senhor”. E o nome da cidade de meu Deus – Como o sumo sacerdote tinha em seu peitoral os nomes das doze tribos gravadas, e essas constituíam a cidade ou Igreja de Deus; Cristo aqui promete que no lugar delas, os doze apóstolos, representando a Igreja cristã, seriam escritos, o qual é chamada de Nova Jerusalém, e que Deus adotou no lugar das doze tribos judaicas. Meu novo nome – O salvador de Todos; a luz que ilumina os gentios; o Cristo; o Ungido; o único Governador de sua Igreja; e o Redentor de Toda a humanidade. Existe aqui uma insinuação de que a Igreja cristã durará para sempre; e o ministério cristão, enquanto o tempo dure: Ele não mais partirá, para sempre. Epístola à Igreja dos Laodiceanos 3:14 – E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Essas coisas dizem o Amém – Ou seja, aquele que é verdadeiro e fiel; de ma aman, ele era o tronco; imediatamente traduzido, a fiel e verdadeira testemunha. Veja capítulo 1:5. O começo da criação de Deus – Ou seja, o cabeça e governador de todas as criaturas; o rei da criação. Veja em Colossenses 1:15 “O qual é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. Através de seus títulos, aqui, ele os prepara para as verdades humilhantes e terríveis que estava prestes a declarar, e a autoridade sobre a qual a declaração estava alicerçada. 3:15 – Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! 41 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Tu não és frio nem quente – Vocês nem são pagãos, nem cristãos – nem bons, nem ruins – nem conduzidos por falsa doutrina, nem totalmente devotados ao que é verdadeiro. Em uma palavra, eles eram desatentos e indiferentes, e pareciam preocuparem-se pouco quer com a prevalência do paganismo ou Cristianismo. Embora tivessem pouco zelo quer pela salvação de suas próprias almas, ou as dos outros, ainda assim, eles tinham tal convicção geral da verdade e importância do Cristianismo, de maneira que não podiam prontamente desistir dele. Eu gostaria que fossem frios ou quentes – Ou seja, que decidissem; adotassem alguma parte ou outra, e estivessem sinceramente atados a ela. Se as palavras do Sr. Erskine, em seus Sonetos Evangélicos, forem verdadeiras, era a verdade desta Igreja: “Para o bem e mal igual disposição, eu sou tanto demônio quanto santo”. Eles eram muito bons para irem para o inferno, e muito maus para irem para o céu. Como Efraim e Judá, Oséas 6:4 “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.”. Eles tinham boas disposições que eram atraídas pelas más, e tinham más disposições que, por sua vez, cediam àquelas que eram boas; e a justiça e misericórdia Divinas pareciam confusas em saber o que fazer a eles ou com eles. Este era o estado da Igreja Laodiceana; e nosso Senhor expressa aqui neste aparente desejo, o mesmo que é expresso por Epicteto, Ench. Capítulo 36: “Tu deves ser de um só tipo de homem, ou um bom homem, ou um mau homem”. 3:16 – Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitarte-ei da minha boca. Porque tu és morno – Irresoluto e indeciso. Eu te vomitarei de minha boca – Ele alude aqui ao efeito conhecido de água morna no estômago; ela geralmente produz náusea. Eu te lançarei fora. Tu não tens interesse em mim. Tu tens estado perto de meu coração, ainda assim, agora eu devo arrancar-te de lá, porque tu és indolente, descuidado, e negligente; tu não és sincero com tua alma. 3:17 – Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu; Eu sou rico – Tu supões que estás em um lugar seguro, perfeitamente certo da salvação final, porque tu começaste bem, e colocaste o alicerce certo. Foi esta convicção mais enganosa que cortou os nervos da diligência espiritual 42 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE deles; eles descansaram no que eles já haviam recebido, e pareceram pensar que uma vez na graça, continuariam na graça. Tu és desprezível – talaipwrov? Mais desprezíveis. “A palavra significa”, de acordo com Mintert, “Desgastados e fatigados com trabalhos penosos, como aqueles que trabalham em uma pedreira ou estão condenados às minas”. Assim, em vez de serem filhos de Deus, como eles supunham, e herdeiros infalíveis de seu reino, eles estavam, aos olhos de Deus, na condição dos escravos mais abjetos. E miserável – o eleeinov? Mais deploráveis, para obterem a compaixão de todos os homens. E pobre – Tenho nenhuma riqueza espiritual, nenhuma santidade de coração. Rico e pobre são algumas vezes usados pelos rabinos para expressaram o reto e o ímpio. E cego – Os olhos de teu entendimento, escurecido, de maneira que não vês teu estado. E nu – Sem a imagem de Deus, nem vestido da santidade e pureza – Um estado mais deplorável nas coisas espirituais dificilmente pode ser imaginado do que aquele desta Igreja. E é a imagem verdadeira de muitas Igrejas e inumeráveis indivíduos. 3:18 – Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas. Eu te aconselho – Ó, alma caída e enganosa, ouve Jesus! Teu caso não é impossível. Compra-me. Deus testou no fogo – Venham e recebam de mim, sem pagamento, sem preço, a fé que permanece em todas as provas: assim o ouro testado no fogo é aqui entendido. Mas pode significar religião pura e imaculada, ou aquela graça ou influência Divina que a produz, e que são mais valiosas para a alma do que o mais puro ouro para o corpo. Eles tinham riquezas imaginárias anteriormente; somente isto pode torná-los verdadeiramente ricos. Vestuário branco – Santidade de coração e vida. 43 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Unge teus olhos – Orem, para que possam receber, pelas influências esclarecedoras de meu Espírito, para que possam se convencer de seu estado verdadeiro, e vejam, até onde sua ajuda se situa. 3:19 – Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te. Tantos quantos eu amo – Assim era o amor que ele tinha por eles, de modo a induzi-lo a repreendê-los e aconselhá-los. Sejas zeloso – Sinceros, para que suas almas se salvem. Eles não tinham zelo; esta foi a ruína deles. Ele agora os encoraja à diligência no use dos meios da graça e arrependimento por seus pecados passados e descuido. 3:20 – Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo. Observa, eu permaneço à porta e bato – Existem muitos dizeres deste tipo dentre os rabinos anciãos; assim, em Shir Hashirim Rabba: 1. “Deus diz aos israelitas: Meus filhos, abram para mim uma porta do arrependimento, mesmo que tão larga, quanto o buraco de uma agulha, e eu abrirei para vocês portas através das quais bezerros e gado chifrudo poderão passar”. Em Sohar Levit, é dito: 2.“Se um homem esconde seu pecado, e não o abre diante do santo rei, embora ele peça misericórdia, ainda assim, a porta do arrependimento não lhe será aberta. Mas, se ele a abre diante do santo Deus abençoado, Deus o poupará, e a misericórdia prevalecerá sobre a ira; e quando ele lamentar, embora todas as portas possam estar fechadas, ainda assim, elas lhe serão abertas, e sua oração será ouvida”. Cristo permanece – espera por muito tempo, à porta do coração do pecador; ele bate – usa de julgamentos, misericórdias, reprovações, exortações, etc., para induzir os pecadores ao arrependimento e a voltarem para ele; ele levanta a voz – chama em voz alta, através de sua palavra, ministros, e Espírito. Se alguém ouvir – Se o pecador considerar seriamente seu estado, e atender à voz de seu Senhor. E abrir a porta – Este deve ser seu ato próprio, recebendo o poder para este propósito de seu Senhor ofendido, que não irromperá à porta; não fará qualquer força para entrar. 44 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Eu virei até ele – Eu me manifestarei a ele, curarei todas as suas apostasias, perdoarei todas as suas iniqüidades e o amarei livremente. Cearei com ele – Manterei comunhão com ele, o alimentarei com o pão da vida. E ele comigo – Eu o levarei, por fim, para habitar comigo na glória eterna. 3:21 – Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono. Para sentar-se comigo em meu trono – Em todos os casos é para aquele que vence, para o conquistador, que a promessa final é feita. Aquele que não vence não é coroado, portanto, toda promessa é aqui feita àquele que é fiel até a morte. Aqui está a mais notável expressão: Jesus conquistou, e está sentado com o PAI, no trono do Pai; aquele que vence, através de Cristo, senta-se com Cristo em seu trono; mas o trono de Cristo e o trono do Pai são o mesmo; e é neste mesmo trono que aqueles que são fiéis até a morte deverão finalmente se sentar! Quão espantoso é este estado de exaltação! A dignidade e grandeza daquele que pode entender. Está é a pior das sete Igrejas, e ainda assim, a mais eminente de todas as promessas que lhe são feitas, mostrando que o pior pode arrepender-se, finalmente conquistar, e alcançar, até mesmo, o mais sublime estado de glória. 3:22 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Aquele que tem ouvidos, que ouça – O Sr. Wesley tem uma observação muito sensata na conclusão deste capítulo, e especialmente sobre este último verso: Aquele que tem ouvidos, etc. “Este (conselho) está nas três cartas anteriores, antes da promessa, e nas quatro posteriores a ela; claramente dividindo as sete em duas partes, a primeira contém três cartas, a última, quatro. Os títulos dados nas três cartas anteriores dizem respeito especialmente ao poder de nosso Senhor, após sua ressurreição e ascensão, especificamente sobre sua Igreja; aqueles, nas quatro últimas cartas, à sua glória Divina e unidade com o Pai e o Santo Espírito. Novamente, esta palavra, colocada antes das promessas, nas três primeiras cartas, exclui os falsos profetas em Éfeso, os falsos judeus em Esmirna, e os parceiros dos ateus em Pérgamo, de terem qualquer porção nisto. As quatro cartas, depois delas, deixam as promessas imediatamente ligadas ao discurso de Cristo ao anjo da Igreja, para mostrar que o cumprimento dessas estava próximo; enquanto que 45 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE as outras vão além do fim do mundo. Deve-se observar que o domínio ou vitória (para os quais apenas essas promessas específicas estão ligadas) não é a vitória comum obtida por todo crente, mas uma vitória especial alcançada sobre grandes e singulares tentações, por aqueles que são fortes na fé”. O mais recente relato que temos do estado das sete Igrejas asiáticas está em uma carta do capelão Henry Lindsay, capelão da Embaixada britânica em Constantinopla, a um membro da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, através de cuja sociedade, o Sr. Lindsay é solicitado a distribuir algumas cópias do Novo Testamento, em Grego moderno, entre os cristãos na Ásia Menor. O seguinte é sua comunicação, datada: “Constantinopla, 10 de Janeiro de 1816”. “Quando lhe escrevi da vez passada, eu estava prestes a partir para uma breve excursão pela Ásia Menor. Numa viagem rápida, como me propus, devido às circunstâncias de minha situação, a informação que eu poderia obter seria necessariamente superficial e insatisfatória. Como, no entanto, eu distribuí alguns poucos livros da sociedade, que fui capaz de levar comigo, eu penso que é necessário dar algum relato do curso que eu tomei”: “1. O intercurso regular da Inglaterra com ESMIRNA o capacitará a alcançar tão acurado entendimento de seu presente estado, quanto algum que eu possa pretender oferecer. Das conversas que eu tive com o bispo grego, e seu clero, assim como os vários indivíduos bem informados, fazem-me supor que, se a população de Esmirna for estimada em cento e quarenta mil habitantes, existem de quinze a vinte mil gregos, seis mil armenianos, cinco mil católicos, cento e quarenta protestantes, e onze mil judeus”. “2. Depois de Esmirna, o primeiro lugar que visitei foi ÉFESO, ou antes, (como o lugar não é completamente o mesmo) Aiasalick, que consiste de aproximadamente quinze cabanas pobres. Eu encontrei apenas três cristãos lá, dois irmãos que mantinham uma pequena loja, e um jardineiro. Existem três gregos, e a ignorância deles é lamentável. Naquele lugar, que foi abençoado por tanto tempo, com trabalhos apostólicos, e aqueles de seus zelosos assistentes, existem cristãos que não têm ouvido muito a respeito daquele apóstolo, ou parecem apenas reconhecer o nome de Paulo, como um no calendário de seus santos. Um deles, eu achei capaz de ler um pouco, e deixei com ele o Novo Testamento, em grego antigo e moderno, já que ele expressou um forte desejo de ler, e prometeu-me que não apenas estudaria, mas o emprestaria a seus amigos nos vilarejos vizinhos”. 46 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE “3. Meu próximo objetivo foi ver LAODICÉA; a caminho está Guzelhisar, uma cidade larga, com uma igreja, e por volta de setecentos cristãos. Em minha conversa com os sacerdotes daqui, eu os achei tão pouco familiarizados com a Bíblia, ou mesmo com o Novo Testamento, em sua forma inteira, que eles não tinham conhecimento distinto dos livros que ele continha, além dos quatro evangelhos, mas os mencionaram indiscriminadamente com as várias lendas inúteis e vidas de santos. Eu lhes enviei três cópias do Testamento grego moderno, desde meu retorno. Por volta de três milhas de Laodicéa está Denizli, que tem sido denominada (mas eu estou inclinado a pensar que erroneamente) o Colosso ancião; ela é uma cidade considerável, com cerca de quatrocentos cristãos, gregos, e armenianos, cada um dos quais tem sua igreja. Eu lamento dizer, no entanto, que aqui também, os mais extravagantes contos de milagres, e relatos fabulosos de anjos, santos, e relíquias, usurparam o lugar das Escrituras, de maneira a tornar muito difícil separar em suas mentes, as verdades Divinas das invenções humanas. Eu sinto que aqui, aquele tempo infeliz chegou, quando os homens ‘viraram seus ouvidos da verdade, e os voltaram para as fábulas’. Eu tinha comigo algumas cópias dos evangelhos em grego antigo, que eu distribuí aqui, como em alguns outros lugares, pelos quais passei. Eski-hisar, próximo ao qual estão os anciãos remanescentes de Laodicéa, contém cerca de cinqüenta habitantes pobres, sendo apenas dois cristãos, que vivem juntos em um pequeno moinho; infelizmente, nenhum deles sabia ler; a cópia, portanto, do Novo Testamento, que eu pretendia para esta Igreja, eu deixei com aquela de Denizli, a descendência e os pobres remanescentes de Laodicéa e Colosso. As orações das mesquitas são as únicas orações que são ouvidas perto das ruínas de Laodicéa, sobre as quais a ameaça parece ter sido completamente executada em sua extrema rejeição como uma Igreja”. “4. Eu parti para FILADÉLFIA, agora Alah-shehr. Foi gratificante encontrar, por fim, alguns frutos sobreviventes do zelo anterior; e, aqui, pelo menos, ainda que houvesse a perda do espírito do Cristianismo, existia a forma de uma Igreja cristã; isto tem sido mantido desde a ‘hora da tentação’, que veio junto a todo o mundo cristão. Existem aqui cerca de mil cristãos, principalmente gregos, que, em sua maior parte, falam apenas turco; há vinte e cinco lugares de adoração pública, cinco dos quais são grandes igrejas regulares; para essas existe um bispo residente, com vinte bispos subordinados. Uma cópia do Testamento grego moderno foi recebida pelo bispo com grande gratidão”. “5. Eu deixei Alah-shehr, profundamente desapontado com o relatório que recebi lá da Igreja de SARDIS. Eu confiei que, em suas maiores provas, ela 47 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE não acabaria por perecer completamente, e ouvi com surpresa que nenhum vestígio dela permaneceu. Com que satisfação, então, eu encontrei nas planícies de Sardis um pequeno estabelecimento religioso; os poucos cristãos que habitam em redor da moderna Sart estavam ansiosos por se instalarem lá e erguerem uma igreja, já que havia o hábito de se reunirem uns nas casas dos outros, para o exercício da religião. Deste objetivo, eles foram proibidos pelo Kar Osman Oglu, o governador turco do distrito; e, em conseqüência, cerca de cinco anos atrás, eles construíram uma igreja na planície, nos moldes da antiga Sardis, e lá mantêm um sacerdote. O lugar foi gradualmente erguido dentro de um pequeno vilarejo, agora chamado Tatar-keny; para lá, os poucos cristãos de Sart, que somam a sete, e aqueles em suas vizinhanças imediatas, lugar de adoração pública, formam juntos uma congregação de aproximadamente quarenta. Lá parece haver um vestígio, ‘alguns poucos nomes, mesmo em Sardis’, que tem sido preservado. Eu não posso repetir as expressões de gratidão com que eles receberam uma cópia do Novo Testamento, em uma língua que lhes era familiar. Diversos amontoaram-se em volta do sacerdote para a ouvirem no local, e eu os deixei assim comprometidos”. “6. Aki-hisar, a antiga TIATIRA, dizem conter cerca de trinta mil habitantes, dos quais três mil são cristãos, todos gregos, exceto duzentos armenianos. Existem, entretanto, apenas uma igreja grega, e uma armeniana. O superior da Igreja grega a quem eu presenteei com o Testamento Romaico, o considerou tão grande tesouro que ele sinceramente pressionou-me, se possível a reservar outro, para que um pudesse ficar seguro na igreja, e livre dos acidentes, enquanto o outro correria em meio ao povo, em suas leituras particulares. Assim sendo, eu enviei, desde que retornei de lá, quatro cópias”. “7. Pode-se dizer que a Igreja de PÉRGAMO, com respeito aos números, floreceu ainda em Bérgamo. A cidade é menor do que Ak-hisar, mas a quantidade de cristãos é tão grande, quanto a proporção de armenianos para com os gregos, aproximadamente é a mesma, e cada nação também tem uma igreja. O bispo do distrito, que ocasionalmente reside lá, estava, na oportunidade, ausente, e eu verifiquei, com grande pesar, que o clero residente era totalmente incapaz de avaliar o presente que eu pretendia a eles; portanto, entreguei o Testamento para o vigário leigo do bispo, a seu urgente pedido, e ele me assegurou que o bispo prezaria muitíssimo tão valiosa aquisição da igreja. Ele me pareceu muito satisfeito de que o estado ignorante de sua nação tenha despertado a atenção de estrangeiros”. 48 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE “Assim, senhor, eu deixei, pelo menos, uma cópia da palavra não adulterada de Deus, em cada uma das sete Igrejas asiáticas do Apocalipse, e confio que não serão jogadas fora; mas quem quer que possa plantar, é Deus apenas que poderá dar o crescimento, e, de sua bondade, podemos esperar que elas, no seu devido tempo, produzirão frutos, ‘algumas trinta, algumas sessenta, e algumas cem ovelhas’. HENRY LINDSAY”. Em minha nota sobre Atos 29:24, eu dei um relato do notável templo de Diana, em Éfeso, cuja construção, chamada uma das sete maravilhas do mundo, supõe-se que Paulo alude em sua epístola a esta Igreja, especialmente em Efésios 3:18, onde eu novamente dei a medida deste templo. 49 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO IV João vê o trono de Deus no céu, cercado por vinte e quatro anciãos; e quatro criaturas viventes, cheias de olhos; e todos se reuniram para dar glória ao Altíssimo. Notas sobre o Capítulo IV 4:1 – DEPOIS destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer. A porta foi aberta no céu – Esta parece uma abertura visível no céu, sobre sua cabeça. 4:2 - E logo fui arrebatado no Espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono. Estava no Espírito – Arrebatado, pelo êxtase 4:3 – E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra jaspe e sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono, e parecia semelhante à esmeralda. E aquele que estava sentado – Existe aqui nenhuma descrição do Ser Divino, de maneira a indicar alguma similude, forma ou dimensão. A descrição, antes, objetiva a glória e esplendor, circundantes, mais do que a pessoa do Rei Altíssimo. Veja uma descrição em Números 24:10, em diante, e suas notas. 4:4 - E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e tinham sobre suas cabeças coroas de ouro. Vinte e quatro anciãos – Talvez, refira-se ao menor Sinédrio em Jerusalém, que era composto de vinte e quatro anciãos; ou aos príncipes dos vinte e quatro cursos de sacerdotes judaicos que ministravam no tabernáculo e no templo, a princípio, indicados por Davi. Vestidos de branco – O vestuário dos sacerdotes. 50 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Sobre suas cabeças, coroas de ouro – Um emblema de dignidade. Os escritores judaicos representam as almas humanas, como sendo criadas, primeiro; e, antes que entrem no corpo, cada uma é tomada por um anjo no paraíso, onde ela vê os justos sentados na glória, com coroas sobre suas cabeças. Rab. Tanchum. 4:5 – E do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus. Sete lâmpadas de fogo – Sete anjos, os atendentes e ministros do Rei supremo. Veja capítulo 1:4, e suas notas. 4:6 – E havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal. E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por detrás. Quatro bestas – Quatro criaturas viventes, ou quatro animais. A palavra besta é impropriamente usada aqui, e em qualquer outro lugar nesta descrição. Wiclif primeiro a usou, e tradutores, em geral, o têm seguido nesta tradução estranha. Uma besta diante do trono de Deus no céu soa impróprio. 4:7 – E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro animal o rosto como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia voando. A primeira besta era como um leão – Supõe-se que exista uma referência aqui aos quatro estandartes ou emblemas das quatro divisões das tribos nos campos israelitas, como descritos pelos escritores judaicos. A primeira, como a face de um leão; dizem os rabinos, em referência ao estandarte de Judá no leste, com as duas tribos de Issacar e Zebulom. A segunda, como a de um bezerro ou boi, o emblema de Efraim, que acampou no oeste, com as duas tribos de Manassés e Benjamim. O terceiro, com a face de um homem, o que, de acordo com os rabinos, era o estandarte de Rúben que assentou no sul, com as duas tribos de Simeão e Gade. O quarto, como a de uma águia voando (expandida), de acordo com os mesmos escritores, o emblema sobre a insígnia de Dã, ao norte, com as duas tribos de Aser e Naftali. Esta descrição tradicional está de acordo com as quatro faces do querubim, na visão de Ezequiel. Veja minhas notas e diagramas em Números 2. 51 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A tradição cristã trata essas criaturas como emblemas dos quatro evangelistas. A João é atribuído a ÁGUIA; a Lucas, o BOI, a Marcos, o LEÃO, e a Mateus, o HOMEM, ou anjo na forma humana. Assim como os primeiros representaram o todo da Igreja ou congregação judaica, então, ao último é pretendido representar o todo da Igreja cristã. 4:8 – E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o TodoPoderoso, que era, e que é, e que há de vir. As quatro bestas têm cada uma, seis asas - Eu já observara, no prefácio deste livro, que a fraseologia é rabínica; e poderia ter acrescentado, do imaginário também. Praticamente, temos uma contraparte desta descrição em Pirkey Elieser, cap.4. Eu darei a essência deste, de Schoettgen. “Quatro legiões de anjos ministrantes louvam o santo abençoado Deus: o primeiro é Miguel, à direita; o próximo é Gabriel, à esquerda; o terceiro é Uriel, à frente; e o quarto é Rafael, atrás”. “O shechinah do santo, abençoado Deus, está no centro, e ele se senta sobre o trono supremo e elevado, suspenso no ar; e sua magnificência é âmbar, em meio ao fogo, Ezequiel 1:4. Sobre sua cabeça, uma coroa e um diadema, com o nome inexprimível, (hwhy Yehovah), inscrito em sua fronte. Seus olhos percorrem toda a terra; uma parte deles é fogo, a outra, granizo. À sua direita, está a Vida, e à esquerda, a Morte; e ele tem um cetro de fogo em sua mão. Diante dele, o véu estendido, o véu entre o templo e o corpo dos santos; e sete anjos ministram diante dele, com aquele véu: o véu e seu escabelo são como fogo e luz; e debaixo do trono da glória, um brilho como fogo e safira, e em redor do seu trono, justiça e julgamento”. “No trono, estão as sete nuvens de glória; e a carruagem, e o querubim, e as criaturas vivas que dão glória diante de sua face. O trono é como safira; e seus quatro pés são as quatro criaturas vivas; cada uma, com quatro faces e quatro asas. Quando Deus fala do leste, então, o faz entre os dois querubins, com a face de um HOMEM; quando fala do sul, dos dois querubins, com a face de um LEÃO; quando do oeste, dos dois querubins, com a face de um BOI; e quando fala do norte, dos dois querubins, com a face de uma ÁGUIA”. “E as criaturas vivas estão diante do trono da glória; e permanecem no medo, em tremor, em horror, e em grande agitação; e desta agitação, uma 52 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE corrente de fogo flui diante deles. Dos dois serafins, um se coloca à direita do santo Deus abençoado, e o outro, à esquerda; e cada um deles tem seis asas; com duas, eles cobrem suas faces, afim de que possam ver a face de shechinah; com duas, cobrem seus pés, para que descubram o escabelo de schechinah; e com duas, voam, e santificam seu grande nome. E cada um responde ao outro, dizendo, Santo, santo, santo, Senhor Deus dos exércitos; toda a terra está cheia de sua glória. E as criaturas vivas se colocam próximas à sua glória, ainda assim, não sabem onde ela se situa; mas, onde quer que sua glória esteja, eles clamam e dizem: Abençoado seja a glória do Senhor!”. Em Shemoth Rabba, Rabino Abin diz: “Existem quatro que têm principado neste mundo: em meio às criaturas intelectuais, o HOMEM; em meio aos pássaros, a ÁGUIA; em meio ao gado, o BOI; e em meio às bestas selvagens, o LEÃO: cada um deles tem um reino e certa magnificência, e eles estão colocados sob o trono da glória, Ezequiel 1:10 – ‘E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro’, para mostrar que nenhuma criatura deve exaltar a si mesma neste mundo, e que o reino de Deus está sobre tudo”. Essas criaturas podem ser consideradas representativas de toda a criação. 4:10 – Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: Lançavam suas coroas diante do trono – Reconhecendo a infinita supremacia de Deus, e que originaram sua existência e suas bênçãos dele somente. Esta é uma alusão ao costume de prostrações no oriente, e a deferência dos reis subordinados, em reconhecerem a supremacia do imperador. 4:11 – Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas. Tu és merecedor, Ó Senhor, de receber – Assim toda a criação reconhece a supremacia de Deus; e nós aprendemos desta canção, que ele fez todas as coisas para seu prazer; e, por este motivo, as preserva. Consequentemente, é mais evidente que ele odeie nada do que tenha feito, e não faria criatura inteligente com o objetivo de torná-la eternamente miserável. É estranho que uma suposição contrária tem sempre entrado no 53 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE coração do homem; e agora é o momento da natureza benevolente do supremo Deus ser completamente vindicada das calúnias deste tipo. 54 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO V Este livro, selado com sete selos, que nenhum ser no céu ou terra poderia abrir, 1-3. Por fim, é aberto pelo Leão da tribo de Judá, 4-8. Ele recebe o louvor das quatro criaturas viventes e dos vinte e quatro anciãos, 9-10. E, mais tarde, de uma multidão inumerável, que reconhece que eles foram redimidos para Deus, através de seu sangue, 11,12. E, então, de toda criação, que atribui bênção, honra, glória e poder a Deus e ao Cordeiro para sempre, 1314. Notas sobre o Capítulo V 5:1 – E VI na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos. Um livro escrito dentro e pelo lado de fora – Ou seja, o livro estava cheio de conteúdos solenes, mas foi selado; e do lado de fora, havia um subscrito, indicando seus conteúdos. Era um livro selado, escrito em cada lado da capa, o que não era usual. Selado com sete selos – Já que sete é o número da perfeição, pode significar que o livro foi assim selado, para que os selos não pudessem ser adulterados ou rompidos; por exemplo, o conteúdo do livro era tão obscuro e enigmático e a obra que ele reunia e os fatos, que predizia, tão difíceis e estupendos, que eles não poderiam ser conhecidos, nem executados pela sabedoria ou poder humano. 5:2 – E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos? Um anjo forte – Um dos chefes da legião angélica. Proclamando - Como o arauto de Deus. Para abrir o livro, e soltar os selos – Para soltar os selos, e abrir o livro. Quem pode dizer o que este livro contém? Quem pode desvendar seus mistérios? O livro pode significar os propósitos e desígnios de Deus, com respeito ao seu governo no mundo e Igreja; mas nós, cuja habitação é no pó, sabemos nada de tais coisas. Nós estamos, no entanto, determinados a supor. 55 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 5:3 – E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele. E nenhum homem – Nenhuma pessoa ou ser. No céu – Dentre os anjos de Deus. Nem na terra – Nenhum ser humano. Nem debaixo da terra – Nenhum espírito desencarnado, nem qualquer demônio. Nem anjos, homens, nem demônios podem penetrar nos decretos de Deus. Nem olhar dentro dele – Ninguém poderá fazê-lo, se ele não for aberto, e ninguém poderá abri-lo, sem que os selos sejam soltos. 5:4 – E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele. Eu chorei muito – Porque o mundo e a igreja seriam igualmente privadas do conhecimento dos conteúdos do livro. 5:5 – E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. O Leão da Tribo de Judá – Jesus Cristo, que se originou desta tribo, como sua genealogia prova; veja Mateus 1:2-3 e Lucas 3:33. Existe uma alusão aqui à Gênesis 49:9 “Judá é um leãozinho, da presa subiste, filho meu; encurva-se, e deita-se como um leão, e como um leão velho; quem o despertará?”. Judá é um filhote de leão; o leão era o emblema desta tribo, e supõe-se, ornado com esses emblemas. A Raiz de Davi – Veja Isaías 11:1 “Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará”. Cristo era da raiz de Davi, quanto à sua natureza divina; e um ramo do tronco de Jessé, quanto à sua natureza humana. Prevaleceu – Pelo mérito de sua encarnação, paixão e morte. 56 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Para abrir o livro – Esclarecer e executar todos os propósitos e decretos de Deus, em relação ao governo do mundo e da Igreja. 5:6 – E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra Havia um Cordeiro – Cristo é assim chamado, porque foi uma oferta de sacrifício; arnion significa um cordeiro pequeno ou frágil. Como se acabasse de ser morto – Para ser oferecido. Isto é muito notável; tão importante é a oferta sacrifical de Cristo aos olhos de Deus, que ele é ainda representado como no próprio ato em que derrama seu sangue pelas ofensas dos homens. Isto fornece grande proveito para a fé: quando alguma alma vem ao trono da graça, encontra um sacrifício, providenciado por ele a ser oferecido a Deus. Assim, todas as gerações subseqüentes certificam-se de que têm um sacrifício contínuo pronto, e o sangue recém derramado a oferecer. Com sete chifres – Uma vez que o chifre é o emblema do poder, e sete o número da perfeição, os sete chifres podem significar o todo poder predominante e infinito de Jesus Cristo. Ele pode apoiar todos os seus amigos; pode destruir todos os seus inimigos; pode salvar, ao extremo, todos que vêm a Deus, através dele. E sete olhos – Para mostrar seu conhecimento e sabedoria infinita: mas como esses sete olhos parecem significar os sete Espíritos de Deus, eles seriam, antes, sua providência, com a qual ele frequentemente emprega o ministro dos anjos; que são enviados para toda a terra. Veja capítulo 1:4. 5:7 – E veio, e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono. E pegou o livro – Este verso pode ser devidamente explicado por João, João 1:18, Nenhum homem viu Deus, em tempo algum; o Unigênito Filho, que está no seio do Pai, ele o REVELOU. Com Jesus somente estão todos os conselhos e mistérios de Deus. 5:8 – E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. 57 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE As quatro bestas – caíram diante do Cordeiro – Toda a Igreja de Deus e todos os seus filhos no céu e terra, reconhecem que Jesus Cristo é único merecedor e capaz de revelar e executar todos os mistérios e conselhos de Deus. Veja Versículo 9. Cada um, com harpas - Haviam harpas e salvas; e cada um dos anciãos e das criaturas vivas tinha uma. Odores que são como orações dos santos – O olíbano e odores oferecidos no tabernáculo eram símbolos de orações e louvores ao Senhor. Aquelas orações são comparadas a incenso. Veja Salmos 141:2: Que minhas orações sejam diante de ti, como incenso. Consequentemente, o que está na Synopyses Sohar: “Os odores das orações dos israelitas são como a mirra e olíbano; mas no Sabbath convém o aroma de todos os tipos de perfumes”. As palavras que são as orações dos santos devem ser entendidas como: este é meu corpo; isto significa ou representa meu corpo; esses odores representam as orações dos santos. 5:9 – E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; Um nova canção – Composto sobre os temas e bênçãos do Evangelho, que fora, há pouco, aberto na terra. Mas nova canção pode significar uma canção mais excelente; e, assim sendo, provavelmente significar o Evangelho e suas bênçãos. O Evangelho é chamado de uma nova canção em Salmos 96:1 “CANTAI ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a terra”. E, talvez, exista uma alusão às harpas, como em Salmos 144:9: Eu cantarei a ti uma NOVA CANÇÃO, ó Deus: junto ao saltério e ao instrumento de dez cordas, etc. A mesma forma de discurso, em Isaías 42:10: Cante ao Senhor um Cântico Novo, etc.; e aqui o profeta parece ter especialmente a dispensação evangélica, em vista. Tu nos redimiste para Deus – de todas as nações – Parece, portanto, que as criaturas vivas e os anciãos representam o agregado de seguidores de Deus; ou da Igreja cristã, em todas as nações, e dentre todos os tipos de pessoas, e, talvez, por todo o decurso de tempo; e todos, redimidos pelo sangue de Cristo, mostrando claramente que sua vida foi uma oferta sacrifical para os pecados de toda humanidade. 58 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 5:10 – E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra Reis e sacerdotes – Veja Êxodo 19:6 “E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel”; I Pedro 2:5, 9, e as notas. “Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. (...) Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. 5:11 – E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares, A voz de muitos anjos – Esses também são representados como reunidos em coro com os mortais redimidos. Milhares de milhares – “Miríades de miríades e quilíades de quilíades”; ou seja, uma multidão inumerável. Isto é em referência a Daniel 7:10 “Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros”. 5:12 – Que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças. Para receber o poder – Ou seja, Jesus Cristo é meritório de tomar, labein/capacitado, ter imputado a ele, poder – onipotência; riquezas – beneficência; sabedoria – onisciência; força – poder no exercício predominante; honra – a mais alta reputação para o que ele tem feito; glória – o louvor devido a tais ações; e bênçãos – o grato reconhecimento de toda a criação. Aqui existem sete diferentes tipos de louvor; e exatamente concordantes com as formas rabínicas, que o autor deste livro mantém constantemente em vista. Veja Sepher Rasiel: “Aos três pertencem glória, magnitude, poder, o reino; a honra, a vitória e o louvor”. 5:13 – E ouvi toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que 59 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre. Toda criatura – Toda criação, animada e inanimada, está representada aqui pela figura de linguagem, prosopopéia ou personificação, louvando ao Senhor Jesus, porque, através dele, todas as coisas foram criadas. Assim, toda a criação louva igualmente a Jesus Cristo, que, indubitavelmente, é representado aqui pelo Cordeiro recém morto, da mesma forma, que representa a Deus que se senta no trono. Agora, se Jesus Cristo não fosse propriamente Deus, isto seria idolatria, por dar à criatura o que pertence ao Criador. 5:14 – E os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e adoraram ao que vive para todo o sempre As quatro bestas disseram Amém – Reconheceram que o que foi atribuído a Cristo lhe era devido. Os vinte e quatro anciãos – A palavra eikositessarev, vinte e quatro, está faltando, nas mais eminentes manuscritos e versões. Prostraram-se e adoraram – Caíram de joelhos, e, então, prostraram-se diante do trono. Este é o modo oriental de adoração: primeiro, a pessoa cai de joelhos; e, então, curva-se e toca a terra com sua testa. Este último ato era a prostração. Aquele que vive para sempre – Este parágrafo está falando no ABC, vinte e sete outros, em Siríaco, Arábico, Cóptico, Etiópico, algumas cópias em Esloveno, Italiano, e Vulgata; e no Andréas e Arethas, comentadores anciãos deste livro. Falta também em algumas edições, e é indubitavelmente espúrio. Griesbach deixou este e os vinte e quatro acima, fora do texto. Agora se seguem as últimas partes inteligíveis deste livro misterioso, sobre as quais muito tem sido escrito, e tanto em vão. É natural ao homem o desejo de ser sábio; e quanto mais difícil o assunto, mais ele é estudado, e a esperança de encontrar alguma coisa que o mundo e a Igreja possam aproveitar, tem feito a maioria eminentemente de homens cultos empregar seu talento e gastar seu tempo nessas profecias abstrusa. Mas que uso tem todo este trabalho douto e bem-intencionado à humanidade? Pode a hipótese explicar a profecia, e 60 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE a conjectura encontrar uma base sobre a qual a fé pode repousar? E o que de melhor temos feito, em todas as tentativas de explicarmos os mistérios deste livro? 61 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO VI O que se segue ao abrir dos sete selos. O abrir do primeiro selo; o cavalo branco (1,2). O abrir do segundo selo; o cavalo vermelho (3,4). O terceiro; o cavalo negro, e a penúria (5,6). O abrir do quarto selo; o cavalo pálido (7,8). O abrir do quinto selo; as almas dos homens sob o altar, (9,11). O abrir do sexto selo; o terremoto, o escurecimento do sol e lua, e a queda das estrelas, (12,14). A consternação terrível dos reis e grandes homens da terra (15,17). Notas sobre o Capítulo VI 6:1 - E, HAVENDO o Cordeiro aberto um dos selos, olhei, e ouvi um dos quatro animais, que dizia como em voz de trovão: Vem, e vê. Quando o Cordeiro abriu um dos selos – Vale observar que o abrir dos selos não é meramente uma declaração do que Deus fará, mas a exibição de um propósito, então, executado; uma vez que, quando quer que o selo seja aberto, a sentença aparece para ser cumprida. Supôs-se que as calamidades que cairiam sobre os inimigos do Cristianismo, e especialmente os judeus, foram apontadas, sob várias imagens, assim como a preservação dos Cristãos, nestas calamidades. Uma das quatro bestas – Provavelmente aquela com a face de um leão. Veja capítulo 4:7. Vem e vê – Atendam ao que será exibido. É muito provável que tudo foi exibido diante de seus olhos, como em um cenário, e ele viu cada ato representado, e todas as pessoas e coisas que deveriam ser os atores principais. 6:2 – E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para vencer. Um cavalo branco – Que se supõe represente o sistema evangélico, e indique sua excelência, vivacidade e pureza. Aquele que se sentou nele – Jesus Cristo. 62 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Um arco – A pregação do Evangelho, lançando convicção nos corações dos pecadores. Uma coroa – O emblema do reino que Cristo deveria estabelecer sobre a terra. Vitorioso e para vencer – Para dominar e confundir, primeiro, os judeus, e, então, os pagãos; espalhando mais e mais doutrina e influência da cruz sobre a face da terra. 6:3 – E, havendo aberto o segundo selo, ouvi o segundo animal, dizendo: Vem, e vê. O segundo animal – O que tinha a face de um boi. 6:4 – E saiu outro cavalo, vermelho; e ao que estava assentado sobre ele foi dado que tirasse a paz da terra, e que se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada. Um outro, o cavalo vermelho – O símbolo da guerra; talvez, da severa perseguição, e martírio dos santos. Aquele que se senta nele – alguns dizem, Cristo; outros, Vespasiano; outros, o exército romano; outros, Artabano, rei dos Parcianos, etc... Para tirar a paz da terra – Privar a Judéia de toda a tranqüilidade. Eles deveriam matar um ao outro – Isto foi literalmente o caso dos judeus, enquanto sitiado pelos romanos. Uma grande espada – Grande influência e sucesso, produzindo terrível massacre. 6:5 – E, havendo aberto o terceiro selo, ouvi dizer ao terceiro animal: Vem, e vê. E olhei, e eis um cavalo preto e o que sobre ele estava assentado tinha uma balança na mão. A terceira besta – O símbolo da penúria. Alguns acreditam seja a que aconteceu sob o governo de Cláudio. Veja Mateus 24:7 “Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares”; o mesmo que foi predito por Ágabo, Atos 63 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 11:28 “E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César”. Um par de balanças – Para mostrar que a escassez seria tal, que cada pessoa deveria ser colocada sob uma permissão. 6:6 – E ouvi uma voz no meio dos quatro animais, que dizia: Uma medida de trigo por um dinheiro, e três medidas de cevada por um dinheiro; e não danifiques o azeite e o vinho. Uma medida de trigo por um dinheiro – Chaenix, mencionada aqui, era uma medida das coisas secas; e, embora a capacidade não seja exatamente conhecida, concorda-se que ela continha tanto quanto um homem poderia consumir em um dia; e um dinheiro, o denário romano, era o pagamento comum de um trabalhador. Assim sendo, parece que nesta escassez, cada um seria capaz de obter uma mera subsistência, através de seu trabalho diário; mas um homem não poderia, em tais casos, providenciar para uma família. Três medidas de cevada – Esta parece ter sido a proporção de valor, entre o trigo e a cevada. A cevada fornecia um alimento pobre, e era dada aos soldados romanos, em vez do trigo, como forma de punição. Não danifique o óleo e o vinho – Seja econômico: não os use como iguarias, mas por necessidade; porque nem os vinhos, nem as oliveiras, serão produtivos. 6:7 – E, havendo aberto o quarto selo, ouvi a voz do quarto animal, que dizia: Vem, e vê. A quarta besta – A que tinha a cabeça de uma águia. 6:8 – E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra, com espada, e com fome, e com peste, e com as feras da terra. Um cavalo amarelo – O símbolo da morte. Pallida mors, pálida morte, era um epíteto poético muito usual; deste símbolo não deve haver dúvida, porque imediatamente é dito: E o que estava assentado sobre ele era a Morte. 64 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E o inferno seguiu com ele – Em referência à sepultura, ou o estado do morto, depois do assassinato. Está é uma prosopopéia, ou personificação, muito elegante. Sobre a quarta parte da terra – Um quarto da humanidade deveria sentir os efeitos desoladores deste selo. Para matar com a espada – GUERRA; com fome – ESCASSEZ; com morte – PESTILÊNCIA; e com as bestas da terra – leões, tigres, hienas, etc., que se multiplicariam, em conseqüência das devastações ocasionadas pela guerra, fome, e pestilência. 6:9 – E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. O quinto selo – Não existe animal, nem qualquer outro ser para apresentar este selo, nem parece haver um novo evento previsto; mas o todo é pretendido para confortar os seguidores de Deus, debaixo de suas perseguições, e encorajá-los a suportarem suas aflições. Eu vi sob o altar – Uma visão simbólica foi mostrada, na qual ele viu um altar; e sob ele, as almas daqueles que haviam sido assassinados, por causa da Palavra de Deus – os martirizados pela sua adesão ao Cristianismo são representados como recém assassinados como vítimas da idolatria e superstição. O altar está na terra, e não, no céu. 6:10 – E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E eles gritaram em voz alta – Ou seja, o sangue deles, como aquele de Hebel, clamou por vingança; porque não devemos supor que exista alguma coisa como um espírito vingativo naquelas almas felizes e santas, que derramaram seu sangue pelo testemunho de Jesus. Algumas vezes, dizemos que o sangue clama pelo sangue; ou seja, com respeito à justiça divina, todo assassino, e todo perseguidor assassino, deverão ser punidos. Oh! Senhor – Soberano Senhor, supremo Governador; alguém que tem e exercita autoridade ilimitada, e desimpedida. 65 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Santo – Em tua própria natureza, odiando a iniqüidade; E verdadeiro – Em todas as tuas promessas e ameaças; Por que não julgas – Os perseguidores; E te vinga de nosso sangue – Inflige punição notável; Sobre aqueles que habitam na terra? – Provavelmente, significando a perseguição aos judeus; eles habitam sobre aquela terra, uma figura de linguagem, com a qual, Judéia é frequentemente representada no Novo Testamento. 6:11 – E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram. Trajes brancos – Os emblemas de pureza, inocência, e triunfo. Eles deveriam descansar ainda por um pouco de tempo – Isto quer dizer que, quando o cálice da iniqüidade dos judeus estivesse cheio, eles seriam, então, punidos em quantidade. Eles estavam determinados a irem mais além, e Deus lhes permitiu que assim fizessem; reservando a plenitude de sua punição, até que eles tivessem preenchido a medida de iniqüidade. Se este livro foi escrito antes da destruição de Jerusalém, como é mais provável, então, esta destruição é aquela que deveria cair sobre os judeus; e o tempo ou época era aquela que transcorreu entre o martírio deles, ou a data deste livro, e a destruição final de Jerusalém pelos romanos, sob o governo de Vespasiano, e de seu filho Tito, por volta de 70 d.C. O que se segue pode se referir à destruição do império pagão romano. 6:12 – E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um grande tremor de terra; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua tornou-se como sangue; O sexto selo – Este selo também é aberto e introduzido apenas por Jesus Cristo. Um grande terremoto – A mais estupenda mudança na constituição civil e religiosa do mundo. Se isto se refere a Constantino, o Grande, a mudança que foi feita por sua conversão ao Cristianismo seria muito apropriadamente representada sob o símbolo de um terremoto, e os outros símbolos mencionados neste e nos versículos seguintes. O sol – O governo pagão antigo do Império romano, foi totalmente obscurecido; e como um negro fiapo de aniagem, foi degradado e humilhado. 66 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A lua – O estado eclesiástico do mesmo Império tornou-se como sangue – foi totalmente arruinado, seus ritos sagrados abolidos, seus sacerdotes e instituições religiosas violadas, seus altares derrubados, seus templos destruídos, ou se transformaram em lugares de adoração cristã. 6:13 – E as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte. As estrelas do céu – Os deuses e deuses, semideuses, e heróis idolatrados, ou seu paraíso poético e mitológico, foram prostrados indiscriminadamente, e considerados tão inúteis, quanto os figos ou frutos de uma árvore balançada, antes de maduros, por um vento tempestuoso. 6:14 – E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares. E o céu retirou-se, como um rolo de papel – Todo o sistema de adoração pagã e idólatra, com todas as suas influências espirituais, seculares, e supersticiosas, foi destruído, murchou-se e se tornou nulo e vazio, como um pergaminho que se enrola, quando exposto à ação de um fogo forte. E todos os montes - Todos os esteios, suportes e dependência do império, se aliados reais, reinos tributários, colônias dependentes, ou tropas mercenárias, foram todos removidos de seus lugares, de maneira a não permanecerem por mais tempo, na mesma relação com aquele império, e sua adoração, apoio e manutenção, como eles anteriormente fizeram. E ilhas – Os templos pagãos, com seus arredores e muros, separados das pessoas comuns, para os quais ninguém viria, a não ser os privilegiados, podem aqui ser representados pelas ilhas, pelas mesmas razões. 6:15 – E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas rochas das montanhas; Os reis da terra, etc. – Todos os poderes seculares, quem se esforçaram para apoiarem a adoração pagã, através de autoridade, influência, riquezas, sabedoria política, e habilidade militar; com todos os escravos, todos os servos, ligados aos seus mestres e proprietários. 67 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E todo homem livre – Aqueles que foram alforriados, comumente chamados de homens livres, e que estavam ligados, por gratidão, às famílias de seus libertadores. Todos se esconderam – ficaram atônitos com a total queda do império pagão, e a revolução que tomou lugar. 6:16 – E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro; E disseram para os montes e rochas – Expressões que denotam a mais forte perturbação e alarme. Eles preferiram qualquer tipo de morte àquilo que eles perceberam da mais terrível revolução. Da face daquele que se senta no trono – Eles agora viram que todos esses julgamentos vieram do Altíssimo; e que Cristo, o autor do Cristianismo, os estava agora julgando, condenando, e destruindo, por causa das cruéis perseguições de seus seguidores. 6:17 – Porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá subsistir? Por causa do grande dia de sua ira – O tempo decisivo e manifesto, no qual ele executará o julgamento sobre os opressores de seu povo. Quem será capaz de ficar de pé? – Nenhum poder poderá prevalecer contra o poder de Deus. Todas essas coisas podem ser literalmente aplicadas à destruição final de Jerusalém, e à revolução que tomou lugar no Império Romano, sob o governo de Constantino, o Grande. Alguns os aplicam ao dia do julgamento; mas eles não parecem ter aquele terrível evento em vista. Esses dois eventos foram os maiores que alguma vez tomou lugar no mundo, desde o dilúvio, até o século dezoito da era cristã; e pode bem justificar a forte figura de linguagem usada acima. Embora eu não pretenda dizer que minhas observações sobre este capítulo apontam para sua verdadeira significação, ainda assim, eu encontrei outros que o aplicaram da mesma forma. Dr. Dodd observa que a queda de Babilônia, Iduméia, Judá, Egito, e Jerusalém foi descrita pelos profetas na linguagem igualmente pomposa, figurativa e forte. Veja Isaías 13:10 “Porque as estrelas dos céus e as suas constelações não darão a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não resplandecerá com a sua luz”; 34:4 “E todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um livro; e todo 68 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE o seu exército cairá, como cai a folha da vide e como cai o figo da figueira”, concernente Babilônia e Iduméia; Jeremias 4:23,24 “Observei a terra, e eis que era sem forma e vazia; também os céus, e não tinham a sua luz. Observei os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam”, concernente a Judá; Ezequiel 32:7 “E, apagando-te eu, cobrirei os céus, e enegrecerei as suas estrelas; ao sol encobrirei com uma nuvem, e a lua não fará resplandecer a sua luz”, concernente ao Egito; Joel 2:10, 31 “Diante dele tremerá a terra, abalar-se-ão os céus; o sol e a lua se enegrecerão, e as estrelas retirarão o seu resplendor. (...) O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor”, concernente a Jerusalém; e o próprio nosso Senhor, Mateus 24:29 “E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas”, concernente à mesma cidade. “Agora”, diz ele, “é certo que a queda de algum desses três reinos não foi de mais preocupação ou conseqüência para o mundo, nem mais merecedor de ser descrito nas figuras pomposas, do que a queda do Império Romano, quando as grandes luzes do mundo pagão, o sol, lua, e estrelas, os poderes civil e eclesiástico, foram todos eclipsados e obscurecidos, os imperadores pagãos e Césares foram assassinados, os sacerdotes pagãos e augures foram extirpados, os oficiais e magistrados pagãos foram removidos, os templos, demolidos. E seus rendimentos tiveram usos melhores. É costume dos profetas, depois que descreveram alguma coisa da maneira mais simbólica ou figurativa, representar o mesmo novamente em uma linguagem mais clara; e o mesmo método é observado aqui, Versículo 15-17 ‘Quando, pois, virdes que a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo; quem lê, atenda; Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; E quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa’: E os reis da terra, etc. Ou seja. Maximin, Galerius, Maxentius, Licinius, etc.. com todos os seus adeptos e seguidores, foram assim derrotados e dispersados, de maneira a se esconderem em covis, etc; expressões usadas para denotarem o mais extremo terror e confusão. Ou seja, portanto, um triunfo de Cristo sobre seus inimigos pagãos, e um triunfo, depois de perseguição severa; de maneira que o tempo e todas as circunstâncias, assim como as séries e ordem da profecia, concordam perfeitamente com esta interpretação. Galerius, Maximin, e Licinius, fizeram, até mesmo, uma confissão pública da culpa deles, recordaram seus decretos e editais contra os cristãos, e reconheceram os julgamentos justo de Deus e de Cristo na própria destruição deles”. Veja Newton Lowman, e Dr. Doss sobre este capítulo, com as obras de diversos autores mais recentes. 69 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO VII Os quatro anjos, segurando os quatro ventos do céu, 1. O anjo com o selo do Deus vivo, e selando os servos de Deus das doze tribos, cujo número somava cento e quarenta e quatro mil, 2-8. Além desses, havia uma inumerável multidão de todas as nações, que dava glória a Deus e ao Cordeiro, 9-12. Um dos anciãos mostra quem são eles, e descreve o estado mais feliz deles, 13-17. Notas sobre o Capítulo VII 7:1 - E DEPOIS destas coisas vi quatro anjos que estavam sobre os quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore alguma. E depois dessas coisas – Imediatamente depois da visão precedente. Eu vi quatro anjos – instrumentos que Deus emprega na dispensação de sua providência; não sabemos qual. Dos quatro cantos da terra - Das partes extremas da terra da Judéia, chamada h gh, região ou terra, pelo tipo de importância. Segurando os quatro ventos – Impedindo o mal de cada canto. Terra-mar, e de sobre alguma árvore; com toda a terra livre do mal, até que a Igreja de Cristo se fortalecesse, e cada um dos seus seguidores tivesse tempo de preparar sua fuga de Jerusalém, antes de sua total destruição pelos Romanos. 7:2 – E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o selo do Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado o poder de danificar a terra e o mar, O selo do Deus vivo – Este anjo é representado como o chanceler do Rei supremo, já que ascende do leste, de onde nasce o sol. Alguns entendem isto, como se tratando de Cristo, que é chamado anatolh, o oriente, Lucas 1:78 “Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou”. Quatro anjos, aos quais foi permitido ferirem – Agentes específicos, empregados pela providência Divina no trato dos assuntos terrenos; mas, se espirituais ou materiais, não sabemos. 7:3 – Dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos assinalado nas suas testas os servos do nosso Deus. 70 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Até que tenhamos selado os servos de nosso Deus – Existe declaradamente uma alusão aqui a Ezequiel 9:4 “E disse-lhe o Senhor: Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que se comete no meio dela”. Por selar, devemos entender o consagrar as pessoas, de uma maneira mais especial a Deus, e mostrar por esta marca de Deus sobre elas, que estavam debaixo de sua mais imediata proteção, e que nada poderia feri-las. Era um costume do oriente, e, de fato, do ocidente também, marcar com ferro quente o nome do dono, na testa ou ombro de seu escravo. -- É merecedor de nota que nenhum cristão pereceu no cerco a Jerusalém; todos deixaram a cidade, e escaparam para Pella. Isto, eu frequentemente tenho a oportunidade de comunicar. 7:4 - E ouvi o número dos assinalados, e eram cento e quarenta e quatro mil assinalados, de todas as tribos dos filhos de Israel. Eu ouvi o número daqueles que foram selados - Nos cento e quarenta e quatro mil, estão incluídos todos os judeus convertidos ao Cristianismo; 12.000 de cada uma das doze tribos; mas isto pode ser apenas um número certo para um número incerto; porque não se deve supor que exatamente 12.000 foram convertidos de cada uma das doze tribos. 7:5 – Da tribo de Judá, havia doze mil assinalados; da tribo de Rúben, doze mil assinalados; da tribo de Gade, doze mil assinalados; Da tribo de Judá, etc – Primeiro, devemos observar que a tribo de Levi é aqui mencionada, embora aquela tribo não tenha herança em Israel, mas eles pertenciam ao sacerdócio espiritual. Segundo, que a tribo de Dã, que tinha uma herança, é aqui omitida; assim como a tribo de Efraim. Terceiro, que a tribo de José foi acrescentada no lugar de Efraim. Efraim e Dã, como os principais promotores da idolatria, foram deixados fora desta enumeração. 7:9 - Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; Uma grande multidão – Isto parece significar a Igreja de Cristo, em meio aos gentios, porque era diferente daquela reunida das doze tribos; e aqui refere-se a todas as nações, família, pessoas, e línguas. Vestidos com vestes 71 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE brancas – Como emblemas de inocência e pureza. Com palmas em suas mãos, em sinal de vitória conseguida sobre o mundo, o diabo, e a carne. 7:10 – E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. Salvação a nosso Deus – Ou seja, somente Deus é autor da salvação do homem; e esta salvação é buscada e dada a ele, através do Cordeiro, como sacrifício expiatório. 7:11 – E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus, Todos os anjos, etc... Já que existe alegria na presença de Deus, em meio aos espíritos santos, quando um pecador se arrepende, não é de se admirar que eles tenham interesse, em reunirem tais inumeráveis multidões que estejam totalmente salvas de seus pecados. 7:12 – Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém. Dizendo, Amém – Dando sua mais cordial e grata permissão aos louvores atribuídos a Deus e ao Cordeiro. Bênção, e glória, etc. – Existem aqui sete diferentes tipos de louvores, atribuídos a Deus, como no capítulo 5:12, onde vemos a nota. [Que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra e glória, e ações de graças]. 7:13 – E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? Um dos anciãos respondeu – Na maneira hebraica. A questão é aqui feita, para que o proponente possa ter a oportunidade de respondê-la. 7:14 – E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. 72 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Senhor, tu sabes – ou seja, eu não sei, mas tu podes me informar. Saíram da grande tribulação – Das perseguições de todo tipo. E lavaram suas vestes – Obtiveram o perdão e pureza, através do sangue do Cordeiro. Suas vestes brancas não podem significar a retidão de Cristo, porque esta não pode ser lavada e tornar-se branca em seu próprio sangue. Este linho branco diz-se tratar-se da retidão dos santos. Apocalipse 19:8 “E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos”, e esta é a retidão, com que permaneceram diante do trono; portanto não se trata da retidão de Cristo, mas é uma retidão forjada neles, pelo mérito do sangue de Cristo, e poder de seu Espírito. 7:15 – Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra. Portanto – Porque eles estão lavados no sangue do Cordeiro, eles estão diante do trono – admitidos para a presença imediata de Deus. E servem a Ele, dia e noite – Sem cessarem; preenchidos com o espírito da oração, fé, amor e obediência. Deverá habitar entre eles – Ele vive em sua própria Igreja, e no coração de cada crente verdadeiro. 7:16 – Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calma alguma cairá sobre eles. Eles não mais sentirão fome – Eles não mais serão privados de suas ordenanças religiosas, e as bênçãos que as atendem, como quando eram perseguidos. Nem o sol brilhará sobre eles – Seus governantes seculares, convertidos a Deus, tornam-se sacerdotes protetores da Igreja. Nem algum calor – Nem perseguição, nem aflição de qualquer tipo. Essas, os Hebreus expressavam usando o termo calor, ardente, etc. 7:17 – Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima. O Cordeiro – O Senhor Jesus, entronizado com seu Pai, na inefável glória. Deverá alimentá-los – Transmitirá a eles todas as coisas preparadas para a segurança, continuidade e crescimento da felicidade deles. Fontes de água viva – Uma fonte na fraseologia Hebraica é denominada água viva, porque constantemente em ebulição, e fluindo. Por essas fontes perpétuas, entendemos fontes sem fim de conforto e felicidade, que Jesus Cristo abrirá de sua própria 73 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE plenitude infinita a todas as almas glorificadas. Essas eternas fontes vivas trarão variedade infinita de desfrutes aos abençoados. Não haverá similaridade, e consequentemente, nenhuma náusea com o desfruto perpétuo das mesmas coisas; a cada momento serão abertas novas fontes de prazer, instrução, e crescimento; eles terão uma eterna progressão na plenitude de Deus. E como Deus é infinito, então, seus atributos são infinitos; e através da infinitude, mais e mais daqueles atributos serão revelados; e a descoberta de cada um será uma nova fonte ou busca de prazer e desfrute. Essas fontes serão abertas, por toda a eternidade, e, mesmo, por toda a eternidade, ainda haverá, na mais absoluta perfeição do Divino, uma infinidade delas a serem abertas! Esta é uma das mais belas imagens na Bíblia. Deus enxugará – Da maneira mais afetuosa e paternal; todas as lágrimas – tudo que causa angústia e aflição. Eles terão felicidade pura e genuína. Leitor, esta é a felicidade daqueles que estão limpos de seus pecados. Tu estás limpo? Ó, não descansa, até que tu estejas preparado para aparecer diante de Deus e do Cordeiro. Se esses santos não se defrontaram com preocupações e angústias, com toda a plausibilidade, eles não excederam tanto na retidão e verdadeira santidade. Quando todas as vias de conforto mundano estão fechadas, somos obrigados a buscarmos nosso tudo em Deus; e não existe coisa alguma buscada Nele, que não seja encontrada Nele. 74 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO VIII A abertura do sétimo selo, 1. Os sete anjos com as sete trombetas, 2,6. O primeiro toca, e há uma chuva de pedras, fogo, e sangue, 7. O segundo toca, e a montanha em fogo é lançada no mar, 8,9. O terceiro toca, e a grande estrela Absinto cai do céu. 10,11. O quarto toca. E o sol, lua, e estrelas são atingidos; e o triplo é pronunciado contra os habitantes da terra, devido aos três anjos que ainda deverão tocar, 12,13. Notas sobre o Capítulo 8. 8:1 - E, HAVENDO aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora. O sétimo selo – Profetizado e aberto apenas pelo Cordeiro. O silêncio no céu pode se tratar de uma mera metáfora, porque significa aqui a expectativa profunda e solene das coisas estupendas que acontecerão, com a abertura deste selo. Quando alguma coisa prodigiosa e surpreendente é esperada, tudo fica em silêncio, e até mesmo a respiração é dificilmente ouvida. Meia hora – Como o céu pode significar o lugar em que todas essas representações foram feitas por João, meia hora pode ser considerado o tempo durante o qual nenhuma representação aconteceu, o tempo em que Deus preparava a augusta exibição que se segue. Existe aqui, e nos versículos seguintes, uma forte alusão às diferentes partes do templo de adoração; uma presunção de que o templo ainda permanecia, e o serviço regular de Deus, era conduzido. O silêncio refere-se a este intervalo, em que o sacerdote saía para ascender o incenso, no lugar sagrado, e todas as pessoas continuavam em oração mental silenciosa, até que o sacerdote retornasse. Veja Lucas 1:10 “E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso”. O anjo aqui mencionado parece executar o ofício do sacerdote, como, daqui por diante, podemos ver. 8:2 – E vi os sete anjos, que estavam diante de Deus, e foram-lhes dadas sete trombetas. Os sete anjos que permaneceram diante de Deus – Provavelmente, os mesmos que aqueles chamados de sete Espíritos que estão diante do trono Dele, capítulo 1:4, onde vemos a nota. Existe ainda uma alusão aqui aos sete 75 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE ministros dos monarcas Persas. Veja Tobit 12:15. “Porque eu sou o anjo Rafael, um dos sete, que permanecem diante do Senhor”. 8:3 – E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono. Um outro anjo – Para executar o ofício do sacerdote. Com um incensório de ouro - Esta era uma preparação peculiar do dia da expiação. “Nos outros dias, era costume do sacerdote tomar o fogo do grande altar, em um incensório de prata, mas no dia da expiação, o sumo sacerdote tomava o fogo do grande altar, em um incensório de ouro, e, quando ele se dirigia do grande altar, ele tomava o incenso de um dos sacerdotes, trazido até ele, e se dirigia ao altar dourado, e, enquanto oferecia o incenso, as pessoas oravam fora em silêncio, que é o silêncio no céu, de meia hora”. Veja Sir Isaac Newton. Muito incenso para que pudessem oferecer – Os julgamentos de Deus estão prestes a serem executados; os santos – os cristãos genuínos pedem muito aqui a proteção de Deus. O sacerdote angélico vem com o incenso, se coloca entre os vivos e aqueles consignados para a morte, e oferece seu incenso a Deus, juntamente com as orações dos santos. 8:4 – E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos desde a mão do anjo até diante de Deus. A fumaça do incenso juntamente com as orações – Embora o próprio incenso possa ser um emblema das orações dos santos, Salmos 141:2 “Suba a minha oração perante a tua face como incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde”; ainda assim, significa aqui o ascender diante de Deus, como acontece com o incenso. Não é dito que o anjo apresenta essas orações. Ele apresenta o incenso, as orações ascendem juntamente com ele. O ascender do incenso mostra que as orações e oferenda foram aceitas. 8:5 – E o anjo tomou o incensário, e o encheu do fogo do altar, e o lançou sobre a terra; e houve depois vozes, e trovões, e relâmpagos e terremotos. E o lançou sobre a terra – Ou seja, a terra da Judéia; anunciando os julgamentos e desolações que viriam agora sobre ela, e que aconteceriam, mais adiante, ao som das sete trombetas. Ouviam-se vozes – Todas essas pareciam 76 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE indicar a confusão, comoções, aflições e misérias, que viriam sobre aquele povo, nas guerras prestes a acontecerem. 8:6 – E os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-se para tocá-las. Preparem-se para o som – Cada um tome a sua trombeta, e se prepare para tocar. As guerras são aqui mencionadas; a trombeta era o símbolo da guerra. 8:7 – E o primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva e fogo misturado com sangue, e foram lançados na terra, que foi queimada na sua terça parte; queimou-se a terça parte das árvores, e toda a erva verde foi queimada. Chuva de pedra e fogo, misturada com sangue – Tratava-se de alguma coisa como a nona praga do Egito, Veja Êxodo 9:18-24 “O Senhor enviou trovão e raio – e fogo misturado com o raio – e o fogo correu pelo chão”. No raio e fogo, misturados com sangue, algumas imaginações férteis poderiam encontrar a pólvora e as balas de canhão, e tiros e bombas. E foram lançadas sobre a terra - eiv thn ghn? Naquela região; a saber, a Judéia é assim frequentemente designada. E a terça parte das árvores – Diante deste parágrafo o Códex Alexandrino, trinta e cinco outros, o Siríaco, Arábico, Etíope, Armenianio, Eslavônico, Vulgate, Andréas, Aretas, e alguns outros, têm kai to triton thv ghv katekah? E a terça parte da terra foi queimada. Esta leitura, que é indubitavelmente genuína, é encontrada também na Bíblia Poliglota Complutesiana. Griebasch a recebeu no texto. A terra foi devastada; as árvores – os chefes da nação - foram destruídas; e a grama – o povo comum, escravo, ou levado em cativeiro. Classe alta e baixa, rico e pobre - foi aniquilada, com uma destruição geral. Esses parecem ser os significados dessas figuras. Muitos homens eminentes supõem que a invasão das nações bárbaras sobre o Império Romano está pretendida aqui. É fácil encontrar coincidências, quando a fantasia comete exageros. Mais tarde, os escritores poderiam entender como se tratando da invasão dos 77 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Austríacos e Britânicos, e Prússios, Russos, e Cossacos, sobre o Império Francês. 8:8 – E o segundo anjo tocou a trombeta; e foi lançada no mar uma coisa como um grande monte ardendo em fogo, e tornou-se em sangue a terça parte do mar. Uma grande montanha em chamas – O que se supõe significa as nações poderosas que invadiram o Império Romano. A montanha, na linguagem profética, significa um reino; Jeremias 51:25, 27, 30, 58 “Eis-me aqui contra ti, ó monte destruidor, diz o SENHOR, que destróis toda a terra; e estenderei a minha mão contra ti, e te revolverei das rochas, e farei de ti um monte de queima”. “Arvorai um estandarte na terra, tocai a buzina entre as nações, preparai as nações contra ela, convocai contra ela os reinos de Ararate, Mini, e Asquenaz; ordenai contra ela um capitão, fazei subir cavalos, como lagartas eriçadas”. “Os poderosos de Babilônia cessaram de pelejar, ficaram nas fortalezas, desfaleceu a sua força, tornaram-se como mulheres; incendiaram as suas moradas, quebrados foram os seus ferrolhos”. “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Os largos muros de Babilônia serão totalmente derrubados, e as suas altas portas serão abrasadas pelo fogo; e trabalharão os povos em vão, e as nações no fogo, e eles se cansarão”. Grandes desordens, especialmente, quando os reinos são estremecidos pelas invasões hostis, são representadas aqui pelas montanhas sendo lançadas no meio do mar. Salmos 46:2 “Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares”. Mares e muitas águas significam as pessoas, como é mostrado neste livro no capítulo 27:15 “- E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas”. Portanto, grandes comoções nos Reinos e em meio aos seus habitantes podem ser pretendidas aqui, mas, quanto a quem, onde e quando esses aconteceram, ou estão por acontecer, não sabemos. A terceira parte do mar tornou-se sangue – Uma outra alusão às pragas egípcias. Êxodo 7:20,21 “E Moisés e Arão fizeram assim como o Senhor tinha mandado; e Arão levantou a vara, e feriu as águas que estavam no rio, diante dos olhos de Faraó, e diante dos olhos de seus servos; e todas as águas do rio se tornaram em sangue, e os peixes, que estavam no rio, morreram, e o rio cheirou mal, e os egípcios não podiam beber a água do rio; e houve sangue por toda a terra do Egito”. A terça parte é um dialeto rabínico, expressando um número considerável. “Quando o Rabino Akiba orou, chorou, despedaçou suas vestes, tirou seus sapatos, e sentou-se no pó, o mundo foi golpeado com 78 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE uma praga; e, então, a terceira parte das olivas, a terceira parte do trigo, e a terceira parte da cevada, foram atingidas”. Rabino Mardochaeus, em Notitia Karaeorum p. 102. 8:9 - E morreu a terça parte das criaturas que tinham vida no mar; e perdeu-se a terça parte das naus. A terceira parte dos navios foi destruída – Esses julgamentos parecem ser derramados sobre a nação marítima, destruindo muito de sua população, e muito de seu tráfego. 8:10 – E o terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma grande estrela ardendo como uma tocha, e caiu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas. Caiu uma grande estrela do céu – Isto tem levantado muitas conjecturas. Alguns dizem que a estrela significa Átila e seus Hunos; outros, Genserico com seus Vândalos caindo sobre a cidade de Roma; outros, Eleazer, o filho de Annas, rejeitando as vítimas do imperador, e instigando a fúria dos Zelotes; outros, Arios, infectando a pura doutrina cristã com sua heresia, etc, etc,,, Certamente não pode significar todos esses; e, provavelmente signifique nenhum deles. Que o leitor julgue. 8:11 – E o nome da estrela era Absinto, e a terça parte das águas tornou-se em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque se tornaram amargas. A estrela é chamada de Absinto – Assim chamada, devido aos seus amargos e aflitivos produzidos por sua influência. 8:12 - E o quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas; para que a terça parte deles se escurecesse, e a terça parte do dia não brilhasse, e semelhantemente a noite. A terceira parte do sol-lua-estrelas foi atingida – Supõem-se significar Roma, com seus senadores, cônsules, etc., eclipsada por Odoacer, rei de Heruli, e Teodorico, rei de Ostrogotes, no quinto século. Mas tudo isto é incerto. 79 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 8:13 – E olhei, e ouvi um anjo voar pelo meio do céu, dizendo com grande voz: Ai! ai! ai! dos que habitam sobre a terra! por causa das outras vozes das trombetas dos três anjos que hão de ainda tocar. Eu ouvi um anjo voando – Em vez de aggelou petwmenou, um anjo voando, em quase toda MS, e versão da nota tem aetou petwmenon, uma água voando. A águia era o símbolo dos Romanos, e sempre está em suas insígnias. As três pragas afirmadas aqui seriam executadas, provavelmente, por este povo, e nos judeus e suas comunidades. Tomados neste sentido, os símbolos parecem consistentes e apropriados; e ler águia em vez de anjo é, sem dúvida, genuíno, e Griesbach o recebeu no texto. 80 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO IX O quinto anjo toca, e uma estrela cai do céu. 1. O abismo sem fim é aberto, e gafanhotos saem para a terra, 2, 3. A comissão deles, 4, 6. A forma deles, 7,10. O governo deles, 11,12. O sexto anjo toca, e os quatro anjos, presos em Eufrates são soltos, 13,15. O exército dos cavaleiros, e a descrição deles, 16,19. Embora muitos males sejam infligidos sobre os homens, por causa da idolatria deles, etc., eles não se arrependem, 20,21. Notas do Capítulo 9 9:1 – E O QUINTO anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Uma estrela cai do céu – Um anjo rodeado de luz, subitamente desceu, e se assemelhava a uma estrela caindo do céu. A chave do poço do abismo – O poder para inundar a terra, com uma enxurrada de calamidades temporais e males morais. 9:2 – E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como a fumaça de uma grande fornalha, e com a fumaça do poço escureceu-se o sol e o ar. Ele abriu o poço do abismo – semelhante a thv abussou? O poço do abismo profundo. Alguns acreditam que o anjo signifique satanás, e o abismo sem fim, o inferno. Alguns supõem tratar-se de Maomé; e Signior Pastorini professa acreditar que Lutero é pretendido aqui! E uma fumaça se levantou – A falsa doutrina, obscurecendo a luz verdadeira do céu. 9:3 – E da fumaça vieram gafanhotos sobre a terra; e foi-lhes dado poder, como o poder que têm os escorpiões da terra. Vasta horda de tropas militares: a descrição que se segue certamente concorda melhor com os Saracenos do que com qualquer outra pessoa ou nação, mas pode também se aplicar aos Romanos. 81 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Como os escorpiões da terra têm poder – para ferirem os homens, com seus ferrões. Os escorpiões podem significar arqueiros; e, consequentemente, a descrição tem sido aplicada a Cestius Gallus, o general Romano, que tinha muitos arqueiros em seu exército. 9:4 - E foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm nas suas testas o sinal de Deus. Eles não deveriam machucar a grama – Não deveriam machucar o povo comum, os homens de condição mediana, nem os nobres. No entanto, isto parece antes referir-se aos conselhos prudentes de um chefe militar, e não à destruição das colheitas e pastagem da qual eles teriam necessidade em suas campanhas. Os que não têm o selo de Deus – Todos os cristãos falsos, hipócritas e heterodoxos. 9:5 – E foi-lhes permitido, não que os matassem, mas que por cinco meses os atormentassem; e o seu tormento era semelhante ao tormento do escorpião, quando fere o homem. A eles foi dado – lhes foi permitido - que atormentassem por cinco meses – Alguns tomam esses meses literalmente, e os aplicam à conduta de Zealotes que, de Maio a Setembro, no ano do cerco, produziu terríveis contendas em meio ao povo; ou às aflições trazidas sobre os judeus, por Cestius Gallus, quando contra Jerusalém, antes do que ele se retirasse por todo um verão, ou aproximadamente cinco meses. Outros consideram esses meses, como sendo meses proféticos, cada dia, calculado como um ano; portanto este período somaria cento e cinqüenta anos, contendo trinta dias cada mês, como era o costume dos asiáticos. O tormento deles era como o tormento causado por um escorpião – A fraseologia aqui é peculiar, e provavelmente se refere às armas bélicas, diversas delas, consideradas como um escorpião, ou os homens, armados com essas armas. Cestius Gallus trouxe consigo em seu exército. Isidore descreve seu escorpião assim: “O escorpião é uma flecha venenosa atirada de um arco ou outro instrumento, que, quando fere um homem, deposita o veneno, com que cobre o ferimento; por isto, nome de escorpião”. Sêneca, em seu Hercules OEtaeus, descreve o tormento que é 82 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE ocasionado por esta espécie de flecha envenenada: Heu qualis intus scorpius, quis fervida Plaga revulsus cancer infixus meas Urit medullas? 9:6 – E naqueles dias os homens buscarão a morte, e não a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles. Naqueles dias, os homens buscarão a morte. Tão aflitivos devem ser os sofrimentos e tormentos deles, que eles pedem pela morte, de qualquer forma, para serem resgatados dos males da vida. Existe um sentimento muito parecido com este em Maximianus, Eleg. i., ver.111, comumente atribuído a Cornelius Gallus: “Uma vez que a vida longa é inútil e opressiva, quando nos será permitido morrer, já que não podemos viver, por mais tempo, confortavelmente? Ó, quão dura é a condição na qual mantemos a vida! Porque a morte não está sujeita à vontade do homem. Morrer é doce para o infeliz; mas desejada, porque a morte foge. Ainda assim, quando não é desejada, ela vem em passos mais ligeiros”. Jó expressa o mesmo sentimento, de uma maneira mais queixosa: -- “Porque a luz é dada ao miserável, e a vida para o amargo de alma? Quem espera pela morte, mas ela não está; e procura por ela mais do que por tesouros escondidos. Eles se regozijam por ela, e estão gratos. E exultam quando encontram a sepultura”. Jó 3:20-22. 9:7 - E o parecer dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia umas como coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens. Os gafanhotos eram como cavalos – Esta descrição dos gafanhotos parece ser tomada de Joel 2:4 “A sua aparência é como a de cavalos; e como cavaleiros assim correm”. O todo desta descrição simbólica de uma força militar opressiva concorda muito bem com as tropas de Maomé. Os árabes são os cavaleiros mais experientes no mundo: eles vivem, sobre o cavalo, por muito tempo, de maneira que o cavalo e seu cavaleiro parecem se tornar um só animal. Os Romanos também eram eminentes por sua cavalaria. Coroas como ouro – Não apenas aludindo às suas tiaras e turbantes caros, mas ao volume de suas conquistas e a quantidade de poderes que conquistavam. Suas faces eram como as faces dos homens – Ou seja, embora simbolicamente gafanhotos, eles eram realmente homens. 83 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 9:8 – E tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus dentes eram como de leões. Os cabelos, como os das mulheres – Nenhuma navalha passa sobre a carne deles. Os cabelos longos e suas barbas por fazer. Os dentes eram como os dentes de leões. - Eles eram ferozes e cruéis. 9:9 – E tinham couraças como couraças de ferro; e o ruído das suas asas era como o ruído de carros, quando muitos cavalos correm ao combate. Eles tinham couraças de ferro. Eles pareciam invulneráveis, porque nenhuma força prevalecia contra eles. O som de suas asas – Suas armas dependuradas e os ornamentos militares, com o tinido de seus escudos e espadas, quando em seus violentos ataques. Esta comparação é emprestada de Joel 2:5-7 “Como o estrondo de carros, irão saltando sobre os cumes dos montes, como o ruído da chama de fogo que consome a pragana, como um povo poderoso, posto em ordem para o combate. Diante dele temerão os povos; todos os rostos se tornarão enegrecidos. Como valentes correrão, como homens de guerra subirão os muros; e marchará cada um no seu caminho e não se desviará da sua fileira”. 9:10 – E tinham caudas semelhantes às dos escorpiões, e aguilhões nas suas caudas; e o seu poder era para danificar os homens por cinco meses. Eles tinham caudas como os escorpiões – Isto pode se referir às conseqüências de suas vitórias. Eles infectavam os conquistados com suas doutrinas perniciosas. O poder deles para ferir os homens, durante cinco meses – Os gafanhotos executam seu principal ataque, durante os cinco meses do verão. Mas, provavelmente, esses podem ser meses proféticos, como acima, em Apocalipse 5 - 150 anos. 9:11 - E tinham sobre si rei, o anjo do abismo; em hebreu era o seu nome Abadom, e em grego Apoliom. Um rei sobre eles – Um líder supremo; alguns pensam que seja Maomé; alguns, Vespasiano. 84 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE O anjo do poço de abismo – O cabeça enviado de satanás. Abadom – De dba abad, ele destruiu. Apoliom – De apo, intenso, e olluw, para destruir. O significado é o mesmo em Hebraico e Grego. 9:12 – Passado é já um ai; eis que depois disso vêm ainda dois ais. Uma maldição é passada – A maldição ou desolação, pelos escorpiões simbólicos. E sobrevieram mais duas maldições – Nas trombetas do sexto e sétimo anjos. 9:13 – E tocou o sexto anjo a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das quatro pontas do altar de ouro, que estava diante de Deus, Os quatro chifres do altar de ouro – Esta é uma outra indicação não muito obscura de que o templo judaico ainda estava de pé. 9:14 – A qual dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: Solta os quatro anjos, que estão presos junto ao grande rio Eufrates. Solta os quatro anjos – Esses quatro anjos confinados – até aqui encarcerados, no Eufrates, são os mesmos, que alguns supõem tratarem-se dos Árabes, os Saracenos, os Tártaros, os Turcos; e, outros, dos quatro generais Vespasianos, um na Arábia, um na África, um na Alexandria, e um na Palestina. 9:15 – E foram soltos os quatro anjos, que estavam preparados para a hora, e dia, e mês, e ano, a fim de matarem a terça parte dos homens. Por uma hora, um dia, um mês, um ano – Temos aqui um ano, explicado em suas partes componentes. Vinte e quatro horas constituem um dia, sete dias, uma semana, quatro semanas, um mês, e doze meses, um ano, Provavelmente, não significa mais do que o fato de que esses quatro anjos estavam, todo o tempo, preparados e lhes era permitido infligirem o mal sobre o povo, contra os quais eles receberam sua comissão. Alguns entendem essas 85 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE divisões e tempo, como períodos proféticos, e a esses, eu devo me referir, e não professar discutir tais incertezas. 9:16 – E o número dos exércitos dos cavaleiros era de duzentos milhões; e ouvi o número deles. Duzentos milhões – duo muriadev muriadw? Duas miríades de miríades; ou seja, duzentos milhões; um exército que nunca se reuniu, desde a criação do mundo, e não poderia encontrar suprimento em qualquer parte da terra, Talvez, signifique apenas o vasto número, multidões inumeráveis. Tal número de gafanhotos seria literalmente verdadeiro. Esses que terão seu sistema especial, apoiado pelas imagens, neste mais obscuro livro, nos diz que o número aqui significa todos os soldados que foram empregados nesta guerra, desde seu início até o fim! Esses que podem receber estas palavras que a recebam. 9:17 – E assim vi os cavalos nesta visão; e os que sobre eles cavalgavam tinham couraças de fogo, e de jacinto, e de enxofre; e as cabeças dos cavalos eram como cabeças de leões; e de suas bocas saía fogo e fumaça e enxofre. Couraças de fogo – jacinto, e enxofre – Ou seja, vermelho, azul, e amarelo; o primeiro é a cor do fogo, o segundo do jacinto, e o terceiro do sulfúrico. E as cabeças dos cavalos – Será esta uma descrição alegórica da grande artilharia? Canhões, em cujas bocas as cabeças de cavalos eram formadas, ou a boca do canhão lançado daquela forma? Fogo, fumaça, e enxofre, é uma boa representação alegórica da pólvora. Os Otomanos fizeram grande uso da artilharia pesada em suas guerras contra os gregos do baixo império. 9:18 – Por estes três foi morta a terça parte dos homens, isto é pelo fogo, pela fumaça, e pelo enxofre, que saíam das suas bocas. Por causa desses três, a terceira parte dos homens foi morta – Ou seja, através desses, aconteceu o grande massacre. 9:19 – Porque o poder dos cavalos está na sua boca e nas suas caudas. Porquanto as suas caudas são semelhantes a serpentes, e têm cabeças, e com elas danificam. 86 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE O poder está em suas bocas – Dessas, as balas destrutivas são projetadas; e em suas caudas, e onde a pólvora era colocada. Suas caudas eram como as de serpentes, e tinham cabeças – Se os canhões eram pretendidos, a descrição, embora alegórica, é clara o suficiente; porque a artilharia de metal, especificamente, é frequentemente ornamentada desta forma, tanto em seu boca, quanto em sua cauda. 9:20 – E os outros homens, que não foram mortos por estas pragas, não se arrependeram das obras de suas mãos, para não adorarem os demônios, e os ídolos de ouro, e de prata, e de bronze, e de pedra, e de madeira, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar. Ainda assim, não se arrependeram – A comissão desses cavaleiros era contra os idólatras; e, embora multidões deles fossem destruídas, o restante continuou sua ligação estúpida com os ídolos mudos, e, portanto, julgamentos mais severos seriam esperados. Essas coisas supõem-se referirem-se à desolação trazida sobre a Igreja grega, pelos Otomanos, que arruinaram inteiramente aquela igreja e o império grego. A Igreja que, então, permaneceu, era a Igreja Latina ou ocidental, que não foi, afinal, corrigida, através dos julgamentos que caíram sobre a Igreja oriental, mas continuou sua adoração estúpida aos anjos, santos, relíquias, etc.. e, assim, até o presente dia. Se, portanto, a ira de Deus for acesa contra tais, esta Igreja tem muito a temer. 9:21 – E não se arrependeram dos seus homicídios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos. Nem se arrependeram seus assassinatos – As crueldades deles, em direção aos genuínos seguidores de Deus, os Albigenses, e Waldenses, e outros, contra os quais, eles proclamaram cruzadas, e perseguiram, e massacraram, da maneira mais chocante. Os inumeráveis assassinatos, através da inquisição horrível, não precisam ser mencionados. Suas feitiçarias – Aqueles que aplicam isto também à Igreja Romana, entendem por isto, os vários embustes, truques da mão, ou prestidigitação, por meio dos quais, eles impunham sobre as pessoas comuns, ao fazerem as imagens de Cristo sangrarem, e os vários milagres pretendidos, forjados nas tumbas, etc. dos pretendidos santos, águas-santas, e similares. Fornicação – Ao darem aquela honra, devida apenas ao Criador, às várias criaturas. 87 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Os furtos – As cobranças e imposições sobre os homens, por causa das indulgências, perdões, etc. Essas coisas podem ser pretendidas, mas é ir muito longe dizer que esta é a interpretação verdadeira. E, ainda assim, expressar alguma dúvida sobre este assunto é algo mais do que heresia. Se tais homens podem ver essas coisas tão claramente, em tão obscuras profecias, que eles sejam gratos por isto, e indulgentes com aqueles que ainda estão na escuridão. 88 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO X A descrição de um anjo poderoso, com um pequeno livro em suas mãos, 1,2. Os sete trovões, 3,4. O anjo declara que não vai demorar, 5-7. É ordenado que João tome o pequeno livro e o coma; ele assim o faz, e recebe a incumbência de profetizar para muitas pessoas, 8-11. Notas sobre o Capítulo X 10:1 – E vi outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma nuvem; e por cima da sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo; Um outro anjo poderoso – Cristo ou seu representante; vestido de nuvem; símbolo da majestade Divina. Com um arco-íris junto à cabeça – Sinal da aliança misericordiosa de Deus, para com a humanidade. Sua face era como o sol – Tão intensivamente gloriosa, que não se poderia olhar para ela. Seus pés, como pilares de fogo – Para denotar a rapidez e energia de seus movimentos, e a firmeza de suas deliberações. 10:2 – E tinha na sua mão um livrinho aberto. E pôs o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra; Um pequeno livro aberto – Provavelmente, signifique algum desígnio de Deus, há muito oculto, mas agora prestes a ser revelado. Mas quem sabe o que ele significa? Seu pé direito sobre o mar, e seu pé esquerdo sobre a terra – Para mostrar que ele tem o governo de cada um deles, e que seu poder é universal, e todas as coisas estão debaixo de seus pés. 10:3 – E clamou com grande voz, como quando ruge um leão; e, havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes. Sete trovões – Sete é o número da perfeição, e pode aqui significar muitos, grandes, barulhentos e fortes estrondos de trovões, acompanhados de vozes distintas; mas não foi permitido a João revelar o que foi dito. Vers. 4. 89 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 10:5 – E o anjo que vi estar sobre o mar e sobre a terra levantou a sua mão ao céu, Levantou suas mãos para o céu – Como quem faz um apelo ao Ser Supremo. 10:6 – E jurou por aquele que vive para todo o sempre, o qual criou o céu e o que nele há, e a terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, que não haveria mais demora; Através daquele que vive para sempre – o Jeová eterno, Criador de Si mesmo e de todas as coisas. Para que não tardasse mais – Para que as grandes deliberações, dos eventos já preditos, fossem imediatamente cumpridas, e que não houvesse mais demora. Isto não se refere ao dia do julgamento. 10:7 – Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos. Para que o mistério de Deus terminasse – Mas quem pode saber a que este mistério se refere? Nem temos mais conhecimento, concernente ao som do sétimo anjo. Sobre esses pontos, existe alguma concordância, em meio aos estudiosos. Mas se isto significa a destruição de Jerusalém, ou a destruição do poder papal, ou alguma coisa mais, não sabemos. Ainda assim, com que segurança, os homens falam do significado dessas coisas ocultas! Declaradas aos seus servos e profetas – É mais provável, no entanto, que esta trombeta pertença ao estado judaico. 10:8 – E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra. Para que pegasse o pequeno livro que está aberto – Aprendesse deste anjo, aquilo que seria proclamado ao mundo. 10:9 – E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. 90 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE O tomasse e o comesse – Seu significado completamente claro: para que o estudasse, totalmente. 10:10 – E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo. Em minha boca, ele era doce como mel – Existia nele alguma inteligência, agradável e desagradável. Eu li sobre as consolações e proteção dos verdadeiros adoradores de Deus, e me regozijei; eu li a respeito das perseguições da igreja, e fiquei angustiado. 10:11 – E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas e reis. Tu deves profetizar novamente – Deves escrever, não apenas para a instrução dos judeus na Palestina, mas para aqueles nas diferentes províncias, assim como os pagãos e imperadores pagãos e potentados em geral. O leitor encontrará, ao comparar este capítulo ao de Daniel 8:1-17; 12:1-13, e Ezequiel 2:1; 3:27, que existem diversas coisas similares em ambos; e o escritor de Apocalipse parece manter esses dois profetas continuamente em vista. Uma vez mais, eu devo dizer que não entendo essas profecias, portanto, não me cabe explicá-las. Eu vejo com pesar, quantos homens cultos se equivocam a este respeito. Mesmo alguns dos mais modernos estudiosos deste livro, têm estranhamente brincado com essas coisas solenes; todas as trombetas, fúrias, aflições, etc., são perfeitamente confortáveis a eles; ainda assim, das suas narrações, ninguém se torna prudente, quer no bom-senso, quer nas coisas que lhe trazem paz. Desta mesma forma, eu não posso admitir a interpretação que é dada à palavra cronov, traduzida como tempo, no versículo 6, e que alguns construíram dentro do período artificial de 1.111 anos, que eles denominam cronologia; e de onde temos - a cronologia, parte da cronologia, e nenhuma cronologia. Bengel tem falado muito sobre esses pontos, mas para pouco proveito; porque neste contexto, a palavra parece significar demora, simplesmente, e eu penso que este livro, provavelmente, foi escrito antes da destruição daquela cidade. 91 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XI A ordem para medir o templo, 1,2. As duas testemunhas que professariam por mil cento e sessenta dias, 3. A descrição, poder, e influência dessas testemunhas, 4,6. Elas seriam mortas pela besta que se levantaria do poço do abismo, e ressuscitariam novamente, depois de três dias e meio, e ascenderiam ao céu, 7,12. Seguido de um grande terremoto, 13. A introdução da terceira aflição [o terceiro ai], 14. O som do sétimo anjo e os vinte e quatro anciãos dão glória a Deus, 15,19. Notas sobre o Capítulo XI 11:1 – E FOI-ME dada uma cana semelhante a uma vara; e chegou o anjo, e disse: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele adoram. E foi-me dado uma cana – Veja Ezequiel 40:3, em diante. A medida do templo de Deus – Deve se referir ao templo de Jerusalém; e esta é uma nova evidência presumível de que ele ainda estava de pé. 11:2 – E deixa o átrio que está fora do templo, e não o meças; porque foi dado às nações, e pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses. Mas o átrio – é dado aos gentios – A medida do templo provavelmente se refere a esta aproximação iminente, e ao término de todo o serviço Levitico; e que, acreditamos, executado pelos gentios (Romanos), que o pisariam por quarenta e dois meses; exatamente três anos e meio, ou mil duzentos e sessenta dias. Este deve tratar-se de um período simbólico. 11:3 – E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco. Minhas duas testemunhas – Isto é extremamente obscuro; as conjecturas dos interpretes são tão insatisfatórias quanto intermináveis sobre este ponto. Conjecturas conjecturis superstruunt, parum verosimiles, diz Rosenmuller: quorum sententias enarrare, meum non est. E eu digo o mesmo. 92 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Aqueles que desejam se deleitar ou se confundir podem recorrer às conjecturas antigas e modernas sobre este assunto. 11:4 – Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra. Essas são as duas oliveiras – Mencionadas em Zacarias 4:14 “Então ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a ter”, que representam lá, Zerobabel e Josué, o sumo sacerdote. Todo este relato parece ter sido tomado de Zacarias 4:1-14. Se o profeta e o apóstolo querem dizer as mesmas coisas sobre esses símbolos, não sabemos. 11:5 – E, se alguém lhes quiser fazer mal, fogo sairá da sua boca, e devorará os seus inimigos; e, se alguém lhes quiser fazer mal, importa que assim seja morto. Fogo sai de suas bocas – Foi designado a eles que proclamassem os julgamentos de Deus contra todos que tentaram impedi-los de procederem no ministério deles. 11:6 – Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova, nos dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de pragas, todas quantas vezes quiserem. Esses têm poder para fechar o céu. Como Elias o fez: I Reis 17:1 “Então, Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra”. 18:46 “E a mão do Senhor estava sobre Elias, o qual cingiu os lombos, e veio correndo perante Acabe, até à entrada de Jizreel”. Para transformá-los em sangue – Como Moisés, em Êxodo 7:19-25 “Disse mais o SENHOR a Moisés: Dize a Arão: Toma tua vara, e estende a tua mão sobre as águas do Egito, sobre as suas correntes, sobre os seus rios, e sobre os seus tanques, e sobre todo o ajuntamento das suas águas, para que se tornem em sangue; e haja sangue em toda a terra do Egito, assim nos vasos de madeira como nos de pedra....”. Eles teriam poder para afligir a terra com pragas, similares àquelas que foram infligidas sobre os egípcios. 93 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 11:7 – E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará. A besta que se levantou do poço do abismo – Provavelmente, aquele que é chamado de anticristo; algum poder que seja contrário ao genuíno Cristianismo. Mas qual, ou de onde, exceto do abismo sem fim; ou sob a influência e desígnio do diabo, não podemos dizer; nem sabemos, através de que nome este poder, ou ser, seria chamado. As conjecturas, concernentes às duas testemunhas e a besta têm sido suficientemente multiplicadas. Se toda a passagem, como alguns pensam, refere-se à perseguição dos judeus contra os cristãos, então, algum poder judaico, ou pessoa, é a besta do poço do abismo. Se ela se refere às primeiras eras do Cristianismo, então, a besta pode ser um dos perseguidores imperadores pagãos. Se ela se refere à era mais recente do Cristianismo, então, seria o poder papal, e os Albigenses e Valdenses, as duas testemunhas, que foram quase extintos pelas horríveis perseguições erguidas contra eles, pela Igreja de Roma. O que quer que seja pretendido aqui, a terra ainda não se cobriu com o sangue deles. 11:8 – E jazerão os seus corpos mortos na praça da grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o seu Senhor também foi crucificado. A grande cidade – Alguns dizem Roma, que pode ser espiritualmente chamada de Sodoma, devido suas abominações; Egito, pela sua crueldade tirana, e o lugar onde nosso Senhor foi crucificado, devido às suas perseguições aos membros de Cristo; mas a própria Jerusalém pode ser pretendida. Todas essas coisas, eu deixo para os outros.. 11:9 – E homens de vários povos, e tribos, e línguas, e nações verão seus corpos mortos por três dias e meio, e não permitirão que os seus corpos mortos sejam postos em sepulcros. Não será permitido que seus corpos sejam colocados em sepulturas – Eles serão tratados com a mais grandiosa barbárie. Admite-se que a recusa em enterrar o morto seja a somatória de toda brutalidade e crueldade. Nas terras papistas, eles não permitirão que um Protestante tenha um enterro cristão, ou tenha um túmulo em um pátio da Igreja! Miseráveis desprezíveis. 11:10 – E os que habitam na terra se regozijarão sobre eles, e se alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto estes dois profetas tinham atormentado os que habitam sobre a terra. 94 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Enviarão presentes – Este era um costume nos dias de regozijo público. Eles enviaram presentes uns aos outros, e deram porções ao pobre. Veja Ester 9:19,22 “Os judeus, porém, das aldeias, que habitavam nas vilas, fizeram do dia catorze do mês de Adar dia de alegria e de banquetes, e dia de folguedo, e de mandarem presentes uns aos outros (...) Como os dias em que os judeus tiveram repouso dos seus inimigos, e o mês que se lhes mudou de tristeza em alegria, e de luto em dia de festa, para que os fizessem dias de banquetes e de alegria, e de mandarem presentes uns aos outros, e dádivas aos pobres”. 11:11 – E depois daqueles três dias e meio o espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles; e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram. Eles se puseram de pé – Foram restaurados, ao seu estado primitivo. 11:12 – E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi para aqui. E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram. E ascenderam ao céu – Desfrutaram de um estado de grande paz e felicidade. 11:13 – E naquela mesma hora houve um grande terremoto, e caiu a décima parte da cidade, e no terremoto foram mortos sete mil homens; e os demais ficaram muito atemorizados, e deram glória ao Deus do céu. Um grande terremoto – Violentas comoções em meio aos perseguidores e revoluções. Sete mil homens foram mortos – Muitos pereceram nessas comoções populares. Os que permaneceram ficaram aterrorizados – Ao verem a mão dos julgamentos de Deus, tão notavelmente estendida. Deram glória – Receberam as puras doutrinas do Evangelho, e glorificaram a Deus por seus julgamentos e as conversões deles. 11:14 – É passado o segundo ai; eis que o terceiro ai cedo virá. 95 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A segunda aflição termina – Aquela que tomou lugar, sob a sexta trombeta, e que já foi descrita. A terceira vem – Prestes a ser descrita, sob a sétima trombeta que o anjo está agora preparado para soar. Das três aflições, que foram proclamadas, capítulo 8:13, a primeira está descrita, capítulo 9:1-12; a segunda, capítulo 9:13-21. Essas aflições, muitos estudiosos supõem tratarem-se da destruição de Jerusalém. O primeiro ai – as sedições em meio aos próprios judeus. O segundo, – o cerco à cidade pelos Romanos. O terceiro, – o tomar e saquear a cidade, e queimar o templo. Este foi o maior de todos os ais, já que nele, a cidade e o templo foram destruídos e quase um milhão de homens perderam suas vidas. 11:15 – E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso SENHOR e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre. Houve grandes vozes no céu – Todos os anjos anfitriões celestes e os espíritos humanos redimidos reuniram-se para glorificar a Deus; porque ele derrotou completamente seus inimigos e conferiu aos seus amigos, honra. Isto será verdadeiramente o caso, quando os reinos do mundo se tornarem reinos de Deus e do seu Cristo. Mas quando acontecerá? Alguns dizem que isto já aconteceu, quando da destruição do estado judaico, e do envio do Evangelho, por todo o mundo gentio. Outros, que isto se refere ao milênio, e à consumação de todas as coisas. 11:16 – E os vinte e quatro anciãos, que estão assentados em seus tronos diante de Deus, prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus, Os vinte e quatro anciãos – Os representantes da igreja universal de Cristo. Veja no capítulo 5:8-10. 11:17 – Dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder, e reinaste. O Senhor Deus Todo-Poderoso, que é – Uma visão apropriada de Deus em sua eternidade; todos os tempos são aqui compreendidos; o presente, o passado e o futuro. Esta é a infinitude de Deus. 96 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Tomates para ti – Tu exercitaste aquele poder que tu sempre possuíste; e tu tens derrotado o poder de teus inimigos, e exaltado tua igreja. 11:18 – E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra. As nações estavam indignadas – Enfurecidas, por causa do teu Evangelho, e determinadas a destruí-lo. Tua ira está próxima – O tempo da vingança de teus serviços e destruição de todos os teus inimigos. O tempo do morto, para que fossem julgados – A palavra krinein, julgar, é frequentemente usada no sentido de vingar-se. O morto aqui pode significar aqueles que foram assassinados por causa do testemunho de Jesus, e o julgamento é a vingança do sangue deles. Recompensa dada aos teus servos – Que foram fiéis até a morte. Os profetas – Os fiéis professores na Igreja, os santos – os cristãos. E aqueles que temem teu nome – Todos os teus sinceros seguidores. Destroem os que destroem a terra – Todos os autores, fomentadores, e encorajadores de guerras sangrentas. 11:19 – E abriu-se no céu o templo de Deus, e a arca da sua aliança foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos e grande saraiva. O templo de Deus foi aberto no céu – A verdadeira adoração de Deus foi estabelecida e executada na Igreja cristã; este é o templo verdadeiro, aquele destruído em Jerusalém. E houve raios, vozes, e trovões, e um terremoto, e grande chuva de granizo - Essas grandes comoções foram pretendidas, no introduzir a visão seguinte; porque o décimo-segundo capítulo é propriamente a continuação do décimo-primeiro, e deve ser lido em uma conexão estreita com ele. 97 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Eu venho agora, para uma parte deste livro que é considerada da maior importância, pela Igreja Protestante, mas é especialmente difícil e obscura. Eu frequentemente reconheço minha própria incapacidade para ilustrar essas profecias. Eu teria me beneficiado dos trabalhos de outros, mas eu não sei quem está certo; ou se alguns dos escritores deste livro alcançaram o sentido, é mais do que eu posso afirmar, e mais do que eu posso pensar. As ilustrações do décimo-primeiro, décimo-terceiro e décimo-sétimo capítulos, às quais me referi no prefácio, preparadas e apresentadas com grande diligência e erudição, eu devo inserir em seu lugar, como decididamente a mais prováveis que eu já vi; mas deixo os autores instruídos, responsáveis por suas próprias considerações sobre o assunto. 98 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XII A mulher vestida de sol, e em trabalho de parto, 1, 2. O grande dragão vermelho, que espera devorar o filho, logo que nascesse, 3,4. A mulher tem o filho que é arrebatado para Deus, e foge para o deserto, 5,6. A guerra no céu entre Miguel e o dragão, 7, 8. O dragão e seus anjos são vencidos e lançados na terra; ao que os habitantes celestiais dão glória a Deus; 9-11. O dragão, cheio de ira, por causa de sua derrota, persegue a mulher, 12,13. Ela foge para o deserto, onde ele tenta persegui-la; e provoca guerra com sua semente, 14-17. Notas Sobre o Capítulo XII Antes de introduzir o comentário, mencionado no encerramento do capítulo precedente, eu penso que seja necessário situar que a fraseologia de todo o capítulo é peculiarmente rabínica, e deve inserir algumas poucas seleções que podem servir para ilustrar algumas das principais figuras. Em Sohar Exod., fol. 47, col. 187, encontramos uma interpretação mística de Êxodo 21:22 “Se alguns homens pelejarem, e ferirem a mulher com a criança, de maneira que seu fruto aborte, ele certamente será punido, já que o marido da mulher cairá sobre ele”. “Se os homens pelejarem, por exemplo, Michael e Samael, e machucam a mulher com o filho, a Igreja israelita, de maneira que seu fruto parta, hoc fit in exilio, ele será certamente punido; por exemplo, Samael. Já que o marido da mulher, ou seja, o santo e abençoado Deus...”. Notas Sobre o Capítulo XII, por J.E.C. 12:1 - E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E aconteceu uma grande maravilha no céu; uma mulher vestida de sol – Que a mulher aqui representa a verdadeira Igreja de Cristo, a maioria dos comentaristas está de acordo. Em outras partes do Apocalipse, a Igreja genuína de Cristo é evidentemente retratada por uma mulher. No capítulo 19:7, a grande multidão é representada, quando diz: “Fiquemos alegres, nos regozijemos e demos glória a ele; porque o casamento do Cordeiro está 99 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE próximo, e sua ESPOSA está pronta”. No capítulo 21:9, um anjo diz a João: “Vem para mais perto, eu te mostrarei a NOIVA, a esposa do Cordeiro”. Que ela se refere à Igreja cristã, aparece também do fato de se vestir de sol, um emblema notável de Jesus Cristo, o Sol da retidão, a luz e glória da Igreja; porque a semelhança com o Sol de Deus, é como se o sol brilhasse em sua força. A mulher tem: - A lua sob seus pés – Bispo Newton entende que esta é a adoração típica judaica, e, de fato, o sistema Mosaico de ritos e cerimônias não teria sido mais bem representado, porque ele era a sombra das boas coisas vindouras. A lua tem menos luz, governando sobre a noite, e extraindo toda sua iluminação do sol; de igual forma, a dispensação judaica era o brilho da noite enluarada, e possuía a porção da gloriosa luz do Evangelho. Com o nascer do sol, a noite termina, e a luz lunar não é mais necessária, já que o sol que a ilumina preenche a terra; assim como todo o sistema judaico de formas e sombras é suprimido pelo nascimento, vida, crucificação, morte, ressurreição, ascensão, e intercessão de Jesus Cristo. Na cabeça da mulher havia uma coroa de doze estrelas – A representação muito significante dos doze apóstolos que foram os primeiros fundadores da Igreja cristã, e, através dos quais, o Evangelho foi pregado, em grande parte do império romano com sucesso surpreendente. “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que trarão muitos para a retidão, como as ESTRELAS, para sempre e sempre” Daniel 12:3. 12:2 – E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz. E ela, grávida, gritou, em trabalho de parto, etc. – Isto, quando tomado em ligação com os versículos seguintes, é uma figura notável da grande perseguição que a Igreja de Cristo sofreria, debaixo dos imperadores pagãos romanos, mas, mais especialmente, daquela longa e mais terrível, sob o governo de Diocleciano. A mulher é representada como GRÁVIDA, para mostrar que o tempo rapidamente chagaria, quando a paciente indulgência de Deus para com o mundo pagão terminaria, e um libertador surgiria no mundo cristão, e executaria a Divina vingança sobre o paganismo. 12:3 – E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. 100 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Apareceu uma outra maravilha – um grande dragão vermelho – O dragão aqui é um símbolo, não do Império Romano em geral, mas do Império Romano PAGÃO. O grande poder pagão deve ter sido representado assim, pela religião que ele apoiava. Mas o que é o dragão? Uma fabulosa besta da antiguidade, e, consequentemente, neste aspecto, um emblema mais apropriado da adoração pagã, que consistia em prestar adoração aos inúmeros seres imaginários, denominados deuses, deusas, etc... O próprio alicerce do grande sistema religioso pagão é construído principalmente sobre uma fábula; e é muito difícil reconhecer muitas de suas superstições como algo original autêntico; e mesmo aquelas que parecem derivar sua origem dos escritos sagrados são tão mascaradas na fábula, que literalmente não têm mais semelhança com a verdade do que o dragão dos anciãos tinha com qualquer animal, com que estamos familiarizados. Mas pode-se perguntar, por que o Espírito de Deus representaria o Império pagão Romano, como um dragão, em vez de irar-se com outro dos fabulosos animais com os quais a mitologia dos primitivos pagãos era rica? A resposta é que no oitavo capítulo, do Profeta Daniel, Deus representou o reino dos gregos, através de um bode, por nenhuma outra razão aparente do que esta, porque ele era o estandarte militar nacional da monarquia grega, portanto, podemos esperar que o Império Romano pagão seja chamado de dragão, por um relato similar. Na confirmação deste ponto, é muito notável que o dragão seja o principal emblema dos Romanos, seguido da águia, no segundo, terceiro, quarto e quinto séculos da era cristã. Disto, temos abundante evidência, nos escritos de ambos os pagãos e cristãos. Arrian é o mais antigo escritor que mencionou que os dragões foram usados como símbolos militares em meio aos romanos. Veja sua Tactics, c. 51. De onde Schwebelius supõe que este símbolo foi introduzido depois da conquista de Daci, por Trajano. Vegetio, que floresceu por volta do ano 386, da era cristã, diz: “O primeiro estandarte da legião inteira é a águia, que o aquilífero carrega. Os DRAGÕES são também carregados para a batalha, pelo Draconarii”. Como uma legião consistia de dez coortes, havia, portanto, dez draconarii para um aquilifero; consequentemente, do grande número de draconarii, em um exército, a palavra signarii ou signiferi, carregadores de estandartes, vem, por fim, significar os carregadores dos estandartes de dragão apenas, os outros conservam o nome de aquilífero – Veja Veget;. Lib; ii.c.7. 101 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE O Império Romano pagão é chamado de dragão vermelho; de onde concluímos, dos testemunhos dos escritores primitivos, que os estandartes de dragão dos romanos eram pintados de vermelho. Em Ammianus Marcellinus, lib. xvi, c.12, lemos: “O estandarte púrpura do dragão”. Veja também Claudianosm, em Rufinum. Lib. ii., l. 177, 178. Pitiscus, em seu Lexicon Antiq. Rom., e Ducange, em seu Glossarium Mediae et Infimae Latinitatis, sub voc. Draco considerou este assunto, em grande medida, especialmente, o ultimo escritor, que fez diversas citações de Claudiano, Sidônio, Prudêncio, e outros, nas quais, não apenas o estandarte, mas também a própria imagem do dragão seria da cor vermelha ou púrpura. De tudo que foi dito acima, concluímos, que o dragão é uma grande besta fabulosa, mostrada por João, através da qual, algum Grande poder Pagão é simbolicamente representado; e o dragão vermelho, é escolhido em meio aos numerosos animais imaginários, que as fantasias da humanidade têm criado, para mostrarem que este grande poder pagão é o Império Romano pagão. Com sete cabeças – Como o dragão é um emblema do poder romano pagão, sua cabeça deve denotar as formas pagãs de governo – Veja a nota sobre o Capítulo 17:10, onde as cabeças da besta são explicadas de uma maneira similar. Essas eram exatamente sete, e são enumeradas por Tácito, nestas palavras: “A cidade de Roma foi originalmente governada por reis. L. Brutus instituiu liberdade e consulado. A ditadura foi apenas ocasionalmente apontada; nem o poder decênviro durou acima de dois anos; e o poder consular dos tribunos militares não foi de longa permanência. Nem Cinna, nem Sylla tiverame uma dominação longa; o poder de Pompeo e Crassus foi tmbém logo absorvido naquele de César; e as armas de Lépido e Antonio finalmente submetida àquelas de Augusto”. Desta passagem, fica evidente, a todas as pessoas familiarizadas com a história romana, que as sete formas de governo no mundo Romano pagão foram: 1. O poder régio; 2. O consulado; 3. A ditadura; 4. O decenvirato; 5. O poder consular e os tribunos militares; 6. O triunvirato; e, 7. O governo imperial. É curioso que os estudiosos, em geral, em suas citações desta passagem, não prestassem atenção ao triunvirato, uma forma de governo, evidentemente tão distinta de qualquer outra, como os reis são dos cônsules, ou os cônsules dos imperadores. Porque o triunvirato consistiu na divisão da república romana em três partes, cada uma governada por um oficial, com autoridade consular, em sua própria província; e todas as três unidas no regulamento de todo o estado romano. Consequentemente, diferiam inteiramente do poder imperial, 102 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE que era a mudança completa do estado romano de uma república para uma monarquia. E os dez chifres – Que esses dez chifres significavam os muitos reinos, fica evidente do capítulo sete de Daniel, onde o anjo fala da quarta besta, e diz que “os dez chifres deste reino são dez reis que surgiriam”, e nesta visão da passagem, muitos estudiosos estão de acordo, por também admitirem que os dez reinos devem ser encontrados “em meio aos pedaços quebrados do Império Romano”. E é claro que nada menos do que o desmembramento do Império Romano, e sua divisão, em dez reinos independentes, pode ser pretendido, pela interpretação do anjo recém citada. Se, portanto, os dez chifres da quarta besta de Daniel indicam muitos reinos, pela mesma razão os chifres do dragão devem ter significado similar. Mas o Império Romano não foi dividido em diversos reinos independentes, até um tempo considerável, depois que se tornou cristão. Neste sentido, então, pode-se dizer que os diferentes reinos, nos quais o Império Romano foi dividido pelas nações bárbaras, são chifres de dragão? Eles eram assim, porque se tratava da monarquia romana, em sua sétima forma Dracônica de governo, que foi desmembrada pelos bárbaros. Porque, embora o Império Romano não estivesse completamente desmembrado, até o quinto século, é de conhecimento geral, que o decréscimo da idolatria pagã, e o avanço do Cristianismo ao trono, não elegeu a menor mudança na forma de governo: Os romanos continuaram ainda, sob a sujeição do poder imperial; e, consequentemente, quando as nações bárbaras pagãs dividiram, dentre eles, o Império Romano, estes poderiam muito propriamente ser denominados chifres de dragão, já que foi através das suas incursões que o poder imperial, fundado pelos Césares pagãos, foi abolido. Machiavel e o Bispo Lloyd enumeram os chifres do dragão desta forma: 1. O reino de Hunos; 2. O reino de Ostrogotes; 3. O reino de Visigotes; 4. O reino dos Franks; 5. O reino de Vândalos; 6. O reino de Sueves e Alanos; 7. O reino de Burgúndios; 8. O reino de Heruli, Rugii, Scyrri, e outras tribos que compunham o reino italiano de Odoacer; 9. O reino dos Saxônicos; e 10. O reino dos Lombardes. E sete coroas sobre a sua cabeça – Nas sete formas romanas de governo, o ateísmo tem sido a religião coroada ou dominante. 103 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 12:4 – E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho. E sua cauda arrastou a terça parte das estrelas do céu – Não é incomum nas Escrituras, como Dr. Mitchel observa, chamar a retaguarda de um inimigo de cauda, como em Josué 10:19 – Devemos extinguir a retaguarda, que está literalmente em Hebraico, jutwa jutbnzw, “Vocês devem tirar fora a cauda deles”. Veja também em Deuteronômio 25:18 “De maneira que, encontrando vocês pelo caminho, ele os atacou, quando estavam cansados e sem forças, ferindo todos os fracos, na retaguarda deles; e o temor a Deus não existia nele”. É possível observar também que a palavra oura, neste versículo, é usada pelos gregos, no mesmo sentido que a palavra hebraica, bnz, já se referiu. Assim, oura stratou, que traduziríamos como a retaguarda de um exército, é literalmente a cauda dele. Veja o Thesaurus de Stephens, no lugar citado. A cauda de um dragão é, portanto, o poder pagão romano, em sua sétima ou última forma de governo: o poder imperial; e não, como Dr. Mitchel supõe, restrito aos últimos imperadores romanos pagãos. O poder imperial pagão arrastaria a terceira parte das estrelas do céu, pelo que geralmente se entende que o Império Romano sujeitaria a terceira parte dos príncipes e potentados da terra. Mas que esta não é uma afirmação correta, fica evidente do testemunho da história primitiva. O Império Romano sempre foi considerado e chamado de império do mundo, pelos escritores primitivos. E é assim denominado nas Escrituras, porque Lucas, no segundo capítulo de seu evangelho, nos informa que houve um decreto de César Augusto de que O MUNDO TODO pagaria imposto, o que evidentemente significa o Império Romano. Todo o mistério desta passagem consiste num mal-entendido quanto a sua linguagem simbólica. Com o objetivo de compreendê-la, os símbolos aqui usados devem ser examinados. Por céu, entendemos a mais eminente ou governante parte de alguma nação. Isto fica claro, pela própria natureza do símbolo, porque “o céu é o trono de Deus”; aqueles, portanto, que alcançaram a autoridade suprema, em algum estado, diz-se que subiram ao céu, porque eles foram edificados para esta eminência, através do favor do Senhor e são ministros Dele, para fazerem aquilo que O agrada. Assim, a calamidade que caiu sobre Nabucodonosor foi para instruí-lo, nesta importante verdade: a de que os céus governam; ou seja, a de que todos os monarcas possuíam seus reinos, através do desígnio Divino, e que nenhum 104 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE homem é elevado ao poder, através do que usualmente denominamos de conseqüências da guerra, mas que “O Altíssimo governa no reino dos homens, e o outorga a quem Ele deseje, e coloca sobre ele, os homens mais comuns”. Partindo do significado de céu, não fica difícil entender o significado de terra, uma vez que evidentemente trata-se do seu oposto, ou de todas as coisas em sujeição ao céu, ou parte governante. As estrelas seriam os ministros da religião, como vimos anteriormente; e isto fica ainda mais evidente no capítulo 1:16 deste livro, onde as sete estrelas que o Filho de Deus segura em sua mão direta, diz-se significar os sete anjos (ou mensageiros) das sete Igrejas, pelos quais entendemos os sete pastores ou ministros dessas Igrejas. A semelhança de ministros com estrelas é muito notável; porque como as estrelas fornecem luz à terra, assim, os ministros são as luzes da causa que defendem; e a posição deles no céu, o símbolo da dominação, muito adequadamente exprime a autoridade espiritual dos sacerdotes ou ministros sobre seu rebanho. Consequentemente, como a mulher, ou a Igreja cristã, tem sobre sua cabeça uma coroa de doze estrelas, que significa que ela está debaixo da orientação dos doze apóstolos, que são as doze luzes principais do mundo cristão, então, o dragão tem também suas estrelas ou ministros. Portanto, as estrelas, que o dragão arrasta com sua cauda devem representar todo o corpo de sacerdotes pagãos, que eram as estrelas ou luzes do mundo pagão. Mas, em que sentido, se pode dizer que o Império Romano cristão, que governou sobre todo o mundo conhecido, arrasta apenas a terça parte das estrelas do céu? A resposta é a seguinte: O mundo religioso, nos tempos de João, era dividido em três grandes ramificações: o mundo cristão, o mundo judaico, e o mundo ateu ou pagão: consequentemente, como um dragão, um animal fabuloso, é um símbolo de poder civil, apoiando uma religião, alicerçada em uma fábula; necessariamente se segue que as estrelas ou ministros judeus e cristãos não poderiam ser incluídos em meio àqueles que ele arrasta com sua cauda, já que eles não defendiam sua idolatria, mas eram ministros de uma religião, fundada pelo Deus do céu, e, consequentemente, não fazia parte do mundo pagão, ainda que em sujeição, nas questões seculares, ao Império Romano pagão. A cauda do dragão, portanto, arrasta atrás de si, todo o mundo pagão. E os lançou na terra – submeteu todos os sacerdotes pagãos, ao jugo romano. As palavras da profecia são muito notáveis. É dito que a cauda do dragão arrastou (porque assim surei seria traduzido), mas é acrescentado, e a lançou na terra, para mostrar que no momento em que Apocalipse foi escrito, o mundo estava dividido em três grandes divisões religiosas, a que já nos 105 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE referimos; mas que cauda do dragão, ou o poder romano pagão, sob sua última forma de governo, trouxera todo o mundo pagão (que era a terça parte do mundo religioso na era apostólica), em sujeição, previamente à comunicação de Apocalipse a João. É a cauda do dragão que arrasta a terceira parte das estrelas do céu, portanto, foi durante o domínio de sua última forma de governo, que o Cristianismo foi introduzido no mundo; porque quando das seis formas dracônicas de governo, precedentes, o mundo estava dividido religiosamente apenas em duas grandes ramificações: judeus e gentios. Que o sentido no qual a terceira parte é aqui tomada, é aquele pretendido na profecia, está além de toda controvérsia, quando se considera que esta mesma divisão é feita no primeiro e terceiro versículos, em que se faz menção da mulher vestida de sol – a Igreja cristã, a lua sob seus pés, ou Igreja judaica, e o dragão, ou poder pagão. Assim, o governo Imperial pagão é, sem dúvida, representado, primeiro, por um dos sete líderes dracônicos, para mostrar que ele era uma daquelas sete formas de governo pagão, que havia sucessivamente na liderança do Estado Romano; e, em segundo lugar, pela cauda do dragão, porque ele era a última daquelas sete. Para a justificação deste método de interpretação, veja a explanação dupla do anjo, a respeito das cabeças da besta, nos capítulo 17:9. 10,16. E o dragão, de pé, diante da mulher, etc... -- Constantius Chlorus, pai de Constantino, abandonou as absurdidades do paganismo, e tratou os cristãos com grande respeito. Isto alarmou os sacerdotes pagãos, cujos interesses estavam intimamente ligados à continuidade das superstições primitivas, e compreendeu, para o grande detrimento deles, que a religião cristã se tornaria, diariamente, mais universal e mais triunfante, em todo o Império. Por conta desses temores aflitivos, eles levaram Diocleciano a perseguir os cristãos. Assim, começou o que é denominada de a décima e última perseguição geral, que foi a mais severa de todas, e continuou, aproximadamente, por dez anos; (veja Mosheim's Ecclesiastical History of the Third Century); e como foi do agrado Divino que, neste momento, um grande salvador se levantasse, no interesse de seu povo sofrido, a mulher, ou a Igreja cristã, é muito apropriadamente representada sofrendo as dores do parto, e pronta para dar a luz. Antes da morte de Constantius, o grupo pagão, ciente de que Constantino seguiria o exemplo de seu pai, que muito favoreceu os cristãos, o observou com um olho, atento e maligno. Muitas eram as ciladas que, de acordo com Eusébio, foram colocadas para ele, por Maximin e Galerius: ele relata as freqüentes e perigosas iniciativas para as quais eles o estimularam, 106 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE com o objetivo de que perdesse sua vida. Quando Galerius ouviu da morte de Constantius, e que ele designara Constantino seu sucessor, ele foi preenchido com a mais desgovernada raiva e indignação, não obstante, não se atreveu a dar alguns passos contrários ao interesse de Constantino. O terror dos exércitos do ocidente, que eram, em sua maioria, compostos de cristãos, era suficiente obstáculo para todas as tentativas daquele tipo. Assim, o dragão, ou poder pagão, permaneceu diante da mulher, ou da Igreja cristã, para devorar seu filho, ou libertador, tão logo ele nascesse. 12:5 – E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono. E seu filho foi arrebatado junto a Deus e para seu trono. – Em Yacult Rubeni encontramos essas palavras: “Raquel, a sobrinha de Methusala, estava grávida, e prestes a dar a luz no Egito. Eles a pisotearam, e a criança nasceu, e ficou debaixo da cama; Miguel desceu, e o tomou para o trono da glória. Naquela mesma noite, o primogênito do Egito foi morto”. Versículo 5 - E deu a luz a um filho homem – A Igreja cristã, quando seu tempo pleno chegou, obteve um libertador, que, no decurso da providência Divina, foi destinado: - a governar todas as nações – O Império Romano pagão, com uma vara de ferro – uma forte figura, para denotar o constrangimento, sobre o paganismo, de maneira que ele não pudesse perseguir a Igreja cristã. A criança mencionada neste versículo é da dinastia dos imperadores cristãos, começando com o reconhecimento público de Constantino, de sua crença na divindade da religião cristã, que aconteceu no fim do ano 312 da Era Cristã, depois da derrota do Imperador Maxentius. E seu filho foi arrebatado junto a Deus e seu trono – Uma sucessão de imperadores cristãos se levantou para a Igreja; porque o trono romano, como o Bispo Newton observa, é aqui chamado de trono de Deus, porque não existe poder, a não ser de Deus: os poderes que são ordenados por Deus. 12:6 – E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias. E a mulher fugiu para o deserto – O relato da mulher fugindo para o deserto, imediatamente se segue àquele de seu filho sendo arrebatado ao trono 107 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE de Deus, para denotar o grande e rápido crescimento das heresias na Igreja cristã, logo depois que o Cristianismo tornou-se a religião do Império. Onde ela tem um lugar preparado por Deus – Veja Apocalipse 12:14. 12:7 – E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Houve guerra no céu - Na mesma obra, sobre Êxodo 14:7: Em que o Faraó tomou seiscentos carros, temos essas palavras - “Houve guerra em meio aqueles do alto, e em meio aqueles da terra. Sobre Miguel, os rabinos estão repletos: Veja em Schoettgen, e a nota sobre Judas, Judas 9 - “Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda”. O dragão e seus anjos – O mesmo que Rab. Sam. ben David, em Chasad Shimuel, chama wytwlyyjw lams Samael vechayilothaiv, “Samael e suas tropas”. Versículo 7 - E houve guerra no céu – Já que céu significa aqui o trono do Império Romano. E, consequentemente, esta guerra alude ao irromper das comoções civis em meio aos dirigentes deste Império. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão – Miguel era o filho homem que a mulher teve, como está evidente do contexto e, portanto, significa, como já foi mostrado, a dinastia dos imperadores romanos cristãos. Esta dinastia é representada por Miguel, porque ele é “o grande príncipe que significa os filhos do povo de Deus”. Daniel 12:1 “E naquele tempo Miguel, o grande príncipe, se levantará a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, como nunca houve, desde que houve nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro”. E o dragão e seus anjos lutaram – Ou os ministros. 12:8 – Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E não prevaleceram – Contra a causa do Cristianismo. 108 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Nem mais se achou o lugar deles no céu - Os defensores da idolatria pagã foram impedidos de terem alguma porção a mais no governo do Império. O surpreendente sucesso de Constantino sobre todos os seus inimigos, e seu triunfo final sobre Licinius, corresponde exatamente à linguagem simbólica neste versículo. 12:9 - E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele. A velha serpente – Os rabinos falam muito deste ser, algumas vezes, sob a noção de princípio maligno, e algumas vezes, Samael. Ele foi lançado na terra, e seus anjos, com ele – Muito semelhante ao que está escrito no livro Bahir, em Sohar Gen.: “E Deus expulsou Samael e suas tropas do lugar da santidade deles”. Versículo 9. E o grande dragão foi banido, etc... - Pelos termos diabo e satanás, mencionados neste versículo, Pareus, Faber e muitos outros estudiosos, entendem literalmente o grande inimigo espiritual da humanidade. Mas esta visão da passagem não pode ser correta, porque o dragão é que é assim chamado. Agora, se por dragão, queremos dizer diabo, então, o uso necessariamente deve conduzir a esta conclusão, a de que o grande espírito apóstata é um monstro, com sete cabeças e dez chifres; e, também que ele tem uma cauda, com a qual arrasta atrás de si, a terceira parte das estrelas do céu. Os termos, velha serpente, diabo, e satanás, devem, portanto, ser entendidos figurativamente. O poder pagão é chamado de a velha serpente que engana o mundo todo, com sua sutileza contra os cristãos, e faz com que todo o mundo romano, até onde esteja em seu poder, abrace as absurdidades do paganismo. Ele é chamado de diabo, devido suas contínuas acusações e difamações falsas contra os verdadeiros adoradores de Deus, porque o diabo é um mentiroso, desde o princípio; e é chamado de satanás, que é a palavra hebraica que significa adversário, por suas freqüentes perseguições à Igreja cristã. O dragão e seus anjos devem ser expulsos, o que é mais do que foi dito no versículo precedente, onde menção é feita de não mais serem encontrados no céu, ou no trono do Império Romano; aqui ele está inteiramente fora de todos os ofícios de confiança no Império; sua religião é, a princípio, apenas tolerada, e, depois, totalmente abolida, pelo poder imperial. 109 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE O grande evento não foi a obra de um reino; mas levou muitos anos, porque ele teve de lugar com os preconceitos, profundamente enraizados do pagão, que quase no final, se esforçou para manter sua declinante superstição. O Paganismo recebeu diversos golpes mortais, no tempo de Constantino e seus filhos, Contans e Constantius. Ele foi, mais adiante, reduzido pelo grande zelo de Joviano, Valentiniano e Valenos; e finalmente suprimido pelos editos de Gratiano, Teodosio I; e seus sucessores. Não foi até 388 d.C que a própria Roma, residência do imperador, foi totalmente reformada das absurdidades do paganismo; mas a total supressão dele, logo se seguiu à conversão da cidade metropolitana, por volta de 395 da Era Cristã; o dragão pode ser considerado, em um sentido eminente, ter sido lançado à terra, ou seja, em um estado de completa sujeição à dinastia governante dos imperadores cristãos. 12:10 - E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo; porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite. O acusador de nossos irmãos – Dificilmente existe alguma coisa mais comum nos escritos rabínicos do que satanás como o acusador dos israelitas. E a mesma palavra kathgorov, acusador, ou como está no Códex Alexandrino, kathgwr, é usada por eles nas cartas hebraicas, rwgyfg katigor; falando do dia da expiação: “E o santo e abençoado Deus ouve o testemunho deles de seu acusador, rwgyfqh m min hakkatigor; e expia o altar, dos sacerdotes e toda a multidão, do maior ao menor”. Em Shemoth Rabba, encontramos essas palavras: “Se um homem observa os preceitos, e é um filho da lei, e vive uma vida santa, então, satanás se levanta e o acusa”. “Todos os dias, exceto no dia da expiação, satanás é o acusador dos homens”. - Vayikra Rabba. “O santo, abençoado Deus, perguntou aos setenta príncipes do mundo: Vocês viram quem sempre acusa meus filhos?”. Yalcut Chadash, fol. 101, 3. “O diabo permanece sempre como um acusador diante do rei de Israel” - - Sohar Levit., fol. 43, col. 171. Veja muito mais em Schoettgen. Versículo 10. E eu ouvi uma voz alta, dizendo: Agora chegou a salvação, etc. – Esta é uma canção de triunfo da Igreja cristã sobre a idolatria pagã, e é muito expressiva da grande alegria dos cristãos, com este mais espantoso evento. A voz alta de triunfo, seria ouvida no céu, para mostrar que a religião cristã era agora exaltada ao céu, ou trono do Império Romano. “É muito notável”, como Bispo Newton observa, “que o próprio Constantino, e os 110 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE cristãos de seu tempo, descrevem suas conquistas sob a imagem de um dragão, como se eles tivessem entendido que esta profecia tem recebido sua realização nele. O próprio Constantino, em sua epistola a Eusébio e outros bispos, concernentes à reedificação e reparo das igrejas, diz que ‘a liberdade, agora restaurada, e o dragão, removido da administração dos assuntos públicos, pela providência do grande Deus, e pelo meu ministério, eu estimo que o grande poder de Deus manifestou-se, afinal’. Além disto, o retrato de Constantino foi colocado sobre o portão do palácio, com a cruz sobre sua cabeça, e debaixo de seus pés, o grande inimigo da humanidade, que perseguiu a igreja, através de impiedosas tiranias, na forma de um dragão, trespassado com um dardo, no meio de seu corpo, e caindo de ponta-cabeça nas profundezas do mar”. Constantino acrescentou aos outros emblemas romanos o lábaro, ou estandarte da cruz, e fez dele o principal estandarte do Império cristão romano. A este lábaro, Prudentius se refere, quando fala dos soldados cristãos, em seu primeiro hino: “Eles abandonam as insígnias de César; e escolhem o estandarte da cruz; e em vez das bandeiras do dragão que eles carregavam, movidas ao redor, pelo vento, eles carregam adiante, a ilustre madeiro que subjugou o dragão”. Quando o apóstolo viu a mulher no céu, eles bem poderiam chamá-la, no espírito da profecia, de uma grande maravilha. 12:11 – E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte. E eles o dominaram, através do sangue do Cordeiro – Aqui é dada a razão, porque os seguidores de Cristo prevaleceram, naquele tempo, contra todos os seus adversários. Foi porque eles lutaram contra o dragão, no amor de Deus. Eles o dominaram, através do sangue do Cordeiro – proclamando a salvação aos pecadores, através do Cristo crucificado, e através da contínua intercessão deles, no trono da graça, pela conversão do mundo pagão. E através da palavra do testemunho deles – Pelo testemunhar constantemente contra os erros e tolices da humanidade. E eles não amaram suas vidas diante da morte – Eles não se preocuparam com o estado temporal presente deles, mas entregaram suas vidas alegremente para a fúria de seus perseguidores, e, assim, selaram a verdade do que falaram com o próprio sangue. 111 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 12:12 – Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. Portanto, regozijem-se, ó céus, e vocês que habitam neles – Que os cristãos que agora são parceiros da presente prosperidade temporal, e avançaram para lugares de confiança no império, louvem, e glorifiquem o Senhor que tão evidentemente interferiu em benefício deles. Mas é acrescentado: Ai, dos que habitam a terra e o mar! Porque o diabo desce até vocês - Por habitantes da terra, queremos dizer o povo em sujeição ao Império Romano; e por habitantes do mar, aquelas partes dos domínios romanos que, pelo que parece, foram reduzidas a um estado de anarquia pelas incursões das nações bárbaras. Não é sem precedente comparar as grandes multidões de nações com o mar. Veja Ezequiel 26:3 - “Portanto, assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu estou contra ti, ó Tiro, e farei subir contra ti muitas nações, como o mar faz subir as suas ondas”. Aqui, então, está um ai anunciado contra todo o mundo romano que será provocado pelo diabo, o pai das mentiras, a facção pagã, sendo assim denominada, devido ao método com que persistiram em seus esforços, a fim de destruírem a religião de Jesus. Veja Apocalipse 12:15. Com grande ira, porque ele sabe que tem pouco tempo – A facção pagã vê, com grande pesar, que a religião cristã ganha rapidamente terreno, em todos os lugares; e, se não oportunamente reprimida, deve logo afrontar toda a oposição. 12:13 – E, quando o dragão viu que fora lançado na terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem. E quando o dragão viu que fora lançado à terra – Quando a facção pagã viu que eles não mais seriam apoiados pelo poder civil: - Ele perseguiu a mulher que deu a luz ao filho homem – Os pagãos perseguiram a Igreja cristã, pelo que a Providência Divina levantou uma dinastia de Imperadores Romanos Cristãos. 12:14 – E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente. 112 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E à mulher foram dadas duas asas de uma grande águia – (tou aetou tou megalou? Da grande águia), e, portanto, difere do dragão, que é o símbolo do Império Romano Pagão, especialmente. O poder romano é chamado de águia, por seu estandarte legionário, que foi introduzido em meio aos romanos, no segundo ano do consulado de C. Marius; porque, antes disto, minotauros, lobos, leopardos, cavalos, javalis e águias eram usados indiferentemente, de acordo com o humor do comandante. As águias romanas eram figuras em relevo, de prata ou ouro, carregadas no topo dos piques, as asas expostas, e frequentemente um aerólito em suas garras. Debaixo da águia, sobe o pique, havia escudos empilhados, e, algumas vezes, coroas. As duas asas da grande águia se referem às duas grandes divisões independentes do Império romano, que tomaram lugar, em 17 de Janeiro de 395 d.C., e foram dados à mulher, e o Cristianismo foi assim estabelecido como a religião de ambos os impérios. Para que fugisse para o deserto, para o lugar dela, etc – A aparente repetição aqui do versículo 6, foi induzida pelo Bispo Newton, para considerar a passagem anterior, como introduzida através de prolepse ou antecipação; porque ele diz, que a mulher não fugiu para o deserto, até muitos anos depois da conversão de Constantino. Mas que não existe tal prolepse, como o bispo imagina, fica evidente da história eclesiástica do quarto século; porque a mulher, ou a verdadeira Igreja, foge para o deserto, um tempo considerável, antes da divisão do grande Império Romano, em duas monarquias independentes. A palavra traduzida, fugiu, não é tomada no sentido peculiar, como se a mulher, no começo de sua fuga, tivesse sido guarnecida com asas, porque a palavra original é efugen. O significado, portanto, dos versículos 6 e 14, quando tomados em ligação com seus respectivos contextos, é o de que a mulher começa a dar rápidos passos largos, em direção ao deserto, quase imediatamente depois que se elevou ao céu, ou ao trono do Império Romano, e no decurso de sua fuga, foi guarnecida com as asas da grande águia, ina pethtai, para que pudesse fugir, para o lugar preparado por Deus, onde seria alimentada por mil duzentos e sessenta dias. Aqui, aquele período em que a mulher seria alimentada no deserto, seria um tempo, tempos, e metade de um tempo; consequentemente é o mesmo que os mil duzentos e sessenta dias do versículo 6. Mas em nenhum outro sentido eles podem ser considerados o mesmo, do que pelo entendimento de que um tempo significa um ano; tempos, dois anos; e metade de um tempo, metade de um ano; por exemplo, três anos e meio. E como cada ano profético contém 113 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE trezentos e sessenta dias, então, três anos e meio caberá precisamente nos mil duzentos e sessenta dias. Porque o apocalipse é altamente simbólico, é razoável esperar que seu período de tempo seja também representado simbolicamente, para que a profecia possa ser homogênea em todas as suas partes. O Espírito Santo, quando falou simbolicamente dos anos, invariavelmente, os representou por dias, ordenando ao Profeta Ezequiel para que deitasse sobre seu lado esquerdo, por trezentos e noventa dias, de maneira que isto fosse um sinal, ou símbolo da casa de Israel, carregando as iniqüidades dela, por muitos anos; e quarenta dias sobre o seu lado direito, para representar a casa de Judá, de uma maneira simbólica, para que eles carregassem suas iniqüidades por quarenta anos. [Ezequiel 4:4-5 – “Tu também deita sobre o teu lado esquerdo, e põe a iniqüidade da casa de Israel sobre ele; conforme o número dos dias que te deitares sobre ele, levarás as suas iniqüidades. Porque eu já te tenho fixado os anos da sua iniqüidade, conforme o número dos dias, trezentos e noventa dias; e levarás a iniqüidade da casa de Israel”. Ezequiel 4:6 “E, quando tiveres cumprido estes dias, te deitarás sobre o teu lado direito, e levarás a iniqüidade da casa de Judá quarenta dias; um dia, te dei para cada ano”]. Os mil duzentos e sessenta dias, portanto, em que a mulher é alimentada no deseto, deve ser entendido simbolicamente, e, consequentemente, denotar tanto quanto anos naturais. O deserto para onde a mulher fogo é o mundo grego e latino, porque ela é transportada para seu lugar, através das duas asas da grande águia. Não devemos entender a frase fugir para seu lugar, com o seu mover-se de uma parte do mundo habitado para outro mundo, mas do seu rápido declínio, de um estado de grande prosperidade, para uma condição de desamparo e desolação. A mulher é alimentada por mil duzentos e sessenta anos, da face da serpente. Os impérios do oriente e ocidente foram destinados, no decurso da providência Divina, a apoiar a religião cristã, pelo menos, nominalmente, enquanto o restante do mundo permanecia na idolatria pagã, ou sob a influência deste dragão, aqui chamado de serpente, porque ele enganou o mundo todo.. As palavras da profecia são muito notáveis, a Igreja Cristã seria apoiada pelos Impérios do Oriente e Ocidente, duas denominações poderosas; e, ao mesmo tempo, situadas no deserto, fortemente denotando que, embora muitos professassem o Cristianismo, havia poucos que “mantinham os mandamentos de Deus, e tinham o testemunho de Jesus Cristo”. 114 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 12:15 – E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar. E a serpente lançou de sua boca, água, como uma fonte – A água aqui evidentemente significa grandes multidões de nações e pessoas; porque no capítulo 17:15, a interpretação do anjo diz: As águas que viste são pessoas, e multidões e nações e línguas. Esta água, então, que o dragão lança de sua boca, deve ser uma inundação de nações bárbaras pagãs junto ao Império Romano; e o propósito que o dragão tem em vista, é fazer com que a mulher ou a Igreja Cristã, seja carregada pela inundação - Inteiramente varrida da face da terra. Dr. Mosheim, no início de seu segundo capítulo, a respeito do século cinco, observa “que os Ostrogodos, os Hérulos, os Francos, os Hunos, e os Vândalos, com outras nações poderosas e belicosas, a maioria estranha ao Cristianismo, invadiram o Império Romano, e o dilaceraram da maneira mais deplorável. Em meio a essas calamidades, os cristãos foram os sofredores mais graves, e podemos nos aventurar a dizer, que foram os principais sofredores. É verdade que essas nações selvagens almejavam mais a aquisição de prosperidade e domínio, do que a propagação ou apoio às superstições pagãs; e a crueldade e oposição deles aos cristãos não surgiram de algum princípio religioso, ou de um desejo fanático de arruinar a causa do Cristianismo; elas foram meramente pela INSTIGAÇÃO dos pagãos aos que ainda permaneciam no império, para que tratassem, com tal severidade e violência, os seguidores de Cristo”. Assim, o ai que foi anunciado, no versículo 12, contra os habitantes da terra e do mar, caiu sobre todo o mundo Romano; porque, em conseqüência do excitamento e distorções maliciosas dos pagãos do Império, “a transmigração de uma grande multidão de nações”, veio sobre os Romanos, e não cessou suas destruições, até que assolaram o Império oriental, até os portões de Bizâncio, e, finalmente, se apossaram do Império ocidental. Dr. Robertson diz, na introdução de sua História de Charles V, 1809: “Se a um homem fosse solicitado fixar o período, na história do mundo, durante o qual, a condição da raça humana foi mais calamitosa e afligida, ele nomearia, sem hesitação, aquele que decorreu da morte de Teodósio, o Grande, ao estabelecimento dos Lombardes, na Itália, um período de cento e setenta e seis anos. Os autores contemporâneos que observaram aquele cenário de desolação se esforçaram e estão perdidos quanto às expressões para descreverem o horror dele. O açoitadores de Deus, os destruidores de nações, são os terríveis epítetos, através dos quais eles distinguiam os mais 115 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE notáveis dos líderes bárbaros; e eles comparavam a ruína que trouxeram ao mundo, com a devastação ocasionada pelos terremotos, conflagrações, ou dilúvios, as mais formidáveis e fatais calamidades, que a imaginação do homem pode conceber”. Mas o sutil desígnio que a serpente do dragão tinha em vista, quando vomitou de sua boca uma inundação de águas, foi mais providencialmente frustrado; porque: 12:16 – E a terra ajudou a mulher; e a terra abriu a sua boca, e tragou o rio que o dragão lançara da sua boca. A terra ajudou a mulher – “De fato”, como o Bispo Newton excelentemente observa,”produziu mais provavelmente ruína e articulou subversão na Igreja Cristã, do que as irrupções de tantas nações bárbaras no Império Romano. Mas o evento provou-se contrário à aparência e expectativa humana: a terra tragou a inundação; os bárbaros foram antes tragados pelos Romanos, do que os Romanos pelos bárbaros; os conquistadores pagãos, em vez de imporem sua própria religião, submeteram-se à religião dos vencidos cristãos; e eles não apenas abraçaram a religião, mas influenciaram até mesmo as leis, as maneiras, os costumes, a língua, e o próprio nome dos Romanos, de maneira que os vitoriosos foram, de certa maneira, absorvidos e se perderam em meio aos subjugados”. Veja suas Dissertações sobre as Profecias. 12:17 – E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e têm o testemunho de Jesus Cristo. E o dragão irou-se com a mulher – A facção pagã, frustrada em sua tentativa sutil de destruir o Cristianismo, estava grandemente irada, e se esforçou para incitar o ódio da multidão contra a religião de Jesus. “Eles alegaram que antes da vinda de Cristo, o mundo foi abençoado com a paz e prosperidade; mas, desde o progresso da religião deles, em todos os lugares, os deuses, cheios de indignação por verem sua adoração negligenciada e seus altares abandonadas, visitaram a terra com aquelas pragas e desolações que aumentaram à cada dia”. Veja a História Eclesiástica de Mosheim, e outras obras sobre este assunto. Fizeram guerra com os remanescentes de sua semente – O dragão partiu para o deserto, para onde a mulher tinha fugido; e de uma outra forma, começou uma nova espécie de perseguição, dirigida apenas contra os remanescentes da sua semente, que mantinham os mandamentos de Deus, e o 116 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE testemunho de Jesus Cristo. Veja no versículo 13, do capítulo seguinte, para uma ilustração desta notável passagem. 117 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XIII A besta ergueu-se do mar, com sete cabeças, dez chifres e dez coroas, 1. Sua descrição, poder, blasfêmia, crueldade, etc., 2-10. A besta sai da terra com dois chifres, enganando o mundo, através de seus falsos milagres, e fazendo com que cada um receber sua marca no lado direito da mão. 11-17. Seu número, 666, 18. Notas Sobre o Capítulo XII. Por J.E.C. 13:1 - E EU pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia. E eu me pus sobre a areia do mar, e vi uma besta erguer-se do mar – Antes que prossigamos na interpretação deste capítulo, será altamente necessário determinar o significado do símbolo profético, besta, já que a falta de um entendimento apropriado deste termo tem provavelmente sido a razão, porque muitas hipóteses discordantes têm sido publicadas no mundo. Nesta investigação, é impossível recorrer a mais alta autoridade, do que as Escrituras, porque o Espírito Santo é seu próprio intérprete. O que, portanto, se quer dizer pelo termo besta, em alguma das visões proféticas, o mesmo deve ser representado por este termo, onde quer que seja usado, de uma maneira similar, em qualquer outra parte dos oráculos sagrados. Portanto, ao colocar este alicerce, a interpretação do anjo da última das quatro bestas de Daniel precisa apenas ser produzida, um relato da qual é dado no sétimo capítulo deste profeta. Daniel muito desejoso de “saber a verdade da quarta besta, que era diferente de todas as outras, extremamente terrível, e com dez chifres que estavam sobre sua cabeça”, o anjo assim interpreta a visão: “A quarta besta seria o quarto reino sobre a terra, diferente de todos os reinos, e devoraria toda a terra, e a pisotearia, e a faria em pedaços. E os chifres deste reino são os dez reis que surgiriam”, etc. Nesta Escritura, plenamente se declara que a quarta besta seria o quarto reino sobre a terra; consequentemente, as quatro bestas vistas por Daniel são os quatro reinos: de onde se conclui que o termo besta é o símbolo profético para um reino. Quanto à natureza do reino que é representado pelo termo besta, não é insignificante examinar o mais apropriado significado da palavra original, hyj chaiya. Esta palavra hebraica é traduzida na Septuaginta, pela palavra grega, 118 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE qhrion, e ambas significam o que denominamos de besta selvagem; e é uma utilizada por João em Apocalipse. Tomando a palavra grega, qhruin, neste sentido, é completamente evidente, que um poder seja representado, nos escritos proféticos, sob a noção de uma besta selvagem, para que o poder assim representado faça parte da natureza de uma besta selvagem. Assim sendo, um poder beligerante mundano é evidentemente designado. E a comparação é peculiarmente apropriada; porque, como diversas espécies de bestas selvagens vivem em constante guerra com o mundo animal, então, a maioria dos governantes, influenciada pela ambição, promove discórdia e despovoação. E, também, como a carnívora besta selvagem adquire sua força e magnitude no caçar animais mais fracos; então, a maioria das monarquias terrenas é levantada pela espada e deriva sua influência política da resistência mal sucedida das nações contendentes. O reino de Deus, por outro lado, é representado como “uma pedra tirada da montanha, sem as mãos”; e ele nunca é como a besta, porque não se levanta pela espada, como todos os outros poderes seculares, mas santifica a pessoa sob sua sujeição; e neste particular, difere essencialmente de todas as outras dominações. Diz-se que esta besta saiu do mar, no que concorda com as quatro bestas de Daniel; o mar é, portanto, o símbolo de uma grande multidão de nações, como já foi provado; e o significado é que todo império poderoso é erguido das ruínas de um grande número de nações, com que ele contendeu, com sucesso, e incorporou, com seus domínios. O mar, aqui, é, sem dúvida, o mesmo em que um ai foi anunciado contra seus habitantes, capítulo 12:12, porque João estava de pé na areia do mar, quando a visão mudou da mulher e o dragão para aquele registrado neste capítulo. Portanto, se segue que o reino ou império aqui representado pela besta, é o que brotou das ruínas do Império Romano Ocidental. Tendo sete cabeças e dez chifres, e junto a eles, dez coroas – A besta aqui descrita é o Império Latino, que apoiou a Igreja Latina ou papista; porque tem sobre seus chifres, dez coroas; ou seja, é um império composto de dez distintas monarquias no interesse da Igreja Latina. Vejas as cabeças e chifres totalmente explicados nas notas do capítulo 17:10,12, 16. Como as frases Igreja Latina, Império Latino, etc., não são muito geralmente entendidas, no momento, e ocorrerão frequentemente no decurso das notas sobre este e o décimo-sétimo capítulo, não será impróprio explicá-las. 119 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Durante o período da divisão do Império Romano, naqueles do oriente e ocidente, até a dissolução final do Império ocidental, os súditos de ambos os impérios eram igualmente conhecidos pelo nome de Romanos. Logo depois deste evento, o povo do ocidente perdeu quase inteiramente o nome de Romanos, e foi denominado segundo seus reinos respectivos. que foram estabelecidos junto às ruínas do Império ocidental. Mas como o Império oriental escapou da ruína que caiu sobre o ocidental, os súditos do primeiro ainda mantiveram o nome de Romanos, e chamaram seu domínio de Império Romano; através do qual, esta monarquia ficou conhecida dentre eles, até sua dissolução final, em 1453, por Mohammed II, o sultão turco. Mas os súditos do imperador oriental, desde o tempo de Carlos Magno, ou antes (e mais especialmente no tempo das cruzadas e consequentemente), chamaram o povo ocidental, ou aqueles debaixo da influência da Igreja Romana, de Latino, e sua Igreja, de Igreja Latina. E o povo ocidental, em contrapartida, denominou a Igreja oriental, de a Igreja grega, e os membros dela, de gregos. Em conseqüência, a divisão da Igreja cristã, nas dos gregos e latinos. Para uma confirmação disto, o leitor pode consultar os escritores Bizantinos, onde encontrará as denominações, Romanos e Latinos, usadas no sentido aqui mencionado em numerosas instâncias. Os membros da Igreja Católica Romana não têm sido denominados Latinos, pelos gregos apenas; este termo é também usado nos instrumentos públicos dos conselhos gerais papistas, como pode ser exemplificado nas seguintes palavras que formam uma parte do decreto do conselho de Basil, datado de 26 de Setembro de 1417, Copiosissimam subventionem pro unione GRAECORUM cums LATINIS, “Uma grande convenção para a união dos Gregos e os Latinos”. Mesmo nas próprias bulas papais esta denominação tem sido reconhecida, como pode ser visto no edito do Papa Eugênio IV, datado de 17 de Setembro de 1437, em que menção é feita da Ecclesiae LATINORUM quaesita unio, “o desejo de união da Igreja dos Latinos”; e em outro local, lemos: Nec superesse modum alium prosequendi operis tam pii, et servandi LATINAE ECCLESIAE honouris, “que nenhum meio seria deixado sem tentar, na execução de tal obra piedosa, e para preservar a honra da Igreja Latina”. Em uma bula do mesmo pontífice, datada de Setembro de 1439, temos a Sanctissima LATINORUM et GRAECORUM unio, “a mais santa união dos Gregos com os Latinos”. Veja Bail's Summa Conciliorum. Por Império Latino queremos dizer todos os poderes que apóiam a Igreja Latina. E junto às suas cabeças o nome de blasfêmia – onoua blasfhmiav? Um nome de blasfêmia. Isto tem sido entendido de diversas maneiras. Jerome e 120 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Prosper dizem que o nome de blasfêmia consiste na denominação, urbs aeterna, eterna cidade, apelido de Roma; e os estudiosos modernos referem-se a esta, como a adoração idólatra dos Romanos e papistas. Antes de tentarmos determinar o significado desta passagem, devemos, primeiro, definir o que o Espírito Santo quer dizer por nome de blasfêmia. Blasfêmia, nas Escrituras, significa o falar ímpio, quando aplicado a DEUS, e o falar injurioso, quando dirigido contra nosso próximo. Um nome de blasfêmia é a prostituição de um nome sagrado, para um propósito profano. Isto está evidente no 9º versículo do segundo capítulo de Apocalipse, quando Deus diz: “Eu conheço a blasfêmia daqueles que dizem que são judeus, e não são, mas são da sinagoga de satanás”. Esses homens pecaminosos, por chamarem a si mesmos, judeus, blasfemam o nome, por exemplo, usando-o em um sentido injurioso; porque SOMENTE é judeu, quem o é interiormente. Assim sendo, o termo judeu, aplicado para a sinagoga de satanás é um nome de blasfêmia, ou seja, um nome sagrado, blasfemado. Um nome de blasfêmia, ou uma denominação blasfema, diz-se sobre as sete cabeças da besta. Para determinar qual é este nome, o significado das sete cabeças neste lugar deve ser determinado. Se o leitor referir-se às notas do capítulo 17:9-11, ele encontrará que as cabeças terão um duplo significado: o dos sete eleitorados do Império Alemão, e também o das sete formas de Governo Latino. Como este é o primeiro lugar, onde as cabeças da besta são mencionadas, com alguma descrição, é razoável esperar que esta significação das cabeças, que é a primeira na ordem de interpretação do anjo, capítulo 17:9, deve significar o que é pretendido aqui. Ou seja: “as sete cabeças são sete montanhas sobre as quais a mulher se encontra”, o nome de blasfêmia, consequentemente, será encontrado junto aos sete eleitorados da Alemanha. Isto, portanto, pode ser nada mais do que aquilo que era comum, não apenas para os eleitorados, mas também para o todo do Império Alemão, ou aquele, bem conhecido do SACRUM Imperium Romanum, “O SAGRADO (ou SANTO) Império Romano”. Aqui está uma denominação sagrada, blasfemada, devido sua aplicação ao principal poder da besta. Nenhum reino pode propriamente ser chamado de santo, a não ser, aquele de Jesus; portanto, será blasfêmia unir este epíteto com algum outro poder. Mas deve ser horrivelmente blasfemo aplicá-lo ao Império Alemão, o grande defensor do anticristo, desde que se levantou para a autoridade temporal. Pode ser santo um império que tem matado os santos, professado e apoiado, com todas as suas forças, um sistema idólatra de adoração? É impossível. Portanto, sua suposição de sagrado ou santo (cuja denominação foi 121 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE originalmente dada para o Império, por ter sido o principal apoio ao que é denominado de santa Igreja Católica, o imperador, por este motivo, assim intitulado de vigário temporal de Cristo sobre a terra: veja (Caesarini Furstenerii Tractatus Deuteronomy Suprematu Principum Germaniae, cc. 31, 32), deve, no mais alto sentido da palavra, ser considerado como um nome de blasfêmia. O nome de blasfêmia é muito propriamente usado para designar as sete cabeças da besta, ou sete eleitorados do Império Alemão, porque os eleitores são chamados de SACRI Imperii Príncipes Electores, Príncipes, Eleitores do Império Santo; SACRI Romani Imperii Electores, Eleitores do Santo Império Romano. 13:2 – E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio. E a besta que eu vi era como um leopardo – Esta similitude da besta com o leopardo parece ser uma alusão a terceira besta de Daniel, que se sabe, representa o Império dos Gregos. O Império Latino era grandemente similar ao moderno Império dos Gregos; e fica evidente, em Daniel 7:12 “Como concernente ao restante das bestas, porque lhes foi tirado o domínio; ainda assim suas vidas foram prolongadas até certo espaço de tempo”, que este poder dos gregos ainda se assemelhava a um leopardo, mesmo depois de sua subjugação pelos Romanos. O Império Latino foi, em primeiro lugar, semelhante ao seu contemporâneo, porque ambos aderiram a um sistema idólatra de adoração, professadamente cristão, mas, em vez disto, verdadeiramente, anticristão; e se sabe, que as Igrejas Gregas e Latinas abundam em absurdidades monstruosas. Em Segundo Lugar, ambos eram similares em sua oposição à difusão do puro Cristianismo; embora se deva admitir que os Latinos ultrapassaram, em muito, os Gregos, neste particular. Em Terceiro Lugar, eram similares, com respeito à autoridade civil, poderosamente deprimida pela eclesiástica; embora a Igreja Latina fosse mais fortemente marcada, e de muito mais longa continuidade. A excomungação do imperador grego, pelo Patriarca Arsenius, e as conseqüências disto, proporcionam um exemplo notável do grande poder do clero grego. Mas a besta de João, embora, em sua aparência geral se assemelhe a um leopardo, ainda assim, difere dele, porque tem os pés como os de um urso. A segunda besta de Daniel era como um urso, e pode não haver dúvida de que o reino dos Medas e Persas foi aqui pretendido; porque muito apropriadamente parecido com este animal, já que foi um dos mais desumanos 122 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE que alguma vez existiu. O urso, por sua vez, é um emblema, bem conhecido, de crueldade. Veja 2 Samuel 17:8 “Disse mais Husai: Bem conheces tu a teu pai, e a seus homens, que são valorosos, e que estão com o espírito amargurado, como a ursa no campo, roubada dos cachorros; e também teu pai é homem de guerra, e não passará a noite com o povo.” e Oséas 13:8 “Como ursa roubada dos seus filhos, os encontrarei, e lhes romperei as teias do seu coração, e como leão ali os devorarei; as feras do campo os despedaçarão”. E não é a crueldade uma impressionante característica do Império Papal Latino? Os súditos deste Império não foram literalmente pisoteados até a morte, todos, que em seu poder, não obedeceram às suas requisições idólatras? No Livro dos Mártires, de Fox, e outras obras que tratam deste assunto, encontramos um catálogo melancólico, a respeito das horríveis torturas e das mais prolongadas mortes a que eles obrigaram grandes números de cristãos, a sofrer. Sob este aspecto, os pés da besta eram como os pés de um urso. Um outro particular, em que a besta diferiu do leopardo foi, no ter a boca como a de um leão. Dr. More diz: “É como o reino da Babilônia (a primeira besta de Daniel que é semelhante a um leão), em seus cruéis decretos contra aqueles que não obedeciam seus éditos idólatras, nem adoravam a imagem de ouro instituída por Nabucodonosor. A obstinação deles deveria ser punida, através da fornalha quente; fogo e lenha deveriam ser preparados para aqueles que não se submetessem a esta nova idolatria Romana”. E o dragão lhes deu seu poder, e seu trono, e grande autoridade - No capítulo 12:8, está escrito que seu lugar não mais foi achado no céu; o dragão aqui não pode, portanto, ser o Império Romano pagão, já que este foi abolido previamente à aparição da besta. Deve, então, aludir à restauração de uma das cabeças DRACÔNICAS da besta, como veremos na explanação do versículo seguinte, e mais completamente, nas notas sobre Apocalipse 17: 1-18. 13:3 – E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta. E eu vi uma de suas cabeças, como ferida de morte – Este é o segundo e o último lugar, onde as cabeças da besta são mencionadas com alguma descrição; e, portanto, o significado aqui deve ser as formas de governo, já que essas foram noticiadas, por último, na dupla explanação do anjo. A cabeça, ferida de morte pode ser nenhuma outra do que a sétima cabeça dracônica, que era a sexta cabeça da besta, ou o poder imperial; porque “esta cabeça”, como o Bispo Newton observa, “estava, por assim dizer, ferida 123 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE de morte, quando o Império Romano foi aniquilado pelas nações do norte, e um fim foi colocado para o próprio nome do imperador em Momyllus Augustulus”. Ela estava tão ferida, que era totalmente improvável que pudesse alguma vez levantar-se novamente para um poder considerável, porque o Império Ocidental foi tomado por diversas nações bárbaras de interesses independentes. E sua ferida mortal foi curada – Por Carlos Magno, que com seus sucessores assumiram todas as marcas dos primeiros imperadores do ocidente, com os títulos de Semper Augustus, Sagrada Majestade, Primeiro Príncipe do Mundo Cristão, Chefe Temporal do Povo Cristão, e Reitor ou Chefe Temporal do Fiel na Alemanha; Moderna História Universal, volume xxxii. Mas no versículo 2, o dragão deu à besta seu poder, dunamin, seus exércitos ou força militar; por exemplo, ele empregou todo seu poder imperial na defesa do Império Latino, que apoiava a Igreja Latina. Ele também deu seu trono, fronon, literalmente seu trono: o todo de seu Império formou uma parte integral do Império Latino, através de sua conversão à fé Católica Romana. Ele também deu grande autoridade. Isto é literalmente verdadeiro, com respeito ao Império Romano da Alemanha, que, por este grande poder e influência nas políticas da Europa, estendeu a religião do império sobre os vários estados e monarquias da Europa, incorporando-os, por assim dizer, em um vasto império, através da união de uma fé comum. E o mundo todo se maravilhou após a besta – olh h gh? Toda a terra. Como a palavra original significa terra, e não mundo, como na nossa tradução, o mundo latino que é a terra da besta, está aqui pretendido; e o significado da passagem, consequentemente, é que todo o corpo dos Católicos Romanos ficou grandemente maravilhado com a influência poderosa do Império Latino, considerando-o como um grande e santo poder. ] 13:4 – E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela? E eles adoraram o dragão – Adorar o dragão evidentemente significa aqui a sujeição religiosa voluntária dos membros da Igreja Latina, ao reavivado Império Ocidental, porque ele tomou uma parte eminente, no apoio da fé deles. E eles adoraram a besta – Não apenas o dragão ou o reavivado Império Ocidental foi adorado; a besta, todo o Império Latino, é um parceiro na adoração. A maneira em que ele é adorado consiste nos súditos dele: - Dizendo: 124 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Quem é como a besta? Ela não é o único poder santo no universo? É possível para alguma pessoa não se sujeitar a ela para ser salvo? Quem é capaz de fazer guerra com ela? – Pode alguma nação lutar com sucesso contra ela? Não é o Império Romano, que é o principal, bulwark, invictissimum, o mais invencível? Invictissimus. Mais invencível, foi o atributo peculiar dos imperadores da Alemanha. Veja a Moderna História Universal, vol. xxxii. 13:5 – E foi-lhe dada uma boca, para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para agir por quarenta e dois meses. E foi dado a ele uma boca para falar grandes coisas – Ou seja, foi dado, aos governantes do Império Latino, que eram a boca da besta (e, especialmente o imperadores Romanos da Alemanha), poder para assumir os grandes e pomposos títulos indicativos de sua poderosa influência sobre muitas cidades subjugadas (veja os instrumentos imperiais da idade média, nos Corps Diplomatique), e também expressar-se contra os oponentes dos mais terríveis éditos. E blasfêmias – O sistema de adoração apoiado pela besta é um sistema de blasfêmia, como haverá oportunidade de mostrar em breve. E poder foi dado a ele para continuar por quarenta e dois meses – Como esses quarenta e dois meses são proféticos, eles devem significar tantos anos quanto existem dias contidos neles; a saber, 1.260, cada mês, com 30 dias. A besta, portanto, continuaria existindo, pelo menos, por 1260 anos; mas, quando se dará o término deste período, é difícil dizer, já que o começo não pode ser, no momento, indubitavelmente afirmado. 13:6 – E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu. E ele abriu sua boca, para blasfemar contra Deus, para blasfemar seu nome – O Império Latino está aqui representado como um poder blasfemo em três aspectos: Primeiro, ele blasfema o nome de Deus. Este tem sido mais notoriamente o caso com os diferentes príncipes papistas, que continuamente blasfemam os sagrados nomes de Deus, usando-os em suas adorações idólatras. A boca da blasfêmia contra Deus não pode ser mais evidente do que nas seguintes palavras ímpias, que formam uma parte da Bula Papal Dourada, publicada por Charles V, em janeiro de 1316: 125 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE “Mas tu, invejoso, quão frequentemente tens tentado arruinar, pela divisão, o Império Cristão, que Deus fundou sobre as três virtudes cardinais, fé, esperança e amor, junto à santa e indivisível Trindade, vomitando o velho veneno da discórdia, em meio aos sete eleitores, que são os pilares e os sete principais membros do Império santo; através de cujo brilho, o santo império deve ser iluminado, como por sete tochas, e sua luz, reforçada pelos sete dons do Espírito Santo!”. E seu tabernáculo – Tabernáculo é algum tipo de lugar habitável, e em um sentido mais eminente, entre os judeus, um tipo de tenda, a ser montada e desmontada quando a ocasião requeresse, e que foi como se o palácio do Altíssimo, a habitação do Deus de Israel. Ele foi dividido em duas partes: uma chamada de lugar santo, e a outra de o lugar mais santo, e neste último, antes da construção do templo, a arca da aliança foi mantida, o que foi um símbolo da presença graciosa de Deus, com a Igreja Judaica. Tudo isto, o autor da Epístola aos Hebreus, no oitavo e nono capítulos, explica, para prefigurar a natureza humana de Cristo. A blasfêmia da besta do tabernáculo de Deus, portanto, como Dr. More e outros propriamente observam, é a sua ímpia doutrina da transubstanciação, em que a mais terrível blasfêmia assegura que a substância do pão e vinho, no sacramento, literalmente se converte, através da consagração do sacerdote, no corpo e sangue de Jesus Cristo! Esta doutrina foi, a princípio, apresentada em meio aos Latinos, no século dez; e em 1215, totalmente recebida, como um artigo da fé Católica Romana. E as páginas da história eclesiástica registram os incríveis números daqueles martirizados pelos papistas, pela sua não aceitação desta antibíblica e anticristã doutrina. Semelhante ao cordeiro – Já que o cordeiro, em outras partes do Apocalipse, significa Cristo, que é o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, nesta passagem, ele terá um significado similar; ao afirmar que os dois chifres da besta, ou o clero regular e secular, professam ser ministros de Cristo, semelhantes a Ele, na brandura e humildade, e no ensinar nada que seja contrário à santidade. A besta de dois chifres, ou o Império espiritual Latino, tem na realidade o nome, e aos olhos do mundo Latino, a forma, de um poder CRISTÃO. Mas ela é apenas assim, na aparência, e isto somente em meio aos seus iludidos devotos; porque quando fala: - Ela fala como um dragão – As doutrinas da hierarquia Católica Romana são muito similares àquelas contidas na velha adoração pagã; porque tem introduzido “uma nova espécie de idolatria, 126 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE nominalmente diferente, mas, essencialmente, a mesma, a adoração de anjos e santos, em vez dos deuses e semideuses da antiguidade”. 13:12 – E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. E ela exerceu todo o poder da primeira besta diante dele – No versículo precedente, a besta de dois chifres foi representada, surgindo da terra, ou seja, obtendo gradualmente mais e mais influência nos assuntos civis do mundo Latino. Aqui, ela é representada, adquirindo a direção e manejo de todos os poderes da primeira besta ou Império Latino secular, diante dele, enwpion autou, em sua presença. Que a hierarquia Católica Romana tem seu poder falado extensivamente aqui, fica evidente da história; porque o poder civil estava em sujeição ao eclesiástico. O clero paroquial, um dos chifres da segunda besta, tem tido grande jurisdição secular sobre todo o mundo Latino. Os dois terços dos estados da Alemanha foram dados aos eclesiásticos, por três Otos, que sucederam uns aos outros; e nas outras monarquias Latinas, o clero paroquial possuiu grande poder temporal. Ainda que extraordinário, como foi o poder do clero secular, em todas as partes do mundo Latino, ele foi fraco, quando comparado àquele das ordens monásticas que constituíram o outro chifre da besta. Os frades mendicantes, a maioria considerável do clero regular, apareceram, a princípio, no início do século treze. Esses frades foram divididos por Gregório V, em um conselho geral que ele agregou, em Lyons, em 1271, em quatro sociedades ou denominações: Os Dominicanos, os Franciscanos, os Carmelitas, e os Eremitas de Santo Agostinho. Mosheim observa que: “Como os pontífices permitiram a essas quatro ordens mendicantes a liberdade de viajarem para onde quer que considerassem apropriado, para conversarem com as pessoas de todas as classe, instruírem o jovem e a multidão, onde estivessem; e como esses monges exibiam, em sua aparência exterior e maneira de vida, as marcas mais surpreendentes da sobriedade e santidade, do que as que foram observáveis em outras sociedades monásticas; eles se ergueram, de imediato, ao mesmo auge da fama, e foram considerados com a mais extrema estima e veneração, por todas as cidades da Europa. A fanática ligação com esses pedintes santarrões foi tão longe, como constatamos, dos mais autênticos registros, que diversas cidades foram divididas (ou divididas em cantões), em quatro partes, tendo em 127 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE vista essas quatro ordens; a primeira, atribuída aos Dominicanos, a segunda, aos Franciscanos, a terceira, aos Carmelitas, e a quarta, aos Augustianianos. As pessoas, a contragosto, recebiam os sacramentos, de nenhuma outra mão do que daquelas dos mendicantes, cujas Igrejas, elas superlotavam, para executarem as devoções deles, enquanto vivos, extremamente desejosos de depositarem lá também seus restos mortais; o que ocasionou graves queixas, em meio aos sacerdotes comuns, que se consideravam guias espirituais do povo, porque, no entender deles, a cura das almas estaria comprometida. Nem a influência e crédito dos mendicantes terminaram aqui, porque encontramos na história deste século (treze) e nas eras subseqüentes, que eles se ocuparam, não apenas dos assuntos espirituais, mas também dos assuntos temporais e políticos de maior conseqüência; na composição dos diferentes príncipes, concluindo tratados de paz, arquitetando alianças, presidindo nos conselhos de ministros, cortes governamentais, arrecadando taxas e outras ocupações, não apenas remotas, mas absolutamente inconsistentes com o caráter e profissão monástica. No entanto, não devemos imaginar que todos os frades mendicantes alcançaram o mesmo grau de reputação e autoridade; porque o poder dos Dominicanos e Franciscanos sobrepujou grandemente aquele das duas outras ordens, e o tornaram singularmente notáveis aos olhos do mundo. Durante três séculos, essas duas fraternidades governaram, com uma influência quase universal e absoluta, tanto o estado quanto a Igreja, preenchidas com os mais eminentes cargos, eclesiásticos e civis; ensinando nas universidades e igrejas, com uma autoridade, diante da qual, havia silêncio; e mantendo a pretendida majestade e prerrogativas dos pontífices Romanos, contra os reis, príncipes, bispos, e hereges, com incrível ardor e igual sucesso. Os Dominicanos e Franciscanos foram, antes da Reforma, o que os Jesuítas haviam sido, desde aquele período feliz e glorioso, a própria alma da hierarquia, as máquinas do estado, as fontes secretas de todos os movimentos, de um e de outro, e os autores e dirigentes de todo grande e importante evento no mundo religioso e político”. Assim, a hierarquia Católica Romana tem exercido todo o poder da primeira besta, ao olhos dela, ambos temporal e espiritual, e, portanto, com tal espantosa influência, sobre os príncipes seculares, não foi uma tarefa difícil fazer com que: - A terra e aqueles que habitam nela adorassem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. Ou seja, ela fez com que todo o mundo Latino se submetesse à autoridade do Império Latino, com o reavivado Império ocidental, como alvo, persuadindo-os de que tal submissão é benéfica aos interesses espirituais deles, e absolutamente necessária para sua salvação. 128 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Aqui se observa que ambas as bestas tiveram domínio sobre a mesma terra; porque se diz expressamente que a segunda besta fez com que a TERRA e todos que nela habitam, adorassem a primeira besta; portanto, como Bispo Newton e outros observaram, “trata-se de um império dentro de um império”. Consequentemente, temos a mais completa evidência de que as duas bestas consistem na divisão do grande Império Latino, através da usurpação do clero Latino, em dois impérios distintos, um secular, e outro, espiritual, e ambos unidos em um desígnio anticristão; o de difundir seu mais abominável sistema de idolatria sobre toda a terra, e estender a esfera de seu domínio. Aqui temos também uma ilustração daquela notável passagem do capítulo 16:10, o reino das bestas; o reino do reino Latino; que é aparentemente um solecismo, mas, na realidade, expressado com maravilhosa precisão. O quinto frasco é derramado sobre o trono da besta, e SEU REINO é obscurecido, ou seja, o reino Latino em sujeição ao reino Latino, ou o Império secular Latino. 13:13 – E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. Que a besta de dois chifres é o Império espiritual Latino, consultemos o cap. 19:20 “E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre”, uma passagem ilustrativa sobre o falso profeta, agora em consideração, “do qual”, como Bispo Newton observa, “não pode haver um argumento mais forte ou mais claro, para provar que os falsos doutores ou professores foram especialmente designados”; porque profeta, no estilo bíblico, não é raramente usado para designar professor ou expositor da palavra de Deus. Veja I Cor. 14:1-5. Consequentemente, se segue que a besta de dois chifres é um império de falsos doutores ou professores. Com o objetivo de estabelecer a Igreja Latina sobre um alicerce que nunca poderá cair, o falso profeta realiza grandes maravilhas – ele tenta as mais estupendas e prodigiosas façanhas, e é coroado com incrível sucesso. Ele tem a arte de persuadir seus seguidores de que o clero da Igreja de Roma são os únicos ministros verdadeiros de Cristo; que eles têm tal grande influência na corte do céu, de maneira a capacitá-los, a não apenas perdoarem os pecados, mas também a garantirem indulgências no pecado, pagando certas somas estipuladas. Ele os persuade também de que podem realizar obras de superrogação. Ele simula que um incrível número de milagres tem sido forjado e ainda é operado pelo Altíssimo, como uma das muitas evidências da grande 129 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE santidade da Igreja Latina; e o falso profeta tem tal influência espantosa sobre seu rebanho, de modo a fazer com que acreditem em todas as suas lendas fabulosas, e maravilhosas mentiras. Ele simula também (e é incrível!) que seu poder não está confinado a este mundo; que ele é capaz, através de suas orações, de livrar as almas dos falecidos, do que ele chama de purgatório, um local que inventou para a purificação das almas pecadoras, depois de sua partida deste mundo. Suas maravilhosas façanhas de serem capazes de induzir os homens, em posse de suas faculdades racionais, a acreditarem em suas monstruosas absurdidades, não terminam aqui; ele, até mesmo: - faz com que fogo desça do céu – aos olhos dos homens – Fogo, nas Escrituras, quando significa ira, representa aquele tipo de indignação que é atendida com a destruição do que quer que seja a causa dela. Assim, a ira de Deus é parecida com o fogo – Salmos 18:7,8 “Então a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou. Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se acenderam dele”; Jeremias 4:4 “Circuncidai-vos ao SENHOR, e tirai os prepúcios do vosso coração, ó homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que o meu furor não venha a sair como fogo, e arda de modo que não haja quem o apague, por causa da malícia das vossas obras”. Portanto, o fogo que o falso profeta faz cair do céu sobre a terra, é a colérica indignação que ele traz do céu, ou do trono do Império Latino, sobre todos aqueles na terra, ou no mundo Latino, que se rebelam contra sua autoridade. Tudo isto tem sido cumprido na hierarquia Católica Romana; o clero Latino denominou todos aqueles que se opuseram à autoridade deles, de hereges; eles instituíram tribunais para julgarem a causa da heresia, e todos que não se submeteram à idolatria deles, foram condenados aos vários tipos de torturas e mortes. Dizer que o falso profeta faz cair fogo DO CÉU, sobre a terra; é o mesmo que dizer que ele não apenas julga a causa da heresia, mas sentencia com a condenação; ele não permitirá que um eclesiástico execute a sentença da corte; o fogo destruidor que ele provoca vem do céu ou do trono do Império Latino; príncipes seculares e magistrados devem executar a sentença de morte sobre todos que são condenados, principalmente pelo poder espiritual. Ele faz descer fogo do céu; ele obriga os príncipes seculares a assisti-lo contra os hereges; e, se alguns se rebelam contra sua autoridade, ele imediatamente os coloca sob ao édito de um anátema, de maneira que são privados de seus ofícios, e expostos a insultos e perseguição de seus irmãos. Assim, o falso 130 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE profeta engana o mundo Latino, através desses milagres que ele tem o poder de tentar realizar aos olhos da besta. Sob a aparência de grande santidade, ele persuade os homens a acreditarem em todas as suas doutrinas mentirosas, e os obriga a seus cânones e decretais, com a espada do magistrado civil. 13:14 – E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia. Dizendo àqueles que habitam sobre a terra, que fizessem uma imagem para a besta, que foi ferida pela espada, e sobreviveu – A imagem da besta deve designar uma pessoa que representa, em si mesma, todo o poder do Império Latino, portanto, não pode ser o imperador; porque, embora ele fosse, de acordo com seu próprio relato, o cabeça suprema da Cristandade, ainda assim, ele era apenas o chefe da Confederação Alemã, e, consequentemente, apenas soberano do poder principal do Império Latino. A imagem da besta deveria ser o governador supremo do Império Latino, e como é através da influência do falso profeta que esta imagem é feita para a primeira besta, este grande chefe deve ser um eclesiástico. Em seu comentário no versículo seguinte, Bispo Newton é capaz de mostrar de quem se trata. 13:15 – E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta. E ele tinha poder para dar vida à imagem da besta, para que ela pudesse falar, e fizesse com que os muitos que não adorassem a imagem da besta fossem mortos – Eu gostaria de observar que os Brahmens, por repetirem encantamentos, professarem conceder a uma imagem recentemente criada, olhos e uma alma, antes que fosse adorada; mais tarde, supondo-se que seja a residência do deus ou deusa que ela representa, tem o direito legal à adoração. Deste versículo, o ilustre bispo observa: “A influência da besta de dois chifres, ou clero corrupto, é visto mais adiante persuadindo e induzindo a humanidade a fazer uma imagem para a besta que fora ferida pela espada e sobreviveu. Esta imagem e representativo da besta é o papa. Ele é propriamente o ídolo da Igreja. Ele representa, em si mesmo, todo o poder da besta, e é o cabeça de toda autoridade, temporal, assim como espiritual. Ele é nada mais do que uma pessoa privada, sem poder e sem autoridade, até que a besta de dois chifres, ou o clero corrupto, dá vida a ele, e o capacita a falar e 131 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE afirmar seus decretos, e a perseguir, até mesmo, com a morte, os quantos se recusam a submeter-se a ele, e a adorá-lo. Tão logo é escolhido papa, ele é vestido com os hábitos pontificais e coroado e colocado sob o altar, e os cardeais se aproximam e beijam seus pés, cuja cerimônia é chamada de adoração. Eles primeiro o elegem, e, então, o adoram, como nas medalhas de Martin V, onde dois são representados, coroando o papa, e dois, se ajoelhando diante dele, com esta inscrição: ‘Aquele que eles criaram, eles adoram’. Ele é O Princípio da Unidade dos Dez Reinos da Besta, e, até onde é capaz, faz com que aqueles que não reconhecem sua supremacia sejam colocados à morte”. A grande ascendência que os papas obtiveram sobre os reis do mundo Latino, através da hierarquia Católica Romana, está suficientemente marcada na história da Europa. Por quanto tempo o grande corpo de pessoas foi devotado à idolatria Católica Romana, em vão os reis das diferentes regiões Católicas Romanas, se opuseram às crescentes ursupações dos papas. Eles ascenderam, a despeito de toda oposição, ao mais alto pináculo da grandeza humana; porque mesmo a autoridade dos próprios imperadores foi estabelecida e anulada ao bel-prazer deles. O tom mais ressoante dos papas começou com Gregório VII, no ano 1073 da Era Cristã, comumente conhecido pelo nome de Hildebrando, que almejou nada menos do que o Império universal. Ele publicou um anátema contra todos que receberam a investidura de um bispado ou jurisdição, das mãos de um leigo, como também contra aquele, através dos quais, a investidura fosse executada. Esta medida sendo contrariada por Henrique IV, imperador da Alemanha, o papa o destituiu de todo poder e dignidade, real ou imperial. Veja Corps e Diplomatique. Com grande número de príncipes alemães ao lado do papa, o imperador se achou sob a necessidade de ir até o bispo de Roma (em Janeiro de 1077), implorar por seu perdão, que não foi garantido, até que ele jejuou por três dias, ficando de manhã até a tarde, descalço, e exposto à inclemência do tempo! No século seguinte, o poder do papa estava ainda mais ampliado; porque em 23 de Setembro de 1122, o Imperador Henrique V desistiu de todo direito de conferir as insígnias, através da cerimônia do anel e bastão episcopal, de maneira que os cônegos e comunidades estivessem livres para preencherem suas próprias vagas. Neste século de eleição, os pontífices romanos foram confinados por Alexander III ao colégio de cardeais. No século treze, os papas (Dr. Mosheim observa) “inculcaram aquela máxima perniciosa de que o bispo de Roma é o supremo senhor do universo, e que nem os príncipes, nem os bispos, governadores civis, nem os administradores eclesiásticos, têm algum 132 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE poder legal na Igreja ou estado, a não ser o que derivam deles. Para estabelecerem a autoridade deles, nos assuntos civis e eclesiásticos, em um alicerce mais firme, eles assumiram para si mesmos, o poder de disporem dos vários ofícios da Igreja, quer de natureza mais elevada ou mais subordinada, e instituírem bispos, abades e cânones, de acordo com a fantasia deles. O primeiro dos pontífices que usurparam de tal extravagante extensão de autoridade foi Inocêncio III (1198-1216), cujo exemplo foi seguido por Honourius III (1216); Gregório IX (1227), e diversos de seus sucessores”. Assim, a plenitude do poder papal (como é denominada) não foi confinada ao que era espiritual; os bispos Católicos Romanos “destronaram monarcas, dispuseram de coroas, absolveram súditos da obediência devida aos seus soberanos, e colocaram reinos sob interdições. Não houve um estado na Europa que não tenha sido perturbado pela ambição deles. Não houve um trono que eles não estremeceram, nem um príncipe que não tremeu na presença deles”. O auge da mais respeitada autoridade que os bispos Católicos Romanos alcançaram, foi por volta do início do século quatorze. Bonifácio VIII, que era papa naquele tempo, sobrepujou todos os seus predecessores nos tons mais elevados de seus decretos públicos. De acordo com sua famosa bula papal, Unam Sanctam, publicada em 16 de Novembro de 1302, “o poder secular é uma simples emanação do eclesiástico; e o duplo poder do papa, alicerçado nas Santas Escrituras, é, até mesmo, um artigo de fé. Deus”, disse ele, “confiou ao Santo Pedro, e a seus sucessores, duas espadas, uma espiritual e outra temporal. A primeira deve ser exercida pela própria Igreja; e a outra, pelos poderes seculares a serviço da Igreja, e de acordo com a vontade do papa. A última, a espada temporal, é uma sujeição da primeira, e a autoridade temporal depende indispensavelmente do poder espiritual que o julga, enquanto Deus apenas pode julgar o poder espiritual. Finalmente”, ele acrescenta, “é necessário à salvação de toda criatura humana, estar em sujeição ao pontífice Romano”. O falso profeta disse “aos que habitam sobre a terra, que eles deveriam fazer uma imagem para a besta que fora ferida pela espada e sobreviveu”, ou seja, o sacerdócio louvou a supremacia do papa sobre os príncipes temporais; e, através de sua espantosa influência, sobre as mentes das pessoas, o bispo de Roma tornou-se, por fim, no supremo soberano do Império secular Latino, e, assim, manteve-se na liderança de toda autoridade, temporal e espiritual. Os papistas têm, em suas várias superstições, professado adorarem a Deus. Mas é dito nas palavras infalíveis da profecia, que eles adoram o dragão, 133 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE a besta, e a imagem da besta, e blasfemam a Deus; porque receberam como santos, aqueles mandamentos dos homens que estão em direta oposição às sagradas Escrituras, e que têm sido impostos sobre eles, pelos bispos Católicos Romanos, auxiliados pelos poderes seculares. “Deus é um Espírito, e aqueles que o adoram, devem adorá-lo em ESPÍRITO e em VERDADE”. 13:16 – E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, E fez com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e cativos, recebessem a marca – Para determinar o significado da marca que a besta de dois chifres faz com que todas as ordens e níveis de homens no mundo Latino recebam, precisamos apenas nos referir ao capítulo 14:11 “E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome”, onde a marca imposta pela besta de dois chifres é chamada de a marca de seu nome. O nome da besta é o Império Latino: a marca de seu nome deve, portanto, deve ser sua adoração Latina; por esta mesma razão, porque é a besta de dois chifres, ou o falso profeta, que faz com que todos os tipos de pessoas devam recebê-la. Agora, é bem sabido que a ocupação contínua do clero Latino é impingir a idolatria Latina sobre seus rebanhos. A missa e ofícios da Igreja, que são em Latim, e contém a somatória e essência de sua adoração idólatra, são de diferentes tipos, e abundam em orações ímpias à Virgem Maria, e aos santos e anjos. Em uma palavra, a adoração Latina é o emblema universal da Igreja Latina, de todas as outras Igrejas sobre a face da terra; e é, portanto, a única MARCA infalível, através da qual, um papista genuíno pode ser distinguido do restante da humanidade. Mas a besta de dois chifres faz com que todos recebam esta marca: - Na mão direita deles, ou em suas testas – Mão direita, na linguagem bíblica, quando usada figurativamente, representa o poder físico da pessoa de quem se fala; e, quando aplicado a Deus, designa uma manifestação evidente do poder Divino contra seus inimigos, e em proveito de seu povo. Veja Salmos 17:7 “Faze maravilhosas as tuas beneficências, ó tu que livras aqueles que em ti confiam dos que se levantam contra a tua destra”; 20:6 “Agora sei que o SENHOR salva o seu ungido; ele o ouvirá desde o seu santo céu, com a força salvadora da sua mão direita”; 45:3, 4 em diante. “Cinge a tua espada à coxa, ó valente, com a tua glória e a tua majestade. E neste teu esplendor cavalga prosperamente, por causa da verdade, da mansidão e da justiça; e a tua destra te ensinará coisas terríveis...”. O recebimento da marca, na mão direita deve significar, portanto, que todos que assim a recebem, devotam todos os poderes de suas mentes e corpos 134 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE à propagação da adoração Latina, e à erradicação de todas as denominadas heresias de sua Igreja. Mas alguns recebem a marca em suas testas. Alguma coisa impressa sobre a testa, significa a profissão pública do que quer que seja inscrito ou marcado sobre ela. Veja capítulo 9:4 “E foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem a árvore alguma, mas somente aos homens que não têm nas suas testas o sinal de Deus”; 22:4, etc. “E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome...”. A marca da besta recebida sobre a testa significa, portanto, que todos aqueles assim marcados fazem uma pública profissão da adoração Latina; o que torna evidente que eles formam uma parte da Igreja Latina. Muitos podem ser marcados na mão direita, e também em suas testas, mas não se conclui que todos aqueles marcados em suas testas são também marcados em sua mão direita; o que significa, que nem todo indivíduo que se sujeita a adoração Latina, empenha-se, no máximo de seu poder, no propagar seu sistema religioso. Consequentemente, a propriedade das palavras “E faz com que todos recebam a marca em sua mão direita, ou em suas testas”. 13:17 – Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. E que nenhum homem poderia comprar ou vender, salvo aquele que tivesse a marca – Bispo Newton observa que, “Se alguém discorda das formas estabelecidas e autorizadas; ele será condenado e excomungado como herege; e, em conseqüência, não lhe será mais permitido comprar ou vender; ele ficará proibido do transporte e comércio, e de todos os benefícios da sociedade civil. Assim, Roger Hoveden relata de William, o Conquistador, tão obediente ao papa, que não permitiria que alguém, em seu poder, comprasse ou vendesse alguma coisa, se, se encontrasse desobediente à diocese apostólica. Desta forma, o cânone do concílio de Laterano, sob o Papa Alexander III, ordenou contra os Waldenses e Albigenses, sob castigo de um anátema, que nenhum homem presumisse acolhê-los ou os estimasse em sua casa ou terra, ou realizasse comércio com eles. O Sínodo de Tours, na França, sob o mesmo papa, ordenou, sob semelhante ameaça, que ninguém os recebesse ou os assistisse, ou compartilhasse de alguma comunhão com eles, no vender ou comprar; para que, privados do conforto da humanidade, pudessem ser compelidos a se arrependerem do erro de sua atitude”. No século dez e onze, a severidade contra os excomungados foi levada a um clímax tão alto, que ninguém poderia aproximar deles, nem mesmo suas próprias viúvas, filhos e servos; eles confiscaram todos os direitos e privilégios legais naturais deles, e os excluíram de todos os tipos de ofícios. A forma de 135 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE excomungação na Igreja Católica Romana é tomar tochas acesas, atirá-las ao chão com pragas e anátemas, e pisoteá-las ao tocar dos sinos. É desta forma, e de maneira similar que o falso profeta tem aterrorizado o mundo Latino, e o mantido em sujeição aos poderes seculares e espirituais. Aqueles interditados pela besta de dois chifres, de todos os ofícios da vida civil, são também tais que não têm: - O nome da besta, ou o número de seu nome – Veja no versículo seguinte: 13:18 – Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis. Aqui está a sabedoria. Que aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem; e seu número é seiscentos e sessenta e seis – Neste versículo, temos o próprio nome da besta, sob o símbolo do número 666. Antes da invenção das figuras pelos Árabes, no século dez, as letras do alfabeto eram representadas por números. Os Gregos, no tempo de Homero, ou logo depois, acredita-se, assinavam suas cartas com valores numéricos, correspondendo à ordem deles no alfabeto: assim, a letra a, era o número 1, porque a primeira letra; e a letra w, 24, porque a última. É desta maneira que os livros de Ilíada e Odisséia são numerados, e foram assim marcados pelo próprio Homero, ou por alguma pessoa que viveu próxima ao seu tempo. O sistema de representar números na grande antiguidade foi usado pelos Gregos, assemelhando-se grandemente ao que mais tarde foi adotado pelos Romanos. Isto consistiu no atribuir à letra inicial do nome de um número, um valor igual a um número. Desta feita, c, a letra inicial de cilia, significa mil; d, a inicial de deka, dez; p, a inicial de pente, cinco, etc... Heródoto, o gramático, é o único escritor da antiguidade que observou este sistema, e a tábua cronológica dos eventos notáveis dos marmóreos Arundelianos, a única obra existente, na qual este método de representar números é exibido. O sistema agora em uso não pode ser determinado para qualquer fonte muito primitiva. O que pode ser provado é que ele estava em uso antes do início da era cristã. As letras numéricas, simbolizando o ano do reino do Imperador Romano, existem em grande quantidade nas moedas egípcias, desde o tempo de Augustus Cesar, e por todos os reinos subseqüentes. Existem moedas marcadas, com o 2º. 3º. 14º. 30º. 35º, 38º. 39º. 40º, 41º e 42º ano de Augustus Cesar, com as letras numéricas precedidas por L ou I, porque lukabav, ano, assim: LB, Lg, Lid, Ll, Lle, Llh, Llq, Lm, Lma, e Lmb. O seguinte é o alfabeto Grego, com o valor numérico de cada letra afixado, de acordo com o sistema geralmente recebido: – a - 1 I - 10 r - 100 b - 2 k - 20 s - 200 g - 3 l - 30 t - 300 d- 4 m - 40 u - 400 e - 5 n - 50 f - 500 z - 7 x - 60 c - 600 h - 8 o - 70 y - 700 q - 9 p - 80 w 136 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE – 80. O método exatamente descrito de representar números ou letras do alfabeto fez surgir uma prática em meio aos anciãos, no representarem nomes, também por números. Exemplos deste tipo abundam nos escritos dos pagãos, judeus e cristãos. Mas, onde a prática de calcular o número, em nomes ou frases, começou a ser usada, primeiro, não se pode assegurar; no entanto, é suficiente, para a ilustração da passagem, em consideração, que ela tenha existido na era apostólica. Sêneca, que foi contemporâneo de Paulo, nos informa, em sua octogésima-oitava epístola, que Apion, o gramático, manteve Homero como autor da divisão de seus poemas de Ilíada e Odisséia, em quarenta e oito livros. Para provar isto, Apion produz o seguinte argumento: o de que o poeta começou sua Ilíada, com a palavra mhnin, e que as duas primeiras letras, cuja soma é 48, indicariam tal divisão. Leônidas de Alexandria, que viveu durante o reino de Nero, Vespasiano, etc., usou a prática de computar o número em palavras, até construir dísticos equinuméricos; ou seja, epigramas de quatro linhas, cujo primeiro hexâmetro e pentâmetro contêm o mesmo número dos outros dois. Observemos apenas dois exemplos; o primeiro é destinado a um dos imperadores, o outro a Poppea, a esposa de Nero. “A musa de Leônidas do Nilo oferece a ti, Ó Cesar, esta composição, quando de tua natividade; porque o sacrifício de Calliope é sempre sem fumaça: mas no ano seguinte, ele oferecerá, se tu quiseres, melhores coisas do que esta”. Da tábua numérica já dada, o epigrama precedente pode conter dísticos equinuméricos, como se segue: quei 424, ou seja, q 9, u 400, e 5, i 10; ao todo, 424: soi contém 280, ou, s 200, o 70, i 10. De igual maneira, tode conterá 379, gramma 185, geneqliakaisin 404, en 55, wraiv 1111, kaisar 332, neilaih 114, mousa 711, lewnidew 1704. A somatória de todos esses é 5699, o número no primeiro dístico. No segundo dístico, kalliophv contém 449, gar 104, akapnon 272, aei 16, quov 679, eiv 215, de 9, newta 1156, hn 58, eqelhv 267, (a iota subscrita, tomada no cálculo), qusei 624, toude 779, perissotera 1071. A somatória total, 5699, que é precisamente o mesmo daquele contido no primeiro dístico. “O, Poppaea, mulher de Júpiter (Nero) Augusta, recebe de Leônidas do Nilo, um globo celestial no dia de tua natividade; porque os presentes que agradam a ti, são adequados à tua dignidade imperial e sabedoria”. Neste epigrama, cada um dos dísticos contém o número 6422, ou seja, ouranion, 751 (por exemplo, 70, u 400, r 100, a 1, n 50, i 10, o 70, n 50, cuja 137 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE somatória é 751), meimhma 144, geneqliakaisin 404, en 55, wraiv 1111, toutÆ 1070, apo 151, neilogenouv 893, dexo 139, lewnidew 1704; total de 6422. Os números correspondentes às palavras do segundo dístico são, respectivamente, 322, 284, 465, 919, 415, 104, 280, 905, 301, 31, 1305, 72, 31, 988; somando também 6422. Este poeta não se restringiu à construção dos dísticos equinuméricos. O seguinte é um dos seus dísticos, em que a linha do hexâmetro é igualada em número, ao seu pentâmetro correspondente: “Uma linha é igualada em número a uma, e não duas a duas; porque eu não mais aprovarei longos epigramas”. Neste dístico, as palavras da linha do hexâmetro contêm, respectivamente, os números 215, 450, 56, 1548, 534, 470, 474, e 364; cuja somatória é 4111. Os dísticos equinuméricos de Leônidas estão contidos no segundo volume de Brunck e na edição de Jacob, da Antologia Grega. Conforme os registros antigos, alguns dos Gregos, no início do século dois, se não, na era apostólica, empregaram-se no calcularem os números contidos nos versos de Homero, para se certificarem quais as duas linhas consecutivas que eram isoyhfoi ou equinumérica. Aulus Gellius, o gramático, que viveu nos reinos de Adriano e Antonino Pio, nos dá um relato de uma pessoa que o presenteou com um livro repleto, com uma variedade de informações coletadas de fontes numerosas, que ele mesmo teve a liberdade de avaliar, no escrever seu Noites Atenienses. Em meio aos assuntos deste livro, Gellius nos informou a respeito dos equinuméricos versos de Homero. Nenhum dos exemplos é dado pelo gramático; mas Labbeus diz, em sua Bibl. Nov. MSS, que os versos equinuméricos são representados no Códex 2216, da Biblioteca Real Francesa. Gronovius, em suas notas sobre Gellius, copiou o que ele encontrou na MS, sobre este assunto, ou seja, dois exemplos de Ilíada, e um, de Odisséia. Os exemplos na Ilíada são as linhas 264 e 265, do livro VII, cada linha contendo 3508; e as linhas 306 e 307, do livro XIX, cada um contendo 2848. Os versos na Odisséia (w, 110, 111) fixados como equinuméricos no MS, citados por Gronovius, não têm agora esta propriedade, devido possivelmente a alguma deturpação que pode ter acontecido nas linhas das freqüentes transcrições. Depois de mostrarmos que foi uma prática, na era apostólica, e subseqüentes, calcular o número nas palavras e frases, e até mesmo, na totalidade dos versos, é evidente que o que se entende por 666 é que o nome Grego da besta (porque foi na Língua Grega, que Jesus Cristo comunicou sua revelação a João) contém este número. Muitos nomes têm sido propostos, de tempos em tempos, como aplicáveis à besta, e ao mesmo tempo, contendo 666. Notificaremos apenas um exemplo, ou seja, aquele famoso de Irenaeus, que foi aprovado por quase todos os estudiosos da Bíblia, e que tem dado um tipo de 138 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE explicação tolerável do Apocalipse. A palavra aludida a ele é lateinov, as letras que contêm os seguintes valores numéricos: l 30, a 1, t 300, e 5, i 10, n 50, o 70, v 200; que, somados, encontraremos o equivalente ao número da besta. Esta palavra foi aplicada por Irenaeus, século dois, ao então existente Império Romano; “porque”, diz ele, “são os Latinos que agora reinam”. Embora seja evidente, conforme as notas da parte precedente deste capítulo, que a conjectura de Irenaeus, com respeito ao número 666, referindo-se, de uma forma ou outra, ao Império dos Latinos, seja bem fundamentada; ainda assim, sua criação da palavra lateinov, como contendo 666, não é prova de que ela tenha tal referência. Belarmino, o jesuíta, objetou lateinov, como sendo o nome pretendido na profecia, devido sua ortografia; porque, diz ele, poderia ser escrito latinov. Que a objeção do ilustre jesuíta tem grande força, fica evidente em todo escritor grego existente, que tem usado a palavra grega, Latinus, nos quais encontramos uniformemente a palavra sem o ditongo. Veja Hesiod, Polybius, Dionysius of Halicarnassus, Strabo, Plutarch, Dio Cassius, Photius, os historiadores Bizantinos, etc… Consequentemente, se a palavra grega para Latinus foi pretendida, o número contido em latinov, e não aquele em lateinov, teria sido chamado de o número da besta. Vimos anteriormente que a besta é o reino ou Império Latino; portanto, se esta observação for correta, as palavras gregas que significam o reino Latino devem ter este número. O método conciso de expressar isto, entre os Gregos, foi este: Æh latinh basileia, que é assim numerada:- h == 8 } l == 30 } L a == 1 } A t == 300 } T i == 10 } I n == 50 } N b == 2 } K a == 1 } I s == 200 } N i == 10 } G l == 30 } D e == 5 } O i == 10 } M a == 1 } – 666. Em nenhum outro reino da terra está contido o número 666. Esta é, então, h sofia, a sabedoria ou demonstração. A besta é o símbolo de um reino; A besta, como vimos, provou ser o Reino Latino; e Æh latinh basileia, que mostrou conter, exclusivamente, o número 666, é a demonstração. Depois de demonstrado que Æh latinh basiléia, o Reino Latino, é o nome da besta, devemos agora examinar o que é pretendido pela frase no versículo dezessete, o nome da besta, ou o número de seu nome. Bispo Newton supõe que o nome da besta, e o número de seu nome, querem dizer a mesma coisa; mas esta opinião é totalmente irreconciliável com o capítulo 15:2, onde João nos informa que ele “viu como se fosse um mar de vidro, tendo as harpas de Deus”. Nesta passagem, fica evidente que a besta, sua imagem, e o número de seu nome, são perfeitamente distintos; e, portanto, nem dois deles podem significar a mesma coisa. 139 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Consequentemente, o que é pretendido pelo nome da besta é inteiramente diferente do que é compreendido pelo número de seu nome. Mas como pode ser, quando expressamente se declara que o número da besta é 666, cujo número é aquele de seu nome? A solução de todo o mistério é como se segue: Ambas as bestas do Apocalipse, como já mostramos, têm a mesma denominação; o que significa dizer que o nome da primeira e da segunda é igualmente Æh latinh basileia, o Reino Latino; portanto, pelo nome da besta queremos dizer o Reino Latino, e pelo número de seu nome, também o Reino Latino. Por conseguinte, apenas uma das bestas é numerada; o nome daquela que não é numerada, é denominado o nome da besta, e o numerado Império Latino é denominado o número de seu nome, ou 666, exatamente de acordo com a prática primitiva, já observada, de representar os nomes pelos números contidos nele. Portanto, o significado de toda a passagem é este: aqueles, aos quais, o falso profeta não excomunga, ou coloca fora do seio de sua Igreja, têm a marca da besta, ou seja, os genuínos papistas, ou tais que são ativa e passivamente obedientes à sua idolatria Latina. Aqueles que também escapam de seus interditos eclesiásticos têm o nome da besta ou o número de seu nome. Uma pessoa ter o nome da besta, evidentemente significa que ela está em sujeição ao Império Latino, e, consequentemente, é um indivíduo do mundo Latino; assim sendo, aqueles que têm o nome da besta, ou o número de seu nome, são aqueles que são súditos do Império Latino, ou do numerado Império Latino, a saber, o Império secular ou espiritual. Mas todos que estavam em sujeição ao poder secular ou espiritual não eram papistas no coração; por conseguinte, a adequação de distinguir aqueles que têm a marca daqueles que têm o nome da besta ou o número de seu nome. Mas qual das duas bestas é aquela que Deus numerou, não tem sido pouco contestada. De que a numerada refere-se a primeira besta, tem sido a opinião prevalente. Deste lado, estão Lorde Napier, Whiston, Bispo Newton, Faber e outros. Em meio a estes que supuseram que a segunda besta fosse aquela que é numerada estão, Dr. Henry More, Pyle, Kershaw, Galloway, Bicheno, Dr. Hales, etc. Drs. Gill e Reader afirmam que ambas as bestas têm o mesmo número, e que o nome é lateinov. Embora tenha sido demonstrado que o nome da besta é o Reino Latino, é impossível, do mero nome, dizer se ele é o Império Latino SECULAR ou ESPIRITUAL; por conseguinte, a necessidade de determinar qual das duas bestas, Deus computou. Que a segunda besta é aquela que é numerada, fica evidente das três passagens diferentes em Apocalipse. A primeira está no versículo 17, onde está escrito: “Nenhum homem poderia comprar ou vender, salvo aquele que tivesse a marca, ou o nome da besta, ou o número de seu nome”, que é uma evidência presumível de que o nome da besta se refere a primeira besta, e o número de seu nome, à segunda. A segunda passagem está em Apocalipse 15:2, onde é feita menção “àqueles que alcançaram a vitória 140 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE sobre a besta, e sobre sua imagem, e sobre o número de seu nome”. Que aqui a besta se refere ao Império Latino secular é evidente, porque foi para este que a besta de dois chifres fez uma imagem; consequentemente, não pode haver dúvida de que o número de seu nome, ou o numerado Império Latino, é a besta de dois chifres ou o falso profeta. Para sentir toda a força deste argumento, devemos considerar que os santos de Deus estão representados, como alcançando vitória sobre a besta, assim como sobre o número de seu nome, o que é uma prova de que os dois Impérios anticristãos distintos são falados aqui, porque, do contrário, seria uma tautologia. Que a besta de dois chifres é aquela que é numerada, fica mais evidente da comparação desta passagem com o capítulo 19:20. Nesta passagem, as palavras são: “E a besta foi presa, e com ela, o falso profeta que forjava milagres diante dela, com os quais, ele enganava aqueles que receberam a marca da besta, e aqueles que adoraram sua imagem”. Aqui nada é dito do número de seu nome, que é tão especialmente mencionado no capítulo 15:2, e neste capítulo, nada se fala do falso profeta, a razão só pode ser, porque, o que é denominado numa passagem de seu nome, é, em seu paralelo, aquele que é chamado de falso profeta. Assim sendo, a besta de dois chifres, ou falso profeta, é também designado pela frase – o número de seu nome; e consequentemente esta é a besta que é numerada. Mas o que acrescenta o último grau de certeza a este argumento é a passagem no versículo 18: “Aqui está a sabedoria. Que aquele que tem uma mente calcule o número da besta; porque é o número de um homem: e seu número é seiscentos e sessenta e seis”. Aqui está a solução deste mistério: que aquele que tem uma mente para investigações deste tipo, encontre um reino que contenha precisamente o número 666, porque este deve ser infalivelmente o nome da besta. Æh latinh basileia, O REINO LATINO, tem exclusivamente este número. Mas ambas as bestas são chamadas por este nome; qual é, portanto, aquela que é numerada? É dito que o número da esta é o número de um homem; consequentemente, o número da besta deve ser UM HOMEM, ou seja, deve ser representada, em Apocalipse, sob este emblema, porque em nenhum outro sentido pode um império ser denominado um homem. Portanto, não se trata da besta de dez chifres, porque esta é uniformemente denominada A Besta, em todas as partes do Apocalipse, onde houve oportunidade de se mencionar este poder. Ele pode, portanto, ser nenhum outro do que a besta de dois chifres, ou a hierarquia Católica Romana; que, por conta de sua pregação ao mundo de seu mais anticristão sistema de doutrinas, e chamando-o de Cristianismo, é igualmente mencionado no capítulo 16:13; “E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs”; 19:20 “E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela 141 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre”; e capítulo 20:10 “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre”, de O FALSO PROFETA. John EDWARD CLARK 142 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XIV O Cordeiro sobre o monte Sião, e os que o acompanham, e o caráter deles, 1-5. O anjo voa, no meio do céu, com o Evangelho eterno, 6,7. Um outro anjo proclama a queda da Babilônia, 8. O terceiro anjo declara os julgamentos de Deus contra aqueles que adoram a besta ou sua imagem, 9-11. A perseverança dos santos, e a bem-aventurança daqueles que morrem no Senhor, 12,13. O homem sobre a nuvem branca, com uma foice, ceifando a terra, 14, 16. O anjo com a foice recebe ordem de outro anjo, que tem o poder sobre o fogo, para que reúna os cachos maduros da terra, 17, 18. Eles foram reunidos e lançados no grande lagar da ira de Deus, que é pisoteado fora da cidade, e o sangue chega a 1600 furlongs [1 furlong = medida linear equivalente o 201,17 m (1/8 de milha)], 19,20. Notas sobre o Capítulo XIV 14:1 - E OLHEI, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que em suas testas tinham escrito o nome de seu Pai. Um Cordeiro de pé sobre o monte Sião – Representa Jesus Cristo, em seu oficio sacrificial; monte Sião, um tipo de Igreja Cristã. E com ele, cento e quarenta e quatro mil – Representando aqueles que se converteram ao Cristianismo, em meio aos Judeus. Veja capítulo 7:4. O nome do Pai escrito em suas testas – Eles eram, professadamente, declaradamente, e praticamente, filhos de Deus, pela fé em Jesus Cristo. Diferentes seitas idólatras têm a marca peculiar de seu deus em suas testas. Isto é praticado no oriente, até o presente dia, e a marca é chamada de marca sectária. Entre oitenta e noventa figuras diferentes são encontradas nas testas das diferentes deidades Hindus e seus seguidores. Em quase toda Escritura moderna, de importância, assim como na maioria das versões e em muitas dos patriarcas, este parágrafo é lido assim: Tendo SEU NOME, e de seu pai, escrito sobre suas testas. Esta é indubitavelmente a leitura verdadeira, e é propriamente recebida por Griesbach no texto. 143 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 14:2 – E ouvi uma voz do céu, como a voz de muitas águas, e como a voz de um grande trovão; e ouvi uma voz de harpistas, que tocavam com as suas harpas. A voz de muitas águas – Ou das multidões das várias nações. A voz dos harpeiros – Ainda que os sons fossem muitos e aparentemente confusos, a harmonia e a melodia estavam preservadas. 14:3 – E cantavam um como cântico novo diante do trono, e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. Eles cantaram uma nova canção – Veja no capítulo 5:9. Nenhum homem poderia aprender aquela canção – Ninguém, a não ser os genuínos cristãos podem adorar a Deus, adequadamente, porque eles se aproximaram Dele, através do único Mediador; assim, ninguém pode entender as coisas profundas de Deus, apenas eles; e ninguém pode saber a razão, porque os verdadeiros crentes exultam tanto em Deus, através de Cristo, porque não sabem a união que esses mantêm com o Pai e o Filho, através do Espírito Santo. 14:4 – Estes são os que não estão contaminados com mulheres; porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro. Esses são aqueles que não se prostituíram com as mulheres – Eles são puros de idolatria, e são apresentados como virgens, sem máculas, para seu Senhor e Salvador, Cristo. Veja II Cor. 11:2 “Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo”. Pode haver uma alusão aqui aos israelitas, que cometeram idolatria, devido à criminosa ligação deles com as mulheres Midianitas. Veja Números 25: 1-4 “E Israel deteve-se em Sitim, e o povo começou a prostituir-se com as filhas dos moabitas. Elas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses. Juntando-se, pois, Israel a Baal-Peor, a ira do Senhor se acendeu contra 144 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Israel. Disse o Senhor a Moisés: Toma todos os líderes do povo, e enforca-os ao Senhor, diante do sol, e o ardor da ira do Senhor se retirará de Israel”. Números 31:16 “Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de transgredirem contra o Senhor, no caso de Peor; por isso, houve aquela praga em meio a congregação do Senhor”. Seguem o Cordeiro, onde quer que Ele vá – Eles O seguem, através da boa e da má reputação, suportam a reprovação Dele, e não amam suas vidas, mesmo diante da morte. Os primeiros frutos junto a Deus – Parecem se referir àqueles judeus que foram os primeiros convertidos ao Cristianismo. 14:5 – E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus. Em suas bocas não foi encontrada fraude – Quando trazidos diante de reis e governadores, eles não dissimularam, mas, corajosamente, confessaram o Senhor Jesus. 14:6 – E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, Um outro anjo voa, no meio do céu, carregando o Evangelho eterno – Se este anjo significa algo mais do que uma dispensação especial da providência e graça, e através dele, o Evangelho seja rapidamente enviado a todo o mundo; ou significa algum mensageiro especial, ordens de pregadores, povo ou sociedade de cristãos, cujo objetivo professado é enviar o Evangelho do Reino, por toda a terra, não sabemos. Mas a visão parece verdadeiramente descritiva de uma instituição leiga, intitulada A SOCIEDADE BÍBLICA BRITÂNICA E ESTRANGEIRA, cujo objetivo é imprimir e circular as Escrituras do Velho e Novo, Testamentos, ao mundo habitável, e em todas as línguas faladas sobre a face da terra. Eles já têm sido os instrumentos, por imprimirem a Bíblia (ou propiciarem os meios para que diferentes nações imprimam para si mesmas), em um vasto número de Línguas e dialetos, e têm enviado, centenas de milhares de cópias, em sua totalidade, ou em parte, para quase todo o globo; na Língua nativa deles, aos Galeses; em Ersa, para o Irlandês; na Língua Gaélica, 145 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE para os Highlands da Escócia; em Manques, para a Ilha de Homem; em Francês, Italiano, Português e Espanhol, para aquelas regiões, e para a Suíça; no dialeto Flemish, para a Holanda, etc... No dialeto Teutônico, para a Germânia, Prússia, etc.. Através deles, uma sociedade similar foi criada, em St. Petersburgo, em que a Bíblia tem sido enviada em Eslavônico aos Russos; e, em diferentes dialetos, ao povo daquele vasto império; além dos Turcos, Tártatos, e Calmuques. Também em Grego, primitivo e moderno, para a Ásia Menor e as diferentes ilhas do mar Mediterrâneo; em Árabe e Etíope, para o Egito e Abissínia; em Siriaco, para a Terra Santa, e para os cristãos, em Travancore. De maneira ampla e efetiva, assistem uma sociedade muito notável, nas Índias Orientais, cujos missionários infatigáveis e incomparáveis, Reverendos Senhores Carey, Marshman, e Ward, traduziram as Escrituras nas principais Línguas da Índia; e providenciaram meios para que imprimissem uma tradução completa do Novo Testamento, na Língua Chinesa, em Canton, pelo capelão, Sr. Morrison. Em resumo, quase toda nação no universo tem, através desta sociedade, direta ou indiretamente recebido, ou está recebendo, as palavras da vida eterna; de maneira que isto parece responder à descrição do apocalíptico “anjo, voando no meio do céu, tendo o Evangelho eterno para pregar junto aos que habitam sobre a terra, e para toda nação, e família, e Língua, e povo”. 14:7 – Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. Tema a Deus e o glorifique – Esta é a linguagem geral dos escritos sagrados. Adore o verdadeiro Deus, o criador e governador de todas as coisas; e dê glória a Ele, e a Ele somente, e não a ídolos ou homens, toda glória e honra pertencem. 14:8 - E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu, caiu Babilônia, aquela grande cidade, que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição. Babilônia caiu, Babilônia caiu! – Geralmente uma predição aplicada a Roma; e é certo que Roma, nos escritos rabínicos, é denominada de Babilônia. 146 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A grande cidade – Entre os mesmos escritores, esta cidade é denominada de a grande cidade, a grande Roma. Mas a qual Roma, se refere? A Roma pagã ou a Roma papal? Algumas partes da descrição aplicam a besta à primeira. O vinho da ira de sua fornicação – Existe uma alusão aqui a um costume das mulheres impuras, que dão poções do amor àqueles a quem desejam seduzir ou cegar com seu véu; e essas poções geralmente são de uma natureza intoxicante, inflamando grandemente o sangue, e perturbando o intelecto. Fornicação e adultério são frequentemente usados nas Escrituras como símbolos de idolatria e falsa adoração. O vinho da ira é outra expressão para o cálice envenenado ou corrupto, dado por essas mulheres. Nenhuma nação da terra espalhou suas idolatrias, tão longe, quanto os Romanos primitivos; elas foram tão extensas quanto suas conquistas. E a Roma papal não tem sido menos ativa no disseminar suas superstições. Ela tem fornecido seus rituais, mas não o Evangelho eterno, para a maioria das nações da terra. 14:9 – E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão, E seguiu-se o terceiro anjo – Bispo Bale considera esses três anjos, como três descrições de pregadores, que levariam o testemunho deles, contra as corrupções da Igreja papal. A besta e sua imagem – Veja as notas do capítulo 13:1-18. A marca em sua testa – Tal como as marcas sectárias dos idólatras Hindus, como observado anteriormente. 14:10 – Também este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. 147 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE O vinho da ira de Deus – Já que eles beberam o vinho intoxicante da idolatria ou da fornicação espiritual, eles agora devem beber o vinho da ira de Deus, que é derramado do cálice de sua indignação. Esta é uma alusão ao cálice envenenado, que certos criminosos eram obrigados a beber, com o qual chegavam rapidamente à morte. Veja Hebreus 2:9 “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. Serão atormentados com fogo e enxofre – Alusão à punição de Sodoma e Gomorra, pelos seus crimes abomináveis. A presença dos anjos santos, e do Cordeiro – Instrumentos empregados na destruição deles; o Cordeiro – o Senhor Jesus Cristo, como Juiz. 14:11 – E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome. A fumaça do tormento deles – Ainda uma alusão à destruição de Sodoma e Gomorra. 14:12 – Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus. Aqui está a perseverança dos santos – Aqui a fé dos verdadeiros cristãos deve ser provada: eles seguirão o Cordeiro, onde quer que Ele vá. Eles cumprirão os mandamentos de Deus, e estarão firmes na fé em nosso Senhor Jesus Cristo. Algumas vezes, h upomonh, paciência ou perseverança, é considerada a recompensa dessas virtudes. O texto, portanto, pode ser assim compreendido: Aqui está a recompensa da perseverança dos verdadeiros cristãos; ainda que ao testemunharem Jesus, eles morram, eles estão sendo indescritivelmente abençoados. Veja no versículo seguinte. 14:13 – E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bemaventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem. 148 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Eu ouvi uma voz do céu – Como a informação a ser dada seria da mais extrema importância, ela é solenemente comunicada por uma voz, vinda do céu; e ao apóstolo é ordenado escrever ou registrar o que é dito. Abençoados são os mortos – Felizes são eles. Felizes, em dois aspectos: 1. Eles não vêm o mal que virá sobre o mundo, e são poupados de quaisquer sofrimentos adicionais. 2. Verdadeira e conscientemente, desfrutam da felicidade, em um estado de bem-aventurança. No primeiro sentido: Felizes são os mortos! É um provérbio encontrado frequentemente nos poetas Gregos e Romanos. Os que morrem no Senhor – Esses são os únicos mortos gloriosos. Eles morrem, não em campo de batalha, no que é chamado de guerras legais ou ilegais, contra seus companheiros; mas morrem na causa de Deus, morrem debaixo do sorriso e aprovação de Deus; e morrem para viverem e reinarem para todo sempre. Daqui por diante – Deste momento; agora; imediatamente. Estas palavras estão juntas na versão moderna e algumas outras versões. É uma máxima, em meio aos judeus, que, tão logo as almas dos justos partem desta vida, elas ascendem imediatamente ao céu. Sim disse o Espírito – O Espírito Santo confirma a declaração do céu, e especifica as razões dele. Que eles possam descansar de seus esforços – Não tenham mais tribulação e aflição. E suas obras o seguem lá – Seguem COM eles. Seguem na companhia deles. Aqui existe uma elegante prosopopéia ou personificação; suas boas obras, sofrimentos, etc, são representados como as muitas companhias, escoltando-os no caminho deles até o reino de Deus. Existem algumas coisas boas e pertinentes nos escritores judeus sobre este assunto. “Rabino Jonathan ensinou: Se um homem executa uma ação justa em sua vida, ela segue diante dele para o mundo vindouro. Mas se um homem comete um crime, ele se adere a ele, e o arrasta até o dia do julgamento”. Sota, fol. 3, 2. Avoda Sara, fol. 5, 1. “Venham e vejam, se algum homem observa um preceito, aquela obra vai até Deus, e diz: ‘Foi este quem me praticou’. Mas se um homem transgride 149 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE a lei, aquele pecado vai até o santo e abençoado Deus, e diz: ‘Este foi quem me cometeu’”. Aqui a mesma personificação é observada, como esta no texto. “No momento em que um homem passa desta vida para a eternidade, todas as suas obras o precedem; e lá, falam sobre ele. ‘Isto e aquilo tu fizeste, em tal lugar, tal dia’. Isto ele deverá reconhecer. Elas requererão que ele subscreva isto com suas próprias mãos, como está escrito em Jó 37:7 - cada homem selará com suas próprias mãos; e não apenas isto, mas reconhecerá que a sentença trazida contra ele é a mais justa”. Taamith. A elegante similitude seguinte, Schoettgen nos dá de Sepher Hachayism, “Certo homem tinha três amigos, dois dos quais ele amava; mas o terceiro ele não estimou grandemente. Naquele tempo, o rei ordenou que ele comparecesse diante dele; e alarmado, ele tentou encontrar um defensor. Ele foi até o amigo que mais amava, mas ele se recusou terminantemente a seguir com ele. O segundo ofereceu-se para ir com ele, até a porta do palácio do rei, mas recusou-se a falar uma palavra em seu benefício. O terceiro, a quem ele amava menos, não apenas foi com ele, mas defendeu sua causa, tão bem, diante do rei, que ele foi limpo de toda culpa. Da mesma forma, todo homem tem três amigos, quando é comunicado pela morte a comparecer diante de Deus. O primeiro amigo, a quem ele mais ama, seu dinheiro, não pode acompanhá-lo, afinal. Seu segundo amigo, seus parentes e próximos, acompanham-no até a sepultura, e, então, retornam; mas não podem livrá-lo do Juiz. O terceiro amigo, a quem ele tem em pequena estima, isto é, a lei e suas boas obras, segue com ele, até o rei, e o livra do julgamento” O significado disto, mais precisamente é que nada, a não ser as boas e más ações, acompanham os homens ao trono do julgamento de Deus, e a porção deles será, em outro mundo, como suas condutas têm sido neste; suas obras seguirão com eles. 14:14 - E olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça uma coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda. Uma nuvem branca – Supõe-se que, deste versículo, até o fim do capítulo, a destruição de Roma é representada sob os símbolos da colheita e vindima; imagens muito freqüentes, entre aos profetas antigos, com que eles representaram a destruição e exição das nações. Veja Joel 3:12-14 “Suscitemse os gentios, e subam ao vale de Jeosafá; pois ali me assentarei para julgar todos os gentios em redor. Lançai a foice, porque já está madura a seara; vinde, descei, porque o lagar está cheio, e os vasos dos lagares transbordam, 150 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE porque a sua malícia é grande. Multidões, multidões no vale da decisão; porque o dia do Senhor está perto, no vale da decisão”; Isaías 17:5 “Porque será como o segador que colhe a cana do trigo e com o seu braço sega as espigas; e será também como o que colhe espigas no vale de Refaim”; 63:1 “Quem é este, que vem de Edom, de Bozra, com vestes tintas; este que é glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força? Eu, que falo em justiça, poderoso para salvar”; e Mateus 13:37 “E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem”. Uma coroa dourada – Símbolo de vitória e poder real. 14:15 – E outro anjo saiu do templo, clamando com grande voz ao que estava assentado sobre a nuvem: Lança a tua foice, e sega; a hora de segar te é vinda, porque já a seara da terra está madura. Confia em tua foice – Execute os julgamentos que Deus decretou. Porque a colheita da terra está madura - O cálice da iniqüidade do povo está cheio. 14:16 – E aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a sua foice à terra, e a terra foi segada. A terra foi ceifada – Os julgamentos foram executados. Mas, quem pode dizer, onde, ou sobre quem? 14:18 – E saiu do altar outro anjo, que tinha poder sobre o fogo, e clamou com grande voz ao que tinha a foice aguda, dizendo: Lança a tua foice aguda, e vindima os cachos da vinha da terra, porque já as suas uvas estão maduras. Poder sobre o fogo – Provavelmente o significado do mesmo anjo que é mencionado em Apocalipse 8:2 “E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono”; 9:13 “E tocou o sexto anjo a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das quatro pontas do altar de ouro, que estava diante de Deus”, que se colocou junto ao altar do incensário, tendo autoridade sobre seu fogo, para oferecer aquele incenso a Deus, que representa as orações dos santos. 151 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 14:19 – E o anjo lançou a sua foice à terra e vindimou as uvas da vinha da terra, e atirou-as no grande lagar da ira de Deus. O grande lagar da ira de Deus – O local ou reino, onde Deus executa seus julgamentos sobre os que cometem iniqüidade, quer pagãos, ou cristãos perseguidos; Roma pagã, ou Roma papal. 14:20 – E o lagar foi pisado fora da cidade, e saiu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, pelo espaço de mil e seiscentos estádios. Até mesmo nas rédeas do cavalo - Uma expressão hiperbólica, para denotar uma grande efusão de sangue. Os judeus disseram: “Quando Adriano sitiou a cidade chamada Bitter, ele matou tantos, que os cavalos investiram com sangue em suas bocas”. O mesmo tipo de hipérbole que aquela acima. Veja Wetstein neste verso. O espaço de mil e seiscentos furlongs – Pode se referir à propriedade da Igreja, ou o patrimônio de St. Peter, que se estende de Roma à Po, duzentas milhas italianas, que perfazem exatamente mil seiscentos furlongs! Se for realmente assim, a coincidência é certamente surpreendente, e merecedora de profunda consideração. Desses dois últimos versos, o devoto Quesnel diz: “Como a benévola foice de Jesus Cristo sega seu trigo, quando maduro, para o céu, assim, os executores de sua justiça cortam fora desta vida, as pragas que são apenas adequadas ao fogo do inferno. Então, o sangue de Cristo cessará de ser pisoteado pelos pecadores; e aqueles dos pecaminosos serão eternamente pisoteados no inferno, o que significa o lagar da ira de Deus”. “E o lagar foi pisoteado fora da cidade; eternamente fora da cidade do Jerusalém celeste, e longe da presença de Deus; eternamente esmagado e pisoteado pela justiça Dele; eternamente atormentado no corpo e alma, sem qualquer esperança quer de viver ou morrer! Esta é a sorte miserável e porção daqueles que desdenharam da lei de Deus e morreram em obstinação. Meu Deus! Penetre meu coração com o medo salutar de teus julgamentos!”. O que quer que essas passagens signifiquem, este é um uso prudente e cristão delas. 152 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XV Os sete anjos com as sete últimas pragas, 1. O mar de vidro, e aqueles que tiveram vitória sobre a besta, 2. O som de Moisés e do Cordeiro, 3, 4. O templo aberto no céu, 5. Sete anjos saem do templo, e recebem de uma das quatro criaturas viventes, sete frascos cheios da ira de Deus, 6,8. Notas Sobre o Capítulo XV 15:1 - E VI outro grande e admirável sinal no céu: sete anjos, que tinham as sete últimas pragas; porque nelas é consumada a ira de Deus. Sete anjos, com as sete últimas pragas – Sob os símbolos de colheita e vindima, os julgamentos de Deus, sobre os inimigos de sua Igreja, já foram designados: mas estes são mais adiante simbolizados pelos sete frascos, que são chamados de as sete últimas pragas de Deus. As sete últimas pragas parecem cair, ao soar da sétima e última trombeta. Como o sétimo selo continha as sete trombetas, a sétima trombeta contém os sete frascos. E como os sete anjos soaram as sete trombetas, então, sete anjos são apontados para derramarem os sete frascos; os anjos sempre como ministros da Providência. Este capítulo contém a visão clara, que é preparatória para o derramar dos frascos. O Targum de Jonathan sobre Isaías 51:7 , “Desperte, desperte, fique de pé, Ó Jerusalém, que tem bebido da mão do Senhor, o cálice de sua fúria”, usa as mesmas palavras empregadas pelo evangelista aqui: “Jerusalém, ti recebeste da face do Senhor o cálice de sua ira; os Frascos do cálice da maldição”, encontradas novamente em Isaías 51:22, “Eu tomarei de tua mão, o cálice da maldição, ‘os Frascos do cálice de minha indignação”. 15:2 - E vi um como mar de vidro misturado com fogo; e também os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as harpas de Deus. Um mar de vidro – Um espaçoso lugar resplandecente ao redor do trono, do qual clarões de fogo eram continuamente emitidos: ou, o reflexo da luz produzia as cores prismáticas do mais vívido arco-íris. Sobre a besta, e sobre sua imagem – Veja as notas sobre Apocalipse 13:1-18. 153 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 15:3 – E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos santos. Eles cantaram a canção de Moisés – Aquela que Moisés cantou, Êxodo 15:1 “E com o sopro de tuas narinas amontoaram-se as águas, as correntes pararam como montão; os abismos coalharam-se no coração do mar”, quando ele e os israelitas, através do poder milagroso de Deus, atravessaram a salvo o Mar Vermelho, e viram seus inimigos todos destruídos. E a canção do Cordeiro – A mesma canção, adaptada ao estado de sofrimento, mas agora livre dos cristãos. Grandes e maravilhosas são tuas obras – As obras de Deus são descritivas de seu infinito poder e sabedoria. Senhor Deus, Todo-Poderoso – Quase o mesmo como Jeová, o Deus dos exércitos. Justo e verdadeiro são teus caminhos – Cada passo de Deus, na graça ou providência, é de acordo com a justiça, e ele cuidadosamente conclui todas as suas ameaças e todas as suas promessas: a isto, ele é compelido por sua verdade. 15:4 – Quem te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu nome? Porque só tu és santo; por isso todas as nações virão, e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos. Os que não deverão temer a ti - Todos devem temer e adorar este Deus verdadeiro, porque ele é justo, verdadeiro e santo; e seus santos devem amá-lo e obedecê-lo, porque ele é o Rei deles; e eles e todos os homens devem reconhecer seus julgamentos, porque eles se tornaram manifestos. 15:5 – E depois disto olhei, e eis que o templo do tabernáculo do testemunho se abriu no céu. O templo do tabernáculo do testemunho – O templo que sucedeu o tabernáculo, no qual estava o testemunho; as duas tábuas, a vara de Arão, pote de maná, óleo santo da unção, etc. Todos testemunhando a verdade de Deus e sua miraculosa interposição em benefício deles. 154 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 15:6 – E os sete anjos que tinham as sete pragas saíram do templo, vestidos de linho puro e resplandecente, e cingidos com cintos de ouro pelos peitos. Os sete anjos saíram do templo – Para mostrarem que eles foram enviados pelo próprio Deus. Vestidos, do puro e branco linho - Como os sacerdotes – Porque desses hábitos, veja Êxodo 28:6,8 “E farão o éfode de ouro, e de azul, e de púrpura, e de carmesim, e de linho fino torcido, de obra esmerada (...) E farão o éfode de ouro, e de azul, e de púrpura, e de carmesim, e de linho fino torcido, de obra esmerada”; e veja a nota sobre o capítulo 1:13. 15:8 – E o templo encheu-se com a fumaça da glória de Deus e do seu poder; e ninguém podia entrar no templo, até que se consumassem as sete pragas dos sete anjos. O templo ficou cheio de fumaça – Assim ficava o tabernáculo, quando consagrado por Moisés, Êxodo 40:34,35 “Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo; de maneira que Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porquanto a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo.”, e o templo, quando consagrado por Salomão, 1 Reis 8:10,11 “E sucedeu que, saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor. E os sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor”; 2 Crônicas 4:14 “E os sacerdotes não podiam permanecer em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa de Deus”. Veja Isaias 6:4 “E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça”. Este relato parece, no mínimo, parcialmente copiado desses acima. Quando o sumo sacerdote entrava no santuário, e o sacerdote comum no local santo, sempre carregavam com eles uma grande porção de incenso fumegante, que enchia aqueles lugares com fumaça e escuridão, que os impedia de considerarem muito atentamente as partes e ornamentos daqueles santos lugares, e assim, servia para produzir um ar de majestade ao templo, ao qual ninguém se atreveria aproximar-se, sem a mais profunda reverência. Calmet acredita que a alusão pode estar aqui. 155 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XVI Aos anjos é ordenado derramarem seus frascos, 1. O primeiro derrama seu frasco sobre a terra, e grande aflição é produzida, 2. O segundo, sobre o mar, que se transforma em sangue, 3. O terceiro, sobre os rios e fontes, e esses também se transformam em sangue, 4,7. O quarto, sobre o sol, e os homens são abrasados, 8.9. O quinto, sobre o trono da besta, 10,11. O sexto, sobre o rio Eufrates, 12. Três espíritos impuros saem da boca da besta, dragão e falso profeta: e seguem juntos até todos os reis do mundo para batalharem, em um lugar chamado Armagedon, 13,16. O sétimo anjo derrama seu frasco no ar, no que se seguem trovões, relâmpagos, terremotos, e extraordinária chuva de granizos, 17-21. Notas Sobre o Capítulo XVI 16:1 – E OUVI, vinda do templo, uma grande voz, que dizia aos sete anjos: Ide, e derramai sobre a terra as sete taças da ira de Deus. Sigam seus caminhos e derramem seus frascos – Esses ministros da justiça Divina estavam prontos e repletos de poder, para executarem vingança sobre os transgressores; mas não poderiam fazer coisa alguma, até que uma ordem especial fosse dada. Nada pode ser feito, sem a permissão de Deus; e para a manifestação da justiça e misericórdia, através da operação Divina, haverá um mando evidente. 16:2 – E foi o primeiro, e derramou a sua taça sobre a terra, e fez-se uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem. Ferida fétida – Isto se refere à sexta praga, furúnculos e pústulas. Êxodos 9:8,9 etc.. “….E tornar-se-á em pó miúdo sobre toda a terra do Egito, e se tornará em sarna, que arrebente em úlceras, nos homens e no gado, por toda a terra do Egito....”. 16:3 - E o segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou em sangue como de um morto, e morreu no mar toda a alma vivente. Como o sangue de um morto – Quer signifique sangue em um estado de putrescência, ou uma efusão de sangue nos conflitos navais; até mesmo o mar 156 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE tingiu-se do sangue daqueles que foram mortos nestas guerras. Este é o significado mais provável deste frasco. Esses engajamentos eram tão sanguinários que ambos os conquistadores e conquistados eram quase destruídos; toda alma vivente morria no mar. 16:4 – E o terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue. Sobre os rios e fontes de água – Esta é uma alusão à primeira praga em Êxodos 7:20 “E Moisés e Arão fizeram assim como o SENHOR tinha mandado; e Arão levantou a vara, e feriu as águas que estavam no rio, diante dos olhos de Faraó, e diante dos olhos de seus servos; e todas as águas do rio se tornaram em sangue”; e a essas pragas, em geral, existem alusões por todo este capítulo. É sentimento dos rabinos que, “quaisquer que sejam as pragas que Deus impôs sobre os egípcios anteriormente, ele imporá sobre os inimigos de seu povo em todos os tempos posteriores”. Veja longa citação sobre este assunto, do Rabino Tanchum em Schoettgen. 16:5 - E ouvi o anjo das águas, que dizia: Justo és tu, ó Senhor, que és, e que eras, e santo és, porque julgaste estas coisas. O anjo das águas – Os rabinos atribuem aos anjos, não apenas os quatro elementos assim chamados, mas quase todas as coisas além. Vimos o anjo do abismo sem fim, capítulo 9:11, e o anjo de fogo, capítulo 14:18. Yacult Rubeni fala do anjo da terra, e é chamado de Admael. Existe também um anjo que preside sobre a grama; outro sobre o gado que se alimenta da grama. Segundo eles, Deus empregou o anjo do mar para tragar as águas da criação, para que a terra seca aparecesse. O anjo desobedeceu, e Deus o matou; o nome do anjo do mar é Rahab. Fica evidente, dos diversos lugares, que o escritor de Apocalipse manteve essas noções distintamente em vista. 16:6 – Visto como derramaram o sangue dos santos e dos profetas, também tu lhes deste o sangue a beber; porque disto são merecedores. Deste a eles sangue para beberem – Eles tinham sede de sangue e massacraram os santos de Deus; e, agora, têm sangue para beber! Quando Tomyris, rainha dos Scythians, subjugou Cyrus, dizem que ela cortou a cabeça dele, e a atirou em um vaso de sangue, dizendo: “Satisfaze a ti mesmo com 157 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE sangue, pelo qual tiveste sede, e pelo qual teu desejo é insaciável”. Esta figura de linguagem é chamada de sarcasmo na retórica. 16:8 – E o quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido que abrasasse os homens com fogo. Derramou seu frasco sobre o sol – Sr. Robert Fleming, há mais de cem anos, em sua Visão da Profecia Bíblica, supôs que o sol aqui significasse o Império Francês, e conjecturou que este frasco seria derramado sobre aquele império, por volta do ano de 1794. O notável, é que em 1893 o rei francês foi decapitado pela Assembléia Nacional; e grande miséria, sem paralelo, caiu sobre a nação francesa, e quase extinguiu toda sua nobreza; e trouxe a guerra que durou vinte e três anos; por pouco, arruinou aquele país e todas as nações da Europa. 16:9 – E os homens foram abrasados com grandes calores, e blasfemaram o nome de Deus, que tem poder sobre estas pragas; e não se arrependeram para lhe darem glória. Eles não se arrependeram – Nenhuma emenda moral tomou lugar, naquela região infeliz, em conseqüência das calamidades acima, nem, de fato, em alguma daquelas nações engajadas contra ela, neste longo e destruidor combate, que terminou agora (1897), sem produzir qualquer vantagem política, moral, ou religiosa, para si mesma ou para a Europa. 16:10 – E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, e o seu reino se fez tenebroso; e eles mordiam as suas línguas de dor. O trono da besta – Sobre o trono da besta selvagem. A família real foi afetada pelo quarto frasco; eles não se arrependeram: então, o quinto anjo derramou seu frasco sobre o trono da besta selvagem, ou o poder idólatra anticristão. Estava cheio de escuridão – Confusão, desânimo, e aflição. 16:11 – E por causa das suas dores, e por causa das suas chagas, blasfemaram do Deus do céu; e não se arrependeram das suas obras. Blasfemaram do Deus do céu – Nem se arrependeram: portanto, outros julgamentos se seguiriam. Alguns pensam que o sol seria Vitellius, o imperador Romano, e que este trono significaria Roma: e a escuridão, as injúrias que 158 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE mantinha, em sua importância política, por meio das guerras civis que, então, tomaram lugar, e das quais, nunca se recuperou totalmente. Outros aplicam isto a toda a Roma papal, e neste aspecto, decifram um caso muito claro! Assim, os homens conjecturaram, mas quão perto estamos da verdade? 16:12 – E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do oriente. Junto ao grande rio Eufrates – Provavelmente signifique o povo nas adjacências deste rio; embora alguns pensem que o Tigre seja pretendido. A água depois disto, secou – As pessoas completamente aniquiladas, e todos os impedimentos removidos. Os reis do oriente – Parece uma alusão à ruína da Babilônia, por Cyrus, prevista pelo profeta Jeremias, Jeremias 50:1 “Sobe contra a terra de Merataim, sim, contra ela, e contra os moradores de Pecode; assola e inteiramente destrói tudo após eles, diz o Senhor, e faze conforme tudo o que te mandei”; 51:64 “E dirás: Assim será afundada Babilônia, e não se levantará, por causa do mal que eu hei de trazer sobre ela; e eles se cansarão. Até aqui são as palavras de Jeremias”. Mas que cidade ou povo é designado, através desta Babilônia, é vã conjectura. 16:13 – E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs. Três espíritos impuros – Talvez, falsos professores, chamados, posteriormente, de espíritos demoníacos, que persuadem os reis da terra, através de milagres vivificantes, produzidos no local de carnificina geral, Versículo 14, 16. Alguns bons críticos aplicam isto a Vespasiano, e seus milagres embusteiros. Veja o relato em Tacitus. 16:15 – Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas. Observe, eu vim como um ladrão – Aqui está uma súbita, mas oportuna advertência, para colocar todo homem em alerta, quando esta tribulação repentina, e geralmente inesperada, acontecer. 159 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Mantenham suas vestes, a fim de que não caminhem nus – Aqui está uma clara alusão ao ofício daquele que era chamado de monitor ou inspetor, da montanha do templo. Seu costume era fazer sua ronda, durante as vigílias da noite; e se ele encontrasse algum dos Levitas dormindo em sua guarda, tinha autoridade para bater nele com uma vara, e queimar suas vestimentas. Tal pessoa retornava para casa, nua. E todos ficavam sabendo que ela estava dormindo em seu posto, apanhou, e suas roupas foram queimadas; assim, sua vergonha era visível – ele fora reprovado por sua infidelidade e irreligião. 16:16 – E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom. Armagedon – A palavra original tem sido formada de diversas maneiras, e traduzidas de várias formas. Ela é rh har-megiddon, “o monte da assembléia”, ou whdg hmrj chormah gedehon, “a destruição de seu exército”; ou é wdgm rh har-megiddo, “Monte Megido”, o vale notável por dois grandes massacres: um dos Israelitas, II Reis 23:29 “Nos seus dias subiu Faraó Neco, rei do Egito, contra o rei da Assíria, ao rio Eufrates; e o rei Josias lhe foi ao encontro; e, vendo-o ele, o matou em Megido”; o outro dos Canaanitas, Juízes 4:16 “E Baraque perseguiu os carros, e o exército, até Harosete dos gentios; e todo o exército de Sísera caiu ao fio da espada, até não ficar um só”. Mas o Monte Megido, que é Carmelo, é o lugar, de acordo com alguns, onde esses exércitos seriam reunidos. Mas qual é a batalha do Armagedon? Quão ridículas têm sido as conjecturas dos homens, com respeito a esta questão! Nos últimos vinte anos, esta batalha tem acontecido em vários lugares, de acordo com nossos videntes peticegos e auto-inspirados profetas! Em determinado momento, foi Austerlitz, em outro, Moscow, e outro, Leipsic, e agora, Waterloo! E assim, eles têm confundido, e continuarão a confundir a outros e a si mesmos. 16:17 – E o sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e saiu grande voz do templo do céu, do trono, dizendo: Está feito. Derramou seu frasco no ar – Significa que esta praga deveria ser amplamente difundida, e, talvez, insinuasse que pestes e várias mortes aconteceriam com este frasco. Mas provavelmente o ar, neste lugar, pode ter algum significado emblemático. Está feito – É dito no capítulo 10:7, que nos dias da sétima trombeta, o mistério de Deus terminaria: então, aqui o encontramos completo. Gegone? 160 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Está tudo terminado! Fuimus Troes! Ilium fuit! Certa vez, existiram os Trojanos, e eles tinham uma cidade; mas, agora, tudo está extinto. 16:18 – E houve vozes, e trovões, e relâmpagos, e um grande terremoto, como nunca tinha havido desde que há homens sobre a terra; tal foi este tão grande terremoto. Um grande terremoto – As mais terríveis comoções, civis e religiosas. Ou uma convulsão, abalo, ou revolução. 16:19 – E a grande cidade fendeu-se em três partes, e as cidades das nações caíram; e da grande Babilônia se lembrou Deus, para lhe dar o cálice do vinho da indignação da sua ira. A grande cidade – Alguns acreditam, Jerusalém; outros, Roma pagã; outros, Roma papal. O cálice de vinho da ferocidade de sua ira – Alude à maneira como certos criminosos são colocados para morrer, fazendo com que bebam um cálice de veneno. Veja Hebreus 2:9 “Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. 16:20 – E toda a ilha fugiu; e os montes não se acharam. Toda ilha fugiu – Provavelmente, signifique a captura das cidades portuárias, e lugares fortificados. 16:21 – E sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva, pedras do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da praga da saraiva; porque a sua praga era mui grande. Grande quantidade de granizo, do peso de um talento. [34.01943 – Kilogram]- Será alguma referência às balas dos canhões e bombas? É muito duvidoso; todos nós estamos no escuro, com respeito a esses assuntos. As palavras wv talantiais, como um talento, é usada para expressar alguma coisa grande, excessivamente opressiva; assim como noshmatwn talantiaiwn, para expressar enfermidades terríveis, não enfermidades do peso de um talento. Veja Rosenmuller. 161 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XVII O julgamento da grande prostituta, que se senta sobre muitas águas, 1, 2. Sua descrição, nome, e conduta, 3-6. O anjo explica o mistério da mulher, da besta, etc. 7-18. Este capítulo é, de acordo com diversos relatos, muito importante, e, especialmente, porque parece explicar diversos dos símbolos mais notáveis neste livro. O mesmo autor que tem escrito tão amplamente no décimo-segundo e décimo-terceiro capítulos tem também me obrigado, com sua interpretação deste capítulo. Não pretendendo explicar essas coisas por mim mesmo, eu insiro neste, a mais elaborada e culta exposição que eu já vi, deixando meus leitores com perfeita liberdade de rejeitarem-na, e adotarem algum outro modo de interpretação que lhes agrade. Deus apenas sabe todos os segredos de sua própria sabedoria. 17:1 - E VEIO um dos sete anjos que tinham as sete taças, e falou comigo, dizendo-me: Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas; E veio um dos sete anjos, que possuía os sete frascos, e falou comigo, dizendo: Vem até aqui; eu te mostrarei o julgamento da grande prostituta que se senta sobre muitas águas – Que a adoração idólatra é frequentemente representada nas Escrituras, sob o caráter de uma prostituta ou prostituição, é evidente das numerosas passagens que são desnecessárias citar. Veja I Crônicas 5:25; Ezequiel 16:1-63; 23:1-49,etc. A mulher mencionada aqui é chamada de a grande prostituta, para denotar sua excessiva depravação, e a natureza ardilosa ou sua idolatria. Ela é também representada como sentada sobre muitas águas, que representa a vasta extensão de sua influência. Veja no versículo 13. 17:2 - Com a qual se prostituíram os reis da terra; e os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição. Com quem os reis da terra cometeram fornicação, e os habitantes da terra se embebedaram com o vinho de sua fornicação – Que terrível quadro é este do estado da religião do mundo, em sujeição a esta prostituta! Os reis cometeram fornicação espiritual com ela, e seus súditos beberam profundamente, pavorosamente em profundidade, na doutrina de seus erros abomináveis. 162 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 17:3 – E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres. Assim, ele me levou, em espírito, para o deserto – Este deserto, para o qual o apóstolo foi levado, é o estado desolado da verdadeira Igreja de Cristo, em uma das asas do outrora poderoso Império Romano. Foi uma visão verdadeiramente tenebrosa, um terrível deserto, um deserto estéril e uivante; porque, quando ele foi até lá: Ele viu uma mulher sentada sobre uma besta colorida de escarlate, cheia de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres – Nenhuma dúvida deve haver de que esta mulher é a Igreja Latina, porque ela se senta sobre a besta, com sete cabeças e sete chifres, que já foi provado ser o Império Latino, porque apenas este império contém o número 666. Veja capítulo 13:8. Esta é a representação da Igreja Latina em seu estado mais elevado da prosperidade anticristã, porque ela se senta sobre a besta colorida de escarlate, um emblema impressionante de seu completo domínio sobre o Império Latino secular. O estado da Igreja Latina, do início do século quatorze até os tempos da Reforma, pode ser considerado aquele que corresponde a esta descrição profética no sentido mais literal e extensivo das palavras; porque, durante este período, ela esteve em seu mais alto auge de grandeza mundana e autoridade temporal. A besta está cheia de nomes de blasfêmia; e bem se sabe que as nações, em apoio à Igreja Latina, ou Católica Romana, têm abundado em apelos blasfemos, e não se envergonham de atribuírem a si mesmas, e àqueles de sua Igreja os mais sagrados títulos, não apenas blasfemando pelo uso impróprio dos nomes sagrados, mas, até mesmo, por aplicarem aos seus bispos aqueles nomes que apenas pertencem a Deus, porque Deus declarou expressamente que ele não dará sua glória a outro, nem seu louvor a imagens esculpidas. 17:4 – E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição; E a mulher estava vestida nas cores púrpura e escarlate, e adornada com ouro, pedras preciosas, e pérolas, e com um cálice dourado em sua mão, cheio das abominações e sujidades de sua fornicação – Isto representa estritamente a maneira mais pomposa e cara, com que a Igreja Latina tem exibido às nações, os ritos e cerimônias de sua adoração idólatra e corrupta. 17:5 – E na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra. 163 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E sobre sua testa, havia um nome escrito, Mistério, Babilônia, a Grande, a Mãe das Meretrizes, e das Abominações da Terra - Esta inscrição sobre sua testa pretende mostrar que ela não se envergonha de suas doutrinas, mas publicamente as professa e as glorifica, diante das nações: de fato, ela tem a testa de uma prostituta, porque se recusa a envergonhar-se. A inscrição é exatamente a imagem da Igreja Latina. Esta Igreja é, como Bispo Newton expressa bem, UM MISTÉRIO de iniqüidade. Esta mulher é também chamada de Babilônia, a Grande; e é o exato antítipo da primitiva Babilônia, em sua idolatria e crueldade, mas a primitiva cidade chamada Babilônia é apenas um esboço dela em miniatura. Esta é, na verdade, a Babilônia, A GRANDE. “Ela finge o estilo e título de nossa Santa Mãe, a Igreja; mas ela é, na verdade, a mãe das Meretrizes e Abominações da Terra”. 17:6 – E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração. E eu vi a mulher embriagada com o sangue dos santos, e com o sangue dos mártires de Jesus; e, quando a vi, eu me admirei muito – Quão exatamente, as crueldades exercidas pela Igreja Latina contra todos a quem ela denominou heréticos, correspondem a esta descrição, o leitor não necessita ser informado. 17:7 – E o anjo me disse: Por que te admiras? Eu te direi o mistério da mulher, e da besta que a traz, a qual tem sete cabeças e dez chifres. E o anjo me disse: Porquê tu te maravilhaste? Eu direi a ti o mistério da mulher e da besta que a carrega, e que tem as sete cabeças e os dez chifres – O apóstolo estava grandemente pasmo, tanto quanto poderia, com a mulher embriagada com o sangue dos santos, quando a besta que a carregava abundou em títulos sagrados, tais como santa, mais santa, mais cristã, sagrada, mais sagrada. O anjo tentou explicar para João a visão que trouxera espanto a ele; e a explicação é de tal grande importância, que não foi dada, o mistério do dragão e da besta nunca seria satisfatoriamente explicado em suas peculiaridades. O anjo começa, dizendo: 17:8 – A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá. 164 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A besta que tu viste existiu, e não existe; e ascenderá do poço do abismo, e entrará em perdição – A besta é o Reino Latino (Æh latinh basileia); consequentemente, a besta existiu, ou seja, previamente ao tempo de João; (porque Latinus foi o primeiro rei dos Latinos, e Numitor, o último); não existe agora, porque a nação Latina cessou, há muito tempo, de ser um poder independente, e está agora sob o domínio dos Romanos; mas ascenderá do abismo sem fim, ou seja, o Reino Latino, o poder anticristão, ou aquele que ascende das profundezas, ou poço do abismo, ainda se encontra na futuridade. Mas é acrescentado: - E aqueles que habitam a terra se maravilharão; aqueles cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo, ao constatarem que a besta era, e não é, e ainda existe –. O significado de terra aqui é o mundo Latino, portanto, todos que habitam no mundo Latino irão se aderir à religião idólatra e blasfema da Igreja Latina, que é apoiada pelo Império Latino, exceto aqueles que habitam, através das Escrituras sagradas, recebendo-as como a única regra de fé e prática. Esses acreditam no verdadeiro Sacrifício, e mantêm-se imaculados da corrupção que está no mundo. Mas os habitantes do mundo Latino, sob o domínio da religião Católica Romana, se maravilharão, quando eles observarem a besta, ou o Império Latino; ou seja, como Lorde Napier comenta: “Terão grande admiração, reverência, e estima, a esta grande monarquia”. Eles se maravilharão, por considerarem-no o mais sagrado império do mundo, aquele com o qual Deus peculiarmente se deleita; mas aqueles que assim se maravilharem, não terão seus nomes escritos no livro da vida, mas são tais que preferem os concílios para a revelação Divina, e tomam suas religiões das missas, rituais, e lendas, em vez dos oráculos sagrados: consequentemente, são corruptos e idólatras, e nenhum idólatra tem herança no reino de Deus. Na parte precedente do versículo, a besta é considerada em três estados, como aquela que era, e não é, e que ascenderá do poço do abismo: Aqui, um quarto é introduzido: e ainda existe. Isto é acrescentado para mostrar que, embora os Latinos fossem subjugados pelos Romanos, não obstante, os próprios Romanos eram Latinos; porque Romulus, o fundador da monarquia deles, era um Latino, consequentemente, aquele denominado, nos dias de João, de Império Romano era, na realidade, o Reino Latino; porque a mesma Língua do império era o Latim, e os escritores Gregos, que viveram nos tempos do Império Romano, expressamente nos dizem que aqueles formalmente chamados de Latinos são agora denominados Romanos. O significado de todo o versículo é, portanto, como se segue: A parte corrupta da humanidade terá em grande admiração o Império Latino, ainda na 165 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE futuridade; e que já existiu, mas agora está extinto, - os Romanos o conquistaram; e, ainda assim, existe; porque, embora a nação Latina tenha sido subjugada, seus próprios conquistadores são Latinos. Mas pode ser objetado contra a interpretação dada aqui, que essas frases falam a respeito da besta, sobre a qual, o apóstolo viu a mulher, ou Igreja Latina, sentada; porque o anjo diz: A besta que TU VISTE era, e não é, etc...; que referência, no entanto, pode o Império Latino, que apóia a Igreja Latina, ter com o Reino Latino que subsistiu antes dos tempos de João, ou com o Império Romano que seria propriamente assim denominado? Esta objeção tem grande peso, à primeira vista, e não pode ser respondida satisfatoriamente, até que a explicação do anjo a respeito das cabeças e chifres da besta seja examinada; assim sendo, é acrescentado: 17:9 – Aqui o sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são sete montes, sobre os quais a mulher está assentada. Aqui está a mente que tem sabedoria – Foi dito anteriormente, capítulo 13:8: Aqui está a sabedoria. Que aquele que tem uma MENTE, ou entendimento, calcule o número da besta. A sabedoria significa aqui uma visão correta do que é pretendido pelo número 666; consequentemente, a passagem paralela: Aqui está A MENTE que tem a SABEDORIA, é uma declaração de que o número da besta deve primeiro ser entendido, antes que a interpretação do anjo, da visão concernente à prostituta e a besta , possa admitir uma explanação satisfatória. As sete cabeças são sete montanhas, sobre as quais a mulher se senta – Este versículo tem sido quase universalmente considerado, em alusão às sete colinas sobre as quais Roma originalmente se situou. Mas tem sido objetado, porque a Roma moderna não está assim situada, e, por conseguinte, é a Roma pagã a pretendida na profecia. Esta é certamente uma objeção muito formidável contra a opinião geralmente recebida em meio aos Protestantes, de que a Roma papal é a cidade, representada pela mulher sentada sobre as sete montanhas. Já mostramos que a mulher aqui mencionada é um símbolo da Igreja Latina em seu estado mais elevado de prosperidade anticristã; e, portanto, a cidade de Roma, sobre as sete montanhas, não é, afinal, designada na profecia. Com o objetivo de entender esta escritura corretamente, a palavra montanhas devem ser tomadas em seu sentido literal, como no capítulo 6:14 “E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos seus lugares”; 16:20 “E toda a ilha fugiu; e os montes não se acharam”. Veja também, Isaías 2:2 “E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e 166 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE concorrerão a ele todas as nações”, 14 “E contra todos os montes altos, e contra todos os outeiros elevados”; Jeremias 51:25 “Eis-me aqui contra ti, ó monte destruidor, diz o Senhor, que destróis toda a terra; e estenderei a minha mão contra ti, e te revolverei das rochas, e farei de ti um monte de queima”; Daniel 2:35 “Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais se fizeram como pragana das eiras do estio, e o vento os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a estátua, se tornou grande monte, e encheu toda a terra.”, etc, em que ela é inequivocamente o emblema de grande e altíssimo poder. As montanhas sobre as quais a mulher se senta devem ser, portanto, os sete grandes poderes; e como as montanhas são as cabeças da besta, elas devem ser as sete MAIORES eminências do mundo Latino. Como nenhum outro poder foi reconhecido na liderança do Império Latino, a não ser aquele da Alemanha, como podemos afirmar que a besta tem sete cabeças? Esta questão pode apenas ser resolvida, através da constituição feudal da última conferência Germânica, cuja história é brevemente como se segue: A princípio, apenas os reis concediam feudos. Eles os concediam aos homens leigos apenas, e tais somente que fossem livres; e o vassalo não tinha poder para aliená-los. Todo homem livre, e especialmente os locatários feudais, estavam sujeitos à obrigação do dever militar, e designados a guardar a vida de seu soberano, membros, mente, e honra correta. Logo depois, ou talvez, um pouco antes, da extinção da dinastia de Carlovingiano, na França, pela ascensão da linhagem Capetiana, e na Alemanha, pela ascensão da casa Saxônica, os feudos, que estavam inteiramente à disposição do soberano, tonaram-se hereditários. Até mesmo os ofícios de duque, conde, margrave, etc... eram transmitidos no decurso da descendência hereditária; e não muito tempo depois, o direito de primogenitura foi universalmente estabelecido. Os vassalos coroados usurparam da soberana propriedade da terra, com autoridade civil e militar sobre os habitantes. Com a possessão assim usurpada, eles concederam aos seus arrendatários imediatos; e esses, a outros, da mesma forma. Assim, os principais vassalos gradualmente obtiveram toda prerrogativa real; eles promulgaram leis, exerceram o poder de vida e morte, cunharam dinheiro, fixaram os padrões de pesos e medidas, concederam salvaguardas, cogitaram uma força militar, e impuseram taxas, com todo direito supostamente anexado à realeza. Em seus títulos, eles se denominavam duques, etc. Dei gratis, pela graça de Deus; uma prerrogativa declaradamente restrita ao poder soberano. Foi até mesmo admitido que, se o rei se recusasse a fazer justiça ao lorde, o lorde faria guerra contra ele. Os arrendatários, por sua vez, tornaram-se independentes de seus lordes vassalos, pelo que foi introduzido um estado 167 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE ulterior de vassalagem. O rei era chamado de o soberano lorde, seu vassalo imediato era o susserano, e os arrendatários ligados a ele eram chamados de arrere vassalos. Veja as Revoluções de Butler do Império Germânico. Assim, o poder dos imperadores da Alemanha, que era tão considerável no século nove, foi gradualmente diminuído, pelo sistema feudal; e durante a anarquia do longo interregno, ocasionado pela interferência dos papas na eleição dos imperadores (de 1256 a 1273), o poder imperial foi reduzido quase a nada. Rudolph de Hapsburg, o fundador da casa da Áustria, foi, por fim, eleito imperador, porque seus territórios e influência eram tão insignificantes, de maneira a não despertar ciúme nos príncipes alemães, que estavam desejosos de preservarem as formas da constituição, o poder e vigor do que eles haviam destruído. Veja a Introdução de Robertson do seu História de Charles V. Antes da dissolução do Império, em 1806, a Alemanha “apresentou uma associação complexa de principados, mais ou menos poderoso, e mais ou menos ligado à nominal soberania no imperador, como seu chefe supremo feudal. Havia cerca de trezentos príncipes do Império, cada soberano em sua própria região, que entraria em alianças, e buscaria, através de todas as medidas políticas, seu próprio interesse privado, como outros soberanos faziam; porque, se até mesmo uma guerra imperial fosse declarada, ele permaneceria neutro, caso a segurança do império não fosse abalada. Aqui, então, estava um Império de uma construção, sem exceção, o mais singular e complexo que alguma vez apareceu no mundo; porque o imperador era apenas o chefe da Confederação Alemã”. A Alemanha, para usar a linguagem figurativa das Escrituras, era, portanto, uma região abundante em colinas, ou contendo um imenso número de principados distintos. Mas os diferentes estados alemães (como observado anteriormente) não possuíam uma divisão igual de poder e influência; alguns eram mais eminentes do que outros. Entre eles havia também alguns poucos que poderiam, com a maior propriedade, serem denominados de montanhas, ou estados possuindo um elevado grau de importância política. Mas as sete montanhas sobre as quais a mulher se senta encontra-se acima de todas as outras eminências em todo o mundo Latino; consequentemente, não devem ser outras do que os SETE ELEITORADOS do Império Alemão. Esses eram, de fato, montanhas de vasta eminência; porque em seus soberanos estava investido o único poder de eleger o líder do império. Além disto, os eleitores tinham o direito de capitular com o novo líder do império, ditar as condições sobre as quais ele reinaria, e destituí-lo, se ele quebrasse aquelas condições. E verdadeiramente destituíram Adolphus de Nassau, em 1298, e Wenceslau em 1400. Soberanos e príncipes independentes, em seus respectivos domínios, tinham o privilegium de non appellando 168 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE illimitatum, de realizarem guerra, cunharem, e exercerem cada ato de soberania; também formavam um colégio separado, no regime do império, e entre eles havia uma aliança ou associação especial, chamada Kur verein; e desfrutavam de prioridade sobre todos os outros príncipes do império e, até mesmo, nas mesmas condições dos reis. As cabeças da besta, entendidas desta forma, é um dos mais distintos símbolos da constituição Alemã; e já que o Império Romano da Alemanha teve o precedente de todas as outras monarquias, da qual o Império Latino era composto, as sete montanhas muito adequadamente denotam os sete poderes PRINCIPAIS daquele que tem sido denominado de o santo Império Romano. E, como cada eleitorado, em virtude de sua união com o corpo Germânico, era mais poderoso do que qualquer outro estado Católico Romano da Europa, não tão unido; então, no sentido mais apropriado da palavra, eles eram uma das mais altas elevações no mundo Latino. Quando os sete eleitorados do império foram instituídos, é incerto. Mas a opinião mais provável parece ser aquela que situa a origem deles em algum momento do século treze. A incerteza a este respeito, no entanto, de maneira alguma enfraquece a evidência das montanhas, como se tratando dos sete eleitorados, mas, antes, a confirma; conforme já observamos, a representação da mulher, sentada sobre a besta, é a figura da Igreja Latina, no período de sua maior autoridade, espiritual e temporal; e, sabemos, que isto não aconteceu, antes do início do século quatorze, um período subseqüente à instituição dos sete eleitorados. Assim, a mulher senta-se sobre as sete montanhas, ou o Império Germânico em seu estado aristocrático eletivo; senta-se sobre elas, para denotar que ela tem todo o Império Alemão sob sua direção e autoridade, e que ele também era o principal suporte e força dela. Apoiada, pela Alemanha, ela estava sob nenhuma apreensão de ser objetada com êxito, por qualquer outro poder: ela se senta sobre as sete montanhas. Portanto, está em um lugar mais alto do que as sete eminências mais elevadas do mundo Latino; e tem o Império secular Latino sob sua completa sujeição. Mas este estado de eminência não continuou por mais de dois ou três séculos; o visível declínio do poder papal nos séculos quatorze e quinze, ocasionado parcialmente pela remoção da diocese papal de Roma para Avignon, e, mais especialmente, devido ao grande cisma de 1277 a 1417, embora considerado uma das causas mais remotas da Reforma, foi, a princípio, os meios de meramente transferir o supremo poder do papa para o concílio geral, enquanto o domínio da Igreja Latina permanecia o mesmo. 169 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE No Concílio de Constance, 30 de Março de 1415, foi decretado “que o sínodo tendo se reunido legitimamente, em nome do Espírito Santo, que constituiu o concílio geral, e representava o todo da militante Igreja Católica, tinha seu poder imediatamente de Jesus Cristo, e que toda pessoa, qualquer que fosse o estado ou dignidade, ATÉ MESMO O PRÓPRIO PAPA. era obrigada a obedecê-lo, no que concerne à fé, a extirpação do cisma, e a reforma geral da Igreja, em seus líderes e membros”. O Concílio de Basil de 1432 decretou “que todos, qualquer que fosse a dignidade e condição, NÃO EXCETUANDO O PRÓPRIO PAPA, que se recusassem a obedecer as ordenanças e decretos deste concilio geral, ou de qualquer outro, fossem colocados sob penitência, e punidos. Declarou-se também que o papa não tinha poder para dissolver o concílio geral, sem o consentimento e decreto da assembléia”. Veja o terceiro volume da História Eclesiástica de Du Pin. Mas o que fez a morte soprar na soberania temporal da Igreja Latina foi a luz da gloriosa reforma que, primeiro, irrompeu na Alemanha, em 1517, e, em poucos anos, ganhou seu caminho, não apenas sobre diversos dos grandes principados na Alemanha, mas também se tornou a religião estabelecida de outras regiões papistas. Consequentemente, no século dezesseis, a mulher não mais se sentou sobre as sete montanhas, os eleitorados não apenas recusaram-se a ser governados por ela, mas alguns deles desprezaram e abandonaram suas doutrinas. As mudanças, portanto, nos séculos dezessete, dezoito e dezenove, no número de eleitorados, não afetarão, de maneira alguma, a interpretação das sete montanhas, já dada. Os sete eleitores eram os arcebispos de Mentz, Cologne, e Triers, o conde platino do Reno, o duque da Saxônia, o marquês de Brandenburg, o rei da Boêmia. Mas as sete cabeças da besta têm uma dupla significação; porque o anjo diz: 17:10 – E são também sete reis; cinco já caíram, e um existe; outro ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure um pouco de tempo. E existem sete reis - kai basileiv epta eisin? Eles são também sete reis. Antes, foi dito, que eles são as sete montanhas; aqui, eles são também sete reis, que é uma demonstração de que os reinos aqui não são representados pelas montanhas: e este é um argumento adicional de que os sete eleitorados são representados pelas sete montanhas, porque, embora os soberanos desses estados se equiparassem aos reis, eles não eram reis; o que significa dizer que eles não eram os lordes absolutos e únicos dos territórios que possuíam, independentemente do imperador, porque seus estados formavam uma parte do 170 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE corpo Germânico. Mas as sete cabeças da besta são também sete reis, quer dizer, o Império Latino teve sete formas supremas de governo; porque rei é utilizado, nos escritos proféticos, para qualquer governador supremo de um estado ou povo, como está evidente em Deuteronômio 33:5 “E foi rei em Jesurum, quando se congregaram os cabeças do povo com as tribos de Israel”, onde Moisés é chamado de rei. Desses sete reis, ou formas supremas do governo Latino, o anjo informa João: - Cinco caíram, e um existe – É fato que a primeira forma de governo Latino foi aquela da monarquia, que continuou depois da morte de Latinus 428, até a construção de Roma, 753. Depois do falecimento de Numitor, os Albanos ou Latinos instituíram a forma de uma república, e foram governados por ditadores. Temos apenas os nomes de dois; Cluilius e Metius Fufetius ou Suffetius; mas como a ditadura continuou, pelo menos, por oitenta e oito anos, devem ter havido outros, embora seus nomes e ações sejam desconhecidos. No ano de 665, antes de Cristo, a metrópole da nação Latina foi destruída por Tullus Hostilius, o terceiro rei dos Romanos, e os habitantes levados para Roma. Isto colocou um fim na república monárquica dos Latinos; e os Latinos elegeram dois magistrados anuais, a quem Licinius chama de ditadores, mas chamados de pretores por outros escritores. Esta forma de governo continuou até o tempo de P. Decius Mus, o cônsul Romano; porque Festus, em seu décimo-quarto livro nos informa “que os Albanos desfrutaram de prosperidade até o tempo do rei Tullus; no entanto, com a destruição de Alba, os cônsules, da era de P. Decius Mus; mantiveram uma conferência com os Latinos, na liderança de Ferentina, e o império foi governado pelo conselho de ambas as nações”. A nação Latina foi inteiramente subjugada pelos Romanos, em 336 a.C, o que colocou um fim ao governo pelos pretores, depois de mais de trezentos anos. Os Latinos desta época cessaram de ser uma nação, com respeito ao nome; portanto as três formas de governo já mencionadas foram aquelas que os Latinos tiveram durante aquele período que anjo menciona, quando diz: A besta que tu viste ERA. Mas como as cinco cabeças, ou formas de governo, caíram antes da era de João, fica evidente que as outras duas formas de governo que caíram, devem estar entre aquelas dos Romanos; primeiro, porque, embora a nação Latina, assim chamada, fosse destituída de toda autoridade pelos Romanos, ainda assim, o poder Latino continuava a existir, porque os próprios conquistadores eram Latinos; e, consequentemente, os Latinos, embora um povo conquistado, continuavam a ter um governo LATINO. 171 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Em Segundo Lugar, o anjo expressamente diz a João que uma existe, ou seja, a sexta cabeça, ou a forma Latina de governo, estava, então, em existência; o que não poderia ser outra do que o poder imperial, a única forma independente do governo Latino na era apostólica. Necessariamente se segue, que as formas Romanas de governo, através das quais Latium foi governada, devem ser as cabeças remanescentes da besta. Antes da subjugação dos Latinos pelos Romanos, quatro das formas Românicas ou dracônicas de governo tinham caído, o poder real, o ditatorial, o decenvirato, e o poder consular dos tribunos militares, o último abolido por volta de 266, antes do início da era Cristã; nenhum desses, entretanto, governou sobre o TODO da nação Latina. Mas como os Latinos foram finalmente subjugados, por volta de 336 a.C., o governo consular dos Romanos, que era, então, o poder supremo no estado, deve ser a quarta cabeça da besta. Esta forma de governo continuou, com muito pouca interrupção, até o surgimento do triunvirato, a quinta cabeça da besta, 43 a.C. A ditadura de Sylla e Julius Cesar não poderia ser considerada uma nova cabeça da besta, já que os Latinos já haviam sido governados por ela, nas pessoas de Cluillus e Fufetius. A sexta cabeça da besta, ou aquela que existiu nos tempos de João, era consequentemente, como já provamos, o poder imperial dos Césares pagãos, ou a sétima forma de governo dracônico. E a outra ainda não veio – Bispo Newton considera o ducado Romano, sob o governo do tenente imperador oriental, o exarca de Ravena, a sétima cabeça da besta. Mas esta não pode ser a forma de governo pretendida pela sétima cabeça, porque uma cabeça da besta, como já mostramos, é uma forma suprema, independente do governo Latino; consequentemente, o ducado Romano não pode ser a sétima cabeça, já que ele era dependente do exarcado de Ravena, e o exarcado não pode ser a cabeça, uma vez que em sujeição ao Império Grego. O capelão G. Faber tem apurado a verdade, exatamente no denominar o patriarcado Carlovingiano, de a sétima cabeça da besta. E que esta foi uma forma de governo supremo, independente, é evidente da história. Gibbon, ao falar do patriarca, observa que “os decretos do senado e o povo sucessivamente investiram Charles Msrtel e sua posteridade com as honras do patriarcado de Roma. Os líderes de uma nação poderosa teriam desdenhado um título servil e ofício subordinado; mas o reino dos imperadores Gregos estava suspenso, e na desocupação do império, eles derivaram uma comissão mais gloriosa do papa e da república. Os embaixadores Romanos presentearam esses patriarcas, com as chaves do relicário de St. Peter, como uma garantia e símbolo de soberania, e com uma bandeira santa, a de que era direito e dever deles desfraldarem-se na defesa da Igreja e da cidade. Nos tempos de Charles Martel e de Pepino, a 172 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE interposição do reino Lombarde ocultou a liberdade, enquanto ela ameaçava a segurança de Roma, e o patriarcado representou apenas o título, o serviço, e a aliança desses distantes protetores. O poder e política de Carlosmagno aniquilou um inimigo, e impôs um mestre. Em sua primeira visita à capital, ele foi recebido com todas as honras que teria sido formalmente prestadas ao exarca, o representante do imperador, e essas honras obtiveram algumas novas decorações da alegria e gratidão do Papa Adriano I. No pórtico, Adriano o esperava na liderança de seu clero; eles se abraçaram como amigos e iguais; mas, ao se dirigirem ao altar, o rei, ou patrício, assumiu o lado direito do papa. Nem o Franco contentou-se com essas vás e vazias demonstrações de respeito. Nos vinte e seis anos que decorreram, entre a conquista da Lombardia e sua coroação imperial, Roma, que havia sido liberta pela espada, estava em sujeição, por iniciativa própria, à autoridade de Carlosmagno. O povo jurou submissão a sua pessoa e família, em seu nome, dinheiro foi cunhado, e a justiça foi administrada, e a eleição dos papas, examinada e confirmada por sua autoridade. Com exceção de uma reivindicação original e auto-inerente de soberania, não houve qualquer prerrogativa restante de que o título de imperador fosse acrescentado ao patrício de Roma”. As sete cabeças da besta são, portanto, como se segue: O poder da realeza, da ditadura, dos pretores, do consulado, do triunvirato, do império, e do patriarcado. E quando ela vier, ficará por um curto espaço de tempo - A sétima forma de governo permaneceu apenas um curto período, que foi verdadeiramente o caso; porque, de seu primeiro surgimento, como poder independente, até sua completa extinção, passou-se apenas vinte e cinco anos, um curto tempo em comparação com a duração de diversas formas precedentes de governo; já que o governo real primitivo continuou, pelo menos, por quatrocentos e vinte e oito anos, a ditadura, por volta de oitenta e oito, o poder dos pretores, por mais de trezentos anos, o consulado, cerca de duzentos e oitenta, e o poder imperial, por mais de quinhentos anos. 17:11 – E a besta que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição. E a besta, que era, e não é, é a oitava, e a sétima, e entra em perdição – É o mesmo que dizer que o Reino Latino já existiu, mas não está mais nominalmente em existência, e deverá imediatamente resultar da dissolução da sétima forma de governo Latino, e este domínio é chamado de ogdoov, o oitavo, porque ele sucede ao sétimo. Ainda assim, não se trata da oitava cabeça 173 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE da besta, porque a besta tem apenas sete cabeças; e para constituir uma nova cabeça da besta, a forma de governo deve não apenas diferir na natureza, mas também no nome. Esta cabeça da besta é, portanto, ek twn epta, UMA das sete. Consequentemente, a forma de governo representada por esta cabeça é a restauração de uma das sete precedentes. A cabeça restaurada pode ser nenhuma outra do que o estado de realeza dos Latinos, ou, em outras palavras, o Reino Latino, (Æh latinh basileia), que se seguiu ao patriarcado, ou sétima cabeça do governo Latino. Nenhuma outra forma de governo teria sucesso; mas a besta em sua condição final ou anticristã será “lançada”, juntamente com os falsos profetas que forjaram milagres, aos seus olhos, “no lago de fogo e enxofre”. Observa-se que o oitavo poder Latino é chamado, pelo anjo, de a besta, e também de uma de suas cabeças. Esta aparente discordância surge do duplo significado das cabeças, porque se tomarmos a besta, em que a mulher se senta, como meramente uma representação do poder secular que apóia a Igreja Latina, então, as sete cabeças representarão os sete eleitorados do Império Alemão; mas, se por besta, entendemos o Império Latino geral, do primeiro ao último, então, de acordo com a primeira interpretação do anjo sobre as cabeças, o que é chamado de besta é, neste caso, apenas uma de suas cabeças. Veja versículo 18. 17:12 – E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão poder como reis por uma hora, juntamente com a besta. E os dez chifres que viste são dez reis, que receberam nenhum reino, até agora, mas receberão poder como reis, por uma hora com a besta – O significado dos chifres já foi bem definido, quando falamos daqueles do dragão. O significado, portanto, é como se segue: Embora o Império Latino esteja em existência, agora, os dez chifres se referem aos dez Reinos Latinos, ainda na futuridade, e, por conseguinte, eles receberam nenhum domínio, ATÉ AGORA; porque aquela parte da dominação Latina em poder, no momento, é a sexta cabeça, ou o governo imperial dos Césares pagãos. Mas os dez estados dos Latinos receberam as monarquias mian wran, antes, (como pode ser propriamente traduzido). Ou seja, ao mesmo tempo que a besta, ou daquela que ascende do poço do abismo; assim sendo, o Império Latino aqui pretendido é o único que estava na futuridade na era apostólica. 174 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 17:13 – Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e autoridade à besta. Esses têm um mesmo propósito e darão poder e força à besta – Portanto, os dez chifres devem constituir a principal força do Império Latino; o que significa dizer que este império deve ser composto dos domínios dos dez monarcas independentes uns dos outros, em todos os outros sentidos, exceto na obediência implícita deles à Igreja Latina. A besta, neste versículo e no precedente, é distinguida de seus chifres, como o TODO do Império Latino é distinguido, na história, por seus poderes constituintes. Veja versículo 16. 17:14 – Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, e eleitos, e fiéis. Esses farão guerra contra o Cordeiro, e o Cordeiro os subjugará; porque ele é o Senhor dos senhores, e Rei dos reis, e aqueles que estão com ele serão os chamados, os escolhidos, e os fiéis – Os dez poderes da besta devem compor o reino secular do anticristo, porque eles fazem guerra contra o Cordeiro, que é Jesus Cristo. Isto é perfeitamente verdadeiro de todos os estados papistas, porque se oporão, constantemente, ao progresso do puro Cristianismo, por quanto tempo tiverem algum poder secular. Eles guerreiam contra o Cordeiro, ao perseguirem seus seguidores; mas o Cordeiro deverá subjugá-los, porque ele é o Senhor dos senhores, e Rei dos reis – todos os senhores derivam sua autoridade dele, e nenhum rei pode reinar, sem ele; portanto, os dez reis Latinos são ministros de Deus para executarem sua vingança sobre as nações idólatras. Mas, quando essas monarquias anticristãs executarem o propósito Divino, aqueles que estão com o Cordeiro – os chamados, os escolhidos, e os fiéis, aqueles que mantêm A VERDADE por amor a ela, prevalecerão contra todos os seus adversários, porque a batalha deles foi lutada pelo Cordeiro, que é o seu Deus e Libertador. Veja o capítulo 19:10,20 “E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos, para fazerem guerra àquele que estava assentado sobre o cavalo, e ao seu exército. E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre”. 175 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 17:15 – E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas. E ele me disse: As águas que tu viste, onde a prostituta se senta, são as pessoas, e multidões, e nações, e Línguas- “Tantas palavras”, Bispo Newton observa, “no plural, adequadamente denotam a grande extensão de seu poder e jurisdição. Ela própria se glorifica no título de Igreja Católica, e exulta no número de seus devotos, como uma prova certa da verdadeira religião. A primeira nota do Cardeal Bellarmino sobre a Igreja verdadeira é o próprio nome da Igreja Católica [Igreja Universal]; e sua quarta nota trata da amplitude, ou multidão, e variedade de crentes; porque a Igreja Católica verdadeiramente, diz ele, não deve apenas compreender todas as era, mas igualmente todos os lugares, todas as nações e todos os tipos de homens”. 17:16 – E os dez chifres que viste na besta são os que odiarão a prostituta, e a colocarão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo. E os dez chifres que tu viste na besta, esses odiarão a prostituta, e a farão desolada e nua, e comerão sua carne, e a queimarão no fogo – Aqui está a chave do mistério que nos induz à correta interpretação dos chifres da besta. É dito que os DEZ chifres odiarão a prostituta; o que evidentemente significa, quando juntamente com o que se segue, que os dez reinos, em benefício da Igreja Latina, finalmente desprezarão suas doutrinas, serão reformados do papismo, auxiliarão no despojá-la de todas as influências e no exibirem suas tolices, e no final, a destinarão à completa destruição. Disto, segue-se que nenhum poder Católico Romano que não existiu, tão recentemente quanto a Reforma, pode ser contado em meio aos chifres da besta; os chifres devem, portanto, ser encontrados entre os grandes estados da Europa, no início da Reforma. Esses eram exatamente dez: França, Espanha, Inglaterra, Escócia, O Império, Suécia, Dinamarca, Polônia, Hungria, e Portugal. Nestes estavam compreendidos a maioria dos estados menores, não denominados monarquias, e que, do primeiro surgimento deles, até o período da Reforma, têm sido subjugados por um ou mais dos dez grandes poderes Católicos Romanos já mencionados. Consequentemente, esses dez constituíram o poder e força da besta; e cada estado menor é considerado uma parte daquela monarquia, sob a autoridade do qual ela foi finalmente submetida, previamente à Reforma. 176 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Mas pode-se perguntar: Como o império, que foi a cabeça revivida da besta, teria sido, ao mesmo tempo, um de seus chifres? A resposta é esta: Os chifres de um animal, na linguagem profética, representam os poderes dos quais aquele império ou reino, simbolizado pelo animal, é composto. Assim, o anjo, em sua interpretação da visão de Daniel, concernente ao carneiro e ao bode, expressamente nos informa que “o carneiro com dois chifres são os reis da Média e Pérsia”. Um dos chifres do carneiro, portanto, representava o reino da Media, e o outro, o reino da Pérsia; e a união deles em um animal significava o reino unido da Média e Pérsia, a saber, o Império Medo-Persa. Da mesma forma, a besta com dez chifres denota que o império representado pela besta é composto de dez poderes distintos, e os dez chifres, unidos em uma besta, muito apropriadamente mostra que as monarquias simbolizadas por esses chifres estão unidas para formarem um império; porque já mostramos, nas notas do capítulo 13:1, que a besta é o símbolo de um império. Portanto, como os chifres de um animal, de acordo com a explanação do anjo (e não temos uma autoridade mais elevada) representam todos os poderes da qual aquela denominação simbolizada pelo animal é composta, o Império Romano da Alemanha, como uma daquelas monarquias que deu seu poder e força ao Império Latino, deve consequentemente ter sido O CHIFRE da besta. Mas o Império Alemão não era apenas um poder Latino, ele era, ao mesmo tempo, reconhecido por toda a Europa, por ter precedência sobre todos os outros. Portanto, como não é possível expressar essas duas circunstâncias, através de um símbolo, necessariamente se segue, da natureza da linguagem simbólica, que o que tem sido denominado de santo Império Romano deve ter uma dupla representação. Consequentemente, o império, como um dos poderes da monarquia Latina, era um chifre da besta, e no ter precedência sobre todos os outros, era sua cabeça revivida. Veja uma explanação similar da cauda do dragão, nas notas sobre o capítulo 12:4. 17:17 – Porque Deus tem posto em seus corações, que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus. Porque Deus colocou nos corações deles cumprirem Sua vontade, e concordarem, e darem seu reino à besta, até que as palavras de Deus sejam cumpridas – Que ninguém imagine que esses dez Reinos Latinos, porque eles apóiam uma adoração idólatra, têm sido erguidos, meramente pelo poder do homem ou oportunidades de guerra. Nenhum reino ou estado pode existir sem a vontade de Deus; portanto, que os habitantes do mundo tremam, quando eles virem uma monarquia iníqua surgir para o poder, e que eles considerem que ela 177 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE surgiu, para que o Senhor execute sua vingança junto às idolatrias e devassidões dos tempos. É dito dos reis em comunhão com a Igreja de Roma, que Deus tem colocado em seus corações cumprirem a vontade Dele. Como esta vontade Divina será cumprida? Da maneira mais terrível e aflitiva! No fazer com que os dez reis Latinos unam seus domínios, em um império poderoso, em defesa da Igreja Latina. Aqui está a formidável dispensação de Jeová; mas é tal, que as nações têm mais justamente merecido, porque, quando elas tinham a verdade, não viveram de acordo com suas mais santas requisições, mas amaram a escuridão, preferivelmente à luz, porque seus feitos foram pecaminosos. Portanto, “o Senhor enviou a elas forte ilusão, que eles deveriam acreditar na mentira, para que aqueles que não acreditassem na verdade, mas tivessem prazer na iniqüidade, fossem condenados”. Mas este estado deplorável do mundo não é perpétuo, ele pode apenas continuar até que cada palavra de Deus seja cumprida junto aos seus inimigos; e, quando este tempo chegar (o que será com o segundo advento de Cristo), então, o Filho de Deus aniquilará o iníquo “com o espírito de sua boca, e o consumirá com o brilho de SUA VINDA”. 17:18 – E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os reis da terra. E a mulher que tu viste é aquela grande cidade, que reina sobre os reis da terra – Já foi mostrado que a mulher, sentada sobre a besta de sete cabeças, é uma representação da Igreja Latina; aqui temos a maior confirmação de que é desta forma, porque a mulher é chamada de cidade, um símbolo muito mais claro de Igreja, e como a palavra é usada inequivocamente neste sentido, em tantas partes das Escrituras, não podemos nos enganar quanto ao seu significado. Veja capítulo 11:2 “E deixa o átrio que está fora do templo, e não o meças; porque foi dado às nações, e pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses.”; 21:10 “E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu”; 22:19 “E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro.”; e também Salmos 46:4 “Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo”; 87:3 “Coisas gloriosas se dizem de ti, ó cidade de Deus. (Selá.)”; Hebreus 12:22 “Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muito s milhares de anjos”, etc. A mulher, portanto, deve ser a Igreja Latina; e como o apóstolo a viu sentada sobre a besta, isto deve significar (h ecousa basileian) que ela tem um 178 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE REINO sobre os reis da terra, ou seja, sobre os reis do mundo Latino, porque este significado de terra foi mostrado antes em numerosos exemplos. Este REINO que a mulher tem sobre os reis do mundo Latino, ou Império Latino secular, ou, em outras palavras, O REINO da Igreja Latina, trata-se do Reino Latino ou hierarquia Católica Romana. Veja capítulo 13:18. A mulher é também chamada de a GRANDE cidade, para denotar a grandeza de sua jurisdição; porque ela tem compreendido, dentro de seus muros, os súditos das denominações mais poderosas da França, Espanha, Inglaterra, Escócia, O Império, Suécia, Dinamarca, Polônia, Hungria, e Portugal. Que extensa cidade era esta! Certamente tal a justificar a denominação profética de a GRANDE cidade. TENDO agora prosseguido, através de toda a interpretação do anjo, da visão de João de uma prostituta sentada sobre a besta de sete cabeças e dez chifres, será essencialmente necessário examinar um pouco mais atentamente, o oitavo versículo deste capítulo. Já foi mostrado que as frases, era, não é, surgirá do poço do abismo, e ainda é, referem-se ao Reino Latino que existiu antes da construção de Roma; ao Império Romano, nos tempos de João; e ao Império Latino que estava na futuridade na era apostólica. Mas, como as palavras, era, não é, etc., são faladas da besta, na qual o apóstolo viu a mulher, ou Igreja Latina, sentada; como se pode dizer que esta besta existiu antes da data do Apocalipse, quando a mulher que ela carregava não estava em existência, até muito tempo depois deste período? E qual a ligação entre o Império Latino da idade média e aquele que derivou seu nome de Latinus, o rei dos Aborígines, e foi subjugado pelos primitivos Romanos; ou mesmo aquele que existiu nos tempos do apóstolo? A resposta é como se segue: João viu a besta, em que a mulher se sentou, com todas as sete cabeças e dez chifres. Consequentemente, como o anjo expressamente diz que cinco dessas sete cabeças já haviam caído, quando da visão, então, o apóstolo deve ter visto aquela parte do Império Latino, representado pela besta de sete cabeças que já existira, sob o emblema das cinco cabeças. Portanto, a mulher sentou-se sobre a besta que ERA. Da interpretação do anjo, fica evidente, que as sete cabeças caíram, antes que a besta, em que a mulher se sentou, surgisse; e, ainda assim, a mulher é representada, sentando-se sobre a besta de sete cabeças, para denotar, como observamos anteriormente, que ela é o Reino Latino, em seu último estado, ou sob uma de suas cabeças restaurada: ou o reino secular do anticristo. Também se diz que a besta não tem qualquer existência, quando da visão, por conseguinte, a monarquia dos Latinos, e não aquela dos Romanos, é pretendida aqui; porque a última aconteceu quando da visão. 179 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A besta que João viu não havia ascendido do poço do abismo, em seu tempo; ou seja, todas as sete cabeças e os dez chifres estavam na futuridade, porque todas essas cabeças e chifres surgiram do abismo, ao mesmo tempo que a besta. Como esta aparente contradição é reconciliada? Da maneira mais clara e satisfatória, através da dupla interpretação do anjo, a respeito das cabeças; porque se as sete cabeças forem tomadas no sentido de sete montanhas (cabeça, nas Escrituras, é um símbolo de precedência, e de supremacia), então, a besta com todas as suas cabeças e chifres, no tempo do apóstolo, estavam juntas na futuridade, porque as sete cabeças são os sete eleitorados do Império Alemão, e os dez chifres, as dez monarquias, no interesse da Igreja Latina. Finalmente, é dito que a besta existe no momento da visão; referindose, portanto, ao Império Romano, que governava o mundo; por conseguinte, a frase, e ainda existe, é a prova de que, como a besta é o reino Latino, e se diz que ela existe nos tempos do apóstolo, o império dos Césares, embora geralmente conhecido pelo nome de Romano, é, em um sentido muito apropriado, o reino Latino, já que o Latim era a Língua que prevalecia nele. Assim sendo, a besta de sete cabeças e dez chifres é, ao mesmo tempo, a representação do antigo poder Latino, do Império Romano que o sucedeu, e do Império Latino que apóia a Igreja Latina. Aqui está, então, a conexão dos primitivos poderes Latinos e Romanos com aquele sobre a qual a mulher se senta. Ela se senta sobre a besta que era e não é, porque três de suas cabeças representam as três formas de governo que os Latinos primitivos tiveram, antes que fossem subjugados pelos Romanos: o poder real, a ditadura, e o poder dos pretores. Ela se senta sobre a besta que SURGIRÁ do poço do abismo, porque todas as sete cabeças, tomadas no mesmo sentido de montanhas, estavam na futuridade, na era apostólica. Ela se senta sobre a besta que ainda existe, porque quatro de suas cabeças representam as quatro formas de governo de Roma ou do Império Latino, agora em existência; a saber, o consulado, o triunvirato, o poder imperial, e o patriarcado. Assim, fica evidente que a besta, na mais ampla aceitação deste termo, é um símbolo de poder Latino em geral, desde o início em Latinus até o fim; suas sete cabeças denotam sete reis ou formas supremas do governo Latino, durante este período, rei ou reino, como já observamos, usado como um termo geral nos escritos proféticos, para qualquer tipo de governador ou governo supremo, e não importa, através de que nome específico tal deverá ser designado entre os homens. Assim, o poder Latino, do tempo de Latinus até a morte de Numitor era a besta, sob o domínio de sua primeira cabeça; da morte de Numitor à destruição de Alba, a besta, sob o domínio da segunda cabeça; da destruição de Alba, até a subjugação final dos Latinos pelos 180 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Romanos, a besta, sob o domínio de sua terceira cabeça. E como as quatro formas Romanas de governo, que foram subseqüentes à conquista final dos Latinos, foram também dominações Latinas, o poder Latino, sob essas formas de governo, era a besta, sob o domínio de sua quarta, quinta, sexta e sétima, cabeças. A besta do poço do abismo, que se seguiu à queda de todas as cabeças da besta do mar, ou do Império geral Latino, é, de acordo com a interpretação do anjo, ogdoov, (basileuv), o OITAVO rei; ou seja, um oitavo tipo de poder Latino, ou, em outras palavras, uma forma suprema de governo Latino, essencialmente diferindo das precedentes; ainda assim, como nominalmente é a mesma que uma das sete precedentes, não é considerada a oitava cabeça da besta. A primeira besta do capítulo 13:1 “E eu me pus sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia”, é uma descrição da oitava e última condição do Império Latino Geral, e quando se diz que a besta surge do mar, é porque as cabeças são tomadas em duplo sentido, o mar é um termo geral que expressa a origem de todo grande império que surge pela espada, mas quando (como acontece no versículo 11) uma das cabeças da besta do mar (aquele poder secular que ainda existe, e tem apoiado a Igreja Latina, por mais de mil anos) é peculiarmente denominada de A Besta, o Espírito Santo, ao falar deste Império Latino secular, Declara, especialmente, que ela vem DO POÇO DO ABISMO. John EDWARD CLARKE. 181 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XVIII O anjo que iluminou a terra proclama a queda de Babilônia, e o porquê disto, 1,3. Os seguidores de Deus são exortados a saírem dela, para que escapem da punição que se aproxima, 4,8. Os reis da terra lamentam o destino dela, 9, 10. Os negociantes também lamentam, 11. Os artigos, os quais ela negociava, enumerados, 12-16. Também os capitães de navio, marinheiros, etc.. a lamentam, 17-19. Todo o céu regozija-se com a queda dela, e sua desolação final é prenunciada, 20-24. NOTAS SOBRE O CAPÍTULO XVIII 18:1 – E DEPOIS destas coisas vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória. A terra iluminou-se com sua glória – Isto pode se referir a alguns mensageiros extraordinários do Evangelho eterno, que, através de suas pregações e escritos, difundiriam a luz da verdade e a religião verdadeira sobre a terra. 18:2 – E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável. Babilônia, a grande caiu, ela caiu – Esta é uma citação de Isaías 21:9: E ele diz que Babilônia caiu, é caída: e todas as imagens de esculturas de seus deuses foram quebradas. Isto é aplicado por alguns a Roma pagã; por outros, a Roma papal; e, por outros, a Jerusalém. E se tornou a fortificação de todo espírito imundo – Veja as passagens idênticas na margem. As figuras aqui indicam a mais completa destruição. Uma cidade inteiramente saqueada e destruída nunca será reconstruída. 18:3 – Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias. O vinho da ira – A punição devida por suas transgressões, porque eles são parceiros dela em seus pecados. Veja a nota sobre o capítulo 14:8. 182 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 18:4 – E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Saia dela, meu povo – Essas palavras parecem ser tomadas de Isaías 52:11;” Retirai-vos, retirai-vos, saí daí, não toqueis coisa imunda; saí do meio dela, purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor”. Jeremias 1:8 “Não temas diante deles; porque estou contigo para te livrar, diz o Senhor”; 51:6,45 “Fugi do meio de Babilônia, e livrai cada um a sua alma, e não vos destruais na sua maldade; porque este é o tempo da vingança do SENHOR; que lhe dará a sua recompensa. (...) Saí do meio dela, ó povo meu, e livrai cada um a sua alma do ardor da ira do Senhor”. O poeta Mantuanus expressa este pensamento bem: “Você que deseja viver uma vida divina, afaste-se; porque, embora todas as coisas sejam lícitas em Roma, ainda assim para serem divinas são ilícitas”. 18:5 – Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela. Seus pecados têm alcançado os céus – Eles se tornaram tão volumosos e enormes que a longanimidade de Deus deve dar lugar à sua justiça. 18:6 – Tornai-lhe a dar como ela vos tem dado, e retribuí-lhe em dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber, dai-lhe a ela em dobro. Ele a recompensará, assim como o tem recompensado - Essas palavras são uma declaração profética do que acontecerá: Deus lidará com ela, da mesma forma que ela lida com outros. 18:7 – Quanto ela se glorificou, e em delícias esteve, foi-lhe outro tanto de tormento e pranto; porque diz em seu coração: Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e não verei o pranto. Quanto ela tem se exaltado – Através de cada ato de transgressão e pecaminoso cuidado com o corpo, ela preparou para si mesma uma punição adequada e proporcional. 18:8 – Portanto, num dia virão as suas pragas, a morte, e o pranto, e a fome; e será queimada no fogo; porque é forte o Senhor Deus que a julga. 183 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Portanto, suas pragas virão – Morte, pela espada de seus adversários; murmúrio por conta do massacre, e fome, os frutos do campo, sendo destruídos pelos grupos hostis. Completamente queimada pelo fogo – De que cidade se fala aqui? A Roma pagã nunca foi tratada assim; Alarico e Totilas apenas queimaram algumas partes dela. A Roma papal também não foi tratada da mesma forma; mas isto é verdade de Jerusalém, e ainda assim, Jerusalém não se acredita ser pretendida aqui. 18:9 – E os reis da terra, que se prostituíram com ela, e viveram em delícias, a chorarão, e sobre ela prantearão, quando virem a fumaça do seu incêndio; Os reis da terra – Aqueles que copiaram suas superstições e adotaram suas idolatrias. 18:10 – Estando de longe pelo temor do seu tormento, dizendo: Ai! ai daquela grande Babilônia, aquela forte cidade! pois numa hora veio o seu juízo. Permanecendo ao longe – Observando suas desolações com surpresa e espanto, completamente incapaz de oferecer a ela alguma assistência. 18:11 – E sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra; porque ninguém mais compra as suas mercadorias: Os mercadores da terra – Esses são representados como murmurando sobre ela, já que o comércio entre ambos terminara. Bispo Bale, que aplica todas essas coisas à Igreja de Roma, assim parafraseia as principais passagens: “Os mais poderosos reis e potentados da terra, não tiveram seus olhos de amor e temor em direção a Deus anteriormente, comprometeram-se com esta idolatria da mais vil sujidade, corromperam-se com as mais estranhas e não recomendáveis adorações, e juntaram-se a outros para observarem suas leis e costumes. E nos exemplos, doutrinas, conselhos, e persuasões de seus santos fornicadores, eles quebraram as alianças de paz; guerrearam, oprimiram, saquearam, capturaram, mataram tiranicamente inocentes; sim, 184 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE por vãs causas tolas, e mais títulos fúteis, como se não houvesse nem céu, nem inferno, nem Deus, nem contas a prestar”. “E seus negociantes vestidos de mitra, seus soldados de cabeças raspadas, seus libertinos, seus vendedores de almas, e mercadores, que se tornaram muito ricos, com a venda de seus óleos, pomadas, sais, água, pães, ordenações, consagrações, eucaristias, cinzas, palmas, velas, essências francesas, rosários, cruzes, candelabros, vestes sacerdotais, sinos, órgãos, imagens, relíquias, e outras bugigangas”. “E trouxeram junto a eles, palácios e casas principescas, ricos pastores e parques, pradarias, pastagens, rios e açudes, vilas e municípios, cidades e todas as províncias, com o diabo e tudo o mais; além das viúvas de outros homens, filhas que se tornaram servas, e crianças, que eles abominavelmente corromperam. Quantas vantagens, eles obtiveram, com a venda de bispados, prelaturas, promoções, benefícios, indulgências, perdões, peregrinações, confissões, e purgatório, além dos aluguéis anuais das igrejas, catedrais, abadias, colégios, conventos, para tais e tais. – Eles deveriam ficar especialmente descontentes com o fato de terem cometido adultério de espírito, com as muitas adorações externas, das hóstias, óleos, crucifixos, relíquias, títulos de nobreza, imagens, caveiras, ossos, panos velhos, sapatos, botas, esporas, chapéus, tiaras, etc.”. “Aqueles que têm vivido maliciosamente com ela (ver.9) no seguir suas observações inúteis, credos, orações, e missas, em consagrações, batismos, em procissões, cruzes, e relicários, com cartazes, bandeiras, e tochas, com tais outras ostentações tolas para crianças. “Ai de mim, ai de mim, que grande cidade (versículo 10) é esta bonita Babilônia, esta abençoada mãe santa a Igreja, que, algumas vezes, ofereceu tantos perdões papais, tantas bênçãos bispais, tantos indultos, tantas ordens religiosas, tantas águas bentas, e o evangelho de João, com as cinco chagas e a extensão de nosso Senhor para esmagar, está agora decaída para sempre! Ai de mim, ai de mim, quem rogará por nós agora? Quem celebrará serviços fúnebres? Que nos despojará de nossos pecados? Quem nos dará cinzas e ramos? Quem nos abençoará com a espada, e nos chamuscará no purgatório, quando morrermos? Se nos faltarem essas coisas, será como nos privarem do céu”. “Essas sãos as desesperadas lamentações do pecaminoso”. 185 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 18:12 – Mercadorias de ouro, e de prata, e de pedras preciosas, e de pérolas, e de linho fino, e de púrpura, e de seda, e de escarlata; e toda a madeira odorífera, e todo o vaso de marfim, e todo o vaso de madeira preciosíssima, de bronze e de ferro, e de mármore; As mercadorias de ouro e prata, etc. – O mesmo autor, Bispo Bale, que foi uma vez padre da Igreja Católica Romana, prossegue em aplicar todas as coisas a esta Igreja; e quer o texto tenha este significado ou não, eles nos mostram um pouco dos costumes religiosos de seu tempo, e o verdadeiro escárnio a esta intolerante e supersticiosa Igreja. [suprimido texto do Bispo Bale, mencionando toda a ostentação da Igreja.] 18:13 – E canela, e perfume, e mirra, e incenso, e vinho, e azeite, e flor de farinha, e trigo, e gado, e ovelhas; e cavalos, e carros, e corpos e almas de homens. E canela – “A canela simboliza todos os tipo de espécies caras, com que eles enterravam seus bispos e fundadores, a fim de que eles não cheirassem mal, quando transportados novamente, para se tornarem santos,”. Madeira odorífica – O Thyne ou Thyn é uma árvore cujos ramos, folhas, talos, e frutos assemelham-se ao cipreste. Ele é mencionado por Homero, na Odisséia. Quantos dos diferentes artigos mencionados nos versículos 12 e 13 eram procurados, em meio aos antigos, e seu alto valor, todo estudioso sabe. Escravos – swmatown? Os corpos dos homens; provavelmente distinguidos aqui de yucav, as almas dos homens, para expressar escravos e homens livres. 18:14 – E o fruto do desejo da tua alma foi-se de ti; e todas as coisas gostosas e excelentes se foram de ti, e não mais as acharás. E os frutos de tua alma, tu entregaste à luxúria depois - kai h opwra thv epiqumiav thv yuchv sou. Como opwra significa outono, algum e todos os tipos de frutos do outono podem ser simbolizados pela palavra no parágrafo acima. Iguaria fina e vistosa – ta lipara? Iguarias para mesa. La lampra, que é vestuário esplêndido e caro. 186 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 18:15 – Os mercadores destas coisas, que com elas se enriqueceram, estarão de longe, pelo temor do seu tormento, chorando e lamentando, Permanecerão longe – Veja versículo 10. 18:16 – E dizendo: Ai, ai daquela grande cidade! que estava vestida de linho fino, de púrpura, de escarlata; e adornada com ouro e pedras preciosas e pérolas! porque numa hora foram assoladas tantas riquezas. Vestido com fino linho e púrpura, etc. – O verbo periballesqai, que traduzimos como vestido, significa frequentemente abundar, enriquecer, carregar-se de, e é usado pelos melhores escritores gregos; veja muitos exemplos em Kypke. Esses artigos não deverão ser considerados aqui como ornamentos pessoais, mas como artigos de intercâmbio de mercadorias ou comério, que esta cidade negociava. 18:17 – E todo o piloto, e todo o que navega em naus, e todo o marinheiro, e todos os que negociam no mar se puseram de longe; Todo capitão de navio – Capitães das embarcações; alguns dizem que pilotos é o significado aqui, e isto mais igualmente traduz a palavra original kubernhthv. Esta descrição parece tomada de Ezequiel 27:26-28 “Os teus remadores te conduziram sobre grandes águas; o vento oriental te quebrou no meio dos mares. As tuas riquezas, as tuas feiras, e tuas mercadorias, os teus marinheiros, os teus pilotos, os que consertavam as tuas fendas, os que faziam os teus negócios, e todos os teus soldados, que estão em ti, juntamente com toda a tua companhia, que está no meio de ti, cairão no meio dos mares no dia da tua queda, Ao estrondo da gritaria dos teus pilotos tremerão os arrabaldes”. E toda a frota em navios - kai pav epi twn ploiwn o omilov? A multidão ou passageiros a bordo. Mas a melhores versões têm kai pav o epi topon plewn, aqueles que velejam, de lugar para lugar, ou tal que param em lugares específicos na costa, sem executarem toda a viagem. Isto marca suficientemente o comércio na costa do mar Mediterrâneo. Alguns deveriam desembarcar (vindo de Roma), na ilha da Sicília, outros em diferentes portos da Grécia; alguns em Corinto; outros, em Creta, ou nas várias ilhas do Mar Egeu. Alguns em Rhodes, Pamfilia, etc...; e como naqueles tempos a bússola era desconhecida, toda viagem era executada ao longo da costa, mantendo sempre, se possível, a terra ao alcance da vista. 187 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 18:18 – E, vendo a fumaça do seu incêndio, clamaram, dizendo: Que cidade é semelhante a esta grande cidade? Que cidade é como esta grande cidade – Em magnitude, poder, e luxúria. 18:19 – E lançaram pó sobre as suas cabeças, e clamaram, chorando, e lamentando, e dizendo: Ai, ai daquela grande cidade! na qual todos os que tinham naus no mar se enriqueceram em razão da sua opulência; porque numa hora foi assolada. Eles jogaram poeira em suas cabeças – Eles mostraram todo sinal de sincera aflição. A lamentação sobre esta grande cidade arruinada, versículo 9:19 “Porque o poder dos cavalos está na sua boca e nas suas caudas. Porquanto as suas caudas são semelhantes a serpentes, e têm cabeças, e com elas danificam”, é muito forte e bem traçada. Aqui não existe tristeza dissimulada; tudo é real para os murmuradores, e aflitivo para os observadores. 18:20 – Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos apóstolos e profetas; porque já Deus julgou a vossa causa quanto a ela. Regozija-te sobre ela, tu céu – Isto é grande e sublime; a queda desta cidade má causa aflição aos homens maus. Mas como esta cidade foi uma perseguidora do santo, e um inimigo das palavras de Deus, os anjos, apóstolos, e profetas são chamados se para regozijarem sobre sua queda. 18:21 – E um forte anjo levantou uma pedra como uma grande mó, e lançou-a no mar, dizendo: Com igual ímpeto será lançada Babilônia, aquela grande cidade, e não será jamais achada. Esta grande Babilônia será atirada com força ao chão – Esta ação é forçosamente expressada pelas palavras originais. A pedra de moinho, na queda, não tem apenas uma força acelerada, devido à lei da gravidade, mas esta força será grandemente aumentada pelo poder do anjo destruidor. Não mais será encontrada, afinal – Em seu governo, importância, ou influência. Isto é verdade da antiga Babilônia; embora não estejamos certos do local onde ela se encontra. É também verdade de Jerusalém; seu governo, importância e influência se foram. Não é verdade da Roma pagã; nem, até agora, da Roma papal: a última existe ainda, e a primeira está mais intimamente misturada com ela; porque em seus serviços religiosos, a Roma papal tem 188 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE mantido a linguagem dela, e muitos dos seus templos pagãos, e tem dedicado aos santos verdadeiros ou reputados, e incorporado muitos de suas superstições e absurdos no serviço professadamente cristão. É verdade também que muitos ídolos estão agora restaurados sob os nomes de santos cristãos! 18:22 – E em ti não se ouvirá mais a voz de harpistas, e de músicos, e de flautistas, e de trombeteiros, e nenhum artífice de arte alguma se achará mais em ti; e ruído de mó em ti não se ouvirá mais; A voz dos harpeiros, etc. – Isto parece não apenas indicar apenas uma total destruição da influência, etc., mas também da existência. É como se esta cidade fosse tragada por um terremoto, ou queimada pelo fogo do céu. 18:23 – E luz de candeia não mais luzirá em ti, e voz de esposo e de esposa não mais em ti se ouvirá; porque os teus mercadores eram os grandes da terra; porque todas as nações foram enganadas pelas tuas feitiçarias. Por tuas feitiçarias – Artimanhas políticas, embustes, milagres simulados, e artifícios enganosos de todo tipo. Isto pode ser falado das muitas cidades grandes do mundo, que ainda continuam a florescer! 18:24 – E nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos na terra. Nela foi encontrado o sangue dos profetas, etc.. – Ela foi a perseguidora e assassina dos profetas e dos homens justos. E de todos que foram assassinados na terra – Isto se refere aos seus conselhos e influência, excitando as outras nações e povos a perseguirem e destruírem todos os verdadeiros seguidores de Deus. Não existe cidade para a qual essas coisas são ainda aplicáveis, portanto, podemos presumir que a profecia permanece ainda a ser cumprida. [suprimido texto Bispo Bale, a respeito da Igreja Católica Romana] Esta é uma linguagem muito clara, e, assim, sobre todos os aspectos, um sistema monstruoso de superstição e idolatria foi atacado pelos nossos Reformadores, e com essas armas, sem lustre, dirigidas pelo Espírito do Deus vivo, o papado foi tirado de seu trono, do tribunal, das universidades, e das igrejas deste reino protegido. E através de uma aplicação apropriada das 189 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Escrituras, e pela difusão universal da palavra de Deus, ele será levado da face do universo. E quando as astúcias dos homens estiverem separadas da Igreja, e ela se torna verdadeiramente regenerada (e disto, ela é altamente capaz, uma vez que, em meios aos seus monstruosos erros e absurdos, ela contém todas as verdades essenciais de Deus), ela se tornará um louvor e glória na terra. Os Protestantes não desejam sua destruição, mas sua reforma. Alguns, até pelo zelo com a verdade, gostaria de fazer todo o edifício em pedaços; mas este não é o método de Deus: ele destrói o que é diabólico, e poupa o que é bom. É da reforma, e não da aniquilação, que esta Igreja necessita. 190 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XIX Todos os habitantes do céu dão glória a Deus, porque ele julgou a grande prostituta, e vingou o sangue de seus santos, 1-6. O casamento do Cordeiro e sua noiva, 7-9. João oferece-se para adorar o anjo, mas é impedido, 10 - O céu é aberto, e Jesus, a Palavra de Deus, aparece sobre um cavalo branco; ele e seus exércitos são descritos, 11-16. Um anjo no sol convida todas as aves do céu, para a ceia do grande Deus, 17,18. A besta, o falso profeta, e os reis da terra, se reúnem para declarar guerra com aquele que se senta sobre o cavalo branco; mas eles estão todos derrotados, e completamente destruídos. 19-21. Notas Sobre o Capítulo XIX 19:1 – E, DEPOIS destas coisas ouvi no céu como que uma grande voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus; Eu ouvi uma grande voz, de muitas pessoas no céu – Com a cidade idólatra destruída, e o sangue dos santos mártires vingado, existe uma alegria universal em meio aos remidos do Senhor, que se inicia com a Aleluia, louvor a Jeová; que a Septuaginta, e o João delas, colocam nas letras Gregas assim: allhlouia, Aleluia, uma forma de louvor que os pagãos parecem ter emprestado dos judeus, como está evidente em seus peãs, ou hinos em honra de Apolo, que começa e termina com eleleu ih, eleleu ie, uma mera corrupção das palavras Hebraicas. É merecedor de nota que os índios norte americanos têm a mesma palavra em sua adoração religiosa, e usam-na no mesmo sentido. “Em seus lugares de adoração, ou quadra amada, eles dançam, algumas vezes, por toda a noite, sempre em uma postura reverente, e frequentemente cantando halleluyah Ye ho wah; louvor ye Yah, Ye ho vah”: provavelmente, a pronúncia verdadeira do Hebraico hwhy, e que chamamos de Jeová. Veja a História dos índios Americanos, de Adair. Salvação – Ele é o único autor do livramento do pecado; e esta glória pertence a ele, a honra, atribuída a ele, e seu poder é o único, através do qual isto é efetuado. 191 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 19:2 – Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos. Porque verdadeiros e justos – Seus julgamentos, em apoio aos seus seguidores, e a punição aos seus inimigos, são verdadeiros – tudo de acordo com suas predições; e retos, por serem concordantes com a justiça e a equidade infinita. 19:3 – E outra vez disseram: Aleluia! E a fumaça dela sobe para todo o sempre. A fumaça dela subiu – É a evidência e continuará a ser, dos julgamentos executados por Deus, nesta grande prostituta ou cidade idólatra; que não será mais restaurada. 19:5 – E saiu uma voz do trono, que dizia: Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós que o temeis, assim pequenos como grandes. Os vinte e quatro anciãos – A Igreja verdadeira do Senhor Jesus, convertida em meio aos judeus. Veja capítulo 4:10 “Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono”.; 5:14 “E os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e adoraram ao que vive para todo o sempre”. Versículo 5 – Louvem nosso Deus, etc – Que todos, quer remidos, dentre os judeus, ou gentios, dêem glória a Deus. 19:6 – E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia: Aleluia! pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina. A voz de uma grande multidão – Esta é a Igreja católica ou universal de Deus, reunida em meio aos gentios. O Senhor Deus Onipotente reina – A maioria das versões, com Andréas e Arethas, os dois estudiosos antigos deste livro, de acordo com o texto, lêem enfaticamente assim: NOSSO Senhor Deus, o Altíssimo, reina. Que consolação, a todo cristão genuíno, é saber que SEU Senhor e Deus é o 192 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Altíssimo, e que este Altíssimo nunca confia o reino do governo do universo fora de suas mãos! O que, portanto, sua Igreja deve temer? 19:7 – Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. O casamento do Cordeiro está chegando – O significado dessas expressões parecem ser esta: Depois desta destruição da idolatria e suprestição, e a derrota do anticristo, haverá um estado mais glorioso do Cristianismo do que havia anteriormente. 19:8 – E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos. Vestido em fino linho – Uma predição que a Igreja se tornaria mais pura em suas doutrinas, mais piedosa em sua prática, e mais justa em sua conduta, do que alguma vez foi, desde sua formação. O fino linho aqui não significa a retidão de Cristo, imputada aos crentes, porque ela é chamada aqui de retidão dos santos – que a graça e o Espírito de Cristo têm forjado neles. 19:9 – E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E disse-me: Estas são as verdadeiras palavras de Deus. Abençoados são aqueles que são chamados à ceia do casamento – Esta é uma alusão ao casamento do filho do rei, Mateus 22:2 “O reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho”., etc., onde a encarnação de nosso Senhor, e o chamado dos judeus e gentios, são especialmente apontados. Vejas as notas do versículo. Abençoados são todos os que ouvem o Evangelho, e são assim convidados para se agarrarem à vida eterna. 19:10 – E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia. Eu caí aos seus pés para adorá-lo – Por maior que este anjo tenha sido, João não poderia confundi-lo com Jesus Cristo, ou com Deus, o Pai; nem sua 193 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE prostração foi um ato de adoração religiosa. Mas, meramente, um ato de reverência, como o que algum asiático prestaria ao seu superior. Seu erro foi achar que estivesse em obrigação para com o anjo, pela informação que ele agora recebera. Este erro, o anjo muito apropriadamente corrige, mostrando que sua inteligência veio de Deus apenas, e que a Ele era devido o louvor. Eu sou teu servo – Minha dignidade não é mais elevada do que a tua; empregado pelo mesmo Deus, na mesma missão, e com o mesmo testemunho; e, portanto, não destinado para tua prostração: adora a Deus – prostra-te diante dele, e a ele dá graças. O testemunho de Jesus é o espírito de profecia – Como esta é a razão dada pelo anjo do por que ele não poderia adorá-lo, o significado deve ser este: Eu, que recebi este espírito de profecia, não sou superior a ti que recebeste o testemunho de Cristo, para pregá-lo em meio aos gentios; esta incumbência que contém tal testemunho é igual ao dom do espírito de profecia. Ou, o espírito de profecia é um testemunho geral, concernente a Jesus, porque ele é a extensão e o desígnio de toda a Escritura; a Ele, todos os profetas testemunham. Tirem Jesus, sua graça, Espírito, e religião da Bíblia, e ela não terá extensão, desígnio, objetivo, nem finalidade. 19:11 – E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. Um cavalo branco – Esta é uma exibição do triunfo de Cristo, depois da destruição de seus inimigos. O cavalo branco é o emblema disto; e FIÉL E VERDADEIRA é a natureza de Cristo. Veja capítulo 3:14 “Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”. Na retidão, ele julga e guerreia – As guerras que ele empreende não são por razões de ambição, luxúria, ou expansão de conquista e domínio; elas são justas em seu princípio e em seu objetivo. E isto, talvez, é o que nenhum potentado humano alguma vez poderia dizer. 19:12 – E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo. 194 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Seus olhos eram como uma chama de fogo – Para denotar a natureza perfurante e penetrante de sua sabedoria. Sobre sua cabeça havia muitas coroas – Que denotam suas inúmeras conquistas e a extensão de seu domínio. Um nome escrito, que nenhum homem conheceu – Esta é a referência do que os rabinos chamam de shem hammephorash, ou o tetragamato, hwhy YHVH; ou o que chamamos de Jeová. Este nome, os judeus nunca tentaram pronunciar: quando o encontraram na Bíblia, eles leram ynda, Adonai; mas, para o homem, declaram que ninguém poderia pronunciá-lo; e que a verdadeira pronúncia perdeu-se, pelo menos, desde a captura de Babilônia; e que somente Deus sabe a verdadeira interpretação e pronúncia. Este, portanto, é o nome que nenhum homem conheceu, a não ser o próprio Deus. 19:13 – E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus. Sua veste estava respingada de sangue – Para mostrar que ele chegará de um recente massacre. A descrição é tomada de Isaías 63:2,3 “Por que está vermelha a tua vestidura, e as tuas roupas como as daquele que pisa no lagar? Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém houve comigo; e os pisei na minha ira, e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura’, onde Judas Macabeu, ou algum outro conquistador, é descrito. A Palavra de Deus – Escrita no Targum, e em outros escritos judaicos, yyd armym meimera daiya, “a palavra de Jeová”, através dos quais, eles sempre significam uma pessoa, e não uma palavra falada. Veja as notas em João 1:1 “NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”, etc... 19:14 – E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. Os exércitos que estavam no céu – Anjos e santos, dos quais Jesus Cristo é o Capitão. Vestidos em fino linho – Todos santos, puros e justos. 19:15 – E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso. 195 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE De sua boca saiu uma espada afiada – Veja capítulo 1:16. “E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece”. O que parece significar a palavra do Evangelho, através da qual seus inimigos são confundidos e seus amigos, sustentados e confortados. Com uma vara de ferro – Ele executará os mais sérios julgamentos sobre os opositores de sua verdade. Ele pisoteará o lagar – Como as uvas são pisadas para se espremer o suco, assim, seus inimigos serão esmagados e batidos, de maneira que o sangue de suas vidas será derramado. 19:16 – E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores. Sobre suas vestes e suas coxas, um nome escrito – Dr. Dodd observou bem, que nesta passagem, “parece ter sido um costume antigo, entre as diversas nações, adornarem as imagens de suas deidades, príncipes, vitoriosos nos jogos públicos, e outras pessoas eminentes, com as inscrições, expressando o caráter das pessoas, seus nomes, ou alguma circunstância que contribuiria para a honra deles; e a este costume a descrição aqui dada de Cristo possivelmente faz alguma alusão”. “Existem diversas dessas imagens, com uma inscrição, quer nas vestes, ou sobre uma das coxas, ou naquela parte da vestimenta que está sobre a coxa; e, provavelmente, este é o significado pretendido pelo apóstolo. E como essas inscrições são colocadas na parte mais alta da vestimenta, Grotius parece muito justamente ter interpretado as palavras epi por imation, através de seu manto imperial, de que seu poder nesta vitória seria manifesto a todos. Mas, como uma confirmação adicional deste significado da passagem, não será impróprio descrever brevemente aqui as figuras notáveis deste tipo, que são ainda existentes”. Esta descrição, eu darei de meu próprio entendimento. 1. HERÓDOTO, falando das ações de Sesostris, e das imagens que ele colocou nas cidades que conquistou, diz o seguinte: “Duas imagens deste homem são igualmente vistas na Iônia, no caminho que leva de Éfeso a Phocaea, e de Sardis a Esmirna. A figura tem cinco palmos de altura; em sua mão direita, ele segura um dardo; em sua esquerda um arco, armado como os Egípcios e Etíopes. Sobre uma linha ao redor do peito, de um ombro a outro, 196 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE estão as palavras em hieróglifo: “Eu conquistei esta cidade, com esses meu ombros”; ou seja, com meu próprio poder. 2. Na Etruria Regalis , de Dempster, no apêndice do segundo volume, existe uma bonita figura feminina de metal, cerca de doze polegadas de altura, o cabelo graciosamente enrolado, e a cabeça adornada com uma tiara. Ela tem uma túnica, sem luvas, e sobre uma espécie de pálio [manto usado pelos antigos gregos e romanos]. Do lado de fora da coxa direita, perto à túnica, e provavelmente sobre ela, no original, está uma inscrição nos caracteres Etruscos. Mas o que esses significam eu não sei. Dempster deu uma explicação geral da imagem no apêndice do volume acima. A própria ilustração é a trigésima-oitava da obra. 3. Existem duas outras imagens, no mesmo autor; a primeira está nua, com exceção de uma pequena túnica solta, ou um tipo de saiote, em torno do quadril, e sobre o braço esquerdo. Sobre a coxa esquerda, existe uma inscrição em caracteres Etruscos. A segunda tem uma túnica similar, mas, bem maior, que se estende da panturrilha de uma perna, e é apoiada sobre ao braço esquerdo curvado. Sobre a coxa direita, em sua veste, existe uma inscrição Etrusca de duas linhas. 4. MONTFAUCON [Bernard], Antiquite Expliquee, introduziu um relato de duas elegantes imagens, que são representadas: A primeira é um guerreiro, inteiramente nu, exceto um colar, um bracelete, e botas. Em sua coxa direita, estendendo-se da virilha até um pouco abaixo do joelho, existe uma inscrição nos caracteres em Etrusco primitivo, em duas linhas. Mas o significado é desconhecido, A segunda é uma pequena figura de metal, cerca de seis polegadas de comprimento, com uma túnica solta, suspensa no ombro esquerdo, descendo até as panturrilhas. Nesta túnica, sobre a coxa esquerda, está uma inscrição (talvez), nos mesmos caracteres do Latim primitivo, mas na Língua Etrusca, como o estudioso autor conjectura. Ela está em uma linha, mas o que significa é igualmente desconhecido. 5. A mesma obra, outro guerreiro Etrusco é representado inteiramente nu; na coxa esquerda estão as seguintes palavras em letras Gregas anciais, kafisodwrov, e sobre a coxa direita, aisclamiou, por exemplo. “Kaphisodouros, 197 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE o filho de Aischlamius”. Todas essas inscrições estão escritas longitudinalmente sobre a coxa. 6. GRUTTER nos dá a figura de um guerreiro nu, com sua mão esquerda sobre um machado, e na parte final da ferramenta, colocada no chão, a seguinte inscrição em sua coxa esquerda. Longitudinalmente escrita, como em todos os outros casos:- A. POBLICIUS. D. L. ANTIOC. TI. BARBIUS. Q. P. L. TIBER. 7 – Os rabinos dizem que “Deus deu aos Israelitas uma espada, sobre a qual o nome inefável hwhy, Jeová, foi escrito; e por quanto tempo eles mantiverem esta espada, o anjo da morte não terá poder sobre eles”. Shemoth Rabba. No recente tratado, séc. 16. fol. 232, 3, e no Rab. Tanchum, fol. 55, é feita menção dos anjos guardiões dos Israelitas, que usavam vestes na cor púrpura, sobre as quais estava inscrito: •rwpmh µ• shem hammephorash, o inefável nome. Veja mais em Shoettgen. 8. Mas o que se aproxima do ponto, com referência ao título dado aqui a Cristo, é o que é relato de Sesostris, por Dlodour US Siculus, de quem Bipont diz: “Depois de levar suas conquistas até Trace, ele ergueu pilares, sobre os quais estavam as seguintes palavras, em hieróglifos Egípcios: Esta província, Sesoosis (Sesostris), REIS DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES, conquistou com suas próprias mãos”. Esta inscrição é concebida, quase nas palavras de João. Agora o historiador Grego não as emprestou do apóstolo, porque ele morreu no reino de Augusto, por volta da encarnação de nosso Senhor. Ela não pode ser a mesma que as inscrições mencionadas acima por Herodotus, uma em Iônia, e a outra em Thrace: mas como ele ergueu diversos pilares ou imagens desses, provavelmente uma inscrição quase similar fosse encontrada sobre cada uma. 9. Este costume parece ter sido comum, em meio aos primitivos Egípcios. Inscrições são frequentemente encontradas nas imagens de Isis, Osíris, Anúbis, etc., nos pés, cabeça, nas costas, na cintura, etc... Oito dessas imagens antigas de minha própria coleção estão cheias dessas inscrições. 1. Osíris, quatro polegadas e um quarto de altura, sobre tronos, todos cobertos com hieróglifos espantosamente entalhados. 198 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 2. Anúbis, seis polegadas de altura, com uma tiara, nas costas, nos caracteres unciais Gregos, legornuq. 3. O Cercopithecus, sete polegadas de comprimento, sentado em um pedestal, e aos seus pés, nos mesmos caracteres, cadeo. 4. Em Isis, por volta de oito polegadas, em suas costas, drugo. 5. Ditto, sete polegadas, belamente talhada, de pé, segurando uma serpente em seu braço esquerdo, e em seus pés, etapugi. 6. Ditto, cinco polegadas e um quarto; e em cuja cintura está pieucudi; mas, parte de sua inscrição parece escondida, sob seus braços, estendidos ao longo do corpo. 7. Ditto, cinco polegadas de altura, coberto com uma estola solta, nas costas, onde existem sete linhas dos caracteres gregos unciais, mas quase apagados. 8. Ditto, quatro polegadas de altura, com um cinto ao redor das costas, imediatamente debaixo dos braços; a parte da frente está escondida em uma espécie de ornamento; na parte que aparece estão esses caracteres, cenla. Esses podem ser todos pretendidos como reis de abrasaxas ou deidades tutelares; e eu os observei, e às suas inscrições, em parte, como ilustração do texto, e parcialmente, para comprometer meus leitores cultos e antiquários nas tentativas de decifrá-las. Eu daria os caracteres Etruscos, sobre outras imagens descritas acima, mas não tenho como imitá-los, exceto, através de gravura. Como esses tipos de inscrições, sobre a coxa, as vestes, e diferentes partes do corpo, estavam em uso em meio às diferentes nações, no expressarem a conduta, qualidades, e conquistas, podemos ficar certos de que João alude a elas, quando representa nosso Soberano Senhor, com uma inscrição sob suas vestes e sobre sua coxa; e não tivéssemos nos certificado de que este é um costume em meio a outras nações, teria sido uma perda, relatarmos sua introdução e significado aqui. 19:17 – E vi um anjo que estava no sol, e clamou com grande voz, dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, e ajuntai-vos à ceia do grande Deus; 199 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Um anjo, no sol – Excessivamente luminoso; todo ele, emitindo raios de luz. Desta representação, Milton tomou sua descrição de Uriel, o anjo do sol. Em Paraíso Perdido. “O arcanjo Uriel, um dos sete que, na presença de Deus, mais próximo ao seu trono, permanece pronto para o comando e são seus olhos, que correm através de todos os céus, e toda a terra, carrega suas mensagens velozes, na chuva ou seca, sobre o mar e sobre a terra”. A todos os pássaros que voam – As carcaças dos inimigos de Deus servirão de comida para todos os pássaros do céu. Isto está de acordo com a tradição judaica, Synopsis Sohar: “Quando Deus executar a vingança, para o povo de Israel, ele alimentará todas as bestas da terra, por doze meses, com a carne, e todos os pássaros, por sete anos”. Sabe-se que as bestas e pássaros de rapina estão acostumados a freqüentarem campos de batalha, e voarem sobre os mortos. 19:18 – Para que comais a carne dos reis, e a carne dos tribunos, e a carne dos fortes, e a carne dos cavalos e dos que sobre eles se assentam; e a carne de todos os homens, livres e servos, pequenos e grandes. E que você coma a carne dos reis – Haverá uma destruição geral; de reis, generais, capitães, e todos os seus exércitos, que serão aniquilados. 19:19 – E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos, para fazerem guerra àquele que estava assentado sobre o cavalo, e ao seu exército. Eu vi a besta – Veja as notas sobre os capítulos 12; e 17. 19:20 – E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre. E a besta e o falso profeta foram presos – Veja as notas sobre o capítulo 17:8 em diante. Os que adoraram sua imagem – A besta tem sido representada como o Império Latino; a imagem da besta, os papas de Roma; e o falso profeta, o clero papal. 200 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Foram atirados vivos em um lago de fogo – Foram derrotados enquanto vivos – no apogeu de seu poder, e destruídos, com uma destruição extrema. 19:21 – E os demais foram mortos com a espada que saía da boca do que estava assentado sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das suas carnes. Com a espada daquele que se sentou sobre o cavalo – Aquele que se sentou sobre o cavalo branco é Cristo, e sua espada é sua palavra – o não adulterado Evangelho. 201 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XX O anjo prende satanás por mil anos, e o tranca no poço do abismo, 1-3. Aqueles que foram decapitados pelo testemunho de Jesus, que têm parte na primeira ressurreição, e reinará com Cristo, durante mil anos, 4-6. Quando os mil anos acabarem, satanás será solto da prisão, e tentará enganar as nações, e se unirá a Gomer e Magogue, dos quatro cantos da terra, 7, 8. Esses sitiarão a cidade santa; mas o fogo virá do céu e os consumirá, e eles e o diabo serão lançados no fogo do inferno, 9,10. O grande trono branco, e o morto, pequeno e grande, diante de Deus, e todos serão julgados, conforme suas obras, 11,12. O mar, morte, e hades, desistiram de seus mortos, e são destruídos, e todos que não estiverem no livro da vida serão lançados no fogo do inferno, 12-15. 202 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Notas Sobre o Capítulo XX 20:1 – E VI descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. E o anjo desceu do céu – Um dos executores da justiça Divina que recebe criminosos, e os mantém na prisão, e os liberta apenas para serem julgados e executados. A chave da prisão e a cadeia mostram quem ele é; e como a cadeia era grande, mostra que o criminoso não foi acusado de crimes comuns. 20:2 - Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. O dragão – Veja as notas do capítulo 12:9. A velha serpente que é o diabo, e satanás – Aquele que é chamado de a velha serpente é o diabo – o caluniador, e satanás – o opositor. Aquele que supõe que o termo velha serpente aqui prova plenamente que a criatura que tentou nossos primeiros pais é verdadeiramente uma cobra, deve desfrutar de sua opinião; e aqueles que podem receber tal explicação, que ele o receba. Selá. [Sela - palavra de significado desconhecido, normalmente apresentada ao final de um versículo dos Salmos - tradutora]. Durante mil anos – No que consiste esta prisão de satanás, quem poderá dizer? Quantas interpretações têm existido sobre este assunto, tanto nos tempos primitivos quanto modernos! Isto, e o que é dito no versículo 3-5, não há dúvida, de que se refere ao tempo em que a influência de satanás será grandemente restringida, e a verdadeira igreja de Deus desfrutará de grande prosperidade, que deverá durar por um longo tempo. Mas não é igualmente que o número, mil anos, seja tomado literalmente aqui, e anos, simbólica e figurativamente em todo o livro além. A doutrina do milênio, ou aquela dos santos, reinando sobre a terra, por mil anos, com Cristo, como o líder deles, tem sido ilustrada e defendida, por muitos escritores cristãos, em meio aos primitivos e modernos. Fosse eu dar uma coleção de conceitos dos patriarcas primitivos sobre este assunto, meus leitores teriam pouco motivo para aplaudirem meus esforços. Tem sido uma expectativa inútil de muitas pessoas de que o milênio, no entendimento deles, 203 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE estivesse à mão; e seu início, esperado em todos os séculos, desde a era cristã. Foi fixado em diferentes anos, durante, até mesmo, o período de minha própria vida! Eu acredito que essas predições são em vão, e vivo para vê-las cumpridas. Ainda assim, não existe dúvida de que a terra está em um estado de um crescimento moral progressivo, e que a luz da verdadeira religião está brilhando mais copiosamente em todos os lugares, e brilhará mais e mais até o dia perfeito. Mas, quando a religião de Cristo estará em seu apogeu de luz e aquecimento, não sabemos. Em cada crente isto pode rapidamente tomar lugar; mas, provavelmente, nenhum tempo, alguma vez, aparecerá, em que o mal seja totalmente banido da face da terra, até depois do dia do julgamento, quando a terra, tendo sido queimada, um novo céu e uma nova terra surgirão das ruínas da velha, através do poder imenso de Deus: e apenas a retidão habitará nela. A fraseologia do apóstolo aqui parece parcialmente ser tomada dos profetas antigos, e, parcialmente, dos rabinos; e é o uso judaico desses termos que nós procuramos para a interpretação deles. 20:3 - E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo. Ele não mais enganará as nações – Será incapaz de cegar os homens com superstição e idolatria, como fizera anteriormente. 20:4 – E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. E vi tronos – O Cristianismo estabelecido na terra, os reis e governos, todos cristãos. Reinou com Cristo, mil anos – Eu estou satisfeito que este período não seja tomado literalmente. Ele pode significar que existirá um longo e imperturbável estado do Cristianismo; e tão universalmente o espírito evangélico prevalecerá que parecerá, como se Cristo reinasse sobre a terra; o que, em efeito, será o caso, porque seu Espírito deverá governar nos corações dos homens; e neste tempo, os mártires são representados como vivendo novamente; seus testemunhos, revividos, e a verdade, pela qual eles morreram, e que foi confirmada pelo sangue deles, agora prevalecendo em todos os lugares. Quanto ao termo mil anos, ele é um número místico em meio aos 204 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE judeus. Midrash Tillin, em Salmos 90:15 - Alegra-nos, conforme os dias em que nos afligiste, e acrescenta: “Através dos Babilônicos, Gregos e Romanos; e nos dias do Messias. Quantos são os dias do Messias? Rab. Eliese , o filho do Rabino José, da Galiléia, diz: Os dias do Messias são mil anos”. Sanhedrin, citado por Aruch, de acordo com a palavra qrya, diz: “Existe uma tradição na casa de Elias, de que o justo, a quem o santo e abençoado Deus fará ressurgir dos mortos, não retornará novamente ao pó; mas pelo espaço de mil anos, no qual o santo e abençoado Deus reinará no mundo, ele terá asas como as asas de águias, e voará sobre as águas”. Parece, portanto, que esta fraseologia é puramente rabínica. Ambos os Gregos e Latinos têm a mesma forma de discurso, no falar sobre o estado do justo e do pecaminoso, depois da morte. Existe alguma coisa parecida, na República de Platão, onde, falando de Eros, filho de Armênio, que voltou à vida, depois de morto por doze dias, e que descreveu o estado das almas que partiram, afirma “que algumas eram obrigadas a fazerem uma longa peregrinação, debaixo da terra, antes que despertassem para o estado de felicidade, e que esta era uma jornada de mil anos”, e acrescenta, “de maneira que, como a vida do homem é avaliada em cem anos, aqueles que têm sido pecaminosos sofrem, em outro mundo, uma punição dez vezes maior, e, portanto, por mil anos”. Uma doutrina similar prevaleceu em meio aos Romanos; e se eles a emprestaram dos Gregos, ou dos judeus rabínicos, não podemos afirmar. Assim, Virgilio, falando da punição do pecaminoso, nas regiões infernais, diz: - “Mas, quando os mil anos se passarem, por quanto tempo sua punição melancólica durar, os espíritos serão levados, pelo deus poderoso, a beberem da profunda correnteza de Leteu. Em extensos e esquecidos jogos de damas, para descansarem das preocupações com seus esforços passados, e de seus enfadonhos anos; para que, esquecendo-se da dor anterior, suas almas possam vestir-se com carne novamente”. Mas, como o apóstolo aplica esta tradição geral, ou em que sentido ele pode usá-la, quem poderá dizer? 20:5 – Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. O descanso dos mortos que não reviveram – Geralmente se supõe, dessas passagens, que todos que foram martirizados pela verdade de Deus ressuscitarão, mil anos antes dos outros mortos, e reinarão com Cristo sobre a terra, durante aquele tempo, e, depois disto, os mortos em geral serão ressuscitados; mas isto também é muito duvidoso. 205 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 10:6 – Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos. Abençoados – makariov? Felizes – E santos; eram santos, e, portanto, sofreram pelo testemunho de Jesus, numa época em que nada, a não ser a santidade era chamada para tal provação. A primeira ressurreição – Possivelmente, a que se refere aos mártires, mencionados acima. A segunda morte – Punição no mundo eterno, tal é a aceitação da frase em meio aos anciãos judeus. Não tem poder – Não tem autoridade, nem domínio sobre eles. Este é também um modo rabínico de falar. Em Erubin; Chagiga: “Res Lakish diz que o fogo do inferno não tem poder sobre um Israelita que peca. Rab. Elieser diz que o fogo do inferno não tem poder sobre os discípulos dos homens sábios”. 20:7 – E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão, Satanás será solto – Como isto poderia ter algum tipo de interpretação literal? Satanás é preso por mil anos, e a terra está em paz; a retidão floresce, e apenas Jesus Cristo reina. Este estado de coisas poderia continuar para sempre, se a prisão de satanás continuasse. Satanás, no entanto, é solto quando terminam os mil anos, e sai, e engana as nações, e a paz é banida da face da terra, e a mais terrível guerra toma lugar, etc... etc... Essas podem ser apenas representações simbólicas. Extremamente incapazes do sentido geralmente colocado sobre elas. 20:8 – E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha. Gogue e Magogue – Que parece ser quase literalmente tomado do Targum de Jerusalém, e aquele de Jonathan ben Uzziel, de Números 11:26 Eu citarei todo o versículo: “ Havia dois homens no campo, o nome de um era Eldade, o do outro, Medade, e sobre eles o espírito da profecia repousou. Eldade profetizou e disse: ‘Abençoado, Moisés, o profeta, o escriba de Israel, deve ser levado deste mundo, e Josué, o filho de Num, capitão do exército, deverá sucedê-lo’. Medade profetizou e disse: ‘Observem, as cordonizes 206 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE surgirão do mar, e serão uma pedra de tropeço para Israel’. Então eles profetizaram juntos, e disseram: ‘No fim dos tempos, Gogue e Magogue e seu exército virão para Jerusalém novamente, e cairão, pela mão do Rei Messias; e por sete anos ao todo, os filhos de Israel ascenderão suas tochas com a madeira de suas máquinas belicosas, e não irão à floresta, nem cortarão qualquer árvore”. No Targum de Jonathan ben Uzziel, neste mesmo lugar, o mesmo relato é dado; apenas a última parte, o conjunto da profecia de Eldade e Medade, é mais circunstancialmente dado: “E ambos profetizaram, e disseram: ‘Observe, o rei virá da terra de Magogue, nos últimos dias, e se reunirá aos reis, e os líderes se vestirão com armaduras, e todos o obedecerão; e eles promoverão a guerra na terra de Israel contra os filhos cativos, mas a hora da lamentação, há muito, está preparada para eles (ou eles serão mortos pelo fogo que vêm do trono da glória, e as carcaças de seus mortos cairão sobre as montanhas de Israel; e todas as bestas selvagens do campo, e as aves do céu, virão e devorarão suas carcaças; e, mais tarde, todos os mortos de Israel ressuscitarão, e desfrutarão dos deleites preparados para eles, desde o início, e deverão receber a recompensa de seus mundos’”. Este relato parece mais evidentemente ter sido copiado por João, mas como ele pretendeu que ele fosse aplicado, é uma questão muito difícil de ser resolvida, através da habilidade do homem; ainda assim, ambos os relatos nos rabinos e no de João são fundamentados em Ezequiel 38:1-2 “Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, dirige o teu rosto contra Gogue, terra de Magogue, príncipe e chefe de Meseque, e Tubal, e profetiza contra ele”.39:1 “Tu, pois, ó filho do homem, profetiza ainda contra Gogue, e dize: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu sou contra ti, ó Gogue, príncipe e chefe de Meseque e de Tubal”. 39:11 “sucederá que, naquele dia, darei ali a Gogue um lugar de sepultura em Israel, o vale dos que passam ao oriente do mar; e pararão os que por ele passarem; e ali sepultarão a Gogue, e a toda a sua multidão, e lhe chamarão o vale da multidão de Gogue”. Os escritos rabínicos são cheios de relatos, concernentes a Gogue e Magogue, dos quais Wetstein fez uma bonita coleção em suas notas sobre este local. Sob esses nomes, os inimigos da verdade de Deus são geralmente pretendidos. 20:9 – E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou. A amada cidade – Primeiramente, Jerusalém, tipicamente, a Igreja Cristã. 207 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 20:10 – E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre. E o diabo foi lançado no lago – Antes, satanás foi preso, ou seja, seu poder foi reduzido e reprimido; agora, ele é lançado no lago de fogo, e seu poder é totalmente destruído. 20:11 – E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles. Um grande trono branco – Refulgente, com majestade gloriosa. Aquele que se senta nele – O indescritível Jeová. De cuja face, a terra e céu fogem – Até mesmo o brilho de seu semblante dissolveu o universo e aniquilou as leis pelas quais ele era governado. Está é uma figura muito majestosa, e finamente expressada. Não haverá lugar para eles – A gloriosa majestade de Deus, preenchendo todas as coisas, e sendo tudo em todos. 20:12 – E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. Os mortos, pequenos e grandes – Todas as categorias, graus, e condições de homens. Esta descrição parece referir-se a Daniel 7:9,10 “Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um ancião de dias se assentou; a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça como a pura lã; e seu trono era de chamas de fogo, e as suas rodas de fogo ardente. Um rio de fogo emanava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros”. E os livros foram abertos – Veja Daniel 12:1 “E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve 208 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro”. “Rab. Jehuda diz: Todas as ações dos homens, quer boas ou más, estão escritas em um livro, e de todas, eles prestarão contas” - Sohar Gen. “Quão cuidadosos os homens seriam para afastarem-se dos maus hábitos, e agirem corretamente diante do santo Deus abençoado, uma vez que existem tantos que seguem através da terra, vêm as obras dos homens, as testificam, e as escrevem em um livro!”. “No primeiro dia do novo ano, o santo Deus abençoado senta-se para que ele possa julgar o mundo; e todos os homens, sem exceção, darão um relato de si mesmos; e os livros dos vivos, e dos mortos, são abertos”. Shohar Chadash. Os livros mencionados aqui foram os livros dos mortos e dos vivos, ou o livro da vida e o livro da morte: ou seja, o relato das boas e más ações dos homens; o primeiro, conduzindo à vida; o segundo, à morte. João, evidentemente, alude aqui a Daniel 7:10 “Um rio de fogo emanava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros”; sobre os quais o relato rabínico dos livros parecem estar fundamentados. As expressões são figurativas em ambos. De acordo com suas obras – E de acordo com a fé deles também, porque suas obras seriam a prova, se a fé deles era verdadeira ou falsa; mas a fé exclusivamente não seria a regra em tal procedimento. 20:13 – E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. O mar desistiu dos mortos – Aqueles que se afogaram nele, e esses milhões mortos em batalhas navais, que não tinham outra sepultura. E os mortos – Todos que morreram, de algum tipo de doença. A morte está aqui personificada e representada, como proprietária dos defuntos humanos; provavelmente, não mais do que a terra ou a sepultura seja significada, como propriamente pertencendo ao império da morte. 209 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E inferno – Hades, o lugar dos espíritos separados. O mar e a morte têm os corpos de todos os seres humanos; o hades tem seus espíritos. Para que eles possam ser julgados, e punidos, ou recompensados, de acordo com suas obras, seus corpos e almas devem ser reunidos; hades, portanto, desistiu dos espíritos; e o mar e a terra desistiram dos corpos. 20:14 – E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E a morte e inferno foram lançados no fogo – A própria morte está agora abolida, e o lugar para os espíritos separados não é mais necessário. Todos os corpos dos mortos, e almas separadas são reunidos, e não mais haverá separação de corpos e almas, pela morte; consequentemente, a existência dessas coisas não será mais necessária. Esta é a segunda morte – A primeira consistiu na separação da alma do corpo por um tempo; a segunda, na separação do corpo e alma de Deus, para sempre. A primeira morte é aquela da qual pode haver uma ressurreição; a segunda, é aquela da qual pode haver nenhuma recuperação. Através da primeira, o corpo é destruído no decurso do tempo; da segunda, o corpo e alma são destruídos, por toda a eternidade. 20:15 – E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo. Escritos no livro da vida – Apenas aqueles que continuaram fiéis até a morte foram levados para o céu. Todos, cujos nomes não foram encontrados nos registros públicos, quer não fossem cidadãos, ou seus nomes foram apagados desses registros, por causa dos crimes contra o estado, não poderiam reivindicar coisa alguma daqueles emolumentos ou privilégios que pertencem aos cidadãos; de maneira que os que nem pertenceram à nova e espiritual Jerusalém, ou transgrediram seus direitos e privilégios pelo pecado, e morreram, naquelas condições, foram lançados no lago de fogo. Esta é a maneira como Deus, no dia do julgamento procederá com os pecadores e apóstatas. Leitor, vê que teu nome esteja escrito no registro sagrado, e, se escrito nele, vê que nunca seja apagado. 210 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XXI O novo céu e nova terra, 1. A nova Jerusalém, 2. Deus habita com os homens; o estado feliz de seus seguidores, 3, 7. O estado miserável do ímpio, 8. Um anjo mostra a João, a cidade santa, a Nova Jerusalém, 9, 10. Sua luz, seus muros, portões, e fundações, descritos, 11,12. Deus e o Cordeiro são o templo e o conhecimento dela, 22, 23. As nações e reis da terra dão sua glória e honra a ela; seus portões nunca se fecharão, nem qualquer profanação entrará, 24,27. Notas Sobre o Capítulo XXI 21:1 – E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Um novo céu e uma nova terra – Veja as notas sobre II Pedro 3:13 “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça”. Os anciãos judeus acreditavam que Deus renovaria os céus e a terra, quando terminassem os sete mil anos. A suposição geral, eles fundamentaram de Isaias 65:17 “Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão”. O mar deixará de existir – Não haverá mais mar, como havia no primeiro céu e terra. Tudo se fará novo, e, provavelmente, o novo mar ocupará uma diferente posição e, com relação ao velho mar, será diferentemente distribuído. No entanto, com respeito a esses assuntos, e como eles se apresentam neste mais figurativo livro; eu devo me expressar nas palavras de Calmet: “Dizer o que significam os novos céus e nova terra, e quais são seus ornamentos e qualidades, é, em minha opinião, a maior de todas as presunções. Em geral, essas figuras de linguagem indicam grandes alterações no universo”. 21:2 – E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E eu, João – O autor deste livro; que o evangelista e apóstolo, ou João, o presbítero Eféseo, durante muito tempo, duvidou-se na Igreja. 211 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Nova Jerusalém - Vejas as notas de Gálatas 4:24-27 “O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; e é mãe de todos nós”. O que significa, sem dúvida, a Igreja Cristã, em um estado de grande prosperidade e pureza; mas alguns acreditam que se trate da bênção eterna. Vindo de Deus – É uma máxima dos judeus anciãos que ambos, o tabernáculo e o tempo, e a própria Jerusalém, vêm do céu. E em Midrash Hanaalem, Sohar Gen, Rabino Jeremias diz: “O Santo Deus abençoado renovará o mundo, e construirá Jerusalém, e isto fará com que ela desça do céu”. A opinião é que existe um templo espiritual, um tabernáculo espiritual e uma Jerusalém espiritual; e que nenhum desses pode ser destruído, porque eles subsistem em seus representantes espirituais. Veja Schoettgen. 21:3 – E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. O tabernáculo de Deus é com os homens – Deus, de uma maneira muito especial, habita em meio aos seus seguidores, difundindo seu conhecimento e vida em todos os lugares. 21:4 – E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. Não haverá mais morte – Porque haverá uma ressurreição geral. E esta é a inferência que Paulo faz de sua doutrina da ressurreição geral, I Coríntios 15:26, onde ele diz que “O último inimigo a ser aniquilado será a morte”. Mas a morte não pode ser destruída, porque não existe morte, simplesmente; a morte pode apenas ser destruída e aniquilada por uma ressurreição geral; se não existir ressurreição geral, é mais evidente que a morte ainda mantenha seu império. Portanto, o fato de que não existirá mais morte, assegura o fato de que haverá uma ressurreição geral; e esta também é uma prova de que, depois da ressurreição, não mais existirá morte. Veja o todo da nota de I Cor. 15:27 212 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE “Porque todas as coisas sujeitou-se a seus pés. Mas, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, é evidente, que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas”. 21:5 – E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. Observem, eu faço todas as coisas novas – Como a criação do mundo, desde o princípio, foi obra de Deus apenas, assim, será esta nova criação. Essas palavras são verdadeiras e fiéis – A verdade se refere à promessa dessas mudanças; fidelidade, ao cumprimento delas. 21:6 – E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida. E está feito – Tudo está determinado, e deverá ser cumprido, no devido tempo. O grande drama está terminado, e o que foi pretendido está agora completo; - referindo-se ao período aludido pelo anjo. Eu sou o Alfa e Ômega – Veja capítulo 1:8. A fonte da água da vida – Veja João 4:10,14 “Jesus respondeu, e disselhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado? Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede; nas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna”, etc. Os rabinos consideram a fonte do mundo, como uma das bênçãos especiais de um estado futuro. Em Sanhedrim, Aboth R. Nathan, está escrito: “Ele mostrará a eles a excelência da fonte do mundo futuro, para que possam corretamente ver e considerar, e dizer: Ai de nós! Que coisa boa, perdemos! E nossa descendência foi extirpada da face da terra”.. 213 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 21:7 – Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. Herdarão todas as coisas - Até aqui eles não tinham herança; mas herdarão o reino do céu, e estarão com Deus e Cristo, e terão todas as bênçãos possíveis. 21:8 – Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte. Mas os temerosos – Aqueles que, por temerem perder a vida ou sua propriedade, se recusarem a receber a religião cristã, não obstante, convencidos de sua verdade e importância; ou a tendo recebido, fugirem, não desejando arriscar suas vidas. Os descrentes – Aqueles que resistirem contra toda a evidência – E os pecadores estão acrescidos aqui, por cerca de trinta excelentes MSS, e são encontrados em Sírio, Árabe, alguns em Esloveno; e em Andréas e Arethas. Desta esta evidência, Griesbach admitiu no texto. Os abomináveis – Aqueles que estão contaminados com a luxúria desnaturada. E os assassinos – Aqueles que tiram a vida do homem, por qualquer motivo, unicamente para matar o outro, e aqueles que odeiam um irmão, em seu coração. E os libertinos – Adúlteros, fornicadores, corruptos, prostitutas, e pessoas dissolutas de todo tipo. E os feiticeiros – Pessoas que, através de drogas, poções mágicas, fumigações, etc., fingem produzir efeitos sobrenaturais, principalmente por intervenção espiritual. Idólatras – Aqueles que oferecem qualquer tipo de adoração ou reverência religiosa a qualquer coisa, e não a Deus. Todos os adoradores de imagens são idólatras em todo o sentido da palavra. 214 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE E os mentirosos – Cada um que fala contrário à verdade, quando a conhece, e mesmo aquele que fala a verdade, com a intenção de enganar, de persuadir de que uma coisa é diferente do que ela realmente é, por dizer apenas parte da verdade, ou suprimir algumas circunstâncias que conduziriam o leitor a uma conclusão diferente da verdadeira. Todas essas coisas devem ter sua porção, sua parte, o que pertence a elas, seu direito, no lago que queima com fogo e enxofre. Esta é a segunda morte, da qual não existe recuperação. 21:9 – E veio a mim um dos sete anjos que tinham as sete taças cheias das últimas sete pragas, e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a esposa, a mulher do Cordeiro. A noiva, a esposa do Cordeiro – A pura e santa Igreja Cristã. 21:10 – E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu. Até a grande e elevada montanha – Aquela que se situa acima desta cidade, onde poderia ver toda a rua e alameda. A santa Jerusalém – Veja versículo 2. 21:11 – E tinha a glória de Deus; e a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente. Tendo a glória de Deus – Em vez do sol e lua, ela tem o esplendor de Deus para iluminá-la. Junto à pedra mais preciosa, como jaspe, clara como cristal – Em meio às pedras preciosas existem algumas, da mesma espécie, mais valiosas do que outras: porque o valor delas é proporcional ao fato de estarem livres de imperfeições, e uma boa água, com transparência uniforme e brilhante. Um cristal é perfeitamente claro, o jaspe oriental é uma bonita pedra verde-mar. A pedra, aqui é descrita, é representada como um jaspe perfeitamente transparente, sendo tão limpa, como o cristal mais brilhante, e, consequentemente, é a mais preciosa de sua espécie. Nada pode ser mais delicado do que esta descrição: a luz desta cidade é sempre intensa, igual, e esplêndida: mas ela é tingida com esta nuança verde, com o objetivo de tornar isto agradável à vista. Nada é tão agradável aos olhos, como o azul ou o verde; 215 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE todas as outras cores fadigam; e, se muito intensas, machucam. Essas são as cores da terra e céu, sobre as quais os olhos do homem estão constantemente fixados. A essas cores, a estrutura dos olhos está adaptada, e a aparência geral da terra e céu, adaptada a esta estrutura. 21:12 – E tinha um grande e alto muro com doze portas, e nas portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Tinha um muro grande e alto – Uma defesa poderosa. E doze portões – Um portão para cada tribo de Israel, na vizinhança desse portão, aquela tribo habita; de maneira que vindo e indo, eles não se misturam uns com os outros. Esta descrição da cidade é parcialmente tomada de Ezequiel 48:30-35 “E estas são as saídas da cidade, desde o lado norte: quatro mil e quinhentas canas por medida. E as portas da cidade serão conforme os nomes das tribos de Israel; três portas para o norte: a porta de Rúben uma, a porta de Judá outra, a porta de Levi outra. E do lado oriental quatro mil e quinhentas canas, e três portas, a saber: a porta de José uma, a porta de Benjamim outra, a porta de Dã outra. E do lado sul quatro mil e quinhentas canas por medida, e três portas: a porta de Simeão uma, a porta de Issacar outra, a porta de Zebulom outra. Do lado ocidental quatro mil e quinhentas canas, e as suas três portas: a porta de Gade uma, a porta de Aser outra, a porta de Naftali outra. Dezoito mil canas por medida terá ao redor; e o nome da cidade desde aquele dia será: O SENHOR ESTÁ ALI”. Na Sinopse Sohar, está escrito: “No palácio do mundo vindouro, existem doze portões, cada um endereçado a cada uma das doze tribos, como aquela de Rúben, de Simeão, etc..: aquele, portanto, que é da tribo de Rúben é recebido dentro de nenhum outro dos doze portões, mas apenas no seu, e, assim acontece com os demais”. 21:13 – Do lado do levante tinha três portas, do lado do norte, três portas, do lado do sul, três portas, do lado do poente, três portas. Do lado leste, três portões – A cidade é aqui representada como situada nos quatro pontos cardeais do céu, e apresentando um lado para cada um desses pontos. 21:14 – E o muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro. 216 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE O muro tem doze fundações – Provavelmente, doze pedras, uma das quais serve como alicerce ou a soleira de cada portão; e sobre essas, os nomes dos doze apóstolos, para anunciar que, somente através da doutrina dos apóstolos, as almas entrarão na Igreja e, consequentemente, na Nova Jerusalém. 21:15 – E aquele que falava comigo tinha uma cana de ouro, para medir a cidade, e as suas portas, e o seu muro. Tinha uma cana dourada – Diversas excelentes versões MSS, acrescentaram um metron, uma medida; ele teria a medida de uma vara feita de ouro. Este relato da medida da cidade parece copiada, com variações, de Ezequiel 40:3, etc. “E, havendo-me levado ali, eis que um homem cuja aparência era como a do bronze, tendo um cordel de linho na sua mão e uma cana de medir, e estava em pé na porta”, etc. 21:16 – E a cidade estava situada em quadrado; e o seu comprimento era tanto como a sua largura. E mediu a cidade com a cana até doze mil estádios; e o seu comprimento, largura e altura eram iguais. A cidade estava situada em um quadrado. Todos os lados eram iguais, por conseguinte, o comprimento e largura, também; e está escrito que a altura aqui seria igual ao seu comprimento. É difícil dizer como isto poderia ser entendido. Não poderia significar a altura dos edifícios, nem dos muros, porque nem as casas, nem os muros teriam doze mil furlongs de altura; alguns acreditam que signifique a distância da região plana, até o lugar onde a cidade se encontra. Mas que necessidade há em se tentar determinar tais medidas, em tal representação visionária? A forma quadrangular indica sua perfeição e estabilidade, porque a figura quadrada era uma figura de perfeição em meio aos Gregos, antr tetragwnov, o homem quadrado ou cúbico, era, na opinião deles, um homem de integridade imaculada, perfeito em todas as coisas. 21:17 – E mediu o seu muro, de cento e quarenta e quatro côvados, conforme a medida de homem, que é a de um anjo. O muro, cento e quarenta e quatro côvados – Isto é doze, o número dos apóstolos, multiplicado por si mesmo. A medida de um homem, ou do anjo – O cúbico, assim chamado de cubitus, o cotovelo, é a medida da ponta do cotovelo à ponta do dedo médio, e é geralmente calculada em um pé e meio, ou oitenta polegadas; embora pareça, 217 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE de algumas medidas nas pirâmides do Egito, que o cúbico era, pelo menos em alguns casos, vinte e uma polegadas. Por cúbico de um homem, podemos entender aqui o cúbico comum, o cúbico do anjo que apareceu na forma de um homem. E que a altura pretendida aqui era a largura da medida da cana. Agora, admitindo que o homem e a cana tenham seis pés, e que se pretendeu alguma referência simbólica às doze tribos, mencionadas no versículo 12, e representadas pelos doze portões; e aos doze apóstolos, representados pelas doze soleiras ou fundações; então, vinte e quatro, o número das tribos e apóstolos, multiplicado por seis, precisamente perfaz o número cento e quarenta e quatro. 21:18 – E a construção do seu muro era de jaspe, e a cidade de ouro puro, semelhante a vidro puro. A estrutura do muro era de jaspe – O jaspe oriental é extremamente duro, e quase indestrutível. Os pilares feitos desta pedra duram alguns milhares de anos, e dificilmente sofrem algum dano pela ação do tempo. Puro ouro, como um vidro claro – Isto não implica que os muros foram feitos de algumas pedras belamente brilhantes, completamente polidas? Esta descrição tem sido quase imprudentemente aplicada ao céu; e, em alguns discursos públicos, para o conforto e edificação do virtuoso, o céu é mencionado com seus muros e pavimentos de ouro, portões de pérolas, etc..., sem considerar que nada desta descrição foi alguma vez pretendida, para ser literalmente entendida, e que ouro e jóias podem ter nenhum lugar no mundo espiritual e eterno. Mas, descrições como essas não tendem a manter um gosto pelo ouro e ornamentos? Nos símbolos, eles são apropriados, mas, construídos na realidade, são muito impróprios. Os antigos judeus ensinavam que “quando Jerusalém e o templo fossem construídos, eles seriam todos de pedras preciosas, e pérolas, e safiras, e com todas as espécies de jóias” - Sepher Rasiel Haggadol. Os mesmos autores dividem o paraíso em sete partes ou casas; a terceira, eles descrevem assim: “A terceira casa é construída de ouro e pura prata, e todos os tipos de jóias e pérolas. É muito espaçosa, e nela, todos os tipos de boas coisas, tanto do céu quanto da terra, não encontradas. Todos os tipos de coisas preciosas, perfumes e virtudes espirituais, estão lá plantados. No centro delas, está a árvore da vida, cuja altura é quinhentos anos; (ou, igual na altura à jornada que um homem faria em quinhentos anos), e nela 218 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE habita Abraão, Isaac e Jacó, os doze patriarcas, e todos que vieram do Egito e morreram no deserto. Nessas, Moisés e Arão presidem, e os ensinam a lei”. Etc. Yacult Rubeni. No mesmo tratado, encontramos essas palavras: “Saiba que temos uma tradição, a de que quando o Messias, com os cativos, vierem para a terra de Israel, naquele dia, os mortos em Israel ressuscitarão: e, naquele dia, os muros flamejantes da cidade de Jerusalém descerão do céu, e o templo será construído de jóias e pérolas”. 21:19 – E os fundamentos do muro da cidade estavam adornados de toda a pedra preciosa. O primeiro fundamento era jaspe; o segundo, safira; o terceiro, calcedônia; o quarto, esmeralda; As fundações do muro – Essas não significam as fundações ou soleiras dos portões? Os portões representariam as doze tribos, versículo 12; e essas fundações ou soleiras, os doze apóstolos, versículo 14. Não havia entrada na cidade, a não ser através desses portões, e nenhuma, através dos portões, somente, através dessas soleiras. O todo da dispensação mosaica foi a preparação do sistema evangélico: Sem isto, o Evangelho não teria origem; sem o Evangelho, não haveria referência, nem objetivo apropriado. Cada parte do Evangelho, necessariamente supõe a lei e os profetas. Eles são os portões, ele é a soleira; sem o Evangelho, nenhuma pessoa entraria naqueles portões. A doutrina do Cristo crucificado, pregada pelos apóstolos, fornece um alicerce sólido; e nós temos uma entrada no mais santo, através do sangue de Jesus. Hebreus 10:19, etc. “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus”. E concernente a isto, nos é dito que somos construídos na FUNDAÇÃO dos APÓSTOLOS e profetas, com o próprio Jesus Cristo sendo a principal pedra angular, Eféseos 2:20 “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”. A primeira fundação era de jaspe – Uma pedra muito dura; algumas espécies, de uma cor verde-mar, mas geralmente de um brilho marrom avermelhado. A segunda, de safira – De uma sutil cor azul, quase tão dura quanto o diamante. A terceira, de calcedônia – Um gênero de gemas semitransparentes, das quais existem quatro tipos: 1. Branco-azulado, a mais comum. 2. A com nervuras, na cor leitosa fosca, de pouco valor. 3. A de cor preta acastanhada; a 219 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE menos bonita de todas. 4. A de cor amarela e vermelha, a mais bonita, e a mais valiosa de todas. Até aqui, tem sido encontrada apenas na Índia Oriental. A quarta, de esmeralda – De cor verde brilhante, sem qualquer mistura, e uma das mais bonitas de todas as gemas. A verdadeira esmeralda oriental, que é muito escassa, parece apenas ser encontrada no reino de Cambay. 21:20 – O quinto, sardônica; o sexto, sárdio; o sétimo, crisólito; o oitavo, berilo; o nono, topázio; o décimo, crisópraso; o undécimo, jacinto; o duodécimo, ametista. A quinta, de sardônia – A ônix é uma variedade acidental do tipo ágata; ela é dura, e de cor negra, com uma faixa de um branco azulado, e, algumas vezes, avermelhada. Quando sobre um ou ambos os lados do branco, acontece de ter também uma faixa de cor avermelhada, os joalheiros a chamam de sardônia. A sexta, de sárdio – A pedra sárdio, sardel ou sardine, é uma pedra preciosa de cor vermelho-sangue. A sétima, de crisólita – A pedra de ouro. Ela é de um verde fusco. Com um aspecto de amarelo, e uma das espécies de topázio. A oitava, de berilo – Esta é uma gema transparente de cor verde azulada. A nona, de topázio – de um verde muito pálido, com uma mistura de amarelo. Ela é considerada pelos mineralogistas como uma variedade de safira. A décima, de carisópraso – uma variedade de crisólita, chamada por alguns de verde amarelado, e topázio turvo. Ela difere da crisólita apenas por tem uma coloração azulada. A décima primeira, de jacinto – Uma pedra preciosa de cor vermelha muito pálida, com uma mistura de amarelo. É a mesma que a pedra hessonita ou cinamomo. A decimal segunda, de ametista – Uma gema geralmente de cor púrpura ou violeta, composta de um forte azul e um profundo vermelho. 220 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Essas pedras são praticamente as mesmas que aquelas no peitoral do sumo sacerdote – Êxodo 28:17 “E o encherás de pedras de engaste, com quatro ordens de pedras; a ordem de um sárdio, de um topázio, e de um carbúnculo; esta será a primeira ordem; e a segunda ordem será de uma esmeralda, de uma safira, e de um diamante; e a terceira ordem será de um jacinto, de uma ágata, e de uma ametista; etc...”, e, provavelmente, pretenderam expressar o significado das palavras Hebraicas lá usadas. Veja as notas sobre as passagens acima, onde essas gemas são especialmente explicadas. 21:21 – E as doze portas eram doze pérolas; cada uma das portas era uma pérola; e a praça da cidade de ouro puro, como vidro transparente. Os doze portões eram doze pérolas – Isto deve ser meramente figurativo, porque é contra a ordem da natureza produzir uma pérola larga o suficiente para fazer um portão para tal imensa cidade. Mas João pode se referir a algumas relações desta natureza, em meio aos seus conterrâneos, que falam muito das mais prodigiosas pérolas. Eu darei um exemplo: “Quando Rabino Juchanan (João) falou que Deus providenciaria jóias e pérolas, trinta cúbicos cada, dez dos quais excederiam na altura, vinte cúbicos, e os colocariam nos portões de Jerusalém, de acordo com o que está escrito em Isaías 54:12 ‘E farei a ti janelas de ágatas, e teus portões de carbúnculos’, um de seus discípulos o ridicularizou dizendo: ‘Onde haverá tal? Uma vez que no momento, não existe um ovo de pomba tão grande? Mais tarde, em um navio, ele viu os anjos ministros cortando gemas e pérolas, e perguntou a eles para que propósito faziam isto. E eles responderam que era para colocá-las nos portões de Jerusalém. Em seu retorno, ele encontrou Rabino Juchanan, ensinando como de costume; e perguntou: Explique-me, mestre, o que tenho visto. E ele respondeu: Tu, ignorante, exceto se tu veres, tu não acreditarás; tu não receberás a palavra dos homens sábios? Naquele momento, ele fixou seus olhos sobre ele, e ele foi reduzido a uma pilha de ossos” - Bava bathra, e Sanhedrin. Veja Schoettgen. 21:22 – E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro. Eu vi nenhum templo – Não haverá necessidade de um templo, onde Deus e o Cordeiro estiverem manifestadamente presentes. 221 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 21:23 – E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a sua lâmpada. Não havia necessidade de sol – Esta é também uma das tradições dos anciãos judaicos, de que “no mundo vindouro, os Israelitas não teriam necessidade de sol durante o dia, nem de lua à noite” – Yacult Rubeni. A luz de Deus brilha nesta cidade, e, no Cordeiro, esta luz está concentrada, e dele, espalha-se para todos os lugares. 21:24 – E as nações dos salvos andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra. As nações daqueles que são salvos – Esta é uma alusão à promessa de que os gentios trariam suas riqueza e glória e excelência para o templo em Jerusalém, depois que fosse reconstruído. Veja Versículo 26. 21:25 – E as suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite. Os portões dela não serão fechados, afinal – A Igreja Cristã deverá sempre permanecer aberta para receber os pecadores de todos os tipos, níveis e nações. Não haverá mais noite – Não mais idolatria, nem escuridão intelectual; as Escrituras serão lidas em todos os lugares, a pura palavra, pregada, em cada canto, e o Espírito de Deus brilhará e operará em todos os corações. 21:26 – E a ela trarão a glória e honra das nações. A glória e honra das nações dentro dela – Ainda alude às declarações dos profetas (veja as passagens, na margem do versículo 24, em diante), de que os gentios seriam conduzidos a contribuírem para as riquezas e glórias do templo, através de suas dádivas, etc. 21:27 – E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro. 222 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE De maneira nenhuma, entrará nela alguma coisa suja – Veja Isaías 35:8 “E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até mesmo os loucos, não errarão”. 52:1 “Desperta, desperta, veste-te da tua fortaleza, ó Sião; veste-te das tuas roupas formosas, ó Jerusalém, cidade santa, porque nunca mais entrará em ti nem incircunciso nem imundo”. Nem uma pessoa impura – aquela que transforma a graça de Deus em lascívia; nem um mentiroso – aquele que mantém e propaga as falsas doutrinas. Mas aqueles que estão escritos – Os reconhecidos membros perseverantes da verdadeira Igreja de Cristo entrarão no céu, e apenas os que estão salvos de seus pecados terão lugar na militante Igreja. TODOS os cristãos são constrangidos, através do batismo, a renunciarem ao diabo e a todas as suas obras, às pompas e vaidades deste mundo pecaminoso, e a todas as luxúrias da carne; e manterem a palavra santa e os mandamentos de Deus; e caminharem dessa forma, todos os dias de suas vidas. Esta é a geração daqueles que buscam tua face, ò, Deus de Jacó! Leitor, és tu deste número? Ou estás esperando a glória eterna, enquanto vives em pecado? Se for assim, tu serás terrivelmente desapontado. Abusar da misericórdia de Deus é tão destrutivo quanto desesperar-se de sua graça. Onde Deus dá poder tanto para querer e fazer, o indivíduo deverá operar sua salvação com temor e tremor. 223 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE CAPÍTULO XXII O rio da água da vida, 1. A árvore da vida, 2. Não existe maldição, nem escuridão na cidade de Deus, 3-5. O anjo assegura João, a respeito da verdade do que ele ouve, e afirma que o tempo do cumprimento está à mão, 6,7. Ele proíbe João de adorá-lo, 8,9, Novamente, ele afirma que o tempo do cumprimento das profecias deste livro está próximo, 10,12. Cristo, o Alfa e Ômega, 13. A bem-aventurança daqueles que mantém seus mandamentos; eles entram pelos portões da cidade; 14. Todos os iníquos serão excluídos, 15. Cristo enviou seu anjo para testificar dessas coisas nas Igrejas, 16. O convite do Espírito e da noiva, 17. Uma maldição é pronunciada contra aqueles que acrescentarem ou tirarem das profecias deste livro, 18, 19. Cristo vem rapidamente, 20. A benção apostólica, 21. As Notas Sobre o Capítulo XXII 22:1– E MOSTROU-ME o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. O rio puro da água da vida – Esta é evidentemente uma referência ao jardim do paraíso, e o rio, através do qual ele era irrigado; e também uma alusão ao relato de Ezequiel 47:7-12 “E, tendo eu voltado, eis que à margem do rio havia uma grande abundância de árvores, de um e de outro lado. Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem ao deserto, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, as águas tornar-se-ão saudáveis. Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem ao deserto, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, as águas tornar-se-ão saudáveis. E será que toda a criatura vivente que passar por onde quer que estes rios entrarem, viverá; e haverá muitíssimo peixe, porque lá chegarão estas águas, e serão saudáveis, e viverá tudo por onde quer que entrar este rio., etc...”. A água da vida, como vimos antes, geralmente significa água da fonte ou água corrente; aqui ela pode significar comunicações incessantes de felicidade, provenientes de Deus. 22:2 – No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para a saúde das nações. No meio da rua – Ou seja, da cidade que foi descrita no capítulo anterior. 224 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A árvore da vida – Uma alusão a Gênesis 2:9 “E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal”. E, uma vez que esta árvore da vida está nas ruas da cidade, e de cada lado do rio, a árvore aqui deve ser uma troca do singular para o plural, árvores da vida, ou árvores que produzem frutos, através dos quais, a vida é preservada. O relato em Ezequiel 47:12 é este: “E, através do rio, junto às margens, deste e daquele lado, crescerão todas as árvores para alimento, cujas folhas não murcharão – e produzirão novos frutos, conforme seu tempo – e os frutos serão para alimento, e as folhas para medicamento”. Doze espécies de frutos – Ou frutos, doze vezes no ano, ou produzidos todos os meses. E porque esta era uma cidade grande e espaçosa, uma fonte não era suficiente para prover água, portanto, um rio é mencionado; um grande rio, com que será suficientemente irrigada. Alguns pensam que a árvore da vida seja o Evangelho; os doze frutos, os doze apóstolos, e as folhas, as doutrinas Evangélicas, através das quais, as nações, os gentios são curados da doença do pecado. Parece que esta é uma interpretação fantástica. 22:3 – E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão. Não haverá mais maldição – Em vez de katanaqema, maldição, nas melhores versões se lê: katasqema, pessoa amaldiçoada. Como não haverá mais pecado contra Deus, então não haverá mais maldição de Deus às pessoas; porque elas serão todas suas servas. Nossos primeiros pais vieram sob uma maldição, porque pecaram contra seu Criador no paraíso; essas nunca cometeram apostasia, portanto, nem elas, nem a terra seriam amaldiçoadas. 22:4 – E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome. Verão sua face – Desfrutarão do que é chamada de a visão beatífica; eles mostrarão a mais completa evidência de que pertencem inteiramente a Cristo, porque seu nome será escrito em suas testas. 22:5 – E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo o sempre. Não haverá mais noite – Veja os versículos 23 e 25 do capítulo precedente: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela 225 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE resplandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a sua lâmpada. (...) E as suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite”. 22:6 – E disse-me: Estas palavras são fiéis e verdadeiras; e o Senhor, o Deus dos santos profetas, enviou o seu anjo, para mostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer. São palavras fiéis e verdadeiras – Veja o capítulo precedente, 21:5 “E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis”. Deste versículo até o final do capítulo, é considerado o epílogo deste livro. (1) O anjo afirma a verdade de tudo que falou, versículo 6-11. (2) Jesus Cristo confirma o que foi afirmado, e ele mesmo garante o cumprimento de todas as profecias, versículo 12-17. (3) João previne seus leitores contra acrescentar ou diminuir e conclui com a bênção apostólica, versículo 18-21. As coisas que devem acontecer brevemente – Existem muitas afirmações neste livro, que, se tomadas literalmente, insinuariam que as profecias se cumpririam, em um curto período de tempo, logo que fossem entregues a João, e este é um forte argumento ao entendimento de Wetstein, e aqueles que defendem que as profecias deste livro se referiram àqueles tempos em que o apóstolo viveu, e às perturbações que, então, aconteceram, não apenas em meio aos judeus, mas também no Império Romano. O que essas profecias querem dizem, e quando e como elas serão cumpridas, apenas Deus no céu sabe. 22:7 – Eis que presto venho: Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro. Eu me prostrei para adorar – Prostrei-me diante dele, como diante de um ser superior, para expressar minha gratidão, e agradecer a ele pelas comunicações que me fez. Veja Apocalipse 19:10 “E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”. 22:10 – E disse-me: Não seles as palavras da profecia deste livro; porque próximo está o tempo. 226 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Não sele os dizeres – Não selem, para as futuras gerações; elas dizem respeito aos tempos presentes; elas devem brevemente passar, porque o tempo está à mão. Veja versículo 6. No que concerne aos judeus certamente estava. 22:11 – Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, sujese ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. Aquele que é injusto, que continue injusto – O tempo do cumprimento chegará tão repentinamente que haverá pouco tempo para arrependimento e correções. O que tiver que ser feito, que seja feito imediatamente; e aquele que é santo, persevere, e se agarre firme o que ele recebeu. 22:12 – E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Observe, eu venho rapidamente – Eu venho para estabelecer minha causa, conforto, e apoio aos meus seguidores, e punir o iníquo. 22:13 – Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro. Eu sou o Alfa e Ômega – Veja capítulo 1:8, 18. 22:14 – Bem-aventurados aqueles que guardam os seus mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas. Abençoado são aqueles que cumprem seus mandamentos – São felizes os que obedecem. Aqueles que têm direito à árvore da vida – O original é muito mais expressivo - Æina estai h exousia auton epi to xulon thv zwhv? Que aqueles que têm autoridade sobre a árvore da vida; uma autoridade fundamentada no direito; este direito fundamentado na obediência aos mandamentos de Deus; e esta obediência produzida pela graça de Deus, operando neles. Sem graça, nenhuma obediência; sem obediência, nenhuma autoridade para a árvore da vida; sem autoridade, nenhum direito; sem direito, nenhum desfrute: A graça de Deus, através de Cristo produz o bom, e, então, o recompensa como se tudo fosse nosso. 227 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 22:15 – Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira. Lá fora, estão os cães – Todos que não são circuncidados no coração. Os judeus chamam todos os não circuncidados, de cães. ‘Quem é o cão? Resp. Aquele que não é circuncidado’. Pirkey Elieser, chap. 29. E os feiticeiros – Veja as observações no capítulo 21:8 “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte”. 22:16 – Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã. Eu, Jesus – O Criador, o Redentor, e Juiz de todos os homens. Enviei meu anjo – Um mensageiro especial do céu. Eu sou a raiz e a descendência de Davi – Cristo é a raiz de Davi, quanto à sua natureza Divina; porque dela, toda a raça humana se originou, porque ele é o Criador de todas as coisas, e sem ele, nada do que está feito existiria. E ele é a descendência de Davi, quanto à sua natureza humana; da linhagem de Davi, e se tornou, desta forma, herdeiro do trono judaico, e o único herdeiro que, então, existiu; e é notável que toda a família real terminasse em Cristo: E, como ELE vive para sempre, ele é o único herdeiro verdadeiro de Davi, e rei eterno. O brilho e a estrela da manhã – Eu sou o esplendor e glória do meu reino; como a estrela da manhã introduz o sol, eu devo introduzir as límpidas e eternas glorias do reino eterno. 22:17 – E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida. O Espírito e a noiva – Todos os profetas e todos os apóstolos; a Igreja de Deus, debaixo do Velho Testamento, e a Igreja de Cristo, debaixo do Novo. Dizem, vêm – Convidam os homens para Jesus, para que, através dele, possam ser salvos e preparados para este reino. 228 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Que aqueles que ouvem – Que todos que são privilegiados com a leitura e ouviram a palavra de Deus, se unam no convite geral aos pecadores. Aquele que tem sede – Aquele que sente sua necessidade de salvação, e deseja beber da fonte viva. E todos que quiserem – Nenhuma alma é excluída: Jesus morreu por todos os homens; cada um pode ser salvo; portanto, que aquele que deseja sua salvação, tome da água da vida, livremente – sem dinheiro ou preço! 22:18 – Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; Se algum homem acrescentar – Der algum outro significado a essas profecias, ou qualquer outra aplicação a elas, do que a que Deus pretende, ele, embora não originalmente pretendido, sofrerá as calamidades colocadas neste livro. 22:19 – E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro. Se algum homem tirar - ou minimizar este significado, restringir o sentido, explicar fora do espírito e objetivo dessas profecias, Deus o excluirá do livro da vida, etc. Assim, Jesus Cristo adverte todos aqueles que consideram este livro, que tomem cuidado ao imporem suas próprias conjecturas, a respeito. Eu confesso que esta advertência tem sua própria influência poderosa em minha mente, e impediu-me de indulgir minhas próprias conjecturas, quanto ao seu significado, ou adotar as conjecturas de outros. Essas visões e ameaças são muito delicadas e um assunto terrível para se brincar com ele, ou mesmo tratar de uma maneira mais solene, onde o significado é obscuro. Eu devo deixar essas coisas ao tempo e evento, aos mais seguros intérpretes. Nem um jota ou til da palavra de Cristo deverá cair ao chão; e terá seu cumprimento no devido tempo. Isto é denominado de revelação, mas uma revelação de símbolos; uma exibição de enigmas, para os quais, nenhuma solução especial é dada, e para a qual, apenas Deus pode dar esclarecimento. 229 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE 22:20 – Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus. De certo, virei rapidamente – Isto pode ser verdadeiramente dito para todas as pessoas em todas as épocas. Jesus, o Juiz está à porta! Assim sendo, venha, Senhor Jesus – É a vontade e o desejo da Igreja sofredora, e de todos os seguidores de Deus, que há muito esperam pela vinda de seu reino. 22:21 – A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós. Amém. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo – Pode o favor e poderosa influência de Jesus Cristo estar com todos vocês; vocês das sete Igrejas, e toda a Igreja de Cristo, em todas as partes da terra, e através de todos os tempos. Em vez de pantwn umwn, vocês todos, as mais excelentes MSS, e versões, têm pantwn twn agiwn, todos os santos. Esta leitura, Griesbach recebeu no texto como indiscutivelmente genuína. Amém – Assim seja! E assim será para todo sempre. A opinião do Dr. Priestley, com respeito à autenticidade deste livro, e a maneira como foi escrito, não seria rejeitada, quer pelo estudioso ou pelo leitor devoto. “Eu penso que seja impossível para qualquer pessoa inteligente e imparcial examinar este livro, sem ser abalado, da maneira mais impressionante, com a peculiar dignidade e sublimidade de sua composição, superior àquela de qualquer outro escrito que seja, de maneira a ser convincente de que, considerando a época em que ele apareceu, ninguém, a não ser uma pessoa divinamente inspirada o teria escrito. Essas profecias são de tal maneira, a nos convencerem de que os eventos anunciados foram realmente previstos, e descritos, de tal maneira, que nenhuma pessoa que escrevesse, sem aquele conhecimento, teria feito. Isto requer tal mistura de clareza e obscuridade, como nunca foi imitado, por quaisquer dos forjadores de profecia. Ficções, escritas, evidentemente, depois dos eventos, sempre são muito claras. Apenas nas Escrituras, e, especialmente, no livro de Daniel, e este de Apocalipse, é que encontramos esta feliz mistura de clareza e obscuridade nos relatos dos eventos futuros - Notas sobre Apocalipse. As Subscrições deste livro são poucas e sem importância:- O CODEX ALEXANDRINUS tem simplesmente – A Revelação de João. A SIRIACA duplica o Amém. 230 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE A ETIÓPICA – Aqui finaliza a visão do Apocalipse; Amém: ou seja, como alguém diria, a visão que ocorreu em sua vida, e foi escrita pelo abençoado João, o evangelista de Deus. VULGATA e COPTA, nada. ANCIÃOS ÁRABES - Pela assistência do Senhor Jesus Cristo, a visão de João, o apóstolo e evangelista, o amado do Senhor, está terminado: este é o Apocalipse que o Senhor revelou a ele para o serviço dos homens. Ao Senhor, seja a glória para sempre e sempre. Depois de trazer minhas breves notas deste muito obscuro livro, à conclusão, embora eu não adote quaisquer das teorias que foram entregues a respeito dele, ainda assim, eu dou o mais plausível entendimento dos anciãos ou modernos, que vieram ao meu conhecimento. Isto eu agradavelmente faria, se eu tivesse algum, para o qual eu pudesse dar uma preferência decisiva. No entanto, como eu dei, no prefácio, a compreensão do Professor Wetsteun, é certo que eu, na conclusão, desse a do Sr. Lowman, que é quase a mesma que a do Bispo Newton, e que, até onde posso saber, é considerado, pelos mais racionais teólogos, como sendo a mais consistente e provável. O entendimento do estudioso e devoto Bengel pode ser encontrado nas notas sobre este livro do falecido Rev. John Wesley; aquelas do Sr. Lowman, que agora se seguem, podem ser encontradas no final das notas do Dr. Dodd. Em meio a outras objeções - a este e a todos os outros entendimentos -, eu acredito, o que me parece de vital importância, que suas datas estão muito atrasadas. Eu penso que o livro foi escrito antes da destruição de Jerusalém, e não em 95 ou 96, a data que eu sigo na margem; cuja data eu dei, não como minha própria opinião, mas como a opinião de outros. Adam Clarke [1762-1832] ------Apenas como curiosidade, duas cartas escritas pelo Sr. Wesley ao Sr. Clarke. Bristol, 9 de Setembro de 1790 Querido Adam. 231 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Será que o mal tempo que você teve no mar fez com que você esquecesse sua fadiga, através da terra? Venha, coloca um contra o outro, e você não terá grande motivo para se queixar de sua jornada. Você necessitará de toda coragem e prudência que Deus tem lhe dado. Na verdade, você precisará do constante suprimento de ambas. Muito gentilmente e muito firmemente, você prosseguiria entre as rochas de ambos os lados. No grande avivamento em Londres, minha primeira dificuldade foi trazer, no humor, aqueles que se opuseram à obra, e a seguinte, foi verificar e regular as extravagâncias daqueles que a promoveram. E esta foi a parte mais dura da obra, porque muitos deles não suportariam alguma verificação, afinal. Mas eu segui uma única regra, embora com toda a calma: ‘Você deve curvar-se ou romper’. Neste meio tempo, enquanto você age corretamente, espere ser envergonhado por ambos os lados. Eu lhe darei alguma direção: (1) Veja que nenhum encontro de oração continue mais tarde do que nove da noite, especialmente aos Domingos. Que a casa esteja vazia, antes que o relógio marque nove. (2) Que não haja exortação em qualquer encontro de oração. (3) Precavenha-se do ciúme ou julgamento do outro. (4) Nunca pense que um homem seja um inimigo para a obra, porque ele reprova irregularidades. A paz seja com você e os seus! Eu sou querido Adam, Seu afetuoso amigo J. Wesley **** Adam Clarke Londres, 9 de Fevereiro de 1791 Querido Adam, Você tem grande motivo para dar graças a Deus, por lhe dar forças. Ele, de fato, o auxiliou de uma maneira maravilhosa, em face dessas complicadas aflições [Sr. Clarke sofria de reumatismo]. Você bem pode dizer: “Eu colocarei minha confiança no Senhor, por quanto tempo eu viva”. Eu desejo que o Dr. Whitehead considere seu caso e lhe dê seus pensamentos sobre ele. Eu não temo o fato de você fazer muito pouco, mas por fazer demais. Eu estou em contínuo perigo disto. Faça pouco de cada vez, e você poderá 232 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE fazer mais. Meu amor à Irmã Cookman e Boyle [na Irlanda]; mas eu estou em dúvidas, se poderei atravessar os mares alguma vez mais. Que pregador é aquele que primeiro omitiu encontrar a Seleta Sociedade? Eu espero que isto não destrua a obra! Você tem agido corretamente em estabelecer a Sociedade dos Estrangeiros [Amigos]. Ela é uma excelente instituição. Eu estou quase perdido, com respeito ao Sr. Madan. Eu não sei o que pensar dele. Envie-me seus melhores pensamentos sobre ele. Não permita que os pregadores não excluídos, de qualquer maneira, rastejem novamente. Seja como for, escreva, e me envie seus pensamentos sobre Magnetismo Animal. Eu coloco minha face contra este conselho de satanás. Dois de nossos pregadores aqui estão nesta ilusão satânica; mas, se eles persistirem em defendê-la, eu devo renunciar a eles. Eu conheço seus princípios muito bem. Com muito amor à sua esposa, eu sou, meu querido Adam. Seu afetuoso amigo J. Wesley. [Carta do Sr. Wesley, escrita um mês antes de seu falecimento. Sr. Clarke morreu em 1832 - 41 anos depois – Na época desta carta, o Sr. Clarke tinha 31 anos] Fim de Apocalipse do Sr. Clarke. e de Jeová. Nesta completa convicção, ele não considerou sua vida querida a ele, mas terminou sua dura corrida com alegria, alegremente entregando sua vida pelo testemunho de Jesus; e, assim, seu sol luminoso colocado no sangue, ele ressuscitaria novamente na glória. A conversão de Paulo é o triunfo do Cristianismo, seus escritos, a mais completa exibição e defesa de suas doutrinas; e sua vida e morte, a gloriosa ilustração de seus princípios. Armados com esta história da conversão de Paulo e vida, o mais fraco crente não precisa temer o mais poderoso infiel. O nono capítulo de Atos sempre permanecerá uma inexpugnável fortaleza na defesa do Cristianismo e derrota para seus inimigos. 233 APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE Leitor, Deus não tem feito suas obras maravilhosas para que ele possa estar na lembrança eternamente? (continua...) Trad. Izilda bella 234