Apocalipse Adam Clarke - John Wesley por Izilda Bella

Transcrição

Apocalipse Adam Clarke - John Wesley por Izilda Bella
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Revelação de João, o Divino
Adam Clarke
Notas Cronológicas relativas a este Livro
Ano da era Constantinopolitana do mundo, ou usado pelos historiadores
Bizantinos, e outros escritores ocidentais, 5604 – Ano da era Alexandrina do
mundo, 5509 – Ano da era Antioquiana do mundo, 5588 – Ano do mundo, de
acordo com o Arcebispo Usher, 4100 – Ano do mundo, de acordo com
Eusébio, em seu Chronicon, 4322 – Ano da era Judaica do mundo, ou aquela
em uso comum, 3856 – Ano da era do Maior Rabínico do mundo, 4455 – Ano
do Dilúvio, de acordo com o Arcebispo Usher, e a Bíblia Inglesa, 2444 – Ano
da era Cali yuga, ou Indiana do Dilúvio, 3198 – Ano da era de Iphitus, ou desde
os primeiros jogos Olímpicos, 1036 – Ano da era de Nabucodonosor, rei da
Babilônia, 845 – Ano da ducentésima décima oitava Olimpíada, 4 – Ano da
construção de Roma, de acordo com Fabius Pictor, 843 – Ano da construção de
Roma, de acordo com Frontinus, 847 – Ano da construção de Roma, de acordo
com Fasti Capitolini, 848 – Ano da construção de Roma, de acordo com Varro,
que era mais geralmente usada, 849 – Ano da era de Seleucidae, 408 – Ano da
era Caesareana de Antioquia, 144 – Ano da era Juliana, 141 – Ano da era
Espanhola, 134 – Ano do nascimento de Jesus Cristo, de acordo com o
Arcebispo Usher, 100 – Ano da era comum da natividade de Cristo, 96 – Ano
de Pacorus II, rei de Partians, 6 – Ano do período Dionisiano, ou do Ciclo
Pascal, 97 – Ano do Ciclo Greciano de dezenove anos, ou Número Dourado
Comum, 18; ou ano antes do sétimo embolismico – Ano do Ciclo Solar, 21 –
Cartas Dominicais, sendo o Bissexto - Dia da Páscoa Judaica, vinte e cinco de
Março, que aconteceu neste ano, um dia antes do Sabbah Judaica – Domingo de
Páscoa, vinte e sete de Março – Epacta, ou era da lua, em 22 de Março, (dia da
primeira Páscoa possível), 11 – Epacta, de acordo com o modo presente de
cálculo, ou da era lunar, no dia do Ano Novo, ou dos Calendários de Janeiro, 19
– Epactas Mensais, ou era lunar, nos calendários da cada mês respectivamente,
(começando com Janeiro), 19, 21, 22, 23, 24, 26, 26, 27, 29, 29 – Número de
direção, ou o número de dias do vigésimo-primeiro de Março até a Páscoa
Judaica, 3 – Ano do Imperador Flavio Domitiano César, o último desses
usualmente denominado Os Doze Césares, 15: Nerva começa seu reino neste
ano – Roman Consuls, C. Antistitus Vetus, e C, Maulius Valens.
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CAPÍTULO I
O prefácio deste livro e a promessa, àqueles que o lerem, 1-3, João
endereça às sete Igrejas da Ásia, cujo alto chamado, ele especialmente
menciona; e mostra a rápida vinda de Cristo, 4-8. Menciona seu exílio em
Patmos, e a aparição do Senhor Jesus a ele, 9-11. De quem ele dá a mais
gloriosa descrição, 12-18. A ordem para escrever o que ele viu, e a explicação
das sete estrelas e dos sete candelabros dourados, 19, 20.
Notas sobre o Capítulo I
A Revelação de João, o divino. A este livro as inscrições são várias. “A
Revelação – A Revelação de João – De João, o divino – de João, o divino e
evangelista – A Revelação de João, o apóstolo e evangelista – A Revelação do
santo e glorioso apóstolo e evangelista, o amado virgem João, o divino, do que
ele viu na Ilha de Patmos – A Revelação de Jesus Cristo, dada a João, o
divino”. Essas diversas inscrições são merecedoras de pouca consideração; o
primeiro verso contém o título do livro.
1:1 - A REVELAÇÃO de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para
mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo
seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo;
A Revelação de Jesus Cristo – A palavra apokaluyiv, do qual nós temos
a nossa palavra Apocalipse, significa literalmente, revelação, ou descoberta do
que estava oculto ou escondido. É dito aqui que esta revelação ou descoberta
das coisas escondidas foi dada por Deus a Jesus Cristo; que Cristo a deu a seu
anjo; que este anjo a mostrou a João; e que João a enviou às Igrejas. Assim, nos
certificamos de que ela veio de Deus a Cristo; de Cristo ao anjo; do anjo a João;
e de João à Igreja. Ela é propriamente a Revelação de Deus, enviada por esses
vários agentes para seus servos, livremente; e este é o próprio título do livro.
As coisas que devem brevemente acontecer – De acordo com a
interpretação de Wetstein, isto está claro; porque se o livro fosse escrito antes
da destruição de Jerusalém e as profecias nele relatassem aquela destruição, e
as guerras civis em meio aos Romanos, que duraram três ou quatro anos, então
seria dito que a Revelação trata de coisas que devem brevemente acontecer.
Mas se considerarmos o livro como se referindo ao estado da Igreja, em todas
as épocas, as palavras aqui, e aquelas no versículo 3, devem ser entendidas
como do início dos eventos preditos; como se ele tivesse dito: Em pouco
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tempo, essa série de visões será posta em movimento: -- et incipient magni
procedere menses.
“E aqueles tempos, abundantes, com os mais estupendos eventos,
começarão a acontecer”.
1:2 - O qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de
Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto.
Quem revela o registro da palavra de Deus - Existe uma referência aqui
ao primeiro capítulo do evangelho de João, - no início era a Palavra, e a
Palavra estava com Deus, etc...? Desta Palavra, João testemunhou. Ou, o
escritor quer dizer a fidelidade com que ele anotou e relatou a palavra,
doutrinas ou profecias, que recebeu naquele tempo, pela revelação de Deus?
Isto parece mais consistente com a última parte do versículo.
1:3 – Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras
desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo
está próximo.
Abençoado é aquele que lê – Isto deve ser entendido da felicidade ou
segurança das pessoas que, lendo ou ouvindo das profecias - daquelas coisas
que deveriam acontecer brevemente, tomaram providências apropriadas para
escaparem dos males iminentes.
O tempo está à mão – No qual, elas deverão ser todas cumpridas, ou
começarem a ser cumpridas. Veja a nota no versículo 1.
Esses três versos contêm a introdução; agora a dedicatória às sete
igrejas começa.
1:4 – João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz seja
convosco da parte daquele que é, e que era, e que há de vir, e da dos sete
espíritos que estão diante do seu trono;
De João, para as sete Igrejas – O apóstolo começa isto, como os
profetas judaicos. Eles frequentemente nomeiam a si mesmos nas mensagens
que recebem de Deus, para entregarem ao povo; ou seja, “A visão de Isaias,
filho de Amós, que ele teve, concernente Judá e Jerusalém”. “As palavras de
Jeremias, o filho de Hilquias; a quem a palavra do Senhor veio. “A palavra do
Senhor veio expressamente junto a Ezequiel, o sacerdote”. “A palavra do
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Senhor veio a Joel”. “As palavras de Amós, que estava em meio aos pastores
de Tecoa”. “Na visão de Obadia; assim diz o Senhor”. “A palavra do Senhor a
Jonas”. Assim, “A Revelação de Jesus Cristo que ele enviou e transmitiu ao
seu servo João”. “ De Joã, para as sete Igrejas”. Etc.
A Ásia aqui mencionada é a chamada de Ásia Menor, ou a Ásia
Lidiana, ou Proconsular; as sete Igrejas, aquelas de Efésio, Smyrna, Pergamos,
Tiatira, Sardes, Filadélfia, e Laodicéia. Dessas, como elas ocorrem. Não
devemos supor que elas eram as únicas Igrejas cristãs, então, na Ásia Menor;
havia outras, então, em Phrygia, Pamphylia, Galatia, Pontus, Capadócia, etc.
Mas essas sete eram aquelas que se encontravam mais próximas do apóstolo, e
estavam mais especificamente sob seus cuidados. Embora a mensagem fosse
enviada para as Igrejas em geral, e, talvez, diga respeito a todo o mundo cristão.
Mas o número sete pode ser usado aqui como o número da perfeição; como os
hebreus usam os sete nomes dos céus, os sete nomes da terra, os sete patriarcas,
os sete sóis, as sete espécies, os sete anos, sete meses, sete dias, etc.; em que os
rabinos encontram uma grande variedade de mistérios.
Graça seja com vocês – Esta forma de bênção apostólica, temos visto
frequentemente nas epístolas precedentes.
Daquele que é, e que foi, e que será – Esta fraseologia é puramente
judaica, e provavelmente tomada do Tetragramatom, hwhy, Yehovah; que, se
supõe, inclui em si mesmo todo o tempo passado, presente e futuro. Mas eles
frequentemente usam a frase do qual o wn, kai, o hm, kai o ercomenov, do
apóstolo, é uma tradução literal. Assim, no Sohar Chadash: “Rabino José diz:
Pelo nome Tetragramatom (por exemplo: hwhy Yehovah) as maiores e menores
regiões, os céus e terra, e tudo que eles contêm, eram perfeitos; e todos estão
diante Dele, como nada: Ele Era, e É, e Será. Assim, em Shemoth Rabba, séc.
3: “O santo e abençoado Deus disse a Moisés: diga a eles: Eu Fui, Eu Sou
agora, e Serei”. Em Chasad Shimuel, Rab. Samuel ben David pergunta: Por
que somos ordenados a usar três horas de oração? Resposta: Essas horas foram
recomendadas pelo santo Deus abençoado; aquele que Foi, que É; e Será A
oração da Manhã aponta para aquele que Existia antes da criação do mundo; do
Meio-dia, para aquele que É; e a da Noite, para aquele que Será. Esta
fraseologia é bastante apropriada e expressa fortemente a eternidade de Deus;
porque temos nenhuma outra idéia de tempo, do que passado, ou agora
existindo, ou ainda para existir; nem temos qualquer idéia de eternidade, mas
daquela duração chamada pelos aeternitas, a parte ante, a eternidade que havia
antes do tempo, e aeternitas, a parte posterior, a duração eterna que existirá,
quando o tempo não mais existir. Aquele que Foi, é a eternidade antes do
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tempo; aquele que É; é o próprio tempo; e aquele que Será, é a eternidade que
existirá, quando o tempo não mais existir.
Os sete Espíritos – diante de seu trono – Os anciãos judeus, que
simbolizaram o trono de Deus, como o trono de um monarca oriental,
supuseram que havia sete anjos ministrando diante do trono, já que havia sete
ministros, atendendo no trono do monarca da Pérsia. Temos uma ampla prova
disto, Tobit 12:15 – Eu sou Rafael, um dos Sete Anjos Santos que apresenta as
orações dos santos, e que entra e sai diante da glória do Altíssimo. E no Targum
de Jonathan ben Uzziel, Gênesis 11:7: Deus disse para os Sete Anjos que
permanecem diante dele, venham agora, etc...
Em Pirkey Eliezer, 4 e 7: “Os anjos que foram os primeiros ministros
criados, diante dele, sem o véu”. Algumas vezes, eles os representam como
sete coortes ou tropas de anjos, sob os quais estão trinta ordens inferiores.
Que os sete Anjos estão aqui significados, e não o Espírito Santo, é
mais evidente do lugar, do número, e da tradição. Aqueles que imaginam que se
trata do Espírito Santo supõem que o número sete é usado para denotar seus
múltiplos dons e graças. Que esses sete espíritos são anjos, veja o capítulo 3:1;
4:5; e, especialmente, 5:6, onde eles são chamados de os sete espíritos de Deus,
Enviados a Toda a Terra.
1:5 – E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o
primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que
nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados,
A fiel testemunha – O verdadeiro professor, cujo testemunho é infalível,
e cujos dizeres devem todos acontecer.
O primogênito dos mortos – Veja a nota em Colossenses 1:18 “E ele é
a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos,
para que em tudo tenha a preeminência”.
[Ele é o cabeça do corpo – O que o apóstolo disse nos dois versículos
precedentes – Em Colossenses, refere-se à natureza Divina de Jesus Cristo; ele
agora prossegue, para falar de sua natureza humana, e mostrar quão altamente
ela é exaltada, além de todas as coisas criadas, e como, nisto, ele é cabeça da
Igreja – o autor e distribuidor de luz, vida, e salvação para o mundo cristão; ou,
em outras palavras, que ele, como o homem em quem a plenitude da Divindade
corporeamente habita, toda a misericórdia e salvação do sistema Evangélico
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devem ser recebidas. O início, o primeiro criado dos mortos - Em I Coríntios
15:20, Cristo é chamado de as primícias daqueles que dormem; e, aqui, o chefe
e primeiro nascido dos mortos; ele sendo o primeiro que alguma vez reassumiu
a vida natural, com o emprego de todas as suas funções, para nunca mais entrar
no império da morte, depois de uma morte natural, e em tais circunstâncias,
impedir a possibilidade de decepção. O arquiteto, o chefe, o cabeça, ou
primeiro, responde neste verso ao aparch, ou primícias: I Coríntios 15:20.
Jesus Cristo não é apenas o primeiro a se erguer dentre os mortos, para não
mais morrer, mas as primícias dos seres humanos; porque, uma indicação e
garantia da colheita, assim certamente foi a ressurreição de Cristo a prova de
que toda a humanidade teria de uma ressurreição dentre os mortos. Quem em
tudo – ele teria a preeminência – Que ele seria considerado, em conseqüência
de seu ofício mediatório, como possuindo o primeiro lugar, e sendo líder sobre
toda a criação de Deus; por isto, é de se admirar que a natureza humana, com a
qual o grande Criador condescendeu unir-se, pudesse inspecionar todas as obras
de suas mãos].
O príncipe dos reis – O líder ou cabeça, de todos os potentados terrenos,
e que estão sob seu domínio e controle e podem dispor deles conforme sua
vontade.
Junto àquele que nos amou – Isto daria início a um novo versículo, já
que é o começo de um novo assunto. Nossa salvação é atribuída ao amor a
Deus, que nos deu seu Filho; e ao amor de Cristo, que morreu por nós. Veja
João 3:16 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna”.
Lavou nossos pecados – A redenção da alma, com a remissão dos
pecados, e purificação dos iníquos, está aqui, como em todo o Novo
Testamento, atribuída ao sangue de Cristo, derramado na cruz, pelo homem.
1:6 – E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e
poder para todo o sempre. Amém.
Os reis e sacerdotes – Veja em I Pedro 2:5,9 – “Vós também, como
pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. - Mas vós sois a
geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que
anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz”. Mas, em vez de basileiv kai iereiv, reis e sacerdotes, as mais
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respeitáveis versões, e patriarcas têm basileian iereive, um reino e sacerdotes;
ou seja, um reino de sacerdotes, ou um sacerdócio real. As distinções régias e
sacerdotais são as duas mais altas que podem possivelmente existir entre os
homens; e essas duas estão aqui mencionadas para mostrar as gloriosas
prerrogativas e estado dos filhos de Deus.
A ele seja a glória – Ou seja, a Cristo; porque é dele que o profeta fala,
e de nenhum outro.
Para sempre e sempre – De eras a eras; ou antes, através de todos os
períodos indefinidos; através de todo o tempo, e eternidade.
Amém – Uma palavra de afirmação e aprovação; de maneira que isto
será e deverá ser.
1:7 – Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os
mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre
ele. Sim. Amém.
Observe, ele vem com as nuvens – Isto relata sua vinda para executar o
julgamento sobre os inimigos de sua religião; talvez, destruir Jerusalém, já que
ele deverá ser especialmente manifesto a eles que o perfuraram, o que deve
significar os judeus incrédulos e rebeldes.
E todas as famílias da terra. Todas as tribos da terra. Através disto, o
povo judaico é o mais evidentemente pretendido, e, portanto, todo o verso pode
ser entendido, como predizendo a destruição dos judeus; e é uma prova
presumível que o Apocalipse foi escrito antes da derrota final do estado
judaico.
Mesmo assim, Amém – Amém – Sim, Amém. É verdade, assim é.
Nosso Senhor virá e executará o julgamento sobre os judeus e gentios. Isto os
judeus e romanos especialmente sentiram.
1:8 – Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor,
que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso.
Eu sou o Alfa e o ômega – Eu sou de eternidade a eternidade. Este
modo de discurso é emprestado dos judeus, que expressam todo o compasso
das coisas por aleph e t tau, a primeira e última letras do alfabeto hebraico; mas
como João escrevia em Grego, ele acomoda o todo do alfabeto grego, do qual o
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alfa e w ômega são a primeira e última letras. Com os rabinos, “do alfa ao
ômega”, expressava o todo de um assunto; do começo ao fim. Assim, em
Yacult Rubeni: Adão transgrediu o todo da lei, do alfa ao ômega; do começo ao
fim. Abraão observou a lei, do alfa ao ômega; ele a manteve inteiramente, do
começo ao fim. Quando o santo Deus abençoado proferiu uma bênção aos
israelitas, ele o fez do alfa e ômega; ele o fez perfeitamente.
O começo e o fim – Ou seja, como o alfa é o início do alfabeto, assim
eu sou o autor e a causa de todas as coisas; como o ômega é o fim, ou última
letra do alfabeto, então, eu sou o fim de todas as coisas, o destruidor, assim
como aquele que estabelece todas as coisas. Este parágrafo está faltando em
quase toda MS e versão de importância. Ele parece ter sido acrescentado,
primeiro, como uma nota explicativa, e no decorrer do tempo, moveu-se para
dentro do texto. Griesbach o deixou fora do texto. É merecedor de observação,
que como a união de um aleph e t tau em Hebraico fazem ta eth, que os rabinos
interpretam da primeira matéria do qual todas as coisas foram formadas (veja
Gênesis 1:1), então, a união de um alfa e w, ômega, em grego, cria o verbo aw,
Eu respiro, e pode muito propriamente, tal livro simbólico, indicar a Ele, em
quem vivemos, e nos movemos, e temos nossa existência; porque, tendo
formado o homem do pó da terra, ele respirou em suas narinas o fôlego da vida,
e ele se tornou uma alma vivente; e é através da inspiração de seu Espírito que
as almas dos homens são vivificadas, tornam-se vivas da morte, e adequadas
para a vida eterna. Ele acrescenta também que ele é o Altíssimo, o todo
poderoso criador do universo e o insuflador da força divina nos homens.
1:9 – Eu, João, que também sou vosso irmão, e companheiro na
aflição, e no reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada
Patmos, por causa da palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo.
Seu irmão – Um cristão, criado de Deus, e incorporado na família
celeste.
Companhia na tribulação – Sofrendo, sob a perseguição a qual você
também sofre.
No reino – Porque nós somos um reino de sacerdotes junto a Deus.
E a perseverança de Jesus – Semanalmente suportando todas as
indignidades, privações e sofrimentos, por amor a Ele, e seguindo o exemplo de
nosso Senhor e Mestre.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A ilha que é chamada de Patmos – Esta ilha é uma das Espórades, e se
situa no mar Ageu, entre a Ilha de Icaria e o promontório de Mileto. Ela é agora
chamada Pactino, Patmol ou Palmosa. E toda sua celebridade se deve, por ser o
local para onde João foi banido, por um dos imperadores romanos; se
Domitiano, Claudius ou Nero, não se chega a um acordo, mas mais
provavelmente foi o último. A ilha tem um convento sobre uma colina bem
fortificada, dedicada a João, o apóstolo; os habitantes somam trezentos homens
e por volta de vinte mulheres para cada homem.
Ela é muito estéril, produzindo muito pouco grão, mas abundando em
perdizes, codornas, tartarugas, pombos, narceja, e coelho. Ela tem muitos bons
ancoradouros, e muito infestada por piratas. Patmos é a capital e principal
ancoradouro. Toda a ilha tem por volta de trinta milhas na circunferência.
Para o testemunho de Jesus Cristo – Para pregar o Cristianismo, e
converter os pagãos ao Senhor Jesus.
1:10 – Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás
de mim uma grande voz, como de trombeta,
Eu estava no Espírito – Ou seja, eu recebi o Espírito da profecia, e
estava sob sua influência, quando a primeira visão foi exibida.
O dia do Senhor – O primeiro dia da semana, observado como o Sabbah
cristão, porque nele, Jesus Cristo ressuscitou dos mortos; portanto, foi chamado
de o dia do Senhor, e tem tomado lugar no Sabbah judaico, no mundo cristão.
E ouvi atrás de mim, uma grande voz – Esta voz veio inesperada e
subitamente. Ele se sentiu sob a insuflação Divina; mas não sabia quais
cenários seriam apresentados.
Como de uma trombeta – Isto foi calculado, para que todo pensamento
divagante fixasse sua atenção, e solenizasse toda sua estrutura. Assim, Deus
preparou Moisés para receber a lei. Veja Êxodos 19:16, 19 em diante. “E
aconteceu que, ao terceiro dia, ao amanhecer, houve trovões e relâmpagos
sobre o monte, e uma espessa nuvem, e um sonido de buzina mui forte, de
maneira que estremeceu todo o povo que estava no arraial... E o sonido da
buzina ia crescendo cada vez mais; Moisés falava, e Deus lhe respondia em voz
alta”.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
1:11- Que dizia: Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o
derradeiro; e o que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que
estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e
a Filadélfia, e a Laodicéia.
Eu sou o Alfa e Omega, o primeiro e o último: -- Todo este parágrafo
está faltando no ABC, e trinta e um, outros; algumas edições; a Siríaca,
Cóptica, Etiópiana, Armeniana, Eslavônica, Vulgata, Arethas, Andréas, e
Primasius. Griebasch o deixou fora do texto.
Dizendo - O que tu vês, escreve no livro – Cuidadosamente anota cada
coisa que é apresentada a ti. João teve as visões do céu; mas ele as descreveu
em sua própria linguagem e maneira.
Envia às sete Igrejas – Cujos nomes, imediatamente se seguem. Na
Ásia. Isto esta faltando nos principais manuscritos, e versões. Griesbach deixou
isto fora do texto.
Éfeso - Esta era uma cidade de Ionia, na Ásia Menor, situada na boca
do rio Cayster, na costa do mar Egeu, cerca de cinqüenta milhas ao sul de
Esmirna. Veja prefácio para a Epístola aos Efésios.
Esmirna – Agora também chamada de Ismir, é a mais ampla e mais rica
cidade da Ásia Menor. Está situada, cerca de cento e oitenta e três milhas a
oeste, pelo sul de Constantinopla, na costa do Mar Egeu. Supõe-se que
contenha aproximadamente cento e quarenta mil habitantes, dos quais, quinze a
vinte mil gregos, seis mil armeninanos, cinco mil Católicos Romanos, cento e
quarenta Protestantes, cento e dez mil judeus, e cento e quinze mil turcos. É
uma bonita cidade, mas frequentemente devastada pela praga, e, raramente,
dois anos consecutivos livre dos terremotos. Em 1758, a cidade foi quase
assolada pela praga; escassamente um número suficiente de habitantes
sobreviveu para armazenar os frutos da terra. Em 1688, houve um terrível
terremoto aqui, que destruiu grande número de casas; em um dos abalos, a
rocha, sobre a qual o castelo se situava, abriu-se, tragou o castelo e cinco mil
pessoas! Nada, ao não ser o amor ao ganho, tão natural ao homem, induziria
alguma pessoa a fazer sua residência lá; embora, em outros aspectos, possa
vangloriar-se de muitas vantagens. Nesta cidade, os turcos têm dezenove
mesquitas; os gregos, duas igrejas; os arminianos, uma; e os judeus, oito
sinagogas; e as feitorias inglesas e alemãs têm cada, um capelão. Esmirna está a
cem milhas ao norte da ilha de Rhodes.
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Pérgamo - Uma cidade da Misia, situada no rio Caicus. Foi residência
real de Eumenes, e os reis da família de Attali. Antigamente foi famosa por sua
biblioteca que, de acordo com Plutarco, continha duzentos mil volumes. Foi
aqui que os Pergaminhos de membrana e de peles foram inventados; dos quais
derivamos nossa palavra “parchment”, pergaminho. Pérgamo foi o berço de
Galeno; e nele P. Scipio morreu. Ela agora é chamada de Pérgamo ou Bérgamo.
Tiatira – Agora chamada Akissat e Ak-kissar, uma cidade da Natólia,
na Ásia Menor, situada no rio Hermus, em uma planície dezoito milhas de
largura, e está por volta de cinqüenta milhas de Pérgamos. As casas são
principalmente construídas de barro, mas as mesquitas são todas de mármore.
Muitas inscrições antigas notáveis foram descobertas neste lugar.
Sardes – Agora chamada de Sardo e Sart, uma cidade da Ásia, em
Natólia, aproximadamente quarenta milhas leste de Esmirna. Está situada ao
lado do monte Tímolus, e foi uma vez a capital dos reis Lidianos, e aqui Croesu
reinou. Ela é agora um vilarejo pobre e insignificante.
Filadélfia – Uma cidade de Natólia, situada aos pés do monte Tímolus,
pelo rio Cogamus. Foi fundada por Attalus Fhiladelphus, irmão de Eumenes, de
quem seu nome se derivou. Ela agora é chamada Alah-sheker, e cerca de
quarenta milhas de Esmirna.
Laodicéia – Uma cidade da Firígia, no rio Lycus; primeiramente
denominada Dióspolis, ou a cidade de Júpiter. Foi construída por Antiochus
Theos, e chamada segundo seu conseorte Laodice. Veja nota em Colossenses
2:1.
1:12 – E virei-me para ver quem falava comigo. E, virando-me, vi
sete castiçais de ouro;
E eu me virei - Porque ouviu a voz por detrás dele. Para ver a voz; ou a
pessoa de quem a voz provinha.
Sete castiçais dourados – Sete lâmpadas douradas.
É absurdo dizer, uma prata dourada, ou castiçal de bronze. Essas sete
lâmpadas representaram as sete Igrejas, nas quais a luz de Deus estava
continuamente brilhando, e o amor de Deus, continuamente queimando. E elas
foram aqui representadas como dourado, para mostrar quão preciosas, eram às
vistas de Deus. Esta é uma referência ao templo em Jerusalém, onde havia um
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
castiçal ou candelabro de sete hastes; ou antes, seis; três se esticando de cada
lado, e um no centro. Veja Êxodo 25: 31-37. “Também farás um candelabro de
ouro puro; de ouro batido se fará este candelabro; o seu pé, as suas hastes, os
seus copos, os seus botões, e as suas flores serão do mesmo. E dos seus lados
sairão seis hastes etc...”.
Esta referência ao templo parece insinuar que o templo de Jerusalém era
um símbolo de toda a Igreja cristã.
1:13 – E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do
homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos
com um cinto de ouro.
Como junto ao Filho do homem – Esta parece uma referência a Daniel
7:13 - “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas
nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o
fizeram chegar até ele”. Este era o próprio nosso abençoado Senhor.
Vestido até os pés – Esta é a descrição do sumo sacerdote, em seus
paramentos sacerdotais. Veja esses descritos, amplamente, nas notas sobre
Êxodo 28:4 em diante., Jesus é nosso sumo sacerdote, mesmo no céu. Ele está
ainda desobrigado das funções sacerdotais diante do trono de Deus.
Com cinto dourado – O emblema da realeza e decoro sacerdotal.
1:14 – E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como
a neve, e os seus olhos como chama de fogo;
Sua cabeça e seus cabelos eram brancos como a lã – Este não era
apenas uma símbolo de sua antiguidade, mas evidência de sua glória; porque o
testemunho ou esplendor de sua cabeça e cabelos, sem dúvida, procedem dos
raios de luz e glória que a circundavam, e lançados dela em todas as direções. O
esplendor em torno da cabeça era denominado pelos Romanos, nimbo, e, por
nós, uma glória; e era representado em redor das cabeças dos santos, e pessoas
deificadas, e santas. Ele é usado da mesma maneira, através de todas as nações
da terra.
Seus olhos eram como uma chama. Para denotar sua onisciência, e toda
natureza penetrante do conhecimento Divino.
12
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
1:15 – E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se
tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas
águas.
Seus pés, como de fino metal – Um emblema de sua estabilidade e
permanência; o latão, considerado o mais durável de todas as substâncias
metálicas ou compostos.
A palavra original, calkolibanon, significa o mais famoso aurichalcum,
ou metal factício, que, de acordo com os Suidas [sacerdotes dedicados aos
estudos], era eidov hiektrou, timwteron crusou, “um tipo de âmbar, mais
precioso do que o ouro”. Parece ter sido uma composição de ouro, prata, e
latão, e o mesmo que o latão Coríntio, tão altamente afamado e valorizado;
porque quando Lucio Mummius tomou e queimou a cidade de Corinto, muitas
estátuas destes três metais derreteram e, juntos, formaram a composição já
mencionada, e que era mais considerado do que o ouro. Pode, no entanto, não
significar mais do que cobre derretido, com lápis calaminaris, que o converte
em latão; e a chama que procede do metal durante esta operação é uma mais
intensa e intoleravelmente vívida que pode ser imaginada. Eu frequentemente
tenho visto diversos fornos empregados nesta operação, e as chamas
queimando, através da terra (porque esses fornos estão sob o solo), sempre
chamado a lembrar esta descrição dada por João. Seus pés de fino latão, como
se eles queimassem em uma fornalha; a propriedade e exatidão, das quais,
ninguém poderia duvidar, e cada um que viu esta operação deslumbrante, deve
sentir o mesmo.
Sua voz, como o som de muitas águas – A mesma descrição,
encontramos em Ezequiel 40:2: A glória do Deus de Israel veio do oriente; e
sua voz como o barulho de muitas águas: e a terra brilhou com sua glória.
1:16 – E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía
uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua
força resplandece.
Em sua mão direita, sete estrelas – As estrelas foram mais tarde
representadas como sete anjos, mensageiros, ou bispos das sete Igrejas. Estarem
na mão direita de Cristo mostra que eles estão sob seu cuidado especial, e mais
poderosa proteção.
De sua boca, saiu uma espada afiada de dois gumes - Isto, sem dúvida,
refere-se aos julgamentos prestes a serem proferidos por Cristo contra os judeus
13
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
rebeldes, e os romanos perseguidores; os julgamentos de Deus estavam
exatamente agora sobre ambos. A espada afiada de dois gumes representaria a
palavra de Deus, em geral, de acordo com os dizeres do apóstolo, Hebreus
4:12 “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que
espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e
das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do
coração”.: A palavra de Deus é viva e poderosa, mais afiada do que qualquer
espada de dois gumes, perfurando até a divisão da alma e espírito, etc..,
Também em Efésios 6:17 “Tomai também o capacete da salvação, e a espada
do Espírito, que é a palavra de Deus”, é denominada a espada do Espírito.
E seu semblante era como o brilho do sol em sua força – Sua face era
como sol no dia mais brilhante do verão, quando não existem nuvens para
diminuir o esplendor de seus raios. Forma similar é encontrada em Juízes 5:31:
Que aqueles que o amam, sejam como o sol quando surge em sua força. E em
Midrash, Yacult Simeoni: “Quando Moisés e Arão vieram e ficaram diante do
Faraó, eles pareciam como o ministrar dos anjos; e a estatura deles, como os
cedros do Líbano: - e as pupilas de seus olhos eram como o disco do sol; e
suas barbas como as uvas de uma palmeira: e o esplendor de suas faces como
o esplendor do sol”.
1:17 – E eu, quando vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre
mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último;
E caiu aos seus pés, como morto – A aparência da glória do Senhor teve
o mesmo efeito junto a Ezequiel (Ezequiel 1: 28). E a de Gabriel, em Daniel
(Daniel 8:17). O terrível esplendor de tal majestade foi mais do que o apóstolo
poderia suportar, e ele caiu privado de seus sentidos, mas logo foi capaz de
observar a visão, através de uma transmissão de força da mão direita do Senhor.
1:18 – E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o
sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno.
Eu sou aquele que vive, e estava morto – Eu sou Jesus, o salvador, que,
embora fonte de vida, morreu pela humanidade; e, ressuscitado dentre os
mortos, não mais morrerei, o grande sacrifício está consumado. E tenho as
chaves da morte e sepultura, de maneira que posso destruir o vivo e ressuscitar
o morto. -- A chave aqui significa o poder e autoridade sobre a vida, morte e
sepultura. Esta também é uma forma rabínica de discurso. No Targum de
Jerusalém, sobre Gênesis 30:22, encontramos: “Essas são quatro chaves nas
mãos de Deus, que ele nunca confiou a anjo ou serafim . 1. A chave da chuva;
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
2. A chave da provisão; 3. A chave da sepultura; e 4. A chave do ventre
estéril”. Em Sanhedrin, está escrito: “Quando o filho da mulher de Sarepta
morreu, Elias pediu que a ele fosse dada a chave da ressurreição. Eles lhe
disseram que três são chaves que não são dadas na mão do apóstolo, a chave
da vida, a chave da chuva, e a chave da ressurreição”. Desses exemplos, é
evidente que podemos entender adth, hades, não como inferno, nem o lugar dos
espíritos separados, mas como sepultura; e a chave, meramente como símbolo
de poder e autoridade. Cristo pode salvar e destruir; matar e vivificar. A morte
está sob seu domínio, e ele pode revocar a morte, quando lhe agradar. Ele é a
ressurreição e a vida.
1:19 – Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois
destas hão de acontecer;
Escreve as coisas que tu vês – Essas visões e profecias são para a
instrução geral, e, portanto, toda circunstância deve ser fielmente registrada. O
que ele viu foi o que ele deveria escrever; e o que ele estava prestes a ver, com
respeito às sete Igrejas deveria ser também escrito; e registrado igualmente o
que veria mais tarde sobre outras igrejas e estados.
1:20 – O mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos
sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete
castiçais, que viste, são as sete igrejas.
O mistério – Ou a explanação alegórica das sete estrelas são os sete
anjos ou ministros das igrejas; e o significado alegórico das sete lâmpadas
douradas são estas sete Igrejas.
1. Nas sete estrelas, deve aludir aos selos de diferentes ofícios, debaixo
de potentados, cada um tendo seu selo específico, que autenticam todos os
instrumentos daquele ofício; e como esses selos eram comumente colocados em
anéis, usados nos dedos, devem aludir à esses brilhantes nos anéis, e usados na
mão direita. Em Jeremias 22:24, Conias é representado como um sinete na
mão direita do Senhor; e que tais sinetes estavam nos anéis, veja em Gênesis
38:18-15 “Então ele disse: Que penhor é que te darei? E ela disse: O teu selo,
e o teu cordão, e o cajado que está em tua mão. O que ele lhe deu, e possuiu-a,
e ela concebeu dele., etc..”; Daniel 6:17 “E foi trazida uma pedra e posta
sobre a boca da cova; e o rei a selou com o seu anel e com o anel dos seus
senhores, para que não se mudasse a sentença acerca de Daniel”; Ageu 2:23
“Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, tomar-te-ei, ó Zorobabel, servo meu,
filho de Sealtiel, diz o Senhor, e far-te-ei como um anel de selar; porque te
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
escolhi, diz o Senhor dos Exércitos”. Num exame minucioso, certificamo-nos
que todos os símbolos deste livro têm seu fundamento, tanto na natureza, fato,
costume, quanto na opinião geral. Um dos selos da corte de Justiça hindu
(cutchery) do falecido Tipoo Saib, com que ele selou todas as comissões
daquele ofício, está agora diante de mim; ele é talhado em prata, na
característica Taaleck, e a prata é colocada em um anel de ouro largo, pesado,
mas asperamente manufaturado.
2. As Igrejas estão representadas por essas lâmpadas; e contêm óleo e
fogo, e distribuem luz. Uma lâmpada não tem luz em si mesma; ela é apenas o
instrumento de distribuição da luz, e deve receber o óleo e o fogo, antes de
distribuir alguma luz; assim, nenhuma Igreja tem, em si mesma, graça ou
glória, ela deve receber tudo de Cristo, sua cabeça, ou não poderá distribuir luz,
nem vida.
3. Os ministros do Evangelho são sinetes ou selos de Jesus Cristo; ele
os usa para estamparem sua verdade; para darem crédito a ela, e promoverem
seu uso geral. Mas como o selo não pode fazer coisa alguma por si mesmo,
exceto se através de uma mão adequada, então os ministros de Cristo não
podem fazer o bem, selar alguma verdade, ou imprimir na alma, a menos que o
dono maior permita o uso deles.
4. Quão cuidadosa deveria ser a Igreja que tem o óleo e a luz, para que
ela continue a queimar e envie o conhecimento Divino! Em vão, alguma Igreja
pretende ser a Igreja de Cristo, se não distribui a luz; se as almas não são
iluminadas, vivificadas, e convertidas nela. Se Jesus caminha na luz, sua luz
brilhará, clara e fortemente, e os pecadores se converterão a ele; e os membros
daquela Igreja serão filhos da luz, e caminharão como filhos da luz e do dia, e
não haverá oportunidade de tropeçarem.
5. Quão cuidadosos deveriam ser os ministros de Cristo em
proclamarem e creditarem coisa alguma como verdade, a não ser aquilo que
venha de seu mestre! Eles também deveriam cuidar para que, depois de terem
pregado a outros, eles mesmos não sejam réprobos; a fim de que Deus não diga
a eles o que disse a Conias: Vivo eu, diz o Senhor, embora Conias, que ainda
que Conias, filho de Jeoiaquim, rei de Judá, fosse o anel do selo na minha mão
direita, contudo dali te arrancaria.
Por outro lado, se eles forem fiéis, o trabalho deles não será em vão, e
sua segurança será grande. Aquele que os toca, toca a menina dos olhos de
Deus, e nada será capaz de arrancá-los de sua mão. Eles são os anjos e
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
embaixadores do Senhor; serão pessoas sagradas; os mensageiros das Igrejas, e
a glória de Cristo. Perdessem eles suas vidas na obra, seria uma entrada mais
rápida na glória eterna.
Quando mais rude o caminho, quanto mais curta sua estada, as
preocupações que surgem gloriosamente apressarão suas almas para os céus.
CAPÍTULO II
A epístola à Igreja de Efésios, elogia o trabalho e paciência deles, 1-3.
E, repreende por terem deixado seu primeiro amor, exortando-os ao
arrependimento, com a promessa da árvore de vida, 4-7, A epístola à Igreja de
Esmirna, elogia a piedade, e promete apóia-los em suas tribulações, 8-11. A
epístola à Igreja de Pérgamo, elogia a firmeza na doutrina divina, 12, 13. E
repreende a lassidão na disciplina eclesiástica, no tolerar professores heréges na
Igreja, 14-15. O apóstolo os exorta a se arrependerem, com a promessa da pedra
branca e um novo nome, 16,17. A epístola à Igreja de Tiatira, com um elogio à
caridade, fé e paciência, 18,19. Repreendendo sua tolerância a Jezebel, a falsa
profetiza, que é ameaçada com punição grave, 20-23. Exortações especiais e
promessas a esta Igreja, 24-29.
Notas sobre o Capítulo II
Eu devo aqui advertir meus leitores. 1. Que eu não percebo qualquer
significado metafórico ou alegórico nas epístolas a essas Igrejas. 2. Eu
considero as Igrejas como reais; e seu estado espiritual está aqui real e
literalmente apontado; e não se refere ao estado da Igreja de Cristo em todas as
eras do mundo, como tem sido imaginado; e que a noção de que se denomina o
estado Efésio, o estado Esmirniano, o estado Pergameniano, o estado
Tiatiriano, etc.. etc... é infundada, absurda e perigosa; e tais exposições não
devem ser mantidas por alguém que deseje chegar a um conhecimento sóbrio e
racional das Santas Escrituras. 3. Eu considero o anjo da Igreja, como
significando o mensageiro, o pastor, enviado por Cristo e seus apóstolos para
ensinarem e edificarem aquela Igreja. 4. Eu considero o que é falado a este
17
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
anjo, como falado a toda a Igreja; e que não é seu estado particular que é
descrito, mas os estados das pessoas em geral, sob seus cuidados.
A epístola à Igreja de Efésios.
2:1 – ESCREVE ao anjo da igreja que está em Éfeso: Isto diz
aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete
castiçais de ouro:
Ao anjo da Igreja de Efésios – Por aggelov, anjo, nós entendemos o
mensageiro, ou pessoa enviada por Deus, para presidir sobre esta Igreja; e a ele
a epístola é dirigida, não apontando seu estado, mas o estado da Igreja sob seus
cuidados. O anjo da Igreja aqui responde exatamente àquele oficial da
sinagoga, em meio aos judeus, chamado de rwbyx jyl• sheliach tsibbur, o
mensageiro da Igreja, cuja ocupação é ler, orar, e ensinar na sinagoga. A Igreja
em Efésios é a primeiro endereçada, como sendo o local onde João
principalmente residiu; e a própria cidade foi a metrópole daquela parte da
Ásia. O anjo ou bispo, nesta época, foi mais provavelmente Timóteo, que
presidiu sobre aquela Igreja, antes que João residisse lá, e quem se supõe ter
continuado naquele ofício, até 97 d.C., e ter sido martirizado pouco tempo antes
do retorno de João de Patmos.
Mantém as sete estrelas – Quem especificamente preserva, e guia, e
sustém, não apenas os ministros daquelas sete Igrejas, mas todos os ministros
genuínos de seu Evangelho, em todas as épocas e lugares.
Caminha no meio dos sete castiçais dourados – Refere-se ao Bispo
supremo e Cabeça, não apenas daquelas Igrejas, mas de todas as Igrejas ou
congregações de seu povo, através do mundo.
2:2 – Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e
que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser
apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos.
Eu conheço tuas obras – Porque os olhos do Senhor estão por toda a
terra, observando o mau e o bom; e, sendo onipresente, todas as coisas estão
continuamente abertas e expostas diante dele. É merecedor de observação, que
o que quer que seja louvável em alguma dessas Igrejas, é primeiro mencionado;
assim, sugerindo que Deus está mais atento em certificar-se do bem, do que do
mal, em alguma pessoa da Igreja; e que aqueles que desejam reformar tais que
caíram ou não avançaram o suficiente na vida Divina, devem aproveitar a
18
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
oportunidade, do bem que ainda resta, para encorajá-los a se porem a caminho
novamente para o reino dos céus. Os caídos ou apóstatas que têm alguma
ternura de consciência restante são facilmente desencorajados, e estão aptos a
pensar que não existe semente restante da qual alguma colheita pode ser
razoavelmente esperada. Que a tais seja dito que ainda existe uma semente de
bondade remanescente, e que isto requer apenas observarem e fortalecerem as
coisas que restam, pela pronta aplicação a Deus, através de Cristo, com o
objetivo de trazê-los de volta ao completo desfrute de tudo que perderam, e
renová-los no espírito de suas mentes. Os ministros, que continuamente tocam
em sua harpa, Vocês estão mortos, vocês estão mortos; existe pouca ou
nenhuma cristandade entre vocês, etc.. etc.., são um contágio na Igreja, e
espalham desolação e morte onde quer que vão. É melhor dizer, em tais casos:
“Vocês perderam o chão, mas não perderam todo seu chão; vocês poderiam
ter avançado muito mais, mas, através da misericórdia, ainda estão no
caminho. O Espírito de Deus afligiu-se por causa de vocês, mas é evidente que
não os abandonou. Vocês não caminharam na luz, como deveriam, mas seu
candelabro ainda não foi removido, e a luz ainda brilha. Vocês não têm muito
zelo, mas ainda têm um pouco. Em resumo, Deus ainda luta por vocês, ainda
os ama, ainda espera ser gracioso para com vocês; encorajem-se, ponham-se a
caminho novamente, venham para Deus, através de Cristo; creiam, amem,
obedeçam, e vocês logo encontrarão dias mais abençoados do que vocês
alguma vez já experimentaram”.
Exortações e encorajamentos deste tipo certamente produzem efeitos
mais abençoados; e sob tais, a obra de Deus infalivelmente revive.
E tua luta – Ele conhecia as obras deles em geral. Embora tivessem
deixado seu primeiro amor, ainda assim, havia tanto amor, de maneira a
motivá-los no trabalho, e capacitá-los a suportarem a perseguição,
pacientemente, e manterem a fé; já que não podiam tolerar homens
pecaminosos, e colocaram os falsos apóstolos em prova, e se certificaram de
que eram mentirosos, pretendendo uma autoridade Divina, enquanto tinham
nenhuma, e ensinando falsas doutrinas, como se fossem verdades de Deus.
2:3 – E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e
não te cansaste.
E suportaste – As mesmas coisas mencionadas no versículo precedente,
mas em uma ordem invertida, a razão específica não aparece; talvez, fosse
pretendido mostrar mais forçosamente para esta Igreja, que não havia bem que
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
tivessem feito, nem mal que tivessem sofrido, que fossem desprezados diante
de Deus.
E não te cansaste – Eles devem, portanto, ter uma porção considerável
deste amor remanescente, ou não poderiam ter agido assim.
2:4 – Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
Não obstante, eu tenho alguma coisa contra ti – O parágrafo poderia ser
lido, de acordo com o Grego, desta forma: Mas eu tenho contra ti, que tu
perdeste teu primeiro amor. Eles não retiveram aquela afeição forte e ardente
por Deus e as coisas sagradas, que eles tinham, quando primeiro trazidos para o
conhecimento da verdade, e justificados pela fé em Cristo.
2:5 – Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as
primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o
teu castiçal, se não te arrependeres.
Lembra-te – Considerem o estado da graça em que vocês uma vez
estiveram; a felicidade, amor e alegria que vocês sentiram, quando receberam
remissão dos pecados; o zelo que vocês tiveram pela glória de Deus, e salvação
da humanidade, seu espírito disposto, obediente, sua alegre abnegação; seu
fervor nas orações privadas, seu desinteresse pelo mundo, e sua inclinação
divina.
Lembrem-se – Considera tudo isto.
Por isto, caíste – Caíram de todas essas disposições abençoadas e
sentimentos graciosos já mencionados. Ou lembrem-se qual a perda,
suportaram; porque assim a palavra ekpiptein é frequentemente usada pelos
melhores escritores gregos.
Arrependa-te – Sejam profundamente humildes diante de Deus, por
terem assim cuidadosamente guardado o tesouro Divino.
Faze as primeiras obras – Retomem seu zelo e diligência, anteriores;
vigiem, jejuem, orem, reprovem o pecado, cuidadosamente atendam todas as
ordenanças de Deus, caminhem como em sua luz, e não descansem, até que
tenham recuperado todo o chão perdido, e tenham de volta a evidência de sua
aceitação com seu Criador.
20
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Brevemente virei a ti – No julgamento.
E removerei de ti o candelabro – Tirarei minhas ordenanças, removerei
seus ministros, e os enviarei à penúria do mundo. Como existe aqui uma alusão
ao candelabro no tabernáculo e templo, que não poderia ser removido, sem
suspender todo o serviço Levítico, então, a ameaça aqui sugere que, se eles não
se arrependessem, etc.. eles ficariam sem Igreja; não mais teriam um pastor,
não mais teriam a obra e sacramentos, e não mais a presença do Senhor Jesus.
2:6 – Tens, porém, isto: que odeias as obras dos nicolaítas, as quais
eu também odeio.
Os feitos dos Nicolaitas – Esses eram, como se supõe comumente, uma
seita de Gnósticos, que ensinavam as doutrinas, e seguiam as práticas mais
impuras. Supõem-se também que se originaram de Nicolau, um dos sete
diáconos mencionados em Atos 6:5 “E este parecer contentou a toda a
multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe,
e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia”.
Os Nicolaítas ensinavam à comunidade de viúvas, que o adultério e fornicação
eram coisas indiferentes, que comer carne oferecida a ídolos era completamente
lícito; e misturavam diversos ritos pagãos com as cerimônias cristãs.
Agostinho, Irineus, Clemente Alexandrino e Tertuliano falaram largamente
com respeito a eles. Veja mais em meu prefácio a II Pedro, onde estão diversas
particularidades, concernentes a esses heréticos.
2:7 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao
que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do
paraíso de Deus.
Àquele que tem ouvido – Que toda pessoa inteligente, e todo cristão,
atendam cuidadosamente ao que o Espírito Santo, nesta e nas epístolas
seguintes, diz às Igrejas. Veja a nota sobre Mateus 11:15, onde a mesma forma
de discurso ocorre.
Àquele que conquista – Àquele que continua firme na fé, e não corrupto
em sua vida; que fielmente confessa Jesus, e nem embebe as doutrinas, nem é
conduzido para fora, pelo erro do iníquo; eu darei de comer da árvore da vida.
Como aqueles que venciam seus inimigos tinham geralmente, não apenas
grande honra, mas também, uma recompensa; assim aqui uma grande
recompensa é prometida ao vencedor: e assim como nos jogos gregos, aos quais
pode haver uma alusão, quando o vencedor era coroado com as folhas de
21
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
alguma árvore, aqui está prometido que eles comeriam do fruto da árvore da
vida, que está no centro do paraíso de Deus; ou seja, que eles teriam uma
imortalidade feliz e gloriosa. Aqui existe também uma alusão à Gênesis 2:9;
onde é dito que Deus fez a árvore da vida crescer no meio do jardim; e muito
provavelmente que, comendo do fruto desta árvore, a imortalidade de Adão
estava assegurada, e dependia.
Quando Adão transgrediu, ele foi expulso deste jardim, e não mais
permitido comer da árvore da vida; consequentemente tornou-se
necessariamente mortal.
Esta árvore, em todos os seus efeitos sacramentais, está assegurada e
restaurada para o homem, pela encarnação, morte e ressurreição de Cristo. A
árvore da vida é frequentemente falada, pelos rabinos; e eles geralmente se
referem à imortalidade da alma, e a um estado final de bem-aventurança. Veja
muitos exemplos em Schoettgen. Eles também falam de um paraíso celestial e
terrestre. O primeiro, eles dizem, “é para a recepção das almas do perfeito
justo; e difere muito do paraíso terreno, como a luz da escuridão”.
A Epístola à Igreja de Esmirna
2:8 – E ao anjo da igreja que está em Esmirna, escreve: Isto diz o
primeiro e o último, que foi morto, e reviveu:
Ao anjo – Este foi provavelmente o famoso Policarpo.
Essas coisas dizem do primeiro e último – Aquele que é eterno; de
quem todas as coisas provém, e para quem todas as coisas retornam. O que
estava morto, para a redenção do mundo; e está vivo para nunca mais morrer,
sua humanidade gloriosa, entronizada à mão direita do Pai.
2:9 – Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és
rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a
sinagoga de Satanás.
Eu conheço tuas obras – Como ele havia falado à Igreja precedente,
então, ele fala a esta: Eu sei tudo que vocês têm feito, e tudo que têm sofrido. A
tribulação aqui mencionada pode significar perseguição, tanto pelos judeus,
pagãos, ou heréticos, que, por causa de suas doutrinas excessivamente
indulgentes teriam feito muitos partidários em Esmirna.
22
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E pobreza – Desprovidos provavelmente de todas as posses temporais,
devido à ligação com o Evangelho.
Mas tu és rico – Ricos na fé, e herdeiros do reino de Cristo.
A blasfêmia dos que se dizem judeus – Eles eram pessoas que
professavam o Judaísmo, tinham uma sinagoga, e diziam adorar ao Deus
verdadeiro; mas não possuíam a religião genuína, e serviam ao diabo. Eles
aplicavam um nome sagrado a uma coisa impura: e este é um dos significados
da palavra blasfêmia neste livro.
2:10 – Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo
lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma
tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.
Teme nada das coisas que tu sofres – Isto pode estar endereçado
especificamente a Policarpo, se bispo daquela Igreja, naquela época. Ele teria
muito que sofrer; e foi, por fim, queimado vivo em Esmirna, por volta do ano
166, de nosso Senhor. Nós temos um relato muito antigo de seu martírio que foi
traduzido por Cave, e é merecedor de leitura atenta. Este relato diz que os
judeus foram particularmente ativos neste martírio, e trouxeram os galhos, etc..,
através dos quais ele foi consumido. Tais pessoas devem, de fato, ter sido da
sinagoga de satanás.
Dez dias – Como os dias neste livro são o que é comumente chamado
dias proféticos, cada um correspondendo a um ano, os dez anos de tribulação
podem significar dez anos de perseguição; e este foi precisamente a duração da
perseguição sob Diocleciano [Gaius Aurelius Valerius Diocletianus ou Caio
Aurélio Valério Diocleciano (236 — 305 d.C.)], durante o qual todas as Igrejas
asiáticas foram gravemente afligidas. Outros entendem a expressão como
implicando freqüência e abundância, como em outras partes das Escrituras.
Gênesis 31:7 – Tu mudaste meus salários, dez vezes; ou seja, tu
frequentemente mudaste meus salários; Gênesis 31:41 “Tenho estado agora
vinte anos na tua casa; catorze anos te servi por tuas duas filhas, e seis anos
por teu rebanho; mas o meu salário tens mudado dez vezes”; Números 14:22:
Aqueles homens tentaram-me agora essas dez vezes; ou seja, eles freqüente e
gravemente tentaram e pecaram contra mim.Neemias 4:12: Os judeus que
habitavam entre eles, vieram e nos disseram dez vezes, ou, eles freqüentemente
vinham e nos informavam que nossos adversários pretendiam atacar-nos; Jó
19:3: Essas dez vezes você me difamou; ou seja, você tem me oprimido com
contínuas injúrias. Daniel 1:20: Em todas as questões de sabedoria, ele se
23
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
certificou de que eles eram dez vezes melhores que todos os magos; ou seja, o
rei freqüentemente consultava Daniel e seus companheiros, e se certificava de
que eles eram mais abundantemente informados e sábios do que todos os seus
conselheiros.
Alguns acham que a brevidade da aflição está aqui pretendida, e que os
dez dias devem ser entendidos como em Terence, Heaut: “Eu desfrutei de
minha família, apenas por pouco tempo”.
Sê fiel até a morte – Mantenha-se firme na fé, confesse Cristo até o fim,
sob todos os riscos, e terá a coroa da vida –
Serás coroado com a vida – terá uma existência feliz eterna, embora
sofra uma morte temporal. Diz-se que Policarpo, quando trazido diante do Juiz
e ordenado a abjurar e blasfemar Cristo, ele firmemente respondeu: “Por
oitenta e seis anos, eu o servi, e ele nunca me fez mal, como, então, eu posso
blasfemar contra meu rei que me tem salvo?”. Ele foi, então, condenado às
chamas e sofreu alegremente por Cristo seu Senhor e Mestre.
2:11 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O
que vencer não receberá o dano da segunda morte.
Aquele que conquista – O vencedor que tem se mantido firme em toda a
prova, e derroto todos os seus adversários.
Não sofrerá a segunda morte – Ou seja, uma separação eterna de Deus,
e da glória de seu poder; como comumente queremos dizer por perdição final.
Este é um outro modo rabínico de discurso, em uso muito freqüente, e é
entendido como a punição do inferno em uma vida futura.
A Epístola à Igreja de Pérgamo.
2:12 – E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz
aquele que tem a espada aguda de dois fios:
Ao anjo da Igreja de Pérgamo.
Que tem a espada afiada – A espada do Espírito, que é a palavra de
Deus, corta de todas as formas; ela convence do pecado, retidão, e julgamento;
penetra entre as juntas e o tutano, divide a alma e o espírito, disseca toda a
mente, e exibe uma anatomia irregular da alma. Ela não apenas reprova e expõe
24
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
o pecado, mas pune o iníquo, indicando e determinando a punição que eles
suportem. Jesus tem a espada com dois gumes, porque Ele é o salvador dos
pecadores, e o Juiz do vivo e do morto.
2:13 – Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o
trono de Satanás; e reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos
dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde
Satanás habita.
Onde está o trono de satanás – Onde ele reina como rei, e é
universalmente obedecido.
Era uma máxima, em meio aos Judeus, que onde a lei de Deus não fosse
estudada, lá satanás habitava; mas ele era obrigado a deixar o lugar onde uma
sinagoga ou academia era estabelecida.
Mantém com firmeza meu nome – Não obstante a profissão da
Cristandade expusesse esta Igreja a mais amarga perseguição, eles mantiveram
firme o nome de Cristãos, que receberam de Jesus Cristo, e não negaram sua fé;
porque quando trazidos à prova, eles se confessaram abertamente discípulos e
seguidores de seu Senhor e Mestre.
Antipas foi meu fiel mártir – Quem este Antipas era, não podemos
dizer. Apenas sabemos que ele era um cristão, e, provavelmente executava
algum ofício na Igreja, e tornou-se ilustre, através de seu martírio pela causa de
Cristo.
Existe uma obra chamada Atos de Antipas, que o torna bispo de
Pérgamo, e diz que ele foi condenado à morte, sendo encarcerado em um
boi de bronze fervente. Mas esta história se contradiz, já que os Romanos,
sob cujo governo Pérgamo estava, nunca condenaram pessoa alguma à
morte desta maneira. Supõem-se que ele foi assassinado por alguma plebe,
que escolheu esta forma, para vindicar a honra de seu deus Esculápio
[Esculápio era o deus romano da medicina e da cura. Foi herdado
diretamente da mitologia grega, na qual tinha as mesmas propriedades, mas
um nome sutilmente diferente], em oposição às reivindicações de nosso
Senhor Jesus.
2:14 – Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá
os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios
da idolatria, e se prostituíssem.
Eu tenho poucas coisas contra ti – Seus bons feitos são primeiramente
cuidadosamente observados e recomendados; o que estava errado neles é
tocado com uma mão gentil, mas eficaz.
Os seguidores de Balaão, os Nicolaitas, e os Gnósticos, eram
provavelmente todos do mesmo tipo de pessoas. Qual era a doutrina de Balaão,
veja as notas em Números 24:1-25; Números 31:1-54. Parece que havia
alguns, então, na Igreja de Pérgamo que defendiam que comer coisas oferecidas
aos ídolos, em honra daqueles ídolos, e a fornicação, eram coisas indiferentes.
Eles se associavam aos idólatras nos templos pagãos, e compartilhavam com
eles em seus festivais religiosos.
2:15 – Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas,
o que eu odeio.
A doutrina dos Nicolaitas – Veja Apocalipse 2:6.
2:16 – Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra
eles batalharei com a espada da minha boca.
Lutarei contra eles, com a espada de minha boca – Veja Vers. 12. Ele
fala agora para a edificação e salvação deles; mas, se não se arrependerem, ele
brevemente declarará que esses julgamentos inevitavelmente cairão sobre eles.
2:17 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao
que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra
branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão
aquele que o recebe.
O maná escondido – Era uma tradição constante dos judeus, que a arca
da aliança, as mesas de pedra, a vara de Arão, o santo óleo da unção, e o pote
de maná, foram escondidos pelo rei Josias, quando Jerusalém foi tomada pelos
Caldeanos; e que esses seriam restaurados nos dias do Messias. Este maná
estava escondido, mas Cristo promete dá-lo àquele que fosse o conquistador.
Jesus é a arca, o óleo, a vara, o testemunho e o maná. Aquele que é participante
de sua graça tem todas essas coisas em seu significado espiritual e perfeição.
E darei a ele uma pedra branca –
26
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
I. Supõem-se que por pedra branca, quer se dizer perdão ou aceitação, e
a evidência disto; e que existe uma alusão aqui ao costume observado pelos
judeus nos tempos antigos, que estavam acostumados a dar seus votos pelas
pedras brancas ou pretas; aqueles que davam às primeiras, pretendiam a
absolvição do culpado; os que davam às últimas, a sua condenação. Isto é
mencionado por Ovídio: Mos erat antiquus, niveis atrisque lapillis, His
damnare reos, illis absolvere culpa. Nunc quoque sic lata est sententia tristis.
“Um costume antigo ainda permanece; o que os sufrágios ordenam quanto à
vida e à morte: Pedras brancas e pretas dentro de uma urna eram tiradas. A
primeira absolvia, mas a morte estava na última”. Dryden.
II. Outros supõem que exista uma alusão aqui aos vencedores nos jogos
públicos, que não eram apenas conduzidos com grande pompa dentro da cidade
ao qual pertenciam, mas tinham uma pedra branca dada a eles, com seus nomes
inscritos nela; cujo símbolo os habilitava, durante todas as suas vidas, a serem
mantidos às expensas públicas.
Essas eram chamadas tesselas entre os Romanos, e eram de diversos
tipos.
1. Tessela festiva (tesserae conviviales), que respondia exatamente aos
nossos cartões de convite ou bilhetes de admissão em uma festa ou banquete
público; quando a pessoa convidada apresentava sua tessela, era admitida. A
menção do maná escondido aqui pode parecer insinuar que existe uma
referência a essas tesselas festivas, quer dadas para o vencedor nos jogos
públicos, habilitando-o a ser alimentado às expensas públicas, ou a um amigo
particular, convidando-o à refeição familiar, ou banquete público.
2. Havia tesselas inscritas com diferentes tipos de coisas, tais como
provisões, vestuários, ouro, ou vasos de prata, cavalos, éguas, escravos, etc.
Essas eram algumas vezes atiradas pelos imperadores romanos, em
meio à multidão nos teatros, e aquele que agarrasse uma; apresentando-a, era
recebido, e cujo nome estivesse inscrito nela. Mas para Dio Cassius parece que
aquelas tesselas eram pequenas bolas de madeira, ainda que as tesselas, em
geral, fossem quadradas, por isto, eles tinham seus nomes, como tendo quatro
lados, ângulos, ou cantos; e esses eram feitos de pedra, mármore, ossos, ou
marfim, chumbo, latão, ou outro metal.
3. Tessela frumentícia, ou bilhetes para receber grãos, nas distribuições
públicas de milho; o nome da pessoa que deveria receber e a quantidade de
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
grão, ambos inscritos neste distintivo ou bilhete. Àqueles que não necessitavam
desta provisão pública, era permitido vender seu bilhete, e ao dono, habilitado
para a quantidade de grão mencionada nele.
4. Mas o mais notável desses instrumentos eram as tesselas hospitales,
que eram dadas como símbolo de amizade e aliança, e nas quais alguns
emblemas eram gravados, como um testemunho de que um contrato de amizade
tinha sido feito entre as partes. Uma pequena peça de oblongo quadrado, de
madeira, osso, pedra, ou marfim, era dividido em duas partes iguais, e em cada
uma, escrito seu próprio nome, e então, trocado um com o outro. Isto era
cuidadosamente preservado, e legado até a posteridade na mesma família; e
apresentado, quando viajavam, dava mútuo direito ao portador de uma recepção
amigável e hospitalidade na casa um do outro.
É a este costume que Plautus se refere em seu Poenulus, na entrevista
entre Agorastocles e seu tio desconhecido, Hanno.
HANNO – Salve, meu compatriota!
Agorastocles – Eu saúdo a ti também, em nome de Pollus, quem quer
que tu sejas. E se tu necessitares de alguma coisa, fala, eu te suplico; e tu
obterás o que pedires, por cortesia.
HANNO – Eu agradeço a ti, mas eu tenho moradia aqui; eu procuro o
filho de Antidamas. Dize-me, se tu conheces Agorastocles. Conhece, neste
lugar, o jovem Agorastocles?
Agorastocles – Se buscas o filho adotivo de Antidamarchus, eu sou a
pessoa a quem tu buscas.
HANNO – Ai! O que eu ouço?
Agorastocles – Tu ouves que eu sou filho de Antidamas.
HANNO – Se assim for, compara, se te agradas, a tessela hospitaleira;
aqui está, eu a tenho comigo.
Agorastocles – Vem, então, traze-me: é a exata contraparte; eu tenho a
outra em casa.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
HANNO – Ó, meu amigo, eu estou feliz de ver-te, porque teu pai foi
meu amigo; portanto, Antidamas, teu pai, foi meu hóspede. Eu dividi esta
tessela hospitaleira com ele.
Agorastocles – Assim sendo, uma acomodação será providenciada para
ti, comigo; eu respeito a hospitalidade, e amo Cartage, onde eu nasci.
HANNO – Que todos os deuses garantam a ti o que quer que
desejares!
A tessela, neste sentido, parece ter sido uma espécie de registro; e as
duas partes foram comparadas para assegurar a verdade. Agora é muito
provável que João possa aludir a isto; porque neste modo de interpretação, toda
parte do versículo é consistente.
1. A palavra yhfov não necessariamente significa uma pedra de qualquer
tipo, mas um sufrágio, sentença, voto decisivo; e, aqui, parece respondível à
tessela. A tessela de Hanno, ele nos diz em sua língua Púnica, foi inscrita com a
imagem ou nome de seu deus. Esta é a interpretação das palavras Púnicas no
início do quinto ato de Poenulus, como dado por Bochart.
2. A pessoa que a possuía tinha direito à diversão na casa daquele que
originalmente a deu; porque era em referência a isto que o contrato amigável
era feito.
3. Os nomes das pessoas contraentes, ou algum emblema era escrito na
tessela, que celebrava o contrato amigável; e quando as partes eram trocadas,
ninguém podia saber que nome ou emblema, a ou a razão do contrato, mas
somente aquele que a recebia.
4. Esta, quando apresentada, dava ao portador, direito aos ofícios da
hospitalidade; ele era acomodado com comida, moradia, etc. por quanto tempo
fosse necessário; e a isto, o comer do maná escondido pode se referir.
Mas o que isto significa na linguagem de Cristo?
1. Que a pessoa é levada a um estado íntimo de amizade com Ele.
2. Que este contrato é testemunhado pela parte, através da mesma
marca, sinal, ou selo, para o qual ele pode ter recorrido, para apoiar sua
reivindicação, e identificar sua pessoa. Isto é provavelmente o que é chamado
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
de penhor do Espírito; veja a nota sobre Efésios 1:14 “O qual é o penhor da
nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua
glória”, e as colocações lá se referem a isto. Aquele, então, que recebeu e
reteve o testemunho do Espírito de que ele foi adotado na família divina, pode
humildemente pretender, em virtude disto, seu suprimento de pão e água da
vida; o maná escondido – toda a graça do Espírito de Deus; e a árvore da vida –
imortalidade, ou a glória final de seu corpo e alma, por toda a eternidade.
3. Através deste estado de graça, para o qual ele é trazido, ele adquire
um novo nome, o nome de filho de Deus; o penhor do Espírito, a tessela, que
ele recebeu, mostra a ele este novo nome.
4. E este nome de filho de Deus, nenhum homem pode saber ou
entender, a não ser aquele que recebeu a tessela ou testemunho Divino.
5. Como seu Amigo e Redentor pode ser encontrado em todos os
lugares, já que ele preenche os céus e a terra, em todos os lugares, ele pode, no
manter essa tessela, pedir por direção, socorro, graça e glória; e, portanto, os
privilégios daquele que venceu, e é o maior e mais glorioso que se pode
imaginar.
A Epístola à Igreja de Tiatira
2:18 – E ao anjo da igreja de Tiatira escreve: Isto diz o Filho de
Deus, que tem seus olhos como chama de fogo, e os pés semelhantes ao
latão reluzente:
Essas coisas diz o Filho de Deus – Veja as notas no capítulo 1:14-15.
2:19 – Eu conheço as tuas obras, e o teu amor, e o teu serviço, e a
tua fé, e a tua paciência, e que as tuas últimas obras são mais do que as
primeiras.
Eu conheço tuas obras - E dessas, ele primeiro destacou a caridade
deles, seu amor a Deus e uns aos outros, e, especialmente, ao pobre e aflito: e,
consequentemente, sobre sua fé, sua fidelidade, à graça que receberam; e
serviço, e ministração; propriamente, serviço piedoso e benevolente às viúvas,
órfãos, e pobres em geral.
30
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E tua paciência – Tua perseverança, sob aflições e perseguições, e tua
continuidade em fazer o bem. Eu coloco a fé antes do serviço, de acordo com o
consenso geral das melhores versões.
Tuas obras – O trabalho continuado de amor, e através da obediência.
As últimas, mais do que as primeiras – Eles não apenas retiveram o que
receberam a princípio, mas cresceram na graça, e no conhecimento e amor a
Jesus Cristo. Esta é uma coisa rara na maioria das Igrejas cristãs: elas
geralmente perdem o poder da religião, e se apóiam nas formas de adoração; e
isto requer um avivamento poderoso para trazê-las ao estado, em que suas
últimas obras sejam maiores do que as primeiras.
2:20 – Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz
profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e
comam dos sacrifícios da idolatria.
Esta mulher, Jezebel – Existe uma alusão aqui à história de Acabe e
Jesebel, como em II Reis 9:1-10, 36; e, embora não saibamos quem foi esta
Jezebel, mesmo assim, da alusão, podemos ter por certo, que se tratava de uma
mulher de poder e influência em Tiatira, que corrompeu a verdadeira religião, e
atormentou os seguidores de Deus naquela cidade, como Jezebel fizera em
Israel. Em vez disto, aquela mulher Jezebel, gunaika iezabhl, em muitos
manuscritos excelentes, e em quase todas as versões antigas, lê-se thn gunaika
sou iezabhl, - Tua mulher, Jezebel; o que insinua, de fato, afirma, que esta
mulher pecaminosa era esposa do bispo da Igreja e a criminalidade dele em
apóia-la era, portanto, maior. Esta leitura, Griesbach recebeu no texto. Ela se
autodenominava profetiza, ou seja, como professora, ensinava aos cristãos, que
a fornicação e o comer coisas oferecidas aos ídolos eram coisas indiferentes, e,
assim, eles eram desencaminhados da verdade. Mas é provável que por
fornicação aqui signifique meramente idolatria que é frequentemente seu
significado nas Escrituras. É também grosseiro supor que a esposa do bispo
desta Igreja poderia ensinar fornicação literalmente. O mensageiro ou bispo da
Igreja, provavelmente seu marido, apoiava isto; ele tinha poder para expulsá-la
e a seus adeptos, ou, como sua esposa, reprimi-la; mas não o fez, e, assim, ela
teve toda a oportunidade de desencaminhar o fiel. Isto é o que Cristo tinha
contra o mensageiro desta Igreja.
2:21 – E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua
prostituição; e não se arrependeu.
31
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Eu dei a ela oportunidade de arrepender-se – Em alusão à história de
Jezebel. Deus primeiro envia Elias a Acabe, para proferir-lhe um julgamento
severo, mas ele mostra sinais de arrependimento, e, assim, Deus cancela sua
punição. Desta forma, igual punição proferida contra Jezebel foi também
protelada. Deus deu a ela tempo para que se arrependesse, o que ela não o fez,
mas, em vez disto, desencaminhou seus filhos, para os mesmos pecados. Veja I
Reis 21:1-29. De acordo com a Lei Mosaica, a punição aos sedutores idólatras
não demorava, afinal, mas Deus, algumas vezes, mostrou misericórdia; e agora
muito mais, sob a dispensação cristã, embora esta misericórdia seja
frequentemente afligida, e produza o efeito contrário, como no caso desta
Jezebel. Veja Eclesiastes 8:11 “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a
má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto
para fazer o mal”.
Versículo 22 – Eis que a porei numa cama, e sobre os que
adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das
suas obras.
Observe, que eu a colocarei em uma cama - Isto novamente alude à
mesma história. Acazias, filho de Acabe e Jezebel, pela má instrução e exemplo
da mãe, seguiu, nos mesmos caminhos dela. Então, Deus o puniu, fazendo com
que ele caísse, como se supõe, do topo do terraço de sua casa, e, assim,
acamado, por longo tempo, sob grande angústia, pretendeu, dar-lhe tempo para
que se arrependesse; mas, em vez disto, Acazias pediu que consultassem BaalZebube, e Deus enviou Elias, para proferir a sentença final pela sua
impenitência. Desta mesma forma, o filho de Jezebel, que havia cometido
idolatria, a seu conselho, foi colocado, por muito tempo, em sua cama de
aflição, e não se arrependendo, morreu: O mesmo sucedendo a seu irmão Jerão.
Tudo isto, enquanto Jezebel teve tempo, e foi advertida, o suficiente, para que
se arrependesse; porém, embora não convencesse Jerão a continuar na adoração
idólatra à Baal, ainda assim, ela persistiu em seu caminho, não obstante, as
advertências de Deus. Os escritores sagrados, portanto, ameaçam aqui a Jzebel
gnóstica a fazer aquilo com a qual ela se deleita, como adúlteros na cama de
luxúria, que se torna o mesmo local, ocasião e instrumento dos maiores
tormentos dela. Assim, em Isaias, a cama se torna um símbolo de tribulação e
angústia do corpo e mente. Veja Isaías 28:20 “Porque a cama será tão curta
que ninguém se poderá estender nela; e o cobertor tão estreito que ninguém se
poderá cobrir com ele”; Jó 33:19 “Também na sua cama é castigado com
dores; e com incessante contenda nos seus ossos”.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Versículo 23 – E ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas
saberão que eu sou aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada
um de vós segundo as vossas obras.
E ferirei de morte seus filhos – Ou seja, eu certamente destruirei sua
descendência e memória, e desta forma, arruinarei seus desígnios.
Os dois filhos de Jezebel, ambos, reis, foram assassinados; e, depois
disto, todos os setenta filhos de Acabe (II Reais 10:1), sobre os quais a mão de
Deus foi muito visível. Da mesma maneira, Deus prediz a destruição dos
heréticos e as heresias a que se dirigem; veja versículo 16. Vê-se pela
expressão, eu sou aquele que examina os rins e os corações, que esses heréticos
introduziram, e semearam suas perniciosas doutrinas secretamente. Mas nosso
Salvador lhes diz que foi em vão, porque Ele trouxe os feitos deles à luz, com
aquele poder Divino de examinar nas maldades e afeições dos homens; e,
assim, lhes mostrar, e também a nós, que Ele é o Filho de Deus; e possui tais
olhos, que espreitam as ações deles, para que, assim como o fogo, inspecionem
todas as coisas, e destruam a palha, que não agüenta sua prova; desta forma, as
profundezas de satanás, a que isto alude, no versículo seguinte, (Cristo
assumindo aqui este título propositadamente), será de nenhum proveito àqueles
que acreditam enfraquecer a religião cristã, com suas astúcias secretas; porque
Ele não apenas trará ao conhecimento, mas frustrará todas as suas intenções
malévolas. Veja Capítulo 17:9.
2:24 – Mas eu vos digo a vós, e aos restantes que estão em Tiatira, a
todos quantos não têm esta doutrina, e não conheceram, como dizem, as
profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei.
Mas a você eu digo, e aos demais - Mas aos demais, etc...
Esta é a leitura de Complutensiano, e parece preferível ao senso
comum, já que ela evidentemente mostra que o restante da epístola, se refere
totalmente ao fiel, que não recebeu a doutrina anterior do erro. Eu não colocarei
sobre vocês outro fardo, é a recomendação à parte saudável da Igreja, de
maneira que eles não precisavam de alguma nova exortação ou
responsabilidade a ser dada a eles, nenhuma nova advertência, mas se
preservarem, como de costume. Veja Romanos 15:14,15 “Eu próprio, meus
irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de
bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos
outros. Mas, irmãos, em parte vos escrevi mais ousadamente, como para vos
trazer outra vez isto à memória, pela graça que por Deus me foi dada”. A
33
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
expressão fardo é tomada da história de Acabe, II Reis 9:25: O Senhor coloca
este fardo sobre ele; uma palavra frequentemente usada pelos profetas para
significar a profecia que ameaça com as coisas duras a serem sofridas. Isaías
13:1; e Números 4:19.
É merecedor de nota que os Gnósticos chamavam suas doutrinas de as
profundezas de Deus, e as profundezas de Bythos, insinuando que elas
continham os segredos mais profundos da sabedoria Divina. Cristo aqui as
chamava de as profundezas de satanás, sendo as obras-primas de seus
subterfúgios. Talvez, eles pensassem que elas fossem de Deus, enquanto, todo o
tempo, eram enganados pelo diabo.
2:25 – Mas o que tendes, retende-o até que eu venha.
Aquilo que tens – Ou seja, a pura doutrina do Evangelho, segurem-na,
firmes, até que eu venha – até que eu venha, para executar os julgamentos, dos
quais os tenho ameaçado.
2:26 – E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu
lhe darei poder sobre as nações,
Poder sobre as nações – Toda testemunha de Cristo tem o poder de
refutar e destruir todas as falsas doutrinas e máximas das nações do mundo,
para que o Cristianismo, por fim, prevaleça sobre todas; o reino de Cristo virá,
e os reinos desse mundo tornar-se-ão reinos de nosso Deus e de seu Cristo.
2:27 – E com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos
de oleiro; como também recebi de meu Pai.
Ele as governará, com vara de ferro – Ele impedirá os maus hábitos,
com a mais rigorosa administração de justiça; e aqueles que finalmente
menosprezam a palavra e se rebelam, serão quebrados e destruídos, de maneira
a nunca mais serem capazes de se voltarem contra a verdade. Isto parece se
referir ao mundo pagão; e talvez, se pretenda Constantino, o Grande, já que,
quando ele dominou Licinius, tornou-se instrumento nas mãos de Deus da
destruição da idolatria sobre todo o império Romano; que foi tão eficazmente
quebrada, de maneira a ficar como os fragmentos de um vaso de barro, de
nenhum uso em si mesmos, e incapazes de se unirem para algum bom
propósito.
2:28 – E dar-lhe-ei a estrela da manhã.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E eu darei a ele a estrela da manhã – Ele terá o mais glorioso e brilhante
império, ao lado do próprio Cristo. E é certo que o império Romano, sob
Constantino, o Grande, foi o mais brilhante símbolo dos últimos dias de glória
que alguma vez foi exibido ao mundo. É sabido que o sol, luz e estrelas são
símbolos, na linguagem profética de impérios, reinos e estados. E como a
estrela da manhã é aquela que imediatamente precede o nascer do sol,
provavelmente se pretenda aqui um império que prenuncie o domínio universal
do reino de Cristo.
Desde o tempo de Constantino, a luz da verdadeira religião tem se
espalhado, e está brilhando mais e mais até o dia perfeito.
2:29 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Aquele que tem ouvidos – Que todo Cristão preste o preciso cuidado a
essas predições de Cristo; e permita que elas tenham uma influência apropriada
em seu coração e vida.
CAPÍTULO III
A epístola à Igreja de Sardes, 1-6. A epístola à Igreja de Filadélfia, 713. A epístola à Igreja de Laodicéa, 14-22.
Notas sobre o Capítulo III
3:1 – E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que
tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que
tens nome de que vives, e estás morto.
Os sete Espíritos de Deus – Veja a nota, Apocalipse 1:4, 16 etc.
Tu tens um nome, para que vivas – Vocês têm a reputação de cristãos,
e, consequentemente, de estarem vivos para Deus, através da influência
vivificadora do Espírito Divino; mas vocês estão mortos – vocês não têm a vida
de Deus em suas almas. Vocês não caminharam consistente e firmemente
35
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
diante de Deus, e o Espírito dele afligiu-se por isto, e tem retraído muito de sua
luz e poder.
3:2 – Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para
morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus.
Sê vigilante – Vocês perderam o chão, pela negligência e falta de
atenção. Despertem e mantenham-se despertos! Fortaleçam as coisas que
permaneceram – As convicções e bons desejos, com alguma medida de temor a
Deus, e de uma consciência terna, que, embora ainda subsistindo, está prestes a
perecer, porque o Espírito Santo, que é o criador dela, sendo repetidamente
afligido, está prestes finalmente a se afastar.
De tuas obras perfeitas – Fartem-se – Eles executavam as obrigações de
todos os tipos, mas não o dever completamente. Eles estavam constantemente
começando, mas nunca traziam coisa alguma para a finalidade adequada. As
resoluções eram lânguidas, suas forças frágeis, e sua luz diminuída. Eles
provavelmente mantinham sua reputação diante dos homens, mas suas obras
não eram perfeitas diante de Deus.
3:3 – Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e
arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não
saberás a que hora sobre ti virei.
Lembra-te – Considerem seriamente o estado de vocês.
Como tu tens recebido – Com que alegria, zelo, e satisfação, vocês
ouviram o Evangelho de Cristo, quando primeiro pregado a vocês.
Mantém firme – Aqueles bons desejos e influências divinas que ainda
permanecem.
E arrependa-te – Sejam humildes diante de Deus, porque vocês não têm
trabalhado juntos a Ele, mas receberam muito da graça em vão.
Se, portanto, tu não vigiares – Se vocês não refletirem sobre os
caminhos de vocês, vigiando contra o pecado, e nas oportunidades, receberem e
fazerem o bem.
36
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Eu virei a ti como um ladrão – Como o ladrão vem, quando ele não é
esperado, assim, virei sobre vocês, se não forem vigilantes e os cortarei da
árvore e esperança.
3:4 – Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não
contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são
dignas disso.
Tu tens alguns poucos nomes, mesmo em Sardes – Algumas poucas
pessoas; os nomes sendo dados para os que os carregam. E como os membros
da Igreja estavam todos registrados, ou seus nomes constavam no livro, quando
admitidos na Igreja ou eram batizados, os nomes aqui são colocados para as
próprias pessoas. Vejam versículo 5.
Que não corromperam seus vestuários – Suas almas. Os hebreus
consideravam santidade como o traje da alma, e, as ações malévolas como
sujeiras ou manchas neste traje. Assim, em Shabbarh: “Certo rei forneceu
trajes reais aos seus servos; aqueles que foram prudentes os dobraram, e os
colocaram em uma arca; os que foram tolos os vestiram e executaram seus
trabalhos diariamente neles. Depois de um tempo, o rei perguntou por aqueles
trajes reais; os sábios os trouxeram brancos e limpos; os tolos, manchados.
Com os primeiros,o rei estava bem satisfeito; com os outros, irado. Com
respeito ao primeiro ele disse: Que esses trajem sejam colocados em meu
quarda-roupa, e que as pessoas vão para casa em paz. Dos últimos, ele disse:
Que esses trajes sejam colocados nas mãos do pisoeiro, e joguem aqueles que
os usaram na prisão”. Esta parábola é falada nestas palavras em Eclesiastes
12:7: Que o espírito retorne a Deus que o deu.
Eles caminharão comigo, em branco – Eles serão ressuscitados para o
estado de glória eterna, e viverão para sempre com seu Senhor.
3:5 – O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira
nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome
diante de meu Pai e diante dos seus anjos.
Eu apagarei seus nomes - Esta pode ser uma alusão ao costume de
registrar os nomes daqueles que foram admitidos na Igreja em um livro,
mantido para este propósito, de cujo costume nossos registros batismais
derivaram-se. Esses são propriamente livros da vida, já que aqueles que
nasciam para Deus eram registrados; e aqueles que nasciam naquela paróquia
eram inscritos. Ou pode haver alusões aos vestuários brancos, usados pelos
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
sacerdotes, e ao apagar do nome de algum sacerdote, da lista sacerdotal, porque
pecou ou certificou-se que não pertencia à semente de Arão. Em Middoth: “O
grande concílio de Israel reunia-se e julgava os sacerdotes. Se em algum
sacerdote, algum hábito condenável fosse encontrado, eles arrancavam suas
vestimentas e o vestia com negro, com o qual ele se envolvia, saía, e partia.
Aquele em que nada condenável fosse achado vestia-se de branco, e ele partia
e tomava seu lugar no ministério em meio aos seus irmãos sacerdotes”.
Eu confessarei seu nome – Eu reconhecerei que esta pessoa é meu
verdadeiro discípulo, e um membro de meu corpo místico. Em tudo isto deve
haver uma alusão ao costume de registrar cidadãos. Seus nomes entravam em
livros, de acordo com suas condições, tribo, família, etc; e quando morriam, ou
tinha, por atos inconstitucionais transgredidos o direito de cidadania, o nome
era riscado, ou apagado dos registros. Veja a nota em Êxodo 32:32 “Agora,
pois, perdoa o seu pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens
escrito’.
3:6 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Aquele que tem ouvido – A advertência e conselho, para
cuidadosamente atender às coisas faladas aos membros daquela Igreja, em que
todo leitor está mais ou menos interessado.
Epístola à Igreja em Filadélfia.
3:7 – E ao anjo da igreja que está em Filadélfia escreve: Isto diz o
que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e
ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre:
Aquele que é santo – Em quem a santidade essencialmente habita, e de
quem toda a santidade é derivada.
Aquele que é verdadeiro – Aquele que é a fonte da verdade; que não
pode mentir ou enganar; de quem toda a verdade procede; e cuja veracidade em
sua Revelação é irrepreensível.
Aquele que tem a chave de Davi – Veja esta metáfora explicada,
Mateus 16:19 “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares
na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado
nos céus”. A chave é símbolo de autoridade e conhecimento; a chave de Davi é
o direito ou a autoridade real de Davi. Davi poderia fechar ou abrir o reino de
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Israel, a quem ele quisesse. Ele não foi obrigado a deixar o reino, nem mesmo
para seu filho mais velho. Ele poderia escolher quem lhe agradasse para
sucedê-lo. O reino do Evangelho, e o reino do céu, estão à disposição de Cristo.
Ele pode fechar, para quem ele quiser; ele pode abrir a quem lhe agradar. Se ele
fecha, nenhum homem pode abrir; se ele abre, nenhum homem pode fechar.
Suas determinações todas permanecem firmes, e ninguém pode contrariá-las.
Esta expressão é uma alusão a Isaías 22:22 “E porei a chave da casa de Davi
sobre o seu ombro, e abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém abrirá”,
onde o profeta promete a Eliaquim, sob o símbolo da chave da casa de Davi, o
governo de toda a nação; ou seja, todo o poder de rei a ser executado por ele,
como seu representante; mas as palavras, como aqui aplicadas a Cristo, mostra
que Ele é absoluto.
3:8 – Conheço as tuas obras; eis que diante de ti pus uma porta
aberta, e ninguém a pode fechar; tendo pouca força, guardaste a minha
palavra, e não negaste o meu nome.
Eu colocarei diante de ti uma porta aberta - Eu abri uma porta a ti, para
proclamares e difundires minha palavra; e, não obstante existam muitos
adversários à expansão do Evangelho, ainda assim, nenhum deles será capaz de
impedir-te.
Tu tens pouca força – Muito pouca autoridade política ou influência;
ainda assim, tu mantiveste minha palavra – mantiveste a doutrina verdadeira; e
não negaste meu nome, buscando abrigo no ateísmo, quando o Cristianismo foi
perseguido. - A pouca força pode referir-se tanto à pequenez dos números,
quanto à escassez da graça.
3:9 – Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem
judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem
prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo.
Eu farei com que eles – Mostrarei que são da sinagoga de satanás
aqueles que se dizem judeus, pretendendo serem da sinagoga de Deus, e,
consequentemente seus filhos verdadeiros e singulares.
Venham e adorem – Eu disporei de tal forma as questões, em curso de
minha providência, que os judeus serão obrigados a buscarem junto aos
cristãos, tolerância, apoio e proteção; e obrigados a pedirem da maneira mais
humilde e desprezível.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Para que saibam que eu os amei – Que o amor que anteriormente estava
sobre os judeus foi removido, e transferido aos gentios.
3:10 – Como guardaste a palavra da minha paciência, também eu te
guardarei da hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo, para
tentar os que habitam na terra.
A palavra de minha paciência – A doutrina que os expôs aos tantos
problemas e perseguição, e requereu tanta paciência e magnanimidade para
suportarem as provas que os atendiam.
Na hora da tentação – Um tempo de dor e prova peculiar que mostraria
muito da força deles. Aqueles que são fiéis à graça de Deus são frequentemente
afastados das provas e dificuldades que caem sem mitigação sobre aqueles que
têm sido infiéis em sua aliança. Muitos entendem a hora de tentação, como
sendo a perseguição, sob o governo de Trajano, que foi mais notável e mais
extensa do que as precedentes, sob o governo de Nero e Domiciano.
Para prová-los - Ou seja, tais perseguições seriam os meios de tentar e
provar aqueles que professam o Cristianismo, e mostrar quem era leal e
totalmente cristão, e quem não era.
3:11 – Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que
ninguém tome a tua coroa.
Observem, eu venho rapidamente – Essas coisas brevemente terão
lugar; e eu virei com consolações e recompensas aos meus seguidores fiéis, e
com julgamentos aos meus adversários.
Tomem sua coroa – Deus providenciou mansões para vocês; que
ninguém, através de sua queda ocupe aqueles lugares de bem-aventurança.
3:12 – A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e
dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da
cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e
também o meu novo nome.
Uma coluna no templo – Existe provavelmente toda alusão aqui aos
dois pilares no templo de Jerusalém, chamado Jachin e Boaz, estabilidade e
força. A Igreja é o templo/ Cristo é o alicerce sobre o qual ela é construída; e
seus ministros são os pilares, pelos quais, debaixo dele, ela é adornada e
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
apoiada. Paulo tem as mesmas alusões, Gálatas 2:9 “E conhecendo Tiago,
Cefas e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia
sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para
que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão”.
Eu escreverei sobre ele o nome de meu Deus – Ou seja, eu o tornarei
um sacerdote para si mesmo. O sacerdote escrevia em sua testa: “santidade
para o Senhor”.
E o nome da cidade de meu Deus – Como o sumo sacerdote tinha em
seu peitoral os nomes das doze tribos gravadas, e essas constituíam a cidade ou
Igreja de Deus; Cristo aqui promete que no lugar delas, os doze apóstolos,
representando a Igreja cristã, seriam escritos, o qual é chamada de Nova
Jerusalém, e que Deus adotou no lugar das doze tribos judaicas.
Meu novo nome – O salvador de Todos; a luz que ilumina os gentios; o
Cristo; o Ungido; o único Governador de sua Igreja; e o Redentor de Toda a
humanidade.
Existe aqui uma insinuação de que a Igreja cristã durará para sempre; e
o ministério cristão, enquanto o tempo dure: Ele não mais partirá, para sempre.
Epístola à Igreja dos Laodiceanos
3:14 – E ao anjo da igreja que está em Laodicéia escreve: Isto diz o
Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
Essas coisas dizem o Amém – Ou seja, aquele que é verdadeiro e fiel;
de ma aman, ele era o tronco; imediatamente traduzido, a fiel e verdadeira
testemunha. Veja capítulo 1:5.
O começo da criação de Deus – Ou seja, o cabeça e governador de todas
as criaturas; o rei da criação. Veja em Colossenses 1:15 “O qual é a imagem
do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. Através de seus títulos,
aqui, ele os prepara para as verdades humilhantes e terríveis que estava prestes
a declarar, e a autoridade sobre a qual a declaração estava alicerçada.
3:15 – Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem
dera foras frio ou quente!
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Tu não és frio nem quente – Vocês nem são pagãos, nem cristãos – nem
bons, nem ruins – nem conduzidos por falsa doutrina, nem totalmente
devotados ao que é verdadeiro. Em uma palavra, eles eram desatentos e
indiferentes, e pareciam preocuparem-se pouco quer com a prevalência do
paganismo ou Cristianismo. Embora tivessem pouco zelo quer pela salvação de
suas próprias almas, ou as dos outros, ainda assim, eles tinham tal convicção
geral da verdade e importância do Cristianismo, de maneira que não podiam
prontamente desistir dele.
Eu gostaria que fossem frios ou quentes – Ou seja, que decidissem;
adotassem alguma parte ou outra, e estivessem sinceramente atados a ela. Se as
palavras do Sr. Erskine, em seus Sonetos Evangélicos, forem verdadeiras, era a
verdade desta Igreja: “Para o bem e mal igual disposição, eu sou tanto
demônio quanto santo”. Eles eram muito bons para irem para o inferno, e
muito maus para irem para o céu. Como Efraim e Judá, Oséas 6:4 “Que te
farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque a vossa benignidade é como a
nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.”. Eles
tinham boas disposições que eram atraídas pelas más, e tinham más disposições
que, por sua vez, cediam àquelas que eram boas; e a justiça e misericórdia
Divinas pareciam confusas em saber o que fazer a eles ou com eles. Este era o
estado da Igreja Laodiceana; e nosso Senhor expressa aqui neste aparente
desejo, o mesmo que é expresso por Epicteto, Ench. Capítulo 36: “Tu deves ser
de um só tipo de homem, ou um bom homem, ou um mau homem”.
3:16 – Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitarte-ei da minha boca.
Porque tu és morno – Irresoluto e indeciso.
Eu te vomitarei de minha boca – Ele alude aqui ao efeito conhecido de
água morna no estômago; ela geralmente produz náusea. Eu te lançarei fora. Tu
não tens interesse em mim. Tu tens estado perto de meu coração, ainda assim,
agora eu devo arrancar-te de lá, porque tu és indolente, descuidado, e
negligente; tu não és sincero com tua alma.
3:17 – Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho
falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;
Eu sou rico – Tu supões que estás em um lugar seguro, perfeitamente
certo da salvação final, porque tu começaste bem, e colocaste o alicerce certo.
Foi esta convicção mais enganosa que cortou os nervos da diligência espiritual
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
deles; eles descansaram no que eles já haviam recebido, e pareceram pensar que
uma vez na graça, continuariam na graça.
Tu és desprezível – talaipwrov? Mais desprezíveis. “A palavra
significa”, de acordo com Mintert, “Desgastados e fatigados com trabalhos
penosos, como aqueles que trabalham em uma pedreira ou estão condenados
às minas”. Assim, em vez de serem filhos de Deus, como eles supunham, e
herdeiros infalíveis de seu reino, eles estavam, aos olhos de Deus, na condição
dos escravos mais abjetos.
E miserável – o eleeinov? Mais deploráveis, para obterem a compaixão
de todos os homens.
E pobre – Tenho nenhuma riqueza espiritual, nenhuma santidade de
coração. Rico e pobre são algumas vezes usados pelos rabinos para
expressaram o reto e o ímpio.
E cego – Os olhos de teu entendimento, escurecido, de maneira que não
vês teu estado.
E nu – Sem a imagem de Deus, nem vestido da santidade e pureza –
Um estado mais deplorável nas coisas espirituais dificilmente pode ser
imaginado do que aquele desta Igreja. E é a imagem verdadeira de muitas
Igrejas e inumeráveis indivíduos.
3:18 – Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo,
para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça
a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que
vejas.
Eu te aconselho – Ó, alma caída e enganosa, ouve Jesus! Teu caso não é
impossível. Compra-me.
Deus testou no fogo – Venham e recebam de mim, sem pagamento, sem
preço, a fé que permanece em todas as provas: assim o ouro testado no fogo é
aqui entendido. Mas pode significar religião pura e imaculada, ou aquela graça
ou influência Divina que a produz, e que são mais valiosas para a alma do que o
mais puro ouro para o corpo. Eles tinham riquezas imaginárias anteriormente;
somente isto pode torná-los verdadeiramente ricos.
Vestuário branco – Santidade de coração e vida.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Unge teus olhos – Orem, para que possam receber, pelas influências
esclarecedoras de meu Espírito, para que possam se convencer de seu estado
verdadeiro, e vejam, até onde sua ajuda se situa.
3:19 – Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e
arrepende-te.
Tantos quantos eu amo – Assim era o amor que ele tinha por eles, de
modo a induzi-lo a repreendê-los e aconselhá-los.
Sejas zeloso – Sinceros, para que suas almas se salvem. Eles não tinham
zelo; esta foi a ruína deles. Ele agora os encoraja à diligência no use dos meios
da graça e arrependimento por seus pecados passados e descuido.
3:20 – Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e
abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.
Observa, eu permaneço à porta e bato – Existem muitos dizeres deste
tipo dentre os rabinos anciãos; assim, em Shir Hashirim Rabba: 1. “Deus diz
aos israelitas: Meus filhos, abram para mim uma porta do arrependimento,
mesmo que tão larga, quanto o buraco de uma agulha, e eu abrirei para vocês
portas através das quais bezerros e gado chifrudo poderão passar”. Em Sohar
Levit, é dito: 2.“Se um homem esconde seu pecado, e não o abre diante do
santo rei, embora ele peça misericórdia, ainda assim, a porta do
arrependimento não lhe será aberta. Mas, se ele a abre diante do santo Deus
abençoado, Deus o poupará, e a misericórdia prevalecerá sobre a ira; e
quando ele lamentar, embora todas as portas possam estar fechadas, ainda
assim, elas lhe serão abertas, e sua oração será ouvida”. Cristo permanece –
espera por muito tempo, à porta do coração do pecador; ele bate – usa de
julgamentos, misericórdias, reprovações, exortações, etc., para induzir os
pecadores ao arrependimento e a voltarem para ele; ele levanta a voz – chama
em voz alta, através de sua palavra, ministros, e Espírito.
Se alguém ouvir – Se o pecador considerar seriamente seu estado, e
atender à voz de seu Senhor.
E abrir a porta – Este deve ser seu ato próprio, recebendo o poder para
este propósito de seu Senhor ofendido, que não irromperá à porta; não fará
qualquer força para entrar.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Eu virei até ele – Eu me manifestarei a ele, curarei todas as suas
apostasias, perdoarei todas as suas iniqüidades e o amarei livremente.
Cearei com ele – Manterei comunhão com ele, o alimentarei com o pão
da vida.
E ele comigo – Eu o levarei, por fim, para habitar comigo na glória
eterna.
3:21 – Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu
trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono.
Para sentar-se comigo em meu trono – Em todos os casos é para aquele
que vence, para o conquistador, que a promessa final é feita. Aquele que não
vence não é coroado, portanto, toda promessa é aqui feita àquele que é fiel até a
morte. Aqui está a mais notável expressão: Jesus conquistou, e está sentado
com o PAI, no trono do Pai; aquele que vence, através de Cristo, senta-se com
Cristo em seu trono; mas o trono de Cristo e o trono do Pai são o mesmo; e é
neste mesmo trono que aqueles que são fiéis até a morte deverão finalmente se
sentar! Quão espantoso é este estado de exaltação! A dignidade e grandeza
daquele que pode entender. Está é a pior das sete Igrejas, e ainda assim, a mais
eminente de todas as promessas que lhe são feitas, mostrando que o pior pode
arrepender-se, finalmente conquistar, e alcançar, até mesmo, o mais sublime
estado de glória.
3:22 – Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Aquele que tem ouvidos, que ouça – O Sr. Wesley tem uma observação
muito sensata na conclusão deste capítulo, e especialmente sobre este último
verso: Aquele que tem ouvidos, etc. “Este (conselho) está nas três cartas
anteriores, antes da promessa, e nas quatro posteriores a ela; claramente
dividindo as sete em duas partes, a primeira contém três cartas, a última,
quatro. Os títulos dados nas três cartas anteriores dizem respeito
especialmente ao poder de nosso Senhor, após sua ressurreição e ascensão,
especificamente sobre sua Igreja; aqueles, nas quatro últimas cartas, à sua
glória Divina e unidade com o Pai e o Santo Espírito. Novamente, esta
palavra, colocada antes das promessas, nas três primeiras cartas, exclui os
falsos profetas em Éfeso, os falsos judeus em Esmirna, e os parceiros dos ateus
em Pérgamo, de terem qualquer porção nisto. As quatro cartas, depois delas,
deixam as promessas imediatamente ligadas ao discurso de Cristo ao anjo da
Igreja, para mostrar que o cumprimento dessas estava próximo; enquanto que
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
as outras vão além do fim do mundo. Deve-se observar que o domínio ou
vitória (para os quais apenas essas promessas específicas estão ligadas) não é
a vitória comum obtida por todo crente, mas uma vitória especial alcançada
sobre grandes e singulares tentações, por aqueles que são fortes na fé”. O mais
recente relato que temos do estado das sete Igrejas asiáticas está em uma carta
do capelão Henry Lindsay, capelão da Embaixada britânica em Constantinopla,
a um membro da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, através de cuja
sociedade, o Sr. Lindsay é solicitado a distribuir algumas cópias do Novo
Testamento, em Grego moderno, entre os cristãos na Ásia Menor.
O seguinte é sua comunicação, datada: “Constantinopla, 10 de Janeiro
de 1816”.
“Quando lhe escrevi da vez passada, eu estava prestes a partir para
uma breve excursão pela Ásia Menor. Numa viagem rápida, como me propus,
devido às circunstâncias de minha situação, a informação que eu poderia obter
seria necessariamente superficial e insatisfatória. Como, no entanto, eu
distribuí alguns poucos livros da sociedade, que fui capaz de levar comigo, eu
penso que é necessário dar algum relato do curso que eu tomei”:
“1. O intercurso regular da Inglaterra com ESMIRNA o capacitará a
alcançar tão acurado entendimento de seu presente estado, quanto algum que
eu possa pretender oferecer. Das conversas que eu tive com o bispo grego, e
seu clero, assim como os vários indivíduos bem informados, fazem-me supor
que, se a população de Esmirna for estimada em cento e quarenta mil
habitantes, existem de quinze a vinte mil gregos, seis mil armenianos, cinco mil
católicos, cento e quarenta protestantes, e onze mil judeus”.
“2. Depois de Esmirna, o primeiro lugar que visitei foi ÉFESO, ou
antes, (como o lugar não é completamente o mesmo) Aiasalick, que consiste de
aproximadamente quinze cabanas pobres. Eu encontrei apenas três cristãos lá,
dois irmãos que mantinham uma pequena loja, e um jardineiro. Existem três
gregos, e a ignorância deles é lamentável. Naquele lugar, que foi abençoado
por tanto tempo, com trabalhos apostólicos, e aqueles de seus zelosos
assistentes, existem cristãos que não têm ouvido muito a respeito daquele
apóstolo, ou parecem apenas reconhecer o nome de Paulo, como um no
calendário de seus santos. Um deles, eu achei capaz de ler um pouco, e deixei
com ele o Novo Testamento, em grego antigo e moderno, já que ele expressou
um forte desejo de ler, e prometeu-me que não apenas estudaria, mas o
emprestaria a seus amigos nos vilarejos vizinhos”.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
“3. Meu próximo objetivo foi ver LAODICÉA; a caminho está
Guzelhisar, uma cidade larga, com uma igreja, e por volta de setecentos
cristãos. Em minha conversa com os sacerdotes daqui, eu os achei tão pouco
familiarizados com a Bíblia, ou mesmo com o Novo Testamento, em sua forma
inteira, que eles não tinham conhecimento distinto dos livros que ele continha,
além dos quatro evangelhos, mas os mencionaram indiscriminadamente com as
várias lendas inúteis e vidas de santos. Eu lhes enviei três cópias do
Testamento grego moderno, desde meu retorno. Por volta de três milhas de
Laodicéa está Denizli, que tem sido denominada (mas eu estou inclinado a
pensar que erroneamente) o Colosso ancião; ela é uma cidade considerável,
com cerca de quatrocentos cristãos, gregos, e armenianos, cada um dos quais
tem sua igreja. Eu lamento dizer, no entanto, que aqui também, os mais
extravagantes contos de milagres, e relatos fabulosos de anjos, santos, e
relíquias, usurparam o lugar das Escrituras, de maneira a tornar muito difícil
separar em suas mentes, as verdades Divinas das invenções humanas. Eu sinto
que aqui, aquele tempo infeliz chegou, quando os homens ‘viraram seus
ouvidos da verdade, e os voltaram para as fábulas’. Eu tinha comigo algumas
cópias dos evangelhos em grego antigo, que eu distribuí aqui, como em alguns
outros lugares, pelos quais passei. Eski-hisar, próximo ao qual estão os
anciãos remanescentes de Laodicéa, contém cerca de cinqüenta habitantes
pobres, sendo apenas dois cristãos, que vivem juntos em um pequeno moinho;
infelizmente, nenhum deles sabia ler; a cópia, portanto, do Novo Testamento,
que eu pretendia para esta Igreja, eu deixei com aquela de Denizli, a
descendência e os pobres remanescentes de Laodicéa e Colosso. As orações
das mesquitas são as únicas orações que são ouvidas perto das ruínas de
Laodicéa, sobre as quais a ameaça parece ter sido completamente executada
em sua extrema rejeição como uma Igreja”.
“4. Eu parti para FILADÉLFIA, agora Alah-shehr. Foi gratificante
encontrar, por fim, alguns frutos sobreviventes do zelo anterior; e, aqui, pelo
menos, ainda que houvesse a perda do espírito do Cristianismo, existia a forma
de uma Igreja cristã; isto tem sido mantido desde a ‘hora da tentação’, que
veio junto a todo o mundo cristão. Existem aqui cerca de mil cristãos,
principalmente gregos, que, em sua maior parte, falam apenas turco; há vinte e
cinco lugares de adoração pública, cinco dos quais são grandes igrejas
regulares; para essas existe um bispo residente, com vinte bispos
subordinados. Uma cópia do Testamento grego moderno foi recebida pelo
bispo com grande gratidão”.
“5. Eu deixei Alah-shehr, profundamente desapontado com o relatório
que recebi lá da Igreja de SARDIS. Eu confiei que, em suas maiores provas, ela
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
não acabaria por perecer completamente, e ouvi com surpresa que nenhum
vestígio dela permaneceu. Com que satisfação, então, eu encontrei nas
planícies de Sardis um pequeno estabelecimento religioso; os poucos cristãos
que habitam em redor da moderna Sart estavam ansiosos por se instalarem lá e
erguerem uma igreja, já que havia o hábito de se reunirem uns nas casas dos
outros, para o exercício da religião. Deste objetivo, eles foram proibidos pelo
Kar Osman Oglu, o governador turco do distrito; e, em conseqüência, cerca de
cinco anos atrás, eles construíram uma igreja na planície, nos moldes da
antiga Sardis, e lá mantêm um sacerdote. O lugar foi gradualmente erguido
dentro de um pequeno vilarejo, agora chamado Tatar-keny; para lá, os poucos
cristãos de Sart, que somam a sete, e aqueles em suas vizinhanças imediatas,
lugar de adoração pública, formam juntos uma congregação de
aproximadamente quarenta. Lá parece haver um vestígio, ‘alguns poucos
nomes, mesmo em Sardis’, que tem sido preservado. Eu não posso repetir as
expressões de gratidão com que eles receberam uma cópia do Novo
Testamento, em uma língua que lhes era familiar. Diversos amontoaram-se em
volta do sacerdote para a ouvirem no local, e eu os deixei assim
comprometidos”.
“6. Aki-hisar, a antiga TIATIRA, dizem conter cerca de trinta mil
habitantes, dos quais três mil são cristãos, todos gregos, exceto duzentos
armenianos. Existem, entretanto, apenas uma igreja grega, e uma armeniana.
O superior da Igreja grega a quem eu presenteei com o Testamento Romaico, o
considerou tão grande tesouro que ele sinceramente pressionou-me, se possível
a reservar outro, para que um pudesse ficar seguro na igreja, e livre dos
acidentes, enquanto o outro correria em meio ao povo, em suas leituras
particulares. Assim sendo, eu enviei, desde que retornei de lá, quatro cópias”.
“7. Pode-se dizer que a Igreja de PÉRGAMO, com respeito aos
números, floreceu ainda em Bérgamo. A cidade é menor do que Ak-hisar, mas
a quantidade de cristãos é tão grande, quanto a proporção de armenianos para
com os gregos, aproximadamente é a mesma, e cada nação também tem uma
igreja. O bispo do distrito, que ocasionalmente reside lá, estava, na
oportunidade, ausente, e eu verifiquei, com grande pesar, que o clero residente
era totalmente incapaz de avaliar o presente que eu pretendia a eles; portanto,
entreguei o Testamento para o vigário leigo do bispo, a seu urgente pedido, e
ele me assegurou que o bispo prezaria muitíssimo tão valiosa aquisição da
igreja. Ele me pareceu muito satisfeito de que o estado ignorante de sua nação
tenha despertado a atenção de estrangeiros”.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
“Assim, senhor, eu deixei, pelo menos, uma cópia da palavra não
adulterada de Deus, em cada uma das sete Igrejas asiáticas do Apocalipse, e
confio que não serão jogadas fora; mas quem quer que possa plantar, é Deus
apenas que poderá dar o crescimento, e, de sua bondade, podemos esperar que
elas, no seu devido tempo, produzirão frutos, ‘algumas trinta, algumas
sessenta, e algumas cem ovelhas’. HENRY LINDSAY”.
Em minha nota sobre Atos 29:24, eu dei um relato do notável templo de
Diana, em Éfeso, cuja construção, chamada uma das sete maravilhas do mundo,
supõe-se que Paulo alude em sua epístola a esta Igreja, especialmente em
Efésios 3:18, onde eu novamente dei a medida deste templo.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO IV
João vê o trono de Deus no céu, cercado por vinte e quatro anciãos; e
quatro criaturas viventes, cheias de olhos; e todos se reuniram para dar glória
ao Altíssimo.
Notas sobre o Capítulo IV
4:1 – DEPOIS destas coisas, olhei, e eis que estava uma porta
aberta no céu; e a primeira voz que, como de trombeta, ouvira falar
comigo, disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem
acontecer.
A porta foi aberta no céu – Esta parece uma abertura visível no céu,
sobre sua cabeça.
4:2 - E logo fui arrebatado no Espírito, e eis que um trono estava
posto no céu, e um assentado sobre o trono.
Estava no Espírito – Arrebatado, pelo êxtase
4:3 – E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à
pedra jaspe e sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono, e
parecia semelhante à esmeralda.
E aquele que estava sentado – Existe aqui nenhuma descrição do Ser
Divino, de maneira a indicar alguma similude, forma ou dimensão. A descrição,
antes, objetiva a glória e esplendor, circundantes, mais do que a pessoa do Rei
Altíssimo. Veja uma descrição em Números 24:10, em diante, e suas notas.
4:4 - E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e vi
assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes
brancas; e tinham sobre suas cabeças coroas de ouro.
Vinte e quatro anciãos – Talvez, refira-se ao menor Sinédrio em
Jerusalém, que era composto de vinte e quatro anciãos; ou aos príncipes dos
vinte e quatro cursos de sacerdotes judaicos que ministravam no tabernáculo e
no templo, a princípio, indicados por Davi.
Vestidos de branco – O vestuário dos sacerdotes.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Sobre suas cabeças, coroas de ouro – Um emblema de dignidade. Os
escritores judaicos representam as almas humanas, como sendo criadas,
primeiro; e, antes que entrem no corpo, cada uma é tomada por um anjo no
paraíso, onde ela vê os justos sentados na glória, com coroas sobre suas
cabeças. Rab. Tanchum.
4:5 – E do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do
trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus.
Sete lâmpadas de fogo – Sete anjos, os atendentes e ministros do Rei
supremo. Veja capítulo 1:4, e suas notas.
4:6 – E havia diante do trono como que um mar de vidro,
semelhante ao cristal. E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro
animais cheios de olhos, por diante e por detrás.
Quatro bestas – Quatro criaturas viventes, ou quatro animais.
A palavra besta é impropriamente usada aqui, e em qualquer outro lugar
nesta descrição. Wiclif primeiro a usou, e tradutores, em geral, o têm seguido
nesta tradução estranha. Uma besta diante do trono de Deus no céu soa
impróprio.
4:7 – E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal
semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro animal o rosto como de
homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia voando.
A primeira besta era como um leão – Supõe-se que exista uma
referência aqui aos quatro estandartes ou emblemas das quatro divisões das
tribos nos campos israelitas, como descritos pelos escritores judaicos.
A primeira, como a face de um leão; dizem os rabinos, em referência ao
estandarte de Judá no leste, com as duas tribos de Issacar e Zebulom. A
segunda, como a de um bezerro ou boi, o emblema de Efraim, que acampou no
oeste, com as duas tribos de Manassés e Benjamim. O terceiro, com a face de
um homem, o que, de acordo com os rabinos, era o estandarte de Rúben que
assentou no sul, com as duas tribos de Simeão e Gade. O quarto, como a de
uma águia voando (expandida), de acordo com os mesmos escritores, o
emblema sobre a insígnia de Dã, ao norte, com as duas tribos de Aser e Naftali.
Esta descrição tradicional está de acordo com as quatro faces do querubim, na
visão de Ezequiel. Veja minhas notas e diagramas em Números 2.
51
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A tradição cristã trata essas criaturas como emblemas dos quatro
evangelistas. A João é atribuído a ÁGUIA; a Lucas, o BOI, a Marcos, o LEÃO,
e a Mateus, o HOMEM, ou anjo na forma humana. Assim como os primeiros
representaram o todo da Igreja ou congregação judaica, então, ao último é
pretendido representar o todo da Igreja cristã.
4:8 – E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao
redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia
nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o TodoPoderoso, que era, e que é, e que há de vir.
As quatro bestas têm cada uma, seis asas - Eu já observara, no prefácio
deste livro, que a fraseologia é rabínica; e poderia ter acrescentado, do
imaginário também. Praticamente, temos uma contraparte desta descrição em
Pirkey Elieser, cap.4. Eu darei a essência deste, de Schoettgen. “Quatro legiões
de anjos ministrantes louvam o santo abençoado Deus: o primeiro é Miguel, à
direita; o próximo é Gabriel, à esquerda; o terceiro é Uriel, à frente; e o
quarto é Rafael, atrás”.
“O shechinah do santo, abençoado Deus, está no centro, e ele se senta
sobre o trono supremo e elevado, suspenso no ar; e sua magnificência é âmbar,
em meio ao fogo, Ezequiel 1:4. Sobre sua cabeça, uma coroa e um diadema,
com o nome inexprimível, (hwhy Yehovah), inscrito em sua fronte. Seus olhos
percorrem toda a terra; uma parte deles é fogo, a outra, granizo. À sua direita,
está a Vida, e à esquerda, a Morte; e ele tem um cetro de fogo em sua mão.
Diante dele, o véu estendido, o véu entre o templo e o corpo dos santos; e sete
anjos ministram diante dele, com aquele véu: o véu e seu escabelo são como
fogo e luz; e debaixo do trono da glória, um brilho como fogo e safira, e em
redor do seu trono, justiça e julgamento”.
“No trono, estão as sete nuvens de glória; e a carruagem, e o
querubim, e as criaturas vivas que dão glória diante de sua face. O trono é
como safira; e seus quatro pés são as quatro criaturas vivas; cada uma, com
quatro faces e quatro asas. Quando Deus fala do leste, então, o faz entre os
dois querubins, com a face de um HOMEM; quando fala do sul, dos dois
querubins, com a face de um LEÃO; quando do oeste, dos dois querubins, com
a face de um BOI; e quando fala do norte, dos dois querubins, com a face de
uma ÁGUIA”.
“E as criaturas vivas estão diante do trono da glória; e permanecem no
medo, em tremor, em horror, e em grande agitação; e desta agitação, uma
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
corrente de fogo flui diante deles. Dos dois serafins, um se coloca à direita do
santo Deus abençoado, e o outro, à esquerda; e cada um deles tem seis asas;
com duas, eles cobrem suas faces, afim de que possam ver a face de shechinah;
com duas, cobrem seus pés, para que descubram o escabelo de schechinah; e
com duas, voam, e santificam seu grande nome. E cada um responde ao outro,
dizendo, Santo, santo, santo, Senhor Deus dos exércitos; toda a terra está cheia
de sua glória. E as criaturas vivas se colocam próximas à sua glória, ainda
assim, não sabem onde ela se situa; mas, onde quer que sua glória esteja, eles
clamam e dizem: Abençoado seja a glória do Senhor!”.
Em Shemoth Rabba, Rabino Abin diz: “Existem quatro que têm
principado neste mundo: em meio às criaturas intelectuais, o HOMEM; em
meio aos pássaros, a ÁGUIA; em meio ao gado, o BOI; e em meio às bestas
selvagens, o LEÃO: cada um deles tem um reino e certa magnificência, e eles
estão colocados sob o trono da glória, Ezequiel 1:10 – ‘E a semelhança dos
seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro
tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e
também tinham rosto de águia todos os quatro’, para mostrar que nenhuma
criatura deve exaltar a si mesma neste mundo, e que o reino de Deus está sobre
tudo”. Essas criaturas podem ser consideradas representativas de toda a criação.
4:10 – Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que
estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre;
e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo:
Lançavam suas coroas diante do trono – Reconhecendo a infinita
supremacia de Deus, e que originaram sua existência e suas bênçãos dele
somente. Esta é uma alusão ao costume de prostrações no oriente, e a
deferência dos reis subordinados, em reconhecerem a supremacia do imperador.
4:11 – Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque
tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.
Tu és merecedor, Ó Senhor, de receber – Assim toda a criação
reconhece a supremacia de Deus; e nós aprendemos desta canção, que ele fez
todas as coisas para seu prazer; e, por este motivo, as preserva.
Consequentemente, é mais evidente que ele odeie nada do que tenha
feito, e não faria criatura inteligente com o objetivo de torná-la eternamente
miserável. É estranho que uma suposição contrária tem sempre entrado no
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
coração do homem; e agora é o momento da natureza benevolente do supremo
Deus ser completamente vindicada das calúnias deste tipo.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO V
Este livro, selado com sete selos, que nenhum ser no céu ou terra
poderia abrir, 1-3. Por fim, é aberto pelo Leão da tribo de Judá, 4-8. Ele recebe
o louvor das quatro criaturas viventes e dos vinte e quatro anciãos, 9-10. E,
mais tarde, de uma multidão inumerável, que reconhece que eles foram
redimidos para Deus, através de seu sangue, 11,12. E, então, de toda criação,
que atribui bênção, honra, glória e poder a Deus e ao Cordeiro para sempre, 1314.
Notas sobre o Capítulo V
5:1 – E VI na destra do que estava assentado sobre o trono um livro
escrito por dentro e por fora, selado com sete selos.
Um livro escrito dentro e pelo lado de fora – Ou seja, o livro estava
cheio de conteúdos solenes, mas foi selado; e do lado de fora, havia um
subscrito, indicando seus conteúdos. Era um livro selado, escrito em cada lado
da capa, o que não era usual.
Selado com sete selos – Já que sete é o número da perfeição, pode
significar que o livro foi assim selado, para que os selos não pudessem ser
adulterados ou rompidos; por exemplo, o conteúdo do livro era tão obscuro e
enigmático e a obra que ele reunia e os fatos, que predizia, tão difíceis e
estupendos, que eles não poderiam ser conhecidos, nem executados pela
sabedoria ou poder humano.
5:2 – E vi um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno
de abrir o livro e de desatar os seus selos?
Um anjo forte – Um dos chefes da legião angélica.
Proclamando - Como o arauto de Deus.
Para abrir o livro, e soltar os selos – Para soltar os selos, e abrir o livro.
Quem pode dizer o que este livro contém? Quem pode desvendar seus
mistérios? O livro pode significar os propósitos e desígnios de Deus, com
respeito ao seu governo no mundo e Igreja; mas nós, cuja habitação é no pó,
sabemos nada de tais coisas. Nós estamos, no entanto, determinados a supor.
55
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
5:3 – E ninguém no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia
abrir o livro, nem olhar para ele.
E nenhum homem – Nenhuma pessoa ou ser.
No céu – Dentre os anjos de Deus.
Nem na terra – Nenhum ser humano.
Nem debaixo da terra – Nenhum espírito desencarnado, nem qualquer
demônio. Nem anjos, homens, nem demônios podem penetrar nos decretos de
Deus.
Nem olhar dentro dele – Ninguém poderá fazê-lo, se ele não for aberto,
e ninguém poderá abri-lo, sem que os selos sejam soltos.
5:4 – E eu chorava muito, porque ninguém fora achado digno de
abrir o livro, nem de o ler, nem de olhar para ele.
Eu chorei muito – Porque o mundo e a igreja seriam igualmente
privadas do conhecimento dos conteúdos do livro.
5:5 – E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da
tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os
seus sete selos.
O Leão da Tribo de Judá – Jesus Cristo, que se originou desta tribo,
como sua genealogia prova; veja Mateus 1:2-3 e Lucas 3:33.
Existe uma alusão aqui à Gênesis 49:9 “Judá é um leãozinho, da presa
subiste, filho meu; encurva-se, e deita-se como um leão, e como um leão velho;
quem o despertará?”. Judá é um filhote de leão; o leão era o emblema desta
tribo, e supõe-se, ornado com esses emblemas.
A Raiz de Davi – Veja Isaías 11:1 “Porque brotará um rebento do
tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará”. Cristo era da raiz de
Davi, quanto à sua natureza divina; e um ramo do tronco de Jessé, quanto à sua
natureza humana.
Prevaleceu – Pelo mérito de sua encarnação, paixão e morte.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Para abrir o livro – Esclarecer e executar todos os propósitos e decretos
de Deus, em relação ao governo do mundo e da Igreja.
5:6 – E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais
viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha
sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a
terra
Havia um Cordeiro – Cristo é assim chamado, porque foi uma oferta de
sacrifício; arnion significa um cordeiro pequeno ou frágil.
Como se acabasse de ser morto – Para ser oferecido. Isto é muito
notável; tão importante é a oferta sacrifical de Cristo aos olhos de Deus, que ele
é ainda representado como no próprio ato em que derrama seu sangue pelas
ofensas dos homens. Isto fornece grande proveito para a fé: quando alguma
alma vem ao trono da graça, encontra um sacrifício, providenciado por ele a ser
oferecido a Deus. Assim, todas as gerações subseqüentes certificam-se de que
têm um sacrifício contínuo pronto, e o sangue recém derramado a oferecer.
Com sete chifres – Uma vez que o chifre é o emblema do poder, e sete
o número da perfeição, os sete chifres podem significar o todo poder
predominante e infinito de Jesus Cristo. Ele pode apoiar todos os seus amigos;
pode destruir todos os seus inimigos; pode salvar, ao extremo, todos que vêm a
Deus, através dele.
E sete olhos – Para mostrar seu conhecimento e sabedoria infinita: mas
como esses sete olhos parecem significar os sete Espíritos de Deus, eles seriam,
antes, sua providência, com a qual ele frequentemente emprega o ministro dos
anjos; que são enviados para toda a terra. Veja capítulo 1:4.
5:7 – E veio, e tomou o livro da destra do que estava assentado no
trono.
E pegou o livro – Este verso pode ser devidamente explicado por João,
João 1:18, Nenhum homem viu Deus, em tempo algum; o Unigênito Filho, que
está no seio do Pai, ele o REVELOU. Com Jesus somente estão todos os
conselhos e mistérios de Deus.
5:8 – E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e
quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas
e salvas de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.
57
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
As quatro bestas – caíram diante do Cordeiro – Toda a Igreja de Deus e
todos os seus filhos no céu e terra, reconhecem que Jesus Cristo é único
merecedor e capaz de revelar e executar todos os mistérios e conselhos de
Deus. Veja Versículo 9.
Cada um, com harpas - Haviam harpas e salvas; e cada um dos anciãos
e das criaturas vivas tinha uma.
Odores que são como orações dos santos – O olíbano e odores
oferecidos no tabernáculo eram símbolos de orações e louvores ao Senhor.
Aquelas orações são comparadas a incenso. Veja Salmos 141:2: Que minhas
orações sejam diante de ti, como incenso. Consequentemente, o que está na
Synopyses Sohar: “Os odores das orações dos israelitas são como a mirra e
olíbano; mas no Sabbath convém o aroma de todos os tipos de perfumes”. As
palavras que são as orações dos santos devem ser entendidas como: este é meu
corpo; isto significa ou representa meu corpo; esses odores representam as
orações dos santos.
5:9 – E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o
livro, e de abrir os seus selos; porque foste morto, e com o teu sangue
compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação;
Um nova canção – Composto sobre os temas e bênçãos do Evangelho,
que fora, há pouco, aberto na terra. Mas nova canção pode significar uma
canção mais excelente; e, assim sendo, provavelmente significar o Evangelho e
suas bênçãos. O Evangelho é chamado de uma nova canção em Salmos 96:1
“CANTAI ao SENHOR um cântico novo, cantai ao SENHOR toda a terra”. E,
talvez, exista uma alusão às harpas, como em Salmos 144:9: Eu cantarei a ti
uma NOVA CANÇÃO, ó Deus: junto ao saltério e ao instrumento de dez
cordas, etc. A mesma forma de discurso, em Isaías 42:10: Cante ao Senhor um
Cântico Novo, etc.; e aqui o profeta parece ter especialmente a dispensação
evangélica, em vista.
Tu nos redimiste para Deus – de todas as nações – Parece, portanto, que
as criaturas vivas e os anciãos representam o agregado de seguidores de Deus;
ou da Igreja cristã, em todas as nações, e dentre todos os tipos de pessoas, e,
talvez, por todo o decurso de tempo; e todos, redimidos pelo sangue de Cristo,
mostrando claramente que sua vida foi uma oferta sacrifical para os pecados de
toda humanidade.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
5:10 – E para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles
reinarão sobre a terra
Reis e sacerdotes – Veja Êxodo 19:6 “E vós me sereis um reino
sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de
Israel”; I Pedro 2:5, 9, e as notas. “Vós também, como pedras vivas, sois
edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. (...) Mas vós sois a geração
eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis
as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.
5:11 – E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos
animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares
de milhares,
A voz de muitos anjos – Esses também são representados como
reunidos em coro com os mortais redimidos.
Milhares de milhares – “Miríades de miríades e quilíades de
quilíades”; ou seja, uma multidão inumerável. Isto é em referência a Daniel
7:10 “Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o
serviam, e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e
abriram-se os livros”.
5:12 – Que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi
morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e
glória, e ações de graças.
Para receber o poder – Ou seja, Jesus Cristo é meritório de tomar,
labein/capacitado, ter imputado a ele, poder – onipotência; riquezas –
beneficência; sabedoria – onisciência; força – poder no exercício predominante;
honra – a mais alta reputação para o que ele tem feito; glória – o louvor devido
a tais ações; e bênçãos – o grato reconhecimento de toda a criação. Aqui
existem sete diferentes tipos de louvor; e exatamente concordantes com as
formas rabínicas, que o autor deste livro mantém constantemente em vista. Veja
Sepher Rasiel: “Aos três pertencem glória, magnitude, poder, o reino; a honra,
a vitória e o louvor”.
5:13 – E ouvi toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo
da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e
honra, e glória, e poder para todo o sempre.
Toda criatura – Toda criação, animada e inanimada, está representada
aqui pela figura de linguagem, prosopopéia ou personificação, louvando ao
Senhor Jesus, porque, através dele, todas as coisas foram criadas. Assim, toda a
criação louva igualmente a Jesus Cristo, que, indubitavelmente, é representado
aqui pelo Cordeiro recém morto, da mesma forma, que representa a Deus que
se senta no trono.
Agora, se Jesus Cristo não fosse propriamente Deus, isto seria idolatria,
por dar à criatura o que pertence ao Criador.
5:14 – E os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro
anciãos prostraram-se, e adoraram ao que vive para todo o sempre
As quatro bestas disseram Amém – Reconheceram que o que foi
atribuído a Cristo lhe era devido.
Os vinte e quatro anciãos – A palavra eikositessarev, vinte e quatro, está
faltando, nas mais eminentes manuscritos e versões.
Prostraram-se e adoraram – Caíram de joelhos, e, então, prostraram-se
diante do trono. Este é o modo oriental de adoração: primeiro, a pessoa cai de
joelhos; e, então, curva-se e toca a terra com sua testa. Este último ato era a
prostração.
Aquele que vive para sempre – Este parágrafo está falando no ABC,
vinte e sete outros, em Siríaco, Arábico, Cóptico, Etiópico, algumas cópias em
Esloveno, Italiano, e Vulgata; e no Andréas e Arethas, comentadores anciãos
deste livro. Falta também em algumas edições, e é indubitavelmente espúrio.
Griesbach deixou este e os vinte e quatro acima, fora do texto.
Agora se seguem as últimas partes inteligíveis deste livro misterioso,
sobre as quais muito tem sido escrito, e tanto em vão. É natural ao homem o
desejo de ser sábio; e quanto mais difícil o assunto, mais ele é estudado, e a
esperança de encontrar alguma coisa que o mundo e a Igreja possam aproveitar,
tem feito a maioria eminentemente de homens cultos empregar seu talento e
gastar seu tempo nessas profecias abstrusa. Mas que uso tem todo este trabalho
douto e bem-intencionado à humanidade? Pode a hipótese explicar a profecia, e
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
a conjectura encontrar uma base sobre a qual a fé pode repousar? E o que de
melhor temos feito, em todas as tentativas de explicarmos os mistérios deste
livro?
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO VI
O que se segue ao abrir dos sete selos. O abrir do primeiro selo; o
cavalo branco (1,2). O abrir do segundo selo; o cavalo vermelho (3,4). O
terceiro; o cavalo negro, e a penúria (5,6). O abrir do quarto selo; o cavalo
pálido (7,8). O abrir do quinto selo; as almas dos homens sob o altar, (9,11). O
abrir do sexto selo; o terremoto, o escurecimento do sol e lua, e a queda das
estrelas, (12,14). A consternação terrível dos reis e grandes homens da terra
(15,17).
Notas sobre o Capítulo VI
6:1 - E, HAVENDO o Cordeiro aberto um dos selos, olhei, e ouvi
um dos quatro animais, que dizia como em voz de trovão: Vem, e vê.
Quando o Cordeiro abriu um dos selos – Vale observar que o abrir dos
selos não é meramente uma declaração do que Deus fará, mas a exibição de um
propósito, então, executado; uma vez que, quando quer que o selo seja aberto, a
sentença aparece para ser cumprida. Supôs-se que as calamidades que cairiam
sobre os inimigos do Cristianismo, e especialmente os judeus, foram apontadas,
sob várias imagens, assim como a preservação dos Cristãos, nestas
calamidades.
Uma das quatro bestas – Provavelmente aquela com a face de um leão.
Veja capítulo 4:7.
Vem e vê – Atendam ao que será exibido. É muito provável que tudo
foi exibido diante de seus olhos, como em um cenário, e ele viu cada ato
representado, e todas as pessoas e coisas que deveriam ser os atores principais.
6:2 – E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado
sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para
vencer.
Um cavalo branco – Que se supõe represente o sistema evangélico, e
indique sua excelência, vivacidade e pureza. Aquele que se sentou nele – Jesus
Cristo.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Um arco – A pregação do Evangelho, lançando convicção nos corações
dos pecadores.
Uma coroa – O emblema do reino que Cristo deveria estabelecer sobre
a terra.
Vitorioso e para vencer – Para dominar e confundir, primeiro, os
judeus, e, então, os pagãos; espalhando mais e mais doutrina e influência da
cruz sobre a face da terra.
6:3 – E, havendo aberto o segundo selo, ouvi o segundo animal,
dizendo: Vem, e vê.
O segundo animal – O que tinha a face de um boi.
6:4 – E saiu outro cavalo, vermelho; e ao que estava assentado
sobre ele foi dado que tirasse a paz da terra, e que se matassem uns aos
outros; e foi-lhe dada uma grande espada.
Um outro, o cavalo vermelho – O símbolo da guerra; talvez, da severa
perseguição, e martírio dos santos.
Aquele que se senta nele – alguns dizem, Cristo; outros, Vespasiano;
outros, o exército romano; outros, Artabano, rei dos Parcianos, etc...
Para tirar a paz da terra – Privar a Judéia de toda a tranqüilidade.
Eles deveriam matar um ao outro – Isto foi literalmente o caso dos
judeus, enquanto sitiado pelos romanos.
Uma grande espada – Grande influência e sucesso, produzindo terrível
massacre.
6:5 – E, havendo aberto o terceiro selo, ouvi dizer ao terceiro
animal: Vem, e vê. E olhei, e eis um cavalo preto e o que sobre ele estava
assentado tinha uma balança na mão.
A terceira besta – O símbolo da penúria. Alguns acreditam seja a que
aconteceu sob o governo de Cláudio. Veja Mateus 24:7 “Porquanto se
levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e
terremotos, em vários lugares”; o mesmo que foi predito por Ágabo, Atos
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
11:28 “E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender pelo
Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no
tempo de Cláudio César”.
Um par de balanças – Para mostrar que a escassez seria tal, que cada
pessoa deveria ser colocada sob uma permissão.
6:6 – E ouvi uma voz no meio dos quatro animais, que dizia: Uma
medida de trigo por um dinheiro, e três medidas de cevada por um
dinheiro; e não danifiques o azeite e o vinho.
Uma medida de trigo por um dinheiro – Chaenix, mencionada aqui, era
uma medida das coisas secas; e, embora a capacidade não seja exatamente
conhecida, concorda-se que ela continha tanto quanto um homem poderia
consumir em um dia; e um dinheiro, o denário romano, era o pagamento
comum de um trabalhador. Assim sendo, parece que nesta escassez, cada um
seria capaz de obter uma mera subsistência, através de seu trabalho diário; mas
um homem não poderia, em tais casos, providenciar para uma família.
Três medidas de cevada – Esta parece ter sido a proporção de valor,
entre o trigo e a cevada. A cevada fornecia um alimento pobre, e era dada aos
soldados romanos, em vez do trigo, como forma de punição.
Não danifique o óleo e o vinho – Seja econômico: não os use como
iguarias, mas por necessidade; porque nem os vinhos, nem as oliveiras, serão
produtivos.
6:7 – E, havendo aberto o quarto selo, ouvi a voz do quarto animal,
que dizia: Vem, e vê.
A quarta besta – A que tinha a cabeça de uma águia.
6:8 – E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava assentado
sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder
para matar a quarta parte da terra, com espada, e com fome, e com peste,
e com as feras da terra.
Um cavalo amarelo – O símbolo da morte. Pallida mors, pálida morte,
era um epíteto poético muito usual; deste símbolo não deve haver dúvida,
porque imediatamente é dito: E o que estava assentado sobre ele era a Morte.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E o inferno seguiu com ele – Em referência à sepultura, ou o estado do
morto, depois do assassinato. Está é uma prosopopéia, ou personificação, muito
elegante.
Sobre a quarta parte da terra – Um quarto da humanidade deveria sentir
os efeitos desoladores deste selo.
Para matar com a espada – GUERRA; com fome – ESCASSEZ; com
morte – PESTILÊNCIA; e com as bestas da terra – leões, tigres, hienas, etc.,
que se multiplicariam, em conseqüência das devastações ocasionadas pela
guerra, fome, e pestilência.
6:9 – E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas
dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do
testemunho que deram.
O quinto selo – Não existe animal, nem qualquer outro ser para
apresentar este selo, nem parece haver um novo evento previsto; mas o todo é
pretendido para confortar os seguidores de Deus, debaixo de suas perseguições,
e encorajá-los a suportarem suas aflições.
Eu vi sob o altar – Uma visão simbólica foi mostrada, na qual ele viu
um altar; e sob ele, as almas daqueles que haviam sido assassinados, por causa
da Palavra de Deus – os martirizados pela sua adesão ao Cristianismo são
representados como recém assassinados como vítimas da idolatria e
superstição. O altar está na terra, e não, no céu.
6:10 – E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó
verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que
habitam sobre a terra?
E eles gritaram em voz alta – Ou seja, o sangue deles, como aquele de
Hebel, clamou por vingança; porque não devemos supor que exista alguma
coisa como um espírito vingativo naquelas almas felizes e santas, que
derramaram seu sangue pelo testemunho de Jesus. Algumas vezes, dizemos que
o sangue clama pelo sangue; ou seja, com respeito à justiça divina, todo
assassino, e todo perseguidor assassino, deverão ser punidos.
Oh! Senhor – Soberano Senhor, supremo Governador; alguém que tem
e exercita autoridade ilimitada, e desimpedida.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Santo – Em tua própria natureza, odiando a iniqüidade; E verdadeiro –
Em todas as tuas promessas e ameaças; Por que não julgas – Os perseguidores;
E te vinga de nosso sangue – Inflige punição notável; Sobre aqueles que
habitam na terra? – Provavelmente, significando a perseguição aos judeus; eles
habitam sobre aquela terra, uma figura de linguagem, com a qual, Judéia é
frequentemente representada no Novo Testamento.
6:11 – E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes
dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se
completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser
mortos como eles foram.
Trajes brancos – Os emblemas de pureza, inocência, e triunfo.
Eles deveriam descansar ainda por um pouco de tempo – Isto quer dizer
que, quando o cálice da iniqüidade dos judeus estivesse cheio, eles seriam,
então, punidos em quantidade. Eles estavam determinados a irem mais além, e
Deus lhes permitiu que assim fizessem; reservando a plenitude de sua punição,
até que eles tivessem preenchido a medida de iniqüidade. Se este livro foi
escrito antes da destruição de Jerusalém, como é mais provável, então, esta
destruição é aquela que deveria cair sobre os judeus; e o tempo ou época era
aquela que transcorreu entre o martírio deles, ou a data deste livro, e a
destruição final de Jerusalém pelos romanos, sob o governo de Vespasiano, e
de seu filho Tito, por volta de 70 d.C. O que se segue pode se referir à
destruição do império pagão romano.
6:12 – E, havendo aberto o sexto selo, olhei, e eis que houve um
grande tremor de terra; e o sol tornou-se negro como saco de cilício, e a lua
tornou-se como sangue;
O sexto selo – Este selo também é aberto e introduzido apenas por Jesus
Cristo.
Um grande terremoto – A mais estupenda mudança na constituição civil
e religiosa do mundo. Se isto se refere a Constantino, o Grande, a mudança que
foi feita por sua conversão ao Cristianismo seria muito apropriadamente
representada sob o símbolo de um terremoto, e os outros símbolos mencionados
neste e nos versículos seguintes.
O sol – O governo pagão antigo do Império romano, foi totalmente
obscurecido; e como um negro fiapo de aniagem, foi degradado e humilhado.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A lua – O estado eclesiástico do mesmo Império tornou-se como sangue
– foi totalmente arruinado, seus ritos sagrados abolidos, seus sacerdotes e
instituições religiosas violadas, seus altares derrubados, seus templos
destruídos, ou se transformaram em lugares de adoração cristã.
6:13 – E as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a
figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte.
As estrelas do céu – Os deuses e deuses, semideuses, e heróis
idolatrados, ou seu paraíso poético e mitológico, foram prostrados
indiscriminadamente, e considerados tão inúteis, quanto os figos ou frutos de
uma árvore balançada, antes de maduros, por um vento tempestuoso.
6:14 – E o céu retirou-se como um livro que se enrola; e todos os
montes e ilhas foram removidos dos seus lugares.
E o céu retirou-se, como um rolo de papel – Todo o sistema de
adoração pagã e idólatra, com todas as suas influências espirituais, seculares, e
supersticiosas, foi destruído, murchou-se e se tornou nulo e vazio, como um
pergaminho que se enrola, quando exposto à ação de um fogo forte.
E todos os montes - Todos os esteios, suportes e dependência do
império, se aliados reais, reinos tributários, colônias dependentes, ou tropas
mercenárias, foram todos removidos de seus lugares, de maneira a não
permanecerem por mais tempo, na mesma relação com aquele império, e sua
adoração, apoio e manutenção, como eles anteriormente fizeram.
E ilhas – Os templos pagãos, com seus arredores e muros, separados das
pessoas comuns, para os quais ninguém viria, a não ser os privilegiados, podem
aqui ser representados pelas ilhas, pelas mesmas razões.
6:15 – E os reis da terra, e os grandes, e os ricos, e os tribunos, e os
poderosos, e todo o servo, e todo o livre, se esconderam nas cavernas e nas
rochas das montanhas;
Os reis da terra, etc. – Todos os poderes seculares, quem se esforçaram
para apoiarem a adoração pagã, através de autoridade, influência, riquezas,
sabedoria política, e habilidade militar; com todos os escravos, todos os servos,
ligados aos seus mestres e proprietários.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E todo homem livre – Aqueles que foram alforriados, comumente
chamados de homens livres, e que estavam ligados, por gratidão, às famílias de
seus libertadores. Todos se esconderam – ficaram atônitos com a total queda do
império pagão, e a revolução que tomou lugar.
6:16 – E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e
escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do
Cordeiro;
E disseram para os montes e rochas – Expressões que denotam a mais
forte perturbação e alarme. Eles preferiram qualquer tipo de morte àquilo que
eles perceberam da mais terrível revolução.
Da face daquele que se senta no trono – Eles agora viram que todos
esses julgamentos vieram do Altíssimo; e que Cristo, o autor do Cristianismo,
os estava agora julgando, condenando, e destruindo, por causa das cruéis
perseguições de seus seguidores.
6:17 – Porque é vindo o grande dia da sua ira; e quem poderá
subsistir?
Por causa do grande dia de sua ira – O tempo decisivo e manifesto, no
qual ele executará o julgamento sobre os opressores de seu povo.
Quem será capaz de ficar de pé? – Nenhum poder poderá prevalecer
contra o poder de Deus. Todas essas coisas podem ser literalmente aplicadas à
destruição final de Jerusalém, e à revolução que tomou lugar no Império
Romano, sob o governo de Constantino, o Grande. Alguns os aplicam ao dia do
julgamento; mas eles não parecem ter aquele terrível evento em vista. Esses
dois eventos foram os maiores que alguma vez tomou lugar no mundo, desde o
dilúvio, até o século dezoito da era cristã; e pode bem justificar a forte figura de
linguagem usada acima.
Embora eu não pretenda dizer que minhas observações sobre este
capítulo apontam para sua verdadeira significação, ainda assim, eu encontrei
outros que o aplicaram da mesma forma. Dr. Dodd observa que a queda de
Babilônia, Iduméia, Judá, Egito, e Jerusalém foi descrita pelos profetas na
linguagem igualmente pomposa, figurativa e forte. Veja Isaías 13:10 “Porque
as estrelas dos céus e as suas constelações não darão a sua luz; o sol se
escurecerá ao nascer, e a lua não resplandecerá com a sua luz”; 34:4 “E todo
o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um livro; e todo
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
o seu exército cairá, como cai a folha da vide e como cai o figo da figueira”,
concernente Babilônia e Iduméia; Jeremias 4:23,24 “Observei a terra, e eis
que era sem forma e vazia; também os céus, e não tinham a sua luz. Observei
os montes, e eis que estavam tremendo; e todos os outeiros estremeciam”,
concernente a Judá; Ezequiel 32:7 “E, apagando-te eu, cobrirei os céus, e
enegrecerei as suas estrelas; ao sol encobrirei com uma nuvem, e a lua não
fará resplandecer a sua luz”, concernente ao Egito; Joel 2:10, 31 “Diante dele
tremerá a terra, abalar-se-ão os céus; o sol e a lua se enegrecerão, e as
estrelas retirarão o seu resplendor. (...) O sol se converterá em trevas, e a lua
em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor”, concernente a
Jerusalém; e o próprio nosso Senhor, Mateus 24:29 “E, logo depois da aflição
daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão
do céu, e as potências dos céus serão abaladas”, concernente à mesma cidade.
“Agora”, diz ele, “é certo que a queda de algum desses três reinos não foi de
mais preocupação ou conseqüência para o mundo, nem mais merecedor de ser
descrito nas figuras pomposas, do que a queda do Império Romano, quando as
grandes luzes do mundo pagão, o sol, lua, e estrelas, os poderes civil e
eclesiástico, foram todos eclipsados e obscurecidos, os imperadores pagãos e
Césares foram assassinados, os sacerdotes pagãos e augures foram extirpados,
os oficiais e magistrados pagãos foram removidos, os templos, demolidos. E
seus rendimentos tiveram usos melhores. É costume dos profetas, depois que
descreveram alguma coisa da maneira mais simbólica ou figurativa,
representar o mesmo novamente em uma linguagem mais clara; e o mesmo
método é observado aqui, Versículo 15-17 ‘Quando, pois, virdes que a
abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, está no lugar santo;
quem lê, atenda; Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; E
quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa’: E os
reis da terra, etc. Ou seja. Maximin, Galerius, Maxentius, Licinius, etc.. com
todos os seus adeptos e seguidores, foram assim derrotados e dispersados, de
maneira a se esconderem em covis, etc; expressões usadas para denotarem o
mais extremo terror e confusão. Ou seja, portanto, um triunfo de Cristo sobre
seus inimigos pagãos, e um triunfo, depois de perseguição severa; de maneira
que o tempo e todas as circunstâncias, assim como as séries e ordem da
profecia, concordam perfeitamente com esta interpretação. Galerius, Maximin,
e Licinius, fizeram, até mesmo, uma confissão pública da culpa deles,
recordaram seus decretos e editais contra os cristãos, e reconheceram os
julgamentos justo de Deus e de Cristo na própria destruição deles”. Veja
Newton Lowman, e Dr. Doss sobre este capítulo, com as obras de diversos
autores mais recentes.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO VII
Os quatro anjos, segurando os quatro ventos do céu, 1. O anjo
com o selo do Deus vivo, e selando os servos de Deus das doze tribos, cujo
número somava cento e quarenta e quatro mil, 2-8. Além desses, havia uma
inumerável multidão de todas as nações, que dava glória a Deus e ao Cordeiro,
9-12. Um dos anciãos mostra quem são eles, e descreve o estado mais feliz
deles, 13-17.
Notas sobre o Capítulo VII
7:1 - E DEPOIS destas coisas vi quatro anjos que estavam sobre os
quatro cantos da terra, retendo os quatro ventos da terra, para que
nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem contra árvore
alguma.
E depois dessas coisas – Imediatamente depois da visão precedente. Eu
vi quatro anjos – instrumentos que Deus emprega na dispensação de sua
providência; não sabemos qual. Dos quatro cantos da terra - Das partes
extremas da terra da Judéia, chamada h gh, região ou terra, pelo tipo de
importância. Segurando os quatro ventos – Impedindo o mal de cada canto.
Terra-mar, e de sobre alguma árvore; com toda a terra livre do mal, até que a
Igreja de Cristo se fortalecesse, e cada um dos seus seguidores tivesse tempo de
preparar sua fuga de Jerusalém, antes de sua total destruição pelos Romanos.
7:2 – E vi outro anjo subir do lado do sol nascente, e que tinha o
selo do Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora
dado o poder de danificar a terra e o mar,
O selo do Deus vivo – Este anjo é representado como o chanceler do
Rei supremo, já que ascende do leste, de onde nasce o sol. Alguns entendem
isto, como se tratando de Cristo, que é chamado anatolh, o oriente, Lucas 1:78
“Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto
nos visitou”. Quatro anjos, aos quais foi permitido ferirem – Agentes
específicos, empregados pela providência Divina no trato dos assuntos terrenos;
mas, se espirituais ou materiais, não sabemos.
7:3 – Dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores,
até que hajamos assinalado nas suas testas os servos do nosso Deus.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Até que tenhamos selado os servos de nosso Deus – Existe
declaradamente uma alusão aqui a Ezequiel 9:4 “E disse-lhe o Senhor: Passa
pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal as testas
dos homens que suspiram e que gemem por causa de todas as abominações que
se comete no meio dela”. Por selar, devemos entender o consagrar as pessoas,
de uma maneira mais especial a Deus, e mostrar por esta marca de Deus sobre
elas, que estavam debaixo de sua mais imediata proteção, e que nada poderia
feri-las. Era um costume do oriente, e, de fato, do ocidente também, marcar
com ferro quente o nome do dono, na testa ou ombro de seu escravo.
-- É merecedor de nota que nenhum cristão pereceu no cerco a
Jerusalém; todos deixaram a cidade, e escaparam para Pella. Isto, eu
frequentemente tenho a oportunidade de comunicar.
7:4 - E ouvi o número dos assinalados, e eram cento e quarenta e
quatro mil assinalados, de todas as tribos dos filhos de Israel.
Eu ouvi o número daqueles que foram selados - Nos cento e quarenta e
quatro mil, estão incluídos todos os judeus convertidos ao Cristianismo; 12.000
de cada uma das doze tribos; mas isto pode ser apenas um número certo para
um número incerto; porque não se deve supor que exatamente 12.000 foram
convertidos de cada uma das doze tribos.
7:5 – Da tribo de Judá, havia doze mil assinalados; da tribo de
Rúben, doze mil assinalados; da tribo de Gade, doze mil assinalados;
Da tribo de Judá, etc – Primeiro, devemos observar que a tribo de Levi
é aqui mencionada, embora aquela tribo não tenha herança em Israel, mas eles
pertenciam ao sacerdócio espiritual. Segundo, que a tribo de Dã, que tinha uma
herança, é aqui omitida; assim como a tribo de Efraim. Terceiro, que a tribo de
José foi acrescentada no lugar de Efraim. Efraim e Dã, como os principais
promotores da idolatria, foram deixados fora desta enumeração.
7:9 - Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual
ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que
estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e
com palmas nas suas mãos;
Uma grande multidão – Isto parece significar a Igreja de Cristo, em meio
aos gentios, porque era diferente daquela reunida das doze tribos; e aqui
refere-se a todas as nações, família, pessoas, e línguas. Vestidos com vestes
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
brancas – Como emblemas de inocência e pureza. Com palmas em suas
mãos, em sinal de vitória conseguida sobre o mundo, o diabo, e a carne.
7:10 – E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso
Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro.
Salvação a nosso Deus – Ou seja, somente Deus é autor da salvação do
homem; e esta salvação é buscada e dada a ele, através do Cordeiro, como
sacrifício expiatório.
7:11 – E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e
dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e
adoraram a Deus,
Todos os anjos, etc... Já que existe alegria na presença de Deus, em
meio aos espíritos santos, quando um pecador se arrepende, não é de se admirar
que eles tenham interesse, em reunirem tais inumeráveis multidões que estejam
totalmente salvas de seus pecados.
7:12 – Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de
graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre.
Amém.
Dizendo, Amém – Dando sua mais cordial e grata permissão aos
louvores atribuídos a Deus e ao Cordeiro. Bênção, e glória, etc. – Existem aqui
sete diferentes tipos de louvores, atribuídos a Deus, como no capítulo 5:12,
onde vemos a nota. [Que com grande voz diziam: Digno é o Cordeiro, que foi
morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra e glória, e
ações de graças].
7:13 – E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos
de vestes brancas, quem são, e de onde vieram?
Um dos anciãos respondeu – Na maneira hebraica. A questão é aqui
feita, para que o proponente possa ter a oportunidade de respondê-la.
7:14 – E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os
que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as
branquearam no sangue do Cordeiro.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Senhor, tu sabes – ou seja, eu não sei, mas tu podes me informar.
Saíram da grande tribulação – Das perseguições de todo tipo. E lavaram suas
vestes – Obtiveram o perdão e pureza, através do sangue do Cordeiro. Suas
vestes brancas não podem significar a retidão de Cristo, porque esta não pode
ser lavada e tornar-se branca em seu próprio sangue. Este linho branco diz-se
tratar-se da retidão dos santos. Apocalipse 19:8 “E foi-lhe dado que se vestisse
de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos
santos”, e esta é a retidão, com que permaneceram diante do trono; portanto
não se trata da retidão de Cristo, mas é uma retidão forjada neles, pelo mérito
do sangue de Cristo, e poder de seu Espírito.
7:15 – Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de
noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá
com a sua sombra.
Portanto – Porque eles estão lavados no sangue do Cordeiro, eles estão
diante do trono – admitidos para a presença imediata de Deus. E servem a Ele,
dia e noite – Sem cessarem; preenchidos com o espírito da oração, fé, amor e
obediência. Deverá habitar entre eles – Ele vive em sua própria Igreja, e no
coração de cada crente verdadeiro.
7:16 – Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem
calma alguma cairá sobre eles.
Eles não mais sentirão fome – Eles não mais serão privados de suas
ordenanças religiosas, e as bênçãos que as atendem, como quando eram
perseguidos. Nem o sol brilhará sobre eles – Seus governantes seculares,
convertidos a Deus, tornam-se sacerdotes protetores da Igreja. Nem algum calor
– Nem perseguição, nem aflição de qualquer tipo. Essas, os Hebreus
expressavam usando o termo calor, ardente, etc.
7:17 – Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará,
e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida; e Deus limpará de
seus olhos toda a lágrima.
O Cordeiro – O Senhor Jesus, entronizado com seu Pai, na inefável
glória. Deverá alimentá-los – Transmitirá a eles todas as coisas preparadas para
a segurança, continuidade e crescimento da felicidade deles. Fontes de água
viva – Uma fonte na fraseologia Hebraica é denominada água viva, porque
constantemente em ebulição, e fluindo. Por essas fontes perpétuas, entendemos
fontes sem fim de conforto e felicidade, que Jesus Cristo abrirá de sua própria
73
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
plenitude infinita a todas as almas glorificadas. Essas eternas fontes vivas trarão
variedade infinita de desfrutes aos abençoados. Não haverá similaridade, e
consequentemente, nenhuma náusea com o desfruto perpétuo das mesmas
coisas; a cada momento serão abertas novas fontes de prazer, instrução, e
crescimento; eles terão uma eterna progressão na plenitude de Deus. E como
Deus é infinito, então, seus atributos são infinitos; e através da infinitude, mais
e mais daqueles atributos serão revelados; e a descoberta de cada um será uma
nova fonte ou busca de prazer e desfrute. Essas fontes serão abertas, por toda a
eternidade, e, mesmo, por toda a eternidade, ainda haverá, na mais absoluta
perfeição do Divino, uma infinidade delas a serem abertas! Esta é uma das mais
belas imagens na Bíblia.
Deus enxugará – Da maneira mais afetuosa e paternal; todas as lágrimas
– tudo que causa angústia e aflição. Eles terão felicidade pura e genuína. Leitor,
esta é a felicidade daqueles que estão limpos de seus pecados. Tu estás limpo?
Ó, não descansa, até que tu estejas preparado para aparecer diante de Deus e do
Cordeiro.
Se esses santos não se defrontaram com preocupações e angústias, com
toda a plausibilidade, eles não excederam tanto na retidão e verdadeira
santidade. Quando todas as vias de conforto mundano estão fechadas, somos
obrigados a buscarmos nosso tudo em Deus; e não existe coisa alguma buscada
Nele, que não seja encontrada Nele.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO VIII
A abertura do sétimo selo, 1. Os sete anjos com as sete trombetas, 2,6.
O primeiro toca, e há uma chuva de pedras, fogo, e sangue, 7. O segundo toca,
e a montanha em fogo é lançada no mar, 8,9. O terceiro toca, e a grande estrela
Absinto cai do céu. 10,11. O quarto toca. E o sol, lua, e estrelas são atingidos; e
o triplo é pronunciado contra os habitantes da terra, devido aos três anjos que
ainda deverão tocar, 12,13.
Notas sobre o Capítulo 8.
8:1 - E, HAVENDO aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu
quase por meia hora.
O sétimo selo – Profetizado e aberto apenas pelo Cordeiro. O silêncio
no céu pode se tratar de uma mera metáfora, porque significa aqui a expectativa
profunda e solene das coisas estupendas que acontecerão, com a abertura deste
selo. Quando alguma coisa prodigiosa e surpreendente é esperada, tudo fica em
silêncio, e até mesmo a respiração é dificilmente ouvida.
Meia hora – Como o céu pode significar o lugar em que todas essas
representações foram feitas por João, meia hora pode ser considerado o tempo
durante o qual nenhuma representação aconteceu, o tempo em que Deus
preparava a augusta exibição que se segue. Existe aqui, e nos versículos
seguintes, uma forte alusão às diferentes partes do templo de adoração; uma
presunção de que o templo ainda permanecia, e o serviço regular de Deus, era
conduzido. O silêncio refere-se a este intervalo, em que o sacerdote saía para
ascender o incenso, no lugar sagrado, e todas as pessoas continuavam em
oração mental silenciosa, até que o sacerdote retornasse. Veja Lucas 1:10 “E
toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso”. O anjo aqui
mencionado parece executar o ofício do sacerdote, como, daqui por diante,
podemos ver.
8:2 – E vi os sete anjos, que estavam diante de Deus, e foram-lhes
dadas sete trombetas.
Os sete anjos que permaneceram diante de Deus – Provavelmente, os
mesmos que aqueles chamados de sete Espíritos que estão diante do trono
Dele, capítulo 1:4, onde vemos a nota. Existe ainda uma alusão aqui aos sete
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
ministros dos monarcas Persas. Veja Tobit 12:15. “Porque eu sou o anjo
Rafael, um dos sete, que permanecem diante do Senhor”.
8:3 – E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário
de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos
os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono.
Um outro anjo – Para executar o ofício do sacerdote. Com um
incensório de ouro - Esta era uma preparação peculiar do dia da expiação.
“Nos outros dias, era costume do sacerdote tomar o fogo do grande altar, em
um incensório de prata, mas no dia da expiação, o sumo sacerdote tomava o
fogo do grande altar, em um incensório de ouro, e, quando ele se dirigia do
grande altar, ele tomava o incenso de um dos sacerdotes, trazido até ele, e se
dirigia ao altar dourado, e, enquanto oferecia o incenso, as pessoas oravam
fora em silêncio, que é o silêncio no céu, de meia hora”. Veja Sir Isaac
Newton.
Muito incenso para que pudessem oferecer – Os julgamentos de Deus
estão prestes a serem executados; os santos – os cristãos genuínos pedem muito
aqui a proteção de Deus. O sacerdote angélico vem com o incenso, se coloca
entre os vivos e aqueles consignados para a morte, e oferece seu incenso a
Deus, juntamente com as orações dos santos.
8:4 – E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos desde
a mão do anjo até diante de Deus.
A fumaça do incenso juntamente com as orações – Embora o próprio
incenso possa ser um emblema das orações dos santos, Salmos 141:2 “Suba a
minha oração perante a tua face como incenso, e as minhas mãos levantadas
sejam como o sacrifício da tarde”; ainda assim, significa aqui o ascender
diante de Deus, como acontece com o incenso. Não é dito que o anjo apresenta
essas orações. Ele apresenta o incenso, as orações ascendem juntamente com
ele. O ascender do incenso mostra que as orações e oferenda foram aceitas.
8:5 – E o anjo tomou o incensário, e o encheu do fogo do altar, e o
lançou sobre a terra; e houve depois vozes, e trovões, e relâmpagos e
terremotos.
E o lançou sobre a terra – Ou seja, a terra da Judéia; anunciando os
julgamentos e desolações que viriam agora sobre ela, e que aconteceriam, mais
adiante, ao som das sete trombetas. Ouviam-se vozes – Todas essas pareciam
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
indicar a confusão, comoções, aflições e misérias, que viriam sobre aquele
povo, nas guerras prestes a acontecerem.
8:6 – E os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-se
para tocá-las.
Preparem-se para o som – Cada um tome a sua trombeta, e se prepare
para tocar. As guerras são aqui mencionadas; a trombeta era o símbolo da
guerra.
8:7 – E o primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva e
fogo misturado com sangue, e foram lançados na terra, que foi queimada
na sua terça parte; queimou-se a terça parte das árvores, e toda a erva
verde foi queimada.
Chuva de pedra e fogo, misturada com sangue – Tratava-se de alguma
coisa como a nona praga do Egito, Veja Êxodo 9:18-24 “O Senhor enviou
trovão e raio – e fogo misturado com o raio – e o fogo correu pelo chão”. No
raio e fogo, misturados com sangue, algumas imaginações férteis poderiam
encontrar a pólvora e as balas de canhão, e tiros e bombas.
E foram lançadas sobre a terra - eiv thn ghn? Naquela região; a saber, a
Judéia é assim frequentemente designada.
E a terça parte das árvores – Diante deste parágrafo o Códex
Alexandrino, trinta e cinco outros, o Siríaco, Arábico, Etíope, Armenianio,
Eslavônico, Vulgate, Andréas, Aretas, e alguns outros, têm kai to triton thv ghv
katekah? E a terça parte da terra foi queimada. Esta leitura, que é
indubitavelmente genuína, é encontrada também na Bíblia Poliglota
Complutesiana.
Griebasch a recebeu no texto.
A terra foi devastada; as árvores – os chefes da nação - foram
destruídas; e a grama – o povo comum, escravo, ou levado em cativeiro. Classe
alta e baixa, rico e pobre - foi aniquilada, com uma destruição geral. Esses
parecem ser os significados dessas figuras. Muitos homens eminentes supõem
que a invasão das nações bárbaras sobre o Império Romano está pretendida
aqui. É fácil encontrar coincidências, quando a fantasia comete exageros. Mais
tarde, os escritores poderiam entender como se tratando da invasão dos
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Austríacos e Britânicos, e Prússios, Russos, e Cossacos, sobre o Império
Francês.
8:8 – E o segundo anjo tocou a trombeta; e foi lançada no mar uma
coisa como um grande monte ardendo em fogo, e tornou-se em sangue a
terça parte do mar.
Uma grande montanha em chamas – O que se supõe significa as nações
poderosas que invadiram o Império Romano. A montanha, na linguagem
profética, significa um reino; Jeremias 51:25, 27, 30, 58 “Eis-me aqui contra
ti, ó monte destruidor, diz o SENHOR, que destróis toda a terra; e estenderei a
minha mão contra ti, e te revolverei das rochas, e farei de ti um monte de
queima”. “Arvorai um estandarte na terra, tocai a buzina entre as nações,
preparai as nações contra ela, convocai contra ela os reinos de Ararate, Mini,
e Asquenaz; ordenai contra ela um capitão, fazei subir cavalos, como lagartas
eriçadas”. “Os poderosos de Babilônia cessaram de pelejar, ficaram nas
fortalezas, desfaleceu a sua força, tornaram-se como mulheres; incendiaram as
suas moradas, quebrados foram os seus ferrolhos”. “Assim diz o SENHOR dos
Exércitos: Os largos muros de Babilônia serão totalmente derrubados, e as
suas altas portas serão abrasadas pelo fogo; e trabalharão os povos em vão, e
as nações no fogo, e eles se cansarão”.
Grandes desordens, especialmente, quando os reinos são estremecidos
pelas invasões hostis, são representadas aqui pelas montanhas sendo lançadas
no meio do mar. Salmos 46:2 “Portanto não temeremos, ainda que a terra se
mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares”. Mares e
muitas águas significam as pessoas, como é mostrado neste livro no capítulo
27:15 “- E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são
povos, e multidões, e nações, e línguas”. Portanto, grandes comoções nos
Reinos e em meio aos seus habitantes podem ser pretendidas aqui, mas, quanto
a quem, onde e quando esses aconteceram, ou estão por acontecer, não
sabemos.
A terceira parte do mar tornou-se sangue – Uma outra alusão às pragas
egípcias. Êxodo 7:20,21 “E Moisés e Arão fizeram assim como o Senhor tinha
mandado; e Arão levantou a vara, e feriu as águas que estavam no rio, diante
dos olhos de Faraó, e diante dos olhos de seus servos; e todas as águas do rio
se tornaram em sangue, e os peixes, que estavam no rio, morreram, e o rio
cheirou mal, e os egípcios não podiam beber a água do rio; e houve sangue
por toda a terra do Egito”. A terça parte é um dialeto rabínico, expressando um
número considerável. “Quando o Rabino Akiba orou, chorou, despedaçou
suas vestes, tirou seus sapatos, e sentou-se no pó, o mundo foi golpeado com
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
uma praga; e, então, a terceira parte das olivas, a terceira parte do trigo, e a
terceira parte da cevada, foram atingidas”. Rabino Mardochaeus, em Notitia
Karaeorum p. 102.
8:9 - E morreu a terça parte das criaturas que tinham vida no mar;
e perdeu-se a terça parte das naus.
A terceira parte dos navios foi destruída – Esses julgamentos parecem
ser derramados sobre a nação marítima, destruindo muito de sua população, e
muito de seu tráfego.
8:10 – E o terceiro anjo tocou a sua trombeta, e caiu do céu uma
grande estrela ardendo como uma tocha, e caiu sobre a terça parte dos
rios, e sobre as fontes das águas.
Caiu uma grande estrela do céu – Isto tem levantado muitas
conjecturas. Alguns dizem que a estrela significa Átila e seus Hunos; outros,
Genserico com seus Vândalos caindo sobre a cidade de Roma; outros, Eleazer,
o filho de Annas, rejeitando as vítimas do imperador, e instigando a fúria dos
Zelotes; outros, Arios, infectando a pura doutrina cristã com sua heresia, etc,
etc,,, Certamente não pode significar todos esses; e, provavelmente signifique
nenhum deles. Que o leitor julgue.
8:11 – E o nome da estrela era Absinto, e a terça parte das águas
tornou-se em absinto, e muitos homens morreram das águas, porque se
tornaram amargas.
A estrela é chamada de Absinto – Assim chamada, devido aos seus
amargos e aflitivos produzidos por sua influência.
8:12 - E o quarto anjo tocou a sua trombeta, e foi ferida a terça
parte do sol, e a terça parte da lua, e a terça parte das estrelas; para que a
terça parte deles se escurecesse, e a terça parte do dia não brilhasse, e
semelhantemente a noite.
A terceira parte do sol-lua-estrelas foi atingida – Supõem-se significar
Roma, com seus senadores, cônsules, etc., eclipsada por Odoacer, rei de Heruli,
e Teodorico, rei de Ostrogotes, no quinto século. Mas tudo isto é incerto.
79
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
8:13 – E olhei, e ouvi um anjo voar pelo meio do céu, dizendo com
grande voz: Ai! ai! ai! dos que habitam sobre a terra! por causa das outras
vozes das trombetas dos três anjos que hão de ainda tocar.
Eu ouvi um anjo voando – Em vez de aggelou petwmenou, um anjo
voando, em quase toda MS, e versão da nota tem aetou petwmenon, uma água
voando. A águia era o símbolo dos Romanos, e sempre está em suas insígnias.
As três pragas afirmadas aqui seriam executadas, provavelmente, por este povo,
e nos judeus e suas comunidades. Tomados neste sentido, os símbolos parecem
consistentes e apropriados; e ler águia em vez de anjo é, sem dúvida, genuíno, e
Griesbach o recebeu no texto.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO IX
O quinto anjo toca, e uma estrela cai do céu. 1. O abismo sem fim é
aberto, e gafanhotos saem para a terra, 2, 3. A comissão deles, 4, 6. A forma
deles, 7,10. O governo deles, 11,12. O sexto anjo toca, e os quatro anjos, presos
em Eufrates são soltos, 13,15. O exército dos cavaleiros, e a descrição deles,
16,19. Embora muitos males sejam infligidos sobre os homens, por causa da
idolatria deles, etc., eles não se arrependem, 20,21.
Notas do Capítulo 9
9:1 – E O QUINTO anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que
do céu caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo.
Uma estrela cai do céu – Um anjo rodeado de luz, subitamente desceu,
e se assemelhava a uma estrela caindo do céu.
A chave do poço do abismo – O poder para inundar a terra, com uma
enxurrada de calamidades temporais e males morais.
9:2 – E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como a
fumaça de uma grande fornalha, e com a fumaça do poço escureceu-se o
sol e o ar.
Ele abriu o poço do abismo – semelhante a thv abussou? O poço do
abismo profundo. Alguns acreditam que o anjo signifique satanás, e o abismo
sem fim, o inferno. Alguns supõem tratar-se de Maomé; e Signior Pastorini
professa acreditar que Lutero é pretendido aqui!
E uma fumaça se levantou – A falsa doutrina, obscurecendo a luz
verdadeira do céu.
9:3 – E da fumaça vieram gafanhotos sobre a terra; e foi-lhes dado
poder, como o poder que têm os escorpiões da terra.
Vasta horda de tropas militares: a descrição que se segue certamente
concorda melhor com os Saracenos do que com qualquer outra pessoa ou
nação, mas pode também se aplicar aos Romanos.
81
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Como os escorpiões da terra têm poder – para ferirem os homens, com
seus ferrões. Os escorpiões podem significar arqueiros; e, consequentemente, a
descrição tem sido aplicada a Cestius Gallus, o general Romano, que tinha
muitos arqueiros em seu exército.
9:4 - E foi-lhes dito que não fizessem dano à erva da terra, nem a
verdura alguma, nem a árvore alguma, mas somente aos homens que não
têm nas suas testas o sinal de Deus.
Eles não deveriam machucar a grama – Não deveriam machucar o povo
comum, os homens de condição mediana, nem os nobres. No entanto, isto
parece antes referir-se aos conselhos prudentes de um chefe militar, e não à
destruição das colheitas e pastagem da qual eles teriam necessidade em suas
campanhas.
Os que não têm o selo de Deus – Todos os cristãos falsos, hipócritas e
heterodoxos.
9:5 – E foi-lhes permitido, não que os matassem, mas que por cinco
meses os atormentassem; e o seu tormento era semelhante ao tormento do
escorpião, quando fere o homem.
A eles foi dado – lhes foi permitido - que atormentassem por cinco
meses – Alguns tomam esses meses literalmente, e os aplicam à conduta de
Zealotes que, de Maio a Setembro, no ano do cerco, produziu terríveis
contendas em meio ao povo; ou às aflições trazidas sobre os judeus, por Cestius
Gallus, quando contra Jerusalém, antes do que ele se retirasse por todo um
verão, ou aproximadamente cinco meses. Outros consideram esses meses,
como sendo meses proféticos, cada dia, calculado como um ano; portanto este
período somaria cento e cinqüenta anos, contendo trinta dias cada mês, como
era o costume dos asiáticos.
O tormento deles era como o tormento causado por um escorpião – A
fraseologia aqui é peculiar, e provavelmente se refere às armas bélicas, diversas
delas, consideradas como um escorpião, ou os homens, armados com essas
armas. Cestius Gallus trouxe consigo em seu exército.
Isidore descreve seu escorpião assim: “O escorpião é uma flecha
venenosa atirada de um arco ou outro instrumento, que, quando fere um
homem, deposita o veneno, com que cobre o ferimento; por isto, nome de
escorpião”. Sêneca, em seu Hercules OEtaeus, descreve o tormento que é
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
ocasionado por esta espécie de flecha envenenada: Heu qualis intus scorpius,
quis fervida Plaga revulsus cancer infixus meas Urit medullas?
9:6 – E naqueles dias os homens buscarão a morte, e não a acharão;
e desejarão morrer, e a morte fugirá deles.
Naqueles dias, os homens buscarão a morte. Tão aflitivos devem ser os
sofrimentos e tormentos deles, que eles pedem pela morte, de qualquer forma,
para serem resgatados dos males da vida. Existe um sentimento muito parecido
com este em Maximianus, Eleg. i., ver.111, comumente atribuído a Cornelius
Gallus: “Uma vez que a vida longa é inútil e opressiva, quando nos será
permitido morrer, já que não podemos viver, por mais tempo,
confortavelmente? Ó, quão dura é a condição na qual mantemos a vida!
Porque a morte não está sujeita à vontade do homem. Morrer é doce para o
infeliz; mas desejada, porque a morte foge. Ainda assim, quando não é
desejada, ela vem em passos mais ligeiros”. Jó expressa o mesmo sentimento,
de uma maneira mais queixosa: -- “Porque a luz é dada ao miserável, e a vida
para o amargo de alma? Quem espera pela morte, mas ela não está; e procura
por ela mais do que por tesouros escondidos. Eles se regozijam por ela, e estão
gratos. E exultam quando encontram a sepultura”. Jó 3:20-22.
9:7 - E o parecer dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos
aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia umas como
coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens.
Os gafanhotos eram como cavalos – Esta descrição dos gafanhotos
parece ser tomada de Joel 2:4 “A sua aparência é como a de cavalos; e como
cavaleiros assim correm”. O todo desta descrição simbólica de uma força
militar opressiva concorda muito bem com as tropas de Maomé. Os árabes são
os cavaleiros mais experientes no mundo: eles vivem, sobre o cavalo, por muito
tempo, de maneira que o cavalo e seu cavaleiro parecem se tornar um só
animal. Os Romanos também eram eminentes por sua cavalaria.
Coroas como ouro – Não apenas aludindo às suas tiaras e turbantes
caros, mas ao volume de suas conquistas e a quantidade de poderes que
conquistavam.
Suas faces eram como as faces dos homens – Ou seja, embora
simbolicamente gafanhotos, eles eram realmente homens.
83
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
9:8 – E tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus dentes
eram como de leões.
Os cabelos, como os das mulheres – Nenhuma navalha passa sobre a
carne deles. Os cabelos longos e suas barbas por fazer. Os dentes eram como os
dentes de leões. - Eles eram ferozes e cruéis.
9:9 – E tinham couraças como couraças de ferro; e o ruído das suas
asas era como o ruído de carros, quando muitos cavalos correm ao
combate.
Eles tinham couraças de ferro. Eles pareciam invulneráveis, porque
nenhuma força prevalecia contra eles.
O som de suas asas – Suas armas dependuradas e os ornamentos
militares, com o tinido de seus escudos e espadas, quando em seus violentos
ataques. Esta comparação é emprestada de Joel 2:5-7 “Como o estrondo de
carros, irão saltando sobre os cumes dos montes, como o ruído da chama de
fogo que consome a pragana, como um povo poderoso, posto em ordem para o
combate. Diante dele temerão os povos; todos os rostos se tornarão
enegrecidos. Como valentes correrão, como homens de guerra subirão os
muros; e marchará cada um no seu caminho e não se desviará da sua fileira”.
9:10 – E tinham caudas semelhantes às dos escorpiões, e aguilhões
nas suas caudas; e o seu poder era para danificar os homens por cinco
meses.
Eles tinham caudas como os escorpiões – Isto pode se referir às
conseqüências de suas vitórias. Eles infectavam os conquistados com suas
doutrinas perniciosas.
O poder deles para ferir os homens, durante cinco meses – Os
gafanhotos executam seu principal ataque, durante os cinco meses do verão.
Mas, provavelmente, esses podem ser meses proféticos, como acima, em
Apocalipse 5 - 150 anos.
9:11 - E tinham sobre si rei, o anjo do abismo; em hebreu era o seu
nome Abadom, e em grego Apoliom.
Um rei sobre eles – Um líder supremo; alguns pensam que seja Maomé;
alguns, Vespasiano.
84
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
O anjo do poço de abismo – O cabeça enviado de satanás.
Abadom – De dba abad, ele destruiu.
Apoliom – De apo, intenso, e olluw, para destruir. O significado é o
mesmo em Hebraico e Grego.
9:12 – Passado é já um ai; eis que depois disso vêm ainda dois ais.
Uma maldição é passada – A maldição ou desolação, pelos escorpiões
simbólicos.
E sobrevieram mais duas maldições – Nas trombetas do sexto e sétimo
anjos.
9:13 – E tocou o sexto anjo a sua trombeta, e ouvi uma voz que
vinha das quatro pontas do altar de ouro, que estava diante de Deus,
Os quatro chifres do altar de ouro – Esta é uma outra indicação não
muito obscura de que o templo judaico ainda estava de pé.
9:14 – A qual dizia ao sexto anjo, que tinha a trombeta: Solta os
quatro anjos, que estão presos junto ao grande rio Eufrates.
Solta os quatro anjos – Esses quatro anjos confinados – até aqui
encarcerados, no Eufrates, são os mesmos, que alguns supõem tratarem-se dos
Árabes, os Saracenos, os Tártaros, os Turcos; e, outros, dos quatro generais
Vespasianos, um na Arábia, um na África, um na Alexandria, e um na
Palestina.
9:15 – E foram soltos os quatro anjos, que estavam preparados
para a hora, e dia, e mês, e ano, a fim de matarem a terça parte dos
homens.
Por uma hora, um dia, um mês, um ano – Temos aqui um ano,
explicado em suas partes componentes. Vinte e quatro horas constituem um dia,
sete dias, uma semana, quatro semanas, um mês, e doze meses, um ano,
Provavelmente, não significa mais do que o fato de que esses quatro anjos
estavam, todo o tempo, preparados e lhes era permitido infligirem o mal sobre o
povo, contra os quais eles receberam sua comissão. Alguns entendem essas
85
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
divisões e tempo, como períodos proféticos, e a esses, eu devo me referir, e não
professar discutir tais incertezas.
9:16 – E o número dos exércitos dos cavaleiros era de duzentos
milhões; e ouvi o número deles.
Duzentos milhões – duo muriadev muriadw? Duas miríades de
miríades; ou seja, duzentos milhões; um exército que nunca se reuniu, desde a
criação do mundo, e não poderia encontrar suprimento em qualquer parte da
terra, Talvez, signifique apenas o vasto número, multidões inumeráveis. Tal
número de gafanhotos seria literalmente verdadeiro. Esses que terão seu
sistema especial, apoiado pelas imagens, neste mais obscuro livro, nos diz que
o número aqui significa todos os soldados que foram empregados nesta guerra,
desde seu início até o fim! Esses que podem receber estas palavras que a
recebam.
9:17 – E assim vi os cavalos nesta visão; e os que sobre eles
cavalgavam tinham couraças de fogo, e de jacinto, e de enxofre; e as
cabeças dos cavalos eram como cabeças de leões; e de suas bocas saía fogo
e fumaça e enxofre.
Couraças de fogo – jacinto, e enxofre – Ou seja, vermelho, azul, e
amarelo; o primeiro é a cor do fogo, o segundo do jacinto, e o terceiro do
sulfúrico.
E as cabeças dos cavalos – Será esta uma descrição alegórica da grande
artilharia? Canhões, em cujas bocas as cabeças de cavalos eram formadas, ou a
boca do canhão lançado daquela forma? Fogo, fumaça, e enxofre, é uma boa
representação alegórica da pólvora. Os Otomanos fizeram grande uso da
artilharia pesada em suas guerras contra os gregos do baixo império.
9:18 – Por estes três foi morta a terça parte dos homens, isto é pelo
fogo, pela fumaça, e pelo enxofre, que saíam das suas bocas.
Por causa desses três, a terceira parte dos homens foi morta – Ou seja,
através desses, aconteceu o grande massacre.
9:19 – Porque o poder dos cavalos está na sua boca e nas suas
caudas. Porquanto as suas caudas são semelhantes a serpentes, e têm
cabeças, e com elas danificam.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
O poder está em suas bocas – Dessas, as balas destrutivas são
projetadas; e em suas caudas, e onde a pólvora era colocada.
Suas caudas eram como as de serpentes, e tinham cabeças – Se os
canhões eram pretendidos, a descrição, embora alegórica, é clara o suficiente;
porque a artilharia de metal, especificamente, é frequentemente ornamentada
desta forma, tanto em seu boca, quanto em sua cauda.
9:20 – E os outros homens, que não foram mortos por estas pragas,
não se arrependeram das obras de suas mãos, para não adorarem os
demônios, e os ídolos de ouro, e de prata, e de bronze, e de pedra, e de
madeira, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar.
Ainda assim, não se arrependeram – A comissão desses cavaleiros era
contra os idólatras; e, embora multidões deles fossem destruídas, o restante
continuou sua ligação estúpida com os ídolos mudos, e, portanto, julgamentos
mais severos seriam esperados. Essas coisas supõem-se referirem-se à
desolação trazida sobre a Igreja grega, pelos Otomanos, que arruinaram
inteiramente aquela igreja e o império grego. A Igreja que, então, permaneceu,
era a Igreja Latina ou ocidental, que não foi, afinal, corrigida, através dos
julgamentos que caíram sobre a Igreja oriental, mas continuou sua adoração
estúpida aos anjos, santos, relíquias, etc.. e, assim, até o presente dia. Se,
portanto, a ira de Deus for acesa contra tais, esta Igreja tem muito a temer.
9:21 – E não se arrependeram dos seus homicídios, nem das suas
feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos.
Nem se arrependeram seus assassinatos – As crueldades deles, em
direção aos genuínos seguidores de Deus, os Albigenses, e Waldenses, e outros,
contra os quais, eles proclamaram cruzadas, e perseguiram, e massacraram, da
maneira mais chocante. Os inumeráveis assassinatos, através da inquisição
horrível, não precisam ser mencionados.
Suas feitiçarias – Aqueles que aplicam isto também à Igreja Romana,
entendem por isto, os vários embustes, truques da mão, ou prestidigitação, por
meio dos quais, eles impunham sobre as pessoas comuns, ao fazerem as
imagens de Cristo sangrarem, e os vários milagres pretendidos, forjados nas
tumbas, etc. dos pretendidos santos, águas-santas, e similares.
Fornicação – Ao darem aquela honra, devida apenas ao Criador, às
várias criaturas.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Os furtos – As cobranças e imposições sobre os homens, por causa das
indulgências, perdões, etc. Essas coisas podem ser pretendidas, mas é ir muito
longe dizer que esta é a interpretação verdadeira. E, ainda assim, expressar
alguma dúvida sobre este assunto é algo mais do que heresia. Se tais homens
podem ver essas coisas tão claramente, em tão obscuras profecias, que eles
sejam gratos por isto, e indulgentes com aqueles que ainda estão na escuridão.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO X
A descrição de um anjo poderoso, com um pequeno livro em suas mãos,
1,2. Os sete trovões, 3,4. O anjo declara que não vai demorar, 5-7. É ordenado
que João tome o pequeno livro e o coma; ele assim o faz, e recebe a
incumbência de profetizar para muitas pessoas, 8-11.
Notas sobre o Capítulo X
10:1 – E vi outro anjo forte, que descia do céu, vestido de uma
nuvem; e por cima da sua cabeça estava o arco celeste, e o seu rosto era
como o sol, e os seus pés como colunas de fogo;
Um outro anjo poderoso – Cristo ou seu representante; vestido de
nuvem; símbolo da majestade Divina.
Com um arco-íris junto à cabeça – Sinal da aliança misericordiosa de
Deus, para com a humanidade. Sua face era como o sol – Tão intensivamente
gloriosa, que não se poderia olhar para ela. Seus pés, como pilares de fogo –
Para denotar a rapidez e energia de seus movimentos, e a firmeza de suas
deliberações.
10:2 – E tinha na sua mão um livrinho aberto. E pôs o seu pé direito
sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra;
Um pequeno livro aberto – Provavelmente, signifique algum desígnio
de Deus, há muito oculto, mas agora prestes a ser revelado. Mas quem sabe o
que ele significa?
Seu pé direito sobre o mar, e seu pé esquerdo sobre a terra – Para
mostrar que ele tem o governo de cada um deles, e que seu poder é universal, e
todas as coisas estão debaixo de seus pés.
10:3 – E clamou com grande voz, como quando ruge um leão; e,
havendo clamado, os sete trovões emitiram as suas vozes.
Sete trovões – Sete é o número da perfeição, e pode aqui significar
muitos, grandes, barulhentos e fortes estrondos de trovões, acompanhados de
vozes distintas; mas não foi permitido a João revelar o que foi dito. Vers. 4.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
10:5 – E o anjo que vi estar sobre o mar e sobre a terra levantou a
sua mão ao céu,
Levantou suas mãos para o céu – Como quem faz um apelo ao Ser
Supremo.
10:6 – E jurou por aquele que vive para todo o sempre, o qual criou
o céu e o que nele há, e a terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, que
não haveria mais demora;
Através daquele que vive para sempre – o Jeová eterno, Criador de Si
mesmo e de todas as coisas. Para que não tardasse mais – Para que as grandes
deliberações, dos eventos já preditos, fossem imediatamente cumpridas, e que
não houvesse mais demora. Isto não se refere ao dia do julgamento.
10:7 – Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua
trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas,
seus servos.
Para que o mistério de Deus terminasse – Mas quem pode saber a que
este mistério se refere? Nem temos mais conhecimento, concernente ao som do
sétimo anjo. Sobre esses pontos, existe alguma concordância, em meio aos
estudiosos. Mas se isto significa a destruição de Jerusalém, ou a destruição do
poder papal, ou alguma coisa mais, não sabemos. Ainda assim, com que
segurança, os homens falam do significado dessas coisas ocultas!
Declaradas aos seus servos e profetas – É mais provável, no entanto,
que esta trombeta pertença ao estado judaico.
10:8 – E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e
disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o
mar e sobre a terra.
Para que pegasse o pequeno livro que está aberto – Aprendesse deste
anjo, aquilo que seria proclamado ao mundo.
10:9 – E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me:
Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será
doce como mel.
90
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
O tomasse e o comesse – Seu significado completamente claro: para
que o estudasse, totalmente.
10:10 – E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha
boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo.
Em minha boca, ele era doce como mel – Existia nele alguma
inteligência, agradável e desagradável. Eu li sobre as consolações e proteção
dos verdadeiros adoradores de Deus, e me regozijei; eu li a respeito das
perseguições da igreja, e fiquei angustiado.
10:11 – E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos
povos, e nações, e línguas e reis.
Tu deves profetizar novamente – Deves escrever, não apenas para a
instrução dos judeus na Palestina, mas para aqueles nas diferentes províncias,
assim como os pagãos e imperadores pagãos e potentados em geral.
O leitor encontrará, ao comparar este capítulo ao de Daniel 8:1-17;
12:1-13, e Ezequiel 2:1; 3:27, que existem diversas coisas similares em ambos;
e o escritor de Apocalipse parece manter esses dois profetas continuamente em
vista. Uma vez mais, eu devo dizer que não entendo essas profecias, portanto,
não me cabe explicá-las. Eu vejo com pesar, quantos homens cultos se
equivocam a este respeito.
Mesmo alguns dos mais modernos estudiosos deste livro, têm
estranhamente brincado com essas coisas solenes; todas as trombetas, fúrias,
aflições, etc., são perfeitamente confortáveis a eles; ainda assim, das suas
narrações, ninguém se torna prudente, quer no bom-senso, quer nas coisas que
lhe trazem paz.
Desta mesma forma, eu não posso admitir a interpretação que é dada à
palavra cronov, traduzida como tempo, no versículo 6, e que alguns
construíram dentro do período artificial de 1.111 anos, que eles denominam
cronologia; e de onde temos - a cronologia, parte da cronologia, e nenhuma
cronologia.
Bengel tem falado muito sobre esses pontos, mas para pouco proveito;
porque neste contexto, a palavra parece significar demora, simplesmente, e eu
penso que este livro, provavelmente, foi escrito antes da destruição daquela
cidade.
91
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XI
A ordem para medir o templo, 1,2. As duas testemunhas que
professariam por mil cento e sessenta dias, 3. A descrição, poder, e influência
dessas testemunhas, 4,6. Elas seriam mortas pela besta que se levantaria do
poço do abismo, e ressuscitariam novamente, depois de três dias e meio, e
ascenderiam ao céu, 7,12. Seguido de um grande terremoto, 13. A introdução
da terceira aflição [o terceiro ai], 14. O som do sétimo anjo e os vinte e quatro
anciãos dão glória a Deus, 15,19.
Notas sobre o Capítulo XI
11:1 – E FOI-ME dada uma cana semelhante a uma vara; e chegou
o anjo, e disse: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele
adoram.
E foi-me dado uma cana – Veja Ezequiel 40:3, em diante.
A medida do templo de Deus – Deve se referir ao templo de Jerusalém;
e esta é uma nova evidência presumível de que ele ainda estava de pé.
11:2 – E deixa o átrio que está fora do templo, e não o meças;
porque foi dado às nações, e pisarão a cidade santa por quarenta e dois
meses.
Mas o átrio – é dado aos gentios – A medida do templo provavelmente
se refere a esta aproximação iminente, e ao término de todo o serviço Levitico;
e que, acreditamos, executado pelos gentios (Romanos), que o pisariam por
quarenta e dois meses; exatamente três anos e meio, ou mil duzentos e sessenta
dias. Este deve tratar-se de um período simbólico.
11:3 – E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão
por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de saco.
Minhas duas testemunhas – Isto é extremamente obscuro; as
conjecturas dos interpretes são tão insatisfatórias quanto intermináveis sobre
este ponto.
Conjecturas conjecturis superstruunt, parum verosimiles, diz
Rosenmuller: quorum sententias enarrare, meum non est. E eu digo o mesmo.
92
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Aqueles que desejam se deleitar ou se confundir podem recorrer às
conjecturas antigas e modernas sobre este assunto.
11:4 – Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante
do Deus da terra.
Essas são as duas oliveiras – Mencionadas em Zacarias 4:14 “Então
ele disse: Estes são os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a ter”,
que representam lá, Zerobabel e Josué, o sumo sacerdote. Todo este relato
parece ter sido tomado de Zacarias 4:1-14. Se o profeta e o apóstolo querem
dizer as mesmas coisas sobre esses símbolos, não sabemos.
11:5 – E, se alguém lhes quiser fazer mal, fogo sairá da sua boca, e
devorará os seus inimigos; e, se alguém lhes quiser fazer mal, importa que
assim seja morto.
Fogo sai de suas bocas – Foi designado a eles que proclamassem os
julgamentos de Deus contra todos que tentaram impedi-los de procederem no
ministério deles.
11:6 – Estes têm poder para fechar o céu, para que não chova, nos
dias da sua profecia; e têm poder sobre as águas para convertê-las em
sangue, e para ferir a terra com toda a sorte de pragas, todas quantas
vezes quiserem.
Esses têm poder para fechar o céu. Como Elias o fez: I Reis 17:1
“Então, Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o
Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho
nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra”. 18:46 “E a mão do
Senhor estava sobre Elias, o qual cingiu os lombos, e veio correndo perante
Acabe, até à entrada de Jizreel”.
Para transformá-los em sangue – Como Moisés, em Êxodo 7:19-25
“Disse mais o SENHOR a Moisés: Dize a Arão: Toma tua vara, e estende a tua
mão sobre as águas do Egito, sobre as suas correntes, sobre os seus rios, e
sobre os seus tanques, e sobre todo o ajuntamento das suas águas, para que se
tornem em sangue; e haja sangue em toda a terra do Egito, assim nos vasos de
madeira como nos de pedra....”. Eles teriam poder para afligir a terra com
pragas, similares àquelas que foram infligidas sobre os egípcios.
93
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
11:7 – E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do
abismo lhes fará guerra, e os vencerá, e os matará.
A besta que se levantou do poço do abismo – Provavelmente, aquele
que é chamado de anticristo; algum poder que seja contrário ao genuíno
Cristianismo. Mas qual, ou de onde, exceto do abismo sem fim; ou sob a
influência e desígnio do diabo, não podemos dizer; nem sabemos, através de
que nome este poder, ou ser, seria chamado. As conjecturas, concernentes às
duas testemunhas e a besta têm sido suficientemente multiplicadas. Se toda a
passagem, como alguns pensam, refere-se à perseguição dos judeus contra os
cristãos, então, algum poder judaico, ou pessoa, é a besta do poço do abismo.
Se ela se refere às primeiras eras do Cristianismo, então, a besta pode ser um
dos perseguidores imperadores pagãos. Se ela se refere à era mais recente do
Cristianismo, então, seria o poder papal, e os Albigenses e Valdenses, as duas
testemunhas, que foram quase extintos pelas horríveis perseguições erguidas
contra eles, pela Igreja de Roma. O que quer que seja pretendido aqui, a terra
ainda não se cobriu com o sangue deles.
11:8 – E jazerão os seus corpos mortos na praça da grande cidade
que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde o seu Senhor também
foi crucificado.
A grande cidade – Alguns dizem Roma, que pode ser espiritualmente
chamada de Sodoma, devido suas abominações; Egito, pela sua crueldade
tirana, e o lugar onde nosso Senhor foi crucificado, devido às suas perseguições
aos membros de Cristo; mas a própria Jerusalém pode ser pretendida. Todas
essas coisas, eu deixo para os outros..
11:9 – E homens de vários povos, e tribos, e línguas, e nações verão
seus corpos mortos por três dias e meio, e não permitirão que os seus
corpos mortos sejam postos em sepulcros.
Não será permitido que seus corpos sejam colocados em sepulturas –
Eles serão tratados com a mais grandiosa barbárie. Admite-se que a recusa em
enterrar o morto seja a somatória de toda brutalidade e crueldade. Nas terras
papistas, eles não permitirão que um Protestante tenha um enterro cristão, ou
tenha um túmulo em um pátio da Igreja! Miseráveis desprezíveis.
11:10 – E os que habitam na terra se regozijarão sobre eles, e se
alegrarão, e mandarão presentes uns aos outros; porquanto estes dois
profetas tinham atormentado os que habitam sobre a terra.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Enviarão presentes – Este era um costume nos dias de regozijo público.
Eles enviaram presentes uns aos outros, e deram porções ao pobre. Veja
Ester 9:19,22 “Os judeus, porém, das aldeias, que habitavam nas vilas,
fizeram do dia catorze do mês de Adar dia de alegria e de banquetes, e dia de
folguedo, e de mandarem presentes uns aos outros (...) Como os dias em que os
judeus tiveram repouso dos seus inimigos, e o mês que se lhes mudou de
tristeza em alegria, e de luto em dia de festa, para que os fizessem dias de
banquetes e de alegria, e de mandarem presentes uns aos outros, e dádivas aos
pobres”.
11:11 – E depois daqueles três dias e meio o espírito de vida, vindo
de Deus, entrou neles; e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor
sobre os que os viram.
Eles se puseram de pé – Foram restaurados, ao seu estado primitivo.
11:12 – E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi
para aqui. E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram.
E ascenderam ao céu – Desfrutaram de um estado de grande paz e
felicidade.
11:13 – E naquela mesma hora houve um grande terremoto, e caiu
a décima parte da cidade, e no terremoto foram mortos sete mil homens; e
os demais ficaram muito atemorizados, e deram glória ao Deus do céu.
Um grande terremoto – Violentas comoções em meio aos perseguidores
e revoluções.
Sete mil homens foram mortos – Muitos pereceram nessas comoções
populares.
Os que permaneceram ficaram aterrorizados – Ao verem a mão dos
julgamentos de Deus, tão notavelmente estendida.
Deram glória – Receberam as puras doutrinas do Evangelho, e
glorificaram a Deus por seus julgamentos e as conversões deles.
11:14 – É passado o segundo ai; eis que o terceiro ai cedo virá.
95
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A segunda aflição termina – Aquela que tomou lugar, sob a sexta
trombeta, e que já foi descrita.
A terceira vem – Prestes a ser descrita, sob a sétima trombeta que o anjo
está agora preparado para soar.
Das três aflições, que foram proclamadas, capítulo 8:13, a primeira está
descrita, capítulo 9:1-12; a segunda, capítulo 9:13-21. Essas aflições, muitos
estudiosos supõem tratarem-se da destruição de Jerusalém. O primeiro ai – as
sedições em meio aos próprios judeus. O segundo, – o cerco à cidade pelos
Romanos. O terceiro, – o tomar e saquear a cidade, e queimar o templo. Este foi
o maior de todos os ais, já que nele, a cidade e o templo foram destruídos e
quase um milhão de homens perderam suas vidas.
11:15 – E o sétimo anjo tocou a sua trombeta, e houve no céu
grandes vozes, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso
SENHOR e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre.
Houve grandes vozes no céu – Todos os anjos anfitriões celestes e os
espíritos humanos redimidos reuniram-se para glorificar a Deus; porque ele
derrotou completamente seus inimigos e conferiu aos seus amigos, honra. Isto
será verdadeiramente o caso, quando os reinos do mundo se tornarem reinos de
Deus e do seu Cristo. Mas quando acontecerá? Alguns dizem que isto já
aconteceu, quando da destruição do estado judaico, e do envio do Evangelho,
por todo o mundo gentio. Outros, que isto se refere ao milênio, e à consumação
de todas as coisas.
11:16 – E os vinte e quatro anciãos, que estão assentados em seus
tronos diante de Deus, prostraram-se sobre seus rostos e adoraram a Deus,
Os vinte e quatro anciãos – Os representantes da igreja universal de
Cristo. Veja no capítulo 5:8-10.
11:17 – Dizendo: Graças te damos, Senhor Deus Todo-Poderoso,
que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder, e
reinaste.
O Senhor Deus Todo-Poderoso, que é – Uma visão apropriada de Deus
em sua eternidade; todos os tempos são aqui compreendidos; o presente, o
passado e o futuro. Esta é a infinitude de Deus.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Tomates para ti – Tu exercitaste aquele poder que tu sempre possuíste;
e tu tens derrotado o poder de teus inimigos, e exaltado tua igreja.
11:18 – E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos
mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos
profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos
e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra.
As nações estavam indignadas – Enfurecidas, por causa do teu
Evangelho, e determinadas a destruí-lo.
Tua ira está próxima – O tempo da vingança de teus serviços e
destruição de todos os teus inimigos.
O tempo do morto, para que fossem julgados – A palavra krinein,
julgar, é frequentemente usada no sentido de vingar-se. O morto aqui pode
significar aqueles que foram assassinados por causa do testemunho de Jesus, e
o julgamento é a vingança do sangue deles.
Recompensa dada aos teus servos – Que foram fiéis até a morte.
Os profetas – Os fiéis professores na Igreja, os santos – os cristãos.
E aqueles que temem teu nome – Todos os teus sinceros seguidores.
Destroem os que destroem a terra – Todos os autores, fomentadores, e
encorajadores de guerras sangrentas.
11:19 – E abriu-se no céu o templo de Deus, e a arca da sua aliança
foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e
terremotos e grande saraiva.
O templo de Deus foi aberto no céu – A verdadeira adoração de Deus
foi estabelecida e executada na Igreja cristã; este é o templo verdadeiro, aquele
destruído em Jerusalém.
E houve raios, vozes, e trovões, e um terremoto, e grande chuva de
granizo - Essas grandes comoções foram pretendidas, no introduzir a visão
seguinte; porque o décimo-segundo capítulo é propriamente a continuação do
décimo-primeiro, e deve ser lido em uma conexão estreita com ele.
97
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Eu venho agora, para uma parte deste livro que é considerada da maior
importância, pela Igreja Protestante, mas é especialmente difícil e obscura. Eu
frequentemente reconheço minha própria incapacidade para ilustrar essas
profecias. Eu teria me beneficiado dos trabalhos de outros, mas eu não sei quem
está certo; ou se alguns dos escritores deste livro alcançaram o sentido, é mais
do que eu posso afirmar, e mais do que eu posso pensar. As ilustrações do
décimo-primeiro, décimo-terceiro e décimo-sétimo capítulos, às quais me referi
no prefácio, preparadas e apresentadas com grande diligência e erudição, eu
devo inserir em seu lugar, como decididamente a mais prováveis que eu já vi;
mas deixo os autores instruídos, responsáveis por suas próprias considerações
sobre o assunto.
98
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XII
A mulher vestida de sol, e em trabalho de parto, 1, 2. O grande dragão
vermelho, que espera devorar o filho, logo que nascesse, 3,4. A mulher tem o
filho que é arrebatado para Deus, e foge para o deserto, 5,6. A guerra no céu
entre Miguel e o dragão, 7, 8. O dragão e seus anjos são vencidos e lançados na
terra; ao que os habitantes celestiais dão glória a Deus; 9-11. O dragão, cheio
de ira, por causa de sua derrota, persegue a mulher, 12,13. Ela foge para o
deserto, onde ele tenta persegui-la; e provoca guerra com sua semente, 14-17.
Notas Sobre o Capítulo XII
Antes de introduzir o comentário, mencionado no encerramento do
capítulo precedente, eu penso que seja necessário situar que a fraseologia de
todo o capítulo é peculiarmente rabínica, e deve inserir algumas poucas
seleções que podem servir para ilustrar algumas das principais figuras.
Em Sohar Exod., fol. 47, col. 187, encontramos uma interpretação
mística de Êxodo 21:22 “Se alguns homens pelejarem, e ferirem a mulher com
a criança, de maneira que seu fruto aborte, ele certamente será punido, já que
o marido da mulher cairá sobre ele”. “Se os homens pelejarem, por exemplo,
Michael e Samael, e machucam a mulher com o filho, a Igreja israelita, de
maneira que seu fruto parta, hoc fit in exilio, ele será certamente punido; por
exemplo, Samael. Já que o marido da mulher, ou seja, o santo e abençoado
Deus...”.
Notas Sobre o Capítulo XII, por J.E.C.
12:1 - E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol,
tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua
cabeça.
E aconteceu uma grande maravilha no céu; uma mulher vestida de sol –
Que a mulher aqui representa a verdadeira Igreja de Cristo, a maioria dos
comentaristas está de acordo. Em outras partes do Apocalipse, a Igreja genuína
de Cristo é evidentemente retratada por uma mulher. No capítulo 19:7, a
grande multidão é representada, quando diz: “Fiquemos alegres, nos
regozijemos e demos glória a ele; porque o casamento do Cordeiro está
99
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
próximo, e sua ESPOSA está pronta”. No capítulo 21:9, um anjo diz a João:
“Vem para mais perto, eu te mostrarei a NOIVA, a esposa do Cordeiro”.
Que ela se refere à Igreja cristã, aparece também do fato de se vestir de
sol, um emblema notável de Jesus Cristo, o Sol da retidão, a luz e glória da
Igreja; porque a semelhança com o Sol de Deus, é como se o sol brilhasse em
sua força. A mulher tem: - A lua sob seus pés – Bispo Newton entende que
esta é a adoração típica judaica, e, de fato, o sistema Mosaico de ritos e
cerimônias não teria sido mais bem representado, porque ele era a sombra das
boas coisas vindouras. A lua tem menos luz, governando sobre a noite, e
extraindo toda sua iluminação do sol; de igual forma, a dispensação judaica era
o brilho da noite enluarada, e possuía a porção da gloriosa luz do Evangelho.
Com o nascer do sol, a noite termina, e a luz lunar não é mais necessária, já que
o sol que a ilumina preenche a terra; assim como todo o sistema judaico de
formas e sombras é suprimido pelo nascimento, vida, crucificação, morte,
ressurreição, ascensão, e intercessão de Jesus Cristo.
Na cabeça da mulher havia uma coroa de doze estrelas – A
representação muito significante dos doze apóstolos que foram os primeiros
fundadores da Igreja cristã, e, através dos quais, o Evangelho foi pregado, em
grande parte do império romano com sucesso surpreendente. “Os que forem
sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que trarão
muitos para a retidão, como as ESTRELAS, para sempre e sempre” Daniel
12:3.
12:2 – E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias
de dar à luz.
E ela, grávida, gritou, em trabalho de parto, etc. – Isto, quando tomado
em ligação com os versículos seguintes, é uma figura notável da grande
perseguição que a Igreja de Cristo sofreria, debaixo dos imperadores pagãos
romanos, mas, mais especialmente, daquela longa e mais terrível, sob o
governo de Diocleciano. A mulher é representada como GRÁVIDA, para
mostrar que o tempo rapidamente chagaria, quando a paciente indulgência de
Deus para com o mundo pagão terminaria, e um libertador surgiria no mundo
cristão, e executaria a Divina vingança sobre o paganismo.
12:3 – E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão
vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete
diademas.
100
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Apareceu uma outra maravilha – um grande dragão vermelho – O
dragão aqui é um símbolo, não do Império Romano em geral, mas do Império
Romano PAGÃO. O grande poder pagão deve ter sido representado assim, pela
religião que ele apoiava. Mas o que é o dragão? Uma fabulosa besta da
antiguidade, e, consequentemente, neste aspecto, um emblema mais apropriado
da adoração pagã, que consistia em prestar adoração aos inúmeros seres
imaginários, denominados deuses, deusas, etc... O próprio alicerce do grande
sistema religioso pagão é construído principalmente sobre uma fábula; e é
muito difícil reconhecer muitas de suas superstições como algo original
autêntico; e mesmo aquelas que parecem derivar sua origem dos escritos
sagrados são tão mascaradas na fábula, que literalmente não têm mais
semelhança com a verdade do que o dragão dos anciãos tinha com qualquer
animal, com que estamos familiarizados.
Mas pode-se perguntar, por que o Espírito de Deus representaria o
Império pagão Romano, como um dragão, em vez de irar-se com outro dos
fabulosos animais com os quais a mitologia dos primitivos pagãos era rica? A
resposta é que no oitavo capítulo, do Profeta Daniel, Deus representou o reino
dos gregos, através de um bode, por nenhuma outra razão aparente do que esta,
porque ele era o estandarte militar nacional da monarquia grega, portanto,
podemos esperar que o Império Romano pagão seja chamado de dragão, por
um relato similar.
Na confirmação deste ponto, é muito notável que o dragão seja o
principal emblema dos Romanos, seguido da águia, no segundo, terceiro,
quarto e quinto séculos da era cristã. Disto, temos abundante evidência, nos
escritos de ambos os pagãos e cristãos. Arrian é o mais antigo escritor que
mencionou que os dragões foram usados como símbolos militares em meio aos
romanos. Veja sua Tactics, c. 51. De onde Schwebelius supõe que este símbolo
foi introduzido depois da conquista de Daci, por Trajano.
Vegetio, que floresceu por volta do ano 386, da era cristã, diz: “O
primeiro estandarte da legião inteira é a águia, que o aquilífero carrega. Os
DRAGÕES são também carregados para a batalha, pelo Draconarii”. Como
uma legião consistia de dez coortes, havia, portanto, dez draconarii para um
aquilifero; consequentemente, do grande número de draconarii, em um exército,
a palavra signarii ou signiferi, carregadores de estandartes, vem, por fim,
significar os carregadores dos estandartes de dragão apenas, os outros
conservam o nome de aquilífero – Veja Veget;. Lib; ii.c.7.
101
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
O Império Romano pagão é chamado de dragão vermelho; de onde
concluímos, dos testemunhos dos escritores primitivos, que os estandartes de
dragão dos romanos eram pintados de vermelho. Em Ammianus Marcellinus,
lib. xvi, c.12, lemos: “O estandarte púrpura do dragão”. Veja também
Claudianosm, em Rufinum. Lib. ii., l. 177, 178. Pitiscus, em seu Lexicon Antiq.
Rom., e Ducange, em seu Glossarium Mediae et Infimae Latinitatis, sub voc.
Draco considerou este assunto, em grande medida, especialmente, o ultimo
escritor, que fez diversas citações de Claudiano, Sidônio, Prudêncio, e outros,
nas quais, não apenas o estandarte, mas também a própria imagem do dragão
seria da cor vermelha ou púrpura.
De tudo que foi dito acima, concluímos, que o dragão é uma grande
besta fabulosa, mostrada por João, através da qual, algum Grande poder Pagão
é simbolicamente representado; e o dragão vermelho, é escolhido em meio aos
numerosos animais imaginários, que as fantasias da humanidade têm criado,
para mostrarem que este grande poder pagão é o Império Romano pagão.
Com sete cabeças – Como o dragão é um emblema do poder romano
pagão, sua cabeça deve denotar as formas pagãs de governo – Veja a nota sobre
o Capítulo 17:10, onde as cabeças da besta são explicadas de uma maneira
similar. Essas eram exatamente sete, e são enumeradas por Tácito, nestas
palavras: “A cidade de Roma foi originalmente governada por reis. L. Brutus
instituiu liberdade e consulado. A ditadura foi apenas ocasionalmente
apontada; nem o poder decênviro durou acima de dois anos; e o poder
consular dos tribunos militares não foi de longa permanência. Nem Cinna, nem
Sylla tiverame uma dominação longa; o poder de Pompeo e Crassus foi tmbém
logo absorvido naquele de César; e as armas de Lépido e Antonio finalmente
submetida àquelas de Augusto”. Desta passagem, fica evidente, a todas as
pessoas familiarizadas com a história romana, que as sete formas de governo no
mundo Romano pagão foram: 1. O poder régio; 2. O consulado; 3. A ditadura;
4. O decenvirato; 5. O poder consular e os tribunos militares; 6. O triunvirato;
e, 7. O governo imperial.
É curioso que os estudiosos, em geral, em suas citações desta passagem,
não prestassem atenção ao triunvirato, uma forma de governo, evidentemente
tão distinta de qualquer outra, como os reis são dos cônsules, ou os cônsules
dos imperadores. Porque o triunvirato consistiu na divisão da república romana
em três partes, cada uma governada por um oficial, com autoridade consular,
em sua própria província; e todas as três unidas no regulamento de todo o
estado romano. Consequentemente, diferiam inteiramente do poder imperial,
102
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
que era a mudança completa do estado romano de uma república para uma
monarquia.
E os dez chifres – Que esses dez chifres significavam os muitos reinos,
fica evidente do capítulo sete de Daniel, onde o anjo fala da quarta besta, e diz
que “os dez chifres deste reino são dez reis que surgiriam”, e nesta visão da
passagem, muitos estudiosos estão de acordo, por também admitirem que os
dez reinos devem ser encontrados “em meio aos pedaços quebrados do Império
Romano”. E é claro que nada menos do que o desmembramento do Império
Romano, e sua divisão, em dez reinos independentes, pode ser pretendido, pela
interpretação do anjo recém citada. Se, portanto, os dez chifres da quarta besta
de Daniel indicam muitos reinos, pela mesma razão os chifres do dragão devem
ter significado similar.
Mas o Império Romano não foi dividido em diversos reinos
independentes, até um tempo considerável, depois que se tornou cristão. Neste
sentido, então, pode-se dizer que os diferentes reinos, nos quais o Império
Romano foi dividido pelas nações bárbaras, são chifres de dragão? Eles eram
assim, porque se tratava da monarquia romana, em sua sétima forma Dracônica
de governo, que foi desmembrada pelos bárbaros. Porque, embora o Império
Romano não estivesse completamente desmembrado, até o quinto século, é de
conhecimento geral, que o decréscimo da idolatria pagã, e o avanço do
Cristianismo ao trono, não elegeu a menor mudança na forma de governo: Os
romanos continuaram ainda, sob a sujeição do poder imperial; e,
consequentemente, quando as nações bárbaras pagãs dividiram, dentre eles, o
Império Romano, estes poderiam muito propriamente ser denominados chifres
de dragão, já que foi através das suas incursões que o poder imperial, fundado
pelos Césares pagãos, foi abolido.
Machiavel e o Bispo Lloyd enumeram os chifres do dragão desta forma:
1. O reino de Hunos; 2. O reino de Ostrogotes; 3. O reino de Visigotes; 4. O
reino dos Franks; 5. O reino de Vândalos; 6. O reino de Sueves e Alanos; 7. O
reino de Burgúndios; 8. O reino de Heruli, Rugii, Scyrri, e outras tribos que
compunham o reino italiano de Odoacer; 9. O reino dos Saxônicos; e 10. O
reino dos Lombardes.
E sete coroas sobre a sua cabeça – Nas sete formas romanas de governo,
o ateísmo tem sido a religião coroada ou dominante.
103
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
12:4 – E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu,
e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de
dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho.
E sua cauda arrastou a terça parte das estrelas do céu – Não é
incomum nas Escrituras, como Dr. Mitchel observa, chamar a retaguarda de um
inimigo de cauda, como em Josué 10:19 – Devemos extinguir a retaguarda,
que está literalmente em Hebraico, jutwa jutbnzw, “Vocês devem tirar fora a
cauda deles”. Veja também em Deuteronômio 25:18 “De maneira que,
encontrando vocês pelo caminho, ele os atacou, quando estavam cansados e
sem forças, ferindo todos os fracos, na retaguarda deles; e o temor a Deus não
existia nele”. É possível observar também que a palavra oura, neste versículo, é
usada pelos gregos, no mesmo sentido que a palavra hebraica, bnz, já se referiu.
Assim, oura stratou, que traduziríamos como a retaguarda de um exército, é
literalmente a cauda dele. Veja o Thesaurus de Stephens, no lugar citado.
A cauda de um dragão é, portanto, o poder pagão romano, em sua
sétima ou última forma de governo: o poder imperial; e não, como Dr. Mitchel
supõe, restrito aos últimos imperadores romanos pagãos. O poder imperial
pagão arrastaria a terceira parte das estrelas do céu, pelo que geralmente se
entende que o Império Romano sujeitaria a terceira parte dos príncipes e
potentados da terra. Mas que esta não é uma afirmação correta, fica evidente do
testemunho da história primitiva. O Império Romano sempre foi considerado e
chamado de império do mundo, pelos escritores primitivos. E é assim
denominado nas Escrituras, porque Lucas, no segundo capítulo de seu
evangelho, nos informa que houve um decreto de César Augusto de que O
MUNDO TODO pagaria imposto, o que evidentemente significa o Império
Romano.
Todo o mistério desta passagem consiste num mal-entendido quanto a
sua linguagem simbólica. Com o objetivo de compreendê-la, os símbolos aqui
usados devem ser examinados. Por céu, entendemos a mais eminente ou
governante parte de alguma nação. Isto fica claro, pela própria natureza do
símbolo, porque “o céu é o trono de Deus”; aqueles, portanto, que alcançaram
a autoridade suprema, em algum estado, diz-se que subiram ao céu, porque eles
foram edificados para esta eminência, através do favor do Senhor e são
ministros Dele, para fazerem aquilo que O agrada.
Assim, a calamidade que caiu sobre Nabucodonosor foi para instruí-lo,
nesta importante verdade: a de que os céus governam; ou seja, a de que todos
os monarcas possuíam seus reinos, através do desígnio Divino, e que nenhum
104
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
homem é elevado ao poder, através do que usualmente denominamos de
conseqüências da guerra, mas que “O Altíssimo governa no reino dos homens,
e o outorga a quem Ele deseje, e coloca sobre ele, os homens mais comuns”.
Partindo do significado de céu, não fica difícil entender o significado de terra,
uma vez que evidentemente trata-se do seu oposto, ou de todas as coisas em
sujeição ao céu, ou parte governante. As estrelas seriam os ministros da
religião, como vimos anteriormente; e isto fica ainda mais evidente no capítulo
1:16 deste livro, onde as sete estrelas que o Filho de Deus segura em sua mão
direta, diz-se significar os sete anjos (ou mensageiros) das sete Igrejas, pelos
quais entendemos os sete pastores ou ministros dessas Igrejas.
A semelhança de ministros com estrelas é muito notável; porque como
as estrelas fornecem luz à terra, assim, os ministros são as luzes da causa que
defendem; e a posição deles no céu, o símbolo da dominação, muito
adequadamente exprime a autoridade espiritual dos sacerdotes ou ministros
sobre seu rebanho. Consequentemente, como a mulher, ou a Igreja cristã, tem
sobre sua cabeça uma coroa de doze estrelas, que significa que ela está debaixo
da orientação dos doze apóstolos, que são as doze luzes principais do mundo
cristão, então, o dragão tem também suas estrelas ou ministros. Portanto, as
estrelas, que o dragão arrasta com sua cauda devem representar todo o corpo de
sacerdotes pagãos, que eram as estrelas ou luzes do mundo pagão.
Mas, em que sentido, se pode dizer que o Império Romano cristão, que
governou sobre todo o mundo conhecido, arrasta apenas a terça parte das
estrelas do céu? A resposta é a seguinte: O mundo religioso, nos tempos de
João, era dividido em três grandes ramificações: o mundo cristão, o mundo
judaico, e o mundo ateu ou pagão: consequentemente, como um dragão, um
animal fabuloso, é um símbolo de poder civil, apoiando uma religião,
alicerçada em uma fábula; necessariamente se segue que as estrelas ou
ministros judeus e cristãos não poderiam ser incluídos em meio àqueles que ele
arrasta com sua cauda, já que eles não defendiam sua idolatria, mas eram
ministros de uma religião, fundada pelo Deus do céu, e, consequentemente, não
fazia parte do mundo pagão, ainda que em sujeição, nas questões seculares, ao
Império Romano pagão. A cauda do dragão, portanto, arrasta atrás de si, todo o
mundo pagão.
E os lançou na terra – submeteu todos os sacerdotes pagãos, ao jugo
romano. As palavras da profecia são muito notáveis. É dito que a cauda do
dragão arrastou (porque assim surei seria traduzido), mas é acrescentado, e a
lançou na terra, para mostrar que no momento em que Apocalipse foi escrito, o
mundo estava dividido em três grandes divisões religiosas, a que já nos
105
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
referimos; mas que cauda do dragão, ou o poder romano pagão, sob sua última
forma de governo, trouxera todo o mundo pagão (que era a terça parte do
mundo religioso na era apostólica), em sujeição, previamente à comunicação de
Apocalipse a João. É a cauda do dragão que arrasta a terceira parte das estrelas
do céu, portanto, foi durante o domínio de sua última forma de governo, que o
Cristianismo foi introduzido no mundo; porque quando das seis formas
dracônicas de governo, precedentes, o mundo estava dividido religiosamente
apenas em duas grandes ramificações: judeus e gentios. Que o sentido no qual a
terceira parte é aqui tomada, é aquele pretendido na profecia, está além de toda
controvérsia, quando se considera que esta mesma divisão é feita no primeiro e
terceiro versículos, em que se faz menção da mulher vestida de sol – a Igreja
cristã, a lua sob seus pés, ou Igreja judaica, e o dragão, ou poder pagão.
Assim, o governo Imperial pagão é, sem dúvida, representado, primeiro,
por um dos sete líderes dracônicos, para mostrar que ele era uma daquelas sete
formas de governo pagão, que havia sucessivamente na liderança do Estado
Romano; e, em segundo lugar, pela cauda do dragão, porque ele era a última
daquelas sete. Para a justificação deste método de interpretação, veja a
explanação dupla do anjo, a respeito das cabeças da besta, nos capítulo 17:9.
10,16.
E o dragão, de pé, diante da mulher, etc... -- Constantius Chlorus, pai de
Constantino, abandonou as absurdidades do paganismo, e tratou os cristãos
com grande respeito. Isto alarmou os sacerdotes pagãos, cujos interesses
estavam intimamente ligados à continuidade das superstições primitivas, e
compreendeu, para o grande detrimento deles, que a religião cristã se tornaria,
diariamente, mais universal e mais triunfante, em todo o Império. Por conta
desses temores aflitivos, eles levaram Diocleciano a perseguir os cristãos.
Assim, começou o que é denominada de a décima e última perseguição geral,
que foi a mais severa de todas, e continuou, aproximadamente, por dez anos;
(veja Mosheim's Ecclesiastical History of the Third Century); e como foi do
agrado Divino que, neste momento, um grande salvador se levantasse, no
interesse de seu povo sofrido, a mulher, ou a Igreja cristã, é muito
apropriadamente representada sofrendo as dores do parto, e pronta para dar a
luz.
Antes da morte de Constantius, o grupo pagão, ciente de que
Constantino seguiria o exemplo de seu pai, que muito favoreceu os cristãos, o
observou com um olho, atento e maligno. Muitas eram as ciladas que, de
acordo com Eusébio, foram colocadas para ele, por Maximin e Galerius: ele
relata as freqüentes e perigosas iniciativas para as quais eles o estimularam,
106
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
com o objetivo de que perdesse sua vida. Quando Galerius ouviu da morte de
Constantius, e que ele designara Constantino seu sucessor, ele foi preenchido
com a mais desgovernada raiva e indignação, não obstante, não se atreveu a dar
alguns passos contrários ao interesse de Constantino. O terror dos exércitos do
ocidente, que eram, em sua maioria, compostos de cristãos, era suficiente
obstáculo para todas as tentativas daquele tipo. Assim, o dragão, ou poder
pagão, permaneceu diante da mulher, ou da Igreja cristã, para devorar seu filho,
ou libertador, tão logo ele nascesse.
12:5 – E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações
com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu
trono.
E seu filho foi arrebatado junto a Deus e para seu trono. – Em Yacult
Rubeni encontramos essas palavras: “Raquel, a sobrinha de Methusala, estava
grávida, e prestes a dar a luz no Egito. Eles a pisotearam, e a criança nasceu,
e ficou debaixo da cama; Miguel desceu, e o tomou para o trono da glória.
Naquela mesma noite, o primogênito do Egito foi morto”.
Versículo 5 - E deu a luz a um filho homem – A Igreja cristã, quando
seu tempo pleno chegou, obteve um libertador, que, no decurso da providência
Divina, foi destinado: - a governar todas as nações – O Império Romano pagão,
com uma vara de ferro – uma forte figura, para denotar o constrangimento,
sobre o paganismo, de maneira que ele não pudesse perseguir a Igreja cristã. A
criança mencionada neste versículo é da dinastia dos imperadores cristãos,
começando com o reconhecimento público de Constantino, de sua crença na
divindade da religião cristã, que aconteceu no fim do ano 312 da Era Cristã,
depois da derrota do Imperador Maxentius.
E seu filho foi arrebatado junto a Deus e seu trono – Uma sucessão de
imperadores cristãos se levantou para a Igreja; porque o trono romano, como o
Bispo Newton observa, é aqui chamado de trono de Deus, porque não existe
poder, a não ser de Deus: os poderes que são ordenados por Deus.
12:6 – E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar
preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e
sessenta dias.
E a mulher fugiu para o deserto – O relato da mulher fugindo para o
deserto, imediatamente se segue àquele de seu filho sendo arrebatado ao trono
107
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
de Deus, para denotar o grande e rápido crescimento das heresias na Igreja
cristã, logo depois que o Cristianismo tornou-se a religião do Império.
Onde ela tem um lugar preparado por Deus – Veja Apocalipse 12:14.
12:7 – E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam
contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos;
Houve guerra no céu - Na mesma obra, sobre Êxodo 14:7: Em que o
Faraó tomou seiscentos carros, temos essas palavras - “Houve guerra em meio
aqueles do alto, e em meio aqueles da terra. Sobre Miguel, os rabinos estão
repletos: Veja em Schoettgen, e a nota sobre Judas, Judas 9 - “Mas o arcanjo
Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de
Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O
Senhor te repreenda”.
O dragão e seus anjos – O mesmo que Rab. Sam. ben David, em
Chasad Shimuel, chama wytwlyyjw lams Samael vechayilothaiv, “Samael e
suas tropas”.
Versículo 7 - E houve guerra no céu – Já que céu significa aqui o trono
do Império Romano. E, consequentemente, esta guerra alude ao irromper das
comoções civis em meio aos dirigentes deste Império.
Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão – Miguel era o filho
homem que a mulher teve, como está evidente do contexto e, portanto,
significa, como já foi mostrado, a dinastia dos imperadores romanos cristãos.
Esta dinastia é representada por Miguel, porque ele é “o grande príncipe que
significa os filhos do povo de Deus”. Daniel 12:1 “E naquele tempo Miguel, o
grande príncipe, se levantará a favor dos filhos do teu povo, e haverá um
tempo de angústia, como nunca houve, desde que houve nação até aquele
tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado
escrito no livro”.
E o dragão e seus anjos lutaram – Ou os ministros.
12:8 – Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos
céus.
E não prevaleceram – Contra a causa do Cristianismo.
108
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Nem mais se achou o lugar deles no céu - Os defensores da idolatria
pagã foram impedidos de terem alguma porção a mais no governo do Império.
O surpreendente sucesso de Constantino sobre todos os seus inimigos, e seu
triunfo final sobre Licinius, corresponde exatamente à linguagem simbólica
neste versículo.
12:9 - E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente,
chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado
na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.
A velha serpente – Os rabinos falam muito deste ser, algumas vezes,
sob a noção de princípio maligno, e algumas vezes, Samael.
Ele foi lançado na terra, e seus anjos, com ele – Muito semelhante ao
que está escrito no livro Bahir, em Sohar Gen.: “E Deus expulsou Samael e
suas tropas do lugar da santidade deles”.
Versículo 9. E o grande dragão foi banido, etc... - Pelos termos diabo e
satanás, mencionados neste versículo, Pareus, Faber e muitos outros estudiosos,
entendem literalmente o grande inimigo espiritual da humanidade. Mas esta
visão da passagem não pode ser correta, porque o dragão é que é assim
chamado. Agora, se por dragão, queremos dizer diabo, então, o uso
necessariamente deve conduzir a esta conclusão, a de que o grande espírito
apóstata é um monstro, com sete cabeças e dez chifres; e, também que ele tem
uma cauda, com a qual arrasta atrás de si, a terceira parte das estrelas do céu.
Os termos, velha serpente, diabo, e satanás, devem, portanto, ser
entendidos figurativamente. O poder pagão é chamado de a velha serpente que
engana o mundo todo, com sua sutileza contra os cristãos, e faz com que todo o
mundo romano, até onde esteja em seu poder, abrace as absurdidades do
paganismo. Ele é chamado de diabo, devido suas contínuas acusações e
difamações falsas contra os verdadeiros adoradores de Deus, porque o diabo é
um mentiroso, desde o princípio; e é chamado de satanás, que é a palavra
hebraica que significa adversário, por suas freqüentes perseguições à Igreja
cristã. O dragão e seus anjos devem ser expulsos, o que é mais do que foi dito
no versículo precedente, onde menção é feita de não mais serem encontrados no
céu, ou no trono do Império Romano; aqui ele está inteiramente fora de todos
os ofícios de confiança no Império; sua religião é, a princípio, apenas tolerada,
e, depois, totalmente abolida, pelo poder imperial.
109
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
O grande evento não foi a obra de um reino; mas levou muitos anos,
porque ele teve de lugar com os preconceitos, profundamente enraizados do
pagão, que quase no final, se esforçou para manter sua declinante superstição.
O Paganismo recebeu diversos golpes mortais, no tempo de Constantino e seus
filhos, Contans e Constantius. Ele foi, mais adiante, reduzido pelo grande zelo
de Joviano, Valentiniano e Valenos; e finalmente suprimido pelos editos de
Gratiano, Teodosio I; e seus sucessores. Não foi até 388 d.C que a própria
Roma, residência do imperador, foi totalmente reformada das absurdidades do
paganismo; mas a total supressão dele, logo se seguiu à conversão da cidade
metropolitana, por volta de 395 da Era Cristã; o dragão pode ser considerado,
em um sentido eminente, ter sido lançado à terra, ou seja, em um estado de
completa sujeição à dinastia governante dos imperadores cristãos.
12:10 - E ouvi uma grande voz no céu, que dizia: Agora é chegada
a salvação, e a força, e o reino do nosso Deus, e o poder do seu Cristo;
porque já o acusador de nossos irmãos é derrubado, o qual diante do nosso
Deus os acusava de dia e de noite.
O acusador de nossos irmãos – Dificilmente existe alguma coisa mais
comum nos escritos rabínicos do que satanás como o acusador dos israelitas. E
a mesma palavra kathgorov, acusador, ou como está no Códex Alexandrino,
kathgwr, é usada por eles nas cartas hebraicas, rwgyfg katigor; falando do dia
da expiação: “E o santo e abençoado Deus ouve o testemunho deles de seu
acusador, rwgyfqh m min hakkatigor; e expia o altar, dos sacerdotes e toda a
multidão, do maior ao menor”. Em Shemoth Rabba, encontramos essas
palavras: “Se um homem observa os preceitos, e é um filho da lei, e vive uma
vida santa, então, satanás se levanta e o acusa”. “Todos os dias, exceto no dia
da expiação, satanás é o acusador dos homens”. - Vayikra Rabba.
“O santo, abençoado Deus, perguntou aos setenta príncipes do mundo:
Vocês viram quem sempre acusa meus filhos?”. Yalcut Chadash, fol. 101, 3.
“O diabo permanece sempre como um acusador diante do rei de
Israel” - - Sohar Levit., fol. 43, col. 171. Veja muito mais em Schoettgen.
Versículo 10. E eu ouvi uma voz alta, dizendo: Agora chegou a
salvação, etc. – Esta é uma canção de triunfo da Igreja cristã sobre a idolatria
pagã, e é muito expressiva da grande alegria dos cristãos, com este mais
espantoso evento. A voz alta de triunfo, seria ouvida no céu, para mostrar que a
religião cristã era agora exaltada ao céu, ou trono do Império Romano. “É
muito notável”, como Bispo Newton observa, “que o próprio Constantino, e os
110
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
cristãos de seu tempo, descrevem suas conquistas sob a imagem de um dragão,
como se eles tivessem entendido que esta profecia tem recebido sua realização
nele. O próprio Constantino, em sua epistola a Eusébio e outros bispos,
concernentes à reedificação e reparo das igrejas, diz que ‘a liberdade, agora
restaurada, e o dragão, removido da administração dos assuntos públicos, pela
providência do grande Deus, e pelo meu ministério, eu estimo que o grande
poder de Deus manifestou-se, afinal’. Além disto, o retrato de Constantino foi
colocado sobre o portão do palácio, com a cruz sobre sua cabeça, e debaixo de
seus pés, o grande inimigo da humanidade, que perseguiu a igreja, através de
impiedosas tiranias, na forma de um dragão, trespassado com um dardo, no
meio de seu corpo, e caindo de ponta-cabeça nas profundezas do mar”.
Constantino acrescentou aos outros emblemas romanos o lábaro, ou
estandarte da cruz, e fez dele o principal estandarte do Império cristão romano.
A este lábaro, Prudentius se refere, quando fala dos soldados cristãos, em seu
primeiro hino: “Eles abandonam as insígnias de César; e escolhem o
estandarte da cruz; e em vez das bandeiras do dragão que eles carregavam,
movidas ao redor, pelo vento, eles carregam adiante, a ilustre madeiro que
subjugou o dragão”. Quando o apóstolo viu a mulher no céu, eles bem
poderiam chamá-la, no espírito da profecia, de uma grande maravilha.
12:11 – E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra
do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte.
E eles o dominaram, através do sangue do Cordeiro – Aqui é dada a
razão, porque os seguidores de Cristo prevaleceram, naquele tempo, contra
todos os seus adversários. Foi porque eles lutaram contra o dragão, no amor de
Deus. Eles o dominaram, através do sangue do Cordeiro – proclamando a
salvação aos pecadores, através do Cristo crucificado, e através da contínua
intercessão deles, no trono da graça, pela conversão do mundo pagão.
E através da palavra do testemunho deles – Pelo testemunhar
constantemente contra os erros e tolices da humanidade.
E eles não amaram suas vidas diante da morte – Eles não se
preocuparam com o estado temporal presente deles, mas entregaram suas vidas
alegremente para a fúria de seus perseguidores, e, assim, selaram a verdade do
que falaram com o próprio sangue.
111
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
12:12 – Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos
que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande
ira, sabendo que já tem pouco tempo.
Portanto, regozijem-se, ó céus, e vocês que habitam neles – Que os
cristãos que agora são parceiros da presente prosperidade temporal, e
avançaram para lugares de confiança no império, louvem, e glorifiquem o
Senhor que tão evidentemente interferiu em benefício deles. Mas é
acrescentado: Ai, dos que habitam a terra e o mar! Porque o diabo desce até
vocês - Por habitantes da terra, queremos dizer o povo em sujeição ao Império
Romano; e por habitantes do mar, aquelas partes dos domínios romanos que,
pelo que parece, foram reduzidas a um estado de anarquia pelas incursões das
nações bárbaras. Não é sem precedente comparar as grandes multidões de
nações com o mar. Veja Ezequiel 26:3 - “Portanto, assim diz o Senhor DEUS:
Eis que eu estou contra ti, ó Tiro, e farei subir contra ti muitas nações, como o
mar faz subir as suas ondas”.
Aqui, então, está um ai anunciado contra todo o mundo romano que
será provocado pelo diabo, o pai das mentiras, a facção pagã, sendo assim
denominada, devido ao método com que persistiram em seus esforços, a fim de
destruírem a religião de Jesus. Veja Apocalipse 12:15.
Com grande ira, porque ele sabe que tem pouco tempo – A facção pagã
vê, com grande pesar, que a religião cristã ganha rapidamente terreno, em todos
os lugares; e, se não oportunamente reprimida, deve logo afrontar toda a
oposição.
12:13 – E, quando o dragão viu que fora lançado na terra,
perseguiu a mulher que dera à luz o filho homem.
E quando o dragão viu que fora lançado à terra – Quando a facção pagã
viu que eles não mais seriam apoiados pelo poder civil: - Ele perseguiu a
mulher que deu a luz ao filho homem – Os pagãos perseguiram a Igreja cristã,
pelo que a Providência Divina levantou uma dinastia de Imperadores Romanos
Cristãos.
12:14 – E foram dadas à mulher duas asas de grande águia, para
que voasse para o deserto, ao seu lugar, onde é sustentada por um tempo, e
tempos, e metade de um tempo, fora da vista da serpente.
112
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E à mulher foram dadas duas asas de uma grande águia – (tou aetou
tou megalou? Da grande águia), e, portanto, difere do dragão, que é o símbolo
do Império Romano Pagão, especialmente. O poder romano é chamado de
águia, por seu estandarte legionário, que foi introduzido em meio aos romanos,
no segundo ano do consulado de C. Marius; porque, antes disto, minotauros,
lobos, leopardos, cavalos, javalis e águias eram usados indiferentemente, de
acordo com o humor do comandante. As águias romanas eram figuras em
relevo, de prata ou ouro, carregadas no topo dos piques, as asas expostas, e
frequentemente um aerólito em suas garras. Debaixo da águia, sobe o pique,
havia escudos empilhados, e, algumas vezes, coroas. As duas asas da grande
águia se referem às duas grandes divisões independentes do Império romano,
que tomaram lugar, em 17 de Janeiro de 395 d.C., e foram dados à mulher, e o
Cristianismo foi assim estabelecido como a religião de ambos os impérios.
Para que fugisse para o deserto, para o lugar dela, etc – A aparente
repetição aqui do versículo 6, foi induzida pelo Bispo Newton, para considerar
a passagem anterior, como introduzida através de prolepse ou antecipação;
porque ele diz, que a mulher não fugiu para o deserto, até muitos anos depois
da conversão de Constantino. Mas que não existe tal prolepse, como o bispo
imagina, fica evidente da história eclesiástica do quarto século; porque a
mulher, ou a verdadeira Igreja, foge para o deserto, um tempo considerável,
antes da divisão do grande Império Romano, em duas monarquias
independentes. A palavra traduzida, fugiu, não é tomada no sentido peculiar,
como se a mulher, no começo de sua fuga, tivesse sido guarnecida com asas,
porque a palavra original é efugen.
O significado, portanto, dos versículos 6 e 14, quando tomados em
ligação com seus respectivos contextos, é o de que a mulher começa a dar
rápidos passos largos, em direção ao deserto, quase imediatamente depois que
se elevou ao céu, ou ao trono do Império Romano, e no decurso de sua fuga, foi
guarnecida com as asas da grande águia, ina pethtai, para que pudesse fugir,
para o lugar preparado por Deus, onde seria alimentada por mil duzentos e
sessenta dias.
Aqui, aquele período em que a mulher seria alimentada no deserto, seria
um tempo, tempos, e metade de um tempo; consequentemente é o mesmo que
os mil duzentos e sessenta dias do versículo 6. Mas em nenhum outro sentido
eles podem ser considerados o mesmo, do que pelo entendimento de que um
tempo significa um ano; tempos, dois anos; e metade de um tempo, metade de
um ano; por exemplo, três anos e meio. E como cada ano profético contém
113
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
trezentos e sessenta dias, então, três anos e meio caberá precisamente nos mil
duzentos e sessenta dias.
Porque o apocalipse é altamente simbólico, é razoável esperar que seu
período de tempo seja também representado simbolicamente, para que a
profecia possa ser homogênea em todas as suas partes. O Espírito Santo,
quando falou simbolicamente dos anos, invariavelmente, os representou por
dias, ordenando ao Profeta Ezequiel para que deitasse sobre seu lado esquerdo,
por trezentos e noventa dias, de maneira que isto fosse um sinal, ou símbolo da
casa de Israel, carregando as iniqüidades dela, por muitos anos; e quarenta dias
sobre o seu lado direito, para representar a casa de Judá, de uma maneira
simbólica, para que eles carregassem suas iniqüidades por quarenta anos.
[Ezequiel 4:4-5 – “Tu também deita sobre o teu lado esquerdo, e põe a
iniqüidade da casa de Israel sobre ele; conforme o número dos dias que te
deitares sobre ele, levarás as suas iniqüidades. Porque eu já te tenho fixado os
anos da sua iniqüidade, conforme o número dos dias, trezentos e noventa dias;
e levarás a iniqüidade da casa de Israel”. Ezequiel 4:6 “E, quando tiveres
cumprido estes dias, te deitarás sobre o teu lado direito, e levarás a iniqüidade
da casa de Judá quarenta dias; um dia, te dei para cada ano”].
Os mil duzentos e sessenta dias, portanto, em que a mulher é alimentada
no deseto, deve ser entendido simbolicamente, e, consequentemente, denotar
tanto quanto anos naturais. O deserto para onde a mulher fogo é o mundo grego
e latino, porque ela é transportada para seu lugar, através das duas asas da
grande águia. Não devemos entender a frase fugir para seu lugar, com o seu
mover-se de uma parte do mundo habitado para outro mundo, mas do seu
rápido declínio, de um estado de grande prosperidade, para uma condição de
desamparo e desolação. A mulher é alimentada por mil duzentos e sessenta
anos, da face da serpente. Os impérios do oriente e ocidente foram destinados,
no decurso da providência Divina, a apoiar a religião cristã, pelo menos,
nominalmente, enquanto o restante do mundo permanecia na idolatria pagã, ou
sob a influência deste dragão, aqui chamado de serpente, porque ele enganou o
mundo todo..
As palavras da profecia são muito notáveis, a Igreja Cristã seria apoiada
pelos Impérios do Oriente e Ocidente, duas denominações poderosas; e, ao
mesmo tempo, situadas no deserto, fortemente denotando que, embora muitos
professassem o Cristianismo, havia poucos que “mantinham os mandamentos
de Deus, e tinham o testemunho de Jesus Cristo”.
114
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
12:15 – E a serpente lançou da sua boca, atrás da mulher, água
como um rio, para que pela corrente a fizesse arrebatar.
E a serpente lançou de sua boca, água, como uma fonte – A água aqui
evidentemente significa grandes multidões de nações e pessoas; porque no
capítulo 17:15, a interpretação do anjo diz: As águas que viste são pessoas, e
multidões e nações e línguas. Esta água, então, que o dragão lança de sua boca,
deve ser uma inundação de nações bárbaras pagãs junto ao Império Romano; e
o propósito que o dragão tem em vista, é fazer com que a mulher ou a Igreja
Cristã, seja carregada pela inundação - Inteiramente varrida da face da terra.
Dr. Mosheim, no início de seu segundo capítulo, a respeito do século
cinco, observa “que os Ostrogodos, os Hérulos, os Francos, os Hunos, e os
Vândalos, com outras nações poderosas e belicosas, a maioria estranha ao
Cristianismo, invadiram o Império Romano, e o dilaceraram da maneira mais
deplorável. Em meio a essas calamidades, os cristãos foram os sofredores mais
graves, e podemos nos aventurar a dizer, que foram os principais sofredores. É
verdade que essas nações selvagens almejavam mais a aquisição de
prosperidade e domínio, do que a propagação ou apoio às superstições pagãs;
e a crueldade e oposição deles aos cristãos não surgiram de algum princípio
religioso, ou de um desejo fanático de arruinar a causa do Cristianismo; elas
foram meramente pela INSTIGAÇÃO dos pagãos aos que ainda permaneciam
no império, para que tratassem, com tal severidade e violência, os seguidores
de Cristo”.
Assim, o ai que foi anunciado, no versículo 12, contra os habitantes da
terra e do mar, caiu sobre todo o mundo Romano; porque, em conseqüência do
excitamento e distorções maliciosas dos pagãos do Império, “a transmigração
de uma grande multidão de nações”, veio sobre os Romanos, e não cessou suas
destruições, até que assolaram o Império oriental, até os portões de Bizâncio, e,
finalmente, se apossaram do Império ocidental.
Dr. Robertson diz, na introdução de sua História de Charles V, 1809:
“Se a um homem fosse solicitado fixar o período, na história do mundo,
durante o qual, a condição da raça humana foi mais calamitosa e afligida, ele
nomearia, sem hesitação, aquele que decorreu da morte de Teodósio, o
Grande, ao estabelecimento dos Lombardes, na Itália, um período de cento e
setenta e seis anos. Os autores contemporâneos que observaram aquele
cenário de desolação se esforçaram e estão perdidos quanto às expressões
para descreverem o horror dele. O açoitadores de Deus, os destruidores de
nações, são os terríveis epítetos, através dos quais eles distinguiam os mais
115
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
notáveis dos líderes bárbaros; e eles comparavam a ruína que trouxeram ao
mundo, com a devastação ocasionada pelos terremotos, conflagrações, ou
dilúvios, as mais formidáveis e fatais calamidades, que a imaginação do
homem pode conceber”. Mas o sutil desígnio que a serpente do dragão tinha
em vista, quando vomitou de sua boca uma inundação de águas, foi mais
providencialmente frustrado; porque:
12:16 – E a terra ajudou a mulher; e a terra abriu a sua boca, e
tragou o rio que o dragão lançara da sua boca.
A terra ajudou a mulher – “De fato”, como o Bispo Newton
excelentemente observa,”produziu mais provavelmente ruína e articulou
subversão na Igreja Cristã, do que as irrupções de tantas nações bárbaras no
Império Romano. Mas o evento provou-se contrário à aparência e expectativa
humana: a terra tragou a inundação; os bárbaros foram antes tragados pelos
Romanos, do que os Romanos pelos bárbaros; os conquistadores pagãos, em
vez de imporem sua própria religião, submeteram-se à religião dos vencidos
cristãos; e eles não apenas abraçaram a religião, mas influenciaram até
mesmo as leis, as maneiras, os costumes, a língua, e o próprio nome dos
Romanos, de maneira que os vitoriosos foram, de certa maneira, absorvidos e
se perderam em meio aos subjugados”. Veja suas Dissertações sobre as
Profecias.
12:17 – E o dragão irou-se contra a mulher, e foi fazer guerra ao
remanescente da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus, e
têm o testemunho de Jesus Cristo.
E o dragão irou-se com a mulher – A facção pagã, frustrada em sua
tentativa sutil de destruir o Cristianismo, estava grandemente irada, e se
esforçou para incitar o ódio da multidão contra a religião de Jesus. “Eles
alegaram que antes da vinda de Cristo, o mundo foi abençoado com a paz e
prosperidade; mas, desde o progresso da religião deles, em todos os lugares,
os deuses, cheios de indignação por verem sua adoração negligenciada e seus
altares abandonadas, visitaram a terra com aquelas pragas e desolações que
aumentaram à cada dia”. Veja a História Eclesiástica de Mosheim, e outras
obras sobre este assunto.
Fizeram guerra com os remanescentes de sua semente – O dragão partiu
para o deserto, para onde a mulher tinha fugido; e de uma outra forma,
começou uma nova espécie de perseguição, dirigida apenas contra os
remanescentes da sua semente, que mantinham os mandamentos de Deus, e o
116
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
testemunho de Jesus Cristo. Veja no versículo 13, do capítulo seguinte, para
uma ilustração desta notável passagem.
117
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XIII
A besta ergueu-se do mar, com sete cabeças, dez chifres e dez coroas, 1.
Sua descrição, poder, blasfêmia, crueldade, etc., 2-10. A besta sai da terra com
dois chifres, enganando o mundo, através de seus falsos milagres, e fazendo
com que cada um receber sua marca no lado direito da mão. 11-17. Seu
número, 666, 18.
Notas Sobre o Capítulo XII. Por J.E.C.
13:1 - E EU pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma
besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez
diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia.
E eu me pus sobre a areia do mar, e vi uma besta erguer-se do mar –
Antes que prossigamos na interpretação deste capítulo, será altamente
necessário determinar o significado do símbolo profético, besta, já que a falta
de um entendimento apropriado deste termo tem provavelmente sido a razão,
porque muitas hipóteses discordantes têm sido publicadas no mundo. Nesta
investigação, é impossível recorrer a mais alta autoridade, do que as Escrituras,
porque o Espírito Santo é seu próprio intérprete.
O que, portanto, se quer dizer pelo termo besta, em alguma das visões
proféticas, o mesmo deve ser representado por este termo, onde quer que seja
usado, de uma maneira similar, em qualquer outra parte dos oráculos sagrados.
Portanto, ao colocar este alicerce, a interpretação do anjo da última das quatro
bestas de Daniel precisa apenas ser produzida, um relato da qual é dado no
sétimo capítulo deste profeta. Daniel muito desejoso de “saber a verdade da
quarta besta, que era diferente de todas as outras, extremamente terrível, e
com dez chifres que estavam sobre sua cabeça”, o anjo assim interpreta a
visão: “A quarta besta seria o quarto reino sobre a terra, diferente de todos os
reinos, e devoraria toda a terra, e a pisotearia, e a faria em pedaços. E os
chifres deste reino são os dez reis que surgiriam”, etc. Nesta Escritura,
plenamente se declara que a quarta besta seria o quarto reino sobre a terra;
consequentemente, as quatro bestas vistas por Daniel são os quatro reinos: de
onde se conclui que o termo besta é o símbolo profético para um reino.
Quanto à natureza do reino que é representado pelo termo besta, não é
insignificante examinar o mais apropriado significado da palavra original, hyj
chaiya. Esta palavra hebraica é traduzida na Septuaginta, pela palavra grega,
118
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
qhrion, e ambas significam o que denominamos de besta selvagem; e é uma
utilizada por João em Apocalipse. Tomando a palavra grega, qhruin, neste
sentido, é completamente evidente, que um poder seja representado, nos
escritos proféticos, sob a noção de uma besta selvagem, para que o poder assim
representado faça parte da natureza de uma besta selvagem. Assim sendo, um
poder beligerante mundano é evidentemente designado. E a comparação é
peculiarmente apropriada; porque, como diversas espécies de bestas selvagens
vivem em constante guerra com o mundo animal, então, a maioria dos
governantes, influenciada pela ambição, promove discórdia e despovoação. E,
também, como a carnívora besta selvagem adquire sua força e magnitude no
caçar animais mais fracos; então, a maioria das monarquias terrenas é levantada
pela espada e deriva sua influência política da resistência mal sucedida das
nações contendentes.
O reino de Deus, por outro lado, é representado como “uma pedra
tirada da montanha, sem as mãos”; e ele nunca é como a besta, porque não se
levanta pela espada, como todos os outros poderes seculares, mas santifica a
pessoa sob sua sujeição; e neste particular, difere essencialmente de todas as
outras dominações.
Diz-se que esta besta saiu do mar, no que concorda com as quatro
bestas de Daniel; o mar é, portanto, o símbolo de uma grande multidão de
nações, como já foi provado; e o significado é que todo império poderoso é
erguido das ruínas de um grande número de nações, com que ele contendeu,
com sucesso, e incorporou, com seus domínios. O mar, aqui, é, sem dúvida, o
mesmo em que um ai foi anunciado contra seus habitantes, capítulo 12:12,
porque João estava de pé na areia do mar, quando a visão mudou da mulher e o
dragão para aquele registrado neste capítulo. Portanto, se segue que o reino ou
império aqui representado pela besta, é o que brotou das ruínas do Império
Romano Ocidental.
Tendo sete cabeças e dez chifres, e junto a eles, dez coroas – A besta
aqui descrita é o Império Latino, que apoiou a Igreja Latina ou papista; porque
tem sobre seus chifres, dez coroas; ou seja, é um império composto de dez
distintas monarquias no interesse da Igreja Latina. Vejas as cabeças e chifres
totalmente explicados nas notas do capítulo 17:10,12, 16.
Como as frases Igreja Latina, Império Latino, etc., não são muito
geralmente entendidas, no momento, e ocorrerão frequentemente no decurso
das notas sobre este e o décimo-sétimo capítulo, não será impróprio explicá-las.
119
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Durante o período da divisão do Império Romano, naqueles do oriente e
ocidente, até a dissolução final do Império ocidental, os súditos de ambos os
impérios eram igualmente conhecidos pelo nome de Romanos. Logo depois
deste evento, o povo do ocidente perdeu quase inteiramente o nome de
Romanos, e foi denominado segundo seus reinos respectivos. que foram
estabelecidos junto às ruínas do Império ocidental. Mas como o Império
oriental escapou da ruína que caiu sobre o ocidental, os súditos do primeiro
ainda mantiveram o nome de Romanos, e chamaram seu domínio de Império
Romano; através do qual, esta monarquia ficou conhecida dentre eles, até sua
dissolução final, em 1453, por Mohammed II, o sultão turco.
Mas os súditos do imperador oriental, desde o tempo de Carlos Magno,
ou antes (e mais especialmente no tempo das cruzadas e consequentemente),
chamaram o povo ocidental, ou aqueles debaixo da influência da Igreja
Romana, de Latino, e sua Igreja, de Igreja Latina. E o povo ocidental, em
contrapartida, denominou a Igreja oriental, de a Igreja grega, e os membros
dela, de gregos. Em conseqüência, a divisão da Igreja cristã, nas dos gregos e
latinos. Para uma confirmação disto, o leitor pode consultar os escritores
Bizantinos, onde encontrará as denominações, Romanos e Latinos, usadas no
sentido aqui mencionado em numerosas instâncias.
Os membros da Igreja Católica Romana não têm sido denominados
Latinos, pelos gregos apenas; este termo é também usado nos instrumentos
públicos dos conselhos gerais papistas, como pode ser exemplificado nas
seguintes palavras que formam uma parte do decreto do conselho de Basil,
datado de 26 de Setembro de 1417, Copiosissimam subventionem pro unione
GRAECORUM cums LATINIS, “Uma grande convenção para a união dos
Gregos e os Latinos”. Mesmo nas próprias bulas papais esta denominação tem
sido reconhecida, como pode ser visto no edito do Papa Eugênio IV, datado de
17 de Setembro de 1437, em que menção é feita da Ecclesiae LATINORUM
quaesita unio, “o desejo de união da Igreja dos Latinos”; e em outro local,
lemos: Nec superesse modum alium prosequendi operis tam pii, et servandi
LATINAE ECCLESIAE honouris, “que nenhum meio seria deixado sem tentar,
na execução de tal obra piedosa, e para preservar a honra da Igreja Latina”.
Em uma bula do mesmo pontífice, datada de Setembro de 1439, temos a
Sanctissima LATINORUM et GRAECORUM unio, “a mais santa união dos
Gregos com os Latinos”. Veja Bail's Summa Conciliorum. Por Império Latino
queremos dizer todos os poderes que apóiam a Igreja Latina.
E junto às suas cabeças o nome de blasfêmia – onoua blasfhmiav? Um
nome de blasfêmia. Isto tem sido entendido de diversas maneiras. Jerome e
120
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Prosper dizem que o nome de blasfêmia consiste na denominação, urbs
aeterna, eterna cidade, apelido de Roma; e os estudiosos modernos referem-se
a esta, como a adoração idólatra dos Romanos e papistas. Antes de tentarmos
determinar o significado desta passagem, devemos, primeiro, definir o que o
Espírito Santo quer dizer por nome de blasfêmia.
Blasfêmia, nas Escrituras, significa o falar ímpio, quando aplicado a
DEUS, e o falar injurioso, quando dirigido contra nosso próximo. Um nome de
blasfêmia é a prostituição de um nome sagrado, para um propósito profano. Isto
está evidente no 9º versículo do segundo capítulo de Apocalipse, quando Deus
diz: “Eu conheço a blasfêmia daqueles que dizem que são judeus, e não são,
mas são da sinagoga de satanás”. Esses homens pecaminosos, por chamarem
a si mesmos, judeus, blasfemam o nome, por exemplo, usando-o em um sentido
injurioso; porque SOMENTE é judeu, quem o é interiormente. Assim sendo, o
termo judeu, aplicado para a sinagoga de satanás é um nome de blasfêmia, ou
seja, um nome sagrado, blasfemado.
Um nome de blasfêmia, ou uma denominação blasfema, diz-se sobre as
sete cabeças da besta. Para determinar qual é este nome, o significado das sete
cabeças neste lugar deve ser determinado. Se o leitor referir-se às notas do
capítulo 17:9-11, ele encontrará que as cabeças terão um duplo significado: o
dos sete eleitorados do Império Alemão, e também o das sete formas de
Governo Latino. Como este é o primeiro lugar, onde as cabeças da besta são
mencionadas, com alguma descrição, é razoável esperar que esta significação
das cabeças, que é a primeira na ordem de interpretação do anjo, capítulo 17:9,
deve significar o que é pretendido aqui. Ou seja: “as sete cabeças são sete
montanhas sobre as quais a mulher se encontra”, o nome de blasfêmia,
consequentemente, será encontrado junto aos sete eleitorados da Alemanha.
Isto, portanto, pode ser nada mais do que aquilo que era comum, não apenas
para os eleitorados, mas também para o todo do Império Alemão, ou aquele,
bem conhecido do SACRUM Imperium Romanum, “O SAGRADO (ou SANTO)
Império Romano”. Aqui está uma denominação sagrada, blasfemada, devido
sua aplicação ao principal poder da besta.
Nenhum reino pode propriamente ser chamado de santo, a não ser,
aquele de Jesus; portanto, será blasfêmia unir este epíteto com algum outro
poder. Mas deve ser horrivelmente blasfemo aplicá-lo ao Império Alemão, o
grande defensor do anticristo, desde que se levantou para a autoridade
temporal. Pode ser santo um império que tem matado os santos, professado e
apoiado, com todas as suas forças, um sistema idólatra de adoração? É
impossível. Portanto, sua suposição de sagrado ou santo (cuja denominação foi
121
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
originalmente dada para o Império, por ter sido o principal apoio ao que é
denominado de santa Igreja Católica, o imperador, por este motivo, assim
intitulado de vigário temporal de Cristo sobre a terra: veja (Caesarini
Furstenerii Tractatus Deuteronomy Suprematu Principum Germaniae, cc. 31,
32), deve, no mais alto sentido da palavra, ser considerado como um nome de
blasfêmia. O nome de blasfêmia é muito propriamente usado para designar as
sete cabeças da besta, ou sete eleitorados do Império Alemão, porque os
eleitores são chamados de SACRI Imperii Príncipes Electores, Príncipes,
Eleitores do Império Santo; SACRI Romani Imperii Electores, Eleitores do
Santo Império Romano.
13:2 – E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés
como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu
poder, e o seu trono, e grande poderio.
E a besta que eu vi era como um leopardo – Esta similitude da besta
com o leopardo parece ser uma alusão a terceira besta de Daniel, que se sabe,
representa o Império dos Gregos. O Império Latino era grandemente similar ao
moderno Império dos Gregos; e fica evidente, em Daniel 7:12 “Como
concernente ao restante das bestas, porque lhes foi tirado o domínio; ainda
assim suas vidas foram prolongadas até certo espaço de tempo”, que este
poder dos gregos ainda se assemelhava a um leopardo, mesmo depois de sua
subjugação pelos Romanos.
O Império Latino foi, em primeiro lugar, semelhante ao seu
contemporâneo, porque ambos aderiram a um sistema idólatra de adoração,
professadamente cristão, mas, em vez disto, verdadeiramente, anticristão; e se
sabe, que as Igrejas Gregas e Latinas abundam em absurdidades monstruosas.
Em Segundo Lugar, ambos eram similares em sua oposição à difusão do puro
Cristianismo; embora se deva admitir que os Latinos ultrapassaram, em muito,
os Gregos, neste particular. Em Terceiro Lugar, eram similares, com respeito à
autoridade civil, poderosamente deprimida pela eclesiástica; embora a Igreja
Latina fosse mais fortemente marcada, e de muito mais longa continuidade. A
excomungação do imperador grego, pelo Patriarca Arsenius, e as conseqüências
disto, proporcionam um exemplo notável do grande poder do clero grego. Mas
a besta de João, embora, em sua aparência geral se assemelhe a um leopardo,
ainda assim, difere dele, porque tem os pés como os de um urso.
A segunda besta de Daniel era como um urso, e pode não haver dúvida
de que o reino dos Medas e Persas foi aqui pretendido; porque muito
apropriadamente parecido com este animal, já que foi um dos mais desumanos
122
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
que alguma vez existiu. O urso, por sua vez, é um emblema, bem conhecido, de
crueldade. Veja 2 Samuel 17:8 “Disse mais Husai: Bem conheces tu a teu pai,
e a seus homens, que são valorosos, e que estão com o espírito amargurado,
como a ursa no campo, roubada dos cachorros; e também teu pai é homem de
guerra, e não passará a noite com o povo.” e Oséas 13:8 “Como ursa roubada
dos seus filhos, os encontrarei, e lhes romperei as teias do seu coração, e como
leão ali os devorarei; as feras do campo os despedaçarão”. E não é a
crueldade uma impressionante característica do Império Papal Latino? Os
súditos deste Império não foram literalmente pisoteados até a morte, todos, que
em seu poder, não obedeceram às suas requisições idólatras? No Livro dos
Mártires, de Fox, e outras obras que tratam deste assunto, encontramos um
catálogo melancólico, a respeito das horríveis torturas e das mais prolongadas
mortes a que eles obrigaram grandes números de cristãos, a sofrer. Sob este
aspecto, os pés da besta eram como os pés de um urso.
Um outro particular, em que a besta diferiu do leopardo foi, no ter a
boca como a de um leão. Dr. More diz: “É como o reino da Babilônia (a
primeira besta de Daniel que é semelhante a um leão), em seus cruéis decretos
contra aqueles que não obedeciam seus éditos idólatras, nem adoravam a
imagem de ouro instituída por Nabucodonosor. A obstinação deles deveria ser
punida, através da fornalha quente; fogo e lenha deveriam ser preparados
para aqueles que não se submetessem a esta nova idolatria Romana”.
E o dragão lhes deu seu poder, e seu trono, e grande autoridade - No
capítulo 12:8, está escrito que seu lugar não mais foi achado no céu; o dragão
aqui não pode, portanto, ser o Império Romano pagão, já que este foi abolido
previamente à aparição da besta. Deve, então, aludir à restauração de uma das
cabeças DRACÔNICAS da besta, como veremos na explanação do versículo
seguinte, e mais completamente, nas notas sobre Apocalipse 17: 1-18.
13:3 – E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua
chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta.
E eu vi uma de suas cabeças, como ferida de morte – Este é o segundo e
o último lugar, onde as cabeças da besta são mencionadas com alguma
descrição; e, portanto, o significado aqui deve ser as formas de governo, já que
essas foram noticiadas, por último, na dupla explanação do anjo.
A cabeça, ferida de morte pode ser nenhuma outra do que a sétima
cabeça dracônica, que era a sexta cabeça da besta, ou o poder imperial; porque
“esta cabeça”, como o Bispo Newton observa, “estava, por assim dizer, ferida
123
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
de morte, quando o Império Romano foi aniquilado pelas nações do norte, e
um fim foi colocado para o próprio nome do imperador em Momyllus
Augustulus”. Ela estava tão ferida, que era totalmente improvável que pudesse
alguma vez levantar-se novamente para um poder considerável, porque o
Império Ocidental foi tomado por diversas nações bárbaras de interesses
independentes.
E sua ferida mortal foi curada – Por Carlos Magno, que com seus
sucessores assumiram todas as marcas dos primeiros imperadores do ocidente,
com os títulos de Semper Augustus, Sagrada Majestade, Primeiro Príncipe do
Mundo Cristão, Chefe Temporal do Povo Cristão, e Reitor ou Chefe Temporal
do Fiel na Alemanha; Moderna História Universal, volume xxxii. Mas no
versículo 2, o dragão deu à besta seu poder, dunamin, seus exércitos ou força
militar; por exemplo, ele empregou todo seu poder imperial na defesa do
Império Latino, que apoiava a Igreja Latina. Ele também deu seu trono, fronon,
literalmente seu trono: o todo de seu Império formou uma parte integral do
Império Latino, através de sua conversão à fé Católica Romana. Ele também
deu grande autoridade. Isto é literalmente verdadeiro, com respeito ao Império
Romano da Alemanha, que, por este grande poder e influência nas políticas da
Europa, estendeu a religião do império sobre os vários estados e monarquias da
Europa, incorporando-os, por assim dizer, em um vasto império, através da
união de uma fé comum.
E o mundo todo se maravilhou após a besta – olh h gh? Toda a terra.
Como a palavra original significa terra, e não mundo, como na nossa tradução,
o mundo latino que é a terra da besta, está aqui pretendido; e o significado da
passagem, consequentemente, é que todo o corpo dos Católicos Romanos ficou
grandemente maravilhado com a influência poderosa do Império Latino,
considerando-o como um grande e santo poder. ]
13:4 – E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e
adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá
batalhar contra ela?
E eles adoraram o dragão – Adorar o dragão evidentemente significa
aqui a sujeição religiosa voluntária dos membros da Igreja Latina, ao reavivado
Império Ocidental, porque ele tomou uma parte eminente, no apoio da fé deles.
E eles adoraram a besta – Não apenas o dragão ou o reavivado Império
Ocidental foi adorado; a besta, todo o Império Latino, é um parceiro na
adoração. A maneira em que ele é adorado consiste nos súditos dele: - Dizendo:
124
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Quem é como a besta? Ela não é o único poder santo no universo? É possível
para alguma pessoa não se sujeitar a ela para ser salvo? Quem é capaz de fazer
guerra com ela? – Pode alguma nação lutar com sucesso contra ela? Não é o
Império Romano, que é o principal, bulwark, invictissimum, o mais invencível?
Invictissimus. Mais invencível, foi o atributo peculiar dos imperadores da
Alemanha. Veja a Moderna História Universal, vol. xxxii.
13:5 – E foi-lhe dada uma boca, para proferir grandes coisas e
blasfêmias; e deu-se-lhe poder para agir por quarenta e dois meses.
E foi dado a ele uma boca para falar grandes coisas – Ou seja, foi dado,
aos governantes do Império Latino, que eram a boca da besta (e, especialmente
o imperadores Romanos da Alemanha), poder para assumir os grandes e
pomposos títulos indicativos de sua poderosa influência sobre muitas cidades
subjugadas (veja os instrumentos imperiais da idade média, nos Corps
Diplomatique), e também expressar-se contra os oponentes dos mais terríveis
éditos.
E blasfêmias – O sistema de adoração apoiado pela besta é um sistema
de blasfêmia, como haverá oportunidade de mostrar em breve.
E poder foi dado a ele para continuar por quarenta e dois meses – Como
esses quarenta e dois meses são proféticos, eles devem significar tantos anos
quanto existem dias contidos neles; a saber, 1.260, cada mês, com 30 dias. A
besta, portanto, continuaria existindo, pelo menos, por 1260 anos; mas, quando
se dará o término deste período, é difícil dizer, já que o começo não pode ser,
no momento, indubitavelmente afirmado.
13:6 – E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para
blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu.
E ele abriu sua boca, para blasfemar contra Deus, para blasfemar seu
nome – O Império Latino está aqui representado como um poder blasfemo em
três aspectos: Primeiro, ele blasfema o nome de Deus. Este tem sido mais
notoriamente o caso com os diferentes príncipes papistas, que continuamente
blasfemam os sagrados nomes de Deus, usando-os em suas adorações idólatras.
A boca da blasfêmia contra Deus não pode ser mais evidente do que nas
seguintes palavras ímpias, que formam uma parte da Bula Papal Dourada,
publicada por Charles V, em janeiro de 1316:
125
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
“Mas tu, invejoso, quão frequentemente tens tentado arruinar, pela
divisão, o Império Cristão, que Deus fundou sobre as três virtudes cardinais,
fé, esperança e amor, junto à santa e indivisível Trindade, vomitando o velho
veneno da discórdia, em meio aos sete eleitores, que são os pilares e os sete
principais membros do Império santo; através de cujo brilho, o santo império
deve ser iluminado, como por sete tochas, e sua luz, reforçada pelos sete dons
do Espírito Santo!”.
E seu tabernáculo – Tabernáculo é algum tipo de lugar habitável, e em
um sentido mais eminente, entre os judeus, um tipo de tenda, a ser montada e
desmontada quando a ocasião requeresse, e que foi como se o palácio do
Altíssimo, a habitação do Deus de Israel. Ele foi dividido em duas partes: uma
chamada de lugar santo, e a outra de o lugar mais santo, e neste último, antes da
construção do templo, a arca da aliança foi mantida, o que foi um símbolo da
presença graciosa de Deus, com a Igreja Judaica. Tudo isto, o autor da Epístola
aos Hebreus, no oitavo e nono capítulos, explica, para prefigurar a natureza
humana de Cristo.
A blasfêmia da besta do tabernáculo de Deus, portanto, como Dr. More
e outros propriamente observam, é a sua ímpia doutrina da transubstanciação,
em que a mais terrível blasfêmia assegura que a substância do pão e vinho, no
sacramento, literalmente se converte, através da consagração do sacerdote, no
corpo e sangue de Jesus Cristo! Esta doutrina foi, a princípio, apresentada em
meio aos Latinos, no século dez; e em 1215, totalmente recebida, como um
artigo da fé Católica Romana. E as páginas da história eclesiástica registram os
incríveis números daqueles martirizados pelos papistas, pela sua não aceitação
desta antibíblica e anticristã doutrina.
Semelhante ao cordeiro – Já que o cordeiro, em outras partes do
Apocalipse, significa Cristo, que é o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do
mundo, nesta passagem, ele terá um significado similar; ao afirmar que os dois
chifres da besta, ou o clero regular e secular, professam ser ministros de Cristo,
semelhantes a Ele, na brandura e humildade, e no ensinar nada que seja
contrário à santidade.
A besta de dois chifres, ou o Império espiritual Latino, tem na realidade
o nome, e aos olhos do mundo Latino, a forma, de um poder CRISTÃO. Mas
ela é apenas assim, na aparência, e isto somente em meio aos seus iludidos
devotos; porque quando fala: - Ela fala como um dragão – As doutrinas da
hierarquia Católica Romana são muito similares àquelas contidas na velha
adoração pagã; porque tem introduzido “uma nova espécie de idolatria,
126
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
nominalmente diferente, mas, essencialmente, a mesma, a adoração de anjos e
santos, em vez dos deuses e semideuses da antiguidade”.
13:12 – E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e
faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga
mortal fora curada.
E ela exerceu todo o poder da primeira besta diante dele – No versículo
precedente, a besta de dois chifres foi representada, surgindo da terra, ou seja,
obtendo gradualmente mais e mais influência nos assuntos civis do mundo
Latino. Aqui, ela é representada, adquirindo a direção e manejo de todos os
poderes da primeira besta ou Império Latino secular, diante dele, enwpion
autou, em sua presença. Que a hierarquia Católica Romana tem seu poder
falado extensivamente aqui, fica evidente da história; porque o poder civil
estava em sujeição ao eclesiástico.
O clero paroquial, um dos chifres da segunda besta, tem tido grande
jurisdição secular sobre todo o mundo Latino. Os dois terços dos estados da
Alemanha foram dados aos eclesiásticos, por três Otos, que sucederam uns aos
outros; e nas outras monarquias Latinas, o clero paroquial possuiu grande poder
temporal. Ainda que extraordinário, como foi o poder do clero secular, em
todas as partes do mundo Latino, ele foi fraco, quando comparado àquele das
ordens monásticas que constituíram o outro chifre da besta.
Os frades mendicantes, a maioria considerável do clero regular,
apareceram, a princípio, no início do século treze. Esses frades foram divididos
por Gregório V, em um conselho geral que ele agregou, em Lyons, em 1271,
em quatro sociedades ou denominações: Os Dominicanos, os Franciscanos, os
Carmelitas, e os Eremitas de Santo Agostinho.
Mosheim observa que: “Como os pontífices permitiram a essas quatro
ordens mendicantes a liberdade de viajarem para onde quer que
considerassem apropriado, para conversarem com as pessoas de todas as
classe, instruírem o jovem e a multidão, onde estivessem; e como esses monges
exibiam, em sua aparência exterior e maneira de vida, as marcas mais
surpreendentes da sobriedade e santidade, do que as que foram observáveis em
outras sociedades monásticas; eles se ergueram, de imediato, ao mesmo auge
da fama, e foram considerados com a mais extrema estima e veneração, por
todas as cidades da Europa. A fanática ligação com esses pedintes santarrões
foi tão longe, como constatamos, dos mais autênticos registros, que diversas
cidades foram divididas (ou divididas em cantões), em quatro partes, tendo em
127
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
vista essas quatro ordens; a primeira, atribuída aos Dominicanos, a segunda,
aos Franciscanos, a terceira, aos Carmelitas, e a quarta, aos Augustianianos.
As pessoas, a contragosto, recebiam os sacramentos, de nenhuma outra mão
do que daquelas dos mendicantes, cujas Igrejas, elas superlotavam, para
executarem as devoções deles, enquanto vivos, extremamente desejosos de
depositarem lá também seus restos mortais; o que ocasionou graves queixas,
em meio aos sacerdotes comuns, que se consideravam guias espirituais do
povo, porque, no entender deles, a cura das almas estaria comprometida. Nem
a influência e crédito dos mendicantes terminaram aqui, porque encontramos
na história deste século (treze) e nas eras subseqüentes, que eles se ocuparam,
não apenas dos assuntos espirituais, mas também dos assuntos temporais e
políticos de maior conseqüência; na composição dos diferentes príncipes,
concluindo tratados de paz, arquitetando alianças, presidindo nos conselhos de
ministros, cortes governamentais, arrecadando taxas e outras ocupações, não
apenas remotas, mas absolutamente inconsistentes com o caráter e profissão
monástica. No entanto, não devemos imaginar que todos os frades mendicantes
alcançaram o mesmo grau de reputação e autoridade; porque o poder dos
Dominicanos e Franciscanos sobrepujou grandemente aquele das duas outras
ordens, e o tornaram singularmente notáveis aos olhos do mundo. Durante três
séculos, essas duas fraternidades governaram, com uma influência quase
universal e absoluta, tanto o estado quanto a Igreja, preenchidas com os mais
eminentes cargos, eclesiásticos e civis; ensinando nas universidades e igrejas,
com uma autoridade, diante da qual, havia silêncio; e mantendo a pretendida
majestade e prerrogativas dos pontífices Romanos, contra os reis, príncipes,
bispos, e hereges, com incrível ardor e igual sucesso.
Os Dominicanos e
Franciscanos foram, antes da Reforma, o que os Jesuítas haviam sido, desde
aquele período feliz e glorioso, a própria alma da hierarquia, as máquinas do
estado, as fontes secretas de todos os movimentos, de um e de outro, e os
autores e dirigentes de todo grande e importante evento no mundo religioso e
político”.
Assim, a hierarquia Católica Romana tem exercido todo o poder da
primeira besta, ao olhos dela, ambos temporal e espiritual, e, portanto, com tal
espantosa influência, sobre os príncipes seculares, não foi uma tarefa difícil
fazer com que: - A terra e aqueles que habitam nela adorassem a primeira besta,
cuja ferida mortal fora curada. Ou seja, ela fez com que todo o mundo Latino se
submetesse à autoridade do Império Latino, com o reavivado Império ocidental,
como alvo, persuadindo-os de que tal submissão é benéfica aos interesses
espirituais deles, e absolutamente necessária para sua salvação.
128
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Aqui se observa que ambas as bestas tiveram domínio sobre a mesma
terra; porque se diz expressamente que a segunda besta fez com que a TERRA
e todos que nela habitam, adorassem a primeira besta; portanto, como Bispo
Newton e outros observaram, “trata-se de um império dentro de um império”.
Consequentemente, temos a mais completa evidência de que as duas bestas
consistem na divisão do grande Império Latino, através da usurpação do clero
Latino, em dois impérios distintos, um secular, e outro, espiritual, e ambos
unidos em um desígnio anticristão; o de difundir seu mais abominável sistema
de idolatria sobre toda a terra, e estender a esfera de seu domínio. Aqui temos
também uma ilustração daquela notável passagem do capítulo 16:10, o reino
das bestas; o reino do reino Latino; que é aparentemente um solecismo, mas, na
realidade, expressado com maravilhosa precisão. O quinto frasco é derramado
sobre o trono da besta, e SEU REINO é obscurecido, ou seja, o reino Latino em
sujeição ao reino Latino, ou o Império secular Latino.
13:13 – E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do
céu à terra, à vista dos homens.
Que a besta de dois chifres é o Império espiritual Latino, consultemos o
cap. 19:20 “E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela
fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e
adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que
arde com enxofre”, uma passagem ilustrativa sobre o falso profeta, agora em
consideração, “do qual”, como Bispo Newton observa, “não pode haver um
argumento mais forte ou mais claro, para provar que os falsos doutores ou
professores foram especialmente designados”; porque profeta, no estilo
bíblico, não é raramente usado para designar professor ou expositor da palavra
de Deus. Veja I Cor. 14:1-5. Consequentemente, se segue que a besta de dois
chifres é um império de falsos doutores ou professores.
Com o objetivo de estabelecer a Igreja Latina sobre um alicerce que
nunca poderá cair, o falso profeta realiza grandes maravilhas – ele tenta as mais
estupendas e prodigiosas façanhas, e é coroado com incrível sucesso.
Ele tem a arte de persuadir seus seguidores de que o clero da Igreja de
Roma são os únicos ministros verdadeiros de Cristo; que eles têm tal grande
influência na corte do céu, de maneira a capacitá-los, a não apenas perdoarem
os pecados, mas também a garantirem indulgências no pecado, pagando certas
somas estipuladas. Ele os persuade também de que podem realizar obras de
superrogação. Ele simula que um incrível número de milagres tem sido forjado
e ainda é operado pelo Altíssimo, como uma das muitas evidências da grande
129
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
santidade da Igreja Latina; e o falso profeta tem tal influência espantosa sobre
seu rebanho, de modo a fazer com que acreditem em todas as suas lendas
fabulosas, e maravilhosas mentiras. Ele simula também (e é incrível!) que seu
poder não está confinado a este mundo; que ele é capaz, através de suas
orações, de livrar as almas dos falecidos, do que ele chama de purgatório, um
local que inventou para a purificação das almas pecadoras, depois de sua
partida deste mundo.
Suas maravilhosas façanhas de serem capazes de induzir os homens, em
posse de suas faculdades racionais, a acreditarem em suas monstruosas
absurdidades, não terminam aqui; ele, até mesmo: - faz com que fogo desça do
céu – aos olhos dos homens – Fogo, nas Escrituras, quando significa ira,
representa aquele tipo de indignação que é atendida com a destruição do que
quer que seja a causa dela. Assim, a ira de Deus é parecida com o fogo –
Salmos 18:7,8 “Então a terra se abalou e tremeu; e os fundamentos dos
montes também se moveram e se abalaram, porquanto se indignou. Das suas
narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo que consumia; carvões se
acenderam dele”; Jeremias 4:4 “Circuncidai-vos ao SENHOR, e tirai os
prepúcios do vosso coração, ó homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para
que o meu furor não venha a sair como fogo, e arda de modo que não haja
quem o apague, por causa da malícia das vossas obras”.
Portanto, o fogo que o falso profeta faz cair do céu sobre a terra, é a
colérica indignação que ele traz do céu, ou do trono do Império Latino, sobre
todos aqueles na terra, ou no mundo Latino, que se rebelam contra sua
autoridade. Tudo isto tem sido cumprido na hierarquia Católica Romana; o
clero Latino denominou todos aqueles que se opuseram à autoridade deles, de
hereges; eles instituíram tribunais para julgarem a causa da heresia, e todos que
não se submeteram à idolatria deles, foram condenados aos vários tipos de
torturas e mortes.
Dizer que o falso profeta faz cair fogo DO CÉU, sobre a terra; é o
mesmo que dizer que ele não apenas julga a causa da heresia, mas sentencia
com a condenação; ele não permitirá que um eclesiástico execute a sentença da
corte; o fogo destruidor que ele provoca vem do céu ou do trono do Império
Latino; príncipes seculares e magistrados devem executar a sentença de morte
sobre todos que são condenados, principalmente pelo poder espiritual. Ele faz
descer fogo do céu; ele obriga os príncipes seculares a assisti-lo contra os
hereges; e, se alguns se rebelam contra sua autoridade, ele imediatamente os
coloca sob ao édito de um anátema, de maneira que são privados de seus
ofícios, e expostos a insultos e perseguição de seus irmãos. Assim, o falso
130
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
profeta engana o mundo Latino, através desses milagres que ele tem o poder de
tentar realizar aos olhos da besta. Sob a aparência de grande santidade, ele
persuade os homens a acreditarem em todas as suas doutrinas mentirosas, e os
obriga a seus cânones e decretais, com a espada do magistrado civil.
13:14 – E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi
permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na
terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e
vivia.
Dizendo àqueles que habitam sobre a terra, que fizessem uma imagem
para a besta, que foi ferida pela espada, e sobreviveu – A imagem da besta deve
designar uma pessoa que representa, em si mesma, todo o poder do Império
Latino, portanto, não pode ser o imperador; porque, embora ele fosse, de
acordo com seu próprio relato, o cabeça suprema da Cristandade, ainda assim,
ele era apenas o chefe da Confederação Alemã, e, consequentemente, apenas
soberano do poder principal do Império Latino. A imagem da besta deveria ser
o governador supremo do Império Latino, e como é através da influência do
falso profeta que esta imagem é feita para a primeira besta, este grande chefe
deve ser um eclesiástico. Em seu comentário no versículo seguinte, Bispo
Newton é capaz de mostrar de quem se trata.
13:15 – E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta,
para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos
todos os que não adorassem a imagem da besta.
E ele tinha poder para dar vida à imagem da besta, para que ela pudesse
falar, e fizesse com que os muitos que não adorassem a imagem da besta
fossem mortos – Eu gostaria de observar que os Brahmens, por repetirem
encantamentos, professarem conceder a uma imagem recentemente criada,
olhos e uma alma, antes que fosse adorada; mais tarde, supondo-se que seja a
residência do deus ou deusa que ela representa, tem o direito legal à adoração.
Deste versículo, o ilustre bispo observa: “A influência da besta de dois
chifres, ou clero corrupto, é visto mais adiante persuadindo e induzindo a
humanidade a fazer uma imagem para a besta que fora ferida pela espada e
sobreviveu. Esta imagem e representativo da besta é o papa. Ele é
propriamente o ídolo da Igreja. Ele representa, em si mesmo, todo o poder da
besta, e é o cabeça de toda autoridade, temporal, assim como espiritual. Ele é
nada mais do que uma pessoa privada, sem poder e sem autoridade, até que a
besta de dois chifres, ou o clero corrupto, dá vida a ele, e o capacita a falar e
131
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
afirmar seus decretos, e a perseguir, até mesmo, com a morte, os quantos se
recusam a submeter-se a ele, e a adorá-lo. Tão logo é escolhido papa, ele é
vestido com os hábitos pontificais e coroado e colocado sob o altar, e os
cardeais se aproximam e beijam seus pés, cuja cerimônia é chamada de
adoração. Eles primeiro o elegem, e, então, o adoram, como nas medalhas de
Martin V, onde dois são representados, coroando o papa, e dois, se ajoelhando
diante dele, com esta inscrição: ‘Aquele que eles criaram, eles adoram’. Ele é
O Princípio da Unidade dos Dez Reinos da Besta, e, até onde é capaz, faz com
que aqueles que não reconhecem sua supremacia sejam colocados à morte”. A
grande ascendência que os papas obtiveram sobre os reis do mundo Latino,
através da hierarquia Católica Romana, está suficientemente marcada na
história da Europa.
Por quanto tempo o grande corpo de pessoas foi devotado à idolatria
Católica Romana, em vão os reis das diferentes regiões Católicas Romanas, se
opuseram às crescentes ursupações dos papas.
Eles ascenderam, a despeito de toda oposição, ao mais alto pináculo da
grandeza humana; porque mesmo a autoridade dos próprios imperadores foi
estabelecida e anulada ao bel-prazer deles. O tom mais ressoante dos papas
começou com Gregório VII, no ano 1073 da Era Cristã, comumente conhecido
pelo nome de Hildebrando, que almejou nada menos do que o Império
universal. Ele publicou um anátema contra todos que receberam a investidura
de um bispado ou jurisdição, das mãos de um leigo, como também contra
aquele, através dos quais, a investidura fosse executada. Esta medida sendo
contrariada por Henrique IV, imperador da Alemanha, o papa o destituiu de
todo poder e dignidade, real ou imperial. Veja Corps e Diplomatique. Com
grande número de príncipes alemães ao lado do papa, o imperador se achou sob
a necessidade de ir até o bispo de Roma (em Janeiro de 1077), implorar por seu
perdão, que não foi garantido, até que ele jejuou por três dias, ficando de manhã
até a tarde, descalço, e exposto à inclemência do tempo!
No século seguinte, o poder do papa estava ainda mais ampliado;
porque em 23 de Setembro de 1122, o Imperador Henrique V desistiu de todo
direito de conferir as insígnias, através da cerimônia do anel e bastão episcopal,
de maneira que os cônegos e comunidades estivessem livres para preencherem
suas próprias vagas. Neste século de eleição, os pontífices romanos foram
confinados por Alexander III ao colégio de cardeais. No século treze, os papas
(Dr. Mosheim observa) “inculcaram aquela máxima perniciosa de que o bispo
de Roma é o supremo senhor do universo, e que nem os príncipes, nem os
bispos, governadores civis, nem os administradores eclesiásticos, têm algum
132
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
poder legal na Igreja ou estado, a não ser o que derivam deles. Para
estabelecerem a autoridade deles, nos assuntos civis e eclesiásticos, em um
alicerce mais firme, eles assumiram para si mesmos, o poder de disporem dos
vários ofícios da Igreja, quer de natureza mais elevada ou mais subordinada, e
instituírem bispos, abades e cânones, de acordo com a fantasia deles. O
primeiro dos pontífices que usurparam de tal extravagante extensão de
autoridade foi Inocêncio III (1198-1216), cujo exemplo foi seguido por
Honourius III (1216); Gregório IX (1227), e diversos de seus sucessores”.
Assim, a plenitude do poder papal (como é denominada) não foi
confinada ao que era espiritual; os bispos Católicos Romanos “destronaram
monarcas, dispuseram de coroas, absolveram súditos da obediência devida aos
seus soberanos, e colocaram reinos sob interdições. Não houve um estado na
Europa que não tenha sido perturbado pela ambição deles. Não houve um
trono que eles não estremeceram, nem um príncipe que não tremeu na
presença deles”.
O auge da mais respeitada autoridade que os bispos Católicos Romanos
alcançaram, foi por volta do início do século quatorze. Bonifácio VIII, que era
papa naquele tempo, sobrepujou todos os seus predecessores nos tons mais
elevados de seus decretos públicos. De acordo com sua famosa bula papal,
Unam Sanctam, publicada em 16 de Novembro de 1302, “o poder secular é
uma simples emanação do eclesiástico; e o duplo poder do papa, alicerçado
nas Santas Escrituras, é, até mesmo, um artigo de fé. Deus”, disse ele,
“confiou ao Santo Pedro, e a seus sucessores, duas espadas, uma espiritual e
outra temporal. A primeira deve ser exercida pela própria Igreja; e a outra,
pelos poderes seculares a serviço da Igreja, e de acordo com a vontade do
papa. A última, a espada temporal, é uma sujeição da primeira, e a autoridade
temporal depende indispensavelmente do poder espiritual que o julga,
enquanto Deus apenas pode julgar o poder espiritual. Finalmente”, ele
acrescenta, “é necessário à salvação de toda criatura humana, estar em
sujeição ao pontífice Romano”. O falso profeta disse “aos que habitam sobre a
terra, que eles deveriam fazer uma imagem para a besta que fora ferida pela
espada e sobreviveu”, ou seja, o sacerdócio louvou a supremacia do papa sobre
os príncipes temporais; e, através de sua espantosa influência, sobre as mentes
das pessoas, o bispo de Roma tornou-se, por fim, no supremo soberano do
Império secular Latino, e, assim, manteve-se na liderança de toda autoridade,
temporal e espiritual.
Os papistas têm, em suas várias superstições, professado adorarem a
Deus. Mas é dito nas palavras infalíveis da profecia, que eles adoram o dragão,
133
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
a besta, e a imagem da besta, e blasfemam a Deus; porque receberam como
santos, aqueles mandamentos dos homens que estão em direta oposição às
sagradas Escrituras, e que têm sido impostos sobre eles, pelos bispos Católicos
Romanos, auxiliados pelos poderes seculares. “Deus é um Espírito, e aqueles
que o adoram, devem adorá-lo em ESPÍRITO e em VERDADE”.
13:16 – E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres
e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas,
E fez com que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e
cativos, recebessem a marca – Para determinar o significado da marca que a
besta de dois chifres faz com que todas as ordens e níveis de homens no mundo
Latino recebam, precisamos apenas nos referir ao capítulo 14:11 “E a fumaça
do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem
de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal
do seu nome”, onde a marca imposta pela besta de dois chifres é chamada de a
marca de seu nome. O nome da besta é o Império Latino: a marca de seu nome
deve, portanto, deve ser sua adoração Latina; por esta mesma razão, porque é a
besta de dois chifres, ou o falso profeta, que faz com que todos os tipos de
pessoas devam recebê-la. Agora, é bem sabido que a ocupação contínua do
clero Latino é impingir a idolatria Latina sobre seus rebanhos. A missa e ofícios
da Igreja, que são em Latim, e contém a somatória e essência de sua adoração
idólatra, são de diferentes tipos, e abundam em orações ímpias à Virgem Maria,
e aos santos e anjos. Em uma palavra, a adoração Latina é o emblema universal
da Igreja Latina, de todas as outras Igrejas sobre a face da terra; e é, portanto, a
única MARCA infalível, através da qual, um papista genuíno pode ser
distinguido do restante da humanidade. Mas a besta de dois chifres faz com que
todos recebam esta marca: - Na mão direita deles, ou em suas testas – Mão
direita, na linguagem bíblica, quando usada figurativamente, representa o poder
físico da pessoa de quem se fala; e, quando aplicado a Deus, designa uma
manifestação evidente do poder Divino contra seus inimigos, e em proveito de
seu povo. Veja Salmos 17:7 “Faze maravilhosas as tuas beneficências, ó tu
que livras aqueles que em ti confiam dos que se levantam contra a tua destra”;
20:6 “Agora sei que o SENHOR salva o seu ungido; ele o ouvirá desde o seu
santo céu, com a força salvadora da sua mão direita”; 45:3, 4 em diante.
“Cinge a tua espada à coxa, ó valente, com a tua glória e a tua majestade. E
neste teu esplendor cavalga prosperamente, por causa da verdade, da
mansidão e da justiça; e a tua destra te ensinará coisas terríveis...”.
O recebimento da marca, na mão direita deve significar, portanto, que
todos que assim a recebem, devotam todos os poderes de suas mentes e corpos
134
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
à propagação da adoração Latina, e à erradicação de todas as denominadas
heresias de sua Igreja. Mas alguns recebem a marca em suas testas. Alguma
coisa impressa sobre a testa, significa a profissão pública do que quer que seja
inscrito ou marcado sobre ela. Veja capítulo 9:4 “E foi-lhes dito que não
fizessem dano à erva da terra, nem a verdura alguma, nem a árvore alguma,
mas somente aos homens que não têm nas suas testas o sinal de Deus”; 22:4,
etc. “E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome...”. A marca da
besta recebida sobre a testa significa, portanto, que todos aqueles assim
marcados fazem uma pública profissão da adoração Latina; o que torna
evidente que eles formam uma parte da Igreja Latina. Muitos podem ser
marcados na mão direita, e também em suas testas, mas não se conclui que
todos aqueles marcados em suas testas são também marcados em sua mão
direita; o que significa, que nem todo indivíduo que se sujeita a adoração
Latina, empenha-se, no máximo de seu poder, no propagar seu sistema
religioso. Consequentemente, a propriedade das palavras “E faz com que todos
recebam a marca em sua mão direita, ou em suas testas”.
13:17 – Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele
que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.
E que nenhum homem poderia comprar ou vender, salvo aquele que
tivesse a marca – Bispo Newton observa que, “Se alguém discorda das formas
estabelecidas e autorizadas; ele será condenado e excomungado como herege;
e, em conseqüência, não lhe será mais permitido comprar ou vender; ele ficará
proibido do transporte e comércio, e de todos os benefícios da sociedade civil.
Assim, Roger Hoveden relata de William, o Conquistador, tão obediente ao
papa, que não permitiria que alguém, em seu poder, comprasse ou vendesse
alguma coisa, se, se encontrasse desobediente à diocese apostólica. Desta
forma, o cânone do concílio de Laterano, sob o Papa Alexander III, ordenou
contra os Waldenses e Albigenses, sob castigo de um anátema, que nenhum
homem presumisse acolhê-los ou os estimasse em sua casa ou terra, ou
realizasse comércio com eles. O Sínodo de Tours, na França, sob o mesmo
papa, ordenou, sob semelhante ameaça, que ninguém os recebesse ou os
assistisse, ou compartilhasse de alguma comunhão com eles, no vender ou
comprar; para que, privados do conforto da humanidade, pudessem ser
compelidos a se arrependerem do erro de sua atitude”.
No século dez e onze, a severidade contra os excomungados foi levada
a um clímax tão alto, que ninguém poderia aproximar deles, nem mesmo suas
próprias viúvas, filhos e servos; eles confiscaram todos os direitos e privilégios
legais naturais deles, e os excluíram de todos os tipos de ofícios. A forma de
135
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
excomungação na Igreja Católica Romana é tomar tochas acesas, atirá-las ao
chão com pragas e anátemas, e pisoteá-las ao tocar dos sinos. É desta forma, e
de maneira similar que o falso profeta tem aterrorizado o mundo Latino, e o
mantido em sujeição aos poderes seculares e espirituais. Aqueles interditados
pela besta de dois chifres, de todos os ofícios da vida civil, são também tais que
não têm: - O nome da besta, ou o número de seu nome – Veja no versículo
seguinte:
13:18 – Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o
número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é
seiscentos e sessenta e seis.
Aqui está a sabedoria. Que aquele que tem entendimento, calcule o
número da besta; porque é o número de um homem; e seu número é seiscentos
e sessenta e seis – Neste versículo, temos o próprio nome da besta, sob o
símbolo do número 666. Antes da invenção das figuras pelos Árabes, no século
dez, as letras do alfabeto eram representadas por números. Os Gregos, no
tempo de Homero, ou logo depois, acredita-se, assinavam suas cartas com
valores numéricos, correspondendo à ordem deles no alfabeto: assim, a letra a,
era o número 1, porque a primeira letra; e a letra w, 24, porque a última. É desta
maneira que os livros de Ilíada e Odisséia são numerados, e foram assim
marcados pelo próprio Homero, ou por alguma pessoa que viveu próxima ao
seu tempo. O sistema de representar números na grande antiguidade foi usado
pelos Gregos, assemelhando-se grandemente ao que mais tarde foi adotado
pelos Romanos. Isto consistiu no atribuir à letra inicial do nome de um número,
um valor igual a um número. Desta feita, c, a letra inicial de cilia, significa mil;
d, a inicial de deka, dez; p, a inicial de pente, cinco, etc... Heródoto, o
gramático, é o único escritor da antiguidade que observou este sistema, e a
tábua cronológica dos eventos notáveis dos marmóreos Arundelianos, a única
obra existente, na qual este método de representar números é exibido. O
sistema agora em uso não pode ser determinado para qualquer fonte muito
primitiva. O que pode ser provado é que ele estava em uso antes do início da
era cristã. As letras numéricas, simbolizando o ano do reino do Imperador
Romano, existem em grande quantidade nas moedas egípcias, desde o tempo de
Augustus Cesar, e por todos os reinos subseqüentes. Existem moedas marcadas,
com o 2º. 3º. 14º. 30º. 35º, 38º. 39º. 40º, 41º e 42º ano de Augustus Cesar, com
as letras numéricas precedidas por L ou I, porque lukabav, ano, assim: LB, Lg,
Lid, Ll, Lle, Llh, Llq, Lm, Lma, e Lmb. O seguinte é o alfabeto Grego, com o
valor numérico de cada letra afixado, de acordo com o sistema geralmente
recebido: – a - 1 I - 10 r - 100 b - 2 k - 20 s - 200 g - 3 l - 30 t - 300 d- 4 m - 40
u - 400 e - 5 n - 50 f - 500 z - 7 x - 60 c - 600 h - 8 o - 70 y - 700 q - 9 p - 80 w
136
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
– 80. O método exatamente descrito de representar números ou letras do
alfabeto fez surgir uma prática em meio aos anciãos, no representarem nomes,
também por números. Exemplos deste tipo abundam nos escritos dos pagãos,
judeus e cristãos. Mas, onde a prática de calcular o número, em nomes ou
frases, começou a ser usada, primeiro, não se pode assegurar; no entanto, é
suficiente, para a ilustração da passagem, em consideração, que ela tenha
existido na era apostólica. Sêneca, que foi contemporâneo de Paulo, nos
informa, em sua octogésima-oitava epístola, que Apion, o gramático, manteve
Homero como autor da divisão de seus poemas de Ilíada e Odisséia, em
quarenta e oito livros. Para provar isto, Apion produz o seguinte argumento: o
de que o poeta começou sua Ilíada, com a palavra mhnin, e que as duas
primeiras letras, cuja soma é 48, indicariam tal divisão. Leônidas de
Alexandria, que viveu durante o reino de Nero, Vespasiano, etc., usou a prática
de computar o número em palavras, até construir dísticos equinuméricos; ou
seja, epigramas de quatro linhas, cujo primeiro hexâmetro e pentâmetro contêm
o mesmo número dos outros dois. Observemos apenas dois exemplos; o
primeiro é destinado a um dos imperadores, o outro a Poppea, a esposa de
Nero.
“A musa de Leônidas do Nilo oferece a ti, Ó Cesar, esta composição,
quando de tua natividade; porque o sacrifício de Calliope é sempre sem
fumaça: mas no ano seguinte, ele oferecerá, se tu quiseres, melhores coisas do
que esta”.
Da tábua numérica já dada, o epigrama precedente pode conter dísticos
equinuméricos, como se segue: quei 424, ou seja, q 9, u 400, e 5, i 10; ao todo,
424: soi contém 280, ou, s 200, o 70, i 10. De igual maneira, tode conterá 379,
gramma 185, geneqliakaisin 404, en 55, wraiv 1111, kaisar 332, neilaih 114,
mousa 711, lewnidew 1704. A somatória de todos esses é 5699, o número no
primeiro dístico. No segundo dístico, kalliophv contém 449, gar 104, akapnon
272, aei 16, quov 679, eiv 215, de 9, newta 1156, hn 58, eqelhv 267, (a iota
subscrita, tomada no cálculo), qusei 624, toude 779, perissotera 1071. A
somatória total, 5699, que é precisamente o mesmo daquele contido no
primeiro dístico.
“O, Poppaea, mulher de Júpiter (Nero) Augusta, recebe de Leônidas do
Nilo, um globo celestial no dia de tua natividade; porque os presentes que
agradam a ti, são adequados à tua dignidade imperial e sabedoria”.
Neste epigrama, cada um dos dísticos contém o número 6422, ou seja,
ouranion, 751 (por exemplo, 70, u 400, r 100, a 1, n 50, i 10, o 70, n 50, cuja
137
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
somatória é 751), meimhma 144, geneqliakaisin 404, en 55, wraiv 1111, toutÆ
1070, apo 151, neilogenouv 893, dexo 139, lewnidew 1704; total de 6422. Os
números correspondentes às palavras do segundo dístico são, respectivamente,
322, 284, 465, 919, 415, 104, 280, 905, 301, 31, 1305, 72, 31, 988; somando
também 6422.
Este poeta não se restringiu à construção dos dísticos equinuméricos. O
seguinte é um dos seus dísticos, em que a linha do hexâmetro é igualada em
número, ao seu pentâmetro correspondente: “Uma linha é igualada em número
a uma, e não duas a duas; porque eu não mais aprovarei longos epigramas”.
Neste dístico, as palavras da linha do hexâmetro contêm, respectivamente, os
números 215, 450, 56, 1548, 534, 470, 474, e 364; cuja somatória é 4111. Os
dísticos equinuméricos de Leônidas estão contidos no segundo volume de
Brunck e na edição de Jacob, da Antologia Grega. Conforme os registros
antigos, alguns dos Gregos, no início do século dois, se não, na era apostólica,
empregaram-se no calcularem os números contidos nos versos de Homero, para
se certificarem quais as duas linhas consecutivas que eram isoyhfoi ou
equinumérica. Aulus Gellius, o gramático, que viveu nos reinos de Adriano e
Antonino Pio, nos dá um relato de uma pessoa que o presenteou com um livro
repleto, com uma variedade de informações coletadas de fontes numerosas, que
ele mesmo teve a liberdade de avaliar, no escrever seu Noites Atenienses. Em
meio aos assuntos deste livro, Gellius nos informou a respeito dos
equinuméricos versos de Homero. Nenhum dos exemplos é dado pelo
gramático; mas Labbeus diz, em sua Bibl. Nov. MSS, que os versos
equinuméricos são representados no Códex 2216, da Biblioteca Real Francesa.
Gronovius, em suas notas sobre Gellius, copiou o que ele encontrou na MS,
sobre este assunto, ou seja, dois exemplos de Ilíada, e um, de Odisséia. Os
exemplos na Ilíada são as linhas 264 e 265, do livro VII, cada linha contendo
3508; e as linhas 306 e 307, do livro XIX, cada um contendo 2848. Os versos
na Odisséia (w, 110, 111) fixados como equinuméricos no MS, citados por
Gronovius, não têm agora esta propriedade, devido possivelmente a alguma
deturpação que pode ter acontecido nas linhas das freqüentes transcrições.
Depois de mostrarmos que foi uma prática, na era apostólica, e
subseqüentes, calcular o número nas palavras e frases, e até mesmo, na
totalidade dos versos, é evidente que o que se entende por 666 é que o nome
Grego da besta (porque foi na Língua Grega, que Jesus Cristo comunicou sua
revelação a João) contém este número. Muitos nomes têm sido propostos, de
tempos em tempos, como aplicáveis à besta, e ao mesmo tempo, contendo 666.
Notificaremos apenas um exemplo, ou seja, aquele famoso de Irenaeus, que foi
aprovado por quase todos os estudiosos da Bíblia, e que tem dado um tipo de
138
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
explicação tolerável do Apocalipse. A palavra aludida a ele é lateinov, as letras
que contêm os seguintes valores numéricos: l 30, a 1, t 300, e 5, i 10, n 50, o
70, v 200; que, somados, encontraremos o equivalente ao número da besta. Esta
palavra foi aplicada por Irenaeus, século dois, ao então existente Império
Romano; “porque”, diz ele, “são os Latinos que agora reinam”. Embora seja
evidente, conforme as notas da parte precedente deste capítulo, que a conjectura
de Irenaeus, com respeito ao número 666, referindo-se, de uma forma ou outra,
ao Império dos Latinos, seja bem fundamentada; ainda assim, sua criação da
palavra lateinov, como contendo 666, não é prova de que ela tenha tal
referência.
Belarmino, o jesuíta, objetou lateinov, como sendo o nome pretendido
na profecia, devido sua ortografia; porque, diz ele, poderia ser escrito latinov.
Que a objeção do ilustre jesuíta tem grande força, fica evidente em todo escritor
grego existente, que tem usado a palavra grega, Latinus, nos quais encontramos
uniformemente a palavra sem o ditongo. Veja Hesiod, Polybius, Dionysius of
Halicarnassus, Strabo, Plutarch, Dio Cassius, Photius, os historiadores
Bizantinos, etc… Consequentemente, se a palavra grega para Latinus foi
pretendida, o número contido em latinov, e não aquele em lateinov, teria sido
chamado de o número da besta. Vimos anteriormente que a besta é o reino ou
Império Latino; portanto, se esta observação for correta, as palavras gregas que
significam o reino Latino devem ter este número. O método conciso de
expressar isto, entre os Gregos, foi este: Æh latinh basileia, que é assim
numerada:- h == 8 } l == 30 } L a == 1 } A t == 300 } T i == 10 } I n == 50 }
N b == 2 } K a == 1 } I s == 200 } N i == 10 } G l == 30 } D e == 5 } O i ==
10 } M a == 1 } – 666. Em nenhum outro reino da terra está contido o número
666. Esta é, então, h sofia, a sabedoria ou demonstração. A besta é o símbolo de
um reino; A besta, como vimos, provou ser o Reino Latino; e Æh latinh
basileia, que mostrou conter, exclusivamente, o número 666, é a demonstração.
Depois de demonstrado que Æh latinh basiléia, o Reino Latino, é o
nome da besta, devemos agora examinar o que é pretendido pela frase no
versículo dezessete, o nome da besta, ou o número de seu nome. Bispo Newton
supõe que o nome da besta, e o número de seu nome, querem dizer a mesma
coisa; mas esta opinião é totalmente irreconciliável com o capítulo 15:2, onde
João nos informa que ele “viu como se fosse um mar de vidro, tendo as harpas
de Deus”. Nesta passagem, fica evidente que a besta, sua imagem, e o número
de seu nome, são perfeitamente distintos; e, portanto, nem dois deles podem
significar a mesma coisa.
139
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Consequentemente, o que é pretendido pelo nome da besta é inteiramente
diferente do que é compreendido pelo número de seu nome. Mas como pode
ser, quando expressamente se declara que o número da besta é 666, cujo
número é aquele de seu nome? A solução de todo o mistério é como se segue:
Ambas as bestas do Apocalipse, como já mostramos, têm a mesma
denominação; o que significa dizer que o nome da primeira e da segunda é
igualmente Æh latinh basileia, o Reino Latino; portanto, pelo nome da besta
queremos dizer o Reino Latino, e pelo número de seu nome, também o Reino
Latino. Por conseguinte, apenas uma das bestas é numerada; o nome daquela
que não é numerada, é denominado o nome da besta, e o numerado Império
Latino é denominado o número de seu nome, ou 666, exatamente de acordo
com a prática primitiva, já observada, de representar os nomes pelos números
contidos nele. Portanto, o significado de toda a passagem é este: aqueles, aos
quais, o falso profeta não excomunga, ou coloca fora do seio de sua Igreja, têm
a marca da besta, ou seja, os genuínos papistas, ou tais que são ativa e
passivamente obedientes à sua idolatria Latina. Aqueles que também escapam
de seus interditos eclesiásticos têm o nome da besta ou o número de seu nome.
Uma pessoa ter o nome da besta, evidentemente significa que ela está em
sujeição ao Império Latino, e, consequentemente, é um indivíduo do mundo
Latino; assim sendo, aqueles que têm o nome da besta, ou o número de seu
nome, são aqueles que são súditos do Império Latino, ou do numerado Império
Latino, a saber, o Império secular ou espiritual. Mas todos que estavam em
sujeição ao poder secular ou espiritual não eram papistas no coração; por
conseguinte, a adequação de distinguir aqueles que têm a marca daqueles que
têm o nome da besta ou o número de seu nome. Mas qual das duas bestas é
aquela que Deus numerou, não tem sido pouco contestada. De que a numerada
refere-se a primeira besta, tem sido a opinião prevalente. Deste lado, estão
Lorde Napier, Whiston, Bispo Newton, Faber e outros. Em meio a estes que
supuseram que a segunda besta fosse aquela que é numerada estão, Dr. Henry
More, Pyle, Kershaw, Galloway, Bicheno, Dr. Hales, etc. Drs. Gill e Reader
afirmam que ambas as bestas têm o mesmo número, e que o nome é lateinov.
Embora tenha sido demonstrado que o nome da besta é o Reino Latino, é
impossível, do mero nome, dizer se ele é o Império Latino SECULAR ou
ESPIRITUAL; por conseguinte, a necessidade de determinar qual das duas
bestas, Deus computou. Que a segunda besta é aquela que é numerada, fica
evidente das três passagens diferentes em Apocalipse. A primeira está no
versículo 17, onde está escrito: “Nenhum homem poderia comprar ou vender,
salvo aquele que tivesse a marca, ou o nome da besta, ou o número de seu
nome”, que é uma evidência presumível de que o nome da besta se refere a
primeira besta, e o número de seu nome, à segunda. A segunda passagem está
em Apocalipse 15:2, onde é feita menção “àqueles que alcançaram a vitória
140
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
sobre a besta, e sobre sua imagem, e sobre o número de seu nome”. Que aqui
a besta se refere ao Império Latino secular é evidente, porque foi para este que
a besta de dois chifres fez uma imagem; consequentemente, não pode haver
dúvida de que o número de seu nome, ou o numerado Império Latino, é a besta
de dois chifres ou o falso profeta. Para sentir toda a força deste argumento,
devemos considerar que os santos de Deus estão representados, como
alcançando vitória sobre a besta, assim como sobre o número de seu nome, o
que é uma prova de que os dois Impérios anticristãos distintos são falados aqui,
porque, do contrário, seria uma tautologia. Que a besta de dois chifres é aquela
que é numerada, fica mais evidente da comparação desta passagem com o
capítulo 19:20.
Nesta passagem, as palavras são: “E a besta foi presa, e com ela, o
falso profeta que forjava milagres diante dela, com os quais, ele enganava
aqueles que receberam a marca da besta, e aqueles que adoraram sua
imagem”. Aqui nada é dito do número de seu nome, que é tão especialmente
mencionado no capítulo 15:2, e neste capítulo, nada se fala do falso profeta, a
razão só pode ser, porque, o que é denominado numa passagem de seu nome, é,
em seu paralelo, aquele que é chamado de falso profeta. Assim sendo, a besta
de dois chifres, ou falso profeta, é também designado pela frase – o número de
seu nome; e consequentemente esta é a besta que é numerada. Mas o que
acrescenta o último grau de certeza a este argumento é a passagem no versículo
18: “Aqui está a sabedoria. Que aquele que tem uma mente calcule o número
da besta; porque é o número de um homem: e seu número é seiscentos e
sessenta e seis”. Aqui está a solução deste mistério: que aquele que tem uma
mente para investigações deste tipo, encontre um reino que contenha
precisamente o número 666, porque este deve ser infalivelmente o nome da
besta. Æh latinh basileia, O REINO LATINO, tem exclusivamente este
número. Mas ambas as bestas são chamadas por este nome; qual é, portanto,
aquela que é numerada? É dito que o número da esta é o número de um
homem; consequentemente, o número da besta deve ser UM HOMEM, ou seja,
deve ser representada, em Apocalipse, sob este emblema, porque em nenhum
outro sentido pode um império ser denominado um homem. Portanto, não se
trata da besta de dez chifres, porque esta é uniformemente denominada A Besta,
em todas as partes do Apocalipse, onde houve oportunidade de se mencionar
este poder. Ele pode, portanto, ser nenhum outro do que a besta de dois chifres,
ou a hierarquia Católica Romana; que, por conta de sua pregação ao mundo de
seu mais anticristão sistema de doutrinas, e chamando-o de Cristianismo, é
igualmente mencionado no capítulo 16:13; “E da boca do dragão, e da boca
da besta, e da boca do falso profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes
a rãs”; 19:20 “E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante dela
141
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e
adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que
arde com enxofre”; e capítulo 20:10 “E o diabo, que os enganava, foi lançado
no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de
noite serão atormentados para todo o sempre”, de O FALSO PROFETA.
John EDWARD CLARK
142
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XIV
O Cordeiro sobre o monte Sião, e os que o acompanham, e o
caráter deles, 1-5. O anjo voa, no meio do céu, com o Evangelho eterno, 6,7.
Um outro anjo proclama a queda da Babilônia, 8. O terceiro anjo declara os
julgamentos de Deus contra aqueles que adoram a besta ou sua imagem, 9-11.
A perseverança dos santos, e a bem-aventurança daqueles que morrem no
Senhor, 12,13. O homem sobre a nuvem branca, com uma foice, ceifando a
terra, 14, 16. O anjo com a foice recebe ordem de outro anjo, que tem o poder
sobre o fogo, para que reúna os cachos maduros da terra, 17, 18. Eles foram
reunidos e lançados no grande lagar da ira de Deus, que é pisoteado fora da
cidade, e o sangue chega a 1600 furlongs [1 furlong = medida linear
equivalente o 201,17 m (1/8 de milha)], 19,20.
Notas sobre o Capítulo XIV
14:1 - E OLHEI, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e
com ele cento e quarenta e quatro mil, que em suas testas tinham escrito o
nome de seu Pai.
Um Cordeiro de pé sobre o monte Sião – Representa Jesus Cristo, em
seu oficio sacrificial; monte Sião, um tipo de Igreja Cristã.
E com ele, cento e quarenta e quatro mil – Representando aqueles que
se converteram ao Cristianismo, em meio aos Judeus. Veja capítulo 7:4.
O nome do Pai escrito em suas testas – Eles eram, professadamente,
declaradamente, e praticamente, filhos de Deus, pela fé em Jesus Cristo.
Diferentes seitas idólatras têm a marca peculiar de seu deus em suas
testas. Isto é praticado no oriente, até o presente dia, e a marca é chamada de
marca sectária. Entre oitenta e noventa figuras diferentes são encontradas nas
testas das diferentes deidades Hindus e seus seguidores.
Em quase toda Escritura moderna, de importância, assim como na
maioria das versões e em muitas dos patriarcas, este parágrafo é lido assim:
Tendo SEU NOME, e de seu pai, escrito sobre suas testas. Esta é
indubitavelmente a leitura verdadeira, e é propriamente recebida por Griesbach
no texto.
143
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
14:2 – E ouvi uma voz do céu, como a voz de muitas águas, e como a
voz de um grande trovão; e ouvi uma voz de harpistas, que tocavam com
as suas harpas.
A voz de muitas águas – Ou das multidões das várias nações.
A voz dos harpeiros – Ainda que os sons fossem muitos e
aparentemente confusos, a harmonia e a melodia estavam preservadas.
14:3 – E cantavam um como cântico novo diante do trono, e diante
dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele
cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da
terra.
Eles cantaram uma nova canção – Veja no capítulo 5:9.
Nenhum homem poderia aprender aquela canção – Ninguém, a não ser
os genuínos cristãos podem adorar a Deus, adequadamente, porque eles se
aproximaram Dele, através do único Mediador; assim, ninguém pode entender
as coisas profundas de Deus, apenas eles; e ninguém pode saber a razão, porque
os verdadeiros crentes exultam tanto em Deus, através de Cristo, porque não
sabem a união que esses mantêm com o Pai e o Filho, através do Espírito Santo.
14:4 – Estes são os que não estão contaminados com mulheres;
porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer
que vá. Estes são os que dentre os homens foram comprados como
primícias para Deus e para o Cordeiro.
Esses são aqueles que não se prostituíram com as mulheres – Eles são
puros de idolatria, e são apresentados como virgens, sem máculas, para seu
Senhor e Salvador, Cristo. Veja II Cor. 11:2 “Porque estou zeloso de vós com
zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma
virgem pura a um marido, a saber, a Cristo”. Pode haver uma alusão aqui aos
israelitas, que cometeram idolatria, devido à criminosa ligação deles com as
mulheres Midianitas.
Veja Números 25: 1-4 “E Israel deteve-se em Sitim, e o povo começou
a prostituir-se com as filhas dos moabitas. Elas convidaram o povo aos
sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu, e inclinou-se aos seus deuses.
Juntando-se, pois, Israel a Baal-Peor, a ira do Senhor se acendeu contra
144
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Israel. Disse o Senhor a Moisés: Toma todos os líderes do povo, e enforca-os
ao Senhor, diante do sol, e o ardor da ira do Senhor se retirará de Israel”.
Números 31:16 “Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão,
deram ocasião aos filhos de Israel de transgredirem contra o Senhor, no caso
de Peor; por isso, houve aquela praga em meio a congregação do Senhor”.
Seguem o Cordeiro, onde quer que Ele vá – Eles O seguem, através da
boa e da má reputação, suportam a reprovação Dele, e não amam suas vidas,
mesmo diante da morte.
Os primeiros frutos junto a Deus – Parecem se referir àqueles judeus
que foram os primeiros convertidos ao Cristianismo.
14:5 – E na sua boca não se achou engano; porque são
irrepreensíveis diante do trono de Deus.
Em suas bocas não foi encontrada fraude – Quando trazidos diante de
reis e governadores, eles não dissimularam, mas, corajosamente, confessaram o
Senhor Jesus.
14:6 – E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho
eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda a nação, e
tribo, e língua, e povo,
Um outro anjo voa, no meio do céu, carregando o Evangelho eterno –
Se este anjo significa algo mais do que uma dispensação especial da
providência e graça, e através dele, o Evangelho seja rapidamente enviado a
todo o mundo; ou significa algum mensageiro especial, ordens de pregadores,
povo ou sociedade de cristãos, cujo objetivo professado é enviar o Evangelho
do Reino, por toda a terra, não sabemos. Mas a visão parece verdadeiramente
descritiva de uma instituição leiga, intitulada A SOCIEDADE BÍBLICA
BRITÂNICA E ESTRANGEIRA, cujo objetivo é imprimir e circular as
Escrituras do Velho e Novo, Testamentos, ao mundo habitável, e em todas as
línguas faladas sobre a face da terra.
Eles já têm sido os instrumentos, por imprimirem a Bíblia (ou
propiciarem os meios para que diferentes nações imprimam para si mesmas),
em um vasto número de Línguas e dialetos, e têm enviado, centenas de
milhares de cópias, em sua totalidade, ou em parte, para quase todo o globo; na
Língua nativa deles, aos Galeses; em Ersa, para o Irlandês; na Língua Gaélica,
145
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
para os Highlands da Escócia; em Manques, para a Ilha de Homem; em
Francês, Italiano, Português e Espanhol, para aquelas regiões, e para a Suíça;
no dialeto Flemish, para a Holanda, etc... No dialeto Teutônico, para a
Germânia, Prússia, etc..
Através deles, uma sociedade similar foi criada, em St. Petersburgo, em
que a Bíblia tem sido enviada em Eslavônico aos Russos; e, em diferentes
dialetos, ao povo daquele vasto império; além dos Turcos, Tártatos, e
Calmuques. Também em Grego, primitivo e moderno, para a Ásia Menor e as
diferentes ilhas do mar Mediterrâneo; em Árabe e Etíope, para o Egito e
Abissínia; em Siriaco, para a Terra Santa, e para os cristãos, em Travancore.
De maneira ampla e efetiva, assistem uma sociedade muito notável, nas
Índias Orientais, cujos missionários infatigáveis e incomparáveis, Reverendos
Senhores Carey, Marshman, e Ward, traduziram as Escrituras nas principais
Línguas da Índia; e providenciaram meios para que imprimissem uma tradução
completa do Novo Testamento, na Língua Chinesa, em Canton, pelo capelão,
Sr. Morrison.
Em resumo, quase toda nação no universo tem, através desta sociedade,
direta ou indiretamente recebido, ou está recebendo, as palavras da vida eterna;
de maneira que isto parece responder à descrição do apocalíptico “anjo, voando
no meio do céu, tendo o Evangelho eterno para pregar junto aos que habitam
sobre a terra, e para toda nação, e família, e Língua, e povo”.
14:7 – Dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória;
porque é vinda a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra,
e o mar, e as fontes das águas.
Tema a Deus e o glorifique – Esta é a linguagem geral dos escritos
sagrados. Adore o verdadeiro Deus, o criador e governador de todas as coisas; e
dê glória a Ele, e a Ele somente, e não a ídolos ou homens, toda glória e honra
pertencem.
14:8 - E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu, caiu Babilônia, aquela
grande cidade, que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua
prostituição.
Babilônia caiu, Babilônia caiu! – Geralmente uma predição aplicada a
Roma; e é certo que Roma, nos escritos rabínicos, é denominada de Babilônia.
146
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A grande cidade – Entre os mesmos escritores, esta cidade é
denominada de a grande cidade, a grande Roma. Mas a qual Roma, se refere? A
Roma pagã ou a Roma papal? Algumas partes da descrição aplicam a besta à
primeira.
O vinho da ira de sua fornicação – Existe uma alusão aqui a um
costume das mulheres impuras, que dão poções do amor àqueles a quem
desejam seduzir ou cegar com seu véu; e essas poções geralmente são de uma
natureza intoxicante, inflamando grandemente o sangue, e perturbando o
intelecto.
Fornicação e adultério são frequentemente usados nas Escrituras como
símbolos de idolatria e falsa adoração.
O vinho da ira é outra expressão para o cálice envenenado ou corrupto,
dado por essas mulheres.
Nenhuma nação da terra espalhou suas idolatrias, tão longe, quanto os
Romanos primitivos; elas foram tão extensas quanto suas conquistas. E a Roma
papal não tem sido menos ativa no disseminar suas superstições. Ela tem
fornecido seus rituais, mas não o Evangelho eterno, para a maioria das nações
da terra.
14:9 – E seguiu-os o terceiro anjo, dizendo com grande voz: Se
alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou
na sua mão,
E seguiu-se o terceiro anjo – Bispo Bale considera esses três anjos,
como três descrições de pregadores, que levariam o testemunho deles, contra as
corrupções da Igreja papal.
A besta e sua imagem – Veja as notas do capítulo 13:1-18.
A marca em sua testa – Tal como as marcas sectárias dos idólatras
Hindus, como observado anteriormente.
14:10 – Também este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou,
não misturado, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre
diante dos santos anjos e diante do Cordeiro.
147
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
O vinho da ira de Deus – Já que eles beberam o vinho intoxicante da
idolatria ou da fornicação espiritual, eles agora devem beber o vinho da ira de
Deus, que é derramado do cálice de sua indignação. Esta é uma alusão ao cálice
envenenado, que certos criminosos eram obrigados a beber, com o qual
chegavam rapidamente à morte. Veja Hebreus 2:9 “Vemos, porém, coroado de
glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos,
por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte
por todos”.
Serão atormentados com fogo e enxofre – Alusão à punição de Sodoma
e Gomorra, pelos seus crimes abomináveis.
A presença dos anjos santos, e do Cordeiro – Instrumentos empregados
na destruição deles; o Cordeiro – o Senhor Jesus Cristo, como Juiz.
14:11 – E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não
têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua
imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome.
A fumaça do tormento deles – Ainda uma alusão à destruição de
Sodoma e Gomorra.
14:12 – Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam
os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.
Aqui está a perseverança dos santos – Aqui a fé dos verdadeiros cristãos
deve ser provada: eles seguirão o Cordeiro, onde quer que Ele vá. Eles
cumprirão os mandamentos de Deus, e estarão firmes na fé em nosso Senhor
Jesus Cristo.
Algumas vezes, h upomonh, paciência ou perseverança, é considerada a
recompensa dessas virtudes. O texto, portanto, pode ser assim compreendido:
Aqui está a recompensa da perseverança dos verdadeiros cristãos; ainda que ao
testemunharem Jesus, eles morram, eles estão sendo indescritivelmente
abençoados. Veja no versículo seguinte.
14:13 – E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bemaventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o
Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os
seguem.
148
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Eu ouvi uma voz do céu – Como a informação a ser dada seria da mais
extrema importância, ela é solenemente comunicada por uma voz, vinda do
céu; e ao apóstolo é ordenado escrever ou registrar o que é dito.
Abençoados são os mortos – Felizes são eles. Felizes, em dois aspectos:
1. Eles não vêm o mal que virá sobre o mundo, e são poupados de quaisquer
sofrimentos adicionais. 2. Verdadeira e conscientemente, desfrutam da
felicidade, em um estado de bem-aventurança. No primeiro sentido: Felizes são
os mortos! É um provérbio encontrado frequentemente nos poetas Gregos e
Romanos.
Os que morrem no Senhor – Esses são os únicos mortos gloriosos. Eles
morrem, não em campo de batalha, no que é chamado de guerras legais ou
ilegais, contra seus companheiros; mas morrem na causa de Deus, morrem
debaixo do sorriso e aprovação de Deus; e morrem para viverem e reinarem
para todo sempre.
Daqui por diante – Deste momento; agora; imediatamente. Estas
palavras estão juntas na versão moderna e algumas outras versões. É uma
máxima, em meio aos judeus, que, tão logo as almas dos justos partem desta
vida, elas ascendem imediatamente ao céu.
Sim disse o Espírito – O Espírito Santo confirma a declaração do céu, e
especifica as razões dele.
Que eles possam descansar de seus esforços – Não tenham mais
tribulação e aflição.
E suas obras o seguem lá – Seguem COM eles. Seguem na companhia
deles. Aqui existe uma elegante prosopopéia ou personificação; suas boas
obras, sofrimentos, etc, são representados como as muitas companhias,
escoltando-os no caminho deles até o reino de Deus.
Existem algumas coisas boas e pertinentes nos escritores judeus sobre
este assunto. “Rabino Jonathan ensinou: Se um homem executa uma ação justa
em sua vida, ela segue diante dele para o mundo vindouro. Mas se um homem
comete um crime, ele se adere a ele, e o arrasta até o dia do julgamento”.
Sota, fol. 3, 2. Avoda Sara, fol. 5, 1.
“Venham e vejam, se algum homem observa um preceito, aquela obra
vai até Deus, e diz: ‘Foi este quem me praticou’. Mas se um homem transgride
149
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
a lei, aquele pecado vai até o santo e abençoado Deus, e diz: ‘Este foi quem me
cometeu’”. Aqui a mesma personificação é observada, como esta no texto.
“No momento em que um homem passa desta vida para a eternidade,
todas as suas obras o precedem; e lá, falam sobre ele. ‘Isto e aquilo tu fizeste,
em tal lugar, tal dia’. Isto ele deverá reconhecer. Elas requererão que ele
subscreva isto com suas próprias mãos, como está escrito em Jó 37:7 - cada
homem selará com suas próprias mãos; e não apenas isto, mas reconhecerá
que a sentença trazida contra ele é a mais justa”. Taamith.
A elegante similitude seguinte, Schoettgen nos dá de Sepher
Hachayism, “Certo homem tinha três amigos, dois dos quais ele amava; mas o
terceiro ele não estimou grandemente. Naquele tempo, o rei ordenou que ele
comparecesse diante dele; e alarmado, ele tentou encontrar um defensor. Ele
foi até o amigo que mais amava, mas ele se recusou terminantemente a seguir
com ele. O segundo ofereceu-se para ir com ele, até a porta do palácio do rei,
mas recusou-se a falar uma palavra em seu benefício. O terceiro, a quem ele
amava menos, não apenas foi com ele, mas defendeu sua causa, tão bem,
diante do rei, que ele foi limpo de toda culpa. Da mesma forma, todo homem
tem três amigos, quando é comunicado pela morte a comparecer diante de
Deus. O primeiro amigo, a quem ele mais ama, seu dinheiro, não pode
acompanhá-lo, afinal. Seu segundo amigo, seus parentes e próximos,
acompanham-no até a sepultura, e, então, retornam; mas não podem livrá-lo
do Juiz. O terceiro amigo, a quem ele tem em pequena estima, isto é, a lei e
suas boas obras, segue com ele, até o rei, e o livra do julgamento” O
significado disto, mais precisamente é que nada, a não ser as boas e más ações,
acompanham os homens ao trono do julgamento de Deus, e a porção deles será,
em outro mundo, como suas condutas têm sido neste; suas obras seguirão com
eles.
14:14 - E olhei, e eis uma nuvem branca, e assentado sobre a nuvem
um semelhante ao Filho do homem, que tinha sobre a sua cabeça uma
coroa de ouro, e na sua mão uma foice aguda.
Uma nuvem branca – Supõe-se que, deste versículo, até o fim do
capítulo, a destruição de Roma é representada sob os símbolos da colheita e
vindima; imagens muito freqüentes, entre aos profetas antigos, com que eles
representaram a destruição e exição das nações. Veja Joel 3:12-14 “Suscitemse os gentios, e subam ao vale de Jeosafá; pois ali me assentarei para julgar
todos os gentios em redor. Lançai a foice, porque já está madura a seara;
vinde, descei, porque o lagar está cheio, e os vasos dos lagares transbordam,
150
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
porque a sua malícia é grande. Multidões, multidões no vale da decisão;
porque o dia do Senhor está perto, no vale da decisão”; Isaías 17:5 “Porque
será como o segador que colhe a cana do trigo e com o seu braço sega as
espigas; e será também como o que colhe espigas no vale de Refaim”; 63:1
“Quem é este, que vem de Edom, de Bozra, com vestes tintas; este que é
glorioso em sua vestidura, que marcha com a sua grande força? Eu, que falo
em justiça, poderoso para salvar”; e Mateus 13:37 “E ele, respondendo,
disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem”.
Uma coroa dourada – Símbolo de vitória e poder real.
14:15 – E outro anjo saiu do templo, clamando com grande voz ao
que estava assentado sobre a nuvem: Lança a tua foice, e sega; a hora de
segar te é vinda, porque já a seara da terra está madura.
Confia em tua foice – Execute os julgamentos que Deus decretou.
Porque a colheita da terra está madura - O cálice da iniqüidade do povo
está cheio.
14:16 – E aquele que estava assentado sobre a nuvem meteu a sua
foice à terra, e a terra foi segada.
A terra foi ceifada – Os julgamentos foram executados. Mas, quem
pode dizer, onde, ou sobre quem?
14:18 – E saiu do altar outro anjo, que tinha poder sobre o fogo, e
clamou com grande voz ao que tinha a foice aguda, dizendo: Lança a tua
foice aguda, e vindima os cachos da vinha da terra, porque já as suas uvas
estão maduras.
Poder sobre o fogo – Provavelmente o significado do mesmo anjo que é
mencionado em Apocalipse 8:2 “E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar,
tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as
orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono”;
9:13 “E tocou o sexto anjo a sua trombeta, e ouvi uma voz que vinha das
quatro pontas do altar de ouro, que estava diante de Deus”, que se colocou
junto ao altar do incensário, tendo autoridade sobre seu fogo, para oferecer
aquele incenso a Deus, que representa as orações dos santos.
151
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
14:19 – E o anjo lançou a sua foice à terra e vindimou as uvas da
vinha da terra, e atirou-as no grande lagar da ira de Deus.
O grande lagar da ira de Deus – O local ou reino, onde Deus executa
seus julgamentos sobre os que cometem iniqüidade, quer pagãos, ou cristãos
perseguidos; Roma pagã, ou Roma papal.
14:20 – E o lagar foi pisado fora da cidade, e saiu sangue do lagar
até aos freios dos cavalos, pelo espaço de mil e seiscentos estádios.
Até mesmo nas rédeas do cavalo - Uma expressão hiperbólica, para
denotar uma grande efusão de sangue. Os judeus disseram: “Quando Adriano
sitiou a cidade chamada Bitter, ele matou tantos, que os cavalos investiram
com sangue em suas bocas”. O mesmo tipo de hipérbole que aquela acima.
Veja Wetstein neste verso.
O espaço de mil e seiscentos furlongs – Pode se referir à propriedade da
Igreja, ou o patrimônio de St. Peter, que se estende de Roma à Po, duzentas
milhas italianas, que perfazem exatamente mil seiscentos furlongs! Se for
realmente assim, a coincidência é certamente surpreendente, e merecedora de
profunda consideração.
Desses dois últimos versos, o devoto Quesnel diz: “Como a benévola
foice de Jesus Cristo sega seu trigo, quando maduro, para o céu, assim, os
executores de sua justiça cortam fora desta vida, as pragas que são apenas
adequadas ao fogo do inferno. Então, o sangue de Cristo cessará de ser
pisoteado pelos pecadores; e aqueles dos pecaminosos serão eternamente
pisoteados no inferno, o que significa o lagar da ira de Deus”.
“E o lagar foi pisoteado fora da cidade; eternamente fora da cidade
do Jerusalém celeste, e longe da presença de Deus; eternamente esmagado e
pisoteado pela justiça Dele; eternamente atormentado no corpo e alma, sem
qualquer esperança quer de viver ou morrer! Esta é a sorte miserável e porção
daqueles que desdenharam da lei de Deus e morreram em obstinação. Meu
Deus! Penetre meu coração com o medo salutar de teus julgamentos!”. O que
quer que essas passagens signifiquem, este é um uso prudente e cristão delas.
152
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XV
Os sete anjos com as sete últimas pragas, 1. O mar de vidro, e aqueles
que tiveram vitória sobre a besta, 2. O som de Moisés e do Cordeiro, 3, 4. O
templo aberto no céu, 5. Sete anjos saem do templo, e recebem de uma das
quatro criaturas viventes, sete frascos cheios da ira de Deus, 6,8.
Notas Sobre o Capítulo XV
15:1 - E VI outro grande e admirável sinal no céu: sete anjos, que
tinham as sete últimas pragas; porque nelas é consumada a ira de Deus.
Sete anjos, com as sete últimas pragas – Sob os símbolos de colheita e
vindima, os julgamentos de Deus, sobre os inimigos de sua Igreja, já foram
designados: mas estes são mais adiante simbolizados pelos sete frascos, que são
chamados de as sete últimas pragas de Deus. As sete últimas pragas parecem
cair, ao soar da sétima e última trombeta. Como o sétimo selo continha as sete
trombetas, a sétima trombeta contém os sete frascos. E como os sete anjos
soaram as sete trombetas, então, sete anjos são apontados para derramarem os
sete frascos; os anjos sempre como ministros da Providência. Este capítulo
contém a visão clara, que é preparatória para o derramar dos frascos.
O Targum de Jonathan sobre Isaías 51:7 , “Desperte, desperte, fique de
pé, Ó Jerusalém, que tem bebido da mão do Senhor, o cálice de sua fúria”, usa
as mesmas palavras empregadas pelo evangelista aqui: “Jerusalém, ti recebeste
da face do Senhor o cálice de sua ira; os Frascos do cálice da maldição”,
encontradas novamente em Isaías 51:22, “Eu tomarei de tua mão, o cálice da
maldição, ‘os Frascos do cálice de minha indignação”.
15:2 - E vi um como mar de vidro misturado com fogo; e também
os que saíram vitoriosos da besta, e da sua imagem, e do seu sinal, e do
número do seu nome, que estavam junto ao mar de vidro, e tinham as
harpas de Deus.
Um mar de vidro – Um espaçoso lugar resplandecente ao redor do
trono, do qual clarões de fogo eram continuamente emitidos: ou, o reflexo da
luz produzia as cores prismáticas do mais vívido arco-íris.
Sobre a besta, e sobre sua imagem – Veja as notas sobre Apocalipse
13:1-18.
153
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
15:3 – E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico
do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor
Deus Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos
santos.
Eles cantaram a canção de Moisés – Aquela que Moisés cantou, Êxodo
15:1 “E com o sopro de tuas narinas amontoaram-se as águas, as correntes
pararam como montão; os abismos coalharam-se no coração do mar”,
quando ele e os israelitas, através do poder milagroso de Deus, atravessaram a
salvo o Mar Vermelho, e viram seus inimigos todos destruídos.
E a canção do Cordeiro – A mesma canção, adaptada ao estado de
sofrimento, mas agora livre dos cristãos.
Grandes e maravilhosas são tuas obras – As obras de Deus são
descritivas de seu infinito poder e sabedoria.
Senhor Deus, Todo-Poderoso – Quase o mesmo como Jeová, o Deus
dos exércitos.
Justo e verdadeiro são teus caminhos – Cada passo de Deus, na graça ou
providência, é de acordo com a justiça, e ele cuidadosamente conclui todas as
suas ameaças e todas as suas promessas: a isto, ele é compelido por sua
verdade.
15:4 – Quem te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu
nome? Porque só tu és santo; por isso todas as nações virão, e se
prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos.
Os que não deverão temer a ti - Todos devem temer e adorar este Deus
verdadeiro, porque ele é justo, verdadeiro e santo; e seus santos devem amá-lo e
obedecê-lo, porque ele é o Rei deles; e eles e todos os homens devem
reconhecer seus julgamentos, porque eles se tornaram manifestos.
15:5 – E depois disto olhei, e eis que o templo do tabernáculo do
testemunho se abriu no céu.
O templo do tabernáculo do testemunho – O templo que sucedeu o
tabernáculo, no qual estava o testemunho; as duas tábuas, a vara de Arão, pote
de maná, óleo santo da unção, etc. Todos testemunhando a verdade de Deus e
sua miraculosa interposição em benefício deles.
154
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
15:6 – E os sete anjos que tinham as sete pragas saíram do templo,
vestidos de linho puro e resplandecente, e cingidos com cintos de ouro
pelos peitos.
Os sete anjos saíram do templo – Para mostrarem que eles foram
enviados pelo próprio Deus.
Vestidos, do puro e branco linho - Como os sacerdotes – Porque desses
hábitos, veja Êxodo 28:6,8 “E farão o éfode de ouro, e de azul, e de púrpura, e
de carmesim, e de linho fino torcido, de obra esmerada (...) E farão o éfode de
ouro, e de azul, e de púrpura, e de carmesim, e de linho fino torcido, de obra
esmerada”; e veja a nota sobre o capítulo 1:13.
15:8 – E o templo encheu-se com a fumaça da glória de Deus e do
seu poder; e ninguém podia entrar no templo, até que se consumassem as
sete pragas dos sete anjos.
O templo ficou cheio de fumaça – Assim ficava o tabernáculo, quando
consagrado por Moisés, Êxodo 40:34,35 “Então a nuvem cobriu a tenda da
congregação, e a glória do Senhor encheu o tabernáculo; de maneira que
Moisés não podia entrar na tenda da congregação, porquanto a nuvem
permanecia sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo.”, e o
templo, quando consagrado por Salomão, 1 Reis 8:10,11 “E sucedeu que,
saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a casa do Senhor. E os
sacerdotes não podiam permanecer em pé para ministrar, por causa da nuvem,
porque a glória do Senhor enchera a casa do Senhor”; 2 Crônicas 4:14 “E os
sacerdotes não podiam permanecer em pé, para ministrar, por causa da
nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa de Deus”. Veja Isaias 6:4
“E os umbrais das portas se moveram à voz do que clamava, e a casa se
encheu de fumaça”. Este relato parece, no mínimo, parcialmente copiado
desses acima.
Quando o sumo sacerdote entrava no santuário, e o sacerdote comum no
local santo, sempre carregavam com eles uma grande porção de incenso
fumegante, que enchia aqueles lugares com fumaça e escuridão, que os impedia
de considerarem muito atentamente as partes e ornamentos daqueles santos
lugares, e assim, servia para produzir um ar de majestade ao templo, ao qual
ninguém se atreveria aproximar-se, sem a mais profunda reverência. Calmet
acredita que a alusão pode estar aqui.
155
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XVI
Aos anjos é ordenado derramarem seus frascos, 1. O primeiro derrama
seu frasco sobre a terra, e grande aflição é produzida, 2. O segundo, sobre o
mar, que se transforma em sangue, 3. O terceiro, sobre os rios e fontes, e esses
também se transformam em sangue, 4,7. O quarto, sobre o sol, e os homens
são abrasados, 8.9. O quinto, sobre o trono da besta, 10,11. O sexto, sobre o rio
Eufrates, 12. Três espíritos impuros saem da boca da besta, dragão e falso
profeta: e seguem juntos até todos os reis do mundo para batalharem, em um
lugar chamado Armagedon, 13,16. O sétimo anjo derrama seu frasco no ar, no
que se seguem trovões, relâmpagos, terremotos, e extraordinária chuva de
granizos, 17-21.
Notas Sobre o Capítulo XVI
16:1 – E OUVI, vinda do templo, uma grande voz, que dizia aos sete
anjos: Ide, e derramai sobre a terra as sete taças da ira de Deus.
Sigam seus caminhos e derramem seus frascos – Esses ministros da
justiça Divina estavam prontos e repletos de poder, para executarem vingança
sobre os transgressores; mas não poderiam fazer coisa alguma, até que uma
ordem especial fosse dada. Nada pode ser feito, sem a permissão de Deus; e
para a manifestação da justiça e misericórdia, através da operação Divina,
haverá um mando evidente.
16:2 – E foi o primeiro, e derramou a sua taça sobre a terra, e fez-se
uma chaga má e maligna nos homens que tinham o sinal da besta e que
adoravam a sua imagem.
Ferida fétida – Isto se refere à sexta praga, furúnculos e pústulas.
Êxodos 9:8,9 etc.. “….E tornar-se-á em pó miúdo sobre toda a terra do Egito,
e se tornará em sarna, que arrebente em úlceras, nos homens e no gado, por
toda a terra do Egito....”.
16:3 - E o segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou
em sangue como de um morto, e morreu no mar toda a alma vivente.
Como o sangue de um morto – Quer signifique sangue em um estado de
putrescência, ou uma efusão de sangue nos conflitos navais; até mesmo o mar
156
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
tingiu-se do sangue daqueles que foram mortos nestas guerras. Este é o
significado mais provável deste frasco. Esses engajamentos eram tão
sanguinários que ambos os conquistadores e conquistados eram quase
destruídos; toda alma vivente morria no mar.
16:4 – E o terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes
das águas, e se tornaram em sangue.
Sobre os rios e fontes de água – Esta é uma alusão à primeira praga em
Êxodos 7:20 “E Moisés e Arão fizeram assim como o SENHOR tinha
mandado; e Arão levantou a vara, e feriu as águas que estavam no rio, diante
dos olhos de Faraó, e diante dos olhos de seus servos; e todas as águas do rio
se tornaram em sangue”; e a essas pragas, em geral, existem alusões por todo
este capítulo. É sentimento dos rabinos que, “quaisquer que sejam as pragas
que Deus impôs sobre os egípcios anteriormente, ele imporá sobre os inimigos
de seu povo em todos os tempos posteriores”. Veja longa citação sobre este
assunto, do Rabino Tanchum em Schoettgen.
16:5 - E ouvi o anjo das águas, que dizia: Justo és tu, ó Senhor, que
és, e que eras, e santo és, porque julgaste estas coisas.
O anjo das águas – Os rabinos atribuem aos anjos, não apenas os
quatro elementos assim chamados, mas quase todas as coisas além. Vimos o
anjo do abismo sem fim, capítulo 9:11, e o anjo de fogo, capítulo 14:18.
Yacult Rubeni fala do anjo da terra, e é chamado de Admael. Existe também
um anjo que preside sobre a grama; outro sobre o gado que se alimenta da
grama.
Segundo eles, Deus empregou o anjo do mar para tragar as águas da
criação, para que a terra seca aparecesse. O anjo desobedeceu, e Deus o matou;
o nome do anjo do mar é Rahab. Fica evidente, dos diversos lugares, que o
escritor de Apocalipse manteve essas noções distintamente em vista.
16:6 – Visto como derramaram o sangue dos santos e dos profetas,
também tu lhes deste o sangue a beber; porque disto são merecedores.
Deste a eles sangue para beberem – Eles tinham sede de sangue e
massacraram os santos de Deus; e, agora, têm sangue para beber! Quando
Tomyris, rainha dos Scythians, subjugou Cyrus, dizem que ela cortou a cabeça
dele, e a atirou em um vaso de sangue, dizendo: “Satisfaze a ti mesmo com
157
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
sangue, pelo qual tiveste sede, e pelo qual teu desejo é insaciável”. Esta figura
de linguagem é chamada de sarcasmo na retórica.
16:8 – E o quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe
permitido que abrasasse os homens com fogo.
Derramou seu frasco sobre o sol – Sr. Robert Fleming, há mais de cem
anos, em sua Visão da Profecia Bíblica, supôs que o sol aqui significasse o
Império Francês, e conjecturou que este frasco seria derramado sobre aquele
império, por volta do ano de 1794. O notável, é que em 1893 o rei francês foi
decapitado pela Assembléia Nacional; e grande miséria, sem paralelo, caiu
sobre a nação francesa, e quase extinguiu toda sua nobreza; e trouxe a guerra
que durou vinte e três anos; por pouco, arruinou aquele país e todas as nações
da Europa.
16:9 – E os homens foram abrasados com grandes calores, e
blasfemaram o nome de Deus, que tem poder sobre estas pragas; e não se
arrependeram para lhe darem glória.
Eles não se arrependeram – Nenhuma emenda moral tomou lugar,
naquela região infeliz, em conseqüência das calamidades acima, nem, de fato,
em alguma daquelas nações engajadas contra ela, neste longo e destruidor
combate, que terminou agora (1897), sem produzir qualquer vantagem política,
moral, ou religiosa, para si mesma ou para a Europa.
16:10 – E o quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta,
e o seu reino se fez tenebroso; e eles mordiam as suas línguas de dor.
O trono da besta – Sobre o trono da besta selvagem. A família real foi
afetada pelo quarto frasco; eles não se arrependeram: então, o quinto anjo
derramou seu frasco sobre o trono da besta selvagem, ou o poder idólatra
anticristão.
Estava cheio de escuridão – Confusão, desânimo, e aflição.
16:11 – E por causa das suas dores, e por causa das suas chagas,
blasfemaram do Deus do céu; e não se arrependeram das suas obras.
Blasfemaram do Deus do céu – Nem se arrependeram: portanto, outros
julgamentos se seguiriam. Alguns pensam que o sol seria Vitellius, o imperador
Romano, e que este trono significaria Roma: e a escuridão, as injúrias que
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
mantinha, em sua importância política, por meio das guerras civis que, então,
tomaram lugar, e das quais, nunca se recuperou totalmente. Outros aplicam isto
a toda a Roma papal, e neste aspecto, decifram um caso muito claro! Assim, os
homens conjecturaram, mas quão perto estamos da verdade?
16:12 – E o sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio
Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis
do oriente.
Junto ao grande rio Eufrates – Provavelmente signifique o povo nas
adjacências deste rio; embora alguns pensem que o Tigre seja pretendido.
A água depois disto, secou – As pessoas completamente aniquiladas, e
todos os impedimentos removidos.
Os reis do oriente – Parece uma alusão à ruína da Babilônia, por Cyrus,
prevista pelo profeta Jeremias, Jeremias 50:1 “Sobe contra a terra de
Merataim, sim, contra ela, e contra os moradores de Pecode; assola e
inteiramente destrói tudo após eles, diz o Senhor, e faze conforme tudo o que te
mandei”; 51:64 “E dirás: Assim será afundada Babilônia, e não se levantará,
por causa do mal que eu hei de trazer sobre ela; e eles se cansarão. Até aqui
são as palavras de Jeremias”. Mas que cidade ou povo é designado, através
desta Babilônia, é vã conjectura.
16:13 – E da boca do dragão, e da boca da besta, e da boca do falso
profeta vi sair três espíritos imundos, semelhantes a rãs.
Três espíritos impuros – Talvez, falsos professores, chamados,
posteriormente, de espíritos demoníacos, que persuadem os reis da terra,
através de milagres vivificantes, produzidos no local de carnificina geral,
Versículo 14, 16. Alguns bons críticos aplicam isto a Vespasiano, e seus
milagres embusteiros. Veja o relato em Tacitus.
16:15 – Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que
vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as
suas vergonhas.
Observe, eu vim como um ladrão – Aqui está uma súbita, mas oportuna
advertência, para colocar todo homem em alerta, quando esta tribulação
repentina, e geralmente inesperada, acontecer.
159
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Mantenham suas vestes, a fim de que não caminhem nus – Aqui está
uma clara alusão ao ofício daquele que era chamado de monitor ou inspetor, da
montanha do templo. Seu costume era fazer sua ronda, durante as vigílias da
noite; e se ele encontrasse algum dos Levitas dormindo em sua guarda, tinha
autoridade para bater nele com uma vara, e queimar suas vestimentas. Tal
pessoa retornava para casa, nua. E todos ficavam sabendo que ela estava
dormindo em seu posto, apanhou, e suas roupas foram queimadas; assim, sua
vergonha era visível – ele fora reprovado por sua infidelidade e irreligião.
16:16 – E os congregaram no lugar que em hebreu se chama
Armagedom.
Armagedon – A palavra original tem sido formada de diversas
maneiras, e traduzidas de várias formas. Ela é rh har-megiddon, “o monte da
assembléia”, ou whdg hmrj chormah gedehon, “a destruição de seu exército”;
ou é wdgm rh har-megiddo, “Monte Megido”, o vale notável por dois grandes
massacres: um dos Israelitas, II Reis 23:29 “Nos seus dias subiu Faraó Neco,
rei do Egito, contra o rei da Assíria, ao rio Eufrates; e o rei Josias lhe foi ao
encontro; e, vendo-o ele, o matou em Megido”; o outro dos Canaanitas, Juízes
4:16 “E Baraque perseguiu os carros, e o exército, até Harosete dos gentios; e
todo o exército de Sísera caiu ao fio da espada, até não ficar um só”. Mas o
Monte Megido, que é Carmelo, é o lugar, de acordo com alguns, onde esses
exércitos seriam reunidos.
Mas qual é a batalha do Armagedon? Quão ridículas têm sido as
conjecturas dos homens, com respeito a esta questão! Nos últimos vinte anos,
esta batalha tem acontecido em vários lugares, de acordo com nossos videntes
peticegos e auto-inspirados profetas! Em determinado momento, foi Austerlitz,
em outro, Moscow, e outro, Leipsic, e agora, Waterloo! E assim, eles têm
confundido, e continuarão a confundir a outros e a si mesmos.
16:17 – E o sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e saiu grande
voz do templo do céu, do trono, dizendo: Está feito.
Derramou seu frasco no ar – Significa que esta praga deveria ser
amplamente difundida, e, talvez, insinuasse que pestes e várias mortes
aconteceriam com este frasco. Mas provavelmente o ar, neste lugar, pode ter
algum significado emblemático.
Está feito – É dito no capítulo 10:7, que nos dias da sétima trombeta, o
mistério de Deus terminaria: então, aqui o encontramos completo. Gegone?
160
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Está tudo terminado! Fuimus Troes! Ilium fuit! Certa vez, existiram os
Trojanos, e eles tinham uma cidade; mas, agora, tudo está extinto.
16:18 – E houve vozes, e trovões, e relâmpagos, e um grande
terremoto, como nunca tinha havido desde que há homens sobre a terra;
tal foi este tão grande terremoto.
Um grande terremoto – As mais terríveis comoções, civis e religiosas.
Ou uma convulsão, abalo, ou revolução.
16:19 – E a grande cidade fendeu-se em três partes, e as cidades das
nações caíram; e da grande Babilônia se lembrou Deus, para lhe dar o
cálice do vinho da indignação da sua ira.
A grande cidade – Alguns acreditam, Jerusalém; outros, Roma pagã;
outros, Roma papal.
O cálice de vinho da ferocidade de sua ira – Alude à maneira como
certos criminosos são colocados para morrer, fazendo com que bebam um
cálice de veneno. Veja Hebreus 2:9 “Vemos, porém, coroado de glória e de
honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa
da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por
todos”.
16:20 – E toda a ilha fugiu; e os montes não se acharam.
Toda ilha fugiu – Provavelmente, signifique a captura das cidades
portuárias, e lugares fortificados.
16:21 – E sobre os homens caiu do céu uma grande saraiva, pedras
do peso de um talento; e os homens blasfemaram de Deus por causa da
praga da saraiva; porque a sua praga era mui grande.
Grande quantidade de granizo, do peso de um talento. [34.01943 –
Kilogram]- Será alguma referência às balas dos canhões e bombas? É muito
duvidoso; todos nós estamos no escuro, com respeito a esses assuntos.
As palavras wv talantiais, como um talento, é usada para expressar
alguma coisa grande, excessivamente opressiva; assim como noshmatwn
talantiaiwn, para expressar enfermidades terríveis, não enfermidades do peso
de um talento. Veja Rosenmuller.
161
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XVII
O julgamento da grande prostituta, que se senta sobre muitas águas, 1,
2. Sua descrição, nome, e conduta, 3-6. O anjo explica o mistério da mulher, da
besta, etc. 7-18. Este capítulo é, de acordo com diversos relatos, muito
importante, e, especialmente, porque parece explicar diversos dos símbolos
mais notáveis neste livro. O mesmo autor que tem escrito tão amplamente no
décimo-segundo e décimo-terceiro capítulos tem também me obrigado, com
sua interpretação deste capítulo. Não pretendendo explicar essas coisas por
mim mesmo, eu insiro neste, a mais elaborada e culta exposição que eu já vi,
deixando meus leitores com perfeita liberdade de rejeitarem-na, e adotarem
algum outro modo de interpretação que lhes agrade. Deus apenas sabe todos os
segredos de sua própria sabedoria.
17:1 - E VEIO um dos sete anjos que tinham as sete taças, e falou
comigo, dizendo-me: Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande
prostituta que está assentada sobre muitas águas;
E veio um dos sete anjos, que possuía os sete frascos, e falou comigo,
dizendo: Vem até aqui; eu te mostrarei o julgamento da grande prostituta que se
senta sobre muitas águas – Que a adoração idólatra é frequentemente
representada nas Escrituras, sob o caráter de uma prostituta ou prostituição, é
evidente das numerosas passagens que são desnecessárias citar. Veja I
Crônicas 5:25; Ezequiel 16:1-63; 23:1-49,etc. A mulher mencionada aqui é
chamada de a grande prostituta, para denotar sua excessiva depravação, e a
natureza ardilosa ou sua idolatria. Ela é também representada como sentada
sobre muitas águas, que representa a vasta extensão de sua influência. Veja no
versículo 13.
17:2 - Com a qual se prostituíram os reis da terra; e os que
habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição.
Com quem os reis da terra cometeram fornicação, e os habitantes da
terra se embebedaram com o vinho de sua fornicação – Que terrível quadro é
este do estado da religião do mundo, em sujeição a esta prostituta! Os reis
cometeram fornicação espiritual com ela, e seus súditos beberam
profundamente, pavorosamente em profundidade, na doutrina de seus erros
abomináveis.
162
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
17:3 – E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher
assentada sobre uma besta de cor de escarlata, que estava cheia de nomes
de blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres.
Assim, ele me levou, em espírito, para o deserto – Este deserto, para o
qual o apóstolo foi levado, é o estado desolado da verdadeira Igreja de Cristo,
em uma das asas do outrora poderoso Império Romano. Foi uma visão
verdadeiramente tenebrosa, um terrível deserto, um deserto estéril e uivante;
porque, quando ele foi até lá: Ele viu uma mulher sentada sobre uma besta
colorida de escarlate, cheia de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez
chifres – Nenhuma dúvida deve haver de que esta mulher é a Igreja Latina,
porque ela se senta sobre a besta, com sete cabeças e sete chifres, que já foi
provado ser o Império Latino, porque apenas este império contém o número
666. Veja capítulo 13:8. Esta é a representação da Igreja Latina em seu estado
mais elevado da prosperidade anticristã, porque ela se senta sobre a besta
colorida de escarlate, um emblema impressionante de seu completo domínio
sobre o Império Latino secular. O estado da Igreja Latina, do início do século
quatorze até os tempos da Reforma, pode ser considerado aquele que
corresponde a esta descrição profética no sentido mais literal e extensivo das
palavras; porque, durante este período, ela esteve em seu mais alto auge de
grandeza mundana e autoridade temporal. A besta está cheia de nomes de
blasfêmia; e bem se sabe que as nações, em apoio à Igreja Latina, ou Católica
Romana, têm abundado em apelos blasfemos, e não se envergonham de
atribuírem a si mesmas, e àqueles de sua Igreja os mais sagrados títulos, não
apenas blasfemando pelo uso impróprio dos nomes sagrados, mas, até mesmo,
por aplicarem aos seus bispos aqueles nomes que apenas pertencem a Deus,
porque Deus declarou expressamente que ele não dará sua glória a outro, nem
seu louvor a imagens esculpidas.
17:4 – E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e
adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um
cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição;
E a mulher estava vestida nas cores púrpura e escarlate, e adornada
com ouro, pedras preciosas, e pérolas, e com um cálice dourado em sua mão,
cheio das abominações e sujidades de sua fornicação – Isto representa
estritamente a maneira mais pomposa e cara, com que a Igreja Latina tem
exibido às nações, os ritos e cerimônias de sua adoração idólatra e corrupta.
17:5 – E na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande
Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra.
163
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E sobre sua testa, havia um nome escrito, Mistério, Babilônia, a Grande,
a Mãe das Meretrizes, e das Abominações da Terra - Esta inscrição sobre sua
testa pretende mostrar que ela não se envergonha de suas doutrinas, mas
publicamente as professa e as glorifica, diante das nações: de fato, ela tem a
testa de uma prostituta, porque se recusa a envergonhar-se. A inscrição é
exatamente a imagem da Igreja Latina. Esta Igreja é, como Bispo Newton
expressa bem, UM MISTÉRIO de iniqüidade. Esta mulher é também chamada
de Babilônia, a Grande; e é o exato antítipo da primitiva Babilônia, em sua
idolatria e crueldade, mas a primitiva cidade chamada Babilônia é apenas um
esboço dela em miniatura. Esta é, na verdade, a Babilônia, A GRANDE. “Ela
finge o estilo e título de nossa Santa Mãe, a Igreja; mas ela é, na verdade, a
mãe das Meretrizes e Abominações da Terra”.
17:6 – E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e
do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com
grande admiração.
E eu vi a mulher embriagada com o sangue dos santos, e com o sangue
dos mártires de Jesus; e, quando a vi, eu me admirei muito – Quão exatamente,
as crueldades exercidas pela Igreja Latina contra todos a quem ela denominou
heréticos, correspondem a esta descrição, o leitor não necessita ser informado.
17:7 – E o anjo me disse: Por que te admiras? Eu te direi o mistério
da mulher, e da besta que a traz, a qual tem sete cabeças e dez chifres.
E o anjo me disse: Porquê tu te maravilhaste? Eu direi a ti o mistério da
mulher e da besta que a carrega, e que tem as sete cabeças e os dez chifres – O
apóstolo estava grandemente pasmo, tanto quanto poderia, com a mulher
embriagada com o sangue dos santos, quando a besta que a carregava abundou
em títulos sagrados, tais como santa, mais santa, mais cristã, sagrada, mais
sagrada.
O anjo tentou explicar para João a visão que trouxera espanto a ele; e a
explicação é de tal grande importância, que não foi dada, o mistério do dragão e
da besta nunca seria satisfatoriamente explicado em suas peculiaridades. O anjo
começa, dizendo:
17:8 – A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá
à perdição; e os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no
livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta
que era e já não é, mas que virá.
164
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A besta que tu viste existiu, e não existe; e ascenderá do poço do
abismo, e entrará em perdição – A besta é o Reino Latino (Æh latinh basileia);
consequentemente, a besta existiu, ou seja, previamente ao tempo de João;
(porque Latinus foi o primeiro rei dos Latinos, e Numitor, o último); não existe
agora, porque a nação Latina cessou, há muito tempo, de ser um poder
independente, e está agora sob o domínio dos Romanos; mas ascenderá do
abismo sem fim, ou seja, o Reino Latino, o poder anticristão, ou aquele que
ascende das profundezas, ou poço do abismo, ainda se encontra na futuridade.
Mas é acrescentado: - E aqueles que habitam a terra se maravilharão; aqueles
cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo, ao
constatarem que a besta era, e não é, e ainda existe –.
O significado de terra aqui é o mundo Latino, portanto, todos que
habitam no mundo Latino irão se aderir à religião idólatra e blasfema da Igreja
Latina, que é apoiada pelo Império Latino, exceto aqueles que habitam, através
das Escrituras sagradas, recebendo-as como a única regra de fé e prática. Esses
acreditam no verdadeiro Sacrifício, e mantêm-se imaculados da corrupção que
está no mundo. Mas os habitantes do mundo Latino, sob o domínio da religião
Católica Romana, se maravilharão, quando eles observarem a besta, ou o
Império Latino; ou seja, como Lorde Napier comenta: “Terão grande
admiração, reverência, e estima, a esta grande monarquia”. Eles se
maravilharão, por considerarem-no o mais sagrado império do mundo, aquele
com o qual Deus peculiarmente se deleita; mas aqueles que assim se
maravilharem, não terão seus nomes escritos no livro da vida, mas são tais que
preferem os concílios para a revelação Divina, e tomam suas religiões das
missas, rituais, e lendas, em vez dos oráculos sagrados: consequentemente, são
corruptos e idólatras, e nenhum idólatra tem herança no reino de Deus.
Na parte precedente do versículo, a besta é considerada em três estados,
como aquela que era, e não é, e que ascenderá do poço do abismo: Aqui, um
quarto é introduzido: e ainda existe. Isto é acrescentado para mostrar que,
embora os Latinos fossem subjugados pelos Romanos, não obstante, os
próprios Romanos eram Latinos; porque Romulus, o fundador da monarquia
deles, era um Latino, consequentemente, aquele denominado, nos dias de João,
de Império Romano era, na realidade, o Reino Latino; porque a mesma Língua
do império era o Latim, e os escritores Gregos, que viveram nos tempos do
Império Romano, expressamente nos dizem que aqueles formalmente
chamados de Latinos são agora denominados Romanos.
O significado de todo o versículo é, portanto, como se segue: A parte
corrupta da humanidade terá em grande admiração o Império Latino, ainda na
165
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
futuridade; e que já existiu, mas agora está extinto, - os Romanos o
conquistaram; e, ainda assim, existe; porque, embora a nação Latina tenha sido
subjugada, seus próprios conquistadores são Latinos. Mas pode ser objetado
contra a interpretação dada aqui, que essas frases falam a respeito da besta,
sobre a qual, o apóstolo viu a mulher, ou Igreja Latina, sentada; porque o anjo
diz: A besta que TU VISTE era, e não é, etc...; que referência, no entanto, pode
o Império Latino, que apóia a Igreja Latina, ter com o Reino Latino que
subsistiu antes dos tempos de João, ou com o Império Romano que seria
propriamente assim denominado? Esta objeção tem grande peso, à primeira
vista, e não pode ser respondida satisfatoriamente, até que a explicação do anjo
a respeito das cabeças e chifres da besta seja examinada; assim sendo, é
acrescentado:
17:9 – Aqui o sentido, que tem sabedoria. As sete cabeças são sete
montes, sobre os quais a mulher está assentada.
Aqui está a mente que tem sabedoria – Foi dito anteriormente, capítulo
13:8: Aqui está a sabedoria. Que aquele que tem uma MENTE, ou
entendimento, calcule o número da besta. A sabedoria significa aqui uma visão
correta do que é pretendido pelo número 666; consequentemente, a passagem
paralela: Aqui está A MENTE que tem a SABEDORIA, é uma declaração de
que o número da besta deve primeiro ser entendido, antes que a interpretação
do anjo, da visão concernente à prostituta e a besta , possa admitir uma
explanação satisfatória.
As sete cabeças são sete montanhas, sobre as quais a mulher se senta –
Este versículo tem sido quase universalmente considerado, em alusão às sete
colinas sobre as quais Roma originalmente se situou. Mas tem sido objetado,
porque a Roma moderna não está assim situada, e, por conseguinte, é a Roma
pagã a pretendida na profecia. Esta é certamente uma objeção muito formidável
contra a opinião geralmente recebida em meio aos Protestantes, de que a Roma
papal é a cidade, representada pela mulher sentada sobre as sete montanhas. Já
mostramos que a mulher aqui mencionada é um símbolo da Igreja Latina em
seu estado mais elevado de prosperidade anticristã; e, portanto, a cidade de
Roma, sobre as sete montanhas, não é, afinal, designada na profecia. Com o
objetivo de entender esta escritura corretamente, a palavra montanhas devem
ser tomadas em seu sentido literal, como no capítulo 6:14 “E o céu retirou-se
como um livro que se enrola; e todos os montes e ilhas foram removidos dos
seus lugares”; 16:20 “E toda a ilha fugiu; e os montes não se acharam”. Veja
também, Isaías 2:2 “E acontecerá nos últimos dias que se firmará o monte da
casa do Senhor no cume dos montes, e se elevará por cima dos outeiros; e
166
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
concorrerão a ele todas as nações”, 14 “E contra todos os montes altos, e
contra todos os outeiros elevados”; Jeremias 51:25 “Eis-me aqui contra ti, ó
monte destruidor, diz o Senhor, que destróis toda a terra; e estenderei a minha
mão contra ti, e te revolverei das rochas, e farei de ti um monte de queima”;
Daniel 2:35 “Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a
prata e o ouro, os quais se fizeram como pragana das eiras do estio, e o vento
os levou, e não se achou lugar algum para eles; mas a pedra, que feriu a
estátua, se tornou grande monte, e encheu toda a terra.”, etc, em que ela é
inequivocamente o emblema de grande e altíssimo poder.
As montanhas sobre as quais a mulher se senta devem ser, portanto, os
sete grandes poderes; e como as montanhas são as cabeças da besta, elas devem
ser as sete MAIORES eminências do mundo Latino. Como nenhum outro poder
foi reconhecido na liderança do Império Latino, a não ser aquele da Alemanha,
como podemos afirmar que a besta tem sete cabeças? Esta questão pode apenas
ser resolvida, através da constituição feudal da última conferência Germânica,
cuja história é brevemente como se segue: A princípio, apenas os reis
concediam feudos. Eles os concediam aos homens leigos apenas, e tais somente
que fossem livres; e o vassalo não tinha poder para aliená-los. Todo homem
livre, e especialmente os locatários feudais, estavam sujeitos à obrigação do
dever militar, e designados a guardar a vida de seu soberano, membros, mente,
e honra correta. Logo depois, ou talvez, um pouco antes, da extinção da dinastia
de Carlovingiano, na França, pela ascensão da linhagem Capetiana, e na
Alemanha, pela ascensão da casa Saxônica, os feudos, que estavam
inteiramente à disposição do soberano, tonaram-se hereditários. Até mesmo os
ofícios de duque, conde, margrave, etc... eram transmitidos no decurso da
descendência hereditária; e não muito tempo depois, o direito de primogenitura
foi universalmente estabelecido. Os vassalos coroados usurparam da soberana
propriedade da terra, com autoridade civil e militar sobre os habitantes. Com a
possessão assim usurpada, eles concederam aos seus arrendatários imediatos; e
esses, a outros, da mesma forma.
Assim, os principais vassalos gradualmente obtiveram toda prerrogativa
real; eles promulgaram leis, exerceram o poder de vida e morte, cunharam
dinheiro, fixaram os padrões de pesos e medidas, concederam salvaguardas,
cogitaram uma força militar, e impuseram taxas, com todo direito supostamente
anexado à realeza. Em seus títulos, eles se denominavam duques, etc. Dei
gratis, pela graça de Deus; uma prerrogativa declaradamente restrita ao poder
soberano. Foi até mesmo admitido que, se o rei se recusasse a fazer justiça ao
lorde, o lorde faria guerra contra ele. Os arrendatários, por sua vez, tornaram-se
independentes de seus lordes vassalos, pelo que foi introduzido um estado
167
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
ulterior de vassalagem. O rei era chamado de o soberano lorde, seu vassalo
imediato era o susserano, e os arrendatários ligados a ele eram chamados de
arrere vassalos. Veja as Revoluções de Butler do Império Germânico. Assim,
o poder dos imperadores da Alemanha, que era tão considerável no século
nove, foi gradualmente diminuído, pelo sistema feudal; e durante a anarquia do
longo interregno, ocasionado pela interferência dos papas na eleição dos
imperadores (de 1256 a 1273), o poder imperial foi reduzido quase a nada.
Rudolph de Hapsburg, o fundador da casa da Áustria, foi, por fim,
eleito imperador, porque seus territórios e influência eram tão insignificantes,
de maneira a não despertar ciúme nos príncipes alemães, que estavam desejosos
de preservarem as formas da constituição, o poder e vigor do que eles haviam
destruído. Veja a Introdução de Robertson do seu História de Charles V. Antes
da dissolução do Império, em 1806, a Alemanha “apresentou uma associação
complexa de principados, mais ou menos poderoso, e mais ou menos ligado à
nominal soberania no imperador, como seu chefe supremo feudal. Havia cerca
de trezentos príncipes do Império, cada soberano em sua própria região, que
entraria em alianças, e buscaria, através de todas as medidas políticas, seu
próprio interesse privado, como outros soberanos faziam; porque, se até
mesmo uma guerra imperial fosse declarada, ele permaneceria neutro, caso a
segurança do império não fosse abalada. Aqui, então, estava um Império de
uma construção, sem exceção, o mais singular e complexo que alguma vez
apareceu no mundo; porque o imperador era apenas o chefe da Confederação
Alemã”. A Alemanha, para usar a linguagem figurativa das Escrituras, era,
portanto, uma região abundante em colinas, ou contendo um imenso número de
principados distintos. Mas os diferentes estados alemães (como observado
anteriormente) não possuíam uma divisão igual de poder e influência; alguns
eram mais eminentes do que outros. Entre eles havia também alguns poucos
que poderiam, com a maior propriedade, serem denominados de montanhas, ou
estados possuindo um elevado grau de importância política.
Mas as sete montanhas sobre as quais a mulher se senta encontra-se
acima de todas as outras eminências em todo o mundo Latino;
consequentemente, não devem ser outras do que os SETE ELEITORADOS do
Império Alemão. Esses eram, de fato, montanhas de vasta eminência; porque
em seus soberanos estava investido o único poder de eleger o líder do império.
Além disto, os eleitores tinham o direito de capitular com o novo líder do
império, ditar as condições sobre as quais ele reinaria, e destituí-lo, se ele
quebrasse aquelas condições. E verdadeiramente destituíram Adolphus de
Nassau, em 1298, e Wenceslau em 1400. Soberanos e príncipes independentes,
em seus respectivos domínios, tinham o privilegium de non appellando
168
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
illimitatum, de realizarem guerra, cunharem, e exercerem cada ato de soberania;
também formavam um colégio separado, no regime do império, e entre eles
havia uma aliança ou associação especial, chamada Kur verein; e desfrutavam
de prioridade sobre todos os outros príncipes do império e, até mesmo, nas
mesmas condições dos reis.
As cabeças da besta, entendidas desta forma, é um dos mais distintos
símbolos da constituição Alemã; e já que o Império Romano da Alemanha teve
o precedente de todas as outras monarquias, da qual o Império Latino era
composto, as sete montanhas muito adequadamente denotam os sete poderes
PRINCIPAIS daquele que tem sido denominado de o santo Império Romano.
E, como cada eleitorado, em virtude de sua união com o corpo Germânico, era
mais poderoso do que qualquer outro estado Católico Romano da Europa, não
tão unido; então, no sentido mais apropriado da palavra, eles eram uma das
mais altas elevações no mundo Latino. Quando os sete eleitorados do império
foram instituídos, é incerto. Mas a opinião mais provável parece ser aquela que
situa a origem deles em algum momento do século treze.
A incerteza a este respeito, no entanto, de maneira alguma enfraquece a
evidência das montanhas, como se tratando dos sete eleitorados, mas, antes, a
confirma; conforme já observamos, a representação da mulher, sentada sobre a
besta, é a figura da Igreja Latina, no período de sua maior autoridade, espiritual
e temporal; e, sabemos, que isto não aconteceu, antes do início do século
quatorze, um período subseqüente à instituição dos sete eleitorados.
Assim, a mulher senta-se sobre as sete montanhas, ou o Império
Germânico em seu estado aristocrático eletivo; senta-se sobre elas, para denotar
que ela tem todo o Império Alemão sob sua direção e autoridade, e que ele
também era o principal suporte e força dela. Apoiada, pela Alemanha, ela
estava sob nenhuma apreensão de ser objetada com êxito, por qualquer outro
poder: ela se senta sobre as sete montanhas. Portanto, está em um lugar mais
alto do que as sete eminências mais elevadas do mundo Latino; e tem o Império
secular Latino sob sua completa sujeição.
Mas este estado de eminência não continuou por mais de dois ou três
séculos; o visível declínio do poder papal nos séculos quatorze e quinze,
ocasionado parcialmente pela remoção da diocese papal de Roma para
Avignon, e, mais especialmente, devido ao grande cisma de 1277 a 1417,
embora considerado uma das causas mais remotas da Reforma, foi, a princípio,
os meios de meramente transferir o supremo poder do papa para o concílio
geral, enquanto o domínio da Igreja Latina permanecia o mesmo.
169
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
No Concílio de Constance, 30 de Março de 1415, foi decretado “que o
sínodo tendo se reunido legitimamente, em nome do Espírito Santo, que
constituiu o concílio geral, e representava o todo da militante Igreja Católica,
tinha seu poder imediatamente de Jesus Cristo, e que toda pessoa, qualquer
que fosse o estado ou dignidade, ATÉ MESMO O PRÓPRIO PAPA. era
obrigada a obedecê-lo, no que concerne à fé, a extirpação do cisma, e a
reforma geral da Igreja, em seus líderes e membros”.
O Concílio de Basil de 1432 decretou “que todos, qualquer que fosse a
dignidade e condição, NÃO EXCETUANDO O PRÓPRIO PAPA, que se
recusassem a obedecer as ordenanças e decretos deste concilio geral, ou de
qualquer outro, fossem colocados sob penitência, e punidos. Declarou-se
também que o papa não tinha poder para dissolver o concílio geral, sem o
consentimento e decreto da assembléia”. Veja o terceiro volume da História
Eclesiástica de Du Pin. Mas o que fez a morte soprar na soberania temporal da
Igreja Latina foi a luz da gloriosa reforma que, primeiro, irrompeu na
Alemanha, em 1517, e, em poucos anos, ganhou seu caminho, não apenas sobre
diversos dos grandes principados na Alemanha, mas também se tornou a
religião estabelecida de outras regiões papistas.
Consequentemente, no século dezesseis, a mulher não mais se sentou
sobre as sete montanhas, os eleitorados não apenas recusaram-se a ser
governados por ela, mas alguns deles desprezaram e abandonaram suas
doutrinas. As mudanças, portanto, nos séculos dezessete, dezoito e dezenove,
no número de eleitorados, não afetarão, de maneira alguma, a interpretação das
sete montanhas, já dada. Os sete eleitores eram os arcebispos de Mentz,
Cologne, e Triers, o conde platino do Reno, o duque da Saxônia, o marquês de
Brandenburg, o rei da Boêmia. Mas as sete cabeças da besta têm uma dupla
significação; porque o anjo diz:
17:10 – E são também sete reis; cinco já caíram, e um existe; outro
ainda não é vindo; e, quando vier, convém que dure um pouco de tempo.
E existem sete reis - kai basileiv epta eisin? Eles são também sete reis.
Antes, foi dito, que eles são as sete montanhas; aqui, eles são também sete reis,
que é uma demonstração de que os reinos aqui não são representados pelas
montanhas: e este é um argumento adicional de que os sete eleitorados são
representados pelas sete montanhas, porque, embora os soberanos desses
estados se equiparassem aos reis, eles não eram reis; o que significa dizer que
eles não eram os lordes absolutos e únicos dos territórios que possuíam,
independentemente do imperador, porque seus estados formavam uma parte do
170
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
corpo Germânico. Mas as sete cabeças da besta são também sete reis, quer
dizer, o Império Latino teve sete formas supremas de governo; porque rei é
utilizado, nos escritos proféticos, para qualquer governador supremo de um
estado ou povo, como está evidente em Deuteronômio 33:5 “E foi rei em
Jesurum, quando se congregaram os cabeças do povo com as tribos de Israel”,
onde Moisés é chamado de rei.
Desses sete reis, ou formas supremas do governo Latino, o anjo informa
João: - Cinco caíram, e um existe – É fato que a primeira forma de governo
Latino foi aquela da monarquia, que continuou depois da morte de Latinus 428,
até a construção de Roma, 753. Depois do falecimento de Numitor, os Albanos
ou Latinos instituíram a forma de uma república, e foram governados por
ditadores. Temos apenas os nomes de dois; Cluilius e Metius Fufetius ou
Suffetius; mas como a ditadura continuou, pelo menos, por oitenta e oito anos,
devem ter havido outros, embora seus nomes e ações sejam desconhecidos. No
ano de 665, antes de Cristo, a metrópole da nação Latina foi destruída por
Tullus Hostilius, o terceiro rei dos Romanos, e os habitantes levados para
Roma. Isto colocou um fim na república monárquica dos Latinos; e os Latinos
elegeram dois magistrados anuais, a quem Licinius chama de ditadores, mas
chamados de pretores por outros escritores.
Esta forma de governo continuou até o tempo de P. Decius Mus, o
cônsul Romano; porque Festus, em seu décimo-quarto livro nos informa “que
os Albanos desfrutaram de prosperidade até o tempo do rei Tullus; no entanto,
com a destruição de Alba, os cônsules, da era de P. Decius Mus; mantiveram
uma conferência com os Latinos, na liderança de Ferentina, e o império foi
governado pelo conselho de ambas as nações”. A nação Latina foi
inteiramente subjugada pelos Romanos, em 336 a.C, o que colocou um fim ao
governo pelos pretores, depois de mais de trezentos anos. Os Latinos desta
época cessaram de ser uma nação, com respeito ao nome; portanto as três
formas de governo já mencionadas foram aquelas que os Latinos tiveram
durante aquele período que anjo menciona, quando diz: A besta que tu viste
ERA. Mas como as cinco cabeças, ou formas de governo, caíram antes da era
de João, fica evidente que as outras duas formas de governo que caíram, devem
estar entre aquelas dos Romanos; primeiro, porque, embora a nação Latina,
assim chamada, fosse destituída de toda autoridade pelos Romanos, ainda
assim, o poder Latino continuava a existir, porque os próprios conquistadores
eram Latinos; e, consequentemente, os Latinos, embora um povo conquistado,
continuavam a ter um governo LATINO.
171
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Em Segundo Lugar, o anjo expressamente diz a João que uma existe, ou
seja, a sexta cabeça, ou a forma Latina de governo, estava, então, em existência;
o que não poderia ser outra do que o poder imperial, a única forma
independente do governo Latino na era apostólica. Necessariamente se segue,
que as formas Romanas de governo, através das quais Latium foi governada,
devem ser as cabeças remanescentes da besta. Antes da subjugação dos Latinos
pelos Romanos, quatro das formas Românicas ou dracônicas de governo tinham
caído, o poder real, o ditatorial, o decenvirato, e o poder consular dos tribunos
militares, o último abolido por volta de 266, antes do início da era Cristã;
nenhum desses, entretanto, governou sobre o TODO da nação Latina. Mas
como os Latinos foram finalmente subjugados, por volta de 336 a.C., o governo
consular dos Romanos, que era, então, o poder supremo no estado, deve ser a
quarta cabeça da besta. Esta forma de governo continuou, com muito pouca
interrupção, até o surgimento do triunvirato, a quinta cabeça da besta, 43 a.C. A
ditadura de Sylla e Julius Cesar não poderia ser considerada uma nova cabeça
da besta, já que os Latinos já haviam sido governados por ela, nas pessoas de
Cluillus e Fufetius. A sexta cabeça da besta, ou aquela que existiu nos tempos
de João, era consequentemente, como já provamos, o poder imperial dos
Césares pagãos, ou a sétima forma de governo dracônico.
E a outra ainda não veio – Bispo Newton considera o ducado Romano,
sob o governo do tenente imperador oriental, o exarca de Ravena, a sétima
cabeça da besta. Mas esta não pode ser a forma de governo pretendida pela
sétima cabeça, porque uma cabeça da besta, como já mostramos, é uma forma
suprema, independente do governo Latino; consequentemente, o ducado
Romano não pode ser a sétima cabeça, já que ele era dependente do exarcado
de Ravena, e o exarcado não pode ser a cabeça, uma vez que em sujeição ao
Império Grego.
O capelão G. Faber tem apurado a verdade, exatamente no denominar o
patriarcado Carlovingiano, de a sétima cabeça da besta. E que esta foi uma
forma de governo supremo, independente, é evidente da história. Gibbon, ao
falar do patriarca, observa que “os decretos do senado e o povo sucessivamente
investiram Charles Msrtel e sua posteridade com as honras do patriarcado de
Roma. Os líderes de uma nação poderosa teriam desdenhado um título servil e
ofício subordinado; mas o reino dos imperadores Gregos estava suspenso, e na
desocupação do império, eles derivaram uma comissão mais gloriosa do papa
e da república. Os embaixadores Romanos presentearam esses patriarcas, com
as chaves do relicário de St. Peter, como uma garantia e símbolo de soberania,
e com uma bandeira santa, a de que era direito e dever deles desfraldarem-se
na defesa da Igreja e da cidade. Nos tempos de Charles Martel e de Pepino, a
172
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
interposição do reino Lombarde ocultou a liberdade, enquanto ela ameaçava a
segurança de Roma, e o patriarcado representou apenas o título, o serviço, e a
aliança desses distantes protetores. O poder e política de Carlosmagno
aniquilou um inimigo, e impôs um mestre. Em sua primeira visita à capital, ele
foi recebido com todas as honras que teria sido formalmente prestadas ao
exarca, o representante do imperador, e essas honras obtiveram algumas
novas decorações da alegria e gratidão do Papa Adriano I. No pórtico,
Adriano o esperava na liderança de seu clero; eles se abraçaram como amigos
e iguais; mas, ao se dirigirem ao altar, o rei, ou patrício, assumiu o lado
direito do papa. Nem o Franco contentou-se com essas vás e vazias
demonstrações de respeito. Nos vinte e seis anos que decorreram, entre a
conquista da Lombardia e sua coroação imperial, Roma, que havia sido liberta
pela espada, estava em sujeição, por iniciativa própria, à autoridade de
Carlosmagno. O povo jurou submissão a sua pessoa e família, em seu nome,
dinheiro foi cunhado, e a justiça foi administrada, e a eleição dos papas,
examinada e confirmada por sua autoridade. Com exceção de uma
reivindicação original e auto-inerente de soberania, não houve qualquer
prerrogativa restante de que o título de imperador fosse acrescentado ao
patrício de Roma”.
As sete cabeças da besta são, portanto, como se segue: O poder da
realeza, da ditadura, dos pretores, do consulado, do triunvirato, do império, e do
patriarcado.
E quando ela vier, ficará por um curto espaço de tempo - A sétima
forma de governo permaneceu apenas um curto período, que foi
verdadeiramente o caso; porque, de seu primeiro surgimento, como poder
independente, até sua completa extinção, passou-se apenas vinte e cinco anos,
um curto tempo em comparação com a duração de diversas formas precedentes
de governo; já que o governo real primitivo continuou, pelo menos, por
quatrocentos e vinte e oito anos, a ditadura, por volta de oitenta e oito, o poder
dos pretores, por mais de trezentos anos, o consulado, cerca de duzentos e
oitenta, e o poder imperial, por mais de quinhentos anos.
17:11 – E a besta que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos
sete, e vai à perdição.
E a besta, que era, e não é, é a oitava, e a sétima, e entra em perdição –
É o mesmo que dizer que o Reino Latino já existiu, mas não está mais
nominalmente em existência, e deverá imediatamente resultar da dissolução da
sétima forma de governo Latino, e este domínio é chamado de ogdoov, o
oitavo, porque ele sucede ao sétimo. Ainda assim, não se trata da oitava cabeça
173
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
da besta, porque a besta tem apenas sete cabeças; e para constituir uma nova
cabeça da besta, a forma de governo deve não apenas diferir na natureza, mas
também no nome.
Esta cabeça da besta é, portanto, ek twn epta, UMA das sete.
Consequentemente, a forma de governo representada por esta cabeça é a
restauração de uma das sete precedentes. A cabeça restaurada pode ser
nenhuma outra do que o estado de realeza dos Latinos, ou, em outras palavras,
o Reino Latino, (Æh latinh basileia), que se seguiu ao patriarcado, ou sétima
cabeça do governo Latino. Nenhuma outra forma de governo teria sucesso; mas
a besta em sua condição final ou anticristã será “lançada”, juntamente com os
falsos profetas que forjaram milagres, aos seus olhos, “no lago de fogo e
enxofre”.
Observa-se que o oitavo poder Latino é chamado, pelo anjo, de a besta,
e também de uma de suas cabeças. Esta aparente discordância surge do duplo
significado das cabeças, porque se tomarmos a besta, em que a mulher se senta,
como meramente uma representação do poder secular que apóia a Igreja Latina,
então, as sete cabeças representarão os sete eleitorados do Império Alemão;
mas, se por besta, entendemos o Império Latino geral, do primeiro ao último,
então, de acordo com a primeira interpretação do anjo sobre as cabeças, o que é
chamado de besta é, neste caso, apenas uma de suas cabeças. Veja versículo
18.
17:12 – E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não
receberam o reino, mas receberão poder como reis por uma hora,
juntamente com a besta.
E os dez chifres que viste são dez reis, que receberam nenhum reino, até
agora, mas receberão poder como reis, por uma hora com a besta – O
significado dos chifres já foi bem definido, quando falamos daqueles do dragão.
O significado, portanto, é como se segue: Embora o Império Latino esteja em
existência, agora, os dez chifres se referem aos dez Reinos Latinos, ainda na
futuridade, e, por conseguinte, eles receberam nenhum domínio, ATÉ AGORA;
porque aquela parte da dominação Latina em poder, no momento, é a sexta
cabeça, ou o governo imperial dos Césares pagãos. Mas os dez estados dos
Latinos receberam as monarquias mian wran, antes, (como pode ser
propriamente traduzido). Ou seja, ao mesmo tempo que a besta, ou daquela que
ascende do poço do abismo; assim sendo, o Império Latino aqui pretendido é o
único que estava na futuridade na era apostólica.
174
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
17:13 – Estes têm um mesmo intento, e entregarão o seu poder e
autoridade à besta.
Esses têm um mesmo propósito e darão poder e força à besta –
Portanto, os dez chifres devem constituir a principal força do Império Latino; o
que significa dizer que este império deve ser composto dos domínios dos dez
monarcas independentes uns dos outros, em todos os outros sentidos, exceto na
obediência implícita deles à Igreja Latina. A besta, neste versículo e no
precedente, é distinguida de seus chifres, como o TODO do Império Latino é
distinguido, na história, por seus poderes constituintes. Veja versículo 16.
17:14 – Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os
vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que
estão com ele, chamados, e eleitos, e fiéis.
Esses farão guerra contra o Cordeiro, e o Cordeiro os subjugará; porque
ele é o Senhor dos senhores, e Rei dos reis, e aqueles que estão com ele serão
os chamados, os escolhidos, e os fiéis – Os dez poderes da besta devem compor
o reino secular do anticristo, porque eles fazem guerra contra o Cordeiro, que é
Jesus Cristo. Isto é perfeitamente verdadeiro de todos os estados papistas,
porque se oporão, constantemente, ao progresso do puro Cristianismo, por
quanto tempo tiverem algum poder secular. Eles guerreiam contra o Cordeiro,
ao perseguirem seus seguidores; mas o Cordeiro deverá subjugá-los, porque ele
é o Senhor dos senhores, e Rei dos reis – todos os senhores derivam sua
autoridade dele, e nenhum rei pode reinar, sem ele; portanto, os dez reis Latinos
são ministros de Deus para executarem sua vingança sobre as nações idólatras.
Mas, quando essas monarquias anticristãs executarem o propósito Divino,
aqueles que estão com o Cordeiro – os chamados, os escolhidos, e os fiéis,
aqueles que mantêm A VERDADE por amor a ela, prevalecerão contra todos
os seus adversários, porque a batalha deles foi lutada pelo Cordeiro, que é o seu
Deus e Libertador.
Veja o capítulo 19:10,20 “E vi a besta, e os reis da terra, e os seus
exércitos reunidos, para fazerem guerra àquele que estava assentado sobre o
cavalo, e ao seu exército. E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que
diante dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da
besta, e adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de
fogo que arde com enxofre”.
175
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
17:15 – E disse-me: As águas que viste, onde se assenta a prostituta,
são povos, e multidões, e nações, e línguas.
E ele me disse: As águas que tu viste, onde a prostituta se senta, são as
pessoas, e multidões, e nações, e Línguas- “Tantas palavras”, Bispo Newton
observa, “no plural, adequadamente denotam a grande extensão de seu poder e
jurisdição. Ela própria se glorifica no título de Igreja Católica, e exulta no
número de seus devotos, como uma prova certa da verdadeira religião. A
primeira nota do Cardeal Bellarmino sobre a Igreja verdadeira é o próprio
nome da Igreja Católica [Igreja Universal]; e sua quarta nota trata da
amplitude, ou multidão, e variedade de crentes; porque a Igreja Católica
verdadeiramente, diz ele, não deve apenas compreender todas as era, mas
igualmente todos os lugares, todas as nações e todos os tipos de homens”.
17:16 – E os dez chifres que viste na besta são os que odiarão a
prostituta, e a colocarão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a
queimarão no fogo.
E os dez chifres que tu viste na besta, esses odiarão a prostituta, e a
farão desolada e nua, e comerão sua carne, e a queimarão no fogo – Aqui está a
chave do mistério que nos induz à correta interpretação dos chifres da besta. É
dito que os DEZ chifres odiarão a prostituta; o que evidentemente significa,
quando juntamente com o que se segue, que os dez reinos, em benefício da
Igreja Latina, finalmente desprezarão suas doutrinas, serão reformados do
papismo, auxiliarão no despojá-la de todas as influências e no exibirem suas
tolices, e no final, a destinarão à completa destruição. Disto, segue-se que
nenhum poder Católico Romano que não existiu, tão recentemente quanto a
Reforma, pode ser contado em meio aos chifres da besta; os chifres devem,
portanto, ser encontrados entre os grandes estados da Europa, no início da
Reforma. Esses eram exatamente dez: França, Espanha, Inglaterra, Escócia, O
Império, Suécia, Dinamarca, Polônia, Hungria, e Portugal.
Nestes estavam compreendidos a maioria dos estados menores, não
denominados monarquias, e que, do primeiro surgimento deles, até o período
da Reforma, têm sido subjugados por um ou mais dos dez grandes poderes
Católicos Romanos já mencionados. Consequentemente, esses dez constituíram
o poder e força da besta; e cada estado menor é considerado uma parte daquela
monarquia, sob a autoridade do qual ela foi finalmente submetida, previamente
à Reforma.
176
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Mas pode-se perguntar: Como o império, que foi a cabeça revivida da
besta, teria sido, ao mesmo tempo, um de seus chifres? A resposta é esta: Os
chifres de um animal, na linguagem profética, representam os poderes dos quais
aquele império ou reino, simbolizado pelo animal, é composto. Assim, o anjo,
em sua interpretação da visão de Daniel, concernente ao carneiro e ao bode,
expressamente nos informa que “o carneiro com dois chifres são os reis da
Média e Pérsia”. Um dos chifres do carneiro, portanto, representava o reino da
Media, e o outro, o reino da Pérsia; e a união deles em um animal significava o
reino unido da Média e Pérsia, a saber, o Império Medo-Persa. Da mesma
forma, a besta com dez chifres denota que o império representado pela besta é
composto de dez poderes distintos, e os dez chifres, unidos em uma besta,
muito apropriadamente mostra que as monarquias simbolizadas por esses
chifres estão unidas para formarem um império; porque já mostramos, nas
notas do capítulo 13:1, que a besta é o símbolo de um império.
Portanto, como os chifres de um animal, de acordo com a explanação
do anjo (e não temos uma autoridade mais elevada) representam todos os
poderes da qual aquela denominação simbolizada pelo animal é composta, o
Império Romano da Alemanha, como uma daquelas monarquias que deu seu
poder e força ao Império Latino, deve consequentemente ter sido O CHIFRE da
besta. Mas o Império Alemão não era apenas um poder Latino, ele era, ao
mesmo tempo, reconhecido por toda a Europa, por ter precedência sobre todos
os outros. Portanto, como não é possível expressar essas duas circunstâncias,
através de um símbolo, necessariamente se segue, da natureza da linguagem
simbólica, que o que tem sido denominado de santo Império Romano deve ter
uma dupla representação. Consequentemente, o império, como um dos poderes
da monarquia Latina, era um chifre da besta, e no ter precedência sobre todos
os outros, era sua cabeça revivida. Veja uma explanação similar da cauda do
dragão, nas notas sobre o capítulo 12:4.
17:17 – Porque Deus tem posto em seus corações, que cumpram o
seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até
que se cumpram as palavras de Deus.
Porque Deus colocou nos corações deles cumprirem Sua vontade, e
concordarem, e darem seu reino à besta, até que as palavras de Deus sejam
cumpridas – Que ninguém imagine que esses dez Reinos Latinos, porque eles
apóiam uma adoração idólatra, têm sido erguidos, meramente pelo poder do
homem ou oportunidades de guerra. Nenhum reino ou estado pode existir sem a
vontade de Deus; portanto, que os habitantes do mundo tremam, quando eles
virem uma monarquia iníqua surgir para o poder, e que eles considerem que ela
177
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
surgiu, para que o Senhor execute sua vingança junto às idolatrias e
devassidões dos tempos. É dito dos reis em comunhão com a Igreja de Roma,
que Deus tem colocado em seus corações cumprirem a vontade Dele. Como
esta vontade Divina será cumprida? Da maneira mais terrível e aflitiva! No
fazer com que os dez reis Latinos unam seus domínios, em um império
poderoso, em defesa da Igreja Latina. Aqui está a formidável dispensação de
Jeová; mas é tal, que as nações têm mais justamente merecido, porque, quando
elas tinham a verdade, não viveram de acordo com suas mais santas
requisições, mas amaram a escuridão, preferivelmente à luz, porque seus feitos
foram pecaminosos. Portanto, “o Senhor enviou a elas forte ilusão, que eles
deveriam acreditar na mentira, para que aqueles que não acreditassem na
verdade, mas tivessem prazer na iniqüidade, fossem condenados”. Mas este
estado deplorável do mundo não é perpétuo, ele pode apenas continuar até que
cada palavra de Deus seja cumprida junto aos seus inimigos; e, quando este
tempo chegar (o que será com o segundo advento de Cristo), então, o Filho de
Deus aniquilará o iníquo “com o espírito de sua boca, e o consumirá com o
brilho de SUA VINDA”.
17:18 – E a mulher que viste é a grande cidade que reina sobre os
reis da terra.
E a mulher que tu viste é aquela grande cidade, que reina sobre os reis
da terra – Já foi mostrado que a mulher, sentada sobre a besta de sete cabeças, é
uma representação da Igreja Latina; aqui temos a maior confirmação de que é
desta forma, porque a mulher é chamada de cidade, um símbolo muito mais
claro de Igreja, e como a palavra é usada inequivocamente neste sentido, em
tantas partes das Escrituras, não podemos nos enganar quanto ao seu
significado. Veja capítulo 11:2 “E deixa o átrio que está fora do templo, e não
o meças; porque foi dado às nações, e pisarão a cidade santa por quarenta e
dois meses.”; 21:10 “E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e
mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu”;
22:19 “E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus
tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão
escritas neste livro.”; e também Salmos 46:4 “Há um rio cujas correntes
alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo”; 87:3
“Coisas gloriosas se dizem de ti, ó cidade de Deus. (Selá.)”; Hebreus 12:22
“Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial,
e aos muito s milhares de anjos”, etc.
A mulher, portanto, deve ser a Igreja Latina; e como o apóstolo a viu
sentada sobre a besta, isto deve significar (h ecousa basileian) que ela tem um
178
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
REINO sobre os reis da terra, ou seja, sobre os reis do mundo Latino, porque
este significado de terra foi mostrado antes em numerosos exemplos. Este
REINO que a mulher tem sobre os reis do mundo Latino, ou Império Latino
secular, ou, em outras palavras, O REINO da Igreja Latina, trata-se do Reino
Latino ou hierarquia Católica Romana. Veja capítulo 13:18. A mulher é
também chamada de a GRANDE cidade, para denotar a grandeza de sua
jurisdição; porque ela tem compreendido, dentro de seus muros, os súditos das
denominações mais poderosas da França, Espanha, Inglaterra, Escócia, O
Império, Suécia, Dinamarca, Polônia, Hungria, e Portugal. Que extensa cidade
era esta! Certamente tal a justificar a denominação profética de a GRANDE
cidade.
TENDO agora prosseguido, através de toda a interpretação do anjo, da
visão de João de uma prostituta sentada sobre a besta de sete cabeças e dez
chifres, será essencialmente necessário examinar um pouco mais atentamente, o
oitavo versículo deste capítulo. Já foi mostrado que as frases, era, não é,
surgirá do poço do abismo, e ainda é, referem-se ao Reino Latino que existiu
antes da construção de Roma; ao Império Romano, nos tempos de João; e ao
Império Latino que estava na futuridade na era apostólica. Mas, como as
palavras, era, não é, etc., são faladas da besta, na qual o apóstolo viu a mulher,
ou Igreja Latina, sentada; como se pode dizer que esta besta existiu antes da
data do Apocalipse, quando a mulher que ela carregava não estava em
existência, até muito tempo depois deste período? E qual a ligação entre o
Império Latino da idade média e aquele que derivou seu nome de Latinus, o rei
dos Aborígines, e foi subjugado pelos primitivos Romanos; ou mesmo aquele
que existiu nos tempos do apóstolo? A resposta é como se segue: João viu a
besta, em que a mulher se sentou, com todas as sete cabeças e dez chifres.
Consequentemente, como o anjo expressamente diz que cinco dessas sete
cabeças já haviam caído, quando da visão, então, o apóstolo deve ter visto
aquela parte do Império Latino, representado pela besta de sete cabeças que já
existira, sob o emblema das cinco cabeças. Portanto, a mulher sentou-se sobre a
besta que ERA. Da interpretação do anjo, fica evidente, que as sete cabeças
caíram, antes que a besta, em que a mulher se sentou, surgisse; e, ainda assim, a
mulher é representada, sentando-se sobre a besta de sete cabeças, para denotar,
como observamos anteriormente, que ela é o Reino Latino, em seu último
estado, ou sob uma de suas cabeças restaurada: ou o reino secular do anticristo.
Também se diz que a besta não tem qualquer existência, quando da visão, por
conseguinte, a monarquia dos Latinos, e não aquela dos Romanos, é pretendida
aqui; porque a última aconteceu quando da visão.
179
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A besta que João viu não havia ascendido do poço do abismo, em seu
tempo; ou seja, todas as sete cabeças e os dez chifres estavam na futuridade,
porque todas essas cabeças e chifres surgiram do abismo, ao mesmo tempo que
a besta. Como esta aparente contradição é reconciliada? Da maneira mais clara
e satisfatória, através da dupla interpretação do anjo, a respeito das cabeças;
porque se as sete cabeças forem tomadas no sentido de sete montanhas (cabeça,
nas Escrituras, é um símbolo de precedência, e de supremacia), então, a besta
com todas as suas cabeças e chifres, no tempo do apóstolo, estavam juntas na
futuridade, porque as sete cabeças são os sete eleitorados do Império Alemão, e
os dez chifres, as dez monarquias, no interesse da Igreja Latina.
Finalmente, é dito que a besta existe no momento da visão; referindose, portanto, ao Império Romano, que governava o mundo; por conseguinte, a
frase, e ainda existe, é a prova de que, como a besta é o reino Latino, e se diz
que ela existe nos tempos do apóstolo, o império dos Césares, embora
geralmente conhecido pelo nome de Romano, é, em um sentido muito
apropriado, o reino Latino, já que o Latim era a Língua que prevalecia nele.
Assim sendo, a besta de sete cabeças e dez chifres é, ao mesmo tempo, a
representação do antigo poder Latino, do Império Romano que o sucedeu, e do
Império Latino que apóia a Igreja Latina. Aqui está, então, a conexão dos
primitivos poderes Latinos e Romanos com aquele sobre a qual a mulher se
senta. Ela se senta sobre a besta que era e não é, porque três de suas cabeças
representam as três formas de governo que os Latinos primitivos tiveram, antes
que fossem subjugados pelos Romanos: o poder real, a ditadura, e o poder dos
pretores.
Ela se senta sobre a besta que SURGIRÁ do poço do abismo, porque
todas as sete cabeças, tomadas no mesmo sentido de montanhas, estavam na
futuridade, na era apostólica. Ela se senta sobre a besta que ainda existe, porque
quatro de suas cabeças representam as quatro formas de governo de Roma ou
do Império Latino, agora em existência; a saber, o consulado, o triunvirato, o
poder imperial, e o patriarcado. Assim, fica evidente que a besta, na mais ampla
aceitação deste termo, é um símbolo de poder Latino em geral, desde o início
em Latinus até o fim; suas sete cabeças denotam sete reis ou formas supremas
do governo Latino, durante este período, rei ou reino, como já observamos,
usado como um termo geral nos escritos proféticos, para qualquer tipo de
governador ou governo supremo, e não importa, através de que nome específico
tal deverá ser designado entre os homens. Assim, o poder Latino, do tempo de
Latinus até a morte de Numitor era a besta, sob o domínio de sua primeira
cabeça; da morte de Numitor à destruição de Alba, a besta, sob o domínio da
segunda cabeça; da destruição de Alba, até a subjugação final dos Latinos pelos
180
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Romanos, a besta, sob o domínio de sua terceira cabeça. E como as quatro
formas Romanas de governo, que foram subseqüentes à conquista final dos
Latinos, foram também dominações Latinas, o poder Latino, sob essas formas
de governo, era a besta, sob o domínio de sua quarta, quinta, sexta e sétima,
cabeças.
A besta do poço do abismo, que se seguiu à queda de todas as cabeças
da besta do mar, ou do Império geral Latino, é, de acordo com a interpretação
do anjo, ogdoov, (basileuv), o OITAVO rei; ou seja, um oitavo tipo de poder
Latino, ou, em outras palavras, uma forma suprema de governo Latino,
essencialmente diferindo das precedentes; ainda assim, como nominalmente é a
mesma que uma das sete precedentes, não é considerada a oitava cabeça da
besta. A primeira besta do capítulo 13:1 “E eu me pus sobre a areia do mar, e
vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus
chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia”, é uma
descrição da oitava e última condição do Império Latino Geral, e quando se diz
que a besta surge do mar, é porque as cabeças são tomadas em duplo sentido, o
mar é um termo geral que expressa a origem de todo grande império que surge
pela espada, mas quando (como acontece no versículo 11) uma das cabeças da
besta do mar (aquele poder secular que ainda existe, e tem apoiado a Igreja
Latina, por mais de mil anos) é peculiarmente denominada de A Besta, o
Espírito Santo, ao falar deste Império Latino secular, Declara, especialmente,
que ela vem DO POÇO DO ABISMO.
John EDWARD CLARKE.
181
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XVIII
O anjo que iluminou a terra proclama a queda de Babilônia, e o
porquê disto, 1,3. Os seguidores de Deus são exortados a saírem dela, para que
escapem da punição que se aproxima, 4,8. Os reis da terra lamentam o destino
dela, 9, 10. Os negociantes também lamentam, 11. Os artigos, os quais ela
negociava, enumerados, 12-16. Também os capitães de navio, marinheiros, etc..
a lamentam, 17-19. Todo o céu regozija-se com a queda dela, e sua desolação
final é prenunciada, 20-24.
NOTAS SOBRE O CAPÍTULO XVIII
18:1 – E DEPOIS destas coisas vi descer do céu outro anjo, que
tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória.
A terra iluminou-se com sua glória – Isto pode se referir a alguns
mensageiros extraordinários do Evangelho eterno, que, através de suas
pregações e escritos, difundiriam a luz da verdade e a religião verdadeira sobre
a terra.
18:2 – E clamou fortemente com grande voz, dizendo: Caiu, caiu a
grande Babilônia, e se tornou morada de demônios, e covil de todo espírito
imundo, e esconderijo de toda ave imunda e odiável.
Babilônia, a grande caiu, ela caiu – Esta é uma citação de Isaías 21:9:
E ele diz que Babilônia caiu, é caída: e todas as imagens de esculturas de seus
deuses foram quebradas. Isto é aplicado por alguns a Roma pagã; por outros, a
Roma papal; e, por outros, a Jerusalém.
E se tornou a fortificação de todo espírito imundo – Veja as passagens
idênticas na margem. As figuras aqui indicam a mais completa destruição. Uma
cidade inteiramente saqueada e destruída nunca será reconstruída.
18:3 – Porque todas as nações beberam do vinho da ira da sua
prostituição, e os reis da terra se prostituíram com ela; e os mercadores da
terra se enriqueceram com a abundância de suas delícias.
O vinho da ira – A punição devida por suas transgressões, porque eles
são parceiros dela em seus pecados. Veja a nota sobre o capítulo 14:8.
182
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
18:4 – E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para
que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas
suas pragas.
Saia dela, meu povo – Essas palavras parecem ser tomadas de Isaías
52:11;” Retirai-vos, retirai-vos, saí daí, não toqueis coisa imunda; saí do meio
dela, purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor”. Jeremias 1:8 “Não
temas diante deles; porque estou contigo para te livrar, diz o Senhor”; 51:6,45
“Fugi do meio de Babilônia, e livrai cada um a sua alma, e não vos destruais na
sua maldade; porque este é o tempo da vingança do SENHOR; que lhe dará a
sua recompensa. (...) Saí do meio dela, ó povo meu, e livrai cada um a sua alma
do ardor da ira do Senhor”. O poeta Mantuanus expressa este pensamento bem:
“Você que deseja viver uma vida divina, afaste-se; porque, embora todas as
coisas sejam lícitas em Roma, ainda assim para serem divinas são ilícitas”.
18:5 – Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus
se lembrou das iniqüidades dela.
Seus pecados têm alcançado os céus – Eles se tornaram tão volumosos e
enormes que a longanimidade de Deus deve dar lugar à sua justiça.
18:6 – Tornai-lhe a dar como ela vos tem dado, e retribuí-lhe em
dobro conforme as suas obras; no cálice em que vos deu de beber, dai-lhe a
ela em dobro.
Ele a recompensará, assim como o tem recompensado - Essas palavras
são uma declaração profética do que acontecerá: Deus lidará com ela, da
mesma forma que ela lida com outros.
18:7 – Quanto ela se glorificou, e em delícias esteve, foi-lhe outro
tanto de tormento e pranto; porque diz em seu coração: Estou assentada
como rainha, e não sou viúva, e não verei o pranto.
Quanto ela tem se exaltado – Através de cada ato de transgressão e
pecaminoso cuidado com o corpo, ela preparou para si mesma uma punição
adequada e proporcional.
18:8 – Portanto, num dia virão as suas pragas, a morte, e o pranto,
e a fome; e será queimada no fogo; porque é forte o Senhor Deus que a
julga.
183
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Portanto, suas pragas virão – Morte, pela espada de seus adversários;
murmúrio por conta do massacre, e fome, os frutos do campo, sendo destruídos
pelos grupos hostis.
Completamente queimada pelo fogo – De que cidade se fala aqui? A
Roma pagã nunca foi tratada assim; Alarico e Totilas apenas queimaram
algumas partes dela. A Roma papal também não foi tratada da mesma forma;
mas isto é verdade de Jerusalém, e ainda assim, Jerusalém não se acredita ser
pretendida aqui.
18:9 – E os reis da terra, que se prostituíram com ela, e viveram em
delícias, a chorarão, e sobre ela prantearão, quando virem a fumaça do seu
incêndio;
Os reis da terra – Aqueles que copiaram suas superstições e adotaram
suas idolatrias.
18:10 – Estando de longe pelo temor do seu tormento, dizendo: Ai!
ai daquela grande Babilônia, aquela forte cidade! pois numa hora veio o
seu juízo.
Permanecendo ao longe – Observando suas desolações com surpresa e
espanto, completamente incapaz de oferecer a ela alguma assistência.
18:11 – E sobre ela choram e lamentam os mercadores da terra;
porque ninguém mais compra as suas mercadorias:
Os mercadores da terra – Esses são representados como murmurando
sobre ela, já que o comércio entre ambos terminara.
Bispo Bale, que aplica todas essas coisas à Igreja de Roma, assim
parafraseia as principais passagens: “Os mais poderosos reis e potentados da terra, não tiveram seus olhos
de amor e temor em direção a Deus anteriormente, comprometeram-se com
esta idolatria da mais vil sujidade, corromperam-se com as mais estranhas e
não recomendáveis adorações, e juntaram-se a outros para observarem suas
leis e costumes. E nos exemplos, doutrinas, conselhos, e persuasões de seus
santos fornicadores, eles quebraram as alianças de paz; guerrearam,
oprimiram, saquearam, capturaram, mataram tiranicamente inocentes; sim,
184
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
por vãs causas tolas, e mais títulos fúteis, como se não houvesse nem céu, nem
inferno, nem Deus, nem contas a prestar”.
“E seus negociantes vestidos de mitra, seus soldados de cabeças
raspadas, seus libertinos, seus vendedores de almas, e mercadores, que se
tornaram muito ricos, com a venda de seus óleos, pomadas, sais, água, pães,
ordenações, consagrações, eucaristias, cinzas, palmas, velas, essências
francesas, rosários, cruzes, candelabros, vestes sacerdotais, sinos, órgãos,
imagens, relíquias, e outras bugigangas”.
“E trouxeram junto a eles, palácios e casas principescas, ricos pastores
e parques, pradarias, pastagens, rios e açudes, vilas e municípios, cidades e
todas as províncias, com o diabo e tudo o mais; além das viúvas de outros
homens, filhas que se tornaram servas, e crianças, que eles abominavelmente
corromperam. Quantas vantagens, eles obtiveram, com a venda de bispados,
prelaturas, promoções, benefícios, indulgências, perdões, peregrinações,
confissões, e purgatório, além dos aluguéis anuais das igrejas, catedrais,
abadias, colégios, conventos, para tais e tais. – Eles deveriam ficar
especialmente descontentes com o fato de terem cometido adultério de espírito,
com as muitas adorações externas, das hóstias, óleos, crucifixos, relíquias,
títulos de nobreza, imagens, caveiras, ossos, panos velhos, sapatos, botas,
esporas, chapéus, tiaras, etc.”.
“Aqueles que têm vivido maliciosamente com ela (ver.9) no seguir suas
observações inúteis, credos, orações, e missas, em consagrações, batismos, em
procissões, cruzes, e relicários, com cartazes, bandeiras, e tochas, com tais
outras ostentações tolas para crianças.
“Ai de mim, ai de mim, que grande cidade (versículo 10) é esta bonita
Babilônia, esta abençoada mãe santa a Igreja, que, algumas vezes, ofereceu
tantos perdões papais, tantas bênçãos bispais, tantos indultos, tantas ordens
religiosas, tantas águas bentas, e o evangelho de João, com as cinco chagas e
a extensão de nosso Senhor para esmagar, está agora decaída para sempre! Ai
de mim, ai de mim, quem rogará por nós agora? Quem celebrará serviços
fúnebres? Que nos despojará de nossos pecados? Quem nos dará cinzas e
ramos? Quem nos abençoará com a espada, e nos chamuscará no purgatório,
quando morrermos? Se nos faltarem essas coisas, será como nos privarem do
céu”.
“Essas sãos as desesperadas lamentações do pecaminoso”.
185
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
18:12 – Mercadorias de ouro, e de prata, e de pedras preciosas, e de
pérolas, e de linho fino, e de púrpura, e de seda, e de escarlata; e toda a
madeira odorífera, e todo o vaso de marfim, e todo o vaso de madeira
preciosíssima, de bronze e de ferro, e de mármore;
As mercadorias de ouro e prata, etc. – O mesmo autor, Bispo Bale, que
foi uma vez padre da Igreja Católica Romana, prossegue em aplicar todas as
coisas a esta Igreja; e quer o texto tenha este significado ou não, eles nos
mostram um pouco dos costumes religiosos de seu tempo, e o verdadeiro
escárnio a esta intolerante e supersticiosa Igreja.
[suprimido texto do Bispo Bale, mencionando toda a ostentação da
Igreja.]
18:13 – E canela, e perfume, e mirra, e incenso, e vinho, e azeite, e
flor de farinha, e trigo, e gado, e ovelhas; e cavalos, e carros, e corpos e
almas de homens.
E canela – “A canela simboliza todos os tipo de espécies caras, com
que eles enterravam seus bispos e fundadores, a fim de que eles não
cheirassem mal, quando transportados novamente, para se tornarem santos,”.
Madeira odorífica – O Thyne ou Thyn é uma árvore cujos ramos, folhas,
talos, e frutos assemelham-se ao cipreste. Ele é mencionado por Homero, na
Odisséia. Quantos dos diferentes artigos mencionados nos versículos 12 e 13
eram procurados, em meio aos antigos, e seu alto valor, todo estudioso sabe.
Escravos – swmatown? Os corpos dos homens; provavelmente
distinguidos aqui de yucav, as almas dos homens, para expressar escravos e
homens livres.
18:14 – E o fruto do desejo da tua alma foi-se de ti; e todas as coisas
gostosas e excelentes se foram de ti, e não mais as acharás.
E os frutos de tua alma, tu entregaste à luxúria depois - kai h opwra thv
epiqumiav thv yuchv sou. Como opwra significa outono, algum e todos os tipos
de frutos do outono podem ser simbolizados pela palavra no parágrafo acima.
Iguaria fina e vistosa – ta lipara? Iguarias para mesa. La lampra, que é
vestuário esplêndido e caro.
186
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
18:15 – Os mercadores destas coisas, que com elas se enriqueceram,
estarão de longe, pelo temor do seu tormento, chorando e lamentando,
Permanecerão longe – Veja versículo 10.
18:16 – E dizendo: Ai, ai daquela grande cidade! que estava vestida
de linho fino, de púrpura, de escarlata; e adornada com ouro e pedras
preciosas e pérolas! porque numa hora foram assoladas tantas riquezas.
Vestido com fino linho e púrpura, etc. – O verbo periballesqai, que
traduzimos como vestido, significa frequentemente abundar, enriquecer,
carregar-se de, e é usado pelos melhores escritores gregos; veja muitos
exemplos em Kypke. Esses artigos não deverão ser considerados aqui como
ornamentos pessoais, mas como artigos de intercâmbio de mercadorias ou
comério, que esta cidade negociava.
18:17 – E todo o piloto, e todo o que navega em naus, e todo o
marinheiro, e todos os que negociam no mar se puseram de longe;
Todo capitão de navio – Capitães das embarcações; alguns dizem que
pilotos é o significado aqui, e isto mais igualmente traduz a palavra original
kubernhthv. Esta descrição parece tomada de Ezequiel 27:26-28 “Os teus
remadores te conduziram sobre grandes águas; o vento oriental te quebrou no
meio dos mares. As tuas riquezas, as tuas feiras, e tuas mercadorias, os teus
marinheiros, os teus pilotos, os que consertavam as tuas fendas, os que faziam
os teus negócios, e todos os teus soldados, que estão em ti, juntamente com
toda a tua companhia, que está no meio de ti, cairão no meio dos mares no dia
da tua queda, Ao estrondo da gritaria dos teus pilotos tremerão os
arrabaldes”.
E toda a frota em navios - kai pav epi twn ploiwn o omilov? A multidão
ou passageiros a bordo. Mas a melhores versões têm kai pav o epi topon plewn,
aqueles que velejam, de lugar para lugar, ou tal que param em lugares
específicos na costa, sem executarem toda a viagem. Isto marca suficientemente
o comércio na costa do mar Mediterrâneo. Alguns deveriam desembarcar
(vindo de Roma), na ilha da Sicília, outros em diferentes portos da Grécia;
alguns em Corinto; outros, em Creta, ou nas várias ilhas do Mar Egeu. Alguns
em Rhodes, Pamfilia, etc...; e como naqueles tempos a bússola era
desconhecida, toda viagem era executada ao longo da costa, mantendo sempre,
se possível, a terra ao alcance da vista.
187
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
18:18 – E, vendo a fumaça do seu incêndio, clamaram, dizendo:
Que cidade é semelhante a esta grande cidade?
Que cidade é como esta grande cidade – Em magnitude, poder, e
luxúria.
18:19 – E lançaram pó sobre as suas cabeças, e clamaram,
chorando, e lamentando, e dizendo: Ai, ai daquela grande cidade! na qual
todos os que tinham naus no mar se enriqueceram em razão da sua
opulência; porque numa hora foi assolada.
Eles jogaram poeira em suas cabeças – Eles mostraram todo sinal de
sincera aflição. A lamentação sobre esta grande cidade arruinada, versículo
9:19 “Porque o poder dos cavalos está na sua boca e nas suas caudas.
Porquanto as suas caudas são semelhantes a serpentes, e têm cabeças, e com
elas danificam”, é muito forte e bem traçada. Aqui não existe tristeza
dissimulada; tudo é real para os murmuradores, e aflitivo para os observadores.
18:20 – Alegra-te sobre ela, ó céu, e vós, santos apóstolos e profetas;
porque já Deus julgou a vossa causa quanto a ela.
Regozija-te sobre ela, tu céu – Isto é grande e sublime; a queda desta
cidade má causa aflição aos homens maus. Mas como esta cidade foi uma
perseguidora do santo, e um inimigo das palavras de Deus, os anjos, apóstolos,
e profetas são chamados se para regozijarem sobre sua queda.
18:21 – E um forte anjo levantou uma pedra como uma grande mó,
e lançou-a no mar, dizendo: Com igual ímpeto será lançada Babilônia,
aquela grande cidade, e não será jamais achada.
Esta grande Babilônia será atirada com força ao chão – Esta ação é
forçosamente expressada pelas palavras originais. A pedra de moinho, na
queda, não tem apenas uma força acelerada, devido à lei da gravidade, mas esta
força será grandemente aumentada pelo poder do anjo destruidor.
Não mais será encontrada, afinal – Em seu governo, importância, ou
influência. Isto é verdade da antiga Babilônia; embora não estejamos certos do
local onde ela se encontra. É também verdade de Jerusalém; seu governo,
importância e influência se foram. Não é verdade da Roma pagã; nem, até
agora, da Roma papal: a última existe ainda, e a primeira está mais intimamente
misturada com ela; porque em seus serviços religiosos, a Roma papal tem
188
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
mantido a linguagem dela, e muitos dos seus templos pagãos, e tem dedicado
aos santos verdadeiros ou reputados, e incorporado muitos de suas superstições
e absurdos no serviço professadamente cristão. É verdade também que muitos
ídolos estão agora restaurados sob os nomes de santos cristãos!
18:22 – E em ti não se ouvirá mais a voz de harpistas, e de músicos,
e de flautistas, e de trombeteiros, e nenhum artífice de arte alguma se
achará mais em ti; e ruído de mó em ti não se ouvirá mais;
A voz dos harpeiros, etc. – Isto parece não apenas indicar apenas uma
total destruição da influência, etc., mas também da existência. É como se esta
cidade fosse tragada por um terremoto, ou queimada pelo fogo do céu.
18:23 – E luz de candeia não mais luzirá em ti, e voz de esposo e de
esposa não mais em ti se ouvirá; porque os teus mercadores eram os
grandes da terra; porque todas as nações foram enganadas pelas tuas
feitiçarias.
Por tuas feitiçarias – Artimanhas políticas, embustes, milagres
simulados, e artifícios enganosos de todo tipo. Isto pode ser falado das muitas
cidades grandes do mundo, que ainda continuam a florescer!
18:24 – E nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos, e de
todos os que foram mortos na terra.
Nela foi encontrado o sangue dos profetas, etc.. – Ela foi a perseguidora
e assassina dos profetas e dos homens justos.
E de todos que foram assassinados na terra – Isto se refere aos seus
conselhos e influência, excitando as outras nações e povos a perseguirem e
destruírem todos os verdadeiros seguidores de Deus. Não existe cidade para a
qual essas coisas são ainda aplicáveis, portanto, podemos presumir que a
profecia permanece ainda a ser cumprida.
[suprimido texto Bispo Bale, a respeito da Igreja Católica Romana]
Esta é uma linguagem muito clara, e, assim, sobre todos os aspectos,
um sistema monstruoso de superstição e idolatria foi atacado pelos nossos
Reformadores, e com essas armas, sem lustre, dirigidas pelo Espírito do Deus
vivo, o papado foi tirado de seu trono, do tribunal, das universidades, e das
igrejas deste reino protegido. E através de uma aplicação apropriada das
189
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Escrituras, e pela difusão universal da palavra de Deus, ele será levado da face
do universo. E quando as astúcias dos homens estiverem separadas da Igreja, e
ela se torna verdadeiramente regenerada (e disto, ela é altamente capaz, uma
vez que, em meios aos seus monstruosos erros e absurdos, ela contém todas as
verdades essenciais de Deus), ela se tornará um louvor e glória na terra. Os
Protestantes não desejam sua destruição, mas sua reforma.
Alguns, até pelo zelo com a verdade, gostaria de fazer todo o edifício
em pedaços; mas este não é o método de Deus: ele destrói o que é diabólico, e
poupa o que é bom. É da reforma, e não da aniquilação, que esta Igreja
necessita.
190
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XIX
Todos os habitantes do céu dão glória a Deus, porque ele julgou a
grande prostituta, e vingou o sangue de seus santos, 1-6. O casamento do
Cordeiro e sua noiva, 7-9. João oferece-se para adorar o anjo, mas é impedido,
10 - O céu é aberto, e Jesus, a Palavra de Deus, aparece sobre um cavalo
branco; ele e seus exércitos são descritos, 11-16. Um anjo no sol convida todas
as aves do céu, para a ceia do grande Deus, 17,18. A besta, o falso profeta, e os
reis da terra, se reúnem para declarar guerra com aquele que se senta sobre o
cavalo branco; mas eles estão todos derrotados, e completamente destruídos.
19-21.
Notas Sobre o Capítulo XIX
19:1 – E, DEPOIS destas coisas ouvi no céu como que uma grande
voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e
honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus;
Eu ouvi uma grande voz, de muitas pessoas no céu – Com a cidade
idólatra destruída, e o sangue dos santos mártires vingado, existe uma alegria
universal em meio aos remidos do Senhor, que se inicia com a Aleluia, louvor a
Jeová; que a Septuaginta, e o João delas, colocam nas letras Gregas assim:
allhlouia, Aleluia, uma forma de louvor que os pagãos parecem ter emprestado
dos judeus, como está evidente em seus peãs, ou hinos em honra de Apolo, que
começa e termina com eleleu ih, eleleu ie, uma mera corrupção das palavras
Hebraicas. É merecedor de nota que os índios norte americanos têm a mesma
palavra em sua adoração religiosa, e usam-na no mesmo sentido. “Em seus
lugares de adoração, ou quadra amada, eles dançam, algumas vezes, por toda
a noite, sempre em uma postura reverente, e frequentemente cantando
halleluyah Ye ho wah; louvor ye Yah, Ye ho vah”: provavelmente, a pronúncia
verdadeira do Hebraico hwhy, e que chamamos de Jeová. Veja a História dos
índios Americanos, de Adair.
Salvação – Ele é o único autor do livramento do pecado; e esta glória
pertence a ele, a honra, atribuída a ele, e seu poder é o único, através do qual
isto é efetuado.
191
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
19:2 – Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a
grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituição, e
das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.
Porque verdadeiros e justos – Seus julgamentos, em apoio aos seus
seguidores, e a punição aos seus inimigos, são verdadeiros – tudo de acordo
com suas predições; e retos, por serem concordantes com a justiça e a equidade
infinita.
19:3 – E outra vez disseram: Aleluia! E a fumaça dela sobe para
todo o sempre.
A fumaça dela subiu – É a evidência e continuará a ser, dos julgamentos
executados por Deus, nesta grande prostituta ou cidade idólatra; que não será
mais restaurada.
19:5 – E saiu uma voz do trono, que dizia: Louvai o nosso Deus,
vós, todos os seus servos, e vós que o temeis, assim pequenos como grandes.
Os vinte e quatro anciãos – A Igreja verdadeira do Senhor Jesus,
convertida em meio aos judeus. Veja capítulo 4:10 “Os vinte e quatro anciãos
prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que
vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono”.; 5:14 “E
os quatro animais diziam: Amém. E os vinte e quatro anciãos prostraram-se, e
adoraram ao que vive para todo o sempre”.
Versículo 5 – Louvem nosso Deus, etc – Que todos, quer remidos,
dentre os judeus, ou gentios, dêem glória a Deus.
19:6 – E ouvi como que a voz de uma grande multidão, e como que
a voz de muitas águas, e como que a voz de grandes trovões, que dizia:
Aleluia! pois já o Senhor Deus Todo-Poderoso reina.
A voz de uma grande multidão – Esta é a Igreja católica ou universal de
Deus, reunida em meio aos gentios.
O Senhor Deus Onipotente reina – A maioria das versões, com Andréas
e Arethas, os dois estudiosos antigos deste livro, de acordo com o texto, lêem
enfaticamente assim: NOSSO Senhor Deus, o Altíssimo, reina. Que
consolação, a todo cristão genuíno, é saber que SEU Senhor e Deus é o
192
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Altíssimo, e que este Altíssimo nunca confia o reino do governo do universo
fora de suas mãos! O que, portanto, sua Igreja deve temer?
19:7 – Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque
vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou.
O casamento do Cordeiro está chegando – O significado dessas
expressões parecem ser esta: Depois desta destruição da idolatria e suprestição,
e a derrota do anticristo, haverá um estado mais glorioso do Cristianismo do
que havia anteriormente.
19:8 – E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e
resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos.
Vestido em fino linho – Uma predição que a Igreja se tornaria mais
pura em suas doutrinas, mais piedosa em sua prática, e mais justa em sua
conduta, do que alguma vez foi, desde sua formação.
O fino linho aqui não significa a retidão de Cristo, imputada aos
crentes, porque ela é chamada aqui de retidão dos santos – que a graça e o
Espírito de Cristo têm forjado neles.
19:9 – E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são
chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E disse-me: Estas são as
verdadeiras palavras de Deus.
Abençoados são aqueles que são chamados à ceia do casamento – Esta
é uma alusão ao casamento do filho do rei, Mateus 22:2 “O reino dos céus é
semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho”., etc., onde a
encarnação de nosso Senhor, e o chamado dos judeus e gentios, são
especialmente apontados. Vejas as notas do versículo. Abençoados são todos os
que ouvem o Evangelho, e são assim convidados para se agarrarem à vida
eterna.
19:10 – E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me:
Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o
testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o
espírito de profecia.
Eu caí aos seus pés para adorá-lo – Por maior que este anjo tenha sido,
João não poderia confundi-lo com Jesus Cristo, ou com Deus, o Pai; nem sua
193
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
prostração foi um ato de adoração religiosa. Mas, meramente, um ato de
reverência, como o que algum asiático prestaria ao seu superior. Seu erro foi
achar que estivesse em obrigação para com o anjo, pela informação que ele
agora recebera. Este erro, o anjo muito apropriadamente corrige, mostrando que
sua inteligência veio de Deus apenas, e que a Ele era devido o louvor.
Eu sou teu servo – Minha dignidade não é mais elevada do que a tua;
empregado pelo mesmo Deus, na mesma missão, e com o mesmo testemunho;
e, portanto, não destinado para tua prostração: adora a Deus – prostra-te diante
dele, e a ele dá graças.
O testemunho de Jesus é o espírito de profecia – Como esta é a razão
dada pelo anjo do por que ele não poderia adorá-lo, o significado deve ser este:
Eu, que recebi este espírito de profecia, não sou superior a ti que recebeste o
testemunho de Cristo, para pregá-lo em meio aos gentios; esta incumbência que
contém tal testemunho é igual ao dom do espírito de profecia. Ou, o espírito de
profecia é um testemunho geral, concernente a Jesus, porque ele é a extensão e
o desígnio de toda a Escritura; a Ele, todos os profetas testemunham. Tirem
Jesus, sua graça, Espírito, e religião da Bíblia, e ela não terá extensão, desígnio,
objetivo, nem finalidade.
19:11 – E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava
assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com
justiça.
Um cavalo branco – Esta é uma exibição do triunfo de Cristo, depois da
destruição de seus inimigos. O cavalo branco é o emblema disto; e FIÉL E
VERDADEIRA é a natureza de Cristo. Veja capítulo 3:14 “Aconselho-te que
de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas
brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que
unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”.
Na retidão, ele julga e guerreia – As guerras que ele empreende não são
por razões de ambição, luxúria, ou expansão de conquista e domínio; elas são
justas em seu princípio e em seu objetivo. E isto, talvez, é o que nenhum
potentado humano alguma vez poderia dizer.
19:12 – E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua
cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém
sabia senão ele mesmo.
194
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Seus olhos eram como uma chama de fogo – Para denotar a natureza
perfurante e penetrante de sua sabedoria.
Sobre sua cabeça havia muitas coroas – Que denotam suas inúmeras
conquistas e a extensão de seu domínio.
Um nome escrito, que nenhum homem conheceu – Esta é a referência
do que os rabinos chamam de shem hammephorash, ou o tetragamato, hwhy
YHVH; ou o que chamamos de Jeová. Este nome, os judeus nunca tentaram
pronunciar: quando o encontraram na Bíblia, eles leram ynda, Adonai; mas,
para o homem, declaram que ninguém poderia pronunciá-lo; e que a verdadeira
pronúncia perdeu-se, pelo menos, desde a captura de Babilônia; e que somente
Deus sabe a verdadeira interpretação e pronúncia. Este, portanto, é o nome que
nenhum homem conheceu, a não ser o próprio Deus.
19:13 – E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o
nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus.
Sua veste estava respingada de sangue – Para mostrar que ele chegará
de um recente massacre. A descrição é tomada de Isaías 63:2,3 “Por que está
vermelha a tua vestidura, e as tuas roupas como as daquele que pisa no lagar?
Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém houve comigo; e os pisei na
minha ira, e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas
vestes, e manchei toda a minha vestidura’, onde Judas Macabeu, ou algum
outro conquistador, é descrito.
A Palavra de Deus – Escrita no Targum, e em outros escritos judaicos,
yyd armym meimera daiya, “a palavra de Jeová”, através dos quais, eles
sempre significam uma pessoa, e não uma palavra falada. Veja as notas em
João 1:1 “NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus”, etc...
19:14 – E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e
vestidos de linho fino, branco e puro.
Os exércitos que estavam no céu – Anjos e santos, dos quais Jesus
Cristo é o Capitão. Vestidos em fino linho – Todos santos, puros e justos.
19:15 – E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as
nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar
do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso.
195
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
De sua boca saiu uma espada afiada – Veja capítulo 1:16. “E ele tinha
na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios;
e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece”.
O que parece significar a palavra do Evangelho, através da qual seus
inimigos são confundidos e seus amigos, sustentados e confortados.
Com uma vara de ferro – Ele executará os mais sérios julgamentos
sobre os opositores de sua verdade.
Ele pisoteará o lagar – Como as uvas são pisadas para se espremer o
suco, assim, seus inimigos serão esmagados e batidos, de maneira que o sangue
de suas vidas será derramado.
19:16 – E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos
reis, e Senhor dos senhores.
Sobre suas vestes e suas coxas, um nome escrito – Dr. Dodd observou
bem, que nesta passagem, “parece ter sido um costume antigo, entre as
diversas nações, adornarem as imagens de suas deidades, príncipes, vitoriosos
nos jogos públicos, e outras pessoas eminentes, com as inscrições, expressando
o caráter das pessoas, seus nomes, ou alguma circunstância que contribuiria
para a honra deles; e a este costume a descrição aqui dada de Cristo
possivelmente faz alguma alusão”.
“Existem diversas dessas imagens, com uma inscrição, quer nas vestes,
ou sobre uma das coxas, ou naquela parte da vestimenta que está sobre a coxa;
e, provavelmente, este é o significado pretendido pelo apóstolo. E como essas
inscrições são colocadas na parte mais alta da vestimenta, Grotius parece
muito justamente ter interpretado as palavras epi por imation, através de seu
manto imperial, de que seu poder nesta vitória seria manifesto a todos. Mas,
como uma confirmação adicional deste significado da passagem, não será
impróprio descrever brevemente aqui as figuras notáveis deste tipo, que são
ainda existentes”. Esta descrição, eu darei de meu próprio entendimento.
1. HERÓDOTO, falando das ações de Sesostris, e das imagens que ele
colocou nas cidades que conquistou, diz o seguinte: “Duas imagens deste
homem são igualmente vistas na Iônia, no caminho que leva de Éfeso a
Phocaea, e de Sardis a Esmirna. A figura tem cinco palmos de altura; em sua
mão direita, ele segura um dardo; em sua esquerda um arco, armado como os
Egípcios e Etíopes. Sobre uma linha ao redor do peito, de um ombro a outro,
196
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
estão as palavras em hieróglifo: “Eu conquistei esta cidade, com esses meu
ombros”; ou seja, com meu próprio poder.
2. Na Etruria Regalis , de Dempster, no apêndice do segundo volume,
existe uma bonita figura feminina de metal, cerca de doze polegadas de altura,
o cabelo graciosamente enrolado, e a cabeça adornada com uma tiara. Ela tem
uma túnica, sem luvas, e sobre uma espécie de pálio [manto usado pelos antigos
gregos e romanos]. Do lado de fora da coxa direita, perto à túnica, e
provavelmente sobre ela, no original, está uma inscrição nos caracteres
Etruscos. Mas o que esses significam eu não sei.
Dempster deu uma explicação geral da imagem no apêndice do volume
acima. A própria ilustração é a trigésima-oitava da obra.
3. Existem duas outras imagens, no mesmo autor; a primeira está nua,
com exceção de uma pequena túnica solta, ou um tipo de saiote, em torno do
quadril, e sobre o braço esquerdo. Sobre a coxa esquerda, existe uma inscrição
em caracteres Etruscos.
A segunda tem uma túnica similar, mas, bem maior, que se estende da
panturrilha de uma perna, e é apoiada sobre ao braço esquerdo curvado. Sobre a
coxa direita, em sua veste, existe uma inscrição Etrusca de duas linhas.
4. MONTFAUCON [Bernard], Antiquite Expliquee, introduziu um
relato de duas elegantes imagens, que são representadas: A primeira é um
guerreiro, inteiramente nu, exceto um colar, um bracelete, e botas. Em sua coxa
direita, estendendo-se da virilha até um pouco abaixo do joelho, existe uma
inscrição nos caracteres em Etrusco primitivo, em duas linhas. Mas o
significado é desconhecido,
A segunda é uma pequena figura de metal, cerca de seis polegadas de
comprimento, com uma túnica solta, suspensa no ombro esquerdo, descendo até
as panturrilhas. Nesta túnica, sobre a coxa esquerda, está uma inscrição
(talvez), nos mesmos caracteres do Latim primitivo, mas na Língua Etrusca,
como o estudioso autor conjectura. Ela está em uma linha, mas o que significa é
igualmente desconhecido.
5. A mesma obra, outro guerreiro Etrusco é representado inteiramente
nu; na coxa esquerda estão as seguintes palavras em letras Gregas anciais,
kafisodwrov, e sobre a coxa direita, aisclamiou, por exemplo. “Kaphisodouros,
197
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
o filho de Aischlamius”. Todas essas inscrições estão escritas
longitudinalmente sobre a coxa.
6. GRUTTER nos dá a figura de um guerreiro nu, com sua mão
esquerda sobre um machado, e na parte final da ferramenta, colocada no chão, a
seguinte inscrição em sua coxa esquerda. Longitudinalmente escrita, como em
todos os outros casos:- A. POBLICIUS. D. L. ANTIOC. TI. BARBIUS. Q. P.
L. TIBER.
7 – Os rabinos dizem que “Deus deu aos Israelitas uma espada, sobre a
qual o nome inefável hwhy, Jeová, foi escrito; e por quanto tempo eles
mantiverem esta espada, o anjo da morte não terá poder sobre eles”. Shemoth
Rabba.
No recente tratado, séc. 16. fol. 232, 3, e no Rab. Tanchum, fol. 55, é
feita menção dos anjos guardiões dos Israelitas, que usavam vestes na cor
púrpura, sobre as quais estava inscrito: •rwpmh µ• shem hammephorash, o
inefável nome. Veja mais em Shoettgen.
8. Mas o que se aproxima do ponto, com referência ao título dado aqui a
Cristo, é o que é relato de Sesostris, por Dlodour US Siculus, de quem Bipont
diz: “Depois de levar suas conquistas até Trace, ele ergueu pilares, sobre os
quais estavam as seguintes palavras, em hieróglifos Egípcios: Esta província,
Sesoosis (Sesostris), REIS DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES,
conquistou com suas próprias mãos”. Esta inscrição é concebida, quase nas
palavras de João. Agora o historiador Grego não as emprestou do apóstolo,
porque ele morreu no reino de Augusto, por volta da encarnação de nosso
Senhor. Ela não pode ser a mesma que as inscrições mencionadas acima por
Herodotus, uma em Iônia, e a outra em Thrace: mas como ele ergueu diversos
pilares ou imagens desses, provavelmente uma inscrição quase similar fosse
encontrada sobre cada uma.
9. Este costume parece ter sido comum, em meio aos primitivos
Egípcios.
Inscrições são frequentemente encontradas nas imagens de Isis, Osíris,
Anúbis, etc., nos pés, cabeça, nas costas, na cintura, etc... Oito dessas imagens
antigas de minha própria coleção estão cheias dessas inscrições.
1. Osíris, quatro polegadas e um quarto de altura, sobre tronos, todos
cobertos com hieróglifos espantosamente entalhados.
198
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
2. Anúbis, seis polegadas de altura, com uma tiara, nas costas, nos
caracteres unciais Gregos, legornuq.
3. O Cercopithecus, sete polegadas de comprimento, sentado em um
pedestal, e aos seus pés, nos mesmos caracteres, cadeo.
4. Em Isis, por volta de oito polegadas, em suas costas, drugo.
5. Ditto, sete polegadas, belamente talhada, de pé, segurando uma
serpente em seu braço esquerdo, e em seus pés, etapugi.
6. Ditto, cinco polegadas e um quarto; e em cuja cintura está pieucudi;
mas, parte de sua inscrição parece escondida, sob seus braços, estendidos ao
longo do corpo.
7. Ditto, cinco polegadas de altura, coberto com uma estola solta, nas
costas, onde existem sete linhas dos caracteres gregos unciais, mas quase
apagados.
8. Ditto, quatro polegadas de altura, com um cinto ao redor das costas,
imediatamente debaixo dos braços; a parte da frente está escondida em uma
espécie de ornamento; na parte que aparece estão esses caracteres, cenla. Esses
podem ser todos pretendidos como reis de abrasaxas ou deidades tutelares; e eu
os observei, e às suas inscrições, em parte, como ilustração do texto, e
parcialmente, para comprometer meus leitores cultos e antiquários nas
tentativas de decifrá-las. Eu daria os caracteres Etruscos, sobre outras imagens
descritas acima, mas não tenho como imitá-los, exceto, através de gravura.
Como esses tipos de inscrições, sobre a coxa, as vestes, e diferentes
partes do corpo, estavam em uso em meio às diferentes nações, no expressarem
a conduta, qualidades, e conquistas, podemos ficar certos de que João alude a
elas, quando representa nosso Soberano Senhor, com uma inscrição sob suas
vestes e sobre sua coxa; e não tivéssemos nos certificado de que este é um
costume em meio a outras nações, teria sido uma perda, relatarmos sua
introdução e significado aqui.
19:17 – E vi um anjo que estava no sol, e clamou com grande voz,
dizendo a todas as aves que voavam pelo meio do céu: Vinde, e ajuntai-vos
à ceia do grande Deus;
199
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Um anjo, no sol – Excessivamente luminoso; todo ele, emitindo raios
de luz. Desta representação, Milton tomou sua descrição de Uriel, o anjo do sol.
Em Paraíso Perdido.
“O arcanjo Uriel, um dos sete que, na presença de Deus, mais próximo
ao seu trono, permanece pronto para o comando e são seus olhos, que correm
através de todos os céus, e toda a terra, carrega suas mensagens velozes, na
chuva ou seca, sobre o mar e sobre a terra”.
A todos os pássaros que voam – As carcaças dos inimigos de Deus
servirão de comida para todos os pássaros do céu. Isto está de acordo com a
tradição judaica, Synopsis Sohar: “Quando Deus executar a vingança, para o
povo de Israel, ele alimentará todas as bestas da terra, por doze meses, com a
carne, e todos os pássaros, por sete anos”. Sabe-se que as bestas e pássaros de
rapina estão acostumados a freqüentarem campos de batalha, e voarem sobre os
mortos.
19:18 – Para que comais a carne dos reis, e a carne dos tribunos, e a
carne dos fortes, e a carne dos cavalos e dos que sobre eles se assentam; e a
carne de todos os homens, livres e servos, pequenos e grandes.
E que você coma a carne dos reis – Haverá uma destruição geral; de
reis, generais, capitães, e todos os seus exércitos, que serão aniquilados.
19:19 – E vi a besta, e os reis da terra, e os seus exércitos reunidos,
para fazerem guerra àquele que estava assentado sobre o cavalo, e ao seu
exército.
Eu vi a besta – Veja as notas sobre os capítulos 12; e 17.
19:20 – E a besta foi presa, e com ela o falso profeta, que diante
dela fizera os sinais, com que enganou os que receberam o sinal da besta, e
adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo
que arde com enxofre.
E a besta e o falso profeta foram presos – Veja as notas sobre o
capítulo 17:8 em diante.
Os que adoraram sua imagem – A besta tem sido representada como o
Império Latino; a imagem da besta, os papas de Roma; e o falso profeta, o clero
papal.
200
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Foram atirados vivos em um lago de fogo – Foram derrotados enquanto
vivos – no apogeu de seu poder, e destruídos, com uma destruição extrema.
19:21 – E os demais foram mortos com a espada que saía da boca
do que estava assentado sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das
suas carnes.
Com a espada daquele que se sentou sobre o cavalo – Aquele que se
sentou sobre o cavalo branco é Cristo, e sua espada é sua palavra – o não
adulterado Evangelho.
201
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XX
O anjo prende satanás por mil anos, e o tranca no poço do abismo, 1-3.
Aqueles que foram decapitados pelo testemunho de Jesus, que têm parte na
primeira ressurreição, e reinará com Cristo, durante mil anos, 4-6. Quando os
mil anos acabarem, satanás será solto da prisão, e tentará enganar as nações, e
se unirá a Gomer e Magogue, dos quatro cantos da terra, 7, 8. Esses sitiarão a
cidade santa; mas o fogo virá do céu e os consumirá, e eles e o diabo serão
lançados no fogo do inferno, 9,10. O grande trono branco, e o morto, pequeno e
grande, diante de Deus, e todos serão julgados, conforme suas obras, 11,12. O
mar, morte, e hades, desistiram de seus mortos, e são destruídos, e todos que
não estiverem no livro da vida serão lançados no fogo do inferno, 12-15.
202
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Notas Sobre o Capítulo XX
20:1 – E VI descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e
uma grande cadeia na sua mão.
E o anjo desceu do céu – Um dos executores da justiça Divina que
recebe criminosos, e os mantém na prisão, e os liberta apenas para serem
julgados e executados.
A chave da prisão e a cadeia mostram quem ele é; e como a cadeia era
grande, mostra que o criminoso não foi acusado de crimes comuns.
20:2 - Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e
Satanás, e amarrou-o por mil anos.
O dragão – Veja as notas do capítulo 12:9.
A velha serpente que é o diabo, e satanás – Aquele que é chamado de a
velha serpente é o diabo – o caluniador, e satanás – o opositor. Aquele que
supõe que o termo velha serpente aqui prova plenamente que a criatura que
tentou nossos primeiros pais é verdadeiramente uma cobra, deve desfrutar de
sua opinião; e aqueles que podem receber tal explicação, que ele o receba. Selá.
[Sela - palavra de significado desconhecido, normalmente apresentada
ao final de um versículo dos Salmos - tradutora].
Durante mil anos – No que consiste esta prisão de satanás, quem poderá
dizer? Quantas interpretações têm existido sobre este assunto, tanto nos tempos
primitivos quanto modernos! Isto, e o que é dito no versículo 3-5, não há
dúvida, de que se refere ao tempo em que a influência de satanás será
grandemente restringida, e a verdadeira igreja de Deus desfrutará de grande
prosperidade, que deverá durar por um longo tempo. Mas não é igualmente que
o número, mil anos, seja tomado literalmente aqui, e anos, simbólica e
figurativamente em todo o livro além.
A doutrina do milênio, ou aquela dos santos, reinando sobre a terra, por
mil anos, com Cristo, como o líder deles, tem sido ilustrada e defendida, por
muitos escritores cristãos, em meio aos primitivos e modernos. Fosse eu dar
uma coleção de conceitos dos patriarcas primitivos sobre este assunto, meus
leitores teriam pouco motivo para aplaudirem meus esforços. Tem sido uma
expectativa inútil de muitas pessoas de que o milênio, no entendimento deles,
203
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
estivesse à mão; e seu início, esperado em todos os séculos, desde a era cristã.
Foi fixado em diferentes anos, durante, até mesmo, o período de minha própria
vida! Eu acredito que essas predições são em vão, e vivo para vê-las cumpridas.
Ainda assim, não existe dúvida de que a terra está em um estado de um
crescimento moral progressivo, e que a luz da verdadeira religião está brilhando
mais copiosamente em todos os lugares, e brilhará mais e mais até o dia
perfeito. Mas, quando a religião de Cristo estará em seu apogeu de luz e
aquecimento, não sabemos. Em cada crente isto pode rapidamente tomar lugar;
mas, provavelmente, nenhum tempo, alguma vez, aparecerá, em que o mal seja
totalmente banido da face da terra, até depois do dia do julgamento, quando a
terra, tendo sido queimada, um novo céu e uma nova terra surgirão das ruínas
da velha, através do poder imenso de Deus: e apenas a retidão habitará nela. A
fraseologia do apóstolo aqui parece parcialmente ser tomada dos profetas
antigos, e, parcialmente, dos rabinos; e é o uso judaico desses termos que nós
procuramos para a interpretação deles.
20:3 - E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele,
para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E
depois importa que seja solto por um pouco de tempo.
Ele não mais enganará as nações – Será incapaz de cegar os homens
com superstição e idolatria, como fizera anteriormente.
20:4 – E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o
poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo
testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta,
nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas
mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.
E vi tronos – O Cristianismo estabelecido na terra, os reis e governos,
todos cristãos.
Reinou com Cristo, mil anos – Eu estou satisfeito que este período não
seja tomado literalmente. Ele pode significar que existirá um longo e
imperturbável estado do Cristianismo; e tão universalmente o espírito
evangélico prevalecerá que parecerá, como se Cristo reinasse sobre a terra; o
que, em efeito, será o caso, porque seu Espírito deverá governar nos corações
dos homens; e neste tempo, os mártires são representados como vivendo
novamente; seus testemunhos, revividos, e a verdade, pela qual eles morreram,
e que foi confirmada pelo sangue deles, agora prevalecendo em todos os
lugares. Quanto ao termo mil anos, ele é um número místico em meio aos
204
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
judeus. Midrash Tillin, em Salmos 90:15 - Alegra-nos, conforme os dias em
que nos afligiste, e acrescenta: “Através dos Babilônicos, Gregos e Romanos; e
nos dias do Messias. Quantos são os dias do Messias? Rab. Eliese , o filho do
Rabino José, da Galiléia, diz: Os dias do Messias são mil anos”. Sanhedrin,
citado por Aruch, de acordo com a palavra qrya, diz: “Existe uma tradição na
casa de Elias, de que o justo, a quem o santo e abençoado Deus fará ressurgir
dos mortos, não retornará novamente ao pó; mas pelo espaço de mil anos, no
qual o santo e abençoado Deus reinará no mundo, ele terá asas como as asas
de águias, e voará sobre as águas”. Parece, portanto, que esta fraseologia é
puramente rabínica. Ambos os Gregos e Latinos têm a mesma forma de
discurso, no falar sobre o estado do justo e do pecaminoso, depois da morte.
Existe alguma coisa parecida, na República de Platão, onde, falando de
Eros, filho de Armênio, que voltou à vida, depois de morto por doze dias, e que
descreveu o estado das almas que partiram, afirma “que algumas eram
obrigadas a fazerem uma longa peregrinação, debaixo da terra, antes que
despertassem para o estado de felicidade, e que esta era uma jornada de mil
anos”, e acrescenta, “de maneira que, como a vida do homem é avaliada em
cem anos, aqueles que têm sido pecaminosos sofrem, em outro mundo, uma
punição dez vezes maior, e, portanto, por mil anos”. Uma doutrina similar
prevaleceu em meio aos Romanos; e se eles a emprestaram dos Gregos, ou dos
judeus rabínicos, não podemos afirmar.
Assim, Virgilio, falando da punição do pecaminoso, nas regiões
infernais, diz: - “Mas, quando os mil anos se passarem, por quanto tempo sua
punição melancólica durar, os espíritos serão levados, pelo deus poderoso, a
beberem da profunda correnteza de Leteu. Em extensos e esquecidos jogos de
damas, para descansarem das preocupações com seus esforços passados, e de
seus enfadonhos anos; para que, esquecendo-se da dor anterior, suas almas
possam vestir-se com carne novamente”. Mas, como o apóstolo aplica esta
tradição geral, ou em que sentido ele pode usá-la, quem poderá dizer?
20:5 – Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se
acabaram. Esta é a primeira ressurreição.
O descanso dos mortos que não reviveram – Geralmente se supõe,
dessas passagens, que todos que foram martirizados pela verdade de Deus
ressuscitarão, mil anos antes dos outros mortos, e reinarão com Cristo sobre a
terra, durante aquele tempo, e, depois disto, os mortos em geral serão
ressuscitados; mas isto também é muito duvidoso.
205
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
10:6 – Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira
ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão
sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos.
Abençoados – makariov? Felizes – E santos; eram santos, e, portanto,
sofreram pelo testemunho de Jesus, numa época em que nada, a não ser a
santidade era chamada para tal provação.
A primeira ressurreição – Possivelmente, a que se refere aos mártires,
mencionados acima.
A segunda morte – Punição no mundo eterno, tal é a aceitação da frase
em meio aos anciãos judeus.
Não tem poder – Não tem autoridade, nem domínio sobre eles. Este é
também um modo rabínico de falar. Em Erubin; Chagiga: “Res Lakish diz que
o fogo do inferno não tem poder sobre um Israelita que peca. Rab. Elieser diz
que o fogo do inferno não tem poder sobre os discípulos dos homens sábios”.
20:7 – E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão,
Satanás será solto – Como isto poderia ter algum tipo de interpretação
literal? Satanás é preso por mil anos, e a terra está em paz; a retidão floresce, e
apenas Jesus Cristo reina. Este estado de coisas poderia continuar para sempre,
se a prisão de satanás continuasse. Satanás, no entanto, é solto quando
terminam os mil anos, e sai, e engana as nações, e a paz é banida da face da
terra, e a mais terrível guerra toma lugar, etc... etc... Essas podem ser apenas
representações simbólicas. Extremamente incapazes do sentido geralmente
colocado sobre elas.
20:8 – E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos
da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as
ajuntar em batalha.
Gogue e Magogue – Que parece ser quase literalmente tomado do
Targum de Jerusalém, e aquele de Jonathan ben Uzziel, de Números 11:26 Eu citarei todo o versículo: “ Havia dois homens no campo, o nome de um era
Eldade, o do outro, Medade, e sobre eles o espírito da profecia repousou.
Eldade profetizou e disse: ‘Abençoado, Moisés, o profeta, o escriba de Israel,
deve ser levado deste mundo, e Josué, o filho de Num, capitão do exército,
deverá sucedê-lo’. Medade profetizou e disse: ‘Observem, as cordonizes
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
surgirão do mar, e serão uma pedra de tropeço para Israel’. Então eles
profetizaram juntos, e disseram: ‘No fim dos tempos, Gogue e Magogue e seu
exército virão para Jerusalém novamente, e cairão, pela mão do Rei Messias; e
por sete anos ao todo, os filhos de Israel ascenderão suas tochas com a
madeira de suas máquinas belicosas, e não irão à floresta, nem cortarão
qualquer árvore”.
No Targum de Jonathan ben Uzziel, neste mesmo lugar, o mesmo relato
é dado; apenas a última parte, o conjunto da profecia de Eldade e Medade, é
mais circunstancialmente dado: “E ambos profetizaram, e disseram: ‘Observe,
o rei virá da terra de Magogue, nos últimos dias, e se reunirá aos reis, e os
líderes se vestirão com armaduras, e todos o obedecerão; e eles promoverão a
guerra na terra de Israel contra os filhos cativos, mas a hora da lamentação, há
muito, está preparada para eles (ou eles serão mortos pelo fogo que vêm do
trono da glória, e as carcaças de seus mortos cairão sobre as montanhas de
Israel; e todas as bestas selvagens do campo, e as aves do céu, virão e
devorarão suas carcaças; e, mais tarde, todos os mortos de Israel ressuscitarão,
e desfrutarão dos deleites preparados para eles, desde o início, e deverão
receber a recompensa de seus mundos’”.
Este relato parece mais evidentemente ter sido copiado por João, mas
como ele pretendeu que ele fosse aplicado, é uma questão muito difícil de ser
resolvida, através da habilidade do homem; ainda assim, ambos os relatos nos
rabinos e no de João são fundamentados em Ezequiel 38:1-2 “Veio a mim a
palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, dirige o teu rosto contra Gogue,
terra de Magogue, príncipe e chefe de Meseque, e Tubal, e profetiza contra
ele”.39:1 “Tu, pois, ó filho do homem, profetiza ainda contra Gogue, e dize:
Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu sou contra ti, ó Gogue, príncipe e chefe de
Meseque e de Tubal”. 39:11 “sucederá que, naquele dia, darei ali a Gogue um
lugar de sepultura em Israel, o vale dos que passam ao oriente do mar; e
pararão os que por ele passarem; e ali sepultarão a Gogue, e a toda a sua
multidão, e lhe chamarão o vale da multidão de Gogue”. Os escritos rabínicos
são cheios de relatos, concernentes a Gogue e Magogue, dos quais Wetstein fez
uma bonita coleção em suas notas sobre este local. Sob esses nomes, os
inimigos da verdade de Deus são geralmente pretendidos.
20:9 – E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos
santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou.
A amada cidade – Primeiramente, Jerusalém, tipicamente, a Igreja
Cristã.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
20:10 – E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e
enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão
atormentados para todo o sempre.
E o diabo foi lançado no lago – Antes, satanás foi preso, ou seja, seu
poder foi reduzido e reprimido; agora, ele é lançado no lago de fogo, e seu
poder é totalmente destruído.
20:11 – E vi um grande trono branco, e o que estava assentado
sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para
eles.
Um grande trono branco – Refulgente, com majestade gloriosa.
Aquele que se senta nele – O indescritível Jeová.
De cuja face, a terra e céu fogem – Até mesmo o brilho de seu
semblante dissolveu o universo e aniquilou as leis pelas quais ele era
governado. Está é uma figura muito majestosa, e finamente expressada.
Não haverá lugar para eles – A gloriosa majestade de Deus,
preenchendo todas as coisas, e sendo tudo em todos.
20:12 – E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de
Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os
mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros,
segundo as suas obras.
Os mortos, pequenos e grandes – Todas as categorias, graus, e
condições de homens. Esta descrição parece referir-se a Daniel 7:9,10 “Eu
continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um ancião de dias se
assentou; a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça como
a pura lã; e seu trono era de chamas de fogo, e as suas rodas de fogo ardente.
Um rio de fogo emanava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam,
e milhões de milhões assistiam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os
livros”.
E os livros foram abertos – Veja Daniel 12:1 “E naquele tempo se
levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu
povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve
208
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele
que for achado escrito no livro”.
“Rab. Jehuda diz: Todas as ações dos homens, quer boas ou más, estão
escritas em um livro, e de todas, eles prestarão contas” - Sohar Gen. “Quão
cuidadosos os homens seriam para afastarem-se dos maus hábitos, e agirem
corretamente diante do santo Deus abençoado, uma vez que existem tantos que
seguem através da terra, vêm as obras dos homens, as testificam, e as escrevem
em um livro!”.
“No primeiro dia do novo ano, o santo Deus abençoado senta-se para
que ele possa julgar o mundo; e todos os homens, sem exceção, darão um
relato de si mesmos; e os livros dos vivos, e dos mortos, são abertos”. Shohar
Chadash.
Os livros mencionados aqui foram os livros dos mortos e dos vivos, ou
o livro da vida e o livro da morte: ou seja, o relato das boas e más ações dos
homens; o primeiro, conduzindo à vida; o segundo, à morte. João,
evidentemente, alude aqui a Daniel 7:10 “Um rio de fogo emanava e saía de
diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões assistiam
diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros”; sobre os quais o relato
rabínico dos livros parecem estar fundamentados. As expressões são figurativas
em ambos.
De acordo com suas obras – E de acordo com a fé deles também,
porque suas obras seriam a prova, se a fé deles era verdadeira ou falsa; mas a fé
exclusivamente não seria a regra em tal procedimento.
20:13 – E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno
deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as
suas obras.
O mar desistiu dos mortos – Aqueles que se afogaram nele, e esses
milhões mortos em batalhas navais, que não tinham outra sepultura.
E os mortos – Todos que morreram, de algum tipo de doença. A morte
está aqui personificada e representada, como proprietária dos defuntos
humanos; provavelmente, não mais do que a terra ou a sepultura seja
significada, como propriamente pertencendo ao império da morte.
209
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E inferno – Hades, o lugar dos espíritos separados. O mar e a morte têm
os corpos de todos os seres humanos; o hades tem seus espíritos. Para que eles
possam ser julgados, e punidos, ou recompensados, de acordo com suas obras,
seus corpos e almas devem ser reunidos; hades, portanto, desistiu dos espíritos;
e o mar e a terra desistiram dos corpos.
20:14 – E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é
a segunda morte.
E a morte e inferno foram lançados no fogo – A própria morte está
agora abolida, e o lugar para os espíritos separados não é mais necessário.
Todos os corpos dos mortos, e almas separadas são reunidos, e não mais haverá
separação de corpos e almas, pela morte; consequentemente, a existência dessas
coisas não será mais necessária.
Esta é a segunda morte – A primeira consistiu na separação da alma do
corpo por um tempo; a segunda, na separação do corpo e alma de Deus, para
sempre. A primeira morte é aquela da qual pode haver uma ressurreição; a
segunda, é aquela da qual pode haver nenhuma recuperação. Através da
primeira, o corpo é destruído no decurso do tempo; da segunda, o corpo e alma
são destruídos, por toda a eternidade.
20:15 – E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi
lançado no lago de fogo.
Escritos no livro da vida – Apenas aqueles que continuaram fiéis até a
morte foram levados para o céu. Todos, cujos nomes não foram encontrados
nos registros públicos, quer não fossem cidadãos, ou seus nomes foram
apagados desses registros, por causa dos crimes contra o estado, não poderiam
reivindicar coisa alguma daqueles emolumentos ou privilégios que pertencem
aos cidadãos; de maneira que os que nem pertenceram à nova e espiritual
Jerusalém, ou transgrediram seus direitos e privilégios pelo pecado, e
morreram, naquelas condições, foram lançados no lago de fogo.
Esta é a maneira como Deus, no dia do julgamento procederá com os
pecadores e apóstatas.
Leitor, vê que teu nome esteja escrito no registro sagrado, e, se escrito
nele, vê que nunca seja apagado.
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APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XXI
O novo céu e nova terra, 1. A nova Jerusalém, 2. Deus habita com os
homens; o estado feliz de seus seguidores, 3, 7. O estado miserável do ímpio, 8.
Um anjo mostra a João, a cidade santa, a Nova Jerusalém, 9, 10. Sua luz, seus
muros, portões, e fundações, descritos, 11,12. Deus e o Cordeiro são o templo e
o conhecimento dela, 22, 23. As nações e reis da terra dão sua glória e honra a
ela; seus portões nunca se fecharão, nem qualquer profanação entrará, 24,27.
Notas Sobre o Capítulo XXI
21:1 – E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro
céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.
Um novo céu e uma nova terra – Veja as notas sobre II Pedro 3:13
“Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em
que habita a justiça”. Os anciãos judeus acreditavam que Deus renovaria os
céus e a terra, quando terminassem os sete mil anos. A suposição geral, eles
fundamentaram de Isaias 65:17 “Porque, eis que eu crio novos céus e nova
terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se
recordarão”.
O mar deixará de existir – Não haverá mais mar, como havia no
primeiro céu e terra. Tudo se fará novo, e, provavelmente, o novo mar ocupará
uma diferente posição e, com relação ao velho mar, será diferentemente
distribuído.
No entanto, com respeito a esses assuntos, e como eles se apresentam
neste mais figurativo livro; eu devo me expressar nas palavras de Calmet:
“Dizer o que significam os novos céus e nova terra, e quais são seus
ornamentos e qualidades, é, em minha opinião, a maior de todas as
presunções. Em geral, essas figuras de linguagem indicam grandes alterações
no universo”.
21:2 – E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus
descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido.
E eu, João – O autor deste livro; que o evangelista e apóstolo, ou João,
o presbítero Eféseo, durante muito tempo, duvidou-se na Igreja.
211
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Nova Jerusalém - Vejas as notas de Gálatas 4:24-27 “O que se entende
por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando
filhos para a servidão, que é Agar. Ora, esta Agar é Sinai, um monte da
Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com
seus filhos. Mas a Jerusalém que é de cima é livre; e é mãe de todos nós”. O
que significa, sem dúvida, a Igreja Cristã, em um estado de grande prosperidade
e pureza; mas alguns acreditam que se trate da bênção eterna.
Vindo de Deus – É uma máxima dos judeus anciãos que ambos, o
tabernáculo e o tempo, e a própria Jerusalém, vêm do céu.
E em Midrash Hanaalem, Sohar Gen, Rabino Jeremias diz: “O Santo
Deus abençoado renovará o mundo, e construirá Jerusalém, e isto fará com
que ela desça do céu”. A opinião é que existe um templo espiritual, um
tabernáculo espiritual e uma Jerusalém espiritual; e que nenhum desses pode
ser destruído, porque eles subsistem em seus representantes espirituais. Veja
Schoettgen.
21:3 – E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o
tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o
seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus.
O tabernáculo de Deus é com os homens – Deus, de uma maneira muito
especial, habita em meio aos seus seguidores, difundindo seu conhecimento e
vida em todos os lugares.
21:4 – E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá
mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras
coisas são passadas.
Não haverá mais morte – Porque haverá uma ressurreição geral. E esta é
a inferência que Paulo faz de sua doutrina da ressurreição geral, I Coríntios
15:26, onde ele diz que “O último inimigo a ser aniquilado será a morte”.
Mas a morte não pode ser destruída, porque não existe morte, simplesmente; a
morte pode apenas ser destruída e aniquilada por uma ressurreição geral; se não
existir ressurreição geral, é mais evidente que a morte ainda mantenha seu
império.
Portanto, o fato de que não existirá mais morte, assegura o fato de que
haverá uma ressurreição geral; e esta também é uma prova de que, depois da
ressurreição, não mais existirá morte. Veja o todo da nota de I Cor. 15:27
212
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
“Porque todas as coisas sujeitou-se a seus pés. Mas, quando diz que todas as
coisas lhe estão sujeitas, é evidente, que se excetua aquele que lhe sujeitou
todas as coisas”.
21:5 – E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço
novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são
verdadeiras e fiéis.
Observem, eu faço todas as coisas novas – Como a criação do mundo,
desde o princípio, foi obra de Deus apenas, assim, será esta nova criação.
Essas palavras são verdadeiras e fiéis – A verdade se refere à promessa
dessas mudanças; fidelidade, ao cumprimento delas.
21:6 – E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o
princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte
da água da vida.
E está feito – Tudo está determinado, e deverá ser cumprido, no devido
tempo.
O grande drama está terminado, e o que foi pretendido está agora
completo; - referindo-se ao período aludido pelo anjo.
Eu sou o Alfa e Ômega – Veja capítulo 1:8.
A fonte da água da vida – Veja João 4:10,14 “Jesus respondeu, e disselhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu
lhe pedirias, e ele te daria água viva. Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens
com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu maior do
que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus
filhos, e o seu gado? Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta
água tornará a ter sede; nas aquele que beber da água que eu lhe der nunca
terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que
salte para a vida eterna”, etc.
Os rabinos consideram a fonte do mundo, como uma das bênçãos
especiais de um estado futuro. Em Sanhedrim, Aboth R. Nathan, está escrito:
“Ele mostrará a eles a excelência da fonte do mundo futuro, para que possam
corretamente ver e considerar, e dizer: Ai de nós! Que coisa boa, perdemos! E
nossa descendência foi extirpada da face da terra”..
213
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
21:7 – Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e
ele será meu filho.
Herdarão todas as coisas - Até aqui eles não tinham herança; mas
herdarão o reino do céu, e estarão com Deus e Cristo, e terão todas as bênçãos
possíveis.
21:8 – Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis,
e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a
todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre;
o que é a segunda morte.
Mas os temerosos – Aqueles que, por temerem perder a vida ou sua
propriedade, se recusarem a receber a religião cristã, não obstante, convencidos
de sua verdade e importância; ou a tendo recebido, fugirem, não desejando
arriscar suas vidas.
Os descrentes – Aqueles que resistirem contra toda a evidência – E os
pecadores estão acrescidos aqui, por cerca de trinta excelentes MSS, e são
encontrados em Sírio, Árabe, alguns em Esloveno; e em Andréas e Arethas.
Desta esta evidência, Griesbach admitiu no texto.
Os abomináveis – Aqueles que estão contaminados com a luxúria
desnaturada.
E os assassinos – Aqueles que tiram a vida do homem, por qualquer
motivo, unicamente para matar o outro, e aqueles que odeiam um irmão, em
seu coração.
E os libertinos – Adúlteros, fornicadores, corruptos, prostitutas, e
pessoas dissolutas de todo tipo.
E os feiticeiros – Pessoas que, através de drogas, poções mágicas,
fumigações, etc., fingem produzir efeitos sobrenaturais, principalmente por
intervenção espiritual.
Idólatras – Aqueles que oferecem qualquer tipo de adoração ou
reverência religiosa a qualquer coisa, e não a Deus. Todos os adoradores de
imagens são idólatras em todo o sentido da palavra.
214
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
E os mentirosos – Cada um que fala contrário à verdade, quando a
conhece, e mesmo aquele que fala a verdade, com a intenção de enganar, de
persuadir de que uma coisa é diferente do que ela realmente é, por dizer apenas
parte da verdade, ou suprimir algumas circunstâncias que conduziriam o leitor a
uma conclusão diferente da verdadeira. Todas essas coisas devem ter sua
porção, sua parte, o que pertence a elas, seu direito, no lago que queima com
fogo e enxofre. Esta é a segunda morte, da qual não existe recuperação.
21:9 – E veio a mim um dos sete anjos que tinham as sete taças
cheias das últimas sete pragas, e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei
a esposa, a mulher do Cordeiro.
A noiva, a esposa do Cordeiro – A pura e santa Igreja Cristã.
21:10 – E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e
mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do
céu.
Até a grande e elevada montanha – Aquela que se situa acima desta
cidade, onde poderia ver toda a rua e alameda.
A santa Jerusalém – Veja versículo 2.
21:11 – E tinha a glória de Deus; e a sua luz era semelhante a uma
pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente.
Tendo a glória de Deus – Em vez do sol e lua, ela tem o esplendor de
Deus para iluminá-la.
Junto à pedra mais preciosa, como jaspe, clara como cristal – Em meio
às pedras preciosas existem algumas, da mesma espécie, mais valiosas do que
outras: porque o valor delas é proporcional ao fato de estarem livres de
imperfeições, e uma boa água, com transparência uniforme e brilhante.
Um cristal é perfeitamente claro, o jaspe oriental é uma bonita pedra
verde-mar. A pedra, aqui é descrita, é representada como um jaspe
perfeitamente transparente, sendo tão limpa, como o cristal mais brilhante, e,
consequentemente, é a mais preciosa de sua espécie. Nada pode ser mais
delicado do que esta descrição: a luz desta cidade é sempre intensa, igual, e
esplêndida: mas ela é tingida com esta nuança verde, com o objetivo de tornar
isto agradável à vista. Nada é tão agradável aos olhos, como o azul ou o verde;
215
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
todas as outras cores fadigam; e, se muito intensas, machucam. Essas são as
cores da terra e céu, sobre as quais os olhos do homem estão constantemente
fixados. A essas cores, a estrutura dos olhos está adaptada, e a aparência geral
da terra e céu, adaptada a esta estrutura.
21:12 – E tinha um grande e alto muro com doze portas, e nas
portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que são os nomes das doze
tribos dos filhos de Israel.
Tinha um muro grande e alto – Uma defesa poderosa.
E doze portões – Um portão para cada tribo de Israel, na vizinhança
desse portão, aquela tribo habita; de maneira que vindo e indo, eles não se
misturam uns com os outros. Esta descrição da cidade é parcialmente tomada
de Ezequiel 48:30-35 “E estas são as saídas da cidade, desde o lado norte:
quatro mil e quinhentas canas por medida. E as portas da cidade serão
conforme os nomes das tribos de Israel; três portas para o norte: a porta de
Rúben uma, a porta de Judá outra, a porta de Levi outra. E do lado oriental
quatro mil e quinhentas canas, e três portas, a saber: a porta de José uma, a
porta de Benjamim outra, a porta de Dã outra. E do lado sul quatro mil e
quinhentas canas por medida, e três portas: a porta de Simeão uma, a porta de
Issacar outra, a porta de Zebulom outra. Do lado ocidental quatro mil e
quinhentas canas, e as suas três portas: a porta de Gade uma, a porta de Aser
outra, a porta de Naftali outra. Dezoito mil canas por medida terá ao redor; e
o nome da cidade desde aquele dia será: O SENHOR ESTÁ ALI”.
Na Sinopse Sohar, está escrito: “No palácio do mundo vindouro,
existem doze portões, cada um endereçado a cada uma das doze tribos, como
aquela de Rúben, de Simeão, etc..: aquele, portanto, que é da tribo de Rúben é
recebido dentro de nenhum outro dos doze portões, mas apenas no seu, e,
assim acontece com os demais”.
21:13 – Do lado do levante tinha três portas, do lado do norte, três
portas, do lado do sul, três portas, do lado do poente, três portas.
Do lado leste, três portões – A cidade é aqui representada como situada
nos quatro pontos cardeais do céu, e apresentando um lado para cada um desses
pontos.
21:14 – E o muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles os
nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.
216
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
O muro tem doze fundações – Provavelmente, doze pedras, uma das
quais serve como alicerce ou a soleira de cada portão; e sobre essas, os nomes
dos doze apóstolos, para anunciar que, somente através da doutrina dos
apóstolos, as almas entrarão na Igreja e, consequentemente, na Nova Jerusalém.
21:15 – E aquele que falava comigo tinha uma cana de ouro, para
medir a cidade, e as suas portas, e o seu muro.
Tinha uma cana dourada – Diversas excelentes versões MSS,
acrescentaram um metron, uma medida; ele teria a medida de uma vara feita de
ouro. Este relato da medida da cidade parece copiada, com variações, de
Ezequiel 40:3, etc. “E, havendo-me levado ali, eis que um homem cuja
aparência era como a do bronze, tendo um cordel de linho na sua mão e uma
cana de medir, e estava em pé na porta”, etc.
21:16 – E a cidade estava situada em quadrado; e o seu
comprimento era tanto como a sua largura. E mediu a cidade com a cana
até doze mil estádios; e o seu comprimento, largura e altura eram iguais.
A cidade estava situada em um quadrado. Todos os lados eram iguais,
por conseguinte, o comprimento e largura, também; e está escrito que a altura
aqui seria igual ao seu comprimento. É difícil dizer como isto poderia ser
entendido. Não poderia significar a altura dos edifícios, nem dos muros, porque
nem as casas, nem os muros teriam doze mil furlongs de altura; alguns
acreditam que signifique a distância da região plana, até o lugar onde a cidade
se encontra. Mas que necessidade há em se tentar determinar tais medidas, em
tal representação visionária? A forma quadrangular indica sua perfeição e
estabilidade, porque a figura quadrada era uma figura de perfeição em meio aos
Gregos, antr tetragwnov, o homem quadrado ou cúbico, era, na opinião deles,
um homem de integridade imaculada, perfeito em todas as coisas.
21:17 – E mediu o seu muro, de cento e quarenta e quatro côvados,
conforme a medida de homem, que é a de um anjo.
O muro, cento e quarenta e quatro côvados – Isto é doze, o número dos
apóstolos, multiplicado por si mesmo.
A medida de um homem, ou do anjo – O cúbico, assim chamado de
cubitus, o cotovelo, é a medida da ponta do cotovelo à ponta do dedo médio, e é
geralmente calculada em um pé e meio, ou oitenta polegadas; embora pareça,
217
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
de algumas medidas nas pirâmides do Egito, que o cúbico era, pelo menos em
alguns casos, vinte e uma polegadas.
Por cúbico de um homem, podemos entender aqui o cúbico comum, o
cúbico do anjo que apareceu na forma de um homem. E que a altura pretendida
aqui era a largura da medida da cana. Agora, admitindo que o homem e a cana
tenham seis pés, e que se pretendeu alguma referência simbólica às doze tribos,
mencionadas no versículo 12, e representadas pelos doze portões; e aos doze
apóstolos, representados pelas doze soleiras ou fundações; então, vinte e quatro,
o número das tribos e apóstolos, multiplicado por seis, precisamente perfaz o
número cento e quarenta e quatro.
21:18 – E a construção do seu muro era de jaspe, e a cidade de ouro
puro, semelhante a vidro puro.
A estrutura do muro era de jaspe – O jaspe oriental é extremamente
duro, e quase indestrutível. Os pilares feitos desta pedra duram alguns milhares
de anos, e dificilmente sofrem algum dano pela ação do tempo.
Puro ouro, como um vidro claro – Isto não implica que os muros foram
feitos de algumas pedras belamente brilhantes, completamente polidas? Esta
descrição tem sido quase imprudentemente aplicada ao céu; e, em alguns
discursos públicos, para o conforto e edificação do virtuoso, o céu é
mencionado com seus muros e pavimentos de ouro, portões de pérolas, etc...,
sem considerar que nada desta descrição foi alguma vez pretendida, para ser
literalmente entendida, e que ouro e jóias podem ter nenhum lugar no mundo
espiritual e eterno. Mas, descrições como essas não tendem a manter um gosto
pelo ouro e ornamentos? Nos símbolos, eles são apropriados, mas, construídos
na realidade, são muito impróprios.
Os antigos judeus ensinavam que “quando Jerusalém e o templo fossem
construídos, eles seriam todos de pedras preciosas, e pérolas, e safiras, e com
todas as espécies de jóias” - Sepher Rasiel Haggadol.
Os mesmos autores dividem o paraíso em sete partes ou casas; a
terceira, eles descrevem assim: “A terceira casa é construída de ouro e pura
prata, e todos os tipos de jóias e pérolas. É muito espaçosa, e nela, todos os
tipos de boas coisas, tanto do céu quanto da terra, não encontradas. Todos os
tipos de coisas preciosas, perfumes e virtudes espirituais, estão lá plantados.
No centro delas, está a árvore da vida, cuja altura é quinhentos anos; (ou,
igual na altura à jornada que um homem faria em quinhentos anos), e nela
218
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
habita Abraão, Isaac e Jacó, os doze patriarcas, e todos que vieram do Egito e
morreram no deserto. Nessas, Moisés e Arão presidem, e os ensinam a lei”.
Etc. Yacult Rubeni. No mesmo tratado, encontramos essas palavras: “Saiba
que temos uma tradição, a de que quando o Messias, com os cativos, vierem
para a terra de Israel, naquele dia, os mortos em Israel ressuscitarão: e,
naquele dia, os muros flamejantes da cidade de Jerusalém descerão do céu, e o
templo será construído de jóias e pérolas”.
21:19 – E os fundamentos do muro da cidade estavam adornados de
toda a pedra preciosa. O primeiro fundamento era jaspe; o segundo,
safira; o terceiro, calcedônia; o quarto, esmeralda;
As fundações do muro – Essas não significam as fundações ou soleiras
dos portões? Os portões representariam as doze tribos, versículo 12; e essas
fundações ou soleiras, os doze apóstolos, versículo 14. Não havia entrada na
cidade, a não ser através desses portões, e nenhuma, através dos portões,
somente, através dessas soleiras.
O todo da dispensação mosaica foi a preparação do sistema evangélico:
Sem isto, o Evangelho não teria origem; sem o Evangelho, não haveria
referência, nem objetivo apropriado. Cada parte do Evangelho, necessariamente
supõe a lei e os profetas. Eles são os portões, ele é a soleira; sem o Evangelho,
nenhuma pessoa entraria naqueles portões. A doutrina do Cristo crucificado,
pregada pelos apóstolos, fornece um alicerce sólido; e nós temos uma entrada
no mais santo, através do sangue de Jesus. Hebreus 10:19, etc. “Tendo, pois,
irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus”. E
concernente a isto, nos é dito que somos construídos na FUNDAÇÃO dos
APÓSTOLOS e profetas, com o próprio Jesus Cristo sendo a principal pedra
angular, Eféseos 2:20 “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”.
A primeira fundação era de jaspe – Uma pedra muito dura; algumas
espécies, de uma cor verde-mar, mas geralmente de um brilho marrom
avermelhado.
A segunda, de safira – De uma sutil cor azul, quase tão dura quanto o
diamante.
A terceira, de calcedônia – Um gênero de gemas semitransparentes, das
quais existem quatro tipos: 1. Branco-azulado, a mais comum. 2. A com
nervuras, na cor leitosa fosca, de pouco valor. 3. A de cor preta acastanhada; a
219
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
menos bonita de todas. 4. A de cor amarela e vermelha, a mais bonita, e a mais
valiosa de todas.
Até aqui, tem sido encontrada apenas na Índia Oriental.
A quarta, de esmeralda – De cor verde brilhante, sem qualquer mistura,
e uma das mais bonitas de todas as gemas. A verdadeira esmeralda oriental, que
é muito escassa, parece apenas ser encontrada no reino de Cambay.
21:20 – O quinto, sardônica; o sexto, sárdio; o sétimo, crisólito; o
oitavo, berilo; o nono, topázio; o décimo, crisópraso; o undécimo, jacinto; o
duodécimo, ametista.
A quinta, de sardônia – A ônix é uma variedade acidental do tipo ágata;
ela é dura, e de cor negra, com uma faixa de um branco azulado, e, algumas
vezes, avermelhada. Quando sobre um ou ambos os lados do branco, acontece
de ter também uma faixa de cor avermelhada, os joalheiros a chamam de
sardônia.
A sexta, de sárdio – A pedra sárdio, sardel ou sardine, é uma pedra
preciosa de cor vermelho-sangue.
A sétima, de crisólita – A pedra de ouro. Ela é de um verde fusco. Com
um aspecto de amarelo, e uma das espécies de topázio.
A oitava, de berilo – Esta é uma gema transparente de cor verde
azulada.
A nona, de topázio – de um verde muito pálido, com uma mistura de
amarelo. Ela é considerada pelos mineralogistas como uma variedade de safira.
A décima, de carisópraso – uma variedade de crisólita, chamada por
alguns de verde amarelado, e topázio turvo. Ela difere da crisólita apenas por
tem uma coloração azulada.
A décima primeira, de jacinto – Uma pedra preciosa de cor vermelha
muito pálida, com uma mistura de amarelo. É a mesma que a pedra hessonita
ou cinamomo.
A decimal segunda, de ametista – Uma gema geralmente de cor púrpura
ou violeta, composta de um forte azul e um profundo vermelho.
220
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Essas pedras são praticamente as mesmas que aquelas no peitoral do
sumo sacerdote – Êxodo 28:17 “E o encherás de pedras de engaste, com
quatro ordens de pedras; a ordem de um sárdio, de um topázio, e de um
carbúnculo; esta será a primeira ordem; e a segunda ordem será de uma
esmeralda, de uma safira, e de um diamante; e a terceira ordem será de um
jacinto, de uma ágata, e de uma ametista; etc...”, e, provavelmente,
pretenderam expressar o significado das palavras Hebraicas lá usadas. Veja as
notas sobre as passagens acima, onde essas gemas são especialmente
explicadas.
21:21 – E as doze portas eram doze pérolas; cada uma das portas
era uma pérola; e a praça da cidade de ouro puro, como vidro
transparente.
Os doze portões eram doze pérolas – Isto deve ser meramente
figurativo, porque é contra a ordem da natureza produzir uma pérola larga o
suficiente para fazer um portão para tal imensa cidade. Mas João pode se referir
a algumas relações desta natureza, em meio aos seus conterrâneos, que falam
muito das mais prodigiosas pérolas. Eu darei um exemplo: “Quando Rabino
Juchanan (João) falou que Deus providenciaria jóias e pérolas, trinta cúbicos
cada, dez dos quais excederiam na altura, vinte cúbicos, e os colocariam nos
portões de Jerusalém, de acordo com o que está escrito em Isaías 54:12 ‘E
farei a ti janelas de ágatas, e teus portões de carbúnculos’, um de seus
discípulos o ridicularizou dizendo: ‘Onde haverá tal? Uma vez que no
momento, não existe um ovo de pomba tão grande? Mais tarde, em um navio,
ele viu os anjos ministros cortando gemas e pérolas, e perguntou a eles para
que propósito faziam isto. E eles responderam que era para colocá-las nos
portões de Jerusalém. Em seu retorno, ele encontrou Rabino Juchanan,
ensinando como de costume; e perguntou: Explique-me, mestre, o que tenho
visto. E ele respondeu: Tu, ignorante, exceto se tu veres, tu não acreditarás; tu
não receberás a palavra dos homens sábios? Naquele momento, ele fixou seus
olhos sobre ele, e ele foi reduzido a uma pilha de ossos” - Bava bathra, e
Sanhedrin. Veja Schoettgen.
21:22 – E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus
Todo-Poderoso, e o Cordeiro.
Eu vi nenhum templo – Não haverá necessidade de um templo, onde
Deus e o Cordeiro estiverem manifestadamente presentes.
221
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
21:23 – E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela
resplandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a
sua lâmpada.
Não havia necessidade de sol – Esta é também uma das tradições dos
anciãos judaicos, de que “no mundo vindouro, os Israelitas não teriam
necessidade de sol durante o dia, nem de lua à noite” – Yacult Rubeni.
A luz de Deus brilha nesta cidade, e, no Cordeiro, esta luz está
concentrada, e dele, espalha-se para todos os lugares.
21:24 – E as nações dos salvos andarão à sua luz; e os reis da terra
trarão para ela a sua glória e honra.
As nações daqueles que são salvos – Esta é uma alusão à promessa de
que os gentios trariam suas riqueza e glória e excelência para o templo em
Jerusalém, depois que fosse reconstruído. Veja Versículo 26.
21:25 – E as suas portas não se fecharão de dia, porque ali não
haverá noite.
Os portões dela não serão fechados, afinal – A Igreja Cristã deverá
sempre permanecer aberta para receber os pecadores de todos os tipos, níveis e
nações.
Não haverá mais noite – Não mais idolatria, nem escuridão intelectual;
as Escrituras serão lidas em todos os lugares, a pura palavra, pregada, em cada
canto, e o Espírito de Deus brilhará e operará em todos os corações.
21:26 – E a ela trarão a glória e honra das nações.
A glória e honra das nações dentro dela – Ainda alude às declarações
dos profetas (veja as passagens, na margem do versículo 24, em diante), de
que os gentios seriam conduzidos a contribuírem para as riquezas e glórias do
templo, através de suas dádivas, etc.
21:27 – E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa
abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do
Cordeiro.
222
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
De maneira nenhuma, entrará nela alguma coisa suja – Veja Isaías 35:8
“E ali haverá uma estrada, um caminho, que se chamará o caminho santo; o
imundo não passará por ele, mas será para aqueles; os caminhantes, até
mesmo os loucos, não errarão”. 52:1 “Desperta, desperta, veste-te da tua
fortaleza, ó Sião; veste-te das tuas roupas formosas, ó Jerusalém, cidade santa,
porque nunca mais entrará em ti nem incircunciso nem imundo”. Nem uma
pessoa impura – aquela que transforma a graça de Deus em lascívia; nem um
mentiroso – aquele que mantém e propaga as falsas doutrinas.
Mas aqueles que estão escritos – Os reconhecidos membros
perseverantes da verdadeira Igreja de Cristo entrarão no céu, e apenas os que
estão salvos de seus pecados terão lugar na militante Igreja.
TODOS os cristãos são constrangidos, através do batismo, a
renunciarem ao diabo e a todas as suas obras, às pompas e vaidades deste
mundo pecaminoso, e a todas as luxúrias da carne; e manterem a palavra santa
e os mandamentos de Deus; e caminharem dessa forma, todos os dias de suas
vidas. Esta é a geração daqueles que buscam tua face, ò, Deus de Jacó!
Leitor, és tu deste número? Ou estás esperando a glória eterna,
enquanto vives em pecado? Se for assim, tu serás terrivelmente desapontado.
Abusar da misericórdia de Deus é tão destrutivo quanto desesperar-se de sua
graça. Onde Deus dá poder tanto para querer e fazer, o indivíduo deverá operar
sua salvação com temor e tremor.
223
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
CAPÍTULO XXII
O rio da água da vida, 1. A árvore da vida, 2. Não existe
maldição, nem escuridão na cidade de Deus, 3-5. O anjo assegura João, a
respeito da verdade do que ele ouve, e afirma que o tempo do cumprimento está
à mão, 6,7. Ele proíbe João de adorá-lo, 8,9, Novamente, ele afirma que o
tempo do cumprimento das profecias deste livro está próximo, 10,12. Cristo, o
Alfa e Ômega, 13. A bem-aventurança daqueles que mantém seus
mandamentos; eles entram pelos portões da cidade; 14. Todos os iníquos serão
excluídos, 15. Cristo enviou seu anjo para testificar dessas coisas nas Igrejas,
16. O convite do Espírito e da noiva, 17. Uma maldição é pronunciada contra
aqueles que acrescentarem ou tirarem das profecias deste livro, 18, 19. Cristo
vem rapidamente, 20. A benção apostólica, 21.
As Notas Sobre o Capítulo XXII
22:1– E MOSTROU-ME o rio puro da água da vida, claro como
cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro.
O rio puro da água da vida – Esta é evidentemente uma referência ao
jardim do paraíso, e o rio, através do qual ele era irrigado; e também uma
alusão ao relato de Ezequiel 47:7-12 “E, tendo eu voltado, eis que à margem
do rio havia uma grande abundância de árvores, de um e de outro lado. Então,
me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem ao deserto, e
entram no mar; e, sendo levadas ao mar, as águas tornar-se-ão saudáveis.
Então, me disse: Estas águas saem para a região oriental, e descem ao deserto,
e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, as águas tornar-se-ão saudáveis. E
será que toda a criatura vivente que passar por onde quer que estes rios
entrarem, viverá; e haverá muitíssimo peixe, porque lá chegarão estas águas, e
serão saudáveis, e viverá tudo por onde quer que entrar este rio., etc...”. A
água da vida, como vimos antes, geralmente significa água da fonte ou água
corrente; aqui ela pode significar comunicações incessantes de felicidade,
provenientes de Deus.
22:2 – No meio da sua praça, e de um e de outro lado do rio, estava
a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês;
e as folhas da árvore são para a saúde das nações.
No meio da rua – Ou seja, da cidade que foi descrita no capítulo
anterior.
224
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A árvore da vida – Uma alusão a Gênesis 2:9 “E o Senhor Deus fez
brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida; e a árvore
da vida no meio do jardim, e a árvore do conhecimento do bem e do mal”. E,
uma vez que esta árvore da vida está nas ruas da cidade, e de cada lado do rio, a
árvore aqui deve ser uma troca do singular para o plural, árvores da vida, ou
árvores que produzem frutos, através dos quais, a vida é preservada. O relato
em Ezequiel 47:12 é este: “E, através do rio, junto às margens, deste e
daquele lado, crescerão todas as árvores para alimento, cujas folhas não
murcharão – e produzirão novos frutos, conforme seu tempo – e os frutos serão
para alimento, e as folhas para medicamento”.
Doze espécies de frutos – Ou frutos, doze vezes no ano, ou produzidos
todos os meses. E porque esta era uma cidade grande e espaçosa, uma fonte
não era suficiente para prover água, portanto, um rio é mencionado; um grande
rio, com que será suficientemente irrigada. Alguns pensam que a árvore da vida
seja o Evangelho; os doze frutos, os doze apóstolos, e as folhas, as doutrinas
Evangélicas, através das quais, as nações, os gentios são curados da doença do
pecado. Parece que esta é uma interpretação fantástica.
22:3 – E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela
estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão.
Não haverá mais maldição – Em vez de katanaqema, maldição, nas
melhores versões se lê: katasqema, pessoa amaldiçoada. Como não haverá mais
pecado contra Deus, então não haverá mais maldição de Deus às pessoas;
porque elas serão todas suas servas. Nossos primeiros pais vieram sob uma
maldição, porque pecaram contra seu Criador no paraíso; essas nunca
cometeram apostasia, portanto, nem elas, nem a terra seriam amaldiçoadas.
22:4 – E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome.
Verão sua face – Desfrutarão do que é chamada de a visão beatífica;
eles mostrarão a mais completa evidência de que pertencem inteiramente a
Cristo, porque seu nome será escrito em suas testas.
22:5 – E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada
nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os ilumina; e reinarão para todo
o sempre.
Não haverá mais noite – Veja os versículos 23 e 25 do capítulo
precedente: “E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela
225
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
resplandeçam, porque a glória de Deus a tem iluminado, e o Cordeiro é a sua
lâmpada. (...) E as suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá
noite”.
22:6 – E disse-me: Estas palavras são fiéis e verdadeiras; e o
Senhor, o Deus dos santos profetas, enviou o seu anjo, para mostrar aos
seus servos as coisas que em breve hão de acontecer.
São palavras fiéis e verdadeiras – Veja o capítulo precedente, 21:5 “E o
que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E
disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis”. Deste
versículo até o final do capítulo, é considerado o epílogo deste livro. (1) O anjo
afirma a verdade de tudo que falou, versículo 6-11. (2) Jesus Cristo confirma o
que foi afirmado, e ele mesmo garante o cumprimento de todas as profecias,
versículo 12-17. (3) João previne seus leitores contra acrescentar ou diminuir e
conclui com a bênção apostólica, versículo 18-21.
As coisas que devem acontecer brevemente – Existem muitas
afirmações neste livro, que, se tomadas literalmente, insinuariam que as
profecias se cumpririam, em um curto período de tempo, logo que fossem
entregues a João, e este é um forte argumento ao entendimento de Wetstein, e
aqueles que defendem que as profecias deste livro se referiram àqueles tempos
em que o apóstolo viveu, e às perturbações que, então, aconteceram, não apenas
em meio aos judeus, mas também no Império Romano.
O que essas profecias querem dizem, e quando e como elas serão
cumpridas, apenas Deus no céu sabe.
22:7 – Eis que presto venho: Bem-aventurado aquele que guarda as
palavras da profecia deste livro.
Eu me prostrei para adorar – Prostrei-me diante dele, como diante de
um ser superior, para expressar minha gratidão, e agradecer a ele pelas
comunicações que me fez. Veja Apocalipse 19:10 “E eu lancei-me a seus pés
para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de
teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o
testemunho de Jesus é o espírito de profecia”.
22:10 – E disse-me: Não seles as palavras da profecia deste livro;
porque próximo está o tempo.
226
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Não sele os dizeres – Não selem, para as futuras gerações; elas dizem
respeito aos tempos presentes; elas devem brevemente passar, porque o tempo
está à mão. Veja versículo 6. No que concerne aos judeus certamente estava.
22:11 – Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, sujese ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja
santificado ainda.
Aquele que é injusto, que continue injusto – O tempo do cumprimento
chegará tão repentinamente que haverá pouco tempo para arrependimento e
correções. O que tiver que ser feito, que seja feito imediatamente; e aquele que
é santo, persevere, e se agarre firme o que ele recebeu.
22:12 – E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para
dar a cada um segundo a sua obra.
Observe, eu venho rapidamente – Eu venho para estabelecer minha
causa, conforto, e apoio aos meus seguidores, e punir o iníquo.
22:13 – Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o
derradeiro.
Eu sou o Alfa e Ômega – Veja capítulo 1:8, 18.
22:14 – Bem-aventurados aqueles que guardam os seus
mandamentos, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar
na cidade pelas portas.
Abençoado são aqueles que cumprem seus mandamentos – São felizes
os que obedecem.
Aqueles que têm direito à árvore da vida – O original é muito mais
expressivo - Æina estai h exousia auton epi to xulon thv zwhv? Que aqueles
que têm autoridade sobre a árvore da vida; uma autoridade fundamentada no
direito; este direito fundamentado na obediência aos mandamentos de Deus; e
esta obediência produzida pela graça de Deus, operando neles. Sem graça,
nenhuma obediência; sem obediência, nenhuma autoridade para a árvore da
vida; sem autoridade, nenhum direito; sem direito, nenhum desfrute: A graça de
Deus, através de Cristo produz o bom, e, então, o recompensa como se tudo
fosse nosso.
227
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
22:15 – Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se
prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a
mentira.
Lá fora, estão os cães – Todos que não são circuncidados no coração.
Os judeus chamam todos os não circuncidados, de cães. ‘Quem é o cão? Resp.
Aquele que não é circuncidado’. Pirkey Elieser, chap. 29.
E os feiticeiros – Veja as observações no capítulo 21:8 “Mas, quanto
aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos
fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua
parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte”.
22:16 – Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas
nas igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da
manhã.
Eu, Jesus – O Criador, o Redentor, e Juiz de todos os homens. Enviei
meu anjo – Um mensageiro especial do céu. Eu sou a raiz e a descendência de
Davi – Cristo é a raiz de Davi, quanto à sua natureza Divina; porque dela, toda
a raça humana se originou, porque ele é o Criador de todas as coisas, e sem ele,
nada do que está feito existiria. E ele é a descendência de Davi, quanto à sua
natureza humana; da linhagem de Davi, e se tornou, desta forma, herdeiro do
trono judaico, e o único herdeiro que, então, existiu; e é notável que toda a
família real terminasse em Cristo: E, como ELE vive para sempre, ele é o único
herdeiro verdadeiro de Davi, e rei eterno.
O brilho e a estrela da manhã – Eu sou o esplendor e glória do meu
reino; como a estrela da manhã introduz o sol, eu devo introduzir as límpidas e
eternas glorias do reino eterno.
22:17 – E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga:
Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da
vida.
O Espírito e a noiva – Todos os profetas e todos os apóstolos; a Igreja
de Deus, debaixo do Velho Testamento, e a Igreja de Cristo, debaixo do Novo.
Dizem, vêm – Convidam os homens para Jesus, para que, através dele,
possam ser salvos e preparados para este reino.
228
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Que aqueles que ouvem – Que todos que são privilegiados com a leitura
e ouviram a palavra de Deus, se unam no convite geral aos pecadores.
Aquele que tem sede – Aquele que sente sua necessidade de salvação, e
deseja beber da fonte viva.
E todos que quiserem – Nenhuma alma é excluída: Jesus morreu por
todos os homens; cada um pode ser salvo; portanto, que aquele que deseja sua
salvação, tome da água da vida, livremente – sem dinheiro ou preço!
22:18 – Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da
profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus
fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro;
Se algum homem acrescentar – Der algum outro significado a essas
profecias, ou qualquer outra aplicação a elas, do que a que Deus pretende, ele,
embora não originalmente pretendido, sofrerá as calamidades colocadas neste
livro.
22:19 – E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta
profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das
coisas que estão escritas neste livro.
Se algum homem tirar - ou minimizar este significado, restringir o
sentido, explicar fora do espírito e objetivo dessas profecias, Deus o excluirá do
livro da vida, etc. Assim, Jesus Cristo adverte todos aqueles que consideram
este livro, que tomem cuidado ao imporem suas próprias conjecturas, a
respeito. Eu confesso que esta advertência tem sua própria influência poderosa
em minha mente, e impediu-me de indulgir minhas próprias conjecturas, quanto
ao seu significado, ou adotar as conjecturas de outros. Essas visões e ameaças
são muito delicadas e um assunto terrível para se brincar com ele, ou mesmo
tratar de uma maneira mais solene, onde o significado é obscuro. Eu devo
deixar essas coisas ao tempo e evento, aos mais seguros intérpretes. Nem um
jota ou til da palavra de Cristo deverá cair ao chão; e terá seu cumprimento no
devido tempo.
Isto é denominado de revelação, mas uma revelação de símbolos; uma
exibição de enigmas, para os quais, nenhuma solução especial é dada, e para a
qual, apenas Deus pode dar esclarecimento.
229
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
22:20 – Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo
venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.
De certo, virei rapidamente – Isto pode ser verdadeiramente dito para
todas as pessoas em todas as épocas. Jesus, o Juiz está à porta! Assim sendo,
venha, Senhor Jesus – É a vontade e o desejo da Igreja sofredora, e de todos os
seguidores de Deus, que há muito esperam pela vinda de seu reino.
22:21 – A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vós.
Amém.
A graça de nosso Senhor Jesus Cristo – Pode o favor e poderosa
influência de Jesus Cristo estar com todos vocês; vocês das sete Igrejas, e toda
a Igreja de Cristo, em todas as partes da terra, e através de todos os tempos.
Em vez de pantwn umwn, vocês todos, as mais excelentes MSS, e
versões, têm pantwn twn agiwn, todos os santos. Esta leitura, Griesbach
recebeu no texto como indiscutivelmente genuína.
Amém – Assim seja! E assim será para todo sempre. A opinião do Dr.
Priestley, com respeito à autenticidade deste livro, e a maneira como foi escrito,
não seria rejeitada, quer pelo estudioso ou pelo leitor devoto. “Eu penso que
seja impossível para qualquer pessoa inteligente e imparcial examinar este
livro, sem ser abalado, da maneira mais impressionante, com a peculiar
dignidade e sublimidade de sua composição, superior àquela de qualquer outro
escrito que seja, de maneira a ser convincente de que, considerando a época
em que ele apareceu, ninguém, a não ser uma pessoa divinamente inspirada o
teria escrito. Essas profecias são de tal maneira, a nos convencerem de que os
eventos anunciados foram realmente previstos, e descritos, de tal maneira, que
nenhuma pessoa que escrevesse, sem aquele conhecimento, teria feito. Isto
requer tal mistura de clareza e obscuridade, como nunca foi imitado, por
quaisquer dos forjadores de profecia. Ficções, escritas, evidentemente, depois
dos eventos, sempre são muito claras. Apenas nas Escrituras, e, especialmente,
no livro de Daniel, e este de Apocalipse, é que encontramos esta feliz mistura
de clareza e obscuridade nos relatos dos eventos futuros - Notas sobre
Apocalipse.
As Subscrições deste livro são poucas e sem importância:- O CODEX
ALEXANDRINUS tem simplesmente – A Revelação de João.
A SIRIACA duplica o Amém.
230
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
A ETIÓPICA – Aqui finaliza a visão do Apocalipse; Amém: ou seja,
como alguém diria, a visão que ocorreu em sua vida, e foi escrita pelo
abençoado João, o evangelista de Deus.
VULGATA e COPTA, nada.
ANCIÃOS ÁRABES - Pela assistência do Senhor Jesus Cristo, a visão
de João, o apóstolo e evangelista, o amado do Senhor, está terminado: este é o
Apocalipse que o Senhor revelou a ele para o serviço dos homens. Ao Senhor,
seja a glória para sempre e sempre.
Depois de trazer minhas breves notas deste muito obscuro livro, à
conclusão, embora eu não adote quaisquer das teorias que foram entregues a
respeito dele, ainda assim, eu dou o mais plausível entendimento dos anciãos
ou modernos, que vieram ao meu conhecimento. Isto eu agradavelmente faria,
se eu tivesse algum, para o qual eu pudesse dar uma preferência decisiva. No
entanto, como eu dei, no prefácio, a compreensão do Professor Wetsteun, é
certo que eu, na conclusão, desse a do Sr. Lowman, que é quase a mesma que a
do Bispo Newton, e que, até onde posso saber, é considerado, pelos mais
racionais teólogos, como sendo a mais consistente e provável.
O entendimento do estudioso e devoto Bengel pode ser encontrado nas
notas sobre este livro do falecido Rev. John Wesley; aquelas do Sr. Lowman,
que agora se seguem, podem ser encontradas no final das notas do Dr. Dodd.
Em meio a outras objeções - a este e a todos os outros
entendimentos -, eu acredito, o que me parece de vital importância, que suas
datas estão muito atrasadas. Eu penso que o livro foi escrito antes da destruição
de Jerusalém, e não em 95 ou 96, a data que eu sigo na margem; cuja data eu
dei, não como minha própria opinião, mas como a opinião de outros.
Adam Clarke [1762-1832]
------Apenas como curiosidade, duas cartas escritas pelo Sr. Wesley ao Sr.
Clarke.
Bristol, 9 de Setembro de 1790
Querido Adam.
231
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Será que o mal tempo que você teve no mar fez com que você
esquecesse sua fadiga, através da terra? Venha, coloca um contra o outro, e
você não terá grande motivo para se queixar de sua jornada. Você necessitará
de toda coragem e prudência que Deus tem lhe dado. Na verdade, você
precisará do constante suprimento de ambas. Muito gentilmente e muito
firmemente, você prosseguiria entre as rochas de ambos os lados. No grande
avivamento em Londres, minha primeira dificuldade foi trazer, no humor,
aqueles que se opuseram à obra, e a seguinte, foi verificar e regular as
extravagâncias daqueles que a promoveram. E esta foi a parte mais dura da
obra, porque muitos deles não suportariam alguma verificação, afinal. Mas eu
segui uma única regra, embora com toda a calma: ‘Você deve curvar-se ou
romper’. Neste meio tempo, enquanto você age corretamente, espere ser
envergonhado por ambos os lados. Eu lhe darei alguma direção: (1) Veja que
nenhum encontro de oração continue mais tarde do que nove da noite,
especialmente aos Domingos. Que a casa esteja vazia, antes que o relógio
marque nove. (2) Que não haja exortação em qualquer encontro de oração. (3)
Precavenha-se do ciúme ou julgamento do outro. (4) Nunca pense que um
homem seja um inimigo para a obra, porque ele reprova irregularidades. A paz
seja com você e os seus!
Eu sou querido Adam,
Seu afetuoso amigo
J. Wesley
****
Adam Clarke
Londres, 9 de Fevereiro de 1791
Querido Adam,
Você tem grande motivo para dar graças a Deus, por lhe dar
forças. Ele, de fato, o auxiliou de uma maneira maravilhosa, em face dessas
complicadas aflições [Sr. Clarke sofria de reumatismo]. Você bem pode dizer:
“Eu colocarei minha confiança no Senhor, por quanto tempo eu viva”. Eu
desejo que o Dr. Whitehead considere seu caso e lhe dê seus pensamentos
sobre ele. Eu não temo o fato de você fazer muito pouco, mas por fazer demais.
Eu estou em contínuo perigo disto. Faça pouco de cada vez, e você poderá
232
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
fazer mais. Meu amor à Irmã Cookman e Boyle [na Irlanda]; mas eu estou em
dúvidas, se poderei atravessar os mares alguma vez mais.
Que pregador é aquele que primeiro omitiu encontrar a Seleta
Sociedade? Eu espero que isto não destrua a obra!
Você tem agido corretamente em estabelecer a Sociedade dos
Estrangeiros [Amigos]. Ela é uma excelente instituição.
Eu estou quase perdido, com respeito ao Sr. Madan. Eu não sei
o que pensar dele. Envie-me seus melhores pensamentos sobre ele. Não
permita que os pregadores não excluídos, de qualquer maneira, rastejem
novamente. Seja como for, escreva, e me envie seus pensamentos sobre
Magnetismo Animal. Eu coloco minha face contra este conselho de satanás.
Dois de nossos pregadores aqui estão nesta ilusão satânica; mas, se eles
persistirem em defendê-la, eu devo renunciar a eles. Eu conheço seus
princípios muito bem. Com muito amor à sua esposa, eu sou, meu querido
Adam.
Seu afetuoso amigo
J. Wesley.
[Carta do Sr. Wesley, escrita um mês antes de seu falecimento. Sr.
Clarke morreu em 1832 - 41 anos depois – Na época desta carta, o Sr. Clarke
tinha 31 anos]
Fim de Apocalipse do Sr. Clarke.
e de Jeová. Nesta completa convicção, ele não considerou sua vida
querida a ele, mas terminou sua dura corrida com alegria, alegremente
entregando sua vida pelo testemunho de Jesus; e, assim, seu sol luminoso
colocado no sangue, ele ressuscitaria novamente na glória. A conversão de
Paulo é o triunfo do Cristianismo, seus escritos, a mais completa exibição e
defesa de suas doutrinas; e sua vida e morte, a gloriosa ilustração de seus
princípios. Armados com esta história da conversão de Paulo e vida, o mais
fraco crente não precisa temer o mais poderoso infiel. O nono capítulo de
Atos sempre permanecerá uma inexpugnável fortaleza na defesa do
Cristianismo e derrota para seus inimigos.
233
APOCALÍPSE DE ADAM CLARKE
Leitor, Deus não tem feito suas obras maravilhosas para que ele possa estar
na lembrança eternamente?
(continua...)
Trad. Izilda bella
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