Revista Educação Agrícola Superior ABEAS

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Revista Educação Agrícola Superior ABEAS
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS
V 25, N 02, 2010
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011.
ABEAS
Presidente:
Engenheiro Agrônomo: José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy
[email protected] / [email protected]
1º Vice-Presidente
Ricardo Antônio de Arruda Veiga - [email protected]
2º Vice-Presidente
Eugênio Nilmar dos Santos - [email protected]
1º Secretário
Geraldo Antônio de Andrade Araújo - [email protected]
2° Secretário
Moacir Cerqueira da Silva - [email protected]
1º Tesoureiro
Pedro Roberto de Azambuja Madruga - [email protected]
2º Tesoureiro
Raimundo Pinheiro Neto - [email protected]
Secretário Executivo
Engenheiro Agrônomo: Ronaldo Pereira de Sousa - [email protected]
Coordenação Técnica deste Número
Dermeval Araújo Furtado - [email protected]
Editoração Eletrônica deste Número
Elvis Andrade Soares - [email protected]
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS
V 25, N 02, 2010
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011.
Sumário
E IMPORTÂNCIA DA MONITORIA PARA O MELHORAMENTO DO APRENDIZADO
MATEMÁTICO DOS ESTUDANTES DA ÁREA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
52
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO METODOLÓGICO DE
POTENCIALIDADE DE POLITIZAÇÃO
57
INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DO SUJEITO
ECOLÓGICO
62
EDUCAMPO – PROJETO PILOTO DE INSERÇÃO DE CONTEÚDOS AGRÍCOLAS E
AMBIENTAIS NAS ESCOLAS DA ZONA RURAL DE BARREIRAS – BA
65
ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE VAGAS OFERECIDAS EM
VESTIBULAR PELA UFRPE NO PERÍODO DE 2004 A 2009
70
ASPECTOS LEGAIS DA COBRANÇA DE ÁGUA NO BRASIL
74
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM CACHOEIRA
DOS ÍNDIOS - PB
79
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS AGRÍCOLAS: “MEIA IDADE” DE FORMAÇÃO SÓCIOPROFISSIONAL DE DOCENTES PARA O ENSINO AGRÍCOLA NA UFRRJ
84
PRODUÇÃO DE TELHAS COM RESÍDUOS INDUSTRIAIS E FIBRAS
87
O REUSO DE ÁGUA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS:
NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇÃO DO REUSO PARA FINS AGRÍCOLAS
93
INSTALAÇÕES PARA CAPRINOS
99
CONDIÇÕES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO RURAL EM UMA MICROBACIA
HIDROGRÁFICA DO CARIRI PARAIBANO
104
CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO IDOSA DA BACIA HIDROGRÁFICA DE RIBEIRA/PB: UMA AVALIAÇÃO DO PRESENTE E PASSADO
113
PAPEL DA ANÁLISE SENSORIAL COMO FERRAMENTA DE APOIO NO PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS
120
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2,p.52-56, 2010.
A IMPORTÂNCIA DA MONITORIA PARA O MELHORAMENTO DO APRENDIZADO MATEMÁTICO DOS ESTUDANTES
DA ÁREA DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Edmilson I. B. Almeida2; Péricles F. Borges1; Wellington S. Ribeiro2
1
Professor Associados do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba.
2
Aluno de Graduação em Agronomia CCA/UFPB e-mail:[email protected]
INTRODUÇÃO
Há muito tempo busca-se um consenso quanto à definição do que é a Matemática. No
entanto, nas últimas décadas do século XX tomou forma uma definição que tem ampla aceitação
entre os matemáticos: matemática é a ciência das regularidades (padrões). Segundo esta
definição, o trabalho do matemático consiste em examinar padrões abstratos, tanto reais como
imaginários visuais ou mentais. Ou seja, os matemáticos procuram regularidades nos números,
no espaço, na ciência e na imaginação e as teorias matemáticas tentam explicar as relações entre
elas.
A matemática é a ciência dos números e dos cálculos e desde a antiguidade, o homem a
utiliza para facilitar a vida e organizar a sociedade. O desenvolvimento da matemática permeou
as primeiras civilizações, e tornou possível o desenvolvimento de aplicações concretas: o comércio, o manejo de plantações, a medição de terra, a previsão de eventos astronômicos, e por
vezes, a realização de rituais religiosos. Tais desenvolvimentos são creditados às civilizações
acadiana, babilônica, egípcia, chinesa, ou ainda, àquelas do vale dos hindus.
A matemática foi usada pelos egípcios na construção de pirâmides, diques, canais de irrigação e estudos de astronomia; pelos gregos antigos tais como, Thalles de Mileto e Pitágoras no
desenvolvimento de vários teoremas e conceitos matemáticos; pela civilização islâmica permitindo que a herança grega fosse conservada, e propiciando seu confronto com as descobertas
chinesas e hindus, notadamente na questão da representação numérica, onde os trabalhos matemáticos foram desenvolvidos, consideravelmente, na trigonometria e na aritmética.
Como observamos no pequeno histórico matemático citado, anteriormente, a Matemática
desempenhou grande importância no desenvolvimento e manutenção das civilizações antigas,
pois a atividade econômica principal e fonte de subsistência da época era a agricultura. Grande
E importância da monitoria para o melhoramento do aprendizado matemático dos
parte dos estudos e modelos matemáticos dos
estudiosos e cientistas da antiguidade foram
direcionados para essa área, à procura de técnicas de sustentabilidade local e acúmulo de renda
de forma exata e eficaz para os que estavam mais
no pico da pirâmide social. Algumas sociedades
por não saberem utilizar os conhecimentos matemáticos para fins agrícolas e não saberem manusear a terra de forma precisa acabaram sendo
extintas quando os primeiros problemas
(salinização do solo, seca, acidez do solo) nas
áreas em que viviam começaram a surgir. Atualmente, os modelos matemáticos assim como no
passado buscam alternativas modernas e cada
vez mais precisas para o desenvolvimento agrícola, constituindo grande expressão em áreas
como a agrometeorologia, irrigação, mecanização agrícola, construção rural, hidráulica agrícola, dentre outras.
“Vários autores definem as características
e atribuições do monitor. Alguns citam que o
monitor deve oferecer apoio didático ao aluno,
buscando solucionar dúvidas, identificar características individuais, motivar os alunos despertando interesses individuais e coletivos, ser responsável pela avaliação. Na verdade eles estão bastante corretos ao fazerem essa afirmação, pois o monitor tem uma função de suprir a
ausência do professor em determinados momentos, e tem como principal objetivo aproveitar esse tempo para traçar estratégias nas
soluções de questões às quais os alunos despertaram dúvidas, fazendo com que esses
aprendam e se tornem mais confiantes para as
cobranças futuras” (França, 2000). Sendo assim, o presente trabalho tem o objetivo de demonstrar a importância do projeto de monitoria
de Matemática aplicada às Ciências Agrárias,
tendo em vista o reflexo deste projeto no índice de aprovação dos alunos matriculados nas
disciplinas de Matemática I, Matemática II,
Fundamentos da Matemática e Matemática
Aplicada a Zootecnia. Será feita uma comparação entre os índices de aprovação dos alunos destas disciplinas desde o período 2006.1
no qual o projeto foi criado até o período
2008.1, pois os resultados do período 2008.2,
no qual o meu contrato foi realmente encerra-
53
do, não poderam ser anexados ao trabalho, devido às datas de entrega deste relatório final.
DESCRIÇÃO E METODOLOGIA
Ao decorrer das atividades referentes ao
projeto de monitoria durante o intervalo de tempo de sete meses e meio, tempo este que
corresponde no calendário universitário aos períodos 2008.1 e 2008.2, as aulas foram realizadas no Prédio Correia de Vasconcelos (Prédio
da mata) situado, mais precisamente, no Departamento de Ciências Fundamentais e Socias
(DCFS) pertencente ao Centro de Ciências
Agrárias do Campus II da Universidade Federal da Paraíba. As aulas ocorreram em horários
diurnos e noturnos durante doze horas semanais.
A variação dos horários em diferentes períodos
dos dias (manhã, tarde e noite) visou uma maior
acessibilidade dos alunos para estas aulas de
monitoria semanais.
Desde o início procurou-se criar estratégias didáticas para facilitar o entendimento dos
assuntos propostos pelo professor, tendo sempre como foco principal aqueles alunos que demonstravam maiores dificuldades para assimilação do conteúdo e resolução de questões.
No primeiro período de trabalho (2008.1),
tendo como material de trabalho, listas de estudo dirigido propostas pelo professor das disciplinas de Matemática I; Matemática II; e Fundamentos da Matemática, as aulas de monitoria
enfatizaram a resolução e discussão destas listas
com aqueles alunos que compareciam nas aulas
de monitoria. Porém não eram todos os exercícios que eram resolvidos em quadro negro, eram
na verdade discutidas as estratégias de como
solucionar as questões para que deste modo os
alunos matriculados na disciplina e presentes
nestas aulas de monitoria pudessem raciocinar
matematicamente e chegar aos resultados desejados, assimilando desta maneira o conteúdo
proposto.
Após a transição do período 2008.1 para
o período 2008.2 o professor das disciplinas
(Matemática I e II e Fundamentos da Matemática), às quais este projeto de monitoria foi
direcionado alterou a estratégia didática àquelas
turmas de matemática II, adotando uma apostila
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de estudo, na qual o assunto era bem mais detalhado para o aluno. Com essa nova estratégia, o
professor visou um maior aproveitamento do
tempo de aula e resolução de maior número de
atividades, o que acabou por aumentar o rendimento dos alunos. A assiduidade dos alunos nas
aulas de monitoria continuou na média do período anterior e as estratégias didáticas utilizadas
nestas aulas foram bem semelhantes àquelas citadas anteriormente.
Visou-se no intervalo de tempo deste projeto de monitoria observar a influência das aulas
de monitoria sobre o índice de aprovação dos
alunos nas disciplinas de Matemática I, Matemática II e Fundamentos da Matemática em relação a períodos anteriores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O número de alunos matriculados ressaltado nas figuras abaixo foi obtido pela diferença
entre o número de alunos matriculados nas disciplinas e o número de alunos que efetuaram o
trancamento das disciplinas, para que desta forma estes alunos que realizaram trancamento não
influam sobre o resultado dos aprovados esboço nas figuras.
A figura 1 representa uma relação entre a
quantidade de alunos matriculados e alunos aprovados, nos períodos de 2006.1 e 2006.2.
Pode-se observar pela figura 1 que no
período 2006.1 no qual o projet o de
monitoria de Matemática começou a ser executado, o número totalitário de alunos matriculados nas disciplinas de Matemática I;
Matemática II e Fundamentos da Matemática foi de 171 alunos, em contrapartida o número total de alunos aprovados neste mesmo período foi de 136, o que gerou um saldo de 35 reprovados no período 2006.1. Na
disciplina de Matemática I foram matriculados 91 alunos, porém foram aprovados,
aproximadamente 72,5% (66 alunos) dos alunos. Na disciplina de Matemática II foram
matriculados 42 estudantes e destes 88,1%
(37 alunos) foram aprovados. Na disciplina
de Fundamentos da Matemática foram matriculados 38 alunos e destes foram 88,1%
(33 alunos) aprovados.
De acordo com o figura 1, no período
2006. 2, onde a disciplina de Fundamentos da
Matemática ser ausente, devido a ocorrência de
uma chamada pela comissão da UFPB, o projeto de monitoria começou a surtir efeito sobre
o índice total de aprovação dos alunos nas disciplinas de Matemática I e Matemática II. Houve um aumento de 7% (mais 10 alunos aprovados) na porcentagem de alunos aprovados na
disciplina Matemática I em comparação ao período de 2006.2. Na disciplina de Matemática
II, também aconteceu um pequeno aumento no
índice de aprovados em relação ao período anterior.
Figura 1. Número de alunos matriculados em comparação ao número de alunos aprovados nas disciplinas, nos períodosdos v 06. 1 e 06.2
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Figura 2. Número de alunos matriculados em comparação ao número de alunos aprovados nas disciplinas, nos períodosdos v 07.1 e 07.2
É importante frisar que no período 2006.2,
dos 122 alunos matriculados nas disciplinas de
Matemática I e II, 104 foram aprovados, o que
gerou um saldo de 18 alunos reprovados, saldo
este bastante diminuto em relação ao período
2006.1, onde a quantidade total de alunos reprovados foi de 35, o que demonstra a influência do projeto de monitoria em relação ao período anterior.
A figura 2 representa uma relação entre a
quantidade de alunos matriculados e alunos aprovados, nos períodos de 2007.1 e 2007.2.
Conforme a figura 2, no período 2007.1 a
quantidade total de alunos matriculados nas disciplinas de Matemática I e II e Fundamentos da
Matemática, alcançou o número de 194 alunos, e
a quantidade de alunos aprovados neste mesmo
período foi de 175 alunos, o que gerou um saldo
de apenas 19 reprovados. Este saldo de apenas
19 reprovados dos 194 alunos matriculados denota a importância da monitoria de Matemática
sobre o índice de aprovação dos alunos, já que a
cada período o índice de aprovação dos alunos
matriculados tem tendido a elevar.
Figura 3.. Número de alunos matriculados em comparação ao número de alunos aprovados nas disciplinas do período 08.1
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De acordo com a figura no período 2007.2,
o número de alunos aprovados na disciplina de
Matemática I aumentou 20,27% em relação ao
período 2006.1. O número de alunos aprovados na disciplina de Matemática II, também sofreu um leve acréscimo em relação ao período
anterior.
A figura 3 representa uma relação entre a
quantidade de alunos matriculados e alunos aprovados, nos períodos de 2008.1 e 2008.2.
Segundo a figura 3, a quantidade de alunos
aprovados nas disciplinas de Matemática I e II,
Matemática Aplicada a Zootecnia e Fundamentos da Matemática tendeu a aumentar bruscamente em relação aos períodos anteriores, destacando-se a quantidade de alunos aprovados
na disciplina de Matemática Aplicada a Zootecnia
que foi de 100%.
CONCLUSÃO
Embora alguns alunos às vezes se precipitem e acabem realizando alguns trancamentos
precoces das disciplinas para as quais este projeto de monitoria está sendo direcionado, a quantidade de alunos aprovados em relação ao numero de alunos matriculados nas disciplinas de
Matemática I, Matemática II, Fundamentos da
Matemática e Matemática Aplicada à Zootecnia
têm aumentado a cada período (2006. 1 a
2008.1), conforme o amadurecimento maior
deste projeto monitoria.
REFERÊNCIAS
BOYER, C. B. História da Matemática. São Paulo: Edgard Blücher, 1974.
FERREIRA, R. S. Matemática Aplicada às Ciências Agrárias: análise de dados e modelos.
1ª. Ed. Viçosa: Editora UFV 1999, 333 p.
FERRETTI, C. J; ZIBAS, D. M. L.; MADEIRA, F. R.; RANCO, M. L. P. B. Tecnologias,
Trabalho e Educação: um debate
multidisciplinar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1994.
FRANÇA, G. Curso de preparação de monitores
para a educação a distância. São Paulo: Rede
Brasileira de EAD LTDA, 2000.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. Ler, Escrever e
Resolver Problemas: Habilidades Básicas para
Aprender Matemática. Porto Alegre: Artmed.
2001.
OHSE, Marcos. História da Matemática: a matemática na antiguidade. Disponível em: <http://
www.somatematica.com.br/história.php>
Acesso:05 de março de 2009.
TRIPODORO, J. C. V. “Geometria Fractal com
DERIVE. Tratamiento de imágenes”. Epsilon:
Revista de La Sociedad Andaluza de
Educación Matemática “Thales” no. 51, 2001,
419-424. 76 Recursos e estratégias propostas
para aulas de matemática em cursos de ciências agrárias Revista Educação.
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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO
METODOLÓGICO DE POTENCIALIDADE DE POLITIZAÇÃO
Ângela M. C. Ramalho 1; Sandra S. F. da Silva1; Gesinaldo A. Cândido1 & Viviane B.
M. Nogueira1
1
Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina
Grande – UFCG. Av. Aprigio Veloso, nº 882. Bodocongó, Campina Grande – PB.
[email protected], [email protected], [email protected],
[email protected]
RESUMO
O estudo versa sobre uma análise da relevância do desenvolvimento de uma educação ambiental como instrumento de politização da problemática ambiental, entendida como qualidade formal e política, ou seja, a capacidade
de fazer sujeito crítico e atuante, incorporando a ética da responsabilidade ambiental e social nas suas preocupações e práticas da vida cotidiana. O meio ambiente como perspectiva social e política crítica do modelo de
desenvolvimento econômico e cultural têm possibilitado vários debates em todas as áreas do conhecimento,
estimulando a participação da população na tentativa de minimizar os complexos problemas ambientais. Sobretudo à educação ambiental como uma proposta que altera profundamente a educação como a que conhecemos.
Trata-se de uma educação que visa não só o uso racional de recursos naturais, mais basicamente a participação
dos cidadãos nas discussões sobre questões ambientais para que seus direitos sejam afirmados. Como uma
política que reivindica e prepara os sujeitos sociais para agir dialeticamente como elemento transformador das
relações com o meio ambiente, com novo propósito: contribuir efetivamente para a construção de uma sociedade
includente e ecologicamente sustentável. Nesse sentido, a educação deve ser vista como um fazer dialético e
político com práticas educativas mais comprometidas com a realidade social e ambiental.
PALAVRAS-CHAVE: política, educação ambiental, educação
ENVIRONMENTAL EDUCATION AS AN INSTRUMENT OF
METHODOLOGICAL POTENTIAL TO POLITICIZE
ABSTRACT
The study deals with an analysis of the importance of developing an environmental education as an instrument
of politicization of environmental concerns, understood as formal quality and political, that is, the ability to make
critical and active subject, the ethics of incorporating environmental and social responsibility in their concerns
and practices of everyday life. The environment as a social and political critique of the model of economic and
cultural development have enabled various discussions in all areas of knowledge, encouraging the participation
of the population in an attempt to minimize the complex environmental problems. Especially environmental
education as a proposal that makes significant changes to education as we know. This is an education that covers
not only the rational use of natural resources, more basically citizen’s participation in discussions about
environmental issues so that their rights are affirmed. As a policy claims and prepares social subjects to act as an
element dialectically transforming relations with the environment, with new purpose: to contribute effectively to
building a society inclusive and environmentally sustainable. In this sense, education must be seen as dialectic
to political and educational practices with more committed to social and environmental reality.
KEYWORDS: policy, environmental education, education
58
A. M. C. Ramalho et al.
INTRODUÇÃO
O estudo versa sobre a relevância do desenvolvimento de uma educação ambiental como
instrumento de politização da problemática
ambiental, entendida como qualidade formal e
política, ou seja, a capacidade de fazer sujeito
crítico e atuante, incorporando a ética da responsabilidade ambiental e social nas suas preocupações e práticas da vida cotidiana.
Esta discussão revela a necessidade de
perceber o meio ambiente como perspectiva
social e política crítica do modelo de desenvolvimento econômico que têm possibilitado vários
debates em todas as áreas do conhecimento,
configura-se como uma das atividades que estimula a participação da população na tentativa
de minimizar os complexos problemas
ambientais. Sobretudo à educação ambiental
como uma proposta que altera profundamente a
educação como à que conhecemos. Trata-se de
uma educação que visa não só o uso racional de
recursos naturais, mas principalmente a participação dos cidadãos nas discussões sobre questões ambientais para aprender, de modo
reconstrutivo político, tomado como uma das
definições mais essenciais da vida, sinalizando
sua estrutura dialética ambivalente, sempre
interdisciplinar. “Buscando refletir sobre a complexa organização entre os saberes globais e
saberes locais, implicados no horizonte da construção social da sustentabilidade” (MORIN,
2004, p. 11).
Uma educação ambiental com uma função social política que prepara os cidadãos para
agir dialeticamente como elemento de transformação das relações dos atores sociais com o
meio ambiente, com um novo propósito: contribuir para a construção de uma sociedade
mais humanitária, includente e ecologicamente
sustentável.
A educação deve ser vista como um fazer
dialético e político com práticas educativas mais
comprometidas com a realidade social e
ambiental. Considerando “[...] que a educação
é sempre uma atividade intencional, a ser medida pela referência a uma finalidade ou projeto,
ela configura práticas sociais movidas por interesses inerentes à cultura, felicidade dos indiví-
duos e sobrevivência da espécie humana” (CUNHA, 2004).
Nesse sentido, a educação/escola deve funcionar como um laboratório, um espaço indicado para a discussão, interpretação e aprendizado de vários problemas da atualidade como resultado da sua importância na formação dos cidadãos. É evidente que a escola deve estar sempre aberta ao conhecimento, inquietações e propostas de sua época, procurando consolidar inovações pedagógicas e metodológicas que contribuam efetivamente para práxis da sua função
social. A contribuição da educação ambiental,
na sua plenitude indica a busca de respostas aos
desafios, oferecendo alternativas sintonizadas
com a sociedade contemporânea cujos conflitos, diferenças e riscos colocam em dúvida a
possibilidade de continuidade de vida no planeta terra.
Nessa perspectiva, é imperativo que se
busque uma reorientação do ensino no sentido
da promoção da elevação da consciência crítica
cidadã, a fim de fortalecer as conexões e o compromisso com a problemática ambiental. Para
tanto é preciso à incorporação de conhecimentos e informações sobre todas as tomadas de
decisões e formulação política, fazendo de cada
cidadão usuário e provedor de informação, contribuindo sobremaneira para melhoria da comunicação, aproximação e cooperação entre os
povos.
Portanto, o exercício do pensamento crítico e a constante intervenção cidadã continuam
mais válidos do que nunca, pois, querendo ou
não, os conservadores são os fundamentos que
poderão garantir a continuidade de vida e a possibilidade de existência digna no planeta.
MATERIAL E MÉTODOS
O percurso metodológico desenvolvido foi
uma pesquisa teórica sobre a necessidade de se
construir uma proposta de educação ambiental
com perspectiva social e política, com sujeitos
que sabe pensar e aprender a aprender, conjugando qualidade formal e política. Capazes de
compreender um mundo em crise, que tem sua
origem na racionalidade burguesa, cujo princípio é o determinante das relações entre os seres
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A educação ambiental como instrumento metodológico de potencialidade de
humanos e entre estes e a natureza e nas relações humanas de produção e sociabilidade.
Neste contexto, a educação deve ser politicamente contextuada, porque se trata de sujeitos
históricos capazes de história própria; um dos
rasgos mais potentes do conhecimento é precisamente o desenvolvimento da capacidade de
fazer história própria, de interferir com originalidade, demarcando espaços alternativos.
O estudo faz uma reflexão que transita em
meio às misérias de nosso tempo, nos devolvendo ao nosso real normandismo, essa condição comum de seres humanos sem territórios
garantidos. Em tempos marcados pela violência, exclusão e morte, o princípio da prudência
assume o posto de regra básica na orientação
de nossas condutas, capaz de superar as crises
para que seja gerada uma nova comunidade.
Desse modo, a educação se configura mais
do que uma proposta é uma ação política, pois
incita a orientar nossas práticas educativas por
uma lógica do agir frente aos problemas
ambientais de forma coletiva como construtores
de práticas políticas: educadores e a escola
vivenciando efetivamente sua função social.
Diante da proposta pedagógica apresentada de ação política, sentimos a necessidade de
aprofundarmos uma pesquisa teórica sobre a
temática, a partir da proposta de estudo desenvolvemos leituras em obras que tratam das reflexões epistemológicas sobre a problemática
ambiental, principalmente da educação ambiental
numa perspectiva política dialética no modo de
agir dos sujeitos sociais. Num segundo momento, intencionamos desenvolver uma pesquisa
participante com educadores/educandos canalizando a observação para identificar como os
educadores trabalham a educação ambiental
numa perspectiva política no modo de agir de
cada cidadão, com um projeto individual e coletivo, como elemento de transformação dos laços sociabilidade e de relação com a natureza a
partir de uma nova racionalidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A humanidade vê-se hoje imersa em uma
materialidade que impede de concretizar o seu
impulso vital. Os sistemas econômicos, mesmo
59
com todas as falhas que deles apresentam na
história, foram formas de organizar a sociedade
para que ela pudesse manter as vidas humanas
que compunham. Mesmo os sistemas baseados
na exploração incluíam o ser humano e lhe davam possibilidades de viver, seja como exploradores, seja como explorado em condições mínimas de vida. No entanto, a partir do momento
em que esses sistemas não conseguiram mais
atender à necessidade de inclusão de seres humanos eles entraram em decadência, agindo em
quem deles era excluído, organizando novas formas de economia. Formas alternativas que se
projetaram e conquistaram toda a humanidade.
A sociedade contemporânea vive uma das
principais crises que abalam a humanidade no
limiar do século XXI refiro-me a crise ambiental
como mudanças climáticas, efeito estufa, o desaparecimento da biodiversidade, a produção de
armas nucleares, as chuvas ácidas, o crescimento
demográfico etc. Dizem respeito a todos os habitantes do planeta, não obedecendo aos limites
das fronteiras nacionais. Buscando a partir de
um princípio de cooperação adquirir força política e possibilidades de ruptura e quebra do
monopólio dos discursos dominantes, profundamente ligadas às suas identidades étnicas, de
gênero, aliadas à qualidade das suas representações sociais, refletem o que foi “deglutido” recriado no seu percurso histórico.
No processo de interdependência global, as relações sociais não ocorreram só
entre os iguais, mas predominantemente entre os opostos e adversos, daí a sua dificuldade e sua riqueza, já que toda voz só adquire validade quando em confronto ou diálogo com o “outro”, que não é um modelo a
ser seguido ou copiado, mas sim um opositor,
referência, espelho ou interlocutor a ser ‘DEVORADO”.
Leonardo Boff observa que o homem para
viver humanamente ele inventou vários segmentos de sociabilidade, todavia não buscou inaugurar o princípio da cooperação, levando-o apenas à lógica da competitividade de todos com
todos, de um lado uma acumulação de benefícios de poucos, de outro, uma exclusão social da
maioria das pessoas, dos grupos e nações, pro-
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A. M. C. Ramalho et al.
movendo substancialmente a crise nos laços de
solidariedade.
Para conviver humanamente inventamos, a
política, a cultura, a ética e a religião. Mas nos
últimos séculos o fizemos sob inspiração da competição que gera o individualismo. Esse tempo
acabou. Agora temos que inaugurar a inspiração da cooperação que gera a comunidade e a
participação de todo em tudo o que interessa a
todos (BOFF, 2002,).
Portanto, urge o estabelecimento de uma
teia de conexões entre todos os homens, fazendo-nos seres cooperativos e solidários.
CONCLUSÕES
O século XXI com toda sua complexidade
política, cultural, social, econômica e ecológica,
nos coloca diante de inúmeros desafios, e a educação deve procurar fazer frente a eles para que
continue exercendo sua função na sociedade. A
escola tem sido historicamente o espaço indicado para a discussão e o aprendizado de vários
temas urgentes e de atualidade como resultado
da sua importância na formação dos cidadãos.
Éevidente que a escola deve estar sempre aberta ao conhecimento, inquietações e propostas
de sua época, procurando consolidar inovações
pedagógicas que contribuem para cumprir sua
função social.
A contribuição da educação ambiental, na
sua plenitude indica a busca de respostas a esses desafios, oferecendo alternativas sintonizadas com a sociedade contemporânea em que
vivemos cujos conflitos, diferenças e riscos colocam em dúvida a possibilidade de continuidade de vida no planeta terra. A educação
ambiental, na escola ou fora dela, precisa ser
uma concepção radical de educação, não porque prefere ser uma tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim
porque nossa época e herança histórica exigem
alternativas radicais, justas e pacíficas.
Como educadores temos a responsabilidade de buscar formas pertinentes de educação
diante desses desafios. Conscientizar-se das circunstâncias de nossa sociedade local, regional,
nacional e planetária à condição básica para encontrar a melhor possibilidade de atuação
educativa, visualizar respostas e alternativas cidadãs aos complexos problemas contemporâneos. Precisamos adotar como referencial na
nossa prática educativa uma proposta de educação ambiental referenciada, não preocupada
em apenas transmitir conhecimento sobre a ecologia, nem com memorização dos conceitos científicos, mas fazer com que os educandos entendam a relação da ciência com o cotidiano para
a problemática ecológica e importância de participação política dos cidadãos.
O homem precisa cotidianamente buscar
práticas alternativas para o mundo, fundamentadas na inclusão, solidariedade e principalmente cooperação com o outro e com a natureza,
vivenciar a práxis, pois seguindo o pensamento
de Marx (1977, p.57) “é na prática que o homem deve comprovar a verdade, isto é, a realidade efetiva e a força, o caráter terrestre de seu
pensamento. A disputa referente à realidade ou
não realidade efetiva do pensamento, isolada da
práxis, é uma questão puramente escolástica”.
A educação ambiental deve tornar-se uma filosofia que considera a escola como um espaço
de questionamento e produção de alternativas
sociais, políticas e culturais mais sincronizada com
a realidade social.
Diante das transformações espaciais e temporais muitas questões nos desafiam: como formamos novas identidades culturais, sociais e
nacionais diante das noções fragmentadas de
tempo e espaço, não defendidas somente pelos
aspectos concretos, visíveis, objetivos?
Como construir possibilidades pacíficas e
solidárias de intervenção cidadã em espaços
educativos no nosso cotidiano cujas fronteiras
dificultam o processo de diálogo e cooperação
entre os pares? Como conscientizar educadores e educandos, assim como nós mesmos, de
que a nossa presença no mundo qualquer que
seja a latitude ou longitude onde estejamos, e as
ações que praticamos no presente influenciam
para melhorar ou piorar a qualidade de vida no
planeta?
Não temos a pretensão de dar respostas e
a essas questões, mesmo porque nossas reflexões e pesquisas não se esgotam aqui, as respostas devem surgir de um esforço coletivo de
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.57-61, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
A educação ambiental como instrumento metodológico de potencialidade de
pessoas de diferentes horizontes culturais e sociais. Mas acreditamos que todos aqueles que
de uma forma ou de outra estão relacionados
com as práticas de educação ambiental, buscam
alternativas aos desafios às questões ligadas à
problemática sócio-ambiental. O exercício do
pensamento crítico e a constante intervenção cidadã continuam mais válidos do que nunca, pois
querendo ou não os conservadores são esses
fundamentos que poderão garantir a continuidade de vida e a possibilidade de existência digna
na terra.
A educação em geral e a educação
ambiental em particular na contemporaneidade,
não têm a pretensão de dar respostas prontas
acabadas e definitivas, mas sim instigar
questionamentos sobre as nossas relações com
natureza, a alteridade, principalmente com a sociedade em que vivemos com o nosso presente
e com o nosso eventual vir a ser. Portanto, a
reflexão deve ser fincada na mente de cada um
de nós.
Como “guisa conclusiva seguimos o pensamento do filósofo Maurício Abdalla (2003,
p.139):” A vida do ser humano precisa ser preservada. A troca competitiva e todas as relações
nela fundamentada têm nos conduzido à morte.
61
“O princípio de cooperação pode manter-nos
vivo”.
REFERÊNCIAS
ARRUDA, M; BOFF, L. Globalização: desafios
socioeconômicos, éticos e educativos.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
BOFF, L. Saber cuidar - ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
CUNHA, J A. Coleção educação em debate. In:
GONSALVES, Elisa Pereira. Da ciência e de
outros saberes: trilhas da investigação científica na Pós-modernidade. Campina, SP: Alínea,
2004.
DEMO, P. Educação conhecimento: relação necessária, insuficiente e controversa.Petrópolis,
RJ: Vozes,2000.
______, Desafios modernos da educação.
Petrópolis< RJ: Vozes, 2000.
GONSALVES, E. P. Da ciência e de outros saberes: trilhas da investigação científica na Pósmodernidade. Campina, SP: Alínea, 2004.
KUNH, T. A estrutura das revoluções científicas.
5.ed.São Paulo: Perspectiva, 1997.
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olhar transdisciplinar.Rio de janeiro: Garamond,
2004.
SANTOS, B de S. Introdução a uma ciência pósmoderna. 3. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.57-61, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
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INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA
FORMAÇÃO DO SUJEITO ECOLÓGICO
Maiza G. R. Pereira¹; Lia M. T. de Oliveira²; Larissa A. da S. Cabral¹; Dária H. de M. Bastos¹
1
Discente do Curso de Lic. em Ciências Agrícolas/UFRRJ estagiaria do SINTEEG no Projeto
“Espaço com Cheiro de Verde” do CAIC/Paulo Dacorso Filho e da área de Ensino Agrícola
do DTPE. [email protected], [email protected], [email protected].
2
Prof. do DTPE/IE, Membro do GEPEADS/UFRRJ. [email protected]
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo socializar a experiência do Projeto Espaço com Cheiro de Verde, no
CAIC Paulo Dacorso Filho, escola de ensino fundamental vinculado à UFRRJ. Interessante enfocar a interação
entre a temática meio ambiente e o princípio curricular da interdisciplinaridade, bem como a concepção de
indivíduo como sujeito ecológico, que constrói cotidianamente a relação com a natureza/sociedade. O Espaço
com Cheiro de Verde também está orientado por objetivos do campo das ciências humanas e sociais que
aproximam a realidade escolar do universo de pesquisa/ensino aos das ciências agroecológicas, posto que a
produção no âmbito da Horta e da Agrofloresta reflete a necessidade de interligar atitudes investigativas e
valores humanos ao conhecimento científico. As práticas de ensino junto às turmas dos dois segmentos do
ensino fundamental visam aperfeiçoar os conteúdos e as metodologias ligando as diferentes áreas específicas
numa perspectiva interdisciplinar; sobretudo, ainda, investem em práticas agroflorestais indispensáveis aos
estudos sobre a noção de sustentabilidade ambiental, tal como prevê os PCN’s e os Temas Transversais.
Todos os envolvidos trabalham tomando a idéia de formação dos sujeitos ecológicos que interagindo com a
natureza e o ambiente é um dos responsáveis por sustentar a teia da vida. Essa idéia de Carvalho (2005) e
Capra (2006) é o fundamento para podermos desenvolver também as metodologias de ensino crítico-dialéticas
e participativas. O presente trabalho visa a importância da interdisciplinaridade através da educação ambiental
despertando nos alunos envolvidos a auto-crítica para questões relacionadas ao meio ambiente e a cidadania.
PALAVRAS-CHAVE: Interdisciplinaridade, criticidade, educação ambiental
INFLUENCE OF THE PRACTICE OF ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE
SUBJECT OF ECOLOGICAL EDUCATION
ABSTRACT
This paper aims to socialize the experience of the Project Espaço com Cheiro de Verde, the CAIC Dacorso Paulo
Filho, elementary school linked to UFRRJ. Interesting focus on the interaction between the thematic environment
and the principle of interdisciplinary curriculum, as well as the design of individual and ecological self, which
constructs a daily relationship with nature and society. The Espaço com Cheiro de Verde project is also guided
by the objectives of the humanities and social approach to school reality of the universe of research and teaching
to the agro-ecological sciences, since the production in the garden and agroforestry reflects the need to link
investigative attitudes and human values to scientific knowledge. Teaching practices with classes of the two
segments of the primary aim to improve the content and methodology linking the specific areas in an interdisciplinary
perspective, above all, still, invest in agroforestry practices essential to studies on the concept of environmental
sustainability, as provided NCP’s and themes. All work involved taking the idea of formation of subjects ecological
interacting with nature and the environment is one of those responsible for sustaining the web of life. This idea
of Carvalho (2005) and Capra (2006) is the foundation that we can also develop methodologies for teaching
critical-dialectical and participatory. The present work aims the importance of interdisciplinary environmental
education by raising the students involved in self-critical issues related to the environment and citizenship.
KEYWORDS: Interdisciplinarity, criticality, environmental education
Influência da prática da educação ambiental na formação do sujeito ecológico
63
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
A Educação Ambiental procura desenvolver um aprendizado consolidado (TAMAIO,
2002), onde a construção do seu conceito se dá
num processo e é feita de uma forma coletiva
compondo alunos, professores, pais, funcionários, autoridades, ou seja, todos que diretamente ou indiretamente fazem parte de uma instituição de ensino. Essa consolidação desenvolvida
tem como seu alicerce a escola onde a partir da
socialização das experiências do Projeto Espaço com Cheiro de Verde no CAIC, vinculado à
UFRRJ, tem sido enfocado as temáticas, o principio curricular da interdisciplinaridade e a concepção dos sujeitos que estão envolvidos nessa
prática educativa sobre meio ambiente, sociedade, natureza e produção.
Desde a década de 1980 que o governo
Federal emitiu o Parecer N° 226/87, de 11 de
março de 1987 (MEC, 1987), assim indicando
um caráter interdisciplinar da Educação
Ambiental e recomendando sua realização em
todos os níveis de ensino. Para Travassos, não
se trata, portanto, de uma nova disciplina, mas
sim, de uma nova dimensão do sistema de educação, que precisa absorver os resultados da
aceitação da complexidade e da urgência dos
problemas ambientais na sociedade contemporânea (2004; p.13).
Este trabalho tem como objetivo trazer a
discussão sobre como a implantação e consolidação de certos temas, conceitos e práticas do
projeto Espaço Com Cheiro Verde têm provocado aberturas para que a comunidade do CAIC
busque novas referências de como abordar a
questão ambiental na escola. Ao contrário do
pensamento de Carvalho (2004) experimentamos no Projeto a sensação de que mesmo os
projetos que não são contemplados nas disciplinas podem fazer mudanças porque na verdade são partes do todo que é o projeto político
pedagógico da escola. Dessa forma o trabalho
da educação ambiental remete ao desafio de
motivar os alunos para que sejam agentes
multiplicadores de contextos ambientais sustentáveis, contribuindo também com a sua formação crítica a respeito da construção do novo
modelo de sociedade.
O projeto vem sendo desenvolvido no Centro de Atenção Integral à Criança – Paulo
Dacorso Filho, localizado na BR 465 – Km 8,
Seropédica/UFRRJ – RJ, que vem se apresentando como uma prática interdisciplinar, construindo espaços de reflexões, tomando como
instrumentos pedagógicos salas de atividades,
horta escolar, espaços de agrofloresta, acreditando que tudo em nossa volta possa ser permanentemente redimensionado na perspectiva
de uma metodologia da reflexão-ação-reflexão.
Sobretudo, as explicações e procedimentos previstos na publicação “PCN’s e Temas Transversais”, na atualidade vem sendo revisto de forma
a acompanhar as mudanças que a comunidade
escolar vem fazendo a partir da pratica cotidiana em educação ambiental.
As atividades são realizadas na forma de
debates e aula-oficina em 17 turmas do ensino
fundamental, do primeiro ao nono ano de escolaridade, com atividades lúdicas e educativas,
buscando uma integração entre as diversas disciplinas, que para tanto, lançamos mão da
agrofloresta, sala de atividades que é usada como
um espaço para momentos de reflexão em debates, da horta escola como uma ponte
facilitadora da aprendizagem e um campo de
possibilidades para ampliar conhecimentos sobre ambiente (sustentabilidade, ecologia,
biodiversidades alimentação, redução de consumo valores e sociedade). Quanto ao aspecto
do conhecimento, buscamos as atividades e conteúdos adequados à realidade das crianças e do
contexto ambiental onde a interdisciplinaridade
se constitui como algo natural, o que facilita o
entendimento das interações existentes entre os
elementos da natureza e o ser humano. A avaliação se realiza por meio de trabalhos em grupo
ou individualizados no decorrer das experiências, considerando sempre a modalidade diagnóstico-formativa associada aos instrumentos de
registros, como anedotários ou diários de campo. Usamos como a principal ferramenta de
construção de conhecimento a participação deliberada das crianças no projeto, de modo que
possamos sensibilizá-los a se tornarem agentes
ativos neste processo educativo, a partir de suas
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.62-64, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
64
M. G. R. Pereira et al.
próprias problemáticas e contextos. Por isso,
trabalhamos na avaliação considerando: grupos
de debate, delegação de tarefas, trabalhos em
grupos e jogos, dramatização, etc.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resultado é a materialização da interação
entre as diversas disciplinas, o conhecimento
sobre os elementos da natureza e dos processos de produção no que aproxima o rural e o
urbano, o consumo e a agricultura, a alimentação e a saúde, onde assim o individuo constrói
uma mudança de postura no que diz respeito do
processo de apropriação e de transformação do
mundo natural. É fundamental entendermos que
a prática é mediada pela linguagem e pelo outro,
dentro de uma sociedade desigual cultural e economicamente, onde o jogo de interesses estão
consolidados (TAMAIO, 2002). Nessa leitura
do outro na interação contribui para entendermos que é no processo de desenvolvimento de
nossos alunos na elaboração dos conceitos científicos, a educação ambiental nos permite remodelarmos o contexto social vivido. Também,
verifica-se que o projeto vem contribuindo como
excelente instrumento didático-curricular para
definição da prática pedagógica, também sendo
um eficiente instrumento de complementação dos
conteúdos trabalhados pelos professores. A partir das experiências do CAIC-Paulo Dacorso Filho, pode-se afirmar que o Projeto Espaço com
Cheiro de Verde tem despertado bastante a curiosidade e o espírito investigativo das crianças,
porque busca trabalhar considerando a relação
entre os valores humanos e os temas sociais ao
contexto ambiental, sobretudo, considerando também que a descoberta se configura como uma
expressão inerente à infância e a juventude.
CONCLUSÕES
Apostamos nas experiências cotidianas em
educação ambiental que as nossas crianças e
jovens do CAIC nos mostram como espaços
de construção de conhecimentos e de prática
docente; é importante para a nossa formação e
aprendizado, visto que somente trocamos subjetividades quando utilizamos o diálogo entre as
instituições formadoras de professores e a escola, de forma coletiva fazendo uma releitura
permanente da educação em bases
interdisciplinares e ambientais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999.
Dispõe sobre a educação ambiental, institui a
Política Nacional de Educação Ambiental e dá
outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, no 79,
Seção 1,p.l-3,28 abr. 1999.
CARVALHO, I.C.M. A invenção do sujeito ecológico: identidades e subjetividade na formação dos educadores ambientais. In: Carvalho,
I. C. M. (orgs). Educação Ambiental: A formação do sujeito ecológico.
CAPRA, F. A Alfabetização Ecológica: a educação de crianças para um mundo sustentável.
São Paulo: Cultrix, 2006.
FIGUEIRA, F.A. R. Educação Ambiental; pesquisa e desafios. Porto Alegre, Artmed, 2005.
LEFF, H. Saber ambiental: sustentabilidade,
racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis,
RJ: Vozes , 2001.
TRAVASSOS, E. G. A prática da educação
ambiental nas escolas. 2006. Porto
Alegre.Editora Mediação.
TAMAIO, I. O professor na construção do conceito de natureza: uma experiência de educação ambiental, 2002. São Paulo.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.62-64, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.65-69, 2010.
EDUCAMPO – PROJETO PILOTO DE INSERÇÃO DE
CONTEÚDOS AGRÍCOLAS E AMBIENTAIS NAS ESCOLAS
DA ZONA RURAL DE BARREIRAS - BA
Alexandro P. Andrade1, Danilo G. de Quadros2, Maria A. M. Miranda2, Tatiane A. G. de Quadros3
1
Mestrando em Zootecnia, Univ. Federal da Paraíba - PPGZ - Campus II - Areia - PB,
[email protected]
2
Prof. Univ. do Estado da Bahia. Campus IX, Barreiras - BA. [email protected]
3
Psicopedagoga
RESUMO
Objetivou-se por meio deste trabalho realizar um diagnóstico sócio-educacional dos alunos das escolas do
campo de Barreiras contemplados com o projeto piloto EDUCAMPO – Inserção de conteúdos agrícolas e
ambientais. Este trabalho foi realizado em três escolas da zona rural de Barreiras, em cinco semanas intercaladas,
com encontros a cada 15 dias, em abril de 2008. Os dados foram tabulados no Programa Excel (Microsoft®) e
calculados os percentuais relativos. Mais de 68% das famílias dos alunos praticam atividades agrícolas e mais
50% tem também exploração pecuária, sendo a principal fonte de economia das famílias, tendo como culturas
principais: feijão, milho, frutas e hortaliças, além das criações de: bovinos, aves e suínos. Cerca de 70% dos alunos
já realizou ou realiza trabalhos com os pais no campo, sendo que, muitos deles já faltaram aula para ajudar os pais
no trabalho. A inserção de conteúdos agrícolas e ambientais no contexto escolar foi de grande importância
principalmente por oferecer aos alunos a oportunidade de se apropriarem destes ensinamentos como instrumentos para refletir e mudar suas próprias vidas e suas realidades, melhorando assim, a produção agrícola e conseqüentemente a sua qualidade de vida.
PALAVRAS-CHAVE: Agricultura familiar, educação
EDUCAMPO – PILOT PROJECT TO INSERTION OF AGRICULTURAL AND
ENVIRONMENTAL CONTENTS IN THE SCHOOLS OF RURAL AREA OF
BARREIRAS – BA
ABSTRACT
The objective through this work was a diagnosis of socio-educational students and entering content in agricultural
and environmental context of rural schools of Barreiras, Bahia, Brazil. This study was conducted in three schools
in rural area in five weeks interspersed with meetings every 15 days. Data were analyzed on Excel Program
(Microsoft®) and calculated using relative proportions. More than 68% of the families of students practice
agricultural activities, and another 50% have also farm and the main source of domestic economies, with the main
crop beans, corn, fruits and vegetables, and animal husbandry were the main cattle, poultry and pigs. About 70%
of students have performed or performs work with parents in the field, and that many of them have skipped school
to help parents work. Agricultural and environmental lessons were really important for offering students the
opportunity to take ownership of these lessons as tools to reflect and change their own lives and their realities,
improving agricultural production and therefore their quality of life.
KEYWORDS: smallholder farmers, education
66
A. P. Andrade et al.
INTRODUÇÃO
A Bahia conta com a maior proporção de
população na zona rural do Brasil. Existem cerca de 600 mil famílias na agricultura familiar no
Estado (IBGE, 2006). No município de Barreiras, a atividade rural predomina, proporcionando divisas e desenvolvimento econômico. Entretanto, os agricultores que produzem em pequena escala convivem com problemas de insegurança alimentar (quantidade, diversificação,
sanidade e qualidade dos produtos), bem como
falta de informações técnicas.
VEIGA (2002) mostra que, apesar da intensa urbanização ocorrida nas últimas décadas,
quase 20% da população do País encontra-se
na zona rural, no Nordeste chega a mais de
30%, enquanto que na Bahia é bem mais que a
média do País, chegando a cerca de 40%. Considerando os dados oficiais, os cerca de 32 milhões de pessoas que residem na área rural encontram-se em franca desvantagem, tanto em
termos de capital físico (recursos financeiros),
quanto de capital sociocultural (escolaridade e
freqüência à escola) em comparação aos que
residem na área urbana.
A agricultura familiar é uma forma de produção onde predomina a interação entre gestão
e trabalho; são os agricultores familiares que dirigem o processo produtivo, dando ênfase na
diversificação e utilizando o trabalho familiar,
eventualmente complementado pelo trabalho
assalariado.
A partir dos estudos desenvolvidos pelo
convênio Food and Agriculture Organization –
FAO/ Instituto Nacional de Reforma Agrária - /
INCRA -, caracterizou-se a agricultura familiar
por três elementos: gestão familiar, tempo de trabalho dedicado à unidade produtiva e área do
estabelecimento. FERREIRA et al. (2003) constataram a importância da agricultura familiar, do
ponto de vista estratégico, para manutenção e
recuperação do emprego, para redistribuição da
renda, para garantia de alimentos e para o desenvolvimento sustentável.
O município de Barreiras conta com 38
(trinta oito) escolas na zona rural sendo filhos e
filhas de agricultores familiares e de trabalhadores rurais, em sua maioria, que no dia-a-dia con-
vivem com a produção agrícola. Contudo, no
sistema de ensino, são escassas informações técnicas que desenvolvem os conceitos de produção agrícola sustentável.
Segundo ARROYO & FERNANDES
(1999), uma questão crucial a ser considerada é
o fraco desempenho escolar na educação básica contribuindo para o aumento do abandono e
da evasão. Alguns especialistas defendem o argumento que o desempenho escolar é o resultado de dois fatores: o capital sociocultural e a
qualidade da oferta. Diante da precariedade do
capital sociocultural, decorrente do desamparo
histórico a que a população do campo vem sendo submetido, e que se reflete nos altos índices
de analfabetismo, a oferta de um ensino de qualidade se transforma numa das ações prioritárias
para o resgate social dessa população. A educação, isoladamente, pode não resolver os problemas do campo e da sociedade, mas é um dos
caminhos para a promoção da inclusão social e
do desenvolvimento sustentável.
Objetivou-se realizar um diagnóstico sócioeducacional dos alunos e inserir conteúdos agrícolas e ambientais no contexto das escolas rurais de Barreiras, visando o desenvolvimento
educacional, social, econômico e ambiental da
população discente que reside no campo, através de aulas práticas e teóricas que deslumbrem
a sua realidade empírica local à complexidade
de conhecimento.
MATERIAL E MÉTODOS
Este trabalho foi realizado em três escolas
na zona rural de Barreiras. Essas escolas foram
escolhidas pela Secretária Municipal de Educação, tendo como critério utilizado nas comunidades em que há um engajamento com a exploração agrícola, como Baraúna, Mucambo e
Buriti (abrangendo Barreiras Norte). As escolas
assistidas pelo projeto foram: Escola Municipal
1º grau Povoado Baraúna (Baraúna), realizado
na turma de 8ª série do turno Vespertino, contando com 21 alunos; Escola Municipal Dr.
Abílio Farias (Mucambo), assistida por turmas
formadas por alunos de 6ª a 8ª série no turno
Vespertino e com 22 alunos presentes; e a Escola Valdete Piedade de Holanda (Buriti) for-
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.65-69, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Educampo – projeto piloto de inserção de conteúdos agrícolas e ambientais nas
mado por uma turma de 4ª série também no turno Vespertino, registrando 25 alunos nesta unidade de ensino, totalizando 68 alunos assistidos
pelo projeto.
Percebeu-se a necessidade de fazer um levantamento da situação social, cultural e
ambiental dos alunos e pais das escolas a serem
trabalhadas, foi elaborada e aplicada uma ficha
diagnóstica, no qual os dados foram tabulados e
analisados no Programa Excel (Microsoft, 2007).
Este trabalho foi realizado em 5 semanas
intercaladas, com encontros a cada 15 dias, com
uma diversificação de temas para melhor aproveitamento do tempo.
Na 1ª semana foi apresentado o projeto
aos alunos, em seguida foi houve uma explanação sobre impactos ambientais, em que se realizou uma dinâmica recreativa, em que os alunos
saíram em tornos de suas escolas para fazerem
um diagnóstico sobre as degradações sofridas
pela comunidade. Retornando à sala de aula, foi
aplicada uma ficha diagnóstica sobre a situação
sócio-cultural e ambiental dos alunos e seus pais.
Na 2ª semana o tema abordado foi de
Olericultura, fazendo uma explanação sobre sistema de plantio, cultivo e comercialização dos
produtos, com finalização da construção de uma
horta escolar pelos alunos. Na 3ª semana foi
explicado em sala de aula sobre os solos, com
uma exposição teórica em sala e seguindo para
área dos canteiros para explanação prática sobre o assunto.
Na 4ª semana foi realizada uma abordagem sobre Zootecnia, enfatizando sobre os sistemas de criação e importância comercial, dividindo o tempo de aula para caracterização sobre os monogástricos e ruminantes. E na última
Escola Valdete Piedade
67
semana foi realizada uma visita em propriedades locais com criação animal, para demonstração em aulas práticas sobre os assuntos abordados em sala.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com base nos questionários aplicados aos
alunos, no primeiro encontro, podemos relacionar alguns dados importantes respondido por eles
sobre os aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais. Na Figura 1, mostra que a
maioria das famílias dos alunos tem exploração
agrícola como à atividade econômica principal.
Para as famílias dos alunos da escola
Valdete Piedade, as maiores atividades exercidas
são: produção de frutas, feijão, hortaliças, milho
e mandioca, respectivamente. Para as famílias
dos alunos da escola da Baraúna, situado no
povoado da Baraúna, as maiores atividades
exercidas são as de feijão, milho, frutas, hortaliças e mandioca, respectivamente. Já para as famílias dos alunos da escola Dr. Abílio Farias, situado no povoado do Mucambo, as maiores
atividades exploradas são as hortaliças, o milho,
as frutas e a mandioca, sendo que o feijão não
foi citado nas respostas dos alunos.
Dentre as atividades de fruticultura estão: o
maracujá, o limão, a banana, o caju, a manga,
coco e o mamão, sendo os mais cultivados respectivamente. E de hortaliças estão: o quiabo, a
batata-doce, a cebola, o tomate, o pimentão, o
coentro, a abóbora e a cebolinha, respectivamente, sendo que este fato se dá por estas famílias situarem próximo ao Perímetro Irrigado Barreiras – Norte.
Os dados são condizentes descritos pelo
Ministério do Desenvolvimento Agrário que a
Escola Dr. Abílio Farias
Escola da Baraúna
19%
15%
12,5%
10%
13%
87,5%
0,0%
68%
Sim
Não
75%
NS/NR
Figura 1. Realização de atividades agrícolas desenvolvidas pelas famílias dos alunos,
Barreiras – BA, 2008.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.65-69, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
68
A. P. Andrade et al.
agricultura familiar é a principal responsável pela
segurança alimentar do país. É responsável por
67% da produção nacional de feijão, 97% do
fumo, 84% da mandioca, 31% do arroz, 49%
do milho, 25% do café e 32% da soja; produz
38% do Valor Bruto da Produção (VBP) nacional (MDA, 2007).
A produção de hortaliças, tanto comercial
como para a subsistência, possui um papel importante para a atividade agrícola familiar, contribuindo para o seu fortalecimento e garantindo
sua sustentabilidade. Trata-se de uma cultura que
necessita de uma extensão de terra muito pequena, em relação a outras produções agrícolas, para que seja economicamente viável, além
de exigir pouco conhecimento técnico e um baixo nível de investimento para se iniciar a atividade. Por outro lado, a alta perecibilidade desses
produtos, somada a sua distribuição pulverizada e falta de homogeneidade, impõe vários problemas à comercialização.
Foram questionados aos alunos se as famílias exercem atividades de exploração pecuária.
Os presentes estão dispostos na Figura 2, que
retrata as famílias dos alunos da escola Valdete
Piedade, escola municipal da Baraúna e da escola Dr. Abílio Farias, estas exercem respectivamente 55 %, 75% e 75 %, mostrando que
além de produção agrícolas eles também atuam
com criação animal.
Assim, foram analisados os dados de criação animal, demonstrando que as famílias dos
alunos da escola Valdete Piedade possuem maior criação de bovinos, aves, eqüinos, caprinos,
suínos e peixes, respectivamente. Já para as famílias dos alunos da escola municipal da Baraúna
possuem maior criação de bovinos e aves, seEscola Valdete Piedade
Escola Dr. Abílio Farias
Escola da Baraúna
25%
20%
guidos de suínos, eqüinos, peixes e ovinos, respectivamente. E para as famílias dos alunos da
escola Dr. Abílio Farias, as maiores criação bovinos, aves, suínos, eqüinos e caprinos, respectivamente. Dentre a criação bovina que é a maioria para as famílias dos alunos em das escolas
da Baraúna e Dr. Abílio Farias, os bovinos de
leite é maioria, por ocuparem pequenas áreas, e
por terem um menor rebanho.
A agricultura familiar é a principal responsável por 52% do leite, 59% de suínos, 40% de
aves e ovos (MDA, 2007).
Foram questionados aos alunos se eles desempenhavam atividades agrícolas com a família (Tabela 1).
Para os alunos da escola Valdete Piedade,
escola municipal da Baraúna e escola Dr. Abílio
Farias desempenham atividades respectivamente,
75%; 75 % e 69%. Com isso, também foi perguntado se alguns deles já faltaram aulas para
realização de atividades agropecuária com a família, e para os alunos da escola Valdete Piedade, escola municipal da Baraúna e escola Dr.
Abílio Farias já faltaram aula para trabalhar com
pais nas atividades agrárias, 5%; 50% e 19%,
respectivamente.
Para as aulas de hortaliças, foram bem sucedidas nas escolas, pois as famílias de grande
parte dos alunos fazem este cultivo, mais o foque
da produção das hortaliças se deu também nas
escolas, pois estes plantaram seus canteiros e
estes puderam fazer uso na merenda escolar.
Para as aulas de solos, os alunos utilizaram
bastante às práticas, pois estes não tinham noções sobre a textura do solo, sua importância, o
melhor aproveitamento da água, a necessidade
de conservação do solo e medidas de preven-
12,50
12,5%
75,0%
12,5%
75,00
12,50
55%
Sim
Não
NS/NR
Figura 2. Realização de criação animal desenvolvidas pelas famílias dos alunos, Barreiras – BA, 2008
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.65-69, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Educampo – projeto piloto de inserção de conteúdos agrícolas e ambientais nas
Tabela 1. Número e Percentuais
dos alunos que desenvolve atividades agropecuárias e que já faltaram aulas para realizar atividades agropecuárias.
Realização de atividade agrícola Faltaram aulas
Unidade Escolar
Escola Valdete Piedade
Escola Municipal da Baraúna
Escola Dr. Abílio Farias
Sim
Não
Sim
Nº
15
5
1
Não
19
%
75%
25%
5%
95%
Nº
12
5
8
8
%
75%
25%
50%
50%
Nº
11
5
3
13
%
69%
31%
19%
81%
ção foram apresentadas aos mesmos. Sendo assim,
foi abordado sobre a utilização de cobertura vegetal
evitando deixar o solo descoberto para que não
ocorra escoamento superficial da água no solo, o
que poderia haver um carregamento de solo. As
dúvidas sugiram quanto à adubação e quais os nutrientes necessários para as plantas, e como eles poderiam ser aplicados nas culturas.
Durante as atividades de zootecnia pôde – se
demonstrar sobre os aspectos da criação animal,
pois é também um meio de sustento para as famílias
destes alunos. A maioria destes vive em contato direto com a criação de bovino, e até ajudam seus
pais a fazerem à ordenha das vacas, e levam a alimentação nos currais.
Também foi abordado sobre a importância da
criação de aves, pois eles possuem em suas propriedades criação de galinhas do tipo caipira, sendo
essencialmente para a produção de ovos e para consumo familiar, em que, depois vai para abate caseiro
mesmo. Foi comentado nas aulas sobre a alimentação das galinhas caipira, com a importância de uma
dieta balanceada com a utilização de rações. Porém, os alunos disseram que a alimentação é feita
somente com milho, e não utilizam nenhuma fonte
protéica.
CONCLUSÕES
O aprendizado talvez seja de grande importância principalmente por oferecer aos alu-
69
nos a oportunidade de se apropriarem destes ensinamentos como instrumentos para
refletir e mudar suas próprias vidas e suas
realidades, melhorando assim, a produção
agrícola e conseqüentemente a sua qualidade de vida, apesar de que ainda não podermos aferir estas mudanças agora nas propriedades, mas que num futuro próximo estes
tragam bons resultados.
REFERÊNCIAS
ARROYO, M., FERNANDES, B. M.; A educação básica e o movimento social do campo.
Articulação Nacional Por uma Educação Básica do Campo. São Paulo. 1999.
BRASIL. Ministério da Educação. Referências
para uma política nacional de educação do
campo. Brasília, 2003.
FAO - FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION /INCRA – INSTITUTO
NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA. Diretrizes da Política
Agrária e Desenvolvimento Sustentável. FAO/
INCRA,Brasília, 1995.
FERREIRA, V.R., SOUZA, P. N.; A fruticultura
como alternativa para a produção familiar no
âmbito do PRONAF nos municípios de Campos dos Goytacazes e São Francisco do
Itabapoana - RJ. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, vol.25, n.3, p.436 – 439,
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2006. Disponível em: www.ibge.com.br. Acesso em 30/05/2008.
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2006.
Disponível
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<http:
www.pronaf.gov.br/infra-estrutura> . Acesso:
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VEIGA, J. E. O Brasil rural ainda não encontrou seu eixo de desenvolvimento. Revista
Estudos Avançados,n.15, p.101-119. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Brasília,
2001.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.65-69, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.70-73, 2010.
ANÁLISE EXPLORATÓRIA DA EVOLUÇÃO DO NÚMERO
DE VAGAS OFERECIDAS EM VESTIBULAR PELA UFRPE
NO PERÍODO DE 2004 A 2009
Énery G. de S. Melo1 & Maria de F. Santiago2
1
2
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), [email protected]
Departamento de Ciências Domésticas, Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, [email protected]
RESUMO
Objetivou-se por meio deste trabalho analisar a evolução no número de vagas ofertadas no
Vestibular de uma Instituição de Ensino Superior nos últimos cinco anos. Os dados foram
coletados a partir da análise de documentos e informações disponibilizadas pela Instituição e da
organizadora do Vestibular. A análise foi realizada por meio da planilha eletrônica Excel. A partir
da reunião de cursos em áreas de conhecimento foram criadas as categorias: Agrárias, Humanas
e Sociais, Licenciaturas, Saúde e Biológicas, Alimentos e Computação-Informática. Foi possível identificar, através dos dados coletados, acréscimo no total de vagas de mais de 150%. Os
aumentos mais expressivos foram verificadas nos grupos Agrárias e Licenciaturas, cerca de
95% e 151% respectivamente.
PALAVRAS-CHAVE: Vestibular, graduação e ensino presencial
EXPLORATORY ANALYSIS OF THE EVOLUTION OF THE NUMBER OF
PLACES OFFERED IN VESTIBULAR UFRPE FOR THE PERIOD 2004 TO 2009
ABSTRACT
The aim of this work was to analyze the evolution in the number of students accepted in the
University in the last five years. Data were collected from the analysis of documents and information
provided by the institution and the organizer of the Vestibular. The analysis was performed using
the spreadsheet Excel. From the meeting of courses in areas of knowledge were created
categories: Crop Science, Human and Social Sciences, Teacher Education, Health & Medicine,
Food and Computer-Hardware. It could be identified through the data collected, an increase in
total vacancies of more than 150%. The most significant increases were observed in groups
Crop Science and Teacher Education, about 95% and 151% respectively.
KEYWORDS: vestibular, graduate school attendance
Análise exploratória da evolução do número de vagas oferecidas em vestibular pela
O governo brasileiro vem destinando cada
vez mais recursos ao ensino superior com o objetivo de ampliar o seu acesso, levando às regiões mais distantes das capitais, promovendo o
desenvolvimento dessas regiões. Um dos projetos de maior destaque é o Programa de
Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (REUNI) instituído por meio do Decreto Nº 6.096 de 24 de Abril de 2007.
Este programa, que contou com a adesão
de todas as Universidades Federais, pretende
contribuir com a expansão das vagas do Ensino
Superior, convergindo com as metas do Plano
de Desenvolvimento da Educação (PDE), o qual
prevê um aumento mínimo de 30% dos jovens
na faixa de 18 a 24 anos, até o final da década.
Além disso, o REUNI tem como meta global a
elevação gradual da taxa de conclusão média
dos cursos de graduação para 90%, reduzindo
a evasão.
A Universidade Federal Rural de
Pernambuco foi uma das Instituições que aderiu
ao REUNI. Antes mesmo da implantação do seu
Projeto, a UFRPE já tomava ações no sentido
da expandir e interioriza a oferta dos seus cursos. Nos anos de 2004 e 2005, criou duas novas Unidades Acadêmicas nas cidades de
Garanhuns e Serra Talhada.
Diante do exposto, este trabalho tem por
objetivo apresentar o resultado de um estudo
exploratório sobre o aumento do número de
vagas ofertadas em Vestibular por esta Instituição. A metodologia aplicada nesta pesquisa baseou-se na análise documental. A partir dos resultados pretende-se promover certa compreensão do impacto da implantação do REUNI
nesta Instituição, produzindo elementos para discussão sobre o assunto e motivando o desenvolvimento de pesquisas mais aprofundadas.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa pode ser classificada como
exploratória, tendo em vista que pretendemos
fazer uma abordagem ao tema. A pesquisa
exploratória é definida como aquela que tem por
objetivo “dar uma explicação geral sobre determinado fato, através da delimitação do estudo,
levantamento bibliográfico, leitura e análise de
documentos” (OLIVEIRA, p. 71, 2005).
Foram considerados os concursos vestibulares do período de 2004 a 2009. As informações necessárias foram obtidas através do site
da organizadora do Vestibular da UFRPE, a
COVEST, e da análise de documentos da PróReitoria de Ensino de Graduação (PREG) e da
Pró-Reitoria de Planejamento (PROPLAN) da
UFRPE.
Os dados foram analisados e gerados gráficos por meio de planilha eletrônica, a qual fornece ferramentas para efetuar cálculos,
disponibilizada pelo Windows, o Excel. O primeiro gráfico (Figura 1), apresentado na seção
resultados e discussão, expressa de maneira geral a evolução do número de vagas de ofertadas
pela UFRPE no período de 2004 a 2009.
Evolução de Vagas Vestibular
3500
3060
3000
Total de Vagas
INTRODUÇÃO
71
2500
2160
2000
1900
1500
1000
2140
1420
1220
500
0
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Ano
Figura 1. Evolução do número de
vagas ofertadas no periodo de
2004 a 2009 pela UFRPE em cursos
de Graduação Presencial.
A Figura 2 foi levantada a partir do estudo
da variação do número de vagas dos grupos formados pelos cursos. Os cursos foram reunidos
em 6 (cinco) grupos: Ciências Humanas e Sociais (Administração, Ciências Econômicas e Ciências Sociais), Ciências Agrárias (Agronomia,
Economia Doméstica, Engenharia de Pesca,
Engenharia Florestal, Zootecnia e Engenharia
Agrícola e Ambiental), Saúde e Ciências Biológicas (Medicina Veterinária e Bacharelado em
Biologia), Licenciaturas (as Licenciaturas em
Biologia, Matemática, Computação, Química,
Letras, Pedagogia, Física e História), Ciências
dos Alimentos (Gastronomia e Segurança Ali-
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.70-73, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
72
E. G. de S. Melo et al.
Evolução Vagas Vestibular por Grupo
Número de Vagas
1200
Agrárias
1000
Humanas e Sociais
800
600
Licenciaturas
400
Saúde e Biológicas
200
Alimentos
0
2004 2005
2006 2007
Ano
2008 2009
Computação e
Informática
Figura 2. Evolução do número de
vagas oferecidas por meio de Vestibular por grupos de cursos de graduação presencial, no período de
2004 a 2009
mentar e Engenharia de Alimentos) e Computação-Informática (Sistemas de Informação e Bacharelado em Ciência da Computação).
O agrupamento destes cursos foi realizado
de maneira diferente da encontrada no Catálogo dos Cursos da Instituição, reunimos todas as
licenciaturas em um grupo e os demais cursos
foram agrupados conforme afinidades descritas
nos Projetos Pedagógicos dos mesmos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para uma melhor compreensão dos resultados, faz-se necessário descrever algumas ações
tomadas pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco no período estudado. Em 2005, a
UFRPE implantou uma Unidade Acadêmica na
cidade de Garanhuns, oferecendo 4 (quatro)
cursos (Pedagogia, Agronomia, Zootecnia e
Medicina Veterinária).
No ano seguinte, foi criada a Unidade Acadêmica de Serra Talhada, funcionando os cursos de Agronomia, Bacharelado em Ciências
Biológicas, Bacharelado em Ciências Econômicas, Licenciatura em Química, Engenharia de
Pesca e Bacharelado em Sistemas de Informação.
Por meio da Figura 1 abaixo é possível analisar a evolução do número de vagas ofertadas
em Vestibular no período de 2004 a 2009 pela
Instituição para cursos de Graduação da modalidade presencial.
Comparando os valores apresentados, percebe-se que em 2004 a UFRPE oferecia 1220
vagas. No ano de 2009, o total de vagas passou
para 3060, esse aumento representa o percentual
de 150%.
Fazendo uma análise mais detalhada, considerando a variação entre os anos do período,
destaca-se o aumento apresentado no de 2006
em relação ao ano anterior 2005, aproximadamente 34%. Essa expansão das vagas ocorreu
devido ao projeto de interiorização da UFRPE
quando entraram em funcionamento as suas duas
Unidades Acadêmicas.
De 2008 a 2009, o acréscimo foi ainda
mais expressivo, cerca de 42%. Nesse período,
a UFRPE iniciou a implantação do seu Projeto
REUNI, o qual prevê a criação de 1.050 (Um
mil e cinquenta) vagas, através da oferta de onze
cursos e do aumento do número de vagas em
cursos existentes.
No ano de 2009 foram criados três cursos
em Recife (Administração, Sistemas de Informação e Licenciatura em Letras) e três cursos
em cada uma das Unidades Acadêmicas: em
Garanhuns (Licenciatura em Letras, Bacharelado em Ciência da Computação e Engenharia de
Alimentos) e em Serra Talhada (Administração,
Zootecnia e Licenciatura em Letras).
Nesse mesmo ano, a UFRPE aumento o
número de vagas dos cursos, Engenharia de
Pesca, Engenharia Florestal e das Licenciaturas
em Computação, em Matemática, em Química
e Biologia.
A partir da Figura 2 abaixo, pode-se analisar o aumento da oferta de vagas por área de
conhecimento. Cada linha do gráfico possui cor
diferente, representando uma das categorias criadas: linha rosa Ciências Agrárias, cor laranja
Ciências Humanas e Sociais, azul todas Licenciaturas, violeta os cursos de Saúde e Biológicas, na cor verde os cursos da área de Alimentos e na cor marrom os cursos das Ciências da
Computação-Informática.
Observa-se na Figura 2 que todos os grupos tiveram aumento da oferta de vagas. Ressalta-se que em 2004 não eram ofertados cursos dos grupos de Ciências dos Alimentos e de
Computação-Informática. Em 2006, foi ofertado
o primeiro curso, da área de ComputaçãoInformática, o Bacharelado em Sistemas de In-
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.70-73, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Análise exploratória da evolução do número de vagas oferecidas em vestibular pela
formação. Em 2009, a UFRPE ofereceu três
cursos dessa área, dois cursos de Bacharelado
em Sistemas de Informação e um Bacharelado
em Ciência da Computação, ofertando o total
de 240 vagas.
Quanto ao grupo de Ciências dos Alimentos, em 2004 foi criado o curso de Gastronomia
e Segurança Alimentar com 40 vagas anuais. Em
2009, além desse curso a Instituição passou a
oferecer Engenharia dos Alimentos com 80 vagas. O total de vagas ofertadas nesse ano, na
área de Ciências dos Alimentos foi 120.
O grupo de cursos categorizados como
Agrárias apresentou em 2009, uma elevação em
torno de 95%. No período de 2004 a 2009
foram criados 5 (cinco) cursos nesse grupo, sendo 2 (dois) de Agronomia, 2 (dois) de Zootecnia
e 1 (um) de Engenharia de Pesca. Além disso, 3
(três) cursos que já vinham sendo ofertadas pela
UFRPE teve aumento no número de suas vagas
(Engenharia de Pesca, Engenharia Agrícola e
Ambiental e Engenharia Florestal). Em 2004, a
Instituição oferecia 450 vagas, no ano de 2009
o número foi de 880.
Provavelmente, o impacto maior do aumento de vagas na Instituição Pesquisada ocorreu
no grupo das Licenciaturas. Em 2004, a UFRPE
oferecia 6 (seis) Licenciaturas que com um total
de 430 vagas. A partir desse ano, foram criados
mais 6 (seis) cursos, sendo 2 (dois) na sede em
Recife (Letras e Pedagogia), 2 (dois) em
Garanhuns (Letras e Pedagogia) e 2 (dois) em
Serra Talhada (Letras e Química). Além disso,
3 (três) cursos já existentes na sede, as Licenciatura em Computação, Química e Biologia, sofreram aumento nas suas vagas. Diante de tudo
isso, em 2009 o grupo apresentou o total de 1080
vagas, o que implicou em uma variação positiva
de aproximadamente 151 %.
O grupo dos cursos das Ciências Humanas e Sociais foi o que apresentou menor variação no período, de 50%. A UFRPE no ano de
2006 criou um curso de Bacharelado em Ciências Econômicas na sua unidade em Serra Talhada. Em 2009, foram ofertados 2 (dois) novos cursos de Administração.
73
No grupo denominado Saúde e Ciências
Biológicas foi identificado o aumento de aproximadamente 89%. Este aumento ocorreu devido
a criação de 2 (dois) cursos, Medicina Veterinária, em Garanhuns, e Bacharelado em Ciências Biológicas, em Serra Talhada.
CONCLUSÕES
A Instituição pesquisada através de incentivo do Governo Federal e das suas políticas
públicas, como o REUNI, vem expandido o
número das vagas ofertadas para os cursos
presenciais de Graduação. No período
pesquisado (2004-2009) o aumento foi maior
que 150%.
Inferi-se que a UFRPE privilegiou o aumento da oferta vagas para os cursos da categoria
Licenciaturas, aproximadamente 151%, e de
cursos das Ciências Agrárias, cerca de 95%.
Os resultados acima não encerram a pesquisa proposta, pelo contrário, sugere o desenvolvimento de pesquisas mais detalhadas e
aprofundadas, buscando estudar os efeitos da
implantação desses cursos nos seus contextos
sociais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Decreto 6096.
Institui o programa de apoio a planos de
reestruturação e expansão das universidades
federais – REUNI. 2007. Brasília. Disponível
em: http://www.ufrpe.br/download.php
?endArquivo=noticias/4248_Decreto de criação do REUNI.mht. Acessado em 18 de Setembro de 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. O Plano de
desenvolvimento da educação: razões, princípios e programas. 2007. Brasília. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/livro/
index.htm. Acessado em 20 de Setembro de
2009.
OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. 2005. 192p. Recife: Editora Bargaço.
UFRPE. Reestruturação e expansão da universidade federal rural de pernambuco. 2008.
Disponível em: http://www.ufrpe.br/reuni/
1.pdf. Acessado em 18 de Setembro de 2009.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.70-73, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.74-78, 2010.
ASPECTOS LEGAIS DA COBRANÇA DE ÁGUA NO BRASIL
Joelma S. dos Santos1; José G. V. Baracuhy2 & Vera L. A. de Lima2
1
Aluna de Doutorado de Engenharia Agrícola, Bolsista do CNPq. DEAG/UFCG. Av. Aprígio
Veloso, nº 882. Bodocongó, Campina Grande, PB. E-mail: [email protected]
2
Professor do Departamento de Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Campina
Grande, UFCG. E-mail: [email protected] e [email protected]
RESUMO
Devido à importância adquirida pela água nas últimas décadas, objetivou-se por meio deste
trabalho analisar as leis e decretos que legalizam a cobrança pelo uso no Brasil. Assim sendo, a
cobrança surge como incentivo ao consumo consciente dos recursos hídricos, tendo em vista
sua escassez em determinadas regiões do país mesmo aquelas que tradicionalmente não sofria
com esse problema. A constituição federal fornece todo um aparato de leis que regulariza a
cobrança como um ato constitucional de um bem comum, a água. A experiência desse ato tem
demonstrado uma redução no consumo exagerado dessa substância, que com as mudanças
climáticas ocorridas nas últimas décadas, pode se tornar inexistente em algumas regiões impossibilitando o desenvolvimento de vidas no planeta.
PALAVRAS-CHAVE: Bem comum, acesso, incentivo, leis
LEGAL ASPECTS OF THE CHARGES OF WATER IN BRAZIL
ABSTRACT
Due to the importance gained by the water in recent decades, aimed to work through this review
the laws and ordinances that legalize the use charges in Brazil. Therefore, the recovery appears
to encourage the conscious consumption of water resources, due to its scarcity in certain regions
of the country even those that traditionally have not suffered from this problem. The federal
constitution provides a whole apparatus of law that regulates the collection as a constitutional act
of welfare, the water. The experience of this act has shown a reduction in excessive consumption
of that substance, which with climate change over recent decades, may become non-existent in
some areas preventing the development of life on the planet.
KEYWORDS: Welfare, access, incentive, laws
Aspectos legais da cobrança de água no Brasil
INTRODUÇÃO
A água é um dos bens mais preciosos e
importantes da atualidade, por ser imprescindível para a sobrevivência humana e dos
ecossistemas. Contudo, com o crescimento
demográfico e o desenvolvimento industrial e
tecnológico acelerados, as poucas fontes disponíveis estão comprometidas ou correndo risco
de deteriorização. A poluição dos mananciais, o
desmatamento, o assoreamento dos rios, o uso
inadequado de irrigação, a impermeabilização do
solo, entre tantas outras ações antrópicas, são
responsáveis pela contaminação da água.
O Brasil, por suas dimensões continentais
e diversidade geográfica, apresenta situações
bastante distintas quanto à disponibilidade hídrica
intra e inter-regionais, sendo afetado tanto pela
escassez hídrica, quanto pela degradação dos
recursos causada pela poluição de origem doméstica e industrial. A região sul/sudeste com
relativa abundância de recursos hídricos comprometida pela poluição de origem doméstica e
industrial, apresentando áreas de escassez como
a região metropolitana de São Paulo. A região
semi-árida do nordeste com graves problemas
de escassez gerados pela má distribuição das
chuvas e agravados por poluição doméstica, e
apresentando ainda poluição industrial em níveis
relativamente baixos. A região Centro-Oeste e
Norte com grande disponibilidade hídrica, baixa poluição tanto doméstica como industrial devido a uma ocupação urbana ainda rarefeita, mas
inserida em dois ecossistemas: Pantanal e Amazônia, que demandam estratégias especiais de
proteção (SANTOS, 2002).
A existência de normas relacionadas à utilização dos Recursos Hídricos garante uma relação harmônica entre as atividades humanas e o
meio ambiente, além de equilibrar as forças entre os diversos segmentos da economia (FIESP/
CIESP, 2009).
Para Conejo (2000), a cobrança pelo uso
da água é ainda um instrumento que promove o
equilíbrio da qualidade de vida dos habitantes
da bacia hidrografia. Dar valor econômico à água
é preservar a vida, pois a cobrança permite investir, entre outras coisas, em saneamento básico, agindo de forma econômica em saúde pre-
75
ventiva, reduzindo drasticamente os índices de
mortalidade infantil e melhorando as condições
ambientais para a preservação da diversidade
nos diversos ecossistemas das bacias
hidrografias.
A cobrança pelo direito de uso da água é
um ato legal previsto pela constituição federal
brasileira e tem como objetivo principal o incentivo a redução do uso desse recurso. Nesse sentido, esse trabalho apresenta um breve comentário das leis que regularizam a cobrança pelo
uso de água no Brasil.
Aspectos jurídicos que legalizam a cobrança
pelo uso da água no país
Em termos jurídicos, um bem é público
quando pertence a toda coletividade que pode
ou não autorizar a sua apropriação por agentes
privados. No Brasil, a Constituição Federal de
1988 tornou públicas todas às águas quando
repartiu-as entre a União e os Estados “são bens
da União os lagos, rios e quaisquer correntes
em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais
de um Estado da federação, sirvam de limite com
outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais”. (art. 20, III
e art. 26, I). Quanto a remuneração do uso desse bem, várias leis e decretos tornam constitucional sua cobrança:
1. Código Civil – Dispõe que o uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído conforme as leis da união, dos estados
ou municípios a cuja administração pertencer (art.
68). Tornando a cobrança pelo uso da água um
ato constitucional garantido em lei.
Art. 68. Quando a alteração não houver
sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem
o estatuto ao órgão do Ministério Público,
requererão que se dê ciência a minoria
vencida para impugná-la, se quiser, em dez
dias.
2. Código de Águas (Decreto Federal
no. 24.643 de 10.07.1934) – O Código de
Águas apresenta texto bastante semelhante ao
do Código Civil dispondo que o uso comum das
águas pode ser gratuito ou retribuído conforme
leis e regulamentos da circunscrição administra-
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.74-78, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
76
J. S. Santos et al.
tiva a que pertencerem município, estado ou
união.
O referido Código assegura o uso gratuito
de qualquer corrente ou nascente de água para
as primeiras necessidades da vida e permite a
todos usar as águas públicas, de acordo com a
regulamentação administrativa. Porém, estabelece também que ninguém pode ficar ilícito quando, de alguma forma, contaminar os recursos
hídricos causando prejuízos a terceiros.
O código consubstancia a legislação nacional básica de águas. No entanto, necessita ser
atualizado, principalmente para ser ajustado à
Constituição Federal de 1988, à Lei nº. 9.433/
97, e de regulamentação de muitos de seus aspectos.
3. Lei no 6.662 (25.06.79) da Política
Nacional de Irrigação (regulamentada pelo
Decreto no 89.496/84) – Dispõe que o uso de
águas públicas para fins de irrigação e atividades decorrentes dependerá de remuneração (art.
21 da Lei). Um dos motivos que justifica a cobrança nesse setor de grande importância na
economia brasileira é a grande demanda por
água, cerca de 70%, o que aliado a falta de
manejo adequado pode contaminar diversos
corpos d’ água.
Art. 21 - A utilização de águas públicas,
para fins de irrigação e atividades decorrentes,
dependerá de remuneração a ser fixada de acordo com a sistemática estabelecida em regulamento.
4. Lei no. 6.938 (31.08.1981) da Política Nacional do Meio Ambiente – Adota os
princípios poluidor-pagador e usuário-pagador
aplicados aos recursos ambientais e inclui entre
estes, os recursos hídricos. A Lei dispõe que a
Política visará à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais
com fins econômicos (art. 4, VII).
VII – a imposição, ao poluidor e ao pagador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar
os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com
fins econômicos.
5. Lei no. 7.990 (28.12.1989) – Institui aos
estados, distrito federal e municípios compensação financeira pelo uso da exploração de recursos hídricos para fins de geração de energia
elétrica, justificada pela perda econômica decorrente da inundação, artigo 20 (parágrafo 1) da
Constituição Federal.
Art. 2º - A compensação pela utilização
de recursos hídricos, para fins de geração
de energia elétrica, será de 6% (seis por
cento) sobre o valor da energia produzida, a
ser paga pelos concessionários de serviço
de energia elétrica aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, em cujos territórios se localizarem instalações destinadas à
produção de energia elétrica, ou que tenha
áreas invadidas por águas dos respectivos
reservatórios (Revogado pela Lei nº. 9.648,
de 27.5.98).
6. Lei no. 9.433 (08.01.1997, da Política e Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos – Entende a cobrança pelo
uso da água como um dos seus instrumentos de
gestão dos recursos hídricos (art. 5, IV). Entre
outros aspectos, determina que: são passíveis de
cobrança todos os usos da água sujeitos à outorga, porém na fixação dos valores a serem
cobrados deve ser observado o volume efetivo
a ser retirado. Acrescenta ainda que, cabe aos
Comitês de Bacias Hidrográficas estabelecer os
mecanismos de cobrança, e sugerirem os valores a serem cobrados ao Conselho Estadual de
Recursos Hídricos (CRH), no âmbito de suas
competências.
Art. 5º São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - os Planos de Recursos Hídricos;
II - o enquadramento dos corpos de água
em classes, segundo os usos preponderantes da
água;
III - a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
IV - a cobrança pelo uso de recursos
hídricos;
V - a compensação a municípios;
VI - o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.74-78, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Aspectos legais da cobrança de água no Brasil
A Lei no. 9.433/97 se utiliza do termo genérico “cobrança pelo uso dos recursos hídricos”.
Essa cobrança (ou “contraprestação pela utilização das águas públicas”) conforme (Pompeu,
1997): i) não configura imposto (já que este “destina-se a cobrir despesas feitas no interesse comum, sem ter em conta as vantagens particulares obtidas pelos contribuintes”); ii) não é taxa
(já que, “não se está diante do exercício de poder de polícia – taxa de polícia – ou da utilização efetiva ou potencial de serviço público – taxa
de serviço”); iii) não é contribuição de melhoria.
A cobrança pelo uso de recursos hídricos
no Brasil, segundo disposto na Lei no. 9.433/
97, deve atender tanto ao objetivo econômico
como ao financeiro. Esse último está explicitamente considerado no artigo 19, inciso III da
Lei. O objetivo financeiro também está presente
no artigo 22 da Lei que define que os valores
cobrados deverão financiar não apenas os estudos, programas, projetos e obras dos Planos de
Recursos Hídricos (I), mas também a implantação e custeio administrativo do Sistema Nacional de Gerenciamento (II). O aspecto econômico é admitido no artigo 19 que informa que a
cobrança intenciona reconhecer a água como
bem econômico (I) e incentivar a racionalização
de seu uso (II). O inciso I desse artigo dispõe,
inclusive, que deve ser dado ao usuário uma indicação do real valor da água. Isto pode ser interpretado como a cobrança de um valor que
seja indicativo dos custos externos que o uso da
água esteja provocando.
A Lei estabelece critérios gerais para a cobrança das derivações, captações e extrações
de volumes de água (art. 21, I) e para os lançamentos de esgotos e demais resíduos (art. 21,
II). No entanto, é omissa quanto aos critérios
para os demais usos sujeitos à outorga definidos
no artigo 12, inciso IV (aproveitamento dos potenciais hidrelétricos) e inciso V (outros usos que
alterem o regime, a quantidade ou a qualidade
da água existente em um corpo de água). Além
de incentivar a preservação da bacia hidrográfica
onde se encontra o corpo d’água em questão.
A outorga na Lei 9.433 está descrita de
acordo com o artigo 11 como sendo “(...) o con-
77
trole quantitativo e qualitativo dos usos da água
e o efetivo exercício dos direitos de acesso à
água”; o artigo 12 as modalidades requerentes
de outorga e no artigo 16 o prazo máximo de 35
anos para essa. Competindo a União concedêla, segundo a Constituição Federal no seu artigo
21, inciso XIX, ou de conceder esse poder aos
estados e distrito federal conforme dispõe o art.
14 da referida lei. No artigo 20 da lei se prevê a
cobrança dos usos quantitativos dos recursos
hídricos sujeitos a outorga referido no artigo 12,
o que denota que a cobrança pressupõe a outorga.
No estado da Paraíba a cobrança têm sido
motivos de diversos fóruns para sua regulamentação. O modelo aqui proposto tem princípio na
Lei n°. 6.308/96, em alguns pontos diverge da
Lei 9.433/97 e promete alguns conflitos, sugere
que os valores cobrados pelo uso da água utilizados em melhorias para bacia de origem e também para fora da bacia onde foram arrecadados.
CONCLUSÕES
No âmbito nacional a cobrança é garantida por lei. Em alguns estados já é praticada
a alguns anos, na Paraíba essa prática esta
sendo discutida e seu modelo é baseado na
lei 9.433/97 propondo como diferencia que
o valor arrecadado seja utilizado dentro e fora
da bacia.
No Brasil, a principal dificuldade para a
implantação da cobrança está no desconhecimento de sua prática, custos e benefícios,
tanto no setor que cobrará quanto no que será
cobrado, o que gera inseguranças e predisposições negativas.
A Lei nº. 9.433/97 introduziu a cobrança pelo uso da água como um instrumento
de gestão e como um instrumento econômico, a ser aplicada tanto para os usos quantitativos quanto para os usos qualitativos.
Seja como for, as experiências internacional e nacional da cobrança pelo uso da
água têm demonstrado que se trata de um
processo permanente de aprimoramento das
ferramentas administrativas e da participação
dos agentes envolvidos na gestão.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.74-78, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
78
J. S. Santos et al.
REFERÊNCIAS
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que Dispõe sobre a Política Nacional de Irrigação e dá outras providências. Diário Oficial
(da República Federativa do Brasil), Brasília,
26 jun. 1979.
CONEJO, J.G.L. O sistema paulista de
gerenciamento de recursos hídricos e a cobrança pelo uso da água. In: THAME, A.C.M. et
al. A cobrança pelo uso da água. São Paulo:
Instituto de Qualificação e Editoração, 2000.
BRASIL. Decreto nº. 24.643, de 10 de julho
de 1934, Decreta o Código de Águas.
BRASIL. Lei Federal nº. 6.938 de 31 de agosto
de 1981, que Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Diário Oficial (da República
Federativa do Brasil), Brasília, 1 set. 1981.
BRASIL. Lei Federal nº. 7.900 de 28 de dezembro
de 1989, que Regulamenta o pagamento da compensação financeira de que trata a Lei.
BRASIL. Lei n°. 9.433, de 08 de janeiro de 1997,
que Estabelece normas de orientação à Política Estadual de Recursos Hídricos bem como
ao Sistema Integrado de Gerenciamento de
Recursos Hídricos. Diário Oficial (da República Federativa do Brasil), Brasília, 9 jan. 1997.
BRASIL. Lei n°. 6.308/96, Governo do Estado
da Paraíba. Recursos Hídricos - Leis e Decretos. Secretaria de Recursos Hídricos, 1996.
FIESP/CIESP. Conservação e reúso de água:
Manual de orientações para o setor industrial.
FIESP/CIESP/ANA: vol. 1. Disponível em:
<http://www.ana.gov.br/Destaque/docs/d179reuso.pdf > Acesso em 30 de jul. de 2009.
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SANTOS, D. G. A Cobrança pelo Uso da Água.
2002. 100p. Dissertação (Mestrado em Gestão Econômica do Meio Ambiente). Universidade de Brasília, 2002.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.74-78, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.79-83, 2010.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS EM CACHOEIRA DOS ÍNDIOS-PB
José D. de S. Barros1, Maria de F. P. da Silva2
1
Mestrando em Recursos Naturais, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Av.
Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, 58109-970, Campina Grande – PB. E-mail:
[email protected]
2
Licenciada em Letras, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho é resultado de uma pesquisa realizada com estudantes da Educação de
Jovens e Adultos da Cidade de Cachoeira dos Índios – PB, tem como objetivo compreender a
percepção ambiental desses alunos nos aspectos da Educação Ambiental. A pesquisa foi realizada no período de 03 a 18 de setembro de 2009, contendo uma amostra de 40 alunos. Foi
realizada visitas as escolas e aplicado um questionário contendo questões objetivas e subjetivas
abordando os aspectos socioeconômico e também a compreensão que os educandos construíram a cerca das definições de meio ambiente e dos problemas que os mesmos presenciam no
seu cotidiano.
PALAVRAS-CHAVE: percepção ambiental, educação ambiental, meio ambiente
ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE YOUTH AND ADULTS IN CACHOEIRA DOS ÍNDIOS-PB
ABSTRACT
This paper is the result of a research of students in the Education of Young Adults and the City of
Cachoeira dos Índios - PB, it aims to understand the environmental awareness of students in
aspects of environmental education. This research was conducted in a period of 03 to 18 September
2009, containing a sample of 40 students. Was carried out school visits and a questionnaire
containing objective and subjective questions addressing the socioeconomic aspects and also the
understanding that students have built some of the definitions of the environment and the problems
they witness in their daily lives.
KEYWORDS: environmental awareness, environmental education, environment
80
J. D. de S. Barros et al.
INTRODUÇÃO
Educar é uma atividade complexa caracteriza-se pela dedicação na busca de criação de
projetos de ação na construção e reconstrução
do conhecimento através da reflexão crítica de
sua própria prática docente e dos currículos escolares (TRAVASSOS, 2001). Para Teixeira
(2007) a educação ambiental é composta de
conhecimentos teóricos e práticos com o objetivo de proporcionar à compreensão e o despertar da reflexão sobre as práticas dos indivíduos voltadas para a conservação e preservação do meio ambiente em beneficio da coletividade.
A educação ambiental, a partir da conferencia Intergovernamental sobre Educação
Ambiental realizada em Tsibilisi (EUA), em
1977, inicia um relevante processo em nível global proporcionando reflexões no sentido de tomar consciência sobre o valor dos bens naturais
e reorientar a produção de conhecimento baseada nos métodos de interdisciplinaridade e nos
princípios da complexidade (JACOBI, 2003).
O documento produzido a partir da Conferência internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, Educação e Consciência Pública para a
Sustentabilidade, realizada em Tessalônica
(Grécia), destacou a necessidade de implementar
ações de educação ambiental fundamentada nos
preceitos de ética e sustentabilidade, identidade
cultural e diversidade, mobilização, participação
e práticas interdisciplinares (JACOBI, 1998). O
Brasil vem conquistando espaço crescente devido as necessidades de conservar os recursos
naturais, tendo em vista as necessidades de reverter o quadro de degradação ambiental que
ora vivenciamos, através da efetivação de práticas socialmente justa, ecologicamente correta e
economicamente viável, colocando em prática
os preceitos do desenvolvimento sustentável,
através da compreensão e da busca de novos
padrões de desenvolvimento, procurando suprir
as necessidades da atual geração sem comprometer as gerações futuras. As propostas de educação ambiental estão contidas principalmente
nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)
como tema transversal, contemplando todas as
disciplinas do currículo (BARROS, 2009).
Essa modalidade de educação procura implantar novos modelos de valores e práticas,
fundamentada em uma postura crítica e democrática, contribuindo assim para a construção da
cidadania, buscando contribuir assim com a
sensibilização para as questões ambientais. Essa
educação influência diretamente o modo de viver da sociedade, desenvolvendo os hábitos de
responsabilidade, de respeito com os homens e
com os outros componentes da natureza, preservando de forma consciente os recursos naturais e respeitando os ciclos de renovação e
reciclagem natural (FUNICELLI e STORI,
2008).
A educação ambiental articulada com as
práticas sociais, no contexto atual de degradação crescente dos ecossistemas envolve uma
necessária produção de conhecimentos por parte
dos educadores, envolvendo um conjunto crescente destes atores sociais, potencializando o
engajament o e a aplicação
da
interdisciplinaridade. Visando interpretar as interrelações do meio social e do meio natural, no
intuito de buscar alternativas sustentáveis para o
desenvolvimento socioambiental (JACOBI,
2003). De acordo com Leff (2001) não é possível resolver os problemas sociais e ambientais
da humanidade ou mitigar os efeitos dessa degradação gerados pelo sistema de racionalidade
vigente baseado no modelo econômico de desenvolvimento vigente. Tem-se intensificado nos
últimos anos uma preocupação crescente da
sociedade com os problemas ambientais, diante
desse fato tem tomado corpo a tendência de
educação ambiental na educação básica. Essa
problemática é um tema desafiador na transposição didática dos conteúdos, nas ultimas décadas vários documentos oficiais no Brasil ressaltando a relevância do emprego de temas
ambientais como facilitadores da aprendizagem
e dessa tomada de consciência pelos atores sociais (BARROS, 2009).
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada através de acompanhamentos dos alunos matriculados no 7º e
9º anos na modalidade de Educação de Jovens
e Adultos na Escola Municipal de Ensino Infantil
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.79-83, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Educação ambiental na educação de jovens e adultos em Cachoeira dos Índios - PB
e Fundamental Maria Cândido de Oliveira e
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Cachoeira dos Índios. Para a realização da
pesquisa foi utilizada uma amostra aleatória contendo 40 alunos, realizada no período 03 a 18
de setembro de 2009. Tendo como instrumento
de pesquisa um questionário contendo questões
objetivas e subjetivas, abordando definições e
conceitos referentes a educação ambiental e os
problemas ambientais presenciados no cotidiano dos alunos.
81
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
73,30%
20,00%
10,00%
0,00%
26,70%
Zona Rural
Zona urbana
Origem dos alunos regularmente
matriculados
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados coletados correspondem a 40
alunos da modalidade de educação de Jovens e
Adultos da cidade de Cachoeira dos Índios –
PB, matriculados nas escolas citadas anteriormente, após analise dos dados constou-se que
os educandos apresentam uma média de idade
de 21 anos e que 53,3% dos alunos são do sexo
masculino. Freitas et al., (2009) verificaram em
um estudo com a modalidade de jovens e adultos que a idade entre os alunos eram proporcional 50% para casa sexo.
54,00%
52,00%
50,00%
48,00%
53,30%
46,00%
46,70%
44,00%
10,00% 3,30%
6,70%3,30%
66,70%
Tudo que nos cerca
Lugar onde vivemos
Relações entre seres vivos
Conjunto de recursos naturais
Condições que regem e abrigam a vida
Compreensão dos alunos a cerca
do conceito de meio ambiente
Ambiente, no artigo 3o, Inciso I, assim define:
“meio ambiente, o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas”. Assim, os alunos demonstram carência do correto conceito de meio ambiente.
42,00%
Masculino
Feminino
Sexo dos alunos
26,70%
Questionados a cerca da origem 73,3% dos
alunos são da zona rural do município. Esse fato
é comum no município que apresenta uma população residente na zona rural superior a população que reside na zona urbana.
Questionados a cerca do conceitos que os
mesmos construíram sobre a definição de meio
ambiente 66,7% dos entrevistados compreendem que meio ambiente é a relação entre os seres vivos. Segundo a Lei Federal no. 6.938/81,
que dispõe sobre a política nacional do Meio
30%
10%
33,30%
Ato de preservar a natureza
Ensinar sobre meio ambiente
Não jogar lixo no chão
Colocar em prática atitudes como a reciclagem
Percepção dos alunos a cerca da
educação ambiental
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.79-83, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
82
J. D. de S. Barros et al.
Em relação a educação ambiental 30,3%
dos alunos entendem que educação ambiental é
colocar em prática atitudes como não jogar lixo
no chão. Segundo a L ei Federal no 9.795/99,
no seu artigo 1o, assim define: “Entendem-se por
educação ambiental os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade”.
6,70%0,00%
10%
13,30%
70%
Poluição da água
Poluição sonora
Desmatamentos e queimadas
Lixo em terreno baldio
Esgotos a céu aberto
Principais problemas ambientais
observado no município de Cachoeira dos Índios – PB
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
73,30%
40,00%
30,00%
20,00%
23,40%
10,00%
3,30%
0,00%
Ciências
Geografia
História
Disciplinas que abordam
temática ambiental
a
Inquiridos sobre as disciplinas que abordam temas relacionados a meio ambiente 73,3%
dos educandos responderam que já estudaram
temas relacionados sobre meio ambiente na disciplina Ciências. Faz-se necessário o
engajamento de todas as disciplinas nesse processo de construção do pensamento ecológico,
3,30% 6,70%
visto que, a lei citada anteriormente assegura no
seu artigo 4o inciso III: “o pluralismo de idéias e
concepções pedagógicas, na perspectiva da inter,
multi e transdisciplinaridade”
Procurando saber a compreensão dos alunos a cerca do que eles compreendam sobre
poluição ambiental 46,7% responderam que
poluição ambiental é a interferências das ações
antropicas no solo, ar e água. Em pesquisa realizada com alunos da EJA por Moura et al.,
(2009) verificaram que 45% dos educandos afirmaram que poluição ambiental é tudo que contribui para a degradação do meio ambiente e que
prejudica o equilíbrio biológico.
Com o objetivo de identificar a compreensão dos alunos a cerca dos problemas ambientais
locais foi perguntado aos quais os principais problemas ambientais observado no município de
Cachoeira dos Índios – PB, 70% responderam
que o principal problema que interfere na vida
46,70%
10%
20%
43,30%
23,30%
16,70%
30%
Lixo proveniente de diferentes fontes
Tudo que interfere no meio ambiente
Tudo que prejudica a saúde dos seres vivos
Interferências no solo, ar e água
Percepção dos alunos referente ao
conceito de poluição ambiental
Reciclagem do lixo
Aumento de cestos de lixo nas ruas
Saneamento básico eficiente
Preservação dos recursos naturais
Conscientização da população local
Soluções apresentadas pelos alunos para mitigar os problemas
ambientais no município de Cachoeira dos Índios – PB
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.79-83, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Educação ambiental na educação de jovens e adultos em Cachoeira dos Índios - PB
cotidiana das pessoas desse município são
os esgotos a céu aberto.
Procurou-se também identificar quais as
sugestões dos alunos para mitigar os problemas ambientais identificados no município
supracitado 30% afirmaram que faz-se necessário a implantação de um sistema de saneamento básico eficiente. Segundo Souza
(2007), a insuficiência de saneamento básico no Brasil tem preocupado todos os setores da sociedade, devido a sua relevância na
preservação de doenças e na conservação
do ambiente.
CONCLUSÕES
O processo de construção do conhecimento tendo por base a educação ambiental
possibilita reflexões relevantes, proporcionando a cada sujeito a tomada de decisão
tornando-se responsável pelas mesmas e ao
mesmo tempo refletindo sobre seus atos.
Neste sentido, objetivar a sustentabilidade
ambiental implica ações práticas e teóricas
de educação ambiental. Educar para a
sustentabilidade antecede toda a mobilização
política e econômica no intuito de atingirmos
o equilíbrio entre o desejável e o inevitável,
assim para atingir a sustentabilidade um dos
caminhos é invest irmos em educação
ambiental e a escola é um espaço público em
que ocorre o desenvolvimento da socialização e sistematização do conhecimento. Os
problemas ambientais ganharam mais notoriedade e passaram a ser interpretados de
forma global e não apenas isolados ou
dicotomizados.
REFERÊNCIAS
BARROS, J. D. de S.; BARROS, J. L. EDUCAÇÃO AMBENTAL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS. IN: SEABRA, G. de F.; MENDONÇA, I. T. L. Educação Ambiental para a
sociedade sustentável e saúde global. João
Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009.
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83
BRASIL. Constituição (1988). Lei Federal no .
6.938/81. Dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação, e dá outras providências.
Disponível
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<
http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm
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BRASIL. Constituição (1988). Lei Federal no .
9.795/99. Dispõe sobre a educação ambiental,
institui a Política Nacional de Educação
Ambiental e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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REFLETINDO SOBRE AS CONCEPÇÕES
DOS ALUNOS DO PROEJA SOBRE MEIO
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IN: SEABRA, G. de F.; MENDONÇA, I. T.
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SOUZA, C. M. N. Relação Saneamento-SaúdeAmbiente: os discursos preventivista e da promoção da saúde. Saúde e Sociedade, São
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TEIXEIRA, A. C. Educação ambiental: caminho
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.84-86, 2010.
LICENCIATURA EM CIÊNCIAS AGRÍCOLAS: “MEIA IDADE” DE FORMAÇÃO SÓCIO-PROFISSIONAL DE DOCENTES PARA O ENSINO AGRÍCOLA NA UFRRJ
1
Carla L. O. de Souza ³; Antonieta S. Lopes ³; Maíza G. R. Pereira³ & Lia M. T. de Oliveira4
³Graduandas em Licenciatura em Ciências Agrícolas da UFRRJ, e-mail :
[email protected], [email protected] , [email protected]
4
Doutora em Ciências Sócias em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Professora do
DTPE/IE/UFRRJ, membro do GEPEADS e do Laboratório de Estudos e Pesquisas Diálogos
e Saberes Cotidianos, área temática de Identidades e Representações do mundo rural e
Educação Agrícola, e-mail: [email protected]
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo trazer a discussão sobre um curso da UFRRJ que profissionaliza docentes
para o ensino técnico agrícola (denominada educação profissional e tecnológica). A idéia é tecer considerações histórico-sociais, buscando demonstrar que o mesmo é um caso paradigmático de licenciatura, posto que
durante as décadas de 1960 e 1970 praticamente foi o único curso regular e pleno institucionalizado para
profissionalizar docentes para o ensino agrícola. Há 46 anos forma os professores da educação profissional e
tecnológica, no entanto, mesmo sendo sufocado pela proposta pedagógica das Escolas Agrotécnicas Federais, do Sistema Escola-Fazenda, o curso superou essa tentativa de homogeneizar a profissionalização de
professores para atender esse modelo agrícola e na atualidade vem respondendo também ao que se denomina
de educação do campo. Nesse sentido, vale reconstituir o processo de criação do curso de Licenciatura em
Ciências Agrícolas – LICA – da UFRRJ, ressaltando aspectos institucionais e sociais que caracterizam a
trajetória do curso no Ministério da Agricultura até os dias atuais, no Ministério de Educação.
PALAVRAS-CHAVE: LICA, Agrotécnica, Educação Técnica
DEGREE IN AGRICULTURAL SCIENCES: “MID-AGE” OF THE SOCIOPROFESSIONAL TRAINING OF TEACHERS TO TEACH AGRICULTURE IN
UFRRJ.
ABSTRACT
This work aims to bring the discussion on a course of UFRRJ that professionalized teachers to teach
agriculture (so-called professional and technical education). The idea is to weave historical and social
considerations, seeking to show that it is a paradigmatic case of degree, since during the 1960 and 1970 was
virtually the only regular course fully institutionalized and to train teachers to teach agricultural. 46 years
ago as the teachers of vocational and technological education, however, despite being choked by the
pedagogical Schools Federal Agrotechnical, the Farm School System, the course overcame this attempt to
mix the professionalization of teachers to meet this model of agriculture and currently has responded well to
what is called the field of education. In this sense, it reconstitutes the process of creation of the Degree in
Agricultural Sciences - LICA - the UFRRJ, highlighting the institutional and social values of the trajectory of
the course at the Ministry of Agriculture to the present day, the Ministry of Education.
KEYWORDS: LICA, Agrotechnical, Technical Education
Licenciatura em ciências agrícolas: “meia idade” de formação sócio-profissional de
INTRODUÇÃO
“Quase Cinqüenta numa instituição
Centenária”
A Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro é uma Instituição de Ensino público e
gratuito que existe há 99 anos, sendo inicialmente
uma escola de agricultura e veterinária, a
ESAMV. Cada curso desta universidade foi criado para atender as necessidades da sociedade, mas também interesses políticos e econômicos, já que inicialmente como ESAMV e logo
após ENA e ENV (Escola Nacional de Agronomia e Escola Nacional de Veterinária), a sua
criação esteve ligada aos anseios do Ministério
da Agricultura para formar técnicos dirigentes e
servidores públicos para as políticas governamentais
desenvolvimentistas
e
descomprometidas coma Reforma Agrária. O
Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas
primeiro da América do Sul sendo o quarto mais
antigo da universidade foi criado, em 1963, com
a denominação de Escola Superior de Educação Técnica, atendendo ao disposto no Artigo
59 da lei 4024/61 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional), cumprindo também uma exigência de se agrupar às escolas de Agronomia,
Veterinária e Florestal, uma escola pedagógica
para consolidar a instituição como Universidade
e atender ao projeto de expansão do sistema
escola-fazenda.
METODOLOGIA
O Curso de Licenciatura em Ciências Agrícolas, da UFRRJ foi reconhecido pelo Decreto
79486/77. Trata-se de uma licenciatura plena,
envolvendo uma carga de 2855 horas, com o
objetivo de formar professores de Ensino Fundamental e Médio em disciplinas da área de Ciências Agrárias. Já contamos em nível nacional
com 14 cursos entre universidades públicas e
privadas.
No final da década de1970, devido à expansão e revitalização do ensino técnico agrícola e das crescentes exigências pedagógicas para
profissionalização do magistério em todos os níveis e ramos do ensino, a licenciatura em Ciências Agrícolas ganha credibilidade e sedimenta a
85
sua importância no interior da Universidade,
período em que o ensino agrícola deixa de ser
considerado ensino especial e passa a ser vinculado ao MEC. Mas é na criação do Instituto
de Educação que o curso ganha a sua identidade multidisciplinar, posto que o seu currículo diretamente influenciado pela área progressista de
conhecimentos pedagógicos daquela Unidade
Acadêmica, consegue avançar num modelo de
formação que não somente atenderia os interesses da rede federal das agrotécnicas, mas também aos colégios agrícolas de São Paulo, as fundações ligadas às escolas agrícolas do Sul e também o ensino fundamental com a disciplina de
técnicas agrícolas. Todavia a não submissão do
CLCA às agrotécnicas não significou afastamento delas e nem corte de relações, mas sim a luta
de boa parte dos docentes da UFRRJ, professores do curso, pela autonomia universitária, que
entre os anos de 1970 à início de 1990, esses
docentes mantiveram-se em greve e paralisações
pelo ensino progressist a, socialmente
referenciado, comprometido com a
redemocratização das instituições públicas e não
limitado ao produtivismo ou ao cientificismo.
Também nesse período os estudantes do Curso
de Licenciatura em Ciências Agrícolas mantiveram-se militando e unidos no seu Diretório
(DARF) e no DCE (ver DE PAULA, 2003) que
traz o nome de Raimundo Ferreira, líder camponês da Guerrilha do Araguaia (segundo
FÉLIX, 2009). Oliveira (1998) ao investigar a
memória do curso na sua pesquisa, 1 fez entrevistas com o fundador e primeiro coordenador
do curso de LICA, professor Karl R. Mathias,
que definiu o profissional de educação agrícola
da Universidade Rural do Brasil – URB (atual
UFRRJ), fortemente assegurado nas raízes da
renomada Escola Nacional de Agronomia –
ENA. Dizia ele que era “um profissional técnico
agrícola, sensível às questões da educação
tecnológica” (p.74).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A t ítulo de informação sobre a
profissionalização inicial, podemos constatar algumas pesquisas como Oliveira (1998), Dantas
(2003) e Ayukawa (2007) que trazem a impor-
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.84-86, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
86
C. L. de O. Souza et al.
tância do profissional formado da área agrária
com formação pedagógica em suas atividades
de trabalho relacionado com o desenvolvimento
rural. A institucionalização da Licenciatura em
Ciências Agrícolas fixou um modelo de
profissionalização docente reforçado pelo entendimento de um docente especialista nos assuntos e conhecimentos da política de ensino agrícola e agrária, por isso que nas mudanças
curriculares subseqüentes se ampliaria o leque
de formação para as Escolas da Família Agrícola e escolas de assentados, o que amplia o mercado de trabalho para as redes estaduais e municipais. Isso ampliaria a função docente também, quando a tendência progressista em educação no final dos anos 1980 questiona o
tecnicismo de professores do curso, sobretudo,
questiona o tecnicismo do Sistema Escola Fazenda. Tal fato foi tomando dimensão, o que
originaria, em 1987, a constituição de uma Comissão de Estudo e Reformulação Curricular,
obtendo consistência na formação humanística,
visão crítica, visão ética e ambiental. Os trabalhos dessa Comissão redimensionaram o perfil
de formação profissional do curso, “que na atualidade se defronta não só com os requisitos dos
movimentos sociais e ambientalistas, mas também se defronta com as disputas de paradigmas
científicos e interpretativos do conhecimento e
da realidade social da profissão” (OLIVEIRA,
p. 4).
CONCLUSÃO
A partir do trabalho de investigação do
DARF, professores e estudantes envolvidos com
a busca de fontes documentais, literárias e de
memória sobre o curso para os eventos em 2007
e 2008, vinculados à comemoração dos 45 anos
do Curso de LICA, pode-se afirmar que a cada
década o curso reconfigura a sua proposta
curricular. Uma vez que por ser formação eclética
nas ciências humanas, sociais, ambientais e agrárias, os egressos do curso têm se espalhado pelo
Brasil a fora, em instituições de ensino, pesquisa
e extensão como educadores, professores universitários, membros de equipes de formuladores
de políticas no MEC/SETEC, pesquisadores da
EMBRAPA, professores de CEFET’s, EAF’s,
IFET’s, Escolas da Família Agrícola, empresários, etc. Atualmente, pretende-se incluir uma
habilitação: a Educação do Campo que atenderia as demandas dos movimentos sociais. Nesse
sentido o curso teria a opção de habilitar para
as disciplinas pedagógicas ligadas às questões
agrárias e sociológicas e mais ainda a
agroecologia e segurança alimentar.
REFERÊNCIAS
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Editora UNB, 2004.
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.87-92, 2010.
PRODUÇÃO DE TELHAS COM RESÍDUOS INDUSTRIAIS E
FIBRAS
Elvis A. Soares¹;Antonio F. Leal² & Felipe N. M. Costa³
¹ Eng. Civil. Banco do Nordeste do Brasil. Fone 85 3299 5335. [email protected]
² Prof. Unidade Acadêmica de Eng. Agricola.83 2101 1490. [email protected]
³ Pibic – UFCG/CNPq. Graduando em Eng.Civil
INTRODUÇÃO
Existem inúmeras pesquisas que estudam a reciclagem dos mais diversos resíduos originados dos setores industriais. Devido à complexidade com que estas pesquisas se desenvolvem e
pela necessidade de integrar conhecimentos característicos de diferentes especificações, há um
envolvimento de profissionais de várias áreas, como engenharia de materiais, química, biologia,
saneamento, marketing, etc. Esses profissionais estão cada vez mais envolvidos e fazendo relevantes descobertas quanto ao potencial que certos resíduos industriais possuem como material
de construção civil. São trabalhos que enriquecem e contribuem de forma significante os
workshops, congressos e seminários sobre reciclagem.
Baseado neste preceito, este projeto de pesquisa procura mostrar a viabilidade da utilização de resíduos industriais como materiais de construção alternativos aos convencionais. Pretende-se confeccionar telhas com resíduos gerados em indústrias de Campina Grande – PB,
utilizando fibras naturais e artificiais como reforço estrutural. Espera-se um produto inovador
que resulte em melhoria da qualidade da obra, e que reduza o impacto ambiental causado pela
incorreta destinação desses resíduos.
Já é tempo de despertar a consciência dos geradores dos resíduos para as vantagens do
investimento em programas de reciclagem/reaproveitamento que poderão ser uma nova fonte de
receita. O desconhecimento sobre as possibilidades de reaproveitamento dos seus próprios
resíduos é um problema tão grave quanto o da falta de espaço para depositá-los adequadamente. Este projeto busca soluções que assegurem destinos finais sem risco aos futuros usuários dos
produtos com resíduos incorporados. Portanto, esta pesquisa propõe a reciclagem de resíduos
industriais, utilizando-os na produção de telhas.
88
E. A. Soares et al.
MATERIAL E MÉTODOS
A atividade industrial é uma grande geradora de resíduos. Uma parte considerável desse resíduo é destinada aos lixões das cidades. O
aproveitamento desses resíduos, confinados em
uma argamassa contribuiria para a solução desse problema ambiental e traria benefícios à construção civil (peso próprio, isolamento térmico e
acústico, baixos custos, etc.).
Os resíduos sólidos resultantes dos processos industriais ainda não são considerados como
matéria-prima nos meios construtivos. Estes resíduos têm um alto potencial de aproveitamento
e com os devidos cuidados podem até otimizar
os componentes de uma construção. O descarte inapropriado em aterros e o grande volume
gerado tornam esses resíduos numa ameaça
ambiental, além do descarte inapropriado, a incineração é um dos processos mais utilizados
para solucionar o problema desses resíduos. Na
Figura 1 podem ser vistos alguns exemplos:
a) Resíduos de Cerâmica
c) Resíduos de Caulim
b) Resíduos de Calçados
d) Resíduos de Rochas
Figura 1. Resíduos sólidos gerados
em indústrias
O número ainda reduzido de trabalhos com
abordagens práticas sobre o aproveitamento de
resíduos industriais na construção civil e o potencial dos grupos de pesquisa da UFCG, somados às questões levantadas anteriormente,
encorajaram o desenvolvimento dessa pesquisa.
O presente projeto faz parte de uma pesquisa maior intitulada: “Materiais Não-conven-
cionais para uma Engenharia Sustentável”,
sob a coordenação geral da PUC-RIO, envolvendo ainda USP-Pirassununga, UFPB,
CEFET-MG e UFCG como co-responsáveis.
Os trabalhos foram desenvolvidos nos laboratórios existentes nas diversas unidades acadêmicas do Centro de Ciências e Tecnologia –
CCT e do Centro de Tecnologia e Recursos
Naturais - CTRN, principalmente no Laboratório de Construções Rurais e Ambiência da UA
de Engenharia Agrícola e do Laboratório de
Caracterização de Materiais da UA de Engenharia de Materiais. Contou-se também com o
apoio dos técnicos no desenvolvimento das atividades programadas.
Fibras de sisal
Utilizou-se a fibra de sisal produzida no
município de Pocinhos, PB. No preparo dos
compósitos usou-se um teor de fibras igual a 2%
em relação ao volume do compósito, cerca de
3,6% da massa do aglomerante presente na mistura. As fibras de sisal foram cortadas através
de uma guilhotina manual em comprimentos variando entre 25-30mm, seguindo recomendações de TOLÊDO FILHO (1997).
Aglomerante
Para produção dos compósitos, utilizou-se
cimento Portland tipo CPI. Este cimento não
contém material pozolânico incorporado na sua
composição, segundo dados do fabricante, que
também forneceu a sua análise físico-química.
O cimento foi adquirido acondicionado em sacos de papel do tipo “Kraft” de 50kg. Para evitar a hidratação prematura, o cimento foi acondicionado em sacos plásticos, sendo lacrados e
armazenados em estantes de madeira.
Agregado miúdo
Foi utilizada uma areia originária do leito
do rio Paraíba. A granulometria da areia foi determinada segundo a NBR 7217/87 e classificada de acordo com a norma NBR 7211/83,
que classifica os agregados para uso em concreto. A massa unitária em estado solto foi determinada de acordo com a NBR 7251/82.
Antes do ensaio de granulometria,
objetivando conseguir uma maior compacidade
da matriz e visando a produção de compósitos
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.87-92, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Produção de telhas com resíduos industriais e fibras
de pequena espessura (<2,0cm) com um bom
acabamento superficial, a areia escolhida foi passada na peneira de 2mm de abertura para retirada de pedregulhos, impurezas e da sua fração
grossa.
Resíduo cerâmico
Foram utilizados resíduos provenientes da
Cerâmica Caiongo Ltda., localizada no município de Santa Rita, PB. Esses resíduos foram
gerados na produção de blocos cerâmicos, provenientes de peças defeituosas, quebradas ou
fora dos padrões comerciais (coloração, riscos,
textura, etc.). Os resíduos foram coletados e trazidos ao laboratório, sendo esmiuçados em um
moinho de bola até que 100% do material moído passasse na peneira ABNT no100 (abertura
de malha, #0,15mm), Figuras 2 e 3.
O material que passou na peneira ABNT
no200 (#0,075mm) foi escolhido e uma amostra
89
foi enviada para o Laboratório da Companhia
Paraibana de Cimento Portland – CIMEPAR,
na cidade de João Pessoa, PB, que realizou a
sua análise físico-química.
Conforme já descrito, os resíduos foram
processados visando à incorporação como matérias-primas alternativas no desenvolvimento das
telhas em substituição aos materiais convencionais.
Moldagem das Telhas
As telhas foram produzidas no traço 1:1,5
(aglomerante:areia), em massa, sendo elaboradas três misturas. A primeira mistura, sem fibras
e sem substituição parcial do cimento, serve como
matriz de referência. Na segunda mistura também não houve substituição do cimento, porém
foi inserido 2% de fibra de sisal, em volume. Já
na terceira mistura houve 30% de substituição
do cimento Portland pelo material pozolânico
proveniente do resíduo moído de blocos
cerâmicos e foi utilizado 2% de fibra de sisal,
em volume. A Tabela 1 mostra um resumo das
misturas produzidas.
Tabela 1. Misturas desenvolvidas
para produção das telhas
Mistura
Traço
Figura 2. Resíduos de blocos
cerâmicos antes da moagem
Figura 3. Resíduos de blocos
cerâmicos após moagem
Agregado
Fibra
Fator
RMBC
(areia)
(%)
a/agl
1
0
1,5
0
0,7
0,3
1,5
2
0,3
1,5
2
Cimento
1:1,5
0,7
M
MS
Aglomerante
(massa)
M30S
0,45
RMBC – resíduo moído de bloco cerâmico; a/agl –
água/aglomerante
Foram seguidos os seguintes critérios:
· teor de fibra de sisal: 2%, em volume, o
equivalente a 3,6% da massa do cimento;
· comprimento das fibras de sisal: 2,5 –
3,0cm;
· mistura, moldagem e vibração: manuais;
· cura imersa durante 3 dias e ao ar até a
data dos ensaios.
Foi idealizada uma forma simples, produzida em chapa de madeira compensada de 10mm
(lastro) e em chapa metálica dobrada em forma
de trapézio, formando um ângulo de 45º com a
horizontal. As laterais, em madeira maciça, são
aparafusadas ao lastro, dando rigidez ao con-
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.87-92, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
90
E. A. Soares et al.
junto. As chapas metálicas são colocadas no lastro por deslizamento, através das aberturas nos
frontais da forma (Figura 4) e fixadas às laterais
com espaçadores de madeira (bitolas). A espessura da telha é de 8mm. O peso do conjunto
vazio é cerca de 21kg, e quando cheio, em torno de 36kg, podendo ser manuseado por uma
só pessoa e mais facilmente por duas.
20cm
15cm
21,4cm
Chapa
Metálica
26,4cm
110cm
15 ou 20cm 3,2cm
Lateral em
madeira
11,0cm
3,2cm
21,4 ou 26,4cm
4,0cm
3,0cm
Figura 5. Esquema da forma para
moldagens das telhas (sem escala)
Figura 4. Molde em madeira e chapa metálica para confecção das telhas
horas. Após esse período, foram curadas ao ar
em ambiente de laboratório até o dia dos ensaios. Após 30 dias de cura ao ar, as telhas foram
separadas aleatoriamente em dois lotes para futura realização dos ensaios.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este modelo de telha minimiza o custo do
madeiramento de cobertura, dispensando o uso
de caibros, ripas, pregos e diminuindo a mãode-obra. Permite um vão livre de 1,0m e requer
apenas as terças de apoio nos extremos do vão.
Foi utilizada uma tecnologia de produção que
pode ser facilmente absorvida na construção
popular, onde os usuários podem produzir para
o seu próprio consumo.
Foram confeccionadas duas formas para
realização do experimento, o que permitiu a
produção simultânea de quatro telhas. A mistura era lançada sobre a chapa metálica e
socada com uma espátula nas laterais entre a
madeira e a chapa metálica. Após ser preenchida, a forma era vibrada através de golpes
de martelo de borracha por cerca de um minuto, até a retirada das bolhas de ar existentes. O esquema apresentado na Figura 5 mostra alguns detalhes e medidas das formas utilizadas.
Uma relação água/cimento igual a 0,45 foi
necessária para garantir a homogeneidade dos
compósitos durante a mistura, em decorrência
do emprego das fibras e de sua absorção de
água.
Após 24 horas de repouso, as telhas eram
retiradas das formas e imersas em água por 72
As propriedades físicas e mecânicas de fibras de sisal produzidas no município de
Pocinhos-PB estão apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2. Propriedades físicas e
mecânicas de fibras de sisal
f
ABS
t

(%)
(mm) (kN/m3)
(MPa)
CEPED (1982)
nd
12,7
240
458
Mukherjee et al (1984) 0,1-0,3
14,5
Nd
530-630
Agopyan (1991)
0,2-0,3 12-13 123-137 374-378
Tolêdo Filho (1996) 0,08-0,3 7,5-11 190-250 227-1002
Referência
MOEf fu
(GPa) (%)
15,2 4,2
17-22 4,3
nd 5-5,5
11-27 2-4,2
nd - não determinado
Fonte: (TOLÊDO FILHO, 1997)
Areia
O resultado do ensaio da composição
granulométrica da areia está apresentado na Tabela 3 e a curva granulométrica na Figura 6, apresentando módulo de finura (MF) igual a 1,63 e
Tabela 3. Composição granulométrica
da areia utilizada
Abertura da
peneira (mm)
2,0
1,2
0,6
0,3
0,15
Resto
%
Retida
0
5,40
7,84
33,83
49,80
3,13
% Retida
acumulada
0
5,40
13,24
47,07
96,87
100,00
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.87-92, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
% que passa da
amostra total
100,00
94,60
86,76
52,93
3,13
0,00
0
100
10
90
20
80
30
70
40
60
50
50
60
40
70
30
80
20
90
10
100
Porcentagem que Passa (%)
Porcentagem Retida (%)
Produção de telhas com resíduos industriais e fibras
0
0,15
0,30
0,60
1,20
2,00
4,80
9,50
Abertura das Peneiras (mm)
Areia
Lim superior
Lim inferior
Figura 6. Curva granulométrica da
areia utilizada
dimensão máxima de 0,6mm. A sua massa unitária em estado solto foi igual a 1435kg/m3. Verifica-se que este agregado enquadra-se nos limites da Zona 1 da NBR 7211/83, sendo classificada como areia muito fina. Esta granulometria
irá ajudar na compacidade da matriz, diminuindo a porosidade e melhorando a interface fibramatriz. SAVASTANO JR. (2000) utilizou uma
areia com MF=2,12 e dimensão máxima de
2,4mm.
Resíduo moído de blocos cerâmicos
Os resultados da análise físico-química do
resíduo de blocos cerâmicos estão apresentados na Tabela 4.
Os óxidos de silício e alumínio totalizam
cerca de 81% dos constituintes do resíduo de
bloco moído, segundo a ASTM C618/01 essa
soma não pode ser inferior a 70% para que um
material seja considerado uma pozolana. Esses
são os óxidos que reagem com o hidróxido de
cálcio formando os silicatos. O teor de óxido de
Tabela 4. Caracterização química e
física do resíduo de blocos
cerâmicos
Características
SiO2 (Dióxido de Silício)
Al2O3 (Óxido de Alumínio)
Fe2O3 (Óxido de Ferro)
CaO (Óxido de Cálcio)
MgO (Óxido de Magnésio)
K2O (Óxido de Potássio)
Na2O (Óxido de Sódio)
Perda ao Fogo
Massa Específica
Área Específica (Blaine)
Unidade
%
%
%
%
%
%
%
%
g/cm3
cm2/g
Resultado
63,54
17,54
8,45
2,69
1,86
0,60
0,07
2,36
2,65
4060
91
ferro, de cerca de 8,45%, fez com que as argamassas produzidas com resíduo moído de bloco cerâmico tivessem um tom avermelhado.
REFERÊNCIAS
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Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.93-98, 2010.
O REUSO DE ÁGUA COMO INSTRUMENTO DE GESTÃO
DOS RECURSOS HÍDRICOS: NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇÃO DO REUSO PARA FINS AGRÍCOLAS
Geórgia K. R. M. M. de Melo1
1
Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Tecnologia em Recursos Naturais,
Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais, [email protected]
INTRODUÇÃO
Em escala mundial, a água, apesar de sua importância para a sobrevivência dos seres
vivos, é um recurso cada vez mais escasso, seja pelo crescimento da população e das atividades
econômicas, seja pela redução da oferta de água, especialmente em razão da poluição dos
mananciais. Diante do crescente processo de escassez, o valor desse bem tende a ficar cada vez
mais alto, tornando premente a necessidade de reduzir a poluição hídrica e buscar alternativas
viáveis de aumento da oferta de água de modo a redefinir a utilização desse recurso, haja vista
que a conjuntura atual exige cada vez mais a busca por metodologias de trabalho que induzam a
um aumento da disponibilidade de água ao mesmo tempo em que considere também a qualidade
da água disponível e seus múltiplos usos.
É nesse cenário que se insere o reuso de água como uma das alternativas mais viáveis para
minimizar o problema da escassez hídrica. A utilização de águas residuárias para os mais diversos fins já é uma realidade em diversos países do mundo e há muito tempo, inclusive no Brasil.
No entanto, embora já se faça reuso em nosso país, essa prática carece de regulamentação
específica. Assim, o presente trabalho, trata de justificar a necessidade de reconhecimento do
reuso de água como instrumento de gestão da Política Nacional de Recursos Hídricos e a possibilidade de sua regulamentação a nível local e de acordo com os usos a que se destina, a
exemplo do reuso para fins agrícolas.
94
G. K. R. M. M. de Melo et al.
METODOLOGIA
Nossa pesquisa é analítico-descritiva,
partindo de uma análise geral do tema, para
uma particular, na tentativa de fornecer um
embasamento teórico sobre o assunto, e posteriormente, entender melhor suas peculiaridades. Além disso, se desenvolveu por meio
de pesquisa bibliográfica, quando foram consultadas doutrinas, legislação, regras e princípios atinentes à Política Nacional de Recursos Hídricos que contribuíram para análise do tema em discussão.
Reuso de Água
Inúmeros são os problemas ambientais
da at ualidade: aqueciment o glo bal,
desertificação, desmatamento, extinção de
espécies, falta de tratamento dos resíduos
industriais, acúmulo de lixo, vazamento de
petróleo etc. Porém, o maior problema
ambiental atual e em nível mundial refere-se
a água ou a escassez dela. Com efeito, nenhuma das questões ambientais que afligem
a humanidade, parece-nos pior do que a possibilidade de escassez completa de água; e é
a exploração desordenada dos recursos
hídricos, seja nas simples atividades domésticas ou naquelas de produção e consumo de
bens e serviços, que vem paulatinamente
agravando o problema da disponibilidade
desse recurso natural.
Diante da preocupação com a disponibilidade de água potável que surge a necessidade de reconhecimento do reuso de água
como alternativa de gestão; isso porque, a
utilização das águas residuárias nos possibilita inúmeros benefícios: as águas tidas como
de segunda qualidade podem ser utilizadas
de forma benéfica para diversas finalidades,
haja vista que, os usos menos exigentes podem ser atendidos com água de qualidade
inferior ao passo que aumentará a disponibilidade hídrica, possibilitando ainda uma oferta
maior de água de boa qualidade, diminuição
da poluição, etc. Assim, a substituição das
fontes de coleta de água para os múltiplos
usos é atualmente a melhor alternativa para
satisfazer as demandas menos restritivas, li-
berando as águas de melhor qualidade para
usos mais nobres. Com efeito, as águas ditas
de qualidade inferior podem, através do uso
de tecnologias apropriadas, servir como fonte alternativa e como uma das soluções para
o problema da falta de água.
Face a essa situação se faz necessário o
desenvolvimento de políticas públicas e culturas dentro da sociedade que induzam a uma
maior conservação da água, de modo que a
utilização dos recursos ainda disponíveis seja
sustentável e um dos mecanismos aptos a
atingir essa finalidade é o reuso consciente e
planejado de águas de baixa qualidade – assim consideradas aquelas advindas da drenagem agrícola, as águas salobras, águas de
chuva e, principalmente, os esgotos domésticos e industriais.
Conceito de Reuso e finalidade
Definindo reuso de água, Mancuso e
Brega Filho nos fornecem o seguinte conceito:
Reuso de água: é o aproveitamento de
águas previamente utilizadas, uma ou mais
vezes, em alguma atividade humana, para
suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de
ações planejadas o u não planejadas.
(MANCUSO; BREGA FILHO, 2005, p.
25).
Por meio do reuso da água, há a possibilidade de tratar os efluentes e descarregálos de forma planejada nos corpos hídricos
para que sejam utilizados de diversos modos. A água proveniente de reuso pode ser
utilizada para irrigação paisagística, irrigação
de campos para cultivos, usos industriais,
recarga de aqüíferos, usos urbanos não-potáveis e out ros usos diversos como a
aqüicultura, construção civil, etc. Conforme
cada destinação do reuso, a água deve apresentar determinadas “características físicas,
químicas e biológicas que garantam a segurança dos usuários, a qualidade do produto
final e a integridade dos componentes com
os quais entrará em contato”(MIERZWA;
HESPANHOL, 2005, p. 12) inclusive por-
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.93-98, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
O reuso de água como instrumento de gestão dos recursos hídricos: necessidade de
que a mesma água pode ser destinada a mais
de um tipo de reuso.
As águas denominadas de qualidade inferior e utilizadas para o reuso são as provenientes de esgotos, especialmente os de origem doméstica, águas de drenagem agrícola e águas salobras, posto que são consideradas como fontes alternativas para usos menos restritivos. A
grande vantagem do reuso é a diminuição da demanda sobre os mananciais de água devido à
substituição da água potável por uma água de
qualidade inferior, mas que atenderá de forma
satisfatória o uso a que se destina sem necessariamente desperdiçar água apta a usos mais nobres. Com efeito, considerando os múltiplos usos
da água reciclada, a sua utilização para qualquer
finalidade proporciona um custo menor, já que a
água de primeira qualidade ficará disponível para
usos mais nobres.
Reuso de água para fins agrícolas
A agricultura hoje não mais se resume ao
aumento da produção apenas por meio da
expansão de terra cultivada, mas, sobretudo, depende do suprimento de água a um nível tal que a sustentabilidade da produção
de alimentos não poderá ser mantida sem que
critérios inovadores de gestão sejam estabelecidos e implementados em curto prazo. A
grande questão posta aos órgãos de gestão
dos recursos hídricos é a controvérsia existente entre oferta e demanda de água para o
atendimento das crescentes necessidades da
agricultura irrigada.
De acordo com Hespanhol (2005, p. 38)
o uso de água para agricultura irrigada no nosso
país é de 70% atualmente, enquanto os outros
30% destinam-se aos usos domésticos e industriais em frações iguais. A estimativa é de que
até 2010 este uso de água para agricultura
irrigada aumente até 80%, o que aumentará também os conflitos já existentes na maioria das
bacias hidrográficas, especialmente nas bacias
onde há desenvolvimento agrícola e crescimento urbano significativo.
Assim, a utilização de água de reuso para
irrigação de culturas é indispensável para a gestão racional e adequada dos recursos hídricos.
No entanto, seja qual for o uso a que se destina,
95
há a necessidade de regulamentação da prática
de forma adequada.
Regulamentação do Reuso de Água
Embora o Brasil seja relativamente privilegiado em se tratando de Recursos Hídricos, a
disponibilidade de água varia no tempo e no espaço, ou seja, obedece as condições climáticas
de cada região e período do ano além de ser
sensivelmente afetada pelas atividades humanas,
ora pela demanda de água para as mais diversas
atividades, ora em razão da poluição provocada
por essas mesmas atividades.
O Brasil dispõe de normas tanto em âmbito federal quanto estadual que determinam os
padrões de lançamento de efluentes, classificando os recursos de acordo com suas características físicas, químicas e biológicas e com a
destinação desse recurso. Na esfera federal, uma
das primeiras legislações a tratar da água foi o
Decreto 24.643 de 10 de julho de 1934, o denominado Código de Águas; este Decreto definiu os tipos de água, critérios de aproveitamento além de dispor sobre a contaminação dos
corpos hídricos. Outra Resolução importante em
termos de disciplina das águas é a Resolução
CONAMA 20/1986, revogada pela 357 de 17
de março de 2005; esta última trata da classificação das águas de acordo com suas utilizações
e respectivos padrões de qualidade. Com a
Constituição Federal de 1988 a água passou a
ser considerada como bem ambiental finito e a
possibilidade de sua escassez a transformou num
bem público e dotado de valor econômico a partir
da Lei 9433/97, que instituiu a Política Nacional
de Recursos Hídricos.
A partir da instituição da Política Nacional
de Recursos Hídricos, passou-se a se considerar como princípios norteadores da gestão de
água, os seguintes: (1) a água deve ser considerada como bem público; (2) a bacia hidrográfica
deve ser adotada como unidade de planejamento
e de gestão; (3) deve-se estimular o uso múltiplo das águas; (4) a água deve ser reconhecida
como um bem finito, vulnerável e dotado de valor econômico. Impende salientar que, embora
a gestão seja descentralizada, a competência para
legislar sobre recursos hídricos é da Constituição Federal, consoante art. 22, IV; apenas por
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
96
G. K. R. M. M. de Melo et al.
lei complementar, os Estados poderão legislar
sobre águas.
A resolução 20/1986 foi o instrumento legal utilizado por muito tempo para disciplinar a
dinâmica de utilização das águas, até a instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos.
Esta última envolve a implementação de normas
internas de gestão e conservação considerando
a água como bem ambiental limitado dotado de
valor econômico, assegurando que sua gestão
deva sempre proporcionar o uso múltiplo das
águas, e estabelecendo a bacia hidrográfica como
unidade territorial e a descentralização das atividades para a concretização de Políticas Nacionais de Recursos Hídricos.
A Lei 9433/97 não dispôs de forma explicita
acerca do reuso de água como instrumento de
gestão dos recursos hídricos, dispondo de forma expressa apenas sobre o uso primário da
água. No entanto, vários dispositivos desta lei
apontam na direção do reuso de água como alternativa para racionalização desse recurso, de
sorte que o reuso carece de regulação específica e que seja adequada a cada uma de suas espécies.
Dentro da Política Nacional de Recursos
Hídricos, o reuso tem fundamental importância
haja vista que, ao passo que a cobrança pelo
uso da água bruta é instituída já como instrumento de gestão consagrado expressamente pela
Política Nacional de Recursos Hídricos, emerge, em contrapartida, o mercado de reuso de
água também como instrumento de gestão e, ao
mesmo tempo, como alternativa para redução
dos custos.
As possibilidades e formas potenciais de
reuso dependem, evidentemente, de características, condições e fatores locais, que vão desde
a decisão política até os fatores ambientais, econômicos, sociais e culturais de cada região.
Neste diapasão, entendemos que a regulamentação do reuso deve obedecer às características de cada região onde este é realizado (condições geográficas, climáticas, demanda de utilização da água, etc.), a destinação e disponibilidade hídrica e a própria finalidade do reuso, se
para fins agrícolas, industriais, domésticos, dentre outros.
O reuso de água proveniente de esgotos
por exemplo, é uma prática que vem aumentando significativamente e que de acordo com
Hespanhol (2005, p. 58), deve-se aos seguintes
fatores: dificuldade de identificar alternativas de
água para irrigação, custo elevado de fertilizantes, a segurança de que as águas se tratadas de
forma adequada, não representam qualquer risco à saúde pública, a segurança de que os impactos sobre o solo são insignificantes, a aceitação sócio-cultural desta prática de reuso, e, finalmente, o reconhecimento dos órgãos de gestão dos recursos hídricos de que esta prática é
eficaz.
José Tavares de Sousa (2005, p. 260) aduz
que
No Brasil não existem normas nem critérios próprios para reuso de água de qualidade inferior, apesar da utilização de esgotos domésticos na agricultura ser uma prática milenar realizada em todos os continentes. Para o uso adequado de esgotos na irrigação se faz necessário
o seu tratamento para, além de garantir a qualidade higiênica, corrigir certas características indesejáveis tais como: alta concentração de solos e matéria orgânica putrescível.
Para Hespanhol (op. Cit.), a regulamentação do reuso deverá ser elaborada de modo a
considerar: a necessidade de que se estabeleçam códigos e padrões associados ao reuso; a
criação de uma nova instit uição para
operacionalizar e fiscalizar o reuso ou a delegação de poderes a uma instituição já existente,
atribuição de competências às agencias locais e
nacionais associadas ao setor de recursos
hídricos, estabelecendo inclusive a cooperação
mútua entre essas agências, garantir o direito dos
usuários inclusive no que pertine ao acesso e
apropriação dos esgotos, a regulamentação pública desses esgotos e a questão da posse da
terra na qual será desenvolvido o reuso.
No entanto, a regulamentação adequada
esbarra em duas situações, a saber: a primeira,
depende da instituição de uma Lei Complementar que autorize os Estados a legislarem em matéria de competência privativa da União e, na
segunda situação, definir se o reuso de água será
tratado como recurso hídrico ou à luz da legisla-
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
O reuso de água como instrumento de gestão dos recursos hídricos: necessidade de
ção que versa sobre saneamento básico. Na
primeira situação, vejamos o que diz o art. 22
da Constituição Federal:
Art. 22 - Compete privativamente à União
legislar sobre:
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
Parágrafo único - Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste
artigo.
Assim, de acordo com o dispositivo legal
supra, apenas mediante Lei Complementar os
Estados estarão autorizados a legislar sobre
águas, caso o reuso seja considerado recurso
hídrico, que é a segunda situação; isso porque,
a disposição de efluentes é assunto afeto às questões de saneamento básico que são regidas inclusive por política própria, A Política Nacional
de Saneamento Básico disciplinada pela Lei
11.445/07.
À primeira vista, poderia parecer mais adequado que o reuso fosse tratado como matéria
referente ao saneamento básico, no entanto, para
um melhor esclarecimento, trazemos à baila a
diferença entre água e recurso hídrico.
“Água” é um mineral presente no meio ambiente nos estados sólido, líquido e gasoso, que
se renova pelos processos físicos do ciclo
hidrológico; é um recurso natural essencial à vida
e a existência de todos os seres vivos. Já o vocábulo “recurso hídrico” refere-se à água quando dotada de valor econômico, consoante definido pela Política Nacional de Recursos Hídricos,
em seu art. 1º. , cuja utilização atualmente depende de outorga do Poder Público, além do
pagamento de certa quantia pelo usuário desse
recurso.
Com efeito, o reuso deve ser reconhecido
como instrumento de gestão que visa reduzir o
gasto de água potável aumentando a sua disponibilidade para usos mais nobres, e deve por
consequência, ser reconhecido como recurso
hídrico, embora de qualidade inferior, vez que,
após o seu tratamento e disposição adequada,
terá a mesma utilidade do recurso hídrico “água
potável”, no entanto, para fins menos restritivos.
97
CONCLUSÃO
O reuso de água é aproveitamento da água
já utilizada pelas mais diversas atividades humanas e sua destinação para outros usos menos
exigentes. Por meio do reuso há o tratamento
de efluentes e sua reutilização para irrigação
paisagística, irrigação de campos para cultivos,
usos industriais, recarga de aqüíferos, usos urbanos não-potáveis e outros usos diversos como
a aqüicultura, dentre outros. O reuso apresenta
como objetivo principal a diminuição da demanda
de água e o desgaste dos mananciais de sorte
que é possível concluir que o reuso de água é
importante instrumento de gestão racional dos
recursos hídricos e embora não tenha sido contemplado pela Lei 9.433/97. Portanto, é de extrema necessidade o reconhecimento do reuso
de água como instrumento de gestão da Política
Nacional de Recursos Hídricos e a sua regulamentação a nível local, especialmente, no que
diz respeito ao reuso de água para fins agrícolas
visto que, este já é feito há muito tempo, mas
sem qualquer disciplina específica que o regule.
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Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.99-103, 2010.
INSTALAÇÕES PARA CAPRINOS
Valneide R. da Silva1, Dermeval A. Furtado1 , Marluce. A. Azevedo1 & José Wallace
B. do Nascimento1
1
DEAG/UFCG. Av. Aprigio Veloso, nº 882. Bodocongó, Campina Grande – PB.
[email protected] ; [email protected]; [email protected];
wallace@@deag.ufcg.edu.br;
RESUMO
As instalações são os palcos dos acontecimentos de toda a atividade, auxiliando o bom desempenho da mão-de-obra e do rebanho, estando seu planejamento baseado na seguinte tríade:
funcionalidade, economicidade e durabilidade. Portanto o objetivo da instalação é facilitar o
manejo geral de um rebanho caprino ou ovino, sem causar estresse aos animais, otimizando o
emprego da mão-de-obra, reduzindo custos e favorecendo a produção e a produtividade do
empréstimo. Como resultado vários fatores irão influenciar nos custos de construção do capril,
destacando-se os seguintes: objetivos da criação, material utilizado, sistema de produção, condições climáticas da região, adaptação de outra estruturas e disponibilidade de capital.
PALAVRAS-CHAVE: Rebanho, conforto, produção
INSTALLATIONS FOR GOATS
ABSTRACT
The facilities are the venue of the events of all activity, supporting the good performance of the
labor force and the flock, with their planning based on the following three: functionality, economy
and durability. Therefore, the purpose of the facility is to facilitate the overall management of a
herd goats or sheep, without causing stress to animals, optimizing the employment of the labor
force, reducing costs and encouraging the production and productivity of the loan. As a result of
several factors will influence the cost of building the farm, highlighting the following: setting
objectives, materials used, production system, the region’s climatic conditions, and adaptation of
other structures and availability of capital.
KEYWORDS: Flock, comfort, production
100
V. R. da Silva et al.
INTRODUÇÃO
A importância das instalações está fundamentada na extrema capacidade que elas têm
em buscar a otimização da relação homem/animal/ambiente, dentro de um processo de produção, isto é: elas facilitam e reduzem o uso da
mão de obra para as tarefas diárias, favorecem
o manuseio do rebanho e o controle de doenças, protegem e dão segurança aos animais, dividem pastagens, armazenam e reduzem o desperdício de alimentos, entre outras. O sucesso
da empresa rural depende, basicamente, de competência técnica e administrativa para o melhor
aproveitamento dos fatores de produção: terra,
capital, trabalho e informação. Normalmente,
devido a maior escassez de capital frente aos
demais fatores de produção, as decisões de investimento são de grande importância para o
produtor, tanto com referencia à aplicação de
recursos próprios quanto à aplicação de recursos de terceiros, via credito rural.
Segundo Noronha (1987), os investimentos tem maior chance de sucesso quando são
realizados de acordo com o plano de crescimento da empresa, adequado às necessidades de
curto e longo prazo. Ao analisar projetos de investimentos, o produtor deve considerar que
determinada decisão pode afetar, no futuro, a
estrutura de capital e a viabilidade de sua empresa. Segundo Sette e Guimarães (1998),
benfeitorias são todas as construções e melhoramentos existentes na empresa que, associados à tecnologia adequada e ao trabalho, permitem ao produtor alcançar seus objetivos. São
recursos materiais de transformação que participam do processo produtivo, não sendo incorporados ao produto final. As instalações são os
palcos dos acontecimentos de toda a atividade,
auxiliando o bom desempenho da mão-de-obra
e do rebanho, estando seu planejamento baseado na seguinte tríade: funcionalidade,
economicidade e durabilidade. Como investimento as instalações devem apresentar o máximo de vida útil, para que o desembolso inicial
seja pago satisfatoriamente ao longo dos vários
períodos de produção. Além de duráveis, convém que as instalações sejam construídas de
maneira econômica, a fim de minimizar este in-
vestimento inicial. Contudo, é importante não
economizar com itens fundamentais (altura do
pé direito, área por animal, largura dos corredores) a fim de não comprometer sua funcionalidade, o que, invariavelmente, acarretará em
aumento nos custos de produção (Neto, 1994).
Ao planejar as instalações, o produtor deve considerar a possibilidade de futuras ampliações, a
serem financiadas pelos recursos obtidos da própria atividade. Desta forma, os investimentos
em benfeitorias precisam atender a determinados requisitos de modo a proporcionar efetivamente o retorno esperado. Esses requisitos dizem respeito à necessidade das instalações servirem ao seu propósito básico: dar suporte à
produtividade do sistema e garantir a qualidade
dos produtos. O objetivo das instalações é
viabilizar e facilitar o manejo geral de um rebanho caprino ou ovino, sem causar estresse aos
animais, otimizando o emprego da mão-de-obra,
reduzindo custos e favorecendo a produção e a
produtividade do empreendimento.
MATERIAL E MÉTODOS
Objetivo da criação
As instalações devem estar de acordo com
o objetivo da criação, variando consideravelmente a complexidade do projeto e as exigências de investimento e detalhamento conforme
cada situação (subsistência, hoppy, turismo ou
produção comercial de leite e/ou derivados). É
fundamental que o produtor tenha clareza na
definição deste objetivo, o que permite definir o
tamanho do empreendimento, a infra-estrutura
e mão-de-obra necessária, a escolha do tipo de
animal, a demanda permanente de insumos, principalmente daqueles relacionados à alimentação
do rebanho, a respectiva inserção na cadeia produtiva e a viabilidade do projeto.
Sistema de produção
As instalações devem atender ao sistema
de produção definido pelo produtor, de acordo
com seus objetivos e possibilidades financeiras.
Quando o produtor define por um sistema extensivo a campo ou por um sistema intensivo a
pasto, as instalações podem ser mais simples,
contemplando apenas unidades para ordenha e
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Instalações para caprinos
manejo dos animais. Quando sua opção é por
um sistema intensivo semiconfinado ou confinado, o projeto é mais complexo e deve ter, além
destas, outras construções voltadas para a
estocagem dos alimentos e confinamento dos
animais.
Localização
Sempre que possível, as instalações devem
ser construídas em locais de topografia suave e
de fácil acesso, com disponibilidade de água e
energia elétrica, evitando, assim. Maiores investimentos. Instalações mal localizadas podem
onerar consideravelmente os custos de produção, seja pelo aumento nos gastos com transporte e mão-de-obra, caso dificultem as atividades diárias, seja pela queda no desempenho
dos animais, caso apresentam condições
ambientais desfavoráveis (umidade associada ao
frio ou calor, vento). Para toda construção, a
sua localização é de extrema importância, na
medida em que ela deve atender aspectos de
ambiente, de espaço, de tempo e de segurança,
no desenvolvimento das atividades diárias com
um rebanho. Em caso de apriscos, por exemplo: eles devem ser construídos em terreno elevado, bem drenado, ventilado, longe de estradas e próximo à casa do manejador.
Adaptação de outras estruturas
A existência na propriedade de estruturas
ociosas que possam ser facilmente adaptadas
deve merecer grande consideração. Casa de
vegetação, barracões de avicultura, suinocultura
e estábulos tem sido adaptados com relativo
sucesso e baixo investimento para atender às
necessidade de alojamento dos animais, sala de
ordenha ou depósitos. Entretanto, a decisão de
aproveitar estas estruturas deve sofrer rigorosa
avaliação de benefício-custo, já que uma adaptação inadequada pode comprometer seriamente
a funcionalidade da instalação, o conforto dos
animais e dos funcionários e as condições gerais
de higiene e sanidade, aumentando os custos de
produção.
Conforto ambiental
Na busca de maior eficiência os produtores estão utilizando, cada vez mais, animais de
alto potencial para produção de leite. Frequen-
101
temente, as instalações e o manejo oferecidos a
estes animais são inadequados e o estresse causado pelos diferentes elementos climáticos (principalmente temperatura e umidade) afetam de
maneira negativa os processos básicos de crescimento, reprodução e lactação). Quando os
animais são submetidos ao estresse pelo calor,
naturalmente ocorre redução da ingestão de alimentos, da ruminação e da mobilidade do trato
digestivo, além da queda da resistência
imunológica, resultando na queda da produção
e na alteração da composição do leite. Deste
modo, as instalações de caprinos leiteiros devem ser construídas com material adequado,
adaptadas às condições climáticas da região, ao
tipo de animal e ao sistema de redução adotado. Devem ser bem arejadas, mas protegidas
do vento e da umidade e pouco sujeitas às variações climáticas (RIBEIRO, 1998; BORGES,
2001).
Tipo de piso
Normalmente as instalações de piso ripado
suspenso apresent am maior cust o de
implementação, pois além da qualidade da madeira a ser utilizada no ripado propriamente
dito, existe a necessidade de toda uma estrutura reforçada de sustentação, já que o ripado
deve estar a uma altura suficiente de modo a
facilitar a operação de remoção e transporte
de dejetos. A principal vantagem desse sistema
é o fato de os animais ficarem afastados da
umidade, sendo uma boa alternativa para regiões muito úmidas ou onde seja difícil a
aquisiçãomidas ou onde seja difici a
aquisiçados da umidade, sendo uma boa alternativa para regidade de toda uma estrutura reforçada de de material para cama. Já as instalações com piso de cama demandam menores
investimentos na implementação, entretanto, seu
custo de manutenção pode tornar-se elevado,
dependendo da disponibilidade e custo de aquisição do material utilizado. Dentre os materiais
orgânicos tradicionais, a casca de arroz, casca
de café, palha, serragem e maravalhas são os
mais populares. Dentre os mat eriais
inorgânicos, a areia é o mais utilizado. Na escolha do material, deve-se considerar, além do
custo, o conforto do animal.
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102
V. R. da Silva et al.
Dimensionamento
Instalações bemdimensionadas proporcionam
um ambiente com higiene e conforto para os animais, favorecendo o manejo diário, a manutenção
da saúde do rebanho e a produção higiênica do leite. Além disso, permitem a separação das diferentes
categorias animais e garantem espaço suficiente para
livre movimentação, evitando traumatismos no membros e úbere (BORGES,2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com relação ao dimensionamento da área
das baias destinadas aos animais, deve se considerar que quanto maior for o lote de animais,
menor será a área necessária por individuo e,
consequentemente, menor o custo total de construção por animal instalado. Outra vantagem da
condução do rebanho em lotes maiores é a racionalização do uso da mão-de-obra, principalmente nas atividades de distribuição dos alimentos e ordenha, possibilitando economia significativa. As principais instalações para caprinos
são: centros de manejo, saleiros (As dimensões
recomendadas para os saleiros são: 30 a 40 cm
de altura acima do piso; 20 cm de profundidade
por 30 cm de largura e o comprimento não deve
ultrapassar os dois m),apriscos, cochos (Recomenda-se 0,2 a 0,25 m linear para cada animal,
ou seja utilizar 4 a 5 animais por metro linear de
cocho), pedilúvio (comprimento = 2,0 m; profundidade = 0,10 m; largura = a mesma largura
da porteira), currais, esterqueiras (A esterqueira
pode ser de alvenaria, medindo 4,0 m de largura x 2,0 m de profundidade e 1,5 m de altura),
bretes (comprimento = 08 m; largura = 0,25 m
na base inferior e 0,35 m na base superior; altura = 0,85 m), cercas (TABELA 1), comedouros,
bebedouros (Uma caixa dágua com 50litros alimenta 10-12 bebedouros), galpões e salas de
ordenha (EMBRAPA, 2009). A sala de ordenha é o coração de uma instalação para animais
leiteiros, pois além de ser o local de obtenção
do leite, principal produto da atividade, é o local
que consome de 50 a 70% do tempo total da
mão-de-obra empregada nas tarefas diárias. O
desempenho do ordenhador (número de cabras
ordenhadas por hora) está diretamente relacionado ao desenho da sala de ordenha, que deve
Tabela 1. Distância entre fios e altura de cerca para caprinos e ovinos
.
Do solo ao primeiro fio
Do primeiro ao segundo fio
Do segundo ao terceiro fio
Do terceiro ao quarto fio
Do quarto ao quinto fio
Do quinto ao sexto fio
Do sexto ao sétimo fio
Do sétimo ao oitavo fio
Altura
Tipo de cercas
Externa
0,20
0,13
0,13
0,13
0,13
0,14
0,15
0,20
1,21
Interna
0,20
0,13
0,13
0,13
0,13
0,15
0,20
1,07
favorecer o fluxo dos animais. Para a definição
do tamanho e do modelo da sala de ordenha
devem ser determinados os seguintes fatores
associados à sua otimização: tamanho do rebanho, nível de produção das cabras, disponibilidade de mão-de-obra e custos. De maneira geral, é comum entre produtores e técnicos a noção de que o piso ripado suspenso exige menos
trabalho para limpeza do que o piso de cama,
além de oferecer melhores condições sanitárias
aos animais. Entretanto, para a manutenção de
condições adequadas de higiene, os dois sistemas demandam o mesmo trabalho, porém, com
freqüência e intensidade diferentes. Quanto ao
piso, deve-se utilizar material que permita uma
boa compactação com uma boa drenagem. Escolher uma área com declive em torno de 2 % a
5 %. Recomenda-se, limpeza quinzenal no período seco e diário no período chuvoso. Aconselha-se construir, no compartimento destinado às
crias, um estrado de madeira para o piso com
ripões de 3,0 cm de largura, espaçado de 1,0
cm entre si. No que se referem ao aspecto sanitário, Costa et. al. (1987) não observaram redução na carga de vermes entre caprinos mantidos em piso ripado suspensos e animais mantidos em peso de cama. Quanto a influencia do
tio de piso sobre a saúde da glândula mamária
de caprinos leiteiros, Cordeiro et al. (2001) observaram contagens de células somáticas significativamente menores em cabras mantidas em
piso de cama quando comparado com cabras
mantidas em piso ripado suspenso. Em regiões
de clima seco, a acomodação dos animais pode
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.99-103, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Instalações para caprinos
ser feita diretamente sobre o piso de terra batida, devendo-se considerar a freqüência de limpeza do local. O tamanho ou a área de uma instalação diz respeito tão somente ao tamanho do
rebanho. Seja para o pastoreio ou alimentação
no cocho, seja para o descanso ou repouso noturno dos animais, o que se espera é que a instalação disponibilize espaço apenas o suficiente
para propiciar condições favoráveis ao desempenho dos animais (Tabela 2).
Tabela 2. Tamanho das áreas cobertas e descoberta (área de exercício) de um aprisco para caprinos
e/ou ovinos, em Cab/m2
Área (m2)
Coberta
Descoberta
Matrizes
1,0
> 2,0
Animais jovens
0,8
> 1,5
Crias
0,5
> 1,0
Reprodutores
3,0
> 6,0
CONCLUSÕES
O planejamento da construção de instalações deve estar baseado na seguinte tríade: funcionalidade, economicidade e durabilidade. Vários fatores irão influenciar nos custos de cons-
103
trução do capril, destacando-se os seguintes:
objetivos da criação, material utilizado, sistema
de produção, condições climáticas da região,
adaptação de outras estruturas e disponibilidade de capital.
REFERÊNCIAS
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In: Conferência Sul-Americana de Medicina
Veterinária, Rio de Janeiro, 2000. Anais ... Rio de
Janeiro: ANCLIVEPA, 2000, p.54-63.
COSTA, C.A.F.,Vieira,L.S. Influência do aprisco
de piso ripado suspenso sobre a incidência de
nematódeos intestinais em caprinos. Revista
Cabras e Bodes, 3:10, 1987.
CORDEIRO, P.R.C.,Borges,C.H.P.,Bresslau,S.
Dados comparativos da contagem de células
somáticas do leite de cabra em rebanhos alojados em piso ripado suspenso e piso tipo cama.
In: XXIX Congresso Brasileiro De Medicina
Veterinária, 29,Salvador, 2001. Anais ... Salvador: , 2001.
NETO, S.L. Instalações e benfeitorias. São Paulo: SDF editores, 1994.96p.
NORONHA, J.F. Projetos agropecuários: administração financeira, orçamento e viabilidade
econômica. 2ed. São Paulo:Atlas, 1987. 269p.
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SETTE, R.S., GUIMARÃES, J.M.P. Administração
da produção. Lavras: UFLA/FAEPE,1998. 88p.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.99-103, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.104-112, 2010.
CONDIÇÕES DE SAÚDE DA POPULAÇÃO RURAL EM UMA
MICROBACIA HIDROGRÁFICA DO CARIRI PARAIBANO
Pollyana S. A. Morais1, Heronides S. Pereira2, Suely O. P. Costa3 & Bruno S. Abreu4
1
UNIPÊ/Dep. de Fisioterapia, BR 230, Água Fria, CEP: 58053-000, João Pessoa-PB.
Fone: (83) 2106-9200. E-mail: [email protected]
2
UEPB/CCBS, Rua Baraúnas, 351, Bairro Universitário, CEP: 58429-500, Campina Grande-PB. Fone: (83) 3315-3300. E-mail: [email protected]
3
UFCG/CFP, Rua Sérgio Moreira de Figueiredo s/n, Casas Populares, CEP: 58900-000,
Cajazeiras-PB. Fone:((83) 3532-2000. E-mail: [email protected]
4
UFCG/CTRN, Rua Aprígio Veloso, 882, Bairro Universitário, CEP: 58429-140, Campina
Grande-PB. Fone: (83) 2101-1000. E-mail: [email protected]
RESUMO
A população do semiárido nordestino sofre com as adversidades ligadas ao próprio ambiente, o que provoca
grandes impactos sociais, econômicos e ambientais. Por ser uma região vulnerável, precisa de políticas públicas que
minimizem as carências e privações das famílias, gerando renda e melhorando a qualidade de vida. Devido à
complexidade das interações dos recursos naturais, torna-se importante o manejo integrado de bacias hidrográficas,
onde se faz necessário a participação da sociedade na avaliação das diversidades físicas, bióticas, demográficas,
econômicas, sociais e culturais. Tal manejo visa à recuperação ambiental, equilibrando os ecossistemas e buscando
a sustentabilidade através da elaboração e aplicação de diagnósticos qualitativos e quantitativos. Dessa maneira,
levando-se em consideração que a saúde interfere diretamente na qualidade de vida, o diagnóstico de saúde deverá
fazer parte da avaliação. O objetivo desse trabalho foi avaliar as condições de saúde da população rural, residente em
uma microbacia localizada nas proximidades do município de Cabaceiras-PB, traçando assim um perfil epidemiológico.
Através de uma análise estatística, foi demonstrado que o sobrepeso e níveis elevados de pressão são os fatores de
risco apresentados pela população.
PALAVRAS-CHAVE: diagnóstico, qualidade de vida, manejo integrado
HEALTH CONDITIONS OF THE RURAL POPULATION IN A WATERSHED
CARIRI FROM PARAIBA
ABSTRACT
Population of the semiarid Northeast suffers the hardships related to the environment itself, causing great social,
economic and environmental impact. Being a vulnerable region, it needs public politics that minimize necessities
and deprivations of the families, bringing income and improving the quality of life. Due to the complexity of the
interactions of natural resources, it becomes important the integrated management of watersheds where society’s
participation is necessary in the evaluation of the physical, biological, demographic, economic, social and cultural
diversities. Such management aims environmental restoration, balancing ecosystems and seeking sustainability
through the elaboration and application of qualitative and quantitative diagnostics. Thus, considering that health
directly affects quality of life, health diagnosis should make part of the evaluation . The aim of this study was to
evaluate health conditions of the rural population, living in a watershed located near the city of Cabaceiras-PB,
thus tracing out an epidemiological profile. Through a statistical analysis, it was shown that overweight and high
pressure are risk factors presented by the population.
KEYWORDS: diagnosis, quality of life, integrated management
Condições de saúde da população rural em uma microbacia hidrográfica do cariri
INTRODUÇÃO
A população rural se estende por todo o
território Brasileiro e se apresenta de forma
diversificada com características que contemplam
uma grande especificidade cultural, racial, regional, entre outros, represent ando a
heterogeneidade social que caracteriza o País.
A mesma sofre com as adversidades ligadas ao
próprio ambiente como, por exemplo, seca, aridez da terra e enchentes, que muitas vezes a
impedem de utilizar a terra e o que nela produzem no seu extremo potencial (Pinheiro et al.,
2004). Além disso, outras dificuldades também
são observadas como a falta de acesso as ações
governamentais que devem garantir a cidadania
e qualidade de vida como educação, saneamento
e saúde.
No semi-árido nordestino, mais precisamente paraibano, a população está cada vez mais
susceptível aos impactos dos perigos naturais.
As secas, por exemplo, são uma constante nessa região, em maior ou menor intensidade, provocando grandes impactos sociais, econômicos
e ambientais, dependentes das limitações da
população.
Mediante tal situação, a população do campo que reside no semi-árido é bastante vulnerável. Vulnerabilidade esta que, segundo
Confalonieri (2001), é definida como a exposição de indivíduos ou grupos ao estresse, resultante de mudanças sócio-ambientais.
A vulnerabilidade é algo inerente a uma
população determinada e varia de acordo com
suas possibilidades culturais, sociais e econômicas. Assim, aqueles que possuem menos recursos serão os que mais dificilmente se adaptarão
e, portanto, são também os mais vulneráveis
(Sousa et al., 2008).
Notoriamente, por ser uma região vulnerável, precisa de políticas públicas que minimizem,
de forma eficiente, as carências e privações das
famílias, ou seja, políticas que gerem renda e
melhorem a qualidade de vida.
De acordo com Maciel (2006), a qualidade de vida dos indivíduos é influenciada por diversos fatores e, dessa maneira, a compreensão
da relação entre os componentes que exercem
tal influência é bastante importante no que
105
concerne a avaliação e definição de tratamentos, especialmente para a elaboração de estratégias de prevenção.
Particularmente em países como o Brasil
e outros da América Latina, a péssima distribuição de renda, o analfabetismo e o baixo grau de
escolaridade, assim como as condições precárias de moradia têm um papel muito importante
nas condições de sobrevivência, assim como na
qualidade de vida.
Sabendo-se da busca incessante por condições adequadas de vida e de saúde, em particular, pelas pessoas em todo o mundo; das alternativas que são pensadas, das reformas organizadas, cabe a colocação da Organização
Mundial de Saúde - OMS (1986) sobre a Carta de Ottawa, ao conceituar a saúde como um
recurso para o progresso pessoal, econômico e
social e como um conceito positivo que transcende o setor sanitário, tendo como requisitos
para a sua garantia a paz, a educação, a moradia, a alimentação, a renda, um ecossistema estável, justiça social e equidade.
Diante do exposto e devido à complexidade das interações dos recursos naturais, tornase importante o manejo integrado de bacias
hidrográficas, onde se faz necessário a participação da sociedade, inclusive na avaliação das
diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais (Baracuhy, 2001).
Conforme Rocha & Kurtz (2001), o manejo integrado de bacia hidrográfica visa à recuperação ambiental, equilibrando os ecossistemas
e buscando a sustentabilidade dos recursos naturais renováveis, através da elaboração e aplicação de diagnósticos qualitativos e quantitativos.
O diagnóstico socioeconômico busca soluções para resolver os problemas da qualidade
de vida das pessoas que vivem nas sub-bacias
hidrográficas (Franco et al., 2005). Levando-se
em consideração que a saúde interfere diretamente na qualidade de vida, o diagnóstico de
saúde deverá fazer parte da avaliação.
Esse trabalho teve como objetivo avaliar
as condições de saúde da população residente
em uma microbacia localizada nas proximidades do município de Cabaceiras-PB, traçando
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
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P. S. A. Morais et al.
assim um perfil epidemiológico, principalmente
acerca dos fatores de risco cardiovascular, uma
vez que as doenças do aparelho circulatório estão relacionadas a alterações no estilo de vida
geralmente relacionadas com aumento da expectativa de vida e das condições econômicas dos
países.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado numa microbacia
hidrográfica nas proximidades do município de
Cabaceiras, localizado na Microrregião do Cariri
e Mesorregião Borborema do Estado da Paraíba.
Segundo CPRM (2005), a área do município é
de 400 km², representando 0.7091% do Estado, 0.0258% da Região e 0.0047% de todo o
território Brasileiro. A sede do município tem
uma altitude aproximada de 388 metros, sendo
distante 162,3602 Km da capital.
O município criado em 1834, apresenta
população de 4.907 habitantes e um Índice de
Desenvolvimento Humano de 0,682. Em 2007,
oito indivíduos foram a óbito, sendo 7 do sexo
masculino e apenas 1 do sexo feminino, onde as
causas mortis de maior incidência foram as do
aparelho circulatório e as relacionadas ao período perinatal (IBGE, 2009; Ministério da saúde, 2007; Atlas do desenvolvimento humano no
Brasil, 2000).
A presente pesquisa é caracterizada como
sendo de campo, exploratória e descritiva, tendo sido desenvolvida no mês de abril de 2009,
com uma amostra de 16 indivíduos, de ambos
os sexos, com faixa etária variando entre 20 e
80 anos, que residiam na zona rural nos limites
da microbacia hidrográfica pré-determinada.
As informações foram obtidas através da
aplicação de um questionário padronizado de
entrevista pelos próprios pesquisadores, quais
sejam: uma fisioterapeuta, um bioquímico e uma
bióloga, através da visita in loco, do qual fizeram parte às seguintes variáveis: sexo, idade,
peso (Kg), altura (m), fatores de risco (tabagismo, etilismo, hipertensão e diabetes) e saúde
bucal. Além disso, foram realizados exames como
o eritrograma, para avaliar a presença de anemia e, a glicemia capilar, buscando a avaliação
da taxa de glicose.
Os exames acima mencionados foram realizados por um bioquímico, seguindo todos os
padrões de assepsia e, avaliados pelo mesmo
no Centro de Hematologia e Análises Clínicas
Ltda - HEMOCLIN, situado no município de
Campina Grande-PB.
Foram realizadas também, medidas
antropométricas (índice de massa corporal IMC, circunferência abdominal e relação cintura-quadril – RCQ) para avaliação dos riscos
cardiovasculares e a medição da pressão arterial.
A Pressão Arterial (PA), em mmHg, foi
medida com esfignomanômetro padrão para
adultos. As medidas foram realizadas no braço
esquerdo, com os indivíduos sentados, no início
e no fim da avaliação.
A Glicemia Capilar, em mg/dl, foi avaliada
através de sangue capilar obtido por punção de
polpa digital realizada com lanceta, com o auxílio de fita reagente (Glucostix — Laboratórios
Miles do Brasil Ltda.) e do glicosímetro.
Com relação ao peso, em quilos, este foi
aferido em balança antropométrica, onde o avaliado posicionou-se no centro da mesma. Já a
altura, em metros, foi medida pelo antropômetro
da balança, estando o indivíduo com os pés descalços e unidos.O índice de massa corporal
(IMC) foi calculado através da fórmula: peso
(Kg) /altura (m)2, enquanto que a circunferência
abdominal, em centímetros, e a circunferência
do quadril, também em centímetros, foram
mensurados com uma fita métrica não distensível,
ajustada ao nível da cicatriz umbilical e porção
medial dos glúteos, respectivamente. Os perímetros de cintura e quadril possibilitaram a construção do RCQ, obtido pelo quociente entre a
circunferência abdominal e a circunferência do
quadril.
No que concerne aos dados, estes foram
analisados estatisticamente, levando-se em consideração variáveis quantitativas e qualitativas.
Os mesmos foram imputados de forma descritiva, sendo os resultados expostos através de gráficos e tabelas, permitindo uma melhor
visualização e entendimento.
Com relação à análise qualitativa foi utilizada a metodologia de Rocha (1997), baseada na
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Condições de saúde da população rural em uma microbacia hidrográfica do cariri
avaliação através de diagnósticos, onde são atribuídos pesos a diferentes problemas de acordo
com sua gravidade e importância. Ao final da
avaliação fora gerada uma reta de deterioração
que demonstra a situação vivenciada pela população na microbacia analisada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estudo contou com a participação de 16
indivíduos, sendo 8 (50%) do sexo masculino e
8 (50%) do sexo feminino. A faixa etária variou
entre 20 e 80 anos, apresentando maiores freqüências nas faixas que varia de 20 a 30 anos,
perfazendo um total de 25% e, na faixa compreendida entre 31 e 40 anos, correspondendo
também a 25%. A menor freqüência
correspondeu à faixa etária compreendida entre
51 e 60 anos, perfazendo um total de 6,25% da
população estudada.
Esse estudo foi marcado pela avaliação dos
fatores de risco cardiovasculares, uma vez que
as doenças do sistema circulatório representam
um grave problema de saúde pública e constituem a principal causa de óbitos no país (32%) e
em todas as regiões (Rezende et al., 2006).
Segundo Morales [(200_)], a prevalência
de doenças cardiovasculares é maior nas populações com piores condições socioeconômicas,
assim como a mortalidade. Nos países em desenvolvimento, conforme a epidemia avança, a
carga dos grupos de rendas alta e média vai sendo
transferida para os grupos menos favorecidos.
Um dos principais fatores de risco mais discutido é sem dúvida o tabagismo. Este está relacionado a múltiplas doenças, entre elas a doença cardiovascular, juntamente com doenças pulmonares e muitas formas de câncer (Morales,
200_).
Ainda de acordo com o mesmo autor, o
consumo de cigarros e de outros produtos derivados de tabaco é a principal causa de mortalidade passível de prevenção no mundo. Os fumantes têm taxas de mortalidade duas a três vezes
maiores, e estima-se que ocorrerão 500 milhões
de mortes prematuras por tabagismo, 70% das
quais em países em desenvolvimento.
Na população estudada foi verificado que
apenas 12% apresentavam o hábito de fumar.
107
A maioria, que corresponde a 63%, não apresentava tal hábito, favorecendo uma melhor condição de saúde em termos significativos. Nessa
amostra ainda foram identificados os ex-fumantes (25%) que, embora já não possuam o hábito, encontram-se no grupo de risco devido às
alterações causadas pelos constituintes do cigarro (Figura 1). Vale salientar que os riscos aumentam com o maior número de cigarros fumados por dia relacionado ao tempo de fumo.
Não Fumante
Fumante
EX-fumante
25%
12%
62%
Figura 1. Distribuição da freqüência quanto ao hábito de fumar
De acordo com a V Diretrizes Brasileiras
de Hipertensão Arterial (2006), o consumo elevado de bebidas alcoólicas aumenta a pressão
arterial. O efeito varia com o gênero e a magnitude está associada à quantidade de etanol e à
freqüência de ingestão. O efeito do consumo leve
a moderado de etanol não está definitivamente
estabelecido. Verifica-se redução média de 3,3
mmHg na pressão sistólica e 2,0 mmHg na pressão diastólica com a redução no consumo do
álcool.
Na Figura 2, observa-se que a maioria
(62%) dos indivíduos participantes da pesquisa
não fazia uso de bebidas alcoólicas, enquanto
que 38% bebiam ocasionalmente conforme relatado.
Segundo Morales [(200_)], a freqüência de
hipertensão arterial no mundo é de aproximadamente 20% da população, e estima-se que aproximadamente 600 milhões de pessoas hipertensas
estejam sob risco de sofrer um infarto do
miocárdio, eventos vasculares cerebrais e insuficiência cardíaca. A hipertensão arterial causa
7,1 milhões de mortes anualmente, 13% de todas as fatalidades globais.
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
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P. S. A. Morais et al.
Não Etilista
Etilista
38%
62%
Figura 2. Distribuição da freqüência quanto à ingestão de bebidas
alcoólicas
Com relação à população estudada foi
verificada uma equivalência quanto à pressão
arterial, onde 44% apresentaram-se hipertensa
e outros 44%, dentro dos parâmetros de normalidade. Apenas 12% foram considerados
limítrofes (Figura 3). Os resultados foram classificados de acordo com a V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2006).
Observa-se, então, que uma boa parte
da amostra apresenta como fator de risco considerável a hipertensão. Contudo, considerando que a pressão arterial foi verificada duas
vezes em cada indivíduo, fazendo-se necessário uma avaliação clínica para comprovação de diagnóstico.
As pessoas com valores pressóricos acima
do ideal devem ser orientadas a modificar o es-
Figura 3. Distribuição da freqüência quanto à avaliação da pressão
arterial
tilo de vida e afastar os fatores de risco, uma vez
que há grande possibilidade em desenvolver
complicações futuras.
De acordo com a Sociedade Brasileira de
Diabetes (2009), hoje há uma estimativa de
255.250.572 milhões de pessoas no mundo com
diagnóstico de diabetes. No Brasil, essa estimativa perfaz um total de 228.991 mil casos.
Para efeitos de risco cardiovascular, a
glicemia elevada é um fator de risco independente que age de forma contínua e não categórica, ou seja, que não se limita à presença de diabetes, porque o risco começa a ser significativo
desde etapas prévias, como o pré-diabetes
(Morales, 200_).
De acordo com o mesmo autor, a maioria
das pessoas com diabetes costuma ter outros
fatores de risco e nos estudos observacionais
seu risco global costuma ser maior que 20% em
dez anos.
O impacto do diabetes mellitus sobre as
doenças cardiovasculares é tão grande que esta
chega a ser responsável por 75% das mortes
entre homens, 57% entre as mulheres, sendo este
é um dos principais fatores de risco das doenças cardiovasculares.
A taxa de glicose sanguínea foi avaliada a
nível capilar medida em períodos pós-prandiais,
encontrando-se um percentual de 12% de
glicemia elevada. A grande maioria (88%) da
população apresentou níveis normoglicêmicos,
visualizados na Figura 4.
Segundo Morales [(200_)], o diagnóstico
de diabetes é feito quando uma pessoa tem uma
glicemia de jejum maior ou igual a 126mg/dl
Figura 4. Distribuição da freqüência quanto à taxa de glicemia capilar
Revista Educação Agrícola Superior - v.25, n.2, p.104-112, 2010.
Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Condições de saúde da população rural em uma microbacia hidrográfica do cariri
acompanhada de sintomas ou repetida em duas
ou mais ocasiões.
O estado nutricional é considerado um indicador importante na aferição das condições
de saúde e de vida de uma população. Em um
país como o Brasil onde as desigualdades sociais e regionais são imensas é importante destacar que garantia da segurança alimentar e
nutricional pressupõe a necessidade de estratégias de saúde pública capazes de dar conta de
um modelo de atenção à saúde e cuidado
nutricional direcionados para desnutrição e
sobrepeso/obesidade, uma vez que estes distúrbios nutricionais e, todas as doenças relacionadas à alimentação e nutrição, revelam duas faces, diversas e aparentemente paradoxais, de um
mesmo problema: a insegurança alimentar e
nutricional da população brasileira (Pinheiro et
al., 2004).
A prevalência de obesidade tem aumentado em todo o mundo e vem se tornando o maior
problema de saúde na sociedade moderna na
maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Quando comparados aos indivíduos com peso normal, aqueles com sobrepeso
possuem maior risco de desenvolver diabetes
mellitus (DM), dislipidemia e hipertensão arterial (HAS), condições que favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (Carneiro
et al., 2003).
Muitos estudos na população em geral
identificam a obesidade por meio do índice de
massa corporal (IMC), e a distribuição central
de gordura corpórea, segundo a relação cintura-quadril (RCQ) e a circunferência abdominal
(CA), como fatores de risco para a mortalidade
(Cabrera, 2005).
Diante desse novo cenário epidemiológico,
os achados da pesquisa corroboram com um
índice considerável de risco cardiovascular, uma
vez que 50% da população encontra-se com
sobrepeso, podendo evoluir para a obesidade
(Figura 5).
O aumento da prevalência da obesidade no
Brasil se torna ainda mais relevante, ao considerar que este aumento, apesar de estar distribuído em todas as regiões do país e nos diferentes
estratos socioeconômicos da população, é pro-
109
Figura 5. Distribuição da freqüência quanto ao estado nutricional
porcionalmente mais elevado nas famílias de
baixa renda. Cabe destacar que embora não
existam dados científicos que descrevam o perfil nutricional atual da população do campo, na
zona rural é grande a concentração de famílias
de baixa renda (Cabrera, 2005).
A importância de se conhecer o padrão de
gordura e não somente o grau de obesidade relaciona-se com o prognóstico de risco de saúde. Já que a obesidade, principalmente abdominal, associa-se a importantes alterações metabólicas, como dislipidemias, intolerância a glicose
ou diabetes e hipertensão, é necessário a avaliação da circunferência abdominal.
Na Figura 6 pode se observar que 56%
(9) da população avaliada apresentou a medida
da circunferência abdominal dentro dos
parâmetros de normalidade, enquanto que 44%
(7) apresentou essa medida acima dos valores
Normal
Elevada
44%
56%
Figura 6. Distribuição da freqüência quanto à avaliação da circunferência abdominal
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P. S. A. Morais et al.
pré-determinados, a saber: 102 cm para o sexo
masculino e 88 cm para o sexo feminino.
Há muito se sabe que as pessoas diferem
em relação à localização da gordura corpórea.
Homens, em particular, tendem a ter maior proporção de gordura abdominal, conferindo-lhes
o chamado padrão masculino ou andróide de
distribuição de gordura. As mulheres, por outro
lado, tendem a ter maior quantidade de gordura
na região glútea e por isso têm maiores perímetros dos quadris, apresentando o padrão feminino ou ginóide de distribuição de gordura corporal. Este padrão pode ser avaliado pela razão
abdominal/glútea, que é obtida pela divisão das
medidas dos perímetros da cintura e do quadril
­ razão cintura/quadril (Pereira et al., 1999).
Segundo os mesmos autores, a utilização
dessas medidas na estimação da distribuição de
gordura corpórea tem a vantagem da simplicidade de determinação e de basear-se em medidas de fácil obtenção. Por isso, a sua introdução entre os indicadores antropométricos, seja
na prática clínica, na vigilância nutricional ou na
pesquisa, torna-se um instrumento de grande
valia.
Para avaliar a distribuição de gordura
corpórea, estudos epidemiológicos utilizam, desde a década de 70, a relação cintura-quadril
(RCQ), obtida pela divisão dos perímetros da
cintura (cm) e do quadril (cm). Dentre os pontos de cortes estabelecidos para discriminar valores adequados dos inadequados de RCQ, o
mais utilizado tem sido 0,8 para o sexo feminino
e 1,0 para o masculino.
Estudos nacionais e internacionais demonstram que a utilização dos pontos de corte de 0,95
para homens e 0,80 para mulheres associava-se
melhor à predição da hipertensão arterial.
A distribuição de gordura corporal tem forte
determinação genética, mas fatores como sexo,
idade, e outros comportamentais, como tabagismo e at ividade física, podem ser
determinantes. A menopausa tem sido também
associada à maior acúmulo de gordura no abdômen (Machado & Sichieri, 2002).
Conforme visualizado na Figura 7, 10
(62,5%) dos indivíduos participantes da pesquisa
apresentaram a relação cintura-quadril dentro
Normal
Elevada
37,5%
62,5%
Figura 7. Distribuição da freqüência quanto à avaliação da relação
cintura/quadril
dos parâmetros de normalidade. Já 6 (37,5%)
indivíduos apresentaram um valor elevado nessa relação.
Outro ponto considerável com relação à
saúde da população é a presença ou não de anemia, decorrente muitas vezes da carência alimentar. A anemia, entretanto, não é considerada um
fator de risco para as doenças cardiovasculares.
Em termos de magnitude, as anemias configuram a principal endemia carencial do mundo, ocorrendo em cerca de 2.150 milhões de
pessoas e se difundindo entre todos os continentes, grupos sociais e segmentos biológicos,
embora predominando amplamente nas regiões
pobres, nas famílias de baixa renda, no grupo
de mulheres no período reprodutivo e em crianças menores de cinco anos (Silva et al., 2008).
Deve-se esclarecer que, embora como problema de patologia humana, as anemias possam
compreender o desfecho isolado ou combinado
de variados fatores, desde os de natureza genética até múltiplas condições ambientais; na prática o que predomina em nível populacional é a
gênese carencial, envolvendo, sobretudo, a deficiência qualitativa ou quantitativa de ferro alimentar (Silva et al., 2008).
A pesquisa mostrou que 31% da população apresenta anemia discreta e 13%, anemia
moderada. Outra parte, representada por 56%,
encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Levando-se em consideração todos os
achados da pesquisa, ao final desta, foi eviden-
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Condições de saúde da população rural em uma microbacia hidrográfica do cariri
ciado um pequeno grau de deterioração em relação à saúde da população avaliada, perfazendo um total de 20%, visualizada a seguir (Figura
8), quando utilizou-se a equação da reta proposta por Rocha (1997).
Figura 8. Grau de deterioração em
relação à saúde da população através da equação da reta
CONCLUSÕES
Os resultados encontrados na pesquisa
demonstram que, o sobrepeso e os níveis elevados da pressão arterial, estiveram presentes
em uma parte considerável da população em
estudo. Isso evidencia que dentre os fatores de
risco cardiovascular avaliados, os dois acima
mencionados merecem uma avaliação mais precisa, em decorrência do que isso possa vir a
causar à saúde dos indivíduos futuramente.
No entanto, as famílias rurais da
microbacia hidrográfica estudada, quanto à
avaliação acerca da equação da reta, apresentaram um índice de 20% evidenciando que o
grau de deterioração com relação às condições
de saúde, de uma forma geral, é bastante pequeno, o que os mantém com um perfil
epidemiológico satisfatório no quesito qualidade de vida associada à saúde.
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Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.113-119, 2010.
CONDIÇÕES DE VIDA DA POPULAÇÃO IDOSA DA BACIA
HIDROGRÁFICA DE RIBEIRA/PB: UMA AVALIAÇÃO DO
PRESENTE E PASSADO
André A. de Farias1, José G. de V. Baracuhy2, Marcelo M. Leite3, Telma L. B. Alves 4
1
Licenciado em Ciências Agrárias e Mestrando em Recursos Naturais, UFCG, Centro de
Tecnologia e Recursos Naturais – CTRN, UFCG. E-mail: [email protected];
2
Prof. Dr. do Dept. de Engenharia Agrícola, UFCG. E-mail:[email protected];
3
Eng. Eletrônico, MBA Gestão e Marketing, Mestrando em Recursos Naturais, UFCG. Email: [email protected];
4
Graduada em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Mestranda em
Recursos Naturais na Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. Email:[email protected]
RESUMO
O estudo teve como foco a população idosa da Ribeira, distrito da cidade de Cabaceiras, na região do cariri
do Estado da Paraíba. O objetivo foi avaliar as condições de vida de hoje em comparação à realidade
regional cinquenta anos atrás, principalmente considerando as condições sócio-ambientais. Para tanto foi
feita uma pesquisa de campo com a apresentação de questionário específico visando a registrar os conhecimentos e a experiência dos idosos, levando-os a relatar modificações ocorridas na ambiência ao longo do
período em estudo, assim como as possíveis melhorias ou prejuízos nas condições de vida da população. A
partir dos dados obtidos foi possível observar uma grande evolução no nível das variáveis avaliadas, bem
como no nível geral de satisfação. Foi possível ainda constatar que apesar do desenvolvimento apresentado
e da urbanização consequente, a população mantém os hábitos de cultivo/criação de parte dos seus alimentos. Foi possível ainda observar que não houve dano ambiental considerável.
PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento rural, aspectos sociais, modificações na ambiência, alimentação
LIFE CONDITIONS OF ELDERLY PEOPLE IN RIBEIRA BASIN COMMUNITY /
STATE OF PARAIBA: AN EVALUATION OF PRESENT AND PAST CONDITIONS
ABSTRACT
The study focused on the elderly population of Ribeira, district of the city of Cabaceiras, in cariri region of
Paraiba State. It aimed to evaluate today’s life conditions compared to those of fifty years ago, mainly
considering social and environmental conditions. It was performed a field research using a specific survey
form to register the knowledge and the experience of the elderly, leading them to cite changes occurred in
the ambience over the period under study, as well as possible improvements or impairments in people’s lives
conditions. From the data obtained it was possible to observe a significant evolution in the level of studied
variables, as well as in the general satisfaction level. It was still possible to see that despite the development,
and consequent urbanization, the people continue creating and cultivating part of their food. Finally, it was
observed that, contrary to expectation, the development has caused no significant environmental damage.
KEYWORDS: rural development, social aspects, changes in ambience, food
114
A. A. de Farias et al.
INTRODUÇÃO
Desde os tempos antigos os seres humanos têm uma relação direta com a natureza, utilizando a mesma para garantir a manutenção da
espécie. De modo que, com o passar dos anos,
e devido à revolução industrial, observa-se uma
intensa utilização dos recursos naturais disponíveis, gerando verdadeiras agressões ao meio
ambiente e comprometendo o seu equilíbrio.
Desta maneira é válida a investigação dos residentes veteranos de um determinado local, com
vistas à aquisição de informações concernentes
às modificações percebidas pelos atores locais
ao longo do tempo nos mais variados aspectos,
como: sociais, ambientais, econômicos, alimentícios e culturais.
O presente estudo procura identificar e
qualificar a condição de idoso, e paralelamente
analisar os elementos ligados as condições de
vida hoje, comparando com as condições em
um horizonte de 50 anos atrás. Para essa caracterização é fundamental definir uma base
territorial que contemple uma comunidade de
pessoas e ao mesmo tempo um conjunto de recursos naturais passíveis de alterações. A bacia
hidrográfica da Ribeira atende a estas necessidades, propiciando uma produção de conhecimentos a respeito dos aspectos tradicionais e
contemporâneos.
De acordo com a Lei n° 10. 741/2003 os
idosos são pessoas com idade igual ou superior
a 60 (sessenta) anos, sendo obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder
Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito a vida, a saúde, a
alimentação, a educação, a cultura, ao esporte,
ao lazer, ao trabalho a cidadania, a liberdade, a
dignidade, ao respeito e a convivência familiar e
comunitária. Nesse sentido, é necessário identificar aspectos relacionados às condições de vida,
que estejam ou não ligados as questões
ambientais, compreendendo que o meio ambiente não se refere somente aos aspectos dos
recursos da natureza, mas também todos os elementos que compõem o habitat da comunidade
(BRASIL, 2003).
Atualmente, o Brasil é um país que envelhece a passos largos. As alterações na dinâmi-
ca populacional são claras, inexoráveis e
irreversíveis. No ano 2000, a população brasileira de idosos apresentou crescimento oito vezes maior quando comparada às taxas de crescimento da população jovem, estando previsto,
que em 2025, o país venha a ocupar o sexto
lugar na classificação mundial em número de idosos, isto é, terá cerca de 34 milhões, chegando
à marca de 15% da população total. Em um intervalo de 25 anos “ 1980 a 2005, o crescimento total da população foi de 55,3%; o referente
a idosos superou 126,3%. Destaca-se, nesses
números, a faixa de idade com mais de 80 anos,
que apresentou um crescimento de 246,0%, refletindo a ocorrência do que se denomina como
transição demográfica acelerada (INOUYE,
2008; IBGE, 2005).
Santos et al (2002) dizem que avaliar as
condições de vida do idoso se reveste de grande importância científica e social por permitir a
implementação de alternativas válidas de intervenção, tanto em programas gerontogeriátricos,
quanto em políticas sociais gerais, no intuito de
promover o bem-estar das pessoas maduras,
particularmente, no nosso contexto, onde os atuais idosos são aqueles que conseguiram sobreviver às condições adversas.
Devido à sua grande experiência de vida,
um dos papéis sociais atribuídos ao idoso é o de
ser a memória coletiva de seu grupo social, na
arte de contar histórias e de transmitir seu legado cultural. A sobrevivência do passado depende das lembranças que emergem da memória e
que são traduzidas para outrem. Apropriar-se
da memória e transmitir esse legado cultural é
reconstruir o passado, dar a ele a possibilidade
de ser atualizado e narrado de uma forma diferente. É ter de volta o sentimento de pertencer a
uma história ou mesmo à própria sociedade
(CORREA & FRANÇA, 2006). De acordo
com Santos et al., (2007), a memória é um instrumento constituidor da identidade, da percepção de si e dos outros, e busca assegurar a continuidade do tempo e resistir à alteridade, às rupturas.
Da mesma forma que as informações “antigas” são postergadas pelas recentes, as experiências de vida vêm sendo desvalorizadas e,
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Condições de vida da população idosa da bacia hidrográfica de Ribeira/PB: uma
muitas vezes, descartadas. Na sociedade contemporânea, o passado, seja ele advindo de uma
história de vida ou mesmo de acontecimentos
do cotidiano, é relativamente privado de expressão no meio social. A experiência narrativa nem
sempre encontra interlocutores para dialogar
(CORREA & FRANÇA, 2006).
O papel da memória precisa ser valorizado
para que as ações já efetivadas possam receber
críticas adequadas, levando a soluções inéditas
e transformadoras. Não podemos desperdiçar
a experiência de quem já percorreu uma longa
estrada. O idoso pode trazer do passado, o que
os mais jovens não vivenciaram, experiências
para o presente, que conjuguem a possibilidade
entre o idealizado e o possível (MACHADO et
al., 2006).
No entanto, relembrar o passado, reviver
tradições e dividir histórias pessoais pode ser
uma importante tarefa para que o idoso se sinta
valorizado e possa ter uma maior participação
social, facilitando a intergeratividade (SIMSON
& GIGLIO, 2001).
Nesse sentido, a proposta de que os idosos transmitam informações sobre as transformações sociais, econômicas e do meio ambiente para os mais jovens confere um modelo alternativo extra-escolar desses conhecimentos, o
conhecimento do que assistiram no passado
(MACHADO et al., 2006). Nesse contexto de
investigação, os aspectos relacionados ao meio
ambiente, como acesso a água, produção de alimentos, consumo de alimentos orgânicos, utilização de agrotóxicos são elementos fundamentais para se efetuar um comparativo das práticas
passadas com o presente, assumindo papel relevante para o conhecimento agrícola.
Por razões múltiplas a bacia hidrográfica é
entendida como uma importante unidade
territorial, delimitada nat uralment e,
correspondendo a uma área limitada por um
divisor de águas que drena a água de chuvas
por ravinas, canais e tributários, para um curso
principal, desaguando diretamente no oceano ou
num lago, onde é possível realizar vários diagnósticos (Ambiental, Físico-Conservacionista e
Sócio-econômico) sendo o diagnóstico da população idosa um conjunto de informações que
115
enriquece o conhecimento e as percepções sobre qualidade de vida e do meio ambiente de
uma determinada região.
A bacia hidrográfica é entendida como sendo uma unidade básica de análise e planejamento ambiental, por permitir conhecer e avaliar os
seus diversos componentes, processos e
interações. Pressupõe ainda, múltiplas dimensões
e expressões espaciais (bacias de ordem zero,
microbacias e sub-bacias). Por isso, numa bacia é possível avaliar de forma integrada as ações
humanas sobre o ambiente e seus desdobramentos sobre o equilíbrio hidrológico (BOTELHO
& SILVA, 2004).
Não se pretende avaliar a Qualidade de Vida
(QV) desta população, uma vez que esta variável não tem um significado consensual, apresentando características multidimencionais, dinâmicas e subjetivas. Este trabalho objetivou fazer
um levantamento das condições de vida, a partir
de aspectos gerais, com o intuito de averiguar
se houve mudanças significativas de hábitos,
acesso a serviços, estilo de vida, alterações
ambientais e principalmente o registro da percepção e leitura, da comunidade e da realidade
vivenciada, feita pelo idoso, utilizando como
delimitação e base territorial a bacia hidrográfica.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada na comunidade do
distrito de Ribeira, pertencente ao município de
Cabaceiras, estado da Paraíba, localizada nas
coordenadas geográficas 07º 29’ 20" Sul e 36º
17’ 13" Oeste. Foram registrados os conhecimentos, vivências e experiências dos idosos, visando à identificação de modificações ocorridas na ambiência ao longo dos últimos cinquenta
anos, bem como as possíveis melhorias e/ou prejuízos as condições de vida na comunidade.
A coleta de dados, incluindo elaboração/
produção e aplicação dos questionários teve
duração de um mês. Os critérios de elegibilidade da amostra foram: ter 60 anos ou mais e ser
residente atualmente na comunidade de Ribeira
– PB.
Um roteiro de entrevista sobre o idoso foi
empregado para obter informações sobre alimentação, acesso a água, condições de vida no
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meio rural e preservação ambiental. Foi feito um
paralelo e comparativo dessas informações no
passado e no presente, evidenciando-se os processos de mudanças ao longo das últimas cinco
décadas.
Para a coleta de dados referentes às variáveis de cada item, os sujeitos do estudo responderam a um questionário contendo 71 perguntas. Atribuiu-se pontuação 1 para “péssimo/ muito
baixo/ muito difícil”, 2 para “ruim/ baixo/ difícil”,
3 para “regular” e 4 para “Bom”, e 5 para “Excelente”. No presente trabalho foram consideradas as respostas referentes a 18 itens, devendo as demais serem abordadas em trabalhos futuros.
Do total de perguntas realizadas (71), sete
correspondem a perguntas abertas, onde o
entrevistador anotou em espaço de linhas deixado para esse fim o que foi falado pelo entrevistado. A análise das respostas das questões
aberta é constituída de três fases: 1 - pré-análise, 2 - exploração do material e 3 - tratamento
dos resultados, inferências e a interpretação.
Porém, no presente trabalho também não foram
utilizados e analisados todos os itens das questões abertas.
Todos os dados coletados foram digitados
em um banco de dados no programa Microsoft
Excel. 2007 para realização de análises estatísticas, com o objetivo de caracterizar o perfil do
grupo de idosos e suas principais características. Para o tratamento estatístico foi utilizada a
moda, o valor que ocorre com maior frequência
em uma série de valores (CRESPO,1996).
Quanto aos aspectos éticos, todas as etapas deste trabalho obedeceram às diretrizes da
Resolução Nº 196 de 10 de Outubro de 1996,
onde os participantes foram informados dos
objetivos do trabalho, consultados sobre a disponibilidade em participar do estudo e assegurados do sigilo das informações individuais, além
de concordarem com a publicação científica dos
resultados compilados, assinando o termo de
consentimento competente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em geral, o perfil dos entrevistados foi o
seguinte: 56% têm entre 60 e 70 anos; 44 %
têm entre 70 e 80 anos; 67% habitam a região
desde que nasceram, 17% há mais de 50 anos e
16% há mais de 30 anos. O nível de instrução
consta de 72% alfabetizados, 22% com ensino
fundamental e apenas 1 pessoa, 6% tem o ensino médio. A investigação contou com uma amostra composta por 18 idosos pertencentes ao
Clube Social da Melhor Idade, com sede na
comunidade de Ribeira. Este número é equivalente a aproximadamente 20% da população
idosa local.
Com relação à alimentação foram reunidos
em seis grupos os principais alimentos para uma
dieta nutritiva, a fim de averiguar a disponibilidade e consumo dos mesmos no presente e no
passado. Os resultados obtidos mostraram que
atualmente as pessoas têm acesso a uma diversidade maior de alimentos do que no passado,
apresentando moda 4 (consumo dos seis grupos pelo menos seis vezes por semana). Isso
pode ser justificado pela aquisição de uma renda fixa (aposentadoria), como também a ampliação de pontos comerciais de distribuição dos
alimentos. Os entrevistados enfatizaram que no
passado as condições de acesso a alimentos era
muito mais difíceis, sobretudo pela falta de recursos e dificuldade de deslocamento até a sede
municipal, Cabaceiras, sem falar nas secas que
impossibilitavam as colheitas.
Os alimentos, no aspecto qualidade: quanto à idade e conservação, foram considerados
como eram velhos e mal conservados no passado, ocorrendo o contrário no presente. Isso se
explica pela utilização de geladeiras e freezers e
da existência atual de controle de qualidade
quanto à composição e validade dos produtos.
Antigamente os alimentos eram acondicionados
em tonéis de zinco, envolvidos em “papel de
embrulho” e dispostos em feiras livres sem padronização. Conhecia-se a procedência das carnes, mas não existia, nem existe ainda, na comunidade controle de qualidade ou observância de
aspectos sanitários, exceto quando se consome
a carne industrializada.
Uma informação muito importante que se
obteve foi com relação aos alimentos orgânicos,
observando-se que no passado mais da metade
dos alimentos consumidos eram orgânicos, pro-
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Condições de vida da população idosa da bacia hidrográfica de Ribeira/PB: uma
duzidos localmente sem agrotóxicos, e no presente consome-se mais “alimentos industrializados” cuja procedência não se conhece, mas se
subentende que foram cultivados com
agrotóxicos.
Com o surgimento da Revolução Verde e
com a expectativa de aumentar potencialmente
a produção e a resistência das culturas, houve
uma expansão e proliferação da utilização de
defensivos agrícolas, para atender a demanda
de uma população que estava deixando de ser
predominantemente rural, para se tornar urbana, necessitando de abastecimento.
Esse dado corrobora com a análise do item
“Alimentos produzidos na propriedade”, ficando evidenciado que essa população produzia
mais da metade do que consumia e atualmente
produz menos da metade ou quase nada, sendo
a produção orgânica local mínima.
Foram questionados o consumo de açúcar,
a fonte de gordura e o tipo e origem de ovos e
aves (frangos, galinhas, perus etc.). No passado
as pessoas da comunidade utilizavam apenas o
açúcar como adoçante. Com o transcorrer das
décadas (cinco, no mínimo), passou-se a utilizar
além do açúcar o adoçante dietético. Observando-se, entretanto, que o consumo de antes era
oriundo de fontes como a rapadura e em quantidade muito menor do que a consumida atualmente.
A fonte de gordura era o toucinho, banha
ou sebo e o consumo de aves e ovos era oriundo de criatórios domiciliares. Atualmente são
utilizados o óleo vegetal e a margarina, e incorporado ao consumo de ovos e aves de criatórios
aqueles derivados de “granjas”, ou seja, industrializados. A Figura 1 sintetiza as informações
supracitadas.
Pode-se observar que no passado as famílias utilizavam a caatinga, mas de forma sustentável. O entendimento corrente era que devido
à população ser bem menor não se cogitava a
possibilidade da madeira acabar, e também não
havia maiores demandas de recursos naturais por
parte de olarias e panificadoras, entre outros
encontrados nos dias de hoje.
O desmatamento irracional vem transformando várias regiões, no Brasil e no mundo, em
117
Figura 1. Condições de vida na Ribeira: Alimentação
verdadeiros desertos. A região do semiárido
paraibano, que ao longo dos últimos anos vem
passando por sérios processos de tendência a
desertificação, é caracterizada por condições
sociais e ambientais bastante vulneráveis, onde
a intervenção das atividades humanas tem propiciado a degradação acentuada dos recursos naturais. Nos dias atuais não se extrai mais
a lenha da caatinga e a caça de animais diminuiu bastante. Isso se deve ao uso do fogão a
gás e da erradicação da caça na região. A percepção de cada indivíduo sobre as mudanças
que o ser humano impõe à natureza é importante para minimizar os conflitos com o meio
ambiente, respeitar as leis naturais e assim
defender a vida. Para os entrevistados, no
passado houve danos de baixas proporções
ao meio ambiente. Estes danos foram provocados pelo uso de recursos naturais para sobreviver e ter mais segurança. Porém a opinião geral é que havia tempo e condições para
a se recuperar desses impactos. Hoje, entretanto, existem na comunidade danos ao meio
ambiente de grandes proporções. Foi citado
como exemplo, a poluição do rio Taperoá,
oriunda de outras regiões e não da comunidade. Na região existe apenas a atividade couro-calçadista como potencial poluente dos recursos hídricos. Entretanto, a escala industrial
ainda não é grande o suficiente para provocar
danos substanciais no rio
Em todas as casas o tipo de água utilizada
no passado era de rios, cacimbas ou lajedo, sem
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tratamento e a uma distância média superior
a um kilômetro de suas residências. Outro
grande problema era que devido essas águas
serem originárias de pequenos açudes, cacimbas ou rios, elas secavam durante o período de estiagem, principalmente durante as
secas prolongadas. Atualmente a água
encanada já está disponível em todas as residências.
No passado o lixo era jogado a céu
aberto, provocando diversos problemas
como: poluição do solo, e das fontes de água,
proliferação de insetos transmissores de doenças e o aglomerado de materiais não
degradáveis ou tóxicos. A decomposição da
parte orgânica, libera gases e um líquido chamado chorume, ambos muito poluentes. Atualmente, apesar de ainda não haver a coleta,
o lixo á queimado por todos os integrantes
da comunidade.
Pela Figura 2 abaixo é possível se comparar as condições de vida de hoje com as do passado, ficando evidente a melhoria em todos os
aspectos.
A renda no passado era muito baixa e
as pessoas sobreviviam com o pouco que
produziam na agricultura. Entretanto, observou-se que mesmo sem uma renda fixa o nível da satisfação ainda era alto. Hoje todos
são aposentados, apresentando uma evidente melhoria da renda e das condições de vida.
Também proporcionado pela chegada da
energia elétrica na região e pela facilidade para
a aquisição de bens de consumo.
Hoje as famílias dispõem de aparelhos
como televisão, computador, som, dvd, geladeira, entre outros. Com a industrialização
e o desenvolvimento, esses utensílios se tornaram mais acessíveis à população, gerando
melhoria das condições de vida.
Com relação à habitação, no passado
as casas eram de alvenaria sem acabamento
eram bem conservadas, porém a população
ficava muito vulnerável a certas doenças
como a Doença de Chagas, pois o transmissor dessa doença, o barbeiro tem habito noturno e costuma ficar dentro das paredes,
isso dificulta que a população o encontre.
Hoje a população tem suas casas de alvenaria com acabamento, podendo se observar
uma melhoria nas condições dessas casas e
o mais importante que essa população fica
menos vulnerável a riscos e desastres.
No passado as casas não tinham privada o que causava diversos problemas, pois
os dejetos eram jogados ao ar livre, onde os
animais tinham contato com esses dejetos, as
águas das chuvas também poderiam carrear
esses resíduos para dentro de rios e açudes
e causar diversos problemas de saúde. Hoje
todas têm privada em casa com descarga,
isso certamente vem gerando diversas
melhorias nas condições de vida da população.
CONCLUSÕES
Figura 2. Condições de vida na Ribeira: Condições gerais
A partir dos dados coletados, foi possível verificar uma melhoria significativa nas
condições de vida gerais da população
pesquisada. Esta melhoria pode ser atribuída, principalmente, à disponibilização de melhores subsídios por parte do poder público,
na forma de aposentadorias com maior poder de compra.
A disponibilização da energia elétrica no
meio rural, além do aumento da renda e da
acessibilidade aos eletrodomésticos, tem possibilitado um aumento gradativo na melhoria
das condições de vida da população, como
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Condições de vida da população idosa da bacia hidrográfica de Ribeira/PB: uma
a utilização de geladeiras para a conservação dos alimentos. A utilização massiva de
aparelhos de televisão permite o conheciment o de impo r t ant es infor maçõ es
globalizadas, principalmente no que diz respeito à preservação do meio ambiente, como
as técnicas de manuseio do lixo.
Foi verificada uma melhoria generalizada
nas condições alimentícias. Esta melhoria foi
gerada pela facilidade de aquisição, pela diversidade, pelo aumento da quantidade
consumida e conservação dos produtos. Por
outro lado, houve uma queda na produção
local de alimentos, bem como uma diminuição
da qualidade dos mesmos devido ao consumo de gêneros cultivados com a utilização de
defensivos agrícolas.
Ficou constatado um aumento no consumo de produtos industrializados (frangos,
ovos, adoçante, óleo), fazendo-se necessárias pesquisas futuras mais detalhadas sobre implicações em decorrência dessas adições e/
ou substituições na alimentação dos idosos e
da população em geral.
Pode-se concluir que a melhoria das condições de vida está fortemente relacionada a:
qualidade e disponibilidade de alimentos, de
água encanada e tratada, habitação bem acabada e com sanitário, utilização de fogão a gás
e de eletrodomésticos básicos. Isto favorece
a ocorrência de um meio ambiente mais equilibrado.
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.25, n.2, p.120-126, 2010.
PAPEL DA ANÁLISE SENSORIAL COMO FERRAMENTA
DE APOIO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE
PRODUTOS ALIMENTÍCIOS
Silvana N. de Oliveira¹; Maria do C. P. Rodrigues²
1
Pós-Graduanda em Engenharia Agrícola e Recursos Naturais – UFCG. Email:[email protected]
2
Doutora em Tecnologia de Alimentos, Professora, Departamento de Tecnologia de Alimentos
– UFC. E-mail: [email protected]
RESUMO
Considerando o binômio alimento-qualidade, a avaliação sensorial tem um papel fundamental no
Processo de Desenvolvimento de Produtos Alimentícios (PDPA), uma vez que é utilizada como
instrumento chave para a seleção de produtos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos,
definição do padrão de identidade e qualidade do alimento e na avaliação da aceitação pelo
consumidor. A atividade de desenvolver produtos na indústria alimentícia é um processo que
necessita ser gerido com maior controle e segurança. Esta revisão teve como objetivo apresentar informações sobre o papel da análise sensorial como ferramenta de apoio e gestão para o
sucesso global no Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) na indústria alimentícia.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação sensorial, PDPA, desenvolvimento de produtos, alimentos
ROLE OF SENSORY ANALYSIS AS TOOL OF SUPPORT FOR
DEVELOPMENT OF FOOD PRODUCTS
ABSTRACT
Considering the binomial food-quality, sensory evaluation has a key role in the Development
Process of Food Products (PDPA), since it is used as a key tool for product selection,
research and development of new products, the standard-definition identity and quality
of food and assessment of consumer acceptance. The activity of developing products in the food
indust ry is a process that needs t o be managed with great er control
and security. This review aims to present information on the role of sensory analysis as a tool to
support and manage the overall success of the Product Development Process (PDP) in the food
industry.
KEYWORDS: Sensory evaluation, PDPA, product development, food
Papel da análise sensorial como ferramenta de apoio no processo de
INTRODUÇÃO
A atividade de desenvolver produtos, na
maioria das vezes encarada como uma seqüência de esforços técnico-científicos, necessita ser
gerida com maior segurança, de maneira a buscar a otimização de fatores como rapidez, qualidade e custo (POLIGNANO e DRUMOND,
apud CLARK, K. B. & WHEELWRIGHT,
1992).
Complementando a Gestão do Processo de
Desenvolvimento de Produtos, são utilizadas
varias ferramentas de apoio, a fim de que, as
empresas possam compreender melhor os interesses do mercado e por conseguinte gerenciar
e conduzir o Processo de Desenvolvimento de
Produtos (PDP) de modo a suprir as necessidades dos clientes e garantir o sucesso do produto.
BOSI (2003) cita alguns exemplos de ferramentas de apoio ao PDP, sendo estes: Desdobramento da Função Qualidade (QFD),
benchmarking de produto, engenharia simultânea, gestão de portfolio, Projeto Auxiliado de
Computador ou Computer Aied Design (CAD),
pesquisa de mercado, planejamento de experimentos, Análise Sensorial e Análise de Perigos e
Pontos Críticos de Controle (APPCC), entre
outras.
Este trabalho faz um recorte das ferramentas de apoio ao PDP, abordando especificamente
a análise sensorial, a partir de uma breve apresentação e discussão das etapas do PDP na
industria de alimentos, do papel da análise sensorial como uma ferramenta de apoio a este processo e seus métodos e testes mais utilizados
para o sucesso global no PDP na industria alimentícia.
A análise sensorial é uma ferramenta que
permite analisar vários parâmetros de qualidade
em alimentos e também em outros produtos,
sendo que testes de diferentes enfoques são utilizados para atingir diferentes graus de respostas.
Segundo NORONHA (2003), a Análise
Sensorial permite caracterizar e medir atributos
sensoriais dos produtos ou determinar se as diferenças nos produtos são detectadas e aceitas
ou não pelo consumidor. No desenvolvimento
121
de produtos ou no controle de qualidade, a compreensão, determinação e avaliação das características sensoriais dos produtos tornam-se importantes e essenciais em muitas situações.
Atualmente a procura do consumidor por
alimentos diversificados, práticos, seguros e de
qualidade é uma forte tendência de mercado e a
análise sensorial integra-se ao PDP na industria
alimentícia, como uma ciência capaz de fornecer informações decisivas que definem até que
nível pode variar a qualidade de um produto sem
que sua imagem seja prejudicada perante o mercado consumidor. (MARTINS, 2002).
REVISÃO DE LITERATURA
Processamento de alimentos e classificação de
produtos alimentícios
EVANGELISTA (1994), cita que os objetivos da Tecnologia de Alimentos buscam garantir que seja apresentado aos consumidores,
produtos nutritivos, apetitosos, bem apresentados e com maior tempo de vida útil ou de prateleira.
Atualmente, considera-se que a verdadeira inovação tecnológica não se baseia mais no
aumento da produção, e sim, na diminuição de
perdas, que é o discurso da melhoria da produção, somado à melhoria das condições de industrialização, das próprias industrias e da produtividade. BARUFFALDI e OLIVEIRA
(1998).
Segundo BOSI apud PROENÇA (2003)
a classificação dos produtos alimentícios se dá
baseada no grau de transformação dos mesmos
após o ciclo de produção, havendo a correlação deste processamento com o nível de conveniência dos produtos.
BARRUFALDI e OLIVEIRA (1998),
apresentam a seguinte classificação:
- Produtos alimentícios sem modificação: Quando os tratamentos industriais praticamente não interferem na composição e nos aspectos originais da matéria-prima. Como por
exemplos, hortaliças frescas, água mineral, ovos.
- Produtos alimentícios com pequena ou
ligeira modificação: Estes produtos não apresentam alterações químicas da matéria-prima que
lhes deu origem.
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S. N. de Oliveira et al.
- Produtos alimentícios com grande
modificação: Estes produtos sofrem, durante a
industrialização, alterações nas características da
matéria-prima que lhes deu origem. Além daquelas modificações de ordem física ocorrem
também modificações químicas e estruturais nas
macromoléculas constituintes do alimento.
- Produtos alimentícios transformados:
São aqueles que após a industrialização não apresentam mais nenhuma das características da
matéria-prima de origem. São obtidos por processos que transformam a matéria-prima em um
produto alimentício novo e peculiar.
Processo de Desenvolvimento de Produtos
Alimentícios
Um processo é uma serie de etapas ou
atividades que transformam um conjunto de entradas em um conjunto de saídas”. (WILLE,
2004). Na indústria de alimentos podemos dizer que essas entradas são informações advindas
dos consumidores, das novas tendências
tecnológicas, dos interesses de mercado, internas à empresa, entre outras fontes. Sendo as
saídas um produto ou linha de produtos que respondam as estas novas demandas dos consumidores, do mercado e da própria empresa.
Atualmente, o rápido desenvolvimento
tecnológico, acompanhado da melhoria no padrão de vida dos consumidores, traz às empresas grandes oportunidades para o desenvolvimento de produtos e conseqüentemente seu próprio desenvolvimento. (BOSI apud EARLE,
2003).
Segundo MARTINS (2002), os projetos
de desenvolvimento de produtos são classificados em três grandes grupos, conforme a origem
do seu desenvolvimento, sendo estes:
- Desenvolvimento de novos produtos
baseados numa nova tecnologia: São produtos totalmente novos e inovadores. Não existindo produtos similares para referência.
- Desenvolvimento de novos produtos
criados por sistemas integrados: São produtos novos, sem semelhantes no mercado, mas
que utilizam tecnologias ou sistemas já existentes.
- Desenvolvimento de produtos criados
pelo melhoramento de um produto existen-
te: São produtos lançados no mercado e que,
constantemente, são sujeitos a melhorias.
Este autor relata ainda que o ultimo grupo
é o de ocorrência mais freqüente, sendo ainda
assim, considerado como um novo produto para
o mercado.
Para desenvolver novos produtos é necessário, planejamento, pesquisa, controle e uso de
métodos sistemáticos, capazes de integrar e
otimizar os diferentes aspectos envolvidos. Por
isso são adotados modelos sistemáticos, com
apoio de métodos e ferramentas, que auxiliam
as equipes de PDP a resolverem problemas durante o processo de desenvolvimento. (SANTOS e FORCELLINI, 2004).
Segundo WILLE apud KAMINSKY
(2004), existem três componentes básicos em
um projeto de PDP: o processo de tomada de
decisão, o processo de fluxo do trabalho e os
sistemas paralelos de suporte de processo.
A análise sensorial e o desenvolvimento de
produtos alimentícios
Um alimento deve além de ser nutritivo,
produzir também satisfação e ser agradável ao
consumidor, isto é conseguido por meio do equilíbrio de diferentes parâmetros de qualidade sensorial. Para o sucesso efetivo do PDP é imprescindível otimizar parâmetros, como forma, cor,
aparência, odor, sabor, textura, consistência e a
interação dos diferentes componentes, com a finalidade de alcançar um equilíbrio integral que
se traduza em uma qualidade excelente e que
seja de boa aceitabilidade para o consumidor
(BARBOZA apud PENNA, 2003).
Análise Sensorial é uma metodologia destinada a avaliar a aceitação de produtos no mercado, pesquisando os gostos e preferências de
consumidores. Com base nos resultados, é possível medir, avaliar e interpretar a percepção sensorial em relação ao produto analisado. (SBRT,
2007)
A analise sensorial, atualmente tem recebido um grande impulso no sentido de encontrar
maior aplicação no setor produtivo (MARTINS
apud ALMEIDA et al., 2002). Esse impulso
deve-se a uma maior divulgação e utilização dessa ciência. Pode-se facilmente constatar isso,
observando a constante utilização da avaliação
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Papel da análise sensorial como ferramenta de apoio no processo de
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Tabela 1. As Fases de desenvolvimento de produtos e seus desdobramentos
Fases de desenvolvimento de produtos
1. Definição do produto
2. Geração e seleção de idéias, projeto e desenvolvimento
do produto
3. Desenvolvimento técnico do produto e obtenção da
produção, garantia da qualidade e estratégia de
marketing.
4.Lançamento comercialização e acompanhamento
Desdobramentos do Processo de
Desenvolvimento de Produto
Possibilidades de produtos a serem
desenvolvidos
Projetos de desenvolvimento específicos
Alinhamento com estratégia da empresa.
Análise de mercado
Análise da tecnologia disponível.
Análise financeira.
Definir revisões de Portfólio.
Formulação do plano de desenvolvimento
Definição dos objetivos do projeto e suas
limitações
Conceituação do produto
Geração e triagem de idéias.
Determinar viabilidade técnica-econômica.
Protótipos do produto
Fluxograma do processo e suas condições
Compatibilidade do projeto com a estratégia
organizacional
Análise crítica da conceituação do produto e
mercado alvo
Análise do consumidor e avaliação tecnológica
dos protótipos
Testes de produto
Produto final e mercado alvo, posicionamento e
imagem do produto
Método de controle de processo
Método de produção e determinação da linha de
produção
Análise de perigos e definição dos pontos
críticos de controle (APPCC)
Estratégia de marketing e planejamento
Custos, preço, lucro, investimento e risco
Avaliação da previsão de sucesso no mercado
Avaliação da segurança do processo e do
produto/alimento
Lançamento no mercado
Melhoria do processo de produção e qualidade
do Produto
Estudo da qualidade do produto e eficiência da
Produção
Estudo do comportamento de compra, atitudes
dos consumidores e métodos de marketing
Melhoria do posicionamento do produto,
mercado alvo e métodos de marketing
Reavaliação de custos e preços
Previsão e planejamento do futuro do produto
Fonte: Adaptado de BOSI (2003)
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S. N. de Oliveira et al.
sensorial em publicações relacionadas com investigações em alimentos.
NORONHA (2003) afirma que a análise
sensorial responde a três tipos de questões distintas:
Questões de Descrição
Quais são as suas características sensoriais
percebidas no produto? De que modo a qualidade do produto difere de outro produto? Quais
são as consequências de uma modificação no
processo, formulação, embalagem ou condições
de armazenamento nos atributos do produto?
Onde as respostas à estas questões traduzem a percepção das diferenças sensoriais entre
produtos ou amostras na sua globalidade ou num
dado atributo. (NORONHA, 2003)
Questões de Discriminação
Será que o consumidor nota a diferença?
Quantos consumidores detectariam esta diferença? Estes produtos são diferentes? Qual a magnitude da diferença?
Onde as respostas apresentam são a descrição/caracterização de um dado produto.
(NORONHA, 2003).
Questões de Preferência ou Hedônicas
Quantas pessoas gostam deste produto? O
produto é aceitável? Este produto é tão bom
quanto o concorrente? Será que este produto é
melhor que o anterior? Quais são as características mais apreciadas? Será o preferido pelo
consumidor?
As respostas a estas questões permitem
apresentar o caráter de preferencial por um produto ou atributo do mesmo, pois estão diretamente ligadas aos desejos do consumidor, o que
vem a casar estreitamente com o processo de
desenvolvimento de produtos na industria alimentícia, devido esta ter como meta a ampliação de
seu mercado consumidor devendo e para isto,
atender cada vez mais às necessidades e tendências de mercado da massa consumidora
(NORONHA, 2003; BARBOZA apud
PENNA, 2003).
AAnálise Sensorial permite determinar diferenças, caracterizar e medir atributos sensoriais dos produtos ou determinar se as diferenças
nos produtos são detectadas e aceitas ou não
pelo consumidor. Seja com a finalidade de desenvolver produtos ou de controlar a qualidade
destes, a compreensão, determinação e avaliação das características sensoriais dos produtos
é de relevante importância para a indústria de
alimentos (NORONHA, 2003). No próximo
ponto será tratada especificamente da analise
sensorial como ferramenta de apoio ao PDP alimentício.
A qualidade sensorial de alguns produtos
industrializados somente pode ser amplamente
medida através da avaliação sensorial de algumas propriedades. Na indústria de alimentos,
onde os técnicos de desenvolvimento de produtos estão constantemente envolvidos com tarefas de coletar e processar dados avaliados em
painel sensorial. Daí pode-se verificar o quão
imprescindível se faz à utilização da analise sensorial como ferramenta no PDP alimentício
(MARTINS apud FOGLIATO, ALBIN e SILVA, 2002).
A avaliação sensorial intervém nas diferentes etapas do ciclo de desenvolvimento de produtos; como na seleção e caracterização de
matérias primas, na seleção do processo de elaboração, no estabelecimento das especificações
das variáveis das diferentes etapas do processo, na otimização da formulação, na seleção dos
sistemas de envase e das condições de
armazenamento e no estudo de vida útil do produto final. Um bom planejamento dos testes, uma
criteriosa seleção dos julgadores e uma correta
interpretação dos testes são fatores muito importantes para obter respostas confiáveis
(BARBOZA apud PENNA, 2003).
Os testes sensoriais são incluídos como
garantia de qualidade por serem uma medida
multidimensional integrada, possuindo importantes vantagens, tais como: ser capaz de identificar a presença ou ausência de diferenças perceptíveis, definir características sensoriais importantes de um produto de forma rápida e ser capaz de detectar particularidades que não podem
ser detectadas por outros procedimentos analíticos. (SBRT, 2007). A NBR 12994 classifica
os métodos de análise sensorial dos alimentos e
bebidas em discriminativos, descritivos e subjetivos.
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Papel da análise sensorial como ferramenta de apoio no processo de
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Tabela 2. Classificação dos métodos de avaliação sensorial em função dos objetivos
globais e seu uso no PDP
Método de
Questões
Aplicação no PDPA
Objetivo Global
análise
relacionadas
- Manutenção de
produtos
- Fornece descrição detalhada dos
- Otimização de
atributos dos produtos.
- Quais os atributos
produtos
- Permite avaliar a intensidade dos
Análises
dos produtos?
- Novos produtos
atributos sensoriais de um produto.
descritivas
- Que atributos tem
- Correlação com
- Determina se existe diferença
diferenças?
atributos físicos
significante entre dois produtos, e em
- Correlação com
consiste esta diferença.
preferência dos
consumidores
- Manutenção de
- O produto é
- Determina se a diferença entre dois
produtos
Análises
diferente?
produtos é significante.
- Otimização de
discriminativas
- A diferença é
- São avaliadas as diferenças
produtos
perceptível?
sensoriais entre dois ou mais produtos
- Novos produtos
- Manutenção de
produtos
- Avalia a aceitação e preferência dos
- Gosta ou
- Otimização de
consumidores em relação a um ou mais
desgosta?
produtos
produtos
Testes Afetivos
- Qual prefere?
- A avaliação pode ser realizada
- Novos produtos
- O que mais
- Correlação com
separadamente ou como parte da
gosta?
preferência dos
análise de mercado.
consumidores
Fonte: Adaptado de Souza Filho e Nantes (2004)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O consumidor atual apresenta um melhor
padrão de vida e de acesso a informações, o
que influencia diretamente nas suas escolhas no
supermercado. A busca por melhoria na qualidade de vida com o mínimo de esforço é um
exemplo disso, e atrelada a essa busca está uma
fatia em ascensão no setor alimentício; os alimentos funcionais, os enriquecidos com vitaminas, lights, diets e etc.
Este novo quadro do mercado consumidor reflete em grandes oportunidades para
as empresas no desenvolvimento de produtos e conseqüentemente seu próprio desenvolvimento. (BOSI apud EARLE, 2003).
Fazendo com que cada vez mais as industriais invistam no desenvolvimento de novos
produtos e na otimização deste processo
dentro da empresa.
O objetivo principal de uma empresa é
vender os produtos que fabrica. Para tanto,
torna-se imprescindível às industrias de alimentos se aperfeiçoarem e otimizarem seus
processos para o desenvolvimento e fabrico
de produtos, a fim de melhor satisfazerem as
exigências do consumidor.
Ao discutir como se dá o Processo de
Desenvolvimento de Produtos na Industria de
Alimentos visamos explicitar aos gestores
deste setor o quanto é importante à consolidação dos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimentos (P& D) neste segmento e que
para isso, faz-se necessário a contratação de
profissionais capacitados e o comprometimento da alta gerencia para um efetivo sucesso no desenvolvimento de produtos com
qualidade e segurança.
Sabe-se que as características finais
apresentadas nos produtos alimentícios dependem da qualificação e quantificação de
todas as suas propriedades sensoriais, dos
efeitos dos ingredientes, da influência dos
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Mês efetivo de circulação deste número: Março/2011
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S. N. de Oliveira et al.
parâmetros de processo, dos métodos de conservação empregados e das embalagens utilizadas.
Em contra partida o conhecimento das
características requeridas pelos consumidores,
bem como a qualidade final dos produtos alimentícios são fatores imprescindíveis ao desenvolvimento de produtos na industria de alimentos. Sendo está as aplicações mais importantes da Análise Sensorial no desenvolvimento de novos produtos e no marketing.
(NORONHA, 2003).
Verifica-se o quanto se torna necessária
a utilização da analise sensorial no PDPA, tanto
em suas fases iniciais quanto nas avaliações
pós-lançamento de produtos. O que irá conferir maior controle sobre as formulações, maiores possibilidades de adequação em embalagens e/ou formulações (quando necessárias) e o desenvolvimento de novos produtos
com uma maior segurança por parte das empresas. Pois com a utilização desta ferramenta a industria adquire um “raio-X” de dados
informacionais, quer seja sobre o produto, que
seja, sobre as percepções do ser humano diante do mesmo. E pode através desse perfil
traçar novas estratégias para acompanhamento e melhoramento de seus processos e produtos baseados em dados reais.
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