[Série Cinema mundial] França: o nascimento da

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[Série Cinema mundial] França: o nascimento da
[Série Cinema mundial] França: o nascimento da Sétima Arte
Domingo, 15 de setembro de 2013, por Pedro Ruiz.
O surgimento do cinema
O cinema existe graças à invenção do cinematógrafo, aparelho parecido com
uma filmadora que, além de gravar as imagens, projetava-as. Foi inventado pelos
Irmãos Lumière, considerados os pais do cinema, ao lado do também francês
Georges Méliès (1861-1938).
Cinematógrafo, o precursor das câmeras filmadoras
Fonte da imagem: www.mibutacavip.com/img/his/lumiere_2.jpg
Em 28 de dezembro de 1895, no Salon Indien du Grand Café, em Paris, os
irmãos realizaram a primeira exibição pública paga do cinema no mundo (o
bilhete custou, na época, $ 1,00 franco), para cerca de 30 pessoas, com uma série
de pequenos filmes. Um dos filmes exibidos foi “La Sortie de l'usine Lumière à
Lyon”. A notícia se alastrou em toda a França e, em pouco tempo, conquistaria o
mundo.
Cena do filme “La Sortie de l'usine Lumière à Lyon”, dos irmãos Lumière
Fonte da imagem: multigraphias.files.wordpress.com/2011/05/lumic3a8re-sadoul2dissertac3a7c3a3o1.jpg
Auguste Lumière (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948) nasceram em
Besançon. Filhos de Antoine Lumière, fotógrafo, fabricante de filmes
fotográficos e proprietário da Usine Lumière, instalada em Lyon. Antoine
entregou a empresa aos filhos em 1892. Louis e Auguste eram engenheiros,
passaram a se ocupar na administração da empresa. Depois da invenção do
cinematógrafo, se dedicaram à arte cinematográfica, produzindo alguns
documentários curtos, para fins científicos e de promoção da invenção.
Auguste Lumière (1862-1954) e Louis Lumière (1864-1948)
Fonte da imagem: www.thestudioarts.com/Assets/Students/Cinema/LumiereBros.jpg
Com o sucesso do cinematógrafo, os irmãos Lumière fizeram algumas viagens
para divulgação do invento em 1896, visitando Londres (Reino Unido), Nova
Iorque (Estados Unidos) e Mumbai (Índia).
O início do cinema francês
Marie-Georges-Jean-Méliès (1861-1938) era um mágico ilusionista, dono do
teatro Robert-Houdin, nas vizinhanças do Salon Indien du Grand Café, onde
aconteceu a primeira exibição do cinematógrafo, no qual compôs a plateia.
Depois do sucesso do invento, Mélièrs interessou-se em comprar um
cinematógrafo para utilizar em seus espetáculos. Os irmãos Lumière não
quiseram vender porque acreditavam não tinha valor comercial. Descontente,
Georges Méliès conseguiu comprar um aparelho semelhante na Inglaterra, feito
por Robert William Paul (1869-1943), eletricista e fabricante de instrumentos
ópticos. Depois da aquisição, Mélièrs tornou-se o primeiro grande produtor de
filmes de ficção, com narrativas e truques destinados à apreensão do público –
são os primeiros efeitos especiais da história do cinema.
Georges Méliès (1861-1938), pai do cinema e da ficção
Fonte da imagem: marciokenobi.files.wordpress.com/2011/12/melies.jpg
Um de seus filmes mais conhecidos foi “Le Voyage Dans la Lune” (Viagem à
Lua), de 1902, em que usou técnicas de dupla exposição do filme para obter
efeitos especiais.
Um presidente do Clube de Astronomia supervisiona a construção de um foguete
espacial com destino à lua. O foguete é disparado com seis tripulantes para
explorar a superfície lunar. Ao chegarem, são atacados por um grupo de
"lunáticos". Ao retornarem à Terra, caem no oceano. O filme, com 14 minutos de
duração (o filme mais longo da Méliès até 1902), custou $ 10000,00 francos.
“Le voyage dans la Lune” (1902) foi um enorme sucesso na França e em todo o mundo
Fonte da imagem: www.filmreference.com/images/sjff_01_img0528.jpg
Outro famoso curta de Méliès foi “La Lune à un Mètre” (A Lua a um metro), de
1898, com cerca de 3 minutos de duração.
Um astrônomo trabalha em seu observatório quando um diabo e uma princesa
aparecem. Depois que se vão, ele desenha no quadro-negro a Terra e a Lua que,
em seguida, animam-se. A mobília desaparece misteriosamente, e quando ele vai
ver observar Lua com seu telescópio, ela está tão próxima que acaba comendo
seu instrumento. A Lua destrói vários outros objetos, inclusive engole o
astrônomo, que cospe seus restos no chão. Por fim, a princesa ajuda a recompor
o astrônomo, que acaba voltando para seu observatório.
“La Lune à un Mètre” (1898), outro grande sucesso de Méliès
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Durante quase duas décadas produzindo curtas e filmes documentais, Georges
Méliès foi considerado o melhor cineasta do mundo. Desde a produção de seus
primeiros curtas em 1896, até 1913 produziu mais de 550 filmes.
O cinema francês entrou em declínio no período da Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), em consequência da falta de dinheiro para produção de filmes.
Após o seu fim, o belga Jacques Léon Louis Frédérix (1885-1948), roteirista e
diretor de cinema, retornou ao cinema, pois estava a serviço militar entre 1917 e
1919. Ao retornar, tornou-se em pouco tempo um dos diretores mais inovadores
do cinema francês. Algumas de suas grandes produções que ganharam atenção
do público foram “L' Atlantide” (1921), “Crainquebille” (1922) e “Visages d'
Enfants” (1925).
Jacques Frédérix (1885-1948), um dos fundadores do realismo poético no cinema francês
Fonte da imagem: www.ecured.cu/images/f/f0/Jacques_Feyder_1.jpg
Jacques Feyder – nome que adotou no começo da carreira – depois do grande
sucesso foi lhe oferecido um cargo de diretor na Vita Films, em Viena, para
produção de três filmes. No entanto, só produziu um, “L' Imagem”, em 1923.
Acabou retornando à Paris, onde se reestabeleceria com grandes filmes, como
“Gribiche” (1926), “Carmen” (1926) e “Thérèse Raquin” (1928). Também
contribuiu com roteiros de filmes de outros diretores, como “Poil de carotte”
(1925), de Julien Duvivier, e “Gardiens de Phare” (1929), de Jean Grémillon.
Em 1929, Feyder produziu seu último filme no cinema francês antes de partir
para os Estados Unidos, “Les Nouveaux Messieurs”, uma sátira que insultava os
ministros do Parlamento da França. No mesmo, aceitou uma proposta da MGM
(Metro-Goldwyn-Mayer Studios Inc) para trabalhar em Hollywood. No
entanto, acabou retornando à França em 1933 e produzindo três filmes em
parceria com o roteirista Charles Spaak (1903-1975) e com sua mulher, a atriz
Françoise Rosay (1891-1974). Os filmes produzidos foram “Le Grand Jeu”
(1934), “Pension Mimosas” (1935) e “La Kermesse Héroïque” (1935).
Novamente, uma nova guerra interfere os planos do cinema francês: a Segunda
Guerra Mundial. “Air pur”, de René Clair, é um filme que foi iniciou as
gravações em 1938, mas tiveram de ser interrompidas por conta da guerra. O
filme nunca foi terminado.
Após o término da Segunda Grande Guerra, é criado em 1946 o Festival de
Cinema de Cannes, um dos mais prestigiados e famosos festivais de cinema do
mundo. A premiação acontece todo ano na cidade de Cannes.
Palme d’Or (Palma de ouro), troféu do Festival de Cannes
Fonte da imagem: http://static1.celebrityredcarpet.co.uk/articles/3/40/3/@/1297-la-palme-dor-du-festival-de-cannes-1000x0-1.jpg
Em 1951, André Bazin (1918-1958) funda a revista Cahiers du Cinéma, onde
reunia críticos do cinema. Um destes críticos foram grandes nomes do cinema
francês, como o cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, o cineasta francês
François Truffaut (1932-1984), o cineasta e roteirista Eric Rohmer (19202010) e o ator, diretor e produtor Claude Chabrol (1930-2010). Eles criaram
um novo movimento no cinema francês, a Nouvelle Vague, que influenciou
diretamente o cinema em Hollywood, depois de entrar em declínio a partir da
década de 1960.
História do cinema francês
Durante o século XX grandes nomes – tanto cineastas quanto atores – surgiram
no cinema francês, sendo reconhecidos internacionalmente.
Jean Renoir (1894-1979) filho do pintor impressionista Pierre-Auguste
Renoir, foi um importante cineasta francês e considerado um dos melhores
diretores do cinema mundial de todos os tempos. Foi também escritor e ator.
Seus filmes marcaram profundamente o cinema entre os anos de 1930 e 1950.
Em 1975, Renoir recebeu o Óscar honorário em reconhecimento pelo conjunto
de sua obra. Suas obras-primas são “La Grande Illusion”, de1937 (filme sobre
as condições de vida dos prisioneiros franceses durante a Primeira Guerra
Mundial) e “La Règle du Jeu”, de 1939 (sobre a alta sociedade francesa antes do
início da Segunda Guerra Mundial).
Cena do filme “La Grande Illusion”, de Jean Renoir
Fonte da imagem: www.uppcinema.co.uk/images/uploads/GrandIllusion2.jpg
Outros de seus grandes filmes foram “La Chienne“ (1931), “Madame Bovary”
(1933), “La Bête Humaine” (1938) e “Le Journal d'une Femme de Chambre”
(1964).
Julien Duvivier (1896-1967) foi outro importante cineasta francês. Seu
primeiro filme foi “Haceldama ou Le Prix du Sang”, em 1919. Seus maiores
sucessos foram “Lydia” (1941), “Anna Karenina” (1948) e “Diaboliquement
Vôtre” (1967). Faleceu logo após o término deste último.
René Clair (1898-1981) diretor e considerado o maior criador cômico depois de
Charles Chaplin. Dirigiu cerca de 30 filmes ao longo da carreira. Entre eles,
“Entr'Acte” (1924), “La Tour” (1928), “À Nous La Liberte” (1931) e “Les
Grandes Manoeuvres” (1955).
“Les Grandes Manoevres”, com Michele Morgan e Brigite Bardot no início da carreira
Fonte da imagem: museumviews.com/wp-content/uploads/2012/12/The-Grand-ManeuverFrom-Left-to-Right-Mich%C3%A8le-Morgan-Brigitte-Bardot-%C2%A9-Photofest-UMPO.jpg
Em 1940, Clair deixa a França e decide trabalhar em Hollywood. Produz quatro
filmes: “La Belle Ensorceleuse” (1940), “Ma Femme est Une Sorcière” (1942),
“C'est Arrivé Demain” (1943) e “Dix Petits Indiens” (1945). Retorna em 1946
e dirige “Le Silence est d'or” (1947) e “La Beauté du Diable” (1949).
Alain Resnais, nascido em 1922, em Vannes, produziu grandes obras de ficção
poética, como "Hiroshima Mon Amour" (1959) e "L'Année Dernière à
Marienbad" (1961). Também produziu documentários de grande importância
histórica, como "Nuit et Brouillard" (1955), com cerca de 30 minutos, sobre os
campos de concentração nazistas da Segunda Guerra Mundial.
Cena do documentário “Nuit et Brouillard", de Alain Resnais
Fonte da imagem: http://fnacpantherimage.toutlecine.com/photos/n/u/i/nuit-et-brouillard-5502-g.jpg
Outros de seus filmes foram “La Guerre est Finie" (1966), “Loin du Vietnam”
(1967), “Je t'Aime, Je t'Aime” (1968), “Providence” (1977), “Mon Oncle
d'Amérique” (1980), "La Vie Est Un Roman" (1983), "L'Amour à Mort"
(1984), "On Connaît la Chanson" (1997), “Pas Sur la Bouche” (2003) e
“Coeurs” (2007).
Grandes filmes de sucesso do cinema francês no século XX foram “Le Corbeau”
(1943), de Henri-Georges Clouzot; "La Belle et la Bête” (1946), de Jean Cocteau;
"Le Salaire de la Peur" (1953), de Henri-Georges Clouzot; "Les Diaboliques"
(1955), de Henri-Georges Clouzot; "Acossado" (1960), de Jean-Luc Godard;
“Vivre sa Vie” (1962), de Jean-Luc Godard; "Jules et Jim" (1962), de François
Truffaut; "Le Mépris" (1963), de Jean-Luc Godard; "Le Chagrin et la Pitié"
(1969), de Marcel Ophüls; "Lacombe Lucien" (1974), de Louis Malle; "Shoah"
(1985), de Claude Lanzmann; “Jean de Florette” (1986) e “Manon des
Sources” (1986), de Claude Berri; “Au revoir les enfants” (1987), de Louis
Malle; “La Vie et Rien d'Autre” (1989), de Bertrand Tavernier; “La Belle
Noiseuse” (1991), de Jacques Rivette; “Un Coeur en Hiver” (1992), de Claude
Sautet; “Roseaux Sauvages” (1994), de André Téchiné); “La Vie Rêvée des
Anges” (1998), de Erick Zonca e “Les Glaneurs et la Glaneuse” (2000), de
Agnès Varda.
Grandes nomes do cinema francês
Brigitte Anne-Marie Bardot, nasceu em Paris, em 28 de Setembro de 1934.
Conhecida mundialmente, foi símbolo sexual nos anos 1950 e 1960.
Brigitte Bardot alcançou popularidade internacional no final da década de 1950
Fonte da imagem: http://ilarge.listal.com/image/1173999/936full-brigitte-bardot.jpg
Brigitte Bardot, com ficou conhecido, se tornou mundialmente conhecida em
1957, após protagonizar em 1956 o filme “Et Dieu… Créa la Femme”,
produzido pelo seu marido, Roger Vadim.
Atuou em mais de 50 filmes, entre eles, “Les bijoutiers du clair de lune”
(1958), “Vie privée” (1962), “Le mépris” (1963), “Dear Brigitte” (1965), “Viva
María!” (1965), “Histoires Extraordinaires” (1968), “Les Femmes” (1969),
“Les Novices” (1971) e “Don Juan ou Si Don Juan était une Femme” (1973).
Em 1973, deixa a carreira de atriz e torna-se ativista pelos direitos dos animais.
Mesmo sem ganhar grandes prêmios no cinema, Bardot era uma das poucas
atrizes não americanas que recebiam atenção da imprensa norte-americana. Seu
estilo natural e seus longos cabelos loiros – e seu famoso penteado “bolo de
noiva” – influenciou o estilo das mulheres na década de 1960.
Estátua de Brigitte Bardot em Búzios, Rio de Janeiro
Fonte da imagem: media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/01/6d/eb/6b/brigitte-bardotstatue.jpg
Claude Henri Jean Chabrol (1930 -2010) foi diretor, produtor, ator e roteirista
do cinema francês. Ele integrou a revista Cahiers du Cinéma e inaugurou a
Nouvelle Vague. Realizou vários filmes, entre eles, “Les Cousins” (1950), “La
Femme Infidèle” (1969), “Le Boucher” (1970), “La Décade Prodigieuse”
(1971), “Les Innocents Aux Mains Sales” (1975), “Violette Nozière” (1978),
“Une Affaire de Femmes” (1989), “Madame Bovary” (1991), “La Cérémonie”
(1995), “Merci Pour Le Chocolate” (2000) e “La Fille Coupée En Deux”
(2007).
Gérard Xavier Marcel Depardieu, nascido em Châteauroux, em 27 de
dezembro de 1948, é o maior nome do cinema francês atualmente. Contudo,
renunciou sua nacionalidade francesa em 2012 e em janeiro deste ano foi
naturalizado Russo, atribuída pelo presidente Vladimir Putin.
Gérard Depardieu, ganhador do Oscar de melhor ator estrangeiro em 1990
Fonte da imagem: http://www.thatfilmguy.net/wp-content/uploads/2012/01/GerardDepardieu.jpg
Sua estreia no cinema foi em 1965, no curta-metragem “Le Beatnik et le Minet”.
Em 1990, ganhou o Óscar de melhor ator estrangeiro, pela atuação em
“Cyrano de Bergerac”, dirigido por ele mesmo. Participou de diversos filmes,
tanto no cinema francês quanto no cinema internacional. Seus grandes sucessos
de atuação internacional foram em “1492: Conquest of Paradise” (1992), “My
Father the Hero” (1994), “Bogus” (1996); “The Man in the Iron Mask” (1998),
“Astérix et Obélix contre César” (1999), “102 Dalmatians” (2000) e “Astérix
et Obélix: Mission Cléopâtre” (2002).
Mais sobre o cinema francês
Os 10 filmes exibidos pelos Irmãos Lumière
www.institut-lumiere.org/francais/films/1seance/accueil.html
Chegada do trem a Cariot (1985), Irmãos Lumière
www.youtube.com/watch?v=1dgLEDdFddk
A Lua a um metro (1898), Georges Méliès
www.youtube.com/watch?v=0IE6GFvuoQ0
Viagem para a Lua (1902), Georges Méliès
www.youtube.com/watch?v=7JDaOOw0MEE#t=279
20 filmes franceses inesquecíveis
www.adorocinema.com/materias-especiais/filmes/arquivo-100089
Palavras-chave
Cinema, França, Lumière, Méliès, Cannes, Brigitte Bardot, Gérard Depardieu.
Referências
Cahiers du Cinéma
www.cahiersducinema.com
Cine France
www.cinefrance.com.br
Wikipédia
www.en.wikipedia.org
IMDb
http://www.imdb.com
Adoro Cinema
www.adorocinema.com