1 - aprendizagem e desenvolvimento em vygotsky
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APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO EM VYGOTSKY Termisia Rocha RESUMO O presente estudo teve como objetivo discutir e enumerar as relações entre a aprendizagem e o desenvolvimento propostas por Lev Vygotsky contidas principalmente em seu trabalho “Aprendizagem e Desenvolvimento em Idade Escolar”. Para tanto, listamos e comentamos as três categorias de teorias que se propuseram a analisar a problemática da relação entre aprendizagem e desenvolvimento, sendo elas: a teoria Piagetiana, a teoria defendida primeiramente por W.James e a terceira conhecida como teoria gestaltista. Neste trabalho Vygotsky propõe que se esqueça essas três categorias citadas e que se busque outra que melhor solucione o problema, temos então a apresentação das idéias do autor que giram em torno da aprendizagem e desenvolvimento geral e as características especificas dessa inter-relação. A partir daí apresentamos os níveis de desenvolvimento denominados como nível de desenvolvimento efetivo e área de desenvolvimento potencial. Por fim com base nas alegações e afirmações de Vygotsky citamos qual seria a função da escola que busca potencializar o desenvolvimento e aprendizagem das crianças em idade escolar. PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem; Desenvolvimento; Vygotsky. 1 2 LEARNING AND DEVELOPMENT IN VYGOTSKY SUMMARY The present study aimed to discuss and enumerate the relationships between learning and development proposed by Lev Vygotsky contained primarily in his work "Learning and Development in School Age." To this end, we list and comment the three categories of theories that sought to examine the issue of the relationship between learning and development, namely: Piagetian theory, the theory advocated by W.James first and third known as Gestalt theory. This paper proposes that Vygotsky forget these three categories mentioned above and another that seeks to better solve the problem, then we have the author's presentation of ideas that revolve around learning and development of general and specific characteristics of this relationship. From there we present the levels of development known as the level of actual development and potential development area. Finally based on the allegations and claims of Vygotsky quoted what the function of the school that seeks to enhance development and learning of school children. KEYWORDS: Learning, Development, Vygotsky 3 Introdução O processo de aprendizagem, o desenvolvimento e o ensino, sempre se mostraram relevantes na teoria e nos escritos de Lev Vygotsky (1896-1934) para ele o entendimento da intrínseca relação entre instrução escolar e desenvolvimento cognitivo é um dos passos para se adentrar ao cerne da questão desenvolvimental. Pode-se comparar essa ação ao encontrar o elo perdido de grandioso problema, vez que a resolução desse aspecto lançaria luz sobre a escolha de teorias e técnicas que melhor se adequassem ao uso coerente de estratégias, cujo objetivo primeiro seria o de facultar o desenvolvimento das crianças em idade escolar de maneira exitosa. Para Vygotsky, a história da sociedade e o desenvolvimento do homem estão totalmente conectados, de maneira que não seria possível separá-los. A forma como os adultos tentam transmitir para as crianças os seus modos, seus pensamentos, suas experiências e sua cultura, demonstram que desde tenra idade as crianças mantêm constante interação com os adultos, em conseqüência disso os processos cognitivos e psicológicos mais complexos vão tomando forma, no início são chamados de interpsíquicos, ou seja, partilhados no contato com os adultos ou com as outras pessoas e na medida que a criança vai crescendo os processos acabam por tornar-se intrapsíquicos. Sobre isso Vygotsky (1978) explica que: Cada função no desenvolvimento cultural de uma criança aparece duas vezes: primeiro no nível social e mais tarde, no nível individual, primeiro entre pessoas (interpsicológico) e depois dentro da criança (intrapsicológico). Isso se aplica igualmente a toda atenção voluntária, à memória, à formação de conceitos. Todas as ações mentais superiores se originam como relações reais entre pessoas. (VYGOTSKY, 1978, p.57). As idéias apresentadas por Vygotsky contestaram algumas das teorias mais difundidas sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizagem na criança que estavam em vigor e espalhadas sobre todos os campos de estudo de sua época, principalmente nas áreas da Psicologia e na Educação. De acordo com ele haviam três concepções teóricas diferentes, ele esquematizou-as em três categorias fundamentais e distintas. As Teorias contestadas por Vygotsky A primeira concepção teórica descrita pelo autor “parte do pressuposto da independência do processo de desenvolvimento e do processo de aprendizagem”. (VYGOTSKY, 2010, p.103). Exemplificando essa teoria temos a tão conhecida concepção de Jean Piaget mostrando que os processos de desenvolvimento 4 independem da aprendizagem, nessa perspectiva a capacidade de raciocínio e a inteligência da criança são considerados processos autônomos, que de modo algum, são influenciados pela aprendizagem escolar. Sintetizando o raciocínio proposto, podemos descrever essa teoria como sendo a precursora de uma separação eterna entre o processo de aprendizagem e o do desenvolvimento, com base nesse preceito bastaria que a criança estivesse pronta, madura e então ela teria condições de aprender ou de desenvolver-se. Na concepção Piagetiana o mais importante eram os métodos utilizados e não as técnicas empregadas para se estudar o desenvolvimento mental da criança. Nessa linha de desenvolvimento a criança deve atingir uma determinada etapa, com a maturação de algumas funções e só depois disso a escola poderia fazer a criança adquirir determinados conhecimentos e hábitos. Sendo assim, de acordo com essa maneira de pensar, podemos afirmar que para Piaget, o desenvolvimento sempre se antecipa à aprendizagem. Vygotsky (2010), ao referir-se a essa teoria afirma que “o aprendizado é considerado um processo puramente externo que não está envolvido ativamente no desenvolvimento. Ele simplesmente se utilizaria dos avanços do desenvolvimento ao invés de fornecer um impulso para modificar seu curso”. (VYGOTSKY, 2010, p. 103). Na realidade, semelhante teoria não permite sequer colocar o problema do papel que podem desempenhar, no desenvolvimento, a aprendizagem e a maturação das funções ativadas no curso da aprendizagem (VYGOTSKY, 2010, p.104). Outro exemplo que traduz essa posição é citado por Vygotsky (2011), quando ele afirma que: Um dos aspectos mais típicos desta escola de pensamento consiste nas tentativas que levou a cabo para separar cuidadosamente os produtos do desenvolvimento dos da instrução, pressupondo que assim poderia isolá-los na sua forma pura. Nenhum investigador o conseguiu até hoje. Geralmente atribuem-se as culpas destes fracassos à inadequação dos métodos, compensando-se os mesmos fracassos com um redobrar das análises especulativas. Estes esforços para dividir o equipamento intelectual das crianças em duas categorias podem ir a par com a noção de que o desenvolvimento pode seguir o seu curso normal e atingir um nível elevado sem o concurso da instrução — e que até as crianças que nunca foram à escola podem desenvolver as formas de pensamento mais elevadas e acessíveis aos seres humanos. (VYGOTSKY, 2011, p.93). A segunda categoria de soluções propostas para os problemas que envolvem aprendizagem e desenvolvimento pauta-se na tese de que aprendizagem é desenvolvimento, ou seja, existe um entrelaçamento desses dois aspectos. Essa teoria foi primeiramente exposta por W. James e nela admite-se tanto a existência 5 do desenvolvimento quanto da aprendizagem e se estabelece uma relação de dependência entre eles, um estaria condicionado ao outro. Este pensamento está em oposição ao primeiro tendo em vista que naquele haveria uma separação vital entre os dois precursores: desenvolvimento e aprendizagem. Exemplificando podemos dizer que se fosse possível traçar uma linha, tanto aprendizagem como desenvolvimento estariam no mesmo nível, ou seja, se fosse estabelecido grau de importância todos dois receberiam o mesmo tratamento. Para Vygotsky (2010) olhando com mais atenção e rigor percebe-se que: Um exame mais profundo desse segundo grupo de soluções demonstra que, apesar de suas aparentes contradições, os dois pontos de vista têm em comum muitos conceitos fundamentais e na realidade se assemelham muito. Segundo W. James “a educação pode ser definida como a organização de hábitos de comportamento e de inclinação para as ações”. Também o desenvolvimento vê-se reduzido a uma simples acumulação de reações. Toda reação adquirida – diz James – é quase sempre uma forma mais completa da reação inata que determinado objeto tendia inicialmente a suscitar, ou então é um substituto dessa reação inata. Para James, o indivíduo é simplesmente um conjunto vivo de hábitos. (VYGOTSKY, 2010, p.105). Como crítica a essa teoria Vygotsky (2010) aponta a existência de uma espécie de paralelo entre o desenvolvimento e a aprendizagem, que acarretaria um movimento de constante sobrepor de um sobre o outro, o problema nesse caso seria então compreender qual processo acontece primeiro e o que decorre deste, mas, para essa teoria tudo estaria sincronizado e acontecendo simultaneamente. Em não havendo separação, seria por demais complexo entender e estudar cada parte. Então, para Vygotsky (2011) ao percebermos as coisas assim, somos levados a concluir que dessa forma “se vê o desenvolvimento intelectual da criança como uma acumulação gradual de reflexos condicionados; a aprendizagem é vista precisamente da mesma forma. Como a instrução e o desenvolvimento são idênticos não se levanta sequer a questão da relação existente entre ambos”. Para o autor essa problemática poria em questão esse grupo de teorias (VYGOTSKY, 2011, p.95). Um terceiro grupo de teorias objetivou juntar as duas anteriores, na mesma medida em que almejou estar acima delas. Nesta abordagem, o processo de aprendizagem está apontado como independente do desenvolvimento, embora coincida com ele. Foram introduzidos aspectos inéditos, como a tentativa de conciliação dos pontos de vista anteriores e a consideração da questão da interdependência entre desenvolvimento e aprendizagem, destacando ainda o papel da aprendizagem no desenvolvimento da criança. (VYGOTSKY, 2011, p.95) 6 Sintetizando essa performance do terceiro grupo, Vygotsky (2011) comenta que “a terceira escola de pensamento, representada pela teoria gestaltista, tenta reconciliar as duas anteriores teorias, evitando as suas fraquezas. Embora este ecletismo tenha como resultado uma abordagem algo inconsistente, consegue com isto uma certa síntese entre os dois pontos de vista opostos. Nesse sentido percebemos uma busca por unicidade, já que as teorias anteriores deixavam margem para muitos questionamentos. Essa corrente ficou conhecida pelos estudos de Koffka e está sintetizado por Vygotsky (2010) como sendo uma linha de abordagem segundo a qual: [...] o desenvolvimento mental da criança caracteriza-se por dois processos, que embora conexos, são de natureza diferente e condicionam-se reciprocamente. Por um lado está a maturação, que depende diretamente do desenvolvimento do sistema nervoso, e por outro lado a aprendizagem que segundo Koffka, é em si mesma o aprendizado. (VYGOTSKY, 2010, p. 106). A teoria de Koffka como já dissemos, carrega consigo aspectos congruentes com as outras categorias já mencionadas e seu ponto diferencial e o mais importante de acordo com Vygotsky é a ampliação do papel da aprendizagem no desenvolvimento. No entanto, esse fato nos envia diretamente a um problema pedagógico, o problema da disciplina formal. Esta prática provocou um conservadorismo exagerado, porque partia do pressuposto de que é imprescindível ensinar nas escolas disciplinas tais como as línguas clássicas ou as matemáticas, uma vez que, presumia-se que elas desempenhavam papel importante no desenvolvimento mental da criança. Para comprovar essa teoria basta observar os currículos escolares e notar que essa interpretação acabou por inchar as escolas com conteúdos e mais conteúdos formais. O interessante é que justamente em oposição a esse conservadorismo surgiram as teorias da segunda categoria estudada, buscando compreender a aprendizagem como algo autônomo e não como meio para o desenvolvimento da criança. Desprezar esse aspecto é o mesmo que crer que a disciplina formal é exclusivamente responsável e necessária ao desenvolvimento das aptidões mentais. A derrocada dessa vertente aconteceu com estudos que comprovaram que as disciplinas formais possuíam uma influência mínima no desenvolvimento, mesmo quando o estudo especial ou particular de uma atividade fosse semelhante ao de outra. Para Vygotsky (2010) “as faculdades intelectuais atuariam independentemente da matéria sobre a qual operam, e o desenvolvimento de uma 7 destas faculdades levaria necessariamente ao desenvolvimento de outras” (VYGOTSKY, 2010, p.107). Logo, para o autor, a terceira categoria não resolveu a questão do desenvolvimento e da aprendizagem e em contrapartida contribuiu para torná-la mais opaca, por isso Vygotsky propõe que se esqueça as três categorias citadas e busca por uma outra que melhor solucione o problema. Nessa busca por comprovações e respostas o autor realiza algumas experiências e de agora em diante iremos nos ater em sintetizá-las. Em busca de outras categorias: aprendizagem e desenvolvimento em geral e as características específicas dessa inter-relação É fundamental destacar a assertiva de Vygotsky (2010) ao dizer que “a aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar”, para ele nenhuma criança entra em uma escola e parte do nada, como se fosse uma tábua rasa, oca, sem preenchimento algum, ao contrário, ela traz uma história, algo que vem antes e que pode ou não ter continuidade. Sendo assim, a aprendizagem não necessariamente inicia-se na idade escolar, para o autor existe uma diferença substancial entre o que é produzido em termos de aprendizagem antes da criança estar na idade escolar e o que ela adquire durante sua estada nas instituições escolares. Portanto, aprendizagem e desenvolvimento não entram em contato pela primeira vez na idade escolar, eles estão ligados entre si desde os primeiros dias de vida da criança. (VYGOTSKY, 2010, p.111). Tentando desmistificar a problemática o autor propõem em seus estudos que se analise duas vertentes da questão, sendo elas: a relação entre aprendizagem e desenvolvimento geral e depois as características específicas desta inter-relação na idade escolar. Sobre as características específicas o autor argumenta que sem dúvida nenhuma a aprendizagem deve estar coerente com o nível de desenvolvimento da criança, logo, existe uma relação entre os níveis de desenvolvimento e a capacidade potencial de aprendizagem da criança. Isso nos conduz a outra afirmação: não existe um único nível de desenvolvimento e Vygotsky estudou-os escalonando-os em dois. O primeiro nível ele chamou de desenvolvimento efetivo da criança, devemos entender por isso “o nível de desenvolvimento das funções psicointelectuais da 8 criança que se conseguiu como resultado de um específico processo de desenvolvimento já realizado”.(VYGOTSKY, 2010, p.111). Ao segundo nível o autor chamou de área de desenvolvimento potencial, esse é um dos pontos mais polêmicos e discutidos dos seus escritos. Na teoria Vygotskyana são apresentadas proposições que afirmam que o desenvolvimento apresenta uma gênese social, isto é, se dá de fora para dentro, destacando a influência da cultura nesse processo. Para Vygotsky, a aprendizagem e o desenvolvimento não são processos únicos e nem independentes, o autor atribui valor à aprendizagem somente quando ela mesma é uma fonte de desenvolvimento. Newman e Holsman (2002) transcrevem o pensamento de Vygotsky (1987) ao afirmarem que: Em vez disso, a unidade, aprendizagem-e-desenvolvimento tem complexas inter-relações que são objeto de sua investigação (1987:201) De que modo a aprendizagem traz à tona o desenvolvimento? A resposta reside na zona de desenvolvimento proximal. “A aprendizagem é útil quando se move à frente do desenvolvimento. Ao fazê-lo ela impele ou desperta toda uma série de funções que estão em fase de maturação, repousando na zona de desenvolvimento proximal (1987: 212). Além disso a aprendizagem seria completamente desnecessária se simplesmente utilizasse o que já amadureceu no processo de desenvolvimento, se não fosse ela mesma uma fonte de desenvolvimento.(NEWMAN e HOLSMAN, 2002, p.76). Daí concluímos que um conceito fundamental para a compreensão do progresso cognitivo humano em Vygotsky (1984) é a área de desenvolvimento potencial. Este se refere ao percurso que faz um indivíduo para desenvolver funções que se encontram em processo de amadurecimento e que mais adiante se tornarão funções consolidadas, estabelecendo assim o nível de desenvolvimento real do indivíduo. Por exemplo, num dado momento, para executar uma atividade, uma criança pode necessitar do auxílio de um adulto ou de uma criança mais velha (habilidade situada em uma zona de desenvolvimento proximal), mas no futuro a criança será capaz de realizar a tarefa sozinha (habilidade situada em uma zona de desenvolvimento real). “A área de desenvolvimento potencial permite-nos, pois, determinar os futuros passos da criança e a dinâmica do seu desenvolvimento e examinar não só o que produziu, mas também o que produzirá no seu processo de maturação”. (VYGOTSKY, 2010, p.113). Então, o estado do desenvolvimento mental da criança só pode ser determinado ou medido, quando se tem como referência no mínimo dois níveis, sejam eles o desenvolvimento efetivo e a área de desenvolvimento potencial. Essa constatação estremeceu todas as teorias em vigor, alterando a tradicional 9 concepção pedagógica vigente, que ditava que o ensino deveria orientar-se tendo como suporte o desenvolvimento já produzido, na etapa já superada. Para exemplificar um aspecto negativo desse ponto de vista Vygotsky, citou o caso de crianças que tem pouco pensamento abstrato e seus professores convictos de estarem agindo corretamente decidem ensiná-las utilizando exclusivamente meios visuais. A adoção dessa espécie de estudo revelou-se insatisfatória, pois provou que a exclusividade do ensino visual em nada respeita o pensamento abstrato e ainda confirma essa incapacidade na criança, pois ao insistir no visual elimina todos os germes do pensamento abstrato na criança. Função da escola Diante da constatação acima, Vygotsky (2010) esclarece que a função da escola consiste em direcionar a criança a alcançar o que lhe falta e não relegá-la ao abandono e presa a um universo específico. Um ensino que esteja orientado até uma etapa de desenvolvimento que já foi efetivado é ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento geral da criança, porque dessa forma o ensino não está dirigindo o processo e sim indo atrás dele. Tomando como base a teoria do desenvolvimento potencial e seu contraste com a pedagogia tradicional, o autor afirma que “o único bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento”. (VYGOTSKY, 2010, p.115). Para ele: A aprendizagem não é em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se em aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas características humanas nãonaturais, mas formadas historicamente. (VYGOTSKY, 2010, p.115). Quando se relaciona a aprendizagem do adulto e da criança é ainda mais perceptível a o papel da aprendizagem como fonte de desenvolvimento ou como zona de desenvolvimento potencial. Nesse ponto Vygotsky contesta afirmações que diziam não haver diferença substancial entre as duas e que um mecanismo caracterizaria a formação de hábitos tanto em crianças quanto nos adultos, com a diferença de que nas crianças ela é mais fácil e veloz. Na visão Vigostyana (VYGOTSKY, 2010, p.116) reside aí um problema e para explicá-lo o autor apresenta a seguinte questão: o que tem de diferente entre 10 aprender a escrever a máquina na idade adulta, do processo que se dá na idade escolar quando se aprende a língua escrita? Para Vygotsky (2010) “a diferença essencial consiste nas diversas relações destas aprendizagens com o processo de desenvolvimento”. O exercício de aprender a usar a máquina estabelece conexão com um certo número de hábitos, que por si só, não podem alterar a as características psicointelectuais do homem. Para o autor uma aprendizagem como essa aproveita um desenvolvimento já elaborado e completo o que contribui muito pouco para a formação geral. No entanto, no aprendizado da língua escrita ocorre a ativação de uma fase de desenvolvimento de processos psicointelectuais novos e complexos. Talízina (2000) corrobora com esse pensamento ao dizer que “el desarollo se caracteriza antes que nada, por la formaciones nuevas, por los câmbios cualitativos en la vida psíquica del hombre. (TALIZINA, 2000, p.307). O aparecer destes processos novos originam uma mudança ampla e radical das características gerais, psicointelectuais da criança, da mesma forma que aprender a falar marca uma etapa fundamental na passagem da infância para a puerícia. (VYGOTSKY, 2010, p.116). CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao focalizar a relação entre aprendizagem e desenvolvimento, Vygotsky (2010) alcançou algumas conclusões e dentre elas podemos citar que a aprendizagem escolar orienta e estimula processos internos de desenvolvimento. Sendo assim, o mais árduo e indicado para uma ação de análise do processo educativo ampara-se na tarefa de descobrir o aparecimento e o desaparecimento dessas linhas internas de desenvolvimento no momento em que se verificam, durante a aprendizagem escolar. Então pode-se concluir que “o processo de desenvolvimento não coincide com o da aprendizagem, o processo de desenvolvimento segue o da aprendizagem, que cria a área de desenvolvimento potencial” (VYGOTSKY, 2010, P.116). Uma segunda conclusão que podemos chegar é a de que a aprendizagem e o desenvolvimento da criança não estão paralelos e simultâneos, como pregaram alguns teóricos, existe sim uma dependência que pode ser encarada por nós como complexa demais para almejarmos adentrar no seu âmago. Sobre a função da escola, podemos destacar que com base nas afirmações sobre as disciplinas formais, cabe aos gestores e às instituições analisarem com cautela essa questão. 11 Não se nega que cada matéria ou disciplina tenha sua importância no processo desenvolvimental da criança, mas há que se compreender e avaliar a importância de cada uma no papel psicointelectual geral da criança, como nos adverte Vygotsky (2010). Outro ponto para o qual Vygotsky chama a atenção é a existência de um arcabouço histórico que precede cada situação de aprendizagem, ou seja, a criança em idade escolar já possui uma aritmética ou uma geometria não sendo portanto uma vasilha oca na qual o professor irá depositar todo o conhecimento que ele tem sobre determinado assunto, isso há que ser levado em conta na hora de planejar os conteúdos e as metodologias que cada professor irá utilizar em suas aulas. Finalizando, podemos dizer que a escola, como espaço privilegiado, deve organizar-se para que todos que nela estão inseridos trabalhem no sentido de compreender que a aprendizagem não é desenvolvimento. Um dos objetivos da escola deve ser o de oferecer ao aluno situações de experiências que o oportunizem realizar aprendizagens. Para tanto, os pressupostos teóricos de Vygotsky, aqui apresentados, reafirmam a importância das inter-relações entre professor/aluno; aluno/aluno; desenvolver/aprender, para a abertura de novos caminhos de aprendizagem e desenvolvimento. 12 REFERÊNCIAS NEWMAN, Fred; HOLZMAN, Lois. Lev Vygotsky Cientista Revolucionário. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p.76. TALÍZINA, Nina F. La enseñanza y el desarrollo. Cap. XIV. Manual de psicologia pedagógica. Facultad de Psicología. Universidad Autónoma de San Luis Potosí, 2000, p.307. VYGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. (Org.). Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1978, p. 57. VYGOTSKY, Lev. S. Aprendizagem e desenvolvimento na Idade Escolar. In: Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Vigostky, L. Luria, A. Leontiev, A.N. 11ª. Edição. São Paulo: Ícone, 2010, p. 103-116. VYGOTSKY, Lev. S. O desenvolvimento dos conceitos científicos na infância. Cap. 6. Pensamento e linguagem. 2011, p. 93-95. Versão para eBook eBooksBrasil.com. Disponível em: www.jahr.org. Acesso, 25 de junho de 2011.
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