Sede de quê? - Eletronorte

Transcrição

Sede de quê? - Eletronorte
corrente contínua
ANO XXX - Nº 219 - MARÇO/ABRIL - 2008
A REVISTA DA ELETRONORTE
Uma gota,
um riacho,
um rio,
um lago,
um mar...
A água que corre para nós,
corre o risco de secar
Nos reservatórios hidrelétricos, qualidade e usos múltiplos
Eletronorte
SUMÁRIO
TRANSMISSÃO
Energia de Tucuruí chegará
a Manaus e Macapá
Página 3
ENTREVISTA
Edson Lobão, ministro
de Minas e Energia
Página 28
ENERGIA ATIVA
Página 34
MEIO AMBIENTE
CORRENTE ALTERNADA
Sede de quê? - Página 14
Página 12 e 41
CIRCUITO INTERNO
Qualidade de vida
no trabalho
Página 42
TECNOLOGIA
Soluções bioenergéticas
GERAÇÃO
As custosas termelétricas
Página 22
Página 48
AMAZÔNIA E NÓS
Página 56
CORREIO CONTÍNUO
Página 58
FOTOLEGENDA
Página 59
Conselho Editorial: Diretor-Presidente - Carlos Nascimento - Diretor de Planejamento e
Engenharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone
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da contracapa: Sandro Santana - Tiragem: 10 mil exemplares - Periodicidade: bimestral
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Prêmios 1998/2001/2003
César Fechine
Finalizada em 2006, a Usina Hidrelétrica
Tucuruí continua a sua expansão para garantir o suprimento de energia elétrica ao Sistema Interligado Nacional - SIN. A Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel publicou no
dia 31 de março de 2008 o edital para a licitação da linha de transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus, necessária à interligação energética dos sistemas isolados do extremo norte,
e para diminuir o elevado custo dos parques
termelétricos. A sessão pública de realização
do leilão ocorrerá no dia 27 de junho de 2008,
às 10 h, nas instalações da Bolsa de Valores
do Rio de Janeiro.
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TRANSMISSÃO
Energia de Tucuruí
vai tirar Manaus e
Macapá da dependência
termelétrica
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O projeto da interligação faz parte do Programa de Expansão de Transmissão – PET
2008-2012, elaborado a partir de estudos
de planejamento desenvolvidos pelo Ministério de Minas e Energia, por intermédio da
Empresa de Pesquisa Energética – EPE, que
reúne o conjunto de instalações planejadas
na rede básica e demais instalações de transmissão a serem incorporadas ao SIN.
O PET é desenvolvido em conjunto com as
empresas concessionárias do Setor Elétrico,
com o objetivo de relacionar as obras necessárias à expansão da rede básica, buscando
o atendimento com confiabilidade, segurança
e menor custo.
O projeto do “linhão” Tucuruí-MacapáManaus também integra o Programa de
Aceleração do Crescimento – PAC, criado
pelo Governo Federal para incentivar os investimentos em infra-estrutura, estimular os
setores produtivos e levar benefícios sociais
para todo o Brasil.
Os estudos preliminares sobre a viabilidade da interligação de Tucuruí a Manaus (AM),
contemplando o Estado do Amapá, surgiram
no final da década de 80. Mas somente com
a aprovação do Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Região Amazônica Sustentada, pela Diretoria Executiva da Eletronorte, em abril de 2003, eles prosseguiram. O
Plano deu início aos trabalhos de campo e
à elaboração dos primeiros relatórios sobre a
viabilidade da interligação energética da Hidrelétrica Tucuruí com os sistemas isolados
de Manaus e Macapá.
Os estudos continuaram em 2004, quando foram aprovadas as leis nº. 10.847 e nº.
10.848, que instituíram o novo marco regulatório do Setor Elétrico. A EPE foi efetivamente
constituída em 2005, quando o governo retomou o planejamento e os estudos de expansão dos sistemas elétricos. Em 2007, o projeto do linhão foi retomado e apresentado ao
MME, EPE e Aneel.
As empresas que integram o Grupo Eletrobrás, o Grupo Rede e consultorias contratadas
junto a instituições tais como a Universidade
de Brasília (UnB) foram parceiras dos estudos. “O trabalho foi desenvolvido pela Eletronorte, com contribuições importantes dos
colegas de Furnas, da Chesf e de especialistas de outras instituições e exigiu, sobretudo,
grandes esforços da nossa equipe”, diz João
Neves Teixeira Filho, superintendente de Planejamento de Expansão da Eletronorte.
Viabilidade - Desde então foram desenvolvidos quatro relatórios. O primeiro refere-se
ao estudo de viabilidade técnico-econômico;
o segundo ao detalhamento das alternativas,
que compreende os transitórios eletromagnéticos, curtos-circuitos e condutores econômicos; o terceiro estudo é a caracterização
e análise socioambiental, com dados sobre
o corredor estudado; e o quarto é o relatório
que descreve a rede existente e as necessidades de novas instalações.
Esses quatro relatórios compõem o estudo
de viabilidade da interligação Tucuruí-Macapá-Manaus, que prevê o seguinte: a linha terá
1.472 quilômetros de extensão em tensão de
500 kV, circuito duplo; e 339 quilômetros de
linhas em 230 kV, também em circuito duplo,
que são as derivações para abastecer o Amapá, totalizando 1.811 quilômetros.
A capacidade de transporte da linha é inicialmente de 1.730 MW, podendo ser expandida para 2.530 MW. Isso se deve ao fato de
o estudo prever a utilização da tecnologia da
compensação série, que permitirá um ganho
de 800 MW, o que equivale à construção de
um terceiro circuito sem nenhum impacto
ambiental.
Os investimentos totais previstos para a
implantação da linha são da ordem de R$
3 bilhões. “A linha vai se pagar em pouco
em tensão de 500 kV, e custo de R$ 560,2; e
Itacoatiara-Cariri, em Manaus, com 211 quilômetros e custo de R$ 343,1 milhões, mais as
subestações associadas Itacoatiara e Cariri.
Alternativas - Os cuidados
com a preservação ambiental
e o detalhamento das diversas
alternativas para o traçado da linha foram as principais preocupações dos técnicos envolvidos
com o projeto. Os profissionais
da Eletronorte participaram durante o ano de 2007 de diversas
apresentações e debates sobre o
projeto da linha com a Aneel e
o Operador Nacional do Sistema
Elétrico – ONS. A Aneel contratou
uma consultoria da Universidade de São Paulo – USP, que fez muitas indagações sobre os
estudos. “Esses questionamentos foram todos
respondidos e alguns valores foram agregados
aos estudos, buscando uma convergência de
idéias”, relata João Neves (foto acima).
Nessas reuniões foram esclarecidas questões referentes à travessia do Rio Amazonas, à
tecnologia a ser empregada para essa traves-
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mais de um ano, pois só o custo com combustível fóssil passa de R$ 2 bilhões por ano
nos sistemas Manaus e Macapá, além de o
fornecimento passar a ser feito, predominantemente, com energia limpa e renovável”, explica João Neves.
A licitação do “linhão” ocorrerá em três lotes. O primeiro lote inclui as linhas de transmissão Tucuruí II-Xingu, de Tucuruí a Altamira, no Pará, orçada em R$ 402,4 milhões,
com 264 quilômetros de extensão e tensão de
500 kV. Esse lote inclui também a linha XinguJurupari, na margem esquerda do Rio Amazonas, ao custo de R$ 405,5 milhões, com
257 quilômetros, mais as subestações Xingu
e Jurupari.
O segundo lote será formado pela linha
Jurupari-Oriximiná, no Estado do Amazonas,
com 370 quilômetros de extensão em 500 kV
e investimentos de R$ 560,2 milhões. Este
lote também contempla os trechos JurupariLaranjal, no Amapá, com 95 quilômetros em
230 kV e custo estimado de R$ 76,9 milhões;
Laranjal-Macapá, com 244 quilômetros e custo de R$ 182,7 milhões, além das subestações Oriximiná, Laranjal e Macapá.
O terceiro lote será formado pelas linhas
Oriximiná-Itacoatiara, com 370 quilômetros
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Manaus à esquerda
e Macapá à direita:
potencial
de Tucuruí:
se expande
pela Amazônia
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sia, o porquê do circuito duplo, a contrapartida de geração elétrica em Manaus, a contrapartida de fornecimento de gás em Manaus, o
efetivo a ser considerado, entre outras. Após
os debates, a Aneel entendeu que há de fato
a viabilidade da linha de transmissão e encaminhou o projeto ao Tribunal de Contas da
União – TCU, como de rotina, para uma análise crítica sobre a questão ambiental e sobre a
viabilidade econômica do empreendimento. A
demanda foi deferida pelo Tribunal.
Os custos do estudo de viabilidade da linha
são estimados em R$ 2 milhões, que deverão
ser ressarcidos pelo concessionário que arrematar o empreendimento em leilão.
Além de várias horas de sobrevôos, foram
realizadas análises de mapas cartográficos,
imagens de satélites, que constituem uma
verdadeira radiografia da região, buscando
consistência para se chegar à alternativa menos impactante. “A maioria dos estudos foi
feita em nosso laboratório de geoprocessamento”, informa o geólogo Gustavo Chedid
de Oliveira Lima, da Gerência de Estudos e
Projetos Ambientais para Sistemas de Geração de Energia Elétrica da Eletronorte. Ele
participa desde 2003 dos estudos de caracterização e análise socioambiental.
Os técnicos utilizaram uma matriz em que
foram ponderados os fatores positivos e negativos para o traçado da linha. O que se buscou
foi eliminar as alternativas menos atrativas,
como trechos de corredor sem apoio logístico, que foram descartados. Na Amazônia, há
trechos de floresta em que se percorre centenas de quilômetros sem qualquer estrada e
sem qualquer apoio logístico. Esses desafios,
Seminário debate
implantação da
parcela variável
Observar fatores como a exposição ao risco no gerenciamento de ativos, fazer do gerenciamento da manutenção uma estratégia empresarial e procurar a eficiência da logística de manutenção e a disponibilidade de
equipamentos na melhoria do desempenho do sistema
elétrico. Essas são algumas das constatações do Seminário Internacional de Gerenciamento de Ativos, Manutenção da Transmissão e Desempenho do Sistema Elétrico – Sigamt, realizado em Brasília, sob a coordenação
da Eletronorte.
O evento reuniu mais de 300 profissionais de empresas públicas e privadas do Setor Elétrico, órgãos reguladores, centros de pesquisas, universidades, fabricantes
e representantes de diversas instituições da América
do Sul, propiciando o intercâmbio de informações. “As
experiências apresentadas vão ajudar as empresas a
buscar melhorias na gestão dos seus processos empresariais e na operação e manutenção”, afirmou Josias
Matos de Araújo, superintendente de Engenharia de
todavia, foram contornados com o aprofundamento dos estudos.
Inicialmente foram consideradas seis alternativas para o traçado da linha. O tipo
de vegetação e o uso do solo foram pontos
relevantes na definição das alternativas. Por
exemplo, se havia uma alternativa em que a
linha se confrontava com a floresta ou com
várzea, e outra em que havia pasto ou capoeira, a opção era sempre pela última.
Corredor de estudo - A prioridade do traçado
foi dada às áreas em que havia estradas ou zonas urbanas. “Sempre que possível, foi colocada como diretriz preferencial que o traçado da
linha de transmissão passasse próximo a estradas, cidades, portos e seguisse o contorno dos
grandes rios, onde balsas possam chegar com
equipamentos pesados”, informa Gustavo.
Quando se observava a interferência em
áreas legalmente protegidas, tais como terras
indígenas e unidades de conservação, buscava-se alterar o traçado.
Os fatores constantes da matriz que balizou os estudos também foram considerados
para se fazer os desvios necessários e, nos
trechos de florestas densas, está prevista a
utilização de torres alteadas e de helicópteros
durante a etapa construtiva. “Eu diria hoje
que essa alternativa é inquestionável, porque
nós observamos os aspectos econômico, téc-
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Operação e Manutenção da Transmissão da Eletronorte
e coordenador-geral do Sigamt.
O tema recorrente entre os palestrantes foi a implantação da Resolução nº 270 da Aneel, que trata da
chamada Parcela Variável, a ser efetivamente adotada
a partir de junho de 2008. A Parcela estabelece as disposições relativas à qualidade do serviço prestado pelas
empresas de transmissão, associada à disponibilidade
das instalações integrantes da rede básica. A preocupação com os impactos da resolução mobiliza as empresas do Setor Elétrico.
Durante o evento, o diretor de Produção e
Comercialização da Eletronorte, Wady Charone,
defendeu no evento o gerenciamento estratégico da manutenção da transmissão para superar
os desafios. “Eu diria que, agora, nós estamos
encarando algo muito importante: quais são os
nossos riscos? Temos um cenário no Setor Elétrico que impõe novas regras e mudanças, tais
como a parcela variável. E temos que investir na
mudança de comportamento, de cultura”, disse.
A Parcela Variável, conforme explica Josias, foi
um dos temas motivadores do evento. “Sempre
que um equipamento ficar indisponível, a empresa será penalizada. Então, nós queremos compartilhar experiências com outras empresas de
transmissão para juntos melhorarmos as nossas práticas e os
nossos resultados.”
Roberto Gomes, diretor de Administração do Serviço de
Transmissão do Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS
ressalta que, com a vigência da Resolução, as empresas precisarão aumentar os investimentos na engenharia de manutenção
e nas técnicas de monitoramento e prevenção. “O que nos interessa é trabalhar para que o sistema não caia. A meta ideal é
trabalharmos com uma disponibilidade de 100%. Não queremos penalizar o transmissor. O que precisamos, todos, é prestar
um serviço adequado para a sociedade brasileira”, esclarece.
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corrente contínua
nico, mas, sobretudo a questão ambiental”,
reforça João Neves.
Os investimentos previstos para mitigar
os impactos ambientais e preservar o meio
ambiente na implantação do “linhão” são da
ordem de R$ 190 milhões, incluídos os custos de implantação de infra-estrutura e outros
necessários para minimizar esses impactos.
O relatório de caracterização ambiental
considerou um corredor de estudo com 20
quilômetros de largura, o que possibilita uma
análise detalhada e uma representação numa
escala adequada das grandezas da Amazônia. A diretriz da linha será planejada dentro
desse corredor de estudo e o licenciamento
ambiental deverá ser feito pelos concessionários vencedores dos leilões.
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Travessia - Um dos pontos fundamentais
nos estudos diz respeito à travessia dos rios
da Amazônia. Há determinados pontos em
que o Rio Amazonas tem até dez quilômetros de largura, mas há pontos mais estreitos,
com ilhas no meio. A alternativa contemplada
no projeto do “linhão” prevê a travessia pela
Ilha de Jurupari, próximo à foz do Rio Xingu,
à margem esquerda do Amazonas. Neste trecho, há um vão de 1,6 mil metros até a Ilha. A
linha passará por ela, alcançando a margem
esquerda do Amazonas após uma travessia
de dois mil metros.
A alternativa prevista no projeto considerou também a densidade de circuitos por extensão de corredor. No futuro, com a exploração de outros potenciais energéticos, há a
probabilidade de se acrescentar um terceiro
circuito à linha, usando o mesmo corredor
de estudo e diminuir a extensão da área de
servidão, evitando desmatamentos ou cortes
seletivos.
Os investimentos necessários para as travessias dos rios são estimados em R$ 150
milhões. Além do Amazonas, destaca-se a
necessidade de outras grandes travessias,
tais como as dos rios Trombetas e Uatumã.
No Rio Trombetas, a travessia também será
feita por meio de uma ilha com dois vãos de
950 metros e quase 1,2 mil metros. Já a distância a ser vencida no Rio Uatumã é de cerca de 2,2 mil metros.
O estudo prevê que as travessias serão feitas ponto a ponto, com um vão único de uma
margem a outra. Neste caso, as torres poderão alcançar cerca de 220 metros de altura
– equivalente a um prédio com 73 andares,
com o objetivo de permitir a navegação plena
nos rios.
Mas há outra alternativa, conforme foi feito
pela Eletronorte há 23 anos no Rio Guamá,
na linha que sai de Vila do Conde para Belém. São 1,8 mil metros de travessia, feita
com uma torre intermediária dentro do leito
do rio. Hoje, com as tecnologias modernas de
ligas de alumínio e cabos flexíveis, é possível projetar linhas de transmissão com vãos
ainda maiores. “Por exemplo, se houver um
vão de dois mil metros, pode-se usar duas
torres intermediárias a 500 metros de cada
uma das margens, encurtando o vão principal para cerca de mil metros”, opina Neves.
Regionalização - Outro aspecto levantado
nos estudos é a chamada regionalização, que
vai consumir recursos da ordem de R$ 180
milhões. Esses são os custos adicionais para
se instalar os equipamentos e a infra-estrutura da linha na região amazônica. Ou seja,
apesar de utilizar o que já existe na região,
sempre é preciso fazer algumas estradas, estruturas de portos, aeroportos, pequenas vilas e pequenos hospitais, que ficarão para as
comunidades. São investimentos que estão
embutidos no custo da obra, comenta João
Neves, mas que serão transformados em benefício para a Amazônia.
Nos estudos houve também grande preocupação dos especialistas com os aspectos
socioeconômicos e de se fazer a interligação
de modo sustentado. Será criada toda uma
infra-estrutura na região que passa por Altamira, pelo Rio Xingu, pela Ilha Jurupari e
desce pela margem esquerda do Amazonas,
na região chamada de Calha Norte, passando
por Almeirim, Alenquer, Monte Alegre, Oriximiná, Faro, Itacoatiara e Manaus.
A previsão é que a interligação ocorra no
final de 2011. A carga prevista para Manaus
e o Amapá naquele ano será de 1,6 mil MW.
A geração da região, considerando o gás natural e a conversão das máquinas térmicas,
é estimada em cerca de 800 MW. Mesmo
que seja implantada uma nova planta de ciclo combinado de 240 MW, ainda haveria um
déficit da ordem de 600 MW, que só poderia
ser atendido com combustível fóssil.
Com a entrada em operação da interligação, grande parte dos sistemas isolados da
Região Norte estará conectada ao SIN, per-
corrente contínua
Para
atravessar
os rios, ilhas
e elevados
serão usados
na instalação
das torres
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mitindo a substituição da energia gerada pela
queima de combustíveis fósseis por energia
de origem principalmente hidráulica, de menor custo e limpa.
A interligação dos estados do Amazonas,
Amapá e oeste do Pará vai gerar uma economia para o País com a redução da Conta
de Consumo de Combustíveis -CCC dos sistemas isolados em cerca de R$ 2 bilhões por
ano em valores de hoje, pois a queima de
combustível líquido será 100% superada. A
CCC é um encargo setorial arcado por todos
os consumidores brasileiros, cuja destinação
é subsidiar a geração termelétrica nos sistemas isolados da Região Norte. (ver matéria
na página 22)
A eliminação do consumo de combustível fóssil vai corresponder a cerca de três
milhões de toneladas de carbono que serão
seqüestrados da atmosfera. Com o preço
colocado hoje no mercado internacional em
cerca de 20 euros por tonelada de carbono, o
concessionário que vencer a licitação poderá
obter recursos com a negociação de créditos
de carbono estimados em cerca de R$ 150
milhões por ano.
A linha cria também uma sinergia com outros aproveitamentos e potenciais da Amazônia, sem muitos custos adicionais. O poten-
cial remanescente de geração de energia na
região amazônica é estimado hoje em cerca
de 100 mil MW. Apenas o aproveitamento de
Belo Monte, no Rio Xingu, chega a 11 mil
MW. O potencial do Rio Tapajós é estimado
em nove mil MW. Cachoeira Porteira no Rio
Trombetas pode gerar 1,4 mil MW e há vários
outros aproveitamentos na região. “A sinergia
de que falamos é que a linha vai passar próxima a esses sítios e não haverá a necessidade
de se implantar nem um quilômetro de linha
a mais”, declara João Neves.
Isso sem falar do grande potencial mineral
da região. A mineração Rio do Norte, por exemplo, instalada próximo a Oriximiná, no Amazonas, faz a exploração de bauxita e transporta
o minério para o Maranhão e a África, onde
faz a transformação de alumina em alumínio,
pois falta o insumo básico que é a energia. A
demanda para que a transformação ocorra no
Amazonas é da ordem de 480 MW.
Trata-se, enfim, de um projeto estruturante, visto por muitos técnicos do Setor Elétrico
como uma espécie de coluna vertebral para
o desenvolvimento sustentado da Amazônia,
permitindo que as gerações futuras possam
usufruir de melhores condições de vida e de
todos os benefícios que esse empreendimento energético possibilitará.
Cerca de 38 empreendimentos constantes do planejamento da expansão da transmissão da Eletronorte serão energizados neste ano. “Cinco empreendimentos foram concluídos até o momento”, informa o
superintendente de Expansão da Transmissão, Carlos
Alberto Pires Rayol (foto abaixo).
Em fevereiro foi energizada a Subestação Santa
Rita, no Amapá, em tensão de 69/13,8 kV, garantindo o suprimento de energia à cidade de Macapá, em
substituição à antiga subestação Macapá I, com investimentos de aproximadamente R$ 16 milhões.
Em março, 29 dias antes do prazo concedido pela
Aneel, foi energizado o segundo autotransformador
230/138/13,8 kV - 100 MVA da subestação Miranda
II, no Maranhão, com seus respectivos equipamentos de conexão, onde foram investidos cerca de R$
11,7 milhões.
Miranda II é muito importante, por ser responsável
pelo suprimento de energia elétrica para o abastecimento de água potável de São Luís. “A colocação
desse equipamento também alivia a carga que existia
sobre outro transformador e promove maior confiabilidade ao sistema, o que se traduz por um serviço com
menor risco de interrupção”, afirma Rayol.
Ainda no primeiro semestre de 2008 serão energizados no Maranhão os transformadores das subestações Peritoró, Porto Franco e Imperatriz, de 100 MVA,
e Presidente Dutra, de 50 MVA, todos com tensão de
230 kV. O investimento em cada um desses empreendimentos é de cerca de R$ 12 milhões.
Como resultado do leilão da Aneel, realizado em
novembro de 2007, já foram iniciados no Maranhão
os trabalhos visando à implantação da linha em 230
kV ente São Luís II e São Luís III e da subestação
São Luís III, com energização prevista para março
de 2009 (seis meses antes da data fixada pela Aneel), com investimentos que totalizam cerca de R$
30 milhões.
Em Mato Grosso o destaque é para o transformador
de 230 kV, de 100 MVA, empreendimento emergencial solicitado pelo Ministério de Minas e Energia que
está sendo implantado pela Eletronorte na subestação Coxipó, em Cuiabá. Esse empreendimento está
sendo executado para suprir a falta de gás da Bolívia,
com data prevista de energização para
o mês de abril de 2008, antecipando o
prazo concedido pela Aneel.
Mais linhas - No Acre foram energizadas a linha de transmissão Rio
Branco I-Epitaciolândia, com 200 quilômetros, e a nova subestação Epitaciolândia, além da ampliação da Rio
Branco. Os investimentos nesses empreendimentos
somam R$ 63 milhões.
Ainda no Acre estão sendo inauguradas a linha Rio
Branco-Sena Madureira, com 150 quilômetros em 69
kV, juntamente com a nova subestação Sena Madureira, totalizando assim 350 quilômetros de novas linhas de transmissão no estado.
Para que haja a integração do Sistema Acre/Rondônia ao Sistema Interligado Nacional, a Eletronorte
também está construindo a linha em 230 kV no trecho Ji-Paraná-Pimenta Bueno-Vilhena, em Rondônia, com 278 quilômetros, bem como a implantação
das subestações Pimenta Bueno e Vilhena, além da
ampliação da Ji-Paraná. Esses investimentos somam
cerca de R$ 167 milhões.
Em Roraima a Eletronorte está concluindo a linha
em 69 kV Boa Vista - Distrito Industrial, com 26 km,
juntamente com a nova subestação Distrito Industrial.
Os investimentos somam R$ 29 milhões e a meta de
energização é junho. O empreendimento, segundo
Rayol, viabilizará a instalação de empresas no Distrito
Industrial de Boa Vista e o suprimento de energia a
várias localidades do interior de Roraima.
Finalmente, no Pará, a implantação de um banco de reatores 500 kV na subestação Marabá é um
empreendimento de grande relevância
para o Sistema Interligado Nacional,
uma vez que, por ela, é escoada parte
considerável da energia gerada na Usina Hidrelétrica Tucuruí. Esses reatores
proverão o suporte de reativos para o
controle de tensão e qualidade ao suprimento de energia. São investimentos da ordem de R$ 22 milhões.
corrente contínua
Investimentos na transmissão somam R$ 350 milhões em 2008
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CORRENTE ALTERNADA
Revitalizando a história rondoniense
Viviane Assis
corrente contínua
População
prestigiou a
reinauguração
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Imagine na década de 50, uma praça no
coração da Amazônia com um majestoso lago
e uma pequena ponte sobre ele. Imagine,
dentro do lago, moleques se refrescando na
água límpida e brilhante sob o sol caloroso da
Região Norte. Depois, se for possível, imaginem, nesse cenário paradisíaco, de uma hora
para outra, filhotes de jacarés e peixes poraquês! Pois é, as crianças de Porto Velho que
estavam acostumadas a brincar no lago da
Praça Aluízio Ferreira não conseguiram dividir a área de lazer com os animais. A Prefeitura teve que acabar com a alegria das duas
partes, reconhecendo a impossibilidade dessa convivência. O lago artificial foi destruído e
em seu lugar surgiu um modesto parque com
balanços e escorregadores. Assim a praça
que já era denominada ‘da família’, voltou a
ser freqüentada por adultos e crianças.
Quem relembra a história pitoresca é o
carnavalesco e jornalista Sílvio Santos, o Zé
Katraca. Ele era um dos meninos que brincava nas águas do lago da Aluízio Ferreira, uma
das cinco praças históricas de Rondônia.
Cada uma com sua denominação específica,
aquela bem conhecida das cidades interioranas. Havia a praça da família – a Aluízio Ferreira, a dos cinemas – a Marechal Rondon; a
dos taxistas – a Jonathas Pedrosa e as duas
dos namorados – a das Três Caixas d’Águas
e a da Ferrovia Madeira-Mamoré. Foi com as
lembranças de menino que Zé Katraca (foto
ao lado) acompanhou a reinauguração da
Aluízio Ferreira, em 22 de março deste ano.
Quase 60 anos depois,
o espaço considerado
patrimônio histórico e
localizado no primeiro
bairro de Porto Velho,
passou por modernização.
“A praça ficou maravilhosa. Esta foi mais
uma brilhante inserção
social que a Eletronorte fez em nosso estado.
Primeiro reformando a
Casa de Cultura Ivan Marrocos e agora revitalizando uma parte de nossa história”, afirmou
animado o carnavalesco.
“A Aluízio Ferreira é um dos poucos lugares que gosto de levar minha família para
Valorização cultural - A praça tem lugar
cativo no coração do porto-velhense. Ela está
na região central, próxima de uma tradicional
escola pública – a Carmela Dutra - e do lado
do ginásio de esportes Cláudio Coutinho. Seu
nome é uma homenagem a um dos políticos
mais influentes de Rondônia, o paraense Aluízio Ferreira, responsável pela nacionalização
da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e que
também foi governador e deputado federal.
A Aluízio Ferreira faz parte do projeto de
revitalização do centro histórico de Porto Velho. A Eletronorte é mais uma empresa do
Setor Elétrico a abraçar o processo que está
dando cara nova à região do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira. A praça das Três
Caixas d’Águas (estrutura responsável pelo
abastecimento de água da vila de Porto Velho
no período ativo da ferrovia) foi reformada por
Furnas. No mesmo período, a Eletronorte presenteava a cidade com os bens imateriais da
exposição Alma do Norte. Foi no lançamento dessa exposição que o diretor de Gestão
Corporativa, Manoel Ribeiro, representando o
diretor-presidente, Carlos Nascimento, firmou
parceria com o prefeito, Roberto Sobrinho,
para recuperar o espaço estratégico para a
cultura e o comércio local.
Com a revitalização, a praça que sempre
foi palco de manifestações culturais ganhou
um espaço maior para artistas e público,
sem atrapalhar os mais de 50 vendedores
de artesanatos e comidas típicas da Feira
do Porto. Todos os sábados, das 16 às 23
horas, os visitantes percorrem as barracas
e são atraídos pelo cheiro forte do jambú
no tacacá, da galinha picante, da tapioca
ou simplesmente tentam escolher uma das
centenas de peças artesanais dispostas nos
balcões. As pequenas tendas na cor azul
atendem a uma solicitação antiga da Associação dos Barraqueiros: a de padronizar a
Feira do Porto, incluída no investimento de
mais de R$ 431 mil da Eletronorte, com contrapartida da Prefeitura.
corrente contínua
passear. Trabalho a semana toda na fazenda
e no sábado e domingo quero ver meus filhos brincando e correndo à vontade. Aqui já
era muito bom, agora ficou melhor”, comenta
Edmilson Gonçalves, brincando com os filhos
Isac e Tiago, na companhia da esposa, Maria
Gonçalves (foto acima).
A cerimônia de reinauguração contou com
a presença do prefeito, Roberto Sobrinho; da
senadora Fátima Cleide (PT); do deputado
federal, Eduardo Valverde (PT); do representante do senador Valdir Raupp, o vereador
Assis Raupp; e do representante do gerente
regional da Eletronorte, Edgard Temporim Filho, Fernando Inácio Borges da Silva Bastos,
coordenador da ISO 14001.
13
MEIO AMBIENTE
Sede de quê?
Se a resposta for água ela pode significar
energia, alimento e até biotecnologia
corrente contínua
Michele Silveira
14
A água tem cheiro. E às vezes a cor do
céu e a cor do breu. E é claro que tem gosto. Aquela história de incolor, insípida e inodora só cabe nos livros. Porque na vida real
ela tem o cheiro da chuva, do rio, das mãos
em concha antes do sol aparecer. E faz falta.
Muita falta.
E mesmo assim, pode acreditar: o brasileiro gasta, em média, 40 litros de água a mais
que o total de 110 litros per capita recomendado pela Organização das Nações Unidas
- ONU. Além disso, diariamente nas capitais
brasileiras, o desperdício de água potável
equivale a 2.500 piscinas olímpicas (cerca
de 2,5 milhões de litros de água), resultado
de vazamento nas redes de abastecimento,
submedição e fraudes. Isso seria suficiente
para abastecer 38 milhões de pessoas. Os
dados, que fazem parte de um relatório do
Instituto Socioambiental – ISA indicam ainda
que a maioria das capitais – 15 das 27 – perde mais da metade da água produzida. Porto
Velho, capital de Rondônia, é a campeã em
desperdício, com 78,8% de perda. As cida-
Bom exemplo – Diferentemente do que o
censo comum possa imaginar, no Setor Elétrico são encontrados bons exemplos de valorização e uso sustentável da água. A preocupação em manter a qualidade e garantir
os usos múltiplos é reconhecida pela Agência
Nacional das Águas - ANA. “O Setor Elétrico
conseguiu evoluir e se modernizar mais rapidamente no que se refere à utilização da
água”, avalia o superintendente de Usos Múltiplos da ANA, Joaquim Gondim. Segundo
ele, é indiscutível a evolução que a legislação
brasileira atingiu em relação à gestão de recursos hídricos. “Essa questão que começou
com o Código das Águas, em 1934, evoluiu
muito. Ainda temos muito pela frente, mas
hoje o Brasil já possui uma legislação moder-
Recurso
hídrico
imprescindível
ao homem
corrente contínua
des de Rio Branco, Manaus e Belém também
têm índices superiores a 70%.
Não bastasse o desperdício, a poluição
tornou 70% das águas dos rios, lagos e lagoas do Brasil impróprias para o consumo. Um
relatório editado pela organização não-governamental Defensoria da Água, traz dados do
período 2004-2008 e envolveu 423 pesquisadores, 830 monitores de campo e cerca de
1.500 voluntários, que identificaram 20.760
áreas de contaminação em todo o País. Em
relação à primeira edição do documento, divulgado em 2004, a contaminação das águas
superficiais cresceu 280%. De acordo com o
relatório, a mineração, a produção de suco de
laranja e de derivados da cana-de-açúcar são
os principais atores nesse processo, causando problemas ambientais provocados pelo
descarte inadequado de resíduos industriais
e pelas conseqüências sociais ligadas aos
empreendimentos.
15
corrente contínua
na, que traz diretrizes para a gestão de usos
múltiplos”, explica Gondim (foto abaixo).
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a informação sobre qualidade de água
no País ainda é insuficiente, e muitas vezes
inexistente, em várias bacias. Apenas nove
estados brasileiros possuem sistemas de monitoramento da qualidade da água considerados ótimos ou muito
bons, cinco possuem
sistemas bons ou regulares, e 13 apresentam
sistemas fracos ou incipientes. Mesmo assim,
a importância da qualidade da água está bem
conceituada na Política
Nacional de Recursos
Hídricos que define,
entre seus objetivos,
“assegurar à atual e às
futuras gerações a necessária disponibilidade
de água, em padrões de
qualidade adequados
aos respectivos usos”.
Além disso, também determina “a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade
e a integração da gestão dos recursos hídricos com a gestão ambiental”.
Na Eletronorte, um exemplo é o monitoramento limnológico na Usina Hidrelétrica
Tucuruí. As ações começaram ainda no período de 1980 a 1984, com os primeiros dados
obtidos pela equipe do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia - Inpa, com o objetivo de conhecer as condições limnológicas do
Rio Tocantins, onde o reservatório viria a ser
formado.
O programa começou de fato em 1985,
com o enchimento do reservatório. De acordo
16
com sua coordenadora, a engenheira química Carmen Rocha, os resultados são armazenados em um banco de dados, o qual permite a emissão de boletins periódicos, que são
sistematizados anualmente e condensados
em um relatório técnico consolidado, encaminhado ao órgão licenciador, no caso a Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará.
O analista ambiental da Eletronorte, Rubens Ghilardi Junior, destaca que o monitoramento é essencial para que sejam estabelecidos os zoneamentos para os diferentes usos
da água. “Além disso, é de fundamental importância conhecermos a dinâmica ecológica
da área, os usos humanos e a biodiversidade
aquática”, explica.
De acordo com Carmen, as análises têm
demonstrado que o reservatório tende a um
novo equilíbrio limnológico. “Nesses 20 anos
de monitoramento é possível perceber que o
percentual de oxigênio absorvido se estabilizou e a quantidade de nutrientes diminuiu,
ou seja, a qualidade da água melhorou”,
explica. Apesar de ser um processo natural,
o equilíbrio deve ser monitorado para, caso
haja algum retrocesso, ser identificado e permitir a ações corretivas.
Monitoramento - Mas, aqui, um parêntese:
e o que é a limnologia? Sem a pretensão científica, um breve resumo da Universidade Federal do Rio de Janeiro –UFRJ, explica que,
em virtude da etimologia da palavra (limne,
palavra grega que significa lago) e pelo fato
de as primeiras pesquisas terem sido realizadas quase que exclusivamente em lagos,
a limnologia foi inicialmente conhecida como
a ciência que estuda os lagos. No entanto,
decidiu-se, no primeiro Congresso Internacional de Limnologia (1922), ampliar o campo
de atuação dessa ciência, incluindo outros
ecossistemas aquáticos continentais, tais
corrente contínua
Coletas
e análises
garantem
a qualidade
da água
17
Os usos múltiplos
na década da água
corrente contínua
“Água pra beber, água pra lavar, água que faz toda semente brotar/se ela vem do céu, do rio ou do mar/doce ou salgada, é a melhor coisa que há”. O ‘versinho’ seria mais um na
retórica da conscientização, não fosse o tom melodioso com
que sai das pequenas boquinhas de uma turminha escolar
orgulhosa de vestir roupa azul e dizer que são os “defensores
da água”. Formada por pequenos com média de três a quatro
anos, a turminha nem imagina, mas nasceu na Década Brasileira da Água. Sim, há um decreto que assim definiu: Art. 1º: Fica
instituída a Década Brasileira da
Água, a ser iniciada em 22 de
março de 2005. Art. 2º: A Década Brasileira da Água terá como
objetivos promover e intensificar
a formulação e implementação
de políticas, programas e projetos relativos ao gerenciamento
e uso sustentável da água, em
todos os níveis, assim como assegurar a ampla participação e
cooperação das comunidades
voltadas ao alcance dos objetivos
contemplados na Política Nacional de Recursos Hídricos ou
estabelecidos em convenções, acordos e resoluções, a que o
Brasil tenha aderido.
Quando a Década da Água acabar, em 2015, a turminha já
vai ter virado quase gente grande, e o que ela aprender até lá,
é que vai fazer a diferença. “Hoje é cada vez maior a preocupação com o uso da água. E essa não pode ser uma ação apenas
de governo, mas uma conscientização individual, que começa
na casa de cada um”, alerta o superintendente de Usos Múltiplos da Agência Nacional das Águas – ANA, Joaquim Gondim.
Com a Lei nº 9.433, de 1997, o princípio dos usos múltiplos foi instituído como uma das bases da Política Nacional
de Recursos Hídricos – PNRH. Os diferentes setores usuários
de água passaram a ter igualdade no direito de acesso a esse
bem. A única exceção, já estabelecida na própria lei, é que em
situações de escassez, a prioridade de uso da água no Brasil
é o abastecimento público e a dessedentação de animais. Os
18
como lagunas, açudes, lagoas, represas, rios,
riachos, águas subterrâneas e estuários. Por
isso pode ser definida como o estudo ecológico dos diversos ecossistemas aquáticos
continentais, focalizando a física, a química,
a geologia e a morfometria, a ciclagem de
materiais e o fluxo de energia, a ecologia e
biologia dos organismos e a recuperação e a
utilização racional desses ambientes.
demais usos, tais como, geração de energia elétrica, irrigação, navegação, abastecimento industrial, turismo e
lazer, dentre outros, não têm ordem de prioridade definida. A hidróloga Cíntia de Lima Vilas Boas (foto à esquerda), da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais,
conhecida como Serviço Geológico do Brasil – CPRM,
afirma no artigo que “o uso múltiplo de reservatórios”
que, “dentro do moderno conceito de Gestão das Águas,
os assuntos que envolvem o planejamento de uso, controle e proteção dos recursos hídricos assumem grandes
proporções, devido às interações entre o aproveitamento
racional da água e o uso do solo”.
Usos múltiplos - No que diz respeito aos possíveis
conflitos, Cíntia cita o autor Antônio Eduardo Lanna, engenheiro civil doutor em Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos. Segundo ele, “o uso múltiplo dos recursos hídricos não é uma opção que o planejador faz, mas
uma realidade que ele enfrenta com o desenvolvimento
econômico. A alternativa existente é integrar estes usos
de uma forma harmônica, em que pese a complexidade
da administração, ou deixá-los de uma forma desintegrada enfrentando, como conseqüência, conflitos entre
os usuários que comprometem a eficiência do uso”.
Não bastasse a disputa, o desafio é também adequar
a questão dos usos múltiplos à preservação e sustentabilidade. É aí que reside, segundo Gondim, o diferencial que a ANA tem mantido nas disputas naturais das
demandas dos usos múltiplos. Segundo ele, a Agência
tem conseguido, na maioria das vezes, mediar os conflitos chegando a um consenso. “Um dos casos muito
No lago de Tucuruí, o programa de monitoramento inclui também o acompanhamento da ocupação de macrófitas aquáticas
no reservatório mediante a análise de imagens de satélite. Logo após o enchimento
do lago da Hidrelétrica, foi estruturado um
laboratório para atender às análises físicoquímicas e biológicas da água. Sete estações coletoras foram colocadas a jusante e
nove a montante. Já no processo de licenciamento ambiental da segunda etapa de
implantação da Usina, o sistema de monitoramento foi reestruturado com base no volume de dados já produzido, e considerando
as características limnológicas de cada região amostrada. Nas estações a equipe faz
as coletas na coluna d’água e na superfície,
além da medição da transparência, fixação
Em Tucuruí, mais de dez mil pescadores produzem seis
mil toneladas de pescado por ano (foto acima). Lá o Programa
de Pesca e Ictiofauna busca alcançar o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das comunidades
de pescadores no reservatório e no Rio Tocantins, a jusante da
Usina. Além de programas de capacitação e gerenciamento
pesqueiro, o Programa envolve conservação das espécies de
peixes e de seus habitats e distribui alevinos de espécies regionais para projetos de criação de peixes em tanques-rede.
Hoje o Brasil é o 22º maior produtor de pescado do mundo,
com cerca de 1,1 milhão de toneladas/ano. De acordo com
dados da Secretaria de Aqüicultura e Pesca - Seap, o País
pode ser considerado a nova fronteira aqüícola do mundo,
com 8.400 km de costa; 3,5 milhões de hectares de águas
públicas represadas e outros 5 milhões de ha de águas privadas represadas. A demanda adicional de 90 milhões de
toneladas nos próximos 25 anos só poderá ser suprida via
aqüicultura e o Brasil poderá ser produtor de 21 milhões de
toneladas de pescado.
Em agosto de 2007 a parceria entre a Eletronorte e Seap
anunciou a primeira etapa da demarcação do Parque Aqüícola
de Tucuruí. A partir dos estudos entregues pela Empresa, a
Seap deu início à demarcação do parque, que será o terceiro
do País – já estão demarcados os parques aqüícolas de Itaipu,
no Paraná, e Castanhão, no Ceará. A demarcação delimita as
áreas do reservatório destinadas à piscicultura e identifica também quantas famílias poderão ser beneficiadas e a quantidade
de peixe produzida nos tanques-rede a serem instalados no
lago. A parceria entre as instituições continua e deve realizar
os estudos para o zoneamento dos reservatórios de Balbina, no
Amazonas, Samuel, em Rondônia, e Coaracy Nunes, no Pará.
do oxigênio e coleta de fitoplâncton. A etapa
seguinte é alimentar o banco de dados para
geração e análise dos boletins.
É por isso que o trabalho dos três técnicos
do laboratório, uma bióloga e um químico,
além de Carmen, faz a diferença. Hoje, esse
trabalho pode dar respostas que ainda não
são encontradas na ciência; mas que estão
a caminho.
corrente contínua
comuns é dos setores hidroviário e elétrico, que podemos citar como exemplo Tucuruí, que por muito tempo
esperou a conclusão das eclusas para garantir a navegabilidade do Rio Tocantins. Hoje, mais próximo da conclusão, reforçamos a importância das eclusas para o uso
múltiplo”, avalia o superintendente.
De acordo com a ANA, a Superintendência de Usos
Múltiplos é também responsável pelo desenvolvimento
de ações que preconizem a revitalização de bacias hidrográficas, bem como a conservação e a racionalização
do uso da água. É uma estratégia para proteger e restaurar a qualidade ambiental e, conseqüentemente, os
ecossistemas aquáticos. Essa abordagem baseia-se na
constatação de que muitos dos problemas de qualidade e quantidade de água são evitados ou resolvidos de
maneira eficaz por meio de ações que focalizem a bacia
hidrográfica como um todo, as atividades desenvolvidas
em sua área de abrangência e os atores envolvidos.
É também essa Superintendência que define as operações de fiscalização das condições de operação dos reservatórios e faz a gestão de projetos como o de tanquesrede desenvolvidos pela Eletronorte em parceria com
outras instituições. Em Rondônia, por exemplo, a Empresa, em parceria com o governo estadual e o Ibama, desenvolveu em Candeias do Jamari o projeto de Aproveitamento de Águas Improdutivas para Criação de Tambaqui
em Tanques-rede (foto acima à esquerda), beneficiando
cerca de 500 famílias de pescadores ribeirinhos. Entre os
principais objetivos estão a redução da pressão sobre os
estoques pesqueiros naturais, a geração de emprego e
renda, e a profissionalização dos pescadores.
19
corrente contínua
A natureza
emociona,
mas também
alerta o
homem
20
Genoma - O projeto Genoma Ambiental do
Reservatório da Usina Hidrelétrica Tucuruí,
coordenado pelo professor Artur Silva, da Universidade Federal do Pará-UFPA (foto abaixo), será mais um ator no processo. De acordo com o professor, pode parecer um pouco
incomum imaginar que um lago possua um
genoma, porque é o genoma o responsável
pelas características hereditárias dos seres
vivos. É nele que estão escritas todas as instruções de funcionamento de uma célula, um
tecido e de todo o organismo. Sim, mas afinal
o que é o genoma de um lago? Segundo Artur, pode existir um genoma, ou muitos genomas, até mesmo numa gota
d’água. “Uma gota de água,
um lago, um punhado de
areia, são lugares onde vivem
muitos micróbios. Assim,
quando falamos do genoma
do lago de Tucuruí, estamos
nos referindo à população de
microorganismos que colonizam este gigantesco corpo de
água”, explica.
O projeto iniciou-se há 14
meses, gerando muitos dados e processando grande
quantidade de informações.
A parceria com a Eletronorte
viabilizou recursos para que
o laboratório tivesse o único
equipamento na América Latina com configuração para realizar a separação de linhagens
bacterianas por DHPLC (Cromatografia Líquida Desnaturante de Alta Performance).
Esta é a primeira vez que abordagens baseadas na genética genômica são aplicadas
em um ambiente de águas interiores tropicais
e revela-se uma complexa estrutura ecológica dos microorganismos que fazem parte do
ecogenoma do reservatório. Além do professor
Artur, fazem parte do projeto Rubens Ghilardi
Jr, a professora Maria Paula Cruz Schneider,
também da UFPA, e o acadêmico Paulo Roberto Miranda, bolsista CNPq pela UFPA.
A história do uso
da água no Brasil
Sobre imagens de chafarizes, monjolos e pescadores de
uma São Paulo das casas de banho, a Agência Nacional das
Águas está escrevendo sobre como os brasileiros do período
colonial lidavam com os recursos hídricos; ou como a água
era usada para o desenvolvimento na época do Império. O
livro “A História do Uso da Água no Brasil – do Descobrimento
ao Século XX” começou a ser preparado ainda em 2007 e
chega agora em sua versão preliminar. No site da ANA é possível contribuir com a obra por meio da doação de gravuras,
pinturas, fotografias e a cessão de relatos históricos acerca do
uso da água desde a chegada de Cabral. O livro fica pronto no
primeiro trimestre de 2009.
Logo nas primeiras páginas, é também o texto Água, de Rubem Alves, que faz as honras da introdução: “Difícil era tomar
banho. Especialmente no tempo de frio. Era preciso esquentar
água no fogão de lenha, e como não havia banheiro e chuveiro dentro de casa, o jeito era tomar banho de bacia, com
canequinha. Complicado. O que significa que não se tomava
banho todo dia. Banho diário é invenção moderna, felicidade
não conhecida naqueles tempos. O que se usava, mesmo, era
lavar os pés numa bacia. Foi assim durante milhares de anos.
Jesus lavou os pés dos seus discípulos. Muitas vezes eu lavei
os pés do meu pai”.
Acompanhado de reproduções do século passado, cedidas
por museus brasileiros, o texto começa a contar as conseqüências da colonização e das migrações no Brasil. “(...) Ocorreu uma gradativa perda da infra-estrutura e dos sistemas de
vida (usos e costumes) nas primitivas formas de apropriação
dos recursos hídricos para os mais diversos usos, (abastecimento público, dessedentação de animais, irrigação, geração
de energia mecânica etc.) onde algumas subsistiram como
patrimônio histórico (chafariz, aquedutos, açudes, monjolos,
castelos) e outros ainda como único recurso alternativo de
subsistência, tais como cacimbas, jegues, cântaros e moringas”. Para conhecer mais sobre a História do Uso da Água no
Brasil acesse: http://historiadaagua.ana.gov.br/
corrente contínua
O primeiro objetivo do estudo é identificar
a composição de micróbios do lago. “Com
isso poderemos identificar o seu potencial
biotecnológico e monitorar da melhor forma
possível a qualidade de suas águas”, explica o coordenador. O segundo objetivo é
ajudar a entender qual a real participação
do reservatório na produção de gás metano, um dos principais gases na formação do
efeito estufa. Também faz parte do trabalho
estudar uma bactéria muito abundante em
Tucuruí, que realiza fotossíntese e produz
oxigênio; além de obter e identificar genes
que produzem uma classe de enzimas, as
celulases, que possuem alto interesse na
sociedade moderna na indústria de biocombustíveis. Outro objetivo é formar recursos
humanos em sofisticadas e eficientes tecnologias agregando valor à biodiversidade
brasileira.
A região de coleta, estação montante de
Repartimento, faz parte do conjunto de localidades usadas pelo Centro de Proteção Ambiental –CPA, da Eletronorte no Programa de
Monitoramento Limnológico e de Qualidade de
Água. Para Carmen, a questão da medição de
metano, por exemplo, é um passo importante para a pesquisa. “Hoje muitos dizem que
há níveis elevados de metano em reservatórios. Mas precisamos de bases comparativas.
Com o projeto Genoma poderemos conhecer
as bactérias que temos no meio aquático e
identificar quais as que consomem, quais
produzem, e então produzir tecnologia para
proliferar as que consomem mais metano, por
exemplo”, avalia a coordenadora.
O professor Artur concorda. Segundo ele,
as análises hoje são parciais porque levam
em consideração apenas as bactérias que
produzem o metano, sem considerar a influência das que o consomem. “Uma análise
correta e séria é a que levará em consideração todo o processo. Queremos saber de
fato qual o balanço que existe no lago, sem
analisar apenas a quantidade, mas também o
consumo. E isso só podemos fazer com técnicas genômicas”, explica. Falando assim, a
biotecnologia que pode resultar de programas
como o Genoma parece simples e pode caber
numa conchinha de mãos, num reservatório
ou num pote. Sim, um pote como o descrito
por Rubem Alves: “O importante no pote é
aquilo que não existe: o vazio que está dentro
dele. A cerâmica só tem a função de segurar
o vazio... Porque é do vazio que a gente precisa. É o vazio que contém a água”.
21
GERAÇÃO
A complexa operação dos parques
termelétricos da Amazônia
Sistemas isolados queimam petróleo 24 horas por dia
Bruna Maria Netto
corrente contínua
Logística
complexa,
operação
complicada
22
Gerar e fornecer eletricidade na imponência da Amazônia Legal em nada se equipara
à maneira das grandes hidrelétricas, como
Tucuruí. Mas, enquanto o Sistema Integrado
Nacional – SIN não chega em todos os estados nortistas, são as usinas termelétricas que
enfrentam desafios diários, desde a custosa
operação e manutenção das máquinas até
as mais diversas animosidades próprias da
Amazônia, para garantir o abastecimento de
eletricidade, um insumo essencial para toda
a sociedade.
A Eletronorte é responsável pela operação
de sete usinas termelétricas em três sistemas
isolados na Região Norte (AC, RO e AP), mais
o parque térmico da Manaus Energia. Gerando energia nas capitais – a dos municípios e
de outras cidades fica por conta das concessionárias estaduais – os parques termelétricos
da Eletronorte somam 1.042,66 megawatts
de potência instalada, sendo 599,26 MW de
geração própria e 443,40 de produtores independentes de energia.
O engenheiro João Valeriano de Camargos (foto ao lado), gerente de Engenharia
de Operação e Manutenção da Geração
Térmica da Eletronorte, explica que as dificuldades começam pelos diferentes tipos
de equipamentos instalados: “Temos desde
máquinas muito avançadas - como turbinas a gás - até motores diesel com versões
bastante antigas, por conta das diferentes
demandas encontradas em cada canto da
Amazônia”.
Somente o fato de se operar termelétricas
no ambiente amazônico já é uma dificuldade
deira ficou tão baixo que a balsa-tanque não
conseguiu passar, e por isso foi preciso fazer
um comboio de caminhão-tanque saindo de
Paulínia, em São Paulo” (foto acima).
Clima x manutenção – O clima da região é
outro fator preponderante para a operação das
máquinas térmicas. O calor reduz a performance e o rendimento do equipamento, pois
como ele já trabalha com a temperatura elevada, esta sobe ainda mais e a máquina acaba
se desgastando com facilidade. A umidade
causa pouco prejuízo na eficiência do equipamento, mas a máquina em si sofre grandes
avarias. Quando o combustível é queimado,
uma parcela de enxofre é liberada e entra em
contato com a água da umidade depositada
sobre a superfície metálica, formando o ácido
sulfúrico, que provoca corrosão nos equipamentos. Além disso, a água da umidade condensada dentro dos tanques de combustível,
por ser mais pesada, se separa do óleo, ficando depositada no fundo dos tanques, tendo
que ser drenada dia e noite, a cada 12 horas,
num processo contínuo (foto abaixo).
corrente contínua
muito grande, a começar pela distância dos
grandes centros produtivos e fornecedores
de insumos básicos. Quando uma máquina
– que é importada - quebra, ela tem de retornar a operar o mais rápido possível para evitar racionamento. Miraelson Pereira Barbosa,
operador da Termelétrica Santana (AP) há 14
anos explica o drama: “Quando pára alguma
máquina o empenho de todos é grande, não
atendemos telefone, não fazemos outra coisa até normalizar o funcionamento para não
deixar ninguém sem energia”.
Caso o componente
avariado não esteja previsto no estoque de peças
sobressalentes, a usina
terá de lidar com a dificuldade de repô-lo com rapidez, o que obriga, em algumas situações, a terem
um grande estoque de
peças extras, gerando um
custo muito elevado. “Já
no Sul-Sudeste, a malha
de transportes permite
que uma peça seja embarcada no caminhão
e chegue rapidamente ao ponto que a demanda, enquanto na Amazônia, algumas vezes a
única via possível é a fluvial”, completa.
Quando o problema é muito complexo, a
ajuda externa é imprescindível. “Para fazermos a recuperação geral de uma turbina a
gás temos que enviá-la para a Alemanha ou
Estados Unidos em contêineres de dez metros de comprimento, do tamanho de um caminhão. A manutenção é feita fora do Brasil
porque internamente não temos empresas
com tecnologia ou estruturadas para isso,
mas temos mão-de-obra qualificada, infelizmente em quantidade insuficiente”, lamenta
João Valeriano.
Segundo ele, assim como as máquinas,
o combustível usado nos sistemas isolados
também enfrenta um duro caminho até seu
destino final. “Ele chega por meio de caminhão-tanque ou por balsa-tanque. O óleo que
chega à usina Rio Madeira em Porto Velho,
por exemplo, é deslocado por meio de balsa,
vinda de Manaus, e faz uma viagem de uma
semana até chegar à capital, onde é distribuído por caminhão-tanque. Dependendo
da época do ano e do grau de pluviosidade,
cria-se uma logística de suprimento de óleo,
pois muitas vezes a seca não permite transitar de barco. Em 2006 tivemos um problema
de abastecimento quando o nível do Rio Ma-
23
Usina Térmica Rio Madeira:
exemplo de responsabilidade ambiental
corrente contínua
Em julho de 1987 entrava em operação – em caráter emergencial para evitar o racionamento de energia na cidade de
Porto Velho - a Usina Termelétrica Rio Madeira. A complexa
montagem e os testes das três grandiosas turbinas LM 2500
mobilizaram dezenas de técnicos da Eletronorte, que se revezaram em plantões, dia e noite, mudaram a rotina das famílias
da comunidade do bairro Nacional e representou um marco
na história da Eletronorte em Rondônia.
Hoje, 21 anos depois, continua operando somente em situações emergenciais, sendo fundamental para o abastecimento de energia elétrica na capital de Rondônia e para o Sistema
Rondônia-Acre. Em fevereiro deste ano, suas quatro máquinas foram acionadas por 30 dias a fim de possibilitar a manutenção das máquinas da Termonorte – produtor independente
contratado pela Eletronorte. Além de sua importância operacional e da competência do capital humano que a opera, a
Usina Rio Madeira coleciona certificações e reconhecimentos
únicos no Setor Elétrico brasileiro e mundial: a certificação
na Norma Ambiental ISO 14001 que fez dela a única térmica do País a conquistar o ‘Selo Verde’, e o de Excelência em
Gestão pelo Japan Institute of Plant Maintenance, na metodologia de Manutenção Produtiva Total (TPM), compartilhada
apenas com outra usina da Eletronorte, a Térmica Santana,
no Amapá. A instalação da Usina proporcionou o crescimento
populacional e atraiu investimentos públicos: escolas, postos
de saúde, policiamento e ruas asfaltadas. Hoje, mais de 21
mil pessoas moram na região do seu entorno.
O trabalho árduo do passado, de engenheiros, técnicos
eletricistas, de manutenção, de segurança no trabalho, operadores e outros profissionais que faziam plantões de até 12 horas para manter as turbinas em operação, garantindo energia
elétrica aos porto-velhenses, foi reconhecido. Oportunidades
de crescimento profissional não faltaram. A informatização
nas usinas térmicas e hidráulicas possibilitou a saída desses
profissionais, anteriormente em tempo integral, das máquinas
e subestações para a pesquisa, inventos e melhorias.
Exemplo disso foi a transformação, em 2000, de uma área de
56 metros quadrados degradada por resíduos de óleo diesel em
24
“Apesar da drenagem, sempre sobra um
resíduo que acaba indo para o nosso equipamento podendo provocar uma avaria, a
curto, médio ou longo prazo. Isso ocorre
em qualquer local, mas se fosse em Brasília, por exemplo, onde a umidade algumas
vezes chega a 30%, seria bem diferente.
Na Amazônia, quando a umidade cai muito, chega no máximo a 70%”, afirma Valeriano.
dois parques ambientais permanentes: o Antônio Onildo
– em homenagem a um falecido colaborador da usina e o
Várzea dos Buritis. O local, contaminado por 15 anos, em
apenas quatro já comprovava sua recuperação. Espécies
de peixes como a jatuarana
e os da família dos bagres –
bioindicadores de qualidade
ambiental-, se reproduzem
nos lagos dos parques: “A
usina toda se mobilizou para
o trabalho de recuperação”,
relembra o técnico em Segurança no Trabalho, Adison
Lino (foto ao lado). O piauiense de Cristalândia chegou
a Rondônia para exercer a
atividade de armador de ferragem, pela construtora Norberto Odebrecht, na Usina Hidrelétrica Samuel. Em 1981,
ingressou na Eletronorte atuando no controle de manutenção da Usina Fausto Guimarães. Em seguida passou a
integrar a equipe da Rio Madeira substituindo um colega
que se aposentava na área da segurança.
Conta de todos - Com tantas dificuldades
enfrentadas, a solução para o atendimento
dos grandes centros consumidores é a interligação ao SIN, mas em pequenas localidades as termelétricas ainda farão a diferença
por muitos anos, apesar de consumirem um
combustível que além de poluente é muito
caro. Com um milhão e meio de litros de óleo
gastos por dia, pode-se imaginar o custo da
luz na Região Norte. Ao consumidor final, o
Destino - O destino brincou sério com a vida do engenheiro de manutenção, Antonio César Gomes dos Santos
(foto à esquerda). O mineiro de Itambacuri, por muito pouco não fez parte da história da Usina Rio Madeira. O pior,
é que se ele não estivesse por lá muitas atividades podiam
não ter acontecido com a rapidez e eficiência necessária.
A entrada em operação da turbina III foi uma delas.
Em 1985, um amigo de Antonio César – o Geraldo, o
inscreveu no concurso público da Eletronorte. O amigo
acesso à energia é garantido porque brasileiros de todas as outras regiões contribuem
com a Conta de Consumo de Combustível
- CCC, um subsídio pago juntamente com a
conta de luz que ajuda a saldar o alto preço
da energia elétrica das regiões eletricamente
isoladas.
“É um subsídio muito inteligente, elogiado
por pessoas de outros países, e interessante
por fazer uma equalização de desenvolvimen-
fez a inscrição sem consultá-lo porque ele trabalhava em tempo integral em uma mineradora como instrutor de treinamento,
e não estava muito interessado em concursos. Por isso, nem
se lembrou do dia da prova. Outra vez, o Geraldo teve que lhe
dar aquele empurrão. Foi atrás da gerência da mineradora para
conseguir uma licença para os dois prestarem o concurso. Adivinhem quem passou?! O Antonio César, sem estudar, tirou nota
máxima. Mas, quem disse que ele queria assumir o cargo!? Foi
preciso a vida dar aquela reviravolta para ele começar a trabalhar
na Empresa que precisava urgentemente de um engenheiro com
sua qualificação.
No ano seguinte, ele e Roberto Tomio Tomotani viajavam
para os Estados Unidos para fazer um treinamento na General
Eletric, com objetivo de aprender a trabalhar com as máquinas LM 2500. O conhecimento adquirido foi primordial para a
montagem e funcionamento das turbinas. “Ajudei os técnicos
a montar as máquinas. Trabalhamos direto, dia e noite, a fim
de garantir a geração de energia elétrica para a cidade”, relembra o engenheiro. A experiência também possibilitou sua
participação na montagem das turbinas das usinas térmicas
de Santana (AP) e Rio Acre, em Boa Vista.
to social e econômico. Como energia elétrica
é um insumo básico para a sociedade, não
deixa de ser um subsídio justo, o que não significa que nós brasileiros tenhamos que conviver com isso eternamente”, afirma Hamilton
Antônio da Rocha, gerente de Comercialização de Energia da Eletronorte. Segundo ele,
sem a CCC – que neste ano foi orçada em R$
3,0 bilhões, nenhuma empresa conseguiria
se manter. “Se não houvesse a CCC, a Eletro-
corrente contínua
O primeiro passo para o projeto ambiental na Usina
partiu de um curso que Adison e o coordenador da ISO
14001, Fernando Inácio Borges da Silva Bastos, participaram, em Porto Alegre, sobre recuperação de área
poluída por produtos químicos. A idéia foi abraçada pelo
gerente da Térmica, Roberto Tomio Tomotani e o gerente Regional, já falecido, Fernando Manoel Fernandes da
Fonseca. Daí, para os demais trabalhadores aderirem ao
desafio foi do dia para a noite. “Todos queriam contribuir
com as atividades. Era sempre um e outro aparecendo
no tempo vago para ajudar”, relembra Adison.
25
corrente contínua
norte iria gerar energia, pois há
demanda, mas não conseguiria
vender para nenhuma distribuidora. Se não houvesse demanda, a Empresa nem sequer instalaria usinas térmicas por lá”.
Hamilton (foto ao lado) também adianta que “a Eletronorte
está providenciando uma licitação internacional, a fim de obter
preços mais baixos do combustível utilizado em suas termelétricas. Adicionalmente, está implementando ações de manutenção, operação
e melhoria de eficiência de suas máquinas,
para obter melhor performance e rendimento
dos equipamentos com o combustível empregado”.
A estrutura que dá suporte aos sistemas
isolados, oriunda do Grupo Técnico Operacional da Região Norte – GTON, faz um planejamento com as empresas, resultando no
Plano de Operação dos Sistemas Isolados,
que prevê quantas usinas estarão operando, quantas localidades serão atendidas e o
quanto de combustível será gasto, além de
elaborar o Plano Anual de Combustível. A
partir da aprovação do GTON e da Aneel é estabelecido o valor da CCC - cuja contribuição
paga o volume de combustível a ser consumido mensalmente pelas empresas responsáveis pelos sistemas isolados.
26
Insubstituível e impagável - Se não houvesse esse recurso, a conta de energia elétrica dos consumidores da Região Norte seria
impagável, não apenas por conta do poder
aquisitivo deles - um dos grandes motivos da
inadimplência nas empresas distribuidoras
- mas pelo custo do MWh. O valor da conta
seria pelo menos dez vezes maior daqueles
beneficiados com a energia hidráulica, por
exemplo. O técnico Aguilar Ferrari
(foto ao lado), que auxilia Hamilton, exemplifica: “Eu moro num
apartamento pequeno e pago a
primeira taxa de tarifa, que é de
R$ 306,00 o MWh. Então imagina esse valor duplicado em dez
vezes: um consumidor da Região
Norte pagaria por volta de R$
3.000,00 o MWh, em um apartamento pequeno, como o meu. Lá
ainda tem a agravante do clima,
em que a pessoa depende de um
ar condicionado ou pelo menos
um ventilador em quase toda parte do tempo.
Em Tucuruí, por exemplo, o valor do MWh é
bem menor, por volta de R$ 90,00”.
Outra especificidade da Amazônia fica por
conta de comunidades que sequer dispõem
de dinheiro para pagar a conta de luz, literalmente. “Elas praticam o escambo, com peixe,
especiarias etc., uma realidade invisível para
muitas pessoas, que não sabem que ainda
existem comunidades muito isoladas que
vivem de extrativismo e da caça, não tendo
renda fixa que permita pagar uma conta de
energia mensalmente”, afirma Ferrari.
A Eletronorte assumiu a operação de parque termelétricos das capitais de Rondônia,
Acre, Amapá, Amazonas e Roraima a partir de 1984, por determinação do Governo
Federal. No entanto, mesmo após pesados
investimentos em expansão e melhorias,
a Empresa paga um custo muito alto para
operá-los. Hoje, fora do subsídio da CCC,
para cada MWh gerado, a Eletronorte paga
a tarifa do equivalente hidráulico – um valor arbitrado pela Aneel, que hoje é de R$
63,14, além do ICMS do combustível usado
nas termelétricas. Na Usina Termelétrica Rio
Acre, por exemplo, o MWh custa R$ 728,00.
Dessa parte, o ICMS e o equivalente hidráulico, mais o custo de manutenção da máquina, além da amortização do investimento do
empreendimento que compõe o custo total,
é pago pela Empresa.
“Se essa energia for da Manaus Energia,
nós pagamos ainda mais R$ 80,00 por MWh
como tarifa fixa da disponibilidade das máquinas colocadas à disposição da Eletronorte. Com o MWh vendido por R$ 100,00, da
substancial diferença surge o nosso prejuízo,
somado aos desperdícios por conta da ineficiência das máquinas e das perdas comerciais geradas pelo consumidor que não tem
condições de pagar a conta e faz ligações
clandestinas, por exemplo”, enfatiza Ferrari.
Esse prejuízo diário aos cofres da Eletronorte
somente será sanado com a interligação ao
SIN, o que deve ocorrer até 2011 (veja matéria na página 3)
José Serafim Sobrinho, superintendente
da Comercialização e Geração de Energia,
lembra de mais benefícios trazidos pelo SIN:
“Com apenas três ligações, Mato Grosso com
Rondônia e Acre, e Tucuruí com Manaus e
Amapá já se reduziria em mais de 70% a
CCC, que ficaria no máximo em R$ 800 milhões ao ano, dando um real na conta de
luz de cada consumidor. Já nas pequenas
Comunidade
participa
para diminuir
aridez de uma
termelétrica
Velhos tempos – Se hoje a situação é complexa nos sistemas termelétricos da Amazônia, no passado já foi pior, com os racionamentos que duravam até 12 horas diárias nas
principais capitais, inclusive Belém. Eduardo
Celso Carramaschi, superintendente de Engenharia de Operação e Manutenção da Geração da
Eletronorte, conta que já teve de
se adaptar a um cotidiano onde
energia não era tão farta: “Eu
morei em Belém entre 1979 e
1980, quando os edifícios eram
vendidos com geração própria e
todos tinham um grupo gerador
para a falta de luz”. Hoje, Belém
já não precisa mais desses geradores. Aliás, nem 99% do resto
das demais regiões do País. Por
meio do SIN, as hidrelétricas
são ligadas às áreas de consumo por linhas de transmissão,
permitindo que a energia gerada em Tucuruí seja recebida em
Salvador, por exemplo.
Também dos velhos tempos são lembradas histórias pitorescas, como desligamentos
causados pelos animais que convivem entre
a floresta e as cidades. João Valeriano conta
uma: “Embora cercadas, as máquinas, aliadas ao ambiente quente e úmido, atraem alguns animais, principalmente nas usinas que
ficam próximas à mata. Quando as máquinas
paravam sem explicação, averiguávamos o
que era e aparecia um gambá, e como se
sabe gambá não entende de eletricidade, e
ao tocar em dois fios o circuito era fechado,
desligando tudo. Muitos desligamentos eram
provocados por gambás, cobras e outros animais. Isso é bem típico da Região Norte”.
corrente contínua
regiões é mais barato subsidiar do que fazer
uma usina para atender 100 pessoas. Hoje,
a gente opera e compra o diesel não porque
queremos e sim por ser uma condição setorial que é imposta a nós, porque a partir
do momento em que houver e interligação,
nós poderemos competir mais no mercado,
vender energia por um preço mais baixo e
ter muito menos prejuízo”.
27
ENTREVISTA
corrente contínua
28
Edison Lobão,
ministro
de Minas
e Energia
Hoje, energia é pauta prioritária de
fóruns de discussão da socioeconomia
em todo o mundo. O Brasil e o modelo atual
do Setor Elétrico estão no caminho certo?
O atual aparato institucional, legal e de agentes, não apenas do Setor Elétrico mas de todo
o setor energético brasileiro, permite acompanhar e ordenar o atendimento das necessidades
energéticas crescentes do País com a participação da iniciativa privada. Isso se dá por meio
dos leilões que vão garantir a infra-estrutura
necessária à expansão da oferta de energia,
buscando o equilíbrio, de modo transparente,
entre a modicidade tarifária e a atratividade
dos investimentos, inclusive para o longo prazo
assegurado pelos contratos que seguem o leilão. Acredito que o atual arranjo institucional,
equilibrado e claro, é a resposta madura que
o desenvolvimento do Brasil tanto ansiava e os
resultados são visíveis e incontestes.
complementados pelo planejamento
e acompanhamento sistemático para
ajustes de curto prazo, o que assegura
satisfatório encaminhamento da
oferta de energia no País.
Afora isso, foram instituídos dois
ambientes para celebração de contratos
de compra e venda de energia:
o Ambiente de Contratação Regulada - ACR,
e o Ambiente de Contratação Livre – ACL.
O primeiro, destinado ao atendimento
do consumidor comum, com garantia
de contratação de 100% da demanda
com antecedência de três a cinco anos,
conta com a participação de agentes de
geração e de distribuição de energia
elétrica. Do segundo participam agentes
de geração e comercialização,
importadores e exportadores de energia,
além de consumidores de grande porte.
“É fato que o arranjo institucional da
indústria de energia, não só aqui, mas em
todo o mundo, tem suscitado discussões
e análises das mais diversas orientações
e matizes. Após percalços e sucessos
decantou-se o arranjo que, acreditamos,
melhor se adequa a um país de porte
continental como o Brasil”, afirma o Ministro.
Confira a íntegra da entrevista:
A matriz energética brasileira é
fundamentada na hidreletricidade, mas
a intenção é diversificar cada vez mais as
fontes de geração. O Brasil deve continuar
explorando seu potencial hidrelétrico
ou vai investir maciçamente em fontes
alternativas, como a eólica e a solar?
Essa é o tipo de questão que o PNE se propõe a responder. Sempre que nos debruçamos sobre a matriz energética brasileira, em
que pese o porte do País, chamam a atenção
não só a participação da energia renovável
(45.1% em 2006), mas também a diversidade de fontes de energia e recursos. A matriz
de energia elétrica, considerando-se a natureza das importações, alcança impressionantes 89% de participação renovável e igual
diversidade. Poucos países possuem tantas
possibilidades para a oferta de energia. Dispomos de um potencial hidrelétrico imenso,
corrente contínua
O modelo atual do Setor Elétrico
apóia-se nas leis nº 10.847 e nº 10.848,
de 15 de março de 2004, e no Decreto
nº 5.163, de 30 de julho de 2004.
O novo arranjo institucional trouxe clareza
ao setor energético. O governo retomou
sua função indelegável de planejador.
Para isso criou a Empresa de Pesquisa
Energética – EPE, voltada à realização de
estudos de planejamento para subsidiar
o Poder Público em sua atuação
estratégica; o Comitê de Monitoramento
do Setor Elétrico – CMSE, mecanismo para
avaliar permanentemente a segurança do
suprimento de energia elétrica; e a Câmara
de Comercialização de Energia Elétrica
– CCEE, organização para dar continuidade
às atividades do Mercado Atacadista de
Energia - MAE, relativas à comercialização
de energia elétrica no sistema interligado.
Nesse contexto, o ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão, ressalta a
instituição do Plano Decenal de Expansão
de Energia, um dos principais instrumentos
de planejamento energético, que apresenta
um programa de obras de referência no
horizonte decenal, atualizado anualmente
e do Plano Nacional de Energia - PNE, com
visão estratégica de até 30 anos,
29
bem como possibilidades invejáveis para geração elétrica a partir de várias outras fontes
de energia tradicionais, como gás, energia
nuclear e carvão, assim como as ditas energias alternativas. Em decorrência da enorme
vantagem comparativa da hidreletricidade,
tanto em termos de custos quanto de outras externalidades, em
relação a outras fontes
de energia ditas tradicionais, a geração elétrica a
partir da energia eólica e
da solar serão, por hora,
complementares à geração hidráulica, nuclear
e de carvão mineral, por
exemplo. No Brasil, a geração hidráulica ainda é
a que proporciona menores tarifas ao consumidor
e, portanto, tem prioridade nos estudos de
expansão. Observe que
o potencial hidrelétrico
remanescente não aproveitado no Brasil situase em torno de 173 GW
segundo o PNE 2030,
o que significa mais de
duas vezes a capacidade
instalada atual.
corrente contínua
“Dispomos
de um potencial
hidrelétrico
imenso, bem como
possibilidades
invejáveis para
geração elétrica
a partir de várias
outras fontes de
energia tradicionais,
como gás, energia
nuclear e carvão,
assim como as
ditas energias
alternativas”.
30
Em relação aos sistemas de transmissão,
o Brasil tem um modelo ímpar no mundo,
que é o Sistema Interligado Nacional - SIN.
Fale sobre a importância da interligação
dos sistemas isolados Acre-Rondônia-Mato
Grosso e Tucuruí-Macapá-Manaus.
O SIN é singular porque com as interligações regionais que aproveitam a diversidade hidrológica entre as regiões, consegue-se um expressivo ganho energético da
ordem de 6.900 MW médios, isto é, cerca de 13,7% de toda a energia produzida
pelo sistema interligado, permitindo que a
energia gerada seja importada e exportada entre as regiões brasileiras, de acordo
com as condições e necessidades de cada
região. Os sistemas isolados são supridos
por energia elétrica cuja base de geração
é fundamentalmente térmica, subsidiada
pela Conta de Consumo de Combustíveis
Fósseis - CCC. Com as novas interligações
dos estados de Rondônia e Acre ao sistema Sudeste/Centro-Oeste e dos estados do
Amazonas e Amapá por meio da interliga-
ção Tucuruí-Macapá- Manaus, o Brasil contará com todos seus estados conectados ao
SIN, exceto – ainda - o Estado de Roraima.
Nesse cenário, haverá uma redução significativa na CCC da ordem de 80%.
A situação dos sistemas isolados é
preocupante do ponto de vista operacional
e econômico. A federalização das
concessionárias e geradoras da Região
Norte vai levar a uma solução?
A CCC vai continuar existindo
depois da interligação?
A Conta de Consumo de Combustíveis
Fósseis dos Sistemas Isolados CCC-ISOL é
o encargo do Setor Elétrico brasileiro, cobrado nas tarifas de uso dos sistemas elétricos
de distribuição e transmissão dos consumidores de energia elétrica, para cobrir os
custos anuais da geração termelétrica, produzida nos sistemas isolados do Norte do
Brasil. Exceto as empresas CEA, do Amapá,
e CER, de Roraima, as demais estatais que
atuam na região, nos estados do Acre, Rondônia, Amazonas e Boa Vista já são federais.
A Eletrobrás aportou muitos recursos a essas empresas com pouco êxito, e o que se
busca agora é rever a forma de gerir essas
empresas para melhorar seu desempenho.
Algumas concessionárias acabam arcando
com certas dificuldades, por atender grande
número de localidades remotas e de difícil
acesso no imenso território da Amazônia.
Essas condicionantes são importantes para
o desempenho técnico e financeiro das empresas empenhadas no enfrentamento desses problemas. A interligação com o SIN vai
diminuir significativamente o uso da CCC nos
sistemas isolados. Contudo, algumas localidades continuarão isoladas, demandando
recursos da CCC-ISOL.
Que outras soluções podem ser
dadas para resolver a insolvência
das concessionárias estaduais
e o prejuízo que esse sistema
causa aos cofres da Eletronorte?
Em valores correntes, estima-se uma economia da ordem de R$ 1 bilhão com a interligação do Sistema Acre-Rondônia e da ordem
de R$ 2,5 bilhões, com a interligação dos
sistemas do Amapá e de Manaus, pela linha
Tucuruí-Macapá-Manaus, embora boa parte
desses recursos continuará a ser arrecadada para cobrir os custos da sub-rogação dos
projetos que ajudaram a reduzir a CCC quan-
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sancionou, sem vetos, a Lei 11.651,
decorrente da Medida Provisória 396,
que amplia a área de atuação da
Eletrobrás, permitindo à empresa
participações majoritárias em
empreendimentos, maior flexibilização
nos negócios e a atuação no exterior.
Esse ato vai proporcionar maior
competitividade ou o Estado volta a
ser grande investidor, com capacidade
de influenciar os resultados dos leilões?
A nova lei fortaleceu o Grupo Eletrobrás e
a sua atuação, muito à imagem do sucesso
da Petrobrás. O que a impulsionou foi a possibilidade de fortalecer o laço com o capital
privado e a construção do convívio empresarial mais produtivo no Setor Elétrico brasileiro, bem como realizar novos projetos, tanto
nacionais como internacionais. A parceria
com o capital empreendedor e a envergadura da Eletrobrás possibilitarão concretizar
projetos antes considerados impossíveis, pois
os custos de oportunidade e de organização
eram muito altos para o capital privado. Com
isso, projetos importantes e lucrativos, alguns
transnacionais, que beneficiariam comunidades e integrariam o continente, redesenhando a geopolítica regional, não eram executados. Não se tratando,
tampouco, de uma volta
do Estado como grande investidor do setor.
A Eletrobrás será um
novo player na região,
assim como a Petrobrás
e muitos outros players
no mundo. Reger-se-á
pelo conceito de parceria com o capital privado.
Embora a Lei permita
que haja uma participação da estatal e de suas
subsidiárias nos empreendimentos energéticos
majoritariamente ou até
de 100% (anteriormente limitada a 49%), isso
só ocorrerá, na ausência
de propostas dos empresários, ou seja, quando
se tratar de um projeto
estratégico. Nesse caso,
a Eletrobrás poderá assumi-lo sem limitações,
respeitando, claro, o interesse dos acionistas.
Com isso, a atuação da
Eletrobrás será no domínio econômico. Portanto, não há que se falar
de influência de preços ou de competição
predatória. Há conselhos de administração,
legislação constituída e controles administrativos e externos que trazem transparência aos
processos de governança de uma empresa
do porte da Eletrobrás.
“A situação
financeira das
empresas é ditada
não só pelo
equilíbrio entre
receita e
despesas, mas
também pela
eficiência da gestão
empresarial, com
destaque para
a melhoria na
arrecadação
das contas de
energia faturada,
pela redução
das perdas
técnicas e dos
furtos de energia”
Como será a nova Eletrobrás
após a edição da Lei?
Quais outros empreendimentos de vulto
estão previstos para os próximos anos?
As possibilidades são muito boas. O espírito da Lei é dar dinamismo e envergadura
à atuação da Eletrobrás. Dessa combinação surgirá uma empresa com presença e
capacidade empresarial para levar adiante
vários projetos, em conjunto com a iniciativa privada. O novo quadro legal de atuação,
por exemplo, facilitará a obtenção de financiamento junto aos bancos em modelos de
corrente contínua
do o sistema era isolado, conforme previsto
em lei. Além disso, encontra-se em estudo
a elaboração de regras para integração dos
sistemas isolados ao SIN, em que o princípio
do respeito aos contratos para produção de
energia existentes nas localidades que forem
interligadas deverá ser preservado, devendo
essas apenas se ajustarem para operar de
acordo com as regras do SIN e com menores
gastos de combustível. A situação financeira
das empresas é ditada não só pelo equilíbrio
entre receita e despesas, mas também pela
eficiência da gestão empresarial, com destaque para a melhoria na arrecadação das
contas de energia faturada, pela redução das
perdas técnicas e dos furtos de energia. As
perdas de energia, de origem elétrica ou comercial, que comprometem grande parte da
receita, precisam de cuidados redobrados
para alcançar valores razoáveis. As despesas
também necessitam ser controladas com todas as ferramentas disponíveis, otimizando
tudo o que estiver ao alcance da administração. O custo da energia comprada ou produzida pela própria empresa, com exceção da
questão dos altos custos provocados pelos
combustíveis fósseis, merece atenção no que
se refere ao parque térmico gerador existente, com vistas à sua modernização, em especial para as localidades que permanecerão
isoladas por tempo ainda indefinido.
31
project finance antes vetado às empresas
estatais, que, por exemplo, atualmente participam de consórcios para o investimento no
complexo do Madeira junto a empresas privadas, minoritariamente. No plano internacional há boas oportunidades na Argentina,
como Garabi e Corpus, e na Bolívia, com
empreendimentos como Cachuela Esperanza, no Rio Beni, e a binacional Guajará-Mirim, na fronteira com o Brasil, no Rio Mamoré, que se junta com o Rio Beni e forma
o Rio Madeira. Imagino que se pode apenas
intuir o imediato, mas as possibilidades futuras são imensas.
O Setor Elétrico é um dos que mais
investem em pesquisa e desenvolvimento.
Como o senhor pretende incentivar
projetos de P&D e fazer que eles sirvam
para alavancar o desenvolvimento do País?
O Setor Elétrico sempre investiu muito,
principalmente após entrar em vigor a Lei nº
9.991/2000, pela qual as concessionárias e
permissionárias de serviços públicos de distribuição de energia elétrica ficam obrigadas a aplicar,
anualmente, o montante
de, no mínimo, setenta
e cinco centésimos por
cento de sua receita
operacional líquida em
pesquisa e desenvolvimento e, no mínimo,
vinte e cinco centésimos
por cento em programas
de eficiência energética
no uso final. Existem os
fundos setoriais, entre
eles um voltado à energia, o CT-Energ, gerido
pelo Ministério de Ciência e Tecnologia. É um
fundo destinado a financiar programas e projetos
na área de energia, com
especial ênfase em eficiência energética no uso
final, bem como fontes
alternativas. Juntamente
com os mecanismos de incentivo à Pesquisa
e Desenvolvimento (P&D) adotado pela Aneel nos contratos de concessão, amplia sua
abrangência setorial. No caso, as empresas
concessionárias de geração, transmissão e
distribuição de energia elétrica repassam ao
corrente contínua
“A legislação
ambiental brasileira
é bem completa e
abrangente e, em
resposta, o MME
mantém ações
permanentes
de avaliação
das diretrizes
ambientais para
o setor, com adoção
de metodologias
cada vez mais
adequadas e
próximas à
realidade das
nossas atividades”
32
fundo um percentual variável de 0,75% a 1%
da receita operacional líquida. Os investimentos anuais das empresas do Setor Elétrico
são da ordem de R$ 150 milhões em P&D
(investimento direto pelas concessionárias) e
pouco mais de R$ 300 milhões em eficiência
energética (investimento direto pelas concessionárias).
Avanços também têm sido
alcançados na área de meio
ambiente e responsabilidade social.
O que fazer para demonstrar ao mundo
e aos brasileiros que hidrelétricas
e sistemas de transmissão podem
ser feitos em consonância com
a preservação da natureza e com
o desenvolvimento sustentável?
É inequívoco que toda interferência do
homem no ambiente pode resultar em danos, além dos benefícios que se pode pretender. Os empreendimentos hidrelétricos
não são exceção, embora entendamos que,
nesse caso, o saldo é amplamente positivo.
O Setor Elétrico tem-se comportado com responsabilidade diante das questões ambientais. Prima pelo planejamento e investe em
pesquisa. A legislação ambiental brasileira é
bem completa e abrangente e, em resposta,
o MME mantém ações permanentes de avaliação das diretrizes ambientais para o setor, com adoção de metodologias cada vez
mais adequadas e próximas à realidade das
nossas atividades. Soma-se a esse esforço
o bom relacionamento com os diversos segmentos sociais e a transversalidade no Governo Federal. Por exemplo: muito freqüentemente destaca-se como maior impacto ao
meio ambiente a interrupção da migração
de peixe e o deslocamento de populações
ribeirinhas para formação do lago. Para lidar com esses problemas, existem diversos
procedimentos adotados pelo Setor Elétrico
visando a minimizar e compensar tais interferências.
A demora na expedição das
licenças ambientais ainda atrapalha
o planejamento do Setor Elétrico?
O MME vem atuando fortemente para
estabelecer, em conjunto com o Ministério
do Meio Ambiente, políticas e medidas de
compatibilização das atividades de geração e
preservação do ambiente a fim de se promover o desenvolvimento sustentável. Assim,
internalizamos o conceito de usos múltiplos
Na área de petróleo, fale sobre
as descobertas de novos campos
petrolíferos pela Petrobras.
Em novembro de 2007 a Petrobras anunciou ao Conselho Nacional de Política Energética - CNPE a existência de uma nova e
significativa província petrolífera no Brasil,
com grandes volumes recuperáveis estimados de óleo e gás natural, denominada de
pré-sal. A análise e a interpretação dos dados
obtidos nos poços perfurados pela Petrobras
naquela área, integradas a um trabalho de
mapeamento com base em dados geofísicos
e geológicos, permitiram à empresa situar
essa área entre os estados de Santa Catarina
e Espírito Santo, nas bacias do Espírito Santo,
de Campos e de Santos. A área delimitada
possui cerca de 800 quilômetros de extensão
e até 200 quilômetros de largura, em lâmina
d’água que varia entre 1,5 mil e três mil metros de profundidade. Os testes indicaram a
existência de grandes volumes de óleo leve
de alto valor comercial (30º API), com grande
quantidade de gás natural associado. Nessa
província, desde então, foram anunciadas as
descobertas de Tupi, com reservas estimadas
de cinco a oito bilhões de barris de petróleo,
e as de Júpiter. Essas descobertas denotam
um potencial imenso para a área do pré-sal
e colocam o País sob nova perspectiva em
termos de reservas de petróleo e gás natural,
podendo situá-lo entre as dez maiores reservas mundiais.
E a área de minas, como o governo
pode incentivar a exploração
de minérios e fortalecer o setor?
O Brasil é um País privilegiado em recursos minerais. A última consolidação de investimentos em mineração no Brasil aponta para
US$ 32 bilhões nos próximos cinco anos, com
o protagonismo do segmento de minério de ferro, responsável por cerca
da metade desses investimentos. Os estados de
Minas Gerais e Pará são
os líderes nacionais em
produção mineral e em
investimentos. O Brasil
se destaca em mineração por sua posição no
ranking de produção
mundial,
merecendo
citação: ferro (1º), nióbio (1º), manganês (1º),
bauxita (2º), grafita (3º),
rochas ornamentais (4º),
amianto (4º), magnesita
(4º) e caulim (5º). Nos
próximos anos, com os
investimentos em curso, o País será também
importante produtor de níquel e cobre. Gostaria de destacar um importante segmento da
mineração brasileira que muitas vezes é relegado ao esquecimento. Refiro-me à pequena
mineração, que não pode ser colocada em segundo plano. Esse segmento representa mais
de 70% do número de empresas de mineração do País, 25% da mão-de-obra contratada
(considerando a informalidade, alcança 40%
dos trabalhadores do setor) e predomina na
produção de argila para fabricação de tijolos
e telhas, areia e brita para a construção civil, ardósia, calcário, gemas, gipsita, granito,
diamante, feldspato, mica, quartzito e outros
bens minerais.
“Considerando
as metas de
crescimento
econômico e a
necessidade de
incremento da
matriz energética
da ordem de 4.800
MW/ano, em média,
há algo a ser feito
para compatibilizar
esses cronogramas”
corrente contínua
no que concerne ao compartilhamento dos
recursos hídricos, aprimoramos os mecanismos de regulação e a integração das políticas governamentais. Isso significa que o
tratamento ambiental ganhou em detalhe e
atenção. Também é verdade que, em razão
da atenção ambiental que a sociedade hoje
acalenta, muitos empreendimentos sofreram
com atrasos. No período de 2003 a 2006 foram concedidas, no âmbito do licenciamento
ambiental federal, 17 licenças ambientais
para novas usinas hidrelétricas, totalizando
um incremento na matriz energética da ordem de 1.940 MW, referentes às usinas que
entraram em operação nesse período. Em
2007 somente duas licenças foram emitidas
para usinas hidrelétricas pelo órgão federal
de licenciamento ambiental, referentes ao
complexo do Madeira e à Simplício. Considerando as metas de crescimento econômico e a necessidade de incremento da matriz
energética da ordem de 4.800 MW/ano, em
média, há algo a ser feito para compatibilizar
esses cronogramas. Um exemplo interessante é o estudo realizado pelo Banco Mundial,
segundo o qual a emissão de uma licença
prévia tem levado em média 1.188 dias, enquanto a norma legal preconiza que se faça
isso em até um ano. É claro que isso decorre
tanto da complexidade da matéria, quanto
da insuficiência de recursos, bem como do
aparato legal correspondente, que permanece complexo e envolve diversos atores e
instâncias.
33
ENERGIA ATIVA
Dardanelos:
um sopro de
esperança
nas cachoeiras
de Aripuanã
corrente contínua
Márcia Oliveira
34
Aos 64 anos, a cidade já viveu da extração do ouro, da borracha, da pecuária e da
madeira. Teve certa riqueza em dois momentos pontuais que surgiram como promessas
de um futuro próspero. Mas, as experiências foram antagônicas. Assim como trouxeram dinheiro fácil e em abundância, legaram traumas e a deixaram, por duas vezes,
às portas da agonia. Hoje, ainda na fase de
crescimento, Aripuanã, que fica a 1.095 quilômetros de Cuiabá, capital de Mato Grosso,
e é acessada de forma mais rápida por um
vôo de três horas, tem um novo alento, um
sopro de vida para ganhar forças e recuperar
a esperança de crescer. Porém, dessa vez de
forma sustentável. A novidade chegou com
a construção do Aproveitamento Hidrelétrico
Dardanelos, coordenado pela empresa Energética Águas da Pedra, da qual a Eletronorte
faz parte.
Dardanelos é oriunda do Leilão nº 004/2006
, realizado pela Aneel em 10 de outubro de
2006, de cujo consórcio a Eletronorte participa com 24,5%. A Neo Energia tem 51% de
participação e a Chesf outros 24,5%.
As obras começaram em setembro de
2007 e estão em fase adiantada, com previsão de início de geração para janeiro de
2010, um ano antes do previsto. A receita
estimada do empreendimento é da ordem de
R$ 240 milhões por ano. “As escavações comuns e em rocha do canal de adução, da tomada d’água, dos condutos forçados da casa
de força e do canal de fuga estão bastante
adiantadas, algumas dessas estruturas já se
encontram praticamente na cota final de es-
cavação”, afirma o gerente de Planejamento
e Engenharia de Mato Grosso, Hélio Monti..
A previsão é que até o início de 2011 toda
a potência de 261 MW seja transmitida pelo
Sistema Interligado Nacional - SIN. “Dardanelos tem sido muito estimulante para a Eletronorte porque trouxe à Empresa, depois de
muitos anos, o desafio de iniciar e concluir a
construção de uma importante hidrelétrica. A
Empresa segue firme com o objetivo de ganhar novos leilões de usinas e linhas, rumo
a um futuro promissor, garantindo sua contribuição para o crescimento sustentável do
País”, adianta Hélio.
Tecnologia – Dardanelos será uma usina a
“fio d’água”, o que elimina a necessidade de
se construir um reservatório e, conseqüente-
crise com o fechamento de madeireiras ilegais
e a perda de metade dos 30 mil habitantes,
volta a dar sinais de ânimo. O aceno simples
e concreto da investida positiva do empreendimento na cidade pode ser notado, segundo
a presidente da Associação Comercial de Aripuanã, Seloir Peixes Reghin, no número de
reformas e construções feitas nos últimos cinco meses. Foram ao menos vinte. São hotéis,
restaurantes, supermercados e lojas de prestação de serviços, que melhoram a fachada,
ampliam as instalações e redobram cuidados
para atender à demanda da empresa e dos
cerca de 800 trabalhadores que aportaram na
cidade para construir a hidrelétrica.
“O comércio estava em agonia desde a
Operação Curupira, da Polícia Federal, que
fechou várias madeireiras ilegais. Essas em-
corrente contínua
mente, prejudicar as cachoeiras do Rio Aripuanã. A partir da entrada em operação da
primeira turbina, a cada três meses entrará
em operação uma nova unidade geradora até
completar o cronograma de funcionamento,
que contempla quatro grupos de 58 MW e
um de 29 MW totalizando a produção de 261
MW. Essa produção será direcionada para
o SIN. O traçado do linhão irá acompanhar
grande parte das margens das rodovias MT
420 e 208. A linha terá tensão nominal de
operação de 230 kV, podendo ter seu cabo
pára-raios utilizado nas telecomunicações
em geral, viabilizando projetos empresariais,
o aumento da oferta de emprego e a melhoria
da qualidade de vida da população.
Desde o início das obras, o comércio da cidade de Aripuanã, que estava paralisado e em
35
corrente contínua
36
presas, mesmo irregulares, empregavam e faziam o dinheiro circular. Sem elas, entramos
novamente numa fase de estagnação que
está sendo alterada com a vinda da obra”,
afirma a comerciante que tem uma vídeolocadora, uma floricultura e uma loja de presentes. Nas próprias lojas, Seloir afirma que
as vendas subiram 16% desde que os trabalhos começaram. “Mesmo não tendo todos
os produtos, as vendas aumentaram. E com
os pedidos de alguns que são mais exigentes,
também estou diversificando e melhorando
a oferta. A cidade com certeza mudou para
melhor”, avalia.
A secretária de Educação do município,
Gladis Fabris, lembra que as expectativas
da população com a presença do empreendimento são as melhores, pois, ela já teria
passado por “altos e baixos”. “Quando eu
vim para cá, como professora, na década de
1970, a principal atividade era o garimpo. Faziam-se compras de mercadoria com pepitas,
para se ter uma idéia. Paralelo a isso tinha a
atividade de extração de borracha, que nunca foi forte. No início dos anos 80, à medida
que o ouro se acabava, a cidade também se
definhava. Mas a migração de sulistas que
passaram a explorar a madeira em paralelo
com a pecuária, trouxe uma nova esperança.
Com a extração de madeira a cidade voltou a
crescer, porém o crescimento foi pautado em
estruturas frágeis, mas agora estamos novamente esperançosos”.
Gladis conta que para a Educação a contribuição da Energética Águas da Pedra foi uma
parceria que garantiu o treinamento de 660
professores em técnicas pedagógicas, com
um grupo de educadores do Rio de Janeiro.
O mesmo treinamento será estendido também para os professores da zona rural.
Arrecadação - Fora as alterações visíveis
na cidade, José Piccolli Neto, diretor-presidente da Águas da Pedra (foto abaixo), lembra que a partir do momento em que a usina
começar a produzir energia, o município terá
um acréscimo de 20% a 25% na sua atual
arrecadação anual, hoje em R$ 17 milhões.
“Isso apenas com o pagamento do ISS e das
compensações pela área alagada (royalties).
Mas com a finalização da obra, a cidade e a
região ficarão mais atrativas para os investidores.
Temos informações que
a empresa Votorantin
pretende se instalar aqui
para explorar uma jazida
de zinco. A produção de
energia na região atuará
como um chamariz para
empreendimentos. Com
isso, o local precisará
melhorar sua infra-estrutura de estradas para
escoar produtos, e de hotelaria para atender
ao turismo, entre outras atividades. A economia como um todo será fomentada”, avalia
Piccolli.
O prefeito de Aripuanã, Ednilson Luiz Faitta (PP), afirma que a obra é vista como um
trampolim para o desenvolvimento e que após
o funcionamento das máquinas, a cidade terá
Ritmo
das obras
impressiona
corrente contínua
maior capacidade administrativa para investimentos. “Penso que o município poderá ser
um pólo de desenvolvimento da região, principalmente se a Votorantin decidir se instalar
aqui. Atualmente a empresa faz um estudo
de viabilidade econômica
para a atividade e caso o
negócio seja concretizado, teremos vários outros
impulsos”.
Atualmente, com apoio da Águas da Pedra, o
município trabalha o Plano Diretor da cidade. É
no documento que ficarão estabelecidas as leis,
regras e normas legais
para o uso e ocupação
do solo, para o cuidado com o meio ambiente, a coleta de lixo, entre outros, de forma a
permitir a expansão planejada do município.
O Prefeito (foto acima) afirma ter consciência
que a cidade contará com o auxílio concreto
do comércio durante a construção da usina,
e, depois, maior capacidade econômica com
o aumento da receita, mas que para se desenvolver de verdade, terá que fazer o dever de
casa. Nele estão incluídas a urbanização do
município, a criação do Parque das Cachoeiras
das Andorinhas, a pavimentação do aeroporto
e a melhoria de infra-estrutura turística.
Meio ambiente - O Presidente da Águas da
Pedra lembra que 60% da mão-de-obra que
atua no empreendimento é local e que haverá
trabalho por dois anos e meio. Ao final, estará
capacitada para atuar em trabalhos similares
e na construção civil. Além disso, a empresa
já desenvolve ou dá corpo a 31 programas,
descritos no Relatório de Impacto Ambiental
(EIA/Rima), nas áreas socioambiental e de
saúde. Entre eles está o Programa de Conservação da Flora, que consiste na coleta de
sementes de árvores e plantas nativas para a
criação de mudas. Com essa atividade, até o
final de 2007 dez mil mudas foram criadas
e atualmente são doadas para instituições
que têm interesse no plantio. Há também o
Programa de Monitoramento da Ictiofauna,
que estuda as espécies e o ciclo de vida dos
peixes nativos; o Programa de Monitoramento
da Avifauna, que monitora as atividades dos
andorinhões que habitam as quedas d’água
e das aves da floresta; e o Programa de Monitoramento de Herpetofauna, que estuda os
anfíbios.
Todos os programas têm a intenção de evitar a morte ou qualquer atividade que prejudique a vida e a reprodução da fauna e da
flora locais. “Desde que chegamos apoiamos
várias ações do município nas áreas de saúde e meio ambiente, e mesmo ações sociais
filantrópicas, como a da Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionaisb - Apae, instituição
para a qual doamos um furgão para auxiliar
no transporte dos alunos. Até então, 20 crianças eram atendidas, depois, o serviço foi ampliado para 60 e a população local também
se sensibilizou e passou a apoiar o trabalho
da Apae”, relata.
Piccolli lembra que até a estrutura do Banco do Brasil, que tinha o piso de chão batido,
37
melhorou após a chegada da Águas da Pedra. E que na cidade, a pista de pouso que
também é de chão e cascalho, já tem possibilidade de receber asfaltamento.
corrente contínua
Aripuanã
passa por
mais uma
transformação
38
Mudança de vida - Para a trabalhadora
Claudete de Fátima Leal da Silva, a chegada
da empreiteira em Aripuanã teve efeito imediato para a sua sobrevivência. Separada
do marido e desempregada há três meses,
desde que a madeireira em que trabalhou
por 12 anos foi fechada, ela foi uma das
primeiras a chegar no canteiro de obras,
logo que conseguiu uma vaga de zeladora.
O novo emprego foi decisivo para os rumos
que sua vida iria tomar, pois caso não tivesse sido contratada para trabalhar na construção de Dardanelos, a saída para continuar sustentando seus dois filhos e a mãe,
seria seguir o caminho de vários de seus
colegas e abandonar a cidade em busca de
sustento. “Eu já pensava na possibilidade
de deixar a cidade e morar em outro lugar.
Aqui o comércio tinha parado, as pessoas
estavam sem esperança e minha última
tentativa foi procurar emprego nos hotéis.
Tive tanta sorte no dia que fui, um trabalha-
dor da obra que fazia contratações estava
lá e pedi uma vaga, ele aceitou e graças a
Deus pude ficar”.
Claudete trabalhou por três meses como
zeladora e quando os outros 800 trabalhadores que atuariam direto na obra chegaram, foi
promovida a líder da equipe das 50 mulheres
que fariam os serviços gerais. “No começo foi
difícil, a maioria é de homens e eu, como a
maioria das pessoas, nunca tinha trabalhado
num canteiro de obras. Mas recebemos capacitação, treinamento para entender melhor
de relacionamento humano e hoje me sinto
uma pessoa iluminada. Tive a oportunidade e
a segurei”, reconhece.
A trabalhadora, assim como seus colegas,
sabe que o trabalho atual terá duração definida de dois anos e meio, se corresponderem
às expectativas da empresa. E se diz preparada para encarar novos desafios quando a
obra terminar. “Sabemos que esse trabalho
não é para sempre e acreditamos que a cidade voltará a crescer. As coisas já começaram
a mudar. Muita gente que deixou a cidade em
função da crise das madeireiras já retorna e
também acredita que teremos um novo impulso de crescimento”, avalia.
Construção do amanhã
Um ciclo de crescimento está marcando o ano de
2008 em Mato Grosso, com várias ampliações do
sistema elétrico sob a responsabilidade da Eletronorte,
com destaque para a subestação Barra do Peixe.
Várias são as frentes de trabalho, e o sol, a chuva, o
frio e o calor intenso não incomodam tanto. “Há quem
afirme que já se acostumou às intempéries, mas o
clima goiano de Ribeirãozinho requer superação, pois
de dia é quente e à noite bate um ventinho gelado”,
relata José Evaldo Costa da Silva, operador da subestação. Na verdade o Rio Araguaia contribui para a
brisa noturna trazer novos ventos.
Os operadores – Eles são categóricos: “Não é fácil
não, tanta gente trabalhando ao mesmo tempo e nós
operando a pleno vapor”. O recorde estimado foi de
200 pessoas no pátio da subestação. Um detalhe:
com a subestação energizada. Para quem está acostumado ao dia-a-dia pacato de Ribeirãozinho, é movimento garantido. O emocional às vezes fica à flor da
pele, mas eles sabem contar até dez, respirar fundo
e realizar todas as atividades com precisão. “Vem
muita gente animada para cá, trabalha o tempo todo
bem-humorada, elevando o astral da turma, mas sem
perder de vista o comprometimento e as metas a serem cumpridas. Uns contam piadas, outros cantam...
será que dá para adivinhar quem são, pois a gente
conta a estória, mas não conta o santo?”, brinca um
colaborador anônimo.
A segurança – Promover a segurança é dever de
todos e esta é uma tarefa que os operadores estão
sempre ligados. Olhar atento, procurando e procurando para nenhuma condição insegura existir. Não
são super- homens, mas a visão tem que ser de raio
X. “Temos que nos superar para ‘cuidar’ de tantas vidas expostas a riscos”, diz Wesley Oliveira Berigo, que
completa: “O bom é que o trabalho está sendo realizado em equipe e todos têm um espírito de integração”.
A cidade – Localizada quase na divisa de Mato
Grosso com Goiás, Ribeirãozinho, distante 595 km
de Cuiabá, tem 2.096 habitantes, um hospital – instalações cedidas pela Eletronorte após a implantação da subestação em 1993 -, o Rio Araguaia, que
é lindo de se ver pela paz que transmite, é opção
certa de lazer. As cachoeiras são um caso à parte “O
trança-trança de homem é diferente, carro da Eletronorte para cá, carro da Eletronorte para lá. Toda
vez que tem obra a cidade se transforma. Há quem
ache muito bom”, avalia Fernando da Silva Monteiro,
morador da cidade. “Nosso hotel agora é concorrido,
tem até lista de espera, o que é renda certa no final
do mês. O investimento para o futuro tem que ser
feito agora”, afirma Jean da Silva Matos, do Thenda’s
Hotel. Nos restaurantes, na pizzaria da Dona Catulé,
nas lanchonetes, nas padarias, o empregado da Eletronorte, ou quem trabalha como terceiro para a Empresa, é o rei. O restaurante campeão de bilheteria no
horário do almoço é o do Seu Alfredo, na rodoviária,
pode acreditar! Mas também tem o Thenda´s Hotel,
mais conhecido como da Lilinha; nos outros, só por
encomenda. No Seu Alfredo, a melhor pedida é o comercial, fartura e bom preço. Um cuidado é imprescindível: à noite tem um bichinho, tipo besourinho,
que pode te molhar, o pior é que queima. Nada de
ficar ao relento e muito menos apertá-lo. Dica de
quem sempre vai para lá.
O comissionamento - A hora é de se concentrar
em pensamentos positivos e a torcida silenciosa é
para que tudo que foi checado e testado, por dias
ou até meses, se mostre perfeito na prática. Descrito
como o momento mais crítico e tenso do trabalho, a
corrente contínua
A obra – Está sendo implantado um arranjo definitivo da instalação com duas barras, disjuntor de
interligação de barras, seccionamento da linha Rio
Verde/Rondonópolis, circuito II, passando a ser a Rio
Verde/Barra do Peixe, circuito I com banco de capacitor série no terminal de Barra do Peixe e a linha Barra
do Peixe/Rondonópolis, circuito I, com banco de capacitor série também no terminal de Barra do Peixe. A
linha Barra do Peixe/Rondonópolis, circuito I passará
a ser a Barra do Peixe, circuito II e com banco de
capacitor série no terminal de Barra do Peixe. Para
proporcionar essa ampliação foram instaladas duas
salas de relés com sistemas de proteções digitalizados. Difícil de entender? Leia novamente, releia. Na
verdade o importante é saber que a subestação Barra
do Peixe está sendo ampliada e essa ampliação possibilitará maior confiabilidade na transmissão de energia elétrica.
39
energização dos equipamentos de uma subestação
é também a hora de verificar se o comissionamento,
o teste final de qualidade, cumpriu seu propósito.
É exatamente nessa fase que trabalham pelo menos 25 técnicos e engenheiros no pátio da subestação Barra do Peixe, no município de Ribeirãozinho.
Depois de obras de engenharia, montagem de equipamentos, planejamento e várias reuniões, o momento é do ajuste final, de fazer o trabalho que exige
atenção, cuidado, capacidade técnica e precisão. E
muita precisão, pois uma falha não identificada, deixada para trás ou ignorada, pode causar explosões,
acidentes ou simplesmente, muita frustração: os equipamentos podem não funcionar!
corrente contínua
A hora da verdade - Mas, mesmo diante de toda a
minúcia, das horas diárias de trabalho, da distância
da família, os técnicos e responsáveis pelo comissionamento em Barra do Peixe afirmam que o trabalho é prazeroso. “É neste momento, eu sempre digo
para a minha equipe, que é hora de aprender. Pois
no comissionamento temos tempo de checar, testar,
conversar com o fabricante, tirar dúvidas. É um trabalho gostoso quando feito de forma
planejada e organizada”, afirma o coordenador da equipe de eletromecânica,
o técnico José Gonçalves da Costa. Ele
lembra que a tensão da energização se
justifica muitas vezes pelo tempo dedicado a um equipamento e por aquela
ser ‘a hora da verdade’. “Com uma
equipe de até três pessoas, às vezes
levamos 15 dias para comissionar um
transformador, o principal equipamento de uma subestação. Ele é o que nos
toma mais tempo. São vários itens para
checar, verificar. E só sabemos com
certeza se está tudo bem, ao energizarmos o equipamento”. Desde que
começaram os comissionamentos, os
técnicos e responsáveis pelo trabalho
já energizaram cinco etapas, ou seja,
já concluíram definitivamente a maior
parte do trabalho. Agora faltam duas,
das quais a final está prevista para ser
concluída neste mês de abril.
40
A equipe - Além da equipe de eletromecânica, num comissionamento
atuam a de linha, que é responsável
por testar a prontidão e eficácia das
estruturas de barramentos aéreos, as
estruturas metálicas e ao final, energizar. E também, a equipe de sistema de
proteção, automação, comando e controle (SPCS), que testa as estruturas as
quais permitem o comando e o controle da subestação, do local e a distância, e como diz o nome da
equipe, também checa todo o sistema de proteção.
“O trabalho é muito puxado e corrido. A localidade é
de difícil acesso e para transportar as peças e mesmo o pessoal demanda um pouco de trabalho. Mas,
já energizamos um vão, ao todo são cinco”, conta o
coordenador da equipe de SPCS, Marcos Roberto
Nonato. A equipe de linha é a penúltima e também
a última a entrar na subestação. Depois de comissionar as estruturas de barramento aéreo e a das
torres, ela volta após a equipe do SPCS terminou o
seu trabalho, para finalmente, energizar. “Cabe a nós
fazer o fecho do trabalho. Ligamos um cabo a outro
com as mãos, ligando a estrutura antiga à nova, sem
desligar o abastecimento de energia. E quando tudo
isso dá certo, vemos no rosto de cada um o sorriso
de missão cumprida. É uma responsabilidade muito
grande, logo, quando tudo dá certo, vem o alívio”, relata o coordenador da equipe de linha, Wilson da Silva
Malheiro.
(Colaborou Cristina Souto Melo, da
Regional de Transmissão de Mato Grosso)
Infra-estrutura da Empresa vai facilitar as ações do governo
estadual e ajudar no comércio de excedentes em telecomunicações
Jéssica Souza
Uma das etapas do projeto Navega Pará,
desenvolvido pelo governo do estado em parceria com a Eletronorte, terá uma de suas fases
inaugurada neste mês de abril, em Marituba,
que está entre as cidades a serem beneficiadas
pelo Programa Digital Paraense. A ação marca
a interiorização e o início concreto das atividades previstas pelo projeto de inclusão digital, o
qual não teria grandiosidade e viabilidade não
fosse a infra-estrutura disponibilizada pela Eletronorte. Os trabalhos iniciaram-se em 2007 e
estão em fase acelerada de instalação.
O projeto de parceria começou a partir
da proposta feita pelo diretor de Produção e
Comercialização da Eletronorte, Wady Charone, ao governo paraense na perspectiva
de se aproveitar melhor o potencial óptico
da Empresa a partir da instalação de um
supersistema digital com densa capacidade
de transmissão de luz e ondas: o DWDM. De
acordo com Carlos Nylander (foto abaixo),
gerente da Divisão de Telecomunicações da
Regional de Transmissão do Pará, em troca
do investimento, o governo poderá ampliar o
seu projeto lançando mão da malha de fibras
ópticas dos sistemas de transmissão da Empresa, enquanto a Eletronorte comercializará
o excedente da capacidade instalada.
Atualmente, a Eletronorte dispõe de 36
fios de fibras ópticas instaladas ao longo das
linhas que interligam as subestações de Belém, Santa Maria, Vila do Conde, Tailândia,
Tucuruí, Jacundá e Marabá; e 24 nas subestações do Tramo-Oeste - Pacajá, Altamira,
Uruará, Rurópolis, Santarém e Itaituba, sendo
que estas são oriundas de negociação com a
Celpa. O papel que caberá à Empresa será o
de alugar canais de telecomunicações para
clientes como Vivo, Embratel, Oi e Brasil Telecom, ampliando a potencialidade de inclusão
digital no Pará. Direta e indiretamente, 20%
da população dos 64 municípios nas proximidades por onde passa o sistema de transmissão da Eletronorte serão beneficiados. Do
total de quase sete milhões de habitantes, a
intenção é chegar inicialmente a pelo menos
dois milhões.
“Concluímos que tanto a Eletronorte, quanto o governo estadual, economizaram considerável valor para desenvolver um projeto que,
com certeza, trará muitos resultados para a
população dos municípios envolvidos nessa
grande ação de inclusão digital e também do
ponto de vista social”, afirma Nylander. O projeto prevê ainda a construção de infovias e a
instalação de telecentros para uso geral e de
negócios, dentre os quais a teleducação e a
democratização do acesso à Internet.
De acordo com o cronograma de atividades da Eletronorte, a entrega da instalação do
sistema DWDM deve ocorrer até setembro de
2008. Desde dezembro de 2007, quando a
Empresa assinou o convênio de cooperação
técnica com o governo do Pará, até hoje, a
Eletronorte já desenvolveu ações como as de
vistorias e levantamentos em campo, bem
como as de elaboração e entrega dos manuais de instrução sobre os equipamentos.
Nesse momento, os empregados da Empresa
passam por treinamento preparatório. A instalação propriamente dita do sistema deve se
iniciar a partir do mês de maio de 2008.
corrente contínua
CORRENTE ALTERNADA
Eletronorte é parceira em projeto
que viabiliza inclusão digital no Pará
41
CIRCUITO INTERNO
corrente contínua
42
Programa de Qualidade de Vida traz benefícios
pessoais e profissionais para os empregados
Érica Neiva
Uma música leve sereniza o ambiente
onde ocorre parte das atividades do Programa Bem-Viver - ação de qualidade de vida
da Eletronorte -, conhecido como Espaço
Azul. Além deste espaço, os empregados são
beneficiados em suas próprias salas de trabalho. Em 2007, o Programa realizou 8.590
atendimentos, cujo objetivo é a prevenção de
doenças, promovendo o bem-estar físico e
psíquico dos trabalhadores.
As atividades começaram em 2000. Porém, em 2003 foi desenvolvido um trabalho
com os técnicos de saúde da Sede da Eletronorte e profissionais da Universidade de Brasília- UnB, a Pesquisa de Qualidade de Vida e
Estresse. A consulta buscou a complementação e o levantamento de informações sobre a
saúde, estilo de vida e hábitos do empregado.
É importante destacar que um dos indicadores considerados, o índice de absenteísmo
por doença, ou seja, a falta do empregado
ao serviço por problema de doença, que era
de 2,36% em 2004, em 2007 foi de apenas
1,0%, na Sede da Empresa.
O empenho da Eletronorte na busca de
atividades que visam a promover a saúde
e a reduzir o estresse do empregado foi reconhecido, em 2004, quando o Programa
Bem-Viver ficou como primeiro colocado,
na categoria Empresa Pública, na premia-
Yoga: reaprendendo a respirar
ção da Associação Brasileira de Qualidade
de Vida - ABQV.
O importante é contar com uma força de
trabalho saudável para que o nível de produtividade seja satisfatório. “Precisamos de empregados em condições de saúde integrais,
para que o nosso planejamento estratégico
não seja comprometido. Não adianta pensar
em redução de prejuízos e atingir metas, se
não há o principal elemento de uma empresa,
que é o ser humano com qualidade de vida.
O entusiasmo, a felicidade e o bem-estar do
empregado são elementos que contribuem
para melhor atuação do colaborador e para
que ele venha para o trabalho mais feliz”,
destaca o gerente de Promoção da Qualidade
de Vida, José Alberto Mascarenhas.
O Programa Bem-Viver compreende 15
atividades: massoterapia; ginástica laboral; reembolso-academia; teatro amador; coral; yoga;
cinesioterapia laboral; educação postural; circuito inteligente de energia; oficinas de qualidade do sono – insônia e apinéia; reeducação
alimentar; educação e prevenção do diabetes
mellitus; controle do tabagismo; e educação e
prevenção da hipertensão arterial.
Um sopro de vida - Uma respiração plena... O corpo executa movimentos e se molda
em posturas que garantem não apenas oequilíbrio físico; a mente busca aquietação e
tranqüilidade dos pensamentos para que se
Apesar de praticar os exercícios há apenas dois meses, o biólogo já percebe significativas mudanças no seu corpo. “A yoga trabalha grupos musculares que, geralmente,
não são exercitados. Permite percebermos
melhor o nosso corpo. Ainda estou na fase
de aprendizado, no entanto, sinto-me mais
flexível; o problema de coluna e as dores ósseas melhoraram. Também permite aumento
da concentração. Com o tempo, sei que vou
conseguir extrair mais benefícios da atividade”, expõe William.
Ginástica laboral (foto acima) - São 8h45.
Uma equipe de trabalho composta por dois
educadores físicos e seis estagiários sai a
campo. Em seus uniformes, uma combinação das cores vermelha e azul, percorrem as
salas da Sede da Eletronorte. A função desses
rapazes e moças é levar a ginástica laboral
corrente contínua
possa entrar em contato com o a essência e
profundidade de cada ser. Esse é o propósito
da yoga, prática e filosofia indiana que surgiu
no ano 8.000 a.C. Para Patañjali Yoga, mestre
que organizou esse conhecimento, “yoga é a
cessação das flutuações da mente”.
Na Eletronorte essa atividade teve início
em 2007. Hoje conta com quatro instrutores
e cinco turmas. A instrutora Aida Cruz reconhece que os alunos alcançam uma melhor
qualidade de vida no aspecto físico e mental. “Durante as aulas, percebemos que as
pessoas estão ficando mais alongadas, com
menos problemas de saúde. É importante
essa busca pela yoga, pois isso significa que
a pessoa, internamente, quer uma mudança.
Alguma coisa dentro dela está pedindo para
ser transformada”, afirma a instrutora.
Yoga quer dizer união. Seu elemento principal é o ato de respirar. “O primeiro sopro de
vida é a respiração. À medida que respiramos, tomamos consciência de nós mesmos.
Ao respirarmos bem, vivemos bem. Somos
aquilo que pensamos e a respiração tem uma
ligação direta com nossos pensamentos”, enfatiza Aida.
A instrutora relata o caso muito interessante de uma aluna que sempre tentava fazer
uma determinada postura da yoga, conhecida como postura da vela, mas o corpo dela
não conseguia subir. “Era uma luta entre ela
e seu próprio corpo. Há alguns dias, ela conseguiu. A sala toda comemorou, pois é um trabalho
de superação das pequenas
dificuldades. É como uma
criança que começa a dar
os primeiros passos. Ela vai
cair e continuar novamente
tentando”, conta Aida.
O biólogo William Katagiri (foto acima) trabalha há
pouco mais de um ano nas
ações socioambientais dos
empreendimentos da Eletronorte. Tal trabalho já o
possibilitou conhecer vários
lugares na Região Norte,
aproximando-o de hábitos,
culturas e costumes diversificados. Ele sempre buscou atividades que trabalhassem os
aspectos mental e físico. Crises de asma o levaram a fazer opção por melhor qualidade de
vida. Começou com corridas e, hoje, também
adotou a yoga para auxiliar na parte respiratória, força física e alongamento.
43
Malhação
e arte
O reembolso-academia
diz respeito à parte do
valor mensal (60% do valor, limitado a R$ 70,00)
pago pela Eletronorte ao
empregado para que este
pratique exercícios físicos
na academia de ginástica de sua preferência. O
programa teve início em
agosto de 2005 e hoje
atende um total de 433
empregados. As pessoas
que apresentam algum
fator de risco devem realizar exames e acompanhamento nutricional a cada
seis meses; para os que
não possuem nenhum
fator de risco, o acompanhamento é anual.
Desde o começo do
programa, há um grupo de controle composto
por 30 empregados que
possuíam pelo menos um fator de risco - pressão arterial,
índice de massa corporal, colesterol, triglicérides ou glicemia. Constatou-se, na última avaliação, que 12 deles não
apresentavam mais nenhum fator de risco e que o restante
possuía melhorias no resultado dos exames.
corrente contínua
Coral - O Programa Bem-Viver abrange também atividades artísticas para proporcionar ao empregado da Eletronorte maior contato com seu talento e sensibilidade.
O coral da Eletronorte surgiu em 1978. Fez importantes exibições, viajou, participou de festivais e encontros.
44
diretamente ao local de trabalho. A atividade
começou em 2005, com a proposta de prevenção de doenças ocupacionais.
Os exercícios físicos aplicados no local de
trabalho duram entre sete e dez minutos, e
decorrem de um plano de aula padronizado
para toda a Empresa. Essa padronização possibilita que os resultados possam ser medidos
e se tornem mais concretos. Em 2007, a média diária de participação foi de 700 empregados. Para o educador físico Márcio Falcão,
a ginástica laboral não é apenas uma maneira
Apresentou-se para o ex-presidente da República João
Figueiredo, ministros e o Papa João Paulo II. Hoje reúne
um coro de 50 vozes e encontra-se sob a regência do
Maestro Deyvison Silva de Miranda.
Por sua vez, em 1997, houve a primeira apresentação
do teatro amador da Empresa. A peça intitulada Ser Mãe e
Trabalhar na Eletronorte é... foi escrita, dirigida e encenada
por colaboradores. Narrava a trajetória de uma empregada, desde seu período de estágio na Empresa até sua aposentadoria, destacando seu desenvolvimento profissional
e pessoal. A partir daí, o grupo de teatro não parou mais.
de prevenir doenças ocupacionais. “Trabalha
também a interação entre colaboradores,
sem atrapalhar a sua rotina. Alcançamos
bons resultados com relação à diminuição de
atestados e afastamentos por problemas osteomoleculares, sem contar que as pessoas
relatam mais conforto no trabalho e redução
de dores”.
Outra característica importante da ginástica laboral é a participação de estagiários.
São selecionados estudantes do último ano
do curso de Educação Física que permane-
Circuito Inteligente de Energia – O termo
Circuito Inteligente de Energia não é apenas
uma analogia à atividade desenvolvida pela
Eletronorte. Ele também diz respeito aos
exercícios físicos que são realizados em um
circuito dividido em estações e composto por
cama elástica, step, aparelho de abdominal,
corda, pesos, extensores de elástico, bola
suíça, estacas para demarcar corridas, entre outros. “São materiais simples e de baixo
custo, o que viabilizou a implementação dos
exercícios. Alcança o mesmo objetivo que
uma academia oferece no tocante ao condicionamento físico”, esclarece o professor de
Educação Física Márcio Falcão.
O objetivo da atividade foi retirar o empregado do sedentarismo, tornando-o mais ativo,
com melhor condicionamento físico. O cumprimento desse propósito leva a adoção de
alguns cuidados com a segurança do aluno.
O primeiro deles reza que todos passem por
uma avaliação multidisciplinar com fisioterapeuta, nutricionista, profissional de Educação
Física e cardiologista para o teste cardiorrespiratório.
Os exercícios, praticados
duas vezes por semana durante 30 minutos (foto ao
lado), são alternativa para as
pessoas que não têm tempo
para realizar atividades físicas fora da Empresa. Os resultados dos primeiros testes
de reavaliação detectaram
melhora nos índices de colesterol e também emagrecimento de alguns alunos.
“Um dos objetivos da Educação Física é a promoção
de saúde. Estamos no ambiente de trabalho realizando
um programa de atividade física. Isso é algo
novo nas empresas e a Eletronorte é uma das
pioneiras”, avalia Falcão.
Horário cronometrado. Às 6h30, a assistente de Processamento de Dados da Eletronorte, Lucimar Nunn (foto acima), sai de casa
com as filhas de 8 e 11 anos; deixa-as na escola e segue para a Empresa. Meio-dia retorna
à escola para apanhá-las e, freqüentemente,
depara-se com engarrafamentos. Ao chegar
em casa, almoça rapidamente e retorna para
concluir mais um dia de trabalho.
Nesta vida corrida de dupla jornada, onde
Lucimar tem que se desdobrar como profissional, mãe e mulher, as atividades do Programa Bem-Viver, entre elas a do circuito e
yoga, surgem como uma oportunidade para
se permitir conceder um pouco de atenção
a si mesma. “Os exercícios significam um
momento de relaxamento, quando estou em
sintonia comigo mesma. Nossa vida é tão
corrida que, às vezes, não tiramos um tempo
para nós. No caso do circuito, são 30 minutos
dedicados a mim. Isso é muito importante,
pois é uma forma de harmonizar a vida de
nós mulheres e também aumentar a nossa
auto-estima”, reflete Lucimar.
corrente contínua
cem na Eletronorte por um ano. Para a estudante da Universidade Católica de Brasília,
Juliana Natalhie de Ávila, 24 anos, o trabalho em equipe permite aprimorar seus conhecimentos e, conseqüentemente, atender
melhor aos empregados. “Sinto que nosso
trabalho é valorizado. Algumas pessoas que
não faziam a aula passaram a fazê-la, adquirindo a consciência da importância dos
exercícios no seu dia-a-dia. O estágio é importante, pois me permite praticar o que
aprendo na faculdade. Assim, estarei mais
bem preparada para ingressar no mercado
de trabalho”.
45
corrente contínua
Oficinas preventivas – O Programa Bem-Viver também é composto por oficinas educativas cuja marca é a multidisciplinaridade entre
as diferentes áreas – Nutrição, Serviço Social,
Psicologia, Fisioterapia, Medicina, Educação
Física e Odontologia. Entre elas podemos citar a oficina de qualidade do sono; educação
e prevenção do diabetes mellitus; educação
e prevenção da hipertensão arterial; controle
do tabagismo e reeducação alimentar; totalizando a participação de 170 pessoas.
Um dos grandes objetivos das oficinas é
apostar na prevenção de doenças. “Sempre
fui muito a favor deste tipo de programa,
seja em empresas ou no serviço público de
saúde, pois acho que
enquanto não investirmos em prevenção, pior
fica. Os dados de obesidade, hipertensão, diabetes, tabagismo, entre
outros, são alarmantes.
Portanto, medidas que
enfocam a prevenção
são essenciais e devem
ser a prioridade de todo
e qualquer serviço”, destaca a nutricionista Aida
Ribeiro.
Desde 1976, o administrador Afrânio Rodrigues (foto acima) trabalha na biblioteca da Eletronorte. Durante
esse período, a biblioteca passou por grandes
transformações, porém sua paixão pelo trabalho permanece a mesma. “Não sou formado em biblioteconomia, mas sempre trabalhei
em bibliotecas. Há 32 anos estou na Empre-
46
sa. É um trabalho que faço com prazer. O que
mais me encanta é o aprendizado das pessoas, o saber e a vontade de aprender mais e
mais”, admite Afrânio.
Se a vida profissional de Afrânio é marcada
pela satisfação e realização, a vida pessoal foi
palco de algumas turbulências. Ao se deparar
com os resultados dos exames periódicos, tomou um grande susto quando o médico perguntou se ele queria suicidar-se. “A maneira
como o médico falou mexeu muito comigo.
Ele foi radical, pois eu estava desatento com
a minha qualidade de vida”, reflete.
Diante do susto pregado pelos exames,
Afrânio ficou um pouco desanimado, mas
conscientizou-se e tomou uma atitude para
superar os problemas de saúde. Procurou
a oficina de reeducação alimentar e, sem
hesitação, inscreveu-se. Hoje tem certeza
de que a sua iniciativa e força de vontade
foram fundamentais para reverter o quadro
de saúde.
Ele torna-se visivelmente entusiasmado ao
falar dos resultados. “Foi excelente sabermos
o que podemos, ou não, comer. Chegava ao
supermercado e pegava o produto mais barato. Hoje, olho no produto as calorias, se contém açúcar, e também a questão da validade.
Cheguei a emagrecer mais de quatro quilos.
Na época, elogiaram-me, pois fui o participante da oficina que perdeu mais quilos. Levei a sério mesmo. Agora tenho mais disposição, faço caminhadas e durmo bem. Foi uma
mudança de 180º”, relata o administrador.
Cinesioterapia laboral – Em setembro de
2007 foi feita uma pesquisa na Eletronorte
para saber quantas pessoas sentiam algum
desconforto ósseo-muscular. A
partir daí, abriram-se as inscrições para os interessados em
participar de uma atividade voltada para atenuar essa dor ou
desconforto. Iniciou-se, assim,
a cinesioterapia laboral que se
constitui na prática de exercícios
preventivos, orientados e supervisionados por uma fisioterapeuta e educadores físicos, voltados
para a região lombar, cervical,
torácica e membros superiores
(foto ao lado).
As aulas acontecem duas vezes por semana, durante 20 minutos. A atividade compreende
15 sessões, em que também
O analista de suprimentos, Cleyber Cunha
(acima), faz parte da turma que está concluindo a série de 15 sessões. Ele procurou
a atividade por sentir dores na cervical e está
satisfeito pelo resultado obtido. “Desde o início da cinesioterapia senti grande melhora.
As dores na cervical diminuíram consideravelmente, ou melhor, quase não as sinto.
Outro ponto positivo foi a minha postura na
estação de trabalho com o posicionamento
correto do computador e a regulagem adequada da cadeira”.
A realização de um sonho – Em 1994, não
passava pelos planos da massoterapeuta
Eline T. F. Acampora vir morar em Brasília.
Ela residia no Rio de Janeiro e acompanhava as primeiras notícias sobre a aplicação da
massagem em ambientes de trabalho nos
Estados Unidos, Japão e China. Punha-se a
questionar quando essas experiências seriam
vivenciadas no Brasil.
Dois anos se passaram e, em 1996, Eline mudou-se para o DF. Em 2000, tornouse uma das pioneiras na prática da massoterapia na Eletronorte. No início, a prática
da massagem dava-se nas próprias salas
de trabalho. “No começo, eu saía nas salas
oferecendo massagem e as pessoas ficavam
encantadas e questionando se o serviço seria
descontado no salário. Com o passar do tempo, a equipe foi crescendo. As pessoas foram
experimentando e vendo que era grande o
beneficio tanto pessoal, quanto profissional”,
destaca Eline.
A massoterapia (abaixo) possibilita às pessoas terem maior consciência do seu corpo
e da própria respiração. “Ela ajuda a relaxar,
amenizar o estresse, melhorando a nossa
qualidade de vida. Conseqüentemente, aumentamos a nossa produtividade na Empresa”, afirma o assistente administrativo que
recebe massagens há sete meses, Douglas
Faria dos Santos. Em 2007 foram realizadas
4.827 massagens, o que demonstra uma média de 402 massagens por mês.
corrente contínua
são passadas informações com relação à
postura e atividades do dia-a-dia – como
regular o banco do carro, realizar a limpeza
da casa sem prejudicar a coluna, carregar
peso, entre outras. Há orientações referentes ao ambiente de trabalho – regulação da
cadeira, posicionamento correto do monitor,
teclado e mouse. A fisioterapeuta responsável pelo plano de aula da cinesioterapia,
Leane Faria Carvalho, frisa que a finalidade da atividade não é a cura. “O objetivo é
educar as pessoas e dar orientações para
evitar que o problema evolua. Inicialmente, começamos trabalhando a respiração
abdominal; depois fazemos alongamento
para a região com dor e também exercícios
posturais e de fortalecimento. No final é realizado o relaxamento”.
47
TECNOLOGIA
Soluções bioenergéticas:
bem-vindos ao século da energia!
Fim do petróleo = crise energética? Que nada!
Cientistas provam que estamos cercados de boas energias e apenas
começamos a descobrir o admirável universo das fontes renováveis
corrente contínua
Byron de Quevedo
48
O petróleo chegou a US$ 110,00 o barril
e o mundo está menos em pânico hoje do
que há quase 40 anos, durante a primeira crise mundial de abastecimento deste insumo,
quando o barril não ultrapassava US$ 48,00:
países chegaram a ir à guerra pelo chamado
ouro negro. Entretanto, o alarme dos anos 70
mostrou que, se algo não fosse feito com urgência, várias nações entrariam em colapso,
principalmente se ficassem a depender exclusivamente dos países exportadores de gás
e petróleo. Governos, empresas e cientistas
voltaram então as suas atenções para outras
soluções viáveis.
A Eletronorte, uma empresa geradora e
transmissora de energia, de origem hidrotér-
mica, logo percebeu que fontes alternativas
deveriam vir a se somar ao potencial do seu
parque gerador, hoje na ordem de 9.737 mil
MW, tendo em vista a crescente demanda por
eletricidade no País. Nesse sentido, passou
a montar equipes de estudo e a desenvolver
programas de pesquisa e desenvolvimento
que antecipadamente apresentassem soluções viáveis para a Amazônia, sua área básica de atuação.
Ércio Muniz Lima, gerente de Desenvolvimento Energético em Comunidades Isoladas
da Eletronorte, apresenta os inventos, procedimentos e processos implantados ou em
implantação que ajudarão o Brasil atravessar
este que já sendo chamado de “O Século da
Energia”. Conversamos também com o químico e cientista Camillo Machado, 88 anos,
um dos pioneiros nos estudos de fontes renováveis de energia no mundo. Seus primeiros
inventos sobre o tema são anteriores aos anos
40, época dos carros devoradores de gasolina. Ele inaugurou o ciclo de pesquisas na
Eletronorte, em 2000, com uma palestra para
cientistas e técnicos da Empresa sobre biocombustíveis.
Atualmente, seu olhar paira além dos horizontes energéticos. Ele investiga o potencial
de germinação das plantações e, com sua
tese “Envelhecimento Precoce da Terra”, já
vislumbra a possibilidade de que, com as colheitas em massa de vegetais para produção
dos biocombustíveis, áreas improdutivas precisarão ser recompostas precocemente para
que as produções não decaiam por safras
contínuas.
Deixei essa invenção de lado, pois os biocombustíveis e os estudos do envelhecimento
precoce da terra não me deixavam dormir”,
comenta Dr. Camilo.
O mundo gera mil toneladas de lixo por segundo. Algo tem que ser feito com urgência.
Camilo Machado adverte que as liberações
de eletricidade em lixões não reduzem a geração de gases, já usados inclusive para a geração de energia elétrica. Atualmente o tema
tem sido objeto de vários trabalhos científicos
onde se procura obter fontes alternativas de
energia a partir da atuação de determinadas
bactérias em esgotos, produção de energia
em microeletrônica, alimentação de marcapassos etc. Um dado importante: bactérias
geram energia 24 horas por dia.
Camilo
e Ércio:
histórias
diferentes,
objetivos
comuns
corrente contínua
Bateria de microorganismos - Um dos primeiros inventos do Dr. Camilo, ainda iniciando a carreira de cientista da energia, ultrapassou as expectativas do próprio autor da idéia,
que a relegou a segundo plano há quase 60
anos, como se fosse um invento menor, sem
perceber que este poderia vir a ser uma solução energética amplamente estudada pelos
centros de pesquisa em energia no mundo,
neste novo século. Hoje há, inclusive, seminários internacionais específicos para acompanhamento de pesquisas sobre o assunto.
Trata-se da Bateria de Microorganismos, uma
descoberta intrigante.
Camilo investigou os sucos de carnes apodrecidos e verificou que além de uma intensa
atividade bacteriológica, havia a liberação de
eletricidade. A experiência foi apresentada ao
grande público, pela primeira vez, na I Feira
Nacional de Ciência, no Pavilhão São Cristovão, Estado da Guanabara, em setembro de
1969. O seu simples artefato mostrou que era
possível gerar uma diferença de potencial de
1,8 Volt e, assim, acender uma microlâmpada. Tratava-se de uma reação química de oxidorredução, na qual elétrons são extraídos de
um dado meio orgânico.
“Ficou evidente que na decomposição
acontecia um processo com energia possível
de captação. Sua aplicabilidade ainda precisa voltar a ser mais bem estudada, mas a
tese, como princípio, funciona. E agora, com
as novas tecnologias, há a possibilidade de
produção de grandes volumes de energia
em campos putrefáticos. Talvez estejamos
perdendo milhares de megawatts por não
utilizarmos o potencial energético dos lixões.
49
Sobre a bateria de microorganismos, Ércio
Muniz esclarece que são processos bioquímicos e fisioquímicos e, ao contrário do que
pensa o Dr. Camilo, o assunto não estagnou e
as alternativas biológicas já contemplam um
vasto campo de conhecimentos acumulados.
“A Universidade de São Paulo, por exemplo,
usa células fotovoltaicas com pigmentos de
plantas; ou seja, é a repetição em laboratório
do processo da fotossíntese, com pigmentos
que recebem a energia do sol e gera eletricidade. Ao invés de passar os raios do sol por
placas de silício, cientistas já estão usando
o processo orgânico: pigmentos de plantas,
como o cupuaçu, que recebem a luz do sol
e geram eletricidade. Este é um processo de
acumulação de conhecimentos sobre energia
que começou com pioneiros como o Dr. Camilo, sem dúvida”.
corrente contínua
Energia da madeira - Na Eletronorte, dois
importantes trabalhos estão sendo desenvolvidos no Acre: o levantamento das oleaginosas nativas e o inventário de resíduos florestais, verificando-se o potencial de sobras de
madeira para fins de produção de eletricidade. “Nos projetos de manejo oficiais e nas
serrarias, levantamos o material disponível
para gerar energia. Temos várias áreas de
manejo controlado no estado, em Cruzeiro do
Sul, Rio Branco, Carauacá e Assis Brasil, com
madeireiras licenciadas geradoras de resíduos: folhas, cascas de árvores, serragem, tocos, raspas, lascas e sobras de madeira, que
hoje se tornaram um passivo ambiental com
utilidade”, afirma Ércio.
Dr. Camilo, entretanto, adverte que a queima de sobras de madeiras para a geração de
eletricidade acarreta uma emissão de CO²
na atmosfera, o que exige um processo de
50
limpeza da fumaça e, mais uma vez, sugere
um dos seus inventos simples e eficazes: os
tanques de sucção, pois de nada adiantaria
resolver o problema da energia e da eliminação de sobras, e por outro lado contaminar
ainda mais a atmosfera. Ele recomenda o uso
de exaustores intermediários nas chaminés,
com dutos fazendo a sucção dos gases para
tanques preparados, por exemplo, com hidróxido de potássio (as cinzas da serragem
das próprias serralherias diluídas em água), o
que converteria o CO² em sais minerais para
vários usos industriais
“Toda combustão industrial provoca emissões. Temos que saneá-las antes de liberar os
gases nocivos na atmosfera. Neste caso, podemos fazer canalizações obrigando que os
gases retornem e passem por processos que
os convertam em outras substâncias. No caso
da passagem do CO² através do hidróxido de
potássio, obtemos um sal de potássio: o carbonato de potássio, ao mesmo tempo em que
formamos outros elementos que compõem
uma boa adubação”, explica o cientista.
Envelhecimento precoce da terra - Tanto
para áreas em comunidades isoladas, como
para grandes plantações, haverá sempre um
momento em que se esgotarão os sais minerais e a terra necessitará de ter sua adubação
recomposta. Nesse sentido o Dr. Camilo tem
uma patente nova denominada “Envelhecimento precoce da terra”. Ele explica que
nem sempre os vegetais encontram o sódio,
o potássio, o fósforo (o NPK, o adubo perfeito)
pronto para absorver. A partir dessa premissa, ele criou o CMV, um quelador que traz de
volta a fertilidade. CMV significa Camilo Machado e Maria Vilma, em homenagem à sua
esposa (foto ao lado).
Esse quelador é um substrato natural que
reduz as substâncias, favorecendo a absorção pelas plantas, e atua facilitando a ação
do nitrogênio. O produto foi testado em plantações e demonstrou ser um excelente recuperador de áreas degradadas: nas fileiras de
feijão com o quelador, por exemplo, o vigor e
o crescimento dos vegetais chamaram a atenção seis meses depois do plantio. “Creio que
até em áreas desérticas, se tivermos água,
ele será capaz de recuperá-las”, diz Camilo.
Segundo ele, é possível reverter uma terra infértil num período de até dois anos. “Com o
meu quelador esee tempo diminui para três
meses. Isto acontece porque a terra precisa
de tempo para a acumulação de nutrientes.
Mulher de cientista
Se os elementos químicos já estiverem próximos às raízes, as plantas os absorverão economizando energia e crescendo mais rápido.
Ao ganhar tempo nas colheitas consegue-se
o tempo necessário para se evitar o desabastecimento de vegetais, tanto para a produção
de combustíveis quanto para a geração de
alimentos”.
O cientista explica melhor: “Temos que
envelhecer a terra precocemente para que
ela possa receber as sementes, produzir e
restabelecer o equilíbrio ecológico. E por
dizendo que ele estava doente. E começamos a nos arrumar
para sair. De repente toda a escola estava na porta de minha
casa para visitá-lo. Eu chorei muito e ele correu para cama
para se fingir de doente. Muitos alunos tinham pais médicos e
foi uma situação muito engraçada, mas estressante. De qualquer forma, sinto-me orgulhosa por ter um marido inteligente.
Ele é muito modesto, mas eu sei o quanto é culto. Nossa união
tem sido muito abençoada. Temos quatro filhos maravilhosos.
Um engenheiro da Nasa, há alguns anos, assistiu uma experiência sobre biocombustíveis do Camilo e queria nos levar
todos nóspara os Estados Unidos, com tudo pago, mas ele
disse que preferia desenvolver seus inventos no Brasil.
- O que a senhora diria para as mocinhas de hoje em dia?
- Digo que se o pretendente for uma pessoa boa, não tem
problema se casar com um cientista. Principalmente se as
invenções não alterarem uma outra parte da pessoa. Camilo
sempre foi um companheiro íntegro, honesto e com nobreza
de sentimentos. E o que mais me conquistou nele foi o caráter.
Eu o escolhi por ser um homem bom. Hoje em dia os amores
parecem tão inconstantes, não é?
- O fato de ser ele um químico ajudou na química entre vocês?
- Ele diz que um elemento é perfeito quando resiste aos processos de fracionamento, apresenta constância nas suas propriedades e mantém as qualidades nas intempéries. E como
ele sempre foi firme e com qualidades constantes, creio que
combinamos quimicamente. Somos muito cordatos e vivemos
harmoniosamente.
outro lado, aumentar as áreas verdes. As
plantas, pela fotossíntese, ajudarão a eliminar os excessos de poluidores aéreos. Se
não resolvermos estas questões, distúrbios
ecológicos sérios poderão acontecer. Na
atmosfera temos 78% de nitrogênio, 20%
de oxigênio e 2% de gases nobres: argônio,
xenônio, capitólio, neônio, radônio e o hélio. Eles não combinam e não temos como
produzi-los. Se diminuir o oxigênio e os gases nobres se rarifizerem, os efeitos serão
sentidos. Entre outras funções, eles agem
corrente contínua
No dia 8 de março comemorou-se o Dia Internacional
da Mulher. Como forma de homenageá-las falamos com
a virtuosa pianista e esposa do Dr. Camilo Machado, Maria Vilma Dau Machado, sobre a sua vida ao lado de um
cientista, um homem controvertido e com contribuições
para o Brasil e o mundo. Dizem que atrás de todo homem brilhante existe uma grande mulher. Mas no caso
de Camilo e dona Vilma, foi diferente, ela sempre esteve atrás, ao lado e a maior parte das vezes à frente do
seu homem. Eles foram como o sol, a terra e satélites
em órbitas que se interagem em seus abraços siderais.
E hoje, após uma pequena eternidade de meio século
juntos, o universo continua conspirando a favor dessa
família feliz.
Vilma conheceu o jovem Camilo ainda meninota,
como ela mesma gosta de dizer, quando vinha do colégio de freiras, e viu muita gente em volta de um rapaz
falante numa praça. “O que se passa?” – perguntou.
“Aquele moço ali está fazendo uma gasolina inventada
por ele!” – responderam alguns descrentes. Nunca imaginaria que o inventor viria a ser um dia o seu marido.
Coisa do destino. Engraçado que aquele não era o caminho normal dela ir para a escola: era um atalho. Só
depois de muito tempo voltaram a se encontrar. Foi um
namoro a distância, pois ele morava em Goiânia e ela
em Franca (SP), mas se correspondiam.
- Valeram à pena todos estes anos vida juntos?
- Tem sido muito bom, porque com o Camilo conheci
pessoas eminentes, cientistas, que não são de minha
área, mas que eu aprendi a gostar. Eu estou sempre
acompanhando-o. Não sei se dei alguma contribuição,
mas fui aquela companheira constante. As experiências
dele no fundo do quintal já me queimaram muitas vasilhas, recipientes, colheres, que eu gostava, mas tudo
bem, pois ele lançou mão do material disponível no momento. Tivemos momentos difíceis como uma vez que
eu queria ir ao cinema, que eu adorava, e ele nunca podia ir comigo, pois estava sempre lecionando ou pesquisando. Então telefonei para o colégio que ele lecionava
51
Belém se prepara para receber um dos mais
importantes centros de produção de biodiesel
A Eletrobrás está investindo na montagem de uma planta-piloto em Belém (PA) para produzir biodiesel a partir da
reação de óleo de dendê com etanol. A substância, que
terá o selo de certificação da Agência Nacional de Petróleo
- ANP, será testada como combustível de motores estacionários e como fonte de geração de energia elétrica. Desenvolvido pela Universidade Federal do Pará -UFPA, envolvendo diversas parcerias, o projeto contará, somente na
Região Norte, com investimentos de R$ 800 mil, chegando
ao total de R$ 4,7 milhões, se somado o financiamento que
será destinado às demais regiões do País. A usina de biodiesel de Belém já está em fase avançada de construção
no laboratório de Engenharia Química da Universidade. A
expectativa é a de que a usina entre em operação já em
abril de 2008.
O incentivo à produção de biodiesel é de interesse do
Governo Federal, que pretende se tornar menos dependente do petróleo como fonte de energia e se beneficiar
das vantagens garantidas pela utilização de combustíveis
à base de ésteres graxos, entre elas as de preservação
ambiental, fomento à agroindústria e ao desenvolvimento
sustentável. O projeto da Eletrobrás conta com o apoio do
Instituto Militar de Engenharia -IME e do Centro Tecnológico do Exército (Cetex).
A capacidade de produção será de sete mil litros de
combustível por semana. A unidade do Pará deverá ser
semelhante à implantada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa em Rio Preto da Eva, no Estado do Amazonas. Além dos profissionais de engenharia
química, coordenados pelo professor Luiz Ferreira de França (foto acima), que acompanharão de perto o trabalho de
produção do biodiesel, as pesquisas, na UFPA, envolverão
o Departamento de Química, que fará o controle de qualidade do produto, e o de Engenharia Mecânica, responsável
pelos testes nos motores de produção.
corrente contínua
Dendê - O óleo de dendê necessário para a produção
do biodiesel será adquirido nas empresas produtoras da
52
como os lubrificantes das vias respiratórias.
Se, por exemplo, um recém-nascido ficar num ambiente sem estes gases, após
umas 500 respirações os seus narizes
começarão a sangrar - são gases harmonizadores. Deus criou as suas dosagens
certas e não podemos alterá-las. Manter
os ecossistemas não é apenas uma questão visual - belas paisagens, rios etc. -, é
questão de sobrevivência”.
região, como a Agropalma. Segundo explica o professor
França, o combustível pode ser facilmente produzido
tendo como matéria-prima qualquer planta oleaginosa. No caso da Amazônia, são exemplos as árvores de
andiroba, ucuúba e tucumã. Mas o projeto escolheu o
dendê porque o Pará tem em suas proximidades cinco
milhões de hectares de terra pronta para o cultivo desta
espécie.
O Governo, inclusive, oferece incentivos fiscais para
a exploração dessa palmeira, pois é a que traz mais vantagens no que se refere às práticas do desenvolvimento sustentável na região. Já no Nordeste, por exemplo,
o produto primário previsto no Programa Nacional de
Produção de Biodiesel é a mamona, de modo que em
outras localidades a matéria-prima escolhida também
deve estar de acordo com as características regionais.
Outra substância indispensável para a produção do
biodiesel na UFPA será o etanol, produto químico que
entra em reação com o óleo vegetal. De acordo com
o professor França, apesar de algumas empresas já
utilizarem o metanol como matéria-prima no mesmo
processo, a Eletrobrás incentiva a utilização do etanol
Dr. Camilo também sugere transformar
poluentes em produtos de mais fácil assimilação pela natureza. A presença de cloro,
enxofre e outros poluentes de terras, rios e
mares tem que ser eliminada. Ele criou catalisadores que podem retirar subprodutos nobres de poluentes. De um pneu, por exemplo, é possível extrair em torno de um litro
de diesel, vários graxos, intercapa de asfalto
e outros derivados, transformando-os em
Dendê: óleo de palma
vira biodiesel
componentes de preços com a redução dos
custos deste tipo de diesel. “O catalisador é
um substrato orgânico, que estando presente em uma reação e havendo calor, quebra
a molécula, reage e transforma produtos em
outros subprodutos. Ou seja, se a molécula
é longa ela poderá gerar moléculas menores
como metano, etano, propano, butano. Este
catalisador pode quebrar também polímeros,
como o óleo da mamona, plásticos e outros
agroindústria”, observa França. Sem falar, é claro, no ganho científico e tecnológico que o Brasil inteiro receberá a
partir do desenvolvimento das pesquisas.
Processo de produção - O dendê é uma palmeira originária da costa ocidental da África. A espécie chegou ao
Brasil por volta do século XVII e se adaptou facilmente ao
clima equatorial. O principal produto do dendezeiro é o óleo
extraído industrialmente da polpa do fruto, o óleo de palma.
No Brasil, a produção anual do óleo de palma está em torno de 80 mil toneladas. O País consome 280 mil toneladas
de óleo de dendê e derivados e importa em torno de 180
mil toneladas. O maior potencial mundial para a produção
do óleo é o brasileiro, sendo o Estado do Pará o responsável
por 70% dessa produção em todo o Brasil.
Para se transformar em biodiesel, o óleo de palma precisa entrar em reação com o etanol, ou demais ésteres
graxos, de modo que passa por um processo denominado
transesterificação, onde os lipídios (gordura) presentes na
substância são modificados a partir da utilização de hidróxido de sódio ou de potássio como catalisadores.
(Colaborou Jéssica Souza, da
Regional de Transmissão do Pará)
produtos. Ou seja, ele pode gerar vários subprodutos, inclusive gasolina. O etileno, por
exemplo, pode-se polimerizar e se obter o
polietileno. Se fizermos esta mesma reação
com o propileno, teremos o propilideno: um
plástico”, enfatiza o cientista.
Mamonas divinas - Agora, quando se fala em
surpreender nada bate a mamona. Questionados sobre o que seria possível se fazer com
corrente contínua
por este ser de caráter renovável e muito menos tóxico
para o meio ambiente. Dessa forma, chega-se a uma
mistura de ésteres graxos que substitui o óleo diesel
comum como um combustível não muito poluente. “O
CO2, principal gás causador do efeito estufa e da destruição da camada de ozônio, quando produzido pela
queima de óleo vegetal e etanol, é consumido pelas
próprias plantas oleaginosas, criando um ciclo permanente de produção e consumo que evita grandes
agressões à natureza, já que provoca diminuição na
concentração do dióxido de carbono na atmosfera”,
explica o pesquisador.
O biodiesel produzido na usina do Laboratório de
Engenharia Química terá certificação de qualidade de
acordo com a Resolução nº 42 da ANP e poderá, em um
futuro próximo, substituir totalmente o uso do combustível comum no mercado brasileiro. “Aí entram em cena
as demais vantagens econômicas e sociais da produção
de biodiesel, que são, entre outras, a comercialização
do álcool etanol para ser utilizado em veículos automotores e para geração de energia elétrica; e o incentivo
à fixação do homem no campo por meio do fomento à
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a mamona, além dos bicombustíveis, Ércio e
Camilo riram. Ércio apontou para um shopping
center ao lado e disse: “Tirando os seres vivos, a água e o ar, tudo que tem no shopping,
incluindo o próprio”. Já o Dr. Camilo foi mais
além, e com o seu jeito de homem do interior
apontou para o céu e para o chão e exclamou:
“A mamona é polímero. Dela se faz os únicos
lubrificantes não-congelantes para espaçonaves, milhões de objetos e fluidos e o melhor
e mais ecológico combustível para se locomover na terra. Mas seus produtos são melhores
quando craqueados, ou seja, quando aquecidos, conduzidos à torre de craqueamento e
subdivididos em vários subprodutos!”
corrente contínua
A tecnologia
permite
aproveitamentos
diferenciados
54
Ércio completa: “Da mamona se consegue
biocombustível pelo craqueamento ou por
transesterificação. Os 40 bilhões de litros de
diesel de petróleo que o Brasil consome por
ano já recebem 2% de biodiesel. Este percentual, embora ainda pequeno, evita que
800 milhões de diesel sejam consumidos.
Sob o ponto de vista tecnológico, creio, podemos usar até 100% de biodiesel nos motores. Os laboratórios de motores Lactec, IME,
IPT, Cope e Cepel são capazes de condenar
o óleo vegetal que cause danos aos motores.
Acompanhamos testes de 1.500 horas de
funcionamento de motores movidos a biodiesel e não vimos nenhuma perda de potência.
Se tivermos produção suficiente para compor
a matriz ‘óleo combustível x óleo para alimentação’, não haverá problemas desde que se
usem os resíduos das oleaginosas para a produção dos óleos vegetais”.
Entusiasmado sempre quando se fala em
biocombustíveis o Dr. Camilo é ainda mais
contundente: “Creio que estamos começando
a perceber as coisas. Os países ainda desperdiçam insumos nobres com porcarias. Imagine fabricar pneus e solas de sapatos com
látex de borracha, um produto nobilíssimo.
Outro dia estava num seminário e quando eu
disse que faço gasolina azul puríssima com o
látex amazônico, todo mundo me olhou admirado!”
Eletronorte estuda soluções
com os comentários das donas-de-casa. Ele funciona
com vapor de uma pequena caixa d´água aquecida. A
serpentina leva o vapor até um locomove - um motor
de trem-de-ferro pequeno - que faz girar um dínamo
de motor de automóvel – no caso, de um VW Brasília,
que, por sua vez, gera a energia e a armazena numa
bateria. A energia pode ser consumida em 110 ou
220 Volts acendendo até quatro lâmpadas e fazendo
funcionar eletrodomésticos e microcomputadores”.
Craqueamento - “Nossa atuação no Acre tem sido
intensa. No Centro de Tecnologias Renováveis desenvolvemos o biocombustível com óleos regionais. Temos
uma usina de craqueamento catalítico (foto abaixo) e
outra de transesterificação, com a produção de 800
litros por dia, consumida pela frota de ônibus local;
levantamos a potencialidade
energética das oleaginosas;
construímos uma unidade de
extração de óleos no interior
do estado; fizemos 11 microcentrais de geração com
capacidade de 500 a 1.000
quilowatts; duas pequenas
centrais hidrelétricas de cinco mil quilowatts cada; e com
o Centro de Aprendizagem e
Capacitação da Amazônia Legal fizemos parceria para o
plantio experimental de dendê”, enumera Ércio.
Abelhas turbinadas -Quanto à sua sintonia com a natureza, o biodiesel brasileiro
surpreende a cada dia, por
não conter elementos nocivos como o
enxofre e o chumbo. É um produto nobre sob o ponto de vista ambiental. Ércio Muniz relata uma bela experiência:
“Ano passado, viajávamos numa caminhonete movida a 100% de biodiesel
pelas estradas do Acre. Ao pararmos
para um café vimos muitas abelhas
pousando no cano de escapamento
do carro. Cremos que elas sentiram-se
atraídas, pois o biodiesel é um produto tão natural que algo nele deve servir
como alimento para as abelhas, normalmente arredias a qualquer produto
tóxico. Abelhas bebendo os resíduos
do biodiesel ninguém poderia prever:
foi uma grata surpresa!”.
corrente contínua
A Eletronorte tem um acúmulo de conhecimentos
sobre soluções tecnológicas e, em parceria com outros atores regionais, participa de vários programas e
políticas de governo, de projetos como o Programa
de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios- Prodeem, por meio do qual já implantou e
mantém em funcionamento 2.700 sistemas de painéis solares para o atendimento de escolas, postos
de saúde e igrejas, com recursos do Ministério de
Minas e Energia.
“Mas ainda há na região amazônica 29 mil escolas sem eletricidade, cadastradas pelo Ministério da
Educação. O não-funcionamento delas por falta de
energia, em nove estados, implica em deixar de fora
da escola crianças de até sete anos de idade. Sem a
escola elas irão trabalhar com os pais na pesca, na
agricultura, nos serviços domésticos. O
Prodeem ajuda a diminuir este déficit”,
informa Ércio Muniz.
Ele aponta alternativas energéticas
inovadoras e não-poluentes. “Em Rio
Branco, capital do Acre, por exemplo,
temos o fogão ecológico (foto ao lado),
um projeto em parceria com o governo
do estado, Eletroacre e Embrapa. Empresários estão sendo chamados a investir numa fábrica desses fogões que
são microusinas de eletricidade. Colocamos madeira para queimar, e enquanto se cozinha o almoço ou a janta,
ele vai gerando energia. Temos 30 fogões já instalados e mais 70 a serem
instalados em convênio com o governo
estadual. Todo o processo está sendo
experimentado no campo e monitorado
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AMAZÔNIA E NÓS
corrente contínua
56
AMAPÁ
A Eletronorte chegou ao Amapá em
1974, 13 meses depois de sua criação,
com o objetivo de concluir as obras da
Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes, no
Rio Araguari. Primeira usina da Empresa na Amazônia, Coaracy Nunes foi
inaugurada em janeiro de 1976, marcando o início da trajetória da Eletronorte na região. A missão da Empresa
é gerar e transmitir energia no sistema
isolado do Estado, onde é representada
pelas unidades regionais de Produção
e Comercialização e de Planejamento e
Engenharia.
A força de trabalho é formada por
profissionais das mais diversas áreas,
que trabalham pela melhor qualidade
de vida dos amapaenses. Esse trabalho tem sido reconhecido ao longo dos
anos, tanto pela satisfação dos clientes
e consumidores quanto pelas diversas
premiações recebidas, devido à excelência da gestão empresarial. Essas
conquistas são fruto da prática constante dos valores do Credo da Eletronorte:
excelência na gestão, valorização das
pessoas, comprometimento, aprendizado contínuo, empreendedorismo, ética
e transparência.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
No Amapá, a energia distribuída pela Eletronorte beneficia uma
população de cerca de 500 mil pessoas. Além desse benefício, a
Empresa desenvolve atividades de responsabilidade social com as
comunidades. Entre os projetos, destaca-se o de desenvolvimento
da piscicultura como alternativa alimentar, de geração de renda e
melhoria da qualidade de vida nas comunidades do entorno de Coaracy Nunes. Em Ferreira Gomes, por meio de convênio com a Associação dos Produtores do Projeto Ferreirinha, a Empresa promove
a abertura e a recuperação de estradas vicinais, proporcionando o
escoamento da produção da comunidade e o acesso às políticas públicas para o desenvolvimento local. A Eletronorte também participa
de projetos de alfabetização e de inclusão social, que proporcionaram o desenvolvimento de atividades socioeducativas, esportivas e
de cidadania a 150 adolescentes.
MEIO AMBIENTE
O respeito ao meio ambiente é prioridade para a
Eletronorte. No Amapá, uma prova do comprometimento da Empresa com o gerenciamento ambiental
são dois circuitos da linha de transmissão Central/
Santana, certificada com a ISO 14001. Essa linha, ao
lado da Porto Velho/Abunã, operada pela Eletronorte
em Rondônia, foi a primeira do Brasil a receber a
certificação. No Amapá, outros empreendimentos
da Eletronorte certificados com a ISO 14001 são as
usinas Santana e Coaracy Nunes. Todos são acompanhados de programas de educação ambiental, de
saúde, de controle erosivo, de recuperação de áreas
degradadas, de indenização e desapropriação.
A Empresa também promove ações de conscientização voltadas para a preservação do meio ambiente, bem como para o adequado uso e ocupação das
terras por parte das comunidades do entorno. Outra
ação importante são as campanhas anuais contra
queimadas, vandalismo e sabotagem, que resultam
em redução do número de desligamentos no sistema, provocados por incêndios próximos às linhas de
transmissão, e a conscientização quanto aos prejuízos
causados por atos dessa natureza.
TRANSMISSÃO
A energia gerada pela Eletronorte é distribuída pela Companhia de Eletricidade do Amapá - CEA. O sistema de transmissão da Eletronorte no Amapá, estruturado a partir da entrada em operação de Coaracy
Nunes, conta com 505 km de linhas de transmissão em 69 kV e 138 kV, dez subestações e capacidade
de transformação de 690 MVA. A Empresa atende 12 dos 16 municípios do Amapá. Os outros são atendidos por pólos de geração descentralizada da CEA.
corrente contínua
GERAÇÃO
No Amapá, a Eletronorte dispõe de uma potência instalada de 234,8 MW, que corresponde a 92,7%
daquela efetivamente disponível no estado. O parque combina geração hídrica e térmica. Os 78 MW de potência instalada em Coaracy Nunes são complementados por 156,8 MW da Usina Termelétrica Santana. No
período de seca no reservatório de Coaracy Nunes, entre setembro e dezembro, a Térmica Santana supre a
necessidade de energia elétrica. No período chuvoso, quando a hidrelétrica opera a plena carga, a térmica
atua como complemento de carga.
57
CORREIO CONTÍNUO
“Excelente a nova Corrente Contínua. O editor e sua equipe estão de parabéns. Levamos exemplares da revista para uma reunião do Proset com as cooperativas e diversas
instituições públicas, e a receptividade também foi muito boa”.
José Luís da Silva Pereira
- Gerência de Ações Socioambientais e Assuntos Fundiários - Brasília - DF
“Meu caro Alexandre Accioly, mais uma vez parabéns pela edição da revista Corrente
Contínua 218 ! Excelente a matéria do jornalista Byron de Quevedo”!
Humberto Rodrigues Gama
- Gerência de Geotécnica e Estruturas - Brasília - DF
“Prezado jornalista César Fechine, confesso que me emocionei quando li a sua linda
poesia que, de forma brilhante, fecha a edição número 218 da revista Corrente Contínua. Reportei-me ao cenário e vivi aquela situação ilustrada. Meus sinceros parabéns
e continue a escrever assim sempre”.
Eduardo de Oliveira Lima
- Superintendência de Tecnologia da Informação - Brasília - DF
“Cara jornalista Érica Neiva, gostaria de agradecer e parabenizá-la pela excelente
reportagem da revista Corrente Contínua. Vocês souberam aproveitar bem as informações, retratando nosso trabalho de forma clara e objetiva”.
Eden Brasilia de Assunção Damasceno
- Superintendência de Desenvolvimento e Educação Empresarial - Brasília - DF
“Prezada jornalista Bruna Netto, gostaria de parabenizá-la pela matéria da revista
Corrente Contínua, inclusive pela capa ‘Corrida contra o tempo’. A matéria retratou
bem os assuntos tratados, mantendo coerência e leveza, pois tratando de tema tão
sério quanto a perda de energia por vendavais ou atos de vandalismo, você conseguiu
transmitir a mensagem de todo o esforço feito pelos colaboradores e o sucesso do atendimento de emergência. Parabéns!”
Eugênio Pacelli Antunes
- Gerência de Engenharia de Manutenção da Transmissão - Brasília - DF
corrente contínua
“De ordem do deputado Paulo Rocha (PT-PA), agradeço o envio da revista Corrente
Contínua, edição 218, de janeiro/fevereiro de 2008”.
Raquel Paz
- Assessora parlamentar do deputado Federal Paulo Rocaha - Brasília - DF
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“Prezados Senhores, recebemos e agradecemos pelo envio da publicação Corrente
Contínua, de excelente qualidade gráfica e editorial. Informamos que é de grande valia
para o acervo da Biblioteca do Iesam - Instituto de Estudos Superiores da Amazônia
continuar a ser receptora de tão valiosa publicação”.
Clarice Silva Neta
- Bibliotecária do Instituto de Estudos Superiores da Amazônia - Belém - PA
FOTOLEGENDA
Pai falô que mãe contô que tô virando mulher
Isso acho que já sô até o vô me avisô
Do cuidado no dizer, pois agora sô é moça
Vó dizia que palavra é igual canoa
Quando tá pesada afunda à-toa, quando leve leva a gente
Nas águas rasa a onda é longa, na água funda, docemente
Às vezes sinto medo medonho... Tenho sonhos...
Viver é bom, mas o que eu gosto é de gostar
Zé me pediu pra namoro... Credo!
Rio é feito é pra pescar
O amor fisga no ar o querer que sente
Linha pode até quebrar, descer água, libertar
Mas o anzol fica na gente
Cê ta me olhando por quê, tá me achando esquisita?
Pentearei meus cabelos do outro lado do rio
Na vila agora tem luz e terá festa
Arrumada eu sou bonita!
Texto: Byron de Quevedo
Foto: Rony Ramos
corrente contínua
A reza explica diferente
Diz que o tempo cura tudo,
Fé em Deus e vamo em frente
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