A última palavra é delas

Transcrição

A última palavra é delas
VI | In | Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 18 de Abril de 2013
.
Capa
A última
palavra
é delas
São empresárias, líderes, gestoras e mães.
Dizem que é preciso desenvolver
estratégias, rejeitar estereótipos
e promover o “networking”. Beatriz
Rubio, Sandra Alvirez Baptista, Maria
João Queiroz e Mónica Santiago contam
como desafiar o universo executivo
português. ANA PIMENTEL
Aos28anos,SandraAlvirez Baptistaassumiuoprimeirocargodedirecção numaagênciade publicidade. Licenciadaem Economia, o objectivo dafuturaexecutivaerao de
trabalharem “marketing” e comunicação.Saiudauniversidadedeterminadaadiversificaro seu percurso profissionale conseguiu. Passou
pelasáreasqueprecisavadeconhecerpara sabercomofuncionavaociclo completo dacomunicação e, 11
anos depois, lideraaHavas Media
Portugal.
Adirectora-geral daagênciade
meios tem três filhos, com 14, 12 e
sete anos. Desde que foimãe optou
por ter aajudade umaempregada
domésticainternaparaqueaspreocupações familiares não interferissem com avidaprofissional e viceversa. Contaque nuncafoi alvo de
qualquertipodediscriminaçãopositivaou negativaporsermulhere
que asorte lhe temdado muito trabalho.Cadapromoçãoéoresultado
de um objectivo que conseguiu superar.
MónicaSantiago, presidente da
redeportuguesadaEuropeanProfessional Women’s Network
(EPWN) explica que, antes de tomarem uma decisão, as mulheres
devem decidir até onde querem
chegar,quetipodecarreiraquerem
seguireapostarnaformaçãotécnicaedecompetênciasinterpessoais.
Aumentararededecontactosealimentá-ladeve serumaprioridade,
bemcomoo“marketing”quefazem
de sipróprias.
A importância
da diversidade
SegundoumestudodaCatalystRe-
Mónica Santiago | Responsável da European Professional Women’s Network diz que, antes de tomarem uma decisão, as mulheres d
Diversidade
ajuda
as empresas
a obterem
melhores
resultados.
search, organizações cujaadministração é compostaportrês ou mais
mulheres têm um retorno sobre as
vendas 73% mais elevado e mais
83%naremuneraçãodocapital.“O
quedeterminaosucessodessasempresasnãoéofactodeteremmulheresnaadministração,masofactode
serem meritocráticas e de promoverem as pessoas de acordo com o
seu valor”, revela Teresa Oliveira,
coordenadorado programa“EnergizingTeams forPerformance”, da
Católica-Lisbon.
Aespecialistaexplicaquenãohá
nadaquedigaqueconsistentementeasmulherestêmmaisqualidades
doqueoshomensnaliderançaegestão.Oquealgumainvestigaçãocom
imagiologiamostraéquemobilizam
zonasdiferentesdocérebronaresolução de certo tipo de problemas.
“Istopodeajudarareforçaraimpor-
tânciadadiversidade”,diz.
Aúnicacoisaem que as mulheres tendemaserdiferentes é natomadade decisão, porque são mais
participativaseouvemmaisaequipa,explica.Contudo,TeresaOliveira adianta que existe investigação
que mostra que enquanto os homens se candidatam a lugares de
topoquandoacreditamter60%das
competências, as mulheres só o fazemquandoacreditamter100%.
“Oquesesabeéqueasociedade,
alémdeterumestereótipodescritivosobrecomoasmulheressão(afáveis, não conflituosas, acarinhadoras, generosas), também tem um
prescritivo sobre como se devem
comportar”, explica. Com os homens,passa-seomesmo,masquandosaemdoestereótipotendemaser
valorizados, ao contrário do que
acontecenosexofeminino.
Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 18 de Abril de 2013 | In | VII
.
Sofia A. Henriques
MULHERES CONTINUAM
EM MINORIA NO UNIVERSO
EXECUTIVO PORTUGUÊS
PSI-20 pouco feminino
5 dicas
para chegar
ao topo
Em 2011, apenas 6% dos membros dos conselhos
de administração das empresas que integravam o índice
PSI 20 eram mulheres, menos 7,7% do que a média da União
Europeia. No universo executivo, as mulheres representavam
cerca de um terço do grupo de “dirigentes”.
1. Analise o mercado
de trabalho
Verifique o que o mercado
de trabalho valoriza, que
mudanças estão a decorrer
e que oportunidades
surgem a nível do
desenvolvimento de
competências. Procure ter
um “curriculum” forte
nessas competências e nas
de gestão.
2. Conheça os critérios
de promoção
Uma vez na empresa, tente
perceber em função de que
critérios é que esta
promove as pessoas e
desenvolva estratégias
para os mesmos. O poder
pode ser utilizado com
objectivos positivos para si,
organização e comunidade.
Utilize- o.
Homens em maioria
Os homens executivos casam mais do que as mulheres
que exercem os mesmos cargos. Preenchem a maioria dos
postos de trabalho em “startups”, mas estão quase em pé de
igualdade com as mulheres nas empresas de elevado
crescimento. Os lugares de topo são maioritariamente deles.
4. Rejeite estereótipos
As mulheres podem ser
mais exigentes com elas do
que com os homens. Há
investigação que mostra
que em processos de
selecção têm um
enviesamento para o
homem e são mais
negativas com mulheres
que não encaixam no
estereótipo.
devem decidir até onde querem chegar.
Porisso,asmulheresdevemmunir-sedecompetênciasdegestão,visãoestratégica,negociação,podere
influênciaeterconsciênciadequeo
mercadodetrabalhofazalgumadescriminarão. “Às vezes acham que
isto é umafalsaquestão e que se tiveremumbomdesempenhoultrapassam facilmente essas dificuldadesenãoéverdade.Hámuitasempresasquetêmumalinhadevidroa
partirdaqualasmulheresepessoas
deminoriasjánãosãopromovidas”,
refere.
Mudar a visão
que têm sobre si próprias
Quando estão acompetirparafunçõesdetopo,asmulhereslidamcom
estereótiposnoquetocaàvisãotradicional do que é um bom líder e a
queexisterelativamenteàsqualida-
desfemininas,explicaTeresaOliveira.“Ainvestigaçãomostraqueoshomens são frequentemente promovidoscombasenopotencialeasmulheres com base num desempenho
muitíssimobomeconsistente.”
Porisso,devemfazersaberquetêm
interesseemchegaralugaresde“top
executive” e terconsciênciade que
estão em desvantagem quando entramparaomercadodetrabalho.“A
perspectivaé que as mulheres não
são tão boas líderes como os homens.Istonãosediz,mascontinua
apensar-se”,refere.
Ograndedesafioéfazercomque
asmulheresmudemavisãoquetêm
de si próprias. “Continuam aachar
queestátudosobreosombrosdelas,
incutemistoasiprópriaseculpabilizam-se quando não estão a dar
apoioàfamíliacomoachamquedeveriamdar”,conclui.
3. Faça-se ouvir
Seja honesta com as suas
chefias. Se quer chegar a
lugares e posições
internacionais dentro da
empresa, faça saber que
está disponível para isso
mesmo. Candidate-se às
vagas que surgem.
5. Saiba como manter
uma vida equilibrada
Defina o que é um vida
pessoal e profissional
equilibrada, quais são as
suas responsabilidades e a
do seu parceiro, se o tiver.
Se é este caminho que
quer seguir, deve promover
uma co-responsabilidade
naquilo que é a gestão e o
apoio à família.
Fonte: Estudo “Trabalhar no Feminino” do Instituto Nacional de Estatística, com base
nos Censos 2011.
VIII | In | Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 18 de Abril de 2013
.
Capa
“Ao touro, há que toureá-lo”
Beatriz Rubio |
Talento e paixão
é a sua máxima.
Há mais de 20 anos a liderar equipas, a presidente da Remax
diz que as mulheres têm de deixar de se limitar a si próprias.
Quem é
Beatriz Rubio é presidente
executiva da Remax Portugal e
da Motiva-te, empresa que
lançou em 2012. Começou por
ser directora comercial na
L’Oréal Espanha, passou a
directora da divisão de
Perfumes Selectivos em
Portugal e assumiu a direcção
de Compras da insígnia Recheio
em 1998. Quatro anos depois,
integrou a liderança da Remax.
Tem 47 anos.
Máxima para o dia-a-dia
Ter talento e paixão no que faz,
procurar a sorte e muita
dedicação.
Ponto de equilíbrio
Estar com os filhos, rir, jogar,
perceber que o seu trabalho
traz energia positiva às pessoas,
jogar “paddle” com amigas e
pintar.
Beatriz Rubio começou a desafiar o
universo executivo masculino há 25 anos,
quando se inscreveu no MBA da IESE
Business School, em Barcelona. Natural
de Saragoza, Espanha, a actual presidente
da Remax Portugal foi uma das oito
mulheres entre os oitenta homens
presentes naquela formação.
O investimento valeu-lhe um convite
para um estágio de quatro anos na
L’Oréal. Quando se mudou para Lisboa,
chegou como directora de perfumes da
empresa e desde então que só conhece
cargos de liderança. O marido foi o
responsável pela vinda da Remax para
Portugal e em 2008 era Beatriz Rubio
que assumia a direcção da imobiliária. Em
2012, lançou a Motiva-te.
Confessa que é o trabalho que a
mantém viva, mas que a vida se tornou
mais fácil desde que deixou de trabalhar
por conta de outrem. “Aí eu sofria, porque
as miúdas eram pequenas e via-as muito
pouco. É preciso encontrar o equilíbrio.”
Para a executiva, são as mulheres que
se limitam a elas próprias. Assumem o
pressuposto de que a responsabilidade da
casa e dos filhos é sua e que têm de
trabalhar mais. “O grande obstáculo é
ultrapassar esta ideia.”
Por volta dos 40 anos, começou a
repensar a vida. Explica que tinha um
estilo de liderança mais masculino, mais
focado em resultados e que resolveu
adoptar uma postura mais descontraída.
“As pessoas alinharam, vestiram a
camisola a 500% e focaram-se mais nos
objectivos”, conta. De 2009 para 2010, as
vendas cresceram 35%.
“A crise que estamos a viver é uma
época de desafios fortíssimos e pode ser
uma experiência boa se soubermos
enfrentá-los bem”, avança. Para a
empresária, ao touro, há toureá-lo,
encontrar novas soluções e desafiar-se
todos os dias.
Beatriz Rubio chega a casa por volta
das 18 horas. Se tiver de trabalhar, fá-lo
em casa e confessa que consegue gerir
melhor o tempo. Têm três filhos: duas
raparigas de 17 e 15 anos e um menino de
sete. Treina as palestras com eles e ouve
os seus conselhos. “Quando tenho muito
trabalho, eles vão para o escritório e
estudam ao pé de mim.”
Durante o seu percurso sempre foi um
objectivo aproveitar o pouco tempo que
tinha para a família.
Bruno Simão
Maria João Queiroz |
Depois da medicina,
dedicou-se aos negócios.
A médica que é lançadora de ideias
Deixou a medicina para se dedicar à investigação.
Maria João Queiroz tem a seu cargo 120 pessoas.
Quem é
Maria João Teixeira de Queiroz é
presidente do conselho de
administração da Eurotrials,
empresa que lançou em 1994.
Com uma licenciatura em
Medicina e especialidade em
Imunohemoterapia, a primeira
experiência como empresária
foi na Neomed. Anteriormente,
assumiu a direcção do
departamento médico na
farmacêutica Merck Sharp &
Dhome. Tem 55 anos.
Máxima para o dia-a-dia
Continuar a aprender com as
pessoas e o ambiente à sua
volta.
Ponto de equilíbrio
Apoio familiar, ambiente
profissional, a aquipa da
Eurotrials, conseguir
desenvolver e realizar coisas
novas, viagens e o hipismo.
Formou-se, escolheu a especialidade,
cumpriu com os anos de internato, mas
acabou rendida à investigação médica.
Maria João Queiroz tem 55 anos e é
presidente do conselho de administração
da Eurotrials, que desenvolve serviços de
consultoria e investigação na saúde.
Fez carreira hospitalar, deu aulas
como professora assistente na Faculdade
de Medicina de Lisboa e foi directora
médica associada na farmacêutica Merck
Sharp & Dohme até 1992, altura em que
decidiu mudar de rumo.
Dois anos depois, avançou com a
Eurotrials, juntamente com Inês Costa.
Hoje, tem a seu cargo 120 colaboradores
e escritórios abertos no Brasil, Argentina
e Chile.
“O objectivo era o de criar uma
empresa que fizesse consultoria de
investigação em saúde para diferentes
parceiros, de uma forma que ainda não
existia em Portugal”, mas foi um passo
difícil de dar.
Conta que, na altura, não se falava
tanto em empreendedorismo e que não
foi fácil abdicar do lugar que ocupava na
multinacional da indústria farmacêutica.
Começou por sentir alguma solidão e falta
de reconhecimento pelos pares, sensação
que foi superada quando em 2004
ganhou o prémio Mulher Empresária
“Dona Antónia Ferreira”, juntamente com
Inês Costa. “Foi o primeiro
reconhecimento importante e que talvez
tenha marcado a viragem”, conta.
Durante o seu percurso nunca sentiu
qualquer limitação por ser mulher.
Estudou no colégio alemão, onde era
estimulada a pró-actividade e o seu
desporto de eleição é o salto de
obstáculos no hipismo, no qual mulheres
e homens correm nas mesmas provas. “A
relativa falta de tempo para a família é
superada com um bom ambiente,
partilha no projecto, envolvimento de
todos e tempo de qualidade”, adianta.
Gosta de fazer desporto com os filhos,
sobretudo hipismo, e chegou a andar em
provas juntamente com eles. Tem dois
rapazes, de 25 e 24 anos.
Maria João Queiroz identifica-se mais
com um lançador de ideias do que com
um líder. Gerir as equipas que estão do
outro lado do Atlântico tem sido mais um
desafio e quer aumentar a presença da
empresa na América Latina. A Eurotrials
exporta quase 70% das suas soluções.
Jornal de Negócios | Quinta-Feira, 18 de Abril de 2013 | In | IX
.
O trabalho que a sorte dá
Sandra Alvirez Baptista | As promoções
são resultado dos objectivos.
A diversificação na área da comunicação foi a estratégia que
Sandra Alvirez Baptista definiu para a sua carreira profissional.
Quem é
Sandra Alvarez Baptista é
directora-geral da Havas Media
Portugal. Começou por liderar
a equipa de planeamento
estratégico, passou pela
direcção de serviço a clientes
até que chegou a promoção.
Antes, liderou a agência de
publicidade Arnold, foi
directora adjunta de Marketing
de Comunicação do BES,
trabalhou na BBDO, Leo
Burnett, F.Lima e Reckitt
Benckiser. Tem 39 anos.
Máxima para o dia-a-dia
A sorte dá muito trabalho e
cada promoção é o resultado
dos objectivos que traça.
Ponto de equilíbrio
Estar com a família, marido,
filhos e amigos. Conversar,
partilhar ideias e manter o
contacto com as pessoas.
Acorda às 6h30 da manhã, deixa os filhos
na escola às oito, e meia hora depois
inicia a jornada de trabalho. Até pouco
depois das 20 horas, Sandra Alvirez
Baptista lidera a equipa da Havas Media
Portugal, agência especializada no
desenvolvimento e implementação de
estratégias de comunicação.
Aos 28 anos assumiu o primeiro cargo
de direcção como responsável pelas
contas de grupo na agência de
publicidade DDB. “Foi uma construção
feita ao longo do tempo e que teve a ver
com as escolhas que fui fazendo e com o
curso que tirei.” Formou-se em Economia
porque considerou que era abrangente o
suficiente para mais tarde exercer
funções na área de “marketing”. “Essa
decisão foi fundamental para não ficar
fechada a uma área muito específica”,
diz.
Para a sua carreira profissional,
Sandra Alvirez Baptista definiu uma
estratégia de diversificação de matérias
dentro da área de comunicação.
Objectivo: conseguir compreender o ciclo
todo. “Foi a construção desta carreira,
com base numa estratégia definida de
início que me levou a ir subindo.”.
Abraçou o desafio de liderar a Havas
Media como tem abraçado os outros, com
positivismo. O trabalho e a actualização
constante são as ferramentas que utiliza
no dia-a-dia e confessa que nunca sentiu
grandes obstáculos durante a sua
carreira.
Na Havas Media, opta pela
transparência e honestidade total com a
equipa. Tem uma relação pessoal e
profissional próxima com os
colaboradores e considera-se exigente.
“Ao longo da minha vida, todos os passos
foram um grande desafio, mas este
parece-me ser o maior”, refere.
Desde o início que Sandra Alvirez Baptista
tenta que a sua vida pessoal não interfira
com a profissional. “Sempre quis que as
duas corressem em simultâneo e
nenhuma prejudicasse a outra.” A partir
do momento em que foi mãe optou por
ter uma empregada doméstica interna.
Tem três filhos, dois rapazes com 14 e
sete anos, uma menina com 12, e três
enteados.“ Tenho muitas crianças em
casa, mas isso está de tal maneira
organizado que não interfere em nada.”
Gosta de fotografia, de fazer actividades
com as crianças e de ler.
Sofia A. Henriques
Mónica Santiago | A partir
dos 50 anos perde-se
empregabilidade
em Portugal e com
as mulheres é pior.
Promover contactos entre mulheres
Mónica Santiago decidiu integrar Lisboa na rede europeia
da European Professional Women’s Network
Quem é
Mónica Santiago é presidente da
European Professional Women’s
Network (EPWN) Lisboa.
Especialista em benefícios
sociais, passou pela
Tranquilidade, Grupo BCP,
Eureko antes de chegar à
Mercer Portugal. Dois anos
depois integrou a equipa
espanhola da consultora e fez
parte da equipa de liderança no
Reino Unido. Actualmente, está
a arrancar com um novo
projecto. Tem 52 anos.
Máxima para o dia-a-dia
Fazer bem e querer aprender
sempre mais.
Ponto de equilíbrio
O prazer intelectual que o
trabalho lhe proporciona, a
família e os amigos são os três
pilares em que assenta a sua
vida.
Licenciou-se em Economia, fez uma pósgraduação em Ciências Actuariais, um
MBA executivo na Universidade Nova de
Lisboa e dedicou a sua carreira ao mundo
corporativo. Aos 52 anos, Mónica
Santiago deixou o cargo executivo que
tinha na Mercer e decidiu arriscar por
conta própria, com um projecto
empresarial de consultoria.
A ideia vinha a ser trabalhada com
uma amiga. Quando saiu da consultora,
achou que era a oportunidade para
avançar. “A partir dos 50 anos perde-se
empregabilidade em Portugal e sendo
mulher perde-se ainda mais”, diz. Deixar
de trabalhar nunca foi opção, por uma
questão de necessidade intelectual.
Depois de ter passado por várias
experiências de direcção com funções
internacionais e de ter vivido em seis
países, regressou a casa. Em 2010, fundou
a European Professional Women’s
Network (EPWN) em Lisboa, organização
europeia sem fins lucrativos que visa
promover o “networking” profissional
entre mulheres e apoiá-las na sua
carreira. “Quero ajudar outras mulheres a
chegar onde cheguei ou mais longe”,
conta.
Mónica Santiago defende que é
preciso convencer os gestores a
flexibilizar as empresas, criar mecanismos
de recrutamento interno e de gestão de
carreiras para ajudar as mulheres a
subirem na hierarquia e
complementarem a gestão.
“Por vezes, os homens não escolhem
as mulheres porque elas não se
promovem, não se expõem tanto, não ‘se
vendem’ tão bem”, adianta. Mónica
Santiago explica que nem todos os
gestores se comportam da mesma forma
e que há empresas que levam a sério a
questão da diversidade. Cabe à mulher
fazer sugestões e propor alterações e
agarrar as oportunidades.
Para a presidente da EPWN, a maioria
das empresas ainda não criou os
mecanismos adequados para facilitar a
vida das executivas, como criar horários
flexíveis. Conta que quando se trata de
carreiras internacionais, as empresas
tendem a não tolerar a menor
disponibilidade das mulheres, porque não
estão organizadas para isso.
“Já senti que fui prejudicada pela falta
de disponibilidade que tinha por ter
filhos”, revela.