edição nº7 / 2012 - Revista Ruminantes

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edição nº7 / 2012 - Revista Ruminantes
EDITORIAL
GESTÃO DOS
NUTRIENTES EM
TEMPO DE CRISE
Não vale apena esconder aquilo que é óbvio, a produção de leite na
Europa, e mais especificamente em Portugal, vive um período difícil
que, ao que tudo indica, se vai prolongar.
Este período de dificuldades resultou de diversos fatores:
- do posicionamento do preço do leite a valores pouco interessantes
por excesso de produção mundial, com todas as zonas do globo a
apresentarem crescimento na produção nos últimos tempos;
- do elevado preço dos fatores de produção (que deverá manter-se),
nomeadamente das matérias primas essenciais para complementar
as forragens existentes em cada exploração — milho, trigo, soja e
correspondentes subprodutos —, motivado essencialmente por secas
inesperadas nos EUA e pelo aumento da procura;
- do aumento do custo das forragens devido à seca na Península
Ibérica, que se prevê que condicione a disponibilidade até à próxima
campanha;
- e, ainda, do custo da energia, afetada pelos valores recorde
atingidos pelo petróleo, não se prevendo que a situação deva mudar
nos próximos anos dada a procura cada vez maior por parte de
economias em crescimento como a China, o Brasil, a Índia e o Médio
Oriente.
Uma coisa é certa, todos estes fatores influenciam negativamente a
rentabilidade das explorações de leite, cujas margens ficam cada vez
mais curtas, levando muitos produtores, principalmente aqueles que
tentam manter a tradição familiar, a sentirem-se empurrados para fora
do negócio, por politicas globais ou mesmo do próprio País.
Uma vez que não se afigura possível alterar o preço do leite ou dos
fatores de produção, dado que os mesmos resultam da relação entre
oferta e procura “mundiais”, da especulação e dos “monopólios”…só
nos resta tentar perceber se a gestão da nossa própria exploração
está otimizada, ou seja, se os custos de produção são os mínimos
possíveis.
Os custos com a alimentação atingiram níveis sem precedentes. A
alimentação representa atualmente mais de 75% dos custos de
produção de leite. A chave para o sucesso dos produtores depende da
sua capacidade de gerir da melhor forma os recursos alimentares
disponíveis. A otimização da alimentação será sempre uma ajuda
importante para baixar os custos de produção e consequentemente
melhorar os resultados económicos da exploração. Será que o
arraçoamento que utilizamos está adequado às produções que temos e
perfeitamente otimizado para as forragens e concentrados de que
dispomos?
A otimização do sistema alimentar pode ser conseguida por
diferentes formas, nomeadamente através de arraçoamentos
específicos para cada lote de produção em vez de um arraçoamento
único da exploração, e pela confirmação de que as quantidades de cada
alimento previstas no arraçoamento são efetivamente aquelas que os
animais estão a ingerir.
Antes de tudo é, no entanto, necessário avaliar com a máxima
precisão, a quantidade e qualidade de nutrientes que temos
disponíveis na exploração. Os animais não se alimentam das matérias
primas em si (azevém, luzerna ou milho), mas sim dos nutrientes
(proteína, gordura, etc) que estes alimentos contêm e da sua
disponibilidade para o animal.
É portanto muito importante fazer uma análise correta das forragens
produzidas ou adquiridas, em que exista uma avaliação pormenorizada
dos nutrientes existentes e da sua digestibilidade para a produção de
leite, para se conseguir fazer um bom arraçoamento para o lote de
vacas em questão, em que se utilizem corretamente (nem por excesso,
nem por defeito) os nutrientes “em stock” na exploração.
Os nutrientes devem ser geridos como qualquer outro fator de
produção (adubo sementes, gasóleo …), ou seja, com o máximo
rigor. A sua gestão é uma tarefa muito importante dentro de uma
exploração, que deve ser feita por empresas com ferramentas
tecnológicas de otimização (laboratórios de análises e programas de
arraçoamento) que permitam aos seus técnicos disponibilizar um serviço
de aconselhamento ao produtor, para este poder tomar uma decisão que
leve a uma melhor gestão dos custos alimentares, qualidade do leite,
produtividade…
Depois, basta fazer o seguimento dos objetivos traçados e do
arraçoamento definido. Será que estamos a dar aquilo que estava
previsto? As vacas estão a comer tudo?
A gestão dos nutrientes em tempos de crise não vai resolver tudo,
mas pode ser mais uma ajuda para minimizar os estragos já
existentes. Tentar prever o preço do milho, do combustível, ou do leite
num futuro próximo ou distante é jogo de ninguém, mas a produção de
leite é uma especialidade cujo sucesso está dependente das decisões
dos produtores de leite - grandes e pequenos.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
Francisca Gusmão
3
ÍNDICE
FICHA TÉCNICA
ACTUALIDADES
EQUIPAMENTOS
Great Taste Awards 2012 premeia queijo
de Castelo Branco ....................................................6
Elanco tem novo responsável para o negócio
de Ruminantes na Península Ibérica........................6
Robots de ordenha crescem em França ....................6
Empresa Ugenes realiza colóquio sobre Procross.....7
Sistema Kempen, novo e melhorado..........................8
Kempen tem nova página web ...................................8
Novo teste de sangue para a BSE no horizonte ........8
O Top-20 das empresas de laticínios .......................18
EuroTier - As principais tendências ..........................22
Animais portugueses arrecadam prémios
no 3º Concurso Ibérico Limousine..........................47
Panorama dos sensores na produção de bovinos ...58
Recuperar a palha miúda .........................................59
Sistemas de gestão na produção de leite ................60
Destaques SPACE 2012...........................................62
CONHEÇA A LEI:
Arrendamento Rural..................................................64
ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Breves comentários e previsões sobre o mercado
de matérias-primas .................................................38
Perspectiva do mercado leiteiro ...............................40
Visão geral do mercado da carne bovina .................42
ENTREVISTAS
Crossbreeding - Vigor Híbrido, funcionalidade
e rentabilidade ........................................................10
Para onde vão evoluir as forragens..........................20
Calendário de feiras..................................................66
Como rentabilizar a exploração de leite ...................22
Compensa produzir forragens de alto nível
nutricional?..............................................................44
PRODUÇÃO
Sistema Kempen.......................................................16
Uma chave para a rentabilidade ..............................24
O Impacto da Qualidade Nutricional da Silagem
de Milho no custo de formulação de dietas para
bovinos de leite.......................................................28
Preciane, para uma melhor utilização da silagem
de milho na alimentação de bovinos leiteiros.........30
Gestão da contaminação por micotoxinas
em matérias-primas e alimentos para animais.......32
A importância do teor de gordura e proteína do leite
para optimizar a produção......................................36
Recria de novilhas - Qual o desenvolvimento
corporal ideal? ........................................................46
Bovinicultura extensiva - Estamos a começar
ou a acabar?...........................................................48
Maneio Neonatal Saúde do vitelo - parte II ..............52
Podologia bovina - Como se previnem
as principais patologias ..........................................56
Fotografia do mês.....................................................67
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EDIÇÃO Nº7
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Ecografia em pequenos ruminantes .........................50
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ACTUALIDADES
MUNDO
Great Taste Awards 2012
premeia queijo de Castelo Branco
O queijo de Castelo Branco DOP "Sabores da Idanha" mereceu uma
medalha de Ouro no concurso internacional Great Taste Awards 2012
que decorreu este mês em Inglaterra. Este concurso, reconhecido internacionalmente, é organizado pelo Guild of Fine Food que premeia
os produtos de especialidade/gourmet, à semelhança da atribuição de
estrelas Michelin à excelência na gastronomia e restauração.
O Great TasteAwards tem sido descrito como os "Óscares" do
mundo dos produtos alimentares. Este ano contou com a participação
de 8.800 produtos a concurso, avaliados em provas cegas por um júri
de mais de 300 especialistas.
Os queijos da Cooperativa de Produtores de Queijos da Beira Baixa
são conhecidos a nível nacional e a qualidade e excelência dos seus
produtos é cada vez mais reconhecida a nível nacional e internacional.
A Cooperativa de Produtores de Queijos da Beira Baixa tem participado, desde 2010, em concursos nacionais de queijos e em 2011 par-
ticipou pela primeira vez num
concurso internacional tendo conquistado a medalha de Ouro com
o Queijo Amarelo da Beira Baixa DOP "Sabores da Idanha" no World
Cheese Awards 2011, Inglaterra.
Este ano, a Cooperativa de Produtores de Queijos da Beira Baixa viu
toda a sua gama de queijos e requeijões com denominação de origem
protegida conquistar um pleno de Ouro com 6 medalhas no Concurso
Nacional de Queijos Tradicionais Portugueses com Nomes Qualificados, em Santarém, no âmbito da Feira Nacional de Agricultura.
Recentemente, a Cooperativa de Produtores de Queijos da Beira
Baixa arrecadou um 4º lugar no concurso International Cheese Awards,
Inglaterra, na categoria de Best New Dairy Praduct com o produto
Bombom de queijo "Sweet Cheese" desenvolvido em parceria com a
Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. x
Elanco tem novo responsável para o negócio
de Ruminantes na Península Ibérica
Tiago Teixeira é o novo responsável de negócio de Ruminantes da Elanco para Espanha e
Portugal.
Tiago Teixeira é licenciado em
Medicina Veterinária pela Universidade de Trás-os-Montes e
Alto Douro e trabalhou durante
alguns anos como clínico de bovinos na região norte do país.
Durante esse tempo, foi também
assistente na mesma Universidade onde se licenciou, atividade essa
que exerceu durante mais de três anos.
Em 2007, ingressou numa Multinacional Farmaceutica americana, onde ocupou varios cargos até finais de 2009, quando foi nomeado Director de Negócios de Ruminantes, cargo que ocupou até
finais de Junho de 2012.
Desde Jullho deste ano, é o novo Business Unit Manager de Ruminantes para a Península Ibérica, tendo sido contratado no seguimento de uma forte aposta da Elanco na área dos Ruminantes, onde
se espera um grande crescimiento e uma solidificação desta área de
negócio nos próximos anos. x
Robots de ordenha crescem em França
A evolução do número de explorações aderentes ao controlo leiteiro
e que possuem um robot de ordenha cresceu duma forma exponencial
desde o início do ano 2000, apenas com uma ligeira inflexão em 2009
devido à crise do setor do leite. No final de 2011, existiam 1.866 explorações equipadas, o dobro das que existia em 2008, e o triplo das de
2007. Entre estas, 76% possuía um estábulo, 23% tinha dois estábulos
e apenas 1% tinha três ou mais.
Em 2011, em França, menos de 70% das explorações leiteiras tinham aderido ao controlo de desempenho oficial. Extrapolando os números anteriores, estima-se que cerca de 2.800 explorações (4% das
explorações leiteiras francesas) estavam equipadas com, pelo menos,
um robot de ordenha, representando no total cerca de 3.500 robots no
mercado francês.
De acordo com algumas fontes (De Koning, 2012),o número de explorações que possuía um robot no mundo, em 2011, é estimado em
12.700. Estima-se que o Mercado francês represente aproximadamente
15% do mercado mundial. x
6
Fonte: Institut de l’Elèvage
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MUNDO
ACTUALIDADES
Empresa Ugenes realiza colóquio
sobre Procross
Em julho passado, a empresa Ugenes organizou um dia aberto
seguido de colóquio técnico sobre a vaca Procross.
O Procross na produção de leite não é novidade mas é um tema
que tem vindo a ser abordado com maior insistência nos últimos
tempos, pois tem demonstrado em muitos casos respostas positivas nas explorações aderentes a esta técnica.
Envolve cruzamentos entre diferentes raças de leite com o objetivo de melhorar a produção e a saúde da exploração, bem como
os aspectos morfológicos e funcionais. As raças que se destacam
são a Holstein, Vermelha Sueca e a Montbeliarde.
Durante a jornada, foram visitadas as explorações do Sr. Alexandre A. Cunha no Sabugo e também a exploração do Sr. Diamantino Lagoa nos Olhos de Água, concelho de Palmela, para os
produtores poderem verificar a qualidade dos animais e trocar impressões técnicas com os proprietários.
No final do dia foi promovido, no restaurante Gaspachinho, na
Moita do Ribatejo, um colóquio técnico apresentado por Carlos
Serra e Eng. António Castanheira, seguido de um jantar.
Carlos Serra é da opinião que os diferentes cruzamentos são alternativas para fugir à consanguinidade que existe dentro da raça
Holstein e são uma forma de juntar numa só vaca o que existe de
melhor na linha do leite. x
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ACTUALIDADES
MUNDO
Sistema Kempen, novo e melhorado
A Nanta lançou no mercado português o seu novo e melhorado Sistema Kempen para a alimentação das vacas de leite. O Kempen é um
sistema de alimentação para vacas em lactação que consiste no fornecimento de um concentrado granulado e de uma forragem palatável.
É uma opção muito interessante para melhorar a rentabilidade da
exploração e encarar melhor os tempos de crise. A gama é composta
por três produtos adaptados tanto às necessidades de produção como
à disponibilidade de forragem.
O benefício mais evidente com o novo Sistema Kempen é o aumento de produção de leite por vaca. Pode chegar até 40% mais elevada que com o sistema de alimentação tradicional, ainda que
diminua o teor em gordura e mantenha estável o teor em proteína.
Esta maior produção de leite é possível porque a ingestão de matéria
seca total, até ao pico de produção é superior a 4 Kg por dia, face ao
sistema de alimentação tradicional.
Outros benefícios são igualmente importantes: a facilidade de trabalho, a economia de mão-de-obra, a simplicidade de sistema que
evita a ocorrência de erros, a melhoria da saúde e fertilidade das
vacas, a diminuição de stress nas vacas no momento de ir para o comedouro, uma ração mais consistente e equilibrada ao longo do ano
e um baixo investimento.
O sistema Kempen dá às vacas todos os nutrientes necessários para
favorecer uma elevada produção de leite, alta fertilidade e um bom estado de saúde. Mais informação em www.kempen.pt x
Kempen tem nova página web
Para apoiar o lançamento do novo Sistema Kempen, a Nanta publicou a sua nova web www.kempen.pt. Este novo dominio online
está orientado, exclusivamente, a dar informação sobre as possibilidades do sistema aumentar a produção de leite e diminuir o trabalho
diário na exploração.
Na nova página encontrará informação corporativa sobre o Kempen,
a sua história e a inovação que contribui para a produção leiteira. Outra
secção inclui também informação do novo sistema, os seus produtos,
em que consiste e a sua viabilidade nas explorações.
Na web os produtores também poderão informar-se sobre a possibilidade que têm para avaliar a viabilidade do sistema na sua exploração, graças à Auditoria Kempen. A Nanta, através da sua rede de
técnicos, põe à sua disposição algumas ferramentas de auditoria para
fazer uma boa análise se o Kempen pode ser a solução para melhorar
a sua produção. Mais informação em www.kempen.pt x
Novo teste de sangue para a BSE no horizonte
Uma descoberta recente
feita por investigadores médicos da Universidade de
Melbourne, na Austrália,
pode fazer com que um simples exame de sangue baste
para detetar a doença de
Creutzfeldt-Jakob e a encefalopatia espongiforme bovina (BSE).
De acordo com um comunicado publicado em setembro passado, utilizando uma sequenciação genética recentemente disponível, os investigadores
descobriram que as células infetadas com priões (o agente infeccioso responsável por estas doenças) libertam partículas que contêm "genes de assinatura facilmente reconhecidos”.
8
O Professor Andrew Hill, do departamento de bioquímica e biologia molecular no Instituto Bio21 da Universidade de Melbourne
disse que essas partículas viajam na corrente sanguínea, tornando
possível um diagnóstico através duma análise ao sangue.
A pesquisa já foi publicada na revista Oxford University Press
Research Nucleic Acids.
O autor principal deste estudo, Shayne Bellingham disse que a
descoberta também pode ajudar a detetar outras doenças neurodegenerativas humanas, como Alzheimer e Parkinson:"Este é um
campo novo, onde podemos testar as condições no cérebro e em
todo o corpo, sem ser invasivo".
O teste dos investigadores genéticos centrou-se numa forma de
célula descarga chamada exossoma. Se os exossomas foram infetados com priões (agente patogénico que causa a doença de Creutzfeldt-Jakob e BSE), transportavam uma assinatura específica de
pequenos genes (microRNAs). x
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ENTREVISTA
Crossbreeding
Vigor Híbrido, funcionalidade e rentabilidade
Alexandre Arriaga e Cunha
valoriza o VIGOR HÍBRIDO
para maximizar a rentabilidade
da sua exploração Leiteira.
O Casal de Quintanelas, situado no Sabugo, PeroPinheiro, concelho de Sintra, é, desde há muitos anos,
considerado uma exploração de referência devido à
manada de alta genética Holstein de que é detentora.
O negócio começou em 1957 pela mão de José
Manuel Arriaga e Cunha, um verdadeiro aficionado da
vaca “eficiente”.
Entrevistámos Alexandre Arriaga e Cunha, que nos
contou o que está a fazer para melhorar as
caraterísticas do seu efetivo, através do projeto
Crossbreeding(*).
Em Quintanelas cultivam-se cerca de 260 hectares para produção de forragem. Desses, 100 estão em prado permanente, pois é
a única forma de tirar partido de solos finos e pobres, que difi-
10
cultam a mobilização. Na restante área, de solos basálticos, produz-se azevém anual para ensilar.
O efetivo conta com cerca de 230 vacas em ordenha, com uma
média anual de 11.500 l/vaca. São cerca de 500 cabeças no total,
sendo toda a recria feita no Casal de Quintanelas. As vacas estão
em regime de estabulação livre com cubículos, e as vitelas até aos
2 anos de idade estão na pastagem durante uma boa parte do ano,
com ministração diária de concentrado. A exploração emprega 10
funcionários, dos quais 8 habitam na área social da empresa. A última vaca que entrou na exploração foi em 1967, data a partir da
qual se fecharam as portas à entrada de novos animais e toda a
seleção passou a ser feita com recurso a sémen importado.
Quais as razões que o levaram a optar pelo Crossbreeding?
A partir de determinada altura foram surgindo diversos problemas no efetivo, com muitos animais a adoecerem, a não recuperarem e a morrerem sem razão aparente. Foram aparecendo cada
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ENTREVISTA
vez mais casos de vacas coxas e mamites, entre outras maleitas,
apesar de o nosso maneio ser bom. As vacas passaram a apresentar uma dificuldade enorme no pós-parto e a adaptação à lactação
foi-se tornando cada vez pior, com as estatísticas da reprodução a
entrarem no encarnado. Parecia que estávamos a lidar com vacas
de cristal, pois todos os dias deparávamos com problemas inesperados, causadores de despesas de farmácia incomportáveis. Instalámos até a regra de que todas as vacas Holstein, a seguir ao
parto seriam entubadas e ser-lhes-ia (ainda é) ministrada uma solução eletrolítica enriquecida com propilenoglicol para que a transição para a lactação fosse facilitada, para além de que lhes seria
ministrado cálcio subcutâneo mesmo sem apresentarem sinais de
estarem a precisar de acompanhamento medicamentoso.
Entretanto, íamos falando com amigos e colegas de profissão
que nos iam relatando (continuam a fazê-lo) problemas semelhantes nas suas explorações. Atribuímos esta crescente fraqueza
dos animais à consanguinidade. Começámos então a procurar uma
solução para esse impasse e, através do nosso amigo de longa
data, o Carlos Serra, tomámos conhecimento do projeto “Procross”, implementado e desenvolvido nos EUA, pela Universidade do Minnesota, através do conhecido geneticista Les Hansen,
que procura as melhores raças para cruzar com a Holstein Friesian
para lhe devolver a resistência e a longevidade há muito perdidas,
sem comprometer a sua tão famosa e cobiçada produtividade.
Quando teve início este novo projecto de Crossbreeding?
No dia 19 de Julho de 2007 chegaram ao Casal de Quintanelas
as primeiras doses das raças Montbéliarde e Vermelho Sueco.
A primeira vitela cruzada nasceu no dia 11 de Maio de 2008.
O que pode dizer-nos sobre o seu grau de satisfação, até ao
momento?
Desde que começámos com o Crossbreeding até aparecerem os
primeiros produtos senti-me bastante desconfortável. Pensei estar,
eventualmente, a destruir uma manada de alta genética que tinha
recebido do meu pai, com quem trabalhei 10 anos. Mas, quando
os primeiros animais começaram a nascer, invadiu-me um entusiasmo que até aí nunca tinha sentido, fruto da sensação de estar
a contribuir para deixar uma impressão digital conducente a uma
mudança radical de rumo na empresa. Acredito que esse novo
rumo nos vai voltar a colocar no caminho do sucesso, o que torna
esse entusiasmo realista. Não vejo, neste momento, alternativa ao
Crossbreeding para ultrapassar o impasse da falta de vigor da raça
pura Hostein, pois a conjuntura económica impede que esperemos que a solução surja de dentro da raça, através de uma seleção
mais virada para a longevidade e menos para a produtividade. No
nosso caso, decidi não ficar à espera e arrepiar caminho.
Quantas gerações de animais de raças cruzadas possui?
Já estão a nascer os animais da 3ª geração, embora continuem
a nascer animais da 1ª e da 2ª. Temos 3 bonitas vitelas da 3ª geração às quais eu chamo Holstein com Vigor Híbrido (VH).
Como têm sido as lactações das vacas que resultam destes cruzamentos?
As produções por lactação são altas, mas o que conta é a produção em vida. No pico da lactação, as cruzadas não dão tanto
leite como as Holstein mas não perdem tanto peso, manifestam
cio mais cedo, são mais férteis e, enquanto que a maioria das
Holstein ainda está a lutar por se livrar do balanço energético negativo em que entra após o parto, já a maioria das cruzadas está
com um novo vitelo no ventre, a produzir bom leite e em excelente condição corporal.
Temos uma vaca que no dia em que fez 2 anos já estava cheia
para a 2ª lactação. Vai parir pela 4ª vez ainda em 2012 e fez 4
anos no dia 9 de julho último. Quando fizer 5 anos de vida, estará potencialmente pronta para parir pela 5ª vez. Deu onze toneladas de leite na 2ª barriga, nos 227 dias dessa lactação. E,
como esta, há muitas à espera de vez para se revelarem, assim
acredito! A 1ª vez que esta vaca foi inseminada após o 1º parto,
tinha 39 dias de parida. Vai para a 4ª lactação, e foi inseminada
4 vezes até hoje.
Que critérios de escolha segue para os reprodutores das diferentes raças?
Exatamente os mesmos que sempre segui para a raça Holstein.
Procurar os melhores touros de cada raça é, na minha opinião, a
melhor forma de construir progresso. Durante o período em que
trabalhámos com a raça pura Holstein, sempre escolhi os reprodutores com base no seu Net Merit (**), para cujo cálculo é tida em
conta a longevidade das filhas, e não olhando apenas para o fator
produtividade. O tipo de vaca e a sua durabilidade sempre foi algo
a que dei a maior importância. Eu nunca escolhi touros para dar
filhas que apenas produzissem muito leite. Procuro desde sempre
touros que produzam filhas que maximizem o lucro económico
da exploração, não só através da produtividade, como através da
longevidade e consequente produção de descendência. Mesmo
assim, fomos como que “empurrados” para o Crossbreeding pois,
dentro da raça pura, tornou-se muito difícil não ser atingido pelas
consequências nefastas da generalizada consanguinidade.
Usa sémen sexado?
Não, nunca usei.
Que consequências mais visíveis do Vigor Híbrido tem observado nas suas vacas?
Poucos minutos após o nascimento, os vitelos procuram avidamente o úbere da mãe para mamar, coisa que os Holstein já pouco
fazem. As vitelas cruzadas são mais difíceis de imobilizar pois
têm muito mais vigor. Quando entramos no viteleiro, reparamos
que são as que correm e saltam mais e, sobretudo, são as que estão
mais gordas. As Holstein puras estão no geral mais magras, sujeitas à mesma alimentação e ao mesmo maneio, em qualquer
faixa etária. Quando adoecem, a recuperação é mais lenta. Parecem também menos felizes.
As cruzadas geralmente têm bons cascos, fazem cios mais exuberantes e têm melhores taxas de sucesso na inseminação. O que
mais salta à vista nestas vacas é a boa adaptação à lactação no
pós-parto. A seguir ao parto, uma altura problemática para qualquer vaca, levantam-se mais rapidamente, vão-se menos abaixo e
adoecem muito menos que as Holstein. Não perdem tanto peso e,
por sistema, não recebem eletrólitos, propilenoglicol ou cálcio a
seguir ao parto, salvo se adoecerem efetivamente. As Holstein
perdem bastante peso, as Suecas perdem ligeiramente, e as Montbéliard não perdem praticamente nada. Na minha opinião, 90%
dos problemas das vacas Holstein derivam do facto de estarem
muito tempo em balanço energético negativo, devido à quebra do
apetite na fase inicial da lactação.
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ENTREVISTA
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Sabemos que optou pelo Crossbreeding de três raças leiteiras.
Quais são e como se aplica?
A base de trabalho é Holstein, como sabe. Através do Carlos
Serra, tivemos acesso a toda a informação elucidativa do correto
funcionamento do projeto “Procross”, que temos cumprido com
toda a fidelidade. Começámos por usar Montbéliard nas vacas e
Vermelho Sueco nas vitelas, devido à maior facilidade de partos
desta raça. Ao princípio, estávamos receosos de que uma novilha
Holstein inseminada com Montbéliard tivesse dificuldade em parir,
mas agora já não temos problema nenhum em aplicar um touro
Montbéliard numa vitela, mesmo Sueca, pois utilizamos touros criteriosamente escolhidos para aplicação em vitelas. O que é, de
facto, difícil é retirar de dentro de uma vaca ou novilha uma cria
Holstein porque, devido ao show business, que incentivou e desenvolveu a criação de animais muito estilizados, as vacas foram ficando com espáduas muito altas (tipo cavalos) o que dificulta a
passagem de uma cria pelo canal da bacia da mãe. Eu tenho visto
várias vezes um homem sozinho a tirar de dentro de uma vaca um
vitelo Montbéliard enorme, à mão, sem a ajuda do forceps. Isso
deixou de ser possível fazer-se com uma cria Holstein, mesmo de
tamanho médio, já desde há muito tempo.
Da sua experiência, que aspetos de realce encontra nas novas
raças utilizadas no Crossbreeding?
Destacaria a robustez e uma grande “vontade” de dar leite na
Montbéliard. São vacas muito resistentes, que não precisam de ser
“levadas ao colo”. É isto que eu considero uma vaca com interesse.
São vacas funcionais. Finalmente estamos a conseguir criar vacas
que pegam quando são inseminadas, que não estão sempre coxas,
com mamites ou com qualquer outro tipo de doença, que respondem bem aos tratamentos, que não passam a vida a dar-nos a sensação de que o nosso maneio é insuficiente, que se aguentam e que
funcionam bem com as 3 ordenhas.
Em relação à Vermelha Sueca, destacaria a saúde dos cascos,
que muitas vezes são pretos, a saúde dos úberes e a facilidade de
partos. É uma vaca mais Holsteiinizada na sua conformação.
12
Ao lado dos animais destas duas raças, as vacas Holstein parecem
flores de estufa...
Numa vacaria no Estado do Wisconsin (EUA) com 8 anos de
Crossbreeding, vi as vacas a dirigirem-se à sala de ordenha a galope
e a regressarem ao estábulo nesse mesmo passo, de caudas no ar,
cheias de alegria, em chão de cimento.
As Holstein, há muito tempo que não as vejo com essa atitude.
Qual a melhoria registada até agora na sua exploração, no que
diz respeito à performance reprodutiva obtida através do programa Crossbreeding?
Penso que essa informação ficará bem resumida no quadro em
anexo, que mostra os principais parâmetros:
Holstein:
Cruzadas
Holstein:
Cruzadas:
Holstein:
Cruzadas:
Holstein:
Cruzadas:
Dias de lactação
Produção média por dia (litros)
Dias em aberto
Número de vacas
218
178
33.80
35.90
141
108
94
104
Nestes 5 anos de Crossbreeding já atingimos objetivos muito importantes relacionados com a reprodução, nomeadamente no intervalo entre partos, que num passado recente chegou a estar acima
dos 450 dias e neste momento está nos 408, e nos dias em aberto,
que chegaram a ultrapassar os 170 e agora estão nos 130; a nossa
percentagem de pegas à primeira inseminação está nos 35% (18%
à segunda inseminação e 47% com 3 ou mais inseminações). Nenhum destes parâmetros esteve assim com vacas Holstein, a não ser
quando a média do estábulo era de 7.000 ou 8.000 litros por vaca.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
ENTREVISTA
Em termos de saúde animal, tem notado alguma diferença
desde que optou pelo Crossbreeding?
Tudo o que são mamites, células somáticas, nados mortos, taxa de
refugo, melhorou com o Crossbreeding. O Vigor Híbrido trouxe mais
saúde, mais resistência, mas também maior dificuldade de maneio,
pois agora temos vacas com mais força e mais rebeldes. São em
quase tudo muito diferentes daquelas a que estávamos habituados.
Comenta-se que a produção das vacas cruzadas é inferior à das
vacas Holstein puras...
Quando aderimos a este projeto, o nosso objetivo não era aumentar
a produção, mas obter vacas mais resistentes, que dessem menos problemas e durassem mais tempo, sem comprometerem a produção.
De acordo com as nossas estatísticas, a produção das cruzadas
está 2 l/vaca/dia acima da das Holstein, pelo facto de estarem mais
vezes que estas na rota ascendente da lactação, pois, com maior
fertilidade, parem mais vezes.
Que diferenças nota ao nível da qualidade do leite?
Segundo as análises realizadas, o leite tem-se mantido sem alterações consideráveis, comparativamente com a época pré-Crossbreeding e, embora não esperemos diferenças significativas no leite
da 1ª geração de cruzadas, esperamos na 2ª geração um leite mais
rico em componentes.
Existe alguma diferença entre o valor de venda do refugo Holstein e o cruzado?
Ainda não tenho refugo de cruzadas suficiente a ponto de poder
dizer isso, mas a sua conformação assim promete e os nossos compradores de vacas de refugo têm dado sinais de pagarem mais, principalmente pelas Montbéliard. Percebe-se que a apetência é grande...
Atendendo à conjuntura económica em que vivemos, com o
preço da alimentação elevado, nota alguma diferença ao nível
da eficiência alimentar entre as vacas puras Holstein e as vacas
cruzadas?
As vacas cruzadas governam-se com menos, parecem mais eficientes na conversão. Se formos ver as vitelas que estão sujeitas à
mesma alimentação e ao mesmo maneio, vemos as cruzadas com
uma conformação que eu considero excelente, mas as Holstein
estão, regra geral, mais magras. Em adultas isso nota-se particularmente na primeira fase da lactação.
Normalmente afirma-se que, para a Holstein pura a idade para
a primeira cobrição se situa aos 13 meses com um peso de 370 kg.
Em relação às novilhas cruzadas essa meta é idêntica?
Geralmente inseminamos as vitelas com cerca de 60% do peso
em adulto. Com as Vermelhas Suecas, por uma questão de prudência, uma vez que têm que ser inseminadas com Montbéliard e não
lhes queremos criar dificuldades de parto, esperamos mais um
pouco por elas, até terem perto de 400 kg de peso vivo, pois não nos
podemos esquecer de que o touro Montbéliard é enorme. A verdade
é que os problemas de parto têm sido praticamente nulos. Com as
vitelas Holstein e Montbéliard, que são inseminadas com Vermelho
Sueco chegamos a servi-las aos 11 meses, se tiverem tamanho, o
que acontece frequentemente.
Como encara alguns artigos que aparecem na imprensa, detratores desta nova genética?
Se tiverem sido escritos por entidades que vendem sémen da raça
pura Holstein, dou-lhes o respetivo e prudente desconto. Se forem
artigos com uma base científica credível, com certeza que os leio
com toda a atenção e disponibilidade para registar tudo o que de
inovador consiga assimilar. Mas ainda não me apareceu nenhum a
dizer mal disto e que eu considerasse digno de registo.
Sendo um produtor reconhecido por ter uma genética pura
Holstein de tão alto nível, não receou que as coisas pudessem
não correr como esperava, pelo facto de passar para o Crossbreeding?
Receei muito e foi muito difícil tomar esta decisão, foi mesmo
uma das decisões mais difíceis que tomei até hoje. Mas estudei o
problema, rodeei-me dos meus 3 conselheiros habituais e o projeto
acabou por ser aprovado por unanimidade, pois não havia alternativa. Se dentro da raça pura já se conseguem obter com facilidade
vacas a produzir 70 ou 80 litros de leite por dia, é natural que dentro de algum tempo também se consigam obter vacas que durem
10 anos a produzir, mas isso vai talvez demorar tempo demais e até
lá muitas explorações vão passar por um verdadeiro pesadelo, se
entretanto não aderirem ao Crossbreeding. Era o que nos estava
acontecer, estávamos num beco sem saída e o Casal de Quintanelas é, não convém esquecer, uma empresa com fins lucrativos, logo
não dá para brincar nem com a raça pura nem com o Crossbreeding. Passados estes anos, o que digo é que só faz sentido chamar
“alta genética” a uma manada de vacas leiteiras se ela der dinheiro
a ganhar ao proprietário. Só se for rentável é que uma manada
merece o rótulo de “alta genética”. Se não pagar as contas é
“baixa genética”. É suposto a vaca “tomar conta” do seu dono e
não precisar que seja ele a tomar conta dela para lá dos limites do
razoável. Só faz sentido criar Holsteins de raça pura num ambiente
em que haja um excelente mercado de procura de reprodutores e em
que o seu valor económico seja compensador, que é o contrário da
atual conjuntura. Vendi muitos vitelos Holstein de “Alta Genética”
por € 50 ao mesmo tempo que estavam a pagar € 100 pelos cruzados de Montbéliard!
O meu entusiasmo por este projeto leva-me a acreditar que agora
é que estou a construir uma manada de Alta Genética!
Os machos dos cruzamentos têm sido vendidos por um valor
superior aos Holstein?
Neste momento, todos os nossos vitelos estão a ser vendidos ao
Pingo Doce e o preço pago, em termos relativos, é o mesmo para
todos. Mas, antes desta situação, vendíamos os cruzados de Montbéliard pelo dobro dos Holstein.
»
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
13
ENTREVISTA
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Quando aderimos a este projeto, o nosso
objetivo não era aumentar a produção, mas
obter vacas mais resistentes, que dessem
menos problemas e durassem mais tempo
sem comprometerem a produção.
Que inconvenientes encontra no Crossbreeding?
Este projeto tem 4 situações desfavoráveis que é importante
apontar. A 1ª é uma tendência muito grande das vitelas para mamarem umas nas outras, o que, para uma exploração que faça a recria das vitelas longe dos olhos de alguém que seja responsável
pelo maneio, pode ser um verdadeiro flagelo pois, quando parem,
aparecem com mamites geralmente graves ou mesmo com quartos secos. As vitelas têm que ser observadas regularmente para
serem despistados os casos de mama. O 2º aspeto desvantajoso
tem a ver com o facto de as vitelas cruzadas serem muito mais
gregárias que as Holstein, por isso, quando é preciso separar uma,
é necessária a intervenção de mais pessoas. Estes animais são também mais agressivos, o que obriga a estar mais vigilante, pois chegam mesmo a “investir” em certas situações, como na altura do
parto. São animais que não gostam nada de levar injeções e que
manifestam esse desprazer inequivocamente. Esta é a 3ª desvantagem do programa. A 4ª desvantagem reside no facto de se perder um pouco da homogeneidade do efetivo, pois, para além de os
animais diferirem em tamanho e cor, aparecem por vezes úberes
dececionantes, mas são casos pontuais. Este facto é o que me
preocupa menos pois não me importo nada de perder alguma homogeneidade para ganhar longevidade, vida produtiva, saúde e
rentabilidade no meu efetivo.
Quais são os seus objetivos futuros?
Abrir uma nova entrada de receitas na empresa através da venda
de novilhas, passar o número de ordenhas de três para duas, obter
mais lactações por vaca e produzir mais leite. Os animais cruzados dão menos leite que os Holstein no pico da lactação, mas,
como têm maior fertilidade, acabam por estar mais vezes na fase
ascendente da lactação e por produzir mais leite em vida. Acredito
que consiga alcançar estes 4 objetivos entre os 6 e os 7 anos após
a implementação deste projeto, ou seja, entre Outubro de 2013 e
Março de 2014. x
(*) Crossbreeding – Seleção por cruzamento; (**) Net Merit – Mede a rentabilidade do animal durante a vida produtiva. É um índice genético que simplifica o processo
de seleção de touros reprodutores com base no seu mérito genético para uma combinação de características economicamente importantes.
14
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Sistema Kempen
Aumenta a produção de leite
de forma rentável e com menos trabalho
Manuel Rondón, Dairy Product Manager Nanta S.A.
[email protected]
Os ruminantes estão biologicamente desenhados para
transformarem as forragens e matérias primas com alto
teor em fibra, em produtos de alta qualidade como a
carne e o leite.
As forragens são a base sobre a qual se sustentam
nutricionalmente os arraçoamentos para as vacas
leiteiras, jogando um papel fundamental na maximização
da ingestão de matéria seca, no estímulo da mastigação e
na promoção de uma ótima fermentação microbiana no
rúmen, criando um ambiente ruminal saudável.
A qualidade e quantidade das forragens com que se
alimentam as vacas leiteiras está diretamente relacionada
com a produção de leite, com os custos de alimentação e
com a rentabilidade da exploração.
Na maioria das explorações leiteiras, estas forragens são produzidas na própria exploração e o produtor tenta maximizar a sua
incorporação nas dietas para conseguir um menor custo de alimentação. Mas há razões que justificam diminuir a sua incorporação nos arraçoamentos, e que podem resumir-se nas seguintes:
- quando se pretende maximizar a produção de leite;
- quando a qualidade da forragem varia muito;
- quando os preços de compra da forragem são muito altos comparados com a qualidade;
- quando a disponibilidade de forragem ou terra para cultivá-la
é excessivamente cara;
- quando se quer simplificar os trabalhos agrícolas;
- quando se dispõe de pouca mão-de-obra.
A Nanta desenvolveu um sistema de alimentação chamado Sistema Kempen que fornece soluções para os problemas referidos anteriormente e que atende às expetativas daqueles produtores que
tenham necessidade de diminuir a inclusão de forragens nas dietas
e/ou queiram maximizar a produção de leite das suas vacas.
O Sistema Kempen é um conceito único e inovador para a alimentação do gado bovino em lactação. Foi desenvolvido conjuntamente pela Nanta e pela NUTRECO em 2002 e testado no Centro de
16
Investigação de Ruminantes (RRC) da NUTRECO em Boxmeer,
Holanda.
Este sistema permite às vacas em lactação o livre acesso a dois
tipos de alimentos: uma forragem palatável e um concentrado granulado especialmente formulado para este sistema, chamado Kempen
GRASS ou Kempen SUPER (dependendo se a exploração dispõe de
fenosilagem de erva ou silagem de milho). O concentrado Kempen
tem um diâmetro específico e é composto por ingredientes cuidadosamente selecionados que favorecem uma alta produção de leite, uma
elevada fertilidade e um ambiente ruminal seguro e eficiente.
O concentrado é fornecido através de um comedouro especial
Kempen que faz com que a ingestão seja uniforme ao longo do dia.
Graças ao design especial do comedouro Kempen, a vaca leiteira apenas pode consumir uma quantidade limitada de grânulos por minuto
o que, junto com uma elevada produção de saliva conduz a um ambiente ruminal saudável. Até 5 vacas podem comer ao mesmo tempo
e é necessário um comedouro por cada 20-25 vacas em lactação, evitando o trabalho de rotina de alimentar as vacas diariamente.
As vacas visitam o comedouro Kempen entre 9-10 vezes / dia e
consomem entre 18 e 21 kg de Kempen Grass (com fenosilagem de
erva ou feno de aveia), ou entre 14 e 16 kg de Kempen Súper (com
silagem de milho). As vacas auto-regulam a quantidade de concentrado que ingerem e a fibra que comem, dependendo da sua produção de leite.
Centro de Investigação de Ruminantes (RRC) da NUTRECO em Boxmeer.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
ALIMENTAÇÃO
A INVESTIGAÇÃO NO RRC DA NUTRECO E A
EXPERIÊNCIA DA NANTA NO CAMPO, TÊM
DEMONSTRADO QUE O SISTEMA KEMPEN:
- Incrementa a produção de leite. O incremento da produção
de leite por vaca pode chegar a cerca de 40% mais que com o sistema unifeed tradicional, o que diminui o teor de gordura no leite,
e mantém estável o teor da proteína. Este aumento da produção é
possível porque o consumo de matéria seca total até ao pico de
produção é 4 kg mais por dia que com o sistema de alimentação
tradicional, atingindo as vacas picos de produção mais altos e uma
maior persistência na curva de lactação. Este efeito é muito maior
em novilhas de primeiro parto que não sofrem as agressões das
vacas multíparas para comer.
- Aumenta a produção de ácidos gordos voláteis (AGV). O
perfil de AGV obtido é equivalente ao de uma dieta rica em hidratos de carbono estruturais. Os AGV são a primeira fonte de
energia para a vaca em lactação. Altos níveis de AGV produzem
um estado energético mais alto, o que resulta num aumento da
produção de leite e numa menor perda da condição corporal.
- Aumenta o rácio acetato/propionato. O rácio acetato/propionato para o Sistema Kempen é superior em comparação com outras
dietas similares em termos da relação forragem/concentrado. Este
rácio é um indicador da saúde do rúmen e indica uma maior sobrevivência das bactérias que digerem a fibra (bactérias celulolíticas)
(Tabela 1).
A relação de AGV 65-21-14 (acetato-propionato-butirato) encontrada no Sistema Kempen (com 75% de concentrado) é semelhante à relação descrita para as dietas com alta inclusão de
forragens (70-20-10).
Tabela 1: Diferentes valores de AGV (mM) como resultado de
diferentes dietas
Acetato Propionato Butirato Valerato Total AGV
78,9
52,4
19,6
NR
161,5
82,8
35,2
22,5
NR
144,9
48,76
21,98
11,37
NR
83,33
53,4
29,3
11,2
1,52
104,5
62,5
26,8
14,2
1,7
114,3
109,5
36,4
23,6
2,43
179,9
A:P
1,6
2,45
2,24
1,95
2,4
3,05
Dieta
HMCFS
DCCS
GDC
HCNB
HCWB
Kempen
Autor
Krause, 2002
Krause, 2002
Alvarez, 2001
Khorasani, 2001
Khoranasi, 2001
Nutreco
PRODUÇÃO
de matéria seca por dia do que o sistema tradicional, portanto ingerem mais energia por dia. Isto é devido à densidade da dieta e
à ingestão controlada do granulado Kempen. Na primeira semana
depois do parto, o consumo de concentrado Kempen aumenta rapidamente até aos 15 kg, o que garante que as vacas tenham um
menor balanço energético negativo.
- Reduz a quantidade de trabalho na exploração e poupa custos. Com o Sistema Kempen estima-se que o produtor poupe aproximadamente 35% do trabalho. Gasta menos tempo com a
alimentação dos animais e realiza menos tarefas para a produção
das forragens, com a consequente diminuição nos custos de amortização e reparação das máquinas e combustíveis.
Conclusões
A alimentação das vacas leiteiras com dietas baixas em
forragens e altas em concentrado é uma alternativa viável
para as explorações leiteiras em que a quantidade e qualidade das suas forragens seja muito variável, ou a sua disponibilidade seja limitada, ou o seu preço demasiado alto.
Este tipo de arraçoamentos não compromete a saúde das
vacas e melhora a produção de leite de forma significativa, permitindo às vacas expressar a sua máxima predisposição genética para a alta produção de leite a partir de um melhor
aproveitamento do concentrado.
No contexto atual, em que o preço do leite é muito baixo,
o Sistema Kempen pode ser a maneira pela qual as explorações leiteiras possam incrementar ainda mais os níveis de
produção das suas vacas, diluir os custos operacionais e melhorar a sua rentabilidade.
A maior produção de leite por vaca e a poupança nos custos de mão-de-obra e maquinaria, mais do que compensam
o maior custo com a alimentação. x
HMCFS: Pastone e silagem de milho com corte fino. DCCS: Farinha de milho
moagem fina e silagem de milho com corte grosseiro. GDC: Erva e farinha de
milho grosseira. HCNB: Relação. F: C 75:25 sem búfer. HCWB: Relação. F: C
75:25 com búfer. NR: não relatado.
- Não afeta a saúde ruminal. Graças à composição específica
do concentrado Kempen, as vacas aumentam os níveis de bactérias celulolíticas e apresentam níveis similares de bactérias amilolíticas, em comparação com animais alimentados com sistemas
convencionais. Os investigadores do RRC da NUTRECO concluíram que o pH ruminal não é afetado e o risco de acidose permanece inalterado. Num trabalho recente de Craininx para a
Universidade de Gante (Bélgica) chegou-se à conclusão de que o
Sistema Kempen não aumenta o risco de acidose ruminal com
base no estudo dos ácidos gordos do leite e medições de pH em
vacas fistuladas.
- Reduz o balanço energético negativo (BEN). As vacas alimentadas com o Sistema Kempen consomem entre 1 e 2 kg mais
Comedouro especial Kempen.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
17
ACTUALIDADES
MUNDO
O Top-20 das empresas de laticínios
O relatório mais recente do Rabobank sobre as maiores empresas de laticínios no mundo destaca
a contínua onda de fusões e aquisições e as tensões entre o passado e o futuro da indústria leiteira. Os lugares
de topo da lista são ainda ocupados por empresas do mundo desenvolvido, ao passo que as perspetivas
de crescimento se encontram além das fronteiras da OCDE. A capacidade destas empresas responderem
às dinâmicas dos mercados globais determinará as suas perspetivas de sobrevivência e o seu sucesso futuro.
LISTAGEM – As empresas leiteiras no Top-20
Da observação da listagem acima pode-se concluir que a Nestlé e a Danone continuam nos lugares de topo e que 18 das 20 empresas são as mesmas de há um ano.
Contudo, o relatório também mostra algumas alterações significativas. A Lactalis continua a subir: com o crescimento contínuo das vendas e a aquisição da Parmalat e da Skanemejerier,
passou da terceira para a quarta posição, colada com a Danone.
Mas os maiores avanços da tabela foram protagonizados pelos gigantes chineses. Tendo entrado para os Top-20 pela primeira vez
em 2010, a Yili subiu 4 posições para 15ª e a Mengiu avançou 2
posições para 16ª.
Apesar do avanço das empresas chinesas, a lista das 20 maiores empresas leiteiras continua a ser dominada pelas que estão sediadas em países da OCDE.
Nestes mercados tradicionais, o crescimento deverá abrandar
nos próximos cinco anos, uma vez que a indústria enfrenta tempos difíceis em termos económicos e demográficos, elevados níveis de consumo de produtos lácteos, consumidores com excesso
de peso e preocupações com os custos. Por oposição, mercados
emergentes como a China, o Sudeste Asiático, a Índia e a América
18
2012
2011
Empresa
País
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
1
2
4
3
5
7
6
8
9
12
10
11
13
14
19
18
17
-20
--
Nestlé
Danone
Lactalis
Fonterra
FrieslandCampina
Dairy Farmers of América
Dean Foods
Arla Foods
Kraft Foods
Meiji
Unilever*
Saputo
DMK
Sodiaal*
Yili
Mengniu
Bongrain
Müller*
Schreiber Foods*
Land O’Lakes
Suíça
França
França
Nova Zelândia
Holanda
EUA
EUA
Dinamarca/Suécia
EUA
Japão
Holanda/R. Unido
Canadá
Alemanha
França
China
China
França
Alemanha
EUA
EUA
* Estimativa
Volume
negócios
leiteiros, 2011
biliões
de EUR
18.6
14.0
13.5
11.3
9.7
9.3
8.4
7.4
5.5
5.3
5.2
4.9
4.6
4.4
4.2
4.2
4.0
3.3
3.2
3.1
Fonte: Rabobank, 2012
Latina deverão aumentar bem as vendas.
Estas dinâmicas têm vindo a desenvolver-se desde há algum
tempo, e muitas das maiores empresas leiteiras têm trabalhado
para sobreviver e prosperar neste mercado inconstante. A maior
parte tem investido na aquisição de produtos, marcas e competências que lhes permita expandirem-se para outras áreas do negócio e para países em desenvolvimento. Atualmente, 16 das 20
maiores empresas leiteiras têm investimentos em fábricas na Ásia
e/ou na América Latina.
A maioria das empresas deste Top-20 adquiriu outras companhias ou realizou joint ventures para fortalecer a sua posição. As
movimentações mais significativas incluíram:
- Aquisição pela Nestlé do negócio de nutrição da Pfizer; a aquisição da Parmalat pela Lactalis; a aquisição da Alasca MilK, nas
Filipinas, pela Friesland Campina; a proposta de fusão da Arla
com a Milk Link no Reino Unido, e a Milch-Union Hocheifel na
Alemanha; a aquisição pela empresa Saputo (sediada no Canadá)
do fabricante de queijo norte americano DCI; a aquisição, pela
Müller, da Robert Wiseman Dairies no Reino Unido e a joint venture com a PepsiCo nos EUA. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
ENTREVISTA
Para onde vão
evoluir as forragens
Fundada há 22 anos, a Fertiprado é uma empresa
dedicada ao mundo das pastagens e forragens.
Com sede em Vaiamonte, no Alentejo, a empresa é
líder de mercado em Portugal, atuando também em
Espanha, Itália e, desde há dois anos, no Uruguai.
Baseia o seu crescimento numa forte aposta na
qualidade, na Investigação e Desenvolvimento e no
melhoramento contínuo das suas misturas pratenses e
forrageiras. É também produtora de sementes,
atividade que tem vindo a ampliar.
Em entrevista à Ruminantes, João Paulo Crespo,
diretor geral da Fertiprado, expôs a sua visão sobre o
mercado das forragens no nosso país.
Qual a importância das sementes utilizadas em território nacional serem melhoradas em Portugal?
Portugal é um país muito rico em genética vegetal, existindo muitas variedades desenvolvidas e registadas noutros países, cuja proveniência genética é de Portugal. Isto é assim pelas condições de
solo e clima muito diversas, um verdadeiro mosaico geológico, climatérico e de biodiversidade vegetal, de onde podemos extrair
novas linhas, apurá-las, cruzá-las e seleccioná-las, de forma a obter
as novas variedades. Isto representa muitos anos de trabalho e de
persistência.
A Produção de sementes forrageiras é uma nova
actividade?
Começamos a multiplicação de semente “resgatando” para o
mercado um conjunto de variedades obtidas pelo INIA e que passamos a multiplicar. Foi o primeiro passo, já lá vão 10 anos. De aí
para cá, temos vindo a aprender e a melhorar os procedimentos, os
20
protocolos técnicos e os conhecimentos sobre as necessidades das
culturas, sendo hoje uma actividade importante na Fertiprado. Exportamos uma parte importante das sementes que produzimos e
queremos ampliar a área de produção que neste momento ronda os
600 ha, maioritariamente em regadio.
Como consegue a Fertiprado garantir a adaptação das sementes às características edafo-climáticas das regiões de clima mediterrâneo?
A região do mediterrâneo é por si mesma, feita de muitas realidades, em função dos solos, das temperaturas e dos regimes de precipitação médios das regiões. É preciso conhecer bem todas estas
variantes e conjugá-las com outras – como as necessidades dos animais e das próprias explorações - para ter sucesso e satisfazer os
clientes. É um trabalho de responsabilidade, construído num histórico de 22 anos de aprendizagem e de ensinamento reciproco, entre
a equipa técnica da empresa e os clientes.
Temos uma grande diversidade de espécies e variedades com as
quais criamos as misturas Fertiprado. É preciso conhecer e aplicar
bem os produtos. O êxito também passa pela forma de sementeira,
fertilização e maneio.
Como medem a eficácia (valor teórico previsto comparado com
o valor real) dos produtos no terreno?
Temos muitos protocolos de avaliação da produtividade da pastagem e do valor da forragem. Nem sempre é muito fácil medir a
produção e utilização das pastagens, a não ser pelo número de diárias de pastoreio que a parcela permite ao longo do ano. Temos metodologias simples, que já validámos na Herdade dos Esquerdos e
que deveremos partilhar com os nossos clientes.
Quanto à avaliação qualitativa e quantitativa das forragens, existem muitos produtores a fazê-lo e a Fertiprado tem nesta matéria
uma experiencia grande. Trabalhamos com diversos laboratórios. É
quase sempre notória a elevada proteína das nossas misturas.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
ENTREVISTA
“A região do mediterrâneo é por si mesma, feita
de muitas realidades, em função dos solos,
das temperaturas e dos regimes de precipitação médios
das regiões. É preciso conhecer bem todas estas
variantes e conjugá-las com outras – como as
necessidades dos animais e das próprias explorações.”
Para onde caminha o desenvolvimento dos novos produtos (mais
proteína, mais digestibilidade, maior resistência à seca…)?
No desenvolvimento de novas variedades, os caminhos são muitos, até porque queremos melhorar os nossos produtos a diferentes
níveis. Creio que o sistema pecuário de leite, mais intensivo, requer
mais proteína para reduzir o peso da suplementação com soja.
O extensivo irá contar nos próximos anos com novas variedades,
sejam da Fertiprado, sejam de parceiros de outros países. O processo
de avaliação da melhoria das nossas pastagens e forragens é contínuo e dinâmico. Actuamos em várias linhas para responder a várias
necessidades.
Que serviços presta a Fertiprado aos seus clientes, do ponto de
vista agronómico e nutricional?
A Fertiprado trabalha em diversas regiões e sistemas de produção. Buscamos servir o cliente de acordo com as suas necessidades,
tipo de exploração, e sempre de acordo com a sua vontade. O país
agrícola é feito de muitas formas de exploração, cada uma com vantagens e dificuldades próprias. Tal como os solos e o clima, o país
agrícola e pecuário é um mosaico. Tentamos aplicar aquela máxima
“conhecer global, agir no local”. É um trabalho da equipa técnica e
comercial, muito gratificante e cremos que importante.
Vê a situação do preço do leite e das matérias-primas em geral
na Europa como uma oportunidade para as forragens?
Caminha para o ruminante voltar a ser herbívoro! Mais erva, mais
forragem e menos ração. O preço das matérias primas cuja tendência à alta é uma inevitabilidade, pelo aumento da população mundial
e dos custos da energia, obrigará a que a produção de carne e de leite
se centrem na exploração de solos piores, onde a rentabilidade agrícola é baixa, mas onde se podem obter rendimentos na produção
animal a baixo custo. Creio que a tendência para o animal comer
mais forragem e pastagem está para ficar.
Qual importância do extensivo alentejano junto ao Alqueva
para a produção de forragens de qualidade?
Penso que a expansão dos perímetros de rega do Alqueva vai ter um
impacto positivo da região. Parece que os custos da rega tenderão a
subir!! Há muitos tipos de culturas de regadio, com consumos de
água muito variados. É claro que o apoio do regadio no Alentejo é
de uma grande importância, sendo fácil intensificar as produções
forrageiras de apoio aos regimes pecuários extensivos. Creio que
permitirá a expansão da produção forrageira, em paralelo com outras culturas, segundo a região e a vocação do agricultor. Abrem-se
sem dúvida mais alternativas e isso é bom.
A Fertiprado vai alargar a sua produção de semente para essa zona.
Temos apostado no regadio do Caia em Elvas e também nalguns
parceiros com barragens particulares, aquelas onde o risco de não
haver água é maior. Queremos contar com maior regularidade de
água e o Alqueva tem boas reservas. Uma vantagem muito grande
mesmo com a água mais cara, a rega estratégica nas culturas anuais
de outono inverno, forrageiras e outras, permite ganhos de produtividade muito importantes.
A luzerna em Portugal que futuro tem?
A luzerna é muitas vezes chamada de “rainha das forragens”. De
facto é, sempre que o solo é bom, profundo, bem drenado, de ph
neutro a alcalino. Há poucos solos assim em Portugal e são normalmente utilizados em produção de grão. Produz-se pouca luzerna em
Portugal e quem produz ganha dinheiro. O preço do feno de luzerna
acompanha a evolução da soja e a procura é grande.
Em termos económicos, a luzerna é uma cultura muito interessante, com baixo custo de manutenção e com muitas colheitas ao
longo do ano e do ciclo da cultura.
Importante é escolher bem a variedade, ter a semente bem inoculada e cumprir os procedimentos técnicos, que a rentabilidade da
cultura bem o merece. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
21
OPINIÃO
Como rentabilizar
a exploração de leite
Na sequência do último número voltámos a questionar dois intervenientes
no sector do leite sobre as medidas a implementar na exploração.
NUM CENÁRIO EM QUE SE PERSPECTIVA UM BAIXO PREÇO DO LEITE AO LONGO
DO ANO E A CONTINUAÇÃO DO PREÇO ELEVADO DOS ALIMENTOS (CONCENTRADOS E
FORRAGENS), QUESTIONÁMOS DOIS PERITOS NA MATÉRIA ACERCA DAS MEDIDAS DE
GESTÃO QUE PRECONIZAM PARA ENFRENTAR ESTES TEMPOS MENOS FÁCEIS.
António Mira da Fonseca
ICBAS
Universidade do Porto
Esta pergunta é de difícil resposta
– também se não fosse não valeria a
pena colocá-la!
Os produtores de leite têm de ser
resilientes. Esta será, porventura, a
resposta do politicamente correto dos
nossos dias!...Apesar de não concordar de todo, penso que também têm de ser – embora, para mim,
fundamental é, mesmo, serem inteligentes! Isto porque se, por um
lado, há problemas circunstanciais de que a cotação altíssima do
preço dos fatores de produção, em particular das matérias-primas
utilizadas no fabrico dos alimentos compostos (rações) é o exemplo máximo, e o preço do leite pago ao produtor é, no contexto, extremamente baixo; por outro, há outros problemas, graves, como
de ordenamento de território (onde nunca ninguém quis ou ousou
mexer!) – que se traduzem numa estrutura da propriedade atual desajustada, com perdas económicas altamente significativas –, bem
como de falta de visão, de anos, de muitas organizações.
Este problema exige respostas de contexto e, sobretudo, respostas estruturais. Haja vontade! Tenham, pelo menos, os produtores de
leite, a coragem e a hombridade para mudar, bem como para apoiar
quem está disposto a tentar, de forma séria, fazer diferente.
Falando, agora, de nutrição e alimentação (a área de que mais
gosto), tenho que afirmar, neste momento e a título de exemplo,
que as vacas não têm, obrigatoriamente, de comer bagaço de soja.
Não, não têm! E, mais, dado a soja ser uma fonte proteica por excelência, até para humanos, no limite e sendo fundamentalista, não
a deveriam ingerir!...
As vacas são ruminantes e, aqui para não correr o risco de ser
acusado de populista, cito o que há muito escrevi na introdução
dum capítulo da minha tese de doutoramento (em 1997): “ As particularidades do sistema digestivo dos ruminantes permitem, porém,
que estes animais utilizem, ainda que indiretamente, constituintes
alimentares indisponíveis para outras espécies. Com efeito, a associação simbiótica estabelecida com os microrganismos do rúmen
possibilita que os glúcidos estruturais das plantas – compostos re-
As principais tendências
A EuroTier, que se realizará em Hanover (Alemanha), de 13 a 16 de novembro, representa o maior
mercado, tanto a nível europeu, como mundial, de
novidades para maquinaria agrícola, equipamentos e factores de produção, bem como para a gestão da pecuária profissional.
Este ano, com 300 novidades apresentadas por um
total de 182 expositores de 23 países, a EuroTier atingiu um recorde absoluto.
Este ano surgirão muitos desenvolvimentos inovadores
no campo da criação de gado. No que diz respeito à
alimentação, as novidades são evidentes, tanto na en-
22
silagem como nos equipamentos de descarga dos alimentos, como ainda nos sistemas para a rápida determinação do valor da alimentação dos animais.
Uma outra área de foco reside em soluções que,
por um lado, melhoram substancialmente a monitorização da condição e saúde do animal e, por outro,
ligam e coordenam o controlo, a regulação e processos
de trabalho no estábulo do gado leiteiro, bem como
ajudam a visualizar e monitorizar estes mesmos
processos. Para além disto, são também apresentadas soluções que permitem uma maior automatização
e padronização na comunicação de dados entre
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
a exploração e parceiros externos.
No campo da ordenha mecânica, as novidades não
atingiram ainda os limites no que diz respeito a maquinaria moderna e equipamento de mungição, e a ordenha total ou parcialmente automática está em
contínuo crescimento. Tal aplica-se igualmente à utilização de informação àcerca dos ingredientes do leite
para monitorização sanitária através de equipamento
de análises instalado na exploração.
No campo da criação de gado, as novidades que monitorizam o nascimento, o mais automaticamente possível, são cada vez mais significativas. x
OPINIÃO
fratários à atuação das enzimas dos animais superiores – representem uma das principais fontes de energia dos ruminantes e que compostos azotados não proteicos sejam utilizados como fontes de
proteína. Esta característica coloca os ruminantes numa posição
muito vantajosa dentro dos sistemas de produção animal, dado que
permite explorar fontes alimentares não utilizáveis em alimentação
humana e de animais monogástricos.”
Ou seja: há outras matérias-primas alternativas e conceptualmente
mais lógicas ao bagaço de soja, apesar dos seus preços estarem a
acompanhar, infelizmente, em alta o preço desta matéria-prima. Os nutricionistas não podem ter medo. Há que fazer, e bem,
as contas. Mas, quem as faz?
Enfim, “vamos indo e vamos vendo” ou, digo eu, vamos indo
e fazendo? x
Garry Mainprize
Sócio Gerente de Vale da Lama,
Responsável pela Produçao Leiteira e Agrícola
Com os baixos preços do leite e os
altos custos da alimentação, temos
que ser mais eficientes em todas as
áreas e implementar mudanças. De
seguida, e sem ser por ordem de importância, descrevo algumas das medidas que tomamos na exploração.
Usar tanta forragem da exploração quanto possível e conseguir
produzi-la com a maior qualidade possível. Não cortar nos custos
variáveis das forragens produzidas para poupar dinheiro. Investir
em boas sementes, fertilizantes, bem como colher e ensilar as forragens no adequado grau de maturidade das plantas. Não esquecer que é o trator, no silo, que controla a qualidade da forragem
colhida, e não o corta-forragens. Gastar o tempo necessário no
silo, a compactar e a encher corretamente por forma a diminuir
tanto quanto possível o desperdício.
Investir em equipamento de irrigação, de forma a produzir tanta
forragem quanto possível na exploração e assim reduzir ao máximo a compra de concentrados ou matérias primas.
Ser eficiente na gestão diária da alimentação. Saber o que cada
vaca ou novilha comerá, bem como o custo e a quantidade de cada
alimento, tarefa executada 365 dias por ano pelas 7 horas da
manhã. Precisamos desta informação para sermos eficientes na
alimentação de todos os animais. Afinal de contas, é o maior custo
de produção da exploração.
É preciso olhar com mais frequência para a produção média por
grupos e respectivos dias em leite, torna-se vital mudar de grupo
os animais de acordo com estes critérios. Isto também se aplica à
recria. Eu tenho diferentes dietas ajustadas para as novilhas desde
o desmame até ao parto aos 23,6 meses de vida em média, por
forma a que cada grupo coma apenas o que é necessário para a
sua fase de crescimento.
Evitar ao máximo o desperdício de matéria seca, tanto ao nível
da mangedoura como na boca dos silos das diferentes forragens.
Fazer análises a todas as forragens numa base semanal, pois
podemos ter grandes variações nos silos devido às forragens crescidas em diferentes tipos de solos, o que altera a sua qualidade
final nos silos. Eu acho que este é um procedimento vital para
ajustarmos as diferentes dietas às variações de qualidade forrageira. Desde há vários anos a esta parte que peço às fábricas de
rações para me recolherem amostras das forragens. Isto tem-me
ajudado a controlar mais eficientemente a alimentação dos meus
animais e a poupar muito dinheiro.
Em suma, eu acho que temos de ser mais profissionais
e eficientes que nunca em todas as áreas da exploração, tanto na
produção como na reprodução e, muito especialmente, ter cuidado com a qualidade das forragens, não apenas durante o seu
desenvolvimento mas também durante a sua ensilagem e armazenagem. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
23
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Uma chave para a rentabilidade
Reformular para obter o maior valor
das forragens da sua exploração
por Sylvie Andrieu, Responsável Técnica do Departamento de Ruminantes a nível Europeu, Alltech
Agora, se lhe perguntar o motivo pelo qual não acrescenta mais
energia, ele provavelmente responderá que não é possível adicionar
mais cereais ou outras fontes energéticas à dieta, sem reduzir o
fornecimento de forragem o que, em última análise, conduziria a
sérios riscos de acidose.
Este é, de facto, o desafio do nutricionista: fornecer os nutrientes
necessários à produção, saúde e reprodução das vacas leiteiras e,
ao mesmo tempo, garantir que a dieta fornece uma estrutura de fibra
suficiente para estimular a ruminação e assegurar uma saudável
função ruminal.
Em suma, isto implica a utilização de muitos cereais ou
concentrados e grandes quantidades de forragem que, infelizmente,
não são tão ricos em energia e proteína como os concentrados.
Estes têm sido desde sempre objetivos conflituosos e a função
do nutricionista é: decidir qual é o limite de ingestão de forragem,
jogando sempre pelo seguro em termos de acidose.
O desafio de aumentar a forragem, mantendo simultaneamente a
mesma densidade de nutrientes, foi alvo de recente destaque, tendo
sido desenvolvido pela Alltech um novo produto que permite
resolver o problema. O novo produto, chamado Optigen é uma
fonte de libertação controlada de ureia, com uma curva de
degradação ruminal que demonstrou ser bastante semelhante às
fontes de proteína vegetal, tais como a farinha de soja. Como se trata
de uma fonte de azoto altamente concentrada (41% de azoto, 256%
de proteína equivalente), 100 g permitem obter uma quantidade de
proteína equivalente a 800 g de farinha de soja, preservando ainda
padrões de degradação semelhantes. Deste modo, são criadas novas
possibilidades de formulação aos nutricionistas, uma vez que a
inclusão de Optigen nas dietas liberta mais capacidade de ingestão,
o que permite o uso adicional de mais forragens na alimentação.
Uma maior quantidade de forragem na dieta é claramente
benéfica para a função ruminal, devido à estrutura da dieta, mas
ainda assim é necessário fermentar a fração da fibra no rúmen, para
que o respetivo valor nutritivo seja benéfico para a vaca leiteira.
24
Uma das frações mais variáveis na forragem para a
digestibilidade é a fibra, uma vez que pode variar entre 40% em
forragens de qualidade muito fraca e 85% nas melhores forragens.
Estas variações de digestibilidade estão nitidamente ligadas à maturidade da forragem e ao tipo de fibra associado (NDF, ADF e
ADL), mas a atividade da microflora ruminal também desempenha
um papel significativo.
Um parâmetro importante é a quantidade de proteína disponível
para o próprio crescimento das bactérias ruminais. Em particular, as
bactérias celulolíticas têm um requisito específico e exclusivo para
NNP (azoto não-proteico) ou fontes de amoníaco (CPMDairy).
Deste modo, é fundamental fornecer fontes de azoto às bactérias
para assegurar a sua própria alimentação adequada, para que a fermentação das fibras seja eficaz.
Um fornecimento regular é igualmente necessário, na medida em
que as bactérias ruminais só conseguem captar um montante
máximo de azoto por unidade de tempo. As bactérias conseguem
processar o excesso mas não a insuficiência de nutrientes: em caso
de excesso, o azoto excessivo será metabolizado em ureia mas, no
caso de insuficiência, as bactérias celulolíticas ficarão privadas em
fontes de azoto o que, por sua vez, pode diminuir temporariamente
a respetiva eficácia do seu crescimento.
Alimentar com fontes alternativas de azoto, como o Optigen
podem, por conseguinte, assegurar um nível de amoníaco mais
constante no rúmen (Fig. 1).
Figura 1.
Concentração de amoníaco no rúmen após ingestão: libertação de amoníaco da
dieta padrão (ureia) ou do Optigen (Adaptação de Lykos et al., 1997):
Dieta
Optigen
Dieta
Standard
18
Amoníaco no rúmen mg/dl
Se perguntar a um nutricionista qual a parte do
arraçoamento que ele gostaria de aumentar, se pudesse,
na dieta de uma vaca leiteira, existe uma forte
possibilidade de a resposta ser ‘energia’. Faz sentido,
pois o défice energético é inevitável durante o período
inicial de lactação, tendo um impacto negativo direto
na imunidade e no desempenho reprodutivo futuro.
16
14
12
Excesso
10
Excesso
Concentração de requisitos de amoníaco necessário para as bactérias no rúmen
Défice
8
6
Défice
4
2
0
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
0
3
6
9
12
15
Horas após a ração da manhã
18
21
24
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Num ensaio realizado na Universidade Harper Adams no Reino
Unido, em que se alimentaram vacas leiteiras com um nível
elevado de silagem de milho através da inclusão de Optigen, como
substituição parcial de farinha de soja e colza, foram monitorizadas
as eficiências energéticas e do azoto.
As vacas alimentadas com Optigen revelaram uma maior
eficiência de azoto, o que reflecte o facto de as bactérias ruminais
captarem o azoto de forma mais eficaz a partir do Optigen, em
comparação com o controlo, uma vez que é libertado de forma
muito constante ao longo do tempo.
Além disso, num ensaio realizado na Universidade Federal de
Lavras no Brasil, os investigadores observaram o efeito da fonte de
azoto nos níveis médios de azoto ureico no plasma (PUN), como
também o tempo passado acima do valor de limite tóxico de 21
mg/dl. Embora não tenham sido observadas diferenças significativas
nos níveis médios diários entre os diferentes grupos de vacas, o
tempo com azoto ureico no plasma (PUN) acima de 21 mg/dl
revelou um aumento de 41 e 46 minutos no caso do Optigen e das
dietas de controlo (fontes de proteína vegetal), respetivamente, e
de 105 minutos no caso duma dieta contendo ureia.
No ensaio do Reino Unido, juntamente com uma maior
eficiência de azoto, a eficiência energética foi também melhorada
significativamente. De facto, este resultado quase atingiu o valor
de um, indicando que a ingestão energética foi praticamente
transferida na íntegra para a produção de leite e aumento de peso,
revelando claramente a existência de condições ideais de
fermentação ruminal (Tabela 1).
Tabela 1.
Eficiências de azoto e energéticas de dietas de controlo
e de Optigen dadas a vacas leiteiras
Controlo
Optigen
P-value
Ingestão (g/d)
619
581
<0.001
Azoto - produção de leite (g/d)
165
162
0.427
Eficiência de azoto
0,267
0,281
0,002
Ingestão ME (MJ/d)
275
264
0.067
Produção ME (MJ/d)
251
262
0.155
Eficiência ME
0.914
0.997
<0.001
Azoto
Energia
Este efeito é também claramente evidente ao nível da
exploração leiteira: num ensaio de campo em grande escala
realizado na Polónia em 2009, sob a supervisão de investigadores
da Universidade de Cracóvia, a introdução de Optigen, de forma
semelhante à descrita anteriormente, resultou numa resposta de
1,6 kg/dia de leite, sem qualquer alteração na condição corporal.
Ao analisar as partículas não digeridas presentes no estrume,
observou-se uma clara diminuição das partículas de maior dimensão,
a favor das partículas mais pequenas (consulte as imagens de
controlo e Optigen, respectivamente).
26
Análise fecal da dieta de controlo
Análise fecal da dieta Optigen
Menos partículas não digeridas refletem mais energia libertada
pela dieta, especialmente por parte da forragem, o que resulta na
produção adicional de leite ou no aumento de peso corporal, de
acordo com a partição de energia e fase fisiológica dos animais.
A possibilidade de aumentar a eficiência do azoto através da
utilização de Optigen expande ainda mais os limites da nutrição
proteica: se o azoto de Optigen é captado mais eficazmente pelas
bactérias ruminais e transformado em biomassa microbiana
adicional, por que não utilizar esta característica para diminuir o
fornecimento total de azoto alimentar?
Isto pode ser aplicado em situações de escassez de recursos
proteicos e consequente cenário de preços muito elevados (como
o vivido atualmente) ou, simplesmente, para diminuir a excreção
de azoto e, assim, a poluição ambiental. Os investigadores da
Universidade de Penn State estudaram a diminuição do
fornecimento de proteína bruta de 16 para 15,5%, aumentando
simultaneamente a quantidade de forragem dada às vacas ao longo
da introdução de Optigen.
O Optigen substituiu parcialmente a farinha de colza e a farinha
de soja. Isto resultou no aumento da eficiência de azoto (de 28,8
a 30,8%, respectivamente, no grupo de controlo e Optigen)
juntamente com uma maior produção de leite no grupo de Optigen
(41,6 vs. 40,5 kg/dia) sem qualquer alteração na condição corporal.
Isto resultou num Income Over Feed Cost-IOFC (receita menos
custo de alimentação) de €0,42/dia (preços do leite e alimentação
média na Europa), indicando assim que as inovações reais podem
tornar compatíveis os resultados do desempenho produtivo, da
proteção ambiental e dos resultados financeiros.
CONCLUSÃO
As fontes inovadoras de azoto como o Optigen podem ajudar a
resolver o desafio diário dos nutricionistas: conceber dietas mais
saudáveis através de um maior fornecimento de forragem, sem
reduzir a densidade de nutrientes e, em última análise, o
desempenho produtivo. Abre também novos caminhos para os
produtores de leite, ajudando-os a obter eficiências de azoto mais
elevadas num clima onde se prevê, num futuro próximo, que as
políticas públicas o vão exigir. E por último, e por demais
importante neste momento, ajudar os produtores de leite a
diminuir o custo da alimentação dos seus animais. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
O Impacto da Qualidade
Nutricional da Silagem de Milho
no custo de formulação
de dietas para bovinos de leite
Nunca antes o controlo de custos e a diminuição
do custo de produção de leite foram tão
importantes.
Na situação dificílima que a produção de leite nacional atravessa actualmente, parece-nos que faz todo o sentido abordarmos
o impacto que a qualidade da silagem de milho tem nos custos totais de alimentação de um efectivo leiteiro. Além disso, estamos
já a entrar na fase de colheita de silagem de milho, e as decisões
tomadas agora vão influenciar decisivamente os custos de produção de leite no próximo ano.
Abordando o tema da forma mais prática possível, quisemos cal-
Silagem de Milho A
Alimentação
Base
Matéria Seca
35%
Proteína Bruta
7,5%
Matéria Seca
35%
Proteína Bruta
6,5%
Amido
Silagem de Milho B
Amido
28
27%
33%
cular esse mesmo impacto, e contámos com a colaboração e co-autoria, neste artigo, do colega Eng. Abílio Pompeu, que, utilizando
diversas qualidades nutricionais de silagem de milho, elaborou um
conjunto de dietas, habituais no nosso sistema de produção, aferindo os custos alimentares, para um efectivo de 80 animais. Partindo de uma Dieta base constituída por 28 kg de Silagem de
Milho, 1,3 kg de palha e 12 kg de concentrado, e um efectivo
com produções médias de 30 litros/dia, e ingestão diária de 22
kg de Matéria Seca, averiguámos a alteração do custo do concentrado, mediante a diferença de qualidade nutricional da silagem de
milho, principalmente no que respeitava à percentagem de amido.
Assim, podemos verificar nas tabelas abaixo os cálculos efectuados.
Dieta Alimentar
Silagem de Milho
Palha
Concentrado
Dieta Alimentar
Silagem de Milho
Palha
Concentrado
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
28 Kg
1,3 Kg
12 Kg
28 Kg
1,3 Kg
12 Kg
Composição do Concentrado/kg
UFL
0,98
Proteína Bruta
24
Custo concentrado A (€/ton.)
Composição do Concentrado/kg
UFL
0,92
Proteína Bruta
24,8
Custo concentrado B (€/ton.)
Amido
21
373
Amido
16,1
347
ALIMENTAÇÃO
Cálculo
Económico
Diferenças
Silagem
AeB
Diferença Vaca/dia 0,312 €
PRODUÇÃO
€/Kg
Silagem Milho 27% amido
Silagem Milho 33% amido
0,05
28
0,115
1,3
0,05
Palha
Concentrado A
0,373
Concentrado B
0,347
Total kg
A
€/Vaca/dia
12
41,3
6,026
€/litro
0,2009
Diferença 80 vacas/mês 750 €
Para idêntica produção de leite estimada, o custo do concentrado (concentrado A) necessário para se adaptar a uma silagem de
27% de amido (silagem A) é 26 euros mais elevado do que o concentrado (concentrado B) necessário para se adaptar a uma silagem de 33% de amido (silagem B). Obviamente, a eficiência
alimentar da dieta contendo a silagem e concentrado B é mais elevada, o que numa exploração de 80 animais representa uma poupança média de 750 euros.
No aspecto agronómico, a diferença da percentagem de amido
entre as duas silagens poderá ser obtida por duas vias: a genética
do híbrido e a época de colheita. Neste caso particular, a diferença prende-se com a genética do híbrido, pois a Matéria Seca
das duas Silagens é idêntica.
• O estado de maturação à colheita tem um impacto dramático no valor nutricional de cada híbrido.
• O aumento do conteúdo em grão (amido) é o principal responsável pela melhoria de qualidade.
Fontes de Energia na Silagem de milho
• 65% grão
• 10% conteúdos celulares
• 25% NDF (fibra)
Estamos então perante um caso em que uma variedade, nas
mesmas condições agronómicas, e para a mesma data de colheita,
produz mais 6% de amido.
Esta diferença na percentagem de amido representa aproximadamente mais 2000 kg de grão/ha, na silagem de milho B. Esta é
a razão pela qual, na Pioneer, valorizamos de forma preponderante a produção de grão! No entanto, não podemos deixar de passar uma mensagem ao produtor de leite, agora que se aproximam
as colheitas:
• Não deite a perder todo o investimento na cultura do milho
dos últimos meses;
• Valorize a qualidade da silagem de milho, colhendo na melhor altura possível;
B
28
1,3
12
41,3
5,714
0,1905
• A maturação ideal da silagem de milho situa-se entre os 3237% de Matéria Seca – esta fase garante-lhe a maior produção de Matéria Seca, aliada a elevadas produções de grão, e
em situações normais, elevada qualidade da fibra;
• Por dia, em média, podemos ganhar no campo, mais de 1% de
amido na silagem de milho. Relembre os cálculos que efectuámos acima!
• Em caso de dúvida, contacte o seu Especialista em Forragens
Pioneer.
• Humidade e maturação ideal:
– Auxilia na eliminação do oxigénio na massa silageira;
– Fornece Hidratos de Carbono Solúveis (açucares) para
uma correcta fermentação;
– Os valores absolutos dependem do tipo de armazenamento,
capacidade de compactação e capacidade de processamento de grão.
• Sugestões
– O grão de milho deve estar entre 1/2 - 2/3 da linha de leite
e a humidade total de toda a planta deve encontrar-se entre
os 60-68% dependendo do tipo de armazenamento;
– Estados de maturação mais avançados originarão níveis de
amido mais elevados mas torna o adequado processamento do grão crítico. x
Conte com a Pioneer.
Nós estamos sempre por perto.
Departamento Técnico
de Nutrição Animal Pioneer
[email protected]
[email protected]
Nutriconsult, LDA - [email protected]
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
29
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Preciane
para uma melhor utilização da silagem de milho
na alimentação de bovinos leiteiros
Carlos Flecha, Provimi Iberia - Departamento de ruminantes
[email protected]
Evolução das rações
Silagem Milho (kg MS)
Amido %
Ingestão amido (g/dia)
FORRAGENS
CONCENTRADOS
Concentrado (25% Amido)
Concentrado (65% Amido)
Amido ingerido (g/dia)
Amido total (g/dia)
Equivalente grão (kg)
1990
2010
13.5
28
3780
16
35
5600
3 kg
750
2 kg
1300
4530
7
+ 50% em 20 anos
6900
11
Quadro 1 – Evolução da ingestão de amido nas dietas das VLAP
PRECIANE – A INFORMAÇÃO
Conscientes da importância de avaliar adequadamente o conteúdo nutricional da silagem de milho, na Provimi (Cargill) desenvolvemos um serviço exclusivo – a análise Preciane.
30
A rede Provimi NIR (Cargill) é líder mundial na análise de matérias-primas e forragens. A calibração NIR é baseada nas informações fornecidas pela atual rede NIR, com instrumentos em todo
o mundo. A sua precisão é assegurada pelas suas equações exclusivas e pela constante atualização do respetivo banco de dados.
Preciane é uma avaliação nutricional da silagem de milho,
combinando a tecnologia NIR com o poder e a experiência da
rede mundial da Provimi (Cargill).
Assim, em tempo útil, poderemos aceder a um conjunto de informação que nos auxiliará a, com maior segurança e rigor, procedermos à otimização das dietas alimentares das VLAP:
1) Parâmetros Padrão
São aqueles que obtemos através da análise química normal
(via húmida) ou pelo método NIR padrão; teores de matéria
seca, amido, açúcar, cinzas, proteína e fibra bruta.
2) Degradabilidade do Amido no rúmen
A análise Preciane proporciona-nos informação da quantidade de amido by-pass fornecida pela silagem de milho.
Este parâmetro, é diretamente influenciado pelo teor de
matéria seca ao ensilar, pelo tempo de armazenamento e
pela genética da planta.
Conforme podemos observar no Quadro 2, existe uma relação
entre a degradação do amido no rúmen com o tempo de armazenagem da silagem e o respetivo teor de MS na colheita. Em silagens com teores de MS médios entre os 30% e os 34%, o efeito
do tempo de armazenagem no teor de amido degradável é muito
acentuado.
110
Amido Bypass (gr/kg MS)
Na maioria dos países, a silagem de milho é a
forragem húmida mais utilizada em rações para vacas
leiteiras de alta produção (VLAP). Atualmente, pode
representar, quanto ao fornecimento de nutrientes ao
animal, até 75% da energia e até 40% da proteína.
Uma variação no valor nutritivo da silagem de milho
tem um impacto significativo sobre o valor da ração
total; é vital dispor de uma ferramenta que permita
avaliar a qualidade nutricional e potenciar o seu uso
mais adequado.
Em consequência da evolução nas cultivares do milho,
ao longo dos últimos 20 anos temos assistido a um
aumento das quantidades de amido disponibilizadas
pelas silagens de milho.
O conhecimento detalhado da sua qualidade
nutricional é uma peça chave na otimização da
alimentação das VLAP.
90
80
70
60
75
84
65
58
50
40
100
97
100
MS 1 (<30)
<45 dias
80
73
61
48
MS 2 (30-34)
45 a 90 dias
Fonte: Provimi research France
90 a 135 dias
MS 3 (>34)
Quadro 2 – Efeito do tempo de armazenagem e do teor de MS
no amido by-pass
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
98 96
> de 250 dias
ALIMENTAÇÃO
Para estimar a degradabilidade do amido, é fundamental o conhecimento individual em cada silagem e não estar dependente
das tabelas ou dos dados históricos.
3) Degradabilidade da Fibra Neutro Detergente (NDF)
Nas rações completas para vacas leiteiras, o conhecimento
da quantidade de NDF e da sua degradabilidade é fundamental na previsão da capacidade de ingestão de matéria
seca dos animais.
Degrabilidade da NDF às 48 h
75.000
70.000
%
65.000
60.000
55.000
50.000
PRODUÇÃO
CONCLUSÕES
Nas explorações de bovinos de leite do nosso país, a silagem de milho, é um elemento presente na maior parte das rações dos seus animais.
Para o nutricionista é fundamental um maior e melhor conhecimento dos parâmetros nutricionais das silagens de
milho. O Preciane disponibiliza, em tempo útil, para além
da informação dos ditos «parâmetros normais», importantes informações qualitativas sobre a degradabilidade
do amido e da NDF.
Esta informação extraordinária, completa os nossos conhecimentos da silagem de milho, permite extrair-lhe todas
as vantagens e obter os melhores resultados com o menor
custo de produção. Agora, mais do que nunca, com os preços
das matérias-primas que se estão verificando, é de importância vital. x
TEST
45.000
40.000
amostra Silagem milho Provimi, 2012
Quadro 3 – Variação da degradabilidade da NDF
(Fibra Neutro Detergente) às 48h.
É o melhor conhecimento da degradabilidade da NDF que nos
vai permitir desenhar uma ração, maximizando o consumo e equilibrando os níveis de forragem e concentrado.
Matéria seca
Proteína bruta
Fibra bruta
Fibra ácido detergente
Fibra neutro detergente
Grasa bruta (hidrólisis)
Cenizas brutas
Almidón
FND Degradable
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Resultados analíticos
UNIDADES
%
%
%
%
%
%
%
%
% FND
%
%
%
%
Eficácia digestiva
RESULTADOS
32.69
8.60
18.08
21.65
40.78
3.01
3.32
29.55
57.38
0.24
0.19
0.14
1.53
Total tract NDF digestibility response (% unit)
20
15
10
5
0
-5
Valorização Nutrição
-10
-15
-4
-2
0
2
4
DMI response (kg/d)
6
8
TEST
Amido By-Pass
10
Fonte: Oba and Allen, 1999
Quadro 4 – Relação entre a degradação da Fibra Neutro Detergente (NDF) e a
Ingestão de Matéria Seca (DMI)
UNIDADES
g/kg
RESULTADOS
86.15
Amido By-Pass
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
31
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
Gestão da contaminação por micotoxinas
em matérias-primas e alimentos para animais
Erwan Leroux , Chefe de Produto – Aditivos, NEOVIA, empresa do grupo INVIVO NSA
As micotoxinas são bem conhecidas pelos seus vários efeitos adversos. Podem ter efeito carcinogénico, suprimir o sistema imunitário, afetar negativamente a reprodução e reduzir a performance
produtiva das aves. São produzidas por diversas espécies de fungos
que possuem capacidade de crescer na maioria das matérias-primas
utilizadas em alimentação animal, tanto no campo como na armazenagem. Hoje, mais de 300 micotoxinas diferentes foram identificadas mas só aproximadamente 40 foram estudadas em aves.
Para reduzir, tanto quanto possível, os riscos das micotoxinas, a
gestão das matérias-primas para alimentação animal tem que ser realizada de uma forma completa.
Este artigo refere diferentes pontos estratégicos que têm que ser
abordados para uma gestão eficaz deste problema, assim como o suporte técnico disponível para produtores de alimentos e para produtores pecuários.
A AMOSTRAGEM
Princípios gerais
O desafio da amostragem é numa amostra de menos de 1 kg ter
uma representação fiel da contaminação por micotoxinas presente
em várias toneladas. Num lote de alimento com várias toneladas,
têm que ser retiradas diversas amostras de diferentes partes por
forma a ter uma boa representatividade. Estas amostras, denominadas de amostras elementares, são depois todas misturadas de forma
homogénea, formando uma amostra global com vários kg. Desta
amostra global é finalmente retirada uma amostra com 500 g que é
enviada para o laboratório como sendo representativa do lote.
Análise a micotoxinas,
com a melhor
representatividade
possível do lote
Lote
Amostras
Amostra global
Amostra teste
Figura 1: Abordagem geral numa análise a micotoxinas
Número de amostras
A legislação Europeia (CE 401/2006) define o número exato de
amostras elementares que têm que ser recolhidas e, no caso de análise a micotoxinas, este número depende do peso do lote do alimento
(ver tabela 1). Este método permite obter uma amostra final (amostra teste) com boa representatividade para ser analisada
Erro total num procedimento analítico para micotoxinas.
O método de amostragem é definido tendo em conta a redução do
erro total numa análise a micotoxinas. Esta não é a única fonte de
erro, mas é conhecida como sendo a mais importante. Assim, es-
32
Tabela 1: Número de amostras em função do peso do lote
Peso lote
< 50 kg
50 - 500 kg
500 kg - 1 T
1T-3T
3 T - 10 T
10 T - 20 T
20 T - 50 T
Peso lote
N.º de amostras Peso de cada amos- Amostra global
elementares
tra elementar
3
300 g
1 kg
5
200 g
1 kg
10
100 g
1 kg
20
100 g
2 kg
40
100 g
4 kg
60
100 g
6 kg
100
100 g
10 kg
Sub-lote
50 T - 300 T
100 T
300 T - 1500 T 3 Sub-lote
> 1500 T
500 T
N.º de amostras
elementares por
sub-lote
100
100
100
Peso de cada
amostra
elementar
100 g
100 g
100 g
Amostra teste
500 g
500 g
500 g
500 g
500 g
500 g
500 g
Amostra
global
10 kg
10 kg
10 kg
Amostra teste
500 g
500 g
500 g
tima-se que o método de amostragem na descarga do navio, fábrica
ou exploração representem 90% do erro (mesmo respeitando o definido no Regulamento CE 401/2006).
O método de amostragem no laboratório pode representar 8%
desse erro e a imprecisão ligada ao método de análise parece representar somente 2% do erro total.
Figura 2:
Erro total numa
análise a micotoxinas
Erro total
Lote
Erro
Erro na prep.
amostragem amostra
Amostra
Preparação
Erro
analítico
Análise
Na prática?
O Regulamento CE 401/2006 fornece recomendações, mas no
“terreno”, pode ser muito difícil seguir estas recomendações. Adicionalmente, o número de amostras requerido pode ser impraticável.
Na chegada do navio
Na chegada ao porto, o Regulamento 401/2006 recomenda uma
análise por cada 100 toneladas para um tamanho de lote até 500 toneladas, de seguida uma análise por cada 250 toneladas até 1,000
toneladas e depois cada 500 acima das 1,000 toneladas. Para cada
análise, o número de amostras elementares deve ser próximo de 100
com 100 gramas cada. Este número de amostras é impossível de alcançar na prática. Simplificando, deve ser feita uma amostra por
cada camião carregado, que depois de misturadas vão constituir a
amostra global daquele lote.
Amostragem na chegada à exploração / fábrica
Na chegada à exploração ou à fábrica podem ser usados diferentes métodos de amostragem dependendo da situação e do tipo de
material a analisar. Se a matéria-prima estiver acondicionada em
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
ALIMENTAÇÃO
PRODUÇÃO
sacos (um camião completo de 24 toneladas terá aproximadamente
500 sacos), deve ser recolhida uma amostra de 100 g por cada 50
sacos.
Caso a matéria-prima seja entregue a granel, a amostra pode ser
preparada através de um dos diferentes métodos:
• Pode ser utilizada uma sonda no reboque (ver foto 1) de forma
a recolher amostras de pelo menos 10 pontos do reboque (100 g
cada), estas amostras devem depois ser misturadas para constituir uma amostra global.
• Durante a descarga do reboque (ver foto 2), recolher 10 subamostras (100 g cada) para depois serem misturadas.
• Quando a matéria-prima é transportada para os silos por meios
mecânicos (ver foto 3) pode ser feito um pequeno buraco (diâmetro de aproximadamente 1.0 centímetro) para recolha contínua de amostras.
Foto 1:
sonda no reboque
Foto 2: amostragem
durante a descarga
Foto 3: Transporte
de matérias-primas
Amostragem durante a alimentação dos animais
Em explorações de aves ou suínos as amostras de alimento podem
ser retiradas diretamente dos comedouros ou do circuito. Devem ser
recolhidas diversas amostras (pelo menos 10) de diferentes pontos
ou comedouros. Estas amostras são depois misturadas para formar
uma amostra global.
Também no caso dos ruminantes, quando não existe carro unifeed, devem ser retiradas várias amostras ao longo da manjedoura;
segue-se a mesma regra referida acima, recolher pelo menos 10
amostras em diferentes pontos que depois são misturadas para formar a amostra global. No caso da exploração dispor de um carro
unifeed, deve ser recolhida uma amostra de cada carro no final da
mistura; estas são depois misturadas para formar a amostra global.
No entanto, convém referir que todos estes métodos são adaptáveis a cada situação em concreto. Cada caso deve ser analisado para
se decidir qual o método de amostragem mais eficiente e representativo.
INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS
É importante possuir o máximo de informação sobre cada micotoxina, por forma a prever o seu efeito nos animais e em que níveis.
De forma minuciosa, 43 micotoxinas e metabolitos (tabela 2 pág. seguinte) são rotineiramente analisados pela NEOVIA em cada
amostra que lhe chega, pois só assim é capaz de emitir um diagnóstico preciso e específico.
Para cada tipo de micotoxina, os seus efeitos diferem dependendo
da espécie, idade, sexo e estado sanitário dos animais, em conjugação com a duração da exposição e nível de contaminação.
Adicionalmente, na maioria das vezes, está presente na matériaprima ou no alimento mais do que uma micotoxina, ocorrendo policontaminação. Nestas alturas, podem ser encontrados efeitos
sinérgicos entre as diferentes micotoxinas presentes.
»
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
33
PRODUÇÃO
»
ALIMENTAÇÃO
Para diferentes localizações geográficas e/ou áreas climáticas, os
centros de monitorização de micotoxinas estão ligados a parceiros
locais, isto permite que a situação local seja bem definida e melhor
gerida.
Tabela 2: Micotoxinas e metabolitos analisados pela NEOVIA
Família dos TRICOTECENOS tipo A
T-2 toxina • HT-2 toxin • T-2 tetraol
T-2 triol • DAS ou Diacetoxyscirpenol
15 acetoxy scirpenol ou MAS • Verrucarol
Família dos TRICOTECENOS tipo B
Deoxynivalenol or DON (ou « vomitoxina »)
DOM-1 (metabolito do DON) • Nivalenol
Fusarenon X
15 ac DON ou 15-O-acetyl 4 - Deoxynivalenol
3 ac DON ou 3-acetylDeoxynivalenol
Família dos TRICOTECENOS tipo D
Roridin A • Verrucarin A
Família dos ZEARALENONA e metabolitos
Zearalenona • alpha Zearalanol
beta Zearalanol • alpha Zearalenol
beta Zearalenol
Família das FUMONISINAS
Fumonisin B1 • Fumonisin B2 • Fumonisin B3
Outras moleculas produzidas por Fusarium sp
Moniliformin
Família das toxinas ALTERNARIA
Acido Tenuazonic
Família dos ERGOT ALCALOIDES
Ergocornine • Ergocristine • Ergocryptine
Ergometrine • Ergosine • Ergotamine
Família das OCHRATOXINAS
Ochratoxina A • Ochratoxina B
Ochratoxina alpha
Família das AFLATOXINAS
Aflatoxina B1(¹) • Aflatoxina B2(¹)
Aflatoxina G1(¹) • Aflatoxina G2(¹)
Família das TOXINAS TREMORGENES
Penitrem A • Verruculogen
Outras moléculas
Citrinina • Patulina • Ácido Cyclopiazonico
Strerigmatocystina
PLANO DE AÇÃO
Contaminação de uma matéria-prima
Para as matérias-primas com maior taxa de inclusão no alimento,
os lotes devem ser armazenados de acordo com o risco de contaminação por micotoxinas – ou em silos dedicados a esta matéria-prima
em concreto ou em sacos bem identificados.
O nível de inclusão de matérias–primas contaminadas deve ser
adaptado tendo em conta as micotoxinas e as espécies alvo, o seu
sexo e idade, a duração da exposição e finalmente condições particulares como padrões de higiene e temperatura.
Uma gestão integrada da formulação tendo em conta a contaminação com micotoxinas dever ser posta em prática para maximizar
a proteção dos animais.
Tabela 3: Valores LD50 para uma contaminação com Aflatoxina B1
Espécies
Pato (1 dia)
Coelho
Porco
Gato
Truta
Cão
Ovelha
Cobaia
Frango
Ratazana
Rato
LD50 (ppm)
0,46
0,50
0,56
0,78
0,81
1,00
1,50
2,00
6,65
7,00
10,00
Autores
Patterson, 1973 ; Galtier P. et al., 2005
Patterson, 1973 ; Galtier P. et al., 2005
Patterson, 1973 ; Galtier P. et al., 2005
Patterson, 1973
Patterson, 1973
Patterson, 1973
Patterson, 1973 ; Galtier P. et al., 2005
Galtier P. et al., 2005
Smith and Hamilton, 1970 ; Patterson, 1973
Galtier P. et al., 2005
Galtier P. et al., 2005
De acordo com os valores LD50 (Dose Letal para 50% dos animais) disponíveis na literatura científica, é possível saber a sensibilidade do animal às diferentes micotoxinas. Para a Aflatoxina B1,
os valores representados na tabela 3 demonstram enormes diferenças de sensibilidade entre as diferentes espécies. Por exemplo, os
patos são 15 vezes mais sensíveis que os frangos.
No caso de contaminação com zearalenona, os efeitos vão ser diferentes de acordo com o sexo.
Contaminação do alimento
Mesmo que uma gestão eficaz das matérias-primas reduza o risco
34
da contaminação com micotoxinas, não temos ainda uma garantia
total para evitar os seus feitos adversos.
Assim, é recomendada a utilização de um produto anti-micotoxinas que seja validado e adaptado em situações mais problemáticas.
Mas o que é exatamente um produto anti-micotoxinas validado e
adaptado?
Para o combate às micotoxinas, existem diferentes tipos de produtos, desde os simples adsorventes até às soluções completas antimicotoxinas.
Simples Adsorventes
Os produtos designados como “adsorventes” possuem capacidades para adsorver micotoxinas permitindo a eliminação da micotoxina ligada, via fezes. Algumas substâncias, como os silicatos,
carvão e derivados de glucanos são conhecidos como tendo capacidades adsorventes. No entanto, a capacidade adsorvente destes produtos é altamente variável.
O ideal é os produtos serem avaliados em modelos ‘in vivo’, fornecendo resultados fidedignos (em oposição aos modelos ‘in vitro’
que somente podem ser utilizados como método de triagem inicial
mas mesmo assim apresentado um numero elevado de resultados
falsos positivos ou falsos negativos).
Para avaliação dos produtos anti-micotoxinas, a NEOVIA criou
um original modelo ‘in vivo’, utilizando patos jovens, baseado na
taxa de proteína plasmática desses animais como biomarcador para
a contaminação com Aflatoxina.
Adsorventes altamente eficientes foram selecionados utilizando
este modelo, o que levou à criação de uma gama comercial de produtos. A eficácia desses produtos foi também validada por instituições a nível internacional como o LAMIC no Brasil.
Soluções completas anti-micotoxinas
É conhecido que a maioria dos adsorventes têm somente uma ação
nas micotoxinas polares (como as aflatoxinas). Para as micotoxinas
não polares (tricotecenos), estes produtos de forma isolada não terão
qualquer efeito.
Adicionalmente à simples adsorção, outras ações, quer nas micotoxinas quer no próprio animal, podem ajudar a contrariar os efeitos
adversos das micotoxinas nos animais.
Como exemplo, a NEOVIA desenvolveu uma solução completa
e original (baseada num adsorvente complementado com outros produtos) capaz de estimular as formas naturais do animal reagir e se desintoxicar (estimulação de enzimas especificas) de uma
contaminação com micotoxinas. Estimulação do sistema imunitário
e antioxidantes complementam as ações descritas atrás, de forma a
combater o bem conhecido efeito depressivo do sistema imunitário
e pro-oxidante da maior parte das micotoxinas.
CONCLUSÃO
A gestão do risco da contaminação por micotoxinas é um assunto muito abrangente. Inclui um programa dedicado à armazenagem das matérias-primas, definição de métodos de
amostragem para futura análise e um conhecimento científico
e completo dos efeitos das micotoxinas nos animais.
Adicionalmente, a utilização de uma solução anti-micotoxinas,
completa e validada, é essencial tendo como base um correto
aconselhamento da forma e dose de incorporação por forma a
obter nos animais os efeitos esperados. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
PRODUÇÃO
ALIMENTAÇÃO
A importância do teor de gordura e proteína
do leite para optimizar a produção.
Luís Veiga,
Engº Zootécnico, REAGRO SA
Pedro Castelo,
Engº Agrónomo, REAGRO SA
[email protected]
Uma forma de se verificar a eficiência e equílibrio alimentar e
nutricional é através da observação dos valores do Teor
Butiroso (TB) e do Teor Proteico (TP) no leite, pois poderão
tirar-se conclusões muito importantes no que diz respeito ao
maneio alimentar. Além disso, o leite pago aos produtores
também é influênciado por estes parâmetros. Assim, iremos
neste artigo descrever a origem dos valores de TB e TP no
leite, assim como justificar a relação entre eles.
TP - Teor Proteico do Leite
As proteínas são sintetizadas ao nível do úbere a partir dos aminoácidos presentes no sangue. Em caso de hipoglicémia (ausência de açúcar no sangue) uma parte destes aminoácidos podem
ser afastados, via fígado, para a síntese de glucose (neoglicogénese a partir de aminoácidos). Este fenómeno pode conduzir a
uma diminuição da síntese de proteínas ao nível do úbere e, por
consequência, a uma diminuição do TP. Assim se explica porque
é que o TP é mais influenciado pelo nível energético da ração do
que pelo nível proteico.
TB – Teor Butiroso: as suas origens
Ácidos gordos curtos e médios: Estes ácidos gordos são sintetizados ao longo de fermentações ruminais e contêm 2 ou 4 átomos de carbono (ácido acético C2 e ácido butírico C4). O ácido
acético é o produto da degradação da celulose pela flora celulolítica e é abundante no caso de uma ração rica em fibra. Enquanto
o ácido butírico resulta da degradação dos açúcares.
Ácidos gordos médios e longos: Estes ácidos gordos provêm
da mobilização de reservas corporais e pelo resto de absorção intestinal de lípidos alimentares.
36
O Teor Butiroso é sensível a diversos fatores, tais como: nível
de ácido acético e do ácido butírico que chega ao úbere, intensidade da mobilização de reservas corporais e absorção de lípidos
intestinais. É conveniente fazer uma interpretação destes parâmetros em simultâneo para prever a evolução do TB.
Na figura seguinte, está esquematizada resumidamente a origem do TB e TP.
C4
C.Cét.
C2
Fígado
Glicerol
tecido adiposo
Sangue
Muitas vezes escondidos por uma produção de nível
aceitável, estão valores anormais de teor de gordura e
proteína do leite. Hoje é possível caracterizar bastantes
aspetos do metabolismo da vaca de alta produção com
os resultados do nível de proteína e gordura do leite.
Não devem por isso ser aceitáveis sobre um longo
período de tempo valores fora de parâmetros de
normalidade. A vida produtiva da vaca e sobretudo a
sua longevidade podem ser condicionadas por uma
persistente desvalorização destes parâmetros.
[email protected]
AGNE
Triglycérides
Glucose
C3
Ácido
Láctico
Amino
Ácidos
Energia
Ubere
Ácidos Gordos
Glycérol
Triglicéridos (TB)
Glucose
Lactose
(TP) Proteínas
Fig. 1: Origem do teor butiroso e do teor proteico no leite
Análise dos Teores descritos anteriormente na exploração
Os valores de TB e TP variam consoante a raça e a fase de lactação em que se encontram as vacas. Para determinar os teores
normais de uma exploração mal conhecida, um dos poucos meios
práticos de estudar é verificar os teores médios dos meses e ver os
anos antecedentes.
Os TB e TP devem sempre ser relacionados com a quantidade
de leite produzido, com a fase de lactação e o número de lactação.
TP – Teor Proteico no leite
O TP é elevado durante a primeira semana de lactação (fase de
colostro) baixando progressivamente e atingindo o seu valor mais
baixo no pico da lactação. De seguida, voltará a aumentar depois
de 100 a 120 dias de lactação. No início de lactação, este valor de
TP baixo está associado a uma sub-alimentação energética caraterística desta fase e também a um risco de cetose. O TP não está
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
ALIMENTAÇÃO
muito ligado aos aportes proteicos. Somente os aminoácidos essenciais (metionina e lisina, principalmente) digestíveis sobretudo
ao nível intestinal podem ter um efeito sobre o TP. O valor médio
da Raça Holstein situa-se perto de 32 g/l.
Jan Fev
+0.82 +0.5
1
-1.3
2
-2.6
Mar
0
Variação do TP ao longo do Ano
Abr Mai Jun
Jul Ago Set
-0.5 -0.85 -1 -0.85 -0.5
0
Out Nov Dez
+0.5 +0.85 +1
Variação do TP em função do mês médio de lactação
3
4
5
6
7
8
9
10
-2.1
-1.3
-0.4 +0.4 +1.2
+2
+2.8 +3.5
11
+4.35
Principais factores de variação do Teor Proteico
• A raça: + ou – 2,5 g/litro de leite
• A fase de lactação: + ou – 3 g/litro de leite
• A época: + ou – 2 g/litro
• A natureza do regime: + ou – 2,5 g/litro de leite
• Os erros do arraçoamento: + ou – 5 g/litro de leite
PRODUÇÃO
Principais factores de variação do Teor Proteico
• A raça: + ou – 5 g/litro de leite
• A fase de lactação: + ou – 4 g/litro de leite
• A época: + ou – 4 g/litro
• A natureza do regime: + ou – 7 g/litro de leite
• Os erros do arraçoamento: + ou – 10 g/litro de leite
Fonte: Institut de l’Élevage
Interpretação dos resultados da exploração
No quadro seguinte iremos descrever a justificação teórica da
relação entre os valores de TB e TP.
Para analisar o equilíbrio da ração e a sua eficácia alimentar, é
conveniente observar os teores anormais. De acordo com esta análise existem duas alternativas: défice energético ou acidose no
rúmen.
Fonte: Institut de l’Élevage
2
1
0
Os seguintes valores podem ser propostos para vacas
Holstein:
-1
-2
8
6
4
2
0
-2
-4
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10 11
TB – Teor Butiroso ou Teor de Matéria Gorda no leite
O TB, ao contrário, tende a ser elevado no inicio de lactação
devido à mobilização de reservas gordas da vaca em resposta ao
balanço energético negativo característico deste período. Assim,
é evidente que a vaca tenha reservas corporais suficientes para
esta mobilização em inicio de lactação. O TB decresce desde o
parto até atingir o mínimo no pico de lactação, onde de seguida
voltará a aumentar até ao final de lactação. O valor médio da raça
Holstein situa-se entre 40 e 42 g/l.
• TP < 28 : défice energético
• TP < 28 e TB>TP + 16 : défice energético com forte mobilização.
• TB < 36 : sub-acidose
• TP > TB : acidose comprovada
A análise TB/TP é também um elemento interessante a tomar
em consideração. A relação entre estes dois parâmetros deve-se
situar entre 1,2 e 1,4. Quando o resultado é inferior a 1 estamos
perante uma situação de acidose do rúmen, enquanto para valores
superiores a 1,5 podemos suspeitar de um défice energético associado a uma mobilização de reservas corporais. Nestas situações
é importante fazer correcções práticas no arraçoamento e/ou no
maneio alimentar.
A evolução recente nas tecnologias levou a que seja possível determinar através da composição dos ácidos gordos a eficiência global da produção. Num próximo artigo abordaremos o método que
é utilizado para, em complemento das análises clássicas melhorar
a precisão do diagnóstico de equilíbrio e rentabilidade alimentar.
Para concluir, a análise criteriosa destes valores (TB e TP, assim
como a sua relação) permite-nos avaliar a produção, a sua eficiência e equilíbrio. É um instrumento fundamental para fazer modificações nos arraçoamentos, e melhorar a eficiência alimentar. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
37
ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Breves comentários e previsões
sobre o mercado de matérias-primas
Paulo Costa e Sousa
Engº. Agrónomo - Director Comercial da Louis Dreyfus Commodities - Portugal
Nota: Os preços e os cenários previstos para a evolução dos mercados de matérias- primas estão sujeitos a muitos
imponderáveis e exprimem apenas opiniões profissionais à luz do melhor conhecimento num determinado momento. Assim,
a Revista Ruminantes não garante a confirmação e/ou o cumprimento dos preços e previsões feitas sobre os preços das
matérias-primas sujeitas à analise do Observatório dos Mercados, não constituindo assim ofertas de compra ou de venda.
DIZ-SE QUE DEPOIS DA TEMPESTADE
VEM A BONANÇA, E ASSIM FOI…
Neste momento parece vislumbrar-se algum raio de esperança.
Estamos em plena colheita do milho, depois de uma fraca colheita de trigo, os preços já
atingiram níveis recorde mas já recuaram para valores mais reduzidos, e estamos agora
numa espécie de encruzilhada. É bom termos presente que, em geral a colheita de cereais
foi má e que isso se deveria refletir nos preços, mais tarde ou mais cedo. Nesta altura,
estamos influenciados pela pressão habitual da colheita, o que parece favorecer uma boa
oportunidade de compra, tendo presente estas duas realidades.
No caso do trigo, o cenário parece estar escrito:
preços acima dos valores médios dos últimos tempos e
durante os próximos largos meses. Já para o milho, haverá que tomar decisões.
Felizmente, uma boa parte da indústria portuguesa de
alimentos compostos para animais fez as suas compras
até Janeiro, numa altura em que pairava um cenário baixista que se veio a revelar em sentido totalmente oposto.
Assim sendo, cabe agora decidir as compras para os
primeiros meses do ano que vem.
Teremos que ponderar estes dois fatores antagónicos
— pressão de colheita e uma má colheita — juntamente
com um terceiro fator, a possibilidade da UE importar
milho sul americano, mais provavelmente, brasileiro. Os
dois primeiros fatores lutam entre si para estabelecer um
nível aceitável para vender e comprar, mas sabemos que
quando passar esta pressão vendedora, habitual na época
da colheita, a realidade de uma má colheita deverá voltar a fazer-se sentir. Poderão colar-se dois cenários: será
esse efeito amenizado pela entrada de milho sul americano na UE, ou teremos que contar apenas com o milho
comunitário e ucraniano?
Atualmente, a importação de milho sul americano está
dependente da autorização, por Bruxelas, do evento
transgénico MIR 162 que se poderá encontrar nesta origem. Essa autorização parecia um tema mais ou menos
pacífico, pensando-se que deveria sair a curto prazo. Ultimamente, têm vindo a lume alguns artigos científicos
38
colocando novamente a questão da utilização de milhos
transgénicos na alimentação, parecendo fazer com que
aquilo era porventura consensual entre os Estados-membros agora o pareça francamente menos.
Se Bruxelas adiar, ou simplesmente não autorizar esse
evento e a consequente entrada de milho sul americano,
a EU terá que ir à Ucrânia colmatar essa falta, o que faria
com certeza disparar o preço do milho ucraniano.
Mais uma vez existem decisões políticas que estão a
condicionar, de alguma forma, o mercado, que tem que
tomar as suas decisões de compra. Se devemos contar
com a decisão positiva e atempada de Bruxelas, ou não,
para o nosso abastecimento, depende da postura arriscada ou conservadora de cada comprador.
No que toca às proteínas, depois de preços históricos verdadeiramente elevados observamos um período de alguma acalmia. A colheita americana parece
estar a ser melhor do que se previa, o euro/dólar atingiram valores que já não víamos há algum tempo, mas se
será acalmia ou oportunidade de compra, essa é a grande
pergunta.
Nos últimos tempos, qualquer valor abaixo do normal
constitui uma oportunidade de compra mais do que uma
baixa sustentada nos preços, possivelmente a maior
parte das vezes esta será a regra até uma colheita sul
americana normal. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
ECONOMIA
»
Evolução do preço médio de alimentos compostos para animais (em Euros/Tonelada) Fonte: IACA
€/ton
Novilhos de engorda
Borregos de engorda
€/ton
Meses
€/ton
Vacas leiteiras em produção
Meses
Ovelhas leiteiras em produção
€/ton
Meses
Evolução do preço médio de matérias-primas (em Euros/Tonelada)
€/ton
Bagaço de colza
€/ton
Cevada
€/ton
€/ton
Meses
Fonte: IACA
Bagaço de soja
Milho
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
39
ECONOMIA
OBSERVATÓRIO
Perspectivas
do mercado leiteiro
Fontes: IFCN, LTO, SIMA
Um relatório recente da USDA (United States
Department of Agriculture) divulga algumas
ideias interessantes acerca das tendências do
mercado mundial de laticínios.
Após um período de dois anos em que os
preços internacionais se mantiveram
relativamente elevados, os produtores de leite
da maioria dos países exportadores (EUA,
EU-27, Austrália e Nova Zelândia)
aumentaram as suas produções de leite.
LEITE DE VACA - 1.000 CABEÇAS
Nº de vacas de leite
América do Norte
Canadá
México
EUA
Sub-total
América do Sul
Argentina
Brasil
Sub-total
União Europeia-27
Ex-URSS
Rússia
Ucrânia
Sub-total
Ásia do Sul
Índia
Ásia
China
Japão
Sub-total
Oceânia
Austrália
Nova Zelândia
Sub-total
TOTAL
Paises Selec.
2007
2008
2009
995
6,010
9,189
16,194
985
6,204
9,315
16,504
979
6,400
9,203
16,582
981
6,480
9,119
16,580
987
6,400
9,194
16,581
993
6,400
9,232
16,625
2,150
15,925
18,075
24,178
2,150
16,700
18,850
24,176
2,100
17,200
19,300
24,192
2,100
17,600
19,700
23,566
2,150
18,200
20,350
23,122
2,200
18,600
20,800
22,800
9,910
3,221
13,131
9,800
3,096
12,896
9,530
2,856
12,386
42,600
8,858
2,736
11,594
43,600
8,650
2,631
11,281
44,900
8,580
2,560
11,140
46,200
8,755
871
9,626
8,575
862
9,437
7,115
848
7,963
7,320
830
8,150
7,620
805
8,425
8,000
815
8,815
1,800
4,163
5,963
1,640
4,200
5,840
1,676
4,597
6,273
1,596
4,680
6,276
1,620
4,810
6,430
1,650
4,890
6,540
38,000
38,500
2010 (p) 2011 (f) 2012
125,167 126,203 129,296 129,466 131,089 132,920
(p) Preliminar • (f) Previsões
40
Fonte: USDA
As condições meteorológicas na Oceânia
também foram importantes já que as
condições foram ideias para o crescimento das
pastagens e a abundância de precipitação veio
compensar os efeitos da seca. Como
consequência, a produção de leite entre os
principais exportadores subiu cerca de 2% em
2011, prevendo-se que cresça o mesmo valor
em 2012. Recorde-se que entre 2007 e 2010 a
produção média de leite nestes países cresceu
apenas 1% anualmente.
Fonte: USDA
1.000 TONELADAS MÉTRICAS
Prod. leite líquido
América do Norte
Canadá
México
EUA
Sub-total
América do Sul
Argentina
Brasil
Sub-total
UE-27
Ex-URSS
Rússia
Ucrânia
Sub-total
Ásia do Sul
Índia
Ásia
China
Japão
Sub-total
Oceânia
Austrália
Nova Zelandia
Sub-total
TOTAL
Paises Selec.
2007
2008
2010 (p) 2011 (f) 2012
8,212
8,270
8,280
8,350
8,400
8,450
10,657 10,907 10,866 11,033 10,743 10,813
84,211 86,174 85,880 87,474 88,568 90,975
103,080 105,351 105,026 106,857 107,711 110,238
9,550 10,010 10,350 10,600 11,990 12,830
26,750 27,820 28,795 29,948 30,610 31,300
36,300 37,830 39,145 40,548 42,600 44,130
132,604 133,848 133,700 135,472 138,219 140,000
32,200
11,997
44,197
32,500
11,524
44,024
32,600
11,370
43,970
31,847
10,977
42,824
31,742
10,800
42,542
32,100
10,550
42,650
35,252
8,007
43,259
34,300
7,982
42,282
28,445
7,910
36,355
29,300
7,721
37,021
30,700
7,474
38,174
32,350
7,590
39,940
9,500
15,918
25,418
9,500
15,580
25,080
9,326
16,983
26,309
9,327
17,173
26,500
9,562
18,965
28,527
10,000
19,874
29,874
42,890
44,500
48,160
50,300
52,500
55,000
427,748 432,915 432,665 439,522 450,273 461,832
(p) Preliminar • (f) Previsões
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
2009
ECONOMIA
Este crescimento traduziu-se num aumento acentuado
dos abastecimentos exportáveis fazendo descer os preços na primeira metade deste ano. Para além disto, as importações por parte de importadores-chave dos mercados
da Ásia e do Norte de África perderam expressividade. A
Algéria, por exemplo, comprador de peso de leite em pó,
deverá reduzir as suas importações em 2012 em cerca de
13%, para 285.000 toneladas. No entanto, os mercados
de produtos lácteos parecem ter atingido alguma estabilidade. Os preços internacionais parecem ter atingido um
equilíbrio, embora a níveis relativamente baixos. Condições climáticas adversas podem, no entanto, alterar o panorama. Nos EUA, a seca tem afetado seriamente as
principais regiões produtoras de milho e o rácio alimentação/produção de leite — um indicador da rentabilidade
da produção — ficou no nível mais baixo desde o início
de 1980. Os produtores de leite estão a ficar espremidos
entre preços baixos e custos de alimentação elevados.
Companhia
Bélgica
Milcobel
Alemanha
Humana Milchunion eG
Dinamarca
Finlândia
França
Alois Müller
Nordmilch
Arla Foods
Hameenlinnan Osuusmeijeri
Bongrain CLE (Basse Normandie)
Danone
Lactalis (Pays de la Loire)
Sodiaal
Inglaterra
Irlanda
Itália
Holanda
Dairy Crest (Davidstow)
First Milk
Glanbia
Kerry
Granarolo (North)
DOC Kaas
Friesland Campina
PREÇO MÉDIO DO LEITE - JULHO (2)
Suiça
Nova
Zelândia
EUA
Emmi A.G.
Preço
Média
do leite
últimos
(€/100 Kg)
JULHO 12 meses (4)
2012
27.45
31.16
28.08
32.24
28.49
28.23
30.96
41.28
35.30
35.70
35.27
36.20
35.52
32.23
28.46
29.08
40.24
29.19
31.23
32.52
48.80
LEITE À PRODUÇÃO
Preços Médios Mensais de julho 2011 a julho 2012
Leite Adquirido a Produtores Individuais. x
Meses
33.09
32.27
Eur / Kg
Teor médio
de matéria gorda Teor proteico (%)
(%)
Contin. Açores Contin. Açores Contin. Açores
julho
0.310
0.292
3.67
3.72
3.19
3.13
setembro
0.322
0.314
3.79
3.91
3.24
3.19
34.08
novembro
0.325
34.05
janeiro
34.34
agosto
44.06
34.32
34.49
2011
Países
Fonte: LTO
» Portugal
outubro
34.37
dezembro
31.07
fevereiro
32.03
31.52
40.96
35.14
35.86
34.41
47.67
Fonterra
27.47
28.87
EUA (3)
33.44
32.32
março
2012
PREÇO DO LEITE STANDARDIZADO
(1)
Assim, para 2013 prevê-se que a produção de leite nos
EUA não registe um crescimento significativo.
Na Oceânia, os efeitos do fenómeno atmosférico “El
Niño” poderão vir a provocar falta de precipitação o que, a
confirmar-se poderá afetar a produção de leite na Austrália.
Um outro fator relaciona-se com as importações. O
cenário é misto porém, alguns compradores como a
China deverão importar volumes significativos. Apesar
de um abrandamento no crescimento das importações
de leite em pó inteiro, as importações de leite em pó
desnatado deverão disparar cerca de 65% em 2012. O
consumo interno chinês deverá manter-se alto, impulsionado pelo crescimento económico. A par desta situação, mantém-se a falta de confiança na integridade
da cadeia de fornecimento de produtos lácteos. Consequentemente, as importações totais de leite em pó da
China para 2012 deverão sofrer um aumento de 14%
atingindo 512 mil toneladas.
abril
maio
junho
julho
0.311
0.324
0.324
0.324
0.322
0.296
0.318
0.321
0.315
0.312
0.311
0.315
0.296
0.312
0.299
0.318
0.294
0.293
0.296
0.287
0.285
3.73
3.81
3.86
3.84
3.81
3.83
3.74
3.75
3.71
3.66
3.65
3.76
3.91
3.93
3.78
3.67
3.63
3.63
3.61
3.65
3.71
3.70
3.21
3.22
3.30
3.28
3.26
3.25
3.25
3.24
3.21
3.18
3.18
3.10
3.24
3.28
3.20
3.16
3.17
3.20
3.20
3.19
3.11
3.09
Fonte: SIMA
(1) Preços sem IVA, pagos ao produtor; Preço do leite de diferentes
empresas leiteiras para 4,2% de MG e 3,4 de teor proteico • (2)
Média aritmética
(3) Ajustado para 4,2% gordura, 3,4% proteina e contagem de
células somáticas 249,999/ml • (4) Inclui o pagamento suplementar
mais recente
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
41
ECONOMIA
Visão geral
do mercado da carne bovina
O Índice Global de Preços do Gado do Rabobank caiu 7% no 3º
trimestre, em comparação com os níveis do primeiro, devido principalmente ao enfraquecimento da procura, conjuntamente com
um dólar americano mais forte. A nível global, a oferta de carne bovina continuou escassa, uma vez que o Brasil foi o único importante produtor que teve um crescimento significativo na produção.
As condições económicas globais poderão conter o aumento dos
preços. A procura nos mercados ocidentais, que representam 70%
do consumo total de carne bovina mundial, tem continuado a crescer a um ritmo lento em resultado do fraco crescimento do emprego
e do baixo rendimento real disponível. Este cenário não deverá melhorar em breve, uma vez que os últimos indicadores macroeconómicos mostraram sinais de enfraquecimento nos Estados Unidos e
na zona Euro.
Dietas à base de cereais e farinha de soja, para a produção de
frango e suínos, poderão constituir uma vantagem de custo para os
produtores globais de carne bovina no médio prazo. Quedas na produção de carne de frango são prováveis, motivadas por margens
negativas, devido ao aumento no custo da alimentação animal. À
medida que aumenta o preço do frango, poderá haver benefícios
para a indústria de carne bovina, uma vez que os preços se aproximam, possibilitando uma mudança da procura em direção à carne
bovina.
UNIÃO EUROPEIA
O rebanho bovino está em queda desde 2008, a uma taxa de 1,1%
ao ano em média (-1,8% para vacas leiteiras) e essa tendência deverá
persistir no curto prazo. Em 2012, a produção de carne bovina e de
vitelo da UE deverá reduzir significantemente (-3,5% com relação
a 2011) e permanecer sem mudanças em 2013 (+0,1%). Devido à
oferta escassa, os preços da carne bovina da UE deverão manter-se
em níveis recordes durante 2012. Quanto ao comércio, a fraca procura doméstica e as variações da taxa de câmbio poderão conduzir
a um declínio nas importações de carne bovina da UE em 2012 (5,8%), seguido por uma estabilização em 2013, apesar da disponibilidade limitada de carne bovina na UE, e uma recuperação gradual
da produção nos principais fornecedores do Mercosul (depois de
uma redução significante no rebanho nos anos anteriores).
Por outro lado, a tendência das exportações de carne bovina da
UE é serem direcionadas pela escassez na oferta doméstica, o que
determinaria uma capacidade significativamente reduzida de exportação para 2012 e para o próximo ano. Como consequência, a
UE mudaria a sua posição comercial líquida e, depois de um excedente comercial excecional registado em 2011, tornar-se-ia novamente num importador líquido de carne bovina em volume, em 2012
42
Fontes: Rabobank, Banco Nacional da
Austrália (NAB), Comissão Europeia
e em 2013. Os altos preços da carne bovina e a fraca procura interna
poderão levar a uma queda no consumo de carne bovina e de vitelo
em 2012, seguida por uma estabilização em 2013.
Esta previsão é baseada na hipótese dum desenvolvimento económico global favorável em 2012 e 2013, particularmente em grandes
países emergentes, resultando, assim, numa procura significativa para
as exportações da UE. Por outro lado, o crescimento económico na
UE deverá ser frágil, principalmente em certos Estados Membros, o
que geralmente se traduz num declínio no consumo de carnes.
Perante esse cenário, as previsões económicas globais e para a UE
continuam sujeitas a incertezas. Em particular, a possível evolução
das dificuldades económicas e financeiras na Zona do Euro deverá ter
uma influência sobre a procura de produtos agrícolas (devido às mudanças na renda disponível e às taxas de desemprego) e sobre a oferta
(disponibilidade de créditos), bem como sobre o fluxo comercial
(taxas de câmbio) e preços. Além disso, a sustentabilidade de uma
procura forte no mercado mundial liderada pela China e outros países do Sudeste da Ásia, bem como do Médio Oriente, pode ser questionada considerando as recentes revisões em baixa no desempenho
económico esperado nesses países. Finalmente, a evolução dos preços para fatores de produção agrícolas (energia, fertilizantes, alimentos animais, etc) também representa um fator de incerteza.
Para a produção de proteínas, as estimativas estão dependentes das
condições climáticas durante a estação de produção e colheita, que
podem consideravelmente alterar os rendimentos. As estimativas
apresentadas são baseadas em informações disponíveis até meados
junho de 2012.
BRASIL
No terceiro e no quarto trimestres, os preços do gado deverão refletir um período sazonal (período seco) de declínio da oferta no
Brasil e uma recuperação dos níveis do segundo trimestre. Essa recuperação dependerá, em grande parte, da disponibilidade de animais dos parques de engorda, uma vez que estes representam cerca
de 35 a 40% do número total de bovinos abatidos sob o sistema formal de inspeção, entre setembro e novembro. Este ano, a oferta dos
parques de engorda pode não crescer tanto quando o esperado no
começo do ano, devido ao aumento nos preços da farinha de soja e
do milho, combinado com o atual baixo preço em futuros do gado.
O suporte adicional aos preços da carne bovina virá da aceleração
da economia brasileira, após a desaceleração na primeira metade de
2012, e da redução da oferta de frango após a recente quebra da produção de pintos do dia. As exportações também deverão manter-se
altas, em consequência do Real desvalorizado e da retoma das vendas ao Irão que aumentaram 242% de maio a junho.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
ECONOMIA
Fig.6 - Preços de carne bovina na UE
Euro/Kg/Cwe
4.25
CWE= equivalente peso carcaça
4.00
3.75
3.50
3.25
3.00
2.75
Jan Fev. Mar
média 2003-2009
Abr Mai Jun
2010
Jul
Ago Set
2011
Out Nov Dez
2012
Fig.7 - Números de abates por categoria na UE
12,000
10,000
8,000
6,000
4,000
2,000
2009
Vacas
2010
2011
Novilhos
Boios e Touros Bezerros e novilhos
2011 Jan-Abr
2012 Jan-ABr
Balanço geral de carne bovina e de vitelo da UE-27
Produção
bruta local
Importações
vivos
Exportações
vivos
2009
7982
1
61
1000t peso carcaça
2010 2011e
8239
0
116
8206
0
156
2012f
7906
0
140
% variação
2013f 10/09 11/10 12/11 13/12
7900
-3.7
-0.1
0 -88.1 -14.8 -30.1
0.0
130
3.2
90.4
-0.4
34.5 -10.0
-7.1
0.1
Produção
líquida
7923
8124
8050
7766
7771
2.5
-0.9
-3.5
da UE - 12
824
818
803
752
768
-0.8
-1.9
-6.3
da UE - 15
Importações
de carne
Exportações
carne
7098
359
91
7306
320
255
7248
287
331
7014
270
204
7002
200 179.0
8190
8188
8006
7831
7841
da UE - 15
397
399
400
402
403
da UE - 12
Consumo
per capita (Kg)
500
103
16.4
502
103
16.3
e = estimativa, f = previsão
503
103
15.9
504
103
15.5
2.9
-0.8
270 -11.0 -10.3
Consumo
População
(milhão)
A volatilidade caracteriza o mercado pecuário dos Estados Unidos. O baixo preço da carne, e o alto preço das matérias primas que
levou a uma liquidação das manadas associada às condições extremas de seca que se fizeram sentir, não permitem determinar o grau
de dificuldade por que virão a passar os produtores de carne. Sabese que, em muitas zonas, estes tiveram que recorrer ao feno e à suplementação da alimentação para estender o período de pastagem.
Também se sabe que as engordas superaram as previsões, mas deverão declinar fortemente na segunda metade do ano. Em resultado
da retirada antecipada do gado das pastagens, a oferta de gado de
engorda no quarto trimestre deverá aumentar ligeiramente face ao
esperado originalmente. Também em 2013, a oferta deverá ser afetada pelas condições acima referidas.
AUSTRÁLIA
1000 cabeças
0
ESTADOS UNIDOS
506
103
15.5
0.0
0.3
0.4
-0.1
-0.3
Fonte: Comissão Europeia
-3.2
-0.2
-5.8
0.0
29.6 -38.2
-2.2
0.3
0.4
-0.2
-2.5
-2.2
0.3
0.4
-0.1
-2.4
2.2
-2.2
0.1
0.3
0.3
-0.1
-0.1
Os dois últimos anos mais chuvosos, já registados, suportaram os
esforços de reconstrução do rebanho que progrediu mais rápido que
o esperado. Paralelamente, os exportadores têm conquistado aumentos nas vendas, com o surgimento de novos mercados devido ao impacto de redução do rebanho bovino em importantes exportadores, de
acordo com relatório rural do Banco Nacional da Austrália (NAB).
A expansão do rebanho bovino australiano mantém-se. De acordo
com estimativas do Meat and Livestock Australia (MLA), o rebanho bovino australiano alcançou 29,6 milhões de cabeças no final
de junho de 2012, cerca de 3,8% mais que no ano anterior. As condições favoráveis permitiram que os produtores mantivessem os
seus rebanhos.
Para o futuro, a produção de carne bovina australiana deverá aumentar. Recentes previsões do MLA apontam para que produção de
carne bovina australiana aumente 2,5% em 2012 e mais 3,3% em 2013.
ARGENTINA
Os abates na Argentina continuam a aumentar ano após ano. No total,
os abates nos primeiros cinco meses do ano cresceram 8% face ao
mesmo período de 2011. Durante o mesmo período, o consumo local
de carne bovina absorveu todo o aumento da produção, enquanto as exportações continuaram diminuir. Com um consumo per capita anual de
57,8 quilos, a participação local na oferta total aumentou para 92,6% em
comparação com 89,5% no mesmo período do ano anterior.
As exportações caíram 31% para os primeiros cinco meses de 2012,
devido principalmente aos altos preços e a uma taxa de câmbio desfavorável que, em conjunto com um aumento de 15% na tarifa de exportação, tornaram o mercado doméstico relativamente mais atrativo.
Para a segunda metade do ano, o Rabobank espera que a oferta aumente sazonalmente, embora a procura doméstica deva contrair-se.
Até agora, o consumo doméstico tem sido resistente à elevada inflação
dos preços ao consumidor, mas a desaceleração na atividade económica deverá tornar-se mais evidente na segunda metade do ano com repercussões no consumo. Por outro lado, considerando a necessidade
por ganhos cambiais estrangeiros, o Governo argentino acelerou o processo de distribuição da cota Hilton no próximo ano, o que poderá aumentar as exportações na segunda metade do ano como resultado. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
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OPINIÃO
Compensa produzir
forragens de alto
nível nutricional?
A “Sociedade Bracamonte”, situa-se perto de Arraiolos, na
localidade da Igrejinha. A herdade conta com 420 hectares,
onde está localizada uma exploração de vacas leite com 1800
animais, 1000 dos quais atualmente em produção.
Relativamente à escolha do fornecedor de sementes de forragem para a sua exploração, o seu proprietário e gerente,Ymke
Heida diz valorizar o preço, a qualidade e a produtividade das
mesmas. Na escolha da variedade, os seus critérios de seleção baseiam-se na relação qualidade/preço e na adaptação à zona e ao
tipo de terreno. As forragens que mais utiliza são milho (Agrano
Cruiser); azevém (Barleite/Barspectra) e luzerna (Dorine), pela
rentabilidade que consegue obter, controlada regularmente através
de análises, e também pela quantidade e qualidade do leite obtida.
A “Sociedade Bracamonte” recorre habitualmente aos serviços
de nutricionistas e técnicos especializados para o aconselhamento
agronómico, bem como a laboratórios específicos para a análise
das forragens. Ymke Heida considera que a valorização nutricional das forragens é fundamental para se otimizar o arraçoamento
para as vacas e que esta deve ser conseguida quer ao nível proteico, quer energético, para que se possam reduzir as matérias primas (nomeadamente a soja) que estão atualmente a preços muito
elevados.
Para o gerente da Bracamonte, o futuro das explorações de leite
passa por uma aposta mais virada para as forragens de alto valor
44
Numa altura em que o agricultor
pouca influência tem sobre os preços
de mercado, é muito importante
tirar o máximo rendimento
dos produtos adquiridos,
em particular das forragens usadas
na alimentação do gado.
qualitativo produzidas na exploração, em detrimento dos concentrados: “há que produzir cada vez mais forragens com maior valor
nutricional e em maior quantidade, para que se possam reduzir os
concentrados e, logo, os preços de produção. Ymke Heida não antevê um bom futuro para as explorações de vacas de leite sem área
para produzir forragens, devido ao elevado custo das matériasprimas/concentrados.
A exploração Herdade Nave do Grou situa-se em Arronches, Portalegre e, com uma superfície de 96 hectares dedicase à produção de bovinos da raça Limousine. Neste momento,
encontram-se 75 vacas em reprodução e a maioria das crias
são vendidas como reprodutoras. A herdade dispõe de um
prado permanente com 15 ha, regado por pivot, do qual parte
está semeado com Barleite 4. É aqui que o gado mais novo
pasta durante o Verão.
Na escolha de um fornecedor de sementes, Willem Carp, proprietário e gerente da exploração considera, para além do preço e
da qualidade das sementes, o suporte técnico por parte dos fornecedores como um fator bastante importante na tomada de decisão:
“Para satisfação nossa, há já algum tempo que também usamos semente de azevéns da Barenbrug. Em 2010, seguindo o concelho de
um técnico do nosso fornecedor, decidimos semear parte do prado
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
OPINIÃO
A Ruminantes recolheu
o testemunho de dois produtores
de vacas de leite sobre a forma como
encaram esta questão e as medidas
que põem em prática por forma
a aumentar a produtividade
do seu negócio.
permanente com Barleite 4.” Na escolha da variedade da semente,
Willem Carp recorre a uma mistura de trevos de festucas “de muito
boa qualidade” que consegue obter numa área regada da exploração e que utiliza especialmente para a produção de silagem e feno.
Para usar como pasto considera, no entanto, que esta mistura tem
proteína a mais e, como tal, recorre ao Barleite 4 para conseguir um
melhor equilíbrio entre energia e proteína.
As forragens utilizadas nesta herdade são o prado permanente
em regadio e, no sequeiro, o azevém e misturas para silagem ou
feno. Relativamente à rentabilidade das variedades usadas na exploração, Willem Carp é da opinião que, devido á irregularidade
do clima em Portugal é muito difícil encontrar uma forma precisa
de medição. Para além disso, considera que ainda é cedo para tirar
conclusões, uma vez que só utilizam o Barleite 4 há um ano “porque neste Verão de 2012 o prado não foi regado, devido à falta de
água.”
Para o aconselhamento técnico, a Herdade Nave do Grou trabalha atualmente com a empresa Reagro.
Sobre a importância da valorização nutricional das forragens
na otimização do arraçoamento para as vacas, Willem Carp é da
opinião que, devido aos preços elevados da matéria prima, cada
vez compensa mais tentar produzir forragens de alto nível nutricional, na própria exploração, em vez de dar concentrados. Refere também que o mesmo se aplica às explorações de vacas
aleitantes. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
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PRODUÇÃO
Recria de novilhas
Qual o desenvolvimento corporal ideal?
Luis Marques, Consultor em vacas de leite
[email protected]
A taxa de substituição duma exploração leiteira é, em média, de
25 a 30%. Para se conseguir manter o mesmo número de animais
a produzir leite, a entrada de animais novos pode acontecer quer
através da compra de animais noutras explorações, quer da recria
das vitelas nascidas na exploração. Esta última hipótese tem como
vantagem o facto de limitar os riscos sanitários da exploração e
contribuir para uma contenção dos custos de produção. Esta contenção de custos só será uma realidade se fizermos uma recria dos
animais com boa genética e com o maneio certo. Caso contrário,
estamos a ter despesa para pôr em produção animais com pouco
potencial genético ou, para animais com potencial mas que ficaram
limitados por um incorreto desenvolvimento inicial.
Devemos por isso estar alerta para os parâmetros de crescimento
(peso e altura) ideais, para avaliar se tudo está a correr dentro do
previsto.
O desenvolvimento das novilhas de substituição depende de vários fatores, tais como a nutrição, o maneio, o meio ambiente e a
prevenção em relação ao aparecimento de doenças. Os fatores enumerados estão interligados e são diretamente responsáveis pelo
crescimento das novilhas. Uma novilha bem recriada tem que ter
peso, estatura e condição corporal apropriadas.
Tabela orientativa do desenvolvimento corporal
(peso e altura consoante os meses de vida)
MESES
1
3
6
8
10
12
15
18
20
22
23
24
PESO (KGS)
60 – 73
100 – 120
165 – 195
210 - 245
255 - 295
300 - 345
365 - 417
420 - 482
456 - 525
490 - 560
503 - 575
520 - 590
ALTURA (CM)
80 -85
90 – 95
101 -107
108 - 113
115 - 119
119 - 123
123 - 129
130 - 132
130 - 135
131 - 136
132 - 137
134 - 139
Um dos fatores importantes para se conseguirem os objetivos
acima descritos ao menor custo é desenvolver precocemente o
rúmen.
Em termos nutricionais, é imprescindível obter um rácio ideal de
aminoácidos. A quantidade, a qualidade e a disponibilidade dos
mesmos têm que ser tidas em consideração na preparação de uma
46
dieta. Principalmente aqueles que são limitantes nesta fase, como
a lisina, a metionina e a treonina. Quando mal balanceados, os aminoácidos reduzem a “performance do crescimento”. Outros nutrientes a considerar na formulação nesta fase do crescimento são
a fibra digestível e o tipo de amido.
A idade ideal para o primeiro parto será entre os 22 - 24 meses.
A novilha é inseminada pelos 13 - 15 meses de vida e deverá ter um
peso corporal que ronde os 350- 375 Kg. Quando verificamos um
atraso na idade ao primeiro parto, normalmente a causa está associada a uma alimentação deficitária, sobretudo após os 7 meses de
vida, onde muitas vezes fazemos um maneio errado, alimentando
as novilhas com os “restos de manjedoura” das vacas em lactação,
onde provavelmente a quantidade de nutrientes fornecida às novilhas não é suficiente para as suas necessidades. A falta de nutrientes leva a uma diminuição do ganho de peso médio diário,
colocando em risco todo o potencial genético da novilha, e levando
a uma produção de leite inferior quando esta entrar em produção.
Contabilizar a ingestão e adaptar a quantidade de alimento ao peso
dos animais é imprescindível. Concluindo, existe uma correlação
entre o peso da novilha e a média dos quilos de leite produzidos.
Vamos reflectir sobre estes assuntos e procurar constantemente
acções que melhorem a rentabilidade das explorações. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
PORTUGAL
ACTUALIDADES
Animais portugueses arrecadam prémios
no 3º Concurso Ibérico Limousine
A enorme adaptação da raça bovina Limousine aos países mediterrânicos, observada na última década, conjugada com alterações de maneio que privilegiem animais mais produtivos e autónomos, tem
resultado num crescimento contínuo e sustentado da raça Limousine,
atravessando atualmente uma das suas fases mais prósperas. Esta evolução tem sido inequívoca em Portugal, assumindo a raça Limousine
uma posição cimeira no panorama pecuário nacional, alicerçada numa
enorme qualidade genética dos criadores nacionais.
Neste contexto, e no âmbito das comemorações dos 25 anos da Federação Espanhola da Raça Limousine, foi lançado o repto à Associação Portuguesa de Criadores Limousine para a realização do
terceiro Concurso Ibérico da Raça Limousine, pela primeira vez neste
século, que teve lugar no passado dia 10 de Setembro de 2012, na importante Feira Agrícola de Salamanca, em Espanha.
A representação portuguesa, apesar de contar apenas com 19 animais de seis criadores, 10% dos animais Limousine presente no certame, não passou despercebida aos milhares de visitantes desta Feira,
que reuniu criadores de toda a península. A pesagem de todos os animais Limousine, no início da feira, destacou de imediato a representação portuguesa, a qual foi premiada com o macho e a fêmea mais
pesados da Feira, com o macho Don Ruan alcançando os 1600kg e a
vaca Carinhosa com 1130kg.
No contexto do Concurso Ibérico Limousine as qualidades maternais das vacas Limousine portuguesas não passaram despercebidas ao
Júri italiano presente, não tendo tido dúvidas ao atribuir o título de
Na foto: o criador José Maria Pacheco dos Reis, o Dr. Sales Henriques, da DGV, a
vaca campeã ibérica Camomila e o seu filho Hortelão.
vaca campeã Limousine da Península Ibérica à vaca portuguesa Camomila, do criador José Maria Pacheco dos Reis. Ao longo de todas
as secções, os animais foram recolhendo prémios, de entre os quais se
destacam a melhor novilha, a melhor vaca adulta e o melhor touro, na
secção de touros adultos. O título de campeão ibérico foi atribuído ao
animal que já tinha ganho o concurso de Espanha, tratando-se de um
animal com grande preparação mas que claramente não se encontrava
no campo a cobrir, como acontecia com os touros portugueses, tendo
sido elogiada a aptidão funcional de todos os animais portugueses. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
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PRODUÇÃO
Bovinicultura extensiva
Estamos a começar ou a acabar?
David Catita, Criador Limousine, Serpa – Portugal
[email protected]
No futuro só restará um tipo de explorações,
as que se preocuparam atempadamente em melhorar
o seu desempenho pecuário.
Todas as outras estão condenadas à extinção,
mais tarde ou mais cedo.
Por mais que nos custe admitir, a bovinicultura extensiva em Portugal precisa ainda de evoluir e de reforçar o seu profissionalismo. Não que seja diferente
noutros países, mas a realidade nacional merece a
nossa análise aprofundada, já que noutras atividades
agrícolas somos bastante profissionais e competentes,
sendo geralmente proporcional ao retorno financeiro,
sendo inegável o potencial económico desta atividade, em que Portugal ainda é francamente deficitário e em que o mercado tem muita margem para
crescer. Este aspeto é ainda reforçado pelo aumento da
produção nacional de forragens de qualidade, no regadio de Alqueva, que reduzirá, em larga escala, os custos de alimentação do gado bovino.
Como em qualquer negócio, ser criador de gado implica a avaliação concreta e permanente dos custos e
proveitos da atividade, assim como das medidas de
gestão que podem melhorar o desempenho da exploração, o que nem sempre é feito.
Olhando retrospetivamente para a bovinicultura, a
facilidade em construir vedações em rede reduziu as
necessidades de pessoal, retirando de junto dos animais um elemento fundamental, que acautelava muitas
ocorrências e se traduzia num incremento de docilidade. A opção por bovinos representa também uma facilitação de maneio, uma vez que o número de animais
por exploração é menor em comparação com ovinos,
caprinos ou suínos.
Deste conjunto de facilidades pode resultar uma
noção distorcida da realidade, que produzir bezerros é
só comprar as vacas e pô-las a pastar, mas esta abordagem é perigosa e pode colocar em risco todo o investimento importando, por isso, estar muito atento aos
pontos-chave, que não podem ser negligenciados em
nenhum momento.
Em primeiro lugar, importa potenciar a produção na-
48
tural de erva, reduzindo o pastoreio e possibilitando a
recarga de sementes no final da primavera —um custo
facilmente amortizável, em especial com valores de
ração tão elevados como atualmente —, com o objetivo de reduzir a necessidade de sementeiras melhoradoras dos prados que implicam um investimento. O
que resultará, a médio prazo, na redução dos custos
com forragens e ração.
Em segundo lugar, importa garantir a total eficiência
dos machos reprodutores duma vacada, passando a
mesma pelo maneio reprodutivo definido e pela quantidade e qualidade de reprodutores a eleger. De uma
forma sucinta, um touro é os animais que produz e
todo o trabalho que um touro realiza numa exploração
é rendimento para o seu dono, resultando óbvio que
não é rentável poupar em touros, nem em quantidade
nem no momento da sua aquisição, uma vez que são
rentabilizáveis durante mais de seis anos, e como tal,
diz o ditado, “quem se veste de ruim pano, veste-se
duas vezes ao ano”.
O valor de aquisição de um touro deve ser exatamente a soma do valor de um bezerro por ano durante os anos em que o touro esteja no ativo. Conta
simples.
Em termos de maneio reprodutivo, pode ser favorável retirar os touros das vacadas durante os períodos
que evitem os nascimentos durante os meses mais rigorosos em termos climáticos, seja o inverno ou o
verão. Com este procedimento é também possível
obter lotes de bezerros mais homogéneos, em virtude
da concentração de partos. Caso se pretenda que o
touro acompanhe as vacas todo o ano, importa colocar
abrigos para os animais mais jovens e fornecer alguma
alimentação em comedouros seletivos ou num simples
redondel de grades, seja ração ou feno, o que facilitará
também a fase de desmame.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
PRODUÇÃO
Em termos de número de vacas por touro, não deve
ser ultrapassado o rácio de 40 vacas por touro, caso
aquele esteja com elas todo o ano. Caso se pretenda
concentrar a época de cobrição, que exige um esforço
maior aos machos, a proporção deverá estar entre 20 e
30 vacas por touro. Naturalmente que um touro
menos desgastado dura mais tempo, compensando a
sua menor produtividade.
Ainda no contexto dos machos, resta referir a qualidade. Seja qual for a raça selecionada importa garantir que se trata de um reprodutor puro certificado,
cuja genealogia seja conhecida, possibilitando assim a
avaliação das suas qualidades genéticas, como a precocidade, capacidade de crescimento, rusticidade e facilidade de partos, que representam 50% do valor dos
animais a produzir.
A determinação da consanguinidade com as fêmeas
da exploração, que resultam em prejuízos produtivos
que importa evitar, só é possível com animais certificados.
Por último, as fêmeas, a base de toda a exploração,
que muitas vezes são negligenciadas. A sua avaliação
deve ser permanente, em especial na avaliação do intervalo entre partos, que deve ser medido em dias,
e não em anos. Uma vaca deve produzir um bezerro
de 360 em 360 dias. Este aspeto implica que o bovinicultor mantenha os dados das vacas atualizados, marcando numa simples folha as diferenças, em dias,
realizadas por cada vaca. Desta verificação podem ser
detetados problemas clínicos de abortos precoces, de
baixa fertilidade dos touros ou das vacas, erros de maneio alimentar, entre outros aspetos muitas vezes difíceis de observar.
O maneio alimentar das vacas deve ser naturalmente
favorável ao seu bom estado, sendo de evitar a abordagem tipo concertina, deixando as vacas chegar a
uma condição corporal muito baixa, que resulta na
maior suscetibilidade a patologias potencialmente prejudiciais a toda a vacada as quais, uma vez instaladas,
podem ser virtualmente impossíveis de erradicar.
Parecendo óbvio, importa sublinhar que uma vaca
deve andar bem alimentada todo o ano, com especial
enfoque para o período de crescimento e de aleitamento, uma vez que os produtos de uma vaca bem alimentada são seguramente melhores que os de uma
vaca débil, já que não há milagres em termos de obtenção de nutrientes para a alimentação, e as vacas
não comem pedras, nem terra, nem madeira, apesar do
que possa ser apregoado por alguns intervenientes
menos esclarecidos do setor pecuário.
A capacidade de conversão dos alimentos que uma
vaca ingere, transformando-os em carne ou em leite,
varia de animal para animal e de raça para raça, sendo
por isso fundamental a seleção e avaliação genética,
com o objetivo de escolher os melhores animais e as
raças mais eficientes, e que esses sejam os animais do
futuro da exploração.
A entrada das vacas à cobrição deve ser realizada
quando o seu desenvolvimento estiver avançado, por
volta dos dois anos, de modo a não comprometer a sua
vida futura. Nas vacas devem ser observadas e selecionadas as melhores bacias, à frente e atrás, que é por
elas que têm de passar os bezerros, e este momento é
fulcral para o sucesso da exploração.
As diferentes raças existentes em Portugal, quer as
autóctones, quer as melhoradoras, ocupam o seu lugar
no panorama pecuário nacional, que diz muito da sua
adaptação à tipologia de explorações nacionais, sendo
naturalmente importante adaptar cada raça às condições de cada região.
A escolha da raça é simples. Devem ser animais que
nasçam pequenos e com facilidade, e que cresçam rápido e com um índice de conversão de 4 a 5 (4 a 5 kg
de ração para cada kg de carne reposta), que tenham
capacidade de ser animais grandes em adultos, que
apresentem boa conformação cárnica suportada em
osso fino, de onde resulta o rendimento de carne.
Neste contexto, é fundamental tornar as vacadas produtivas e economicamente sustentáveis, reduzindo a
dependência das ajudas comunitárias, uma vez que
estas acabarão por partir, mais tarde ou mais cedo,
mas os agricultores ficarão. A introdução de machos
melhoradores que possam produzir melhores bezerros,
tirando partido do vigor híbrido resultante do cruzamento entre raças diferentes, é uma boa opção, não devendo ser descurada a pureza dos reprodutores que se
vai atenuando com os anos, em virtude da incorporação da sua genética na vacada.
Em suma, tudo o que desejo para os meus animais
desejo também para os animais de cada leitor. O maior
sucesso, expresso em produtividade e longevidade, não
se deixando iludir por modas ou conselhos menos esclarecidos, e procurando sempre as justificações de
cada opção, confiando que nelas reside a força de cada
agricultor. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
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BEM ESTAR ANIMAL
Ecografia
em pequenos ruminantes
Inês Ajuda, Ana Vieira, George Stilwell, AWIN – Animal Welfare Indicators
Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa
[email protected]
Nas últimas décadas, temos assistido a uma evolução da
utilização da ecografia em pequenos ruminantes. Esta
técnica foi referida a primeira vez para diagnóstico de
gestação em pequenos ruminantes no ano de 1983 e
utilizada pela primeira vez nos machos em 1988.
Passados quase 30 anos, a ecografia deixou de ser apenas utilizada em raças específicas de ovinos e caprinos, como raças autóctones em vias de extinção cujo aumento urgente do efectivo requer
meios auxiliares na gestão reprodutiva, ou em animais de elevado
valor genético e cujo valor da descendência é elevado, para passar
a ser utilizada frequentemente e como uma ferramenta praticamente
indispensável no diagnóstico de gestação rotineiro. Devido ao facto
de o aparelho de ecografia ter deixado de ser uma peça inconveniente de transportar e cara, para passar a ter uns meros 20 centímetros de altura, dois quilos de peso (ou até menos) e um preço
mais económico, e o facto de a própria técnica ser fácil e não invasiva, a sua utilização foi amplamente difundida.
Em Portugal, estamos ainda numa fase inicial da divulgação
desta técnica. Por um lado, embora a ecografia possa ser considerada como uma técnica fácil de executar, não dispensa uma formação adequada e exigente dos utilizadores. De facto, é
necessário um conhecimento profundo dos fundamentos físicos e
tecnológicos envolvidos na formação das imagens, assim como
um exigente conhecimento da anatomia, que depois possa permitir uma interpretação diagnóstica correcta. Por outro, uma parte
considerável dos produtores pecuários ainda não está desperto
para as vantagens da utilização da ecografia nas suas explorações.
Com o avançar do tempo, a ecografia deixou de ser apenas
um método de diagnóstico de gestação e de doenças ligadas a
esta, como a hidrometra, para passar a ser também um método
de avaliação da fertilidade e de certas patologias. No que diz
respeito à fertilidade, esta avaliação pode ser realizada tanto em
fêmeas como em machos, no auxílio à programação da época
reprodutiva. No diagnóstico de outras patologias, a ecografia é
cada vez mais utilizada em doenças do foro pulmonar ou da
glândula mamária. Ao longo deste artigo vamos apresentar as
potencialidades deste aparelho nos pequenos ruminantes, percebendo como podemos utilizá-lo, não só para melhorar a gestão da exploração, mas também para garantir melhor bem-estar
animal.
50
UTILIZAÇÃO DO ECÓGRAFO NA REPRODUÇÃO
Esta área foi a peregrina na utilização do ecógrafo nos pequenos ruminantes, principalmente a nível do diagnóstico de gestação. O diagnóstico pode ser efectuado por duas técnicas
diferentes: transabdominal (Fig. 1) ou transretal, cujas principais
características são apresentadas na Tabela 1. A técnica mais utilizada pelos médicos veterinários na exploração é a transabdominal,
não só pela facilidade de utilização, mas também porque na maioria das explorações portuguesas a reprodução é maioritariamente
efectuada por monta natural, pelo que não se sabe o tempo exacto
de gestação, o que leva a que o diagnóstico de gestação tenha de
ser efectuado mais tarde, para que o exame de grupo possa ser
mais rentável, não compensando então um diagnóstico precoce
da gestação. É importante sublinhar que, ao utilizar o diagnóstico
transrectal é possível efectuar mais cedo um diagnóstico de gestação, permitindo reintegrar mais rapidamente o animal não gestante no grupo para nova cobrição ou, caso o produtor assim
decida, enviá-lo para refugo.
Fig.1 - Local de posicionamento do ecógrafo (circulo preto) para
ecografia transabdominal. Como se pode verificar na figura, é
possível efectuar a ecografia na sala de ordenha.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
BEM ESTAR ANIMAL
Tabela 1 - Características dos dois métodos de ecografia utilizados
em pequenos ruminantes (transabdominal e transretal)
Bem-estar animal
Material necessário
Sonda (MHz)
Tempo mínimo para visualização da gestação
Transabdominal
Transretal
Ecógrafo
Ecógrafo + adaptador
Menos invasivo, podendo ser efectuado na sala de ordenha, logo
menos stressante para o animal e
melhor para o seu bem-estar
3,5 a 5 MHz
Cerca de 25-30 dias
Tempo óptimo
para contagem de fetos
Cerca dos 40 a 55 dias
Avaliação do trato reprodutivo de fêmeas não
prenhas e de machos
Não é utilizado em fêmeas não
prenhas. É utilizado na avaliação
dos testículos.
Praticabilidade
Mais rápido e fácil de manusear
tanto o aparelho como os animais.
Mais invasivo e é necessária
uma maior contenção, pelo
que afecta mais o bem-estar
do animal.
5 a 7,5 MHz
Cerca de 16 dias nas cabras
Cerca de 19 dias nas ovelhas
Cerca de 27 a 30 dias
Não é tão rápido e prático, mas
permite um diagnóstico mais
cedo da gestação.
É utilizado em fêmeas não
prenhas. Utilizado para avaliação de glândulas acessórias
do trato reprodutivo masculino.
A contagem de fetos é outra das funções do ecógrafo, o que se
pode revelar extremamente útil para que se possa dividir os animais em grupos de, por exemplo, fêmeas com apenas um feto e
fêmeas com dois ou mais fetos, e posteriormente, principalmente
no último trimestre da gestação, efectuar uma nutrição mais direccionada, apostando assim na prevenção de doenças como a toxémia de gestação. Esta contagem é também útil para um melhor
planeamento da época de partos.
Outra utilidade do ecógrafo na reprodução é a avaliação da
saúde do trato reprodutivo. Nas fêmeas, este método pode revelarse rentável em animais de grande valor genético utilizando a ecografia transretal para avaliar tanto os ovários (detecção de quistos
ou inactividade ovárica), como o útero (diagnóstico de metrites,
piómetra, etc.). No entanto, é nos machos que este revela a sua
grande utilidade, permitindo poupar muito dinheiro à exploração
ao diagnosticar precocemente uma baixa de fertilidade dos bodes
ou carneiros. A ecografia é então utilizada como um complemento
ao exame clínico do macho, auxiliando no diagnóstico de patologias como a orquite ou a epididimite. É possível também, através
da ecografia transretal, examinar as glândulas acessórias, como
as glândulas vesicais e as glândulas bulbouretrais.
Com três operadores para conter os animais e movê-los para o
local onde se efectuará a ecografia, um médico-veterinário experiente consegue (utilizando a ecografia transabdominal) efectuar cerca de 500 diagnósticos de gestação por hora ou cerca
de 350 contagens de fetos por hora.
OUTRAS POSSIBILIDADES
DE UTILIZAÇÃO DO ECÓGRAFO
Apesar de ser na reprodução que a utilização deste aparelho se
destaca e está mais desenvolvida, existem ainda outras aplicações
possíveis. Uma delas são as patologias pulmonares, em que este
aparelho pode complementar a auscultação pulmonar, auxiliando
não só no diagnóstico mais preciso da patologia, mas também na
classificação da sua gravidade e posteriormente na decisão de tratamento ou eutanásia do animal. Outra utilidade, ainda muito embrionária, é o exame ecográfico dos linfonodos da glândula
mamária para uma detecção mais precisa e mais precoce das mastites. Ambas as utilizações poderão vir a auxiliar a gestão da exploração, a rentabilização do ecógrafo e a melhoria do bem-estar
dos animais da exploração, ao serem tomadas decisões rápidas e
mais correctas quanto à saúde do efectivo.
Mensagens a não esquecer:
- Todas estas aplicações da ecografia são perfeitamente enquadráveis na exploração, mas requerem sempre um médico veterinário treinado na área de ecografia, para que possam ser
executadas correctamente
- Para uma boa gestão reprodutiva da sua exploração, é indispensável reunir-se com o seu médico veterinário assistente e desenhar
um plano no qual deve ser incluído o diagnóstico de gestação por
ecografia e exame dos machos antes da época reprodutiva;
- A contagem de fetos pode ser bastante proveitosa, não só para
planear a época de partos, mas também para ajudar na prevenção de doenças ligadas à gestação, como a toxémia de gestação;
- O ecógrafo não é só um instrumento de auxílio à gestão, mas
também à melhoria do bem-estar dos animais da exploração.
Exemplo de utilização do ecógrafo na gestão do diagnóstico de
gestação numa exploração em que os machos são colocados no
parque para cobrição das fêmeas durante 2 meses:
1º Ecografia de diagnóstico de gestação: 10 dias antes de retirar o macho (ovelhas/cabras no máximo com 50 dias de gestação,
o que permite a contagem de fetos)
2º Ecografia de diagnóstico de gestação: 40 dias após retirar
os machos. Esta segunda fase irá abranger apenas as fêmeas cuja
confirmação de gestação foi duvidosa ou negativa na primeira fase,
ou seja fêmeas com menos de 25-30 dias de gestação, logo não
detectável pelo ecógrafo transabdominal, ou que foram cobertas
após o primeiro diagnóstico de gestação. Nesta fase encontrar-seão fêmeas entre os 40 e os cerca de 80 dias de gestação, sendo possível na maioria dos casos efectuar a contagem dos fetos.
Nota: cada caso é um caso, por isso à que contactar o veterinário assistente
da exploração e em conjunto com ele desenvolver o protocolo mais adequado.
Imagem de ecografia de um feto de uma cabra com aproximadamente
3 cm (cerca de 40 dias) (http://blunderosa.com/)
Bibliografia: Gonzalez- Bulnes, A.; Pallares, P. & Vazquez, MI, 2010. Ultrasonographic imaging in small ruminant reproduction. Reprod Dom Anim 45 (Suppl. 2),
9-20 Scott, P. , Collie, D., McGorum, B. & Sargison, N., 2009. Relationship between thoracic auscultation and lung pathology detected by ultrasonography in
sheep. Vet J , 186(1), 53-7.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
51
PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
Maneio Neonatal
Saúde do vitelo - parte II
André Pires Preto, Médico Veterinário,
Serviços Técnicos MSD Saúde Animal
[email protected]
Na sequência do artigo anterior referente à saúde
neonatal e os fatores relacionados com o maneio da
fêmea-gestante, e como podemos influenciar
positivamente a saúde do vitelo/vitela, neste artigo
vamos referenciar alguns procedimentos que devemos
ter em conta para melhorar resultados.
1 – PARTO
Embora o parto tenha influência sanitária em relação aos dois envolvidos, neste artigo, vamos referir as consequências/medidas que
afetam diretamente o produto do parto – o vitelo.
Vários estudos referem que a ocorrência de dificuldades durante o
parto, e com isso o prolongamento da fase de expulsão do feto, causa
acidose fetal, consequentemente reduz a eficácia da absorção de colostro.
Outra problemática em relação ao processo do parto, a higiene, pois
é nestes primeiros momentos em que existe exposição do vitelo aos
agentes microbianos existentes na exploração. A infeção por E.coli,
pode dar-se por via oro-nasal, ao desimpedirmos as vias respiratórias
sem a correta desinfeção das mãos/uso de luvas.
Figura 1 – Desinfeção de umbigo. (w3)
A outra via de entrada direta de agentes infecciosos é o umbigo, sendo
a sua desinfeção um procedimento muito simples, que consiste na aplicação de um produto que possua duas características:
• Dessecante – de modo a promover a rápida secagem do que resta
do cordão umbilical
• Desinfetante – para que elimine as formas viáveis de agentes
que podem “subir” pelo cordão umbilical e provocar uma infe-
52
ção do umbigo (onfaloflebite), com consequências posteriores
gravosas, como peritonite, poliartrite.
Os derivados de iodo como a “antiga” tintura de iodo, a iodopovidona, a clorexidina, podem ser utilizados para este uso.
Alerta: É necessário ter em atenção que as soluções à base de iodo
não são todas iguais, pois o post-dip da ordenha, não possui a concentração de iodo adequada e além disso possui substâncias emolientes para amaciar a pele dos tetos, logo não irá ter o efeito
dessecante pretendido no umbigo.
A correta assistência ao parto não cessa apenas no procedimento de
extração do vitelo, mas sim, no que podemos fazer para que o vitelo
venha saudável e se mantenha saudável. A desinfeção de umbigo é
simples e quando entra na rotina é mais um passo para melhorar a
nossa exploração.
2 – AGENTES INFECCIOSOS
Assim que se dá o nascimento existe contacto externo com a mãe,
mas também com o meio ambiente, além de começar a colonização
de agentes infeciosos, estes vão ser responsáveis pela estimulação
imunitária do vitelo, que irá, se tiver capacidade, responder positivamente e resistir à “invasão”.
Alguns dos agentes são mais preocupantes do que outros, e no caso
dos cuidados neonatais, podemos reduzir a algumas principais, sendo
causadoras de diarreia neonatal, que é considerada a principal causa
de mortalidade entre as 24h e o mês de vida (Doll, K., 2002). Os principais agentes são:
• Escherichia coli – a maior parte das vezes conhecida apenas por
“coli”. Existem várias estirpes que podem provocar diferentes
sintomatologias (desde apenas toxemia e morte, a diarreias profusas seguidas de desidratação e perda do animal).
• Rotavírus – possui uma elevada resistência no meio ambiente,
havendo trabalhos que referem que pode manter-se viável por 6
meses no meio ambiente.
• Coronavírus – além de pertencer ao complexo diarreico, é por
vezes detectado em surtos pneumónicos em recrias/engordas.
• Cryptosporidium parvum – este parasita possui também uma capacidade brutal de resistência no meio ambiente.
• E.coli
• Salmonella spp.
Bactérias
• Rotavírus
• Coronavírus
Vírus
• Cryptosporidium
parvum
• Eimeria spp.
Parasitas
Figura 2 – Grupos principais de agentes infeciosos que provocam diarreias neonatais.
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
»
PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
Figura 3 – A utilização de kits de diagnóstico rápido na exploração. Neste caso estavam presentes os seguintes agentes (E.coli + Rotavírus + Cryptosporidium parvum)
Reconhecendo que os agentes infeciosos não podem ser eliminados
totalmente, temos pois que identificar quais estão presentes, através de
ferramentas disponíveis na exploração através do Médico Veterinário,
como por exemplo, testes de diagnóstico de agentes infecciosos de uso
na exploração (ver figura 2). Estas ferramentas de diagnóstico permitem
identificar quais os agentes presentes e posteriormente implementar medidas específicas de controlo adaptadas à realidade da exploração.
Figura 6 – Gráfico da
eficácia de absorção do
colostro ao longo das
primeiras 24h do vitelo.
(Adaptado de Margueritte, J. et all 2001 e Fernandez, F. et all 2000)
% de absorção
los frísios recém-nascidos “atrapalhados” à procura do teto, ou
vitelos de carne “pesadões” que não se levantam durante as
primeiras horas.
• Qualidade do colostro – o colostro produzido nem sempre é da
mesma qualidade (ver revista Ruminantes anterior).
• Volume de colostro – o número a ter em conta é aproximadamente
10% do peso vivo, nas primeiras 6 horas de vida.
Do “lado” do vitelo apenas podemos avaliar a capacidade de absorção
(ver figura 7) e depois implementar melhorias caso sejam necessárias.
»
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
50% de absorção às
6h pós-parto
0
2
4 6
8 10 12 14 16 18 20 22 24
Horas de vida
E abordar a sua presença de vários modos, sendo o fundamental a
prevenção, quer esta passe pelo maneio higiénico da exploração com
medidas de desinfeção, quer passe pela via de aumentar a imunidade
específica relacionada com estes agentes.
Figura 7 – Avaliação da absorção do colostro por via indireta, por avaliação de
proteínas totais antes dos 5 dias de vida. Linha vermelha representa o limiar de absorção mínima, podendo verificar-se que os três animais estariam mal encolostrados. (A. Preto, 2012)
5 – ABORDAGEM INTEGRADA AO CONTROLO
Figura 4 – Exemplo de medidas de higienização, na exploração retratada os baldes
são desengordurados e desinfetados duas vezes ao dia (agradecimentos ao produtor
– sr. Henriques)
3 – QUALIDADE DO COLOSTRO
O colostro é a fonte fundamental de imunidade que os bovinos podem usufruir, sendo
que é imunidade transferida da mãe para o vitelo, é necessário que a mãe esteja em perfeitas condições para produzir um colostro de
qualidade. Qualidade que pode ser medida,
sendo um procedimento mais fácil no caso
das vacas leiteiras.
4 – ABSORÇÃO DO COLOSTRO
Figura 5 - colostrómetro
Podemos considerar vários pontos principais para o bom desempenho dessa fonte de imunidade natural:
• Tempo de ingestão do colostro – o decorrer do tempo afeta negativamente a capacidade de absorção do colostro (ver figura 6).
• Via de absorção – a forma de ingestão natural é considerada a
mais eficiente, tem é que existir, pois, quem não observou vite-
54
O quinto passo definitivo será o da abordagem integrada ao controlo das diarreias neonatais. Ao longo deste artigo “Maneio neonatal - Saúde do vitelo – partes I e II”, espero ter agregado quase todas
as valências a que nos referimos aquando da problemática multifatorial que pode afetar a Saúde neonatal, (excluindo a alimentação de
substituição).
Na exploração devemos abordar questões económicas, como o custo
por tratamento de casos clínicos, alguns autores que estimam custos de
68 a 140€ por vitelo afetado, e sendo que nestes custos não incluem
as perdas futuras, como por exemplo:
• Atraso no crescimento – até dois meses de atraso na 1ª inseminação;
• Perdas de potencial genético – devido à mortalidade.
Mas neste sentido será relevante avaliar o impacto das medidas de
controlo sobre os custos que elas possuem.
Utilizando medidas hígio-sanitárias fundamentalmente direcionadas à prevenção. No entanto, esta medidas a implementar devem ser
decididas em conjunto com o seu médico veterinário assistente, pois
é ele quem conhece a sua exploração sanitariamente, que possui ferramentas de diagnóstico de agentes, avaliação de qualidade e absorção do colostro, além de que conhece quais os procedimentos
sanitários (higiene e profilaxia) adaptados à sua exploração. A MSD
– Saúde Animal, trabalha em conjunto com os Médicos veterinários
no sentido de fornecer ferramentas válidas de abordagem a esta problemática e desenvolveu o 5STEP – programa integrado de controlo
de diarreias neonatais, informe-se junto do seu Médico veterinário. x
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PRODUÇÃO
SAÚDE ANIMAL
Podologia bovina
Como se previnem
as principais patologias
Entrevista pela Revista Ruminantes
Richard Touret
[email protected]
Richard Touret licenciou-se em medicina veterinária pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD),
em 2002 e estagiou em clínica de bovinos leiteiros na ilha Terceira (Açores). Durante 8 anos, trabalhou com espécies pecuárias em várias zonas do país ao serviço do Estado, cooperativas e serviços privados. Desde 2009, tem vindo
a especializar-se na área da podologia bovina, frequentando cursos e seminários no nosso país e no estrangeiro. Em
2010, adquiriu um tronco hidráulico ANKA e criou um serviço (finca-pé_Podologia e bem-estar animal) exclusivamente dedicado ao recorte preventivo e curativo de unhas de bovinos e ao aconselhamento e realização de ações de
formação sobre saúde podal e bem-estar animal.
Quais foram os motivos que o fizeram optar pela vertente da
clínica de campo, nem sempre associada aos médicos veterinários?
Durante o meu estágio em clínica de bovinos leiteiros, constatei que existia uma lacuna nesta área de trabalho com falta de profissionais competentes e que seria uma oportunidade para os
veterinários, já que praticamente tudo ainda estava à espera de ser
feito. Quando nos comparamos com outros países, verificamos
precisamente isso. Em Itália, por exemplo, existem mais de 50
veterinários dedicados à podologia.
Quando comecei a fazer clínica de bovinos, senti muitas vezes
que os produtores me encaravam como uma despesa incómoda.
Era difícil demonstrar resultados. Percebi que em termos profissionais, no futuro seria importante a especialização para oferecer
um serviço que os produtores considerassem verdadeiramente
parceiro da sua atividade. Quando ativado um plano de saúde
podal numa exploração, são impressionantes os resultados obtidos
num curto espaço de tempo.
Quais as principais dificuldades que encontrou?
Resistência por parte dos produtores em ativar as medidas preventivas adequadas como principal arma na gestão da saúde podal
dos animais.
Também, em muitos casos, existe dificuldade em abandonar
práticas antigas, muitas vezes danosas, pela familiaridade que
muitos produtores desenvolvem com alguns “casqueiros”. O facto
de existir falta de profissionalismo e rigor em muitos serviços
prestados resulta, em muitos casos, da incapacidade dos produtores serem exigentes por não saberem bem distinguir um mau de
um bom trabalho. É preciso discutir o estado da exploração de
uma forma contínua e informar duma forma objetiva e leal os pro-
56
dutores para que estes possam tomar as decisões corretas e consigam desenvolver todo o potencial dos seus animais.
Por outro lado, confirmo que os produtores subestimam em
larga medida (alguns estudos apontam para 50%) o número de
animais coxos na sua exploração. Isto torna o trabalho mais difícil, pois ninguém quer tratar o que não consegue ver.
Do ponto de vista do agricultor, quais as vantagens de entregar
este trabalho a um médico veterinário?
Nos últimos anos, os produtores começaram finalmente a perceber que a função de um veterinário não é somente a de “apagar
fogos” e que as suas competências adequadamente desenvolvidas
são um verdadeiro investimento com resultados à vista, ao invés
de uma despesa. Tal como já existem veterinários exclusivamente
dedicados à qualidade do leite, maneio reprodutivo ou nutrição,
outras áreas tais como a podologia e a recria bovina devem, no
meu entender, seguir este mesmo percurso de especialização.
Nós, veterinários, somos escutados quando entra leite no tanque
ou quando os animais crescem mais depressa e mais saudáveis. E
é esse serviço, focado em mostrar resultados, que nos diferencia
e que devemos procurar oferecer.
É conhecida a importância da saúde do casco, sobretudo para
as vacas leiteiras, para a manutenção do bem-estar animal. Na
sua opinião, quais os principais procedimentos que os agricultores podem levar a cabo para que as patologias podais não
sejam a principal causa de refugo, como acontece neste momento?
Atualmente dispomos de conhecimentos e recursos suficientes
para que não seja assim. Não existem remédios milagrosos. A solução passa por corrigir vários aspetos do maneio animal que, so-
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SAÚDE ANIMAL
PRODUÇÃO
mados, fazem a diferença. Dentre estes, destacaria alguns:
- os animais devem ser observados diariamente, procurando-se
sinais de coxeira (tal como se faz com a deteção de cios) e tratados imediatamente de forma agressiva. Para isso, deve existir um
tronco na exploração que permita a uma pessoa sozinha, de forma
rápida e eficiente, inspecionar um animal logo que exista uma
suspeita;
- todas as lesões devem ser registadas, para que qualquer pessoa possa saber o que se passa na manada e se poderem tomar
decisões;
- deve-se garantir que as patas estejam secas e limpas e utilizar
o pedilúvio de forma regular. Desta forma diminui-se a exposição
das patas à ação do chorume e reduz-se a propagação de doenças
infecciosas;
- é também importante garantir uma equilibrada distribuição de
peso nas unhas. Devem cortar-se as unhas de todos os animais
adultos mais ou menos 2 vezes por ano e assegurar que os animais
se deitem fácil e confortavelmente pelo menos 12 horas por dia
para não existirem stress e sobrecarga de peso em zonas da unha;
- um bom maneio durante o período de transição que evite uma
perda brusca de condição corporal é fundamental para não expor
os animais a coxeiras;
A minha experiência pessoal vai-me dizendo que, apesar da
nutrição ser muito importante na saúde das patas, é muitas vezes
apontada pelos produtores, erradamente, como principal causa de
coxeiras. As instalações, a higiene ou o conforto animal podem
ser também elementos decisivos. x
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
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EQUIPAMENTOS
Panorama dos sensores na produção de bovinos
Com o surgimento da produção animal de precisão e a utilização
de TIC (tecnologias de informação e comunicação) em agricultura,
a utilização de sensores tem vindo a crescer. Quer seja em instalações agrícolas, quer nas salas de ordenha, robots de ordenha ou diretamente nos animais, os sensores medem os parâmetros
zootécnicos e respondem a diferentes necessidades que visam aliviar
as tarefas diárias, facilitar a gestão individual das vacas ou prevenir
problemas sanitários
Nas explorações pecuárias, os sensores podem ter diversas
funções:
- acionar ou dirigir um automatismo, sem produzir dados utilizáveis para a gestão do efetivo (por exemplo, a câmara ou o
laser permitindo situar o úbere da vaca num robot de ordenha);
- automatizar uma ação possível de ser realizada manualmente
medidor de leite, pesagem da quantidade de alimento ingerido);
- medir novos parâmetros não detetáveis pelo olho humano ou
Panorama dos principais sensores e sua utilização
Gestão
principal
dificilmente mensuráveis (temperatura ruminal, composição
do leite, atividade da vaca, etc.).
Com base em diversas tecnologias, estes diferentes instrumentos
podem no geral medir os seguintes parâmetros:
- fisiológicos no próprio animal (produção de leite, consumo alimentar, temperaturas corporais);
- biológicos nos seus produtos (composição do leite, características físico-químicas do leite, presença de hormonas);
- comportamentais (deslocação, atividade, comportamento alimentar, ruminação).
Os dados obtidos são seguidamente valorizados seja para a gestão
quotidiana do efetivo (alimentação), seja para a deteção precoce de
problemas sanitários ou de episódios específicos (mamites, problemas metabólicos, partos, cios). x
Instrumento/Sensor
Medição
Localização
Indicadores principais
Acelerómetro
Atividade do animal
Pescoço (patas em certos casos)
Cios, problemas de saúde
Analisador
de progesterona
Termómetro vaginal
Progesterona no leite
Robot de ordenha ou instrumento portátil
Cios, diagnóstico de gestação
Temperatura vaginal
Canal vaginal
Partos
Giroscópio caudal
Posição da cauda
Cauda do animal
Partos
Sensor de pressão
Contrações uterinas
Faixa abdominal
Partos
Condutímetro
Conditividade
Contadores de leite
Condutímetros robots ou instrumentos
portáteis
Mamites
Contador celular
Células somáticas
Mamites
Analisador de leite
Enzima LDH
Robots, salas de ordenha
ou instrumento portátil
Robots de ordenha
Bolus Ruminal
(termómetro)
Sensor de pressão
pH ruminal
Rúmen
Problemas infecciosos, atividade alimentar
Pressão pelas patas
Estábulo
Claudicação
Alimentação/ Bolus Ruminal
Problemas
(medição do pH)
metabólicos Analisador de leite
pH ruminal
Rúmen
Problemas metabólicos
Proteína BHB
Robots de ordenha
Microfone
Tempos de ruminação
Pescoço
Cetoses, problemas metabólicos
secundários
Problemas sanitários, partos
Analisador de leite
Ureia
Robots de ordenha
Analisador de leite
TB, TP, lactose
Robots e salas de ordenha
DAC, DAL
Quantidade ingerida
Estábulo
Imagiologia numérica
Indicação do estado
corporal
Peso vivo
Reprodução
Saúde
Podómetro
Balança
Performances Contador de leite
Imagiologia numérica
Atividade do animal
Patas
Robots, saída sala de ordenha,
portas de triagem
Produção de leite, tempos e Robots ou salas de ordenha
débito de ordenha
Medições
Fonte: Chambre Régionale d’Agriculture de Bretagne
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Cios, problemas de saúde
Observações
Identificação
eletrónica inclusa
Identificação eletrónica
inclusa em certos casos
Condutividade frequentemente
combinada com outros parâmetros
(temperatura, produção, intervenção
de ordenha, côr)
Mamites
Diagnóstico de ração, equilíbrio
em proteínas
Diagnóstico de ração, cetoses e acidoses,
qualidade do produto
Nível de ingestão do animal,
problemas sanitários
Mobilização das reservas corporais
Problemas metabólicos, mobilização
das reservas, ingestão, GMQ
Nível de produção, performances
de ordenha, problemas sanitários
Indicações de pontuação
Em desenvolvimento
Em desenvolvimento
Frequentemente combinada
com a atividade
Em desenvolvimento
Em desenvolvimento
EQUIPAMENTOS
EQUIPAMENTOS
Recuperar a palha miúda
Fará sentido, do ponto de vista económico
e ambiental, recuperá-la?
Fará sentido, do ponto de vista económico e ambiental,
recuperar a palha miúda?
Em determinadas zonas de França utiliza-se cada vez
mais um equipamento, instalado na parte de trás da
ceifeira debulhadora, que permite recolher a pragana, a
palha miúda e as sementes de ervas daninhas.
Habitualmente deixada no campo, a palha miúda será recolhida
numa caixa e depositada num extremo do campo (parcela). As
caixas, com uma capacidade entre 10 a 22m3, têm uma autonomia
muito variável, em função da largura de corte, em média de 15
minutos.
Os rendimentos da palha miúda, que variam entre 1,5 a 2,3
ton/ha, dependem do rendimento da planta e do tipo de ceifeira.
Podem oscilar com as condições de recolha, especialmente com
a humidade.
O interesse deste aproveitamento é duplo. Por um lado permite reduzir a pressão das ervas daninhas e portanto a utilização de herbicidas. Por outro, valoriza um resíduo que de
outra forma era desperdiçado.
Estudos realizados indicam que os grãos das ervas daninhas são
recuperados em cerca de 97% no palha miúda. A sua “exportação” permite reduzir a proliferação das ervas “más” e diminuir os
custos das mondas. Um método que tem especial interesse em
agricultura biológica e no sistema de não mobilização para diminuir o risco de competição da cultura com as ervas daninhas.
Em função da sua futura utilização e do transporte utilizado, a
palha miúda pode ser condicionada sob diferentes formas para a
sua valorização: granel, fardos comprimidos, briquetes …).
A palha miúda pode ser valorizada de diferentes formas: combustível, metanização, alimentação do gado, agro-materiais.
Fonte: Chambres d’Agriculture des Vosges
Rico em fibras e “facilitador” da digestão dos ruminantes, este
produto é interessante na exploração de bovinos graças à sua apetência. A sua utilização para camas não é desprezível, dado o seu
poder absorvente ser superior ao de uma palha clássica (2.5 para
a palha miúda de trigo contra 2.1 para a palha de trigo).
Consultado sobre esta questão pela Ruminantes, Emmanuel
David, Diretor do Departamento de Ruminantes da Techna
França, disse: “A «palha miúda» é pouco corrente e pouco utilizada em alimentação animal, sendo a maioria das vezes deixada
nos campos e enterrada. É composta de resíduos de palha, do invólucros que envolvem os grãos de cereal e de partes (caules, sementes) de ervas daninhas e, por isso, a sua qualidade muito
variável, devendo ser analisada.
O seu interesse depende muito da qualidade e da regularidade
embora, em quantidade limitada, possa ser usada para fornecer
celulose em arraçoamentos de risco. Deve-se ter atenção uma vez
que a palha miúda fornecerá celulose mas acrescentará pouco
valor nutricional e pouca fibra. Deve-se também verificar se não
contém plantas tóxicas.” x
CDER
Matéria seca (%)
Matéria azotada total
(%)
Celulose bruta
(%)
Amido (%)
Palha miúda
de cereais
Palha
de cereais
Palha miúda
de colza
Palha
de colza
5.45
3.5
12
3.3
31.4
43
37.5
38.5
4.65
4.0
0
0
88.5
87
87.8
88.0
Fonte: Chambre d’Agriculture Vosges
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
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EQUIPAMENTOS
Sistemas de gestão na produção de leite
João Martinho, Diretor Comercial, Harker Sumner, SA
[email protected]
Hoje, existem ferramentas de gestão muito eficientes
que simplificam o funcionamento diário de uma
exploração de leite, analisando as ocorrências a todo o
momento e proporcionando informação essencial para
a planificação a médio e longo prazo. Através da
recolha, combinação e análise dos dados de forma
automática e precisa, sobre cada animal do rebanho,
disponibilizam uma informação clara que ajuda na
tomada de decisões certas e em tempo útil.
cio – para as poder separar. Controlam o Duovac por fluxo para obter
uma saída do leite mais completa, suave e mais rápida.
Medidores de leite MM27BC: é essencial manter o registo diário do leite, para além de detetar a presença de sangue no leite e alterações na condutividade. Os medidores de leite controlam a
entrada de ar nas camisas, as velocidades de fluxo, o rendimento da
ordenha medido pela produção de leite, a velocidade e o tempo de
ordenha de cada vaca.
QUALIDADE DO LEITE
Ordenha, Qualidade do leite, Refrigeração do leite, Reprodução e Saúde das vacas, Alimentação, Conforto e Estrumes são
as áreas abrangidas por estas ferramentas.
O programa que processa toda esta informação consiste num
sistema modular que integra uma extensa base de dados com informação exaustiva sobre estas áreas (onde se inclui o HERDNAVIGATOR), com informação gráfica clara, relatórios, listas de
ações e diagramas fáceis de interpretar.
Permite o seguimento em tempo real
da qualidade do leite, de cada vaca,
com separação automática quando ultrapassa os parâmetros pré-definidos.
Disponibiliza alarmes através do telemóvel, indicando a razão do desvio do
leite.
O Contador de células online OCC
permite uma supervisão proativa diária do nível de células somáticas de
cada vaca, em cada ordenha. Pode-se
beneficiar da deteção atempada de mamites para efetuar um controlo eficaz e
económico do combate às mesmas.
REFRIGERAÇÃO DO LEITE
Controla todo o processo de refrigeração, limpeza e eficiência
energética. Permite o controlo de todas as sequências de refrigeração e lavagem com registo dos tempos, temperaturas do leite e
água, volumes do leite e detergentes doseados, com alarmes em
caso de anomalias.
REPRODUÇÃO
ORDENHA
Os Controladores do Ponto de Ordenha MP580/680 ajudam a otimizar a saúde e a produtividade do rebanho, com dados precisos
sobre cada vaca, registando os dados de forma automática: procedimentos da ordenha, seguimento dos protocolos da mesma e medição
de resultados. Mostram o nº da vaca, a produção de leite e se a vaca
necessita de atenção. Durante a ordenha, identificam as vacas potencialmente problemáticas – com pouca produção, com problemas
de saúde (sangue no leite ou elevada condutividade) e que entram em
60
Conhecer o momento exato para
inseminar é cada vez mais um fator
chave para reduzir o intervalo entre
partos. Com os dados recebidos
pelo Medidor de Atividade e armazenados 24 horas no Tag para evitar perdas de informação, deteta-se
quando uma vaca está em cio e recebem-se alertas automáticos sobre o momento exato de inse-
Ruminantes • Outubro | Novembro | Dezembro • 2012
EQUIPAMENTOS
minação. O sistema pode programar a separação destas vacas de
forma automática. Também deteta a baixa atividade e alerta para
possíveis enfermidades ou infeções, permitindo atuar com rapidez para melhorar a saúde das vacas. Com os relatórios de reprodução e os gráficos disponíveis, pode-se analisar os dados e
tomar as decisões certas.
SAÚDE DO REBANHO
Sistemas efetivos de pré-alarme da saúde do rebanho controlam e
analisam todos os indicadores chave, para dar uma imagem clara do
estado de saúde de cada animal, avisando dos possíveis problemas
de saúde, permitindo o seu diagnóstico e tratamento atempado. Qualquer redução de atividade, diminuição da produção de leite e de ingestão de alimento, ou perda de peso identifica vacas com eventuais
problemas de saúde.
O sistema regista todas as enfermidades, a sua duração e tratamento, para obter informação das tendências de saúde tanto da cada
vaca, como do rebanho em conjunto. No módulo de visita do veterinário, possibilita a preparação das visitas programadas, a listagem
impressa com relação completa dos dados do animal a tratar e o registo rápido e preciso dos resultados do controlo efetuado.
Sistema de pesagem automático AWS 100: permite dispor
de informação diária sobre o peso das vacas, para melhorar a
gestão do rebanho. Pode-se atuar rápido sobre as tendências
de peso para prevenir perdas desnecessárias do rendimento das vacas e da eficiência do rebanho. Analisa as
tendências, transforma os
dados em informação útil da
gestão do peso, cria gráficos,
tabelas para identificar as
vacas do rebanho ou do grupo
que não apresentam um bom
rendimento, identifica os desvios de peso, os índices de
Condição Corporal e tendências médias, compara as tendências de peso individuais
com as do grupo e permite tomadas de decisão com base em
informação rigorosa.
Portas Separadoras DSG 10: permitem saber com que frequência temos de separar as vacas. Esta é uma tarefa que requer muita mão de obra e muito stress nos animais, mas que
as Portas Separadoras, controladas pelo sistema de gestão ALPRO, tornam muito
mais fácil. Com um alto rendimento, acionadas por ar
comprimido ou vácuo que
pode ir até cinco direções de
separação.
ALIMENTAÇÃO
A alimentação representa cerca de 50% do custo da produção de
leite. Ao otimizar a ingestão de alimento, o pH do rúmen permanece
mais estável, reduzindo os possíveis problemas metabólicos e melhorando tanto o índice de condição corporal como o rendimento reprodutivo. A alimentação pode ser distribuída na Sala de Ordenha
com rações individuais permitindo, durante a ordenha, ajustar o alimento de cada vaca (muito utilizado nos Açores) com o sistema de
pastoreio. A distribuição do alimento na estabulação livre, fora da
sala de ordenha, permite ajustá-lo ao longo do ciclo da lactação para
maximizar a produção de leite. As Estações de Alimentação podem
distribuir até quatro tipos de alimentos diferentes, incluindo minerais e aditivos líquidos. O “algoritmo de qualificação contínuo” garante a distribuição correta da dose de ração completa ao longo do
dia e favorece as visitas frequentes às estações, sem stress.
O Sistema de Mistura Total TMR está ligado também ao
ALPRO permitindo estabelecer a melhor combinação entre o Unifeed e as Estações de Alimentação. O sistema analisa a produção
de leite e, através das tabelas de alimentação ajusta, de forma automática, a alimentação das diferentes vacas. Tudo isto começando
pela preparação automática dos arraçoamentos, com análises do
alimento on-line – Sistema Optifeeding DeLaval totalmente automatizado minimizando os desperdícios e custos, maximizando a
nutrição e o rendimento.
CONFORTO
A criação de um ambiente ótimo para as vacas é possível com
sistemas de ventilação e cortinas corta-vento automatizadas, que
respondam ao tempo e ao clima e libertem os níveis elevados de
humidade e gases do estábulo. O controlo automático da iluminação também aumenta a produtividade dos operadores e das vacas,
pois as vacas em lactação necessitam de um nível ótimo de 16
horas de luz com 180 luxes de brilho para produzir mais leite e
melhorar a fertilidade.
ESTRUMES
Com a gestão otimizada dos nutrientes, recolha automática dos
dejetos e processamento dos estrumes.
O Robot de Ordenha VMS assim como a Rotativa Robotizada
AMR entretanto apresentada pela DeLaval, permitem uma gestão
ainda mais proativa, pois utilizam outras tecnologias já disponíveis,
baseadas em câmaras de infravermelhos, ferramentas de diagnóstico e algoritmos, que permitem a recolha de mais informação para
as tomadas de decisão.
O objetivo de uma gestão inteligente consiste em facilitar aos produtores de leite ideias e tecnologias inovadoras, já disponíveis, que
lhes permite um futuro com maior produtividade, sustentabilidade
e rentabilidade – Smart Farming. x
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EQUIPAMENTOS
NOVIDADES
Destaques SPACE 2012
JOSKIN - DRAKKAR
REBOQUE DE TRANSPORTE
KVERNELAND
COMANDO À DISTÂNCIA DE REBOQUE MISTURADOR
O Drakkar é um reboque de transporte em que a caixa está equipada com paredes sintéticas rigidas, com uma esteira inferior de
material sintético e flexível mas muito resistente, causando como
que uma parede móvel frontal impermeável. No processo de descarga o tapete é enrolado num tambor por debaixo do compartimento de descarga: o material é descargado literalmente sem
pressão para fora da caixa e a parede frontal impede-o de cair
para a frente. Uma vez que o tapete esteja enrolado, a caixa está
completamente vazia e limpa e pronta para uma próxima utilização. Esta concepção permite ter uma estrutura de caixa reduzida para uma capacidade de carga maior.
A Joskin é representada em Portugal pela empresa Forte, Lda.
O grupo Kverneland projetou o Siloking Wireless, que consiste
num sistema de comando sem fios da pesagem, para o misturador vertical Siloking. O comando permite controlar as funções hidráulicas da máquina e a balança, graças a uma caixa
montada na cabina do trator e outra no carregador. Todas as informações referente às pesagens, funções hidráulicas e ajustes
da máquina estão armazenadas numa caixa preta montada no
misturador. Um software de transferência de dados permite criar
as rações directamente no PC, transferindo-as de seguida para a
tremonha do misturador. É também possivel obter um histórico
dos tempos de carga, descarga e quantidades carregadas.
VÉLITEX
FORRAGENS BEM PROTEGIDAS
FARMCLEAN
AUTOMOTRIZ DE LIMPEZA DE CUBÍCULOS
Para substituir a tradicional lona de cobertura da silagem em
polietileno, a Vélitex concebeu o sistema Vélitex silagem. Este
inclui um filme que faz barreira ao oxigénio em Evoh de 45
mícron, que é coberto por uma tela de proteção contra os UV e
agressões exteriores. O conjunto é mantido pelos lastros específicos colocados nos bordos (Silobags). A Vélitex propõe
ainda o Subtex, uma tela em polipropileno ligeiro e respirável
para proteger os fardos redondos (feno ou palha) e as beterrabas forrageiras. É resistente ao vento e tem uma vida útil de 5
anos.
A FarmClean é uma pequena automotriz que permite limpar a
palha seca dos cubículos. Na parte dianteira da máquina está
montada uma escova regulável em altura – com possibilidade
de ajustar um raspador de ripas – e uma tremonha (de 720 l ou
1440 l) para aplicação em todos os tipos de cama. A LimeBox
permite a pulverização de produtos em pó, para a desinfeção e
secagem das camas. Equipada com um motor diesel Kubota de
3 cilindros e 24 CV e um sistema hidrostático, o FarmClean é
muito prático e tem um raio de viragem muito curto.
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NOVIDADES
HYPRED
HIGIENE DE TRATAMENTO
A Hypred propõe dois sistemas automatizados dedicados à higiene de ordenha: o Quick Spray System, um aparelho de pulverização do teto que funciona sobre o vácuo do equipamento de
ordenha; e o Perfo Dose, concebido para facilitar a desinfeção
dos tubos das máquinas de ordenha. Este é fornecido sobre a
forma de kit, com uma bomba doseadora ligada à água da torneira que permite uma preparação automática da solução desinfetante Perfo Grif e três pistolas de aplicação.
A Hypred é representada no nosso país pela Vitas Portugal.
BIOMIN
PRÉBIOTICOS
EQUIPAMENTOS
LALLEMAND
O MÁXIMO EM EFICÁCIA ALIMENTAR
O Rumen School é um programa de auditoria de explorações proposto pela empresa Lalleman, que avalia e otimiza a eficácia ruminal das vacas leiteiras a partir dum conjunto de critérios para
observação e medição de sinais visíveis complementares. Paralelamente, a Lallemend propõe uma nova solução antioxidante
de origem vegetal (à base de melão), complementar do selénio orgânico Alkosel (R), bem como uma gama de conservantes para
silagem de milho, sendo o Lalsil (R) Combo indicado para o
milho grão húmido e o Lalsil (R) Fresh para o milho inteiro.
Ambos estão disponíveis com a tecnologia HC (Alta Concentração), para os aplicadores de baixo volume.
A Lallemand é representada em Portugal pela empresa Tecadi.
GÈNES DIFFUSION
SISTEMA DE VEL BOX
A Biomin apresentou o Levabon(R) Rumen E, uma especialidade com leveduras (S.cerevisae) autolisadas, concebidas para
aumentar a eficácia alimentar, graças a um equilibrio da microflora e a um funcionamento do rúmen optimizado.
A Biomin é representada em Portugal pela empresaVetlima.
A Gènes Diffusion propõe um
sistema automático de deteção
de partos, com base na medição da
temperatura, por uma sonda vaginal
à prova de água. A transmissão das
informações faz-se por ondas rádio,
da antena até ao interface Vel Box.
A informação sobre o início do parto é
de seguida transmitida ao criador através dum
alerta SMS no seu telemóvel. O criador pode consultar a partir de qualquer local com acesso á internet as curvas de temperatura e modificar
o estado dos sensores.
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CONHEÇA A LEI
ARRENDAMENTO RURAL
Drª Sofia Peixoto de Menezes, Advogada Estagiária
www.fladvoga.com
O Decreto-lei nº 294/2009, de 13 de Outubro, veio
trazer um novo regime ao arrendamento rural. Com
ele, e conforme resulta do respectivo preâmbulo, o legislador pretendeu, para além de “agregar a regulamentação relativa ao arrendamento de prédios
rústicos dispersa por vários diplomas”, “melhorar a
estrutura das explorações agrícolas e florestais com
vista à sua viabilização económica e à utilização das
terras agrícolas, contrariando a tendência para o seu
abandono.” Para este objectivo, e conforme também
se pode ler em tal preâmbulo, o legislador propôs-se
“dinamizar o mercado de arrendamento da terra e facilitar a sua mobilização produtiva, com vista à promoção do aumento da dimensão física e económica
das explorações agrícolas, assegurando a sua sustentabilidade económica, social e ambiental. Neste sentido, são promovidas alterações conducentes à
flexibilização do mercado do arrendamento, privilegiando o acordo entre as partes contratantes.”
O novo regime de arrendamento rural aplica-se obrigatoriamente e integralmente a todos os contratos celebrados após o dia 11 de Janeiro de 2010.
Relativamente aos contratos já existentes, em regra, o
novo regime aplica-se a partir do fim do prazo do contrato, ou da sua renovação em curso. Há também necessidade de, na renovação do contrato, modificar os
termos do mesmo de forma a que este passe a seguir o
regime previsto neste novo Decreto-lei.
O arrendamento pode revestir uma de três modalidades conforme a natureza do prédio e o fim a que se
destina: Urbano, rural e misto.
A Lei define arrendamento como o contrato pelo
qual uma das partes – o senhorio - se obriga a proporcionar à outra – inquilino - o gozo temporário de uma
coisa imóvel, mediante retribuição.
Ocupamo-nos agora do arrendamento rural: Tratase do contrato pelo qual uma das partes – senhorio
- se obriga a proporcionar à outra – arrendatário
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ou rendeiro - o gozo temporário de prédio rústico
para fins agrícolas, florestais ou outras actividades
de produção de bens ou serviços associados à agricultura, à pecuária ou à floresta.
O arrendamento rural pode ser de um dos seguintes
tipos:
a) Arrendamento agrícola: cedência do gozo total
ou parcial de prédios rústicos para fins agrícolas;
b) Arrendamento de campanha: cedência do gozo
total ou parcial de prédios rústicos para efeitos de
exploração de uma ou mais culturas de natureza
sazonal;
c) Arrendamento florestal: cedência do gozo total
ou parcial de prédios rústicos para fins de exploração florestal.
Na falta de indicação do tipo de contrato de arrendamento rural, presume-se que se trata de arrendamento agrícola.
O contrato de arrendamento rural tem por objecto
prédios rústicos. O Código Civil português define prédio rústico como “uma parte delimitada do solo e as
construções nele existentes que não tenham autonomia económica.” Por outras palavras, são prédios rústicos os imóveis que possuam, obrigatoriamente, uma
ou mais áreas destinadas exclusivamente à exploração
agrícola, florestal ou pecuária, áreas que podem ter
construções destinadas habitualmente aos fins próprios
da exploração normal dos mesmos.
O contrato de arrendamento rural pode ter por objecto, para além da terra, as construções e infra-estruturas destinadas, habitualmente, aos fins próprios da
exploração normal e regular dos prédios locados, designadamente, a habitação do arrendatário e o desenvolvimento de outras actividades económicas
associadas à agricultura e à floresta, desde que as partes - senhorio e rendeiro – o declarem expressamente
no contrato. O contrato pode também abranger as máquinas e equipamentos, devendo, neste caso, ser ane-
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CONHEÇA A LEI
xado ao contrato um inventário dos mesmos com indicação do respectivo estado de conservação e funcionalidade.
O arrendamento rural pode, igualmente, integrar a
transmissão de direitos de produção e direitos a apoios
financeiros no âmbito da política agrícola comum, sem
prejuízo da respectiva conformidade com a legislação
relativa à transmissão desses direitos. É o caso dos subsídios europeus destinados à produção de determinada
cultura, que se citam a título de exemplo. E uma vez
que é o arrendatário que se candidata à campanha, fará
sentido que tal benefício lhe seja adjudicado a si e não
ao senhorio, dono do terreno.
O contrato de arrendamento rural é obrigatoriamente reduzido a escrito, devendo conter a identificação completa do senhorio e do rendeiro, a indicação
do número de identificação fiscal e respectivas moradas de residência ou sede social, a identificação completa do prédio ou prédios objecto do arrendamento, o
valor estipulado para a renda, a indicação da data de
celebração e, caso existam bens móveis que façam
parte integrante do contrato, um anexo contendo a sua
descrição detalhada, designadamente no que respeita
ao seu estado de conservação e funcionalidade.
Apesar de não estar sujeito a registo e da sua celebração estar isenta do imposto de selo e de qualquer
outro imposto ou taxa, compete ao senhorio, no prazo
de 30 dias a contar da data de celebração, sob pena de
incorrer em infracção tributária, entregar o original do
contrato de arrendamento rural nos serviços de finanças da sua residência ou sede social que o comunicará
às entidades competentes.
Como já referido, os contratos de arrendamento rural
podem ser do tipo agrícola, florestal e de campanha:
Os contratos relativos a arrendamentos agrícolas são
celebrados por um prazo mínimo de sete anos. É este
o prazo a ter em conta quando as partes não fixam o
seu prazo de vigência. Enquanto o contrato não for denunciado, ou não ocorra alguma das restantes formas
de cessação, renova-se automaticamente por sucessivos períodos de sete anos. Os arrendamentos florestais, por seu lado, não podem ser celebrados por prazo
inferior a 7 nem superior a 70 anos sendo estes limites
aplicados mesmo que o senhorio e o rendeiro acordem
noutros limites.
Por último, temos os arrendamentos de campanha
que não podem ser celebrados por prazos superiores a
seis anos. Se as partes fixarem um prazo superior, este
considera-se reduzido a seis anos. Caso senhorio e rendeiro não tenham fixado prazo ao contrato, presume-se
celebrado por um ano.
Os contratos de arrendamento florestal e de campanha não se renovam automaticamente a não ser que o
senhorio e o rendeiro o digam expressamente no contrato.
É permitida a alteração da data da cessação do contrato quando:
a) o rendeiro fizer, com autorização do senhorio, investimentos de desenvolvimento, melhoria ou reconversão cultural ou obras de beneficiação do
prédio; ou
b) quando no decurso de um contrato de arrendamento agrícola ou florestal, ocorram circunstâncias imprevistos e anormais, alheias a qualquer
das partes que causem como calamidades climáticas, inundações, acidentes geológicos e ecológicos, incêndios, alheios a qualquer das partes,
que causem a perda de mais de um terço das plantações das culturas permanentes ou da plantação
florestal explorada e ponham seriamente em
causa o retorno económico dessa exploração.
A alteração da data de cessação do contrato pode ter
lugar por iniciativa do rendeiro e tem de ser reduzida
a escrito.
O novo regime do arrendamento rural proíbe o subarrendamento, tema que desenvolveremos em próximo artigo juntamente com outros que julgamos de
interesse relevante. x
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FEIRAS
Não deixe de visitar...
25 A 28 DE OUTUBRO
FEIRA DE CREMONA
Cremona - Itália
A feira internacional de vacas de leite de Cremona
celebra a sua 67ª edição este ano. A última edição
reuniu 847 expositores, dos quais 17% estrangeiros, 56 convenções e seminários e mais de 75
mil visitantes. Reconhecida pela sua especialização na fileira do leite, esta grande feira continua
a representar uma excelente oportunidade de encontro e de troca de informações e experiências
para todos os profissionais deste sector.
www.cremonafiere.it
A
66
7 A 11 DE NOVEMBRO
EIMA
Bolonha - Itália
A Feira de máquinas e equipamentos agrícolas de Bolonha, uma das mais importantes da Europa do setor, vai
realizar-se em novembro próximo, entre os dias 7 e 11.
Com uma superfície de exposição de mais de 103 mil m2
e cerca de 1.600 expositores, esta grande exposição de
equipamentos, serviços e soluções, que atualmente se realiza a cada dois anos, é local de visita obrigatório para
quem precisa de ficar a par das novidades em mecanização aplicada aos mais diversos setores da agricultura e da
agro-pecuária, floresta e componentes.
www.eima.it
13 A 16 DE NOVEMBRO
EUROTIER
Hannover - Alemanha
A EuroTier - Exposição Internacional da DLG de Produção Animal e
Técnicas de Gestão – vai ser o ponto de convergência dos profissionais da produção animal, de 13 a 16 de novembro. No Parque de Exposições de Hannover, Alemanha, a EuroTier apresentará uma vez
mais as novas tendências e inovações nos setores de criação animal
— bovinos, suinos, caprinos e aves, bem como em bioenergia e a
aquicultura, gestão e prestação de serviços. São separados 1.900 expositores e 140 mil visitantes, naquele que é considerado como uma
das feiras mais importantes dedicada à produção animal, na Europa.
www.eurotier.com
na Agroglobal
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