mestrado em educação andréa cristine borges processos

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mestrado em educação andréa cristine borges processos
UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE
PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – MESTRADO EM EDUCAÇÃO
ANDRÉA CRISTINE BORGES
PROCESSOS EDUCATIVOS E DOAÇÃO DE SANGUE: TRAMAS DA
SOLIDARIEDADE, DA RAZÃO, DAS CRENÇAS E DOS MITOS
LAGES
2010
ANDRÉA CRISTINE BORGES
PROCESSOS EDUCATIVOS E DOAÇÃO DE SANGUE: TRAMAS DA
SOLIDARIEDADE, DA RAZÃO, DAS CRENÇAS E DOS MITOS
Dissertação apresentada como requisito
para a conclusão do curso de PósGraduação “strictu sensu” – Mestrado
em Educação da UNIPLAC.
Orientadora: Profª. Drª. Ivania Marini
Piton
LAGES
2010
UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE
ANDRÉA CRISTINE BORGES
PROCESSOS EDUCATIVOS E DOAÇÃO DE SANGUE: TRAMAS DA
SOLIDARIEDADE, DA RAZÃO, DAS CRENÇAS E DOS MITOS
Dissertação apresentada como requisito
para a conclusão do curso de PósGraduação “strictu sensu” – Mestrado
em Educação da UNIPLAC.
COMISSÃO EXAMINADORA:
Profª. Drª. Ivania Marini Piton – UNIPLAC (Orientadora): ____________________________
Prof. Dr. Geraldo Locks – UNIPLAC (Membro Interno):__ ___________________________
Prof. Dr. Paulo Fernando Diel – UNICS (Membro Externo): __________________________
LAGES
2010
Dedico este trabalho ao meu filho, perspectiva de
mudanças e de renovação para uma vida mais
plena.
AGRADECIMENTOS
A Deus acima de todas as coisas, pela vida e pelas pessoas que me cercam.
À Prof.ª Dr.ª Ivania Marini Piton, pela orientação e conhecimentos.
Aos Professores da banca que avaliaram esse trabalho.
Ao Eduardo e ao Gustavo, pelo companheirismo de todas as horas.
A todas as pessoas que colaboraram para que esta etapa de minha vida se cumprisse.
E Principalmente a minha amiga Denise pelo apoio incansável nessa etapa de minha
Vida ,amigos são flores da alma.
A esperança faz parte da natureza humana.
Seria uma contradição se, inacabado e
consciente do inacabamento, primeiro, o ser
humano não se inscrevesse ou não se achasse
predisposto a participar de um movimento
constante de busca e, segundo, se buscasse
sem esperança.
(Paulo Freire)
É preciso plantar a semente da educação para
colher os frutos da cidadania.
(Paulo Freire)
RESUMO
O presente trabalho tem como tema o processo educativo e a doação de sangue: tramas da solidariedade, da
razão, das crenças e mitos. Teve como objetivo geral: analisar os processos educativos envolvidos na doação de
sangue, focando o entendimento de professores e alunos do ensino médio no que se refere às relações de
cidadania e doação de sangue. Os objetivos específicos da pesquisa são: a) Conhecer as concepções de
professores e alunos no que se refere à cidadania e suas relações com a doação de sangue; b) Identificar as
práticas pedagógicas relativas à educação, à cidadania e ao processo de doação de sangue; c) Analisar razões,
mitos e a cidadania existentes no processo de doação de sangue. Optamos por uma pesquisa qualitativa,
utilizando para coleta de dados a entrevista semi-estruturada aplicada a uma escola da rede estadual de ensino,
que possui trinta e três turmas de Ensino Fundamental, quinze turmas do Ensino Médio e sete turmas de
Magistério. Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos de forma intencional, com base nos critérios estabelecidos
e que aceitassem participar voluntariamente do estudo, a saber, professores e alunos da escola citada. Foram
convidados a participar da pesquisa dois professores que ministram aulas de Biologia, um que ministra aula de
Filosofia e um que ministra aula de Sociologia do 3ª ano do Ensino Médio, totalizando 5 professores.
Consideramo-nos cidadãos e encorajados a sensibilizar os demais nessa caminhada, através da educação, pois a
complexidade que envolve a doação de sangue é grande e a manutenção dos bancos de sangue só será viável
quando pudermos entender esse processo. Assim, nossa história de vida – enfermeira triagista do hemocentro de
Lages e docente do curso de enfermagem, fez-nos deparar com as seguintes questões-problema que nortearam a
presente pesquisa: Quais as relações da educação com a doação de sangue? Como as formas/metodologias
educativas e a formação dos docentes estão envolvidas no processo de doação? Como se dá a práxis dos
professores em relação à saúde? Que valores estão implícitos na doação de sangue? Por que o atual modelo de
educação não leva a uma consciência de doação? Atualmente a educação ao doador de sangue acontece aos
moldes de uma educação tradicional. É necessário um trabalho educativo que sensibilize educadores e educandos
para possibilitar mudanças, a qual repercutirá na conscientização de doadores de sangue como protagonistas do
processo, bem como a importância do ato da doação de sangue como exercício de cidadania.
Palavras-chave: Educação. Doador de Sangue. Cidadania.
RESUMEN
El presente trabajo tiene como tema el proceso educativo y donación de sangre: tramas de la solidariedad, de la
razón, de las creencias y mitos. Tuvo como objetivo general: analizar los procesos envolvidos en la donación de
sangre, focando el entendimiento de profesores, alumnos y donadores de sangre a lo que se refiere a las
relaciones de educación, ciudadanía y el proceso de donación de sangre. Los objetivos específicos de la pesquisa
son: a) Conocer las posturas, concepciones de profesores y alumnos en lo que se refiere, a solidariedad,
ciudadanía y sus relaciones con la salud; b)Identificar las prácticas pedagógicas relativas a la educación y a la
salud, a la ciudadanía y al proceso de donación de sangre; c)Analizar las creencias y mitos, a la solidariedad y a
la ciudadanía existentes en el proceso de donación de sangre; Analizar las distintas concepciones, ámbitos y
conceptos de educación envolvidos en el proceso de donación de sangre. Optamos por una pesquisa cualitativa,
utilizando para colecta de datos la entrevista aplicada, a una escuela de la red provincial de enseño, con treinta y
tres turmas de Enseño Fundamental, quince turmas de Enseño Medio y siete turmas de Magisterio. Los sujetos
de la pesquisa fueron escogidos de forma intencional, con base en los criterios establecidos, y que aceptasen
participar voluntariamente del estudio, a saber, profesores y alumnos de la escuela supra-citada. Fueron invitados
a participar de la pesquisa de los profesores que ministran clases de Biología, uno que ministra clases de
Filosofía y uno que ministra clases de Sociología de los terceros años del enseño medio, totalizando cuatro
profesores. Nos consideramos ciudadanos encorajados a sensibilizar los demás en esta caminata, a través de la
educación, pues la manutención de los bancos de sangre sólo será viable cuando podamos entender este proceso.
Así nuestra historia de vida, nos hice deparar con las siguientes cuestiones-problema que nortean la siguiente
pesquisa: ¿Cuáles las relaciones de la educación con la donación de sangre?, ¿Por qué el actual modelo de
educación no lleva a una conciencia de donación?, Actualmente la educación al donador de sangre acontece a los
moldes de una educación tradicional. Es necesario un trabajo educativo que sensibilice todos los profesionales
para posibilitar cambios, al cual repercutirá en la conscientización de los donadores de sangre como
protagonistas del proceso, bien como la importancia del ato de donación de sangre.
Palabras clave: Educación. Donador de Sangre,Ciudadania.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 CAPÍTULO I - DOAÇÃO DE SANGUE .............................................................................. 17 1.1 HISTÓRIA DA HEMOTERAPIA ..................................................................................... 19 1.1.1 Década de 40 e 50 ............................................................................................................ 21 1.1.2 Década de 60 e 70 ............................................................................................................ 21 1.1.3 Década de 80 até a atualidade .......................................................................................... 22 1.2 LEGISLAÇÃO DO SANGUE ........................................................................................... 24 1.3 TRIAGEM CLÍNICA DE DOADORES DE SANGUE .................................................... 26 CAPÍTULO II - EDUCAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: REFLETINDO
SOBRE A EDUCAÇÃO EM SAÚDE ................................................................................... 30 2.1 PROFESSORES E A RELAÇÃO COM O SABER .......................................................... 32 2.2 EDUCAÇÃO EM SAÚDE................................................................................................. 35 2.3 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E QUALIDADE DO SANGUE: CAPTAÇÃO DE NOVOS
DOADORES ............................................................................................................................ 37 CAPITULO III - REFLETINDO SOBRE CIDADANIA E TRAMAS DA RAZÃO E DOS
MITOS ACERCA DA DOAÇÃO DE SANGUE .................................................................. 43 3.1 CIDADANIA E DOAÇÃO DE SANGUE ........................................................................ 45 3.2 RAZÕES E MITOS RELACIONADOS AO ATO DE DOAR SANGUE ........................ 48 CAPÍTULO IV - OS DADOS DA PESQUISA: O SABER DE ALUNOS E
PROFESSORES SOBRE DOAÇAO DE SANGUE............................................................. 55 4.1 O SABER DOS ALUNOS ................................................................................................. 57 4.1.1 Conhecimento sobre doação de sangue ........................................................................... 57 4.1.2 Mitos sobre doação de sangue ......................................................................................... 60 4.1.3 Cidadania e doação de sangue ......................................................................................... 62 4.2 O SABER DOS PROFESSORES ...................................................................................... 64 4.2.1 Conhecimentos e mitos sobre doação de sangue ............................................................. 64 4.2.2 Doação de sangue e formação de cidadania .................................................................... 67 4.2.3 Educação formal e doação de sangue .............................................................................. 70 5 VISÕES CONCLUSIVAS................................................................................................... 73 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 76 ANEXOS ................................................................................................................................. 81 INTRODUÇÃO
A enfermagem se depara com diferentes mudanças frente às novas expectativas da
população que não estão mais relacionadas somente à questão curativa, mas também à
preventiva, exigindo, desse modo, uma revisão do papel do enfermeiro enquanto integrante de
uma equipe interdisciplinar. Esse novo fator impele o enfermeiro a assumir atribuições
voltadas não apenas ao ato de cuidar, mas também ao de educar.
O trabalho realizado em um hemocentro pertencente à hemorrede pública de Santa
Catarina, localizado na região do planalto Serrano, durante seis anos, sob a função de
enfermeira triagista de doadores de sangue foi o primeiro passo em nossa caminhada
profissional em direção à necessidade de aprofundamento das questões sobre educação,
cidadania e doação de sangue.
A partir dessa experiência, algumas inquietações surgiram, relacionadas ao cotidiano
de nossa prática profissional em hemoterapia com ênfase na importância da educação como
um componente fundamental na busca pela qualidade nas transfusões, pois nos deparamos
com vários tipos de candidatos à doação de sangue.
Optamos pelo “Mestrado em Educação”, na Universidade do Planalto Catarinense,
em razão de que nossa caminhada docente se deu a partir do curso de Magistério, quando já
sentíamos um grande encantamento pela educação. Em seguida, fizemos o curso de
Enfermagem e Obstetrícia que oferecia, na sua grade curricular, a disciplina de didática do
ensino superior, com a proposta de realização de estágio, oportunidade que fez vir à tona a
certeza de que enfermagem e educação constituíam nossa escolha para o futuro profissional,
pois que agregamos a enfermagem e a docência como opção de trabalho e de vida.
Após a conclusão do acima referido curso, iniciamos nosso trabalho em um hospital,
na ala de Obstetrícia. Dentre as funções lá exercidas, desenvolvemos atividades de
orientações educativas às mães. Concomitantemente, nos voltamos à docência em um curso
para a formação de técnicos em enfermagem, no qual ainda atuamos. Quase ao mesmo tempo,
optamos, ainda, pela docência no curso de Graduação em Enfermagem da UNIPLAC.
Considerando a experiência no hemocentro e na docência, percebemos lacunas que
podem interferir na qualidade dos serviços de saúde prestados em hemoterapia, e que
dependem da educação de um modo geral e da educação em saúde, seja da população, ou dos
profissionais envolvidos.
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Na questão específica do sangue, o controle de qualidade tem como meta dois
grandes objetivos que são relacionados a segurança - de quem doa e de quem recebe o sangue,
o que é previsto no arcabouço legal que regulamenta as ações em torno da doação sanguínea.
Nas últimas duas décadas, em muitos países houve aumento significativo da preocupação com
a garantia da segurança transfusional (OPAS, 2002). A Resolução da Organização Mundial de
Saúde (OMS), do ano de 1999, deu prioridade à segurança do sangue e recomendou “que se
promova o desenvolvimento dos programas nacionais de sangue e serviços de transfusão, com
base na doação voluntária, altruísta e repetida de sangue, como um dos indicadores de
desenvolvimento humano da população”. A mesma linha foi seguida para o ano de 2000,
sendo tema do Dia Mundial da Saúde da OMS (PERIAGO, 2003).
Assim, é importante salientar que a regulamentação sobre o uso do sangue visa a
atender às necessidades da população através da distribuição de sangue seguro, em relação ao
doador há diferentes aspectos, sendo que a doação de sangue deve ser voluntária, anônima,
altruísta e não remunerada, direta ou indiretamente (BRASIL, 2004). É justamente nesse
aspecto que reside o principal componente educativo da população.
Nesse sentido, para compreender e elucidar a interferência dos processos educativos
no cotidiano da doação de sangue, é necessário esclarecer algumas etapas pelas quais o
doador de sangue passa para efetivar-se a doação, e, também levarem consideração que nessa
atividade o enfermeiro se depara com vários tipos de candidatos à doação, com graus
diferentes de conhecimentos e expectativas diversas em relação ao ato de doar.
Iniciamos esse detalhamento pela triagem clínica que é uma das etapas mais
importantes do ciclo do sangue1, e que consiste numa entrevista na qual se estabelece o
contato inicial direto e pessoal entre enfermeiro e candidato à doação de sangue. Este
momento permite constatar os motivos que levam uma pessoa a quere doar seu sangue, como,
por exemplo, a solidariedade, a necessidade de repor sangue para um familiar, obter
resultados de exames, bem como levantar algumas crenças e mitos que envolvem a doação
como: doar engorda ou emagrece; afina ou engrossa o sangue, entre outros.
A triagem clínica é fundamental no processo do “ciclo do sangue”, porque a
prevenção da transmissão de doenças - a exemplo da Hepatite B e C, HIV – 1 e 2 (Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida), Doença de Chagas, Sífilis, HILVI e II (Vírus linfotróficos de
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Ciclo do sangue corresponde ao processo de doação de sangue realizado num hemocentro que envolve várias
etapas desde o cadastro do candidato à doação, passando pela triagem clínica do doador até a distribuição do
sangue processado para as instituições de saúde.
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células T Humana I) - é um dever daqueles que trabalham com o processo de doação
sanguínea.
Um dos fatores que fundamentam o trabalho de triagem clínica é a possibilidade de o
sangue do doador estar contaminado e de os testes que são realizados após a doação
apresentarem resultados falso-negativos. Isso ocorre geralmente com indivíduos que foram
infectados recentemente e estão no período chamado de “Janela Imunológica” - período no
qual uma pessoa infectada não apresenta anticorpos detectados pelo método de triagem
sorológica, porém é infectante (BRASIL, 2004).
Na entrevista da triagem clínica é possível identificar as situações de risco
vivenciadas por essas pessoas e a possibilidade de estar em “Janela Imunológica”.
Exemplificando no caso da AIDS; a janela imunológica é o termo que designa o intervalo
entre a infecção pelo vírus da AIDS e a detecção de anticorpos anti-HIV no sangue através de
exames laboratoriais específicos. Estes anticorpos são produzidos pelo sistema de defesa do
organismo em resposta ao HIV, o que indica, nos exames, a confirmação da infecção pelo
vírus. Para o HIV, o período da janela imunológica é normalmente de duas a oito semanas,
mas em alguns casos pode ser mais prolongado (BRASIL, 2004).
Se um teste de detecção de HIV é feito durante o período da janela imunológica, há
possibilidade de um resultado falso-negativo, caso a pessoa esteja infectada pelo vírus,
portanto, é necessário fazer um novo teste, dentro de dois meses. Nesse período, ocorre a soro
conversão se a pessoa estiver infectada.
É importante, também, nesse período de janela imunológica, que a pessoa não passe
por nenhuma situação de risco, pois, caso esteja infectada, poderá transmitir o vírus a outras
pessoas. Assim, ao cidadão interessado em doar sangue, precisa compreender que esse
processo, por mais que seja imbuído de boas intenções por parte de quem doa o sangue, pode
oferecer riscos para quem o recebe.
Para os profissionais que atuam nos bancos de sangue compete informar, orientar e
esclarecer, ou seja, promover o caráter educativo que permeia a doação, visando assim a
segurança transfusional. Porém, esse estudo pretende refletir sobre a importância dos
processos educativos que vão além do momento de triagem clínica de doadores, tendo em
vista a criação de uma consciência para doação como um ato de cidadania, na população em
geral. Formar uma consciência para doação de sangue é responsabilidade da sociedade como
um todo; nesse sentido buscamos refletir sobre o papel da escola nesse contexto.
Assim, no decorrer do mestrado, as inquietações vivenciadas no hemocentro ficaram
evidentes como possível proposta de pesquisa. Nossa colcha de retalhos começou a ser
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alinhavada sob o tema do processo educativo e a doação de sangue, envolvendo tramas das
razões e dos mitos, pois entendemos que a relação entre saúde e educação pode favorecer a
formação de um perfil de cidadãos mais conscientes no que se refere ao processo de doação
de sangue.
Assim, a presente pesquisa pressupôs que a escola, em relação ao processo de doação
de sangue, por mais que se preocupe com alguns âmbitos da cidadania, não oferece o suporte
necessário para essa questão nos espaços de educação formal.
Mais do que sensibilizar para a importância da doação de sangue, é preciso criar uma
consciência de doador em meio a uma sociedade que tem medo de doar. Foi pensando nisso
que a Hemorrede Pública de Santa Catarina, por meio do Centro de Hematologia e
Hemoterapia de Santa Catarina - HEMOSC implantou o Projeto Escola, uma alternativa que
busca quebrar tabus e desmistificar medos e preconceitos a respeito da doação sanguínea. Ou
seja, educar os doadores do presente e do futuro (HEMOSC, 2008).
O Projeto Escola trata-se de um trabalho que tem por objetivo principal a
disseminação, na cultura brasileira, do hábito da doação voluntária de sangue, realizando
atividades para a concretização desse objetivo, com a informação, a conscientização e a
formação do jovem - o doador do amanhã. Nesse processo, entende-se a necessidade de
envolver todos os estabelecimentos de ensino no programa de doação e treinar profissionais
de saúde e educação para se tornarem agentes multiplicadores da captação de doadores
(HEMOSC, 2008).
Compreendemos que mudanças não se dão de imediato, e sim através de um
processo educativo voltado à complexa problemática que envolve as questões educação/saúde
de forma geral, e educação/doação de sangue de forma específica. Porém, é possível
sensibilizar professores e alunos quanto ao seu papel de cidadãos frente à doação de sangue.
Assim, a presente pesquisa poderá se constituir em instrumento de mudança da situaçãoproblema dos hemocentros, cuja principal dificuldade é a de encontrar doadores voluntários.
A ausência deles contribui, em muitos momentos, para a falta de sangue aos receptores e
estes, portanto, correm risco de morte caso não recebam a quantidade de sangue necessária.
Por meio desse estudo, para além de sermos educadora e enfermeira, consideramonos cidadãos encorajados a sensibilizar os demais nessa caminhada através da educação, pois
a manutenção dos bancos de sangue só será viável quando a sociedade como um todo
entender esse processo. Pensamos como Freire (1996, p. 107), a esse respeito. Para o
pensador, o
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[...] exercício da cidadania não é algo mágico. Ao pronunciarmos a palavra
cidadania não significa que somos cidadãos. O exercício da cidadania é
expressamente um ato político. O educador e a educadora devem ter consciência de
que sua ação como alfabetizadora é uma ação política que deve estar comprometida
com a produção da cidadania. Assim é dever da educadora e do educador o
comprometimento com a formação da cidadania.
Assim, nossa história de vida fez-nos deparar com as seguintes questões-problema
que nortearam a pesquisa:
• Quais as relações da educação com a doação de sangue?
• Como se dá a práxis dos professores em relação à saúde e seus vínculos com a cidadania?
• Que valores estão implícitos na doação de sangue?
• Por que o atual modelo de educação não leva a uma consciência de doação?
Como é possível observar, as questões problema da pesquisa envolveram duas
frentes que se complementam em torno da temática pesquisada: o doador e a escola.
Acreditamos que a educação seja uma forma de intervenção significativa no mundo,
pois, se o diálogo se estabelecer entre professor e aluno, estes aprendem a identificar possíveis
doadores, oportunizando, desse modo, um novo perfil de candidato à doação de sangue,
exercendo as múltiplas faces da cidadania de forma comprometida, ética e social.
Assim, destacamos como objetivo geral da pesquisa: Analisar os processos
educativos envolvidos na doação de sangue a partir do entendimento de professores e alunos
do ensino médio, buscando identificar as relações entre cidadania e doação de sangue.
Os objetivos específicos da pesquisa foram:
a) Conhecer as concepções de professores e alunos no que se refere à cidadania e suas
relações com a doação de sangue;
b) Identificar as práticas pedagógicas relativas à educação à cidadania e ao processo de
doação de sangue;
c) Analisar razões, mitos e a cidadania existentes no processo de doação de sangue.
A metodologia da pesquisa voltou-se para o desvendar do conhecimento da realidade
e a interação dos assuntos pertinentes à doação de sangue e cidadania. Nesse sentido, o estudo
teve baseou-se numa abordagem qualitativa, cuja metodologia envolveu uma busca teóricobibliográfica e documental, por esta razão, usamos,
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[...] estratégias metodológicas que possibilitem originar informações a partir de
pessoas diretamente vinculadas com a experiência estudada, portanto não podem ser
controladas e generalizadas (LEOPARDI, 2001, p. 224).
A pesquisa qualitativa que, de acordo com Minayo (2004), trabalha com valores,
hábitos, crenças, atitudes e opiniões tem por objetivo o aprofundamento em processos
particulares e específicos a certos indivíduos e grupos. No que se refere, especificamente, à
pesquisa quantitativa, o objetivo é desvelar indicadores e tendências observáveis e, assim, é
possível indicar que esse tipo de pesquisa caracteriza-se pela complementaridade.
Também foi utilizada a pesquisa descritiva que, segundo Kotler (1994, p. 24), “é o
modelo adotado quando o objetivo é descrever as características de grupos, estimar a
proporção de elementos em uma população específica que tenha determinadas características
ou comportamentos”. Para Leopardi (2001), a pesquisa descritiva caracteriza-se por explorar
uma realidade, identificando suas características, sua mudança ou sua regularidade. A
pesquisa descritiva aplicada é do tipo “levantamento”, tendo como finalidade levantar as
crenças, as preferências e a satisfação das pessoas em relação ao objeto de estudo (KOTLER,
1994).
Esta pesquisa também foi classificada como de campo. Os instrumentos de pesquisa
utilizados foram a entrevista e o questionário. De acordo com Marconi e Lakatos (1999), a
pesquisa de campo tem como objetivo a obtenção de informações e/ou conhecimentos acerca
de um problema para o qual se busca uma resposta, ou ainda, descobrir novos fenômenos ou
as relações entre eles. De acordo com os autores, “a pesquisa de campo consiste na
observação de fatos e fenômenos tal como ocorrem espontaneamente, na coleta de dados a
eles referentes e no registro de variáveis que se presume relevantes, para analisá-los”
(MARCONI; LAKATOS, 1999, p. 85).
O cenário da pesquisa foi uma escola da rede estadual de ensino, com trinta e três
turmas de Ensino Fundamental, quinze turmas do Ensino Médio e sete turmas de Magistério.
Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos de forma intencional, com base em critérios préestabelecidos, e que aceitassem participar voluntariamente do estudo, a saber, professores e
alunos da escola supracitada:
Quanto aos critérios para a escolha dos professores, foram convidados a participar da
pesquisa dois deles que ministram aulas de Biologia, um que ministra aula de Filosofia e um
que ministra aula de Sociologia nas três (3) séries do Ensino Médio, totalizando 4 professores.
Cumpre observarmos que os conteúdos de Sociologia e Filosofia são ministrados somente nas
turmas de primeiro e terceiro ano e, no segundo ano, somente o conteúdo de Sociologia.
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Os critérios para a escolha da escola fundamentaram-se no fato de ser instituição de
ensino pública estadual, que possui professores com formação específica na área, que
ministram as disciplinas de biologia, sociologia e filosofia, e oferecem turmas de 3ª ano do
Ensino Médio.
Quanto aos alunos, foram convidados a participar 19 alunos, com no mínimo 18 anos
de idade, de uma turma de 3ª ano do Ensino Médio da escola pesquisada – turma escolhida de
forma aleatória, pois são jovens pré-candidatos ao processo de doação de sangue,
considerando que a idade mínima para doar sangue preconizada legalmente é 18 anos
(BRASIL, 2004). O único critério de escolha além da idade foi uma turma que já estudou as
disciplinas elencadas.
Como técnica de coleta de dados, utilizou-se a entrevista, guiada por um plano para
que, no momento em que ela ocorresse, as informações necessárias não deixassem de ser
colhidas. Com os professores as entrevistas tiveram o caráter exploratório, ou seja,
relativamente estruturada por meio de algumas questões norteadoras. Com os alunos a
entrevista teve caráter de coleta de informações, altamente estruturada, por meio de um
questionário.
O Questionário, numa pesquisa, é um instrumento ou programa de coleta de dados.
Se sua confecção é feita pelo pesquisador, seu preenchimento é realizado pelo informante.
A linguagem utilizada no questionário deve ser simples e direta para que o respondente
compreenda com clareza o que está sendo perguntado. Não é recomendado o uso de gírias, a
não ser que se faça necessário por necessidade de características de linguagem do grupo
(MINAYO, 2002).
Assim, lançando mão de tais instrumentos de pesquisa, obtivemos tanto dados
detalhados quanto a quantidade necessária para que pudéssemos estabelecer uma análise de
qualidade científica.
Os dados coletados nas entrevistas foram registrados em gravador digital e
posteriormente transcritos em arquivo eletrônico para facilitar a análise dos dados. Os dados
levantados por meio do questionário (ANEXOS A e B) foram organizados também em
arquivo eletrônico.
Em relação aos aspectos éticos, a pesquisa seguiu as normativas da Resolução 196/96
CNS sobre pesquisa com seres humanos e foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Uniplac. A participação dos sujeitos foi voluntária, com adesão por meio de Consentimento
Livre e Esclarecido (Modelo de TCLE, Anexo C). Foram respeitados o sigilo e o anonimato
dos participantes e a pesquisa não ofereceu riscos relativos à intervenção em seres humanos.
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Assim, a presente dissertação estrutura-se em seis partes. Na introdução,
apresentamos nossa trajetória de vida e profissional que nos levaram ao Mestrado em
Educação e ao direcionamento da pesquisa para o processo de doação de sangue; a
metodologia da pesquisa e a estruturação desta dissertação.
No capítulo I, abordamos a doação de sangue que deve ser um ato de cidadania
voluntária e consciente. Nesta etapa, trabalhamos a história da hemoterapia desde a década de
40 até a atualidade; a legislação do sangue sobre as normas técnicas para a coleta e o controle
de qualidade do sangue e a triagem clínica de doadores de sangue que instrui aos doadores os
benefícios que a doação de sangue traz ao indivíduo.
No capítulo II, tratamos sobre a formação de professores, refletindo a respeito da
formação continuada e das necessidades que surgem no cotidiano dos docentes; enfatizamos a
relação com o saber e a formação dos professores, transformando, assim, o saber em
consciência sobre o mundo social da vida. Abordamos, também, a educação em saúde que
traz conhecimentos e visões novas capazes de modificar o que está errado tendo em vista a
reversão do modelo de atenção e a garantia da qualidade dos serviços.
No capítulo III, abordamos a questão da cidadania e as tramas da razão e mitos que
permeiam o processo de doação de sangue.
No Capítulo IV, apresentamos a análise dos dados coletados por meio das entrevistas
e questionários junto aos sujeitos da pesquisa e, finalizamos nossas considerações em Visões
Conclusivas a respeito deste trabalho e dos resultados obtidos com a pesquisa.
Na sequência, relacionamos os referenciais que embasaram nossas discussões e,
ainda, os anexos e apêndices relacionados ao trabalho de pesquisa de campo.
CAPÍTULO I - DOAÇÃO DE SANGUE
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A doação de sangue está intimamente ligada a processos educativos, pois o sucesso
de uma transfusão de sangue depende, entre outros fatores, de como a população e o
candidato à doação está instruído sobre o processo. No contexto da triagem clínica o processo
educativo ocorre por meio do diálogo entre enfermeira e doador de sangue, durante o qual se
estabelece através de trocas de informações relacionadas à vida do doador, como:
antecedentes familiares, contatos sexuais, alimentação, hábitos de vida, medicações etc.
Informações estas que determinam se a coleta de sangue vai acontecer ou não.
Dentre os problemas que consideramos relevante ressaltar nesta pesquisa está o fato
de termos percebido na triagem clínica que muitos candidatos à doação não compreendiam “o
processo de doação” e sua real importância, o que também foi apontado nos estudos de
Bellato(2001), Kutner (1998).
A doação de sangue deve ser um ato de cidadania voluntária e consciente, porém a
realidade vivenciada na Triagem Clínica demonstra que muitos candidatos à doação ainda não
possuem informações referentes ao processo de doação e fazem questão de doar sangue para
receber benefícios como um dia de folga do trabalho ou o resultado do exame de HIV.
A Triagem Clínica consiste em uma entrevista com o candidato à doação realizada
no dia da doação em um ambiente que garanta privacidade e sigilo das informações prestadas
pelo doador. Nesse momento, o triagista avalia os antecedentes históricos e o estado atual de
saúde do candidato à doação de sangue, para determinar se a coleta pode ser realizada e que
isso permita a transfusão dos hemocomponentes ao receptor.
Durante nosso trabalho no Hemocentro, porém, no diálogo com o doador, pudemos
constatar que muitos candidatos à doação de sangue têm várias dúvidas relacionadas aos
benefícios ou ao processo de doação, duvidas estas que surgem por falta de informações
prévias. Das mais frequentes, destacamos: doar sangue engorda ou emagrece? Se doar a
primeira vez, sempre tenho que doar sangue? Estou doando sangue para fazer o teste HIV,
pois me informaram que aqui é gratuito etc.
Preocupando-nos com esta vivência, julgamos necessário buscar parceria na
“educação”, pois acreditamos que, se trabalharmos também o tema doação de sangue nos
currículos escolares, poderemos esclarecer ao futuro doador muitas informações equivocadas,
propiciando, desse modo, um perfil diferente de candidatos à doação, garantindo, portanto,
transfusões de sangue com maior segurança aos receptores e diminuindo a falta de doadores
nos hemocentros.
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1.1 HISTÓRIA DA HEMOTERAPIA
Podemos dizer que a história da hemoterapia aconteceu em duas fases: a empírica e a
científica. Na fase empírici, a hemoterapia ocupou um espaço entre o científico e o místico.
Na Grécia, os gregos reconheciam que a retirada do chamado “sangue ruim” era prática
frequente para as mais diversas doenças; defendiam que a transfusão de sangue de um homem
jovem para outro velho e debilitado poderia conferir a este último juventude e vigor
(SERINOLLI, 1999).
De acordo com Serinolli (1999), em 1615, o médico saxão Andrés Libavius
descreveu uma técnica de transfusão de sangue, embora não haja provas de que ele tenha
realizado o procedimento. Acredita-se que o conceito de transfusão de sangue não poderia ter
surgido antes da descrição do sistema circulatório no corpo, descoberto em 1616, por Willian
Harvey. A partir deste momento, a Hemoterapia começou a chamar a atenção dos estudiosos
da saúde para a possibilidade da transfusão.
O primeiro caso de transfusão de animais em humanos aconteceu em 1667,
procedimento justificado na época, em razão da crença de que o sangue animal era menos
contaminado pelas paixões e vícios. Esse procedimento, no entanto, foi considerado
criminoso e foi proibido, pois o homem que recebeu o sangue animal foi a óbito logo após as
três transfusões realizadas. Em 1817, James Blundell e John Leacok defenderam a transfusão
em animais da mesma espécie. Blundell, obstetra e fisilogista, em 1818, realizou a primeira
transfusão de sangue em humanos para fins terapêuticos motivado pelo fato de ter perdido
muitos pacientes por hemorragia, o que o levou a tentar a transfusão de sangue entre
humanos.
O referido obstetra observou que a morte por hemorragia poderia ser prevenida com
a reposição de sangue e somente sangue humano poderia ser utilizado nesse processo;
identificou que o sangue arterial era tão eficaz quanto o sangue venoso (KUTNER, 1998). No
final do século XIX, apesar dos avanços realizados por Blundell, os problemas relacionados à
transfusão sanguínea eram significativos. Para Serinolli (1999), os problemas com a
coagulação do sangue e de reações transfusionais estimularam a utilização de leite de animais
como substituto do sangue, porém, devido às reações adversas e o aparecimento da solução
salina em 1884, foi suspenso o uso do leite nesses casos.
Já na fase científica, de acordo com Serinolli (1999), no início do século XX ainda
eram efetivadas transfusões empiricamente, ou seja, sem a realização dos exames prévios de
compatibilidade. A transfusão de sangue era feita através de técnicas rudimentares,
20
diretamente do doador para o organismo do receptor, historicamente conhecida como “doação
braço a braço” (KOECHE, 2000, p. 48).
Com os avanços da medicina transfusional, em 1901, Karl Landsteiner descobriu os
grupos sanguíneos ABO e, em 1907, foi realizada a primeira transfusão precedida dos exames
de compatibilidade ABO. Alguns anos depois, estudiosos descobriram o fator RH,
desenvolveram as soluções anticoagulantes e preservantes do sangue, novos tipos de sangue
foram descobertos, as bolsas de sangue foram criadas e a medicina transfusional como
especialidade médica foi reconhecida legalmente. Sucessivos achados imunohematológicos
colaboraram para a difusão do uso do sangue nas terapias, tornando as transfusões um
processo rotineiro.
Apesar de tudo isso, os historiadores consideram como determinantes para o
desenvolvimento da medicina transfusional no século XX as duas guerras mundiais, as
guerras da Coréia e do Vietnã e, mais recentemente, a epidemia da AIDS. Serinolli (1999)
ainda afirma que o grande desenvolvimento dos bancos de sangue deu-se durante e após a
Segunda Guerra Mundial. O banco de sangue da Cruz Vermelha norte-americana prestou sua
contribuição para suprir as necessidades de sangue e derivados durante o período de guerra,
organizou programas de coleta de sangue especialmente para a produção do plasma liofilizado
devido a sua facilidade de uso e conservação. Diluído com água destilada, o plasma mantinha
a volemia dos soldados gravemente feridos. No final da Guerra, os 27 bancos da Cruz
Vermelha americana, antes voltados para atividades militares, passaram a atuar junto à
comunidade civil.
Segundo Parker et al. (1994), a descoberta do HIV (vírus da Imunodeficiência
Adquirida) representou um marco na hemoterapia mundial. Em 1983, foi publicada a primeira
descrição de caso suspeito de transmissão do vírus da Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS) por transfusão de sangue, fato confirmado em 1984.
Para Parker et al. (1994, p. 308): “[...] a AIDS determinou nesta situação histórica a
‘politização do sangue’ e os limites da pressão pela mobilização da sociedade civil, tanto para
a redefinição das Políticas Nacional e Estadual de Sangue, como para a reorganização da
Política Nacional de Saúde”. A ocorrência de casos de AIDS transfusional fez com que
inúmeros bancos de sangue fossem fechados e condições mínimas de funcionamento exigidas.
O aparecimento da AIDS, a descoberta de sua possível transmissão por transfusão de
sangue e a ausência de testes laboratoriais que permitissem sua detecção fizeram com que a
identificação dos candidatos à doação e, principalmente, a triagem clínica dos candidatos à
21
doação assumisse papel preponderante no processo de doação e na determinação da segurança
das transfusões.
1.1.1 Década de 40 e 50
Na década de 40, de acordo com Koeche (2000, p. 12), uma nova era marcava a
história das transfusões:
Estudiosos concluíram que elas não apenas salvavam vidas, mas também podiam
transmitir doenças como sífilis e hepatite. Juntamente a outros métodos de controle,
iniciou-se, então, a triagem do sangue doado por meio de exames para possível
detecção de agentes causadores de doenças infecto-contagiosas transmitidas pelo
sangue. Na tentativa de evitar a transmissão dessas doenças, bem como de prevenir
descobertas desastrosas de novos agentes causadores de doenças letais, vários esforços
foram concentrados no intuito de controlar adequadamente a qualidade dos
hemocomponentes produzidos.
Serinolli (1999) afirma que, no contexto brasileiro, na referida década, foram criados
os primeiros bancos de sangue: o banco do Hospital Fernandes Figueiredo, no Rio de Janeiro,
em 1941, e o Banco de Sangue da Prefeitura do Distrito Federal, em 1945. Dando segmento a
esta trajetória, em 1949 foi criada a Associação dos Doadores Voluntários de Sangue do Rio
de Janeiro e, mais tarde, em âmbito nacional.
No ano de 1950, foi instituída a primeira Lei Federal (Lei 1.075 de 27/03/1950) que
tratava do sangue. Esta legislação incentivou a doação, pois determinava que todo funcionário
público, civil ou militar, que doasse “voluntariamente” o sangue teria o seu dia de trabalho
abonado. Caso o doador não fosse funcionário público, o seu nome seria incluído “entre os
que prestaram serviços relevantes à sociedade e à Pátria” (BELLATO, 2001, p. 78). Os
serviços de sangue não eram fiscalizados, permitindo aos bancos de sangue privados tornar o
sangue um produto lucrativo, havendo, desse modo, doação voluntária e doação remunerada.
1.1.2 Década de 60 e 70
A partir da década de 60 foi necessário investir nos recursos humanos, pois novas
técnicas de conservação e fracionamento do sangue foram criadas e oportunamente surgiram
as indústrias de hemoderivados, visando a obtenção de lucro com o sangue. Este, na referida
época era, muitas vezes, contrabandeado, principalmente nos países que não permitiam seu
comércio.
No Brasil, também na década de 60, na cidade do Rio de Janeiro, a coleta de sangue
era realizada indiscriminadamente, optando-se por pessoas de baixo poder aquisitivo que
22
vendiam seu sangue, sendo que repetidas vezes ocorreram casos de indivíduos doarem sangue
em um banco de sangue e receberem transfusão em outros serviços para terem condições de
doar novamente em troca de dinheiro. O mais grave desta situação é que muito desses
doadores eram portadores de hepatite, sífilis, entre outras patologias transmitidas pelo sangue.
Os problemas graves ocorridos no Brasil àquela época preocuparam a Organização
Mundial da Saúde (OMS), sendo que, em 1969, uma missão chefiada pelo Professor Pierri
Cazal, da França, experiente em questões do sangue, ao chegar ao Brasil, visitou vários
serviços hemoterápicos considerados de baixa qualificação técnico-científica, nos quais 70%
dos doadores eram remunerados, indicando a necessidade de reformular a hemoterapia
nacional (SERINOLLI, 1999).
O mesmo autor relata que, no final da década de 60, mais de 50% dos pacientes
hemofílicos estavam contaminados com hepatite B. Com a introdução dos testes no início de
1970, houve diminuição dos casos de hepatite pós-transfusional.
Com a criação da Associação Brasileira de Doadores Voluntários (ABDVS), foi
instituído o Dia Nacional do Doador de Sangue, através do Decreto Lei n° 53988, de
30/06/1964.
De acordo com Bellato (2001), em 1965, foi criada a Comissão Nacional de
Hemoterapia (CNH), responsável por grande parte da legislação do setor hemoterápico, em
vigor até hoje e, também, as bases da Política Nacional de Sangue, através da Lei 4.701, de
28/06/65. Em 1975, com a publicação da Resolução n° 1/75, no Diário Oficial da União, com
data de 04/07/1975, foram especificados alguns procedimentos em relação ao sangue humano
e seus derivados, só podendo ser empregados como meio terapêutico, profilático ou
diagnóstico depois de terem sido submetidos a provas laboratoriais adequadas, cujos
resultados mostravam a não reatividade para o vírus da hepatite B e informações para sífilis e
Doença de Chagas.
Ainda assim, ao final da década de 70, o controle dos serviços era realizado quase
que totalmente pelos bancos privados, nos quais predominava a doação remunerada. Não se
faziam exames sorológicos para detectar doenças transmitidas pelo sangue, portanto, pouco
progresso ocorreu neste período.
1.1.3 Década de 80 até a atualidade
De acordo com Serinolli (1999), desde 1969 a Missão Cazal, enviada pela OMS,
tinha como proposta a criação de um órgão técnico central que se encarregasse do controle,
23
normatização e formação de pessoal no campo da hemoterapia, incentivando as pesquisas
científicas nessa área. Somente em 07/04/1980 foi criado o Programa Nacional do Sangue e
Hemoderivados, o Pró-Sangue, com o objetivo de reorganizar, ampliar e desenvolver as
atividades hemoterápicas, além de incentivar a doação voluntária não remunerada, visando à
finalidade social da coleta de sangue. A estratégia básica de implementação do Pró-Sangue
era a implantação da rede nacional de hematologia e hemoterapia, os Hemocentros
Coordenadores nas Capitais e, posteriormente, os Hemocentros Regionais, sob a coordenação
do primeiro, com a exigência de profissionais médicos especialistas em hematologia e
hemoterapia.
O aparecimento da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), no início dos
anos 80, e a descoberta da sua possível transmissão por transfusão de sangue, bem como a
ausência de testes laboratoriais que permitissem sua detecção, fizeram com que a
identificação dos candidatos à doação e, principalmente, a Triagem Clínica, assumissem papel
preponderante no processo de doação e na determinação da segurança das transfusões. A
população em geral preocupou-se e buscou informações seguras.
Com a política de descentralização e a ausência de medidas do Governo Federal, os
Estados do Rio de Janeiro e São Paulo iniciaram a reformulação de suas políticas na área da
hemoterapia. No Rio de Janeiro, em 1985, a doação remunerada foi proibida. E São Paulo foi
pioneiro em determinar medidas visando à redução de incidência de AIDS por via
transfusional, sendo, em 1986, estabelecida a obrigatoriedade do Teste anti-HIV em todo
sangue utilizado para fins hemoterápicos, medida esta adotada por meio da Lei 5.190, em
1987, pelo Governo do Rio de Janeiro.
A determinação Federal para a realização dos testes como obrigatórios vigorou
somente a partir de 1988. Infelizmente, muitos Estados não seguiram esta normatização por
problemas financeiros, ocasionando a propagação da AIDS.
A pressão da sociedade civil foi de fundamental importância para que as políticas de
saúde do sangue despertassem a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, o Comitê
Pacto de Sangue e o Tribunal Henfil, em São Paulo, os quais foram exemplos de luta,
exigindo medidas imediatas para que se eliminasse o descontrole sobre o sangue no Brasil.
No Programa de Prioridades Sociais, aprovado em 1985, pela Presidência da
República, entre os aspectos considerados, situava-se a Política Nacional do Sangue. Esse
programa visava a alocação de recursos financeiros, objetivando a complementação de
Centros de Hemoterapia e Hematologia, abrangendo todas as capitais do país e algumas
regiões de menor complexidade no interior dos Estados. O sistema de unidades hemoterápicas
24
recebeu a seguinte classificação, de acordo com sua complexidade: Hemocentro Coordenador,
Hemocentro Regional, Hemonúcleo, Unidade de Coleta e Transfusão, Posto de Coleta,
Unidade Sorológica e Agência Transfusional.
Seguindo as diretrizes do Plano Nacional de Sangue e Hemoderivados –
PLANASHE, a então denominada Coordenação de Sangue e Hemoderivados do Ministério da
Saúde (COSAH) -, em 20 de julho de 1987 foi criado, em Santa Catarina, o HEMOSC Centro de Hematologia e Hemoterapia -, através do Decreto-Lei Estadual n° 272, com o
objetivo principal de prestar atendimento hemoterápico de qualidade à população da região,
bem como dar assistência aos pacientes portadores de doenças hematológicas (hemofilia e
hemoglobinopatias). Em 1989, essa área e quadro funcional foram ampliados, embasados no
Decreto-Lei n° 3.015, a partir da criação do Sistema Estadual de Hematologia e Hemoterapia,
cujo objetivo era o de promover a interiorização das ações relativas ao uso do sangue para fins
terapêuticos. Dentre esses objetivos priorizou-se o incentivo à doação voluntária do sangue;
medidas de proteção à saúde do doador e receptor; medidas para disciplinar a coleta e controle
de qualidade; condições de estocagem e distribuição dos hemocomponentes, bem como
promover o desenvolvimento de conhecimento científico e tecnológico na área (BELLATO,
2001).
Nessa época, no Brasil, a rede de serviços públicos era orientada a partir da Gerência
Geral de Sangue e Hemoderivados/ANVISA (Agência Nacional de Vigilância do Sangue).
Na década de 90, o HEMOSC de Florianópolis tornou-se o Hemocentro
Coordenador, tendo como unidades auxiliares os Hemocentros Regionais localizados em
cinco municípios pólo: Lages, Joaçaba, Chapecó, Criciúma e Joinvile, formando a Hemorrede
Pública de Santa Catarina. O primeiro Hemocentro Regional implantado foi o de Lages.
1.2 LEGISLAÇÃO DO SANGUE
Com uma história tão conturbada na hemoterapia mundial e também brasileira,
diante da busca constante pela qualidade dos serviços hemoterápicos, no Brasil, somente em
1993 a legislação passou a ser mais rigorosa, com a Portaria 1376/93, que determinou as
normas técnicas para coleta, processamento e distribuição do sangue, e da Portaria 121/95,
que expressou a necessidade de cumprir as etapas do controle de qualidade do sangue. Nesse
sentido, diversos exames sorológicos foram introduzidos gradativamente na análise do sangue
humano para doação.
25
As ações de todos os profissionais que atuam na área da hemoterapia devem voltar-se
ao cumprimento das determinações do Ministério da Saúde, norteadas pela Resolução da
Diretoria Colegiada, RDC nº. 153, de 14 de julho 2004, a qual determina o Regulamento
Técnico para os procedimentos hemoterápicos (BRASIL, 2004). Esse regulamento prevê
procedimentos visando o sangue seguro e envolvem: a coleta, o processamento, a testagem, o
armazenamento, o transporte, o controle de qualidade e o uso humano do sangue e seus
componentes, obtidos do sangue venoso, do cordão umbilical, da placenta e da medula óssea.
Em relação ao doador, a legislação preconiza diferentes aspectos, sendo que a doação
de sangue deve ser voluntária, anônima, altruísta e não remunerada, direta ou indiretamente.
Por anonimato de doação entende-se a garantia de que nem os receptores saibam de qual
doador veio o sangue que ele recebeu, nem os doadores saibam o nome do paciente que foi
transfundido com componentes obtidos a partir da doação, exceto em situações tecnicamente
justificadas (BRASIL, 2004).
O sigilo das informações prestadas pelo doador antes, durante e depois do processo
de doação de sangue deve ser absolutamente preservado. Todo candidato à doação de sangue
deve assinar um termo de consentimento livre e esclarecido, no qual declara expressamente
consentir em doar o seu sangue para utilização em qualquer paciente que dele necessite e
consentir, também, na realização de todos os testes de laboratório exigidos pelas leis e normas
técnicas vigentes. O doador deve, ainda, consentir que seu nome seja incorporado a um
arquivo de doadores potenciais, se for o caso. A referida resolução relata, também, a
obrigatoriedade de que seja entregue ao candidato à doação material informativo sobre as
condições básicas para a doação e sobre as doenças transmissíveis pelo sangue. Esse material
deve ainda mostrar ao candidato a importância de suas respostas na triagem clínica e os riscos
de transmissão de enfermidades infecciosas pela transfusão de sangue e componentes
(BRASIL, 2004).
Na citada Resolução, preconizam-se critérios que visam à proteção do doador, entre
os quais citamos: idade, frequência e intervalo entre as doações, doenças atuais ou anteriores,
medicamentos, peso, sinais vitais, gravidez, jejum e alimentação, alcoolismo, alergia e
atividades; e critérios que visam à proteção do receptor, como, por exemplo, aspecto geral,
temperatura, imunizações e vacinação, local de punção venosa, transfusões, doenças
infecciosas, enfermidades virais, malária, doadores com risco acrescido para AIDS, doença de
Chagas, Doença de Creutzfeldt-Jakob, enfermidades bacterianas, estilo de vida e cirurgias.
A legislação abordam também as principais causas de inaptidão definitiva para
doação de sangue; principais causas de inaptidão temporária para doação de sangue;
26
principais medicamentos e sua correlação à doação de sangue; principais doenças infecciosas
e sua correlação com a doação de sangue; principais cirurgias e sua correlação com a doação
de sangue; principais vacinas e sua relação com a doação de sangue (BRASIL, 2004).
O não cumprimento das normas estabelecidas nesta Resolução constitui infração
sanitária, sujeitando o infrator às penalidades previstas na Lei n° 6.437, de 20 de agosto de
1977. O serviço de hemoterapia deve estabelecer um programa de controle de qualidade
interno e participar de programas de controle de qualidade externos para assegurar que as
normas e os procedimentos sejam apropriadamente executados.
1.3 TRIAGEM CLÍNICA DE DOADORES DE SANGUE
O esforço constante para reduzir os riscos relacionados à transfusão de sangue vem
incentivando a organização de serviços e procedimentos voltados para a seleção de doadores
em condições adequadas de saúde, isto é, de acordo com o que preconiza a legislação e com
as habilidades do triagista em fazer a entrevista.
É a partir desse momento de transição na história da hemoterapia que a enfermagem
começa a desempenhar papel importante. Com a criação dos hemocentros, a enfermagem
ampliou o seu campo de atuação, exercendo a função inicial de organizar, juntamente com
outros profissionais, essa estrutura que hoje se apresenta ampliada em hemorrede e,
posteriormente, atuando na triagem clínica dos doadores, contemplando, desse modo, a
necessidade de profissionais que façam cumprir com o maior rigor as questões relacionadas
ao desempenho dessa função (KOECHE, 2000).
Faz-se importante ressaltar que, segundo Kutner (1998), a Triagem Clínica foi
originalmente introduzida com a intenção de reduzir a transmissão de hepatite viral por
transfusão.
De acordo a RDC n° 153/2004, a triagem clínica pode ser exercida por profissionais
de nível superior na área da saúde, sob supervisão de um médico, quando não realizada pelo
médico. Constitui-se de uma entrevista, na qual o(a) triagista faz uma avaliação da história
clínica e epidemiológica, do estado de saúde e dos hábitos e comportamentos do candidato à
doação para determinar se ele está em condições de doar sangue sem que haja prejuízo a sua
saúde e a do receptor.
Durante a entrevista, a individualidade do doador, privacidade e sigilo das
informações devem fazer parte da ética profissional do triagista. Cabe também ao triagista
27
prestar informações que visam à proteção do doador e esclarecer que este procedimento é
repetido a cada doação, pois cada uma se configura em momento distinto.
A entrevista da triagem clínica é fundamental no processo do “ciclo do sangue”, pois
a prevenção da transmissão de doenças pelo sangue não pode ser controlada totalmente pelos
testes sorológicos para doenças como: hepatite B e C, HIV-l e 2 (Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida), Doença de Chagas, Sífilis, HTLV 1 e II (Vírus Linfotrófico de
Células T Humana). Há possibilidade de o sangue estar contaminado e o teste apresentar
resultado falso negativo.
Isso ocorre geralmente em testes de indivíduos que foram infectados recentemente e
estão no período da “Janela Imunológica”, portanto, é ainda na entrevista da triagem clínica
que se pode identificar as situações de risco para “Janela Imunológica” - JI - período no qual
uma pessoa recentemente infectada não apresenta anticorpos detectados pelo método de
triagem sorológica, porém é infectante (BRASIL, 2004).
Ao final da entrevista, o(a) triagista deve ter segurança e conhecimento, pois muitos
dados subjetivos devem ser valorizados e avaliados. Se existir uma relação de confiança e
empatia, o doador terá uma postura consciente e verdadeira, sendo partícipe na decisão junto
ao(à) triagista, percebendo-se apto para doar sangue ou inapto temporário ou definitivamente.
As causas objetivas de inaptidão temporária ou definitiva estão descritas na RDC 153/2004, e
as causas subjetivas estão ligadas à percepção e habilidade do(a) triagista em captá-las. Isto
vem ao encontro do que refere Koeche (2000), ao ressaltar que, na triagem clínica, além das
informações objetivas, aspectos subjetivos são analisados através da comunicação verbal e
não verbal do candidato. A entrevista nada mais é do que um diálogo no qual perguntamos e
ouvimos o outro para a obtenção de informações.
Peterson (1994) é enfático ao dizer que a entrevista pré-doação tem um papel
estratégico fundamental na identificação de indivíduos de risco para a transmissão de doenças
por transfusão. Entretanto, a entrevista baseia-se em três premissas: a honestidade das
respostas dos candidatos à doação, a percepção do risco que podem estar colocando a
terceiros e a compreensão das perguntas que lhes são formuladas. Se isto não ocorrer, a
eficiência do método pode ser prejudicada.
Wiliams (1997) refere que diversos estudos que analisaram doadores positivos para o
Anti-HIV e para outros marcadores indicaram que a maioria deles posteriormente admitiu um
ou mais fatores de risco, que deveriam ter sido a razão para a recusa quando de sua entrevista.
Isso levanta a possibilidade de que uma proporção ainda maior de doadores com testes
28
sorológicos negativos possa também possuir comportamento de risco, não detectados no
momento da triagem clínica, pelo fato de estar na “janela imunológica”.
Galéa (1997) afirmou que a prevenção da transmissão de doenças por transfusão
passa pela seleção cuidadosa dos doadores. A educação e a informação da população,
promovendo uma “auto-seleção” dos candidatos à doação antes mesmo de comparecerem
para doar, tem papel fundamental.
Pela singularidade do ser humano, suas particularidades e os riscos advindos da
doação aos receptores, pensamos ser importante refletirmos sobre os riscos relacionados à
segurança do sangue, baseados na tese do professor Richard Titmus, defendida em meados
dos anos sessenta, e que continua sendo referência até hoje. Para tanto, buscamos em
Cárdenas (2005, p. 26), que se fundamentou naquele estudo, a descrição de alguns tipos de
doadores de sangue: doadores remunerados (vendem seu sangue): doadores profissionais
(doam sangue regularmente recebendo pagamento); doadores voluntários induzidos pelo
pagamento (doador que recebe pagamento em dinheiro, embora declare que sua motivação
principal não é o dinheiro); doador de crédito familiar (doador apto efetua a cada ano uma
doação pré-depósito, para garantir a ele e a família as suas necessidades transfusionais);
doador voluntário cativo (doadores em situação de reclusão e submissão a uma autoridade);
doador voluntário de benefícios adicionais (doadores voluntários que são atraídos pela
perspectiva de uma recompensa não monetária, atestado, prioridades e benefícios); doador
voluntário de comunidade (doadores que doam sem nenhuma recompensa e conscientes
quanto ao ato de doar), sendo este último considerado o doador mais seguro, porém, que não
representa a maioria; e doadores de reposição (repõe o sangue quando solicitado por amigos,
parentes, comunidade), sendo que nesta categoria estão inclusos os vários tipos de doadores
citados.
Buscando, na revisão de literatura, material sobre o assunto triagem clínica de
doadores de sangue, com ênfase no aspecto subjetivo desta atividade, encontramos nos
trabalhos de Matos (1986) e Bellato (2001) algumas considerações que apontam as ações
educativas e a humanização da assistência ao doador como fatores fundamentais na realização
da triagem clínica.
Matos (1986) sugere aos Serviços de Hemoterapia, aos órgãos de saúde e seus
profissionais, à comunidade e ao sistema que adotem medidas de assistência aos doadores,
tendo como pressuposto a visão holística da pessoa.
Bellato (2001) coloca que, apesar dos progressos alcançados, a falta de doadores de
sangue no Brasil reflete um problema social. A quantidade de doadores de sangue
29
corresponde a cada ano a menos de 1% da população. Para o autor, com o desenvolvimento
de ações educativas, essa realidade pode ser modificada.
Há, como se percebe, uma lacuna a respeito de estudos que discutam os aspectos
subjetivos da doação de sangue, sendo que os encontrados apontam à necessidade de se ter
um olhar aguçado para essa realidade, no sentido não só de garantir a qualidade do sangue,
mas, acima de tudo, de se ter um fazer consciente, pautado na educação, visando a que o
doador saiba realmente a sua função e, mais do que isso, sinta-se comprometido com o ato de
doar e sinta-se um cidadão.
CAPÍTULO II - EDUCAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: REFLETINDO
SOBRE A EDUCAÇÃO EM SAÚDE
31
Falar em formação de professores implica em pensar sobre um significante e amplo
campo de pesquisa, portanto, neste momento, nos concentraremos na formação continuada,
pois consideramos este o melhor parâmetro para o objeto pesquisado, mais diretamente
relacionado à prática dos docentes no dia-a-dia. E, principalmente, porque o objeto
pesquisado não consta nos currículos dos cursos de formação de professores, de forma direta.
A formação continuada de professores deve ter início pela consideração das
necessidades que surgem no cotidiano dos docentes e que somente podem ser respondidas, de
maneira efetiva, se constituídas como parte essencial da atividade cotidiana docente.
Desse modo, na formação, em sua qualidade de compreensão científica do mundo
iluminado na ação humana, constrói-se o profissional capaz de orientar-se nos seus campos de
atuação, nos quais os conhecimentos científicos possam ser interpretados e transformados em
consciência reflexiva a respeito do necessário. Sob o ponto de vista prático, a técnica
converte-se em instrumento da práxis reflexiva dos homens em sociedade.
Assim, à medida que os problemas técnico-pedagógicos se fazem alheios à práxis,
Marques (2000, p. 53) aponta que:
Sem explicitar a adequada referência à ação e interação dos homens entre si na vida
em comum, mais o ensino e a investigação devem, na formação continuada do
professor, identificar-se com a educação, de forma que as informações técnicas
indispensáveis sobre os processos a dominar sejam ministradas num contexto de
orientação pragmática, adequada às situações no mundo da vida.
A formação continuada de professores promove uma mudança qualitativa na prática
de sala de aula. No entanto, segundo Menezes (1996, p. 162), para isso:
Não são suficientes os cursos estruturados com base na lógica dos conteúdos
disciplinares. Dominar tais conteúdos é condição necessária, mas não suficiente. A
condição suficiente reside na consideração da prática do professor e de sua reflexão
sobre a mesma. Isto significa explicitar concretamente a relação teoria-prática:
levando em conta o ensino desenvolvido pelo docente; discutindo suas dificuldades;
considerando o docente como sujeito do processo.
O professor é, ao mesmo tempo, um sujeito e um representante da instituição escolar
que tem como um de seus principais trabalhos o de transmitir o patrimônio que a humanidade
construiu e sistematizou historicamente, bem como as constantes inovações divulgadas
hodiernamente.
Assim, para Charlot (2005, p. 77):
O que os alunos e, às vezes, os próprios professores interpretam como relação
afetiva é, de fato, uma relação antropológica: o jovem precisa do adulto, esta à
32
espera da palavra deste, da transmissão de uma experiência humana, enquanto o
próprio adulto se sente comovido frente à nova geração, quer cuidar dela, precisa lhe
transmitir uma herança humana.
O professor é um sujeito social, que contribui para a produção social, transmite
saberes, instrui, educa, forma e prepara o aluno para viver em sociedade.
Em geral, os professores aprendem o conteúdo científico durante a formação inicial.
Esta, por sua vez, deixa a cargo da experiência dos educadores entender como ensinar tal
conteúdo, ou seja, como encontrar as estratégias pedagógicas apropriadas (ROTH, 2002).
Esse processo se repete em cursos de formação continuada oferecidos aos professores, na
medida em que continuam privilegiando o conteúdo (LIMA et al., 2003), submetendo o
professor a uma série de aulas e palestras nas quais especialistas apresentam conhecimentos
teóricos em geral desvinculados da realidade escolar.
Programas recentes financiados pelo governo brasileiro têm sido criticados
justamente por refletirem a concepção de que a melhoria do ensino passa simplesmente pela
aquisição de mais conteúdo específico em oposição à reflexão pedagógica e de forma
dissociada da experiência acumulada tanto pela pesquisa educacional quanto pelas práticas de
formação continuada no Brasil e exterior (FRANCO; STAZJN, 1999). O que se percebe é que
não se promove, nesse processo, o desenvolvimento profissional desse professor de maneira
que haja integração entre conhecimento científico e conhecimentos baseados em experiências
práticas.
Além disso, a maioria dos cursos de formação continuada é estruturada a partir do
ponto de vista do pesquisador ou professor que o propõe e que nem sempre está em sintonia
com o que pensam e fazem os professores em sala de aula (PAIVA, 2001). Segundo Ponte
(1992), não cabe aos investigadores traçarem as linhas normativas do que deverá ser a função
docente ou a nova cultura profissional dos professores, mas é necessário que haja um esforço
de compreensão, desenvolvido de forma cooperativa e articulada com os interesses dos
docentes.
2.1 PROFESSORES E A RELAÇÃO COM O SABER
A expressão “relação com o saber” foi utilizada pela primeira vez, ao que parece, por
Lacan, em 1966 (BEILLEROT et al., 1989). Encontram-se no livro La reproduction, de
Bourdieu e Passeron, de 1970, expressões próximas: “relação com a cultura”, “relação com a
linguagem e o saber”. Entretanto, é Bernard Charlot que, na década de 1980, introduz a
33
expressão e o conceito na área da educação e, na década de 1990, elabora “elementos para
uma teoria” da relação com o saber (CHARLOT, 2000). A sua questão fundamental é a do
fracasso escolar.
Nos anos de 1960 e 1970 foi desenvolvida, na França (BOURDIEU; PASSERON,
1970; BAUDELOT; ESTABLET, 1971) e nos Estados Unidos (BOWLES; GINTIS, 1976),
uma teoria sociológica chamada de teoria da reprodução. Respaldada em numerosas
estatísticas, evidencia que a escola, longe de ser um instrumento de democratização da
sociedade, como se pensava, contribui para a reprodução das desigualdades sociais: é grande a
probabilidade de que os filhos das classes dominantes tenham melhor sucesso escolar do que
os filhos das classes “desfavorecidas” e, por isso, consigam um melhor lugar no mercado do
trabalho e na sociedade. As hierarquias sociais que marcam a geração dos pais são
reproduzidas na geração dos filhos.
Sem contestar essa probabilidade, a respeito da qual não resta dúvida alguma,
Charlot (2005) levanta algumas questões sobre a própria teoria. Na escola ensinam
professores que, na maioria das vezes, sustentam a ideia de democratização social pela escola:
como é que estes produzem uma “reprodução” que beneficia o capitalismo, os dominantes, os
potentes?
Bourdieu e Passeron (1970) responderam a essa objeção. Eles falaram a respeito de
habitus (conjunto de disposições psíquicas adquiridas cedo na vida e que condizem com as
condições sociais de vida do indivíduo) e de capital cultural (transmitido aos filhos pela
família).
Nas suas famílias, os filhos das classes dominantes constroem habitus e herdam
formas de capitais culturais que condizem com os que o êxito escolar requer. Sendo assim,
eles têm mais êxito na escola do que os filhos das classes desfavorecidas.
Porém, objeta Charlot (2005), ora a noção de habitus é mecânica demais ora resta
explicar como e por que o habitus pode mudar ao longo da vida. E, se pode mudar, por que
descartar a ideia de que a escola possa mexer com o habitus e, sendo assim, contribuir para
mudar os destinos sociais? Quanto à ideia de capital cultural, não passa de uma metáfora, já
que a transmissão cultural e o êxito escolar não são processos automáticos em que os filhos
possam ficar passivos; são efeitos de uma atividade dos pais e dos filhos.
Para ser bem-sucedido na escola, não é suficiente ser “filho de [...]” (CHARLOT,
2005), é preciso também estudar, ter uma atividade intelectual. O mesmo autor julga que a
questão da atividade intelectual, em particular a questão do acesso intelectual ao saber, foi
ignorada pela sociologia da reprodução, a qual focou apenas o acesso social ao saber. Se
34
existe uma desigualdade social perante a escola, é porque há uma desigualdade social diante
do saber. Portanto, Charlot (2005) levanta a questão da relação social com o saber.
Essa questão leva-o a ampliar a sua perspectiva de análise para contemplar, ao
mesmo tempo, as dimensões social e subjetiva do problema. Com efeito, por mais social que
seja um indivíduo (se não fosse social não seria humano), ele é também um sujeito original,
com a vida psíquica e história pessoal próprias.
É preciso pensar ao mesmo tempo o ser humano, o ser social e o sujeito singular,
ressalta Charlot (2005). Em particular, aprender é apropriar-se, por uma atividade intelectual
pessoal, de um patrimônio comum aos homens.
Portanto, a questão da atividade intelectual se torna fundamental na teorização da
questão do sucesso e fracasso escolar. Mais particularmente, Charlot (2005) levanta a questão
das fontes da mobilização intelectual.
Ao ver de Beillerot, Blanchard-Laville e Mosconi (1996, p. 73):
Todo estudo que tomar a relação com o saber como noção central não poderá
libertar-se da base psicanalítica; não que isso impeça outras abordagens, mas é a
partir da teorização da relação de objeto, do desejo e do desejo de saber, depois da
inscrição social destes em relações (que vinculam o psicológico ao social) que será
possível assumir, o risco de trabalhar com essa noção e de desenvolvê-la; um
desenvolvimento que não deverá esquecer algo essencial, sob pena de fazê-la perder
seu sentido: só há sentido do desejo.
“Só há sentido do desejo”: como aponta o próprio Charlot (2005), é nessa asserção
que podem ser articuladas a sua abordagem e a de Beillerot, Blanchardt-Laville e Mosconi
(1996).
Vale a pena, ainda, evocarmos as teses de Blanchard-Laville e de Hatchuel, que são
professoras de matemática e seguidoras de Beillerot, Blanchard-Laville e Mosconi (1996).
Essas profissionais defendem a ideia de que cada docente, pela sua fala e, de modo mais geral,
pela maneira como organiza a própria aula, constrói e impõe aos alunos um determinado
roteiro-cenário, específico dele. Não se trata apenas de uma produção didática, mas também, e
acima de tudo, de um “espaço psíquico”: “Mostrei que a relação do docente com o saber se
atualiza de maneira singular por cada docente no espaço psíquico da classe, caminho para a
transposição, e que ele molda este espaço para a turma de alunos” (BLANCHARDLAVILLE, 2003, p. 152).
Ainda, na relação do docente com o saber, Picanço (apud MARQUES, 2000, p. 104),
ressalta que a inovação implica em:
35
Fantasia e criatividade, em capacidade de abstração, isto é, de análise, síntese e
transferência das relações percebidas. Requer-se, por isso, o cultivo de uma
inteligência versátil e polivalente, capaz de articular em suas reciprocidades o geral e
o particular, o concreto e o abstrato, de estabelecer relações e de inferir
conseqüências e mediações (PICANÇO apud MARQUES, 2000, p. 104).
A ampliação das capacidades intelectivas postula formas de conhecimentos em que
se integrem a formação do professor nos planos econômico, político, ético, valorativo e
cultural, transformando, assim, o saber técnico em consciência sobre o mundo social da vida.
2.2 EDUCAÇÃO EM SAÚDE
Entendemos que o trabalho com a educação transforma as pessoas, suas atitudes e
lugares, pois a educação traz conhecimentos, visões novas, capazes de modificar o que está de
certa forma "errado" ou que não caminha de acordo com o correto. Dentro do novo paradigma
das ações em saúde, que concebem-na de forma mais ampla e não restrita a cura ou prevenção
de doenças, mas mais a promoção de formas de vida saudáveis, aos profissionais de saúde e
especificamente aos de enfermagem, não basta apenas prestar assistência, o cuidado precisa
ser um instrumento que demonstre a educação como começo de tudo. Sem ela jamais haverá
mudanças. As famílias, as comunidades precisam conhecer novas formas de se evitar doenças,
de promover saúde, de mudar hábitos. Elas devem saber que são as peças fundamentais para o
próprio cuidado e só conseguem mudar aqueles que conhecem o que precisa ser mudado.
Nesse sentido a educação em saúde pode revelar-se como instrumento eficaz nesse
contexto, principalmente quando não restrita às ações de profissionais da saúde na educação
informal, mas sim quando envolvem também a educação formal.
Assim, é importante esclarecer do que se trata a educação em saúde.
A educação em saúde pode ser uma ferramenta de atração em saúde por possibilitar
a troca entre o conhecimento técnico e popular. E é mediante essa comunicação, na
qual ocorre a socialização do conhecimento técnico e o reconhecimento popular, que
o indivíduo ou coletividade tem a possibilidade de ajudar a si mesmo mediante a
identificação dos seus problemas e /ou se tornarem multiplicadores desse saber, essa
autonomia permite o desenvolvimento de ações de prevenção e controle de doenças
que possam a vir se instalar (FRANCO, 2006, p. 112).
Todos os profissionais em educação e saúde devem exercer a ação educativa em todo
momento e em qualquer lugar. Para exercerem esta função educativa é necessário que haja
uma troca de conhecimentos através de um mecanismo de comunicação que facilite a
compreensão e estimule a sua prática (KAWAMOTO, 1995).
36
O trabalho em saúde deve ser desenvolvido por meio de práticas integradas, que
incorporem saberes técnicos e populares e vejam o ser humano no seu contexto, portanto
educadores da escola formal e profissionais da saúde devem aliar-se nessa tarefa, pois que a
escola é um lugar de consolidação de atitudes e valores, que são imprescindíveis para a
promoção da saúde, e que em última instância resulta em exercício de cidadania.
O processo em educação em saúde pressupõe que o profissional de saúde relativize
seu conhecimento na busca de uma melhor compreensão do indivíduo da
coletividade e da realidade na qual se insere, pois é da mutua apropriação de tais
conhecimentos que se torna possível uma intervenção consciente e eficaz nesta
realidade, considerando que educadores e a população, possuem saberes
complementares sendo parceiros na luta por melhores condições de vida (SILVA;
BORDIN, 1996, p. 61).
O antigo conceito de saúde, equivalente à “ausência de doenças”, exigia dos
profissionais uma ação de “curar”, isto é, eliminar a doença. A formação dos profissionais de
saúde, coerentemente, era feita em locais dedicados à cura, isto é, clínicas e hospitais.
Segundo Brasil (2000), nas ações educativas, em grupo ou individuais, recomenda-se
o uso de metodologia participativa, com uma abordagem pedagógica centrada no sujeito. É
importante partir do conhecimento e experiência que as pessoas têm e permitir a troca de
ideias sobre relacionamento humano. Essa metodologia estimula a pessoa a construir um
processo decisório autônomo e centrado em seus interesses.
São muitas as possibilidades de práticas educativas para fortalecer o conhecimento
da população, fazendo com que esta tome consciência crítica de si e do mundo, percebendo a
saúde não só como resultado das práticas individuais, mas também como reflexão das
condições de vida geral, desenvolvendo, então, competências e habilidades para romper com a
visão tradicional ou mágica do processo saúde-doença e, assim, poder modificá-lo (FRANCO,
2006).
No processo educativo na saúde, acreditamos no dever dos profissionais que atuam
nesse sentido em identificar as reais necessidades da população através da participação ativa
consequentemente gerando troca de conhecimento entre si. Para que isso ocorra, entendemos
a necessidade de se compreender a importância e o significado dessa “educação”, apontada
por Bordenave (2005, p. 08) como:
[...] um desafio em fazer com que as pessoas com certo repertório de conhecimento,
valores e atitude, comportamentos e habilidades, mudem esse repertório e alcancem
um estado mais satisfatório, em relação com seus próprios objetivos pessoais e como
os objetivos da sociedade em que vivem.
37
O que distingue uma opção pedagógica da outra é o elemento do processo educativo,
que ela valoriza acima dos demais, pois o conceito de saúde muda para fazê-lo equivalente a
“um estado de completo bem estar físico, mental e social da pessoa, da família e da sociedade
em seu conjunto” (BRASIL, 2000, p. 24).
O atual conceito de saúde exige, portanto, dos profissionais de educação e de saúde,
a procura pelo estabelecimento coletivo das condições capazes de assegurar a sustentabilidade
desse almejado bem-estar. Isso implica, naturalmente, em dar mais importância à prevenção
das doenças do que a sua cura. Exige coerência no trabalho junto com a comunidade em seu
habitat.
A pedagogia problematizadora coloca a realidade como um ingrediente ativo do
processo, uma vez que parte do princípio de que a realidade nunca é satisfatória, sempre pode
ser vista como um problema ainda a ser resolvido ou algo que pode ser melhorado. A ação é
coletiva, o método não é individual e nessa pedagogia se valoriza mais a transformação do
que a transmissão de conhecimentos. O conhecimento é importante, sem dúvida, mas ainda
mais importante é a mudança do aluno. O importante é desenvolver a inteligência e a
emocionalidade, a sua capacidade de participar em grupo, pois é a capacidade que gera a autoestima e a descoberta do que cada um é capaz. Em consequência disso, gera-se a capacidade
de autogestão, isto é, de tomar iniciativa própria para resolver problemas (BORDENAVE,
2005).
2.3 EDUCAÇÃO EM SAÚDE E QUALIDADE DO SANGUE: CAPTAÇÃO DE NOVOS
DOADORES
A universidade bem como as escolas precisam preparar-se cotidianamente para
instrumentalizar os seus alunos, num movimento de contraposição e de resistência às
descontinuidades que caracterizam os projetos públicos na esfera dos direitos sociais, como é
o caso da política pública de saúde sob o projeto neoliberal brasileiro e, especialmente, numa
sociedade como a nossa em que o controle social é timidamente exercitado.
O uso “racional do sangue” é fator primordial para a existência de um serviço de
qualidade, portanto, a articulação com o serviço de referência- os Hemocentros - torna-se
fundamental para a mediação do confronto entre a prática pública em saúde (respostas do
setor público aos problemas e necessidades de saúde) e as contribuições teóricas que buscam
38
fundamentar a produção de serviços de saúde no trabalho que, de modo concreto, compõem
as atividades de controle de saúde do coletivo.
As condições da Hemoterapia em nosso país evidenciam a necessidade de uma
concentração de esforços para a retomada do seu desenvolvimento em todo o território
nacional. Essa adesão deve envolver os diversos segmentos sociais, buscando evitar o
retrocesso nas conquistas obtidas a partir de 1988, que pode ser motivado por causas
contrárias aos interesses da sociedade brasileira.
Assim,
entendemos
como
uma
obrigação
das
universidades/escolas
o
redimensionamento das práticas e dos conteúdos pedagógicos para assumir a nova construção
no plano educacional, e que esta construção “no mundo de hoje” signifique “participar da
reinvenção concreta de uma nova sociedade, baseada na justiça social e na solidariedade, na
realização prática dos direitos da cidadania sem qualquer tipo de exclusão” (SANTOS, 2005,
p. 166).
Na atualidade, presenciamos constantes mudanças na política educacional e de saúde
do país e, para tanto, precisamos estar conscientes do papel que desempenhamos na
sociedade. É necessário refletirmos sobre essas questões, para que os profissionais, através de
suas formas organizativas, discutam e assumam suas propostas de formação e desempenho
profissional. Para que essa mudança ocorra, é importante uma capacitação de recursos
humanos que perceba a dimensão dessas transformações, uma nova prática de assistência à
saúde que determine as novas ações e funções dos profissionais, estabelecendo, assim, os
novos perfis profissionais.
Refletindo sobre a necessidade de educação continuada para capacitação de
professores e profissionais de saúde para a educação em saúde, esta deve ser um instrumento
programado, sistematizado e institucionalizado, visando a garantia da qualidade dos serviços
prestados por esses profissionais. Na especificidade da doação de sangue, a capacitação deve
ser contextualizada nas condições sociais e de saúde dos doadores e na situação e estrutura
dos serviços de hemoterapia. A organização de espaços e núcleos de discussões, estudos e
pesquisas multiprofissionais, como esta pesquisa pretende se apresentar, podem ser um
caminho profícuo para avançar na proposta de um trabalho coletivo e reflexivo, articulando
diversos olhares para a transformação dos sujeitos.
Assim, nessa lógica é que acreditamos que a educação formal se constitui num
importante espaço de construção dos saberes voltados à promoção da saúde, e dentre esses, o
incentivo no processo de captação de doadores. A captação de doadores na lógica da
hemoterapia, é uma atividade educativa importante e seu objetivo é a fidelização de doadores
39
de sangue voluntários. A OPAS (2004) reconhece que os doadores mais seguros são os
habituais, que doam sangue periodicamente, pois adultos saudáveis podem fazer esse
procedimento regularmente. Assim, faz-se necessário sensibilizar os doadores de primeira vez
e que atendem aos critérios de seleção, a se tornarem doadores voluntários e habituais,
oportunizando, dessa forma, a fidelização de doadores. No entanto, esse tipo de
conscientização da população, somente se estabelecerá a partir do momento em que diversos
segmentos participem ativamente, pois só a educação informal tem se mostrado frágil para
garantir os estoques de sangue.
Nesse sentido, para Magno e Ribeiro (2008), o principal objetivo de toda a campanha
de captação de doador é encontrar uma fonte de sangue segura e sustentável. Primeiramente
deve-se respeitar o princípio de que a doação deve ser voluntária e espontânea, mas, para que
os usuários se tranquilizem e se tornem doadores habituais, é primordial que a equipe busque
aperfeiçoamento, desde a seleção criteriosa até a qualidade dos serviços hemoterápicos.
É necessário também compreender as razões das pessoas para não doarem sangue.
Quaisquer que sejam essas razões, com a mensagem certa e no tempo certo, os não-doadores
podem ser sensibilizados a ajudar na captação de outros. Pessoas jovens, que são os doadores
do futuro, são o principal alvo. Como próxima geração de doadores de sangue, é importante
educá-los no que tange à doação de sangue, à necessidade de sangue seguro e à importância
de um estilo de vida saudável (OPAS, 2004).
Assim sendo, todo cidadão deve estar consciente da importância de agir para a
melhoria da saúde pessoal e do bem-estar da comunidade. A saúde é um direito de todos, mas
inicia-se com a busca de uma vida saudável (MAGNO; RIBEIRO, 2008).
De acordo com o manual do captador do Centro de Hematologia e Hemoterapia de
Santa Catarina (HEMOSC), a captação de doadores é uma atividade voltada ao
desenvolvimento de programas e campanhas que objetivam conscientizar a população quanto
à importância da doação de sangue.
Sendo o doador de sangue o elemento vital para o funcionamento do hemocentro, o
trabalho volta-se não apenas para assegurar a quantidade necessária de doadores, mas também
para aprimorar o perfil das doações, garantindo a elevação do padrão de qualidade do sangue
coletado e transfundido (HEMOSC, 2008).
A captação de doadores, vista como uma prática de educação em saúde, é extensiva a
todos os segmentos sociais, podendo ser realizada em hospitais e clínicas, forças armadas,
escolas, empresas, associações, secretarias de saúde, igrejas, veículos de comunicação e
outros, utilizando-se de técnicas como reuniões, palestras, cursos, campanhas e gincanas. A
40
maior ferramenta de trabalho na captação é a comunicação social que deve ser clara, simples e
objetiva. Essa comunicação, portanto, busca o objetivo final que é ter sangue com qualidade e
quantidade suficiente para o atendimento dos estabelecimentos de saúde (HEMOSC, 2008).
Desse modo ela permeia propostas de educação informal. No entanto, a escola formal pode
munir-se desses conhecimentos utilizando-os como ferramentas para construção dos
significados de ações cidadãs junto aos educandos.
Segundo o Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (HEMOSC,
2008), o setor de captação está vinculado à área técnica e tem como programas básicos os
seguintes: a) captação hospitalar; b) coletas externas com unidade móvel; c) convocação de
doadores; d) projeto escola; e) projeto empresa solidária; f) comunicação e marketing.
Todos esses programas têm como filosofia a busca constante por doadores
voluntários e altruístas, que compreendam a doação de sangue como uma atitude de
solidariedade, cidadania, de responsabilidade pessoal e coletiva e de preservação da vida
humana. Embora o setor de captação venha transformando o perfil das doações de sangue,
que historicamente tem sido acompanhada de mitos, preconceitos e tabus, mesmo assim, com
todas as facilidades de informação e comunicação da atualidade, ainda há muitos mitos e
folclore que geram desconhecimento e equívocos sobre a doação de sangue (HEMOSC,
2008).
Propostas de educação em saúde no que se refere a captação de doadores, podem
contribuir muito ao mobilizar a comunidade sobre as doações de sangue, bem como
sensibilizá-la para o auto-cuidado, objetivando, desse modo, o fornecimento de transfusões
seguras. Há poucos anos, a maioria das doações, cerca de 95%, era realizada por familiares de
pacientes internados em unidades hospitalares, as quais chamamos de doações vinculadas.
Doava-se apenas quando algum conhecido ou familiar necessitasse. Com a padronização das
atividades da captação de doadores, a cultura da comunidade vem se transformando
gradativamente, fazendo com que as doações espontâneas e altruístas superem as vinculadas.
Atualmente, o HEMOSC conta com a participação de aproximadamente 70% de doações
espontâneas em todo o Estado. O doador espontâneo, habitual e responsável é o principal alvo
da captação de doadores, pois ele, consciente das necessidades e demanda, bem como das
rotinas estabelecidas, colabora com a manutenção dos estoques de sangue do HEMOSC.
Trabalhos educativos apoiados por equipes multiprofissionais têm sido responsáveis
pelo despertar da consciência da população em participar do processo de doação de sangue
como doador ou agente multiplicado, ou seja, um captador (HEMOSC, 2008).
41
Um dos exemplos mais contundentes de inserção da educação em saúde para a
doação de sangue no contexto da escola formal é o Projeto Escola desenvolvido pelo Centro
de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (HEMOSC, 2008); um trabalho realizado
em parceria com a Secretaria de Estado da Educação e envolve hemocentros, escolas públicas
(municipais e estaduais), escolas particulares, secretarias municipais de saúde e educação,
buscando conscientizar a população para a doação voluntária de sangue. Esse projeto tem,
portanto, como público alvo jovens em idade escolar do ensino fundamental, que são
motivados a participar do processo de doação voluntária de sangue quando completarem
maior idade.
Mais do que sensibilizar para a importância da doação de sangue, é preciso criar uma
consciência de doador em meio a uma sociedade que tem medo de doar. Foi pensando nisso
que o HEMOSC implantou o Projeto Escola, uma alternativa que busca quebrar tabus e
desmistificar medos e preconceitos a respeito da doação de sangue. Ou seja, educar os
doadores do presente e do futuro.
O Projeto Escola leva os profissionais do HEMOSC até as escolas do Ensino
Fundamental e Médio e, na sala de aula, os alunos assistem à palestras sobre a importância da
doação de sangue. Além de escolas públicas e particulares, cursos técnicos e universidades
também podem participar. Coordenadores, professores, pais e alunos podem divulgar o
Projeto Escola e apoiar o HEMOSC neste trabalho. Desse modo, tem-se por finalidade o
despertar para o exercício da cidadania, solidariedade e responsabilidade, sensibilizando o
aluno para o cuidado com a saúde pessoal e coletiva, contribuindo, assim, com o aumento de
doadores de sangue saudáveis para transfusões seguras. Para a construção de um mundo ainda
melhor é preciso jovens saudáveis, com responsabilidade social e participantes das causas
humanitárias.
Esse é um dos exemplos de trabalho que tem por objetivo principal disseminar na
cultura brasileira o hábito da doação voluntária de sangue, trabalhando a informação, a
conscientização e a formação do jovem que será o doador do amanhã.
No entanto, a necessidade de formação de agentes multiplicadores da captação de
doadores, conscientes do exercício de cidadania e da responsabilidade social para com a
sociedade por meio da doação de sangue, não se esgota nessas ações que são ainda pontuais,
necessitando assim de um projeto maior que envolva a educação formal.
Acreditamos que a temática da doação de sangue possa ser desenvolvida nos
currículos escolares como tema transversal, utilizando exemplos de vida dos educandos
acerca de experiências na família sobre doação/uso do sangue e os espaços dos hemocentros e
42
bancos de sangue no sentido de ressignificar os conhecimentos sobre cidadania ao mesmo
tempo em que a experienciam por meio de atitudes relacionadas a doação sanguinea, numa
perspectiva de aprendizagem significativa.
Num paradigma de complexidade, educar é, “fundamentalmente, criar condições
para a experiência de aprendizagem” (ASSMANN, 2000, p. 273). Mas, todo conhecimento
constitui-se em uma construção e reconstrução cerebral que permite riscos de erros. Nesse
sentido, salienta-se que a informação é uma matéria-prima que o conhecimento deve dominar
e integrar.
A concepção do aprender a aprender como um processo evolutivo coloca nas
decisões do homem contemporâneo a capacidade e a responsabilidade de ser um co-construtor
de um projeto de aprendizagem desejado. Com isto, a educação em saúde sobre doação de
sangue, inserida no contexto da escola, propicia a abertura de novos caminhos na busca
constante de doadores voluntários que venham a contribuir com a manutenção dos estoques e
da qualidade do sangue transfundido.
CAPITULO III - REFLETINDO SOBRE CIDADANIA E TRAMAS DA RAZÃO E
DOS MITOS ACERCA DA DOAÇÃO DE SANGUE
44
Ao pensarmos na doação de sangue como ato de cidadania, é indispensável
refletirmos sobre a sociabilidade que consolida a interação social a partir do mundo, da vida
com participação de segmentos expressivos da comunidade. A mobilização e a organização da
sociedade em prol dos interesses em pauta, dependem de vários fatores incluindo os avanços
tecnológicos e a globalização. Segundo Giddens (1994), no mundo contemporâneo são
inegáveis os avanços técnicos e científicos. Constatamos, no entanto, com perplexidade, que o
conhecimento e as conquistas obtidas geraram mais inseguranças, incertezas e riscos à
sociedade humana, acirrando, desse modo, os conflitos sociais.
Porém, de acordo com Souza Santos (1996), essa perplexidade pode tornar-se
produtiva, mesmo diante dos desafios e das incertezas que se apresentam, se forem vistas as
expressivas experiências que vêm sendo desenvolvidas localmente, mas articuladas
globalmente, estimulando uma nova sensibilidade e sociabilidade, táteis por excelência, que
podem gerar novas formas de vida social.
Uma das características fundamentais do sentido do termo sociabilidade esteve
relacionada ao mundo do trabalho e com significado identitário na formação da estrutura
social. Esse sentido, porém, se diluiu ou se reconfigurou em consequência das diversas
transformações sociais e políticas e do avanço da técnica e da ciência. Hoje, uma de suas
características fundamentais está relacionada à temporalidade. Nas formas emergentes de vida
social, a efemeridade se contrapõe à permanência, fazendo com que os grupos sejam
formados e desfeitos conforme as ocasiões que se apresentam, constituindo-se em
agrupamentos que se esgotam na ação (MIDLEJ; SILVA, 1996).
Assim, as funções sociais estabelecidas começam a ser, nesse novo contexto,
substituídas pelos papéis sociais voláteis (MAFFESOLI, 1987) e, portanto, uma mesma
pessoa pode viver diversas experiências e também pode pertencer a uma ou mais
comunidades.
A sociabilidade exposta por Maffesoli (1987), nessa reflexão, parece restrita ao
instante, não se percebe uma perspectiva de projeto, o que existe é a pulsão do estar-junto, o
hedonismo do presente, que se desfaz no momento seguinte dada a fluidez da modernidade
diluída (BAUMAN, 2003).
No entanto, podemos argumentar sobre os novos moldes em que se apresenta o
projeto na contemporaneidade, pois entendemos que estes implicam em novas sensibilidades,
constituindo-se como uma utopia numa dimensão múltipla, bem distinta das ideias pensadas
pelos marxistas, para os quais o projeto para a sociedade seria protagonizado por uma classe
45
redentora da História, com etapas previamente definidas, um estado final, sem levar em conta
os afetos, incertezas e contradições humanas.
Sousa Santos (2001) ao analisar os movimentos sociais reflete que a sociedade
brasileira é formada também pelas contradições próprias de um país que vive,
simultaneamente, vários estágios de desenvolvimento sócio-culturais, mas consegue
demonstrar avanços inestimáveis no contexto da sociedade civil.
Ao olharmos para a sociabilidade que se desenvolve entre as pessoas e grupos,
verificamos as condições apontadas pelos autores referidos, segundo os quais as relações
primárias estabelecidas vão além da cordialidade, ainda sendo muitos os espaços de confiança
e solidariedade existentes, mesmo quando a população convive com a diversidade cultural
trazida pelo contingente cada vez mais expressivo dos meios de comunicação (BAKTHIN,
1993).
Considerando todo esse contexto, entendemos que a formação de uma consciência
cidadã se dá no contexto de cada sociedade, seja ela uma comunidade, uma cidade ou uma
nação em que deve ser respeitado seu tempo, espaço, cultura e história. Nessa discussão,
cabe-nos refletir então sobre o que é cidadania e de como ela é construída a partir de
processos educativos.
3.1 CIDADANIA E DOAÇÃO DE SANGUE
Ser cidadão é respeitar e participar das decisões da socidade para melhorar suas vidas
e a de outras pessoas. Ser cidadão é nunca se esquecer das pessoas que mais necessitam.
Nesse sentido, construir cidadania é, também, função das instituições de ensino e meios de
comunicação para o bem-estar e desenvolvimento da nação (COVRE, 2005).
A cidadania consiste desde o gesto de não jogar papel na rua, não pichar os muros,
respeitar os sinais e placas, respeitar os mais velhos (assim como todas as outras
pessoas), não destruir telefones públicos, saber dizer obrigado, desculpe, por favor e
bom dia quando necessário [...] até saber lidar com o abandono e a exclusão das
pessoas necessitadas, o direito das crianças carentes, dos idosos, enfim dos grandes
problemas enfrentados no país (ALBANO, 2009, p. 1).
Quando se fala em cidadão, é importante refletirmos sobre a origem da concepção de
cidadania. Segundo Fonseca (2000), na Grécia antiga, a noção de cidadania estava ligada à
comunidade de cidadãos e ao corpo de leis que os regiam. Os cidadãos compunham cerca de
10% da população da cidade e diferenciavam-se dos não-cidadãos: as mulheres, os escravos,
46
os metecos e os estrangeiros. Em Roma, a qualidade de cidadão foi sendo outorgada a um
crescente número de pessoas, mas, na realidade, era uma aristocracia política que dominava.
No final da Idade Média, no seio das cidades, das comunas, das corporações e das
universidades reanimaram-se os princípios de associação, de representação e das liberdades e
franquias cívicas e pessoais. Porém, a noção de cidadania só ressurge vigorosamente com a
Revolução Inglesa (de 1688), a Revolução Americana (1774-1776) e, sobretudo, com a
Revolução Francesa (1789), desencadeando o conceito moderno de cidadania. A afirmação da
vontade popular, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), a identificação
da soberania popular com a universalidade dos cidadãos franceses, a formação do EstadoNação constituem, portanto, os fundamentos do conceito moderno de cidadania (COVRE,
2005).
Todo este contributo humano e universal foi retomado e reformulado em 1948 pela
ONU, na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Foi ainda depurado na encíclica
Pacem in Terris, de João XXIII, e na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concí1io
Vaticano II.
O conceito de cidadania foi evoluindo conforme evoluiu o conceito da dignidade da
pessoa humana. O sistema democrático, que progressivamente se afirmou como o sistema de
governança universalmente desejável, funda-se nos princípios da cidadania nela consignados,
ou seja, a soberania da Nação e da Lei, a igualdade de todos os cidadãos: “os homens nascem
e permanecem livres e iguais em direitos” (COVRE, 2005, p. 258).
Tradicionalmente, o vínculo da cidadania reportava-se exclusivamente à identidade
nacional. Porém, a cidadania apresenta hoje novos contornos, desenhados tanto no interior do
próprio espaço nacional, como alargados a novos espaços que lhe são exteriores. Destaca-se a
intervenção em torno dos problemas locais concretos, a União Européia, a Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a cidadania da aldeia global (FONSECA, 2000).
O contexto mundial atual caracteriza-se, também, sem dúvida alguma, por uma crise
da cidadania. De fato, há fatores que contribuem para o declínio do espírito de
responsabilidade coletiva, com reflexos nos vínculos da cidadania: o individualismo, o
enfraquecimento dos valores de referência tradicionais, a prática da corrupção, as elevadas
taxas de absentismo nos processos eleitorais, a fraude fiscal, o desinteresse pela vida política e
as manifestações cada vez mais frequentes de falta de civismo (entendido como respeito pelas
regras da vida comunitária) (PAIXÃO, 2000).
Assim, diante da evolução dessa concepção, na atualidade e no contexto desse
estudo, cumpre questionarmos o que é, então, a cidadania e como ela está interligada ao
47
processo educativo na doação de sangue. A definição de Dallari (2008, p. 01), nos auxilia a
refletir nesse sentido:
[...] a cidadania é responsabilidade perante nós e perante os outros, consciência de
deveres e de direitos, impulso para a solidariedade e para a participação, é sentido de
comunidade e de partilha, é insatisfação perante o que é injusto ou o que está mal, é
vontade de aperfeiçoar, de servir, é espírito de inovação, de audácia, de risco, é
pensamento que age e ação que se pensa.
Na solidificação desse espírito de cidadania, as campanhas de doação de sangue
procuram, por um lado, informar e conscientizar os cidadãos para a importância deste ato. Por
outro, pretendem disseminar na cultura brasileira o hábito da doação voluntária de sangue,
trabalhando a informação, a conscientização e a formação da população, pois, no país, por Lei
(BRASIL, 1988), todas as doações de sangue são voluntárias. No entanto, não se observa uma
mudança de atitude, visto que somente uma minoria dos doadores tem informação suficiente
para decidir soberanamente sobre o significado do ato de doar uma parte de si para outro
indivíduo.
Nesse sentido, a educação para a cidadania constitui uma garantia da democracia e só
se exerce em contextos experienciais democráticos. Têm, por isso, graves responsabilidades
os sistemas educativos, os quais devem desenvolver nas novas gerações os saberes e as
práticas de uma cidadania ativa (FONSECA, 2000).
Dessa forma é que as sociedades sentem a consciência da responsabilidade e se
empenham e se preocupam com a educação para a cidadania. E convém enfatizar que são as
grandes organizações internacionais (UNESCO, Conselho Europeu etc.) que alertam para esta
necessidade. Todas são convergentes nas razões dos objetivos e nas orientações para que
apelam: o desenvolvimento humano; a participação democrática e a coesão social (COVRE,
2005).
Precisamos estar conscientes de que o exercício da cidadania é sustentado por um
corpo de valores e de virtudes aceitáveis universalmente: a justiça, a verdade, a
coragem e a liberdade, [...], isto é, aquilo que antes se dizia ser a procura do bem,
constituindo assim o perfil para a formação do cidadão democrático: o respeito de si
mesmo, do outro, do diferente; do bem comum; o sentido da responsabilidade
pessoal e coletiva, cujo fundamento se encontra bem expresso no código de direitos
e deveres dos cidadãos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (ALBANO,
2009, p. 01).
Assim, a educação e a cidadania não são apenas importantes para os aspectos
cognitivos, mas também ao aspecto afetivo, que se reconhecem fundamentais na formação
pessoal para a autonomia moral e a autoridade, o conhecimento e o juízo crítico, a empatia e a
48
comunicação, assim como a formação social para a escolha e a decisão, a cooperação, a
intervenção e o compromisso que, em complementaridade, constituem os quatro pilares da
Educação, referidos no relatório Delors (citado por FONSECA, 2000): aprender a aprender, a
fazer, a ser e a viver juntos.
Isso significa que os educadores devem questionar a consciência do aluno no que diz
respeito à adesão a valores, à aquisição de conhecimentos e à aprendizagem de práticas de
vida pública, numa sinergia permanente entre a educação e a prática de uma democracia
participativa, tarefa que deve realizar-se e concretizar-se durante a vida toda, pois que a
educação para a cidadania é um trabalho que nunca é finalizado.
Desse modo, trabalhar na escola significados e experiências acerca da doação de
sangue numa lógica que a represente como um gesto insubstituível e numa perspectiva de
única esperança de vida para muita gente, é educar sobre questões de cidadania.
3.2 RAZÕES E MITOS RELACIONADOS AO ATO DE DOAR SANGUE
No Brasil, o número de coletas de bolsa de sangue está muito aquém do necessário
para atender a todas as demandas. Entre os aspectos a serem considerados, além do aumento
da coleta de sangue, é fundamental a discussão da questão da captação de doadores, e neste
particular, o tipo de doação e o tipo de doador.
No Brasil, o Programa Nacional de Doação Voluntária de Sangue do Ministério da
Saúde (PNDVS/MS) considera a doação espontânea de sangue como objetivo a ser alcançado
para se obter um sangue de qualidade, e preconiza a modificação do perfil do doador “[...] de
repositor para voluntário, transformando a doação em ação espontânea e constante, como ato
de cidadania e solidariedade” (BRASIL, 1999). Propõe, entre outras estratégias, o
desenvolvimento de pesquisas para o conhecimento do perfil, dos mitos e das crenças, do
doador de sangue e das percepções sobre a doação.
Assim, levantamos nesse capítulo alguns aspectos que são apontados na literatura e
observados em nossa vivência na assistência junto aos candidatos à doação, envolvendo
“razões” dos doadores bem como a lógica dos serviços de hemoterapia e seus “mitos”.
Experiências têm demonstrado relação entre fatores sócio-culturais, como grau de
conhecimento sobre o processo de doação e transfusão e, crenças e tabus, como grau de
motivação à doação de sangue (SALES et al., 2003). O estudo desses fatores tem sido
49
utilizado como subsídio para campanhas direcionadas à captação de doadores (GUTIÉRREZ;
TAJEDA; CRUZ, 2003).
Nos Estados Unidos da América (EUA), assim como em outros países, o aumento da
demanda transfusional, decorrente principalmente da alteração do perfil demográfico da
população e dos avanços tecnológicos dos procedimentos, tem exigido um incremento no
número de doações. A complexidade atual do processo de seleção dos doadores, visando à
garantia da qualidade do sangue, tem provocado perda de potenciais doadores e gerado uma
série de estudos sobre esse contexto (DAVEY, 1998). Alterações também ocorreram no perfil
dos doadores de primeira vez, bem como no dos doadores de retorno e a sua monitorização,
situações que podem dar subsídios para a melhoraria da eficiência dos serviços de captação de
doadores (SCHEREIBER et al., 2003).
Nessa perspectiva embora a discussão principal ao buscar compreender sobre os
processos educativos que envolvem a doação de sangue, seja definir porque as pessoas doam
sangue, poucas pesquisas perguntam aos não-doadores quais as razões para não doar.
Pesquisadores da saúde e das ciências do comportamento têm tentado, de várias
maneiras, explicar o que diferencia o doador do não-doador. Oswalt (1977), ao abordar essa
questão, enfatiza os aspectos negativos, isto é, as razões mais largamente utilizadas para não
doar sangue: (a) medo; (b) desqualificação médica; (c) reações à doação; (d) apatia e (e)
conveniência.
Leibrecht et al. (1976), por sua vez, sugerem que o ato de doar sangue representa
uma aproximação e uma fuga, um conflito: para o doador ativo, para o doador potencial e
para o não-doador. Citam que existem aspectos negativos e aspectos positivos associados ao
ato de doar sangue. Para o doador ativo, a importância dos aspectos positivos é maior do que
os aspectos negativos, enquanto que para o não-doador é o contrário. Então, para ter sucesso
no recrutamento dos doadores, a sugestão seria mudar a balança dos aspectos negativos para
positivos, de modo que os positivos predominem.
Nesse sentido, os autores sustentam que as campanhas de informação deveriam
enfatizar os aspectos positivos, neutralizando os aspectos negativos. Um passo especialmente
importante para transformar o não-doador em doador seria a concentração de esforços durante
a primeira doação e o uso dessa oportunidade para a conversão desses em doadores regulares,
através da persuasão, do atendimento e das informações prestadas a respeito de todos os
procedimentos (LEIBRECHT et al., 1976).
Um dos estudos sobre o perfil demográfico de doadores de primeira vez relacionou a
frequência de doações subsequentes com o maior nível de instrução e idade e, o menor
50
intervalo entre as duas primeiras doações com maior probabilidade de retorno para futuras
doações (OWNBY et al., 1999). Outro estudo mostrou “relação direta entre a compreensão do
processo de doação, com ênfase no conhecimento das características dos doadores de sangue,
e aspectos motivacionais positivos e negativos à doação” (GILLESPIE, 2002, p. 117).
Além desses aspectos, dentre as “razões” que norteiam a organização dos serviços de
coleta de sangue, incluindo o preparo do candidato a doação, configura-se a análise do
comportamento dos doadores visando a segurança transfusional.
Neste sentido, Rodrigues (1995, p. 515) afirma que as instituições normatizadoras e
assessoras da área de saúde, nacionais e estrangeiras,
são unânimes em associar a melhor qualidade do sangue com o doador voluntário,
não remunerado, e de retorno. Isto porque esses doadores são indivíduos que
comparecem espontaneamente nos serviços de hemoterapia para doar sangue, tendo
sido selecionados clínica e sorologicamente em doações anteriores e, portanto,
tornando a doação mais segura e confiável (RODRIGUES, 1995, p. 515).
Exemplificando, a comparação do comportamento de doadores de sangue nas faixas
etárias mais jovens e mais velhas mostrou que doadores com idade inferior a 25 anos têm
perfil de comportamento de risco para HIV significativamente maior do que doadores mais
velhos (DEMESYN et al., 2003).
De acordo com Schreiber et al. (2003),
estudo comparativo das prevalências para HCV, HIV e HBsAg em um total de 6,4
milhões de doadores de sangue dos EUA (1991 a 1998) mostrou que doadores de
retorno têm substancialmente menor probabilidade de apresentarem resultados
sorológicos positivos quando comparados com doadores de primeira vez, mesmo
após longo período de tempo.
Há, também, a Dissertação de Mestrado realizada no Hemocentro de Botucatu, cujo
autor constatou que as inaptidões sorológicas foram maiores entre doadores de reposição se
comparados aos doadores voluntários e convocados (ROCHA et al., 2002). Em São Paulo,
outro estudo mostrou que 88,3% dos doadores inaptos clínicos eram doadores de primeira vez
(MENDONÇA et al., 2002).
Porém, muitas perguntas permanecem sem respostas na área dos atributos
motivacionais relacionados à doação de sangue. A meta final, certamente, é a melhoria das
técnicas de recrutamento de doadores; o aumento do número de doadores e o conhecimento
das razões dos não-doadores (RODRIGUES, 2001). Entretanto, busca-se ressaltar a influência
51
da confiança do doador na instituição, enfatizando a interação de serviço como fator atenuante
das dúvidas e/ou medos do doador.
Sobre os mitos e as crenças, Lévi-Strauss (1975), em seu pensamento estruturalista,
representou um avanço significativo na compreensão dos mitos, pois os primeiros
antropólogos se viram maravilhados quando entraram em contato com as fabulações
fantásticas dos povos tribais. Os psicólogos logo perceberam sua importância na compreensão
da psique humana.
Para a antropologia, os mitos tratam dos valores engendrados no seio do processo
histórico-cultural. São narrativas dificilmente explicadas pela razão discursiva mas
que atuam de maneira inconsciente num grupo cultural, imprimindo os valores
básicos e aquelas verdades absolutas sem as quais não é possível viver. O ritual dá
visibilidade ao mito e às crenças. A repetição de um gesto torna-o significativo para
nós. Estabelece uma verdade inquestionável, constituindo a maneira de ser como
naturalmente correta (GUERRIEIRO, 2005, p. 110).
Os mitos são condução de crença para aqueles que os aceitam e por eles pautam suas
vidas. Por isso, para os crentes, os mitos nunca são vistos como tais (LÉVI-STRAUSS, 1975).
A força do mito está na linguagem que atua inconsciente no indivíduo. Este só se
reconhece verdadeiramente humano na medida em que imita seus deuses, heróis civilizadores
ou antepassados míticos. Eles vão sempre à frente, indicando de maneira subliminar o
caminho a trilhar, vencendo as dificuldades da vida, dando-nos força para enfrentá-las e
exorcizando temores que impedem o desenvolvimento (KOLAKOWSKI, 1981).
O mito mantém uma relação estreita com o imaginário, que é um depositário de
imagens advindas da vivência coletiva e o mito as transfigura e lhes confere sentidos que são
necessários em certo momento. “O ponto de partida do mito são as experiências vividas no
cotidiano que depois retornam de forma figurada para reestruturar a realidade social”
(GUERRIEIRO, 2005, p. 111).
Nesse sentido, mito é expressão simbólica e imaginária da realidade vivida. O
imaginário rompe com as fronteiras do tempo e do espaço. Livres dessas categorias
limitadoras, o mito relaciona ideias e valores incondicionados e absolutos ao que é vivido de
maneira condicionada (KOLAKOWSKI, 1981).
O ser humano vive imerso em representações imaginárias instituídas na e pela
coletividade e vivenciadas na essência das subjetividades. A estruturação que ordena o mundo
não se apresenta de maneira objetiva e sim como um fenômeno psíquico, consciente ou não
(GUERRIEIRO, 2005).
52
O real nunca é passivamente percebido de maneira objetiva e direta. A cada época,
local e cultura constrói-se um conjunto de interpretações que orientam o sentido de verdade.
Segundo Guerrieiro (2005, p. 97), “longe de constituírem orquestrações fantasiosas, o mito e a
religião são expressões cognitivas imaginárias que os povos estabelecem na tentativa sempre
presente de construir representações do mundo”.
As diferenças da racionalidade mítica e científica não se situam na oposição “razão
versus ilusão” (GUERRIEIRO, 2005, p. 100) e sim no tipo de relação com o real. O que
estabelece a noção de verdade é a crença envolvida nas representações simbólicas.
O imaginário não é delirante, pois possui princípios de ação, racionalidade e
causalidade coerentes. Nele, o critério da verdade é a eficácia desses princípios. “Essa lógica
própria, passível de ser construída e reconstruída, distingue o imaginário da simples ilusão. O
imaginário tem relações com a vida circundante, é constituído e legitimado socialmente”
(BERGES, 1973, p. 35). Nesse sentido, mito e religião são reais, pois fazem parte do
imaginário e possuem lógicas internas. Os grupos sociais compartilham suas crenças, não
colocando em dúvida suas afirmações.
O envolvimento consciente da sociedade no processo de doação, requer também uma
reflexão sobre os mitos que interferem nas razões que levam as pessoa a doarem ou deixarem
de doar. Andaleeb e Basu (1995) constataram que a propensão para correr riscos diferencia o
doador do não-doador. Uma variável encontrada na pesquisa, a força da explicação, foi gerada
pela percepção dos riscos e pela confiança depositada nas unidades hemoterápicas,
demonstrando que pode haver por meio desta o incremento em confiança e redução dos riscos
percebidos com a saúde.
Na nossa vivência profissional observamos que os candidatos à doação referiam
muitas vezes medo de doar devido a possível dor, risco de contaminação ou a necessidade de
uma vez doar sempre doar. Nesse sentido, nosso trabalho era propiciar uma experiência
tranqüila e transparente durante o processo de doação, promovendo a confiança do doador no
serviço.
Isto é confirmado por Ludwig (2001), quando refere que a confiança na unidade
hemoterápica pode ser influenciada de diversas maneiras. A perícia percebida e a intenção de
outro grupo, cujas ações influenciam o resultado do grupo focado podem alterar fortemente a
confiança. Por exemplo, se doadores potenciais acreditam na falta de habilidade dos
colaboradores, a confiança diminuirá. Os doadores também podem acreditar que os
colaboradores não são responsáveis o bastante para protegê-los de possíveis danos, tais como:
agulhas não-esterilizadas, erros ou enganos nos testes sorológicos e outros procedimentos.
53
Essa possibilidade de negligência pode atenuar a confiança e, consequentemente, afetar a
doação (ANDALEEB, 1995).
Ludwig (2001) ainda explicita que a confiança é um fator importante em decisões de
doar sangue, contudo salienta que as pessoas têm idéias diferentes em relação ao que inspira
confiança. Dessa forma, a ênfase no atendimento pode fazer diferença no retorno do doador
voluntário, pois quanto maior o nível de confiança que os indivíduos têm na instituição é mais
provável que venham a doar. Porém, mesmo que as pessoas confiem, pode ser que tenham
interesse em saber os danos potenciais que podem ocorrer devido à incompetência ou má
vontade dos colaboradores. Assim, o medo de adquirir problemas de saúde pode ser atribuído
a aspectos além do controle da unidade hemoterápica e da confiança gerada por seus
colaboradores.
As instituições também deveriam continuamente rever seus procedimentos,
estabelecendo e mantendo padrões de qualidade, monitorando e guiando o comportamento
dos colaboradores para acentuar o interesse pelo doador. Esse procedimento é importante,
pois se reconhece que o doador forma um julgamento global da operação, baseado no que
percebe e observa: limpeza, ambiente, profissionais, comportamento prestativo e cortês dos
colaboradores para com os doadores, exatidão dos procedimentos e tempo do serviço. Esses
aspectos desenvolvem a confiança do doador. Uma vez que a unidade hemoterápica confia
nas suas práticas, deve partir para a segunda tarefa e empreender comunicações com o público
de maneira a reduzir a percepção sobre o risco de saúde e alimentar a confiança do mesmo
(LUDWIG, 2001).
Sabemos que a maioria dos doadores de sangue o faz para alguém das suas relações,
sendo que menos da metade destes nunca doou sangue antes. Esse aspecto demonstra que,
apesar de haver essa necessidade por parte das instituições, não existe um fator motivacional
mais concreto que a solicitação de amigos ou parentes. Dessa forma, constatamos que os
resultados evidenciam, entre outros, a importância da qualidade do atendimento e da
confiança na diminuição dos medos e mitos e da percepção do risco de doar.
Nessa lógica a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1999) e a Organização
Panamericana de Saúde (OPAS, 1992) consideram importante a viabilização de estudos dos
fatores sócio-culturais relacionados à doação de sangue como forma de subsidiar novas
estratégias de captação e fidelização de doadores voluntários de sangue.
Brasil (1999) sugere, ainda, o desenvolvimento de projetos educacionais e
campanhas educativas e publicitárias com o objetivo de fidelizar os doadores, tornando-os
regulares e permanentes.
54
Conforme Giviziez et al. (1993), pode-se considerar como elementos fundamentais
no trabalho de captação de doadores de sangue a participação ativa da população na
manutenção de um sistema transfusional; a fidelização dos doadores, com retorno regular e
permanente à doação, e a corresponsabilidade entre serviços de hemoterapia e doadores de
sangue, pela qualidade do sangue.
Nesse partilhar de responsabilidades, e considerando a complexidade que envolve a
sensibilização da população para a doação de sangue, é que acreditamos ser fundamental o
envolvimento da escola como multiplicadora desses conhecimentos; o que sugerimos ser
trabalhado como tema transversal na abordagem da formação de uma consciência cidadã.
CAPÍTULO IV - OS DADOS DA PESQUISA: O SABER DE ALUNOS E
PROFESSORES SOBRE DOAÇAO DE SANGUE
56
Buscando confrontar nossos estudos com a prática vivenciada na educação formal
com o objetivo de entender o conhecimento e a interação dos assuntos pertinentes à doação de
sangue e cidadania, no presente capítulo apresentamos as análises das respostas dos alunos e
professores de uma escola da rede estadual de ensino.
Acreditamos que no processo de conscientização acerca das questões de doação e
cidadania, aprender não é transferir conhecimento, mas criar um ambiente propício à
construção compartilhada do conhecimento, o que inclui uma ação dialógica2 na qual o
escutar se torna mais importante do que o falar (FREIRE, 2000).
Da mesma maneira consideramos que o processo de pesquisar sobre essa temática
envolveu uma relação dialógica entre pesquisador e sujeito da pesquisa por meio das
entrevistas e dos questionários, o que propiciou a construção de novos significados para o
processo de doar e o exercício de cidadania.
Ao tentarmos escrever sobre o outro, tivemos o cuidado de não sermos
discriminatórios, invasivos, nem excludentes, de maneira que as expressões dos entrevistados
fossem transcritas na íntegra e consideradas como reais interpretações.
Procuramos relacionar o sistema de significados, respeitando as várias maneiras que
as pessoas têm de construir suas vidas em sociedade. Entendemos que os significados estão
incorporados e cristalizados na cultura dos entrevistados e as interpretações atribuídas ao
sangue, relacionadas às transfusões sanguíneas, são oriundas deste complexo sistema de
construção de significação sociocultural.
Assim, estruturamos a análise a partir do saber dos alunos e do saber dos professores.
Destes primeiros surgiram 3 categorias provenientes de suas respostas sendo: o conhecimento
sobre doação de sangue; os mitos sobre doação de sangue e doação de sangue e
cidadania.
Das
respostas
dos
professores
organizaram-se
também 3
categorias,
caracterizando-se da seguinte forma: conhecimentos e mitos sobre doação de sangue;
doação de sangue e formação de cidadania; e, educação formal e doação de sangue.
2 A ação dialógica é pontuada por Freire (2000) como um encontro no qual a reflexão e a ação são inseparáveis
daqueles que dialogam e orientam-se para transformar e humanizar o mundo.
57
4.1 O SABER DOS ALUNOS
4.1.1 Conhecimento sobre doação de sangue
Essa categoria de análise surgiu a partir das repostas de 19 alunos as perguntas: “o que
você sabe sobre o processo de doação de sangue?”, e, “onde você adquiriu seu conhecimento
a respeito da doação de sangue?”.
Nossos sujeitos da pesquisa fizeram as seguintes colocações a esse respeito:
Não sei muito sobre o assunto, mas o objetivo é ajudar quem precisa. (S2)
Pouco. (S3)
Desconheço sobre o assunto, mas dói muito, é o que dizem. (S7)
Não sei praticamente nada. (S11)
Dentre os alunos que responderam o instrumento, sete demonstraram pouco ou nenhum
conhecimento sobre doação de sangue, conforme os relatos apresentados. Os demais
demonstraram um conhecimento superficial sobre questões técnicas relacionadas ao processo,
como a seguir:
Possui intervalo de doação, é permitido a partir de 18 anos, e passa por rápido
questionário para saber se poderia doar ou não. (S12)
A pessoa vai até um posto de doação de sangue, e doa uma certa quantidade,
através da veia no braço. (S18)
É um processo que você faz coleta de sangue e é armazenado para utilização em
hospitais, etc. (S15)
Sei que é muito importante pois há poucos doadores resultando assim na falta do
mesmo (S16)
É guardado no Hemosc, separados por tipo para depois ser usado em pessoas que
precisam ou também pode ser usado em situações de emergência.(S1)
Analisando esses relatos, podemos observar que o conhecimento dos alunos envolve
critérios de seleção como idade, intervalo entre doações, análise de um questionário; critérios
de coleta e armazenamento como volume de sangue a ser coletado, tipos sanguíneos e destino
do sangue. Chama atenção o relato de S16 que refere que se não há doadores, não há estoque
58
de sangue, sendo essa a base de todo o serviço de captação de doadores e a base do processo
de conscientização para cidadania.
No entanto, esses relatos demonstram que o conhecimento é fragmentado e sem
aprofundamento sobre o tema. Nesse sentido, reconhecer de onde os alunos significam esses
conhecimentos trata-se de fundamental importância para saber que processos educativos estão
envolvidos. Os relatos abaixo revelam algo sobre esses aspectos quando evidenciam que os
conhecimentos sobre doação de sangue surgem a partir da educação informal, como:
Televisão e com meus pais. (S2)
Televisão e internet. (S3)
Em propaganda de TV, na escola. (S9)
Através da televisão, jornais e escola. (S14)
Meu pai falou um pouco porque ele já doou. (S7)
Com a minha avó que é doadora e pela televisão (S11)
Em propagandas e em campanhas a respeito de doação de sangue(S19)
Para Roiz (1996), os meios de comunicação de massa têm um grande alcance e
influência em todos os aspectos da vida coletiva e reforçam o vínculo social. A capacidade
amplificadora da persuasão dos meios de comunicação audiovisuais, em especial o rádio, a
televisão, juntamente com a elaboração e experimentação de novas técnicas para recolher,
transmitir e armazenar informação e a aplicação de novos procedimentos de base psicológica
(motivação, desejos ocultos) e sociológica (comportamento de massa) influenciam as pautas
sociais.
Nesse sentido, a questão da propaganda como forma de educação para troca de
atitude, através de uma ação deliberada para influenciar a conduta dos indivíduos de forma a
sensibilizar para a relevância da doação de sangue, deve ser objeto de análise apurada. Sob
esse prisma, as técnicas modernas de persuasão figuram como ferramentas para formar climas
de opinião dentro do espaço social.
Um dos objetivos fundamentais para tanto consiste em fazer com que os indivíduos
mudem opiniões, transformem seu comportamento anterior e revejam os fatores de
personalidade que podem afetar as mudanças de atitudes. Para isso, a comunicação deve:
informar de modo adequado (simples) a população, enfatizar a solidariedade, tornar a doação
59
de sangue gratificante, repetir a idéia constantemente, utilizar frases impactantes, chamar
autoridades e pessoas de destaque para participar das campanhas e, principalmente, informar
sobre os benefícios da doação de sangue, tanto para os doadores (prevenção) quanto para os
receptores (doador testado e retestado é mais confiável, mesmo sendo considerada a janela
imunológica) e para a saúde pública (controle epidemiológico da população), de forma a
persuadir os indivíduos para que modifiquem as condutas que possam se desviar deste
objetivo (ROIZ, 1996).
Nesse estudo, queremos chamar atenção para um aspecto educativo relacionado a
doação de sangue que está atrelado a formação do cidadão. Ao compararmos as respostas dos
alunos sobre os conhecimentos, se evidencia a educação informal por intermédio dos meios
de comunicação como a principal fonte desses saberes, o que pode estar relacionado a
fragmentação dos mesmos, como apresentado nas respostas sobre o que os alunos entendem
sobre doação de sangue.
A fragilidade dos instrumentos comumente utilizados nas campanhas de educação
em saúde - televisão - folders – cartazes, já é conhecida por sua ação pontual e não
permanente no comportamento das pessoas, pois mobiliza a população em um determinado
momento, mas geralmente não assegura a fidelização do processo. No caso das campanhas de
doação de sangue isso é observado quando observa-se o aumento no número de doadores na
presença de apelos televisivos ou no mês em que se comemora o dia do doador.
Consideramos que os meios de comunicação de massa tratam-se de um mecanismo
importante para educação e saúde, mas que sozinho não da conta da manutenção das
necessidades de sangue da população. É nessa perspectiva que pensamos que a escola pode
ser uma aliada importante na concepção do processo de doação como instrumento de
formação de cidadania, pois educar é, “fundamentalmente, criar condições para a experiência
de aprendizagem” (ASSMANN, 2000, p. 273), e doar sangue consiste numa intenção do
individuo, mas sobretudo numa articulação de saberes.
A escola utilizando a concepção do aprender a aprender como um processo evolutivo
que coloca nas decisões do homem contemporâneo a capacidade e a responsabilidade de ser
um co-construtor de um projeto de aprendizagem desejado, pode levar o aluno, futuro cidadão
a corresponsabilizar-se pelas suas ações na sociedade e como tal, apreender sobre a
necessidade de doar sangue.
Ainda acreditamos que, para se reverter constatações de respostas, como desconheço,
não sei nada sobre o assunto evidencia-se a necessidade do professor por em foco a questão
da significação de empreender propostas de ensino que objetivem estimular o pensamento
60
organizado, levando o aluno a apropriar-se do conhecimento de forma consciente, reflexiva e
crítica. Isso, mediante procedimentos pedagógicos de ensino que privilegiem a interação
dialogal e a análise dos implícitos do processo de doação de sangue.
Assim, nessa articulação de saberes é importante que o professor ressalte em seus
ensinamentos em sala de aula que a doação de sangue é simples, rápida, segura e,
principalmente, um ato de solidariedade e cidadania, e, para tal, necessita de estrategias que
proporcionem uma aprendizagem significativa ao aluno.
4.1.2 Mitos sobre doação de sangue
Nessa categoria de análise procuramos agrupar os relatos dos alunos que revelam
alguns mitos relacionados ao ato de doar sangue, lembrando que o mito relaciona-se com o
imaginário proveniente da vivência coletiva sendo originado das experiências vividas no
cotidiano das pessoas (GUERRIEIRO, 2005).
Quando questionados em relação ao significado da doação de sangue, os sujeitos
elencaram o ato de doar sangue como um ato para salvar vidas, conforme mostra os relatos a
seguir.
Ajudar e salvar vidas. (S1)
Ajudar as pessoas que necessitam de sangue, pois isso é o que Deus quer[...](S7)
Ajudar pessoas (S5)
Doar, é sem esperar algo em troca. Fazer o bem sem olhar a quem. Ajudar pessoas,
que até mesmo o doador desconhece, e que precisam. (S48)
[...]sempre é bom ajudar aquele que necessita de nossa ajuda, e também saber que
salvamos uma vida (S13)
Eu pretendo doar sangue, e acho que todos deveriam doar, ajudariam bastante
gente. (S10)
Não sou doadora, mas já pensei em ser, porque é sempre bom ajudar aquele que
necessita da nossa ajuda, e também saber que salvamos uma vida. (S13)
Os alunos pesquisados não são doadores de sangue por serem menores de 18 anos,
idade que permite que a doação de sangue seja efetuada. Após diálogo com esses alunos,
observamos, a partir das respostas, que todos se mostraram interessados na doação de sangue
61
e, na visão deles, este ato de solidariedade é importante para ajudar a quem precisa de sangue,
pois, podem estar salvando uma vida.
Assim, podemos inferir que para esses alunos, o significado da doação de sangue é
ajudar a quem precisa, ou seja, ajudar outras pessoas que precisam de sangue para viver.
Chamamos atenção para o fato de que a falta de instrução coloca-se como obstáculo
para que as pessoas compreendam o significado e a importância do sangue para a recuperação
do organismo e para a preservação da vida. O imaginário popular, segundo Bosi (1992),
geralmente associa o sangue tanto à vida quanto à morte. Este significado ambivalente que o
sangue traz consigo apresenta-se, de um lado, como fonte de vida e atua assim, como,
elemento de autopreservação e de preservação da espécie e, de outro lado, como significado
de morte, atuando dessa forma como símbolo de agressão e destruição da vida.
Os aspectos psicológicos decorrem das fases de desenvolvimento do indivíduo, da
falta de esclarecimento e também das fantasias do imaginário popular a respeito do sangue. A
disposição interna de doar sangue está intimamente ligada às fases que o indivíduo
desenvolveu em seu ciclo vital.
Dentro dessa perspectiva de criação do imaginário coletivo, a maioria das
propagandas sobre a doação de sangue tenta sensibilizar os indivíduos para a doação,
estimulando-os a serem heróis, ou seja, a serem capazes de salvar uma vida, ou algumas
vidas, dotando as pessoas que se dispõem e podem doar sangue de maior poder frente a quem
recebe ou a quem não pode doar. Isto pode explicar porque os alunos atrelam o significado da
doação com o salvar vidas; até porque os conhecimentos por eles apreendidos provem
principalmente da televisão.
Mediante esses aspectos, enfatizamos a necessidade de maior compreensão por parte
dos alunos sobre o processo de doação, bem como do grau de conscientização necessário por
parte de quem doa para que este ato repercuta em real benefício a quem recebe o sangue, e,
que seja um ato contínuo, tendo em vista a segurança transfusional e a permanência dos
estoques de sangue. Lembramos que um dos aspectos da segurança transfusional está
relacionado às cadeias de transmissão de doenças infecciosas pelo sangue e que geralmente
também o são pelo contato sexual.
A complexidade do sistema de ensino principalmente sobre o ato de doar sangue
exige que se explique melhor aos alunos o que significa ser doador voluntário e permanente,
pois esse grau de conscientização não se dá de uma hora para outra, mas depende de um
aprendizado significativo. A escola pode contribuir nesse sentido auxiliando desmitificar
62
alguns significados relacionados ao processo de doação de sangue como o de tornar-se “super
herói” doando sangue.
Entendemos que esse imaginário coletivo sobre a doação deva ser superado para dar
espaço a uma compreensão mais ampliada pois é importante que o candidato a doação saiba
os critérios que envolvem o processo considerando que ele pode ser apto ou inapto. No caso
de ser aprovado na triagem para doação, esse candidato passa a ter um potencial para
fidelizar-se ao processo, cuidando inclusive mais de sua saúde. Em contrapartida, no caso de
ser inapto, por falta de esclarecimento esse doador que antes era um “herói” e agora um
“rejeitado”, pode tornar-se um multiplicador negativo frente a captação de novos doadores.
4.1.3 Cidadania e doação de sangue
O doador de sangue é o elemento vital para o funcionamento dos hemocentros.
Os aspectos relacionados às terapias que utilizam sangue e seus derivados há muito deixaram
de ser problema somente dos médicos ou dos hospitais; trata-se de uma responsabilidade
social que envolve toda população. Porém a realidade constatada no Brasil e em outros paises
em desenvolvimento, reflete a falta do exercício de cidadania em relação ao ato de doar.
Poucos são os segmentos da sociedade que colocam em prática essa ação de modo
permanente.
Dos alunos pesquisados, uma minoria associou a doação de sangue com ato de
cidadania:
É um ato de cidadania que todos deveriam fazer. (S6)
Solidariedade para a comunidade (S17)
“A grande maioria das pessoas só doa sangue quando alguém pede” (BRASIL,
2000). Essa afirmação reflete duas irresponsabilidades do sistema de saúde: a primeira está
relacionada à inexistência de sangue estocado em condições de uso com segurança, pois é
necessário tecnicamente um intervalo de dias para que o sangue coletado possa ser utilizado e
todo o cidadão tem direito a isto; a segunda relaciona-se ao tratamento reducionista que as
instituições hospitalares dão ao assunto, transformando um problema de ordem coletiva e de
interesse de toda a comunidade em uma questão individual ou familiar: a família da vítima ou
paciente é transformada em agenciadora de doadores.
A emergência ou doença que provoca a necessidade de transfusão é de fato um
problema individual, mas para a comunidade e para o Poder Público não é, pois de antemão
63
todos sabem que diariamente ocorrerão acidentes de trânsito, de trabalho, crimes, violências e
cirurgias.
Nessa perspectiva, doar sangue como um ato altruísta, torna-se um ato de cidadania.
Parte-se então para a discussão das relações interpessoais que se estabelecem por meio da
intenção de “ dar sem interesse”, o que segundo Godbout (1999), podemos chamar de dádiva.
É importante levar em conta que a doação gratuita de sangue a desconhecidos,
enquanto dádiva, “não comporta obrigação habitual ou legal, nem determinismo social, nem
poder arbitrário, dominação, coerção ou constrangimento, nem vergonha ou culpa, nem
imperativo de gratidão ou de penitência” (TITMUSS apud GODBOUT, 1999, p. 67)
Assim, a dádiva circula entre vínculos comunitários pressupondo proximidade social.
Países mais evoluídos socialmente há muito perceberam que esse assunto está relacionado aos
aspectos políticos da organização da sociedade, tais como grau de organização dos cidadãos
em entidades civis, através de clubes, de associações, dos conselhos, das igrejas etc., ou
institucionais-corporativas como são as empresas, os sindicatos, as polícias, os exércitos, as
universidades e, finalmente, ao grau de organização do próprio Estado, através das Políticas
Públicas de Saúde Coletiva e da Participação social e consequentemente da forma de
organizar a sociedade que, através da apropriação de informações, passa a compreender
melhor suas obrigações e direitos para, finalmente, tornar os cidadãos conscientes (BRASIL,
2000).
“A doação de sangue tem o “dom” de colocar em questão as relações geralmente
estabelecidas entre dádiva e relações sociais.” (GODBOUT, 1999, p. 67). Esse mesmo autor
refere que a doação de sangue é unilateral e sem retorno. O relato do aluno S18 caracteriza
isso:
Doar sem esperar algo em troca.[...] Ajudar pessoas que até mesmo o doador
desconhece e que precisam (S18)
Todas as doações são voluntárias, mas só a minoria dos doadores tem informação
suficiente para decidir soberanamente sobre o significado do seu ato de doar uma parte de si
para outro cidadão.
Cidadãos que se tornam doadores voluntários e permanentes adquirem informações
que provocam o desenvolvimento da consciência da preservação da saúde através da redução
dos riscos de exposição. Esse è o objetivo final de se educar para cidadania: na mudança de
comportamento, o individuo cuida de si e solidifica o exercício de cidadania ao passo que se
preocupa com o outro, resultando assim, promoção à saúde.
64
Concordamos com Fonseca (2000), ao referir que os sistemas educativos são
responsáveis por desenvolver junto aos jovens as práticas de uma cidadania ativa. Porém o
cenário atual da educação ainda está centrado em “vencer” conteúdos que muitas vezes estão
distantes da realidade dos alunos, dificultando a apreensão dos significados, pois não têm
aplicabilidade prática em suas vidas, pouco ou nada contribuindo na formação de cidadãos.
Prova disto, são as campanhas de doação de sangue que tentam formar uma consciência
coletiva na população para captação de doadores, mas que se estabelecem com limitações,
pois não dão conta de garantir a segurança dos processos transfusionais.
A sensibilização da sociedade perante seu comprometimento com a captação de
doadores é um processo com o qual os membros da comunidade e todos os órgãos
governamentais ou não deverão se engajar, pois sem o doador, não haverá em hipótese
alguma disponibilidade de sangue.
Nessa lógica, ressaltamos que a escola constitui-se em um desses segmentos que
acreditamos ser espaço privilegiado para a construção desses saberes e desse compromisso
social do cidadão.
4.2 O SABER DOS PROFESSORES
As três categorias de análise apresentadas, surgiram a partir das entrevistas realizadas
com 5 professores das áreas de biologia, filosofia e sociologia, que atuam no ensino médio.
4.2.1 Conhecimentos e mitos sobre doação de sangue
Ao analisarmos as respostas dos professores quanto à doação de sangue,
identificamos o aspecto da segurança como significativa nesse processo. As condições
necessárias para a doação de sangue como idade mínima e máxima, peso, necessidade de
triagem por meio de exames laboratoriais, quantidade a ser coletada, uso de material
descartável entre outros foram relacionados ao aspecto de segurança técnica. Houve
correlação desse aspecto no processo de doação tanto para doador quanto receptor, como
mostram os relatos:
primeiro lugar é importante salientar que doar sangue é seguro, todos os
procedimentos realizados são estéreis. Existem também requisitos básicos para a
doação de sangue: Estar bem de saúde; Ter idade entre 18 e 65 anos; Pesar no
mínimo 50 kg. (S1)
65
Existe uma série de esclarecimentos para o processo de doação de sangue. Há
critérios que permitem ou que impedem uma doação de sangue, que são
determinados por normas técnicas do Ministério da Saúde, que visam à proteção ao
doador e à segurança de quem vai receber o sangue. (S5)
Não prejudica a saúde, mas pode melhorar as condições de vida de muitas pessoas,
o organismo repõe com facilidade as quantidades (ml) doadas. Todo material
utilizado é descartável e esterilizado, são feitos vários exames no sangue doado
permitindo saber sua condição real de saúde; Lembrando que existem outros
fatores, que serão identificados durante algumas etapas. (S3)
É um processo praticamente indolor, voluntário, sendo que quem doa uma vez não
precisa necessariamente doar sempre. Os doadores passam por uma triagem, são
feitos alguns exames, avaliação médica para verificar suas condições para doação.
É um ato humanitário, e muitas vezes altruísta. (S2)
Relembramos que no processo de doação de sangue estão envolvidas, além dos
aspectos técnicos, questões éticas e comportamentais em relação a valores e atitudes dos
candidatos à doação de sangue que interferem na qualidade final do produto – o sangue a ser
doado. O aspecto da qualidade transfusional compreende prerrogativas de segurança para
quem doa e para quem recebe o sangue, preconizadas legalmente por meio da Resolução Nº.
153/2004 do Ministério da Saúde, que explicita todos os critérios técnicos que visam a tal
proteção. Os professores demonstram conhecimento acerca de alguns critérios que visam
segurança de quem doa e de quem recebe, inclusive referem a possibilidade de impedimento
para o processo de doação de sangue. A mesma legislação preconiza as principais causas de
inaptidão definitiva para doação de sangue, as principais causas de inaptidão temporária, os
principais medicamentos e as principais doenças infecciosas e sua correlação com a doação de
sangue além das principais cirurgias e vacinas que podem interferir na doação de sangue
(BRASIL, 2004).
Embora percebamos que os sujeitos demonstram um conhecimento importante
referente ao processo de doação quanto aos aspectos técnicos, as questões subjetivas acerca
do ato altruísta não aparecem como significativas. Por seus relatos, podemos deduzir que os
professores apresentam condições para desenvolver a temática do ponto de vista técnicocientífico. No entanto, se o professor não se sensibilizar para desenvolver o tema na
perspectiva subjetiva do ato de doação como desenvolvimento do altruísmo, como esperar dos
alunos em processo de formação, essa consciência sobre o ato de doação e o exercício de
cidadania?
Partindo da premissa sobre a presença de mitos no imaginário coletivo da sociedade
que interferem na doação de sangue, os professores foram indagados se os mesmos se
evidenciam na sala de aula pelos alunos. Nesse sentido, ficou evidenciado nos relatos que
66
crenças populares não deixam as pessoas fazerem doação, por exemplo, o sangue fica grosso
ou mais fino; doar sangue vicia; doar sangue engorda ou faz emagrecer entre outras. Houve
correlação de que a temática não é trabalhada, ficando no senso comum as informações do
processo de doação.
Sim, é muito comum em especial quando se trabalho com adolescentes. Nesta fase
de crescimento, os alunos fazem várias perguntas, como exemplo:- O sangue doado
é rapidamente compensado?- Após cada doação são feitos exames laboratoriais?
Doar sangue não vicia? Uma doação pode servir a várias pessoas diferentes? Doar
sangue engorda ou fazer emagrecer? (S2)
Apesar de a doação ser um gesto voluntário, há crenças populares que deixam as
pessoas com medo de fazer a doação. Alguns desses mitos são, por exemplo que o
sangue fica mais fino ou mais grosso, que doar sangue a pessoa fica mais fraca,
quem doa sangue uma vez tem que continuar doando sempre. ‘A cultura brasileira
ainda reflete essa desinformação’. (S3)
Não. As pessoas desconhecem ou tem medo porque o professor não fala, não
incentiva e convence sobre a importância, a necessidade e a simplicidade do ato em
si. Noto que alguns alunos ainda não sabem seu tipo de sangue, tem medo da
agulha e precisam ser orientados sobre o valor da doação sanguínea na avaliação
de sua saúde além de salvar vidas (S5).
Em qualquer lugar do mundo o sangue tem um significado cultural muito importante.
Frequentemente ele é visto como a força da vida e como um símbolo de laços de família e
parentesco. Existem mitos, crenças e superstições sobre a doação sanguínea, por esta razão, o
importante é respeitar as diferenças culturais no planejamento de campanhas de educação e
motivação para atingir metas e fornecer informações corretas. Vencer sentimentos negativos
sobre a doação de sangue é o primeiro passo em qualquer campanha de captação de doadores.
Com educação e informação correta, as barreiras para a doação de sangue poderão ser
superadas a longo prazo. Na maioria das vezes, a desmotivação ocorre por falta de
conhecimento sobre a necessidade de doação de sangue ou sobre o que está envolvido no
processo de coleta de sangue: medo de agulhas, medo do desconhecido, crenças religiosas,
mitos e superstições, tradição, medo de se descobrir doente (OPAS, 2004).
É necessário desmistificar crenças e tabus, pois esse tipo de informação terá um
efeito nas campanhas de captação de doadores e consequentemente a diminuição de doações.
Assim, garantir que o doador esteja bem informado sobre todo o processo da doação de
sangue é fundamental para estimular um maior número de doações.
Experiências têm demonstrado relação entre fatores sócio-culturais, como grau de
conhecimento sobre o processo de doação e transfusão e crenças e tabus, como grau de
motivação à doação de sangue (SALES et al., 2003). O estudo desses fatores tem sido
67
utilizado como subsídios para campanhas direcionadas à captação de doadores
(GUTIÉRREZ; TAJEDA; CRUZ, 2003).
Nessa perspectiva, a difusão do conhecimento visa quebrar preconceitos e tabus que
ainda envolvem o tema doação de sangue. Essa questão é abordada pelos doadores que,
mesmo manifestando o sentimento de solidariedade, colocam que o desconhecimento sobre
doação de sangue, os mitos e tabus muitas vezes são empecilhos para a decisão em ser
doador.
Diante dos relatos, ressaltamos a importância do papel da escola/professores na
teorização e discussão acerca de crenças e mitos no processo de doação, oportunizando um
processo de ação-reflexão-ação da temática elencada.
Laville e Dione (1999, p. 21) vêem a escola como uma instituição, cuja missão é a de
ensinar, porém transcendendo essa tarefa a ponto de oportunizar aos estudantes condições de
avaliarem criticamente o saber oferecido ou mesmo de dar preferência a um outro saber ou até
mesmo de construir um saber diferente. Freire (1999, p. 25) tem um entendimento semelhante
quando afirma: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua
produção ou construção”.
4.2.2 Doação de sangue e formação de cidadania
Sob a perspectiva de sensibilização para a doação de sangue, a educação passa a ser
um referencial para a proposta de captação de doadores, que é uma atividade voltada ao
desenvolvimento de programas e campanhas que objetivam conscientizar a população quanto
à importância da doação de sangue (HEMOSC, 2008). Nesse processo educativo de captação
de doadores, há que se trabalhar com a população o aspecto de cidadania que envolve este ato,
pois a escola é o caminho que propicia o conhecimento e o direito de cidadania. Assim,
concordamos com Covre (2005) que cidadania é o próprio direito à vida no sentido pleno.
Trata-se de um direito que precisa ser construído coletivamente, não só em termos de
atendimento às necessidades básicas, mas de acesso a todos os níveis de existência, incluindo
o mais abrangente, o papel dos seres humanos no universo.
Essa categoria de análise se deu a partir das respostas a dois questionamentos
direcionados aos professores compreendendo “você desenvolve em suas aulas alguma
temática relacionada à doação de sangue?”, e “existe relação entre doação de sangue e
formação para a cidadania?”.
68
Ao analisarmos as respostas dos professores quanto ao desenvolvimento da temática
em sala de aula, identificamos que os mesmos têm conhecimento, porém abordam raramente
ou nem o desenvolvem com seus alunos. Quando trabalham, geralmente o vinculam a outro
tema como doação de órgãos, tecidos, célula, doenças sexualmente transmissíveis entre
outros. É relevante ressaltar que houve correlação do tema com cidadania como mostram os
relatos.
Raramente. Nas escolas não existem ações informativas buscando fomentar a
atividade de doar sangue. (S1)
Em poucas oportunidades, quando trabalhamos o tema cidadania, foi abordado
este tema, assim como o da doação de órgãos. (S2)
Sim. Quando o assunto é: tecidos, embriologia, células, hepatite, doenças
sexualmente transmissíveis, doenças de chagas, obesidade, anemia, AIDS, uso de
drogas, comportamento homossexual ou bissexual, em caso de gravidez, o uso de
bebidas alcoólicas, acidentes, prevenção, educação, solidariedade, cirurgias.
Enfim, sangue é a própria vida e envolve todos os seres humanos, animais e os
vegetais porque ambos se relacionam e buscam qualidade de vida. (S3)
Ao analisarmos a questão do exercício de cidadania no ato de doar sangue, é
importante ressaltar que em relação aos fatores comportamentais que envolvem atitudes e
valores, o processo de doação seguro inicia na concepção do candidato sobre a doação,
envolvendo os motivos que o levam a doar. A legislação preconiza que o ato de doação deve
ser voluntário e altruísta. Na prática, porém, observamos que nem sempre os motivos que
impulsionam um candidato à doação são desprovidos de interesses pessoais, como
necessidade de sangue por um familiar, resultados de exames, dia de folga, privilégios junto a
concursos públicos. Esses fatores podem gerar risco, pois a qualidade final do sangue depende
de aspectos técnicos e objetivos como resultados laboratoriais e volume coletado, por
exemplo. No entanto, a qualidade é influenciada também por aspectos subjetivos que
dependem do grau de consciência do candidato à doação adquirido formal ou informalmente
sobre os critérios necessários, e também as informações relatadas pelo doador durante a
triagem clínica.
No relato dos sujeitos da pesquisa, a questão da doação como ato voluntário e
altruísta foi destacado por apenas um professor, e a questão do benefício concedido ao doador
na fala de outro, revelando a linha tênue que separa a concepção de doação como ato
voluntário e de exercício de cidadania versus interesse próprio e pontual diante de uma
situação de vida específica.
69
[...] É um ato humanitário, e muitas vezes altruísta. (S2).
[...] (o doador) pode usufruir de vários benefícios; pode salvar vidas [...] (S3).
No processo de doação de sangue, além das questões técnicas e éticas há um aspecto
que é imprescindível destacar e que está voltado à questão comportamental, considerando que
um dos princípios da vida em sociedade é a solidariedade humana, ou seja, a disponibilidade
das pessoas para ajudar umas as outras é de fundamental importância à conscientização de
seus direitos e deveres como também do exercício de cidadania.
Ao analisar as respostas dos professores quanto à doação de sangue e formação para
a cidadania, os mesmos referem que a doação de sangue é uma ação de solidariedade e
cidadania. Ser cidadão é utilizar conscientemente tanto seus deveres quanto seus direitos.
Doar sangue é uma obrigação social e solidifica o exercício de altruísmo. Assim nos mostram
os relatos.
A doação de sangue é uma ação de solidariedade e cidadania absolutamente
importante para a preservação da vida e para a sociedade como um todo. (S1)
É uma condição sine qua non. A partir deste tema, começa a ser desenvolvido
conceitos como o da empatia por exemplo, onde há realmente a preocupação com o
bem estar do máximo solidificando a solidariedade, indispensável para
relacionamentos interpessoais saudáveis e satisfatórios. (S2)
Existe. Ser cidadão é utilizar conscientemente tanto seus deveres quanto direitos.
Deveria doar-se sangue para ajudar a outrem, pelo mesmo motivo que um dia possa
necessitá-lo. (S4)
Doar sangue é mais que um ato de cidadania, é um ato de amor, esse ato traz
embutido não só um caráter de boa ação, mas sim de quase obrigação social.
Afinal, é um exercício de altruísmo doar parte de si às pessoas que você nem
conhece. (S5)
O principal significado da doação de sangue colocado pelos professores está
relacionado a uma atitude solidária, à solidariedade. Tanto se tem falado em ser solidário, em
exercer a solidariedade, principalmente no Brasil. Pautadas nessas premissas, as campanhas
para incentivar as doações de sangue enfatizam o ato de doar como um sentimento de amor ao
próximo, solidariedade e consciência social. Evidencia-se uma proximidade dos valores que
são elucidados nas religiões cristãs, como o amor ao próximo e a solidariedade.
A palavra solidariedade é um substantivo que significa responsabilidade mútua entre
duas ou mais pessoas. Ser solidário é estar aderido à causa, ao sentimento (LUFT, 1985).
70
Assim, solidariedade pode ser entendida como uma atitude de apoio, proteção e cuidado a
alguém.
Nesse sentido, Rodrigues (2004) enfatiza que a doação de sangue é caracterizada por
um ato de solidariedade, uma ação voluntária e consciente com a finalidade de salvar vidas.
Doar sangue é muito mais do que doar um tecido vivo, pois o sangue representa a única
maneira de manter vivo um indivíduo que necessite dele.
No entanto, ao analisarmos a doação como ato de desinteresse próprio, é importante
considerar o inverso da lógica comum do dar e receber, como afirma Godbout (1999, p. 68):
De certo modo, a doação de sangue é uma dádiva que não é recebida. Com relação
ao ciclo “normal” de dar-receber-retribuir, somente o primeiro momento existe no
caso da doação de sangue. Pois se o sangue não é recebido como dádiva, ele também
não é retribuído, ou o é pouco, e em todo caso não é doado para ser retribuído. As
motivações do doador são sobretudo de ordem moral (1972:239).Ele espera mesmo
jamais ter a necessidade de receber. Mas tem certeza de que os outros farão a mesma
coisa se um dia ele precisar.
A doação de sangue a desconhecidos revela o altruísmo da dádiva. Porém, em
relação ao povo brasileiro que é um povo solidário, essa solidariedade tem que ser alimentada
com informação, conhecimento e sensibilização proveniente de vários segmentos que atuam
com a educação informal e formal, tendo em vista a conscientização da doação como
compromisso social que exige um exercício de cidadania.
Assim, relembramos o educador Paulo Freire que em sua maneira de conceber o
fenômeno educativo, dá especial ênfase à conscientização. Para ele, dentre as múltiplas
facetas do processo ensino-aprendizagem, a elaboração e a construção do conhecimento
consistem no desenvolvimento crítico da tomada de consciência. (FREIRE, 1980).
4.2.3 Educação formal e doação de sangue
Essa categoria apresenta a síntese das respostas dos professores quando questionados
sobre as razoes pelas quais o atual modelo de educação não leva a uma consciência de doação.
As respostas dos sujeitos revelam que as disciplinas de português e a matemática são
priorizadas, pois o importante é passar no vestibular. Relatam que deveria existir campanhas
nas escolas; destacam a falta de comprometimento e conscientização por todos os segmentos
da sociedade; e indicam a necessidade de melhor explanação sobre o assunto/cidadania nas
aulas, bem como citam a falta de processos educativos que definam solidariedade e cidadania
relacionadas à atividade de doar sangue.
71
Porque na maioria das escolas o ‘português e a matemática’ são priorizadas, o
importante é passar no vestibular. Esta consciência de estímulo à cidadania ainda
não é valorizada em muitas instituições, e onde há este estímulo, algumas vezes não
existem profissionais capacitados para trabalhar estes temas de que maneira que
torne-se atraente ao público infantil/adolescente. (S2)
Falta de comprometimento de muitas pessoas, de conscientização e até de amor.
Todos os segmentos da sociedade precisam estar envolvidos e participar isso deve
começar na escola antes mesma de ter 18 anos. Solidariedade, incentivo e educação
para um gesto que vale a vida para quem recebe. (S3)
Deveriam existir campanhas nas escolas destinadas a divulgar a importância do ato
de doar sangue. Processos educativos direcionados às crianças e adolescentes,
definindo conceitos de solidariedade e cidadania, relativos à atividade de doar
sangue. Outras atividades informativas e educativas que demonstrem para a
população os inúmeros benefícios do ato de doação de sangue. (S1)
Na realidade, o necessário seria a explanação do assunto para os alunos. Caberia a
cada um deles fazê-lo ou não. O que tento incitar neles é a curiosidade para quem
convêm a cidadania nos seus atuais moldes.(S4)
A realidade vivenciada nos Hemocentros representa, no cotidiano, uma busca
constante por candidatos à doação de sangue, pois os estoques estão sempre fragilizados,
motivo este que se evidencia na cultura brasileira, ou seja, o não-hábito de doar.
Sabe-se que a saúde é um dos temas transversais abordados pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais e estes documentos advogam o compromisso com a construção da
cidadania que requer uma prática educacional propícia à compreensão da realidade social dos
direitos e responsabilidades à vida pessoal, coletiva e ambiental.
Ressalta-se a importância dos temas transversais que correspondem a questões
importantes, urgentes e presentes sob várias formas na vida cotidiana. O desafio que se
apresenta para as escolas é o de estas abrirem-se para este debate (PCN, 1997).
Nesse sentido, concordamos com Santos (2005, p. 166) que as escolas necessitam de
um redimensionamento das práticas e dos conteúdos pedagógicos para assumir a nova
construção no plano educacional, e que esta construção “no mundo de hoje significa participar
da reinvenção concreta de uma nova sociedade, baseada na justiça social e na solidariedade,
na realização prática dos direitos da cidadania sem qualquer tipo de exclusão”.
Essa necessidade foi apontada pelo sujeito S2, indicando a lógica predominante na
educação formal que prioriza conteúdos objetivando o desempenho nos vestibulares em
detrimento da valorização da formação do cidadão. Além disso, esse sujeito salientou a
fragilidade dos professores quando não capacitados para abordarem em suas aulas, temas
transversais como doação de sangue e cidadania.
72
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), ao apontar novas
configurações para os padrões curriculares da educação fundamental, indica a necessidade de
uma reestruturação e de mudanças paradigmáticas para os professores que nela atuam. Dessa
feita, discutir estratégias para a capacitação de professores implica em refletir sobre uma base
conceitual, filosófica e metodológica capaz de subsidiar essas mudanças.
A educação se alicerça nas relações interpessoais entre educadores e educandos que
participam ativamente da construção e (re)construção de conhecimentos de modo a
posicionarem-se crítica e reflexivamente diante da realidade posta. Destacamos, então, a
importância de uma prática pedagógica centrada no diálogo. Para Freire (2002), no diálogo
ocorre verdadeiro encontro entre os homens, em que um e outro agem e refletem
solidariamente, sem dominação. O diálogo como fenômeno humano se revela práxis quando
se concretiza em atitudes de abertura e de compartilhamento em favor do autoquestionamento e do questionamento da realidade, não para adequar-se a ela, nem para
dominar o outro, mas sim para transformá-la em favor de ambos.
Na medida em que o diálogo passa a ser o cerne da construção de espaços
democráticos da prática pedagógica, o processo ensino-aprendizagem como prática social
complexa e que é efetivada entre os sujeitos envolve tanto a ação de ensinar quanto a de
aprender, em um processo contratual, deliberado e consciente. Neste, a parceria é condição
fundamental para o enfrentamento das situações na construção do conhecimento. É uma ação
da qual resulta a aprendizagem de ambos. Esta exige o estabelecimento de um conjunto
relacional em que o novo conhecimento apreendido amplia e modifica o saber inicial a partir
do movimento interior de cada sujeito (ANASTASIOU; ALVES, 2004).
Portanto, ao defendermos nesse estudo a necessidade do ensino formal inserir dentre
os temas transversais, a educação em saúde, e, partindo do pressuposto de que a educação e a
assistência devem manter estreita relação com as necessidades de saúde da população e com
as condições de vida das pessoas em seus diversos contextos, a mesma tornar-se-ia uma
alavanca para processos de mudança para busca de uma vida mais saudável.
Em conformidade com essas premissas no contexto da doação de sangue,
acreditamos que ao trabalhar o exercício da cidadania na formação dos alunos, a escola pode
se configurar num importante espaço de construção da conscientização de futuros doadores,
utilizando-o como tema transversal.
5 VISÕES CONCLUSIVAS
O ato de doar sangue é simples, tranquilo e seguro e não provoca riscos à saúde. Se
cada indivíduo saudável doasse sangue espontaneamente pelo menos duas vezes ao ano, os
hemocentros teriam hemocomponentes suficientes para atender toda a população. O sangue
não tem substituto eficaz, por isso a doação espontânea e periódica é fundamental por ser a
única fonte de obtenção para as transfusões sanguíneas.
Sabemos que muitas pessoas por não terem o conhecimento sobre a doação de
sangue, enfrentam um dilema quando se deparam com a necessidade de optar ou não por
serem doadores. Essas situações, muitas vezes, geram conflitos de crenças, de mitos, de
valores e de princípios religiosos, além de esbarrarem com a desinformação sobre o tema.
Essa foi a principal motivação para o desenvolvimento desse estudo pautada em
nossa vivência como educadora e enfermeira triagista de um hemocentro. Desde o início da
construção da pesquisa, tivemos conciência de que encontraríamos dificuldades em
problematizar sobre a temática em razão do objetivo a que nos propusemos alcançar, uma vez
que, analisar os processos educativos envolvidos na doação de sangue a partir do
entendimento de professores e alunos do ensino médio buscando identificar as relações entre
cidadania e doação de sangue, representou antes de mais nada um desafio na nossa caminhada
do mestrado em educação.
Acreditamos que trabalhar junto com educadores e educandos possibilitaria conhecer
a realidade sobre a doaçao de sangue num espaço diverso da esfera de um hemocentro que
conhecíamos enqunto enfermeira. A metodologia do estudo possibilitou identificar aspectos
como razões e mitos e cidadania no processo de doação de sangue bem como as práticas
pedagógicas voltadas a temática.
A análise dos dados se deu à luz das literaturas pertinentes consultadas, relacionando
à história da hemoterapia e ao contexto atual das necessidades dos bancos de sangue para
compreendermos como os informantes interpretam as significações que atribuem ao sangue
relacionado ao seu entendimento do que é ser cidadão.
Na fala dos sujeitos de nosso estudo pudemos captar um significado que faz parte do
imaginário coletivo da sociedade que em síntese pode ser representando pela afirmação “doar
sangue é uma atitude necessária de solidariedade, cidadania e amor”. Nessa afirmação
residem mitos e razoes que cercam a doação de sangue.
74
Assim, os resultados obtidos na pesquisa revelaram uma realidade que condiz com o
que observamos no cotidiano dos bancos de sangue – ainda há muita desinformação entre a
população, permitindo que crenças desfavoráveis à doação de sangue tornem-se cada vez mais
arraigadas.
As informações veiculadas pelos meios de comunicação de massa não têm sido
suficientes, nem eficientes, para modificar esse panorama; ao contrário, reforçam o
imaginário popular, repleto de mitos, crendices e desinformações sobre a atividade
relacionada à doação de sangue no Brasil, a exemplo das campanhas que enfatizam o doar
sangue para salvar vidas.
Consideramos que, de um modo geral, há uma longa caminhada a ser trilhada tendo
em vista o objetivo de conquistar doadores de forma consciente, responsável e saudável,
visando aumentar o número de doações através de atividades educativas para divulgar a
importância da cidadania para o desenvolvimento de uma consciência sobre o ato de doar.
Portantao, entendemos que a educação formal é o pilar fundamental que possibilita
ao educando refletir sobre a construção de sua cidadania levando-o a assumir suas
responsabilidades para com o outro; no caso da presente pesquisa, ajudando a reverter a
realidade hoje encontrada nos bancos de sangue.
A pesquisa também apontou que os professores possuem conhecimentos técnicocientíficos para desenvolverem o tema, porém não realizam de modo a possibilitar que os
alunos signifiquem doação com exercício de cidadania. Para que isto aconteça, é preciso que
seja revisto na escola o que é prioritário na formação de cidadãos tendo em vista a construção
de atitudes e valores pelos alunos e não uma prática educativa reducionista, apenas centrada
em conteúdos curriculares.
Em relação aos alunos, constatamos em suas respostas que muitos dos fatores
responsáveis pelos mitos presentes nas dúvidas registradas por eles, provêm de um
conhecimento fragmentado, talvez fruto da estrutura educacional e religiosa na qual foram
formados ou simplesmente da informação veiculada pelos meios de comunicação a respeito
da doação de sangue que foram citados pela maioria dos sujeitos.
Os mitos e crenças e mesmo a solidariedade e a cidadania aparecem de uma ou outra
forma, tanto por alunos como por professores, por isso, cabe insistir que, trabalhos bem
concebidos e pensados contemplando a problemática que envolve a educação e a saúde, e,
canalizados em processos como o de formação continuada de docentes, poderão ser de
definitiva importância na construção/formação de alunos/cidadãos.
75
É importante salientar que as significações e interpretações refletem as construções
culturais de cada indivíduo, sociedade ou mesmo de um cenário cultural focado, como no
caso deste estudo. Embora preserve a essência da cultura, o comportamento dos homens
apresenta muitas variedades. O homem, segundo Geertz (1989, p. 4), “é um animal amarrado
às teias de significados que ele mesmo teceu”.
Concluímos afirmando os programas desenvolvidos pelos Hemocentros divulgados
pelos meios de comunicação para a doação de sangue buscam o lado humano das pessoas, de
forma a sensibilizar a população para estimular a doação voluntária de sangue. Esta é uma
área sensível, que diz respeito não só à política de saúde, mas também à ética, à moralidade e,
principalmente, a novas possibilidades do exercício da cidadania que devem responder
também às políticas de educação. Ainda assim, as deficiências da educação básica, no Brasil,
impedem que grande parte da população compreenda e conheça os problemas relacionados à
necessidade de doação de sangue.
Portanto, defendemos que a escola é lugar de formação de cidadãos onde o educador,
ou qualquer outra pessoa preocupada com as questões escolares, precisa antes de mais nada,
estar atento para a relação deste ou daquele aluno com o saber. Sendo assim, entendemos a
necessidade da integração das mais diversas áreas do saber e a estreita comunicação entre os
saberes produzidos em cada uma delas, e, especificamente pensando na saúde da população,
esses saberes devem integrar a educação em saúde.
Modificar a realidade existente implica, também, desenvolver programas planejados,
que sejam implementados e avaliados como processo educativo contínuo, respaldado por
referenciais teóricos e modelos cientificamente reconhecidos, destinados a todos os segmentos
da comunidade.
Como a conscientização para a doação de sangue é um processo que se constrói a
longo prazo, implicando em mudança de comportamento, reafirmamos a importância de a
escola interargir com o tema, incluindo-o em seus currículos disciplinares e projetos
pedagógicos desenvolvidos ao longo do ano, mas acima de tudo que esse tema seja abordado
nas atitudes e valores de educandos e educadores, resgatando, assim, um dos papéis
importantes da escola, o de formar cidadãos responsáveis com o outro e com a vida.
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ANEXOS
82
ANEXO A - QUESTIONÁRIOS
Questões aos professores
1) O que você sabe sobre o processo de doação de sangue?
2) Você desenvolve em suas aulas alguma temática relacionado a doação de sangue? Fale
sobre isto.
3) Existe relação entre doação de sangue e formação para cidadania. Como você entende a
questão?
4) É comum crenças e mitos interferirem no processo de doação de sangue, isso aparece na
sala de aula? Como?
Questões aos alunos
1) O que você sabe sobre o processo de doação de sangue?
2) Onde você adquiriu seu conhecimento a respeito da doação de sangue ?
3) Qual o significado da doação de sangue?
4) Você é ou pensou em se doador de sangue? Porque?
83
ANEXO B RESPOSTAS
QUADRO 1: O que você sabe sobre o processo de doação de sangue.
RESPOSTA
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1) O que você sabe sobre o processo de doação de sangue?
“É guardado no HEMOSC,separados por tipo para depois ser usado em
pessoas que precisam ou também pode ser usado em situações de
emergência”.
“Não sei muito sobre o assunto, mas o objetivo é ajudar quem precisa”.
“Pouco, ...”
“Não doaria, tenho algum certo conhecimento sobre esse assunto”.
“Não tenho muito conhecimento”
“É um ato de cidadania que todos deveriam fazer”
“Desconheço sobre o assunto mas dói muito, é o que dizem”.
“Desconheço”.
“Que ajuda pessoas que necessitam”.
“Tenho um conhecimento, no qual doar sangue significa ajudar alguém que
está precisando”.
“Não sei praticamente nada”.
“Possui intervalos de doação, é permitido a partir dos 18 anos, e passa por
rápido questionário para saber se poderia doar ou não”.
“Que é doado um tanto X, e depois é feita a análise desse sangue, para
estar sendo, transferido para aquela pessoa que precisa do mesmo tipo de
sangue”.
“É um processo em que a pessoa doa um pouco de sangue para ajudar
alguma pessoa que está precisando de uma transfusão de sangue”.
“É um processo em que você faz coleta de sangue e é armazenado para
utilização em hospitais etc.”.
“Sei que é muito importante pois há poucos doadores resultando assim na
falta do mesmo”.
“O cidadão que for doar sangue, tem que possuir mais de 18 anos de idade,
não pode ter algum tipo de doença transmitíveis e não pode estar com gripe
ou mal estar. Ai é SP chegar no Centro do HEMOSC mais perto e realizar
a doação”.
“A pessoa vai até um posto de doação de sangue, e doa uma certa
quantidade, através da veia no braço”.
“Desconheço”.
84
QUADRO 2: Onde você adquiriu seu conhecimento a respeito da doação de sangue.
RESPOSTA
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2) Onde você adquiriu conhecimento a respeito da doação de sangue?
“Em um ônibus de doação”
“Televisão e com meus pais”.
“Televisão e internet”.
“Com amigos da área da saúde, e programas a esse respeito”
“O meu conhecimento que eu tenho eu vi falar de pessoas que estavam
pretendendo doar sangue”.
“Vendo em jornais, televisão etc.”.
“Meu pai falou um pouco porque ele já doou”.
“Meios de comunicação como televisão, rádio e também através de
campanhas”.
“Em propaganda de TV, na escola”.
“Por meio da televisão, noticiários e alguns parentes que trabalham em
hospitais”.
“Com a minha avó que é doadora e pela televisão”.
“Com familiares, na escola e em panfletos entregados na rua”.
Em propagandas, folders etc.”.
“Através da Televisão, jornais e na escola”.
Através dos meios de comunicação, e meu pais é doador”.
“Televisão, internet, etc.”.
“Internet e televisão”.
“Escola, televisão e através da família”.
“em propaganda e em campanhas a respeito de doação de sangue”.
85
QUADRO 3: Qual o significado da doação de sangue
RESPOSTA
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3) Qual o significado da doação de sangue?
“Ajudar e salvar vidas”.
“Ajudar quem necessita de sangue para sobreviver”.
“Doar retirar seu sangue para outra pessoa”.
“Dar seu sangue para outra pessoas”
“Ajudar pessoas”
“Ajudar a salvar vidas”.
“Ajudar as pessoas que necessitam de sangue, pois isso é o que Deus quer
e não sabemos se não vamos precisar um dia”.
“Muito importante para ajudar as pessoas”.
“Ajudar alguém”.
“Doar para ajudar, ou seja, alguém que se acidentou ou por doenças”.
“Eu acho que é ajudar alguém que precisa e que não vai custar nada a
você”.
“Uma forma de ajuda a quem precisa”
“Ajudar pessoas que estão necessitando de sangue. Porque sofreram um
acidente, ou outros casos”.
“O significado é ajudar alguém que esteja precisando”.
“Creio que a doação de sangue signifique ajudar as pessoas sem ter algo
que prejudique a si mesmo, sempre há pessoas precisando de sangue”.
“Significa poder ajudar alguém”.
“Solidariedade para a comunidade”.
“Doar, é sem esperar algo em troca. Fazer o bem sem olhar a quem. ajudar
pessoas, que até mesmo o doador desconhece, e que precisam”.
“Significa estar ajudando para que outras pessoas que precisam de sangue
para viverem”.
86
QUADRO 4: Você é ou pensou em ser doador de sangue
RESPOSTA
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4) Você é ou pensou ser doador de sangue? Porque?
“Já tentei mas não pude, porque estava com gripe e tinha viajado para o RS
uns dias antes”.
“Não, porque eu sabia que para ser doador teria que ser de maior”.
“As vezes mas a agulha da medo”.
“Não, porque meus princípios vão contra a doação de sangue”.
“Sim para poder ajudar outras pessoas”.
Não. Mas pretendo doar sangue assim que eu tiver a idade necessária para
isso”.
Sim, mas além de ser muito novo (15 anos) eu não gosto e tenho medo de
agulha”.
“Não, pois não sabia que menor de idade podia doar”.
“Já pensei, para ajudar alguém que precisa”.
“Eu pretendo doar sangue, e acho que todos deveriam doar, ajudariam
bastante gente”.
“Não sou doador porque ainda não completei 18 anos, também não pensei
em doar”.
“Penso em ser doador sim. Pois tenho o propósito de ajudar pessoas que
precisam”.
“Não sou doadora, mas já pensei em ser, porque é sempre bom ajudar
aquele que necessita da nossa ajuda, e também saber que salvamos uma
vida”.
“Sim, porque além de ajudar outra pessoa, eu estaria ajudando a mim
mesmo, pois, a pessoa ganha desconto na inscrição de concursos, etc.”.
“Nunca doeu sangue, porque tenho 16 anos, mas penso em doar algumas
vezes por ano após fazer 18 anos. Considero um ato muito importante, pois
não é prejudicial a quem doa e pode ajudar muitas pessoas”.
“Não nunca pensei sobre isso, talvez por falta de insistência no assunto não
sabemos a gravidade do problema”.
“Pensei sim mas não posso. E acho que como outras pessoas precisam um
dia eu também preciso”.
“Sim. Pois muitas pessoas precisam desse sangue e sei que poucas pessoas
tomam essa iniciativa”.
“Não, pois não tenho 18 anos”.
87
ANÁLISE: PROFESSORES
QUADRO 5: O que você sabe sobre o processo de doação de sangue
RESPOSTA
S1
S2
S3
S4
S5
1) O que você sabe sobre o processo de doação de sangue?
“Em primeiro lugar é importante salientar que doar sangue é seguro, todos
os procedimentos realizados são estéreis. Existem também requisitos
básicos para a doação de sangue:
- Estar bem de saúde;
- Ter idade entre 18 e 65 anos;
- Pesar no mínimo 50 kg;
Lembrando que existem outros fatores, que serão identificados durante
algumas etapas”.
“É um processo praticamente indolor, voluntário, sendo que quem doa uma
vez não precisa necessariamente doar sempre. Os doadores passam por
uma triagem, são feitos alguns exames, avaliação médica para verificar
suas condições para doação. É um ato humanitário, e muitas vezes
altruísta”.
“Não prejudica a saúde, mas pode melhorar as condições de vida de muitas
pessoas, o organismos repõe com facilidade as quantidades (ml) doados.
Todo material utilizado é descartável e esterilizado, são feitos vários
exames no sangue doado permitindo saber sua condição real de saúde;
pode usufruir de vários benefícios; pode salvar vidas. Requer um controle
de qualidade rigoroso do sangue usado em transfusões e o emprego de
seringas e agulhas descartáveis”.
“Processo destinado a arrecadar sangue com intuito de ser utilizado
medicinalmente”.
“Existe uma série de esclarecimentos para o processo de doação de sangue.
Há critérios que permitem ou que impedem uma doação de sangue, que são
determinados por normas técnicas do Ministério da Saúde, que visam à
proteção ao doador e a segurança de quem vai receber o sangue”.
88
QUADRO 6: Você desenvolve em sua aulas alguma temática relacionado a doação de sangue
RESPOSTA
S1
S2
S3
S4
S5
2) Você desenvolve em suas aulas alguma temática relacionado a doação
de sangue? Fale sobre isso.
“Raramente. Nas escolas não existem ações informativas buscando
fomentar a atividade de doar sangue. A nossa escola terá neste mês de
novembro, a maratona do conhecimento, onde a equipe que estou
participando como orientador deverá apresentar um doador de sangue,
homenageando um enfermeiro doador”.
“Em poucas oportunidades, quando trabalhamos o tema cidadania, foi
abordado este tema, assim como o da doação de órgãos. Pude verificar que
em alguns casos ainda existe uma versão cristalizada acerca do assunto,
não existe um pensamento solidário. Muitos admitem que é importante e
necessário, porém, nada fazem a respeito”.
“Sim. Quando o assunte é: tecidos, embriologia, células, hepatite, doenças
sexualmente transmissíveis, doenças de chagas, obesidade, anemia, AIDS,
uso de drogas, comportamento homossexual ou bissexual, em caso de
gravidez, o uso de bebidas alcoólicas, acidentes, prevenção, educação,
solidariedade, cirurgias. Enfim, sangue é a própria vida e envolve todos os
seres humanos, animais e os vegetais porque ambos se relacionam e
buscam qualidade de vida”.
“Não”.
“Em sala de aula se expõe o problema encontrado pelos hemocentros
diante a dificuldade para a obtenção de sangue, o objetivo do tema ser
desenvolvido em sala de aula é, convencer as pessoas saudáveis a
procurarem os bancos de sangue voluntariamente”.
89
QUADRO 7: Existe relação entre doação de sangue e formação para cidadania
RESPOSTA
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S5
3) Existe relação entre doação de sangue e formação para cidadania. Como
você entende a questão?
“Entendo que as ações informativas voltadas para os diversos segmentos
da sociedade, buscando fomentar a atividade de doação de sangue. A
doação de sangue é uma ação de solidariedade e cidadania absolutamente
importante para a preservação da vida e para a sociedade como um todo.
No entanto, grande parte das pessoas desconhece que doar sangue é um
processo simples, rápido e indolor”.
“É uma condição sine qua non. A partir deste tema, começa a ser
desenvolvido conceitos como o da empatia por exemplo, onde há
realmente a preocupação com o bem estar do máximo solidificando a
solidariedade, indispensável para relacionamentos interpessoais saudáveis
e satisfatórios”.
“Como professor e biólogo busco sempre desenvolver, estimular, orientar
os alunos através de atividades que os relacione à preservação,
saneamento, melhoramento do meio ambiente, qualidade de vida,
conscientizá-los sobre a doação de sangue que é um ato de amor, é simples
rápido e seguro, e que vale a vida e todos precisam contar com a
solidariedade das pessoas. Doar é um ato voluntário que todo cidadão
consciente pode e deve participar e ninguém está livre de precisar”.
“Existe. Ser cidadão é utilizar conscientemente tanto seus deveres quanto
direitos. Deveria doar-se sangue para ajudar a outrem, pelo mesmo motivo
que um dia possa necessitá-lo”.
“Doar sangue é mais que um ato de cidadania, é um ato de amor, esse ato
traz embutido não só um caráter de boa ação, mas sim de quase obrigação
social. Afinal, é um exercício de altruísmo doar parte de si às pessoas que
você nem conhece”.
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QUADRO 8: É comum crenças e mitos interferirem no processo de doação de sangue, isso aparece na sala
de aula.
RESPOSTA
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4) É comum crenças e mitos interferirem no processo de doação de sangue,
isso aparece na sala de aula?
“Apesar de a doação ser um gesto voluntário, há crenças populares que
deixam as pessoas com medo de fazer a doação. Alguns desses mitos são,
por exemplo que o sangue fica mais fino ou mais grosso, que doar sangue a
pessoa fica mais fraca, quem doa sangue uma vez tem que continuar
doando sempre. ‘A cultura brasileira ainda reflete essa desinformação’”.
“Sim, é muito comum em especial quando se trabalho com adolescentes.
Nesta fase de crescimento, os alunos fazem várias perguntas, como
exemplo:
- O sangue doado é rapidamente compensado?
- Após cada doação são feitos exames laboratoriais?
- Doar sangue não vicia?
- Uma doação pode servir a várias pessoas diferentes?
- Doar sangue engorda ou fazer emagrecer?”.?”.
“Não. As pessoas desconhecem ou tem medo porque o professor não fala,
não incentiva e convence sobre a importância, a necessidade e a
simplicidade do ato em si. Noto que alguns alunos ainda não sabem seu
tipo de sangue, tem medo da agulha e precisam ser orientados sobre o valor
da doação sanguínea na avaliação de sua saúde além de salvar vidas”. Sim,
é muito comum em especial quando se trabalho com adolescentes. Nesta
fase de crescimento, os alunos fazem várias perguntas, como exemplo:
- O sangue doado é rapidamente compensado?
- Após cada doação são feitos exames laboratoriais?
- Doar sangue não vicia?
- Uma doação pode servir a várias pessoas diferentes?
- Doar sangue engorda ou fazer emagrecer?”.
“Como foi dito, não teve a oportunidade de trazer esse assunto para dentro
da sala de aula”.
“Sim, é muito comum em especial quando se trabalho com adolescentes.
Nesta fase de crescimento, os alunos fazem várias perguntas, como
exemplo:
- O sangue doado é rapidamente compensado?
- Após cada doação são feitos exames laboratoriais?
- Doar sangue não vicia?
- Uma doação pode servir a várias pessoas diferentes?
- Doar sangue engorda ou fazer emagrecer?”.
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QUADRO 9: Porque o atual modelo de educação não leva a uma consciência de doação
RESPOSTA
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S5
5) Porque o atual modelo de educação não leva a uma consciência de
doação?
“Deveriam existir campanhas nas escolas destinadas a divulgar a
importância do ato de doar sangue. Processos educativos direcionados às
crianças e adolescentes, definindo conceitos de solidariedade e cidadania,
relativos à atividade de doar sangue. Outras atividades informativas e
educativas que demonstrem para a população os inúmeros benefícios do
ato de doação de sangue”.
“Porque na maioria das escolas o ‘português e a matemática’ são
priorizadas, o importante é passar no vestibular. Esta consciência de
estímulo à cidadania ainda não é valorizada em muitas instituições, e onde
há este estímulo, algumas vezes não existem profissionais capacitados para
trabalhar estes temas de que maneira que torne-se atraente ao público
infantil/adolescente”.
“Falta de comprometimento de muitas pessoas, de conscientização e até de
amor. Todos os segmentos da sociedade precisam estar envolvidos e
participar isso deve começar na escola antes mesma de ter 18 anos.
Solidariedade, incentivo e educação para um gesto que vale a vida para
quem recebe”.
“Na realidade, o necessário seria a explanação do assunto para os alunos.
Caberia a cada um deles fazê-lo ou não. O que tento incitar neles é a
curiosidade para quem convém a cidadania nos seus atuais moldes”.
O modelo atual de educação tem levado a uma consciência coletiva sobre
doação, haja vista que em Santa Catarina, desde 1996 existe um grande
trabalho desenvolvido pelo Setor de Captação de Doadores do Centro de
hematologia e Hemoterapia do Estado de Santa Catarina – HEMOSC, o
projeto surgiu para desmistificar preconceitos e tabus sobre a doação de
sangue, sensibilizar e educar jovens para a doação, com o objetivo de
‘formar futuros doadores’ ou multiplicadores da doação de sangue”.
92
ANEXO C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
UNIVERSIDADE DO PLANALTO CATARINENSE
CEP – COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA COM SERES
HUMANOS
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa PROCESSOS EDUCATIVOS E
DOAÇÃO DE SANGUE: TRAMAS DA SOLIDARIEDADE, DA RAZÃO, DAS
CRENÇAS E MITOS, cujo objetivo é analisar os processos educativos envolvidos na doação
de sangue a partir do entendimento de professores e alunos do ensino médio, buscando
identificar as relações entre cidadania e doação de sangue. Sua colaboração neste estudo é
MUITO IMPORTANTE, mas a decisão de participar é VOLUNTÁRIA, o que significa que
o(a) jovem e/ou senhor(a) terá o direito de decidir se quer ou não participar, bem como de
desistir de fazê-lo a qualquer momento.
Garantimos que será mantida a CONFIDENCIALIDADE das informações e o
ANONIMATO. Ou seja, o seu nome não será mencionado em qualquer hipótese ou
circunstância, mesmo em publicações científicas. NÃO HÁ RISCOS quanto à sua
participação e o BENEFÍCIO será conhecer as posturas/concepções de professores e alunos
no que se refere à solidariedade, á cidadania e suas relações com a saúde. Identificar as
práticas pedagógicas relativas à educação e à saúde, à cidadania e ao processo de doação de
sangue. Analisar as crenças e mitos, a solidariedade e a cidadania existentes no processo de
doação de sangue. Analisar as diferentes concepções, âmbitos e conceitos de educação
envolvidos no processo de doação de sangue.
Será realizada uma entrevista com professores e alunos de uma escola da rede de ensino
estadual com trinta e três turmas de Ensino Fundamental, quinze turma do Ensino Médio e
sete turmas de Magistério. Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos deforma intencional, com
base nos critérios estabelecidos, e que aceitassem participar voluntariamente do estudo.
Em caso de dúvida o(a) senhor(a) poderá entrar em contato com a coordenadora de campo da
pesquisa, no Programa de Pós-Graduação em Educação – Mestrado em Educação, na
UNIPLAC, na Av. Castelo Branco, 170 – Bloco do Centro de Ciências Jurídicas/CCJ (piso
térreo), ou pelo telefone: 49/9983/23/85.
Eu.............................................................................................., declaro estar esclarecido(a)
sobre os termos apresentados e consinto por minha livre e espontânea vontade em participar
desta pesquisa e assino o presente documento em duas vias de igual teor e forma, ficando uma
em minha posse.
Lages, _____ de _________________ de 2009.

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