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http://museudevora.imc-ip.pt 03 SETEMBRO 2008 CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora Os artigos são da responsabilidade dos autores e não expressam necessariamente a opinião do Museu de Évora. A utilização integral ou parcial dos textos do boletim deve ser sempre acompanhada pela citação do nome dos autores, título dos textos e a referência à essa publicação on-line. Editor Joaquim Oliveira Caetano periodicidade semestral Museu de Évora Largo Conde de Vila Flor 7000-804 Évora TLF 266 702 604 E-mail: [email protected] Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora ÍNDICE Memória descritiva do assalto, entrada e saque da Cidade de Évora pelos franceses, em 1808 | Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas | Introdução e transcrição de António Francisco Barata (1887) | apresentação de Celso Mangucci Introdução ao estudo do Presépio do Museu de Évora | Alexandre Pais Estudo, conservação e restauro do presépio do Museu de Évora | Ana Andrade e Conceição Ribeiro Análises dos materiais e técnicas do presépio do Museu de Évora | Ana Pereira Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia em Évora | Celso Mangucci A colecção de armas do Museu de Évora | Ulrico Falcão Galamba Catálogo da colecção de fósseis do Museu de Évora | Anabela Perpétuo CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora FRANCISCO DA SILVA, ANTÓNIO DE OLIVEIRA BERNARDES E FRANCISCO LOPES MENDES NA IGREJA DA MISERICÓRDIA EM ÉVORA Celso Mangucci Para a execução do inventário do património móvel da Santa Casa da Misericórdia de Évora, realizado durante os anos de 2000 e 2001, segundo o protocolo estabelecido entre o então Instituto Português de Museus (actual IMC) e a União das Misericórdias Portuguesas, tivemos a oportunidade de consultar o arquivo desta instituição, actualmente em depósito no Arquivo Distrital de Évora1. A pesquisa em documentos desse fundo, cruzada com as informações dos contratos notariais, revelaram novos dados que nos permitem conhecer o processo de encomendas que, nas duas primeiras décadas do século XVIII, foram responsáveis pela completa reorganização do espaço arquitectónico e simbólico do interior do templo da confraria eborense. De facto, a partir da última década do século XVII, com a progressiva consolidação da situação política e económica, e o fim do período de sede vacante, inicia-se em Évora um brilhante período de renovação patrocinado pelo Arcebispo Luís da Silva Teles (1692-1702), que se empenhou na execução de um vasto programa de intervenções, onde se destacam a conclusão dos retábulos colaterais da nave e o altar da Nossa Senhora do Anjo, na Sé de Évora, a encomenda do retábulo da capela-mor, das telas e dos azulejos da nave da igreja do convento de Santa Helena do Monte Calvário, o retábulo da capela-mor da Igreja de Santo Antão e a reedificação da Igreja de São Pedro2. Associando-se a este clima de afirmação religioso e civil, os irmãos da Misericórdia de Évora decidem-se pela execução de um ambicioso programa que iria alterar por completo a fisionomia interna do templo. CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora As obras iniciam-se, em 1702, pela construção de uma pequena capela, do lado da Epístola, para exposição do Cristo Crucificado, imagem de grande devoção que integrava o cortejo da Procissão dos Passos, o momento mais alto de afirmação pública da irmandade. Após as obras de pedraria, com a decoração dos arcos com embutidos de mármore, a confraria eborense contrata o mestre entalhador Inácio Carreira3, que se compromete a realizar o novo retábulo em talha dourada4, pela quantia de 130 mil réis. Coube ao mestre apresentar o desenho do retábulo5, que segue o vocabulário do “Estilo Nacional”, com colunas torças decoradas com videiras, fechado na parte superior com arquivoltas espiraladas. O fundo da tribuna é trabalhado com o baixo-relevo de raios resplandecentes, intensificando o dramatismo do Calvário. Os pintores douradores Manuel da Maia e Bernardo Luís6, tradicionais colaboradores da irmandade, foram os responsáveis pelo douramento do retábulo, promovendo o enriquecimento do discurso escultórico da talha Barroca com a diferenciação de cada elemento, seja pelo contraste dos acabamentos - brilhante ou fosco -, seja pela adição de tons verdes e vermelhos, ou ainda pela carnação dos anjos, que sustentam uma cartela com os símbolos do martírio cristão. É possível que, após a conclusão da capela do Santo Cristo, a continuidade do projecto tenha sofrido algum compasso de espera face aos montantes elevados que se previa para os novos retábulos e azulejos. A opção de criar uma tribuna mais profunda, associada as celebrações litúrgicas da Adoração Eucarística (Lausprerenne), implicava a compra de uma propriedade anexa, ampliando o montante necessário para a empresa. Certo é que em 1710, com o apoio do novo arcebispo de Évora, D. Simão da Gama, que na altura passa também a desempenhar as funções de provedor da Misericórdia7, levou os mesários a concretizarem um projecto ambicioso, que viria a substituir por completo os retábulos quinhentistas e seiscentistas da igreja8, sobrepondo-se também às pinturas à fresco da nave9. Nesta nova empresa, os retábulos, a “cimalha em talha dourada” e o programa iconográfico expresso nas pinturas e nos azulejos associavam-se perfeitamente à ideia de unidade do espaço interior maneirista - uma nave rectangular, sem transepto, coberta por uma abóbada de berço -, desenvolvendo o conceito de obra de “arte total” que se articula num contínuo desde a entrada até o retábulo principal. 1. ����������� Cartela do painel, António de Oliveira Bernardes, 1716. Igreja da Misericórdia de Évora. Foto do autor. FRANCISCO DA SILVA Talvez pelo falecimento do mestre Inácio Carreira, a escolha para a realização do grandioso retábulo em talha dourada recaiu no experiente Francisco da Silva, mestre entalhador e escultor, que conhecemos activo desde 1694. O desenho da obra, que com justiça deve-se atribuir ao mestre eborense, já estava definido quando da celebração do contrato10, onde a talha dourada funciona como articulação entre o altar, os azulejos e as telas da nave: “...se contrataram com o dito Francisco da Silva para haver de o mesmo fazer, de obra entalhada, a frontaria da capela maior da igreja da dita Santa Casa e seus altares colaterais, até ao soco da abobada, segundo o risco maior e mais levantado na folha que para a mesma obra está feito, fazendo ele dito Francisco da Silva, e cobrindo de entalhado, os lados da dita igreja, do friso CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora donde começam os arcos da abobada até o capitel de mármore preto da capela do Santo Cristo, entrando nesta obra ou deixando em ela sem entalhar o claro de dois palmos de altura em que se há de pintar as Obras da Misericórdia...”11 De forma coincidente, a primeira obra que se conhece de Francisco da Silva é a cimalha de talha dourada que reveste a nave da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres em Beja12, como sequência dos retábulos realizados pelo mestre lisboeta Manuel João da Fonseca. Ainda em Beja, Francisco da Silva realizou o desaparecido retábulo para a Capela das Almas da Igreja Matriz de Ferreira do Alentejo, e também o retábulo da capela de São João Evangelista13, enquanto em Évora assina o contrato para o retábulo da capela-mor da igreja do Convento do Calvário, em 1697. O imponente retábulo custou aos cofres da Misericórdia a considerável soma de quatro mil cruzados, numa das mais caras intervenções de talha dourada do período. A nova igreja apresenta-se aos fiéis com um frontispício dourado - frontaria, lhe chamam os documentos da época -, agregando três retábulos: o de São João Baptista, do lado do Evangelho, o de São Miguel, do lado da Epístola, e o central, dedicado a Nossa Senhora da Visitação14. A sumptuosa continuidade decorativa do espaço interior, uma das linhas de força do projecto, prossegue nas molduras imponentes que se estendem pelas paredes laterais da nave, onde as telas representando as “Obras de Misericórdia Corporais” estão separadas por vigorosos atlantes. A vocação para a talha dourada assumir os revestimentos murais, articulando uma multiplicidade de discursos plásticos, onde se combinam elementos escultóricos, heráldicos e textuais, sem ser exclusiva do trabalho de Francisco Silva, é sem dúvida a principal característica da sua obra. Os fantasiosos atlantes das pilastras, com cestos ou plumas sobre a cabeça, talvez influenciados pelas gravuras de Jean Lepautre, desempenham a mesma função dos outros elementos escultóricos, como os anjos alados que aprofundam a ilusão de perspectiva diluindo o discurso arquitectónico dos retábulos. O mais importante trabalho de Francisco da Silva e do “estilo nacional” do barroco eborense15 é dirigido por uma vocação cenográfica, um cenário majestoso para as procissões realizadas na Semana Santa, onde um cortejo numeroso, com os irmãos vestidos como personagens da História Sagrada, vem depositar o Cristo no altar principal, ao mesmo tempo em que um mecanismo com roldanas faz a tela da “Visitação” deslizar para baixo, permitindo a exposição do corpo do Senhor Morto diante de um trono dourado, iluminado por círios ardentes, enquanto as restantes capelas ficam cobertas por cortinas de veludo. 2.Conjunto com a talha das molduras do Francisco da Silva, a pintura de Francisco Lopes e os painéis de azulejos de António Oliveira Bernardes. Foto do autor. Durante a execução da obra da Misericórdia de Évora, Francisco Silva assina o interessante retábulo da capela-mor da ermida de CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora 3. Detalhe do painel “Consolar os Aflitos”. António de Oliveira Bernardes, 1716. Igreja da Misericórdia de Évora. Foto do autor. São Vicente do Pigeiro e uma obra menor, o retábulo da capela-mor da igreja de São Marcos do Campo, em Monsaraz (1711). É ainda provável que nesse período Francisco da Silva tenha executado o revestimento superior do transepto da Igreja do Colégio do Espírito Santo, uma obra também de revestimento parietal, em que estão presentes os atlantes utilizados na Misericórdia16. De maior complexidade, também pelos valores envolvidos, seria o retábulo da capela-mor do desaparecido Convento de Santa Catarina de Sena (1720), e os também desaparecidos cinco retábulos das capelas da Via Sacra para a Vila de Estremoz (1720)17. FRANCISCO LOPES MENDES Seguindo uma longa tradição, a Misericórdia de Évora, para a campanha de pinturas, privilegiou um membro da confraria, Francisco Lopes Mendes18, um artista de Évora, activo pelo menos desde 1680, que seria o responsável pelas sete “Obras de Misericórdia Corporais” - “Dar de comer a quem tem fome”, “Dar de beber a quem tem sede”, “Vestir os nus”, “Visitar os enfermos e encarcerados”, “Dar pousada aos peregrinos”, “Remir os cativos” e “Enterrar os mortos” -, e todas as telas dos altares19. Em finais de 1714, Francisco Lopes Mendes realiza a entrega do painel da Nossa Senhora da Misericórdia20, que por ordem da mesa seria colocado no coroamento do grande frontispício dourado. Satisfeita com o trabalho, a mesa decide-se pela execução das telas da nave, segundo o programa que seria pormenorizado pelo escrivão da Misericórdia: “Nesta mesa se assentou que, do dinheiro que se recebe por esmola da tumba, se mandasse apainelar a Igreja e se pintasse em os sete quadros, as sete obras de Misericórdia corporais, simbolizadas em sete passos da escritura que ao senhor escrivão melhor parecer. E que o painel de Nossa Senhora da Misericórdia que esta mesma mesa tinha mandado fazer para o frontispício da face que está sobre a capela-mor, se pregassem o quadro, de sorte que Dia de Reis aparecesse ao povo e ficasse a frontaria das capelas livre de andaimes, o que com efeito se fez, de que fiz este termo que assino com os mais Irmãos da mesa”21. CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora Por razões que desconhecemos, cinco das sete “Obras de Misericórdia” foram refeitas pelo pintor José Xavier de Castro, em 1737, mantendo-se apenas duas telas de Lopes Mendes: “Dar de comer a quem tem fome” e “Dar de beber a quem tem sede”, marcadas por alguma dureza na aplicação das cores, e por uma ingenuidade na composição. No entanto, comparativamente, são as melhores obras do pintor, nas quais prevalece o registo factual e anedótico, com a representação de costumes tradicionais, como no caso de um grupo que tempera um pão com azeite aquecendo-se a volta da fogueira. No ano seguinte, o pintor continua os trabalhos, e recebe um adiantamento pelos painéis que estava realizando para os três altares22, dos quais chegaram até nós a grande tela representando a “Visitação”, que cobre a totalidade da tribuna e um “São Miguel com as Almas no Purgatório”. Na “Visitação”, tela central do grande retábulo, o pintor eborense segue de muito perto uma tela com o mesmo tema, que o já falecido pintor Bento Coelho realizara, por volta de 1690, para a Igreja Matriz de São Bartolomeu, em Vila Viçosa, numa demonstração do prestígio que as obras do antigo pintor régio ainda mantinha em Évora, onde foi objecto do patrocínio continuado por parte do anterior arcebispo, Luís da Silva Teles, para quem realizou as telas para a nave do Mosteiro de Santa Helena do Monte Calvário e para o retábulo da capela-mor de Santo Antão. Recentemente o Museu de Évora adquiriu uma obra assinada por Francisco Lopes Mendes, uma “Anunciação”, envonta por uma grinalda de flores, uma composição ingénua e devota, certamente do agrado das religiosas de um convento eborense. ANTÓNIO DE OLIVEIRA BERNARDES Repetindo a parceria do programa decorativo da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, o trabalho de Francisco da Silva alia-se ao discurso pictórico de António de Oliveira Bernardes, desta vez sobre azulejos. O pintor que gozava de uma forte reputação em Évora, onde realizara as telas e a campanha de frescos para a Igreja do Convento de Santa Clara (1698-1704), os azulejos para a ermida de Nossa Senhora da Cabeça (c.1710), e o revestimento integral da Igreja dos Lóios (1711). Foi também da sua oficina que sairam os azulejos para igrejas da Misericórdia de diversas cidades e vilas de Portugal. 4. Conjunto de retábulos da Igreja da Misericórdia de Évora. Francisco da Silva, 1710-1714. Foto do Autor. Estes, como várias vezes aconteceu, foram comissionados ao mestre Manuel Borges23, num contrato celebrado com a confraria eborense em 1715. Em sequência ao plano decorativo e iconográfico já mencionado no contrato de Francisco da Silva, estabeleciase o programa que deveria ser seguido pelo pintor de azulejos, não só determinando a obrigatoriedade das representações das sete “Obras de Misericórdia Espirituais”, CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora mas também definindo o próprio esquema da composição, que deveria incluir um rodapé com emblemas relativos às acções de Misericórdia: “...que estavam acertados com o dito Manuel Borges a que azulejasse, repartindo o azulejo em sete passos das Obras Espirituais de Misericórdia, com vários emblemas por baixo dos ditos passos, de que se lhe dará um papel declarando-se os passos e emblemas em um, digo, emblemas em que será assinado pelo tesoureiro desta mesa, o qual mostrara depois do dito azulejo assentado na igreja para ver se está feito na forma do estrato que se lhe der assinado pelo dito tesoureiro...”24 António Bernardes, com a sua habitual segurança, encarrega-se dos painéis principais, com as sete “Obras de Misericórdia Espirituais” - “Dar bom conselho”, “Ensinar os ignorantes”, “Consolar os tristes”, “Castigar os que erram”, “Perdoar as injúrias”, “Sofrer as fraquezas do próximo” e “Rogar a Deus pelos vivos e defuntos” - figurada através de outros tantos episódios da hagiografia do Messias. Além da carreira como pintor à fresco e de cavalete, o sempre versátil artista trabalha sobre o azulejo, com perfeito domínio de transparências azuladas, privilegiando uma escala grandiosa para a sua galeria de personagens bíblicos. António de Oliveira Bernardes exerce uma liderança eficaz da oficina e parece determinado, por estes anos, a especializar os seus colaboradores, de maneira a conferir um tom diferenciado a cada parte do conjunto da encomenda. Foi assim que, para o rodapé com cartelas onde estão inscritos emblemas alusivos às “Acções de Misericórdia”25, Bernardes optou por Teotónio dos Santos, discípulo que trabalha em pinceladas soltas, conferindo a esse conjunto um encantamento quotidiano. Para os azulejos aplicados sob o coro, para os quais o contrato não aponta disposições, António optou pelo seu filho, Policarpo de Oliveira Bernardes, que apresenta um discurso inovador, com a representação de uma composição arquitectónica, com pilastras e volutas, e aberturas laterais em tromp’oeil, onde se divisam santos eremitas, femininos do lado direito e masculinos da esquerda, sinalizando, à entrada, uma organização que presidia à distribuição dos fiéis no interior da nave. O rigor e consistência na representação da arquitectura e na disposição dos personagens, com uma paleta mais contrastada que a do seu pai, fará de Policarpo de Oliveira Bernardes o melhor intérprete da azulejaria joanina. 5. Embasamento com cartelas com emblemas das “Acções de Misericórdia”. Misericórdia de Évora. Teotónio dos Santos, 1716. Foto do Autor. Esses pintores constituíam, sem sombra de dúvida, a melhor oficina de azulejos de Lisboa, ao qual Manuel Borges ficou obrigado a recorrer, como estipulado no contrato, sendo remunerado em 40 mil réis por milheiro, uma soma geralmente atribuída para os trabalhos dos Bernardes. A importância do douramento para o efeito global do conjunto torna surpreendente o hiato de mais de uma década que levou para ser iniciado, numa situação aliás comum a diversos empreendimentos da talha Barroca. A morte do arcebispo D. Simão da Gama, em 1715, o principal impulsionador do projecto, levou a que a sua conclusão fosse postergada e, só em 1728, a Misericórdia reúne os fundos necessários para a contratação de uma equipa de douradores, novamente recorrendo a Manuel da Maia e Bernardo Luís, agora em parceria com Francisco Ferreira e José Correia26. No ano seguinte um novo contrato, com minuciosas indicações sobre CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora as técnicas a serem empregues, concluía finalmente o douramento das molduras da nave, agora a cargo do pintor Felipe Santiago27. BEL COMPOSTO: DA TEORIA À PRÁTICA Através dos contratos é possível reconstituir as diversas campanhas para a redefinição do espaço interior da igreja da Misericórdia de Évora, onde cada disciplina artística foi chamada a desempenhar um determinado papel: a grande máquina do retábulo dourado é o ponto culminante de um discurso contrastado onde o azul etéreo da cerâmica traduz as obras espirituais, enquanto as sete obras de misericórdia corporais são descritas com o realismo das cores a óleo. No caso da Misericórdia de Évora, a função estruturante do espaço foi desempenhada pelo trabalho do entalhador, que ultrapassando largamente o primeiro prazo previsto de um ano e meio, estava em vias de conclusão nos finais de 1714. Francisco da Silva, num modus operandi que deve ser comum a cultura arquitectónica e artística das oficinas do período, adopta o ritmo dos tramos expressos nas nervuras da abóbada, subdividindo o espaço da nave entre o coro e em três e quatro secções. A partir da finalização desta empreitada fazem-se as encomendadas das telas para a nave ao pintor Francisco Lopes, e no ano seguinte o mestre ladrilhador Manuel Borges desloca-se a Évora, levando consigo uma planta rigorosa com as medidas e outras indicações que permitem a António de Oliveira Bernardes respeitar o mesmo ritmo estabelecido pelas molduras em talha dourada na parte superior da nave, dando continuidade às pilastras dos atlantes através de pilastras coríntias entre barras com enrolamentos de folhas de acanto. Para estas obras foram contratados vários intervenientes, e esta subdivisão de tarefas, numa primeira instância, reforça o papel dos patronos na concepção geral da obra de arte e no controle da sua produção. Nos contratos, geralmente, sobressai uma intervenção activa do encomendador, que impõem as alterações pretendidas: “...assim mais será obrigado ele, dito, Francisco da Silva a fazer duas colunas em cada capela das tais, além de duas figuras que há de ficar nos lados da capela maior, de grandeza que a obra o permitir, sem embargo de as tais colunas não estarem no risco, e as molduras dos quadros serão de dois 6. Dar de comer a quem tem fome. Francisco Lopes Mendes, c.1714. Foto do Autor. CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora 7. Revestimento palmos e meio, bem folgados, de largura do feitio que mostra o rascunho...”28 do transepto da Igreja do Colégio do Espírito Santo. Francisco da Silva (?), c.1710. Foto do Autor. Os contratos definem de maneira geral a obra, focando alguns aspectos técnicos ou formais, mas não a descrevem exaustivamente, e as escolhas dos intervenientes pressupõem um modelo não explícito, que em grande parte faz parte da experiência precedente do pintor ou do entalhador. O modelo pretendido é o da Corte, ou seja, o que estava em voga, na altura, em Lisboa, como está explícito no contrato celebrado com o mestre ladrilhador Manuel Borges: “...e o dito azulejo será do mais fino e melhor que houver feito no tempo presente nos templos da Corte, e se lhe dá por cada milheiro que assentar quarenta mil réis, livre de todos os custos, despesas e conduções que o mesmo fizer, desde a hora que estiver feito e pintado até chegar a esta casa, e porquanto todas as ditas despesas são por conta desta mesa e as despesas miúdas e despachos de tudo o mais necessário para conduzir o dito azulejo até à Aldeia Galega...” Aliás, esta necessidade de modelos já consagrados, e a valorização da experiência já realizada processa-se mesmo em relação a sua própria obra, como no caso do entalhador Francisco da Silva, instado pelos clientes à reprodução de um retábulo anteriormente realizado: “...com Francisco da Silva para o mesmo lhe haver de fazer um retábulo de madeira de bordo ou castanho entalhado para a capela-mor da Igreja de São Marcos do Campo, termo da Vila de Monsaraz, com toda a miudeza e perfeição que está o Retábulo de São Vicente do Pigeiro, termo desta cidade, e na forma da planta de outro retábulo que ele, dito Francisco da Silva, fez para a Vila do Vimeiro, cuja planta e extracto do dito retábulo mostrou ele, dito Francisco da Silva, ao dito Pedro Velhadas Gato, seu constituinte, aos mais mordomos da dita Igreja de São Marcos pela qual planta e extracto ficou o dito seu constituinte e mais mordomos satisfeitos ser o dito retábulo na forma da dita planta”29. A comissão com artistas que já actuaram em conjunto, como é o caso de Francisco Silva e António de Oliveira Bernardes, reforça a ideia da existência de um consenso em torno de um modelo geral, do qual os artistas são intérpretes conceituados. Esta capacidade de intervenção artística pode ser também aferida pelo âmbito geográfico da acção e pela diferença de estatuto entre os artistas plásticos, comparativamente díspar mesmo entre os intervenientes na Misericórdia de Évora. Com inúmeros artistas entre os seus membros, é natural que a confraria eborense estabeleça uma rede clientelar, na medida do possível patrocinando artistas de Évora ou membros da instituição30, como pintores, douradores e entalhadores. No reverso da medalha, e como parte deste compromisso, estes artistas exercem actividades indiferenciadas, como foi o caso de Manuel da Maia, Felipe de Santiago ou do pintor Francisco Lopes. O carácter secundário da acção de Francisco Lopes e a sua dependência da Misericórdia de Évora faz com que execute obras de menor importância, como pintar o altar do Santo Cristo, que havia sido objecto de modificações para a adaptação da mesa do altar “onde se pôs o túmulo do Cristo Morto”31, e pintar uma porta fingida32, realizada para manter a simetria arquitectónica do interior da nave. CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 10 Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora 8. Atlante da Estão também sujeitos à apresentação de orçamentos competitivos, ao contrário dos contratos com artistas experientes como Francisco da Silva e António de Oliveira Bernardes, inseridos numa rede clientelar bastante mais extensa para defender um patamar fixo para a realização dos seus trabalhos. É esta a queixa do dourador Felipe de Santiago, constrangido a cumprir um contrato que não lhe permite sobreviver: “cimalha” em talha dourada da Misericórdia de Évora. Francisco da Silva, 1710-1714. Foto do Autor. “...e que pelo preço que ajustara a obra se perdia, o que esta mesa não devia consentir, pois a casa da Misericórdia era para favorecer e remediar os homens, mas não para os empobrecer e despir, e assim pedia se tivesse com ele compaixão dando-lhe por esmola alguma coisa mais do ajuste, ou desse por desobrigado de continuar e acabar a obra do dourado dos mais retábulos dos lados da igreja...”33 O controle da produção artística passa assim por um elaborado esquema que articula a intervenção directa no processo de escolha e na direcção dos trabalhos combinada com a escolha de artistas, eles próprios responsáveis pela criação e reprodução de modelos. Como co-responsáveis por um programa conjunto, actuam segundo uma estratégia própria, com experiências plásticas distintas, que ultrapassam as condicionantes de uma técnica expressiva, e é evidente que a oficina de António Oliveira Bernardes, sediada em Lisboa, envolvida nas principais encomendas para todo o território português, tem maiores oportunidades de assimilações de informações artísticas do que o pintor eborense Francisco Lopes. É surpreendente que para um programa de renovação iconográfico e artístico completo do interior da Igreja da Misericórdia, parece não haver um desenho de pormenor e também não exista a figura de um director artístico da obra. Por outro lado, ao longo das décadas de execução das obras, sucedem-se os dirigentes da Misericórdia de Évora. Talvez que um dos factores que mais concorram para acentuar a ideia de conjunto é que tanto a talha quanto o azulejo comungam dos mesmo objectivos, na medida em que se assumem como “obras de arte totais”reunindo todos os discursos expressivos na sua própria plástica. Ao operar em zonas de confluência entre a escultura e a arquitectura e entre a pintura e a arquitectura, assumem a própria representação de elementos da arquitectura e a incorporação de textos. São também obras de um tempo ecléctico, com a combinação de soluções conservadoras e inovadoras, como a opção do mestre entalhador Francisco Silva em recuperar a solução maneirista da colocação da pintura com a representação de Nossa Senhora da Misericórdia no ático do frontispício da capela-mor, ou como preferiu António de Oliveira Bernardes, subdividindo os painéis de azulejos por três pintores com estilos diferentes. CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 11 Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora 4 As notas publicadas por Gabriel Pereira (1948: 38), a partir de documentos da Misericórdia de Évora, levaram Túlio Espanca (1966: 174) a atribuir o retábulo da Capela do Santo Cristo ao entalhador João da Mata Botelho, responsável, na verdade, pela execução, em 1766, de uma maquineta para a exposição do Santíssimo Sacramento, que ainda se pode observar sobre o trono, na tribuna do altar principal. 5 “[25 de Julho de 1703] Nesta menza se assen/ tou com o Entalhador o fazer o Retabu/lo para a Cappella do Santo Cristo, por preso de/ 130$000, comforme o Risco que o dito En/talhador fes, e se mandou fazer escritura/ de ajuste, e se lhe desse dinheiro para prin/sipiar a obra, que se ha de fazer de esmol/las sem dispeza da caza. Lembranças, ADE, ME, n.º 12, fl. 23. 6 Sobre a actividade dos douradores Manuel da Maia e Bernardo Luís veja-se ESPANCA 1950: 95-96 e SERRÃO, 1998-1999: 155-157. Não é provável que o pintor dourador Manuel da Maia fosse conhecido pela alcunha de “profeta”, já que esta anotação associada ao seu nome indica a figura que representou na Procissão do Enterro do Senhor, promovida anualmente pela Misericórdia de Évora. 7 GUERREIRO, 1979: 54 8 Utilizado como fundo de uma das capelas do retábulo, subsiste uma interessante tábua com a representação de um Calvário, do terceiro quartel do século XVI. A máquina do retábulo primitivo e algumas tábuas foram, em 1713, doados a ermida de São Sebastião, então em reconstrução. NOTAS 9 1 Agradecemos todo o apoio e facilidades concedidas pela Santa Casa da Misericórdia de Évora e pelo Arquivo Distrital de Évora. Uma primeira versão deste texto foi apresentada nas Jornadas de Estudo “As Misericórdias como Fontes Culturais e de Informação”, organizado pela Câmara Municipal de Penafiel, em Outubro de 2001. 2 Para uma descrição pormenorizada das obras patrocinadas pelo arcebispo veja-se a biografia setecentista publicada por Túlio Espanca (19861987). 3 O nome do entalhador está identificado numa rubrica de transferência de valores do cofre da irmandade, no Livro da despesa do dinheiro que sai do cofre, Arquivo Distrital de Évora, Misericórdia de Évora, n.º 103, fl. 5. Apenas conhecemos uma outra obra de Inácio Carreira, que realizou o retábulo da Capela de Santa Bárbara, do Colégio de São Tiago, em Elvas, e o seu trabalho inscreve-se, com competência, no âmbito da consolidação do que se convencionou chamar “estilo nacional”. Durante os trabalhos de restauro das telas da nave, estas composições à fresco foram redescobertas, devendo ter sido realizadas, provavelmente, no último quartel do século XVI. 10 Quando apresentamos a comunicação no encontro promovido pela Câmara Municipal de Penafiel desconhecíamos a obra de Vallecillo Teodoro (1996), historiador que pela primeira vez identificou o mestre Francisco da Silva como o autor da obra de talha da Misericórdia de Évora. 11 Doc. 2. ADE, CN, Tabelião André Vidigal da Silva, livro 1009, fl. 225. 12 SERRÃO, 1996-1997: 252-254. 13 SERRÃO, 1996-1997: 252-254. 14 As cartelas que sobrepujam os altares possuem inscrições latinas com alusões directas aos padroeiros dos altares (MENDEIROS, 1987: 12) permitindo a confirmação do programa setecentista, que actualmente apresenta algumas alterações. 9. Detalhe do painel “Ensinar os Ignorantes”. António de Oliveira Bernardes, 1716. Foto do autor. CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 12 Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora 15 Para uma história crítica do enquadramento estilístico da obra de talha dourada da Misericórdia de Évora no panorama nacional veja-se BAZIN, 1953: 17-18; SMITH, 1962: 81-82 e MOURA, 1986: 112. 16 A intervenção de Francisco Machado reportase exclusivamente ao retábulo da irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte, e foi realizado em 1703. 17 Referências aos contratos publicada por Túlio Espanca (1984-1985: 113), a partir das investigações realizadas por Vitor Serrão. 18 Do percurso artístico do pintor eborense Francisco Lopes Mendes, conhece-se uma referência documental a uma campanha fresquista para o Palácio dos Condes de Basto e uma colaboração com a Misericórdia de Moura. Sobre o pintor ver ESPANCA, 1950: 94-95; SERRÃO, 19981999: 152-153 e CAETANO e SERRÃO, 1999: 106. 19 Possuímos apenas o registo de algumas parcelas recebidas por Francisco Lopes, que não incluem as sete “Obras de Misericórdia Corporais”, mas é provável que as esmolas arrecadadas com o enterro dos irmãos, de onde viria a verba para o pagamento das pinturas da nave, estivesse contabilizada em livro a parte, entretanto desaparecido. 20 Em Abril de 1714 consta a seguinte verba entregue ao pintor: “Painel. Despendi com o painel da frontaria da igreja/ que fez Francisco Lopes.... 20$000 [na margem] ensima de toda a frontaria da Igreja que hé de Nossa Senhora da Misericórdia. ADE, ME, n.º 1134, Livro das despesas que principiou em Julho de 1712 a 1716, fl. 134. 21 Reunião realizada em 26 de Dezembro de 1714. Publicado por GUERREIRO, 1979: 54. fls. 2 v.º a 4 [páginas não numeradas]. 25 O conjunto de emblemas com os seus dísticos em latim, cuidadosamente descrito pelo cónego MENDEIROS (1987: 16-18), foi mutilado pela inclusão, no século XIX, do cadeiral dos mesários. 26 Doc. 4. ADE, ME, Lembranças das mezas começou em 1728 athe 1739, n.º 27, fl. 19 v.º-20. 27 Doc. 5. ADE, ME, Lembranças das mezas começou em 1728 athe 1739, n.º 27, fl. 38 e v.º. Sobre a actividade de Felipe Santiago veja-se CAETANO e SERRÃO, 1999: 110. 28 Ver o contrato em anexo. 29 ADE, CN, Tabelião Francisco Lopes, 1715-1716, Livro 1056, fls. 119-122. 30 Bernardo Luís foi admitido como membro em Abril de 1699 (ESPANCA, 1950:95) e Manuel da Maia em Março de 1703 (ESPANCA, 1950:95). 31 “[Agosto de 1715] Pintor. Despendi com Francisco Lopes Pintor por pin/tar o altar do Santo Cristo onde se pos o tumbolo do Senhor Morto, 1$440”. ADE, ME, n.º 1134, Livro das despesas que principiou em Julho de 1712 a 1716, fl. 202. 32 “[Março de 1716] Despendi com Francisco Lopes de pintar a porta fingida $720”. ADE, ME, n.º 1134, Livro das despesas que principiou em Julho de 1712 a 1716, fl. 251. 33 Reunião de 29 de Junho de 1729. ADE, ME, Lembranças das mezas começou em 1728 athe 1739, n.º 27, fl. 44. 10. Anunciação. Francisco Lopes Mendes, princípios do século XVIII. ME 11749 Foto de José Pessoa (IMC) 22 O Tesoureiro da irmandade regista, em Dezembro de 1715: “Despendi com Francisco Lopes, a conta dos 3 payneis que faz para os tres altares da igreja, 19$200”. Em Fevereiro do ano seguinte novo pagamento: “Pintor. Despendi com o pintor Francisco Lopes do/ quadro da trubuna [rasurado] a conta... 9$600”. ADE, ME, n.º 1134, Livro das despesas que principiou em Julho de 1712 a 1716, fls. 235 e 251. 23 Ver o contrato transcrito em anexo. As referências a participação de Manuel Borges são conhecidas desde os trabalhos de investigação de Gabriel Pereira, enquanto o contrato encontra-se referenciado em ESPANCA, 1984-1985: 114-115. 24 Ver o contrato transcrito em anexo. Tabelião Manuel Pinheiro de Carvalho 1715-1716; Livro 1130, CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 13 Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora BIBLIOGRAFIA Faculdade de Letras, 5ª série, n.º 21-22, pp. 245- BAZIN (1953) Germain, “Morphologie du Retable Portugais” in Belas-Artes, Revista e Boletim da 267. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1996-1997. Academia Nacional de Belas Artes, 2ª série, n.º SERRÃO (1998-1999), Vítor, “Francisco Nunes 5, pp. 3-28. Lisboa: Academia Nacional de Belas Varela e as oficinas de pintura em Évora no século Artes, 1953. XVII, in A Cidade de Évora, II série, n.º 3, pp. 85-71. CAETANO, Joaquim Oliveira e SERRÃO, Vitor Évora: Câmara Municipal de Évora, 1998-1999. (1999), A pintura em Moura, séculos XVI, XVII e SIMÕES (1944), João Miguel dos Santos, “Alguns XVIII. Moura: Câmara Municipal de Moura, 1999. azulejos de Évora” in A Cidade de Évora, n.ºs 7- ESPANCA (1950), Túlio, “Artes e Artistas em Évora 8, pp. 41-52. Évora: Câmara municipal de Évora, no século XVIII” in A Cidade de Évora, ano VII, n.ºs 1944. 21-22, Janeiro-Junho de 1950. Évora: Câmara Municipal de Évora. Livros Horizonte, 1962. ESPANCA (1966), Túlio, Inventário Artístico de Portugal, O Concelho de Évora. Lisboa: Academia Nacional de Belas Artes, 1966 ESPANCA (1984-1985), SMITH (1962), Robert, A talha em Portugal. Lisboa: Túlio, Struggle for Sinthesys (1999), A Obra de Arte Total nos séculos XVII e XVIII, 2 vols. Actas do Simpósio Internacional organizado por Luís de “Documentos Notariais inéditos e Artistas Alentejanos dos séculos XVI, XVII e XVIII” in A Cidade de Évora, ano XL-XLI, n.ºs 67-68, 1984-1985, pp. 99-126. Évora: Câmara Municipal de Évora. ESPANCA (1986-1987), Túlio, “Memória da vida e morte do 10º Arcebispo de Évora D. Frei Luís da Silva Teles” in A Cidade de Évora, n.ºs 69-70, anos Moura Sobral. Lisboa: IPPAR, 1999. TORRINHA (1999-2000), Joaquim Francisco Soeiro, “A presença de António de Oliveira Bernardes na Azulejaria de Estremoz” in Callipole, n.º 7-8, pp. 223-242. Vila Viçosa: Câmara Municipal de Vila Viçosa, 1999-2000. VALLECILLO TEODORO (1996), Miguel Ángel, XLIII-XLIV, pp. 125-187. Évora: Câmara Municipal Retablística Alto Alentejana (Elvas, Villaviciosa de Évora, 1986-1987. y Olivenza) en los siglos XVII-XVIII. Mérida: GUERREIRO (1979), Alcântara, Subsídios para a História da Santa Casa da Misericórdia de Évora, Universidad Nacional de Educación a Distancia. Centro Regional de Extremadura, 1996. nos séculos XVII a XX, 3º volume, 1667-1910. Évora: Misericórdia de Évora, 1979. LAMEIRA (2000), Francisco Ildefonso, A Talha no Algarve durante o Antigo Regime. Faro: Câmara Municipal de Faro, 2000. MENDEIROS (1987), José Felipe, Guia da Igreja da Misericórdia de Évora. Évora: Misericórdia de Évora, 1987. MOURA (1986), Carlos, O Limiar do Barroco, História da Arte em Portugal, vol. 6. Lisboa, Edições Alfa, 1986. PEREIRA (1948), Gabriel, Estudos Eborenses, 11. Retábulo vol. II, 2ª ed. Évora: Edições Nazareth, 1948. SERRÃO (1996-1997), Vítor, “O Conceito de Totalidade nos espaços do Barroco Nacional: A obra da Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres em Beja (1672-1698)”, in Lusofonia, Revista da da capela-mor da Igreja de São Marcos do Campo. Francisco da Silva, 1711. Foto do Autor. CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 14 Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora DOCUMENTOS Doc.1 Contrato para o douramento do retábulo da capela do Santo Cristo com os mestres douradores Manuel da Maia e Bernardo Luís “[fl. 181] Menza de 4.ª feira, 18 de Janeiro/ de 1708/ Nesta menza se assentou se mandasse doi/rar a Cappela do Santo Cristo para o que foram/ falladas todas as pessoas que podiam fazellas,/ e se ajustou fizesse esta obra Manoel da/ Maya e Bernardo Luis, por preso de qua/renta, digo, de sento e quarenta mil reis/ por ser o menor preso que se poude ajus/tar entre todos, e por se nam fazer es/critura de ajuste bastando hum termo/ feito por mim, Escrivão da caza, se man/dou fazer o seguinte, assinado por todos./ E logo no mes, dia e anno, pareseram/ Manoel da Maya e Bernardo Luis, e por/ Elles foi ditto que elles se obrigavão cada hum/ por si, in solidum, e ambos juntos a doi/rar o retabullo da Capella do Santo Cristo que es/ta na Igreja desta Santa Caza do ouro corado/ como se costuma nas mais obras, de semelhantes Retabullos, e isto por preso e quantia de/ sento e quarenta mil Reis, que se lhe daram/ a metade logo, e a outra metade finda a / obra com declarasão que a dita obra será a/ vista examinada por boa, sem falta de/ nenhum matherial que neseçario seja para a boa/ [181 v.º] fatura da mesma. E terá estofado e Reglaxa/do ercarnassois aquillo que tocar a figuras/ a qual obra, se obrigarão a dar feita e acabada para o dia de quinta feira santa deste a/no prezente, e por [h]aver efeito esta obriga/sam, disseram Elles Manoel da Maya e/ Bernardo Luis que obrigavam sua pessoa e bens, moveis e de Rais, [h]avidos e por [h]aver a/ darem a obra feita no dito ano decla/rado neste termo e as mais condissõis ne/le declaradas e de assim a comprirem/ assinaram neste termo comigo Escrivão/ da Menza e Mais Irmãos della Eu Dom/ Pedro de Mello o escrevi, e assinei dia ut supra Livro das lembrãças, que prencipiou em 1701 [1701-1708], ADE, ME, n.º 24 Doc. 2 Contrato entre a mesa da Misericórdia de Évora e o entalhador Francisco da Silva “Saibam quantos este publico instromento de contracto sobre a factura de/ huma obra de entalhado e obrigação virem que no anno do nascimento de nosso senhor Je/sus Christo de mil setecentos e dez annos, aos dezasete dias do mês de novem/bro, do dito anno nesta cidade de Evora em a caza e comsistorio da Sancta Mizericordia/ donde eu taballião ao diante nomeado fui sendo prezentes em men/za segundo uso e estatutos da dita caza e sua confraria para satisfa/zerem ao cazo seguinte, a [ilegível] o ilustríssimo provedor Dom Simão da/ Gama arcebispo deste arcebispado de Evora, Dom José de Mello, fidalgo/ da caza de sua Magestade e escrivão da menza e Custodio Vila Lobos de/ Almeida thezoureiro da dita caza, e os mais irmãos no fim desse instromento/ assignados todos da menza esse prezente anno que por especial provi/zão de sua magestade que Deus tem o cargo de reger e governar e administrar/ os bens e fazenda da dita caza e sua confraria e bem assim sendo ma/is prezente Francisco da Syllva official de entalhador morador nesta cidade/ em a Rua dos Emfantes pessoas reconhecidas de mim tabeliam Logo pelos/ ditos irmãos da menza foi dito em minha prezença e das testemu nhas/ ao diante nomeadas e asignadas que elles estavão avindos e contratacdos/ como logo em effeito por este publico instromento se contratarão CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 15 Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora com/ o dito Francisco da Sylva para haver de o mesmo fazer de obra entalhada/ a frontaria da cappella mayor da igreja da dita Sancta caza e seus al/tares colaterais the ao soco da abobada segundo o risco maior e mais/ levantado na folha que para a mesma obra esta feito fazendo elle dito/ Francisco da Sylva e cobrindo de entalhado os lados da dita igreja do frizo/ donde comesão os arcos da aboda the o capitel de marmore preto da ca/pella do Santo Christo, entrando nesta obra ou deixando em ellla sem/ entalhar o claro de dous palmos de altura em que se ha de pintar as/ obras da Misericordia e assim mais sera obrigado elle dito Francisco da Sylva a fazer/ duas colunas em cada cappella das tais, alem de duas figuras que ha de/ ficar nos lados da Cappella maior, de grandeza que a obra o primitir, sem/ embargo de as tais colunas não estarem no risco, e as molduras dos coa/dros serão de dois palmos e meyo bem folgados de largura do feitio/ que mostra o rascunho com obrigação de a talha ter toda a altura que/ for necessaria para a talha e avia/mento de toda a obra e a tal madeira sera muito emchuta e seca e se poderá/ julgar por dois officiais de seu officio se tem a talha a altura necessaria que/ [fl. 225 v.º] pede a dita obra segundo os rascunhos que para a mesma se fizerão pondo/ elle dito francisco da Silva e comcorrendo com todo o necessario para a dita obra que/ dara prefeita e acabada dentro de anno e meyo da factura deste se endi/ante e no fim do dito tempo ser a dita obra finda e acabada sem que nella/ possa [h]aver a minima mancha e nota e para que dentro no dito tempo assim/ finde e acabe a tal obra será obrigado a comcorrer com os officiais/ que forem necesarios e aviamentos para a factura da obra e isto tudo/ pelo preso e quantia de quatro mil cruzados entregando logo elles/ ditos irmãos da menza a elle dito Francisco da Sylva ao asignar desta es/criptura mil cruzados...” Arquivo Distrital de Évora, Cartórios Notariais, Tabelião André Vidigal da Silva, livro 1009, fl. 225 e v.º. Doc. 3 Contrato que fazem os Irmãos da misericordia/ desta cidade com Manuel Borges morador em Lisboa so/bre o azoleiio da Igreia [v.º] Em nome de Deos, amem, Saibão quantos este publico Instromento de Con/trato e obrigaçam virem que no anno do Nascimento de Nosso Senhor/ Jesus Christo, de mil e setecentos e quinze annos, nesta Cidade,/ diguo, annos, aos vinte e hum dias do mes de Setembro do dito anno,/ nesta Cidade de Evora, nas Cazas da Mizericordia della, estan/do ahi, em meza, o Reverendo Dião Christovão de Chaves de Abreu/ Corte Rial, Escrivam e prezidente da dita meza, e o Sargento mor/ Manuel Duarte de Oliveira, Thezoureiro da mesma, e os mais Ir/ mãos da dita meza, no fim deste instromento nomeadas/ e assinadas, estando mais prezente Manuel Borges, mestre/ [fl.] Mestre de azuleiio, morador na Cidade de Lisboa, as ginellas verdes, pe/ssoa Reconhecida das Testemunhas ao diante nomeadas/ e assignadas, e bem assim Manoel Gomes, mestre de pe/dreiro, morador nesta Cidade na Rua dos Mercadores, diguo, na Rua da Ra[i]/mundo peSoa Reconhecida de mim Tabaliam que serve oficio ser a pr[o]/pia aqui contheuda e declarada. E loguo pello dito Reverendo/ Deão e Thezoureiro, e mais Irmãos foi dito em presença de mim taba/Liam e ditas Testemunhas que elles tinham detriminado m[an]/dar azuligar a Igreia e Coro desta Caza para o que estavam aSer/tados com o dito Manuel Borges a que azuliasse Repartin/do o azuleiio em Sete paSos das obras espirituais da mizericord[ia]/ com varios emblemas por baxo dos ditos paSos de que Se Lhe dara/ um papel declarandoSe os paSos e emblemas em hum digo/ Emblemas em que sera aSignado pello Thezoureiro desta me/za o qual mostrara depois do dito azoleiio aSintado na Igreia pa/ra ver se esta feito na forma do estrato que se lhe der asignado/ pello dito Thezoureiro e o dito azuleiio Sera do mais fino e me/lhor que ouver feito no tempo presente nos templos da Corte e/ se lhe da por cada milheiro que asentar quarenta mil Reis livre/ CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 16 Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora de todos os Custos despzas e comducois que o mesmo fizer des/de a ora que estiver feito e pintado athe chegar a esta caza e/por quanto todas as ditas despezas sam por conta desta meza e as despe/zas miudas e despachos de tudo o mais neSecario para se Comdu/zir o dito azuleiio athe aldeia gualegua sera feita esta Com/duçam pello dito Manoel Borges e tudo lhe sera paguo pello The/zoureiro desta meza ao dito Manoel Borges e Sera Crido por sua/ verdade de que dara hum Rol da despeza para lhe ser Satisfei/ta, aSim de quarenta mil Reis que a de aver por cada mil Rs./ de azoleiio que aSentar e todos os homes que lhe forem neSeca/rios para o ajudarem a aSentar o dito azoleiio [ilegível] sam por/ Conta delle dito Manoel Borges porem a Cal a area e madeira/ que for neSecario para Se aSentar o dito azoleiio Sera por Conta/ desta meza que Satisfara o Thz.ro della e o dito azoleiio da/ igreia e coro sera obrigado aSentallo athe dia da vizitação de San/ta Izabel que he a dois de Julho e o Corpo/ da Igreia o dara the a Coresma não havendo Emvernada/ que o Impeça e Finda a obra Seram contados os milheiros de azo/leiio que a desta igreia e Coro e Levara por cada hum milheiro/ Se daram os ditos quarenta mil Reis abatendoSe toda aquella/ quantia que tiver Recebido por Conta da dita obra e Sucedendo/ que vindo o dito Manuel Borges a fazer a obra do azoleiio e não a fin/dar...” Arquivo Distrital de Évora, Cartórios Notariais, Tabelião Manuel Pinheiro de Carvalho 17151716; Livro 1130, fls. 2 v.º a 4 [páginas não numeradas] . Doc.4 Contrato com os mestres douradores Manuel da Maia, Bernardo Luís, Francisco Ferreira e José Correia com a Misericórdia de Évora para dourarem o retábulo. “[fl. 19 v.º] Aos vinte e quatro dias do mes de Julho de/ mil setecentos e vinte outo nesta se/crataria da Santa Caza da Mizericordia da/ Cidade de Evora pareserão prezentes Ma/noel da Maya, Bernardo Luis, Francisco/ Ferreyra, e Joseph Correa, todos Mestres/ Douradores e moradores nesta cidade/ e pessoas bem conhecidas nella, e por elles/ foi ditto, que pera firmeza, e lembrança/ do ajuste que haviaão feyto no dia antece/dente com a Meza desta Santa Caza de doura/rem o Frontespicio de Entalhado da I/greja della herão contentes se fizesse/ por mim escrivão da mesma, este termo/ com as condições, e declarações insertas/ nelle as quasi todas elles livremente se o/brigavão inteyramente a Cumprir, e en/cher por suas pessoas, e bens prompta, e cabal/mente, e desde agora se sometião a todas/ as pennas Clauzullas, e obrigações que neste/ termo forem postas, e as mais todas eSensi/aes que por esquecimento senão declararem/ aqui para a boa concluzão e perfeição da/ sobreditta: primeyramente se obri/garão a dourar toda a obra de madeyra que es/tiver no frontespicio da Igreja com o ouro/ mais corado que [h]o[u]ver e alguns vãos que tiver o en/talhado porque pareSe em que está a/centado os pintarão de Jalde para que a pa/rede com a brandura da cal não deslus/tre o dourado. As figuras, serafins, es/cultura e a mais obra que estofarem sera/ tudo sobre ouro e não sobre prata ou tin/ta alguma, e as encarnações serão de poli/mento, e não de pincel. Toda a obra se/ aparelhará com nove mãos de aparelho/ em sua conta, que será de retalho de luva/ fino. E os estofados das figuras e azas dos/ serafins se estofarão com as cores mais/ finas e os reglaxos desta obra de verdes/ estilhados, e lacras muito finas e subidas [fl. 20] Que o ouro sera todo burnido, e aparessen/do a es meza que se lhe fação alguns/ Foscos e serão feytos sobre ouro, o q ficara/ ao arbitrio da mesma determinar se ha de/ levar a dita obra os taes Toscos ou se ha de ser/ do de burnido [...]” Arquivo Distrital de Évora, Misericórdia de Évora, n.º 27, Lembranças das mezas começou em 1728 athe 1739, CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 17 Celso mangucci Francisco da Silva, António de Oliveira Bernardes e Francisco Lopes Mendes na Igreja da Misericórdia de Évora Doc.5 Termo das obrigações e condições com/ que o mestre Dourador Fellippe de São Thiago/ se obrigou a dourar os Retabolos e Si/malha de madeyra que de prezente se achão/ na Igreja desta Santa Caza da Mizericórdia/ “[fl. 38] Aos vinte e sinco dias do Mes de Abril de mil/ e setecentos e vinte e nove nesta secretaria/ da Misericórdia desta Cidade de Evora pareSeu o/ mestre Pintor e Dourador Felippe de São Thia/go morador na mesma Cidade e por elle foi dito na pre/zensa das testemunhas abaxo assinadas/ no fim deste termo que elle se havia contratado/ e ajustado com os Irmãos da Meza estando/ nella na Caza do despacho o dia antecedente;/ de thomar de empreittada o dourar os Re/tabolos, simalha e toda a mais obra de/ madeyra, e entalhado que de prezente se acha/ por dourar na Igreja desta Santa Caza pela/ quantia de quatrocentos e noventa mil/ reis em dinheiro [...] [fl. 38 v.º] “...e tão/bem se obrigava a que antes de principiar a dourar/ se mandasse pela pessoa que esta meza determi/nasse examinar se estava aparelhada a uzo/ desta Provincia para rezistir a intemperança do clima fas per/cizar de outra forma de aparelho para a que pare/cendo percizo se mandarão ver as Collas tão/bem e não dourará sem primeiro se decidir se/ esta o tal aparelhado está bem feyto, e o bôllo/ Rubro para fazer o ouro ardente e brilhante/ tendoce antes lixado muito bem, e a tempora do/ bôllo de sorte que se não deslave a toldar a a/goa com que se doura; e para ser milhor o aparelho/ fazerse com agoa de Pratta as Collas, sendo/ estas de retalho do Reyno todo branco, e livre de garras, e o gesso matte sem ser queymado/ ou salitrado; e que o ouro com que dourar será visto se/ he todo corado, e não falço, e do milhor; o burni/do sera feyto a vontade da meza sogeytandoce/ ao arbitrio e rezolução da mesma depois de visto./ e do mesmo modo não dará tons ou abatimento no/ ouro sem a meza lho destinar primeiro; aconselhada/ de quem o entenda como tãobem a vontade da/ mesma os fundos do dourado, sem que se faça/ cazo de ser ou não vista a obra do pavimento da Igre/ja ou do Coro, nem adimitirá por nenhum princi/pio o dourado fagos por falta de brunido ou/ escalavrado pelo escesso da pedra; que depois/ de acabada a obra tendo alguma falta [...]” CENÁCULO Boletim on line do Museu de Évora | n.º 3 | Setembro 2008 | página 18