Rendimento, Ansiedade

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Rendimento, Ansiedade
Tiro desportivo
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Rendimento, Ansiedade
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Abril 2006
I AEM
www.calibre12.pt
Tiro desportivo
e Frustra~iio no Tiro
Autor: Miguel Soares
e certeza que 0 leitor ja
observou por alguma vez
uma crianc;:a de 5 anos
a jogar a bola.
Geralmente consegue-se apreciar todo
um grupo de miudos a perseguir
um objectivo descontroladamente!
Sabem porque isto acontece?
Para as crianc;:as, a bola e naquele
momento a unica conexao com
o mundo. Nada mais importa.
Agora SUgiIO que pensem no seguinte:
Que sllcederia se um predador
quando persegue a sua presa se preo­
cllpasse com a sua tecnica de correr?
Que sucederia se este predador se
questionasse sobre a velocidade
eo angulo a empregar na slla pata es­
querda para melhor cac;:ar a sua presa?
Que aconteceria se 0 mesmo predador
se preocupasse com as preocupac;:6es
da sua presa antes da possibilidade
de esta ser comida? Que sllcederia a
crianc;:a se esta pensasse que esta a ser
observada por adultos?". Que sucede­
ria se a crianc;:a comec;:asse a pensar
que a bola que outro miudo leva
deveria estar com ele? Como se com­
portaria lima crianc;a se pen sasse
que tinha de ser capaz de marcar?
Acham que seria possivel manter uma
conexao especial entre objectivo
e quem 0 pretende obter? Creem que
o predador seria capaz de apanhar
a sua presa? Acham que a crianc;:a
conseguiria desfrutar do seu jogo?
Se 0 nosso predador nao se deixar
levar pelo seu instinto de cac;:ador,
a sua subserviencia estara compro­
metida. Quanto a crian<;:a, esta entre
os seus jogos e com estes brincando.
Existe algo mais importante do que
a sua conexao com estes??
A resposta e NAO!
A crianc;:a abstrai-se completamente do
mundo exterior e cria 0 seu proprio
mllndo, em volta das relac;:6es criadas
s6 e somente com 0 seu brinquedo,
ou jogo.
_ este caso a sobrevivencia emotiva
e a aprendizagem esta assegurada
pela atitude natural da CJianc;:a. Entao,
como e que nos afecta este processo
enquanto atiradores?
Devemos n6s atiradores estabelecer
lim certo instinto de sobrevivencia
desportiva que nos permita anular
pensamentos estranhos no processo
de execuc;:ao de urn disparo?
Se n6s atiradores perdermos a conexao
com 0 alvo, qual 0 resultado?
Como e a atitude em geral
dos nossos atlradores7
Nao sera que muitos dos nossos
atiradores no momento do disparo
comec;:am a fazer 0 que 0 nosso
predador e as crianc;:as evitam?
Avaliam emotivamente 0 seu rendi­
mento, somando pontos, comparando
resultados, preocupando-se exagera­
damente na sua tecnica, recordando
feitos passados ou imaginando
g'l6rias futuras. Acc;:6es que s6 permi­
tern que se perca a relac;ao com 0 alvo
e com 0 objectivo trac;ado, demolin­
do assim as nossas performances.
o rendimento ao tornar-se diminuto
comec;:a por gerar uma ansiedade
diffcil de conter em alguns dos casos.
Esta ansiedade s6 abre portas aos
nossos fantasmas: impactos de baixa
qualidade. A somar aos maus impactos
nasce a frustrac;ao e mais uma compe­
ti<;:ao desperdic;:ada, que queremos
concluir 0 rna is rapidamente pos­
sivel tentando acabar com 0 sofd­
mento rapidamente.•
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sua arma, fara que todo 0 processo
se tome numa imagem perfeita.
Este acto resume-se, exclusivamente,
num acto de personalidade, numa
vontade, que par uma determinada
razao 0 atirador decide encontrar
o centro do alvo.
Este diagrama, talvez muito filosofico,
nao impede porem que mantenha
a lucidez em todo 0 processo.
Devemos estar fisica e mentalmente
optimizados, concentrados, com 0 centro
do alvo. Nao somente como 0 alvo,
devemos treinar para que 0 nosso
objectivo seja somente 0 1/10.91/
Surgirao rendimentos fracos que darao
lugar ao descontentamento. 0 ultimo
tiro do descontentamento torna-se
exponencialmente doloroso com
a soma de todos os pontos perdidos.
No tiro tern de haver
seguran~a Interior
o tiro, seja qual for a disciplina e um
desporto de altissima precisao.
atirador de bom nivel nao atira
para 0 alvo. Dispara para 0 centro deste.
o atirador de nivel sofrera a competir'?
Posso assegurar que nao, pois estou
convencido que um atirador de
o
,
OS PERIODOS ENTRE DISPAROS DEVEM SER DE RELAXE TOTAL.
bom nivel sente as mesmas conexoes
e alegria que sente uma crian\:a a brincar.
Qualquer outra circunstancia fora
desta fara que 0 atirador perea a cone­
X30 com 0 seu objectivo. Nas minhas
leituras sobre a modalidade, Ii algo
sabre uma afirma\:ao de um dos
grandes mestres do tiro e era mais
ou menos assim: Num estado de
concentra\:ao total, 0 atirador podera
estar em qualquer parte do mundo
e sera impossivel que qualquer coisa
o perturbe. Ele disparara cada projec­
til como um acto isolado, individual­ mente preparado, concentrando-se
durante 0 curto perfodo que requer
para executar 0 disparo. Os perfodos
entre disparos devem ser, sempre,
perfodos de relaxe onde toda a tensao,
muscular e mental, e dissipada
e a mente fica Iiberta da execu\:30
anterior, preparando-se para 0 prOXi­
mo esfor\:o, 0 proximo I/tiro deve ser
visto sempre como um acto isolado".
(R. Genge 1976 p.2)
Ora se nao vejamos:
Um campeao mundial de tiro normal­ mente expressa-se assim acerca da sua
conexao com 0 alvo: I/tudo 0 que me
envolve se bloqueara, excepto 0 meu
alvo e 0 meu olho. A arma se conver­ tera num prolongamento de mim.
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Toda a minha aten<;ao se limitara em
alinhar miras com 0 centro do alvo.
Esse momenta e 0 unico que vejo,
sinto e oi\:o. Com a arma estabiliza­
da e as miras projectadas sobre 0 alvo,
um rapido controle do meu corpo
confirma-me que esta tudo bem.
Se esta tudo correcto mantenho a
minha aten\:ao sobre as miras e sim­
plesmente deixo voar 0 meu projectil.
Como se eu fosse ao encontro do alvo.
Se por acaso algo nao estava bem,
baixo a arma e come\:o tudo de novo."
Entao, e necessario concentrarmo-nos
na concentra\:ao"? No meu entender,
definitivamente nao. Entendo que
o mais apropriado e ser capaz de man­
ter a conexao com 0 alvo natural­
mente e em cada treino, sem esfor\:o,
podemos lentamente eliminar pensa­
mentos estranhos que nao fazem
outra coisa do que desligar a sequencia
mente - miras - centro do alva.
Se pensarmos assim, certamente,
sentiremos que a arma e um prolon­
gamento do nosso corpo.
Este sentimento, se acontecer, seja qual
for a personalidade do atirador,
quando este se concentra sobre 0
centro do alvo e sempre que 0 seu
disparo acontecer sem interferir
sobre as miras, ou na estabilidade da
- 1/ 10.9 and [ feel (ine".
Assim como 0 predador nao avalia
as circunstancias externas, mas sim­
plesmente a sua presa, 0 atirador so
deve ver 0 centro do alvo, nada mais.
lsto significa, por outras palavras,
que podemos, uma vez apreendida
a tecniea de tiro e a finalidade da
modalidade, eneontrar nos nossos
aetos uma forma certeira e reiterada
sobre um objectivo pequeno.
Par isso, ereio que esta e uma defilli\:ao
importante, nos como atiradores
devemos sentir que existe conexao
directa com 0 nosso objectivo. Se essa
conexao nao e de boa qualidade
ou se interrompe constantemente
com pensamentos estranhos, nunca,
por mais que tentemos obter 0 sueesso,
somos capazes de obter bons resultados.
Sempre que tive a possibilidade de
conversar com atiradores de sueesso,
estes exprimiram-se de igual forma
aquestao de como obtiveram os seus
melhores resultados. Todos responde­
ram que os obtiveram com uma natu­
ralidade surpreendente, sem se senti rem
em esfor\:o nas performances, onde
os resultados passados e os futuros
nao contavam.
" .. .SOli apenGs /lin atirador... lim bom
atirador..." (Alin Moldeveaun)
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sobre 0 alvo. Quem nunca teve?
Mas por ter problemas de concen­
tra~ao, que e tao necessaria ao tiro,
nao e necessariamente uma rmo para
abandonar a modaLidade. Tao pouco,
e necessario cair em frustra~ao.
Acima de tudo e necessario que
mudemos de atitude na nossa pratica
do tiro, e segundo nos recomenda
Lanny Bassham, campeao mundial
e olfmpico em carabina, temos que
ver que "0 nosso passado nao e uma
prisao, ha que abordar os nossos
problemas positivamente".
Se existe urn problema como a falta
ANSIEDADE E ESPECTATIVAS CONDUZEM MUITAS VEZES A UMA
CONTRA-PERFORMANCE.
56 Ihes importa 0 tiro que esta por faz­
er, rna is nada importa no mundo,
nao importa se era 0 primeiro, 0 15°
ou 0 ultimo. Cada tiro e importante
por si s6.
"E sempre que estou em boa forma,
mental e ffsica, e como sentisse
que a minha mente se esvazia,
mas por outro lade esta esta com­
pletamente conectada com as min­
has sensa~6es que se projectam
sobre 0 centro do alvo. A rela~ao
e absoluta. :£ algo em que tenho que
acreditar, como se 0 meu inconsciente
estivesse a fazer absolutamente tudo.
56 vejo e sinto a minha arma
a estabilizar sobre 0 alvo como
que se Ligassem entre si, 0 resto das
sensa~6es
surgiam automaticamente."
o meu conselho e: NAO TENS COM
o QUE TE PREOCUPAR!!!
Como todos n6s atiradores sabemos,
a ansiedade, expectativas de resultados,
compara~ao de rendimentos e outros
pensamentos alheios ao tiro s6
produzem uma performance mais
fraca e consecutivamente resultados
mais fracos.
Entao com 0 que e que nos devemos
preocupar, se disparar e competir nao
e nada mais nada menos que uma
actividade despomva de tempos livres,
onde 0 nosso born-nome ou honra
nunca ficam manchados? Muitos de
n6s temos a experiencia previa
de problemas de falta de concentra~ao
de capacidade de concentra~ao sobre
o problema alvo/miras, e, em vez
de uma imagem clara existe urn
ruido mental absoluto, nao te esforces,
deixa que a conexao va surgindo
naturalmente e sem ansiedade.
Quando a ansiedade existir enquanto
atiras senta-te calmamente, nao fa~as
nada, simplesmente respira e a tua
performance sera aquela para a
qual treinaste.. 6s somos senhores
de n6s pr6prios e podemos decidir:
"dispara calmamente, nao abdiques
de nada na tua tecnica, a tranqui­
lidade aparecera, a conexao crescera
por si mesma".
Assim como a crian~a joga despreo­
cupadamente desfrutando plena­
mente os seus momentos de lazer,
n6s, como atiradores, devemos fazer
que 0 tiro seja urn momenta de prazer.
o tiro, definitivamente, nao deseja
ser urn jogo, e regulamentado e existe
como competi~ao, ere tern de ser
urn jogo por si s6.
Se come~as a jogar e desejas ser
urn campeao, deves fazer que 0
teu jogo se tome uma realidade.
o tiro nao da prazer s6 porque
disparamos bern. Devemos disparar
bern porque queremos fazer do
nosso tiro urn prazer. •
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