Interfaces da Saúde nº2

Transcrição

Interfaces da Saúde nº2
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NOSSA MISSÃO
Formar líderes com visão estratégica e
capacidade de decisão para o
desenvolvimento regional.
VALORES QUE CONDUZEM NOSSA AÇÃO
Ética e transparência
Respeito à diversidade
Busca pela excelência
Criatividade e inovação
Responsabilidade socioambiental
Valorização e promoção do desenvolvimento das pessoas e da cultura regional
Comprometimento
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Ano I – Número 2 – Dezembro de 2014
Diretor Geral
Eduardo Neto Moreira de Souza
Superintendente
José Deroci Aguiar e Silva
Coordenador de Graduação
Francisco José Sampaio
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação Física
Marília de Oliveira Monteiro Lima
Coordenadora do Curso de Bacharelado em Enfermagem
Francisca Neuma Almeida Nogueira
Coordenador do Curso de Bacharelado em Farmácia
João Vito Barroso de Freitas
Coordenadora do Curso de Bacharelado em Fisioterapia
Ana Paula Lima de Deus Arrigueto
Editora – Chefe
Valeska Portela Lima
Editora Adjunta
Elane da Silva Barbosa
Conselho Editorial
Alcivan Nunes Vieira – UERN
Amália Gonçalves Arruda – FVJ
Emanuelle Sampaio Almeida Pinto – FVJ
Francisca Neuma Almeida Nogueira – FVJ
Isabelle Joyce de Lima Silva Fernandes – FVJ
João Jaime Giffoni Leite – FAMETRO
Jocasta Maria Oliveira Morais – UnP
José Ossian Almeida Filho – FVJ
Joyce Fonteles Ribeiro – Faculdade Maurício de Nassau
Markênia Kélia Santos Alves - FANOR
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Comissão Científica
Amália Gonçalves Ribeiro
Claudielly Ferreira da Silva
Isabelle Joyce de Lima Silva Fernandes
João Vito Barros de Freitas
Joelma Gomes da Silva
Mariana Holanda de Miranda
Marilia de Oliveira Monteiro Lima
Tadeu de Almeida Alves Júnior
Vinício Brígido Santiago Abreu
Projeto Gráfico:
Josué Lima dos Santos
Os textos são de inteira responsabilidade de seus autores.
Endereço postal:
Faculdade do Vale do Jaguaribe
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Fone: (88) 3421-9750 e (88) 3421-9775
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E-mail: [email protected]
FICHA CATALOGRÁFICA
Revista Interfaces da Saúde/ Faculdade do Vale do Jaguaribe, v.1, n.2 (jul. a dez.) –
Aracati, Ceará: Faculdade do Vale do Jaguaribe, 2014
Semestral
ISSN 2358-517X
1. Saúde – Periódico. Título
CDD-610
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Sumário
Intervenções educativas voltadas para o autocuidado do paciente com hipertensão
arterial: uma revisão de literatura........................................................................................08
Maria Elizabeth do Nascimento
Elane da Silva Barbosa
Os métodos Pilates e RPG no tratamento da lombalgia na gravidez: Uma revisão de
literatura..................................................................................................................................18
Clarice Amarante Scipiao
Joelma Gomes da Silva
Fendas Labiopalatinas: revisão de literatura.......................................................................25
Cristiana Gurgel da Silva
Valeska Portela Lima
A Importância da Enfermagem Forense para Saúde e Segurança Pública......................37
Dayane Soares Moreira
Isabelle Joyce de Lima Silva Fernandes
Qualidade de vida de pessoas vivendo com HIV/AIDS: Uma revisão de literatura.........47
Joelma Gomes da Silva
Dimas Anaximandro da Rocha Morgan
Humberto Jefferson de Medeiros
Arnaldo Tenório da Cunha Júnior
Maria Irany Knackfuss
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A Revista Eletrônica Interfaces da Saúde é um dos veículos de comunicação da Faculdade do
Vale do Jaguaribe (FVJ), criada com o objetivo de estimular a produção científica e o debate
acadêmico discente e docente bem como fomentar a disseminação de conhecimentos
produzidos na FVJ e fora dela, na área da saúde, com toda sua complexidade e integração com
as demais áreas do conhecimento.
Tem como missão a publicação de artigos completos, resenhas críticas, estudos de caso,
revisões de literatura, de autores da FVJ, bem como de outras instituições, que contribuam para
a expansão e o aprimoramento do conhecimento. Com periodicidade semestral, é um espaço
multidisciplinar que funcionará como um laboratório para as produções desenvolvidas pelo
corpo discente, ao longo da sua formação acadêmica.
O público-alvo é composto pela comunidade da FVJ, formada por pesquisadores, professores
e alunos de graduação e pós-graduação e profissionais atuantes nas áreas supramencionadas e
em outras correlatas.
A segunda edição da revista Interfaces da Saúde inicia-se com o artigo “Intervenções educativas
voltadas para o autocuidado do paciente com hipertensão arterial: uma revisão de literatura”,
que traz um importante levantamento sobre a atuação do enfermeiro na realização de ações
educativas voltadas para o autocuidado do paciente diagnosticado com hipertensão arterial.
O segundo artigo “Os métodos Pilates e RPG no tratamento da lombalgia na gravidez: Uma
revisão de literatura”, trazendo discussões sobre as modificações no corpo da mulher, dentre
essas mudanças, temos as estruturais que acarretam inúmeros sintomas como a lombalgia, que
pode ser tratada através dos métodos Pilates e RPG.
O terceiro artigo “Fenda Labiopalatinas: revisão de literatura” objetivou revisar a literatura
sobre o conhecimento a respeito das alterações anatômicas, funcionais e psicológicas
decorrentes das fissuras labiopalatais e a importância da equipe multidisciplinar no tratamento
dos pacientes com essa malformação, bem como da atuação do profissional de enfermagem.
O quarto artigo, sob título “A importância da Enfermagem Forense para saúde e segurança
pública” se propõe a revisar e analisar a importância da enfermagem forense para a saúde e
segurança pública, visando conhecer o conceito de perícia forense, bem como, verificar os
campos de atuação de enfermagem forense e identificar os seus benefícios.
O quinto artigo e último artigo da segunda edição é “Qualidade de vida de pessoas vivendo com
HIV/AIDS: Uma revisão de literatura”, no qual se discute a qualidade de vida em pacientes
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portadores de HIV, pois, apesar do seu caráter subjetivo e de difícil mensuração, tem se tornado
um critério essencial para a sobrevida desses indivíduos.
INTERVENÇÕES EDUCATIVAS VOLTADAS PARA O AUTOCUIDADO DO
PACIENTE COM HIPERTENSÃO ARTERIAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Maria Elizabeth do Nascimento1. Especialista em Cardiologia pela Cenpex.
[email protected]
Elane da Silva Barbosa. Doutorado em Educação da UECE. Mestra em Educação pela UERN.
Professora da Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ. [email protected]
Resumo
Este estudo objetiva identificar as pesquisas produzidas sobre a atuação do enfermeiro na
realização de ações educativas voltadas para o autocuidado do paciente diagnosticado com
hipertensão arterial. Enquanto percurso metodológico, realizou-se uma revisão de literatura, do
tipo narrativa, a partir da consulta às bases de dados eletrônicas BIREME e SCIELO.
Utilizaram-se os seguintes descritores para a pesquisa: autocuidado, enfermagem e hipertensão
arterial. Foram adotados como critérios de inclusão: artigos originais, completos e disponíveis
on line, publicados em revistas de enfermagem, no idioma Português, no período de 2003 a
2013. Desse modo, foram analisados quatro artigos. Nos resultados, foi possível constatar que
as autoras dos artigos identificaram as deficiências que dificultavam ou impediam o
engajamento para o autocuidado dos sujeitos diagnosticados com hipertensão arterial. Tomando
como referência esses achados, eram levantados os diagnósticos de enfermagem e, em seguida,
desenvolvia-se o plano de assistência à saúde, a fim de intervir na situação clínica do paciente.
Pode-se concluir que a prática educativa voltada para o autocuidado com abordagem individual
apresentou-se de forma satisfatória nos estudos levantados, no entanto é perceptível que o tema
em questão ainda é pouco discutido, o que aponta a necessidade de novos estudos, sobretudo
no que diz respeito ao aprofundamento das discussões que permeiam a temática.
Palavras-chave: Autocuidado; Enfermagem; Hipertensão Arterial.
Abstract
This study aims to identify the research produced on the nurse's performance in carrying out
educational activities aimed at the patient's self-care diagnosed with hypertension. While
methodological course, there was a literature review, the narrative type, from online access by
consulting the electronic databases BIREME and SCIELO in september 2013. Used the
following key words for search: self-care, nursing and hypertension. The adopted inclusion
criteria: original, full articles and available online, published in nursing journals in the
Portuguese language. Therefore, four articles were analyzed. In the results, we note that the
authors of the articles highlighted weaknesses that hindered or prevented engagement in selfcare of individuals diagnosed with hypertension. Referring these findings, the nursing
diagnoses were raised and then unfolded it to the health care plan. We conclude that educational
practice focused on self-care with individually approach presented in a satisfactory manner in
raised studies, however we realize that the subject in question is still little discussed, pointing
to the need for further research, particularly in concerns the deepening of discussions that
permeate the theme.
1
Autora correspondente. Artigo recebido em 05 de Agosto de 2014. Aprovado em 04 de novembro de 2014.
Avaliado pelo sistema double blind review.
Revista Interfaces da Saúde · ISSN 2358-517X · ano 1 · nº2 · Dez · p. 8-16 · 2014
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Keywords: Self-care; Nursing; Hypertension.
Introdução
O interesse em construir um estudo sobre produções científicas que abordem a atuação
do enfermeiro na realização de ações educativas voltadas para o autocuidado do paciente com
Hipertensão Arterial Sistêmica - HAS surgiu após a inserção enquanto enfermeira plantonista
em um hospital de média complexidade localizado no interior do Rio Grande do Norte. Nesse
ambiente, foi possível visualizar pacientes com descontrole dos níveis pressóricos relacionados
a não adesão às várias faces da terapêutica, bem como o pouco grau de conhecimento que eles
demonstraram ter sobre essa patologia.
Destaca-se que a intervenção terapêutica da HAS vai além da prescrição
medicamentosa. Inclui inúmeras transformações no estilo de vida, compreendendo uma
“alimentação adequada, sobretudo quanto ao consumo de sal, controle de peso, prática de
atividade física, tabagismo e uso excessivo de álcool são fatores de risco que devem ser
adequadamente abordados e controlados” (BRASIL, 2006, p.8).
O portador da HAS é o principal responsável pela adequabilidade da terapêutica bem
como sua resolutividade, tendo em vista que somente com transformações no estilo de vida, ele
conseguirá controlar os níveis pressóricos. Assim o autocuidado remeterá “o sujeito à reflexão
sobre seu modo de ser e agir” (BUD et al, 2006,p.156).
Desse modo, a compreensão dos inúmeros fatores relacionados a essa doença bem como
também relacionados à realidade de vida do sujeito hipertenso, o qual possui crenças, valores e
saberes, devem ser avaliados para construção do plano de cuidados que contribua para o
controle da pressão arterial.
Com base nessa afirmativa, pode-se entender que a resolutividade do agir em saúde
exige ações transformadoras, as quais possam ser capazes de ajudar os sujeitos a
compreenderem os diversos aspectos que constituem o seu processo saúde-doença. Isso
significa que as ações direcionadas ao paciente portador de HAS precisam estar pautadas no
cuidado contínuo, capaz de conduzir o individuo a cuidar de si mesmo e consequentemente a
adesão aos vários aspectos da terapêutica.
A HAS, atualmente, é uma doença que representa um dos maiores problemas em saúde
pública no Brasil e no mundo, acarretando elevado custo médico-social, sobretudo por estar
relacionada a complicações como na doença cerebrovascular, na doença arterialcoronária
(DAC), na insuficiência cardíaca (IC), na insuficiência renal crônica (IRC), na
retinopatiahipertensiva e na insuficiência vascular periférica (BRASIL, 2012).
Alguns estudiosos consideram que 40% das mortes por AVC e 25% das mortes por
DAC (doença arterialcoronária) são decorrentes de HAS. Portanto, essa patologia é um dos
fatores mais relevantes para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (BRASIL, 2012).
Diante desse contexto, torna-se necessário o desenvolvimento de ações articuladas nos
três níveis de atenção à saúde, priorizando uma integralidade das atividades realizadas por parte
da equipe multiprofissional, as quais venham mobilizar e sensibilizar os portadores da HAS
para o autocuidado, através de ações de educação em saúde, enfatizando, sobretudo, a
prevenção de agravos e a promoção da saúde.
Sendo assim, este artigo objetiva identificar as pesquisas produzidas sobre a atuação do
enfermeiro na realização de ações educativas voltadas para o autocuidado do paciente com
hipertensão arterial.
Metodologia
Trata-se de uma revisão de literatura, do tipo narrativa, a qual sintetiza e resume, em
termos narrativos, um corpo de literatura de pesquisa (POLIT; BECK, 2011). Foram avaliadas
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as publicações referentes ao período de 10 anos, isto é, os artigos publicados no ano de 2003 a
2013, os quais se encontram disponíveis nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde.
Para a pesquisa, foram utilizados os seguintes descritores: autocuidado, enfermagem e
hipertensão arterial. As bases de dados utilizadas foram a BIREME e a SCIELO. A coleta de
dados se deu no mês de setembro do ano 2013. Foram adotados como critérios de inclusão:
artigos originais, completos e disponíveis on line, os quais foram publicados em revistas de
enfermagem, no idioma Português e que abordassem a temática deste estudo. Além disso, os
artigos desenvolvidos pelo mesmo autor, com publicações em anos diferentes foram excluídos,
tendo em vista que as discussões continham grande semelhança.
Foram identificados 27 artigos, desse total apenas 4 foram inclusos com base nos
critérios supra citados. Os artigos foram lidos na íntegra, sumarizados e resumidos para
posterior discussão. O material que faz parte da amostra está apresentado logo abaixo em forma
de quadro com as seguintes informações: título, autores, ano de publicação, a cidade/estado/país
onde o estudo foi realizado e objetivo.
Quadro 1: Identificação dos artigos selecionados a partir do título, autores, ano de publicação, local de
realização da pesquisa e objetivo.
Título
Autores
Ano de
Cidade/Estado/país
Objetivo
Publicação
onde o estudo foi
realizado
Consulta de
Zélia Maria de
2003
Fortaleza – Ceará/
Aplicação da consulta de
Enfermagem à
Sousa Araújo
Brasil
enfermagem à mulher
mulher
Santos;
hipertensa, baseada na
Hipertensa: uma
Raimunda
teoria do autocuidado de
tecnologia para
Magalhães da
Orem e a identificação da
educação em
Silva
satisfação desta mulher
saúde
com o engajamento no
autocuidado.
Identificando os
Danira Schweigert
2004
Cruz Alta - Rio
Identificar os déficits de
déficits de
Bastos;
Grande do Sul/
autocuidado de um grupo
autocuidado de
Miriam Süsskind
Brasil
de clientes hipertensos e
clientes
Borenstein
alguns
fatores
que
hipertensos de um
influenciam
no
centro municipal
engajamento destes para o
de saúde
autocuidado
Perfil de
Gisele Andrade
2008
São Luís –
Identificar o perfil de
engajamento para
dos Santos Silva,
Maranhão/ Brasil
engajamento
no
o autocuidado em
Lucíola Gondim
autocuidado em pessoas
portadores de
Ribeiro,
hipertensas acompanhadas
hipertensão
Thais Cristina
em Unidade Básica de
arterial
Santos Silva,
Saúde da Família.
Maria Lúcia
Holanda Lopes
Conhecimento e
Danusa Fernandes
2009
Torres – Rio Grande Verificar o conhecimento
Modificações de
Severo,
do Sul/ Brasil
sobre o tratamento nãocomportamento
Simone Coelho
farmacológico da HAS e as
frente ao
Amestoy,
modificações
de
tratamento nãoMaria Buss
comportamento frente a
farmacológico da
Thofehrn,
esse tipo de tratamento,
HAS: antes e após
Silvia Godmeier
antes e após educação em
educação em
saúde do profissional
saúde do
enfermeiro, em pacientes
profissional
hipertensos submetidos a
enfermeiro
hemodiálise.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
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Para a análise dos dados encontrados, inicialmente, realizou-se uma exploração
exaustiva do material por meio de leitura e interpretação dos resultados das pesquisas
analisadas, buscando perceber quais aspectos mostravam-se relevantes para este estudo.
Posteriormente, procurou-se estabelecer uma articulação dos dados coletados com as discussões
de autores que abordam elementos referentes às práticas educativas, autocuidado e hipertensão
arterial.
A fim de sistematizar a análise dos dados obtidos, optou-se pela construção de
categorias, a qual, segundo Minayo, consiste “num processo de redução do texto às palavras e
expressões significativas” (2007, p. 317). Isto é, o processo de categorização permite agrupar
os dados a partir de elementos discursivos expressivos, o que possibilita uma interpretação
sistemática. Foram construídas duas categorias, com as seguintes denominações: Estratégias
para a Educação em Saúde com pacientes hipertensos e Perspectivas de Educação em Saúde.
Resultados e Discussões
Os quatro artigos analisados possibilitaram uma percepção acerca das discussões sobre
as intervenções educativas voltadas para o autocuidado do paciente com HAS, os quais
priorizaram a prescrição de enfermagem e a sistematização das ações em saúde como caminho
para que os sujeitos se engajassem na realização de um cuidado de si.
No que se refere à amostra dos estudos, foi possível identificar que dois artigos possuem
uma amostra pequena, um contendo 7 pacientes (BASTOS; BORENSTEIN, 2004) e o outro 19
(SEVERO et al, 2009), enquanto os outros dois apresentam uma amostra significativa, variando
de 31 (SILVA et al, 2008) a 50 (SANTOS; SILVA, 2003) sujeitos. Com relação à
caracterização da amostra, os estudos elencaram os seguintes aspectos dos participantes: idade,
sexo, escolaridade, estado civil, profissão, situação familiar, tempo de diagnóstico de HAS,
consumo de álcool e de fumo, prática de atividade física e outras comorbidades associadas à
HAS.
Quanto à autoria dos artigos, dois deles foram construídos por duas autoras e os outros
dois por quatro. Todos os pesquisadores eram mulheres graduadas em enfermagem, sendo
quatro com títulos de especialistas, seis com título de mestre e duas com título de doutora. No
que diz respeito ao cenário da pesquisa, pode-se afirmar que 50% (2) foram desenvolvidos na
atenção básica e 50% (2) na atenção secundária.
Foram diversas as estratégias utilizadas para a captação dos dados nessas pesquisas.
Houve a aplicação de um roteiro a ser listado pelos pacientes, o qual era composto por duas
etapas: um contendo perguntas sobre idade, sexo, estado civil, anos de estudo e profissão e a
outra: tratamento não-farmacológico da HAS e as modificações de comportamento frente a esse
tratamento. Além disso, ocorreu a distribuição e apresentação de folder, realização de consulta
de enfermagem no próprio ambulatório e práticas educativas realizadas semanalmente. Já no
que se refere ao período de arrolamento dos sujeitos variou entre 30 dias a 6 meses.
Quanto ao aspecto metodológico, três dos artigos desenvolveram um estudo
exploratório-descritivo, sendo um de natureza qualitativa e o outro quantitativo; dois não
fizeram menção. Os artigos apresentados tiveram como principal objetivo identificar o
engajamento dos sujeitos no autocuidado da HAS, através de mudanças nos hábitos de vida.
Achamos pertinente apresentar um quadro que sintetiza os resultados e as conclusões
dos estudos listados para a presente investigação os quais veremos logo a seguir:
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Quadro 2: Síntese da análise dos artigos consultados, a partir do título, resultados e
conclusão.
TÍTULOS
CONSULTA
DE
ENFERMAGEM À
MULHER
HIPERTENSA: uma
tecnologia
para
educação em saúde.
O
CONHECIMENTO E
MODIFICAÇÕES
DE
COMPORTAMENT
O FRENTE AO
TRATAMENTO
NÃOFAMACOLÓGICO
DA HAS: antes e após
educação em saúde do
profissional
enfermeiro.
Perfil de Engajamento
para o Autocuidado
em Portadores de
Hipertensão Arterial.
Identificando
os
Déficits
de
Autocuidado
de
Clientes Hipertensos
de
um
Centro
Municipal de Saúde.
RESULTADOS
Inicialmente, o Perfil de Engajamento do
Autocuidado (PEAc) foi insuficiente em 3
mulheres, regular em 29 e bom em 18, na
primeira consulta de enfermagem. Porem
na segunda consulta, variou de regular a
excelente; na terceira e quarta, variou de
bom a excelente; e nas duas ultimas
consultas, as mulheres atingiram o PEAc
excelente. Portanto, o acompanhamento
de enfermagem facilitou a mulher a ser
agente de autocuidado.
O entendimento informado pelos
pacientes no momento da aplicação do
questionário sobre o tratamento nãofamacológico da HAS, com a subseqüente
educação em saúde do enfermeiro e, 30
dias após, cujo questionário foi novamente
aplicado. No item atividade física houve
um acréscimo de conhecimento de 16 para
68%; no controle do sal o acréscimo foi de
89 para 95%, abandono à ingestão de
bebidas alcoólicas o percentual teve o
acréscimo de 5 para 11%. No item de
abandono ao tabagismo o percentual
aumentou de 0 para 16%; e houve um
aumento de 5 para 16% do conhecimento
sobre a importância da redução do peso
como um dos tratamentos nãofarmacológico da HAS. Quanto a adesão
do tratamento não-farmacológico da HAS,
do paciente hipertenso submetido à
hemodiálise, antes e após Educação em
Saúde. A realização de atividade física
aumentou de 53% para 84%, o controle da
ingestão de sal manteve-se em 58%, a
ingestão de bebida alcoólica reduziu em
6%, hábito de fumar reduziu em 5%.
O PEAc dos pesquisados foi regular em 04
pessoas (12,90%), bom em 16 (51,62%) e
excelente em 11(35,48%). Esses últimos
caracterizaram-se
como
agentes
potenciais do autocuidado pleno.
Os déficits de autocuidado identificados
nos portadores de hipertensão estão
relacionados com a alimentação, ingestão
hídrica, ao sono e repouso, à atividade
física, à atividade profissional e ao uso da
medicação.
Fonte: dados da pesquisa (2013).
CONCLUSÃO
A cliente por ocasião da consulta de
enfermagem recebeu as orientações
educativas,
engajando-se
no
autocuidado, tornando-se agente e
multiplicadora
das
ações
de
autocuidado na família e na
comunidade. E constatou-se que a
orientação de enfermagem através de
uma
intervenção
sistematizada,
facilita à cliente buscar o engajamento
para o autocuidado.
Adquirir
conhecimento
sobre
hipertensão é uma das estratégias para
a modificação de comportamento,
adesão
ao
tratamento
nãofarmacológico da HAS, e subsequente
adoção de modificação no estilo de
vida, autocuidado do paciente.
Convém destacar que apenas
disponibilizar
informações
não
garantirá o comprometimento dos
pacientes às mudanças necessárias: é
preciso usar as informações através de
um diálogo, cujo estímulo deverá ser
constante e individual a cada paciente.
O estudo nos permitiu verificar que
uma parcela significativa de usuários
pesquisados atingiram o PEAc bom,
demonstrando
que
precisamos
investir no aperfeiçoamento de ações
e orientações educativas que
possibilite ao usuário com HAS
atingirem o PEAc excelente.
Este estudo, além de identificar
déficits de autocuidado em clientes
hipertensos, teve como intenção
prioritária, que estes clientes,
adotassem
atitudes
concretas
relacionadas às mudanças no seu
estilo de vida, adquirindo hábitos
mais saudáveis.
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Estratégias para a Educação em Saúde com Pacientes Hipertensos
Observa-se que a grande dificuldade em desenvolver ações de educação em saúde devese à singularidade dos sujeitos às quais elas são direcionadas, tendo em vista que o modo de
percepção é diferenciado, gerando dúvidas na forma de abordagem. Portanto, acredita-se que,
primeiramente, deve-se ter uma aproximação com as características dos sujeitos inseridos no
contexto no qual se pretende desenvolver tais ações.
Em um dos artigos analisados, as estudiosas traçaram primeiramente o perfil dos sujeitos
das amostras, em seguida identificaram as deficiências que dificultavam ou impediam o
engajamento para o autocuidado, e a partir desses achados eram levantados os diagnósticos de
enfermagem e o plano assistencial (BASTOS; BORENSTEIN, 2004). Nesse mesmo estudo,
fatores relacionados à crença dos sujeitos foram discutidos e levados em consideração para o
autocuidado. Enquanto em outro estudo observou-se a abordagem de redução da ingestão de
sal, prática de atividade física, redução de peso, abandono do tabagismo e de bebidas alcoólicas
(SEVERO et al, 2009).
Em uma das pesquisas (SEVERO et al, 2009) o plano assistencial era voltado para
condutas não-farmacológicas, as quais foram suscitadas por meio de ações educativas
desenvolvidas de forma individual durante a consulta de enfermagem, contando com o auxilio
de um folder, no qual continha explicações sobre a fisiopatologia e sobre mudanças no estilo
de vida que contribuem para saúde e o bem-estar do paciente com HAS.
É necessário frisar que “o autocuidado é apreendido por meio da interação humana, e
que, portanto, esse comportamento também é de certa forma, resultado da relação entre
profissional de saúde e cliente/família” (LOPES et al, 2008, p 209). Isso significa que a presença
de um profissional de saúde é decisiva para que o sujeito seja adepto às várias faces do processo
terapêutico da HAS.
Além de possibilitar o engajamento, os estudos revelaram o desenvolvimento de práticas
educativas acompanhadas por registro de diário de campo, ou seja, as expressões dos sujeitos
foram acompanhadas a cada encontro. E, à medida que se identificavam algumas deficiências,
passava-se a trabalhá-las para supri-las e consequentemente possibilitar aos sujeitos o
autocuidado (BASTOS; BORENSTEIN, 2004).
Sendo assim, podemos afirmar que a prática educativa configura-se enquanto
instrumento de validação da terapêutica, enfatizando a figura do enfermeiro por compreender
que este atuará enquanto coautor para que ocorra a redução das dificuldades “na adaptação e
enfrentamento da doença pelos pacientes e seus familiares” (FELIPE; ABREU; MOREIRA,
2008, p. 626).
Perspectivas de Educação em Saúde
As expectativas de transformação dos sujeitos portadores de HAS exigem inúmeras
estratégias, e dentre as encontradas nos estudos, observou-se a necessidade de
trocar/compartilhar experiências e conhecimentos, cuja finalidade é proporcionar modificações
no estilo de vida (BASTOS; BORENSTEIN, 2004).
O sujeito, ao expressar suas vivências e saberes e ao ouvir as experiências e
conhecimentos do outro, sente-se com mais subsídios e mais motivado para cuidar de si.
Portanto, para engajar-se é necessário que “a pessoa, na condição de sujeito, participe do
cuidado, reflete, questiona, recusa, aceita, critica. Sua posição ativa transforma a relação que se
estabelece no processo de educar-cuidar” (ALVIM; FERREIRA, 2007, p. 319).
Deste modo podemos afirmar como o saber construído socialmente é determinante para
o processo cuidar, tendo em vista que “não existe um saber verdadeiro, todo saber é relativo,
negado, superado ou complementado por outros saberes” (ALVIM; FERREIRA, 2007, p. 319).
Por isso, a importância de nós, enquanto profissionais de saúde, procurarmos estar sensíveis
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aos conhecimentos que os usuários possuem, valorizando-os e buscando estabelecer um diálogo
com eles, o que nos permitirá aprender e ensinar mutuamente.
Outro aspecto visualizado nos estudos diz respeito à necessidade de realizar um
levantamento dos requisitos de autocuidado como item essencial para o desenvolvimento do
planejamento da assistência individualizada (SILVA et al, 2008). Tendo em vista que essa
conduta facilitará a construção de ações com base na singularidade dos sujeitos, o que poderá
facilitar a compreensão e apreensão dos saberes construídos durante esses momentos
educativos.
Além disso, na consulta individualizada, alguns fatores são discutidos de modo a
facilitar a escuta, as particularidades, os agravos consequentes da patologia, bem como a
dependência aos fármacos, redução da ingestão de sal e a adoção de práticas de atividade física.
Ou seja, as dúvidas são compartilhadas facilitando a construção dos saberes, que poderão ser
postos em prática.
Destacamos a atuação do enfermeiro, por compreender que sua participação é
“primordial em todas as etapas do diagnóstico e tratamento, principalmente no tocante à adesão
do paciente ao tratamento, que ainda é um grande desafio para todos os profissionais que
assistem o hipertenso” (SILVA; COLÓSIMO; PIERIN, 2010, p. 495).
Cabe frisar que o “enfermeiro deve estar sistematicamente avaliando e reorientando o
planejamento das ações a serem desenvolvidas a partir da observação da realidade, dos
interesses e necessidades identificados” (ACIOLI, 2008, p. 120). Essa postura, por sua vez,
contribuirá para validar as condutas terapêuticas.
Os estudos nos mostraram ainda que a prática educativa dialógica desenvolvida de
forma individual permite resultados mais favoráveis no que diz respeito à adoção da terapêutica.
Para isso apontamos como justificativa que o estimulo deverá acontecer de modo a levar em
consideração os aspectos histórico-socio-culturais do paciente.
Considerações Finais
As práticas em saúde são efetivadas mediante a articulação entre saberes e instrumentos,
os quais processam as atividades assistenciais na perspectiva de intervir nas necessidades de
saúde dos sujeitos/usuários e ao mesmo tempo proporcionar um serviço de qualidade.
Portanto, compreender os problemas que afetam a saúde dos sujeitos inseridos no
contexto de atuação da equipe é fundamental, sobretudo para que posteriormente sejam
construídas estratégias capazes de impulsionar o desenvolvimento de ações de promoção em
saúde, as quais deverão contemplar a singularidade dos sujeitos, conhecendo e valorizando a
realidade da qual fazem parte.
Quando se reporta para o público portador de HAS, pode-se identificar a necessidade de
uma proximidade entre o usuário e o profissional, cujas ações devem obedecer a uma
periodicidade que poderá ter caráter coletivo, isto é, com o sujeito, a família e a comunidade,
ou ainda individualmente, nas consultas de enfermagem.
Essas atividades tornam-se importantes porque, ao construir conhecimentos
relacionados à etiologia e à terapêutica da hipertensão arterial, propiciam aos sujeitos subsídios
para realizarem um cuidado de si e, desse modo, serem protagonistas do seu tratamento.
Os resultados permitem inferir a necessidade de criar as condições necessárias e permitir
aos sujeitos o autocuidado. Para isso, recomenda-se uma abordagem pautada em pedagogias
ativas, possibilitando uma prática educativa emancipatória e o empoderamento dos sujeitos
portadores de HAS.
A partir da realização deste estudo, é possível concluir que a prática educativa voltada
para o autocuidado com abordagem individual apresentou-se de forma satisfatória nos estudos
levantados. Percebe-se, no entanto, que o tema em questão ainda é pouco discutido, o que
Página 15
aponta a necessidade de novos estudos, sobretudo no que diz respeito ao aprofundamento das
discussões que permeiam a temática.
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2
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OS MÉTODOS PILATES E RPG NO TRATAMENTO DA LOMBALGIA NA
GRAVIDEZ: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Clarice Amarante Scipiao3. Graduanda do curso de Fisioterapia da Faculdade do Vale do
Jaguaribe - FVJ
Joelma Gomes da Silva. Mestre em Saúde e Sociedade. Professora da Faculdade do Vale do
Jaguaribe - FVJ
Resumo
O período gestacional, é marcado por profundas modificações no corpo da mulher, dentre essas
mudanças, temos as estruturais que acarretam inúmeros sintomas como a lombalgia. O objetivo
desse trabalho, foi fazer uma revisão acerca do tratamento da lombalgia no período gestacional
através dos métodos Pilates e RPG. Para tanto, foi realizada uma busca na literatura pelas bases
de dados Lilacs, Scielo e pubmed, através dos seguintes descritores: Pilates; Gravidez,
Gestação, RPG, Lombalgia. A maioria dos estudos concordam que esse métodos são eficazes
para o tratamento da lombalgia gestacional, porém, ainda são necessários pesquisas mais
precisas e detalhadas acerca do tema.
Palavras chave: Pilates; Gravidez, Gestação, RPG, Lombalgia
Abstract
The gestational period is marked by profound changes in the body of the woman, among
these changes, we have structural that entails many symptoms such as low back pain. The
objective of this work was to make a review of the treatment of low back pain during pregnancy
through Pilates and RPG methods. For such, a literature search the databases Lilacs, scielo and
pubmed was performed using the following descriptors: Pilates; Pregnancy, Pregnancy, RPG,
Low back pain. Most studies agree that such methods are effective for the treatment of
gestational low back pain, however, we still need more precise and detailed research on the
subject.
Keywords: Pilates; Pregnancy, Pregnancy, RPG, Low Back Pain
3
Autora correspondente. Artigo recebido em 07 de julho de 2014. Aprovado em 04 de setembro de 2014.
Avaliado pelo sistema double blind review.
Revista Interfaces da Saúde · ISSN 2358-517X · ano 1 · nº2 · Dez · p. 18-23 · 2014
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Introdução
Durante a gravidez o corpo sofre várias mudanças como o aumento da cintura, do
quadril, das glândulas mamárias e da curvatura lombar, o que acarreta uma mudança no centro
de gravidade (BARACHO, 2007).
Nessa época, há a necessidade da mulher adaptar sua postura para compensar estas
mudanças, e isto dependerá de muitos fatores, como a força muscular, extensão da articulação,
fadiga e modelos de posição. Estas mudanças se dão de maneira individual, porém, a maioria
tem as curvas lombares e torácicas aumentadas (MANTLE; PODLDEN, 2002).
Como consequência dessas adaptações, temos o aparecimento das algias posturais,
como as lombalgias, ou mesmo a lombociatalgia. Esse quadro, pode dificultar a funcionalidade
para as atividades da vida diária podendo ser qualificada como problema de saúde pública, uma
vez que atingem não só as gestantes, mas a população em geral, e somente com a detecção
precoce das mulheres de risco para desenvolvê-las é que se poderá avaliar a efetividade de
programas e métodos adequados para sua prevenção, redução ou alívio definitivo (KISNER,
1998).
Dados na literatura apontam que que 70% de todas as grávidas têm algum tipo de dor
lombar e que 20% dessas mulheres permanecem com esse sintoma após o parto. Além disso a
prevalência desse sintoma gira em torno de 80% dessas mulheres relatando dores nas regiões
lombar e pélvica, sendo que 51% apresentam dor que interfere significativamente em suas
atividades físicas e qualidade de vida (MARTINS; PINTO; SILVA, 2005).
Dentro desse contexto, podemos perceber que as dores nas costas durante a gestação
representam, portanto, queixa relevante, tanto pela alta frequência de mulheres acometidas,
quanto pela intensidade da dor e desconforto provocado, além de influenciar de modo negativo
a qualidade do sono, disposição física, desempenho no trabalho, vida social, atividades
domésticas e lazer (NOVAES; SHIMO; LOPES, 2006).
Esta realidade coloca a necessidade de tratamentos adequados para a dor lombar durante
a gravidez. Porém, quando discute-se este ponto dentro do contexto da gestação, a adoção das
condutas diagnósticas e terapêuticas, normalmente utilizadas para a lombalgia fora do período
gestacional, torna-se limitadas, como alguns exames radiológicos e o uso de alguns fármacos.
Assim, as medidas de alívio viáveis nesse período requerem primeiramente a valorização de
ações como a aquisição de novos hábitos posturais, a adequação dos ambientes de trabalho, e o
uso de exercícios terapêuticos específicos (POLDEN et al., 1993).
Partindo desse pressuposto, destaca-se a relevância do método Pilates, que desponta
como um programa de exercícios extremamente seguro e eficaz que pode ser utilizado durante
a gestação. Como benefícios temos: melhora a estabilidade da musculatura postural e a
resistência do assoalho pélvico; otimização da circulação, em especial a do abdômen, pois todos
os movimentos são iniciados a partir dos músculos abdominais o que se torna benéfico para o
bebê; melhora do desempenho físico, saúde e bem estar geral. Além disto, os movimentos
calmos, controlados e fluidos dos exercícios promovem um sistema ideal de exercícios para a
gravidez e para readquirir as formas após o nascimento do bebê (GUIMARÃES; CERVAENS,
2012).
Outro método que se aplica nessa realidade é a Reeducação Postural Global (RPG),
técnica fisioterapêutica que utiliza oito posturas de alongamento corporal, parcialmente
estáticas, onde são realizados exercícios respiratórios e alongamento excêntrico das cadeias
musculares de forma global (e não segmentar), por isso é uma forma de tratamento seguro e
eficaz. Durante a realização das posturas o paciente é manipulado pelo fisioterapeuta, que
observa e corrige as compensações corporais e realiza as manipulações osteoarticulares (GIL;
OSIS; FAÚNDES, 2011).
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Este método é indicado para as gestantes com dor lombar, pois ele diminui e harmoniza
as tensões musculares na cadeia mestra posterior, principalmente nos músculos paravertebrais
da região lombar (GIL; OSIS; FAÚNDES, 2011).
Além de contribuir para um melhor alinhamento corporal, que foi modificado pelo
aumento de peso abdominal, que provocou mudança do centro de gravidade, interferindo na
postura, equilíbrio e locomoção (POLDEN, 1993).
Diante do exposto, o presente estudo objetivou fazer uma revisão acerca do tratamento
da lombalgia no período gestacional através dos métodos Pilates e RPG.
Metodologia
Esse é um estudo do tipo revisão integrativa de literatura, cuja pesquisa bibliográfica foi
operacionalizada mediante a busca eletrônica de artigos indexados nas bases de dados Lilacs,
scielo e pubmed; através dos seguintes descritores: Pilates; Gravidez, Gestação, RPG,
Lombalgia.
A amostra compreendeu as publicações de artigos indexados em periódicos,
selecionados a partir de uma leitura prévia dos resumos anexados que seguiram os seguintes
critérios de inclusão:
· Idioma de publicação: foram selecionados artigos totalmente em português
· Veículo de publicação: foram recrutados artigos de periódicos indexados por ter um
melhor acesso;
· Referências que tiveram pertinência com o tema, tendo como critério norteador do
estudo os benefícios proporcionados pela Pilates e RPG no tratamento da lombalgia na
gestação.
Para melhor organização e compreensão, os artigos foram organizados e separados em
grupos levando em consideração o ano de publicação, o tipo de delineamento do estudo, a
concordância ou não com a ideia proposta pelo trabalho; e o idioma em que estava escrito.
Assim, os artigos constituíram fontes primárias da pesquisa e acreditamos ter englobado os mais
relevantes a respeito do tema.
Resultados e Discussão
As alterações posturais ocorridas na gestante, é um mecanismo compensatório que tenta
fazer uma melhor distribuição corporal, devido ao aumento do peso, o que acaba acarretando o
aparecimento de dores, como por exemplo, a lombalgia (BARACHO, 2007).
Segundo Ferreira e Nakano (2001), a causa da lombalgia na gestação é multifatorial,
pois a própria gravidez contribui para o seu quadro doloroso. O centro de gravidade vai se
modificando com o avançar da gestação, e a região lombar acentua sua curvatura, na tentativa
de manter o centro de equilíbrio estável.
No primeiro e terceiro trimestre ocorrem as principais alterações do alinhamento
corporal. Percebe-se o crescimento abdominal e das mamas, provocando deslocamento do
centro de gravidade para frente. Protrusão dos ombros, rotação interna dos membros superiores,
aumento da lordose cervical, anteriorização da cabeça, causando desequilíbrio, anteversão
pélvica, aumento da lordose lombar, tensão na musculatura paravertebral, hiperextensão dos
joelhos, sobrecarga de peso nos pés e aplainamento do arco longitudinal medial (BARACHO,
2007).
Alguns estudos apontam que quanto mais jovens as grávidas maior o risco de dor,
contudo os resultados deste estudo não podem confirmar esta relação, pelo fato de apresentar
um pequeno tamanho da amostra que poderá ter influenciado os resultados. Além disso,
considera-se que as gestantes que apresentam dor lombar já apresentavam antes de engravidar
Página 21
e terão os mesmos sintomas no pós-parto (MARTINS; SILVA, 2005; NOVAES; SHIMO;
LOPES, 2006).
Dentro desse contexto, se faz necessário a adoção de estilo de vida saudável, além da
inserção dessas gestantes num contexto de tratamento eficaz e que não ofereça risco para essa
mulher.
Tendo em vista isto, o método Pilates surge como um programa de exercícios
extremamente seguros e eficazes que pode ser utilizado durante a gestação. Ao ser aplicado nos
músculos essenciais para a postura, melhorará a estabilidade da musculatura postural e a
resistência dos músculos do assoalho pélvico, o que ajudará a permanecer sem deformidades
posturais e evitar dores lombares (GUIMARÃES; CERVAENS, 2012).
Os exercícios de alongamento e fortalecimento auxiliarão no alivio das dores que com
frequência se associam às mudanças que estão acontecendo no corpo da gestante. O método
melhora a circulação, todos os movimentos são iniciados a partir dos músculos abdominais,
sendo essa melhora da circulação no abdômen, benéfica para o bebê. Dessa forma esse método
irá estimular melhoras na postura, desempenho físico, saúde e bem estar geral, tanto para a
mulher, como para o feto. Os movimentos calmos, controlados e fluidos dos exercícios
promovem um sistema ideal de exercícios para a gravidez e para readquirir as formas após o
parto (GUIMARÃES; CERVAENS, 2012).
O estudo realizado por Guimarães e Cervaens (2012), constituído de 18 grávidas com
diagnóstico de lombalgia, com idade entre 22 e 40 anos, e idade gestacional de 14 e 36 semanas,
concluiu que as grávidas que praticaram o método de Pilates tiveram benefícios ao realizar os
exercícios devidamente orientados pela fisioterapeuta, e que quatro semanas de tratamento foi
o suficiente para uma diminuição significativa da intensidade da dor lombar. Neste estudo, as
participantes foram divididas grupo experimental e grupo controle, em números iguais. No
grupo experimental, as grávidas foram submetidas a uma sessão semanal de Pilates, de 45 a 60
minutos num período de 4 semanas, estas não praticavam outra atividade física. Não teve uma
sequência fixa de exercícios, devido à grande variedade que existe no método; mas estavam
entre eles, série de exercícios estabilizadores da coluna e cintura pélvica, alongamento ativo
dos grupos musculares mais trabalhados ou sobrecarregados pela gestação, fortalecimento
global de grandes grupos musculares, entre outros.
Concordando com esse resultado, Gil, Osis e Faúndes (2011), afirmaram que a prática
de atividade física durante a gestação contribuirá para uma melhor adaptação postural,
refletindo-se em menores limitações durante as AVD’s, reduzindo os desconfortos álgicos.
Já no relato de caso, de caráter intervencional, realizado por Machado et al. (2006), a
paciente de 25 anos, na 25ª semana gestacional com história de dor lombar, foi submetida a três
sessões semanais, com duração de 1 hora cada em um período de 1 mês. Em linhas gerais, a
sessão possuiu seis momentos: 1) ativação do controle do centro (cinturão abdomino-pélvico);
2) ativação de grupos musculares específicos (abdome, adutores do quadril, períneo, multífidos
e grande dorsal); 3) fortalecimento global de membros superiores e inferiores, tanto no solo
com o auxílio de bolas ou elásticos, quanto nos aparelhos específicos do método (reformer,
trapézio, cadeira combo, barril ou unidade de parede); 4) articulação da coluna com exercícios
de mobilidade intersegmentar; 5) alongamentos globais com ênfase nos grupos musculares mais
encurtados; 6) relaxamento em grupo com o uso de imagens visuais, respiração e música. Com
isso, após a oitava sessão a intensidade da dor, medida pela escala visual analógica foi de zero,
indicando ausência de dor, o que foi confirmado pelo questionário reduzido de McGill. Isso
mostra a eficácia do método em promover a analgesia. Foi possível perceber ainda que, além
da diminuição da intensidade e alteração no tipo de dor, suas causas reduziram e desapareceram.
Afirmando mais uma vez, a eficácia do método para o tratamento de dores lombares, nas
pacientes gestantes.
Página 22
No caso do método RPG que trabalha as cadeias de tensão muscular, com posturas de
alongamento, em lugar de exercícios de repetições, leva em consideração o fato de que nenhum
músculo se move sozinho, mas sim trabalham globalmente, com a finalidade de ir do sintoma
à causa das lesões, levando ao relaxamento das cadeias musculares encurtadas e ao equilíbrio
do tônus postural (LEÃO; SILVA; SANDOVAL, 2008).
Este método é indicado para as gestantes com dor lombar, pois ele diminui e harmoniza
as tensões musculares na cadeia mestra posterior, principalmente nos músculos paravertebrais
da região lombar (FERNÁNDES, 2006). Além de contribuir para um melhor alinhamento
corporal, que foi modificado pelo aumento de peso abdominal, que provocou mudança do
centro de gravidade, interferindo na postura, equilíbrio e locomoção (POLDEN, 1993).
Isto é afirmado por Gil, Osis e Faúndes (2011), que comparou dois grupos de gestantes
(Idade gestacional entre 20 e 25 semanas e faixa etária de 18 a 40 anos) onde um grupo foi
submetido a sessões individuais de RPG e o outro grupo seguiu a rotina do pré-natal no que se
refere ao controle da dor lombar. O tratamento foi realizado durante dois meses, com sessões
semanais, todas com duração de 40 minutos. As gestantes do grupo de controle permaneceram
no estudo também por oito semanas, e foram avaliadas às quatro e oito semanas depois de sua
admissão ao estudo. Nessas ocasiões, as gestantes foram questionadas quanto à intensidade da
dor lombar e sobre as eventuais orientações médicas para tratamento. Os exercícios realizados
no grupo de RPG foram duas posturas ativas (ambas para a cadeia posterior) e em contração
isométrica ou isotônica em posição cada vez mais excêntrica, sem permitir as compensações
(alongamento global). Ambos os grupos tinham média de dor semelhante no início do estudo.
Entretanto, ao final, verificou-se diferença significativa entre os grupos, com menor intensidade
no grupo de RPG e maior no grupo de controle. Ao avaliarem-se as limitações funcionais
resultantes das dores na região lombar ao início e final do estudo, verificou-se diminuição
dessas limitações no grupo de RPG e aumento no grupo de controle.
Concordando com esses resultados Leão, Silva e Sandoval (2008) submeteram uma
paciente com idade de 21 anos e quinto mês gestacional a oito sessões, com avaliação e
aplicação de RPG, realizadas 2 vezes por semana, com duração de 60 minutos cada, no período
de um mês. Esta, antes da gestação apresentava dores na região cérvico-torácica, entretanto no
período gestacional a dor predominava na região lombo-sacra. Após os atendimentos, em
relação a escala visual analógica da dor, houve uma evolução inicialmente com aumento da dor
e posteriormente com diminuição importante até a completa analgesia. A paciente relatou que
as dores melhoraram bastante após as intervenções, entretanto, sua atividade laboral e a má
postura adotada durante a mesma, acabou ocasionando recidiva das dores voltaram devido à
má postura, o que interferiu no bom resultado do uso da técnica de RPG. Contudo, após seguir
orientações para uma melhor postura no posto de trabalho, notou-se uma melhora no quadro
álgico. Constatou-se também uma melhora no alongamento muscular da cadeia posterior.
Considerações Finais
Foi possível verificar que ambas as técnicas são eficazes na redução do quadro álgico
lombar apresentado durante a gestação. Trazendo uma melhor qualidade de vida para essas
gestantes, no âmbito pessoal, profissional e social, pois diminuem suas limitações funcionais.
Entretanto, são necessários estudos mais precisos, com acompanhamento até o fim da
gestação e com uma amostra maior, verificando a resposta ao método durante todo o período
de mudanças geradas pela gravidez, associada a funcionalidade. Pois os estudos aqui descritos
tiveram uma média de somente um mês de intervenção, o que dificulta saber se os métodos são
eficazes momentaneamente, ou o desconforto volta com o passar do tempo, pela rotina.
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Página 24
j4
FENDA LABIOPALATINAS: REVISÃO DE LITERATURA
4
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Cristiana Gurgel da Silva5. Enfermeira
Valeska Portela Lima. Doutora em Biotecnologia da Saúde.
Professora da Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ. [email protected]
Resumo
As fissuras labiopalatais são malformações craniofaciais que exigem um tratamento cirúrgico
e informações aos pais sobre os aspectos anatomofisiológicos do bebê, desde a orientação sobre
a nutrição e até os fatores psicológicos. Essas malformações ocorrem devido falta de fusão dos
ossos faciais, tendo em sua etiologia aspectos multifatoriais. O indivíduo portador da fissura
labiopalatina apresenta diversos distúrbios decorrentes das alterações anatômicas, funcionais e
psicológicas. O presente trabalho teve como objetivo revisar a literatura sobre o conhecimento
a respeito das alterações anatômicas, funcionais e psicológicas decorrentes das fissuras
labiopalatais e a importância da equipe multidisciplinar no tratamento dos pacientes com essa
malformação, bem como da atuação do profissional de enfermagem. Consultou-se as bases de
dados BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde) Scielo (Scientific Eletronic Library On-line), e revistas especializadas,
utilizando-se das seguintes palavras-chave: Lábio leporino, fissura labiopalatina, fenda palatal,
tratamento multidisciplinar. Conclui-se que os indivíduos portadores das fissuras labiopalatinas
podem desenvolver diversas alterações que comprometem a nutrição e a fala. Ademais, eles
podem desenvolver alterações dentais, estéticas, auditivas e psicológicas entre outras, e a falta
de tratamento leva a sequelas irreversíveis. Por isso a importância da atuação de uma equipe
multidisciplinar especializada e compromissada que conheçam bem os aspectos anatômicos,
estruturais e, sobretudo, os emocionais envolvidos nas dificuldades enfrentadas no tratamento,
para que o acompanhamento venha minimizar o sofrimento do indivíduo fissurado e de sua
família.
Palavras Chaves: Lábio leporino; Fissura labiopalatina; fenda palatal, tratamento
multidisciplinar.
Abstract
The cleft lip and palate are craniofacial malformations that require surgical treatment and
information to parents about the anatomical and physiological aspects of the baby, from the
guidance on nutrition to psychological factors. These malformations occur due lack of fusion
of the facial bones, with a multifactorial etiology aspects. The individual who bears cleft lip
and palate presents various disorders resulting from anatomical, functional and psychological
changes. This study has as its main objective the review about the knowing of the anatomical,
functional and psychological changes resulting from cleft lip and palate and the importance of
the multidisciplinary team in the treatment of patients with this malformation, and the nurse's
role in all of this. The basic data VHL (Virtual Health Library), Lilacs (Latin American and
Caribbean Health Sciences) SciELO (Scientific Electronic Library Online), and journals, using
the following keywords: Lips cleft, cleft lip, cleft palate, multidisciplinary treatment. In
conclusion, those individuals carrying the cleft lip and palate can develop a number of
alterations that compromise nutrition and speech. They can also develop dental, cosmetic,
hearing and psychological alterations among others, and the lack of treatment leads to
irreversible consequences. Therefore, the importance of the performance of a specialized
multidisciplinary and compromised team which is familiar with the anatomical, structural and,
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Autora correspondente. Artigo recebido em 13 de setembro de 2014. Aprovado em 19 de novembro de 2014.
Avaliado pelo sistema double blind review.
Revista Interfaces da Saúde · ISSN 2358-517X · ano 1 · nº2 · Dez · p. 25-35 · 2014
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above all, the emotional aspects involved in the difficulties faced in treatment, so that
monitoring can minimize the suffering of individual with cleft and his family as well.
Keywords: Cleft lip; Cleft palate; cleft palate, multidisciplinary treatment.
Introdução
É consenso, entre alguns profissionais de saúde, que a ausência de tratamento
adequado aos portadores de fendas labiopalatais pode levar a sequelas irreversíveis, que afetam
a função e a harmonia estética da face, a voz, podendo assim levar a graves sequelas
psicológicas. No entanto, isso nem sempre acontece, pois o desconhecimento de muitos
profissionais da área da saúde em relação às fissuras impossibilita que vários pacientes
usufruam dos benefícios da intervenção precoce (FERREIRA et al., 2013). Para tanto,
necessita-se de uma equipe multidisciplinar preparada para dar orientações aos pais,
melhorando a aceitação da família diante dessa realidade. Sob esse contexto, é pertinente
destacar a importância de conhecer as alterações anatômicas, funcionais e psicológicas
decorrentes das fissuras labiopalatais e a importância da equipe multidisciplinar no tratamento
dos pacientes com essa malformação, bem como da atuação do profissional de enfermagem.
Materiais e Métodos
O presente trabalho tratou-se de uma revisão de literatura. As bases de dados da BVS
(Biblioteca Virtual em Saúde), Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências
da Saúde) Scielo (Scientific Eletronic Library On-line), e revistas especializadas, foram
consultadas utilizando-se das seguintes palavras-chave: Fenda labial, fissura labiopalatina,
fenda palatal, tratamento multidisciplinar. O período de busca de artigos referentes ao tema
compreendeu a março de 2013 até outubro de 2014.
Inicialmente foram estabelecidas publicações dos últimos cinco anos, tendo essa linha
de tempo que ser estendida entre 2009 e 2014. A pesquisa inicial selecionou um total de 3.801
artigos, dos quais 557 abordavam a fissura labiopalatina, 1.060 fendas labiais, 934 fendas
palatais e tratamento multidisciplinar 1.250. Após, na lista de resultados, foi realizada a leitura
do título e resumo para adequada inclusão dos artigos. Foram compilados para análise, ao todo
19 referências que corroboraram com os objetivos do estudo, que foram conhecer as alterações
anatômicas, funcionais e psicológicas decorrentes das fissuras labiopalatais e a importância da
equipe multidisciplinar no tratamento dos pacientes com essa malformação, bem como da
atuação do profissional de enfermagem.
REVISÃO DE LITERATURA
1. A Fissura Labiopalatina
A fissura labiopalatina é uma malformação congênita que ocorre durante o
desenvolvimento fetal entre a quarta e a décima primeira semana de gestação, pela interrupção
da fusão longitudinal dos tecidos do lábio superior e palato, acometendo o osso e a mucosa na
linha mediana do palato duro (POPIA et al., 2013; FERREIRA et al., 2013; VACCARIMAZZETTI et al., 2009; CYMROT et al., 2010; PICCIN et al., 2009; KHALIL et al., 2009).
Ao final da 5° da semana de vida intrauterina, inicia-se o desenvolvimento do palato
humano, mas é por volta da 6ª semana embriológica que as falhas de fusão entre os processos
frontal-nasal e maxilar podem ocorrer, acarretando em fissuras labiais. Já o palato fendido
decorre de deficiências na união das placas palatinas que irão formar o processo maxilar,
geralmente, na 9ª semana de gestação (POPIA et al., 2013).
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A harmonia é estabelecida na fase embrionária, a partir do arco braquial e do processo
frontonasal. Ocorre uma subdivisão que se constitui em duas fases, sendo que a primeira
subdivide-se em dois processos: os processos maxilares (pares) e os mandibulares (pares). A
partir dos referidos processos (maxilares, mandibulares e o frontonasal), inicia-se a formação
da face no decorrer da quarta semana de desenvolvimento e completa-se entre a quinta e a oitava
semana (SOUZA; SANTOS, 2010).
As fissuras podem ocorrer de forma isolada ou fazer parte de uma síndrome ou
associação, portanto há necessidade de uma cuidadosa investigação em busca de outras
anormalidades (CARRARO et al., 2011).
A fissura labiopalatina ocorre duas vezes mais em meninos do que em meninas. Por
outro lado, a fissura apenas do palato é mais frequente em meninas (SOUZA; SANTOS, 2010).
As fissuras labiopalatinas são também conhecidas como “lábio leporino” ou “goela de lobo”
(PICCIN et al., 2009).
2. Etiologia
Quanto à etiologia nota-se a existência de aspectos multifatoriais, tais como,
hereditariedade, carência alimentar, influências psicológicas, doenças infecciosas, idade
avançada dos genitores, drogas, radiação ionizante, diabetes materna e fumo. Acredita-se ainda
em fatores genéticos, pois a grande maioria dos sujeitos fissurados possui histórico familiar
dessa mesma anomalia (CAMPILLAY, DELGADO e BRESCOVICI, 2009; FERREIRA et al.,
2013; FERNANDES; DEFANI, 2013; CARRARO et al., 2011).
A influência hereditária representa um fator determinante, pois se pelo menos um dos
pais apresentarem a malformação, a probabilidade de um filho nascer com o problema aumenta
em cinco vezes. O lábio leporino e, ou palato fendido podem estar associados à falta de ingestão
de vitaminas A e E, ao uso de cortisona e acetilcolina, além da carência de oxigenação
intrauterina por alterações da pressão amniótica. A carência de ácido fólico está intimamente
relacionada à origem de fendas labiais e palatinas (POPIA et al., 2013).
Entre as malformações craniofaciais, as mais frequentes são as de lábio e palato
presentes em 01 a cada 650 bebês nascidos vivos (DI NINNO et al., 2011). No Brasil, estimase existirem cerca de 180.000 portadores, uma criança em cada mil nascidos vivos seja
portadora de fissura labiopalatina e a mortalidade no primeiro ano de vida é em torno de 35%
(POPIA et al., 2013; RAPOSO-DO-AMARAL et al., 2011; FERREIRA et al., 2013). As
deformidades congênitas que com maior frequência afetam a função mastigatória, a mais
prevalente é a fissura labiopalatina. Ausência de dentes é observada em 70% dos portadores de
fissura labiopalatina completa, o que pode afetar a função e a estética (RAPOSO-DOAMARAL et al., 2011).
Sua incidência varia conforme a raça e o local da população (FERREIRA et al., 2013;
FERNANDES; DEFANI, 2013). A literatura revela ainda, que há uma ocorrência maior de
fissuras em indivíduos do sexo masculino (FERNANDES; DEFANI, 2013).
A saúde da mãe ainda é fundamental para que seu sangue tenha uma composição
química normal e livre de agentes infecciosos. Vários fatores relacionados ao organismo
materno podem atuar negativamente no desenvolvimento fetal, tais como anemia, insuficiência
cardíaca, intoxicação, uso de drogas e, até mesmo, estado psicológico da mãe. A placenta e as
membranas fetais não são impenetráveis, como antes se pensava. Portanto, as malformações
congênitas não são causadas somente por fatores hereditários, mas também por fatores
ambientais. Nesse contexto, podem ser citados os seguintes elementos desencadeadores:
estresse; infecções; fatores alimentares, aspectos maternos; medicamentos; e malformações
causadas por radiação (SOUZA; SANTOS, 2010).
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3. CLASSIFICAÇÃO DAS FISSURAS
A classificação mais utilizada no Brasil é a formulada por Spina et al. (1972) e
modificada por Silva Filho et al (1992), por ser simples, objetiva e prática, facilitando a
comunicação entre profissionais de uma equipe multidisciplinar, que classificam as fissuras em
quatro grupos e estabelece os seguintes conceitos:
Grupo I – Fissuras pré-forame incisivo (fissuras labiais): fissuras de lábio com ou sem
envolvimento alveolar, podendo ser bilaterais ou unilaterais, completas ou incompletas.
A – Unilaterais: várias são as formas possíveis de acometimento da fissura labial
unilateral, considerando desde as alterações menores sobre o lábio, tais como um simples
entalhe sobre o vermelhão, até o acometimento de todo o lábio. Pode haver, ainda, associação
da deformidade do lábio com o assoalho da narina, com ou sem alteração do arco alveolar.
B – Bilaterais: apresentam como característica alterações anatômicas importantes,
principalmente quando associadas às fissuras palatinas, onde a de gravidade maior fica por
conta da ausência de certos elementos bilaterais, como a ausência do cinturão muscular do lábio,
cuja pré-maxila projeta-se muitas vezes sem relação com os segmentos maxilares e alveolares,
devido ao crescimento a partir do septo nasal. Além das assimetrias, o pró-lábio é de volume
variável, a columela é curta, as asas nasais são alargadas e planas, e os arcos alveolares, sem
manter relação com a prémaxila, podem apresentar colapso. Esse tipo de fissura ainda apresenta
a seguinte classificação: completa ou completa de ambos os lados ou incompleta de um lado e
completa do outro.
C – Medianas: as fissuras ocorrem com uma frequência baixa. Recebem esta
denominação pela sua localização no filtro do lábio superior.
Grupo II – Fissuras pós-forame incisivo (fissuras palatais): são fissuras palatinas, em
geral medianas, que podem situar-se apenas na úvula, palato, e envolver todo o palato duro,
havendo a possibilidade de ser completa ou incompleta.
Grupo III – Fissuras do tipo transforame incisivo (fissuras labiopalatais): são as de
maior gravidade, atingindo o lábio, a arcada alveolar e todo o palato. Elas podem ser unilaterais
(direita ou esquerda) ou bilaterais.
Grupo IV – Fissuras raras da face, que podem estar associadas a outras anomalias
faciais (CYMROT et al., 2010; SOUZA; SANTOS, 2010; PICCIN et al., 2009; CARRARO et
al., 2011).
Existe também a Fissura de Palato Submucosa (FPSM) que é um tipo de malformação
congênita que pode apresentar-se isoladamente, associadas a fissuras labiais ou outras
síndromes. Como não é muito frequente, existe certa dificuldade em sua identificação, apesar
de haver sinais específicos da FPSM que em sua maioria é caracterizado pela diástase muscular
e chanfradura óssea visto na inspeção intra-oral, o diagnóstico da FPSM é feito por meio de
inspeção intra-oral para a busca de sinais clássicos que identificam a FPSM: úvula bífida,
diástase da musculatura velar na linha média e chanfradura óssea na borda posterior do palato
duro. Entretanto, estas características podem apresentar-se de forma associada ou não, sendo
indispensável para o diagnóstico da FPSM, a presença de diástase muscular no palato mole.
Apesar dos sinais característicos da FPSM, a dificuldade de sua identificação logo ao
nascimento leva muitas vezes ao diagnóstico tardio, em geral realizado quando há o
aparecimento de sintomas evidentes de disfunção velofaríngea (DVF) (DI NINNO et al., 2011).
4. Alterações Resultantes Das Fissuras
A fissura labiopalatina é uma malformação congênita frequente, que envolve questões
de estética e tratamento multidisciplinar longo e doloroso. Poucos defeitos congênitos causam
tantos problemas por tanto tempo quanto a fissura labiopalatina, tais como: dificuldade de sugar
e engolir, presença de cáries e anomalias dentárias, de infecções do ouvido médio e dificuldades
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de audição, de problemas psicológicos e de problemas fonoarticulatórios. Por esses inúmeros
problemas consequentes da fissura, seu portador pertence ao grupo de indivíduos considerados
portadores de uma doença crônica, que exige tratamento prolongado, caro e multidisciplinar
(SOUZA; SANTOS, 2010; FERNANDES; DEFANI, 2013).
Neste contexto, é pertinente destacar que o grau de impossibilidade de sucção do
recém-nascido fissurado está diretamente ligada ao tipo de fissura, onde os problemas mais
comuns são sucção deficitária pela falta de pressão intraoral e a regurgitação (FERREIRA et
al., 2013; FERNANDES; DEFANI, 2013).
Da mesma maneira, a ausência de face harmônica e/ou a deformação da face podem
levar a sequelas psicológicas e cognitivas. Essas sequelas são motivo de estigma e
discriminação entre os pares, podendo afetar a qualidade de vida dessas crianças e de suas
famílias. (RAPOSO-DO-AMARAL et al., 2011; CARRARO et al., 2011). No que concerne à
odontologia, características como atresia maxilar, com severas discrepâncias
maxilomandibulares, mal posicionamento dentário, dentes supranumerários, hipodontia,
anormalidades no formato dos dentes e alterações mucogengivais são comuns de serem
encontradas (MUNCINELLI et al., 2012).
A fala, a voz e audição melhoram com o fechamento precoce do palato enquanto que
seu fechamento tardio, após os 4 anos de idade, favorece o crescimento inadequado do esqueleto
da face. Além disso, as alterações provocadas pela fissura labiopalatina na nutrição, na fala, na
deglutição, na estética e no bem-estar psicológico do paciente inviabilizariam a postergação da
sua correção cirúrgica para idades mais avançadas (KHALIL et al., 2009).
Para o desenvolvimento do sistema estomatognático, a recomendação da Organização
Mundial da Saúde (OMS) é manter o aleitamento exclusivo até o sexto mês de vida, pois a falta
da amamentação constitui-se num dos principais fatores etiológicos das más oclusões dentárias.
Do mesmo modo, a deglutição, a fonação e a respiração podem ser afetadas quando a
mamadeira é logo introduzida nos hábitos do bebê (BATISTA, TRICHES e MOREIRA, 2011).
Sabendo que a fissura palatina é uma anomalia craniofacial importante na realidade
clínica as anomalias craniofaciais figuram como um dos indicadores de risco para a audição, o
fonoaudiólogo, além de ter conhecimento das causas determinantes das complicações
otológicas presentes, tem que ser capaz de avaliar todo o sistema auditivo vindo contribuir desta
forma para o processo de prevenção, terapia e para o estabelecimento de condutas adequadas
(MONDELLI; VENTURA E FENIMAN, 2013).
5. TRATAMENTO
O tratamento dos portadores de FLP (fenda labiopalatina) deve iniciar o mais cedo
possível devido ao seu impacto na fala, audição, estética e cognição, além da influência
prolongada e adversa na saúde e integração social. É baseado no acompanhamento
interdisciplinar (ginecologista-obstetra, neonatologista, pediatra, geneticista, cirurgião plástico,
fonoaudiólogo, nutricionista, psicólogo e odontólogo, que visa à reparação da forma e função
dentro da normalidade, por meio de intervenções cirúrgicas, com o mínimo dano possível para
o crescimento e desenvolvimento (CARRARO et al., 2011; MUNCINELLI et al., 2012).
O tratamento das fissuras é complexo, e, dependendo do grau de acometimento, pode
ser necessário até a idade adulta. É importante ressaltar que o estado nutricional da criança e
seu desenvolvimento físico são fatores considerados para que a correção cirúrgica possa ser
realizada (FERNANDES; DEFANI, 2013; MUNCINELLI et al., 2012; CARRARO et al.,
2011).
As cirurgias de correção podem ocorrer logo após o nascimento dependendo
exclusivamente das condições do bebê. O protocolo de tratamento mais utilizado atualmente é
o fechamento do lábio com 3 meses de idade e o palato, em tempo único, com 1 ano de idade.
No decorrer do desenvolvimento, outras cirurgias eletivas vão acontecendo, com grandes
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benefícios funcionais e estéticos, o que gera uma repercussão favorável no aspecto psicológico
do próprio paciente e de seus familiares (RAPOSO-DO-AMARAL et al., 2011; SOUZA;
SANTOS, 2010). Um protocolo de tratamento bem estabelecido pode levar a índices de sucesso
em torno de 96% na reabilitação dos pacientes fissurados, e depende basicamente de três
pilares:
1. Adesão do paciente ao tratamento;
2. Gravidade da fissura labiopalatina;
3. Experiência da equipe multidisciplinar.
A falta de tratamento adequado pode levar a sequelas irreversíveis, que afetam estética,
os aspectos funcionais e psicológicos do indivíduo (RAPOSO-DO-AMARAL et al., 2011).
Sendo assim, é necessário o envolvimento de uma equipe multidisciplinar comprometida com
essa reabilitação dos pais e pacientes, pois o intercâmbio de conhecimentos é fundamental para
o progresso do tratamento do indivíduo (POPIA et al., 2013).
O enxerto cirúrgico pode ser realizado para que haja a correção do defeito ósseo
alveolar em fissuras pré-forame e transforame incisivo, e para que ocorra a união entre os
processos palatinos em fissuras pós-forame e transforame incisivo. Para que portadores de
fissuras labiopalatinas possam receber tratamento cirúrgico adequado, foram estabelecidos protocolos, que incluem desde a avaliação pré-internação até o acompanhamento pós-cirúrgico
para cada tipo de fissura labiopalatina. No entanto, durante a fase de planejamento, os
profissionais devem estar atentos às peculiaridades de cada caso (FERNANDES; DEFANI,
2013).
O tratamento ortodôntico é fundamental na reabilitação de portadores de fissuras que
passaram por cirurgias primárias, e que realizarão cirurgias secundárias. Entretanto, o
tratamento não se restringe apenas às intervenções cirúrgicas e ortodônticas, necessita ainda de
inúmeros outros procedimentos que devem ser realizados, por profissionais de diferentes áreas,
conforme estabelece a Portaria 62 SAS/MS, constituindo assim, uma equipe multiprofissional
de atenção à saúde de indivíduos fissurados. (FERNANDES; DEFANI, 2013).
Pacientes com fissura labiopalatina fazem parte de um grupo de pacientes que
promovem um desafio à equipe profissional referente às suas necessidades e acompanhamento
prolongado. Entre as necessidades estão a adesão ao tratamento multidisciplinar, a utilização
de ortodontia pré-operatória para estimular um desenvolvimento craniofacial e o tratamento
cirúrgico dentro da cronologia adequada (VACCARI-MAZZETTI, KOBATA e BROK, 2009).
A ressonância vocal é um item indispensável na reabilitação global dos pacientes
portadores de fissura labiopalatina (RAPOSO-DO-AMARAL et al., 2011). A realização da
ultrassonografia é a grande estratégia para detectar as anomalias fetais, a qual deve ser realizada
rotineiramente durante o pré-natal, principalmente no terceiro trimestre de gestação (SOUZA;
SANTOS, 2010).
O reconhecimento desta anomalia durante o pré-natal é relevante para a preparação
dos pais em aceitar a deformidade da criança. Com isso, ao ser detectada, por meio deste exame,
a presença de fenda labiopalatina, é importante que os profissionais tenham ações informativas
e educativas, pois elas facilitam a compreensão dos pais em relação ao diagnóstico. Mesmo
com as orientações, há possibilidade de rejeição do lactente pelos pais, devido ao fato de a
malformação ser evidente. (VACCARI-MAZZETTI, KOBATA e BROK, 2009; SOUZA;
SANTOS, 2010; POPIA et al., 2013).
As primeiras orientações aos pais de bebês com fissura devem ser dadas em relação às
implicações imediatas da fissura, em especial na alimentação; à importância de um tratamento
especializado, com indicação de centros e profissionais; e à possibilidade, em se tratando de
uma fissura isolada, de a criança vir a se desenvolver normalmente (DI NINNO et al., 2011).
Os pais são fundamentais no tratamento de seus filhos com fissuras, devendo receber
informações corretas, sendo que, se a cirurgia corretiva for realizada ainda nos dois primeiros
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anos de vida, contribui muito para que a criança tenha a formação adequada do seu “eu”
(PICCIN et al., 2009).
A nutrição da criança fissurada não é fácil, pois o bebê precisa manter-se com boa
nutrição para garantir as boas condições para a cirurgia de correção da malformação. As fissuras
tanto labiais quanto palatinas interferem de maneira direta na alimentação do bebê, pelo fato
das aberturas impedirem a vedação oral da criança, podendo haver infecções por aspiração do
leite (SOUZA; SANTOS, 2010).
A correta alimentação do RN (recém nascido) propicia crescimento físico,
desenvolvimento neuropsicológico e resistência imunológica, podendo-se considerar o ato de
alimentar como um dos mecanismos iniciais do desenvolvimento da comunicação e afetividade
entre mãe e filho. A adequada movimentação para a sucção, associada à movimentação de uma
deglutição normal, ajudam a desenvolver a musculatura perioral (BRANCO; CARDOSO,
2013).
Existem alguns métodos especiais indicados para as crianças fissuradas, como bicos
longos, moles com orifícios largos ou bicos longos e macios, eles apresentam ótimos resultados
quando a amamentação não é possível (SOUZA; SANTOS, 2010).
Nos casos que necessitam de uma alternativa à mamadeira, a xícara proporciona uma
solução simples e efetiva, pois o bebê regula a quantidade que será ingerida, tornando a
respiração mais fácil, evitando assim a aspiração muito comum entre as crianças fissuradas,
quando a má formação for muito grande não é possível alimentar o bebê por xícara ou
mamadeira, apresentando-se como alternativa as seringas, copinho, colher, conta-gotas, e sonda
(BATISTA, TRICHES e MOREIRA, 2011; DI NINNO et al., 2010). O uso de sondas, contagotas e seringas, no entanto, é contra-indicado por muitos profissionais, por julgarem não ser
necessário o uso de instrumentos especiais para a alimentação da grande maioria de bebês com
fissura (DI NINNO et al., 2010).
Há uma contradição em relação ao uso das placas palatinas obturadoras as quais
funcionam como palato artificial que serve de apoio para o bebê na hora da mamada, pois elas
poderiam deformar e direcionar o crescimento da maxila se não forem moldadas e trocadas
conforme o crescimento da criança (SOUZA; SANTOS, 2010).
Sabe-se que bebês com fissura do tipo pré-forame incisivo conseguem, com maior
frequência, ser alimentados no seio materno e que bebês com fissura do tipo pós-forame
incisivo e transforame incisivo, apresentam maior dificuldade, principalmente devido à fraca
pressão intra-oral para a sucção (DI NINNO et al., 2010).
6. Atuação da Equipe Multidisciplinar
É possível que a reação inicial dos pais venha a ser de choque emocional, pois o
nascimento do filho, que deveria ser um momento de alegria e satisfação, torna-se doloroso,
dando lugar a uma situação de aflição e luto, o que pode levar a um conflito emocional,
interferindo na relação da mãe com a criança. São de grande importância o aconselhamento e
as orientações dos pais pela equipe médica em conjunto com o diagnóstico, melhorando assim
os aspectos psicológicos do tratamento e levando a uma abordagem positiva frente ao problema,
melhorando sua aceitação familiar (VACCARI-MAZZETTI, KOBATA e BROK, 2009;
SOUZA; SANTOS, 2010).
As reações mais comuns diante da malformação do filho são as seguintes: negação da
realidade; lamentações e comiseração com a própria sorte; ambivalência em relação à criança
ou rejeição da mesma; projeção da dificuldade como causa da presença de sentimento de culpa,
vergonha, depressão e mútua dependência entre a mãe e a criança (SOUZA; SANTOS, 2010).
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É imperativa a necessidade que os pacientes portadores desta condição têm de serem
avaliados e acompanhados em centros de referência por uma equipe multidisciplinar, composta
principalmente por cirurgiões plásticos, geneticistas, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos,
entre outros. Dessa forma, desde o nascimento até a vida adulta, o suporte profissional completo
estará à disposição, auxiliando o tratamento do paciente fissurado com o intuito de que, ao seu
término, o estigma seja superado pela associação de satisfatórios resultados estéticos e
funcionais (fonação e oclusão dentária), sem ônus ao crescimento facial, possibilitando a estes
pacientes melhor inserção na sociedade. (ALONSO et al., 2009; FERNANDES; DEFANI,
2013).
A ausência da abordagem multidisciplinar pode levar à diminuição significativa dos
índices de sucesso da reabilitação desses pacientes. Segundo a Associação Americana de
Fissuras Palatinas (ACPA) e a Associação Européia de Fissura Palatina (Eurocleft), a equipe
multidisciplinar deve ser minimamente composta por cirurgiões plásticos, psicólogos,
odontólogos, fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas (RAPOSO-DO-AMARAL et al., 2011).
A equipe de multidisciplinar dará suporte às famílias de bebês portadores deste tipo de
lesão, incentivando-as a enfrentar o problema, por meio das seguintes ações: explicação dos
resultados da correção cirúrgica da malformação; utilização de fotografias para mostrar
resultados satisfatórios e estimular o sentimento de esperança em torno da recuperação do
paciente; marcação de reuniões com outros pais que passaram por situação semelhante e
conseguiram enfrentá-la com sucesso; indicação, através de comportamento, de que a criança é
um ser valioso, de forma que deve ser estimulada a aceitação do lactente (SOUZA; SANTOS,
2010).
Tanto o nutricionista como os demais profissionais da equipe multidisciplinar, devem
estar aptos a reconhecer e a tratar de forma adequada os portadores de fissuras labiopalatais, a
fim de providenciar suporte para a família, para alcançar o fim comum que é um indivíduo
saudável e integrado à sociedade. (PICCIN et al., 2009).
A enfermagem tem papel importante na reabilitação dessa criança, ao atentar para as
necessidades básicas. É atribuição do enfermeiro num processo de educação permanente,
treinar a equipe, visando contribuir para a melhoria da qualidade nas orientações para as mães
no processo de amamentação das crianças fissuradas (SOUZA; SANTOS, 2010).
A equipe de enfermagem fornece as primeiras informações relacionadas aos cuidados
de higiene e alimentação que a criança fissurada deve receber. Torna-se importante enfatizar
que o estado nutricional da criança é um fator considerado na decisão pelo procedimento
cirúrgico (FERNANDES; DEFANI, 2013).
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Cuidados básicos de Enfermagem:
Fazer a limpeza oronasal - A gengiva, bochecha, língua e palato do bebê devem ser
limpos com dedeira, gaze ou fralda embebida em água filtrada ou em soro fisiológico.
(BATISTA, TRICHES e MOREIRA, 2011).
Estimular a amamentação ao seio materno, pois, o ato de sugar favorece o
desenvolvimento da musculatura da face e aumenta a força dos movimentos executados
com a língua (BATISTA, TRICHES e MOREIRA, 2011).
Para ajudar o recém-nascido a mamar no peito, recomenda-se que a mãe estimule a
ejeção através da ordenha, pois o bebê tem a sucção diminuída, às vezes insuficientes
para estimular a ejeção inicial do leite. (SOUZA; SANTOS, 2010).
Em caso de aleitamento artificial com o leite materno, de vaca ou com leites
industrializados, deve ser feito com colher. A mamadeira é oferecida somente quando
se esgotarem todas as tentativas para se estabelecer o aleitamento natural. (BATISTA,
TRICHES e MOREIRA, 2011).
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Em situações nas quais se necessita de uma alternativa à mamadeira, a alimentação com
xícara proporciona uma solução simples e efetiva. O bebê pode regular sua própria
ingestão alimentar, de maneira que o leite somente toque seus lábios e não seja
despejado dentro da boca. (BATISTA, TRICHES e MOREIRA, 2011).
Tanto o aleitamento materno como o uso de xícaras ou mamadeira podem não ser
possíveis quando a má formação palato-labial é extensa, sendo necessário usar uma
seringa para alimentar o bebê. Assim, colocando-se um tubo fino ao lado do mamilo, o
qual irá liberar o leite materno previamente ordenhado, o bebê pode ter a sensação de
estar mamando no peito (BATISTA, TRICHES e MOREIRA, 2011).
Há dispositivos especiais indicados para criança com fenda palatina, como bicos longos,
moles com orifícios largos, Nursettes ou os bicos longos e macios de Lamb, que
apresentam um excelente resultado quando é necessário alimentar o recém-nascido com
mamadeira. (SOUZA; SANTOS, 2010).
A verificação do peso diariamente permite avaliar se o método utilizado para alimentar
o bebê está sendo adequado. (SOUZA; SANTOS, 2010).
Orientar a mãe a manter a criança em posição semi–sentada, nessa posição, a ação da
gravidade permite que o mamilo e a aréola do seio penetrem com mais facilidade dentro
da boca do bebê, proporcionando maior vedação da fenda, promovendo um melhor
escoamento do alimento para a orofaringe e o esôfago, reduzindo a fadiga e a energia
gasta pelo bebê durante a alimentação. (BRANCO; CARDOSO, 2013).
Estimular a eructação, a grande quantidade de ar deglutida durante a alimentação
provoca distensão gástrica, com sensação de desconforto, cólicas, vômitos.
(CARRARO et al., 2011).
Considerações Finais
Diante dos resultados apresentados constatou que as fissuras labiopalatinas podem
apresentar diversas alterações graves no desenvolvimento anatomofisiológico dos pacientes e a
falta de tratamento especializado leva a sequelas irreversíveis.
Conclui-se ser imprescindível a necessidade que os pacientes e familiares dos
portadores desta malformação sejam avaliados e acompanhados por uma equipe interdisciplinar
especializada e composta principalmente por cirurgiões plásticos, odontologistas, enfermeiros,
assistente social, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, psicólogos entre outros. Acredita-se
que dessa forma é possível promover uma assistência humana e eficiente ao paciente e à sua
família.
Referências
ALONSO NIVALDO et al. Fissuras labiopalatinas: protocolo de atendimento multidisciplinar
e seguimento longitudinal em 91 pacientes consecutivos. Rev. Bras. Cir. Plást. 176 2009;
24(2): 176-81. Disponível em: < http://www.rbcp.org.br/imageBank/PDF/v24n2a10.pdf>.
Acesso em: 05 mar. 2014.
BATISTA, Luciana Rodrigues V.; TRICHES, Thaisa Cezária; MOREIRA, Emília Addison M.
Desenvolvimento bucal e aleitamento materno em crianças com fissura labiopalatal. Rev. Paul.
Pediatr,
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mar. 2014.
Página 36
a6
A IMPORTÂNCIA DA ENFERMAGEM FORENSE PARA SAÚDE E SEGURANÇA
PÚBLICA
Dayane Soares Moreira7. Enfermeira
Isabelle Joyce de Lima Silva Fernandes. Mestre em Microbiologia Médica. Professora da
Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza – Fametro
Resumo
6
7
Autora correspondente. Artigo recebido em 15 de julho de 2014. Aprovado em 20 de outubro de 2014.
Avaliado pelo sistema double blind review.
Revista Interfaces da Saúde · ISSN 2358-517X · ano 1 · nº2 · Dez · p. 37-45 · 2014
Página 37
Atualmente, a segurança pública/violência é apontada pelos brasileiros como um dos principais
problemas do país. De forma geral, a sociedade tem interesse que os inocentes erroneamente
acusados sejam libertados e os responsáveis pelos crimes sejam punidos, respeitando, porém,
os direitos humanos. Logo, a perícia contribui para este anseio com provas científicas,
auxiliando a polícia e a Justiça criminal a julgar os verdadeiros autores dos delitos. A
enfermagem forense não se limita ao cuidado do sofrimento físico e emocional, mas também
na identificação e preservação das provas criminais, tornando-se de grande importância. O
presente estudo foi do tipo exploratório com abordagem qualitativa, do tipo pesquisa
bibliográfica, com o objetivo de analisar a importância da enfermagem forense para saúde e
segurança pública. A pesquisa do material foi realizada em livro sobre a temática e no sistema
informatizado de busca, onde foram obtidos documentos na legislação brasileira, cartilha do
ministério da saúde, cartilha da confederação nacional da indústria (CNI-Ibope), editais de
concursos públicos, site relacionado ao tema (perícia forense do estado Ceará - PEFOCE) e
acervo de periódicos de bases de dados LILACS e SCIELO. Verificou-se que a atuação da
enfermagem forense é essencial para promover saúde e segurança pública, sendo necessário
que estes profissionais contribuam com estudos relacionados à área e inclusão de conteúdos
relacionados às ciências forenses no curriculum de enfermagem, visando tornar-se cada vez
mais imperativa.
Palavras-Chaves: Enfermagem forense. Perícia criminal. Violência.
Abstract
Nowadays, public safety /violence is pointed out by the brazilians as one of the main problems
of the country. In general, society has got interest in releasing innocents wrongly accused and
punishing those responsible for crimes, respecting, however, the human rights. Therefore, the
forensic contributes to this desire with scientific evidences, assisting police and criminal justice
judging the real criminals. Forensic nursing is not limited to the care of the physical and
emotional suffering, but also the identification and preservation of criminal evidence, making
it of great importance. This study was exploratory and with qualitative approach, a research
literature kind, in order to analyze the importance of forensic nursing for public health and
safety. The research was held in book about the subject and the computerized search system,
where documents were obtained of the Brazilian law, booklets from ministry of health and
national confederation industry (CNI-Ibope), public concourse notices, theme related site
(Ceará state forensics – PEFOCE) and journal collection databeses LILACS and SciELO. It
was found that the performance of forensic nursing is essential to promote public health and
safety, being necessary that these professionals contribute with related studies and the inclusion
of forensic science related content to nursing curriculum, aiming to become even more
imperative.
Keywords: Forensic nursing. Criminal forensic. Violence.
1 Introdução
Brasileiros apontam a segurança pública/violência como um dos principais problemas
do país (39% das assinalações), tendo sido a segunda prioridade do governo federal (31%) para
2014 (CNI, 2014). De forma geral, a sociedade tem interesse que os responsáveis por crimes
ou inocentes erroneamente acusados, sejam punidos, respeitando, porém, os direitos humanos.
Logo, a perícia contribui para este anseio com provas científicas, auxiliando a polícia e a Justiça
criminal a julgar os verdadeiros autores dos delitos, tratando-se então, do exame em alguém ou
algo, sendo realizado por especialistas em determinados assuntos (RODRIGUES; SILVA;
TRUZZI, 2010).
Os profissionais de enfermagem se confrontam todos os dias com diferentes tipos de
comportamento humano, abuso sexual, violência doméstica, negligência, crimes contra o idoso,
Página 38
maus tratos, entre outros, necessitando assim, de habilidades especiais para prestar atendimento
ou avaliações judicias de pacientes em custódia legal (CANELLO; BERGAMO, 2012).
O enfermeiro forense realiza exames minuciosos para coleta de evidências, detecção e
tratamento de lesões, traumas em vítimas de abuso sexual, emocional ou físico, morte, estupro
assim como fornece suporte emocional às vítimas e familiares. Portanto, a enfermagem forense
visa examinar, reconhecer, coletar e preservar, fatores essenciais para esta prática, bem como
promove educação junto à população contra a violência interpessoal, além de considerar como
benefício, poupar a sobrecarga de trabalho, as inevitáveis falhas no exame da perícia, que
podem ocasionar em perda de credibilidade nos depoimentos requeridos por promotores e
advogados de defesa (SILVA; SILVA, 2009).
O presente estudo teve como objetivo, analisar a importância da enfermagem forense
para a saúde e segurança pública, visando conhecer o conceito de perícia forense, bem como,
verificar os campos de atuação de enfermagem forense e identificar os seus benefícios.
2 Materiais e Método
Tratou-se de uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa. A busca
bibliográfica aconteceu no período de Março a Outubro de 2014, sendo a mesma realizada no
sistema informatizado de busca e em livro técnico sobre a temática. Foram pesquisados
documentos na legislação brasileira, cartilha do ministério da saúde, cartilha da confederação
nacional da indústria (CNI-Ibope), editais de concursos públicos, site relacionado ao tema
(perícia forense do estado Ceará - PEFOCE) e acervo de periódicos de bases de dados LILACS
e SCIELO.
Os documentos selecionados foram aqueles que abordavam leis que regularizam o
exercício da profissão de enfermeiro forense pelo COFEN; decreto que regulamenta as
profissões que constam como um dos pré-requisitos para ingressar no cargo de perito criminal
federal, editais de concursos públicos nesta área, dados epidemiológicos da violência no Brasil,
assim como em livro sobre a enfermagem forense e publicações nas quais foram filtradas as
que abordaram na íntegra o conceito de perícia criminal, áreas de atuação das ciências forenses,
bem como da enfermagem forense. Os critérios para selecionar as publicações seguiram alguns
parâmetros, tais como, o período de publicação, a partir do ano 2009, os descritores utilizados
foram: enfermagem forense; perícia criminal; concurso público para enfermeiro forense;
violência; medicina legal; odontologia forense; ciências forenses; psiquiatria forense;
toxicologia forense; entomologia forense; computação forense.
Após análise feita a todos os artigos e publicações selecionadas, foram definidos 04
temas centrais: O vasto campo das ciências forenses; atuação da enfermagem forense no Brasil;
importância da enfermagem forense para saúde; e importância da enfermagem forense para
segurança pública.
3 Resultados e Discussão
Foram encontrados, 02 documentos oficiais lei/decreto na legislação brasileira, 01 no
COFEN, 01 no CNI-IBOPE, 01 no Ministério da Saúde, 02 Editais de concursos públicos, 01
no site da PEFOCE, 02 publicações no LILACS, 02 no SCIELO, 01 na Revista Eletrônica
Biociências, Biotecnologia e Saúde, 01 na Revista Tecnologias em Projeção, 01 na Revista de
ciências médicas e biológicas, 01 Revista tecnologia e sociedade, 01 na Acta médica portuguesa
(revista científica da ordem dos médicos), 01 Acta farmacêutica portuguesa, 01 em livro.
Totalizando 19 fontes. Após terem sido feitas análises dessas publicações passou-se a
apresentar e discutir os temas que surgiram em decorrência da pesquisa.
Página 39
3.1 O Vasto Campo das Ciências Forenses
O marco estimado para a Criminalística brasileira foi em 1832, em que consta a
oficialização da função do perito no Código de Processo Criminal, porém não explora
detalhadamente como seria realizada a perícia. Todavia, com a edição do Decreto-Lei nº 3.689,
de 03 de Outubro de 1941, houve a instituição do Código de Processo Penal, em que aborda a
Perícia Criminal de forma minuciosa, detalhando o nível de formação para o cargo desta
especialidade, os prazos para elaborar os laudos, dentre outros (SOUZA, 2011).
A ciência forense tem como objetivo fornecer suporte às investigações referentes à
justiça criminal e civil, sendo uma área interdisciplinar envolvendo várias ciências de fronteiras,
como por exemplo, a química, matemática, física, entre outros. O foco principal do profissional
forense é descartar o envolvimento do (s) suspeito (s) ou confirmar sua autoria em investigações
criminais (SEBASTIANY et al., 2013).
Ilustrativamente, constituem objetos de estudo pelos peritos criminais, manchas de
sangue, saliva, esperma, fios de cabelos, fragmentos de impressões digitais, vestes, projéteis,
etc. Competindo a estes profissionais, enquanto operadores da ciência forense, a realização de
exames em algumas áreas como a medicina legal que verifica e analisa lesões corporais,
determinando sua natureza, extensão, bem como a causa de eventual incapacidade física, além
de verificar e realizar análises em cadáveres (FACHONE; VELHO, 2011); a toxicologia
forense, que trata dos princípios toxicológicos fundamentais, sendo um híbrido de química
analítica, importante ferramenta para auxiliar nas investigações médico-legais de casos de
abuso de drogas, envenenamento e morte, preocupando-se então, com a detecção e
quantificação de agentes tóxicos que podem estar presentes em situações criminais (PRIOR;
RIBEIRO; SANTOS, 2013); a entomologia forense, que consiste na aplicação do estudo da
biologia dos insetos em processos criminais, visando determinar o intervalo de tempo de morte,
bem como, a estação do ano em que ocorreu, os sítios específicos do trauma no corpo do
cadáver, verifica uso de drogas, a localização geográfica, ou a identificação de artefatos não só
no corpo, como também na cena do crime (GOEBEL et al., 2013); a computação forense, cuja
finalidade é a obtenção de evidências digitais, ligada portanto, a investigação de crimes
cibernéticos (TOLENTINO; SILVA; MELLO, 2011); a psiquiatria forense, uma
subespecialidade da psiquiatria segundo a American Academy of Psychiatry and the Law, onde
a proficiência científica e clínica é empregada à temas e contextos legais (TRANCAS; VIEIRA;
SANTOS, 2011); a odontologia forense que identifica a vítima através dos dentes por possuírem
alta resistência e serem, em muitos casos, a única fonte para determinar a identidade do
indivíduo carbonizado, fragmentado ou em processo de decomposição avançada (ARAUJO et
al., 2013) entre outras.
Uma escassez de médicos legistas qualificados nos EUA e no resto do mundo resultou
em graves déficits nos serviços forenses, logo, como estratégia recente, houve a necessidade de
aplicar a ciência à prática dos enfermeiros, visando melhorar e aumentar os padrões globais de
cuidados com as vítimas de crimes (LYNCH; 2014).
Em 1992, por meio da criação da International Association of Forensic Nursing (IAFN)
a enfermagem forense foi reconhecida como especialidade, sendo fundada por 72 enfermeiras
norte americanas dedicadas na realização de exames e perícia em vítimas de abuso sexual e
estupro. A IAFN define a especialidade como sendo a aplicação da ciência, relacionado aos
aspectos forenses à saúde combinado com a formação biopsicossocial da enfermeira na
investigação científica da morte e/ou tratamento do trauma de vítimas e agressores, atividades
criminais, acidentes traumáticos e abuso físico, emocional e sexual, ao público e à justiça. Em
vários países como nos Estados Unidos da América (EUA), Canadá, China, Itália e Inglaterra,
ela tem sido praticada rotineiramente, onde o enfermeiro examina, coleta evidências e presta
cuidados a vítimas de violência (SILVA; SILVA, 2009). A IAFN, para regulação da
Página 40
enfermagem forense em nível mundial, criou um comitê internacional constituído por 27
elementos que representam oito países (EUA, Canadá, Portugal, Bermuda, Barbados, Israel,
Holanda e Quénia) com o objetivo de regulamentar a enfermagem forense internacionalmente,
bem como sua formação, identificando suas necessidades, contatando as organizações de saúde
e entidades governamentais para promover à área mundialmente e criação de manual de
enfermagem forense internacional. Em outubro de 2012, o representante português apresentou
um estudo sobre a realidade da enfermagem forense mundialmente com os membros da IAFN
e concluiu que falta: apoio da IAFN internacional; formação nos diversos países; apoio dos
governantes; de uma proposta de regularização da IAFN referente à enfermagem forense
internacional; de elaboração de um manual de apoio sobre enfermagem forense; de
internacionalização dos cursos Forensinc Nurse Examiner (FNE) e Sexual Assault Nurse
Examiner (SANE); de apoio na implementação internacional da enfermagem forense. É
inevitável que haja mudança, pois as profissões que não se adaptarem às tendências da justiça
e saúde entrarão no não cumprimento relativo a competências e serviços essenciais (GOMES,
2014).
3.2 Atuação da Enfermagem Forense no Brasil
A Lei Nº 12.030, de 17 de setembro de 2009, estabelece para as perícias oficiais de
natureza criminal, normas gerais, onde é assegurada autonomia técnica, científica e funcional,
sendo exigido concurso público, com formação acadêmica específica, para atuar neste cargo
(BRASIL, 2009), tendo suas atividades reguladas pelo Código de Processo Penal – CPP
(RODRIGUES; SILVA; TRUZZI, 2010).
No Brasil, a Enfermagem Forense foi reconhecida pelo Conselho Federal de
Enfermagem (Cofen), com a publicação da Resolução Nº 389, de 18 de outubro de 2011, onde
habilita a atuação do Enfermeiro especialista nessa área (COFEN, 2011).
De acordo com o Decreto Nº 5.116, de 24 de Junho de 2004, para ingressar no cargo de
perito criminal federal do Quadro Permanente do Departamento de Polícia Federal do
Ministério da Justiça é preciso possuir diploma de graduação em um dos seguintes cursos
superiores: Biomedicina, Medicina, Odontologia, Ciências Contábeis, Ciências Biológicas,
Química, Química Industrial, Física, Geologia, Farmácia, Engenharia Civil, Engenharia
Ambiental, Engenharia Elétrica, Engenharia Eletrônica, Engenharia Mecânica, Engenharia
Mecatrônica, Engenharia Química, Engenharia Agronômica, Engenharia Florestal, Engenharia
Cartográfica, Engenharia de Minas, Medicina Veterinária, Ciências da Computação,
Processamento de Dados, Análise de Sistemas, Informática, Sistemas de Informação,
Engenharia da Computação, Engenharia de Telecomunicações, Engenharia de Redes de
Comunicação e Ciências Econômicas (BRASIL, 2004).
No ano de 2012, a Polícia Civil do Estado de São Paulo (PC SP) publicou, no Diário
Oficial do Estado, o edital de abertura do concurso público da Academia de Polícia “Dr.
Coriolano Nogueira Cobra” (Acadepol), para o cargo de perito criminal com 477 vagas para
diversas áreas, incluindo a de enfermagem (EDITAL, 2012).
Em 07 de janeiro de 2008, através da Lei Nº 14.055, foi instituída através do Decreto
29.304 de 30 de maio de 2008, a Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), vinculado à
Secretaria de Segurança Pública do Estado do Ceará (SSPDS), obtendo independência
Patrimonial, Financeira e Administrativa, incorporou as atividades dos extintos Instituto de
Criminalística (IC), Instituto de Identificação (II), e Instituto de Medicina Legal (IML), além
da criação do Laboratório de Perícia Forense. Possuem aproximadamente quatrocentos
servidores, entre Peritos, Peritos Auxiliares, Auxiliares de Perícia e Corpo Administrativo,
lotados em nove sedes, sendo quatro na capital e cinco em núcleos no interior do estado Juazeiro do Norte, Sobral, Iguatu, Quixeramobim, Canindé, Tauá e Russas (PEFOCE, 2011).
Página 41
Em 2011, a PEFOCE realizou concurso para o cargo de perito criminal, porém, não houve
disponibilidade de vagas para área de enfermagem (EDITAL, 2011).
A inclusão da enfermagem não foi considerada imperativa, tão pouco perceptível como
se queria que fosse pelos clínicos, mesmo não sendo uma ação intencional de exclusão pela
ciência forense e pela justiça criminal, tendo sido de domínio exclusivo de cientistas,
laboratórios, técnicos, advogados, profissionais da lei, criando assim uma série de médicolegais (CANELLO; BERGAMO, 2012).
À medida que o crime e a violência unem dois poderosos sistemas, saúde e justiça, que
afetam as vidas das pessoas em nível mundial, a ciência da enfermagem forense representa uma
visão emergente para o futuro das ciências forenses. (LYNCH, 2014). Segundo Gomes (2014),
algumas das competências que devem fazer parte da prática de enfermagem forense são:
avaliação, diagnóstico, planejamento de respostas, implementação e avaliação científica das
intervenções após ocorrer uma lesão, a preservação e recolha de vestígios forenses, providenciar
segurança à vítima, nos casos relacionados com a violência, crime, vitimização, abuso e
exploração, como também desenvolver, analisar e implementar políticas de saúde relevantes ao
enfermeiro forense e as vítimas.
3.3 Importância da Enfermagem Forense para Saúde
A aplicação de todas as competências do enfermeiro forense tem o conceito de saúde
como determinante, indo além do normal funcionamento e das questões imprescindíveis de
sobrevivência, assumindo responsabilidades nos cuidados de saúde imediatos e futuro bemestar do indivíduo, logo a relevância da enfermagem forense tem sido descrita na literatura,
sendo então, a única disciplina que integra os princípios da ciência forense e saúde pública com
a ciência de enfermagem, onde estes profissionais atendem às necessidades de saúde das vítimas
desfavorecidas e mais vulneráveis como, por exemplo: pacientes psiquiátricos, crianças,
residentes de lares de idosos, entre outros. Os cuidados envolvem os três níveis de atuação,
dando especial atenção à tríade: corpo, mente e espírito, sendo eles a prevenção primária,
secundária e terciária. Estes profissionais desenvolvem e providenciam formação relacionada
com os aspectos da prevenção da saúde, problemas de saúde correntes, medidas de segurança
da comunidade, vitimização e violência (GOMES, 2014). Vale ressaltar que estudos indicam a
violência (auto infligida, interpessoal e coletiva) como responsável por adoecimento, perdas e
mortes, considerada um problema social que provoca danos físicos, emocionais e/ou espirituais
(BRASIL, 2009).
Os enfermeiros forenses, quando surgem questões criminais, prestam cuidados de forma
equitativa e imparcial, atuando como uma ligação clínica às agências legais e médicas,
suplementando assim, as necessidades de serviços forenses. Logo, apesar das intervenções dos
cuidados de saúde ter sempre de prevalecer, o enfermeiro forense, que não faz parte da equipe
do serviço de urgências, pode prestar serviços forenses, apoiando os restantes elementos que
prestam assistência médica (LYNCH, 2014).
Para Gomes (2014), no que diz respeito à preocupação com a perda de vidas devido à
violência humana, a enfermagem forense assume responsabilidade mútua com os sistemas de
justiça penal e as ciências médicas forenses, onde este profissional combina a teoria e os
conceitos da ciência forense com as teorias biológicas, psicológicas e sociais, assim como os
conceitos da enfermagem. Baseado nas condições definidas pelo sistema judicial, o enfermeiro
forense aplica uma abordagem específica, tendo o crime ocorrido de forma intencional ou não,
executando assim os planos de cuidados na vítima, agressor, família ou comunidade, bem como
nos tipos de serviço de reabilitação disponíveis para as vítimas, delinquentes e na doença mental
relacionada aos mesmos.
Página 42
A enfermagem forense possui grande potencial em uma variedade de cenários e
especialidades, como por exemplo, os Enfermeiros Forense Examinadores (FNEs – do inglês:
Forensic nurse examiners), que prestam cuidado médico-legal à vítimas de algum tipo de abuso
(físico, psicológico ou sexual), negligência ou lesões associadas a crimes, desde em crianças
até idosos. Outra especialidade é a de Enfermeiro Investigador de Morte, condutor de
investigações médico-legais, desde morte, histórico médico e social até ao exame do corpo e
cena do crime, com autoridade para confirmar ou declarar a morte, estabelecer a identificação
do corpo e comunicar aos familiares. Havendo também o Enfermeiro Psiquiatra Forense, que
atende pessoas violentadas, bem como os causadores de violência e sobreviventes de crimes,
seja por agressão sexual, perseguição, homicídios, mortes no trabalho, acidentes de viação,
síndrome da morte súbita, violência de gangues, maus tratos e violência interpessoal, sendo
importante o encaminhamento adequado para outros enfermeiros forenses darem continuidade
ao tratamento (CANELLO; BERGAMO, 2012).
3.4 Importância Da Enfermagem Forense Para Segurança Pública
Todas as doenças, lesões ou mortes têm implicações forenses. A enfermagem forense
exige um elevado grau de suspeitas e extraordinárias competências de avaliação, sendo assim
uma sólida formação forense. A proteção dos direitos civis, legais e humanos do doente está
entre os principais desafios que a justiça e os profissionais de saúde enfrentam. Até que questões
de responsabilidade ou suspeitas criminais sejam confirmadas, todos os doentes traumatizados
são considerados casos forenses. As vítimas de abuso e agressão permanecem diversas vezes
sem apoio dos profissionais de saúde, não sendo identificados frequentemente. No período
imediato após o trauma, como possível primeiro contato, o enfermeiro forense está em uma
posição privilegiada para obter vestígios físicos e informações relacionadas ao crime (LYNCH,
2014). Vale destacar que é necessário conciliar, no Estado Democrático de Direito, o respeito
aos direitos humanos com uma investigação eficaz dos crimes, visando propiciar um
julgamento justo (RODRIGUES; SILVA; TRUZZI, 2010).
Devido ao amplo desempenho no cuidado coletivo e individual, a enfermagem torna-se
gradualmente reconhecida na área forense (SILVA; SILVA, 2009), onde além do cuidado do
sofrimento físico e emocional, colabora na identificação e preservação das provas criminais,
tornando-se de grande importância, já que, em situações de emergência, profissionais não
capacitados nesta área, tendem a atender exclusivamente às necessidades físicas, havendo uma
primeira intencionalidade em salvar vidas, logo, evidências essenciais são deixadas de lado,
acabando perdidas. Portanto, observa-se que a inclusão da ciência forense na prática da
enfermagem contribui para saúde e segurança pública da sociedade (CANELLO; BERGAMO,
2012).
De forma geral, para transmitir informação médica, os médicos forenses têm dependido
da polícia para transmitir mensagens sensíveis a pessoas em sofrimento e em luto, assim como
de reconhecer evidências médicas. Portanto, a história passada indica que, com exceção da
medicina forense, há enfermeiros especializados para apoiar e ajudar os médicos nas mais
diversas áreas. Torna-se essencial a parceria entre a medicina forense, enfermagem forense e
forças de segurança, partilhando assim responsabilidades para atender às atuais exigências das
transgressões sociais. Logo, o objetivo da ciência de enfermagem forense é o de auxiliar na
criação de mudança positiva na gestão médico-legal inapropriada, no sentido de evitar a
vitimização. As competências de gestão e liderança preparam estes enfermeiros para
desempenhar funções essenciais como cientista de enfermagem forense, formador, consultor,
administrador, investigador, funções estas que são exercidas em instituições governamentais
federais, estatais e locais, bem como não-governamentais (LYNCH, 2014).
Página 43
4 Considerações Finais
A enfermagem forense é uma profissão bastante diversificada, executada em vários
locais, como hospitais, tribunal de justiça, com consultoria nos casos em que há suspeita de
abuso e negligência, assim como na comunidade, com exames minuciosos, para
reconhecimento, coleta e preservação de provas criminais, visando promover educação junto à
população contra a violência e melhorar a qualidade de vida. Todavia, no Brasil, esta área ainda
é pouco conhecida e de escassas atuações como especialidade.
Conclui-se que a especialidade forense associada à enfermagem torna-se de suma
importância para a sociedade, já que o enfermeiro forense pode auxiliar na preservação do
material com valor forense, evitando que este seja perdido devido à priorização do cuidado em
detrimento das provas criminais, auxiliando a justiça no combate às forças de destruição
humana (terrorismo, violência, fome, pobreza, subnutrição), proporcionando assim, maior
segurança para população e contribuindo, inclusive, para promover saúde.
É essencial pensar em incluir conteúdos relacionados às ciências forenses no curriculum
de enfermagem em nível de graduação e pós-graduação, bem como, torna-se fundamental que
a enfermagem forense torne-se imperativa, devendo estes profissionais contribuir com estudos
relacionados à área, para que se tornem cada vez mais perceptíveis pelos clínicos e possam
ocupar um espaço que de acordo com a lei que já lhe foi regulamentada.
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Página 46
w8
QUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS: UMA REVISÃO
DE LITERATURA
9
Joelma Gomes da Silva . Mestre em Saúde e Sociedade pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Professor da Faculdade do Vale do Jaguaribe - FVJ
[email protected]
Dimas Anaximandro da Rocha Morgan. Mestre em Saúde e Sociedade pela Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Professor na Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte
Humberto Jefferson de Medeiros. Doutor em Ciências da Saúde, Diretor do Departamento de
Educação Física. Professor na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Arnaldo Tenório da Cunha Júnior. Doutor em Ciências da Saúde, Diretor do Departamento de
Educação Física. Professor na Universidade Federal de Alagoas
8
9
Autora correspondente. Artigo recebido em 15 de agosto de 2014. Aprovado em 20 de outubro de 2014.
Avaliado pelo sistema double blind review.
Revista Interfaces da Saúde · ISSN 2358-517X · ano 1 · nº2 · Dez · p. 47-56 · 2014
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Maria Irany Knackfuss. Doutora em Ciências da Saúde. Coordenadora do Programa de PósGraduação em Saúde e Sociedade. Professora na Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte
Resumo
A qualidade de vida tem sido cada vez mais abordada em estudos clínicos e, apesar do seu
caráter subjetivo e de difícil mensuração, tem se tornado uma medida eficaz no meio científico.
Dentro desse campo, surge a qualidade de vida relacionada à saúde, abordando pessoas que
vivem diferentes experiências de vida após o diagnóstico de uma doença. Diante disto, o
presente estudo teve como objetivo fazer uma revisão de literatura acerca da qualidade de vida
das pessoas que vivem com HIV/AIDS. Foi feito um levantamento nas bases de dados PubMed;
Lilacs, Scielo, e Web of Science, de artigos em português, inglês ou espanhol, nos últimos dez
anos. A partir dessa revisão, foi possível inferir que, de maneira geral, as pessoas que vivem
com HIV/AIDS tem suas vidas afetadas pela doença, com grande impacto negativo.
Palavras-chave: HIV/AIDS, Qualidade de Vida, Qualidade de vida relacionada a saúde,
pessoas que vivem com HIV/AIDS
Abstract
The quality of life has been increasingly addressed in clinical trials and, despite its subjective
nature and difficult to measure, it has become an effective measure in the scientific community.
Within this field, the quality of health-related life arises, addressing people living different
experiences of life after diagnosis of a disease. Due to this, the present study aimed to review
the literature about the quality of life of people living with HIV / AIDS. A survey was done in
PubMed; Lilacs, SciELO, and Web of Science, articles in Portuguese, English or Spanish, in
the last ten years. From this review, it was possible to infer that in general people living with
HIV / AIDS have their lives affected by the disease, with great negative impact.
Keywords: HIV / AIDS, Quality of Life, Quality of life related to health, people living with
HIV / AIDS
Introdução
O descobrimento do HIV/AIDS na década de 80 representou um marco para esse
período. Os primeiros casos da doença foram identificados nos Estados Unidos e na Europa
Ocidental, porém o maior impacto da epidemia foi na África sub-saariana, onde podemos
perceber uma maior transmissão entre heterossexuais (DE COCK; JAFFE; CURRAN, 2012).
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (2013), no ano de 2012, foram
notificados 39.185 casos de AIDS. A taxa de detecção nacional foi de 20,2 casos para cada
100.000 habitantes. A maior taxa foi observada na Região Sul, 30,9/100.000 habitantes, seguida
pela Região Norte (21,0), Região Sudeste (20,1), Região Centro-Oeste (19,5), e Região
Nordeste (14,8).
Este fato ganha importância ao analisar que na época do seu descobrimento, esta doença
estava vinculada a um grupo específico como homossexuais, usuários de drogas injetáveis,
profissionais do sexo e Hemofílicos, o que serviu, de certo modo, como fator determinante para
gerar preconceito da sociedade, postergando as ações de intervenção por parte do poder público.
Contudo, houve a mudança de perfil epidemiológico, com uma caracterização voltada para
feminização, pauperização e interiorização (VIDAL et al., 2012).
Com isso, surge a necessidade de ações mais efetivas para atender essa população e é
então nesse contexto que temos no Brasil, a instauração de Políticas Públicas que culminou com
Página 48
uma das melhores políticas de enfrentamento da AIDS em todo mundo. Como exemplo, temos
a produção de alguns medicamentos que combatem a síndrome, fabricados no país, além da
distribuição gratuita.
Esta introdução efetiva dos medicamentos garantiu um caráter crônico a AIDS, mas
também trouxe consigo muitos efeitos colaterais, o que, de certo modo, interfere tanto na adesão
ao tratamento, como na percepção de saúde desses indivíduos, além de exigir intervenções mais
eficazes para um público que antes vivia na iminência de morte, e agora passou a vivenciar uma
doença crônica (FERNANDES et al., 2009).
A partir desse contexto, torna-se necessário o enfoque na qualidade de vida desses
indivíduos, quando paramos para entender essa qualidade de vida como sendo a percepção do
indivíduo quanto a sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais
ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações, conseguimos,
mesmo que de forma limitada, medir o impacto que uma adversidade pode causar na vida do
mesmo (OLSEN et al., 2013; OMS, 1995).
Apesar de não ser uma medida de fácil obtenção, é preciso atentar para a multiplicidade
de questões envolvidas, bem como a subjetividade; indo desde parâmetros sociais até de saúde
ou econômicos. Por tamanha abrangência, esses indicadores podem passar por análise de
diversas áreas do conhecimento, sendo criadas várias definições e concepções (ALMEIDA;
GUTIERREZ; MARQUES, 2012).
Mesmo diante dessa complexidade, a QV tornou-se uma medida de eficácia em estudos
clínicos com o surgimento de uma nova vertente, que é a qualidade de vida relacionada a saúde,
abrangendo pessoas que vivem diferentes experiências após o descobrimento de alguma doença
e/ou afecção.
Partindo-se desse pressuposto, o presente estudo teve como objetivo fazer uma revisão
da literatura acerca da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS, buscando
compreender todos os fatores envolvidos nesse processo.
Metodologia
Esse é um estudo do tipo revisão integrativa de literatura, cuja pesquisa bibliográfica foi
operacionalizada mediante a busca eletrônica de artigos indexados nas bases de
dados (PubMed; Lilacs, Scielo, e Web of science), por meio dos seguintes
descritores: HIV/AIDS, Qualidade de Vida, Qualidade de vida relacionada a saúde, pessoas que
vivem com HIV/AIDS.
A amostra compreendeu as publicações de artigos indexados em periódicos,
selecionados a partir de uma leitura prévia dos resumos anexados que seguiram os seguintes
critérios de inclusão:
·
Idioma de publicação: foram selecionados artigos totalmente em português, inglês
ou espanhol;
·
Veículo de publicação: foram recrutados artigos de periódicos indexados por ter
um melhor acesso;
·
Ano de publicação: Foi realizado um levantamento de artigos publicados entre os
anos 2005 e 2015, compreendendo, portanto, um intervalo de 10 anos. Sendo que algumas
referências citadas anteriormente a esse período foi devido ao cunho histórico das mesmas.
· Referências que tiveram pertinência com o tema, tendo como critério norteador do
estudo a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV/AIDS
Para melhor organização e compreensão, os artigos foram separados em grupos levando
em consideração o ano de publicação, o tipo de delineamento do estudo, a concordância ou não
com a ideia proposta pelo trabalho; e o idioma em que estava escrito. Assim, os artigos
constituíram fontes primárias da pesquisa e acreditamos ter englobado os mais relevantes a
Página 49
respeito do tema, já que as bases de dados consultadas mantêm um bom nível de rigor em suas
seleções.
Referencial Teórico
Discussões acerca da Qualidade de Vida (QV) têm sido ampliadas, por ser considerada
uma medida confiável e reprodutível, possuindo um caráter dinâmico, multifatorial,
multidimensional e polissêmico (LANDEIRO et al., 2011).
Pigou (1924) iniciou a discussão sobre o tema em seu livro sobre Economia e BemEstar, colocando a situação de pessoas com renda menos favorecida e o impacto disto em suas
vidas. Porém, o termo só ganhou impacto quando foi citado pelo presidente dos Estados Unidos
Lyndon Johnson em 1964 (BRITO; SZWARCWALD; CASTILHO, 2006; FLECK et al., 1999;
LANDEIRO et al., 2011).
No Brasil, este termo passou a ser utilizado em 1970, atrelado aos serviços de saúde,
voltado inicialmente aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) (GEOCZE et al., 2010;
LANDEIRO et al., 2011).
Contudo, apesar dos intensivos estudos dentro dessa área, o conceito da QV ainda gera
muitos debates, e o que antes estava atrelado apenas ao poder econômico, com o passar do
tempo passa por um processo de ampliação, englobando as esferas cultural, social e pessoal
(NAHAS, 2006; PASCHOAL, 2000).
Para o senso comum, esse termo está relacionado com a felicidade, o bem estar e a
satisfação com a vida. Porém, esta visão limita a amplitude da palavra, já que um indivíduo
pode estar satisfeito apenas em alguns aspectos da sua vida, enquanto os demais se apresentam
comprometidos (REIS et al., 2011). Partindo dessa problemática, podemos perceber a
complexidade de conceituar a QV de modo que abranja todas as suas dimensões e significados.
Porém, o Grupo The World Health Organization instrument to evaluate quality of life
(WHOQOL), ligado a OMS consegue chegar a um consenso e acaba por definir a QV como
sendo “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto de sua cultura e no sistema
de valores em que vive em relação as suas expectativas, seus padrões e suas preocupações”.
Desse modo, esse grupo se baseou no aspecto multidimensional e subjetivo, levando em
consideração os domínios da saúde física, psicológica, nível de independência, relações sociais,
meio ambiente e espiritualidade (GROUP, 1995).
Este é o conceito mais aceito atualmente, mesmo com toda divergência existente, devido
a sua amplitude, que consegue abranger várias condições influenciadoras com relação a forma
como o indivíduo percebe o seu funcionamento diário, podendo afetar seus sentimentos e
comportamentos, não se limitando apenas à sua condição de saúde física. Este fato representa
um marco, pois acaba por mudar o foco dos estudos, da cura e medicalização, para viver com
qualidade mesmo diante de doenças crônicas (MEDEIROS; DA SILVA; SALDANHA, 2013).
Vale ressaltar que essa conceituação ainda está atrelada ao fator tempo, a localidade,
aspecto pessoal, contexto cultural e áreas de aplicação. Isto é, em uma mesma sociedade pode
ocorrer variação no parâmetro de QV em épocas diferentes; ou essa mutabilidade pode ocorrer
de indivíduo para indivíduo, em diferentes culturas ou diferentes extratos sociais, dependendo
das necessidades e da visão de cada povo (REIS et al., 2011).
Apesar de ser a conceituação mais aceita nos dias atuais, ainda é posta em questão e
com isso muitos novos conceitos surgem, a partir desse, ou tomando uma linha de raciocínio
bem divergente. Sendo assim, a noção de QV transita em um campo semântico polissêmico,
estando relacionada ao modo, condições e estilo de vida; como também as ideias de
desenvolvimento sustentável e ecologia humana, não esquecendo o campo da democracia, do
desenvolvimento e dos direitos humanos e sociais e na saúde (MINAYO; HARTZ; BUSS,
2000).
Página 50
Diante de toda essa discussão, duas ideias estão sendo delineadas na literatura a respeito
da QV; aquela com conceito mais genérico, já definido a priori, e a outra relacionada às doenças
ou intervenções em saúde, também conhecida como Qualidade de Vida Relacionada à Saúde
(QVRS). Esta foi definida como valor atribuído à duração da vida quando modificada por uma
doença ou outros agravos que podem levar a uma nova percepção sobre limitações físicas,
psicológicas, funções sociais e oportunidades do cotidiano, expressando o modo de quantificar
cientificamente o impacto que tal doença ou tratamento trouxe sob a percepção do paciente
(FLECK et al., 1999; SOARES et al., 2011; SOUZA et al., 2010).
Nesta linha de pensamento, muitas áreas de estudo relacionadas à saúde tem se voltado
para estudar a QV no âmbito de algumas doenças, dentre estas, aquelas de caráter crônico tem
estado em foco, pois as formas de tratamento para esses indivíduos e o maior tempo de vida
convivendo com alguns transtornos acabam por ter um impacto negativo na QV dos mesmos
(REIS et al., 2011).
Nessa perspectiva, surge o estudo da QV no campo do HIV/AIDS, que tem ganhado
cada vez mais espaço, principalmente pós TARV, devido ao aumento da sobrevida desses
pacientes que por sua vez estão mais expostos a sintomas físicos e psicológicos, em função da
peculiaridade da doença em si. Sendo assim, a categoria de exposição, o estado imune, a adesão
e os efeitos colaterais ao tratamento, e a estigmatização da doença, podem influenciar
diretamente na QV desses pacientes. Todos esses fatores são dependentes do diagnóstico
precoce, para que o paciente tenha a oportunidade de canalizar suas energias e lidar melhor com
o diagnóstico (SILVA, 2009).
Essa afirmação recai no fato que a QV das PVHA’s pode variar de acordo com o estágio
da doença, decorrente da própria sintomatologia clínica, problemas sociais ou dos efeitos
colaterais, culminando com a negação ao tratamento (CANAVARRO; PEREIRA, 2011).
Os primeiros estudos abordando a QV no HIV/AIDS surgiram ainda antes da era da
terapia, ou seja, em um momento que a doença estava associada à iminência de morte, com o
aparecimento e agravamento dos sintomas, que acabavam por deteriorar a QV dessas pessoas.
É tanto que estes estudos estavam na maioria das vezes focados nos sintomas físicos, como a
dor e a fadiga (LUBECK; FRIES, 1992; ROSENFELD et al., 1996; WU; GRAY;
BROOKMEYER, 1999).
Entretanto, com o advento da TARV combinada, e a transição para um caráter crônico,
outras abordagens surgiram, com a caracterização de um momento de transição que antes
focava nas taxas de mortalidade, passando a haver maior interesse no estudo sobre o estado de
saúde que englobam aspectos psicossociais, fatores demográficos, o enfrentamento da doença,
suporte social, sintomas de depressão, maior tempo no período assintomático frente à
expectativa de maior sobrevida, e a religiosidade. Portando, a QV no campo do HIV/AIDS não
está relacionada somente ao prolongamento da vida, mas principalmente ao maior tempo de
enfrentamento da doença (BAJUNIRWE et al., 2009; BARBOSA, 2013; LEE et al., 2009;
NEWMAN et al., 2010; TAVERA, 2010).
Diante disto, hoje já sabemos que viver com o HIV/AIDS traz sérias consequências para
a qualidade de vida do paciente, e perpassa por todos os campos da vida tais como ansiedade,
depressão, estresse, alteração no sono, ruptura das relações sociais e afetivas, dificuldade quanto
à sexualidade; além da influência que o ambiente pode exercer nessa dinâmica. Assim, o
enfrentamento em locais com diferentes níveis sociais, políticos e econômicos, também podem
ser fatores para definir o nível de QV dessas pessoas (SAFREN et al., 2012; YADAV, 2010).
Na linha da QVRS das PVHA’s, vale lembrar que esta abrange a capacidade de
realização das atividades da vida diária (AVD’s), bem como aspectos físicos e psicológicos.
Estes aspectos incluem dentre outros; a dor, o impacto social, deficiências físicas, de
mobilidade, o acesso aos serviços de saúde, o uso da terapia medicamentosa, a situação
socioeconômica, o enfrentamento e bem-estar espiritual (VAN AS et al., 2009).
Página 51
Alguns desses fatores foram comprovados no estudo de Reis et al. (2011), quando
avaliou em seu estudo a QV e sua relação com fatores sociodemográficos e referentes à
sexualidade de 228 participantes positivos para o HIV, com idade média de 39 anos. Os autores
encontraram associação de piores escores de QV com o fato de ser analfabeto, ter menor
escolaridade e não ter renda ou vínculo empregatício. No que diz respeito à sexualidade, não
ter vida sexual ativa e ter parceiro com HIV/AIDS também influenciou negativamente a QV
dos participantes.
Lopes et al. (2011) realizaram um estudo objetivando avaliar a QV da população idosa
que vive com o HIV/AIDS. Dessa forma, a amostra foi composta por 86 pacientes com mais de
50 anos, com baixos índices de renda e de escolaridade. Verificou-se maiores preocupações
quanto aos aspectos financeiros, ao sigilo, à saúde e à atividade sexual, com altos índices de
confiabilidade no médico.
Ainda com relação aos fatores sociodemográficos, Calvetti et al. (2012), em seu estudo
com 354 participantes com HIV/AIDS (73 mulheres, 281 homens) encontraram diferenças
significativas na QV com relação ao sexo e tempo de diagnóstico.
Associações demográficas e comportamentais com a QV de 3.778 PVHA’s foram
analisadas em outro estudo, os fatores associados com um menor nível de QV incluíram idade
avançada, ser do sexo feminino, raça, ser usuário de drogas injetáveis, ter baixa escolaridade e
renda, não ter seguro de saúde privado, e menor contagem de CD4. Desse modo, a percepção
de uma má QV esteve associada mais fortemente com a menor contagem de células CD4
(CAMPSMITH; NAKASHIMA; DAVIDSON, 2003).
Apesar de todos esses fatores envolvidos, nem sempre viver com uma doença crônica e
incurável aplaca totalmente a percepção de qualidade de vida dessas pessoas. Meirelles et al.
(2012) faz essa demonstração quando divide por categorias a percepção de 14 indivíduos
vivendo com HIV/AIDS alocando a fé, alimentação saudável, atividade física, trabalho, saúde,
satisfação consigo mesmo, bom atendimento em saúde, sentir-se saudável e bem nos seus
relacionamentos como fatores contributivos para uma boa QV nesses indivíduos.
Ainda comprovando este fato, Silva et al. (2013), avaliaram a percepção de QV de
PVHA’s comparando-a com a de pessoas sem o diagnóstico para o HIV. O estudo foi composto
por 561 pessoas positivas para o diagnóstico e 286 pessoas sem o diagnóstico. Com relação à
percepção e avaliação da QV, esta teve uma avaliação positiva por 59% das PVHA’s, sendo
que as dimensões espiritualidade e perspectiva de futuro foram as mais pontuadas. Já aqueles
sem o diagnóstico para o HIV, um total de 61% também fizeram uma avaliação positiva,
contando agora com as dimensões melhores pontuadas a de espiritualidade e nível de
independência. No entanto, vale ressaltar que ocorreu uma avaliação negativa do grupo com
HIV/AIDS nos domínios ambiental e independência em comparação ao grupo sem diagnóstico.
Porém, mesmo com esse dado e contrariando os estudos apresentados acima, o fato de viver
com o HIV/AIDS, neste estudo não representou impacto na percepção da QV dos indivíduos.
Contrariando os resultados acima, um estudo comparando níveis de QVRS de PVHA’s
com a população em geral, com um total de 820 adultos HIV-positivos e negativos, sendo que
entre as 400 pessoas HIV-positivas, 52,3% tinham um histórico de uso de drogas injetáveis, e
56,3% já estavam com AIDS e sob TARV. Com relação à dor, aqueles pacientes em uso de
TARV, apresentaram números significativamente maiores em comparação aos que não estavam
usando o medicamento. Os usuários de drogas injetáveis que estavam sob TARV, tiveram
menor pontuação na QVRS quando comparados aos não usuários. Ainda houve uma associação
do desemprego e da inacessibilidade aos serviços de saúde com menor QVRS. Foi possível
perceber, de maneira geral, menores índices de QVRS das PVHA’s, quando comparadas com
a população em geral (Tran et al.. 2011).
Porém, não podemos perder de vista que o suporte emocional é essencial para auxiliar
o indivíduo a enfrentar a doença, atuando como fator de melhora na QV desses pacientes.
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He et al. (2012), comprovaram isto em um estudo na cidade de Kunming, com 247
PVHA’s, com o objetivo de investigar a QV dessas pessoas e os fatores associados, concluindo
que essa população tem pontuações relativamente mais baixas de QV, fator que está atrelado
ao grande número de sintomas durante a infecção, a idade avançada e a percepção de falta de
apoio social.
Isto se torna evidente quando nos deparamos com resultados de um estudo de coorte
com 1457 PVHA’s, relatando que o estigma social teve um impacto negativo e significativo na
QV dos pacientes envolvidos. Desse modo, a falta de intervenções eficazes para reduzir essa
estigmatização, contribuiu para redução da satisfação com a vida, ruptura da interatividade
social e diminuição da percepção do estado de saúde (GREEFF et al., 2010).
Ainda com relação a fatores relacionados com a QV, Medeiros e Saldanha (2012) em
uma investigação sobre a religiosidade e QV de 90 PVHA’ s, encontraram uma relação entre
essas duas variáveis, ressaltando-se associação com os domínios psicológico, social e ambiental
e confirmando que a religiosidade também desempenha um papel fundamental no
enfrentamento de doenças.
Com relação aos domínios envolvidos na determinação desta qualidade de vida, um
outro estudo demonstrou melhorias para aqueles participantes que relataram estar satisfeitos
com os serviços de saúde oferecidos pelo hospital, tendo como principais determinantes a
dimensão psicológica, contagens de CD4 e a dimensão ambiental (MEDEIROS et al., 2013).
Ferreira; Oliveira e Paniago (2012), por meio da aplicação do WHOQOL HIV (versão
completa), com 205 PVHA’s, com idade média de 40,59 anos, CD4 médio de 397,9 e com
média de 5,23 anos de diagnóstico, verificaram uma pontuação satisfatória para os domínios:
psicológico, relações sociais, físico, de independência, crenças pessoais e meio ambiente. Por
meio destes resultados, os autores concluíram que os participantes deste estudo se mantiveram
com uma QV intermediária, e esta variável se correlacionou com os níveis de CD4, carga viral,
e tempo de diagnóstico.
Em outro estudo, desta feita apenas com mulheres vivendo com HIV/AIDS,
contabilizou-se um total de 106 participantes dentre as quais, 99,1% eram heterossexuais, sendo
que 92,4% foram infectadas por via sexual. Com relação aos domínios de QV presentes no
WHOQOL, o que obteve maior escore foi o da espiritualidade, seguido pelo físico, psicológico
e relações sociais. Já os menores escores foram encontrados nos domínios nível de
independência e meio ambiente. Foi encontrada associação com os diferentes domínios com o
baixo nível socioeconômico e educacional (GASPAR et al., 2011).
Outra relação que pode ser feita é entre dor, sintoma bastante comum nesses pacientes,
e QV relatada em estudos que associaram o aumento da intensidade da dor em PVHA’s, bem
como a inadequada analgesia, como efeito debilitante na QV (NAIR et al., 2009;
NAMISANGO et al., 2012; ROBBINS et al., 2013).
Ming et al. (2012), com o objetivo de explorar os fatores que influenciam a QV de 20
PVHA’s em uso de TARV na China rural, identificaram que a terapia medicamentosa afeta a
saúde física, incluindo a experiência da dor, efeitos colaterais e infecções oportunistas com
impacto negativo na QV.
Dibonaventura et al. (2012) com o objetivo de avaliar a associação entre os efeitos dos
medicamentos, com o estado de saúde auto avaliado; a produtividade do trabalho e
comprometimento da atividade; e a utilização de recursos de saúde, em 953 PVHA’s que
estavam fazendo uso do medicamento; encontram como efeitos mais frequentes a fadiga
(70,72%), diarreia (62,96%), insônia (58,97%), tonturas (52,78%), neuropatia (52,68%), dor
nas articulações (52,36%), náuseas (51,63% ) e dor abdominal (50,37%). Sendo que a presença
desses efeitos foi associada com um comprometimento da auto avaliação da saúde, maior
improdutividade e aumento dos recursos de saúde.
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Associações entre a gravidade da dor e uma piora significativa da QV também foi
realizada no estudo de Ebirim, Otokwala (2013) em Port Harcourt com pacientes ambulatoriais
com HIV / AIDS, estando comprometidos também devido à analgesia inadequada.
Um outro estudo, alocando a presença da dor como sintoma influenciador para
determinação da QV com 267 pacientes com HIV e 598 participantes sem o HIV no Malawi
concluíram que aqueles pacientes com HIV em tratamento tem uma QV significativamente
inferior, tanto mentalmente, como fisicamente; podendo variar de acordo com o estágio de
infecção (FAN et al., 2011).
Contrariando o estudo anterior, Zuniga et al. (2011) avaliaram os comportamentos de
239 pessoas que vivem com HIV/AIDS que procuram cuidados de saúde em quatro domínios
de QVRS (bem-estar emocional, o funcionamento cognitivo, capacidade física, e dor). Os
autores encontraram indicadores positivos de QVRS. Porém o diagnóstico de AIDS esteve
associado a uma menor QV quando reportado o comprometimento cognitivo, físico e a presença
de dor.
Fernandez et al. (2010) procuraram estimar QV, bem como os anos de vida ajustados
pela qualidade (QUALY) em uma amostra total de 3.815 PVHA’s, encontrando transtornos do
humor, dor e ansiedade, como as principais causas relacionadas à perdas da QUALY; sendo
que como principal sintoma foi alocado a dor relacionada a condições médicas crônicas.
Dentro desse processo da doença e aparecimento de sintomas, Selman et al. (2013)
procuraram descrever e comparar a QV em pacientes com HIV e com câncer. Dos 285 pacientes
participantes, a idade média foi de 40,1, sendo que deste total 69,1% eram do sexo feminino.
Vale ressaltar que o diagnóstico primário foi o HIV em 80,7% dos casos, o de câncer se deu em
17,9% e de outras condições 1,4%. As PVHA’s que corresponderam um total de 115 tiveram
uma QV significativamente pior do que os pacientes com câncer.
Diante de toda essa discussão é possível afirmar ainda com mais veracidade o caráter
subjetivo tanto da QV, como da QVRS. Essa variabilidade de tais variáveis e a dependência do
contexto, do ambiente e do indivíduo, muitas vezes vista como uma dificuldade de mensuração,
pode ser tomada como uma aliada, pois nos permite uma avaliação do momento e sensações
vividas por aquele indivíduo, bem como seu enfrentamento junto à vida.
Considerações Finais
Falar em Qualidade de Vida no contexto HIV/AIDS pode até parecer controverso, mas
não é, pois a forma como o indivíduo escolhe enfrentar a doença, seus estigmas sociais,
preconceitos e comorbidades pode ser um fator decisivo em uma melhor percepção da vida,
sendo muitas vezes o momento do diagnóstico um divisor para um melhor cuidado de sua saúde
e uma renovação na forma de valorização da vida.
É certo que nem sempre esse fato acontece. A realidade é que na maioria das vezes o
paciente resolve se entregar a toda essa teia que o envolve, não conseguindo encarar a situação.
A partir disto surge o descompromisso com sua saúde, o aparecimento das comorbidades, com
consequente impacto negativo na qualidade de vida do mesmo; daí o apontamento da maioria
dos estudos para uma pobre QV das PVHA’s.
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