Colangites em felinos

Transcrição

Colangites em felinos
Vets
histopatológico.
O exame coproparasitológico é um teste específico,
mas não muito sensível, pois a produção de ovos é
limitada, e sua liberação, intermitente. O método de
centrifugação pela formalina-éter é o mais indicado e
efetivo no diagnóstico. Nem sempre o parasita é
encontrado no exame histológico.
O diagnóstico também é auxiliado pelas alterações
ultrassonográficas; no entanto, outras causas de
colangite (colangite linfocítica ou neutrofílica) podem
gerar achados similares.
Em relação ao tratamento, os protocolos ainda são
controversos. Praziquantel (20 – 30 mg/kg por VO,
uma vez ao dia, durante cinco dias) é o mais utilizado,
parecendo ser mais eficiente que o febendazole
(50mg/kg por VO, a cada 12h, durante cinco dias).
No entanto, as lesões e alterações histológicas
provocadas pelo parasita, muitas vezes necessitam
de outras intervenções além da simples eliminação
do mesmo. Com a classificação histológica, a
colangite associada deve ser tratada de acordo com
seu infiltrado celular predominante.
TODAY
N°12 • Agosto/2011
Colangites em felinos
Colangite neutrofílica
Leitura sugerida
Prof. Msc. Alexandre G. T. Daniel
Universidade Metodista de São Paulo
H.V. Santa Inês – SP
Consultoria Especializada em Medicina Felina
e-mail: [email protected]
Center, S.A. Diseases of the gallbladder and biliary tree.
Veterinary Clinics of North America, Vol.39, p.543 – 598, 2009.
Edwards, M. Feline cholangiohepatitis. Veterinary Compendium,
Vol.26(11), p.855 – 862, 2004.
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Cholecystoenterostomy for treatment of extrahepatic biliary
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HYPOALLERGENIC
Gunn-Moore, D.; Reed, N. Feline Inflammatory liver disease – an
overview. Veterinary Focus, Vol. 20(3), p.2 – 8, 2010.
HYPOALLERGENIC FELINE é um alimento
coadjuvante indicado para gatos destinado à
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Classificação
As doenças inflamatórias de vias
biliares dos felinos podem ser
classificadas em 4 principais
categorias: (1) colangite
neutrofílica; (2) colangite linfocítica;
(3) colangite associada à
infestação parasitária e (4)
colangites destrutivas ou
esclerosantes. Na prática clínica,
as três primeiras formas são mais
comumente encontradas, sendo a
colangite esclerosante, rara.
A colangite neutrofílica, também
denominada colangite aguda ou
supurativa, é definida por
inflamação das vias biliares (intra e
extra-hepáticas, ductos biliares e
vesícula biliar) caracterizada por
infiltração de neutrófilos. É
essencialmente uma doença
inflamatória séptica, com achados
característicos em quase todos os
animais não tratados.
Gatos de qualquer idade podem ser
acometidos, mas a colangite
neutrofílica é mais encontrada em
gatos jovens e de meia idade. Os
machos parecem ser mais
acometidos que as fêmeas e não
há predisposição racial para a
afecção.
A etiopatogenia ainda permanece
incerta. Porém, a ascensão de
bactérias do trato gastrintestinal
(infecção ascendente) é a hipótese
mais aceita, visto a associação das
colangites com pancreatite e
doença inflamatória intestinal,
síndrome esta denominada “tríade
felina”.
As manifestações agudas tem um
caráter súbito e são associadas à
natureza séptica da doença. No
geral, os animais apresentam
anorexia/disorexia, prostração,
febre e vômito. Os pacientes
também podem estar ictéricos, e
alguns apresentam sensibilidade
abdominal à palpação.
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Laboratorialmente, gatos com
colangite aguda desenvolvem
leucocitose, podendo ocorrer desvio
à esquerda; apresentam aumento
significativo das enzimas de
extravasamento (ALT e AST), com
aumento mais discreto das enzimas
indicadoras de colestase (fosfatase
alcalina e GGT); pode haver
hiperbilirrubinemia e bilirrubinúria.
Alterações nos tempos de
coagulação também são frequentes.
Algumas vezes, a doença pode
ocorrer concomitantemente com a
lipidose hepática, gerando variação
no padrão de alteração
enzimológica.
Os achados ultrassonográficos
podem evidenciar hepatomegalia e
aspecto heterogêneo de
parênquima hepático;
a
ecogenicidade hepática pode estar
reduzida ou aumentada
(principalmente na associação com
a lipidose hepática), com
evidenciação dos ductos biliares,
espessados, distendidos e
tortuosos. Achados associados
podem evidenciar alterações em
parênquima pancreático,
linfoadenomegalia mesentérica,
espessamento de parede intestinal,
colelitíase e obstrução de vias
biliares.
A citologia hepática pode evidenciar
bactérias e neutrófilos
(degenerados e/ou fagocitando
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microorganismos), bem como a citologia de bile pode
apresentar neutrófilos e bactérias (a bile de um felino
hígido não apresenta bactérias ou celularidade
significativa em exame citológico). Uma citologia
normal não exclui a possibilidade de colangite
neutrofílica.
Cultura microbiana de bile oferece a possibilidade de
identificação do microorganismo envolvido, bem como
direciona a anibióticoterapia a ser utilizada. Animais
previamente tratados com o uso de antibióticos
podem ter análise citológica e cultura negativos.
A biópsia hepática é o exame mais indicado no
diagnóstico, para a correta identificação do padrão
celular inflamatório e avaliação da arquitetura biliar. O
exame histopatológico evidencia neutrófilos no interior
dos ductos biliares acometidos, entre as células
epiteliais biliares e nas proximidades dos ductos
biliares.
Pela natureza infecciosa do processo, o tratamento
inclui o uso de antibióticos e tratamento suporte;
antibióticos de amplo espectro e com boa penetração
em tecido hepático são recomendados, com atividade
contra aeróbios gram positivos, gram negativos e
anaeróbios. O antibiótico deve ser escolhido,
preferencialmente, baseado em cultura bacteriana de
bile ou fragmentos hepáticos, estando entre os de
eleição a amoxicilina com ácido clavulânico,
clindamicina e cefalexina, associados ao metronidazol.
Os antibióticos devem ser utilizados por períodos que
variam de 1 a 3 meses de uso. Após a resolução das
manifestações clínicas e normalização dos valores
enzimológicos hepáticos, sugere-se manter os
antibióticos por um período de mais 3 a 4 semanas.
A terapia suporte deve envolver o uso de ácido
ursodeoxicólico (após confirmação de patência das
vias biliares), silimarina, SAMe, suplementação de
vitaminas do complexo B, reposição de vitamina K
(0,5mg/kg a cada 12 horas, num total de 3
aplicações – principalmente antes de intervenção
cirúrgica diagnóstica) e suporte enteral adequado. Na
presença de enfermidades associadas, o tratamento
deve ser direcionado (lipidose hepática, pancreatite,
doença intestinal inflamatória).
Gatos de qualquer idade podem ser acometidos, sendo
mais encontrada em gatos de meia idade a idosos. Não
existe predisposição sexual; persas parecem mais
predispostos ao desenvolvimento da enfermidade.
Sua etiopatogenia também é incerta, com algumas
suposições hipotéticas sobre provável origem
imunomediada. Também se supõe ser uma progressão
da colangite neutrofílica não tratada adequadamente
(embora muitos animais acometidos jamais tenham
tido quadros compatíveis com a colangite neutrofílica).
É uma doença de caráter insidioso e de progressão
lenta; as manifestações tendem a ser discretas e
intermitentes, podendo ocorrer, algumas vezes,
manifestações agudas (em inflamações graves ou
quadros avançados). Náusea, vômitos intermitentes,
episódios diarréicos esporádicos, perda de peso,
apetite variável (alguns animais apresentam-se
anoréticos/disoréticos, enquanto outros apresentamse polifágicos) são manifestações predominantes.
Cerca de 50 a 60% dos animais podem apresentar
icterícia, e alguns animais apresentam quadros
ictéricos de resolução espontânea.
Os gatos acometidos podem apresentar
hepatomegalia, bem como linfoadenomegalia
mesentérica, torácica e periférica (pelo quadro
inflamatório crônico).
Laboratorialmente, felinos com colangite linfocítica
apresentam aumento das enzimas hepáticas (ALT,
AST, GGT), hiperbilirrubinemia, hipoalbuminemia e
hiperproteinemia (um dos achados mais frequentes e
consistentes); alterações nos tempos de coagulação
também são frequentes.
Os achados ultrassonográficos refletem a inflamação
crônica das vias biliares. Heterogeneidade de
parênquima hepático, dilatação, espessamento e
tortuosidade de ductos biliares intra e extra-hepáticos,
dilatação de ducto cístico, linfoadenomegalia
mesentérica e obstrução de vias biliares também
podem ser encontrados. No entanto, alguns animais
com manifestações clínicas e histológicas importantes
não apresentam alterações ultrassonográficas.
Alterações em órgãos adjacentes (intestino e
pâncreas) também devem ser pesquisadas.
Diferentemente da colangite neutrofílica, o diagnóstico
da colangite linfocítica não pode ser realizado por
exame citológico. O único exame diagnóstico é a análise
histopatológica de fragmento de biópsia hepática.
O tratamento inicial consiste em suporte
hidroeletrolítico, suplementação de vitaminas
hidrossolúveis, silimarina, ácido ursodeoxicólico (após
verificada patência das vias biliares), suplementação de
vitaminas do complexo B, reposição de vitamina K
(0,5mg/kg a cada 12 horas, num total de 3 aplicações
– principalmente antes de intervenção cirúrgica
diagnóstica) e suporte enteral adequado.
Colangite linfocítica
A colangite linfocítica (ou linfo-plasmocítica), também
denominada colangite crônica ou colangite não
supurativa, é definida por inflamação das vias biliares
caracterizada por infiltração de pequenos linfócitos ao
redor dos ductos biliares, podendo ou não penetrar o
lúmen dos ductos acometidos ou invadir o epitélio
biliar.
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O tratamento a longo prazo
consiste em imunossupressão,
sendo o fármaco de eleição a
prednisolona (2 a 4mg/kg uma vez
ao dia); após a resolução das
manifestações clínicas, a dose deve
ser reduzida a cada 6 a 12
semanas, até alcançar a mínima
dose terapêutica efetiva. Outros
agentes imunossupressores, como
o clorambucil ou metotrexato,
podem ser necessários.
FIGURA 1:
Citologia de bile de
gato com colangite
parasitária, visibilizando
ovos do parasita
Platynosomum fastosum.
Colangites parasitárias
As colangites crônicas associadas
a infestação por trematódeos das
vias biliares são rotineiramente
observadas em gatos pertencentes
a áreas endêmicas.
O Platynosomum fastosum é o parasita
hepático mais comum dos felinos,
usualmente localizado nos ductos
biliares e vesicular biliar. "O ciclo de
vida do parasita inclui três classes
de hospedeiros intermediários,
sendo a terceira normalmente
lagartixas, lagartos ou sapos”.
Gatos acometidos adquirem o
parasita por ingestão do
hospedeiro intermediário. As
metacercárias migram do intestino
para a vesícula biliar via ducto biliar
comum, tornando-se adultos e
patentes em 8 a 10 semanas. Os
ovos podem ser achados nas fezes
e, mais consistentemente, em
citologia de bile.
A gravidade das doenças
associadas à infecção depende da
carga parasitária, do tempo de
infecção e da resposta individual. As
manifestações clínicas são
variáveis, desde animais
assintomáticos, até pacientes com
icterícia hepática e pós-hepática,
letargia, prostração, anorexia,
vômito, diarréia, perda de peso,
hepatomegalia, distensão
abdominal e falência hepática.
Achados laboratoriais incluem
hiperbilirrubinemia,
hipoalbuminemia e aumento das
Foto: arquivo pessoal do autor.
FIGURA 2: Animal com colangite linfocítica e obstrução de vias biliares extrahepática; notar dilatação e tortuosidade das vias biliares (seta).
Foto: arquivo pessoal do autor.
enzimas hepáticas (FA, ALT, AST e GGT); eosinofilia pode ocorrer,
porém, nem sempre está presente e pode estar associada a outras
afecções.
Os achados ultrassonográficos evidenciam alterações típicas de
doença em trato biliar, como tortuosidade e dilatação de ductos,
vesícula biliar dilatada e com parede espessada e obstrução de ducto
biliar comum.
O diagnóstico pode ser feito com base no histórico (ingestão de
hospedeiros intermediários), manifestações clínicas, detecção dos
ovos no exame coproparasitológico, na citologia de bile e no
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