cadeia metal-mecânica, ameaça da china e desindustrialização no
Transcrição
cadeia metal-mecânica, ameaça da china e desindustrialização no
Ajudando o Brasil a expandir fronteiras CADEIA METAL-MECÂNICA, AMEAÇA DA CHINA E DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL Regis Bonelli1 SUMÁRIO Apresentação (p. 2) 1. Introdução 1.1 As estratégias de desenvolvimento manufatureiro do Brasil desde 1990 (p. 3) 1.2 Políticas de competitividade (p. 5) 1.3 Desindustrialização no Brasil? (p. 8) 2. Mudanças nas Estruturas do PIB e da Indústria de Transformação 2.1 Evolução dos componentes do PIB: nível de atividade, emprego, produtividade, exportações, importações (p. 12) 2.2 Mudanças na composição setorial da indústria e na produtividade industrial (p. 18) 2.3Mudanças no comércio internacional: exportações, importações e saldos comerciais — volumes físicos e preços (p. 22) 2.4 Mudanças no padrão de especialização do comércio (p. 23) 2.5 Mudanças na participação das exportações por setores e pelo conteúdo tecnológico das atividades produtivas(p.26) 2.6 Origem e destino do comércio exterior do setor industrial e vinculação com a China. (p. 28) 3. Desempenho Produtivo da Cadeia de Valor da Indústria do Aço 3.1 Desempenho da cadeia de valor da indústria do aço (nível de atividade, emprego, investimento) e sua composição (p. 31) 3.2 Penetração das importações em relação ao consumo aparente (p. 33) 3.3 Descrição da cadeia de valor da indústria siderúrgica (p. 36) 3.4 Mudanças no comércio internacional: exportações, importações e saldos comerciais;volumes físicos e preços. (p. 37) 3.5 Determinantes da trajetória: políticas públicas ou vantagens naturais? (p. 42) 4. O Avanço da China e seu Impacto sobre o Brasil 4.1 Tipos de manufatura que a China exporta para o Brasil. (p. 45) 4.2 Existe competição com a indústria nacional? (p. 45) 4.3Tendências do comércio indireto de aço com a China. (p. 47) 5. Conclusão e Recomendações de Políticas Públicas 5.1 Sumário de conclusões (p. 50) 5.2 Recomendações de políticas em relação à primarização da economia (p. 53) 5.3Recomendações de políticas em relação à indústria Metal Mecânica (p. 55) 5.4Recomendações de políticasem relação ao avanço da China (p. 57) Bibliografia(p. 59) Anexos(p. 61) 1 Consultor da FUNCEX e Pesquisador Sênior do Instituto Brasileiro de Economia — IBRE, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. Estudo elaborado para o ILAFA — Instituto Latinoamericano Del Fierro y del Acero em abril de 2011 e revisto em maio de 2011. O autor agradece os comentários e sugestões de Germano Mendes de Paula, Ricardo Markwald e Rudolf Bühler a versões anteriores sem, contudo, responsabilizá-los por eventuais erros ou incorreções do texto. 1 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Apresentação A rápida ascensão da China ao status de potência econômica mundial tem representado vantagens e colocado desafios para seus parceiros comerciais. Isso é especialmente verdadeiro para países emergentes, como o Brasil, devido aos distintos estágios de desenvolvimento em que se encontram os dois países e às políticas econômicas com características também muito diferentes entre eles. E embora o forte crescimento da Chinaseja um dos principais responsáveis pelo aumento dos fluxos de exportação dos emergentes, o tipo de mercadorias por ela demandadas tem sido responsável por significativas mudanças na pauta de exportações do mundo em desenvolvimento. Entre essas mudanças destaca-se o aumento da demanda por produtos ―básicos‖, ou ―primários‖, que tem acarretado uma reprimarização da pauta de exportações de diversos países. No caso do Brasil, essas mudanças têm, inclusive, geradotemores de desindustrialização na medida em que a mudança também pode se aplicar à estrutura de produção. A manutenção de uma taxa de câmbiodesvalorizada na China está na raiz de uma das principais dificuldades experimentadas pelo Brasil, ao lado de uma taxa de câmbio muito valorizada neste país.2 Outras dificuldades, mas que frequentemente não merecem tanto destaque no debate, dizem respeito às deficiências na logística de transportes (portos, rodovias, ferrovias, aeroportos),3 nos excessivos e ineficientes processos burocráticos relacionados às atividades de exportação e importação4 e na carga tributária muito elevada em termos internacionais.5 A expansão das exportações brasileiras de produtos básicos, impulsionada por crescentes preços de commodities, tem ajudado a formar superávits comerciais que, embora decrescentes nos últimos anos, atuam na direção da valorização do câmbio. No entanto, também existem fatores internos em ação (entre os quais cabe destacar a manutenção de taxas de juros muito elevadas, que atraem capitais do exterior) que agem no sentido de valorização da taxa de câmbio do Brasil. Esse é, sabidamente, um processo de difícil solução a curto e médio prazos. Um dos resultados, do ponto de vista da indústria, tem sido o aumento das importações muito acima do aumento das exportaçõesde manufaturas. Em outras palavras, de perda de competitividade. Embora dotada de uma estrutura industrial diversificada e sofisticada, a valorização do câmbio observada nos últimos anos tem levado a indústria brasileiraa dificuldades na competição com as importações. Esse aspecto adquire especial importância em relação ao desempenho da cadeia metal-mecânica, área em que a penetração das importações de produtos chineses no consumo interno tem sido assustadoramente crescente. É precisamente dessa ameaça que se ocupa este trabalho, cujo objetivo é analisar a crescente inserção chinesa no mercado da indústria metal-mecânica doméstica à luz da experiência brasileira no passado recente. A finalidade é, além de montar um diagnóstico da evolução recente desse tema, 2 As razões da valorização do câmbio são várias e complexas, como será analisado ao final. Mas é oportuno destacar que em parte se deve à reação dos países da OCDE à Grande Recessão de 2008 em termos de expansão da liquidez internacional. No caso dos EUA essa expansão é fruto dos afrouxamentos quantitativos, que injetaram fartas doses de dólares nos mercados financeiros mundiais. 3 Aspecto repetidamente registrado em relatórios internacionais como, por exemplo, o World Competitiveness Report. 4 Idem. 5 A carga tributária brasileira, da ordem de 35% do PIB, é semelhante à média da União Européia e substancialmente mais alta que a dos demais países da América Latina. 2 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras propor medidas de política econômica que poderiam ajudar a defender a indústria local contrauma penetração ―excessiva‖ de bens importados. Para tanto, o texto compõe-se de cinco seções. Uma primeira introduz o tema pela descrição das estratégias de desenvolvimento manufatureiro do Brasil nas duas últimas décadas, destacando o papel do desempenho macroeconômico, das políticas de competitividade e da ameaça de desindustrialização. A seção seguinte ocupa-se dasmudanças nas estruturas do PIB e da Indústria de Transformação nesse período. A terceira seção avalia o desempenho produtivo a jusante da cadeia de valor da indústria do aço, ao passo que a quarta lida com o avanço da China e seu impacto sobre o Brasil em relação a essa cadeia. A quinta seção conclui o texto com recomendações de políticas públicas. Introdução 1.1 As estratégias de desenvolvimento manufatureiro do Brasil desde 1990 O Brasil não tem uma estratégia explícita de desenvolvimento da indústria, que seja coordenada ou executada por instituição governamental. Ainda assim, a experiência dos últimos anos sugereque existem linhas de ação que autorizamsupor a existência deuma linha de ação governamental voltadapara apoiar o setor. Na verdade, a política econômica em relação à indústria oscilounas duas últimas décadas, parte das quais vividas sob a pressão de crises internacionais e/ou sob a ameaça de descontrole fiscal/inflacionário e das medidas adotadas para lidar com elas. Devido a isso, o desempenho macroeconômico e, especialmente, da indústria não foi brilhante na maior parte do tempo. As duas últimas décadas foram de notáveis transformações para a economia brasileira. No início o país passou por um triênio de recessão durante a frustrada tentativa de controle da inflação no governo do Pres. Collor (1990-92). Uma recuperação cíclica teve lugar logo após, alimentada por um bem sucedido plano de estabilização implementado em 1994. Mas em seguida o país teve que lidar ao longo de quase dez anoscom choques externos adversos e com ameaças de contágio doméstico devido às crises do México (199495), Ásia (1997), Rússia (1998) e Argentina (2001), bem como choques domésticos devidos a: mudança no regime cambial (1999); escassez de energia (2001); o espectro de uma vitória eleitoral de um candidato que se esperava que fosse mudar o regime de política econômica vigente (Pres. Lula) — expectativaque provocou uma interrupção temporária dos fluxos de capital para o Brasilno 2º semestre de 2002 e forte desvalorização cambial.6 A sequência das reações a esses eventos implicou desvalorização cambial, aumento da taxa de inflação, elevação dos juros internos e descontinuidade do crescimento. O fato de que o governo que tomou posse em janeiro de 2003 tenha mantido o arcabouço de política macroeconômica preexistente não só acalmou os mercados, mas, especialmente, forneceu as bases para uma nova fase de crescimento a partir de 2004.7 Exceto pelo plano de estabilização e pela reforma do Estado na primeira metade da década, a mais importante reforma individual dos anos 1990 ocorreu em 1999, quando o país adotou um novo modelo de política macroeconômica, baseado no tripé representado por: uma 6 A taxa de câmbio, que é atualmente de cerca de R$ 1,6/US$, chegou a aproximadamente R$ 4,0/US$ em outubro de 2002. 7 A recuperação teve início um pouco antes devido ao forte crescimento das exportações, em boa medida estimuladas pelo câmbio desvalorizado pós-1999. A pujança da economia internacional foi outro fator de estímulo. 3 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras taxa cambial flutuante; limites nos déficits fiscais (dados pela necessidade de gerar superávits primários capazes de reduzir a dívida líquida do setor público ou, ao menos, mantê-la sob controle); e um regime de metas de inflação administrado por um Banco Central independente de facto, mas não de jure. O crescimento econômico ganhou força, apoiado pelas reformas estruturais adotadas desde o final dos anos 1980 — como a liberalização comercial e dos investimentos e os ganhos de produtividade que essas medidas permitiram8 —, e especialmente depois de 1993. Mas foram (brevemente) interrompidos pela crise de 2008.9 A recuperação do crescimento do PIB observada em 2010, de 7,5% em relação a 2009, foi baseada em forte recuperação da demanda doméstica de consumo e investimento e da capacidade utilizada em um contexto em que os preços de exportação e os termos de troca foram especialmente favoráveis ao Brasil. As perspectivas para o futuro, no entanto, apontam para taxas bem mais modestas no médio prazo, da ordem de 4 a 4,5% ao ano. A sequência histórica do crescimento econômico dessas últimas duas décadas é ilustrada no Gráfico 1, a seguir, que mostra as taxas anuais de crescimento do PIB e, superimposta a elas, sua média móvel quinquenal de modo a permitir uma visualização das tendências de prazo mais longo. Gráfico 1: Brasil — Taxas Anuais de Crescimento do PIB e Média Quinquenal 1990-2010 (%) 8 6 Taxa crescimento PIB Média quinquenal 4 2 -2 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0 -4 -6 Fonte: Contas Nacionais do Brasil; IPEADATA. A indústria foi profundamente afetada pela sequência de eventos citados. A combinação de liberalização comercial e recessão no começo dos anos 1990 foi especialmente severa para a produção industrial, que passou por um ajuste tanto em termos de redução nas quantidades produzidas (principalmente na recessão de 1990) quanto, especialmente, na perda dos postos de trabalho. Como resultado, a produtividade manufatureira apresentou crescimento muito elevado em diversos anos, como se visualiza no Gráfico 2, logo em 8 A década de 1980 havia sido caracterizada por estagnação da produtividade agregada e industrial. No caso do Brasil, o canal de transmissão da crise internacional foi a reversão e estrangulamento dos influxos de capital, que atingiram a atividade econômica de forma especialmente forte. A severidade da recessão pode ser avaliada pelo fato de que a produção industrial diminuiu 19% em apenas três meses, de setembro a dezembro de 2008 (dados dessazonalizados). 9 4 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras seguida.10 É contra esse pano de fundo que devem ser analisadas as tentativas de elaboração de estratégias de desenvolvimento e as políticas de competitividade no Brasil, efetivas ou virtuais. Gráfico 2: Brasil — Taxas Anuais de Crescimento da Indústria de Transformação: Produção, Emprego e Produtividade, 1990-2010 (%) 15% Produção (PIB) Produtividade Emprego 10% 5% 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 -5% 1990 0% -10% -15% Fonte: IPEADATA, com base em dados do IBGE. 1.2 Políticas de competitividade Os anos 1970 foram a década de ouro das políticas de competitividade no Brasil. Mas, abatidas pela crise da dívida externa e pelas novas orientações de política econômica e sugestões visando reformar o Estado nos anos 1980, as políticas industrial e de comércio exterior passaram por uma fase de relativo descrédito no Brasil por cerca de uma década. Seu ressurgimento se deu algo timidamente ainda na década de 1990,11 em um momento em que a abertura comercial e financeira, a privatização e a desregulamentação ocupavam o centro dos debates em relação à atuação do Estado. Registre-se que pouco antes, em 1988, o Brasil havia divulgado, em meio ao quase-caos institucional do final do governo do Pres. Sarney (março 1985- março 1990), uma Nova Política Industrial — que, no entanto, acabou não passando de um conjunto de intenções. Em 1990 (dezembro) foi criado o PCI — Programa de Competitividade Industrial, um dos três pilares da política de competitividade do governo Collor (1990-92), os outros dois sendo o PBQP (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade) e o PACTI (Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria). Mecanismos consultivos como as Câmaras Setoriais foram criados em 1992 com a missão de propor medidas de política industrial e comercial que, porém, nem sempre foram concretizadas. Diversas iniciativas se sucederam, mas esse ressurgimento das então assim chamadas políticas de competitividade não representou, inicialmente, um retorno às práticas do passado — embora no Brasil medidas setoriais de apoio à indústria automobilística tenham ressurgido 10 Os ganhos de produtividade na segunda metade dos anos 1990 estão provavelmente superestimados devido às subestimativas dos níveis de emprego. A razão para isso é provável perda de substância das amostras do IBGE naqueles anos pela saída de informantes e não reposição na amostra. 11 Ver Bonelli (2001) e Bonelli e Motta Veiga (2003), passim. 5 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras em meados dos anos 1990 como reação ao forte aumento das importações de automóveis então registrado. A política industrial e de comércio exterior de 1990 apoiava-se em dois pilares: uma política de competição (concretizada com as reformas do começo da década, especialmente a abertura comercial) e uma política de competitividade. Na perspectiva de hoje em dia, a primeira teve muito maior êxito do que a segunda. Uma tentativa de inflexão no sentido de retorno a um papel mais ativo para o Estado na área de competitividade e sob a forma de políticas setoriais, ou verticais, ocorreu em 199596, quanto o governo lançou uma Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior. Embora não tenha sido executada plenamente, ela foi o embrião de iniciativas posteriores, além de caracterizar simbolicamente que existia uma política formal. Além disso, as Zonas de Processamento de Exportações (ZPEs) continuaram a existir como projeto e a Zona Franca de Manaus como realidade (periodicamente renovada).12 Por trás dessas iniciativas — que, como mencionado, muitas vezes não passaram de intenções — ficou em parte a herança do vácuo ―liberal‖, representado pela idéia que vinha sendo difundida desde o começo dos anos 1990 de que as novas políticas deveriam procurar principalmente ―nivelar o campo de jogo‖ na correção das falhas de mercado — isto é, igualar as oportunidades para todos os agentes econômicos. A par disso, que sugeria maior ênfase em políticas horizontais, uma nova variável entrou em cena, a partir do reconhecimento (algo tardio) de que as inovações tinham um papel crucial no crescimento e diversificação industrial. Ao lado das inovações e difusão de tecnologia, os esforços formais focaram também a promoção das exportações (com destaque para o financiamento), de longe o grupo de medidas mais importante, e apoio às pequenas e médias empresas (menos importante). Isso tudo viria a ser acelerado a partir de 1998 com a criação dos Fundos Setoriais. Destaque-se que o estímulo à inovação é uma das formas de medidas horizontais mais promissoras, onde se destaca o papel de agências como a Financiadora de Estudos e Projetos — FINEP e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social — BNDES.13 As mudanças na primeira metade dos anos 2000 revelam a criação de diversas iniciativas e políticas sem que, no fundamental, a antiga dicotomia entre intenções e resultados tenha sido resolvida no caso das duas primeiras citadas abaixo. Ainda assim destacam-se desde 2003 três linhas de política, com graus variados de êxito: 1. A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) em nova versão (2003). 2. A Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) de 2008, com a adição de diversos setores a serem (potencialmente) apoiados.14 3. O Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), lançado em julho de 2009 na esteira da eclosão da crise de 2008 e objeto de seguidas prorrogações (no momento, até o fim de 2011).15 12 Não deve ser ignorado que outro exemplo de política vertical foi o Acordo da Indústria Automobilística de 1995. 13 Veja-se, a propósito, Canêdo-Pinheiro (2010), passim. 14 Na estrutura de governança desta última, aliás, se destaca a complexidade da teia de instituições para executála. Em outras palavras, trata-se aparentemente de mais um caso de muito ativismo e pouca eficiência. 6 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Outras importantes exceções caracterizam a área de financiamento, especialmente a partir de 2008: o novo papel do BNDES16 e o financiamento ao comércio exterior. Para entendermos as raízes dessa não trivial mudança pós-2008 é preciso levar em conta que uma das heranças da Grande Recessão foi uma tendência ao aumento da participação direta e indireta dos Estados nacionais na esfera econômica. Esse fenômeno é particularmentevisível nas áreas de política industrial e de comércio exterior devido a três razões principais (Reis e Farole, 2010): primeiro, a crise levou a certo descrédito nos mecanismos de mercado e no laissezfaire antes prevalecentes em relação ao comércio exterior; segundo, ela destacou a importância da diversificação (de setores produtivos, produtos e parceiros comerciais) como forma de reduzir os riscos associados à volatilidade do crescimento; terceiro, diversos países em desenvolvimento não alcançaram os benefícios nem conseguiram explorar as potencialidades do comércio liberalizado dos 25 anos anteriores devido à baixa produtividade, altos custos associados ao comércio internacional (principalmente devido à logística deficiente) e dificuldades de se beneficiar das economias de escala internas e externas. O aumento do ativismo estatal em matéria de políticas industrial e de comércio exterior também caracteriza o Brasil, depois de uma longa fase em que a atuação do Estado foi menos presente, a partir do começo da Grande Recessão das economias desenvolvidas na qual o episódio do Lehman Brothers foi o ponto de maior visibilidade. Essa escolha vem sendo revelada em várias frentes, com algum grau de superposição: na política fiscal, na política creditícia — com destaque para a expansão do crédito pelos bancos públicos —, no financiamento do desenvolvimento pelo BNDES, na criação (ou tentativa de) de novas empresas estatais, na política de compras (inclusive das estatais), nas tentativas de subordinação das agências reguladoras aos ministérios setoriais das áreas respectivas, etc. Desnecessário dizer que muitas dessas orientações revertem a opção do governo anterior, do Pres. Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), claramente mais afinada com o uso de mecanismos de mercado na alocação de recursos. Parte do arsenal de iniciativas e intenções do governo do Pres. Lula (2003-2010) foi posteriormente apresentada à sociedade como uma resposta à crise de 2008. Mas algumas medidas contra-cíclicas — que, de fato, se revelaram bastante eficazes — já estavam em vigor anteriormente, ou em vias de serintroduzidas, independentemente de a crise existir ou não. Trata-se de uma evidência adicional de que existe uma tendência no interior do governo no sentido de ampliar o papel do Estado na economia e parece indicar um retorno às orientações de política econômica já adotadas no passado. Retoma-se, portanto,a velha dicotomia entre intenções e resultados que tem marcado a política industrial e de comércio exterior brasileira desde o fim do regime militar, mas nos últimos anos com um simplificador: a convergência entre o BNDES e Ministério da Fazenda na consecução de objetivos. Quanto à atuação do primeiro destes, chama a atenção que, na prática, o apoio à criação de campeões nacionais tenha significado o investimento em setores tradicionais, como os de alimentos e bebidas, por exemplo, em contraste com a retórica 15 Financiamentos do BNDES a taxas favorecidas para a aquisição de equipamentos, caminhões, tratores, ônibus, máquinas agrícolas e projetos no setor de energia. Os desembolsos efetivos deste programa são testemunhas do seu êxito. 16 Esse banco de desenvolvimento obteve recursos de cerca de R$ 230 bilhões repassados pelo Tesouro desde 2009 a juros inferiores aos de mercado. 7 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras oficial, que advoga mudanças na estrutura produtiva na direção de setores mais intensivos em tecnologia, face a uma crescente primarização da pauta exportadora.17 Além disso, outra inovação na área de comercio exterior foi a política de financiamento às exportações, cuja relevância para o sucesso exportador até 2004 é inegável. Mais recentemente existem evidências de que depois da crise de 2008 ela voltou a ter importância. Nenhum instrumento de política comercial foi muito significativo. Mudanças na estrutura de proteção tarifária não foram relevantes e a defesa comercial, com uso mais intenso em 2008, é uma área em relação à qual o atual governo tem demonstrado grande preocupação. A desoneração tributária e o uso do instrumento do drawback ocupam uma posição ainda mais distante.18 Para o futuro espera-se contribuições importantes nessas duas últimas áreas. Especula-se também em relação a uma nova rodada de aumentos das tarifas de importação devido ao forte crescimento das compras externas e as ameaças à posição competitiva da indústria nacional, mas a lista de exceções à Tarifa Externa Comum do MERCOSUL não permite grandes avanços neste campo. O forte aumento das importações, que será detalhado mais adiante neste trabalho, tem imposto muita concorrência à produção doméstica, especialmente na metal-mecânica. Somado a isso— e apesar do câmbio valorizado (ver evidência mais adiante) —, o boom nos preços internacionais de diversas commodities e a existência das vantagens competitivas do agronegócio brasileiro têm mudado a composição da pauta de exportações do país em favor dos produtos básicos. 1.3 Desindustrialização no Brasil? A primarização da pauta exportadora nos remete, naturalmente, à questão da desindustrialização. A desaceleração do crescimento das exportações de produtos manufaturados, combinada com a rápida expansão das importações associada à apreciação cambial, tem implicações para o debate e formulação de políticas públicas de apoio à competitividade no Brasil, particularmente da indústria metal-mecânica—tema que ocupará a parte final deste texto. No que toca à apreciação cambial, Rios e Iglesias (2010) notam que as opiniões não são unânimes, existindo um grupo que minimiza os impactos da apreciação sobre o desempenho exportador do Brasil.19 Esse grupo defende que a queda observada a partir de 2007 nas quantidades exportadas de manufaturados está associada ao excessivo grau de proteção à indústria doméstica, que garante elevadas margens de retorno no mercado doméstico e não estimula investimentos em inovação. Outra corrente de analistas vê na combinação do alto nível de proteção com o rápido crescimento da absorção doméstica nos últimos anos a principal causa do fraco desempenho das exportações de manufaturados. De qualquer forma, o receituário de soluções para a correção da apreciação cambial não é simples (ver adiante análise de estimativas da defasagem cambial). Com o aumento da integração comercial, países com elevada produtividade e vantagens comparativas na produção de bens primários (indústria extrativa, agropecuária) tendem a atrair recursos para esses setores em detrimento da indústria. Mesmo sem contar 17 Esse ponto mereceu destaque na análise de Almeida (2009). Rios e Iglesias (2010). 19 Ver também Iglesias, Rios e Ribeiro (2011) e Motta Veiga (2011). 18 8 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras com as possíveis implicações em relação ao câmbio, os efeitos do comércio internacional podem influenciar o padrão de especialização e o próprio crescimento econômico. De qualquer forma, cresce entre os analistas a preocupação quanto ao risco de que o descompasso entre os ritmos de crescimento das exportações e importações leve à rápida deterioração do saldo da balança comercial sem que a taxa de câmbio se desvalorize devido aos fortes ingressos de recursos pela Conta de Capital do Balanço de Pagamentos.20 Essa evolução poderia impor limites à sustentação do crescimento econômico brasileiro, havendo um grupo de analistas que credita à taxa de câmbio a principal responsabilidade por essa tendência. Novamente, introduz-se aqui a preocupação com a re-primarização da pauta de exportações e, eventualmente, com a ameaça de um processo de desindustrialização no Brasil. Apesar da aparente simplicidade, o conceito de desindustrialização não é unânime entre os analistas. Segundo uma linha de autores, a desindustrialização seria um fator negativo porque, identificado não apenas com a perda de importância relativa da indústria no PIB e no emprego total — que é o entendimento mais usual do termo, inclusive em termos internacionais — produz mudanças indesejáveis nas estruturas de exportação e produção dentro da indústria. Emparticular, pelo aumento da participação de setores mais intensivos em recursos naturais e com menor capacidade de encadeamentos produtivos e tecnológicos vis-àvis setores mais intensivos em capital, conhecimento e tecnologia. 21 Esse ponto será explorado em uma seção mais adiante neste trabalho. Por ora, é conveniente citar os resultados e conclusões de recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) a partir da taxonomia proposta pela OCDE que divide a indústria em setores de alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia. Essas conclusões são importantes por que qualificam a noção de que está em curso no Brasil um processo de desindustrialização ao apontar para desempenhos acima da média para setores mais intensivos em tecnologia: ―Nos últimos sete anos, os setores tradicionais e de baixa intensidade tecnológica perderam espaço tanto na geração de emprego como na produção da indústria. Entre 2003 e 2010, os setores mais intensivos em tecnologia apresentaram desempenho superior aos demais. O setor com melhor desempenho entre 2003 e 2010 foi ‗Outros equipamentos de transporte‘ (aeronaves, embarcações, motocicletas, etc.) – de alta intensidade tecnológica. De um modo geral, os setores de intensidade tecnológica média-alta apresentaram desempenho acima da média, com destaque para Veículos Automotores e Máquinas e Equipamentos. Setores de baixa intensidade tecnológica como Madeira, Couros e Calçados, Vestuário e Têxtil – tradicionais na economia brasileira – apresentaram desempenho inferior à média da indústria e perderam espaço na estrutura industrial. Outro setor com situação preocupante é o de Material Eletrônico e de Comunicação (média-alta intensidade tecnológica), com queda na produção e baixo crescimento do emprego no período.‖ (CNI, 2011) 20 Esses ingressos são estimulados por diversos fatores, entre os quais devem ser mencionados: (1) taxas de juros domésticas muito elevadas em termos reais e pequena possibilidade de uma desvalorização cambial acentuada no curto e médio prazos; e (2) fortes ingressos de investimento direto, estimulados por perspectivas de crescimento favoráveis. 21 Ou, em uma versão ampliada: ―No período mais recente, a persistente valorização cambial da moeda doméstica e as condições favoráveis de demanda e de preços para a produção e exportação de commodities agrícolas, metálicas e minerais, somadas às vantagens competitivas já existentes estariam agravando o quadro de desindustrialização. A elevada competitividade desses setores permitiria a geração de expressivos superávits comerciais que, combinados com a entrada de fluxos de capitais na conta financeira, reforçariam a apreciação da moeda doméstica, expondo os demais setores industriais menos competitivos à concorrência externa.‖ (Sarti e Hiratuka, 2011, p. 7-8) 9 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Uma interpretação baseada em informações empíricas construídas para discutir o tema da desindustrialização da economia brasileira é a de Bonelli e Pessôa (2010), cuja avaliação permitiu separar duas ordens de questões. Por um lado, analisou-se o que aconteceu com a participação da produção, do emprego e do investimento na Indústria de Transformação em relação ao total do país aproveitando-se ao máximo os dados disponíveis. Em seguida, qual foi o desempenho da indústria no PIB do Brasil comparando nosso país com um amplo conjunto de países e em uma perspectiva de longo prazo (de 1970 a 2007). A conclusão central da primeira questão apontou para os seguintes fatos: (i) a participação da Indústria de Transformação no PIB brasileiro aumentou no longo prazo até a segunda metade da década de 1970 e caiu a partir daí; (ii) essa queda não foi contínua, mas foi especialmente rápida em alguns sub-períodos; em geral, períodos de recessão e/ou crise externa; (iii) em períodos de crescimento do nível de atividade a participação da indústria tende a aumentar; (iv) não existe tendência nítida de redução da participação do emprego industrial no total desde 1992; (v) idem no que diz respeito ao emprego formal (segundo registros administrativos) desde 1996; (vi) a participação do investimento industrial na FBCF do país aumentou entre 1996 e 2008 (último ano disponível). Das conclusões da segunda questão, para a qual foi especialmente desenvolvida uma base de dados internacionais, destacam-se as seguintes: (i) a indústria mundial perdeu participação no PIB mundial nas quatro décadas analisadas (de 24,9% para 16,6%, entre 1970 e 2007), conclusão que encontra poucas exceções nacionais; (ii) a análise da evolução da posição brasileira em relação a um padrão internacional mostra que o país estava muito acima desse padrão nos anos 1970; isto é, tinha uma indústria muito maior do que seria justificado por um conjunto de variáveis indicativas do grau de desenvolvimento econômico, tecnológico, dotação de fatores e tamanho físico e populacional; (iii) o Brasil tendeu progressivamente para o padrão internacional com o passar do tempo, estando atualmente pouco abaixo dele — isto é, tem uma participação da indústria no PIB um pouco menor do que aquela justificada pelo seu nível de desenvolvimento, dotação de fatores naturais, tecnologia, mão de obra e capital. Subjacente à discussão relacionada à suposta desindustrialização brasileira — ou receio de que venha a ocorrer/se aprofundar brevemente — estão vários aspectos já mencionados acima: (i) a evolução recente da taxa de câmbio (nominal e efetiva real), que tem apontado para valorização do Real superior às taxas de diversos países em desenvolvimento, pode provocar um deslocamento da demanda doméstica em direção aos bens importados, pondo em risco a sobrevivência de parte da indústria, com perda de empregos; (ii) a re-primarização da pauta de exportações, em parte devida ao item anterior, em parte à forte demanda por produtos primários observada em escala global, que deslocaria recursos para a produção desses bens em detrimento dos manufaturados. Mas note-se que ―... a desindustrialização não está necessariamente associada a uma ‗re-primarização da pauta de exportação‘... a participação da indústria no emprego e no valor adicionado pode se reduzir em função da transferência para o exterior das atividades manufatureiras mais intensivas em trabalho e/ou com menor valor adicionado. Se assim for, a desindustrialização pode vir acompanhada por um aumento da participação de produtos com maior conteúdo tecnológico e maior valor adicionado na pauta de exportações. No entanto, se a desindustrialização vier acompanhada de uma ―re-primarização‖ da pauta de exportações, então isso pode ser sintoma da ocorrência de ―doença holandesa‖, ou seja, da 10 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras desindustrialização causada pela apreciação da taxa real de câmbio resultante da descoberta de recursos naturais escassos num determinado país ou região.22 Do anterior deduz-se que desindustrialização pode significar mais de uma coisa, dependendo da abordagem de cada autor. Deduz-se também que, possivelmente, as implicações também podem variar, dependendo do aspecto que se leve em conta. O restante desta seção aprofunda essa questão pela atualização de dados usados em Bonelli e Pessôa (2010) para levar em conta informações recentes. As seções seguintes retomam a discussão utilizando coeficientes específicos de penetração das importações nas atividades industriais, devido à óbvia relevância dos aumentos de importação para a discussão sobre desindustrialização. As seções seguintes ocupam-se também da questão da reprimarização da pauta de exportações e de aspectos correlatos, mais diretamente relacionados à interface da indústria com o comércio exterior. Uma das medidas mais utilizadas para aferir a existência de desindustrialização é a participação da Indústria de Transformação no PIB. É comum dizer-se que existe desindustrialização quando ocorre uma perda sistemática de peso da indústria no total da atividade econômica de um país. A dúvida surge quanto ao intervalo de tempo após o qual se pode dizer algo de afirmativo. Neste sentido, o Gráfico 3 mostra a participação relativa do Valor Adicionado (a preços básicos) da Indústria de Transformação no VA total da economia por trimestres entre o começo de 1996 e o final de 2010 a preços correntes e a preços constantes de 1995. A forma irregular das curvas originais do gráfico sugeriu que os resultados fossem aplainados por meio de médias móveis. No caso em tela, optamos por médias de dois anos. As tendências que aparecem desses resultados são bastante claras: em ambos os casos, depois de um aumento de peso no triênio 2000-2002 até o começo de 2005 tem-se uma redução até o final de 2010, em um período que dificilmente poderia ser classificado como de turbulência — com a exceção da curta (e profunda) queda da produção industrial e do PIB no final de 2008 e começo de 2009. Baseando-se na curva a preços constantes, como é mais correto, conclui-se das médias móveis que entre o 1º trimestre de 2005 e o último de 2010 a participação da indústria no VA total da economia diminuiu dois pontos de percentagem: de 17,4% para 15,3%.23 Portanto, a perda de peso da indústria na economia nos últimos cinco anos é visível, segundo esses resultados. Mas, quão duradoura? Essa é uma pergunta em aberto. Outra, que motiva o restante deste trabalho, é a qualificação dessas mudanças a partir do desempenho de variáveis que lhe estão associadas e, especialmente a partir da relação comercial com a China. É a esses aspectos que nos dedicamos em seguida. 22 Oreiro (2009), p. 2. Observe-se que a medida do texto resume os resultados em termos de Valor Adicionado. Como tem havido substituição da produção nacional por insumos importados, essa nos parece a medida mais correta para a avaliação das tendências recentes. No entanto, medidas baseadas no desempenho da produção bruta (como os índices de quantum da produção manufatureira) em relação ao crescimento do PIB fornecem resultados que apontam para a mesma direção. 23 11 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Gráfico 3: Participação da Indústria no VA Total do Brasil a preços Correntes e Constantes, por Trimestres, 1996-2010 (%) 21% Participação da Indústria de Transformação no VA total (preços básicos) a preços correntes e constantes de1995 por trimestres e média móvel de oito trimestres, em % (1996.1 a 2010.4) 20% Preços de 1995 19% 18% 17% 16% 15% Preços correntes 2010.I 2010.III 2009.I 2009.III 2008.I 2008.III 2007.III 2007.I 2006.III 2006.I 2005.III 2005.I 2004.III 2004.I 2003.III 2003.I 2002.I 2002.III 2001.I 2001.III 2000.I 2000.III 1999.I 1998.I 1998.III 1997.III 1997.I 1996.III 1996.I 13% 1999.III 14% Fonte: IBGE, Contas Nacionais Trimestrais. 2. Mudanças nas Estruturas do PIB e da Indústria de Transformação 2.1 Evolução dos Componentes do PIB: Nível de Atividade, Emprego, Produtividade, Exportações eImportações O crescimento do nível de atividade agregado no Brasil foi apresentado no Gráfico 1. Subjacentes às mudanças de desempenho econômico nele evidenciadas estão alterações nas estruturas do PIB e dos setores. Começando pelas primeiras, uma ilustração está no par de tabelas seguintes.24Iniciando-se a análise pela taxa de investimento fixo(FBCF/PIB), registrese que o aumento entre o triênio inicial e o quadriênio 1993-96 era de se esperar, devido ao fim da recessão dos anos 1990-92. Mas o recuo seguinte sugere que as perspectivas de crescimento não melhoraram, apesar da estabilização. Em boa medida isso se deveu aos efeitos das crises externas naqueles anos, em um contexto em que o balanço de pagamentos ainda se encontrava fragilizado. Outro aspecto que chama atenção é o esperado aumento das importações de bens e serviços não fatores no PIB, fruto da liberalização comercial e financeira. As exportações, por sua vez, não reagiram devido à valorização cambial até 1999. Destaque-se ainda o aumento no consumo, tanto do governo quanto privado, outro resultado da estabilização. 24 Deve-se registrar que o Sistema de Contas Nacionais do Brasil passou por significativas reformas nas duas últimas décadas. Isso obrigou que utilizássemos tanto quanto possível informações de sistemas homogêneos. O texto chama a atenção para esse aspecto, sempre que necessário. 12 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Estrutura do PIB pela Ótica da Despesa (%) - Médias anuais, 1990-2000* Tabela 1.a Períodos 1990-92 1993-96 1997-2000 Produto Interno Bruto 100,0% 100,0% 100,0% Consumo final 78,9% 78,9% 80,8% Despesa de consumo das famílias 60,8% 60,5% 62,0% Despesa de consumo das adm. públicas 18,1% 18,4% 18,9% 19,6% 21,6% 21,1% Formação bruta de capital fixo FBCF 19,1% 20,0% 19,4% Variação de estoque 0,6% 1,6% 1,6% 9,2% 8,7% 9,0% Formação bruta de capital Exportação de bens e serviços Importação de bens e serviços (-) 7,8% 9,2% Fonte: IPEADATA. * Baseadas em valores a preços correntes. 10,9% Os resultados para a década seguinte estão na tabela abaixo que, como mencionado, estão baseados em metodologia revisada em relação à anterior.As principais mudanças são: 1. O aumento no consumo do governo no triênio final da década; 2. A recuperação do investimento fixo verificada também no último triênio;25 3. A queda das exportações de bens e serviços não fatores entre 2004-07 e 2008-10, em forte contraste com o aumento das importações — em parte devida à valorização cambial dos últimos anos. Tabela 1.b Estrutura do PIB pela Ótica da Despesa (%) - Médias anuais, 2000-2010* Períodos 2000-03 2004-07 2008-10 PIB 100,0% 100,0% 100,0% Consumo total 82,6% 79,9% 81,5% Consumo privado 62,9% 60,1% 60,4% Consumo do governo 19,7% 19,9% 21,1% FBCF 16,4% 16,5% 18,2% Var. estoques 0,7% 0,6% 0,6% Exportações 12,8% 14,8% 12,0% Importações 12,5% 11,8% 12,3% Fonte: IBGE – Contas Nacionais trimestrais. * Baseadas em valores a preços correntes. Do ponto de vista das perspectivas de crescimento importa sobremaneira o exame do crescimento do investimento. Neste sentido, as variações no investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) a preços constantes refletiram e estimularam as do nível de atividade agregada nos ciclos observados nas duas décadas. Isso é o que mostra o gráfico seguinte, onde se destaca a extrema volatilidade dessa variável: após forte queda durante a recessão de 2009, a recuperação do investimento fixo em 2010 foi representada pelo crescimento de quase 22% em relação ao ano anterior. Essas são taxas que dificilmente se repetirão no futuro próximo. 25 Apesar da recuperação, a taxa de FBCF atingiu 18,4% do PIB em 2010, contra 19,1% imediatamente antes da crise, em 2008. 13 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Gráfico 4: Taxas de Variação da FBCF no Brasil a Preços Constantes (%), 1990-2010 24% 20% Crescimento Anual da Formação Bruta de Capital Fixo (% a.a.) 16% 12% 8% 4% -4% 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0% -8% -12% Fonte: Contas Nacionais, IPEADATA. Outra mudança notável nos anos 1990foi a mudança na composição dos investimentos, especialmente entre equipamento nacional e importado, como se vê a seguir. Tabela 2: Formação Bruta de Capital Fixo - Máquinas e Equipamentos,por Origem:Nacional e Importado - 1990-2000 (% a preços correntes) Anos % nacional % importado 1990 89,4 10,6 1991 78,6 21,4 1992 74,9 25,1 1993 75,5 24,5 1994 74,7 25,3 1995 68,7 31,3 1996 65,1 34,9 1997 58,7 41,3 1998 59,2 40,8 1999 54,7 45,3 2000 71,0 29,0 Fonte: Contas Nacionais do Brasil (sistema antigo) A liberalização comercial explica o forte aumento do conteúdo importado do investimento até 1999 — que ajudou na substancial recuperação da produtividade então observada — enquanto a desvalorização cambial de 1999 explica a redução no componente importado no ano seguinte.26 Do ponto de vista da composição setorial da produção as mudanças também foram significativas (ver detalhes setoriais no Anexo A.1), como se observa do gráfico 26 Como mencionado, a comparabilidade entre as décadas não é estritamente possível devido às substanciais mudanças na contabilidade nacional de 2007, que não retroagiram a série histórica até 1990, mas só até 2000. Algumas variáveis foram re-estimadas para trás até 1995, mas não todas. A partir de 2004 o componente importado da FBCF voltou a crescer aceleradamente devido à valorização cambial, mas essa informação não é mais disponível nas Contas Nacionais. 14 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras resumoseguinte. Os ganhos da agropecuária até meados da década foram revertidos posteriormente, mas os da indústria foram significativos: na saída da recessão (1993) e no final da década, entre 1998 e 2000. Já os serviços tenderam a perder peso na década como um todo. Gráfico 5: Estrutura da Produção (VA) por Macro-setores, 1990-2000 (%) 70% 60% 50% Agropecuária Indústria Serviços 40% 30% 20% 10% 0% 19901991199219931994199519961997199819992000 Fonte: tabela anterior. As mudanças na estrutura das ocupaçõesnessa década estão apresentadas no Anexo A.2. No gráfico seguinte se mostra a estrutura percentual por macro-setores. A agropecuária e a indústria perderam postos de trabalho tanto em termos relativos quanto absolutos na década analisada, continuando a tendência histórica, sendo que no caso da indústria as perdas se concentraram especialmente nos anos iniciais da década — que, como vimos, são de recessão industrial e de liberalização do comércio. Gráfico 6: Estrutura do Emprego por Macro-setores, 1990-2000 (%) 70% 60% 50% 40% Agropecuária Indústria Serviços 30% 20% 10% 0% 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Fonte: tabela anterior. Já os serviços viram sua participação no emprego aumentar continuamente entre 1990 e 2000, em quase 10 pontos de percentagem. Dentro dos serviços os ganhos não foram uniformes, beneficiando alguns ‗modernos‘ (serviços prestados às empresas, cuja participação no total dos serviços aumentou de 4,9% para 7,3%) e outros ‗tradicionais‘ (o peso dos serviços privados não-mercantis aumentou de 13,7% para 15,6% em dez anos). As principais perdas ocorreram nas administrações públicas (19,1% para 15,2%) e nos intermediários financeiros (de 3,4% para 1,9%). No primeiro caso, um resultado direto da reforma do Estado 15 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras nos anos do Pres. Fernando Henrique Cardoso; no segundo, um resultado também direto da estabilização monetária, que gerou profundas mudanças e reorganização na área de intermediação financeira. Como resultado das distintas modificações nas estruturas de produção e emprego observam-se diferentes mudanças nos ganhos de produtividade entre setores. Esse aspecto é ilustrado no gráfico seguinte. Os ganhos da agropecuária e da indústria são os destaques nesses anos. No primeiro caso, a partir de 1993; no segundo, até 1994 e, novamente, a partir de 1996. Gráfico 7: Produtividades relativas, 1990-2000 (total da economia = 100) 200% 180% 160% 140% 120% 100% 80% 60% Agropecuária Indústria Serviços 40% 20% 0% 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Fonte: elaboração do autor Sabendo-se que a produtividade na economia brasileira aumentou 15% entre 1990 e 2000 (em média, a 1,4% ao ano), segue-se que a da agropecuária cresceu 4,9% anuais, a da indústria 4% ao ano,27 e a dos serviços decresceu, em média, 0,7% ao ano. Os resultados para os anos 2000 são analisados em seguida. Neste caso, porém, a disponibilidade de dados cobre até o ano de 2008, apenas. Começando pela estrutura do VA, a Tabela A.3 do Anexo permite concluir que a indústria como um todo manteve a participação no total devido à expansão da extrativa mineral. No caso da indústria manufatureira nota-se perda de peso desde 2004-05, coerentemente com a análise realizada na seção inicial deste estudo. Essa redução continuaria até os dias de hoje, como vimos. Já as mudanças na estrutura do VA dos serviços foram de pequena expressão e privilegiaram um pequeno conjunto composto das atividades: comércio e intermediários financeiros. A Tabela A.4 do Anexo registra as mudanças na estrutura das ocupações, as quais acompanharam, com algumas exceções significativas, as da produção. A principal exceção é a agropecuária, que continuou perdendo postos de trabalho — e aumentando significativamente a produtividade. A redução relativa da agropecuária foi compensada pelos serviços e, em menor medida, pela indústria. No interior desta aumentaram seu peso no emprego tanto a indústria de manufaturas quanto a construção civil. 27 Mais adiante obtivemos resultados um pouco menos favoráveis para a produtividade da indústria, da ordem de 3% ao ano. A diferença se deve ao fato de que aqui supusemos o mesmo deflator para os três setores (igual ao do VA a preços básicos), apenas como aproximação. Como o deflator da indústria cresceu mais do que o total, o resultado deste gráfico superestima o crescimento real. 16 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Os ganhos de produtividade são o resultado dessas distintas mudanças nas estruturas da produção (VA) e emprego, e são mostrados na Tabela 3. Aqui esses ganhos foram calculados indiretamente, a partir das produtividades relativas de cada setor ou atividade.28 Tabela 3: Crescimento da Produtividade Média por Setores, 2000-08 (% ao ano) Total 1,0% Agropecuária 4,6% Indústria 0,2% Extrativa Mineral 10,1% Indústria de transformação -0,4% Produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e 0,2% Construção Civil -1,2% Serviços 0,3% Comércio 2,9% Transporte, armazenagem e correio 0,3% Serviços de informação -0,6% Intermediação financeira, seguros e previdência complementar e 3,7% Atividades imobiliárias e aluguéis -2,8% Serviços de manutenção e reparação -1,7% Serviços de alojamento e alimentação 1,3% Serviços prestados às empresas -0,9% Educação mercantil -4,8% Saúde mercantil -1,8% Serviços prestados às famílias e associativas -1,9% Serviços domésticos 0,6% Educação pública 0,8% Saúde pública 1,6% Administração pública e seguridade social 0,9% Fonte: Elaboração do autor; ver tabelas anteriores e do Anexo. A produtividade da mão de obra na economia brasileira aumentou em média a 1,04% ao ano entre 2000 e 200829 — menos, portanto, do que os 1,4% da década de 1990. Mas notese que parte da diferença entre o desempenho nas duas décadas se deve à recessão de 199092, que fez de 1990 um ano de baixo nível de atividade (logo, de produtividade). Parte substancial, porém, decorre dos resultados das reformas estruturais dos anos 1990. Entre os macro-setores, os maiores ganhos ocorreram na agropecuária, com 4,6% ao ano — taxa semelhante à da década anterior (4,9% ao ano). Esse desempenho extremamente favorável da agropecuária está por trás do sucesso exportador dos últimos anos. De fato, os ganhos de competitividade (baseados na produtividade) e os preços internacionais em alta de diversas commodities agropecuárias explicam o sucesso exportador do setor. A surpresa ocorre com a indústria, onde a produtividade, após ter crescido cerca de 4% ao ano na década anterior, agora aumentou a apenas 0,2% anuais, em média. No interior da indústria destaca-se a extrativa mineral, com elevadíssimos ganhos anuais de 10%. Na indústria de manufaturas observa-se redução de produtividade, considerando-se os anos 28 O Anexo A.5 contém as taxas de variação do Valor Adicionado entre 2000 e 2008 por atividade. O aumento da produtividade agregada entre 2008 e 2010 foi maior do que essa taxa. Como o PIB cresceu em média a 3,4% ao ano (2009 foi ano de recessão) e a ocupação aumentou cerca da metade dessa taxa, a produtividade aumentou aproximadamente 1,7% ao ano no biênio 2009-2010. 29 17 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras extremos.30 Nos serviços, por sua vez, tem-se modestos ganhos de produtividade, da ordem de 0,3% ao ano (após redução na década anterior). Esses ganhos foram concentrados em praticamente dois setores: intermediação financeira (revertendo a tendência da década anterior) e comércio. Uma nota de alerta deve ser feita neste ponto, e se refere ao fato de que os dados das Contas Nacionais levam em conta não apenas as atividades formais, mas também as informais (trabalhadores sem carteira e autônomos). Isso é importante porque, no caso da indústria de transformação, em 2008 cerca de 58% das ocupações podem ser caracterizadas como ‗emprego com vínculo formal‘. Na agropecuária a cobertura era de apenas 14% e nos serviços de 53%. 2.2 Mudanças na composição setorial da indústria e na produtividade industrial 2.2.1 Os anos 1990-2000 As mudanças estruturais no interior da indústria na década de 1990 foram, surpreendentemente, de intensidade apenas moderada. No caso da metal-mecânica o registro é de pequena perda (de 21,3% do VA em 1990 para 20,7% em 2000), apesar do ganho na mecânica e na automobilística. Já a fabricação de equipamento elétrico e de material eletrônico sofreu perdas significativas. Tabela 4: Mudanças na Estrutura do VA da Indústria, 1990-2000 (%) Atividades Indústria de Transformação 1990 2000 2000-1990 100,0% 100,0% 0,0% Fabricação de minerais não-metálicos 3,70% 3,10% -0,60% Siderurgia 2,70% 3,50% 0,80% Metalurgia dos não-ferrosos 1,50% 1,40% -0,10% 21,30% 20,70% -0,50% Fabricação de outros produtos metalúrgicos 4,00% 3,20% -0,80% Fabricação e manutenção de máquinas e tratores 6,50% 8,20% 1,70% Fabricação de aparelhos e equipamentos de material elétrico 2,60% 1,50% -1,10% Fabricação de aparelhos e equipamentos de material eletrônico 3,30% 2,30% -1,00% Fabricação de automóveis, caminhões e ônibus 1,70% 2,50% 0,90% Fabricação de outros veículos, peças e acessórios 3,20% 3,00% -0,20% Serrarias e fabricação de artigos de madeira e mobiliário 2,80% 2,30% -0,50% Indústria de papel e gráfica 3,40% 5,00% 1,70% Indústria da borracha 1,20% 1,20% 0,10% Fabricação de elementos químicos não-petroquímicos 2,20% 3,10% 0,90% Refino de petróleo e indústria petroquímica 8,00% 9,00% 1,00% Fabricação de produtos químicos diversos 3,50% 2,80% -0,70% Fabricação de produtos farmacêuticos e de perfumaria 2,00% 2,60% 0,50% Indústria de transformação de material plástico 2,20% 1,40% -0,80% Metal Mecânica Indústria têxtil 4,40% 1,60% -2,70% Fabricação de artigos do vestuário e acessórios 3,00% 2,60% -0,40% Fabricação de calçados e de artigos de couro e peles 1,20% 1,00% -0,20% Indústria do café 0,50% 1,00% 0,50% Beneficiamento de produtos de origem vegetal, inclusive fumo 2,20% 2,00% -0,20% Abate e preparação de carnes 1,40% 1,60% 0,20% 30 Novamente (embora os dados ainda não estejam disponíveis) deve-se ressaltar que no biênio 2009-2010 a produtividade industrial cresceu muito acima da taxa média registrada entre 2000 e 2008. 18 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Resfriamento e preparação do leite e laticínios 0,70% 0,80% 0,10% Indústria do açúcar 0,60% 1,00% 0,30% 0,80% 0,90% 0,10% Outras indústrias alimentares e de bebidas 3,00% 3,70% 0,70% Indústrias diversas 2,00% 1,70% -0,30% Fabr. e refino de óleos vegetais e de gorduras para alimentação Fonte: IBGE, Contas Nacionais do Brasil (sistema antigo) Mas, no que se refere à produtividade (Tabela 5), o desempenho dos setores que compõem a metal-mecânica foi muito bom na década de 1990, coma exceção dos ―outros produtos metalúrgicos‖. Isso fez com que a competitividade desses setores melhorasse substancialmente. Sem dúvida, a abertura comercial foi um dos fatores responsáveis pelo bom desempenho. Tabela 5: Crescimento da Produtividade na Indústria 1990-2000, % ao ano Indústria 2,6% Extrativa mineral (exceto combustíveis) 5,1% Extração de petróleo e gás natural, carvão e outros combustíveis 2,6% Fabricação de minerais não-metálicos 3,3% Siderurgia 8,0% Metalurgia dos não-ferrosos 4,5% Fabricação de outros produtos metalúrgicos 1,7% Fabricação e manutenção de máquinas e tratores 3,4% Fabricação de aparelhos e equipamentos de material elétrico 7,8% Fabricação de aparelhos e equipamentos de material eletrônico 3,9% Fabricação de automóveis, caminhões e ônibus 7,9% Fabricação de outros veículos, peças e acessórios 5,8% Serrarias e fabricação de artigos de madeira e mobiliário 0,9% Indústria de papel e gráfica 3,3% Indústria da borracha 5,9% Fabricação de elementos químicos não-petroquímicos 5,2% Refino de petróleo e indústria petroquímica 9,6% Fabricação de produtos químicos diversos 5,1% Fabricação de produtos farmacêuticos e de perfumaria 1,8% Indústria de transformação de material plástico -1,7% Indústria têxtil 2,0% Fabricação de artigos do vestuário e acessórios -1,5% Fabricação de calçados e de artigos de couro e peles -0,3% Indústria do café 1,5% Beneficiamento de produtos de origem vegetal, inclusive fumo 2,6% Abate e preparação de carnes 0,6% Resfriamento e preparação do leite e laticínios 2,5% Indústria do açúcar 0,7% Fabr e refino de óleos vegetais e de gorduras para alimentação Outras indústrias alimentares e de bebidas 7,6% 2,7% Indústrias diversas 0,5% Serviços industriais de utilidade pública 9,0% Construção civil 1,4% Fonte: IBGE, Contas Nacionais do Brasil (sistema antigo) 2.2.2 Os anos 2000-2008 Se é verdade que o desempenho da Metal-Mecânica foi ligeiramente abaixo da média da indústria na década de 1990, o registro da década seguinte foi muito melhor. As tabelas 19 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras abaixo registram: primeiro, a mudança estrutural amplamente favorável a este grupo de indústrias entre 2000 e 2008, com poucas exceções em termos das atividades que o compõem (Tabela 6); em seguida, os ganhos de produtividade no período (Tabela 7). Tabela 6: Mudanças na Estrutura do VA da Indústria, 2000-2008 (%) Atividades Indústria de Transformação 2000 2008 2008-2000 100,0% 100,0% 0,0% Alimentos e bebidas 10,1% 9,6% -0,5% Produtos do fumo 0,6% 0,4% -0,2% Têxteis 3,6% 2,6% -1,0% Artigos do vestuário e acessórios 4,1% 2,7% -1,4% Artefatos de couro e calçados 1,5% 1,3% -0,2% Produtos de madeira - exclusive móveis 1,9% 1,5% -0,4% Celulose e produtos de papel 3,4% 2,3% -1,1% Jornais, revistas, discos 4,1% 3,2% -0,9% Refino de petróleo e coque 1,9% 0,5% -1,4% Álcool 1,4% 1,7% 0,3% Produtos químicos 2,3% 2,0% -0,3% Fabricação de resina e elastômeros 0,8% 0,6% -0,2% Produtos farmacêuticos 3,3% 2,7% -0,6% Defensivos agrícolas 0,3% 0,5% 0,2% Perfumaria, higiene e limpeza 2,0% 1,1% -0,9% Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 0,5% 0,5% 0,0% Produtos e preparados químicos diversos 0,9% 0,6% -0,3% Artigos de borracha e plástico 2,7% 2,8% 0,2% Cimento 0,8% 0,4% -0,4% Outros produtos de minerais não metálicos 2,2% 2,4% 0,1% Fabricação de aço e derivados 3,0% 5,2% 2,1% Metalurgia de metais não ferrosos 1,7% 1,5% -0,2% Metal-mecânica 19,0% 22,2% 3,2% Produtos de metal - exclusive máquinas e equipamentos 3,6% 4,7% 1,1% Máquinas e equipamentos, inclusive manutenção e reparos 3,8% 5,1% 1,3% Eletrodomésticos 0,5% 0,6% 0,0% Máquinas para escritório e equipamentos de informática 0,6% 0,5% -0,1% Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 1,8% 2,2% 0,4% Material eletrônico e equipamentos de comunicações 1,8% 0,7% -1,1% Aparelhos/instrumentos médico-hospitalar, medida e óptico 1,4% 1,4% 0,0% Automóveis, camionetas e utilitários 1,5% 1,7% 0,1% Caminhões e ônibus 0,6% 0,6% 0,0% Peças e acessórios para veículos automotores 2,3% 3,3% 1,0% Outros equipamentos de transporte 1,1% 1,4% 0,2% Móveis e produtos das indústrias diversas 3,6% 3,1% -0,5% Fonte: IBGE, Contas Nacionais do Brasil (sistema novo) De fato, o peso daMetal-Mecânica aumentou de 19,0% para 22,2% do VA da indústria de manufaturas entre 2000 e 2008, com maiores ganhos nas indústrias de produtos de metal, mecânica (novamente) e nas auto-peças. O mesmo não ocorreu no que diz respeito aos ganhos de produtividade da mão de obra, onde apenas dois destaques foram registrados: produção de caminhões e ônibus e autopeças (Tabela 7). 20 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela 7: Crescimento da Produtividade 2000-2008, % ao ano Indústria - Total 2,9% Petróleo e gás natural -0,4% Minério de ferro -6,0% Outros da indústria extrativa -1,8% Alimentos e bebidas 2,9% Produtos do fumo -1,5% Têxteis 0,1% Artigos do vestuário e acessórios 0,2% Artefatos de couro e calçados -5,3% Produtos de madeira - exclusive móveis -2,9% Celulose e produtos de papel -1,2% Jornais, revistas, discos 1,9% Refino de petróleo e coque 1,4% Álcool -5,2% Produtos químicos -6,2% Fabricação de resina e elastômeros -1,6% Produtos farmacêuticos 0,5% Defensivos agrícolas 1,6% Perfumaria, higiene e limpeza 3,9% Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 0,7% Produtos e preparados químicos diversos -0,1% Artigos de borracha e plástico -4,3% Cimento -3,0% Outros produtos de minerais não metálicos 0,6% Fabricação de aço e derivados -0,4% Metalurgia de metais não ferrosos -3,3% Prod de metal - exc máquinas e equipamentos -1,7% Máquinas e equipamentos, inc manutenção e reparos 0,1% Eletrodomésticos 0,7% Máquinas para escritório e equipamentos de informática 0,5% Máquinas, aparelhos e materiais elétricos -1,7% Material eletrônico e equipamentos de comunicações -2,4% Aparelhos, instrum. médico-hospitalar, medida e óptico -5,0% Automóveis, camionetas e utilitários -0,8% Caminhões e ônibus 7,2% Peças e acessórios para veículos automotores 8,4% Outros equipamentos de transporte -1,4% Móveis e produtos das indústrias diversas 0,3% Prod. e distr de eletricidade, gás, água, esgoto, lixo -0,2% Construção Civil 0,8% Fonte: IBGE, Contas Nacionais do Brasil (sistema novo) 2.3 Mudanças no Comércio Internacional: Exportações, Importações e Saldos Comerciais — Volumes Físicos e Preços O comércio internacional do Brasil ganhou extraordinário impulso a partir de 1999, seguindo-se à desvalorização e adoção do novo regime cambial no começo daquele ano. A rigor, o crescimento das exportações aumentou de ritmo depois de 2002, junto com a aceleração do crescimento do nível de atividade mundial. O gráfico seguinte registra o desempenho das exportações, importações e do saldo comercial de 1990 a 2010. Note-se que 21 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras as exportações cresceram 16,3% ao ano entre 2002 e 2010, ao passo que as importações cresceram ainda mais: 18,3% anuais no período.O saldo comercial tornou-se superavitário a partir de 2001, tendo chegado a US$ 46,5 bilhões em 2006. Com a aceleração do crescimento das importações depois de 2003 o saldo diminuiu, chegando a US$ 20,3 bilhões em 2010.Parte dos ganhos das exportações em valor foi devido aos crescentes preços de exportação, que foram responsáveis por aumento de 26% nos termos de troca a partir de 2005 (Tabela 8). Gráfico 8: Exportações, Importações e Saldos Comerciais 1990-2010 (US$ milhões FOB) 250.000 Exportações Importações Saldo Comercial 200.000 150.000 100.000 50.000 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 0 -50.000 Fonte: MDIC/SECEX. Tabela 8: Índices de Preços e Relações de Troca (2006=100) Anos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Pr Importação 106,5 98,7 93,7 85,6 82,9 84,8 85,2 80,9 76,6 77,0 77,1 74,5 72,1 76,6 84,2 93,6 100,0 108,2 132,1 117,1 Pr Exportação (impl.) 79,3 77,9 75,3 69,6 77,1 87,5 87,6 88,2 82,3 71,7 74,1 71,5 68,2 71,4 79,1 88,7 100,0 110,5 139,6 120,9 Termos de troca 74,5 78,9 80,4 81,3 92,9 103,2 102,8 109,1 107,4 93,2 96,1 95,9 94,6 93,2 94,0 94,8 100,0 102,1 105,7 103,2 22 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 2010 121,6 145,7 Fonte: FUNCEX, elaboração do autor. 119,8 Em termos de quantidades, no entanto, a evolução das exportações foi bem mais modesta, o oposto ocorrendo comas importações (tabela seguinte): entre 2003 e 2010 o quantum exportado aumentou 35%, ao passo que o quantum importado cresceu 137%. É difícil não creditar à evolução do câmbio pelo menos parte desse aumento diferenciado entre quantum exportado e importado. Tabela9: Quantum de Exportações e de Importações, 1990-2010 (2006=100 e %) 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Quantum deExportações 28,7 29,5 34,5 40,2 41,0 38,6 39,6 43,6 45,1 48,6 54,0 59,1 64,2 74,3 88,5 96,8 100,0 105,5 102,9 91,8 100,6 Quantum de Importações 21,2 23,3 24,0 32,3 43,7 64,5 68,5 81,0 82,5 70,1 79,3 81,7 71,7 69,1 81,7 86,1 100,0 122,0 143,6 119,3 163,5 Fonte: FUNCEX. Taxa de crescimento quantum (%) Exportações Importações 2,5% 9,8% 17,0% 3,0% 16,5% 34,4% 2,1% 35,2% -6,0% 47,7% 2,6% 6,3% 10,2% 18,2% 3,5% 1,8% 7,7% -15,0% 11,1% 13,2% 9,5% 2,9% 8,6% -12,2% 15,7% -3,6% 19,1% 18,3% 9,4% 5,4% 3,3% 16,1% 5,5% 22,0% -2,5% 17,7% -10,7% -16,9% 9,5% 37,0% 2.4 Mudanças no Padrão de Especialização do Comércio Na sub-seção anterior vimos que a estrutura do comércio exterior brasileiro vem passando por profundas mudanças. Isso é em parte reflexodo aumento no comércio com, e também no Investimento Direto da China. No começo da década de 2000 o Brasil via a China principalmente como um competidor em terceiros mercados, como os EUA — algo que ainda é verdadeiro, mas mais fortemente e especialmente nos mercados da América Latina. Desde então a participação dos EUA como destino das exportações brasileiras caiu à metade, aproximadamente. A China compensou boa parte da queda. As mudanças na estrutura da pauta de exportações, documentadas logo adiante, refletem implicitamente essa alteração de importância dos parceiros comerciais. As rápidas mudanças observadas indicam a extensão das transformações que a nova parceria com a China tem implicado. Uma avaliação das tendências de longo prazo ajuda na compreensão das mudanças como introdução para a análise posterior. Como vimos, as exportações brasileiras (FOB) aumentaram de US$ 31,4 para US$ 201,9 bilhões entre 1990 e 2010, revelando uma taxa 23 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras média de quase 10% ao ano (9,7%) quando medidas a preços correntes. O aumento anual (real) a preços constantes foi de 6,46%, em média, tendo os preços médios crescido 3,1% ao ano. Como as exportações representam, grosso modo, cerca de 10% do PIB, pode-se concluir que elas responderam por um crescimento médio real de 0,6% ao ano nesses 20 anos referidos. E como o PIB cresceu em média 3% ao ano nesses 20 anos, conclui-se que as exportações responderam por 20% do crescimento de longo prazo. Mas o crescimento das exportações não foi uniforme ao longo do tempo, destacandose a aceleração depois de 2002.31 Entre esse ano e 2010 as exportações cresceram em média a 16,3% ao ano. Em 2010 elas aumentaram 32% em um único ano, parte dos quais por causa dos aumentos dos preços de exportação, como já mencionado. Uma visão geral das mudanças no padrão de especialização do comércio aparece no gráfico seguinte, onde é apresentada a estrutura da pauta de exportações dividida em produtos básicos, semi-manufaturados e manufaturados (além das chamadas ―transações especiais‖). Gráfico 9: Participações na Pauta de Exportações, 1990-2010 70% 60% Produtos básicos 50% 40% Produtos semimanufaturados 30% 20% Produtos manufaturados 10% 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0% Transações especiais Fonte: FUNCEX Três aspectos dominam o desempenho das exportações nesse gráfico, parte dos quais associados à emergência da China como país de destino das exportações. 1. O primeiro é a perda de predomínio dos bens manufaturados na pauta, processo mais nítido depois de 2004-2006 e consolidado em 2010. Os manufaturados detinham até bem recentemente a maior fatia das exportações: em 2000 eles chegaram a representar 59,1% do valor exportado, enquanto os semi-manufaturados (entre os quais se inclui a maior parte dos produtos siderúrgicos) atingiam 15,4%. Em 2010 essas proporções atingiram 39,4% e 14,4%, respectivamente. 31 A taxa de câmbio funcionou como uma âncora para os preços durante o período crítico de estabilização. Entre 1994 e 1999 (fase em que o câmbio real atravessou uma forte valorização) as exportações aumentaram apenas 10% como um todo, apesar da desvalorização cambial (com overshooting) de 1999. 24 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 2. O segundo é, em contrapartida, a rápida ascensão dos produtos básicos (essencialmente commodities), cuja participação aumenta rapidamente a partir de 2004-2006: de 29,2% do total exportado em 2006 para 44,6% em 2010, ano em que superam os manufaturados. 3. O terceiro aspecto é o desempenho relativamente uniforme em termos de participação dos semi-manufaturados. Sua participação na pauta flutua pouco no tempo, entre um mínimo em torno de 13,5% (em 2005, 2007, 2009)e um máximo de 19,7% em 1995. Por trás dessas mudanças se escondem significativas variações de preços e de quantidades exportadas. Esse aspecto aparece mais claramente nas Tabelas 10 e 11 seguintes, que mostram as taxas médias de crescimento dos preços e do quantum exportado por categorias em quinquênios selecionados. Tabela 10: Taxas Médias de Crescimento do Quantum de Exportações — Crescimento Médio por Quinquênios Selecionados por Categorias (% ao ano) Quantum 1990-1995 1995-2000 2000-2005 2005-2010 Total Básicos 2,1% 7,8% 16,1% 6,4% 8,0% Manufaturados 7,0% 7,8% 12,5% -3,4% 5,8% Semi-manufaturados 8,7% 3,4% 9,1% 0,9% 5,5% Fonte: FUNCEX, elaboração do autor. O quantum das exportações de todas as categorias cresceu mais rapidamente em 20002005 do que nos demais períodos devido ao câmbio desvalorizado que prevaleceu durante a maior parte do período32 e, secundariamente, ao forte crescimento da economia mundial na maior parte desse quinquênio. Já no quinquênio seguinte o crescimento do quantum exportado também foi expressivo, mas, agora, apesar do câmbio crescentemente valorizado (com exceção de curto período de setembro de 2008 a meados de 2009). A principal razão para esse desempenho favorável é a demanda da China e de alguns outros países asiáticos. De fato, apesar da recessão mundial desde 2007 em alguns países, período em que a atividade econômica nos países da OCDE pouco cresceu, o quantum de exportações de produtos básicos pode crescer a taxas elevadas em alguns anos: 12% em 2007, 3% em 2009 e 11% em 2010. Mesmo no ano crítico da recessão mundial, 2008, as exportações de produtos básicos não caíram. Esse aspecto do desempenho é também sugerido pelos resultados da Tabela 11, que apresenta o crescimento dos preços de exportação por categorias.O forte crescimento dos preços de básicos e, secundariamente, semi-manufaturados no último quinquênio é evidência da pujança da demanda da China e de outros emergentes asiáticos. Tabela 11: Taxas Médias de Crescimento dos Preços de Exportação — Crescimento Médio por Quinquênios Selecionados (% ao ano) 1990-95 1995-2000 2000-05 2005-10 Total Básicos 2,5% -4,2% 5,6% 13,7% 4,2% Manufaturados 1,4% -2,6% 2,2% 7,7% 2,1% Semi-manufaturados 3,4% -5,3% 4,0% 11,0% 3,1% 32 Após a desvalorização de 1999 a taxa de câmbio retomou lentamente uma trajetória de valorização nos anos seguintes. Ver mais adiante. 25 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Fonte: FUNCEX, elaboração do autor. O destaque dessa última tabela é o crescimento dos preços dos básicos e, secundariamente, dos semi-manufaturados. Mas mesmo no caso dos manufaturados o aumento dos preços em dólares foi significativo (em média, de quase 8% ao ano ente 2005 e 2010). 2.5 Mudanças na Participação das Exportações por Setores e pelo Conteúdo Tecnológico das Atividades Produtivas.33 A estrutura da produção brasileira segundo o conteúdo tecnológico mostra mudanças importantes nos últimos anos. O gráfico e a tabela abaixo permitem visualizar que o segmento de baixa tecnologia, o mais importante individualmente, perde participação com o tempo — as exceções sendo anos de crescimento lento ou de recessão (2009, por exemplo), quandoo grupo ganha peso devido à menor elasticidade renda dos produtos que o compõem. Os segmentos de média-alta e alta tecnologia são, em contrapartida, os que mais aumentaram de peso no total desde 1995. Isso é especialmente nítido para o de alta tecnologia, em que a participação passa de 3% para 10% entre 1995 e 2010. Já o grupamento de média-baixa tecnologia caracteriza-se por uma participação aproximadamente constante na produção total, em torno de 20%. Gráfico 10: Estrutura da Produção por Conteúdo Tecnológico,* 1995-2010 (%) 45% % Baixa Teconologia 40% 35% 30% % MédiaBaixa Teconologia 25% 20% % MédiaAlta Teconologia 15% 10% 5% 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 0% % Alta Teconologia Fonte: IBGE, elaboração do autor. * As atividades incluídas no gráfico representam, em média, 78% do total da Indústria de Transformação, representatividade que varia pouco no período: entre 76,5% (1998) e 78,7% ( 2004). Tabela 12: Estrutura da Produção por Conteúdo Tecnológico, 1995-2010 1995 1996 1997 1998 1999 2000 % Baixa Tecnologia % Média- Baixa Tecnologia 0,433 0,206 0,434 0,207 0,420 0,213 0,431 0,213 0,443 0,211 0,421 0,208 % Média- Alta Tecnologia 0,331 0,332 0,341 0,322 0,309 0,330 % Alta Tecnologia 0,031 0,027 0,025 0,033 0,037 0,042 33 Os gráficos seguintes não cobrem a totalidade da Indústria de Transformação devido à não existência de informações para algumas atividades durante o período. Estão excluídas as seguintes: produtos de fumo, mobiliário, farmacêutica, produtos de perfumaria, sabões e velas, material de limpeza, e indústrias diversas. 26 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 0,420 0,421 0,409 0,396 0,392 0,390 0,374 0,358 0,379 0,364 0,204 0,324 0,206 0,312 0,203 0,320 0,199 0,336 0,195 0,342 0,195 0,344 0,194 0,356 0,191 0,348 0,180 0,325 0,190 0,341 Fonte: IBGE, elaboração do autor. 0,052 0,062 0,068 0,069 0,071 0,072 0,077 0,104 0,115 0,104 As mudanças na estrutura das exportações por conteúdo tecnológico, mostradas no gráfico e na tabela seguintes, refletem, até certo ponto, as observadas na estrutura de produção: predomínio dos setores de baixa tecnologia, seguidos pelos de média-alta tecnologia. A perda dos setores de baixa-média tecnologia é também visível. Gráfico 11: Estrutura das Exportações por Conteúdo Tecnológico,* 1996-2010 (%) 45% % Baixa Tecnologia no Total 40% 35% 30% % BaixaMédia no Total 25% 20% % MédiaAlta no Total 15% 10% 5% % Alta no Total 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 0% Fonte: IBGE e FUNCEX, elaboração do autor. * Os setores incluídos no gráfico representam, em média,91% do das exportações totais da Indústria de Transformação. Essa representatividade varia um pouco no período: entre 92% em 1997 e 89% em 2009. Tabela 13: Estrutura das Exportações por Conteúdo Tecnológico, 1996-2010 Data % Baixa Tecnologia % Baixa-Média Tecnologia % Média-Alta Tecnologia % Alta Tecnologia 1996 0,368 0,308 0,230 0,094 1997 0,348 0,275 0,272 0,105 1998 0,356 0,263 0,268 0,113 1999 0,386 0,271 0,229 0,114 2000 0,350 0,260 0,262 0,127 2001 0,403 0,233 0,254 0,110 2002 0,407 0,248 0,248 0,097 2003 0,405 0,241 0,270 0,084 27 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 2004 0,384 0,214 0,286 0,116 2005 0,373 0,205 0,313 0,109 2006 0,363 0,215 0,312 0,110 2007 0,368 0,204 0,304 0,123 2008 0,366 0,199 0,306 0,129 2009 0,437 0,211 0,256 0,096 2010 0,416 0,201 0,282 Fonte: IBGE e FUNCEX, elaboração do autor 0,100 2.6 Origem e Destino do Comércio Exterior do Setor Industrial e Vinculação com a China A crescente participação da China no comércio exterior do Brasil é claramente evidenciada na tabela seguinte: partindo de 5,9% das importações brasileiras em 2004 (2,2% em 2000) a China avançou até 14,1% em 2010. No que toca às exportações as proporções são semelhantes: de 5,6% em 2004 (2,0% em 2000) para 15,2% em 2010, tornando a China o maior mercado para os produtos brasileiros. Como os saldos comerciais também aumentaram apreciavelmente (com exceção de 2007 e 2008) para valores de cerca de US$ 5,1 bilhões no último biênio, a participação da China na formação dos saldos comerciais do Brasil também se elevou rapidamente: de 5% em 2004 para 26% em 2010. Tabela 14: Comércio Exterior do Brasil e Participação da China (US$ bilhões e %) Total de exportações e importações - Brasil Importações Exportações Saldo (FOB) (FOB) Comercial Anos Total comércio entre Brasil e China Importações Exportações da China para a China Saldo Participação da China Importações Exportações China no Saldo 2004 62.835 96.475 33.641 3710 5442 1731 5,9% 5,6% 5,1% 2005 73.606 118.308 44.703 5355 6835 1480 7,3% 5,8% 3,3% 2006 91.351 137.807 46.457 7990 8402 412 8,7% 6,1% 0,9% 2007 120.617 160.649 40.032 12621 10749 -1872 10,5% 6,7% -4,7% 2008 173.107 197.942 24.836 20044 16523 -3522 11,6% 8,3% -14,2% 2009 127.705 152.995 25.290 15911 21004 5093 12,5% 13,7% 20,1% 2010 181.649 201.915 20.267 25593 30786 5192 14,1% 15,2% 25,6% 19,4% 13,1% 38,0% 33,5% Tx cresc. Fonte: SECEX/MDIC. No que diz respeito à Metal-Mecânica (MM), os totais estão a seguir. Mais adiante serão destacados os resultados do comércio desse grupo de setores com a China segundo a classificação NCM.Note-se que a MM respondia por 30% das exportações brasileiras em 2000, mas essa proporção chegou a apenas 18% em 2010. Quanto às importações, as percentagens se mantiveram aproximadamente as mesmas: 46% em 2000 e 45% em 2010. Observe-se da tabela seguinte a rápida deterioração do saldo da MM, fruto, principalmente, do menor aumento das exportações face a importações que mais do que quadruplicaram entre 2003 (ano a partir do qual a aumentou a velocidade de crescimento) e 2010. 28 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela 15: Exportações e Importações e Saldos Comerciais da Metal-Mecânica 2000-2010 (US$ milhões correntes) Período 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Exp MM Imp MM Total Total dos dos setores setores 16541 25.860 16756 27.165 15931 21.264 18276 20.486 25958 25.752 32620 31.728 35714 38.957 40057 50.581 45285 71.087 29152 58.135 36526 81.440 Fonte: FUNCEX, elaboração do autor. Saldo MM -9320 -10409 -5333 -2209 206 892 -3243 -10524 -25802 -28983 -44915 Antes de detalhar o papel da China nas mudanças durante a última década sob o ângulo dos setores da CNAE as tabelas seguintes apresentam as importações e exportações da MM a partir da classificação da NCM tendo como origem e destino a China.34 Tabela16:Importações Metal-Mecânicas da China por Capítulos da NCM,20042010(US$ milhões e %) Cap. NCM 82 83 84 85 86 87 88 89 90 Importações Metal Mecânicas da China em US$ milhões Ferram, Artef Cut. de Metais Comuns Obras diversas metais comuns Reatnucl,caldeiras,maq mecânicos Maqapar.mateletrpartes,etc Veic e mat vias ferreas ,etc. Veicautomoveis,tratores,etc.partes Aeronaves e suas partes Embarcacoes e estr flutuantes Instraparoptica, fotografia Total Metal Mecânica Total das Importações da China Participação da Metal-Mecânica 2008 118 112 3496 6237 8 533 0 0,8 1088 2005 25 26 705 2126 2 85 0 0,4 363 2006 45 42 1261 3122 4 132 0 0,8 432 2007 82 61 2321 4300 7 238 0 0,4 689 2144 3332 5039 7698 11593 9136 14082 24% 3710 5355 7990 12621 20044 15911 25593 23% 58% 62% 63% 61% 58% 2009 90 95 2768 5099 8 377 0 0,7 698 Tx cresc. 2010 md a.a. (%) 158 147 21% 34% 6577 21% 6098 2 -24% 651 31% 0 -0 5% 449 20% 2004 16 19 408 1386 36 47 0 0,3 232 57% 55% Fonte: MDIC/ SECEX. No que toca às importações, chama atenção a magnitude da taxa de crescimento de quase todos os capítulos. Mas a concentração em valor nos capítulos 84 e 85 é bastante nítida. O crescimento das importações de veículos automotores, tratores, etc., peças e acessórios (cap.87) também é impressionante. 34 Não se incluem nesta apreciação os Capítulos 72 e 73 (ferro Fundido e Aço; Obras de Ferro Fundido ou Aço) porque nos interessa examinar particularmente a MM a jusante da siderurgia. 29 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Quanto às exportações (Tabela 17), destaca-se apenas, pelo crescimento, o capítulo 88 (aeronaves).35 O desequilíbrio entre importações da MM a jusante da siderurgia (US$ 14,1 bilhões) e das exportações respectivas (US$ 0,75bilhões) é notável.Um dos principais determinantes do desempenho diferenciado de exportações e importações são a taxa de câmbio bastante desvalorizada por parte da China e uma taxa muito valorizada no caso do Brasil. Tabela 17: Exportações Metal-Mecânicaspara a China, 2004-2010 (US$ milhões e %) Cap NCM Exportações para a China 82 83 84 85 86 87 88 89 90 Ferramentas, cutelaria,metais comuns Obras div. metais comuns Reatoresnuclcaldeiras,maq,mecanicos Máqmateletrpartes,etc Veiculosmat vias ferreas Veicautom, tratores partes/acess Aeronaves e outrosaereos, partes Embarcacões Instraparotica,fotografia,etc. Total Exp Metal-Mecânica (MM) Total das Exportações para a China Part % da MM nas Exp. ParaChina 2004 1 5 193 59 0 113 35 13 10 429 2005 14 3 259 72 0 55 16 0 12 431 2006 3 3 277 102 0 65 7 0 12 469 2007 5 2 235 60 0 45 70 0 18 435 2008 4 3 293 88 0 25 250 0 16 679 2009 3 4 148 116 0 16 349 0 26 662 2010 3 6 238 79 1 25 376 0 22 750 5442 6835 8402 10749 8% 6% 6% 4% Fonte: MDIC/ SECEX. 16523 4% 21004 3% 30786 2% Tx cresc. md a.a. (%) 3% 4% 5% --22% 49% -100% 14% 10% 33% -18% Como já assinalado, e comprovado pelo lado do comércio da MM, as vantagens naturais existentes são claras no caso das commodities agropecuárias e minerais. Neste caso, o bom desempenho de global players como a Cia. Vale do Rio Doce tem sido amplamente reconhecido. Mas no caso das manufaturas isso não necessariamente se aplica. Na verdade, no que se refere a esse setor o Brasil tem perdido mercado em termos mundiais e, especialmente, na América Latina. A principal — embora não única — razão para isso é a taxa de câmbio crescentemente valorizada, como repetidas vezes mencionado ao longo deste texto. Isso é confirmado pelo exame da evolução da taxa de câmbio do Brasil em relação ao dólar dos EUA, que indica de forma veemente a valorização dos últimos anos, como se depreende da Tabela seguinte.36 De fato, levando-se em conta o período desde 2000 — quando o overshooting cambial de 1999 já havia se dissipado, e antes do overshooting de 2002 (efeito devido à eleição do Pres. Lula) — tem-se uma defasagem de 47%. Em relação a 2005 a defasagem é de 34%. Em vista desses resultados não é difícil concluir que o desempenho das exportações de manufaturados — e da cadeia metal-mecânica, em particular — não poderia ter sido brilhante. E as políticas públicas não têm sido especificamente apropriadas para apoiar a atividade de exportação de manufaturas, nem de proteger adequadamente a atividade produtiva doméstica. As exceções, como sugerido na seção inicial, são as linhas de financiamento à exportação. 35 Os resultados com essa classificação da NCM diferem ligeiramente dos resultados quando se usa a CNAE. Foram utilizados como deflatores nacionais os respectivos índices de preços por atacado de produtos industriais. 36 30 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela18: Taxa de Câmbio em Relação aos EUA, 1995-2010 (Janeiro 1999=100) Anos 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Defasagem rel. 2000 Defasagem rel. 2005 Estados Unidos 76,7 79,8 79,0 79,5 108,3 97,2 111,9 117,0 101,4 92,8 77,8 72,4 64,5 58,1 57,8 51,7 -47% -34% Fonte: FGV, Centro de Estudos do Setor Externo. Apesar da influência fortemente negativa representada pelo câmbio crescentemente valorizado em relação às moedas de todos os principais parceiros comerciais, o quantum das exportações totais aumentou 9% em 2010 (após um ano de forte queda, quando diminuíram quase 11%). O que explica esse desempenho é a importância crescente do mercado latinoamericano, face à fraca demanda dos países da OECD nesses últimos anos. Mas mesmo nos mercados da América Latina as exportações brasileiras vêm sendo substituídas pelas chinesas. 3. Desempenho Produtivo da Cadeia de Valor da Indústria do Aço 3.1 Desempenho da Cadeia de Valor da Indústria do Aço — Nível de Atividade e Emprego e sua Composição A produção da Metal-Mecânica evoluiu a taxas muito favoráveis no Brasil nas duas últimas décadas, especialmente depois de 1999, como evidenciado no gráfico seguinte.37 A taxa média de crescimento do grupo como um todo chegou a 6,2% ao ano nesse período de onze anos, contra 3% para a indústria como um todo. Excluindo-se a Metalurgia Básica a taxa foi ainda maior: de 7,0% ao ano. Obviamente, o crescimento não foi uniforme para todos os setores, tendo sido liderado pelos ―outros equipamentos de transporte‖ (aviões, embarcações, etc.) seguidos das ―máquinas de escritório e informática‖. Em terceiro lugar encontra-se a automobilística (e auto-peças), com a indústria de máquinas e equipamentos em quarto lugar. A rigor, exceto pelas indústrias de material eletrônico e de comunicações (e, em menor medida, pelos ―outros produtos de metal‖), todos os setores do grupo tiveram bom desempenho na última década. 37 O Anexo apresenta os índices para os setores que compõem a metal-mecânica. 31 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Gráfico 12: Produção da Metal-Mecânica e Total da Indústria, 1991-2010 (1991=100) 250 230 Metal Mecânica 210 190 Indústria de Transformação 170 Metal Mecânica ex-Metalurgia Básica 150 130 110 90 70 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 50 Fonte; IBGE, elaboração do autor. Ainda quanto ao desempenho da cadeia de valor metal-mecânica brasileira, a mudança estrutural entre 1996 e 2007 pode ser avaliada através da tabela seguinte, 38 onde se destacam os seguintes aspectos. Tabela 19: Participação da Metal-Mecânica* no Emprego e no Valor Adicionado da Indústria de Transformação e Produtividade Relativa**, 1996 e 2007 (%) Emprego Valor Adicionado 1996 2007 1996 2007 Fab produtos metal –excmáq&equip 5,50% 6,30% 3,90% Fabricação de máquinas e equipamentos 6,50% 7,10% 7,00% Fabmáq escritório, equip informática 0,30% 0,70% Fab máquinas, aparelhos e mat elétricos 2,90% Fabmat eletrônico, equip comunicações Equipmédico-hospital ópticos automind Produtividade Relativa 1996 2007 3,70% 71% 59% 6,10% 107% 86% 0,50% 0,70% 183% 99% 3,00% 2,70% 2,50% 92% 84% 1,70% 1,20% 3,60% 1,90% 216% 161% 1,00% 1,10% 0,90% 0,90% 88% 82% Fabrveícautom, reboques e carrocerias 5,80% 5,70% 8,30% 9,00% 144% 156% Fab outros equip transporte 0,80% 1,60% 0,90% 2,10% 110% 135% Total 24,50% 26,70% 27,80% 26,90% 113% 101% Fonte: Pesquisa Industrial Anual, 1996 e 2007. * Exclusive Siderurgia e Não Ferrosos (Metalurgia Básica); ** Total da Indústria = 100 38 Registros abrangentes e comparáveis da atividade industrial no nível de detalhe requerido por essa análise só estão disponíveis para os anos a partir de 1996. A PIA – Pesquisa Industrial Anual de 2008 utilizou uma classificação CNAE (dita 2.0) diferente da até então utilizada (ver adiante). Para os anos posteriores a 2008 as informações não estão disponíveis no mesmo formato e detalhe. O Anexo detalha informações no interior de cada atividade. 32 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 1. A cadeia metal-mecânica, considerada como um todo aumentou sua participação entre 1996 e 2007 no emprego industrial (de 24,5% para 26,7%), mas não no valor adicionado (de 27,8%para 26,9%). Como resultado, não foi capaz de manter os níveis de produtividade em relação à indústria: a produtividade em relação ao totalda indústria caiu de 113% para 101%. 2. A atividade com desempenho mais claramente negativo quanto ao VA foi a de material eletrônico e de equipamentos de comunicações — onde a causa principal foi, possivelmente, o avanço das importações. 3. A produtividade relativa aumentou na automobilística (144% para 156%) e na fabricação de outros equipamentos de transporte (onde se destacam a produção de aviões e embarcações: de 110% para 135% do total). 4. Quedas expressivas (até 2007) na produtividade só forem registradas na Fabricação de Máquinas de Escritório e Equipamentos de Informática, apesar do aumento no VA, e em equipamento eletrônico e de comunicações. Para o biênio 2007-2008 a informação está em seguida. Como seria de se esperar, há poucas mudanças estruturais significativas: 1. A participação da MM no emprego manteve-se praticamente inalterada, enquanto aumentou de 26,1% para 27,0% o peso no VA industrial. Logo, a produtividade relativa ao total da indústria também aumentou: de 105% do total industrial para 109%. 2. O principal aumento setorial ocorreu na automobilística. Tabela 20:Participação da Metal-Mecânica no Emprego e no Valor Adicionado da Indústria de Transformação e Produtividades Relativas*, 2007 e 2008 (%) Fabrprod metal, excmáq&equip Fabequipinform, prod eletrôn.& ópticos Fabmáqaparmat elétricos Fabricação de máquinas e equipamentos Fabveícautom, reboques, carrocerias Fab outros equiptransp, exc. veícautom Total Emprego 2007 2 008 7,00% 7,00% 2,30% 2,20% 2,90% 2,90% 5,10% 5,20% 6,40% 6,30% 1,20% 1,20% 24,90% 24,80% VA 2007 2 008 4,10% 4,20% 2,90% 2,80% 2,70% 2,80% 4,70% 4,90% 9,80% 10,50% 1,90% 1,80% 26,10% 27,00% Produtividade Relat. 2007 2 008 58% 60% 128% 126% 95% 95% 92% 94% 153% 166% 154% 149% 105% 109% Fonte: Pesquisa Industrial Anual - Empresa, 2007 e 2008. * Total da Indústria = 100 Informações sobre o desempenho da MM (a jusante da metalurgia básica) na década de 2000 são mostradas na tabela seguinte. O registro da tabela deixa claro, uma vez mais, que o desempenho da MM foi superior ao da indústria e da economia com um todo no período 2000-2008. De fato, partindo de proporções da ordem de 11% para a relação com o emprego industrial em 2000, a metal mecânica aumentou sua participação para valores próximos a 13% em 2008. No que se refere à relação com o emprego total na economia as taxas vão de 2,1% para 2,7%. Destaque-se que o emprego na economia como um todo aumento cerca de 22% entre 2000 e 2008.39 39 Deve-se deixar registrado que, como dito no texto, os dados das Contas Nacionais, nos quais se baseiam a tabela e as conclusões acima, referem-se ao total das ocupações. Logo, incluem empregos formais e informais. 33 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela 21: Evolução do Emprego — Total da Economia, Indústria de Transformação e Metal Mecânica* — 2000-2008 (em 1000 pessoas) Atividades: Total, Indústria e MM 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Total 78 972 79 544 82 629 84 035 88 252 90 906 93 247 94 714 96 233 Indústria de Transformação 15 402 15 303 15 850 16 002 17 067 18 195 18 227 18 996 20 131 Metal Mecânica 1 691 1 681 1 754 1 801 2 005 2 171 2 225 2 406 2 570 586 585 607 599 650 749 718 769 821 347 359 374 383 425 449 473 518 570 Eletrodomésticos 44 40 35 41 49 48 49 54 53 Máq. escritório e equipamentos de informática 20 18 17 19 24 29 41 47 55 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 160 153 159 160 179 190 207 212 257 88 80 81 79 99 101 94 98 89 Ap. médico-hospitalar, medida e óptico 97 94 102 102 104 115 117 127 137 Automóveis, camionetas e utilitários 72 71 71 67 72 74 78 86 91 Caminhões e ônibus 19 19 18 19 25 25 21 23 25 Peças e acessórios para veículos autom. 203 206 220 252 283 289 310 349 346 Outros equipamentos de transporte 54 55 71 80 96 102 117 122 127 11,0% 2,1% 11,0% 2,1% 11,1% 2,1% 11,3% 2,1% 11,8% 2,3% 11,9% 2,4% 12,2% 2,4% 12,7% 2,5% 12,8% 2,7% Produtos de metal - exclusive máq e equip Máq e equipamentos, incl. manut. e reparos Mat eletrônico e equipde comunicações Metal Mecânica/ Indústria Metal Mecânica/ Total da Economia Fonte: Contas Nacionais. * Exclui siderurgia e não ferrosos. 3.2 APenetração das Importações em Relação ao Consumo Aparente O aumento das importações no consumo aparente doméstico brasileiro não tem sido uniforme por setores, como seria de se esperar, devido às vantagens comparativas de cada setor individualmente. Os dados desta seção, calculados a partir de valores constantes de 2005, diferem dos dados divulgados regularmente pela FUNCEX, mas unicamente por um fator de escala. Aqui optamos por partir dos valores setoriais de produção, importações e exportações da matriz de insumo-produto do IBGE, aos quais aplicamos índices de quantum da produção (IBGE), das exportações e das importações (índices de quantum da FUNCEX). Calculamos também outro indicador, que retira do valor da produção o auto-consumo de cada setor (na suposição, algo temerária, de que esta parcela da produção não pode ser importada ou exportada). Os resultados, evidentemente, apontam para fatias de importações no consumo aparente mais altas do que no caso do indicador tradicional (M/[M-X+P]). Mas as direções e intensidade das mudanças é a mesma no caso dos dois indicadores. O período é 1996-2010. Para efeito de análise dividimos a produção de bens em três grandes grupos na análise seguinte. O primeiro é constituído pelos setores em relação aos quais o Brasil detém tradicionalmente vantagens comparativas e onde, portanto, os coeficientes de importações em relação ao consumo aparente são relativamente pequenos e aumentaram pouco – com exceção da indústria Têxtil, um caso especial e crítico pelo forte avanço dos importados no mercado doméstico. O segundo grupo é o dos setores nos quais a fatia das importações no consumo interno são tradicionalmente altas devido à existência de vantagens comparativas, mas limitadas a um sub-grupo de atividades. Ainda assim, observam-se no período analisado aumentos expressivos em todas as atividades nele incluídas. O terceiro grupo é o da cadeia metal-mecânica. Começando pelo 1º grupo, a tabela seguinte deixa claro que na maioria dos setores a penetração das importações é pequena (o que não significa que não possa estar afetando severamente alguns produtores individuais). Em alguns casos, inclusive, tem-se diminuição 34 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras das importações ao longo do tempo: agropecuária e produtos alimentares. Como mencionado, o avanço dos importados só se revela preocupante no caso da indústria Têxtil, onde a penetração dobrou desde 2006 e já tinge 14% do mercado. E mesmo na indústria de confecções têxteis (vestuário) a situação não parece calamitosa – apesar do coeficiente de penetração ter triplicado entre 2004 e 2010, pois ainda é da ordem de 3% do consumo interno. Tabela 22: Participação das Importações no Consumo Aparente, 1996-2010, 1º grupo de setores (% baseadas em valores a preços de 2005) Setor / Período Produtos alimentícios Agropecuária e bebidas Confecção artigos vestuário e acessórios Prep couros, artefatos e calçados Produtos de madeira Celulose, papel e prod papel Prod min nãometálicos Móveis e indústrias diversas Têxtil 1996 3,8% 2,3% 1,3% 2,0% 1,3% 6,9% 2,4% 2,7% 6,5% 1997 3,7% 2,4% 1,2% 2,2% 1,7% 7,8% 2,9% 3,2% 6,9% 1998 4,5% 2,5% 0,9% 2,0% 1,9% 8,2% 2,8% 3,2% 5,8% 1999 3,8% 1,9% 0,7% 1,6% 1,2% 4,9% 2,2% 2,2% 4,9% 2000 4,0% 1,9% 0,6% 2,0% 1,4% 4,9% 2,6% 2,2% 5,5% 2001 3,4% 1,6% 0,7% 2,1% 1,3% 4,1% 2,7% 2,1% 4,1% 2002 3,1% 1,7% 0,5% 1,6% 1,1% 3,5% 2,5% 1,8% 3,6% 2003 3,1% 1,5% 0,6% 2,0% 1,0% 2,9% 2,8% 1,9% 4,1% 2004 2,1% 1,6% 0,9% 2,6% 1,2% 3,3% 3,4% 2,3% 4,6% 2005 2,3% 1,6% 1,3% 3,1% 1,3% 3,2% 3,7% 2,5% 5,2% 2006 2,5% 1,8% 1,7% 3,6% 1,7% 3,9% 4,2% 2,8% 6,9% 2007 2,6% 1,9% 2,0% 4,6% 2,1% 4,4% 4,9% 3,4% 8,9% 2008 2,4% 2,0% 2,4% 5,8% 2,6% 4,8% 5,5% 4,1% 10,6% 2009 2,5% 2,2% 2,5% 5,2% 2,5% 4,3% 4,6% 3,6% 10,5% 2010 2,3% 2,5% 3,1% 5,7% 3,1% 5,4% 7,1% 4,7% 14,0% Fonte: IBGE e FUNCEX, elaboração do autor. De qualquer forma, é importante destacar que mesmo nesse grupo de setores, em relação ao qual o Brasil detém conhecidas vantagens competitivas há muito tempo, os coeficientes de penetração das importações aumentaram bastante nos últimos anos em alguns segmentos. Esse é o caso, por exemplo, do setor de celulose, papel e produtos de papel. Tabela 23: Participação das Importações no Consumo Aparente, 1996-2010, 2º grupo de setores (% baseadas em valores a preços de 2005) Setor / Período Extr mineral Coque, refino de petróleo, combustíveis Químicos diversos Farmacêutica e perfumaria Borracha, plástico Ind.Transformação 1996 31,8% 5,5% 8,6% 7,7% 3,8% 6,5% 1997 30,6% 5,4% 10,0% 9,0% 4,7% 7,7% 1998 29,9% 5,6% 10,8% 9,3% 5,3% 8,2% 1999 28,9% 5,6% 10,1% 9,6% 4,4% 7,1% 2000 27,4% 6,2% 11,6% 10,9% 5,0% 7,7% 2001 28,2% 5,9% 12,7% 12,6% 5,3% 7,9% 2002 22,5% 5,7% 13,5% 11,6% 5,4% 7,0% 2003 21,9% 5,1% 15,8% 12,0% 5,8% 7,1% 2004 25,5% 5,2% 18,4% 12,3% 6,4% 7,8% 2005 20,3% 5,2% 15,4% 11,4% 7,6% 8,1% 2006 22,2% 6,0% 15,9% 12,3% 7,8% 9,2% 2007 20,4% 6,6% 19,3% 13,4% 8,6% 10,5% 2008 27,8% 7,5% 19,3% 14,0% 10,2% 11,9% 2009 18,8% 6,6% 13,6% 13,4% 9,2% 10,5% 35 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 2010 21,0% 9,7% 16,7% 16,3% 12,0% 13,1% Fonte: IBGE e FUNCEX, elaboração do autor. Os coeficientes de penetração deste grupo tiveram um comportamento menos nítido. Em vários deles o Brasil tem dependência das importações (Extrativa Mineral, Produtos Químicos Diversos, Farmacêutica, por exemplo), mas os coeficientes relativamente elevados do começo do período não aumentaram muito. Incluímos neste grupo o total da Indústria de Transformação pela magnitude dos coeficientes. Nesse caso tem-se um aumento contínuo do coeficiente de penetração das importações, brevemente interrompido durante o ano de 2009, de recessão econômica.Os casos realmente mais preocupantes são os da Metal-Mecânica, como se visualiza na tabela seguinte. Tabela 24: Participação das Importações no Consumo Aparente, 1996-2010, 3º grupo de setores – Metal-Mecânica (% baseadas em valores a preços de 2005) Veículos automotores Outros equip. transporte 10,1% 8,9% 24,4% 13,3% 12,5% 31,7% 11,9% 16,3% 16,9% 26,4% 18,7% 11,9% 19,1% 9,6% 23,0% 3,4% 16,3% 12,4% 20,6% 9,1% 22,9% 9,0% 3,9% 18,2% 14,3% 19,5% 9,3% 17,2% 7,4% 3,5% 16,4% 11,7% 20,3% 16,1% 5,8% 12,4% 2003 7,2% 3,4% 14,6% 10,0% 17,5% 17,9% 4,8% 11,0% 2004 7,3% 3,9% 14,5% 9,7% 16,4% 21,4% 4,0% 13,9% 2005 8,7% 4,6% 17,1% 10,5% 18,0% 23,1% 5,3% 14,8% 2006 10,1% 5,5% 18,6% 11,6% 16,2% 28,3% 8,5% 16,1% 2007 10,7% 6,8% 20,3% 11,2% 16,7% 30,0% 10,2% 17,7% 2008 12,5% 7,7% 23,9% 13,2% 20,8% 34,9% 13,8% 15,3% 2009 12,3% 7,7% 22,8% 14,3% 19,6% 34,0% 15,5% 10,8% 2010 16,8% 9,7% 26,4% 18,3% 21,6% 40,5% 18,3% 13,1% Setor / Período Metalurgia básica Produtos de metal Máquinas e equipamentos Máq,apar e matelétr 1996 6,4% 3,9% 17,7% 10,2% 1997 8,5% 3,8% 22,0% 11,7% 1998 9,9% 4,3% 22,0% 1999 8,2% 3,3% 2000 8,5% 2001 2002 Máq para escritório e informática Material eletrônico e de comunic. Fonte: IBGE e FUNCEX, elaboração do autor. Nesse grupo estão os casos mais críticos de aumento do coeficiente de importações. De fato, com a exceção da indústria de produtos de metal e de outros equipamentos de transporte (aviões e embarcações, principalmente), todos os demais experimentaram forte ameaça sob a forma de crescimento das importações no consumo, a ponto de as compras externas representarem pelo menos 10% da demanda interna em praticamente todos os casos. A situação é especialmente grave nas indústrias de material eletrônico e de comunicações (41% do consumo suprido por importações em 2010, quadruplicando a fatia de mercado de 1996!), máquinas e equipamentos (26%,mas onde o aumento foi menor do que no caso anterior) e máquinas para escritório e equipamento de informática (22%; proporção elevada, mas aproximadamente constante). O desempenho das indústrias de material eletrônico e de comunicações foi o mais severamente atingido. É possível visualizar também que o avanço dos importados ganhou força a partir de 2004-05 — não coincidentemente, momento em que a China aumenta suas importações para o Brasil e a taxa de câmbio aprofunda a tendência à valorização, como vimos acima. Isso, aliás, caracteriza também claramente o total da indústria, como mostrado na Tabela 23. 36 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Mas além da penetração direta, importa também analisar o que vem ocorrendo com as importações e exportações indiretas de produtos siderúrgicos, que é o tema da sub-seção seguinte. 3.3 Descrição da Cadeia de Valor da MM a Jusante da Indústria Siderúrgica: Tendências do Comércio Indireto de Produtos Siderúrgicos A deterioração dos saldos comerciais indiretos de aço depois de 2005 é claramente evidenciada na tabela seguinte. Depois de 2008, aliás, a balança indireta é deficitária. Observe-se que parte da perda tem origem nas exportações indiretas — que, depois de permanecerem praticamente estagnadas em 2004-08, diminuíram substancialmente em 2009 para recuperar apenas parte da queda em 2010. Mas a responsabilidade principal recai sobre as crescentes importações indiretas de aço, que aumentam em termos físicos à elevadíssima taxa média de pouco mais de 23% ao ano entre 2004 e 2010. Tabela 25: Brasil: Exportações e Importações Indiretas de Aço (Em 1000 ton. aço contido) Exportações Importações Saldo 2000 1687 1106 581 2001 1637 1275 362 2002 1719 1101 618 2003 2282 1039 1243 2004 3282 1184 2098 2005 3439 1409 2030 2006 3382 1705 1677 2007 3583 2348 1235 2008 3433 3158 275 2009 2096 2648 -552 2010 2673 4201 Fonte: Instituto Aço Brasil. -1528 Na tentativa de melhor identificar os setores mais diretamente responsáveis pelo desempenho recente a tabela a seguir apresenta uma discriminação dos totais anteriores por principais segmentos em 2009 e 2010. Os resultados indicam que, do ponto de vista quantitativo, as máquinas e equipamentos (isto é, excluindo-se os eletrodomésticos, linha branca, do primeiro grupo) foram o segmento mais prejudicado. Em segundo lugar situa-se a automobilística, inclusive auto-peças, e em terceiro o segmento de outros artigos. Tabela 26: Exportações, Importações e Saldos do Comércio Indireto de Aço, 2009-2010 (em 1000 toneladas e % de crescimento) Exportações e Importações Indiretas de Aço, 2009 e 2010 (em 1000 ton. aço contido) Discriminação Exportações Importações Taxas de crescimento 2010-2009 Saldo Exportações Importações Saldo 2009 2010 2009 2010 2009 2010 2010/2009 2010/2010 2010/2009 Máquinas e equipamentos 786,4 994,1 1083,5 1756,1 -297,1 -762 26,4% 62,1% 156% -- Eletrodomésticos (linha branca) 31,3 32,2 48,9 70,4 -17,6 -38,2 2,9% 44,0% 117% -- Outros 755 962 1034,6 1685,7 -279,6 -723,7 27,4% 62,9% 159% Autos, veículos comerciais, auto-peças 897,1 1229,5 1082 1644,6 -184,9 -415,1 37,1% 52,0% 124% -- Autos e comerciais 466,7 677 655 965 -188,3 -288 45,1% 47,3% 53% 37 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras -- Autopeças 430,1 552,5 427 679,6 3,1 -127,1 28,5% 59,2% -4200% Estruturas, móveis, embalagens 100,5 76,2 81,3 121,4 19,2 -45,2 -24,2% 49,3% -335% Outros 313 372,9 400,9 679,2 -87,9 -306,3 19,1% 69,4% 248% -- Aviões 0,5 0,5 0,2 0,4 0,3 0,1 0,0% 100,0% -67% -- Materiais aeronáuticos 0,8 2,5 2,5 4,2 -1,7 -1,7 212,5% 68,0% 0% -- Art metais baseados em arames 81,3 108,2 182,4 301 -101,1 -192,8 33,1% 65,0% 91% -- Outros artigos 230,4 261,7 215,8 373,6 14,6 13,6% 73,1% -866% Soma/ total 2097 2672,7 2647,7 4201,3 -550,7 -111,9 1528,6 27,5% 58,7% 178% Fonte: Instituto Aço Brasil. Uma consulta às tabelas mais desagregadas dos resultados do Instituto Aço Brasil permite refinar a análise quanto à identificação das principais linhas de produtos afetadas.Do ponto de vista dos valores absolutos das importações indiretas de aço registradas em 2010 tem-se a seguinte listagem dos itens com pelo menos 400 mil toneladas de importações indiretas (taxas de crescimento da tonelagem em relação a 2009 entre parênteses): 1. 8703 Automóveis de passageiros: 671 mil toneladas (45%) 2. Item 8708 (exceto 8701.10, .21 e .29): 481mil toneladas (60%) 3. Equipamento Mecânico para manuseio e Máquinaspara Construção Civil: 464 mil toneladas (75%) 4. Máquinas e Equipamentos: 447 mil toneladas (77%) Essas são, portanto, as classes de produtos mais diretamente afetadas pelo aumento das importações indiretas. O destaque é a indústria mecânica (máquinas e equipamentos). 3.4 Mudanças no Comércio Internacional —Exportações, Importações e Saldos Comerciais;Volumes Físicos e Preços Examinando-se pelo ponto de vista dos totais, as exportações da Metal Mecânica brasileira a jusante da cadeia siderúrgica (metalurgia básica) apresentaram um desempenho bastante razoável do começo da década de 2000 até a crise de 2008. Com efeito, partindo de cifras da ordem de US$ 16,6 bilhões em 2000-2001, as exportações desse grupo de indústrias chegaram a atingir US$ 42,3 bilhões em 2008. As principais indústrias responsáveis por esse desempenho foram a Mecânica, as Máquinas Elétricas, a Automobilística e os Outros Equipamentos de Transporte (Tabela 27). A partir de meados da década, no entanto, o desempenho da Metal Mecânica piorou substancialmente, em especial depois de 2008: as exportações desse segmento de indústrias caiu de US$ 45,3 bilhões em 2008 para 36,5 bilhões em 2010. Como resultado desses desenvolvimentos, a Metal Mecânica, que respondia por 30% das exportações brasileiras em 2000, viu essa proporção cair para 18% dez anos depois. 38 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela 27: Exportações da MM a jusante da Metalurgia Básica, 2000-2010 (US$ milhões) Setores da Metal-Mecânica Total Produtos Máquinas e Máquinas para de metal equip escritório e de Anos Máquinas, aparelhos e informática materiais Material eletrônico e de Equipamentos Veículos Outros Total médicohospitalares, de automotores equipamentos Dos automação Setores industrial reboques e de transporte da MM % MM no total Export. 55.119 58.287 60.439 73.203 96.678 118.529 137.808 160.649 197.942 152.995 elétricos comunicações e de precisão carrocerias 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 611 615 547 718 1.014 1.268 1.358 1.702 2.178 1.679 2.872 2.878 3.115 4.084 5.948 7.170 7.869 9.143 10.317 6.682 490 397 237 273 335 481 501 388 354 306 974 1.059 1.008 1.192 1.498 2.017 2.713 3.279 3.851 3.047 1.862 2.034 2.016 1.882 1.731 3.290 3.519 2.822 2.835 2.055 363 384 352 342 436 540 671 773 859 722 5.466 5.457 5.590 7.265 9.473 12.596 13.841 14.317 15.463 9.414 3.902 3.934 3.067 2.521 5.522 5.258 5.242 7.633 9.428 5.246 16.540 16.758 15.932 18.277 25.957 32.620 35.714 40.057 45.285 29.151 30% 29% 26% 25% 27% 28% 26% 25% 23% 19% 2010 201.915 1.757 8.587 346 3.201 1.754 856 13.856 6.168 36.525 18% Fonte: FUNCEX. Movimento bastante diferente caracteriza as importações (ver tabela aseguir):as importações da Metal Mecânica aumentaram quase que continuamente ao longo da década de 2000, passando de cifras da ordem de US$ 26 bilhões em 2000-2001 para US$ 81 bilhões em 2010 — ou seja, quasetriplicaram em valor corrente em uma década. Como as importações totais também aumentaram apreciavelmente nesse período, tem-se o resultado de que a participação das importações da Metal Mecânica no total importado pelo Brasil manteve-se em proporções aproximadamente constantes em torno de 45% quando medidas a preços correntes — registrando-se, no entanto, uma forte queda na participação entre 2001 e 2004, de 46% para 41%, e aumento depois deste ano até chegar a 45-46% em 2009-2010. Deve-se destacar nesse aumento o papel de um conjunto de indústrias tais como: Máquinas e Equipamentos (cerca de 24% do total das importações da Metal Mecânica em 2010),Veículos Automotores (cerca de 23% em 2010) e de Material Eletrônico e de Comunicações (cerca de 17% do total das importações da Metal Mecânica em 2010; este, como veremos é um setor industrial cujo desempenho foi criticamente afetado pelas crescentes importações e, muito particularmente, pelas importações da China). 39 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela 28: Importações da Metal-Mecânica a jusante da Metalurgia Básica, 2000-2010 (US$ milhões) Total Produtos Máq e Imp de metal equip Anos Brasil 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 55.851 55.602 47.243 48.326 62.836 73.600 91.343 120.621 173.197 127.647 181.649 Máquinas para Máquinas, escritório e de aparelhos e informática materiais Material 5.759 6.406 5.567 5.264 6.042 7.563 8.845 12.197 17.676 14.321 20.237 1.976 1.843 1.424 1.337 1.585 2.059 2.756 3.391 4.188 3.615 4.914 comunic precisão Carr eletrônico elétricos 756 857 805 802 1.107 1.249 1.568 2.284 2.954 2.551 3.460 e de Equip médicohospit autom industrial 2.857 3.917 3.173 2.699 2.713 2.954 3.577 4.458 6.115 5.314 7.694 5.925 5.242 3.432 3.792 5.652 7.127 8.801 9.585 12.821 9.289 13.433 1.946 2.337 1.987 1.900 2.476 2.961 3.590 4.876 6.440 5.264 6.579 Veíc Outros Total MM Autom Equip dos sobre Reboques transp setores total MM Brasil 25.861 27.166 21.266 20.485 25.752 31.728 38.956 50.581 71.087 58.134 81.440 46% 49% 45% 42% 41% 43% 43% 42% 41% 46% 45% 4.478 4.435 3.300 3.209 4.036 5.244 6.568 9.567 14.239 12.424 18.772 2.164 2.129 1.578 1.482 2.141 2.571 3.251 4.223 6.654 5.356 6.351 Fonte: FUNCEX. Parte apreciável do desempenho das exportações e importações da Metal Mecânica na década de 2000 deveu-se à participação da China. Nesse sentido, analisando-se inicialmente as exportações desse grupo de indústrias para a China, os resultados da Tabela 29 permitem concluir que o desempenho do Brasil esteve longe de notável. Tabela 29: Exportações da MM a Jusante da Metalurgia Básicapara a China, 2000-2010 (US$ milhões) Total Setores da Metal Mecânica Exportado Produtos Máqe Máquinas para Máquinas, Para a de metal equip escritório e de aparelhos China e informática materiais Material Veículos Outros Total % MM automotores Equip reboques e transp Dos Setores MM no total e de Equipamentos médicohospitalares, de automação industrial eletrônico das export. elétricos comunicações e de precisão carrocerias 2000 1.085 1 24 1 4 8 4 19 37 98 9% 2001 1.902 5 50 2 27 24 6 159 82 355 19% 2002 2.521 12 51 1 43 25 7 154 1 294 12% 2003 4.533 16 60 1 33 29 10 329 12 490 11% 2004 5.442 14 84 1 30 29 11 194 74 437 8% 2005 6.835 26 173 1 32 38 12 136 22 440 6% 2006 8.402 14 164 2 43 57 12 166 18 476 6% 2007 10.749 17 162 2 35 24 18 105 84 447 4% 2008 16.403 18 205 5 34 52 16 111 251 692 4% 2009 20.191 11 116 8 41 72 26 43 350 667 3% 2010 30.786 15 184 6 27 48 22 74 382 758 2% Anos p/ China Fonte: FUNCEX. Apesar da forte instabilidade nos valores das exportações daMetal Mecânica para aquele país — que variaram em um intervalo de US$ 98 milhões (2000) a US$ 758 milhões (2010) — o final da década foi marcado por uma proporção de apenas 2 a 3% no que se 40 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras refere às exportações da Metal Mecânica relativamente às exportações totais brasileiras para a China. Ou seja, enquanto a Metal Mecânica respondia por 18% das exportações totais brasileiras em 2010, no que se refere à China elas representaram apenas 2% em 2010. Caracteriza-se assim, uma forte assimetria na pauta de exportações para a China em relação à pauta em relação ao resto do mundo. Um quadro totalmente distinto caracteriza as importações da Metal Mecânica com origem na China. Os resultados principais estão na tabela seguinte. A proporção importada da China sempre foi muito alta, mas aumentou ainda mais durante a década analisada. De fato, em 2010 cerca de 63% das importações brasileiras da China eram constituídas de produtos da Metal Mecânica (produtos a jusante da Metalurgia Básica). Tabela 30: Importações da MM a Jusante da Metalurgia Básica da China 2000-2010 (US$ milhões) Anos Total Import. Setores da Metal Mecânica Produtos Máq e Máquinas para de metal equip escritório e de aparelhos informática Máquinas, Mat Veículos Outros Total % das Elétron Equip médicohospitalares, de automotores Equip dos e materiais e de Automação industrial Import. da MM da reboques e transp setores China da China elétricos comunic e precisão carrocerias 2000 1.222 28 75 135 124 217 82 1 10 MM 672 55% 2001 1.328 26 119 108 174 181 62 2 13 685 52% 2002 1.554 32 87 112 126 312 86 5 18 778 50% 2003 2.148 34 108 150 188 502 120 7 21 1130 53% 2004 3.710 64 198 271 339 1.016 216 24 69 2197 59% 2005 5.355 99 366 491 454 1.626 342 46 66 3490 65% 2006 7.989 208 678 848 687 2.330 423 83 106 5363 67% 2007 12.618 347 1.253 1.289 1.073 3.006 737 128 174 8007 63% 2008 20.040 511 2.113 1.802 1.594 4.393 1.175 350 328 12266 61% 2009 15.911 419 1.874 1.586 1.375 3.581 783 270 208 10096 63% 2010 25.593 732 3.487 2.458 2.173 5.390 1.023 532 261 16056 63% Fonte: FUNCEX. Como não poderia deixar de ser, esse comportamento fortemente assimétrico de exportações e importações daMetal Mecânica em relação à China reflete-se também nos saldos comerciais com aquele país, aqui mostrados na Tabela 31. No que diz respeito ao comércio total, a posição brasileira em relação à China foi quase sempre superavitária. Em 2010, por exemplo, o superávit chegou a US$ 5,2 bilhões, em boa medida devido aos produtos básicos. O mesmo não se pode dizer dos saldos da Metal Mecânica. Partindo de um déficit de cerca de US$ 0,6 bilhão em 2000 o desempenho do saldo foi crescentemente negativo, até atingir US$ 15,3 bilhões em 2010! 41 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela 31: Saldos Totais e da Metal-Mecânica com a China, 2000-2010, (US$ milhões) Saldo Anos comercial total Setores da Metal Mecânica com Produtos Máqe a de metal equip Máquinas para escritório e de Máq, Material eletrônico e de comunic. Equip médico-hospitalares, de Veículos Outros Saldo total informática aparelhos e mat elétricos automação industrial reboques e de transporte dos setores da MM 2000 -137 -27 -51 -135 -119 -209 -78 18 27 -574 2001 574 -21 -68 -105 -147 -157 -56 156 69 -329 2002 967 -20 -36 -111 -83 -287 -79 149 -17 -484 2003 2386 -17 -47 -149 -155 -473 -110 322 -9 -638 2004 1731 -50 -114 -270 -309 -988 -205 170 5 -1761 2005 1480 -74 -193 -490 -422 -1588 -330 90 -44 -3051 2006 413 -194 -514 -845 -644 -2273 -410 83 -87 -4884 2007 -1869 -330 -1091 -1287 -1038 -2981 -719 -23 -91 -7560 2008 -3637 -492 -1907 -1797 -1560 -4341 -1159 -238 -77 -11571 2009 4280 -408 -1758 -1578 -1333 -3508 -757 -227 142 -9427 2010 5193 -717 -3303 -2452 -2146 -5341 -1002 -458 120 -15299 China Fonte: automotores equipamentos FUNCEX. A seção seguinte detalhará aspectos dessa evolução. Por ora, convém adicionar comentários sobre a evolução dos índices de preços e quantidades das exportações e importações desse grupo de setores, aqui mostrados na Tabela 32. Tabela 32: Preços e Quantum, Exportações e Importações da Metal-Mecânica,* 2000-10 Anos 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Preços Exportação Média Dos Setores MM 90,6 96,7 90,4 85,3 86,8 92,1 100,0 107,1 122,9 120,5 123,6 Quantum Preços Exportação Importação Média Média dos dos setores setores MM MM 59,0 92,2 54,7 92,3 53,8 91,5 62,5 95,2 81,7 98,6 96,8 100,2 100,0 100,0 103,1 105,1 102,7 114,5 73,5 111,0 82,3 109,5 Fonte: FUNCEX. * Inclui a metalurgia básica Quantum Importação Média dos setores MM 68,2 73,2 58,9 54,7 66,1 79,2 100,0 126,2 160,6 133,7 191,7 Termos de troca da MM 0,98 1,05 0,99 0,90 0,88 0,92 1,00 1,02 1,07 1,09 1,13 Os resultados atestam que o principal responsável pelo crescimento do valor das importações da Metal Mecânica foram as quantidades, já que os preços de importação variaram pouco nos últimos anos. Entre 2005 e 2010, por exemplo, os preços de importação não chegaram a aumentar 10% (acumulado no quinquênio). Já o quantum cresceu quase 150% no mesmo período. 42 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Já quanto às exportações tem-se que os preços se elevaram um pouco mais do que os de importação (pouco menos de 40% entre 2005 e 2010), ao passo que o quantum flutuava sem tendência clara nos últimos anos — mas com crescimento desde o começo da década. Como resultado, o índice de relações de troca da Metal Mecânica revelou ganho entre 2005 e 2010, da ordem de 20%. 3.5 Determinantes da Trajetória: Políticas Públicas ou Vantagens Naturais? A resposta à pergunta colocada nessa sub-seção admite diversos níveis. Sob um ponto de vista microeconômico, e por tudo o que foi dito até este ponto, parece claro que as políticas públicas tiveram um papel modesto no desempenho comercial do grupo dasindústrias da MM, exceto no que se refere ao apoio às exportações em alguns segmentos da indústria pelos mecanismos de financiamento. Mas como as exportações da MM a jusante da Metalurgia Básica para a China não têm sido brilhantes — apenas US$ 758milhões em 2010 —, dificilmente se poderia imputar às políticas públicas papel de algum relevo neste caso. Como vimos, nem todos os componentes da cadeia Metal-Mecânica brasileira estão submetidos à mesma trajetória. Do ponto de vista dos saldos comerciais da Metal Mecânica, as vantagens naturais de alguns setores aparecem com mais clareza, com destaque para a indústria aeronáutica. Esse aspecto é visualizado na tabela abaixo, para cuja leitura se deve notar que as contribuições se referem sempre a saldos negativos. Nesse sentido,os ―outros equipamentos de transporte‖ atuaram de forma a reduzirligeiramente os saldos comerciais — revelando, portanto, a existência de vantagens naturais (ou adquiridas ao longo do processo de desenvolvimento passado). O mesmo se aplicaria aos veículos automotores. Mas observe-se que em praticamente todos os casos (exceto outros equipamentos de transporte, do qual constam os aviões) o registro do triênio 2008-2010 foi de déficit. Tabela 33: Contribuições para os Saldos Comerciais da Metal Mecânica a Jusante da Metalurgia Básica (% médias ao ano, triênios 2000-02 e 2008-10) Contribuições para os saldos comerciais da MM 2000-02 Produtos de metal 6% Máquinas eequip mecânicos 13% Máq para escritório e equip. de informática 29% Máq, aparelhos e materiais elétricos 29% Material eletrônico e de comunicação 54% Equip médico-hosp., de automação industrial, etc. 18% Veículos automotores -27% Outrosequip transporte -7% Fonte: FUNCEX, elaboração do autor. 2008-10 4% 19% 16% 14% 36% 8% 3% -1% Note-se que em alguns setores observam-se taxas elevadas de contribuição para a formação dos déficits da MM, como o material eletrônico e de comunicação — caso em que, a propósito, o desempenho da produção nesta década foi medíocre, como visto. Isso indica que neste setor a produção doméstica vem sendo substituída pelas importações em volumes crescentes, como também ficou evidenciado na análise da penetração das importações no consumo aparente doméstico. O fato de que a contribuição para o saldo tenha diminuído entre o começo e o final da década de 2000 não significa que o desempenho da produção tenha melhorado. Apenas, que o déficit setorial cresceu menos do que o déficit total da MM. De fato, este setor apresentou em 2010 um déficit comercial de cerca de US$ 5,3 bilhões — ou 43 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras seja, aproximadamente um terço do total —, partindo de pequenos déficits, da ordem de US$ 200 milhões no começo da década de 2000. O mesmo quadro caracteriza os setores de mecânica, máquinas e aparelhos elétricos, de máquinas para escritório e equipamento de informática e o de equipamento médico hospitalar — embora nesses dois últimos casos se possa argumentar que o nível tecnológico dos equipamentos produzidos domesticamente esteja aquém do demandado, ou que nunca foram produzidos no país equipamentos com tecnologia das últimas gerações. Esse pode ser o caso do equipamento de informática, onde a lei de proteção dos anos 1980 impediu a absorção de tecnologia moderna capaz de permitir a incorporação de tecnologias upto date. Mas isso não se aplica ao caso talvez mais emblemático da deterioração do saldo comercial da MM: a indústria mecânica, onde a velocidade de aumento das importações vem despertando reações fortes entre os produtores domésticos devido, inclusive, ao fato de que o Brasil revelou no passado alguma tradição na produção e exportação de máquinas e equipamentos mecânicos. Não obstante, as importações da China aumentaram mais de 17 vezes em valor de 2004 a 2010, ano em que chegaram a US$ 3,5 bilhões. A conclusão é que as importações desses bens estão muito baratas no mercado nacional. E como os índices de preços em dólares das máquinas e equipamentos não têm variado muito nos últimos anos — embora não se disponha de índices em relação às importações chinesas, isso se aplica à totalidade das importações de máquinas e equipamentos, vistas acima — deduz-se que o barateamento é resultado da valorização cambial no Brasil.Portanto, as vantagens naturais que o Brasil detém em segmentos industriais que no passado foram exportadores líquidos vêm sendo erodida pela valorização cambial. Não restam dúvidas que existem outros fatores que diminuem a competitividade da produção nacional, como exemplificado pelas deficiências de infraestrutura, carga tributária extremamente elevada e outros componentes do assim chamado ―custo Brasil‖. Mas esses fatores não mudaram nos últimos anos o suficiente para justificar o desempenho observado. Logo, deve-se creditar à diferença entre as taxas de câmbio do Brasil e dos principais parceiros a responsabilidade maior pelo registro de déficits dos últimos anos. A única exceção continua sendo a indústria de outros equipamentos de transporte (aeronaves e embarcações, principalmente), onde as vantagens do Brasil (ainda) não parecem ter sido erodidas. 4. O avanço da China e seu Impacto sobre o Brasil O avanço da China no mercado brasileiro é parte importante do desempenho comercial caracterizado nas seções anteriores. Nesta seção objetiva-se refinar a análise com informações mais desagregadas e qualitativas tendo como foco o parceiro China. Como vimos, entre 2004 e 2010 as exportações do Brasil para a China passaram de 5,6% para 15,2% do total da pauta de exportações brasileiras, enquanto as importações aumentavam de 5,9% para 14,1%. Já o saldo comercial com a China, que chegou a ser deficitário em 2007 (US$ 1,7 bilhão) e 2008 (US$ 3,5 bilhões), voltou a ser superavitário no último biênio, com cifras da ordem de US$ bilhões por ano. Com isso, o peso da China na formação do saldo aumentou de 5% para quase 26%. 44 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 4.1 Tipos de Manufatura que a China Exporta para o Brasil As manufaturas que a China exporta para o Brasil são majoritariamente de média-alta tecnologia, como seria de se esperar da análise anterior (ver tabela a seguir). As proporções em relação ao total das importações da China oscilam entre 58% e 70% em torno de uma média de 64% para a década de 2000. Curiosamente, uma tendência de queda parece existir a partir de 2005. Essa queda é compensada pelo aumento concomitante das importações de produtos de média-baixa tecnologia, cuja proporção no total dobra no período assinalado, passando de 12% em 2005 para 25% em 2010. Tabela 34: Importações Brasileiras da China por Conteúdo Tecnológico, 2000-10 Anos 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Importações Brasileiras da China 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Agricultura Baixa Média Pecuária tecnologia Baixa Mineração Tecnologia 3% 14% 11% 5% 17% 14% 8% 18% 10% 6% 20% 9% 2% 18% 10% 2% 12% 12% 1% 11% 15% 1% 12% 18% 2% 13% 20% 2% 12% 20% 2% 11% 25% Fonte: FUNCEX, elaboração do autor. Média Alta Tecnologia 65% 58% 59% 62% 67% 70% 69% 65% 63% 63% 58% Alta tecnologia 7% 6% 5% 3% 3% 3% 3% 4% 3% 4% 3% As demais categorias variaram relativamente pouco ao longo da década, com a exceção, talvez, dos produtos de baixa tecnologia, os quais diminuíram sua participação na pauta entre 2002-04 e 2010 de 19% para 11%. Isso poderia causar certa estranheza nos analistas devido às recorrentes reclamações de produtores brasileiros desses tipos de produtos quanto à crescente penetração chinesa no mercado doméstico respectivo. Afinal, se a proporção diminuiu tanto assim, a ameaça não poderia ter sido da magnitude estimada. Parte da estranheza desaparece, no entanto, ao se levar em conta que as importações brasileiras com origem na China aumentaram, nesse período, de US$ 2,5 para US$ 25 bilhões! Logo, as importações de produtos de baixa e média tecnologia aumentaram 6,3 vezes em valores correntes (dólares dos EUA), uma proporção por todos os títulos apreciável. 4.2 Existe Competição com a Indústria Nacional? Ou Complementaridade? A competição dos produtos chineses se dá principalmente nos produtos finais. Mas é crescente a proporção de empresas que se utiliza de partes e insumos importados da China, frequentemente substituindo a produção nacional. Uma recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria é esclarecedora da situação no final de 2010 (CNI, 2011.b). 40O restante desta sub-seção baseia-se nessa pesquisa. Ao final retoma-se o tema da pergunta em epígrafe. 40 A pesquisa foi baseada em uma amostra de 1.529 empresas, sendo 904 pequenas, 424 médias e 201 grandes. O período de coleta foi o de 4 a 19 de outubro de 2010. 45 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Para começar, destaque-se que mais de um quarto das empresas industriais brasileiras concorrem com produtos chineses no mercado doméstico. Além disso, quando expostas à concorrência, pequenas empresas perdem mais clientes para a China do que seus pares de maior porte. Desnecessário dizer, o quadro geral da concorrência com os produtores chineses não é animador. O impacto sobre a indústria brasileira é claro: quase a metade (45%) das empresas que competem com empresas da China perdeu participação no mercado doméstico. Entre estas, 9% registraram que a participação diminuiu muito. 41% assinalaram que concorrem com produtos chineses no mercado doméstico, mas mantiveram inalterada a participação de seus produtos no mercado doméstico. Em parte como reação a isso, e para se beneficiar dos salários e outros custos de produção mais baixos na China, 10% das grandes empresas já produzem com fábrica própria na China. Outra forma de enfrentar a concorrência que vem sendo privilegiada pelos produtores brasileiros é pelo investimento em qualidade e design: 50% das empresas que responderam ao inquérito da CNI definiram que uma estratégia para enfrentar a competição com produtos chineses é pelo investimento na qualidade e/ou design de produtos. Individualmente, essa é a estratégia mais adotada A presença chinesa no mercado doméstico é mais intensa em seis setores industriais. Nesses setores, pelo menos metade das empresas assinalou que concorrem com produtos chineses: Material Eletrônico e de Comunicação, Têxteis, Equipamentos Hospitalares e de Precisão, Indústrias Diversas, Calçados e Máquinas e Equipamentos. No caso das indústrias de Material Eletrônico e de Comunicação e Têxteis, a competição é especialmente intensa: mais de 70% das empresas desses setores competem com produtos chineses. Embora as pequenas empresas estivessem menos expostas à concorrência com produtos chineses, foi esse grupo de empresas que mais sofreu os impactos da concorrência. Entre as pequenas empresas, o percentual de empresas que registrou queda na participação de mercado de seus produtos alcançou quase metade das empresas: 49%. O percentual se reduz para 32% entre as grandes. Em quatro setores – Produtos de Metal, Couros, Calçados e Têxteis – mais da metade das empresas brasileiras que concorrem com produtos chineses perderam participação nas vendas no mercado doméstico. No setor Couros, 31% dos respondentes da indústria registraram que a queda na participação foi significativa. No que diz respeito às exportações, mais da metade das empresas exportadoras concorrem com produtos chineses no mercado internacional. Além disso, 67% das empresas exportadoras que concorrem com produtos chineses perderam clientes externos (esse percentual aumentou sobremaneira nos últimos anos, pois em 2006 era de 54%). A competição com produtos chineses é ainda mais acirrada no mercado internacional do que no doméstico. Das empresas que registram que são exportadoras, 52% delas sofrem concorrência com produtos chineses no mercado internacional. Das empresas que exportam e concorrem com os produtos chineses,67% registram perda de clientes externos para a China, 4,2% das empresas deixaram de exportar por conta dessa concorrência e 27% mantiveram ou até aumentaram o número de clientes, não obstante a concorrência chinesa. A queda de participação de mercado é espalhada pela maioria dos setores industriais exportadores. A perda de mercado no exterior para produtos chineses é significativa para os 46 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras setores Têxteis, Máquinas e Equipamentos e Produtos de Metal. Nesses setores, 80% ou mais das empresas exportadoras registraram perda de clientes externos para a China. No setor Calçados, 21% das empresas deixaramde exportar. Os percentuais de empresas que importam matérias-primas, produtos finais ou máquinas e equipamentos são mais elevados entre as empresas de grande porte. O percentual de grandes empresas que importam matéria-prima mais do que dobrou, passando de 16% para 34% do total de empresas do porte. Os percentuais alcançam 18% no caso de produtos finais e 12% no caso de máquinas e equipamentos. Entre as pequenas empresas, os percentuais de empresas que importam da China são menores: 14% importam matérias-primas da China, enquanto 5% importam produtos finais e 5% importam máquinas e equipamentos. A importação de matérias-primas advindas da China deverá crescer ainda mais nos próximos seis meses. Praticamente um terço (32%) das empresas que importam da China pretendem aumentar as compras de matérias-primas do país. Esse percentual se reduz para 23% entre as empresas de grande porte, mas aumenta para 38% das empresas de pequenas empresas. Metade das empresas que importam produtos finais da China espera aumentar suas compras externas nos próximos seis meses. 38% das empresas que importam máquinas e equipamentos da China pretendemaumentar as compras. Em termos setoriais, a penetração de produtos chineses se destaca nos setores Material Eletrônico e de Comunicação e Farmacêuticos: nesses setores, mais de 60% das empresas importam matérias-primas da China. Também em relação a esses setores, pelo menos 30% das empresas pretendem aumentar suas importações nos próximos seis meses. As empresas brasileiras que instalaram fábricas na China estão concentradas em poucos setores industriais, sendo que metade delas pertence a quatro setores: veículos automotores, máquinas e equipamentos, máquinas e materiais elétricos e material eletrônico e de comunicação. É difícil, a partir das informações disponíveis, afirmar mais concretamente em que medida a implantação de unidades na China colabora para a redução do déficit comercial da Metal Mecânica. Dada os resultados da pesquisa anterior e a estrutura setorial das exportações chinesas para o Brasil é possível inferir alguma coisa sobre a natureza do relacionamento comercial com a China. Evidentemente que no que toca à MM a relação é distinta da do caso de produtos não manufaturados. Essencialmente, no caso da MM a relação principal é de competição, mesmo nos casos de importação de peças e partes. O avanço da China no mercado brasileiro, analisado a partir da penetração das importações já havia deixado antever esse aspecto. Ele é maior no caso de produtos finais e menor no caso de intermediários, como produtos siderúrgicos, onde o Brasil detém sólidas vantagens competitivas. 4.3 Tendências do Comercio Indireto de Aço com a China A tabela seguinte resume a evolução das importações indiretas de aço do Brasil com origem na China expressas em valor e em toneladas nos anos de 2005 e 2010.41 Da leitura da tabela conclui-se que: 41 Optou-se por apresentar no texto os anos de 2005 e 2010 por serem os anos limites disponíveis. 47 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela 35: Exportações da China para o Brasil por Categorias de Produtos e Conteúdo de AçoIndireto, 2005-2010 (US$ milhões, toneladas e %) Total Exp.da China para o Brasil Categorias 2005 2010 Conteúdo Conteúdo USD mi aço (t) USD mi aço (t) % 2005 Em % USD ton. % 2010 Em % USD ton. Diferença % 2010-2005 % USD Em ton. Calderas y generadores de vapor 0,3 273 46,1 10777 0% 0% 1% 1% 1% 1% Máquinas herramientas 21,9 3965 135,4 12596 2% 1% 2% 1% 0% 0% Máquinas manuales, construcción 33,3 10045 573,5 122284 3% 4% 7% 13% 4% 9% Máquinas de oficina 288,6 11619 1301,5 3583 25% 4% 16% 0% -8% -4% Máquinas y equipos 170,1 38531 1840,8 52147 14% 15% 23% 5% 8% -9% Bombas y compenentes de máquinas 104,7 37085 633,9 137419 9% 14% 8% 14% -1% 0% Equipos de calefacción 0,0 2 0,1 23 0% 0% 0% 0% 0% 0% Electro-domésticos 84,0 16558 450,3 78678 7% 6% 6% 8% -2% 2% Otras maquinarias eléctricas 125,3 17291 799,8 63516 11% 7% 10% 7% -1% 0% Estructuras 6,0 4250 67,4 45986 1% 2% 1% 5% 0% 3% Maquinaria agricola y tractores 1,3 478 26,9 5531 0% 0% 0% 1% 0% 0% Autos y vehículoscomerciales 79,8 6322 694,1 52175 7% 2% 9% 5% 2% 3% Bicicletas y motocicletas 99,6 27664 312,7 12989 8% 10% 4% 1% -5% -9% Ferrocarriles 3,4 820 3,5 139 0% 0% 0% 0% 0% 0% Barcos y maquinaria naval 0,8 134 436,2 27093 0% 0% 5% 3% 5% 3% Aviones 4,1 28 15,1 383 0% 0% 0% 0% 0% 0% Muebles metálicos 1,4 953 18,4 2279 0% 0% 0% 0% 0% 0% Latas y cajas de metal embalar 0,5 243 3,0 805 0% 0% 0% 0% 0% 0% Toneles, tanques y tambores 1,3 774 8,5 3354 0% 0% 0% 0% 0% 0% Articulos derivados de alambre 46,2 39299 219,6 163969 4% 15% 3% 17% -1% 2% Otros artículos de metal 101,6 48671 461,7 171961 9% 18% 6% 18% -3% -1% Total 1174,2 265005 8048,4 967687 100% 100% 100% 100% 0% 0% Fonte: ILAFA 1. A tonelagem indireta de aço importado pelo Brasil da China total foi multiplicada por 3,65no curto espaço de cinco anos, atingindo 968 mil toneladas de aço em 2010 (contra 265 mil em 2005).Em termos de valor, no entanto, o aumento foi muito maior: de 6,85 vezes. 2. A concentração tanto em valor quanto em tonelagem permaneceu elevada, com quatrocategorias representando mais de 50% do total. Em termos de valor, em 2005 esses itens são: Máquinas de Escritório, Máquinas e Equipamentos, Outras Máquinas Elétricas, Bombas e Componentes de Máquinas. Em 2010 são:Máquinas e Equipamentos, Máquinas de Escritório, Outras Máquinas Elétricas e Automóveis. 3. A concentração continua a existir quando se mede pelo conteúdo de aço importado indiretamente, mas não necessariamente nas mesmas categorias: Máquinas e equipamentos, Bombas e componentes de máquinas, Artigos derivados do arame e Outros artigos de metal, em 2005.Outros artigos de Metal, Artigos derivados do arame, Bombas e componentes de máquinas e Máquinas manuais – Construção, em 2010.Em todos eles o volume físico aumentou substancialmente entre 2005 e 2010. As diferenças entre as proporções em valor e em tonelagem entre 2005 e 2010 mostradas nas duas últimas colunas explicitam este aspecto. 4. As Máquinas manuais foram a categoria que mais ganhou tanto em valor quanto em peso. As Máquinas e equipamentos (Indústria Mecânica) foram as que mais ganharam em participação em valor (tendo passado de 14% para 23% das importações da 48 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Metal Mecânica), mas em termos da tonelagem a participação diminuiu também substancialmente: de 15% para 5%. Isso fornece uma indicação de que o Brasil está importando da China equipamentos mecânicos de qualidade progressivamente melhor — se é aceito o critério, reconhecidamente algo grosseiro (mas de uso difundido na Engenharia), de que o valor do equipamento dividido pelo seu peso é um indicador de sofisticação tecnológica. No caso do equipamento mecânico o coeficiente em valor por tonelada aumentou 700% entre 2005 e 2010. Ele só foi superado no caso das máquinas de escritório, em que o aumento foi de 1360%!A tabela abaixo reproduz esses indicadores para todas as categorias apresentadas na tabela anterior. Tabela 36: Coeficiente de Sofisticação Tecnológica das Importações Brasileiras da China 2005 e 2010 (Em USD mil / kg e % de crescimento) Categorias USD 1000/kg 2005 2010 Calderas y generadores de vapor Máquinas herramientas Máquinas manuales, construcción Máquinas de oficina Máquinas y equipos Bombas y compenentes de máquinas Equipos de calefacción Electro-domésticos Otras maquinarias eléctricas Estructuras Maquinaria agricola y tractores Autos y vehículoscomerciales Bicicletas y motocicletas Ferrocarriles Barcos y maquinaria naval Aviones Muebles metálicos Latas y cajas de metal embalar Toneles, tanques y tambores Articulos derivados de alambre Otros artículos de metal 0,001 0,006 0,003 0,025 0,004 0,003 0,002 0,005 0,007 0,001 0,003 0,013 0,004 0,004 0,006 0,146 0,001 0,002 0,002 0,001 0,002 0,004 0,011 0,005 0,363 0,035 0,005 0,005 0,006 0,013 0,001 0,005 0,013 0,024 0,025 0,016 0,039 0,008 0,004 0,003 0,001 0,003 235% 95% 42% 1362% 700% 63% 164% 13% 74% 3% 79% 5% 569% 502% 180% -73% 450% 79% 56% 14% 29% Total 0,004 0,008 88% Coef. sofisticação tecnológica % crescimento Fonte: ILAFA (tabela anterior) Como o conteúdo de aço nas exportações indiretas do Brasil para a Chinafoi relativamente pequeno em relação ao das importações (de 24,8 para 38,5 mil toneladas entre 2005 e 2010),42 os saldos comerciais seguiram de perto a evolução das importações indiretas. A tabela seguinte evidencia esse aspecto ao apresentar a estrutura dos saldos das importações indiretas líquidas em 2005 e 2010 e as mudanças estruturais entre esses anos. 42 Ver tabela no Anexo, onde se apresentam valores e toneladas das exportações da MM do Brasil para a China. 49 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Tabela 37: Conteúdo de aço nas importações indiretas líquidas da China (M – X), em toneladas, 2005 e 2010 – Diferenças na estrutura de crescimento físico (%) Conteúdo em aço (t) Importações Líquidas da MM do Brasil Artículo Calderas y generadores de vapor Máquinas herramientas Máquinas manuales, construcción Máquinas de oficina Máquinas y equipos Bombas y compenentes de máquinas Equipos de calefacción Electro-domésticos Otras maquinarias eléctricas Estructuras Maquinaria agricola y tractores Autos y vehículoscomerciales Bicicletas y motocicletas Ferrocarriles Barcos y maquinaria naval Aviones Muebles metálicos Latas y cajas de metal embalar Toneles, tanques y tambores Articulos derivados de alambre Otros artículos de metal 2005 272 -385 6.383 11.618 35.138 33.631 2 16.534 16.061 4.214 188 4.301 27.658 820 -2.578 22 953 243 732 38.051 46.350 Total 240.208 2010 10777 12504 116379 3579 51392 110471 23 78522 62855 45986 5459 50884 12983 138 26851 167 2271 805 3353 162818 170927 Diferença 2010-2005 Em % do total 10505 2% 12889 2% 109996 16% -8039 -1% 16254 2% 76840 11% 21 0% 61988 9% 46794 7% 41772 6% 5271 1% 46583 7% -14675 -2% -682 0% 29429 4% 145 0% 1318 0% 562 0% 2621 0% 124767 18% 124577 18% 929145 688937 100% Fonte: ILAFA. As conclusões são semelhantes às anteriores, quando do exame das importações. Os saldos líquidos são fortemente concentrados em poucos setores e aumentam a concentração em diversos casos: artigos derivados de arames, outros artigos de metal,máquinas manuais, bombas e componentes de máquinas e eletrodomésticos, todos eles com ganhos de participação em peso acima de 10% entre 2005 e 2010. Para finalizar acrescente-se que as tabelas do Instituto Aço Brasil referentes ao comércio indireto de aço total em 2010 (para todos os países, não apenas a China) indicam o reforço das tendências acima apontadas. Os déficits se ampliaram substancialmente nesse ano e seus maiores crescimentos ocorreram nas indústrias mecânica e automobilística. 5. Conclusão e Recomendações de Políticas Públicas 5.1 Sumário de Conclusões A evidência apresentada neste trabalho aponta para um sólido conjunto de conclusões. Longe de repetir resumidamente os principais aspectos analisados, o que se segue procura tão somente destacar itens que podem e devem orientar a tomada de decisão em matéria de política econômica com vistas ao fortalecimento de um importante complexo produtivo instalado no Brasil, cujo papel no processo de crescimento econômico é fundamental pelo lado da criação de capacidade de produção. As recomendações de políticas que compõem essa seção têm precisamente esse objetivo. 50 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Como é bem conhecido, a baixa taxa de investimento é um dos principais obstáculos ao crescimento mais acelerado da economia brasileira. Mas, recuperada a capacidade de poupança doméstica, é importante que a oferta interna de bens de investimento aumente de modo expressivo para atender à crescente demanda esperada. O papel da Metal Mecânica nessa recuperação é de extrema importância. A rigor, o desempenho agregado desse segmento industrial não tem sido ruim, especialmente ao se levar em conta que a indústria brasileira passou por um período de intenso ajuste estrutural nos anos 1990 como resultado de várias mudanças. Uma das mais importantes foi a abertura comercial. Embora penosa do ponto de vista das perdas de postos de trabalho, a indústria revelou musculatura e resiliência ao longo de todo o período que cobre aproximadamente uma década, do começo da de 1990 à seguinte, caracterizado por crises internacionais — e domésticas — cujo efeito sobre o desempenho industrial, como seria de se esperar, foi de forte instabilidade. A perda de participação no PIB era, nessas condições, inevitável. Ainda assim, a produtividade, que havia estagnado por um longo período nos anos 1980, recuperou-se rapidamente na década de 1990 até nossos dias — embora mais recentemente a velocidades menores. As políticas econômicas voltadas para o setor, no entanto, foram tímidas até bem recentemente. Na maior parte das duas últimas décadas, toda a atenção, energia e esforço das autoridades econômicas estiveram concentradas na criação de bases macroeconômicas sólidas e estáveis para o crescimento futuro. Atualmente esse regime existe sob a forma de uma taxa de câmbio flexível, busca contínua de equilíbrio fiscal e controle da inflação por um regime de metas. O sucesso do atual regime macroeconômico é uma prova eloquente de quão bem foram aplicados os instrumentos macro desde o governo do Pres. Cardoso. No entanto, como fruto de: desenvolvimentos até certo ponto não antevistos no cenário externo (a Grande Recessão);características do crescimento mundial (que levaram a fortes elevações nos preços de produtos básicos de exportação); necessidade de elevar os juros domésticos para combater a inflação; ou eventos, como o aumento da liquidez mundial,exacerbados pela reação da política econômica de alguns países (EUA e China), o Brasil passou a exibiruma taxa de câmbio real crescentemente valorizada a partir de aproximadamente a metade da década de 2000. Esse tema ocupa atualmente o centro das atenções das autoridades econômicas no país, como seria de se esperar. Em parte relacionado com isso, a ascensão da China e o crescimento acelerado de um significativo conjunto de países asiáticos provocou uma mudança bastante forte no padrão de especialização do comércio exterior brasileiro, amplificada pelos ganhos dos termos de troca desde 2004. Mudaram também, consequentemente, as estruturas de produção e de exportações segundo o conteúdo tecnológico dos bens. Curiosamente, no primeiro caso ganharam peso os bens de média-alta e alta tecnologia, a expensas dos de baixa tecnologia. No segundo caso (estrutura de exportações), por sua vez, os ganhos dos segmentos de médiaalta tecnologia são menores e o grupo de alta tecnologia praticamente mantém sua participação na pauta. De qualquer forma, um aspecto importante a reter é que o desempenho da produção do complexo Metal Mecânico no Brasil superou o do total da Indústria de Transformação a partir de 1999. Logo, não se pode dizer que tenha havido perda relativa nesse caso — embora a indústria brasileira como um todo esteja perdendo participação no PIB. 51 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Concomitantemente a essas mudanças tem-se a entrada mais significativa da China no cenário comercial brasileiro, especialmente a partir de 2004. Nesse ano a China respondia por 5,9% das importações brasileiras, proporção que passou para 14,1% em 2010. Do ângulo das exportações a mudança foi ainda maior: de 5,6% para 15,2%. Nesse período o saldo comercial total do Brasil caiu à metade. Parte da responsabilidade coube à valorização do câmbio real, que estimulou as importações de uma ampla gama de bens. No que diz respeito à Metal Mecânica, em particular, os saldos comerciais, que eram moderadamente positivos em 2005-2006, passam a fortemente negativos no triênio 20082010. Em 2010 o déficit comercial da Metal Mecânica como um todo atingiu quase US$ 45 bilhões. Claramente,parte disso foi devidaà valorização do câmbio. Mas boa parte se deveu à agressiva penetração chinesa no mercado brasileiro — sem esquecer da competição em terceiros mercados, como em países da América Latina antes supridos por exportações do Brasil — derivada da estratégia comercial e dos produtos relativamente mais baratos que a China exporta. Como resultado, a penetração das importações no consumo aparente apresentou aumentos dramáticos no caso de diversos setores. Embora a economia brasileira ainda continue sendo relativamente fechada, especialmente para os produtos de baixa tecnologia, a análise deste texto revelou que em pelo menos um caso, a Têxtil, o aumento das importações foi especialmente vigoroso no suprimento do consumo doméstico. E mesmo no que se refere à Indústria de Transformação, as importações dobraram de peso no atendimento do consumo aparente: de 6,5% em 2000 para 13,1% em 2010 (percentagens baseadas em valores constantes de 2005). É na Metal Mecânica que aparecem os exemplos mais expressivos de aumento no coeficiente importado. Isso caracteriza todos os setores incluídos na análise. Inclusive a Metalurgia Básica, onde o Brasil tradicionalmente detém claras vantagens competitivas. Mas nenhum caso é tão extremo quanto o do setor de Material Eletrônico e de Comunicação, em que o coeficiente de penetração das importações no consumo chegou a 40% em 2010. Em segundo lugar registre-se o caso da Mecânica (Máquinas e Equipamentos), no qual a proporção do consumo doméstico suprida por importações foi de 26% em 2010. Um resultado esperado desses desenvolvimentos foi que as importações indiretas de aço também cresceram rápida e expressivamente: de 1,1 milhão de toneladas em 2000 para 4,2 milhões de toneladas em 2010, sendo que a aceleração se dá depois de 2004 (ano em que as importações indiretas foram de 1,2 milhões de toneladas).43 Outro resultado importante foi que as exportações da Metal Mecânica perderam peso no total exportado na década de 2000: de 30% em 2000 para 18% em 2010. Já as importações mantiveram aproximadamente o mesmo peso no tempo: cerca de 45% do total importado pelo Brasil é de produtos da Metal Mecânica. Mas o mesmo não se dá quando se singulariza a China. As exportações da Metal Mecânica brasileira para a China caíram durante a década: haviam chegado a 19% das exportações para aquele país em 2002 e foram de apenas 2% em 2010. O oposto caracteriza as importações, onde a proporção da China chega a 63% em 2010. Com isso, o saldo da Metal Mecânica com a China, que inclusive havia sido levemente superavitário em 2003, chegou a 43 Dados do Instituto Aço Brasil. 52 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras um déficit de US$ 15,3 bilhões em 2010. Isso é uma clara indicação de que a China exporta para o Brasil principalmente produtos de alta e média alta tecnologia. Dadas essas tendências, o comércio indireto de aço com a China também apresentou déficits crescentes. O conteúdo de aço nas importações da Metal Mecânica da China chegou a quase 1 milhão de toneladas em 2010, quase quadruplicando em relação ao registro de 2005.44Um aspecto possivelmente positivo desse comércio da Metal Mecânica com a China é a presumível elevação do conteúdo tecnológico das importações, especialmente nos casos do equipamento mecânico e das máquinas de escritório. Com base nesse apanhado de conclusões passa-se, em seguida, às sugestões de política econômica. 5.2Recomendações de Políticas em Relação à Primarização da Economia Como deve ter ficado claro, o Brasil padece de um problema macroeconômico grave e complexo — progressiva e persistente valorização da taxa de câmbio —, uma conseqüência do qual é a tendência àprimarização da pauta de exportações. Esse processo vem sendo acentuado há aproximadamente meia década. Curiosa e tragicamente, ele ganhou força em uma fase do desenvolvimento brasileiro em que parecia que alguns dos mais graves recorrentes e inter-relacionados problemas do passado (inflação, desequilíbrio externo, desequilíbrio fiscal) pareciam ter sido adequadamente equacionados — mas não ‗resolvidos‘, pois eles nunca o são. Infelizmente, as possibilidades de reforma face à ameaçadeprimarização da economia estão entre as de mais difícil execução. Além disso, os resultados não são alcançáveis a curto prazo. Apesar disso, as principais medidas estruturais, que atingem os fundamentos econômicos, situam-se em um conjunto que poderia ao menos reduzir a ameaça de aprofundamento da primarização e suas consequências mais nefastas para a produção da indústria. A re-primarização da pauta de exportações brasileiras — e, em parte, da economia, embora aqui a evidência seja menos clara, como vimos no texto — tem origem em fatores operando pelo lado da oferta e da demanda. Começando pelos primeiros, este estudo evidenciou os substanciais ganhos de produtividade que tem caracterizado a atividade agropecuária e extrativa mineral brasileira nas últimas duas décadas. No primeiro caso isso tem sido o resultado de vantagens competitivas naturais dadas pela disponibilidade de recursos. Essas vantagens vêm sendo alavancadas ao longo do tempo por duas ordens de fatores. Os primeiros são os investimentos em infraestrutura de transportes e logística que, apesar de ainda possuírem gritantes carências, possibilitaram rápida expansão da fronteira agrícola e pecuária desde os anos 1970 — em que pese as externalidades negativas em relação ao meio ambiente de uma expansão por vezes desordenada. O segundo é o resultado da bem sucedida experiência de pesquisa agropecuária da EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola, que vem possibilitando o aproveitamento de terras que historicamente eram julgadas impróprias para o plantio. Do lado da mineração a experiência de empresas ex-estatais permitiu ganhos de produtividade e competitividade nunca antes experimentados. A descoberta e possibilidade efetiva da exploração de petróleo na camada do pré-sal é o último capítulo de uma série de possibilidades na direção de um aprofundamento da primarização das pautas de produção e, talvez, de exportação. 44 Dados do ILAFA. 53 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Essa potencialidade da oferta de produtos ‗básicos‘ e commodities encontrou nos últimos anos uma demanda em forte crescimento devido ao desempenho mundial pré-crise de 2008 e de um grupo de países emergentesno qual se destaca a China mesmo depois da crise. O apetite chinês por matérias primas agropecuárias e minerais encontrou no Brasil um parceiro à altura de fornecê-las. Os crescentes preços de exportação de commodities agropecuárias e minerais são um resultado desse bem sucedido desempenho comercial. Tudo isso teria resultado em um ciclo mais virtuoso do ponto de vista da mudança estrutural da economia brasileira — entendendo-se por virtuoso uma mudança menos desequilibrada do ponto de vista da evolução da produção de tradables — se não fossem quatro fatores causais que têm agido de forma simultânea: (1) a manipulação da taxa de câmbio da China que, por manter sua moeda desvalorizada— e aumentar a produtividade de forma forte e contínua —, é capaz de exportar agressivamente e a baixo preço um largo espectro de manufaturas, e o ‗destino Brasil‘ não é exceção; (2) a política econômica dos EUA, que desde a Grande Recessão tem aumentado fortemente a liquidez internacional, daí resultado desvalorização da moeda daquele país; (3) o fato de que balanço de pagamentos do Brasil tem sido superavitário,45 daí resultando pressão para a valorização da taxa de câmbio apesar da acumulação de reservas pelo Banco Central (BC) para evitar valorização adicional do Real; e (4) crescimento da demanda interna no Brasil, por consumo e investimento, acima da capacidade de produção agregada, que pressiona a demanda de nontradables: o preço destes bens eleva-se relativamente ao dos tradables, daí resultando valorização adicional da taxa de câmbio.46 A longa citação seguinte resume esse último aspecto do ponto de vista teórico. ―A elevação da demanda para uma dada oferta produzirá um excesso de demanda por ambos os bens (domésticos e transacionáveis).... O excesso de demanda pelo bem doméstico promoverá elevação do preço do bem doméstico de sorte a equilibrar o mercado. O excesso de demanda por bens transacionáveis... acarretará elevação da importação. Na posição final o preço do bem doméstico elevou-se, e, portanto, o câmbio valorizou-se, a produção e o consumo de bem doméstico se elevaram, a produção do bem transacionável reduziu-se (pois fatores de produção se deslocaram desta indústria em direção à indústria de bens domésticos) e a demanda do bem transacionávelelevou-se. Todo o excesso de demanda sobre a produção do bem transacionável ocorrerá sob a forma de importações desse bem. Assim, para a economia como um todo haverá, em um dado ponto do tempo, uma relação entre o excesso de dispêndio doméstico sobre a produção e o preço relativo do bem transacionável. Quanto maior for o excesso do dispêndio doméstico sobre a produção menor será o preço relativo do bem transacionável e, portanto, mais valorizado será o câmbio.‖ (Pessôa, 2011, p. 3) Essa tendência implica uma crescente valorização da taxa de câmbio, cuja reversão é difícil a curto prazo. O BC vem tentando agir na direção de evitar uma valorização adicional pelo uso de diversos instrumentos: leilões de câmbio, compras de câmbio à vista, imposição 45 As razões para isso são varias e incluem: perspectivas favoráveis de crescimento, que têm estimulado vultosos ingressos de investimentos diretos; taxa de juros muito elevada em termos internacionais, que estimula a aplicação de recursos no país apesar do câmbio valorizado (esperando-se que não ocorra uma desvalorização imprevisível). Note-se que o custo de acumular reservas é muito alto. Ele é dado pela diferença entre a taxa de juros doméstica, à qual o Tesouro coloca novos títulos no mercado, e a taxa à qual as reservas são aplicadas (em títulos do Tesouro norte-americano, por exemplo). 46 A taxa de câmbio é a relação entre os preços dos tradables e nontradables, ou o preço dos bens transacionáveis em relação ao preços dos bens domésticos (serviços, essencialmente). 54 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras (com alíquotas crescentes) de IOF – Imposto sobre Operações Financeiras sobre empréstimos externos para encarecer os ingressos de recursos. As recentes medidas de cortes orçamentários anunciadas pelo Ministério da Fazenda agem na mesma direção ao esfriar (ou, ao menos, tentar esfriar) o crescimento da demanda interna e a pressão sobre os nontradables. Os resultados não têm sido brilhantes até o momento. Aumentos adicionais do IOF sobre as entradas de capital têm sido uma forma de lidar com os excessivos ingressos de capital.47 A solução — óbvia, mas de implementação muito difícil — é promover uma desvalorização sustentada do câmbio. Como? Via políticas monetária e fiscal. Em outras palavras, pela redução da demanda, que agiria no sentido de permitir taxas de juros reais mais baixas domesticamente no futuro. Isso porque a taxa de câmbio é um preço macroeconômico e como tal deve ser tratado. Qualquer tentativa de agir no sentido de desvalorizar o câmbio que não aja sobre os fundamentos da economia não trará os resultados desejados e poderá ter consequências setoriais indesejadas. Uma proposta menos ‗responsável‘ é a de diminuir a taxa de juros de referência (taxa SELIC) de modo provocar uma diminuição da entrada de capitais e assim desvalorizar o câmbio. Isso, no entanto, significaria abandonar o regime de metas de inflação, pois a taxa SELIC é o instrumento monetário por excelência para fazer a inflação convergir para o centro da meta perseguida pelo Banco Central. Existem, no entanto, propostas alternativas visando pelo menos interferir no processo de valorização cambial para evitar excessos. Duas ordens de medidas podem ser pensadas. A primeira tem como foco a Conta de Capital do Balanço de Pagamentos, onde se destacam os mecanismos e instrumentos de controle dos ingressos de capitais. As modalidades dentro dessa opção são várias, incluindo: quarentena dos recursos na entrada, quarentena na saída, tributação mais agressiva,48 exame mais rigoroso dos fluxos de entrada, exigência de permanência por prazos mínimos no caso dos ingressos de capital pela conta financeira, proibição de aplicação em títulos públicos (ou fundos constituídos de títulos públicos). A segunda ordem de medidas é constituída do ‗confisco cambial‘ ou, mais simplesmente, da tributação sobre as exportações de commodities cujos preços estejam ‗anormalmente elevados‘ no mercado mundial. As dificuldades de medidas desse tipo no Brasil são de diversas ordens, indo da falta de tradição49 à forte oposição política esperada por parte dos produtores. De fato, apenas no caso da estatal PETROBRÁS é que seria viável pensar-se em tributação das exportações sem oposição muito aguda.50 Mas mesmo nesse caso forças nacionalistas tenderiam a se opor. Dada a dificuldade de agir mais diretamente e a curto prazo na direção da desvalorização da taxa de câmbio, às esperanças se voltam para medidas mais focadas, por um lado, na cadeia de valor da indústria do aço; por outro, em medidas que afetem diferenciadamente o comércio com a China. 47 Analistas de mercado são positivos ao afirmar que todas as medidas restritivas que têm sido pensadas são passíveis de serem contornadas de alguma forma. 48 Os ingressos de recursos externos no Brasil estão desde o ano passado sujeitos à tributação com o IOF – Imposto sobre Operações Financeiras. No caso das aplicações em Bolsa de Valores, em 2%. No caso das aplicações em renda fixa, em 6%. Os ingressos de IDE não são tributados. 49 As exportações de fumo e de couros já são tributadas. 50 Imagine-se, por exemplo, a possibilidade de tributar o petróleo da camada de pré-sal que vier a ser exportado. 55 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 5.3Recomendações de Políticas Públicas em Relação à Indústria Metal Mecânica O desempenho explosivo das importações e a real ameaça de enfraquecimento da produção doméstica, dada a fatia rapidamente crescente do consumo atendida por importações, justificam especial atenção a uma indústria, como a Metal Mecânica brasileira, que é estrategicamente fundamental para a expansão da oferta agregada na economia. A par disso, o desempenho desse complexo no passado foi caracterizado por capacidade de inovar e acrescentar sofisticação tecnológica a produtos e processos. É extremamente importante que o esforço inovativo seja retomado, algo que pode ser conseguido, inclusive, em parceria com os chineses.51 As sugestões apresentadas a seguir contemplam principalmente a área tributária. O seguinte conjunto de medidas pode ser listadoespecificamente nesse caso: 1. Eliminação de incentivos estaduais aplicáveis às importações, medida que se enquadra também no rol de recomendações em relação à ameaça da China. 2. Revisar a legislação tributária com vistas a eliminar desvantagens tributárias entre bens e serviços nacionais eimportados pelo setor público. 3. De um modo geral, também é necessário implantar medidas visando a equiparação total do bem nacional ao bem importado. Isso implica, por exemplo, informar percentuais do valor importado nos bens de consumo; reforçar mecanismos de verificação do conteúdo nacional (por exemplo, exigir a contabilização dos insumos importados pelos fabricantes de sistemas que compõem o bem objeto da FINAME; verificação do conteúdo importado nos veículos; em suma garantir que os insumos importados sejam devidamente contabilizados nos bens objeto da FINAME); incluir o ICMS na sistemática do drawback integrado, 4. Incentivos às compras de equipamentos, nos moldes dos empréstimos do PSI — Programa de Sustentação dos Investimentos (atualmente o PSI tem linhas de financiamento no valor de R$ 134 bilhões, ou cerca de US$ 75 bilhões, praticando empréstimos com taxas que variam de 5% a 10% ao ano para diversos tipos de equipamentos e para financiar a inovação) operado pelo BNDES.52Trata-se aqui de expandir o âmbito do Programa de modo a atender a uma parcela maior dos produtores. 5. Incentivos fiscais ao investimento, como a depreciação acelerada em relação às compras de bens de capital produzidos no país tendo como finalidade o investimento no complexo Metal Mecânico. Medidas como esta têm sido adotadas no Brasil. Como no caso anterior, trata-se de ampliar seu uso, por exemplo, pela concessão de depreciação acelerada integral no próprio ano de aquisição do equipamento. 6. Desoneração dos investimentos, permitindo-se a utilização imediata dos créditos tributários provenientes das aquisições de bens de capital. 51 A visita da Pres. Dilma Roussef à China na semana de 11 a 16 de abril de 2011 tem precisamente este como um dos principais objetivos. Destaque-se que recentemente um alto dirigente chinês em visita ao Brasil mencionou que o padrão de comércio entre seu país e o Brasil tornou-se viesado (o Brasil exporta produtos básicos, a China exporta produtos da Metal Mecânica) porque atualmente a criação de tecnologia e capacidade de inovação na indústria brasileira são escassas. 52 O PSI foi criado em julho de 2009, quando a recessão brasileira pós-crise de 2008 havia chegado ao seu ponto mais agudo, para vigorar por um ano. Foi em seguida prorrogado até o fim de 2010 e, depois, até o fim de março de 2011. É provável que venha a ser prorrogado até dezembro do ano em curso. O governo planeja, inclusive, capitalizar o BNDES com mais R$ 55 bilhões neste ano. 56 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 7. Desoneração da produção de bens de capital pela desoneração do IPI, PIS e COFINS na aquisição de matérias primas e componentes usados na produção de equipamento; aprovar legislação instituindo o drawback investimento. Como caso especial, mas extremamente importante, promover a redução do elevadíssimo custo de energia para o setor industrial metal mecânico. 8. Desoneração tributária das exportações. A tributação incidente sobre as exportações é uma anomalia do caso brasileiro — diz-se que o Brasil é um dos únicos países onde se ―exporta imposto‖ — que cumpre corrigir o mais rapidamente possível. 9. Desoneração da folha de pagamentos para as atividades da cadeia de valor que venham a ser consideradas como parte da indústria Metal Mecânica, como forma de elevar a competitividade. Essa medida, aparentemente sendo cogitada pelas autoridades econômicas, contribuiria para reduzir o custo Brasil. 10. Intensificar os esforços de inovação pelo fomento aos laboratórios e às atividades de Pesquisa e Desenvolvimento. Essa linha de política é extremamente importante porque, segundo os representantes dos órgãos patronais da indústria, um dos motivos da perda de competitividade é o progressivo afastamento tecnológico dos processos de produção no Brasil em relação à fronteira tecnológica. 11. Manter sistema de monitoramento permanente de novas barreiras comerciais criadas pelos principais parceiros comerciais que atinjam as exportações da metal mecânica. 5.4Recomendações de Políticas em Relação ao Avanço da China A análise anterior mostrou que a ameaça da China não é mais por conta das importações de produtos de baixa qualidade e valor agregado, como se avaliava há até bem pouco tempo atrás no Brasil. De fato, a China é atualmente o segundo maior fornecedor de bens de capital para o Brasil, tendo superado a Alemanha (o primeiro são os EUA, ficando a Alemanha em terceiro lugar) e sua participação nos mercados de bens duráveis de consumo (automóveis, eletro e eletrônico-domésticos) tem sido fortemente crescente. Essa tendência vem persistindo até meados de 2011. As exportações de produtos tecnologicamente menos sofisticados vêm sendo progressivamente terceirizada para países como Vietnam, Índia, Malásia, Sri Lanka e Indonésia, onde o custo de mão de obra é ainda menor do que na China. Esse é um dos motivos pelos quais as compras desses países pelo Brasil têm aumentado rapidamente: da Índia, + 93% em 2010; da Indonésia, + 54%; do Vietnã, + 115%; da Malásia, + 43%. A propósito, o MDIC — Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio está em vias de aplicar legislação aprovada recentemente para impedir as importações por triangulação. Mesmo empresas que não concorrem atualmente com os produtos chineses já possuem estratégias de competição, como evidenciado pelo fato de que cerca demetade das empresas industriais brasileiras já definiu uma estratégia para enfrentar a competição com produtos chineses, segundo recente pesquisa da CNI — Confederação Nacional da Indústria. Esse percentual é crescente de acordo com o porte: 70% das grandes empresas adotaram alguma medida diante da concorrência com a China, ante 42% das pequenas. Essa questão vem ganhando bastante importância para a indústria brasileira: o percentual é bem superior ao registrado na pesquisa de 2006, de apenas 29%. Entre as medidas que visam enfrentar a concorrência das empresas chinesas nos mercado doméstico e internacional, destacam-se o investimento na qualidade e/ou design de produtos (assinalado por 48% das empresas) e 57 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras redução de custos e/ou ganhos de produtividade (assinalado por 45%). O investimento na qualidade e design dos produtos foi uma das medidas adotadas por 64% das grandes empresas, enquanto entre as pequenas o percentual é 45%. O investimento em redução de custos, por sua vez, foi realizado por 57% das grandes empresas e 37% das pequenas. A preocupação com design e qualidade ganhou importância entre as estratégias da indústria. Em 2006, a redução de custos era a medida mais adotada (48% de respostas), seguido por investimento em qualidade e/ou design (40% das respostas). Do ponto de vista da política econômica, o instrumento potencialmente mais eficaz é o da defesa comercial:anti-dumping e salvaguardas. O Brasil,aliás, tem feito uso intenso e crescente destes instrumentos em relação à China. Mas o alcance geral tem sido pouco significativo até o momento. Impõe-se o fortalecimento do sistema de defesa comercial pelo aumento do número de analistas qualificados do DECOM. De fato, a equipe responsável por essa área de atividade no MDIC é muito pequena em comparação com a de países como os EUA mesmo a Argentina. A aplicação de direitos provisórios (para a qual deve ser orientado o órgão de defesa comercial) e de direitos antidumping equivalentes à margem de dumping é outro gruo de medidas. Na verdade, o país já tem um poderoso instrumento que pode vir a ser usado como defesa comercial quando dasnegociações junto à OMC em relação ao acesso da China como uma economia de mercado: as Salvaguardas Transitórias, criadas pelo Decreto nº 5.556/05, de 05 de outubro de 2005.53 Este decreto, que regulamenta o uso das salvaguardas, permite que os setores que se sintam prejudicados pela alta das importações chinesas entrem com petições junto ao DECOM (Departamento de Defesa Comercial da SECEX – Secretaria de Comércio Exterior) para a adoção de cotas ou tarifas sobre os produtos da China. Essas medidas de salvaguarda provisória podem ser aplicadas pela imposição de um adicional à TEC (Tarifa Externa Comum) sob a forma de uma alíquota "ad-valorem", de alíquota específica ou na combinação delas (Capítulo V, artigo 19, § 4o do Decreto 5.556 de 2005). No caso da salvaguarda definitiva, podem ser consideradas, além das medidas acima citadas, a imposição de restrição quantitativa e a combinação de todas as modalidades de salvaguardas admitidas.O prazo de vigência do mecanismo de salvaguardas desse decreto não poderá estender-se além de 11 de dezembro de 2013. Um esforço mais recente na área da defesa comercial é do uso mais intensivo da valoração aduaneira, pelo qual a receita Federal fixa um valor para tributar mercadorias que ingressam no Brasil com preços ―excessivamente baixos‖. Outras medidas possíveis são: 1. Aumento do imposto de importação (mas as regras do MERCOSUL impedem grandes avanços nessa área, já que a lista de exceções brasileiras está quase esgotada). 2. Sobretaxas e barreiras técnicas (como a exigência de certificação de qualidade) e ecológicas visando endurecer as condições de entrada de produtos chineses via normas técnicas e sanitárias. 53 O decreto regulamenta as salvaguardas transitórias objeto do art. 16 do Protocolo de Acessão da China à Organização Mundial de Comércio. 58 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 3. Aumento do esforço de promoção comercial.54 4. Certificação pelo INMETRO de equipamento eletro-eletrônico (em vias de ser implantada). O risco principal dessas medidas é que elas podem tornar o Brasil um alvo de retaliação por parte dos chineses.55 54 Lideres de associações de classe (ABIMAQ, ABINEE) são céticos em relação ao sucesso de iniciativas desse tipo enquanto o câmbio permanecer valorizado. 55 O exemplo das crescentes exportações de carne de frango do Brasil para a China é ilustrativo. Os chineses abriram recente e subitamente esse mercado para o Brasil como retaliação a ações protecionistas dos EUA. 59 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Bibliografia Almeida, M. (2009) ―Desafios da Real Política Industrial Brasileira do Século XXI‖. Texto para Discussão nº 1452, IPEA, Brasília, Dezembro. Bonelli, R. (2001) ―Políticas de Competitividade Industrial no Brasil — 1995/2000‖. Texto para Discussão nº 810, IPEA — Instituto de Pesquisa Economia Aplicada, Rio de Janeiro, Julho. Bonelli, R. e Motta Veiga, P. (2003) ―A Dinâmica das Políticas Setoriais no Brasil na Década de 1990: Continuidade e Mudança‖, DDPE - CEPAL, Santiago, Chile. Bonelli, R. e Pessôa, S. de A. (2010) ―Desindustrialização no Brasil: Um Resumo da Evidência‖. Texto para Discussão N. 7, IBRE, Rio de Janeiro. Canêdo-Pinheiro, M.; Ferreira, P. C.; Pessoa, S. de A. e Schymura, L. S. (2008) ―Por que o Brasil não Precisa de Políticas Setoriais: a Importância das Políticas Horizontais‖. Centro de Desenvolvimento Econômico — CDE, IBRE, dezembro. Canêdo-Pinheiro, M. (2010) ―A Recente Política Industrial Brasileira‖, CINDES — Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento . Confederação Nacional da Indústria — CNI (2011.a) ―Indústria Brasileira em Foco‖, Ano 3, nº 1, Fevereiro. Confederação Nacional da Indústria — CNI (2011.b) Sondagem especial CNI Ano 9, n. 1. Fevereiro. Brasília, D. F. Gianmarco, I. P. e de Sousa, F. L. (2010) ―Productivity andCreditConstraints: Whereisthe Link?‖, Setembro, BNDES (mimeo). Iglesias, R.; Rios, S. M. P. e Ribeiro, L. (2011) ― Determinantes macroeconômicos do desempenho recente das exportações de manufaturados‖, Breves CINDES nº42, Janeiro. Moreira, M. M.; Volpe, C. e Blyde, J. S. (2008) ―Unclogging the Arteries: The Impact of Transport Costs on Latin American and Caribbean Trade‖, Special Report on Integration and Trade, Inter-American Development Bank, David Rockefeller Center for Latin American Studies, Harvard University. Motta Veiga, P. (2011) ―Os condicionantes microeconômicos das exportações‖, Breves CINDES nº 43, Janeiro. Oreiro, J. L., ―Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro‖, publicado em 22 de dezembro de 2009. Peres, W. e Primi, A. (2009) ―Theory and Practice of Industrial Policy: Evidence from the Latin American Experience‖. CEPAL — Serie DesarrolloProductivo nº 187, Fevereiro, Santiago, Chile. Pessôa, S. de A. (2011) ―O Equilíbrio Macroeconômico e a Taxa de Câmbio Real‖. Texto não publicado, IBRE/FGV, Rio de Janeiro. 60 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Reis, J. G. A. dos e Farole, T. (2010) "Trade andtheCompetitiveness Agenda‖. Economic Premise, Poverty Reduction and Economic Management Network (PREM), June, N. 18, World Bank, Washington, DC. Rios, S. M. P. e Iglesias, R. (2010) ―Desempenho das exportações brasileiras no pós-boom exportador: características e determinantes‘. C INDES — Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, Agosto. Sarti, F. e Hiratuka, C. (2011) ―Desenvolvimento industrial no Brasil:oportunidades e desafios futuros‖.Texto para Discussão n. 187. IE/UNICAMP, Campinas, janeiro. 61 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Anexos Anexo A.1 62 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Anexo A.2 Tabela A.2: Pessoal ocupado na economia brasileira, 1990-2000 63 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras AnexoA.3 Tabela A.3: Estrutura do VA a preços básicos, 2000-2008 Participação no valor adicionado bruto a preços básicos (%) Total Agropecuária Indústria 2000 100,0 5,6 27,7 2001 100,0 6,0 26,9 2002 100,0 6,6 27,1 2003 100,0 7,4 27,8 2004 100,0 6,9 30,1 2005 100,0 5,7 29,3 2006 100,0 5,5 28,8 2007 100,0 5,6 27,8 2008 100,0 5,9 27,9 Extrativa Mineral 1,6 1,5 1,6 1,7 1,9 2,5 2,9 2,3 3,2 Indústria de transformação 17,2 17,1 16,9 18,0 19,2 18,1 17,4 17,0 16,6 3,4 3,0 3,3 3,4 3,9 3,8 3,8 3,6 3,1 5,5 5,3 5,3 4,7 5,1 4,9 4,7 4,9 4,9 Prod e distribeletr, gás, água, esgoto Construção Civil Serviços 66,7 67,1 66,3 64,8 63,0 65,0 65,8 66,6 66,2 Comércio 10,6 10,7 10,2 10,6 11,0 11,2 11,5 12,1 12,5 Transporte, armazenagem e correio 4,9 5,0 4,8 4,7 4,7 5,0 4,8 4,8 5,0 Serviços de informação 3,6 3,5 3,6 3,6 3,8 4,0 3,8 3,8 3,8 6,0 6,8 7,5 7,1 5,8 7,1 7,2 7,7 6,8 Atividades imobiliárias e aluguéis 11,3 10,7 10,2 9,6 9,1 9,0 8,7 8,5 8,2 Serviços de manutenção e reparação 1,3 1,2 1,2 1,1 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 Serviços de alojamento e alimentação 1,8 1,8 1,8 1,6 1,6 1,6 1,8 1,8 1,8 Serviços prestados às empresas 4,7 4,4 4,4 4,5 4,5 4,6 4,8 4,7 4,9 Educação mercantil 1,5 1,3 1,4 1,4 1,4 1,2 1,2 1,2 1,1 Saúde mercantil 2,2 2,2 2,1 1,9 1,9 1,8 2,0 2,0 1,9 Serviços prestados às famílias 2,8 2,7 2,5 2,4 2,3 2,4 2,4 2,3 2,2 Serviços domésticos 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2 1,2 1,3 1,2 1,2 Educação pública 3,8 3,7 3,8 3,6 3,2 3,3 3,4 3,6 3,8 Saúde pública 1,7 1,7 1,9 1,8 1,8 1,8 1,8 2,0 2,0 Administração pública e seguridade social 9,4 10,1 9,9 9,7 9,6 10,0 10,1 9,9 9,9 Intfinanc, seg, previdência compl Fonte: Contas Nacionais, IBGE. 64 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras AnexoA.4 Tabela A.4: Estrutura das Ocupações, 2000-2008 (%) Total Agropecuária Indústria 2000 100,0% 22,3% 19,5% Participação no total de ocupações (%) 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 21,2% 21,0% 21,0% 21,4% 20,9% 19,7% 18,6% 17,8% 19,2% 19,2% 19,0% 19,3% 20,0% 19,5% 20,1% 20,9% Extrativa Mineral 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% 0,3% Ind. de Transformação 12,0% 11,8% 11,7% 11,9% 12,2% 12,8% 12,5% 12,8% 13,0% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4% 6,7% 6,7% 6,8% 6,4% 6,4% 6,5% 6,4% 6,6% 7,2% 58,2% 59,5% 59,8% 59,9% 59,3% 59,1% 60,7% 61,4% 61,3% Prod&disteletr gás, água, esgoto Construção Civil Serviços Comércio 15,7% 16,0% 16,4% 16,6% 16,1% 16,3% 16,6% 16,7% 16,1% Transp armazenagem e correio 4,1% 4,2% 4,3% 4,2% 4,1% 4,2% 4,2% 4,3% 4,5% Serviços de informação 1,6% 1,6% 1,6% 1,7% 1,6% 1,7% 1,8% 1,9% 1,9% Int fin seguros, prevcompl 1,1% 1,1% 1,1% 1,1% 1,0% 1,0% 1,0% 1,0% 1,0% Atividades imobiliárias e aluguéis 0,7% 0,7% 0,7% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6% 0,7% 0,7% Serviços de manutenção e reparação 2,1% 2,1% 2,0% 2,0% 2,0% 2,0% 2,0% 2,1% 2,1% Serviços de alojamento e alimentação 3,9% 4,2% 4,2% 4,2% 3,8% 3,8% 3,9% 3,9% 3,8% Serviços prestados às empresas 4,3% 4,4% 4,5% 4,4% 4,7% 4,6% 4,8% 5,0% 5,2% Educação mercantil 1,3% 1,3% 1,3% 1,2% 1,3% 1,2% 1,3% 1,4% 1,5% Saúde mercantil 1,7% 1,8% 1,8% 1,8% 1,9% 1,8% 1,9% 1,9% 1,9% Serviços prestados às famílias 4,6% 4,5% 4,3% 4,4% 4,5% 4,4% 4,8% 4,6% 4,6% Serviços domésticos 7,0% 7,1% 7,3% 7,1% 7,4% 7,2% 7,4% 7,1% 7,2% Educação pública 3,9% 3,9% 3,9% 3,9% 3,7% 3,7% 4,0% 4,1% 4,0% Saúde pública 1,4% 1,4% 1,3% 1,4% 1,4% 1,4% 1,3% 1,4% 1,5% 4,9% 5,2% 5,2% 5,2% 5,2% 5,1% 5,2% 5,3% 5,2% Adm pública e seguridade social Fonte: Contas Nacionais, IBGE. 65 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Anexo A.5 Tabela A.5: Variação anual do VA a preços básicos por setores e atividades, 1991-2000. Valor adicionado a preços básicos (%) 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Agropecuária 1,37 4,89 (-) 0,07 5,45 4,08 3,11 (-) 0,83 1,27 8,33 2,15 Indústria 0,26 (-) 4,22 7,01 6,73 1,91 3,28 4,65 (-) 1,03 (-) 2,22 4,81 2,42 (-) 5,46 1,69 4,72 5,16 1,04 3,25 (-) 0,69 (-) 8,22 7,49 Extração de petróleo e gás natural, carvão e outros (-) 4,29 combustíveis(-) 0,42 1,48 7,40 2,42 11,00 6,57 13,00 11,75 11,54 Fabricação de minerais não-metálicos 1,15 (-) 7,19 5,27 4,58 3,24 5,48 6,18 (-) 1,36 (-) 2,47 3,80 Siderurgia 0,97 1,13 7,61 9,24 (-) 4,90 4,03 2,76 (-) 3,10 1,76 5,86 Metalurgia dos não-ferrosos 1,41 (-) 5,75 10,41 17,83 1,76 6,25 0,17 (-) 6,66 6,02 2,38 (-) 0,95 (-) 3,43 8,35 10,29 (-) 0,68 4,21 7,65 (-) 3,73 (-) 6,95 4,86 Fabricação e manutenção de máquinas e tratores (-) 7,67 (-) 3,60 13,66 13,44 (-) 2,07 0,50 4,88 (-) 4,22 (-) 4,71 16,70 Fabricação de aparelhos e equipamentos de material (-) 0,87 elétrico Extrativa mineral (exceto combustíveis) Fabricação de outros produtos metalúrgicos (-) 3,73 8,62 14,45 8,98 (-) 1,52 3,52 (-) 2,41 (-) 8,65 16,26 Fabricação de aparelhos e equipamentos de material (-) 4,38 eletrônico (-) 23,79 22,29 32,46 15,14 7,09 (-) 6,08 (-) 22,20 (-) 18,12 (-) 0,36 Fabricação de automóveis, caminhões e ônibus 14,59 (-) 4,14 23,53 13,20 3,86 0,69 15,20 (-) 20,04 (-) 12,93 22,80 Fabricação de outros veículos, peças e acessórios (-) 3,22 (-) 2,15 18,56 13,37 1,08 0,71 5,24 (-) 10,15 (-) 1,06 13,88 Serrarias e fabricação de artigos de madeira e mobiliário (-) 7,71 (-) 5,36 11,91 0,63 1,51 3,74 1,02 (-) 2,04 1,79 10,07 Indústria de papel e gráfica 5,81 (-) 1,72 9,69 3,65 1,33 1,89 1,41 (-) 0,49 2,52 2,85 Indústria da borracha 0,78 (-) 1,03 8,91 2,66 (-) 1,42 0,80 2,56 (-) 6,55 0,24 11,74 Fabricação de elementos químicos não-petroquímicos 8,35 (-) 10,80 2,47 3,79 0,03 5,78 9,02 (-) 10,63 1,20 (-) 6,40 Refino de petróleo e indústria petroquímica 5,29 0,45 5,91 5,03 (-) 2,56 1,38 7,34 2,79 0,08 0,63 Fabricação de produtos químicos diversos 7,88 (-) 2,50 4,14 5,71 0,07 5,23 1,68 (-) 1,24 (-) 1,80 4,83 Fabricação de produtos farmacêuticos e de perfumaria 4,87 (-) 7,23 8,82 (-) 0,84 11,93 (-) 2,00 6,48 1,54 1,79 (-) 1,41 Indústria de transformação de material plástico (-) 1,03 (-) 10,49 7,60 1,82 8,93 9,65 1,31 0,60 (-) 13,12 (-) 7,30 (-) 5,08 3,47 1,93 (-) 5,84 (-) 5,64 (-) 6,65 (-) 1,58 (-) 4,79 2,07 (-) 7,13 4,00 2,91 1,50 (-) 1,65 (-) 7,73 (-) 1,94 (-) 0,49 11,18 Indústria têxtil (-) 4,81 Fabricação de artigos do vestuário e acessórios (-) 14,69 Fabricação de calçados e de artigos de couro e (-) peles 7,93 4,53 15,27 (-) 8,16 (-) 6,17 2,25 (-) 7,31 (-) 6,22 (-) 0,27 9,12 17,12 0,93 (-) 3,74 (-) 7,93 0,48 (-) 1,93 0,30 21,52 (-) 0,25 Beneficiamento de produtos de origem vegetal, inclusive 1,49 fumo (-) 0,82 6,76 4,03 3,57 3,25 9,17 (-) 1,26 (-) 6,21 7,97 Abate e preparação de carnes 2,82 4,35 (-) 5,11 14,45 1,31 (-) 1,05 (-) 2,50 1,97 (-) 4,88 Indústria do café (-) 2,20 3,17 Resfriamento e preparação do leite e laticínios (-) 6,28 2,99 (-) 5,85 (-) 2,84 22,58 6,13 0,26 (-) 0,47 (-) 4,23 13,66 (-) 9,74 (-) 7,26 8,81 11,51 (-) 0,67 7,86 2,51 16,28 (-) 21,10 Fabricação e refino de óleos vegetais e de gorduras 11,63 para alimentação (-) 5,65 2,84 3,95 8,00 (-) 1,62 (-) 3,48 7,15 0,37 13,01 Outras indústrias alimentares e de bebidas 6,39 (-) 6,03 5,82 9,33 10,45 1,62 (-) 2,41 3,36 0,36 5,30 Indústrias diversas 2,52 (-) 1,86 3,60 7,21 0,12 (-) 0,57 2,35 2,30 3,47 2,86 Serviços industriais de utilidade pública 7,06 (-) 0,13 4,95 4,19 7,63 6,00 5,90 5,19 1,36 4,23 (-) 1,19 (-) 6,30 4,49 6,99 (-) 0,43 5,21 7,62 1,54 (-) 3,67 2,62 1,96 1,52 3,21 4,73 4,48 2,26 2,55 0,91 2,01 3,80 (-) 0,64 (-) 3,55 7,90 9,35 8,53 1,80 3,00 (-) 4,67 (-) 0,57 4,47 1,46 2,68 4,29 4,06 6,63 2,58 3,93 (-) 3,64 (-) 1,57 3,07 18,99 4,97 10,85 13,87 22,92 10,85 5,02 8,31 12,12 15,60 4,05 Indústria do açúcar Construção civil Serviços Comércio Transporte Comunicações Instituições financeiras 5,29 (-) 4,52 (-) 4,92 (-) 1,87 (-) 2,85 (-) 8,09 2,50 3,15 (-) 1,23 0,63 Serviços prestados às famílias 0,47 2,86 3,24 4,74 1,71 2,17 0,82 1,01 1,68 1,10 Serviços prestados às empresas 6,67 6,71 5,11 7,11 6,92 4,87 5,23 7,39 3,16 12,50 Aluguel de imóveis 3,02 2,33 (-) 0,32 5,39 2,83 2,51 2,57 2,62 2,32 2,62 Administração pública 1,64 1,95 2,21 0,44 0,81 1,36 1,71 1,47 2,31 1,47 Serviços privados não-mercantis 1,89 1,02 3,45 4,54 4,40 (-) 3,95 2,39 (-) 3,19 2,32 9,38 66 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Anexo A.6 Tabela A.6: Exportações por fator gerador - preços correntes e preços constantes Exportações a Preços correntes (US$ milhões FOB) Produtos básicos Produtos semimanufaturados Produtos manufaturados Transações especiais Total Exportações 1990 8.747 5.108 17.011 549 31.414 1991 8.737 4.691 17.757 435 31.620 1992 8.830 5.750 20.754 459 35.793 1993 9.366 5.445 23.437 307 38.555 1994 11.058 6.893 24.959 635 43.545 1995 10.969 9.146 25.565 826 46.506 1996 11.899 8.614 26.411 821 47.747 1997 14.471 8.479 29.192 848 52.986 1998 12.970 8.114 29.380 656 51.120 1999 11.828 7.982 27.331 872 48.013 2000 12.564 8.499 32.559 1.498 55.119 2001 15.349 8.242 32.959 1.737 58.287 2002 16.959 8.966 33.069 1.445 60.439 2003 21.186 10.945 39.764 1.309 73.203 2004 28.529 13.433 53.137 1.585 96.678 2005 34.732 15.963 65.353 2.482 118.529 2006 40.285 19.523 75.018 2.981 137.808 2007 51.596 21.800 83.943 3.309 160.649 2008 73.028 27.073 92.683 5.158 197.942 2009 61.958 20.499 67.349 3.188 152.995 90.005 28.207 79.563 4.138 201.915 2010 Exportações a Preços constantes (base 2010) Produtos básicos Produtos semimanufaturados Produtos manufaturados Total das Exportações (exc. Trans. Especiais) 1990 1.889 1.655 5.882 55.553 1991 1.855 1.616 6.182 56.965 1992 1.993 2.368 9.207 66.671 1993 2.302 2.807 10.386 77.693 1994 2.793 3.516 12.205 79.298 1995 2.630 4.150 13.402 74.541 1996 2.924 4.012 14.533 76.475 1997 4.004 4.461 16.045 84.267 1998 3.831 4.356 16.741 87.187 1999 3.797 4.465 18.186 93.916 2000 4.375 5.608 20.163 104.338 2001 7.127 5.508 22.110 114.277 2002 9.073 6.300 25.284 124.139 2003 12.823 9.305 33.353 143.668 2004 19.559 14.398 47.776 171.087 2005 25.499 18.961 62.437 187.117 2006 31.368 23.690 74.202 193.362 2007 44.927 27.307 83.627 203.978 2008 63.719 32.218 91.518 198.951 2009 55.604 18.825 63.152 177.565 2010 90.005 28.207 79.563 197.775 67 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Anexo A.7 Tabela A. 7: Índices de Quantum da Produção por Setores da Metal Mecânica e Total da Indústria, 1991-2010 (baseados em valores a preços constantes de 2005) Indústria Produtos Transformação de metal Máq.E equipamentos Máquinas, aparelhos e materiais elétricos Máquinas para escritório e de informática Material eletrônico e de comunicações Veículos automotores Outros equipamentos de transporte Anos 1991 100,0 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1992 95,9 0,972 0,907 0,997 0,941 0,730 0,950 1,105 1993 103,7 1,038 1,080 1,058 1,060 0,903 1,198 1,101 1994 111,8 1,210 1,311 1,214 1,223 1,126 1,347 1,229 1995 113,7 1,216 1,266 1,304 1,248 1,305 1,442 1,096 1996 115,0 1,162 1,173 1,309 1,240 1,422 1,473 0,959 1997 119,1 1,209 1,254 1,443 1,298 1,330 1,675 0,920 1998 115,2 1,160 1,207 1,455 1,191 0,935 1,352 1,176 1999 113,4 1,148 1,136 1,357 1,132 0,754 1,227 1,305 2000 120,3 1,173 1,350 1,500 1,303 1,000 1,454 1,585 2001 121,9 1,200 1,407 1,804 1,375 0,972 1,455 1,968 2002 122,5 1,233 1,446 1,788 1,467 0,864 1,424 2,398 2003 122,3 1,166 1,523 1,820 1,584 0,868 1,485 2,617 2004 132,7 1,282 1,769 1,949 2,116 1,023 1,928 2,887 2005 136,3 1,280 1,745 2,102 2,481 1,168 2,060 3,047 2006 139,8 1,264 1,814 2,285 3,761 1,168 2,087 3,111 2007 148,3 1,337 2,136 2,605 4,303 1,156 2,400 3,545 2008 152,8 1,370 2,265 2,701 3,918 1,122 2,595 5,042 2009 141,6 1,169 1,845 2,163 3,659 0,836 2,274 5,161 2010 156,2 1,443 2,294 2,353 4,135 0,861 2,825 5,156 Fonte: IBGE. 68 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Anexo A.8 Tabela A.8: Evolução do VTI (VA) da Metal-Mecânica, 2000-2007 Valor da transformação industrial (Mil Reais) Ano Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) 2000 2007 Ind. de Transformação 247.457.251 581.362.230 Ano 2000 2007 Participação dentro do setor 27 Metalurgia básica 16.198.777 47.867.068 100% 100% 27.1 Produção de ferro-gusa e de ferroligas 6.508.074 4.828.561 40% 10% 27.2 Siderurgia 3.847.042 27.710.780 24% 58% 27.3 Fabricação de tubos - exceto em siderúrgicas 27.4 Metalurgia de metais não-ferrosos 27.5 Fundição 28 Fabricação de produtos de metal - exceto máquinas e equipamentos 28.1 Fabricação de estruturas metálicas e obras de caldeiraria pesada 28.2 Fabricação de tanques, caldeiras e reservatórios metálicos 28.3 Forjaria, estamparia, metalurgia do pó e serviços de tratamento de metais 28.4 Fabricação de artigos de cutelaria, de serralheria e ferramentas manuais 28.8 Manutenção e reparação de tanques, caldeiras e reservatórios metálicos 28.9 Fabricação de produtos diversos de metal 29 Fabricação de máquinas e equipamentos 29.1 Fabricação de motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão 29.2 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral 29.3 Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura, avicultura e obtenção de produtos animais 29.4 Fabricação de máquinas-ferramenta 29.5 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e construção 29.6 Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso específico 29.7 Fabricação de armas, munições e equipamentos militares 29.8 Fabricação de eletrodomésticos 29.9 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos industriais 30 Fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática 30.1 Fabricação de máquinas para escritório 30.2 Fabricação de máquinas e equipamentos de sistemas eletrônicos para processamento de dados 31 Fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos 31.1 Fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos 31.2 Fabricação de equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica 31.3 Fabricação de fios, cabos e condutores elétricos isolados 819.949 2.365.809 5% 5% 4.533.725 10.869.157 28% 23% 489.986 2.092.761 3% 4% 7.904.649 21.629.391 100% 100% 1.048.469 3.769.424 13% 17% 319.688 1.232.915 4% 6% 1.246.930 5.023.915 16% 23% 1.583.317 3.619.564 20% 17% - 286.851 --- 1% 3.706.246 7.696.721 47% 36% 13.441.595 35.383.030 100% 100% 2.944.355 5.623.567 22% 16% 3.147.451 7.427.003 23% 21% 1.277.214 4.416.819 10% 12% 699.046 1.845.478 5% 5% 878.863 3.226.709 7% 9% 2.333.258 4.633.775 17% 13% 156.362 459.381 1% 1% 2.005.045 4.880.748 15% 14% - 2.869.551 --- 8% 2.823.701 3.813.206 100% 100% 1.395.206 120.813 49% 3% 1.428.496 3.692.393 51% 97% 6.164.319 14.750.762 100% 100% 1.465.620 3.563.642 24% 24% 990.749 1.687.867 16% 11% 918.430 2.296.743 15% 16% 31.4 Fabricação de pilhas, baterias e acumuladores elétricos 271.764 619.514 4% 4% 31.5 Fabricação de lâmpadas e equipamentos de iluminação 500.135 815.355 8% 6% 1.468.726 4.511.108 24% 31% 31.6 Fabricação de material elétrico para veículos - exceto baterias 69 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras 31.8 Manutenção e reparação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos 31.9 Fabricação de outros equipamentos e aparelhos elétricos - 337.709 --- 2% 548.895 918.825 9% 6% 32 Fabr material eletrôn. e aparelhos e equip comunicações 8.565.108 11.086.455 100% 100% 32.1 Fabricação de material eletrônico básico 32.2 Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio 32.3 Fabricação de aparelhos receptores de rádio e televisão e de reprodução, gravação ou amplificação de som e vídeo 32.9 Manutenção e reparação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio exceto telefones 33 Fabrequip instrumentação médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos para automação industrial, cronômetros e relógios 33.1 Fabricação de aparelhos e instrumentos para usos médicoshospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos 33.2 Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto equipamentos para controle de processos industriais 33.3 Fabrmáq, apareequip sistemas eletrônicos dedicados à automação industrial e controle do processo produtivo 33.4 Fabricação de aparelhos, instrumentos e materiais ópticos, fotográficos e cinematográficos 33.5 Fabricação de cronômetros e relógios 33.9 Manut reparação equip médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos e equipamentos para automação industrial 34 Fabr e montagem de veíc automotores, reboques e carrocerias 1.203.362 2.221.322 14% 20% 5.600.216 5.597.007 65% 50% 1.761.530 2.759.287 21% 25% - 508.839 --- 5% 2.200.572 5.090.222 100% 100% 764.552 1.802.284 35% 35% 723.378 1.620.255 33% 32% 196.930 479.788 9% 9% 295.923 561.915 13% 11% 219.789 340.977 10% 7% - 285.003 --- 6% 17.387.520 52.112.309 100% 100% 34.1 Fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários 7.873.988 23.332.811 45% 45% 34.2 Fabricação de caminhões e ônibus 2.128.364 6.012.367 12% 12% 34.3 Fabricação de cabines, carrocerias e reboques 1.091.397 2.883.610 6% 6% 34.4 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 6.133.080 19.580.899 35% 38% 160.691 302.622 1% 1% 34.5 Recondicionamento ou recuperação de motores 35 Fabricação de outros equipamentos de transporte 3.905.869 12.209.220 100% 100% 35.1 Construção e reparação de embarcações 206.076 2.110.672 5% 17% 35.2 Construção, montagem e reparação de veículos ferroviários 158.825 1.388.160 4% 11% 35.3 Construção, montagem e reparação de aeronaves 2.559.459 4.000.084 66% 33% 35.9 Fabricação de outros equipamentos de transporte Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Anual Empresa 981.509 4.710.305 25% 39% 70 Ajudando o Brasil a expandir fronteiras Anexo A.9 Tabela A.9: Importações da China com origem na Metal-Mecânica do Brasil Importações da China (da MM do Brasil) Categorias Calderas y generadores de vapor Máquinas herramientas Máquinas manuales, construcción Máquinas de oficina Máquinas y equipos Bombas y compenentes de máquinas Equipos de calefacción Electro-domésticos Otras maquinarias eléctricas Estructuras Maquinaria agricola y tractores Autos y vehículoscomerciales Bicicletas y motocicletas Ferrocarriles Barcos y maquinaria naval Aviones Muebles metálicos Latas y cajas de metal embalar Toneles, tanques y tambores Articulos derivados de alambre Otros artículos de metal Total USD mi 2005 Conteúdo em aço (t) USD mi 2010 Conteúdo em aço (t) 0,0 55,6 17,3 1,0 46,5 76,6 0,0 0,2 15,7 0,2 3,8 78,0 0,0 0,0 15,6 22,9 0,0 0,0 0,0 5,9 18,4 1 4.350 3.662 1 3.393 3.454 0 24 1.230 36 290 2.021 6 0 2.712 6 0 0 42 1.248 2.321 0,0 0,9 14,8 1,7 26,7 110,2 0,0 0,8 8,8 0,0 1,5 28,3 0,1 0,0 6,3 357,1 0,1 0,0 0,0 8,5 43,0 0 92 5905 4 756 26948 0 157 661 0 71 1291 5 1 242 216 8 0 1 1151 1034 357,8 24.797 608,8 38542 Fonte: ILAFA. 71