O Barroco na Europa

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O Barroco na Europa
O Barroco na Europa
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Evandro da Silva Souza
Wesley Rocha Santos
Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar o período de ascensão da arte barroca na Europa,
procurando explicitar quais as suas características mais comuns, a forma como influenciou o pensamento do
período, sua forte ligação com o absolutismo e a igreja católica e a forma como os críticos entendem esse
importante momento da arte.
Palavras chave: Barroco, Europa, contra-reforma, absolutismo, arte.
Barroco (do espanhol, barrueco ou do português “barroco”: pérola de superfície
irregular) em sentido figurado, aplica-se a toda forma artística muito rebuscada e
excessivamente trabalhada. Termo empregado inicialmente de maneira pejorativa
por
alguns críticos a toda manifestação cultural do século XVII. Por trás dessa descrição fria e
técnica esconde-se um significado muito além do jogo gramatical das palavras que o
definiam. A designação “ barroco” imposta a esse estilo de arte atendia às observações de
alguns críticos dos setecentos que pretendiam ridicularizar as tendências de então, opondose veementemente também
ao estilo clássico da arte renascentista que a antecedeu.
Notoriamente, as designações deveriam ser entendidas em seu momento de criticidade mais
intolerante, como sinônimos de “absurdo” ou “grotesco”. Com o tempo, novos significados
vão surgindo, sem entretanto fugir consideravelmente do intuito dos primeiros. Eram eles:
“requisitado”, “tortuoso”, “rebuscado”, “sinal de mal gosto”,etc. O que estes críticos
porém, não consideravam em suas observações era o fato de que este movimento atendia
ás necessidades contextuais de uma época bastante conturbada, recorrendo à sensibilidade
artística para tal fim.
A verdade é que segmentos da sociedade da época descobriam no barroco meios
de enxergar a si mesmos. Um exemplo claro é a relação da igreja católica com esse estilo
artístico: o “absurdo barroquino” foi utilizado ao extremo para exemplificar as maravilhas
do mundo celestial, arrebatando os contempladores para um espetáculo de esplendor e
movimento, jamais economizando recursos financeiros para a pronta execução de tais
anseios. Como se percebe, era preciso impressionar, e portanto cada vez mais a variedade
de ornamentações repletas de complexidade e idéias notáveis definia a arte do período.
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Alunos do 5° período do curso de graduação em história da FJAV (Faculdade José Augusto Vieira) em
artigo orientado pelo professor Marco Antonio Matos na disciplina história moderna II.
A descoberta do estilo pelo clero é realmente um ponto crucial na história da arte
barroca. Tanto que a religiosidade marcante do estilo acabou levando estudiosos a o
classificarem como a arte da contra-reforma, em oposição ao classicismo pagão. Deve-se
levar em conta, no entanto, o fato de que por volta de 1600 ( quando surgem as primeiras
manifestações do estilo)
a contra-reforma já havia concluído seu trabalho e o
Protestantismo mantinha-se na defensiva.Ou seja, a Europa encontrava-se em meio a um
equilíbrio de forças difícil de ser quebrado. Outro fator de relevância nesse sentido é a
rapidez com a qual o barroco espalhou-se no norte protestante, o que não deixa de diminuir
de forma considerável a afirmação de um “estilo da contra-reforma.”. É correto, porém
afirmar o uso do estilo pela igreja na busca de um enaltecimento do mundo católico.
Pintores, escultores e arquitetos eram então muito solicitados para tal. Por trás de suas
obras, pode-se identificar uma característica que esclarece muito da antagonia que
angustiava o espírito humano na época: o uso constante da oposição claro-escuro e a ênfase
sobre a luz e a cor evidenciam o estratagema artístico do movimento barroco em promover
a tentativa de conciliação entre a matéria e o espírito, a luz e a sombra, essenciais para o
equilíbrio dos dramas humanos. O homem barroco dividia-se entre os apelos da alma, que
incluíam a salvação da mesma e os apelos do corpo físico ( carnais e materiais).
“Quanto mais os protestantes pregavam contra a
ostentação nas igrejas mais se empenhava a Igreja romana em
recrutar o poder do artista. Assim, a Reforma e toda a molesta
questão das imagens e seu culto, que tinham influenciado tão
freqüentemente o curso da arte no passado,também tiveram um
efeito indireto sobre o desenvolvimento do barroco.”(Gombrich,
E.H.p 436)
Na opinião dos estudiosos, os artistas barrocos procuravam conciliar, na medida
em que lhes era possível o teor do teocentrismo medieval com o antropocentrismo dos
humanistas. Alguns exemplos específicos desse aspecto do barroco estão em obras como “
o sacrifício de Isaac”, e “A vocação de São Mateus”, do notável pintor romano Caravaggio.
Nas obras citadas, em meio a um realismo avassalador, as figuras passeiam por entre a
força da luz e o contraste entre o claro e o escuro. Artistas como Caravaggio, impregnavam
em suas obras uma espécie de “Cristianismo leigo”, ou seja, observadores mais atentos
notarão que os dogmas teológicos não são explicitados nas obras. Um fator que agradava
até mesmo aos protestantes. Não é a toa que Rembrandt, um grande expoente da arte no
Norte protestante traz vaga, mas notória a influência do artista romano.Autor de uma vasta
obra, que tinha como tema proeminente a inspiração bíblica, não há como negar a
influência barroca manifestada principalmente no contraste claro-escuro, uma característica
muito observada em toda a sua produção artística.
Tornada em consenso pelos estudiosos o berço do barroco por manter firme
influência e reunir artistas de várias nacionalidades, a Itália onde outrora florescera o
Renascimento, tornava-se agora também centro de origem da arte barroca. Inclusive, era
desejo do papado o patrocínio de obras de arte em escala cada vez maior, a fim de tornar
Roma a mais exuberante cidade de todo o mundo cristão.
“No século XVIII os artistas italianos eram
principalmente soberbos decoradores de interiores, famosos em
toda a Europa por sua habilidade no trabalho de estuque e por
seus grandes afrescos, que podiam transformar qualquer salão de
um palácio ou mosteiro num cenário de riqueza espetacular.”
(Gombrich. E. H. p 443)
Além da Itália, o catolicismo profundamente fervoroso da Espanha também
revelou grandes mestres. Diego Velázques é um exemplo entre tantos outros que, após
permanência em Roma, onde buscou estudar a pintura dos grandes expoentes italianos,
tornou-se uma das maiores expressões da pintura barroca de seu país. Sendo o principal
retratista do rei Filipe IV, o seu senso de observação da corte espanhola levou-o à
concepção de obras sublimes, a exemplo de “As meninas”, que figura entre as maiores
obras-primas mundiais, pela composição e luminosidade que transmite. Tal e qual o clero,
os reis e príncipes da Europa seiscentista, na ânsia em exibir seu poderio e assim alimentar
cativa sobre a mente de seus súditos a idéia de sua ascendência superior não demoraram a
utilizar o estilo, refletindo em seus palácios toda a grandiosidade e suntuosidade que o
estilo poderia lhes oferecer. Neste ínterim, especialmente a arquitetura barroca, encontrava
em uma aristocracia faustosa meios de difundir-se, entre o fim do século XVII e inicio do
século XVIII pela França, Alemanha, Áustria e Boêmia.
O mais expressivo e monumental exemplo da marca do estilo no cenário
absolutista é sem dúvida o gigantesco palácio de Versalhes na França. Na verdade é muito
mais a
imensidão do palácio de Luís XIV que o torna barroco do que os detalhes
decorativos em si. Característica imprescindível das obras arquitetônicas do período,
Versalhes figurava como uma espécie de cenário teatral, onde os artistas buscavam
reproduzir os efeitos de um mundo fantástico e artificial. O efeito de tal arte, em contraste
às condições subhumanas em que vivia grande parte da população francesa, que convivia
diariamente com a imundície das ruas sombrias de então, deveria ser realmente impactante.
Versalhes era extremamente útil a Luís XIV. Instalado em meio ao luxo e o esplendor com
a sua corte , atraía e mantinha subjugada a nobreza, que habilmente controlava e submetia a
seus serviços.
“Versalhes é tão gigantesco que nenhuma
fotografia pode dar uma idéia adequada de seu aspecto.Há nada
menos que 123 janelas que dão em cada andar para o parque.O
próprio parque com suas avenidas de arbustos aparados, suas
urnas e estatuária, e seus terraços e tanques estende-se por muitos
quilômetros de campo.”(Gombrich.
E. H. p 447)
Torna-se necessário aqui esclarecer uma outra interessante questão referente ao
barroco: o fato de alguns estudiosos afirmarem ter o estilo se originado em meio ao clímax
do absolutismo. Há nesse ponto algumas disparidades, afinal, o absolutismo encontrava-se
já em formação desde a década de 1520. E mais: o estilo barroco alcançou notável
desenvolvimento não apenas nas monarquias absolutistas mas também na Holanda
burguesa.
Voltando nossa atenção agora aos países protestantes, notaremos que apesar de
manterem-se discretos, não podiam deixar de se impressionarem com a força do estilo.
Mesmo a Inglaterra dos Stuart, durante o período da Restauração, repudiava o que
considerava os gostos e concepções dos puritanos, mas sutilmente acabou sendo tomada
por uma febre de construção, que alastrou-se por palácios,catedrais e até mesmo residências
de campo. Era regra entre os arquitetos a intenção de não infringirem nenhuma regra do que
consideravam “bom gosto” e portanto voltavam-se ao máximo às leis ditadas explícita ou
implicitamente pela arquitetura clássica. Opunham-se assim ao que consideravam “vôos de
fantasia” do estilo barroco, mas tiveram nomes como Sir Chistopher Wren, que embora
discretamente, deixou-se influenciar pelos agrupamentos, técnicas e efeitos da arquitetura
barroca. Notadamente, a casa de campo tornou-se o laboratório natural para os artistas
ingleses, que acabaram destacando-se nessa vertente, especialmente por acabarem criando
o que poderíamos classificar como “jardim paisagístico”.A busca aqui era de uma beleza
que refletisse impreterivelmente o ideal harmônico da natureza.
Durante o século XVIII o gosto inglês ditava os modelos artísticos que deveriam
ser seguidos e era acompanhado maciçamente pelos demais paises europeus. A razão e seu
domínio passavam a predominar no campo cultural e até mesmo na França assistia-se ao
declínio de um mundo de deslumbramento aristocrático, cedendo lugar a uma arte mais
voltada à vida dos homens e mulheres comuns do seu tempo.
Bibliografia:
GOMBRICH, E.H. A História da Arte. 16º ed, Rio de Janeiro, LTC, 1999
WWW.Wikipedia.com
WWW.Pitoresco.com.br/art-data/barroco
WWW.artebarroca.com.br/
WWW.historiadaarte.com.br/barroco
WWW.arte.unb.br/museu/teoria/seção2b.htm.

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