(Re) Fundações de Lisboa

Transcrição

(Re) Fundações de Lisboa
16.10.2015
a 27.02.2016
Estacaria Pombalina
na Sede do Banco de Portugal
(Re) Fundações
de Lisboa
(Re) Fundações de Lisboa
O recurso a madeira como matéria-prima para a construção é imemorial.
Ao longo dos tempos, as suas propriedades multifacetadas e diversidade
de aplicações tanto no esqueleto como no revestimento de edifícios foram testemunhadas por diversos autores, tais como o arquiteto romano
Vitrúvio, que já no século I a.C. referia um sistema de alicerce em estacas.
Dezoito séculos depois, as vantagens do emprego de madeira nas fundações que se implantam em terrenos pouco consistentes também não
foram ignoradas pelos engenheiros pombalinos.
O grande terramoto de 1755 marcou a História de Lisboa de forma tão
dramática que, na reconstrução subsequente, uma das preocupações
fundamentais foi a criação de um sistema antissísmico eficaz.
Na cidade nova que se pretendia criar sobre as ruínas, a natureza instável
dos solos da Baixa afigurava-se um obstáculo de peso. Para estabilizar o
edificado e minimizar a sua vulnerabilidade sísmica, os engenheiros pombalinos recorreram à utilização de estacaria nos alicerces. A tremenda escala do processo levou a uma mistificação popular que ainda perdura: a
estacaria é uma invenção pombalina.
Tal como nesta sala, cujas paredes assentam em madeira, a floresta de estacas que sobrevive sob a Baixa Pombalina – e que aqui se reproduz – tornou-se uma marca indissociável do imaginário de Lisboa. Em conjunto com as
estruturas de gaiola, a estacaria é uma das imagens mais emblemáticas de
todo o ciclo de recuperação e retorno à normalidade que ocorreu após o mais
violento episódio da história da cidade. Uma refundação.
Estruturas Metalcário, Lda.
de campo Jessica Reprezas | Arqueohoje • Conservação e restauro Arqueohoje •
de Apoio – Banco de Portugal • Fotografia Artur Rocha| Arqueohoje • Desenhos
de estruturas, sonoplastia, apoio técnico, segurança Departamento de Serviços
gramação educativa Museu do Dinheiro – Banco de Portugal • Design gráfico e
Curador Arqueólogo Artur Rocha
•
Coordenação, design de exposição, pro-
Visitas para grupos
4.ª, 5.ª e 6.ª feiras, às 10h30 e às 14h30 (60 min.) | Marcação prévia
Reservas T+ 351 213 213 240 | [email protected]
Visitas orientadas pelo Arqueólogo Artur Rocha
17 de outubro, 7 de novembro e 12 de dezembro, às 14h30 (60 min.)
www.museudodinheiro.pt
Quarta a sábado
10h00 às 18h00
Entrada gratuita
Banco de Portugal • Largo de S. Julião
Em 2010 e 2011, a descoberta
na escavação arqueológica
de centenas de estacas, na sua maioria
de pinho verde, comprovou a dimensão
do fenómeno da estacaria e foi uma
oportunidade rara de desvendar este tipo
de estrutura, geralmente oculta
aos olhos da cidade.
Estacas, travessas
e longarinas
Desenhos
e grafismos
De acordo com a normalização intro-
O valor do conjunto descoberto exigiu um registo
duzida pelos engenheiros pombalinos,
rigoroso e detalhado dos achados e dos proces-
e à semelhança do que sucedeu com
sos, através de desenhos de campo e da fotografia.
os outros elementos arquitetónicos, as
As imagens da exposição revelam o processo de
estacas responderam a modelos stan-
exumação da estacaria durante os trabalhos ar-
dardizados, nos quais as variações
queológicos e mobilizaram perto de duas dezenas
morfológicas eram escassas. A conju-
de profissionais de arqueologia.
gação dos diversos elementos, contudo, traduziu-se em soluções diversas.
Quatro fiadas de estacas cravadas no
subsolo e encimadas por uma grelha
de longarinas e travessas replicam o
modelo “normalizado” da estacaria
existente sob os alicerces do Edifício-Sede do Banco de Portugal. Na estrutura central, expõem-se os elementos
provenientes dos diversos conjuntos
descobertos, reunindo, numa composição singular, as variantes mais comuns: de secção circular e octogonal.
A conservação destas madeiras depende diretamente da sua inclusão
num ambiente húmido. Na Baixa, a presença do lençol freático assegurou durante 250 anos que assim fosse, como se comprova pela descoberta de centenas de exemplares, a maior parte dos quais em bom
estado.
A estaca degradada, que se encontrava acima do nível freático, evidencia a necessidade de ambientes húmidos para a preservação da madeira
e para a eficácia da estrutura fundacional.
Cravos
A união entre as diferentes peças de madeira era assegurada por cravos
de ferro, elementos estáveis e muito resistentes, de dimensão variável,
fundamentais na consolidação da estrutura.
Os sons do trabalho
A imensidão de estacas que permanece oculta sob a Baixa Pombalina resulta de milhares de horas de serviço, compreendidas entre o momento do
corte da madeira e a colocação desta no solo. No século XVIII, as tarefas inerentes a estes processos seriam acompanhadas de melopeias que mitigassem o esforço dos trabalhadores. As cantilenas de pedreiro que sobreviveram até ao presente são o testemunho mais aproximado desse quotidiano.
O esquema representa
um perfil, à escala real,
de uma parede-tipo do
edificado pombalino,
com os seus principais
elementos estruturais.
A estacaria na base, tal
como ali se encontra
representada, é uma
constante em todo o
quarteirão da Sede
do Banco de Portugal.
Os níveis cortados por
essa mesma estacaria
correspondem às
sucessivas sedimentações,
da época romana até 1755.