O Dream Team do Jazz e seu Jogo Inesquecível

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O Dream Team do Jazz e seu Jogo Inesquecível
Música > A Revista
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Miles em estúdio, em 1959. Ele fundou o jazz modal, conceito que revolucionou o estilo dando mais liberdade
para os músicos
Revista BRAVO! | Fevereiro/2009
O Dream Team do Jazz e seu Jogo Inesquecível
Há 50 anos, Miles Davis e uma turma fantástica lançavam “Kind of Blue”, alvo de
reedição comemorativa que reafirma a obra como “o suprassumo do cool”
Por José Alberto Bombig
Se fosse uma banda de rock, a formação seria algo na linha Mick Jagger nos vocais, Jimi Hendrix e
Eric Clapton nas guitarras, Neil Peart (Rush) na bateria, Ray Manzarek (The Doors) nos teclados e
Sting no contrabaixo. Eles tocariam baladas da dupla Lennon/McCartney.
Mas é jazz, então temos John Coltrane e Julian "Cannonball" Adderley nos saxofones, Wynton
Kelly e Bill Evans encarregados do piano, Paul Chambers no contrabaixo, Jimmy Cobb na bateria e
Miles Davis no trompete. Eles tocam composições de Davis. Para além do atemporal mundo das
listas, a reunião desses "gigantes" aconteceu durante duas sessões no 30th Street Studio, em
Nova York, e o resultado chama-se Kind of Blue, disco que neste ano completa 50 anos e ganha
relançamento luxuoso em caixa com dois CDs (um só de raridades e takes inéditos), um DVD com
registros da época e um libreto de 60 páginas. A versão americana da caixa ainda traz o álbum
em vinil de 180 gramas.
Praticamente sem ensaios, eles gravaram cinco temas, embalados em melodias que colam no
ouvido como algodão-doce no céu da boca. Miles Davis, morto em 1991, era o mentor do sexteto
— Kelly substitui Evans só em uma faixa daquele que para muitos críticos é o melhor disco da
carreira do trompetista, iniciada nos anos 40 e marcada por mutações. Quem se impressiona com
conceitos deve saber que a obra funda o jazz modal: a harmonia musical feita sem a progressão
dos acompanhamentos, o que permite ao músico mais liberdade para a melodia. O estilo está para
o frenético bepop de "Bird" Parker e Dizzy Gillespie como a geração de 45 para a literatura
modernista brasileira: rigor e lirismo em contraposição à liberdade extrema e à irreverência que
resvala no cômico. Em termos amplos, Kind of Blue é o suprassumo do cool — as fotos de um
elegante Miles de olhos cabisbaixos são a antítese das bochechas infladas e das boinas de Dizzy.
Conceitos à parte, ele traz música boa e bem executada. So What, a mais famosa, por conta da
sequência inicial, abre o trabalho. Freddie Freeloader e All Blues seguem a toada, solos perfeitos
sobre escassas harmonias e frases líricas. Mas são Blue in Green e Flamenco Sketches que
conferem ao disco aquilo que toda produção precisa para ser chamada de arte: a boa dose de
melancolia e meditação; no caso, o "blue" do título e dos olhos de Miles. Sobre ambas paira a
polêmica de que o egocêntrico trompetista teria omitido Evans da autoria (seriam o
Lennon/McCartney do jazz).
O crime, se houve, está prescrito. Além do mais, depois de Kind of Blue, Miles Davis ganhou o
salvo-conduto dado aos deuses do jazz.
José alberto bombig é jornalista da Folha de S.Paulo
O Disco
Kind of Blue — 50th Anniversary Collectors Edition (Columbia/Legacy), de Miles Davies. Preço a
definir.
Bravo
http://bravonline.abril.uol.com.br/conteudo/musica/musicamateria_419149.shtml

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