ciliados planctônicos e epibentônicos do rio das velhas e tributários
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ciliados planctônicos e epibentônicos do rio das velhas e tributários
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CILIADOS PLANCTÔNICOS E EPIBENTÔNICOS DO RIO DAS VELHAS E TRIBUTÁRIOS, MG: ECOLOGIA E USO POTENCIAL PARA BIOINDICAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS HENRIQUE SÁVIO SANTOS DE MENDONÇA Dissertação apresentada ao Instituto de Ciências Exatas e Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em ciências biológicas (área de concentração em biologia aquática) UFOP - janeiro 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS CILIADOS PLANCTÔNICOS E EPIBENTÔNICOS DO RIO DAS VELHAS E TRIBUTÁRIOS, MG: ECOLOGIA E USO POTENCIAL PARA BIOINDICAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS HENRIQUE SÁVIO SANTOS DE MENDONÇA Orientadora: Prof. Dra. Eneida Maria Eskinazi-Sant‟Anna (Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente/UFOP) Co orientador: Prof. Dr. Alfredo Hannemann Wieloch (Departamento de Zoologia/UFMG) UFOP - janeiro 2012 CILIADOS PLANCTÔNICOS E EPIBENTÔNICOS DO RIO DAS VELHAS E TRIBUTÁRIOS, MG: ECOLOGIA E USO POTENCIAL PARA BIOINDICAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS HENRIQUE SÁVIO SANTOS DE MENDONÇA Prof. Dra. Eneida Maria Eskinazi Sant‟Anna (Orientadora) Universidade Federal de Ouro Preto Temos que pensar em alguém da UFOP Universidade Federal de Minas Gerais Prof. Dr. Luiz Felipe Machado Velho Universidade Estadual de Maringá Ouro Preto Janeiro de 2011 Entre mim e o que em mim É o quem eu me suponho Corre um rio sem fim. Passou por outras margens, Diversas mais além, Naquelas várias viagens Que todo o rio tem. Chegou onde hoje habito A casa que hoje sou. Passa, se eu me medito; Se desperto, passou. E quem me sinto e morre No que me liga a mim Dorme onde o rio corre Esse rio sem fim. Fernando Pessoa, 11.09.1933 À minha querida mãe e ao meu pai pelo amor incondicional. Dedico também este trabalho, à minha companheira Eliane pela força, amor e carinho para trilhar este caminho. AGRADECIMENTOS O desenvolvimento de um trabalho dessa natureza como entrar no rio pela primeira vez. Uma miscelânea de medo e excitação diante do novo e ao mesmo tempo uma vontade imensa de mergulhar em busca de novas possibilidades. E apesar do medo, mergulhei, penetrando nos corpos d‟água sentindo suas correntezas, numa dinâmica sem fim, onde o destruir, representava uma reconstrução mais adiante, tentando sempre a busca pelo equilíbrio. Portanto, em primeiro lugar, agradeço a Ele, criador da natureza e comandante da vida, pela força diante das inúmeras dificuldades que me foram impostas e por ter segurado o leme, quando muitas vezes pensei em soltá-lo e por ter colocado pessoas iluminadas no meu caminho que me ajudaram na realização deste trabalho, uma vez que, na vida, ninguém veleja sozinho. Gostaria então de agradecer: A minha orientadora Dra. Eneida Maria Eskinazi Sant‟Anna pela oportunidade, pelos valiosos esclarecimentos e apontamentos ao longo desse trabalho e por ser uma pessoa tão generosa. Ao meu coorientador Prof. Dr. Alfredo Hannemann Wieloch, pela ótima coorientação, pelo valioso conhecimento que me foi passado, compreensão, atenção, respeito e paciência. Obrigado por me acolher em seu laboratório e pela atenção especial sempre que precisei. À minha amiga Helena Lúcia Menezes Ferreira, pelo incentivo e pelos ensinamentos tão preciosos que me confiou e por ser uma pessoa curiosa: uma mistura de conservadorismo e modernidade, paciência e impaciência, e tão compreensiva. Você me despertou um grande sentimento de respeito e admiração pela sua pessoa. Os amigos do CETEC Natália Mara e José Carlos pela dedicação, respeito e atenção pelo meu trabalho e, ainda, pela grande ajuda na coleta das amostras em campo. Aos meus colegas de laboratório, Ivo e Vinícius, que muito me auxiliaram nos trabalhos de campo e laboratório e pelos momentos de descontração. Ao colega Roberto Júnio Dias, que pela forma determinada com que trabalha com os ciliados e, ainda, pela amizade, muito me ajudou com a no desenvolvimento de técnicas de microscopia e moleculares. Ao laboratório de Biologia Molecular do Museu Nacional (UFRJ) pela ajuda com os ensaios moleculares. À minha mãe, Mônica Magaly, pessoa a quem dedico muito deste trabalho. Ao meu pai Joaquim Sávio e ao meu irmão, Hugo, pela preocupação e incentivo e que ficaram na torcida para que este trabalho desse certo. Obrigado! À minha companheira Eliane Fernandes, pela sua atenção, preocupação, companheirismo, amizade e cumplicidade. Você é uma pessoa pela qual tenho muita adoração, admiração, respeito, carinho e amor. Muito obrigado pela sua paciência e compreensão durante este trabalho. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 6 LISTA DE TABELAS ............................................................................................................ 12 LISTA DE QUADROS .......................................................................................................... 15 RESUMO ............................................................................................................................. 22 ABSTRACT ......................................................................................................................... 24 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 26 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 28 1.1 PROTISTAS CILIADOS COMO BIOINDICADORES DA QUALIDADE DAS ÁGUAS ......................... 30 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................................... 33 2.1 ÁREA DE ESTUDO ............................................................................................................. 33 2.2 REDE E PERÍODO DA AMOSTRAGEM ................................................................................... 34 2.3 COLETA DE AMOSTRAS E ENSAIOS EM LABORATÓRIO.......................................................... 36 2.3.1 Amostras e ensaios físicos e químicos ........................................................................ 37 2.3.1.1 Análises microbiológicas .......................................................................................... 37 2.3.1.2 Ensaios Hidrobiológicos ........................................................................................... 38 2.3.2 Amostragem, identificação e contagem dos protozoários ciliados ............................... 39 2.3.2.1 Coleta e processamento da amostra ........................................................................ 39 2.3.2.2 Identificação, documentação, morfometria e depósito de material testemunho ........ 39 2.3.2.3 Ensaio quantitativo ................................................................................................... 41 2.4 PROCESSAMENTO DOS DADOS.......................................................................................... 42 2.4.1 Variáveis físicas, químicas, colimetria e clorofila a ...................................................... 42 2.4.2 Composição e estrutura da ciliatofauna ...................................................................... 45 2.4.3 Bioindicação da qualidade com base nos Ciliados ...................................................... 46 2.4.3.1 Estimativa da Valência e peso sabróbico dos táxons ............................................... 46 2.4.3.1.1 Análise de cluster .................................................................................................. 48 2.4.3.2 Grau de poluição com base no índice de diversidade (H‟)........................................ 49 CAPÍTULO I ......................................................................................................................... 55 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 57 1.1 ASPECTOS GERAIS DO GRUPO CILIOPHORA .................................................................... 58 1.2 CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA ........................................................................................... 60 2 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................. 62 3. RESULTADOS................................................................................................................. 65 3.1 COMPOSIÇÃO DA COMUNIDADE DE PROTISTAS CILIADOS PLANCTÔNICOS ............................. 65 3.1.2 Diferenciação espacial e temporal da comunidade ..................................................... 68 3.1.3 Densidade ................................................................................................................... 72 3.2 DIVERSIDADE DE PROTISTAS CILIADOS: COMPARAÇÃO ENTRE AS REGIÕES........................... 77 4 DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 80 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 84 CAPÍTULO II ........................................................................................................................ 98 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 100 2 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 102 2.1 ÁREA DE ESTUDO E ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM ............................................................. 102 2.2 COLETA E PROCESSAMENTO DE AMOSTRAS ..................................................................... 103 2.3 Ensaios laboratoriais .................................................................................................... 104 2.4 TÉCNICAS DE MICROSCOPIA ÓTICA .................................................................................. 104 3 RESULTADOS ............................................................................................................... 107 3.1 DIAGNOSE TAXONÔMICA DOS PROTISTAS CILIADOS .......................................................... 107 4 DISCUSSÃO................................................................................................................... 116 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 122 CAPÍTULO III ..................................................................................................................... 131 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 133 2 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................ 135 2.1 ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................... 135 1.2 COLETA E PROCESSAMENTO DA AMOSTRA ....................................................................... 136 1.2.1 Técnicas de microscopia ótica .................................................................................. 136 1.2.2 Extração e amplificação por PCR e sequenciamento de DNA ................................... 137 3 RESULTADOS ............................................................................................................... 138 3.1 TAXONOMIA ................................................................................................................... 139 3.2 DADOS MOLECULARES ................................................................................................... 145 3.3 DADOS ECOLÓGICOS ...................................................................................................... 146 4 DISCUSSÃO................................................................................................................... 148 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 151 CAPÍTULO IV .................................................................................................................... 157 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 159 2 METODOLOGIA ............................................................................................................. 161 3 RESULTADOS ............................................................................................................... 164 3.1 TAXONOMIA ................................................................................................................... 164 3.2 ECOLOGIA ..................................................................................................................... 170 4 DISCUSSÃO................................................................................................................... 172 CAPÍTULO V ..................................................................................................................... 178 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 180 2 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................ 182 3. RESULTADOS .............................................................................................................. 184 3.1 QUALIDADE DAS ÁGUAS: ENFOQUE FÍSICO E QUÍMICO ....................................................... 184 3.2 QUALIDADE DAS ÁGUAS: ENFOQUE BIOLÓGICO ................................................................. 193 3.3 QUALIDADE DAS ÁGUAS: DIFERENCIAÇÕES ENTRE AS REGIÕES DA BACIA ........................... 196 3.4 ÍNDICES DE QUALIDADE DAS ÁGUAS ................................................................................ 197 4 DISCUSSÃO................................................................................................................... 202 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 206 CAPÍTULO VI .................................................................................................................... 209 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 211 2 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................ 215 3 RESULTADOS ............................................................................................................... 218 3.1 CARACTERÍSTICAS SAPRÓBICA DOS CILIADOS PLANCTÔNICOS .......................................... 218 3.2 CARACTERÍSTICAS SAPRÓBICA DOS CILIADOS BENTÔNICOS .............................................. 221 3.3 Comparação entre as condições de saprobia dos ciliados ........................................... 223 3.4 QUALIDADE DAS ÁGUAS COM BASE NO ÍNDICE DE SAPROBIDADE........................................ 226 3.5 COMPARAÇÃO ENTRE OS ÍNDICES DE DIVERSIDADE E SAPROBIDADE .................................. 231 4 DISCUSSÃO ................................................................................................................... 232 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 237 CONCLUSÕES.................................................................................................................. 243 APÊNDICE A - DESCRIÇÃO DAS ESTAÇÕES DE AMOSTRAGEM ................................ 247 APÊNDICE B – FICHA DE MORFOMETRIA E DE ANÁLISE DE PROTISTAS CILIADOS. .. 1 ESPÉCIE ............................................................................................................................... 1 APÊNDICE C: DEFINIÇÃO DAS CLASSES DE ÁGUA ..................................................... 257 APÊNDICE D- CLASSIFICAÇÃO DOS PROTISTAS SEGUNDO LYNN & SMALL (2002). 260 APENDICE E – ARTIGO SUBMETIDO NA REVISTA: EUROPEAN JOURNAL OF PROTISTOLOGY (QUALIS – B2/ FATOR DE IMPACTO 2,4). .......................................... 264 APÊNDICE F - IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE PROTISTAS CILIADOS DE AMBIENTES AQUÁTICOS CONTINENTAIS: PROTOCOLO. ........................................... 275 CAPITULO I - Composição de ciliados (Protista, Ciliophora) planctônicos e avaliação da qualidade da água do Rio Das Velhas e tributários, Minas Gerais. .................................. .55 CAPÍTULO II – Composição e riqueza da comunidade de protistas ciliados (Protista, Ciliophora) epibentônicos encontrados do rio das Velhas e tributários, MG. ......................... .98 CAPÍTULO III – Primeiro registro do protista ciliado Diaxonella trimarginata (Ciliophora, Stichotrichia, Urostylida) para região Neotropical. ............................................ .131 CAPÍTULO IV – Strobilidium longicinetium n. sp. (Ciliophora, Choreotrichida): uma nova espécie em sistemas lóticos da América do Sul (Minas Gerais, Brasil). ..................... .158 CAPÍTULO V – Avaliação da qualidade das águas: rio das Velhas e tributários, Minas Gerais: enfoque físico, químico e biológico. ........................................................................ .179 CAPÍTULO VI – Utilização do Sistema Sapróbio na avaliação da qualidade da água do rio das Velhas e tributários, MG. .................................................................................... .210 LISTA DE TABELAS INTRODUÇÃO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Tabela 1 - Estações de amostragem de protistas ciliados epibentônicos. ......................... .35 Tabela 2 - Peso atribuído aos parâmetros físico-químicos utilizados no cálculo do IQA. .................................................................................................................................... .42 Tabela 3 - Nível de qualidade da água de acordo com o IQA. ........................................... .43 Tabela 4 - Classificação do Estado Trófico (IET) – Rios. ................................................... .43 Tabela 5 - Índice, nível e classe de saprobidade. .............................................................. .45 Tabela 6 - Atribuição dos fatores de ponderação (peso sapróbico) às escalas de desvio padrão. ................................................................................................................... .47 CAPÍTULO I Tabela 1 - Densidade e riqueza total de ciliados planctônicos das estações amostrais durante os períodos de chuva, no rio das Velhas e tributários. .......................................... .65 Tabela 2 - Densidade e riqueza total de ciliados planctônicos das estações amostrais durante os períodos de seca, no rio das Velhas e tributários. ............................................ .66 Tabela 3 - Índice de diversidade de ciliados das estações amostrais do rio das Velhas e tributários, MG, períodos out/2009 e jul/2010. ...................................................... .76 Tabela 4 - Índices de diversidade de ciliados por região do rio das Velhas, MG. ............... .78 CAPÍTULO II Tabela 1 – Frequência de ocorrência de ciliados epibentônicos in natura, referentes ao período chuvoso do rio das Velhas e tributários, MG ................................................... .106 Tabela 2 – Frequencia de ocorrência de ciliados epibentônicos in natura, referentes ao período seco do rio das Velhas e tributários, MG. ....................................................... .107 CAPÍTULO III Tabela 1 - Dados morfométricos de Diaxonella trimarginata. (ps = Presente estudo, 2 = Gragesco & Dragesco-Kernéis 1991, 3 = Oberschmidleitner & Aescht 1996, 4 = Plückebaum et al. 1997, 5 = Shao et al., 2007. Abreviações: CV = coeficiente de variação em %, DS = desvio padrão, MAX = valor máximo, MIN = valor mínimo, M = média). ............................................................................................................................. .107 Tabela 2 - Alinhamento da sequência de nucleotídeos. ................................................... .107 Tabela 3 - parâmetros físicos, químicos e biológicos das estações de ocorrência de Diaxonella trimarginata, na estação chuvosa (SI = índice sapróbico). .............................. .107 CAPÍTULO IV Tabela 1 - Coordenadas geográficas e elevação das estações de ocorrência de Strobilidium longicinetium n. sp. ....................................................................................... .107 Tabela 2 - Dados morfométricos de S. caudatum (1 e 2) e S. longicinetium n. sp. (3) (Max.= máximo; Min.= mínimo; X= média; SD= desvio padrão CV = coeficiente de variação em %; 1= PETZ & FOISSNER, 1992; 2= KÜPPERS et al., 2006; 3= Presente estudo). ............................................................................................................ .107 CAPÍTULO V Tabela 1 - Coeficientes das funções da discriminante canônica (Standardized Coefficients) com base nas variáveis físicas, químicas e biológicas. ............................... .107 Tabela 2 - Dados de IQA e nível de qualidade da água das estações amostrais durante os períodos de Chuva e seca, no rio das Velhas e tributários. ............................ .197 Tabela 3 - Dados de IET e nível de qualidade da água das estações amostrais durante os períodos de Chuva e seca, no rio das Velhas e tributários. ............................ .199 CAPÍTULO VI Tabela 1 - Valência e grau de saprobidade e frequência de ocorrência, dos ciliados planctônicos. Bacia do rio das Velhas, MG, 2009 e 2010. ............................................... .218 Tabela 2 - Valência e grau de saprobidade e frequência de ocorrência dos ciliados bentônicos. Bacia do rio das Velhas, MG, 2009 e 2010. .................................................. .221 Tabela 3 - Comparação, entre autores, da valência sapróbica (s) de ciliados planctônicos. .................................................................................................................... .223 Tabela 4 - Comparação, entre autores, da valência sapróbica (s) de ciliados bentônicos. ...................................................................................................................... .224 Tabela 5 - Índice, grau e classe de saprobidade das estações de coleta com base na ciliatofauna aquática planctônica, nos diferentes períodos sazonais, Sub-Bacia do rio das Velhas, MG. .............................................................................................................. .226 Tabela 6 - Comparação entre os índices de diversidade (H‟) e Grau Sapróbico. ............. .230 LISTA DE QUADROS INTRODUÇÃO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Quadro 1 - Determinação da classificação dos níveis de saprobidade da água em função dos parâmetros físico-químicos. ............................................................................. .46 Quadro 2 - Grau de poluição com base na diversidade específica estimada a partir do índice de Shannon-Wiener (H‟), segundo STRAUB, et al. (1970), WILHN e DORIS (1986) citado por GUHL (1987), com modificações. .......................................................... .48 CAPÍTULO VI Quadro 1 -Matriz de equivalência (%) do nível de saprobidade dos ciliados planctônicos entre os estudos. ......................................................................................... .224 Quadro 2 - Matriz de equivalência (%) do nível de saprobidade dos ciliados bentônicos entre os estudos. ........................................................................................... .225 INTRODUÇÃO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Figura 1. Mapa da Bacia do Rio das Velhas subdividida nas regiões Alto, Médio e Baixo Velhas. Fonte: Camargos (2004) citado por CBH (2011). ........................................ .30 Figura 2 - Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, bacia do rio das Velhas, MG. Fonte: CETEC/IGAM. ............................................................................. .32 Figura 3 - Coleta de plâncton com o amostrador Garrafa de Van Dorn à margem direita do Rio das Velhas (estação BV148), Barra do Guaicuí, MG. Fonte: elaborada pelo autor............................................................................................................................ .34 Figura 4 - Técnica do protargol - enxágue da membrana: (a) Sequência esquemática da bateria de soluções contendo em 1 - permanganato de potássio, 2 - água de torneira, 3 -ácido oxálico, 4 a 6 -água destilada; (b) Sequência montada para três membranas, iniciando com o permanganato de potássio. Fonte: elaborada pelo autor. ................................................................................................................................. .37 Figura 5 - Técnica do protargol - impregnação da membrana em solução de protargol: (a) Desenho esquemático do berço para cuba de corar lâminas; (b) Lâminas embebidas no protargol em banho-maria. Fonte: elaborada pelo autor. .............. .37 Figura 6 - Técnica do protargol - revelação da membrana: sequência esquemática da bateria de soluções contendo em 1 - revelador hidroquinona, 2 - água de torneira, 3 – cloreto de ouro 0,5%, 4 - ácido oxálico 2,5%, 5 - água destilada, 6 - tiosulfato de sódio 2,5%, 7 a 9 - água de torneira. Fonte: elaborada pelo autor. .................................... .38 CAPÍTULO I Figura 1 - Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, sub-bacia do rio das Velhas, MG. Fonte: Comitê de Bacias Hidrográficas de minas Gerais. .................. .62 Figura 2 - Riqueza de espécies de protistas ciliados planctônicos referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. ....................................... .67 Figura 3 - Riqueza total de ciliados planctônicos nos diferentes períodos sazonais. ......... .68 Figura 4 - Riqueza total de espécies de ciliados planctônicos por região do rio das Velhas, referentes períodos sazonais. ............................................................................... .68 Figura 5 - Riqueza média de protistas ciliados planctônicos por região da bacia do rio das Velhas, MG, outubro de 2009 e julho de 2010. ....................................................... .69 Figura 6 - Riqueza total de ciliados planctônicos entre as regiões do rio das Velhas, MG. .................................................................................................................................... .70 Figura 7 - Riqueza de protistas ciliados planctônicos por classe, rio das Velhas e tributários, MG, período seco e chuvoso. ........................................................................... .70 Figura 8 - Densidade de espécies de protistas ciliados planctônicos referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. .............................. .71 Figura 9 - Densidade de ciliados planctônicos nos diferentes períodos sazonais. Fonte: elaborado pelo autor. .............................................................................................. .72 Figura 10 - Densidade total média de protistas ciliados planctônicos por região, referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributário, MG. ............ .73 Figura 11 - Densidade total média de protistas ciliados planctônicos por região da bacia do rio das Velhas, MG, outubro de 2009 e julho de 2010. ........................................ .73 Figura 12 - Densidade total de protistas ciliados planctônicos por classe, referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributário, MG. ................................ .74 Figura 13 - Densidade das classes de ciliados planctônicos por região da bacia do rio das Velhas, MG, período chuvoso. ............................................................................... .74 Figura 14 - Densidade das classes de ciliados planctônicos por região da bacia do rio das Velhas, MG, período seco. ..................................................................................... .75 Figuras 15-21 - Fotomicrografias de ciliados Peritrichious in natura dos gêneros Carchesium, Vorticella, Epistylis, Podophrya. .................................................................... .86 Figuras 22-25 - Fotomicrografias de ciliados Peritrichious impregnados pelo protargol (Dieckmann) dos gêneros Carchesium, Vorticella, Epistylis e Campanella. ........ .88 Figuras 26-34 - Fotomicrografias de ciliados oligohimenophorideos dos gêneros Paramecium, Urocentrum, Glaucoma e Trachellyum. 26-27. ............................................. .90 CAPÍTULO II Figura 1 - Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, sub-bacia do rio das Velhas, MG. ......................................................................................................... .101 Figura 2 - Gráfico da riqueza de protistas ciliados epibentônicos por classes e períodos sazonais no rio das Velhas e tributários, MG. ................................................... .105 Figura 3 - Gráfico da riqueza de protistas ciliados epibentônicos em diferentes períodos sazonais no rio das Velhas e tributários, MG. ................................................... .108 Figura 4 - Riqueza total de protistas ciliados epibentônicos, no rio das Velhas e tributários, MG. ................................................................................................................ .108 Figura 5 - Média das riquezas de protistas ciliados epibentônicos, em diferentes períodos sazonais no rio das Velhas e tributários, MG. ................................................... .109 Figura 6 - Ocorrência das classes de protistas ciliados epibentônicos por estação, no rio das Velhas e tributários, MG. ...................................................................................... .110 Figura 7 - Classes de protistas ciliados epibentônicos por região, no rio das Velhas e tributários, MG. ................................................................................................................ .111 Figura 8 - Contribuição dos ciliados epibentônicos por guilda trófica por período amostral, no rio das Velhas e tributários, MG. .................................................................. .112 Figura 9 - Contribuição de protistas ciliados epibentônicos por guilda trófica considerando os dois períodos amostrais, no rio das Velhas e tributários, MG. ............... .113 Figuras 10-19 - Fotomicrografias de ciliados Hypotricheos dos gêneros Euplotes, Oxytrichia, Pseudourostyla e Aspidisca. .......................................................................... .125 Figuras 20-28 - Fotomicrografias de ciliados dos gêneros Coleps (Prostomatea), Diaxonella e Aspidisca (Spirotrichea), Chilodonella (Phylopharyngea), Paramecium (Oligohymenophorea), Loxodes (Karyorelictea) e Loxophylum (Litostomatea). ................ .127 CAPÍTULO III Figura 1 - Mapa com a localização dos pontos de amostragem de Diaxonella trimarginata; Ponto 1 referente ao rio Bicudo e o Ponto 2, rio das Velhas. ....................... .127 Figura 2 - Mapa da bacia do rio das Velhas e estações de ocorrência de D. trimarginata. (A) Imagem de satélite da região da estação TR147, evidenciando a atividade agrária na região; (B) Imagem de satélite da estação MV150, também apresentando uma grande área de plantio. ...................................................................... .127 Figura 3 - Diaxonella trimarginata. A. População descrita por Oberschmidleiter & Aesct (1996); B. População descrita por Dragesco & Dragesco-Kernèis (1991); C. Espécime do presente estudo, vista ventral. Impregnação pelo Protargol (Dieckmann) evidenciando o padrão de distribuição da ciliatura somática e oral; D. Vista dorsal. Impregnação pelo Protargol (Dieckmann, 1995) evidenciando o aparato nuclear composto por nódulos de macronúcleo e micronúcleo ......................................... .127 Figura 4 - Diaxonella trimarginata. A. C B. Detalhes da zona adoral de membranelas in vivo; C. vacúolos contrácteis in vivo; D. nódulos de macronúcleo em evidencia, impregnação pelo Protargol (Dieckmann); ..... .127 Figura 5-10 - Diaxonella trimarginata.– Microscopia eletrônica de varredura: CAPÍTULO IV Figura 1 - Pontos de ocorrência de Strobilidium longicinetium n. sp., rio das Velhas e tributários, MG. .................................................................................................................. .14 Figura 2 - Strobilidium longicinetium n. sp. Impregnado pelo Protargol – QPS. ................. .14 Figura 3 - Strobilidium longicinetium n. sp. Impregnado pelo Protargol - QPS (Skibbe, 1994). ................................................................................................................................ .14 Figura 4 - Desenhos comparativos de Strobilidium caudatum (a-f) e S. longicinetium n. sp. .................................................................................................................................. .14 CAPÍTULO V Figura 1 - Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, sub-bacia do rio das Velhas, MG ........................................................................................................... .180 Figura 2 - Temperatura da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ................................................................................................... .182 Figura 3 - Concentração de oxigênio dissolvido da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ................................................ .183 Figura 4 - Demanda bioquímica de oxigênio da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ................................................................... .184 Figura 5 - Demanda química de oxigênio da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ................................................................... .185 Figura 6 - Potencial de hidrogênio (pH) da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ................................................................... .186 Figura 7 - Condutividade elétrica da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ..................................................................................... .187 Figura 8 - Turbidez da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ................................................................................................................. .188 Figura 9 - Concentração de nitrogênio amoniacal da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ................................................ .189 Figura 10 - Concentração de fósforo da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ..................................................................................... .190 Figura 11 - Concentração de cloretos da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. ................................................................................ .191 Figura 12 - Coliformes totais da água referente às duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. ................................................................................. .192 Figura 13 - Densidade de clorofila a referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários. ......................................................................................... .193 Figura 14 - Densidade de cianobactérias nas estações amostrais referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários............................................... .194 Figura 15 – Análise de Discriminante: correlação entre as estações amostrais e os parâmetros físicos, químicos e biológicos, considerando os períodos seco e chuvoso. .... .195 Figura 16 - Índice de qualidade da água das estações amostrais referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários............................................... .196 Figura 17 - Evolução sazonal do Índice de Qualidade da Água - IQA no rio das Velhas e tributários. ......................................................................................................... .197 Figura 18 - Índice de estado trófico das estações amostrais referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. ..................................... .198 Figura 19 - Evolução sazonal do Índice de Estado Trófico – IET no rio das Velhas e tributários, MG.. ............................................................................................................... .199 CAPÍTULO VI Figura 1 - Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, sub-bacia do rio das Velhas, MG. ......................................................................................................... .215 Figura 2 - Número de táxons planctônicos por grau sapróbico: polisapróbico (p), -betamesossapróbico (a- -mesossapróbico (b) e o- betamesossapróbico (o). Rio das Velhas e tributários, MG, 2009 e 2010. ....................... .219 Figura 3 - Número de táxons planctônicos por grau sapóbico, segundo as regiões da -betamesossapróbico (a- -mesossapróbico (b) e o-betamesossapróbico (o). .......... .219 Figura 4 - Núme mesossapróbica (a), -betamesossapróbico (a-b), -mesossapróbico (b) e o- betamesossapróbico (o). Rio das Velhas e tributários, MG, 2009 e 2010. ....................... .222 Figura 5 - Número de táxons bentônicos por grau sapróbico, segundo as regiões da bacia do rio das Velhas, MG, 2009 e 2010: polissapróbico (p), -mesossapróbica (a), -betamesossapróbico (a-b), -mesossapróbico (b) e o-betamesossapróbico (o). .......... .222 Figura 6 - Distribuição do grau sapróbico entre as estações de coleta (% e nº) da bacia do rio das Velhas, MG, com base nos dados físicos e químicos e na ciliatofauna planctônica, segundo o período seco e chuvoso. .......................................... .225 Figura 7 - Agrupamento entre as estações de coleta do rio das Velhas e tributários, MG, segundo o índice de saprobidade com base nos parâmetros físico e químicos. Período chuvoso (outubro de 2009) e período seco (julho de 2010). ............................... .228 Figura 8 - Variação da saprobidade ao longo do gradiente longitudinal do rio das Velhas, MG, segundo o período chuvoso (outubro de 2009) e período seco ( julho de 2010). .............................................................................................................................. .229 RESUMO A bacia hidrográfica do rio das Velhas sofre grandes impactos antrópicos como intensa atividade mineradora e altas cargas de efluentes domésticos e industriais ao longo de todo o seu percurso. Utilizando-se da comunidade de protistas ciliados planctônicos como objeto de estudo, o presente trabalho objetivou principalmente conhecer as respostas estruturais desta comunidade frente às variações nos níveis de poluição hídrica de trechos da bacia do rio das Velhas durante os períodos de chuva (out/2009) e seca (jul/2010) utilizando o Sistema Sapróbico. Os resultados da qualidade das águas na rede amostrada, constituída por 23 estações de coleta, foram compilados a partir da base de dados do IGAM (2009, 2010). Foi estudada a comunidade de ciliados planctônicos e epibentônicos do rio das Velhas e tributários, MG, Brasil por meio do estudo qualitativo e quantitativo da comunidade distribuídas nas regiões do alto, médio e baixo curso do rio. Utilizou-se para os ciliados planctônicos a técnica de impregnação quantitativa pelo proteinato de prata denominada QPS – Quantitative Protargol Stain e observações in natura para os epibentônicos, fazendo-se uso de técnicas de impregnação por prata na identificação dos mesmos. Foram identificadas 45 espécies de protistas ciliados planctônicos, sendo 35 em nível de espécie e 10 em nível de gênero; 32 táxons de ciliados epibentônicos, dos quais 28 foram identificados em nível de espécie, sendo que uma é espécie nova (Strobilidium longicinetium nov. sp.) e outra (Diaxonella trimarginata) constitui um novo registro para a região neotropical. A densidade média de ciliados planctônicos e riqueza de epibentônicos foi em geral menor do que o observado em outros sistemas tropicais e temperados. A variação das densidades apresentou correlação positiva com o incremento da poluição orgânica. Elas foram mais intensas entre as estações do final do alto curso e início do médio curso, porção da bacia com maior atividade antrópica. As classes mais especiosas e que apresentaram maiores valores de densidade foram Olygohymenophorea e Spirotrichea, em ambos os períodos de. Os índices de diversidade (Shannon Wiener e o inverso de Simpson) demonstraram a correlação com as variações da poluição entre as estações, com destaque às estações próximas as cabeceiras. A utilização do Sistema Sapróbico possibilitou a obtenção das valências de saprobidade dos táxons planctônicos e epibentônicos, indicando os táxons: ótimos, 22 bons, regulares, ruins, péssimos e impróprios para a bioindicação. A classificação das estações a partir do índice sapróbidade mostrou-se correlacionada com as variações da poluição orgânica e foi eficiente na avaliação da qualidade das águas. Desta forma estes resultados serão um consistente subsídio na proposição de metodologias para o Programa de Biomonitoramento da Qualidade das Águas a ser realizado na bacia do alto rio das Velhas (MG). Palavras-chave: Ciliados. Bioindicadores. Sistemas lóticos. Sistema Sapróbio. Protargol. 23 ABSTRACT The watershed of the Velhas River suffers major human impacts as intense mining activity and high loads of domestic and industrial waste throughout its journey. Using the community of planktonic ciliate protists as an object of study, this study aimed mainly to know the answers ahead of this community structural changes in the levels of water pollution from portions of the Velhas River basin during periods of rain (Oct/2009 ) and dry (Jul/2010) using the saprobic system. The results of water quality in the sampled network, consisting of 23 sampling stations were compiled from the database IGAM (2009, 2010). The ciliates respond to changes in the aquatic environment generating information indicative of the quality of water, being a fundamental tool for bioindication of environmental degradation in the basin. We studied the community of planktonic and epibentonics ciliates of Velhas River and tributaries, MG, Brazil by means of qualitative and quantitative study of the community distributed in regions of high, middle and lower reaches of the river. Ímpregnation technique (QPS - Quantitative Protargol Stain) was used for the quantitative analyses and observations in nature for epibentonics, making use of silver impregnation techniques in identification. It was identified 45 species of planktonic protists ciliates, 35 species-level and 10 at the genus level, 32 taxa of ciliates epibentonics, of which 28 were identified at the species level. On the whole, one is a new species and other one is a new record for the Neotropical region. The values for the average density and richness of planktonic ciliates epibentonics were lower than those observed for tropical and temperate rivers. The variation of the thickness presented positive correlation with the increase in pollution. They were strongest among the seasons of the high end of the beginning of the course and medium-haul portion of the basin with greater human activity. The richer classes and with higher density values were Olygohymenophorea and Spirotrichea in both collection periods. The community of ciliates, as well as some taxa analyzed individually, suffered significant variations with changes in pollution levels measured from the Saprobic Index based on physical and chemical variables. Two diversity indices, Shannon and Wiener inverse of Simpson, were also evaluated and did not show the correct correlation with the changes in pollution between the stations, especially at stations 24 near the headwaters. The use of the system allowed the collection of saprobic valences of planktonic and epibentonics ciliates, indicating the taxa: excellent, good, fair, bad, bad and unfit for bioindication. The classification of stations from Saprobic Index was significantly correlated with the variations of organic pollution and was effective in assessing water quality. Thus this report will serve as input in proposing methodologies for the Biomonitoring Program of Water Quality to be held by groups of technical excellence, the basin of the Upper Velhas River (MG). Key words: Cilates. Bioindicators. Lotic systems. Saprobic system. Protargol 25 APRESENTAÇÃO O presente trabalho corresponde à dissertação desenvolvida no período de 01 de setembro de 2009 a 01 de setembro de 2011, sob orientação da pesquisadora Eneida Maria Esquinazi-Sant‟Anna e co-orientação do Dr. Alfredo Hannemann Wieloch, conforme bolsa de Mestrado financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). Este trabalho tem a finalidade de contribuir para impulsionar o domínio sobre o grupo faunístico dos protistas ciliados e de métodos e técnicas que se aplicam a compreensão da composição e estrutura desta comunidade, e do seu emprego na bioindicação da qualidade das águas continentais de regiões de clima tropical. A pesquisa foi desenvolvida em uma abordagem ecossistêmica tendo como unidade de estudo a bacia hidrográfica do rio das Velhas, MG, em cuja área centros urbanos importantes como Belo Horizonte e Sete Lagoas, promovem expressivas alterações ambientais nos cursos de água. A pesquisa fundamentou-se na hipótese de que as descargas de efluentes industriais e domésticos alteram a composição e estrutura dos proto-ciliados, favorecendo espécies oportunistas indicadoras da poluição do curso de água. Em conformidade com os objetivos, são apresentadas a metodologia adotada e os resultados da pesquisa. São enfatizados os relativos às diferenciações da composição, frequência de ocorrência, riqueza e densidade dos táxons nos sistemas lóticos das porções do alto, médio e baixo curso da bacia do rio das Velhas. Apresenta também a estimativa da valência sapróbica dos táxons e os índices de saprobidade das estações amostrais, fundamentais para aplicação na bioindicação da qualidade das águas dos sistemas hídricos em estudo. Com as informações obtidas, procurou-se apresentar esta dissertação em 6 capítulos, os quais abordam os seguintes tópicos: CAPITULO I - Composição e estrutura da comunidade de protistas ciliados planctônicos do rio das Velhas e tributários, MG. CAPÍTULO II – Composição e riqueza da comunidade de protistas ciliados epibentônicos do rio das Velhas e tributários, MG. 26 CAPÍTULO III – Primeiro registro de Diaxonella trimarginata (Protista, Ciliophora, Stichotrichia, Urostylida) para região neotropical. CAPÍTULO IV – Strobilidium longicinetium n. sp. (Protista, Ciliophora, Choreotrichida): uma nova espécie em sistemas lóticos da América do Sul (Minas Gerais, Brasil). CAPÍTULO V – Avaliação da qualidade das águas: rio das Velhas e tributários, MG: enfoque físico, químico e biológico. CAPÍTULO VI – Utilização do sistema sapróbio na avaliação da qualidade da água do rio das Velhas e tributários. 27 1 INTRODUÇÃO O ecossistema aquático tem sofrido inúmeras modificações ao longo da história da humanidade. A deterioração qualitativa e quatitativa, dos grandes rios ao pequenos ribeirões, é conseqüencia das atividades atrópicas, tais como: mineração, a construção de UHEs e PCHs, o lançamento direto de efluentes domésticos e industrias, o desmatamento e o uso inapropriado solo. Esse contexto gerou preocupações quanto à saúde do ambiente, o que levou a importantes avanços nos métodos de avaliação das condições gerais dos recursos hídricos, objetivando a conservação e ou recuperação do ambiente. Assim, segundo Marques & Barbosa (2001), o monitoramento ambiental é considerado instrumento fundamental para avaliar o estado de preservação e/ou grau de degradação do ecossitema, fornecendo subsídios para elaboração de estratégias de manejo de áreas naturais e projetos de recuperação de ambientes degradados. A utilização dos protistas ciliados como bioindicadores tem sido apontada como grande potencial para avaliação da qualidade de água (GROLIÉRE et al., 1990; SPARAGANO & GROLIÉRE, 1991; MADONI, 1994; PICCINI & GUTIÉRREZ, 1995; SALVADÓ et al., 1995; FOISSNER & BERGER, 1996; PAIVA & SILVA-NETO, 2004a; MADONI, 2005). Esses organismos respondem diretamente às mudanças no perfil químico da água e são sensíveis memso a dosagens pequenas de contaminantes (SPARAGANO & GROLIÉRE, 1991). A alta sensibilidade às codições físicas e químicas do ambiente é explicada pelo fato de muitos prozoários apresentarem exigências específicas em relação as características do meio, como a quantidade de matéria organica dissolvida, temperatura, condutividade elétrica, pH e teor de oxigênio dissolvido (KUDO, 1967). Dentre essas características, a quantidade de matéria orgaânica e teor de oxigênio dissolvido presente na água, quando caracterizam poluição organica, definem zonas de poluição às quais estão associadas espécies de ciliados indicadores (FOISSNER & BERGER, 1996). São elas: polissapróbica (água extremamente poluída), alfamesosapróbia (água muito poluída), betamesosapróbia (moderadamente poluída) e oligosapróbia (água não poluída ou levemente poluida) (FOISSNER & BERGER, 1996). 28 O sistema sapróbico de determinação da qualidade da água, desenvolvido por KOLKWITZ & MARSSON, 1908, 1909) tem sido amplamente utilizado na classificação biológica dos cursos d‟água desde sua criação. Em regiões de clima temperado, particularmente na Europa, a utilização de protistas ciliados como bioindicadores da qualidade das águas tem no sistema sapróbico (SLÁDECEK, 1973) sua reconhecida aplicação na avaliação e monitoramento de ambientes lóticos e lênticos sob diferentes níveis de impacto antrópicos. Para aplicar este sistema ao monitoramento da qualidade das águas de regiões de clima tropical é chave identificar as espécies e a freqüência com que ocorrem nos diferentes níveis de saprobia, como catalogado por Sládecek (1973) e Sládecek et al. (1981), para o que é fundamental a aplicação de técnicas específicas para visualização das várias estruturas que diferenciam as diversas categorias taxonômicas. Neste sentido, a presente estudo consiste de um estudo taxonômico e faunístico de protistas ciliados planctônicos na Bacia do Rio das Velhas/MG e avaliação sapróbica da qualidade da água ao longo do Rio das Velhas, Minas Gerais, afim de contribuir para o desenvolvimento de métodos de avaliação da qualidade dos ambientes aquáticos brasileiros e planos de conservação e recuperação. Nos últimos anos muitos estudos têm sido realizados acerca da redução da qualidade das águas no país, levando a identificação das fontes poluidoras bem como o desenvolvimento de metodologias para o seu controle, fornecendo subsídios para programas de monitoramento da qualidade das águas (RODRÍGUEZ, 2011). Estudos de monitoramento de bacias hidrográficas utilizando a microfauna aquática como bioindicadora de qualidade de água, têm se destacado entre as pesquisas ambientais no Brasil, dentro de uma visão holística do meio (RODRÍGUEZ, 2011). Em regiões de clima temperado, a utilização de protistas ciliados como bioindicadores da qualidade das águas tem no sistema sapróbico (SLÁDECEK, 1973) sua reconhecida aplicação na avaliação e monitoramento de ambientes lóticos e lênticos sob diferentes níveis de impacto antrópicos. Por muitos anos as espécies parasitas foram enfatizadas, negligenciando-se as de vida livre, cujo papel é de fundamental importância nas cadeias tróficas de 29 ambientes naturais, nos processos de autopurificação em estações de tratamento de água e de dejetos de esgoto, bem como na bioindicação da qualidade das águas (ROCHA 2003). Em contraposição à ampla diversidade e importância desse grupo faunístico em ambientes aquáticos continentais situados em regiões de clima tropical, tem-se a escassez de estudos sobre a compreensão da presença de espécies de vida livre. Um dos aspectos que restringe esse emprego é a identificação das espécies. Diferenciá-las implica no domínio de técnicas específicas para obter imagens sob microscopia que evidenciam detalhes da estrutura morfológica interna e externa, facilitando a identificação e quantificação dos táxons. Neste sentido, o presente trabalho tem a finalidade de contribuir para impulsionar o domínio sobre o grupo faunístico dos ciliados e de métodos e técnicas que viabilizam a compreensão da composição e abundância da comunidade de protistas ciliados, para a bioindicação da qualidade das águas continentais de regiões de clima tropical. Para tanto, destaca-se a importância deste estudo na subbacia do rio das Velhas, inserida na bacia do rio São Francisco, em cuja área estão localizados grandes centros urbanos, como Belo Horizonte e Sete Lagoas, os quais promovem expressivas alterações nos cursos de água. Para atingir este objetivo, e testar a hipótese de que as descargas de efluentes industriais e domésticos reduzem a diversidade e provocam aumentos nas densidades dos proto-ciliados, favorecendo espécies oportunistas indicadoras da poluição do curso de água, esta pesquisa foi desenvolvida em uma abordagem ecossistêmica assumindo a bacia como unidade de estudo. 1.1 Protistas ciliados como bioindicadores da qualidade das águas A água é um bem precioso e um recurso estratégico cuja ausência ou presença em quantidade ou qualidade inadequada tem sido um dos principais fatores limitantes ao crescimento social e econômico de várias regiões do Brasil e do mundo. A demanda por água doce em todo o mundo tem aumentado de maneira preocupante e, em paralelo, a degradação de sua qualidade tem reduzido ainda mais sua disponibilidade (ROCHA, 2003). 30 Os impactos ambientais dos ecossistemas aquáticos são, geralmente, avaliados por meio de análises de variáveis físicas e químicas, as quais permitem identificar e quantificar modificações nas propriedades físicas e químicas da água. Com a finalidade de fornecer subsídios para a conservação, o manejo e a recuperação dos ecossistemas aquáticos continentais têm sido desenvolvidos estudos sobre o emprego de indicadores biológicos (DIAS et al., 2008). O uso de microrganismos aquáticos para prever e/ou detectar impactos ambientais tem sido comum em alguns países. Importante como principais agentes de reciclagem da matéria (produção de biomassa pela assimilação de nutrientes) e de depuração do ecossistema, os microrganismos são um reflexo do meio em que vivem e, ao reagirem a condições novas do meio, revelam alterações nas condições naturais do ambiente (HARDOIM, 1996). Os bioindicadores são, portanto, organismos ou comunidades, como por exemplo, bactérias, protozoários ou fungos, capazes de refletir pertubações na qualidade das águas (pela poluição orgânica por exemplo) de maneira rápida (STEWART & LOAR, 1994; COULL, 1999). Segundo Patrick (1994), o grupo de organismos escolhidos como indicadores devem apresentar ampla distribuição geográfica para possibilitar a comparação de corpos de água diferentes. Este método tem se mostrado eficaz, sendo considerado como a melhor forma de monitoramento e avaliação do grau de deterioração dos cursos d‟água, evidenciando os impactos que alteram, e que podem incluir substâncias sobre os organismos, os compartimentos do ambiente, em estrutura e função. Os parâmetros físico-químicos, por sua vez, representam apenas o estado da água pontualmente em um determinado momento (LOBO et al., 1995). Estudos empreendidos nas últimas duas décadas tem colaborado para esclarecer a importância dos ciliados planctônicos, e em menor escala, os ciliados bentônicos, nos ecossistemas aquáticos (WANICK & SILVA-NETO, 2004; ZINGEL, 2005). O Filo Ciliophora Doflein, 1901 constitui um dos mais numerosos grupos de protistas, com aproximadamente 8.000 espécies descritas, que podem ser encontradas em qualquer ambiente aquático (FOISSNER et al., 1982; PAULIN, 1996; ZINGEL, 2005), e portanto, extremamente considerado na bioindicação da qualidade das águas. 31 Alguns estudos foram realizados utilizando bioindicadores (JUNQUEIRA & CAMPOS, 1998; PAULA, 2004) como Proto-testaceas, fitoflagelados e macroinvertebrados bentônicos, incluindo a região do Alto Curso do rio das Velhas. Entre os bioindicadores de qualidade das águas os ciliados são um dos mais marcantes nas águas doces. Podem ser utilizados no biomonitoramento de lagos, reservatórios e rios sob diferentes níveis de impacto antropogênico, em função de características favoráveis que apresentam, como: o curto ciclo de vida e a alta taxa reprodutiva que permite a detecção de impactos ambientais de curta escala de tempo (GROLIÉRE et al., 1990; MADONI, 1994); serem indicativos do predomínio de condições de oxidação ou de redução na decomposição da matéria orgânica ajudando na ciclagem do fósforo e nitrogênio (JOHANNES citado por APHA, 1995); serem ubíquos e de fácil amostragem (APHA, 1995); apresentarem elevada diversidade taxonômica (LEE et al., 1996) e por serem organismos sensíveis a diferentes concentrações de poluentes no meio, fornecendo ampla faixa de respostas frente a diferentes níveis de contaminação ambiental (COULL, 1999; PAERL et al., 2003). Além disso, apresentam ampla distribuição geográfica, sendo componentes essenciais de quase todos os ambientes podendo ser obtidos em quantidades estatisticamente aceitáveis (PICCINNI & GUTIÉRREZ, 1995). Entretanto, há autores que apontam desvantagens quanto ao uso dos ciliados para bioindicação da qualidade de ecossistemas aquáticos: o grande número de espécies e a dificuldade de identificação e quantificação. A disponibilidade de alimento é considerado um importante fator biótico regulador da distribuição das populações de ciliados nos diversos ecossistemas (NOLAND, 1925). Dessa forma, os distúrbios causados pela poluição podem facilmente alterar a cadeia alimentar aquática (MADONI & BASSANINI, 1999). 32 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 2.1 Área de estudo A área de estudo correspondeu a bacia hidrográfica do rio das Velhas, entre as latitudes 17o 15‟ e 20o 25‟ S e longitudes 43o 25‟ e 44o 50‟ W (POLIGNANO et al., 2001). A Bacia do rio das Velhas abrange uma área de 27.857 km 2 com 51 municípios e disponibilidade hídrica per capita de aproximadamente 2.432 m3/hab./ano (IGAM, 2009). Está localizada na região central do Estado de Minas Gerais, na margem direita do rio São Francisco, e apresenta uma forma alongada na direção norte-sul (Figura 1), sendo dividida nos trechos alto, médio e baixo curso (CAMARGOS, 2004 citado por Silva 2009). Figura 1 - Mapa da Bacia do Rio das Velhas subdividida nas regiões Alto, Médio e Baixo Velhas. Fonte: Camargos (2004) citado por CBH (2011). 33 A nascente principal do rio das Velhas, a Cachoeira das Andorinhas, localizase no município de Ouro Preto, na Serra de Antônio Pereira (MMA, 2006), a uma altitude de 1.500 m. A foz do rio das Velhas com o rio São Francisco é em Barra do Guaicuí, distrito de Várzea da Palma. O trecho do alto rio das Velhas, onde se encontra o município de Belo Horizonte, área de maior contingente populacional e atividade econômica concentrada, é a região qual apresenta os maiores focos de poluição hídrica de toda a bacia (CAMARGOS, 2005). A área da cidade é uma região intermediária entre dois importantes domínios geomorfológicos de Minas Gerais: a Depressão de Belo Horizonte e o Quadrilátero Ferrífero. Esta Depressão ocupa cerca de 70% do município e caracteriza-se por rochas graníticas de idade arqueana (SILVA, 2009). A população da bacia do rio das Velhas é de aproximadamente 4,8 milhões de habitantes, sendo que desta, aproximadamente 89% residem em distritos e municípios integralmente inseridos na bacia (CAMARGOS, 2004). Pode-se caracterizar a região da bacia do rio das Velhas como um espaço ocupado de forma desigual, preenchido por poucas áreas de alta e média densidade populacional (Alto Velhas e Médio Velhas) e por grandes vazios demográficos (Baixo Velhas). A região metropolitana de Belo Horizonte, apesar de ocupar apenas 10% da área territorial desta bacia, é a principal responsável pela degradação do rio das Velhas, devido à sua elevada densidade demográfica, processo de urbanização e atividades industriais (IGAM, 2010). 2.2 Rede e período da amostragem A rede de amostragem tomou por referência a rede operada pelo IGAM (2009) no âmbito do projeto “Águas de Minas”, cujas estações de coleta foram estabelecidas adotando-se a metodologia dos países membros da União Européia, que leva em conta os seguintes critérios: (i) áreas representativas das condições naturais das águas da bacia; (ii) as principais interferências antrópicas, relacionadas à ocupação urbana e às atividades industriais e minerarias; (iii) as principais interferências das atividades agropecuária e silvicultura. A rede de amostragem engloba 23 estações de coleta sendo 20 distribuídas ao longo do curso do rio das Velhas e três em tributários da bacia, no alto, médio e 34 baixo curso do rio, (Figura 2 e Tabela 3) conforme determinado pelo IGAM. Descrições mais detalhadas encontram-se no apêndice A. Foram realizadas duas coletas na região litorânea dos corpos d‟água, uma na estação chuvosa (outubro, 2009) e outra na seca (julho, 2010). A classificação de período chuvoso foi definida segundo Nimer (1979) e Minuzzi et al. (2007). Tabela 1 - Estações de amostragem de protistas ciliados epibentônicos. Estação Descrição Coordenadas (UTM) BV013 Rio das Velhas, a montante da foz do Rio Itabirito. 0630904 7764987 BV035 Rio Itabirito, a jusante da cidade de Itabirito. 0624965 7763243 BV037 Rio das Velhas, a jusante da foz do Rio Itabirito. 0626179 7772779 AV210 Rio das Velhas, a jusante de Rio Acima. 0626552 7778232 BV139 Rio das Velhas, a montante da ETA/COPASA em Bela Fama. 0622398 7785623 BV063 Rio das Velhas, a jusante do Ribeirão Água Suja, Raposos. 0624408 7789759 BV067 Rio das Velhas, a montante do Ribeirão Sabará. 0623737 7798643 BV083 Rio das Velhas, a montante do Ribeirão Arrudas, em Sabará. 0619433 7801839 BV105 Rio das Velhas, a jusante do Ribeirão do Onça, Santa Luzia. 0618763 7813288 BV135 Rio Taquaraçu, próximo de sua foz no Rio das Velhas, Taquaraçu de Minas. 0626785 7831179 BV153 Rio das Velhas, a jusante do Ribeirão da Mata, Santa Luzia. 0621030 7819737 BV137 Rio das Velhas, na Ponte Raul Soares,Lagoa Santa. 0614218 7836908 BV138 Rio das Velhas, a jusante do Parque Lagoa Santa, Lagoa Santa. 0612482 7839940 BV156 Rio das Velhas, a jusante do Rio Jaboticatubas, Baldim. 0604243 7868430 BV141 Rio das Velhas, Santana do Pirapama 0601251 7897658 BV142 Rio das Velhas, a jusante do ribeirão Santo Antonio em Inimutaba. 0585158 7935328 BV150 Rio das Velhas, a jusante do rio Paraúna, Senhora da Glória. 0584554 7957787 BV152 Rio das Velhas, entre os rios Paúna e Pardo Grande, Santo Hipólito. 0581207 7976032 BV146 Rio das Velhas, a jusante do rio Pardo Grande, Corinto. 0569004 7985743 BV147 Rio Bicudo, próximo de sua foz no Rio das Velhas, Corinto. 0549014 7996053 BV151 Rio das Velhas, a jusante do córrego do Vinho, Lassance. 0549440 8024694 BV148 Rio das Velhas, Varzea da Palma 0530376 8054789 BV149 Rio das Velhas, a montante de sua foz no Rio S. Francisco, Barra do Guiacuí. 0519682 8097507 35 Bacia Rio das Velhas Escala Figura 2 - Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, bacia do rio das Velhas, MG. Fonte: CETEC/IGAM. 2.3 Coleta de amostras e ensaios em laboratório As coletas de amostras de água foram realizadas para estudo de variáveis físicas, químicas e biológicas. 36 2.3.1 Amostras e ensaios físicos e químicos Para verificar a influência dos fatores abióticos nas populações dos ciliados amostrados, foram efetuadas “in situ”, no momento da amostragem, as medições dos fatores limnológicos, a saber: oxigênio dissolvido (OD), temperatura da água, condutividade elétrica e pH (SPARAGANO & GROLIÈRE, 1991). Estes parâmetros foram obtidos através de sondas portáteis multiparâmetros da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC. Nas coletas de água para ensaios laboratoriais, foram adotadas as técnicas de amostragem e preservação especificadas na NBR 9898, da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Foram adotados parâmetros de monitoramento que permitem caracterizar a qualidade da água e o grau de contaminação dos cursos de água da bacia do rio das Velhas em seu alto, médio e baixo curso. As variáveis monitoradas caracterizam-se como físicos e químicos e microbiológicos, e indicadores biológicos de qualidade de água, relatados a seguir: Parâmetros físicos e químicos: turbidez demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO), nitrogênio amoniacal, nitrato, fósforo, cloretos; Microbiológicos: e coliformes termotolerantes e foram realizados pelo Setor de Medições Ambientais do Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC-MG). Hidrobiológicos: teores de clorofila a, e a determinação das densidades das comunidades de ciliados e de cianobactérias. 2.3.1.1 Análises microbiológicas No curso d‟água ou reservatório o frasco devidamente esterilizado é aberto e submergido a uma profundidade de aproximadamente 0,2 metros, com a boca levemente inclinada para cima. Depois de coletadas e devidamente preservadas, as amostras foram encaminhadas ao laboratório, para análise. As amostras de água foram analisadas de acordo com a metodologia SM 9221 E.2, estabelecida por APHA (2005). 37 2.3.1.2 Ensaios Hidrobiológicos Cianobactérias Para a análise qualitativa utilizou-se rede de plâncton de nylon com 20 μm de abertura de malha e a coleta foi realizada por meio de arraste horizontal repetidas vezes na subsuperfície, com o auxílio do barco. A amostragem quantitativa foi realizada através de coleta manual. Nesta, o frasco de polietileno foi levado a uma profundidade de 20 cm aproximadamente, sendo coletados 1000 mL de amostra. O material destinado às análises qualitativas foi fixado com Formol a 4% e o reservado às análises quantitativas foi fixado e corado com 5,0 mL de Lugol Acético. A contagem e a identificação dos organismos, tanto da amostragem quantitativa, quanto da qualitativa, foram realizadas em câmaras de Uthermhöl e de sedimentação de 20 mL, sob microscópio invertido KEN-A VISION. As principais chaves taxonômicas utilizadas foram: SANT‟ANNA, et al (2006); BICUDO & BICUDO (1970) e BICUDO & MENEZES (2006). Clorofia a Para o estudo da clorofila a, as amostras foram coletadas na subsuperfície (cerca de 20 cm de profundidade). Para cada ponto, foi coletado um litro de água, que foi armazenada em frascos plásticos, cobertos por papel alumínio, de modo a evitar a exposição da amostra a luz. Em laboratório, a totalidade da amostra foi filtrada a vácuo. A análise laboratorial foi realizada através de extração com acetona, a 90% e determinação por método espectrofotométrico. Os ensaios em laboratório atenderam às normas aprovadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial e aos métodos indicados por APHA, 2005. Os resultados referentes à qualidade das águas foram interpretados de acordo com os limites de Classe 2, definidos pela Resolução n357/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), e pela Normativa n10/86 disposta pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM), apresentados por meio de gráficos. 38 2.3.2 Amostragem, identificação e contagem dos protozoários ciliados 2.3.2.1 Coleta e processamento da amostra Para a amostragem do plâncton (superfície) utilizou-se o amostrador Garrafa de Van Dorn, e para o bentos (interface substrato/água), uma concha. Ambas foram coletadas à margem dos rios. As amostras de plâncton foram e armazenadas em garrafas plásticas com capacidade de 500ml, fixadas com Bouin aquoso 5% (SKIBBE, 1994). O volume restante na garrafa, in natura, foi acondicionadas em caixas de isopor refrigeradas com gelo e transportadas para o laboratório para análise qualitativa. As amostras de bentos foram armazenadas em potes plásticos de 500ml sem fixador. O material foi devidamente acondicionado em caixas de isopor refrigeradas com gelo e transportadas para o laboratório. Figura 3 - Coleta de plâncton com o amostrador Garrafa de Van Dorn à margem direita do Rio das Velhas (estação BV148), Barra do Guaicuí, MG. Fonte: elaborada pelo autor. 2.3.2.2 Identificação, documentação, morfometria e depósito de material testemunho Os ciliados presentes nas amostras de plâncton in natura foram observados utilizando um microscópio óptico OLYMPUS, e aqueles presentes em amostras de sedimento, foram observados sob estereomicroscópio óptico OYMPUS. Técnicas de 39 microscopia de campo claro e de contraste de fase foram empregadas neta etapa para identificação dos ciliados. Aqueles de difícil identificação foram objeto de emprego de técnicas taxonômicas de impregnação pela prata (KLEIN, 1953 DIECKAMANN, 1995; SKIBBE, 1994). A identificação das espécies de ciliados realizou-se com base nos trabalhos de Kahl (1935), Curds (1975), Corliss (1979), Dragesco & Dragesco-Kernéis (1986), Foissner et al. (1991), Foissner et al. (1992), Foissner et al. (1994), Foissner et al. (1995), Foissner et al. (1999), Foissner & Berger (1996) e Berger (2006). Os desenhos foram feitos em papel seda utilizando-se um microscópio equipado com câmara clara. Para o registro fotográfico das espécies encontradas, utilizou-se um microscópio óptico e uma câmera digital Sony CyberShot com resolução de 7.2 megapixels, diretamente posicionada na ocular do microscópio. A morfometria dos ciliados foi realizada em microscópio equipado com retículo micrométrico com escala aferida após utilização de lâmina com escala micrométrica. Foram feitas as seguintes medidas: comprimento somático – máxima distância celular longitudinal, excluindo os cílios e o colar peristomial; largura somática - máxima distância transversal (diâmetro) da célula em ângulo reto ao eixo longitudinal; macronúcleos – foi determinado o número e dimensões (comprimento e largura) do(s) macronúcleo(s) e o diâmetro do micronúcleo (nos casos em que foi observado); comprimento / diâmetro da abertura bucal; profundidade / comprimento do infundíbulo; cinécias somáticas – foi determinado o número e o comprimento das cinécias somáticas (WIELOCH, 2007; DIAS, 2007) (Apêndice B). A determinação dos dados morfológicos contou com um número mínimo de 10 indivíduos da mesma espécie, aleatoriamente, para efeito de obtenção da média e desvio padrão das medidas obtidas, exceto nos casos em que o número de indivíduos foi muito baixo (DIAS, 2007; WIELOCH, 2007). Das lâminas permanentes de impregnação pela prata da técnica do QPS, contendo espécies de ciliados, parte será depositada no Laboratório de Zoologia de Invertebrados, no Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais e a outra, será incluída na coleção didática do Laboratório de Ecologia Aquática, do Instituto de Ciências Exatas e Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto. 40 2.3.2.3 Ensaio quantitativo O ensaio quantitativo foi realizado pela técnica do QPS – Quantitative Protargol Stain a qual envolve o processo de filtragem seguido pela impregnação pela prata, empregada para a identificação dos ciliados pré-fixados (SKIBBE, 1994). A técnica do QPS, além de se basear na impregnação da prata com a utilização do Proteinato de Prata, envolve a filtração de uma alíquota da amostra em membrana permitindo a quantificação da amostra e a evidenciação e taxonomia de ciliados de pequeno tamanho, dificilmente possível de se visualizar mediante outras técnicas como a contagem por lâmina de Segdwick & Rafter. Das amostras acondicionadas em recipientes plásticos de 250 ml, pré-fixadas em Bouin aquoso 5%, três alíquotas foram retiradas, que variaram em volume de 10 a 20 ml (dependente da condição física do corpo d‟água) e filtradas em seguida em Concluída a filtragem a membrana foi acondicionada em câmara úmida: placas de Petri forradas com papel filtro e umedecidos com o filtrado da amostra, com finalidade de manter a integridade da membrana e do filtrado. Em seguida foram distribuídas sobre uma chapa de vidro pré-aquecida duas lâminas de vidro para cada membrana filtrada. O aquecimento da placa é feito prendendo-a a borda do banho-maria. Em uma das lâminas, adicionou-se duas a três gotas da solução de ágar que permaneceu em banho-maria a 60oC (passo 1) utilizando a pipeta de Pasteur com pêra de borracha. Cobriu-se, então, a lâmina que contem a membrana com a lâmina contendo o ágar. A membrana aderida entre as lâminas foi retirada inserindo entre uma de suas extremidades um estilete ou bisturi. Foram em seguida, transferidas em seguida para placas de Petri, contendo solução de formol a 10% em quantidade suficiente para recobrí-las. Mantê-las embebida nesta solução por um período de no mínimo dez minutos. Posteriormente, as membranas passaram por sequência de regentes respectivamente: Solução de permanganato de potássio 0,2% por cinco minutos, Água de torneira por dez segundos, Solução de ácido oxálico 2,5% por cinco minuto e três banhos de Água destilada por 3 minutos cada. A figura 4 ilustra de forma esquemática a sequência descrita. 41 As lâminas foram então inseridas em uma cuba de vidro com o berço para corar lâminas contendo solução de protargol 0,6% (Figura 5) permanecendo em banho-maria (60ºC) por 40 minutos. Ao retirar a cuba com o berço de lâminas do banho-maria, novamente as membranas passaram por uma sequência de reagentes, respectivamente para realizar o processo de revelação: solução de hidroquinona por trinta segundos, água de torneira por dez segundos, solução de cloreto de ouro 0,5% por três segundos, solução de ácido oxálico 2,5% por trinta segundos, água destilada por dois minutos, Solução de tiosulfato de sódio 2,5% por três minutos e água de torneira três vezes por três minutos cada. A figura 6 ilustra de forma esquemática a sequência descrita. Em seguida as membranas passaram pelo processo de desidratação em solução de álcool isopropílico, seguindo as concentrações e os respectivos tempos conforme discriminados a seguir: solução a 30% por cinco (5) minutos, solução a 70% por cinco (5) minutos, álcool isopropílico bruto por cinco (5) minutos e álcool isopropílico bruto por cinco (5) minutos. As membranas foram mergulhadas, respectivamente, nas soluções: xilol mais álcool isopropílico na proporção 1:1 por cinco (5) minutos e xilol puro por cinco (5) minutos duas vezes. Em seguida as membranas foram montadas entre lâmina e lamínula com resina (Entellan). Transcorrido um período para secagem, as membranas estavam prontas para quantificação dos ciliados sob microscópio óptico. O procedimento detalhado desta técnica encontra-se no apêndice C deste trabalho. 2.4 Processamento dos dados 2.4.1 Variáveis físicas, químicas, colimetria e clorofila a A normalidade na distribuição dos dados foi testada pelo método de Kolmogorov-Smirnov. Este teste observa a máxima diferença absoluta entre a função de distribuição acumulada assumida para os dados, no caso a Normal, e a função de distribuição empírica dos dados. Quando os dados apresentaram distribuição normal, estes foram trabalhados a partir de métodos estatísticos 42 paramétricos, quando não apresentaram e não puderam ser normalizados, foram utilizados os não paramétricos. As análises estatísticas foram realizadas pelo programa STATISTICA 7.0, a saber: Discriminante para avaliar a distribuição das estações de coleta em função dos parâmetros físicos, químicos e biológicos; análise de correlação Canônica com o objetivo de avaliar a distribuição das espécies em função das variáveis físicas, químicas e biológicas; ANOVA One Way a fim de verificar possíveis diferenças significativas da riqueza e da densidade de espécies de protistas ciliados entre as estações de coleta, período sazonal ou entre as regiões do rio das Velhas (alto, médio e baixo curso) e análise de Cluster com a finalidade de avaliar a distribuição das estações de coleta de acordo com os índices de saprobidade química e biológica. Os dados de avaliação do ambiente foram cedidos pelo Instituto de Gestão das Aguas de Minas Gerais – IGAM, como o Índice de Qualidade da Água (IQA) e Índice de Estado Trófico (IET), também analisados no presente estudo. O IQA é definido por um conjunto de 9 parâmetros considerados mais representativos para a caracterização da qualidade das águas: oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, fosfato total, temperatura da água, turbidez e sólidos totais. A cada parâmetro foi atribuído um peso, conforme apresentado na tabela 2 a seguir, de acordo com a sua importância relativa no cálculo do IQA, e traçadas curvas médias de variação da qualidade das águas em função da concentração do mesmo. Tabela 2 - Peso atribuído aos parâmetros físico-químicos utilizados no cálculo do IQA. Fonte: Relatório Anual do programa Águas de Minas – (IGAM 2007) 43 Para o cálculo do IQA foi utilizado um software desenvolvido pelo CETEC – Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais. Os valores do índice variam entre 0 e 100, conforme especificado a seguir na tabela 3: Tabela 3 - Nível de qualidade da água de acordo com o IQA. Nível de Qualidade Excelente Bom Médio Ruim Muito Ruim Faixa 90< IQA <=100 70< IQA <=90 50< IQA <=70 25< IQA <=50 0< IQA <=25 Fonte: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC/MG) Os resultados apresentados de IET serão a média aritmética simples dos índices relativos ao fósforo total e à clorofila a, segundo a equação: IET = [IET ( P ) + IET ( CL)] / 2 Como o processo de eutrofização envolve dois momentos distintos, causa e consequência, foi adotado no Projeto Águas de Minas a utilização do índice apenas quando os dois valores de IET, fósforo e clorofila-a, estiverem presentes. Para a classificação deste índice serão adotados os seguintes estados de trofia: ultraoligotrófico, oligotrófico, mesotrófico, eutrófico, supereutrófico e hipereutrófico (LAMPARELLI, 2004), cujos limites e características estão descritos na tabela 4 a seguir: Tabela 4 - Classificação do Estado Trófico (IET) – Rios. Fonte: IGAM (2009). 44 2.4.2 Composição e estrutura da ciliatofauna Na análise da estrutura da ciliatofauna os táxons e suas respectivas densidades foram tabulados em forma de uma matriz utilizando o programa Excel, Windows 2007, considerando a natureza dos táxons (planctônica e bentônica), a abrangência espacial das estações agrupando-as segundo sua distribuição nas porções da bacia (alto, médio e baixo curso) e a abrangência temporal (período chuvoso – outubro de 2009 e período seco - julho de 2010). A partir desta matriz foram obtidos a riqueza, a densidade e os índices de diversidade e equitabilidade. O cálculo destes índices considerou o nível taxonômico de gênero e espécie e utilizou o programa PAST. A diversidade foi estimada com base no índice de Shannon-Wiener (H‟), empregando-se a fórmula em base “e” expressa em nits/indivíduos, no índice recíproco de Simpson (1/D). Ambos os índices foram utilizados tendo em vista que o de Shannon-Wiener atribui um peso maior às espécies raras e o de Simpson às espécies comuns e mostra a concentração de dominância, uma vez que, quanto maior o seu valor, maior a abundância por uma ou poucas espécies. O recíproco de Simpson foi calculado, com a finalidade de se obter um índice de diversidade comparável ao de Shannon-Wiener (ODUM 1988). A eqüitabilidade (J) é um componente da diversidade que pode ser tomada como uma medida de uniformidade em termos da repartição de indivíduos entre espécies. O valor de J varia de 0 a 1, onde 1 representa uma situação, na qual as espécies são igualmente abundantes (ODUM, 1986; PIELOU, 1969 citado por MAGURRAN, 1989). A análise comparativa da eqüitabilidade da ciliatofauna considerou as categorias: muito baixa (0,0 intermediária baixa (0,4 J 0,8) e muito alta (0,8 1,0). J J 0,2) baixa (0,2 0,5), intermediária alta (0,5 J J 0,4), 0,6), alta (0,6 J Para detectar diferenças significativas entre as categorias: porção da bacia e os período da coleta foram realizadas ANOVAs one-way. Quando rejeitada a hipótese nula com níveis usuais de probabilidade (0,05 e 0,01) fez-se a verificação da normalidade dos dados e da homogeneidade das variâncias, utilizando, respectivamente, o teste de Kolmogorov-Smirnov e o teste de Levene. 45 As análises estatísticas utilizaram o programa STATISTICA versão 7.0 e na representação gráfica, além deste programa foi utilizado o Excel, Windows 2007. 2.4.3 Bioindicação da qualidade com base nos Ciliados A bioindicação da qualidade das águas com base na ciliatofauna fundamentou-se no enquadramento do índice de saprobidade da estação de coleta às classes de qualidade de água do Sistema Saprobiótico constante no Manual Alemâo de Normas Técnica -Fachgruppe Wasserchemie in der Gesellschaft Deutscher Chemiker,1979), às quais correspondem um determinado nível sapróbico (Tabela 4), como caracterizado na norma DIN (1990, 2004) e apresentado no apêndice D. Tabela 5 - Índice, nível e classe de saprobidade. Índice, grau e classe de saprobidade (SLADECEK, 1973) o: oligosapróbica (1,0 - 1,5) o-b: oligo-betamesosapróbica (>1,5 - 1,8) b: betamesosapróbica (>1,8 - 2,3) b-a: beta-alfamesosapróbica (>2,3 - 2,7) a: alfamesosapróbica (>2,7 - 3,2) a-p: alfa-polisapróbica (>3,2 - 3,5) p: polisapróbica (>3,5 - 4,0) Classe I Classe I-II Classe II Classe II-III Classe III Classe III-IV Classe IV carga orgânica ausente carga orgânica escassa carga orgânica moderada carga orgânica crítica carga orgânica forte carga orgânica muito forte carga orgânica excessiva Fonte: Fachgruppe Wasserchemie in der Gesellschaft Deutscher Chemiker (1979). Para o cálculo do índice de saprobidade foi utilizada a fórmula de Zelinka & Marvan (1961): n si . Ai . Gi S= I =1 n Ai . Gi I =1 onde: i = número atribuído ao táxon si = valência sapróbica do táxon Ai = abundância n = número de táxons 2.4.3.1 Estimativa da Valência e peso sabróbico dos táxons Para aplicar a metodologia de bioindicadores de qualidade das águas ecossistemas lóticos tropicais é fundamental estabelecer a valência sapróbica dos táxons com relação aos seus limites de tolerância ao teor de carga orgânica, procedimento adotado no presente estudo conforme descrição que se segue. 46 O calculo da valência sapróbica partiu da identificação da frequência de ocorrência dos táxons nos diferentes níveis de saprobidade das estações de coleta da área de estudo considerando as condições físicas e químicas da água. Para tanto, os resultados dos ensaios de nitrogênio amoniacal, demanda bioquímica e química de oxigênio (mg/L O2) e os valores da saturação e déficit de oxigênio dissolvido, calculados de acordo com GOLTERMAN et al. (1978) foram enquadrados aos limites propostos no manual "Richt linie für die Ermittung der Gewässergüte Klasse" (LAWA, 1982) que estabelece sete níveis de saprobidade, correspondentes à diferentes concentrações de carga orgânica na água (Quadro 1). Quadro 1 - Níveis de saprobidade da água a partir de variáveis físicas e químicas. Variáveis físicos e químicos Nível de saprobidade Índice sapróbico Teor de carga orgânica (%) (%) 1,0 a < 1,5 ausente a muito escasso 0a5 0a3 1,5 a < 1,8 escasso 5 a 15 1,8 a < 2,3 moderado 2,3 a < 2,7 2,7 a < 3,2 OD DBO5 NH4 –N DQO (mg/l) (mg/l) 0 a 0,5 < 0,1 1a<3 3 a 10 0,5 a 2 0,1 3a<6 15 a 30 10 a 25 2a4 > 0,1 a < 0,3 6 a < 10 crítico 30 a 50 25 a 50 4a7 > 0,3 a < 0,7 10 a < 19 forte 50 a 75 50 a 100 7 a 13 > 0,7 a < 3,0 19 a < 75 alfamesopolisapróbio 3,2 a < 3,5 (ams-ps = a-p) muito forte 75 a 90 100 13 a 22 > 0,3 a < 9,0 > 75 polisapróbio (ps = p) excessivo > 90 - > 22 > 9,0 > 75 Oligosapróbio (os = o) oligobetamesosapróbio (os-ßms = o-b) betamesosapróbio (ßms = b) betaalfamesosapróbio (ßms-ams = b-a) alfamesosapróbio (ams = a) 3,5 a 4,0 Déficit de SuperSaturação Saturação (mg/l) 20oC Cor indicativa da qualidade das águas Fonte: Junqueira et al. (2000). Nota: Os símbolos colocados entre parênteses sob cada nível de saprobidade, são convencionalmente utilizados no sistema sapróbio ao lado ( = ) daqueles que serão utilizados nesse estudo buscando maior facilidade de leitura. Como a valência sapróbica de um táxon é uma medida de sua importância para avaliar a estação de coleta, onde a espécie é ponderada para o cálculo do índice sapróbico com base no intervalo sapróbico em que podem ocorrer. Para permitir uma caracterização adequada da ocorrência do táxon, DIN (1990, 2004) considera que, no mínimo, 20 pontos devem sem amostrados. O intervalo da valência sapróbica é derivada do desvio padrão dos resultados obtidos, para melhor definir o peso sapróbico dos táxons. A tabela 5 mostra a atribuição dos fatores de 47 ponderação (peso sapróbico) às escalas do desvio padrão e respectiva qualidade em termos da bionidicação. Os pesos atribuídos aos táxons foram classificados segundo Sládecek (1973): 16 (ótimo), 8 (bom), 4 (regular), 2 (ruim) e 1 péssimo (Tabela 6). Tabela 6 - Atribuição dos fatores de ponderação (peso sapróbico) às escalas de desvio padrão. Peso sapróbico 16 8 4 2 1 > 1,0 Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo Impróprio Desvio padrão 0,0 - 0,2 > 0,2 - 0,4 > 0,4 - 0,6 > 0,6 - 0,8 > 0,8 - 1,0 > 1,0 Fonte: (DIN, 1990) O fator multiplicado por 2, dos valores indicativos foi usado para dar mais peso às espécies com valor ecológico restrito do que para aqueles com as mais amplas distribuições. Ao mesmo tempo, este procedimento minimiza os desvios na construção de um índice (FRIEDRICH & HERBEST, 2004). A partir dos resultados das valências e respectivos graus sapróbicos dos ciliados ocorrentes no rio das Velhas e tributários foi feita a análise comparativa com os de Sladecek (1973), Maravcova (1977), Wegl (1983), Friedrich (1990) e Foissner (1996), com a finalidade de identificar a equivalência das informações geradas pelo presente estudo e os autores citados. 2.4.3.1.1 Análise de cluster Para evidenciar os padrões gerais de semelhança entre as estações de coleta quanto aos níveis de saprobidade foi feita a análise de agrupamento hierárquicoaglomerativo (cluster), utilizando o programa ESTATISTICA 7.0. Para esta análise foi considerado os resultados dos índices de saprobidade, no período chuvosos e de seca. Na análise foi utilizado como coeficiente de similaridade o método de ligação da média não ponderada (UPGMA - Unweigted Pair Group Method Average) onde a distancia entre dois grupos é a média aritmética da distância entre todas as duplas de objetos pertencentes aos dois grupos. No cálculo da distância entre grupos 48 (coeficiente de distância) foi utilizada a distância Euclidiana simples, para representação gráfica (dendograma). 2.4.3.2 Grau de poluição com base no índice de diversidade (H’) Para avaliar a qualidade das águas enquadrou-se os valores do índice de Shannon (H‟) na classificação proposta por STAUB et al. (1970), WILHN e DORIS (1986) citados por GUHL (1987), com modificações, quanto aos graus de poluição, representados por ornamentos (Quadro 1). Salienta-se que o emprego dessa classificação deve ser considerada com reservas, posto ter sido estabelecida para ambientes de clima temperado (CETEC, 2004). Em relação aos índices derivados de medidas diretas da presença dos táxons KAPUSTKA et al. (1992), citado por FERREIRA (2001) destacam que embora objetivem a simplificação dos dados, nunca se deve excluir a abordagem em termos da riqueza e abundância taxonômica. Confiar em apenas um índice como, por exemplo, o de Shannon-Wiener, pode implicar em interpretações errôneas. Ainda, segundo HOPKIN (1998) citado por FERREIRA (2001) os principais problemas relacionados ao emprego de índices de diversidade na análise dos graus de poluição de ecossistemas aquáticos são: . não levam em conta os diversos fatores que influenciam a estrutura da comunidade; . falta de consenso quanto ao índice a ser empregado como medida da diversidade e qual grupo e nível taxonômico deve ser utilizado; . insuficiente clareza em como a diversidade responde à poluição, com base no conhecimento disponível. Quadro 2 - Grau de poluição com base na diversidade específica estimada a partir do índice de Shannon-Wiener (H’). Classe H’ H‟ 3,0 3,0 H‟ 2,5 2,5 H‟ 2,0 2,0 H‟ 1,5 1,5 H‟ 1,0 H‟ 1,0 Grau de poluição não poluída poluição muito fraca poluição fraca poluição moderada poluição forte poluição excessiva Ornamento Fonte: Staub, et al. (1970), Wilhn & Doris (1986) citado por Guhl (1987), com modificações. 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. 1995. For the Examination of Water and Wastewater Standard Methods. Lenore S. Clesteri, Washington. 19ºed., p. 1043 – 1044, BARBIERI, S.M. & ORLANDI, M.J.L.G. 1989. Ecological studies on the planktonic protozoa of a eutrophic reservoir (Rio Grande Reservoir – Brazil). Hydrobiologia, 183: 1-10. BEAVER, J.R. & CRISMAN, T.L. 1983. The trophic response of ciliated protozoans in freshwater lakes. Limnol, Oceanogr. 27(2): 246-253. CETEC, 2004. Desenvolvimento de tecnologias para descontaminação de áreas degradadas pela atividade garimpeira com recuperação de mercúrio e ouro estudo de caso: córrego Rico, Paracatu, MG. Belo Horizonte. 2v. (Relatório). CORLISS, J.O. 1979 .The ciliated protozoa. Pergamon Press, London, 2ed. 455p. COULL, B.C., Role of meiofauna in estuarine soft-bottom habitats. Austral. J. Ecol., 24, p.327-343, 1999. DIAS, R. J. 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Hydrobiologia, 547: 163-174 54 Capítulo I 55 Composição de ciliados (Protista, Ciliophora) planctônicos do rio das Velhas e tributários, MG RESUMO Durante o estudo da comunidade de protozoários ciliados no Rio das Velhas, MG, foram encontrados 45 morfo-espécies planctônicas das quais 35 foram identificadas em nível de espécie, com registro de uma espécie nova, Strobilidium longicinetium n. sp.. Oligohymenophorea foi a classe mais especiosa e Spirotrichea, a segunda maior. O presente estudo verificou ainda a influência da poluição orgânica sobre a composição e distribuição da taxocenose de protozoários ciliados ao longo do Rio das Velhas bem como avaliação da qualidade da água deste sistema lótico. Palavras-chave: Ciliados. Sistemas lóticos tropicais. 56 1 INTRODUÇÃO A despeito da importância dos ciliados na dinâmica trófica das águas continentais são ainda escassos os estudos deste grupo faunístico em regiões tropicais. Grande parte dos trabalhos que têm contribuído para o conhecimento da sua biodiversidade e aspectos funcionais dos ciliados são realizados em rios e lagos temperados da Europa e América do Norte. No Brasil, um país privilegiado pela sua condição hidrológica, ainda são escassos os estudos voltados para a taxonomia e ecologia da comunidade de protistas ciliados planctônicos em cursos d água (MATSUMURA-TUNDISI et al., 1981) principalmente devido a dificuldades na padronização metodológica (GOMES & GODINHO, 2003). Paiva & Silva-Neto (2003, 2004b) descreveram, respectivamente, Apoamphisiella Jurubatiba e Oxytrichia marcilli e identificaram ainda 34 espécies nas margens da lagoa de Cabiúnas, Macaé, Rio de Janeiro. Paiva & Silva-Neto (2005) descreveram uma nova espécie, Deviata estevesi em um estudo também realizado na lagoa de Cabiúnas. Paiva & Silva-Neto (2006) descreveram uma nova espécie do gênero Pseudourostyla, a P. pelotensis encontrada em água salobra no município de Pelotas, RS. Os protozoários ciliados de ambientes lênticos (águas paradas) têm sido considerados como excelentes bioindicadores para avaliação da qualidade da água, destacando-se os trabalhos de Hardoim & Heckmann (1996) realizado em alagados do Pantanal, Mato Grosso. Pode-se citar também os estudo de BARBIERI & Godinho Orlandi (1989) e Gomes & Godinho (2003) em lagos eutrofizados no Estado de São Paulo. Em Belo Horizonte, WIELOCH (2006) realizou um estudo quali-quantitativo da distribuição vertical e horizontal de protozoários ciliados da Lagoa da Pampulha, utilizando pela primeira vez no pais a técnica de impregnação pela prata quali-quantitativa (QPS – Quantitative Protargol Stain). Os estudos envolvendo a ciliatofauna em águas correntes superficiais, são ainda escassos no Brasil. Paiva & Silva-Neto (2004b) descreveram a espécie Apoamphisiella foissneri em amostras do rio Limoeiro, Além, Paraíba, MG. Dias & D‟Agosto (2006) descreveram as alterações morfológicas e mecanismos de ingestão de acordo com o tipo de alimento em Frontonia leucas (Ehrenberg, 1833) (Hymenostomatida) às diferentes condições ambientais do córrego São Pedro, Juiz 57 de Fora, MG. Pauleto (2009) estudou a ciliatofauna presente na planície de inundação da bacia do rio Paraná. O Rio das Velhas, como um dos principais afluentes do São Francisco, não apresenta estudos no que se refere à comunidade de protistas ciliados, apesar de sua importância estratégica e ecológica. 1.1 Aspectos gerais do grupo Ciliophora O Reino Protoctista Haeckel, 1866 é considerado um grupo polifilético (HAUSMANN & HULSMANN, 1996). O superfilo Alveolata Cavalier-Smith, 1991, que contem os filos Apicomplexa Levine, 1970, Dinozoa Cavalier-Smith, 1991 e Ciliophora Doflein, 1901, sendo os Apicomplexa filogeneticamente mais próximo de Dinozoa do que aos Ciliophora, tal como demonstrado por Fast et al. (2002) em estudo sobre filogenia molecular. Dentro do grupo dos protistas, os ciliados são os mais especializados e diversificados e com maior complexidade em sua organização (KUDO, 1966; HICKMAN, 2001). Compartilhando uma origem comum, são organismos monofiléticos tendo como autopomorfia o dimorfismo nuclear, o tipo de reprodução sexuada por conjugação e a complexa infraciliatura (Lynn & COLRLIS, 1991). Os protistas ciliados são organismos unicelulares, heterotróficos e com tamanhos que varia de 10 m a 4.500 m. Alguns gêneros possuem espécies que chegam a aproximadamente dois milímetros de comprimento como, por exemplo, Stentor, Spirostomum e Lacrymaria. Outros se apresentam em dimensões diminutas, cerca de vinte micrometros, como Mesodinium e Cyclydium. Neste sentido, o entendimento da morfologia e ecologia dos protistas ciliados é fundamental no emprego de chaves dicotômicas para a identificação dos mais diversos táxons. Os ciliados são diploides e dicariotas, possuindo dois núcleos distintos, do ponto vista morfológico e funcional (CORLISS, 1979; MARGULIS & SCHWARTS, 1981). Os micronúcleos variam em número, de 1 a 20, e tamanho, medindo entre SMALL, 2002). Todos os ciliados possuem cílios em pelo menos uma fase de seu ciclo de vida, com exceção do gênero Phalacropstes, um suctório epizoóico que vive sobre o 58 poliqueta Schizobranchia insignis Bush, 1905 (HAUSMANN & HULSMANN, 1996) . Os cílios são organelas idênticas, estruturalmente, aos flagelos que servem tanto para locomoção, por meio da ciliatura somática usada para natação ou forrageamento, quanto para captura de alimento através da ciliatura oral, por meio de filtração. Os cílios que compõem o córtex dos ciliados são caracteres taxonômicos fundamentais na diferenciação dos táxons, sendo específico o padrão de distribuição destas estruturas extracelulares. Podem cobrir toda a superfície do corpo, estar restrito à região peristomial (citóstoma) ou a certas faixas. Com o advento de técnicas de impregnação por prata proposta por CHATTON & LWOFF (1930), KLAIN (1958), FOISSNER (1991) e DIECKMANN (1995) a ciliatura somática (distribuída ao longo da superfície do corpo celular) e a ciliatura oral (distribuída pelo citóstoma) ganharam grande valor na identificação de gêneros e espécies dentro do grupo. Os cílios originam-se de uma unidade estrutural que forma todo o sistema locomotor e alimentar dos ciliados: o cinetídio e quando associados, entre si, originam um complexo organelar denominado infraciliatura que corresponde ao sistema responsável pela locomoção do indivíduo. Os hipotrichios altamente especializados, como Urostyla, Stylonichia e Euplotes, possuem ciliatura corporal enormemente modificada. Barnes et al. (1994) colocam, em uma perspectiva da evolução, que o corpo diferenciou-se em superfície dorsal e ventral distintas e os cílios desapareceram em grande parte exceto em determinadas áreas da parte ventral. Assim os cílios ocorrem como tufos, chamados cirros, grupos compactos de cinetossomas. O citostoma pode ser encontrado na região anterior apical ou subapical. Em alguns heterotrichios e na maioria dos peritrichios o citostoma está localizado na base de uma depressão. O complexo oral ainda pode apresentar extrusomas, um conjunto de organelas que liberam substâncias para fora da célula. Está presente em algumas espécies, sendo responsável pela proteção da célula ou pode apresentar outra função como armadilha para a captura de alimento. O grupo dos protistas ciliados é, portanto, classificado com base no arranjo, posição e ultraestruturas dos cílios, morfologia do citóstoma, presença ou não de extrussomas, morfologia do complexo nuclear, e padrão no processo de morfogênese. 59 Os Protistas ciliados são, em sua grande maioria, de vida livre, sendo poucos simbiontes, comensais e parasitos (FENCHEL, 1987). Podem ser natantes ou sésseis, com estes últimos vivendo tanto em substratos inertes quanto a diversos organismos (epibiontes). Os grupos de vida livre ocupam diversos ambientes, como o marinho (interstícios de areia, estuários), os dulciaquícolas (lagos, córregos, rios, reservatórios, poças temporárias, lençóis freáticos e lodo ativado de estações de tratamento de efluentes) , terrestres (associados a musgos e superfícies de solos, troncos de árvores) (DRAGESCO & DRAGESCO-KERNÉIS, 1986; FENCHEL, 1987) ou no interior de epífitas Bromeliacea (FOISSNER, 2003a,b). O registro deste protistas em diversos ambientes deve-se a grande adaptabilidade às condições bióticas e abióticas (NOLAND, 1925). Quando as condições ambientais se tornam adversas este organismos encistam, até que o ambiente retorne às condições favoráveis (TAYLOR, 1981). Os protistas ciliados atuam na cadeia trófica como predadores de bactérias, cianobactérias, detritos, desmídiaceas, algas filamentosas, diatomáceas, amebas nuas e com tecas, hifas de fungos e até mesmo outros ciliados. Levando em conta o tipo de fagocitose, os ciliados são classificados em filtradores, alimentando-se de pequenas presas, bactérias e detritos filtrados através da ação ciliar; raptorias, pela predação de bactérias e outros protistas; e suctoriais que vivendo em substratos inertes ou sobre outros organismos capturam suas presas através de tentáculos (VERNI & GUATIERI, 1997). A biogeografia dos protistas ciliados ainda não é clara. Ecólogos e taxonomistas divergem quanto ao número de espécies existentes e sua dispersão no planeta. Enquanto os ecólogos defendem um distribuição geográfica ampla, os taxonomistas segerem um dispersão restrita. Segundo FOISSNER (1999) essas divergências ainda são especulativas, uma vez que uma pequena parcela dos habitats do planeta foi explorada, e que a chave para entender a biodiversidade e a distribuição geográfica dos ciliados é ampliar o esforço amostral no planeta e a formar novos taxonomistas. 1.2 Classificação taxonômica Os protistas ciliados têm sido classificados de diversas maneiras de acordo com a quantidade de características acumuladas para cada espécie. Dessa forma, 60 nos últimos anos tem-se mudado as chaves taxonômicas drasticamente com o desenvolvimento e aprimoramento de técnicas de coloração de estruturas celulares importantes para a diagnose, e até mesmo, análises genômicas dos indivíduos (CORLISS, 1979). Esse trabalho envolve atualmente o suporte da microscopia eletrônica de varredura e de comparações a níveis moleculares. Não existe, portanto, uma taxonomia fixa para o grupo, como se pode ver ao comparar as classificações propostas por Lee et al. (1984), revisadas em 1996, Puytorac (1994), Lynn & Small (1997). No presente estudo foi utilizada a classificação mais atual (Apêndice A), proposta por Lynn & Small (2002). 61 2 MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo: Correspondeu a bacia hidrográfica do rio das Velhas, entre as latitudes 17o 15‟ e 20o 25‟ S e longitudes 43o 25‟ e 44o 50‟ W (POLIGNANO et al., 2001). A Bacia do rio das Velhas abrange uma área de 27.857 km 2 com 51 municípios e disponibilidade hídrica per capita de aproximadamente 2.432 m3/hab./ano (IGAM, 2009). Está localizada na região central do Estado de Minas Gerais, na margem direita do rio São Francisco, e apresenta uma forma alongada na direção norte-sul (Figura 1), sendo dividida nos trechos alto, médio e baixo curso (CAMARGOS, 2004 citado por Silva 2009). As estações foram selecionadas da rede de amostragem operada pelo IGAM (2009) no âmbito do projeto “Águas de Minas”. Coleta das amostras: foram realizadas no período chuvoso (outubro, 2009) e no período seco (julho, 2010) com o amostrador Garrafa de Van Dorn (5L), armazenadas em potes plásticos de 500ml. Incluiu dois lotes de amostras: um lote correspondeu a amostras in natura mantidas sob refrigeração, para ensaio de identificação (qualitativo), e o outro a amostras preservadas fixadas com Bouin aquoso 5% na proporção 1:5 destinados ao ensaio de quantificação dos táxons. Processamento das amostras: realizou-se o ensaio quantitativo por filtração em membrana associada à técnica de impregnação pelo proteinato de prata (protargol), de acordo com Skibbe (1994). Utilizou-se de três alíquotas de 20 ml para cada amostra totalizando 60ml. 62 na margem durante Escala Figura 1 - Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, sub-bacia do rio das Velhas, MG. Fonte: Comitê de Bacias Hidrográficas de minas Gerais. Processamento dos dados: os resultados em termos da riqueza e densidade foram expressos por estação de coleta agrupando-as segundo a distribuição no alto, médio e baixo curso da bacia e os períodos sazonais. Para detectar diferenças significativas entre as categorias: porção da bacia e os período da coleta foram realizadas ANOVAs one-way utilizando o programa STATISTICA 7.0. Foram ainda calculados o índice de Shannon-Wiener (H‟) e a eqüitabilidade ou uniformidade de J, conforme Magurran (1989) e Krebs (1989). A análise comparativa da 63 eqüitabilidade da ciliatofauna considerou as categorias: muito baixa (0,0 baixa (0,2 J 0,6), alta (0,6 0,4), intermediária baixa (0,4 J 0,8) e muito alta (0,8 J J J 0,2) 0,5), intermediária alta (0,5 J 1,0). Para algumas estações não foi possível o cálculo do Índice de diversidade e equitabilidade devido a ausência de ciliados nas alíquotas das amostras submetidas aos ensaios de quantificação. Os valores de densidade foram classificados como: muito escassa (d escassa (1 d 5), moderada (5 d 50), abundante (50 J 1), 100) e muito abundante (d > 100). 64 3. RESULTADOS 3.1 Composição da comunidade de protistas ciliados planctônicos Foram registrados 45 táxons de ciliados, dos quais 33 foram identificados ao nível de espécie e 12 ao nível de gênero (Tabelas 1 e 2). Foi encontrada uma espécie nova, Strobilidium longicinetium n. sp (Capítulo IV) nas estações BV149 (período chuvoso) e na estação BV147 (período seco) no rio Bicudo, município de Corinto. Temporalmente, no período chuvoso, as maiores densidades foram observadas para Scuticociliatida (6583 ind./L) e Glaucoma scintilans (1919 ind./L) e foram mais expressivas na estação AV063 no alto curso. Acineria uncinata, Carchesium polipynum, Halteria bifurcata, Oxytrichia hymenostoma, Spirostomum teres, Strobilidium longicinetium n. sp, e Vorticella sp.2, obtiveram as menores densidades e classificadas como moderadas comparativamente as outras espécies. No período seco, as densidade mais expressivas foram observadas para Aspidisca cicada (8415 ind./L), Carchesium polipynum (8006 ind./L), Philasterides sp. (4794 ind./L), Epistylis plicatilis (4196 ind./L). Aspidisca turicula, Euplotes aediculatus, Glaucoma frontata, Oxytrichia sp., Pseudourostyla nova, Tintinnidium sp., Tintinnopsis sp. e Suctoria apresentaram a menor densidade (17 ind./L), mas foi classificada como moderada. Estre as espécies encontradas, não ocorreu táxons escassos. Algumas espécies apresentram clara variação sazonal. Didinium nasutum, Spirostomum teres ocorreram apenas no período chuvoso. No período seco, ocorreu um incremento de espécies, quais sejam: Aspidisca turicula, Epistylis coronata, Epistylis plicatilis, Euplotes aediculatus e Euplotes eurystomus, Frontonia leucas, Gastronauta clatratus, Glaucoma frontata, Lembadion lucens, Litonotus lamella, Loxodes striatus, Pseudovorticella Nassula sp., chlamydophora, Oxytrichia Stentor sp., roeselli, Paramecium Tintinnium sp., caudatum, Vorticella convallaria e Vorticella sp. 65 Tabela 1 - Densidade e riqueza total de ciliados planctônicos das estações amostrais durante os períodos de chuva, no rio das Velhas e tributários. Protistas Ciliados Planctônicos Táxons HETEROTRICHEA Spirostomum teres Estação chuvosa - 31.09.2009 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135MV153MV137MV138MV156MV141MV142MV150MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 42 42 42 42 SPIROTRICHEA Hypotrichia Aspidisca cicada Halteria bifurcata Strobilidium longicinetium n. sp. Oxytrichia hymenostoma Tintinnopsis sp. 125 37 200 167 33 33 33 33 37 200 42 42 375 375 PHYLLOPHARINGEA Chilodonella uncinata 100 100 42 42 PROSTOMATEA Coleps hirtus RIQUEZA TOTAL DENSIDADE TOTAL (ind./L) 33 125 LITOSTOMATEA Acineria uncinata Didinium nasutum OLIGOHYMENOPHOREA Cinetochilum margaritaceum Cyclidium glaucoma Glaucoma scintilans Phillasterides sp. Scuticociliatida Campanella umbellaria Carchesium polipynum Vorticella aquadulcis Vorticella sp. 2 33 167 42 42 125 9542 42 125 37 37 33 100 33 100 33 133 33 100 33 33 33 17 17 83 83 42 917 1792 167 33 33 100 28 33 28 400 200 33 133 33 17 17 6583 83 42 125 42 42 33 33 AV013 TR035 AV037 AV 210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 MV153 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 2 2 1 1 0 10 1 0 0 2 1 1 0 5 0 0 1 1 2 3 3 3 4 208 83 42 125 0 10125 42 0 0 111 33 33 0 500 0 0 33 33 74 50 267 233 200 Fonte: elaborada pelo autor. 66 Tabela 2 - Densidade e riqueza total de ciliados planctônicos das estações amostrais durante os períodos de seca, no rio das Velhas e tributários. Protistas Ciliados Planctônicos Estação seca - 07.07.2010 Táxons AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 MV153 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 50 50 KARYORELICTEA Loxodes striatus HETEROTRICHEA Stentor roeselii SPIROTRICHEA Hypotrichia Euplotes aediculatus Euplotes eurystomus Aspidisca cicada Aspidisca turicula Halteria bifurcata Strobilidium longicinetiu n. sp. Oxytrichia hymenostoma Oxytrichia sp. Pseudourostyla nova Tintinnopsis sp. Tintinnidium sp. LITOSTOMATEA Acineria uncinata Litonotus lamella Litonotus sp. Litonotus sp.1 PHYLLOPHARINGEA Chilodonella uncinata Gastronalta clatratus NASSOPHOREA Nassula sp. PROSTOMATEA Coleps hirtus OLIGOHYMENOPHOREA Frontonia leucas Lembadion lucens Paramecium caudatum Cinetochilum margaritaceum Cyclidium glaucoma Glaucoma frontata Glaucoma scintilans Phillasterides sp. Scuticociliatida Campanella umbellaria Carchesium polipynum Epistylis coronata Epistylis plicatilis Epistylis sp. Pseudovorticella chlamydophora Suctoria Vorticella aquadulcis Vorticella campanulla Vorticella convallaria Vorticella sp. Vorticella sp. 2 44 44 22 22 22 0 22 472 2644 1164 5622 25 472 2400 73 982 178 4489 25 22 244 109 956 33 17 17 33 17 22 33 1050 33 17 17 33 17 83 317 517 17 33 17 17 17 17 17 22 56 28 28 89 67 22 55 36 18 22 267 133 133 55 36 18 333 222 111 89 356 244 111 33 17 17 33 67 67 33 17 17 50 50 33 133 33 33 33 17 17 50 33 17 33 55.6 55.6 222 278 28 667 44 44 89 67 67 733 56 56 3139 8956 44.4 764 9800 100 25 17 17 50 167 17 17 167 17 17 250 67 33.3 83 89 56 44 22 44 18 356 1489 44 55 91 18 22 333 222 400 3089 44 28 139 83 100 83 25 17 17 67 17 33 67 67 311 311 56 28 1917 333 2911 2378 2111 489 218 18 1867 1156 1022 22 36 91 127 222 91 111 17 33 17 50 17 267 89 83 167 17 17 33 17 306 333 417 22 56 56 28 17 33 311 33 0 0 AV013 TR035 AV037 AV 210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 MV153 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 RIQUEZA TOTAL DENSIDADE TOTAL 0 0 0 0 2 222 5 333 1 28 5 733 4 156 6 844 10 3667 1 56 19 17 11956 2036 19 16111 3 117 2 50 7 150 4 233 3 183 1 33 20 1433 6 150 7 183 4 67 67 3.1.2 Diferenciação espacial e temporal da comunidade As estações AV153 (rio das Velhas a jusante do Ribeirão da Mata) no alto curso, MV138 (rio das Velhas município de Santa Luzia) no médio curso e TR147 (rio Bicudo, Corinto) no baixo curso, obtiveram a riqueza máxima encontrada de 20 espécies de ciliados planctônicos no período seco (Figura 2). Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Riqueza BV149 BV148 BV151 TR147 BV146 MV152 MV150 MV142 MV141 MV156 MV138 MV137 AV153 TR135 AV105 AV083 AV067 AV063 AV139 AV210 AV037 TR035 AV013 Riqueza seca Riqueza chuva 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 Espécies Figura 2 - Riqueza de espécies de protistas ciliados planctônicos referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. As diferenças observadas em termos da riqueza total (Figura 3), de acordo com a sazonalidade, foram significativas (ANOVA One Way, p= 0,0026). 68 p= 0,0026 Figura 3 – Riqueza total de ciliados planctônicos nos diferentes períodos sazonais. Em termos da riqueza total nas regiões da bacia do rio das Velhas, o Alto Velhas foi a que apresentou maior riqueza, com 31 táxons registrados. O Baixo Velhas obteve a segunda maior riqueza, com 30 táxons contra 28 no Médio Velhas (Figura 4). n espécies Riqueza total por região 34 32 30 28 26 24 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Região Figura 4 - Riqueza total de espécies de ciliados planctônicos por região do rio das Velhas, referentes períodos sazonais. 69 Os valores médios de riqueza de espécies apresentaram uma tendência de maiores valores na região do Médio Velas, observados no período seco (Figura 5), com 8,29 táxons, seguida do Baixo Velhas com 7,6 táxons e Alto Velhas com 4,91 táxons por estação. No período chuvoso, o Baixo Velhas foi a região na qual registrou-se maior número de táxons, com média de 3 espécies por estação, contra 1,8 para o Alto Velhas seguido do Médio Velhas com 1,4 táxons por estação. n espécies Riqueza média por regiões 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Alto Velhas Médio Velhas Regiões chuva Baixo Velhas seca Figura 5 - Riqueza média de protistas ciliados planctônicos por região da bacia do rio das Velhas, MG, outubro de 2009 e julho de 2010. As diferenças observadas em termos da riqueza total entre as porções da bacia (Figura 6), considerando os períodos seco e chuvoso, não foram significativas (ANOVA One Way, p= 0,5852) demostrando uma homogeneidade da densidade ao longo do rio. 70 Figura 6 - Riqueza total de ciliados planctônicos entre as regiões do rio das Velhas, MG. Considerando a riqueza de táxons e as classes correspondentes, oito classes do grupo dos ciliados foram representadas. Observou-se que Olygohymenophorea foi a mais especiosa, com 21 táxons no período seco e 9 no período chuvoso. Spirotrichea foi a segunda mais representada, com 12 espécies no período seco e 6 no chuvoso. Karyorelictea e Nassophorea, ocorreram apenas no período seco, representadas por um táxon (Figura 7). Riqueza de ciliados classe Riqueza de Ciliados por por classe 21 22 20 18 12 n espécies 16 14 12 Chuva Seca 9 10 8 6 6 1 4 2 2 1 1 2 1 0 4 1 0 1 1 EA LI TO ST O M AT PH EA YL LO PH A R IN G EA N A SS O PH O R EA PR O ST O O M LI AT G O EA H YM EN O PH O R EA R O TR IC H SP I A H ET E EL IC TE A RY O R K R O TR IC H EA 0 Classes Figura 7 - Riqueza de protistas ciliados planctônicos por classe, rio das Velhas e tributários, MG, período seco e chuvoso. 71 3.1.3 Densidade Em termos da densidade de ciliados planctônicos, esta foi maior entre as estações no período seco, e o valor máximo registrado foi observado na estação MV138 (16.111 ind./L), seguida da estação AV153 (11956 ind./L) (Figura 8) e a menor, obtida em AV139 (28 ind./L). No chuvoso, as maiores densidades foram observadas em AV063 (10.125 ind./L) seguida da estação MV156 (500 ind./L). A menor densidade obtida foi de 33,3 ind./L, registrada para as estações AV153, MV137, MV150, MV152. O período chuvoso foi marcado por um maior número de estações com densidade zero (AV139, AV083, AV105, MV138, BV141, BV142) enquanto que no período seco o mesmo ocorreu apenas em duas estações (AV013 e AV035). Entretanto, diferentemente da riqueza, o efeito sazonal não foi significativo na diferenciação da densidade entre as estações (ANOVA One Way, p= 0,2300) (Figura 9). Densidade Densidade 10000 100 chuva 10 Alto Velhas Médio Velhas BV149 BV148 TR147 BV151 BV146 MV152 MV150 MV142 MV141 MV156 MV138 MV137 AV153 AV105 TR135 AV083 AV067 AV063 AV139 AV210 AV037 AV013 1 seca TR035 Ind./L log.-1 1000 Estações Baixo Velhas Figura 8 - Densidade de espécies de protistas ciliados planctônicos referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. 72 P =0,2300 Figura 9 - Densidade de ciliados planctônicos nos diferentes períodos sazonais. Fonte: elaborado pelo autor. Ao se considerar os valores médios da densidade ao longo das regiões da bacia, verificou-se que o Alto Velhas foi a que apresentou a maior densidade média, com 979 ind./L e a menor, foi observada para a região do Médio Velhas, com 85,7 ind./L, considerando o período chuvoso (Figura 10). No período seco, o comportamento da densidade média foi diferente. Os valores médios observados foram de 2696,3 ind./L no Médio Velhas, seguido do Alto Velhas, com 1635,9 ind./L e Baixo Velhas, com 373,3 ind./L. 73 Médiadas dasdensidades densidades Média 4000 Densidade ind./L 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Regiões chuva seca Figura 10 - Densidade total média de protistas ciliados planctônicos por região, referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributário, MG. As diferenças observadas nos valores da densidade não foram significativas entre as porções da bacia. Apesar deste resultado pode-se observar que há uma diferenciação espacial na riqueza em função do trecho da bacia e observa-se uma concentração maior de ciliados planctônicos nas regiões do alto e médio curso (Figura 11). P =0,6589 Figura 11 - Densidade total média de protistas ciliados planctônicos por região da bacia do rio das Velhas, MG, outubro de 2009 e julho de 2010. De maneira geral, temporalmente, das classes representadas no estudo, Oligohymenophorea apresentou a maior densidade para o período seco, com 25.666 74 ind./L, seguida de Spirotrichea com 11.122 ind./L e foram as que apresentaram também as maiores densidade no período chuvoso, 10.653 ind./L e 637 ind./L respectivamente. No período seco, a classe com menor densidade foi Karyorelictea, representada apenas pela espécie Loxodes striatus, com densidade igual a 67 ind./L. O mesmo foi observado para Nassophorea, com 89 ind./L, representada por Nassula sp., conforme no figura 12. Desidade Classes 100000 25683 10653 Densidade ind./L.log-1 11122 10000 637 1000 562 777 749 175 67 100 67 89 233 125 42 seca 10 chuva SP IR O TR IC H EA LI TO ST O M PH AT YL EA LO PH A R IN G EA N A SS O PH O R EA PR O ST O LI O G M O AT H EA YM EN O PH O R EA IC O TR R ET E H K A RY O R EL IC H TE A EA 1 Classes Figura 12 - Densidade total de protistas ciliados planctônicos por classe, referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributário, MG. Oligohymenophorea e Spirotrichea apresentaram o mesmo padrão espacial e temporal e foram as mais abundantes durante o período chuvoso e seco. No período chuvoso, Oligohymenophorea e Phyllopharyngea apresentaram as maiores abundâncias, 92% e 3,5% dos organismos, na região do Alto Velhas e no Médio Velhas, 72,2% e 22,2%, respectivamente. No Baixo Velhas, Spirotrichea representou quase a metade da comunidade, com 49% de abundância relativa (Figura 13). No período seco, Oligohymenophorea e Spirotrichea foram as mais representativas nas três regiões da bacia. Assim como o observado no período 75 anterior, Spitrotrichea foi a mais importante, e representou 59% dos organismos registrados no Baixo Velhas (Figura 14). Densidade relativa - período chuvoso 100% 90% OLIGOHYMENOPHOREA Densiade relativa (%) 80% 70% PROSTOMATEA 60% NASSOPHOREA 50% PHYLLOPHARINGEA 40% LITOSTOMATEA 30% SPIROTRICHEA 20% HETEROTRICHEA 10% KARYORELICTEA 0% Alto Vélhas Médio Velhas Baixo Velhas Região Figura 13 - Densidade das classes de ciliados planctônicos por região da bacia do rio das Velhas, MG, período chuvoso. Densidade relativa - período seco 100% OLIGOHYMENOPHOREA 90% PROSTOMATEA Densidade relativa (%) 80% NASSOPHOREA 70% 60% PHYLLOPHARINGEA 50% LITOSTOMATEA 40% SPIROTRICHEA 30% 20% HETEROTRICHEA 10% KARYORELICTEA 0% Alto Vélhas Médio Velhas Baixo Velhas Região Figura 14 - Densidade das classes de ciliados planctônicos por região da bacia do rio das Velhas, MG, período seco. 76 3.2 Diversidade de protistas ciliados: comparação entre as regiões A riqueza e a densidade de ciliados traduziram índices de diversidade H' (Tabela 3) com valores reduzidos, que oscilaram de 0 a 2,21 (bits.ind-1), considerando os períodos seco e chuvoso. No período chuvoso, as estações que obtiveram maior diversidade foram MV156 (1,44 bits/ind/L) e BV149 (1,32 bits/ind/L) próxima à foz. No seco, AV153 (2,09 bits/ind/L) foi a mais diversa do alto curso, MV138 (2,18 bits/ind/L ) do médio curso e BV148 (2,02 bits/ind/L) e TR147 (2,21 bits/ind/L) do baixo curso. Tabela 3. Índice de diversidade de ciliados das estações amostrais do rio das Velhas e tributários, MG, períodos out/2009 e jul/2010. Shannon H' Densidade Riqueza Equitabilidade J (ind./L) (bits.ind .-1 ) Regiões Estações Baixo Velhas Médio Velhas Alto Velhas out/10 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 BV146 TR147 BV 151 BV 148 BV 149 3 3 2 2 11 2 3 2 2 6 2 2 3 4 4 4 5 jul/10 out/10 2 6 1 5 4 6 10 1 19 17 19 3 2 7 4 3 1 20 6 8 2 jul/10 210.3 85.4 42.7 222.2 126.0 333.4 27.8 10135 733.3 42.7 155.6 844.4 3666.7 113.1 55.6 34.3 11955.5 2036.4 16200.0 505.0 116.7 50.0 150.0 34.3 233.3 34.3 183.3 76.1 33.3 53.0 1433.4 269.7 150.0 236.3 183.3 204.0 66.7 out/10 0.55 0.79 0.11 0.05 0.00 1.15 0.11 0.00 0.00 0.64 0.13 0.13 0.00 1.44 0.00 0.00 0.13 0.13 0.80 1.25 0.79 1.06 1.32 jul/10 out/10 0.00 0.00 0.66 1.75 0.00 1.26 1.28 1.36 1.54 0.00 2.09 1.98 2.18 0.80 0.69 1.83 0.90 0.92 0.00 2.21 1.68 2.02 0.69 0.5 0.7 0.2 0.1 ID 0.5 0.2 ID ID 0.6 0.2 0.2 ID 0.8 ID ID 0.2 0.2 0.7 0.9 0.6 0.8 0.8 jul/10 0.5 0.7 1.0 1.0 0.0 0.8 0.9 0.8 0.7 0.0 0.7 0.7 0.7 0.7 1.0 0.9 0.6 0.8 0.0 0.7 0.9 1.0 1.0 De maneira geral, somando-se os períodos seco e chuvoso, os índices de diversidades de Shannon H‟ indicaram uma maior diversidade de espécies para a região do Baixo Velhas, com valores médios de 2,79 bits/ind./L, seguido do Alto 77 velhas, com 2,45 bits/ind./L, e do Médio Velhas, com diversidade igual 2,33 bits/ind./L. No período chuvoso, a região do Baixo Velhas mostrou-se mais diversa (1,69 bits/ind/L) e o Alto Velhas, apresentou menor densidade (1,35 bits/ind/L). Em termos da equitabiliade, o Médio Velhas caracterizou-se por uma comunidade mais equânime classificada como muito alta (0,89), enquanto que o alto curso obteve uma equitabilidade intermediária alta (0,51), demostrando a presença de espécie dominante na comunidade. No período seco, o mesmo padrão foi observado comparativamente ao período chuvoso e o Baixo Velhas foi maior diverso (2,69 bits/ind/L) seguido do Médio Velhas (2,29 bits/ind/L) e Alto Velhas (2,27 bits/ind/L). Tendo em vista a equitabilidade, o Baixo Velhas apresentou uma comunidade mais homogenia e semelhante ao período anterior, o alto curso obteve o menor valor de equitabilidade (0,67), entretanto classificada como alta. Na soma dos dois períodos, o Baixo Velhas permaneceu com a maior diversidade (2,79 bits/ind/L) e o Alto Velhas (2,46 bits/ind/L) com diversidade maior que o médio curso (2,33 bits/ind/L). Apesar de as variações de J (Tabela 4), não terem sido expressivas entre as regiões, evidencia-se para o Baixo Velhas uma uniformidade maior, com valores médios de 0,81 que se enquadram na categoria de equitabilidade alta, comparada às regiões do Alto velhas (0,71) e Médio Velhas (0,69), que podem ser classificados equitabilidade intermediária alta. Temporalmente, considerando a riqueza e a densidade total das três porções, a diversidade de Shannon H‟ foi caracterizada por valores médios de 1,55 e 2,42 bits/ind/L nos períodos chuvoso e seco respectivamente, sendo este, marcado por uma maior diversidade de espécies e alta equitabilidade (0,72). 78 Tabela 4 - Índices de diversidade de ciliados por região do rio das Velhas, MG. Período e região Riqueza Densidade (ind./L) H´ bits/ind.-1 J Quente-Chuvoso Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Total 14 6 8 20 10769.5 600.0 824.1 12193.5 1.35 1.60 1.69 1.69 0.51 0.89 0.81 0.56 Média Desvio padrão 9.3 3.4 4064.5 4742.0 1.55 0.15 0.74 0.16 Frio-seco Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Total 29 27 29 43 17994.4 18969.7 1866.7 38830.9 2.27 2.29 2.69 2.53 0.67 0.70 0.80 0.67 Média Desvio padrão 28.3 0.9 12943.6 7842.7 2.42 0.19 0.72 0.05 Chuvoso/Seco Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas 32 29 31 28794.9 19597.7 2720.7 2.46 2.33 2.79 0.71 0.69 0.81 Média 31 17037.8 2.53 0.74 Desvio padrão 1.2 10797.5 0.19 0.05 79 4 DISCUSSÃO No presente estudo, utilizando a técnica de impregnação quantitativa pelo proteinato de prata – QPS , resultou na identificação de 45 táxons ao longo do Rio das Velhas. O estudo taxonômico e ecológico de protistas ciliados para sistemas lóticos tropicais, realizado com a técnica de impregnação quantitativa pelo proteinato de prata – QPS, não conta com antecedentes no Brasil. As espécies encontradas na presente pesquisa representam os primeiros registros para o rio das Velhas. Wieloch (2006) realizou um estudo da estrutura de comunidade de ciliados em ambiente lêntico utilizando a técnica do QPS e registrou 33 táxons. Pauleto (2009) estudou a ecologia da ciliatofauna na planície de inundação da bacia do rio Paraná e encontrou 136 táxons do grupo. Entretanto, o estudo contou apenas com observações in natura. Comparativamente ao presente estudo, a discrepância observada na diferença do número de táxons registrados por Madoni et al., (2005) Madoni & Zangrossi, 2005; Madoni & Braghiroli, 2007, identificados in natura, sugerem uma taxonomia duvidosa por parte dos estudos mencionados, uma vez que grande parte dos ciliados apresentam características inconspícuas, difíceis de serem detectadas para a realização de uma taxonomia fidedigna. O regime pluvial, principalmente em sistemas lóticos, é um importante fator que altera a composição de espécies e diminui a abundância de protistas ciliados como demostrado em diversos estudos (SUEHIRO & TEZUKA, 1991; GRACIA et al., 1989; HUL, 1987; PRIMC-HABDIJA et al., 1997; PRIMC-HABDIJA et al., 1998), o que pode justificar o baixo número de táxons registrado no período chuvoso. Os resultados da ANOVA mostrou correlação significativa entre a riqueza e o período sazonal e corrobora estes estudos, apesar de não ter indicado diferenças significativas em termos da densidade em função da sazonalidade nem da região. Entretanto, apesar do baixo número de espécies observado no período chuvoso, aparentemente, a riqueza e a densidade de ciliados permaneceram relativamente constantes na bacia, sugerindo uma homogeneidade temporal na estruturação da comunidade. Aspectos de poluição orgânica detectados na bacia podem ter contribuído para isso. A velocidade do fluxo de água tem forte influência na distribuição destes organismos, uma vez que é alterada as fontes de alimento pela remoção dos 80 nutrientes e de itens alimentares além da força exercida nos organismos presentes na coluna de água e no substrato (ALLAN, 1995; WETZEL, 2001). Isso explica a ausência de ciliados nas alíquotas quantificadas em diversas estações no período chuvoso e no seco, entre as estações próximas às cabeceiras (AV013 e AV035) que apresentaram um fluxo maior de água. Entretanto, segundo Ejsmont-Karbin & Kruk, 1998 citado por Oliveira, 2009, algumas espécies planctônicas podem encontrar ambientes favoráveis para se desenvolverem em riachos. Dessa forma, com base nos resultados, percebeu-se a necessidade de realizar um esforço de quantificação maior, caracterizado por um maior número de alíquotas a serem submetidas aos procedimentos de contagem. As estações próximas às cabeceiras naturalmente caracterizam-se por baixas densidades de ciliados, uma vez que estes geralmente estão associados à presença de matéria orgânica dissolvida na água. Em outras estações, próximas aos centros urbanos (AV083), este fato deveu-se à grande concentração de material particulado que influenciou negativamente o ensaio quantitativo no sentido de limitar o volume das alíquotas a serem filtradas. Entretanto, pôde-se perceber, por meio da distribuição da ciliatofauna, que as maiores densidades na região do médio deveu-se ao volume de descargas de efluentes domésticos provenientes do alto curso, introduzidas no rio das Velhas pelos seus afluentes, rio Arrudas e Córrego do Onça, lançadas pelos centros urbanos próximos. A comunidade zooplanctônica possui grande sensibilidade ambiental e responde aos diversos impactos ambientais, refletindo em alterações nas densidades, composição e diversidade da comunidade (MATSUMURATUNDIZI, 1997 citado por OLIVEIRA, 2009; ESTEVES, 1998; COELHO-BOTELHO, 2003), o que corrobora os resultados encontrados. As espécies Aspidisca cicada, Halteria bifurcata, Glaucoma scintilans, Philasterides sp., Carchesium polipynum, Epistylis plicatilis e Vorticella aquadulcis apresentaram expressivas densidades nas estações próximas aos centros urbanos, correspondente ao final do alto curso e início do médio curso do rio, sendo as mais impactadas pelos efluentes domésticos e industriais. Estas espécies, portanto, são potenciais bioindicadores de poluição orgânica. Segundo Foissner & Berger (1996) e Sládecek (1973), esta espécies são indicadoras de condições de altas concentrações de carga orgânica do tipo 81 - alfamesossapróbicas (carga orgânica crítica), -mesossapróbicas (carga orgânica forte), -polimesossapróbicas (carga orgânica muito forte). Lopez (2003), em um estudo da microfauna aquática de ambientes lóticos, associou Epistylis sp., Paramecium sp. e Vorticella sp. a ambientes com carga orgânica moderada. O fato de Oligohymenophorea ter apresentado altas densidades no período chuvoso pode estar relacionado à utilização direta de detritos como alimento (SCHERWASS et al., 2005) pelos seus representantes peritrichideos Carchesium polipynum, Vorticela aquadulcis, Vorticella convallaria que são considerados detritívoros. Em contra partida, no período seco, Spirotrichea obteve um incremento na densidade, paralelalmente à redução nas densidades de Oligohymenophorea. Esta mudança pode estar associada a redução de partículas orgânicas na coluna de água desfavorecendo as altas taxas das espécies detritívoras. Segundo Zingel (1999), os ciliados bacterívoros de pequeno porte como Philasterides sp. com alta contribuição entre os Oligohymenophorea, são abundantes no período do verão, enquanto as espécies herbívoras e de maior porte, como os representantes de Spirotrichea, apresentam maiores densidades no período seco. Em termos de diversidade, no total das coletas, a região do baixo curso apresentou maior diversidade, seguida da região do médio curso e alto curso, sugerindo uma integridade ambiental melhor nas estações do Baixo rio das Velhas, caracterizada por baixa densidade demográfica e predominância de atividades agrícolas. A razão pela qual os valores de H‟ observado nas estações AV013, AV037, AV210 MV150, MV152, o tributário TR135, e entre outras que obtiveram baixa riqueza, tenha sido menor do que os de outras estações deve ser considerada. A diversidade em si, avaliada apenas pelo índice de Shannon, não permitiu a caracterização real da estação. Como apontado por Hendey (1977), a fim de utilizar índice de Shannon como uma medida de qualidade da água, deve-se esperar que o valor da diversidade diminua significativamente entre condições oligotróficas à eutróficas. No entanto, os valor de H‟ das águas oligotróficas foram menores do que os das águas moderadamente poluídas e criticamente poluídas. Estes resultados, portanto, não seguem o princípio estabelecido pelo Hendey (1977). No entanto, a fim de obter uma caracterização melhor das estações a partir das assembléias de ciliados, sugiro a associação dos índices à equitabilidade J e as 82 densidades e riquezas, com a finalidade de melhor compreender a relação da estrutura da comunidade dos protistas ciliados aos ambientes lóticos tropicais. A estação AV063 apresentou índices de diversidade baixos apesar de ter apresentado a maior riqueza entre as estações no período chuvoso. Tendo em vista a equitabilidade (intermediária-baixa) percebe-se dominância de espécies dentro da comunidade local, neste caso deveu-se a Scuticociliatida e Glaucoma scintilans, responsáveis por 82% da densidade total neste ponto. No período seco, a equitabilidade foi maior, e tendo em vista a menor densidade em relação à outubro de 2009, pode-se concluir uma distribuição mais equânime na comunidade, sem dominância de espécies. As estações cujas densidades e riquezas foram maior, presentes no final da região do alto e início do médio curso, apresentaram índices de diversidade maiores, o que contrapõe os preceitos de Hendey (1977), já que estes ambientes encontramse degradados, seja pelo lançamento de efluentes domésticos, industriais e/ou assoreamento dos corpos de água. 83 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentre os ciliados registrados, Aspidisca cicada, Carchasium polipinum, Philasterides sp., Glaucoma scintilans, Epistylis plicatilis, Vorticella aquadulcis e Scuticociliatida apresentaram expressiva densidade nas estações coletadas sendo Glaucoma scintilans a que apresentou a maior frequência de ocorrência comparativamente ao 45 táxons encontrados. Oligohymenophorea foi a classe mais especiosa e de maior densidade seguida por Spirotrichea dentre as oito registradas no estudo. A grande contribuição destas espécies nas áreas de maior impacto por efluentes domésticos (Alto e Médio Curso) sugerem o uso das mesmas como bioindicadoras que ambientes com altas concentrações de carga orgânica. A nova espécie registrada para o Brasil, Strobilidium longicinetium n. sp. apresentou ampla distribuição entre as estações de coleta e densidades que variaram entre moderada e muito abundante. A região do Baixo Velhas mostrou-se ser a região de maior diversidade de espécies de ciliados. O presente trabalho é uma importante contribuição para a ampliação do conhecimento da comunidade de ciliados planctônicos para a Bacia do rio das Velhas. 84 Prancha I Figuras 15-21 - Fotomicrografias de ciliados Peritrichious in natura dos gêneros Carchesium, Vorticella, Epistylis, Podophrya. 15, 16 e 18. Fotomicrografia in vivo de Carchesium polipinum, evidenciando vacúolo contrátil; 17. Epistylis plicatilis: vacúolo contrátil. A figura 18 evidencia um processo de divisão binária na colônia de Carchesium polipinim; 19. Pseudovorticella clamydophorea: vacúolos digestivos em evidência; 20. Suctoria: pedúnculo; 21. Tentáculos de Tokophrya quadripartita. AZM = zona adoral de membranelas, VC = vacúolo contrátil, Vd = vacúolo digestivo, Pd = pedúnculo, Mn = mionema, T = tentáculos. Barras de escala = 20 m. 85 Vc 16 15 Vc Mn 18 17 ZAM Vd T 19 Pd 20 21 86 Prancha II Figuras 22-25. Fotomicrografias de ciliados Peritrichious impregnados pelo protargol (Dieckmann) dos gêneros Carchesium, Vorticella, Epistylis e Campanella. 22. Campanella umbellaria: ; 23. Epistylis plicatilis: macronúcleo evidenciado em forma de ferradura; 24. Vorticella aquadulcis complex: mionema e zona adoral de membranelas; 25. Carchesium polipinum: mionema no interior do pedúnculo. Interrupção do mionema, característico do gênero, apontada pela seta. A seta mais grossa evidencia uma relação de epibiose entre Carchesium polilinum e um Suctoria. AZM = zona adoral de membranelas, FP = fibras peristomiais, Mn = mionema, Pd = pedúnculo, VC = vacúolo contrátil, Vd = vacúolo digestivo. 87 FP Ma 22 Mn ZAM 23 24 Mn Ma 25 88 Prancha III Figuras 26-34. Fotomicrografias de ciliados oligohimenophorideos dos gêneros Paramecium, Urocentrum, Glaucoma e Trachellyum. 26-27. Lembadion lucens, in natura evidenciando o vacúolo contrátil. A figura evidencia a impregnação pelo protargol (QPS). 28. Trachellyum ovum. 29-30. Glaucoma cf. frontata. A figura 29 o micronúcleo pode ser visualizado. Na figura 30 observa-se as cinécias somáticas próximas à região oral; 31-33. Glaucoma scintilans, impregnação pelo protargol (QPS). A figura 33 evidencia um processo de divisão binária; 34. Urocentrum turbo in natura. AZM = zona adoral de membranelas, CS = cinécias somáticas, Ma = macronúcleo, MO = membrana ondulante, P = probóscide, RO = região oral, Vc = vacúolo contrátil. Barras de escala = 20 m. 89 P RO RO Ma Vc 27 26 28 CS Mi Ma MO 31 Ma 29 32 30 Vc 33 34 90 Prancha IV Figuras 34-42. Fotomicrografias de ciliados Spirotrichios do gêneros Euplotes, Spirostomum e Halteria. 34-38. Euplotes aediculatus, vista ventral, mostrando a zona adoral de membranelas, impregnado pelo protargol (QPS). A figura 34 observa-se o macronúcleo em forma de „C‟, vista dorsal. A figura 36 evidencia o micronúcleo e as cinécias dorsais (8), impregnação pelo protargol (Dieckmann), vista ventral. 37 aborda um processo de conjugação. Na figura 38 observa-se o processo de divisão binária em fase terminal; 39-40. Spirostomum teres, cinetídios somáticos em evidência, impregnação pelo protargol (Dieckmann). A seta indica a formação de uma nova zona adoral de membranelas; 41-42. Halteria bifurcata; AZM = zona adoral de membranelas, CD = cinécias dorsais, CV = cirros ventrais, M = membranelas, Ma = macronúcleo, Mi = micronúcleo, MO = membrana ondulante, RO = região oral. Barras de escala = 20 m. 91 Ma Mi ZAM MO CD CV 34 35 36 Ma 37 39 38 ZAM M RO 41 42 40 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLAN, J. D. 1995. Stream Ecology: Structure and function of running waters. London: Chapman & Hall. 400p. ANDRUSHCHYSHYN, O., MAGNUSSON, A.K. & WILLIAMS, D.D. 2003. Ciliate populations in temporary freshwater ponds: seasonal dynamics and influential factors. Freshwater biology, 48: 548-564. BARBIERI, S.M. & ORLANDI, M.J.L.G. 1989. Ecological studies on the planktonic protozoa of a eutrophic reservoir (Rio Grande Reservoir – Brazil). Hydrobiologia, 183: 1-10. APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. 1995. For the Examination of Water and Wastewater Standard Methods. Lenore S. Clesteri, Washington. 19ºed., p. 1043 – 1044. BARBIERI, S.M. & ORLANDI, M.J.L.G. 1989. 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(Spirotrichea, Choreotrichida), em um dos tributários, foi encontrada, e uma nova ocorrência para a espécie Diaxonella trimarginata (Spirotrichea, Urostylidae) foi registrada para o Neotrópico. O presente trabalho amplia o conhecimento acerca da ciliatofauna em águas continentais brasileiras e revela a diversidade de ciliados epibentônicos de um importante sistema lótico de Minas Gerais. Os resultados reforçam ainda a necessidade de se ampliar os estudos taxonômicos no país detentor das maiores bacias hidrográficas mundiais. Palavras chaves: Ciliados epibentônicos, nova espécie, novo registro, saprobidade, sistema lótico. 99 1 INTRODUÇÃO Nos ecossistemas aquáticos, os protistas ciliados constituem uma parcela significativa da cadeia trófica microbiana e desempenham dois papeis importantes para o ambiente: atuam como elo conectando bactérias e fitoplâncton aos organismo considerados topo de cadeia e na remineralização da matéria orgânica (CARRICK, 2005). Callieri et al. (2002) destacam a importância dos protozoários na transferência de carbono entre as picocianofíceas e o zooplâncton. Os ciliados contribuem ainda para a biomassa de águas continentais, fundamental para o fluxo de energia e ciclagem de nutrientes (FINLEY & FENCHEL, 1996). Os ciliados bentônicos tem sido considerados como indicadores biológicos de poluição orgânica em sistemas fluviais desde a década de 50 (LEBMANN, 1951; SRAMEK-HUSEK, 1958; CAIRNS, 1969; BICK, 1972), tendo em vista a resposta rápida deste grupo a contaminação do ambiente quando comparados aos outros organismo aquáticos, devido às altas taxas de reprodução, sensibilidade e diversidade de nichos ocupados (MADONI & ZANGROSSI, 2005). O uso de bioindicadores (espécies, grupos de espécies ou comunidades) permite uma avaliação integrada dos efeitos ecológicos causados por múltiplas fontes de poluição. Assembléias biológicas e outras variáveis ambientais podem ser utilizadas como variáveis para inferir efeitos da urbanização sobre os ecossistemas aquáticos (BROWN et al., 2005). A diversidade de ciliados em sistemas lóticos tem sido muito estudada, no hemisfério norte, devido ao seu potencial na avaliação da qualidade da água (MADONI & GHETTI, 1981; GROLLIÉRE et al., 1990; MADONI & BASSANINI, 1999; MADONI, 2005). Porém, há pouca informação da ciliatofauna ocorrente no Brasil, mesmo sendo um país privilegiado pela sua condição hídrica. Dessa forma, a biogeografia e a biodiversidade dos protistas ciliados são ainda pouco conhecidas levando a divergências na estimativa de sua diversidade. Os ecólogos aquáticos estimam um número aproximado de 3.000 espécies ainda não descritas enquanto os taxonomistas acreditam que existam em torno de 30.000 espécies a serem descobertas (FINLEY & FENCHEL, 2004; FOISSNER, 2006). Espécies endêmicas são comuns em rios e córregos, em função da heterogeneidade espacial encontrada nesses ecossistemas. Particularmente no estrato bentônico, uma parcela considerável de protistas ciliados pode permanecer 100 encistada (DIAS, 2007) e, portanto, não computada em estudos taxonômicos, levando a subestimações no cálculo de diversidade de ciliados em sistemas lóticos. Os múltiplos impactos antrópicos no ambiente natural têm sido responsáveis pela deterioração da qualidade ambiental nos ecossistemas aquáticos continentais do Brasil (TUNDISI et al., 2002). Dentre esses, se destaca o rio das Velhas, o qual merece especial atenção do ponto de vista ambiental, visto que é um dos maiores afluentes do rio São Francisco, e suas águas drenam regiões com intensas atividades de mineração e agricultura, e são receptoras de efluentes de esgotos domésticos e industriais provenientes, em sua maioria, da grande região metropolitana de Belo Horizonte (JUNQUEIRA et al., 2000). O rio das Velhas (Bacia do rio São Francisco), apresenta uma grande diversidade de microorganismos. No estrato bentônico, uma parcela considerável de espécies de protistas ciliados podem permanecer encistada e, portanto, ainda não foram descobertas. Existem estudo recentes no rio das Velhas e a maioria utiliza os macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores (CALISTO et al., 2005; CALISTO & MORENO, 2008; FERREIRA, 2009). Paula, 2004 realizou um monitoramento do Alto rio das Velhas utilizando o protozooplâncton, e relatou 13 táxons de protistas ciliados identificados somente até gênero. O presente trabalho consiste em um estudo taxonômico e ecológico da diversidade de espécies de ciliados epibentônicos nas estações amostrais localizadas nas áreas rural e urbana ao longo do rio das Velhas e tributários assim como a variação temporal na estrutura da comunidade. 101 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de estudo e estações de amostragem Área de estudo: Correspondeu a bacia hidrográfica do rio das Velhas, entre as latitudes 17o 15‟ e 20o 25‟ S e longitudes 43o 25‟ e 44o 50‟ W (POLIGNANO et al., 2001). A Bacia do rio das Velhas abrange uma área de 27.857 km 2 com 51 municípios e disponibilidade hídrica per capita de aproximadamente 2.432 m3/hab./ano (IGAM, 2009). Está localizada na região central do Estado de Minas Gerais, na margem direita do rio São Francisco, e apresenta uma forma alongada na direção norte-sul (Figura 1), sendo dividida nos trechos alto, médio e baixo curso (CAMARGOS, 2004 citado por Silva 2009). As estações foram selecionadas da rede de amostragem operada pelo IGAM (2009) no âmbito do projeto “Águas de Minas”. Coleta das amostras: foram realizadas no período chuvoso (outubro, 2009) e no período seco (julho, 2010) e, com auxílio de uma concha de 10cm de diâmetro adaptada em um cabo extensor, as amostras do sedimento foi coletadas e armazenadas em potes plásticos de 500ml. Correspondeu a amostras in natura mantidas sob refrigeração, para ensaio de identificação. Processamento das amostras: realizou-se o ensaio qualitativo, em placas de Petri, sob microscopia óptica estereoscópica associada à técnica de impregnação pelo proteinato de prata (protargol), de acordo com Dieckmann (1995). 102 Escala Figura 1. Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, sub-bacia do rio das Velhas, MG. 2.2 Coleta e processamento de amostras Foram realizadas duas coletas, uma na estação chuvosa (outubro, 2009) e outra na seca (julho, 2010), em 20 estações amostrais no rio das Velhas e 3 em 103 tributários, amostrando-se a camada superficial do sedimento por meio de uma concha em profundidade de 30 cm do epilímno na zona litorânea. A classificação de período chuvoso foi definida segundo Nimer (1979) e Minuzzi et al. (2007). O material coletado foi armazenado em potes plásticos com capacidade de 500ml, acondicionados em caixas de isopor refrigeradas com gelo e transportadas para o laboratório. 2.3 Ensaios laboratoriais Os ciliados presentes nas amostras foram observados in vivo, em microscópio estereoscópico (Olympus), pelo uso de lamínulas colocadas flutuando na superfície de cada amostra por 30 a 60 minutos, método eficiente para amostrar os ciliados perifíticos e sésseis, e em uma etapa subsequente, algumas gotas do sedimento foram analisadas. Microscopia de campo claro e de contraste de fase foram empregadas para identificação dos ciliados. Aqueles de difícil identificação foram objeto de emprego de técnicas taxonômicas de rotina, em especial aquelas de impregnação pela prata (FOISSNER, 1997). Os táxons foram clasifcados segundo Lynn & Small, 2002 e identificados de acordo com bibliografia especielaizada: Corliss (1979); Dragesco & DragescoKernéis (1986); Foissner et al. (1992); Foissner et al. (1994); Foissner et al. (1995); Foissner et al. (1996); Foissner et al. (1999) e Foissner & Berger (2006). Os táxons foram classificados de acordo com o nicho que ocupam (guildas tróficas) segundo Foissner & Berger (1996): algívoros, bacterívoros, onívoros e carnívoros. Esta metodologia foi utilizada por Madoni & Zangrossi, 2005, e foi utilizada no presente estudo para observar a distribuição dos ciliados em guildas nas regiões do rio das Velhas. 2.4 Técnicas de microscopia ótica As duas técnicas de microscopia foram empregadas, envolvendo a impregnação pela prata, para a identificação dos ciliados pré e pós-fixados: a do Prata a sêco (KLEIN, 1953; FOISSNER, 1991) e a do Protargol (DIECKMANN, 1995). 104 As duas permitem a evidenciação das silver lines, ou seja, do citoesqueleto composto por feixes de microtúbulos e outras estruturas filamentares. A última também compreende uma técnica de impregnação pela prata com a utilização do Protargol (Proteinato de Prata), mas não detecta as silver lines, e sim as bases ciliares, os cinetídeos, evidenciando as cinécias (fileiras de cinetídeos) e a ciliatura oral, em especial aquelas compostas pelas zonas adorais de membranelas. Técnica do Protargol - Dieckmann Uma importante técnica na Ciliatologia proposta por BODIAN (1937) para o estudo de células nervosas. TUFFRAU (1964, 1967), que posteriormente, adaptou a técnica para o trabalho com protistas ciliados. A técnica consiste na impregnação do organismos por Proteinato de Prata com posterior revelação das estruturas utilizando a Hidroquinona. No presente estudo utilizou-se uma variação da técnica proposta por DIECKMANN (1995). Os ciliados triados in natura, foram transferidos para saleiras de vidro e fixados em Bouin aquoso 5% por 30 minutos. Os ciliados foram então transferidos para lâminas limpas e distribuídos uniformemente com o auxílio de tubo capilar. Deixou-se secar as laminas em estufa pré-aquecida a 60oC na posição horizontal. Essas lâminas em seguida foram desidratadas em uma séria decrescente de ETANOL 100%, 70% e 30%, por 10 minutos cada. As lâminas foram então lavadas em água destilada três vezes por 10 minutos e mergulhadas, posteriormente, em solução de permanganato de potássio a 0,2% por 100 a 150 segundos e lavadas rapidamente em água destilada para a retirada do excesso de permanganato de potássio. A próxima etapa foi mergulhar as laminas em solução ácido oxálico 2,5% por 3-4 minutos e enxaguadas em água destilada por 4 vezes, 3 minutos cada. Então, colocaram-se as laminas em solução pré-aquecida de proteinato de prata (Protargol) 0,6% a 60oC, por no mínimo 120 minutos. Em seguida, após serem retiradas do Protargol e colocadas em uma aparador, as laminas foram cobertas com solução diluída de Protargol e adicionou-se hidroquinona (revelador) na proporção 3:1. Depois enxaguou-se 4 vezes por 3 minutos cada e foram mergulhadas em cloreto de ouro 0,5% por 10 segundos e lavadas rapidamente em água destilada. Foram, posteriormente, inseridas em solução de ácido oxálico 3,0% por 3-4 minutos e enxaguadas em água destilada 4 vezes por 3 minutos cada. As 105 lâminas foram transferidas para a solução de tiossulfato de sódio 2,0% por 3 segundos e novamente enxaguadas em água destilada 3 vezes por 5 minutos cada. Finalmente as laminas foram desidratadas em uma séria crescente de etanol 30%, 70% e 100% por 10 minutos cada e após completa secagem, montadas em resina sintética (Entellan) com lamínula 30 x 50cm. O modo de preparo de soluções e reagentes estão no anexo II. 106 3 RESULTADOS 3.1 Diagnose taxonômica dos protistas ciliados Durante o estudo, foram encontradas 32 espécies de protistas ciliados epibentônicos observadas diretamente nas amostras e nas culturas, as quais estão classificadas segundo Lynn & Small. 2002. As espécies identificadas estão distribuídas em 8 classes (Figura 2), Karyorelictea (3,1%), Prostomatea (6,3%), Spirotrichea (34,4%), Heterotrichea (9,4%), Armophorea (3,1%), Litostomatea (6,3%), Phyllopharingea (3,1%) e Oligohymenophorea (34,4%) tal como mostra a (Tabela 1 e 2). Riqueza classes Riqueza das classes 12 10 n espécies 8 6 4 chuva seca 2 Total K A RY O R EL YC TE SP A IR O TR IC H H EA ET ER O TR IC H EA A R M PH O R EA LI TO ST O M PH AT YL EA LO PH A R IN G EA PR O ST O LI O G M O AT H EA YM EN O PH O R EA 0 Classes Figura 2 - Gráfico da riqueza de protistas ciliados epibentônicos por classes e períodos sazonais no rio das Velhas e tributários, MG. Considerando a composição de espécies por período, a riqueza maior foi encontrada na estação BV149 (8 espécies) no período quente-chuvoso, em Guiacuí no baixo curso do rio das Velhas, próximo a sua foz no rio São Francisco. Na estação AV067, localizada a montante do município de Sabará, próximo à área urbana, não foi houve registros de ciliados epibentônicos (Figura 3). 107 Tabela 1 - Frequência de ocorrência de ciliados epibentônicos in natura, referentes ao período quente-chuvoso do rio das Velhas e tributários, MG. Protistas Ciliados epibentônicos Período quente-chuvoso - out/2009 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 MV137MV138MV156MV141MV142MV150MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 Táxons KARYORELYCTEA Loxodes striatus SPIROTRICHEA Aspidisca cicada Oxitrichia hymenostoma Euplotes aediculatus Euplotes eurystomus Pseudourostyla nova Diaxonella pseudorubra Urostyla sp. Halteria bifurcata Strobilidium longicinetium n sp. HETEROTRICHEA Spirostomum teres LITOSTOMATEA Amphileptus procerus Loxophylum meleagris PHYLLOPHARINGEA Chilodonella uncinata PROSTOMATEA Coleps hirtus Coleps cf. spetai OLIGOHYMENOPHOREA Frontonia leucas Lembadion lucens Paramecium aurelia complex Paramecium caudatum Urocentrum turbo Carchesium polypinum Vorticella campanulla Vorticella convallaria Vorticella cf. pictea RIQUEZA TOTAL 1 1 1 2 1 1 1 2 2 1 3 3 1 1 1 1 2 1 1 2 1 1 3 1 1 3 1 3 1 1 1 1 1 5 3 3 1 1 3 1 2 1 2 1 1 1 1 3 1 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 1 3 2 1 1 1 1 2 1 1 4 1 1 1 1 4 1 1 1 3 2 1 1 1 2 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 3 1 3 1 3 1 1 2 3 1 1 1 3 5 8 3 1 3 1 4 6 1 3 <10 10 - 20 >20 1 3 5 6 0 0 5 5 4 4 1 3 4 2 3 3 0 0 5 3 Legenda Pouco Moderado Abundante 108 Tabela 2 - Frequência de ocorrência de ciliados epibentônicos in natura, referentes ao período frio-seco do rio das Velhas e tributários, MG. Protistas Ciliados epibentônicos Táxons Período frio-seco - julho/2010 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 MV137MV138MV156MV141MV142MV150MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 SPIROTRICHEA Aspidisca cicada Oxitrichia hyemnostoma Euplotes eurystomus Pseudourostyla nova Urosoma caudata Stichotrichia sp. Halteria bifurcata HETEROTRICHEA Spirostomum minus Spirostomum teres Stentor coeruleus ARMOPHOREA Saprodinium sp. LITOSTOMATEA Loxophylum meleagris PHYLLOPHARINGEA Chilodonella uncinata PROSTOMATEA Coleps hirtus OLIGOHYMENOPHOREA Frontonia leucas Paramecium aurelia complex Paramecium caudatum Urocentrum turbo Carchesium polypinum Epistylis plicatilis Vorticella convallaria Vorticella cf. pictea Suctoria 3 1 RIQUEZA TOTAL 2 1 2 2 1 4 4 1 3 3 1 1 1 2 5 1 1 1 1 1 1 5 2 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 3 1 1 1 1 1 1 1 2 2 1 1 4 2 3 3 3 1 2 1 2 1 1 1 1 1 1 3 1 1 1 1 3 2 1 5 1 1 1 5 1 5 1 4 <10 10 - 20 >20 1 3 5 3 2 0 4 4 6 2 1 0 2 1 1 1 2 3 0 1 0 Legenda Pouco Moderado Abundante 109 0 9 Riqueza 8 7 n espécies 6 5 4 Chuva 3 Seca 2 Alto Velhas Médio Velhas BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 0 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 1 Baixo Velhas Figura 3 - Gráfico da riqueza de protistas ciliados epibentônicos em diferentes períodos sazonais no rio das Velhas e tributários, MG. Pode-se perceber também, que a ocorrência de espécies no período quentechuvoso foi maior comparada ao período frio-seco, com exceção da estação TR135 (rio Taquaraçú), em virtude do alto volume de chuva na região no período chuvoso. Considerando a riqueza total das espécies nas estações (Figura 4), para os dois períodos, a distribuição dos táxons foi diferente e as estações TR035, localizada no rio Itabirito, e TR135, no rio Taquaraçú, apresentaram maior número de táxons, 11 e 10 espécies, respectivamente. A composição das espécies neste ponto, estão incluídas nas classes Oligohymenophorea, com 5 espécies, e Spirotrichea, com 3 espécies (Figura 5). 12 Riqueza total das estações Riqueza 11 10 9 n espécies 8 7 6 5 4 3 2 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 0 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 1 Baixo Velhas Médio Velhas Figura 4 - Riqueza total de protistas ciliados epibentônicos, no rio das Velhas e tributários, MG. Alto Velhas 110 Na média (Figura 5), a região do Baixo Velhas (4,2) apresentou maior riqueza em relação ao Alto Velhas (3,5) e o Médio Velhas (2,3), para o período chuvoso, influenciada pelas estações TR147, BV148 que obtiveram riquezas semelhantes às do alto curso e BV149, a qual apresentou maior riqueza neste período. No período seco, a distribuição das espécies foi diferente e a região do alto curso obteve maior média de espécies (3,0), seguida do Médio Velhas (1,1) e Baixo Velhas (0,8). n espécies Média das riquezas 5,0 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 Chuva Seca Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Regiões Figura 5. Média das riquezas de protistas ciliados epibentônicos, em diferentes períodos sazonais no rio das Velhas e tributários, MG. As classes mais especiosas foram a Oligohymenophorea e Spirotrichea, com 11 espécies cada uma, seguidas por Heterotrichea, com 3 espécies. Quanto a ocorrência, (Figura 6), Spirotrichea supera Oligohymenophorea, 40,34% contra 36,16%, respectivamente e apenas não esteve presente em duas estações, MV137, a jusante do ribeirão Arrudas, e MV141, em Santana do Pirapama. 111 Classes de ciliados por estações 12 10 n Espécies 8 OLIGOHYMENOPHOREA PROSTOMATEA 6 PHYLLOPHARINGEA LITOSTOMATEA 4 ARMOHOREA HETEROTRICHEA SPIROTRICHEA 2 KARYORELYCTEA Alto Velhas Médio Velhas BV149 BV148 TR147 BV151 BV146 MV152 MV150 MV142 MV141 MV156 MV138 MV137 AV153 AV105 TR135 AV083 AV067 AV063 AV139 AV210 AV037 AV013 TR035 0 Estações Baixo Velhas Figura 6. Ocorrência das classes de protistas ciliados epibentônicos por estação, no rio das Velhas e tributários, MG. A classe Prostomatea, apesar de pouco especiosa, com 2 espécies apenas, foi a terceira em ocorrência, com 11,76%. Karyorelictea e Armophorea foram as classes menos especiosas (1 espécie cada), representadas por Loxodes striatus e Saprodinium sp., respectivamente, e que menos ocorreram no presente estudo. A figura 7 evidencia a distribuição geral das classes nas regiões do curso do rio das Velhas e indica o Alto Velhas como a região mais representada (29 táxons) por classes. Ocorreram 7 das 8 classes registradas, seguida do Baixo Velhas (16 táxons) com 6 classes e o Médio Velhas (17 táxons), que apesar de apresentar maior número de espécies que o baixo curso, foi representada por apenas 4 classes. 112 Classes por região 32 30 28 26 n espécies 24 PHYLLOPHARYNGEA 22 OLIGOHYMENOPHOREA 20 LITOSTOMATEA 18 16 ARMOPHOREA 14 HETEROTRICHEA 12 SPIROTRICHEA 10 PROSTOMATEA 8 KARYORELICTEA 6 4 2 0 Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Figura 7 - Classes de protistas ciliados epibentônicos por região, no rio das Velhas e tributários, MG. Quando classificamos os táxons quanto as guildas tróficas, e considerando a ocorrência total dos ciliados (frequência relativa) nos dois períodos amostrais, o predomínio de táxons onívoros, com um total de 48% de ocorrência (12 espécies), seguido por bacterívoros, com 30% de ocorrência (12 espécies), algívoros com 18% (5 espécies), e os carnívoros, com a menor contribuição entre as estações, 4% (3 espécies), evidenciado no figura 8. No período da chuva, podemos perceber que os onívoros obtiveram 52% de prevalência em relação as demais guildas. Quanto aos bacterívoros (25,3%), estes apresentaram ocorrência maior que os algívoros (18,7%). No período da seca houve um grande acréscimo dos bacterívoros (37,8%) e um decréscimo doa algívoros (15,6%). Este fato pode estar relacionado com a sazonalidade, uma vez que no período chuvoso ocorre uma maior remoção da matéria orgânica presente no fundo, e na seca as partículas orgânicas se concentram no estrato bentônico. Dessa forma, a proliferação de bactérias é favorecida, decorrente do processo de decomposição da matéria, aumentando assim, a população de ciliados bacterívoros. 113 Frequência % Contribuição dos ciliados por guilda trófica/ período 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 chuva AlgÍvoros seca BacterÍvoros Onívoros total Carnívoros Figura 8 - Contribuição dos ciliados epibentônicos por guilda trófica por período amostral, no rio das Velhas e tributários, MG. Em uma visão regional, os onívoros predominaram em relação as demais guildas tróficas, obtendo ocorrência máxima de 52% na região do Baixo Velhas. Esta grande ocorrência deveu-se principalmente por Pseudourostyla nova com 12% de frequência relativa (em relação as demais espécies), seguida por Coleps hirtus e Lembadion lucens, com 8% cada. Na região do Alto Velhas, a população de bacterívoros obteve maior frequência em relação aos algívoros, com 32,4% e 18,3%, respectivamente (Figura 9). No Médio Velhas, a ocorrência dos bacterívoros diminuiu para 20,83% e os algívoros foram superioes, com 25%. A diferença dos bacterívoros, por região, pode ser explicada pela ocorrência das 12 espécies que compõe a guilda de bacterívoros no Alto velhas e apenas 5 no Médio Velhas. Entretanto, apesar de ocorrerem apenas 4 táxons no Baixo Velhas, os bacterívoros obtiveram 32% de ocorrência, influenciada pela acréscimo de Halteria bifurcata no ambiente, que apresentou 12% de frequência relativa, Chilodonella uncinata e Urocentrum turbo, com 8% cada uma. 114 Contribuição dos ciliados por guilda trófica 55 50 45 Frequência % 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Região AlgÍvoros BacterÍvoros Onívoros Carnívoros Figura 9 - Contribuição de protistas ciliados epibentônicos por guilda trófica considerando os dois períodos amostrais, no rio das Velhas e tributários, MG. 115 4 DISCUSSÃO Modificações do clima ou da paisagem alteram a quantidade e a qualidade da água nos ecossistemas e, por sua vez, o fluxo da água e suas características no canal principal do rio (SALATTI et al., 2002). Quando regiões são desmatadas, alteram a cobertura do solo e principalmente ocorrem alterações no ciclo hidrológico, como o assoreamento e contaminação dos cursos d‟água. A urbanização, por si só, não causa a diminuição ou aumento de espécies no ambiente, mas altera a paisagem e influencia na dinâmica da biota aquática (BOOTH et al., 2004). O aumento da riqueza de espécies de protozoários bentônicos, conforme a região do Alto rio das Velhas, não significa, uma melhora das condições dos córregos estudados. Esta mudança pode ser um indicativo de fortes alterações no ambiente, que levam à alterações na composição das comunidades aquáticas. Os principais problemas relacionados à qualidade de água no ambiente urbano são, entre outros, a falta de tratamento de efluentes (TUCCI, 2008), e a eutrofização dos rios, decorrentes de despejo de matéria orgânica e fertilizantes na água provenientes da agricultura (TUNDISI, 2008). As variáveis físicas e químicas como nutrientes inorgânicos, oxigênio dissolvido e outros poluentes podem expressar claramente o grau de poluição da água e mostram-se bons indicadores de qualidade de água (RORIG et al., 2007). O rio Itabirito (TR035) recebe uma carga orgânica considerável advinda da cidade de Itabirito, corroborado pelo índice do estado trófico da água (IET), que classificou o ponto como mesotrófico no período chuvoso e eutrófico na seca (Capítulo I), e o grau sapróbico, como -mesosapróbico, indicando carga orgânica moderada. O rio, neste local de amostragem, apresenta um fluxo pequeno de água, o que implica na sedimentação dos nutrientes no fundo, criando um ambiente favorável aos protistas ciliados bentônicos. O rio Taquraçú (TR135) apresenta uma característica fluvial semelhante ao Itabirito, sendo também uma área de fluxo lento e que recebe efluentes orgânicos do município Taquaraçu de Minas. 116 Composição da ciliatofauna bentônica Existe uma considerável escassez de conhecimento sobre a ecologia bentônica de ambientes lóticos no Brasil, e particularmente em com relação a interações tróficas, transferência de energia e matéria e estrutura de comunidade de protistas ciliados. As populações de ciliados bentônicos são mais difíceis de serem amostradas que formas planctônicas, uma vez que podem estar associadas a diferentes mesohábitats do bentos (HAIRSTON, 1989; PALMER, 1993, SOLA et al., 1996). Cleven, 2004 desenvolveu uma técnica que permite o sedimento a ser retirado utilizando corer, sem perder a água intersticial e com ele os microrganismos de vida livre bentônicos e encontrou 92 espécies. Neste sentido, diversos amostradores têm sido utilizados em inventários de ciliados bentônicos em sistemas lóticos, tais como corers (MADONI & GUETTI, 1981; MADONI, 1993; SOLA et al., 1996; MADONI & BASSANINI, 1999) bomba aspiradora (MADONI & ZANGROSSI, 2005) e substratos artificiais (GROLIÈRE, 1990; SPARAGANO & GROLIÈRE, 1991). Contudo, a maioria dos amostradores seleciona certos grupos de ciliados (SOLA et al., 1996). Dias (2006) utilizou a draga de Petersen, a qual mostrou-se eficiente no estudo de ciliados bentônicos e registrou 42 espécies bentônicas. Este número de táxons é próximo do encontrado no presente estudo. Madoni & Braghiroli, 2006 registrou 133 espécies de ciliados bentônicos. Madoni, 2005 encontrou um total de 175 espécies. Ambos os estudo em ambientes lóticos e não corresponde ao número de táxons encontrados para o rio das Velhas. A resolução taxonômica desses trabalhos é contestável uma vez que técnicas de identificação não foram utilizadas e a comprovação do menor nível taxonômico baseou-se apenas por observações in natura com exceção de Cleven, 2004 que utilizou a técnica de identificação por prata (QPS) para quantificar e qualificar as espécies. A coloração pela prata é uma abordagem tradicional e altamente recomendada para identificação ciliados (MONTAGNES E LYNN, 1987; SKIBBE, 1994). A entrada de poluentes orgânicos em ambientes aquáticos tende a acrescentar fosfatos e outros compostos e a alterar a estrutura de comunidades bacterianas, o que induz mudanças nas comunidades de protozoários e algas, dependentes das bactérias, diretamente, como alimento, ou indiretamente dos seus 117 metabólitos (MADONNI & ZANGROSSI, 2005), sendo isto, o que os separa em guildas tróficas. A separação de protozoários de acordo com sua preferencia alimentar é muitas vezes discutível. Como afirmar de fato que uma dada espécie de ciliado é algívoro restrito, ou bacterívoro, onívoro ou mesmo carnívoro? Hausmann & Hulsmann (1995) demonstraram, em laboratório, que organismos unicelulares são capazes de diferenciar partículas distintas de alimento, porém não reconhecem se a partícula ingerida é ou não digestível. O reconhecimento das partículas a serem digeridas se baseiam em suas características físicas e químicas superficiais, reconhecidas no aparato bucal dos ciliados e assim, a fagocitose pode ou não ser ativada. Assim, uma espécie algívora, quando ingerisse uma espécie de ciliado menor, o processo de digestão não ocorreria. Um resultado interessante, foi a redução de 10% na frequência relativa da população de ciliados onívoros, do período chuvoso para o seco. Pode-se inferir uma possível ocorrência de uma competição interespecífica entre bacterívoros e onívoros. O aparelho bucal dos indivíduos onívoros não são altamente especializados tal como são dos bacterívoros e, portanto, com uma disponibilidade maior de bactérias no ambiente, os bacterívoros restritos são melhor favorecidos. O menor número de espécies registrados para as estações do Baixo rio das Velhas em comparação com as estações do Alto e Médio Velhas, pode estar relacionado tanto à restrição de nutrientes das estações localizadas na área rural (FOISSNER, 1997) quanto com a predileção dos protistas heterotróficos por ambientes enriquecidos por matéria orgânica (FOISSNER, 1992). Foissner (1997) afirma que a literatura é escassa quanto à protistas ciliados localizados em sistemas lóticos oligotróficos (ambientes preservados) e poucas espécies, exclusivas de ambientes preservados, tem sido relatadas. Já o maior número de espécies registradas nas estações localizadas em áreas urbanas, como as do alto e médio curso do rio das Velhas, pode estar relacionado com as altas cargas de esgotos domésticos e industriais, lançadas nestas estações, uma vez que os ciliados heterotróficos tem preferência por ambientes eutrofizados (FOISSNER, 1992). Gucker e Fischer (2003) indica uma relação entre as abundâncias de bactérias e ciliados bacterívoros no sedimento. Entretanto, Dragesco & Gragesco-Kernéis, 1986 comenta que a ciliatofauna está relacionada não apenas pela riqueza orgânica do sedimento, mas também no tamanho médio dos espaços intergranulares. O mesmo ainda aponta que em 118 sedimentos constituídos por areia grossa (1,8 a 0,4mm) ocorre principalmente espécies caracteristicamente comuns, pouco diferenciadas; nas areias compostas por grãos de médio tamanho (1 a 0,2mm) ocorrem espécies morfologicamente mais especializadas e, nas areias finas (0,4 a 0,1mm), observa-se principalmente gêneros e espécies adaptados à vida intersticial e, portanto, com características comuns entre si, apresentando formas menores em tamanho. Cleven (2004) concluiu que a abundancia de Ciliados assim como a biomassa foram correlacionados negativamente com a densidade de sedimentos e positivamente com porosidade. Packroff and Zwick (1998) encontraram cerca de 2000 células/ml para o sedimento arenoso (partículas de 2 cm de diametro). Entretanto, os sedimentos de tamanhos maiores de grãos (cascalho e seixos) contêm menos ciliados (SCHMID-ARAYA, 1998). Isso corrobora o resultado encontrado para a estação BV149, próxima a foz. Nesta estação não houve registro de ciliados no período da seca, visto que a região apresenta, caracteristicamente, sedimentos mais fino, predominantemente silte e argila (FERREIRA et al., 2009). No entanto, no período chuvoso a diversidade de táxons foi acima do esperado para esta estação, e pode estar relacionado à presença de outros substratos naturais como folhas e pequenos galhos de árvores, em grande quantidade, provenientes do alto e médio curso, carreados naturalmente pelo grande fluxo d‟água. Dessa forma, a grande diversidade de táxons encontrada no alto curso pode estar relacionada positivamente com uma granulometria maior do substrato, constituída por uma área mais grossa (FERREIRA et al., 2009) e a alta carga orgânica presente no ambiente, com exceção das estações próximas à cabaceira como AV013 e AV037. Comparando a ocorrência de espécies nos dois períodos, os resultados encontrados não sustentam as considerações de Patterson et al. (1989) sobre sazonalidade da densidade de ciliados intersticiais. Cleven (2004) determinou uma sazonalidade significativa na densidade de ciliados intersticiais, com maior número de células no final do Outono e números menores na primavera e verão. Quando agrupados em categorias tróficas, o efeito da carga orgânica na estrutura de comunidade dos Protistas ciliados, parece, portanto, ser bem representada pelas categorias tróficas: os onívoros, os quais foram dominantes nas três regiões do rio, e os bacterívoros, os mais ocorrentes comparados aos algívoros, nas estações com maior carga orgânica (Alto Velhas) e áreas de fluxo lento (Baixo Velhas). Esta mesma distribuição pôde ser observada em outros estudos 119 (GRABACKA, 1988; KASZA, 1988; MADONI & BASSANINI, 1999; MADONI, 2005; MADONI & BRAGHIROLI, 2007). Madoni & Zangrossi, 2005 encontraram 89 espécies de ciliados epibentônicas no rio Taro, Itália das quais 26 eram bacterívoros, 31 algívoros, 21 onívoros e 11 carnívoros. Dentre as espécies encontrados algumas obtiveram as maiores frequências relativas. Os peniculideos (Olygohymenophorea) como, Paramecium caudatum, Lembadion lucens e Frontonia leucas, e as espécies da classe Prostomatida, Coleps hirtus e Coleps cf. spetai, os quais apresentaram as maiores frequências relativas entre as espécies amostradas, são organismos onívoros e sugerem um aporte contínuo de matéria orgânica de origem alóctone no rio (ZINGEL, 2005) como ocorre no alto e médio curso, visto que são organismos característicos de ambientes mesosapróbicas e - -mesosapróbicas. Estas espécies, por serem onívoras podem ser encontradas em diversos ambientes e toleram grandes variações dos parâmetros físicos e químicos (FOISSNER et al., 1999) o que corrobora as altas frequências no rio das Velhas. A nova espécie Strobilidium longicinetium sp. nov, ocorreu nas três regiões do rio das Velhas, demostrando uma certa tolerância a mudanças do ambiente em relação aos parâmetros físicos e químicos da água (Capítulo V). Sua abundancia esteve associada a condições oligotróficas. A espécie Saprodinium sp. ocorreu na estação AV105, a jusante do córrego do Onça, no médio curso, classificada como -polissapróbica. Trata-se de uma espécie sensível ao oxigênio dissolvido na água e por isso ocorreu nesta região, no período frio-seco, quando apresentou OD próximo a 1,5 mg/L.O2. Loxodes striatus foi registrada na estação BV148, no baixo curso, classificada como - mesosapróbica. e ocorreu apenas no período quente-chuvoso. Nas estações MV150 e TR147, encontrou-se Diaxonella pseudorubra. Após a comparação dos dados morfométricos e o padrão de disposição dos cirros ventrais, em especial a ciliatura transversa, a espécie foi identificada como Diaxonella pseudorubra pseudorubra, um novo registro para o Neotrópico (Capítulo IV). Sua ocorrência até então era conhecida apenas na Europa, Ásia e África. A nova espécie encontrada e o novo registro de D. psedorubra pseudorubra demonstra como a fauna de protistas ciliados do continente sul americano é pouco conhecida (GODINHO & REGALI-SELEGHIM, 1999) corroborado pelo pequeno 120 número de trabalhos que tem como objetivo o estudo taxonômico da diversidade da ciliatofauna, mas que têm revelado não só registros novos de espécies pouco comuns (MODENUTTI & PEREZ, 2004; PETIGROSSO, 2003) como também a descrição de novas espécies (PAIVA & SILVA NETO, 2004). 121 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho amplia o conhecimento sobre a ciliatofauna em águas continentais brasileiras, registrando 32 espécies de ciliados de hábito bentônico no rio das Velhas e seus tributários, sendo um novo registro para o Neotrópico (capítulo IV) e outra, uma nova espécie (Capítulo V). Mudanças na qualidade da água, implica em mudanças quantitativas e qualitativas na estrutura de comunidade de protistas ciliados, envolvendo quedas nas frequências de ocorrências de táxons algívoros e acréscimo na porcentagem dos bacterívoros, a medida que o grau sapróbico aumenta. A riqueza de táxons foi positivamente relacionada à carga orgânica do ambiente juntamente com o tamanho da partícula do sedimento. 122 Prancha I Figuras 10-19. Fotomicrografias de ciliados Hypotricheos dos gêneros Euplotes, Oxytrichia, Pseudourostyla e Aspidisca. 10-12. Euplotes eurystomus: 10. evidencia os cirros caudal bipartido, típico desta espécie, in natura. 11 mostra o macronúcleo impregnado pelo protargol (Dieckmann) em forma de „3‟ e zona adoral de membranelas sigmoidal; 12. Impregnação pela prata (Klein) evidenciando o argiroma formado pelas cinécias dorsais; 13-14. Pseudourostyla nova: 13. nódulos de macronúcleo e micronúcleo típico da espécie, impregnação pelo protargol (Skibbe, 1994). 14. mostra as cinécias somáticas e cirros transversos, Impregnação pelo protargol (Dieckmann); 15-16. Oxytrichia hymenostoma: 15. observa-se os cirros frontais (1-3), macronúcleo, micronúcleo e disposição dos cirros transversos característica da espécie. 16. mostrando a impregnação pela técnica do Skibbe (1994); 17-18. Aspidisca cicada: 17. observa-se as estrias somáticas dorsais que caracterizam a espécie, impregnação pelo protargol (Dieckmann). 18. cirros ventrais bem marcados por meio da impregnação pela prata (Klein); 19. Oxytrichia sp.: encontrada em culturas do substrato, apresentando apenas um macronúcleo e dois cirros frontais. Ma = macronúcleo, Mi = micronúcleo, ZAM = zona adoral de membranelas, Cc = cirros caudais, Cd = cinécias dorsais, Cf = cirros frontais, Cs = cinécias somáticas, Ct = cirros transversos, P = paraoral, Vc = vacúolo contrátil. Barras de escala = 20 m. 123 ZAM Ma Cd Vc Cc 10 Cc 11 12 1 2 3 Cf P Mi ZAM Ma Ma Cs Ct Mi 15 13 16 14 Ma Mi 17 18 19 124 Prancha VI Figuras 20-28. Fotomicrografias de ciliados dos gêneros Coleps (Prostomatea), Diaxonella e Aspidisca (Spirotrichea), Chilodonella (Phylopharyngea), Paramecium (Oligohymenophorea), Loxodes (Karyorelictea) e Loxophylum (Litostomatea). 20. Coleps cf. Spetai: Cinécias somáticas bem marcadas e numerosas, impregnação pelo protargol (Dickmann); 21. Coleps hirtus: cinécias somáticas em pequeno número e citofarínge típica dos Prostomatea, impregnação pelo protargol (Dieckmann); 22. Chilodonella uncinata: em evidencia, a citofaringe típica de Phylopharyngea, impregnação pelo protargol (Dieckmann); 23. Aspidisca cicada: impregnação pelo protargol (Dieckmann); 24. Paramecium caudatum complex: impregnação pelo protargol (Dieckmann); 25. Loxodes striatus: em evidência, as cinécias somáticas e os 2 nódulos de macronúcleo, típicos da espécie, impregnação pelo protargol (Dieckmann); 26 e 28. Diaxonella trimarginata: evidenciando os nódulos de macronúcleo e a paraoral, impregnação pelo protargol (Dieckmann); 27. Loxophylum meleagris: em microscopia de contraste de fase in natura. C = citofaringe, Cf = cirros frontais, Cs = cinécias somáticas, Ma = macronúcleo, Mi = micronúcleo, P = paraoral, Ro = região oral, ZAM = zona adoral de membranelas. Barra de escala = 20 m. 125 C C Cs Ma Ma Cs 20 21 22 23 Ro P Ma Mi Ma ZAM Cs Ma 24 26 25 Vc 27 28 126 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOOTH, D.B., KARR, J.R., Schauman, S., Konrad, C.P., Morley S.A., Larson, M.G., Burges, S.J. 2004. Reviving urban streams: land use, hydrology, biology, and human behavior. Journal of the American Water Resources Association 40(5): 1351-1364. BROWN, L.R., GRAY, R.H., HUGHES, R.M., MEADOR, M.R. 2005. 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Dentre as 32 espécies de ciliados registradas nas estações amostrais analisadas foi realizado um estudo taxonômico detalhado de uma espécie da ordem Urostylida, usando observações in vivo, técnicas de impregnação pela prata e de microscopia eletrônica de varredura. Após comparação dos dados biométricos e do padrão de disposição dos cirros do complexo médio-ventral e dos cirros bucais a espécie foi identificada como Diaxonella trimarginata (Kaltenbach, 1960), constituindo o primeiro registro deste ciliado para a região Neotropical. A população estudada apresenta características biométricas e morfológicas semelhantes às descrições prévias, tais como: corpo flexível e achatado dorsoventralmente, citoplasma com pigmentação rosa, 2 vacúolos contráteis, número de nódulos de macronúcleo superior a 80 e número de pares de cirros médio-ventrais menor que 20. As únicas diferenças entre a população do rio das Velhas e aquelas previamente descritas são o número de cirros bucais (5 x 6) e de cirros transversos (6 x 8), respectivamente. Entretanto, tais diferenças não justificam a proposição de uma nova espécie. Palavras-chave: ciliado, novo registro, sistema lótico, Índice Sapróbico. 132 1 INTRODUÇÃO O ciliado Diaxonella trimarginata foi descrito originalmente sob o nome Keronopsis rubra (Jerka-Dziadosz & Janus, 1972). Esta descrição, no entanto, não contemplava algumas características morfológicas importantes, tais como, os grânulos corticais e estrutura ciliar dorsal. O gênero Diaxonella foi estabelecido por Jankowski (1979) com Diaxonella trimarginata como a espécie tipo por monotipia, mas ele não forneceu a diagnose do gênero. Este organismo foi, posteriormente, relatado sob diferentes nomes (BORROR & WICKLOW 1983, WIRNSBERGER et al., 1987, DRAGESCO & DRAGESCOKERNÉIS 1991). A redescrição de D. trimarginata foi feita por Oberschmidleitner e Aescht (1996), que revisaram os sinônimos e problemas taxonômicos relacionados e forneceram o primeiro diagnóstico do gênero. O processo morfogenético deste organismo tem sido investigada por Jerka-Dziadosz e Janus (1972), embora alguns estágios iniciais morfogenéticos estejam faltando. Berger (2006) revisou o gênero Diaxonella Jankowski, 1979 e estabelece apenas uma espécie, Diaxonella pseudorubra em três variações: D. pseudorubra pseudorubra (citoplasma rosa avermelhado, complexo médio-ventral variando de 17 a 20 pares de cirros) com registros na Europa, Ásia e África (Dragesco & DragescoKernéis, 1991); D. pseudorubra polystylata (citoplasma rosa e número de pares de cirros médio-ventrais superior a 30) e D. pseudorubra pulchra (citoplasma quase translúcido, 30 ou mais pares de cirros médio ventrais), ambas registradas para a América do Norte. Embora esta revisão do gênero seja a mais recente, o presente trabalho mantem Em acordo com os proponentes do conceito evolutivo de espécie, o qual dispõe acerca das subespécies, em sua maior parte, por desconsiderando-as completamente como um componente do sistema de classificação bióticos (FROST, 1995; FROST et al., 1992; WILEY, 1992; WILSON & BROWN 1953). Portanto, o presente estudo considera a espécie Diaxonella trimarginata (Jankowski 1979) Oeberschmindleitener & Aescht, 1996. Em dezembro de 2009, um stichotricheo de pigmentação rosa-avermelhada foi isolado de dois rios de água doce em Minas Gerais, Brasil. Subseqüente observações revelaram que é conspecifico com D. trimarginata. 133 O presente trabalho aponta um novo registro de Diaxonella trimarginata para a região Neotropical, encontrado durante a realização de um inventário dos protazoários ciliados em sistemas lóticos no sudeste do Brasil e apresenta os aspectos morfológicos, moleculares, ecológicos e da distribuição geográfica deste ciliado. 134 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de estudo O rio das Velhas é o maior afluente em extensão da bacia do rio São Francisco, com 801 km de extensão e, entre as bacias do São Francisco, é o segundo em volume de vazão de água drenando uma área de 29.173 (PAZ et al., 2008). A bacia do rio das Velhas está inteiramente localizada na região central do estado de Minas Gerais, orientada no sentido sudeste para noroeste. Suas nascentes estão localizadas nos limites da Área de Proteção Ambiental na Serra de Antônio Pereira, município de Ouro Preto, distrito de São Bartolomeu (MMA, 2003). Pode-se caracterizar a região da bacia do rio das Velhas como um espaço ocupado de forma desigual, preenchido por poucas áreas de alta e média densidade populacional (Alto Velhas e Médio Velhas) e por grandes vazios demográficos (Baixo Velhas). A região metropolitana de Belo Horizonte, apesar de ocupar apenas 10% da área territorial desta bacia, é a principal responsável pela degradação do rio das Velhas, devido à sua elevada densidade demográfica, processo de urbanização e atividades industriais (POLIGNANO et al., 2001). O presente estudo englobou 23 estações de amostragem ao longo do rio das Velhas, indicados na figura 1 e estão distribuidas na região do alto médio e baixo curso. 135 ESCALA Figura 1 – Mapa com a localização dos pontos de amostragem de Diaxonella trimarginata; Ponto 1 referente ao rio Bicudo e o Ponto 2, rio das Velhas. 1.2 Coleta e processamento da amostra As amostras do bentos foram recolhidas por meio de uma concha para remoção da superfície do substrato e depositadas em um recipiente descartável com tampa de 250 ml, identificado e armazenado em uma caixa de isopor refrigerada com gelo para transporte ao laboratório, onde elas foram examinadas a fresco em placas de Petri (n=5) sob esteromicroscópio óptico. As espécimes foram cultivadas em água filtrada e, utilizando-se para substrato, arroz com casca. 1.2.1 Técnicas de microscopia ótica Duas técnicas de microscopia ótica foram empregadas para a identificação do ciliado: uma envolve a impregnação pela prata, o Protargol (DIECKMANN, 1995) e a microscopia eletrônica de varredura – M.E.V. Os ciliados contidos nas culturas foram triados, concentrados numa saleira, e imersos em uma mistura fixadora constituída por 2 ml de glutaraldeído 10% e 1 ml de tetróxido de ósmio 2% mais 1ml de solução tampão cacodilato a 0,2M por 45 136 minutos (SILVA-NETO, 1994). Após fixados, os ciliados foram lavados em água destilada, na própria saleira, para retirar o excesso do fixador. Posteriormente, adicionou-se o material em pedaços de lamínulas, cortados em dimensões compatíveis com o cilindro de grades utilizado na etapa do “ponto crítico”. Nestes pedaços de lamínulas adicionam-se gotas de poli-1-lisina, para que os ciliados fiquem firmemente aderidos durante todo o procedimento. Em seguida, as lamínulas foram depositadas no cilindro de grades, onde se realizou o processo de desidratação na série alcóolica 30%, 50%, 70%, 85%, 90%, 95% e 100%, por 10 minutos cada. Após a desidratação, realizou-se a troca do álcool pelo CO2 líquido em baixa temperatura (ponto crítico), para a secagem das células sem que houvesse deformações., utilizando o aparelho BLAZERS CPD 30. As lâminas foram, então, retiradas do cilindro de grades e colocadas em suportes próprios para microscopia eletrônica de varredura utilizando-se cola condutora de prata. Após a secagem da cola, o material foi metalizado com ouro em um aparelho metalizador BLAZER FL 9496. As eletromicrografias foram feitas no microscópio eletrônico de varredura JEOL JSM-5310 do Instituto de Biofísica Professor Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 1.2.2 Extração e amplificação por PCR e sequenciamento de DNA As espécimes de D. trimarginata amostradas no Rio das Velhas, para realização do estudo morfológico foram fixadas em etanol absoluto e processadas para extração do DNA genômico utilizando o kit de extração DNeasy® Blood and Tissue (QIAGEN), seguindo as orientações do fabricante para extrações de tecidos animais. O segmento alvo do gene 18S rDNA foi amplificado usando iniciadores específicos para ciliados 384F e 1447R (DOPHEIDE et al., 2008). O produto da reação em cadeia da polimerase (PCR) foi purificado para realização do seqüenciamento conforme estabelecido por (UTZ et al. 2010). As seqüências obtidas foram editadas no programa BioEdit (HALL, 1999) e comparadas com o banco de dados do NCBI utilizando o algoritmo BLASTN. 137 3 RESULTADOS A população de Diaxonella trimarginata foi encontrada nas estações (i) MV151, situada no rio das Velhas a montante da estação 1, encontra-se no município de Senhora da Glória, caracterizado por baixa densidade demográfica e (ii) TR147, situada no rio Bicudo, um afluente do rio das Velhas, a jusante do município de Corinto, o qual apresenta alta densidade demográfica. As estações de registro estão apontadas pelas setas na figura 2. A B Figura 2 – Mapa da bacia do rio das Velhas e estações de ocorrência de D. trimarginata. (A) Imagem de satélite da região da estação TR147, evidenciando a atividade agrária na região; (B) Imagem de satélite da estação MV150, também apresentando uma grande área de plantio. 138 3.1 Taxonomia A espécie se enquadra na seguinte classificação taxonômica, segundo Lynn & Small (2002). Ciliophora Doflein, 1901 Spirotrichea Bütschli, 1889 Hypotricha Stein, 1859 Urostyloidea Bütschli, 1889 Diaxonella Diagnose do gênero Diaxonella possui três grandes cirros frontais, duas ou mais cinécias à esquerda que se origina de uma comum a common Anlage (JERKA-DZIADOSZ & JANUS, 1972; SHAO et al, 2007); apresenta cirros bucais e parabucais; cirros transversos e pré-transvesos sem cirros caudais; membranas ondulantes longas e curvadas. Em Diaxonella o complexo médio ventral é composto pares de cirros, a bicorona. Descrição da espécie Diaxonella trimarginata oval ou alongada, movendo-se de forma flexível entre os grãos de areia. Tamanho médio de aproximadamente 150 x 60 e 116 x 32 in vivo (n = 10) m após impregnação pelo protargol (Dieckmann) (Tabela 1), com contorno elíptico, comprimido dorsoventralmente; largura muito variável de acordo com a quantidade de material ingerido. In vivo, apresenta coloração rósea muito característico (Figura 82a). A ciliatura somática é formada por uma fileira dupla de cirros ventrais dispostas em zigue-zague (bicorona) formada por 18 pares de cirros que termina logo abaixo da região equatorial da célula, típico do complexo médio-ventral de urostylideos, subindo para a direita do perístoma; uma cinécia marginal a direita e 3 cinécias marginais a esquerda, tornando-se gradualmente mais curtos para o exterior; na maioria das vezes 6 cirros transversos e 2 pré-transversos (Figura 81). A ciliatura dorsal inclui 3 cinécias. A ciliatura bucal é formada por 30 a 34 139 membranelas e cerca de quinze cirros frontais (14), dos quais, geralmente, 5 cirros bucais dispostos em uma linha regular, ao longo da margem direita do perístoma, 4 cirros parabucais, 3 cirros frontais e um par fronto-terminal. O Citoplasma é formado por grânulos de pigmentos de coloração rosa, dois vacúolos contráteis presentes, sendo um próximo a região oral e outro na região posterior do corpo celular. O aparelho nuclear é formado por 90 a 105 nódulos de macronúcleo espalhados ao longo do corpo celular, com formato variando de oval a elipsóide. Os nódulos variam em tamanho de 5 x 4 m. Tabela 1. Dados morfométricos de Diaxonella trimarginata. (ps = Presente estudo, 2 = Gragesco & Dragesco-Kernéis 1991, 3 = Oberschmidleitner & Aescht 1996, 4 = Plückebaum et al. 1997, 5 = Shao et al., 2007. Abreviações: CV = coeficiente de variação em %, DS = desvio padrão, MAX = valor máximo, MIN = valor mínimo, M = média). Fonte: Elaborada pelo autor. Caracteres Comprimento ( m) Largura ( m) ZAM comp. ( m) Paraoral comp. ( m) Largura paraoral ( m) Paraoral altura ( m) Membranelas adorais comp. ( m) Fonte M SD CV MIN MAX n ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 116.1 148.7 150.0 118.6 163.7 31.9 50.0 56.0 33.7 60.0 65.5 62.2 30.1 9.2 7.7 13.0 - 16.8 20.0 27.0 11.6 7.0 16.1 10.9 4.1 1.1 3.6 7.2 1.5 0.0 1.0 - 14.5 13.4 17.6 7.1 21.8 32.1 19.8 6.8 1.7 5.8 23.9 16.3 0.0 7.7 - 95.0 104.0 93.0 70.0 108.0 20.0 31.0 33.0 20.0 44.0 64.3 48.0 15.0 7.7 7.7 12.0 - 135.7 180.0 198.0 160.0 198.0 45.0 108.0 71.0 54.3 75.0 67.0 76.0 38.0 10.7 7.7 14.0 - 5 30 19 104 25 9 30 19 104 25 3 25 7 2 2 2 - 140 Membranelas adorais (n) Cirros frontais (n) Cirros frontais ( m) Cirros fronto-terminais (n) Cirros bucais (n) Cirros parabucais (n) Pares cirrus médio-ventrais (n) Cirros transversos (n) Cirros tranversos ( m) Cirros pré-transversos (n) 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps a 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps b 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 ps 2 3 4 5 32.0 36.7 36.0 36.3 37.0 3 14 3 3 4 12 2 2 2 5 6 5 6 5 3.7 18 24 20.3 6 8 7 9 9 13.3 2 2 1.0 2.0 2.9 2.7 3.0 0.5 2.0 0.5 0.0 0.0 0.0 0.4 0.6 0.0 0.5 0.8 0.0 0.7 0.0 2.3 6.4 0.0 0.7 1.0 0.8 0.4 0.0 1.3 6.3 7.9 7.4 8.1 20.0 14.5 17.3 0.0 0.0 0.0 16.9 27.3 0.0 9.0 12.5 0.0 18.9 0.0 10.1 31.5 0.0 10.0 11.1 6.4 19.2 0.0 130.0 30.0 31.0 31.0 32.0 31.0 2 10 2 3 4 12 2.0 2 1 5 5 4 5 5 3.0 18 18 16.0 6.0 6.0 6.0 8.0 7.0 12.5 2 2 0 34.0 43.0 43.0 40.0 42.0 3 17 3 3 4 12 2.0 3 4 5 7 5 8 5 5 18 27 29.0 6 10 9 9 10 14.5 3 2 4.0 2 29 29 17 25 8 28 19 21 25 1 3 19 25 3 19 21 25 2 25 1 19 19 3 21 19 20 25 3 4 21 25 141 ps 3 0.0 0.0 3 3 3 2 3 Cinécias dorsais (n) 3 3 0.4 12.2 3 4 16 4 3 3 3 14 5 3 0.4 12.5 3 4 25 ps 27 0.0 0.0 27 27 1 2 31 2.9 9.2 27 37 25 Cinécia marginal esquerda 1 3 31 3.2 10.4 24 36 19 (número de cirrus) 4 27 24 34 20 5 30 3.9 13.0 24 39 25 ps 97 6.2 6.4 90 105 3 2 118 49.6 41.9 64 243 17 Ma (n) 3 144 24.6 17.1 110 185 19 4 86 51 118 28 5 118 18.0 15.3 84 140 10 ps 4 1.7 46.4 2 6 3 2 Mi (n) 3 5 1.1 20 4 7 11 4 7.1 0.6 8.5 7 10 25 5 Nota: „a‟ = soma dos cirros frontais, bucais e parabucais. Os dados morfológicos de Oberschmidleitner & Aescht 1996 foram tirados de Berger (2006). 142 ZAM Po C B A CMD 1 2 3 Cft Cpb ZAM Po Cb 1 Ma 2 3 Mi Bi Cpt CME E D C Ct Figura 3 - Diaxonella trimarginata. A. População descrita por Oberschmidleiter & Aesct (1996); B. População descrita por Dragesco & Dragesco-Kernèis (1991); C. Espécime do presente estudo, vista ventral. Impregnação pelo Protargol (Dieckmann) evidenciando o padrão de distribuição da ciliatura somática e oral; D. Vista dorsal. Impregnação pelo Protargol (Dieckmann, 1995) evidenciando o aparato nuclear composto por nódulos de macronúcleo e micronúcleo; E. Vista dorsal. (1-3) cinécias dorsais., Cft = cirros fronto-terminais, CMD = cinécia marginal direita, CME = cinécia marginal esquerda, Cpt = cirros pre-transversos, Ct = cirros transversos, Ma = macronúcleo, Mi = micronúcleo, Po = paraoral, ZAM = zona adoral de membranelas. Barras de escala = 20 m. CMD 143 ZAM Ro A Vc B C Ma ZAM Po 1 2 3 5 E Bi D F G Figura 4 - Diaxonella trimarginata. A. Corpo celular medindo cerca de 80 m, In vivo; B. Detalhes da zona adoral de membranelas in vivo; C. vacúolos contrácteis in vivo; D. nódulos de macronúcleo em evidencia, impregnação pelo Protargol (Dieckmann); E. Cirros parabucais (1-3 e 5); F. Paraoral e modificação do corpo celular e dos nódulo de macronúcleo. G. Cirros médio-ventrais na região posterior da célula. Bi = bicorona, Cft = cirros fronto-terminais, CMD = cinécia marginal direita, CME = cinécia marginal esquerda, Cpt = cirros pré-transversos, Ct = cirros transversos, Ma = macronúcleo, Mi = micronúcleo, Po = paraoral, ZAM = zona adoral de membranelas. Barras de escala = 20 m. 144 3.2 Dados moleculares Os procedimentos para a determinação da espécie baseou-se em 624 pares de base da espécime. A espécie encontrada no rio das Valhas é muito similar às espécies D. trimarginata e D. pseudorubra já depositadas no banco de dados internacional (GenBank) (Tabela 2). Sequência de nucleotídeos ATAATGAAACATCCTTGGSAATGCTTTCGCATAAGTTAGTCTTTAACAAATCCGA RAATTTCACCTCTGACAATTAAATACTAATGCCCCCAACTATCCCTATTAATCATT ACCAGAGTCCCTCAAACCAACAAAGGARACTCAAGTCCTATTCTATTATTCCATG STAATGKATTCCGGCGCAAGCCTGCCTTAAACACTCTAATTTTCTCAAGGTAAAA TATCTGARCCCGAAACCAGTAACTGAATACCAAGAAACGTTAACAGAAGGATGA GGGATCGACGCAGCACTCGCCAACGGSGGACTTTGTCAATCCCTCARAAATCC AACTACGAGCTTTTTAACTGCAACAACTTTAATATACGCTATTGGAGCTGGAATT ACCGCGGCTGCTGGCACCAGACTTGCCCTCCAATTGATCCTGGTAAAGGGGTT TAAATTCTACTCATTGCAATCCTGAAGCGTAAGCCTCAGTCCGTTATTTCTTGTC ACTACCTCCCTGAATTAGGATTGGGTAATTTACGCGCCTGCTGCCTTCCTTAGAT GTGGTAGCCGTTTCTCAGGCTCCCTCTCCGGAATCGAACCCTAATCCTCCGTCA CCCGTTAAAGCCATGGTAGTCCAA Tabela 2 – Alinhamento da sequência de nucleotídeos o n registro Descrição Pontuação Taxa Identificação total Confiança (%) (%) DQ190950.2 Diaxonella trimarginata, sub-unidade RNA ribosomal, sequência parcial 1110 99 98 GU942564.1 Diaxonella pseudorubra, sub-unidade RNA ribosomal, sequencia parcial 1083 99 97 AF508760.1 Holosticha polystylata, 17 S RNA ribosomal 1077 99 97 GU967698.1 Urostyla sp., SNK-2010a sub-unidade de RNA ribosomal, sequancia parcial 1072 99 96 DQ503578.1 Holosticha manca, sub-unidade RNA ribosomal, sequencia completa 1055 99 95 EF535731.1 Urostyla grandis, sub-unidade de RNA ribosomal, sequencia parcial 1020 99 95 AF164129.1 Urostyla granadis, sub-unidade de RNA ribosomal macronuclear 1020 99 95 AF508781.1 Urostyla grandis, 17S RNA ribosomal 1020 99 95 Fonte: elaborada pelo autor 145 3.3 Dados ecológicos A população de D. trimarginata amostrada no presente trabalho, foi encontrada em ambientes com condições tróficas semelhantes, rio Bicudo com condições -mesosapróbicas e o rio das Velhas, também -mesosapróbicas, com base nos parâmetros físicos e químicos, porém, com algumas diferenças: a condutividade, turbidez, a concentração de nitrato, nitrogenia amoniacal e fósforo foram maiores no ponto 2 enquanto que as taxas de OD, e DQO foram maiores no ponto 1. Em relação aos parâmetros biológicos, a concentração de clorofila a foi maior no ponto 1 enquanto que a densidade de cianobactérias e coliformes totais foram maiores no ponto 2 (Tabela 3). Esses dados são traduzidos em um IQA menor em P2 fortemente influenciado pela densidade de coliformes. Com base na ciliatofauna das estações, a saprobidade também foi semelhante apontando para uma condição -alfamesossapróbica, porém o índice sapróbico foi maior para a estação P2 a P1 (2,55 x 2,43 respectivamente) indicando maior carga orgânica na estação P2. Embora a saprobidade química tenha sido maior em P2 ela na demostra a real qualidade da água, uma vez que SI está próximo de valores de ambientes oligossapróbicos (SI < 1,8). A ocorrência de D. trimarginata, foi traduzida em um índice sapróbico 2,0 e peso 16 (classificação adotada por DIN, 1990), caracterizando-a como boa indicadora de ambientes -mesossapróbicos (carga orgânica moderada). 146 Tabela 3 – parâmetros físicos, químicos e biológicos das estações de ocorrência de Diaxonella trimarginata, na estação chuvosa (SI = índice sapróbico). Estações de registro Parâmetros P1 P2 Elevação (m) OD (mg/l) o Temperatura ( C) pH Condutividade (µmho/cm) DBO (mg / L O2) DQO (mg / L O2) Turbidez (UNT) Nitrato (mg/l) N. Amoniacal (mg/l) Fósforo (mg/l) IQA (%) 504 6.9 25.6 7.1 90.4 2.0 24.0 31.8 0.13 0.10 0.01 73.1 534 6.2 26.7 6.8 165.4 3.2 8.1 121.0 0.62 0.15 0.16 40.2 Clorofila a (mg/l) Cianobactérias (ind./ml) ColifrmesTotais (NMP / 100 ml) 4.718 13.20 230 1.653 288.96 50000 Saprobidade Qui Si Qui Saprobidade Bio Si Bio b 1,93 b-a 2.43 b 2,03 b-a 2.55 De acordo com a literatura, esta espécie tem hábito onívoro e se alimenta de bactérias, fitoflagelados, testaceas e de alguns ciliados como Tetrahymena pyriformis (JERKA-DZIADOSZ & JANUS, 1972). Localidade tipo: Afluente, Rio Bicudo (504m), próximo de sua foz no Rio das Velhas, em Corinto, Minas Gerais, Brasil. Coordenadas (UTM, 23K): Rio Bicudo - Latitude 7996053 e Longitude 549014. Deposição do material tipo: As lâminas contendo o holótipo impregnado pelo protargol e um parátipo (número de tombo:) foram depositadas na coleção de referencia do Departamento de Zoologia de Invertebrados do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. A sequencia genética do SSU rRNA da população tipo foi depositada no Gen Bank (DQ190950.2). 147 4 DISCUSSÃO Endemismo em ciliados? A crença de que muitas espécies de protozoários de vida livre têm distribuições espaciais limitadas por barreiras geográfica é fortemente defendida por alguns (FOISSNER, 1999), e contestada por outros (FINLAY & FENCHEL, 1999). Há muitas evidências para indicar que cada uma das espécies de protozoários prospera melhor onde quer que encontre uma combinação específica de condições ambientais favoráveis, que a mesma espécie será encontrada onde quer que isso ocorra em todo o mundo, e que as espécies de protozoários parecem, portanto, ser cosmopolitas em sua distribuição espacial (FINLAY, 1997). A principal razão para isso é que cada espécie é representada por um grande número de indivíduos (FENCHEL, 1993), e por razões estatísticas, populações destes indivíduos são continuamente crescentes sendo dispersos em uma escala global, em outras palavras, são onipresentes. Neobursaridium gigas, por exemplo, foi encontrado em na Argentina (BALECH, 1941), e, posteriormente, na África (NILSSON, 1962; DRAGESCO & DRAGESCO-KERNÈIS, 1986), e sua recente descoberta em Tailândia (CHARUBHUN & CHARUBHUN, 1996) indica que se estende além de uma distribuição “Gonduana” (FOISSNER, 1999). Outras espécies de ciliados de vida livre, bem conhecidos pelas amplas distribuições geográficas, são listados por Foissner (1998) como tendo distribuição restrita, embora este autor referira-se apenas à sua distribuição no solo e, no entanto, não são (ESTEBAN et al., 2001). Esteban et al. (2001) comenta muitos outro casos acerca de espécies ditas “restritas”as regiões de registro. Segundo Finley (1998), em muitos lugares, uma espécie será representada por apenas alguns indivíduos, talvez na condição de cistos, mas quando as condições apropriadas ocorrem, as espécimes se desencistam e torna-se abundantes. Taylor (1981), enfatiza a importância de mecanismos, como o encistamento, que favorecem muitas espécies de ciliados a resistir a predação, estresse físico e químico, e exaustão de abastecimento alimentar. Portanto, a nova ocorrência de Diaxonella trimarginata na região neotropical é mais um exemplo de que o conceito de endemismo para as espécies de protistas ciliados não se aplica. 148 A população de Diaxonella trimarginata Berger (2006) encontrou uma população de D. trimarginata no rio Glan, Áustria, em condições de -mesosaprobia e foi considerada rara pela baixa abundância. Blatterer (1995), entretanto, registrou a espécies em 14 cursos d‟água na Áustria, também em baixas densidades, e o Índice sapróbico variou, entre as regiões, de 1,8 a 2,8. Kaltenbach (1960) encontrou uma população de D. trimarginata em amostras de musgos no rio Danúbio, Viena, Áustria. Blatterer (1995, 1996, 1997) registrou maior número de ocorrências em amostras de sedimento e até musgos, mas também em baixa abundância. O índice sapróbico calculado para essa população foi 2.4 e, considerando as localidade de ocorrências, apontam para uma preferência por ambientes que apresentam condições -alfamesosapróbicas. Dragesco & Dragesco-Kernéis (1991) encontrou uma população em amostras de areia obtidas de poças temporárias formadas pelo Lago Tanganyika, Burundi, África. Zhang et al. (1985) e Pang et al. (1986) registraram a subespécie em um sistema lótico na cidade de Shangai, China. Schmitz (1986) obteve uma outra população em amostras de plâncton e bentos no rio Rhine, Alemanha. Shao et al., (2007) amostraram uma população de D. trimarginata em um lago de água doce em condições de leve acidez (pH = 6.5) e temperatura amena, entorno de 22ºC, Qingdao, China. Esta população apresentou dimensões parecidas às do presente registro (95-185 × 30-50 m in vivo) assim como o número de nódulos de macronúcleo, porém, foi encontrada com dois tipos de grânulos corticais distintos, verde-dourado e vermelho escuro, assim como a de Katenback (1960). Recentemente, Li et al. (2011) registraram uma população de D. trimarginata no rio Nakdong, Korea do Norte em condições de baixa temperatura (4 oC) e pH ligeiramente ácido (6,5), entretanto, não cita qualquer informação morfológica da espécime. Estudos moleculares indicaram 99,41% de similaridade com a encontrada por Shao et al. (2007). A população encontrada, assim como as estudadas por Blatterer (1995), Berger (2006) obteve baixa abundância, entretanto, os dados morfológicos se assemelham mais com as espécimes de Plünckebaum et al. (1997) tendo em vista as dimensões do corpo celular, número de nódulos de macronúcleos, diferenciando apenas no número de cirros transversos (6 x 8 respectivamente) e vacúolo contrátil 149 (2 x 1 respectivamente). O número de vacúolos contrácteis desta espécime (2) também foi uma característica diferenciadora das outras populações já encontradas. Kaltenbach (1960) não mencionou o número e posição do vacúolo contrátil. Dragesco & Dragesco-Kernéis (1991) cita a presença de apenas um vacúolo próximo a zona adoral. A espécime estudada por Shao et al. (2007) apresenta também um vacúolo contrátil apenas, próximo a região posterior da zona adoral de membranelas. Entretanto, tais diferenças não justificam a proposição de uma nova espécie. 150 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A maioria das espécies de protistas ciliados são onipresentes em escala global e, localmente, muitas espécies de protozoários são raras ou crípticas, e permanecem à espera de condições ambientais favoráveis para florescerem. Eles podem persistir por longos períodos encistados ao invés de livre-natantes. O registro desta população de D. trimarginata para a região neotropical é mais uma evidência, dentre as citadas, de que os ciliados são cosmopolita. 151 Prancha VII Figura 4-9 - Diaxonella trimarginata.– Microscopia eletrônica de varredura: 81. Vista geral de D. p. psedorubra. Padrão de distribuição da ciliatura ventral; 82. Detalhe do aparato oral evidenciando os cirros frontais, bucais e parabucais; 83. espécime em morfogênese. Complexo oral sendo formado; 84. detalhes da região oral. Em evidência, os cinetídios orais; 85. Padrão de distribuição dos cirros transversos e pré-transversos; 86. Ciências dorsais (1-3). CO = cinetídios orais; CD = cinécias dorsais; Bi = bicorona; AZM = zona adoral de membranelas; CB = cirros bucais; CPb = cirros parabucais; CF = cirros frontal; PO = paraoral; CT = cirros transversos; CPt = cirros pré-transversos; LMR = cinécia marginal esquerda; RMR = cinécia marginal direita. 152 CF CPb Cft 1 2 3 ZAM CB PO CMD Bi CME CT 81 82 CB CO PO 83 84 CT CMD CD 2 3 1 CPt 85 86 153 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGER, H. 2006. Monograph of the Urostyloidea (Ciliophora, Hypotricha). Monographiae Biol., 85:i–xvi, 1–1303. BLATTERER, H. (1995). Verbessertes Verfahren zur Berechnung des Saprobienindex mittels Ciliaten (Ciliophora, Protozoa). Lauterbornia, 20: 23-36. DIECKMANN, J. 1995. 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(Ciliophora, Choreotrichida): uma nova espécie em sistemas lóticos da América do Sul (Minas Gerais, Brasil) RESUMO Em amostras de sedimento de cinco localidade do rio das Velhas, e duas de plâncton no rio Bicudo, foi registrado uma nova espécie do gênero Strobilidium, medindo 30-56 x 40-27 µm. O emprego da técnica do QPS revelou a existência deste ciliado em dois pontos em amostras do plâncton, a partir dos quais foram feitas as medidas morfométricas. As cinécias somáticas são em número de 5 (cinco), todas elas com uma disposição espiral, percorrendo desde a extremidade posterior até a região externa da zona adoral de membranelas –, sendo que as duas restantes localizadas na região dorsal são restritas aos dois terços posteriores. O macronúcleo tem forma de “C”, localizado próximo à zona adoral de membranelas, e apresenta um comprimento de 37 ± 8 µm. A zona adoram de membranelas apresenta em média 29 membranelas, que medem 17,6 µm. O Strobilidae S. logicinetium n. sp. tem diagnose distinta de populações de Strobilidium estudadas por outros autores e difere pelo número e tamanho das cinécias somáticas. Palavras-chave: Ciliados, Choreotrichida, sistemas lóticos, QPS, Índice Sapróbico. 158 1 INTRODUÇÃO A fauna de protistas ciliados do continente sul americano é pouco conhecida (GODINHO & REGALI-SELEGHIM, 1999; FOISSNER et al., 2008 ), o que pode ser observado pelo pequeno número de trabalhos que tem como objetivo o estudo taxonômico da diversidade da ciliatofauna, mas que têm revelado não só registros novos de espécies pouco comuns (MODENUTTI & PEREZ, 2004; PETIGROSSO, 2003), como também a descrição de novas espécies (PAIVA & SILVA NETO, 2004). Isto indica que a diversidade de protistas ciliados talvez não seja tão pequena como alguns autores pressupõem (DRAGESCO & DRAGESCO-KERNÉIS, 1986; HARDOIM E HECKMAN, 1996) e mostra a importância de trabalhos desta natureza que, além de disponibilizar informações taxonômicas já dentro de um contexto onde descrições e registros novos destes seres vivos devem estar acompanhados do material testemunho depositado em coleções taxonômicas, possam agregar informações sobre o ambiente nos quais estes organismos são coletados, uma vez que eles podem ser utilizados como indicadores da qualidade das águas (SLÁDECEK, 1973; SLÁDECEK et al., 1981; WEGL, 1983; MAUCH et al., 1985, DIAS et al., 2008). Estimativas recentes indicam que apenas 21.151 espécies de Protistas continentais (Chromista + Protozoa) encontra-se catalogada, enquanto um montante previsto de 42.749 espécies aguardam por serem descobertas e/ou descritas, havendo certamente alguns milhares de espécies de ciliados entre elas (MORA, C. et al. , 2011). Na última década, alguns trabalhos com enfoque taxonômico foram desenvolvidos em ambientes lênticos e lóticos na América do Sul trazendo não só uma lista de espécies, mas dados morfométricos, desenhos esquemáticos e fotos dos espécimes impregnados pela prata, com o intuito específico de aumentar a informação sobre a diversidade de protistas ciliados, como podemos observar em Modenutti & Pérez (2001), Küppers et al. (2003), Paiva & Silva-Neto (2004) e Dias et al. (2008). No Brasil, um país privilegiado pela sua condição hidrológica, ainda são escassos os estudos voltados para a ecologia e taxonomia da comunidade de protistas ciliados planctônicos continentais de ambientes lóticos e lênticos (MATSUMURA-TUNDISI et al., 1981; GODINHO & REGALI-SELEGHIM, 1999; GOMES & GODINHO, 2003; UETABANARO et al., 2007). A maioria dos trabalhos existentes que tratam do 159 estudo ecológico e/ou taxonômico de ciliados planctônicos dulcícolas foi desenvolvida em planícies de inundação e lagos (BARBIERI & GODINHOORLANDI, 1989; HARDOIM & HECKMAN, 1996; GOMES & GODINHO, 2003; PAIVA & SILVA NETO, 2004). O único estudo em ambiente lótico abordando a distribuição de protistas ciliados planctônicos e bentônicos conjugado com a influencia de parâmetros físicoquímicos foi desenvolvido por DIAS et al. (2008), no Córrego São Pedro, que corta o município de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais. O Choreotrichida Strobilidium compreende um gênero monotípico (PETZ & FOISSNER, 1992). A espécie tipo, Strobilidium caudatum, descrita por FROMENTEL (1876), foi redescrita por PETZ & FOISSNER (1992), que detectaram a existência de várias sinonímias e várias espécies erroneamente alocadas neste gênero, além de constatar vários registros de populações de S. caudatam que são, na realidade, outra espécie do gênero. No presente estudo, foram obtidos dados morfológicos e ecológicos a partir do registro de uma nova espécie do gênero Strobilidium em amostras de água doce no Rio das Velhas e tributários. 160 2 METODOLOGIA Área de estudo O Rio das Velhas é o maior afluente em extensão da bacia do rio São Francisco, com 801 km e, entre as sub-bacias do São Francisco, é o segundo em volume de vazão de água, apenas perdendo para a sub-bacia do rio Paracatu (IGAM, 2007). A sub-bacia do Rio das Velhas está inteiramente localizada na região central do estado de Minas Gerais, orientada no sentido sudeste para noroeste. Suas nascentes estão localizadas nos limites da Área de Proteção Ambiental na Serra de Antônio Pereira, município de Ouro Preto, distrito de São Bartolomeu (MMA, 2003). Sua área compreende as latitudes 17o 15‟ e 20o 25‟ S e longitudes 43o 25‟ e 44o 50‟ W. O rio das Velhas possui 761 km de extensão e 38,4 m de largura média, drenando uma área de 29.173 km2 (POLIGNANO et al., 2001). O presente estudo engloba 23 estações amostrais na bacia do rio das Velhas, dos quais 6 foram estações de registro para S. longicinetium n. sp. , sendo quatro localizados na calha do Rio das Velhas (AV210, AV139, MV156 e BV149) e dois localizados em tributários, sendo um no Rio Taquaraçú (TR135) e outro no Rio Bicudo (TR147), estado de Minas Gerais, Brasil, cuja posição geográfica está discriminada na Tabela 1. Estes pontos se situam próximos e à jusante de regiões urbanas, onde o esgoto doméstico é descarregado no curso de água sem nenhum tratamento (Figura 1). Tabela 1 - Coordenadas geográficas e elevação das estações de ocorrência de Strobilidium longicinetium n. sp. Estações AV210 AV139 TR135 MV156 TR147* BV149** Elevação (m) Coordenadas geográficas 733 729 670 620 504 485 UTM, 23K 626552 7778232 622398 7785623 626785 7831179 604243 7868430 549014 7996053 519682 8097507 161 Figura 1 - Pontos de ocorrência de Strobilidium longicinetium n. sp., rio das Velhas e tributários, MG. Coleta de amostras As amostras do plâncton e do bentos foram colhidas na margem e realizadas em duas estações: chuvosa, no mês de outubro de 2009, e seca, no mês de julho de 2010. 162 Para a amostragem do plâncton, foi utilizada uma garrafa de Van Dorn que era mergulhada a dez centímetros de profundidade em relação à superfície. Quando o local de amostragem era pouco profundo, o dispositivo de amostragem era introduzido de maneira a provocar mínima perturbação no substrato. As amostras foram transferidas para uma garrafa plástica de 500mL e imediatamente fixadas pelo uso de solução de Bouin aquoso a 5%. As amostras do bentos eram recolhidas por meio de uma concha que raspava a superfície do substrato. O conteúdo da concha era depositado em um recipiente descartável com tampa de 250 ml, identificado e armazenado em uma caixa de isopor refrigerada com gelo para transporte ao laboratório, onde elas foram examinadas a fresco. Concomitantemente, foram mensurados os seguintes parâmetros físico-químicos: oxigênio dissolvido (OD), potencial de hidrogênio (pH), demanda bioquímica e química de oxigênio (DBO e DQO, respectivamente), turbidez (UTN), condutividade (µs), temperatura (oC). Três parâmetros biológicos também foram mensurados: clorofila a, densidade de coliformes fecais e de cianobactérias. Os parâmetros físico e químicos e as informações da biocenose de ciliados foram traduzidos em índices de saprobidade (SI) químico e biológico, segundo DIN (2004). No laboratório, as amostras do plâncton marginal fixadas em Bouin foram tratadas conforme a técnica do QPS, impregnação quantitativa pelo Protargol, concebida por Montagnes & Lynn (1987) e modificada por Skibbe (1994). O material testemunho foi depositado na coleção do Laboratório de Zoologia de Invertebrados da Universidade Federal de Minas Gerais. 163 3 RESULTADOS A análise das amostras do bentos a fresco permitiu observar a ocorrência de uma nova espécie do gênero Strobilidium em cinco pontos, quais sejam, AV210, AV139, TR135, MV156 e BV149. O emprego da técnica do QPS revelou a existência deste ciliado em dois pontos, TR147 - onde só houve registro desta espécie no plâncton - e BV149, a partir dos quais foram feitas as medidas morfométricas que se encontram discriminadas na tabela 2, que traz também dados comparativos de outras fontes. 3.1 Taxonomia Class Spirotrichea Bütschli, 1889 Subclass Choreotrichia Small & Lynn, 1985 Order Choreotrichida Small & Lynn, 1985 Suborder Strobilidiina Small & Lynn, 1985 Strobilidiidae Kahl in Doflein & Reichenow, 1929 Strobilidium Schewiakoff, 1893 Strobilidium longicinetium n. sp. Diagnose: após fixação pelo Bouin e processamento pela técnica QPS, apresenta a característica típica para os protistas ciliados pertencentes à família Strobilidiidae, que é a existência de uma espiral denominada “scopula” (PENNARD, 1922) formada pelas cinécias somáticas na extremidade posterior do corpo celular (PETZ & FOISSNER, 1992). Na “scopula”, observa-se a existência de 5 (cinco) cinécias somáticas com orientação espiral, sendo que 3 (três) delas se estendem para a face ventral desde a região posterior do corpo celular até a região externa das membranelas adorais e as 2 (duas) cinécias somáticas restantes encontram-se dispostas na face dorsal restritas aos dois terços posteriores do corpo celular (Figura 3). 164 Tabela 2 - Dados morfométricos de S. caudatum (1 e 2) e S. longicinetium n. sp. (3) (Max.= máximo; Min.= mínimo; X= média; SD= desvio padrão CV = coeficiente de variação em %; 1= PETZ & FOISSNER, 1992; 2= KÜPPERS et al., 2006; 3= Presente estudo). Caracteres Corpo celular - comp. ( m) Corpo celular – largura ( m) Membranelas externas (n) Membranelas externas – comp. ( m) Cinetídios somáticos (n) ZAM – diâmetro ( m) Macronúcleo – largura ( m) Fontes Média Min. Max SD CV n 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 49,8 72,2 40 40,6 59,1 33 20 19 29 17,6 5 5 5 45 28 32,2 32,1 37 43 56 30 36 49 27 18 18 28 15 5 5 5 35 25 23 23,1 22,5 65 84 50 36 49 27 22 21 30 20 7 5 5 56 35 38 39,2 50 5 6,6 4 2,8 5,1 4 0,6 0,8 1 2 1 0 0 5,6 4 3,4 4,6 8 11 12 3 11 0 13 21 30 16 14 30 16 14 30 20 10 8 30 20 14 17 14 30 9 14 Localidade tipo: no plâncton e bentos do rio Bicudo, sub-bacia do Rio das Velhas, Município de Corinto, estado de Minas Gerais, Brasil, UTM 23K 519682 L, 8097507 S. Espécimes tipo: um holótipo e vários parátipos de S. longicinetium em seis membranas reveladas pela técnica do QPS montadas em lâminas permanentes estão depositadas na coleção de protistas ciliados da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Zoologia. Número de tombo: xxxxxxxxxxx Etmologia: o epíteto específico “longicinetium” se refere ao fato que três cinécias percorrem todo o comprimento celular desde a extremidade posterior do corpo celular até a região externa das membranelas adorais. Descrição (figuras y1-yx): após impregnação quantitativa pelo protargol – QPS, apresenta forma variando de cônica a obcônica, medindo 30-56 x 40-27 µm (X = 40 165 ± 4 x 33 ± 4, n= 14). As cinécias somáticas são em número de 5 (cinco), todas elas com uma disposição espiral, que é mais evidente na região posterior. Na região ventral (fazer nova verificação), três delas percorrem todo o comprimento do corpo celular – da extremidade posterior até a região externa da ZAM –, sendo que as duas restantes localizadas na região dorsal são restritas aos dois terços posteriores. O macronúcleo tem forma de “C”, localizado próximo à ZAM, e apresenta um comprimento de 37 ± 8 µm (n=14). A ZAM apresenta 29 membranelas (30-28 ± 1, n= 10), que medem 17,6 µm (20 - 15 ± 2, n= 8). A estomatogênese foi um processo observado em vários indivíduos, podendo-se verificar a origem do primórdio oral nos dois terços posteriores do corpo celular. Nos espécimes observados in vivo após cultura em placas de petri no laboratório foi observado o movimento típico atribuído ao gênero Strobilidium, com indivíduos associados ao substrato através de um cordão de muco e girando em torno do próprio eixo e também livres na coluna de água. Ocorrência e distribuição: as estações de registro da nova espécie estão distribuídas no alto curso do rio das Velhas, nos município de Rio Acima (AV210) e Bela Fama (AV139); médio curso, no município de Baldim (MV156) e baixo curso, em Guicuí (BV149). Foi encontrada também nos afluentes rio Taquaraçú (TR135) em Taquaraçú de Minas e no rio Bicudo (BV147), município de Corinto, Minas Gerais, Brasil. 166 M Ma Cs Vd Cs B A C ZAM Po Po Po Ma Cs Vc D E F M Vc G H I Figura 2 - Strobilidium longicinetium n. sp. Impregnado pelo Protargol – QPS. A: vista lateral in vivo, medindo de acordo com a descrição 30-50mm e vacúolos digestivos; B: cinécias somáticas; C: macronúcleo semicircular medindo 23-50 m. C: Note prominent cortical ridges. D: aparato oral sendo criado; E: vacúolo contrátil; F: fase avançada do primórdio oral e modificação do macronúcleo, indicando pela seta a desfragmentação nuclear; H: vista polar da região posterior mostrando a scopula indicada pela seta; I: Detalhe do primórdio oral. AZM = adoral zone of membranelles; CR = cortical ridges near ciliary bristle (cinécias); CV = vacúolo contrátil; FV = vacúolo digestivo; MA = macronúcleo; PO = primórdio oral; SK = cinécias somáticas. Barras de escala = 10 m. 167 ZAM Ma Po Vd 2 3 1 5 4 SC A B 4 3 Ma 5 C D Figura 3 - Strobilidium longicinetium n. sp. Impregnado pelo Protargol - QPS (Skibbe, 1994). A: Cinécias somáticas, vista ventral – 1-2 restritas metade do corpo celular e 3-5 percorrem o corpo celular da região posterior (scopula) até a zona adoral de membranelas; B: primórdio oral e cinécia somática; C: vista ventral, em morfogênese, note a mudança na forma do macronúcleo, corpo celular alongado, e a presença das cinécias somáticas ventrais (3 e 5) percorrendo desde a região posterior (scopula) a zona adoral de membranelas; D: vista ventral, em morfogênese, pontilhados indicando a formação do primórdio oral em duas regiões. Ma = macronúcleo, OP = oral primórdio, SC = scopula, Vd = vacúolo digestivo, ZAM = zona adoral de membranelas. Barras de escala = 20 m. 168 Sc b c d a Ma 1 2 g f e 3 4 5 3 Po h 4 5 j ZAM Po i k l Figura 4 - Desenhos comparativos de Strobilidium caudatum (a-f) e S. longicinetium n. sp. (g-l): visão geral do corpo celular (a, c, e, g, i-l) e “scopula” (b, d, f, h) de Penard (1922) in vivo (a-b), Foissner et al. (1991) após a impregnação pelo protargol (c-d), Deroux (1974) (e-f) e presente estudo in vivo (i) após impregnação pelo QPS (g-h; j-l); 1-2= cinetídios somáticos ventrais; 35= cinetídios somáticos dorsais. ZAM = zona adoral de membranelas Ma = macronúcleo, Mi = micronúcleo, OP = primórdio oral; Sc = scópula, Sf = fibras faríngeas; CV = vacúolo contrátil; a-f= imagens escaneadas de desenhos originais dos trabalhos citados. 169 3.2 Ecologia Entre as amostras de sedimento, a condição sapróbica da água variou entre o-betamesosapróbicas (carga orgânica escassa) e -mesosapróbica (carga orgânica forte) e para as amostras de plâncton, a variação da saprobidade foi menor, de mesosapróbicas (carga orgânica moderada) a -alfamesosapróbicas (carga orgânica crítica), considerando o índice sapróbico com base nos parâmetros físico-químicos (Tabela 3). Baseando-se na biocenose (Capítulo I), o índice sapróbico (SI) das estações foram próximos. Entretanto, a estação AV210, caracterizada como obetamesosapróbica passou a apresentar condição -mesosapróbica, o ponto MV156, -alfamesosapróbica, e TR147, -mesosapróbica. Apenas para AV139 não foi possível calcular o SI uma vez que não foram amostradas espécies de ciliados no período chuvoso. No período chuvoso, a variação da temperatura foi pequena (6,1 oC) e, quando comparada ao período seco, a variação foi maior (11,6 oC). As taxas de oxigênio dissolvido, assim como de DBO, considerando os dois períodos amostrais, obteve concentrações semelhantes entre as estações com exceção de MV156, a jusante da cidade de Lagoa Santa e do rio Jaboticatubas em Baldim. Os valores de pH apontam para uma condição levemente ácida, exceto para BV149 a qual apresentou condições levemente básicas. Em se tratando dos parâmetros biológicos, as densidades de coliformes totais foram altas entre as estações, acima do limite (5.000 cels/100ml) determinado pela Resolução CONAMA 357/2005, com exceção do tributário TR135 e BV149. A densidade de cianobactérias foi maior em MV156, porem não foi considerada como floração e está dentro dos limites legais. Nas amostras de plâncton a densidade registrada para S. longicinetium n. sp. foi de de 316,7 ind.-1L no tributário TR147 no período seco e, de 33,3 ind. -1L na estação BV149 no período chuvoso. O índice sapróbico estimado para a espécie, a partir de amostras de plâncton, foi 2,25 e peso 8, segundo DIN (1996) e se pode ser considerado um bom indicador de condições de saprobidade -mesosapróbicas para a sub-bacia do rio das Velhas. Nas amostras de bentos, a abundancia foi maior nas estações AV210 (5) AV139 (3) e BV149 (3). 170 Os dados físicos, químicos e biológicos das estações de registro de S. longicinetium n. sp. estão representados na tabela 3. Tabela 3 - Parâmetros físicos, químicos e biológicos das estações de registro de S. longicinetium n. sp. da Sub-bacia do rio Velhas, MG, Brasil (SI = Índice Sapróbico da estação de coleta). Amostras AV210 Parâmetros AV139 TR135 MV156 BV149** chuva o Temperatura ( C) TR147* seca 26 24,9 27,8 25,8 31 19,4 80,60 10,8 26,40 172 40,5 7,79 OD (mg/L) 7,4 7,2 6,2 3,5 6,1 7,77 pH 6,7 6,7 6,4 6,7 7,4 6,67 Condutividade (µmho/cm) 59,9 60,5 49,6 242,0 135,9 168,8 DBO (mg/L) 2,0 2,0 2,0 9,2 2,0 2,0 DQO (mg/L) 5 7,8 13 25 9,2 5,0 -3 PO4 (mg/L) Turbidez (UNT) 0,09 0,03 0,08 0,21 0,06 0,01 - 0,21 0,09 0,08 0,43 0,88 0,06 + NH4 - N (mg/L) 0,10 0,10 0,10 1,27 0,11 0,10 Saprobidade Qui o-b o-b b a b b-a NO3 (mg/L) b - b b-a b b SIqui 1,58 1,73 1,89 2,74 1,9 2,3 SIbio 1,86 - 2,06 2,63 2,17 2,27 Clorofila a (mg/L) 4,27 0,89 0,80 28,48 7,23 1,42 Coliformes totais (cel./ml) 17000 50000 220 17000 800 16000 Cianobactéria (cel./ml) 44,80 6,60 22,40 4277,28 11,00 35,20 Saprobidade Bio * ocorrência no plâncton; ** ocorrência no bentos e plâncton. 171 4 DISCUSSÃO Petz & Foissner (1992) confirmam o caráter monotípico da família Strobilidae, cujo único gênero existente é Strobilidium. Na literatura, a espécie mais estudada e registrada é Strobilidium caudatum, apresentando uma distribuição cosmopolita, faltando registro de ocorrência apenas para a Austrália (FOISSNER et al., 1991). O Strobilidae S. logicinetium n. sp. tem diagnose distinta de populações de Strobilidium estudadas por outros autores. Assim, S. caudatum estudado por Penard (1922) apresenta cinco cinécias na “scopula” que se dirigem até a região externa da ZAM. A população estudada por Deroux (1974) também apresenta cinco cinécias, sendo que três delas, as dorsais, vão desde a “scopula” até a região externa da ZAM e as duas restantes, ventrais, se limitam a os dois terços posteriores do corpo celular e na sua porção final, são interrompidas, não estando ligadas à “scopula”. Além disso, existe na população estudada por Deroux (1974) uma constrição entre a região externa da ZAM e o macronúcleo, e o habitat é a água salobra. Na população estudada por Petz & Foissner (1992), existem de cinco a sete cinécias restritas à metade posterior do corpo celular, sendo que na região ventral podem existir de duas a três cinécias que são interrompidas na sua porção final, não se ligando diretamente à “scopula”, a exemplo do que ocorre na população estudada por Deroux (1974). Quanto à população estudada por Fernandez-Leboranz (1983), ela se diferencia de S. longicinetium n. sp. pelo grande tamanho que apresenta in vivo (8590 µm), embora o número de membranelas (29-30) seja quase igual à variação encontrada para a espécie nova descrita (28-30 ±1; n=10). Já a população estudada por Küppers et al. (2006) possui um tamanho maior que as populações do presente estudo e de Petz & Foissner (1992), apresentando sempre cinco cinécias restritas à metade posterior do corpo celular, sendo que as duas situadas na região ventral são também interrompidas na sua porção final, como na população de Petz & Foissner (1992). Quanto à morfogênese, os eventos observados em S. longicinetium n. sp. são congruentes com aqueles observados para populações de S. caudatum estudados por Penard (1922), Kormos & Kormos (1958), Petz & Foissner (1992), com o primórdio oral surgindo na região médio-posterior do corpo celular. Na população 172 estudada por Deroux (1974), embora a seqüência de eventos seja similar, o surgimento do primórdio oral se dá próxima à região externa da zona adoral de membranelas. As populações de S. caudatum registradas por vários autores (BIYU, 2000; ANDRUSHCHYSHYN et al., 2003; MADONI, 2005; MADONI & ZONGROSSI, 2005; MADONI & BRAGHIROLI, 2007; RYCHERT, 2009; SENLER & YILDIZ, 2004) podem não pertencer a esta espécie, constituindo espécies novas, como afirmam Petz & Foissner (1992), uma vez que estes registros não vem acompanhados de dados morfométricos, fotos e/ou desenhos, ou mesmo material testemunho depositado em coleções científicas. Na América do Sul, o registro da espécie S. caudatum já foi relatada por vários autores, como Bürger (1909) para o Chile, Cunha (1914) e Hardoim & Heckman (1996) para o Brasil, Guillén et al. (2003) para o Perú e Küppers et al. (2006) para a Argentina, sendo este último estudo o único realizado com técnicas de impregnação pela prata (Protargol) apresentando fotos, desenhos e dados morfométricos dos espécimes descritos (Tabela 2). A comparação dos dados morfométricos dos espécimes de Strobilidium do presente estudo com os trabalhos de Petz & Foissner (1992) e Küppers et al. (2006) (tabela 2) forneceu a evidência inicial de que a população de Strobilidium do Rio das Velhas poderia se tratar de uma espécie nova, o que foi comprovado pela análise um pouco mais minuciosa dos espécimes nas membranas impregnados pelo QPS, conforme pode ser verificado nas figuras 2 e 3. Ecologia S. longicinetium n. sp ocorreu em ambientes que apresentaram distintas condições físicas, químicas e biológicas da água. A densidade registrada para S. longicinetium n. sp. foi maior em condições de condutividade, coliformes e densidade de cianobactérias maiores, o que reforça a idéia de hábito alimentar do tipo algívoro. A espécime estudada por Küpers et al. (2006) foi encontrada em lagoa temporária nos meses de Agosto e dezembro, e alcançou a mais alta densidade em coincidência com alta condutividade (160 - 220 μS/cm-), baixas temperaturas, e concentrações intermediárias de oxigênio (5,5 - 8,8 mg/L) dissolvido durante o meses de junho (1000 ind./L) e abril (2283 ind./L). Este ciliado foi registrado em condições de pH que variaram do ácido (4,9) até o alcalino (7,5). 173 São poucas as informações sobre a ecologia das populações do gênero Strobilidium estudadas por outros autores. Deroux (1974) estudou populações da região estuarina do rio Plouescat, França, mas não informou em que condições físicas e químicas da água elas ocorrem. Foissner et al. (1991) registraram S. caudatum em condições de grande oscilação do pH (4.9 - 9.0) e OD (4,0 - 11,0). Petz & Foissner (1992) encontraram S. caudatum em uma lagoa de uma região de floresta na Áustria e também não informaram as características do ambiente. Quanto às populações encontradas cujas identificações são duvidosas, como as encontradas por Madoni & Zangrossi (2005) em sistemas lóticos alfamesossapróbicos e -mesossapróbicos (carga orgânica crítica e - forte respectivamente), os valores de OD oscilaram entre 7,8 e 13 mg/L e as taxas de condutividade foram altas, variando de 353 a 3300 μS/cm. Pode-se concluir que S. longicinetium n. sp., a exemplo de outras populações do gênero Strobilidium, possui grande tolerância para mudanças do ambiente, porém sua ocorrência limita-se, até então, a condições -mesossapróbicas a - mesosspróbicas. A presença desta espécie pode ser útil na compreensão de possíveis modificações nas condições físicas e químicas do ecossistema causadas por impactos antrópicos. 174 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRUSHCHYSHYN O.; MAGNUSSON K. A.; WILLIAMS, D. D.2003. Ciliate populations in temporary freshwater ponds: seasonal dynamics and influential factors. Freshwater Biology, 48: 548–564. BARBIERI, S.M. & GODINHO-ORLANDI, M.J.L. 1989. Ecological studies on the planktonic protozoa of a eutrophic reservoir (Rio Grande Reservoir – Brazil). Hydrobiologia, 183: 1-10. BIYU, S. 2000. A comparative study on planktonic ciliates in two shallow mesotrophic lakes (China): species composition, distribution and quantitative importance. Hydrobiologia, 427:143–153. 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Oxford: Eolss Publishers, v.1, p.1-15. 177 Capítulo V 178 Qualidade das águas do rio das velhas e tributários, Minas Gerais: enfoque físico, químico e biológico RESUMO Este trabalho tem como objetivo principal apresentar os resultados da qualidade das águas na rede amostral de 23 pontos na bacia do rio das Velhas e confirma a situação crítica da qualidade das águas de trechos da bacia do rio das Velhas. Os dados obtidos no presente estudo indicam que a situação de qualidade das águas da bacia está piorando com o passar dos anos. Estes acusam problemas causados por fontes poluidoras pontuais como os esgotos sanitários, atividades minerárias e efluentes industriais. Nenhum trecho obteve condições excelentes de qualidade. Observou-se em 2010, um aumento das ocorrências das condições Supereutrófico e Hipereutrófico. Estes resultados evidenciam ainda, a necessidade de instalação e operação de um sistema de monitoramento, na bacia do rio das Velhas, que permita uma maior efetividade nas ações de controle ambiental que visem a melhoria das condições ambientais dos corpos de água. Palavras-chave: Qualidade das Águas. Índice de Qualidade de Água. Índice de Estado Trófico. Sistemas lóticos tropicais. 179 1 INTRODUÇÃO No Brasil, os potenciais de água doce são extremamente favoráveis para os diversos usos, porém, este recurso natural tem-se tornado escasso e com qualidade a comprometida. Os crescentes desmatamentos, os processos de erosão e assoreamento dos mananciais superficiais, os lançamentos de efluentes industriais e domésticos e a forte expansão agrícola nos recursos hídricos têm contribuído para tal situação (REBOUÇAS, 1997 citado por MMS, 2006; MMS, 2006). Por muito tempo no Brasil a problemática da qualidade da agua foi deixada de lado e muitos estudos tem sido realizados no sentido de mudar essa situação (CETEC, 1998, LIMA, 2000a). Qualidade das águas é realizada e monitorada por meio de medições de variáveis físicas, químicas e biológicas, sendo que a primeira, inclui principalmente estimativas de temperatura, cor da água, e turbidez. Já a qualidade química é aferida pela própria identificação dos componentes na água, por meio de métodos laboratoriais específicos, como por exemplo, concentrações de oxigênio dissolvido, demandas bioquímicas e químicas de oxigênio, pH, condutividade. Tais componentes químicos não devem estar presentes na água acima de certas concentrações determinadas. Com relação à avaliação biológica, esta envolve o estudo da comunidade de cianobactérias, da e o microbiológico da água, o qual tem um papel destacado no processo, em vista do elevado número e da grande diversidade de microorganismos patogênicos, em geral de origem fecal, que pode estar presente na agua (MMS, 2006) além da concentração de clorofila a. Estes parâmetros são ferramentas mais apropriadas à avaliação e monitoramento de contaminantes no ambiente, sendo considerados como bioindicadores. Os bioindicadores são “organismos ou comunidades de organismos que reagem à poluição com a alteração de suas funções vitais, ou que são capazes de acumular poluentes” (ARDNT et al., 1987, ARNDT & SCHWEIZER, 1991 citado por ARDNT et al., 1995), sendo as respostas dessas reações (de natureza bioquímica, fisiológica, morfológica, e/ou comportamental), utilizadas como indicadores ambientais (LIMA, 2000b). Blandin (1986) citado por Debenay & Beck-Eichler (1996) acrescenta que “um bioindicador é um organismo ou um conjunto de organismos 180 que permite caracterizar o estado de um ecossistema e evidenciar tão precocemente quanto possível as modificações naturais ou provocadas”. Assim, um indicador biológico pode consistir de um parâmetro ou um valor derivado de parâmetros, como por exemplo, um índice. A título de exemplificação, pode-se citar o Índice de Qualidade da Água – IQA e o Índice do Estado Trófico da água – IET. O IQA pode ser entendido como um facilitador no biomonitoramento. Ele índica o grau de contaminação das águas em função dos materiais orgânicos e fecais, dos nutrientes e sólidos decorrentes da poluição por esgotos sanitários (MMA, 2006). É uma característica capaz de quantificar a magnitude do estresse, as características do habitat ou os níveis de resposta ecológica à exposição de um agente impactante (HUNSAKER & CARPENTER 1990 citado por CAIRNS et al., 1993) e inclui variáveis físicas, químicas e biológicas, a saber: oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, fosfato total, variação da temperatura da água, turbidez e sólidos totais (IGAM, 2009). Analogamente, os resultados dos parâmetros fósforo total e clorofila a são contemplados em um único índice, Índice de Estado Trófico – IET, de Carlson (1977) modificado por Toledo et al. (1983,1984) e Lamparelli (2004) citados por IGAM (2009). O presente estudo pretende, a partir da compilação e discussão do dados gerados por órgão públicos (CETEC/IGAM), caracterizar a qualidade das águas de trechos da bacia do rio das Velhas com enfoque nas variáveis físicas, químicas e biológicas, bem como contribuir para a execução do modelo de avaliação da qualidade das águas apresentado no capítulo seguinte (Capítulo VI). 181 2 MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo: correspondeu à bacia hidrográfica do rio das Velhas localizada na região central do estado de Minas Gerais, entre as latitudes 17 o 15‟ e 20o 25‟ S e longitudes 43o 25‟ e 44o 50‟ W (POLIGNANO et al., 2001), à margem direita do rio São Francisco. Com uma área de 27.857 km2 que engloba 51 municípios, se estende de Ouro Preto, na Serra de Antônio Pereira (MMA, 2006), a uma altitude de 1.500 m até a Barra do Guaicuí, em Várzea da Palma. Foram pesquisadas 23 estações de coleta, 20 localizadas no curso do rio das Velhas e três em seus tributários (Figura 1). na margem durante Escala Figura 1. Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, sub-bacia do rio das Velhas, MG. Fonte: Comitê de Bacias Hidrográficas de minas Gerais. 182 As estações foram selecionadas da rede de amostragem operada pelo IGAM (2009) no âmbito do projeto “Águas de Minas”. Coleta das amostras: foram realizadas no período chuvoso (outubro, 2009) e no período seco (julho, 2010) e incluiu a medição in situ da temperatura, oxigênio dissolvido, pH e condutividade elétrica da água, com auxílio de sondas portáteis multiparâmetros do Setor de Medições Ambientais da Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC. Também foi feita a coleta de amostras de água para execução dos seguintes ensaios em laboratório (SAM/CETEC): demanda bioquímica e química de oxigênio, turbidez, fósforo nitrato e nitrogênio amoniacal, coliformes totais, clorofila a e cianobactérias. Processamento dos dados: os resultados foram expressos por estação de coleta agrupando-as segundo a distribuição no alto, médio e baixo curso da bacia e os períodos sazonais. Foram analisados os resultados dos Índice de Qualidade da Água - IQA e Índice do Estado Trófico da Água - IET. 183 3. RESULTADOS Este estudo apresenta os resultados do monitoramento da qualidade das águas na bacia do rio das Velhas obtidos no período de 2009 e 2010 e avaliou as principais interferências antrópicas nos recursos hídricos estudados. 3.1 Qualidade das águas: enfoque físico e químico Temperatura da Água As temperaturas da água no período quente-chuvoso variaram de um máximo de 31oC até um mínimo de 21.5oC (Figura 2). No período frio-seco, as temperaturas não variaram tanto, com valor mínimo de 18,2 oC na região do Alto Velhas e apresentou amplitude térmica de 7,6oC, contra 9,5oC no quente-chuvoso. Pode-se observar uma tendência de elevação das temperaturas, nos período quente-chuvoso e frio-seco, ao longo do rio até a foz. Este comportamento é o esperado já que há um aumento da latitude e queda da elevação. 32 31 30 29 28 27 26 25 24 23 22 21 20 19 18 17 16 15 Chuva BV146 BV147 BV151 BV148 BV149 Alto Velhas MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 Seca AV013 AV035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 AV135 AV153 Temperatura oC Temperatura da água Médio Velhas Baixo Velhas Estações Figura 2 - Temperatura da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. 184 Oxigênio dissolvido Os valores do oxigênio dissolvido (Figura 3) apresentaram uma tendência semelhante para os dois períodos, exibindo teores mais altos no período frio-seco. Os teores de oxigênio dissolvido foram consideravelmente baixos entre as estações amostrais AV105 e MV156, abaixo do limite de 5.0 mg/L permitido pela Resolução 357/2005 do CONAMA, devido ao grande aporte de matéria orgânica pelos tributários Arrudas e córrego do Onça, observados nos períodos quentechuvoso e frio-seco. Os menores valores da concentração de oxigênio dissolvido foram observados no período frio-seco, nas estações AV153, 0,92 mg/L; AV105, 1.56 mg/L; MV138, 2.02 mg/L e MV137, 2,14 mg/L. Oxigênio Dissolvido Chuva OD mg/L 10.0 9.5 9.0 8.5 8.0 7.5 7.0 6.5 6.0 5.5 5.0 4.5 4.0 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 Seca Alto Velhas Médio Velhas BV149 BV148 TR147 BV151 BV146 MV152 MV150 MV142 MV141 MV156 MV138 MV137 AV153 TR135 AV105 AV083 AV067 AV063 AV139 AV210 AV037 AV013 TR035 Limite mínimo (Resolução 357/2005 CONAMA) Estações Baixo Velhas Figura 3 - Concentração de oxigênio dissolvido da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Demanda Bioquímica de Oxigênio Os valores de DBO apresentaram uma tendência semelhante para os dois períodos (Figura 4), porém, com grandes diferenças nas estações AV083, AV105, AV153, e MV156 entre períodos. 185 No período quente-chuvoso, o valor máximo de DBO encontrado foi 9,2mg/L na estação MV156 do Médio Velhas. No período frio-seco, os valores de DBO variaram entre 2,0mg/L e 18,0mg/L, sendo o maior valor registrado na estação AV105 do Alto Velhas. Das estações analisadas, sete apresentaram valores de DBO superiores ao limite permitido (DBO=5,0mg/L) pela Resolução 357/2005 do CONAMA. Demanda Bioquímica de Oxigênio 20.0 17.5 DBO mg / L O2 15.0 12.5 Chuva 10.0 7.5 Seca 5.0 Limite máximo (Resolução 357/2005 CONAMA) 2.5 Alto Velhas Médio Velhas BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 0.0 Estações Baixo Velhas Figura 4 - Demanda bioquímica de oxigênio da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Demanda Química de Oxigênio (DQO) Os valores de DQO variaram de um máximo de 35mg/L e mínimo de 5mg/L no período quente-chuvoso (Figura 5). Na média, a DQO foi maior na região do Médio Velhas (22,9mg/L) e menor no Baixo Velhas (14,6mg/L). No período frio-seco, os valores oscilaram entre 67mg/L e 5mg/L e a média da DQO, entre as regiões, foi maior no Médio Velhas (17,97mg/L) seguido do Alto Velhas (17,96mg/L) e com valor menor registrado para o Baixo Velhas (6,2mg/L). Acompanhando mesmo padrão da DBO, os maiores valores da DQO foram registrados nas estações AV105, AV153 e MV137. 186 Demanda Química de Oxigênio 80 70 DQO mg / L O2 60 50 40 Chuva 30 Seca 20 10 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 Alto Velhas MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 0 Médio Velhas Baixo Velhas Estações Figura 5 - Demanda química de oxigênio da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Potencial Hidrogeniônico (pH) Os valores de pH observados para os dois períodos não apresentaram grandes diferenças (Figura 6). No período quente-chuvoso, os valores de pH oscilaram de 6,4 a 7,4 e período frio-seco, foram menores, e variaram entre 6,2 e 7,0. A média dos valores de pH, para o período quente-chuvoso e para o período frio-seco foram igual a 6,8 e 6,6, respectivamente. Isto indica um valor de pH levemente ácido para os dois períodos. A média dos valores de pH foi maior na região do Baixo Velhas tanto no período quente-chuvoso (7,1) quanto no período frio-seco (6,9). Todas as estações apresentaram valores de pH dentro do limite mínimo permitido (pH=6,0) pela Resolução 357/2005 do CONAMA. 187 pH Chuva Seca Alto Velhas Médio Velhas BV149 BV148 TR147 BV151 BV146 MV152 MV150 MV142 MV141 MV156 MV138 MV137 AV153 AV105 TR135 AV083 AV067 AV063 AV139 AV210 AV037 AV013 Limite mínimo (Resolução 357/2005 CONAMA) TR035 pH 9.00 8.75 8.50 8.25 8.00 7.75 7.50 7.25 7.00 6.75 6.50 6.25 6.00 5.75 5.50 5.25 5.00 Estações Baixo Velhas Figura 6 - Potencial de hidrogênio (pH) da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Condutividade Elétrica Os valores de condutividade obedeceram a um padrão muito semelhante nos períodos quente-chuvoso e frio-seco, e mostram uma variação muito pequena, a não ser nas estações AV105, AV153, MV137, MV138, MV141 e MV142 onde se notou um deslocamento mais vigoroso dessa variável (Figura 7). Pode-se observar que a condutividade no período quente-chuvoso foi menor que no período frio-seco, uma vez que no primeiro as médias oscilaram entre 52,1μS/cm a 242μS/cm e no segundo de 48,2μS/cm a 298μS/cm. 188 Condutividade 350 300 µmho/cm 250 200 150 Chuva 100 Seca 50 Alto Velhas Médio Velhas BV149 BV148 TR147 BV151 BV146 MV152 MV150 MV142 MV141 MV156 MV138 MV137 AV153 TR135 AV105 AV083 AV067 AV063 AV139 AV210 AV037 AV013 TR035 0 Estações Baixo Velhas Figura 7 - Condutividade elétrica da água referente as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Turbidez No período quente-chuvoso, a turbidez manteve médias com diferenças muito grandes, com variação de 24.3 a 400UTN. Um total de 11 estações amostrais apresentaram valores acima do permitido pela Resolução 357/2005 do CONAMA de 100 UTN, localizadas na região do Alto e Médio Velhas. As estações referentes ao Baixo Velhas não apresentaram valores de turbidez acima do do limite permitido, para os dois períodos amostrados. No período frio-seco, percebeu-se uma queda da turbidez, da qual o valor atingido não ultrapassou 47.7UTN. As maiores médias para este período foram observadas também nas regiões do Alto e Médio Velhas (Figura 8). 189 chuva seca Alto Velhas Médio Velhas BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 Limite máximo (Resolução 357/2005 CONAMA) MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 400 380 360 340 320 300 280 260 240 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 Turbidez - UNT Turbidez Estações Baixo Velhas Figura 8 - Turbidez da água referente às duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Nitrogênio amoniacal As concentrações de nitrogênio amoniacal variaram de 0.1 a 4.3mg/L no período quente-chuvoso (Figura 9). O maior valor foi registrado na estação AV105 localizada na região do Alto Velhas, a qual obteve a maior média de concentração de nitrogênio amoniacal, de 0,9mg/L contra 0,7mg/L no Médio Velhas seguido de 0,1mg/L para o Baixo Velhas. No período frio-seco, o comportamento foi diferente. A concentração de nitrogênio amoniacal oscilou entre 0,1 e 6,8mg/L. O maior concentração foi encontrada na estação AV153. Quanto as médias, a maior foi observada na região do Médio Velhas (2,7mg/L), seguido do Alto Velhas (1,7mg/L) e Baixo Velhas (0,1mg/L) . As estações AV153, MV137, MV138 e MV156, obtiveram concentrações acima do limite permitido pela Resolução 357/2005 do CONAMA de 3,7mg/L de nitrogênio amoniacal no período frio-seco e a estação AV105, para os dois períodos. 190 6.9 6.6 6.3 6.0 5.7 5.4 5.1 4.8 4.5 4.2 3.9 3.6 3.3 3.0 2.7 2.4 2.1 1.8 1.5 1.2 0.9 0.6 0.3 0.0 chuva seca MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 Limite máximo (Resolução 357/2005 CONAMA) AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 N-NH4 mg / L Nitrogênio amoniacal Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Estações Figura 9 - Concentração de nitrogênio amoniacal da água referente às duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Fósforo total As concentrações de fósforo variaram entre 0,61mg/L e 0,01mg/L no período quente-chuvoso, sendo o maior valor registrado na estação AV105 do alto curso (Figura 10). As médias das concentrações de fósforo foi maior na região do Médio Velhas (0,23mg/L) seguido do Alto Velhas (0,15mg/L) e Baixo Velhas (0,07mg/L). No período frio-seco, os valores da concentração de fósforo oscilaram entre 1,21 e 0,01mg/L e o maior valor foi observado na estação AV153 do alto curso. As médias para as regiões seguiram um comportamento diferente do outro período sendo a maior média para a região do Alto Velhas (0,38mg/L) seguido do Médio Velhas (0,36mg/L) e Baixo Velhas (0,07mg/L). No total, 14 estações obtiveram concentrações de fósforo acima do limite máximo permitido (0,1mg/L) pela Resolução 357/2005 do CONAMA em pelo menos um dos períodos amostrados. 191 Fósforo 1.35 1.20 1.05 mg / L P 0.90 chuva 0.75 0.60 seca 0.45 0.30 Limite máximo (Resolução 357/2005 CONAMA) MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 0.00 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 0.15 Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Estações Figura 10 - Concentração de fósforo da água referente às duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Cloreto total A concentração máxima de cloreto total foi de 16,1mg/L e mínima de 0,07mg/L para o período quente-chuvoso (Figura 11). A maior média, para as regiões, foi de 8,7mg/L observada no Médio Velhas, contra 5,6mg/L no Baixo Velhas e de 4,4mg/L no Alto Velhas. No período frio-seco, o comportamento das médias permaneceu, e o valor médio para o Médio Velhas foi de 15,6mg/L de cloreto total. As regiões do Alto e Baixo Velhas obtiveram médias de 6,1 e 7,4mg/L respectivamente. A concentração de cloretos totais permitida pela Resolução 357/2005 do CONAMA é de 250mg/L, e, portanto, não houve registro de valores superiores ao permitido pela lei. 192 21.0 19.5 18.0 16.5 15.0 13.5 12.0 10.5 9.0 7.5 6.0 4.5 3.0 1.5 0.0 chuva BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 Alto Velhas MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 seca AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 mg / L Cl Cloretos Médio Velhas Baixo Velhas Estações Figura 11 - Concentração de cloretos da água referente às duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. 3.2 Qualidade das águas: enfoque biológico A avaliação da qualidade com base nos dados biológicos apresentam-se pelos resultados ensaios dos ensaios de colimetria, concentrações de clorofila a e densidade de cianobactérias. Coliformes totais A contagem de coliformes totais foi maior na região alto curso do rio das Velhas (Figura 12) sendo mais expressivas no período seco com valor médio de 66818 cels./100ml, contra 60292 cels./100ml no período chuvoso. As estações AV083, AV105, AV153 e no tributário TR035 (rio Itabirito) apresentaram as maiores taxas de coliformes totais. As estações do baixo curso apresentaram valores dentro do permitido por lei (1000 cels./100ml) para o período chuvoso. As menores taxas de coliformes foram registrada no tributário TR135 (220 cels./100ml) do alto curso, no período chuvoso e nas estações MV142 (230 cels./100ml) e MV141 (280 cels./100ml) na região do médio curso do rio das Velhas no período seco. 193 160000 150000 140000 130000 120000 110000 100000 90000 80000 70000 60000 50000 40000 30000 20000 10000 0 Chuva Seca Alto Velhas Médio Velhas BV146 BV147 BV151 BV148 BV149 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 Limite máximo permitido 357/2005 CONAMA AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 coliformes cels./100ml Coliformes totais Estações Baixo Velhas Figura 12 – Coliformes totais da água referente às duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Clorofila a Os padrões dos valores de clorofila a, representada pela biomassa algal, foram bastante diferentes para os períodos chuvoso e seco (Figura 13). No período chuvoso, a média foi maior na região do Médio Velhas (22,9mg/L) e a menor no Baixo Velhas (5,7mg/L). No período seco, o comportamento deste perfil foi quebrado, uma vez que o valor médio foi menor observado foi no Alto Velhas (8,2mg/L). Os valores máximos foram de 51,4mg/L para a estação AV153 no período quente-chuvoso, e de 46,6mg/L para a estação MV141 no período seco. Todas as estações amostradas apresentaram valores acima do permitido (0,03mg/L) pela Resolução 357/2005 do CONAMA, com exceção da estação AV013 que apresentou o menor valor encontrado de 0,006mg/L no período chuvoso. 194 Clorofila a 55 50 45 40 mg/L 35 chuva 30 25 20 seca 15 10 Alto Velhas Médio Velhas BV149 BV148 TR147 BV151 BV146 MV152 MV150 MV142 MV141 MV156 MV138 MV137 AV153 AV105 TR135 AV083 AV067 AV063 AV139 AV210 AV037 AV013 0 TR035 5 Limite máximo (Resolução 357/2005 CONAMA) Estações Baixo Velhas Figura 13 - Densidade de clorofila a referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. Cianobactérias As médias obtidas, para as regiões do rio apresentaram um padrão semelhante para os dois períodos. No período chuvoso os valores médios registrados foram de 3050,3 cél.ml-1 no Médio Velhas, 1094,4 cél.ml-1 no Alto Velhas e 27 cél.ml-1 para o Baixo Velhas. No período seco os valores médios foram de 861,9 cél.ml-1 no Médio Velhas, 176,3 cél.ml-1 no Alto Velhas e 18,9 cél.ml-1 para o Baixo Velhas. Observa-se no figura 14 que os valores de densidade de cianobactérias não ultrapassaram o limite legal em nenhuma das estações de monitoramento localizadas no rio das Velhas. Contudo, a Deliberação Normativa COPAM/CERH 01/08 em seu artigo 14 estabelece: “No caso de uso para recreação de contato primário valor máximo de 10.000 cél.ml-1”. No período chuvoso foram registrados valores acima de 10.000 cél.ml-1 nas estações AV105 (a jusante do ribeirão do Onça) com 14.391,6 cél.ml-1 e MV137 (a jusante da cidade de Lagoa Santa) com 10.323 cél.ml-1. 195 Cianobactérias 10000.0 cel/mL.log -1 1000.0 Chuva 100.0 Seca 10.0 Alto Velhas Médio Velhas BV149 BV148 TR147 BV151 BV146 MV152 MV150 MV142 MV141 MV156 MV138 MV137 AV153 AV105 TR135 AV083 AV067 AV063 AV139 AV210 AV037 AV013 1.0 TR035 Valor máximo permitido Art.14 DN/2008 COPAM Estações Baixo Velhas Figura 14 - Densidade de cianobactérias nas estações amostrais referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. 3.3 Qualidade das águas: diferenciações entre as regiões da bacia Tendo em vista as variáveis físicas, químicas e biológicas, as estações que compõe o Alto Velhas diferenciaram das demais (Figura 15) quanto às concentrações de oxigênio dissolvido (OD), cloretos, nitrogênio amoniacal e DBO conforme os coeficientes de correlação canônica (tabela 1). Os valores de pH e clorofila a tiveram um influência pequena nesta separação. O Médio Velhas se diferenciou do baixo curso pela forte influencia das taxas de cloreto e turbidez, e somando-se a isto, a concentração de OD, como terceiro fator de influência, apresentou uma pequena participação neste padrão de distribuição dos pontos. 196 Figura 15 – Análise de Discriminante: correlação entre as estações amostrais e os parâmetros físicos, químicos e biológicos, considerando os períodos seco e chuvoso. Fonte: elaborado pelo autor. Tabela 1 - Coeficientes das funções da discriminante canônica (Standardized Coefficients) com base nas variáveis físicas, químicas e biológicas. Discriminante Variáveis Função 1 Função 2 OD (mg/L) o Temp. ( C) pH COND. DBO (mg/L) DQO (mg/L) Turbidez (UNT) Cloretos (mg/L) Nitrato (mg/L) N. Amoniacal (mg/L) Fósforo (mg/L) Clorofila a (mg/L) Cianobactérias (cels/L) Coliformes Totais(cels/L) -1.53187 -0.74891 0.41373 3.33939 -1.16603 -0.13347 0.05319 -1.59119 0.01005 -1.51624 -0.17931 0.38960 -0.79952 -0.31373 0.34003 -0.34563 -0.69721 -0.92689 -0.86530 -0.79591 1.54517 4.33120 -1.27248 -0.64176 -0.45404 -0.47670 -0.07528 -0.09590 Fonte: elaborada pelo autor. 3.4 Índices de Qualidade das Águas Índice de Qualidade da Água – IQA 197 O IQA máximo encontrado foi de 73,3% para a estação AV139 do alto curso, classificada, portanto, como IQA Bom, no período quente-chuvoso e, no período frioseco, o IQA máximo foi de 76% para o tributário TR135 no alto curso, também um índice de qualidade Bom. Pode-se verificar que, no período quente-chuvoso houve predomínio da ocorrência de IQA Ruim (52,2% dos pontos amostrados) (Figura 16) com variação entre 25,1% e 49,6% (Tabela 4). As ocorrências de IQA Médio (34,8% dos pontos) e IQA Bom (13%) apresentaram variações de 51,8% a 66,1% e 70% a 73,2%, respectivamente, para o mesmo período (out/2009). O IQA Excelente e Muito Ruim não foram verificados no presente estudo (Tabela 2). Em 2010, os resultados de IQA Ruim diminuíram, passando de 52,2% de frequência em 2009 para 34,8% e variação de 25,1 a 49,6%. Notou-se também o aumento da frequência de resultados de IQA Bom, de 13% em 2009 para 17,4% em 2010, com variação entre 71,4% e 76,1%. Consequentemente, as ocorrências de IQA Médio aumentaram de 34,8% no período chuvoso para 47,8% na estação seca, variando entre 52,2% e 69,1% (Figura 17). IQA 80 70 60 IQA 50 40 chuva 30 seca 20 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 Alto Velhas MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 0 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 10 Médio Velhas Baixo Velhas Estações Figura 16 - Índice de qualidade da água das estações amostrais referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. 198 IQA 52.2 47.8 34.8 60.0 34.8 Excelente % estações 50.0 Bom 40.0 0.0 Médio 0.0 Ruim 17.4 30.0 13.0 Muito Ruim 20.0 10.0 0.0 0.0 0.0 Chuva Seca Período Figura 17 - Evolução sazonal do Índice de Qualidade da Água - IQA no rio das Velhas e tributários. Fonte: elaborado pelo autor. Estações Baixo Velhas Médio Velhas Região Alto Velhas Tabela 2 - Dados de IQA e nível de qualidade da água das estações amostrais durante os períodos de Chuva e seca, no rio das Velhas e tributários. IQA Nível qualidade Chuva Seca Chuva Seca AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 48 51.80 63.9 52.80 73.2 46.6 46.8 40.4 36.2 70.00 34.1 44.9 47.70 58.2 60 52.2 55.9 58.2 49.6 25.1 76.10 27.4 Ruim Médio Médio Médio Bom Ruim Ruim Ruim Ruim Bom Ruim Ruim Médio Médio Médio Médio Médio Ruim Ruim Bom Ruim Ruim MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 31.6 36.20 36.1 40.9 38.9 40.2 57.1 28.6 29.8 63.9 71.4 69.1 73.5 60.3 Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Médio Bom Médio Bom Médio Médio BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 65.4 73.10 63.6 60.3 66.1 66.9 57.80 71.9 48.3 60.3 Médio Bom Médio Médio Médio Médio Médio Bom Ruim Médio Fonte: elaborada pelo autor. 199 Índice de Estado Trófico da Água – IET Os menores valores de IET foram 25,86 e 28,71, encontrados na estação AV013 no período chuvoso e seco, respectivamente, cuja condição pode ser classificada como Ultraoligotrófica (Figura 18). A avaliação da trofia da água de 2009 (chuva) e 2010 (seca) pode ser observada na figura 18 e na tabela 3. Durante o estudo, houve predomínio de condições Eutróficas para o período de chuvoso e Hipereutrófica para o período seco. Observou-se em 2010, um aumento das ocorrências das condições Supereutrófico e Hipereutrófico, que passaram de 8.7 e 21.7% de frequência em 2009, respectivamente, para 21.7 e 39.1% em 2010 com consequente diminuição dos níveis Eutrófico e Mesotrófico, que passaram de 34.8 e 26.1% de frequência, respectivamente, na chuva, para 13 e 17,4%, na seca. IET 80 70 60 IET 50 40 chuva 30 seca 20 10 Alto Velhas Médio Velhas BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 0 Estações Baixo Velhas Figura 18 - Índice de estado trófico das estações amostrais referentes as duas amostragens, seca e chuva no rio das Velhas e tributários, MG. AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário. Fonte: elaborado pelo autor. 200 IET 100% 21.7 90% 80% 39.1 8.7 % estações 70% 60% Hipereutrófico 34.8 50% Supereutrófico 21.7 Eutrófico 40% Mesotrófico 30% 13.0 26.1 Oligotrófico 20% Ultraoligotrófico 17.4 4.3 4.3 10% 4.3 4.3 0% Chuva Seca Período Figura 19 - Evolução sazonal do Índice de Estado Trófico – IET no rio das Velhas e tributários, MG. Fonte: elaborado pelo autor. Tabela 3 - Dados de IET e nível de qualidade da água das estações amostrais durante os períodos de Chuva e seca, no rio das Velhas e tributários. Nível qualidade chuva seca Alto Velhas IET AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 25.86 53.15 53.41 59.99 50.35 56.36 66.44 60.29 64.13 52.43 74.36 28.71 59.26 57.51 58.4 57.31 63.47 62.32 69.28 69.45 54.33 74.12 Médio Velhas Estações MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 73.25 72.99 70.4 72 62.25 57.37 59.02 70.39 74.98 71.35 73.46 68.6 66.36 64.4 Hipereutrófico Hipereutrófico Hipereutrófico Hipereutrófico Eutrófico Mesotrófico Eutrófico Hipereutrófico Hipereutrófico Hipereutrófico Hipereutrófico Hipereutrófico Supereutrófico Supereutrófico Baixo Velhas Região Chuva Seca BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 59.72 54.72 59.41 62.99 61.21 64.91 49.52 68.09 64.78 60.19 Eutrófico Mesotrófico Eutrófico Eutrófico Eutrófico Supereutrófico Oligotrófico Hipereutrófico Supereutrófico Eutrófico Ultraoligotrófico Ultraoligotrófico Mesotrófico Eutrófico Mesotrófico Mesotrófico Eutrófico Mesotrófico Oligotrófico Mesotrófico Mesotrófico Supereutrófico Supereutrófico Eutrófico Eutrófico Hipereutrófico Supereutrófico Hipereutrófico Mesotrófico Mesotrófico Hipereutrófico Hipereutrófico 201 4 DISCUSSÃO Os esgotos domésticos apresentam compostos orgânicos biodegradáveis, nutrientes e microrganismos patogênicos. Já para os efluentes industriais, há uma maior diversificação nos contaminantes lançados nos corpos de água em função dos tipos de matérias-primas e processos industriais utilizados. O deflúvio superficial urbano contém, geralmente, todos os poluentes que se depositam na superfície do solo. Na ocorrência de chuvas, os materiais acumulados em valas e bueiros, são arrastados pelas águas pluviais para os corpos de água superficiais, constituindo-se numa fonte de poluição tanto maior quanto menos eficiente for a coleta de esgotos ou a limpeza pública. A poluição agrossilvipastoril é decorrente das atividades ligadas à agricultura, silvicultura e pecuária. Quanto à atividade agrícola, seus efeitos dependem muito das práticas utilizadas em cada região e da época do ano em que se realizam as preparações do terreno para o plantio, assim como do uso intensivo dos defensivos agrícolas. A contribuição representada pelo material proveniente da erosão de solos intensifica-se quando ocorrem chuvas em áreas rurais. Os agrotóxicos com alta solubilidade em água podem contaminar águas subterrâneas e superficiais através do seu transporte com o fluxo de água. O oxigênio dissolvido é essencial para a manutenção de processos de autodepuração em sistemas aquáticos naturais. Através dos resultados obtidos, foi possível perceber uma queda brusca no teor de oxigênio dissolvido a partir da estação AV105, a jusante do Ribeirão do Onça e do complexo industrial do município de Santa Luzia, AV153 a jusante do Ribeirão da Mata, também em Santa Luzia, MV137 e MV138, localizada a jusante da cidade de Lagoa Santa e MV156 a qual se encontra a jusante do Rio Jaboticatubas, município de Baldim. Esta situação se deve principalmente ao grande aporte de matéria orgânica no rio das Velhas neste trecho. Dessa forma, com o processo de estabilização da matéria orgânica realizado pelas bactérias, e ao utilizarem o oxigênio nos seus processos respiratórios, há a redução de sua concentração no meio. A concentração de oxigênio dissolvido na água também varia segundo a temperatura. Isso explica o maior teor de oxigênio da água durante o período frio-seco, com exceção das estações acima citadas. 202 Os baixos valores de oxigênio dissolvido refletem os altos valores de DBO e DQO na água neste trecho. Estes indicadores químicos revelaram uma demanda bioquímica de oxigênio, acima do valor máximo permitido pela Resolução 357/2005 do CONAMA, para a estação AV083, a jusante do ribeirão Arrudas, município de Sabará. O aumento da concentração da DQO neste trecho do Velhas se deve principalmente a despejos de origem industrial, uma vez que este parâmetro indica a presença de substâncias resistentes à degradação biológica. Os valores de pH, por sua vez, apresentaram um padrão distinto, e alterações bruscas não foram observadas em nenhum trecho do rio. Valores fora da faixa recomendada pela legislação não foram evidenciados entre as estações, contudo, os valores médios do pH foram maiores na região do baixo curso entre os municípios de Corinto e Guiacuí. Este comportamento naturalmente está associado à oxidação da matéria orgânica, de origem natural e antropogênica, advinda do alto e médio curso do rio das Velhas. As taxas de condutividade elétrica da água obtiveram o mesmo padrão do OD, DBO e DQO. Os altos valores de condutância, observado a partir da estação AV083, a jusante do ribeirão Arrudas, justificam-se pela presença de grande quantidade de substâncias minerais dissolvidas. Na sequência das estações, pôde se observar a queda progressiva da condutividade no médio curso até atingir um patamar no baixo curso, onde os valores se mantiveram com pequenas oscilações entre as estações, possivelmente resultante da sedimentação da matéria no fundo do rio. A concentração de nitrogênio amoniacal apresentou um padrão semelhante aos demais parâmetros. As altas taxas observadas, acima do permitido por lei, são resultado do lançamento de efluentes domésticos e industriais químicos, petroquímicos, siderúrgicos, farmacêuticos e alimentícios, provenientes do ribeirão Arrudas, na estação AV083 do alto curso e que se estendeu até a estação MV156, no médio curso, onde as concentrações caíram abruptamente a partir da estação MV142 em Inimutaba, a 157km de distância da estação MV156. Esta queda pode ser resultante do processo natural de autodepuração do rio. O nitrogênio amoniacal é uma substância tóxica não persistente e não cumulativa. Em baixas concentrações, como é comumente encontrada, não causa nenhum dano fisiológico 203 aos seres humanos e animais. Por outro lado, grandes quantidades de amônia, como encontrado para este trecho, podem causar sufocamento de peixes. Para o fósforo, o mesmo trecho obteve altas taxas de concentração. Diferente dos outros parâmetros foi observado concentrações elevadas de fósforo para as estações AV013, próximo as cabeceiras, e AV037 em rio Acima. A concentração de fósforo está diretamente ligada ao processo de eutrofização dos corpos d‟água refletindo em altas concentrações da biomassa algal, mensurada a partir da clorofila a, como observado na estação AV153, a jusante do Ribeirão da Mata que recebe os , Vespasiano, Ribeirão das Neves e Pedro Leopoldo. Esta relação foi evidenciada nas regiões de picos para a concentração de fósforo Estes altos valores podem ser explicados pela presença de uma PCH da CEMIG a montante destas estações. O aporte antropogênico é oriundo dos despejos domésticos e industriais, além de detergentes, excrementos de animais e fertilizantes, o que não ocorre nesta região. As altas concentrações de íons cloretos também foram influenciados pelo efluente advindo do ribeirão Arrudas. As altas taxas deste ânion caíram progressivamente ao longo do curso do rio até o baixo Velhas, onde as médias se mantiveram sem grandes oscilações porém maiores que as observadas para o alto Velhas. Um aumento no teor desses ânions na água é indicador de uma possível poluição por esgotos ou por despejos industriais. Os índices de avaliação da qualidade das águas utilizados no presente estudo, o IQA e IET, refletem o comportamento deste parâmetro. A estação AV013 foi classificada como ruim no índice de qualidade água, contrapondo o índice de estado tráfico. Isso ocorreu, pois o cálculo do IQA utiliza outros parâmetros como os coliformes fecais o qual apresenta um peso mais alto e esteve presente em grande quantidade na região. Este fato corrobora a necessidade da utilização de uma rede integrada de índices e variáveis com a finalidade de obter uma avaliação da qualidade do ambiente mais apurada. Segundo Kapuska et al. (1992), as informações obtidas mediante bioavaliação devem ser integradas às análises físicas e químicas para se obter uma avaliação ecológica integrada a cerca do problema em estudo. Neste contexto, cabe apontar, que o emprego de variáveis biológicas como indicadora das condições ambientais, comparativamente às físicas e químicas, oferecem algumas vantagens 204 em face de algumas características que são intrínsecas à biota aquática como exposição prolongada, diferentes sensibilidades e taxas de recuperação e a capacidade de concentrar substancias em seus tecidos (NAVAS-PEREIRA & HENRIQUE, 1996). Marques (1998) com base em Cairns et al. (1993), reforça a aceitação geral das vantagens dos métodos biológicos sobre os físicos e químicos na avaliação da qualidade das águas e corrobora a tendência das respostas biológicas de integrarem os efeitos independentes e interativo de muitos agentes de estresse, o que os colocam como bons indicadores das condições do ambiente frente às concentrações de constituintes químicos individuais. 205 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS As análises das comunidades de cianobactérias apontaram densidades preocupantes em algumas estações do trecho alto da bacia do rio das Velhas. Este resultado alerta para a necessidade de medidas que visem um melhor tratamento dos efluentes domésticos e industriais, uma vez que estes organismos podem vir a apresentar cepas capazes de produzir cianotoxinas nocivas ao ser humano (DEBERDT, 2003). Além destas observações ficou evidente que a utilização de informações biológicas associadas à caracterização abiótica e microbiológica da qualidade das águas permitiu uma avaliação integrada dos efeitos ecológicos causados por múltiplas fontes de poluição no trecho do alto rio das Velhas (MG). Assim é essencial o desenvolvimento de um Programa de Biomonitoramento adequado utilizando bioindicadores ambientais para melhor estudar e avaliar as condições ecológicas da bacia hidrográfica do rio das Velhas. 206 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA - AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. 1995. For the Examination of Water and Wastewater Standard Methods. Lenore S. Clesteri, Washington. 19ºed., p. 1043 – 1044. CAIRNS, J.; McCORMICK, P. V.; NIEDERLEHNER, B. R. 1993. A proposed framework for developing indicators of ecosystem health. Hydrobiologia, v.223: 1-44. JUNQUEIRA, V. M., CAMPOS, S. C. M. 1998. 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Relatório II: Aperfeiçoamento do Monitoramento da Qualidade das Águas da Bacia do Alto Curso do Rio das Velhas. Programa Nacional do Meio Ambiente – PNMA II. Subcomponente Monitoramento da Qualidade da Água. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais – SEMAD. Unidade de Coordenação Estadual - UCEMG / PNMA II. 145pp. MATSUMURA-TUNDISI, T., HINO, K. & CLARO, S.M. 1981. Limnological studies at 23 reservoirs in southern part of Brazil. Ver. Internat. Verein, Limnol., 21: 1040-1047. M.M.S (Ministério da Saúde). 2006. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de Vigilância em Saúde Ambiental. Brasília, 213pp. NAVAS-PEREIRA, D.; HENRIQUE, R. M. 1996. Aplicação de índices biológicos numéricos na avaliação da qualidade ambiental. Revista Brasileira de Biologia. V.56, (2): 441450. PAERL, H. W., DYBLE, J., MOISANDER, P. H., NOOBLE R. T., PIEHLER, M. 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Águas doces, versão preliminar, 2003. 208 Capítulo VI 209 Protistas ciliados como bioindicadores na avaliação da qualidade das águas do rio das Velhas e tributários, MG RESUMO O objetivo principal deste trabalho foi caracterizar a qualidade das águas do rio das Velhas e tributários pelo método de sapróbios. Foram estudados 23 estações de coleta nos períodos de chuva (2009) e de seca (2010). De maneira geral, a qualidade das águas caracterizou-se pela sobrecarga de compostos orgânicos, apesar de respostas distintas das variáveis físicas e químicas (oligossapróbicas a polissapróbicas) e as biológicas ( -mesossapróbicas a -alfamesossapróbica). O expressivo aporte de carga orgânica está associado à presença de centros urbanos no alto curso e de práticas agropecuárias no médio e baixo curso da bacia. Palavras-chave: Qualidade das águas. Ciliados. Sistema Sapróbio. Ambiente lótico. Rio das Velhas. 210 1 INTRODUÇÃO As propriedades físicas, químicas e biológicas da água e do sedimento são alteradas por descargas contínuas de efluentes domésticos e industriais em particular nas proximidades de centros urbanos. Ricas em nitrogênio e fósforo favorecem o processo de eutrofização com o desenvolvimento de uma biocenose específica cuja composição e estrutura pode ser utilizada como indicadores da qualidade das águas. A avaliação da qualidade das águas engloba duas vertentes de enfoques: (i) a utilização de métodos físicos e químicos e (ii) o uso de métodos biológicos (LOBO et al., 1995). Os métodos físicos e químicos permitem um conhecimento instantâneo das condições das águas, limitando-se ao momento em que são feitas as medições. Nos ambientes lóticos as limitações se acentuam, devido à renovação contínua pelo fluxo da água. Entretanto, medições contínuas por tempo prolongado aumentam de forma expressiva o valor deste método (LOBO et al., 1995). Os métodos biológicos tem a vantagem de oferecer informações de efeitos ambientais prolongados, sendo capazes de refletir estados anteriores ao momento do estudo (LOBO et al., 1995). É necessário, no entanto, que a informação taxonômica seja traduzida em valores numéricos (índices), com vistas a facilitar a interpretação e fornecer subsídios à avaliação da qualidade das águas (NAVASPEREIRA & HENRIQUE, 1996). Os índices mais comumente aplicados à avaliação de impactos de poluentes sobre as comunidades aquáticas são: (i) índices bióticos, que estabelecem a alteração em termos da tolerância ou sensibilidade relativa dos táxons presentes a uma dada situação de poluição; (ii) índices de diversidade, que analisam o efeito da poluição em termos da estrutura de comunidade; e (iii) índices de comparação da comunidade que consideram os efeitos da poluição sobre a composição da comunidade (NAVAS-PEREIRA & HENRIQUE, 1996). A avaliação da qualidade das águas por bioindicadores surgiu há aproximadamente um século e meio na Europa, com base nas evidências de Kolenati, em 1848 e Cohn, em 1853, a cerca da relação entre os organismos e a poluição das águas. Entre 1902 e 1909 Kolkwitz & Marsson criaram o Sistema 211 Saprobiótico, revisado por Kolkwitz em 1950, aprimorado por Zelinka & Marvan em 1961, 1963, complementado e modificado por LIEBMANN (1962) citado por Friedrich (1990) e revisado por Friedrich & Herst (2004). Este Sistema baseia-se na tolerância e abundância das espécies em relação à carga orgânica e utiliza do Índice Saprobiótico para indicar diferentes níveis de qualidade das águas. Os princípios deste Sistema contribuíram para o desenvolvimento dos demais índices bióticos (JUNQUEIRA & FERREIRA, 2007). Sládecek (1973) o define como um sistema de organismos (formado por bactérias, plantas e animais) cuja presença e classificação conforme a resistência à condição eutrófica do corpo hídrico, é capaz de indicar diferentes níveis de qualidade das águas. O Sistema Sapróbio é, portanto, um método de monitoramento biológico focado nas adaptabilidades de diferentes comunidades biológicas nos ambientes lóticos e lênticos. Outras pesquisas contribuíram para avanços como as de Schäfer (1985), Newman et al. (1992), Rosenberg & Resh (1993). Na Alemanha o Sistema está consolidado em normas técnicas - DIN 38410 (DIN 1990) e em outros países da Europa ocidental. No Brasil, a aplicação deste método é mais recente e tem como contribuições as pesquisas de Lobo (1995), Lobo et al. (1995), Lopez (2003); Landa et al. (1998); Junqueira & Ferreira (2007); Junqueira et al. (2009) e Mourthé (2000). O sistema de sapróbios desenvolvido por Kolkwitz & Marsson (1909) baseiase no conhecimento de táxons indicadores para determinadas faixas de poluição de natureza orgânica. O sistema engloba cinco zonas de poluição: kataróbica (águas limpas, não poluídas), oligossapróbica (água saudável, não adversamente afetada pela poluição), -mesossapróbica (água levemente poluída), -mesossapróbica (poluição forte), polissapróbica (água muito poluída com intensa atividade bacteriana). Entre os índices originados do Sistema Sapróbio tem-se o de Zelinka & Marvan (1961), o qual difere do proposto por Pantle & Buck em 1955, por incorporar a valência e o peso sapróbico da espécie indicadora. Ambos levam em conta a representatividade de uma espécie indicadora não apenas a uma zona de saprobidade, sim a uma faixa de zonas que reflete a sua tolerância, considerando a curva normal de sua distribuição cujo pico indica o valor sapróbico da espécie (Sládecek, 1973). 212 As comunidades biológicas consideradas no Sistema Sapróbio incluem de bactérias a peixes, conforme apresentado em Sládecek (1973) e Weghl (1983). Nesta ampla gama de bioindicadores destacam-se os protozoários ciliados organismos importantes em processos de decomposição na coluna de água e no sedimento (FOISSNER, 1999) que, em comparação a outros, respondem mais rapidamente à presença de substancias contaminante no meio hídrico (MADONI, 2005), devido ao ciclo de vida curto, taxas de reprodução elevadas e sensibilidade aos poluentes (FOISSNER, 1993). Os ciliados são considerados indicadores biológicos eficazes e preditores de mudanças na qualidade das águas devido ao aporte de sedimentos e matéria orgânica. Também na qualidade do estrato bentônico. Estudos têm demonstrado que o pastoreio por ciliados podem influenciar a estrutura da comunidade bacteriana em sedimentos, com efeitos secundários sobre o crescimento das plantas (SCHWARZ & FRENZEL, 2003). O emprego dos ciliados na bioindicação, bem como de outros organismos aquático, fundamenta-se na identificação das espécies e na frequência com que ocorrem nos diferentes níveis de saprobia, como catalogado por Sladecek (1973), Moravcova (1977), Wegl (1983), DIN (1990, 2004), Friedrich (1990), Foissner (1991), Foissner & Berger (1996), Lobo (1995). Ambos os aspectos geraram críticas severas ao sistema (Sládecek, 1973) e pontuou: (i) necessidade de ampliação dos estudos taxonômicos e o fato de a listagem das espécies e respectivos valores de saprobidade limitarem o uso do método em outros locais/ (ii) necessidade de um profundo conhecimento taxonômico; (iii) a valência ecológica da grande maioria dos organismos indicadores é desconhecida. Os avanços do conhecimento taxonômico (DRAGESCO & DRAGESCO-KERNÉIS, 1986, 1991; FOISSNER, 1991; FOISSNER, 1997; FOISSNER & BERGER, 1996; FOISSNER et al., 1991, 1995; FOISSNER et al., 1992, 1994; FOISSNER et al., 2002; BERGER, 2006); somada à adequação e aplicação do método em outras regiões do globo, com destaque às de clima tropical e sub-tropical (LOBO, 1995; LOBO et al. 1995; MENDONÇA, 2008; JUNQUEIRA et al., 2010; LOPEZ, 2005; CETEC, 1998a, 1998b, 2002) refutam as críticas pretéritas e reforçam a aplicabilidade do método em programas de monitoramento da qualidade das águas continentais. Em termos dos ciliados Corliss (1979), Foissner (1988), Foissner (1991), Skibbe (1994), Dieckmann (1995), Foissner et al. (1995) e 213 Foisser & Berger (1996), corroboram os avanços na taxonomia do grupo com contribuições para minimizar a limitação no emprego do método. O presente estudo alinha-se a esses esforços tendo como objetivo a indicação da qualidade das águas do rio das Velhas e tributários utilizando o índice de saprobidade, com base na valência e peso sapróbio obtidos para espécies de ciliados identificados nos cursos de água da bacia em estudo e respectiva comparação com às de ambientes lóticos temperados. 214 2 MATERIAL E MÉTODOS A área de estudo correspondeu à bacia hidrográfica do rio das Velhas A área de estudo correspondeu à bacia hidrográfica do rio das Velhas entre as latitudes 17o 15‟ e 20o 25‟ S e longitudes 43o 25‟ e 44o 50‟ W (POLIGNANO et al., 2001), localizada na região central do Estado de Minas Gerais, à margem direita do rio São Francisco. Com uma área de 27.857 km2 que engloba 51 municípios, se estende de Ouro Preto, na Serra de Antônio Pereira (MMA, 2006), a uma altitude de 1.500 m até a Barra do Guaicuí, em Várzea da Palma. Foram pesquisadas 23 estações de coleta, 20 localizadas no curso do rio das Velhas e três e em seus tributários (Figura 1). As estações foram selecionadas da rede de amostragem operada pelo IGAM (2009) no âmbito do projeto “Águas de Minas”. 215 na margem durante Escala Figura 1 - Mapa da área de estudo incluindo as 23 estações amostrais, sub-bacia do rio das Velhas, MG. Coleta das amostras: foram realizadas no período chuvoso (outubro, 2009) e no período seco (julho, 2010) e incluiu amostras de ciliados planctônicos e epibentônicos na margem do curso de água a uma profundidade de 20 cm da superfície da água. Para a coleta do plâncton utilizou-se o amostrador Garrafa de Van Dorn, horizontal, capacidade de 5L. As amostras foram e armazenadas em garrafas plásticas com capacidade de 500ml e fixadas com Bouin aquoso 5%. As amostras do bentos foram coletadas na interface substrato/água, com auxílio de concha metálica de 10 cm diâmetro, acoplada a um cabo extensor de 216 1,5m. As amostras foram armazenadas em potes plásticos de 500ml, mantidas “in natura” e acondicionadas em caixas de isopor refrigeradas com gelo. Em paralelo, foram realizadas medição in situ da temperatura, oxigênio dissolvido, pH, condutividade elétrica da água, com auxílio de sondas portáteis multiparâmetros. Também foi feita a coleta de amostras de água para execução dos seguintes ensaios em laboratório: demanda bioquímica e química de oxigênio, turbidez, fósforo nitrato e nitrogênio amoniacal, coliformes totais, clorofila a e cianobactérias. Processamento dos dados: os resultados foram expressos por estação de coleta agrupando-as segundo a distribuição no alto, médio e baixo curso da bacia e, os períodos de seca e chuva. O processamento dos dados incluiu: (i) o índice de saprobidade – S (ZELINKA & MARVAN, 1961), a partir das valências e grau sapróbio dos táxons, calculados de acordo com Sladecek (1973), Wegl (1983) e DIN (1990); (ii) o enquadramento do índice de diversidade de Shannon-Wiener – H‟ (MAGURRAN,1989 e KREBS, 1989) aos graus de poluição para avaliação da qualidade das águas (STAUB et al.,1970; WILHN e DORIS, 1986 citado por GUHL, 1987); (iii) análise de cluster, para evidenciar os padrões gerais de semelhança entre as estações de coleta quanto aos níveis de saprobidade. utilizando como coeficiente de similaridade o método UPGMA e coeficiente de distância a distância Euclidiana simples, com base no programa ESTATISTICA 7.0; (iv) a análise comparativa entre os índices de diversidade (H`) e saprobidade (S) e (v) a análise comparativa entre as valências e respectivos graus sapróbicos dos ciliados ocorrentes no rio das Velhas e tributários com as citadas por Sladecek (1973), Maravcova (1977), Wegl (1983), Friedrich (1990) e Foissner (1996), com a finalidade de identificar a equivalência das informações geradas pelo presente estudo e os autores citados. Como critério de comparação entre as valências dos táxons, apenas foram consideradas equivalentes aquelas que indicam um mesmo grau sapróbico, indicados de vermelho. O peso atribuído aos táxons foram classificados segundo Sládecek (1973): 16 (ótimo), 8 (bom), 4 (regular), 2 (ruim) e 1 péssimo. 217 3 RESULTADOS 3.1 Características sapróbica dos ciliados planctônicos Com base na frequência de ocorrência, valência e grau de saprobidade dos ciliados planctônicos (Tabela 1) o grau mais representativo foi o alfamesossapróbico com 15 táxons (Figura 1), seguido por -mesossapróbico e - mesossapróbico, ambos com 12 táxons. Os menos representativos foram obetamesossapróbico (4 táxons), -polissapróbico (1 táxon) e polissapróbico (1 táxon). Na região do alto curso do rio das Velhas registrou-se uma maior amplitude de faixas de tolerância dos táxons com ocorrência em seis das sete zonas sapróbicas, variando de o-betamesossapróbica a polissapróbica (Figura 2). No médio curso não ocorreram espécies características de ambientes polissapróbicos. Entretanto, apresentou maior número de táxons de ambientes -mesossapróbicos. No baixo curso a número de táxons característicos de locais obetamesossapróbicos e -alfamesossapróbicos foi comparativamente superior ao alto e médio curso e inferior em relação à faixa -betamesossapróbica. Em termos do peso (G) os táxons de melhor indicação dos graus sapróbicos com peso igual 8 foram: (i) faixa o-betamesossapróbica: Loxodes striatus, Stentor roeseli e Nassula sp.,; (ii) faixa -mesossapróbico: Strobilidium longicinetium n. sp., Tintinnopsis sp. e Campanella umbellaria (iii) faixa -mesossapróbica: Epistylis plicatilis e Euplotes eurystomus e (iv) faixa -polisapróbico: Paramecium caudatum. Na faixa -mesosapróbico Didinium nasutum mostrou-se como melhor bioindicador com o peso máximo igual a 16. Epistylis cf. coronata foi classificado como impróprio para bioindicação da qualidade da água. Para Frontonia leucas, única representante da faixa polissapróbica, a insuficiência de dados devido a baixa frequência de ocorrência impossibilitou o cálculo do peso sapróbico. 218 Tabela 1 - Valência e grau de saprobidade e frequência de ocorrência, dos ciliados planctônicos. Bacia do rio das Velhas, MG, 2009 e 2010. Valência sapróbica dos ciliados planctônicos TÁXONS Valencia Peso (G) (2009 e 2010) Grau sapróbico Frequência de ocorrência (%) (2009 e 2010) 2009 2010 KARYORELICTEA Loxodes striatus 1.75 8 o-b 0.0 8.7 2.00 1.75 ID 8 b o-b 4.3 0.0 0.0 8.7 2.75 2.50 2.50 2.83 2.67 2.25 2.50 2.10 1.50 2.25 2.00 2.10 2 ID ID 8 2 8 ID 2 ID 8 ID 8 a b-a b-a a b-a b b-a b o-b b b b 4.3 0.0 0.0 0.0 4.3 4.3 0.0 4.3 0.0 4.3 0.0 17.4 30.4 4.3 4.3 13.0 21.7 4.3 4.3 17.4 4.3 4.3 4.3 4.3 2.75 2.00 2.80 2.67 3.00 1 16 1 4 ID a b a b-a a 4.3 8.7 0.0 0.0 0.0 21.7 0.0 21.7 13.0 4.3 2.75 2.55 1 4 a b-a 0.0 21.7 17.4 21.7 1.75 8 o-b 0.0 8.7 2.00 4 b 8.7 30.4 2.38 2.20 3.50 2.50 2.40 2.50 3.33 2.79 2.60 1.86 2.56 2.75 3.17 2.63 2.50 2.77 2.13 2.75 2.00 2.83 2.50 1 2 ID ID 2 ID 8 4 1 8 2 Impróprio 8 1 1 4 2 1 ID 2 ID b-a b p b-a b-a b-a a-p a b-a b b-a a a b-a b-a a b a b a b-a 8.7 17.4 0.0 0.0 21.7 0.0 0.0 4.3 4.3 17.4 4.3 0.0 0.0 0.0 0.0 17.4 0.0 0.0 0.0 4.3 0.0 26.1 26.1 4.3 4.3 43.5 4.3 13.0 26.1 17.4 13.0 34.8 8.7 13.0 17.4 13.0 30.4 17.4 17.4 4.3 21.7 4.3 HETEROTRICHEA Spirostomum teres Stentor roeselii SPIROTRICHEA Aspidisca cicada Aspidisca turicula Euplotes aediculatus Euplotes eurystomus Halteria bifurcata Hypotrichia Pseudourostyla nova Oxytrichia hymenostoma Oxytrichia sp. Strobilidium longicinetium n sp. Tintinnidium sp. Tintinnopsis sp. LITOSTOMATEA Acineria uncinata Didinium nasutum Litonotus lamella Litonotus sp.2 Litonotus sp.3 PHYLLOPHARINGEA Gastronalta clatratus Chilodonella uncinata NASSOPHOREA Nassula sp. PROSTOMATEA Coleps hirtus OLIGOHYMENOPHOREA Cinetochilum margaritaceum Cyclidium glaucoma Frontonia leucas Glaucoma frontata Glaucoma scintilans Lembadion lucens Paramecium caudatum Phillasterides sp. Scuticociliatida Campanella umbellaria Carchesium polipynum Epistylis cf. coronata Epistylis plicatilis Epistylis sp. Pseudovorticella cf. chlamydophora Vorticella aquadulcis Vorticella campanulla Vorticella convallaria Vorticella sp. Vorticella sp. 2 Suctoria ID = insuficiência de dados. 219 Figura 2 - Número de táxons planctônicos por grau sapróbico: polisapróbico (p), mesossapróbica (a), -betamesossapróbico (a-b), -mesossapróbico (b) e obetamesossapróbico (o). Rio das Velhas e tributários, MG, 2009 e 2010. 16 14 número de táxons 12 10 8 6 4 2 0 o-b b b-a a a-p p Alto Velhas o-b b b-a a a-p p Médio Velhas o-b b b-a a a-p p Baixo Velhas Grau sapróbico Figura 3 - Número de táxons planctônicos por grau sapóbico, segundo as regiões da bacia do rio das Velhas, MG, 2009 e 2010: polisapróbico (p), mesossapróbica (a), -betamesossapróbico (a-b), -mesossapróbico (b) e o-betamesossapróbico (o). 220 3.2 Características sapróbica dos ciliados bentônicos A partir da frequência de ocorrência, valência e grau de saprobidade dos ciliados bentônicos (Tabela 2) a faixa de saprobidade mais representada foi mesossapróbico com 19 táxons (Figura 3), seguida por - -alfamesossapróbico, 8 táxons, e o-betamesossapróbico com 2 táxons. As de menor representatividade foram, a-mesosapróbico, -polisapróbico e polissapróbico, com apenas 1 táxon. O alto curso do rio das Velhas, de forma análoga ao registrado para os ciliados planctônicos, apresentou espécies cujas tolerâncias se enquadram em 6 das 7 zonas sapróbicas, de o-betamesossapróbica a polissapróbica (Figura 4) sendo a -mesossapróbica a mais representada. No médio curso não ocorreram espécies características de ambientes -polissapróbicos e polissapróbicos. No baixo curso, ocorreram apenas táxons característicos de locais obetamesosapróbicosa a zona -alfamesosapróbicos, sendo que o número de táxons da -mesosapróbico sobrepujou à do médio curso. Nessas zonas sapróbicas a distribuição dos táxons correspondentes foram: (i) zona o-betamesosapróbica: Chilodonella uncinata, com peso igual 8; (ii) zona - mesossapróbico: Aspidisca cicada, Diaxonella trimarginata, Loxophyllum meleagris e Paramecium aurelia complex apresentaram maior grau (peso 16) de importância na bioindicação. Nos ambientes -alfamesossapróbicos predominaram táxons com peso igual a 4 e 2, estes considerados, respectivamente, indicadores de importância regular e ruim. A zona -mesossapróbica foi representada apenas por Vorticella pictea cujo peso (2) caracteriza-se como ruim na bioindicação. Na zona -polisapróbico, Epistylis plicatilis foi o melhor bioindicador, com peso 8, equivalente ao obtido quando amostrado no plâncton. Na zona polissapróbico, Saprodinium sp. foi o único representante, cuja baixa frequência de ocorrência foi insuficiente para calcular o peso sapróbico. 221 Tabela 2 - Valência e grau de saprobidade e frequência de ocorrência dos ciliados bentônicos. Bacia do rio das Velhas, MG, 2009 e 2010. Valência sapróbico dos ciliados bentônicos TÁXONS KARYORELICTEA Loxodes striatus * HETEROTRICHEA Spirostomum minus Spirostomum teres * Stentor coeruleus SPIROTRICHEA Aspidisca cicada * Euplotes aediculatus * Euplotes eurystomus * Diaxonella pseudorubra Halteria bifurcata * Oxitrichia hymenostoma * Pseudourostyla nova * Stichotrichia sp. Strobilidium longicinetium n sp. * Urosoma caudata Urostyla sp. ARMOPHOREA Saprodinium sp. LITOSTOMATEA Amphileptus procerus Loxophylum meleagris PHYLLOPHARINGEA Chilodonella uncinata * PROSTOMATEA Coleps hirtus * Coleps cf. spetai OLIGOHYMENOPHOREA Frontonia leucas * Lembadion lucens * Paramecium aurelia complex Paramecium caudatum * Urocentrum turbo Carchesium polypinum * Epistylis plicatilis * Vorticella convallaria * Vorticella campanulla * Vorticella cf. pictea Suctoria * Valência Peso (G) Grau Sapróbico (2009 e 2010) (2009 e 2010) Frequência de ocorrência (%) 2009 2010 2.00 ID b 4.3 - 2.00 2.33 2.00 ID 4 ID b b-a b 4.3 - 4.3 8.7 4.3 2.00 2.25 2.13 2.00 2.20 2.29 2.05 1.50 2.00 2.00 2.33 16 8 4 16 4 4 4 ID 2 ID 4 b b b b b b b o-b b b b-a 13.0 8.7 21.7 8.7 17.4 21.7 21.7 21.7 13.0 4.3 13.0 4.3 8.7 21.7 4.3 4.3 - 3.50 ID p - 4.3 2.50 2.00 2 16 b-a b 8.7 4.3 4.3 1.75 8 o-b 4.3 13.0 2.35 2.63 4 4 b-a b-a 39.1 17.4 4.3 - 2.17 2.07 2.00 2.63 2.08 2.67 3.25 2.17 2.25 2.83 2.50 4 4 16 2 4 ID 8 2 ID 2 ID b b b b-a b b-a a-p b b a b-a 4.3 30.4 4.3 13.0 17.4 8.7 4.3 8.7 4.3 - 21.7 4.3 21.7 8.7 4.3 8.7 8.7 8.7 4.3 * ciliados que ocorreram também no plâncton; ID= Insuficiência de Dados 222 Figura 4 - Número de táxons bentônicos por grau sapróbico: polissapróbico (p), mesossapróbica (a), -betamesossapróbico (a-b), -mesossapróbico (b) e obetamesossapróbico (o). Rio das Velhas e tributários, MG, 2009 e 2010. Alto Velhas Médio Velhas Baixo Velhas Figura 5 - Número de táxons bentônicos por grau sapróbico, segundo as regiões da bacia do rio das Velhas, MG, 2009 e 2010: polissapróbico (p), -mesossapróbica (a), betamesossapróbico (a-b), -mesossapróbico (b) e o-betamesossapróbico (o). 3.3 Comparação entre as condições de saprobia dos ciliados 3.3.1 Ciliados planctônicos A análise comparativa entre a valência sapróbica (s) de ciliados planctônicos do rio das Velhas e tributários (Tabela 3) com a apresentada por outros autores (Quadro 1) evidencia 50% de equivalência entre os dados. 223 Tabela 3 – Comparação, entre autores, da valência sapróbica (s) de ciliados planctônicos. Táxons Sládecek (1973) Moravcova (1977) Wegl (1983) Friedrich Foissner (1990) (1996) s Grau s Grau s Grau s Grau - - - - 3.2 a-p - 3.0 2.5 a b-a 3.5 - p - 3.6 2.4 p b-a 2.5 3.0 3.0 - b-a a a - - - 2.6 2.9 2.0 - 2.5 2.2 - b-a b - 2.7 - a - 3.0 a 2.6 - - 2.5 3.0 3.1 2.0 4.5 2.1 3.3 2.5 2.9 3.2 2.25 2.9 - Presente estudo Grau s Grau - p 1.8 o-b 3.0 2.7 a a a 2.0 1.8 b o-b b-a a b - 3.0 - a - a a a p - 2.8 2.5 2.5 2.8 2.7 2.3 2.5 2.1 1.5 2.3 2.0 2.1 a b-a b-a a b-a b b-a b o-b b b b 2.2 2.8 3.1 b a a 2.8 - a - a-p a a - 2.8 2.0 2.8 2.7 3.0 a b a b-a a b-a 3.0 a 3.1 a b-a a 2.8 2.6 a b-a - - 2.8 a - - - 1.8 o-b b-a 2.5 b-a 2.5 b-a - - a 2.0 b a a b p b a-p b-a a a b a - 2.5 2.5 2.7 2.9 2.6 2.8 2.3 - b-a b-a a a b-a a b-a - 3.1 2.2 3.9 2.1 3.6 2.5 2.9 3.1 2.7 2.3 2.9 - a b p b p b-a a a a b-a a - 3.6 3.4 2.3 3.1 p a-p b-a a 2.6 2.6 3.0 - b-a b-a a - a b-a a-p b-a a-p a a a b-a b-a a a - 2.4 2.2 3.5 2.5 2.4 2.5 3.3 2.8 2.6 1.9 2.6 2.8 3.2 2.6 2.5 2.8 2.1 2.8 2.0 2.8 2.5 b-a b p b-a b-a b-a a-p a b-a b b-a a a b-a b-a a b a b a b-a KARYORELICTEA Loxodes striatus HETEROTRICHEA Spirostomum teres Stentor roeselii SPIROTRICHEA Aspidisca cicada Aspidisca turrita Euplotes aediculatus Euplotes eurystomus Halteria bifurcata Hypotrichia Pseudourostyla nova Oxytrichia hymenostoma Oxytrichia sp. Strobilidium longicinetium n sp. Tintinnidium sp. Tintinnopsis sp. LITOSTOMATEA Acineria uncinata Didinium nasutum Litonotus lamella Litonotus sp.2 Litonotus sp.3 PHYLLOPHARINGEA Gastronalta clatratus Chilodonella uncinata NASSOPHOREA Nassula sp. PROSTOMATEA Coleps hirtus OLIGOHYMENOPHOREA Cinetochilum margaritaceum Cyclidium glaucoma Frontonia leucas Glaucoma frontata Glaucoma scintilans Lembadion lucens Paramecium caudatum Phillasterides sp. Scuticociliatida Campanella umbellaria Carchesium polipynum Epistylis cf. coronata Epistylis plicatilis Epistylis sp. Pseudovorticella cf. chlamydophora Vorticella aquadulcis Vorticella campanulla Vorticella convallaria Vorticella sp. Vorticella sp. 2 Suctoria Nota: Os índices em vermelho indicam equivalência na indicação do grau sapróbico. Comparativamente, os dados de Wegl (1983) e Friedrich (1990) foram os que mais se assemelharam aos do presente estudo e corresponderam, respectivamente, a 30,4% e 33,3%. A maior semelhança (73,7%) prevaleceu entre os estudos de Sládecek (1973) e Wegl (1983), seguida por Sládecek (1973) e Friedrich (1990), com 63,6%. 224 Quadro 1 – Matriz de equivalência (%) do nível de saprobidade dos ciliados planctônicos entre os estudos. Maravcova (1977) Wegl (1983) Friedrich (1990) Foissner (1996) Do Autor Referências 9,1 73,7 63,6 47,1 30,0 Sládecek 30,0 14,3 22,2 27,3 Maravcova 63,6 38,9 30,4 Wegl 63,6 33,3 Friedrich 3.3.2 Ciliados bentônicos Para as espécies bentônicas foram utilizados os mesmos estudos como referência comparativa das valências sapróbicas (Tabela 4). Tabela 4 – Comparação, entre autores, da valência sapróbica (s) de ciliados bentônicos. Táxons Sládecek (1973) Moravcova (1977) Wegl (1983) Friedrich (1990) Foissner (1996) Presente estudo s Grau s Grau IS Grau IS Grau Grau IS Grau - - 3.2 a-p - - - - p 2.0 b 2.5 2.8 a p 2.7 - - 2.8 a p a 2.9 3.6 2.8 b-a a a 2.6 a a b-a a a 2.0 2.3 2.0 b b-a b 3.0 3.0 - a a - 2.9 2.0 - a b - - - 3.00 - a - a a a p - - - - - - - - - - 2.0 2.3 2.1 2.0 2.2 2.3 2.1 1.5 2.0 2.0 2.3 b b b b b b b o-b b b b-a - - - - 4.0 p - - p 3.5 p 2.0 b - - 2.2 b 2.0 b b-a b 2.5 2.0 b-a b 3.0 a 3.0 a 2.6 b-a a a 1.8 o-b 2.5 b-a 2.5 b-a 2.5 b-a - - a - - - - - - - - b 2.4 2.6 b-a b-a 2.0 2.1 b b b-a 2.2 2.1 b b 2.9 - - b-a b-a 3.6 2.3 p 2.7 2.6 2.5 a a 3.4 - a-p - a a-p a 3.1 2.6 2.6 3.0 a b-a b-a a a a a a 2.2 2.1 2.0 2.6 2.1 2.7 3.25 2.25 2.2 2.8 2.5 b b b b-a b b-a a-p b b a b-a KARYORELICTEA Loxodes striatus * HETEROTRICHEA Spirostomum minus Spirostomum teres * Stentor coeruleus 3.0 3.5 3.0 SPIROTRICHEA Aspidisca cicada * Euplotes aediculatus * Euplotes eurystomus * Diaxonella pseudorubra Halteria bifurcata * Oxitrichia hymenostoma * Pseudourostyla nova * Stichotrichia sp. Strobilidium longicinetium n sp. * Urosoma caudata Urostyla sp. ARMOPHOREA Saprodinium sp. LITOSTOMATEA Amphileptus procerus Loxophylum meleagris PHYLLOPHARINGEA Chilodonella uncinata * 3.1 PROSTOMATEA Coleps hirtus * Coleps cf. spetai OLIGOHYMENOPHOREA Frontonia leucas * Lembadion lucens * Paramecium aurelia complex Paramecium caudatum * Urocentrum turbo Carchesium polypinum * Epistylis plicatilis * Vorticella campanulla * Vorticella convallaria * Vorticella cf. pictea Suctoria * 2.5 3.3 2.7 2.9 3.2 2.25 2.9 2.0 - a-p a a a-p b a b - 2.9 b-a a - - 2.3 2.9 b-a a 2.80 3.10 2.8 2.3 b-a b-a a a a b-a - - - - - - b - - - - - - - Nota: (*) Ciliados que ocorreram também no plâncton. (i) Os índices em vermelho indicam equivalência na indicação do grau sapróbico; (ii) s = valência sapróbica. 225 Em termos dos ciliados bentônicos a análise comparativa aponta uma equivalência total de 39,13% entre os níveis de saprobidade, e foi maior (33,3%) com os resultados de Sládecek (1973). Os estudos de Friedrich (1990) e Maravcova (1977) guardaram maior semelhança entre os dados (71,4%). Quadro 2 – Matriz de equivalência (%) do nível de saprobidade dos ciliados bentônicos entre os estudos. Maravcova (1977) Wegl (1983) Friedrich (1990) Foissner (1996) Do Autor Referências 53,8 28,6 60,0 58,8 33,3 Sládecek 50,0 71,4 38,5 28,6 Maravcova 30,0 57,1 26,7 Wegl 70,0 9,1 Friedrich 3.4 Qualidade das águas com base no índice de saprobidade A estimativa da qualidade das águas utilizando o índice sapróbico indica que os rios pesquisados apresentam condições variando de o-betamesossapróbica a polissapróbica (Figura 6), condição esta verificada apenas em termos das variáveis físicas e químicas, durante o período seco, nas estações AV105 e AV153 do alto curso (Tabela 5). Grau sapróbico - dados físico-químicos Grau sapróbico - dados biológicos 12 50 n estações % estações 10 40 30 20 10 8 6 4 2 0 0 o-b b b-a a Grau sapróbico Chuva (Out-09) Seca (Julho-10) a-p o-b b b-a Grau sapróbico Chuva (Out-09) a a-p Seca (Julho-10) Figura 6 – Distribuição do grau sapróbico entre as estações de coleta (% e nº) da bacia do rio das Velhas, MG, com base nos dados físicos e químicos e na ciliatofauna planctônica, segundo o período seco e chuvoso. Na totalidade das estações, a condição -mesossapróbica foi a mais observada no período chuvoso (48% das estações), seguida da -mesossapróbica (22%). No período seco, embora a condição o-betamesossapróbica tenha ocorrido 226 em 35% das estações, prevaleceu no período níveis maiores de carga orgânica representadas pelas condições -mesossapróbica (30%) e -polissapróbica (10%), conforme figura 6. Tabela 5 - Índice, grau e classe de saprobidade das estações de coleta com base na ciliatofauna aquática planctônica, nos diferentes períodos sazonais, Sub-Bacia do rio das Velhas, MG. AV013 TR035 AV037 AV210 AV139 AV063 AV067 AV083 AV105 TR135 AV153 MV137 MV138 MV156 MV141 MV142 MV150 MV152 BV146 TR147 BV151 BV148 BV149 Baixo Velhas Médio Velhas Alto Velhas Região Estações de coleta Média aritmética Velhas Média aritmética TR Média Aritmática Alto Velhas Média Aritmática Médio Velhas Média Aritmática Baixo Velhas Desvio Padrão Coef. Variação (%) Mediana Valor Máximo Valor Mínimo Legenda Grau de saprobidade com base nos parâmetros físco-químicos Índice S FQ Out-09 Jul-10 1.78 1.91 2.24 2.13 1.89 1.81 1.58 1.77 1.73 1.55 1.91 1.90 1.79 1.72 2.61 2.74 2.92 3.27 1.89 2.18 2.86 3.28 2.81 3.03 2.77 2.98 2.74 2.57 2.30 2.32 2.25 2.06 2.03 1.68 2.05 1.70 1.95 1.81 1.93 2.30 1.93 1.67 1.88 1.64 1.90 1.66 2.18 2.02 2.11 2.42 1.92 0.4 0.2 1.99 2.92 1.58 2.15 2.20 2.21 2.33 1.82 0.5 0.3 2.06 3.28 1.55 Grau G FQ Out-09 Jul-10 b o-b b b b b o-b o-b o-b o-b b b o-b b-a a o-b a a-p b b a a a a b-a b-a a-p a a b-a b-a Grau de saprobidade com base na ciliatofauna aquática Índice S Bio Out-09 1.86 2.05 2.56 1.86 Out-09 Jul-10 ID b b ID b-a b-a b b b b b b b-a b-a b-a ID b ID b b b b b b b o-b o-b 2.55 2.10 2.25 2.43 2.08 2.04 2.17 2.39 2.22 1.86 2.30 2.07 2.61 2.69 2.00 2.89 2.85 2.85 2.52 2.82 1.99 2.36 2.30 2.67 2.27 2.01 1.93 2.52 b b b b b b b-a b-a b b b a o-b b a-p o-b 2.30 2.18 2.22 2.51 2.19 0.3 0.1 2.18 2.77 1.86 2.41 2.14 2.34 2.53 2.28 0.3 0.1 2.36 2.89 1.86 b b-a o-b o-b o-b ID 2.47 2.77 ID ID 2.06 2.10 2.77 ID 2.63 ID Grau GBio Jul-10 ID ID b-a a b-a ID b-a b-a ID b b b b ID a a a b-a a ID b b-a b-a b-a b-a a ID b-a b b b b b b-a b b b-a b b a b b b-a b-a b-a b-a a b Índice, grau e classe de saprobidade (SLADECEK, 1973) o: oligosapróbica (1,0 - 1,5) o-b : oligo-betamesosapróbica (>1,5 - 1,8) b: betamesosapróbica (>1,8 - 2,3) b-a: beta-alfamesosapróbica (>2,3 - 2,7) a : alfamesosapróbica (>2,7 - 3,2) a-p: alfa-polisapróbica (>3,2 - 3,5) p: polisapróbica (>3,5 - 4,0) Classe I Classe I-II Classe II Classe II-III Classe III Classe III-IV Classe IV carga orgânica ausente carga orgânica escassa carga orgânica moderada carga orgânica crítica carga orgânica forte carga orgânica muito forte carga orgânica excessiva ID – Insuficiência de dados; AV = Alto Velhas, MV = Médio velhas, BV = Baixo Velhas e TR = tributário 227 No rio das Velhas, os níveis de carga orgânica variaram de obetamesossapróbico a -mesossapróbico no período chuvoso e oscilou entre o- betamesossapróbico a -polissapróbico, no período seco. Em ambos os períodos, os níveis de carga orgânica caracterizaram em média a condição -mesossapróbico. Nos tributários, a média de carga orgânica indicou -mesossapróbia, a exceção da estação TR147 (rio Bicudo) cujo nível foi mais elevado ( -alfamesossapróbico). Os índices de saprobidade com base na ciliatofauna indicaram maior homogeneidade da carga orgânica ao longo do gradiente da bacia (Figura 5 e Tabela 7). Na média, o nível de poluição orgânica indicou o grau - alfamesossapróbico (5 estações no período chuvoso e 9 no seco) com oscilações entre -mesosapróbico (10 estações no período chuvoso e 8 no seco) e - mesossapróbico (2 estações no período chuvoso e 4 no seco). Para os tributários, a média da carga orgânica apontou para uma condição -mesosapróbica, excluindo a estação TR147 com nível mais crítico indicativo de -alfamesosapróbia. Para algumas estações o grau de saprobidade não foi calculado devido ausência de ciliados nas alíquotas submetidas ao ensaio de quantificação (Tabela 7). A comparação dos níveis de saprobidade entre as estações a partir dos dados físico-químicos e a ciliatofauna reportou uma equivalência de 34,8% no período chuvoso e de 21,7% no período seco. Os agrupamentos entre as estações refletem essas semelhanças e mostram uma correspondência em termos da distribuição nas porções do alto, médio e baixo curso da bacia (figura 6): (i) alto curso: semelhança entre as estações AV013 a AV067 sendo mais estreita entre AV083 e AV105, independentemente da sazonalidade, excluindo a estação AV153, cuja localização na porção final deste trecho (figura 7) implicou em maior proximidade com as estações do médio curso MV137, MV138 e MV156; (ii) médio curso: maior proximidade de MV156 ( mesosapróbica) com MV137 e MV138, durante o período chuvoso, em contraposição ao período seco quando se assemelhou mais às estações MV141 e MV142 ( -alfamesosapróbica e -mesosapróbica, respectivamente), e maior proximidade entre as estações do baixo curso com MV150 e MV152 ( mesosapróbicos) localizadas na porção final do trecho médio da bacia (figura 7); (iii) 228 baixo curso: todas as estações apresentaram carga orgânica semelhante formando um único agrupamento. Distância de ligação Período chuvoso Baixo Velhas (BV) Médio Velhas (MV) Alto Velhas (AV) Estação de coleta Distância de ligação Período seco Baixo Velhas (BV) Médio Velhas (MV) Alto Velhas (AV) Estação de coleta Figura 7– Agrupamento entre as estações de coleta do rio das Velhas e tributários, MG, segundo o índice de saprobidade com base nos parâmetros físico e químicos. Período chuvoso (outubro de 2009) e período seco (julho de 2010). 229 o o-b b-a a a-p 726 693 TR147 S= 2,3 BV149 S=1,66 BV148 S=1,64 726 693 660 627 594 561 BV148 S=1,88 BV149 S=1,9 BV151 S=1,93 BV146 S=1,95 MV152 S=2,05 MV150 S=2,03 MV142 S=2,25 MV141 S=2,3 MV156 S=2,74 MV137 S=2,81 MV138 S=2,77 AV013 S=1,78 AV037 S=1,89 AV210 S=1,58 AV139 S=1,73 AV063 S=1,91 AV067 S=1,79 AV083 S=2,61 AV105 S=2,92 AV153 S=2,86 TR147 S= 1,93 660 BV151 S=1,67 a-p 627 594 BV146 S=1,81 528 495 462 429 396 363 330 297 264 231 198 165 132 99 66 33 0 TR135 S= 1,89 561 MV152 S=1,7 a 528 495 MV150 S=1,68 MV142 S=2,06 b-a 462 429 396 363 MV141 S=2,32 o-b 330 297 264 231 MV156 S=2,57 MV137 S=3,03 MV138 S=2,98 AV153 S=3,28 o 198 165 132 99 910 880 850 820 790 760 730 700 670 640 610 580 550 520 490 460 430 400 66 TR035 S= 2,13 AV013 S=1,91 AV037 S=1,81 AV210 S=1,77 AV139 S=1,55 AV063 S=1,9 AV067 S=1,72 AV083 S=2,74 AV105 S=3,27 Altitude (m) 910 880 850 820 790 760 730 700 670 640 610 580 550 520 490 460 430 400 33 0 Altitude (m) TR035 S= 2,24 Saprobidade: Físico-Químico out-2009 = estação de amostagem = afluentes Distância (Km) p Saprobidade: Físico-Químico julho-2010 TR135 S= 2,18 = estação de amostagem = afluentes Distância (Km) p Figura 8 - Variação da saprobidade ao longo do gradiente longitudinal do rio das Velhas, MG, segundo o período chuvoso (outubro de 2009) e período seco ( julho de 2010). 230 3.5 Comparação entre os índices de diversidade e saprobidade As condições de qualidade das águas a partir da análise comparativa entre a classificação da diversidade específica, estimada pelo índice de Shannon (STAUB et al. e WHILE e MORIS citada por GUHL, 1987) e os índices de saprobidade, foram diferenciadas, (Tabela 6) para o que contribuiu, sobretudo, a baixa riqueza da comunidade em localidades de baixa carga orgânica (AV013, TR035) próximas às cabeceiras, e do baixo curso (BV151). No período chuvoso, estações que, segundo o índice de saprobidade, apresentaram condições de -mesossaprobia (poluição moderada), foram caracterizadas por águas com poluição excessiva (AV210, TR135, AV153, MV152, BV146, BV151 e BV149) em termos do índice H‟. No período seco, entretanto, as condições de qualidade indicadas pelo índice H‟ foram semelhantes às indicadas pelo índice sapróbico entre as estações do Baixo Velhas, caracterizadas por poluição moderada (IS) e fraca (H‟), com exceção de BV149, enquadrada na classe de maior carga orgânica (excessiva). Esta classe equivale a condições -polissaprobia. Tabela 6 - Comparação entre os índice de diversidade (H’) e Grau Sapróbico. Estações Riqueza Densidade Equitabilidade J out/09 jul/10 out/09 jul/10 out/09 jul/10 Shannon H' nits/ind. out/09 jul/10 Grau de poluição Grau sapróbico out/09 jul/10 out/09 jul/10 ID AV013 3 - 210.3 - 0.50 0.50 0.55 0.00 poluição exessiva ID b TR035 3 - 85.4 - 0.72 0.69 0.79 0.00 poluição exessiva ID b ID AV037 2 2 42.7 222.2 0.16 0.95 0.11 0.66 poluição exessiva poluição exessiva AV210 2 6 126.0 333.4 0.07 0.98 0.05 1.75 poluição exessiva poluição moderada b-a b b-a b AV139 - 1 - 27.8 ID 0.00 0.00 0.00 ID ID ID b AV063 11 5 10135 733.3 0.48 0.78 1.15 1.26 poluição forte poluição forte b-a AV067 2 4 42.7 155.6 0.16 0.92 0.11 1.28 poluição exessiva poluição forte a b-a b AV083 - 6 - 844.4 ID 0.76 0.00 1.36 ID poluição forte ID b-a AV105 - 10 - 3666.7 ID 0.67 0.00 1.54 ID poluição moderada ID TR135 3 1 113.1 55.6 0.58 0.00 0.64 0.00 poluição exessiva ID b b-a b poluição fraca b a a a AV153 2 19 34.3 11955.5 0.19 0.71 0.13 2.09 poluição exessiva MV137 2 17 - 2036.4 0.19 0.70 0.13 1.98 poluição exessiva poluição moderada MV138 - 19 - 16200.0 ID 0.74 0.00 2.18 ID poluição fraca ID a MV156 6 3 505.0 116.7 0.81 0.72 1.44 0.80 poluição forte poluição exessiva b-a b-a MV141 - 2 - 50.0 ID 1.00 0.00 0.69 ID poluição exessiva ID MV142 - 7 - 150.0 ID 0.94 0.00 1.83 ID poluição moderada ID a b MV150 2 4 34.3 233.3 0.19 0.65 0.13 0.90 poluição exessiva poluição exessiva MV152 2 3 34.3 183.3 0.19 0.83 0.13 0.92 poluição exessiva poluição exessiva BV146 3 1 76.1 33.3 0.73 0.00 0.80 0.00 poluição exessiva TR147 4 20 53.0 1433.4 0.90 0.74 1.25 2.21 poluição forte BV151 4 6 269.7 150.0 0.57 0.94 0.79 1.68 BV148 4 8 236.3 183.3 0.76 0.97 1.06 2.02 poluição forte poluição fraca b b BV149 5 2 204.0 66.7 0.82 1.00 1.32 0.69 poluição forte poluição exessiva b b-a b-a b b-a ID b poluição fraca b-a b b-a b poluição exessiva poluição moderada b-a b 231 4 DISCUSSÃO O aporte de carga orgânica de efluentes urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte é uma das principais fontes de poluição das águas da bacia do rio das Velhas. Para avaliar os graus de interferência desse aporte sobre a qualidade das águas o uso do conceito de indicador biológico é uma ferramenta fundamental. Uma „espécie indicadora é aquela que apresenta requerimentos específicos para um conjunto de variáveis físicas e químicas, de tal forma que mudanças na sua presença ou ausência, número, morfologia, fisiologia ou comportamento indicarão que as atuais condições físicas e químicas encontram-se fora do limite de tolerância daquela espécie‟ (JOHSON et al., 1993). O uso de apenas uma espécie como indicadora da qualidade da água não é confiável, pelo fato de as espécies, em geral, apresentarem um alto grau de variação espacial e temporal devido a fatores bióticos e abióticos, sendo recomendado o emprego de comunidades biológicas, a biocenose (MASON,1991). A qualidade das águas utilizando o Sistema Sapróbico O emprego da ciliatofauna planctônica na bioindicação da qualidade das águas do rio das Velhas e tributários evidenciou que as interferências do aporte de carga orgânica na bacia refletem variações nos níveis de saprobidade cuja amplitude se estende da condição de -mesossapróbicos a -mesossapróbicos, divergindo para a maioria das estações de coleta dos resultados físicos e químicos. Entre os fatores atuantes, essa discordância pode ser explicada pela resposta das espécies às alterações físicas e químicas da água em um determinado espaço temporal, cuja dinâmica de interferência não se reflete em relações com os indicadores biológicos, o que é corroborado por Lobo et al. (1980) e Leclerq (1988). Contudo, as análises físicas e químicas complementam a bioindicação e constituem a base para uma correta avaliação da qualidade das águas correntes (ROUND, 1991). Neste contexto, citam-se as estações AV105 e AV153 localizadas no alto curso da bacia, cujas condições -polissapróbicas, no período seco respaldadas nos parâmetros físicos e químicos, foram distintas das respostas da ciliatofauna que as 232 classificou, respectivamente, como ambientes -alfamesossapróbico e - mesossapróbico. De forma análoga, todas as estações em condições obetamesossapróbicas com base nos dados físicos e químicos, foram classificadas em níveis superiores de saprobidade, considerando a ciliatofauna planctônica. De uma maneira geral, os índices de poluição orgânica reportados foram elevados no rio das Velhas e em seu tributário, o rio Bicudo (TR147), localizado no município de Corinto, na região do médio curso da bacia o que, em parte, decorre do lançamento contínuo de esgotos domésticos provenientes dos municípios de Belo Horizonte, Sabará, Lagoa Santa e Santa Luzia localizados no alto curso. A região do alto Velhas embora tenha apresentado condições de - polissaprobia, a média sapróbica foi -mesossapróbica, explicada pela ocorrência de um maior número de ambientes o-betamesossapróbicos, forçando a média para baixo. Também pela ocorrência de uma ampla variedade de condições de saprobia comparativamente ao médio e baixo curso. Este perfil reflete a diversidade de espécies encontrada no alto curso, caracterizada por uma comunidade representativa de todas as faixas de saprobia - de o-betamesossapróbica a polissapróbica. Situação análoga ocorreu no médio Velhas que apesar de ter reportado uma média superior de saprobia, mostrou menor variação das condições sapróbicas, reflexo de uma comunidade representativa de um menor número de faixas. No baixo curso, embora a faixa sapróbica média tenha equivalido à do alto curso ( -mesossapróbica) a média do índice foi comparativamente inferior (1,81) e próximo à condição de oligossaprobidade (<1,80), o que condiz com a menor amplitude de faixas nas quais as espécies ocorreram nesta região. A melhor condição de saprobia no médio e baixo curso do rio das Velhas comparativamente ao alto curso reflete as diferenças em termos do uso e ocupação do solo. A partir do médio curso a concentração populacional é menor e predominam atividades agrícolas e pecuárias. Conforme aponta LOBO et al. (1995) no período das chuvas as águas correm livremente sobre o solo, possibilitando o transporte de nutrientes e dejetos de animais até o corpo de água, fatores estes que podem ter contribuído para as alterações observadas nas condições de saprobia. Os índices sapróbicos indicaram b-alfamesossapróbica no tributário TR147, no baixo Velhas, fato que pode ser explicado pela proximidade com o município de Corinto, um 233 importante centro urbano, com alta densidade populacional que aporta para o rio Bicudo efluentes domésticos. A melhora nas condições do baixo curso do rio das Velhas em relação ao médio curso resulta da confluência de tributários com águas de melhor qualidade como o rio Paraúna, Cipó, Pardo Grande e Curimataí (a partir da estação MV150) no médio curso, o que é corroborado pelo predomínio de valores do IQA, indicativos de qualidade média das águas (Capítulo V). O Índice sapróbico Spirostomum teres obteve uma valência sapróbica maior quando amostrada no bentos, aumentando de 2 para 2,33 e com grau de importância 4, assim como Oxytrichia hymenostoma que aumentou o índice de 2,10 para 2,3 e o peso 2 para 4. Comportamento similar foi também registrado para Aspidisca cicada, Carchesium polypinum, Epistylis plicatilis, e Vorticella campanulla. Porém não o foi para Chilodonella uncinata, Euplotes eurystomus e Euplotes aediculatus o pode ser explicado pela baixa freqüência de ocorrência nas amostras provavelmente devido ao reduzido número de coletas que foram realizadas. Segundo Foissner & Berger (1996) estas espécies tem preferência por habitats bentônicos e perifíticos. Portanto, o aumento dos índices pode ter ocorrido uma vez que estas espécies, de hábito bentônico, foram amostradas no plâncton no período chuvoso, quando ocorre o turbilhonamento do fundo do rio pelo grande fluxo de água, favorecendo sua ocorrência na superfície. Este fenômeno é análogo ao de over loop observado para lagos estratificados (GERVAIS et al., 2003; GOMES & GODINHO, 2003) quando nutrientes retidos no hipolímno, bem como a fauna bentônica, ascendem devido a diferença de densidade da água ocasionada pela mudança na temperatura. Neste caso, os índices de saprobidade em épocas de estratificação, podem resultar em avaliações errôneas da qualidade das águas pela presença de espécies que não correspondem à realidade do meio hídrico. Assim, o uso dessas espécies como bioindicador, quando obtidas a partir de amostras planctônicas, deve ser visto com reservas para o cálculo do índice sapróbico. Há, portanto, aspectos que podem influir negativamente ou mascarar o índice, o que reforça a importância em se conhecer os hábitos da biocenose estudada e 234 aspectos de sua variação quantitativa para não incorrer em conclusões errôneas ou duvidosas a cerca da avaliação da qualidade das águas. Organismos que apresentam ampla tolerância para diferentes condições ambientais, e cujos padrões de distribuição e abundância são ligeiramente afetados por variações substanciais na qualidade ambiental, são indicadores ineficientes (JOHSON et al., 1993). Coleps hirtus, Chilodonella uncinata, Vorticella aquadulcis, Epistylis plicatilis, Glaucoma scintilans e Carchesium polipynum traduzem essa situação, posto que apresentaram maior amplitude de distribuição de saprobidade e baixo peso sapróbico. A comparação entre as valências sapróbicas da cilatofauna do presente estudo com a de outros autores revelam divergência entre os dados. Inexiste um valor padrão de valência. Todavia, há padrões indicativos da faixa sapróbica. Isto reforça a necessidade na ampliação de estudos e de séries histórica de dados para robustecer as valências das espécies no âmbito do sistema de sapróbios, desaconselhando-se a adoção de dados fornecidos por outros estudos, sobretudo os de ambientes temperados. Blutterer (1995) registrou Diaxonella trimarginata em distintos rios da Áustria e para cada curso de água, a espécie obteve uma valência sapróbica diferente, variando de 1,8 a 2,8. Todavia, com base no valor médio da valência observou-se uma predileção por ambientes -mesossapróbicos a - alfamesossapróbico. A biocenose de diferentes bacias hidrográficas configura valência e peso sapróbico próprios que refletem em índices de saprobidade específicos, e reforça a necessidade na ampliação de séries históricas representativas de dados. Dias et al. (2008) caracteriza-se como um dos estudos realizados no Brasil empregando o sistema de sapróbios em ambiente lótico, porém adotou as valências sapróbica das espécies geradas por Foissner & Berger (1996). Estudos realizados por CETEC (1998a, 1998b, 2004) e Lopez (2005) promovem avanços ao adequarem as valências e pesos sapróbicos de espécies de microinvertebrados (ciliados, testáceas, rotíferos e microcrustáceos) no cálculo do índice de saprobidade à avaliação da qualidade das águas de ambientes lóticos e lênticos. 235 Índice de Diversidade de Shannon e Sapróbico Segundo Metcalf-Smith (1994), citado por Lobo (1995), um dos principais problemas dos índices de diversidade é a redução das espécies a números desconsiderando as adaptações das espécies ao ambiente. Em relação ao uso das diatomáceas para indicar a poluição das águas, o índice de diversidade Shannon tem sido comumente utilizado (DENISEGER et al., 1986; NATHER-KAHM, 1991; JOHN, 1993, citados por LOBO, 1995). Entretanto, as medidas de diversidade não são adequadas como indicadores ambientais, uma vez que diversos fatores da poluição podem também afetar a diversidade de espécies das comunidades de diatomáceas (MAGURRAN, 1988; KATOH, 1991; LOBO et al., 1995 citados por LOBO, 1995), embora alguns estudos tenha demonstrado que águas fortemente poluídas caracterizam-se por biocenoses de diatomáceas com baixos valores de diversidade e riqueza (ARCHIBALD, 1972; LOBO & KOBAYASI, 1990 citados por LOBO 1995). Segundo Hendey (1977), na aplicação do índice de diversidade para avaliar a qualidade das águas, era de de esperar que os valores decrescessem a mediada que das condições oligossapróbicas a polissapróbicas. Porém, Lobo & Kobayasi (1990) concluiu que os índices de Shannon calculados para ambientes limpos foram menores em relação aos ambientes moderadamente e criticamente poluídos. Por essa razão, KATOH (1991) citado por Lobo (1995) concluiu que os índices bióticos, como o índice sapróbico de Zelinka & Marvan, são mais eficientes na avaliação da qualidade das águas. Archibald (1972), citado por Lobo (1995), concluiu que os índices de diversidade não se correlacionam de forma consistente com a qualidade das águas, uma vez que a diversidade em pontos moderadamente poluídos foi maior do que a diversidade em locais caracterizados por águas limpas. Apesar dessas evidências, os índices de diversidade continuam sendo aplicados em estudos de monitoramento ambiental (BEINKHURST, 1993 citado por LOBO, 1995). 236 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos no presente estudo apontaram para o rio das Velhas e seus tributários, em termos das condições físicas e químicas, um gradiente decrescente de poluição da cabeceira até a porção do médio curso, o que foi corroborado pela queda gradativa nos índices de saprobidade, que variaram de - polisapróbico (excessivamente poluído) no período seco, a o-betamesossapróbico (carga orgânica escassa) nos períodos seco e chuvoso. Com base na ciliatofauna a qualidade das águas variou de níveis - mesossapróbicos a -mesossapróbicos, independente da sazonalidade. Apesar de terem sido registradas respostas distintas entre as variáveis físicas, químicas e biológicas na determinação da qualidade das águas, os resultados indicam, de maneira geral, elevados índices de poluição orgânica. A determinação das valências sapróbicas dos protistas ciliados de ambientes lóticos tropicais permite avanços no conhecimento sobre os limites de tolerância de espécies da ciliatofauna aos diferentes níveis de cargas orgânicas. Portanto, o presente estudo contribui para alavancar o desenvolvimento de uma base de dados para um sistema de avaliação da qualidade da água em nosso país, que resultará em respostas mais precisas no biomonitoramento, uma vez que o método pode detectar variações sutis nas mudanças ambientais. Estes resultados apontam também, que há uma importante necessidade de estudos complementares para a determinação das tolerâncias à poluição das espécies de ciliados não incluídas na bioindicação. A adoção de valências e pesos sapróbicos de outros autores não é recomendada na aplicação do biomonitoramento das águas no país, uma vez que não foi observada uma padronização dos resultados, com o presente estudo e mesmo entre os estudos de outros autores. 237 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CETEC (Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais). 1998. Biomonitoramento da qualidade da água da Bacia do Alto Rio das Velhas. CETEC/FEAM, Belo Horizonte. 110p. Relatório técnico final. CETEC (Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais). 1998. Monitoramento da Qualidade das Águas Superficiais e do Sedimento na Área de Influência da REGAP/PETROBRÁS. CETEC/PETROBRÁS-Petróleo Brasileiro S.A, Belo Horizonte/MG. Relatório técnico final. CETEC, 1998a. Biomonitoramento da qualidade da água da bacia do alto rio das Velhas. Belo Horizonte, MG. 110p. (Relatório). CETEC, 1998b. Monitoramento da qualidade das águas superficiais e do sedimento na área de influência da REGAP-MG. Belo Horizonte, MG. 2v. 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Os dois índices de diversidade trabalhados apresentaram seus maiores valores nas estações criticamente poluídas ( -alfamesossapróbicas e - mesossapróbicas), caracterizadas por IQA Ruim e IET Eutrófico e Hipertrófico, confirmando a hipótese do distúrbio intermediário para os protistas ciliados. Dentre os ciliados planctônicos, Aspidisca cicada, Carchasium polipinum, Philasterides sp., Glaucoma scintilans, Epistylis plicatilis, Vorticella aquadulcis e Scuticociliatida apresentaram expressiva densidade nas estações coletadas comparativamente ao 45 táxons registrados. Estes táxons apresentaram densidades que refletem ao incremento dos níveis de saprobidade. Glaucoma scintilans apresentou a maior frequência de ocorrência comparativamente aos 45 táxons encontrados. Oligohymenophorea foi a classe mais especiosa e de maior densidade seguida por Spirotrichea dentre as oito registradas no estudo. Strobilidium longicinetium n. sp. apresentou ampla distribuição entre as estações de coleta, porém foi específica para uma pequena faixa de condições sapróbicas, sendo uma boa indicadora de ambientes mesossapróbicos. 243 - Considerando estudo dos ciliados epibentônicos, 32 táxons foram encontrados nas amostras de sedimento, dos quais 28 foram identificados em nível de espécie e apenas 4 em nível de gênero. As maiores frequências de ocorrência foram observadas para Coleps hirtus e Lembadion lucens, seguida por Euplotes eurystomus, Oxytrichia hemnostoma e Pseudourostyla nova. O novo registro, Diaxonella trimarginata apresentou distribuição restrita a duas localidades da bacia e foi uma ótima indicadora de condições de - mesossaprobia. Técnicas de identificação e quantificação Os resultados obtidos corroboram o grande valor da técnica de impregnação quantitativa pelo protargol – QPS na identificação dos ciliados planctônicos e sua enumeração do grupo. A técnica qualitativa de impregnação pelo Protargol (Dieckmann) mostrou-se de grande importância para identificação dos táxons epibentônicos visto os 87,5% dos táxons identificados em nível de espécie. O Sistema Sapróbio O presente estudo, desenvolvido com a comunidade de ciliados planctônicos e epibentônicos, busca portanto, ampliar o leque de técnicas para avaliação ambiental, como já vem sendo feito em importantes cidades da Europa, e contribuir no sentido de fornecer mais instrumentos de controle e minimização dos problemas que a bacia do rio das Velhas vem enfrentando. O trecho do Alto rio das Velhas é marcado pela maior densidade demográfica e diversidade de atividades econômicas de Minas Gerais. Neste trecho, estão presentes as maiores fontes de poluição dos corpos de água da bacia, tendo nos efluentes domésticos, industriais e de origem das atividades de mineração os principais precursores da poluição do rio das Velhas. Grande parte da vegetação nativa da bacia já cedeu lugar às atividades antrópicas, restado pequenas porções de matas de galeria o que acarreta intensos processos erosivos nos cursos de água da bacia, que refletiram na comunidade de ciliados bentônicos. 244 Os protistas ciliados podem ser poderosas ferramentas de avaliação da qualidade das águas com vista em suas gerais e específicas variações diante dos diferentes níveis de poluição. A utilização destes organismos em modelos de distribuição de espécies, índices de diversidade e até mesmo riqueza apresentou resultados que apesar de não fornecerem indicações precisas da integridade ecológica e das condições de trofia de algumas estações de coleta, podem ser importantes indicadores das condições gerais de sistemas lóticos, tendo sua especificidade aumentada quando aliadas as variáveis físicas, químicas e biológicas. Assim, o amplo espectro de indicações específicas propostos na literatura e observado na bacia do rio das Velhas dado pelas valências das espécies, sugere a utilização desta comunidade nos programas de monitoramento que vêm sendo implementados por órgão estaduais (IGAM), assim como o desenvolvimento de novas pesquisas com este grupo, com a finalidade de ampliar as informações a cerca das valências de saprobidade de novos táxons dentro da bacia para efeito de comparação. A utilização dos protistas ciliados na aplicação do índice biótico de saprobidade para a avaliação da qualidade das águas mostra-se, portanto como uma importante técnica de trabalho, tendo em vista sua correlação com as variações nos níveis de poluição orgânica. Este ato abre portas para estudos acerca da viabilidade deste instrumento de avaliação uma vez que uma das maiores limitações para aplicação do índice sapróbico encerram na dificuldade de identificação e na escassez de pessoal treinado no grupo. 245 Apêndices 246 Apêndice A - Descrição das estações de amostragem Estação AV013 Curso de água: rio das Velhas Coordenadas 7764987. (UTM): 23k, 0630904, Localização: próximo as nascentes do rio das Velhas a montante da foz do rio Itabirito. Características gerais: águas claras e sem odores; ausência de lançamento de esgotos; mata ciliar conservada em ambas as margens. Estação TR035 Curso de água: rio Itabirito Coordenadas 7763243. (UTM): 23K, 0624965, Localização: situada a jusante da cidade de itabirito, ao lado da Companhia Siderúrgica VDL. Características gerais: Ocorre lançamento de esgotos domésticos oriundos do município. A água é turva e apresenta odores químicos. Estação AV037 Curso de água: Rio das Velhas, Coordenadas 7772779. (UTM): 23K, 0626179, Localização: está localizada a montante do município de Rio Acima, a jusante da foz do rio Itabirito. Características gerais: água clara e sem odor. No local não atividade antrópica. A região é preservada e apresenta a mata ciliar íntegra. 247 Estação AV210 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7778232. (UTM): Localização: localiza-se município de Rio Acima. 23K, a 0626552, jusante do Características gerais: Há lançamento de esgotos domésticos. A água é turva e apresenta forte odor químico. A mata ciliar é formada apenas por vegetação rasteira. Estação AV139 Corpo de água: rio das Velhas Coordenadas 7785623. (UTM): 23K, 0622398, Localização: situa-se a montante ETA/COPASA em Bela Fama. da Características gerais: A água é turva, mas sem odor. No local ocorre dragagem de areia para construção civil. A mata ciliar é presente, mas pouco densa em ambas as margens. Estação AV063 Corpo de água: Rio das Velhas (Figura 7) Coordenadas 7789759. (UTM): 23K, 0624408, Localização: está localizada a jusante do Ribeirão Água Suja, município de Raposos e que traz o efluente da Usina de H2SO4 da Morro Velho. Características gerais: água turva e com odor. A mata ciliar está presente apenas na margem direita do rio. 248 Estação AV067 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7798643. (UTM): 23K, 0623737, Localização: encontra-se a montante do Ribeirão Sabará. Características gerais: A água é clara e sem odor; mata ciliar da margem direita é formada apenas por gramíneas e arbustos, enquanto a esquerda é do tipo arbóreoarbustiva. O leito do rio encontra-se bastante assoreado. Estação AV083 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7801839. (UTM): 23K, Localização: localiza-se a Ribeirão Arrudas, em Sabará. 0619433, jusante do Características gerais: há um grande aporte de esgotos domésticos oriundos do Ribeirão. A água é escura e com forte odor químico. Mata ciliar constituída por gramíneas e arbustos apenas à margem direita. Estação AV105 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7813288. (UTM): 23K, 0618763, Localização: encontra-se a jusante do Ribeirão do Onça e do complexo industrial do município de Santa Luzia. 249 Estação TR135 Corpo de água: Rio Taquaraçú Coordenadas 7831179. (UTM): 23K, 0626785, Localização: situada próximo de sua foz no Rio das Velhas, município de Taquaraçú de Minas. Características gerais: A jusante da estação ocorre pastagens, sítios com plantações de cana-de-açúcar nas margens. Estação AV153 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7819737. (UTM): 23K, 0621030, Localização: a jusante do Ribeirão da Mata, município de Santa Luzia. Características gerais: água turva e com odor químico. Lançamento de esgotos domésticos à jusante: e Pedro Leopoldo que contribuem com o aporte de fósforo na região. Mata ciliar formada por arbustos e gramíneas. Estação MV137 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7836908. (UTM): 23K, 0614218, Localização: à jusante de Lagoa Santa. Características gerais: presença de plantação de laranja na margem direita à montante, e fazendas de criação de bovinos, plantação de cana-de-açúcar, na margem esquerda à jusante, próximo à ponte. 250 Estação MV138 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 07839940. (UTM): 23K, 0612482, Localização: à jusante do Parque Estadual do Sumidouro, Lagoa Santa, MG. Características gerais: água turva, sem odores. A mata ciliar é preservada do tipo arbórea-arbustiva em ambas as margens. Estação MV156 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7868430. (UTM): 23K, 0604243, Localização: encontra-se à jusante do Rio Jaboticatubas, município de Baldim. Características gerais: Há no local plantação de cana-de-açúcar e a área é bastante assoreada. Estação MV141 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7897658. Localização: Pirapama. (UTM): município 23K, de 0601251, Santana do Características gerais: A margem esquerda do rio apresenta intensa atividade pastoril e, quanto a margem direita, não há mata ciliar. 251 Estação MV142 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7935328. (UTM): 23K, 0585158, Localização: à jusante do ribeirão Santo Antônio em Inimutaba. Características gerais: presença de fazendas nas proximidades, com pastagens, plantações de feijão, milho, arroz, cana-deaçúcar e capim sorgo. Fazem uso do agrotóxico Malatol. Estação MV150 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7957787. (UTM): 23K, 0584554, Localização: , município de Senhora da Glória. Características gerais: A água é clara e a mata ciliar rem ambas as margens são bem preservadas. Nas proximidades há atividade agropecuária. Estação MV152 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7976032. (UTM): 23K, 0581207, Localização: entre os rios Paúna e Pardo Grande, Santo Hipólito. Características gerais: água clara; ocorrência de pastagens, plantações de milho, feijão e cana-de-açúcar nas proximidades. 252 Estação BV146 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 7985743. (UTM): 23K, 0569004, Localização: localizada a jusante do rio Pardo Grande, Corinto. Características gerais: Existência de dragas de areia para construção civil com funcionamento no período seco (junho a setembro). Estação TR147 Corpo de água: Rio Bicudo Coordenadas 7996053. (UTM): 23K, 0549014, Localização: situa-se próximo de sua foz no Rio das Velhas, município de Corinto. Características gerais: ambiente em bom estado de conservação, porém ocorrem dragas de areia na região. Estação BV151 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 8024694. (UTM): Localização: a jusante do Lassance. 23K, 0549440, , Características gerais: a água é clara e a mata ciliar em ambas as margens são bem preservadas. Não há atividades antrópicas no local. 253 Estação BV148 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas 8054789. (UTM): 23K, 0530376, Localização: está localizada a jusante do município de Várzea da Palma próximo a Cia Nordeste Italmagnésio. Características gerais: Ocorre retirada de areia no local. A água é clara e não apresenta odor. Estação BV149 Corpo de água: Rio das Velhas Coordenadas (UTM): 23K, 0519682, 8097507. Localização: à montante de sua foz no Rio S. Francisco, próximo a uma aldeia de pescadores, Barra do Guiacuí, distrito do Município de Várzea da Palma. Características gerais: plantações de milho na margem esquerda à montante. Na margem direita, dragas de areia à jusante e na margem esquerda, pastagens. Água com manchas de óleo devido à presença de barcos pesqueiros. 254 Apêndice B – Ficha de morfometria e de análise de protistas ciliados. DATA ESPÉCIE LÂMINA COMPRIMENTO LARGURA MACRO NÚCLEO1 MACRO NÚCLEO2 OBS ABERTURA BUCAL INFUNDÍBULO CINETÍDEOS SOMÁTICOS Ficha de análise - Impregnação quantitativa pelo Protargol (QPS) Projeto de Mestrado UFOP/UFMG FAPEMIG Ciliados planctônicos do Rio das Velhas, MG Ficha nº: Coleta: Estação Data da coleta Processamento Fc Vol. total C Total (n) Densidade ind./L Município: Membranas Táxons A Vol. Total: Obs: B Vol. Vol. Apêndice C: Definição das classes de água Água de Classe I: carga orgânica ”ausente” A classe I é atribuída a trechos de águas poluídas que são quase sempre saturadas com oxigênio e apresentam um baixo teor de nutrientes; os níveis de bactérias são baixos e a densidade populacional moderada. As populações presentessão, principalmente, algas, musgos, Turbelaria, e larvas de insetos. Esta categoria inclui condições favoráveis para salmonídeos. Água de Classe I/II: carga orgânica escassa Atribui-seesta classea trechos de água com um baixo aporte de nutrientes inorgânicos e orgânicos e sem depleção de oxigênio significativa. Os corpos d‟água são densamente povoados, geralmente com uma grande variedade de espécies. Água de Classe II: carga orgânica moderada Esta categoria classifica trechos com poluição moderada, com bonsníveis oxigênio dissolvido. Eles exibem uma grande variedade de espécies e são densamente povoada com algas, Gastropodae larvas de insetos. Grandes áreas sendo coberta por hidrófitas. Água de Classe II/III: carga orgânica crítica É atribuída a trechos de água em que há a poluição orgânica com substâncias que favorecem a queda dos níveis de oxigênio, atingindo um nível crítico. A mortandade de peixes pode ocorrer por falta de oxigênio e número de espécies de macroorganismos pode declinar, enquanto que algumas espécies tendem a se desenvolver em abundância. Algas ocorrem com freqüência em grandes colônias que cobrem grandes áreas. 257 Água de Classe III: carga orgânica forte Esta classe é atribuída a corpos d‟água com orgânicos, a poluição com carga orgânica depressora de oxigênio esgotando sua concentração na água. Há depósitos locais de lodo digerido; colônias de bactérias filamentosas de esgoto e protistas ciliados sésseis cobrindo amplas áreas, predominando sobre as algas e plantas de ordem superior. Apenas algunsmacroorganismos, insensíveis à falta de oxigênio, como poríferos e Hirundinea são encontrados, às vezes em abundância. Água de Classe III/IV: carga orgânica muito forte Classifica trechos de água que oferecem severamente condições restritas de vida, resultado da poluição pesada com substâncias orgânicas que induzem a redução das concentrações de oxigênio. A não regeneração das taxas normais de oxigênio pode ocorrer por períodos longos e a água pode se apresentar turva devido a partículas em suspensão do esgoto. Há depósitos pesados de lodo e populações de Chironomidaeou Nematodas são densas, enquanto populações de bactérias filamentosas são pequenas. Água de Classe IV: carga orgânica excessiva Classificação dos trechos de água excessivamente poluídos com matéria orgânica depressora de oxigênio. Processo de putrefação é dominante, com concentrações de oxigênio próximas de 0 por períodos prolongados. O sistema é composto, predominantemente, por populações de bactérias, flagelados e ciliados. A perda total de populações biológicas pode ocorrer em casos de alta toxicidade. 258 Apêndice D- Classificação dos protistas segundo Lynn & Small (2002). Filo CILIOPHORA Doflein, 1901 Subfilo POSTCILIODESMATOPHORA Gerassimova & Seravin, 1976 Classe KARYORELICTEA Corliss, 1974 Ordem Protostomatida Small & Lynn, 1985 Ordem Loxodida Jankowski, 1980 Ordem Protoheterotrichida Nouzarède, 1977 Classe HETEROTRICHEA Stein, 1859 Ordem Heterotrichida Stein, 1859 Subfilo INTRAMACRONUCLEATA Lynn, 1996 Classe SPIROTRICHEA Bütschli, 1889 Subclasse Protocruziidia de Puytorac, Grain & Mignot, 1987 Ordem Protocruziida Jankowski in Small & Lynn, 1985 Subclasse Phacodiniidia Small & Lynn, 1985 Ordem Phacodiniida Small & Lynn, 1985 Subclasse Licnophoridia Corliss, 1957 Ordem Licnophorida Corliss, 1957 Subclasse Hypotrichia Stein, 1859 Ordem Kiitrichida Nozawa, 1941 Ordem Euplotida Small & Lynn, 1985 Subordem Discocephalina Wicklow, 1982 Subordem Euplotina Small & Lynn, 1985 Subclasse Choreotrichia Small & Lynn, 1985 Ordem Tintinnida Kofoid & Campbell, 1929 Ordem Choreotrichida Small & Lynn, 1985 Subordem Leegaardiellina Laval-Peuto, Grain & Deroux, 1994 Subordem Lohmanniellina Laval-Peuto, Grain & Deroux, 1994 Subordem Strobilidiina Small & Lynn, 1985 Subordem Strombidinopsina Small & Lynn, 1985 Subclasse Stichotrichia Small & Lynn, 1985 Ordem Plagiotomida Albaret, 1974 Ordem Stichotrichida Fauré-Fremiet, 1961 Ordem Sporadotrichina Fauré-Fremiet, 1961 Ordem Urostylida Jankowski, 1979 260 Subclasse Oligotrichia Bütschli, 1887 Ordem Halteriida Petz & Foissner, 1992 Ordem Stombidiida Petz & Foissner, 1992 Classe ARMOPHOREA Ordem Armophorida Jankowksi, 1964 Ordem Clevelandellida de Puytorac & Grain, 1976 Ordem Odontostomatida Sawaya, 1940 Classe LITOSTOMATEA Small & Lynn, 1981 Subclasse Haptoria Corliss, 1974 Ordem Cyclotrichida Jankowski, 1980 Ordem Haptorida Corliss, 1974 Ordem Pleurostomatida Schewiakoff, 1896 Subclasse Trichostomatia Bütschli, 1889 Ordem Vestibuliferida de Puytorac et al., 1974 Ordem Entodiniomorphida Reichenow Doflein & Reichenow, 1929 Subordem Archistomatina de Puytorac et al., 1974 Subordem Blepharocorythina Wolska, 1971 Subordem Entodiniomorphina Reichenow Doflein & Reichenow,1929 Classe PHYLLOPHARYNGEA de Puytorac et al., 1974 Subclasse Phyllopharyngia de Puytorac et al., 1974 Ordem Chlamydodontida Deroux, 1976 Ordem Dysteriida Deroux, 1976 Subclasse Chonotrichia Wallengren, 1895 Ordem Exogemmida Jankowski, 1972 Ordem Cryptogemmida Jankowski, 1975 Subclasse Rhynchodia Chatton & Lwoff, 1939 Ordem Rhynchodida Chatton & Lwoff, 1939 Subordem Ancistrocomina Chatton & Lwoff, 1939 Subordem Rhynchodina Chatton & Lwoff, 1939 Ordem Hypocomatida Deroux, 1976 Subclasse Suctoria Claparède & Lachmann, 1858 Ordem Exogenida Collin, 1912 Ordem Endogenida Collin, 1912 Ordem Evaginogenida Jankowski in Corliss, 1979 Classe NASSOPHOREA Small & Lynn, 1981 261 Ordem Synhymeniida de Puytorac et al., 1974 Ordem Nassulida Jankowski, 1967 Ordem Microthoracida Jankowski, 1967 Classe CLOPODEA Small & Lynn, 1981 Ordem Bryometopida Foissner, 1985 Ordem Bryophryida de Puytorac et al., 1979 Ordem Bursariomorphida Fernández-Galiano, 1978 Ordem Colpodida de Puytorac et al., 1974 Ordem Cyrtolophosidida Foissner, 1978 Ordem Sorogenida Foissner, 1985 Classe PROSTOMATEA Schewiakoff, 1896 Ordem Prostomatida Schewiakoff, 1896 Ordem Prorodontida Corliss, 1974 Classe PLAGYOPYLEA Small & Lynn, 1985 Ordem Plagiopylida Small & Lynn, 1985 Classe OLYGOHYMENOPHOREA de Puytorac et al., 1974 Subclasse Peniculia Fauré-Fremiet in Corliss, 1956 Ordem Peniculida Fauré-Fremiet in Corliss, 1956 Subordem Frontoniina Small & Lynn, 1985 Subordem Parameciina Jankowski in Small & Lynn, 1985 Subclasse Scuticociliatia Small, 1967 Ordem Philasterida Small, 1967 Ordem Pleuronematida Fauré-Fremiet in Corliss, 1956 Ordem Thigmotrichida Chatton & Lwoff, 1922 Subclasse Hymenostomatia Delage & Hérouard, 1896 Ordem Hymenostomatida Delage & Hérouard, 1896 Subordem Tetrahymenina Fauré-Fremiet in Corliss, 1956 Subordem Ophryoglenina Canella, 1964 Subclasse Apostomatia Chatton & Lwoff, 1928 Ordem Apostomatida Chatton & Lwoff, 1928 Ordem Astomatophorida Jankowski, 1966 Ordem Pilisuctorida Jankowski, 1966 Subclasse Peritrichia Stein, 1859 Ordem Sessilida Kahl, 1933 Ordem Mobilida Kahl, 1933 Subclasse Astomatia Schewiakoff, 1896 Ordem Astomatida Schewiakoff, 1896 262 Apendice E – Artigo submetido na revista: European Journal of Protistology (Qualis – B2/ fator de impacto 2,4). 264 Strobilidium longicinetium sp. nov. (Ciliophora: Choreotrichida) from a lotic system of Minas Gerais State, Brazil Henrique Sávio Santos Mendonçaa*, Alfredo Hannemann Wielochb and Eneida Maria Esquinazi Sant’Annaa a Programa de Pós-Graduação em Biomas Tropicais, Instituto de Ciências Biológicas e Ciências Exatas – ICEB, Universidade Federal de Ouro Preto, MG, Brasil. Departamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas – ICB, Universidade federal de b Minas Gerais, MG, Brasil. Abstract The ciliates found in samples of sediment from five localities in the Rio das Velhas and in two samples of plankton from Rio Bicudo. The sample analyses using QPS technique and morphometric methods revealed a new species of Strobilidium in the plankton sample from two sites. This genus remained monotypic hitherto, though several inconsistencies are usually related to the type species. The new species is characterized by bearing five somatic kineties, all uninterrupted and arranged in spiral, which three of them are found in the dorsal region from the posterior ending until the external region of the membranelles adoral zone. The remaining two are found in the ventral region, restricted to the two-thirds posterior part of the cell. The macronucleus is “C” shaped and located next to the membranelles adoral zone with, in average, twenty nine membranelles measuring 17,6 µm in length each. These features distinguish Strobilidium longicinetium sp. nov. both from the type species and other populations of Strobilidium previously studied by other authors and provided, therefore, support to the new species. Key-words: Ciliates, Strobilidium, Choreotrichida, Tropical River, QPS, Saprobic Data. Introduction The biodiversity of South American ciliates remains hitherto understudied. (Godinho and Regali-Seleghim, 1999; Foissner et al., 2008) and only a reduced number of works describing the ciliatofauna is currently available. However, the few works dealing 265 with this revealed that the species diversity is currently underestimated (Dragesco and Dragesco-Kernéis, 1986;Hhardoim and Heckman, 1996) and uncommon or new species are often found (Modenutti and Perez, 2004; Petigrosso, 2003; Paiva and Silva-Neto, 2004). Currently, about 21.151 species of continental Protist (Chromista + Protozoa) are known, though researchers calculate a diversity of about 42.729 species waiting for descrtiption and among them, thousand of ciliates (Mora et al. , 2011). In Brazil, the taxonomy and ecology of planktonic ciliates are seldom investigated either in lentic or lotic environments, though the country shows a privileged hydrological condition (Godinho and Regali-Seleghim, 1999; Gomes and Godinho, 2003; Matsumura-Tundisi et al., 1981; Uetabanaro et al., 2007). The only study on lotic environment showing the distribution of planktonic and benthonic ciliates protists, as well as the influence of physical-chemical parameters on them was carried out by Dias et al. (2008), in a small water course of Minas Gerais state. These situation highlights the importance of carrying taxonomical studies on this group in the neotropical region, which could not only enrich the known biodiversity within the group with formal descriptions and type designation, but also provide the environmental information related to each species, which might be informative for water quality control (Dias et al., 2008; Mauch et al., 1985; Sládecek, 1973; Sládecek et al., 1981; Wegl, 1983). Contributing to our knowledge about the freshwater ciliatofauna in Brazil, we describe here a new species of Strobilidium found in samples collected at the Rio das Velhas in Minas Gerais state. This genus was, so far, treated as monotypic (Petz and Foissner, 1992), though a revision of the type species Strobilidium caudatum Fromentel, 1876 revealed a series of synonyms, misidentifications and records of S. caudatum that are likely to be new species. However, the studied aimed to redescribe the type species instead to clarify the species complex and the diversity within the genus remained unclear. In the presen study, in addition to the morphological description of Strobilidium longicinetium sp. nov., we provide ecological remarks about the species that might be useful for future studies on this genus. In the last decade some studies with taxonomic focus were developed in lentic and lotic environments on South America presenting not only a list of species but morphometric data, schematic drawings and photos of the specimen impregnated by silver, in order to raise the information about the diversity of Protist ciliates as we can see in Dias et al. (2008), Küppers et al. (2003), Mondenutti and Pérez (2001) e Paiva and Silva-Neto (2004). Material and Methods Study area The Rio das Velhas is the biggest affluent in extension of the Rio São Francisco watershed, with 801km and among the subwatersheds of the São Francisco, it is the second in volume flow behind only to the sub-watershed of the Rio Paracatu river (IGAM, 2007). The entire sub-watershed of the Rio das Velhas is located on the central part of Minas Gerais state, flowing from the southeast to the northeast part f the state. Its sources are located in a protected área at the Serra de Antônio Pereira, municipality of Ouro Preto, district of São Bartolomeu (MMA, 2003). The river area includes the latitudes of 17o 15’ e 20o 25’ S and longitudes 43o 25’ e 44o 266 50’ W. It has 761 km of extension and 38,4 m width in average, draining an area of 29.173 km² (Polignano et al., 2001). The study comprised 23 points on the subwatershed of Rio das Velhas, of which 6 showed records of the new species. Four of them were located at the Rio das Velhas channel (AV210, AV139, MV156 e BV149) and the remaining two located at affluents such as the Rio Taquaraçu (TR135) and Rio Bicudo (TR147) (see Table 1). These points are located next to each other and downstream of urban regions where the domestic sewage is thrown at the water course without treatment (Fig. 1). Table1. Geographic coordinates and elevation of sample stations with occurrence of Strobilidium longicinetium sp. nov Geographic coordinates UTM, 23K Stations Elevation (m) AV210 733 626552 7778232 AV139 729 622398 7785623 TR135 670 626785 7831179 MV156 620 604243 7868430 TR147* 504 549014 7996053 BV149** 485 519682 8097507 Figure 1. Sites of Strobilidium longicinetium sp nov. occurrence, Velhas River and tributaries, MG. Samples collection The samples of plankton and benthos were obtained from the rivers border in two distinct seasons: a rainy one, on October 2009, and a dry one on July 2010. For the plankton sampling a Van Dorn bottle was dived on ten centimeters depth below the water surface. This device was introduced in a 267 way to cause the minimal disturbance on the substrate. The samples were transferred to a plastic bottle of 500ml and immediately fixed by the use of the Boiun 5% aqueous solution. A shell-like device was used in order to get the benthos samples, which scraped the surface of the substract. The content was placed at a 250 ml disposable container with a lid, identified and storage in a refrigerated Styrofoam box for transport to the lab where they were examined fresh. At the same time, the following physical-chemical parameters were measured: dissolved oxygen (DO), potential hydrogen (pH), biochemical and chemical oxygen demand (BOD and COD, respectively), turbidity (UTN), conductivity (µs), temperature (oC). Three biological parameters were also measured: chlorophyll α, fecal coliform and cyanobacteria density. The physical-chemical parameters and the ciliates biocoenosis information were translated in Saprobic Indexes (SI) chemical and biological according to DIN (1990, 2004). The planktonic samples from the rivers border were fixed using Bouin in the laboratory and prepared using the Quantitative Protargol Stain technique (QPS) designed by Montagnes and Lynn (1987) and modified Skibbe (1994). The abundance of benthic ciliates was classified as less abundant (1), abundant (3) and very abundant (5). The material was placed at the Laboratório de Zoologia de Invertebrados da Universidade Federal de Minas Gerais collection, under the acronym 46 (A, B, C). Results We found the new species of Strobilidium among the fresh samples of benthos from five points, here named as AV210, AV139, TR135, MV156 and BV149. The analyses of fixed samples by using QPS technique revealed the existence of the new species in two additional points, TR147 – where it was previously recorded in plankton samples– and BV149. Morphometric measurements were made and comparison data presented (Table 2), along with the description presented below. Taxonomy Class Spirotrichea Bütschli, 1889 Subclass Choreotrichia Small and Lynn, 1985 Order Choreotrichida Small and Lynn, 1985 Suborder Strobilidiina Small and Lynn, 1985 Strobilidiidae Kahl in Doflein and Reichenow, 1929 Strobilidium Schewiakoff, 1893 Strobilidium longicinetium sp. nov. Diagnosis: After fixation with Bouin and QPS processing technique, is present the characteristic feature typical for protists ciliates belonging to the family Strobilidiidae, which is the existence of a spiral called "scopula", formed by somatic kineties at the posterior end of the cell body. In "scopula," is noted the existence of five (5) somatic kineties with spiral pattern, with 3 (three) of them extend to the dorsal surface from the posterior region of the cell body to the outer region of the adoral membranelles and the 2 (two) other left are arranged on the ventral surface restricted to the posterior half of the cell body (Figure 3). Type locality: Rio Bicudo, sub-watershed of the Rio das Velhas, City of Corinto, state of Minas Gerais, Brazil, UTM 23K 519682 E, 8097507 S. Etymology: The specific epithet “longicinetium” refers to the three dorsal kineties, which cross the entire cell length from the posterior ending to the outer region of the membranelles adoral zone. Type specimens: Holotype (Fig. 2C) and paratypes of S. longicinetium sp. nov. found in six membranes of ester-celulose revealed by the QPS technique mounted on permanent 268 slides deposited in the Laboratory of Invertebrates, UFMG, Brazil, registry number DZUFMG-CIL-00200-5. Description: Shape varying from conical to obconical; length 30-56 µm and width 27-40 µm. Five somatic kineties spiral patterned and more evident in the posterior ending of the cell body, so called scopula. Three kineties in the dorsal region running down the entire length of the cell body from the posterior ending to the outer region of AZM, and the remaining two located in the ventral region, restricted to the posterior half of the cell body. Macronucleus “C”- shaped, located near the AZM and with 37 ± 8 µm in length. AZM showing 29 membranelles (30-28 ± 1, n= 10), with 17,6 µm (20-15 ± 2, n= 8) of length. Stomatogenesis process observed in several individuals, with the oral primordium developing in the posterior two-thirds of the cell body. Specimens observed after culture in petri dishes in laboratory show the typical movement assigned to the Strobilidium genus, with individuals associated at the substrate through a strand of mucus and rotating around its own axis and also free in the water column. Occurrence and Distribution Upper course of the Rio das Velhas, municipality of Rio Acima (AV210) and Bela Fama (AV139); medium course, municipality of Baldim (MV156) and lower course, municipality of Guaicuí (BV149). The investigates species was also found in the affluent rivers Rio Taquaraçu (TR135), municipality of Taquaraçú de Minas, and Rio Bicudo (BV147), municipality of Corinto, Minas Gerais, Brazil. Tabela 2- Morphometric data of S. caudatum (1 e 2) e S. longicinetium nov. sp. (3) (Max.= maximum; Min.= minimum; X= mean; SD= standart deviation CV = coefficient of variation in %; n= number of specimens; 1= Petz and Foissner, 1992; 2= Küppers et al., 2006; 3= Present study). Character Source 1 2 3 Mean 49,8 72,2 40 Min. 43 56 30 Max. 65 84 50 SD 5 6,6 4 CV 11 n 30 16 14 Cell body – width ( m) 1 2 3 40,6 59,1 33 36 49 27 36 49 27 2,8 5,1 4 12 30 16 14 External membranelles (n) 1 2 3 20 19 29 18 18 28 22 21 30 0,6 0,8 1 3 30 20 10 External membranelles – length ( m) 1 2 3 17,6 15 20 2 11 8 Somatic kineties (n) 1 2 3 5 5 5 5 5 5 7 5 5 1 0 0 0 30 20 14 AZM – Diameter ( m) 1 2 3 45 28 35 25 56 35 5,6 4 13 17 14 Macronucleus – width ( m) 1 2 3 32,2 32,1 37 23 23,1 22,5 38 39,2 50 3,4 4,6 8 21 30 9 14 Cell body – length ( m) 269 Figure 2. Strobilidium longicinetium nov. sp - Protargol impregnation by QPS technique (Skibbe, 1994). A: ventral view showing membranelles, cortical ciliary ridges 1, 4 and 5, and “Scopula” on the posterior end of cell body; B: ventral view, adoral zone of membranelles, macronucleus “C” shaped showing nuclear defragmentation (arrow) and formation of oral primordium apparatus; C: lateral view, showing membranelles , oral primordium and the ciliary ridges 2 and 3; D: ventral view of an specimen showing somatic kineties 1, 3, 4 and 5. Kineties 4 and 5 limited to posterior half of the cell body and 3 to 5 extends along the ventral region of the cell body since the scopula near to the AZM and food vacuole; E: specimen in morphogenesis, showing an elongate macronucleus acquiring oval shape and the elongated kineties 1, 2 and 3; F: morphogenesis, oral apparatus (white arrow) and a adoral zone of membranelles (black arrow) being created. AZM = adoral zone of membranelles; CR = cortical ciliary ridges; CV = contratile vacuole; FV = food vacuole; MA = macronucleus; PO = oral primordium;. Scale bars = 20µm. 270 Figure 3. Comparative drawings of Strobilidium caudatum (a-g: scanned images of the original drawings from the cited works) and S. longicinetium nov. sp. (h-l): overview of the cell body (a, c, f, h, i-l) and “scopula” (b, d, g, i) - a-b: Penard (1922), in vivo; c-e: Foissner et al. (1991), after protargol impregnation; f-g: Deroux (1974); h-l: present study, in vivo (j) and after protargol impregnation with QPS technique (h, i-l), K: Stages of oral primordium development. 4-5= dorsal somatic kineties; 1-3= ventral somatic kineties; AZM= adoral zone of membranelles; Cv= contratile vacuole; Fv= food vacuole; Ma= macronucleus; Mi= micronucleus; Op= oral primordium; SC= scopula; Sf= pharyngeal fibers. 271 Ecology Among the sediment samples, the water saprobic condition ranged between οbetamesosaprobic (low organic load) to αmesosaprobic (strong organic load). For plankton samples, the variation of the saprobic condition was smaller, ranged from β-mesosaprobic (moderate organic load) to β-alfamesosaprobic (critical organic load), using only the physical-chemical parameters with reference (table 3). The saprobic index (SI) based on the biocoenosis composition was similar, and in most cases, it indicates another saprobic condition. The data is absent for the collection site AV139 due to the inexistence of ciliates in this sample during the rainy season (Table 3). Tabela 3: Physical, chemical and biologic parameters in stations record of Strobilidium longicinetium nov. sp. from sub-basin of Velhas River, MG, Brazil (SI = Saprobic Index of the sampling station). Sampling Station Parameter AV210 AV139 TR135 MV156 BV149** TR147* rain dry Temperatura(oC) 26 24,9 27,8 25,8 31 19,4 Turbidez(UNT) 80,60 10,8 26,40 172 40,5 7,79 OD(mg/L) 7,4 7,2 6,2 3,5 6,1 7,77 pH 6,7 6,7 6,4 6,7 7,4 6,67 Condutividade(µmho/cm) 59,9 60,5 49,6 242,0 135,9 168,8 DBO(mg/L) 2,0 2,0 2,0 9,2 2,0 2,0 DQO(mg/L) 5 7,8 13 25 9,2 5,0 PO4-3(mg/L) 0,09 0,03 0,08 0,21 0,06 0,01 NO3-(mg/L) 0,21 0,09 0,08 0,43 0,88 0,06 NH4 - N(mg/L) 0,10 0,10 0,10 1,27 0,11 0,10 SaprobidadeQui o-b o-b b a b b-a Saprobidade Bio b - b b-a b b SIqui 1,58 1,73 1,89 2,74 1,9 2,3 SIbio 1,86 - 2,06 2,63 2,17 2,27 Clorofila a (mg/L) 4,27 0,89 0,80 28,48 7,23 1,42 50000 220 17000 800 16000 11,00 35,20 + Coliformes totais (cel./ml) 17000 Cianobactéria (cel./ml) 44,80 6,60 22,40 4277,28 * occurrence in plankton; ** occurrence in benthos and plankton During the rainy season, the temperature variation was small (6,1 oC) when compared to the dry season, where the variation was higher (11,6 oC). The rates of dissolved oxygen and BOD, considering the two sampling periods, showed a similar concentrations except to MV156 station, downstream of Lagoa Santa municipality and in the River Jaboticatubas at the municipality 272 of Baldim. A slightly acidic condition is indicated by the pH values, except for the BV149 station, which presented slightly basic conditions (table 3). Regarding the biological parameters, the total fecal coliform densities were high in four sample points above the threshold determined by CONAMA(2005), that is 5,000 cells/100mL, with the exception of the affluents TR135 and BV149. The density of cyanobacteria in MV156 was higher than others, however, it is not considered as flowering and it is within the legal limits (table 3). The densities of S. longicinetium sp. nov. in plankton samples ranged from 316.7 ind./L-1 at point TR147, during the dry season, to 33.3 ind./L-1 at point BV149 during the rainy season. The saprobic index estimated for this species in these samples was 2.25 and 8 in weight according to standard DIN (1990). With these values, S. longicinetium sp. nov. indicates a β-mesosaprobic level to saprobic conditions for the sub-watershed of the Rio das Velhas (Table 3). In benthos samples, the abundance was higher at stations AV210 (5), AV139 (3) and BV149 (3). Discussion Petz and Foissner (1992) stated the Strobilidae as a monotypic family, in which only the genus is Strobilidium is described. In the literature, the most studied and registered species is Strobilidium caudatum, which have a cosmopolitan distribution, with the exception of Australia, where no record was made (Foissner et al., 1991). The Strobilidae S. longicinetium sp. nov. diagnosis is distinct from Strobilidium populations studied by other authors (see Fig. 3). The S. caudatum studied by Penard (1922) presents five kineties ranging from “scopula” to the outer region of the AZM. The population studied by Deroux (1974) also presented five kineties, three of them, the dorsal ones, ranging from “scopula” to the outer region of AZM and the remaining two, ventral, restricted to the posterior twothirds of the cell body. Despite of that, the two ventral ones are disrupted and is not linked to “scopula” and this population, which was found in brackish water, also shows a constriction between the external region of AZM and the macronucleus, which is not observed in the new specie. In contrast, in the population studied by Petz and Foissner (1992), the species show five to seven kineties restricted to the posterior half of the cell body, and in the ventral region may occur two or three kineties that are interrupted in its final portion and not linked directly to “scopula”, similar to that found by Deroux (1974). The population studied by FernandezLeboranz (1983) also differs from S. longicinetium sp. nov. by the larger in vivo size (85-90 µm), though the number of membranelles (29-30) is similar to the variation found in the new species (28-30 ± 1, n=10). Another population, studied by Küppers et al. (2006), has a larger size than the populations of the present study and Petz and Foissner (1992) population, always presenting five kineties restricted to the posterior half of the cell body. The two remaining kineties located in the ventral region are also interrupted in its final portion, as observed in Petz and Foissner (1992) population. Regarding the morphogenesis, the events observed in S. longicinetium sp. nov. are consistent with those observed for populations of S. caudatum studied by Penard (1922), Kormos and Kormos (1958), Petz and Foissner (1992), which is the oral primordium emerging in mid-posterior 273 region of the cell body. In the population studied by Deroux (1974), though the sequence of events is similar, the appearance of the oral primordium occurs close to the outer AZM. The morphological data presented by several author provide issue that, the species studied under the name of S. caudatum (Andrushchyshyn et al., 2003; Biyu, 2000; Madoni, 2005; Madoni and Braghiroli, 2007; Madoni and Zongrossi, 2005; Rychert, 2009; Senlis and Yildiz, 2004) are likely to be new species according to Petz and Foissner (1992). However, these records have not been provided with morphometric data, photos and/or drawings and not even the studied material were placed in scientific collections. In South America, the occurrence of S. caudatum is reported for several countries: Chile (Bürger 1909), Brazil (Cunha 1914; Hardoim and Heckman 1996), Peru (Guillén et al. 2003) and Argentina (Küppers et al. 2006). The latter report was done by applying silver impregnation techniques (Protargol) featuring photos, drawings and morphometric data of described specimens (Table 2). Comparing the morphometrical data of Strobilidium specimens of the present study with those presented by Petz and Foissner (1992) and Küppers et al. (2006) (Table 2) provided the initial evidence that our Strobilidium population from Rio das Velhas could be a new species, which was confirmed by further analyses with the QPS technique (Figs 2–3). Strobilidium longicinetium sp. nov. was found in environments with different physical, chemical and biological water conditions. The density recorded for the species was higher when the values of conductivity, density of fecals coliforms and cyanobacteria were high, which suggests that the species is algivore. Specimens studied by Küppers et al. (2006) were found in temporary ponds during August and December, and reached the highest density also when the high conductivity (160 – 220 µs/cm), low temperatures and intermediate concentrations of dissolved oxygen (5.5 to 8.8 mg/L) were recorded. Moreover, these ciliates were found in pH conditions varying from acid (4.9) to alkaline (7.5). During the months of June (1,000 ind/L-1) and April (2,283 ind/L1), it was the most abundant species, according the same authors. Those populations of the genus Strobilidium, for which the identification remains doubtful, (e.g. Madoni and Zangrossi 2005) were found in lotic systems with saprobic conditions β-alfamesosaprobic to αmesosaprobic (critical and strong organic load, respectively), where the OD values ranged between 7.8 and 13.0 mg/L and the rates of conductivity were high, ranging from 353 to 3,300 µs/cm. We concluded that S. longicinetium sp. nov., as other populations within the genus, has high tolerance to environmental changes, but its occurrence is limited, so far, by the βmesosaprobic and α-mesosaprobic conditions. This fact indicates that the presence of such species may be useful for understanding possible changes in the physical and chemical conditions of ecosystems caused by human impacts. Acknowledgements The investigations presented above were conducted at the Zoology Department of Universidade Federal de Minas Gerais. The authors wish to thank Fabiana de Oliveira Gama, José Carlos and Nathália Mara Chedid from Technological Center of Minas 274 Gerais for helping to collect samples. To Wanderlene Ferreira Nacif from Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM for providing the physical and chemical data of water, Msc. Ivo Senna for his effective help in the development of illustrative plates and Roberto Junio Pedroso Dias for great suggestions. 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UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 275/ 319 Protocolo de Análise UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 276/ 319 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 281 2 OBJETIVO E CAMPO DE APLICAÇÃO.......................................................................... 281 3 APARELHAGEM ............................................................................................................ 281 3.1 EQUIPAMENTOS ......................................................................................................................................................... 282 3.1.1 Equipamentos ópticos e acessórios .......................................................................... 282 3.1.2 Outros equipamentos ................................................................................................ 282 3.2 MATERIAIS.................................................................................................................................................................. 283 3.2.1 Câmara para contagem ............................................................................................. 283 3.2.2 Vidrarias e utensílios ................................................................................................. 284 4 REAGENTES E SOLUÇÕES.......................................................................................... 287 5 PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA EXECUÇÃO DOS ENSAIOS ............................... 290 5.1 ORGANIZAÇÃO DO MATERIAL .................................................................................................................................. 290 6 EXECUÇÃO DOS ENSAIOS .......................................................................................... 291 6.1 ENSAIO DE IDENTIFICAÇÃO ...................................................................................................................................... 291 6.1.1 Observações in vivo .................................................................................................. 292 6.1.2 Preparação de lâminas permanentes ........................................................................ 293 7.1.3 Registro dos dados do ensaio ................................................................................... 315 6.2 ENSAIO DE QUANTIFICAÇÃO .................................................................................................................................... 315 6.2.1 Caracterização e processamento geral da amostra .................................................. 315 6.2.2 Contagem por filtração em membrana ...................................................................... 316 6.2.3 Expressão dos resultados ......................................................................................... 316 6.2.4 Registro dos dados do ensaio ................................................................................... 318 7 EMISSÃO DE CERTIFICADO DOS ENSAIOS ............................................................... 319 8 INCORPORAÇÃO DA AMOSTRA EM COLEÇÃO DE REFERÊNCIA ............................ 319 UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 277/ 319 Lista de figuras Figura 1 - Materiais organizados em bandeja para execução dos ensaios de identificação e quantificação dos ciliados. ............................................................................... 293 Figura 2 - Identificação de espécimes: (a) Retirada de organismos da amostra e montagem de lâmina com lamínula; (b) Triagem sob microscópio óptico invertido. ............................................................................................................. 295 Figura 3 - Seqüência dos passos para impregnação da prata pela técnica do Prata a Seco. .................................................................................................................. 296 Figura 4 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: triagem dos ciliados sob microscópio estereoscópio. .................................................................................................... 297 Figura 5 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: material selecionado, em cubas de vidro, fixado com bouin aquoso ........................................................................... 297 Figura 6 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: material espalhada em lâmina para microscopia. ....................................................................................................... 298 Figura 7 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas colocadas em álcool etílico nas concentrações 100%, 70% e 30%................................................................. 298 Figura 8 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas lavadas em água destilada para retirada de resíduos do álcool. .................................................................... 299 Figura 9 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas embebidas em solução de permanganato de potássio 0,2%. ........................................................................ 299 Figura 10 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: retirada do excesso de permanganato de potássio em água destilada. ................................................... 300 Figura 11 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas colocadas em ácido oxálico 2,5%. ................................................................................................................... 300 Figura 12 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lavagem das lâminas em água destilada para retirar resíduos de ácido oxálico. ................................................. 300 Figura 13 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas mergulhadas em cuba de vidro contendo solução de protargol pré-aquecida a 60ºC em banho-maria. ...... 301 Figura 14 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: adição de protargol e solução de hidroquinona nas lâminas para revelar o material. .............................................. 301 UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 278/ 319 Figura 15 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lavagem das lâminas em água destilada para retirar o excesso de hidrquinina-protargol. ................................... 301 Figura 16 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: cloreto de ouro 0,5%. ........................... 302 Figura 17 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: ácido oxálico 3,0%. .............................. 302 Figura 18 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: tiosulfato de sódio 2% utilizado para terminar o processo de revelação. ...................................................................... 302 Figura 19 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: desidratação do material em álcool etílico nas concentrações 30%, 70% e 100%. ..................................................... 303 Figura 20 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas prontas para serem analisadas sob microscopia óptica. .................................................................... 303 Figura 21 - Técnica do protargol: solução de ágar em banho-maria a 60oC. ....................... 304 Figura 22 - Técnica do protargol - kit de filtragem: (a) Detalhes da montagem; (b) Esquema da montagem: 1 - recipiente de vidro com capacidade para 20ml, 2 - garra em aço inox para manter uma devida vedação, 3 - suporte de vidro para a membrana, 4 - membrana para filtragem, 5 - borracha para encaixe no Kitazato. ............................................................................................................. 306 Figura 23 - Técnica do protargol - filtragem da amostra: (a) Equipamento de filtragem montado; (b) Filtragem; (c) Placas de Petri forradas com papel filtro umedecido com o filtrado da amostra, devidamente identificada. ....................... 307 Figura 24 - Técnica do protargol - preparação das lâminas para inclusão do ágar: (a) Chapa de vidro presa à borda do banho-maria; (b) Lâminas de vidro distribuídas na chapa de vidro para serem aquecidas. ....................................... 307 Figura 25 - Técnica do protargol - inclusão da membrana no ágar: (a) Posicionamento da membrana na lâmina; (b) Aplicação do ágar sobre a membrana; (c) Ágar em solidificação; (d) Lâminas prontas para serem resfriadas. .................................. 309 Figura 26 - Técnica do protargol - conservação da membrana: (a, b) Retirada da membrana da lâmina; (c) Endurecimento do ágar em formol a 10%; (d) Conservação em isopropanol a 30%. ................................................................. 310 Figura 27 - Técnica do protargol - enxágüe da membrana: (a) Seqüência esquemática da bateria de soluções contendo em 1 - permanganato de potássio, 2 - água de torneira, 3 - ácido oxálico, 4 a 6 - água destilada; (b) Seqüência montada para três membranas, iniciando com o permanganato de potássio. ........................... 311 UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 279/ 319 Figura 28 - Técnica do protargol - impregnação da membrana em solução de protargol: (a) Desenho esquemático do berço para cuba de corar lâminas; (b) Lâminas embebidas no protargol em banho-maria. .......................................................... 312 Figura 29 - Técnica do protargol - revelação da membrana: seqüência esquemática da bateria de soluções contendo em 1 - revelador hidroquinona, 2 - água de torneira, 3 - cloreto de ouro 0,5%, 4 - ácido oxálico 2,5%, 5 - água destilada, 6 - tiosulfato de sódio 2,5%, 7 a 9 - água de torneira. ............................................ 314 Figura 30 - Técnica do protargol - desidratação da membrana: (a) Seqüência esquemática da bateria de álcool isopropílico contendo em 1 - solução a 30%, 2 - solução a 70%, 3 e 4 - isopropanol bruto; (b) Foto do procedimento contendo a membrana no pote 3. ....................................................................... 315 Figura 31 - Técnica do protargol - diafanização da membrana: (a) Seqüência esquemática da bateria de soluções contendo em 1 - xilol e álcool na proporção 1:1, 2 e 3 - xilol puro; (b) Foto do procedimento. ................................ 315 Figura 32 - Técnica do protargol: secagem das membranas montadas entre lâmina e lamínula, com entellan. ....................................................................................... 316 UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 280/ 319 1 INTRODUÇÃO Este protocolo é um documento de referência para realizar a identificação e a quantificação de protistas ciliados de ambientes aquáticos continentais. Em sua versão 1.0 reúne os dados e informações da literatura; rotinas de execução dos ensaios de identificação e quantificação do zooplâncton e zooperifíton do Laboratório de Hidrobiologia e Hidrologia do Setor de Recursos da Água – SAA do CETEC; e os resultados obtidos com o desenvolvimento do plano de trabalho “Identificação e Quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais” do bolsista de iniciação científica Henrique Sávio Santos de Mendonça (processo institucional nº CAM 50008/07), no período de 01 de março de 2007 a 28 de fevereiro de 2008, sob a orientação da pesquisadora Helena Lúcia Menezes Ferreira. O plano de bolsa vinculou-se ao “Projeto Estruturador do Rio São Francisco - São Francisco Norte – UPGHR SF10 e SF06: Implantação das redes de monitoramento da bacia hidrográfica São Francisco e sub-bacia Verde Grande (Jaíba, Varzelândia, Verdelândia e Montes Claros)” financiado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGA e ao projeto “Atualização e aprimoramento da infraestrutura da área de tecnologia ambiental” financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG. 2 OBJETIVO E CAMPO DE APLICAÇÃO Este Protocolo tem como objetivo consolidar e aprimorar os ensaios de identificação e quantificação de protistas ciliados. Prescreve os métodos e técnicas aplicáveis a esses ensaios com a finalidade de subsidiar o diagnóstico, avaliação, monitoramento e controle da ocorrência e distribuição desta comunidade biológica em ambientes aquáticos continentais. 3 APARELHAGEM A execução dos ensaios de identificação e quantificação de protistas ciliados requer o uso de um conjunto de instrumentos e insumos de laboratório, conforme as descrições que se seguem. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 281 / 321 3.1 Equipamentos 3.1.1 Equipamentos ópticos e acessórios Microscópio óptico invertido: este equipamento possibilita a triagem de organismos, análise de culturas e infusórios, identificação sob lâmina e lamínula e quantificação em câmaras de tamanhos variados. Ao contrário dos microscópios convencionais o canhão é invertido, com as objetivas situadas abaixo da platina e voltadas para os olhos do observador, disponibilizando um maior espaço livre para uso de câmaras com alturas superiores a 1mm. Deve possuir tubo trinocular para inserção do par de oculares com aumento mínimo de 10x e retículo micrométrico e para acoplar câmera fotográfica e vídeo; objetivas com aumentos variados (2,5 a 40 vezes) e possibilitar o uso de câmara clara. Um outro recurso relevante é o contraste de fase, o qual garante uma melhor visualização, em terceira dimensão, dos indivíduos, facilitando muitas vezes na identificação dos mesmos. Microscópio óptico convencional: este equipamento pode ser utilizado para a identificação sob lâmina e lamínula e contagem em câmara de SedgwickRafter, sendo restritivo para contagens em câmaras com altura superior a 1mm. Tem a vantagem de possibilitar a visualização de estruturas pouco conspícuas por meio de objetivas com aumentos variados (4 a 40 vezes, além de 100 vezes para imersão) e câmara clara para o desenho dessas estruturas. Deve possuir tubo trinocular para inserção do par de oculares com aumento mínimo de 10x e retículo micrométrico e para acoplar câmera fotográfica e vídeo. Microscópio estereoscópio: este equipamento possibilita análise de culturas em placas de Petri e a triagem de organismos com o uso de uma maior variedade de câmaras. Porém sua desvantagem está no menor aumento focal e na ausência de platina e charriot, comparativamente ao microscópio invertido. 3.1.2 Outros equipamentos Agitador magnético: com aquecimento de até 100ºC, rotação de 100 a 1200 UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 282/ 319 rpm e capacidade até 20 litros. Balança: semi-analítica de precisão, capacidade máxima 4000g e a precisão de 0,01g, tara automática. Banho-maria: FANEM modelo 100. Bomba portátil de vácuo/pressão: com alça para trans- porte, resistente à solventes e produtos corrosivos; vácuo máximo 700mm/hg; com 4 ventosas; reguladores de vazão e pressão ajustáveis com indicadores individuais; cabeçote, estrutura e reguladores em alumínio fundido; funcionamento através diafragma flexível; motor 1/15 hp; 115v/60hz; dimensões (cm): a=20, l=20 p=20; peso 4,1kg; conexões 1/4" mangueira; com filtro hidrofóbico millex fa-50 para proteger contra a entrada de líquidos e 70cm de mangueira de silicone autoclavável de 1/4" diâmetro interno. Ou similar. Contador de células/colônias: manual semelhante a contador de células sanguíneas, com teclas para registros individuais de contagem e registro totalizador. Cronômetro: com 6 dígitos, indica horas, minutos e segundos. Capacidade de 99 horas, 59 minutos e 59 segundos. Com teclas de “start” (ativa e paralisa a contagem) e “reset” (zera a contagem voltando para 00:00:00). Destilador ou deionizador de água: com capacidade mínima, respectivamente para 2 litros e 50 litros por hora. Refrigerador: capacidade mínima total de 260 litros, com congelador. 3.2 Materiais 3.2.1 Câmara para contagem Câmara de Sedgwick-Rafter: para contagem sob microscópio óptico convencional e microscópio óptico invertido, capacidade máxima de 1ml, em acrílico (original) ou em lâmina de vidro com armação metálica (adaptação) recoberta com lamínula. Câmara de Utermohl: câmaras tubulares de sedimentação com capacidade para 10 ml, 50ml e 100ml. Utilizadas para identificação e contagem dos UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 283/ 319 organismos planctônicos (> 20µm) sob microscópio óptico invertido. 3.2.2 Vidrarias e utensílios Balão volumétrico: capacidade de 1000ml. Bandeja: de plástico, cor e tamanhos opcionais. Bastão de vidro: 300mm de comprimento e 6mm de diâmetro. Béquer: capacidade de 50, 200 e 500 ml, com graduação respectiva de 10, 50 e 100ml. Berço para cuba de corar lâmina: dimensões 88mm x Larg. 40mm x Alt. 70mm. Bulbo de borracha: tamanho 8 de borracha sintética, para limpeza externa de superfícies, oculares e objetivas de equipamentos ópticos. Câmara retangular de base reticulada: em formato de tronco de pirâmide invertida, de acrílico transparente, com comprimento e largura média de 73mm e profundidade média de 16mm, capacidade máxima de 80ml; com grade reticulada, demarcada com ranhuras distribuídas uniformemente na porção externa da base formando 13X13 quadrículas de 25mm2 cada. Caneta para retroprojetor: qualquer cor. Copo plástico: descartável, branco, 50ml (para café). Cuba para corar lâmina: retangular, de vidro, dimensões compatíveis ao berço com alça. Estilete: bastão de madeira com uma agulha bem fina presa na extremidade. Frasco âmbar: de vidro, com tampa de rosca, capacidade de 100ml. Lâmina: de vidro, com dimensões de 26 mm de largura por 76 mm comprimento. Lamínula: de vidro, com dimensões de 22 por 22 mm. Lenços de papel: específicos para limpeza de lentes de equipamentos ópticos. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 284/ 319 Mangueira: de látex ou borracha, diâmetro interno. Material de segurança: para proteção individual incluindo luvas de látex do tipo cirúrgico, descartável, com tamanhos variados, com ou sem talco; jaleco e máscaras de feltro cirúrgico; óculos de proteção (lente de Policarbonato de alta resistência a impactos. Apoio nasal do mesmo material da lente e proteção lateral. Hastes tipo espátula com ajuste de comprimento para atender os diferentes usuários. Proteção UVA e UVB. Lentes anti-riscos aumentam a vida útil da lente, incolores com anti-embaçante). Membrana de filtragem: de éster-celulose, branca com “grid” para contagem (para otimizar a quantificação de organismos), 25mm diâmetro, porosidade 0,8 µm (recomendado). Membrana com porosidade inferior (até 0,45) µm, garantem também bons resultados (SKIBBE, 1994). Papéis absorventes e papéis toalha: dupla face e simples. Papel filtro: tipo Whatman ou similar. Pinça: metálica de ponta fina. Pincel: com cerdas finas e macias, tamanhos variados (recomendado a partir do tamanho 12). Pipetas de Hensen-Stempel: nas capacidades de 1, 2 e 5ml. Pipetas recicladas: pipeta sorológica reciclada, volumes variados, acoplada à pêra de borracha. Pipetas sorológicas: capacidade de 10 ml com graduação de 1/10. Pissetas: capacidade igual ou superior a 500 ml, de plástico maleável e resistente ao ressecamento. Podem ser adquiridas comercialmente ou confeccionadas a partir de recipientes plásticos reciclados do tipo PET - Poli Tereftalato de Etileno. Placa de Petri: nos diâmetros 5,2 e 9,0 cm; volumes: 25 e 100ml, respectivamente. Porta lâminas: de madeira nas dimensões 15 cm de largura e 20 cm de comprimento com capacidade para 50 lâminas. Pote de acrílico: transparente, com tampa de plástico, capacidade para 20ml UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 285/ 319 e 38 mm de diâmetro. Provetas: capacidade de 100, 250 e 1000 ml, com graduação respectiva de 1/1 e 2/1. Suporte de filtração: microanalítico em vidro pyrex, para filtros-membranas de 25mm diâmetro, composto de: base com disco de vidro sinterizado, rolha de silicone, funil de 15ml graduado e garra de alumínio anodizado; “hidrosol” em aço inox 316, 25mm de diâmetro completo com funil de 50ml, e rolha em neoprene. Suporte para lâminas e câmara: em madeira ou acrílico, com dimensões de 200 mm de comprimento, 45 mm de largura e 21 mm de altura com sulcos transversais compatíveis a espessura de lâminas de vidro, câmaras de Sedgwick-Rafter e lamínulas de recobrimento. Suporte para tubos: grade de plástico, metal ou isopor com espaços para acomodar tubos de eppendorf e tubos de ensaio. Tubo de ensaio: de vidro, capacidade 15ml, com tampa de rosca ou pressão. Tubo de eppendorf: com capacidade de 1,5ml com tampa de rosca ou pressão. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 286/ 319 4 REAGENTES E SOLUÇÕES Reagentes: Ácido acético glacial PA Ácido oxálico PA Ácido pícrico cristalizado PA Ácool 96% Ágar-Ágar Álcool isopropílico bruto PA Carbonato de sódio anidro PA Cloreto de ouro PA Detergente Entellan PA Éter etílico Formaldeído a 37-40% PA Hidroquinona PA Nitrato de prata PA Óleo de imersão Permanganato de potássio PA Proteinato de Prata (Protargol) PA Sulfito de sódio PA Tio-sulfato de sódio PA Xilol PA Soluções: Solução de formol (formalina) a 10%: utilizada no processamento da membrana para endurecimento do ágar. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 287 / 319 A formalina a 10% utiliza formol a 37% e para prepará-la adotar a seguinte fórmula, aplicável a outras concentrações comerciais: Ci.Vi = C.V onde: Ci= concentração inicial Vi= volume inicial C= concentração final V= volume final Solução de Bouin: utilizada para fixar amostras na proporção de 1:50 (SKIBBE, 1994). Outros trabalhos apontam uma concentração de 1:19. Inicialmente, deve-se preparar a solução saturada de ácido pícrico adicionando, em um balão volumétrico de 1000 ml, 1 litro de água destilada e acrescentar 4,0g de ácido pícrico. Para uma solubilização do ácido, distribuir pequenas alíquotas em um béquer com capacidade de 200 ml agitando com bastão de vidro até dissolver os cristais e obter uma coloração amarelodenso. Em seguida, para preparar a solução de fixadora, adiciona-se em outro béquer (200 ml), 75 ml da solução saturada, 25 ml de formaldeído 3740% e 5 ml de ácido acético glacial. Este deve ser adicionado à solução apenas quando for utilizada para fixar a amostra devido à volatilidade do ácido. Solução de rosa de Bengala: é feita a partir da dissolução do corante em pó em água destilada ou deionizada. A solução final deve apresentar concentração aproximada de 1% (REID, 1999). A solução pode também ser preparada retirando o pó do corante com um palito fino umedecido, seguido da solubilização na água. Solução de alcool-éter: é feita a partir de álcool 96° e éter etílico na proporção 1:1. Solução de hidroquinona: 0,1g de hidroquinona, 0,5g de sulfito de sódio e 0,1g de carbonato de sódio anidro, diluídos em 100 ml de água destilada. Solução de Protargol: feita a partir da diluição do proteinato de prata em água UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 288 / 319 destilada resultando em uma solução a 0,6%. - Depositar 0,6g do pó de protargol em um béquer com 100ml de água destilada. Vedá-lo completamente com papel alumínio e deixar que a mistura ocorra espontaneamente. NÃO agitar a solução. - Após a dissolução, aquecer em banho-maria a uma temperatura de 60oC, por um período em torno de 12 horas. A ativação térmica da solução de protargol visa aumentar a sua capacidade de impregnação. Nota: (1) O protargol é uma combinação de prata com proteína, extremamente sensível a luz devendo a solução ficar estocada em frasco âmbar e ventilado, para o que não se deve apertar demais a tampa. A solução deve ser mantida em temperatura ambiente e não sob refrigeração. Tendo estes cuidados, pode ser reutilizada por várias vezes e tem prazo de validade de aproximadamente dois anos; (2) Quanto mais velho for o pó do protargol a ser utilizado no preparo da solução, sua concentração deve ser aumentada para melhorar o processo de impregnação. Solução de permanganato de potássio: o permanganato deve ser diluído em água destilada resultando em uma solução a 0,2%. Solução de ágar simples: 3,6g de ágar diluídos em 100ml de água destilada. Ferver em banho-maria ou micro-ondas para solubilizar o soluto. Solução de cloreto de ouro 0,5%: Deve-se diluir 0,5g de cloreto de ouro em 100 ml de água destilada. Para utilização de pequenas quantidades usa-se uma diluição de 0,25g em 50 ml de água destilada, mantendo a proporção de 1:2. Solução de tiosulfato de sódio 2,5%: Faça a solução na concentração indicada dissolvendo 2,5g de tiosulfato de sódio em 100 ml de água destilada. Solução de ácido oxálico 2,5%: a solução deve conter 2,5g do reagente diluído em 100 ml de água destilada. Soluções de álcool isopropílico a 30%, 70% e 100%: as soluções devem ser feitas em proveta de capacidade 1000 ml sendo as concentrações obtidas com auxílio de um alcoômetro. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 289 / 319 5 PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA EXECUÇÃO DOS ENSAIOS A execução dos ensaios além dos cuidados no manuseio e descarte das amostras e na limpeza e manutenção do material, conforme descrito em Cetec (2007), requerem também um conjunto de procedimentos básicos em termos da aferição de seus dados de identificação e de sua consistência e organização do material. 5.1 Organização do material Para dar início ao ensaio o material básico, devidamente limpo, deve estar organizado em uma bandeja, como na figura 2. As soluções devem estar devidamente identificadas contendo: o nome, a concentração, a data de preparo e nome do preparador. Cada analista deve possuir sua própria bandeja identificada pelo nome. Deve mantê-la em ordem e limpa. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 290 / 319 6. Tubos de Eppendorf 14 3 8. Suporte para lâmina comum, lâmina 5 13 15 7. Pipetas de Hensen-Stempel escavada, câmara de S-R e 12 4 lamínulas de recobrimento 11 16 6 7 9 10 9. Suporte para tubos de ensaio 8 10. Tubos de ensaio 18 17 2 10 19 11. Estilete 12. Óleo de Imersão 1. Béqueres de 600ml e 250ml para limpeza da câmara de Sedgwick-Rafter– S-R 2. Béquer de 50ml para diluição de alíquotas 3. Provetas de 250 e 100ml 4. Pipeta adaptada com pêra de borracha 5. Pissetas: com solução de formol a 4%, água deionizada ou destilada, devidamente identificadas 13. Copo de filtragem 14. Pincel de cerda fina 15. Papel absorvente para limpeza 16. Máscara 17. Luvas descartáveis 18. Contador manual 19. Câmara retangular de base reticulada e placa de Petri. Figura 1 - Materiais organizados em bandeja para execução dos ensaios de identificação e quantificação dos ciliados. 6 EXECUÇÃO DOS ENSAIOS 6.1 Ensaio de identificação A identificação consiste no estudo dos caracteres morfológicos diferenciais por meio de técnicas usuais e específicas de microscopia óptica apoiada em chaves taxonômicas, comparações com pranchas ilustrativas e consultas a literaturas especializadas. Não há um único método capaz de revelar todos os detalhes importantes para uma boa descrição das espécies. Assim, deve-se conjugar vários procedimentos incluindo a observação a fresco, organismos fixados, preparo de lâminas de forma que o taxonomista amplie as possibilidades de identificar um maior número de UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 291 / 319 espécies (FOISSNER, 1991). A identificação pode ser também complementada concomitante ao ensaio de quantificação dos táxons. Durante o ensaio de identificação, independente da técnica utilizada, deve-se recorrer quando necessário, aos seguintes recursos: cultivo de organismos, desenho sob câmara clara com indicação dos dados merísticos, fotomicrografia e microfilmagem dos organismos por inteiro e detalhe de estruturas, além da montagem de lâminas semi-permanentes e permanentes. A filmagem é o registro mais completo, pois além da morfologia, documenta os movimentos dos indivíduos uma vez que após a fixação os espécimes perdem a mobilidade e até mesmo mudam a sua morfologia, devido à contração corporal, o que dificulta sua identificação. 6.1.1 Observações in vivo A identificação dos protistas ciliados é feita pela observação direta em lâmina com lamínula ou em lâminas escavadas, sob o microscópio óptico convencional, com campo claro e escuro e contraste de fases ou em câmaras de Utermöhl, sob microscópio óptico invertido. Os organismos vivos podem ser retirados diretamente da amostra na superfície, no fundo e após homogeneização com auxílio de pipeta acoplada à pêra de borracha. Recomenda-se colocar na lâmina aproximadamente 0,5ml (uma gota) da amostra (Figura 3a) e nas quatro extremidades uma gota de resina (vaselina) ou diminutos pedaços de massinha para modelagem, o que contribuirá para redução da mobilidade dos organismos à medida que forem pressionados. Os indivíduos também podem ser depositados na lâmina após triagem em câmara retangular de base reticulada ou placa de Petri sob microscópio óptico invertido (Figura 3b) ou microscópio estereoscópio, este recomendado para espécies de maior tamanho -se ainda usar a centrifugação em 1500 rot. min-1 por 30 a 60 segundos (FOISSNER, 1999) para obter espécies raras ou muito pequenas. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 292 / 319 (b) (a) Figura 2 - Identificação de espécimes: (a) Retirada de organismos da amostra e montagem de lâmina com lamínula; (b) Triagem sob microscópio óptico invertido. As amostras in natura devem permanecer sob refrigeração, pois muitas espécies são sensíveis às mudanças de temperatura (FOISSNER, 1999). Concluído o ensaio de identificação recomenda-se preservar a amostra in natura em solução de Bouin, na totalidade ou em lotes de organismos que foram triados da amostra, para consultas e estudos posteriores. Na totalidade, deve ser acondicionada em frasco plástico com capacidade compatível, de preferência entre 50 a 100 ml e se necessário para tal, concentrar a amostra. Se em lotes, em sistemas de vidros, tubos de ensaio ou tubos de eppendorf. 6.1.1.1 Cultivo de organismos Para dirimir dúvidas nas identificações os organismos podem ser mantidos sob cultivo em meios de cultura ou infusórios, conforme detalhado no anexo C. 6.1.2 Preparação de lâminas permanentes Para visualizar as estruturas de valor taxonômico podem ser confeccionadas lâminas permanentes empregando as técnicas de impregnação pela prata: (i) técnica de impregnação pelo prata a seco e (ii) técnica de impregnação pelo proteinato de prata (protargol). UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 293 / 319 6.1.2.1 Técnica de impregnação prata a seco, Klein (1958) A técnica do prata a seco envolve o nitrato de prata e é capaz de revelar poucos detalhes comparado à outros métodos de impregnação como o protargol por exemplo. As estruturas evidenciadas estão associadas ao córtex celular como as cinécias, os corpos basais e outras organelas corticais como os extrusomas e o citopigio, estrutura escretora (FOISSNER, 1991). Esta técnica envolve cinco passos, conforme discriminado a seguir e ilustrado na figura 3: 1o) Selecionar as espécies de interesse para identificação utilizando ou lupa ou um microscópio invertido; 2o) Depositar os indivíduos em lâmina para microscopia e deixar secar a temperatura ambiente; 3o) Enxaguar a lâmina com água destilada para retirada da solução fixadora. Para amostras a fresco dispensa-se este passo. 4o) Aplicar a solução de nitrato de prata 3%; embeber toda a lâmina para garantir que todos os indivíduos foram devidamente encobertos pela solução. Deixar descansar por 5 ou minutos mais; 5o) Revelar à luz U.V.A, por 5 minutos ou mais. Não expor os olhos direta ou indiretamente na lâmpada. Usar óculos de proteção. (b) (a) (d) (c) (e) Figura 3 - Seqüência dos passos para impregnação da prata pela técnica do prata a Seco. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 294 / 319 6.1.2.2 Técnica Qualitativa de Impregnação pelo Protargol – Dieckmann (1995) Uma importante técnica na Ciliatologia proposta por BODIAN (1937) para o estudo de células nervosas. TUFFRAU (1964, 1967), posteriormente, adaptou a técnica para o trabalho com protistas ciliados. A técnica consiste na impregnação do organismos por Proteinato de Prata com posterior revelação das estruturas utilizando a Hidroquinona. No presente estudo utilizou-se uma variação da técnica proposta por DIECKMANN (1995). Passo 1 – Triagem Triar os ciliados sob microscópio óptico estereoscópio (60-90x) com auxílio de pipeta de Pasteur. Figura 4 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: triagem dos ciliados sob microscópio estereoscópio. Passo 2 – Fixação Os ciliados triados in natura, são transferidos para saleiras de vidro e fixados em Bouin aquoso 5% por 30 a 60 minutos (3 gotas por cuba) e em seguida adiciona-se albumina glicerinada bastante diluída, deixando por 20 a 40 minutos ou mais. Figura 5 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: material selecionado, em cubas de vidro, fixado com bouin aquoso. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 295 / 319 Passo 3 - Transferir os ciliados Distribuir as células ao longo do espelho desta lâmina uniformemente com o auxílio de tubo capilar. Remover o líquido em excesso com papel de filtro ou pipeta, inclinando a lâmina. Secar a lâmina em uma estufa pré-aquecida a 60ºC na posição horizontal. Figura 6 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: material espalhada em lâmina para microscopia. Passo 4 – Hidratação Hidratar as lâminas secas na série decrescente de etanol – 100%, 70% e 30% - por 10 minutos. Figura 7 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas colocadas em álcool etílico nas concentrações 100%, 70% e 30%. Passo 5 – Enxágue Lavar as lâminas em água destilada três vezes por 10 minutos e mergulhadas. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 296 / 319 Figura 8 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas lavadas em água destilada para retirada de resíduos do álcool. Passo 6 – Permanganato de potássio Mergulhar as lâminas em solução de permanganato de potássio a 0,2% por 100 a 150 segundos . Figura 9 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas embebidas em solução de permanganato de potássio 0,2%. Passo 7 – Lavar rapidamente em água destilada para tirar o excesso de permanganato. Figura 10 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: retirada do excesso de permanganato de potássio em água destilada. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 297 / 319 Passo 8 – Ácido oxálico 2,5% Colocar as lâminas em solução ácido oxálico 2,5% por 3-4 minutos e enxaguá-las em água destilada por 4 vezes, 3 minutos cada. Figura 11 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas colocadas em ácido oxálico 2,5%. Passo 9 – Enxaguar Lavar as lâminas em água destilada por 4 vezes, 5 minutos cada. Figura 12 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lavagem das lâminas em água destilada para retirar resíduos de ácido oxálico. Passo 10 – Impregnação pelo Protargol Colocar as lâminas em uma solução pré-aquecida a 60 ºC de protargol a 0,20,4% por, no mínimo, 120 minutos. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 298 / 319 Figura 13 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas mergulhadas em cuba de vidro contendo solução de protargol pré-aquecida a 60ºC em banho-maria. Passo 11 – Revelação Tirar as lâminas da jarra de coloração com o protargol colocá-las em um aparador, cobrir com protargol e adicionar hidroquinona na proporção 3:1 ou 4:1, por 15 minutos. Figura 14 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: adição de protargol e solução de hidroquinona nas lâminas para revelar o material. Passo 13 – Enxágue Lavar as lâminas em água destilada 5 vezes por 3 minutos cada. Figura 15 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lavagem das lâminas em água destilada para retirar o excesso de hidrquinina-protargol. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 299 / 319 Passo 14 – Contraste Colocar as lâminas em uma solução de cloreto de ouro a 0,5% por 10 segundos e em seguida lavar rapidamente em água destilada. Figura 16 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: cloreto de ouro 0,5%. Passo 15 – Ácido Oxálico Colocar as lâminas em uma solução de ácido oxálico a 3,0% por 30 a 180 segundos e me seguida enxaguar em água destilada 4 vezes por 5 minutos cada. Figura 17 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: ácido oxálico 3,0%. Passo 16 – Tiosulato de sódio Colocar as lâminas em uma solução de tiosulfato de sódio a 2%, por no máximo 3 segundos e em seguida transferir imediatamente para água destilada, enxaguando 2 a 4 vezes por 5 minutos cada. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 300 / 319 Figura 18 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: tiosulfato de sódio 2% utilizado para terminar o processo de revelação. Passo 17 – Desidratação Desidratar em série crescente de etanol – 30%, 70% e 100% - por 10 minutos cada. Figura 19 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: desidratação do material em álcool etílico nas concentrações 30%, 70% e 100%. Passo 18 – Montagem da lâmina Após a completa secagem, montar as lâminas com resina sintética (Entellan) e lamínula 30 x 50cm. Figura 20 – Técnica do protargol Dieckmann, 1995: lâminas prontas para serem analisadas sob microscopia óptica. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 301 / 319 6.1.2.3 Técnica de impregnação pelo proteinato de prata (protargol), Skibbe (1994), modificada por Pfister et al. (1999) A preparação de lâminas permanentes pela técnica de impregnação pelo proteinato de prata (protargol) inclui os passos que se seguem cujo detalhamento fundamentou-se em Skibbe (1994), modificada por Pfister et al. (1999). Passo 1 – Preparo da solução de ágar Pesar em balança semi-analítica de precisão 3,6g de ágar simples e diluir em um béquer de 250ml contendo 50ml de água destilada. Adicionar mais 50ml de água destilada para obter uma solução final de 100ml de ágar 3,6% p/v. Transferir a solução de ágar para um frasco de vidro com tampa de rosca e aquecê-la em banho-maria à temperatura de 100oC até a completa fusão do ágar. Após a fusão do ágar, manter a solução em banho-maria a temperatura de 60oC (Figura 21), para ser utilizada no passo 3. Figura 21 - Técnica do protargol: solução de ágar em o banho-maria a 60 C. Passo 2 - Filtragem da amostra Organização e verificação das amostras: - separar as amostras que serão filtradas agrupando as réplicas e tréplicas segundo a procedência (local e data da coleta) para não ocorrer troca de UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 302 / 319 amostras; - verificar a abundância de ciliados na amostra ou a quantidade de material particulado para orientar o volume a ser filtrado. Segundo trabalhos recentes este volume varia de acordo com o estado trófico do ambiente de estudo. Para ambientes oligotróficos, sugere-se aproximadamente 30 ml enquanto que para ambientes eutrofizados não deve ultrapassar 6ml por membrana. Volumes superiores aos recomendados podem ocasionar obstrução rápida da membrana com conseqüente sobreposição de indivíduos e dificuldades na execução do ensaio. Preparo do equipamento de filtragem: certificar-se de que a bancada está devidamente limpa; posicionar a bomba de vácuo na bancada e liga-la na tomada com tensão de 127V; conectar a mangueira à bomba e em seguida ao Kitazato, com capacidade de 1000 ml; montar o funil de filtragem encaixando-o com cuidado à rolha de borracha o suporte de vidro, que irá receber a membrana. Em seguida sobrepor o funil de aço galvanizado (50ml) ou de vidro (15ml), prendê-lo com a garra e encaixá-lo ao kitazato (Figura 22). Recomenda-se usar o funil de aço para filtrar amostras de ambientes oligotróficos devido a sua maior capacidade; posicionar a membrana de éster de celulose no suporte de vidro com o auxílio de uma pinça, para evitar o contato com substâncias orgânicas das mãos. A membrana deve ser colocada com a bomba ligada para o devido encaixe no suporte. Para garantir a integridade do produto filtrado recomenda-se testar o vácuo gerado pela bomba umedecendo a membrana com água destilada. O vácuo não deve ser superior a 50 mm Hg. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 303 / 319 (a) (b) Figura 22 - Técnica do protargol - kit de filtragem: (a) Detalhes da montagem; (b) Esquema da montagem: 1 - recipiente de vidro com capacidade para 20ml, 2 garra em aço inox para manter uma devida vedação, 3 - suporte de vidro para a membrana, 4 - membrana para filtragem, 5 - borracha para encaixe no Kitazato. Filtragem da amostra: com o equipamento devidamente montado (Figura 7a), homogeneizar a - amostra e aguardar de trinta (30”) a sessenta (60”) segundos, para decantar sedimentos em suspensão, de maior fração granulométrica. Em seguida retirar da superfície da amostra com auxilio de uma pipeta volumétrica com capacidade para 10ml, o volume desejado para filtragem (Figura 7b). Nota: A homogeneização da amostra possibilita uma distribuição aleatória dos organismos e contribui para diminuir a variação entre as alíquotas tornando-as mais representativas. Deve ser realizada com cuidado para que não haja extravasamento do líquido por movimentos bruscos. Para isso, o frasco contendo a amostra deve ser manualmente agitado, com giros leves e suaves por cerca de 1 minuto, para revolver o material sedimentado e misturá-lo ao sobrenadante. Ao agitar evitar a formação de um vórtice central, pois concentra os organismos, em função do que não é também recomendado o uso de agitador magnético, além do fato de poder danificar os organismos (PAGGI & PAGGI 1995). Retirada e acondicionamento da membrana: - concluída a filtragem desacoplar o funil inclinando-o em um ângulo aproximado de 45º mantendo a bomba ligada para evitar que possíveis gotículas retidas à sua parede caia sobre a membrana e altere a disposição do material filtrado. Em seguida retirar a membrana com auxílio de uma pinça de ponta fina; UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 304 / 319 acondicionar a membrana em câmara úmida: placas de Petri forradas - com papel filtro e umedecidos com o filtrado da amostra, com finalidade de manter a integridade da membrana e do filtrado (Figura 23c). Ao dispor os filtros na câmara identificar a procedência da amostra (local e data de coleta). (b) (a) (c) Figura 23 - Técnica do protargol - filtragem da amostra: (a) Equipamento de filtragem montado; (b) Filtragem; (c) Placas de Petri forradas com papel filtro umedecido com o filtrado da amostra, devidamente identificada. Nota: após a filtragem de cada amostra lavar o funil e o suporte da membrana, bem como as pipetas e provetas utilizadas para processar uma nova amostra. Passo 3 - Inclusão da membrana na solução de ágar Distribuir sobre uma chapa de vidro pré-aquecida duas lâminas de vidro para cada membrana filtrada. O aquecimento da placa é feito prendendo-a a borda do banho-maria (Figura 24). O pré-aquecimento das lâminas tem a finalidade de facilitar a inclusão do ágar. (a) (b) Figura 24 - Técnica do protargol - preparação das lâminas para inclusão do ágar: (a) Chapa de vidro presa à borda do banho-maria; (b) Lâminas de vidro distribuídas na chapa de vidro para serem aquecidas. Dispor a membrana com auxílio de uma pinça de ponta fina no centro de UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 305 / 319 uma lâmina mantida em aquecimento sobre a chapa de vidro, com “grid” o mais alinhado possível paralelamente ao comprimento da lâmina, para facilitar a execução do ensaio (Figura 25a). Em seguida, em outra lâmina também mantida aquecida sobre a chapa de vidro, adicionar duas a três gotas da solução de ágar que permaneceu em banho-maria a 60oC (passo 1) utilizando a pipeta de Pasteur com pêra de borracha (Figura 25b). O volume de ágar deve ser o suficiente para cobrir toda a circunferência da membrana e evitar que extravase pela lâmina. Para identificar as membranas estabelecer uma seqüência de distribuição em ordem crescente numérica sobre a chapa, equivalente aos dados de sua procedência (local e data de coleta). Nota: (1) Manter a pipeta, em outro béquer, no banho-maria após o uso para evitar que o resíduo da solução não se solidifique no seu interior; (2) Ficar atento à reutilização da solução de ágar, pois a água pode evaporar e endurecê-lo. Para retornar sua fusão acrescentar água destilada em quantidade suficiente para manter a concentração da solução de 3,6% p/v, conforme descrito no passo 1. Este procedimento deve ser repetido sempre que a solução se solidifica o que ocorre em temperatura ambiente; (3) Após o uso manter a solução de ágar sob refrigeração para evitar sua contaminação por fungos. Cobrir a lâmina que contem a membrana com a lâmina contendo o ágar sem pressioná-la e aguardar por no mínimo dois minutos, sobre a chapa de vidro em aquecimento (Figuras 25c e 25d). Não utilizar lamínula nesta prática, pois o peso da lâmina é o suficiente para espalhar o ágar e promover sua inclusão na membrana. Transferir a placa de vidro contendo as lâminas montadas para uma bancada e deixar que resfriem por no máximo dez minutos, tempo suficiente para que possam ser posteriormente retiradas sem danificações. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 306 / 319 (a) (b) (c) (d) Figura 25 - Técnica do protargol - inclusão da membrana no ágar: (a) Posicionamento da membrana na lâmina; (b) Aplicação do ágar sobre a membrana; (c) Ágar em solidificação; (d) Lâminas prontas para serem resfriadas. Passo 4 - Conservação da membrana Retirar a membrana aderida entre as lâminas inserindo entre uma de suas extremidades um estilete ou bisturi. Uma vez descoladas, recortar com o bisturi o o excesso de ágar aderido à lâmina e à borda da membrana (Figuras 26a e 26b). Transferir cada membrana para uma placa de Petri, devidamente identificada, contendo solução de formol a 10% em quantidade suficiente para recobri-la. Mantê-las embebida nesta solução por um período de no mínimo dez minutos (as membranas podem permanecer embebidas na solução de um dia para outro) (Figuras 26c). Nota: (1) O formol tem a finalidade de estabilizar o ágar que está incluído na membrana, por garantir o seu endurecimento e evitar que desprenda e principalmente dobre nos passos subseqüentes; (2) Na impossibilidade de dar continuidade aos passos subseqüentes nas próximas 24 horas, cada membrana deve ser transferida para um pote de acrílico hermeticamente fechado, devidamente identificado, contendo isopropanol a 30% (Figura 10d). Ao dar prosseguimento à técnica é necessário deixar as membranas por dez minutos em água destilada, renovada a intervalos de cinco minutos, para remover os resíduos do isopropanol; (3) As membranas podem também permanecer conservadas na UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 307 / 319 solução de isopropanol a 30%, por meses. Quando preservadas por longo tempo devem ser previamente embebidas em solução de formol a 10% por, no mínimo, 24 horas e, no máximo, três dias, para evitar o arqueamento da borda ao serem desidratadas (passo 8), o que dificultará a montagem entre lâmina e lamínula (passo 10). (a) (b) (d) (c) Figura 26 - Técnica do protargol - conservação da membrana: (a, b) Retirada da membrana da lâmina; (c) Endurecimento do ágar em formol a 10%; (d) Conservação em isopropanol a 30%. Passo 5 - Enxágüe da membrana Preparo da bateria de soluções: - enfileirar sobre a bancada em seqüência numérica crescente seis copos de plástico descartáveis de 50ml (para café) devidamente identificados, contendo em quantidade o suficiente para cobrir a membrana, respectivamente: 1º copinho - Solução de permanganato de potássio 0,2% 2º copinho - Água de torneira 3º copinho - Solução de ácido oxálico 2,5% 4º copinho - Água destilada 5º copinho - Água destilada 6º copinho - Água destilada Nota: (1) A bateria de soluções é específica para cada membrana e devem ser renovadas UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 308 / 319 ao reiniciar o procedimento com outras. O descarte das soluções deve ser feito em observância as normas de segurança de laboratório; (2) Verificar a adequação para uso da solução de permanganato de potássio 0,2%, certificando-se de que sua coloração não está amarronzada. Em boas condições apresenta uma coloração violeta viva; (3) Não substituir a água de torneira pela água destilada uma vez que possuem pH distinto o que interfere na reação; (4) O ácido oxálico age como contrastante recuperando a coloração do permanganato de potássio. Enxágüe das membranas: - com auxílio de uma pinça de ponta fina embeber a membrana em cada copinho observando rigorosamente a seqüência crescente e respectivo tempo de exposição: 1º copinho - cinco (5) minutos 2º copinho - dez (10) segundos 3º copinho - cinco (5) minutos 4º copinho – três (3) minutos 5º copinho - três (3) minutos 6º copinho - três (3) minutos A figura 27 ilustra de forma esquemática a seqüência descrita. 5’ 10” 5’ 3’ 3’ 3’ 1 2 3 4 5 6 (a) (b) (b) Figura 27 - Técnica do protargol - enxágüe da membrana: (a) Seqüência esquemática da bateria de soluções contendo em 1 - permanganato de potássio, 2 - água de torneira, 3 -ácido oxálico, 4 a 6 -água destilada; (b) Seqüência montada para três membranas, iniciando com o permanganato de potássio. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 309 / 319 Passo 6 - Impregnação da membrana em solução de protargol Inserir horizontalmente lâminas de vidro na cuba com o berço para corar lâminas contendo solução de protargol 0,6%, em quantidade o suficiente para cobri-las (Figura 28a). Cobrir a cuba com papel alumínio para bloquear a penetração de luz e evitar alterações nas propriedades do protargol. Preencher a cuba com a solução de protargol com um volume suficiente (cerca de 100ml) para encobrir as lâminas de vidro (Figura 28b). (b ) (a) Figura 28 - Técnica do protargol - impregnação da membrana em solução de protargol: (a) Desenho esquemático do berço para cuba de corar lâminas; (b) Lâminas embebidas no protargol em banho-maria. Dispor entre as lâminas no berço, cuidadosamente com auxílio de uma pinça de ponta fina, as membranas e deixar a cuba em banho-maria (60ºC) por 40 minutos, tempo compatível para solução de protargol nas concentrações de 0,33% a 2%. Entre duas lâminas deve ser colocada apenas uma membrana para evitar o risco de troca de amostras. Retirar a cuba com o berço de lâminas do banho-maria e deixar resfriar por dez minutos a temperatura ambiente (25ºC) em local sem incidência de luz. Passo 7 – Revelação da membrana Preparo da bateria de soluções: - enfileirar sobre a bancada, devidamente identificados, oito copos de plástico descartáveis de 50ml (para café) e um pote de acrílico com tampa (20ml), em seqüência numérica crescente, contendo em quantidade o suficiente para cobrir a membrana, respectivamente: UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 310 / 319 1º copinho - Solução de hidroquinona 2º copinho - Água de torneira 3º pote de acrílico – Solução de cloreto de ouro 0,5% 4º copinho - Solução de ácido oxálico 2,5% 5º copinho - Água destilada 6º copinho – Solução de tiosulfato de sódio 2,5% 7º copinho - Água de torneira 8º copinho - Água de torneira 9º copinho - Água de torneira Nota: (1) A bateria de soluções é específica para cada membrana e devem ser renovadas ao reiniciar o procedimento com outras, a exceção do cloreto de ouro que pode ser reutilizado. O descarte das soluções deve ser feito em observância as normas de segurança de laboratório; (2) O cloreto de ouro reage com o ácido oxálico dando um efeito contrastante à membrana. Caso a membrana permaneça embebida no cloreto de ouro por período superior ao especificado, pode perder, com o tempo, sua transparência, o que impossibilita a análise ao microscópio óptico. A solução de cloreto de ouro não tem prazo de validade e na presença de precipitado no fundo do frasco de armazenagem filtrá-la para retirada dos resíduos evitando que impregnem na membrana. (3) O tiosulfato de sódio é responsável pela neutralização do processo de impregnação pela prata evitando a intensificação da cor da membrana. Revelação: - com o auxílio de uma pinça de ponta fina embeber a membrana em cada copinho observando rigorosamente a seqüência crescente e respectivo tempo de exposição: 1º copinho – dez a trinta (10-30) segundos 2º copinho – dez (10) segundos 3º pote de acrílico – dois (2) segundos 4º copinho – trinta (30) segundos 5º copinho – dois (2) minutos 6º copinho – três (3) minutos 7º copinho – três (3) minutos 8º copinho – três (3) minutos UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 311 / 319 9º copinho – três (3) minutos A figura 29 ilustra de forma esquemática a seqüência descrita. 10-30” 10” 1 2 2” 3 30” 2’ 3’ 3’ 3’ 3’ 4 5 6 7 8 9 Figura 29 - Técnica do protargol - revelação da membrana: seqüência esquemática da bateria de soluções contendo em 1 - revelador hidroquinona, 2 água de torneira, 3 – cloreto de ouro 0,5%, 4 - ácido oxálico 2,5%, 5 - água destilada, 6 - tiosulfato de sódio 2,5%, 7 a 9 - água de torneira. Passo 8 – Desidratação da membrana Enfileirar sobre a bancada, em seqüência numérica crescente devidamente identificada, uma bateria de quatro potes de acrílico com tampa (20ml) e adicionar, a cada um, solução de álcool isopropílico, seguindo as concentrações e os respectivos tempos conforme discriminados a seguir e ilustrado na figura 30: 1º pote – solução a 30% por cinco (5) minutos 2º pote – solução a 70% por cinco (5) minutos 3º pote – álcool isopropílico bruto por cinco (5) minutos 4º pote – álcool isopropílico bruto por cinco (5) minutos Nota: (1) Os potes devem permanecer bem vedados para evitar a evaporação do álcool. Devem ser abertos apenas quando for embeber a membrana. (2) A bateria de solução de álcool isopropílico tem a finalidade de retirar o excesso de água contida nas membranas. (3) As soluções de álcool isopropílico podem ser reaproveitadas para desidratar novas membranas, recomendando-se que seja renovado a cada dez (10) membranas; (4) Durante a desidratação pode ocorrer o arqueamento da borda da membrana, o que não impede sua utilização, mas um maior cuidado ao manipulá-la, para que não ocorra alterações ou perda do material filtrado. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 312 / 319 5’ 5’ 5’ 5’ 1 2 3 4 30 % 70% 100% 100% 3 4 (b) (a) B Figura 30 - Técnica do protargol - desidratação da membrana: (a) Seqüência esquemática da bateria de álcool isopropílico contendo em 1 - solução a 30%, 2 - solução a 70%, 3 e 4 - isopropanol bruto; (b) Foto do procedimento contendo a membrana no pote 3. Passo 9 – Diafanização da membrana Enfileirar sobre a bancada, em seqüência numérica crescente devidamente identificada, três placas de Petri de 52mm de diâmetro contendo em quantidade o suficiente para cobrir a membrana, respectivamente (Figura 15): 1ª placa – xilol mais ácool isopropílico na proporção 1:1 2ª placa – xilol puro 3ª placa – xilol puro 5’ 1 5’ 2 5’ 3 (a) B (b) Figura 31 - Técnica do protargol – diafanização da membrana: (a) Seqüência esquemática da bateria de soluções contendo em 1 - xilol e álcool na proporção 1:1, 2 e 3 - xilol puro; (b) Foto do procedimento. Nota: (1) A placa contendo xilol deve permanecer tampada devido a grande volatilidade e toxicidade do reagente, se inalado; (2) O processo de diafanização tem a finalidade de clarificar a membrana, garantindo uma adequada transparência para análise em microscopia óptica. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 313 / 319 Passo 10 - Montagem da lâmina Posicionar paralelamente sobre uma chapa de vidro disposta sobre a bancada, lâminas de vidro para análise em microscópio previamente limpas com solução de álcool-éter para retirada de resíduos e impurezas. Com o auxílio de uma pinça de ponta fina colocar sobre o terço médio de cada lâmina a membrana diafanizada. Com o auxílio de um bastão de vidro adicionar cerca de duas gotas de entellan (ou Balsamo do Canadá) sobre a membrana. Em seguida cobri-la com uma lamínula sem pressioná-la e adicionar nas extremidades da lamínula gotas de entellan, em quantidade suficiente para fixá-la à lâmina. Durante o recobrimento evitar a formação de bolhas, pois dificultam a visualização do material sobre microscopia óptica. Caso estas se formarem, pressionar suavemente a membrana. Deixar a membrana montada entre lâmina e lamínula secar a temperatura ambiente por, no mínimo, seis (6) horas, em posição horizontal (Figura 32). Transcorrido este período podem ser utilizadas nos ensaios sob microscópio óptico. Nota: (1) Não pegar a membrana com as mãos para evitar alterações ou perda do material filtrado, utilizar sempre a pinça de ponta fina. Membranas que sofreram arqueamento da borda requerem maiores cuidados na manipulação; (2) A resina Entellan deve permanecer bem vedada após o uso para não alterar sua viscosidade, podendo-se usar xilol para aumentar sua fluidez, se necessário. Figura 32 - Técnica do protargol: secagem das membranas montadas entre lâmina e lamínula, com entellan. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 314 / 319 7.1.3 Registro dos dados do ensaio Os resultados do ensaio de identificação incluindo a biometria devem ser registrados em fichas de laboratório estruturadas para esta finalidade. De forma análoga os desenhos, fotos, filmagem e as lâminas permanentes. O conjunto dessas fichas (Anexo D) virá a compor o acervo documental de uma coleção de referência, conforme discutido no Item 9, com a finalidade de dar suporte a consultas e estudos posteriores e envio a especialista no assunto. 6.2 Ensaio de quantificação 6.2.1 Caracterização e processamento geral da amostra Essa caracterização consiste na observação panorâmica, macroscópica e microscópica, da amostra original fixada. Visa ter uma noção geral do número de indivíduos de interesse nos ensaios para direcionar a necessidade de concentrá-los ou diluí-los, uma vez que amostras com baixo ou elevado número de indivíduos exigem um esforço na quantificação. Esta verificação consiste na visão panorâmica de uma fração da amostra, devidamente homogeneizada, em câmara de contagem (Sedgwick-Rafter), sob microscópio óptico ou em placa de Petri sob microscópio óptico invertido. O volume a ser concentrado dependerá do número de organismos presentes: quanto menor o número maior o volume. Pode-se concentrar toda a amostra ou frações de seu volume (alíquotas). Na expressão final do resultado dividir o número de indivíduos por litro pelo fator de correção para ajustar a concentração da amostra, conforme apresentado no Item 7.2.3. Para reduzir o número de indivíduos recomenda-se a diluição de alíquotas, pois a diluição do volume original da amostra (em média 200ml) resultaria em um volume desnecessariamente grande. O volume a ser diluído depende também do número de indivíduos na amostra: quanto maior o número, maior o volume a ser adicionado. Na diluição utilizar a mesma solução fixadora utilizada na amostra original. Na expressão final do resultado multiplicar o número de indivíduos por litro pelo fator de correção para ajustar a diluição da amostra, conforme apresentado no Item 7.2.3. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 315 / 319 Para concentrar ou diluir a amostra devem ser adotadas as seguintes técnicas: 6.2.2 Contagem por filtração em membrana Este procedimento consiste da filtração de um volume conhecido de amostra em filtro-membrana, aplicando-se a técnica de impregnação pelo proteinato de prata – protargol (Skibbe 1994), conforme os passos detalhados no Item 7.1.2.2. Concluída a montagem das membranas entre lâmina e lamínula (Figura 16) realizar o ensaio de quantificação de todos os indivíduos presentes na membrana. 6.2.3 Expressão dos resultados Em função da técnica de contagem os resultados finais são expressos aplicando-se as fórmulas que se seguem. Para o cálculo dos fatores de correção devem ser aplicadas as fórmulas que se seguem: Fator de correção da concentração da amostra (FCc) FCc Va Vc Onde: Va = volume original da amostra coletada (ml) Vc = volume final da amostra concentrada usada na contagem (ml) Fator de correção da diluição da alíquota (FCd): FC d Va x Fd Vq Onde: Va = volume da amostra coletada (ml) UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 316 / 319 Fd = fator de diluição Vq = volume da alíquota (ml) O fator de diluição é calculado pela seguinte fórmula: Vq f Vqi Fd Onde: Vqd = volume final da alíquota (diluída) Vqi = volume inicial da alíquota (retirada da amostra coletada) Para expressar o número de indivíduos por litro e por metro cúbico multiplicar, respectivamente por 1.000 e por 1.000.000. 6.2.3.3 Contagem por filtração em membrana O resultado da contagem por esta técnica é calculado pela seguinte fórmula: Ind/L N x Fc Vfm Onde: N= número total dos indivíduos contados na membrana Fc = fator de correção Vfm=volume filtrado em membrana (ml) Caso seja contada mais de uma membrana o número de indivíduos corresponde à média aritmética das contagens. O fator de correção (FC) deve ser calculado considerando o volume filtrado coletado (L), o volume original da amostra (ml) e a concentração ou a diluição das alíquotas (ml), aplicando-se as fórmulas apresentadas a seguir: UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 317 / 319 Fator de correção: Fc Va Vf Onde: Va = volume original da amostra (ml) Vf = volume filtrado coletado (L) Fator de correção para alíquota concentrada: Fc Va Vf x Vq Onde: Va = volume original da amostra (ml) Vf = volume filtrado coletado (L) Vq = volume da alíquota (ml) Fator de correção para alíquota diluída: Fc Va x Vd Vf x Vq Onde: Va = volume original da amostra (ml) Vd = volume da diluição da alíquota (ml) Vf = volume filtrado coletado (L) Vq = volume da alíquota (ml) Para expressar o número de indivíduos por metro cúbico multiplicar por 1000 e por mililitro dividir por 1000. 6.2.4 Registro dos dados do ensaio Os resultados do ensaio de quantificação devem ser registrados em fichas de laboratório estruturadas para esta finalidade (Apêndice D). As fichas discriminam por amostra, a procedência e natureza, os dados numéricos do ensaio quantitativo além UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 318 / 319 de explicitar a metodologia e instrumentação utilizada no ensaio, os ajustes no volume da amostra, o valor do fator de correção utilizado, além de dados da coleta. 7 EMISSÃO DE CERTIFICADO DOS ENSAIOS Concluídos os ensaios é emitido o certificado contendo os resultados tabulados, devidamente identificados por amostra: método e data da coleta; data do recebimento; natureza, método e data de conclusão do ensaio; nome do executor e do supervisor do ensaio. 8 INCORPORAÇÃO DA AMOSTRA EM COLEÇÃO DE REFERÊNCIA Concluídos os ensaios recomenda-se que a amostra venha a compor uma coleção de referência para estudos e consultas ulteriores. Ao acervo dessa coleção podem ser também incorporados dados e informações complementares dos ensaios como: desenhos, fotos, filmagem e lâminas permanentes e semi-permanentes dos espécimes. UFOP/CETEC SAA Identificação e quantificação de Protistas Ciliados de Ambientes Aquáticos Continentais Versão: 1.0 Protocolo Data: 10.12.2011 Página: 319 / 319